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A RELAÇÃO FAMÍLIA, ESCOLA

E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Autoras: Ana Maria Dias Antonius

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Erika de Paula Alves
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Prof. Márcio Moisés Selhorst

Revisão de Conteúdo: Profa. Ana Paula Fischer Hort

Revisão Pedagógica: Profa. Patrícia Cesário Pereira Offial

Revisão Gramatical: Profa. Camila Thaisa Alves Bona

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2013


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

376
A635r Antonius, Ana Maria Dias
A relação família, escola e deficiência intelectual /
Ana Maria Dias Antonius. Indaial : Uniasselvi, 2013.
106 p. : il

ISBN 978-85-7830-705-9

1. Educação inclusiva.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Ana Maria Dias Antonius

Mestre em Educação pela Universidade


Regional de Blumenau - FURB. Blumenau - SC.
Na linha de Processos de Ensinar e Aprender.
Com dissertação sobre In(ex)clusão no Serviço de
Atendimento Educacional Especialização (SAEDE).
Especialização em Psicopedagogia - Faculdade Christus
– Fortaleza - CE.Licenciatura / Letras: língua portuguesa
e suas literaturas pela Universidade Estadual do Ceará
- UECE. Fortaleza-CE.Funcionária Pública da
Secretária de Educação do Estado de Santa
Catarina.
Sumário

APRESENTAÇÃO.......................................................................7

CAPÍTULO 1
A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência
Intelectual............................................................................... 9

CAPÍTULO 2
O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente
Intelectual............................................................................. 29

CAPÍTULO 3
Educação Sexual e Deficiência Intelectual...................... 51

CAPÍTULO 4
Reflexões Sobre a Inclusão Escolar ............................... 63

CAPÍTULO 5
Deficiência Intelectual, Escola e o Mercado de
Trabalho................................................................................. 85
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):

Nessa disciplina, cujo título é O contexto família, escola e deficiência


intelectual, você estudará aspectos da deficiência intelectual, dentre tantas
deficiências existentes. Apresentaremos algumas informações que buscamos na
área de Medicina, da Biologia e da Sociologia, porém é necessário que predomine
os fundamentos pedagógicos relacionados sobre a área da deficiência intelectual
e suas implicações na família escola e sociedade.

No primeiro capítulo apresentamos as concepções de como a sociedade vem


ao longo dos tempos definindo o que é normal e anormal; as mudanças ocorridas
na sociedade que aos poucos vem alterando os paradigmas desses conceitos;
os processos de relação família e escolas para educandos com deficiência
intelectual; as nomenclaturas anteriores a Deficiência Intelectual, seus aspectos e
seus conceitos, e normalidade e anormalidade na coletividade.

O segundo capítulo trata da relação família, escola e deficiência intelectual,


da influência do ambiente familiar na personalidade do deficiente intelectual, e o
mito na deficiência intelectual.

O terceiro capítulo aborda a sexualidade e educação para as pessoas com


deficiência intelectual. No quarto capítulo discutir-se-á em torno da inclusão
escolar e por fim, no quinto capítulo sobre a deficiência intelectual, escola e o
mercado de trabalho.

A autora.
C APÍTULO 1
A Conjuntura da Tríade
Família, Escola e Deficiência
Intelectual

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Proporcionar a compreensão da relação familiar e escolar e deficiência


intelectual.

33 Conhecer as nomenclaturas e os aspectos que diferenciam a deficiência


intelectual de deficiência mental.

33 Compreender o conceito de normal e anormal na sociedade.


A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

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Capítulo 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e
Deficiência Intelectual

Contextualização
Para tornar efetiva a inclusão escolar e social julgamos necessário
apresentar aspectos que podem influenciar no desenvolvimento do Deficiente
Intelectual, como a atenção e acompanhamento da família e escola no processo
de desenvolvimento da aprendizagem.

Um ambiente escolar que busca a parceria com a família, abre espaço para
um entendimento de comum linguagem, permitindo que juntos trabalhem em
prol do desenvolvimento da criança ou jovem com deficiência intelectual. Nesse
sentido, a escola estará contribuindo para tornar possível uma educação pautada
nos direitos humanos e na democratização do ensino. Segundo Farrel (2008,
p. 17), destinar as práticas pedagógicas (...) “em estreita colaboração com os
pais é uma aspiração de todas as escolas e um tema constante na orientação
governamental.” Nesse sentido, percebemos a necessidade promover novas
estratégias de inserção desses sujeitos no âmbito da instituição escolar, com
apoio da família.

Processos de Relação Família,


Escola e Deficiência Intelectual
O acompanhamento da família no processo escolar da criança pode trazer
grandes contribuições para seu progresso, a presença dos pais na escola, abre
caminhos para o diálogo e entendimento de suas necessidades, limitações e
potencialidades.

Mas, a história nos mostra que nem sempre foi assim o entendimento da
relação do deficiente intelectual com escola, comunidade e família.

Os estudos sobre
Traçando um rápido percurso sobre o tempo, vimos que as
as deficiências
pessoas com deficiência eram abandonadas por seus próprios iniciaram a
familiares. Na Idade Média, eram consideradas, “obra do demônio”. partir do século
Somente a partir do século XIX, por meio de estudos médicos, XVI como uma
perceberam que o deficiente intelectual era capaz de aprender. preocupação
da medicina em
Os estudos sobre as deficiências iniciaram a classificar os
partir do século XVI como uma preocupação indivíduos que
da medicina em classificar os indivíduos que se se desviavam
desviavam do padrão de normalidade definido do padrão de
para época. É só no século XIX que entram em
cena também os pedagogos, interessados no
normalidade
estudo da deficiência mental e nas possibilidades definido para
de educação dos indivíduos considerados época.
deficientes. (CARNEIRO, 2008, p. 13).
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A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Esse novo olhar para o deficiente fez surgir em 1960 as primeiras instituições
voltadas ao atendimento de pessoas com deficiências. Mas somente a partir da
deflagração das Conferências Mundiais essas pessoas passaram a ter direitos,
culminando nos anos de1990 com o processo de Inclusão Escolar.

Percebemos então, que a família e sociedade ao longo da história modificaram


sua forma de conceber as deficiências, e essa mudança de pensamento, ou
paradigma trouxeram significativos avanços quanto às adaptações nas escolas e
meio social. Conforme Art. 227(BRASIL 2006)

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar


à criança e ao \adolescente, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar comunitária, além de colocá-
los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade opressão.

O processo de aceitação das pessoas com deficiência está amparado por lei,
e com isso deixa de ser vista apenas como uma questão de benignidade. Como
vimos, as mudanças não ocorreram de um dia pro outro, foi necessário muito
apoio de todos os envolvidos, família, escola e sociedade.

Vamos agora discutir sobre o processo da aprendizagem com o deficiente


intelectual.

A Deficência Intelectual e A
Aprendizagem
A aprendizagem é decorrente de um conjunto de fatores genéticos, sociais,
emocionais e cognitivos. Esse conjunto de fatores podem ser estimulados a favor
do aprendizado do deficiente intelectual se receberem o apoio necessário da
família, escola e sociedade.

Vygotsky (1997) em seus estudos nos faz compreender que o processo


mental do sujeito se faz por meio do seu contexto social, segundo o autor,

[...] as funções psicológicas superiores (o pensamento em


conceitos, a linguagem racional, a memória lógica, a atenção
voluntária, etc.) se formam durante o período histórico do
desenvolvimento da humanidade e devem sua origem, não à
evolução biológica, [...] mas a seu desenvolvimento histórico
como ser social. VYGOTSKY, (1997, p. 214-215)

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Capítulo 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e
Deficiência Intelectual

No processo de desenvolvimento de aprendizagem da pessoa O processo de


com deficiência intelectual os contextos sociais no qual estão inseridos educação escolar
podem apresentar grande relevância no desenvolvimento escolar é qualitativamente
desse sujeito. Para (Vygotsky, apud Leontief e Luria, 2007, p. 163) “O diferente do
processo de
processo de educação escolar é qualitativamente diferente do processo
educação em
de educação em sentido amplo”. A aprendizagem primordialmente sentido amplo.
deve começar no seio familiar e a escola deve ser a continuação dessa
aprendizagem.

Os processos de aprendizagem escolar e social estão intrinsecamente


ligados a família e escola. A sociedade participa dessa educação quando aceita
esse sujeito como membro efetivo dela com direitos e deveres, na forma da lei.

Segundo Almeida (2007), as crianças que apresentam deficiência


intelectual podem progredir em suas ações, se receberem apoio e estímulo
para suas conquistas. Esses sujeitos poderão ser muito úteis, se neles for
confiado a responsabilidade de alguns trabalhos e produções em benefício
a comunidade em que vivem, considerando seus limites e estimulando seus
potenciais. Segundo Araújo é no convívio com seus pares que a criança
aprende a

A grande maioria das crianças com deficiência intelectual


consegue aprender a fazer muitas coisas úteis para a sua
família, escola, sociedade e todas elas aprendem algo para
sua utilidade e bem-estar da comunidade em que vivem. Para
isso precisam, em regra, de mais tempo e de apoios para
lograrem sucesso. (ARAÚJO, 2009)

O papel da instituição escolar nesse aspecto deve ser de oferecer condições


que possibilitem uma aprendizagem para todos os alunos, com respeito ao tempo
de aprender e de amadurecer de cada um, que tenha como princípio a igualdade
e o respeito humano acima de qualquer ação.

Nomenclaturas
As nomenclaturas das deficiências vem ao longo dos tempos sendo melhor
compreendidas e modificadas conforme estudos e pesquisas. Nessa esteira,
esclarece Sassaki, (2009) que o conceito de deficiência não pode ser confundido
com o de incapacidade, palavra que é uma tradução, também histórica, do
termo “handicap”. O conceito de incapacidade denota um estado negativo de
funcionamento da pessoa, resultante do ambiente humano e físico inadequado ou
inacessível, e não um tipo de condição. Como exemplo, a incapacidade de uma
pessoa cega para ler textos que não estejam em braile, a incapacidade de uma

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A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

pessoa com baixa visão para ler textos impressos em letras miúdas, a incapacidade
de uma pessoa em cadeira de rodas para subir degraus, a incapacidade de uma
pessoa com deficiência mental/intelectual para entender explicações conceituais,
a incapacidade de uma pessoa surda para captar ruídos e falas. Configura-se,
assim, a situação de desvantagem imposta às pessoas COM deficiência através
daqueles fatores ambientais que não constituem barreiras para as pessoas SEM
deficiência.

Foram necessárias muitas discussões para que os pesquisadores chegassem


a uma terminologia que pudesse definir o que atualmente se compreende como
deficiência intelectual, e uma forma que não preconizasses o preconceito, acerca
das terminologias. Acrescenta Sassaki, (2009, p. 2),

[...] sobre os vocábulos deficiência mental e deficiência


intelectual. Ao longo da história, muitos conceitos existiram
e a pessoa com esta deficiência já foi chamada, nos círculos
acadêmicos, por vários nomes. Mas, atualmente, quanto
ao nome da condição, há uma tendência mundial (brasileira
também) de se usar o termo deficiência intelectual.

O termo deficiência intelectual foi gradativamente surgindo, por meio de


estudos e discussões, e hoje é um conceito oficializado, aponta Sassaki, (2009,
p.3),

A expressão deficiência intelectual foi oficialmente utilizada


já em 1995, quando a Organização das Nações Unidas
(juntamente com The NationalInstituteofChild Health
andHumanDevelopment, The Joseph P. Kennedy, Jr.
Acrescenta Foundation, e The 1995 SpecialOlympics World Games).”
ainda Sassaki Ainda esclarece Sassaki (2009 p.3) “...realizou em Nova
(2005) que o York o simpósio chamado INTELLECTUAL DISABILITY:
termo deficiência PROGRAMS, POLICIES, AND PLANNING FOR THE FUTURE
intelectual é (Deficiência Intelectual: Programas, Políticas e Planejamento
principalmente para o Futuro).
em virtude
especificamente Desde a década de 1995, o termo Deficiência Intelectual já é
ao funcionamento usado, começando a fazer parte do cotidiano das classes médica,
intelectual e não familiar e escolar. Acrescenta ainda Sassaki (2005) que o termo
o da mente como
deficiência intelectual é principalmente em virtude especificamente ao
um todo.
funcionamento intelectual e não o da mente como um todo.

A partir de 2006 o termo utilizado é PcD - Pessoa com


Deficiência, ou seja, o ser humano vem antes da deficiência é uma
procura de valorização desses sujeitos.

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Capítulo 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e
Deficiência Intelectual

Mesmo sendo uma convergência mundial, demorou para que o uso da


nomenclatura deficiência intelectual passasse a ser implementada alguns países,
e mesmo no Brasil ainda existe uma tendência da utilização do termo “deficiência
mental” à deficiência intelectual.

Você estudou sobre os processos que envolvem a relação da família,


escola e as nomenclaturas sobre pessoas com deficiência intelectual. A seguir,
convidamos você a refletir sobre o que aprendeu , realizando as atividades de
estudos.

Na continuidade estudaremos a relação família e escola coligada a sociedade.

Atividades de Estudos:

1) No decorrer desse capítulo, apresentamos um breve resgate


sobre o histórico da deficiência intelectual na relação com a
sociedade e família. A partir de seus estudos descreva como
os indivíduos com deficiência intelectual eram tratados pelos
seus familiares.
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2) A criança com deficiência intelectual aprende a partir do momento


que se cria condições para ele se desenvolver. Liste algumas
práticas que poderão contribuir para esse desenvolvimento.
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3) Em suas leituras você percebeu que o conceito de incapacidade


estava ligado diretamente as pessoas com deficiência intelectual.
E hoje, como é compreendida essa deficiência pela sociedade?
Descreva suas conclusões.
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A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

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Relação Família, Escola e Sociedade


A família muda a cada nova geração, desde a Idade Média (século V ao
século XV). Antigamente as famílias com poder aquisitivo melhor tinham condições
de pagar professores particulares para que seus filhos recebessem a educação
formal, dentro de suas próprias residências. Com a disseminação da instituição
escolar em esferas particulares e públicas, esse tipo de educação passou a ser
institucionalizada. Com isso as famílias passaram para a agência social, “escola”
,a tarefa que antes era feito dentro de seus próprios domicílios.

Até chegarmos aos patamares de uma coletividade em que a pessoa com


deficiência intelectual pudesse conviver com os demais membros da sociedade,
muitos estudos e discussões aconteceram. Nesse sentido sustenta Marques
(1994, p. 97)

[...] Implicitamente para a mudança da condição de


subalternidade de seus internos em relação à sociedade em
geral, que teve difundido e fortalecido seu poder de controle
[...] “o direito a e discriminação sobre os desviantes, que representavam, em
educação tem última instância, uma ameaça à ordem social ideologicamente
suas raízes estabelecida.
remotas nas
especulações A sociedade que antes chamava o deficiente intelectual com
filosóficas e o termo “desviante” ainda não estava “pronta” para conviver
científicas dos
com esses sujeitos. O medo era de que a ordem social que
séculos XVII e
XVIII, que se consideravam adequadas pudesse ser ameaçada por essas
desenvolveram pessoas. Diante dessas circunstâncias, sustenta-se o direito de
de tal forma que que todo cidadão seja respeitado, pois segundo NISKIER (1997,
provocaram a p. 31),[...] “o direito a educação tem suas raízes remotas nas
mais fecunda especulações filosóficas e científicas dos séculos XVII e XVIII,
revolução
que se desenvolveram de tal forma que provocaram a mais
intelectual de que
se tem notícia.” fecunda revolução intelectual de que se tem notícia.”

Nesse contexto, a educação deixa de ser apenas um “bem” da família com


estrutura econômica adequada, passando a pertencer a todos independente
a condição econômica, conforme escreve NISKIER (1997, p. 31), “Mais
precisamente, no século XVIII, um novo modo de agir e de pensar determinou
outras concepções sobre o mundo e a liberdade, sobre as instituições e a
16 igualdade”.
Capítulo 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e
Deficiência Intelectual

A partir do momento que o conceito de igualdade começa a refletir na


estrutura social, a escola como instituição começa a se estabelecer. A sociedade
e as famílias buscam compreender o deficiente, e romper preconceitos.

O texto a seguir convida você a refletir sobre a influência dos aspectos


sociais, na formação do sujeito.

Escolhas e repercussão social

Toda sociedade grande e complexa tem, na verdade, as


duas qualidades: é muito firme e muito elástica. Em seu interior,
constantemente se abre um espaço para as decisões individuais.
Apresentam-se oportunidades que podem ser aproveitadas. Aparecem
encruzilhadas em que as pessoas têm de fazer escolhas, e de suas
escolhas, conforme sua posição social pode depender seu destino
pessoal imediato, ou de uma família, ou ainda, em certas situações,
de nações inteiras, ou de grupos dentro delas.Pode depender de suas
escolhas que a resolução completa das tensões existentes ocorra
na geração atual ou somente na seguinte. Delas pode depender a
determinação de qual das pessoas ou grupos em confronto, dentro de um
sistema particular de tensões, se tornará o executor das transformações
para as quais as tensões estão impelindo, e de que lado e em que
lugar se localizará os centros das novas formas de integração rumo
às quais se deslocam as mais antigas em virtude, sempre, de suas
tensões. Mas as oportunidades entre as quais a pessoa assim se vê
forçada a optar não são em si mesmas criadas por essa pessoa. São
prescritas e limitadas pela estrutura especifica de sua sociedade e
pela natureza das funções que as pessoas exercem dentro dela. E,
se for à oportunidade que ela aproveite, seu ato se entremeará com
os de outras pessoas; desencadeará outras sequências de ações,
cuja direção e resultado provisório não dependerão desse indivíduo,
mas da distribuição do poder e da estrutura das tensões em toda essa
rede humana móvel. ELIAS(1994).

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A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Atividade de Estudos:

1) Conforme vimos, a escola busca subsídios para tornar possível a


aprendizagem para a pessoa com deficiência intelectual. Nesse
contexto, como a escola vem abordando a aprendizagem da
pessoa com deficiência intelectual? Descreva suas observações..
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Santaela apud Jaspers. (1978, p.59) “O mundo é normal pelo


que representa em objetividade na união entre os homens, na
mutualidade em que estes colaboram, desenvolvendo, estimulando
e exaltando a vida. É anormal se, em vez de aproximar, separa e
isola os homens; se restringe e atrofia; e se desaparece o sentimento
de poder, de domínio sobre o espaço, em que o animo e a vontade
podem distribuir a sua capacidade e utilizar os bens advindos dessa
posse”

Do Leprosário ao Manicômio - O
Sujeito Normal e Anormal na
Sociedade
Para darmos continuidade a aprendizagem do processo de inclusão
seja social ou escolar para as pessoas que são consideradas com deficiência
intelectual, abordando como a sociedade ainda dita os conceitos do que é normal
ou anormal. Se o sujeito não se encontra dentro dos padrões considerados
normais, já é considerado fora do contexto social.

A maneira do sujeito se comportar nas suas vivências sociais, familiares e

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Capítulo 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e
Deficiência Intelectual

escolares, portando-se de acordo com o que a sociedade espera dele, classifica-


se automaticamente como normal. A partir do momento que o sujeito contrasta
com esse padrão já muda a maneira de compreensão da sociedade, da família
e principalmente da escola, que espera e quer sempre uma homogeneidade em
suas salas de aula.

Mesmo que numa sociedade em que os valores são alterados de O que a sociedade
antes entendia
acordo com o que os membros dessa mesma esfera,que considerada
como desviante,
natural nos procedimentos de seus membros a convivência com as louco, hoje a
pessoas que se desviam dessas estruturas segundo as regras da sociedade o
normalidade que esses mesmos membros impõem. KRAUZ (1989) entende com
escreve que ao nos posicionarmos nos sentidos cognitivos, ou morais, um sujeito com
ou mesmo estéticos sejam nos valores como verdade, e até mesmo deficiência
intelectual, apto
a significação do correto são relativos aos contextos nos quais estão
mediante as
inseridos. O que a sociedade antes entendia como desviante, louco, possibilidades
hoje a sociedade o entende com um sujeito com deficiência intelectual, que essa mesma
apto mediante as possibilidades que essa mesma sociedade a ponha sociedade a ponha
a seu dispor. a seu dispor.

Já que estudamos sobre as diversas nomenclaturas e como a sociedade,


família e a escola vêm lidando com a pessoa com deficiência inserimos o texto
abaixo sugere uma reflexão sobre como as instituições estão redefinindo e
diferenciando deficiência intelectual, deficiência mental e doença mental.

Definição de Deficiência Intelectual da AAIDD American


Associationon Intellectual and Develop mental Disabillities
(Associação Americana de Deficiência Intelectual e do
Desenvolvimento).

Deficiência Intelectual

É definida como limitações importantes que afetam o


funcionamento intelectual, significativamente abaixo da média,
acompanhado de limitações significativas no funcionamento
adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades:
comunicação, autocuidados, competência doméstica, habilidades
sociais, interpessoais, uso de recursos comunitários, auto- suficiência,
habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança. O inicio
deve ocorrer antes dos 18 anos.

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A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Essa definição, adotada para diagnóstico de deficiência


intelectual, não considera apenas o QI baixo como até a pouco
era diagnosticado, mas também, uma avaliação abrangente das
habilidades e dificuldades da pessoa deficiente em se relacionar com
o meio ambiente, na execução das atividades diárias, nos cuidados
pessoais, no aprendizado acadêmico e na  atuação no meio onde
vive.

Exemplificando, as pessoas com deficiência intelectual se


relacionam com o mundo de forma diferenciada da maioria das
pessoas. São mais lentas, levam mais tempo para aprender, ou seja,
precisam de apoio na escola e no trabalho. Essas dificuldades variam
de intensidade podem ser leves ou mais acentuadas. As mais leves
são mais difíceis de serem identificadas, porque não são evidentes.
São observadas pelas famílias e posteriormente diagnosticadas na
idade escolar. Assim, nas diversas formas que se apresentam, vão
precisar de mais  ou menos apoio. A deficiência intelectual não é
uma doença, mas, uma incapacidade intelectual, em determinadas
áreas de acordo com o comprometimento de cada pessoa.

A deficiência mental

Caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual


geral significativamente abaixo da média, oriundo do período de
desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas
ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo
em responder adequadamente às demandas da sociedade nos
seguintes aspectos: Há uma tendência a mudar o termo Deficiência
Mental por Transtorno Mental. (BRASIL, 2004).

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Capítulo 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e
Deficiência Intelectual

Doença Mental

Não deve ser confundida com deficiência intelectual, a diferença


é que na doença mental a pessoa perde a noção de si mesma e
da realidade a sua volta. Pode ser mais branda ou mais severa
ocasionando muitas vezes  dificuldade de raciocínio lógico e
concentração. Essas pessoas apresentam humor variado e grande
dificuldade de relacionamento. São as psicoses, as depressões, a
síndrome do pânico, as esquizofrenias. Esses casos devem ser 
tratados com medicação e com atendimento terapêutico. A doença
mental não é caracterizada como deficiência, mas como doença.
Apesar de ser um quadro diferente da deficiência mental, algumas
pessoas possuem as duas patologias. Por exemplo, é possível que
uma pessoa tenha deficiência intelectual associada a  um quadro
depressivo, assim como a doença mental mais grave pode ocasionar
um limite intelectual.

Fonte: Disponível em: <http://novaprojeto.blog.terra.com.br>.


Acesso em: 31 jul. 2012.

Agora que você já estudou sobre as diversas nomenclaturas que diferenciam


a pessoa com deficiência mental e intelectual e da doença mental, já é capaz de
discernir, as características de cada uma e resolver a seguir as:

Atividade de Estudos:

1) Estudamos os diferentes conceitos sobre a deficiência mental e


intelectual e a doença mental. De acordo com o que foi estudado
como você vê compreende essas diferenças?
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A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

A Padronização do Sujeito
A padronização do sujeito é definida pela construção social da época em que
a sociedade está inserida. A sociedade atual vem se ajustando as novas formas
de enfrentamento pelo respeito e dignidade ao ser humano, mesmo que seja de
uma forma vagarosa. Compreende-se que mudar a subjetividade das esferas
familiares, sociais e escolares requer tempo e muitos estudos, para que o se
deseje seja alcançado.

Como o ser humano é único e padrão para a humanidade não existe, o que
se procura é uma busca de igualdade, e justiça social para todos e também para a
pessoa com deficiência. Assim sabemos que você educando já tem conhecimento
das diversas declarações que de alguma forma estão voltadas para a inserção
da pessoa com deficiência no âmbito social, escolar e voltadas para a dignidade
dessas pessoas.

Para contextualizar o que estamos estudando, apresentaremos seguir a


Declaração de Montreal.

DECLARAÇÃO DE MONTREAL SOBRE


A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Montreal – Canadá OPS/OMS - 06 DE OUTUBRO DE 2004

TRADUÇÃO: Dr. Jorge Márcio Pereira de Andrade,


Novembro de 2004

[...]DECLARAMOS QUE:

As Pessoas com Deficiência Intelectual, assim como outros


seres humanos, nascem livres e iguais em dignidade e direitos.

[...] A deficiência intelectual é entendida de maneira


diferenciada pelas diversas culturas o que faz com a comunidade
internacional deva reconhecer seus valores universais de dignidade,
autodeterminação, igualdade e justiça para todos.

Os Estados têm a obrigação de proteger, respeitar e garantir que


todos os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais e as

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Capítulo 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e
Deficiência Intelectual

liberdades das pessoas com deficiência intelectual sejam exercidos


de acordo com as leis nacionais, convenções, declarações e normas
internacionais de Direitos Humanos. Os Estados têm a obrigação
de proteger as pessoas com deficiências intelectuais contra
experimentações científicas ou médicas, sem um consentimento
informado, ou qualquer outra forma de violência, [...] maus tratos ou
castigo cruel, desumano ou degradante. (como as torturas).

[...]. 5-A.[...]. B [...]

6- A. As pessoas com deficiências intelectuais têm os mesmos


direitos que outras pessoas de tomar decisões sobre suas próprias
vidas. Mesmo que algumas pessoas possam ter dificuldades de fazer
escolhas, formular decisões e comunicar suas preferências, elas
podem tomar decisões acertadas para melhorar seu desenvolvimento
pessoal, seus relacionamentos e sua participação nas suas
comunidades. Em acordo consistente com o dever de adequar o que
está estabelecido no parágrafo 5 B, as pessoas com deficiências
intelectuais devem ser apoiadas para que tomem suas decisões, as
comuniquem e estas sejam respeitadas. Conseqüentemente, quando
os indivíduos têm dificuldades para tomar decisões independentes,
as políticas públicas e as leis devem promover e reconhecer as
decisões tomadas pelas pessoas com deficiências intelectuais. Os
Estados devem providenciar os serviços e os apoios necessários
para facilitar que as pessoas com deficiências intelectuais tomem
decisões significativas sobre as suas próprias vidas. B.[...] Qualquer
interdição deverá ser por um período de tempo limitado, sujeito
as revisões periódicas e, com respeito apenas a estas decisões,
pelas quais será determinada uma autoridade independente, para
determinar a capacidade legal.Montreal, 06 de outubro de 2004.

Fonte: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/


mpv/2163-41.htm>. Acesso em: 2 ago. 2012.

23
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Atividade de Estudos:

1) Você acabou de ler alguns trechos que são muitos pertinentes


sobre nossos estudos da deficiência intelectual. Como você
percebe a aplicabilidade dessa declaração no atual momento
social e escolar da pessoa com deficiência intelectual?
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Algumas Considerações
Caro pós graduando, neste capítulo você aprendeu sobre as relações
familiares escolares, as nomenclaturas, e os parâmetros estabelecidos sobre o
que é ser normal e anormal.

Convido-o para o próximo capítulo com certeza, com os subsídios do que


foi estudado no capítulo II, você estará mais envolvido com o termo deficiência
intelectual, então você irá aprender mais sobre como o ambiente pode influenciar
a personalidade, o mito e o papel da família.

Para refletirmos sobre o capítulo estudado temos duas sugestões: um filme


e um livro.

Filme: Meu nome é Rádio

Na Carolina do Sul, o técnico de futebol


americano Harold Jones (Ed Harris) faz
amizade com Radio (Cuba Gooding Jr.),
um estudante de colegial que é deficiente
mental. O relacionamento dos dois dura
décadas e Radio se transforma de um garoto
tímido e atormentado a uma inspiração para
a comunidade onde vive. 

24
Capítulo 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e
Deficiência Intelectual

Livro: A história da loucura.


Autor: Michel Foucault.

25
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Referência
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SEESPBrasília: 2010.

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DECLARAÇÃO DE MONTREAL. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/mpv/2163-


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26
Capítulo 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e
Deficiência Intelectual

DIFERENÇA ENTRE DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E DOENÇA MENTAL.


Disponível em: <http://novaprojeto.blog.terra.com.br>. Acesso em: 31 jul. 2012.

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Martins Fontes, 1989.

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27
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

______. Lev Semenovich. COLE, Michael. A formação social da mente: o


desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.

______. Leon Semenovich, A formação social da mente: os


desenvolvimentos dos processos psicológicos superiores. Organizadores
Michael Cole...[et. al.] tradução José Cipolla Neto, Luis Silveira Menna Barreto,
Solange Castro Afeche. 7ª Ed. – São Paulo. Ed. Martins Fonte. 2007.

28
C APÍTULO 2
O Papel da Família no
Desenvolvimento do Deficiente
Intelectual

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 A influência da família no desenvolvimento da


personalidade do deficiente intelectual.

33 Perceber o deficiente intelectual como sujeito capaz de se desenvolver.

33 Mediar família, deficiente intelectual e escola.


A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

30
Capítulo 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do
Deficiente Intelectual

Contextualização
No capítulo anterior você estudou sobre aspectos que envolvem deficiência
intelectual, seu contexto familiar, escolar e social. Também contemplamos um
breve histórico sobre as nomenclaturas e paradigmas envolvidos.

Você já deve ter ouvido falar de alguns rótulos sobre as pessoas que
apresentam deficiência intelectual, não é? Esses sujeitos são considerados
muitas vezes como incapazes, perturbadores e inconvenientes por seus colegas
de classe, seus professores e até mesmo pelos próprios familiares. Sobre essa
situação convidamos você a refletir:

• Será que é isso mesmo que acontece?

• Nas residências, eles realmente perturbam ou é apenas fruto das frustrações


da família?

• Na escola, as práticas pedagógicas estão voltadas para a inserção desse


estudante com deficiência intelectual?

• O que fazer para desmistificar esses paradigmas?

Para responder essas questões, iremos estudar, com base em autores, os


mitos e verdades sobre o comportamento do deficiente intelectual e a influência
que o ambiente familiar exerce no desenvolvimento de sua personalidade.

Boa leitura!

A Influência Familiar no Vygotsky (1997)


Desenvolvimento da enfatiza que
o deficiente
Personalidade do Deficiente Intelectual só
conseguirá evoluir
Intelectual nos aspectos do
desenvolvimento
da linguagem e
A relação das pessoas com deficiência intelectual no seu ambiente do pensamento
familiar deve ser tranquila e de aconchego, para que o sujeito com quando houver
deficiência reconheça que esse espaço para ele é natural e faz parte de a qualidade
sua convivência. Vygotsky (1997) enfatiza que o deficiente Intelectual das interações
só conseguirá evoluir nos aspectos do desenvolvimento da linguagem interpsicológicas.

31
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

e do pensamento quando houver a qualidade das interações interpsicológicas.


Este aspecto pode configurar-se de forma problemática na situação das crianças
com necessidades especiais, cujo histórico aponta com frequência para situações
de isolamento social.

Se a pessoa com deficiência não tem no ambiente familiar ou escolar o


conforto psicológico, e sua necessidade física atendida, poderá sentir-se excluída.
E esse sentimento poderá levar ao isolamento, a agressividade e a distúrbios
intelectuais.

Segundo Ballone (2008) Para adaptar-se ao ambiente


satisfatoriamente, o indivíduo deve se utilizar da capacidade de integrar
várias modalidades sensoriais (os sentidos), de modo a constituir uma
noção (consciência) da situação presente. Além disso, deve desenvolver
uma capacidade de aprendizagem. Finalmente, deve desenvolver uma
capacidade de agir objetivamente.

O ambiente de convivência do deficiente intelectual é um dos grandes


responsáveis pelo seu comportamento. Um ambiente em que as pessoas
desferem suas angústias e frustrações, que demonstram falta de respeito e
discussão, pode se tornar impróprio para uma relação saudável.

Sempre que você, caro pós-graduando, sentir necessidade de


alguma consulta para ampliar seus conhecimentos sobre a condição
da mente humana, consulte o site http://www.psiqweb.med.br/ , lá
inúmeros artigos podem vir a auxiliá-lo.

O meio familiar e a ação de seus membros, pode influenciar a maneira como


a pessoa com deficiência intelectual atua nos demais ambientes que possa vir a
frequentar. Compreendemos com isso, segundo Abenhaim (2009, p. 237) que:

O grau de comprometimento intelectual não é fator


determinante da não aprendizagem. A crença no limite do
outro é muito mais danosa pois resulta numa autoimagem
negativa em baixa autoestima. As pessoas identificadas como
incapazes geralmente assumem essa condição e acreditam
que jamais poderão modificar esse resultado.
32
Capítulo 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do
Deficiente Intelectual

Alguns pais, com a intenção de proteger os filhos com deficiência


intelectual, de olhares preconceituosos e deboches acabam por limitar ainda
mais seu desenvolvimento. Uma das preocupações dos pais é em relação
ao bullying, não apenas na escola, mas também na sociedade. Esse tipo
de preconceito pode piorar o desenvolvimento do sujeito com deficiência,
fazendo se sentir inseguro e prejudicando assim sua autonomia e confiança
nas pessoas.

Bullying é uma palavra inglesa sem tradução para o português,


mas que é compreendida como todo tipo de violência que o sujeito
pode vir a sofrer, seja física ou verbal. Atualmente é muito discutida
nos espaço escolar.

É interessante pensar em uma perspectiva de desenvolvimento satisfatório,


com o intuito de que o ambiente familiar em que se encontra o deficiente
intelectual possa estar apropriado para que esse sujeito possa desenvolver suas
potencialidades, pois segundo Abenhaim (2009, p. 154), “A educação familiar dos
filhos, sobretudo daqueles que apresentam necessidades educativas especiais,
representa um requisito social decisivo para a sua formação escolar(...).” Nesse
sentido Piletti (1986) esclarece que as famílias muitas vezes são caracterizadas
por situações injustas, de desigualdade econômica e social, que lutam por vários
razões, principalmente, financeiras. Deixando não por negligência,
mas, às vezes, por falta de conhecimento de como atuar no sentido Piletti (1986)
esclarece que
de inserir adequadamente seus filhos nas esferas sociais, culturais e
as famílias
escolares. muitas vezes são
caracterizadas por
A ideia de que essas famílias sejam necessariamente abaladas situações injustas,
em sua qualidade de vida deve ser revista. Núñez (2003), pesquisando de desigualdade
as famílias com filhos deficientes, descreve os conflitos presentes nos econômica e
social, que lutam
vínculos e os indicadores de risco nessas famílias, conclui que os
por vários razões,
conflitos familiares não surgem em resultado direto da deficiência, mas principalmente,
em função das possibilidades de a família adaptar-se ou não a essa financeiras.
situação.

Estresse

Estado emocional negativo que ocorre em resposta a eventos

33
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

percebidos como uma sobrecarga ou que excedam as habilidades ou


recursos da pessoa para gerenciá-los.

Estressores

Eventos ou situações que são percebidos como perigosos,


ameaçadores ou desafiadores (HOCKENBURY E HOCKENBURY,
2002, p.444).

A família desempenha um papel primordial no desempenho da pessoa


com deficiência intelectual na escola e na sociedade, quando cria nesse sujeito
capacidades e o envolve nas atividades essenciais da família.

(...) Segundo mostram os dados do Sistema de Avaliação


da Educação Básica (Saeb) de 1999, nas escolas que
contam com a participação dos pais, por meio de trocas de
informações com os professores e os diretores, os alunos
tendem a aprender mais e melhor. (ABENHAIM, 2009, p.
154),

O texto a seguir trata da relação familiar e da influência nas atitudes das


pessoas com deficiência intelectual.

FAMÍLIA E TRANSTORNOS EMOCIONAIS

No meio familiar, a crueldade e a maldade disfarçadas se


apresentam como chantagens emocionais, cerceamentos de
liberdade... É dispensável relacionar aqui as situações familiares
bizarras e extremas, capazes de prejudicar o bom desenvolvimento
emocional de seus membros, incluindo os filhos, cônjuge, netos,
sobrinhos e até o cachorro da casa. Normalmente essas situações
dizem respeito ao alcoolismo, droga dicção, histerias de várias
formas, violência doméstica, chantagens emocionais, enfim, toda
sorte de excessos capazes de perturbar o bom andamento das
coisas familiares.

Pode parecer estranho, mas, de fato, o que interessa considerar


aqui é o exercício da maldade, tortura e crueldade. Mas não se
trata da maldade, tortura e crueldade clássicas e francas. Aí ficaria
muito fácil diagnosticar a dinâmica familiar deturpada. Mas não,

34
Capítulo 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do
Deficiente Intelectual

o que nos interessa é o exercício da maldade, tortura e crueldade


exercidas velada e dissimuladamente. Esse tipo disfarçado de
crueldade e maldade inclui toda espécie de chantagens emocionais,
cerceamentos de liberdade, desrespeito, omissões e opressões que
familiares dirigem uns contra os outros de forma surda, calada e,
muitas vezes, socialmente irreprimível.

Esse tipo de família onde existem pessoas capazes de gerar


ansiedade e mal estar emocional em outros familiares constitui
aquilo que chamamos de Família de Alta Emoção Expressa. O
termo Alta Emoção Expressa foi adotada, inicialmente, para indicar
características de famílias que favoreciam a recaída dos sintomas
de pacientes psiquiátricos. Hoje em dia, podemos empregar o termo
para designar famílias que favorecem o desenvolvimento de estados
emocionais desconfortáveis.

Na maior parte das vezes, o discurso de tais famílias nos dá a


impressão de que todos são ótimos e desejam ardentemente o bem
estar dos demais. Mas, avaliando com mais cuidado, surdamente,
nas entrelinhas e dissimuladamente, veremos que as coisas são
feitas de forma a piorar o estado emocional dos demais ou de
alguém, especificamente.

Fonte: Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/


LerNoticia&idNoticia=29>. Acesso em: 14 ago. 2012.

O texto que você leu, discute como a influência familiar pode alterar a
personalidade de uma pessoa e o quanto o uma pessoa com deficiência intelectual
está mais suscetível a sofrer essa influência negativa.
Segundo
Mas o que é personalidade? Hockenbury e
Hockenbury
Segundo Hockenbury e Hockenbury (2002, p.369), “personalidade (2002, p.369),
é definida como os padrões únicos e relativamente consistentes de “personalidade é
definida como os
pensamentos, sentimentos e comportamentos de um indivíduo”.
padrões únicos
Quando esses padrões não correspondem às expectativas, as e relativamente
coerências desses pensamentos e comportamentos já começam consistentes de
demonstrar anomalias por parte dos que estão próximos desses pensamentos,
sujeitos, que são os familiares, já que o princípio básico de início de sentimentos e
vida é a estrutura familiar. comportamentos
de um indivíduo”.

35
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

As particularidades de cada indivíduo e principalmente da pessoa com


deficiência intelectual, sua maneira de agir e interagir no contexto que está inserido
traz de suas vivências familiares uma carga da formação de sua identidade. É
uma influência que está intrinsecamente arraigada na subjetividade desse sujeito.
Quando os familiares não estão preparados para lidar com a deficiência intelectual
e agem como se os mesmos fossem incapazes, cria-se uma forte relação de
dependência dessas pessoas.

A suspeita da existência de famílias com características


psiquiatricamente mórbidas ocorreu de forma científica em 1959. As
conclusões do primeiro estudo de George Brown, em 1959, apontaram
para uma possível associação entre a qualidade das relações familiares
e o desenvolvimento da doença mental do paciente

Ballone (2008) fez uma lista de razões que fazem com que os filhos sofram
uma alguma angústia ou sofrimento, e que podem vir a originar um distúrbio
emocional. Segundo o autor há alguns fatores que podem desencadear esses
sentimentos.

O quadro a seguir orientar-lhe-á na melhor compreensão desses fatores.

Todos esses fatores podem causar muito estresse tanto nos filhos como nos
pais, gerando assim angústias que podem vir a desenvolver distúrbios emocionais
que poderão afetar sua vida social, escolar e afetiva.

Causariam sofrimento emocional os pais...

36
Capítulo 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do
Deficiente Intelectual

1 – omissos e ausentes.
2 – tiranos e opressores.
3 – que exigem muito.
4 – que não exigem nada.
5 – que nutrem fortes expectativas sobre os filhos.
6 – que não se interessam tanto pelos filhos.
7 – que se separam para não brigarem mais.
8 – que não se separam, mas brigam.
9 – que só pensam em dinheiro.
10 – que não ensinam a valorizar o dinheiro.
11 – muito enérgicos (que limitam muito).
12 – muito camaradas (não dão limites).
13 – que não entendem (ou não querem entender) os filhos.
14 – que interferem muito e querem saber de tudo.
15 – que proíbem muito.
16 – que permitem muito.
17 – que nunca estão satisfeitos.
18 – que acham que está sempre tudo muito bom.
19 – etc.

Fonte: Disponível em <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/


LerNoticia&idNoticia=195>. Acesso em: 14 ago. 2012.

A figura a seguir é analisada na obra de Hockenbury e


Hockenbury (2002, p.450): “Vias do Sistema Endócrino no Estresse –
Duas vias estão envolvidas nas respostas ao estresse”. A via endócrina,
apresentada à esquerda do diagrama, é a via envolvida na resposta
lutar ou fugir (fightorflight response) para ameaças imediatas. A via
endócrina à direita tem uma função importante quando lidamos com
estressores prolongados ou crônicos.

A seguir, duas formas de como o estresse pode se manifestar, e como ele


pode agir no seu organismo.

37
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Figura 1 - Como se processa o estresse no corpo

Fonte: Hockenbury e Hockenbury (2002, p.450).

De acordo com a ilustração podemos perceber que a influência familiar é


a maior responsável pelo desenvolvimento integral da criança, apresente ela
alguma deficiência ou não. E o papel da família é proporcionar ao sujeito que
apresenta deficiência um laço de confiança e amor.

Esperamos que as discussões até então apresentadas possam ajudá-lo


a repensar em uma prática que valorize um ambiente profissional tranquilo e
acolhedor para a pessoa com ou sem deficiência intelectual.

38
Capítulo 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do
Deficiente Intelectual

Atividades de Estudos:

1) Sobre a definição de Personalidade desenvolvido por Hockenbury


e Hockenbury (2002), reflita e responda, você concorda com esse
conceito? Justifique sua opinião.
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___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

2) Aprendemos que vários fatores, como sociais, familiares e


escolares podem causar estresse. Você já passou por alguma
situação que desencadeou essa emoção? Pense sobre isso.

Agora, com base em seus estudos, defina:

a) Estresse:
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_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
b) Estressores:
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

Caro pós-graduando, os estudos que você realizou até aqui têm como objetivo
auxiliá-lo em sua prática pedagógica de um fazer inclusivo. Nessa perspectiva,
esperamos que essa leitura se torne um “saber fazer”, tornando-se relevante
nos contornos sociais e escolares em que você, profissional da educação, está
inserido.

39
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

As Novas Sociopatias

Novas sociopatias: são alguns distúrbios como: dificuldades


de relacionamentos mesmo com colegas de sala de aula, ou de
trabalho, lidar com pai ou mãe ou irmãos depois da separação. São
desenvolvidos pelas pessoas, que não necessariamente sejam
crianças ou jovens, o adulto também não está imune, podendo
acarretar, dentre outros problemas, sérias falhas nos relacionamentos
interpessoais e de aprendizagem e falta de concentração (grifo da
autora).

As relações nas
famílias podem vir
a causar danos Atualmente denominam-se novas sociopatias o que está
emocionais e, relacionado às estruturas ou desestruturas familiares. As relações nas
caso o sujeito famílias podem vir a causar danos emocionais e, caso o sujeito seja
seja um deficiente
um deficiente intelectual, pode essa falta de harmonia na família piorar
intelectual, pode
essa falta de seu desempenho nas relações exteriores, principalmente na instituição
harmonia na escola, pois é onde haverá a convivência por mais tempo e com um
família piorar seu número maior de pessoas, gerando, dessa forma, um aumento dos
desempenho atritos com os colegas de sala e demais alunos.
nas relações
exteriores.

A Agressão Emocional é especialidade do meio familiar,


chegando-se ao requinte de agredir intencionalmente com um falso
aspecto de estar fazendo o bem ou de não saber que está agredindo.

Muitas vezes, esses desacordos familiares podem vir a gerar um desequilíbrio


da personalidade que vai muito além apenas de falta de relacionamentos saudáveis,
sendo que um dos fatores é o desencadeamento de violência física.

De acordo com Ballone (2008), o termo “desequilíbrio da


personalidade sociopática”, que substituiu “psicopatia”, foi incluído
no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Primeira
Edição (DSM-I), compêndio de distúrbios mentais reconhecidos

40
Capítulo 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do
Deficiente Intelectual

publicado em 1952. Os psiquiatras usavam o termo “distúrbio da


personalidade psicopática” para descrever pessoas que exibiam
comportamento anormal em relação ao seu ambiente

De acordo com Lorenzini (1999), as crianças que apresentam deficiência


intelectual reagem de forma branda aos incentivos que são proporcionados pelo
espaço doméstico, e suas respostas aos estímulos podem ser muito demoradas
ou muitas vezes díspares do que se espera. Assim, precisam de estímulos
ininterruptos para que possam vislumbrar o emprego das informações que
possam assimilar. A autora relata que, para que a criança possa desenvolver suas
habilidades, ela necessita ser auxiliada de maneira que os estímulos respeitem as
suas necessidades.

Segundo Belloni (2008), a Codependência é um transtorno


emocional definido e conceituado por volta das décadas de 70 e 80,
relacionado aos familiares dos dependentes químicos e atualmente
estendido também aos casos de alcoolismo, de jogo patológico e
outros problemas sérios da personalidade.

A Codependência se caracteriza por uma série de sintomas e


atitudes mais ou menos teatrais, e cheias de Mecanismos de Defesa.

Há muitas pessoas com transtornos emocionais derivados de sintomas


descritos e suas atitudes que podem vir a interferir nas suas atividades e relações
sociais.

Quando as dificuldades se apresentam no âmbito escolar, é necessário que o


profissional da educação esteja apto a lidar com a situação. Creio, caro educando,
que o conhecimento da deficiência intelectual e de como ela se manifesta possam
ajudá-lo nas práticas que você desenvolverá no dia a dia.

Para que você possa entender melhor algumas características dos


transtornos de personalidade, o texto a seguir pode ajudá-lo.

41
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

1. Dificuldade para estabelecer e manter relações íntimas sadias e


normais, sem que grude muito ou dependa muito do outro.

2. Congelamento emocional. Mesmo diante dos absurdos


cometidos pela pessoa problemática o codependente, mantém-
se com a serenidade própria dos mártires.

3. Perfeccionismo. Da boca para fora, ou seja, ele professa um


perfeccionismo que, na realidade, ele queria que a pessoa
problemática tivesse.

4. Necessidade obsessiva de controlar a conduta de outros.


Palpites, recomendações, preocupações, gentilezas quase
exageradas fazem com que o codependente esteja sempre
superssolícito com quase todos (assim ele justificaria que sua
solicitude não é apenas com a pessoa problemática).

5. Condutas pseudocompulsivas. Se o codependente paga as


dívidas da pessoa problemática ele “nunca sabe bem porque fez
isso”, diz que não consegue se controlar.

6. Sentir-se responsável pelas condutas de outros. Na realidade


ele se sente mesmo responsável pela conduta da pessoa
problemática, mas para que isso não motive críticas, ele aparenta
ser responsável também pela conduta dos outros.

7. Profundos sentimentos de incapacidade. Nunca tudo aquilo


que fez ou está fazendo pela pessoa problemática parece ser
satisfatório.

8. Constante sentimento de vergonha, como se a conduta


extremamente inadequada da pessoa problemática fosse, de
fato, sua.

9. Baixa autoestima.

10. Dependência da aprovação externa, até por uma questão da


própria autoestima.

11. Dores de cabeça e das costas crônicas que aparecem como


somatização da ansiedade.

42
Capítulo 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do
Deficiente Intelectual

12. Gastrite e diarréia crônicas, como envolvimento psicossomático


da angústia e conflito.

13. Depressão. Resultado final.

Fonte: Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/


LerNoticia&idNoticia=24->. Acesso em: 14 ago. 2012.

Como você percebeu, são várias as possibilidades de acontecerem os


sintomas descritos acima. Com o conhecimento deles, você entenderá o que
acontece e poderá aplicar o diagnóstico na sua técnica pedagógica, de maneira
a interferir para beneficiar o deficiente intelectual no seu desempenho da
aprendizagem e nas relações, especialmente dentro do universo escolar.

Atividades de Estudos:

1) Sobre as novas sociopatias, você deve ter percebido que as


pessoas podem alterar seu comportamento, e um dos fatores
é que os deficientes intelectuais tem a dificuldade em criar e
manter relações íntimas sadias e normais, sem que se crie
uma relação em que um dependa muito do outro. Como você
compreende essa dificuldade de estabelecer relações sociais
saudáveis?
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___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
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2) Você estudou que a “codependência” é um transtorno


emocional definido e conceituado por volta das décadas de
70 e 80, relacionado aos familiares. Como você entende a
“codependência” na pessoa com deficiência intelectual com seus
familiares?
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
43
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

_____________________________________________________
_____________________________________________________

Você acabou de estudar sobre as novas sociopatias e os transtornos de


aprendizagem. Agora, convidamos você a realizar a leitura sobre mitos com
relação à capacidade do deficiente intelectual.

Deficiencia Intelectual e o Mito da


Incapacidade
O deficiente intelectual durante muito tempo foi considerado como um ser
incapaz, um inválido, e esses conceitos foram sendo difundidos na sociedade e a
mesma introduziu na sua subjetividade.

No ambiente familiar e escolar é muito comum ouvir pais e professores


falarem sobre a pessoa deficiência intelectual “não saber” fazer isso ou aquilo.
O termo incapacidade muitas vezes é evitado, embora inconscientemente
seja lembrado. No entanto, queremos que fique claro que essa incapacidade
é mito. Nesse sentido enfatiza (ABENHAIM 2008, p.243) “A visão excludente
e alienada do ser humano está sendo substituída por um reconhecimento de
todo ser humano como ser social que aprende na relação com o mundo, com
o outro.”

A pessoa com deficiência intelectual apresenta algumas impossibilidades,


mas não incapacidades. “A aprendizagem e o desenvolvimento das pessoas não
podem ser determinados pela aparência. O que realmente limita é a sociedade”
(ABENHAIM 2008, p.243). Por isso o que família e escola devem procurar é criar
condições de autonomia para esse sujeito.

O fragmento de texto a seguir irá esclarecer alguns pontos de mito e verdade


para sua maior compreensão sobre o tema.

MITOS E VERDADES SOBRE DEFICIÊNCIA


MENTAL/INTELECTUAL

[...]

44
Capítulo 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do
Deficiente Intelectual

O mito: as pessoas com deficiência intelectual são muito


Não se pode
ou totalmente dependentes. subestimar nem
superestimar
A verdade: a pessoa com deficiência intelectual habilitada a capacidade
para o trabalho geralmente já frequentou uma escola regular dessa pessoa,
e/ou instituição especializada que a preparou para ser o mais porque suas
habilidades não
independente possível. Portanto, em um ambiente corporativo,
estão vinculadas,
ela deve fazer sozinha tudo o que puder, e ser ajudada exclusivamente,
somente se for realmente necessário. Não se pode subestimar às suas limitações.
nem superestimar a capacidade dessa pessoa, porque suas
habilidades não estão vinculadas, exclusivamente, às suas limitações.
Existem pessoas com Síndrome de Down, por exemplo, que são
muito independentes, estudam, trabalham, andam sozinhas pelas
ruas, se casam, tem vida sexual ativa e ajudam a família. Existem
também muitas pessoas com deficiência intelectual que vão e voltam
do trabalho com total independência, além de terem autonomia para
decidirem sobre sua carreira dentro de uma empresa. 

O mito: as pessoas com deficiência intelectual necessitam de


superproteção.

A verdade: não. Impedi-las de experimentar a vida é negar sua


possibilidade de alcançar níveis cada vez maiores de independência
e de autonomia.

[...]

O mito: as pessoas com deficiência intelectual são mais


agressivas e/ou muito carinhosas (“grudentas”). 

A verdade: a agressividade é uma forma de a pessoa administrar


sua convivência na realidade, desenvolvida no período de sua
história de vida. Não está associada a qualquer deficiência e pode
ser característica de qualquer pessoa, tendo ou não uma deficiência.
As pessoas com deficiência intelectual podem ou não ser muito
carinhosas, como uma pessoa sem deficiência. Os comportamentos
podem ser alterados de acordo com a necessidade de um grupo de
pessoas, portanto, é interessante explicar ao novo funcionário com
deficiência intelectual, caso seja necessário, que naquele ambiente
de trabalho ele deve agir de determinada forma. Isso é fundamental
para um bom relacionamento com essa pessoa. 

O mito: as pessoas com deficiência intelectual são como


crianças.
45
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

A verdade: uma pessoa com deficiência intelectual é uma


pessoa com qualidades e defeitos. Quando criança, deve ser tratada
como a criança que é. Quando adolescente, ou adulto, deve-se
tratá-la de acordo com sua faixa etária. A capacidade de interagir
em sociedade, e consequentemente no ambiente de trabalho, deve
ser avaliada hoje de acordo com os critérios da CIF – Classificação
Internacional de Funcionalidade e Incapacidade - que equilibra
fatores clínicos, comportamentais e sociais. 

O mito: as pessoas com deficiência intelectual são “muito”


inteligentes. 

A verdade: muitas pessoas esperam menos da pessoa com


deficiência, especialmente, a pessoa com deficiência intelectual.
Assim, quando constatam nela capacidades e produtividade, é
comum dizerem “são muito inteligentes!” Na verdade, super avaliar
a inteligência da pessoa é tão discriminatório quando subavaliá-la. A
pessoa com deficiência intelectual pode vir a apresentar dificuldade
para aprender, especialmente quando se trata de conteúdos e
conceitos abstratos, ou que dela exigem maior memorização. Seu
ritmo de aprendizagem também pode vir a ser menor. Porém, o mais
importante a se saber é que, para cada característica identificada, há
uma forma para compensar a limitação e promover sua produtividade
e funcionamento [...]. Texto adaptado para divulgação no site do
Instituto Indianápolis.

Fonte: Disponível em: <http://www.pedagogiaaopedaletra.com.br/


posts/mitos-verdades-sobre-deficiencia-mentalintelectual/>.
Acesso em: 26 ago. 2012.

Mesmo com as Declarações para a Inclusão, que começaram a ser


deflagradas, esse conceito de incapacidade passa a ser reinterpretado,
principalmente para a família, profissionais da saúde e da educação, o que
principia num entendimento do deficiente intelectual como um indivíduo que tem
suas capacidades, que necessita que elas sejam compreendidas e exploradas de
maneira correta.

Ainda é necessário que aconteçam mais mudanças significativas no que se


refere à atuação dessas pessoas nos meios em que estão inseridas.

Como você percebeu, a maneira como a pessoa com deficiência é tratada

46
Capítulo 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do
Deficiente Intelectual

pelos familiares e pelos professores refletirá em seu comportamento e percebida


no meio em que estão inseridas. Respeitá-las é uma forma de fazê-las sentir-se
parte do contexto.

Você já deve ter lido sobre as Declarações que buscam os


diretos das pessoas com deficiência: não se esqueça de ler sobre
a Declaração de Montreal para deficiência intelectual. Apesar de
haver um pequeno texto no capítulo I, existe muito mais para você
aprender.

Atividades de Estudos:

1) Estudamos nesse capítulo sobre capacidades e mitos das


pessoas com deficiência intelectual. Qual sua opinião sobre o
mito da capacidade da pessoa com deficiência intelectual?
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

2) Como você compreende as possibilidades de alcance da


autonomia das pessoas com deficiência intelectual?
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

47
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Algumas Considerações
Caro pós-graduando, chegamos ao fim de mais um capítulo, no qual
estudamos sobre as relações da família com a deficiência intelectual e suas
implicações; as relações entre família escola e pessoa com deficiência intelectual
e o mito da incapacidade.

Já no próximo capítulo abordaremos a sexualidade da pessoa com deficiência


intelectual. Faremos um estudo para melhor compreender como a sociedade,
escola e família enfrentam essa questão.

Até lá.

Livro: Ciúme.
Autor: Eduardo Ferreira-santos
EDITORA AGORA
Editora: 
2007
Ano de Edição: 
112
Nº de Páginas: 

Referências
ABENHAIM, Evanir. Educação Inclusiva, Deficiência e Contexto Social: questões
contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2009.

BALLONE,G,J.Ortolani IV – A Família faz bem ou mal Saúde Mental? 2008.


Disponível em: <http://www. psiqweb.med.br>. Acesso em: 20 ago. 2012.

_____, G.J., OrtolaniIV - A Família e Transtornos Emocionais,. 2008.


Disponível em: <http://www. psiqweb.med.br>. Acesso em: 20 ago. 2012.

_____, G.J. Deficiência Mental, 2007. Disponível em: <http://www.psiqweb.


48
Capítulo 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do
Deficiente Intelectual

med.br>. Acesso em: 22 ago. 2012.


_____, G.J., MOURA E.C.  Transtornos da Linhagem Sociopática, 2008.
Disponível em: <http.//www.psiqweb.med.br>. Acesso em: 23 ago. 2012.

_____, G.J.–Codependência, 2008. Disponível em: <http://www.psiqweb.med.


br>. Acesso em: 14 ago. 2012.

BEYER, Otto, Hugo. Por que Lev Vygotsky quando se propõe uma educação
inclusiva? Ed.: 2005 - N° 26. Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/revce/
ceesp/2005/02/a7.htm>. Acesso em: 8 mar. 2012.

CID 10. Disponível em: <http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/cid10.htm>.


Acesso em: 14 ago. 2012.

CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS – CID. Disponível em: <http://www.


psicnet.psc.br/v2/site/dicionario/registro_default.asp>. Acesso em: 26 ago. 2012.

HOCKENBURY, Dom H., &HOCKENBURY,Sandra. Descobrindo a Psicologia.


São Paulo. SP. Editora. Monole. 2002.

INSTITUTO MID. Mitos e verdades sobre deficiência mental/intelectual.


Disponível em: <http://www.pedagogiaaopedaletra.com.br/posts/mitos-verdades-
sobre-deficiencia-mentalintelectual/>. Acesso em: 26 ago. 2012.

LORENZINI, M. V. (1999). Brincando no ambiente natural: uma contribuição


para o desenvolvimento sensório-motor da criança portadora de paralisia
cerebral. Campinas: Universidade Estadual de Campinas (Tese de Doutorado).

NÚÑEZ, B. La Família com um Hijo com Discapacidad: sus Conflictos Vinculares.


Archives Argentinian of Pediatry, Buenos Aires: Sociedad Argentina de
Pediatria, 101(2), pp. 133-42, 2003.

PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. Editora Ática. São Paulo. 1986.

VYGOTSKY, L.S. Obras Escogidas V – Fundamentos de Defectología. Madrid:


Visor, 1997.

49
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

50
C APÍTULO 3
Educação Sexual e Deficiência
Intelectual

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Refletir sobre o processo da educação sexual na escola do deficiente intelectual.

33 Discutir concepções de sexualidade na deficiência intelectual.

33 Abordar a descendência e o matrimônio de pessoas com deficiência intelectual.


A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

52
Capítulo 3 Educação Sexual e Deficiência Intelectual

Contextualização
O sexo na Idade Média era tido como pecado, com fim apenas de concepção
em virtude dos dogmas religiosos. Essa compreensão do sexo no ocidente vem
se alterando lentamente e culmina com a revolução sexual dos anos de 1960 e
1970, com o advento da pílula anticoncepcional e outros métodos de prevenção
da gravidez. Com o surgimento da AIDS, nos anos de 1980, a questão sexual
entra em debate e agora já não se trata apenas de prevenção contra gravidez e
sim uma questão de saúde e risco de morte.

Quando se trata da sexualidade da pessoa com deficiência intelectual,


inúmeras dúvidas surgem. Diante disso discutiremos no decorrer dos capítulos
como esses processos vêm se desdobrando, com todas as implicações do
desenvolvimento da esfera social, que acaba influenciando a esfera privada.

Outro ponto em discussão será o matrimônio entre pessoas com deficiência


intelectual, que gera a preocupação por parte dos familiares quanto à questão da
descendência que esses sujeitos irão gerar.

Boa leitura!

Educação Sexual: Deficiência


Intelectual, Família E Escola
Afinal, como debater na família e na escola sobre a educação
Diferente da
sexual e os processos da sexualidade para a pessoa com deficiência sexualidade dos
intelectual? Pois, “Diferente da sexualidade dos adolescentes adolescentes tidos
tidos como normais, a sexualidade dos deficientes não é um tema como normais,
esclarecido nas salas de aula e nem é comumente tido como assunto a sexualidade
em debates ou palestras.” (MACEDO; TERRASSI, 2009). dos deficientes
não é um tema
esclarecido nas
Nesse aspecto, a educação sexual na escola torna-se uma salas de aula e
tarefa complexa, pois traz em questão preceitos religiosos, falta de nem é comumente
conhecimento e vergonha por parte das próprias famílias, deixando a tido como assunto
escola numa posição vulnerável. em debates
ou palestras.
(MACEDO;
É importante compreendermos como vem sendo discutido a
TERRASSI, 2009).
sexualidade em ambientes familiares e escolares. Além disso, vamos
refletir sobre como a escola aborda o tema para as pessoas com

53
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

deficiência intelectual, sobre a forma como ocorre à sexualidade nesses sujeitos e


suas implicações no cotidiano. Conforme Foucault (1998, p.9),

O termo sexualidade surgiu no século XIX, marcando algo


O termo diferente do que apenas um remanejamento de vocabulário.
sexualidade O uso desta palavra é estabelecido em relação a outros
surgiu no século fenômenos, como o desenvolvimento de campos de
XIX, marcando conhecimento diversos; a instauração de um conjunto de
regras e de normas apoiadas em instituições religiosas,
algo diferente do
judiciárias, pedagógicas e médicas; mudanças no modo
que apenas um pelo qual os indivíduos são levados a dar sentido e valor
remanejamento de à sua conduta, desejos, prazeres, sentimento, sensações e
vocabulário. sonhos.

O termo já existe há muito tempo e tem outras implicações que não apenas
uma referência ao contorno sexual, ao sexo em si, mas uma implicação de
construção histórica e social.

A sexualidade, nos Parâmetros Curriculares Nacionais – Pluralidade Cultura


e Orientação Sexual, é entendida como uma concepção biológica inerente
ao ser humano está na sua subjetividade, faz parte de suas vidas e deve ser
encarada com naturalidade. É preciso desmistificar a relação sexual como um ato
pecaminoso e abominável. Sobre isso, salienta Ballone (2008) que é importante
lidar com questões sexuais como um instrumento de relacionamento, e não
somente ao ato sexual. Diante disso, as famílias devem buscar um entendimento
sobre a sexualidade das pessoas com deficiência intelectual, respeitando sua
privacidade.

Numa perspectiva histórico-cultural, a família tende a imprimir,


geralmente, aos portadores de deficiências, a ideia de que são
incapazes, inábeis, inseguros e assim vão sendo “educados”
para serem indefesos, dependentes e até considerados por
alguns como assexuados e desinteressantes (TOLEDO 2000
apud MACEDO; TERRASSI, 2009, p. 205)

Ao tratar da sexualidade devemos considerar a questão do preparo do corpo,


a idade que é mais adequada para o início de uma relação sexual e todas as
implicações que podem vir com o início das relações sexuais, como gravidez não
desejada e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s).

O texto a seguir irá auxiliá-lo no entendimento da crença da sexualidade


relacionada à deficiência intelectual

54
Capítulo 3 Educação Sexual e Deficiência Intelectual

Algumas das crenças mais comuns, relacionadas à sexualidade


e deficiência:

Crença 1: jovens com deficiência não são sexualmente


ativos.
Embora alguns adolescentes, com deficiência profunda
possam ser menos aptos que seus pares para serem sexualmente
ativos, a crença é infundada, pois não se deve assumir que a
condição de deficiência por si só preveja o comportamento sexual. 

Crença 2:as aspirações sociais e sexuais de pessoas com


deficiência são diferentes dos seus pares.
Apesar do isolamento
social que muitos deficientes vivenciam, estudos demonstram que
estes jovens gostariam de ter relações sexuais, de casar e de ter
filhos. Na verdade, o que ocorre é que essas pessoas têm menos
oportunidades de explorar alguma relação com seus semelhantes, o
que dificulta o alcance de suas aspirações. 

Crença 3:problemas quanto à expressão sexual do deficiente


ocorrem em função de sua deficiência.
Estudos demonstram que
problemas físicos e mentais têm menor influência sobre a expressão
sexual do deficiente do que sua integração social. Os deficientes têm
maior possibilidade do que os jovens “normais” de ficar isolados da
sociedade. Se a expressão sexual ocorre num contexto social, então
o isolamento tem como consequência a incapacidade do deficiente
em aprender e desenvolver habilidades sociais. A conduta sexual é
aprendida, formada e reforçada por fatores ambientais. Os ambientes
integrados oferecem maiores probabilidades de reforçar condutas
integradas. 



Crença 4:pais de adolescentes com deficiência proporcionam


suficiente educação sexual para seus filhos.
Uma das consequências
do isolamento social para estes jovens é que eles recebem menos
informações sobre sexualidade, reprodução, contracepção e
prevenção de DST e AIDS. Estudos mostram que a maioria dos
jovens deficientes nunca recebeu educação sexual.

Crença 5: jovens com deficiências são sexualmente vulneráveis


a assédios sexuais. 
Essa preocupação sobre a vulnerabilidade de
adolescentes deficientes parece ter fundamento. Portanto, o médico
que trabalha com esses jovens deve discutir essas preocupações
com eles e com seus pais e não esperar que os pais expressem

55
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

esses receios. Para alguns adolescentes, apenas a educação sexual


será suficiente. Para outros, precisará ser complementado com
contracepção. 

Qualquer que Por tudo isso, fica claro que, desde muito cedo, esses
possa ser o
adolescentes necessitam conhecer atitudes saudáveis em
interesse ou o
conhecimento relação ao seu corpo e às funções desse corpo. Qualquer que
sexual desses possa ser o interesse ou o conhecimento sexual desses jovens,
jovens, eles eles devem entender tudo o que for possível sobre sexualidade.
devem entender Se a eles é oferecida a vantagem da integração, também
tudo o que for devem ser orientados em relação a habilidades e atitudes de
possível sobre
comportamento social apropriada.
sexualidade.

Fonte: Disponível em: <http://www.indianopolis.com.br/


artigo.php?id=52>. Acesso em: 27 ago. 2012.

Como você acabou de ler, uma relação de diálogo pode ajudar a pessoa
com deficiência intelectual a manter suas interações sociais, familiares e sexuais,
desde que sejam bem orientados sobre o assunto.

Teremos enfrentado o desafio do futuro quando deixarmos de


nos sentir ameaçados ou engolidos pela enormidade desse desafio
e quando cada um de nós assumir a responsabilidade de tornar o
amanhã pelo menos um pouquinho melhor do que hoje (KRATOVILLE
apud BUSCAGLA, 2006, p. 384).  

Atividades de Estudos:

1) Você estudou no início desse capítulo que a escola e a família têm


certo grau de dificuldade em discutir a sexualidade das pessoas
com deficiência. Em sua opinião, como esse assunto deveria ser
abordado em sala de aula, pensando numa concepção inclusiva?
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

56
Capítulo 3 Educação Sexual e Deficiência Intelectual

___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

2) Como Foucault define sexualidade?


___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

3) De acordo com o estudado, há crenças, mitos sobre a sexualidade


da pessoa com deficiência intelectual. Como você percebe esses
mitos e crenças sobre a sexualidade através dos tempos?
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

Agora que você está mais familiarizado com alguns dos aspectos e
procedimentos que envolvem os preceitos da sexualidade das pessoas com
deficiência sexual, daremos continuidade com assuntos que envolvem a
sociedade e a expressão corporal do deficiente intelectual.

A Sexualidade e Sociedade De acordo com


Chauí (1991, p. 9),
“[...] a repressão
De acordo com Chauí (1991, p. 9), “[...] a repressão sexual sexual pode ser
pode ser considerada como um conjunto de interdições, permissões, considerada como
normas, valores, regras estabelecidos histórica e culturalmente para um conjunto
de interdições,
controlar o exercício da sexualidade”. Mesmo que a nomenclatura
permissões,
repressão sexual tenha caído em desuso na atualidade, ainda normas,
é muito fácil encontrar familiares que entendem a relação sexual valores, regras
como “nojenta” e “pecaminosa”, pois os processos históricos, estabelecidos
sociais e culturais demandam tempo para serem internalizados na histórica e
subjetividade. culturalmente
para controlar
o exercício da
sexualidade”.

57
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Há possibilidades de que, quem tem suas habilidades psicológicas


comprometidas, seja considerado por outros como “fora do padrão”, assim como
suas práticas sexuais, que podem não ser compreendidas pelas esferas sociais,
às quais estão intrinsecamente ligadas, como um ato que é inerente ao aspecto
físico e mental do ser humano.

No aspecto da sexualidade, para Giami (2004), essa atuação é encarada


pela coletividade como “problema”. Até mesmo os meios de comunicação muitas
vezes abordam esse assunto como “incômodo”, como também os familiares e as
pessoas que possam por ventura serem “cuidadoras” desses sujeitos.

Isso não implica que esses procedimentos não estão sendo alterados pela
sociedade, escola e família. Esse processo, embora de forma lenta, ocorre na
medida em que as relações sexuais para os ditos “normais” são percebidas pela
esfera social como um procedimento que é intrínseco ao ser humano, como uma
atitude natural e saudável que faz parte das atividades da espécie humana.

Já na perspectiva de Maia (2007), a sexualidade toma nova dimensão mais


aberta, que abrange emoção, atos, afeição, aspiração e deleite. A sociedade,
mesmo na atualidade, quase sempre compreende a sexualidade como ato sexual
em si, no entanto, deve-se entender que sexualidade conglomera muitos outros
anseios que envolvem atitudes de relações sociais e principalmente amorosas.

Figura 2 – Casal de deficiente intelectual

Fonte: Disponível em: <http://atitudeinclusao.com.br/secao/


comportamento/541/casal-com-defic.aspx>. Acesso em: 27 ago. 2012

A sexualidade quando se revela apenas no ato sexual em si, procura o

58
Capítulo 3 Educação Sexual e Deficiência Intelectual

envolvimento de duas pessoas que buscam complementos, envolvendo emoções,


mesmo que para alguns seja apenas um ato que alivia tensões atendendo ao
desejo corpóreo. Isso não é diferente para a pessoa com deficiência intelectual,
apenas é necessário que as mesmas estejam informadas e compreendam
essa manifestação física e mental como uma atitude referente às suas relações
sexuais, que devem ser percebidas como atitude normal.

Gikovate (2007) escreve que o sexo é pessoal, destacando que as


estimulações das partes do corpo, que são mais propícias ao prazer, podem
ser feitas pela própria pessoa, ou seja, pode se tocar e, através desse estímulo,
sentirem por conta própria o prazer, levando-o a conhecer suas partes íntimas.
Dessa forma, podem realizar o ato sexual sempre que sentirem desejo, o que é
considerado como um acontecimento necessariamente individualizado.

Gordon apud Buscaglia (2006) enfatiza que pessoas com


deficiência possuem os mesmos direitos sobre desejos e impulsos
sexuais normais e com plena responsabilidade como qualquer
pessoa. Alguns apresentam aspectos limitados, sendo eles
físicos ou mentais, mas isso não significa que essa pessoa seja
limitada em tudo o que faz. A sociedade é rigorosa, se o indivíduo
apresentar uma limitação, podendo ser física ou mental, a maior
parte da população evita os problemas da pessoa com deficiência.
Outras pessoas pensam que quanto menos as pessoas portadoras
de deficiência souberem sobre sexo, menos provável será praticá-
lo irresponsavelmente. É importante mencionar que devem ser
educativas as informações que são oferecidas sobre a educação
sexual.

De acordo com Assumpção (1991), no que se refere à sexualidade da pessoa


deficiente e suas formas de manifestações, de uma forma geral, a sexualidade
desses sujeitos vai aos poucos se desenvolvendo. No entanto, só é possível
entender se existe desvio de conduta ao analisarmos suas disposições que só se
apresentam com o passar do tempo.

Já para Krynski (1983), o desenvolvimento sexual para o deficiente intelectual


não está apenas sugestivo ao amadurecimento físico e seus funcionamentos,
diz respeito a como esse sujeito entende suas próprias relações intelectuais e
emocionais, como ele compreende as alterações pelas quais seu corpo passa,
quando inclui a sua percepção de gênero tanto social quanto cultural.

59
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Também são consideradas as manifestações de conduta relacionadas


à família, ao grau de comprometimento de sua deficiência, pois quanto
mais acentuada for sua deficiência, maior a possibilidade de dificuldade de
relacionamento com o mundo que o rodeia. Nessa perspectiva, as relações
familiares têm uma grande influência para que a atividade sexual seja assumida
pelo sujeito com deficiência de forma saudável.

Para Gherpelli (1991) questão da sexualidade é uma


característica essencialmente do ser humano, e deve ser entendida
como uma parte intrinsecamente ligada ao sujeito como todo o seu
ser, ela é o ligação entre um ser e o outro. É preciso que todos os
sujeitos dessa relação sejam orientados quanto a questões sexuais
pelos profissionais da medicina e das áreas educativas. Essas
informações devem ser repassadas aos que delas necessitam.

Na vida sexual do deficiente intelectual todas as esferas, família


Para Gherpelli
escola comunidade e sociedade, devem estar conectadas a fim
(1991) questão
da sexualidade é de orientar-lhes a melhorar a qualidade de vida sexual, para que os
uma característica mesmos possam sentir-se mais independentes e responsáveis pelos
essencialmente seus atos. Essa forma de relação dialógica é fundamental para a
do ser humano, educação não só ao deficiente, mas para todos que estão em fase de
e deve ser aprendizado.
entendida como
uma parte
intrinsecamente
ligada ao sujeito
como todo o seu
ser, ela é o ligação
entre um ser e o
outro.

Livro: História da Sexualidade.

O livro vai ajudá-lo a entender a construção


social da sexualidade

60
Capítulo 3 Educação Sexual e Deficiência Intelectual

Autor: Michel Foucault.

Algumas Considerações
Caro pós graduando, esperamos que depois dos estudos do terceiro capítulo
você tenha compreendido melhor como as questões de sexualidade com pessoas
que apresentam deficiência intelectual. Temos a confiança de que esse assunto
seja possível de ser discutido de uma forma natural, saudável, pensando sempre
no bem estar do deficiente.

Pretendemos que esses saberes lhe tragam um olhar mais sensível,


colaborando para uma prática inclusiva.

Referência
ASSUMPÇÃO, Júnior Francisco Baptista. Introdução ao estudo da deficiência
mental. São Paulo: Memnon, 1991. 

BALLONE GJ - Sexualidade das Pessoas Portadoras de Deficiência Mental -


in. PsiqWeb, Internet, Disponível em : <www.psiqweb.med.br>. Acesso em: 27
ago. 2012

BUSCAGlIA, Leo F. Os deficientes e seus pais. In: GORDON, Sol. Os


deficientes também são sexuados. 5. ed. - Rio de Janeiro: Record, 2006.

_____. Leo F. In:KRATOVlLLE, Setty. O desafio para o amanhã. 5. ed.. - Rio de


Janeiro: Record, 2006.

CHAUI, Marilena. Repressão sexual, essa nossa (des) conhecida: 12 ed. São
Paulo: Brasiliense, 1991.

DÍAZ, Féliz; BORDAS, Miguel; GALVÃO, MIRANDA, Therezinha; Educação


Inclusiva, Deficiência e Contexto Social: questões contemporâneas.
Salvador: EDUFBA, 2009.

FOUCAULT, Michel. Historia de laSexualidad I:lavoluntad de saber. 25.
ed.Madrid: SigloVeintiuno, 1998.

61
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

GEJER,Débora.Adolescente com deficiência mental e sua sexualidade.


Disponível em: <http://www.indianopolis.com.br/artigo.php?id=52>. Acesso em:
27 ago. 2012.

GHERPELU, Maria Helena Brandão Vilela. Diferente, mas não desigual: a


sexualidade no deficiente mental. São Paulo: Gente, 1995.

GIAMI, Alain. O anjo e a fera: sexualidade, deficiência mental, instituição.


São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. 

GIKOVATE, Flávio. O jovem e a sexualidade. Disponível em: <www.


psicopedagogia.com.br>. Acesso em: 23 maio 2007.

KRYNSKI, Stanislau. Novos rumos da deficiência mental. São Paulo: Sarvies,


1983.

MAlA, Ana Cláudia Bortolozzi. Desejos especiais. Viver Mente e Cérebro. São
Paulo, ano XIV, n°. 174, p. 72 - julho 2007.

MEC – Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais:


pluralidade cultura, orientação sexual. Secretaria da Educação Fundamental:
Brasília. 1997 

PORTAL ATITUDE INCLUSÃO. Casal com deficiência intelectual. Disponível:


em: <http://atitudeinclusao.com.br/secao/comportamento/541/casal-com-
deficiencia-intelectual-da-exemplo/ler.aspx>. Acesso em: 27 ago. 2012.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Orientação sexual. Disponível


em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro102.pdf>. Acesso em: 28 ago.
2012.

62
C APÍTULO 4
Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Compreender como a escola está recebendo a pessoas com Deficiência


Intelectual.

33 Analisar o preparo da escola e a formação dos professores para o trabalho


com o deficiente intelectual.

33 Proporcionar aos docentes subsídios para lidar com o deficiente intelectual


no contexto escolar, numa concepção inclusiva.
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

64
Capítulo 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

Contextualização
Atualmente, o tema inclusão vem se “ressignificando” de acordo com
novas concepções da sociedade e contexto escolar. O ambiente educativo é o
principal provedor dessa nova realidade que agora se volta para a inserção
efetiva da pessoa com deficiência, independentemente do tipo de deficiência.
Ao se especificar a deficiência intelectual nessa nova perspectiva surge um novo
paradigma de função escolar.

Mas afinal, o que é inclusão? Segundo estudos,

A palavra inclusão (1999) vem do latim, do verbo includere


e significa “colocar algo ou alguém dentro de outro espaço”,
“entrar num lugar até então fechado”. É a junção do prefixo in
(dentro) com o verbo cludo (cludere), que significa “encerrar,
fechar, clausurar”. O termo, cada vez mais, é aplicado não
só apenas para questões das necessidades especiais, como
também para construir discursos de acessibilidade a quaisquer
indivíduos que são excluídos de determinados espaços e
situações, fala-se então, por exemplo, em inclusão digital,
econômica, entre outras. Assim, ao utilizarmos a palavra
podemos nos referir tanto especificamente às pessoas com
necessidades especiais quanto a atitude de inclusão que se
referem a outras situações observadas em nossa sociedade.
(FARIAS; SANTOS; SILVA, 2009, p.39)

De acordo com a citação, inclusão não é apenas permitir acesso ao


espaço, mas promover a todos o direito de usufruir de todos os espaços
da escola e tornar possível, por meio de estratégias diferenciadas, a
aprendizagem do aluno. Para que isso favoreça a pessoa com deficiência,
é necessário que todos os profissionais da escola estejam preparados para
atender essa demanda.

Ocorre que em alguns casos a pessoa com deficiência intelectual não tem
um diagnóstico do profissional da medicina sacramentando sua deficiência
intelectual. Há deficiências que provêm de alguma síndrome, ou sociopatias, ou
seja, que sofreram alguma alteração relacionada ao comportamento. No entanto,
quando o sujeito não é considerado dentro dos padrões que a escola entende
como “normal”, é tratado como um deficiente intelectual.

Para compreender melhor a inserção desses sujeitos na sociedade e


ambiente escolar, traremos à baila a conjuntura escolar, e os subsídios que se
designam para o preparo dessa instituição e dos profissionais da educação.

Boa leitura!

65
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

O Processo de Inserção da Pessoa


com Deficiência Intelectual
Os documentos que norteiam a inclusão escolar e social nos âmbitos mundial,
nacional e estadual, relativos às deficiências, vêm se orientando conforme as
declarações e leis, tais como: Declaração de Salamanca, Montreal, Jomtein,
Constituição Federal do Brasil, Legislação de Educação Especial, LDBEN,
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Especial e
a RESOLUÇÃO N° 112, que fixa normas para a Educação Especial no Sistema
Estadual de Educação de Santa Catarina. Cabe salientar que as orientações
levam em consideração também o contexto próprio de cada região.

O processo de trabalhar para a educação inclusiva ainda


pode ser visto como uma expressão de luta para atingir os direitos
universais (MITLLER, p.37,2003).

Para a sociedade chegar aos parâmetros atuais das declarações


Os profissionais que foram deflagradas a demanda de tempo foi grande. A Educação
da área médica Inclusiva e social não aconteceu de maneira abrangente, foram
foram os primeiros
necessárias mudanças, na forma de entender o deficiente intelectual,
profissionais que
perceberam a no contexto social, familiar e principalmente dos profissionais da
possibilidade de educação.
aprendizagem e
convivência social Os profissionais da área médica foram os primeiros profissionais
das pessoas com que perceberam a possibilidade de aprendizagem e convivência social
deficiência.
das pessoas com deficiência.

A sociedade entendia que o deficiente intelectual era perigoso para as


relações da época e a ordem estabelecida pela mesma sociedade temia o
acesso da pessoa com deficiência aos âmbitos familiares, sociais e escolares.
A segregação desse sujeito é repensada de forma que a sociedade não poderia
mais deixá-los a mercê dos próprios familiares, pois o sujeito era enviado ao
manicômio sem sua autorização. Para Mendes (2006, p. 2),

[...] apesar de algumas escassas experiências inovadoras


desde o século XVI, o cuidado foi meramente custodial, e a
institucionalização em asilos e manicômios foi a principal
resposta social para o tratamento dos considerados
desviantes. Foi uma fase de segregação, justificada pela

66
Capítulo 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

crença de que a pessoa diferente seria mais bem educada e


protegida se confinada em ambiente separado, também para
proteger a sociedade dos ‘anormais’.

Não foi um movimento que se alastrou nos âmbitos familiares e as


instituições escolares não eram citadas como meio da fazer ou trazer algum
tipo de benefício, mesmo que fosse para uma convivência social com outros
sujeitos.

A esfera social demora a entender a participação dessas pessoas nos


contextos sociais e escolares, principalmente pela falta da própria família de
acreditar na possibilidade de socialização e aprendizagem da pessoa com
deficiência intelectual.

A sociedade não está preparada para a inserção escolar, devido à falta de


preparo dos profissionais da educação, por não saberem e nem entenderem
como lidar com esses sujeitos. Surgem nas universidades graduações e pós-
graduações que visam preparar o corpo docente para trabalhar com a pessoa
com deficiência.

Só depois de algum tempo é que se percebe a capacidade de aprendizagem


desses sujeitos, pois, de acordo com Almeida (2011),

A grande maioria das crianças com deficiência intelectual


consegue aprender a fazer muitas coisas úteis para a sua
família, escola, sociedade e todas elas aprendem algo para
sua utilidade e bem-estar da comunidade em que vivem. Para
isso precisam, em regra, de mais tempo e de apoios para
lograrem sucesso.

Atualmente existe um preparo maior por parte da sociedade, da família e


dos profissionais da educação no lidar com a pessoa com deficiência
intelectual. O que a escola necessita é criar mecanismos para que Há necessidade
essa inserção dê resultados em termos de aprendizagem e quebra de de que toda
preconceitos para com a pessoa com deficiência intelectual. sociedade, em
consonância
com a família e
Há necessidade de que toda sociedade, em consonância com escola,adotem
a família e escola,adotem como meta atender a inclusão escolar de como meta
qualidade, principalmente no respeito às diferenças ao deficiente. atender a
É direito do deficiente ser visto como sujeito capaz de aprender e inclusão escolar
desenvolver-se com autonomia e confiança. de qualidade,
principalmente
no respeito às
Dentre tantos dispositivos que protegem as pessoas com diferenças ao
deficiência, a Declaração de Salamanca é mais um subsídio que deficiente.
disponibiliza preceitos para que a sociedade e a escola possam

67
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

entender esse sujeito. Apesar de durante muito tempo ter ficado à margem dos
processos sociais, familiares e escolares, agora se encontram nos âmbitos e
fazem parte dos mesmos.

O texto a seguir é sobre a declaração de Salamanca. Mesmo muito estudada


e discutida nos âmbitos sociais e escolares, compreendemos que é necessário
que os estudantes retomem-na mais uma vez, para que tenham uma visão e
amplitude da mesma.

Declaração de Salamanca

Documento elaborado na Conferência Mundial sobre Educação


Especial, em Salamanca, na Espanha, em 1994, com o objetivo de
fornecer diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas
e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão
social.

A Declaração de Salamanca é considerada um dos principais


documentos mundiais que visam à inclusão social, ao lado da
Convenção de Direitos da Criança (1988) e da Declaração sobre
Educação para Todos de 1990. Ela é o resultado de uma tendência
mundial que consolidou a educação inclusiva, e cuja origem
tem sido atribuída aos movimentos de direitos humanos e de
desinstitucionalização manicomial que surgiram a partir das décadas
de 60 e 70.

A Declaração de Salamanca é também considerada inovadora


porque, conforme diz seu próprio texto, ela “[...] proporcionou uma
oportunidade única de colocação da educação especial dentro da
estrutura de ‘educação para todos’ firmada em 1990 [...] promoveu
uma plataforma que afirma o princípio e a discussão da prática de
garantia da inclusão das crianças com necessidades educacionais
especiais nestas iniciativas e a tomada de seus lugares de direito
numa sociedade de aprendizagem”.

A Declaração de Salamanca ampliou o conceito de necessidades


educacionais especiais, incluindo todas as crianças que não estejam
conseguindo se beneficiar com a escola, seja por que motivo for.
Assim, a ideia de “necessidades educacionais especiais” passou a
incluir, além das crianças portadoras de deficiências, aquelas que

68
Capítulo 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

estejam experimentando dificuldades temporárias ou permanentes na


escola, as que estejam repetindo continuamente os anos escolares,
as que sejam forçadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, as que
moram distantes de quaisquer escolas, as que vivem em condições
de extrema pobreza ou que sejam desnutridas, as que sejam vítimas
de guerra ou conflitos armados, as que sofrem de abusos contínuos
físicos, emocionais e sexuais, ou as que simplesmente estão fora da
escola, por qualquer motivo que seja.

Uma das implicações educacionais orientadas a partir da


Declaração de Salamanca refere-se à inclusão na educação. Segundo
o documento, “o princípio fundamental da escola inclusiva é o de que
todas as crianças deveriam aprender juntas, independentemente
de quaisquer dificuldades ou diferenças que possam ter. As escolas
inclusivas devem reconhecer e responder às diversas necessidades
de seus alunos, acomodando tanto estilos como ritmos diferentes
de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a
todos através de currículo apropriado, modificações organizacionais,
estratégias de ensino, uso de recursos e parcerias com a comunidade
[...] Dentro das escolas inclusivas, as crianças com necessidades
educacionais especiais deveriam receber qualquer apoio extra que
possam precisar, para que se lhes assegure uma educação efetiva
[...]”.

Fonte: MENEZES, EbenezerTakunode; SANTOS, Thais Helena dos.


Declaração de Salamanca (verbete). Dicionário Interativo da
Educação Brasileira:EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em:
<http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=109> . Acesso em: 5 mar. 2013.

Atividades de Estudos:

1) Você estudou o percurso da inclusão das pessoas com deficiência


nas esferas sociais, familiares e escolares. Qual sua opinião
sobre Inclusão Escolar?
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

69
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

2) Sobre a Declaração de Salamanca, como você compreende essa


afirmação: “o princípio fundamental da escola inclusiva é o de que
todas as crianças deveriam aprender juntas, independentemente
de quaisquer dificuldades ou diferenças que possam ter. (...)”
Você acha que essa ação é possível? Descreva sua opinião:
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

A Escola como Propulsora de um


Fazer, Integrado a uma Concepção
Inclusiva
Desde que a escola se tornou obrigatória na conjuntura social do Brasil, os
A escola passa a paradigmas de educação seguem outro significado quanto à forma de
ser para todos e, acesso à educação, de todos e para todos. Se o acesso à educação
torna-se obriga- antes era para as pessoas com situação financeira confortável,
tória no Ensino agora não são apenas os abonados que podem frequentar a escola.
Fundamental, Mesmo a s pessoas das famílias com vulnerabilidade econômica
independente
agora tem direito e acesso as instituições escolares.
de sua situação
financeira. Como
consequentemen- A escola passa a ser para todos e, torna-se obrigatória no
te, as pessoas Ensino Fundamental, independente de sua situação financeira.
com deficiência, Como consequentemente, as pessoas com deficiência, seja ela qual
seja ela qual for for também podem e devem frequentar a instituição escolar, com os
também podem e
mesmos benefícios e acessos dos demais alunos.
devem frequentar
a instituição esco-
lar, com os mes- Com todos esses dispositivos disponíveis para os que necessitam
mos benefícios frequentar a escola, surge uma preocupação por parte da sociedade
e acessos dos e da família, que são de os profissionais da educação estarem
demais alunos. preparados para atuarem junto à pessoa com deficiência.

70
Capítulo 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

Com o advento da inserção, nos cursos de licenciatura, de possibilidades


de aprendizagens para seus alunos sobre o assunto, as leis que surgiram e as
declarações dão um novo rumo à educação inclusiva. Surgiram cursos de pós-
graduação com foco específico na educação inclusiva.

Os profissionais da educação que forem orientados, por meio de formações,


estudos ou palestras estarão mais preparados para lidar com a pessoa com
deficiência. Por outro lado, a escola, mesmo assim, ainda tem muita dificuldade
em relação ao trato com a pessoa com deficiência intelectual. Embora as
universidades disponham de todas essas possibilidades para o profissional da
educação trabalhar com a educação inclusiva, muito ainda é necessário discutir,
pois, de acordo com Mitller(2008, p. 28),

A inclusão depende não somente de uma reforma no


pensamento da Escola, como também de uma formação inicial
e continuada dos professores, a qual possa torná-los capazes
de conceber e ministrar uma educação plural, democrática e
transgressora, como são as escolas para todos.

Alguns profissionais da educação ainda são inflexíveis em aceitar a educação


inclusiva como uma situação escolar irreversível. No momento em que o mundo e
as academias se voltam para a educação inclusiva, há resistências de se aceitar a
inclusão e classes especiais para os alunos com deficiência intelectual.

Conforme estudos de Rocha e Miranda (2009) há muitos profissionais da


educação que se mostram inseguros no trabalho com as deficiências, reconhecem
que ainda não possuem o conhecimento adequado para uma prática inclusiva.
Não é um caso isolado, muitos profissionais ainda não conseguem lidar com as
crianças da educação inclusiva por preconceito exacerbado.

Os professores deveriam compreender que a inclusão escolar é uma atitude


que deveria estar intrinsecamente ligada ao seu trabalho, pois, conforme Mittler
(2003, p. 139),

Inclusão e exclusão começam na sala de aula. Não importa


o quão comprometido um governo possa ser
com relação à inclusão; são as experiências Inclusão e
cotidianas das crianças nas salas de aula que exclusão
definem a qualidade de sua participação e a
começam na sala
gama total de experiências de aprendizagem
oferecidas em uma escola. Da mesma maneira, de aula.
são importantes as interações e as relações
sociais que as crianças têm umas com as outras e com os
outros membros da comunidade escolar. As formas através
das quais as escolas promovem a inclusão e previnem
a exclusão constituem o cerne de qualidade de viver e
aprender experimentado por todas as crianças.

71
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

O professor é o maior fomentador da inserção da criança com deficiência


intelectual na escola, ele é quem pode e deve criar qualidade de aprendizagem,
de socialização, de bem estar na escola para esses sujeitos.

A partir do momento em que esse suporte não é fornecido pelo profissional


da educação, compreende-se que é necessário que o mesmo busque modos de
fazer com que sua prática pedagógica torne-se compatível com essa realidade da
escola.

Mesmo que alguns profissionais nas suas licenciaturas não tiveram


disciplinas sobre a inclusão escolar, ainda assim isso não impede sua prática.
Não estamos descartando a teoria escolar sobre a inclusão escolar, ela é
extremamente necessária, no entanto, se o professor não teve acesso a esse
tipo de conhecimento, deverá usar suas experiências e saberes adquiridos nas
suas práticas pedagógicas, pois, sobre os “saberes experienciais”, Tardif (p.38
/39, 2002) esclarece que,

[...] os próprios professores, no exercício de suas funções e


na prática de sua profissão, desenvolvem saberes específicos,
baseados em seu trabalho cotidiano e no conhecimento de
seu meio. Esses saberes brotam da experiências, são por
elas validados. Eles incorporam-se à experiência individual e
coletiva sob a forma de habituse de habilidades de saber-fazer
e de saber-se. Podemos chamá-los de saberes experienciais
ou práticos.

Esses saberes são muito importantes para sua prática pedagógica, no


momento de inserção de seus conhecimentos experienciais anteriormente e que
agora serão úteis na forma de inserir esse aluno em seu contexto escolar e buscar
maneiras que possam ajudá-los na sua aprendizagem.

Essas aplicabilidades de saberes adquiridos nas experiências escolares de


profissionais da educação são observadas naqueles que acreditam na educação
inclusiva, que crêem no potencial das pessoas com deficiência intelectual.

Para que você, caro pós-graduando, entenda melhor como se processa o


conhecimento experiencial, apresentamos um pequeno texto que trata sobre
esses saberes.

[...] os saberes que servem de base para o ensino, tais como


são vistos pelos professores, não se limitam a conteúdos bem
circunscritos que dependem de um conhecimento especializado.
Eles abrangem uma grande diversidade de objetos, de questões,

72
Capítulo 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

de problemas que estão todos relacionados com seu trabalho.


Além disso, não correspondem, ou pelo menos muito pouco, aos
conhecimentos teóricos obtidos na universidade e produzidos pela
pesquisa na área da Educação: para professores de profissão, a
experiência de trabalho parece ser a fonte privilegiada de seu saber-
ensinar. Notemos também a importância que atribuem a fatores
cognitivos: sua personalidade, talentos diversos, o entusiasmo, a
vivacidade, o amor às crianças etc. Finalmente, os professores se
referem também a conhecimentos sociais partilhados, conhecimentos
esses que possuem em comum com os alunos enquanto membros
de um mesmo mundo social, pelo menos no âmbito da sala de aula
(TARDIF,2002, p. 61).

Busque compreender, caro pós-graduando, que a aprendizagem


envolve tanto os saberes teóricos quando os aprendidos no dia a
dia da prática escolar, não podendo esquecer que ensinar requer
também usar o que já foi aprendido com os anos de experiência.

Gostaríamos de compartilhar com você este site: http://diversa.


org.br/

O projeto DIVERSA é uma plataforma de troca de experiências


e construção de conhecimento sobre educação inclusiva.

Aqui você terá acesso a estudos de caso, vídeos, relatos


de educadores, artigos, notícias e outros materiais de referência.
Você também pode contribuir com o projeto enviando relatos de
experiência que possam inspirar outras pessoas.

O DIVERSA é uma iniciativa do Instituto Rodrigo Mendes , em


parceria com o Ministério da Educação e diferentes organizações
comprometidas com o tema da equidade.

73
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Atividades de Estudos:

1) Qual sua opinião, sobre uma reforma de pensamento para uma


escola mais inclusiva?
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

2) Estudamos que os conhecimentos adquiridos nas experiências


são importantes, pois, de acordo com Tardif (p.38-39, 2002), “[...]
os próprios professores, no exercício de suas funções e na prática
de sua profissão, desenvolvem saberes específicos, baseados
em seu trabalho cotidiano e no conhecimento de seu meio”.
No entanto, nunca devem ser descartados os conhecimentos
teóricos da academia. Como você entende esses processos de
conhecimentos teóricos e experienciais?
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

O Trabalho Docente e o
Desenvolvimento Cognitivo com o
Deficiente Intelectual
O processo de ensino e aprendizagem para os alunos com deficiência
intelectual, é um grande desafio para os profissionais da educação, que devem
procuram subsídios que possam auxiliá-los, nas suas práticas pedagógicas. Pois,
de acordo com Coll, Marchesi, Palacios&Colls (2010, p. 210),

74
Capítulo 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

A educação se propõe a ampliar a capacidade dos alunos:


que eles aprendam não apenas estes ou aqueles conteúdos
e habilidades, mas que aumentem a capacidade de fazer
coisas por si mesmos e sua capacidade de aprender. Com
tal propósito, transcende-se a noção de inteligência como
conjunto supostamente fixo de aptidões e, portanto, deixa-se
para trás também a noção de deficiência mental como déficit
e limitação fixa nessas aptidões. Ao contrário, ressalta-se o
desenvolvimento dinâmico das capacidades e o impulso que a
educação pode e deve proporcionar a esse desenvolvimento.

O docente que trabalha como o deficiente intelectual deve


O docente que
compreender suas necessidades e competências, desenvolvendo
trabalha como
estratégias e habilidades que favoreçam seu aprendizado. o deficiente
intelectual deve
As atitudes desenvolvidas pelos profissionais da educação seja compreender suas
ela inclusiva ou não, depende de inúmeros fatores que poderão auxiliá- necessidades e
los para que suas práticas pedagógicas sejam positivas. competências,
desenvolvendo
estratégias e
O profissional da educação deve estar atento aos preceitos habilidades que
sociais que advêm nas esferas familiares e sociais desses sujeitos, favoreçam seu
como uma forma de entendê-los dentro do contexto escolar, pois, de aprendizado.
acordo Vygotsky (1997, p. 200),

[...] uma educação ideal só é possível com base em um


ambiente social orientado de modo adequado e que os
problemas essenciais da educação só podem ser resolvidos
depois de solucionada a questão social em toda sua plenitude.
Daí deriva também a conclusão de que o material humano
possui uma infinita plasticidade se o meio social estiver
organizado de forma correta. A própria personalidade não
deve ser entendida como uma forma acabada, mas como uma
forma dinâmica de interação que flui permanentemente entre o
organismo e o meio.

Os profissionais que estão envolvidos com a educação inclusiva devem


estar cientes da importância das relações familiares e sociais nas quais esses
sujeitos estão inseridos.Todavia, o papel da escola é oferecer subsídios para que
aconteça realmente uma prática escolar para “todos”, principalmente na formação
adequada aos docentes e no atendimento às famílias. Para que isso ocorra, a
escola poderá contar com um auxílio muito importante, que é a Declaração de
Salamanca.

75
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

A Declaração de Salamanca e o
Professor
Quando estudamos sobre a declaração de Salamanca, verificamos que a
amplitude da mesma é muito importante, no que diz respeito ao profissional de
educação inclusiva, pois, sobre a capacitação de professores, a Declaração de
Salamanca (1994, p. 38) elucida que

A capacitação de professores especializados deverá ser


reexaminada com vista a lhes permitir o trabalho em diferentes
contextos e o desempenho de um papel-chave nos programas
relativos às necessidades educacionais especiais. Seu núcleo
comum deve ser um método geral que abranja todos os tipos
de deficiências, antes de se especializar numa ou várias
categorias de deficiência [...].

Os professores devem estar aptos a atender as deficiências que por ventura


tenham na sala de aula, com seu planejamento voltado as necessidades dos
alunos com deficiência intelectual e com as adaptações dos conteúdos em
sintonia com a realidade da instituição escolar. Nesse contexto, esclarece Moll
(1996, p. 349),

Enquanto o planejamento do professor deve avançar do


geral para o concreto, a aprendizagem das crianças deve se
desenvolver de ações pré-concebidas até à simbolização do
conhecimento que elas obtêm por meio de suas pesquisas,
resultando finalmente em uma formulação linguística de
relações. Atividades iniciais devem orientadas em direção à
orientação concreta.

Mesmo que os planejamentos para a ação pedagógica do professor


possam auxiliá-los, é necessário que o mesmo tenha conhecimento do aluno
com deficiência intelectual de maneira bem particularizada, para que sua forma
de planejar seja pensada, especificamente, para aquele sujeito e aquele tipo de
atividade que ele necessite ser estimulado.

A escola deve estar ciente, juntamente com o corpo docente e com a família
do deficiente intelectual, para que suas políticas internas sejam voltadas de
forma que auxiliem o professor e que o mesmo tenha apoio nas suas práticas
pedagógicas, numa troca constante de informações entre todos os
A instituição es- envolvidos com a educação inclusiva.
colar é a principal
articuladora da
educação inclu- A instituição escolar é a principal articuladora da educação
siva. inclusiva, pois, de acordo com Silva; Rampazzo e Piassa (2009, p. 53),

76
Capítulo 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

A escola possui a vantagem de ser uma das instituições


sociais em que é possível o encontro das diferentes
presenças. Ela é também um espaço sociocultural marcado
por símbolos, rituais, crenças, culturas e valores diversos.
Essas possibilidades do espaço educativo escolar precisam
ser vistas na sua riqueza, no seu fascínio. Sendo assim, a
questão da diversidade cultural na escola deveria ser vista
no que de mais fascinante ela proporciona às relações
humanas.

A escola deve ser exemplo no respeito às diferenças, e no contexto da


educação inclusiva, mesmo que ainda precise aprimorar para uma inclusão
escolar plena, a instituição escolar ainda é um dos maiores subsídios que a
sociedade tem e precisa para a pessoa com deficiência intelectual. É por meio
da escola que esse sujeito vai poder ter acesso às demais esferas sociais, como
constituir sua própria família e ter acesso ao mercado de trabalho.

A Escola como Mediadora do Sujeito


com Deficiência Intelectual e a
Sociedade
A mudança de paradigma de educação, depois das declarações deflagradas
sobre e para a Inclusão escolar, é necessária para que o profissional da educação
também faça uma reflexão sobre suas ações pedagógica. É imprescindível que
profissionais estejam realmente imbuídos das suas funções, propostos a fazer
mudanças necessárias para uma concepção de educação inclusiva. No entanto,
o profissional da educação não é apenas mais um sujeito cumpridor de suas
atribuições profissionais, também é um agente transformador da sociedade, e
como tal deverá perceber que a pessoa com deficiência intelectual é capaz de
fazer parte dessa sociedade. É papel da escola e do professor levar a sociedade
compreender que o deficiente intelectual é capaz de se desenvolver o contribuir
com seu trabalho.

A escola ainda é quem melhor faz a mediação entre a pessoa com deficiência
intelectual e seus contextos familiares e sociais. Nesse sentido,Skliar (1999 apud
SILVA; RAMPAZZO e PIASSA, 2009, p. 70) esclarece:

Escolas inclusivas partem do pressuposto de que todas


as crianças podem aprender e fazer parte da vida escolar
e comunitária. A diversidade é um valor e acredita-se que
fortaleça ainda mais a escola e ofereça a todos os seus
membros maiores oportunidades de aprendizagem.

77
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

A instituição escolar deve trabalhar os aspectos sociais em forma de


conscientização das capacidades dessas pessoas. Sobre isso:

Deverão ser trabalhadas questões relacionadas à autonomia,


às diferentes formas de linguagens, à concentração, atenção,
memória, organização, análise e síntese, classificação,
orientação espacial e temporal, resolução de problemas,
textualidade (SANTA CATARINA, 2009, p. 33).

Quando as pessoas com deficiência intelectual se tornam mais autônomas,


podemos considerar como grande avanço; e quando conseguem se inserir na
sociedade, podemos reconhecer como forma de aprendizagem.

A seguir, queremos compartilhar com você uma experiência de inclusão.

Os relatos de experiência apresentados neste site devem


ser entendidos como uma possível fonte de pesquisa para outros
projetos educacionais comprometidos com a educação inclusiva.
Não são, portanto, receitas prontas, passíveis de mera replicação
com expectativas de um mesmo resultado.

Paloma Sá Carvalho 23/07/2012

Conheci P. em 2011, um menino de oito anos de idade, muito


simpático e arteiro. P. é um garoto muito esperto que adora esportes,
principalmente surf e futebol. Fui indicada para fazer a mediação
escolar devido a algumas questões relacionadas à sua deficiência
intelectual e pelo fato dele ingressar em um colégio novo. Em função
disso, alguns desafios teriam que ser enfrentados por todos aqueles
que eram ligados a ele: família, escola e equipe transdisciplinar
(psicopedagoga, fonoaudióloga e professores de esportes). Acredito
que o maior desafio seria para o próprio P. que estava começando a
estudar num ambiente totalmente novo, com colegas, professores e
funcionários que ele nunca tinha tido contato antes. P. frequentou a
mesma escola desde a primeira infância, por isso, estava acostumado
com a rotina e as pessoas daquele lugar. O antigo colégio, por ser
muito menor proporcionava um conforto muito grande para ele e para
sua família. P. seria a primeira criança com Síndrome de Down a
frequentar aquele ambiente educacional. No início daquele mesmo
ano todos tinham muita curiosidade e até receio de falar/ aproximar
dele, perguntas como: “Ele é de outro país?”, “Você é mãe dele?”,
“Que língua ele fala?” foram constantes no nosso cotidiano. Tanto a

78
Capítulo 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

minha presença quanto a de P. estavam despertando uma série de


questionamentos por parte dos alunos. Pouco a pouco, aqueles dois
estranhos (eu e P.) foram sendo incorporados a rotina escolar.

A família muito atenta a esta questão enviou para a turma


uma revista em quadrinhos da turma da Mônica em que a temática
sobre Síndrome de Down era discutida. Esse dia foi muito
rico e interessante, todas as crianças da turma ganharam um
exemplar da revista e levaram para casa. Também pude observar
o despreparo dos funcionários para lidar com ele, as pessoas
pareciam ter um excesso de cuidado em colocar limites em certos
comportamentos inadequados do aluno. P. como todo garoto de
oito anos de idade, adora uma bagunça, desse modo, é necessário
que toda a equipe trabalhe e lide com ele como um menino
comum da sua faixa etária. A partir dessas observações foram
conversadas e informadas formas de como se dirigir ao P. de forma
que ele pudesse entender e respeitar. Minha relação com o P. foi
construída muito rapidamente e de uma forma muito afetuosa, P.
é um menino muito carinhoso e perspicaz, em poucas semanas
senti muita cumplicidade na nossa parceria. Sempre conversamos
sobre a importância do meu trabalho para sua autonomia pessoal
e escolar. A família também é fundamental nesse diálogo, pois
conversas sobre a Síndrome de Down e a mediação escolar são
uma constante na vida do P. Acho extremamente importante P. ter
conhecimento sobre as próprias dificuldades e a necessidade da
presença do mediador escolar no seu cotidiano. A família tem uma
preocupação e um engajamento na questão da inclusão escolar.
Tenho contato direto com seus pais, através de uma espécie de
diário, no qual, anoto a rotina do P: como foi seu dia na escola,
suas bagunças, vitórias diárias, matérias dadas entre outros
assuntos. O ano de 2011 foi um período de muitos desafios e
novidades para todos.

No início do meu trabalho vivi um período que chamo de


“diagnóstico”, no qual pude perceber algumas lacunas na sua
alfabetização. P. escrevia muito pouco, trocava muitos fonemas e
lia muito devagar. A partir dessas observações, junto com a equipe
pedagógica e sua família estabelecemos algumas metas: P. teria
que ler e escrever melhor. Na matemática também trabalhamos
adição e subtração simples, sequência numérica e quadro valor -
lugar.

79
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Como já mencionei anteriormente, a inclusão escolar de P. é uma


questão extremamente importante para a sua família, logo ele seria
avaliado da mesma forma que seus colegas de turma. Minha função
neste momento era adaptar as avaliações de cada matéria. Nos dias
de testes e provas saíamos de sala e nos dirigíamos à biblioteca da
escola para fazer tais avaliações. Eu lia junto com ele cada questão e
o auxiliava no que era pedido. P. realizava avaliações bimestrais que
valiam nota e que visavam avaliar seu desenvolvimento ao longo do
ano letivo.

Em 2011 P. fazia duas avaliações formais por período, essa


experiência não foi boa, porque ele ficava muito estressado e
pressionado pelo ritmo e datas dos testes e provas. Observamos
também, que ele não aprendia bem os conteúdos, ou seja, ele
os decorava para fazer as avaliações e os esquecia logo após a
realização destas. A partir dai, decidimos que em 2012 P. iria fazer
trabalhos de pesquisa que valeriam nota. E faria apenas uma
avaliação formal por bimestre. Temos obtido muito sucesso com esse
novo formato de estudos, P. adora montar os cartazes e maquetes,
fica muito satisfeito em apresentá-los para sua turma e professoras.
É notável o orgulho que seus colegas de classe têm dele e dos seus
trabalhos.

Essa mudança de atitude no planejamento pedagógico foi


muito satisfatória para P. que sente muito mais prazer com os
estudos e pode participar de forma mais dinâmica do seu processo
de aprendizagem. P. é uma criança muito concreta, ele precisa de
objetos variados e ilustrações diversas para melhor compreender a
matéria dada. Ter construído essa nova forma de trabalho foi ótimo,
porque a partir da construção dos cartazes e das maquetes, o aluno
aprende de forma mais coerente e unificada. P. é muito querido por
todos, hoje em dia não vejo mais dificuldades dos professores e
funcionários em pontuar suas bagunças. P. participa de quase todas
as atividades propostas em sala de aula, é claro que com as devidas
adaptações. Procuro sempre deixá-lo mais próximo do conteúdo
dado em sala, porém respeitando o seu ritmo de aprendizagem.
Prezo muito os seus limites e estou sempre preocupada em lançar
novos desafios para ele. Entretanto, é preciso estar atenta à linha
que divide a pressão escolar da aprendizagem eficaz. Foco mais na
qualidade do conteúdo aprendido do que na quantidade. Costumo
usar muitas brincadeiras, jogos educativos, vídeos e material de
apoio, como por exemplo: material dourado, quebra cabeça, jogo da
memória, entre outros.

80
Capítulo 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

Minha presença é extremamente importante na rotina do P.


mas minha maior preocupação é estar no lugar de mediadora
que faz a ponte entre a criança e o meio social que a cerca. Não
tenho a menor intenção de estar no lugar de apoio para o P. Pelo
contrário, busco auxiliá-lo no seu dia-a-dia para que ele consiga de
forma gradual dar conta dos seus afazeres de forma mais autônoma
e responsável. Meu trabalho é um constante aprendizado, todos os
dias são surpreendentes. Muitas vezes me frustro em construir uma
série de expectativas, porém cada pequena conquista é uma alegria
imensurável. Trabalhar com mediação escolar na luta pela inclusão é
muito desafiador e engrandecedor.

Fonte: Disponível em: <http://diversa.org.br/acervo-de-relatos/acervo-de-


relatos. php?id=1235&/paloma_sa_carvalho>. Acesso em: 10 abr. 2013

Agora que você conheceu mais sobre o universo da educação inclusiva,


desenvolva as atividades a seguir:

Atividades de Estudos:

1) De acordo com Coll, Marchesi, Palacios&Colls, (2010, p. 210):


“A educação se propõe a ampliar a capacidade dos alunos:
que eles aprendam não apenas estes ou aqueles conteúdos e
habilidades”. Como você entende essa ampliação de capacidade
dos alunos, principalmente por tratar-sede alunos com deficiência
intelectual?
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2) Silva; Rampazzo e Piassa (2009, p. 53), quando escrevem sobre


a sobre a escola, esclarecem que “A escola possui a vantagem
de ser uma das instituições sociais em que é possível o encontro
das diferentes presenças”. Qual sua compreensão sobre a escola
e a convivência das diferenças dentro do contexto escolar?

81
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

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Educação Inclusiva-ContextosSociais

AUTOR: PeterMittler

Patch Adams: O amor é contagioso


Título Original: Patch Adams
Gênero: Drama/Espiritualista
Direção: Tom Shadyac
Elenco: Robin Williams, Daniel London,
Monica Potter, Bob Gunton
Tempo: 115 min.
Lançamento: 1998

82
Capítulo 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar

Algumas Considerações
Caro pós- graduando, chegamos ao fim de mais um capítulo. Neste capítulo
você estudou sobre a importância das práticas escolares valorizarem uma ação
inclusiva, oferecendo ao deficiente intelectual um ambiente que beneficie seu
aprendizado. No próximo capítulo estudaremos sobre o mercado de trabalho para
a pessoa com deficiência intelectual.

Até lá!

Referências
ALMEIDA, M. da S. R. O que é deficiência intelectual ou atraso cognitivo?
Disponível em: <www.inclusãobrasil.com.br>. Acesso em: 06 ago. 2012.

COLL C.; MARCHESI A.; PALACIOS J. Desenvolvimento psicológico e


educação. Tradução de Fátima Murad. 2. ed. Porto Alegre: Artmed,2004.

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Princípios, política e prática em educação


especial, 1994. Disponível em: <www.direitoshumanos.usp.br>. Acesso em: 16 set.
2012.

DÍAZ, Féliz; BORDAS, Miguel; GALVÃO, MIRANDA, Therezinha; Educação


Inclusiva, Deficiência e Contexto Social: questões contemporâneas.
Salvador: EDUFBA, 2009.

MENDES, Enicéia Gonçalves. A radicalização do debate sobre inclusão


escolar no Brasil. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v.11, n. 33, Sept./
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MENEZES, EbenezerTakunode; SANTOS, Thais Helena dos.” Declaração de


Salamanca” (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil.
São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.
br/eb/dic/dicionario.asp?id=109>. Acesso em: 17 set. 2012.

MITTLER, P. Educação inclusiva: contextos sociais. Tradução de WindyzBrazão


Ferreira. Porto Alegre: Artmed, 2003.

83
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

MOLL, Luis C., Vygotsky e a educação: implicações pedagógicas da


psicologia sócio-histórica/Luis C. Moll; trad. Fani A. Tesseler. – Porto Alegre:
Artes Médicas, 1996.

SANTA CATARINA. Projeto SAEDE. Governo Estado de Santa Catarina, criado


pela FCEE, 2006.

SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para poucos.3. ed. Rio de


janeiro: WVA, 1999.

SILVA, Tomás Tadeu.Documentos de identidade: uma introdução às teorias do


currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

SILVA, S. F. K. da; RAMPAZZO, S. R. dos R.; PIASSA, Z. A. C. A ação docente


e a diversidade humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional, 2ª Edição.


Petropólis, RJ: Vozes, 2002.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. Obras Escogidas V: fundamentos da


defectologia. Madrid: Visor, 1997.

84
C APÍTULO 5

Deficiência Intelectual,
Escola e o Mercado de
Trabalho
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

� Compreender como está o mercado e trabalho para o sujeito com deficiência


intelectual.

� Refletir sobre como a escola prepara o deficiente intelectual para o mercado


de trabalho.

� Entender que tipos de atividades a escola pode desenvolver para ajudar o


sujeito com deficiência intelectual a estar apto ao trabalho.
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

86
Capítulo 5 Deficiência Intelectual, Escola e o
Mercado de Trabalho

Contextualização
As empresas, algum tempo atrás, não tinham entre seus colaboradores
pessoas com deficiência, no entanto as Declarações deflagradas pelo mundo
fizeram com que a sociedade repensasse a presença desses sujeitos em todos os
âmbitos, inclusive no mercado de trabalho, é essa perspectiva que estudaremos
nesse capítulo.

A sociedade absorveu em sua subjetividade que a pessoa com deficiência


intelectual, não podia fazer parte do mercado de trabalho e não tinha capacidade
de assumir cargos e responsabilidades. No entanto, com o advento da inclusão
para todos, esses conceitos de incapacidade foram derrubados, pois estudos
comprovaram que todos podem aprender. Nesse sentido, o mercado de trabalho
passou a atender essa demanda, até mesmo, devido existir leis para a Inclusão
do Deficiente no Mercado de Trabalho. E as leis estabelecem subsídios aos
empresários para que os mesmos possam ter algum tipo de compensação. Este será
o assunto que abordaremos neste capítulo.

Bons estudos!

As Leis e o Mercado de Trabalho


para a Pessoa com Deficiência
As pessoas com deficiência para fazerem parte do mercado de trabalho e
serem aceitos como um funcionário capaz de assumir cargos e responsabilidades
deve cumprir horários com outra pessoa qualquer, tendo direitos e deveres. Não
foi um processo que aconteceu de forma rápida, fácil, foi necessário instituir leis
para que o sujeito com deficiência pudesse ter acesso ao mercado de trabalho.

As leis que foram criadas tornaram possível o acesso ao mercado de trabalho


para a pessoa com deficiência, pois antes lhes era negado essa condição. O que
muitas vezes acontecia era um emprego como faxineiro em alguma residência,
muito raramente numa empresa, também no setor de serviços gerais, mas ainda
assim sem a legalização por ambas as partes, tinham mais um caráter filantrópico.

Já na década de 1991 foi criada uma lei garantindo a inclusão da pessoa


com deficiência no mercado de trabalho. O processo tinha suas peculiaridades,
entenda como se deu o procedimento.

Segundo Tavares (2012), antes do estabelecimento da Lei8213/91 de

87
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

24/07/1991, conhecida como Lei de Cotas para empresas, o sujeito


Segundo Tavares
(2012), antes do com deficiência conseguia fazer parte do mercado de trabalho através
estabelecimento de ações do governo ou por Associações ou ONGs.
da Lei8213/91
de 24/07/1991, Se antes da criação da Lei 8213/91 de 24/07/1991, também
conhecida como conhecida como Lei da Cotas, que garante o acesso ao mercado
Lei de Cotas para
de trabalho, para a pessoa com deficiência, dependia de alguma
empresas, o sujei-
to com deficiência articulação junto a algumas agremiações, esse paradigma muda e essa
conseguia fazer lei, dispõe de alguns dispositivos, como por exemplo, no seu artigo 93,
parte do merca- estabelece que,
do de trabalho
através de ações Art. 93 - a empresa com 100 ou mais funcionários está
do governo ou por obrigada a preencher de dois a cinco por cento dos
Associações ou seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pessoas
portadoras de deficiência, na seguinte proporção:
ONGs.
- até 200 funcionários.................. 2%

- de 201 a 500 funcionários........... 3%

- de 501 a 1000 funcionários......... 4%

- de 1001 em diante funcionários... 5%.

Ou seja, dependendo do número de funcionários, um percentual é reservado


para as pessoas com deficiência e os empresários devem respeitar esse artigo,
se não o fizerem, se o deficiente se sentir prejudicado, deve procurar os órgãos
competentes, como, por exemplo, o Ministério Público, para fazer valer a lei.

Para que você possa expandir seus conhecimentos sobre o


mercado de trabalho no mundo, acesse o site da OIT-ORGANIZAÇÃO
INTERNACIONAL DO TRABALHO (http://www.oit.org.br/).

As pessoas com deficiência têm direito de fazer parte do mercado de


trabalho, esse direito elimina a concepção de ser um favor empregar uma pessoa
com deficiência. Tronando-se uma lei, a classe empresarial pode e deve ter entre
seus colaboradores esse sujeito, que é sim capaz de trabalhar.

88
Capítulo 5 Deficiência Intelectual, Escola e o
Mercado de Trabalho

Figura 3 – Direito ao trabalho

Fonte: Disponível em: <http://www.oit.org.br/>. Acesso em: 22 out. 2012.

Em 2006, as Nações Unidas adotaram uma nova lei: pessoas


com deficiência têm os mesmos direitos que as demais pessoas.

Foram articuladas diversas formas do acesso ao mercado de trabalho para


a pessoa com deficiência, na esfera pública e privada. Antes de criar leis que
pudesse abranger as necessidades das pessoas com deficiência. No entanto, não
significa que toda pessoa com deficiência está inserida no mercado de trabalho,
pois segundo dados do M.T.E. – Ministério do trabalho e Emprego,

Dados da fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego


mostram que foram inseridas mais de 143 mil pessoas desde
2005. Em 2011, 7.508 pessoas conquistaram empregos
formais nestes termos.

Brasília, 04/05/2011 – Ações de fiscalização do Ministério do


Trabalho e Emprego (MTE) incluíram no mercado de trabalho
143.631 pessoas com deficiência desde 2005. (MTE, 2012)

Ainda existem muitas pessoas com deficiência sem acesso ao mercado


de trabalho. Mesmo com leis que incentivam as empresas a contratarem esses
sujeitos.

89
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Aspectos relacionados ao tipo de trabalho que a pessoa com


A Lei Federal nº
7.853/89para as deficiência poderia exercer foram se delineando, e aos poucos as
pessoas com de- adequações que eram necessárias foram sendo criadas. Alguns
ficiência assegura estados criaram suas próprias leis, outros absorveram as leis federais.
que,
Segundo seu Lei que constitui crime se a pessoa com deficiência não for
artigo 8º, constitui
respeitada nos seus direitos. Como exemplo, a Lei Federal nº
crime punível com
reclusão (prisão) 7.853/89para as pessoas com deficiência assegura que,
de 1 a 4 anos e
multa: Segundo seu artigo 8º, constitui crime punível com reclusão
(prisão) de 1 a 4 anos e multa:
B - Impedir o
acesso a qualquer B - Impedir o acesso a qualquer cargo público, porque é
cargo público, portador de deficiência.
porque é portador
de deficiência. C- Negar trabalho ou emprego, porque é portador de
deficiência.

Mesmo que essa lei garanta a não discriminação da pessoa com deficiência
em seu acesso ao mercado de trabalho, ainda não é uma tarefa fácil para esse
sujeito conseguir uma vaga no mercado de trabalho.

A partir de agora você irá estudar alguns questionamentos que irão ajudar
ainda mais no conhecimento sobre as leis para a pessoa com deficiência e a sua
inserção no mercado de trabalho, e algumas ações em nível estadual

O DIREITO AO TRABALHO

- Quais são os direitos da pessoa portadora de deficiência


no que se refere aos concursos públicos (sociedades de
economia mista, autarquias, fundações públicas, União,
Estados, municípios e Distrito Federal)?

Há vários aspectos a serem considerados:

a) O art. 37, inciso VIII da Constituição da República Federativa


do Brasil, de 5 de outubro de 1988, prevê a reserva de cargos e
empregos públicos para pessoas com deficiência e, nesse sentido,
a Lei Federal nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, art. 5º, reserva
um percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas
portadoras de deficiência e define os critérios para sua admissão.

b) Em concursos públicos federais (no âmbito da União Federal,

90
Capítulo 5 Deficiência Intelectual, Escola e o
Mercado de Trabalho

ou seja, empresas públicas federais, sociedades de economia mista,


públicas, autarquias federais, fundações públicas federais e a própria
União Federal), até20% das vagas são reservadas às pessoas
portadoras de deficiência. Esse percentual não é o mesmo para cada
Estado, município ou para o Distrito Federal, porque é a lei de cada
uma dessas entidades que irá estabelecer o percentual de quotas de
admissão para os portadores de deficiência.

No Estado de Minas Gerais, pela Constituição Estadual, art. 28,


e a Lei Estadual n° 11.867, de 28 de julho de 1995, tal percentual é
de 10% (dez por cento).

No município de Belo Horizonte, a Lei nº 6.661/94, art. 1º,


determina há a reserva de 5% (cinco por cento) dos cargos e
empregos públicos de provimento efetivo do quadro de pessoal da
administração direta e indireta do poder executivo para pessoas
portadoras de deficiência. Além disso, a Lei nº 5.776/90 assegura
aos deficientes visuais, em seu art. 1º, o direito de transcrição para o
braile de provas de concursos públicos.

O Estado de São Paulo reservou pelaLei Complementar nº


683, de 18 de setembro de 1992, percentual de até 5% de cargos
e empregos aos portadores de deficiência. Já o Estado do Rio de
Janeiro reservou um percentual mínimo de 5%, conforme a Lei nº
2482, de 14 de dezembro de 1995. A Lei nº 3050, de 1998, art. 3,
inseriu, como condição de habilitação de qualquer empresa em
licitação e contratos com o poder público, o cumprimento das quotas
da Lei nº 8213, de 1991.

c) Os portadores de deficiência têm preferência sobre os


demais, caso aprovados no concurso, independentemente de sua
classificação.

d) Se nenhum portador de deficiência for aprovado em um


concurso, desconsideram-se as vagas reservadas para os portadores
de deficiência.

- O que acontece quanto ao trabalho em empresa privada?

O art. 7º, inciso XXXI da Constituição da República Federativa


do Brasil, de 5 de outubro de 1988, prevê proibição de qualquer
ato discriminatório no tocante a salário ou critério de admissão do
empregado em virtude de portar deficiência.

91
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

A Lei Federal nº 8.213/91, art. 93, prevê que qualquer


O percentual a ser
aplicado é sempre empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada
proporcional ao a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento)
número total de dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas
empregados das portadoras de deficiência, habilitadas.
empresas, desta
forma:
O percentual a ser aplicado é sempre proporcional ao
I - 100 até 200
empregados: 2%. número total de empregados das empresas, desta forma:
II - de 201 a 500:
3% I - 100 até 200 empregados: 2%.
III - de 501 a 1000:
4% II - de 201 a 500: 3%
IV - de 1001 em
diante: 5%
III - de 501 a 1000: 4%

IV - de 1001 em diante: 5%

- Todo portador de deficiência tem direito à reserva de vagas


em concursos públicos ou em empresas privadas?

Não, nem todos, a quota de reserva de empregos não se


destina a qualquer deficiente, mas àqueles que estejam habilitados
ou reabilitados, ou seja, que tenham condições efetivas de exercer
determinados cargos. É preciso, então, que apresentem nível
suficiente de desenvolvimento profissional para ingresso e reingresso
no mercado de trabalho e participação na vida comunitária.

O que é a habilitação e a reabilitação?

É o processo que permite à pessoa com deficiência adquirir


desenvolvimento profissional suficiente para ingresso e reingresso no
mercado de trabalho, conforme o art. 89 da Lei Federal nº 8.213/91,
arts. 17, 18, 21 e 22 do Decreto nº 3.298/99 e Ordem de Serviço nº
90 do Ministério da Saúde e Previdência Social.

Para maiores informações sobre colocação e recolocação no


mercado de trabalho, deve-se procurar a Delegacia Regional do
Trabalho e/ou a CAADE.

O portador de deficiência pode ser dispensado, sem justa


causa, das empresas privadas?

Não pode. O artigo 93 da Lei Federal nº 8.213/91 prevê que

92
Capítulo 5 Deficiência Intelectual, Escola e o
Mercado de Trabalho

a dispensa só pode ocorrer, nos contratos a prazo indeterminado,


quando outro empregado portador de deficiência for contratado no
lugar do dispensado. Logo, se tal substituição não ocorrer, cabe até
a reintegração do empregado com os consectários legais. O portador
de deficiência tem, assim, uma estabilidade por prazo indeterminado.

Como fica a jornada de trabalho do responsável pelos


cuidados da pessoa portadora de deficiência?

“Fica o poder público autorizado a reduzir para 20 (vinte)


horas semanais a jornada de trabalho do servidor público
estadual legalmente responsável por excepcional em tratamento
especializado”. Tal benefício é concedido por seis meses, podendo
ser renovado por igual período, de acordo com a necessidade (art. 1º
e3º da Lei Estadual nº 9.401, de 18 de dezembro de 1986, e Decreto
nº 27.471/87).

Caso os direitos dos trabalhadores portadores de


deficiência forem descumpridos, o que pode ser feito?

Deve-se procurar um advogado, a Delegacia Regional do


Trabalho (DRT/MG) ou o Ministério Público do Trabalho.

Fonte: Disponível em: <http://www.grandesencontros.com.


br/CartilhaInclu2.htm>. Acesso em: 12 set. 2013.

Agora que você já estudou sobre as leis e possibilidades para as pessoas


com deficiência, resolva as atividades de estudos.

Atividades de Estudos:

1) Você estudou sobre Lei 8213/91, de 24/07/1991, também


conhecida como Lei das Cotas. Como você entende o acesso ao
mercado de trabalho por pessoa com deficiência intelectual?
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93
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

2) Mesmo que criada uma lei para que a pessoa com deficiência
pudesse ter um trabalho digno, como se dava esse processo
anterior à criação da Lei 8213/91 de 24/07/1991?
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Caro pós graduando, quando quiser acrescentar maiores


conhecimentos sobre o mercado de trabalho para a pessoa com
deficiência, entre em contato com a assessoria de imprensa do M.T.E.
– Ministério do Trabalho e Emprego – Esplanada dos Ministérios /
Bloco F - CEP: 70059-900 / Brasília - DF / Telefone: (61) 3317-6000.

A Escola, a Pessoa com Deficiência e


o Mercado de Trabalho
Embora ainda haja muito a ser feito quanto as possibilidade das pessoas
com deficiências terem acesso ao mercado de trabalho, e com as leis que lhes
permitam esse acesso, a escola ainda é a instituição que mais promove esse
acesso, quando fomenta com o capital cultural esse sujeito no sentido de
promovê-lo ao trabalho.

As ações que a mesma origina como, por exemplo, a socialização desses


sujeitos, o conhecimento, as suas ações, junto aos órgãos competentes, como
as empresas especializadas em recrutamento de pessoas, auxilia no sentido de
que a pessoa com deficiência possa ter uma oportunidade de trabalho junto às
empresas.

A escola desempenha papel importante, pois o sujeito com deficiência para


fazer parte do mercado de trabalho, como qualquer outra pessoa, é necessário
que a tenha conhecimento teórico e saiba relacionar-se com os demais.

94
Capítulo 5 Deficiência Intelectual, Escola e o
Mercado de Trabalho

Para entendermos como se dá o processo de inserção da pessoa com


deficiência no mercado de trabalho, o texto abaixo nos mostra a ação das
entidades para que esse processo possa acontecer.

Inclusão pelo trabalho

Criada em 2008, a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa


com Deficiência foi determinante para que importantes avanços do
setor fossem alcançados no estado desde então. A implantação da
Rede de Reabilitação Lucy Montoro, com a inauguração de centros
de excelência no tratamento e na reabilitação das pessoas com
deficiência na capital e no interior, talvez seja a face mais visível
desse processo. Mas certamente não é a única. 

A adoção do Desenho Universal em moradias de interesse


social, a ampliação da acessibilidade nos serviços públicos,  o
incentivo e o desenvolvimento de novas tecnologias, a capacitação
de pessoas com deficiência. Uma lista de ações que vai além das
aqui citadas e que se traduz em resultados práticos no dia a dia das
pessoas com deficiência.

Nesta gestão  é preciso avançar  mais.  Um dos aspectos que


iremos trabalhar de maneira incansável será a ampliação do acesso
dos deficientes ao mercado de trabalho. Toda a sociedade ganha
com isso. Sempre que trazemos a diversidade para dentro de nossas
vidas, de nosso cotidiano, crescemos como cidadãos. Participar  da
sociedade e  da produção é estar inserido no mercado de trabalho.

Para tanto, a qualificação profissional é fundamental. O governo


do estado  irá, por meio de seus programas e de parcerias já iniciadas
com a iniciativa privada, fortalecer e ampliar a capacitação e o
aperfeiçoamento profissional para que as pessoas com deficiência
possam ganhar autonomia e qualidade de vida. E que possam
realizar suas vocações no mercado de trabalho, produzir de forma
eficiente, contribuir para o crescimento econômico do estado.

Trata-se, portanto, de garantir cidadania plena às pessoas


com deficiência. Mas trata-se, também, do fortalecimento e da
diversificação de nossa economia. Temos muito trabalho pela frente.
Melhor assim.

95
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Linamara Rizzo Battistella é professora da FMUSP e secretária


de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Fonte: Disponível em: <http://www.centroruibianchi.sp.gov.br/


sis/lenoticia.php?id=638>. Acesso em: 12 out. 2012.

Atualmente, a escola, para preparar a pessoa com deficiência na sua


inserção ao mercado de trabalho, é a mesma escola em que qualquer outra
pessoa considerada “normal” estuda, pois,

Com o tempo, as pessoas com deficiência foram se


conscientizando de que precisavam continuar progredindo nos
estudos para então serem profissionais qualificados, nesta
fase, contando com a ajuda de ONGs, associações dentro
do seu papel oferecendo cursos profissionalizantes e de
qualificação e do Poder Público. (TAVARES, 2012)

Não é apenas a sociedade que está voltada para a inserção da pessoa


com deficiência no mercado de trabalho, a própria pessoa com deficiência já
está consciente da necessidade de estudar para que possa alcançar uma vaga
no mercado de trabalho. Esse sujeito tem conhecimento da importância da
instituição escola.

Educação Inclusiva e Inserção do


Deficiente Intelectual no Mercado
de Trabalho
No decorrer deste assunto você irá entender o processo de inclusão da
pessoa com deficiência na escola.

Os familiares ea pessoa com deficiência têm a consciência da necessidade


de frequentar a escola para uma melhor colocação no mercado de trabalho. Na
figura a seguir, é possível perceber que a quantidade de alunos com deficiência
cresceu. E a tendência é que esse aumento continue.

96
Capítulo 5 Deficiência Intelectual, Escola e o
Mercado de Trabalho

Figura 4 - Inserção de alunos com deficiência no ensino médio

Fonte: Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia.


sp.gov.br/sis/blog.php>. Acesso em: 13 out. 2012.

A quantidade de alunos que apresentam deficiência em ambientes


escolares aumentou de 13,3 mil para 33,1 mil em quatro anos. Mas o total de
matrículas ainda é baixo se comparado com o de outras etapas da educação
básica.

A família, escola e a sociedade passam a perceber que a pessoa com


deficiência agora é um sujeito como qualquer outro. Manifestam suas dificuldades,
mas isso não impede de ter trabalho, pois muitos têm autonomia sobre seus atos
e ações.

O Brasil, junto com a OIT - Organização Internacional do Trabalho vem

97
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

articulando normas nacionais e internacionais, meios para o acesso ao mercado


de trabalho para a pessoa com deficiência. Leia abaixo o texto sobre as normas
internacionais.

Normas internacionais- No Brasil, as convenções


internacionais 159/83 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT) e a Convenção Interamericana para a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra
as Pessoas Portadoras de Deficiência estão ratificadas.
As duas normas tratam da garantia de emprego adequado e
da possibilidade de integração ou reintegração das pessoas
com deficiência na sociedade. Quem as ratifica, deve formular
e aplicar política nacional para a readaptação profissional e de
emprego para pessoas deficientes.

Fonte: Disponível em: <http://www.oit.org.br/>. Acesso em: 15


out. 2102.

Podemos entender que as articulações estão sendo processadas e os


meios para que a pessoa com deficiência alcance seu emprego estão a cada dia
aumentando, em função de que o mercado de trabalho também está mais apto a
receber as pessoas com deficiência.

Figura 5 - Direitos iguais

Fonte: Disponível em: <http://www.oit.org.br/>. Acesso em: 02 out. 2012.

Para que você, caro pós-graduando, tenha mais conhecimento das ações para o
ingresso da pessoa ao mercado de trabalho, o texto a seguir vai auxiliá-lo.

OIT – TERÁ PAPEL ATIVO NO NOVO FUNDO DAS NAÇÕES


UNIDAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

GENEBRA, (Notícias da OIT) – A Organização Internacional


do Trabalho (OIT) desempenhará um papel ativo na implementação
de um novo instituído recentemente por seis agências das Nações

98
Capítulo 5 Deficiência Intelectual, Escola e o
Mercado de Trabalho

Unidas com o objetivo de promover os direitos das pessoas com


deficiência e ajudar os países a melhorar suas políticas, a compilação
de dados e a prestação de serviços neste tema.

O Fundo foi criado para ampliar a ação das Nações Unidas em


favor das pessoas com deficiência, cujo número é estimado em mais de
um bilhão de pessoas, ou cerca, de 15 por cento da população mundial,
de acordo com o Relatório Mundial sobre a Deficiência, publicado
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Banco Mundial.
O “Fundo das Nações Unidas para Promover o Direito das Pessoas
com Deficiência” (UNPRPD) é incentivado por seis organizações da
ONU com sólida experiência na promoção e proteção dos direitos
das pessoas com deficiência: o Escritório do Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), o Departamento
das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais (DAES), o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a OIT e a OMS.

A OIT, como membro tanto da Junta Consultiva como do Comitê


Administrativo do UNPRPD, participará do estudo das propostas de
apoio financeiro em nível nacional e mundial. A primeira convocatória
está prevista para abril deste ano. As propostas à OIT deverão ser
apresentadas em colaboração com o Coordenador Residente do
PNUD, como estabelece a nota de orientação do Grupo das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (GNUD) para as Equipes de País
das Nações Unidas (UNCT) e dos sócios operativos.

O Fundo Fiduciário é administrado pelo Escritório do Fundo


Fiduciário de Múltiplos Doadores do PNUD (MPTF, por suas siglas
em inglês). Até o momento, foi recebida uma doação de dois milhões
de dólares por parte do Governo da Austrália e se esperam outras
contribuições do Governo da Finlândia, da cidade de São Paulo e
de vários outros governos. Estima-se que a primeira convocatória
de apresentação de propostas em nível mundial e nacional para
serem financiadas pelo UNPRPD será emitida em abril de 2012.
O lançamento oficial do UNPRPD ocorreu em Nova York, em 8 de
dezembro de 2011, e foi patrocinado pelo Embaixador da Austrália,
Gary Quinlan, conjuntamente com a Administradora Associada do
PNUD, Receba Grynspan.

O UNPRPD pretende facilitar o diálogo entre governos e


organizações que representam as pessoas com deficiência com o
objetivo de incentivar ações destinadas a lutar contra a discriminação

99
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

e a marginalização. Este objetivo está em sintonia com a Convenção


das Nações Unidas sobre os direitos das pessoas com deficiência
(CRPD), que foi acordada em nível internacional e cuja finalidade é a
promoção da cooperação internacional sobre estas questões.

Essa associação oferece uma excelente oportunidade à OIT


para basear-se no trabalho realizado através do Grupo de Apoio
Interinstitucional do CRPD e para colaborar com outras agências
da ONU em nível mundial e nacional com o objetivo de promover o
trabalho decente das pessoas com deficiência.

Fonte: Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/content/oit-ter-papel


-ativo-no-novo-fundo-das-na-es-unidas-para-pessoas-
com-defici-ncia>. Acesso em: 12 set. 2013.

Mesmo com todos os programas e todas as articulações dos meios que


podem promover a pessoa com deficiência no mercado de trabalho, não significa
que todas essas pessoas estão trabalhando, pois segundo dados do M.T.E. -
Ministério do Trabalho e Emprego sobre o assunto,

Dados da fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego


mostram que foram inseridas mais de 143 mil pessoas desde
2005. Em 2011, 7.508 pessoas conquistaram empregos
formais nestes termos.

Brasília, 04/05/2011 – Ações de fiscalização do Ministério do


Trabalho e Emprego (MTE) incluíram no mercado de trabalho
143.631 pessoas com deficiência desde 2005.

Balanço divulgado pela Secretaria de Inspeção do Trabalho


(SIT) do MTE mostra ainda que o número de inserções têm
aumentado ano a ano: em 2005, foram 12.786 pessoas,
saltando para 28.752 ao final de 2010.

Nos três primeiros meses de 2011, 7.508 pessoas com algum


tipo de deficiência foram inseridas no mercado de trabalho
formal, crescimento de 40,7% em relação ao primeiro trimestre
de 2010, quando foram incluídos 5.338 trabalhadores.

Fonte: Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/imprensa/


inclusao-do-trabalhador-portador-de-deficiencia-
cresce-ano-a-ano.htm>. Acesso em: 16 out. 2012.

Podemos entender pelos números apresentados que o aumento ao acesso


de pessoa com deficiência no mercado de trabalho vem aumentando a cada
ano, o mercado está absorvendo cada vez mais pessoas com deficiência,

100
Capítulo 5 Deficiência Intelectual, Escola e o
Mercado de Trabalho

não discriminando que tipo de deficiência ela apresenta. Em relação às ações


estaduais, tomemos como exemplo o estado de São Paulo, que vem mostrando
estar envolvido para que a pessoa com deficiência tenha um emprego.A seguir,
alguns números apresentados nos últimos anos.

Dos mais de 12 mil trabalhadores que ingressaram no


mercado de trabalho em 2005, 8.655 são do estado de São
Paulo. No ano seguinte, o número saltou para 19.976 pessoas
contratadas, também com destaque para São Paulo: 9.684.
Em 2007, foram 22.314 pessoas contratadas; em 2008,
25.844; e, em 2009, a fiscalização incluiu outras 26.449 em
todo o país.

Fonte: Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/imprensa/


inclusao-do-trabalhador-portador-de-deficiencia-
cresce-ano-a-ano.htm>. Acessoem: 16 out.2012.

Cada estado está fazendo sua parte, mesmo que ainda tenha muito a ser
feito, não apenas na esfera trabalhista, mas em todas as demais esferas em que
a pessoa com deficiência esteja de alguma forma inserida, em todos os contextos
da sociedade. No entanto, a deficiência não pode ser uma referência de que
a pessoa terá que exercer funções de baixo nível intelectual, espera-se que a
empresa que contrata esse sujeito tenha bom senso, preparo para o trabalho que
vai exercer como seria com qualquer outro funcionário. Sua qualificação deve ser
o norteador de sua função.

Agora que você já estudou mais, queremos compartilhar com você um artigo
sobre o mercado de trabalho e a inclusão, leia a seguir

A educação inclusiva e o mundo do trabalho

28/05/2012 | Por: João Ribas  

Vejamos os seguintes exemplos. Quatro crianças nascem com


algum tipo de deficiência. A primeira nasce paraplégica, a segunda
nasce cega, a terceira nasce surda e a quarta vem ao mundo
com Síndrome de Down. Mesmo tendo eventualmente nascido
em cidades mais distantes das grandes metrópoles e com menos
recursos financeiros, é provável que todas elas venham a estudar
nas escolas que hoje chamamos de inclusivas. Afinal, é objetivo da
Política Nacional do Ministério da Educação assegurar a inclusão
escolar de todos os alunos com deficiência, orientando os sistemas
de ensino para garantir acesso ao ensino regular.

101
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Mas essa inclusão educacional criará condições para que no


futuro esses alunos venham a se tornar profissionais competentes,
que de fato desenvolvam as tarefas solicitadas, que atingem metas
e, portanto, alcançam resultados? Mais do que isso, essa inclusão
educacional trará a cada um deles satisfação pessoal de, tornando-
se profissional de fato, virem a ser seres humanos mais autônomos a
ponto de serem reconhecidos mais pela possibilidade de alcance, do
que pela restrição do limite?

Isso vai depender de duas coisas. Em primeiro lugar, que os


professores recebam apoio e formação continuada para ensinar
alunos com deficiência. Significa dizer que eles não apenas conheçam
e estejam de posse de instrumental pedagógico adequado, mas
principalmente que saibam lidar, no aspecto humano, com esses
alunos. Em segundo lugar, que as escolas estejam conectadas ao
mundo do trabalho. Significa dizer que elas conheçam as exigências
que as empresas fazem àqueles que contratam e que preparem os
alunos com deficiência para que eles próprios se desenvolvam para
responder de forma eficiente e eficaz às essas exigências.

A diversidade reina também entre os alunos com deficiência.


O instrumental pedagógico adequado é importante. Mas, se
o professor não conseguir perceber o potencial individual de
cada aluno, jamais conseguirá desenvolver as habilidades e os
alcances de todos. Por mais que dois alunos cegos tenham à
sua disposição o mesmo software leitor de tela, que vai ajudá-
los pedagogicamente a obter uma informação na Internet, cada
um deles conseguirá, à sua maneira, apreender cognitivamente a
informação que construa o seu aprendizado. Cabe ao professor,
portanto, a fina e delicada percepção das particularidades e dos
detalhes humanos de cada aluno.

Por sua vez, as escolas conectadas ao mundo do trabalho são


aquelas que estão em constante diálogo com líderes empresariais,
os quais são uma fonte de referência sobre as competências
exigidas pelo mercado de trabalho. Bebendo com seriedade dessa
fonte e descartando por completo a atitude complacente para
com os alunos com deficiência, elas poderão ensiná-los a serem
competentes e terem postura profissional. Mais do que isso, saberão
orientar o aluno paraplégico ou àquele que tem Síndrome de Down
para o atendimento das expectativas das empresas e, assim, fazer
deles seres humanos independentes, autônomos e verdadeiramente
sociais.

102
Capítulo 5 Deficiência Intelectual, Escola e o
Mercado de Trabalho

João Ribas é antropólogo, é coordenador do Programa Serasa


Experian de Empregabilidade de Pessoas com Deficiência e é
paraplégico.

Fonte: Disponível em: <http://diversa.org.br/artigos/artigos.php?id=830&/a_


educacao_inclusiva_e_o_mundo_do_trabalho>. Acesso em: 10 abr. 2013.

De acordo com seus estudos desenvolvidos até aqui, convidamos você


refletir sobre alguns questionamentos a seguir.

Atividades de Estudos:

1) Você estudou que o Brasil está seguindo as tendências mundiais


a respeito dos movimentos pelo direito ao trabalho das pessoas
com deficiência. Qual sua concepção sobre o “Fundo das Nações
Unidas para Promover o Direito das Pessoas com Deficiência”
(UNPRPD)?
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2) Você estudou sobre os dados do M.T.E. - Ministério do Trabalho e


Emprego, e da OIT- Organização Internacional do trabalho. Qual
sua compreensão do mercado de trabalho para a pessoa com
deficiência?
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103
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Normas internacionais - No Brasil, as convenções internacionais


159/83 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a
Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência estão
ratificadas.

A Inclusão da Pessoa com


Deficiênciano Mercado de Trabalho.
Uma análise jurídica sob um enfoque
histórico, filosófico e sociológico.

Autor: Álvaro dos Santos Maciel.

104
Capítulo 5 Deficiência Intelectual, Escola e o
Mercado de Trabalho

Uma mente brilhante”.

Sinopse e detalhes

John Nash (Russell Crowe) é um


gênio da matemática que, aos 21 anos,
formulou um teorema que provou sua
genialidade e o tornou aclamado no
meio onde atuava. Mas aos poucos o
belo e arrogante Nash se transforma em
um sofrido e atormentado homem, que
chega até mesmo a ser diagnosticado
como esquizofrênico pelos médicos que
o tratam. Porém, após anos de luta para
se recuperar, ele consegue retornar à
sociedade e acaba sendo premiado com o
Nobel.

Fonte: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/


filme-28384/>. Acesso em: 16 out. 2012.

105
A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual

Considerações Finais
Caro pós-graduando, chegamos ao final dessa jornada de estudos, espero
que você tenha aproveitado ao máximo os conteúdos discutidos. Desde o direito
da pessoa com deficiência à escola ao trabalho e as implicações legais desse
direito.

Desejo que continue estudando, e aprimorando seus conhecimentos, pois


os estudos não se limitam nesse caderno. Você deve buscar mais informações e
suporte teórico para ampliar seus saberes.

Ana Maria Dias Antonius.

Autora.

Referência
BATTTISTELLA, Linamara Rizzo. Inclusão pelo Trabalho. Disponível em:
<http://www.pessoacomdeficiencia.sp.gov.br/sis/leblog. php?id=39&c=>. Acesso
em: 08 out. 2012.

MTE. Inclusão de deficientes no mercado de trabalho. Disponível em: <http://


portal.mte.gov.br/fisca_trab/deficiencia-mental.htm>. Acesso em: 29 set. 2012.

TAVARES, Cláudio Roberto. Mercado de trabalho para a pessoa com


deficiência. Disponível em: <http://www.deficienteonline.com.br/inclusao-de-
deficientes-deficientes-no-mercado-de-trabalho___76.html>. Acesso em: 22 set.
2012.

OIT–OIT terá papel ativo no novo Fundo das Nações Unidas para pessoas com
deficiência. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/content/oit-ter-papel-ativo-
no-novo-fundo-das-na-es-unidas-para-pessoas-com-deficiência>. Acesso em: 21
set. 2012.

INTO. O direito ao trabalho. Disponível em: <http://www.into.saude.gov.br/


conteudo.aspx?id=76>. Acesso em: 12 set 2012.

RIBAS,João. A educação inclusiva e o mercado de trabalho. Disponível em:


<http://diversa.org.br/artigos/artigos.php?id=830&/a_educacao_inclusiva_e_o_
mundo_do_trabalho>. Acesso em: 10 abr. 2013.

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