Você está na página 1de 16

LÍNGUA PORTUGUESA:

CLASSES DE PALAVRAS
AULA 6

Prof. Caio Augusto Lima de Castro


CONVERSA INICIAL
Terminamos a Aula 5 discutindo a questão das desinências. Naquela
ocasião, abordamos aquelas consideradas típicas dos nomes. Mas, como já
dissemos, também é certo que os verbos alteram sua forma para estabelecer
concordância. Logo, temos as desinências verbais. Assim, nesta aula, iremos
realizar o estudo dessas desinências, como também conhecer os processos de
formação de palavras em língua portuguesa. Para tanto, organizamos os temas
da seguinte maneira:

 Tema 1 – Estruturas morfológicas: desinências verbais, morfema zero e


alomorfes;
 Tema 2 – A formação de palavras: primeiras considerações;
 Tema 3 – Derivação: parte I;
 Tema 4 – Derivação: parte II;
 Tema 5 – Composição e outros processos de formação de palavras.

Ao término desta aula, esperamos que você saiba reconhecer os


principais processos que estão envolvidos na criação de novas palavras em
língua portuguesa e, assim, possa se familiarizar com o viés analítico próprio da
morfologia.

TEMA 1 – ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS: DESINÊNCIAS VERBAIS,


MORFEMA ZERO E ALOMORFES

Quando discutimos sobre a classe dos verbos, na Aula 4, vimos que em


português existem três modos verbais diferentes, a saber: o modo indicativo, o
subjuntivo e o imperativo. Cada qual expressa uma ideia diferente: o primeiro
corresponde ao universo das declarações factuais; o segundo, ao território das
incertezas; e o terceiro diz respeito ao âmbito das ordens. As ocorrências a
seguir ilustram essa afirmação. Vejamos:

1. a) O João cantou muito bem.


b) Se a Maria cantasse, poderia se juntar ao João.
c) Canta, João!

Observe que em (1a-c), o verbo cantar flexionou indicando os modos


indicativo, subjuntivo e imperativo, respectivamente. Entretanto, também é
verdade que os verbos destacados em (1) veiculam outro tipo de informação.
2
Tomando a título de exemplo (1a), sabemos que a ação ocorreu no tempo
passado. Assim, além do modo, a flexão verbal também denota o tempo.
Mas não é só isso. Repare o que acontece nas construções a seguir:

2. a) Cantei muito bem.


b) O João e o Rodrigo cantaram muito bem.

Em (2a), a ação foi desenvolvida pela primeira pessoa do discurso (eu),


enquanto em (2b), o ato de cantar foi desempenhado pela terceira pessoa (João
e Rodrigo). Também é verdade que a ação de cantar foi realizada por uma
pessoa apenas (singular), em (2a), e por mais de uma, em (2b).
Esses fatos demonstram, pois, que o verbo varia sua forma a depender
do modo e do tempo, como também do número e da pessoa. Sendo assim,
temos que as desinências verbais se organizam em dois grupos: as modo-
temporais e as número-pessoais. De acordo com Kedhi (1993), as desinências
modo-temporais são:

Quadro 1 – Desinências modo-temporais

Indicativo
presente Ø
-va- (1ª conj) / (var.: -ve-)
pret. imperfeito
-ia- (2ª e 3ª conj) / (var.: -ie-)
pretérito perfeito Ø / -ra- (para a 3ª pessoa do plural)
pret. mais que perfeito -ra- (átono / (var.: -re-)
futuro do presente -rá- (tônico) / (var.: -re-, tônico)
futuro do pretérito -ria- / (var.: -rie-)
Subjuntivo
presente -e- (1ª conj.) / -a- (2ª e 3ª conj)
pretérito imperfeito -sse-
futuro -r- / (var.: -re-)
Formas nominais do verbo
infinitivo -r- / (var.: -re-)
gerúndio -ndo-
particípio -do

Por sua vez, as desinências número-pessoais são:

3
Quadro 2 – Desinências número-pessoais

Singular
1ª. pessoa Ø / (var.: -o; -i semivogal pret. perf. e fut. do pres.)
2ª pessoa -s (var.: -ste (pret. perf.)
3ª. pessoa Ø (var.: u (semivogal) – pret. perfeito)
Subjuntivo
1ª pessoa -mos
2ª pessoa -is (var -stes (pret.perf.); -des (fut. do subj.. e inf. flexionado
3ª. pessoa -m

Repare que nos quadros apresentados, utilizamos a notação “Ø”, mas


qual é o seu significado? Para responder à questão colocada, vamos analisar as
formações apresentadas em (3):

3. a) Nós cantávamos quando crianças.


b) João cantava quando criança.

Sabemos que em (3a), a ação foi desempenhada por mais de uma


pessoa, incluindo o enunciador. O morfema mos indica, portanto, que o verbo
em (3a) refere-se à primeira pessoa do plural. E o que acontece em (3b)? Como
podemos notar, nessa construção verifica-se a ausência do morfema mos.
Sendo assim, a noção de pessoa e número é veiculada pelo que chamamos de
morfema zero, que é representado pelo símbolo: Ø. Nas palavras de Gonçalves
(2019, p. 50), “às vezes, há uma unidade semântica que não apresenta
expressão na palavra: essa é a situação do chamado Ø [zero] morfológico”.
Antes de avançarmos para o próximo tema, cabe-nos ainda tratarmos de
outro conceito caro aos estudos morfológicos. Para tanto, observe as formações
a seguir:

4. a) invariável
b) incontrolável
c) irreal
d) ilegal

Como podemos perceber, nas palavras em (3a) e (3b) temos a ocorrência


do prefixo in, denotando negação. Em (3c) e (3d), verificamos a presença do
prefixo i, que tem a mesma semântica de in. A esse fenômeno, atribuímos o
nome de halomorfia e os morfemas envolvidos chamamos de alomorfes. Assim,

4
in e i são considerados alomorfes, isto é, realizações diferentes de um mesmo
morfema.
Vimos, neste tema, a apresentação das desinências verbais, bem como o
conceito de morfema zero, alomorfia e alomorfes. Embora haja outros conceitos
que são utilizados nos estudos morfológicos, acreditamos que esses são os
principais. Por isso, encerramos neste ponto a discussão sobre os morfemas do
português e passaremos a discutir sobre os processos de formação de palavras.

TEMA 2 – FORMAÇÃO DE PALAVRAS: PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES

Com todo a certeza, em seu dia a dia você já ouviu ou até mesmo utilizou
palavras como: bugou, gugada, fazeção, falsiane, sextou etc. Palavras que até
pouco tempo não faziam parte do léxico do português. Pois bem, isso mostra o
poder riativo de nossa língua que, a depender do contexto, adequa-se para o
estabelecimento da comunicação entre nós, seus usuários. Há quem torça o
nariz para essas formações e até preconizam o fim da última flor do Lácio1,
contudo, ignoram o fato de que ela está mais viva do que nunca e, como um rio
caudaloso, nos embriaga com o frescor de suas novas criações.
Para quem se dedica aos estudos da morfologia, essa propriedade se faz
um instigante campo de pesquisa. Afinal, por que razão novas palavras são
criadas? Quais processos encontram-se envolvidos na formação de palavras? A
partir de agora, procuraremos responder a essas questões sem a pretensão de
esgotarmos o tema. Nossa intenção é apresentar a você os aspectos mais
gerais, os quais permitirão o aprofundamento de seus conhecimentos ao longo
de sua formação acadêmica.
Sendo assim, uma pergunta relevante a se fazer é: quais seriam os fatores
motivadores da criação de novas palavras? O primeiro deles nos remete ao
contexto histórico. Há pouco mais de três décadas, praticamente não ouvíamos
falar em computadores nem em todos os aparatos tecnológicos hoje existentes.
Aparelhos celulares não haviam se popularizado, tampouco palavras como apps,
Twitter, Netflix e redes sociais precisavam de ser utilizadas. O contexto era outro.
Hoje, a popularização da internet possibilitou a rápida disseminação de
informações, como também novas formas de nos relacionarmos e nos

1
Disponível em:
<http://www.linguisticaelinguagem.cepad.net.br/EDICOES/02/arquivos/20%20Poesia.pdf>.
Acesso em: 2 fev. 2020.
5
comunicarmos. Além disso, novas necessidades passaram a existir e,
obviamente, para nomear tudo isso novas palavras tiveram de ser criadas.
Esse tipo de necessidade é o que Gonçalves (2019, p. 124-125), à luz do
trabalho de Basílio (1987), chama de função de denominação ou rotulação. Nas
palavras do próprio autor: “falamos em função de rotulação quando novas
palavras aparecem para nomear invenções, fenômenos até então
desconhecidos, conceitos diferentes ou, ainda, para cunhar tendências do
mundo contemporâneo”. É satisfazendo essa função que encontramos os
chamados empréstimos linguísticos e os chamados neologismos derivacionais,
tal qual indicado por Gonçalves (2019) em exemplos como patolândia,
cracolândia etc.
Outro fator motivador de criação de novas palavras é o que encontramos
em ocorrências como a verificada na manchete a seguir:

Figura 1 – Manchete

Fonte: Rokas Tenys/Shutterstock.

O uso do verbo maratonar, destacado pelo editor da machete com o uso


das aspas, indica que estamos diante de uma nova criação lexical. Do
substantivo maratona, foi criado o verbo maratonar, o que atende à função de
mudança categorial. Mesmo fenômeno é observado em fazeção, formação na
qual do verbo origina-se um substantivo. De acordo com Gonçalves (2019, p.
6
127), “a função de mudança de classe possibilita adequação sintática e
manifestação de novos significados a partir de processos de formação em que
base e produto diferem na especificação categorial”.
O outro fator motivador para a criação de novas palavras está associado
à chamada função discursiva. Essa, por sua vez, subdivide-se em:

 função atitudinal, a qual corresponde à “necessidade de o falante


expressar carga emocional variada a partir do uso de processos
morfológicos” (Gonçalves, 2019, p. 127), como verificamos em falsiane;
 função textual, verificada nos processos de produção textual, para se
garantir a progressão textual por meio da “impessoalização, paráfrase e
coesão”, conforme indicado por Gonçalves (2019, p. 129).

Vimos, neste tema, os principais fatores motivadores da formação de


novas palavras, entretanto, ainda precisamos entender quais são os processos
morfológicos de criação de palavras de que dispomos na língua portuguesa.
Esse é o assunto dos próximos temas que passaremos a discutir.

TEMA 3 – DERIVAÇÃO: PARTE I

Atente para as ocorrências apresentadas a seguir:

1. a) infeliz
b) construção
c) beija-flor

As palavras apresentadas em (1a-c) integram o léxico de nossa língua e


são resultantes de dois processos distintos de formação de palavras. Repare
que em (1a) e (1b), foram inseridos afixos aos radicais, derivando, assim, as
formas infeliz e construção. Já em (1c), o processo de formação é outro. Duas
palavras, beija e flor, foram combinadas, constituindo um novo item. Pois bem,
aos processos ocorridos em (1a) e (1b) chamamos de derivação. Já o processo
verificado em (1c) chamamos de composição. Para fins didáticos, neste tema
vamos nos concentrar na derivação.
Esse processo de formação de palavra pode ocorrer por meio da inserção
de um prefixo ao radical, como visualizamos em (1a) e nas ocorrências a seguir:

2. a) desconstruir
b) ilegal

7
c) recomeçar
d) desonesto

A morfologia denomina esse processo de formação de derivação


prefixal. Por sua vez, também é verdade que, na derivação, pode ser inserido a
um radical um sufixo, como visualizamos em (1b) e nas próximas ocorrências:

3. a) destruição
b) lealdade
c) meninada
d) felizmente

A esses casos de formação de palavra, a morfologia atribui o nome de


derivação sufixal. Uma observação para a qual Kedhi (1993) chama nossa
atenção diz respeito ao fato de que os prefixos, ao contrário dos sufixos, só se
associam a verbos e adjetivos. Como vimos quando realizamos o estudo sobre
os afixos, são os sufixos que auxiliam na mudança de classe gramatical. Já os
prefixos não têm essa propriedade.
Observemos, agora, as próximas construções:

4. desconstrução
b) imoralidade
c) infelizmente

Todas as ocorrências apresentadas em (4) apresentam, de maneira


simultânea, a inserção de um prefixo e de um sufixo ao radical. Repare que, em
todas elas, também é possível separarmos tanto o prefixo quanto o sufixo e,
mesmo assim, teremos como resultado uma palavra do português:
5. a) descontruir
b) construção
c) imoral
d) moralidade
e) infeliz
f) felizmente

Quando isso ocorre, em morfologia dizemos que o processo de formação


que constituiu as palavras tais quais as apresentadas em (4) chama-se derivação
prefixal e sufixal.

8
Vimos, até este ponto, três diferentes tipos de derivação: a prefixal, a
sufixal e a prefixal e sufixal. Agora, vejamos o que acontece em (6):

6. apedrejar

Na referida ocorrência, nos vemos diante de uma palavra a que foram


inseridos um prefixo e um sufixo. Seria essa construção um exemplo de
derivação prefixal e sufixal? A resposta a essa questão será discutida no próximo
tema.

TEMA 4 – DERIVAÇÃO: PARTE II

Finalizamos o Tema 3 lançando um questionamento: seria o termo


apedrejar o resultado de uma derivação prefixal e sufixal?
Vimos, anteriormente, que para ser uma derivação prefixal e sufixal, a
retirada de um dos afixos não acarreta em uma palavra inexistente na língua.
Assim, como também já dissemos, em infelizmente, por exemplo, se isolarmos
o prefixo in, temos a palavra felizmente. Por sua vez, se extrairmos o sufixo
mente, ainda assim, temos a palavra infeliz. Vamos realizar o mesmo raciocínio
para analisarmos a palavra apedrejar.
Temos, no referido vocábulo, a presença do prefixo a e do sufixo ejar. Ao
extrairmos o prefixo a, temos como resultado o termo pedrejar, uma palavra que
não existe na língua portuguesa. Por outro lado, se isolarmos o sufixo ejar, temos
como resultado o termo apedre, que também não pertence ao léxico do
português. Ora, esse teste nos permite afirmar que apedrejar não é, pois, uma
palavra resultante do processo de derivação prefixal e sufixal. Mas, afinal, qual
seria, então, esse processo?
Em morfologia, denominamo-lo de derivação parassintética. Assim, de
acordo com Kedhi (1993, p. 17), a parassíntese “consiste na adjunção
simultânea de um prefixo e de um sufixo a um radical, de forma que a exclusão
de um ou de outro resulta numa forma inaceitável na língua”.
Existem algumas formações que podem causar dúvida no que diz respeito
ao fato de resultarem de um processo de derivação parassintética. Kedhi (1993)
apresenta como exemplo o verbo amarelar. A princípio, discorre o autor,
poderíamos ser levados a acreditar que ele resulta de um processo de sufixação,
visto que, se extraímos o sufixo ar, temos uma forma existente na língua

9
portuguesa. Contudo, o referido autor defende que esse é um raciocínio
equivocado.
Para fundamentar seu ponto de vista, Kedhi (1993) recorre ao que ele
denomina de subsistema dos verbos formados por radicais que expressam cor.
Construções como avermelhar, acinzentar, entre outras por ele exemplificadas
são parassintéticas. Por isso, considera o verbo amarelar resultante de uma
derivação por parassíntese. A justificativa pelo aparecimento de apenas um a no
início da palavra deve-se ao fenômeno da crase entre o prefixo a e a vogal do
onset silábico2 a.
Kedhi (1993) também chama nossa atenção para uma situação contrária,
a saber, formações que aparentemente nos levariam a pensar que são
parassintéticas, mas não o são de fato, como é o caso do verbo inquebrantável.
Ao recorrer ao subsistema em que outros adjetivos, tais como impensável ou
indesejável, são encontrados, o linguista revela que tal formação é resultante de
um processo de prefixação.
Por fim, Kedhi (1993) também chama nossa atenção para o fato de que
algumas construções demandam a consideração de relações semânticas para
determinar se correspondem à derivação parassintética ou não. É o que ocorre
com os exemplos escolhidos pelo autor e disponibilizados a seguir:

1. a) alargar
b) largar

Observemos, agora, o que encontramos em (2):

2. a) busca
b) trilha
c) vento
d) grito

Com toda a certeza, se você é um falante nativo de língua portuguesa, é


capaz de dizer de quais verbos se originaram as formações apresentadas em
(2a-d). Repare, por sua vez, que para se formarem foi necessária a perda de um
sufixo na forma originária (buscar, trilhar, ventar e gritar, respectivamente).
Quando isso acontece, a morfologia denomina de derivação regressiva.

2
Sílaba inicial também chamada de ataque.
10
Também são encontradas em língua portuguesa ocorrências como as
apresentadas em (3):

3. a) sanduba
b) perifa
c) foto

Note que, nesses casos, as palavras sanduíche, periferia e fotografia


sofreram uma redução. Todavia, os termos que dessa redução surgiram
pertencem à mesma classe de palavras que aquelas que os originaram. Quando
isso ocorre, dizemos, em morfologia, tratar-se de um processo de abreviação.
O último processo de formação de palavra considerado um tipo de
derivação é o que verificamos em ocorrências como as apresentadas em (4):

4. a) A vista do topo do Everest é maravilhosa.


b) Qual o porquê disso?
c) A coordenadora enviou a circular para as famílias.
d) O andar de Gisele Bündchen na passarela é encantador.

Em todos os casos apresentados em (4), a saber, a vista, o porquê, a


circular e o andar, verificamos uma mudança de classe das palavras. Quando
isso ocorre, dizemos se tratar de um processo de derivação imprópria.
Vimos, neste tema, diferentes processos de formação de palavras além
daqueles estudados no Tema 3. Derivação parassintética, regressiva,
abreviação e imprópria são outros recursos de que a língua dispõe para criar
novas palavras. Entretanto, ainda existem outras maneiras de originarmos novas
palavras. Afinal, a língua é um organismo vivo e dinâmico. Sobre esses outros
processos, discutiremos no último tema de nossa aula.

TEMA 5 – COMPOSIÇÃO E OUTROS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE


PALAVRAS

De acordo com o dicionário, a palavra composição significa “o modo pelo


qual os elementos constituintes do todo se dispõem e integram”. Partindo dessa
noção, vamos observar o que ocorre nas formações apresentadas a seguir:

1. a) cata-vento
b) beija-flor
c) amor-perfeito

11
d) planalto
e) aguardente

O que percebemos nessas construções? Vejamos que em cada uma


delas há a presença de dois radicais. Contudo, como indica Kedhi (1993), nessas
palavras “os elementos primitivos perdem a significação própria em benefício de
um único conceito, novo global”. Assim, cata-vento, por exemplo, refere-se
conceitualmente a algo como o representado na Figura 2.

Figura 2 – Manchete

Fonte: OlgaChernyak/Shutterstock.

O mesmo ocorre com (4b-d). Logo, a esse processo de formação de


palavra chamamos, em morfologia, de composição.
A composição se subdivide em dois tipos: justaposição, “quando os
termos associados conservam a sua individualidade”, como verificamos em (4a),
(4b) e (4c); e aglutinação, em que “os vocábulos ligados se fundem num todo
fonético, com um único acento, e o primeiro perde alguns elementos fonéticos”
(Kedhi, 1993, p. 36). É o que verificamos em (4d) e (4e).
As palavras originadas pelo processo de composição apresentam quatro
propriedades morfossintáticas:

1. a ordem em que se apresentam as unidades vocabulares nessas


construções é rígida e não pode ser introduzido, entre os vocábulos
constituidores do composto, um terceiro;
2. os elementos que se encontram associados na composição não podem
ser extraídos ou substituídos;

12
3. Os compostos apresentam construção sintática anômala, como vemos
em “surdo-mudo” (e não “surdo e mudo”);
4. os compostos funcionam como uma só palavra.

Além da derivação e da composição, a língua portuguesa apresenta


outros processos de formação de palavras, os quais apresentamos a seguir:

a) Onomatopeias: nesse processo, palavras são criadas para expressar os


sons emitidos por coisas e animais, como tique-taque e au au;
b) Reduplicação: ocorre na repetição de uma sílaba como verificamos em
mamãe; para dar ênfase ou intensidade, como em já, já; quando o
substantivo repetido assume um caráter adjetival, como ocorre em esse é
um carro carro;
c) Hibridismo: ocorre quando os elementos que formam uma palavra são
provenientes de outras línguas, como ocorre em sociologia (latim e
grego);
d) Siglas: acontece quando “longos títulos ficam reduzidos às letras iniciais
das palavras que os constituem” (Kedhi, 1993, p. 51). Um exemplo desse
processo são as siglas ONU (Organização das Nações Unidas), PIB
(Produto Interno Bruto), entre outras.

Com essa discussão, finalizamos nosso estudo sobre os processos de


formação de palavras em língua portuguesa. Para facilitar a visualização do que
abordamos e potencializar os seus estudos, disponibilizamos a seguir um
organograma com todos esses processos.

Figura 3 – Organograma de formação de palavras

13
Prefixal

Sufixal

Prefixal e sufixal

Derivação Parassintética

Regressiva

Abreviação

Formação de Imprópria
palavras
Justaposição
Composição
Aglutinação

Onomatopeia

Outros Reduplicação
processos
Hibridismo

Siglas

Ao término desta nossa aula, esperamos ter contribuído com a sua


compreensão acerca do que está em jogo no campo da morfologia. Aqui, foram
apresentados os conceitos básicos e certamente fundamentais para que você
possa aprofundá-los ao longo de sua formação acadêmica. Bons estudos!

NA PRÁTICA

Com o advento da tecnologia, a presença de estrangeirismos, novas


palavras que são criadas a partir do empréstimo de palavras de outras línguas,
é intensificada. Twittar, clicar e youtuber são exemplos dessa presença e de sua
produtividade na língua. Seriam eles uma ameaça à língua portuguesa? Discuta
sobre essa questão, apresentando seu ponto de vista. Em seguida, interaja com
seus colegas e professor-tutor e veja o que eles dizem. Uma dica: lembre-se de
que o léxico tem uma parte aberta e uma parte fechada. Os estrangeirismos
atuam na parte aberta.

FINALIZANDO

Com o término de nossa Aula 6, finalizamos também os estudos da


disciplina de Língua Portuguesa: classes de palavras. Nesta aula, tratamos dos
processos de formação de palavras de que dispomos em língua portuguesa para
a criação de novos itens de vocabulário. Assim, derivação, composição e outros

14
processos são a maneira que a língua encontra de manter-se viva, atravessando
os tempos e permanecendo esse instrumento poderoso por meio do qual nós,
seres humanos, estabelecemos nossas relações pessoais e interpessoais.
Ao longo dessas seis aulas, procuramos auxiliar você, estudante, a entrar
em contato com as reflexões que são realizadas em morfologia. Como dissemos
anteriormente, aqui você tem os conceitos básicos dessa ciência tão instigante.
Conhecê-los é fundamental para que você possa seguir adiante, aventurando-
se nesse universo das reflexões linguísticas. “O caminho se faz ao largo”, já dizia
o poeta. Caminhemos, pois! Bons estudos!

15
REFERÊNCIAS

GONÇALVES, C. A. Morfologia. São Paulo: Parábola, 2019.

KEDHI, V. Morfemas do português. 2. ed. São Paulo: Ática, 1993.

16

Você também pode gostar