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Um olhar voltado
para a empresa e a sociedade. São Paulo: Bontempo, 2002.
(Coleção Mundo do Trabalho).
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* Mestrando do Curso de Pós-Graduação em Geografia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista
(Júlio de Mesquita Filho). Rua Roberto Simonsen, 305. CEP 19060-900, Presidente Prudente, SP. Italoteixeira@hotmail.com
Geografia - Volume 11 - Número 2 - Jul/Dez. 2002 345
tentes entre as teorias relacionadas aos processos Também, o fato de que a produtividade do
de trabalho, as teorias sobre os mercados de tra- trabalho está relacionada diretamente às soluções
balho e aquelas que envolvem o gênero. Partindo desenvolvidas, à tal finalidade, em cada país, é
desta perspectiva, a autora contribui para ampliar abordado pela autora. A partir da comparação
o leque de discussões acerca da problemática da entre os paradigmas tecnológicos, da organização
divisão sexual do trabalho, ao confirmar que os do trabalho e das políticas de mão-de-obra entre
movimentos complexos da mão-de-obra feminina os vários ramos analisados, à luz de comparações
vão além das ligações exclusivas à conjuntura do entre empresas envolvidas na divisão internacio-
mercado de trabalho, às mudanças no processo e nal do trabalho (o que ela considera como relação
na organização do trabalho, ou à subjetividade das Norte-Sul), chega-se à indicação de que a morte do
trabalhadoras. taylorismo pode ser questionada, se considera as
Para a autora, um enfoque centrado no ponto características produtivas em cada ramo industrial
de vista das relações de gênero mostra que o pro- distinto.
blema do emprego está longe de se esgotar na con- Quanto à divisão sexual do trabalho propria-
sideração do mercado de trabalho, sendo necessária mente dita, nesta primeira parte a autora a expli-
a inserção da dimensão sexuada em tais discussões cita de forma nítida, à medida em que reconhece,
a fim de aprofundar o binômio trabalho assalariado através de seus estudos de caso, que o trabalho
formal/ remunerado e informal/doméstico. mais elaborado, o qual exigia um maior grau em
Assim, ao tratar das questões que envolvem conhecimentos técnicos (ou, o trabalho “nobre), era
os estereótipos sexuados, constatou-se que as iden- atribuído principalmente aos homens, enquanto que
tidades sexuais e suas respectivas representações o trabalho manual e repetitivo (ou, “menos nobre)
sociais – da virilidade/feminilidade, por exemplo era predominantemente atribuído às mulheres.
– são amplamente utilizados nas políticas de gestão Trata-se, nos dizeres da autora, de pensar a
da mão-de-obra no meio industrial. Constatou-se dimensão cultural na gestão da empresa, tendo em
ainda, a existência de uma certa assimetria entre vista avaliar os respectivos pesos da tecnologia, da
o emprego/desemprego e o trabalho masculino e cultura e dos fatores de ordem institucional e his-
feminino. Estas análises compõem o arcabouço das tórica nas diferenças encontradas na configuração
questões levantadas, e analisadas brilhantemente das empresas em nível nacional.
pela autora e seus co-autores, sob o enfoque que As articulações que se constróem entre as re-
relaciona o processo de trabalho e a subjetividade lações familiares e a produção industrial capitalista
envolvida neste processo. de mercadorias, isto é, entre a família e a empresa,
De forma resumida, podemos dizer que a figuram entre as principais preocupações da autora
primeira parte da obra traz um enfoque do sistema na segunda parte da obra. Aqui, cabe destacar o
taylorista e das novas formas alternativas de or- quão eficazes se revelam as relações de gênero
ganização do trabalho, através dos resultados das mantidas no seio familiar, quer seja da mulher no
pesquisas empíricas de comparação entre os países papel de filha, quer seja enquanto esposa, portanto,
citados anteriormente (Brasil, Japão e França), do trabalho doméstico, para legitimar sua submis-
realizadas pela autora. Sobre este último aspecto, são e docilidade frente às políticas de gestão da
vale ressaltar que os estudos de caso centram-se em mão-de-obra intra-empresa e, em última instância,
vários ramos industriais, como o eletrônico, o do vi- à organização capitalista da produção.
dro, o têxtil e o agroalimentício. É nos capítulos que Com vários exemplos extraídos da cultura
compõem esta primeira parte da obra, que Helena japonesa, Hirata consegue unir as dimensões que
Hirata demonstra as várias faces que assume a or- envolvem a mulher enquanto gênero, o trabalho
ganização do trabalho sob o taylorismo, de acordo reprodutivo, e o trabalho na produção industrial,
com o que ela chama de cultura nacional, em cada trazendo à tona, inclusive algumas das maneiras
país considerado, comprovando que o processo de encontradas entre a mulheres orientais para se ade-
trabalho adotado (produção em série ou não) não quarem às exigências tanto do trabalho produtivo
constitui o elemento determinante. como do reprodutivo.