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O texto questiona a concepção de organização como algo concreto e homogêneo, sugerindo que ela
é resultado da negociação entre diferentes cotidianos e atividades humanas. Destaca-se a
importância do cotidiano como espaço de ação e da capacidade humana de criar novas formas de
agir. A visão de organização como um todo superior pode levar a uma subordinação simbólica das
partes, negando a importância das mudanças no local de trabalho. Portanto, é necessário repensar o
conceito de organização e sua influência na psicologia social.
O texto apresenta três possíveis abordagens em relação ao papel do todo em relação às partes. A
primeira abordagem considera o todo como algo separado das partes, onde as organizações são
entidades objetivas e as pessoas se comportam de acordo com regras previsíveis. A segunda
abordagem reconhece que as pessoas constroem suas próprias perspectivas e relativiza o conceito
de organização, explorando temas como liderança, comunicação e cultura organizacional. A terceira
abordagem inverte a relação entre todo e parte, considerando o todo como uma construção
intersubjetiva e as partes como a base concreta da intersubjetividade. Nessa visão, as organizações
são entendidas como coleções de partes e produtos das contradições e conflitos do cotidiano. A
compreensão da organização como representação política da realidade leva a uma análise dos
processos de colonização do mundo vital e do sistema.
A psicologia social do fenômeno organizativo destaca que as organizações são apenas traços ou
representações congeladas da atividade humana. A estrutura organizacional desempenha um papel
simbólico na mediação da ação, mas não é o principal motor da atividade diária. A reificação da
organização na ideologia gerencial pode ser vista como uma negação implícita da capacidade
organizativa das pessoas não gerenciais. A oferta da cidadania organizacional reprime a cidadania
derivada das contradições diárias, limitando os direitos e mantendo um estado. O processo de
colonização simbólica ainda não se tornou hegemônico, e a complexidade pode levar à
desmistificação parcial do sistema. A consciência prática das contradições e a agência individual são
reconhecidas como elementos importantes. A psicologia do trabalho pode ser reconfigurada como
ação processual e integrar a pesquisa-ação para apoiar a agência do indivíduo na alteração de
práticas e comportamentos.
A aparição do demônio na fábrica, no meio da produção
JOSÉ DE SOUZA MARTINS
O autor, que testemunhou esse evento quando era adolescente, agora sociólogo e professor
universitário, decidiu registrar e estudar essa ocorrência como uma contribuição ao entendimento das
relações de trabalho no Brasil e das particularidades da vida cotidiana na fábrica. Ele considera esse
acontecimento como revelador de certas características do processo de trabalho em crise, que
podem não ser imediatamente visíveis para pesquisadores que não têm acesso direto às minúcias da
produção.
O autor realizou uma reconstituição detalhada dos eventos, baseando-se em suas próprias memórias,
anotações, entrevistas com antigos empregados da fábrica e outras fontes de informação. Ele
descobriu que sua memória do ocorrido era mais completa do que a dos engenheiros e mestres com
quem trabalhou na época. O autor especula que sua posição como um adolescente realizando tarefas
insignificantes na fábrica o tornou invisível e, portanto, capaz de observar detalhes e acontecimentos
que passaram despercebidos por outros funcionários.
Em resumo, o autor busca analisar o evento incomum do aparecimento do demônio na fábrica como
uma forma de compreender as dinâmicas do trabalho e da vida cotidiana naquela época. Ele destaca
a importância de trazer à tona eventos aparentemente insignificantes, mas que podem revelar
aspectos relevantes de um processo de trabalho em crise.
O fenômeno do desenraizamento operário descrito por Simone Weil continua sendo atual e relevante,
mesmo em um contexto mais contemporâneo. A autora cunhou esse conceito com base em sua
experiência de trabalho nas fábricas de Paris nas décadas de 1930, onde observou o sofrimento
gerado pela organização do trabalho fabril.
Para analisar a atualidade desse fenômeno, foram realizadas entrevistas com nove trabalhadores
metalúrgicos de fábricas na região do ABC paulista, buscando comparar suas reflexões com as de
Simone Weil. A análise das biografias profissionais teve como objetivo investigar se as
transformações no mundo do trabalho, conhecidas como reestruturação produtiva, haviam alterado o
desenraizamento operário descrito por Weil.
Isso sugere que as condições que causam o desenraizamento estão enraizadas na própria lógica
capitalista de produção, que muitas vezes prioriza a maximização do lucro em detrimento do
bem-estar dos trabalhadores. A natureza repetitiva e desgastante do trabalho, a falta de autonomia e
participação nas decisões, a precarização das condições de trabalho e a pressão por metas
continuam gerando sofrimento psicossocial nos trabalhadores.
glocalidade
transindividualidade
prático inerte - é uma expressão introduzida por Sartre, para significar as cristalizações da experiência passada,
do indivíduo e da sociedade, corporificadas em formas sociais e, também, em configu rações espaciais e
paisagens. Indo além do ensinamento de Sartre, podemos dizer que o espaço, pelas suas formas geográficas
materiais, é a expressão mais acabada do prático-inerte.
Milton Santos foi um geógrafo brasileiro conhecido por suas contribuições para o campo da geografia
urbana e social. Ele desenvolveu uma abordagem crítica da geografia, enfatizando a importância da
compreensão do espaço geográfico e suas relações sociais, políticas e econômicas.
A obra de Milton Santos, intitulada "A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção", é
considerada uma de suas principais obras e uma referência fundamental para a compreensão de sua
visão do espaço geográfico. Nesse livro, Santos propõe uma nova abordagem para a compreensão do
espaço, distanciando-se da concepção tradicional que o considera apenas como uma extensão física,
neutra e homogênea.
Segundo Santos, o espaço não é apenas uma realidade objetiva, mas também uma construção social,
resultado das relações entre diferentes atores sociais e das práticas espaciais que ocorrem nele. Ele
argumenta que o espaço é produto das atividades humanas, influenciado por fatores técnicos,
sociais, políticos e culturais, e que sua compreensão deve levar em conta tanto a dimensão material
quanto a simbólica.
Além disso, Santos discute a importância do tempo na compreensão do espaço. Ele argumenta que o
espaço é historicamente construído e que as transformações espaciais estão intrinsecamente ligadas
ao tempo. Santos também aborda as relações entre espaço e poder, destacando como o espaço é
utilizado como instrumento de dominação e exclusão, mas também como um local de resistência e
emancipação.
Em "A Natureza do Espaço", Milton Santos apresenta uma perspectiva crítica e engajada da geografia,
buscando compreender as desigualdades sociais e espaciais presentes no mundo contemporâneo.
Sua obra influenciou diversos estudiosos e contribuiu para uma maior compreensão do espaço
geográfico como uma realidade complexa, dinâmica e socialmente construída.
O cotidiano é uma categoria fundamental para compreender o lugar no mundo atual. Através da
análise do cotidiano, é possível examinar como as pessoas vivem, interagem e se relacionam com o
espaço ao seu redor. O cotidiano envolve atividades diárias, práticas sociais, rotinas e experiências
pessoais que são moldadas pelo contexto social, cultural, econômico e político.
Ao considerar o cotidiano como uma categoria geográfica, é importante levar em conta os objetos
presentes no espaço, as ações realizadas pelas pessoas, as técnicas utilizadas e o tempo envolvido.
Esses elementos desempenham um papel crucial na forma como o cotidiano é vivido e
experimentado.
Uma abordagem geográfica do cotidiano pode revelar como as dinâmicas locais e globais se
entrelaçam e se manifestam no espaço. À medida que a globalização avança, as influências externas
se infiltram nos lugares, alterando suas características e práticas cotidianas. Ao mesmo tempo, a
singularidade de cada lugar se mantém, pois é imerso em uma comunhão única com o mundo.
A noção de "glocalidade" destaca a interação complexa entre o global e o local. Os lugares são tanto
influenciados quanto moldados pelas forças globais, enquanto mantêm sua individualidade e
identidade distintas. Essa tensão entre globalização e localização é parte de uma dialética em
constante reconstrução.
A obra "A invenção do cotidiano" é um livro escrito por Michel de Certeau, um teórico francês
conhecido por suas contribuições para a área dos estudos culturais e teoria social. Publicado
originalmente em 1980 com o título "L'invention du quotidien", o livro explora as formas pelas quais os
indivíduos exercem sua agência criativa e resistência dentro das estruturas sociais cotidianas.
"A invenção do cotidiano" oferece uma abordagem crítica da vida cotidiana, examinando as práticas e
táticas utilizadas pelos indivíduos comuns para navegar dentro de sistemas e instituições
dominantes. Certeau argumenta que, mesmo nas condições aparentemente restritivas do cotidiano,
as pessoas encontram maneiras de subverter, reutilizar e reinventar as estruturas e normas
estabelecidas.
O autor distingue entre duas formas de ação: estratégias e táticas. As estratégias são as ações
planejadas e implementadas por instituições ou poderes dominantes, enquanto as táticas são as
práticas improvisadas e adaptativas usadas pelos indivíduos para contornar ou reinterpretar as
estratégias. Certeau enfatiza a importância das táticas como formas de resistência e afirmação da
individualidade dentro de uma sociedade regulamentada.
"A invenção do cotidiano" aborda uma ampla gama de temas, incluindo consumo, comunicação,
espaço urbano, mídia e religião. O livro é reconhecido por sua abordagem interdisciplinar e influência
nos estudos culturais, antropologia, sociologia e teoria literária.