Você está na página 1de 6

A ORGANIZAÇÃO COMO FENÔMENO PSICOSSOCIAL: NOTAS PARA UMA REDEFINIÇÃO DA

PSICOLOGIA DO TRABALHO - Peter K. Spink


intersubjetividade radical
O texto aborda a fragmentação da Psicologia do Trabalho, apontando a vasta gama de tópicos
abrangidos por essa área e a falta de um conjunto coeso de princípios teóricos e práticas. São
mencionados diversos temas estudados nesse campo, como ergonomia, saúde do trabalhador,
organização do trabalho, motivação, liderança, entre outros. A falta de uma base teórica sólida e a
multiplicidade de elementos de atuação contribuem para a marginalização desse campo dentro da
psicologia. Propõe-se a compreensão do processo organizativo como uma unidade de análise que
poderia diminuir a fragmentação e permitir uma atuação mais coerente. Essa perspectiva abrangeria
as interações entre ações e significados sociais nas organizações, considerando tanto aspectos
sociais como estruturais. Por meio desse enfoque, a Psicologia do Trabalho poderia abordar de
maneira mais abrangente as dinâmicas organizacionais, relações de poder, cultura organizacional e
políticas de trabalho.

O texto questiona a concepção de organização como algo concreto e homogêneo, sugerindo que ela
é resultado da negociação entre diferentes cotidianos e atividades humanas. Destaca-se a
importância do cotidiano como espaço de ação e da capacidade humana de criar novas formas de
agir. A visão de organização como um todo superior pode levar a uma subordinação simbólica das
partes, negando a importância das mudanças no local de trabalho. Portanto, é necessário repensar o
conceito de organização e sua influência na psicologia social.

O texto apresenta três possíveis abordagens em relação ao papel do todo em relação às partes. A
primeira abordagem considera o todo como algo separado das partes, onde as organizações são
entidades objetivas e as pessoas se comportam de acordo com regras previsíveis. A segunda
abordagem reconhece que as pessoas constroem suas próprias perspectivas e relativiza o conceito
de organização, explorando temas como liderança, comunicação e cultura organizacional. A terceira
abordagem inverte a relação entre todo e parte, considerando o todo como uma construção
intersubjetiva e as partes como a base concreta da intersubjetividade. Nessa visão, as organizações
são entendidas como coleções de partes e produtos das contradições e conflitos do cotidiano. A
compreensão da organização como representação política da realidade leva a uma análise dos
processos de colonização do mundo vital e do sistema.

A psicologia social do fenômeno organizativo destaca que as organizações são apenas traços ou
representações congeladas da atividade humana. A estrutura organizacional desempenha um papel
simbólico na mediação da ação, mas não é o principal motor da atividade diária. A reificação da
organização na ideologia gerencial pode ser vista como uma negação implícita da capacidade
organizativa das pessoas não gerenciais. A oferta da cidadania organizacional reprime a cidadania
derivada das contradições diárias, limitando os direitos e mantendo um estado. O processo de
colonização simbólica ainda não se tornou hegemônico, e a complexidade pode levar à
desmistificação parcial do sistema. A consciência prática das contradições e a agência individual são
reconhecidas como elementos importantes. A psicologia do trabalho pode ser reconfigurada como
ação processual e integrar a pesquisa-ação para apoiar a agência do indivíduo na alteração de
práticas e comportamentos.
A aparição do demônio na fábrica, no meio da produção
JOSÉ DE SOUZA MARTINS

1. O olhar do insignificante: memória e testemunhos


O texto que você compartilhou descreve um acontecimento incomum ocorrido em uma fábrica de
ladrilhos em São Caetano do Sul, São Paulo, no ano de 1956. Durante esse período, várias operárias
desmaiaram durante a jornada de trabalho, alegando ter visto o demônio espreitando-as no salão da
fábrica. Essas visões cessaram quando a direção da empresa decidiu chamar um padre para celebrar
uma missa e benzer as instalações da fábrica.

O autor, que testemunhou esse evento quando era adolescente, agora sociólogo e professor
universitário, decidiu registrar e estudar essa ocorrência como uma contribuição ao entendimento das
relações de trabalho no Brasil e das particularidades da vida cotidiana na fábrica. Ele considera esse
acontecimento como revelador de certas características do processo de trabalho em crise, que
podem não ser imediatamente visíveis para pesquisadores que não têm acesso direto às minúcias da
produção.

O autor realizou uma reconstituição detalhada dos eventos, baseando-se em suas próprias memórias,
anotações, entrevistas com antigos empregados da fábrica e outras fontes de informação. Ele
descobriu que sua memória do ocorrido era mais completa do que a dos engenheiros e mestres com
quem trabalhou na época. O autor especula que sua posição como um adolescente realizando tarefas
insignificantes na fábrica o tornou invisível e, portanto, capaz de observar detalhes e acontecimentos
que passaram despercebidos por outros funcionários.

Em resumo, o autor busca analisar o evento incomum do aparecimento do demônio na fábrica como
uma forma de compreender as dinâmicas do trabalho e da vida cotidiana naquela época. Ele destaca
a importância de trazer à tona eventos aparentemente insignificantes, mas que podem revelar
aspectos relevantes de um processo de trabalho em crise.

2. Transformações técnicas no processo de trabalho


O texto descreve a ocorrência de um evento incomum na fábrica Cerâmica São Caetano, onde um
demônio aparece na nova seção de escolha de ladrilhos. Isso leva a um reexame das concepções
sobre trabalho e processo de trabalho nas ciências sociais. A aparição do demônio é entendida dentro
do contexto das inovações tecnológicas introduzidas na produção de ladrilhos. O relato destaca os
problemas técnicos enfrentados na implementação das novas instalações e a criatividade técnica dos
engenheiros. O texto também menciona a relutância dos trabalhadores em aderir a uma greve, devido
às políticas sociais avançadas da empresa. A ampliação do setor de ladrilhos exigiu a construção de
uma nova fábrica e introduziu mudanças técnicas nas etapas de prensagem e queima. A seção de
escolha de ladrilhos permaneceu artesanal, o que gerou tensões e, possivelmente, levou ao
surgimento do demônio.

3. Ritmo e disciplina: a invisibilidade da pessoa e a visibilidade do corpo


A ampliação da fábrica trouxe consigo mudanças nas relações de trabalho e na cultura do trabalho. A
vigilância dos trabalhadores foi intensificada, com a contratação de vigilantes e a abertura de buracos
nas portas dos banheiros para controlar as atividades dos operários. A empresa buscava implantar
um padrão racional de vigilância e disciplina, substituindo o poder pessoal dos mestres pelo olhar
vigilante dos vigilantes. Houve tensões entre os engenheiros e os mestres, que resistiam às inovações
e tentavam esconder seus segredos práticos. Os engenheiros buscavam superar o tradicionalismo
artesanal dos mestres, promovendo a aprendizagem e incentivando inovações. A cultura do trabalho
baseada em segredos do ofício dos mestres e operários estava em conflito com a despersonalização
do trabalho. Com a entrada em funcionamento das novas seções, os trabalhadores precisavam ter
uma cultura escolar mais avançada.

4.O demônio no lado oculto do trabalho


. Ele argumenta que essa aparição está relacionada às mudanças e resistências ocorridas durante a
transição da fábrica para um modelo de trabalho mais impessoal e racionalizado. Os mestres, que
possuíam conhecimentos práticos essenciais para a produção de ladrilhos, enfrentaram dificuldades
com as inovações introduzidas, especialmente na seção de escolha, onde não foram implementadas
mudanças técnicas. O autor discute as diferentes formas de sujeição do trabalho ao capitalismo, e
como a captura invisível do trabalho artesanal pela lógica da grande indústria afetou a relação entre
os mestres e o processo de trabalho. Ele menciona problemas na produção dos ladrilhos, como
defeitos e falta de brilho, que geraram conflitos entre mestres e engenheiros. As transformações na
produção trouxeram tensões e incertezas para os trabalhadores, que não conseguiram assimilar
rapidamente as mudanças e as experimentações necessárias na produção fabril moderna.

Trabalho e desenraizamento: um estudo sobre o sofrimento psicossocial gerado


pela organização do trabalho fabril - Bernardo Parodi Svartman*

O fenômeno do desenraizamento operário descrito por Simone Weil continua sendo atual e relevante,
mesmo em um contexto mais contemporâneo. A autora cunhou esse conceito com base em sua
experiência de trabalho nas fábricas de Paris nas décadas de 1930, onde observou o sofrimento
gerado pela organização do trabalho fabril.

O desenraizamento refere-se ao sentimento de desconexão e alienação que os trabalhadores podem


experimentar em ambientes fabris. Isso ocorre devido à natureza repetitiva e monótona das tarefas, à
falta de autonomia e ao distanciamento das decisões relacionadas ao trabalho. Os trabalhadores
podem sentir-se desvalorizados, desumanizados e tratados como meros instrumentos de produção.

Para analisar a atualidade desse fenômeno, foram realizadas entrevistas com nove trabalhadores
metalúrgicos de fábricas na região do ABC paulista, buscando comparar suas reflexões com as de
Simone Weil. A análise das biografias profissionais teve como objetivo investigar se as
transformações no mundo do trabalho, conhecidas como reestruturação produtiva, haviam alterado o
desenraizamento operário descrito por Weil.

Os resultados da pesquisa indicam que o desenraizamento operário persiste e continua


intrinsecamente relacionado à organização capitalista do trabalho. Mesmo com as transformações
ocorridas no mundo do trabalho, como a reestruturação produtiva, que envolveu mudanças
tecnológicas, organizacionais e laborais, o desenraizamento não desapareceu.

Isso sugere que as condições que causam o desenraizamento estão enraizadas na própria lógica
capitalista de produção, que muitas vezes prioriza a maximização do lucro em detrimento do
bem-estar dos trabalhadores. A natureza repetitiva e desgastante do trabalho, a falta de autonomia e
participação nas decisões, a precarização das condições de trabalho e a pressão por metas
continuam gerando sofrimento psicossocial nos trabalhadores.

Portanto, compreender o desenraizamento operário como um problema intrínseco à organização


capitalista do trabalho é fundamental para buscar soluções que promovam melhores condições de
trabalho, maior participação dos trabalhadores nas decisões e uma abordagem mais humanizada do
trabalho. Isso envolve não apenas transformações no nível das organizações, mas também
mudanças nas políticas públicas e na conscientização da sociedade como um todo.

Uma delas refere-se à impossibilidade de expressão de habilidades pessoais e de utilização de


recursos criativos nas atividades.A outra dimensão do desenraizamento refere-se ao impedimento de
participação política na gestão social das atividades produtivas

resumo .As transformações na organização da produção industrial têm levado ao agravamento do


desenraizamento operário, aumentando a submissão dos trabalhadores aos imperativos da produção.
Essas mudanças envolvem a racionalização das atividades e a intensificação da cadência produtiva.
As atividades fabris se tornam fragmentadas e repetitivas, causando sofrimento e problemas de
saúde. Além disso, os trabalhadores vivenciam constantemente o medo de exclusão, seja por
adoecimento, demissão ou deslocamento. O desenraizamento envolve a falta de reconhecimento e
valorização do trabalho, bem como a impossibilidade de expressar habilidades pessoais e participar
politicamente na gestão das atividades produtivas. A superação desse desenraizamento requer uma
organização autogestionária dos espaços de trabalho e uma integração mais democrática com a
totalidade social.

A Natureza do Espaço (Ler da pg. 212 à 224)

glocalidade
transindividualidade
prático inerte - é uma expressão introduzida por Sartre, para significar as cristalizações da experiência passada,
do indivíduo e da sociedade, corporificadas em formas sociais e, também, em configu rações espaciais e
paisagens. Indo além do ensinamento de Sartre, podemos dizer que o espaço, pelas suas formas geográficas
materiais, é a expressão mais acabada do prático-inerte.

Milton Santos foi um geógrafo brasileiro conhecido por suas contribuições para o campo da geografia
urbana e social. Ele desenvolveu uma abordagem crítica da geografia, enfatizando a importância da
compreensão do espaço geográfico e suas relações sociais, políticas e econômicas.

A obra de Milton Santos, intitulada "A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção", é
considerada uma de suas principais obras e uma referência fundamental para a compreensão de sua
visão do espaço geográfico. Nesse livro, Santos propõe uma nova abordagem para a compreensão do
espaço, distanciando-se da concepção tradicional que o considera apenas como uma extensão física,
neutra e homogênea.

Segundo Santos, o espaço não é apenas uma realidade objetiva, mas também uma construção social,
resultado das relações entre diferentes atores sociais e das práticas espaciais que ocorrem nele. Ele
argumenta que o espaço é produto das atividades humanas, influenciado por fatores técnicos,
sociais, políticos e culturais, e que sua compreensão deve levar em conta tanto a dimensão material
quanto a simbólica.

Além disso, Santos discute a importância do tempo na compreensão do espaço. Ele argumenta que o
espaço é historicamente construído e que as transformações espaciais estão intrinsecamente ligadas
ao tempo. Santos também aborda as relações entre espaço e poder, destacando como o espaço é
utilizado como instrumento de dominação e exclusão, mas também como um local de resistência e
emancipação.

Em "A Natureza do Espaço", Milton Santos apresenta uma perspectiva crítica e engajada da geografia,
buscando compreender as desigualdades sociais e espaciais presentes no mundo contemporâneo.
Sua obra influenciou diversos estudiosos e contribuiu para uma maior compreensão do espaço
geográfico como uma realidade complexa, dinâmica e socialmente construída.

O cotidiano é uma categoria fundamental para compreender o lugar no mundo atual. Através da
análise do cotidiano, é possível examinar como as pessoas vivem, interagem e se relacionam com o
espaço ao seu redor. O cotidiano envolve atividades diárias, práticas sociais, rotinas e experiências
pessoais que são moldadas pelo contexto social, cultural, econômico e político.

Ao considerar o cotidiano como uma categoria geográfica, é importante levar em conta os objetos
presentes no espaço, as ações realizadas pelas pessoas, as técnicas utilizadas e o tempo envolvido.
Esses elementos desempenham um papel crucial na forma como o cotidiano é vivido e
experimentado.

Uma abordagem geográfica do cotidiano pode revelar como as dinâmicas locais e globais se
entrelaçam e se manifestam no espaço. À medida que a globalização avança, as influências externas
se infiltram nos lugares, alterando suas características e práticas cotidianas. Ao mesmo tempo, a
singularidade de cada lugar se mantém, pois é imerso em uma comunhão única com o mundo.

A noção de "glocalidade" destaca a interação complexa entre o global e o local. Os lugares são tanto
influenciados quanto moldados pelas forças globais, enquanto mantêm sua individualidade e
identidade distintas. Essa tensão entre globalização e localização é parte de uma dialética em
constante reconstrução.

A história recente reafirma a importância do lugar e da dimensão local na compreensão do mundo


contemporâneo. A redescoberta da dimensão local destaca a necessidade de considerar o lugar
como uma categoria central de análise geográfica. É fundamental examinar os novos significados
atribuídos ao lugar no contexto atual e como o cotidiano desempenha um papel na construção
desses significados.

Em resumo, a análise do cotidiano permite compreender a relação entre os lugares e o mundo


globalizado. Ao examinar os elementos do cotidiano, como objetos, ações, técnicas e tempo, é
possível entender como as pessoas vivenciam e constroem seu espaço. O cotidiano é um ponto de
conexão entre a individualidade dos lugares e as influências globais, e sua análise contribui para uma
compreensão mais abrangente do mundo contemporâneo

A invenção do cotidiano (Ler da pg. 91 à 108) Michel de Certeau

A obra "A invenção do cotidiano" é um livro escrito por Michel de Certeau, um teórico francês
conhecido por suas contribuições para a área dos estudos culturais e teoria social. Publicado
originalmente em 1980 com o título "L'invention du quotidien", o livro explora as formas pelas quais os
indivíduos exercem sua agência criativa e resistência dentro das estruturas sociais cotidianas.

"A invenção do cotidiano" oferece uma abordagem crítica da vida cotidiana, examinando as práticas e
táticas utilizadas pelos indivíduos comuns para navegar dentro de sistemas e instituições
dominantes. Certeau argumenta que, mesmo nas condições aparentemente restritivas do cotidiano,
as pessoas encontram maneiras de subverter, reutilizar e reinventar as estruturas e normas
estabelecidas.
O autor distingue entre duas formas de ação: estratégias e táticas. As estratégias são as ações
planejadas e implementadas por instituições ou poderes dominantes, enquanto as táticas são as
práticas improvisadas e adaptativas usadas pelos indivíduos para contornar ou reinterpretar as
estratégias. Certeau enfatiza a importância das táticas como formas de resistência e afirmação da
individualidade dentro de uma sociedade regulamentada.

"A invenção do cotidiano" aborda uma ampla gama de temas, incluindo consumo, comunicação,
espaço urbano, mídia e religião. O livro é reconhecido por sua abordagem interdisciplinar e influência
nos estudos culturais, antropologia, sociologia e teoria literária.

A obra de Certeau enfatiza a importância de reconhecer as práticas individuais e as formas de


resistência presentes no cotidiano das pessoas. Ela desafia a ideia de que as estruturas dominantes
são totalmente coercivas e oferece uma perspectiva crítica sobre a dinâmica entre poder e agência
nas interações diárias.

Você também pode gostar