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Suécia, qualificou o fenômeno como “psico- do que ocorre na China - e ainda se descobrem
terror ”. Anos mais tarde, deu-se o interesse em em meio a exigências para o cumprimento de
outros países por parte de sindicatos, médicos metas absurdas de vendas, visando a garantia
do trabalho e organizações de plano de saúde. de sua posição (dos trabalhadores) em algumas
Na França, a tipificação do assédio sexual, uma instituições. Sobre os efeitos provocados pela
das manifestações do assédio moral, como crime Globalização e seu neoliberalismo, Barreto5
levantou a discussão, in lato sensu, tanto nas (2000) cita:
empresas quanto na mídia1. ‘’A violência moral no trabalho constitui um
Em tese, diz-se que o assédio moral ocorre fenômeno internacional, segundo levantamento
quando um indivíduo submete outro a situações recente da Organização Mundial do Trabalho
de vexame e de constrangimentos de forma (OIT), com diversos países desenvolvidos. A
sistemática e contínua, usando normalmente pesquisa aponta para distúrbios da saúde
palavras e gestos contundentes para reiterar a mental relacionados com as condições de
agressão: “não se morre diretamente de todas trabalho em países como Finlândia, Alemanha,
essas agressões, mas perde-se uma parte de si Reino Unido, Polônia e Estados Unidos. As
mesmo. Volta-se para casa, a cada noite, exausto, perspectivas são sombrias para as duas
humilhado, deprimido. É difícil recuperar-se” – próximas décadas, pois segundo a OIT e a
afirma Hirigoyen1. Sobre a questão, Moraes4 Organização da Saúde, estas serão as décadas
mostra-se mais direto: “Por vezes, materializam- do “mal estar na globalização”, onde
se outros problemas que podem ser diretamente predominarão depressões, angústias e outros
associados à questão do alcoolismo, drogas e, danos psíquicos, relacionados com as novas
em caso extremo, suicídio”. políticas neoliberais5’’.
Trata-se de uma situação que pode Alguns dos profissionais das áreas de saúde,
estabelecer-se nos mais diversos modelos de ciências sociais e humanas que se manifestam
relações inter-pessoais, tais como entre mãe e sobre o tema, mostram-se quase todos unânimes
filha e marido e mulher. Entretanto, de acordo ao relacionar a sistemática do assédio, e o
com as estatísticas da Doutora Margarida emprego da “tirania” na busca do êxito, à
Barreto5, parte da pesquisa “Uma Jornada de cultura do “vale tudo” na rota da compe-
Humilhações” (PUC/SP-05/2000), o local de titividade pessoal e negocial. Neste percurso,
trabalho revela-se o ambiente mais fértil para o alegam que não se percebe a pessoa humana
cultivo desta conduta, normalmente qualificada como indivíduo e, sim, coopta-se como um
pelos psicólogos como “tirana” e “perversa”... número, um objeto, uma “coisa” a mais que
Os resultados apresentados na pesquisa da compõe a empresa.
Doutora Margarida Barreto 5 revelam que o Por meio de consulta ao Jornal do Sindicato
chamado “ultraje ao trabalhador ” (promovido dos Bancários do Estado do Rio de Janeiro
pelo empregador) cresceu de forma alarmante (período de 2003 a 2008) – uma das categorias
nos últimos anos – muito embora se reconheça mais afetadas, uma vez que o mercado
que este tipo de relação remete à idade tão financeiro exige respostas imediatas – percebe-
antiga quanto a da própria organização do se que o número de denúncias, anônimas ou
trabalho como meio de sobrevivência. não, cresce a cada edição. Exibem-se relatos
Especialmente, no início deste novo século, de funcionários expostos, cotidianamente,
percebe-se que a concorrência acirrada no novo durante a jornada de trabalho, às mais variadas
mundo global uniformiza, também, práticas formas de coação com o objetivo de alcançar
pertinentes à dinâmica do assédio. Os resultados de relevância quantitativa. Neste
trabalhadores, em geral, produzem sob momento, quando após algum tempo sob
jornadas cada vez mais exaustivas – a exemplo coerção, a vítima resolve expor o caso,
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que parte do indivíduo para fora (para o o teórico, a criação de diferentes metodologias,
ambiente externo); o campo da sócio-dinâmica técnicas e ferramentas de intervenção.
- que analisa o grupo como estrutura; e o
institucional - que percebe todo o ambiente A IDENTIDADE DO ASSEDIADOR MO-
como objeto de investigação... O ECRO RAL PELOS OLHOS DA PSICANÁLISE:
(Esquema Conceitual Referencial e Operativo) UMA ABORDAGEM ESPECÍFICA, EM
– assim denominado o eixo de seu estudo - RESENHA
pichoniano alicerça-se, também, sobre três Um indivíduo perverso é permanentemente
grandes campos disciplinares: as ciências perverso; ele está fixado neste modo de relação
sociais, a psicanálise e a psicologia social. com o outro e não se questiona em momento
Da psicanálise, Pichon-Rivière toma algum. Os perversos só podem existir
emprestado o termo inconsciente, “seu conceito “diminuindo” alguém: eles têm necessidade de
de desejo que re-traduz como necessidade, não rebaixar os outros para adquirir uma boa auto-
no sentido psicanalítico, mas como a estima e, com ela, obter o poder, pois são ávidos
necessidade que se transforma a partir da de admiração e de aprovação. Não têm a menor
prática social que Marx postula em A Ideologia compaixão nem respeito pelos outros, porque
Alemã” 12 – o que possibilita mensurar as não se envolvem em um relacionamento. E
identificações inconscientes que atuam na respeitar o outro é considerá-lo como um ser
constituição do esquema referencial subjetivo humano e reconhecer o sofrimento que lhe é
do indivíduo. Ou seja: o que opera como um infligido1.
“conjunto de experiências, conhecimentos e Os estudiosos do fenômeno assédio moral
afetos com os quais o indivíduo pensa e faz” e reiteram - e tornam questão sine qua non
que lhe permite relacionar-se com o mundo, repercutir – que, antes de intervir, torna-se
ou cultura particular na qual está socialmente necessário observar, criteriosamente, se o ato
inserido12. Ainda, da psicanálise, baseia-se para pode ser cogitado como assédio moral ou trata-
a compreensão das instabilidades subjetivas se, apenas, de um evento isolado pautado por
nos processos de mudança. um eventual desentendimento entre colegas de
Das ciências sociais, Pichon-Rivière agrega trabalho. Reconhecer o limite entre ambas
a concepção que permite pensar o sujeito manifestações – o desvio intencionado ou
“situado e sitiado” em uma relação estruturada psicopatológico de conduta, de origem “tirana”,
no seu lócus (ambiente) social e na cultura à e uma desavença sem maiores consequências
que pertence. Da psicologia social coaduna com – mostra-se tão fundamental quanto o pode ser
as concepções de George Mead e os aspectos complexo diferençar. Segundo especialistas das
teóricos-técnicos da dinâmica grupal de Kurt áreas de medicina do trabalho, a primeira
Lewin e de alguns de seus seguidores, como orientação para evitar o equívoco volta-se para
Lippit e Wight. Uma dinâmica que pressupõe o diálogo. Diante de uma situação na qual o
o homem diante do desafio de transformar o empregado sente-se humilhado, agredido ou
mundo como condição para a realização de seus ofendido, indica-se, prioritariamente, uma
desejos. Realização que proporciona efeitos de conversa franca com seu superior imediato. Se
transformação no próprio sujeito e comporta houver um entendimento entre as partes e as
pensar a relação sujeito-mundo como uma ocorrências constrangedoras não se repetirem,
relação conflitiva e contraditória. a situação (mal entendido) pode considerar-se
A compreensão da dinâmica que situa o encerrada (resolvido), tendo como marco um
sujeito como um “ser ” diante do constante simples gesto de desculpas.
desafio da mudança – cuja alta frequência Ao mesmo tempo em que propõem cautela
pontua os tempos modernos – permite, segundo na investigação do fenômeno, especialistas
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aconselham certa agilidade na promoção deste reiterar seu apreço por movimentos
primeiro diálogo entre a possível vítima e o intimidadores, tais como: dar socos à mesa,
possível agressor. Esta dosagem de tempo torna- bater as portas, arremessar objetos, desligar
se necessária visto que em caso de confirmação o telefone com violência;
da hipótese do dolo – ou seja: quando, de fato, h. discrimina por raça, sexo ou religião, e
no ambiente estiver presente o fenômeno, e isto ridiculariza as escolhas do assediado;
inclui a possibilidade do assédio sexual –, i. provoca ciúmes, elegendo preferências e
quanto mais cedo a vítima, ou o departamento reafirmando a predileção pelo funcionário
de recursos humanos ou outros atores que se sujeita aos seus desmandos;
detectarem o problema, e a intervenção j. busca privar o assediado de todos os
adequada for promovida, mensura-se menor o mecanismos de defesa.
cogito de que aniquilada emocionalmente a real Em linhas gerais, segundo Hirigoyen 1
vítima se torne. (2003), o assediador é fundamentalmente
Do ponto de vista da psicanálise, a reconhecido por um traço que carrega na
psiquiatra francesa Marie-France Hirigoyen essência de seus gestos: a necessidade de
estudou de forma minuciosa a personalidade diminuir o outro para que possa se destacar;
do assediador. Sua conclusão considera o transluzir; “pois são sujeitos obcecados por
agressor um “perverso narcisista”, que possui admiração”.
“uma fria racionalidade, combinada a uma
incapacidade de considerar os outros como A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DOS
seres humanos”. CONFLITOS
Especificamente, ao associar dados e Verifica-se que o entendimento da
informações de fontes diversas, pôde-se necessidade de se planificar um élan entre
concluir que pelo menos um dos traços abaixo empresa/educação trata-se, ainda, de
listados compõe a personalidade de quem arquitetura em construção.
pratica o assédio moral: Há algum tempo atrás, acreditava-se que a
a. utiliza gestos, expressões ou palavras que educação fazia parte de algumas agências insti-
possam ofender, humilhar ou constranger tucionais como a família e a escola. Agia-se, na
o(s) par(es) ou subordinado(s); prática, como se a empresa e a sociedade em
b. apavora a equipe, constantemente, durante geral não fossem atingidas diretamente pelo
reuniões ou jornada de trabalho, com processo da Educação. Esperavam que o sujeito
possibilidade de demissão, transferência ou ao sair da escola estivesse pronto para atuar
descomissionamento; no mercado de trabalho e que assim ele deveria
c. exige ou induz que o subordinado trabalhe devolver à sociedade o que esta investiu nele,
fora de seu horário, muitas vezes sem auferir através da sua produção, da sua qualificação
ganhos extras; profissional3.
d. manifesta indiferença ao estado de saúde do Há instituições que esboçam projetos para
funcionário, cuja debilidade pode relacionar- conter a curva ascendente de práticas danosas
se à sobrecarrega de trabalho; no ambiente de trabalho. Todavia, nota-se que,
e. repete a mesma ordem centenas de vezes em maior número, as iniciativas partem dos
até desestabilizar emocionalmente o(a) sindicatos ou dos funcionários organizados. Por
subordinado(a); vezes, inclusive, ao analisar o material de
f. impede os colegas de almoçarem juntos, intervenção, pressupõe-se que tratar do assunto
ainda que a rotina de trabalho permita que é colocar-se do lado oposto aos interesses da
o façam; empresa... A visão “funcionários versus
g. aproveita qualquer oportunidade para empresa”, equivocada e possivelmente reflexo
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SUMMARY
The Psychopedagogy intervention at corporation: the importance
about building cognitive instruments to face any kind of “bullying”
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