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MANUAL DE CAPACITAÇÃO

EM EMERGÊNCIAS COM PRODUTOS PERIGOSOS

1O EDIÇÃO
MANUAL DE CAPACITAÇÃO
EM EMERGÊNCIAS COM PRODUTOS PERIGOSOS
1ª EDIÇÃO

FLORIANÓPOLIS 2020
@ 2020. TODOS OS DIREITOS DE REPRODUÇÃO SÃO RESERVADOS AO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA. SOMENTE SERÁ PERMITIDA A REPRODUÇÃO PARCIAL OU TOTAL DESTA
PUBLICAÇÃO, DESDE QUE CITADA A FONTE.

EDIÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E INFORMAÇÕES:


CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA
DIRETORIA DE ENSINO
88.085-000
CAPOEIRAS - FLORIANÓPOLIS - SC
DISPONÍVEL EM: WWW.CBM.SC.GOV.BR/DE

MANUAL DE CAPACITAÇÃO EM EMERGËNCIAS COM PRODUTOS PERIGOSOS


COORDENADORIA DE ENSINO - Coronel BM Guideverson de Lourenço Heisler
ORGANIZADOR - Capitão BM Fernando Ireno Vieira
AUTORES COLABORADORES - Capitão BM Fernando Ireno Vieira PP
Capitão BM Oscar Washington Barboza Júnior; Capitão BM Marcelo Della Giustina da Silva; 1º
Tenente José César da Silva Neto e 1º Tenente BM Maurício de Souza C822 Corpo de Bombeiro Militar de Santa Catarina.
Manual de capacitação em emergências com produtos perigosos
EQUIPE DE ELABORAÇÃO / Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina. Organizado por
PROJETO GRÁFICO - Designer Gráfico DE Dayane Alves Lopes Fernando Ireno Vieira -- Florianópolis, 2020.
159 p. : il. color.
DIAGRAMAÇÃO - Designer Gráfico DE Dayane Alves Lopes
REVISÃO ORTOGRÁFICA E GRAMATICAL - Designer Instrucional DE Arice Cardoso Tavares Inclui bibliografia
REVISÃO TÉCNICA - Tenente BM Daniel Torquato Vários autores
ISBN 978-85-94257-23-9
DESIGN INSTRUCIONAL - Designer Instrucional DE Arice Cardoso Tavares e Designer Gráfico DE
Dayane Alves Lopes
1. Produtos perigosos. 2. Atendimento a emergências. 3. Corpo
ILUSTRAÇÃO - Designer Gráfico DE Dayane Alves Lopes de Bombeiros Militar de Santa Catarina. I. Vieira, Fernando Ireno.
II. Título.

CDD 363.12
Catalogação na publicação por Marchelly Porto CRB 14/1177 e Natalí Vicente CRB 14/1105
GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
GOVERNADOR
Carlos Moisés da Silva
SECRETÁRIO DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA
Paulo Norberto Koerich
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA
COMANDO-GERAL
Coronel BM Charles Alexandre Vieira
SUBCOMANDO-GERAL
Coronel BM Ricardo Steil
CHEFE DE ESTADO MAIOR
Coronel BM Charles Fabiano Acordi
DIRETORIA DE ENSINO
DIRETOR DE ENSINO
Coronel BM Guideverson de Lourenço Heisler
DIVISÃO DE ENSINO BÁSICO E COMPLEMENTAR
Tenente Coronel BM Jesiel Maycon Alves
Prezado(a) aluno(a)

Este material foi elaborado com o intuito de criar uma referência para atendimento de emergências envol-
vendo produtos perigosos pelo Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC).
É uma atribuição do CBMSC atuar na área de produtos perigosos, seja para estabelecer normas de segu-
rança, fiscalizar a execução das mesmas e, ainda, no atendimento das demandas operacionais em casos de
acidentes conforme previsto na Constituição Estadual de 1989.
O CBMSC emprega homens e materiais para o atendimento das ocorrências envolvendo produtos perigo-
sos. Embora o CBMSC atue há mais de 20 anos nessa seara, tem sido nos últimos anos que vem se efetivan-
do uma cultura para padronizar o atendimento emergencial dessas ocorrências. Desta forma, este manual
servirá para padronizar ações, proporcionando aos bombeiros militares os conhecimentos e as técnicas
necessárias para reconhecer uma emergência com produtos perigosos, implementar medidas de proteção
pessoal e de terceiros e realizar ações de emergência de primeira resposta com o intuito de promover se-
gurança ao local e às pessoas envolvidas na emergência.

Desejamos a todos um excelente estudo.

Fernando Ireno Vieira


Organizador
COMO UTILIZAR ESTE MANUAL
Este manual contém alguns recursos para que você possa facilitar o processo de aprendizagem e aprofundar seu conhecimento.
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SUMÁRIO

LIÇÃO DE APRESENTAÇÃO................................................................. 9 O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DA ONU.............................................................. 40


FINALIDADE DO CURSO.........................................................................................14 CLASSE 1 – EXPLOSIVOS........................................................................................42
OBJETIVOS DE DESEMPENHO...............................................................................14 CLASSE 2 – GASES................................................................................................ 43
LIÇÃO I - PRINCÍPIOS DE FÍSICO-QUÍMICA......................................... 16 CLASSE 3 - LÍQUIDOS INFLAMÁVEIS..................................................................... 48
PRINCÍPIOS GERAIS DE FÍSICO-QUÍMICA..............................................................17 CLASSE 4 - SÓLIDOS INFLAMÁVEIS; SUBSTÂNCIAS SUJEITAS A COMBUSTÃO ES-
ESTADOS FÍSICOS DA MATÉRIA..............................................................................18 PONTÂNEA; SUBSTÂNCIAS QUE, EM CONTATO COM ÁGUA, EMITEM GASES INFLA-
MASSA ESPECÍFICA...............................................................................................21 MÁVEIS................................................................................................................. 50
DENSIDADE DE VAPOR......................................................................................... 22 CLASSE 5 - SUBSTÂNCIAS OXIDANTES; PERÓXIDOS ORGÂNICOS........................ 52
SOLUBILIDADE...................................................................................................... 23 CLASSE 6 - SUBSTÂNCIAS TÓXICAS E INFECTANTES............................................. 54
POTENCIAL HIDROGENIÔNICO – PH (ÁCIDOS E BASES)........................................24 CLASSE 7 - MATERIAIS RADIOATIVOS................................................................... 57
LIMITES DE INFLAMABILIDADE .............................................................................25 CLASSE 8 - SUBSTÂNCIAS CORROSIVAS............................................................... 57
RECAPITULANDO...................................................................................................27 CLASSE 9 - SUBSTÂNCIAS E ARTIGOS PERIGOSOS DIVERSOS ..............................59
AVALIAÇÃO DA LIÇÃO........................................................................................... 28 RECAPITULANDO.................................................................................................. 60
LIÇÃO II - CONCEITOS E GENERALIDADES SOBRE EMERGÊNCIAS COM PRO- AVALIANDO A LIÇÃO..............................................................................................61
DUTOS PERIGOSOS......................................................................... 29 LIÇÃO IV - IDENTIFICAÇÃO DE PRODUTOS PERIGOSOS........................ 62
CONCEITOS E GENERALIDADES SOBRE PRODUTOS PERIGOSOS.......................... 30 FORMAS DE IDENTIFICAR UM PRODUTO PERIGOSO............................................ 63
CATEGORIAS DE PRODUTOS PERIGOSOS............................................................. 33 RÓTULO DE RISCO................................................................................................ 64
PERIGOS BIOLÓGICOS.......................................................................................... 33 PAINEL DE SEGURANÇA.........................................................................................67
PERIGOS RADIOLÓGICOS..................................................................................... 33 DOCUMENTOS DA CARGA ................................................................................... 71
PERIGOS QUÍMICOS............................................................................................. 34 DIAMANTE DE RISCO ........................................................................................... 72
RECAPITULANDO...................................................................................................37 SINALIZAÇÃO DOS VEÍCULOS DE TRANSPORTE DE PRODUTOS PERIGOSOS ........74
AVALIANDO A LIÇÃO............................................................................................. 38 TRANSPORTE A GRANEL ........................................................................................74
LIÇÃO III - PRODUTOS PERIGOSOS E SUAS CLASSES DE RISCO.............. 39 IDENTIFICAÇÃO DE DUTOS ...................................................................................75
SUMÁRIO
RECAPITULANDO................................................................................................. 77 ZONA FRIA.......................................................................................................... 108
AVALIAÇÃO DA LIÇÃO............................................................................................78 CONSIDERAÇÕES DAS ZONAS DE TRABALHO.................................................... 109
LIÇÃO V - DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA PARA O ATENDIMENTO A EMER- DESCONTAMINAÇÃO...........................................................................................111
GÊNCIAS COM PRODUTOS PERIGOSOS.............................................. 79 CONSIDERAÇÕES SOBRE DESCONTAMINAÇÃO..................................................119
MANUAL PARA ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIAS COM PRODUTOS PERIGOSOS DA RECAPITULANDO................................................................................................121
ABIQUIM............................................................................................................... 80 AVALIAÇÃO DA LIÇÃO..........................................................................................122
SEÇÃO AMARELA: RELAÇÃO NUMÉRICA DOS PRODUTOS PERIGOSOS................ 82 LIÇÃO VIII - PROCEDIMENTOS PARA ATENDIMENTO A EMERGÊNCIAS
SEÇÃO AZUL: RELAÇÃO ALFABÉTICA DOS PRODUTOS PERIGOSOS...................... 82 COM PRODUTOS PERIGOSOS.....................................................123
SEÇÃO LARANJA: RELAÇÃO DAS GUIAS DE ORIENTAÇÕES EM CASO DE EMERGÊNCIA ....83 FASES DO ATENDIMENTO EMERGENCIAL............................................................124
SEÇÃO VERDE: PRODUTOS QUE REAGEM COM ÁGUA OU SUBSTÂNCIAS TÓXICAS SE PRONTIDÃO.........................................................................................................124
INALADAS............................................................................................................. 84 ACIONAMENTO....................................................................................................125
SEÇÃO BRANCA: ORIENTAÇÕES E INFORMAÇÕES............................................... 86 AVALIAÇÃO..........................................................................................................127
FICHA DE INFORMAÇÕES DE SEGURANÇA DE PRODUTO QUÍMICO.................... 87 CONTROLE...........................................................................................................128
MANUAL DE AUTOPROTEÇÃO PARA PRODUTOS PERIGOSOS............................... 88 FINALIZAÇÃO...................................................................................................... 135
RECAPITULANDO.................................................................................................. 90 EQUIPE DE INTERVENÇÃO.................................................................................. 136
AVALIAÇÃO DA LIÇÃO........................................................................................... 91 RECAPITULANDO................................................................................................ 140
LIÇÃO VI - EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E NÍVEIS DE PROTEÇÃO.....92 AVALIAÇÃO DA LIÇÃO..........................................................................................141
EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.......................................................... 93 LIÇÃO IX - NÍVEIS DE ATENDIMENTO COM PRODUTOS PERIGOSOS......142
ROUPAS DE PROTEÇÃO QUÍMICA (RPQ)................................................................94 NÍVEL OPERACIONAL.......................................................................................... 143
RECAPITULANDO................................................................................................ 103 NÍVEL GERENCIAL................................................................................................145
REVISÃO DA LIÇÃO............................................................................................. 104 NÍVEL ESPECIALISTA............................................................................................147
LIÇÃO VII - ZONAS DE TRABALHO E DESCONTAMINAÇÃO.................. 105 NÍVEL COMANDO DE INCIDENTE.........................................................................149
ZONAS DE TRABALHO......................................................................................... 106 RECAPITULANDO................................................................................................153
ZONA QUENTE.................................................................................................... 106 AVALIAÇÃO DA LIÇÃO......................................................................................... 154
ZONA MORNA......................................................................................................107 REFERÊNCIAS................................................................................155
LIÇÃO DE
APRESENTAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da lição, os participantes deverão ser capazes de:


• conhecer os objetivos de desempenho e de capacitação.
Lição de Apresentação

O aumento da demanda por novos materiais devidas precauções, e regulamentações para que
e produtos químicos, resultado do aumento da sua produção, transporte e armazenamento ocor-
competitividade do setor industrial e do veloz ra da forma mais segura possível (UFSC, 2012).
avanço tecnológico, resultaram em um avanço A consequência indesejável do desenvolvi-
expressivo da complexidade dos processos pro- mento econômico, tecnológico e industrial é o au-
dutivos e do volume de produtos perigosos ar- mento da tendência a ocorrência de acidentes nas
mazenados e transportados (FREITAS, 1995). instalações industriais, no transporte, assim como
Araújo (2005) diz que pode se definir produ- na fabricação e manipulação destes produtos.
to perigoso, em um primeiro momento, como Quando os cuidados na manipulação desses
qualquer substância química, no entanto, tudo produtos não são suficientes, temos como conse-
na natureza é químico, desta forma, até a água quências indesejáveis o aumento de ocorrências
potável seria assim classificada. Oliveira (2000, de acidentes envolvendo produtos químicos.
p. 26), por sua vez, tem um conceito mais amplo, A presença de áreas densamente povoadas
relata que produto perigoso é “toda substância no entorno das rodovias e o trânsito de pedestres
ou elemento que por sua característica de volu- nas vias e nos meios de fuga intensificam a gra-
me e periculosidade, representa um risco além vidade dos acidentes envolvendo estes produtos
do normal à saúde, à propriedade e ao meio am- (NARDOCCI e LEAL, 2006).
biente durante sua extração, fabricação, armaze- Para Haddad (2002) acidente com produtos
namento, transporte ou uso”. perigosos pode ser definido como um evento
No Brasil, do ponto de vista legal, é um pro- repentino e não desejado, no qual há liberação
dutos perigoso toda a substância listada na atual de substâncias químicas perigosas em forma de
Resolução nº 5232 de 14 de dezembro de 2016 incêndio, explosão, derrame ou vazamento, que
da Agência Nacional de Transportes Terrestres pode causar danos às pessoas, propriedades ou
(ANTT) e suas alterações. ao meio ambiente. Pode ser entendido também,
Os produtos perigosos podem afetar de forma como sendo todo evento inesperado que produz
nociva seres vivos, patrimônio e meio ambiente, como resultado lesões, perdas de propriedades
no entanto, são considerados imprescindíveis ao ou interrupção de serviços e atividades.
desenvolvimento econômico e tecnológico da so- Emergências nas quais estejam envolvidos quais-
ciedade contemporânea assim, são necessárias as quer tipos de produtos perigosos possuem ca-

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Lição de Apresentação

racterísticas especiais que as diferenciam de uma vão para o petróleo, conduziu ao desenvolvimen-
ocorrência comum. Um bombeiro que tenha con- to e expansão do complexo químico industrial, Download
tato com produtos perigosos pode, potencialmen- este processo fez com que os países da Europa Acesse a relação de produtos pe-
te, levar esse contaminante para áreas distantes do Ocidental passassem a se preocupar com o trans- rigosos elencados pela Resolu-
local do acidente, por isso, durante o atendimento porte de produtos perigosos, surgindo as primei- ção nº 5232 de 14 de dezembro
de uma ocorrência envolvendo esses produtos, ras propostas que recomendavam o emprego de 2016 da Agência Nacional de
deve tomar inúmeras precauções, além de utilizar de métodos padronizados para lidar com essa Transportes Terrestres (ANTT) cli-
equipamentos de proteção especial, pois os efei- modalidade de transporte. Corroborando, Souza cando aqui.
tos da exposição podem ocorrer após horas, dias, (2005) relata que as primeiras preocupações, em
meses e até anos (SENASP, 2008). Segundo Pontes âmbito internacional, com o transporte de Pro-
(2015), são registrados cerca de 35 milhões de ca- dutos perigosos surgiram após o término da 2ª
sos por ano no mundo de doenças relacionadas à Guerra Mundial. Países como a França, Alemanha
exposição a agentes químicos. e Inglaterra estabeleceram recomendações pa-
Os estudos envolvendo acidentes químicos dronizadas e, em seguida, toda Europa atentou
estão diretamente relacionados ao aumento da para a importância desse assunto.
produção e consumo de substâncias químicas Diante deste cenário, por iniciativa da Organiza-
em níveis mundiais. A preocupação com a produ- ção das Nações Unidas (ONU), em 1957, foi constituí-
ção, armazenagem e transporte de produtos pe- da uma comissão de especialistas em produtos pe-
rigosos se intensificou apenas a partir do século rigosos, os quais elaboraram uma relação contendo
XX, pois, de acordo com Araújo (2005), este foi aproximadamente dois mil produtos químicos clas-
um período marcado por uma série de acidentes, sificados como perigosos e foi adotada uma nume-
dos mais variados tipos, que impuseram profun- ração para a identificação de cada um deles, assim
das mudanças, as quais tiveram que ser incorpo- como sua classificação de risco (SOUZA, 2005).
radas e ampliadas, de forma a buscar a redução No Brasil, a recomendação do uso dos núme-
dos acidentes e seus efeitos. ros da ONU chegou em meados de 1978, após
De acordo com Freitas (1995), ao final da Se- o acontecimento de diversos acidentes durante o
gunda Guerra Mundial em 1945, o aumento da transporte de produtos químicos, no entanto, os
demanda por novos materiais e produtos quími- órgãos de governo somente foram tomar provi-
cos, acompanhado pela mudança da base de car- dências em 1983, tendo em vista o acontecimen-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 11


Lição de Apresentação

to de dois grandes acidentes: um durante o pro- Após alguns anos de discussões e alterações
cesso de embalagem de modo irregular de pó da nas leis vigentes, foi sancionado o Decreto nº
China (pentaclorofenato de sódio) que causou a 96.044 de 18 de maio de 1988, que aprova o Re-
morte de 4 operários e feriu outros 38, no mer- gulamento para o Transporte Rodoviário de Pro-
cado São Sebastião no Rio de Janeiro; e outro na dutos Perigosos e dá outras providências.
região próxima a Salvador, quando um comboio No ano de 2001, com a publicação da Lei
ferroviário descarrilou, provocando um vazamen- Federal Nº 10.233, de 5 de junho de 2001, que
to de produtos inflamáveis que culminou em uma dispõe sobre a reestruturação dos transportes
grande explosão (LIEGGIO, 2008). aquaviário e terrestre, cria o Conselho Nacional
Após esses acidentes, o Ministério dos Trans- de Integração de Políticas de Transporte, a Agên-
portes foi acionado, para que, em caráter de ur- cia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a
gência, criasse regulamentações para o transporte Agência Nacional de Transportes Aquaviários e
de produtos perigosos no Brasil, ou seja, foi a partir o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
de então que o Governo Federal percebeu a com- Transportes, o setor federal de transportes come-
plexidade de lidar com produtos perigosos e orde- çou a se estruturar e organizar melhor criando re-
nou a elaboração imediata de normas específicas. gulamentações e instruções mais específicas no
Diante disso, no ano de 1983 foram elaborados que se refere ao transporte rodoviário de produ-
documentos disciplinares, fiscalizadores e norma- tos perigosos em território nacional.
tivos, quanto ao transporte destes produtos em A Agência Nacional de Transportes Terrestres
território nacional, conforme relação abaixo: passou então a elaborar e formalizar instruções
• Decreto Federal Nº 88.821 de 6 de outubro de complementares ao regulamento do transporte ter-
1983 - Aprova o Regulamento para a execução restre de produtos perigoso no País. Desta forma,
do serviço de transporte rodoviário de cargas ou em 2004, publicou a primeira resolução para regu-
produtos perigosos, e dá outras providências. lar o transporte rodoviário de produtos perigosos
• Decreto-Lei Nº 2.063 de 6 de outubro de 1983 no País - a Resolução Nº 420 de 12 de fevereiro de
- Dispõe sobre multas a serem aplicadas por in- 2004, que aprovou as Instruções Complementares
frações à regulamentação para a execução do ao Regulamento do Transporte Terrestre de Pro-
serviço de transporte rodoviário de cargas ou dutos Perigosos no Brasil. Nos anos seguintes foi
produtos perigosos e dá outras providências. complementada por uma série de alterações pos-

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Lição de Apresentação

teriores a sua publicação pelas resoluções Nº 701 Quadro 1 - Principais Legislações de Transporte
de 2004, Nº 1.644 de 2006, Nº 3632 de 2011, 3672 de Produtos Perigosos em vigor
de 2012 e por fim a Resolução nº 3673 de 2012, que Decretos e regulamentações
além de alterar, também a atualizou. Decreto Federal N o
Aprova o Regulamento para a execução do serviço
A Resolução Nº 420 de 12 de fevereiro de 88.821, de 06 de de transporte rodoviário de cargas ou produtos pe-
outubro de 1983 rigosos, e dá outras providências.
2004, da ANTT, vigorou até o ano de 2016, quan-
do foi totalmente revogada com a publicação da
Decreto – Lei Nº Dispõe sobre multas a serem aplicadas por infra-
Resolução 5232, de 14 de dezembro de 2016, da 2.063 de 6 de ções à regulamentação para a execução do serviço
própria ANTT. O objetivo principal da Resolução outubro de 1983 de transporte rodoviário de cargas ou produtos pe-
5232 de 2016 foi converter a resolução nº 420 de rigosos e dá outras providências.
2004 e todas suas alterações e atualizações em Decreto Nº 96.044 Aprova o Regulamento para o Transporte Rodoviá-
um único documento para facilitar a pesquisa e de 18 de maio de rio de Produtos Perigosos e dá outras providências.
1988
acompanhamento, no entanto, já houve necessi-
dade de novas alterações dadas pelas Resolução Resolução Nº 5.848 Atualiza o Regulamento para o Transporte Rodoviário
de 25 de junho 2019 de Produtos Perigosos e dá outras providências. (em
Nº 5581, de 22 de novembro de 2017 e pela Reso- vigor desde dezembro de 2019)
lução Nº 5623, de 15 de dezembro de 2017. Instruções complementares
O Regulamento para o Transporte Rodoviá-
Resolução Nº 5232, Aprova as Instruções Complementares ao Regula-
rio de Produtos Perigosos no Brasil (Decreto nº de 14 de dezembro mento Terrestre do Transporte de Produtos Perigo-
96.044 de 18 de maio de 1988), passou por uma de 2016 sos e dá outras providências.
atualização no ano de 2011 dada pela Resolução Resolução Nº 5581, Altera a Resolução Nº 5.232, de 2016, que aprova
Nº 3665 de 04 de maio de 2011. Em 2019 o regu- de 22 de novembro as Instruções Complementares ao Regulamento Ter-
de 2017 restre do Transporte de Produtos Perigosos, e seu
lamento foi novamente atualizado pela Resolução
anexo.
Nº 5.848 de 25 de junho 2019, revogando definiti-
Resolução Nº 5623, Altera o anexo da Resolução ANTT nº 5.232/16, que
vamente a Resolução nº 3665 de 2011. de 15 de dezembro aprova as Instruções Complementares ao Regula-
Atualmente, o transporte de produtos peri- de 2017 mento Terrestre do Transporte de Produtos Perigo-
gosos é regulamentado através de uma série de sos.
legislações, decretos e resoluções, as quais, des- Fonte: ADAPTADO DE BRASÍLIA (2018)
tacamos as principais no quadro 1, a seguir:

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Lição de Apresentação

FINALIDADE DO CURSO duto perigoso;


b) isolar e assegurar o acesso à cena da emer-
O Curso de Atendimento a Emergências com gência;
Produtos Perigosos tem por finalidade proporcio- c) aplicar medidas de proteção pessoal;
nar aos participantes os conhecimentos e as técni- d) recomendar as ações de emergência desti-
cas necessárias para reconhecer uma emergência nadas a organizar inicialmente a cena de emer-
com produtos perigosos, implementar medidas gência, deixando-a segura;
de proteção pessoal e de terceiros, realizar ações e) realizar, quando possível, o resgate de víti-
de emergência de primeira resposta com o intui- mas com segurança;
to de promover segurança ao local e às pessoas f) acionar socorro especializado para continui-
envolvidas na emergência, além de providenciar dade no atendimento ao acidente.
o resgate de possíveis vítimas com segurança.
Ao final dos estudos, criaremos uma situação
OBJETIVOS DE DESEMPENHO simulada de um acidente envolvendo produto
perigoso, de modo que os participantes possam
As ocorrências que envolvem produtos perigo- demonstrar as habilidades adquiridas e aplicar de
sos são cercadas de circunstâncias diversas que modo correto os procedimentos para atendimen-
interferem diretamente no procedimento opera- to da ocorrência envolvendo produtos perigosos,
cional para a solução e restabelecimento da nor- que iniciam no acionamento até seu encerramen-
malidade no cenário da ocorrência. Portanto não to, empregando os conhecimentos apreendidos
existe uma fórmula comum a ser seguida. Existe sim durante o curso.
uma série de procedimentos que devem ser segui-
dos e que requerem das autoridades e equipes de OBJETIVOS DE CAPACITAÇÃO
resgate uma maior cautela, atenção e comprome-
timento. Desta forma, durante o curso é aplicado Para que os objetivos de desempenho pos-
uma série de conhecimentos para que o partici- sam ser alcançados uma série de conhecimentos
pante possa desempenhar os seguintes objetivos: teóricos são necessários, os quais serão aborda-
a) identificar, quando possível, o produto e dos neste material, dessa forma, ao final do cur-
seus riscos em uma emergência com pro-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 14


Lição de Apresentação

so, esperamos que os participantes alcancem os


seguintes objetivos:
• enumerar, segundo a classificação da orga-
nização das Nações Unidas, as classes de risco
dos Produtos Perigosos;
• citar os principais perigos das categorias de
risco das substâncias químicas perigosas;
• descrever o conceito de Produto Perigoso e
de operação com Produto Perigoso;
• conhecer os Equipamentos de Proteção
Individual e seus Níveis de Proteção em uma
operação com Produto Perigoso;
• manusear adequadamente o Manual para
Atendimento a Emergências com Produtos Pe-
rigosos (ABIQUIM);
• conhecer equipamentos de descontamina-
ção e suas utilizações;
• conhecer materiais de absorção, contenção
e sua utilização;
• conhecer equipamentos de detecção e seus
funcionamentos.

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LIÇÃO I
Princípios de físico-química

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da lição, os participantes deverão ser capazes de:


• elencar os 3 estados físicos da matéria;
• descrever os pontos de fusão, ebulição, condensação, soli-
dificação e sublimação;
• conhecer conceitos gerais de química que serão utilizados
ao longo do curso.
Lição I Princípios de físico-química

As guarnições de Bombeiros Militar quase O átomo é uma estrutura individual e indivi-


sempre são as primeiras a intervir em emergências sível que consiste na base unitária de qualquer
envolvendo produtos perigosos, desta forma, de- elemento químico. O átomo é entendido como
vemos estar familiarizados com certos conceitos, a partícula indivisível que faz parte da estrutura
definições e fundamentos de química e física, a fim de todos os materiais. Consiste num núcleo cen-
de entender algumas características e aspectos tral de carga positiva (prótons) envolto por uma
presentes no comportamento dos produtos pe- nuvem de carga negativa (elétrons). O átomo é
rigosos, permitindo assim, que possamos melhor composto de partículas subatômicas chamadas:
atender ocorrências envolvendo estas substâncias. elétrons, prótons e nêutrons conforme pode se
Estes conhecimentos nos ajudarão a planejar perceber na Figura 1 (EICHER e DEL PINO, 2000).
ações de resposta que minimizem os danos cau-
sados no acidente ou até mesmo evitar que o mes- Figura 1 - Estrutura de um átomo
mo aconteça. Poderemos antecipar alguns efeitos
dos Produtos Perigosos envolvidos nos acidentes
elétron
como por exemplo, a probabilidade de incendiar
e a reação dos elementos envolvidos em contato
com a água, também nos permite conhecer qual
o agente extintor é mais indicado para combate próton
a um princípio de incêndio, selecionar o equipa- nêutron

mento de proteção individual adequado para o


atendimento a emergência, dentre outras ações.

PRINCÍPIOS GERAIS DE FÍSICO-QUÍMICA


Para podermos compreender as relações en- Fonte: ADAPTADO DE EICHLE E DEL PINO, 2000
tre os produtos químicos e as suas influências no
meio ambiente, vamos apresentar alguns princí- Para a formação de uma molécula ou compos-
pios da físico-química. tos faz-se necessário que dois ou mais átomos se
unam por meio de ligações químicas. Essas molé-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 17


Lição I Princípios de físico-química

culas e compostos podem interagir entre si e for- Figura 2 - Diagrama de mudança de estado
mar uma substância. As substâncias, por sua vez, sublimação
dependendo de suas propriedades e caracterís-
ticas podem ser perigosas ou não.
fusão vaporização

ESTADOS FÍSICOS DA MATÉRIA


Sólido Líquido Vapor
Sabemos que as substâncias existentes na na-
tureza podem ser encontradas em três diferentes
estados físicos: sólido, líquido e gasoso. solidificação condensação
ou liquefação
As substâncias podem trocar de um estado
físico para outro quando ocorrer uma troca de
temperatura, de pressão ou de ambos. Quando sublimação inversa
acontece de uma substância passar de uma fase
para outra, dizemos que ela mudou de estado fí- Fonte: CBMSC
sico ou estado de agregação da matéria.
A troca de estado físico de uma substância SÓLIDOS
pode afetar o grau de periculosidade da mesma.
Por exemplo, uma substância tóxica pode ser mais Um sólido caracteriza-se por manter sua forma
perigosa à vida humana se encontrada em um es- e volume constantes em condições normais. Este
tado físico gasoso em relação ao seu estado físico é o estado físico em que existe maior força de
líquido, pois, na forma de gás, pode ser facilmente coesão entre os átomos e moléculas que consti-
inalada e difusa na corrente sanguínea em relação tuem as substâncias conforme observado na figu-
a sua ingestão na fase líquida (SANTOS, 2016). ra 3. Esse é o fator responsável por fazer com que
as matérias que se encontram nessa fase, tenham
forma e volume bem definido como, por exem-
plo, um cubo de gelo ou uma barra de ferro.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 18


Lição I Princípios de físico-química

Figura 3 - Moléculas com maior coesão no estado coesão entre átomos é mais fraca, fato este que
físico sólido faz com que eles tenham mais liberdade para se
locomover e vibrar dentro da substância, ou seja,
os líquidos têm volume constante e sua forma é
variável de acordo com os recipientes que ocu-
pam (CORPO DE BOMBEIRO DE SANTIAGO,
2014). Quando a mudança de estado do líquido
para o estado sólido ocorre por temperatura,
chamamos essa temperatura de ponto de solidi-
ficação. Assim como a passagem de líquido para
Fonte: CBMSC vapor, chamamos a temperatura limite de ponto
de ebulição. Essas temperaturas são diferentes
A maioria dos sólidos podem passar para o para cada líquido, e alteram com a pressão a que
estado líquido quando aquecidos, a tempera- os líquidos são submetidos.
tura em que isso ocorre se denomina ponto de
fusão. Quando um sólido passa diretamente do Figura 4 - Moléculas com menor coesão no estado
estado sólido ao estado físico gasoso o processo físico líquido
se denomina sublimação. Um exemplo bem co-
nhecido de sólidos que sublimam são: o dióxido
de carbono (gelo seco) e a naftalina .

Você já percebeu que a naftalina vai diminuindo


de tamanho no seu armário a medida que o tem-
po passa? Agora já sabe o porquê, ela sublima.

LÍQUIDOS

Neste estado, as substâncias possuem volu-


me definido, mas formas variáveis, pois a força de Fonte: CBMSC

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 19


Lição I Princípios de físico-química

O ponto de ebulição de um líquido está re- A volatilidade se refere a uma grandeza que
lacionado com sua pressão de vapor. A pressão está relacionada à facilidade de uma substância
de vapor de um líquido é a medida de habilidade passar do estado físico líquido ao estado gasoso,
que a substância tem para evaporar-se, ou seja, é nas condições normais de temperatura e pressão
a facilidade que um líquido tem em transformar-se (ambiente). Essa facilidade depende do referen-
em vapor. Quanto maior é a pressão de vapor de cial, por isso, a volatilidade é sempre relativa. Nor-
um líquido mais facilmente o líquido se evapora. malmente devemos levar em consideração duas
Um líquido possui várias propriedades, das substâncias, sendo uma delas chamada de subs-
quais destacamos duas que devem ser sempre le- tância de referência. Lembre-se, quanto maior a
vadas em consideração no momento de atender volatilidade de um líquido maior será a capacida-
uma ocorrência com produtos perigosos: taxa de de deste líquido transformar-se em vapor.
expansão e volatilidade.
A taxa de expansão é o aumento de volume Um bom exemplo de volatilidade é o álcool.
de um líquido quando vaporiza. O efeito de ex- Se deixarmos aberto o tanque de um carro que
pansão pode ser catastrófico se o líquido se en- contenha álcool, o mesmo será esvaziado pouco
contrar em um recipiente fechado, sem a presen- a pouco em razão da facilidade que o mesmo tem
ça de um mecanismo de alívio da pressão, pois os de evaporar. Ou, ainda, se deixarmos um recipien-
vapores gerados a medida que o líquido é aque- te destampado contendo gasolina em uma sala,
cido aumentam a pressão dentro do recipiente e em pouco minutos, perceberemos que o cheiro
podem ultrapassar a capacidade de resistibilida- da gasolina estará em todo ambiente devido à vo-
de de pressão do mesmo, podendo levar ao rom- latilidade da mesma, sua capacidade de evaporar-
pimento do recipiente e ocasionar uma explosão. -se na temperatura ambiente.

Pense na seguinte situação: 1,0 kg de água se GASES


transforma totalmente em vapor, o resultado ob-
tido será exatamente 1,0 kg de vapor, entretanto, Um gás é uma substância que se expande ou
o volume ocupado por essa água na fase líquida se comprime com facilidade pois nesta fase, as
será de 1,0 litro enquanto que na fase gasosa será forças de coesão entre os átomos são tão peque-
de 1,673 litros. nas que podemos considerá-las praticamente

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 20


Lição I Princípios de físico-química

inexistentes, ou seja, os átomos estão muito se- Ocorre que quando um corpo tem aberturas no
parados entre si. Dessa forma, as substâncias que seu interior (oco), para o dimensionamento da Atenção
se encontram nesse estado não possuem forma, massa específica devemos considerar apenas o Não devemos confundir gás e va-
nem volume definido. volume preenchido. por, pois são conceitos diferen-
A massa específica é um conceito utilizado tes. O gás é o estado físico da
Figura 5 - Moléculas com coesão quase nula no estado para medir o peso de uma substância sólida ou matéria, ou seja, é toda substân-
físico gasoso líquida em comparação com o mesmo volume de cia que em condições normais de
água. Assim, se considerarmos que a água, a uma temperatura e pressão apresenta
temperatura de 22ºC e a pressão atmosférica de estado físico gasoso. Já o vapor é
01 ATM, tem um peso específico de 1,0 g/cm3. o resultado do aquecimento de
Os sólidos e líquidos mais pesados que um volu- um líquido, mudando seu estado
me igual de água, tem um peso específico maior físico de líquido ou sólido para o
que 1,0 g/cm3, ou seja, são mais densos do que gasoso, formando assim, vapores
a água. Da mesma maneira os sólidos e líquidos de uma substância específica.
que são mais leves que água tem o peso específi-
co menor que 1,0 g/cm3, sendo assim, são menos
denso que a água.
Fonte: CBMSC Observe a figura 6 que mostra o comporta-
mento de substância com densidade diferentes
Os gases podem condensar-se para formar lí- da água. Lembre-se, o peso específico de uma
quidos, essa mudança ocorre quando um gás é substância indicará se a mesma flutuará ou irá
resfriado a uma temperatura abaixo de seu ponto submergir na água.
de ebulição.

MASSA ESPECÍFICA

Massa específica é uma propriedade físi-


ca que resulta da divisão da massa compacta
de uma substância pelo volume que ela ocupa.

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Lição I Princípios de físico-química

Figura 6 - Comportamento de substância com densidade nhecer a tendência que um gás (vapor) elevar-se
diferentes da água ou se acumular em áreas mais baixas (CORPO DE
BOMBEIROS DE SANTIAGO, 2014).
Diferentemente do cálculo de massa específi-
ca, para a definição da densidade de uma subs-
tância, devemos considerar todo o volume, in-
Peso específico menor cluindo os espaços vazios de um corpo.
que 1,0 g/cm3
Considerando esses fatores, devemos nos aten-
tar para o fato de que, apesar de ser usada a mes-
ma forma de calcular, os resultados são bastante
diferentes, quando consideramos a utilização dos
espaços vazios para a definição da massa especí-
fica em substâncias sólidas. Para substâncias nos
estados líquido ou gasoso, a massa específica e a
Peso específico maior
que 1,0 g/cm3 densidade terá o mesmo resultado, motivo pelo
qual, nesses casos, ambos (massa específica e a
densidade) são consideradas a mesma coisa.

Fonte: CBMSC As substâncias com uma densidade de vapor


menor que a densidade do ar são mais leves e
DENSIDADE DE VAPOR portanto sobem na atmosfera. Por sua vez, as
substâncias com densidade de vapor maiores
A densidade de vapor é um conceito similar que a densidade do ar são mais pesados que um
ao de massa específica, porém é utilizado para volume igual de ar, desta forma, se afundam ou
medir o peso de um gás em comparação a um descem às partes baixas do terreno, e geralmen-
volume igual de ar. Trata-se de um parâmetro que te se depositam em depressões.
indica quando um gás é mais pesado que o ar na
mesma temperatura. Este valor se aplica para co-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 22


Lição I Princípios de físico-química

Esta é uma informação importante, pois em O Gás Natural (GN) por sua vez é menos denso
caso de vazamento de determinado gás pode- que o ar atmosférico, logo, quando ocorre um va- Glossário
mos monitorar o vazamento, de modo a identificar zamento, este gás se dissipa na atmosfera. Hidrocarbonetos são moléculas
áreas de risco durante uma ocorrência e prever que contêm apenas carbono (C) e
para onde o gás se dispersará conforme podemos SOLUBILIDADE hidrogênio (H) em sua composi-
perceber na figura 7. ção. São constituídos de um “es-
Solubilidade é a propriedade física que per- queleto” de carbono no qual os
Imagine o seguinte exemplo: o Gás Liquefeito mite que as substâncias se dissolvam ou não, em átomos de hidrogênio se ligam.
de Petróleo (GLP) é mais denso que o ar atmos- um determinado líquido. Denominamos soluto,
CH3 CH3
férico, por isso, quando ocorre um vazamento o os compostos químicos que se dissolvem em
mesmo se deposita nas superfícies mais baixas outra substância. Um soluto pode ser um gás, CH3 C CH2 CH CH3

um líquido ou um sólido. Ao contrário, o solven- CH3


Figura 7 - Comportamento de um gás com densidade te é a substância na qual o soluto será dissolvido
vapor diferentes do ar para formação de um novo produto. A água, por
Densidade de vapor menor que o ar atmosférico
exemplo, pode ser um solvente, porém, na in-
dústria química, são de uso mais comum os sol-
ventes a base de hidrocarbonetos. A dissolução
GN química é o processo de dispersão do soluto em
um solvente, dando origem a uma solução ou
mistura homogênea.
Os solutos podem ser classificados em so-
lúvel, pouco solúvel e insolúvel. Esse parâme-
Densidade de vapor maior que o ar atmosférico
tros dependem do coeficiente de solubilidade
da substância.

GLP

Fonte: CBMSC
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 23
Lição I Princípios de físico-química

Figura 8 - formação de um solução a partir de um soluto e O pH é representado por uma escala que
um solvente varia de 0 a 14 (Figura 9). Ela mede a acidez e
Soluto
basicidade de uma solução. Valores menores
que 7, indicam um aumento na acidez, enquan-
to aqueles maiores que sete indicam aumento
na alcalinidade de uma substância. Sendo as-
sim, o pH 7 representa uma solução neutra, por
exemplo, a água pura.

Solvente Solução Figura 9 - Representação da escala de pH


Soluções Neutras

Fonte: CBMSC Soluções ácidas Soluções básicas

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 11 12 13 14
• Solúvel: são os solutos que se dissolvem no
solvente. Por exemplo: sal (NaCl) em água. Acidez crescente Basicidade crescente

• Pouco solúvel: são os solutos que apresen- Fonte: CBMSC


tam dificuldade de se dissolver no solvente.
Por exemplo: sal de cozinha em acetona. Ácidos e bases fortes podem causar sérios da-
• Insolúvel: são os solutos que não se dissol- nos aos tecidos do corpo humano, pois apresen-
vem no solvente. Por exemplo: gasolina em água. tam propriedades de corrosividade. A corrosivi-
dade é um processo de caráter químico causado
POTENCIAL HIDROGENIÔNICO – PH (ÁCIDOS por substâncias ácidas ou alcalinas os quais des-
E BASES) gastam os sólidos podendo causar lesões graves
a tecidos vivos. Substâncias com pH menores que
O pH é determinado pela concentração de 3 ou maiores que 10, podem causar irritação na
íons de hidrogênio, representado pelo símbolo pele e mucosas (inflamação cutânea) ou até mes-
(H+) e serve para medir o grau de acidez, neutrali- mo a possível destruição do tecido.
dade ou alcalinidade de determinada solução.

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Lição I Princípios de físico-química

LIMITES DE INFLAMABILIDADE LIMITE SUPERIOR DE EXPLOSIVIDADE (LSE)


Saiba mais
Para um gás ou vapor inflamável queimar é O LSE é a máxima concentração de gás que, Para saber mais sobre ponto de
necessário que exista, além da fonte de ignição, misturada ao ar atmosférico, é capaz de provocar inflamabilidade, ponto de fulgor
uma mistura chamada “ideal” entre o ar atmosfé- a combustão do produto, a partir de uma fonte e outros assuntos relacionados,
rico (oxigênio) e o gás combustível. A quantidade de ignição. Concentrações de gás acima do LSE consulte os Tópicos introdutórios:
de oxigênio no ar é praticamente constante, em não são inflamáveis, pois, nesta condição, tem-se ciências do fogo, disponível no
torno de 21% em volume. Já a quantidade de gás excesso de produto e pequena quantidade de site da Biblioteca do Centro de En-
combustível necessário para a queima, varia para oxigênio para que a combustão ocorra, chama- sino Bombeiro Militar (CEBMSC).
cada produto e está dimensionada através de mos essa condição de “mistura rica”.
duas constantes: o Limite Inferior de Explosivida-
de (LIE) e o Limite Superior de Explosividade (LSE). FAIXAS OU LIMITES DE INFLAMABILIDADE

LIMITE INFERIOR DE EXPLOSIVIDADE (LIE) Entre os limites, inferior e superior de explo-


sividade, existe uma gama de concentrações de
A simples desintegração das moléculas por gás que quando combinadas com o oxigênio
meio da ação do calor não é suficiente para que são inflamáveis. Esses limites são chamados de
a inflamação se produza. O número de moléculas faixas ou limites de inflamabilidade. Para cada
que se desintegram precisam ser suficientes para gás ou mistura de gases existe certa concentra-
que, junto com o oxigênio do ambiente, inicie ção que é exatamente a necessária para que a
uma reação de combustão. sua combinação com o oxigênio produza uma
O LIE é a mínima concentração de gás que, reação efetiva. Nesse ponto encontra-se a mis-
misturada ao ar atmosférico, é capaz de provo- tura ideal para que ocorra a combustão, obser-
car a combustão do produto, a partir do conta- vando-se que nos limites extremos os fenôme-
to com uma fonte de ignição. Concentrações de nos ocorrem com maior dificuldade.
gás abaixo do LIE não são inflamáveis, pois, nes- Os valores do LIE e LSE são geralmente for-
ta condição, tem-se excesso de oxigênio e uma necidos em porcentagens de volume tomadas
pequena quantidade do produto para a queima. a aproximadamente 20ºC e 1 ATM. Os gases ou
Esta condição é chamada de “mistura pobre”. vapores combustíveis só queimam quando sua

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Lição I Princípios de físico-química

percentagem em volume estiver entre os limites


(inferior e superior) de explosividade, que é a mis-
tura “ideal” para a combustão.

Quadro 1 - Exemplos de LIE e LSE para alguns produtos


Produto LIE LSE
Acetileno 2,5% 80%
Benzeno 1,3% 79%
Etanol 3,3% 19%

Fonte: CBMSC

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Lição I Princípios de físico-química

RECAPITULANDO
Vimos nesta lição alguns conceitos físico-quí-
micos importantes para o desempenho ao lon-
go curso. Vimos que existem três estados físicos
da matéria: sólido, líquido e gasoso. Descreve-
mos que o estado físico no qual a matéria pode
apresentar maior risco é o gasoso. Isso se dá em
virtude das suas propriedades e capacidade de
ocupar todo o espaço no ambiente aonde estiver.
Além do que, é no estado gasoso que a matéria
possui maior facilidade para difundir-se na cor-
rente sanguínea.
Vimos também as nomenclaturas das princi-
pais trocas de fase das substância, quais sejam:
pontos de fusão, ponto de ebulição, condensa-
ção, solidificação e sublimação.
Por fim, conhecemos alguns conceitos impor-
tantes com destaque para solubilidade, Potencial
Hidrogeniônico, Densidade Vapor, Massa especí-
fica, Limites de explosividade.

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Lição I Princípios de físico-química

AVALIAÇÃO DA LIÇÃO 4. Qual o nome da temperatura na qual uma


substância muda seu estado físico líquido para
1. Quais os três estados físicos da matéria? gasoso?

5. Descreva os conceitos dos limites de explosivi-


dade inferior e superior.

2. Qual o nome da temperatura na qual uma subs-


tância muda seu estado físico líquido para sólido?

3. Qual o nome da temperatura na qual uma subs-


tância muda seu estado físico sólido para gasoso?

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LIÇÃO II
Conceitos e Generalidades sobre
Emergências com Produtos Perigosos

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da lição, os participantes deverão ser capazes de:


• conceituar risco aceitável;
• conceituar operação segura;
• conceituar produto perigoso;
• descrever as três categorias dos produtos perigosos.
Lição II Conceitos e Generalidades Sobre Emergências com Produtos Perigosos

CONCEITOS E GENERALIDADES SOBRE to ou sistema vulnerável. O estudo dos três


PRODUTOS PERIGOSOS conceitos anteriores (ameaça, vulnerabilidade
e risco) nos leva a considerar duas novas e im-
Antes de prosseguir os estudos sobre opera- portantes condições: risco aceitável e opera-
ções envolvendo produtos perigosos, é necessá- ção segura (SANTA CATARINA, 2013).
rio definir alguns conceitos sobre o tema. • Risco Aceitável: Condição de trabalho na
qual o risco existente é mínimo, cujas conse-
• Ameaça: O conceito de ameaça pode ser quências são limitadas em virtude da adoção
definido como fato ou situação – natural ou pro- de medidas minimizadoras, baseadas na ob-
vocada pelo homem – que tem a potencialidade servação de condutas de técnicas de seguran-
de causar danos a uma pessoa, objeto ou siste- ça e na experiência profissional dos envolvidos
ma exposto (vulnerável) a sua ação. É um fator na emergência (CASTRO, 2007).
externo de risco e está relacionado ao acidente • Operação Segura: É aquela em que os ris-
ou evento adverso que pode gerar danos; é o cos existentes são considerados aceitáveis. O
agente ativo, ou seja, produz a ação. Descargas risco sempre continuará existindo, é intrínseco
elétricas, tempestades, enchentes, são exem- à atividade exercida pelo bombeiro, mas em
plos de ameaças (SANTA CATARINA, 2013). uma operação envolvendo produtos perigo-
• Vulnerabilidade: Característica intrínseca sos, sempre trabalhamos com o risco aceitável.
de uma pessoa, objeto ou sistema que corres- • Desastre: Resultado de eventos adversos –
ponde a sua disposição para ser danificado. É naturais ou provocados pelo homem – sobre
um fator interno de risco que refere-se às pes- um ecossistema vulnerável, causando danos
soas, aos objetos e ao cenário que possuem humanos, materiais e/ou ambientais e con-
disposição a sofrer danos; é o agente passivo, sequentes prejuízos econômicos e sociais. O
ou seja, sofre a ação. Essa característica intrín- desastre é o resultado do fenômeno, seja ele
seca poderá ser a suscetibilidade a qualquer natural, causado pelo homem ou devido à re-
dano biológico, psicológico, social, químico ou lação entre ambos e não somente o fenôme-
físico (CASTRO, 2007). no em si, que é chamado de evento adverso
• Risco: Probabilidade de ocorrer dano quan- (CASTRO, 2007). Chuva de granizo, por exem-
do a ameaça atua sobre determinado elemen- plo, é um evento adverso, enquanto seu resul-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 30


Lição II Conceitos e Generalidades Sobre Emergências com Produtos Perigosos

tado sobre uma determinada comunidade ou vago e possui um significado bastante amplo.
plantação pode ser desastroso ou não. Araújo (2005, p. 17) diz que pode se definir, em
um primeiro momento, que é qualquer substân-
A política Nacional de Defesa Civil classifica os cia química, porém tudo na natureza é químico
desastres de acordo com sua evolução, origem e e até a água potável seria assim classificada.
intensidade. “Seriam somente as substâncias consideradas
nocivas aos seres humanos? E quanto aos produ-
• Emergências: Situações que exigem uma tos impactantes ao meio ambiente? Afinal, quais
intervenção imediata de profissionais treina- os aspectos que nos levam a definir um produto
dos com equipamentos adequados, mas po- como perigoso?” (ARAÚJO, 2005, p. 17).
dem ser atendidas pelos recursos normais de
resposta a emergências, sem a necessidade Analisando o termo sob uma ótica mais restri-
de coordenação ou procedimentos especiais. ta, denominamos produtos perigosos como
Essas são aquelas ocorrências atendidas roti- sendo “toda substância ou elemento que por
neiramente por bombeiros, policiais e equipes sua característica de volume e periculosidade,
de manutenção em redes elétricas. representa um risco além do normal à saúde, à
• Situações Críticas: São situações cujas ca- propriedade e ao meio ambiente durante sua
racterísticas de risco exigem, além de uma in- extração, fabricação, armazenamento, trans-
tervenção imediata de profissionais treinados porte ou uso. (OLIVEIRA, 2000, p. 26).
com equipamentos adequados, uma postura No Brasil, do ponto de vista legal, é um produ-
organizacional não rotineira para a coordena- to perigoso toda a substância listadas na Reso-
ção e gerenciamento integrado das ações de lução 5232, de 14 de dezembro 2016 da Agên-
resposta, mesmo que essas não caracterizem cia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
um desastre. Como exemplos de situações “Substâncias (incluindo misturas e soluções) e ar-
como essas, podemos citar: acidentes com tigos sujeitos a este Regulamento são alocados a
múltiplas vítimas, acidentes com produtos pe- uma das nove classes de acordo com o risco ou o
rigosos, incêndios florestais. mais sério dos riscos que apresentam.”
• Produto Perigoso: O termo “produto peri-
goso”, do inglês dangerous goods, é bastante

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 31


Lição II Conceitos e Generalidades Sobre Emergências com Produtos Perigosos

• Agentes Biológicos: Toxinas produzidas • Acidente com Produto Perigoso: Evento


por seres vivos (vírus, bactérias, fungos, para- repentino e não desejado, onde há liberação
sitas) com a capacidade de provocar lesões, de substâncias químicas perigosas em forma
enfermidades ou a morte nos indivíduos a de incêndio, explosão, derrame ou vazamento,
eles expostos. que pode causar danos às pessoas, proprieda-
• Agentes Radiológicos: Corpos que emitem des ou ao meio ambiente. Entende-se aciden-
radiações ionizantes que podem provocar le- te com produtos perigosos como sendo todo
sões, enfermidades ou a morte dos indivíduos evento inesperado que produz como resultado
a eles expostos. Podem ser materiais radioa- lesões, perdas de propriedades ou interrup-
tivos utilizados nas indústrias (petroquímicas, ção de serviços e atividades (HADDAD, 2002).
de papel, de plásticos), na medicina (hospitais • Emergências com Produtos Perigosos:
e laboratórios), na engenharia (equipamentos Existe uma substancial diferença entre o atendi-
utilizados em grandes obras civis tais como hi- mento de uma ocorrência ordinária e uma emer-
droelétricas, oleodutos) etc. gência com produtos perigosos. Em ocorrências
• Agentes Químicos: Elementos ou compos- com produtos perigosos nem sempre as solu-
tos que de acordo com suas características ções mais rápidas são as mais seguras e efica-
(tóxicos, corrosivos, explosivos, combustíveis) zes, pois são cercadas de circunstâncias diversas
podem provocar lesões, enfermidades ou a que interferem diretamente no procedimento
morte dos indivíduos vivos a eles expostos, ou operacional para a solução e restabelecimento
ainda danos a propriedades ou ao meio am- da normalidade no cenário da ocorrência.
biente. Como exemplos podemos citar os áci- Portanto, não existe uma fórmula comum a ser
dos, as bases e os combustíveis fósseis. seguida, mas uma série de procedimentos que
• Carga Perigosa: Não se pode confundir pro- requerem das equipes de resgate uma maior
duto perigoso com carga perigosa. Qualquer cautela, atenção e comprometimento, como a
carga, contendo ou não produtos perigosos, identificação do produto e seus riscos, a utiliza-
quando mal acondicionada, pode tornar-se uma ção de proteção individual adequada, o isola-
carga perigosa. Quando uma carga passa a ser mento da área, salvamento de vítimas, contenção
transportada, os riscos tornam-se ainda maiores. e controle do produto, realização de desconta-
minação, dentre outras (HADDAD, 2002).

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 32


Lição II Conceitos e Generalidades Sobre Emergências com Produtos Perigosos

Os acidentes com produtos perigosos podem podem estar armazenados em locais (laboratórios,
variar consideravelmente, dependendo dos indústrias, hospitais) que lidam rotineiramente
produtos envolvidos, suas quantidades, pro- com esses produtos, ou ainda sendo transporta-
priedades e características físico-químicas, das dos para, principalmente, descarte. Em acidentes
condições meteorológicas e do terreno. Exis- com produtos perigosos dessa categoria, os agen-
tem, por exemplo, produtos altamente letais ao tes biológicos podem se dispersar facilmente com
homem e ao meio ambiente, que podem ex- ajuda do vento e da água (NFPA 471, 2002).
plodir pelo simples contato com a água, gases As principais medidas de proteção contra as
inodoros e invisíveis que, em poucos segundos, ameaças biológicas são as que evitam o conta-
matam quem os respira. Estes são alguns dos to com agente infectante – fluidos corporais,
motivos que diferenciam o atendimento de lixo e resíduos, matérias orgânicas etc. Para tan-
uma emergência com produtos perigosos das to, é necessário proteção para a pele, olhos e
demais ocorrências atendidas pelo CBMSC e, mucosas do socorrista. A roupa de atendimen-
desta forma, exigem mais cautela. to utilizada na emergência deve ser esterilizada
após seu uso (LAKE, 2013).
CATEGORIAS DE PRODUTOS
PERIGOSOS PERIGOS RADIOLÓGICOS

Os produtos que podem causar danos às Materiais que emitem radiação ionizante, sen-
pessoas, ao meio ambiente e ao patrimônio são do elementos naturalmente radioativos ou então,
considerados perigosos. Os perigos associados máquinas que emitem radiações em operações
podem ser categorizados como biológicos, ra- específicas para esse objetivo como aparelhos
diológicos e químicos. de raios X, reatores nucleares etc. A radiação, por
ser uma propagação de energia por meio de uma
PERIGOS BIOLÓGICOS onda eletromagnética, não possui sinais sensíveis
de advertência, como cheiro característico, irrita-
Materiais contaminados com agentes biológi- ções etc. A ionização pode alterar a função celu-
cos – vírus, bactérias, fungos ou parasitas – que têm lar produzindo disfunções ou até a morte celular
um efeito patogênico à vida e ao meio ambiente (NFPA 471, 2002).

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 33


Lição II Conceitos e Generalidades Sobre Emergências com Produtos Perigosos

O controle da exposição à radiação, neces- TÉRMICOS


sário para garantir o atendimento aos requisitos
estabelecidos em normas de radioproteção, fun- Perigos térmicos estão relacionados principal-
damenta-se em três fatores principais: mente com a combustibilidade e inflamabilidade
a) Tempo de Exposição: prevenção de acú- de um produto perigoso. Combustibilidade é a
mulo desnecessário de dose, pela redução capacidade de determinado material atuar como
do tempo de permanência na proximidade de combustível - materiais que podem se inflamar e
fontes de radiação. manter o fogo são considerados combustíveis.
b) Distância da Fonte: atenuação da ra- Para iniciar uma ignição são necessários quatro
diação, baseada na lei do inverso do qua- elementos: combustíveis (agente redutor), com-
drado da distância. burente, calor e reação química em cadeia.
c) Blindagem: atenuação da radiação, por Inflamabilidade é a propriedade que deter-
meio de anteparos de concreto, chumbo, aço, minado material possui em gerar suficiente con-
alumínio, entre outros materiais. centração de vapores combustíveis para, em uma
condição específica de temperatura e pressão,
Em outras palavras, quanto menor o tempo de inflamar-se e produzir uma chama. É necessário
exposição, quanto maior a distância da fonte ra- possuir uma relação apropriada entre combustí-
dioativa e quanto mais anteparos de blindagem vel e comburente para que a combustão prossi-
disponíveis, menor será a exposição à radiação. ga. Essa relação é expressa em percentagem de
combustível no ar.
PERIGOS QUÍMICOS
MECÂNICOS
Os perigos químicos classificam-se em nume-
rosos grupos. É fundamental que os profissionais Explosivos são substâncias que sofrem uma
de primeira resposta conheçam os fundamentos transformação química muito rápida, produzindo
de cada um deles e suas relações, de maneira grandes quantidades de gases e calor. Os gases
que possam reduzir riscos, trabalhando em ope- produzidos se expandem rapidamente, originan-
rações seguras. do ondas de choque e intenso ruído. Os perigos
mecânicos relacionados são: destruição física pe-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 34


Lição II Conceitos e Generalidades Sobre Emergências com Produtos Perigosos

las ondas de choque, grande calor, lançamento substância e seu contato com a zona digestiva
de fragmentos, liberação de produtos perigosos (boca, garganta, esôfago, estômago e intestinos).
no meio ambiente circundante ao local do evento
e início de incêndios. CORROSÃO

TÓXICOS A corrosão é o processo de degradação dos


materiais. Pelo contato, um material corrosivo
Produtos tóxicos causam efeitos locais ou sis- pode destruir tecidos do corpo, metais, plásticos
têmicos no organismo humano e podem ser ca- ou outros materiais. Um agente corrosivo é um
tegorizados pelos seus efeitos fisiológicos ao composto ou elemento reativo que produz uma
organismo, tais como: asfixia, irritação alérgica, alteração química destrutiva no material sobre o
envenenamento de sistemas, mutagênese, terato- qual está atuando. Os halogênios (exemplo: clo-
gênese etc. A probabilidade de que o organismo ro, flúor, bromo), ácidos e bases são corrosivos
sofra estes efeitos depende não somente da toxi- comuns. Irritações e queimaduras de pele são re-
cidade inerente ao próprio produto (medida por sultados típicos do contato com corrosivos.
sua dose letal) como também pela magnitude da
exposição (aguda/crônica) e a rota da exposição. REATIVIDADE
Vias de exposição são os caminhos pelos
quais uma substância ingressa no corpo huma- Usa-se o termo perigo reativo para fazer refe-
no, que, de maneira didática para o curso de rência a uma substância que sofre reação violenta
produtos perigosos, considera-se que são três: ou anormal em presença de água. Este tipo de pe-
absorção, inalação e ingestão. rigo é representado pelos líquidos pirofóricos que
Absorção é o contato direto com a pele – atra- se inflamam no ar a uma temperatura ambiente
vessando-a ou destruindo-a – de determinada ou abaixo da mesma, sem calor adicional, golpes
substância através da pele ou olhos. Inalação, por ou fricção. Existem também os sólidos inflamáveis
sua vez, consiste em aspirar determinada substân- que reagem na presença de água, ardendo espon-
cia, levando-a a um contato direto com as membra- taneamente ao entrarem em contato com ela.
nas da zona respiratória (nariz, garganta, traqueia e
pulmões). Por fim, ingestão, é a deglutição de uma

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Lição II Conceitos e Generalidades Sobre Emergências com Produtos Perigosos

REAÇÕES QUÍMICAS evaporação, a capacidade de condensar ou soli-


dificar outros gases e o alto potencial de danos Glossário
Uma reação química é a interação de duas ou aos tecidos (queimaduras tipo enregelamento). O enregelamento é uma situa-
mais substâncias que produzem como resultado ção resultante da exposição ex-
alterações químicas. As reações químicas que cessiva ao frio, causando uma
emitem calor, denominadas exotérmicas, podem sensação de formigamento ou
ser as mais perigosas. adormecimento de membros.
Os danos causados pelo enrege-
INCOMPATIBILIDADE lamento podem ser irreversíveis
ao corpo humano, conduzindo,
Produtos são quimicamente incompatíveis em casos de maior gravidade, à
quando incapazes de coexistir harmonicamente. amputação de membros.
A incompatibilidade, no entanto, não indica ne-
cessariamente um perigo. A informação da com-
patibilidade é também muito importante na ava-
liação de um acidente no qual estejam presentes
diversos produtos perigosos. O produto destas
reações químicas podem resultar desde a produ-
ção de um gás inócuo até uma violenta explosão.

CRIOGÊNICOS

Denominamos de criogênica toda substância


que para ser liquefeita, deve ser refrigerada a tem-
peraturas inferiores a -150ºC. Devido à sua natu-
reza muito fria, os gases criogênicos apresentam
três riscos principais: a alta taxa de expansão na

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Lição II Conceitos e Generalidades Sobre Emergências com Produtos Perigosos

RECAPITULANDO características (tóxicos, corrosivos, explosivos, in-


flamáveis) podem provocar lesões, enfermidades
Produtos perigosos são todas substâncias de ou a morte nos indivíduos vivos a eles expostos e,
natureza química, radioativa ou biológica que danos a propriedades ou ao meio ambiente.
podem, em qualquer estado da matéria, afetar
de forma nociva, direta ou indiretamente, os se-
res vivos, o meio ambiente ou o patrimônio. Em
ocorrências envolvendo esse tipo de produto, o
Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina
sempre trabalha com o conceito de operação
segura, que é aquela em os riscos existentes são
considerados aceitáveis, – risco mínimo, cujas
consequências são limitadas, em virtude da ado-
ção de medidas minimizadoras, baseadas na ob-
servação de condutas de técnicas de segurança
e na experiência profissional dos envolvidos na
cena da emergência.
Os produtos perigosos podem ser classifica-
dos em agentes biológicos, radiológicos e quími-
cos. Agentes Biológicos são toxinas produzidas
por seres vivos com a capacidade de provocar
lesões, enfermidades ou a morte nos indivíduos
a eles expostos. Agentes radiológicos são corpos
que emitem radiações ionizantes que podem pro-
vocar lesões, enfermidades ou a morte nos indiví-
duos a eles expostos. Agentes químicos são ele-
mentos ou compostos que de acordo com suas

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Lição II Conceitos e Generalidades Sobre Emergências com Produtos Perigosos

AVALIANDO A LIÇÃO
1. Conceitue risco aceitável.

4. Descreva as três categorias dos Produtos


Perigosos.

2. O que é operação segura?

3. O que é produto perigoso?

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LIÇÃO III
Produtos Perigosos e suas classes
de risco

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da lição, os participantes deverão ser capazes de:


• elencar as nove classes de risco dos produtos perigosos de
acordo com a ONU;
• contextualizar as principais características de cada uma das
nove classes de risco.
Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DA ONU de 24 de junho de 2019 da ANTT. As instruções


complementares ao regulamento são dadas pela
Após a segunda guerra mundial, devido ao Resolução nº 5232 de 14 de dezembro de 2016,
crescente número de acidentes envolvendo pro- da ANTT e suas atualizações (Resolução nº 5581
dutos perigosos e à falta de padronização para de 22 de novembro de 2017 e Resolução nº 5623
identificação dos mesmos, a Organização das de 15 de dezembro de 2017, ambas da ANTT). A
Nações Unidas (ONU) criou, em 1957, uma comis- Resolução 5232 de 2016 revogou a primeira re-
são que elaborou uma relação com aproximada- solução que regulamentava as instruções com-
mente dois mil produtos químicos classificados plementares dos produtos perigosos no Brasil –
como perigosos e adotou uma numeração para a a Resolução nº 420 de 12 de fevereiro 2004, da
identificação de cada um deles, assim como sua Agência Nacional de Transporte Terrestre).
classificação de risco (SOUZA, 2005). Atribuiu a Hoje a relação de produtos perigosos da ONU
cada produto perigoso um número de quatro al- abrange mais de três mil produtos divididos em
garismos, conhecido como “número da ONU”. nove classes de risco, que, em alguns casos, po-
Existem muitas classificações diferentes para dem ser subdivididas em subclasses conforme
os materiais considerados como perigosos em quadro a seguir:
função do organismo classificador e do objeto da
classificação (processo, utilização, transporte, ar-
mazenamento etc). O Brasil adota a classificação
aceita internacionalmente pelos países integran-
tes da United Nations Environment Programme
(UNEP), traduzido “Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente” por meio do padrão de
identificação pelo número da ONU, e essa clas-
sificação foi, inicialmente, regulamentada no País
pelo Decreto nº. 96.044, de 18 de maio de 1988
– Regulamenta o Transporte de Produtos Perigo-
sos e, posteriormente por suas atualizações, das
quais a mais recente delas é a Resolução nº 5.848

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

Quadro 1 - Classes e subclasses dos produtos perigosos

Classe 1 - Explosivos Classe 3 - Líquidos inflamáveis

Substâncias e artigos de explosão Classe 4 - Sólidos inflamáveis; substâncias sujei-


Subclasse 1.1 tas a combustão espontânea; substâncias que, em
em massa
contato com água, emitem gases inflamáveis.
Substâncias e artigos com risco de
Subclasse 1.2 projeção, mas sem risco de explo- Sólidos inflamáveis, substâncias au-
são em massa Subclasse 4.1 torreagentes e explosivos sólidos
insensibilizados
Substâncias e artigos com risco de
fogo e com pequeno risco de ex- Substâncias sujeitas a combustão
Subclasse 4.2
Subclasse 1.3 plosão ou de projeção, ou ambos, espontânea
mas sem risco de explosão em
Substâncias que em contato com
massa. Subclasse 4.3
água emitem gases inflamáveis
Substâncias e artigos que não apre-
Subclasse 1.4 Classe 5 - Substâncias oxidates; peróxidos orgânicos
sentam risco significativo
Subclasse 5.1 Substâncias oxidantes
Substâncias muito insensíveis, com
Subclasse 1.5
risco de explosão em massa.
Subclasse 5.2 Peróxidos orgânicos
Substâncias extremamente insen-
Classe 6 - Substâncias tóxicas e infectantes
Subclasse 1.6 síveis, sem risco de explosão em
massa
Subclasse 6.1 Substâncias tóxicas
Classe 2 - Gases
Subclasse 6.2 Substâncias Infectantes
Subclasse 2.1 Gases inflamáveis Classe 7 - Materiais radioativos

Subclasse 2.2 Gases não inflamáveis e não tóxicos Classe 8 - Substâncias corrosivas

Subclasse 2.3 Gases tóxicos Classe 9 - Substâncias e artigos perigosos diversos


Fonte: ADAPTADO DE ABIQUIM (2015)

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

No Brasil, esta relação dos produtos perigosos Muitas substâncias da classe de risco 1 são
foi regulamentada inicialmente pela Resolução nº sensíveis a calor, choque e fricção, como azida Glossário
420 de 12 de fevereiro 2004, da Agência Nacional de chumbo, por exemplo, já outras necessitam Azida de chumbo é um composto
de Transporte Terrestre (ANTT). Atualmente essa de um agente intensificador para explodirem. De cristalino, explosivo e tóxico usa-
resolução não está mais em vigor. Foi revogada pela acordo com a velocidade e a sensibilidade dos do para confeccionar detonado-
Resolução nº 5232 de 14 de dezembro de 2016, da explosivos, podem ocorrer dois tipos de explo- res, sejam eles elétrico ou acio-
ANTT e suas atualizações (Resolução nº 5581 de 22 sões: detonação e deflagração. nados por estopins hidráulicos.
de novembro de 2017 e Resolução nº 5623 de 15 • Detonação: explosão na qual a transforma-
de dezembro de 2017, ambas da ANTT). ção química ocorre muito rapidamente, sendo
que a velocidade de expansão dos gases é muito
CLASSE 1 – EXPLOSIVOS superior à velocidade do som naquele ambiente
(da ordem de km/s), apresentando picos de so-
O explosivo é uma substância que é subme- brepressão em um curto intervalo de tempo.
tida a uma transformação química extremamen- • Deflagração: tipo de explosão onde a
te rápida, produzindo simultaneamente grandes transformação química é bem mais lenta, sen-
quantidades de gases e calor. Com o calor, os do que a velocidade de expansão dos gases é,
gases expandem-se a altíssimas velocidades des- no máximo, a velocidade do som naquele am-
locando ar circunvizinho e aumentando a pressão biente. Neste caso pode surgir a combustão.
acima da pressão atmosférica (sobrepressão).
A sobrepressão gerada a partir de uma explo-
Figura 1 - Rótulo explosivo são pode atingir valores elevados, provocando
danos destrutivos a edificações e pessoas. Nor-
malmente é expressa em bar e a tabela abaixo
apresenta alguns valores característicos de danos
às estruturas:

Fonte: ABIQUIM

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

Quadro 2 - Valores de sobrepressão preventivo, como controlar os fatores que podem


característicos de danos às estruturas gerar choque fricção e aumento de temperatura. Atenção
Sobrepressão (bar) Danos às estruturas Em casos de incêndio, além do risco iminente Lembre-se que devemos consi-
0,3 Catastróficos* de explosão, pode haver a geração de gases tó- derar 101kPa igual a 1ATM.
0,1 Graves** xicos. Nestes casos, a proteção respiratória ade-
0,03 100% de ruptura de vidros quada é o equipamento autônomo de respiração,
além de roupas especiais. Vale lembrar que em
0,01 10% de ruptura de vidros
um incêndio com explosivos, estes equipamentos
*Danos catastróficos: colapso das estruturas, o local fica
sem condições de uso. são eficientes apenas para a proteção contra ga-
**Danos graves: não comprometem a estrutura como um ses gerados pelo incêndio, e não para os efeitos
todo (rachadura, queda de telhado, porta danificada etc.).
decorrentes de uma eventual explosão.
Fonte: CBMSC Caso o atendimento seja em um local onde a
explosão já ocorreu, pode ser que nem toda car-
Vale salientar que 0,3 bar de pressão são 3 me- ga tenha sido consumida na explosão, podendo
tros de coluna d’água, um valor que normalmente existir resquícios de produtos intactos, razão pela
não provoca “danos” às pessoas, pois o homem qual a operação de remoção dos explosivos deve
não é uma estrutura rígida permitindo que o im- ser realizada sempre manualmente e com todo o
pacto seja absorvido pelo organismo. O dano cuidado requerido.
mais comum ao homem, causado por explosão, é
ruptura de tímpano e ocorre acima de 0,4 bar de CLASSE 2 – GASES
sobrepressão.
Gás é um dos estados da matéria, no qual a
ATENDIMENTO A OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO matéria tem forma e volume variáveis. Tecnica-
EXPLOSIVOS mente, gás é uma substância que:
a) a 50°C tem uma pressão de vapor superior
Por ser a explosão um fenômeno extremamen- a 300 kPa; ou
te rápido e incontrolável, as medidas a serem de- b) é completamente gasoso à temperatura de
sencadeadas durante o atendimento a acidentes 20°C e à pressão normal de 101,3 kPa.
com produtos deste tipo deverão ser de caráter

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

Caracteriza-se por baixa densidade e capa- Figura 2 - Rótulos de risco classe 2


cidade de se moverem livremente. Em um gás a
força de repulsão entre as moléculas é maior que
a de coesão. Diferente de líquidos e sólidos, seu
volume varia facilmente quando alteradas a pres- 2 2 2 2
são e/ou temperatura. Desta forma, esta classe
contempla os gases nas mais diversas condições Fonte: ABNT (2018)
conforme abaixo:
• Gases permanentes: não podem ser lique- RISCOS ASSOCIADOS À CLASSE 2
feitos à temperatura ambiente (20°C), ou seja,
são produtos com temperatura de ebulição O estado físico, por si só, representa uma gran-
bastante baixa, como o ar e o argônio; de preocupação, uma vez que gases expandem
• Gases liquefeitos: podem ser liquefeitos, até ocuparem todo o recipiente que os contém.
aumentando a pressão, à temperatura ambien- Em vazamentos, gases tendem a ocupar todo o
te (20°C) como o GLP, o cloro e a amônia; ambiente. Além disso, podem apresentar riscos
• Gases dissolvidos: dissolvidos sob pressão adicionais, como inflamabilidade, toxicidade, po-
em um solvente, como o acetileno dissolvido der de oxidação e corrosividade, entre outros.
em acetona; Os assuntos abordados neste capítulo levam
• Gases permanentes altamente refrigera- em consideração apenas os riscos inerentes ao
dos: gases permanentes armazenados à sua estado físico do produto, ou seja, não são consi-
temperatura de ebulição, como o oxigênio derados de maneira detalhada os riscos intrínse-
(temperatura de estocagem: -183ºC) e nitrogê- cos dos produtos. Ações específicas serão descri-
nio (temperatura de estocagem: -196ºC). tas nos respectivos capítulos.
Alguns gases são de fácil identificação, como
Essa classe é dividida em três subclasses: o cloro, pois apresentam odor e cor característi-
• Subclasse 2.1 - Gases inflamáveis cos. Outros, como o monóxido de carbono, não
• Subclasse 2.2 - Gases não inflamáveis e não apresentam odor ou coloração, o que pode di-
tóxicos ficultar a sua identificação na atmosfera, bem
• Subclasse 2.3 - Gases tóxicos como atrasar a ação de resposta em ocorrências.

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

Outro risco associado à classe 2 está relacio- ses, exceto o oxigênio, são asfixiantes. Grandes
nado aos gases mantidos liquefeitos que, quan- vazamentos de gases, mesmo inertes, reduzem
do liberados, tenderão a passar para seu estado o teor de oxigênio dos ambientes fechados, cau-
natural nas condições ambientais, ou seja, estado sando danos que podem culminar na morte.
gasoso. Durante essa mudança de estado, ocorre Assim, quando se tratar de vazamento em am-
uma alta expansão do produto gerando volumes biente confinado, deve-se monitorar a concentra-
gasosos muito maiores do que o volume ocupado ção de oxigênio. Quando a concentração de oxi-
pelo líquido, o que denominamos taxa de expan- gênio estiver abaixo de 19,5% em volume, deve-se
são. A taxa de expansão do cloro, por exemplo, é ventilar (de forma natural ou forçada) o local para
457, ou seja, um volume de cloro líquido gera 457 restabelecer o nível normal de oxigênio (21%).
volumes de cloro gasoso. Para reduzir a taxa de Especial atenção deve ser dada quando o gás
evaporação do produto, pode ser aplicada uma envolvido for inflamável, principalmente se esti-
camada de espuma sobre a poça, desde que seja ver confinado. Medições dos índices de explosi-
compatível com o produto vazado. vidade no ambiente (com equipamentos intrin-
Além disso, a fase líquida do produto estará a secamente seguros) e a eliminação das possíveis
uma temperatura próxima à temperatura de ebu- fontes de ignição constituem ações prioritárias a
lição do produto, ou seja, a um valor baixo sufi- serem adotadas.
ciente para que, em caso de contato com a pele, De acordo com as características do produto
provoque queimaduras. envolvido, e em função do cenário da ocorrência,
Uma propriedade físico-química relevante a pode ser necessária a aplicação de neblina de
ser considerada no atendimento a vazamentos de água para abater os gases ou vapores emanados
gases é a densidade relativa do produto. Gases pelo produto. A operação de abatimento dos ga-
mais densos que o ar, acumulam-se ao nível do ses será tanto mais eficiente, quanto maior a so-
solo e, consequentemente, terão sua dispersão lubilidade do produto em água, como é o caso
dificultada quando comparada à de gases com da amônia e do ácido clorídrico. Para os produtos
densidade próxima ou inferior à do ar. com baixa solubilidade em água, o abatimento
Mesmo gases biologicamente inertes (não são através de neblina d’água também poderá ser uti-
metabolizados pelo organismo humano) podem lizado, sendo que, neste caso, ela atuará com um
representar riscos ao homem, pois todos os ga- bloqueio físico ao deslocamento da nuvem.

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

Outro aspecto relevante nos acidentes envol- destes gases. Devido a sua natureza, apresentam
vendo produtos gasosos é a possibilidade da ocor- quatro riscos principais:
rência de incêndios ou explosões. Mesmo os reci- • Riscos à saúde humana: devido à baixa tem-
pientes contendo gases não inflamáveis podem peratura, podem provocar queimaduras ao te-
explodir em casos de incêndio. A radiação térmica cido, conhecidas por enregelamento, quando
proveniente das chamas é, muitas vezes, suficiente- do contato com líquido ou mesmo com o vapor.
mente alta para provocar um aumento da pressão Além disso, a formação de uma nuvem a par-
interna do recipiente, podendo causar sua ruptura tir de um gás criogênico sempre representará
catastrófica e, consequentemente, o seu lançamen- uma situação de risco, visto que a densidade
to a longas distâncias, causando danos às pessoas, do vapor será maior que a do ar, uma vez que a
estruturas e equipamentos próximos. temperatura é muito baixa, o que provocará o
Certas ocorrências envolvendo produtos ga- deslocamento do ar atmosférico e redução na
sosos de elevada toxicidade ou inflamabilidade, concentração de oxigênio no ambiente.
exigem que seja efetuada a evacuação da popu- • Efeitos sobre outros materiais: o simples
lação próxima ao local do acidente. contato com outros materiais poderá danifi-
A necessidade ou não da evacuação da popula- cá-los, por exemplo, o contato com tanques
ção dependerá de algumas variáveis, como o risco de armazenamento de produtos químicos,
apresentado pelo produto envolvido, a quantida- pode torná-los quebradiços acarretando no
de do produto vazado, as características físico-quí- vazamento do produto estocado. Outro efei-
micas do produto (densidade, taxa de expansão to significativo é a capacidade de solidificar
etc.), as condições meteorológicas na região, a to- ou condensar outros gases. A temperatura
pografia do local, a proximidade a áreas habitadas. de solidificação da água é de 0ºC à pressão
atmosférica, ou seja, a água presente na umi-
GASES CRIOGÊNICOS dade atmosférica poderá congelar, e se isso
ocorrer próximo a uma válvula essa apresenta-
São gases refrigerados que para serem li- rá dificuldade para a realização de manobras.
quefeitos devem ser refrigerados a temperatura Jamais se deve jogar água diretamente sobre
inferior a -150ºC. Hidrogênio (-253ºC), oxigênio um sistema de alívio ou válvulas de um tanque
(-183ºC) e metano (-161,5ºC) são alguns exemplos criogênico, nem mesmo no interior de um tan-

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

que criogênico, pois a água atuará como um portar a demanda de vapores acarretando na
objeto superaquecido, aumentando a forma- ruptura do tanque.
ção de vapores e a pressão interna do tanque. A nuvem gerada pelo vazamento de um gás crio-
• Intensificação dos riscos do estado ga- gênico será fria, invisível (a parte visível não indica
soso: o vazamento de oxigênio liquefeito, por a extensão total da nuvem), dificultará a visibilida-
exemplo, aumentará a concentração deste pro- de e tenderá a se acumular sobre o solo, pois a
duto no ambiente e poderá causar a ignição es- densidade do produto será maior que a do ar devi-
pontânea de certos materiais orgânicos. Por tal do à baixa temperatura. Desta forma, algumas re-
razão, não devem ser utilizadas roupas de ma- gras básicas deverão ser seguidas rigorosamente
terial sintético (náilon) e sim roupas de algodão. quando do atendimento a um acidente envolven-
Um aumento de 3% na concentração de oxigê- do um gás criogênico, entre as quais destacamos:
nio aumentará 100% a taxa de combustão de a) aproxime-se e trabalhe nas áreas livres do
um produto. O hidrogênio, por sua vez, pode derramamento;
impregnar-se em materiais porosos, tornando- b) evite entrar na nuvem. Se o fizer utilize rou-
-os mais inflamáveis que nas condições normais. pas herméticas não porosas, máscara autôno-
• Alta taxa de expansão na evaporação: ma de respiração, luvas de amianto ou de cou-
gases criogênicos quando expostos à tempe- ro e botas de borracha;
ratura ambiente tendem a se expandir geran- c) utilize neblina d’água para conter a nuvem
do volumes gasosos muito superiores ao vo- e jatos para resfriar os tanques expostos ao
lume de líquido inicial. Para o nitrogênio, um fogo. Não direcione água aos sistemas de alí-
litro de produto líquido gera 697 litros de gás, vio de pressão ou nas poças;
enquanto que para o oxigênio a proporção é d) evacue grandes áreas (600m) de um tanque
de 863 vezes. Desta forma, fica claro que os criogênico em chamas. Não apague o fogo a
recipientes contendo gases criogênicos jamais menos que o fluxo de gás possa ser estancado;
poderão ser aquecidos ou ter seu sistema de e) atente para estancar o vazamento, mas se
refrigeração danificado, pois pode ocorrer houver dúvida, controle a situação até que um
uma elevada pressurização do tanque, de for- técnico da empresa, com conhecimento mais
ma que os sistemas de alívio poderão não su- específico, chegue ao local.

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

CLASSE 3 - LÍQUIDOS INFLAMÁVEIS Para uma resposta mais segura às ocorrências


envolvendo líquidos inflamáveis faz-se necessário o
Líquidos inflamáveis podem ser líquidos pu- pleno conhecimento de algumas propriedades físi-
ros, mistura de líquidos ou líquidos contendo sóli- co-químicas dos mesmos, antes da adoção de quais-
dos em solução ou em suspensão, que produzem quer ações. Essas propriedades, assim como suas
vapores inflamáveis a temperaturas de até 60,5ºC respectivas aplicações, estão descritas a seguir:
em teste de vaso fechado ou até 65,6°C, em en- • Ponto de Fulgor (Flash Point): menor tem-
saio de vaso aberto, normalmente referido como peratura na qual uma substância libera vapo-
ponto de fulgor. Esta classe inclui também: res em quantidades suficientes para que a mis-
a) Líquidos oferecidos para transporte a tempera- tura de vapor e ar logo acima de sua superfície
turas iguais ou superiores a seu ponto de fulgor; propague uma chama, a partir do contato com
b) Substâncias transportadas ou oferecidas uma fonte de ignição. Considerando a tempe-
para transporte a temperaturas elevadas, em ratura ambiente de 25ºC e ocorrendo um va-
estado líquido, que desprendam vapores in- zamento de um produto com ponto de fulgor
flamáveis a temperatura igual ou inferior à de 15ºC, significa que o produto nessas condi-
temperatura máxima de transporte. ções está liberando vapores inflamáveis, bas-
tando apenas uma fonte de ignição para que
Figura 3 - Rótulo de risco líquidos inflamáveis haja a ocorrência de um incêndio ou de uma
explosão. Por outro lado, se o ponto de fulgor
do produto for de 30ºC, o líquido não estará
liberando vapores inflamáveis.
• Limites de Inflamabilidade: para um gás
3
ou vapor inflamável queimar é necessária que
Fonte: ABNT (2018) exista, além da fonte de ignição, uma mistura
chamada “ideal” entre o ar atmosférico (oxi-
Via de regra, as substâncias pertencentes a gênio) e o gás combustível. A quantidade de
esta classe são de origem orgânica, como hidro- oxigênio no ar é praticamente constante, em
carbonetos, álcoois, aldeídos, cetonas. torno de 21% em volume.

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

Já a quantidade de gás combustível necessá- Quadro 3 - Exemplos de LIE e LSE para alguns produtos
rio para a queima, varia para cada produto e está Produto LIE LSE
dimensionada através de duas constantes: o Limi- Acetileno 2,5% 80%
te Inferior de Explosividade (LIE) e o Limite Supe- Benzeno 1,3% 79%
rior de Explosividade (LSE). Etanol 3,3% 19%
O LIE é a mínima concentração de gás que,
misturada ao ar atmosférico, é capaz de provo- Fonte: CBMSC
car a combustão do produto, a partir do contato
com uma fonte de ignição. Concentrações de gás Existem atualmente equipamentos, conheci-
abaixo do LIE não são combustíveis, pois, nesta dos como “explosímetros”, capazes de medir a
condição, tem-se excesso de oxigênio e pequena porcentagem em volume no ar de um gás ou va-
quantidade do produto para a queima. Esta con- por combustível. São equipamentos blindados à
dição é chamada de “mistura pobre”. prova de explosões, o que vale dizer que, tanto
Já o LSE é a máxima concentração de gás que a combustão que ocorre em seu interior, quanto
misturada ao ar atmosférico é capaz de provocar a qualquer eventual curto-circuito em suas partes
combustão do produto, a partir de uma fonte de ig- eletrônicas não provocam explosões.
nição. Concentrações de gás acima do LSE não são Nas operações de emergência envolvendo
combustíveis, pois, nesta condição, tem-se excesso gases ou vapores combustíveis e que exijam a uti-
de produto e pequena quantidade de oxigênio para lização de explosímetro, é importante que o ope-
que a combustão ocorra, é a chamada “mistura rica”. rador tome algumas precauções básicas quanto
Os valores do LIE e LSE são geralmente for- ao seu uso adequado, tais como calibrar o apare-
necidos em porcentagens de volume tomadas a lho sempre em área não contaminada pelo gás,
aproximadamente 20ºC e 1 atm. Para qualquer realizar medições freqüentes em diversos pon-
gás, 1% em volume representa 10.000 ppm (par- tos da região atingida e em locais onde existam
tes por milhão). Pode-se então concluir que os ga- grandes quantidades de gás combustível, é con-
ses ou vapores combustíveis só queimam quando veniente que o equipamento seja calibrado após
sua percentagem em volume estiver entre os limi- cada medição, evitando assim sua saturação, o
tes (inferior e superior) de explosividade, que é a que nem sempre é percebido pelo operador.
mistura “ideal” para a combustão.

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

É importante lembrar que, assim como os Figura 4 - Rótulos de risco classe 4


equipamentos de medição, todos os demais,
como lanternas e bombas, deverão ser intrinse-
camente seguros.
Além do ponto de fulgor e do limite de infla-  4 
mabilidade, outro fator relevante a ser conside-
rado é a presença de possíveis fontes de igni- Fonte: ABNT, 2018
ção. Entre elas merecem destaque: chamas vivas,
superfícies quentes, automóveis, cigarros, faíscas De acordo com o estado físico dos produtos
por atrito e eletricidade estática. desta classe, a área atingida em decorrência de
Especial atenção deve ser dada à eletricidade um acidente é, normalmente, bastante restrita,
estática, uma vez que esta é uma fonte de ignição uma vez que sua mobilidade no meio é muito
de difícil percepção. Trata-se, na realidade, do acú- pequena quando comparada à dos gases ou lí-
mulo de cargas eletrostáticas que, por exemplo, um quidos, facilitando assim as operações a serem
caminhão-tanque adquire durante o transporte. desencadeadas para o controle da emergência.
Em função da variedade das características
CLASSE 4 - SÓLIDOS INFLAMÁVEIS; SUBSTÂNCIAS dos produtos desta classe, os mesmos estão
SUJEITAS A COMBUSTÃO ESPONTÂNEA; agrupados em três subclasses distintas, são eles:
SUBSTÂNCIAS QUE, EM CONTATO COM ÁGUA, sólidos inflamáveis, combustão espontânea, peri-
EMITEM GASES INFLAMÁVEIS goso quando molhado.

Esta classe abrange todas as substâncias sólidas SUBCLASSE 4.1 - SÓLIDOS INFLAMÁVEIS
que podem se inflamar na presença de uma fonte
de ignição, em contato com o ar ou com a água, e Sólidos combustíveis, ou que, por atrito, pos-
que não estão classificadas como explosivos. sam causar fogo ou contribuir para tal; substân-
cias auto-reagentes que possam sofrer reação
fortemente exotérmica; e explosivos sólidos in-
sensibilizados que possam explodir se não estive-
rem suficientemente diluídos. Os produtos desta

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

subclasse podem se inflamar quando expostos Figura 6 - Rótulo de risco subclasse 4.2
ao calor, choque, atrito, além, é claro, de chamas
vivas. A facilidade de combustão será tanto maior,
quanto mais “finamente” dividido o material es-
tiver. Os conceitos de ponto de fulgor e limites
4
de inflamabilidade apresentados no capítulo an-
terior, também são aplicáveis aos produtos desta Fonte: ABNT (2018)
classe. Como exemplos, podemos citar o nitrato
de uréia e o enxofre. Quando da ocorrência de um acidente envol-
vendo estes produtos, a perda da fase líquida po-
Figura 5 - Rótulo de risco subclasse 4.1 derá propiciar o contato dos mesmos com o ar e a
estanqueidade do vazamento deverá ser adotada
imediatamente. Outra ação a ser desencadeada
em caso de acidente é o lançamento de água sobre
o produto, de forma a mantê-lo constantemente

úmido, desde que o mesmo seja compatível com
Fonte: ABNT (2018) água, evitando assim sua ignição espontânea. O
fósforo branco, fósforo amarelo, e sulfeto de sódio
SUBCLASSE 4.2 - COMBUSTÃO ESPONTÂNEA são exemplos de produtos que se ignizam espon-
taneamente, quando em contato com o ar.
Nesta subclasse estão agrupados os pro-
dutos que podem se inflamar em contato com SUBCLASSE 4.3 - PERIGOSO QUANDO MOLHADO
o ar, mesmo sem a presença de uma fonte de
ignição. Devido a esta característica estes pro- As substâncias pertencentes a esta classe por
dutos são transportados, na sua maioria, em re- interação com a água podem tornar-se esponta-
cipientes com atmosferas inertes ou submersos neamente inflamáveis ou produzir gases inflamá-
em querosene ou água. veis em quantidades perigosas. O sódio metálico,
por exemplo, reage de maneira vigorosa quando
em contato como a água, liberando o gás hidro-

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

gênio que é altamente inflamável. Outro exemplo contribuir para isso. São agentes de alto poder
é o carbureto de cálcio, que por interação com a oxidante, produzem, em sua maioria, irritação
água libera acetileno. nos olhos, pele, mucosa e garganta, sendo ainda
substâncias termicamente instáveis como melhor
Figura 7 - Rótulo de Risco subclasse 4.3 descrito abaixo para cada uma das subclasses es-
pecificamente.

Figura 8 - Rótulo de risco classe 5

Fonte: ABNT (2018)

5.2 5.1 5.2


De uma maneira geral, os produtos da clas-
se 4, liberam gases tóxicos ou irritantes quan- Fonte: ABNT (2018)
do entram em combustão, principalmente os
das subclasses 4.2 e 4.3. A classe 5 está dividida em oxidantes e pe-
Pelo exposto, e associado à natureza dos even- róxidos orgânicos.
tos, as ações preventivas são de suma importân-
cia, pois quando as reações decorrentes destes SUBCLASSE 5.1 - SUBSTÂNCIAS OXIDANTES
produtos se iniciam, ocorrem de maneira rápida
e praticamente incontrolável. Um oxidante embora não sendo necessaria-
mente combustível pode, em geral, por liberação
CLASSE 5 - SUBSTÂNCIAS OXIDANTES; de oxigênio, causar a combustão de outros ma-
PERÓXIDOS ORGÂNICOS teriais ou contribuir para isso. Outra definição se-
melhante afirma que o oxidante é um material que
As substâncias desta classe são aquelas que, gera oxigênio à temperatura ambiente, ou quan-
embora não sendo necessariamente combustí- do levemente aquecido. Assim, pode-se verificar
veis, podem, em geral, por liberação de oxigê- que ambas as definições afirmam que o oxigênio
nio, causar a combustão de outros materiais ou é sempre liberado por um agente oxidante.

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

Devido à facilidade de liberação do oxigênio, duto é um poderoso agente oxidante e, em altas


estas substâncias são relativamente instáveis e concentrações, reage com a maioria dos metais,
reagem quimicamente com uma grande varieda- como Cu (cobre), Co (cobalto), Mg (magnésio), Fe
de de produtos. Apesar da grande maioria das (ferro), Pb (chumbo) entre outros, o que acarretará
substâncias oxidantes não serem inflamáveis, o sua decomposição com risco de incêndio/explosão.
simples contato delas com produtos combustí- Mesmo sem a presença de uma fonte de igni-
veis pode gerar um incêndio, mesmo sem a pre- ção, soluções de peróxido de hidrogênio em con-
sença de fontes de ignição. centrações acima de 50% em peso (200 volumes)
Outro aspecto a considerar é a grande reati- em contato com materiais combustíveis podem
vidade dos oxidantes com compostos orgânicos. causar a ignição desses produtos.
Geralmente essas reações são vigorosas, ocor-
rendo grandes liberações de calor, podendo SUBCLASSE 5.2 - PERÓXIDOS ORGÂNICOS
acarretar fogo ou explosão. Mesmo pequenos
traços de um oxidante podem causar a ignição de Os peróxidos orgânicos são agentes de alto
alguns materiais, tais como o enxofre, a terebenti- poder oxidante, sendo sujeitos à:
na, o carvão vegetal etc. • decomposição explosiva;
Com o aumento da concentração de oxigênio, • queima rápida;
além do aumento na taxa de combustão de um • sensibilidade a choque ou atrito;
produto, a quantidade necessária para a queima • reação perigosa com outras substâncias;
será menor, ou seja, o LIE é reduzido, podendo • pode causar danos aos olhos.
ocorrer ignição espontânea do produto.
Quando aquecidos, alguns produtos dessa Os produtos desta subclasse, apresentam a
subclasse, como por exemplo os nitratos e per- estrutura [-O-O-] e podem ser considerados de-
cloratos, liberam gases tóxicos que se dissol- rivados do peróxido de hidrogênio (H2O2), onde
vem na mucosa do trato respiratório, produzin- um ou ambos os átomos de hidrogênio foram
do líquidos corrosivos. substituídos por radicais orgânicos.
Como exemplo de produto oxidante, podemos Assim como os oxidantes, os peróxidos orgâ-
citar o peróxido de hidrogênio (H2O2), comercial- nicos são termicamente instáveis e podem so-
mente conhecido como água oxigenada. Este pro- frer decomposição exotérmica e autoacelerável,

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

criando o risco de explosão. Esses produtos são CLASSE 6 - SUBSTÂNCIAS TÓXICAS E INFECTANTES
também sensíveis a choque e atrito.
Quando houver necessidade de conter ou A classe 6 está dividida em substâncias tóxicas
absorver produtos oxidantes ou peróxidos or- e substâncias infectantes.
gânicos, deverá ser considerado que a maioria
deles poderá reagir com matéria orgânica e que, Figura 9 - Rótulo de risco da classe 6
portanto, nas ações de contenção/absorção não
poderá ser utilizada terra, serragem ou qual-
quer outro material incompatível. Nestes casos
recomenda-se a utilização de materiais inertes e  

umedecidos, como a areia.


Um dos métodos mais utilizados e eficientes Fonte: ABNT, 2018.
para a redução dos riscos oferecidos pelos produ-
tos da classe 5 é a diluição em água, desde que o SUBCLASSE 6.1 - SUBSTÂNCIAS TÓXICAS
produto seja compatível com a mesma. A diluição
tem por objetivo reduzir o poder oxidante e sua São substâncias capazes de provocar a morte
instabilidade. Porém, devido à solubilidade de al- ou danos à saúde humana se ingeridas, inaladas
guns desses produtos, a água de diluição deverá ou por entrarem em contato com a pele, mesmo
ser armazenada de modo a se evitar poluição. em pequenas quantidades. As vias pelas quais
Também nos casos de fogo, a água é o agen- os produtos químicos podem entrar em contato
te de extinção mais eficiente, uma vez que reti- com o nosso organismo são três: inalação, ab-
ra o calor do material em questão. A espuma e sorção cutânea e ingestão.
o CO2 serão ineficazes pois atuam com base no A inalação é a via mais rápida de entrada de
princípio da exclusão do oxigênio atmosférico, o substâncias para o interior do nosso corpo. A
que não é necessário num incêndio envolvendo grande superfície dos alvéolos pulmonares, que
substâncias oxidantes. representam num homem adulto 80 a 90 m2, fa-
cilita a absorção de gases e vapores, os quais po-
dem passar à corrente sanguínea e serem distri-
buídos a outras regiões do organismo.

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

Na absorção cutânea podemos dizer que exis- cos não fornecendo oxigênio e, dependendo das
tem duas formas das substâncias tóxicas agirem. A concentrações, podem saturar-se rapidamente.
primeira é como tóxico localizado, onde o produto Já os conjuntos autônomos de respiração a ar
em contato com a pele, age na sua superfície pro- comprimido deverão ser utilizados em ambientes
vocando uma irritação primária e localizada. A se- confinados, em situações onde o produto envol-
gunda forma é como tóxico generalizado, quando vido não esteja identificado ou em atmosferas
a substância tóxica reage com as proteínas da pele com altas concentrações de poluentes.
ou mesmo penetra através dela, atinge o sangue
e é distribuída para o nosso organismo, podendo Vale lembrar que nenhum filtro fornece oxigê-
atingir vários órgãos. Apesar da pele e a gordura nio, apenas retem o poluente de forma física (as
atuarem como uma barreira protetora do corpo, partículas ficam retidas nos poros do filtro) ou de
algumas substâncias como ácido cianídrico, mer- forma química (pela afinidade do produto que fica
cúrio e alguns defensivos agrícolas, têm a capaci- retido por interação molecular). Nesses casos, o
dade de penetrar através da pele. oxigênio respirável é do próprio ar atmosférico ex-
Ingestão é considerada uma via de ingresso terno. O filtro apenas retira uma parte dos poluen-
secundário, uma vez que tal fato somente ocorre- tes compatíveis com o filtro. Já os equipemantos
rá de forma acidental. Os efeitos gerados a partir de proteção respiratória (EPR) fornecem ar puro
de contatos com substâncias tóxicas estão rela- proveniente de um cilindro de ar comprimido.
cionados com o grau de toxicidade destas e o
tempo de exposição ou dose. Comumente, associa-se à existência de um
Em função do alto risco apresentado pelos produto num ambiente com a presença de um
produtos desta classe, durante as operações de odor. No entanto, como já foi mencionado an-
atendimento a emergências é necessária a utili- teriormente, nem sempre isso ocorre. Algumas
zação de equipamentos de proteção respirató- substâncias são inodoras, enquanto outras têm a
ria. Dentre esses equipamentos, pode-se citar as capacidade de inibir o sentido olfativo, podendo
máscaras faciais com filtros químicos e os conjun- conduzir o indivíduo a situações de risco. O gás
tos autônomos de respiração a ar comprimido. sulfídrico, por exemplo, apresenta um odor carac-
Deve-se sempre ter em mente que os filtros terístico em baixas concentrações, porém em altas
químicos apenas retém os poluentes atmosféri- concentrações pode inibir a capacidade olfativa.

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

Assim sendo, é fundamental que nas ope- mente que tenha a maior probabilidade de causar,
rações de emergência onde produtos desta num prazo de quatorze dias, a morte da metade Glossário
natureza estejam presentes, sejam realizados de um grupo de ratos albinos adultos jovens, tan- Rickettsias é um gênero de bacté-
constantes monitoramentos da concentração to machos quanto fêmeas. Geralmente é expressa rias que são carregadas como pa-
dos produtos na atmosfera. em miligramas por quilograma de massa corporal. rasitas por carrapatos, pulgas e
Os resultados obtidos nestes monitoramen- piolhos, e podem causar inúme-
tos poderão ser comparados com valores de re- A dose letal para toxicidade dérmica aguda é ras doenças.
ferência conhecidos, por exemplo, o LT - Limite a dose de substância que, ministrada por contato
de Tolerância, que é a concentração na qual um contínuo com a pele nua de coelhos albinos, por
trabalhador pode ficar exposto durante oito ho- vinte e quatro horas, tenha a maior probabilidade
ras diárias ou quarenta e oito horas semanais sem de causar, num prazo de quatorze dias, a morte de
sofrer efeitos adversos à sua saúde e, também, o metade dos animais testados.
IDLH (Immediately Dangerous to life or hearth) A concentração letal 50 (CL50) para toxicidade
que é o valor imediatamente perigoso à vida, ao aguda por inalação é a concentração de vapor, ne-
qual uma pessoa pode ficar exposta durante trin- blina ou pó que, ministrada por inalação contínua,
ta minutos sem sofrer danos à sua saúde. durante uma hora, a ratos albinos adultos jovens,
Dado o alto grau de toxicidade dos produ- machos e fêmeas, tenha a maior probabilidade de
tos da Classe 6, faz-se necessário lembrar que a provocar, num prazo de quatorze dias, a morte de
operação de contenção dos mesmos é de fun- metade dos animais testados. É, normalmente, ex-
damental importância, já que, normalmente, presso em miligramas por litro de ar para pós e
são também muito tóxicos para a vida aquática, neblinas, ou em mililitros por metro cúbico de ar
representando portanto alto potencial de risco (partes por milhão) para vapores.
para a contaminação dos corpos d’água, deven-
do ser dada atenção especial àqueles utilizados à As doses e concentrações letais são definidas
recreação, irrigação, dessedentação de animais e conforme ensaios em animais, mas seus valores
abastecimento público. podem ser utilizados como uma estimativa de ris-
A dose letal 50% (DL50) para toxicidade oral co a vida em seres humanos.
aguda é a dose de substância administrada oral-

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

SUBCLASSE 6.2 - SUBSTÂNCIAS INFECTANTES Figura 10 - Rótulo de risco da classe 7

São substâncias que contém patógenos ou


estejam sob suspeita razoável. Patógenos são RADIOATIVO III
microorganismos (incluindo bactérias, vírus, ric-
7
kettsias, parasitas, fungos) ou microorganismos
recombinantes (híbridos ou mutantes) que pos- Fonte: ABNT, 2018
sam ou estejam sob suspeita razoável de pode-
rem provocar doenças infecciosas em seres hu- Além disso, a Resolução 5232/2016 da Agência
manos ou em animais. Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) informa
Produtos biológicos que contenham, ou se que tanto o transporte quanto às exigências de fa-
considere provável que contenham, quaisquer bricação e ensaios de embalagens para as subs-
substâncias infectantes devem cumprir as exigên- tâncias radioativas serão observadas, também, as
cias aplicáveis a substâncias infectantes. normas da CNEN, Comissão Nacional de Energia
Nuclear, que é o órgão responsável pelo controle
CLASSE 7 - MATERIAIS RADIOATIVOS e fiscalização de produção, comércio e armazena-
mento de material nuclear no Brasil. Como exem-
Material radioativo, para Brasil (2009), é qual- plo de metais radioativos tem-se o césio 137, urâ-
quer material que contenha radionuclídeos, e que nio 235 e o cobalto 60, sendo estes essenciais para
a concentração da atividade, assim como a ativi- a sociedade moderna, pois são utilizados na me-
dade total na expedição excedam os valores es- dicina, em pesquisa médica e industrial e geração
pecificados em legislação. De acordo com Okuno de energia em usinas atômicas (OKUNO, 2013).
(2013) os materiais radioativos apresentam insta-
bilidade física e podem sofrer modificações em CLASSE 8 - SUBSTÂNCIAS CORROSIVAS
sua estrutura, de forma espontânea, o que ocorre
diante da transformação de elementos que emi- São substâncias que apresentam uma severa
tem energia em forma de radiação. taxa de corrosão ao aço. Evidentemente, tais ma-
teriais são capazes de provocar danos também aos

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

tecidos humanos. Basicamente, existem dois prin- água ou com compostos orgânicos.
cipais grupos de materiais que apresentam essas O contato desses produtos com a pele e os olhos Atenção
propriedades, e são conhecidos por ácidos e bases. pode causar severas queimaduras, motivo pelo qual Se o volume de água adiciona-
deverão ser utilizados equipamentos de proteção do ao produto não for suficien-
Figura 11 - Rótulo de risco da classe 8 individual compatíveis com o produto envolvido. Via te para diluí-lo a níveis seguros,
de regra, as roupas de PVC são as normalmente re- ocorrerá o agravamento da situa-
comendadas para o manuseio dos corrosivos. ção, devido ao aumento do volu-
Um dos métodos que pode ser aplicado em me da mistura.
campo para a redução dos riscos é a neutraliza-
8 ção do produto derramado. Esta técnica consiste
na adição de um produto químico, de modo a le-
Fonte: ABNT, 2018 var o pH próximo ao natural.
No caso de substâncias ácidas, os produtos
Ácidos são substâncias que em contato com a comumente utilizados para a neutralização são a
água liberam íons H+, provocando alterações de barrilha e a cal hidratada, ambas com característi-
pH para a faixa de 0 (zero) a 7 (sete). As bases são ca alcalina. A utilização da cal virgem não é reco-
substâncias que em contato com a água, liberam mendada, uma vez que sua reação com os ácidos
íons OH-, provocando alterações de pH para a é extremamente vigorosa.
faixa de 7 (sete) a 14 (quatorze). Como exemplo Antes que a neutralização seja efetuada deve-
de produtos desta classe pode-se citar o ácido rá ser recolhida a maior quantidade possível do
sulfúrico, ácido clorídrico, ácido nítrico, hidróxido produto derramado, de modo a se evitar o exces-
de sódio, hidróxido de potássio. sivo consumo de produto neutralizante e, conse-
Muitos dos produtos pertencentes a esta quentemente, a geração de grande quantidade
classe reagem com a maioria dos metais geran- de resíduos. Os resíduos provenientes da neutra-
do hidrogênio que é um gás inflamável, acarre- lização deverão ser totalmente removidos e dis-
tando assim um risco adicional. postos de forma, e em locais adequados.
Certos produtos apresentam como risco A neutralização é apenas uma das técnicas
subsidiário um alto poder oxidante, enquan- que podem ser utilizadas para a redução dos ris-
to outros podem reagir vigorosamente com a cos nas ocorrências com corrosivos. Outras téc-

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

nicas como a absorção, remoção e diluição tam- CLASSE 9 - SUBSTÂNCIAS E ARTIGOS PERIGOSOS
bém poderão ser utilizadas. A seleção do método DIVERSOS
a ser utilizado deve levar em consideração os as-
pectos de segurança e proteção ambiental. Esta classe engloba os produtos que apresen-
No caso de se optar pela neutralização do pro- tam riscos não abrangidos pelas demais classes.
duto, deve-se considerar que a mesma consiste Exemplos: Produtos classe 3082 (chorume, óleo
basicamente no lançamento de outro produto para descarte), alguns fertilizantes, raspa de asfalto.
químico no ambiente contaminado, e que pode-
rão ocorrer reações químicas paralelas àquela ne- Figura 12 - Rótulo de risco classe 9
cessária para a neutralização.
Durante as reações de neutralização, quanto
mais concentrado estiver o produto derramado,
maior será a liberação de energia em forma de
9
calor, além da possibilidade de ocorrência de
respingos, motivo pelo qual cabe reforçar a ne- Fonte: ABNT (2018)
cessidade dos técnicos envolvidos nas ações uti-
lizarem roupas de proteção adequadas durante a
realização destas atividades.
A técnica de diluição somente deverá ser utili-
zada nos casos em que não houver possibilidade
de contenção do produto derramado, e seu vo-
lume for bastante reduzido. Isto se deve ao fato
de que para se obter concentrações seguras utili-
zando este método, o volume de água necessário
será sempre muito grande, ou seja, na ordem de
1000 a 10000 vezes o volume do produto vazado.

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

RECAPITULANDO
Vimos nesta lição que os produtos perigosos
abrangem mais de três mil produtos divididos em
nove classes de risco as quais, em alguns casos,
podem ser divididas em subclasses. Cada classe
representa um risco específico e deve ser tratada
considerando sua especificidade no armazena-
mento, manipulação e fabricação. Da mesma for-
ma as particularidades devem ser lembradas em
caso de acidentes. Vimos também que as classes
que mais transitam pelas nossas rodovias são as
classes 3 - líquidos inflamáveis; Classe 8 - Subs-
tâncias corrosivas; e Classe 2 - Gases.

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Lição III Produtos Perigosos e suas Classes de Risco

AVALIANDO A LIÇÃO 3. Cite pelos menos 5 classes de risco dos produ-


tos perigosos de acordo com a classificação da
1. Cite quais são as classes de riscos 1, 3 e 6, res- Organização das Nações Unidas.
pectivamente.

2. Quais as três classes que mais trafegam pelas


rodovias do Brasil?

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LIÇÃO IV
Identificação de Produtos Perigosos

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da lição, os participantes deverão ser capazes de:


• elencar as formas de identificar um produto perigoso;
• identificar a correspondência dos números presentes no
painel de segurança;
• relacionar as cores dos rótulos de risco com o risco ofereci-
do pelo produto.
Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

FORMAS DE IDENTIFICAR UM NBR 7500 – símbolos de risco e manuseio para o


PRODUTO PERIGOSO transporte e armazenamento de materiais – que Saiba mais
apresenta ilustrações indicando a padronização As Recomendações relativas ao
Ao atender uma emergência envolvendo pro- dos rótulos de risco e painéis de segurança. transporte de mercadorias peri-
dutos perigosos, uma das primeiras ações, e tal- O Brasil segue o previsto pelo comitê de pe- gosas do inglês “Recommenda-
vez a mais importante delas, é a identificação dos ritos em segurança da ONU, que em suas “Reco- tions on the Transport of Dange-
risco e de qual ou quais produtos encontram-se mendações relativas ao transporte de mercado- rous Goods - Model Regulations,
na cena, pois a forma que iremos prestar o aten- rias perigosas” (conhecido como ORANGE BOOK) é um Regulamento Modelo que
dimento, a escolha do Equipamento de Proteção estabelece o número da ONU e o número de risco, faz parte do esforço da ONU em
Individual (EPI) que iremos utilizar e as táticas e constantes no painel de segurança, como parâme- harmonizar mundialmente o
técnicas que serão empregadas, dependem de tros para identificação dos produtos perigosos. transporte de produtos perigo-
qual produto está envolvido na emergência. A Resolução 5.232 de 2016 da ANTT diz que, sos nos diferentes modais exis-
Para identificar um produto perigoso em tanto o rótulo de risco quanto o painel de segu- tentes, aumentando a proteção
um emergência são utilizadas algumas formas rança são elementos utilizados nos veículos ou da saúde e meio ambiente e faci-
de identificação, regulamentadas pelas legisla- nos equipamentos de transporte para informar litando o comércio mundial. Este
ções brasileiras sobre o transporte rodoviário que a expedição é composta por produtos peri- Regulamento modelo é conheci-
de produtos perigosos. gosos e apresenta riscos. do como ORANGE BOOK, no Bra-
A identificação do produto perigoso e de seus Existe, ainda, uma terceira forma, que é utiliza- sil, também chamado de livro
riscos no Brasil ocorre de duas formas: pelo siste- da em instalações fixas e embalagens de produ- laranja. A Organização das Na-
ma de reconhecimento de riscos; e pela identifi- to químicos, conhecida como Diamante de Risco ções Unidas (ONU) publicou, em
cação do produto. O primeiro ocorre através dos (também conhecido como Diamante de Hommel). 2019, a 21ª edição revisada do
rótulos de risco enquanto o segundo com a visua- ORANGE BOOK.
lização do painel de segurança e/ou observando Importante frisar que o sistema de identifi- No Brasil as exigências para o
os documentos da carga. cação da ONU (painel de segurança e rótulo Transporte Terrestre de Produtos
No Brasil, quando se fala em sinalização e iden- de risco), adotado pelo Brasil, não se aplica às Perigosos estão descritas na Re-
tificação de produto perigosos deve-se consultar instalações fixas.
as exigências contidas na Resolução nº 5232 de 14 Continua na próxima página
de dezembro de 2016, da ANTT, com suas atualiza-
ções, que cumpre o estabelecido na norma ABNT

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Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

RÓTULO DE RISCO a classe de risco do produto, no entanto esta infor-


mação não é obrigatória por norma. solução nº 5.232/2016 e suas
Rótulo de risco é um “elemento que apresenta A figura 1, mostra um rótulo de risco que re- atualizações, publicadas pela
símbolos, figuras e/ou expressões emolduradas, presenta um produto inflamável como gasolina, Agência Nacional de Transportes
referentes à natureza, manuseio, riscos a identi- por exemplo, número ONU 1203. Terrestres (ANTT), e estão basea-
ficação do produto” (ABIQUIM, 2015, p.15). De das na 19ª revisão do Orange
acordo com a NBR 7500, rótulo de risco é um lo- Figura 1 - Rótulo de risco Book. Para acessar a versão origi-
sango que apresenta símbolos e/ou expressões nal do Orange Book acesse o
emolduradas, referentes à classe do produto pe- Simbolo de identificação link:https://tinyurl.com/y9ml2ack.
de risco
rigoso. Descreve que o rótulo de risco é dividido
em duas metades. A metade superior é reservada
Texto com a identificação
para o símbolo de risco e a metade inferior para LÍQUIDO
da natureza do risco
textos indicativos da natureza do risco. Número da classe ou
3 subclasse de risco
Em uma definição mais abrangente trata-se de
uma identificação visual da classe ou subclasse
de risco do produto, que tem como forma uma Fonte: ADAPTADO DE ABNT (2018)
placa em forma de losango, com símbolos, núme-
ros, cores que pode ou não conter expressões, De acordo com a Abiquim (2015) cada cor de
as quais são fixadas nas laterais e na traseira do fundo de rótulo de risco representa um risco es-
veículo ou tanque de armazenamento e também pecífico do produto conforme quadro 1 a seguir:
em embalagens de produtos perigosos.
O rótulo de risco, de forma geral, traz consigo
três informações obrigatórias por norma, das quais
pode-se identificar os riscos apresentado pelo
produto que está sendo transportado ou arma-
zenado, quais sejam: símbolo (pictograma); cor; e
número da classe de risco. Pode, ainda, trazer uma
quarta informação: uma expressão que representa

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Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

Quadro 1 - Riscos da cor do fundo do rótulo de risco Figura 2 - Cor de fundo do Rótulos de risco

Cor de fundo Classe de risco Atenção


Veículos e equipamentos de
Vermelho Inflamável GÁS
transporte a granel, que tenham
LÍQUIDO
transportado produtos perigo-
Verde Gás não tóxico e 2 3 sos, devem continuar portando
não inflamável
os rótulos de risco corresponden-
Laranja Explosivo Fonte: ABNT (2018) tes, até que sejam limpos e des-
contaminados.
Amarelo Oxidantes ou
peróxido orgânico Observamos na Figura que ambos os Rótulos de
Risco possuem a cor de fundo vermelha (produto
Preto e branco Corrosivo inflamável), no entanto apresentam classes de risco
diferentes (classe 2 - gases e classe 3 - inflamáveis).
Amarelo e branco Radioativo
É importante destacar que o Rótulo de Risco com
Vermelho e branco listrado Sólido inflamável
fundo na cor azul significa que não pode ter contato
Perigoso quando com água, É PERIGOSO QUANDO MOLHADO.
Azul
molhado
Tóxico ou substância Figura 3 - Rótulos de risco
Branco
infectante
Fonte: ADAPTADO ABIQUIM (2015)
PERIGOSO
QUANDO
Um fator importante que devemos considerar é MOLHADO

que a cor do fundo do rótulo de risco apresenta uma 

identificação do risco do produto, porém, deve-se


tomar cuidado para não confundir o risco que o pro- Fonte: ADAPTADO DE SITIVESP
duto oferece com a sua classe de risco, por exemplo,
observe os rótulos de riscos na figura 2, a seguir: A figura a seguir apresenta os rótulos de risco para
cada classe e subclasses de risco conforme NBR 7500.

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Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

Figura 4 - Rótulos de risco por classe

CLASSE 1: explosivos CLASSE 4 CLASSE 7: Materiais radioativos


Subclasse 4.1 Subclasse 4.2








sólidos inflamáveis substâncias sujeitas a
combustão espontânea RADIOATIVO I

   
7


4
RADIOATIVO II RADIOATIVO III
Físsil

CLASSE 2: gases Subclasse 4.3 7 7


substâncias sujeitas a
combustão espontânea
Subclasse 2.1 Subclasse 2.2
gases inflamáveis gases não-inflamáveis, CLASSE 8: corrosivos
não tóxicos

 

2 2 2 2

CLASSE 5
Subclasse 5.1 Subclasse 5.2 8 8
Subclasse 2.2
gases tóxicos substancias oxidantes peróxidos orgânicos

CLASSE 9: substâncias perigosas


5.1 5.2 5.2


diversas
CLASSE 6
CLASSE 3: líquidos inflamáveis Subclasse 6.1 Subclasse 6.1
substancias tóxicas substancias infecciosas

3 3
 

Fonte: CBMSC

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Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

PAINEL DE SEGURANÇA Observações importantes!


Atenção
O painel de segurança é uma placa retangular • Os painéis de segurança devem ser de cor Quando vier a letra “X” a frente
de cor alaranjada, indicativo de transporte rodo- laranja e os números de identificação de ris- do número de risco no painel de
viário de produtos perigosos, que comporta na co e do produto perigoso (número da ONU) segurança indica que é expres-
parte superior o número de identificação de risco devem ser indeléveis de cor preta. samente proibido o uso de água
do produto (número de risco) e na parte inferior • Quando o transporte for efetuado desde o no produto perigoso, pois indi-
o número de identificação do produto (número pôr do sol até o amanhecer, os painéis de- ca que o produto reage perigosa-
da ONU) (NBR 7500). Segundo Abiquim (2015), vem ser de cor laranja refletiva. mente com água.
trata-se de um retângulo de cor laranja com duas • O painel de segurança poderá não apre-
numerações na cor preta, na parte superior, o nú- sentar números, ou seja, ser todo na cor la-
mero de identificação do risco do produto quí- ranja, isto significa carga mista (mais de um
mico e na parte inferior o número da ONU, que produto sendo transportado). Glossário
identifica qual é o produto transportado confor- • O painel de segurança poderá, também, O número ONU é um número de
me podemos observar na figura 5. ser apresentado sem o número de risco, série determinado pela Organiza-
apenas com número ONU, esta situação in- ção das Nações Unidas (ONU) para
Figura 5 - Painel de segurança dica que o produto que está sendo trans- identificar produtos químicos e/
portado é um explosivo. ou que oferecem perigo à vida.
• O verso dos painéis de segurança deverá ser
Riscos subsidiários
na cor preta para evitar confusões em possíveis
Risco principal acidentes, pois, se o verso for de cor laranja,
(classe de risco)
igual a parte frontal, em um acidente em que
Proibição de água
o painel de segurança seja deslocado e cair no
X226 Número de risco chão com o verso para cima poderá se imaginar
1005 Número da ONU que o veículo está transportando carga mista.

Fonte: BRASIL (2008, P. 36)

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Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

NÚMERO DA ONU Quadro 3 - Significado dos algarismos no número de risco


SIGNIFICADO DO SIGNIFICADO
Como mencionado anteriormente, é um nú- 1º ALGARISMO DO 2º E/OU 3º
Algarismo (classe de ris- ALGARISMO
mero de 4 algarismos (sempre) padronizado pela co e/ou ris- (riscos secundários)
ONU. Fica posicionado na parte inferior do pai- co principal)
nel de segurança, que por sua vez deve ser afi- Ausência de risco
0
xada nas laterais, traseira e dianteira do veículo subsidiário
de transporte e em locais de armazenamento de 1 Explosivo
Produtos Perigosos (Resolução 5.232/2016). 2 Gás Emana gás
Líquido
3 Inflamável
NÚMERO DE RISCO Inflamável
4 Sólido inflamável Fundido
O número de risco, localizado na parte supe- Oxidante ou
rior do painel de segurança, indica a classe de 5 Oxidante
peróxido
perigo do produto perigoso, sendo constituído 6 Tóxico Tóxico
por, no mínimo, dois e no máximo, três algaris-
7 Radioativo Radioativo
mos e, se necessário, a letra “X”, que indica a
8 Corrosivo Corrosivo
proibição do uso de água no produto e é a úni-
Perigo de reação
ca letra permitida no painel de segurança. 9
violenta
Este número, segundo Brasil (2009), permite
identificar de imediato os riscos que o produto Fonte: CBMSC
oferece da seguinte forma:
a) O 1º algarismo informa a classe de risco do
produto, normalmente esse é o risco principal
do produto, com exceção dos gases que o risco
principal é apresentado no 2º e/ou 3º algarismo;
b) O 2º e/ou 3º algarismos informam os riscos
subsidiários/secundários do produto.

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Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

OBSERVE secundário apresenta número 8, que indica


que também é um produto corrosivo.
Quando o produto apresentar apenas um
risco - o principal - deverá ser colocado como Figura B - Painel de segurança peróxido de hidrogênio
2º algarismo o número zero, que indica a au-
sência de riscos secundário. Exemplo: Produ-
to Número ONU 1202 - óleo diesel (Figura A).
O número de risco dele será 30, pois o único
risco que ele apresenta é ser um líquido infla-
mável, representado pelo número 3 e o núme-
ro zero indica ausência de risco secundário. Fonte: ADAPTADO DE ABNT (2018)

Figura A - Painel de segurança óleo diesel Como citado anteriormente, o primeiro al-
garismo representa a classe de risco do pro-
duto e indica o risco principal do produto, a
única exceção à regra é no caso dos gases.
Nesses casos o risco principal do produto é
apresentado no 2º e/ou 3º algarismos, por
Fonte: ADAPTADO DE ABNT (2018) exemplo, um produto ONU 1005 - Amônia,
com número de risco 268 (Figura C). O pri-
Quando o produto apresentar dois alga- meiro algarismo indica que é um gás, no en-
rismos no número de risco, o 1º dígito será a tanto, o risco principal do produto é ser um
classe de risco - risco principal - e o 2º algaris- produto tóxico representado pelo número 6
mo será o risco secundário. Exemplo: Produto no 2º algarismo, com risco secundário de ser
Número ONU 2014 - Peróxido de hidrogênio. um produto corrosivo representado pelo nú-
O número de risco dele é 58 (Figura B), ou mero 8 no 3º algarismo.
seja, o risco principal (classe de risco) é o nú-
mero 5, que indica ser um peróxido, e o risco

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 69


Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

Saiba mais
Figura C - Painel de segurança amônia Figura D - Painel de segurança álcool etílico Para saber mais sobre as combi-
nações possíveis para o número
de risco dos produtos perigosos,
consulte o Manual de Emergên-
cias com Produtos Perigosos da
ABIQUIM (páginas 23, 24 e 25).

Fonte: ADAPTADO DE ABNT (2018) Fonte: ADAPTADO DE ABNT (2018)

A duplicação ou triplicação dos algarismos 3. Um produto que apresentar um número


significa, em linhas gerais, uma intensificação de risco 333 será, portanto, um produto al-
do aumento do risco, por exemplo: tamente inflamável - um líquido pirofórico.
1. Um produto com número de risco 30 O 1º algarismo, número 3, indica um líqui-
(óleo diesel - número ONU 1202) (Figura A) do inflamável e o 2º algarismo, repetição do
é um produto inflamável. O 1º algarismo, número 3, indica intensificação do risco pri-
número 3, indica um líquido inflamável e o mário e novamente a repetição do número 3
2º algarismo, número zero, indica ausência como 3º algarismo intensifica, sobremanei-
de riscos secundários. ra, o risco de inflamabilidade do produto.
2. Um produto com número de risco 33 (ál-
cool etílico - número ONU 1170) (Figura D)
é um produto muito inflamável. O 1º algaris-
mo, número 3, indica um líquido inflamável
e o 2º algarismo, repetição do número 3, in-
dica indica intensificação do risco primário.

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Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

DOCUMENTOS DA CARGA DOCUMENTO COMPLEMENTAR

O transportador de produtos perigosos, de Além do documento fiscal para transporte de


acordo com a resolução 5232 de 14 de dezem- produtos perigosos contendo as informações exi-
bro 2016 da ANTT, tem a obrigação de estar gidas, veículos ou equipamentos de transporte de
sempre portando a nota fiscal do produto du- carga que estejam transportando produtos peri-
rante o transporte. É obrigatório, também, por- gosos, somente podem circular pelas vias públicas
tar uma série de documentações complemen- acompanhados de documentos complementares
tares, descritos abaixo. dos quais destacamos os mais relevantes:
a) certificado de inspeção original dos veí-
NOTA FISCAL culos e dos equipamentos destinados ao
transporte de produtos perigosos a granel,
O documento fiscal para transporte de produ- expedido pelo Inmetro ou entidade por ele
tos perigosos deve conter, para cada substância, acreditada;
produto ou artigo a ser transportado, algumas in- b) documento comprobatório da qualifica-
formações das quais destaca-se: ção do motorista, previsto em legislação de
a) o número ONU, precedido das letras “UN’ trânsito atestando a aprovação em curso es-
ou “ONU”; pecializado para condutores de transporte ro-
b) o nome apropriado do produto para em- doviário de produtos perigosos;
barque; c) Ficha de emergência com informações
c) o número da classe de risco Principal, ou sobre o produto, de forma que auxilie as
quando aplicável, da Subclasse de Risco; ações de atendimento caso ocorra qualquer
d) o grupo de embalagens correspondente a acidente ou incidente, contendo instruções
substância ou artigo; fornecidas pelo expedidor. As exigências da
e) a quantidade total de produto perigoso ficha de emergência estão contidas na norma
abrangido pela descrição (em volume, mas- ABNT NBR 7503/2017.
sa, ou conteúdo líquido de explosivo, con-
forme apropriado.

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Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

DIAMANTE DE RISCO Não é oficialmente utilizado no Brasil, entre-


tanto, é constantemente encontrado em emba-
O sistema de identificação da ONU (painel de lagens de produtos importados e amplamente
segurança e rótulo de risco) não se aplica às ins- usado nas empresas que utilizam produtos peri-
talações fixas, sejam em indústrias, terminais de gosos no País, por isso, a importância de conhe-
carga e armazéns. Desta forma, os Estados Unidos cer esse sistema, diante da possibilidade de en-
da América desenvolveram um sistema de identi- contrar esta simbologia durante o atendimento a
ficação alinhado com sua norma internacional da uma emergência envolvendo produto perigoso.
Associação Nacional de Proteção Contra Incên- O Diamante de Risco é um diagrama o qual dá
dios (National Fire Protection Association - NFPA uma noção geral das ameaças inerentes a cada
704 M), chamado Diamante de Risco ou Diamante produto químico. Permite uma rápida identifica-
de Hommel, como também conhecido, para ins- ção do produto quando encontrado em um local
talações fixas, como depósitos com tanques de de armazenagem ou recipientes pequenos indi-
armazenagem, tambores, vagões ferroviários e re- cando as ameaças em três categorias: saúde, in-
cipientes pequenos, outros tipos de embalagens flamabilidade e reatividade. Aponta o grau de
transportadas no comércio normal, não sendo uti- severidade de cada umas das categorias citadas
lizados nos transportes rodoviários (BRASIL, 2009). em cinco níveis numéricos que vão do 4 (quatro)
que é o mais severo até o 0 (zero) que é o me-
Figura 6 - Diamente de risco nos severo. Indica, ainda, riscos específicos, tais
como: oxidante, corrosivo, reativo a água e ra-

2
dioatividade, conforme Figura 7 (BRASIL, 2009).

3 3
w
Fonte: CBMSC

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Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

Figura 7 - Esquema da classificação de risco do diamante Os riscos representados no Diamante de Hom-


de Hommel mel são os seguintes:

VERMELHO - INFLAMABILIDADE, onde os ris-


INFLAMABILIDADE cos são os seguintes:
4 - Gases inflamáveis, líquidos muito voláteis,
materiais pirotécnicos
RISCOS À REATIVIDADE 3 - Produtos que entram em ignição a tempe-
SAÚDE ratura ambiente
2 - Produtos que entram em ignição quando
RISCOS
ESPECÍFICOS aquecidos moderadamente
1 - Produtos que precisam ser aquecidos para
entrar em ignição
0 - Produtos que não queimam
RISCOS À SAÚDE INFLAMABILIDADE

4. Extremo 4. PE < 23˚C AZUL - PERIGO PARA SAÚDE, onde os riscos


3. Sério 3. PF 23˚C a 38˚C ou são os seguintes:
2. Moderado PF < 23˚C/Peb >36˚C
2. PF 38˚C e 93˚C
4 - Produto letal
1. Suave
0. Mínimo 1. PF ≥ 93˚C 3 - Produto severamente perigoso
0. Não inflamável 2 - Produto moderadamente perigoso
RISCOS ESPECÍFICOS REATIVIDADE
1 - Produto levemente perigoso
0 - Produto não perigoso ou de risco mínimo
OXX - Oxidante 4. Pode explodir subitamente
ACID - Ácidos 3. Pode explodir em caso de
ALK - Álcalis choque ou aquecimento AMARELO - REATIVIDADE, onde os riscos são
CRO - Corrosivo 2. Instável em caso de os seguintes:
CRYO - Criogênico mudança química violenta
W - Não use água 1. Instável quando aquecido 4 - Capaz de detonação ou decomposição
- Radioativo 0. Instável com explosão a temperatura ambiente
- Risco biológico

Fonte: CBMSC

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 73


Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

3 - Capaz de detonação ou decomposição • Na dianteira: um painel de segurança posi-


com explosão quando exposto a fonte cionado do lado esquerdo (lado do motorista).
de energia severa • Na traseira: o mesmo painel de segurança,
2 - Reação química violenta possível quando também do lado esquerdo e o rótulo do risco
exposto a temperaturas e/ou principal do produto.
pressões elevadas • Nas laterais: o mesmo painel de segurança
1 - Normalmente estável, porém pode se tor- juntamente com o rótulo do risco principal po-
nar instável quando aquecido sicionados do centro para a traseira, em qual-
0 - Normalmente estável quer lugar visível.

SINALIZAÇÃO DOS VEÍCULOS Figura 8 - Sinalização do veículos com um único produto

DE TRANSPORTE DE PRODUTOS Perigoso


Sinalização lateral
PERIGOSOS
Durante as operações de carga, transporte,
descarga, transbordo, limpeza e descontamina-
ção, os veículos e equipamentos utilizados no
transporte de produtos perigosos deverão portar Sinalização dianteira

Painéis de Segurança e Rótulos de Risco específi-


cos, de acordo com as normas.

TRANSPORTE A GRANEL
Sinalização traseira

O transporte a granel pode ser feito de um


único produto ou de produtos diversos, e para ou
cada caso teremos uma forma de identificação
diferente que veremos a seguir.
De um único produto na mesma unidade
de transporte: Fonte: CBMSC

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 74


Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

De produtos diferentes na mesma unidade Transporte de carga embalada:


de transporte: • Na dianteira: um painel de segurança posi-
• Na dianteira: um Painel de Segurança sem o cionado do lado esquerdo (lado do motorista).
Número de Risco e sem o número ONU. • Na traseira: o mesmo painel de segurança,
• Na traseira: um Painel de Segurança idênti- também do lado esquerdo e o rótulo do risco
co ao da dianteira e tantos Rótulos de Riscos principal do produto.
quantos forem os riscos principais dos produ- • Nas laterais: o mesmo painel de segurança
tos transportados. juntamente com o rótulo do risco principal po-
• Nas laterais de cada tanque ou comparti- sicionados do centro para a traseira, em qual-
mento distinto: um Painel de Segurança com quer lugar visível.
os números de identificação e o Rótulo de Ris-
co correspondente ao produto transportado. IDENTIFICAÇÃO DE DUTOS

Figura 9 - Sinalização do veículo com diferentes produtos Outra situação emergencial possível de se de-
Perigosos parar é a emergência com produtos perigosos
transportados através de dutos, quer seja nas in-
60 60 60
dústrias, quer seja nas dutovias. Neste caso, de-
1891 1888
vemos identificar o produto baseado nas cores
1846

dos mesmos, que seguem normas da ABNT, do


Ministério do trabalho ou da PETROBRÁS.
No caso de instalações industriais, a norma ado-
tada é a NBR 6493 da ABNT, cujo título é “O Em-
prego de Cores Fundamentais para Tubulações
Industriais”. Há também a NR-26 “Sinalização de
Segurança (Cor na Segurança do Trabalho)”. Esta
ou
NR tem por objetivo fixar as cores que devem ser
usadas nos locais de trabalho para a prevenção de
acidentes, identificando os equipamentos de segu-
Fonte: CBMSC rança, delimitando áreas, identificando as canaliza-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 75


Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

ções empregadas nas indústrias para a condução As canalizações industriais, para a condução
de líquidos e gases e advertindo contra riscos. de líquidos e gases, deverão receber a aplicação
As cores adotadas e previstas na NBR de cores, em toda sua extensão, a fim de facilitar
6493/2019 são as seguintes: vermelho, amarelo, a identificação do produto e evitar acidentes.
branco, preto, azul, verde, alaranjado, cinza, alu- O sentido de transporte do fluído, quando ne-
mínio e marrom. cessário, será indicado por meio de seta pintada em
• Vermelho: água e outras substâncias a com- cor de contraste sobre a cor básica da tubulação.
bater incêndio;
• Amarelo: em canalizações, deve-se utilizá- Atente-se para as normas citadas, elas podem
-los para identificar gases não liquefeitos; trazer diferentes significado para as cores em
• Branco: Vapor; tubulações.
• Preto: empregado para indicar as canaliza-
ções de inflamáveis e combustíveis de alta vis-
cosidade (Exemplo: óleo lubrificante, asfalto,
óleo combustível, alcatrão, piche);
• Azul: canalização de ar comprimido;
• Verde: canalizações de água, exceto as des-
tinadas a combate a incêndio;
• Alaranjado: canalizações para produtos quí-
micos não gasosos;
• Cinza Claro: canalizações em vácuo;
• Cinza Escuro: identificar eletrodutos;
• Alumínio: utilizado em canalizações contendo
gases liquefeitos, líquidos inflamáveis e combus-
tíveis de baixa viscosidade (Exemplo: óleo diesel,
gasolina, querosene, óleo lubrificante, solventes);
• Marrom: materiais fragmentados (minérios),
petróleo bruto).

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 76


Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

RECAPITULANDO
Um dos fatores mais importantes ao chegar em
uma ocorrência envolvendo Produtos Perigosos é
a identificação do produto e para isso possuímos
três formas estabelecidas por normas brasileiras
são elas: Painel de Segurança, Rótulo de Risco e
Documentos da Carga. Ainda podemos contar
com o Diamante de Risco, que é muito utilizado
em identificação de embalagens e também em
locais de armazenamentos.
Em veículos de transporte a granel essas iden-
tificações deverão vir na dianteira, traseira e nas
laterais do veículo, sendo que existem formas di-
ferentes quando tratamos de transporte de um
único produto e de quando são produtos diversos.
Podemos nos deparar também com produ-
tos transportados em dutos, seja em dutovias
ou em industrias. Os dutos são identificados
com cores diferentes sendo as seguintes: ver-
melho, amarelo, branco, preto, azul, verde, la-
ranja, cinza, alumínio e marrom.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 77


Lição IV Identificação de Produtos Perigosos

AVALIAÇÃO DA LIÇÃO 3. Quais são os documentos de porte obrigatório


quando se trata de transporte de produtos
1. Quais são as três formas de identificar um perigosos?
produto perigoso?

2. O que significa o número superior no painel


de segurança? E na parte inferior?

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 78


LIÇÃO V
Documentos de referência para o
atendimento a emergências com
produtos perigosos

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da lição, os participantes deverão ser capazes de:


• localizar um produto perigoso pelo número da ONU no Ma-
nual da ABIQUIM;
• encontrar um produto perigoso pelo nome no Manual da
ABIQUIM;
• encontrar as recomendações iniciais para uso em uma emer-
gência com produtos perigosos nas páginas laranja do ma-
nual da ABIQUIM.
Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

O Corpo de Bombeiro Militar de Santa Cata- MANUAL PARA ATENDIMENTO DE Saiba mais
rina ao atender uma emergência na qual esteja EMERGÊNCIAS COM PRODUTOS O manual da ABIQUIM foi adaptado do
envolvido um produto perigoso utiliza como base manual desenvolvido pelo departamen-
de referência para o atendimento o manual para
PERIGOSOS DA ABIQUIM to de transportes dos Estados Unidos,
atendimento a emergências com produtos peri- As ocorrências que envolvem produtos peri- sendo adequado pela ABIQUIM ao Bra-
gosos da Associação Brasileira da Indústria Quí- gos não são corriqueiras e, por vezes, necessi- sil, visando direcionar os atendimentos
mica (ABIQUIM). Com uma possível evolução do tam de orientações específicas para cada atendi- às características dos produtos quími-
incidente é provável que seja necessário um ma- mento, considerando as peculiaridades de cada cos que são produzidos e transportados
terial mais específico e completo sobre o produto um, dos mais de três mil produtos catalogados em solo brasileiro (SENASP). O manual
envolvido no acidente, para isso é recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Es- americano é o Guia de Resposta a Emer-
a utilização da Ficha de Informações de Seguran- sas orientações levam em conta os riscos destes gência do inglês – Emergency Respon-
ça de Produtos Químicos (FISPQ). produtos para que seja iniciado o atendimento se Guidebook (ERG), com última versão
Em se tratando de operações de fiscaliza- pela primeira equipe de resposta que chega a atualizada em 2016. Trata-se de um ma-
ção no transporte rodoviário de produtos pe- cena da emergência. nual dirigido aos responsáveis pelas pri-
rigosos, recomenda-se a utilização do Manual O manual da ABIQUIM contém informações meiras respostas durante a fase inicial
de Autoproteção para o Manuseio e Transpor- importantes como as formas de identificar o de um acidente envolvendo o transpor-
te de Produtos Perigosos que está em sua 14º produto envolvido no acidente, o número ONU te de produtos perigosos. Fornece dire-
Edição (Manual PP14), nele, está contido uma do produto, além de orientação para aplicação trizes para uma rápida identificação dos
série de regulamentações e legislações no de medidas iniciais de segurança tanto para procedimentos de resposta de emer-
que tange ao transporte de produtos perigo- equipes de trabalho quanto para as pessoas na gência para acidentes no transporte de
sos que devem ser observadas. cena da emergência. produtos perigosos durante a fase críti-
ca, logo nos primeiros 30 minutos após
o acidente. O ERG é aplicado, principal-
mente, nos Estados Unidos, Canadá e
México, no entanto, outros países, como
o Chile, o utilizam como base para nor-
tear os atendimentos.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 80


Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

Figura 1 -Manual ABIQUIM De acordo com ABIQUIM (2015, p. 2),


O manual de atendimento a emergências com Atenção
produtos perigosos reúne informações que O atual manual para atendimen-
podem auxiliar os envolvidos em situações de to a emergências com produtos
emergência com produtos químicos no transpor- perigosos da ABIQUIM está em
te terrestre. Dentro de certos limites, ele também sua 7ª Edição, revisada e atuali-
pode ser um instrumento valioso na orientação zada no ano 2015. Seu conteúdo
das ações iniciais em instalações fixas, como de- tem como base o documento de
pósitos de produtos ou terminais de carga. orientações da ONU para trans-
porte terrestre de produtos peri-
Lançado pela ABIQUIM em 1989, o manual é gosos (ORANGE BOOK- Livro La-
adotado como referência por várias instituições ranja) 17ª Edição, o Emergency
Fonte: ABIQUIM (2015) como Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária, Response Guidebook (ERG), ver-
Defesa Civil e outras equipe que atendem a este são 2012 do U.S Departament
O manual para atendimento a emergências tipo de ocorrência. of Transportation (DOT) e a Re-
com produtos perigosos da ABIQUIM tem por ob- Em síntese, o manual nada mais é do que uma solução 420, de 12 de feverei-
jetivo orientar a resposta à emergência, servindo fonte de informação inicial para utilização, prin- ro de 2004, da Agência Nacional
como fonte de consulta prática, objetiva e siste- cipalmente, nos primeiros 30 minutos do aciden- de Transportes Terrestres (ANTT)
mática que fornece as várias providências a serem te. Sua utilização é recomendada para orientar as e suas atualizações. Frisamos
adotadas para facilitar o atendimento pelas equi- primeiras medidas na cena da emergência, até que a Resolução 420, de 2004,
pes de resposta que primeiro chegarem ao local. É a chegada de uma equipe especializada, evitan- da ANTT, foi revogada pela Reso-
voltado para o transporte rodoviário com produtos do riscos e a tomada de decisões incorretas. Boa lução 5232, de 14 de dezembro
perigosos, podendo servir de fonte de consulta em parte das intervenções em acidentes com produ- de 2016 posteriormente a pu-
acidentes químicos também em locais de armaze- tos perigosos, no que tange riscos a vida humana, blicação do atual manual (ABI-
namento, porém, nesses casos, deve se contar com são resolvidas nos instantes iniciais da ocorrência QUIM, 2015).
o conhecimento e experiência de um especialista através das orientações do manual.
em produtos perigosos (BRASIL, 2009). O Manual da ABIQUIM está dividido em cinco
seções, cada qual definida por uma cor específi-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 81


Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

ca na borda da página para facilitar sua utilização. Figura 2 - Seção amarela do manual ABIQUIM
Cada cor representa um objetivo, uma função di- Atenção
ferente no manual. As seções e suas característi- Observe que a relação dos produ-
cas serão abordadas a seguir. tos com números ONU entre 0001
e 1000 não constam na relação,
SEÇÃO AMARELA: RELAÇÃO NUMÉRICA DOS pois estes são produtos utilizados
PRODUTOS PERIGOSOS para explosivos da classe 1 e pos-
suem um controle diferenciado.
Nessa seção é encontrada a relação de pro-
dutos considerados como perigosos pela reso-
lução ANTT 420 de 2004 e suas atualizações re-
comendadas pela 17ª Edição da ONU (Orange
Book), por ordem numérica e crescente, ini- Fonte: ABIQUIM (2015)
ciando-se pelo produto de número ONU 1001
até o número ONU 3506. SEÇÃO AZUL: RELAÇÃO ALFABÉTICA DOS
O objetivo da relação numérica nas páginas PRODUTOS PERIGOSOS
de bordas amarelas é possibilitar que o guia de
emergência seja identificado a partir do número Na seção azul é encontrada a relação de pro-
ONU do produto. A relação inclui além do núme- dutos considerados como perigosos pela resolu-
ro ONU, também a classe de risco do produto, ção ANTT 420 de 2004 e suas atualizações reco-
o número do guia de emergência e o nome do mendadas pela 17ª Edição da ONU por ordem
produto, conforme Figura 2. alfabética. Todos os produtos listados na seção
azul também são encontrados na seção amarela,
a diferença é a ordem como estão dispostos.
O objetivo da relação alfabética nas páginas
de bordas azuis é possibilitar que o guia de emer-
gência seja identificado a partir do nome do pro-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 82


Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

duto. A relação inclui, além do nome do produto, 4). Cada guia foi concebida para aplicação a um
também o número ONU, a classe de risco e o nú- grupo de substâncias que possuem característi-
mero do guia de emergência, conforme Figura 3. cas químicas e perigos similares.

Figura 3 - Seção azul do manual ABIQUIM Figura 4 - Seção laranja do manual ABIQUIM

Fonte: ABIQUIM (2015)

SEÇÃO LARANJA: RELAÇÃO DAS GUIAS DE


ORIENTAÇÕES EM CASO DE EMERGÊNCIA Fonte: ABIQUIM (2015)

A seção laranja é uma importante seção do De posse do número da ONU ou o nome do


manual. Ela contém as guias com as recomenda- produto perigoso, você deve consultar as pági-
ções iniciais de segurança aplicáveis a situações nas amarelas ou azuis, respectivamente, do Ma-
específicas de emergência, ou seja, contém infor- nual de Emergência da ABIQUIM e ao encontrar o
mações sobre os procedimentos a serem ado- produto no manual busca-se a coluna GUIA. Esta
tados no início da operação quando houver coluna indicará um número de guia nas páginas
um produto perigoso envolvido. São 62 guias, laranjas que deverá ser consultado.
apresentadas no formato de duas páginas (Figura

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Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

Cada guia apresenta informações sobre os SEÇÃO VERDE: PRODUTOS QUE REAGEM COM
Perigos Potenciais e Segurança Pública, na pá- ÁGUA OU SUBSTÂNCIAS TÓXICAS SE INALADAS.
gina esquerda e Ação de emergência na página
do lado direito (ABIQUIM, 2015). Nesta seção se encontra uma relação de pro-
• Perigos potenciais: Guia que contém infor- dutos perigosos que estão destacados pela cor
mações com relação aos perigos decorrentes verde nas seções amarela e azul do Manual de
de fogo ou explosão e a perigos à saúde em Emergência. Por exemplo o produto cloro, núme-
caso de exposição. O perigo maior é listado ro da ONU 1017. Estes produtos têm certa peculia-
primeiro. A equipe de atendimento deve con- ridade, necessitam de uma atenção especial, pois
sultar primeiro esta seção. Desta forma será são produtos que reagem com água (formando
mais fácil tomar decisões sobre a proteção da outros produtos gasosos nocivos à saúde) ou são
equipe no local e da população. substâncias que, por si só, são tóxicas se inaladas.
• Segurança pública: Guia que apresenta Em outras palavras, quer dizer que na relação
informações sobre o isolamento imediato do de produtos perigosos contidos nas páginas de
local do incidente, recomendações quanto às bordas amarela e azul há diversos nomes destaca-
vestimentas de proteção e equipamento de dos com um tarja verde, isto identifica que o pro-
proteção. Também sobre as distâncias de eva- duto reage com água (formando outros produtos
cuação em caso de pequenos ou grandes der- gasosos nocivos à saúde) ou é tóxico por inalação.
ramamentos e para situação de incêndio. Se no uso do manual for identificada essa situação
• Ação de emergência: Neste guia são as- deverá ser consultada a seção verde do manual.
sinaladas as precauções especiais em caso Nas últimas páginas da seção verde do manual
de fogo, vazamento ou derramamentos e da ABIQUIM pode-se encontrar o rol de produtos
exposição às substâncias químicas, incluindo que reagem com água destacados em verde nas
recomendações sobre as ações de primeiros seções amarela e azul (Figura 5).
socorros a serem realizadas enquanto é aguar-
dada a ajuda especializada.

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Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

Figura 5 - Seção verde do manual ABIQUIM Figura 6 - Orientações de distâncias

Fonte: ABIQUIM, 2015


Fonte: ABIQUIM (2015)
A distância de isolamento inicial é medida em
Se o produto destacado anteriormente em todas as direções (raio), desde a fonte do derra-
verde nas seções amarela e azul do manual, não mamento ocorrido conforme distância contida no
estiver presente na relação contida nas últimas manual. Ela é definida como um círculo (zona de
página da seção verde, então ele é um produto isolamento inicial) dentro do qual há o risco de ex-
que não reage com água, no entanto, é, por si posição a concentrações tóxicas. Essa área deve
só, um produto tóxico se inalado, ou seja, no- ser considerada de extremo perigo para a saúde
civo à saúde, e está presente nas páginas iniciais das pessoas. A equipe de atendimento deve con-
da seção verde do manual - figura 6. Nessas pá- siderar prioritária a evacuação dessa área.
ginas estão as orientações quanto às distâncias Quanto à distância de ação protetora, esta de-
em metros para isolamento e ação de proteção pende do tamanho do derramamento do produ-
(evacuação) inicial do local do acidente referente to perigoso, assim como, se o derramamento se
ao produto envolvido. deu durante o dia ou durante a noite, conforme
tabela apresentada na figura 6, retirada do ma-

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Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

nual da ABIQUIM. A tabela fornece a distância a a) Substâncias líquidas ou sólidas (pós ou Saiba mais
favor do vento para qual a área de proteção deve granulados): consideramos pequeno vaza- Com avanço da tecnologia e ino-
ser considerada. Por motivos práticos, a área de mento os que apresentam único recipiente vação, temos diversos aplicati-
ação protetora é um quadrado cuja extensão e de até 200 litros ou tanque maior que possa vos que trazem informações im-
largura é a mesma que a distância a favor do ven- formar uma deposição de até 15 metros de portantes para o atendimento de
to como mostrado na figura 7. diâmetro. são considerados grande vazamen- uma emergência com produtos
to aqueles com volume maior que 200 litros, perigosos. Destaca-se o aplicati-
Figura 7 - Isolamento e área de proteção grande volume de produtos provenientes de vo disponibilizado gratuitamente
um único recipiente ou diversos vazamen- pela ABIQUIM destinado à consul-
tos simultâneos que formem uma deposição ta de informações sobre rótulos
maior que 15 metros de diâmetro. de risco e produtos químicos e
b) Substâncias gasosas: devemos conside- biológicos, considerados perigo-
rar todos os vazamentos com gases como sos. Este aplicativo foi baseado no
sendo grandes. Regulamento de Transporte Ter-
restre de Produtos Perigosos da
Caso seja um produto elencado na seção ver- ANTT e na NBR 7500 da ABNT. O
de, utilize as informações de isolamento e pro- aplicativo está disponível para vá-
teção contidas na própria seção. Dirija todas as rios sistemas operacionais, sen-
pessoas para longe do vazamento, seguindo a do uma ferramenta bastante in-
direção contrária a do vento. teressante, entretanto, não deve
Fonte: ABIQUIM (2015) substituir o manual da ABIQUIM
SEÇÃO BRANCA: ORIENTAÇÕES E INFORMAÇÕES nas viaturas e sim servir como um
Após identificar o produto perigoso e tomar meio facilitador para acesso a in-
as medidas iniciais de emergência, faz-se neces- Nessa seção são encontradas orientações de formações sobre o produto peri-
sário determinar o tamanho do vazamento: se o como deve ser utilizado o manual. O manual é goso envolvido no incidente.
vazamento é grande ou pequeno. Segundo ABI- auto explicativo e didático, desta forma, nesta se- Podemos ainda encontrar ou-
QUIM (2015), devemos classificar os vazamentos ção encontram-se conceitos, informações e con- tros aplicativos interessantes
do seguinte modo: teúdo sobre ocorrências envolvendo produtos tais como WISER e o CAMEO
perigosos de modo geral. CHEMICALS.

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Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

Não sendo possível identificar o produto peri- FICHA DE INFORMAÇÕES DE


goso envolvido no acidente, através do número da SEGURANÇA DE PRODUTO QUÍMICO Saiba mais
ONU ou nome do produto perigoso, existe uma Além dos aplicativos a Pró-Quí-
alternativa que é você verificar o rótulo de risco A Ficha de Informações de Segurança de Pro- mica disponibiliza uma Central
do produto perigoso. No Manual de Emergências dutos Químicos (FISPQ) é um documento criado de Emergências 24H que atende
da ABIQUIM existem páginas de rótulos de risco para normalizar dados sobre a propriedade e em todo o território nacial com
(Figura 8) com seus guias correspondentes, locali- riscos inerentes de compostos químicos e mis- atendimento gratuito pelo nú-
zadas no começo do manual na seção branca. Se, turas. As instruções de elaboração e modelo de mero 0800 11 8270.
também, não for possível identificar o rótulo de FISPQ no Brasil são definidas pela norma ABNT
risco do produto deverá se utilizar a Guia 111. Esta NBR14725 - Parte 4.
é uma guia geral para produto não identificado ou
quando a carga for mista. A FISPQ é responsável por normatizar informa- Atenção
ções que obrigatoriamente devem aparecer nas A FISPQ tem de ser mantida sem-
Figura 8 - Página rótulos de risco embalagens de qualquer produto que contenha pre atualizada. As revisões devem
produto químico, de modo que o consumidor te- sempre ocorrer no caso de altera-
nha conhecimento a respeito de todos os riscos ções na composição do produto
envolvidos em sua utilização. As embalagens tam- químico que impliquem alteração
bém devem informar os procedimentos de segu- na sua classificação de perigo ou
rança e manuseio adequados, indicando a melhor quando houver alteração da iden-
forma de manuseio, transporte e descarte. Por se tificação da empresa e nome do
tratar de um documento com informações técni- produto. Entretanto, a ABNT NBR
cas, normalmente quem o utiliza são profissionais 14725 não estabelece periodici-
técnicos. Seu conteúdo objetiva desenvolver ava- dade fixa para a revisão das FIS-
liações de risco que permite a aplicação de um PQ, salvos nos casos citados.
programa ativo de segurança, saúde e meio am-
biente, incluindo treinamentos aos usuários dos
produtos. Contudo, em suma, o maior objetivo é
Fonte: ABQUIM (2015) evitar acidentes de trabalho, doméstico ou qual-
quer tipo de dano à saúde das pessoas.

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Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

Segundo o Decreto 2657, de 03 de julho de Diante disto, deve utilizar a FISPQ do produto
1998 e a Portaria no 229, de 24 de maio de 2011 envolvido no acidente como base de consulta a
do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), informações do produto nos casos de ocorrên-
todo produto químico classificado como perigo- cias mais graves, nos quais não tenha sido possí-
so, deve possuir a FISPQ. A FISPQ também será vel o controle do incidente baseado apenas nas
exigida para produto químico não classificado recomendações do manual da ABIQUIM.
como perigoso, mas cujos usos previstos ou re-
comendados derem origem a riscos à segurança MANUAL DE AUTOPROTEÇÃO PARA
e saúde dos trabalhadores, como materiais diver- PRODUTOS PERIGOSOS
sos que ao serem manipulados e cortados gerem
poeiras ou voláteis passíveis de serem inspirados O Manual de Autoproteção para o Manuseio
ou substâncias absorvidas pela pele. e Transporte de Produtos Perigosos e Contro-
A FISPQ possui 16 seções obrigatórias, nas lados (Manual PP14) é o mais completo manual
quais são encontradas informações importantes em circulação no Brasil com a relação de normas
para o Corpo de Bombeiro Militar, órgão de res- técnicas, legislações, portarias e orientações re-
posta a incidentes envolvendo produtos perigo- ferente à atividade de produtos perigosos. Torna
sos, dos quais destaca-se: a atividade do profissional que atua neste setor
• limite de exposição (para efeitos toxicológicos); de transporte e manuseio de produtos perigo-
• como descartar resíduos do produto; sos ainda mais segura. Ele unifica os pilares que
• identificação dos perigos; regem a atividade, centralizando as informações
• como minimizar os riscos; em um único lugar, como decretos, leis, resolu-
• quais Equipamentos de Proteção Individual ções, portarias e normas técnicas.
(EPI) devem ser utilizados; O manual tem utilidade no que tange a ope-
• se o produto é classificado como perigoso rações de fiscalização do transporte rodoviário de
para o transporte; produtos perigosos. A seguir observe a relação da
• recomendações de emergência em caso in- gama de informações contempladas pelo manual:
cêndio, ingestão, derramamento ou vazamento. • Legislação de transporte de Produtos Pe-
rigosos

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Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

• Legislação de trânsito
• Legislação de transporte rodoviário
• Legislação de transporte ferroviário
• Legislação ambiental
• Produtos controlados pela Polícia Federal
• Produtos controlados pelo Exército (R-105)
• Legislação municipal
• Legislação do INMETRO
• Principais normas da ABNT
• Documento de porte obrigatório
• Itens importantes do transporte de produ-
tos perigosos

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Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

RECAPITULANDO Elencamos também que, caso uma ocorrência


evolua e o Manual da ABIQUIM não seja suficien-
Vimos nesta lição a importância de se utilizar te para atendimento devemos buscar a Ficha de
o Manual para Atendimento a Emergências com Informações de Segurança de Produtos Químicos
Produtos Perigosos da ABIQUIM. No mesmo se (FISPQ) do produto envolvido na ocorrência.
encontra orientações para atendimento a emer-
gências com produtos perigosos principalmente
nos primeiros 30 minutos da operação. O manual
está dividido em 5 seções, quais sejam:
• Seção Branca: informações e orienta-
ções gerais
• Seção Amarela: produtos perigosos em or-
dem numérica e crescente
• Seção Azul: produtos em ordem alfabética
• Seção Alaranjada: relação com 62 guias
de emergências com recomendações de
segurança
• Seção Verde: Produtos que reagem com
água ou tóxico se inalados. Tabelas de distan-
ciamento de isolamento e área de proteção.

Vimos, ainda, que temos a possibilidade de


utilizar alguns aplicativos para facilitar o atendi-
mento de ocorrências envolvendo produtos pe-
rigosos, contudo, estes não devem substituir o
manual da ABIQUIM nas viaturas operacionais.

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Lição V Documentos de Referência para o Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

AVALIAÇÃO DA LIÇÃO
1. Ao chegar na ocorrência envolvendo produtos
perigosos, nos deparamos com o produto “Nitrato 3. Você não tem informações para identificar o
de Amônio”. Responda: qual é o número da ONU? produto perigoso, qual a Guia de emergências
Qual foi a seção do manual da ABIQUIM que você você deve utilizar?
utilizou? Qual é a guia de emergência indicada?

2. Ao chegar na ocorrência envolvendo produtos pe-


rigosos nos deparamos com o produto número da
ONU 1005. Responda: qual é o nome do produto?
Qual foi a seção do manual da ABIQUIM que você
utilizou? Qual é a guia de emergência indicada?

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LIÇÃO VI
Equipamento de Proteção Individual
e Níveis de Proteção

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da lição, os participantes deverão ser capazes de:


• elencar os quatro níveis de proteção individual e di-
ferenciá-los;
• relacionar corretamente qual nível de proteção individual é
indicado para cada classe de risco.
Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO que possam afetar a sua saúde ou segurança dos


INDIVIDUAL integrantes da equipe de atendimento, de acor-
do com os riscos apresentados pelos produtos
Segundo Haddad (2002) os produtos perigo- envolvidos, tamanho do vazamento, locais atingi-
sos têm gerado diversos riscos ao homem e ao dos e atividades a serem realizadas.
meio ambiente, causando danos corporais, ma- A Norma Regulamentadora número seis (NR6)
teriais e interrompendo a vida dos seres vivos. do Ministério do Trabalho e Emprego (2018, p.1)
Diante de um acidente envolvendo produtos define Equipamento de Proteção Individual como
perigosos, o atendimento requer cuidados es- “todo dispositivo ou produto, de uso individual
peciais, bem como pessoal habilitado para o seu utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção
atendimento, tendo em vista riscos, tais como in- de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e
flamabilidade, toxicidade, corrosividade, dentre a saúde no trabalho”. Para Haddad (2002, p.63)
outros, que envolvem estes produtos. “Equipamento de Proteção Individual é todo dis-
Os atendimentos de emergências desta natu- positivo de uso individual, de fabricação nacional
reza geram diversos riscos à integridade física dos ou estrangeira, destinado a proteger a saúde e a
profissionais que desenvolvem atividades nestes integridade física do trabalhador”. O mesmo au-
cenários. Neste sentido, nas emergências envol- tor ainda diz que o EPI não reduz o “risco e ou
vendo produtos perigosos, é de suma importân- perigo”, apenas adéqua o indivíduo ao meio e ao
cia que os envolvidos utilizem Equipamentos de grau de exposição.
Proteção Individual (EPI), de acordo com os riscos Nas atividades relacionadas ao atendimento a
apresentados pelos produtos envolvidos, tama- Emergências com Produtos Perigosos os Equipa-
nho do vazamento, locais atingidos e atividades a mentos de Proteção Individual utilizados são:
serem realizadas (CETESB, 2018). • Roupas de Proteção Química;
Diante do exposto, percebe-se a importância • Equipamento de Proteção Respiratória;
das equipes de atendimento às emergências com • Capacete;
produtos perigosos em utilizar os Equipamentos • Luvas;
de Proteção Individual sempre que houver a pos- • Botas;
sibilidade de contato com substâncias perigosas • Óculos.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 93


Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

Esses equipamentos constituem-se em uma bar- Proteção Químicas apresentam, também, alguns
reira entre o corpo e o agente perigoso, e objetivam requisitos de desempenho e resistência química. Atenção
prevenir qualquer contato, assim como a inalação do É importante lembrar que ne-
produto perigoso ou a sua ingestão, se for o caso. QUANTO AO MATERIAL nhum material oferece proteção
Referente ao Equipamento de Proteção Respi- para todas as substâncias. De-
ratória (EPR) autônomo, seu principal objetivo, é Existem no mercado, diversos materiais de ve-se selecionar a roupa de pro-
a proteção das vias aéreas, no entanto a másca- confecção para a fabricação de roupas de prote- teção segundo o contaminante
ra facial além de proteger as vias respiratórias e ção contra produtos químicos. São classificadas existente na cena de emergên-
o aparelho gastrintestinal, protegem também os de acordo com o material utilizado para a confec- cia. O nível de proteção deve
olhos do contato com as substâncias perigosas. ção. Conforme Haddad (2002), os materiais po- ser selecionado segundo o co-
Nesses casos não há necessidade de utilização dem ser agrupados em duas categorias: elastô- nhecimento que possuímos da
de óculos, pois a própria máscara faz esta função. meros e não elastômeros. ameaça e da vulnerabilidade. A
Proteção aos pés e mãos é fornecida pelas botas a) Elastômeros: são materiais poliméricos ameaça está representada pelo
e luvas resistentes a produtos químicos e a prote- (como plásticos), que após serem esticados, tipo, toxicidade e concentração
ção à cabeça é fornecida por capacetes rígidos. retornam praticamente à forma original. A do produto perigoso na cena da
Contudo, o grande diferencial nos Equipa- maioria dos materiais de proteção pertence a emergência. A vulnerabilidade
mentos de Proteção Individual para atendimento esta categoria, que inclui: cloreto de polivinila está representada pelo potencial
a emergências com produtos perigosos são as (PVC), Neoprene, polietileno, borracha nitríli- de exposição ao agente perigoso
Roupas de Proteção Química (RPQ). ca, álcool polivinílico (PVA), viton, teflon, bor- presente no ar, respingos ou der-
racha butílica e outros. rames, ou ainda, pelo contato di-
ROUPAS DE PROTEÇÃO QUÍMICA (RPQ) b) Não elastômeros: são materiais que não reto com o produto perigoso.
apresentam a característica da elasticidade,
As Roupas de Proteção Química têm como fina- tais como os polietileno de alta densidade
lidade proteger o corpo do operador de produtos (fibras de polietileno não entrelaçadas) e
dos quais podem provocar danos à pele ou mes- materiais sintéticos.
mo ser absorvido pela mesma e afetar outros ór-
gãos. Elas são classificadas quanto ao material de
confecção, quanto ao estilo, quanto ao uso e quan-
to ao nível de proteção (SILVA, 2012). As Roupas de

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 94


Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

QUANTO AO ESTILO por um conjunto autônomo de respiração com


pressão positiva interno à roupa, ou por uma
As RPQ são difíceis de vestir devido a sua com- linha de ar mandado que mantém pressão po-
plexidade, normalmente o usuário precisa ser sitiva dentro da mesma (HADDAD, 2002).
auxiliado na colocação da roupa, além de que, b) Roupa não encapsulada: a roupa de prote-
existe uma grande variedade de acessórios que ção a substâncias químicas não encapsulada,
podem ser utilizados em conjunto com esta rou- chamada também de roupa contra respingos
pa, visando dar conforto e praticidade operacio- químicos, normalmente não apresenta a pro-
nal. Desta forma, as RPQ foram divididas quanto teção facial como parte integrante. Um con-
ao seu estilo para diferenciar quanto a finalidade junto autônomo de respiração ou linha de ar
especifica da atribuição a se realizar na cena da pode ser utilizado externamente à roupa, assim
emergência, sendo roupa completamente encap- como máscara com filtro químico. A roupa não
sulada e roupa não encapsulada. encapsulada não foi projetada para fornecer a
a) Roupa completamente encapsulada: máxima proteção contra gases, vapores e par-
sendo totalmente encapsulada, essa roupa tículas, ou seja, ela permite uma certa proteção
é confeccionada em peça única que envolve das vias aéreas, dependendo do equipamento
totalmente o usuário. A roupa encapsula não a ser utilizado (autônomo ou máscara), no que
permite contato do usuário com a atmosfera tange a proteção da pele ela oferece apenas
externa. Ela é à prova de gases e deve, obriga- proteção contra respingos (HADDAD, 2002).
toriamente, ser submetida a testes de pressão
para assegurar sua integridade. Na maioria QUANTO AO USO
dos fabricantes as botas, luvas e o visor estão
integrados à roupa, porém, em outros, podem Em relação ao uso, as roupas podem ser per-
ser removíveis. O importante é que estes dis- manente ou descartável. Esta classificação é re-
positivos tornem a roupa completamente en- lativa e baseia-se no custo, facilidade de descon-
capsulada à prova de gases e vapores, inclusi- taminação e qualidade da confecção (HADDAD;
ve o zíper (fecho eclair) deve fornecer perfeita LAINHA, 2002).
vedação contra gases/vapores. A proteção a) Roupa descartável: esta roupa de prote-
respiratória e o ar respirável são fornecidos ção baseia-se principalmente no custo, pois

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 95


Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

oferece proteção limitada contra respingos e Nível A


a proteção para vias aéreas irá depender do
Equipamento de Proteção Respiratório que A Roupa de Proteção Química nível A é utili-
será empregado. O maior benefício é facili- zada quando é necessário o maior nível de pro-
dade de descontaminação, pois é descartá- teção ao sistema respiratório, da pele, mem-
vel. Em muitas situações, roupas descartáveis, branas mucosas e olhos. É um traje, quanto ao
mais baratas, são mais apropriadas e tão segu- estilo, completamente encapsulado. Acompa-
ras quanto as mais caras. nha a roupa o equipamento autônomo de res-
b) Roupa Permanente: estas roupas são aque- piração com pressão positiva (em alguns casos
las que são usadas em uma emergência com pode ser utilizado linha de ar mandado), roupa
produtos perigosos e após o uso podem ser interna em algodão, capacete, equipamento
descontaminadas e reutilizadas mantendo-se portátil de comunicação via rádio e, depen-
as mesmas propriedades iniciais. dendo da roupa, requer botas com proteção
química, quando a roupa completamente en-
QUANTO AO NÍVEL DE PROTEÇÃO capsulada não dispor das mesmas acoplada in-
tegralmente ao conjunto (CBMSC, 2015).
Referente aos níveis de proteção, o CBMSC A roupa nível A é utilizada para, principal-
utiliza como base a Norma 471 de 2002 da NFPA. mente, proteger o usuário contra gases, vapo-
Os americanos, de acordo com a NFPA 471, divi- res e partículas tóxicas no ar. Além disso, pro-
diram em quatro níveis, de acordo com o grau de tege contra respingos de líquidos. A proteção
proteção exigido, os equipamentos destinados a que a roupa fornece contra uma substância quí-
proteger o corpo humano do contato com produ- mica depende do material utilizado para a sua
tos químicos, sendo esses níveis denominados de confecção (HADDAD, 2002).
nível A, B, C e D de proteção.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 96


Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

Figura 1 - Roupa de proteção nível A valores acima do IDLH (concentração imedia-


tamente perigosa à vida e à saúde).

Figura 2 - Equipamentos para uso no nível de proteção A

Capacete interno
à roupa

Aparelho autônomo
de respiração com
pressão positiva ou
linha de ar mandado

Roupa de
encapsulamento
Fonte: CBMSC completo
Luvas resistentes a
produtos químicos
Recomenda-se a utilização do Nível A de pro- Rádio Comunicação
teção sempre que (HADDAD, 2018):
Botas resistentes a
• a substância química não for identificada; produtos químicos

• a substância química for identificada e for


necessário o mais alto nível de proteção para o Fonte: CBMSC
sistema respiratório, pele e olhos;
• houver suspeita da presença de substân- Nível B
cias com alto potencial de danos à pele e o
contato for possível, dependendo da ativida- A Roupa de Proteção Química nível B (Figura
de a ser realizada; 3) é usada quando se deseja um nível máximo de
• forem realizados atendimentos em locais proteção respiratória (mesma do nível A), mas um
confinados e sem ventilação; nível menor de proteção para a pele. Constituído
• leituras diretas em equipamentos de moni- por roupa de proteção química não encapsula-
toramento indicarem concentrações perigosas da, luvas externas com resistência química, botas
de gases/vapores na atmosfera; por exemplo,
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 97
Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

com resistência química. Agrega à roupa ainda o utilizar máscaras com filtro químico para aque-
equipamento autônomo de pressão positiva, ca- la concentração e pelo tempo necessário para
pacete e rádio de comunicação intrinsecamente a atividade a ser exercida;
seguro (CBMSC, 2015). 2. concentração de oxigênio no ambiente for
inferior a 19,5% em volume;
Figura 3 - Roupa de proteção nível B 3. for pouco provável a formação de gases ou
vapores em altas concentrações de forma que
possam ser danosas à pele.

Figura 4 - Equipamentos de uso com a roupa de


proteção nível B
Capacete de
proteção

Luvas resistentes a
produtos químicos

Botas resistentes a
produtos químicos

Rádio de
comunicação
Fonte: CBMSC Roupa de proteção Aparelho autônomo
contra respingos de respiração com
químicos confeccionada pressão positiva
em 1 ou 2 peças
Recomenda-se a utilização do Nível B de pro-
teção sempre que (HADDAD, 2018):
1. o produto envolvido e sua concentração fo- Fonte: CBMSC
rem identificados e requererem um alto grau
de proteção respiratória sem, no entanto, exi-
gir esse nível de proteção para a pele; por
exemplo, atmosferas contendo concentração
de produto ao nível do IDLH sem oferecer ris-
cos à pele ou ainda quando não for possível

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 98


Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

Nível C química não encapsulada, acrescentando-se a


esta os seguintes equipamentos: luvas com re-
“A Roupa de Proteção Química nível C (figura sistência química, máscara facial e filtro quími-
5) será empregada quando os tipos de contami- co, botas, capacete, rádio de comunicação in-
nantes foram identificados, as concentrações fo- trinsecamente seguro e, ainda, uma máscara de
ram medidas, a ventilação e purificação do ar são fuga que é opcional (CBMSC, 2015).
suficientes para remover os contaminantes e todos
os critérios de purificação de ar estão em ordem. Recomenda-se a utilização do Nível C de pro-
A seleção para uso de equipamentos de proteção teção sempre que (HADDAD, 2018):
respiratória está de acordo com os padrões, e a 1. a concentração de oxigênio no ambiente
exposição a pele e dos olhos é indesejada. não for inferior a 19,5% em volume e o produto
e sua concentração conhecidos;
Figura 5 - Roupa de proteção nível C 2. o produto for identificado e a sua concen-
tração puder ser reduzida a um valor infe-
rior ao seu limite de tolerância com o uso de
máscaras filtrantes;
3. a concentração do produto não for superior
ao IDLH;
4. o trabalho a ser realizado não exigir o uso de
máscara autônoma de respiração.

Fonte: CBMSC

Possui a mesma proteção para pele que o


nível B, porém um nível de proteção respirató-
ria menor. Constituído de roupa de proteção

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 99


Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

Figura 6 - Equipamentos de uso com a roupa de Figura 7 - Fardamento para atendimento em nível D
proteção nível C

Capacete de
proteção

Luvas resistentes a
produtos químicos

Botas resistentes a
produtos químicos

Máscara facial com


Roupa de
filtro químico
encapsulamento
completo Rádio Comunicação
Fonte: CBMSC
Fonte: CBMSC
Recomenda-se a utilização do Nível D de pro-
Nível D teção sempre que (HADDAD, 2018):
1. não houver contaminante presente na at-
A Roupa de Proteção Química nível D (Figu- mosfera;
ra 7) “é o uniforme de trabalho das equipes de 2. não houver qualquer possibilidade de res-
socorro urbano e de outros profissionais que pingos, imersão ou risco potencial de inalação
trabalham próximos de locais que possuam de qualquer produto químico.
produtos perigosos” (BRASIL, 2009, p. 68). Ha-
ddad e Lainha (2002) sugerem utilizá-las em lo- REQUISITOS DE DESEMPENHO
cais não sujeitos a riscos ao sistema respiratório
ou a pele, considerando que este nível não pre- Vários requisitos de desempenho devem,
vê qualquer proteção contra respingos, imer- obrigatoriamente, ser considerados na seleção
são ou risco potencial de inalação de qualquer do material de proteção adequado. Sua impor-
produto químico. tância relativa é determinada pela atividade a ser

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 100


Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

executada e condições específicas do local. Os do os problemas relacionados ao calor.


requisitos de desempenho são (HADDAD, 2002): • Custo: o custo da roupa de proteção va- Glossário
• Durabilidade: é a capacidade de resis- ria consideravelmente. O custo, frequente- Taxa de permeação refere-se ao
tir ao uso, ou seja, a capacidade de resistir a mente, determina a seleção e frequência tempo em que a roupa pode ficar
perfurações, abrasão e rasgos. É a resistência de uso da roupa. exposta diretamente ao produto
inerente ao material;
• Flexibilidade: é a capacidade para curvar RESISTÊNCIA QUÍMICA
ou dobrar. É extremamente importante para
luvas e roupas de proteção, pois influencia di- De acordo com Haddad (2002) resistência quí-
retamente na mobilidade, agilidade e restrição mica é a capacidade de um material em resistir às
de movimentos do usuário; trocas químicas e físicas. A resistência química de
• Resistência térmica: é a capacidade de um material é o requisito mais importante de uma
um material em manter sua resistência quí- RPQ. O material deve manter sua integridade es-
mica durante temperaturas extremas (prin- trutural e qualidade de proteção quando em con-
cipalmente altas), e permanecer flexível em tato com substâncias químicas. A eficácia dos ma-
baixas temperaturas; teriais na proteção contra produtos químicos está
• Vida útil: é a capacidade de um material em baseada na sua resistência à penetração, degrada-
resistir ao envelhecimento e deterioração; ção e permeação. Cada uma destas propriedades
• Facilidade para limpeza: é a facilidade que deve ser avaliada quando da seleção do estilo da
a roupa oferece para descontaminar efetiva- roupa de proteção e do material que é feita.
mente dos materiais contaminantes;
• Projeto: é a forma como uma roupa é confec- Penetração
cionada e inclui o tipo e outras características;
• Tamanho: é a dimensão física ou propor- Penetração é o transporte do produto através
ção da roupa; de aberturas na roupa. Uma substância pode pe-
• Cor: roupas mais brilhantes facilitam o con- netrar devido ao projeto ou imperfeições na rou-
tato visual entre as equipes. Roupas de cores pa. Pontos de costura, orifícios de botões, zípers e
escuras absorvem calor radiante de fontes ex- o próprio tecido podem permitir a penetração do
ternas e o transfere para o usuário aumentan- produto. Uma roupa bem projetada e confeccio-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 101


Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

nada previne a penetração através da existência A permeação é medida através da taxa de


de zipers selados e juntas vedadas. Rasgos, furos, permeação que é a quantidade de substância
fissuras ou abrasão à roupa também permitem a que se moverá através de uma área do material
penetração (HADDAD, 2002). de proteção num dado tempo.
Muitos são os fatores que influenciam a taxa
Degradação de permeação, incluindo o tipo do material e a
sua espessura. Outros fatores importantes são a
Degradação é uma ação química envolven- concentração da substância, tempo de contato,
do uma ruptura molecular do material devido ao temperatura, umidade e solubilidade do material
contato com uma substância. A degradação é nas substâncias químicas (HADDAD, 2002).
evidenciada por alterações físicas do material. A
ação do produto pode causar ao material a sua
contração ou expansão, torná-lo quebradiço ou
macio ou ainda alterar completamente suas pro-
priedades químicas. Outras alterações incluem
uma leve descoloração, superfície áspera ou pe-
gajosa ou rachaduras no material, essas altera-
ções podem permitir a penetração do contami-
nante (HADDAD, 2002).

Permeação

Permeação é uma ação química envolvendo a


movimentação de uma substância, a nível mole-
cular, através de um material. É um processo que
envolve a adsorsão e absorção de uma substân-
cia na superfície externa da roupa.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 102


Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

RECAPITULANDO
Escolher o Equipamento de Proteção Indivi-
dual é muito importante e depende de algumas
variáveis, sendo o produto perigoso envolvido e
o ambiente de trabalho as mais importantes.
Compõem o EPI para atendimento de emergên-
cia com produtos perigosos os seguintes equipa-
mentos: luvas, roupas de proteção química, botas,
óculos e equipamento de proteção respiratória.
Temos quatro níveis de proteção: A, B, C e D,
sendo que o A é o mais completo e que oferece
a maior proteção e o D o fardamento diário do
bombeiro, sendo assim com menor proteção.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 103


Lição VI Equipamento de Proteção Individual e Níveis de Proteção

REVISÃO DA LIÇÃO 2. Para utilizarmos o Nível C, qual a principal


situação a ser conhecida?
1. Não sabendo qual produto perigoso se
trata a ocorrência qual o nível de proteção de-
vemos utilizar?

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 104


LIÇÃO VII
Zonas de Trabalho e Descontaminação

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da lição, os participantes deverão ser capazes de:


• conhecer as zonas de trabalho em uma emergência com
produtos perigosos;
• conceituar descontaminação em uma emergência com pro-
dutos perigosos;
• conhecer as sete estações de descontaminação.
Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

ZONAS DE TRABALHO ZONA QUENTE

A área onde ocorreu um acidente com produ- A zona quente é considerada a parte central
tos perigosos deve ser rigorosamente controlada. do acidente, local onde os contaminantes estão
Um método para prevenir ou reduzir a propagação ou poderão surgir. Também chamada de zona de
dos contaminantes é limitando a cena em zonas exclusão, é delimitada pela linha quente, ou seja,
de trabalho. Um sistema composto por três zonas, corresponde à área onde ocorreu a emergência.
pontos de acesso, de fuga e procedimentos de Nesta área, serão realizadas operações de con-
descontaminação, poderá fornecer uma seguran- trole de emergência, e somente bombeiros capa-
ça razoável contra o deslocamento de agentes pe- citados poderão atuar, usandoa roupa de prote-
rigosos para fora do local contaminado (CETESB, ção contra produtos perigosos, correspondente
1991). As zonas de trabalho devem ser delimitadas à emergência, sob orientações repassadas pelo
no local com fitas coloridas e, se possível, mapea- Comandante das Operação ou Chefe de Opera-
das. A dimensão das zonas e os pontos de contro- ções e de Segurança (BRASIL, 2009).
le de acesso devem ser do conhecimento de todos Por estar próxima da fonte de contaminantes,
os envolvidos na operação (Figura 1). esta zona é a mais perigosa, do ponto de vista da
O tamanho e dimensões das referidas zonas concentração do produto perigoso e seus possí-
de trabalho dependerá do produto envolvido e veis efeitos colaterais.
uma série de outros fatores relacionados, como,
por exemplo, o ambiente (relevo) no qual a emer- Para definir a zona quente deve-se considerar
gência está se desenvolvendo (CBMG, 2017). a distância inicial recomendada pelo manual para
O CBMSC utiliza um padrão único para a divi- atendimento a emergências da ABIQUIM para o
são das zonas de trabalho na corporação. Desta produto específico. Essa distância deve ser isola-
forma, fica estabelecido de forma padronizada, da em todas as direções (raio), desde a fonte do
em todas as áreas de atuação do CBMSC, a divi- derramamento ocorrido, devendo ser claramente
são das zonas de trabalho em zona quente, zona identificada . Ela é definida como um círculo den-
morna e zona fria. tro do qual há o risco de exposição ao produto
perigoso. Essa área deve ser considerada de ex-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 106


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

tremo perigo para a saúde das pessoas. A equipe Segundo Teixeira Júnior (2010) a zona morna
de atendimento deve considerar prioritária a eva- deverá ser larga o suficiente para permitir a insta- Atenção
cuação dessa área (ABIQUIM, 2015). lação, de forma confortável, de todas as estações Corredor de descontaminação:
de descontaminação, sendo seu início montado a Zona Morna deverá ser larga
Entretanto, como regra geral, a partir do ponto a partir da linha que limita a zona quente com a o suficiente apenas para abarcar
de impacto, o seu raio deve ter um comprimento zona morna e seu término será na linha que limita o corredor de descontaminação,
de forma a constituir uma barreira para proteger os a zona morna com a zona fria. Frisamos que ela sendo seu início montado a par-
membros da equipe que pode ser modificado de deve ser montada de dentro pra fora, ou seja, da tir da linha quente.
acordo com variáveis presente; tais como: tipo de zona quente para zona fria.
material, quantidade, condições topográficas, am- Paralelo ao corredor de descontaminação, qua-
bientais, climáticas, dentre outras (CBMRJ, 2004). se que lateralmente, fica posicionado o “corredor
de acesso” à zona quente. Através dele é que os
ZONA MORNA bombeiros, devidamente autorizados pelo coman-
dante da operação, irão acessar à zona quente para
A zona morna é uma área de transição entre a realizar as funções previamente determinadas.
área contaminada (zona quente) e a área livre de Nele, ficam presentes também os equipamentos
contaminação (zona fria). Também chamada de que serão utilizados na zona quente. Ao deslocar
zona de redução de contaminação é delimitada pelo corredor de acesso em direção a zona quen-
pelo chamado “corredor de descontaminação”. te, o bombeiro seleciona e leva consigo os mate-
Toda saída da zona quente, seja de pessoas ou riais e equipamentos necessários para realizar a
de materiais, deverá ser realizada por esse cor- função na zona quente (CBMG, 2017).
redor (CBMSC, 2015). Em síntese, a zona morna é uma área que servi-
O corredor de descontaminação consiste rá de acesso (corredor de acesso) aos bombeiros
basicamente em um corredor de saída para os que estão em trânsito para a zona quente e, tam-
operadores que estão atuando na zona quente. bém, para aqueles que estão saindo dela. Neste
Possui várias estações para descontaminar os caso, os bombeiros devem sair pelo corredor de
operadores e remover equipamentos que esses descontaminação realizando uma espécie de ci-
utilizaram na emergência. clo, entram pelo corredor de acesso e saem pelo

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 107


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

corredor de descontaminação. Importante frisar ção) parte do produto perigoso envolvido no


que ela deve possuir, além do corredor de des- acidente (BRASIL, 2009).
contaminação, uma saída de emergência para os A entrada de pessoas através do corredor de
bombeiro que atuam diretamente na zona quen- acesso e saída pelo corredor de descontaminação
te (rota de fuga/saída de emergência). deve ser bem controlada e demarcada, pois tão
No corredor de descontaminação ficam pre- importante quanto controlar o acesso de pessoas
sentes, também, os integrantes da equipe respon- à área contaminada, também é controlar tudo que
sável pela descontaminação. Estes devidamente saí desta área, afim de evitar que pessoas levem
equipados com um nível de proteção a menos contaminantes para fora da zona quente, sem pas-
que os bombeiros da equipe de resposta envol- sar pelo corredor de descontaminação.
vidos na zona quente, ou seja, se os bombeiros
da equipe de resposta estão utilizando nível A de ZONA FRIA
proteção, os bombeiros da equipe descontami-
nação deverão utilizar um equipamento de pro- A zona fria fica disposta na parte mais exter-
teção nível B. A zona morna é restrita a qualquer na dentre as zonas de trabalho. Deve cobrir toda
outro bombeiro ou pessoa relacionada à emer- circunferência periférica da zona morna. Também
gência, pois é assumido que isso pode apresen- chamada de zona de suporte, é considerada área
tar algum grau de risco, trazido pelos bombeiros livre de contaminação, ou seja, área segura. Nes-
que retornam da zona quente com possíveis con- te local é que devem ser instalados o posto de
taminantes (CBMG, 2017). comando da operação, suporte médico, impren-
Deve ficar muito claro que, inicialmente, esta sa, viaturas de apoio, área de repouso, além de
área não deve estar sob qualquer influência dos todo o apoio logístico necessário para o bom
materiais perigosos que causam a emergência, andamento do atendimento da emergência. Nes-
porém, no desenrolar da ocorrência passará a ta área estarão localizados todas as pessoas di-
ser considerada uma possível área contaminada retamente relacionadas às tarefas de controle da
justamente pelo acesso dos bombeiros que re- emergência (CBMSC, 2015).
tornaram da zona quente e podem ter trazido,
para zona morna, (corredor de descontamina-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 108


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

CONSIDERAÇÕES DAS ZONAS DE


TRABALHO Atenção
Deve-se sempre assumir que
As zonas de trabalho podem modificar-se com pessoas e materiais que deixam
o tempo, expandindo-se ou retraindo-se, depen- a zona quente estão contamina-
dendo do tamanho do incidente e do território dos. A contaminação dentro da
em que os perigos e riscos ocorrerem (CBPMESP, zona quente pode acontecer de
2006). Desta forma, na medida que o acidente for diversas maneiras, seja por con-
sendo controlado, as zonas de trabalho devem tato direto (vapores, gases, né-
ser reduzidas proporcionalmente, considerando voas, material particulado, po-
que manter a zona de trabalho muito ampla, sem ças, respingos) ou indireto com
boas razões técnicas, poderá criar problemas produto (contanto com solo con-
com os donos de propriedades e agências exter- taminado, uso de EPI ou instru-
nas, além de muitas vezes prejudicar a mobilida- mentos de leitura contaminados,
de em alguma região (Figura 1). contato com pessoas contamina-
Todas as zonas de trabalho definidas, consti- das).
tui uma área de acesso restrito. Nesse sentido, é
importante mencionar que cada zona possui suas
próprias regras de operação, embora algumas
possam coincidir em certos aspectos. Uma vez
estabelecidas as zonas de trabalho, as operações
procedem da zona fria, através da zona morna,
para a zona quente e vice-versa para o processo
de descontaminação (BRASIL, 2009).

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 109


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

Figura 1 - Zoneamento da área envolvida

Área de
suporte/logística

Operações
defensivas

Área de reabilitação

Posto de
Direção do vento comando Corredor
de acesso

Corredor de
desconta mina ção

Zona quente

Corredor de acesso 1 Zona morna


Zona fria
7 6 5 3 2
Corredor de descontaminação

4
Posto médico

Saída de emergência/Rota de fuga

Fonte: CBMSC

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 110


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

DESCONTAMINAÇÃO te e, sempre que possível, será posicionado em


linha reta até o limite com a zona fria.
A descontaminação é um processo que con- Devem ser montadas equipes para a realiza-
siste na retirada de substâncias contaminantes ção dos procedimentos de descontaminação,
impregnadas nos equipamentos de proteção além de arranjos necessários para a remoção de
individual e/ou coletivo, principalmente das rou- produtos perigosos e sua posterior descarga. A
pas de proteção química, nas equipes de inter- descontaminação deverá ser realizada somente
venção, na própria equipe de descontaminação por pessoal capacitado e devidamente prote-
e nas possíveis vítimas do acidente com produtos gido. Essa proteção deve ser através do uso de
perigosos. A descontaminação é um processo equipamento de proteção individual com mesmo
minucioso, mas que requer certa agilidade em nível de proteção das equipes que estão no zona
sua execução (CBMSC, 2015). quente ou com um nível a menos (CBMSC, 2015).
O processo de descontaminação pode ser
realizado por remoção física do contaminante MÉTODOS DE DESCONTAMINAÇÃO
(processo físico) ou através da troca da natureza
química perigosa da substância (processo quími- Existem diferentes métodos de descontami-
co) para outra de propriedade inócua. A descon- nação das roupas de proteção e equipamentos
taminação química não deve ser realizada direta- que deixam a zona quente. A escolha do méto-
mente sobre a vítima (CETESB, 2018). do dependerá do produto perigoso envolvido
O processo de descontaminação acontecerá na emergência e, em algumas situações, pode-se
no corredor de descontaminação (ou corredor combinar dois ou mais métodos. Alguns métodos
de redução da contaminação) que fica dentro da utilizados (HADDAD, SILVA e TEIXEIRA, 2002):
zona morna. O tamanho dependerá do número • Diluição: redução da concentração do con-
de estações e da quantidade de espaço dentro taminante até níveis não perigosos. É o méto-
do local do incidente para dimensionar as zonas do mais utilizado e bastante eficiente se o pro-
de trabalho. A extensão deste corredor será bem duto não penetrar na roupa.
sinalizada, com restrições à entrada e saída de • Dissolução: adição de uma substância inter-
pessoas, seu início será no limite da zona quen- mediária durante o processo de descontami-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 111


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

nação. Por exemplo, a utilização de querosene Descontaminação Úmida


como produto intermediário para descontami- Atenção
nação de óleo combustível. A descontaminação úmida utiliza água ou ou- O uso de muita água pode causar
• Surfactação: aplicação de um agente sur- tro líquido para remover o contaminante, seja por um aumento na taxa de absor-
factante para aperfeiçoar a limpeza física. O diluição, neutralização, emulsão ou mediante a ção da pele. O tempo de lavagem
Fosfato trissódico é o mais utilizado. Pode-se desinfecção da pessoa e equipamentos. O qua- deve ser pelo menos 30 segun-
usar, também, detergentes industriais. dro a seguir apresenta alguns exemplos de so- dos, e no máximo 3 minutos para
• Neutralização: normalmente utilizado com luções que podem ser previamente preparadas este procedimento (LAKE, 2013).
substâncias corrosivas. Quando um ácido ou para auxiliar no processo de descontaminação,
base estão envolvidos, uma base pode ser uti- porém deve-se sempre considerar a reatividade
lizada para a descontaminação e vice-versa. antes de usar qualquer solução (HADDAD, SILVA
• Solidificação: aplicação de agentes gelati- e TEIXEIRA, 2002).
nizantes que solidificam o contaminante, facili-
tando, dessa forma, a sua remoção.
• Aeração: aplicação de vapor d’água no
material contaminado. Apresenta bons resul-
tados em produtos voláteis.

Descontaminação Seca

A descontaminação seca utilizará elementos


secos (almofadas, absorventes etc.) ou equipa-
mentos (escovas, aspiradores etc.) para remover
os contaminantes mediante varrimento, escova-
ção, sucção ou pressão pneumática. Vale lembrar
que não é indicado utilizar o ar a alta pressão,
pois o mesmo irá projetar a contaminação além
do corredor de descontaminação (HADDAD, SIL-
VA e TEIXEIRA, 2002).

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 112


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

Quadro 1 - Aplicações para Soluções Descontaminantes de Uso Geral


Solução A Solução B Solução C Solução D Solução E
Solução cáustica: 5% Solução oxidante: Solução cáustica Solução ácida: 5% Água e sabão
Produtos Perigosos carbonato de sódio 10% hipoclorito fraca: 5% fosfato de ácido clorídrico (HCl)
(Na2CO3) e 5% fosfato de cálcio Ca(ClO)2 trisódio (Na3PO4)
de trisódio (Na3PO4)

Ácidos inorgânicos, resíduos de X X


tratamento de metais
Metais Pesados (Mercúrio, Chumbo, X X
Cádmio etc.)
Pesticidas, Fenóis, X X
Clorados e Dioxinas
Cianuretos, Amoníaco, não ácido e X X
resíduos inorgânicos
Solventes e outros compostos X X X
orgânicos
PPBs e PCBs (bifelinas policlorados) X X X

Resíduos de óleo e graxa, não


especificados. Não contaminados X X
com pesticida
Bases inorgânicas, Álcalis X X
e Resíduos cáusticos
Materiais Radioativos X

Materiais Etiológicos X X X

Contaminantes desconhecidos X X X
Fonte: ADAPTADO DE SUATRANS (2012)

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Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

Descontaminação por Estações de Trabalho • Estação 1: local, dentro da zona quente,


para dispensa e segregação de materiais e
Uma das maneiras de organizar o corredor de equipamentos. As equipes de resposta depo-
descontaminação é dividi-lo em estações de traba- sitam os materiais utilizados em campo (ferra-
lho, preestabelecendo ações para cada estação. mentas, materiais coletados, instrumentos de
As equipes de resposta que passam pelas esta- medição), preferencialmente separados por
ções, com vítimas e equipamentos contaminados, tipo ou grau de contaminação. Os equipa-
são atendidas pela equipe de descontaminação mentos que não podem ser descontaminados
que tomará as ações necessárias para que, grada- no local (principalmente aparelhos eletroele-
tivamente, o nível de contaminação seja reduzido. trônicos) deverão ser embalados em invólu-
Um exemplo de divisão em sete estações de tra- cros apropriados.
balho será apresentado abaixo (CBPMESP, 2005): São materiais necessários para atuação
dentro da zona quente: tambores e sacos
Figura 2 - Esquema do corredor de descontaminação plásticos de diversos tamanhos, fitas adesi-

1
vas para fechamento das embalagens, rótu-
ZONA QUENTE los para identificação dos materiais e lona

2 impermeável para identificação da estação


Corredor de acesso

ZONA MORNA (4x3m, preferencialmente vermelha, com o

4 3 Direção
número da estação).
do

5
vento

corredor para acesso da

6
equipe de intervenção
equipamentos e
materiais de apoio.

ZONA FRIA
7
Posto médico

Fonte: ADAPTADO DE CBPMESP (2005)

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Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

Figura 3 - Procedimentos na Estação 1 Figura 5 - Procedimentos na estação 2

Figura 4 -CBMSC

• Estação 2: primeira estação dentro da zona Fonte: CBMSC


morna, é o local onde a equipe de desconta-
minação lavará botas, luvas e roupas de pro- • Estação 3: retirada das botas e luvas exter-
teção externa das equipes de resposta. As nas da equipe de resposta e devido acondicio-
botas, luvas e roupas serão esfregadas com namento desses materiais.
escovas de cerdas macias, enxaguadas com São necessários pra auxílio na descontami-
água e, se necessário, submetidas a soluções nação na estação 3 são: local que permita aos
de descontaminação. Os resíduos resultantes integrantes da equipe de resposta sentarem,
da lavagem deverão ser acondicionados para além de tambores, baldes e sacos plásticos de
posterior descarte. vários tamanhos. Esses serão os mesmos ma-
Devem estar disponíveis nesta estação os se- teriais necessários nas estações 5 e 6.
guintes materiais: piscina (2x2m e 0,3m de pro- • Estação 4: local onde os integrantes da equi-
fundidade), bombas costais, escovas de cerdas pe de resposta trocam de cilindros de ar da más-
suaves, soluções químicas, detergente e lona cara autônoma. Esta estação é utilizada apenas
impermeável (20x3m, preferencialmente amare- pelos bombeiros que retornarão à zona quente.
la, que será utilizada nas Estações 2, 3, 5, 6 e 7).

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 115


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

Observe que na estação 4 é necessário um Figura 6 -Procedimentos na Estação 6


local que permita aos integrantes da equipe
de resposta sentarem, além de cilindro de ar
comprimido, luvas e botas limpas.
• Estação 5: com o auxílio da equipe de des-
contaminação, remove-se a roupa encapsula-
da, as luvas internas e acondiciona-se em um
invólucro adequado.
• Estação 6: local para remover a máscara
e aparelho de respiração autônoma, evitan-
do contato com a face e com as mãos. Nesta
estação também é feita a remoção da roupa
interna do bombeiro, uma vez que há a pos-
sibilidade de que elas tenham sido contami- Fonte: CBMSC
nadas durante a remoção da roupa de prote-
ção. Os conjuntos de respiração autônoma e • Estação 7: esta é a última estação, localiza-
roupas internas devem ser armazenados em da na zona fria, e onde é feito o banho com-
invólucros adequados. pleto dos integrantes da equipe de resposta.
Antes do banho completo, o bombeiro lava as
Os materiais internos à RPQ são lavados pelo mãos e o rosto vigorosamente. Observar que
próprio bombeiro, conforme padrão estabele- os contaminantes envolvidos podem ser alta-
cido pela corporação. Os materiais externos, mente tóxicos, corrosivos ou capazes de serem
que tiveram contato com produto, dependen- absorvidos pela pele.
do do grau de toxicidade do mesmo, devem ser Na estação 7 são necessários os seguintes mate-
encaminhado à empresa especializada - nor- riais: piscina (2x2m e 0,3m de profundidade), sa-
malmente a empresa privada responsável pelo bão neutro, toalhas, reserva de água, local que
atendimento ao incidente - para realizar a des- permita aos integrantes da equipe de resposta
contaminação, se for possível. sentarem, além de tambores, baldes e sacos
plásticos de vários tamanhos.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 116


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

• Posto médico: local onde será feita, quan- acidente com produtos perigosos cuja capacida-
do for necessário, a vigilância médica da equi- de de respostas do bombeiro foi superada.
pe de intervenção.
Remoção do Vestuário
Descontaminação em Massa
Despir é, geralmente, mais efetivo do que rea-
A descontaminação em massa é um procedi- lizar a descontaminação com água. Além disso,
mento para descontaminação desenvolvido pela combinar remoção de roupas com a ducha de
U.S. Army edgewood chemical biological center água reduz a absorção de contaminantes pela
(ECBC) que estabelece procedimentos operacio- pele, mas esse efeito é perdido à medida que o
nais que devem ser aplicados pelos corpos de tempo passa. É a opinião de cientistas, doutores e
bombeiros dos EUA. socorristas que a retirada de roupas pode remover
O ECBC traduzido é o Centro Biológico Quí- até 80% da contaminação das vítimas. Quando a
mico Edgewood do Exército dos Estados Unidos maioria da pele da vítima está coberta por roupas,
da América (EUA) ele é o principal recurso de como calças e camisas, há uma grande probabi-
pesquisa e desenvolvimento dos Estados Unidos lidade de remoção significativa da contaminação.
em defesa química e biológica não médica. As vítimas devem ser orientadas a tirar as rou-
Aplica-se os procedimentos da ECBC para aque- pas cuidadosamente, fechando a boca para evitar
les acidentes em que a capacidade de resposta de ingestão ou inalação, colocando as mãos e braços
suas guarnições seja insuficiente (SOUZA, 2016). dentro do vestuário e usando as mãos para puxar
Devido aos frequentes atentados terroris- a abertura da cabeça para o mais longe possível
tas ocorridos nos EUA, a maior preocupação da do rosto e cabeça. Essas precauções vão reduzir
ECBC está relacionada com incidentes envolven- as chances de expor cabeça, rosto e olhos à con-
do armas de destruição em massa, onde a capa- taminação via inalação ou ingestão. Sempre que
cidade das equipes de resposta não é suficiente possível, as vítimas devem desabotoar ou cortar
para atender as muitas vítimas de um possível as roupas em vez de levantá-las sobre a cabeça.
atentado terrorista. Guardadas as proporções, é Isso vai reduzir as chances de expor cabeça, rosto
possível comparar um atentado terrorista a um e olhos à contaminação (LAKE, 2013).

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 117


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

Figura 7 - Remoção apropriada do vestuário vítimas e recursos disponíveis. A eficácia da des-


contaminação com água varia de acordo com a
volatilidade do contaminante químico.
Pode-se conseguir esse chuveiro de desconta-
minação alinhando dois caminhões de combate a
Não retire as roupas
incêndio, a fim de formar um corredor com spray de
diretamente por cima
água pelos dois lados – usando linhas de mangueira
–, enquanto outra linha de mangueira fornece, por
cima, grande volume de água a baixa pressão.

Figura 8 - Corredor formado por dois caminhões de


combate a incêndio

Corte e remova ou utilize os braços


para proteger o rosto

Fonte: CBMSC

Chuveiro de descontaminação
Após a remoção do vestuário, o próximo pas-
so é aplicar um grande volume de água a baixa
pressão (60 psi). A lavagem completa aumenta Fonte: LAKE (2013)
a eficácia da descontaminação, dependendo do
tipo de contaminante, meio ambiente, número de

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 118


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

Terminada a ducha, o socorrista deve reava- principalmente, como mencionado acima, pela
liar as vítimas para verificar se todo o contami- necessidade de orientação de um químico co-
nante foi removido. Segundo Lake (2013), em- nhecedor do produto contaminante. Além disso,
piricamente, este procedimento será suficiente sua montagem, instalação e operação deman-
em 90% dos casos. darm tempo, o que pode ser crucial para a vida
de uma vítima. Para montagem do corredor de
CONSIDERAÇÕES SOBRE DESCONTAMINAÇÃO descontaminação necessita-se também da aqui-
sição de equipamentos para seu efetivo funcio-
Uma das situações em que produtos perigo- namento e, em virtude da baixa recorrência deste
sos oferecem risco é quando estão envolvidos tipo de ocorrência em determinadas regiões, a
em incidentes, ocasionando vazamentos, incên- aquisição poderá ser inviável do ponto de vista
dios, explosões etc. Nessas ocasiões, as equipes financeiro. Além disso, há também a necessidade
de resposta deverão descontaminar vítimas, so- de um bom número de bombeiros apenas para
corristas, equipamentos e materiais que se en- o funcionamento do corredor, o que pode, por si
contravam nas proximidades do acidente. só, inviabilizar o uso desses corredores, uma vez
A descontaminação deve ser aplicada durante que não se disponha dessa quantidade de bom-
a ocorrência se, além de pessoal capacitado para beiros militares na cena.
tal, houver tempo suficiente e as circunstâncias No entanto, este procedimento pode ser apli-
permitirem, reforçando que nenhuma solução cado nas cidades em que possua quartéis com mi-
química deve ser aplicada sobre as vítimas, com litares em número suficiente e devidamente trei-
exceção da solução de água e sabão, dependen- nados para esta atribuição, podendo ainda este
do do agente contaminante. quartel atender uma determinada região, conside-
A descontaminação química deverá sempre rando que estas ocorrências não são corriqueiras.
ser realizada sob a orientação de um químico ou Os procedimentos de descontaminação em
afim, profissional que o CBMSC pode não dispor massa, empregados por corpos de bombei-
em algumas ocorrências. ros dos EUA, podem ser aplicados pelo CBMSC
O corredor de descontaminação pode ser quando o número de vítimas contaminadas no
um procedimento difícil para ser implementado, acidente exceder a capacidade de atendimen-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 119


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

to dos bombeiros militares presentes no local e


quando existir condições para tal, como a presen-
ça de caminhões de combate a incêndio, água su-
ficiente e pessoal capacitado.
As vantagens deste procedimento em relação
aos demais estão relacionadas ao fato de usar
materiais que a maioria dos quartéis do CBMSC
possui, empenhar menos militares para seu fun-
cionamento, atender mais vítimas em menos tem-
po e conseguir reduzir a contaminação das víti-
mas a níveis seguros em 90% dos casos.
Esse procedimento pode, inclusive, ser utili-
zado para descontaminação de bombeiros mi-
litares em ocorrências nas quais o grau de con-
taminação seja menor e de fácil remoção do
contaminante. Podem utilizar o próprio esguicho
do caminhão e realizar a remoção do contami-
nante no local da ocorrência, evitando carregar
este material contaminante impregnado nos
EPIs, quando no retorno ao quartel.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 120


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

RECAPITULANDO
As zonas de trabalho em uma ocorrência com
produtos perigosos são divididas em três: zona
quente (onde fica localizado o contaminante ou
de onde eles poderão surgir), zona morna (cor-
redor de redução da descontaminação) e zona
fria (local seguro).
Abordamos também que o processo de des-
contaminação é um processo que consiste na
retirada mecânica de substâncias impregnadas
no EPI ou ainda, na troca de sua natureza quí-
mica perigosa (através de reação química) para
outra de propriedade inócua.
Podemos utilizar várias formas de descon-
taminação, sejam elas descontaminação seca,
descontaminação úmida, descontaminação por
estação de trabalho e descontaminação em
massa, esta última aplicada para aqueles aci-
dentes em que a capacidade de resposta de
suas guarnições seja insuficiente.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 121


Lição VII Zonas de Trabalho e Descontaminação

AVALIAÇÃO DA LIÇÃO 3. Descreva quando devemos aplicar a desconta-


minação em massa.
1. Cite quais são as zonas de trabalho em uma
ocorrência com produtos perigosos.

2. Cite três formas de realizar descontaminação.

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LIÇÃO VIII
Procedimentos para Atendimento
a Emergências com Produtos
Perigosos

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da lição, os participantes deverão ser capazes de:


• conhecer as fases do atendimento a emergências com PP;
• contextualizar os procedimentos operacionais de cada uma
das fases do atendimento emergencial;
• conhecer os equipamentos utilizados no controle de derra-
mamentos e vazamentos;
• estar ciente das principais atribuições da equipe de in-
tervenção.
Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

FASES DO ATENDIMENTO sos é bastante singular em diversos momentos,


EMERGENCIAL a citar a identificação dos riscos e a forma com
que as equipes de resposta devem atuar de acor-
Há uma infinidade de produtos perigosos sen- do com o produto perigoso envolvido na emer-
do transportados diariamente por diversos tipos gência. De modo geral, as fases do atendimento
de meios de transporte. E da mesma forma, há emergencial podem ser dividas em: prontidão,
inúmeros aspectos a serem levados em conta du- acionamento, avaliação, controle e finalização.
rante um atendimento emergencial envolvendo A seguir apresentaremos cada uma das fases
produtos perigosos (PP). listadas anteriormente.
Independentemente das ações de preven-
ção, os acidentes podem ocorrer, razão pela qual PRONTIDÃO
equipes de emergência devidamente treinadas e
com disponibilidade dos recursos requeridos, de A Prontidão corresponde à fase em que o
acordo com o porte do evento, são os principais Bombeiro Militar está no quartel, em condições
fatores que influenciam para o sucesso das ope- de, a qualquer momento, ser acionado para uma
rações de atendimento a estes casos, de maneira emergência. Nesta etapa, os bombeiros devem
que os impactos decorrentes dos mesmos pos- esta preparados para a execução das funções
sam ser minimizados ao máximo. operacionais que uma ocorrência com produtos
Desse modo, é imprescindível a padronização perigosos pode requerer.
do atendimento a emergências desse tipo, de for- Nesta etapa os profissionais responsáveis
ma que essa sistematização seja flexível para su- pela primeira resposta a emergências com pro-
prir as particularidades dos diferentes produtos dutos perigosos devem preparar-se para a exe-
perigosos, e que também as equipes de primei- cução de um bom atendimento em uma even-
ra resposta possuam o conhecimento do padrão tual ocorrência deste tipo.
de atendimento e saibam reconhecer as etapas A preparação envolve, além da disponibi-
que são necessárias para o bom desempenho em lidade de materiais e equipamentos, o treina-
uma emergência com produtos perigosos. mento contínuo das equipes, bem como que os
Uma ocorrência envolvendo produtos perigo- integrantes de uma guarnição saibam utilizar os

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 124


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

meios adequados para que concluam com êxito ACIONAMENTO


as atividades inerentes a uma emergência com
produtos perigosos. O acionamento é a fase do atendimento em
Independentemente das ações a serem decidi- que a ocorrência entra através da Central de
das em campo durante o atendimento emergen- Operações do Bombeiro Militar. É uma das fases
cial, faz-se necessária a realização de planejamen- mais importantes para os bombeiros militares,
tos anteriores aos sinistros, de forma a estarem principalmente para uma emergência envolven-
devidamente estabelecidas as responsabilidades do produtos perigosos. A ocorrência pode ser re-
e respectivas áreas de atuação dos participantes, solvida ou agravada já nos primeiros momentos
visando agilizar os trabalhos; ou seja, é necessá- do atendimento, pois é durante seu acionamento
ria a elaboração de planos locais e regionais de que se coletam as informações necessárias para o
emergência para o atendimento a acidentes en- seu bom atendimento.
volvendo produtos perigosos. Há inúmeras particularidades quando a central
de operações recebe uma solicitação de atendi-
Figura 1 - Organização de materiais e equipamentos para mento a uma emergência com produtos perigosos.
atendimento a Emergências com PP Dentre as ações a serem efetuadas pelo profissio-
nal que opera a central de emergência, as seguintes
são essenciais para o sucesso da operação:
• coleta de informações;
• emprego adequado de viaturas;
• contato contínuo com equipe de resposta;
• acionamento de órgãos de apoio.

Acompanhe a seguir o detalhamento de


cada uma delas.
Fonte: CBMSC

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Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

COLETA DE INFORMAÇÕES • Condições do produto: Quantidade do pro-


duto? Somente vazamento? Ou incêndio? Ou
Durante a coleta de informações há inúmeras ambos? Líquido? Gás?
perguntas a serem feitas. É de grande importân- • Proximidade: Existem edificações circunvizi-
cia que o operador da central de emergências nhas? Qual a ocupação? Existem rios, manan-
possua o conhecimento adequado para que con- ciais, córrego nas proximidades? Rede elétri-
siga manter um diálogo com o solicitante e que ca? Rodovias?
consiga efetuar os questionamentos necessários • Condições climáticas: Está chovendo no lo-
para o correto emprego de recursos posterior- cal? Qual a direção do vento?
mente na ocorrência. Dentre algumas das per-
guntas comumente efetuadas em uma central de EMPREGO ADEQUADO DE VIATURAS
emergências, as que envolvem produtos perigo-
sos são as seguintes: De acordo com as informações coletadas an-
• Vítimas: Existem vítimas? Quantas vítimas? teriormente, o operador da central de emergên-
Quais as condições? Existem animais? Quantas cia irá ter uma dimensão inicial dos recursos ne-
pessoas há no local? cessários para uma primeira resposta.
• Número da ONU: Qual o tipo do produto ou Dependendo da situação apresentada, ini-
o seu número (ONU)? (Caso a pessoa desco- cialmente pode ser empregado a equipe de in-
nheça essa informação, solicitar, informalmen- tervenção, que geralmente será composta pela
te, se ela consegue verificar na cena alguma guarnição de serviço, utilizando-se de Auto
“placa colorida”. Se sim, qual a cor, quais infor- Transporte de Materiais (ATM) ou de Auto Res-
mações contidas nessa “placa colorida” o/a so- gate (AR), estes últimos viaturas do tipo cami-
licitante consegue repassar) nhonete. Assim como o emprego do caminhão
• Recipientes: O produto está em veículo ou de combate a incêndio e ambulância para aten-
edificação? Nome da empresa ou transporta- dimento de possíveis vítimas.
dora? Caso esteja em veículo, qual a placa? Além disso, verificando que há rodovias que
• Pessoal habilitado: Existem técnicos ou ou- precisam ter o tráfego controlado, edificações
tras pessoas habilitadas da empresa no local? próximas que precisam ser isoladas e/ou evacua-

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Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

das, grande quantidade de produto vazado atin- tem baseado nas informações coletadas com o
gindo rios, mananciais ou até mesmo edificações solicitante.
vizinhas por exemplo, pode-se de antemão soli- No desenrolar da ocorrência e com a contínua
citar o apoio do órgão de trânsito local, Polícias, comunicação entre a equipe de primeira respos-
Defesa Civil, órgão ambiental etc. ta e a central de emergências, faz-se necessário
muitas vezes o emprego de recursos adicionais.
CONTATO CONTÍNUO COM EQUIPE DE RESPOSTA Em outras palavras, no dimensionamento da cena
de emergência verifica-se a necessidade de ou-
No momento do acionamento das equipes de tros recursos que não foram inicialmente empre-
resposta, o operador da central de emergência gados, de forma a atender a demanda encontra-
deve conhecer as precauções iniciais na cena da da no local da emergência.
emergência. Por isso a necessidade de efetuar
as perguntas corretas e a importância que a cen- AVALIAÇÃO
tral de operações possua também um Manual da
ABIQUIM, pois durante o deslocamento das equi- A fase da Avaliação consiste na identificação
pes de resposta, o operador da central de emer- dos riscos e o correto dimensionamento da cena,
gências pode dar instruções das primeiras ações de forma que possam ser definidas as medidas a
a serem tomadas no local da ocorrência, bem serem adotadas para o controle da situação.
como pesquisar condições meteorológicas para Esta fase do atendimento emergencial con-
que informe às guarnições a direção do vento, siste na identificação dos riscos e o correto di-
área de isolamento e local adequado para acesso mensionamento da cena, de forma que possam
sem comprometer a segurança dos profissionais ser definidas as medidas a serem adotadas para
de primeira resposta. o controle da situação.
É necessário que esta etapa seja desenvolvi-
ACIONAMENTO DE ÓRGÃOS DE APOIO da por pessoal devidamente capacitado, uma
vez que erros de avaliação podem vir a agravar
O emprego dos recursos iniciais de resposta à a situação, acarretando o comprometimento da
emergência consiste na análise de um panorama segurança da equipe de resposta e possíveis ví-
inicial que o operador da central de emergência timas. O bem maior, que deve ser resguardado,

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 127


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

é a vida humana. Entretanto caso não existam c) Que recursos devem ser acionados: com
potenciais vítimas, a operação deve ser realizada esta análise, completa-se uma primeira eta-
visando minimizar o impacto ambiental e, poste- pa, fundamental, antes que se inicie o manu-
riormente salvaguardar bens materiais. seio das vítimas.
De acordo com os resultados da avaliação, o
planejamento das ações será desenvolvido. O A primeira equipe a chegar no local deve rea-
desencadeiamento destas ações deve considerar lizar as primeiras avaliações e oferecer informa-
todos os aspectos relevantes, como: segurança ções para que todo o sistema possa se envolver
das pessoas, isolamento da área, segurança de com todos seus recursos. Assim ela realizará as
instalações, do patrimônio público e privado e ações seguintes:
impactos ambientais, entre outros. • avalia a cena (nas 3 etapas referidas na ava-
Só profissionais qualificados, antes de entrarem liação da cena);
no local onde ocorreu um acidente, saberão avaliar • constata a existência de produtos perigosos;
os perigos e tomar as providências para eliminá-lo. • reposiciona viatura e equipe, se necessário
De uma forma sistemática, o comandante da (atenção à direção do vento);
operação deve avaliar a cena segundo três eta- • identifica o produto se possível ou seu número;
pas distintas, bem definidas e realizadas nesta • avalia a quantidade e tipo de vítimas;
exata sequência: • informa a central;
a) Qual é a situação: onde se busca identificar • isola a área e, se possível, estabelece zonas
com precisão o que está ocorrendo e quais os de trabalho e pontos de controle para regular
detalhes que a cena oferece. Um socorrista o acesso a cada uma das zonas;
com pouca experiência poderá centrar sua • verifica se é seguro abordar as vítimas;
ação nas vítimas, não avaliando adequada- • aciona recursos adicionais, se necessário (em-
mente o ambiente como um todo. presa responsável, órgão ambiental, polícia etc.).
b) Para onde a situação pode evoluir: onde
se busca prever as possibilidades de evolução CONTROLE
da situação. Uma análise inadequada no item
anterior (qual a situação), fatalmente induzirá a A fase do controle da emergência é representa-
um erro neste momento. da pelo desenvolvimento das ações táticas e ope-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 128


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

rativas que objetivam o controle da ocorrência. volvida, os quais, após discussão e planejamento
O principal aspecto a ser considerado du- das ações, deverão comandar suas respectivas
rante o atendimento de um acidente que envol- equipes (comando unificado) ou então estabele-
va produtos perigosos diz respeito à segurança cer um comando único.
das pessoas envolvidas. Os primeiros na cena de
emergência deverão respeitar regras básicas de PRIMEIRA RESPOSTA
forma que assegurem o sucesso da operação.
Após efetuada a avaliação, deverão ser ana- As ações a serem desenvolvidas nesta etapa
lisados todos os aspectos envolvidos, tais como têm por finalidade controlar a situação emergen-
topografia da região, áreas atingidas pelo vaza- cial. Embora os trabalhos possam variar caso a caso,
mento, condições meteorológicas e acessos para os mesmos deverão contemplar medidas para:
equipamentos, entre outros. Poderá então ser • evacuação de pessoas;
definida a estratégia de ação para o desenvolvi- • isolamento da área;
mento dos trabalhos e dimensionamento dos re- • socorro às vítimas;
cursos, humanos e materiais, necessários. • estanqueidade do vazamento;
Um aspecto importante a ser ressaltado é que • contenção ou confinamento do produto;
nas situações de emergência que envolvem pro- • abatimento de vapores;
dutos perigosos, os trabalhos devem ser sempre • neutralização e/ ou remoção do produto;
desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar, • monitoramento ambiental;
contemplando todos os aspectos envolvidos • prevenção e combate a incêndios.
como segurança individual e coletiva, meio am-
biente, resgate de intoxicados e feridos etc. SOCORRO ÀS VÍTIMAS
É de fundamental importância a integração
entre as equipes de diferentes campos de atua- A segurança da vida é sempre a maior priori-
ção, de modo a serem evitadas controvérsias du- dade do Comandante da Emergência. Uma das
rante a realização dos trabalhos. primeiras preocupações depois de avaliar a ex-
Para tanto, é necessário o estabelecimento de tensão do acidente é a busca e resgate de víti-
um “Posto de Comando”, que deverá ser coorde- mas. No entanto, o comandante deve assegurar
nado por um representante de cada entidade en- a vida de todos os envolvidos, tanto a das vítimas

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 129


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

dentro da Zona Quente, em risco imediato, quan- b) retirar as vítimas da área de risco ou aguar-
to a das pessoas que serão atingidas num futuro dar sua retirada pelas equipes de resgate;
próximo, em risco iminente, devendo analisar a c) atender as vítimas conforme protocolo,
emergência de forma sistêmica, concentrando os devendo:
recursos e meios em todas as frentes de trabalho. • oferecer suporte pré hospitalar e, confor-
Muitas vezes o tempo torna-se importante me o caso, descontaminá-las;
para o êxito no salvamento das vítimas, porém • monitorar vias aéreas, respiração e cir-
deve-se manter a cautela para não expor de for- culação;
ma desnecessária a equipe de intervenção. O • cuidar das queimaduras, inalação ou in-
comandante deve planejar as estratégias com gestão;
equilíbrio evitando ações precipitadas, pensan- • rezalizar curativos e imobilização dos fe-
do sempre na minimização dos danos, evitando rimentos e lesões, se necessário.
exposição de pessoas que não foram atingidas
a riscos evitáveis e desnecessários, pois se con- Figura 2 - Transporte de vítima contaminada
siderarmos que o acidente apresenta vítimas, as
ações de emergência devem estar voltadas para
o seu controle, de tal modo que este número não
aumente e a ocorrência não se agrave.
Inicialmente as vítimas devem ser removidas
para um lugar seguro. Os socorristas devem es-
tar preparados contra contaminações. Segurança
deverá ser sempre a primeira regra a ser segui-
da. Técnicas de descontaminação das vítimas e
dos socorristas serão necessárias, bem como ma-
nutenção das vias aéreas, antídotos específicos, Fonte: CBMSC
além dos cuidados de lesões gerais.
Em resumo, os socorristas devem: A qualificação na identificação dos produtos
a) entrar na área com proteção adequada, depois perigosos, nos seus efeitos, nos cuidados e téc-
desta estar liberada pelas equipes de resgate; nicas de socorro, devem nortear o atendimento

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 130


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

pré hospitalar. Assim, as vítimas serão atendidas beiros que estiverem atuando na ocorrência sai-
corretamente e as equipes de socorro poderão bam quais ações serão efetuadas.
atuar de forma segura.
Confinamento
MÉTODOS DE CONTROLE DE DERRAMAMENTOS E
VAZAMENTOS Confinamento é o nome dado aos procedi-
mentos tomados para manter um material em
Durante o atendimento emergencial o co- uma área definida ou limitada, quando o produto
mandante deve decidir se a equipe de resposta tiver saído de seu recipiente e a equipe de res-
irá tomar ações defensivas, ofensivas ou se não posta necessitar controlar o produto. Esses pro-
irá intervir na Zona Quente. cedimentos são baseados em métodos químicos
No modo ativo ou de intervenção direta a equi- e físicos, conforme segue:
pe de resposta irá ao encontro do problema, efe- • Absorção: processo físico de reter ou “reco-
tuando ações de estancamento de um vazamento lher” um material perigoso líquido para prevenir
através de batoques, colocação de vedantes ou o crescimento da área contaminada. À medida
outra maneira de aproximação e invasão da zona que o material é recolhido, o absorvente irá ge-
quente com uma atitude direta em relação ao risco. ralmente dilatar e expandir em tamanho. Depen-
No modo defensivo ou preventivo a equipe dendo do absorvente, pode ser usado tanto em
de resposta adota ações para não aumentar o vazamento de líquidos na água quanto no solo.
dano à comunidade e ao meio ambiente. Um • Adsorção: processo no qual um produto
exemplo de modo defensivo é o desvio e dre- perigoso líquido interage com uma super-
nagem de produtos perigosos. fície sólida, aderindo à superfície sem ser
No modo de não-intervenção a equipe de res- absorvido, como com os absorventes. O
posta isola a área e aguarda até que o acidente processo de adsorção é acompanhado pelo
tenha terminado e o risco de intervenção tenha aquecimento do adsorvente, enquanto que
sido reduzido a um nível aceitável. o de absorção não. Assim, a ignição espontâ-
As estratégias e táticas adotadas durante a nea pode ser uma possibilidade com alguns
emergência devem ser de conhecimento de toda produtos químicos líquidos.
a equipe de intervenção, de forma que os bom-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 131


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

• Cobertura: método físico utilizado como substância solúvel em água é diluída pela adi-
uma medida temporária até que as táticas de ção de grandes volumes de água. Geralmente
controle mais efetivas sejam implementadas. A a substância perigosa envolvida é um “corro-
cobertura pode ser feita de várias formas, po- sivo”. Há quatro critérios importantes que de-
dendo ser utilizada uma cobertura de plástico vem ser considerados antes da tentativa de
ou lona sobre um derramamento de poeira ou diluição, que terão de ser observados com an-
pó, ou ainda podendo ser colocada uma cober- tecedência, são eles:
tura ou uma barreira sobre uma fonte radioa- a) a substância não reage com a água;
tiva, normalmente alfa ou beta, para reduzir a b) não será gerado um gás tóxico pelo conta-
quantidade de radiação emitida, ou finalmente to com a água;
pode-se cobrir um metal inflamável ou pirofóri- c) não formará nenhum tipo de sólido ou
co com o pó químico seco apropriado. precipitado;
• Represamento: método físico de confina- d) é totalmente solúvel em água.
mento, pelo qual barragens são construídas
para prevenir ou reduzir a quantidade de líqui- • Desvio: método físico de confinamento no
do que escoa para o meio ambiente. O repre- qual barragens são construídas no chão ou po-
samento consiste em construir uma barragem sicionadas em um curso de água para contro-
sobre o curso de água para parar/controlar o lar intencionalmente o movimento do material
fluxo do produto e recolher os contaminantes perigoso até uma área na qual apresentará me-
sólidos ou líquidos. Há dois tipos de represas: nos risco à comunidade e ao meio ambiente.
transbordamento e escoamento. • Dispersão: método químico de confinamen-
• Dique: método físico de confinamento no to no qual certos agentes químicos e biológicos
qual barreiras são construídas no chão usa- são usados para espalhar ou dissolver o pro-
das para controlar o movimento de líquidos, duto envolvido em derramamentos líquidos na
sedimentos sólidos e outros materiais. Diques água. O uso de dispersivos pode resultar na dis-
previnem e impedem a passagem do material seminação do material sobre uma área maior.
perigoso para uma área onde ele poderá cau- • Retenção: método físico de confinamento
sar um dano maior. no qual um líquido é temporariamente retido
• Diluição: método químico pelo qual uma em uma área onde poderá ser absorvido, neu-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 132


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

tralizado, ou recolhido para o tratamento apro- cos e perigos.


priado. As táticas de retenção são intencional- • Neutralização: método químico de conten-
mente mais permanentes e podem requerer ção pelo qual o produto perigoso é neutraliza-
recursos como tanques portáteis ou bolsões do por meio da aplicação de um segundo pro-
impermeáveis construídos de materiais com duto, que vai reagir quimicamente, de modo
resistência química. a formar uma substância menos perigosa. O
• Dispersão de vapor: método físico de con- exemplo mais comum é o da aplicação de uma
finamento no qual gotículas de água em for- base num ácido para formar um sal neutro. A
ma de neblina ou chuveiro, ou ventiladores maior vantagem da neutralização é a redução
são usados para dispersar ou suprimir vapores significativa dos vapores danosos que foram li-
para longe de certas áreas ou materiais. É par- berados. Em alguns casos, o produto perigoso
ticularmente eficaz com materiais solúveis em pode se tornar inofensivo e pode ser descarta-
água (ex: anidros, amônia), embora o produ- do com muito menos custo e trabalho.
to resultante possa comprometer o meio am- • Revestimento: método físico de contenção
biente. Ventiladores e exaustores de pressão no qual um tambor, contêiner ou recipiente
positiva também podem ser usados se forem com vazamento é colocado dentro de um con-
apropriados para a atmosfera perigosa. têiner maior. Embora seja mais utilizado para lí-
quidos, o revestimento pode ser utilizado tam-
Contenção bém para cilindros de gás comprimido, como
por exemplo o de cloro.
A contenção é o nome dado aos procedi- • Vedação-Estancamento: método físico
mentos tomados para manter o produto que não de contenção que utiliza cintas de vedação,
vazou dentro de seu recipiente. Táticas de con- batoques e cunhas quimicamente compatí-
tenção são empregadas quando as opções de- veis para reduzir ou parar temporariamente
fensivas não produziram resultados aceitáveis, ou o fluxo de materiais de pequenas aberturas,
quando cidadãos e funcionários estão em grande buracos ou fendas em cilindros, embalagens
risco, devido a potenciais exposições químicas. e tanques. Embora seja mais freqüentemente
Essas táticas devem ser adotadas somente após usado em recipientes e tanques para líquidos
ter sido efetuada uma meticulosa avaliação de ris-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 133


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

sob pressão e sólidos. • Solidificação: método químico de conten-


• Estancamento: envolve a aplicação de ba- ção no qual uma substância líquida é quimi-
toques e cunhas na abertura para reduzi-la e camente tratada para que se transforme em
diminuir o fluxo do produto. Esse dispositivo um material sólido. A vantagem primária des-
deve ser compatível tanto com o material quan- te processo é que o derramamento pequeno
to com o material de construção do contêiner. pode ser confinado de modo relativamente rá-
Por exemplo, um pequeno buraco num tanque pido e imediatamente tratado.
de alumínio de um caminhão pode, às vezes, • Aspiração: método físico no qual um pro-
ser tapado com um batoque de madeira, utili- duto perigoso é colocado num sistema de con-
zando-se uma malha de borracha. No entanto, tenção simplesmente por meio de uma aspira-
este dispositivo não resistiria a um ácido forte. ção. O método de aspiração dependerá dos
• Vedação: envolve a aplicação de um mate- produtos perigosos envolvidos. A aspiração é
rial ou dispositivo sobre a abertura para man- normalmente utilizada para conter liberações
ter o produto perigoso dentro do contêiner. de certos hidrocarbonetos líquidos, partículas
Podem incluir dispositivos tanto comerciais sólidas, fibras de asbestos e mercúrio líquido.
quanto caseiros para reparar vazamentos em A vantagem primordial da aspiração é que não
tambores, tubulações e válvulas, porém preci- há aumento do volume de material.
sam ser compatíveis com os produtos quími-
cos envolvidos. Monitoramento
• Redução ou alívio da pressão: método físi-
co ou químico de contenção, no qual a pressão A avaliação de informações de riscos é um dos
interna de um contêiner fechado é reduzida. O pontos mais críticos na hora de tomar decisões em
objetivo tático é aliviar suficientemente a pres- um controle bem sucedido de um acidente com
são interna para minimizar o potencial risco de produtos perigosos. Dentre os meios possíveis de
rompimento do contêiner/recipiente. As ações identificação de um produto perigoso, existem
de redução de pressão são de alto risco e re- equipamentos de detecção, os quais são essenciais
querem que os atendentes trabalhem muito para que as equipes de resposta possam determi-
próximos ao contêiner/recipiente. nar quais produtos perigosos estão presentes na

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 134


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

cena de emergência ou até mesmo quantificá-los tectar uma grande quantidade de produtos
dependendo do equipamento utilizado. químicos e suas respectivas concentrações
Na determinação de gases ou vapores utili- sem, entretanto, identificar qual substância
zam-se os analisadores fixos e os portáteis de lei- química está presente no local.
tura direta. O uso de analisadores fixos é restrito • Monitores químicos específicos: aparelhos
ao interior de instalações industriais onde o moni- de grande precisão, são usados principalmente
toramento contínuo se faz necessário. para detectar monóxido de carbono e gás sulfí-
Já a utilização dos analisadores portáteis de drico, mas também estão disponíveis monitores
leitura direta surgiu com a necessidade de reali- para cianeto de hidrogênio, amônia e cloro.
zação de análises rápidas obtidas no campo por • Medidores de pH: os pHmetros são utili-
ocasião de acidentes ambientais. zados para medir a acidez ou alcalinidade de
Os equipamentos de monitoramento con- uma solução. O pH pode ser determinado co-
sistem em: lorimetricamente ou eletrometricamente.
• Anemômetro e biruta: equipamentos uti- • Cromatógrafos a gás: consiste em um equi-
lizados para verificar direção e velocidade do pamento quali-quantitativo de gases.
vento.
• Tubo detector colorimétrico: é composto FINALIZAÇÃO
de uma bomba de fole e um tubo indicador
colorimétrico (tubo reagente). É utilizado para Na fase da finalização são realizadas as ações
detectar um tipo de gás específico sem, entre- de rescaldo de áreas incendiadas, a descontami-
tanto, quantificá-lo. nação de EPIs e instrumentos de medição, trata-
• Indicador de oxigênio: também conhecido mento e disposição de resíduos, elaboração de
por oxímetro, é utilizado para medir a concen- relatórios, e demais atividades que permitam que
tração de oxigênio na atmosfera local. a cena permaneça segura.
• Indicador de gás combustível: também A desmobilização de todos os recursos exige
conhecido por explosímetro, é um aparelho grande atenção, de modo que a descontaminação
especialmente fabricado para medir as con- e disposição de materiais e equipamentos seja
centrações de gases e vapores inflamáveis. efetuada corretamente para que não aconteçam
• Fotoionizador: possui capacidade de de- acidentes posteriores. Por mais que no decorrer

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 135


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

de uma emergência com produtos perigosos a ções de carga, descontaminação de rios e outras
equipe tenha logrado êxito, caso seja deixado de que poderão surgir, ficarão sob responsabilidade
cumprir as medidas mínimas de segurança duran- da empresa que transporta/armazena o produto
te a descontaminação e disposição dos materiais e com acompanhamento dos respectivos órgãos
equipamentos utilizados na mesma, pode-se com- públicos que detêm atribuições de gerenciar
prometer a operação integralmente. esse processo (Defesa Civil, órgão ambiental, Po-
Assim, com todos os equipamentos e mate- lícias Rodoviárias etc).
riais devidamente manutenidos e os recursos Embora as guarnições de socorro do CBMSC,
preparados para um novo atendimento, é efetua- em muitos quarteis sejam reduzidas para o atendi-
da uma avaliação da operação, visando analisar mento de ocorrências que envolvam produtos pe-
eventuais falhas e aperfeiçoar o sistema de aten- rigosos que necessitem de uma equipe de inter-
dimento. Dessa forma, o ciclo de atendimento se venção, a equipe mínima deve conter pelo menos
completa e a fase de prontidão inicia-se com re- cinco (05) integrantes, sendo dois bombeiros para
torno ao quartel, com treinamentos, preparação a execução das ações táticas (equipe de resposta),
e reposição do material para uma potencial nova dois para bombeiros o processo de descontamina-
ocorrência com produtos perigosos. ção (equipe de descontaminação) e o comandan-
te, que desempenhará as funções de Comandante
EQUIPE DE INTERVENÇÃO da Emergência, supervisão das ações de descon-
taminação e segurança da equipe.
Antes de uma abordagem sobre a formação As funções acima relacionadas podem ser
da equipe de intervenção do CBMSC, cabe des- alteradas de acordo com as características da
tacar que o Corpo de Bombeiros Militar de San- Organização Bombeiro Militar e em função da
ta Catarina atua na emergência com objetivo de composição do número de viaturas e bombeiros
resgatar possíveis vítimas, além de realizar inter- enviados ao local.
venções com foco a deixar a cena segura, con- Torna-se importante que cada bombeiro co-
trolando possíveis vazamentos, princípios de in- nheça sua função, devendo haver treinamentos
cêndio, isolando locais de risco, dentre outros. periódicos para garantir um atendimento eficaz,
Atribuições como baldeação de carga, remoção proporcionando um nível de segurança adequa-
de solo, realização de diques, grandes conten- do a toda equipe de intervenção.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 136


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

Dessa forma, cada integrante possuirá as se- 6. Avaliar a quantidade, tipo e estado de
guintes funções: vítimas;
7. Verificar a existência de vazamento ou der-
COMANDANTE ramamento do produto e a necessidade de
contenção ou confinamento;
São funções do comandante: 8. Verificação de riscos (fontes de ignição,
1. Efetuar corretamente a coleta de informa- tráfego intenso de veículos, rios, mananciais,
ções na fase de acionamento; lagos, rede elétrica, residências, colégios,
2. Durante a fase da avaliação inicial da cena, hospitais etc.)
deverá avisar a central de operações que che- 9. Isolar a área, utilizando de maneira correta as
gou ao local da ocorrência, confirmar a natu- informações contidas no manual da ABIQUIM;
reza da mesma, assim como assumir o coman- Tal isolamento será feito com a utilização de fita
do da operação; zebrada, por exemplo, pela equipe de resposta,
3. Até que se conheça o produto envolvido de- após determinação do Comandante. Acessar a
verá permanecer a uma distância de 100 me- FISPQ do produto perigoso, se necessário;
tros do local onde estão ou que possam surgir 10. Estabelecer zonas de trabalho e pontos
os contaminantes, assim como deverá reposi- de controle para regular o acesso. Determi-
cionar viatura e equipe se necessário (atenção nar que a equipe de descontaminação reali-
à direção do vento); ze a montagem do corredor de descontami-
4. Solicitar a instalação do equipamento de nação, delimitando, também, o corredor de
monitoramento do vento (biruta) e verificar acesso para a equipe;
sua direção; 11. Determinar área de evacuação, se necessá-
5. Identificar o(s) produto(s) envolvidos na rio, aos órgãos de apoio;
cena. Após identificação do produto, utilizar a 12. Informar a central da necessidade ou não
guia correta do Manual da ABIQUIM, determi- de recursos adicionais;
nando que a equipe de resposta faça o isola- 13. Manter a segurança da equipe de inter-
mento do local na distância indicada no ma- venção;
nual e inicie a colocação da roupa de proteção 14. Definir os pontos de acesso e rota de fuga
química adequada para o caso;

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 137


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

da equipe de resposta; 2. Repassar ao comandante informações ne-


15. Determinar tempo de trabalho na zona cessárias ou solicitadas;
quente, ações e objetivo da equipe de resposta; 3. Realizar o isolamento do local;
16. Repassar informações à equipe, tais como 4. Se equipar com a roupa de proteção quí-
do que se trata a ocorrência, quais produtos mica adequada para a ocorrência, colocando
envolvidos, qual a determinação para equipe, corretamente o EPI;
técnicas e táticas a serem realizadas, por onde 5. Efetuar a confirmação do recebimentos das
a equipe deve acessar, sugerir o local da rota informações pelo Comandante. Após, efetuar
de fuga, determinar que faça o giro no perí- o teste de rádio;
metro do acidente (360º) para avaliar todos os 6. Acessar a zona quente pelo corredor de
riscos presentes na cena e informar o tempo acesso, levando todos os materiais e equipa-
total que a equipe tem na zona quente; mentos que irão utilizar na zona quente;
17. Confirmar informações repassadas para a 7. Deslocar de forma segura;
equipe de resposta; 8. Delimitar com cones a rota de fuga e zonas
18. Solicitar que cada bombeiro da equipe de de trabalho;
resposta faça o teste de rádio; 9. Verificar na zona quente outros riscos não
19. Recepcionar todas as informações repassa- observados na avaliação inicial, realizando em
das pela equipe de resposta, que está na zona todo o perímetro do acidente, repassando os
quente, procurando soluções para cada caso. problemas e informações importantes ao Co-
20. Decidir as estratégias para socorro de ví- mandante por meio do rádio;
timas e/ou contenção/confinamento do(s) pro- 10. Realizar corretamente o controle do derra-
duto(s) presentes na ocorrência. mamento ou vazamento e/ou retirada da vítima;
11. Passar pelas estações da descontaminação.
EQUIPE DE RESPOSTA
EQUIPE DE DESCONTAMINAÇÃO
São funções da equipe de resposta:
1. Solicitar informações ao comandante da São funções da equipe de descontaminação:
operação sobre os objetivos da missão; 1. solicitar informações ao comandante da
operação sobre os objetivos da missão;

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 138


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

2. repassar ao comandante informações ne-


cessárias ou solicitadas;
3. montar corretamente o corredor de descon-
taminação;
4. verificar com equipamento a direção e velo-
cidade do vento;
5. utilizar o EPI corretamente e auxiliar as equi-
pes de respostas a se equipar;
6. realizar corretamente os procedimentos de
descontaminação de pessoas, animais, equi-
pamentos e materiais;
7. não permitir que nada deixe a zona quente
sem a devida descontaminação;
8. destinar corretamente os resíduos contami-
nados da operação.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 139


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

RECAPITULANDO Uma guarnição mínima para atendimento de


emergência com produtos perigosos necessita
As fases de atendimento emergencial em de pelo menos cinco (05) integrantes, sendo dois
ocorrências envolvendo produtos perigosos (02) bombeiros para a execução das ações táticas
compreendem a fase de prontidão, acionamento, (equipe de resposta), dois (02) para descontami-
avaliação, controle e finalização. nação e o comandante. Cada membro desempe-
A fase de prontidão envolve além da dispo- nha funções importantes durante o atendimento
nibilidade de materiais e equipamentos, o trei- a emergência com produtos perigosos, devendo
namento contínuo das equipes. O acionamen- haver treinamentos periódicos para garantir um
to é uma das fases mais importantes para os atendimento eficaz, proporcionando um nível de
bombeiros militares pois são essenciais para o segurança adequado a toda equipe.
sucesso da operação a coleta de informações,
emprego adequado de viaturas, contato contí-
nuo com equipe de resposta e o acionamento
de órgãos de apoio.
A fase de avaliação consiste na identificação
dos riscos e o correto dimensionamento da cena,
de forma que possam ser definidas as medidas a
serem adotadas para o controle da situação.
Já a fase de controle define a estratégia de
ação para o desenvolvimento dos trabalhos e di-
mensionamento dos recursos, humanos e mate-
riais, realizando nessa fase o controle do produto
perigoso e o socorro de vítimas. Por fim, a fase
de finalização envolve todas as atividades de res-
caldo e trabalhos que permitam que a cena per-
maneça segura. Após esta etapa, com o local da
emergência devidamente seguro, inicia-se a des-
mobilização e em seguida a fase de prontidão.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 140


Lição VIII Procedimentos para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos

AVALIAÇÃO DA LIÇÃO 3. Cite pelo menos 3 atribuições da equipe de res-


posta, equipe de descontaminação e comandante.
1. Cite as fases de atendimento em uma emer-
gência com produtos perigosos.

2. Cite pelo menos 5 equipamentos utilizados no


controle de derramamentos e vazamentos.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 141


LIÇÃO IX
Níveis de Atendimento com
Produtos Perigosos

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final da lição, os participantes deverão ser capazes de:


• conhecer os quatro níveis de atendimento em ocorrências
envolvendo produtos perigosos;
• elencar as principais características de cada nível de aten-
dimento.
Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

Como você já viu, as emergências envolvendo Com base em Silva Neto (2016), o CBMSC,
produtos perigosos, normalmente, são complexas atua com uma resposta a acidentes com produtos
e requerem do profissional que prestará o atendi- perigosos realizado em 4 níveis de atendimento:
mento um alto grau de conhecimento técnico, uma Operacional, indicado para os bombeiros milita-
boa capacitação e certa habilidade para atuarem res que prestam de fato o primeiro atendimento à
de forma eficiente com objetivo de proporcionar emergência com PP, especificamente; Gerencial,
segurança aos envolvidos no incidente. para sargentos e oficiais bombeiros militares for-
Como forma de organizar os atendimentos mados através do Curso de Formação de Sargen-
a maioria dos corpos de bombeiros militar, uti- tos (CFS) e Curso de Formação de Oficiais (CFO),
lizam uma divisão para prestação desse serviço respectivamente; Especialista, inicialmente com-
em níveis de atendimento. Essa divisão tem o posta pelos membros da coordenadoria de pro-
objetivo de estruturar e definir as atribuições dutos perigosos; e o Comando de incidentes,
de cada nível em acordo com a função a ser para aqueles bombeiros militares que assumem
exercida no atendimento, através de capacita- o comandamento das ocorrências de grandes
ções técnica para cada nível específico. proporções dentro da instituição, coordenando o
Segundo Silva Neto (2016), a maioria dos cor- Sistema de Comando de Operações.
pos de bombeiros do Brasil, para atendimento
a emergências com produtos perigosos, no que NÍVEL OPERACIONAL
tange aos níveis de atendimento, se norteiam
com o preconizado pela National Fire Protection O nível operacional é basicamente formado
Association (NFPA) mais especificamente a Nor- por bombeiros militares que trabalham nas suas
ma NFPA 472 de 2002 e outras edições de 2008 e unidades operacionais em escalas de plantão, ou
2013. Esta norma, possui o objetivo de especificar seja, ficam de prontidão para atuarem em qual-
um padrão mínimo de competência para aqueles quer tipo de socorro de urgência, busca ou sal-
profissionais que responderão ao incidente com vamento, sendo eles os primeiros a chegarem na
produto perigoso, melhorando a qualidade do cena da emergência, após o acionamento.
atendimento e consequentemente reduzindo o Os bombeiros militares, primeiros responde-
número de acidentes, lesões e doenças ocorridas dores a incidentes com produtos perigosos, são
durante a resposta à emergência. de fundamental importância para o sucesso da

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 143


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

ocorrência, pois suas ações ou omissões influen- civil. No entanto, os profissionais deste nível so-
ciarão no rumo da emergência. Diante disso, es- mente realizarão o atendimento em ocorrências
tes profissionais são capacitados para iniciar a de menor vulto, pela qual não haveria a necessi-
resposta ao acidente, intervindo, se for o caso, dade da gestão de todo o incidente.
para manter o local seguro até a chegada de Portanto, se a ocorrência tiver um alto grau
equipe especializada, se houver necessidade da de complexidade ou evoluir e não houver uma
presença da mesma. solução para controle total da mesma por parte
O foco da capacitação dos bombeiros que do nível operacional, deverá o bombeiro militar
atuarão neste nível deverá ser na identificação solicitar apoio do próximo nível de atendimento,
de produtos perigosos e utilização, com pro- nível gerencial, repassando todos os dados so-
priedade, do manual de atendimento a emer- bre o incidente e mantendo o local seguro até a
gências com produtos perigosos (manual da chegada desse pessoal. A partir desse momento,
ABIQUIM) seguindo as orientações contidas o bombeiro militar a nível operacional que está
nele. Devem ter foco no isolamento da área de no comando da operação o transfere para mili-
segurança, monitoramento da direção do ven- tar mais antigo do nível gerencial, ficando à dis-
to, posicionamento de viaturas, coleta de infor- posição, acompanhado de toda sua equipe, para
mações, utilização de vestimentas de proteção, auxiliar no que for necessário e determinado por
resgate de vítimas, controle e estabilização do seus superiores, pertencentes ao nível gerencial.
local do incidente, processo de remoção de As equipes de nível operacional também po-
contaminantes (descontaminação), acionamen- derão realizar contenção de vazamentos e con-
to de órgão de apoio e transferência do coman- trole de princípio de incêndio, entretanto, nossos
do da operação, solicitando apoio de equipe bombeiros não realizam notificação de transpor-
especializada para continuidade da operação, tador ou proprietário de carga como acontece
se assim a ocorrência exigir. em outros estados, pois em Santa Catarina esta
O bombeiro militar nível operacional estará atribuição é de responsabilidade do órgão am-
apto a realizar procedimentos para estabilizar, biental, assim como o controle e remoção dos
deixar controlado e seguro o local da ocorrên- produtos após a estabilização da situação.
cia, repassando a ocorrência aos responsáveis, Alguns conhecimentos que os bombeiros mili-
representantes dos órgão ambientais ou defesa tares a nível operacional devem possuir são:

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 144


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

• conceito e significado de ameaça, vulnerabi- NÍVEL GERENCIAL


lidade, evento adverso, risco;
• dentro da análise dos riscos, conceitos de Este nível de atendimento é composto por
risco aceitável e operação segura; sargentos ou oficiais formados em seus respecti-
• conceito de produto perigoso, carga peri- vos cursos de formação, Curso de Formação de
gosa e saber diferenciar um incidente comum Sargento (CFS) e Curso de Formação de Oficiais
de um envolvendo produto perigoso; (CFO). Considerando que, futuramente, os can-
• identificar a diferença entre agentes quími- didatos a participarem dos cursos de formação
cos, biológicos e radiológicos; de sargentos terão realizado os cursos de ca-
• conhecer as formas de exposição ao pro- pacitação para atendimento à emergência com
duto perigoso; produtos perigosos no Curso de Formação de
• saber as formas de identificação de um pro- Soldados (CFSd) e se atualizado no Curso de
duto perigoso; Formação de Cabos (CFC), estes, durante o CFS
• dominar a utilização do manual para aten- e ou CFO, receberão treinamento para gerenciar
dimento a emergências com produtos perigo- ocorrências desta natureza.
sos, conhecendo todas as seções; Em não havendo bombeiro do nível geren-
• conhecer a classificação de vazamentos cial na ocorrência e as necessidades do atendi-
e derramamentos, de acordo com o manual mento assim exigir, este deve ser acionado para
da ABIQUIM; coordenar as ações de respostas a incidentes
• conhecer processos de descontaminação; com produtos perigosos. O nível gerencial
• conhecer os níveis de proteção, quais são os somente será acionado em ocorrências em
equipamentos de proteção disponíveis e em que, devido às proporções e complexidade,
quais situações serão utilizados; não puderam ser solucionadas pelas guarni-
• identificar a área contaminada ou área ções do nível operacional.
de risco; O sargento ou oficial a nível gerencial, ao che-
• conhecer o conceito de zona de trabalho e gar na ocorrência, como primeiro procedimento,
sua classificação. assume o comando da operação via rádio comu-
nicação, e em seguida, estabelece o local do pos-

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 145


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

to de comando. Diante das informações repas- to, socorro e resgate de vítimas, contenção de va-
sadas pelo bombeiro do nível operacional que zamentos, assim como, a realização da desconta-
estava na cena inicialmente, referentes a riscos, minação de possíveis vítimas, de materiais e dos
ameaças, vulnerabilidades e ações já tomadas bombeiros que atuam na resposta. Também ficará
até a sua chegada, faz-se uma análise e avaliação responsável por realizar o monitoramento do ar,
de todo cenário, tentando prever possíveis com- por meio de detectores de gás, redefinir as zonas
portamentos dos produtos perigosos e dá conti- de trabalho, se for o caso, assim como avaliar, cons-
nuidade, de modo atualizado, ao planejamento, tantemente, o progresso da resposta ao incidente.
execução e gerenciamento das técnicas e táticas Os bombeiros militares pertencentes ao nível
de intervenção ao incidente. gerencial, sobretudo, possuem função de lide-
O profissional do nível gerencial deve planejar rança no incidente, tomando as atitudes neces-
a resposta para controle da situação e restabe- sárias para controle da emergência e ficando res-
lecimento da normalidade, definindo prioridades ponsável pela segurança de todos os envolvidos
e objetivos, descrevendo as opções de resposta na cena: bombeiros, vítimas, populares, dentre
para cada objetivo a cumprir, determinando qual outros. Diante disso, a partir do momento que a
a roupa de proteção química é ideal para ocasião, ocorrência toma proporções que ultrapassam a
definindo as zonas de trabalho e como será reali- capacidade de resposta para este nível, necessi-
zado o processo de descontaminação. tando de conhecimentos mais técnicos e espe-
Os bombeiros a nível gerencial serão os res- cíficos sobre o produto ou procedimentos com
ponsáveis por toda ocorrência, tendo à disposi- técnicas mais avançadas, deverá o bombeiro do
ção os membros da equipe operacional, além de nível gerencial solicitar apoio do próximo nível
pessoal que pode ser acionado para apoio, for- de atendimento, nível especialista, que envolve
mando uma equipe com mais integrantes para diretamente algum membro, ou mais, da coor-
resposta ao incidente. denadoria de produtos perigosos, tomando as
O comandante da operação, bombeiro nível providências cabíveis para manter a segurança
gerencial, determinará as ações que serão realiza- no local até a chegada da mesma.
das na zona quente, determinando as prioridades, Em suma, o bombeiro militar do nível geren-
tais como, fechamento de válvulas, tamponamen- cial, sargento ou oficial, além de possuir todos

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 146


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

os conhecimentos do nível operacional, deve ter formação acadêmica em áreas afins ao atendi-
capacitação para gerenciamento de uma ocor- mento com produto perigoso, como, por exem-
rência com produtos perigosos. Além de possuir, plo, graduação em química, engenharia quími-
resumidamente, as seguintes atribuições: ca e engenharia ambiental. Estas formações
• recolher informações sobre riscos, ameaças, acadêmicas, por si só, não necessariamente os
vulnerabilidades e respostas já realizadas; capacitam para o atendimento, no entanto, faci-
• analisar o cenário, estimando os danos cau- litam o entendimento de muitos processos que
sados pelo acidente; ocorrem na maioria dos acidentes com produtos
• planejar técnicas e táticas de intervenção, perigosos. Além de que, esses bombeiros tam-
estabelecendo objetivos e prioridades; bém possuem conhecimento a nível operacional
• descrever opções de resposta para cada ob- e gerencial, cumulativamente, adquiridos por
jetivo a cumprir; meio do curso de formação.
• prever possíveis comportamentos dos pro- Boa parte dos integrantes da coordenadoria
dutos perigosos; de produtos perigosos tem capacitação específi-
• determinar a RPQ mais adequada para a ca para atendimento à emergência com produtos
resposta; perigosos, através da realização de cursos fora do
• selecionar os procedimentos de desconta- CBMSC, até mesmo no exterior, em bombeiros
minação adequados; referências em atendimento a ocorrências envol-
• realizar o monitoramento do ar; vendo essas substâncias. Dessa forma, a proposta
• definir áreas de trabalho; é que, inicialmente, a coordenadoria faça as fun-
• avaliar o progresso da resposta; ções do nível especialista, considerando serem
• exercer a função de liderança no incidente. possuidores desse conhecimento técnico/especí-
fico sobre as propriedades químicas que envolve
NÍVEL ESPECIALISTA a maioria dos produtos químicos perigosos.
Abaixo, como exemplificação, segue alguns
O nível especialista deve ser composto por conhecimentos que os bombeiros militares
bombeiros militares integrantes da coordena- a nível especialista devem possuir, sabendo
doria de produtos perigosos do CBMSC, pois descrever os conceitos técnicos e explicar a
estes, possuem conhecimento técnico devido à importância deles na apreciação dos riscos,

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 147


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

semelhante ao que é exigido ao técnico de • densidade de vapor, pressão de vapor e


material perigoso, baseado na NFPA 472: volatilidade.
• ácido e base;
• reatividade do ar, produtos tóxicos da A proposta do nível especialista é de que, futu-
combustão; ramente, a coordenadoria capacite os bombeiros
• agentes biológicos e toxinas; militares do Estado que tenham formação acadê-
• sublimação e pontos de fusão, ebulição e mica nas áreas afins citadas acima, podendo se
solidificação; estender aos bombeiros que se identifiquem com
• reatividade e interações químicas; o atendimento a incidentes com produtos perigo-
• catalisador e inibidor; sos e queiram desenvolver com competência este
• composto, mistura, solução, viscosidade e nível de atendimento. Por meio desta formação, a
miscibilidade; proposta é criar centros regionais especializados,
• corrosividade, Potencial Hidrogeniônico (pH); contendo bombeiros lotados em cada uma des-
• temperatura e pressão crítica; sas regiões específicas, que possam prestar esse
• inflamabilidade e temperatura do produto; atendimento a nível especialista.
• ponto de fulgor, ponto de inflamabilidade, Sendo assim, a coordenadoria de produtos peri-
ponto de combustão e temperatura de ignição; gosos seria substituída por estas equipes formadas
• radioatividade e meia-vida; por bombeiros especialistas de cada região, deixan-
• hidrocarbonetos halogenados, aromáticos, do ela de compor um dos níveis de atendimento.
insaturados e saturados; Em síntese, futuramente, o nível especialista
• instabilidade; seria formado por equipes de bombeiros capa-
• compostos covalentes e iônicos; citados pela coordenadoria para atender estas
• agentes irritantes; ocorrências envolvendo produtos perigosos com
• orgânicos e inorgânicos; mais propriedade em suas microrregiões, deso-
• oxidação, agentes oxidantes e redutores; nerando, em parte, a coordenadoria deste pro-
• estado físico da matéria (sólido, líquido, cesso, deixando a mesma como um apoio, caso
gasoso); haja necessidade nesses atendimentos.
• polimerização; Diante de uma ocorrência envolvendo subs-
• solubilidade em água; tâncias consideradas perigosas em que a situação

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 148


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

evolui, tomando maiores proporções e tornando o que a situação volte à normalidade, a figura de
atendimento complexo devido às características dos um profissional qualificado com conhecimentos
produtos envolvidos ou dimensão dos danos por específicos para auxiliar e contribuir nas diversas
eles causados, ultrapassando a capacidade de res- tarefas realizadas no incidente é de vital impor-
posta dos bombeiros militares a nível operacional e tância. Este processo, dar-se-á por meio do nível
gerencial, este último, aciona os membros da coor- especialista, composta inicialmente pela coorde-
denadoria por serem, em tese, os mais capacitados nadoria de produtos perigosos e futuramente por
tecnicamente para resposta dentro do CBMSC. bombeiros militares capacitados por esta coor-
O membro acionado da coordenadoria não ne- denadoria em seus respectivos centros regionais
cessariamente assumirá o comando da operação, especializados a essas emergências.
suas atribuições são principalmente de apoiar o Segue abaixo a relação, sucinta, das funções
atendimento e auxiliar na tomada de decisão em- propostas para este nível:
basado em seus conhecimentos específicos, no • possuir conhecimento técnico na área de
entanto, ele poderá assumir o comando depen- produtos perigosos;
dendo dos bombeiros já envolvidos na ocorrência, • auxiliar na realização de cursos de capacita-
respeitando a hierarquia dentro da instituição. ção e especialização em atendimento com PP;
O bombeiro militar com nível de especialis- • apoiar, como um todo, o atendimento a
ta, caso assuma o comando da operação, pas- emergências complexas envolvendo produtos
sa a ter como principal responsabilidade a ga- perigosos, ou seja, de maior vulto, auxiliando
rantia da segurança de todos os envolvidos na na tomada de decisão;
cena da emergência. • possuir domínio sobre a utilização de equi-
Por fim, em casos em que a ocorrência extra- pamentos de monitoramento, de proteção in-
pole os limites de espaço e do tempo, ou seja, dividual e roupas de proteção química.
as ações de respostas não se restringem ao local
onde aconteceu o incidente nem do tempo que NÍVEL COMANDO DE INCIDENTE
se levará para controlar a situação, necessitando
de múltiplas equipes do CBMSC, dos diversos ní- Geralmente em eventos críticos envolvendo
veis de atendimento de Emergências com Produ- produtos perigosos muitos bombeiros militares
tos Perigosos (EPP), e de outras instituições para são empenhados, por tempo indeterminado, em

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 149


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

diversas funções no incidente. Diante disso, para nais envolvidos na emergência, estabelecendo
o sucesso de uma ocorrência dessa natureza é ne- prioridades de ação, novos objetivos, se neces-
cessário existir uma logística de materiais, equi- sário, e realizando a correta distribuição e uso
pamentos e alimentação, havendo o uso racional dos recursos disponíveis na ocorrência.
deles, assim como recursos de pessoal, para ga- No final do atendimento, após controlar
rantir o revezamento entre as equipes. toda situação, o comandante do incidente deve
Sendo assim, em ocorrências com produtos pe- transferir o comando, se houver necessidade, às
rigosos envolvendo múltiplas agências, profissio- agências que ficarão responsáveis pelo local até
nais e recursos, deverá haver o comando unificado restabelecimento da normalidade.
por meio de um bombeiro militar que coordenará Com todas as informações em mãos, finali-
toda operação, garantindo a segurança das equi- za-se o relatório da ocorrência, ficando sob res-
pes e uso racional dos recursos disponíveis. ponsabilidade do bombeiro a nível de comando
O bombeiro militar, em nível de comando de de incidente coordenar a reunião final que visará
incidente com produtos perigosos, deve possuir apresentar os resultados e verificar quais pontos
conhecimento sobre sistema de comando de ope- podem melhorar nos próximos atendimentos.
ração, o que no CBMSC é bem difundido, inclusive, De acordo com Silva Neto (2016), o aten-
dispondo de uma diretriz operacional referente ao dimento com produtos perigosos do CBMSC
tema. Este bombeiro militar não necessariamente apresenta-se em quatro níveis nos quais as
tem que entender tudo sobre o produto perigo- funções são exercidas por bombeiros militares
so presente na emergência, porém precisa saber de diferentes postos e graduações.
aplicar corretamente o Sistema de Comando de
Operações para comandar a operação como um Nível de atendimento operacional
todo. Desta forma, se a ocorrência necessitar des- Funções desenvolvidas por Soldados BM e
te nível de atendimento, os procedimentos no in- Cabos BM, que consistem em:
cidente serão remetidos à Diretriz Operacional de • coletar informações preliminares sobre
Sistema de Comando de Operação. ameaças e riscos existentes na cena;
O profissional a nível de comando de inci- • posicionar a viatura em local adequado, na
dente, após assumir o comando da operação, direção do vento e de preferência em local
deverá delegar funções às agências e profissio- mais alto que o incidente;

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 150


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

• assumir o comando da operação; • planejar técnicas e táticas de intervenção,


• manter-se em local seguro; estabelecendo objetivos e prioridades;
• monitorar a direção do vento; • descrever opções de resposta para cada ob-
• monitorar riscos existentes na cena; jetivo a cumprir;
• isolar o local; • prever possíveis comportamentos dos pro-
• identificar o produto perigoso; dutos perigosos;
• realizar procedimentos para controle da si- • determinar a RPQ mais adequada para a
tuação, deixando-a segura; resposta;
• resgatar vítimas; • realizar a intervenção, contenção do produ-
• controlar e estabilizar o local do incidente to vazado, tamponamento, fechamento de vál-
• realizar processo de remoção de contami- vulas, entre outros;
nantes (descontaminação); • realizar o socorro e resgate de vítimas;
• acionar os órgãos de apoio; • montar o corredor de descontaminação;
• acionar a equipe de nível gerencial, se • selecionar os procedimentos de desconta-
for o caso; minação adequados;
• acionar a empresa responsável pelo produ- • realizar a descontaminação;
to, se possível; • monitorar o ar;
• transferir o comando da operação. • definir áreas de trabalho;
• avaliar o progresso da resposta;
Nível de atendimento gerencial • definir função de liderança no incidente;
Funções desenvolvidas por Sargentos BM e • tomar providências iniciais até chegada de
Oficiais BM, que consistem em: uma equipe mais especializada no local;
• assumir o comando da operação; • transferir o comando da operação.
• estabelecer o posto de comando;
• recolher informações sobre riscos, ameaças, Nível de especialista
vulnerabilidades e respostas já realizadas; Funções desenvolvidas por oficiais membros
• analisar do cenário, estimando os danos da coordenadoria de produtos perigosos, que
causados pelo acidente; consistem em:

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 151


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

• colher informações sobre riscos e ações já Nível de comando de incidente


realizadas por outras equipes; Funções desenvolvidas por Oficiais BM espe-
• reajustar objetivos e metas a cumprir, caso cializados em SCO, que consistem em:
haja necessidade; • assumir o comando da operação;
• aplicar uma resposta programada; • função de comando em incidentes com pro-
• salvamentos complexos utilizando EPI e EPR dutos perigosos, estabelecendo o Sistema de
adequados para situação; Comando de Operações;
• contenção e tamponamento do produto • delegar funções;
perigoso; • assegurar o uso correto dos recursos dispo-
• coletar indícios de autoria e materialidade níveis;
da ação ou omissão em caso de danos ao • estabelecer prioridades;
meio ambiente; • criar novos objetivos, se necessário;
• utilização de equipamentos para monitora- • finalizar a ocorrência por parte do CBMSC;
mento das condições climáticas e controle da • emitir relatório final da ocorrência;
atmosfera no ambiente do acidente; • coordenar a reunião final do incidente;
• possuir domínio na utilização de equipa- • transferir o comando para outras agências;
mentos de monitoramento, como anemôme- • atuar de acordo com a diretriz operacional
tro e higrômetro; do CBMSC sobre SCO.
• prever possíveis reações químicas quan-
do envolver mais de um produto perigoso na
cena ou em caso de contato do produto com a
água da chuva;
• auxiliar na elaboração do relatório final da
ocorrência.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 152


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

RECAPITULANDO Já para o nível de comando de incidentes de-


verá o Bombeiro Militar possuir conhecimento so-
O CBMSC constitui uma resposta a acidentes bre sistema de comando de operação, o que no
com produtos perigosos realizada em 4 níveis de CBMSC já é bem difundido, inclusive, dispondo
atendimento: operacional, gerencial, especialista de uma diretriz operacional referente ao tema.
e o comando de incidente.
Cada nível tem suas atribuições e responsabi-
lidades de acordo com a dimensão da ocorrên-
cia a ser atendida. O nível operacional é formado
basicamente por aqueles bombeiros militares
que trabalham nas suas unidades operacionais
em escalas de plantão, ou seja, ficam de pronti-
dão para atuarem em qualquer tipo de socorro
de urgência, busca ou salvamento, sendo eles os
primeiros a chegarem na cena da emergência,
após o acionamento.
Já o nível gerencial é composto por sargen-
tos ou oficiais formados em seus respectivos
cursos de formação, CFS e CFO, que recebem
treinamento para gerenciar ocorrências envol-
vendo produtos perigosos.
O nível especialista é composto por oficiais
bombeiros militares que possuem conhecimento
a nível operacional e gerencial, cumulativamente,
e conhecimento técnico devido a formação acadê-
mica em áreas afins ao atendimento com produto
perigoso, como, por exemplo, graduação em quí-
mica, engenharia química e engenharia ambiental.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 153


Lição IX Níveis de Atendimento com Produtos Perigosos

AVALIAÇÃO DA LIÇÃO 3. Qual a diferença entre o método de absorção e


adsorção?
1. Quais as principais perguntas necessárias para
uma boa coleta de informações?

4. Elenque as principais características de cada


nível de atendimento.

2. Cite as principais ações a serem efetuadas pela


central de atendimento.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA 154


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