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© 2013 do texto por Sueli Lemos e Ec!

na Ande
Instituto Callis
Todos os direitos reservados.
1• edição, 2013

TEXTO ADEQUADO ÀS REGRAS DO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LfNGUA PORTUGUESA

Coordenação editorial: Miriam Gabbai


Revisão : Aline T.K.M. e Ricardo N. Barreiros
Projeto gráfico e diagramação : Thiago Nieri
Crédito das imagens: Dreamstirne ( capa e pp. 8, 10, 14, 15 e 21); Arquivo pessoal (pp. 11, 12, 13, 16, 17, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 30 e 3 1);
Domínio público (p. 18); Keystone (p. 29).

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

S557a

Lemos,Sueli
Arte bizantina : arte na Idade Média / Sueli Lemos, Edna Ande. - l. ed. - São Paulo :
Instituto Callis, 2013.
32 p. : il. ; 25 cm. (Arte na idade média; 4)

Inclui bibliografia
Sumário
ISBN 978-85-98750-84-2

l. Arte - Idade Média - História. 2. Arte Bizantina - História. I. Lemos, Sueli. II. Tít ulo. III. Série.

13-03396 CDD: 709


CDU: 7(09)

30/ 07/ 2013 30/ 07/ 2013

ISBN 978-85-98750-84-2

Impresso no Brasil

2013
Distribuição exclusiva de Callis Editora Ltda.
Rua Oscar Freire, 379, 6" andar • 0 1426-001 • São Paulo • SP
Tel.: ( 11) 3068-5600 . Fax: (11) 3088-3133
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Arte na Idade Média

ARTE
BIZANTINA
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .....................................................................................................7

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 9

ENTRE O ORIENTE E O OCIDENTE ................................................................... .10

ARTE BIZANTINA .................................................................................................. 11


Uma concepção metafísica de beleza ......................................................................... 11

A ARTE BIZANTINA EM CONSTANTINOPLA ..................................................... 12


Arquitetura ...................................................................................................................... 12
A decoração interna da Basílica de Santa Sofia .......................................... 13
Igreja de São Salvador em Chora ................................................................... 16
Cristo Pantocrator ...................................................................................... 17
A capela dos afrescos .................................................................................. 17

ÍCONES E O MOVIMENTO ICONOCLASTA .......................................................... 18


A Igreja Ortodoxa ........................................................................................................... 19

ALGO A MAIS - IGREJAS ESCULPIDAS NAS ROCHAS .................................... 20

A ARTE BIZANTINA EM RAVENA ..................................................................... 22


Basílica de São Vital - a glória m ais pura da arte bizantina no Ocidente .......... 22
A decoração interna .......................................................................................... 23
O Mausoléu de Gala Placídia ....................................................................................... 24
Basílica de Santo Apolinário Novo ............................................................................ 25
Batistérios ......................................................................................................................... 26
Batistério dos Arianos ...................................................................................... 26
Batistério dos Neonianos ou dos Ortodoxos .............................................. 29

MOSAICOS, EXPRESSÃO DA ARTE BIZANTINA ............................................... 30

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 32
APRESENTAÇÃO
A idade Média é um período de difícil definição, pois está situada entre a
nostalgia da Idade Antiga e o orgulho da Idade Moderna.

A arte na Idade Média será mostrada dentro de um contexto histórico. Não aque-
le que muitos hi storiadores dizem ser a idade das trevas, mas, sim, um período de mu-
danças sociais e riquezas artísticas que nos levarão a perceber como as obras de arte
influenciaram a sociedade dessa época.
Mostraremos como os povos desse período adaptaram novos métodos de arte às
suas necessidades religiosas, já que a religião era o refúgio dos oprimidos.
Compararemos as diferenças que a arte apresenta em mil anos de Id ade Média. Es-
colhemos esse caminho para estimular o leitor a pensar na importâ ncia da arte desse
período dentro da história universal, percebendo e realizando as leituras das imagens
por uma via de fácil entendimento.
Assim como fizemos na coleção "Arte na Idade Antiga", ler imagens continua sen-
do nosso objetivo. Seus significados, relacionados a sentimentos, pensamentos e per-
cepções, desencadeiam discussões por meio de olhares distintos.
Também, não nos esqueçamos de que os artistas são grandes comunicadores por
meio do v isual; não necessitam das palav ras, pois a iconografia é imediatista, muito
rica e nos fa z viajar.
Convidamos o leitor a nos acompanhar nesta viagem pela Idade M édia e a deci-
frar os códigos de uma época t ão misteriosa!

A S AUTORAS
Você reconhece a técnica utilizada para fazer este desenho?
Qual o tema explorado na imagem?
Quem são esses personagens?
INTRODUÇÃO
E stá aqui proposta uma viagem no tempo, à arte na Idade Média, mais pre-
cisamente uma incursão à arte bizantina. A viagem será marcada pordes-
cobertas históricas, pelo modo de vida esplendoroso dos imperadores e pelas
riquezas artísticas das imagens litúrgicas presentes nas paredes das igrejas.

Trata-se de uma viagem diferente, em que não são necessários passaportes e nem ba-
gagem. O viajante necessitará de algo m ais precioso: a imaginação! É ela a grande aliada e
o elemento fundamental para que o leitor-viajante aguce sua curiosidade e possa penetrar
no rico universo cultural bizantino. A viagem começará pelo encontro entre o Oriente e
o Ocidente, marcado pelo grande imperador rom ano Constantino, cujas decisões muda-
ram para sempre a história da humanidade.
Durante a viagem, o leitor será convidado a percorrer a concepção metafísica de be-
leza empregada pelos artesãos bizantinos. Por que a beleza form al da arte clássica deveria
ser substituída pela intenção espiritual e abstrata na arte bizantina? Por que os conteúdos
das obras seriam mais importantes que suas formas artísticas?
A viagem avançará por Constantinopla, penetrando nas grandes obras dos arquite-
tos. Essas obras tornavam-se ainda mais majestosas com os ícones, considerados sagra-
dos e que tinham como objetivo a didática, ou seja, ensinar aos fiéis passagens da vida dos
santos e dos imperadores. Por qual razão os fiéis encontravam nessas imagens um poder
milagroso?
A Capadócia não poderia ficar de fora dessa aventura. O que abrigaria as inúmeras ro-
chas basálticas no interior da Turquia? Que cenário é esse formado por gigantescos cones,
conhecidos como "chaminés de fadas"? Ravena com suas basílicas e mausoléus também
está incluída nesse roteiro. Assim como o universo dos batistérios. Qual seria a importân-
cia do batismo surgido no período paleocrist ão para os bizantinos?
O leitor-viajante, percorrendo momentos importantes da arte bizantina, constituirá
um colorido mosaico de curiosidades e informações. Como os mosaicos encontrados nas
paredes das igrejas, a viagem será marcada por imagens coloridas, cintilantes e por frag-
mentos históricos valiosos. Assim sendo, basta virar a página para que a viagem comece.
Bem-vindos à arte bizantina!

J OAQUIM GAMA

Doutor em Pedagogia do Teatro pela ECA/ USP


C onstantino, grande imperador romano que reinou de
306 a 337 (ano de sua morte), tomou duas decisões
que mudaram para sempre a história da humanidade: ofi-
cializou o cristianismo e fundou uma nova capital imperial
em Bizâncio.

Quanto ao local da nova capital, Constantino, olhando para o Orien-


te, escolheu uma cidade fortificada grega chamada Bizâncio. A cidade da-
ria seu nome ao Império Bizantino, assim como Constantino daria o seu à
cidade, que passaria a chamar-se Constantinopla. Conhecida como "No-
va Roma", Constantinopla trazia consigo heranças romanas na ideo-
logia e na administração; somente o latim não conseguiu ser incor-
porado nessa nova capital romana, onde o grego permaneceu como
língua oficial.
Constantino rompeu com as tradiç ões do Império Romano ao
conceder liberdade religiosa aos cristãos e, no famoso Édito de Milão
de 313, concedeu a todos os homens a liberdade de seguir a religião
que quisessem. Tal ato abriu caminho para a conversão ao cristia-
nismo, que foi oficializado nos territórios romanos somente em 391,
por Teodósio.
Após a divisão do império em dois, o Império Romano do Oci-
dente enfraquecia com as invasões bárbaras, já o Império Romano do
Oriente permanecia unificado sob o poder do imperador, progredin-
do fabulosamente. O desenvolvimento do comércio exterior garantia o
lu xo e a riqueza da cidade ao propiciar uma arte luxuosa e rica em deco-
ração, desenvolv ida no Oriente. Essa arte podia ser vista nos mosteiros
e monumentos espalhados por toda a região mediterrânea e nos paí-
ses eslavos da Europa do Leste, perdurando por toda a Idade Média.
Apesar de enfrentar várias crises políticas, o império manteve-se
unido até 1453, quando os turcos otomanos tomaram Constanti-
nopla - que teve seu nome mudado para Istambul.

Colosso de
Constantino.
Uma concepção metafísica de beleza
A arte bizantina foi um estilo de arte m edieval que se Nesse m omento, a beleza formal da arte clássica era
desenvolveu em Bizâncio, uma antiga colônia grega situa- substituída, na arte cristã, pela intenção espiritual e abs-
da entre a Europa e a Ás ia, no Estreito de Bósforo. trata, em que a ideia to rnava-se lentamente mais impor-
O Império Bizantino conquistou seu ap ogeu políti- tante que a forma.
co e cultural durante o governo do imperador Justiniano, A arte cristã da Idade Média tornou-se uma curiosa
que durou de 527 a 565. mistura de processos primitivos com métodos refinados,
Esse estilo de arte corresp onde a uma época de afir- riqueza de cores e de decoração.
m ação da Igreja Cristã; some nte quando a religião é ofi- A esplêndida decoração do estilo bizantino aparece
cializada, a arte perde seu carát er popular e assume uma no dourado que reluz como fundo dos mosaicos colori-
forma solene e majestosa. Enquanto a arte paleocristã dos, revestindo as paredes e o t eto das igrejas. As colunas,
pregava a pobreza e a santidade, essa nova arte é caracte- feitas em mármore e com seus capitéis esculpidos de for-
rizada pela concepção imperial de ostentação. ma rendilhada, completam a lu xuosa decoração.
Com o objetivo de expressar a autoridade absoluta,
as imagens dos imperadores passaram a se misturar ao
sagrado. Novas conven ções foram adotadas, com o a lei
da frontalidade e a colocação de grandes halos sobre a ca-
beça dos imperadores - indicando que eles seriam repre-
sentantes de Deus, com poderes temporais e espirituais.
Desde o início, as criações artísticas crist ãs diferiam
dos modelos clássicos por meio da simplificação. Are-
presentação da figu ra human a era ch apada, isto é, sem
volume, rígida. O artesão não tinha interesse em mostrar
profundidade e perspectiva; dava ênfase à forma plana,
criando figuras altas, em cujas faces am endoadas se res-
saltavam olhos enormes que olhavam diretamente p ara
frente, sem movimento.

Mosaico do imperador
Justiniano na Igreja
de Santo Apolinário
Novo, Ravena .
A ARTE
BIZANTINA EM
CONSTANTINOPLA
E sse novo estilo de arte proveniente da nova capital romana, ~izâncio, mescla a herança da sabedoria
do mundo antigo ocidental com as influências vizinhas da Asia e desenvolve refinadas técnicas na
arquitetura e na decoração, deixando um maravilhoso exemplo de liberdade criativa e elegância e fazen-
do dos bizantinos grandes comunicadores de uma ideologia política e religiosa.

Arquitetura
Os arquitetos biza ntinos construíram grandes obras vam em templos romanos e tinham suas plantas em cruz.
civis, como palácios, edifícios públicos e colunas come- As orientais estruturavam o edifício com uma planta cen-
morativas, m as a grande obra consagrada foi a igrej a de tralizada encimada p or uma cúpula central, que se tornou
Santa Sofia - também conhecida como Hag ia Sophia, base para as grandes catedrais renascentistas.
qu e em grego significa "Sabedoria Sagrada"-, uma das Santa Sofia foi construída primeiramente em 360, em
obras de m aior excelê ncia da história da arte. forma basilical. Sofreu um incêndio e foi reerguida em 41 S,
As primeiras igrejas con struídas n o Oriente seguiam p orém teve vida curta - foi destruída p or outro incêndio
padrões diferentes das igrejas ocidentais, que se basea- durante a Revolta de N iké, sob o reinado de Justiniano.

Basílica de
Santa Sofia,
Istambul.
O próprio imperador Justinia no foi quem ordenou a
construção da nova Santa Sofia, inaugurando-a em 537.
Com um projeto arrojado desenvolv ido pelos arquitetos
Artêmio de Trales e Isidoro de Mileto, h abilidosos enge-
nheiros e matemáticos, foi construído um vasto local de
congregação em um espaço de grandes tetos abobadados
com uma impressionante cúpula central, livre da inter-
venção de colunas e paredes.
Somente em 1453, com a queda do Império Roma-
no do Oriente, os turcos otoma nos a tra nsformaram em
mesquita, acrescentando-lhe quatro minaretes. O edifí-
cio foi utilizado por duas religiões que acreditavam num
Deus único. Em novembro de 1934, Kemal Ataturk, pri-
meiro presidente da Turquia, decidiu convertê-la em um
museu, que se tornou um dos mais visitados de Istambul.
Justiniano não poderia imaginar que sua obra per-
m a neceria de pé por tantos a nos e seria um dos monu-
mentos mais grandiosos da história da civ ilização.

A decoração interna
da Basílica de Santa Sofia
Os mosaicos que vemos hoje em Santa Sofia foram
descobertos em 1849, durante uma restauração. M a n-
tiveram -se intactos porque foram cob ertos com cal du-
rante o período otomano, quando a basílica tornou- se
m esquita. Tal prática os protegeu, possibilitando sua
conser vação a té os dias
de hoje. Sobre a porta s udoeste que conduz à nave cent ra l, ve mos o mosaico que represen-
Embora a técnica do t a a Virge m Ma r ia, ao ce nt ro, carregando o menino Jesus no colo, ladeada pe los
mosaic o seguisse a tradi- imp eradores Cons tan tino e Jus tinia no (ver tam bém págin a 8). Esses possue m so-
bre s uas ca beças u m halo q ue os sa nt ifica , ass im como a Virgem. Vest em uma t oga
ção romana de unir pe-
az ul-escura . um xa le com bordados em ouro e prata e têm uma coroa sobre s uas
dras coloridas de modo
cabeça s. Não estão representados com ves tes de sua época (séc ulo lV). ma s com a s
a formar um desenho, os do período em que fo i feit o o mosaico.
mosaicos biz antinos apre- Os dois im pe radores fo ram imor talizados por s ua impor tâ ncia nesse mosaico do
sentav am grandes dife- século X. Nele. Justiniano. à esque rda. oferece uma miniatura da Ig reja de Santa
renças em relação aos ro- Sofia à Virgem Ma ria , prot etora de Con sta nt inopla. Con stantino. que se vê à di rei-
manos. ta. ofe rece uma miniatura da cid ade que con struír a.
Ao lado de Cons ta ntino. há u ma in scrição em letra s de cor az ul-escuro q ue. qua n-
do lida de cima pa ra baixo, revela a seguinte fra se: "O gra nde imperador Cons t a n-
tino entre os Santos".
Nos mosaicos bizantinos as peças de mármore opacas saram de seculares batalhas e jogos para temas religiosos -
foram trocadas por peças de vidro brilhante; as cores, an- como o exemplo abaixo, de Maria carregando seu filho no
tes limitadas às tonalidades das pedras, passaram a dispor colo, o menino com a mão direita faz um sinal de bênção
de um número maior de opções com os vidros coloridos. e com a esquerda carrega um rolo representando as escri-
Enquanto os romanos usavam essa técnica no chão das re- turas sagradas. Em ambos os lados da cabeça de Maria, há
sidências, os bizantinos a levavam para as paredes e tetos medalhões com os monogramas MP e OY que são abrevia-
de suas igrejas. Havia grande variedade de temas, que pas- ções das palavras mãe de Deus e Jesus menino.

Virgem Maria
segurando o
Menino Jesus .
Mosaico dos
Comnenos,
Igreja de
Santa Sofia .
Interior da Igreja de Santa Sofia.
A genialidade da Igreja de Santa Sofia está no fato de
que o peso da cúpula central é dissipado p elas cúpulas me-
nores que a rodeiam, o que favorece a amplitude do espaço
central, enorme e livre de colunas. A sensação é a de que a
cúpula flutua sobre a cabeça dos visitantes.
Quarenta janelas em arco envolvem a base da cúpula
e criam a ilusão de que essa repousa sobre um h alo de luz,
divinizando o ambiente. A nave interior é duas vezes mais
larga e muito mais alta do que a cat edral gótica de Char-
tres, na França.
Anjos encontram -se representados nos quatro cantos
abaixo da cúpula central, na junção das pilastras. Seus ros-
tos foram cobertos com medalhões de ouro pelos muçul-
m anos, p ois o islã proíbe imagens nos lugares de oração. Os
oito medalhões gigantescos alinhados acima da galeria pos-
suem 7,5 metros de diâmetro; neles estão caligrafados os
nomes de Alá, do profeta Maomé, dos quatro primeiros ca-
lifas e dos dois filhos de Ali. Quanto à função de mesquita,
ainda abriga dois nichos na abside: o nicho de oração, mi-
hrab, que indica a direção de Meca; e o nicho de Alminbar,
onde o imã realiza a leitura do Alcorão.
Coluna interna da Igreja
O edifício possui 107 colunas; 47 delas est ão na par-
de Santa Sofia.
te de baixo e 60 estão na parte de cima, t odas trazidas de
templos de distintas partes do império. As colunas verdes,
como vemos acima, à direita, foram trazidas do templo de Após a t omada pelos turcos, a igreja transformou-
Ártemis, em Éfeso. Sobre os capitéis, que datam do século -se em mesquita em 1511, e n ada foi trocado de sua ar-
VI, vemos os m onogramas do imperador Justiniano e de quitetura - exceto a colocação de um minarete. Alguns
sua esposa, Teodora. mosa icos e afrescos foram cobertos com uma cortin a
de m adeira ou com gesso, devido à iconoclasti a do islã.
Igreja de São Salvador em Chora Entre 194 8 e 1958, o Instituto Bizantino dos Esta-
A Igreja de São Salvador em C hora foi construída fo- dos Un idos foi responsável pela restauração da mesqui-
ra das muralhas da cidade de Bizâncio. O termo grego ta, transformando-a em museu. As obras de arte foram
em chora, significa "extramuros". A igreja sofreu várias restauradas e se m antiveram conservadas graças às suas
restaurações devido a t errem otos, m as a m ais importan- coberturas, permitindo que a decoração preservasse sua
te delas foi feita por Teodoro Metoquites no período en- forma original. Essa igreja, situada em Istambul, abriga
tre 1282 e 1328, que a decorou com os m ais lindos mo- os m ais belos m osaicos e afrescos da arte bizantina do
saicos e afrescos. Oriente.
Cristo Pantocrator
Neste mosaico, Cristo é retratado
com um halo com o símbolo da cruz
em torno de sua cabeça; traz a Bíblia na
mão esquerda e faz um gesto de bênção
com a mão direita. A imagem é deno-
minada pantocrator, palavra grega que
significa "todo-poderoso" ou "onipo-
tente".
O belíssimo mosaico encontra-se
sobre a porta da entrada principal da
igreja; apesar da falta de alguns frag-
mentos de pedras, a parte principal
da imagem - a figura de Cristo - está Cristo Pantocrator.
conservada. Podemos observar um Cristo maduro, com
olhar sereno e fixo no espectador, e envolto em uma tú-
nica drapeada na cor azul. A maturidade lhe é conferida A capela dos afrescos
pela barba e pela luminosidade nos cabelos, aparentando A capela foi construída por Teodoro Motoquites; es-
um tom grisalho. A partir do século VI, em todo o perío- tende-se por todo o comprimento lateral da igreja e ter-
do da arte bizantina, Cristo foi representado como uma mina com uma abside encimada por uma cúpula com
pessoa de meia-idade; nas representações feitas até o final altas janelas, deixando transparecer a luz e dando lumi-
do século V, Cristo aparecia como um jovem sem barba. nosidade aos afrescos.
Podemos ver 12 a nj os que circu n-
dam toda a cúpula, separados por fai-
xas decoradas com motivos florai s
que culminam na imagem centra l da
Virgem Maria com o Menino Jesu s.
Na pintura, já com característica pré-
-renascentista, o s anjos apresentam
em suas ves timentas um movimento
de roupa por meio do drapeado e da
sombra e luz. Por outro lado, todos os
rostos e h alos apresenta m a mesm a
forma, sem variação de fisionomia, as-
pecto também ligado à arte bizantina.

Afrescos no te to da capela
de São Salvador em Chora .
,
!CONES E O
MOVIMENTO
ICONOCLASTA
/

I cone é um termo derivado do grego - eikon - que significa "imagem"; é a representação das palavras
divinas descritas no evangelho.

Na arte religiosa, imagen s desse tipo geralmente eram olhar fixo. Acreditava-se que eles tinham propriedades mi-
pintadas em um painel de madeira, identificando a figura de lagrosas. Os fiéis mais ardorosos carregavam-nos consigo
um mártir ou de um santo com supostos poderes sobrena- para as guerras como forma de proteção; outros, de tanto
turais. O pintor acreditava que para conseguir a perfeição beijar as imagens, gastavam sua pintura. Geralmente os íco-
deveria purificar o corpo e a alma, só então o divino opera- nes eram venerados nas igrejas, mas não era raro encontrá-
va por meio de suas mãos - daí o fato de muitas obras não -los nos oratórios familiares.
terem sido assinadas. O culto aos ícones foi tão exagerado que eles foram
Tais ícones, considerados sagrados, eram representa- proibidos, entre 726 e 843, pelo imperador Leão III. A esse
dos em pose frontal, com um halo em torno da cabeça e período deu-se o nome de mov imento iconoclasta, tendo
sido revogado pela imperatriz Teodora, esposa do impera-
dor Teófilo.
Tratava-se de um movimento p olítico-religioso contra
a veneração de ícones dentro das igrejas no Império Bizan-
tino. Os iconoclastas eram contra a idolatria às imagen s; po-
rém Teodora, defensora da veneração, intercedeu junto aos
iconoclastas e autorizou a volta das imagens. Para ela, aque-
les ícones eram como janelas para o céu, veículos de orações
e um modo de se aproximar de Deus.
O crescimento da iconoclastia foi reforçado pela pací-
fica convivência política entre os povos do islã que faziam
fronteira com o Império Bizantino. Eles também n ão acei-
tavam as imagens, pois as consideravam ilegais.
Nesse período, os mosaicos da Igreja de Santa Sofia fo-
ram destruídos e substituídos pelas cruzes. Foram recons-
truídos somente a p artir de 843.
A tradição do uso dos ícones não se manteve apenas
em Con stantinopla, elafoilevada para outras regiões, como
Veneza e Rússia, e p erdurou até o R enascimento. O maior
representante russo da pintura de ícones foi Andrei Rublev.

Ícon e de São f orge. Mus eu Bizantino e Cristão, Atenas.


A Igreja Ortodoxa
No ano de 1054 houve um cisma entre as Igrejas Cris- Em sua arquitetura destaca-se o equilíbrio da grande
tãs. De um lado, p erma neceu a Igreja Católica Apostóli- cúpula sobre uma planta quadrada, assim com o a da Igre-
ca Romana, submetida à auto ridade papal de Roma; do ja de Santa Sofia.
outro, a Igreja Oriental que, sob o poder do patriar ca de Internamente, possui uma sucessão de janelas com
Con st antinopla, constitu iu a Igreja Católica Apostólica lindos vitrais e arcos, que ampliam o ambiente e lhe pro-
Ortodoxa, mais conhecida como Igreja Ortodoxa. A pa- porcionam luminosidade; as colunas com capitéis doura-
lavra ortodoxa, advinda do grego, significa "doutrina re- dos são réplicas das de Santa Sofia.
ta", e os seguidores dessa verte nte são ch amados de cris- Destaca-se no altar o iconostásio, todo feito em m ár-
tãos ortodoxos. more da região de Carrara (Itália). Possui 65 ícones, como
Até hoje, os ortodoxos mantê m intactos os seus rituais J esus Cristo, São João Batista, Nossa Senhora, o Apóstolo
primitivos, ministrados pelos padres ap ostólicos, cujas ce- Paulo (p adroeiro dessa igreja), entre outros.
lebrações dos sacram entos e da missa são sem elhantes às Em sua maioria, as igrejas utilizam madeira como su-
dos católicos apostólicos romanos. porte para o iconostásio; o mármore é o que difere a Cate-
Na decoração interna das igrejas, não é p ermitido o dral Ortodoxa do Paraíso das demais igrejas.
uso de imagens esculturais, m as som ente pinturas sobre A pintura interna segue o p adrão bizantino; afrescos
madeira - arte iconográfica - representando os santos,Je- e telas revestem as paredes, que são completadas por dese-
sus e sua mãe, Maria. A forma da cruz ta mbém apresenta nhos geométricos e florais, dando acabamento aos arcos
um desenho próprio que a caracteriza. das colunas.
No Brasil, a Igreja Ortodoxa desembarcou junto com
os imigrantes árabes. A primeira instituição foi edificada
em São Paulo, no ano de 1904, no bairro do Paraíso. A im-
ponente Catedral Ortodoxa foi aberta ao público em 1954,
no auge da celebração do quarto centenário da metrópole.

V ista externa e interna


da Catedral Ortodoxa
de São Paulo.
IGREJAS
ESCULPIDAS Algo a mais

NAS ROCHAS
A região da Capadócia, no interior da Turquia, abriga uma paisagem única. Repleto de rochas basálti-
cas, o cenário é formado por gigantescos cones, por sua vez coroados por grandes pedras, conheci-
dos como "chaminés de fadas". Trata-se do resultado de milhões de anos de erosão; o que também per-
mitiu ao homem construir suas habitações escavando inúmeras cavernas.

A Capadócia é uma região da antiga Anatólia, onde vi- significa "aqui não se pode ver", já que era o lugar ideal para
viam os persas. Recebeu esse nome com o referência aos ca- se esconderem das perseguições.
valos selvagens que ali viviam - a p alavra deriva do vocábu- Até o final do século XI, a Capadócia ficou sob o do-
lo persa katpatuka, que significa "país de formosos cavalos". mínio do Império Bizantino; em 1074, a região passou para
Os registros de habitantes na Capadócia existem des- as mãos dos turcos.
de a Pré-história. A p artir do século rv, tem início a expan- Na Capadócia, a expansão da nova religião en con-
são do cristianismo na região, promovendo a formação de trou t erreno fértil, principalmente no Vale de Gõreme, on-
grandes centros religiosos. Dessa época datam os primei- de existiam registros de mais de 400 igrej as e mosteiros. A
ros mosteiros e igrejas escondidos em gra ndes vales, como partir da liberação do culto, floresceu a construção de inú-
o de Gõreme. Foram os primeiros crist ãos que buscaram meras igrejas, e as que apresentavam m aior riqueza na de-
refúgio nesse vale que lhe deram o nome de Gõreme, que coração pert enciam ao período pós-iconoclasta.
Hoje, o vale é um verdadeiro museu a céu aberto, afrescos estão em bom estado e as cores, ainda vivas; por-
tombado como Patrimônio Histórico da Humanidade que a escassa luz do local favoreceu a conservação.
pela Unesco. O lugar abriga lindas igrejas; algumas de- As cenas pintadas mostram o Cristo Pantocrator no
las, que datam do século XI, foram restauradas e abertas teto; nas paredes, veem-se cenas como: a traição de Judas,
ao público para visitação. É o caso da Igreja Escura, que a Última Ceia, quatro mulheres da Galileia e a crucifica-
tem esse nome porque ali a luz é muito escassa e penetra ção de Cristo, como podemos ver no canto direito da ima-
unicamente pela galeria da entrada. gem abaixo. Os arcos das colunas também são revestidos
Quando se olha de fora para aquelas rochas cheias de afrescos, cujos desenhos acompanham o formato semi-
de perfurações feitas pelo homem, não se pode imaginar circular. Medalhões com as figuras dos apóstolos comple-
a arquitetura escavada dentro delas. Embora muito pe- mentam a decoração.
quena, a construção é composta por dois pisos; a Igreja Nesse sítio arqueológico, é possível visitar algumas
Escura está no nível superior, cujo acesso se dá por uma igrejas que não foram restauradas e observar muitos dese-
escada escavada na própria rocha. nhos com arranhões feitos por pastores que, provavelmente,
Seu interior é retangular e o teto é em formato de cú- não eram cristãos e que usavam esses espaços como abrigo.
pula, com colunas esculpidas na própria rocha. O que mais Hoje, a Capadócia é um dos lugares mais bonitos pa-
impressiona são as pinturas, que não foram realizadas di- ra se visitar; muitas dessas habitações tornaram-se hotéis e
retamente sobre a roch a; as paredes foram previamen- restaurantes, servindo turistas do mundo inteiro. Os turcos
te revestidas com uma mistura de gesso, areia e palha e, também oferecem um passeio de balão onde se pode apre-
posteriormente, foram pintados os afrescos sobre ela. Os ciar toda a beleza natural da região.
A ARTE
BIZANTINA EM
RAVENA
N o ano de 493, Ravena foi ocupada por Teodorico (de ascendência bárbara), que governou a cidade
por mais de 30 anos e a embelezou com importantes monumentos.

Por ser de culto aria no, Teodorico construiu igrejas Por ser um importante ponto estratégico, Ravena foi
para a população, como a atual Igreja do Espírito Santo, um dos alvos mais visados pelo imperador para a conquista
o Batistério dos Arianos e a Igreja de Santo Apolinário da Península Itálica. Ele tinha o grande sonho de reunir o
Novo. Ocidente e o Oriente, política e culturalmente. Após mui-
No século VI, Justiniano tentou reunificar o Impé- tas tentativas, a cidade foi finalmente conquistada em 540.
rio Romano e, por isso, iniciou as guerras de conquista Ravena tornou-se, então, o centro do domínio bizantino
no Ocidente. na Itália até 751, quando foi ocupada pelos longobardos.

Basílica de São Vital - a glória mais pura


da arte bizantina no Ocidente
A influência da arte oriental assume um caráter do- por um sistema de gra ndes arcos, cujo peso é distribuído
minante na Basílica de São Vital, em Ravena. Sua cons- entre tríplices arcadas. A simplicidade dos tijolos aparen-
trução data de meados do século V I.Já não se trata de tes em seu exterior não revela a suntuosidade interna. Ava-
u ma basílica de três naves, mas de um núcleo central com lorização dos requintados mosaicos e do colorido dos már-
planta octogonal; sua cúpula é sustentada internamente mores - que revestem não só os pilares mas também o piso
por um tambor e por oito colunas robustas ligadas entre si - é originada da harmonia presente no interior da basílica.

Fachada da
Basílica de
São Vital .
A decoração interna

O interior da b asílica impression a pela variedade e Observe n a imagem abaixo a repetição do padrão
riqueza da decoração; os efeitos da luz destacam os mo- geométrico, cuja composição cria um desenho que lem-
saicos brilhantes que cobrem as paredes, oculta ndo as po- bra um tapete orie ntal.
bres estruturas de tijolos que permanecem some nte pelo
lado exterior. O revestimento em mosaico também co-
bre a abóbada do presbitério e da abside. Os capitéis as-
sumem formas variadas; entalhados com m otivos vege-
tai s, eles unem funcionalidade e ornamentação, criando
formas entrelaçadas e rendilhadas que são características
da arte oriental.
O rico revestime nto interno apresentado nos m ár-
mores e nos mosaicos coloridos, tanto nas paredes quan-
to no piso, m ostram todo o luxo e a ostentação vividos
pelos imperadores da ép oca.
O Mausoléu de Gala Placídia
Gala Placídia foi uma mulher muito importante. Fi- Porém, as cenas foram trabalhadas seguindo as antigas
lha de Teodósio, teve dois filhos e governou Ravena du- tradições romanas, misturando figuras com paisagem.
rante muitos anos como regente do filho Valentiniano III. No teto abobadado, destacam-se estrelas estilizadas
Morreu no ano de 450, em Roma, onde estima-se que sobre um fundo em azul noturno, cobrindo o pequeno am-
tenha sido enterrada. O mausoléu, portanto, pode apenas biente. Nas paredes, encontram-se várias cenas litúrgicas
carregar seu nome, já que não é certo que seu corpo esteja associadas à morte, como a que pode ser vista na imagem
realmente enterrado no local. abaixo. São Lourenço, vestido de branco, carrega a cruz
O Mausoléu de Gala Placídia situa-se no mesmo pá- e o livro do texto sagrado; no lado esquerdo, um armá-
tio da Igreja de São Vital, e seu exterior possui a mesma rio com portas abertas guarda os textos dos quatro Evan-
simplicidade de tijolos aparentes da igreja. Porém, inter- gelhos e, ao centro, vê-se uma grelha flamejante fazendo
namente a decoração é de suntuosidade inigualável. alusão à sua própria morte. Considerado um dos maiores
A planta é em forma de cruz latina; as paredes in- mártires, São Lourenço morreu ardendo em brasas.
feriores são revestidas em mármore amarelo, já a parte
superior e o teto são revestidos com mosaicos preciosos. "O fogo do amor de Deus que ardia no coração do São
Os mosaicos encontram-se muito conservados. Ne- Lourenço foi muito mais forte do que o fogo que queimou o
les, percebe-se a influência oriental dos artistas no aca- seu corpo."
bamento dos arcos com motivos geométricos e florais. Santo Ambrósio Interior do
Mausoléu
de Gala
Basílica de Santo
Apolinário Novo
A arte bizantina do século V I compreende um rico
código de formas visuais que constituem uma verdadei-
ra linguagem. As imagens eram instrumentos de comuni-
cação que serviam para transmitir conteúdos ideológicos
relacionados à política e à religião.
Os artistas bizantinos tinham como objetivo expli-
car conceitos por meio dos desenhos. As figuras eram
sempre mostradas de maneira sequencial, de frente pa-
ra o observador, imóveis e sem volume; somente o ouro
era usado por eles para transmitir a ideia de solenidade e
a grandeza da corte oriental.
A basílica cristã passou a ser o centro de reuniões de
uma grande comunidade religiosa, visando educar e ca- Detalhe dos mosaicos da Basílica de Santo Apolinário Novo.

tequizar seus fiéis. Nesse sentido, a valorização da parte


interna do edifício se sobrepunha à si mplicidade de seu A execução desses mosaicos foi realizada por artis-
exterior. tas de períodos distintos, por isso o rosto das figuras hu-
O altar era delimitado por um arco triunfal que re- manas apresenta uma expressão dramática diferenciada.
presentava, simbolicamente, a passagem da morte para Na parede da esquerda, pode-se observar 22 virgens
a vida eterna. enfileiradas. Vestidas com túnicas bordadas e adornadas
Carregando todas as características acima mencio- com véu s brancos, elas levam a coroa em direção à Vir-
nadas, a Igreja de Santo Apolinário Novo foi construí- gem Maria com o Menino Jesus.
da por Teodorico na passagem do século V para o século Do lado direito, 26 figuras de mártires também le-
VI. Foi dedicada a Santo Apolinário, que foi o primeiro vam, em procissão, uma coroa até a figura de J esus, en-
bispo de Ravena. tronado entre quatro anjos.
Sua arquitetura paleocristã sofreu interferências nas
restaurações que se estenderam até o séc ulo XV III. O
grande destaque do edifício é a decoração musiva, rea-
lizada no período bizantino, que até hoje encanta quem
visita o local.
Os mosaicos situados na parte superior, entre as ja-
nelas, perto do teto, são do período de Teodorico e suas
cenas são episódios da vida de Cristo.

Basílica de Santo Apolinário Novo .


Batistérios
O batismo é um importante rito de iniciação; surgido portantes batistérios: o dos Arianos e o dos Neonianos. Eles
no período paleocristão, estende-se até os dias de hoje na re- possuem a mesma simplicidade arquitetônica, com tijolos
ligião cristã. É por meio dele que o fiel sacramenta a sua fé. aparentes em seu exterior. A planta octogonal simboliza os
Os primeiros batistérios eram construções anexas às sete dias da semana e o oitavo dia, que é o da ressurreição
igrejas destinadas ao ritual. Em Ravena, existem dois im- de Cristo para a vida eterna.

Batistério dos Arianos


O Batistério dos Arianos foi construído no final do O mosaico em forma de medalhão apresenta como
século V por Teodorico, que era ariano. O termo aria- eixo central o batismo de Cristo que, ainda jovem, en-
nismo deriva do nome do seu mentor, o presbítero Ário contra-se desnudo e submerso nas águas transparentes
(256-336), que desenvolveu uma doutrina filosófica em do rio Jordão.
que se discutia a essência de Deus. A pomba que desce sobre sua cabeça indica apre-
À construção foi dado esse nome como forma de dis- sença do Espírito Santo; ao lado direito, São João Batis-
tingui-la do Batistério dos Neonianos, também chamado ta, vestido com pele de animal, tem na mão esquerda um
de Ortodoxo. bastão curvo e, com a outra mão, faz o gesto sacramental.
Hoje, é um edifício enterrado a aproximadamente À esquerda da cena, um velho vestido com um man-
2 metros de profundidade do nível da rua, situado em to verde é a personificação do rio Jordão. O ancião traz
uma pequena praça onde ficava a catedral dos Ários. como característica dois atributos das divindades aquá-
A decoração interna é simples: as paredes são de ti- ticas pagãs, que são: o ramo de rosa verde e duas pinças
jolos aparentes e o destaque está no grande mosaico que de lagostim no topo da cabeça.
forra a cúpula do teto.

Meda lhão do
teto do Batistério
dos Arianos.
Na imagem abaixo, o artista se apropria do suporte circular da cúpula do batistério para ilustrar a cena de batismo
do Cristo com os apóstolos de forma também circular. Se traçarmos um eixo de simetria na vertical, conseguiremos
perceber a direção em que os apóstolos se encontram em relação ao trono.

Os 12 apóstolos estão vestidos de branco, Dez apóstolos carregam uma coroa com
como os nobres da época . Sobre suas Uma palma estilizada pedras preciosas, sugerindo que Cristo é
cabeças, um halo os diviniza . separa os apóstolos. o seu rei.

São Paulo carrega um rolo nas mãos, Entre os apóstolos, a cruz com pedras São Pedro carrega as chaves
simbolizando sua importância na preciosas sobre um trono pomposo que simbolizam a edificação
propagação do Evangelho. mostra que Cristo é soberano. da casa de Deus.
Batistério dos Neonianos ou
dos Ortodoxos
O batistério da Cat edral dos Ortodoxos é o
m ais antigo m onumento de Ravena. Sua cons-
trução foi iniciada no final do século IV pelo
bispo Urso. Trata-se de uma simples con stru-
ção de tijolos em forma octogonal que, como o
Batistério dos Arianos, se encontra abaixo do
nível da rua.
Os dois batistérios, embora destinados à
m esm a função, pertenciam cada qual a uma
das duas comunidades cristãs que existiam em
Ravena.
A decoração interna só foi feita depois da
metade do século V pelo bispo Neon - por isso
a o rigem do nome Neoniano.
Em seu interior, o batistério é ricamente
decorado com mosaicos. A cúpula tamb ém re-
trata as cenas do batismo de Cristo, ao redor de
um medalhão semelhante ao do Batistério dos
Arianos; nesse, porém, Cristo é representado
mais velho e barbado.
A cena dos apóstolos seg ue o m esm o pa-
drão circular. O que a difere da cena do Batis-
tério dos Ariano é o fundo, que muda do doura-
do para o azul índigo, e as cores das roupas dos
ap óstolos, intercaladas com cap as douradas.
Na mesma altura das janelas, em uma série
de relevos e estu ques, encontram-se p intadas fi -
guras dos profetas do Antigo Testamento. Já a
decoração em volta dos arcos é feita com volu-
tas florais.
No centro, encontra-se uma cuba octogo-
nal de m ármore grego, destinada a batizar os
fiéis, e um bloco redondo onde o sacerdote su -
bia para administrar o batismo.

Batistério dos Neonianos.


MOSAICOS,
EXPRESSÃO DA
ARTE BIZANTINA
destaque do mosaico bizantino consistia na utilização de fragmentos coloridos de mármore, pedaços

º de vidro, madrepérolas e pedras valiosas, que cintilavam com a luz do sol que atravessava as janelas.

Os reflexos cintilantes eram provenientes de peda-


ços de folhas de ouro colocados por trás dos cubos de
vidro transparente, contribuindo para o esplendor bri-
corte. Ela veste um traje de púrpura cuja barra está ador-
nada com a cena dos três reis m agos em pose de doação;
paralelo a esse gesto de oferenda, a imperatriz oferece,
lhante da imagem. Porém, esse recurso encarecia <lema- ela mesma, um grande vaso dourado. Um h alo rodeia
siadamente a obra; assim, muitos arqu itetos de pequenas sua cabeça, coroada por um diadema de onde pendem
igrejas optavam pelo afresco em substituição ao mosai- compridas tiras de pérolas que caem sobre seus ombros
co, em função do baixo custo. e peito, este coberto por um amplo colar de pedras pre-
Os mosaicos que cobrem as paredes da parte inferior ciosas.
da abside da Igreja de São Vital estão colocados uns em As duas mulheres mais próximas de Teodora se dis-
frente aos outros, formando quadros imperiais. Neles, tinguem das outras n ão só pelas roupas elegantes que
os imperadores são os personagens do longo cortejo de vestem co m o também pelos desenhos de seus rostos
palacianos que leva oferendas ao templo. que, como o da imperatriz, são realizados com pedras
O mosaico abaixo mostra Teodora, mulher de Jus- menores, conferindo maior definição à imagem.
tiniano - inteligente, astuta
e uma estadista competente.
Alguns historiadores concor-
dam que as origens da impe-
ratriz foram não apenas hu-
mildes mas t ambém pouco
respeitáveis, já que ela teria si-
do filha de uma atriz em uma
época em que a arte de repre-
sentar era uma atividade des-
prezada.
A cena do mosaico mos-
tra a imperatriz acompanha-
da por se us dignitários da

Mosaico da abside da
Igreja de São Vital.
Mosaico da abside da Igreja de São Vital.

A representação ar-
tística da imagem ao lado
converte-se, de certo mo-
do, em uma forma ceri-
monial litúrgica na qual se
fundem a evocação do di-
vino e a glorificação do im-
perador.
O poder divino era
manifestado até mesmo no
ouro e nas joias usadas pe-
lo imperador; quanto mais
esplendoroso fosse o seu
modo de vida, maior se-
ria a riqueza de que todos
os cristãos gozariam após
a morte.
Esta obra encontra-
-se na parede em frente ao
mosaico de Teodora.
A técnica musiva é si-
milar, mas sua composição é muito mais complexa. Além No lado esquerdo do mosaico estão dois patrícios
de ter um número maior de personagens, o centro da obra vestidos com túnicas brancas e faixas de cor púrpura; se-
não é tão óbvio como no outro quadro, pois o bispo de gue-os a guarda imperial, armada com lanças e escudos
Ravena, Maximiano, disputa uma posição de destaque ao que levam gravado o monograma de Cristo.
ser colocado à frente do imperadorJustiniano. O desenho Já no lado direito, encontra-se Maximiano, que ves-
passa uma ilusão de ótica quando olhamos na direção dos te o pálio pontifício sobre uma túnica marrom, e carrega
pés do bispo, à frente dos pés do imperador, em contra- uma cruz em suas mãos. É precedido por dois eclesiásti-
ponto com a cabeça que acompanha a mesma linha dos cos, que carregam o livro litúrgico e o incensário.
outros personagens. A s figuras - imponentes e solenes - parecem trans-
O imperador veste a clâmide, um manto de seda na cender a própria condição humana, assumindo um aspec-
cor púrpura reservado à autoridade máxima, preso no to quase extraterreno.
ombro direito por uma fíbula em forma de flor incrusta- Numa época em que os quadros eram cópias de retra-
da com pedras preciosas (confiscadas dos bárbaros ven- tos imperiais, esse mosaico surpreende pelo estilo veris-
cidos). Sua cabeça é rodeada por uma auréola e sustenta ta, especialmente por referir-se ao rosto de Maximiano e
uma coroa cravejada de pedras. Nas mãos, traz um cesto ao do patrício a seu lado, pois essas p essoas estavam vivas
dourado que representa a oferta litúrgica do pão. e presentes na mente do artista quando ele as retratou.
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