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GERENCIAMENTO DA

CONSTRUÇÃO CIVIL
Reflexões sobre Sustentabilidade,
Planejamento e Controle de Obras

JEFFERSON LUIZ ALVES MARINHO


Organizador

ISBN 978-85-8443-142-7
Multideia Editora Ltda.
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80710-620 - Curitiba - PR
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Coordenação editorial e revisão: Fátima Beghetto


Projeto gráfico e capa: Sônia Maria Borba
Diagramação: Bruno Santiago Di Mônaco Rabelo
Imagen da capa: [© khunaspix] / Depositphotos.com

CPI-BRASIL. Catalogação na fonte


Marinho, Jefferson Luiz Alves
M338 Gerenciamento da construção civil: reflexões sobre sustentabilidade, planeja-
mento e controle de obras [recurso eletrônico] / Jefferson Luiz Alves Marinho
- Curitiba: Multideia, 2017.
174p.; 23 cm
Vários colaboradores
ISBN 978-85-8443-142-7
1. Construção civil - Resíduos. 2. Engenharia ambiental. 3. Desenvolvimento
sustentável. 4. Políticas públicas. I. Título.
CDD 628 (22.ed)
CDU 628.4

Autorizamos a reprodução parcial dos textos, desde que citada a fonte.


Respeite os direitos autorais – Lei 9.610/98.
Jefferson Luiz Alves Marinho
Organizador

GERENCIAMENTO DA
CONSTRUÇÃO CIVIL
Reflexões sobre Sustentabilidade,
Planejamento e Controle de Obras

Autores
Felipe Viana Bezerra Maia
Janeide Ferreira Alencar de Oliveira
Jefferson Luiz Alves Marinho
Klayrton Rommel Santos Ferreira
Larissa de Freitas Gonçalves
Marcelo de Alencar e Silva
Nayanne Maria Gonçalves Leite
Renato de Oliveira Fernandes
Sabrina Câmara de Morais
Sarayane de Cavalcante Paiva

Curitiba

2017
PREFÁCIO

O gerenciamento de projetos consolidou-se definitivamente no


cenário profissional do Brasil. Influenciadas por um ambiente
extremamente dinâmico, com transformações acontecendo em altas veloci-
dades e tendo produtos com ciclos de vida cada vez mais curtos, as empresas
brasileiras têm buscado adotar o gerenciamento de projetos como estratégia
vital para sua sobrevivência e para o aumento de competitividade.
O mercado profissional para o gerente de projetos e para aqueles
que dominam as técnicas do gerenciamento de projetos tem crescido de
maneira expressiva em todos os segmentos econômicos. Com a indústria e,
em particular, com a indústria da construção civil, não tem sido diferente.
Esse segmento, em que pesem algumas de suas características de caráter
mais artesanal que outros segmentos industriais fabris, tem investido cada
vez mais na contratação de profissionais da área e tem utilizado cada vez
mais os conceitos do gerenciamento de projetos para que seus empreendi-
mentos atinjam os objetivos preestabelecidos.
Os empreendimentos da construção civil também se enquadram
como uma indústria, onde cada empreendimento se caracteriza por ser um
produto final fixo, embora não produzido de forma fabril e rotineira. Cada
obra é única. Ao contrário da produção fabril tradicional, os insumos se
agregam ao produto, deslocando-se em torno dele. Por isso, necessita de
uma organização específica no que se refere ao gerenciamento das pessoas,
da empresa que a executa, da forma de trabalho para a sua execução e de
um sistema de informações gerenciais flexíveis e adaptáveis às mudanças
constantes que ocorrem durante a execução da obra.
Controle de custos, prazos e qualidade, até então apenas conceitos
importantes na gestão dos empreendimentos, passam a ser uma questão
de sobrevivência frente aos desafios da competitividade e das exigências
cada vez maiores dos clientes. Todas essas pressões têm levado as orga-
nizações, e em especial as organizações da indústria da construção civil, a
trabalharem e a pensarem em projetos inovadores.
A este cenário já complexo, a busca pela sustentabilidade nas orga-
nizações tem incorporado novos conceitos e práticas à gestão de projetos
na construção civil. Preocupações com a utilização racional de energia e de
matérias-primas, com a menor geração de resíduos, com a preservação do
ambiente natural e com a melhoria da qualidade do ambiente construído,
têm induzido as organizações a incorporarem novas técnicas como a pro-
dução enxuta, a produção mais limpa e a gestão eficiente dos resíduos da
construção civil. Nessa busca de minimizar os impactos ambientais provo-
cados pela construção, surge o paradigma da construção sustentável.
O livro ora apresentado tem o intuito de fornecer aos leitores uma
contribuição acadêmica através da linguagem clara, ilustrada com estudos
de casos e fundamentada por uma rica bibliografia especializada, de diver-
sos temas relacionados ao gerenciamento da construção civil, sobretudo
no tocante à sustentabilidade e gestão de obras.
Sendo um entusiasta da gestão de processos aplicados à engenharia,
é com alegria que recebo esta missão de apresentar, em poucas palavras,
esta obra organizada pelo Prof. Jefferson Marinho, onde seus autores nos
brindam, em cada capítulo, com um minucioso estudo técnico de conteúdo
atualizado e fruto de pesquisas científicas produzidas por profissionais da
construção civil que trazem suas experiências e propõem soluções criativas
para os problemas que afligem o gerenciamento da construção civil.

Campos-RJ, 13 de junho de 2017.

Romeu e Silva Neto


Professor titular do IFF – Instituto Federal Fluminense
Coordenador do Curso de Engenharia de Produção do ISECENSA
Mestre em Engenharia Civil - UFF
Doutor em Engenharia de Produção – PUC-Rio
Pós-Doutor em Economia Industrial – UFRJ
APRESENTAÇÃO

O mercado da construção civil é um setor altamente estratégico para


o desenvolvimento do País e está cada vez mais exigente, sempre buscando
qualidade e o menor custo. Visto de outro ângulo, não se pode negar que
esse setor apresenta sérias deficiências em seus processos de gestão, ne-
cessitando cada vez mais de ferramentas que auxiliem os profissionais que
atuam na área.
A incorporação de práticas de sustentabilidade tem sido uma ten-
dência crescente na indústria da construção civil, cujos profissionais e
empresas já estão mudando a forma de produzir e gerir os empreendi-
mentos. Nestas circunstâncias, a gestão da qualidade na construção ci-
vil, que antes já era importante, se tornou ainda mais essencial para as
empresas construtoras que desejem gerar resultados satisfatórios e se
manterem competitivas.
Muitos estudos e pesquisas têm se desenvolvido em relação ao ge-
renciamento da construção civil, mas a aplicação prática desses estudos
ainda encontra entraves principalmente devido à falta de qualificação pro-
fissional, baixo uso da inovação tecnológica e alto grau de desperdício de
materiais. De uma forma geral, os resultados convergem à constatação de
que as empresas possuem muito mais habilidades para planejar e executar
projetos, despendendo pouca atenção à gestão estratégica dentro de seu
ambiente empresarial.
Este livro é fruto do trabalho de professores, pesquisadores e alunos
da pós-graduação em gerenciamento da construção civil da Universidade
Regional do Cariri – URCA, que, preocupados com a temática do gerencia-
mento da construção civil, procuram dar a sua contribuição. São textos so-
bre variados temas, todos de significativa complexidade e atualidade, que
vão da sustentabilidade ao planejamento, passando pelo controle de obras
de edificações públicas e privadas.

Jefferson Luiz Alves Marinho


Organizador
SUMÁRIO

GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL:


POLÍTICAS PÚBLICAS E PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA NA BUSCA
DA SUSTENTABILIDADE................................................................................................. 11
Jefferson Luiz Alves Marinho

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL


GERADOS PELA CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÕES DE INTERESSE
SOCIAL NA CIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE....................................................... 27
Larissa de Freitas Gonçalves
Jefferson Luiz Alves Marinho

PROPOSTA DE INTERVENÇÕES SUSTENTÁVEIS DE BAIXO CUSTO


EM EDIFICAÇÕES POPULARES.................................................................................... 41
Nayanne Maria Gonçalves Leite
Renato de Oliveira Fernandes

A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO PARA O SUCESSO DE


EMPRESAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO
JUNTO A CONSTRUTORAS DA REGIÃO DO CARIRI............................................. 57
Sabrina Câmara de Morais
Jefferson Luiz Alves Marinho

REFLEXÕES SOBRE A FILOSOFIA DA CONSTRUÇÃO ENXUTA


APLICADA ÀS CONSTRUÇÕES DE PEQUENO PORTE......................................... 73
Klayrton Rommel Santos Ferreira

ANÁLISE DOS RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO MODELO ENXUTO


NO GERENCIAMENTO DE OBRAS............................................................................... 89
Sarayane de Cavalcante Paiva
Jefferson Luiz Alves Marinho

USO DA SIMULAÇÃO DE EVENTOS DISCRETOS COMO AUXÍLIO À


TOMADA DE DECISÃO NO PROJETO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO.......... 105
Marcelo de Alencar e Silva
Jefferson Luiz Alves Marinho
10 Jefferson Luiz Alves Marinho – Organizador

ANÁLISE PRÁTICA DO PROCESSO DE APROVAÇÃO DE UM PROJETO


PARA APLICAÇÃO DE RECURSOS DO ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO.. 121
Felipe Viana Bezerra Maia
Jefferson Luiz Alves Marinho
APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS E EFICIÊNCIA NO USO DA
ÁGUA EM EDIFICAÇÕES PÚBLICAS DO CARIRI CEARENSE......................... 137
Renato de Oliveira Fernandes
DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE
INFLUÊNCIA DIRETA DA CHAPADA DO ARARIPE, UTILIZANDO
TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO E SENSORIAMENTO REMOTO..... 153
Janeide Ferreira Alencar de Oliveira
GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL: POLÍTICAS PÚBLICAS
E PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA
NA BUSCA DA SUSTENTABILIDADE

Jefferson Luiz Alves Marinho1

RESUMO: O crescimento da população, os avanços da indústria e da urbanização


contribuíram para o aumento da geração de resíduos que são lançados no meio
ambiente. A indústria da construção civil apresenta particularidades, e, dentre suas
principais características estão o elevado desperdício e o grande impacto ambiental
provocado pelo volume de resíduos gerados e pela grande quantidade de maté-
ria-prima consumida, sendo motivo de diversas discussões quanto à necessidade
de se buscar o desenvolvimento sustentável. Este trabalho defende que somente
através da implementação de políticas públicas eficientes e das parcerias público-
-privadas é que os impactos ao meio ambiente serão mitigados, assegurando o de-
senvolvimento sustentável e melhorando a qualidade de vida da população.
Palavras-chave: Parceiras público-privadas. Políticas públicas. Resíduos da constru-
ção civil. Sustentabilidade.

1 INTRODUÇÃO

Vivenciou-se nos últimos anos o crescimento acelerado das cidades


brasileiras de médio e grande porte em face do aquecimento do mercado
imobiliário em todo o País, consequência do aumento da renda das clas-
ses mais pobres, da oferta de crédito com prazo e taxa de juros acessíveis,
do alto déficit habitacional e da implementação de obras de infraestrutura
por parte dos programas do Governo Federal, além da segurança jurídica
proporcionada pelo instituto da alienação fiduciária.

1
Mestre em Engenharia e Tecnologia Ambiental pela Universidad de León - Espanha. Mestre
em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Especialista em Avaliações e
Perícias de Engenharia. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Especialista
em Administração de Empresas. Diretor do Instituto Tecnológico do Cariri – ITEC. Professor
da Universidade Regional do Cariri – URCA. Chefe do Departamento da Construção Civil –
URCA. Coordenador da pós-graduação lato sensu em Gerenciamento da Construção Civil
– ITEC/URCA. Perito judicial. Engenheiro civil e Advogado militante.
E-mail: jeff.marinho@urca.br.
12 Jefferson Luiz Alves Marinho

Por outro lado, tal crescimento tem provocado inúmeros problemas


ambientais, sobretudo no que se refere à destinação do grande volume dos
resíduos gerados pelas atividades do setor da construção civil, desafiando
os gestores públicos no sentido de criarem soluções para estes problemas
por meio da implementação de políticas públicas eficientes, capazes de
aliar a inclusão social à gestão eficiente dos Resíduos da Construção Civil –
RCC, objetivando também minimizar os danos ao meio ambiente.
A indústria da construção civil apresenta particularidades, e, den-
tre suas principais características, estão o elevado desperdício e o grande
impacto ambiental gerado em termos de volume de resíduos e matéria-
-prima consumida. A maioria dos profissionais da construção civil ignora
a quantidade de resíduos sólidos produzidos a partir da demolição e da
construção de obras civis, e, quando conscientes da poluição ambiental,
não estão orientados de como fazer uma destinação seletiva dos resíduos,
através de uma deposição correta e de uma triagem, separando os resídu-
os passíveis de reciclagem e/ou reutilização. A prática da reciclagem dos
resíduos oriundos da construção civil é muito importante para a sustenta-
bilidade da nossa sociedade, porque ela está diretamente relacionada com
atenuação do impacto ambiental gerado pelo setor e com a redução de cus-
tos de gerenciamento do resíduo. Estima-se que o setor é responsável por
consumir cerca de 20% a 50% do total de recursos naturais utilizados pela
sociedade (FREITAS, 2009).
Para Tavares (2007), a construção civil é uma das principais fontes
de degradação ambiental por ser a maior fonte geradora de resíduos da
sociedade, além de apresentar deposição não adequada destes resíduos
nas diferentes etapas do seu processo produtivo. Todo este problema é for-
temente agravado devido os resíduos gerados pela atividade estarem pre-
sentes dentro dos limites urbanos, representando de 41% a 70% da massa
total dos resíduos sólidos urbanos (PINTO, 2005).
O ônus desta irracionalidade é distribuído por toda a sociedade,
não só pelo aumento do custo final das construções, como também pelos
custos de remoção e tratamento do entulho. Na maioria das vezes, esse
resíduo é retirado da obra e disposto clandestinamente em locais como
terrenos baldios, margens de rios e de ruas das periferias, gerando uma
série de problemas ambientais e sociais, como a contaminação do solo
por gesso, tintas e solvente, a proliferação de insetos e outros vetores,
os quais contribuem para o agravamento de problemas de saúde pública
(MENDES et al., 2004).
Gerenciamento da Construção Civil 13

A falta de uma política adequada para a destinação do grande volu-


me de resíduos sólidos gerados pelas atividades do setor da construção
civil, que no Brasil é estimado em 68,5 milhões de tonelada por ano (ÂN-
GULO, 2005, apud FREITAS, 2009), tem desafiado os gestores públicos no
sentido de encontrarem soluções para esses problemas, com o intuito de
minimizar os danos ao meio ambiente.

2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O conceito de sustentabilidade implica polêmica, porque envolve


questão de proteção do meio ambiente e também outros interesses estraté-
gicos, dentre os quais o tipo de desenvolvimento possível para as diferentes
sociedades, a competição por bens e tecnologias entre nações, a atividade
econômica, a própria concepção individualista do direito de propriedade.
Essas divergências relacionam-se à definição do que seja sustentabilidade,
seus parâmetros objetivos, mas converge o entendimento de que o princí-
pio da sustentabilidade deve ser assegurado em todas as sociedades.
Para se alcançar o desenvolvimento sustentável, fazem-se necessá-
rias mudanças na maneira de como os recursos naturais são explorados,
bem como que haja a efetiva apropriação de inovações tecnológicas para
o melhor aproveitamento dos resíduos gerados, atendendo de maneira sa-
tisfatória às aspirações e demandas da população no presente e no futuro.
A gestão do desenvolvimento sustentável exige, portanto, além da
propagação de uma consciência ética ambiental voltada à valoração da
conduta humana em relação ao meio ambiente, conhecimentos interdis-
ciplinares, planejamento e novas posturas resultantes em ações fáticas do
Estado e da sociedade civil e, sobretudo, que esse novo paradigma seja ca-
racterizado por valores solidários, fazendo crescer em importância a cida-
dania, a cooperação, a parceria e a inclusão social, política e econômica.
Nesse sentido, o desenvolvimento sustentável oferece novos princí-
pios de democratização da sociedade que induzem a participação direta
das comunidades na apropriação e transformação de seus recursos am-
bientais, convertendo-se num projeto destinado a erradicar a pobreza, sa-
tisfazer as necessidades básicas e melhorar a qualidade de vida população,
para se atingir a propalada justiça social.
A Constituição Federal, no artigo 23, inciso VI, determina que é com-
petência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas for-
14 Jefferson Luiz Alves Marinho

mas, e para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologica-


mente equilibrado, cabe ao Estado implementar as políticas públicas para
atender aos objetivos nela estabelecidos, concretizando o desenvolvimento
social, econômico, político e ambiental. Por isso mesmo, é possível afirmar
que as questões ambientais estão interligadas com as questões econômicas
e sociais, e que a efetividade da proteção ambiental depende do tratamento
globalizado e conjunto de todas elas, pelo Estado e pela sociedade.
O artigo 2252 da Constituição Federal de 1988 defende que todos
os brasileiros ou estrangeiros têm direito a um meio ambiente ecologi-
camente equilibrado. Diante desta previsão legal do nosso ordenamento
jurídico, a preocupação com o gerenciamento dos resíduos da construção
civil vem se consolidando como uma prática importante dentro da con-
cepção de desenvolvimento sustentável, uma vez que a grande quantida-
de de resíduos gerados nas atividades da construção civil (construções,
reformas, ampliações e demolições) e sua consequente destinação final,
quando não realizadas em conformidade com as diretrizes estabelecidas
pela Resolução nº 307, de 05 de julho de 2002, do Conselho Nacional
de Meio Ambiente – CONAMA, podem resultar em impactos ambientais
graves, manifestando-se, entre outros aspectos, com incidentes de alaga-
mentos, deslizamentos de encostas, degradação de áreas de preservação
permanente, assoreamento de córregos e rios, obstrução de vias e logra-
douros públicos, proliferação de vetores de doenças, queimadas etc., que
tantos malefícios causam à população e ao meio ambiente.
Por outro lado, com a autonomia atribuída pela Constituição Federal
aos municípios no sentido de elaborarem suas próprias leis orgânicas, ve-
rificou-se um estímulo para a formulação de políticas públicas de inclusão
social visando à prática de uma gestão ambiental mais efetiva e participativa,
capaz de reverter o atual quadro caótico presente na maioria das grandes
cidades brasileiras, mediante um novo modelo de crescimento sustentável.
Os impactos ambientais, sociais e econômicos causados pelos resí-
duos da construção civil demonstram, de forma clara, a necessidade da
existência de políticas públicas que possam incentivar a redução da gera-
ção de resíduos, avaliar os impactos gerados e fornecer subsídios ao setor
da construção civil, para que ele possa realizar o gerenciamento eficiente
voltado para uma postura ambientalmente correta (SANTOS, 2007).

2
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Gerenciamento da Construção Civil 15

O Conama, por meio da Resolução nº 307, de 05 de julho de 2002, es-


tabeleceu diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos
da construção civil, disciplinando as ações necessárias de forma a minimi-
zar os impactos ambientais, tendo para esse fim definido as especificações
dos RCC. Essa Resolução, em seu artigo 2º, inciso I, define os resíduos da
construção civil como sendo:

[...] os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições


de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da es-
cavação de terrenos tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em
geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compen-
sados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros,
plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de
entulhos, caliça ou metralha.

Outro aspecto importante a considerar é a Resolução nº 448, de 18


de janeiro de 2012, do CONAMA, ao estabelecer a necessidade de adequa-
ção da Resolução 307/02 aos mecanismos da Lei 12.305/10, que ordena
a Política Nacional de Resíduos Sólidos, alterando diversos artigos da Re-
solução anterior (arts. 2º, 4º, 5º, 6º, 8º, 9º, 10 e 11) e possibilitando o ge-
renciamento com responsabilidade desses resíduos, tanto os resultantes
de obras públicas como de atividades privadas, originadas em pequenos
ou grandes geradores. A referida resolução determina que os municípios
e o Distrito Federal elaborem os Planos de Gestão de Resíduos de Cons-
trução Civil até janeiro de 2013, e os coloquem em prática até seis meses
depois, em consonância com os Planos Municipais de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos. Diversos municípios ainda estão em fase da elaboração
dos respectivos Planos. Os geradores de resíduos de construção devem ter
como objetivos em seus planos de gerenciamento a) não geração; b) redu-
ção; c) reutilização; d) reciclagem; d) tratamento adequado; e) disposição
final adequada. Os RCC não podem ser dispostos em aterros de resíduos
sólidos urbanos, encostas, corpos de água, terrenos e lotes vagos, áreas
protegidas ou de descarte ilegais. Todas estas alternativas têm relação di-
reta ou indireta com projetos e ações de desenvolvimento de construções
civis sustentáveis (RIBEIRO; CASTRO, 2014).
Com vistas a se alcançar a sustentabilidade na construção civil, deve-
-se ter em conta as legislações, os projetos e as ações que dispõem sobre ma-
teriais e tecnologias sustentáveis visando à redução de impactos ambientais
e à economia de recursos naturais, tais como: sistema de captação, armaze-
16 Jefferson Luiz Alves Marinho

namento de água das chuvas e sua filtragem; utilização de madeira de reflo-


restamento; uso de equipamentos sanitários de baixo consumo; captação de
luz solar para aquecimento de água e como fonte de energia; entre outros,
desde que comprovada sua utilização nas construções e uso de edificações
urbanas. Para tanto, há necessidade de que tais alternativas, entre outras, em
forma de incentivos, estejam previstas em leis específicas e estejam em sin-
tonia com o Plano Diretor do Município. Com isso, a Administração Pública
competente poderá conceder incentivos diretos ou indiretos à construção
civil que utiliza práticas ecologicamente sustentáveis nas fases de planeja-
mento, execução das obras e uso das edificações, e ao mesmo tempo poderá
estimular a sociedade para construir uma nova concepção de moradia.
Fazendo um balanço das ações relacionadas ao ambiente e ao desen-
volvimento sustentável desde a primeira Conferência das Nações Unidas so-
bre o Meio Ambiente Humano no ano de 1972 em Estocolmo, passando pela
Rio-92, até a recente Conferência da Rio+10 em Johanesburgo, identifica-se
um diagnóstico pouco favorável, com tímidos avanços no sentido da preser-
vação, e agressivos avanços no sentido oposto. Tal cenário é fruto de uma
declarada negligência ao cumprimento das metas estabelecidas pela Agenda
21 e, principalmente, pela resistência por parte dos países mais ricos – nota-
damente os EUA – em acatar e assinar acordos, alegando prejuízos para suas
respectivas economias nacionais. Assim, enquanto debates e mais debates se
estendem de uma Conferência para outra, a pobreza, a desigualdade, o des-
perdício e a devastação dos recursos naturais continuam (RATTNER, 2002).
No Brasil, a legislação sobre os resíduos de construção ainda é pouco
expressiva se comparada com as existentes em outros países. No entan-
to, a Resolução nº 307/02, com as alterações realizadas pela Resolução nº
448/12, ambas do Conama, representa um marco neste sentido, pois re-
gulamenta e vislumbra definições nos aspectos que tangem aos resíduos
de construção, atribui responsabilidades aos geradores, transportadores e
gestores públicos, e estabelece critérios e procedimentos para a gestão dos
resíduos da construção civil, assim como ações necessárias à minimização
dos impactos ambientais. Essa resolução representa um instrumento legal
importante para a promoção da reciclagem, pois, antes de sua publicação,
não existia nenhum instrumento que regulamentasse a disposição dos re-
síduos de construção em âmbito nacional.
A deposição irregular dos resíduos de construção demonstra falta
de compromisso com a qualidade ambiental, comprometendo a sustenta-
bilidade de forma extremamente negativa. Alguns dos impactos visíveis
revelam um extenso comprometimento da qualidade do ambiente e da
Gerenciamento da Construção Civil 17

paisagem local, onde se verifica a disposição inadequada dos resíduos em


terrenos com vegetação e com criação de animais, propiciando perigo à
sua vida devido à possiblidade da ingestão desses resíduos. Outro proble-
ma que se verifica nas grandes cidades é a deposição de resíduos nos pas-
seios e logradouros públicos, obstruindo as vias de tráfego de pedestres e
de veículos, criando um ambiente propício para a proliferação de vetores
prejudiciais às condições de saneamento e à saúde humana.

3 POLÍTICAS PÚBLICAS

Os estudos sobre política pública são ainda muito recentes no Bra-


sil, e permeiam muitas divergências conceituais. Segundo Secchi (2010),
qualquer definição de política pública é arbitrária, pois não há consenso na
literatura especializada sobre questionamentos básicos.
Dito de outra maneira, as políticas públicas são a totalidade de ações,
metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) tra-
çam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público. É certo
que as prioridades dos dirigentes públicos são aquelas que eles entendem
serem as demandas ou expectativas da sociedade. Ou seja, o bem-estar da
sociedade é sempre definido pelo governo e não pela sociedade. Isto ocor-
re porque a sociedade não consegue se expressar de forma integral. Ela
requer demandas de seus representantes e estes mobilizam os membros
do Poder Executivo para que atendam às demandas da população.
As demandas da sociedade são apresentadas aos dirigentes públicos
por meio de grupos organizados, no que se denomina de Sociedade Civil
Organizada (SCO), a qual inclui, conforme apontado acima, sindicatos, en-
tidades de representação empresarial, associação de moradores, associa-
ções patronais e ONGs em geral.

3.1 Políticas públicas – Aspectos conceituais

O estudo das políticas públicas não pode ser feito de forma fragmen-
tada, nem isolada. Segundo Schmidt (2008), as políticas públicas podem
ser estudadas sob dois pontos de vistas: um prático e outro acadêmico. O
primeiro está voltado para os agentes políticos, grupos de interesses e da
sociedade civil em geral e proporciona uma ação mais qualificada causan-
do maior impacto nas decisões atinentes às políticas. Do ponto de vista
acadêmico, o interesse pelos resultados das ações governamentais susci-
18 Jefferson Luiz Alves Marinho

tou a necessidade de uma compreensão teórica dos fatores intervenientes


e da dinâmica próprias das políticas.
Muito embora existam várias definições de políticas públicas, é con-
senso que há convergência entre elas3, como bem pondera Schmidt (2008).
Inicialmente deve-se entender que política pública é um conjunto de de-
cisões e não uma decisão isolada. Pode-se dizer que as políticas públicas
são um conjunto de ações e atividades desenvolvidas pelo Estado direta
ou indiretamente, com a participação de entes públicos ou privados, que
visam assegurar determinado direito de cidadania, de forma difusa ou para
determinado segmento social, cultural, étnico ou econômico. As políticas
públicas correspondem a direitos assegurados constitucionalmente ou
que se afirmam graças ao reconhecimento por parte da sociedade e/ou pe-
los poderes públicos enquanto novos direitos das pessoas, comunidades,
coisas ou outros bens materiais ou imateriais. Embora uma política pública
implique decisão política, nem toda decisão política chega a constituir uma
política pública (RUA, 2009).
As políticas públicas podem ser formuladas principalmente por ini-
ciativa dos poderes Executivo ou Legislativo, separadas ou conjuntamente,
a partir de demandas e propostas da sociedade, em seus diversos segmen-
tos. A participação da sociedade na formulação, acompanhamento e ava-
liação das políticas públicas em alguns casos é assegurada na própria lei
que as institui. Audiências públicas, encontros e conferências setoriais são
também instrumentos que vêm se afirmando nos últimos anos como forma
de envolver os diversos segmentos da sociedade em processo de participa-
ção e controle social.
Normalmente, as políticas públicas estão constituídas por instru-
mentos de planejamento, execução, monitoramento e avaliação, encadea-
dos de forma integrada e lógica, através de planos, programas, ações e ati-
vidades. Os planos estabelecem diretrizes, prioridades e objetivos gerais
a serem alcançados em períodos relativamente longos. Os programas, por
sua vez, estabelecem objetivos gerais e específicos focados em determi-

3
Para autores como Fernández (2006), Souza (2006), Dagnino (2002) e Parsons (1997), a lite-
ratura clássica apresenta as seguintes definições de políticas públicas como as mais aceitas:
a) Para Lynn, uma política é um conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos
específicos; b) Para Peters, política pública é a soma das atividades dos governos, que agem
diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos; c) Para Las-
swell, decisões e análises sobre política pública implicam responder às seguintes questões:
quem ganha o quê, por quê e que diferença faz. d) Para Heclo, uma política pública é o
curso de uma ação ou inação (não-ação), mais do que ações ou decisões específicas; e) Para
Dye, política pública é tudo aquilo que os governos decidem fazer ou não fazer.
Gerenciamento da Construção Civil 19

nado tema, público, conjunto institucional ou área geográfica. Já as ações


visam ao alcance de determinado objetivo estabelecido pelo Programa, e,
por fim, para dar concretude à ação, temos a atividade.
Até a Constituição de 1988, a formulação de políticas públicas no Bra-
sil era centralizada na esfera federal, cabendo aos estados e municípios ape-
nas a sua execução. Após a promulgação da Constituição, entretanto, esses
níveis de governo ganham papel fundamental. A incapacidade de lidar com
problemas complexos e extensos por parte dos governos centrais conduziu
a um movimento de descentralização nas esferas estadual e principalmente
municipal. O argumento reside no fato de que a resolução dos problemas
tem maior efetividade na medida em que se está mais próximo deles. Com
efeito, os governos locais passam ocupar um papel central na formulação
e implementação de políticas públicas, haja vista sua maior capacidade de
acompanhamento e controle dos projetos (REIS; TURETA; BRITO, 2005).
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e o processo
de redemocratização do Brasil permitiu-se a participação da sociedade
na construção das políticas públicas. Normativamente, a sociedade con-
quistou o direito de, além de ser objeto das políticas públicas, tornar-se
agente na execução dessas políticas, ou seja, cogestores na elaboração e
implementação das políticas. Com a expectativa da comunidade exercendo
ativamente seu papel de protagonista da história, as prioridades serão re-
definidas, a corrupção será reduzida e a transparência do governo tornar-
-se-á mais efetiva.
Neste contexto, é imprescindível ter em mente o correto significado
e alcance das políticas públicas que, de acordo com Ribeiro e Castro (2014,
p. 13), “podem ser entendidas como as escolhas e estratégias adotadas pe-
los entes políticos no exercício de suas competências visando o interesse
público”. Uma política pública será tanto mais efetiva quanto tiver a influ-
ência da comunidade na condução dos negócios públicos. Além disso, no-
vas políticas públicas necessariamente requerem a efetiva participação da
sociedade na busca de alternativas e soluções. “O Estado Democrático de
Direito é caracterizado, justamente, por afirmar, garantir, e pretender pro-
mover direitos iguais para todos sem descriminação de qualquer espécie”
(FRISCHEISEN, 2000, p. 58).
É importante ressaltar que a partir da nova dimensão social das úl-
timas décadas, com repercussões na organização social e política da socie-
dade em especial, é possível compreender a expressão “políticas públicas”
como o conjunto de ações que nascem do contexto social, mas passam pela
20 Jefferson Luiz Alves Marinho

esfera estatal, atuando como uma decisão de intervenção pública numa re-
alidade social, “quer seja para fazer investimentos ou simplesmente para
uma mera regulamentação administrativa” (BONETI, 2006, p. 74).
Com base nesse conceito, pode-se admitir que as políticas públicas
possuem duas características gerais: a busca do consenso em torno do
que se pretende fazer ou deixar de fazer e a resolução dos conflitos. Frey
(2000, p. 223-224) aborda quatro tipos de políticas públicas no que tange
ao modo da resolução de conflitos, quais sejam: distributivas, redistributi-
vas, regulatórias e constitutivas. Na questão ambiental, para efeitos desta
pesquisa, é esta última a forma mais indicada, pois são as que determinam
as regras do jogo, e com isso a estrutura dos processos e conflitos políticos,
isto é, as condições gerais sob as quais vêm sendo negociadas as políticas
distributivas, redistributivas e regulatórias.
No que tange à análise dos processos de implementação, podemos
discernir as abordagens cujo objetivo principal é a análise da qualidade
material e técnica de projetos ou programas, daquelas cuja análise é dire-
cionada para as estruturas político-administrativas e à atuação dos atores
envolvidos. No primeiro caso, tem-se em vista, antes de qualquer coisa, o
conteúdo dos programas e planos. Comparando os fins estipulados na for-
mulação dos programas com os resultados alcançados, examina-se até que
ponto a encomenda da ação foi cumprida e quais as causas de eventuais dé-
ficits da implementação. No segundo caso, o que está em primeiro plano é
o processo de implementação, isto é, a descrição do como e da explicação
do porquê (FREY, 2000).

3.2 Relação entre sustentabilidade e políticas públicas

As questões fundamentais que precisam ser consideradas em qual-


quer discussão relacionada ao desenvolvimento sustentável são: o bem-es-
tar humano, o meio ambiente e o futuro. Desse modo, temas como poluição,
biodiversidade, exploração de recursos naturais, efeitos climáticos, entre
outros, devem ser relacionados a desemprego, pobreza e riqueza, tecnolo-
gias, valores culturais e organizações políticas e sociais, por exemplo, isso
tanto para análise dos problemas decorrentes destas inter-relações como
para implementação de soluções.
Consideradas há muito como questões distintas, consignadas a órgãos
governamentais independentes, os problemas ecológicos e sociais são, na
realidade, interligados e se reforçam mutuamente. Para haver um desenvol-
Gerenciamento da Construção Civil 21

vimento sustentável, portanto, é preciso começar a pensar em atender ne-


cessidades básicas e dar a todos oportunidades de realizar suas aspirações
de uma vida melhor, havendo consenso que o desenvolvimento humano é
fator preponderante, estando no cerne da questão a qualidade de vida e, por
consequência, o inevitável questionamento das desigualdades sociais.
Desenvolvimento sustentável, portanto, é um processo de transfor-
mação que deve ocorrer de forma harmoniosa nas dimensões espacial, so-
cial, ambiental, educacional, cultural e econômica, partindo do individual
para o global, podendo ser operacionalizado para satisfação de necessida-
des humanas e ameaças à sustentabilidade de um sistema, levando, por
consequência, a necessidade de formulação de mensuráveis políticas pú-
blicas para o alcance de condições, objeto e finalidade de sustentabilidade,
como instrumento para efetivar direitos, intervindo na realidade social.

4 PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA (PPP)


Ao longo do processo evolutivo das sociedades, destacaram-se três
concepções de Estado: o Estado Liberal, o Estado do Bem-Estar Social e o
Estado Democrático de Direito. Segundo Di Pietro (2010), é no Estado De-
mocrático de Direito que há uma possibilidade de participação mais direta
da sociedade, colocando o agente público sob o julgo da lei e fortalecendo a
supremacia do interesse público em detrimento do privado.
E é exatamente a Parceria Público-Privada (PPP) a forma de dele-
gação dada pelo poder público à iniciativa privada para transferência de
obras e serviços públicos mais utilizada na última década pela Adminis-
tração Pública. Essa modalidade de gestão retira o dogma dos interesses
distintos entre concessionário e poder concedente e estabelece a ideia de
solidariedade e de colaboração para o sucesso, traduzida sob a forma de
boa-fé objetiva, que representa atendimento dos princípios da moralidade
e da segurança jurídica (SOUTO, 2005. p. 30).
A PPP surgiu na década de 1980 no Reino Unido, quando a Adminis-
tração Pública, motivada pela escassez de recursos, resolveu privatizar e
terceirizar serviços públicos como forma de não parar seu desenvolvimento.
Em consonância com Carvalho Filho (2013), a PPP pode ser definida
como um

Acordo firmado entre a Administração Pública e pessoa do setor pri-


vado com o objetivo de implantação ou gestão de serviços, com even-
tual execução de obras ou fornecimento de bens, mediante financia-
22 Jefferson Luiz Alves Marinho

mento do contrato, contraprestação pecuniária do Poder Público e


compartilhamento dos riscos e de ganhos entre os pactuantes.

O que existe de novidade na Parceria Público-Privada é exatamente


possibilitar a delegação de serviços públicos não onerosos, como, exemplo,
saúde, educação, segurança pública, cultura, lazer etc.
Como instrumento regulador da PPP, destacam-se duas modalidades
de concessão: a patrocinada e a administrativa. A primeira está prevista no
§ 1º do artigo 2º da Lei 11.079/04, e assemelha-se à concessão de servi-
ços públicos. Já na segunda modalidade, a administrativa, percebe-se que o
legislador criou uma forma de delegação em que a remuneração será feita
exclusivamente pelo parceiro público.
Para que aconteça uma concessão administrativa, seja de forma dire-
ta ou indireta, é imprescindível que

Haja investimento do concessionário na criação de projeto relevante;


que o preço seja pago periódica e diferidamente pelo poder conce-
dente em prazo ao longo da execução do contrato; e que o objeto não
se restrinja à execução da obra ou ao fornecimento de mão-de-obra
e bens. (SUNDFELD, 2004).

Portanto, pode-se afirmar que a Parceria Público-Privada é um con-


trato administrativo de concessão, que possui como objeto um serviço pas-
sível de exploração pelo particular com finalidades lucrativas. É “aquele que
a Administração Pública executa, direta ou indiretamente, para atender às
necessidades coletivas de ordem econômica” (DI PIETRO, 2010, p. 104).

5 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DA


CONSTRUÇÃO CIVIL

Os resíduos da construção civil constituem um dos principais causa-


dores da degradação ambiental, tanto pelo volume gerado como pelo mal
gerenciamento desde a produção até o seu destino final. Sua gestão repre-
senta um dos principais problemas a serem resolvidos por organismos do
governo e prefeituras municipais.
É importante frisar que nenhuma sociedade poderá atingir o de-
senvolvimento sustentável sem que a construção civil, que lhe dá suporte,
passe por profundas transformações. Para reduzir os impactos, há neces-
Gerenciamento da Construção Civil 23

sidade de gestão ambiental por parte das empresas do setor. Desta for-
ma, elas podem produzir edificações ambientalmente mais corretas. Para
que se obtenha uma gestão adequada dos resíduos da construção, deve-se
priorizar a sua redução, reutilização e reciclagem, diminuindo desta forma
a extração de matérias-primas (mineração), a ocupação de áreas para a
disposição final e os riscos à saúde.
A percepção de que o inadequado gerenciamento dos resíduos só-
lidos gerados nos vários processos de produção e consumo causa proble-
mas que necessitam de soluções emergenciais tem levado diversos setores
da sociedade a buscarem integração, mobilizando-se com vistas a reduzir
o volume de resíduos produzidos, e pesquisando técnicas que viabilizem
a prática da reutilização e da reciclagem. Uma das soluções encontradas
para a gestão dos RCD é a reciclagem dos resíduos (JOHN, 2000).
No Brasil, nos últimos anos, a implementação de políticas públicas e
de parcerias (PPP) tem objetivado corrigir a forma e a estrutura adotada
para coleta, transporte e disposição final dos resíduos gerados pela indús-
tria da construção civil, com destaque para aqueles originados em constru-
ções, reformas, manutenções e demolições.
De acordo com Tavares (2007), atualmente o setor da construção
civil vem tomando atitudes que visam minimizar os impactos ao meio am-
biente em resposta às pressões regulamentadoras e da própria socieda-
de. Essas atitudes se traduzem numa busca de resultados satisfatórios em
processos como a reciclagem, a redução de energia e a redução de perdas.
Os impactos ambientais, sociais e econômicos causados pelos resí-
duos da construção demonstram, de forma clara, a necessidade da exis-
tência de políticas públicas que possam incentivar a redução da geração
de resíduos, avaliar os impactos gerados e fornecer subsídios ao setor da
construção civil, para que ele possa realizar um gerenciamento eficiente
voltado para a uma postura ambientalmente correta (SANTOS, 2007).

5 CONCLUSÃO

A redução dos impactos ambientais provocados pela deposição irre-


gular dos resíduos da construção civil é um processo lento e gradativo, que
requer em primeiro lugar a educação ambiental do cidadão brasileiro, o
qual, a partir daí, obterá consciência, que, por sua vez produzirá um senso
de responsabilidade pela preservação do meio ambiente. É imprescindível
que sejam adotadas ações por parte da Administração Pública na forma
24 Jefferson Luiz Alves Marinho

da implementação efetiva de políticas públicas para a gestão sustentável


dos resíduos de construção. É igualmente necessária a adoção de instru-
mentos legais e reguladores que norteiem e garantam a sustentação legal,
política e econômica para a elaboração de um Plano de Gerenciamento dos
Resíduos através das Parcerias Público-Privadas. Também se faz necessá-
rio que o poder público, em todas as esferas de governo (federal, estadual
e municipal), saia da letargia que lhe é peculiar e avance na implementação
de políticas públicas capazes de romper barreiras jurídicas e de articular
todos os órgãos da administração pública, visando garantir a consolidação
e a continuidade de projetos que contemplem medidas eficientes de fiscali-
zação no sentido de coibir a deposição irregular de resíduos de construção.
Para alcançar níveis de sustentabilidade na construção civil, inovações
e ajustes neste setor devem ser implementados, considerando as ações co-
letivas tanto do poder público, do setor produtivo quanto da sociedade em
sintonia com tal propósito. Aos poucos, o poder público e a sociedade devem
desenvolver metodologias adequadas à realidade brasileira para avaliação
da sustentabilidade de serviços e de empreendimentos. Neste sentido é que
surgem as Parcerias Público-Privadas, mas ainda são necessários debates
enfatizando a temática, bem como a elaboração e publicação de normas e
literatura a respeito, propiciando ainda maior divulgação dos conteúdos de
documentos pertinentes para profissionais, empresas da construção civil
e comunidade. É preciso que as mudanças e transformações sejam devi-
damente regulamentadas, para que realmente atinjam o maior número de
empreendimentos possível. O Conselho Brasileiro de Construção Sustentá-
vel (CBCS) tem importante papel neste contexto. De igual modo, sindicatos,
associações e entidades representativas relacionadas com a construção civil
devem contribuir para efetivar as políticas públicas destinadas às constru-
ções verdes com vistas ao desenvolvimento sustentável.
Diante de tantos problemas ambientais verificados no Brasil, urge a
necessidade da consciência pela responsabilidade socioambiental por par-
te de todos os segmentos envolvidos na cadeia produtiva da construção ci-
vil. Dessa forma, cabe a cada um de nós adotarmos, isolada e coletivamen-
te, medidas para diminuir o desperdício e otimizar os recursos naturais.
Além destas medidas, outras devem ser adotadas para minimizar o proble-
ma, como a diminuição da geração de resíduos, a deposição em áreas apro-
priadas, a coleta seletiva de resíduos em canteiros de obras, a reciclagem,
a educação ambiental nas empresas e nos canteiros de obras e inserção de
disciplina de sustentabilidade e meio ambiente na matriz curricular dos
cursos técnicos e superior das áreas ligadas à engenharia.
Gerenciamento da Construção Civil 25

Tais ações deverão ser voltadas ao esclarecimento e ensinamento


da população em relação aos resíduos de construção (geração, deposição,
transporte, destinação final adequada), os impactos ambientais e sociais
causados pela deposição irregular desses resíduos em terrenos baldios,
margem de córregos (APPs), vias públicas, entre outros, bem como o de-
senvolvimento de ações que visem à redução da geração de resíduos de
construção civil.

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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL GERADOS PELA
CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÕES DE
INTERESSE SOCIAL NA CIDADE
DE JUAZEIRO DO NORTE

Larissa de Freitas Gonçalves1


Jefferson Luiz Alves Marinho2

RESUMO: A grande quantidade de resíduos gerados na construção civil, as inúme-


ras interferências no meio ambiente devido ao acúmulo e destinação inadequada,
além do fato de que grande parte de tais resíduos poderia ser reduzida, reciclada
e/ou reutilizada geram nas construtoras a necessidade de se realizar a gestão ade-
quada desse material. Além disso, a Resolução 307/2002 do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA) define que os geradores devem ser responsáveis pelos
resíduos das atividades de construção, reforma, reparos e demolições de estrutu-
ras, assim como da remoção de vegetação e escavação de solos, uma vez que estes
resíduos da construção civil representam um significativo percentual dos resíduos
sólidos urbanos e que a sua disposição em locais inadequados contribui para a de-
gradação da qualidade ambiental. Neste sentido, o presente trabalho visa deter-
minar os resíduos sólidos gerados por obras de habitações de interesse social na
cidade de Juazeiro do Norte e auxiliar na implantação do plano de gerenciamento
desses resíduos, visando reduzir gastos e garantir uma disposição final correta. Os
dados obtidos mostraram que após concluído o processo de gerenciamento, torna-
-se mais fácil realizar a destinação de cada tipo de material, além de possibilitar que
a empresa assuma um papel sustentável na sociedade.
Palavras-chave: Resíduos. Gerenciamento. Habitação de interesse social.

1
Mestranda em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Geren-
ciamento da Construção Civil - URCA. E-mail: larissa.de.freitas@hotmail.com
2
Mestre em Engenharia e Tecnologia Ambiental pela Universidad de León - Espanha. Mestre
em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Especialista em Avaliações e
Perícias de Engenharia. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Especialista
em Administração de Empresas. Diretor do Instituto Tecnológico do Cariri – ITEC. Professor
da Universidade Regional do Cariri – URCA. Chefe do Departamento da Construção Civil –
URCA. Coordenador da pós-graduação lato sensu em Gerenciamento da Construção Civil
– ITEC/URCA. Perito judicial. Engenheiro civil e Advogado militante.
E-mail: jeff.marinho@urca.br.
28 Larissa de Freitas Gonçalves & Jefferson Luiz Alves Marinho

1 INTRODUÇÃO

A preservação ambiental e a geração de resíduos sólidos estão entre


as principais preocupações ambientais do mundo. Conforme Barros e Mol-
ler (2001), as sociedades de consumo avançam de forma a destruir os re-
cursos naturais, uma vez que, de modo geral, os bens têm vida útil limitada,
transformando-se inevitavelmente em lixo, cujas quantidades crescentes
não se sabe o que fazer.
Na construção civil não é diferente. Apesar de ser um importante
segmento da indústria brasileira, tida como um indicador do crescimento
econômico e social, como alta geração de empregos, renda, viabilização de
moradias, infraestrutura, estradas e outros, esta também se constitui uma
atividade com consumo intenso de recursos naturais e, como todas as de-
mais atividades da sociedade, gera resíduos.
Os resíduos da construção civil representam um grave problema em
muitas cidades brasileiras. Por um lado, a disposição irregular desses resí-
duos pode gerar problemas de ordem estética, ambiental e de saúde pública.
De outro, eles representam um problema que sobrecarrega os sistemas de
limpeza pública municipais, visto que, no Brasil, os RCC podem representar
de 50 a 70% da massa dos resíduos sólidos urbanos (BRASIL, 2005).
Por isso, a partir da Resolução 307/02, do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA), o gerador passou a ser responsável pelos re-
síduos produzidos pelas atividades de construção, reformas, reparos e de-
molições de estruturas e estradas, além daqueles resultantes da remoção
de vegetação e escavação de solos, devendo então realizar o processo de
segregação dos RCC em quatro classes diferentes e encaminhá-los para re-
ciclagem ou disposição final adequada.
A citada resolução tornou também obrigatória a apresentação de
um projeto de gerenciamento dos resíduos gerados no canteiro, no pro-
cesso de aprovação, pelo poder público municipal ou do Distrito Federal,
de qualquer empreendimento que envolva a atividade de construção civil.
Este projeto deve contemplar a caracterização dos resíduos, triagem, acon-
dicionamento, transporte e destinação.
Com isso, este trabalho tem a finalidade de reunir e prover informa-
ções de modo a auxiliar as empresas que atuam no ramo de habitação de
interesse social na elaboração do Projeto de Gerenciamento de Resíduos,
como também contribuir para a diminuição dos custos da produção, da
Gerenciamento da Construção Civil 29

quantidade de recursos naturais a serem gastos e da contaminação do


meio ambiente, por meio do gerenciamento interno de seus resíduos.
Por isso, a metodologia utilizada neste trabalho para definir uma
gestão adequada dos resíduos consiste em, inicialmente, encontrar medi-
das para reduzir a geração de resíduos, consultando bibliografias sobre o
tema. Em seguida, identificar, em pesquisa de campo, os resíduos gerados
nas principais fases das obras de habitação de interesse social em execu-
ção na área do presente estudo. A partir desses dados, torna-se possível
definir o processo de segregação e acondicionamento dos materiais, a ser
adotado na coleta seletiva. Por fim, sugere-se uma possível destinação para
cada material, e apresenta-se uma tabela com o resumo do processo.

2 RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL.

Camões et al. (2012) ressaltam o fato de que somente cerca de 10%


(em massa) de tudo que é extraído do planeta pela indústria torna-se um
produto útil e que todo o restante é considerado resíduo.
Os resíduos sólidos, que são uma das formas da poluição industrial,
indicam ineficiência do processo produtivo, representando, quase sempre,
perdas de matérias-primas e insumos (JACOMINO et al., 2002).
Os resíduos da construção civil (RCC) ou resíduos de construção e
demolição (RCD) são rejeitos provenientes de construções, reformas, de-
molições de obras de construção civil, restos de obras e os da preparação e
da escavação de terrenos e outros. Em termos de quantidade, esse resíduo
corresponde a algo em torno de 50% dos resíduos sólidos urbanos produ-
zidos nas cidades brasileiras e do mundo com mais de 500 mil habitantes
(SARDÁ; ROCHA, 2003).
Em seu artigo 3º, a Resolução 307/02 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA), alterada pela Resolução CONAMA nº 348/04 e de-
pois pela Resolução Conama nº 431/11 (art. 3º, inc. IV,), propõe a seguinte
classificação desses resíduos:

I - classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agrega-


dos, tais como:
a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação
e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de
terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: com-
30 Larissa de Freitas Gonçalves & Jefferson Luiz Alves Marinho

ponentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento


etc.), argamassa e concreto;
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas
em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos cantei-
ros de obras;
II - classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais
como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e gesso;
III - classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas
tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a
sua reciclagem/recuperação;
IV - classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de cons-
trução, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles conta-
minados ou prejudiciais à saúde, oriundos de demolições, reformas e
reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem
como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou
outros produtos nocivos à saúde.

De forma geral, os RCD são vistos como resíduos de baixa pericu-


losidade, sendo o impacto causado principalmente pelo grande volume
gerado. Contudo, nesses resíduos também são encontrados materiais or-
gânicos, produtos perigosos e embalagens diversas que podem acumular
água e favorecer a proliferação de insetos e de outros vetores de doenças
(KARPINSK et al., 2009).
Neste sentido, uma gama de estudos voltados à reciclagem e/ou reu-
tilização dos resíduos têm sido realizados, e por meio deles têm-se contri-
buído para a utilização de matérias-primas alternativas, para a diminuição
dos custos finais dos setores industriais geradores e consumidores de resí-
duos, além de preservar o ambiente (LUCAS; BENATTI, 2008).
Santos (2008) aborda que os RCC produzidos em uma obra podem
ser reutilizados na própria obra, desde que se utilizem os procedimentos
adequados e que haja disponibilidade dos recursos necessários para esse
aproveitamento.
Degani (2003) ainda acrescenta que os RCC, quando conveniente-
mente selecionados, reciclados e classificados, podem ter uma infinidade
de aplicações, das quais se destacam, no Brasil, a utilização em: fabricação
de blocos de concreto residual; execução de contrapisos; agregados para a
produção de concretos e argamassas; preenchimento de vazios em cons-
truções; preenchimento de valas de instalações; obras de drenagem; refor-
ço de aterros; dentre outros artefatos pré-moldados.
Gerenciamento da Construção Civil 31

3 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS

A adoção de um gerenciamento da obra voltado para a minimização


dos resíduos e para um tratamento racionalizado, a partir de sua geração,
deve preocupar-se com a limpeza do canteiro de obra, a segregação dos
resíduos gerados e a garantia do controle sobre o destino tomado pelos
resíduos. Neste sentido, a seguir serão apresentadas informações relati-
vas ao gerenciamento adequado dos resíduos produzidos na construção
de habitações de interesse social, incluindo a sua redução, reutilização e
reciclagem, o que tornará o processo construtivo mais rentável e competi-
tivo, além de sustentável.

3.1 Reduzir os desperdícios da construção civil

Além das perdas de materiais devido ao seu processo de execução, a


geração de resíduos se deve também ao desperdício de materiais que são
perdidos por danos no recebimento, transporte e armazenamento.
Por isso, as empresas devem adotar, em todas as fases do processo,
ações voltadas à minimização do desperdício de materiais que, segundo o
Crea-SP (2005), tem a finalidade de reduzir a incorporação excessiva de
materiais, a geração de resíduos e aos extravios de material.
Pucci (2006) aponta que a redução da quantidade de resíduo, além
de apresentar ganhos ambientais, acarreta também uma redução da quan-
tidade de material utilizado para a execução das tarefas e do trabalho ne-
cessário para gerenciar e tratar esse passivo, o que reflete na redução do
custo final da obra.
Contudo, a redução da geração de resíduos não pode ser realiza-
da apenas mediante soluções localizadas, deve-se atuar de forma global,
desde o projeto até a execução final. A partir disso, a seguir estão listadas
ações que devem ser executadas com a finalidade de reduzir o volume de
resíduos gerados.
• Deve-se, na concepção do projeto arquitetônico, levar em
consideração a modulação, o sistema construtivo a ser ado-
tado, o tipo e as dimensões dos materiais a serem emprega-
dos e a integração entre os projetos complementares;
• Deve-se elaborar um orçamento detalhado para auxiliar na
determinação da quantidade de material realmente necessá-
ria, evitando as sobras;
32 Larissa de Freitas Gonçalves & Jefferson Luiz Alves Marinho

• Deve-se escolher os fornecedores de material e mão de obra


com base no julgamento de qualidade e competência e não
apenas com base no menor preço;
• Deve-se realizar o planejamento do canteiro de obra, dos es-
paços de trabalho e dos estoques de materiais, a fim de evitar
desperdícios de materiais devido ao transporte inadequado
ou por longa distância;
• Deve-se acondicionar adequadamente cada tipo de material,
criar uma rotina de resgate dos materiais eventualmente não
utilizados e também viabilizar o reaproveitamento de sobras.

3.2 Coleta seletiva dos materiais


A segregação dos resíduos consiste no primeiro passo para uma
destinação adequada. A triagem dos resíduos possibilita a organização e
limpeza do local de trabalho, o reaproveitamento de materiais na própria
obra, além de contribuir para o processo de reciclagem.
Outro fator importante é que essa atividade traz como benefícios in-
diretos a redução no índice de afastamento de trabalhadores por acidente
provocado pela desordem no canteiro e a identificação de focos de desper-
dícios através da quantificação e qualificação dos resíduos descartáveis.
Para se realizar a coleta seletiva, além da separação por classes, é
recomendado separar materiais pertencentes à mesma classe, principal-
mente os pertencentes à classe B, como, por exemplo, plásticos, papéis,
metal e madeiras, que, por questões de reciclagem, devem ser separados
entre si (PUCCI, 2006)
Assim, os locais para segregação dos resíduos na obra devem ser
planejados cuidadosamente, agrupando-os por tipo, e seja qual for o acon-
dicionamento, é necessária a sinalização do tipo de resíduo por meio de
adesivo com indicação da cor padronizada pela Resolução nº 275, do CO-
NAMA, como mostra a tabela a seguir:

Tabela 2. Código de cores para cada tipo de resíduo


COR TIPO DE RESÍDUO

AZUL Papel/Papelão

VERMELHO Plástico

VERDE Vidro
Gerenciamento da Construção Civil 33

AMARELO Metal

PRETO Madeira

LARANJA Resíduos perigosos

BRANCO Resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde

ROXO Resíduos radioativos

MARROM Resíduos orgânicos

Resíduo geral não reciclável ou misturado, ou contaminado, não passível de


CINZA
separação
Fonte: Elaborada pelos autores, 2016.

O processo de triagem inicia-se ao término de uma tarefa ou do dia


de serviço. Nesse momento, os RCC estão em pequenas quantidades e de-
vem ser segregados/acondicionados em recipientes identificados com as
cores, e estrategicamente distribuídos no canteiro.
Os restos de madeira, metal, papel, plástico e vidro podem ficar dis-
postos em tambores. Já os resíduos de gesso e os resíduos de tintas ou
solventes devem ficar armazenados em sacos e não devem ser misturados
com nenhum outro resíduo.

Figura 1. Tambores com identificação de cores para cada tipo de resíduo

Fonte: Cartilha de gestão de entulhos de obra.


SindusCon Fortaleza – CE, agosto de 2011.
34 Larissa de Freitas Gonçalves & Jefferson Luiz Alves Marinho

Quando estes tambores atingirem volumes tais que justifiquem o


transporte interno do seu conteúdo, os resíduos devem ser recolhidos por
meio de caçamba ou trator para as baias que também deverão ser devida-
mente sinalizadas, informando o tipo de resíduo que cada uma acondicio-
na, visando à preservação da qualidade do RCC.
As baias devem ser locais com cobertura e fácil acesso para remoção
dos RCC pelas empresas coletoras, uma vez que estes resíduos serão enca-
minhados para usinas de reciclagem ou para destinação definitiva.

Figura 2. Baias com identificação de cores para cada tipo de resíduo

Fonte: Cartilha de gestão de entulhos de obra.


SindusCon Fortaleza – CE, agosto de 2011.

3.4 Identificação e destinação dos RCCs

Após realizar o processo de gerenciamento interno, a destinação dos


RCC deve ser feita de acordo com o tipo de resíduo. Os RCC classe A de-
verão ser encaminhados para reutilização/reciclagem na forma de agre-
gados ou encaminhados às áreas de aterro de resíduos da construção civil,
sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização futura. Os da classe B
devem ser encaminhados para reutilização/reciclagem, que varia de mate-
rial para material. Para os resíduos das categorias C e D, deverá acontecer
o envolvimento dos fornecedores, a fim de que se configure a corresponsa-
bilidade da sua destinação.
Para implementar o processo e o gerenciamento dos RCC, a resolução
do Conama define que cada município deve licenciar as áreas para disposi-
ção final, fiscalizar o setor em todo o processo e implementar o Plano Inte-
Gerenciamento da Construção Civil 35

grado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, com o objetivo de


prover os meios adequados para o manejo e disposição desses resíduos.
Apesar disso, ainda se verifica o descarregamento de resíduos sem
quaisquer cuidados em lixões, que representam uma grave ameaça à saúde
pública e ao meio ambiente.
Isso não é diferente na cidade de Juazeiro do Norte, onde, segundo
Marinho (2012), a geração dos RCD alcançou volumes alarmantes, os quais
se estima seja superior a 50% do peso total de Resíduos Sólidos Urbanos
– RSU produzidos diariamente, uma vez que não existe uma política de ge-
renciamento dos RCD e nem tampouco usinas de reciclagem.
Ainda de acordo com Marinho e Silva (2012), a Secretaria de Meio
Ambiente e Serviços Públicos – SEMASP, da cidade de Juazeiro do Norte/
CE, aponta que não existem dados sistematizados e nem controle dos RCD
gerados no município e, segundo informações da prefeitura, a única área
pública autorizada para receber os RCD é o aterro sanitário municipal,
onde eles servem como material de cobertura dos demais RSU.
Outro ponto a ser observado é que, apesar da Semasp possuir legis-
lação específica para aplicação de multa e apreensão dos veículos trans-
portadores como medida para se coibir a disposição de RCD em áreas não
cadastradas, ainda há grande quantidade desses materiais que são deposi-
tados clandestinamente em terrenos baldios, áreas de preservação perma-
nente, margens e nascentes de córregos.
Uma solução para isto seria, após a coleta seletiva, a doação dos re-
síduos para cooperativas, associações ou empresas de reciclagem da região,
que, além de ser uma solução ambientalmente viável, ainda contribui com
a comunidade ao seu redor, pois a reciclagem gera renda, emprego, impos-
tos e inclusão social.
Com isso, na região de estudo, aponta-se a Associação Engenho do
Lixo como uma sugestão de parceria para as empresas, visto que ela reali-
za a coleta e a triagem de resíduos sólidos, como papelão, plásticos, ferro,
eletrônicos, lâmpadas fluorescentes.
Recolhido ao depósito da Associação, os materiais são classificados e
daí então têm a destinação mais conveniente: uns são encaminhados para a
reciclagem, outros são consertados e aproveitados para uso da própria insti-
tuição e outros são transformados em peças de artesanato. Com os recursos
obtidos desse trabalho, a Associação assiste às famílias dos catadores asso-
ciados, oferecendo assistência médica, ensino (alfabetização) e alimentação.
36 Larissa de Freitas Gonçalves & Jefferson Luiz Alves Marinho

A tabela a seguir apresenta os resíduos gerados nas principais fases


da obra na maior parte dos empreendimentos de HIS da região em estudo
e suas possíveis reutilizações, reciclagens ou destinação:

Tabela 3. Possíveis reutilização/reciclagem ou destinação de cada material


TIPO DE RESÍDUO
REUTILIZAÇÃO, RECICLAGEM OU
FASE DA OBRA POSSIVELMENTE
DESTINAÇÃO
GERADO

Solos Aterros
LIMPEZA DO TERRENO
Vegetação -

Britados: Fabricação de agregados;


Moídos: Produção de tijolos, na produção
Tijolos cerâmicos
de concretos não estruturais e na produção
de argamassas de assentamento de tijolos.

Britado: Fabricação de agregados que po-


dem ser usados para produção de concreto
asfáltico, sub-bases de pisos/calçadas ou
Concreto
rodovias, artefatos de concreto, meio-fio,
blocos de vedação, bloquetes para piso in-
tertravado, etc.
FUNDAÇÃO
Reciclados: Nas siderúrgicas é derretido e
transformado em novas chapas e bobinas
de aço. Podem ser feitos os mesmos pro-
Ferro (aço), arame dutos que foram reciclados sem perda de
qualidade entre o aço “novo” e o reciclado.
A sucata pode ser reciclada mesmo quando
enferrujada.

Sem beneficiamento: Cercas, portões ou


como combustível em fornos e caldeiras.
Madeira (tábuas)
Triturada: Usada na fabricação de papel e
papelão.

Britados: Fabricação de agregados que po-


dem ser usadas para produção de concreto
asfáltico, sub-bases de pisos/calçadas ou
Blocos de concreto
rodovias, artefatos de concreto, meio-fio,
blocos de vedação, bloquetes para piso in-
tertravado, etc.

Argamassa Britados: Fabricação de agregado.


ALVENARIA E
SUPERESTRUTURA Sacos de cimento Devem retornar à fábrica.

Reciclados: Nas siderúrgicas é derretido e


transformado em novas chapas e bobinas
de aço. Podem ser feitos os mesmos pro-
Ferro, arame dutos que foram reciclados sem perda de
qualidade entre o aço “novo” e o reciclado.
A sucata pode ser reciclada mesmo quando
enferrujada.
Gerenciamento da Construção Civil 37

Recicladas: Após a lavagem, o resíduo é mo-


ído, entra em uma máquina, uma extrusora
IMPERMEABILIZAÇÃO Embalagens plásticas
ou injetora, e é transformado em um novo
produto, sem processo químico.

Sem beneficiamento: Cercas, portões e es-


coramentos ou como combustível em fornos
Madeira (linhas, caibros
e caldeiras.
e ripas)
Triturada: Usada na fabricação de papel e
papelão.
COBERTA
Britados: Fabricação de agregados.
Moídos: Produção de tijolos, na produção
Cacos de telha
de concretos não estruturais e na produção
de argamassas de assentamento de tijolos.

PVC (tubos e Reciclados: Após a lavagem, o resíduo é mo-


conexões) ído, entra em uma máquina, uma extrusora
INSTALAÇÃO ou injetora, e é transformado em um novo
HIDROSSANITÁRIAS Tubos de cola para PVC produto, sem processo químico.

Embalagens plásticas

Conduítes, Reciclados: Após a lavagem, o resíduo é moí-


eletrodutos do, entra em uma máquina, uma extrusora ou
injetora, e é transformado em um novo produ-
Embalagens plásticas to, sem processo químico.
INSTALAÇÃO ELÉTRICA
Reciclados: Através de separação, tanto o
Fio de cobre cobre como o plástico são totalmente reci-
clados.

Reciclados: Em novo vidro, fibra de vidro,


telha e bloco de pavimentação ou, ainda,
ESQUADRIAS Pedaços de vidro como adição na fabricação de asfalto. Pode
ser reciclado muitas vezes sem perder suas
características e qualidade.

Reciclado: Utilizado para produzir o pó de


Gesso endurecido
REBOCO INTERNO DE gesso novamente ou como corretivo de solo.
ÁREAS SECAS
Sacos de gesso Devem retornar à fábrica.

Argamassa Britados: Fabricação de agregados.


REBOCO EXTERNO E DE
ÁREAS MOLHADAS
Saco de cimento Devem retornar à fábrica.

Reciclados: Após a lavagem, o resíduo é mo-


Pedaços de placas de ído, entra em uma máquina, uma extrusora
PVC ou injetora, e é transformado em um novo
produto, sem processo químico.

Reciclados: Nas siderúrgicas é derretido e


FORRO
transformado em novas chapas e bobinas
de aço. Podem ser feitos os mesmos pro-
Pedaços de metalon,
dutos que foram reciclados sem perda de
arame
qualidade entre o aço “novo” e o reciclado.
A sucata pode ser reciclada mesmo quando
enferrujada.
38 Larissa de Freitas Gonçalves & Jefferson Luiz Alves Marinho

Britados: Fabricação de agregados.


Pedaços de piso e Moídos: Produção de tijolos, na produção
azulejo cerâmico de concretos não estruturais e na produção
de argamassas de assentamento de tijolos.

Recicladas: Pode ser reciclado em novo


papelão, porém as fibras que o constituem
REVESTIMENTOS
Embalagens de papelão perdem suas características físico-químicas
(cerâmicas) durante os vários processos de reciclagem,
chega o momento em que o material não é
mais adequado.

Embalagens plásticas
Devem retornar à fábrica.
(rejunte e argamassa)

Resto de tinta, selador e


Devem retornar à fábrica.
textura

PINTURA Pinceis, broxas, rolos Aterro licenciado para recepção de resíduos


e etc. perigosos.

Embalagens plásticas Devem retornar à fábrica.

Fonte: Elaborada pelos autores, 2016.

4 CONCLUSÃO

O correto gerenciamento dos resíduos produzidos a partir do pro-


cesso produtivo é essencial e possibilita a reutilização ou reciclagem de
materiais que, a priori, seriam destinados aos aterros sanitários. Por isso,
as construtoras devem assumir o princípio de que quem gera o resíduo
é responsável por sua separação, limpeza, armazenamento temporário e
destinação final adequada.
Outro ponto importante é que reutilização/reciclagem/reuso de ma-
teriais de construção arrecadará o reconhecimento da empresa perante a
sociedade, contribuirá para a obtenção de certificados de qualidade, redu-
zirá as quantidades de material de construção a serem compradas, bem
como contribuirá para a preservação do meio ambiente.
Diante de tais fatores, conclui-se que é desejável que o poder público
adote medidas de incentivo à reciclagem do RCC e que as empresas ado-
tem uma nova cultura de sustentabilidade, de mão de obra especializada e
de armazenagem correta dos materiais. Dessa forma, existirão ganhos am-
bientais por meio da diminuição do descarte de materiais e da redução da
atividade mineradora a um volume mínimo para suprir o ciclo econômico
com novos recursos naturais.
Gerenciamento da Construção Civil 39

Por fim, conclui-se também que este trabalho reuniu informações


importantes sobre o correto gerenciamento de resíduos gerados em obras
de habitação de interesse social na cidade de Juazeiro do Norte – CE, des-
de a sua identificação até a sua correta destinação. Embora a metodologia
utilizada nesta pesquisa tenha alcançado resultados importantes, também
apresenta limitações que poderão ser estudadas por outros pesquisado-
res, onde se sugere a continuação deste estudo, acrescentando assim os
resíduos gerados por HIS construídas com paredes de concreto.

REFERÊNCIAS

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PROPOSTA DE INTERVENÇÕES
SUSTENTÁVEIS DE BAIXO CUSTO
EM EDIFICAÇÕES POPULARES

Nayanne Maria Gonçalves Leite1


Renato de Oliveira Fernandes²

RESUMO: As edificações sustentáveis na visão ambiental nos dão possiblidades de


reutilizar os resíduos de materiais poluentes de forma consciente. Dessa forma, as
empresas da construção civil têm usado tecnologias que possibilitam, por exemplo,
o uso da energia solar, da água da chuva e o reuso de águas cinzas. Por outro lado,
muitas tecnologias sustentáveis apresentam custos financeiros altos que podem
limitar sua aplicação. Neste sentido, este trabalho tem como base a busca por solu-
ções que reduzam os impactos na natureza e ao mesmo tempo representem custos
financeiros baixos, em especial para as comunidades de baixa renda onde o poder
aquisitivo é um fator limitante de sua aplicação. Foi feito um estudo de caso em
uma comunidade de baixa renda na cidade de Aurora, Ceará, buscando identificar
o nível de satisfação dos moradores com suas edificações e o conhecimento das
tecnologias sustentáveis disponíveis que podem melhorar o conforto da edificação.
Os resultados mostraram que a maioria das edificações apresentam áreas peque-
nas, cerca de 44 m2, com no máximo dois dormitórios, e moradores alfabetizados,
mas sem curso superior completo. A percepção dos moradores sobre as diferentes
tecnologias existentes que podem melhorar o desempenho ambiental da edifica-
ção foi baixa. Além disso, os moradores se mostraram resistentes em adotar solu-
ções sustentáveis e de baixo custo. Para enfrentar tais problemas foram propostas
intervenções sustentáveis de baixo custo, como a captação de água da chuva em
pequenas cisternas, o uso de tijolos ecológicos e a obtenção de consultoria técnica
gratuita junto às instituições de ensino e pesquisa da região.
Palavras-chave: Construções sustentáveis. Habitações de baixo custo. Inovação na
construção civil.

1
Especialista em Gerenciamento da Construção Civil e Tecnóloga da Construção Civil pela
Universidade Regional do Cariri – URCA. Graduanda em Engenharia Civil no Instituto Fede-
ral de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB. E-mail: nayannegl@hotmail.com
² Doutor em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Engenheiro Civil e
Mestre em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal de Campina Grande –
UFCG. Professor Assistente da Universidade Regional do Cariri – URCA.
E-mail: renatodeof@gmail.com
42 Nayanne Maria Gonçalves Leite & Renato de Oliveira Fernandes

1 INTRODUÇÃO

O déficit habitacional é baseado no número de famílias que não pos-


suem moradias adequadas. São consideradas inadequadas as habitações
construídas com material precário, como as favelas, as moradias que abri-
gam mais de uma família, a coabitação e o ônus excessivo de aluguel, quan-
do este compromete mais de 30% da renda familiar.
A Constituição Federal brasileira (BRASIL, 1988), no artigo 6º, ga-
rante moradia para uma vida digna a todos, mas, infelizmente, a falta de
qualidade da habitação no Brasil é um problema preocupante. Segundo
dados do IBGE (apud FIESP, 2016), em 2014, o déficit habitacional no País
estava em 8,8%, ou seja, mais de seis milhões de famílias não possuíam
moradias adequadas. Na região Nordeste, o déficit habitacional chegou a
10%, cerca de 1,8 milhões de famílias, destas 9,9% estão no Ceará, corres-
pondendo a 286.462 famílias.
O problema da habitação social tem como principal desafio aliar bai-
xo custo em curto espaço de tempo. Porém, a base de uma moradia digna é
a qualidade e o conforto que a edificação deve proporcionar a seus mora-
dores, aliando economia e preservação ambiental.
A implantação de novas edificações gera impactos ambientais, so-
ciais e econômicos no meio no qual são inseridas (MORAES; SOUZA, 2015).
Por exemplo, grande parte dos resíduos gerados pela construção civil não
são reciclados e, além disso, não há uma preocupação com o descarte ade-
quado desses materiais (ABRELPE, 2015).
No atual cenário brasileiro é notável a necessidade de se criar alter-
nativas para melhorar a qualidade de vida da população de baixa renda
que tanto sofre com o desconforto de construções precárias. Diante dis-
so, apresentar uma proposta de construção com materiais de baixo custo,
recicláveis e que não apresente degradação ambiental é uma solução que
pode trazer diversos benefícios.

2 HABITAÇÃO SOCIAL NO BRASIL

A urbanização sem conscientização e sem planejamento gera um


problema habitacional especialmente para a população carente.
A falta de políticas habitacionais eficazes no início do século XX re-
fletiu no crescimento desordenado das cidades, sendo que grande parte
Gerenciamento da Construção Civil 43

das moradias é construída de forma ilegal e irregular. As políticas públicas


habitacionais realmente intencionadas em resolver o problema de mora-
dia foram adotadas após a Constituição Federal de 1988 e regulamentadas
por meio da Lei 10.257/01, conhecida como Estatuto da Cidade, que visa à
função social da propriedade.
A maior iniciativa de acesso à habitação no Brasil tem sido o programa
do governo federal, Minha Casa, Minha Vida, que foi criado em 2009. Esse
programa permite que famílias de baixa renda tenham acesso à casa própria,
além de gerar vários empregos no setor da construção civil. Porém, com a
atual crise política e econômica que o País enfrenta, grande parte das obras
foi paralisada, deixando muitas famílias sem receber sua residência.
Além do déficit habitacional, a população enfrenta o problema da
precariedade em grande parte das moradias brasileiras. Por exemplo, a
construção desordenada em áreas de risco, as moradias construídas com
materiais inadequados, a falta de saneamento e de transporte são dificul-
dades presentes diariamente na vida de milhões de brasileiros.
As comunidades carentes de modo geral são as principais prejudi-
cadas com a falta de infraestrutura do País. Assim, boa parte da população
carente que mora em regiões periféricas das cidades é desassistida de po-
líticas públicas que possam promover a qualidade de vida.

3 A CONSTRUÇÃO CIVIL E O MEIO AMBIENTE

A construção civil é um dos setores mais importantes para o desen-


volvimento econômico e social do País. Porém, esta atividade gera grandes
impactos ambientais (SINDUSCON/SP, 2005).
A indústria da construção civil é a mais poluente do planeta. Segun-
do Agophyan (apud GLOBO CIÊNCIA, 2014), este setor é responsável por
cerca de 40% a 75% do consumo de matéria-prima do mundo e produz,
para cada ser humano, 500 kg de entulho, equivalendo a 3,5 milhões de
toneladas por ano. O Brasil é responsável por cerca de 25% do total de
resíduos gerados por essa indústria.
Além da geração de resíduos, outro problema apresentado pelo
setor é a emissão do dióxido de carbono (CO2). De acordo com dados da
United Nations Environment Programme (UNEP) (apud MENDES, 2013), as
edificações respondem por até 30% das emissões de gases causadores do
efeito estufa, e 40% do consumo global de energia. Diante deste cenário, a
44 Nayanne Maria Gonçalves Leite & Renato de Oliveira Fernandes

construção sustentável busca reduzir os impactos ambientais gerados pe-


las construções.

3.1 Construção sustentável

A construção sustentável é um sistema que busca atender às neces-


sidades de habitação e edificação, de maneira a garantir a preservação
do meio ambiente e a qualidade de vida, sem comprometer as gerações
futuras.
Esse sistema construtivo propõe o desenvolvimento de soluções
para os principais problemas ambientais, adequando as atuais tecnologias
e proporcionando o conforto a seus usuários.
Atualmente, a construção sustentável possui duas vertentes: os em-
preendimentos verdes, com as certificações ambientais, e as tecnologias
alternativas, que resgatam a utilização de materiais naturais e renováveis.
O empreendimento verde pode receber o selo de certificação ambiental,
garantindo ao seu proprietário e usuário que o imóvel atende a critérios
mínimos de sustentabilidade. Já as tecnologias alternativas são os mate-
riais encontrados na natureza que podem substituir os materiais tradicio-
nais e poluentes usados na construção civil.
Existem dois paradigmas que resumem os tipos de construção sus-
tentável: a autoconstrução, neste caso a obra é feita pelo próprio usuá-
rio da edificação, e a construção com o auxílio de profissionais capaci-
tados para executar o serviço, utilizando ecoprodutos e tecnologias sus-
tentáveis modernas. Araújo [s.d.] destaca alguns tipos de construções
sustentáveis:

• Construção com materiais sustentáveis industriais: Nesse


tipo de construção, são utilizados os chamados ecoprodutos,
os quais são fabricados industrialmente sem agredir o meio
ambiente e os seres vivos; são desenvolvidos em escala com
o auxílio de tecnologias, respeitando a legislação e as normas
estabelecidas. Com esses tipos de materiais, o cliente tem
mais garantia da obra que está recebendo, sendo mais viável
em grandes centros urbanos, tendo em vista a inserção do
modelo socioeconômico. Um exemplo desse tipo de constru-
ção é o sistema construtivo modular ecoeficiente, que não
gera entulho, não exige uso de água e restringe o uso de ma-
Gerenciamento da Construção Civil 45

teriais e insumos aos fornecedores que seguem as normas e


legislação ambiental (STACZUK, 2014).
• Construção com resíduos não reprocessados: Conhecida
como Earthship, esse sistema construtivo reutiliza resíduos
de origem urbana, como garrafa PET, pneus, cones de papel
acartonado, entre outros. Comum em locais que possuem des-
controlado despejo de resíduos e onde a comunidade, devido
às dificuldades financeiras, devem improvisar soluções para
prover suas habitações. É frequente nas favelas dos grandes
centros urbanos, porém, com o avanço do ecodesign, esse tipo
de autoconstrução está cada vez mais criativo e sofisticado.
• Construção com materiais de reuso: São os materiais resultan-
tes de demolições ou de segunda mão. Esse sistema prolonga
a vida útil dos materiais, impedindo o descarte em locais in-
devidos ou a sua destruição por processos que prejudicam o
meio ambiente, como as queimas. Esse tipo de construção é
considerado sustentável apenas pelo fato de prolongar a vida
útil do material, uma vez que este não tem origem sustentável.
• Construção natural: Esse tipo de construção modifica ao mí-
nimo a natureza, dessa forma é o sistema construtivo mais
ecológico. Utilizando materiais disponíveis no próprio local da
obra e adjacências (terra, madeira, etc.), a construção natural
respeita o meio ambiente. Utiliza também materiais de baixo
custo e desperdiça o mínimo de energia nos seus processos. É
adequado para áreas rurais ou ambientes que permitam uma
boa integração com o entorno. Esse sistema também é inse-
rido na autoconstrução, sendo conhecida como permacultu-
ra, que além de um método construtivo, é um estilo de vida
sustentável. Um exemplo desse tipo de construção é a casa
de Adobe, um sistema antigo utilizado em diversas partes do
mundo e desenvolvido com tijolos de terra crua.

3.2 Materiais e tecnologias alternativas para a construção civil

Existem vários materiais e tecnologias que podem ser aplicados na


construção de edificações. A seguir serão apresentados alguns materiais
e tecnologias possíveis de serem usadas para edificações populares por
apresentarem custos financeiros baixos.
46 Nayanne Maria Gonçalves Leite & Renato de Oliveira Fernandes

3.2.1 Telhado verde

É um meio arquitetônico que remete à implementação de camadas


de vegetal na estrutura impermeável, sendo um telhado convencional ou
uma laje impermeabilizada.
Para fazer o telhado verde deve-se fazer a impermeabilização da laje
ou telhado utilizando uma manta impermeável, em seguida, estende-se
uma manta geotêxtil, cuja finalidade é filtrar a água da chuva, impedindo a
passagem de areia e demais resíduos na tubulação de águas pluviais; sobre
a manta faz-se uma camada de argila expansiva que vai impedir o apodre-
cimento da raiz da vegetação e facilitar o escoamento de água; novamente
utiliza-se uma manta geotêxtil, e sobre ela aplica-se uma camada de no
mínimo 10 cm de terra adubada, e por último a vegetação. Devem ser ins-
talados rufos de fibra ou metálicos para evitar infiltrações.
Mesmo que essa ideia seja estética, é um meio ótimo para captação
da água pluvial do meio urbano, pois retarda a drenagem solucionando
problemas, como enchentes. Tem benefícios, como ser termoacústico, ou
seja, serve de isolação, evitando a transferência de calor, frio ou ruído para
o interior da edificação. Deste ponto de vista, diminui os gastos, constituin-
do uma economia de energia.
Essa forma de telhado mostra uma excelente fusão entre o ser huma-
no e o meio ambiente, além de contribuir para a diminuição dos gases de
efeito estufa, e ainda proporciona beleza ao ambiente urbano.
No Brasil, está em trâmite o Projeto de Lei 1.703/11, que propõe o in-
centivo fiscal aos prédios que instalarem telhados verdes em pelo menos 65%
de sua cobertura. A medida busca o estímulo à agricultura urbana, a redução
da poluição e o aproveitamento da água da chuva (BRASIL; TRIBOLLI, 2015).
Em algumas cidades brasileiras já foram sancionadas leis de incen-
tivo aos telhados verdes, como é o caso Campo Grande – MS, com a Lei
nº 5.591, de 28 de julho de 2015, a qual trata da implantação de telhado
verde nos prédios da administração pública direta e indireta do municí-
pio (MENDONÇA, 2015). Recife, capital de Pernambuco, é outro exemplo,
com a Lei 18.112, de 12 de janeiro de 2015 (RECIFE, 2015), que propõe
a instalação de telhado verde em edifícios habitacionais multifamiliares
com mais de quatro pavimentos e não habitacionais com mais de 400 m²
de área coberta. Esta lei também dispõe sobre a construção de reserva-
tórios de captação de águas pluviais para acúmulo ou retardo do escoa-
mento para a rede de drenagem.
Gerenciamento da Construção Civil 47

3.2.2 Tijolo ecológico

O tijolo ecológico é construído com solo, cimento e água e, dessa for-


ma, sua secagem não envolve o uso de energia. A mistura não vai para o
forno, assim como não utilizará a queima da madeira, não gerará emissão
de gases poluentes. Na sua composição também podem ser utilizados re-
síduos moídos de materiais de construção. Além de economizar aproxi-
madamente de 70% do concreto e argamassa de assentamento e 50% de
ferro, também diminui o tempo de construção.
O tijolo ecológico possui furos verticais que permitem a passagem
embutida da estrutura de sustentação e das tubulações de instalações hi-
dráulicas e elétricas. Dessa forma, evita-se a utilização de fôrmas de madei-
ra, a mão de obra para sua execução, além dos resíduos de madeira ao final
da obra e a quebra de paredes e os remendos para as instalações elétricas
e hidráulicas.
As principais vantagens do uso desse material incluem: (a) proces-
so de fabricação simplificada e sem queima, evitando emissão de gases
que causam o efeito estufa, como o CO2, e portanto, sem o consumo de
energia; (b) possibilidade de economia de concreto armado; (c) não uti-
liza madeira como fôrma, uma vez que o concreto poderá ser adensado
nos furos internos existentes nos blocos e canaletas; (d) economia de ar-
gamassa de assentamento e revestimento, uma vez que o tijolo apresenta
estrutura modular e se encaixa perfeitamente; (e) economia em revesti-
mento, pois o tijolo apresenta padrão estético decorativo; (f) economia
em mão de obra pela facilidade de execução; (g) alta resistência mecâni-
ca; (h) desempenho térmico e acústico elevado; (i) economia com mão
de obra e materiais nas instalações elétricas e hidráulicas da edificação,
dado que os furos internos dos tijolos são condutores para a rede hidráu-
lica e elétrica, entre outros.
Além das vantagens citadas, os tijolos modulares de solo-cimento
podem gerar economia de 40% a 50% na construção da alvenaria. Existem
outras vantagens indiretas na edificação, como a redução no consumo de
energia elétrica e conforto na edificação após a ocupação.
A prensagem do bloco de tijolo pode ser manual ou hidráulica de
modo automático ou semiautomático, podendo ser moldado pela própria
comunidade. Existem várias tecnologias modernas de moldagem por alta
pressão que melhoraram a qualidade final do produto.
48 Nayanne Maria Gonçalves Leite & Renato de Oliveira Fernandes

Embora existam diversas vantagens econômicas e ambientais, além


de avanços tecnológicos na fabricação do tijolo modular de solo-cimento,
sua aplicação ainda é considerada tímida e necessita de investigações no
sentido de verificar as principais dificuldades e barreiras de sua apropria-
ção pela sociedade e por empresas da construção civil.

3.2.3 Sistemas de captação de água da chuva

Esse sistema é bastante utilizado no nordeste brasileiro devido


aos longos períodos de estiagem. O sistema armazena a água que cai no
telhado, para posteriormente ser aproveitada nas atividades diárias da
família.
O sistema interliga as calhas do telhado através de tubulações a um
tanque (cisterna). É necessário fazer a higienização do telhado e das calhas
para evitar que a água se torne inadequada ao consumo. Para minimizar os
problemas de qualidade da água é recomendado haver um filtro antes da
cisterna além do desvio das primeiras águas da chuva.
Tendo em vista que a maioria das edificações populares apresentam
pequenas áreas de telhado para captar a água da chuva, além de espaço
reduzido para construção da cisterna, a utilização de minicisternas parece
ser uma solução apropriada.
Nas áreas urbanas, o projeto dos sistemas de captação de água da
chuva tem como base a NBR 15.527/2007 da Associação Brasileira de Nor-
mas Técnicas (ABNT, 2007). Quanto aos usos, a água captada pode ser usa-
da para irrigação nos jardins, para atividades domésticas, como a lavagem
de piso e de roupa, descarga em vasos sanitários, pode ser utilizada para
lavagem de automóveis, entre outros. Além disso, essa técnica reduz o es-
coamento de água nas redes pluviais durante as fortes chuvas.

3.2.4 Sistema simplificado de reuso de água em edificações

Um sistema simplificado de reutilização da água do banho familiar


para a descarga do vaso sanitário pode reduzir em até 30% o consumo
de água. O sistema pode captar a água usada no banho através do ralo
já instalado normalmente no banheiro e em seguida ser direcionada por
tubos até um reservatório para armazenamento. Água armazenada po-
derá ser bombeada para um reservatório elevado devendo ser interliga-
Gerenciamento da Construção Civil 49

do ao vaso sanitário para, por gravidade, gerar as descargas ou utilizada


para atividade menos nobres como lavagem de piso e irrigação de jar-
dim (URBANO, 2014).

3.2.5 Isolamento térmico com embalagens longa vida

Essa técnica é bastante utilizada em regiões de clima frio, com o ob-


jetivo de manter a temperatura estável, impedindo que a ação dos ventos
resfrie o ambiente. Neste caso, a parte metálica da caixa de leite deve ser
direcionada para a área interna da edificação.
No entanto, essa técnica também é empregada em regiões com clima
de altas temperaturas, uma vez que, ao inverter a posição das caixas (co-
locando o alumínio para parte externa do ambiente), pode-se diminuir a
temperatura em até 8˚C (DUTRA et al., 2009).

4 METODOLOGIA

A metodologia incluiu uma revisão bibliográfica sobre a habitação


social no Brasil e os materiais ou tecnologias sustentáveis utilizadas no se-
tor da construção civil. Posteriormente foram realizadas entrevistas junto
à população de baixa renda do bairro Padre Mororó, localizado no municí-
pio de Aurora, Ceará.

4.1 Área de estudo

A cidade de Aurora (Figura 1) está situada no sul do Estado do Ce-


ará, com divisa territorial ao norte com Lavras da Mangabeira, ao sul com
Missão Velha e Juazeiro do Norte, ao Leste com o Barro e ao Oeste com
Caririaçu. De acordo com os dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística, tem uma população estimada em 24.548 pessoas, área
territorial de 885.836 km² e densidade demográfica de 27.73 hab./km².
O município sede conta atualmente com nove bairros: Centro, Araçá,
José Fernandes Campos (Conjunto Habitat – CNEC), José Freire do Amaral
(Vila Freire), José Leite de Figueiredo - Zezé da Cruz (Alto da Cruz), Padre
Mororó, Recreio, São Benedito (Aurora Velha) e Vila Paulo Gonçalves. Os
distritos são: Aurora (sede), Ingazeiras, Santa Vitória e Tipi.
50 Nayanne Maria Gonçalves Leite & Renato de Oliveira Fernandes

Figura 1. Mapa de localização do município de Aurora – CE

Fonte: Google Earth e Wikipédia (2017).

4.2 Entrevista aplicada

A entrevista buscou identificar as necessidades de cada família, com


perguntas simples e objetivas para facilitar o entendimento dos entrevistados.
O questionário incluiu 13 perguntas aplicadas a 23 famílias do bair-
ro Padre Mororó, no município de Aurora – CE. O Quadro 1 apresenta o ro-
teiro e a estrutura da entrevista. Após aplicação das entrevistas, os dados
foram compilados em uma planilha eletrônica e depois avaliados.

Quadro 1. Roteiro de entrevista


Entrevista nº: Data:

Entrevistado:

Endereço:

Bairro: Cidade:

1- O imóvel que você reside é próprio?


( ) Sim ( ) Não

2- Se a resposta anterior foi NÃO,


( ) Alugado ( ) Cedido ( ) Outro ______________
Gerenciamento da Construção Civil 51

3- Qual a área do imóvel? _______________________

4- Quantas pessoas residem neste imóvel? _________

5- Qual o maior grau de escolaridade, entre os moradores deste imóvel?


( ) fundamental incompleto ( ) fundamental completo ( ) ensino médio incompleto
( ) ensino médio completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo

6- Quantos quartos há no imóvel? _________________

7- Sua residência é confortável?


( ) Sim ( ) Não

8- Sua residência é arejada?


( ) Sim ( ) Não

9- Possui fossa séptica?


( ) Sim ( ) Não

10- Possui ligação de esgoto a rede?


( ) Sim ( ) Não

11- Quem construiu sua casa?


( ) O próprio proprietário ( ) Profissional habilitado ( ) Profissional não habilitado

12- Você já ouviu falar na utilização de materiais reciclados ou alternativos na construção civil?
( ) Sim ( ) Não

13- Você empregaria estes materiais em sua construção?


( ) Sim ( ) Não

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O questionário aplicado gerou informações para um diagnóstico


básico das principais características das edificações, do conhecimento da
comunidade quanto às tecnologias sustentáveis existentes e o nível de sa-
tisfação dos moradores em relação às suas edificações.
Com base nos dados obtidos, constatou-se que 19 famílias moram
em seus próprios imóveis, correspondendo a aproximadamente 83% de
toda a comunidade e, apenas quatro famílias responderam que não mo-
ram em casa própria, totalizando cerca de 17% dos dados coletados. Dessa
forma, para os 17% que moram em casas alugadas, qualquer mudança no
ambiente residencial terá que ter autorização do proprietário, dificultando
assim a aplicação das intervenções sustentáveis.
Os dados mostraram que, mesmo sendo um bairro considerado de
baixa renda, a maior parte dos moradores reside em moradia própria, sen-
do este um aspecto positivo para conservação da estrutura da edificação e
possíveis reformas.
52 Nayanne Maria Gonçalves Leite & Renato de Oliveira Fernandes

Identificou-se uma má distribuição na área das habitações durante a


formação da comunidade, visto que há grande variação nas áreas dos imó-
veis (Figura 2-A), mas com predominância de imóveis com áreas de 44 m2
(35%). Assim, ao se pensar em projeto coletivo para o bairro, este deve
ser bem estudado, para que possa ser adaptado em diferentes terrenos e
dimensões. Já a quantidade de pessoas por residência variou de uma a sete,
tendo em média quatro pessoas (30,05%).

Figura 2. Área das residências (A) e Escolaridade dos moradores (B)

Fonte: Elaboração própria (2017).

Observou-se também que, mesmo tratando-se de uma comunidade


pequena e com pouca infraestrutura, todos sabem pelo menos escrever o
seu nome, pois 30,05% dos entrevistados disseram que tinham o ensino
fundamental incompleto, porém afirmaram que sabiam escrever o básico,
indicando que, apesar da pouca leitura, entendiam bem as perguntas pro-
postas no questionário de entrevista.
Quando se trata de espaço, a moradia tem muito a desejar, visto que
52,2% das residências apresentaram apenas um dormitório, dificultando a
privacidade no convívio familiar. Porém, mesmo com poucos dormitórios e
outros problemas de conforto identificados na edificação, 91,30% dos en-
trevistados afirmaram se sentir confortáveis, e 60,9% afirmaram que sua
residência é arejada.
Sobre a infraestrutura de saneamento, foi identificado que 95,65%
das residências apresentam solução do tipo fossa séptica e sumidouro. Tal
solução, apesar de ser importante em regiões com população difusa, não é
a melhor para grandes comunidades como a estudada.
Gerenciamento da Construção Civil 53

Quando questionados sobre a construção do imóvel, a maioria


não soube revelar quem foi o responsável pela sua execução (43,45%),
a autoconstrução esteve presente em 30,45% das obras, 17,40% cons-
truídas por um profissional habilitado e 8,70% por um profissional não
habilitado.
Ao serem indagados sobre a utilização de materiais reciclados ou al-
ternativos na construção civil, os moradores mostraram-se inseguros, pois,
quando falam em reciclagem, pensam da forma mais generalizada, como
afirmam os dados, onde 69,60% dos entrevistados não sabiam quais ma-
teriais eram bons para o uso. Além disso, quando questionados se empre-
gariam os materiais alternativos em sua construção, 65,25% das pessoas
entrevistadas rejeitaram a hipótese de utilizar materiais renováveis e sus-
tentáveis nas suas construções.
Um dos problemas identificados por esta pesquisa foi a falta de in-
formações das pessoas em relação ao assunto. Assim, mesmo alfabetizados
e com veiculação de reportagens sobre o assunto na mídia e nas escolas, a
maioria desconhece as tecnologias, os processos e os materiais sustentá-
veis que poderiam ser utilizados alternativamente nas construções.

6 CONCLUSÃO

A revisão bibliográfica e o estudo de caso avaliado por meio de en-


trevistas com os moradores de um bairro de baixa renda localizado no mu-
nicípio de Aurora, Ceará, possibilitaram fazer um diagnóstico da qualidade
das edificações e das possibilidades de intervenções com o uso de mate-
riais alternativos sustentáveis e de baixo custo.
A entrevista mostra que a maioria das edificações é própria (83%),
apresentando áreas que variam de 44 m² a 150 m², e abriga em média qua-
tro pessoas (30,05%). Os dados mostraram também que todos habitantes
do bairro são alfabetizados, tendo 35% com ensino médio concluído, mas
com nível superior incompleto.
Apesar dos problemas de espaço identificados, uma vez que 34,08%
apresentam área de apenas 44 m², os moradores se sentem confortáveis
em suas casas e se mostraram resistentes à aplicação de novas tecnologias
que visem melhorar ainda mais o conforto das moradias.
É possível estimar que a resistência apresentada pelos moradores
em usar materiais alternativos e sustentáveis é creditada ao baixo nível de
54 Nayanne Maria Gonçalves Leite & Renato de Oliveira Fernandes

informação, uma vez que a maioria nunca ouviu falar desse tipo de tecnolo-
gia, apesar de todas as famílias terem tido acesso à escola, como mostra no
percentual de escolaridade de 30% para ensino fundamental incompleto,
22% para fundamental completo, 4% para ensino médio incompleto, 35%
para ensino médio completo e 9% para ensino superior incompleto. Dian-
te disso, o primeiro passo deve ser a conscientização e a apresentação de
técnicas e tecnologias sustentáveis à comunidade.
Considerando o problema de escassez de água na região do Nordes-
te brasileiro e as pequenas áreas de captação dos telhados das moradias,
as minicisternas residenciais urbanas podem ser uma maneira compacta
de diminuir o problema, contribuindo também para redução da conta de
água. Além disso, a reutilização da água do banho para descarga do vaso
sanitário, lavagem de piso e irrigação de jardim pode ser uma alternativa
para amenizar os impactos ocasionados pela escassez de água.
As principais propostas de intervenções sustentáveis de baixo custo
que foram descritas nos objetivos incluem: (a) reuso de materiais do próprio
município, de modo que a comunidade possa utilizar materiais sem custos
de transporte; (b) campanhas de conscientização para suprir a falta de infor-
mação; (c) uso de embalagem longa vida no telhado para redução de tempe-
ratura da edificação; (d) reuso de água e aproveitamento de água da chuva
para consumos menos nobres; (e) uso de tijolos ecológico, uma vez que ele
apresenta alto desempenho térmico e acústico e custos até 50% mais barato
que a alvenaria convencional de tijolos cerâmicos; e (f) obter consultoria téc-
nica gratuita junto às instituições de ensino, como universidades, principal-
mente na fase de planejamento da obra, para verificar a necessidade de cada
usuário e possibilitar a adequação da edificação ao ambiente.

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Gerenciamento da Construção Civil 55

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tps://pt.wikipedia.org/wiki/Aurora_(Cear%C3%A1)>. Acesso em: 22 jan. 2017.
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO PARA O
SUCESSO DE EMPRESAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL:
ESTUDO EXPLORATÓRIO JUNTO A
CONSTRUTORAS DA REGIÃO DO CARIRI

Sabrina Câmara de Morais1


Jefferson Luiz Alves Marinho2

RESUMO: A indústria da construção civil tem procurado se atualizar cada vez


mais para adaptar-se às exigências do mercado atual. O planejamento é de
suma importância para as empresas desse setor, pois é através dele que o
gestor vai prever e programar o conjunto das suas ações para cada empre-
endimento. Este trabalho tem como objetivo mostrar a importância do pla-
nejamento como forma de garantir a competitividade e o êxito de empresas
desse setor, além de caracterizar os processos de planejamento adotados em
construtoras atuantes na região do Cariri. Os principais fenômenos analisados
neste trabalho foram se as empresas realizam o planejamento das obras que
executam, quais as ferramentas utilizadas, quem são as pessoas envolvidas e
se os resultados alcançados com o planejamento são satisfatórios. Notou-se
que as empresas realizam o planejamento, seja de maneira mais especializada
ou não. Utilizando ferramentas adequadas de planejamento, essas empresas
garantem a elaboração de orçamento, cronogramas e até mesmo programas
de compra de materiais. Apesar disto, ainda é evidente a ocorrência de proble-
mas, como atrasos na execução e falta de materiais, que elevam o custo final
da construção.
Palavras-chave: Competitividade. Empresas construtoras. Planejamento.

1
Engenheira Civil e Especialista em Gerenciamento da Construção Civil.
E-mail: morais.sabrina3@gmail.com.br
2
Mestre em Engenharia e Tecnologia Ambiental pela Universidad de León - Espanha. Mestre
em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Especialista em Avaliações e
Perícias de Engenharia. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Especialista
em Administração de Empresas. Diretor do Instituto Tecnológico do Cariri – ITEC. Professor
da Universidade Regional do Cariri – URCA. Chefe do Departamento da Construção Civil –
URCA. Coordenador da pós-graduação lato sensu em Gerenciamento da Construção Civil
– ITEC/URCA. Perito judicial. Engenheiro civil e Advogado militante.
E-mail: jeff.marinho@urca.br.
58 Sabrina Câmara de Morais & Jefferson Luiz Alves Marinho

1 INTRODUÇÃO

No mundo empresarial, as transformações ocorrem de forma contí-


nua, e na indústria da construção civil não é diferente. Todavia, para que
as empresas possam acompanhar essas mudanças, é preciso ter, como co-
laboradores, pessoas qualificadas e aptas para inovar e oferecer qualidade
em seus produtos e serviços. Segundo Limmer (1997), o fato que tem leva-
do empresários do ramo da construção civil a investirem em planejamento
e controle da produção é que os consumidores não estão satisfeitos com
produtos de baixa qualidade a preços elevados.
A grande dificuldade em garantir redução de custos e qualidade sa-
tisfatória está nas características próprias dessa indústria. Entre elas po-
dem-se citar o fato de o produto ser fabricado dentro do próprio canteiro
de obras, na maioria das vezes a céu aberto; o emprego relevante de recur-
sos humanos e o desperdício de materiais, causado por intempéries e erros
de execução e/ou de planejamento.
Nesse contexto, o gerenciamento passa a ser considerado um gran-
de diferencial competitivo nesse processo de transformação, pois o gestor,
mediante seus conhecimentos e habilidades, tem papel relevante na orga-
nização, com o propósito de preservar o crescimento e a interação produti-
va das diversas partes, diminuindo o risco geral de fracasso.
O planejamento é de grande importância, pois está relacionado
aos processos de decisão. Para que os objetivos de uma empresa sejam
alcançados, o ponto-chave é harmonizar recursos físicos e financeiros,
compatibilizando-os com prazos e custos. O planejamento quantitativo e
qualitativo possibilitará que o cliente receba o material no momento certo,
com as quantidades corretas e dentro das especificações desejadas (BURT;
PINKERTON, 1996).
Nos dias atuais, têm surgido vários processos e ferramentas de pla-
nejamento e controle da produção que auxiliam gestores de empresas da
construção civil, porém, o que se constata ainda é que muitas empresas
não valorizam o planejamento anterior ao início da etapa de execução, e
preferem tomar decisões baseadas na experiência adquirida por engenhei-
ros e mestres ao longo dos anos.
Com tudo o que foi exposto acima, este trabalho tem como objetivo
avaliar em construtoras atuantes na região do Cariri como se dá o processo
de planejamento de obras nessas empresas.
Gerenciamento da Construção Civil 59

2 CONCEITO DE PLANEJAMENTO

O tema planejamento de obras, apesar de ser muito atual e ainda


estar passando por fase de implantação na maioria das empresas da cons-
trução civil, já vem sendo discutido há muito tempo. A seguir, o tema é con-
ceituado e abordado de forma cronológica e em tempos diferentes, porém
poderá ser notado que a percepção dos autores é bem semelhante.
Segundo Ackoff (1970, p. 75), “Planejamento é algo que fazemos an-
tes de agir, isto é, a tomada antecipada de decisões”.
Continua o autor (p. 76) afirmando que o “planejamento é um pro-
cesso que se destina a produzir um ou mais estados futuros desejados e
que não deverão ocorrer, a não ser que alguma coisa seja feita” e o respon-
sável por fazer esta alguma coisa é o gerenciador.
Segundo Laufer e Tucker (1987), o planejamento pode ser definido
como o processo de tomada de decisão realizado para antecipar uma dese-
jada ação futura, utilizando meios eficazes para concretizá-la.
No entendimento de Formoso et al. (1999), no planejamento são de-
finidas as metas e os meios para atingi-las, sendo necessário um controle
para alcançar tais metas.
Conforme ensina Limmer (1997, p. 15), o planejamento pode ser de-
finido como

Um processo por meio do qual se estabelecem objetivos, discutem-


-se expectativas de ocorrências de situações previstas, veiculam-se
informações e comunicam-se resultados pretendidos entre pessoas,
entre unidades de trabalhos, entre departamentos de uma empresa
e, mesmo, entre empresas.

Para Gehbauer (2002), no planejamento de obras são elencadas as


etapas necessárias para a conclusão da edificação, levando em considera-
ção a escolha de processos, etapas e recursos, com a finalidade de estabe-
lecer uma relação adequada entre a produção e os custos.

Planejar é garantir de certa maneira a perpetuidade da empresa


pela capacidade que os gerentes ganham de dar respostas rápidas
e certeiras por meio do monitoramento da evolução do empreen-
dimento e do eventual redirecionamento estratégico. (MATTOS,
2010, p. 21)
60 Sabrina Câmara de Morais & Jefferson Luiz Alves Marinho

Neste contexto, é importante destacar que uma empresa que tem


profissionais capazes de elaborar um bom planejamento tem mais chances
de obter resultados satisfatórios, que gere como benefício o seu fortaleci-
mento e crescimento no princípio e no decorrer de todo processo de exe-
cução da obra.

3 IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO E
CONTROLE DE OBRAS
A primeira etapa para a realização de qualquer empreendimento é
a elaboração do seu planejamento, que consiste em definir o método de
execução, o cronograma e os custos da execução.
Para que uma obra seja considerada exitosa e gerar lucros para a
construtora, o planejamento deve ser iniciado ainda na fase de projetos,
não esquecendo sua importância em todas as fases subsequentes, além do
minucioso controle. O objetivo do planejamento é reduzir o custo, junta-
mente com o tempo de execução dos projetos e as incertezas relacionadas
ao seu escopo.
Controlar é avaliar, em diferentes momentos, se o plano inicial está
sendo realizado de fato, caso não esteja, é função do controlador identifi-
car os desvios ocorridos em relação ao planejamento inicial e adotar ações
corretivas para obter os resultados desejados.
Ballard e Howell (1996) citam que o planejamento produz metas
que possibilitam o gerenciamento dos processos produtivos, enquanto o
controle garante o cumprimento dessas metas, bem como avalia sua con-
formidade com o planejado, fornecendo assim informações para a prepa-
ração de planos futuros.
O controle gerencial nada mais é que a comparação sistemática entre
o previsto e o realizado, tendo como objetivo fornecer subsídios para as
análises físicas, econômicas e financeiras, e estabelecer os critérios lógicos
para a tomada de decisões.
Como consequência de um planejamento adequado e eficaz, as em-
presas construtoras têm a garantia de obras executadas com qualidade, no
menor tempo e com o menor custo, ou seja, garantia de lucro por meio da
economia de materiais, produtividade e mão de obra treinada e compro-
metida com os resultados.
O planejamento de qualidade é essencial no mundo dos negócios,
pois incorpora um conjunto de ações que tem por finalidade fazer com que
Gerenciamento da Construção Civil 61

o projeto e seu resultado atinjam os requisitos necessários ao cumprimen-


to dos objetivos almejados. Faz parte do planejamento a realização do mo-
nitoramento do progresso das atividades executadas. O gestor deve ficar
atento ao cumprimento dos prazos de execução e observar se cronograma
e orçamento realizados em campo sofrem desvios em relação ao planeja-
mento inicial.
Formoso et al. (1999) afirmam que, quando o controle não é reali-
zado de maneira proativa, sendo baseado tão somente na troca de infor-
mações verbais do engenheiro com o mestre de obras, visando a um curto
prazo de execuções e sem vínculo com plano de longo prazo, resulta, mui-
tas vezes, na utilização ineficiente de recursos.

4 FERRAMENTAS DE PLANEJAMENTO

O processo de planejamento é um fator indispensável para todas as


empresas, pois auxilia os gerenciadores a tomarem decisões mais ágeis e
coerentes. Nesta fase de planejamento são estabelecidos os tempos de pro-
dução das atividades do projeto e adotam-se as técnicas de ataque à obra,
atingindo a programação de execução da edificação.

4.1 Estrutura Analítica do Projeto – EAP

Criar uma Estrutura Analítica do Projeto (EAP) é o processo de sub-


divisão das entregas e do trabalho do projeto em componentes menores e
mais facilmente gerenciáveis (VARGAS, 2016).
De acordo com o Project Management Institute – PMI (2008, p. 116),
a EAP representa uma “decomposição hierárquica orientada às entregas
do trabalho a ser executada pela equipe para atingir os objetivos do projeto
e criar as entregas requisitadas, sendo que cada nível descendente da EAP
representa uma definição gradualmente mais detalhada da definição do
trabalho do projeto”.
O primeiro passo na elaboração do planejamento de uma obra é a
definição das etapas que compõem o escopo do projeto. Após essa defini-
ção, faz-se necessário subdividi-las em partes pequenas com alto grau de
detalhamento, permitindo assim que o planejador organize as atividades,
com a respectiva descrição das quantidades, durações, recursos utilizados
e os responsáveis pela sua execução.
62 Sabrina Câmara de Morais & Jefferson Luiz Alves Marinho

Uma EAP bem desenvolvida deve permitir aos seus usuários visua-
lizar a contribuição de cada pacote de trabalho no projeto como um todo,
realizar a distribuição de equipes e dos recursos necessários à sua execu-
ção, atribuir responsabilidades às equipes montadas, determinar o custo
total do projeto mediante a soma dos custos individuais de cada atividade
(VARGAS, 2016).
Mattos (2010) enaltece que não há regras para a decomposição do
escopo. O planejador pode desmembrar o projeto segundo vários critérios,
como partes físicas, serviços, etapas, etc. Porém, é obrigatória a abrangên-
cia de 100% das atividades a serem realizadas.

4.2 Rede PERT/CPM

O PERT (Técnica de Avaliação e Controle de Programas) e o CPM


(Caminho Crítico) são ferramentas de planejamento muito semelhantes e
por esse motivo são geralmente utilizadas em conjunto. Essa técnica tem
como finalidade definir a duração de execução das etapas de conclusão
de um projeto.
Nesse tipo de ferramenta é levada em consideração a dependência
entre as atividades, ou seja, por meio dela são definidas as relações lógicas
de precedência entre as inúmeras atividades do projeto (MATTOS, 2010).
Há dois métodos de construção de um diagrama de rede PERT/CPM:
o método das flechas e o método dos blocos. Ambos produzem o mesmo
resultado, o que altera são as regras para desenhar o diagrama.
O tempo de execução das atividades pode ser calculado pelos índi-
ces de produção encontrados em tabelas de composição dos custos uni-
tários de serviços, ou estimando-se a produtividade de um operário da
construção civil. O índice de produção representa a quantidade de tem-
po de trabalho que um operário necessita para a produzir uma unidade
daquela atividade, e é expresso na forma de duração/unidade, como: h/
m2, h/m3, h/kg, entre outros; já a produtividade é o inverso do índice de
produção, sendo assim, representa a quantidade de unidades produzidas
em uma unidade de tempo, e é expresso por quantidade/tempo, como:
m2/h, m3/h, kg/h, entre outros. Nota-se que a produtividade é o inverso
do índice de produção.
Por meio dessas ferramentas de planejamento, é possível definir o
tempo que cada atividade necessitará para ser concluída.
Gerenciamento da Construção Civil 63

4.3 Gráfico de Gantt

O Gráfico de Gantt é uma ferramenta muito usada na indústria da


construção civil, tanto no planejamento de longo prazo quanto no acompa-
nhamento de prazos de execução de obras (MENDES JÚNIOR, 1999). Tem
como principal vantagem a fácil interpretação, compreensão e identifica-
ção de períodos de folga (PAULO, 2007).
Mattos (2010) exalta que um detalhe importante nesse método é
que o planejador não pode confundir dias úteis e dias corridos. O modelo
se baseia em horas efetivamente trabalhadas e não perceber este detalhe
pode ocasionar grandes erros e problemas de prazo e custo.

4.4 Corrente Crítica

A Corrente Crítica, também conhecida por Critical Chain Project Ma-


nagement, ou CCPM, está fundamentada na teoria das restrições, na qual
o resultado de um sistema é consequência do empenho das partes que o
integram.
A CCPM sugere uma vasta redução no tempo de execução dos ser-
viços, adotando-se tempos de execução ousados, porém viáveis de serem
concretizados, que normalmente giram em torno de 50% do que foi esti-
mado inicialmente. De modo a assegurar um limite de segurança no prazo,
são introduzidos nos caminhos não críticos e no crítico, os denominados
buffers, ou pulmões.
Esses períodos representam uma área de escape na ocorrência de
imprevistos. O valor a ser adotado deve ser de 50% do tempo economi-
zado na execução das tarefas do ramo da rede considerado (BARCAUI;
QUELHAS, 2004).
Para facilitar o controle do planejador, a área de escape (pulmão)
deve ser dividida em três partes: uma zona verde, uma zona amarela e uma
zona vermelha. Enquanto estiver na área verde significa que não houve im-
previstos e nenhuma ação precisa ser tomada; caso o projeto se encontre
na zona amarela, a equipe de gerência deve ficar alerta e desenvolver pla-
nos de recuperação; e por último, se o consumo de tempo estiver na zona
vermelha significa que os planos de recuperação precisam ser colocados
em prática.
64 Sabrina Câmara de Morais & Jefferson Luiz Alves Marinho

4.5 Linha de Balanço

Por meio do método Linha de Balanço, procura-se calcular correta-


mente o ritmo de trabalho mediante o agendamento das atividades, evi-
tando-se a interrupção da sua realização. Como consequência consegue-se
aproveitar ao máximo todos os recursos.
Esse método fornece a relação quantidade/tempo dos processos
construtivos através da representação gráfica de retas em um sistema de
eixos cartesianos. O eixo vertical representa a unidade de construção de
repetição, e o eixo horizontal, o tempo, no qual, em um instante de tempo,
haverá certa quantidade de unidades produzidas.
No gráfico gerado, cada reta representa uma atividade e a inclinação
da reta indica o ritmo de execução dessas atividades.
Algumas vezes ocorre o cruzamento dessas retas, que é ocasionado
pela discrepância nos ritmos de execução dos processos produtivos. Esse
acontecimento indica que existem atividades que possuem ritmo de pro-
dução mais lento que os processos subsequentes. Esta situação significa
um atraso na produção devido à diferença entre esses ritmos.
Para o caso em que o ocorre o cruzamento de atividades, existem
duas soluções. Uma delas é o aumento do ritmo de produção da atividade
mais lenta, resultando na linha de balanço de programação paralela. A se-
gunda alternativa é diminuir a produção ou até mesmo suspender a ativi-
dade de maior ritmo, até a obtenção de maiores intervalos de tempo entre
as tarefas, conhecida como programação não paralela.
A melhor escolha entre as soluções dependerá da disponibilidade de
recursos (MENDES JÚNIOR, 1999).

5 CARACTERIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO DE
CONSTRUTORAS DA REGIÃO

5.1 Considerações iniciais

Neste tópico são apresentados os resultados obtidos pela análise do


questionário aplicado com funcionários de seis construtoras atuantes na
região do Cariri.
Com a intenção de preservar a imagem das construtoras, optou-se
por não revelar os seus nomes neste trabalho. As empresas serão identifi-
cadas por letras de A a F.
Gerenciamento da Construção Civil 65

5.2 Características das construtoras

Das seis empresas entrevistadas, quatro possuem em sua estrutura


organizacional equipe específica ou departamento responsável pela elabo-
ração do planejamento e controle de obras. Dentre as empresas que afir-
mam não possuir departamento de planejamento, a empresa A alega que o
planejamento da empresa é realizado por empresa terceirizada.
Todos os entrevistados afirmam que suas empresas estabelecem
procedimentos claros quanto à execução do planejamento.
É possível perceber com os quesitos analisados acima que essas
construtoras possuem uma organização em relação ao planejamento, de
forma a deixar claro os procedimentos adotados.

5.3 Desenvolvimento do planejamento

As empresas em sua totalidade realizam os procedimentos de pla-


nejamento antes do início dos trabalhos de execução e afirmam que a alta
gerência estipula os prazos de execução da obra.
Quando os fatores envolvidos são prazo e capital financeiro, os pro-
cessos de planejamento são essenciais e padrões nas empresas pesquisa-
das, como visto na Tabela 1.

Tabela 1. Análises de Prazos e Custos


DURAÇÃO X COMPARAÇÃO TÉCNICA/ CRONOGRAMA FÍSICO/
EMPRESA ORÇAMENTO
CUSTO FINANCEIRA FINANCEIRO

A X X X X

B X X X

C X X X

D X X X X

E X X X

F X X X X

Fonte: Elaborada pelos autores (2017).

Quase a totalidade das empresas realiza um estudo da relação dura-


ção de execução x custos de execução, com exceção da empresa C.
66 Sabrina Câmara de Morais & Jefferson Luiz Alves Marinho

Apenas quatro empresas realizam comparações financeiras entre


diferentes métodos de construção. Dentre as que não o fazem, a empresa
D explica que não realiza a comparação quando a obra segue o padrão de
outras obras já executadas, nas quais o estudo já foi realizado.
Entre as empresas pesquisadas é unânime a elaboração de orçamen-
to e cronograma físico-financeiro de obras.
Em contraste com os dados anteriores, somente duas empresas afir-
maram ter todos os projetos executivos concluídos antes do início da etapa
de execução.
Quanto às ferramentas de planejamento de obras, notou-se que a
única utilizada em todas as empresas é o Gráfico de Gantt. A EAP e a rede
PERT/CPM são empregadas em 50% das construtoras. O resultado dos
métodos Corrente Crítica e Linha de Balanço foi uma surpresa, visto que
são métodos não muito utilizados no Brasil, mas a Corrente Crítica é utili-
zada em metade das empresas pesquisadas e a Linha de Balanço em duas
das seis pesquisadas neste estudo.
É quase unânime o envolvimento de membros de operação no pro-
cesso de planejamento. E em todas as construtoras pesquisadas, há di-
retamente o repasse de informações sobre o planejamento para os ope-
rários. A maioria das empresas opta por fazer o repasse de informações
e metas de planejamento e produção somente aos chefes das equipes de
execução.

5.4 Execução do planejamento

As empresas, quase em sua totalidade, realizam um plano de com-


pras e disponibilização de material em obra, por meio de um planejamento
de médio prazo.
Ainda no planejamento de médio prazo, todas as empresas realizam
o dimensionamento de equipes de execução, porém só em cinco são bem
definidas as atribuições e responsabilidades que cada funcionário desem-
penha dentro da organização. É unânime a realização de planejamento de
fluxos de trabalho dentro do canteiro de obras.
A totalidade das empresas participantes desta pesquisa afirma rea-
lizar planejamento de curto prazo e o acompanhamento entre planejado
versus executado durante a execução do empreendimento.
Gerenciamento da Construção Civil 67

5.5 Problemas de planejamento

A Tabela 2 expõe a ocorrência de alguns dos problemas mais comuns


e mais frequentes enfrentados na construção civil.

Tabela 2. Problemas Enfrentados na Execução de Obras


EMPRESA

FALTA DE GASTOS
FALTA DE FALTA DE ATRASO NA INCOMPATIBILIDADE
MÃO DE ACIMA DO
MATERIAL EQUIPAMENTO EXECUÇÃO DE PROJETOS
OBRA ORÇAMENTO

B X X X X

C X X

D X X X X X X

E X X

F X X
Fonte: Elaborada pelos autores (2017).

A falta de material e os atrasos na execução das atividades são os


problemas que ocorrem com maior frequência. As empresas explicam que
os dois problemas geralmente estão interligados. Há um atraso na execu-
ção da obra por conta do atraso da chegada de alguns materiais na obra.
Mesmo havendo um planejamento de compra, numa programação de mé-
dio prazo, existem certos itens que surpreendem os planejadores com um
tempo de entrega do produto num prazo muito superior ao esperado.
O problema de incompatibilidade de projetos também está presente
em 50% das empresas. Isso se deve, provavelmente, ao fato de os projetos
executivos serem desenvolvidos paralelamente ao andamento da execução
da obra.

5.6 Avaliação qualitativa das atividades relacionadas ao


planejamento dentro das empresas
Nesta segunda parte da entrevista são apresentados e discutidos
quesitos que abordam de forma qualitativa o planejamento dentro das
construtoras, e todos esses dados são expostos sob o ponto de vista dos
entrevistados.
68 Sabrina Câmara de Morais & Jefferson Luiz Alves Marinho

Para cada questão, foi adotada a escala de Likert, na qual os entre-


vistados atribuíram notas de um a cinco às questões. A nota um representa
uma situação péssima e cresce de conceito até o valor cinco, que represen-
ta uma situação ótima sobre o tema em questão.

5.6.1 Avaliação do planejamento e controle


Neste item é avaliado, sob a percepção dos entrevistados, o funciona-
mento e o controle do planejamento dentro das empresas.
A empresa A é a única que julga ter um planejamento excelente. É
importante salientar que essa é também a única empresa que terceiriza o
serviço de planejamento. Já a construtora (B) que informa que o seu pla-
nejamento pode ser considerado ruim é a única que não possui equipe ou
departamento de planejamento interno e nem terceiriza essa atividade.
Quanto ao controle do planejamento realizado por essas empresas,
a empresa A também considera que faz um excelente trabalho. O motivo
do sucesso é que a empresa terceirizada que realiza o planejamento já
estabelece os procedimentos de controle que devem ser executados pela
empresa executora.
As demais empresas têm o controle do planejamento como suficien-
te e bom.

5.6.2 Importância do planejamento

Este item avalia o quanto é importante o planejamento na obtenção


de resultados dentro da empresa na opinião dos entrevistados.
Pode-se notar pelo Gráfico 1 que a maioria dos entrevistados con-
sidera que o planejamento é apenas suficiente na obtenção de resultados.
Fazendo uma comparação com a avaliação do funcionamento do planeja-
mento dentro das empresas, percebe-se que elas são as mesmas que con-
sideram o desempenho do planejamento ruim (Empresa B) e suficiente
(Empresas C e E). Provavelmente, se os procedimentos de planejamento
fossem melhor elaborados, essas empresas obteriam resultados mais sa-
tisfatórios na execução do empreendimento.
Gerenciamento da Construção Civil 69

Gráfico 1. Notas Atribuídas à Importância do Planejamento nos Resultados da Obra

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

5.6.3 Agilidade na detecção de problemas

Neste quesito, é avaliada a agilidade da equipe na identificação de


problemas e na sua resolução por parte da empresa.

Gráfico 2. Notas Atribuídas à Agilidade na Detecção e Solução de Problemas

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

Nota-se pelo Gráfico 2 que as notas atribuídas pelos colaboradores são


no mínimo regulares quanto à identificação de problemas de obra. Quanto
à adoção de medidas de resolução dos problemas, as notas dadas pelos en-
trevistados são as mesmas, com exceção das Empresas A e D, que se julgam
mais eficientes na resolução dos problemas do que na sua identificação.
70 Sabrina Câmara de Morais & Jefferson Luiz Alves Marinho

6 CONCLUSÃO

A principal meta de qualquer empresa da construção civil é reduzir


o tempo de produção e as perdas no processo de execução para garantir a
lucratividade. Para isso, elas têm investido cada vez mais em processos de
planejamento e controle de obras. Novas técnicas de trabalho, mudança
de um sistema operacional e agilidade na solução de problemas podem
proporcionar a redução das perdas no processo e consequentemente a ma-
ximização dos lucros.
Foi possível perceber neste estudo que as organizações executam
o planejamento de suas empresas, algumas de forma mais especializada,
como no caso da empresa que terceiriza a elaboração do planejamento,
outras, de maneira mais simplificada. Nota-se, por exemplo, que a maio-
ria das empresas possui uma equipe especializada, que se empenha em
desenvolver o planejamento dos empreendimentos da empresa, comparar
métodos construtivos e elaborar cronogramas e orçamentos.
Apesar da comprovada preocupação que as empresas estão tendo
em planejar seus empreendimentos, eles ainda encontram diversos pro-
blemas de implantação, como a falta de material, atrasos na execução e
incompatibilidade de projetos. A falta de material e os atrasos na execução
estão principalmente associados ao descumprimento de prazos por par-
te dos fornecedores; já a incompatibilidade de projetos provavelmente se
deva à não conclusão de projetos executivos no início da obra.
A empresa A, que optou por contratar uma empresa especialista em
planejamento de obras, tem obtido excelentes resultados, visto que é a úni-
ca empresa que não apresenta nenhum dos problemas citados acima.
Em resumo, afirma-se que o objetivo principal desse trabalho foi
cumprido, tendo em vista que as características dos processos de planeja-
mento de construtoras da região ficaram evidentes dentro dos aspectos da
pesquisa exploratória.

REFERÊNCIAS

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Gerenciamento da Construção Civil 71

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Rio de Janeiro: Brasport, 2016.
REFLEXÕES SOBRE A FILOSOFIA DA
CONSTRUÇÃO ENXUTA APLICADA
ÀS CONSTRUÇÕES DE PEQUENO PORTE

Klayrton Rommel Santos Ferreira1

RESUMO: Mesmo sendo a maior provedora de empregos diretos e indiretos, a


construção civil ocupa lugar de destaque junto aos outros setores industriais no
que se refere ao desperdício de matéria-prima, mão de obra e tempo. Devido a
essa forte realidade, vários esforços são somados na tentativa de minimizar tama-
nha perda. Atualmente muitas empresas estão discutindo o emprego e os benefí-
cios que novas filosofias podem gerar. Uma delas é a incorporação dos conceitos
da mentalidade enxuta para a construção civil. O desenvolvimento deste trabalho
tem o objetivo de estudar essa nova forma de pensar e a aplicabilidade dos con-
ceitos da Lean Construction nas construções de pequeno porte, assim como outras
ferramentas que podem auxiliar a concretização dos três principais resultados es-
perados: a entrega do produto no prazo, a redução do desperdício e a maximização
do valor. Verificou-se que as empresas que já detêm domínio dessa ferramenta
conseguem melhores resultados na gestão dos profissionais e dos insumos e, con-
sequentemente, acúmulo de lucros. Contudo, um dos problemas encontrados para
a implantação dessa filosofia é a dificuldade de transmitir e sedimentar seus con-
ceitos de mudança de pensamento de como se deve planejar e executar tarefas.
Palavras-chave: Construção enxuta. Gerenciamento. Planejamento.

1 INTRODUÇÃO

A construção civil vem, ao longo da última década, passando por


transformações significativas em seus processos construtivos com a fina-
lidade de sempre buscar a melhor qualidade pelo menor preço, em função
de um mercado altamente competitivo e, hoje, criterioso.
Desta forma, o setor está iniciando a aplicação dos princípios da
Lean Thinking (Mentalidade Enxuta2), que, para o setor, foi batizada de


1
Tecnólogo da Construção Civil (Habilitação em Edifícios) e Especialista em Gerenciamento
da Construção da Civil pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Graduando em Enge-
nheira Civil pela Faculdade Paraíso do Ceará – FAP. E-mail: klarommel@hotmail.com

2
“A mentalidade enxuta é uma forma de especificar valor, alinhar a criação de valor na me-
lhor sequência das ações, realizar essas atividades sem interrupção toda vez que alguém
as solicita e realizá-las de forma cada vez mais eficaz. Em suma, o pensamento é enxuto
74 Klayrton Rommel Santos Ferreira

Lean Construction (Construção Enxuta). O sistema Lean pode ser resumido


como uma estratégia para aumentar o grau de exultação do cliente, com a
minimização do desperdício, utilizando assim de maneira satisfatória os
seus recursos.
A filosofia Lean pode ser entendida como uma nova concepção do sis-
tema de produção desenvolvido na fábrica de automóveis Toyota, no Japão,
logo após a Segunda Guerra Mundial. Como a indústria japonesa estava com
sua produtividade muito baixa e a falta de recurso era enorme, o engenheiro
Taiichi Ohno desenvolveu um novo sistema (BARREIRAS, [s.d.]), o Sistema
Toyota de Produção (STP), com o objetivo de aumentar a eficiência da pro-
dução pela eliminação contínua de desperdício (MIRANDA et al., 2003).
Como a base de sustentação do STP é a absoluta eliminação do des-
perdício, e com o intuito de facilitar a sua identificação, Ohno (1998, apud
MIRANDA, 2003) relacionou os desperdícios ocorridos no sistema e os
classificou em sete tipos:
• Superprodução: Refere-se aos desperdícios que ocorrem
quando se produz quantidades maiores do que realmente é
necessário;
• Tempo de Espera: Refere-se aos materiais que aguardam em
filas para serem processados ou trabalhadores ociosos;
• Transporte: Está associado ao manuseio excessivo ou inade-
quado dos materiais. É uma atividade que nunca agrega va-
lor ao produto;
• Processamento: Geralmente se dá na execução inadequada
da atividade ou operações que não precisam existir para a
conclusão da produção;
• Estoque: Existência de estoques excessivos, em função da
programação inadequada, o que gera desperdício de mate-
rial e financeiro;
• Movimentação: Realização de movimentos desnecessários por
parte dos trabalhadores, durante a execução de suas atividades;
• Defeitos: Produzir produtos defeituosos significa desperdi-
çar materiais, mão de obra e tempo.

porque é uma forma de fazer cada vez mais com cada vez menos, e, ao mesmo tempo,
aproximar-se cada vez mais de oferecer aos clientes exatamente o que eles desejam.” (WO-
MACK; JONES, 1998, apud JUNQUEIRA, 2006)
Gerenciamento da Construção Civil 75

Ao final dos anos de 1980, o então conhecido STP passou a ser cha-
mado Sistema de Produção Enxuta (GHINATO, 1996, apud MIRANDA,
2003). E, em 1992, o finlandês Lauri Koskela apresentou um modelo de
sistema de produção adaptado à construção civil, o hoje conhecido Lean
Construction, que, em sua essência, fundamenta-se nos cinco princípios da
Mentalidade Enxuta (WOMACK; JONES, 1998, apud JUNQUEIRA, 2006):

• Valor: Preço que o cliente está disposto a pagar pelo produto;


• Fluxo de Valor: Identificação da cadeia de valor e eliminação
dos desperdícios na realização do produto;
• Fluxo: Mudanças necessárias para alcançar o fluxo de valor
desejado, fazendo o produto fluir sem interrupções;
• “Puxar”: Produção de somente o necessário, sem estoque.
Combate ao desperdício por superprodução;
• Perfeição: Melhoria contínua. Aprendendo com o que se faz.

A construção enxuta incorpora as vantagens do processo artesanal


ao processo de produção em massa, evitando as inconveniências dos altos
custos com a inflexibilidade de produção, respectivamente (DANLBAAR,
1997, apud WIGINESCKI, 2009).

2 MENTALIDADE ENXUTA E SEUS PRINCÍPIOS


Os princípios da mentalidade enxuta, por ser uma filosofia, busca levar
aos seus usuários uma mudança de pensamento e comportamento e propõe
motivar a realização de práticas que geram o bem-estar ao ambiente de tra-
balho, produtividade e redução nos custos da obra, seja por meio do uso de
novas tecnologias ou, simplesmente, a correção ou melhoria de um processo
já desenvolvido (WOMACK et al., 1992, apud JUNQUEIRA, 2006).
De acordo com esses autores, esse pensamento é denominado enxu-
to por valer-se de menos quantidade de tudo, o que se relaciona com a pro-
dução em massa e requer metade de todos os esforços para desenvolver
novos produtos na metade do tempo.
Para chegar a esse objetivo, Womack et al. (1998, apud JUNQUEIRA,
2006) propuseram cinco princípios:

• Valor: A princípio, deve-se compreender o que é valor para o


cliente, pois este princípio é o ponto de partida para o bom
76 Klayrton Rommel Santos Ferreira

emprego de todos os demais princípios da filosofia Lean. Essa


identificação inclui definir exatamente por quais caracterís-
ticas do produto e serviços o cliente está disposto a pagar.
Esta é a base para a identificação de possíveis desperdícios,
elencados como tudo aquilo que não agrega valor, servindo
como base para a aplicação dos demais princípios.
• Fluxo de Valor: Identificar e eliminar desperdícios ao longo
de toda a cadeia de valor, da matéria-prima ao cliente final.
Para se chegar a esse fim, faz-se imprescindível uma gestão
de fluxos físicos de pessoas, materiais e equipamentos no
canteiro de obra, processo que deve ser observado na fase de
planejamento e controle da produção.
• Fluxo Contínuo: Realizar todas as atividades que agregam va-
lor sem interrupções, eliminando os desperdícios e reduzin-
do o lead time (período entre o início de uma atividade até
o seu término). Seguindo este raciocínio, pode-se dizer que
o conceito de fluxo é fundamental dentro da filosofia Lean,
uma vez que sua implantação resulta em alta produtividade.
• Produção Puxada: Juntamente com o princípio do fluxo con-
tínuo, o conceito de produção puxada pode ser considerado
como o mais característico da Lean, sendo essencial na tenta-
tiva de eliminação das perdas, pois se deve produzir somente
no tempo certo. E para que isso ocorra, todas as comunica-
ções devem ser diretas e precisas.
• Perfeição: O processo em busca da perfeição ocorre com a
melhoria e aprendizado contínuos, e ocorre na base da hie-
rarquia funcional.

3 CONSTRUÇÃO ENXUTA (LEAN CONSTRUCTION)

O principal foco da produção enxuta é eliminar as atividades que


não agregam valor – atividades que apenas consomem tempo, recursos
ou espaço, e não cooperam para atender às principais necessidades dos
clientes. A Construção Enxuta pode ser entendida como uma forma de de-
senho de sistema de produção, objetivando gerar o máximo possível de
valor (KOSKELA, 1992).
Gerenciamento da Construção Civil 77

Figura 1. Movimentos dos trabalhadores

Fonte: Bulhões, 2009.

Ainda segundo Koskela (2000), enquanto os conceitos tradicionais


do sistema de produção da construção apresentam um único objetivo final
(a entrega do produto), a construção enxuta tem seus conceitos voltados a
três objetivos principais: a entrega do produto, a maximização do valor e a
redução do desperdício.
O processo de construção enxuta começou com uma tentativa de
modificar a forma de como o trabalho é gerenciado (KOSKELA, 2000), que
propõe uma melhoria organizacional das atividades (processos), eliminan-
do mão de obra ociosa e otimizando recursos disponíveis.
Na construção civil, a forma como se enxerga um processo de produ-
ção é o Modelo de Conversão, representado pela Figura 2, onde o processo
de produção é subdividido em subprocessos, e a minimização dos custos
totais do processo somente ocorre quando o custo de cada subprocesso
é reduzido separadamente, associando, desta forma, o valor do produto
somente ao custo dos seus insumos (ISATTO et al., 2000).
78 Klayrton Rommel Santos Ferreira

Figura 2. Processo de produção convencional baseado no modelo de conversão

Fonte: Koskela, 1992.

A Figura 3 abaixo representa um modelo proposto por Koskela em


1992 e mostra as etapas do processo de produção na Lean Construction.
Dessa forma, qualquer melhoria em um desses elementos gera melhoria
em todo o processo.

Figura 3. Processo de produção na construção enxuta

Fonte: Koskela, 1992.

3.1 Princípios da construção enxuta

Esta filosofia foi alicerçada por Koskela (1992) por meio dos princí-
pios básicos para gestão de processo:
• Redução da quantidade de atividades que não agregam valor ao
produto: Esse princípio define a melhoria contínua nos proces-
Gerenciamento da Construção Civil 79

sos para ganhar maior eficiência e reduzir perdas. Dessa forma,


as atividades desnecessárias são todas aquelas que não atri-
buem valor ao produto. Contudo, se faz necessário considerar
que existem atividades que não agregam valor, mas não podem
ser eliminadas por serem fundamentais para a eficiência de
todo o processo, como, por exemplo, o treinamento da mão de
obra (KOSKELA, 1992).
• Aumento do valor do produto considerando as necessidades dos
clientes: É por meio da clara necessidade e expectativa do clien-
te que se pode produzir algo de real valor que o satisfaça. Para
se chegar a isso, é necessário conhecer os desejos do cliente,
uma vez que o conceito de valor está diretamente associado à
ótica desse empreendedor e o que ele precisa para alcançar essa
satisfação (KOSKELA, 1992).
• Redução da variabilidade dos processos, visando à padronização:
A variabilidade tem em sua essência produtiva o aumento do
tempo necessário para condução de um serviço/produto e, con-
sequentemente, aumento dos seus gastos. Assim, quanto maior
a variabilidade maior o número de atividades que não agregam
valor, gerando gastos desnecessários (SHINGO, 1996).
• Redução do tempo de ciclo de atividades: Este princípio está rela-
cionado com a otimização dos tempos necessários para a produ-
ção do produto/serviço determinado. O tempo de ciclo, segundo
Koskela (1992), divide-se em: transporte, espera, processamen-
to e inspeção.
• Simplificação das atividades através da redução do número de
passos: Em processo produtivo, quanto menor o número de
passos de uma atividade maior o resultado e menor o custo. A
melhoria no rendimento se dá pela redução ou eliminação das
atividades que não agregam valor, e a minimização do custo
se obtém pela redução do desperdício gerado em cada passo
(ISATTO et al., 2000).
• Aumento da flexibilidade das saídas dos processos: Não contradi-
tório com a simplificação das atividades, o aumento de flexibi-
lidade busca gerar valor ao empreendimento através do uso de
mão de obra polivalente, por exemplo; ou seja, são princípios
complementares (ISATTO et al., 2000).
80 Klayrton Rommel Santos Ferreira

• Aumento da transparência dos processos: O objetivo desse en-


sinamento, através do aumento das informações disponíveis,
é evitar erros e agilizar o processo de execução das tarefas
(KOSKELA, 1992). Também pode ser utilizado como ferramenta
para motivar a mão de obra.
• Foco do controle global, de forma sistêmica: Com um controle
bem estruturado, pode-se não só identificar, mas corrigir os
desvios que iriam interferir no processo (FERNANDES, 2009).
Esse princípio deve ser aplicado de forma que não venha a pre-
judicar as etapas do processo, como, por exemplo, a hora corre-
ta de se efetuar a inspeção de alvenaria, de forma que se corrija
algum erro sem desfavorecer a continuidade da sua execução.
• Introdução de melhorias contínuas: Após identificar as melho-
rias que podem ser agregadas ao processo de forma a torná-la
mais eficiente, elas devem ser introduzidas. Segundo Koskela
(2000), sempre haverá melhorias que podem ser absorvidas, de
forma a reduzir o desperdício e agregar valor.
• Equilíbrio de melhorias entre fluxo e conversão: Princípio que
deve ser observado na etapa de planejamento, evitando assim
a introdução de novas tecnologias e métodos que iriam lesar o
processo, já que comprometeriam o ensinamento da redução
da variabilidade (KOSKELA, 2000). O autor ainda comenta que,
quanto maior a complexibilidade do processo, maior será o im-
pacto gerado pelas melhorias, assim como os benefícios alcan-
çados pelo controle dos desperdícios.
• Benchmarking: Refere-se a uma forma de aprendizagem apre-
endida pela análise dos produtos já desenvolvidos pelos concor-
rentes. Não se trata de copiar a mesma mecânica de execução
que está sendo aplicada em outras empresas líderes de merca-
do. É preciso conhecer os próprios processos, entender os prin-
cípios que sustentam os métodos praticados pelas empresas
concorrentes e, adaptá-los considerando a realidade da própria
empresa (KOSKELA, 1992). É um princípio que, pela sua nature-
za, destaca a troca de informações entre usuários do processo,
permitindo assim o crescimento coletivo e entre empresas do
mesmo segmento, mediante consultas, estudos ou observação.

Por se tratar de uma mudança na forma de pensar, a construção en-


xuta tem que vencer alguns obstáculos, e um dos maiores é a implantação
Gerenciamento da Construção Civil 81

do processo com as pessoas envolvidas. Esses entraves são identificados


por causa da falta de familiaridade ou pela ausência de entendimento dos
conceitos Lean. Contudo, isto pode ser alterado com treinamentos e pelo
reconhecimento da necessidade de mudança de comportamento (SALEM,
2005, apud WIGINESCKI, 2009).

Figura 4. Esquema da mentalidade Lean

Fonte: Adaptado de Civilização Engenharia, 2017.

A maximização do valor e a minimização do desperdício gera um


grande lucro, que vem a ser a diferença entre o preço e o custo; consequen-
temente, para se buscar lucro, deve buscar aumentar o valor agregado e
reduzir o desperdício.

3.2 Os princípios da construção enxuta nas construções de


pequeno porte

A partir do momento que se utilizam os ensinamentos para tentar


tornar uma construção enxuta, sem desperdício, transfere-se boa parte
da responsabilidade para os executores das tarefas, uma vez que são eles
quem realmente irão gerar o valor agregado à obra e promover a redução
de custos desnecessários.
Em um ambiente de pequeno porte, o gerenciamento da aplicabili-
dade e controle dessa filosofia se torna muito mais fácil, considerando que
o número de operários é reduzido, assim como o espaço físico.
82 Klayrton Rommel Santos Ferreira

Com os olhos voltados para esse tipo de obra, os princípios da Lean


Construction garantem, se aplicados corretamente, o sucesso da mini-
mização de custos, maximização da excelência do trabalho, cumprimento
de prazos e satisfação de todos os agentes participantes do processo, sejam
operários, gerentes ou clientes.
Conforme Souza, Silva e Felizardo (2007, apud WIGINESCKI, 2009),
as pequenas obras são, em sua maioria, desprovidas de planejamento e
acompanhamento, apresentando assim um grande número de problemas,
como retrabalhos, desperdícios e baixa qualidade do produto final. Um dos
motivos deste descaso é o valor reduzido dos orçamentos.
Ainda segundo esses autores, o uso dos princípios da construção en-
xuta em obras de curto prazo apresenta grandes vantagens, principalmente
quando se voltam os olhos à redução do tempo de ciclos, uma vez que atra-
sos na obra podem significar faturamento perdido por dias não trabalhados.
Fazendo proveito desse modelo, pode-se, a título de exemplo, identi-
ficar uma série de melhorias para as construções de pequeno porte.

3.2.1 Redução da quantidade de atividades que não agregam


valor ao produto
Observa-se claramente que uma melhor disposição dos materiais
em um canteiro de obras cria um ambiente de trabalho mais racionalizado,
reduzindo a quantidade de atividades que não agregam valor ao produto
final, aumentando a produtividade e diminuindo o desperdício de tempo
e de material.
Com um melhor layout consegue-se reduzir o tempo gasto para a
realização de atividades importantes, dentre elas o transporte de insumos
(cimento, areia, brita, etc.), etapa corriqueira durante a execução da obra.

3.2.2 Aumento do valor do produto considerando as


necessidades dos clientes

Um fator que agrega valor bastante satisfatório é o cumprimento das


exigências preestabelecidas pelo cliente.
Essas informações, segundo Isatto et al. (2000), devem ser coleta-
das antes da iniciação dos projetos, para que, considerando-as, evitem-se
mudanças na programação e execução dos serviços e, consequentemente,
atrasos e desperdícios.
Gerenciamento da Construção Civil 83

3.2.3 Redução da variabilidade dos processos visando à


padronização

Reduzindo a variação dos materiais utilizados no canteiro de obras,


visando uma uniformização, se reduzirá os excessos não desejados.
Um claro exemplo disso é a falta de padronização nas dimensões dos
tijolos cerâmicos, sendo que se houvesse essa estandardização, a quantida-
de de argamassa necessária para emboço e reboco seria reduzida e, conse-
quentemente, seriam eliminados gastos extras de material e mão de obra
que causam extrapolação do custo inicial da obra.

3.2.4 Redução do tempo de ciclo de atividades

Conforme Koskela (1992) esse elemento da filosofia Lean somente


é atendido quando reduzimos ou eliminamos a atividade que prejudica o
processo, já que o objetivo é ganhar em velocidade para atender aos prazos
definidos.
Devido à falha no planejamento de aquisição de material, por exem-
plo, o processo pode até parar por completo causando desperdício de mão
de obra, afetando os preceitos da Construção Enxuta quanto à produtivida-
de e tempo.

3.2.5 Simplificação das atividades mediante a redução do


número de passos

Uma excelente estratégia para alcançar o sucesso desse princípio,


principalmente nas construções de pequeno porte, é a utilização de ele-
mentos pré-fabricados.
Com essa medida, elimina-se o passo de corte e dobra de ferragem
para a confecção da armação de uma viga ou de um pilar, por exemplo.

3.2.6 Aumento da flexibilidade das saídas dos processos

Esse preceito é sinônimo de aperfeiçoamento das características


do produto. Trata-se de flexibilidade permitida, ainda que não planejada
inicialmente.
Com o emprego de peças em gesso utilizadas como divisórias inter-
nas da edificação, o empreendimento torna-se mais flexível às mudanças
84 Klayrton Rommel Santos Ferreira

que satisfaçam a desejos futuros dos clientes e que não foram definidos na
fase de planejamento.

3.2.7 Aumento da transparência dos processos

Tornar o processo transparente é tornar conhecido tudo o que se


precisa saber para realizar um bom trabalho.
Para exemplificar esse princípio, tomou-se a aplicação de meios vi-
suais que facilitem a compreensão do processo, como instruções das quan-
tidades dos agregados que devem compor o concreto, utilizando unidades
de medidas de fácil entendimento por parte dos operários.

3.2.8 Foco do controle global de forma sistêmica

Definição do momento ideal para aquisição de materiais, evitando


atrasos ou compra em demasia, o que poderá ocasionar desperdício por
excesso de estoque.
Com a implantação do estoque tipo supermercado, os materiais e
produtos utilizados nos processos ficam armazenados de forma a propor-
cionar uma ampla visão e fácil acesso, além de permitir um controle mais
detalhado e assim, um melhor gerenciamento.

3.2.9 Introdução de melhorias contínuas

Por meio de inspeção dos serviços já executados e comparando com


o planejado, consegue-se vislumbrar novas estratégias para eliminar ou
reduzir erros cometidos.
Considerando os nortes que a filosofia Lean defende, identifica-se
que mais importante que inspecionar é fornecer aos participantes do pro-
cesso oportunidade de melhoramento, tanto profissional quanto pessoal.
Isso pode ocorrer ministrando-se cursos de capacitação, reciclagem, den-
tre outras medidas.

3.2.10 Equilíbrio de melhorias entre fluxo e conversão

Esse procedimento buscar agilidade em todas as etapas do processo,


sobretudo no que se refere ao transporte de material. Para isso, a utiliza-
ção de carrinhos e pallets possibilita a acomodação dos materiais de forma
adequada, inclusive evitando danos.
Gerenciamento da Construção Civil 85

3.2.11 Benchmarking

Observar as melhores práticas de mercado é importante estímulo


para atingir avanços nas melhorias em torno de uma reconfiguração dos
processos. Porém, a troca de experiências entre planejadores e executores
do processo com o intuito de aprimorar os conhecimentos, também aju-
dam no processo e trazem grandes benefícios.

4 PLANEJAMENTO COMO FERRAMENTA DA


CONSTRUÇÃO ENXUTA

O desperdício inerente à construção é gerado, em sua maior parte,


por retrabalhos devidos a problemas de projetos ou erros de construção e
às atividades que não agregam valor nos fluxos de material e trabalho, tais
como esperas, movimentação, inspeção, atividades duplicadas e acidentes
(KOSKELA, 1992).
Segundo Pontes (2004, apud WIGINESCKI, 2009), pode-se definir
perdas como o uso de quantidades maiores do que as necessárias para a
produção de um produto ou serviço. Estas perdas podem ser oriundas de
desperdício de materiais e/ou de execução de tarefas desnecessárias.
Para eliminar ou reduzir esses desperdícios, um dos elementos de
grande relevância para a construção enxuta é o planejamento, por meio
do qual, nessa fase e com controle durante a obra, consegue-se melhorar a
produtividade com a redução de atrasos, melhora a sequência construtiva,
a coordenação de atividades simultâneas e o uso racional dos materiais
(BALLARD, 1994).
O sucesso de qualquer obra está diretamente ligado ao cumprimento
das orientações fornecidas pelo planejamento executivo, e com isso conse-
guem-se os resultados esperados, que são:

• Redução dos custos diretos;


• Aumento de lucro;
• Redução dos custos de manutenção;
• Minimização de distância entre local de armazenagem de
material e local de manuseio;
• Redução do quadro de funcionários;
• Redução de retrabalhos;
86 Klayrton Rommel Santos Ferreira

• Redução do desperdício de materiais;


• Cumprimento de prazos.

Segundo Ballard (1994), o planejamento está intimamente relacio-


nado à ideia de produção protegida. Ele se motiva na necessidade de es-
tabelecer metodologias que conduzam à elaboração de um conjunto de
tarefas que sejam executadas em sua totalidade. Para a realização deste
enfoque, destacam-se os pacotes de trabalho.
O mesmo autor explica que, para se desenvolver um pacote de tra-
balho, deve-se escolher as atividades que têm as melhores condições de
serem executadas. E para essa seleção, a observância dos quesitos abaixo
auxilia na melhor escolha de pacote de serviço a ser executado:

• Definição: Pacotes de trabalhos bem especificados tornam pos-


sível quantificar o número de trabalhadores, de materiais e
equipamentos necessários.
• Sequenciamento: Sequência coerente com a programação da
obra.
• Tamanho: Tarefas dimensionadas levando em consideração a
capacidade de produção, o recurso disponível e o período pla-
nejado.
• Confiabilidade: Requisitos necessários à execução da atividade.
Caso um requisito não seja atendido, a produção pode ser inter-
rompida se apresentar baixa produtividade.
• Aprendizagem: Identificação e análise das causas que impossi-
bilitaram a conclusão da atividade no prazo e nas especificações
estabelecidas.

Para um planejamento bem desenvolvido, a organização é o item


principal. Ou seja, é sair de um estado de alocação de tarefas para uma es-
truturação no ambiente adequado para a ação humana. O gerenciamento
de controle tem que priorizar desde a prevenção de problemas à auditoria,
conforme Solomon (2004, apud WIGINESCKI, 2009).
O processo de planejamento, principalmente para a construção ci-
vil, deve ser encarado como de suma importância, devido ao caráter único
dos produtos e alta variabilidade nos processos. Formoso (1999, apud BU-
LHÕES, 2009) comenta que as deficiências no planejamento e controle da
Gerenciamento da Construção Civil 87

produção são uma das principais causas da baixa performance desse setor
quando se refere à produtividade e cumprimento de prazos.
Assim, destaca-se que um planejamento eficiente melhora a pro-
dutividade por meio da redução de atrasos, da realização do trabalho na
sequência construtiva mais lógica, combinando a força de trabalho com o
trabalho disponível, coordenando atividades polivalentes interdependen-
tes, entre outras. Uma das atitudes mais eficazes para a melhoria da produ-
tividade é a excelência no planejamento (BALLARD, 1994).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas de gestão fundamentadas nos princípios e métodos da


construção enxuta são totalmente viáveis a qualquer tipo de empreendi-
mento na construção civil, e devem ser aplicadas para tornar mais compe-
titiva a empresa que detém a vontade de fazer uso dessa filosofia, que bus-
ca aperfeiçoar todo o processo de produção, desde a concepção do projeto
até a conclusão da obra.
O ramo da construção civil está ficando mais competitivo com o
passar dos anos, e cabe a cada empresa a utilização de estratégias para
alcançar o sucesso na disputa pelo mercado. As ferramentas da constru-
ção enxuta auxiliam as construtoras para que tenham um maior controle
na produção e na gestão de suprimentos, procurando evitar retrabalhos e
desperdícios que são comuns nesse importante segmento de mercado.
A Construção Enxuta não se baseia na implantação de novas tecnolo-
gias, mas indica ideias e soluções alternativas para a melhoria dos processos
construtivos por meio da racionalização das atividades e otimização dos flu-
xos existentes, necessárias à execução da obra. Assim sendo, essa filosofia
pode ser destacada como uma das melhores soluções para o sistema de ge-
renciamento da construção. Embora pareça ser um processo de fácil imple-
mentação, a aplicação dessa metodologia precisa de muita dedicação, em-
penho e organização, para que os resultados sejam alcançados com sucesso,
pois se trata de uma mudança não somente administrativa, mas cultural.
O bom emprego dos princípios da construção enxuta propostos por
Koskela (1992) proporciona melhoramentos perceptíveis no sistema de
construção das obras. A inserção das ferramentas adotadas neste estudo e
de suas boas práticas é uma maneira de introduzir os elementos basilares
dessa nova filosofia de produção.
88 Klayrton Rommel Santos Ferreira

Desta forma, este trabalho apresenta-se como ponto de conscienti-


zação do processo de mudança necessária para a construção civil.

REFERÊNCIAS

BALLARD, G. The last planner. West Sacramento, CA: Northern California Construction
Institute, 1994.
BARREIRAS, M. V. S. Lean Manufacturing: Aplicação das ferramentas enxutas. [s.d.].
BULHÕES, I. R. Diretrizes para implementação de fluxo contínuo na construção civil:
uma abordagem baseada na mentalidade enxuta. Campinas: Universidade Estadual
de Campinas, 2009.
CIVILIZAÇÃO ENGENHARIA. Blog do PET Engenharia Civil UFC. 2017. Disponível em:
<https://civilizacaoengenheira.wordpress.com/2015/09/29/lean-construc tion-histo-
ria-principios-e-exemplos/>. Acesso em: 26 mar. 2017.
FERNANDES, F. et al. Programa 5S e Kaizen. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará,
2009.
ISATTO, E. L. et al. Lean construction: diretrizes e ferramentas para o controle de per-
das na construção civil. Porto Alegre: Sebrae, 2000.
JUNQUEIRA, L. E. L. Aplicação da lean construction para redução dos custos de produ-
ção da casa 1.0. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006.
KOSKELA, L. Application of the new production philosophy to construction. Stanford,
CA: Stanford University, 1992.
______. An exploration towards a production theory and its application to construc-
tion exploit. [s.l.]: Technical Research Center of Finland, 2000.
MIRANDA, C. et al. Um modelo para o sistema de construção enxuta a partir do Siste-
ma Toyota de Produção. Ouro Preto: Enegep, 2003.
SHINGO, S. O Sistema Toyota de Produção do ponto de vista da engenharia de produ-
ção. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 1996.
WIGINESCKI, B. B. Aplicação dos princípios da construção enxuta em obras pequenas
e de curto prazo: um estudo de caso. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2009.
ANÁLISE DOS RESULTADOS DA
APLICAÇÃO DO MODELO ENXUTO
NO GERENCIAMENTO DE OBRAS

Sarayane de Cavalcante Paiva1


Jefferson Luiz Alves Marinho2

RESUMO: A Construção Enxuta surgiu como resultado da aplicação dos princípios


da produção enxuta à construção civil. A elaboração do presente artigo teve como
objetivo analisar os resultados da aplicação do modelo de gerenciamento de obras
segundo os princípios da referida teoria, o qual foi denominado de “Modelo enxu-
to de gerenciamento de obras” ou, simplesmente, “Modelo Enxuto”, com base no
serviço de execução de alvenaria de tijolo cerâmico. Exemplificam-se a teoria da
construção enxuta e os seus princípios; descrevem-se o modelo enxuto e as suas
ferramentas; compara-se o modelo enxuto com o modelo tradicional e, finalmente,
identificam-se e analisam-se os resultados da aplicação do modelo enxuto.
Palavras-chave: Construção enxuta. Gerenciamento de obras. Modelo enxuto.

1 INTRODUÇÃO

Desde antes da crise na economia do Brasil, muitas empresas de


construção civil, a fim de diminuir custos e tempos de execução e melhorar
a qualidade das edificações, têm implantado o modelo de gerenciamento
de obras segundo os princípios da teoria da Construção Enxuta. A finalida-
de principal era aumentar a competitividade. Neste momento de recessão,
adotar o modelo é uma estratégia de sobrevivência.
A elaboração do presente artigo teve como objetivo analisar os resul-
tados da aplicação do modelo a que se referiu no parágrafo anterior, o qual
1
Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Engenheira civil da Universidade Federal do Cariri (UFCA). E-mail: sarayanecp@gmail.com
2
Mestre em Engenharia e Tecnologia Ambiental pela Universidad de León – Espanha. Mestre
em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Especialista em Avaliações e
Perícias de Engenharia. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Especialista
em Administração de Empresas. Diretor do Instituto Tecnológico do Cariri – ITEC. Professor
da Universidade Regional do Cariri – URCA. Chefe do Departamento da Construção Civil –
URCA. Coordenador da pós-graduação lato sensu em Gerenciamento da Construção Civil
– ITEC/URCA. Perito Judicial. Engenheiro civil e Advogado militante.
E-mail: jeff.marinho@urca.br
90 Sarayane de Cavalcante Paiva & Jefferson Luiz Alves Marinho

foi denominado no texto de “Modelo enxuto de gerenciamento de obras”


ou, simplesmente, “Modelo Enxuto”. A análise foi feita com base no serviço
de execução de alvenaria de tijolo cerâmico.
O conteúdo está dividido em três partes: “Construção Enxuta”, “Mo-
delo Enxuto” e “Resultados da Aplicação do Modelo Enxuto”. Na primeira
parte, exemplificam-se a teoria da Construção Enxuta e os seus princípios.
Na segunda, descrevem-se o modelo enxuto e as suas ferramentas. Além
disso, compara-se o modelo enxuto com o modelo tradicional. Finalmente,
na terceira e última parte, identificam-se e analisam-se os resultados da
aplicação do modelo enxuto.

2 CONSTRUÇÃO ENXUTA

A Construção Enxuta surgiu como resultado da aplicação dos prin-


cípios da produção enxuta (indicados no Quadro 1) à construção civil. A
produção enxuta, ou Sistema Toyota de Produção, havia sido desenvolvida
a partir das teorias Just in Time3 e Total Quality Management.

Quadro 1. Princípios da Produção Enxuta

O valor é determinado pelas necessidades dos clientes e deve ser agregado ao


Valor produto no decorrer do processo de produção. Em outras palavras, o produto
deve atender às necessidades dos clientes.

O processo de produção deve incluir somente as atividades que adicionem


Fluxo de valor
valor ao produto.

Fluxo A produção deve ser contínua para evidenciar problemas.

A produção deve ser puxada pelas etapas anteriores do processo para evitar a
Puxar
superprodução.

Deve-se buscar a perfeição, por meio da melhoria contínua do processo, iden-


Perfeição
tificação e eliminação das falhas.

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

De acordo com a teoria da Construção Enxuta, deve-se “enxugar” os


processos construtivos reduzindo todo e qualquer desperdício, seja ele de


3
“Um dos princípios do just-in-time é produzir com estoque zero, o que equivale a dizer que
cada processo deve ser abastecido com os itens necessários, na quantidade necessária,
no momento necessário, ou seja, no tempo certo sem a geração de estoques. (SHINGOB,
1996)” (apud SANTOS; JUNGLES, 2008, p. 56).
Gerenciamento da Construção Civil 91

material, de mão de obra ou de tempo. Isso pode ser obtido pondo em prá-
tica os princípios da teoria apresentados por Formoso (2000), baseado nos
estudos de Koskela (1992) (GUERRA; MITIDIERI FILHO, 2010). Os referi-
dos princípios são:

a) reduzir a parcela de atividades que não agregam valor;


b) aumentar o valor do produto pela consideração das necessi-
dades dos clientes;
c) reduzir a variabilidade;
d) reduzir o tempo de ciclo;
e) simplificar, reduzindo o número de passos ou partes;
f) aumentar a flexibilidade de saída;
g) aumentar a transparência do processo.

Segundo Guerra e Mitidieri Filho (2010), aplicam-se os princípios


quando se substitui o corte e a dobra de barras de aço para confecção de
armações pela aquisição de aço cortado e dobrado. A substituição causa
diminuição do desperdício de aço, eliminação da atividade de transporte
de barras entre o local de estocagem e a central de armação (princípio da
redução da parcela de atividades que não agregam valor) e simplificação
do processo de produção de armações (princípio da simplificação reduzin-
do o número de passos).
Os princípios da Construção Enxuta são exemplificados nas seções
2.1 a 2.7, expostos a seguir.

2.1 Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor

A Construção Enxuta considera que os processos construtivos são


formados por atividades de processamento e atividades de fluxo (espera,
inspeção e transporte). Somente as primeiras agregam valor ao produto.
Portanto, de acordo com esse princípio, as atividades de fluxo devem ser
excluídas do processo.
As atividades de transporte, por exemplo, não deveriam fazer par-
te do processo. A fim de diminuir o número das referidas atividades, o
layout do canteiro de obras deve ser definido de modo que as distâncias
percorridas para transportar materiais e ferramentas sejam as menores
possíveis.
92 Sarayane de Cavalcante Paiva & Jefferson Luiz Alves Marinho

Mas as atividades de processamento podem não agregar valor. Isso


ocorre quando precisam ser refeitas, nas hipóteses de paredes serem loca-
das incorretamente ou de a impermeabilização de um reservatório não o
tornar estanque. Logo, o produto entregue a cada fase do processo deve ser
feito de forma a eliminar a necessidade de retrabalho nas fases sequenciais.

2.2 Aumentar o valor do produto pela consideração das


necessidades dos clientes

Quanto maior a satisfação dos clientes internos e externos ao pro-


cesso, maior o valor dos produtos intermediários e final. Portanto, deve-se
identificar quem são os clientes, quais são as suas exigências (caso não se
faça um programa de necessidades, é provável que se construam espaços
inúteis) e promover as modificações que forem necessárias para a produ-
ção atender às referidas exigências.
É importante perceber que existem não só clientes externos, mas
também clientes internos: as equipes que farão as instalações prediais de
água fria são clientes da atividade de concretagem. Se elas precisarem que
determinados elementos da estrutura de concreto tenham aberturas para
passagem de tubulações, essa necessidade deve ser considerada no mo-
mento da concretagem.

2.3 Reduzir a variabilidade

A variabilidade pode ocorrer nos processos construtivos, nas necessi-


dades dos clientes internos e externos e nos produtos intermediários e final.
Em todo caso, ela deve ser reduzida, por causar insatisfação dos clientes e
aumento do número de atividades que não agregam valor aos produtos.
Portanto, a variabilidade deve ser reduzida por meio da padroniza-
ção. Para isso, deve-se, na fase de planejamento, definir o método de exe-
cução padrão e determinar os insumos necessários; na fase de execução,
treinar as equipes, disponibilizar o necessário e realizar as tarefas confor-
me o método padrão.

2.4 Reduzir o tempo de ciclo

O tempo de ciclo (soma dos tempos de espera, transporte, proces-


samento e inspeção) deve ser reduzido. A aplicação do princípio envolve
Gerenciamento da Construção Civil 93

as seguintes ações: excluir atividades e relações de precedência entre elas,


para que possam ser realizadas em paralelo; diminuir lotes de produção.
A última ação possibilita a entrega mais rápida de parte das unida-
des, a adequação das unidades às modificações das exigências dos clientes,
a correção dos defeitos detectados em lotes anteriores, o gerenciamento
mais fácil da produção e a estimativa mais precisa de recursos.

2.5 Simplificar reduzindo o número de passos ou partes

Os processos de construção devem ser simplificados, reduzindo o


número de fases, para diminuir a quantidade de atividades que não adicio-
nam valor ao produto, porém esse número tende a aumentar com a com-
plexidade do processo. Por exemplo, a execução de uma parede com vãos
se torna mais simples com a substituição de verga moldada in loco por ver-
ga pré-moldada, pois ocorre redução do número de fases do processo além
de eliminação de interferência entre equipes.

2.6 Aumentar a flexibilidade de saída

Como já mencionado, o produto deve atender às necessidades dos


clientes, e essas necessidades podem variar. Logo, deve-se aumentar a fle-
xibilidade de saída, ou seja, tornar possível a obtenção de produtos com ca-
racterísticas variadas, para satisfação dos clientes, sem custos a mais nem
produtividades menores.
Uma forma de aumentar a flexibilidade de saída da construção de
apartamentos é prever, ainda na fase de projetos, que esses apartamentos
possam ter diferentes plantas. Outra forma, à qual já se fez referência (ver
seção 2.2), é diminuir lotes de produção e adequar as unidades às modifi-
cações das exigências dos clientes.

2.7 Aumentar a transparência do processo

Aumentar a transparência do processo facilita a identificação de fa-


lhas, o acesso a dados importantes para o gerenciamento da obra e a to-
mada de decisões de forma descentralizada. O aumento da transparência
pode ser obtido por meio de cartazes mostrando o cronograma, o projeto
do canteiro ou as tarefas programadas para o dia, e devem ser afixados em
locais estratégicos.
94 Sarayane de Cavalcante Paiva & Jefferson Luiz Alves Marinho

3 MODELO ENXUTO DE GERENCIAMENTO DE OBRAS

3.1 Planejamento da produção

O planejamento é desenvolvido nos níveis estratégico (longo prazo),


tático (médio prazo) e operacional (curto prazo), segundo o sistema Last
Planner. No nível inicial, define-se a sequência e a duração das grandes
etapas da obra. No nível intermediário, planeja-se o que será executado
no prazo de dois meses, identificando e eliminando as restrições. No nível
final, determinam-se as tarefas que serão realizadas na semana seguinte,
dentre aquelas sem restrições.
As restrições são limitações impostas à execução de atividades,
como indisponibilidade de recursos necessários (materiais, mão de obra,
equipamentos, projetos executivos e outros) e não conclusão de atividades
antecedentes. Essas limitações devem ser removidas na fase de planeja-
mento tático, para que a produção ocorra sem interrupções e em condi-
ções adequadas.
O método de planejamento a que se fez referência juntamente com
mecanismos para reduzir a variabilidade, como eliminação de restrições
na fase de planejamento tático e maior controle da produção, evita a revi-
são de planos, recorrente no modelo tradicional.

3.2 Processo de produção

Esse modelo, representado no Fluxograma 1, considera não só as ati-


vidades de processamento, mas também as atividades de espera, transpor-
te e inspeção, denominadas atividades de fluxo, as quais são excluídas do
processo sempre que possível, por não agregarem valor à produção.

Fluxograma 1. Modelo Enxuto

Fonte: Adaptado de Koskela (1992, apud FORMOSO, 2002).


Gerenciamento da Construção Civil 95

3.3 Comparação com o modelo tradicional

Para Koskela (1992, apud BORGES, 2015), existem dois modelos de


produção na construção civil: o modelo tradicional e o que está sendo de-
nominado de Modelo Enxuto neste texto. No Quadro 2, comparam-se os
dois modelos.

Quadro 2. Comparação do modelo tradicional com o modelo enxuto


Modelo tradicional Modelo enxuto

Planos para longo, médio e


Planos para longo prazo
Planejamento da produção curto prazo
Revisão frequente de planos
Revisão eventual de planos

Indicadores de resultado e
Indicadores de resultado de processo
Controle da produção
Tempo de ciclo de controle longo Tempo de ciclo de controle
curto

Valor dos produtos Determinado pelo custo dos Determinado pelas


intermediários e final insumos necessidades dos clientes

Sequência de atividades de Sequência de atividades de


Processo de produção
processamento processamento e de fluxo

Critério da melhor
Seleção dos fornecedores de
Critério do menor preço qualidade, menor preço e
insumos e serviços
prazo de entrega

Efetuadas em grandes Efetuadas de acordo com as


Compra de insumos
quantidades necessidades

Estoque de insumos Grandes estoques Estoques mínimos

Entrega do produto final Única Em parcelas

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

3.4 Ferramentas

Duas ferramentas, Andon e Kanban, do Modelo Enxuto, serão descri-


tas nas seções 3.4.1 e 3.4.2.

3.4.1 Andon
O Andon possibilita o acompanhamento a distância dos serviços exe-
cutados nos diversos pavimentos de uma edificação em construção. É uma
importante ferramenta para comunicar a ocorrência de problemas na pro-
dução, manter a produtividade constante, reduzir desperdícios, principal-
mente de mão de obra, e melhorar o processo produtivo.
96 Sarayane de Cavalcante Paiva & Jefferson Luiz Alves Marinho

Os operários comunicam sobre a ocorrência de um problema por


meio do sistema. Quando recebe a informação, o supervisor vai ao local
para resolver o problema. As causas dos problemas são registradas e anali-
sadas posteriormente. A partir da análise são propostas ações para melho-
rar o processo e evitar que os problemas voltem a ocorrer.
Existe um sistema mais simples, denominado de Andon de interrup-
tor e o Andon com aplicativo. O funcionamento de ambos será explicado
nas subseções a seguir.

3.4.1.1 Andon de interruptor

Três interruptores nas cores verde, amarelo e vermelho são instala-


dos em cada um dos pavimentos (Fotografia 1). As cores verde, amarela e
vermelha indicam, respectivamente, a execução de serviços no pavimento,
a parada dos serviços em pouco tempo e a parada dos serviços.

Fotografia 1. Interruptor

Fonte: Pavei (2016).

Quando um interruptor é acionado, uma luz na cor corresponden-


te acende no painel de controle localizado na sala da gerência da obra. O
painel (Fotografia 2) mostra a situação de todos os pavimentos em um de-
terminado momento. Uma pessoa deve observar o painel, manter os su-
pervisores informados e registrar os dados para posterior análise, como os
horários em que as luzes acendem e apagam.
Gerenciamento da Construção Civil 97

Fotografia 2. Painel de controle

Fonte: Pavei (2016).

3.4.1.2 Andon com aplicativo


Painéis com botões nas cores verde, amarelo e vermelho (Fotografia
3) são instalados em cada um dos pavimentos. Quando um operário inicia
a execução de serviços em um pavimento, aproxima um cartão ao painel e
aperta o botão verde. O cartão permitirá a identificação do operário. Perce-
bendo que os serviços podem parar em pouco tempo, aproxima o cartão e
aperta o botão amarelo. Se os serviços pararem, aproxima o cartão e aperta
o botão vermelho.

Fotografia 3. Painel do sistema Andon

Fonte: Pavei (2016).


98 Sarayane de Cavalcante Paiva & Jefferson Luiz Alves Marinho

O supervisor recebe um alerta em seu celular e vai ao local indica-


do. Resolvido o problema, ele aproxima seu cartão ao painel e aperta o
botão verde. Em seguida, o aplicativo solicita informações sobre a causa
do problema.
O sistema registra o número, duração e motivo das paradas. Os da-
dos armazenados são analisados posteriormente para proposição de for-
mas de melhorar o processo de construção.

3.4.2 Kanban

O Kanban é uma ferramenta para o gerenciamento da produção, dos


estoques e das compras de materiais. A ferramenta consiste em transmitir
informações sobre estoques ou ordens de produção ou de fornecimento de
materiais por meio de cartões.
Com a finalidade de orientar a produção de argamassa e de não ha-
ver parada de serviços por falta de material, os operários inserem cartões
com ordens de produção em um quadro localizado próximo à betoneira no
início do dia (Fotografia 4). Eles anotam o traço, a quantidade e o local de
entrega no cartão.

Fotografia 4. Quadro Gerenciador de Kanban

Fonte: Loturco (2013).


Gerenciamento da Construção Civil 99

O quadro também pode ser usado para gerenciar o transporte de ma-


teriais. Os operários inserem cartões com ordens de fornecimento no início
do dia. O material especificado é entregue na quantidade, no horário e local
informado. O procedimento contribui para manter a produtividade constan-
te e tornar os estoques nos locais de produção os menores possíveis.
Já o controle de estoque com o emprego do Kanban é feito da seguin-
te maneira: a gerência define o estoque mínimo do material; a situação do
estoque é indicada com um cartão verde, amarelo ou vermelho em um qua-
dro; quando o estoque atinge a quantidade mínima, emite-se uma ordem
de compra. O objetivo é evitar a falta de materiais, reduzir os estoques no
canteiro de obras e os desperdícios decorrentes.

4 RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO MODELO ENXUTO

A aplicação do modelo enxuto resulta em:

a) redução de materiais;
b) redução de mão de obra;
c) redução de custos;
d) redução de prazos;
e) redução da variabilidade;
f) aumento da qualidade;
g) aumento da produtividade;
h) aumento da transparência.

As seções 4.1 a 4.4 mostram a análise dos resultados baseada no ser-


viço de execução de alvenaria de tijolos cerâmicos. Escolheu-se o referido
sistema de vedação vertical, apesar de não ser considerado enxuto, por seu
método de execução ser bastante conhecido. Demonstra-se, pois, a obten-
ção dos resultados com as mudanças no gerenciamento da obra, mesmo
mantendo os sistemas construtivos tradicionais.

4.1 Redução de materiais

A programação de compras com a finalidade de construir com esto-


que zero possibilita o armazenamento adequado dos sacos de cimento, por
100 Sarayane de Cavalcante Paiva & Jefferson Luiz Alves Marinho

tempo não maior que o recomendado, e diminui as perdas do material por


exposição à umidade.
O emprego da ferramenta Kanban para orientar a produção e o
transporte da argamassa de assentamento resulta na redução de desperdí-
cios do referido material por quantidades maiores que as necessárias e por
tempo excedente decorrido entre o preparo e a aplicação.
A definição de método padrão e treinamento de equipes reduzem os
desperdícios de materiais no preparo da argamassa e execução da alvenaria.

4.2 Redução de mão de obra

O planejamento, segundo o sistema Last Planner, possibilita a de-


finição adequada da composição (proporção de pedreiros e ajudantes) e
quantidades de equipes para executar alvenaria e redução da necessidade
de mão de obra de apoio ao referido serviço (operários para transportar
tijolos e argamassa de assentamento).
A execução da alvenaria somente depois da eliminação de todas as
restrições, como indisponibilidade de materiais (tijolos e componentes da
argamassa) e projetos de arquitetura devidamente detalhados, evita a in-
terrupção do serviço e consequente desperdício de mão de obra.
Projetar o canteiro de obras de modo que as distâncias percorridas
para transportar os materiais aos locais de estocagem, de processamento
intermediário (preparo da argamassa) e de processamento final (execução
da alvenaria), na sequência, sejam as menores possíveis resulta na redução
da mão de obra de apoio à produção.
O resultado também é obtido com o emprego da ferramenta Kanban
para gerenciar o transporte da argamassa. Já a ferramenta Andon permite
a resolução mais rápida de problemas (por exemplo, dificuldade de leitura
do projeto de arquitetura) e a diminuição das perdas de mão de obra por
suspensão do serviço.

4.3 Redução de custos

A redução de custos resulta da diminuição do emprego de materiais


e mão de obra e dos prazos. A implicação da redução de materiais e mão de
obra é evidente. Já a terceira implicação possível decorre do seguinte: o não
cumprimento de prazos causa estreitamento da margem de lucro por au-
Gerenciamento da Construção Civil 101

mento de despesas diretas e indiretas (administração, mão de obra, multas


contratuais, entre outras) e retardamento do retorno do investimento.

4.4 Redução de prazos

O emprego do Andon como ferramenta para agilizar a solução de


problemas, quando a alvenaria não é locada por dificuldade de leitura do
projeto arquitetônico, ou quando o serviço é paralisado devido as dimen-
sões dos vãos não estarem indicadas no projeto, reduz o tempo de inter-
rupção da produção.
A instalação do quadro Gerenciador de Kanban próximo à betoneira,
para inserção de cartões com ordens de produção de argamassa, horários e
locais de entrega, evita atrasos na execução das alvenarias devido à espera
pela argamassa de assentamento.
Um projeto executivo de arquitetura e um plano de execução de ser-
viços bem elaborados tornam a construção de paredes mais rápida, seja
pela indicação das cotas necessárias e suficientes, seja pela possibilidade
de disponibilizar os materiais e as ferramentas a serem utilizados.
O atendimento das necessidades dos pedreiros resulta na produção
de argamassa com boa trabalhabilidade e maior produtividade. A obser-
vação das dimensões dos vãos a fim de satisfazer os requisitos dos carpin-
teiros implica a não ocorrência de retrabalho e desperdício de tempo no
momento da instalação das esquadrias.
A execução de paredes com vãos substituindo verga moldada in loco
por verga pré-moldada, com o objetivo de simplificar o processo, também
provoca redução de prazo.

5 CONCLUSÃO

A proposta deste trabalho, de se analisar os resultados da aplicação


do modelo enxuto de gerenciamento de obras, mostrou-se plenamente
alcançada, uma vez que foi possível demonstrar que muitos dos efeitos
positivos da implementação do modelo, apesar de envolver grandes in-
vestimentos, podem ser produzidos pelo emprego do Andon e do Kanban.
Ambas as ferramentas são importantes para manter a produtividade cons-
tante, reduzir desperdícios, principalmente, de mão de obra, e aumentar a
transparência dos processos.
102 Sarayane de Cavalcante Paiva & Jefferson Luiz Alves Marinho

Constatou-se também que a padronização é fundamental para dimi-


nuir os desperdícios de insumos, de tempo, de custos e a variabilidade.
Acrescenta-se que o estabelecimento de métodos padrões de construção
resulta em melhor qualidade e maior produtividade.
Ressalta-se, por fim, que somente implementar as ferramentas do
modelo não tornarão uma obra enxuta. É preciso que os gerentes de obras
compreendam o conceito, acompanhem diretamente a execução dos servi-
ços, vejam eles próprios a situação para compreendê-la (Genchi Genbutsu)
e procurem melhorar os processos construtivos de forma contínua.

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USO DA SIMULAÇÃO DE EVENTOS DISCRETOS
COMO AUXÍLIO À TOMADA DE DECISÃO NO
PROJETO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

Marcelo de Alencar e Silva1


Jefferson Luiz Alves Marinho2

RESUMO: A indústria da construção civil, com as suas peculiaridades, é caracteri-


zada por elevada complexidade, a qual tende a aumentar com o passar do tempo,
proporcionalmente em nível de exigências. Diante disso, a importância de projetar
e simular os sistemas de produção de forma antecipada tem crescido. A simulação
de eventos discretos (SED) surge como uma alternativa que permite realizar a aná-
lise comportamental de um sistema ou processo considerando o impacto da inter-
dependência e da variabilidade entre as variáveis de produção. Por esse motivo, o
objetivo principal deste trabalho é avaliar a potencialidade do uso da simulação de
eventos discretos no suporte às decisões gerenciais tomadas na fase de planeja-
mento. Para isso, por meio do software Arena Simulation, o processo produtivo das
fundações de uma obra de grande porte na cidade de Porto Alegre foi modelado
e simulado em cinco cenários. Assim, foi possível explorar possíveis alternativas e
oportunidades de melhoria para a logística e para a execução do processo. Com
base nos resultados, percebeu-se que esta é uma ferramenta indispensável para
auxiliar no processo de tomada de decisão, uma vez que permite a análise de dife-
rentes cenários e hipóteses.
Palavras-chave: Projeto do sistema de produção. Simulação de eventos discretos.
Arena Simulation. Gestão da produção.

1
Mestrando em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Pesquisador do Grupo de Gestão e Economia da Construção do Núcleo Orientado para a
Inovação da Edificação – NORIE. Especialista em Gerenciamento da Construção Civil pela
Universidade Regional do Cariri. Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Ceará.
E-mail: marcelo.dealencar@hotmail.com
2
Mestre em Engenharia e Tecnologia Ambiental pela Universidad de León – Espanha. Mestre
em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Especialista em Avaliações e
Perícias de Engenharia. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Especialista
em Administração de Empresas. Diretor do Instituto Tecnológico do Cariri – ITEC. Professor
da Universidade Regional do Cariri – URCA. Chefe do Departamento da Construção Civil –
URCA. Coordenador da pós-graduação lato sensu em Gerenciamento da Construção Civil
– ITEC/URCA. Perito Judicial. Engenheiro civil e Advogado militante.
E-mail: jeff.marinho@urca.br
106 Marcelo de Alencar e Silva & Jefferson Luiz Alves Marinho

1 INTRODUÇÃO

Muitos dos esforços disseminados a partir do chamado pensamen-


to lean (WOMACK; JONES, 1996) estão relacionados aos fluxos, perdas e
incertezas. Dessa forma, um dos principais desafios observados na cons-
trução, apontado por Howell (1999), diz respeito à combinação dos efeitos
da dependência e da variabilidade aliados à complexidade, característica
deste ambiente. O planejamento e o controle dos processos na construção
são etapas de difícil execução, uma vez que a incerteza é altamente presen-
te nesse cenário em função da interdependência entre as atividades (TOM-
MELEIN, 1997). Dessa forma, o ato de considerar a existência e a extensão
da variabilidade e da incerteza mostra-se fundamental para minimizar os
impactos negativos desses fenômenos nos processos.
Ao mesmo tempo que emerge a necessidade de se abordar questões
relacionadas à incerteza e à variabilidade, a importância do Projeto do
Sistema de Produção (PSP), conforme apontado por Schramm e Formoso
(2007), é frequentemente desconsiderada. Para projetar e controlar sis-
temas de produção, é necessária uma visão sistêmica, que permita o foco
na sua estruturação, e teste de alternativas, para a sua execução (RECK,
2013). Assim, em um cenário de elevada complexidade como a construção
civil (OWEN; KOSKELA, 2006), a utilização de técnicas capazes de analisar
o comportamento desses fenômenos em um sistema é fundamental para
auxiliar o processo de tomada de decisão (SCHRAMM; FORMOSO, 2007).
A utilização da simulação de eventos discretos (SED) surge como
uma ferramenta de suporte para que a análise do comportamento de um
sistema ou processo seja realizada, considerando-se o impacto da incer-
teza, da variabilidade e da interconectividade das variáveis de produção
(RECK, 2013). Assim, este artigo tem como objetivo o desenvolvimento da
SED, no software Arena, para o processo de execução das fundações de um
empreendimento de construção civil, com o intuito de verificar o compor-
tamento do processo frente à variabilidade. O objetivo secundário deste
estudo é explorar possíveis alternativas e oportunidades de melhoria para
a logística e para a execução do processo.

2 SIMULAÇÃO NA CONSTRUÇÃO E PROJETO DO SISTEMA


DE PRODUÇÃO (PSP)

A gestão de empreendimentos da construção civil muitas vezes é


dificultada pela sua natureza complexa e recorrência da variabilidade, in-
Gerenciamento da Construção Civil 107

certezas e interdependência em seus processos, tornando essencial o uso


de técnicas para auxiliar na tomada de decisão nas etapas iniciais de seu
planejamento (SCHRAMM; FORMOSO, 2007). Segundo Tommelein (1997),
técnicas tradicionais de planejamento, como rede CPM, têm um potencial
limitado para modelar e descrever os processos da construção civil. Essas
técnicas restringem a visualização da alocação de recursos e balanceamen-
to da capacidade, inviabilizando ajustes durante a produção. Em contra-
ponto, os modelos de simulação de eventos discretos possuem um amplo
potencial para modelagem de incertezas, perdas, fluxos, conversões e sis-
temas de produção puxados ou empurrados, possibilitando a experimen-
tação de conceitos lean no PSP (TOMMELEIN, 1997).
Entretanto, a SED na construção civil, e seu potencial para auxiliar no
processo de tomada de decisão, ainda é pouco difundida no âmbito prático
e acadêmico (ALVES; TOMMELEIN, 2007; SCHRAMM; FORMOSO, 2007). Os
estudos feitos na construção civil utilizando a simulação têm focado em ope-
rações ou processos de forma isolada e muitos são feitos após a conclusão
dos empreendimentos (SCHRAMM; FORMOSO, 2007). Assim, os referidos
autores indicam uma limitação dos estudos para contribuir com os sistemas
de forma imediata, porém destacam que estas informações possuem um
grande potencial para articular os sistemas de produção futuros.
A simulação é uma das técnicas mais utilizadas em pesquisas de
operações e gestão (LAW; KELTON, 1991) para analisar o comportamen-
to dos sistemas de produção (SCHRAMM; FORMOSO, 2007). Segundo Law
e Kelton (1991), simulação é uma técnica que utiliza computadores para
imitar ou simular operações e processos variados do mundo real. Robin-
son (2003) complementa esta definição dizendo que é a experimentação,
por meio de uma imitação simplificada de processos, em um computador,
conforme seu progresso ao longo do tempo, a melhor forma para se obter
compreensão e/ou melhorar o sistema.
Para demonstrar como este processo funciona, é elaborado um mo-
delo, por meio de premissas e relações lógicas (LAW; KELTON, 1991), que
permite a compreensão do comportamento do sistema (LAW; KELTON,
1991; ROBINSON, 2003). Segundo Law e Kelton (1991), a simulação de
eventos discretos foca na modelagem de um sistema ou processo, que evo-
lui ao longo do tempo por meio da representação da mudança de estado
das variáveis por eventos determinados.
As vantagens de simular, além de compreender o sistema e propor
melhorias na perspectiva da gestão, são: incentivo à criação de novas solu-
108 Marcelo de Alencar e Silva & Jefferson Luiz Alves Marinho

ções com risco reduzido; criação de conhecimento ao obter uma compre-


ensão profunda do problema; e visualização do processo para discussão e
validação (ROBINSON, 2003).
A simulação pode resultar em previsões sobre o desempenho de um
sistema, uma comparação de designs alternativos dos sistemas, e na de-
terminação dos impactos destas alternativas no desempenho do sistema
(LAW; KELTON, 1991; ROBINSON, 2003). Segundo Robinson (2003), os re-
sultados e o processo de simulação podem ser vistos como um sistema de
suporte à tomada de decisão sobre o processo real. Neste sentido, é indica-
do por alguns autores (ALVES; TOMMELEIN, 2007; SCHRAMM; FORMOSO,
2007) que seu uso na construção civil pode auxiliar no PSP e gestão de
cadeia de suprimentos. Além disso, a simulação permite vislumbrar qual
seria o resultado de uma mudança no sistema, sem o custo e o tempo efeti-
vo de alterá-lo na realidade, e ainda poder controlar a variáveis e condições
do experimento conforme objetivos específicos (LAW; KELTON, 1991; RO-
BINSON, 2003; ALVES; TOMMELEIN, 2007).
Segundo Tommelein (1997), de acordo com o nível de abstração do
modelo, várias fontes de incerteza e variabilidade podem ser articuladas
na simulação. A simulação de eventos discretos permite modelar a cons-
trução civil em um nível processual, representando explicitamente as ati-
vidades (operações) e os recursos, que podem ser genéricos ou específicos
(TOMMELEIN, 1997). Nesta visão processual, as incertezas e a variabilida-
de podem estar relacionadas ao escopo do trabalho, à duração, à quantida-
de do serviço, à qualidade do produto, à atribuição do recurso e ao fluxo de
trabalho ou sequenciamento (TOMMELEIN, 1997).

3 METODOLOGIA

Para a modelagem da simulação de eventos discretos foi seguido o


método proposto por Law e Kelton (1991), conforme Figura 1. Primeira-
mente foi identificado um processo relevante e crítico no empreendimen-
to. Após a compreensão inicial do processo, foi realizado o mapeamento
do mesmo, bem como a coleta de dados, no intuito de elaborar o modelo
conceitual preliminar.
O modelo final foi desenvolvido mediante o refinamento do mode-
lo conceitual, simultaneamente a ciclos de compreensão do problema, por
meio de discussões da equipe de pesquisa e validação se o modelo condizia
com a realidade relatada na obra.
Gerenciamento da Construção Civil 109

Figura 1. Método de modelagem de simulação

Fonte: Law; Kelton (1991).

3.1 Empreendimento

O empreendimento utilizado como objeto deste estudo é a primei-


ra etapa da nova sede do complexo Fecomércio-RS, Sesc e Senai, que se
encontra em fase inicial de execução, na região metropolitana de Porto
Alegre, no Rio Grande do Sul. O empreendimento será construído em três
etapas, totalizando 150 mil metros quadrados de área construída, sendo
que a primeira etapa contempla 45 mil metros quadrados.
As obras da primeira etapa do complexo começaram no dia 1º de se-
tembro de 2016 e devem ser concluídas até fevereiro de 2019 – um crono-
grama de 30 meses de atividades. Estão previstos para serem concluídos,
nessa primeira etapa, o edifício administrativo (principal edificação, com-
posto por nove pavimentos), estacionamentos, restaurantes, auditórios e o
centro de convivência. O valor estimado para a construção desta primeira
etapa é de aproximadamente R$ 150 milhões de reais.

3.2 Elemento a ser estudado

Para este estudo serão contempladas as fundações da primeira eta-


pa da nova sede da empresa. O processo de execução das fundações foi
escolhido como objeto deste estudo, pois ele já se encontra em um estágio
de planejamento mais avançado (projeto estudado e definido, fornecedor
contratado) e pela maior disponibilidade e confiabilidade de dados coleta-
dos, dispondo de um menor grau de incerteza envolvido.
110 Marcelo de Alencar e Silva & Jefferson Luiz Alves Marinho

A estrutura dos prédios do empreendimento estudado é caracte-


rizada pela grande heterogeneidade em seus elementos, tanto em carga,
quanto em posição e forma. Por consequência, as fundações apresentam
uma grande variedade em seus componentes. Foram contabilizadas 1.457
estacas na primeira etapa do empreendimento, distribuídas em seis diâ-
metros diferentes, variando de 40 cm a 120 cm. Com relação aos blocos, fo-
ram contabilizados 520 blocos de 20 tamanhos diferentes, com dimensões
variando de 70 cm x 70 cm a 1.550 cm x 1.110 cm, totalizando um volume
de concreto de 9.324,33 metros cúbicos.
O processo produtivo da fundação em questão será composto pelas
seguintes atividades: estaqueamento com hélice contínua, escavação do
bloco de fundação com retroescavadeira, arrasamento de estacas (manual
e automatizado), ensaio de integridade das estacas, execução de concreto
magro, execução de formas para bloco, execução de ferragem para bloco,
concretagem do bloco, desforma do bloco, impermeabilização do bloco e
reaterro do bloco.
Optou-se por desconsiderar parte da complexidade presente no pro-
cesso produtivo real, como forma de focar nas atividades que teriam um
impacto maior na utilização dos recursos do processo, tendo como vanta-
gem uma melhor visualização da interação entre estas atividades. Diante
disso, o estudo foi simplificado, sendo segmentado em quatro etapas: esta-
queamento, escavação, arrasamento e bloco de fundação.

3.3 Modelo conceitual

A elaboração do modelo conceitual iniciou com o levantamento de


dados gerais, no qual foi possível identificar aspectos básicos da constru-
tora, do contrato, do empreendimento, do processo a ser estudado. Esta
primeira aproximação permitiu formular o problema de forma adequada,
identificando os principais desafios e as oportunidades de aplicação da si-
mulação computacional como suporte às decisões gerenciais.
Na coleta de dados também foram conhecidas informações básicas do
projeto, tais como, quantidades, produtividades médias, características de
execução relevantes para a simulação e principais recursos para cada etapa
do processo produtivo. Os seguintes critérios foram absorvidos nesta etapa:

a) O período contratual de execução das fundações e a impossi-


bilidade de faturamento em caso de adiantamento do serviço
Gerenciamento da Construção Civil 111

(não há interesse em adiantamento do serviço para não ha-


ver fluxo de caixa negativo);
b) Há estacas de 120 cm de diâmetro que requerem um equipa-
mento especial para execução;
c) As estacas de 120 cm de diâmetro só poderão ser arrasadas
manualmente por restrições de equipamento;
d) A construtora considera ter em obra no máximo três perfu-
ratrizes, três retroescavadeiras e uma máquina de arrasa-
mento de estacas;
e) A construtora considera trabalhar com no máximo duas
equipes para arrasamento manual de estacas e cinco equipes
para blocos de fundação;
f) A taxa de ocupação para a máquina de arrasamento deve ser
máxima;
g) A taxa de ocupação para as retroescavadeiras deve ser no
máximo 70%, por ser utilizada em limpezas e outras ativi-
dades de apoio;
h) Tempo máximo de locação para a máquina de arrasamento
de estacas deve ser 60 dias;
i) Tempo máximo de locação para a perfuratriz de 120 cm de
diâmetro é de 30 dias.

Para avaliar a aplicabilidade do modelo conceitual na tomada de de-


cisões do PSP da obra, foi necessário o estabelecimento de critérios para
essa tomada de decisão, em conjunto com a equipe técnica da obra. A cons-
trutora mostrou preferência por trabalhar com fluxo ininterrupto, ou seja,
com a máxima utilização da capacidade do equipamento, e em segundo
lugar considerou uma avaliação do cenário sob a ótica do fluxo contínuo.
Dessa forma, foram estabelecidos dois critérios de avaliação: taxa de ocu-
pação dos recursos e trabalho em progresso.
A unidade de repetição adotada foi a estaca. Embora as 1.457 unida-
des existentes no projeto apresentassem variação de diâmetro entre 40 e
120 cm, foi possível a simplificação em dois elementos de repetição princi-
pais, conforme ilustrado na Figura 2:

a) Estacas Comuns (Estaca tipo 1): Diâmetro 40cm a 90cm, com


alta variabilidade de produtividade;
112 Marcelo de Alencar e Silva & Jefferson Luiz Alves Marinho

b) Estacas Especiais (Estaca tipo 2): Diâmetro 120cm, baixa va-


riabilidade se comparada às do tipo 1 e demandam requi-
sitos específicos no PSP, principalmente no que se refere a
restrições de equipamentos.

Figura 2. Modelo conceitual do processo de execução das fundações

Fonte: os autores (2017).

A definição do Modelo Conceitual tomou como base as etapas do pro-


cesso em sua forma simplificada, acrescentando partes do processo que
provocam interferência no resultado final, seja pelo tempo de espera ou
pela variabilidade adicionada:

a) Condições favoráveis: Devido à interferência direta de condi-


ções climáticas na etapa de fundações e à grande recorrência
de quebra de equipamentos;
b) Cura da estaca antes do arrasamento: Elemento importante
a ser analisado pelo tempo de espera que provoca entre um
e outro subprocesso, muitas vezes gerando altos índices de
trabalho em progresso;
c) Ensaios das estacas: Provas de carga estática, dinâmica, en-
saio de integridade e a possível necessidade de executar um
eventual reforço nas fundações, dependendo do resultado
desses testes.

Considerando todas essas questões, foi definido o modelo conceitual


a ser lançado no programa para análise das taxas de ocupação de recurso e
níveis alcançados de trabalho em progresso.
Gerenciamento da Construção Civil 113

3.4 Modelo computacional

Com o uso do Arena Simulator, disponível para a realização deste es-


tudo, e a partir do modelo conceitual validado, é realizado o modelo com-
putacional do sistema em análise. No modelo conceitual foram feitas mui-
tas simplificações do sistema de produção real e no modelo computacional
estas foram mantidas.
A técnica utilizada para verificar o programa computacional (Arena
Simulator) foi checar as saídas da simulação para verificar dados com ra-
zoabilidade; então esta verificação foi feita só depois de ter o primeiro mo-
delo computacional apresentado à empresa construtora.
Tendo o primeiro modelo computacional pronto, são rodadas si-
mulações piloto com o objetivo de validar o modelo computacional. Para
validar o modelo computacional, foram revisados os resultados e as ani-
mações, alguns erros remanescentes nas assunções do modelo foram de-
tectados e corrigidos, e finalmente uma análise de sensibilidade foi consi-
derada, calibrando todos os aspectos do modelo, entre eles parâmetros de
entrada, probabilidades utilizadas e o nível de detalhe.

3.5 Simulações

As simulações ocorreram logo após a validação e aprovação do mo-


delo conceitual juntamente com integrantes da empresa construtora. Fo-
ram analisados cinco cenários diferentes, cuja maior diferença entre eles
está relacionada à quantidade de equipamentos e equipes que é emprega-
da para a produção das 1.457 estacas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao final da simulação no software Arena Simulator foi gerado um


relatório com diversos parâmetros de utilização dos recursos modelados.
Neste trabalho, foram utilizados os parâmetros de instantaneous utilization
e scheduled utilization como base para tomada de decisão. O instantaneous
utilization é um parâmetro útil para o dimensionamento da quantidade de
recursos no processo enquanto que o scheduled utilization é empregado no
cálculo da quantidade de tempo que um determinado recurso deve ser alo-
cado ao processo produtivo. Além desses parâmetros, o tempo de execução
e o trabalho em progresso (WIP) também foram considerados na análise.
114 Marcelo de Alencar e Silva & Jefferson Luiz Alves Marinho

Como critérios para análise e escolha entre os cenários simulados,


buscou-se a solução em que: a) os valores do instantaneous utilization fos-
sem o mais nivelado possível (o nivelamento dos valores desse parâmetro
reduz as filas entre os processos e consequentemente o WIP); b) os resul-
tados do scheduled utilization tivessem entre uma faixa de setenta a noven-
ta per cento (para a retroescavadeira, optou-se por esse valor ser inferior
a setenta por cento, devido esse recurso desempenhar outras atividades
que não foram incluídas neste estudo), c) o tempo de execução estivesse
entre 120 e 135 dias, d) o trabalho em progresso fosse o menor possível e
utilizasse a menor quantidade de recursos.
A Figura 3 apresenta a quantidade de equipamentos e equipes de
trabalho simulados em cada cenário.

Figura 3. Resultado das simulações

Fonte: os autores (2017).

4.1 Cenário 1

O cenário 1 é o planejamento inicial proposto pela empresa constru-


tora executante da obra. Ele tem como característica possuir três perfu-
ratrizes, sendo duas comuns e uma especial; três retroescavadeiras; uma
máquina de arrasamento; uma equipe de arrasamento e cinco equipes de
blocos (Figura 3). Com a proposta de melhorar o planejamento inicial, esse
cenário serviu como base comparativa para os demais cenários simulados
neste trabalho.
A partir dos resultados (Figura 3) observou-se que a equipe de bloco
gera um desnivelamento nos valores de instantaneous utilization, fazendo
com que esse parâmetro tenha uma variação entre 52% e 79%, conside-
Gerenciamento da Construção Civil 115

rando apenas os recursos presentes nas atividades do caminho crítico, o


que pode ter ocasionado um alto trabalho em progresso, 978.
É importante salientar que o trabalho em progresso extraído dos
resultados das simulações do modelo aqui apresentado não indica a
quantidade real de estacas com trabalho inacabado. O WIP foi utilizado
como um indicador, unicamente para fim de comparação entre os cená-
rios, sendo que um acréscimo de uma unidade ao seu número indica que
houve um aumento do trabalho em progresso, mas não necessariamente
o aumento de uma estaca.
Foi observado também que o tempo de execução desse cenário é de
94 dias, representando apenas 62% do tempo total de projeto, o que não
é considerado um tempo viável para a execução dessa obra, visto que essa
redução em tempo de entrega acarretaria em problemas no fluxo de caixa
da empresa.
Analisando os resultados do scheduled utilization (Figura 3) perce-
be-se que a máquina de arrasamento está sendo utilizada acima da faixa
recomendável entre 70% e 90%, sugerindo que o tempo de alocação de 60
dias para esse equipamento não é suficiente. Além disso, nota-se a subutili-
zação da equipe de arrasamento. Isso já era esperado devido ao fato de que
essa equipe está disponível durante todo o período da obra, enquanto que
o processo de arrasamento das estacas de 120 cm não passa de dois meses.

4.2 Cenário 2

Neste cenário buscou-se nivelar os valores do instantaneous utili-


zation dos recursos encontrados no fluxo de produção de uma estaca co-
mum, na tentativa de reduzir o grande trabalho em progresso observado
no cenário 1. Como resultado desse nivelamento, o cenário 2 foi simulado
fazendo uso de três perfuratrizes, sendo duas comuns e uma especial, três
retroescavadeiras, uma máquina de arrasamento, uma equipe de arrasa-
mento e oito equipes de blocos.
No cenário 2 conseguiu-se ter um bom nivelamento da produção, fa-
zendo com que os valores mínimo e máximo do instantaneous utilization
(Figura 3) diferissem em nove pontos percentuais (no cenário 1 essa dife-
rença era de 27 pontos). Como era esperado, o nivelamento da produção
resultou em uma diminuição do tamanho das filas entre os processos, oca-
sionando uma redução do trabalho em progresso, passando de 978 para
814. No entanto, esse nivelamento da produção resultou em uma diminui-
116 Marcelo de Alencar e Silva & Jefferson Luiz Alves Marinho

ção do tempo de execução da obra, reduzindo em trezes dias úteis quando


comparado ao cenário 1.
Com relação aos equipamentos alugados e que não estão disponí-
veis durante todo o período da obra, notou-se que o cenário 2 tem como
característica uma melhor utilização desses recursos, mantendo os valores
de scheduled utilization dentro dos limites recomendáveis, conforme mos-
trado na Figura 3. O nivelamento da produção exigiu um aumento conside-
rável na quantidade de equipes de blocos alocadas, fazendo com que essas
equipes ficassem subutilizadas quando disponíveis durante todo o período
da obra, sugerindo que haja uma diminuição desse período de alocação.

4.3 Cenário 3

O cenário 3 tem como proposta aumentar o tempo de execução da


obra, para que se torne mais próximo do tempo estimado em projeto, e
reduzir a quantidade de recursos alocados no planejamento inicial. Para
isso, reduziu-se o número de retroescavadeiras e equipes de blocos para,
respectivamente, duas e quatro unidades, mantendo a mesma quantidade
dos demais recursos.
Para o cenário 3, a redução da quantidade de recursos ocasionou
um aumento no tamanho das filas, principalmente no processo de confec-
ção dos blocos e consequentemente do trabalho em progresso de todo o
processo. Esse resultado é consequência de um maior desnivelamento da
produção, como mostrado na Figura 3. Como era o objetivo desse cenário,
houve um aumento no tempo de execução da obra, passando para 127 dias,
que está dentro de um intervalo de tempo que se considera viável, e que
não causará uma preocupação relacionada ao fluxo de caixa.
O cenário 3 é caracterizado por um bom dimensionamento dos tem-
pos que os recursos irão estar disponíveis em obra, mantendo os valores
de scheduled utilization da perfuratriz comum, da perfuratriz de 120 e da
máquina de arrasamento inferiores a 90% e superiores a 70% (Figura 3).

4.4 Cenário 4

No cenário 4 o objetivo era verificar a viabilidade de reduzir a quan-


tidade de perfuratrizes comuns de duas para uma unidade, desejando tam-
bém um tempo de execução mais adequado ao tempo proposto em pro-
jeto. Além disso, tentou-se nivelar os valores do instantaneous utilization
Gerenciamento da Construção Civil 117

dos recursos, reduzindo o número de retroescavadeiras de três para duas,


mantendo a quantidade dos demais recursos constantes.
A utilização de uma perfuratriz comum, assim como era esperado,
trouxe o tempo de execução da obra para um período de tempo que se con-
sidera adequado, aproximadamente 84% do tempo total de projeto. O que
não se esperava era um grande aumento do valor de instantaneous utiliza-
tion da perfuratriz (Figura 3), causando um desnivelamento na produção,
principalmente quando comparado com o processo de arrasamento mecâ-
nico. Essa diferença entre esses dois processos não resultou em uma me-
lhora significativa no trabalho em progresso, reduzindo de 978 para 957.
Com apenas uma perfuratriz, o tempo de alocação de uma máquina
subiu para 115 dias, para que fossem perfuradas e concretadas todas as es-
tacas. De acordo com a Figura 3, esse tempo se mostrou suficiente, obtendo
um valor de scheduled utilization de 85%.

4.5 Cenário 5

Neste cenário, o objetivo foi diminuir o trabalho em progresso do sis-


tema produtivo mediante a substituição do processo de arrasamento mecâ-
nico por um processo de arrasamento manual. Diante disso, a máquina de
arrasamento foi retirada da simulação e mais uma equipe de arrasamento foi
adicionada ao sistema, totalizando duas unidades trabalhando no processo
de arrasamento das estacas. Para não gerar um desbalanceamento de recur-
sos, a quantidade de recursos do planejamento inicial também foi modifica-
da. Com isso, o cenário 5 se caracterizou por ter duas perfuratrizes comuns
e uma perfuratriz especial, duas retroescavadeiras e cinco equipes de blocos.
A atribuição do processo de arrasamento das estacas comuns à
equipe de arrasamento faz com que o valor de instantaneous utilization
desse recurso aumente consideravelmente, quando comparado com os
demais cenários, como é percebido na Figura 3. Isso é resultado tam-
bém do aumento da agregação de valor que o recurso proporciona ao
processo, já que agora ele é necessário para a realização de uma ativida-
de que está no caminho crítico do processo. A mudança de arrasamento
mecânico para arrasamento manual proporcionou uma melhora signi-
ficativa no nivelamento da produção, resultando em uma redução con-
siderável do trabalho em progresso. Tal fato pode ser visualizado pela
necessidade do acúmulo de um grande número de estacas esperando o
arrasamento mecânico.
118 Marcelo de Alencar e Silva & Jefferson Luiz Alves Marinho

Com relação ao scheduled utilization (Figura 3), percebe-se que a


equipe de blocos e a equipe de arrasamento estão sendo subutilizadas
nesse cenário. No entanto, a redução da quantidade de qualquer uma
dessas duas equipes acarretaria no não cumprimento do prazo de proje-
to, ultrapassando os 150 dias de execução, por isso, para que esses valo-
res fiquem dentro do intervalo de 70% a 90%, caso a empresa executante
da obra julgue necessário, seria preciso reduzir o período de tempo dis-
ponível desses recursos.

4.6 Tomada de decisão

A Figura 3 apresenta um resumo dos cinco cenários simulados, com-


parando a quantidade de equipamentos e equipes utilizados em cada si-
tuação, o tempo de execução e o trabalho em progresso, resultantes em
cada cenário. É importante salientar que a simulação não tem como pro-
pósito apresentar uma solução para um determinado problema. O objetivo
de uma simulação é gerar parâmetros que possam servir como base para
uma tomada de decisão. Neste trabalho, os parâmetros analisados foram
de grande importância para a escolha do cenário 5, representando a me-
lhor solução para os problemas que aqui foram levantados.
Observou-se que o cenário 5, quando comparado com a solução ini-
cial apresentada pela empresa construtora executante da obra (cenário
1), embora não tenha sido o menor trabalho em progresso encontrado,
apresentou uma redução significativa de 978 para 844, mantendo o tem-
po de execução de obra considerado adequado para não trazer problemas
para o fluxo de caixa (123 dias, 82% do tempo de projeto), fato que não foi
constatado no cenário 2. Outras vantagens percebidas foram a redução dos
recursos (diminuição da quantidade de perfuratriz e retroescavadeira) e,
principalmente, a eliminação da máquina de arrasamento, que possuía um
custo de alocação muito alto.

5 CONCLUSÃO

A simulação não é uma ferramenta de imitação do mundo real, vis-


to que, ao tentar fazer isso, acaba-se transformando o problema compu-
tacional em um problema tão complexo quanto o problema real. O que se
pretende é adaptar um sistema real ao modelo, e, neste caminho, são feitas
várias simplificações, desconsiderando alguns detalhes, ou seja, algumas
Gerenciamento da Construção Civil 119

adaptações devem ser feitas para que o modelo computacional proporcio-


ne soluções válidas para o problema real.
A simulação é uma ferramenta para avaliar ideias e conceitos. Quan-
do se faz uma simulação, primeiro deve-se entender o problema para po-
der simulá-lo. É importante compreender os principais mecanismos do
problema e da situação ora manifestada.
A informação ou os resultados obtidos a partir do modelo têm que
ser analisados. Não é uma verdade absoluta, pois os dados obtidos do si-
mulador têm que ser interpretados.
As simplificações feitas na simulação contribuem para que grande
parte da complexidade do sistema real seja desconsiderada, por isso é im-
portante considerar meios ou fatores de segurança dentro do modelo ou
quando os resultados são interpretados.
Um software de simulação é capaz de acompanhar o processo pro-
dutivo real com o modelo computacional, mas o objetivo principal é obter
uma série de informações resultantes de relatórios que, quando são corre-
tamente interpretados, são úteis na tomada de decisão.
Pode-se concluir que a Simulação de Eventos Discretos possibilita
uma análise de uma quantidade maior de cenários, reduzindo a complexi-
dade intrínseca ao planejamento de obras de construção civil e permitin-
do uma comparação mais precisa entre as variáveis presentes no processo
produtivo. Portanto, a SED surge como uma ferramenta de apoio à tomada
de decisão no Projeto do Sistema de Produção, proporcionando projetos
mais enxutos, com uma quantidade menor de trabalho em progresso, me-
nos desperdício e, consequentemente, com um custo reduzido.

REFERÊNCIAS

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THE INTERNATIONAL GROUP FOR LEAN CONSTRUCTION, 7., 26-28 jul. 1999. Berkeley,
CA. Proceedings... University of California, 1999.
LAW, A. M.; KELTON, W. D. Simulation Modeling and Analysis. 2. ed. New York: Mc-
Graw-Hill, 1991.
120 Marcelo de Alencar e Silva & Jefferson Luiz Alves Marinho

OWEN, Robert. L.; KOSKELA, Lauri. An agile step forward in project management. 2nd.
Specialty Conference on Leadership and management in Construction, 2006.
RECK, Raquel H. Método para integração da simulação de eventos discretos e mo-
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Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre, 2013.
ROBINSON, Stewart. Simulation: The Practice of Model Development and Use. Chi-
chester: John Wiley and Sons, 2003.
SCHRAMM, Fabio K.; FORMOSO, Carlos T. Uso de simulação interativa visual no pro-
jeto de sistemas de produção de empreendimentos da construção civil. Anais do ter-
ceiro encontro de tecnologia de informação e comunicação na construção civil. 2007.
TOMMELEIN, Iris D. Discrete-event Simulation of Lean Construction Processes. Pro-
ceedings of the Fifth Conference of the International Group of Lean Construction IGLC
5, p. 121-136, 1997.
WOMACK, James P.; JONES, Daniel T. Lean Thinking. New York: Simon and Schuster,
1996.
ANÁLISE PRÁTICA DO PROCESSO DE
APROVAÇÃO DE UM PROJETO PARA
APLICAÇÃO DE RECURSOS DO
ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO

Felipe Viana Bezerra Maia1


Jefferson Luiz Alves Marinho2

RESUMO: Para composição do Estado brasileiro, a União, os Estados, o Distrito


Federal e os Municípios se relacionam, sendo cada um destes elementos autôno-
mos no sentido legislativo, administrativo e governamental. Mesmo nesse contex-
to de integração entre os referidos entes, uma grande parcela da arrecadação de
tributos fica sob administração do Governo Federal, sendo necessário o repasse
de verbas aos estados e municípios para possibilitar a aplicação de suas políticas
públicas. O ciclo das operações de repasse de verbas do Orçamento Geral da União
(OGU) se inicia com a interação de três atores principais que se articulam para de-
senvolver o processo. Os gestores dos contratos, os tomadores e a Caixa Econômica
Federal, no papel de mandatária da União, trabalham em conjunto para enqua-
dramento dos projetos que utilizarão os referidos recursos nos devidos requisitos
normativos, com a avaliação, ajustes e aprovação de determinados documentos,
bem como a disponibilização dos recursos financeiros, acompanhamento de sua
aplicação e conclusão funcional da execução do empreendimento. Este trabalho
apresenta uma visão prática do processo de aprovação de um projeto para elabo-
ração de estudos, aquisição de equipamentos e planejamento e construção de em-
preendimentos utilizando o crédito do OGU visando promover o desenvolvimento
e a qualidade de vida nos municípios do Brasil. Além da apresentação do referido
procedimento, foram identificadas fragilidades e propostas soluções simples de fá-
cil aplicação, visando otimizar o processo.
Palavras-chave: Orçamento Geral da União. Aprovação de projetos. Contratos pú-
blicos.

1
Técnico em Edificações pela Escola Técnica Federal do Ceará. Engenheiro Civil pela Univer-
sidade Federal do Ceará. Mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal
do Ceará. Especialista em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Regional
do Cariri. E-mail: felvbm@gmail.com.
2
Mestre em Engenharia e Tecnologia Ambiental pela Universidad de León – Espanha. Mestre
em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Especialista em Avaliações e
Perícias de Engenharia. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Especialista
em Administração de Empresas. Diretor do Instituto Tecnológico do Cariri – ITEC. Professor
da Universidade Regional do Cariri – URCA. Chefe do Departamento da Construção Civil –
URCA. Coordenador da pós-graduação lato sensu em Gerenciamento da Construção Civil
– ITEC/URCA. Perito judicial. Engenheiro civil e Advogado militante.
E-mail: jeff.marinho@urca.br
122 Felipe Viana Bezerra Maia & Jefferson Luiz Alves Marinho

1 INTRODUÇÃO

Neste estudo, pretende-se ampliar o entendimento sobre o proces-


so atual de contratação e aprovação dos projetos para a aplicação dos re-
cursos do OGU, dentro da Caixa Econômica Federal, estudando como ele é
empregado utilizando contratos de repasse em Juazeiro do Norte/CE, além
de identificar fragilidades no seu desenvolvimento e propor melhorias vi-
sando otimizá-lo.
As transferências fiscais realizadas pelo Governo Federal podem
ser divididas basicamente em dois grandes grupos. No primeiro, estão as
transferências com propósito geral que visam fomentar o orçamento do
ente beneficiado e aumentar a equidade entre as unidades da federação,
sem tolher sua a autonomia. Como exemplo desta modalidade tem-se as
Transferências Constitucionais e as Transferências Legais (DUARTE et al.,
2009). No outro grupo estão classificadas as transferências que geralmen-
te têm a exigência de contrapartida e não são de uso incondicional, desti-
nando-se a um propósito específico; neste caso enquadram-se as Transfe-
rências Voluntárias (CATAIA, 2011).
As Transferências Voluntárias podem ser efetivadas via Termo de
Compromisso – TC ou Contrato de Repasse – CR, os quais são processados
por intermédio de uma instituição ou de um agente financeiro público fe-
deral atuando como mandatário da União. Estão definidas no artigo 25 da
Lei Complementar nº 101 (04/05/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal)
transcrito a seguir:

[...] para efeito desta Lei Complementar, entende-se por transferên-


cia voluntária a entrega de recursos correntes ou de capital a outro
ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência fi-
nanceira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou
os destinados ao Sistema Único de Saúde.

Estas transferências são executadas utilizando os recursos do OGU e


podem decorrer de emendas parlamentares ou seleções diretas dos minis-
térios e serão o foco principal deste estudo.
A seleção das operações de transferência de recursos do OGU
deve ser precedida da inclusão da proposta no sistema de gestão de
convênios do Governo Federal (Siconv) pelo proponente e respectiva
aprovação pelo ministério gestor. A mandatária da União oficializa o
Gerenciamento da Construção Civil 123

requerimento da documentação necessária à instrução do processo ao


tomador visando prosseguir com as análises que possibilitem a apro-
vação e a contratação definitiva da operação, dentro dos requisitos de
cada programa. A seguir aborda-se sucintamente a questão da regula-
ção do tema estudado.
O primeiro grande marco regulador do tema foi a instrução nor-
mativa STN 1/1997, seguida do Decreto nº 6.170/2007, regulamentado
posteriormente pela Portaria Interministerial MP/MF/MCT 127/2008,
trazendo novas diretrizes para os convênios. Atualmente, a Portaria In-
terministerial CGU/MF/MP 507/2011 ampliou o espectro das disposi-
ções existentes.
Cabe destacar que alguns órgãos contratantes (como os ministérios
gestores) editam sua própria normatização visando regular pontos espe-
cíficos da celebração, acompanhamento e prestação de contas dos convê-
nios. Além disso, é importante destacar a legislação que regula o orçamen-
to anual e plurianual em nível municipal, estadual e federal, que também
pode contribuir para o entendimento do tema em questão. Para contextu-
alizar sucintamente o assunto que será tratado, inicia-se uma abordagem
geral sobre o orçamento público, listando em seguida os principais dispo-
sitivos de regulação pertinente.
O orçamento público é um dispositivo administrativo que permite
a gestão política da arrecadação e dos gastos públicos, além da interven-
ção e controle econômico, quando utilizado como instrumento da política
fiscal do governo (MACHADO, 2005). Para tanto, o governo registra todas
as receitas arrecadadas (ingressos, impostos, taxas, contribuições e outras
fontes) e planeja onde, de fato, esses recursos serão aplicados. O Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG coordena os sistemas de
planejamento e orçamento federal com a Secretaria de Orçamento Federal
– SOF e acompanha sua elaboração avaliando as leis de iniciativa do Poder
Executivo Federal previstas na Constituição Federal que são apreciadas na
elaboração do OGU (Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentá-
rias – LDO, Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, Lei Orçamentária Anual
– LOA e Lei nº 4.320/64).
Devido ao caráter objetivo do presente artigo não será abordado
mais profundamente o arcabouço regulatório, entretanto, sugere-se que,
além de conhecer melhor os dispositivos previamente citados, os tomado-
res aprofundem o conhecimento na legislação destacada abaixo:
124 Felipe Viana Bezerra Maia & Jefferson Luiz Alves Marinho

Quadro 1. Marco Regulatório do OGU

Legislação Pertinente Finalidade

Portaria Interministerial nº 507 Regula os convênios, contratos de repasse e termos de


celebração.

Lei 8.666/93 Licitações e contratos administrativos.

Decreto 6.170/2007 Normas para transferências federais mediante convênios e


contratos de repasse – institui o SICONV.

Decreto 1.819/1996 Transferências da União por intermédio de agências fede-


rais.

Decreto 5.504/2005 Exigência de pregão nas contratações de serviços comuns.

Decreto 7.654/2011 Disciplina a validade do RAP (Restos a pagar) para julho do


2° ano subsequente à inscrição.

Decreto 7.983/2013 Estabelece regras permanentes para elaboração de orça-


mentos.

Acórdão TCU 3.938/2013 Documentos dos municípios devem explicitar composições


de custos quando não constantes no SINAPI ou SICRO,
dentre outras questões.

Lei 12.844/2013 Altera as regras do regime de desoneração da folha de


pagamento.
Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

A seguir será realizada a caracterização do processo atual de contra-


tação e aprovação de projetos com recursos do OGU como é aplicado no
ambiente governo da Caixa Econômica Federal em Juazeiro do Norte.

2 PROCESSO ATUAL DE CONTRATAÇÃO E APROVAÇÃO


DOS PROJETOS NA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL EM
JUAZEIRO DO NORTE

O ciclo das operações de repasse do OGU se inicia com a interação


de três atores principais que também se articulam para desenvolver e con-
cluir o processo: Os gestores do contrato (Ministérios), os tomadores (ge-
ralmente estados, municípios) e a Caixa Econômica Federal, no papel de
mandatária da União.
Com intenção de tratar prioritariamente a contratação e a aprovação
dos projetos com recursos do OGU, ressalta-se que não serão detalhadas as
etapas de execução e finalização (Prestação de Contas Final) do processo.
Em todo caso, inicialmente será apresentada uma visão geral do processo,
Gerenciamento da Construção Civil 125

a fim de que o leitor compreenda integralmente como se procede uma ope-


ração de repasse desde a sua proposição, passando pela aprovação, acom-
panhamento e conclusão.

2.1 Visão geral do processo

Atualmente, as primeiras fases do processo são executadas exclusi-


vamente no sistema Siconv. Entretanto, as diretrizes normativas apontam
para o controle total do processo dentro do referido sistema e, mesmo
quando o controle não é executado exclusivamente utilizando o Siconv,
faz-se necessário o atendimento às diretrizes que vinculam o cadastro dos
documentos referentes a cada etapa no sistema para evolução adequada
do processo. Aborda-se, em seguida, o processo global de aplicação dos
recursos do OGU e no decorrer do trabalho serão detalhadas as etapas de
contratação e aprovação do projeto.

2.2 Etapas do convênio

Para efetivação, realização e conclusão satisfatórias do convênio


para aplicação dos recursos do OGU é preciso vencer as seguintes etapas:
- Proposição;
- Celebração e formalização;
- Execução; e
- Prestação de contas.

2.2.1 Proposição

Para propor o convênio, o tomador deve identificar as necessidades


da comunidade e os programas do governo disponíveis pelos órgãos da
administração federal. Muitas informações podem ser obtidas no Portal
Convênio (www.convenios.gov.br), além dos endereços eletrônicos dos
órgãos federais que participam do processo de transferência de recursos
do OGU, onde podem ser conhecidos critérios, regras e demais requisitos
específicos para aquisição dos recursos. Ressalta-se que a proposta do
empreendimento deve ser formalizada diretamente no referido portal,
onde também estão disponibilizadas informações sobre os programas
existentes.
126 Felipe Viana Bezerra Maia & Jefferson Luiz Alves Marinho

2.2.2 Celebração e formalização

A formalização dos contratos de repasse começa na Secretaria de


Relações Institucionais da Presidência da República, que recebe e registra,
em sistema específico de controle, as indicações atinentes à destinação das
emendas dos parlamentares, enviando as informações consolidadas aos
ministérios gestores. A partir daí os gestores cadastram os programas no
Siconv e vinculam com as respectivas emendas parlamentares, permitindo
que os tomadores completem as propostas e cadastrem os planos de tra-
balho no referido sistema.
Com o atendimento dos requisitos pelos tomadores, os gestores ava-
liam as propostas, com plano de trabalho e demais documentos cadastra-
dos, concluindo pela sua aprovação, reprovação ou necessidade de ajustes.
Após o órgão concedente aprovar o plano de trabalho, o convênio será for-
malizado, sendo realizada a assinatura do contrato. Prosseguindo o rito, a
mandatária deve fazer a análise pré-contratual da documentação e confir-
mar a regularidade do município no CAUC – Serviço Auxiliar de Informa-
ções para Transferências Voluntárias. Se a documentação estiver completa
e correta, o contrato é assinado; caso contrário, dependendo da situação, o
contrato pode ser assinado com cláusula suspensiva, quando será estabe-
lecido um prazo para solução das pendências identificadas.

2.2.3 Execução

Essa é a etapa da construção da obra propriamente dita ou realiza-


ção do serviço especificado no convênio. Seu andamento deve seguir a pre-
visão planejada no cronograma aprovado, sendo vetada a concretização de
despesas antes do início e após o termino de sua vigência. A execução do
empreendimento deve acompanhar fielmente o acordado nas cláusulas do
contrato do convênio e é proibida a utilização das verbas em outro objeto
que não seja o previsto no plano de trabalho. As principais etapas da fase
de execução estão detalhadas a seguir.

2.2.3.1 Fiscalização e acompanhamento

O órgão convenente, no papel de contratante do empreendimento, é


responsável por fiscalizar e garantir a conclusão do objeto pactuado. Nesse
contexto, antes do início das obras ou serviços, é obrigatória a designação
Gerenciamento da Construção Civil 127

de um técnico competente, devidamente cadastrado no conselho de clas-


se pertinente, para atuar na fiscalização e acompanhamento da execução.
Caso contrário, o convenente pode ser responsabilizado. Finalmente, no
que se refere aos contratos de repasse, a mandatária também deve acom-
panhar a evolução física do empreendimento, confirmando o progresso da
obra para liberação dos desembolsos referentes às medições.

2.2.3.2 Pagamentos

A solicitação de todo o recurso financeiro é direcionada pela manda-


tária ao Ministério Gestor após assinatura do contrato e publicação no Diá-
rio Oficial da União (depois da solução de eventual condição suspensiva).
Ao ser liberado pela concedente, o recurso deve ser mantido bloqueado
na conta bancária criada especificamente para o contrato de repasse até o
início dos desbloqueios para pagamento das medições aferidas.

2.2.4 Prestação de contas

Esta fase destina-se ao cumprimento adequado da execução do objeto


planejado, seja parcial ou definitivamente, com a apresentação dos documen-
tos necessários para prestação de contas no prazo previsto. Caso a prestação
de contas das parcelas liberadas não seja efetivada dentro do prazo estipula-
do, o proponente fica sujeito ao bloqueio das parcelas seguintes e, dependen-
do do caso, à instauração da Tomada de Contas Especial (TCE), instrumen-
to da administração pública que visa garantir o ressarcimento de prejuízos
através de auditoria da Controladoria Geral da União. Quando a execução do
objeto é concluída, deve-se operacionalizar a Prestação de Contas Final (PCF).

2.3 Detalhamento da contratação e aprovação do projeto

Neste item serão apresentadas sucintamente as etapas básicas para


a celebração de um contrato de repasse conforme detalhado a seguir.

2.3.1 Proposta e plano de trabalho aprovados no Siconv

Primeiramente, o tomador deve inserir o plano de trabalho no Si-


conv, compatível com a proposta aprovada pelo ministério gestor e com as
diretrizes de cada programa. Nesta fase, a Caixa Econômica Federal verifica
128 Felipe Viana Bezerra Maia & Jefferson Luiz Alves Marinho

o enquadramento da proposta apresentada no plano de trabalho, identifi-


cando se o objeto da intervenção é compatível com as diretrizes do progra-
ma e instruções normativas do referido Ministério Gestor.

2.3.2 Regularidade no CAUC

Para atendimento dessa exigência, a Caixa Econômica Federal veri-


fica a situação do município no CAUC, o qual é vinculado ao Sistema de
Administração Financeira do Governo Federal, por determinação da Lei de
Responsabilidade Fiscal. O objetivo desta verificação é facilitar a análise do
atendimento dos requisitos estabelecidos pela Constituição Federal, pela
Lei de Diretrizes Orçamentárias e pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

2.3.3 Entrega/aprovação da documentação técnica e jurídica

Para a avaliação do projeto, a Caixa Econômica Federal necessita


da apresentação de uma gama de documentos que estão relacionados em
duas categorias: documentação jurídica e documentação técnica. Destaca-
-se que pode haver alguma variação nos requisitos, de acordo com as ca-
racterísticas do empreendimento, diretrizes do ministério contratante ou
bom senso dos analistas.

2.3.4 Aprovação do projeto

Quando a análise da documentação relativa ao projeto do objeto do


contrato de repasse for concluída satisfatoriamente, gerando sua aprova-
ção, o setor de engenharia da Caixa Econômica Federal elabora um laudo
especificando detalhes do projeto, como o objeto, a área da intervenção, o
custo e as parcelas de repasse e contrapartida, as metas e seus respectivos
valores, a situação da aprovação dos projetos pelos órgãos competentes e
o cronograma, além de outras observações pertinentes. A elaboração deste
documento remete o processo para uma nova fase, a avaliação do processo
licitatório.

2.3.5 Avaliação técnico-operacional do processo licitatório

A auditoria do processo da licitação é de responsabilidade do muni-


cípio e dos órgãos de controle. A Caixa Econômica Federal atua exclusiva-
Gerenciamento da Construção Civil 129

mente para garantir que o projeto aprovado (preços, quantidades, objeto,


especificações, etc.) será plenamente compatível com o projeto licitado,
que a documentação da licitação está completa e de acordo com os ditames
legais e que as devidas publicações foram realizadas dentro do estipulado.
Neste contexto, com a finalização do processo licitatório, o tomador deve
apresentar a documentação completa do procedimento efetuado, para que
a Caixa Econômica Federal realize a verificação do referido processo. O
processo de aprovação é finalizado com a emissão da Autorização de Início
de Objeto (AIO), um comando que é dado pela força operacional da Caixa
Econômica Federal e aciona o ministério gestor e o tomador sobre a possi-
bilidade do início da execução do serviço contratado.
A seguir são destacados os principais problemas identificados na
avaliação prática do processo de aprovação de um projeto para utilização
dos recursos do OGU na Caixa Econômica Federal.

3 PRINCIPAIS PROBLEMAS IDENTIFICADOS NO PROCESSO

O processo de aprovação de um projeto no ambiente governo da


Caixa Econômica Federal para utilização dos recursos do OGU exige uma
interação considerável entre o tomador e a mandatária da União devido
às constantes discussões que ocorrem para evolução dos conceitos e atri-
butos técnicos dos projetos para atendimento dos requisitos especificados
em cada situação. Neste contexto, é fundamental uma comunicação ade-
quada para que não ocorram desentendimentos e distorções. Destacam-se
a seguir os três principais problemas identificados que comprometem a
evolução do referido processo de aprovação.
PROBLEMA 1: Dificuldade de compreensão dos tomadores sobre os
documentos que devem ser apresentados para atendimento das exi-
gências.
Foi identificada a dificuldade por parte dos tomadores na compreen-
são de quais são os documentos básicos e específicos (dependendo da in-
tervenção) e como formatar estes documentos para atender às exigências
determinadas.
PROBLEMA 2: Apresentação desordenada dos documentos pelos to-
madores.
Outra dificuldade que o corpo técnico de engenharia da Caixa Econô-
mica Federal de Juazeiro do Norte experimenta é o protocolo desordenado
130 Felipe Viana Bezerra Maia & Jefferson Luiz Alves Marinho

da documentação, aumentando o tempo e o esforço na fase da análise e


retardando o início da apreciação dos documentos.
PROBLEMA 3: Dificuldade de comunicação entre a mandatária e o
tomador para a solução das deficiências listadas nas análises parciais
da documentação.
No decorrer da etapa de análise da documentação, geralmente são
identificadas deficiências nas peças técnicas, o que implica a elaboração
de uma lista de pendências a serem resolvidas para conclusão satisfatória
desta fase. Entretanto, não é determinado um padrão para a especifica-
ção das pendências, nem existe uma exigência de que as pendências sejam
imediatamente comunicadas à assessoria técnica do tomador.

4 PROPOSTA DE MELHORIA NO PROCESSO

Para tratar as dificuldades identificadas, foram pensadas soluções


simples e práticas, de acordo com o modelo proposto para o presente es-
tudo. A seguir serão apresentadas propostas para o tratamento indicado
para cada fragilidade levantada:

4.1 Tratamento do problema 1

Para tratamento desta fragilidade, apresenta-se a seguir o primeiro


produto do presente estudo, que foi a criação de uma planilha que con-
centrou os principais documentos para aprovação de um projeto de enge-
nharia para utilização dos recursos do OGU na Caixa Econômica Federal. A
referida planilha foi chamada de Verificação Preliminar da Documentação
(VPD) e tem formato de check list, onde estão listados os documentos ne-
cessários para aprovação de um projeto no ambiente estudado.
É pertinente colocar que, eventualmente, podem ser exigidos docu-
mentos que não estão expressamente listados na VPD, o que enseja ano-
tações no campo de observações/outros. O Quadro 2 apresenta o modelo
geral da VPD, onde são exibidos os documentos e as categorias considera-
das. Além de apresentar os documentos necessários em uma fonte simples
de consulta, foram propostas seis categorias para os documentos, visando
tornar o processo de aprovação mais prático e confiável.
Além de tudo, dependendo do caso, a VPD pode ser fornecida aos
tomadores para controle do que está sendo enviado à Caixa Econômica Fe-
deral e, principalmente, da documentação que falta apresentar.
Gerenciamento da Construção Civil 131

Quadro 2. Verificação Preliminar da Documentação (VPD)

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).


132 Felipe Viana Bezerra Maia & Jefferson Luiz Alves Marinho

4.2 Tratamento do problema 2

O desenvolvimento da planilha “Verificação Preliminar da Docu-


mentação” (previamente apresentada) também objetivou determinar ca-
tegorias de documentos que devem ser recebidos para viabilizar o início
da avaliação, sem a necessidade da entrega de todos os documentos no
mesmo momento.
Considerando a VPD, foi determinado que o item 1.1 (Plano de Tra-
balho) deve ser o primeiro documento a constar no primeiro volume téc-
nico, pois este especifica detalhes, como o objeto do contrato, valores de
repasse e contrapartida e cronograma inicialmente pactuados, bem como
as metas determinadas. Já o item 1.2 (Quadro de Composição do Inves-
timento) pode ser protocolado no final, após o fechamento da análise do
orçamento e elaboração do laudo de aprovação do projeto.
Todos os documentos do item 2 (Declarações e Certidões) devem ser
protocolados em conjunto, preferivelmente, antes ou até a entrega dos pro-
jetos para análise, visto que algumas declarações, caso não providenciadas,
podem inviabilizar a execução de alguma meta do objeto do contrato, ou
até mesmo causar o distrato definitivo. Em todo caso, recomenda-se o uso
do bom senso pelo analista, que, dependendo do relacionamento com o
tomador, pode receber esta documentação no decorrer da aprovação dos
projetos.
Todos os documentos do item 3 (Projetos), considerando as aprova-
ções, devem ser protocolados em conjunto e juntamente com todos os docu-
mentos dos itens 4 (Especificações e Custos) e 5 (ARTs). As referidas catego-
rias são as principais na viabilização da avaliação do projeto, pois definem
as diretrizes e as soluções adotadas para o projeto, bem como especificações
técnicas, de tempo e de custo da execução do empreendimento.
Já para o item 6, como são documentos específicos, podem ser proto-
colados em qualquer momento do processo de aprovação.
Finalmente, cabe ressaltar que na Tabela VPD não é possível identi-
ficar quais documentos são especificamente necessários para cada tipo de
empreendimento, por isso foi colocado o campo não se aplica. Por exem-
plo, para uma obra de uma quadra poliesportiva, a declaração de existência
prévia de rede de água e esgoto não é necessária, devendo ser marcado,
nesse caso, o campo não se aplica.
Gerenciamento da Construção Civil 133

4.3 Tratamento do problema 3

Primeiramente, sugere-se que seja parte do protocolo a comunica-


ção imediata ao tomador das pendências identificadas após o fim da pri-
meira avaliação pela Caixa Econômica Federal.
O procedimento apresentado a seguir foi desenvolvido visando me-
lhorar o processo e testado com os contratos dos tomadores com asses-
soria técnica da região de atuação da Caixa Econômica Federal de Juazei-
ro do Norte.
Após a apresentação da documentação técnica pelo tomador e a
primeira análise pela Caixa Econômica Federal e especificação de todas
as pendências, é marcada uma reunião com os profissionais da assesso-
ria técnica do respectivo tomador e reservado um dia de trabalho para
atendimento das questões listadas. Cabe destacar que podem ser trata-
das pendências de vários contratos neste dia de trabalho, visto que, como
previamente destacado, a assessoria técnica geralmente cuida de todos os
contratos do mesmo tomador.
Neste dia de trabalho destinado ao tomador, o analista da Caixa Eco-
nômica Federal deve se dedicar, juntamente com os técnicos da assessoria
técnica do tomador, à discussão das pendências identificadas (inclusive
de projetos e declarações), auxiliando no entendimento e solução dessas
pendências, com o objetivo de finalizar as tratativas e dissolver qualquer
problema de comunicação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo investigou o processo de aprovação de um projeto para


aplicação de recursos do OGU com apoio da Caixa Econômica Federal, iden-
tificando fragilidades e propondo soluções para otimizá-lo.
A evolução deste trabalho deu-se ao longo de três anos, quando, após
o estudo aprofundando dos problemas elencados, foi possível o desenvol-
vimento de soluções para otimização do processo citado. Foram utilizados,
como estudo de caso, municípios distintos (considerando o porte, a quan-
tidade de projetos contratados, a relação institucional com a Caixa Eco-
nômica Federal, dentre outras variáveis) da área de abrangência da Caixa
Econômica Federal de Juazeiro do Norte. Isso possibilitou o desenvolvi-
mento de um entendimento generalizado do processo, gerando produtos
que podem ser aplicados com sucesso em âmbitos diversos. Primeiramen-
134 Felipe Viana Bezerra Maia & Jefferson Luiz Alves Marinho

te foi exibido sucintamente o processo global para utilização de recursos


do OGU e foram detalhadas as etapas referentes à aprovação dos projetos.
A partir daí, foram identificados três problemas principais que figuraram
basicamente no âmbito da comunicação entre a Caixa Econômica Federal
e os tomadores ao longo do processo de aprovação e no entendimento dos
requisitos para o desenvolvimento satisfatório do procedimento. Em se-
guida, partiu-se para a proposição de soluções simples e de fácil aplicação,
que, se postas em prática, podem melhorar o desenvolvimento e tornar o
processo de aprovação dos projetos mais rápido e confiável. Para trata-
mento dos problemas observados foi desenvolvida a Ficha de Verificação
Preliminar da Documentação, que permite um controle mais prático do
processo, e a instituição de categorias para recebimento dos documentos,
possibilitando o início mais rápido das análises. Além disso, foi apresen-
tada a ideia da implementação de um dia de trabalho para tratamento das
pendências especificadas na primeira fase de tratamento, ocasião em que
atuariam em conjunto representantes técnicos da Caixa Econômica Fede-
ral e do tomador para resolverem as pendências listadas.
A aplicação das propostas desenvolvidas deve melhorar a comunica-
ção e o relacionamento entre a Caixa Econômica Federal e os tomadores,
bem como tornar o processo mais amigável e prático, trazendo avanços
para as soluções atualmente praticadas no âmbito da aprovação dos pro-
jetos para aplicação de recursos do OGU através de contratos de repasse.

REFERÊNCIAS

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ACOMPANHAMENTO – OPERAÇÕES DE REPASSE versão 12. 2015.
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Gerenciamento da Construção Civil 135

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Central, Costa Rica, n. Esp., p. 1-16, 2011.
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e Fiscalização de Obras Públicas. Teresina, 2011.
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taria geral de controle externo, 2013. Disponível em: <http://portal. tcu.gov.br/lumis/
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ne=1>. Acesso em: 07 mar. 2017.
APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS E
EFICIÊNCIA NO USO DA ÁGUA EM EDIFICAÇÕES
PÚBLICAS DO CARIRI CEARENSE

Renato de Oliveira Fernandes1

RESUMO: Fontes alternativas de água e o uso de equipamentos economizadores


são consideradas intervenções tecnológicas importantes na conservação da água
em edificações. As tecnologias de conservação da água em edificações públicas
podem gerar grandes economias de água potável, uma vez que estas edificações
geralmente apresentam altas demandas. No presente trabalho são avaliados o
potencial de aproveitamento de águas pluviais da Região Metropolitana do Cariri
(RMC) cearense, a economia financeira e de água potável gerada pelo aproveita-
mento de águas pluviais, para fins não potáveis, e por aparelhos hidrossanitários
economizadores de água. A edificação pública utilizada como estudo de caso é o
campus CRAJUBAR da Universidade Regional do Cariri (URCA), localizada na cidade
de Juazeiro do Norte, Ceará. Os principais resultados obtidos indicaram grandes
interferências do regime de chuvas na garantia de abastecimento das cisternas,
possibilidade de economia de água potável na edificação pública em até 50% caso
seja aproveitada a água da chuva para atividades consideradas menos nobres, e
substituição dos aparelhos hidrossanitários convencionais por economizadores. As
intervenções tecnológicas na edificação mostraram-se viáveis, devendo gerar be-
nefícios ambientais imediatos e reduções nos custos financeiros mensais na conta
de água.
Palavras-chave: Conservação da água. Construções sustentáveis. Eficiência hídrica.

1 INTRODUÇÃO

A conservação da água geralmente refere-se a um conjunto de in-


tervenções que possibilitam a sua economia. Tais ações podem envolver
intervenções desde a bacia hidrográfica (nível macro), passando pelos sis-
temas de abastecimento de água e esgotamento sanitário (nível meso), até
as instalações prediais (nível micro) (GIACCHINI, 2010).

1
Doutor em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Engenheiro Civil e
Mestre em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal de Campina Grande –
UFCG. Professor Assistente da Universidade Regional do Cariri – URCA.
E-mail: renatodeof@gmail.com
138 Renato de Oliveira Fernandes

Nas instalações prediais, particularmente, as intervenções mais co-


muns visando à redução da demanda de água têm sido várias, das quais es-
tão incluídas: a substituição de aparelhos hidrossanitários convencionais
por economizadores, a medição individualizada de água e o uso de fontes
alternativas, como a captação de água da chuva e o reuso de águas cinza.
Outra intervenção importante no que concerne à diminuição do con-
sumo de água é a conscientização da população da necessidade de reduzir
os desperdícios de água quando do seu uso. Em edificações públicas, por
exemplo, os desperdícios de água são muitos e estão relacionados ao fato
de o usuário não ser o responsável direto pelo pagamento da conta de água.
Nesse contexto, os aparelhos poupadores, ou economizadores, têm
se mostrado um importante aliado na redução do consumo de água por
produzir diminuição significativa dos volumes consumidos, independente-
mente da ação do usuário (MACHADO; SANTOS, 2008). Em adicional, tais
aparelhos não dependem de grandes adaptações estruturais nas instala-
ções da edificação. Os aparelhos poupadores possuem tecnologias moder-
nas e funcionam com vazão reduzida evitando os desperdícios de água.
Outra intervenção tecnológica que merece destaque são os siste-
mas de aproveitamento de água da chuva. Entre os diversos usos possí-
veis, o mais simples é o uso para fins não potáveis. Assim, a água da chuva
captada por superfícies impermeabilizadas, como os telhados, é arma-
zenada e posteriormente utilizada em atividades menos nobres, como
lavagem de pisos, irrigação de jardim, descargas em vasos sanitários,
lavagem de carros entre outros usos que possuem restrições mínimas
quanto à qualidade da água. Hafner (2007) destaca que, para lavagem de
pisos e irrigação de jardim, a água da chuva não necessita de tratamento,
exigindo apenas a remoção de impurezas pelo sistema de descarte a ser
instalado a montante da cisterna.
Apesar de a captação de água da chuva apresentar vantagens am-
bientais por economizar água potável e reduzir a demanda nos sistemas
de abastecimentos públicos e nos mananciais, para que haja o aproveita-
mento adequado é preciso analisar alguns fatores para que se obtenha o
dimensionamento correto do sistema. Três desses fatores considerados
importantes são: a área de captação, a climatologia de chuva da região e a
demanda de água na edificação.
A implantação de tecnologias visando à conservação da água na
edificação geralmente é motivada, além dos aspectos ambientais, por
aspectos financeiros. Relacionado aos aspectos financeiros, recentemen-
Gerenciamento da Construção Civil 139

te muitas avaliações têm sido realizadas e apresentado resultados pro-


missores (ex. SILVA; PATERNIANI, 2012; ZATTONI, 2011; RIBEIRO et al.,
2009). Tais avaliações levam em consideração os investimentos iniciais
para aquisição de material e mão de obra, a manutenção do sistema e o
retorno financeiro do investimento inicial ao longo do tempo. O retorno
financeiro mais expressivo nessas avaliações é proveniente principal-
mente da economia na conta de água.
Este capítulo apresenta os resultados de uma pesquisa que investi-
gou o impacto de intervenções tecnológicas, para a conservação da água, no
campus CRAJUBAR da Universidade Regional do Cariri – URCA, localizado
na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará, região semiárida. Com a metodolo-
gia aplicada foi possível identificar a demanda de água do campus, o poten-
cial de aproveitamento de água da chuva da região e a economia financeira
e de água potável gerada pelas intervenções tecnológicas propostas.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo avaliou intervenções em uma edificação pública, no Cariri


cearense, visando à conservação da água. As intervenções incluíram: cap-
tação e armazenamento de água da chuva para usos menos nobres e substi-
tuição de aparelhos convencionais por aparelhos economizadores de água.
Para avaliar as potencialidades do aproveitamento da água de chuva
na região do Cariri cearense, foi necessário obter dados registrados de chu-
vas e determinar sua média histórica para cada mês e ano. A partir da série
histórica observada, foi possível caracterizar o regime de chuva e identifi-
car os meses chuvosos nos quais poderão ser captados e armazenados os
volumes de água para o consumo.
Os registros de chuva usados nesta pesquisa foram obtidos da base
de dados da Agência Nacional de Águas – ANA, disponível na HidoWeb
(hidroweb.ana.gov.br). Como os dados observados dependem do uso de
equipamentos e da intervenção humana, estes estão passíveis de erros, po-
dendo ocorrer períodos sem informações ou com falhas nas observações.
Dessa forma, as informações obtidas foram submetidas a uma análise an-
tes de serem utilizadas para identificação e correção das possíveis falhas
ou erros. Nos municípios em que existe mais de uma estação pluviométrica
a seleção da estação utilizada foi determinada em função da maior quanti-
dade de anos de observação.
140 Renato de Oliveira Fernandes

2.1 A Região Metropolitana do Cariri (RMC)

A Região Metropolitana do Cariri (RMC) foi criada pela Lei Comple-


mentar Estadual nº 78/2009. Os municípios que compõem a RMC são os
apresentados na Figura 1. O município com maior área é Crato, e o de me-
nor área é Juazeiro do Norte, o qual, apesar da menor extensão geográfica,
abriga a maior população dessa região (IBGE, 2010).

Figura 1. Distribuição espacial dos municípios na RMC, estações pluviométricas e


detalhe da área coberta da edificação pública selecionada

Fonte: Adaptado de IBGE (2010).

Para caracterizar a pluviometria média da Região Metropolitana do


Cariri (RMC), foram obtidos dados de precipitação diária em nove postos
de observação da rede hidrometeorológica da Agência Nacional das Águas
(ANA) localizados em cada município da Região Metropolitana do Cariri
(Figura 1). A chuva média foi determinada na escala mensal.
Observa-se na Figura 1 que as estações pluviométricas dos municí-
pios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha estão espacialmente próximas,
o que, potencialmente, poderá indicar o mesmo regime de chuvas.
Os municípios e as respectivas estações com o tamanho da série
são mostrados na Tabela 1. Como se pode observar, o tamanho da série
de chuvas da maioria das estações pode ser considerado longo, excetu-
ando-se a estação “Nova Olinda”, no qual a série contempla apenas 38
anos.
Gerenciamento da Construção Civil 141

Tabela 1. Municípios e suas respectivas estações utilizadas para a


determinação da climatologia de chuva

Tamanho
Código da esta-
Município Série Histórica da série
ção (ANA)
(anos)

Jardim 739038 1912-2011 100

Nova Olinda 739035 1974-2011 38

Barbalha 739016 1912-1931;1962-2011 69

Caririaçu 739011 1934-2011 78

Missão Velha 739007 1912-2011 100

Crato 739006 1912-2011 100

Santana do Cariri 739005 1912-1923;1931-1935;1939-2011 90

Juazeiro do Norte 739000 1913-1930; 1974-2009 55

Farias Brito 639029 1912-2011 100


Fonte: ANA – Agência Nacional das Águas (HidroWeb) (2016).

As estações usadas dos municípios de Barbalha, Santana do Cariri e


Juazeiro do Norte, apesar de apresentarem quantidade de anos superior à
Nova Olinda, apresentaram descontinuidade nas observações de chuva ao
longo dos anos e necessitaram de preenchimentos das falhas.
Os métodos principais para preenchimento de falhas em série plu-
viométricas são: o método de ponderação regional, regressão linear e pon-
deração regional com base em regressões lineares (TUCCI, 2012). Esta pes-
quisa utilizou o método de regressão linear para preencher as falhas nas
séries pluviométricas observadas. Esse método consistiu em usar regres-
são linear simples ou múltipla para estimar a precipitação do posto com
falha a partir da correlação com postos vizinhos. A estimativa dos valores
faltosos na série foi determinada por uma equação obtida por regressão
linear entre o posto com falha na observação da chuva e os postos vizinhos
em que não existe falha na série para o período em análise.

2.1.1 Edificação pública: campus CRAJUBAR/URCA

A edificação pública objeto de estudo do presente trabalho é o campus


Crajubar, da Universidade Regional do Cariri (Figura 2), localizada na Avenida
Leão Sampaio, s/n, no bairro Triângulo, da cidade de Juazeiro do Norte – CE.
142 Renato de Oliveira Fernandes

O campus atualmente oferece quatros cursos de graduação: Enge-


nharia de Produção, Física, Matemática e Tecnologia da Construção Civil
com habilitação em Edifícios e Topografia e Estradas.

Figura 2. Fachada principal do campus (A) e


detalhe de áreas comuns de jardim e corredores (B)

Fonte: Elaboração própria, 2017.

A edificação possui uma grande área coberta, estimada em 2.513,46


m², sendo quase toda de telhas metálicas. Para a drenagem da água pluvial
existem calhas de zinco, e condutores verticais e horizontais de PVC, com
150 mm e 100 mm de diâmetro. Verificou-se no projeto hidrossanitário da
edificação que os condutores de drenagem de água pluvial estão ligados
diretamente na rede de escoamento de águas pluviais.
A estimativa do consumo de água do campus Crajubar foi realiza-
da por meio de levantamento de dados junto às coordenações dos cursos
de graduação, entrevistas com os usuários e na prefeitura do campus. Os
pontos de consumo de água do campus foram determinados por meio de
inspeção na edificação.
A estimativa dos custos mensais de consumo de água potável e ope-
ração do sistema de captação e armazenamento de água da chuva consi-
deraram a tarifa praticada (ano: 2012) pela concessionária de energia elé-
Gerenciamento da Construção Civil 143

trica (0,53746 R$/kWh), para o funcionamento do sistema de recalque, e


o valor cobrado (R$ 6,25) pela concessionária de saneamento por metro
cúbico de água.

2.2 Aproveitamento de água da chuva

Segundo a ABNT (15527/2007), o volume de água aproveitável


para captação da chuva (Vct), na escala anual, mensal ou diária, depen-
de do coeficiente de escoamento superficial da cobertura (C), da área de
cobertura (A) e da precipitação média anual, mensal ou diária (P) obede-
cendo à equação 1.

VCt = P . A . C . fator de captação


(1)

Nessa equação, h é a eficiência do sistema de captação, levando em


conta o dispositivo de descarte das primeiras chuvas para limpeza da su-
perfície de captação da água de chuva. O coeficiente h, também chamado
de first flush, na falta de dados mais precisos, pode ser adotado como
sendo 2 L/m2 de telhado, que seria um volume suficiente para limpeza
do telhado nas primeiras chuvas. Pode-se também adotar o produto do
coeficiente de escoamento (Tabela 2) pelo fator de captação (C.h) igual a
0,80 (TOMAZ, 2003).

Tabela 2. Coeficiente de escoamento


Material Coeficiente de escoamento – C

Telhas cerâmicas 0,80 a 0,90

Telhas esmaltadas 0,90 a 0,95

Telhas corrugadas de metal 0,80 a 0,90

Cimento amianto 0,80 a 0,90

Plástico, PVC 0,90 a 0,95

Fonte: Tomaz, 2003.

Os parâmetros área (A) e coeficiente “C” dependem apenas das ca-


racterísticas da cobertura de captação (dimensões e material) e o último
parâmetro (h) depende do volume a ser descartado das primeiras chuvas
para garantir a qualidade da água.
144 Renato de Oliveira Fernandes

2.2.1 Restrições de usos

Devido à possibilidade do carreamento de impurezas presentes na


atmosfera ou dos dispositivos usados durante a captação, a água de chuva
pode se tornar não potável. A água não potável é aquela que não atende aos
padrões de potabilidade definidos na Portaria nº 2.914/2011 do Ministé-
rio da Saúde (BRASIL, 2011).
Assim, quando não existe continuamente avaliação da qualidade e
sistema de tratamento da água da chuva, torna-se necessário limitar os
usos para evitar problemas com a saúde dos usuários.
Alguns dos principais usos da água captada pela chuva para fins não
potáveis citados por Tomaz (2003) são: (i) descargas em bacias sanitárias;
(ii) irrigação de gramados e plantas ornamentais; (iii) lavagem de veículos;
(iv) limpeza de calçadas e ruas; (v) limpeza de pátios; (vi) espelhos d’água;
(vii) usos industriais; (viii) reserva para combate a incêndio

2.2.2 Dimensionamento da cisterna

Por ser considerado um elemento fundamental do sistema, a escolha


da melhor opção para o reservatório e a determinação apropriada do seu
volume são itens fundamentais para tornar o sistema de aproveitamento
de água de chuva viável economicamente.
A instalação e o tipo de material utilizado para o reservatório são
dados essenciais e devem ser determinados com base nos fatores técnicos.
Assim, fatores como o projeto arquitetônico da edificação, as condições do
terreno, fatores financeiros, disponibilidade de mão de obra e materiais no
mercado são, segundo Campos (2004), considerados no dimensionamento
e construção da cisterna.
O anexo da norma NBR 15.527/2007 da ABNT (Água da Chuva –
Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis
– Requisitos) apresenta alguns métodos para cálculo da cisterna (ABNT,
2007). Entre tais métodos os mais conhecidos e usados são o Método de
Azevedo Neto, de Rippl e da Simulação. Este estudo utiliza o método da si-
mulação implementada no software Netuno 3.0 (GHISI; CORDOVA; ROCHA,
2011) com demandas variáveis e coeficiente de aproveitamento de água da
chuva igual a 0,8. Outros detalhes sobre a metodologia aplicada podem ser
obtidos em Fernandes et al. (2015; 2013a; 2013b).
Gerenciamento da Construção Civil 145

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Climatologia de chuva na Região Metropolitana do Cariri

A partir dos dados obtidos das nove estações pluviométricas nos


municípios em estudo, foram gerados gráficos da precipitação média men-
sal para cada município da RMC (Figura 3).

Figura 3. Climatologia da chuva média mensal para as nove estações pluviométricas


localizadas em cada município da RMC no período de 1981-2011

Fonte: Elaboração própria, 2017.

Observa-se na Figura 3 que o regime de precipitação para os nove


municípios é semelhante, tendo as maiores lâminas precipitadas nos me-
ses de janeiro a abril, com valores máximos no mês de março. Uma das
estações pluviométricas que apresentou precipitação média inferior aos
demais municípios foi a do Jardim. Observa-se nessa estação a precipita-
ção média mensal significativamente inferior à maioria dos outros muni-
cípios em 6 dos 12 meses. A estação pluviométrica que registrou maior
precipitação média anual acumulada foi no município de Barbalha, com
1.084 mm/ano, seguido do Crato, com 1.079 mm/ano e Caririaçu com
1.077 mm/ano.
146 Renato de Oliveira Fernandes

3.2 Aparelhos hidrossanitários e demandas de água do campus


CRAJUBAR/URCA

Os dados obtidos por meio das coordenações dos cursos de gradua-


ção e a prefeitura do campus indicaram população de 866 usuários, sendo
782 estudantes e 84 funcionários (segundo semestre de 2012). As deman-
das de água por equipamento hidrossanitário e área de irrigação e lavagem
de piso estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Demandas de água potável do campus Crajubar/Urca

Descrição Quant. Consumo (m3/mês) Percentual (%)

Usos em aparelhos hidrossanitários

Torneiras 39 200,08 16,95

Chuveiros 06 224,64 19,03

Bacias sanitárias 21 367,01 31,11

Mictórios 02 363,54 30,80

Bebedouros 01 7,58 0,64

Usos em atividades não potáveis selecionadas

Irrigação de jardim 1.300 m2 15,60 1,32

Lavagem de pisos 2.370 m2 1,75 0,15

Total 1.180,29 100,00


Fonte: Elaboração própria, 2017.

O estudo selecionou os consumos para irrigação de jardim e lavagem


de piso (Tabela 3), que são poucos exigentes quanto à qualidade da água,
para serem substituídos por água da chuva, sem nenhum tratamento pré-
vio ou intervenções nas instalações do campus.
Apesar de outros pontos de consumos, como bacias sanitárias e
mictórios, terem a possibilidade de usar água da chuva por serem con-
siderados de usos menos nobres, estes foram desconsiderados por de-
penderem de intervenções nas instalações da edificação, exigindo custos
adicionais. Todos os aparelhos hidrossanitários atuais do campus são do
tipo convencional e não incluem tecnologias de economia. As interven-
ções tecnológicas na edificação indicaram redução no consumo de água
de 582,3 m3/mês (Tabela 4).
Gerenciamento da Construção Civil 147

A intervenção tecnológica que deve gerar maior economia relativa no


consumo de água potável é o uso de bacia sanitária com válvulas de descarga
de ciclo seletivo (57,5%), seguido por torneiras com aeradores (55,2%) e
mictórios com válvulas de descargas acionadas por sensores (49,9%).

Tabela 4. Economia relativa de água potável devido ao uso de aparelhos


hidrossanitários poupadores de água no campus Crajubar/Urca

Consumo com Consumo com Redução


Pontos de
Intervenção aparelhos aparelhos do volume
consumo de
tecnológica convencionais poupadores consumido
água potável
(m3/mês) (m3/mês) (m3/mês)

Válvula de descarga
Bacias sanitárias 367,01 155,88 211,1
de ciclo seletivo

Válvula de descarga
Mictórios 363,54 181,77 181,7
por sensor

Torneiras Uso de arejadores 200,08 89,18 110,9

Chuveiros Uso de arejadores 224,64 146,02 78,6

Total 1.155,27 572,85 582,3


Fonte: Elaboração própria, 2017.

3.3 Garantias de abastecimento da cisterna

A Figura 4 mostra a variação das garantias de abastecimento em fun-


ção dos volumes da cisterna no campus.

Figura 4. Variação das garantias de atendimento total à demanda de


água em função do volume da cisterna para o campus Crajubar/Urca

Fonte: Elaboração própria, 2017.


148 Renato de Oliveira Fernandes

Observando a Figura 4, é possível evidenciar a influência da variabili-


dade climática da região nas garantias de abastecimento de água na cisterna.
Verifica-se que, mesmo aumentando o volume da cisterna até 30 m3, a garan-
tia total de água chega, no máximo, a 60%, devido aos limites impostos pela
variabilidade da chuva que geram falhas no atendimento (total ou parcial),
criando a necessidade do uso de água potável para suprir as demandas.

3.4 Avaliação financeira

Os custos para a implantação do sistema de aproveitamento de água


da chuva e a substituição dos aparelhos convencionais por economizado-
res foram analisados objetivando indicar a sua viabilidade econômica. Os
custos com tais intervenções tecnológicas resumem-se basicamente em
custos iniciais com materiais, equipamentos e mão de obra. Além disso,
foram incluídos os custos com energia elétrica necessária ao bombeamen-
to de água durante a operação. Já os custos de manutenção, como limpeza
de cisterna e reparo dos aparelhos hidrossanitários com defeito não foram
considerados no orçamento.
Os custos foram obtidos da tabela de custos unificada (Tabela 19,
10/2012) da Secretaria de Infraestrutura do Estado do Ceará (SEINFRA,
2012) e mediante pesquisa de mercado. Os custos com tubulações e cone-
xões no sistema de aproveitamento de água da chuva foram estimados em
função de um percentual de 15% do custo total de implantação do sistema.
A Figura 5 apresenta os custos para implantação dos sistemas de aprovei-
tamento de água da chuva e instalação dos aparelhos economizadores de
água no campus Crajubar/Urca.

Figura 5. Investimento inicial para implantação das intervenções tecnológicas

Fonte: Elaboração própria, 2017.


Gerenciamento da Construção Civil 149

Como apresentado na Figura 5, o custo inicial para instalação das


duas intervenções tecnológica visando à conservação da água na edifica-
ção foi estimado em aproximadamente R$ 48.000,00. As torneiras com
aeradores são responsáveis pela maior parte do investimento (42,5%), se-
guido pela cisterna (21,3%).
Considerando a operação da edificação, o custo mensal com consu-
mo de água potável fornecido, exclusivamente, pela concessionária de água
seria de R$ 7.376,80 e poderia diminuir para R$ 3.668,10 com a implanta-
ção/operação do sistema de captação de água da chuva e o uso dos apare-
lhos economizadores, principalmente.

4 CONCLUSÕES

O estudo avaliou as potencialidades de intervenções tecnológicas em


edificações públicas visando à conservação da água. Como estudo de caso,
foi realizado um diagnóstico das demandas de água em uma edificação edu-
cacional pública do Cariri cearense e estimado a economia de água potável
quando da adoção de aparelhos economizadores e o aproveitamento de água
da chuva. Para o correto dimensionamento do sistema de aproveitamento de
água da chuva foi necessário avaliar a climatologia de chuva da região.
Os resultados indicaram forte interferência do regime de chuva local
nas garantias de abastecimento das cisternas, mas com a possibilidade de
substituir metade do volume de água potável usada para as atividades de
lavagem de pisos e irrigação de jardim por água coletada da chuva.
A estimativa das demandas de água indicou que 63,4% dos usos fi-
nais são para usos não potáveis, com baixa restrição quanto à qualidade da
água, e que poderiam, com tratamentos mínimos, ser substituídos por ou-
tras fontes alternativas. Esses usos incluem descargas em bacias sanitárias
e mictórios, lavagem de pisos e irrigação de jardim.
No diagnóstico da demanda verificou-se que a bacia sanitária é o
aparelho responsável pelo maior consumo de água potável (31%) na edi-
ficação. Desse modo, a substituição apenas das bacias sanitárias conven-
cionais por bacias com válvula de descarga de ciclo seletivo poderia gerar
economia de aproximadamente 18% no consumo de água potável da edi-
ficação estudada.
O uso de aparelhos hidrossanitários poupadores de água podem ge-
rar economia de até 49% no consumo de água potável no campus Craju-
150 Renato de Oliveira Fernandes

bar/Urca. Dessa forma, o uso dos aparelhos poupadores se mostrou uma


intervenção com alto potencial de economia de água potável. Além disso, a
substituição de tais aparelhos poderia ser facilmente realizada por não ne-
cessitar de adaptações importantes nas instalações de água fria.
O investimento inicial estimado para implantação das duas tecnolo-
gias estudas foi de R$ 47.879,10. Esse investimento possibilitaria econo-
mia de aproximadamente 50% no consumo de água potável na edificação
e uma economia monetária de R$ 3.668,10 ao mês, com a redução na conta
de água da edificação cobrada pela companhia de saneamento.

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SOS HÍDRICOS, 19., 2011, Maceió. Anais... Maceió: ABRH, 2011.
DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO
AMBIENTAL DAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DIRETA
DA CHAPADA DO ARARIPE, UTILIZANDO
TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO E
SENSORIAMENTO REMOTO

Janeide Ferreira Alencar de Oliveira1

RESUMO: O objetivo desta pesquisa é analisar a evolução socioeconômica am-


biental dos municípios que compõem a Chapada do Araripe, formada pelos es-
tados do Ceará, Pernambuco e Piauí, e seus consequentes efeitos sobre a cober-
tura vegetal da região, por meio de técnicas de geoprocessamento, resultando
em mapas coropléticos das variáveis pesquisadas. Para este conjunto de muni-
cípios é apresentado o diagnóstico socioeconômico ambiental a partir de uma
pesquisa quali-quantitativa, apoiando-se em informações de caráter secundá-
rio, tendo como principais fontes o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). A análise inicia-se
pela caracterização demográfica, culminando na caracterização e detalhamento
do extrativismo vegetal com análise estatística da correlação com variáveis, por-
centagem geográfica de cada estado, área total de estudo e o quantitativo em
tonelada do extrativismo vegetal. Os dados são tratados de forma agregada por
municípios e também com suas variáveis. Elaborou-se uma base cartográfica de
escala temática, a qual representa os principais temas (fenômenos) abordados
aqui. Caracterizando uma cobertura populacional da área de estudo de 0,26% da
população nacional e 5,82% do estado do Ceará. Não se observa em evidência
uma política ambiental nos municípios que interligam a Chapada do Araripe. A
utilização da lenha como fonte energética acompanha o crescimento socioeco-
nômico da região. No entanto, deve-se analisar de forma criteriosa a viabilidade
econômica e ambiental dos planos de manejo florestais, reduzindo a exploração
desordenada da região do Araripe.
Palavras-chave: Chapada do Araripe. Diagnóstico. Socioeconômico.

1
Mestre em Gestão Ambiental pelo Instituto Tecnológico do Pernambuco – ITEP. Especia-
lista em Gerenciamento da Construção Civil – URCA. Especialista em Geoprocessamento
e Georreferenciamento de imóveis rurais pelo INBEC. Especialista em Ensino Pedagógico
em Matemática, pela UECE-Fortaleza-CE. Pós-graduanda em Gestão e Docência do Ensino
Superior pela Faculdade Paraíso – FAP. Assessora Técnica do Instituto Tecnológico do Cariri
– ITEC/URCA. Tecnóloga em Construção Civil com habilitação em Topografia e Estradas.
E-mail: janeide1313@gmail.com
154 Janeide Ferreira Alencar de Oliveira

1 INTRODUÇÃO

Um dos principais desafios para a gestão do território reside na ne-


cessidade de estabelecer um entendimento dos dilemas das relações socie-
dade-natureza: expansão de áreas agrícolas x áreas conservadas, expansão
de núcleos urbanos x processos de apropriação de recursos naturais, assim
como intensificação de processos de desequilíbrio ambiental.
Inatomi e Udaeta (2014) descrevem que a sustentabilidade é um
tema atualmente discutido em vários segmentos do meio acadêmico. Isso
ocorre devido à conscientização por meio de pesquisas científicas de que
o impacto ambiental promovido pela humanidade para o desenvolvimento
das nações pode se tornar o limite desse mesmo desenvolvimento, além de
causar danos tanto reversíveis e custosos em longo prazo, como irreversí-
veis à humanidade e ao mundo. Atualmente, o desenvolvimento sustentá-
vel é visto como uma necessidade mundial, uma ferramenta para que as
gerações futuras tenham condições de sobreviver.
A ameaça à sobrevivência humana em face da degradação dos recur-
sos naturais, a extinção das espécies da fauna e flora, e o aquecimento da
temperatura devido à emissão de gases poluentes fizeram a questão am-
biental ocupar um lugar de destaque nos debates internacionais. O meio
ambiente de uma empresa é constituído por diversas formas de relacio-
namento, considerando as disciplinas gerenciais, as técnicas e o processo
de produção junto às instalações e ao meio interno e externo, incluindo-se
também a relação entre mercado, cliente, fornecedores, comunidade e con-
sumidor (KRAEMER, 2012).
Silva Neto (2013) afirma, em trabalho cujo objetivo foi realizar a aná-
lise da evolução socioeconômica ambiental dos municípios que compõem
a Chapada do Araripe, estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, e seus conse-
quentes efeitos sobre a cobertura vegetal da região, que o acesso rodoviá-
rio às cidades de maior porte permite à população rural do topo da Chapada
do Araripe se abastecer a partir dos principais centros urbanos, ficando os
distritos com oferta de produtos apenas para uso emergencial e ocasional.
A partir de uma situação vivenciada, este trabalho se justifica na ne-
cessidade crescente de investigar os problemas da expansão antrópica na
Chapada do Araripe, os quais possam impactar no aceleramento do pro-
cesso de degradação. A região se constitui como uma das mais importantes
localidades de cobertura vegetal do semiárido, por possuir uma extensão
de aproximadamente 1.042.503,85 ha.
Gerenciamento da Construção Civil 155

O diagnóstico socioeconômico ambiental a partir de uma pesquisa


quali-quantitativa, apoiando-se em informações de caráter secundário,
tendo como principais fontes o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (IBGE) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), é o prin-
cipal objetivo deste trabalho. Tem como objetivo específico a análise da ca-
racterização demográfica, socioeconômica, culminando na caracterização
e detalhamento do extrativismo vegetal com análise estatística da correla-
ção com três variáveis, porcentagem geográfica de cada estado, área total
de estudo e o quantitativo em tonelada do extrativismo vegetal em três
aspetos diferentes, torra, carvão e lenha. Os dados são tratados de forma
agregada por municípios e também com suas variáveis. Elaborou-se uma
base cartográfica de escala temática.

2 CHAPADA DO ARARIPE

Primeira Floresta do Brasil, localizada na região Nordeste do Bra-


sil, a Chapada do Araripe, segundo Campello et al. (1999), foi considerada
Área de Proteção Ambiental a partir do Decreto Federal de 04/08/1997.
Inserida no coração do Nordeste, possui localização e extensão estraté-
gicas e importantes, abrangendo uma área total de 1.042.503,85 ha, com
distância variando de 600 a 800 km das principais cidades do Nordes-
te. Administrativamente, seu espaço geográfico pertence a três estados,
sendo composto por um conjunto de 33 municípios, assim distribuídos:
Ceará (15), Pernambuco (10) e Piauí (8), sendo 47% no Ceará, 36% no
Pernambuco e 17% no Piauí. Encontra-se próxima a dois grandes centros
urbanos e polos industriais, usuários de produtos florestais (Cariri-CE e
Araripina-PE), além de pertencer a uma região historicamente envolvida
em ações de mudanças.
A Chapada do Araripe, abrangendo os estados do Ceará, Pernam-
buco e Piauí, possui área que cobre uma superfície de aproximadamente
180 km de comprimento (na direção Leste-Oeste) e largura variável entre
30 e 50 km, com uma área total de 1.042.503,85 ha. No geral, o topo da cha-
pada encontra-se entre as altitudes de 850 e 1000 m, sendo que o desnível
médio do topo até a sua base pode chegar a 300 m (LIMA et al., 2012). Está
situada entre as latitudes 07˚24’00” Sul e longitude 39˚15’00” Oeste.
156 Janeide Ferreira Alencar de Oliveira

Figura 1. Mapa de localização da Chapada do Araripe

Fonte: Autora (2016).

A Floresta Nacional do Araripe (FLONA-ARARIPE) constitui ainda


importante refúgio para a fauna regional, inclusive para espécies amea-
çadas de extinção. Como Unidade de Conservação de Uso Direto, a Flona-
-Araripe admite: pesquisa científica, recreação e lazer, educação ambiental,
manejo florestal sustentável e turismo. Além disso, protege o solo, facilita a
infiltração das águas pluviais alimentando o aquífero do Araripe, permitin-
do o desenvolvimento e a conservação de um patrimônio genético de valor
incalculável (IBAMA, 2013).
Segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente – IBAMA (2013),
a floresta está situada em uma região onde as condições de clima e solo
predispõem a desertificação, onde a redução da área de cobertura vegetal
nativa entre 1984 e 1990 atingiu 27.495.000 há, e em um estado onde a
área antropizada atinge 84%.
A Chapada do Araripe foi destacada em 2008 no II Simpósio Bra-
sileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação, através
de pesquisa do Programa de Doutorado em Recursos Naturais da UFCG,
que objetivou o estudo das suas vulnerabilidades e da sua desertificação
no Ceará, Pernambuco e Piauí. Os resultados mostraram um alto nível
de vulnerabilidade da população rural que mostra a pobreza extrema
da região.
Gerenciamento da Construção Civil 157

Em 2010, foi fruto de um artigo produzido por Sá et al. (2010), que


abordaram a cobertura vegetal e o uso da terra na região do Araripe per-
nambucano, enfatizando os municípios de Araripina, Ouricuri, Trindade,
Bodocó e Ipubi.

3 GEOPROCESSAMENTO

Geoprocessamento é um conjunto de técnicas e metodologias de


armazenamento que integram coleta e processamento de dados espa-
ciais e não espaciais, com utilização de técnicas matemáticas e computa-
cionais. Envolvem ferramentas de sensoriamento remoto, geodesia por
satélite, cartografia digital, topografia automatizada, sistemas de infor-
mações geográficas e manuseio de banco de dados. É atualmente uma
ferramenta de grande serventia para tomadas de decisões sobre proble-
mas urbanos e ambientais, apresentando um enorme potencial dentro
de tecnologias de custo relativamente baixo (PONTES, 2002; CEFETGO,
2006; CAMARA; MEDEIROS, 2003).
Horstmann et al. (2011) analisaram o desmatamento na Chapada
do Araripe utilizando dados obtidos do site do IBAMA. O trabalho foi de-
senvolvido no Sistema de Coordenada Geográfica Datum SAD 69, o Siste-
ma de Coordenadas Projetadas utilizadas foi o Albers Equal Area Conic.
O shape da Chapada do Araripe foi vetorizado pela análise de cartas de
elevação digital ASTER GDEM. Horstmann priorizou a análise do solo, re-
sultando que, até 2009, aproximadamente 65% da área da Chapada do
Araripe foi desmatada.
De acordo com Fitz (2010), cada país adota um sistema de referência
próprio, baseado em parâmetros predeterminados a partir de normas es-
pecíficas. O Sistema Geodésico Brasileiro (SGB), por exemplo, é composto
por redes de altimetria, gravimetria e planimetria.
Segundo Galvíncio (2012), a utilização de produtos e técnicas de
sensoriamento remoto e geoprocessamento nas análises ambientais,
torna-se uma prática cada vez mais frequente entre as diversas áreas de
pesquisa. No caso do uso da terra e da cobertura vegetal, estas técnicas
contribuem de modo expressivo para a rapidez, eficiência e confiabilida-
de nas análises que envolvem os processos de degradação da vegetação
natural, fiscalização dos recursos florestais, desenvolvimento de políticas
conservacionistas, bem como vários outros fatores que podem ocasionar
modificações na vegetação.
158 Janeide Ferreira Alencar de Oliveira

3.1 Sistema de Informação Geográfica (SIG)

O termo Sistema de Informação Geográfica (SIG) caracteriza os sis-


temas de informação que possibilitam a realização de operações de análise
espacial envolvendo dados georreferenciados, ou seja, dados referencia-
dos geograficamente em relação à superfície terrestre. Uma das principais
características de um SIG é sua capacidade de manipular dados gráficos
(cartográficos) e não gráficos (descritivos) de forma integrada, provendo
uma forma consistente para análise e consulta. É possível, dessa forma, ter
acesso às informações descritivas de uma entidade geográfica a partir de
sua localização geográfica e vice-versa. Denomina-se entidade geográfica
qualquer fenômeno do mundo real que possua atributos associados à sua
localização sobre a superfície terrestre num certo instante ou intervalo de
tempo (LISBOA FILHO, 1996).
Deve também ser ressaltada a importância do aspecto multitempo-
ral obtido com a utilização do Sensoriamento Remoto, que permite o regis-
tro de grandes áreas (de dezenas a milhares de quilômetros/hectares) com
uma alta taxa de repetição (entre dias e semanas), possibilitando a análise
das modificações antes e após a ocorrência da deflagração dos processos
relativos a deslocamento das informações.
Mediante a informações de Horstmann et al. (2011), as informações
espaciais referentes ao processo de desmatamento são estratégicas para
responder questões a respeito do que está acontecendo e do que pode vir
a acontecer em determinado espaço geográfico. A estrutura do SIG pode
ser usada, portanto, como ferramenta, auxiliando na análise e manipulação
de dados geográficos, além de ser útil na construção de bancos de dados
geográficos e na produção de mapas.
Sonwalkar et al. (2010) apresentaram análises de séries temporais
em áreas próximas à Tar Creek, Agência de Proteção Ambiental em Ottawa
County, descrevendo um método que pode ser usado para combinar os da-
dos de imagens e os dados detectados remotamente do aspecto espacial
dentro da estrutura de um SIG.

3.2 Sensoriamento remoto

Segundo Lisboa Filho (1996), Sensoriamento Remoto é definido


como “a ciência e a arte de se obter informações sobre objetos, áreas ou fe-
nômenos, através da análise dos dados adquiridos por um dispositivo que
não esteja em contato com o objeto, área ou fenômeno sob investigação”.
Gerenciamento da Construção Civil 159

Descreve ainda o autor que um dos métodos pioneiros de sensoria-


mento remoto é a obtenção de fotografias aéreas tiradas de aviões trans-
portando câmaras fotográficas especialmente instaladas para este fim. Fo-
tografias aéreas podem ser utilizadas de duas formas: como imagens de
fundo sobre as quais são apresentadas outras informações; ou como fonte
de dados, auxiliando a entrada de dados via digitalização. Antes de serem
utilizadas, as fotografias aéreas necessitam passar pelo processo de ortor-
retificação, para corrigir as distorções decorrentes do relevo da área foto-
grafada. Um método de sensoriamento remoto, de grande importância no
processo de captura de dados para SIG, é a obtenção de imagens digitais a
partir de sensores transportados por satélites colocados em órbitas terres-
tres. Ainda segundo Filho (1997), existem diversas propriedades básicas
para um sensor eletromagnético.
Lima et al. (2001) apresentaram o uso de imagens TM/Landsat-5
(análise visual e processamento digital), de medidas superficiais de tem-
peratura e de um SIG na identificação e mapeamento de solos afetados por
sais na região de Souza, na Paraíba.
Segundo Blaschke et al. (2009), SIG e Sensoriamento Remoto estão
cada vez mais amalgamados. A velocidade e a dinâmica dessa interpreta-
ção de dois universos, antes essencialmente separados, aumentaram con-
sideravelmente nos últimos anos. Para tanto, a integração cada vez mais
intensa de dados de sensoriamento remoto e SIG num ambiente de mesa
(Desktop) desempenhou um importante papel.
A área de sensoriamento remoto trata os aspectos ligados à captu-
ra, armazenamento, análise e interpretação de dados obtidos por meio de
sensores remotos. Por ser uma área intimamente relacionada com a área
de SIG, esta seção descreve alguns fundamentos que permitem uma me-
lhor visão dos mecanismos de obtenção de dados para as aplicações geo-
gráficas.

4 METODOLOGIA

Os municípios que confrontam com a Chapada do Araripe formam a


área de estudo, totalizando 33 cidades, e estão localizados em três estados
distintos, Ceará, Pernambuco e Piauí:
Ceará: Abaiara, Araripe, Barbalha, Brejo Santo, Campos Sales, Crato,
Jardim, Jati, Missão Velha, Nova Olinda, Penaforte, Porteiras, Potengi,
Salitre e Santana do Cariri;
160 Janeide Ferreira Alencar de Oliveira

Pernambuco: Araripina, Bodocó, Cedro, Exu, Granito, Ipubi, Morei-


lândia, Ouricuri, Serrita e Trindade;
Piauí: Belém do Piauí, Caldeirão Grande do Piauí, Curral Novo, Fran-
cisco Macedo, Fronteiras, Marcolândia, Padre Marcos e Simões.

Para este conjunto de municípios, é apresentado o diagnóstico socioe-


conômico ambiental a partir de uma pesquisa quali-quantitativa, apoiando-
-se em informações de caráter secundário, tendo como principais fontes o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesqui-
sa Econômica Aplicada (IPEADATA). A pesquisa inicia-se pela caracterização
demográfica, culminando na caracterização e detalhamento do extrativismo
vegetal com análise estatística da correlação com três variáveis, porcenta-
gem geográfica de cada estado, área total de estudo e o quantitativo em to-
nelada do extrativismo vegetal em três aspetos diferentes, torra, carvão e
lenha. Os dados são tratados de forma agregada por municípios e também
com suas variáveis. Elaborou-se uma base cartográfica de escala temática, a
qual representa os principais temas (fenômenos) abordados aqui.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Caracterização demográfica

Esta seção apresenta os dados demográficos da área de estudo. A aná-


lise destes dados é importante, apresentando variáveis em território, popu-
lação urbana e rural, densidade demográfica, percentual de taxa de urbani-
zação e percentual da taxa rural. Os dados foram extraídos do IBGE e IPEA
compostos pelo Censo dos anos de 1980 e 2010. É importante salientar que
os municípios que não aparecem na tabela do Censo 1980 ainda não tinham
sido emancipados, portanto não constam dados quantitativos do IBGE.
Os municípios que compõem a área de estudo no estado do Ceará
totalizam 15 cidades. Esses municípios representam 0,11% do território
nacional e 6,41% do estado do Ceará, tendo um valor total de 9.407 km².
Em relação à distribuição da população por municípios, observa-se
que ela não se distribui uniformemente, havendo uma maior concentra-
ção urbana no município de Crato com 121.428 habitantes, destacando-se
também entre os municípios da área de estudo para maior concentração
urbana com 100.916 habitantes e maior concentração rural com 20.512
habitantes. Com menor concentração populacional tem-se o município de
Gerenciamento da Construção Civil 161

Jati, com 7.660 habitantes, sendo que 4.489 na zona urbana e 3.171 habi-
tantes na zona rural.
Em decorrência do aumento populacional do Censo apresentado de
1980 com 120.795 habitantes, 28,18%, em comparação ao Censo de 2010
apresentou um aumento de 44.048 habitantes, 10,27%.

Tabela 1. Censo Demográfico 1980 – Área de Estudo


Municípios Área de População Tx. Tx.
Território Dens. Dem.
Estudo Urb. Rural
em km² Total Urbana Rural (hab/km²)
(Censo 1980) (%) (%)

Abaiara (CE) 209 6650 964 5686 31,36 14,50 85,50

Araripe (CE) 853 15005 4383 10622 17,43 29,21 70,79

Araripina (PE) 1672 48015 15769 32246 28,48 32,84 67,16

Barbalha (CE) 497 31440 15387 16053 62,39 48,94 51,06

*Belém do Piauí (PI) - - - - - - -

Bodocó (PE) 1829 26164 5012 21152 14,12 19,16 80,84

Brejo Santo (CE) 631 26907 10707 16200 42,08 39,79 60,21

Campos Sales (CE) 2809 32603 11991 20612 11,44 36,78 63,22

*Caldeirão Grande - - - - - - -
do Piauí (PI)

Cedro (PE) 231 6557 1792 4765 28,16 27,33 72,67

Crato (CE) 1026 82082 59584 22498 78,75 72,59 27,41

*Curral Novo (PI) - - - - - - -

Exu (PE) 1251 33576 7795 25781 26,60 23,22 76,78

Francisco Macedo - - - - - - -
(PI)

Fronteiras (PI) 832 14545 3316 11229 17,34 22,80 77,20

Granito (PE) 635 5327 551 4776 8,21 10,34 89,66

Ipubi (PE) 674 18407 6080 12327 27,09 33,03 66,97

Jardim (CE) 600 22871 4433 18438 37,51 19,38 80,62

Jati (CE) 313 7757 2141 5616 24,51 27,60 72,40

*Marcolândia (PI) - - - - - - -

Moreilândia (PE) 465 12248 3043 9205 26,34 24,84 75,16

Missão Velha (CE) 559 29998 9882 20116 51,52 31,21 68,79
162 Janeide Ferreira Alencar de Oliveira

Nova Olinda (CE) 179 9769 3372 6397 54,48 34,52 65,48

Ouricuri (PE) 5021 64792 14973 49819 12,76 23,11 76,89

Padre Marcos (PI) 703 15902 1242 14660 22,41 7,81 92,19

Penaforte (CE) 213 5536 1382 4154 26,02 24,96 75,04

Porteiras (CE) 206 13924 2278 11646 67,00 16,36 83,64

Potengi (CE) 389 7217 2560 4657 67,00 16,36 83,64

*Salitre (CE) - - - - - - -

Santana do Cariri 923 16895 4642 12253 17,98 27,48 72,52


(CE)

Serrita (PE) 1664 18496 1913 16583 11,02 10,34 89,66

Simões (PI) 1237 18459 2532 15927 14,74 13,72 86,28

Trindade (PE) 245 13203 8295 4908 53,60 62,83 37,17


Fonte: IBGE (2016/2017).

Figura 2. Mapa Censo 1980 – Área de Estudo

Fonte: Autora (2016/2017).

Os municípios que compõem a área de estudo no estado de Per-


nambuco totalizam 10 cidades. Esses municípios representam 0,16% do
território nacional e 13,92% do estado de Pernambuco, tendo um valor
total de 13.687 km².
Gerenciamento da Construção Civil 163

Em termos de densidade demográfica, destaca-se o município de


Trindade, que registrou no Censo de 1980 um valor de 53,60 hab/km²,
vindo em seguida o município de Araripina, com 28,48 hab/km². O menor
índice é do município de Granito, com um valor de 8,21 hab/km².
A cobertura populacional da área da Chapada do Araripe é 0,16% em
relação à população nacional e tem um percentual de área equivalente de
3,52% em relação ao estado de Pernambuco. Os municípios pernambuca-
nos ligados diretamente à Chapada do Araripe apresentam um censo po-
pulacional (1980) de 246.785 habitantes, sendo distribuídos entre popu-
lação residente na zona urbana (65.223 habitantes) e população residente
na rural (181.562 habitantes).

Tabela 2. Censo Demográfico 2010 – Área de Estudo


Municípios Área de População Dens. Tx. Tx.
Território
Estudo Dem. Urb. Rural
em km² Total Urbana Rural
(Censo 2010) (hab/km²) (%) (%)

Abaiara (CE) 178,80 10496 4552 5944 58,70 43,37 56,63

Araripe (CE) 1099,90 20685 12733 7952 18,81 61,56 38,44

Araripina (PE) 1892,00 77302 46908 30394 40,84 60,68 39,32

Barbalha (CE) 599,30 55323 38022 17301 92,31 68,73 31,27

*Belém do Piauí 243,30 4138 1603 2535 17,00 38,74 61,26


(PI)

Bodocó (PE) 1616,50 35158 12824 22334 21,75 36,48 63,52

Brejo Santo (CE) 663,40 45193 28055 17138 68,12 62,08 37,92

Campos Sales (CE) 1082,80 26506 19081 7425 24,48 71,99 28,01

Caldeirão Grande 494,90 5671 1662 4009 11,46 29,31 70,69


do Piauí (PI)

Cedro (PE) 171,60 10778 6291 4487 62,81 58,37 41,63

Crato (CE) 1157,90 121428 100916 20512 104,87 83,11 16,89

*Curral Novo (PI) 752,30 4869 1379 3490 6,47 28,32 71,68

Exu (PE) 1337,50 31636 16303 15333 23,65 51,53 48,47

Francisco Macedo 155,30 2879 1159 1720 18,54 40,26 59,74


(PI)

Fronteiras (PI) 775,70 11117 7288 3829 14,33 65,56 34,44

Granito (PE) 521,90 6855 3178 3677 13,13 46,36 53,64


164 Janeide Ferreira Alencar de Oliveira

Ipubi (PE) 861,40 28120 17278 10842 32,64 61,44 38,56

Jardim (CE) 519,10 26688 8994 17694 51,41 33,70 66,30

Jati (CE) 361,10 7660 4489 3171 21,21 58,60 41,40

*Marcolândia (PI) 143,90 7812 6707 1105 54,29 85,85 14,14

Moreilândia (PE) 404,60 11132 6838 4294 27,51 61,43 38,57

Missão Velha (CE) 650,50 34274 15419 18855 52,69 44,99 55,01

Nova Olinda (CE) 284,40 14256 9696 4560 50,13 68,01 31,99

Ouricuri (PE) 2422,90 64358 32596 31762 26,56 50,65 49,35

Padre Marcos (PI) 272,00 6657 2352 4305 24,47 35,33 64,67

Penaforte (CE) 141,90 8226 6399 1827 57,97 77,79 22,21

Porteiras (CE) 217,60 15061 6189 8872 69,21 41,09 58,91

Potengi (CE) 338,70 10276 5714 4562 30,34 55,60 44,39

*Salitre (CE) 804,30 15453 6263 9190 19,21 40,53 59,47

Santana do Cariri 855,60 17170 8822 8348 20,07 51,38 48,62


(CE)

Serrita (PE) 1514,40 18331 6356 11975 12,10 34,67 65,33

Simões (PI) 1071,50 14180 5689 8491 13,23 40,12 59,88

Trindade (PE) 229,50 26116 22464 3652 113,79 86,02 13,98


Fonte: IBGE (2016/2017).

Figura 3. Mapa Censo 2010 – Área de Estudo

Fonte: Autora (2016/2017).


Gerenciamento da Construção Civil 165

5.2 Extrativismo vegetal

De acordo com o Centro Nacional de Referência em Biomassa (2008),


carvão vegetal é definido como um produto sólido obtido por meio da car-
bonização da madeira, cujas características dependem das técnicas utili-
zadas para sua obtenção e o uso para o qual se destina. O rendimento do
carvão vegetal gira em torno de 25 a 35%, com base na madeira seca. Os
principais tipos de carvão são:
a) Carvão para uso doméstico: não deve ser muito duro; deve ser
facilmente inflamável e emitir o mínimo de fumaça. Sua composição quí-
mica não tem importância fundamental e pode ser obtido a baixas tem-
peraturas (350 a 400 ˚C);
b) Carvão metalúrgico: utilizado na redução de minérios de fer-
ro em alto-forno, fundição, etc. A preparação deste carvão necessita de
melhores técnicas em que a carbonização deve ser conduzida a elevadas
temperaturas (mínimo de 650 ˚C) com grande tempo de duração. Deve
ser denso, pouco friável e ter uma boa resistência, além de apresentar
baixa taxa de materiais voláteis e cinzas. O carvão deve ter no mínimo
80% de carbono;
c) Carvão para gasogênio: O carvão não deve ser muito friável; sua
densidade aparente não deve ultrapassar 0,3 g/cm³ e precisa ter um teor
de carbono de 75%;
d) Carvão ativo: usado para descoloração de produtos alimentares,
desinfecção, purificação de solventes, etc. O carvão deve ser leve e ter gran-
de porosidade. Para aumentar o poder absorvente, podem ser realizados
pré-tratamentos na madeira utilizada;
e) Carvão para a indústria química: as exigências variam segundo o
uso do carvão, mas, de modo geral, exige-se evidentemente boa pureza li-
gada a uma boa reatividade química;
f) Outros usos: carvão para a indústria de cimento (produto pulveri-
zado e com boa inflamabilidade).
De acordo com dados obtidos no IBGE referentes à extração vegetal
com quantidade produzida de madeira para transformação em carvão ve-
getal, no período de 2004 a 2010, os municípios que compõem a área de
estudo do estado cearense totalizam uma produção de 4.892 toneladas. No
ano de 2004, houve o pico mais elevado da produção, com 773 toneladas,
destacando-se o município de Santana do Cariri com maior quantidade de
extração, 155 toneladas.
166 Janeide Ferreira Alencar de Oliveira

Entre os anos de 2004 a 2010, o município que mais extraiu lenha


para carvão vegetal foi Santana do Cariri, com um total de 972 toneladas,
vindo em seguida Jardim, com 909 toneladas, e, por último, Missão Velha,
com 854 toneladas. O município de Penaforte não apresentou nenhum ín-
dice de extração. Dentre os municípios que apresentaram valores quanti-
tativos, o de menor índice foi o município de Abaiara, com 12 toneladas.
De acordo com dados obtidos no IBGE referentes à extração vegetal
com quantidade produzida de madeira para transformação em carvão vege-
tal, no período de 2004 a 2010, os municípios que compõem a área de estu-
do do estado pernambucano totalizam uma produção de 345.493 toneladas.
Destaca-se o ano de 2008 como sendo o ano de maior quantidade de
extração, com um total de 1.195 toneladas, com ênfase para o município de
Exu, com maior quantidade de extração de 831 toneladas.
Entre os anos de 2004 a 2010, o município que mais extraiu lenha
para carvão vegetal foi Exu, com um total de 2.455 toneladas, vindo em
seguida Ouricuri, com 953 toneladas, e por último Araripina com 634 to-
neladas. Dentro dos municípios que apresentaram valores quantitativos o
de menor índice foi o município de Trindade com 7 toneladas.
De acordo com dados obtidos no IBGE referentes à extração vegetal
com quantidade produzida de madeira para transformação em carvão ve-
getal, no período de 2004 a 2010, os municípios que compõem a área de
estudo do estado piauiense totalizam uma produção de 504 toneladas. Os
anos de 2009 e 2010 foram o maior quantitativo de produção, com 156
toneladas, com destaque para o município de Simões.
Entre os anos de 2004 a 2010, o município que mais extraiu lenha
para carvão vegetal foi Simões, com um total de 205 toneladas, vindo em
seguida Marcolândia, com 103 toneladas, e por último, Fronteiras, com 76
toneladas. O município de Belém do Piauí não apresentou nenhum índice
de extração. Dentre os municípios que apresentaram valores quantitativos,
o de menor índice foi o município de Padre Marcos, com 18 toneladas.

Tabela 6. Censo relacionado à extração vegetal de madeira para carvão vegetal


(ton.) entre os anos de 2004 a 2010 – Área de Estudo
EXTRAÇÃO VEGETAL
Municípios Quantidade produzida madeira p/ carvão vegetal (ton.)
Área de Estudo
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 TOTAL
Abaiara (CE) 2 2 2 2 2 1 1 12
Araripe (CE) 90 83 75 71 67 65 60 511
Gerenciamento da Construção Civil 167

Araripina (PE) 93 91 85 85 100 90 90 634


Barbalha (CE) 5 5 5 5 4 4 4 32
*Belém do Piauí (PI) - - - - - - - -
Bodocó (PE) 55 54 54 51 50 40 30 334
Brejo Santo (CE) 20 20 20 20 19 19 18 136
Campos Sales (CE) 3 3 3 3 3 3 3 21
Caldeirão Grande do 5 5 5 5 5 5 5 35
Piauí (PU)
Cedro (PE) 2 2 2 5 5 5 5 26
Crato (CE) 100 96 87 85 60 59 55 542
*Curral Novo (PI) 2 2 2 2 2 2 2 14
Exu (PE) 7 5 6 6 831 800 800 2455
Francisco Macedo (PI) 7 8 8 8 8 7 7 53
Fronteiras (PI 10 10 11 11 12 11 11 76
Granito (PE) 1 8 8 8 7 7 7 46
Ipubi (PE) 31 28 15 14 14 13 13 138
Jardim (CE) 132 132 132 132 128 127 126 909
Jati (CE) 34 34 34 34 33 33 31 233
Marcolândia (PI) 15 15 16 16 13 14 14 103
Moreilândia (PE) 2 2 2 30 31 30 30 127
Missão Velha (CE) 125 125 125 125 122 120 112 854
Nova Olinda (CE) 64 58 55 53 49 49 47 375
Ouricuri (PE) 130 130 150 140 138 130 135 953
Padre Marcos (PI) - - - - - 9 9 18
Penaforte (CE) - - - - - - - -
Porteiras (CE) 26 26 26 26 26 25 25 180
Potengi (CE) 15 15 14 13 13 12 12 94
Salitre (CE) 2 3 3 3 3 3 4 21
Santana do Cariri (CE) 155 148 140 135 136 128 130 972
Serrita (PE) 16 17 18 18 18 17 20 124
Simões (PI) 27 28 30 30 30 30 30 205
Trindade (PE) 1 1 1 1 1 1 1 7
TOTAL 1177 1156 1134 1137 1130 1859 1859 10240

Fonte: IBGE (2016/2017).


168 Janeide Ferreira Alencar de Oliveira

Figura 4. Censo relacionado à extração vegetal de madeira para carvão vegetal


(ton.) entre os anos 2004 a 2010 – Área de Estudo

Fonte: Autora (2016/2017).

De acordo com o Centro Nacional de Referência em Pequenas Cen-


trais Hidrelétricas – CERPCH (2014), a lenha foi a primeira fonte energé-
tica usada pelo homem para a obtenção do fogo, que, consequentemente,
passou a ser usado para aquecer e iluminar o ambiente, para cozer ali-
mentos e até mesmo defender-se de animais ferozes. O desenvolvimento
das técnicas de combustão fez da lenha a base energética da civilização
antiga, levando ao avanço de atividades importantes, como fabricação
de vidro, fundição de metais, cerâmica, etc. Pode-se obter a lenha por
meio do extrativismo vegetal de regiões reflorestadas ou de mata nativa.
É uma matéria-prima que está sendo usada ainda hoje por aproximada-
mente metade da população da Terra, em lareiras, fornalhas, fogões a
lenha, caldeiras em indústrias, visto ser uma fonte energética de baixo
custo. Consequentemente, tem recebido a denominação de energia dos
pobres, por ser parte significativa da base energética dos países em de-
senvolvimento, chegando a representar até 95% da fonte de energia em
vários países. Nos países industrializados, a contribuição da lenha chega
a um máximo de 4%.
Gerenciamento da Construção Civil 169

6 CONCLUSÃO

É importante destacar o grande potencial econômico da Floresta


Nacional do Araripe (FLONA), cuja biodiversidade é fonte inesgotável de
produtos de grande importância para as indústrias farmacêuticas, de cos-
méticos e alimentos.
Investimentos de empresas privadas, do governo estadual e das
obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal
estão movimentando em torno de 500 milhões de dólares a economia
local. Apenas os setores calçadistas e de confecções empregam direta-
mente mais de 15.000 pessoas. A região é o segundo polo econômico do
estado do Ceará, ficando atrás apenas de Fortaleza, segundo levantamen-
to do Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI) da Federação de
Indústria do Estado do Ceará (FIEC). Quanto maior o número de habi-
tantes que se estabelecem em parques ecológicos, mais chances existem
de acontecerem problemas sérios em termos ambientais. Empresas par-
ticulares e poder público precisam se organizar com projetos e cursos
que ensinem os trabalhadores a como fazerem o manejo ambiental sem
trazer danos ao meio ambiente.
Os municípios que envolvem a Chapada do Araripe têm um grande
potencial florestal, tendo em vista a exploração, pelos moradores, de pas-
to para gado, produção de mel, agricultura, pecuária, manejo sustentável,
comercialização de plantas medicinais e extração da madeira para abaste-
cimento de indústrias de cerâmica e gesso.
No entanto, deve-se analisar de forma criteriosa a viabilidade econô-
mica e ambiental dos planos de manejo florestais, reduzindo a exploração
desordenada da região do Araripe.

REFERÊNCIAS

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170 Janeide Ferreira Alencar de Oliveira

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GERENCIAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Reflexões sobre Sustentabilidade,
Planejamento e Controle de Obras

Sobre o organizador

JEFFERSON LUIZ ALVES MARINHO


Mestre em Engenharia e Tecnologia Ambiental
pela Universidad de León – Espanha. Mestre em
Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul
(UNISC). Especialista em Avaliações e Perícias
de Engenharia. Especialista em Engenharia
de Segurança do Trabalho. Especialista em
Administração de Empresas. Diretor do Instituto
Tecnológico do Cariri (ITEC). Professor da
Universidade Regional do Cariri (URCA). Chefe
do Departamento da Construção Civil (URCA).
Coordenador da pós-graduação lato sensu em
Gerenciamento da Construção Civil – ITEC/URCA.
Perito Judicial. Engenheiro civil e Advogado militan-
te. E-mail: jeff.marinho@urca.br
O gerenciamento de projetos consolidou-se definitivamente no cenário
profissional do Brasil. Influenciadas por um ambiente extremamente dinâmico,
com transformações acontecendo em altas velocidades e tendo produtos com
ciclos de vida cada vez mais curtos, as empresas brasileiras têm buscado adotar o
gerenciamento de projetos como estratégia vital para sua sobrevivência e para o
aumento de competitividade.
O livro ora apresentado tem o intuito de fornecer aos leitores uma contri-
buição acadêmica através da linguagem clara, ilustrada com estudos de casos e
fundamentada por uma rica bibliografia especializada, de diversos temas relacio-
nados ao gerenciamento da construção civil, sobretudo no tocante à sustentabili-
dade e gestão de obras.

Romeu e Silva Neto


Professor titular do IFF – Instituto Federal Fluminense
Coordenador do Curso de Engenharia de Produção do ISECENSA
Mestre em Engenharia Civil - UFF
Doutor em Engenharia de Produção – PUC-Rio
Pós-Doutor em Economia Industrial – UFRJ

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