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UERJ – Faculdade de Formação de Professores – FFP Cursos de Letras – ERE

– Lit. Brasileira I – 2021/1

1º. Tema: A inconstância do/no mundo


Proposta:
Leiam e reflitam. No início da produção literária, sob o signo
do Barroco, os temas ocidentais, principalmente os europeus
atravessaram todas as artes. A poesia lírica camoniana, por
exemplo, era lida e admirada pelos poetas que iniciavam sua
participação na cena literária brasileira. A inconstância das
coisas do mundo é um tema universal e permanece até hoje em
nossa literatura, produções culturais, música, artes plásticas,
jogos de adivinhação e de leitura do que entendemos como
destino (o Tarô, por exemplo). Selecione uma letra de música,
de qualquer época, que trate esse tema, com suas
peculiaridades. Traga para a próxima aula síncrona (data a ser
definida), assim poderemos trocar ideias, imagens e
percepções sobre a inconstância das coisas do mundo.

a) Soneto de Luís de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as
saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

a) Soneto de Gregório de Matos


Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?


Se é tão formosa a Luz, por que não
dura? Como a beleza assim se
transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza,


Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza,

Começa o mundo enfim pela ignorância,


E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.

b) A Roda da Fortuna, do Tarô mitológico

Texto de apoio – Trecho de “Ecos


do Barroco”, Capítulo de Alfredo
Bosi, in: História concisa da
literatura brasileira:

“Imagens e sons se mutuavam de vário


modo sem que pudesse determinar com
rigor o peso do idêntico, do ipse idem.
A paisagem e os objetos afetam-no pela
multiplicidade dos seus aspectos mais
aparentes, logo cambiantes, com os
quais a imaginação estética vai
compondo a obra em função de
analogias sensoriais. O orvalho e a pele
clara podem valer pelo cristal; o sangue
pelo cravo ou pelo rubi; o espelho pela
água pura e pelo metal polido. No
mundo dos afetos, a "semelhança"
envolve os contrastes, de modo a
camuflar toda percepção nítida das
diferenças objetivas: “Incêndio em
mares d'água disfarçado, Rio de neve
em fogo convertido” (Gregório de
Matos)

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