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Compassos de evasão
(QUESTÃO 2 – ENEM 2021) entre falange e rua
sondando a solitude
nua.
O pavão vermelho
E na armadura de coisa
Ora, a alegria, este pavão vermelho, salobra, um só segredo:
está morando em meu quintal agora. a polpa toda é fruição
de medo.
Vem pousar como um sol em meu joelho
quando é estridente em meu quintal a aurora. ARAÚJO, L.C. Cantochão. Belo Horizonte: Imprensa Publicações – Governo do Estado de
Minas Gerais, 1967.
A viagem
Essa lua enlutada, esse desassossego
Que coisas devo levar A convulsão de dentro, ilharga
nesta viagem em que partes? Dentro da solidão, corpo morrendo
As cartas de navegação só servem Tudo isso te devo. E eram tão vastas
a quem fica. As coisas planejadas, navios,
Com que mapas desvendar Muralhas de marfim, palavras largas 2
Quebranto
Eu sobrevivi do nada, do nada
às vezes sou o policial que me suspeito Eu não existia
me peço documentos
Não tinha uma existência
e mesmo de posse deles
me prendo e me dou porrada Não tinha uma matéria
Comecei existir com quinhentos milhões e quinhentos
às vezes sou o porteiro
mil anos
não me deixando entrar em mim mesmo 3
a não ser Logo de uma vez, já velha
pela porta de serviço
Eu não nasci criança, nasci já velha
[...] Depois é que eu virei criança
E agora continuei velha
às vezes faço questão de não me ver
e entupido com a visão deles Me transformei novamente numa velha
sinto-me a miséria concebida como um eterno
Voltei ao que eu era, uma velha
começo
fecho-me o cerco PATROCÍNIO, S. In: MOSÉ, V. (Org.). Reino dos bichos e dos
animais é meu nome.
sendo o gesto que me nego Rio de Janeiro: Azougue, 2009.
a pinga que me bebo e me embebedo
o dedo que me aponto Nesse poema de Stela do Patrocínio, a singularidade
e denuncio da expressão lírica manifesta-se na
o ponto em que me entrego.
a) representação da infância, redimensionada no
às vezes!... resgate da memória.
b) associação de imagens desconexas, articuladas por
CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza. 2007 (fragmento).
uma fala delirante.
Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é c) expressão autobiográfica, fundada no relato de
recorrente a presença de elementos que traduzem experiências de alteridade.
experiências históricas de preconceito e violência. No
d) incorporação de elementos fantásticos, explicitada
poema, essa vivência revela que o eu lírico
por versos incoerentes.
a) incorpora seletivamente o discurso do seu
e) transgressão à razão, ecoada na desconstrução de
opressor.
referências temporais.
b) submete-se à discriminação como meio de
fortalecimento.
c) engaja-se na denúncia do passado de opressão e
injustiças.
d) sofre uma perda de identidade e de noção de
pertencimento.
e) acredita esporadicamente na utopia de uma
sociedade igualitária.
(QUESTÃO 8 – ENEM 2018) (QUESTÃO 9 – ENEM 2018)
Onde estou? Este sítio desconheço: Se o de longe esboça lhe chegar perto,
Quem fez tão diferente aquele prado? se fecha (convexo integral de esfera),
Tudo outra natureza tem tomado; se eriça (bélica e multiespinhenta):
E em contemplá-lo tímido esmoreço. e, esfera e espinho, se ouriça à espera.
Mas não passiva (como ouriço na loca);
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço nem só defensiva (como se eriça o gato)
De estar a ela um dia reclinado: sim agressiva (como jamais o ouriço), 5
Ali em vale um monte está mudado: do agressivo capaz de bote, de salto
Quanto pode dos anos o progresso! (não do salto para trás, como o gato):
daquele capaz de salto para o assalto.
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera: Se o de longe lhe chega em (de longe),
Nem troncos vejo agora decadentes. de esfera aos espinhos, ela se desouriça.
Reconverte: o metal hermético e armado
Eu me engano: a região esta não era; na carne de antes (côncava e propícia),
Mas que venho a estranhar, se estão presentes as molas felinas (para o assalto),
Meus males, com que tudo degenera! nas molas em espiral (para o abraço).
COSTA, C. M. Poemas. Disponível em: MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. Rio de Janeiro; Nova
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012. Fronteira, 1997