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MARTI E 2 Americas
MARTI E 2 Americas
1ª edição
EDITORA
EXPRESSÃO POPULAR
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................19
PARTE I
“UNA EM ALMA E EM DETERMINAÇÃO”
IDENTIDADE E UNIDADE LATINO-AMERICANAS NA OBRA DE JOSÉ MARTÍ ...................27
PARTE II
NOVA YORK EM CARACAS. AS CRÔNICAS ESTADUNIDENSES DE
JOSÉ MARTÍ PARA A OPINIÃO NACIONAL .....................................................................................203
“Não é à forma das coisas que devemos nos ater, e sim ao seu espírito.
O real é o que importa, não o aparente.
Na política, o real é o que não se vê”.
José Martí
I
“Viver humildemente, trabalhar muito, engrandecer a América, estudar
suas forças, revelando-as ao continente, pagar aos povos o bem que
me fazem: este é o meu ofício.
Nada me abaterá; ninguém me impedirá”.
II
“Ignoram os déspotas que o povo, a massa sofredora, é o verdadeiro
chefe das revoluções”.
III
“Se a Europa fosse o cérebro, nossa América seria o coração”.
10
IV
“Tendo sido interrompida, pela conquista, a obra natural
e majestosa da civilização americana, criou-se, com a chegada
dos europeus, um povo estranho, não espanhol, porque a seiva
nova rechaça o corpo velho; não indígena, devido à ingerência
de uma civilização devastadora, duas palavras que, sendo an-
tagônicas, constituem um processo; criou-se um povo mestiço
na forma que, com a reconquista de sua liberdade, desenvolve
e restaura sua alma própria”.
11
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V
“Da América sou filho: a ela me devo.”
13
VI
“Parecem, salvo o excessivo amor à riqueza que como um verme rói
suas magnas entranhas, homens talhados em granito”.
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Os editores
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APRESENTAÇÃO
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PARTE I
25
*
A citação de Martí provém do ensaio “Nossa América”, e foi extraída da edição
crítica preparada por Cintio Vitier (Havana, Centro de Estudos Martianos e Casa
das Américas, 1991, p. 23).
1
José Martí: “O terceiro ano do Partido Revolucionário Cubano. A alma da Revo-
lução e o dever de Cuba na América”, em Obras completas, Havana, 1963-1973, t. 3,
p. 43. Na seqüência, as citações desta edição serão identificadas com as iniciais O.c.,
indicando-se apenas o volume e a página.
28
1
A primeira coisa a lembrar é o contexto cubano em que
nasceu, 28 de janeiro de 1853, e se formou inicialmente aquele
precoce intelectual e patriota.
Cuba, ilha de escravos e de açúcar para o mercado capita-
lista, vivia a fase de estancamento e de degradação do sistema
29
30
2
José Martí, filho de espanhóis imigrantes – de Valência e das
Canárias – de militar e depois funcionário público que terminou
seus dias como alfaiate, e de dona de casa cuja costura, junto com
a de suas duas filhas, assegurou freqüentemente a subsistência
familiar – recebeu o “espírito cubano” por duas vias essenciais: a
escola – como se disse sempre – e a rua, esse ambiente popular,
alvoroçado e aberto a todos os hábitos marinheiros desta cidade
portuária que era Havana, cheia de carros, carroças e viajantes,
por onde perambulou Martí desde menino, contribuindo com
seu trabalho para a escassa renda familiar.
O ensino ministrado na escola abriu-lhe as portas dos lares
e da cultura da classe média cubana da época: professores, fun-
cionários e empregados, médicos e advogados que, garantindo
quase sempre o sustento por essas vias, faziam do jornalismo
sua prática literária e, do debate político, o verdadeiro sentido
31
32
3
Quando chegou, exilado, a Madri, com 18 anos, já era
um adulto, com firme vocação patriótica, de pena em riste e
rima fácil e segura. O que viveu do convulsionado Sexênio
Setembrino e de uma cultura peninsular que, na época, ten-
tava transitar para a modernidade, freada pelo clericalismo e o
tradicionalismo monárquico e provinciano, foram elementos
assumidos por ele com o mesmo sentido de escolha com que
assimilara a tradição cultural cubana iniciada pelos sacerdotes
José Agustín Caballero e Félix Varela.
A corrente nacional do pensamento cristão em Cuba, mi-
noritária – na ilha reinou sempre a doutrina oficial católica,
vaticana, monárquica, antiliberal e anti-republicana – enrique-
ceu a consciência nacional, na medida em que lhe forneceu um
método de conhecimento que preconizava a escolha do mais
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34
2
A apreciação quanto à confluência das idéias originais de Martí com algumas do
krausismo foi tomando corpo nas últimas reflexões sobre o assunto, negando uma
relação de influência sem mais, ou de mera receptividade acrítica do krausismo por
Martí. Ver Adriana Arpini e Liliana Giorgis: “A presença do krausismo em Hostos e
Martí”, em Boletim de História (Buenos Aires), Fundação para o Estudo do Pensamento
Argentino e Ibero-americano (Fepai), ano 8, no 16, 2o semestre, 1990. As autoras
consideram que nos dois antilhanos, “a preferência pelos temas do krausismo não
significa que adotaram um modelo filosófico acabado e sim a necessidade de romper
com uma tradição especulativa que vinha justificar e manter o esquema de domina-
ção” (p. 5). Ver, também, Mercedes Serna: “Algumas elucidações sobre o krausismo
em José Martí”, em Cadernos Hispano-americanos (Madri), no 521, novembro de 1993,
pp. 137-145. Esta autora afirma que “não se pode falar de uma influência radical do
krausismo sobre o escritor cubano, e sim de certas afinidades que se definem por
diversos critérios pedagógicos, religiosos, filosóficos e artísticos” (p. 137).
3
J.M.: “A República espanhola frente à Revolução cubana”, O.c., t. 1, p. 89. Também em
Obras completas. Edição crítica, Havana, Centro de Estudos Martianos, 2000, t. 1, pp.
101-110. Na seqüência serão citados E.c., o volume e a página.
35
4
J.M.: Cadernos de notas, O.c., t. 21, pp. 15-16.
36
4
Com 22 anos já feitos, Martí chegou, em fevereiro de 1875,
à Cidade do México. Sua sensibilidade estética aguçara-se na
Península, com o acesso à pintura e à música; durante uns dias
em Paris conheceu personalidades destacadas, como Vítor Hugo
e a atriz Sara Bernhardt; viu as chaminés das fábricas em que se
afogavam os operários ingleses, em Southampton e Liverpool; e
passou pela primeira vez por Nova York, que já então competia
com a Europa industrial. Mas, sobretudo, embebeu-se da natu-
reza americana: fez escala em Havana e pôde apreciar sua cidade
natal do navio; em dois dias a estrada de ferro levou-o de Veracruz
ao México, da baixa costa do golfo ao planalto de Anáhuac: a
máquina veloz, símbolo da modernidade, permitiu-lhe atraves-
sar diversos climas, floras, faunas, relevos e, ao mesmo tempo,
transitar pela história viva do casario indígena pré-hispânico à
capital de construções coloniais e republicanas, edificadas sobre
as imponentes ruínas indígenas.
Poucas semanas depois já se tornara figura destacada no
México. O escritor-jornalista floresceu com rapidez em meio
a uma intelectualidade que o acolhia com calorosa simpatia
por tratar-se de um patriota republicano exilado, cedendo-lhe
espaço na obra ciclópica em que está empenhada: terminar a
transformação da reforma liberal iniciada por Juárez e garan-
tida pela epopéia de manter a independência frente ao império
conservador de tipo e apoio europeus.
Aspirava-se a desenvolver a economia por meio das máqui-
nas e do comércio, a informar o indígena, incorporando-o à
nação liberal, a entrar, enfim, nas amplas avenidas do progresso
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39
40
5
A definição martiana de autoctonia continental ganhou
fundamentação sociológica, histórica e cultural em um de seus
textos da Guatemala. Na nação centro-americana publicou, em
1877, um artigo intitulado “Os códigos novos”, onde deixou
plenamente esclarecido um conceito de identidade verdadeira-
mente revolucionário para seu tempo.
Tendo sido interrompida pela conquista a obra natural e majestosa da
civilização americana, criou-se, com a chegada dos europeus, um povo
estranho, não espanhol, porque a seiva nova rechaça o corpo velho;
não indígena, devido à ingerência de uma civilização devastadora, duas
palavras que, sendo antagônicas, constituem um processo; criou-se
um povo mestiço na forma que, com a reconquista de sua liberdade,
desenvolve e restaura sua alma própria.9
A importância dessa análise ultrapassa em muito seu tempo;
haveria que esperar até que o século 20 estivesse bem adiantado
para que se tornasse natural essa noção de que nossos povos
são resultado da fusão – antagônica e por isso contraditória –
de duas civilizações: uma conquistadora e dominante, outra,
conquistada e dominada.
Para o pensamento continental precedente e contemporâneo
a Martí – liberalismo, romantismo e positivismo, e mesmo para
boa parte dos ideólogos e políticos da independência – essa visão
de nossas sociedades e culturas era, no mínimo, infeliz, e, no
máximo, absolutamente equivocada. Não foi por acaso que
os editores do artigo de Martí – defensores do governo liberal
9
J.M.: “Os Códigos novos”, O.c. t. 7, p. 98 e E.c., t. 5, p. 80.
41
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10
Idem em O.c. e E.c.
*
Ave símbolo e moeda da Guatemala.
44
11
J.M.: “Revista Guatemalteca”, O.c., t. 7, p. 104 e E.c., t. 5, p. 291.
12
Roberto Fernández Retamar: “Martí e a revelação de nossa América”, Prólogo a José
Martí, Nossa América, Havana, Casa das Américas, 1974. Durante sua residência na
Guatemala, Martí usou nossa América em “Os Códigos novos” (O.c., t. 7, p. 98 e E.c.,
t. 5, p. 89) e na carta a Valero Pujol, de 27 de novembro de 1877 (O.c., t. 7, p. 111. Ver
também Epistolário, compilação, ordenação cronológica e notas de Luis Garcia Pascual
e Enrique H. Moreno Pla, prólogo de Juan Marinello, Havana, Centro de Estudos
Martianos e Editorial de Ciencias Sociales, 1993, t. I, p. 98). Um amplo estudo sobre
a importância do biênio vivido na Guatemala para o ideário latino-americanista de
Martí pode ser encontrado em meu texto intitulado “Guatemala: José Martí rumo
à nossa América”, incluído neste livro.
13
J.M.: “Carta a Valero Pujol, 27 de novembro de 1877”, O.c., t. 7, p. 112, e Epistolário,
ob. cit., t. I, p. 99.
45
6
A permanência de um ano em Cuba, por ocasião de seu
regresso, em 1878, ao concluir-se a Guerra dos Dez Anos, e
seu vínculo com o mundo estadunidense durante a década
de 1880, marcarão o rumo do processo de amadurecimento
do pensamento martiano, de sua localização, como um dos
dirigentes políticos do povo cubano, e do desenvolvimento de
seu grande jornalismo e de sua arte poética, desenvolvimento
este que fez com que fosse considerado um dos precursores da
corrente modernista na literatura de língua espanhola.
Sua inserção direta na prática revolucionária contra o gover-
no colonial, desde seu retorno a Cuba, e sua atuação na direção
do movimento patriótico desde então, fizeram com que Martí
se propusesse a buscar soluções para suas formas de condução
e para o projeto republicano oferecido pelos independentistas.
É desta época uma frase escrita em suas notas, durante o se-
gundo exílio na Espanha, em 1879, repetida em seu primeiro
discurso para a emigração patriótica em Nova York, em janeiro
14
Ibidem, O.c., p. 111, e Epistolário, ob. cit., t. I, p. 98.
46
15
J.M.: Cadernos de notas, O.c., t. 21, p. 108. No discurso escreveu “massa dolorida”,
em lugar de “massa sofredora” (O.c., t. 4, p. 193).
16
J.M.: “Leitura na reunião de emigrados cubanos, em Steck Hall, Nova York, 24 de
janeiro de 1880”, O.c, t. 4, p. 192.
17
Ibidem, p. 202.
47
18
Idem.
19
J.M.: “Leitura na reunião de emigrados cubanos, em Steck Hall, Nova York, 24 de
janeiro de 1880”, O.c., t. 4, pp. 202-203.
20
Idem. Note-se que esta referência à lança e ao arado voltará a ser utilizada por Martí,
nove anos depois, em seu discurso “Mãe América”.
48
21
J.M.: “Carta a Fausto Teodoro de Aldrey, 22 de março de 1881”, O.c., t. 7, p. 266.
Epistolário, ob.cit., t. I, pp. 209-210.
22
J.M.: “Carta a Fausto Teodoro de Aldrey, 27 de julho de 1881”, O.c., t. 7, p. 267. Para
um estudo do significado da estadia na Venezuela para o pensamento martiano, ver
o capítulo “Martí na Venezuela: a fundação de nossa América”.
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23
J.M.: “Uma viagem à Venezuela”. O.c., t. 19, p. 160.
51
7
Durante a década de 1880, novos grupos temáticos apare-
cem em seu pensamento, num processo intelectivo em que foi
captando duas questões essenciais e vinculadas às mudanças
que o mundo industrial atravessava, na transição para a etapa
imperialista.
Uma delas é seu entendimento de que se estava inician-
do uma nova época para o mundo, com todas as incertezas
e desencaixes que isso significava. Embora tendo tratado do
assunto em “O caráter da Revista Venezuelana”, texto publicado
no segundo e último número da publicação, é no Prólogo a O
poema do Niágara, do venezuelano Juan Antonio Pérez Bonalde,
publicado em 1882, que desenvolve extensamente o assunto.
Tomo do Prólogo a citação a seguir, espantosa descrição que
serve também para o fim deste nosso século 20.
Não há obra permanente, porque as obras dos tempos de reordenação
e montagem são, por essência, mutáveis e inquietas; não há caminhos
constantes, vislumbram-se apenas os altares novos, grandes e abertos
como florestas. (...) Anseia-se incessantemente por saber algo que con-
firme, ou teme-se saber algo que mude as crenças atuais. A elaboração
24
J.M.: “Fragmento do discurso pronunciado no Clube do Comércio, em Caracas,
Venezuela, em 21 de março de 1881”, O.c., t. 7, pp. 284 e 286.
52
25
J.M.: “Prólogo a O poema do Niágara”, O.c., t. 7, p. 225.
26
Ibidem, pp. 229 e 232.
27
J.M.: “O caráter da Revista Venezuelana”, O.c., t. 13, p. 427.
53
28
J.M.: “O caráter da Revista Venezuelana”, O.c., t. 7, pp. 207-212.
29
J.M.: “Cansaço do cérebro”, O.c., t. 13, p. 427.
54
30
A melhor síntese das idéias de Martí sobre Emerson está em sua crônica sobre a
morte do filósofo, publicada em A Opinião Nacional, de Caracas, em 19 de maio de
1882 (O.c., t. 13, pp. 15-30). Um recente e precioso estudo sobre as relações entre as
idéias de ambos, que insiste na originalidade da aproximação do cubano ao filósofo
e poeta nascido em Boston, em 1803, é o livro de José Ballón, intitulado Autonomia
cultural americana: Emerson e Martí. Madri, Editorial Pliegos, 1986.
31
Ver uma série de artigos publicados em inglês, no jornal A Hora, de Nova York, entre
julho e outubro de 1880, sob o título “Impressões da América”, O.c., t. 19, pp. 101-125.
55
8
A temática latino-americana não esteve ausente dos escritos
martianos durante a década de 1880. Suas Cenas norte-americanas
mantiveram-se atentas às relações entre os Estados Unidos e
seus vizinhos do Sul, especialmente no que se refere aos in-
tercâmbios comerciais e aos vínculos políticos e diplomáticos.
Assuntos como os debates e lutas de interesses quanto à cons-
trução do canal interoceânico pelo Panamá ou pela Nicarágua;
a unidade centro-americana e a campanha militar levada a
cabo nesse sentido pelo presidente guatemalteco, Justo Rufino
Barrios; as ameaças na imprensa e de políticos estadunidenses
ao México; a expansão mercantil e os movimentos anexionistas
dirigidos a Cuba, Haiti e República Dominicana; os vai-e-vens
da política tarifária relacionada às produções do continente; a
32
J.M.: “Blaine e Tilden”, O.c., t. 13, p. 265.
56
33
J.M.: “Os objetivos de A América em mãos de seus novos proprietários”, O.c., t. 8, p. 268.
57
58
34
Idem.
59
35
Um precioso exame que considera os textos martianos em A América como expositores
de um programa para o desenvolvimento latino-americano pode ser lido no livro de
Rafael Almanza, Em torno do pensamento econômico de José Martí, Havana, Editorial de
Ciencias Sociales, 1990, pp. 141 e seg. e 170 e seg.
36
J.M.: “México em 1882”, O.c., t. 7, pp. 23 e 22.
60
37
J.M.: “Invenções recentes”, O.c., t. 8, p. 439.
38
Idem. É óbvio o sentido de síntese do parágrafo, mas esta síntese evidencia que ainda
naquela época – diferentemente de quando escreve “Nossa América” – ronda em
Martí um certo espírito dos clássicos esquemas para o desenvolvimento, próprios do
liberalismo latino-americano: educar os índios, abrir caminhos (para o comércio),
ainda que seu apelo à educação científica e não “literária inútil” ultrapasse e modern-
ize – assim como os pressupostos cientificistas do positivismo – o tradicional sentido
ilustrador com que os liberais do continente tenderam a propiciar a instrução.
61
39
J.M.: “Autores americanos aborígenes”, O.c., t. 8, p. 336.
40
Idem.
62
41
J.M.: “Biblioteca americana”, O.c., t. 8, p. 314.
63
42
J.M.: “A assinatura de A América (...)”, O.c., t. 28, p. 229.
43
J.M.: “Livros de hispano-americanos e rápidas considerações”, O.c., t. 8, p. 318.
44
J.M.: “Buenos Aires e Uruguai”, O.c., t. 28, p. 216.
64
45
J.M.: “Agrupamento dos povos da América”, O.c, t. 7, pp. 324-325.
65
46
Ibidem, p. 325.
47
Idem.
66
48
Idem.
67
9
Essa ampliação de seu conceito sobre a unidade continental,
junto a sua análise sobre a realidade estadunidense, que cami-
nhava – a seu ver – para o encontro dominador com a América
Latina, o que para ele ficou claramente definido como projeto de
ação do país do Norte na conferência de Washington, fizeram
com que decidisse dirigir sua vida totalmente para o que viria
a ser sua magna tarefa antiimperialista e de libertação nacional.
Mas, antes de entrar de uma vez em sua implementação prática,
tornou-se necessário para ele ajustar contas definitivamente com
o liberalismo e com o positivismo que, pouco a pouco, domi-
navam a intelligentzia latino-americana do fim do século 19.
Essa é a chave de seu ensaio mais importante, intitulado
“Nossa América”, publicado pela primeira vez em A Revista
Ilustrada de Nova York, em 1o de janeiro de 1891.49
Ali, em umas poucas páginas, traçou o quadro das razões
do permanente desajuste entre as instituições e a realidade
histórica continentais: as normas e formas de organização
liberais das repúblicas latino-americanas penderam uma e
outra vez para o caudilhismo e as ditaduras, por não corres-
ponderem às verdadeiras necessidades da região. Tratava-se,
49
Todas as citações do ensaio correspondem à mencionada edição crítica preparada
por Cintio Vitier. Para uma ampliação das idéias expostas neste item, ver no Anuário
do Centro de Estudos Martianos, Havana, no 14, 1991, os textos de Ramón de Armas,
‘“Como quem vai lutar junto’: sobre a idéia de unidade continental em ‘Nossa
América’, de José Martí”, e o meu, intitulado ‘“Nossa América’ como programa
revolucionário”, reproduzido na coleção “Panorama de nossa América”, no volume
1, José Martí a cem anos de nossa América, México, Centro Coordenador e Difusor de
Estudos Latino-americanos, Universidade Nacional Autônoma do México, 1993.
68
69
10
Desde então – 1881 – correu contra o tempo, para impedir
a materialização do grande perigo externo; como pensador,
70
71
50
J.M.: “Bases do Partido Revolucionário Cubano”, O.c., t. 1, p. 279.
72
73
51
J.M.: “As Antilhas e Baldorioty Castro”, O.c., t. 4, p. 405.
74
52
J.M.: “O terceiro ano do Partido Revolucionário Cubano. A alma da Revolução e o
dever de Cuba na América”, O.c. t. 3, p. 142.
53
Idem.
75
54
J.M.: “Discurso no Liceu Cubano”, Tampa, 26 de novembro de 1891, O.c., t. 4, p.
279.
55
J.M.: “Carta a Manuel Mercado, Acampamento de Dois Rios, 18 de maio de 1895”,
O.c., t. 4, p. 167. Também em Epistolário, ob.cit., t. V, p. 250.
56
Ibidem, O.c., p. 170 e Epistolário, ob.cit., t. V, p. 252.
76
77
A viagem
Terminava 1876 e o jovem José Martí preparava-se para
deixar a capital mexicana. Chegara no ano anterior, para reunir-
se à sua família, depois de ter vivido na Espanha como exilado
político. Foi para o México porque caíra o governo liberal que
apoiara diariamente na imprensa: fora mexicano sem deixar de
ser cubano durante esses dois anos, pois, como disse, no orgu-
lhoso final do que foi seu último texto publicado no México
antes de sua partida: “E assim, lá como aqui, para onde eu vá,
como onde estou, enquanto durar minha peregrinação pela
vasta terra – para a lisonja, sempre estrangeiro; para o perigo,
sempre cidadão”.1
1
José Martí: “Estrangeiro”, em Obras completas, Havana, 1963-1973, t. 6, p. 363. Na
seqüência, citaremos por esta edição, identificada com as iniciais O.c., indicando
apenas o tomo e a paginação. Ver também em Obras completas. Edição crítica, Havana,
Centro de Estudos Martianos, 2000, t. 2, p. 300. Na seqüência menciona-se E.c., o
tomo e a paginação.
2
J.M.: Carta a Manuel Mercado, 3 de fevereiro de 1877, O.c., t. 20, pp. 23-24. Ver
também em Epistolário, compilação, ordenação cronológica e notas de Luis Garcia
Pascual e Enrique H. Moreno Pla, prólogo de Juan Marinello, Havana, Centro de
Estudos Martianos e Editorial de Ciencias Sociales, 1993, t. I, pp. 68-69.
3
J.M.: Carta a Manuel Mercado, Havana, 11 de fevereiro de 1877, O.c, t. 20, p. 25.
Epistolário, ob. cit., t. I, p. 70. Note-se que faz também esta comparação de si mesmo
ao cavalo árabe e à águia nos apontamentos da viagem de Izabal a Zacapa, já em
território guatemalteco.
80
4
J.M.: “Guatemala”, O.c., t. 7, p. 145 e E.c., t. 5, p. 272.
81
82
5
J.M.: “Guatemala”, O.c., t. 19, pp. 43-62, e “(Diário de Izabal a Zacapa)”, E.c. t. 5, pp.
51-81. Segundo o que narra em seus apontamentos, saiu de Izabal em 26 de março,
chegando a Zacapa no dia 29. Alguns autores dizem que, em seu percurso para a Gua-
temala, Martí teve um encontro amoroso com uma formosa índia, o que estaria na
origem de seu poema “Sede de beleza”, que faz parte de Versos livres: “– a jovem / índia
que às margens do ameno rio / que do velho Chichén os muros banha / à sombra de
um plátano frondoso / e seus próprios cabelos, o esbelto / corpo bronzeado e nítido
enxugava”. (O.c., t. 16, p. 166). Como se vê, não existe aqui alusão amorosa e, quanto
ao lugar descrito era, em todo o caso, o Yucatán, onde se encontram as ruínas maias
de Chichén Itzá. Observações sobre o panorama que viu em Izabal e no rio Dulce
aparecem em seu artigo “Plátanos” (“A América, junho de 1883”, O.c., t. 7, p. 187).
6
“Estou em terras de minha mãe, a América”. Ibidem, p. 58.
7
Foi, provavelmente, este fato que levou Martí a fixar sua atenção na Guatemala de
Barrios.
83
8
Ver Máximo Soto-Hall: A jovem da Guatemala: o idílio trágico de José Martí, Guatemala,
Tipografia Nacional, 1942, pp. 33-34. O autor estudou neste lugar e relata abundantes
lembranças.
9
Ibidem, p. 15. Segundo Calcagno, em seu Dicionário biográfico cubano, Mantilla foi
professor no colégio El Salvador – de História Universal e de Literatura, segundo
Sanguily (José de la Luz y Caballero) – residiu em Nova York desde 1862 até sua morte
em 1878, e não esteve na Guatemala. Parece que Izaguirre pediu-lhe, em Nova York,
sua opinião sobre a Escola Normal da Guatemala, pois foi nessa cidade dos Estados
Unidos que Barrios contratou Izaguirre.
10
Ibidem, p. 255. Diz David Vela em: Martí na Guatemala, Havana, Publicações da Co-
missão Nacional Organizadora dos Atos e Edições do Centenário e do Monumento
a Martí, 1953, p. 238, que Valdés “colaborava nos jornais e tinha definidas opiniões
autonomistas”.
84
11
D. Vela: Ob. cit., no 10, p. 237. Este Martí, segundo parece, não tem nenhum paren-
tesco com José.
12
Ibidem, p. 64. Diz que levou, também, carta de Antonio Carrillo y O’Farrill, com quem
mantivera contato em Sevilha e que, segundo sabemos com certeza, acompanhou-o
em sua viagem a Paris, em dezembro de 1874, quando deixou a Espanha. Gonzalo
de Quesada y Miranda, em Martí jornalista, Havana Tipografia de Rambla, Bouza e
Comp., 1929, p. 49, afirma que Bernardo Valdés-Domínguez entregou-lhe mil pesos,
quantia elevada para a época.
13
Cf. Félix Lizaso: “A exuberante Guatemala”, em O Imparcial, Guatemala, 8 de outubro
de 1942. Segundo Soto Hall: Ob. cit. Em nota no 8, pp. 93-100, foi Lorenzo Montúfar
que o levou ao presidente.
14
O artigo chama-se “Os Códigos novos”, O.c., t. 7, pp. 98-102, e E.c. t. 5, pp. 89-93.
O interesse que a legislação liberal guatemalteca despertara nele levou-o a manifestar
a idéia de ensinar o Código Civil nas escolas, desde que “reduzido a um brevíssimo
compêndio”. (O.c. t. 21, p. 107).
15
O texto do decreto de nomeação aparece em María Albertina Gálvez: “José Martí,
professor da Guatemala”, em Revista do Professor, Guatemala, ano 7, no 26, novembro-
dezembro de 1952, pp. 38-44. Batres diz em A América Central frente à história, 1821
–1921. Memórias de um século, Guatemala, s.e., 1949, t. 2, p. 457, que foi ele que o
ajudou a conseguir estas aulas.
85
16
J.M.: Guatemala, O.c., t. 7, p. 135 e E.c., t. 5, p. 260.
17
Ver Jean Lamore: “José Martí diante dos caudilhismos da época liberal (Guatemala e
Venezuela)”, em Anuário do Centro de Estudos Martianos, Havana, no 3, 1980, p. 138.
18
M. Soto-Hall em ob.cit. em nota nº 8, p. 64, indica que O Progresso publicou um
único artigo em 1878. Revi a coleção completa da publicação entre 1877 e 1878 e
encontrei apenas este texto assinado por Martí. Jean Lamore (José Martí e a América,
Universidade de Toulouse-Miraille, 1982) atribui a Martí o artigo intitulado “A poesia
e o progresso”, publicado em O futuro, em 20 de julho de 1878, mas não compartilho
de sua opinião pois embora ali se expressem idéias que coincidem com as suas, em
mais de uma ocasião o estilo não parece o seu, assim como a consideração de Zorrilla
à altura de Hugo. Em 1999 examinei uma coleção completa da Revista da Universidade,
entre 1877 e 1880, na biblioteca César Brañas, da Universidade de São Carlos, na
Guatemala, sem encontrar nenhum texto assinado por Martí, ou que pudesse ser-
lhe atribuído. Não obstante, o próprio Martí afirma, no dorso de um convite, que
escrevia sobre filosofia para a Revista da Universidade. (O.c., t. 22, p. 251).
86
19
M. Soto-Hall: Ob.cit. em nota no 8, p. 60. A sociedade realizou sua primeira sessão
em 11 de março de 1877 e em 20 de maio saiu o primeiro número de sua publicação
quinzenal, de igual nome. Ver, também, David Vela, ob. cit. em nota no 10, p. 286.
20
Ver M. Soto-Hall: Ob.cit. , nota no 8, pp. 47-64.
21
Como escreveu o próprio Estrada, depois da morte de Martí, ambos conversaram
com freqüência no escritório do Mestre em Front Street, Nova York.
22
Continuou sua relação com Martí em Nova York, pois em 1883 foi nomeado em-
baixador da Guatemala e de outros países centro-americanos nos Estados Unidos.
87
23
Parece que esta foi a primeira atividade pública de Martí na terra do quetzal. Maria
Albertina Gálvez em ob.cit. na nota no 15 dá como data o dia 21 e reproduz a seguinte
resenha de O Progresso:
O discurso do Sr. Martí, pronunciado de improviso, foi uma saudação à
Guatemala, saudação que cercou de idéias brilhantes e que assumiu a forma
de uma oração correta e amena; convidado o Sr. Martí a reunir para o país
todos os caudais da ciência e as flores da literatura humana; queria que sobre
o patrimônio universal do progresso, a América imprimisse a marca de seu
gênio, de seu caráter, de sua energia; que se o olhar se eleva acima dos vulcões,
perdendo-se no infinito, o espírito voa para as alturas da civilização, bebendo
sempre nova vida de luz moral, novas verdades e conquistando mais dilatada
esfera na prosperidade e nas ciências; emitia o desejo de precipitar o futuro,
unindo aqui o que há de grande em todas as civilizações, o que há de justo
em toda a história; o que há de generoso em toda a humanidade; comparava
as névoas das instituições modernas e a pureza das velhas gerações ao impulso
admirável das gerações que vêm a herdá-las.
Disse muitas coisas, o Sr. Martí, e as disse bem: uma palavra fácil que interpreta
uma imaginação entusiasta; um estilo escolhido que traduz as idéias mais
belas; um sentimento vigoroso e honrado que deseja levar a verdade a todas
as consciências obnubiladas, os raios do sol a todos os espíritos obcecados, e a
segurança a todos os ânimos vacilantes. O Sr. Martí é colaborador daquela ju-
ventude de nosso século que pronuncia a mesma palavra “Avante sempre”.
Martí, por sua vez, em sua primeira carta a Valero Pujol (29 de abril, O.c., t. 7, p. 102.
Epistolário, ob.cit., t. I, p. 79) diz que no sábado último (21 de abril?) falou na Escola
Normal sobre Lainfiesta. Mas, em sua carta, também a Pujol, de 27 de novembro
(O.c., t. 7, p. 109 e Epistolário, ob.cit., t. I, p. 97), ao enumerar as conferências que fizera
na Guatemala, menciona outra conferência anterior, em que enviou uma saudação
ao país, “comovido pela voz de um bardo jovem”.
88
24
Ver Jorge Mañach: Martí, o Apóstolo, México, D.F. Editorial Espasa-Calpe, Argentina,
S.A., 1952, 4a ed., cap. 12, p. 96. A este discurso parece referir-se uma nota em seus
cadernos de apontamentos, provavelmente de Madri, de 1879: “Só vai para a alma o
que nasce na alma: disse eu uma vez, sobre oradores, em um discurso.” (O.c., t. 21,
p. 110). Escreveu algo semelhante em outra de suas notas, atribuída a 1894, quando
afirmou, na Guatemala, em “Discurso sobre a eloqüência”: “o que sai do coração
vai para o coração”. (O.c., t. 21, pp. 404-405).
25
Em seu número 1, de 20 de maio de 1877, a publicação referia-se a Martí como
sócio-assistente.
26
Embora segundo José Maria Izaguirre, em “Martí na Guatemala”, Cuba e América,
Havana, 5 de setembro de 1900, p. 7, o apelido lhe foi dado depois da participação,
em abril, na atividade de sábado da Escola Normal. Vela, em ob.cit., nota no 10, p.
372, menciona umas folhas soltas contra Martí publicadas em 3 e 17 de novembro
de 1877 em que é chamado de “Dr. Torrente”.
27
J.M.: Carta a Valero Pujol, 27 de novembro de 1877, O.c., t. 7, pp.109-110. Epistolário,
ob. cit., t. I, p. 97.
89
28
Ver M. Soto-Hall: Ob.cit., em nota no 8, pp. 58-59. Segundo Vela em ob. cit., nota no 10,
p. 288, esta noite foi dedicada a comemorar a fundação da Cidade da Guatemala.
29
O Futuro, 6 de agosto de 1877, no 6, pp. 81-82.
30
J.M.: Carta a Valero Pujol, 27 de novembro de 1877, O.c., t. 7, p. 110. Epistolário, ob.
cit., t. I, p. 98
31
Ver Maria Albertina Gálvez: Ob.cit.. em nota no 15, p. 43; D. Vela, em ob.cit. nota no
10, p. 250, reproduz o comentário de O Progresso sobre as palavras de Martí:
Não menos prazenteira a reunião do dia 16 na Escola Normal. O senhor Izaguirre
sabe atrair por sua galanteria e se faz aplaudir por seu bom gosto, por seu acerto
e suas felizes combinações. Também houve ali discursos, canto, música, poesia e
flores; falaram, entre outros, os senhores Montúfar e Martí. Montúfar com sua
gravidade e maestria, Martí com sua riqueza de imaginação e suas erupções de
idéias. Esse jovem, já conhecido entre nós, é uma alma de fogo que leva na cabeça
todo o calor dos pensamentos mais elevados, e no coração todos os brilhos das
mais formosas flores, a energia dos mais doces sentimentos; palavra fácil, expres-
são poética, mas com essa poesia que combina a fluidez, a elegância, a música da
tribuna, com os ideais mais puros da verdade e do direito.
90
32
Ver F. Chávez Milanés: “Martí na Guatemala”, em O Fígaro, Havana, vol. XV, 28 de
maio de 1899, p. 169. Para Milanés, esta foi a primeira intervenção pública do orador
cubano na Escola Normal.
91
33
Ver o tema filosófico em seus Cadernos de notas, n. 1 e 2, O.c. t. 21, pp. 11-101, e E.c.,
t. 5, pp. 202-215.
34
Maria Albertina Gálvez, em ob. cit., nota no 15, p. 41, diz que essas aulas começaram
em julho e transcreve uma nota, publicada em O Progresso, em junho, anunciando
o curso.
35
J.M. Carta a Manuel Mercado, Guatemala, 20 de abril de (1878), O.c., t. 20, p. 48.
Epistolário, ob. cit., t. I, p. 120.
36
O Arquivo Nacional na comemoração do centenário do nascimento de José Marti y Pérez
(1853-1953), Havana, Publicações do Arquivo Nacional de Cuba, 1953, p. 128.
92
37
Há diferentes versões de como se conheceram Martí e Maria. J. Mañach em ob.cit.,
nota número 24, p. 94, diz que foi nas aulas da Escola Normal, seguramente con-
fundindo estas com o curso de composição na escola das Izaguirre. M. Soto-Hall
diz em ob. cit., nota número 8, p. 115, que foi em uma festa, pouco tempo depois da
chegada de Martí à Guatemala, com o que concorda Quesada em ob. cit., nota no 18,
p. 110, afirmando que José Maria e Manuel José Izaguirre levaram Martí a um baile
a fantasia em casa de García Granados.
38
J.M.: Carta a Gonzalo de Quesada y Aróstegui, Montecristi, 1o de abril de 1895,
O.c., t. 1, p. 25. Epistolário, ob. cit., t. V, p. 139. Lizaso em ob. cit. nota no 13, diz que foi
Batres que solicitou a peça e Soto-Hall em ob. cit. nota no 8, p. 97 diz, contradizendo
o próprio Martí, que lhe foi pedida poucos dias depois da entrevista com Barrios. D.
Vela em ob. cit. nota no 10, p. 289, diz que escreveu também um drama denominado
“Morazán”, que se extraviou.
39
J.M.: Carta a Manuel Mercado, 28 de outubro de 1877, O.c., t. 20, p. 37. Epistolário,
ob. cit., t. I, p. 92.
93
40
O texto, com todos os signatários, aparece em Jorge Mario García Laguardia: A
reforma liberal na Guatemala. Vida política e ordem constitucional, Guatemala, Editora
Universitária da Guatemala, 1972, pp. 419-420.
41
J.M.: Carta a Manuel Mercado, 10 de novembro de 1877, O.c., t. 20, p. 37. Epistolário,
ob. cit., t. I, p. 95.
42
Segundo D. Vela, em ob. cit. nota no 10, p. 91, saiu em 29 de novembro. Martí anun-
ciou esta data em carta a Mercado de 10 de novembro.
43
J.Mañach, em ob. cit. nota número 24, p. 100, diz que a viagem foi terrestre: a cavalo
pelo rio Grande e a Serra das Minas, até Cobán e daí até a fronteira. No entanto, a
revisão de um mapa indica que se tratava de um caminho muito difícil na época. De
sua parte, Salvador Massip em “Martí viajante”, em Vida e pensamento de Martí, Havana,
município de Havana, 1942, t. 1, p. 209, diz que Martí foi da Cidade da Guatemala
ao porto de São José em diligência e daí a Acapulco por mar. Este autor sustenta sua
afirmação na descrição do itinerário terrestre feita por Martí em seu livro Guatemala.
44
Segundo D. Vela, em ob. cit., nota número 10, p. 92, em 5 de janeiro de 1878 já estava
em Acapulco. Como no dia 15 recomeçavam as aulas, é de supor que entre esses
dez dias tomou um barco até o porto guatemalteco de São José, de onde se dirigiu à
capital. As datas são confirmadas por Alfonso Herrera Franyutti em seu estudo “Nas
pegadas de Martí no México. Aproximação a uma viagem a Acapulco”, em Anuário
do Centro de Estudos Martianos, Havana, número 12, 1989, pp. 130-131, tomando
como base a correspondência a Mercado de 7 a 9 de janeiro de 1878 (O.c., t. 20, pp.
40-41 e 19, respectivamente). A carta de 9 de janeiro aparece erroneamente datada
em O.c. de 1877. Ver Epistolário, ob. cit., t. I, pp. 106-107 e 108. Em Acapulco, o casal
embarcou para o porto guatemalteco de São José de onde se dirigiu à capital.
94
de deixar tudo pronto para que o livro saísse naquele mesmo mês,
com prólogo do amigo Uriarte.
O semestre que passou na Guatemala em 1878 foi cheio
de contratempos.45 Ao que tudo indica, desde o ano anterior já
observava algumas manifestações de desagrado em relação à sua
pessoa, como se deduz desta frase, escrita na carta a Mercado
de 11 de agosto de 1877: “Aqui, nem o prazer de fazer viver os
outros faz-me viver eu mesmo, porque não se deixam fazer
viver”.46
Em 25 de novembro O Progresso publicou uma nota em que
elogiava seu desejo de escrever um opúsculo sobre o país, ter-
minando com esta velada advertência: “só é preciso aconselhar-
lhe um pouco de calma, um pouco de domínio sobre o fogo
da idade, e que nunca faça abstração da oportunidade e das
circunstâncias, nem mesmo por motivos generosos”.
Este comentário levou-o a escrever ao diretor do jornal:
“Trabalho bem e estou contente: – Que não prezo as circuns-
tâncias? Um homem nasce para vencer, não para adular. – Ah!
Inoportuno! Se circunstância é repulsa a toda melhora, ira
contra toda útil tentativa, ódio contra toda energia, não, não a
prezo. – Nem o senhor nem eu a prezamos”.47
Em 8 de março de 1878 escreve a Mercado dizendo-lhe que
enfrenta alguns problemas: fala-lhe do livro que “servirá de arma
aos que me têm afeto contra aqueles para quem sou, apesar de
45
Gonzalo de Quesada em Martí homem, Havana, 1940, p. 105, diz que seu livro Gua-
temala foi recebido friamente por muitos, entre eles o próprio Barrios e que Martí,
em um impulso altivo, queimou a edição, depois de presentear José Joaquín Palma
com um exemplar corrigido.
46
J.M.: Carta a Manuel Mercado, 11 de agosto de 1877, O.c., t. 20, p. 31. Epistolário,
ob. cit., t. I, p. 85.
47
J.M.: Carta a Valero Pujol, 27 de novembro de 1877, O.c., t. 7, p. 111. Epistolário, ob.
cit., t. I, p. 99.
95
48
J.M.: Carta a Manuel Mercado, de 8 de março de 1878, O.c., t. 20, p.41. Epistolário,
ob. cit., t. I, p. 113. Talvez um dos que o vissem como “ameaça ou estorvo” fosse
Montúfar, que Martí, na mesma carta, diz pretender ocupar o posto de Uriarte como
embaixador no México. Não esquecer que Martí era amigo deste último, o qual,
naquele ano, rompeu com Barrios, depois de conspirar desde antes, segundo Victor
Miguel Díaz em Barrios diante da posteridade, folhetim do Diário da América Centro,
Guatemala, 1935, p. 470.
49
D. Vela, em ob. cit., nota no 10, p. 251. Sua renúncia foi aceita em 6 de abril pelo
secretário de Instrução Pública, José Antonio Salazar (Papéis de Martí, Havana, Im-
prensa Século XX, tomo III, 1935, p. 118). Sem dúvida, Izaguirre reaproximou-se
posteriormente de Barrios, pois em 1882 dirigia um Instituto educacional em Chi-
quimula, com uma dotação de seis mil pesos. Este dado é confiável, pois provém de
uma carta de janeiro daquele ano, do cubano negro Anselmo Valdés, então dedicado,
em Honduras, ao cultivo do fumo, cuja folha vendia na Guatemala, país para onde
viajava com freqüência, por esse motivo (Papéis de Maceo, Havana, Academia da His-
tória de Cuba, 1948, t. II, p. 71). O Futuro (no 28, 4 de julho de 1878, p. 59) anuncia
a fundação do Colégio Cosmopolita por Izaguirre, na Cidade da Guatemala.
50
J.M.: Carta a Manuel Mercado, 30 de março de 1878, O.c., t.20, p. 46. Epistolário, ob.
cit., t. I, p. 118.
51
D. Vela: Ob. cit. em nota no 10, p. 251.
52
J.M.: Carta a Manuel Mercado, 30 de março de 1878, O.c., t.20, p. 46. Epistolário, ob.
cit., t. I, p. 118.
53
J.Lamore: Ob. cit. em nota no 17, p. 138.
96
54
M.Soto-Hall em ob.cit., em nota no 8, pp. 61-63, diz que se tratava de um encargo
do governo e no artigo que reproduz, assinado por D.E. (ver nota 18), diz-se que
a Revista sairia em 15 de abril de 1878. Este trabalho foi reproduzido também, tex-
tualmente, na Revista de Cuba, t. III, de maio de 1878, p. 475, acusando recepção do
jornal guatemalteco O Futuro, parece que do mês de março, pois o texto indica o
aparecimento da Revista para o “entrante” mês de abril. Em carta a Mercado de 30
de março daquele ano, Martí anuncia a saída da publicação: “Vou publicar aqui um
jornal onde terei que me desfigurar muito para pôr-me ao nível comum”. (O.c., t.20,
p. 45. Epistolário, ob. cit., t. I, p. 117). A saída da Revista também foi anunciada em O
Futuro, no 22, 5 de abril de 1878, pp. 342-343, em nota assinada por D.E. (Domingo
Estrada?). Segundo Félix Lizaso em Martí, místico do dever, Buenos Aires, Editorial
Losada, S.A., 3a edição, 1952, p. 139, o trabalho de Martí intitulado “Reflexões
destinadas a preceder os informes trazidos pelos Chefes Políticos às conferências de
maio de 1878”, foi escrito para a Revista Guatemalteca.
55
J.M.: Revista Guatemalteca, O.c., t. 7, p. 104. e E.c., t. 5, p. 291. Durante as pesquisas para
o tomo 5 da edição crítica das Obras completas, concluiu-se que, dada a proximidade das
datas de publicação dos títulos mencionados, é evidente que seu manuscrito “Livros
novos” – incluído sem data em O.c., t. 15, pp. 189-194. e E.c., t. 5, pp. 294-301 – foi
escrito para a Revista Guatemalteca.
56
Ver J.M.: Carta a Manuel Mercado, 6 de julho de 1878, O.c., t. 20, pp. 51-55. Epistolário,
ob.cit., t. I, pp. 122-126. Nela Martí expressa o tremendo conflito de consciência que
perturbou sua alma para tomar a decisão de voltar a Cuba.
97
57
Ver J.M.: Carta a Manuel Mercado, 20 de abril de 1878 e 6 de julho de 1878, O.c., t.
20, pp. 49 e 54, respectivamente. Epistolário, ob.cit., t. I, pp. 121 e 125.
58
Gonzalo de Quesada y Miranda em ob. cit. nota no 45, p. 107, diz que Martí, atacado
de uma doença na vista, freqüente nas alturas, partiu com sua esposa, em mulas, para
Livingston, o que parece muito improvável, dados os riscos dessa rota para Carmen,
então grávida de vários meses. Ver Mañach, em ob. cit. nota no 24, p. 104, onde afirma
que Miguel García Granados escreveu uma despedida no álbum de Carmen em 26
de julho.
98
Guatemala em Martí
O trabalho profissional, os problemas familiares e a ex-
periência do México, onde escreveu diariamente apoiando o
governo derrubado por Porfírio Díaz, provavelmente foram
fatores que influíram para que Martí escrevesse relativamente
pouco sobre os assuntos guatemaltecos durante sua permanên-
cia no país.60 E já vimos como fracassou, quando tentou uma
publicação própria, a Revista Guatemalteca.
De outra parte, nos escritos conservados observa-se que
deu atenção preferencial a problemas mais gerais da América
Latina, estimulado pelo desejo de “dar vida à América, fazer
59
J.M.: “Em casa”, em Pátria, 18 de junho de 1892, O.c., t. 5, p. 376. Este parágrafo
inicia um comentário sobre a visita a Nova York, no caminho para a Guatemala, de
Domingo Estrada.
60
Ver nota 18. Na carta a Mercado, de 8 de março de 1878, O.c., t. 20, p. 43. Epistolário,
ob. cit. t. I, p. 115, Martí promete enviar O Federalista, onde colaborou durante sua
permanência no México, “alimento para algumas colunas”. Mas afirma explicitamente
que não escreve sobre a Guatemala: “Correspondências não mando, porque os fatos
são escassos, e as avaliações, perigosas”.
99
61
J.M.: Carta a Manuel Mercado, de 21 de setembro de 1877, O.c., t. 20, p. 32. Epis-
tolário, ob. cit. t. I, p. 87.
62
J.M.: “Os Códigos novos”, O.c., t. 7, p. 99. E.c, t. 5, p. 90.
100
63
Ibidem, O.c., pp. 100-101. E.c., pp. 91-97.
64
J.M.: Guatemala, O.c., t. 7, p. 1. E.c, t. 5, p. 275. A propósito do Código Civil, o mesmo
Martí narrou a seguinte história, em seus cadernos de apontamentos, revelando nela
seus ideais democráticos: “Mas não podemos ser advogados, se o Direito for ensinado
nas escolas (palavras de um magistrado guatemalteco, quando foi promulgado o
Código Civil e pleiteava eu que, reduzido a compêndio brevíssimo, fosse ensinado
nas escolas). Ao que lhe responde: Pois, amigo, sejamos outra coisa. O princípio
econômico deve estar a serviço da maioria” (O.c., t. 21, p. 107).
101
65
J.M.: “Reflexões”, O.c., t. 7 p. 163 e E.c. t. 5, p. 98.
66
J.M. García Laguardia explica esta situação em ob. cit., nota no 40, reproduzindo
uma citação em que se considera esta uma contradição com os princípios teóricos
do liberalismo.
67
Augusto Cazali Ávila em “O desenvolvimento do cultivo do café e sua influência
no regime de trabalho agrícola. Época da reforma liberal (1871-1885) em Anuário de
Estudos Centro-americanos, São José, Universidade da Costa Rica, no 2, 1976, p. 62 e
seguintes, faz um amplo estudo da política coercitiva do governo de Barrios.
102
68
J.M.: Guatemala, O.c., t. 7, pp. 136-139 e E.c. t. 5, pp. 261-265. Seriam por acaso
essas idéias, entre outras coisas, que deram lugar a que seu livro – apesar do amor
pela Guatemala que dele emana – fosse recebido com desagrado nos círculos ofi-
ciais, poderosamente vinculados ao negócio cafeeiro? Vale recordar a afirmação
de Quesada (nota 45) e as próprias palavras de Martí, na carta a Mercado de 6 de
julho de 1878.
103
69
J.M.: “Árvores de quinua”, O.c., t. 7, p. 191. Os outros dois chamam-se “Bananas”
(p. 187) e “Queijos” (p. 188).
104
70
Note-se no quadro o peso decisivo do café nas exportações guatemaltecas durante a
década de 1880, apesar de que, entre 1882 e 1884, houve um sério decréscimo nos
preços de venda.
Exportações (em milhares de pesos)
Ano Total de exportações Café % do café
1880 4.425 4.057 92
1881 4.084 3.645 89
1882 3.719 3.133 85
1883 5.718 4.849 85
Sanford A. Mosk: “Economia cafeeira da Guatemala no período de 1850-1918”, em
Economia da Guatemala, Semanário de orientação social guatemalteco, Editora do
Ministério da Educação Pública, 1958, no 6.
71
Juan Marinello: Guatemala nossa, Havana, Imprensa Nacional de Cuba, 1961.
105
72
Segundo José Mata-Gavidia, em Anotações da história pátria centro-americana, Guatemala,
Cultural Centroamérica, 1953, p. 394, Barrios possuía 13 casas na Cidade da Gua-
temala, duas em Quezaltenango e uma em Nova York, além de 15 fazendas e duas
salinas. E, provenientes de ações em companhias nacionais e estrangeiras, recebia
mais de 26 milhões de pesos, sem contar o valor das jóias e o dinheiro que guardava
em bancos dos Estados Unidos e da Europa. Por sua vez, Cazali Ávila, em ob. cit.
nota no 68, pp. 80-85, ao falar dos efeitos sociais da política liberal, afirma que com
as divisões de terras formou-se um novo grupo social que controlou o aparato estatal
(militares, altos burocratas, políticos e próximos a Barrios) do qual saíram, junto com
vários estrangeiros, os latifundiários que ainda hoje subsistem. Este grupo, reunido
em torno do café, foi reforçado com elementos do comércio, do setor bancário e da
indústria, e nele coexistiram, etnicamente, crioulos, estrangeiros e mestiços.
106
73
J.M.: Guatemala, O.c, t. 7, p. 123, e E.c. t. 5, p. 247.
107
74
J.M.: Carta a Manuel Mercado, 20 de abril de 1878, O.c., t. 20, p. 48. Epistolário, ob.
cit., t. I, p. 120.
75
J.M.: Carta a Manuel Mercado, 6 de julho de 1878, O.c., t. 20, pp. 51-55. Epistolário,
ob. cit., t. I, p. 122-126. Também considera os liberais guatemaltecos “auto-suficientes,
que com inteligência e coração aqui não os encontro”. Ver J.M.: Carta a Manuel
Mercado, 30 de março de 1878, O.c., t. 20, p. 45. Epistolário, ob. cit., t. I, p. 117.
76
J.M.: Carta a Manuel Mercado, 20 de abril de 1878, O.c., t. 20, p. 47. Epistolário, ob.
cit., t. I, p. 119.
77
J.M.: Carta a Manuel Mercado, 10 de novembro de 1877, O.c., t. 20, p. 37. Epistolário,
ob. cit., t. I, p. 95.
108
78
J.M.: “Notas sobre a América Central”, O.c., t. 19, p. 77.
79
J.M.: “Cartas de Martí. O conflito da América Central, a morte de Barrios e a atitude
dos Estados Unidos”, O.c., t. 8, p. 93.
109
110
80
Antonio Batres Jáuregui: A América Central diante da história, 1821-1921. Memórias de
um século, Guatemala, 1949, t. 2, p. 479.
81
Manuel Galich: “A campanha antiimperialista de 1885. Um capítulo da história
canavieira da América Central”, em Bohemia, Havana, 28 de março, de 1965, pp. 29
e 82.
82
O próprio Casimiro D. Rubio, em Biografia do general Justo Rufino Barrios: reformador
da Guatemala, recopilação histórica e documentada, Guatemala, Tipografia Nacio-
nal, 1935, p. 484, diz que o convênio dava à companhia estadunidense 25 anos para
importar equipamentos, livros de Direito e isenção do pagamento de impostos.
111
83
John D. Martz: Justo Rufino Barrios e a União da América Central, Gainesville, Imprensa
da Universidade da Flórida, 1963, pp. 15-16.
112
113
84
Ver em Victor Miguel Díaz: Barrios frente à prosperidade, folhetim do Diário da América
Central, Guatemala, 1935, pp. 471-472.
114
115
85
Diante de tais acusações, Barrios tornou públicas as cartas a que nos referimos e cita-
mos, dirigidas aos presidentes da Nicarágua, de Honduras e de El Salvador. Ver Paul
Burguess: Justo Rufino Barrios, versão espanhola de Ricardo Letona-Estrada, primeira
edição em espanhol devidamente autorizada. São José, Costa Rica, Editora Universitária
da Guatemala, Editora Universitária Centroamericana (Educa), 1972, p. 394.
86
Uma das mais destacadas e conspícuas figuras da época, no Congresso estaduni-
dense, o senador democrata George Franklin Edmunds, declarou que um ataque à
Nicarágua seria considerado um ataque aos Estados Unidos. Ver Paul Burguess, em
ob. cit., nota no 91, p. 397.
87
J.M.: “Inauguração de um presidente nos Estados Unidos”, O.c., t. 10, p. 169.
116
88
Salvador Morales estende-se sobre a análise de Martí sobre as intenções expansio-
nistas dos Estados Unidos na região centro-americana, afirmando – sem oferecer
provas – que a tentativa de Barrios foi estimulada pelo país do Norte. No entanto,
Alberto Herrarte, em A união da América Central. Tragédia e esperança. Ensaio político-social
sobre a realidade da América Central, Guatemala, Editora do Ministério de Educação
Pública, 1955, pp. 214-219, afirma que, em 19 de maio de 1885, o Senado dos Esta-
dos Unidos declarou que toda invasão por parte da Guatemala, pela força, contra as
demais repúblicas da América Central, seria considerada um ato de inimizade e de
intervenção hostil contra os direitos estadunidenses, por estar pendente o tratado
sobre o canal da Nicarágua. Para este autor, essa declaração “obrigou” Barrios a
afirmar que a união não afetava os tratados anteriores e que o artigo 9º do decreto
de unificação fora interpretado erroneamente. A. Batres Jáuregui, em ob cit., nota
no 82, p. 479, relata que ele, pessoalmente, leu para Barrios um telegrama em que o
governo dos Estados Unidos declarava ver com maus olhos a união pela força.
117
89
Cf. Juan Marinello, em ob. cit., nota no 72, p. 125.
118
90
Sem emprestar validade absoluta a um testemunho escrito muitos anos depois do que
foi narrado, é ilustrativa, neste sentido, a conversa de Máximo Soto-Hall e Domingo
Estrada com Martí, em Nova York, em 1882, relatada pelo primeiro em ob. cit., nota
no 8, pp. 158-159.
119
120
91
Ver Jorge Ibarra: José Martí, dirigente político e ideólogo revolucionário, Havana, Editorial
de Ciencias Sociales, 1981, cap. 2, pp. 28-29.
121
92
J.M.: Guatemala, O.c., t. 7, p. 134, e E.c. t. 5, pp. 259-260. Isso é compatível com
o interesse que lhe despertaram, dias antes de sua saída da Guatemala, os textos
sobre agricultura do Conde de Pozos Dulces, bem conhecido defensor da pequena
propriedade agrária: “Ontem à noite caiu em minhas mãos um livro do Conde de
Pozos Dulces, Coleção de estudos sobre agricultura, e não pude durante toda a noite
afastar meus olhos dele. – Contém muitas coisas em que eu já pensara e outras em
que nunca teria sido capaz de pensar”. (Carta a Francisco Sánchez, 23 de julho de
1878, O.c., t. 20, p. 264. Epistolário, ob. cit., t. I, p. 128).
122
123
93
Idem em O.c., e em E.c., p. 260.
94
J.M.: Carta a Valero Pujol, diretor de O Progresso, de 27 de novembro de 1877, O.c.,
t. 7, p. 111. Epistolário, ob. cit., t. I, p. 98.
124
125
95
Ver Roberto Fernández Retamar: “Martí e a revelação de nossa América”, prólogo a
José Martí: Nossa América, Havana, Casa de las Américas, 1974, p. 10.
126
96
J.M.: Carta a Manuel Mercado, Guatemala, 19 de abril de 1877, O.c., t. 20, p. 27.
Epistolário, ob. cit., t. I, p. 76.
127
97
Embora Bernardo Callejas considere que no Drama Martí já separa os Estados Uni-
dos da América Latina, parece-me claro, nos próprios exemplos que cita, que Martí
refere-se à Espanha. Note-se quando Pedro, o patriota, descreve a variada exploração
metropolitana, nestes versos: “Amo o governador, guia a Igreja, / e cada presumido
mercador que vem de longe, / sua vara de medir por cetro troca!” em J.M.: Pátria e
liberdade. Drama indígena. O.c., t. 18, p. 134 e E.c., t. 5, p. 116.
128
129
130
131
98
Foi, possivelmente, Leonardo Acosta que, pela primeira vez, dedicou-se ao estudo dessas
complexas arestas do pensamento de Martí. Sua obra, José Martí, a América pré-colombiana
e a conquista espanhola (Cadernos Casa, Havana, no 12, Casa de las Américas, 1974), in-
dubitavelmente ajudou a compreender como Martí considerou as culturas indígenas,
situando-se a seu lado ao analisar a conquista e a colônia. No entanto, parece-me que
Acosta não entende que o reconhecimento do aborígine e o repúdio ao colonialismo
europeu (espanhol) não significam uma posição unilateral de Martí ao explicar a
identidade latino-americana. É admirável em seu anticolonialismo não ter caído no
que poderia ter sido um explicável repúdio do europeu como maneira de afirmar o
aborígine e sim que entende, com extraordinária acuidade para seu tempo, algo que
é válido para a análise atual do problema; o continente é uma realidade sociocultural
mista, síntese de contribuições diversas, e sua única possibilidade de permanência e
fortalecimento repousa no desenvolvimento sistemático dessa síntese.
132
99
Embora este seja um tema que requer um estudo especial, não posso deixar de dizer
que, em minha opinião, teve uma importância relevante no processo de tomada de
consciência por Martí da identidade latino-americana e, que, além disso, em geral, a
natureza americana foi vista por ele como intimamente ligada à história da região.
133
1
Gonzalo de Quesada y Miranda: “Martí, padrinho de Maria Mantilla”, em Pátria,
Havana, no XXVII, (10), outubro, 1971, pp. 1-2.
2
“Crônica”, A Opinião Nacional, 28 de janeiro de 1881, em Salvador Morales: Martí
na Venezuela. Bolívar em Martí, Havana, Editora Política, 1985, p. 29 e Carlos Ripoll,
ob. cit. p. 63.
3
José Martí: “Fragmento do discurso pronunciado no Clube do Comércio, em Caracas,
Venezuela, em 21 de março de 1881”, em Obras completas, Havana, 1963-1973, t. 7,
p. 281. Na seqüência citaremos por esta edição, identificada com as iniciais O.c. e,
portanto, apenas indicaremos tomo e paginação.
136
137
4
J.M.: “Uma viagem à Venezuela”, O.c., t. 19, p. 158.
5
Francisco J. Ávila: Ob. cit., p. 65.
138
6
Pelo que se sabe, apenas recebia dinheiro por suas colaborações para o jornal The New
York Sun e o semanário The Hour e durante muito pouco tempo, por aulas de espanhol
que dividia com sua esposa, o que mostra os apuros pelos quais passavam.
139
que foi o diretor do The Sun que ajudou Martí nas despesas da
viagem à Venezuela,7 em troca de suas colaborações. Mas tudo
isso explica apenas o desejo de abandonar Nova York, e não a
opção pela capital venezuelana.
Sabe-se que durante seu primeiro ano em Nova York, Martí
manteve amplas relações com a colônia latino-americana resi-
dente na cidade, porque, além da proximidade espiritual com os
cubanos, esta apoiou com freqüência as gestões e atos indepen-
dentistas dos antilhanos. Hospedou-se o tempo todo na pensão
de Carmen Miyares de Mantilla,8 cubana com um ramo familiar
venezuelano pelo lado paterno. Ali também se hospedava gente
vinda de toda a América Latina e, principalmente, da Venezuela.
Sabe-se que desde então Martí já estabelecera relações amistosas
com os venezuelanos Nicanor Bolet Peraza e com o poeta Juan
Antonio Pérez Bonalde, ambos no exílio devido à sua oposição
ao presidente do país, Antonio Guzmán Blanco.
Ainda que as amizades venezuelanas – talvez até a própria
Carmen Miyares – tenham mostrado a vida em Caracas com
boas perspectivas, o cubano percebeu que seus amigos anti-
Guzmán opunham-se à viagem. O próprio Bolet Peraza ten-
tou dissuadi-lo, pintando em tons sombrios o regime político
existente em sua pátria.9 Estes dados aumentam o interesse de
7
Félix Lizazo: Martí, místico do dever, Buenos Aires, Editorial Losada S.A., 1952, 3a ed.,
p. 163.
8
Jorge Mañach: Martí, o Apóstolo, México, D.F., Editorial Espasa-Calpe, Argentina,
S.A., 1952, 4a ed., p. 143. A mais recente edição cubana foi feita em Havana, pela
Editorial de Ciencias Sociales, em 1990.
9
Nicanor Bolet Peraza: “José Martí como literato”, em Assim viram Martí, Havana,
Editorial de Ciencias Sociales, 1971, p. 19. Assim foi relatado por Bolet Peraza em um
discurso pronunciado em 19 de maio de 1896, em Nova York. Bolet se indispusera
com Guzmán Blanco em 1877, embora já em 1867 desse seu apoio aos conserva-
dores, por ocasião da revolução azul. Depois de intrigar com Alcântara, o sucessor
de Guzmán Blanco, para afastá-lo do Ilustre Americano, o triunfo armado dos
140
141
142
10
Carlos Manuel de Céspedes y Quesada: Manuel de Quesada y Loynaz, Havana, Imprensa
Século XX, 3a ed., 1925, pp. 110-126, 183-187 e 116, respectivamente. Assim explica
esses movimentos, com luxo de detalhes. Em certo sentido, Guzmán Blanco pagou a
Quesada sua ajuda, pois quando este chegou à Venezuela, em 1870, ainda se guerreava
contra os conservadores, e o cubano entregou ao governo liberal 2.100 fuzis, assim
como transportou suas tropas no Virginius. Para Quesada, a retribuição do governo
liberal venezuelano demorou muito, embora ele mesmo tenha dito em carta a Carlos
Manuel de Céspedes que “de fato somos considerados beligerantes (na Venezuela),
pois exercemos os atos próprios daqueles”. O conflito subseqüente com a Espanha
e os que, por diferentes motivos, mantinha com outros governos, provavelmente
influíram na decisão de Guzmán Blanco de retirar das Câmaras, em 1872, a proposta
de reconhecimento da beligerância cubana, e de evitar o envolvimento de venezuela-
nos em uma nova expedição do Virginius, embora tenha mantido a ajuda econômica
a Quesada. Talvez esta não fosse totalmente desinteressada nem tão ampla quanto
desejaria Quesada, mas a solidariedade material do governo de Guzmán Blanco com
Cuba foi objetivamente mais efetiva do que a de muitas declarações feitas por outros
governos do continente. R.A. Rondon Márquez: Guzmán Blanco, o autocrata civilizador.
Parábola dos partidos políticos tradicionais na história da Venezuela (Dados para 100
anos de história nacional), Caracas, Tipografia Garrido, 1943, t. II, p. 217.
143
11
Gerardo Castellanos: Perfis. Ensaios biográficos, Havana, Imprensa P. Fernández e Cia.
1910, p. 23.
144
12
“Um punhado de homens, empurrado por um povo, consegue o que conseguiu
Bolívar (...). Mas, abandonado por um povo, um punhado de heróis pode chegar a
parecer, aos olhos dos indiferentes e dos infames, um punhado de bandidos”. (Idem.
Epistolário, ob. cit., t. I, p. 203).
145
13
Santiago Key-Ayala: “Caracas em Martí”, em Revista Nacional de Cultura, Caracas, no
96, janeiro-fevereiro, 1953, p. 10. Não existe texto de Martí, nem nenhum docu-
mento, que confirme gestões do revolucionário cubano nesse sentido, durante sua
permanência em Caracas; é verdade que, se tais iniciativas ocorreram, devem ter
sido acompanhadas da mais absoluta discrição.
146
14
J.M.: Carta a Fausto Teodoro de Aldrey, 22 de março de 1881, O.c., t. 7, p. 266.
Epistolário, ob. cit. t. I, pp. 209-210.
147
15
Jorge Mañach (ob.cit., p. 143) e Gonzalo de Quesada y Miranda: Martí homem, Havana,
1940, p. 149.
16
Filha de Guillermo Smith, inglês membro da Legião Britânica, que combateu junto
a Bolívar, durante as lutas pela independência, tendo ocupado cargos importantes
no Estado venezuelano.
148
17
“Este ilustre escritor cubano que há alguns anos era redator, no México, da Revista
Universal, encontra-se em Caracas, onde se dispõe a fixar residência. Tivemos o pra-
zer de conversar com ele, na visita que se dignou fazer-nos, quando ganhou nossas
sinceras simpatias. Desejamos cordialmente que seja feliz entre nós, para que adote
a Venezuela como sua segunda pátria, tão generosa e providente quanto a que lhe
deu o ser”. (“Crônica”, A Opinião Nacional, 28 de janeiro de 1881. Ver supra nota
3). Certamente, a referência à colaboração de Martí na Revista Universal não permite
qualificar – como faz Morales – como “algo evidente” que Aldrey tenha conhecido
o cubano por aqueles escritos, a maioria dos quais publicados com o pseudônimo
de Orestes ou sem assinatura. Essa colaboração pode ter sido conhecida por meio
do próprio Martí, na ocasião de sua visita ao jornal de Caracas.
18
J.M.: Carta a Diego Jugo Ramírez, 9 de dezembro de 1881, O.c., t. 7, pp. 268-269.
Epistolário, ob. cit., t. I, pp. 218-219. Jugo participara da Assembléia Popular de 5 de
julho de 1869, em Caracas, ocasião em que foi solicitado o reconhecimento de Cuba
e de Porto Rico.
19
Francisco J. Ávila (ob. cit., p. 66) e Gustavo Sotolongo y Sainz: “Martí na Venezuela”,
em O Fígaro (Havana, 26 de julho de 1925), p. 396.
149
20
Agustín Aveledo (Itinerário biográfico e sentimental de José Martí, Caracas, Impressores
Unidos, 1938, p. 17), Gonzalo de Quesada y Miranda (Martí homem, ob. cit., p. 51)
e Jorge Mañach (ob. cit., p. 147) afirmam que o contrataram depois do discurso
pronunciado no Clube do Comércio, em 21 de março.
21
Juvenal Anzola: “Lembranças universitárias”, em Venezuela a Martí, Havana, Publi-
cação da Embaixada da Venezuela em Cuba, 1953, p. 31.
22
Jesús A. Cova: Ob. cit., p. 736. Agustín Aveledo (ob. cit., nota no 3, p. 18) que,
baseando-se nos relatos de seu avô, conta que nessa casa este apresentou a Martí o
padre Mendoza “de candente oratória”.
150
23
O próprio Martí recordou esses passeios em um artigo publicado em O Economista
Americano, em fevereiro de 1889, por ocasião da morte de Escobar. J.M.: “Eloy Es-
cobar”, O.c., t. 8, p. 203.
24
Gonzalo Picón Febres: A literatura venezuelana do século 19 (Ensaio de história crítica),
Caracas, Empresa El Rojo, 1906, p. 154, e Jorge Mañach, ob. cit. p. 145 dizem que o
discurso foi pronunciado deste balcão, o que, ao que tudo indica, está errado, segundo
os testemunhos conservados.
25
Jesús A. Cova: “Venezuela e os venezuelanos na prosa de José Martí”, em Memória
do Congresso de Escritores Martianos, Havana, 1953, p. 736.
26
Aurelio Álvarez Echezarreta: Martí e a Venezuela, Corporação Venezuelana de fomento
(1977), p. 27. As duas cartas foram publicadas em A Opinião Nacional, em 18 de março
de 1881.
151
27
Gonzalo Picón Febres: Ob. cit., pp. 156-157. A Opinião Nacional publicou uma longa
crônica sobre aquele serão, em 23 de maio de 1881. (Aurelio Álvarez Echezarreta:
Ob. cit., pp. 28-30).
152
28
José de la Luz León: “O que de Martí me disse seu amigo Zumeta”, no Arquivo José
Martí, Havana, v. 9, no 2, julho-dezembro, 1945, pp. 276-277.
29
José Luis Salcedo Bastard: História fundamental da Venezuela, Caracas, Universidade
Central da Venezuela, Organização do Bem-Estar Estudantil, 1970, pp. 342-343. Em
1879 criou-se uma sociedade secreta de jovens anti-Guzmán e, no ano seguinte, foi
preso o estudante José Gil Fortoul (Gonzalo Picón-Febres: Ob. cit.).
153
30
Juvenal Anzola (ob.cit.) por ter sido seu aluno, é quem oferece mais segurança em
suas informações.
31
Lisandro Alvarado: “Uma lembrança de Martí”, epílogo a José Martí: Venezuela e seus
homens, Caracas, Editorial Cecílio Acosta, 1942, p. 153.
32
Aurelio Alvarez Echezarreta: Ob. cit., pp. 33-35. Embora Agustín Aveledo (ob. cit.) diga
que Martí fez três conferências nesse local, só encontrei memória destas duas.
154
33
Assim diz o próprio Martí em carta de agradecimento a Fausto Teodoro de Aldrey,
de 22 de março de 1881, O.c., t. 7, p. 265. Epistolário, ob. cit., t. I, p. 209.
34
J.M.: Carta a Diego Jugo Ramírez, 22 de março de 1881, O.c., t. 7, pp. 266-267.
Epistolário, ob. cit., t. I, p. 208.
35
Jorge Mañach: Ob. cit., nota no 20, p. 145. Mañach afirma que foi na casa de Acosta
que Martí conheceu muitos jovens intelectuais, e onde surgiu a idéia de que falasse
em um serão literário.
155
156
36
Suas primeiras publicações em A Opinião Nacional foram os dois artigos dedicados
a Calderón de la Barca, em 15 e 28 de junho de 1881, intitulados “O centenário de
Calderón”.
37
Suas cartas a Carmen Zayas-Bazán não foram guardadas, mas o assunto fica claro
em algumas cartas conservadas, dirigidas a Martí por ela e outros familiares.
157
1878 e 1879. Esta foi uma das pessoas que a persuadiu a não ir
a Caracas com seu filho, enquanto o esposo não dispusesse de
renda suficiente. Finalmente, estimulada porque os amigos de
Martí em Cuba não viam com bons olhos sua ida à Venezuela,
e encorajada pelo desejo de assegurar à criança uma infância
tranqüila, Carmen voltou a Camagüey, para a casa paterna, em
9 de julho.38
Em Caracas, Martí, ignorando tanto as pressões sobre Car-
men para que não empreendesse a travessia, como sua volta a
Camagüey, dedica horas de emocionada lembrança a seu filho,
diante de um retrato do menino, que enfeita com o ramo de
violetas presenteado pela esposa de Jugo Ramírez no primeiro
dia de carnaval.39 Desde a viagem por mar, em janeiro, o amor
paterno fez pulsar a sensibilidade do poeta. Surge o livro de
versos Ismaelillo, que será publicado no ano seguinte em Nova
York.40 E, em 6 de julho, certamente levado pela boa acolhida
do primeiro número da Revista Venezuelana, insistiu, em carta
a Carmen, para que se transferisse para Caracas.
A Revista era um velho sonho de seus dias da Guatemala, quan-
do lançara um prospecto anunciando a saída de uma publicação
38
Cartas a Martí de Manuel Garcia, de 9 e 17 de agosto de 1881, em Papéis de Martí,
ob. cit., nota no 17, p. 28. Também em Destinatário José Martíi, ob. cit., pp. 66-67). Em
evidente oposição à presença de Martí na Venezuela e mostrando a influência que
exerciam sobre Carmen os que a rodeavam, o próprio cunhado escrevia assim a
Martí, em 17 de agosto: “é uma lástima que um homem de tanto valor tenha ido
perder tempo em um lugar tão miserável e com um futuro tão pouco feliz”.
39
J.M.: Carta a Diego Jugo Ramírez, 9 de dezembro de 1881, O.c., t. 7, pp. 268-269.
Epistolário, ob. cit., t. I, pp. 218-219.
40
O processo formador do livro foi estudado por Angel Augier por meio dos aponta-
mentos martianos de 1881. J.M.: Cadernos de notas, O.c., t. 21, pp. 157-247. O próprio
Martí afirmou que foi em Caracas que escreveu os quinze poemas que formam
Ismaelillo (Carta a Diego Jugo Ramírez, 9 de dezembro de 1881, O.c., t. 7, p. 269.
Epistolário, ob. cit., t. I, pp. 218-219).
158
41
“Dicionário de vocábulos indígenas”, O.c., t. 7, pp. 200-204. Trata-se do Ensaio de
um dicionário de vocábulos indígenas, de Aristides Rojas: “Venezuela heróica”, Eduardo
Blanco; e o poema “La venezoliada”, de José Maria Núñez de Cáceres.
42
J.M.: “Don Miguel Peña”, O.c., t. 8, pp. 135-150.
43
Agustín Aveledo: Ob. cit., nota no 38, p. 22. Em uma nota publicada na contracapa do
número 2, estabelecendo as condições da assinatura, diz-se o seguinte: “Por generosa
indicação de respeitáveis amigos do Diretor da Revista, a publicação foi enviada a
várias pessoas da cidade. Destas, serão consideradas escritores (sic) e será dado recibo
a aqueles que não tenham manifestado, em aviso ou pelo correio, sua intenção de
não assinarem”.
159
44
Salvador Morales: Ob. cit., nota no 3, p. 41, no 19. Este autor reviu a imprensa vene-
zuelana e apenas encontrou palavras de apoio à empresa martiana (A Opinião Nacional,
El Reflector, O Século, El Ateneo, El Mentor, El Angel Guardián). E acrescenta (idem, no
20) que José Antonio Cortina saudou-a na Revista de Cuba, Havana, novembro de
1881, t. X, p. 479.
45
J.M.: “Propósitos”, O.c., t. 7, pp. 199-200.
160
46
Martí soube de sua morte no mesmo dia, enquanto passeava pela Ponte de Ferro –
na época, a melhor avenida de Caracas – no carro de seu amigo rico, Eloy Escobar
(Francisco J. Ávila: Ob. cit., nota no 5, p. 85).
161
47
Jean Lamore: “José Martí frente aos caudilhismos da época liberal (Guatemala e
Venezuela)”, em Anuário do Centro de Estudos Martianos, Havana, no 3, 1980, p. 142.
48
R. A.Rondon Márquez: Ob. cit., nota no 24, t. I, p. 243. O presbítero Leon disse
apenas no enterro: “Cecilio Acosta jamais inclinou a cabeça frente a tirano algum”.
Por estas palavras esteve seis meses na prisão e seis anos exilado.
49
J.M.: Fragmentos, O.c., t. 22, p. 323.
162
50
Félix Lizaso (ob. cit., p. 19), Jesús A. Cova (ob. cit. nota no 45, p. 737) e Jorge Mañach
(ob. cit., nota no 20, p. 150) afirmam que Guzmán Blanco fez chegar a Martí a “su-
gestão” de publicar algo sobre ele.
51
Francisco Pividal Padrón: “Briceño e Martí (Relato de algumas confissões surpreen-
dentes)”, em Bohemia, Havana, no 35, 29 de agosto de 1969, pp. 98-100.
52
Assim narrou Martí a despedida, no artigo mencionado em O Economista Americano:
“Venham, filhas minhas, venham dizer adeus a este hóspede que se vai de sua terra; e
dêem-lhe para que leve o melhor que temos! E a filha maior entrou na sala comovida,
trazendo nas mãos uma caixa de nácar”. (J.M.: “Eloy Escobar”, O.c., t. 8, p. 204).
53
O portorriquenho Sotero Figueroa, íntimo colaborador de Martí nas atividades sociais
e patrióticas em Nova York, assim afirmou, em Pátria, 25 de junho de 1895. Assim
viram Martí, ob. cit. nota no 21, p. 92; Francisco J. Ávila: Ob. cit., no 5, p. 95, afirma o
mesmo.
54
J.M.: Carta a Fausto Teodoro de Aldrey, 27 de julho de 1881, O.c., t. 7, pp. 267-268.
Epistolário, ob. cit., t. I, pp. 211-212.
55
Carlos Ripoll: Ob. cit., nota no 2, pp. 68-69; Manuel Isidro Méndez (ob. cit., nota no 2,
p. 125) reproduz o seguinte texto: “Não nos atrevemos a dizer aqui, onde há tantas
capacidades pátrias, que é, para as letras, a ciência e a oratória venezuelana, uma perda
a ausência de Martí, mas sim que o sentimos com profundo pesar, porque... são tão
raros neste mundo os homens bons, os homens de candura angelical”.
163
164
165
56
Salvador Morales (ob. cit., nota no 3, p. 57) afirma que o presbítero Aguilar era um “opositor
reacionário” e observa que algumas notas de Martí parecem referir-se a este individuo
que era contra Bolívar e seu país (J.M.: Cadernos de notas, O.c., t. 21, p. 305).
166
57
Papéis de Martí, ob. cit., nota no 17, p. 38 (Fragmentos possivelmente de outubro de
1881). Também em Destinatário José Martí, ob. cit., p. 79.
58
Félix Lizaso: Ob. cit., p. 20.
167
59
Agustín Aveledo: Ob. cit., p. 22.
60
Ibidem, p. 17.
61
J.M.: Carta a Diego Jugo Ramírez, 28 de julho de 1882, O.c., t. 7, p. 273. Epistolário,
ob. cit. t. I, p. 241.
62
Jorge Mañach: Ob. cit., nota no 20, p. 151. Há cinqüenta anos, Mañach afirmava que
a Venezuela impeliu-o no sentido americanista, iniciado no México e continuado
na Guatemala. E dizia: “Na Venezuela, com o contraste entre seu passado e seu
presente, encontrou por fim, toda a trágica dimensão da América”. Na verdade, a
totalidade da “trágica dimensão” do continente só a descoberta do fenômeno impe-
rialista, durante sua longa vida em Nova York, a partir de meados de 1881, poderia
facultar-lhe. E, de outro lado, sem desdenhar a apreciação do contraste mencionado
pelo biógrafo, a missão venezuelana de Martí aprofunda-se no sentido do futuro
imediato, sustentando-se solidamente em seu presente.
168
169
63
J.M.: Carta a Valero Pujol, 27 de novembro de 1877, O.c., t. 7, p. 112, Epistolário, ob.
cit., t. I, p. 99.
64
Ver o prospecto da Revista Guatemalteca, O.c., t. 7, pp. 104-106. Também em Obras
completas. Edição crítica, Havana, Centro de Estudos Martianos, 2001, t. 5, pp. 291-293.
Na seqüência cita-se E.c, o tomo e a página. Não é o momento de desenvolver a
idéia, mas aqui está a explicação de porque nessa época Martí diz América em óbvia
referência à América Latina: a do Norte não podia ser americana para ele por não ter
assumido o autóctone. E muito provavelmente é por isso que emprega tão poucas
vezes em seus textos da Venezuela o termo “nossa América”, que em sua maturidade
iria lhe servir para diferenciar as duas partes do Novo Mundo. O.c., t. 7, p. 267.
170
65
J.M.: Carta a Fausto Teodoro de Aldrey, 27 de julho de 1881, O.c., t. 7, p. 267. Epis-
tolário, ob. cit., t. I, p. 212.
171
172
66
J.M.: “Impressões da América. (Por um espanhol muito recente)”, O.c., t. 19, pp.
106-110; 115-118; 123-126.
173
67
J.M.: “Curaçao”, O.c, t. 19, p. 135.
68
J.M.: “Fragmento do discurso pronunciado no Clube do Comércio, em Caracas,
Venezuela, em 21 de março de 1881”, O.c., t. 7, p. 288.
174
175
176
177
69
Assim são explicadas atualmente na Guatemala as características autocráticas do
governo de Justo Rufino Barrios.
178
179
72
Ibidem, pp. 208 e 210, respectivamente. Uma ampla explicação da nova época que se
abria, em escala universal, a seu ver, foi dada por Martí no ano seguinte, no prólogo
a O poema do Niágara, do venezuelano Pérez Bonalde (O.c., t. 7, pp. 223-238), numa
clara demonstração de como continuou a reflexão iniciada na Venezuela.
73
J.M.: “O caráter da Revista Venezuelana”, O.c, t. 7, p. 210.
180
74
J.M.: “Propósitos”, O.c., t. 7, pp. 198-199.
181
75
J.M.: “Fragmento do discurso pronunciado no Clube do Comércio, em Caracas,
Venezuela, no dia 21 de março de 1881”, O.c., t. 7, p. 285.
76
Ibidem, p. 283.
182
77
J.M.: “O caráter da Revista Venezuelana”, O.c., t. 7, p. 208.
78
Ibidem, p. 210.
79
Ibidem, p. 211.
183
80
Fina García Marruz: “Venezuela em Martí”, em Anuário do Centro de Estudos Martianos,
Havana, no 5., 1982, p. 50.
81
Ibidem, p. 51. Mais adiante analisamos com mais precisão o pensamento de Martí
sobre Bolívar na Venezuela. Quanto a essa original maneira de apresentar “influên-
cias literárias”, suponho que deixará boquiaberta a dogmática estilística que se move
apenas no estudo dos textos em si. Creio que a avaliação e a análise de Fina García
Marruz constituem uma verdadeira abertura para a compreensão do estilo como um
fenômeno psicossocial.
184
82
Ibidem, pp. 76-77.
185
83
J.M.: “Fragmento do discurso pronunciado no Clube do Comércio, em Caracas,
Venezuela, no dia 21 de março de 1881”, O.c., t. 7, p. 285.
186
187
188
84
J.M.: “Uma viagem à Venezuela”, O.c., t. 19, pp. 160, 163 e 167, respectivamente.
189
85
J.M. “O caráter da Revista Venezuelana”, O.c., t. 7, pp. 210-211.
86
Ibidem, p. 160.
190
191
192
87
Ibidem, pp. 155-156.
88
J.M.: “O terceiro ano do Partido Revolucionário Cubano. A alma da Revolução e o
dever de Cuba na América”, O.c., t. 3, pp. 138-143.
89
Claro que existe aqui uma contradição em seu pensamento, à medida que não
compreende cabalmente a relação direta entre a permanência desse males e as desi-
gualdades sociais, o que dá um sabor utópico a seu desejo.
193
194
93
Na primeira ocasião escreve: “Assim, tremendo minhas faces ao lembrar-me dos dias
de patriarcal grandeza em que os abraços de boas vindas tiraram o pai feliz de um
cavalo de batalha, como treme a superfície da terra quando movida pelo fogo interior
dos vulcões”. Em outro momento diz: “via por fim nosso pai comum, enxuto o rosto
de ira, crispada a mão elegante, como para erguer com ela o fogo da terra; – como se,
para que tão alta criatura nascesse, fosse necessário que a terra sofresse extraordinária
dor de parto” (J.M.: “Fragmento do discurso pronunciado no Clube do Comércio, em
Caracas, Venezuela, no dia 21 de março de 1881”, O.c., t. 7, p. 281 e 289). Vale apreciar,
de passagem, a identificação entre homem e natureza, coerente com a importância
que Martí dava a esta última como elemento da identidade latino-americana.
94
Ver nota 70.
95
“A Bíblia disse a verdade: são os filhos que pagam os pecados dos pais – são as repú-
blicas da América do Sul que pagam os pecados dos espanhóis”. J.M.: “Uma viagem
à Venezuela”, O.c., t. 19, p. 153.
195
96
Já antes, em alguns de seus textos políticos do final da Guerra Chiquita, Martí evidencia a
reflexão sobre a organização e a direção do movimento revolucionário cubano (ver nota
17); mas não conhecemos referência alguma da época a seu alcance internacional.
97
J.M.: “Fragmento do discurso pronunciado no Clube do Comércio, em Caracas,
Venezuela, no dia 21 de março de 1881”, O.c., t. 7, p. 284. As citações seguintes
correspondem ao mencionado discurso.
196
197
198
98
J.M.: Carta ao general Máximo Gómez, 20 de outubro de 1884, O.c., t. 1, pp. 177-
180. Epistolário, ob. cit., t. I, pp. 280-283.
99
J.M.: Carta a Diego Jugo Ramírez, 9 de dezembro de 1881. O.c., t. 7, p. 268. Epistolário,
ob. cit., t. I, p. 218.
199
100
Outros aspectos do significado da Venezuela para Martí escapam a meu propósito
nesta ocasião, mas não se pode deixar de indicar seu uso de vocábulos do país (Angel
Rosemblat. Os venezuelanismos de Martí Caracas, Imp. da Diretoria de Cultura e Belas
Artes, 1953) onde encontrou “a boa fala”, tanto entre escritores como Eloy Escobar
e Morales Marcano, quanto a de “trabalhadores e moços que andam por Caracas, e
pastores em longas camisas, que usam o castelhano parecendo formados na academia”.
(“Manual do veguero venezuelano”, O.c., t. 7, p. 248). Também há que considerar
a incorporação de lendas e mitos aborígines a seu mundo referencial, como mostra
Cintio Vitier (“Uma fonte venezuelana de José Martí”, em Temas martianos. Segunda
série, Havana, Centro de Estudos Martianos e Editorial Letras Cubanas, 1982, pp.
105-142) em valioso estudo demonstrativo de que foram os escritos de Aristides
Rojas a fonte de Martí para o conhecimento da idéia do Grande Semí.
200
PARTE II
*
A.K.Cutting: Aventureiro estadunidense que tentou criar problemas entre o México
e os Estados Unidos, a fim de despojar o México dos Estados do Norte.
201
1
Naqueles mesmos dias de maio e por aquelas mesmas ruas,
há exatamente 11 décadas, caminhava José Martí. Era então um
migrante que dividia sua vida entre os trabalhos políticos para
libertar sua ilha do domínio colonial espanhol e as longas horas
escrevendo para o diário de Caracas A Opinião Nacional.1
Esses textos – vistos por ele como um ganha-pão –2 cons-
tituiriam o início de uma nova etapa em seu labor jornalístico:
1
Em carta a Manuel Mercado, em 13 de novembro de 1884, solicitando-lhe que faça
gestões para obter colaborações para a imprensa mexicana, indica que a redação das
crônicas implicava em mais trabalho “do que o de um redator diário assíduo” e que
as de A Opinião Nacional ocupavam todo o seu tempo. (Obras completas, Havana,
1963-1973, t. 20, p. 77. Doravante, citaremos esta edição, identificada com as ini-
ciais O.c., indicando apenas tomo e página. Ver também em Epistolário, compilação,
ordenamento cronológico e notas de Luis Garcia Pascual e Enrique H. Moreno Pla,
prólogo de Juan Marinello, Havana, Centro de Estudos Martianos e Editorial de
Ciencias Sociales, 1993, t. I, p. 287).
2
Por crônica pagavam-lhe 50 dólares-ouro. (Carta a Mercado, 22 de março de 1886,
O.c., t. 20, p. 85).
3
Francisco J. Ávila: Martí no jornalismo caraquenho, Caracas, 1968, pp. 73 e 66.
4
Lembremos sua tentativa de editar uma Revista Guatemalteca em 1877, que ficou ape-
nas no prospecto. (O.c., t. 7, p. 104. Também Obras completas. Edição crítica, Havana,
Centro de Estudos Martianos, 2001, t. 5, pp. 291-293).
204
5
Na própria Caracas escrevera, antes de seu regresso a Nova York, ao diretor de A
Opinião Nacional, que sua missão era consagrar-se à “revelação, agitação e fundação
urgente” da América. (O.c., t. 7, p. 267 e Epistolário, ob. cit. t. I, p. 212).
6
Ver sua chamada carta-testamento literário a Gonzalo de Quesada (O.c., t. 1, pp.
25-28). Ver também em Testamentos de José Martí, edição crítica, Havana, Editorial de
Ciencias Sociales, 1996, pp. 16-54.
7
O pensamento do revolucionário cubano durante sua permanência nos Estados Uni-
dos pode ser abordado por vias e métodos diferentes, mas considero especialmente
válido fazê-lo por meio das próprias publicações em que escreveu regularmente,
vendo-as como “unidades fechadas”, com o que o sentido e o alcance de suas idéias
podem ser apreciados segundo os propósitos e características que lhe impunham tais
publicações, mediadoras na comunicação com seus leitores.
205
8
Carta de Fausto Teodoro de Aldrey, 3 de maio de 1882. (Em Gonzalo de Quesada,
Papéis de Martí, Havana, 1933, t. III, pp. 41-42. Também em Destinatário José Martí,
compilação, ordenação cronológica e notas de Luis Garcia Pascual, Havana, Casa
Editora Abril e Centro de Estudos Martianos, 1999, p. 97).
206
9
O próprio remetente relaciona assim agricultura e matérias-primas com atraso e
barbárie, diante da moderna civilização industrial. (Gonzalo de Quesada: Ob. cit., t.
III, p. 35. Também em Destinatário José Martí, ob. cit., p. 69).
10
Não disponho de dados sobre a circulação do diário, mas não se pode duvidar que,
além de ser vendido fora da capital venezuelana, tinha leitores em outras grandes
cidades da América espanhola, sem esquecer a crescente colônia espanhola de Nova
York, onde se destacavam escritores e comunicadores venezuelanos do porte de Juan
Antonio Pérez Bonalde e Nicanor Bolet Peraza, ambos muito próximos de Martí.
11
J.M.: Carta a Gonzalo de Quesada y Aróstegui, 1o de abril de 1895, O.c., t. 1, p. 26.
Também em Epistolário, ob. cit., t. V, p. 139.
207
2
As 25 crônicas com temática estadunidense publicadas em A
Opinião Nacional podem ser organizadas quase cronologicamente
quanto aos temas tratados. Nas 14 publicadas entre 5 de setembro
e 27 de dezembro de 1881 sobressaem o atentado, a agonia e a
morte do presidente Garfield e, sobretudo, o processo judicial
de seu assassino, sendo as quatro últimas dedicadas inteiramente
a esse assunto, enquanto apenas uma das que foram publicadas
durante o ano de 1882 trata do assunto, caracterizando-se estas
últimas por sua maior variedade temática.
Ao explicar o magnicídio e suas seqüelas judiciais, o cubano
expõe sutilmente a intimidade da política estadunidense, onde a
corrupção enraizara-se, pondo em perigo – a seu ver – a própria
existência da república.12
Lembremos que depois dos escândalos da administração
do general Grant, a consciência crítica despertou em todos
os Estados Unidos, alcançando grande intensidade durante o
processo eleitoral vencido por Garfield e sacudindo o próprio
Partido Republicano no governo, o qual foi considerado em
muitas ocasiões, pela imprensa e pelos políticos, como o res-
ponsável por essa enorme e extensa corrupção.
A opinião de Martí a esse respeito baseia-se no aspecto moral
do assunto, como já fizera em suas “Impressões da América”,
publicadas em inglês em The Hour, durante sua estadia de 1880:
atribui a corrupção ao afã desenfreado por dinheiro, à metali-
zação que notava nesta sociedade.13
12
A corrupção política faz perigar “a independência e a dignidade da nação”. Carta de
Nova York. O ‘boss’ e os ‘halls’”, O.c., t. 9, p. 98.
13
No primeiro dessa série de três artigos, publicado em 10 de julho de 1880, apela
ao país para que tempere e dignifique o “amor pela riqueza” com “o ardente amor
pelos prazeres intelectuais”, pois “o poder material, como o de Cartago, se cresce
208
209
16
J.M.: “Carta de Nova York. Grande batalha política”, O.c., t. 9, pp. 63-69.
17
Ibidem, pp. 64-65.
18
J.M.: “Carta de Nova York. Melhora de Garfield”, O.c., t. 9, p. 27.
210
19
J.M.: “Carta de Nova York. Povos preguiçosos”, O.c., t. 9, p. 107.
211
20
Ibidem, p. 109.
21
Ibidem, p. 108.
22
Idem.
23
J.M.: “Notícias dos Estados Unidos”, O.c., t. 9, pp. 43 e 45.
212
24
Ibidem, p. 45.
25
Ibidem, p. 46.
26
Ibidem, p. 47.
27
J.M.: “Carta de Nova York. Medalha de ouro”, O.c., t. 9, p. 78.
213
28
J.M.: “Carta de Nova York. O ‘boss’ e os ‘halls’”. O.c., t. 9, pp. 99-100.
29
Ibidem, pp. 99-100.
30
Idem.
214
31
J.M.: “Carta de Nova York. Processo de Guiteau”, O.c., t. 9, p. 131.
215
32
J.M.: “Carta de Nova York. O Natal”, O.c., t. 9, p. 199.
33
Ibidem, p. 200.
34
Idem.
35
Ibidem, p. 201.
216
36
Ibidem, p. 202.
37
J.M.: “Carta de Nova York. Ano Novo”, O.c., t. 9, p. 213. Observe-se a comparação
com a Semana Santa, referência para seus leitores venezuelanos.
38
Ibidem, p. 215.
217
39
Ibidem, p. 217.
40
J.M.: “Carta de Nova York. Processo de Guiteau”, O.c., t. 9, p. 223.
41
Idem.
42
Ibidem, p. 224.
43
Ibidem, p. 225.
218
44
Idem.
45
Ibidem, p. 226.
46
J.M.: “Carta de Nova York. Processo de Guiteau”, O.c., t. 9, p. 239. Observe-se
essa curiosa tradução, segundo parece, de library por livraria. (A tradução exata seria
biblioteca. N. da T.)
47
Ibidem, pp. 239-240.
48
J.M.: “Carta de Nova York. Neves, prazeres e tristezas”, O.c., t. 9, p. 245.
219
49
Ibidem, p. 247.
50
Ibidem, pp. 247-248.
51
Ibidem, pp. 248-250. Além da óbvia contradição em suas opiniões sobre a mulher,
deve notar-se que seu repúdio ao que considera atributos viris nela, baseia-se em sua
reprovação a aspectos da vida urbana moderna que está conhecendo em Nova York.
220
52
J.M.: “Carta de Nova York. Uma luta pelo prêmio”, O.c., t. 9, p. 254.
53
J.M.: “Peter Cooper”, O.c., t. 13, p. 48.
54
J.M.: “Carta de Nova York. Uma luta pelo prêmio”, O.c., t. 9, pp. 259-261.
55
Ibidem, p. 261.
56
J.M.: “Carta de Nova York. Os bárbaros caminhantes”, O.c., t. 9, p. 266.
221
57
Ibidem, p. 269.
58
Ibidem, p. 268.
59
J.M.: “Carta de Nova York. O Mississipi transbordado”, O.c., t. 9, p. 277.
222
60
Uma pesquisa interessante e necessária seria a busca de informação sobre o Brooklin
daquela época e, em particular, sobre os bairros onde habitavam Martí e os cubanos
com quem mantinha freqüente contato.
61
J.M.: “Carta de Nova York. O Mississipi transbordado”, O.c., t. 9, p. 278. Por isso,
chega a qualificar Nova York de “cidade provinciana”, recordando assim seus juízos
quando da visita de Oscar Wilde quanto à dependência estadunidense da Europa em
matéria artística.
223
3
Dadas as referências martianas a Nova York, pode-se afirmar
que, sem dúvida, esta cidade e seus habitantes são os principais
62
J.M.: “Carta de Nova York. ‘Ostera’ e a Páscoa”, O.c., t. 9, p. 293.
63
J.M.: “Carta de Nova York. Política”, O.c., t. 9, p. 304.
64
Ibidem, pp. 309-310.
65
Ibidem, pp. 312-313.
224
66
“O caráter da Revista Venezuelana”, O.c., t. 7, pp. 207-212.
225
226
67
J.M.: Manifesto de Montecristi, O.c., t. 4, p. 101.
227
228
1
A América, Nova York, no 1, abril de 1882.
229
2
Os dois destacaram-se por sua oposição ao Pacto de Zanjón e contribuíram nos
Estados Unidos para o esforço insurrecional encabeçado de Nova York pelo general
Calixto Garcia, que terminaria na fracassada Guerra Chiquita e do qual participou
também Martí, com quem travaram relações desde sua chegada à cidade, em janeiro
de 1880.
3
Não estamos em condições de precisar com exatidão quando começou em A América,
pois nunca martiano algum afirmou ter visto os números compreendidos entre agosto
de 1882 e fevereiro de 1883. A única coleção localizada em Cuba e no estrangeiro
encontra-se incompleta na antiga biblioteca da Sociedade Econômica de Amigos do
País, hoje sede do Instituto de Literatura e Lingüística.
4
Uma contemporânea que visitava a casa de Farrés em Nova York afirma que esta
era freqüentada por elementos aristocráticos de seus compatriotas residentes e de
passagem pela cidade. (Blanche Zacharie de Baralt, O Martí que eu conheci, Havana,
Centro de Estudos Martiano e Editorial de Ciencias Sociales, 1980, p. 100).
230
5
José Martí: Carta a Gonzalo de Quesada y Aróstegui, Montecristi, 1o de abril de
1895, em Obras completas, Havana, 1963-1973, t. 1, p. 25. Na seqüência, citaremos
por esta edição, identificada com as iniciais O.c.; portanto apenas serão indicados
tomo e página. O Pérez mencionado por Martí foi identificado com o colombiano
Santiago Pérez Triana (José Martí: Epistolário, compilação, ordenamento cronológico
e notas de Luis García Pascual e Enrique H. Moreno Pla, prólogo de Juan Marinello,
Havana, 1993, Centro de Estudos Martianos e Editorial de Ciencias Sociales, t. V, p.
138). No entanto, não encontrei referência alguma ao assunto nas memórias deste,
nem pode tratar-se de seu pai, o político e pedagogo Santiago Pérez, que esteve em
Nova York apenas de passagem.
231
6
Ver o prospecto da Revista Guatemalteca (O.c. t. 7, pp. 104-106. Também em Obras
completas. Edição crítica, Havana, Centro de Estudos Martianos, 2001, t. 5, pp. 291-293)
e “Propósitos” da Revista Venezuelana (O.c., t. 7, pp. 197-200).
7
“Os novos proprietários de A América”, dezembro de 1883, O.c., janeiro de 1884, t.
28, p. 214.
232
anseia e necessita saber sobre esta terra que, com justiça, preocupa-a,
e ir dizendo-o com o maior aproveitamento geral, com absoluto de-
sentendimento de toda paixão ou proveito de pessoas, e com o olhar
sempre voltado para o desenvolvimento das artes práticas e do comércio
inteligente, únicas bases da grandeza e da prosperidade de indivíduos
e de nações.8
O trabalho de Martí em A América faz parte, portanto,
do momento em que sua paixão e sua fé latino-americanistas
enriquecem-se, de um lado, com a concepção de um mundo em
mudança, prenhe de incertezas e indefinições quanto aos rumos
da história e, de outro, com seu estudo continuado e sistemático
dos acontecimentos estadunidenses à sua volta, o que lhe permitiria
aprofundar o conhecimento íntimo daquela sociedade, quanto a
seu desenvolvimento, características e projeções. Esses grandes
núcleos de problemas que informarão seu pensamento a partir
do início da década de 1880 contribuiriam para estimular sua
exposição sistemática em A América de uma diversidade de idéias
sobre assuntos econômicos e sociais variados, o que fez com que
o conjunto de seus textos na publicação fosse considerado um
verdadeiro programa de desenvolvimento para nossa América.9
Em conseqüência, a visão martiana dos Estados Unidos na
revista chega-nos filtrada por este prisma latino-americanista
embora, por sua vez, tal visão constitua componente essencial
do mundo de idéias e problemas que lhe permitem conformar
este programa.
8
J.M.: “Os propósitos de A América sob a direção de seus novos proprietários”, janeiro
de 1884, O.c., t. 8, p. 268.
9
Rafael Almanza Em torno do pensamento econômico de José Martí, Havana, Editorial de
Ciencias Sociales, 1990, pp. 141 e 170. O autor demonstra como os vários assuntos
tratados por Martí na revista foram expostos com grande coerência e articulação,
e com o propósito explícito de oferecer a seus leitores os caminhos concretos para
uma ação de política econômica.
233
10
É preciso lembrar que o cubano foi censurado em suas opiniões sobre os Estados Unidos
em mais de uma ocasião pelos proprietários do diário de Caracas, A Opinião Nacional,
e por Bartolomé Mitre, diretor de La Nación, de Buenos Aires. (Ver Papéis de Martí,
Havana, 1933, t. III, pp. 35 e 83, e Destinatário José Martí, compilação, ordenamento
cronológico e notas de Luis García Pascual, Havana, Casa Editora Abril e Centro de
Estudos Martianos, 1999, pp. 76, 97-98 e 107-109). Se, em A América, seus proprietários
impuseram condições, o que não sabemos, os editoriais citados antes mostram, pelo
menos, seu apoio à linha editorial explicada e praticada pelo diretor.
11
J.M.: “Os propósitos de A América sob a direção de seus novos proprietários”, janeiro
de 1884, O.c., t. 8, p. 268.
234
12
J.M.: “Cansaço do cérebro”, abril de 1884, O.c., t. 13, p. 427.
13
J.M.: “Repertórios, revistas e publicações mensais literárias e científicas de Nova
York”, fevereiro de 1884, O.c., t.13, p. 429.
14
J.M.: “A exibição sanitária”, maio de 1884, O.c., t. 13, p. 437.
15
J.M.: “Cansaço do cérebro”, abril de 1884, O.c., t. 13, p. 427.
235
16
J.M.: “Um mastodonte”, agosto de 1883, O.c., t. 8, p. 410.
17
J.M.: “Invenção muito útil”, agosto de 1883, O.c., t. 8, p. 407. Curiosa comparação
com a cigarreira chinesa. Terá visto uma em Nova York? Observe-se, na citação, a
busca da analogia entre a natureza e o homem, uma das idéias fundamentais do que
poderíamos chamar suas concepções filosóficas.
18
Ver Cadernos de notas (O.c., t. 21, p. 16 e “Impressões da América” (O.c., t. 19, pp.
101-126). Repetiu esta idéia em suas crônicas para A Opinião Nacional e La Nación
durante os anos de 1881 e 1882. Jean Lamore estuda a metalização em “O tema da
‘riqueza condenável’ em José Martí e Ruben Darío”, no Anuário do Centro de Estudos
Martianos, Havana, no 15, 1992, pp. 143-152.
236
237
238
22
J.M.: “Sobre a imigração inculta e seus perigos”, fevereiro de 1884, O.c., t. 8, p.
384.
23
Ibidem, p. 382.
24
Ibidem, p. 383.
25
Idem.
239
É evidente que seu apoio à imigração culta faz Martí ver com
bons olhos a imigração dos franceses, pois “cada um traz uma
arte”.26 Mas, nos três grupos nacionais com maiores contingen-
tes que chegavam aos Estados Unidos – alemães, irlandeses e
italianos – vê fatores de perigo para o espírito nacional.
Considera os alemães, ainda que trabalhadores, destituídos
de grandes amores humanos e preocupados principalmente com
o bem pessoal, além “de menos condições de distúrbio e mais
partículas passíveis de serem integradas ao corpo nacional do
que qualquer outro imigrante”. Destaca que se aglomeram nas
cidades, produzem o que consomem e seus filhos são amigos do
país e do trabalho. Qualifica os irlandeses de plantas parasitas
sem crescimento próprio, por não gostarem da agricultura e
serem diaristas sem ofício, isto é, uma verdadeira imigração
inculta.27 Quanto aos italianos, observa como favorável seu
“trabalho com mansidão e em silêncio”, em canais e ferrovias,
chamando-os de “bons e silenciosos trabalhadores”.28 Mas vê
como elemento desfavorável neles, desnecessário para um povo
novo, seu excessivo interesse pelo lazer e sua dedicação ao pe-
queno comércio de verduras e a “ofícios vergonhosos”.29
Creio que, para qualquer estudioso da história dos Estados
Unidos e do tema da imigração no final do século 19, estas
opiniões do cubano serão valiosas. Mas o que desejo, nessa
análise, é chamar a atenção para o fato de que suas referências a
26
Idem.
27
Ibidem, p. 383. Incluía referência à citação anterior. Esta opinião contrasta com a que
expressa mais de uma vez em La Nación, considerando os imigrantes alemães – junto
com os anarquistas russos – como os principais portadores, para os Estados Unidos,
dos ódios europeus e da violência.
28
J.M.: “Imigração italiana”, outubro de 1883, O.c., t. 8, p. 379-380.
29
Ibidem, p. 379.
240
241
30
Ibidem, p. 441.
31
Ibidem, p. 442.
32
J.M.: “Pedras, frangos e crianças – Progressos da ciência”, fevereiro de 1884, O.c., t.
8, p. 435.
242
33
J.M.: “Verão”, junho de 1884, O.c., t. 13, p. 488.
34
Não é por acaso que, justamente em 1883 e 1884, mostre em suas crônicas para La
Nación sua aproximação dos grandes conflitos operários que ocorriam então nos
Estados Unidos, e que igualmente essas tensões da modernidade ocupem a mente
do poeta em seus Versos livres. Basta tomar como exemplo da coerência entre sua prosa
e seus versos o poema intitulado “Amor de cidade grande”, datado de 1882 (Poesia
completa. Edição crítica, preparada pela equipe que, no Centro de Estudos Martianos,
realiza a edição crítica das Obras completas de José Martí, Havana, Editorial Letras
Cubanas, 1985, t. I, pp. 89-90).
243
35
J.M.: “Barcos de papel”, novembro de 1883, O.c., t. 8, p. 420.
244
36
J.M.: “Qual é o objetivo da torre?”, outubro de 1883, O.c., t. 9, p. 475.
37
Essa paixão que desemboca no luxo exibicionista e desenfreado foi assunto de fre-
qüente atenção em suas crônicas dos anos de 1880.
245
38
J.M.: “Repertórios, revistas e publicações mensais literárias e científicas de Nova
York”, fevereiro de 1884, O.c., t.13, p. 430.
246
39
J.M.: “Sobre a imigração inculta e seus perigos”, fevereiro de 1884, O.c., t. 8, pp. 383-
384.
40
Ibidem, p. 384.
247
41
J.M.: “Arte aborígine”, janeiro de 1884, O.c., t. 8, p. 329.
42
J.M.: “O Century Magazine”, maio de 1884, O.c., t. 13, p. 447.
248
43
J.M.: “Arte aborígine”, janeiro de 1884, O.c., t. 8, p. 329.
44
J.M.: “Blaine e Tilden”, abril de 1884, O.c., t. 13, p. 265.b
45
Ver “Proteção e livre câmbio”, fevereiro de 1884, O.c., t. 10, pp. 13-17.
249
46
J.M.: “Liberdade, asa da indústria”, setembro de 1883, O.c., t. 9, p. 452.
47
J.M.: “México, os Estados Unidos e o sistema proibitivo”, fevereiro de 1884, O.c., t.
7, p. 30.
48
J.M.: “A questão tributária alfandegária”, março de 1883, O.c., t. 9, p. 375.
250
49
J.M.: “Candidato do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos”, julho
de 1884, O.c., t. 13, p. 277.
50
J.M.: “Blaine e Tilden”, abril de 1884, O.c., t. 13, p. 264.
51
J.M.: “O tratado comercial entre os Estados Unidos e o México”, março de 1883,
O.c., t. 7, pp. 17-22.
52
J.M.: “Em comércio, proteger é destruir”, março de 1883, O.c., t. 9, p. 382.
251
53
Ver J.M.: “Proteção e livre câmbio”, fevereiro de 1884, O.c., t. 10, p. 17.
54
Rafael Almanza: Ob. cit., pp. 141-175.
252
253
1
Creio que muito se tem insistido – com toda a justiça, so-
bretudo porque durante boa parte do século 20 não recebeu
a ênfase necessária – no caráter e objetivos antiimperialistas
da obra de Martí, e me parece que ao apresentar, reiterada e
sistematicamente, certas avaliações do mestre sobre os Estados
Unidos, às vezes fortemente condenatórias, pode-se ter contri-
buído para dar a impressão de que nele explicitava-se uma visão
antiestadunidense, ou seja, que negava ou repudiava a sociedade
estadunidense em seu conjunto e em suas diversas facetas.
No entanto, todo aquele que conheça, ainda que minima-
mente, a obra do revolucionário cubano sabe que essa não foi sua
posição: reiteradas vezes ele expressou sua admiração e respeito
por muitas personalidades daquele país, chegando a divulgar
diversos aspectos de sua vida social que considerava positivos,
com o objetivo – nem mais nem menos – de que fossem estu-
dados para seu adequado aproveitamento na América Latina.
1
José Martí: “A verdade sobre os Estados Unidos”, em Obras completas, Havana, 1963-
1973, t. 28, pp. 290-291. Na seqüência, citaremos por esta edição, identificada com
as iniciais O.c., indicando apenas tomo e página.
2
J.M.: “Nossa América”, O.c., t. 6, p.22.
256
3
J.M.: “O terceiro ano do Partido Revolucionário Cubano. A alma da Revolução e o
dever de Cuba na América”, O.c., t. 3, p. 142.
4
J.M.: Manifesto de Montecristi, O.c., t. 4, pp.100-101.
257
258
2
Nas últimas décadas, as apreciações de Martí sobre os
Estados Unidos foram abordadas de dois pontos de vista,
não contraditórios, mas com aspectos diferentes, que, caso se
complementassem, auxiliariam no entendimento mais cabal
do assunto.
Por um lado, muitos temos insistido em seu antiim-
perialismo a partir da análise quase exclusiva de seu programa
de ação continental para impedir a expansão estadunidense
para o Sul do continente e, por outro, permaneceu a tendência
a considerar Martí como um crítico de sua época – e, portanto,
dos Estados Unidos – do que se costuma chamar a Moderni-
dade.
Creio que o primeiro plano da análise deve partir dos pro-
pósitos da reflexão e da ação de Martí em relação aos Estados
Unidos. Mas, sem dúvida, o grau de compreensão da totalidade
e universalidade do pensamento do revolucionário cubano au-
menta se for confrontado com os grandes problemas e temas
com que se defrontava a humanidade da época.
Em duas palavras, e para dizê-lo de modo rápido e talvez
imperfeito: trata-se de não limitar Martí a suas fronteiras
insulares – corpo referencial central, dado que sua aspiração
259
260
seus vizinhos menores, e na luta desumana que com sua posse travaria
contra as potências da terra pelo domínio do mundo.5
Estas frases constituem provavelmente a melhor síntese
de seu pensamento sobre o assunto: naquela conjuntura
mundial de fim de século, as Antilhas espanholas ganhavam
uma importância geopolítica particular, frente à próxima
abertura do canal do Panamá, e sua independência verda-
deira – segundo esta apreciação de Martí – contribuiria para
que os Estados Unidos não se convertessem na antítese de
seus fundamentos como nação, ou seja, em uma república
democrática dedicada à expansão e ao domínio de seus vi-
zinhos do Sul.
Logo, a independência antilhana teria uma dupla função
para a nação do Norte: ajudaria a evitar-lhe – tanto na conjun-
tura da política internacional imediata quanto no terreno das
novas relações internacionais que se delineavam – um enfrenta-
mento, até mesmo militar, com as grandes potências européias,
cujos interesses viam-se ameaçados pela intenção expansionista
estadunidense, ao mesmo tempo em que permitiria ao gran-
de país dedicar suas enormes e crescentes potencialidades ao
interior de seu próprio território, conturbado por profundos
conflitos sociais.
É certo que, no texto citado, de 1894, Martí não determina
com exatidão quais eram aqueles males, ainda que não se deva
desprezar tampouco, nessa citação, a indicação deles como
fenômenos de sinal contrário aos fundamentos republicanos e
democráticos: caracterizava o país como “feudal” e submetido
a fortes tensões internas.
5
J.M.: “O terceiro ano do Partido Revolucionário Cubano. A alma da Revolução e o
dever de Cuba na América”, O.c., t. 3, p. 142.
261
262
3
Como e porque Martí chegou a propor a si mesmo se-
melhante dialética para o futuro imediato do Norte e do Sul
da América é tema que pode ser rastreado ao longo de suas
6
José Martí: Carta a Federico Henríquez y Carvajal, 25 de março de 1895, em O.c., t. 4,
p. 111. Ver também em Epistolário, compilação, ordenamento cronológico e notas de
Luis García Pascual e Enrique H. Moreno Pla, prólogo de Juan Marinello, Havana,
1993, Centro de Estudos Martianos e Editorial de Ciencias Sociales, t. V, p. 118.
7
J.M.: Manifesto de Montecristi, O.c., t. 4, p. 101.
263
8
J.M.: “Cartas de Martí. História da queda do Partido Republicano nos Estados Unidos
e do ascenso ao poder do Partido Democrata”, O.c., t. 10, pp. 181-209.
9
J.M.: “Carta de Nova York. Povos preguiçosos”, O.c., t. 9, p. 108.
10
J.M.: “Cartas de Martí. A procissão moderna”, O.c., t. 10, pp. 83-85.
264
11
J.M.: “O tratado comercial entre os Estados Unidos e o México”, O.c., t. 7, pp. 17-22.
265
12
Rafael Almanza: Em torno ao pensamento econômico de José Martí, Havana, Editorial
de Ciencias Sociales, 1990, cap. 5. Este valioso livro é um estudo acurado do tema
econômico em Martí, sendo seus capítulos 6 e 7 de consulta imprescindível para o
conhecimento da fundamentação do antiimperialismo martiano.
266
4
O interesse do que resta de honra na América Latina, o respeito que
impõe um povo com decoro, a obrigação que tem esta terra de não
13
J.M.: “Congresso Internacional de Washington. Sua história, seus elementos e suas
tendências”, O.c., t. 6, p. 46.
267
14
J. M.: Carta a Gonzalo de Quesada, 16. de novembro de 1889, O.c., t. 6, p. 122.
Epistolário, ob. cit. t. II, p. 156.
268
15
J.M.: “Congresso Internacional de Washington. Sua história, seus elementos e suas
tendências”, O.c., t. 6, p. 48.
269
16
Autonomia cultural americana: Emerson e Martí, Madri, Editorial Pliegos, 1986.
17
A maioria desses perfis está reunida no tomo 9 de O.c., sob a epígrafe de “Estaduni-
denses”.
270
18
J.M.: “Inauguração de um presidente nos Estados Unidos”, O.c., t. 10, p. 169.
19
J.M.: “A verdade sobre os Estados Unidos”, O.c., t. 28, p. 293.
271
20
Ver, por exemplo, O.c., t. 11: “Cartas de Martí. As eleições de outono”, p. 89; “O cisma
dos católicos em Nova York”, p. 139 e “A excomunhão do padre McGlynn”, p. 241.
21
J.M.: “Cartas dos Estados Unidos. Morte de Guiteau”, O.c., t. 9, p. 322.
22
J.M.: “Carta a A República”, O.c., t. 8, pp. 22-23.
272
273
1
A consciência culpada faz Macbeth ver o que ninguém
mais vê: o espectro do general Banquo, que mandou assassi-
nar, e que ocupa o posto do rei na mesa de um banquete no
palácio.
Os mortos voltam para atormentar seus assassinos – esta é
obviamente uma das leituras que se pode fazer deste episódio da
tragédia de Shakespeare. E é óbvio que o dramaturgo também
quer dizer-nos que fazem isso para se situarem na posição de
cúpula para cujo desfrute o rei escocês mata todos aqueles que
considera seus possíveis rivais.
José Martí, leitor sistemático e perscrutador do dramaturgo
desde sua precoce adolescência, evocou o espectro de Banquo
naquele 27 de abril de 1886, enquanto escrevia uma de suas
Cenas norte-americanas, com uma frase que provavelmente fez
2
Na vasta produção intelectual de José Martí sobre os Estados
Unidos, um dos temas que sobressai – tanto pelo espaço quanto
pelo destaque que lhe é dado pelo próprio autor – é o que a se-
gunda metade do século 19 chamou de problema social, ou seja,
a luta de classes entre capitalistas e operários, cujo incremento e
internacionalização foram convertendo em problema central do
capitalismo da época.
276
1
Ver as cartas a Antonio Maceo, de 20 de julho de 1882, e a Serafín Bello, de 16 de
novembro de 1889. Em José Martí: Obras completas, Havana, 1963-1973, t. 1, pp. 171-
173 e 253-254, respectivamente. Na seqüência, citamos por esta edição, indicando
portanto, apenas tomo e página. Ver também Epistolário, compilação, ordenação cro-
nológica e notas de Luis Garcia Pascual e Enrique H. Moreno Pla, prólogo de Juan
Marinello, Havan, Centro de Estudos Martianos e Editorial de Ciencias Sociales,
1993, t.I, pp. 234-236 e t. II, pp. 158-159.
277
3
Uma rápida revisão das crônicas martianas sobre os Estados
Unidos permite verificar que o tema social é sistematizado a
partir de 1886; entre março e junho daquele ano domina quase
completamente suas páginas. É claro que o poderoso movimento
grevista que abalou a nação durante aqueles meses não podia es-
capar ao olhar do jornalista, que devia assegurar uma informação
atualizada a seus leitores hispano-americanos sobre os aconteci-
mentos mais importantes que ocorriam no país do Norte. Mas
isso não quer dizer que até então o tema estivesse ausente de
2
Sobre o tema social em Martí é imprescindível o livro de José Cantón Navarro: Algumas
idéias de José Martí sobre a classe operária e o socialismo, Havana, Direção Política das FAR,
1970, 2a edição, Havana, Centro de Estudos Martianos e Editora Política, 1980.
278
3
Ver as cartas a Martí de Fausto Teodoro e Juan Luis Aldrey, e de Bartolomé Mitre y
Vedia, onde são definidas as linhas editorias de seus respectivos jornais (A Opinião
Nacional, de Caracas e La Nación, de Buenos Aires) e são fixados os limites permi-
tidos a seu correspondente em Nova York. Em Destinatário José Martí, compilação,
ordenação cronológica e notas de Luis García Pascual, Havana, Casa Editora Abril
e Centro de Estudos Martianos, 1999, pp. 73, 76, 79, 96, 97, 100, 101 e 107.
279
4
J.M.: “Carta de Martí. Suma de sucesos”, O.c., t. 9, p. 390.
5
Em sua carta a Manuel Mercado de 22 de março de 1886 diz que com suas crônicas “pôs
em seu lugar certas afeições que em nossos países sentem por este, sem entrar jamais em
denúncias nem censuras concretas”. O.c., t. 20, p. 85. Epistolário, ob. cit., t. I, p. 325.
280
4
É o protesto operário na forma de greve que faz aparecer o
assunto nos escritos martianos. Na carta a A Opinião Nacional, de
Caracas, de 12 de março de 1882, Martí informa sobre várias gre-
ves: dos trabalhadores nos moinhos de Chicago, dos mineiros de
Cumberland no Estado de Maryland, dos ferreiros de Pittsburg,
das fiandeiras de Lawrence e dos empregados em terraplanagem
de Omaha. É a greve nesta última cidade que relata na crônica,
com eficaz dramaticidade, justamente porque houve violência e
foi morto um operário, evento com o qual precisamente inicia
esse item do texto, que se refere também a outros assuntos.
A greve, os fatos de Omaha, no então bem distante Estado
de Nebraska, são apresentados no final do texto; depois das pri-
meiras linhas da crônica, dedicadas ao transbordamento do rio
Mississipi, estende-se em considerações gerais sobre o problema
social e seu significado para a vida moderna, o que permite veri-
ficar a grande importância que, já então, atribuía ao assunto.
Expõe várias idéias nesse primeiro e longo parágrafo da crô-
nica. A primeira é que as greves “são ensaios tímidos” da revolta
“colossal e desastrosa” que, no futuro, provocaria no país a luta
entre os homens do trabalho e os do dinheiro. O parágrafo ter-
mina precisamente com o retorno a este ponto central do texto,
quando afirma que essa luta decidiria as novas leis entre os dois
281
6
J.M.: “Carta de Nova York. O Mississipi transbordado”, O.c., t. 9, p. 277
7
J.M.: “O poema do Niágara”, O.c., t. 7, pp. 221-238
282
283
9
J.M.: “Carta de Nova York. O Mississipi transbordado”, O.c., t. 9, p. 277
10
Ver “A verdade sobre os Estados Unidos”, Pátria, 1894. O.c., t. 28, pp. 290-294
284
11
J.M.: “Carta de Martí. Suma de sucessos”, O.c., t. 9, p. 387.
12
Ibidem, pp. 387-388.
285
13
A avaliação sobre Marx que Martí estende um pouco mais adiante não situa este
como um apóstolo da violência; a falta essencial que vê nele é que sua solução não
emergia “de gestação natural e laboriosa”. No entanto, seu julgamento é, sem dúvida,
francamente simpático, porque aprova suas motivações éticas: Marx “despertou os
adormecidos, e lhes mostrou o modo de lançar por terra os alicerces apodrecidas”;
foi “observador profundo da razão das misérias humanas, e dos destinos dos homens,
e homem devorado pela ânsia de fazer o bem”.
14
Ibidem, p. 388.
286
15
Idem.
16
Ver suas notas sobre este assunto no Caderno de notas 1, presumivelmente escrito
na Espanha. O.c. t. 21, pp. 15-16.
287
17
Tal propósito é exposto por Martí claramente no discurso de Steck Hall, lido em
Nova York, em 24 de janeiro de 1880. O.c., t. 4, pp. 183-211.
288
18
J.M.: “Cartas de Martí. A procissão moderna”, O.c., t. 10, p. 77.
*
Talvez citando Martí, a palavra “gusano” (verme) para os cubanos de hoje significa
também “vagal”, preguiçoso, e, ainda, aqueles que se foram para Miami. (N.T.)
19
Ibidem, pp. 77-78.
20
Ibidem, p. 84.
289
21
Ibidem, p. 85.
290
5
A primavera de 1886 degelou de súbito e em escala impressio-
nante o problema social nos Estados Unidos, e o verão levou-o a
altas temperaturas, de tal modo que os políticos e toda a sociedade
tomaram consciência por encontrar-se frente a um problema
de importância capital, de que era imprescindível cuidar e levar
a bom termo antes que uma pavorosa luta social derrubasse o
edifício social desde seus alicerces.
22
Ibidem, p. 87. Note-se a intenção de fazer compreender a seus leitores hispano-
americanos que nos Estados Unidos repetiam-se problemas semelhantes aos de suas
próprias terras.
291
23
O diário La Nación publicou este texto em 7 de maio de 1886 e dois dias depois outro,
intitulado, a meu ver pelos editores, “As greves nos Estados Unidos”, uma óbvia
continuação do anterior, como o indicam o fato de que estejam datados do mesmo
dia em Nova York, a extensão relativamente curta dos dois trabalhos e a evidente
continuidade da análise.
292
24
J.M.: “A Revolução do trabalho”, O.c., t. 10, p. 398.
25
Ibidem, p. 394.
26
Ibidem, p. 396.
293
27
Juan Mestas considera que neste trabalho Martí apresenta os operários como vítimas
e como heróis ao mesmo tempo, e observa que, no caso desta greve não condena o
uso da força pelos grevistas, mas sim considera desmedida a repressão das autoridades.
Ob. cit., pp. 107-108.
294
28
J.M.: “As greves nos Estados Unidos”, O.c., t. 10, p. 404.
295
296
297
29
J.M.: “As grandes greves nos Estados Unidos”, O.c., t. 10, p. 413..
30
Ibidem, pp. 413 e 414, respectivamente.
31
Ibidem, p. 415.
298
299
32
Ver “Boletim. Graves questões”, O.c., t. 6, pp. 309-312, e Obras completas, Edição crítica,
Havana, Centro de Estudos Martianos, 2000, t. 2, pp. 168-171.
300
301
302
303
34
José Martí: Outras crônicas de Nova York, pesquisa, introdução e índice de cartas de
Ernesto Mejía Sánchez, Havana, Centro de Estudos Martianos e Editorial de Ciencias
Sociales, 1983, p. 23.
35
Ibidem, pp. 27, 23-24.
36
Ibidem, p. 26.
37
Ibidem, p. 27.
304
38
Idem.
305
6
Um momento significativo nesse processo ocorre no mesmo
ano de 1886, quando, já no verão, Martí escreve uma crônica
em que, ao traçar um panorama do ocorrido durante o mês de
junho, inclui o seguinte subtítulo: “Os tribunais condenam os
grevistas”. Na realidade, apenas comenta brevemente a atuação
dos tribunais contra os operários e se refere ao julgamento dos
anarquistas de Chicago, pois o maior espaço é utilizado para
destacar o que faziam os dirigentes dos Cavaleiros do Trabalho,
a quem chama de homens originais, que procuram fechar a porta
ao ódio e que defendem a distribuição eqüitativa dos produtos
da terra, assunto sobre o qual tinha opinião favorável.
Sabemos que a originalidade era característica muito apre-
ciada por Martí, tanto no mundo artístico e literário quanto
em qualquer esfera da sociedade, e que chegava a considerá-la
uma necessidade para que o desenvolvimento social estivesse
em harmonia com a autoctonia de cada povo. Portanto, atribuir
tal característica a essas lideranças operárias é, sem sombra de
dúvida, mais uma demonstração da alta estima que lhes dedica-
va, enquanto essa proposta de distribuição é, ao mesmo tempo,
evidência dessa originalidade.
Mas, além da pertinência de tal sistema em uma economia
mercantil de alto desenvolvimento e complexidade, é preciso
observar que, para o cubano, trata-se de uma maneira concreta
de enfrentar a ação de rapina dos monopólios nascentes, que
denuncia com inquestionável virulência nessa crônica publicada
em La Nación, de Buenos Aires, em 15 de agosto de 1886. Note-
se, na citação seguinte, não apenas a importância que atribuía ao
306
39
J.M.: “Nova York em junho”, O.c., t. 11, p. 19.
40
Idem.
307
41
J.M.: “O processo dos sete anarquistas de Chicago”, O.c., t. 11, p. 56.
42
Ibidem, p. 59.
308
309
43
J.M.: “Cartas de Martí. Um mês de vida norte-americana”, O.c., t. 11, pp. 158 e 159,
respectivamente.
310
311
44
J.M.: “Correspondência particular de O Partido Liberal. Novidades de Nova York”,
O.c., t. 11, p. 167.
312
313
45
J.M.: “Cartas de Martí. Movimento social e político dos Estados Unidos”, O.c., t.
11, p. 172.
46
Ibidem, p. 173.
314
315
47
J.M.: “Um drama terrível”, O.c., t. 11, p. 333.
48
Ibidem, p. 334.
316
49
Ibidem, p. 335.
317
50
J.M.: “Cartas de Martí. Estados Unidos”, O.c., t. 11, p. 435.
51
Ibidem, p. 436.
52
Ibidem, p. 437.
53
Ver O.c., t. 11, pp. 435 e 386. Na segunda página elogia a condução por eles da greve dos
mineiros da companhia Reading.
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