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Pedro e o Lobo

Adaptação de Rodrigo Gerstner para o conto de Serguei Prokofiev

AVÔ - (Em off) Pedro! Pedro! (Entra, procurando por Pedro) Mas onde será que esse menino se
meteu? Já deve ter ido para a mata novamente, que teimosia. (para a plateia) Vocês viram o meu
neto por aí? (chamando) Pedro!

PEDRO - (em off) Já estou indo, vô!

AVÔ - Onde você está?

PEDRO - (ainda em off) Estou aqui no lago, dando milho para o pato.

AVÔ - Olha lá, hein, não vá molhar o sapato!

PEDRO - (em off) Pode deixar, vô!

AVÔ - (rindo) Ah, esses dois... (para a plateia) O Pedro é muito amigo do pato. Aliás, o Pedro é
amigo de muitos animais daqui do sítio onde moramos: o pato, o gato, o melro... Mas Pedro e seus
amigos têm uma história curiosa! (rindo) Sabiam que, uma vez, eles aprontaram uma baita
confusão? É, e foi bem ali, ó, na entrada da mata. Eu sempre alertei o Pedro para os perigos da
mata. A floresta é muito boa para a gente passear nas trilhas, apanhar frutos e se banhar na
cachoeira. Mas o Pedro é uma criança, e as crianças não podem andar sozinhas na floresta, é
preciso estar na companhia de um adulto.
Bem, enquanto o Pedro não vem, vou contar a vocês a tal história que aconteceu aqui no sítio. É a
história de como Pedro e seus amigos enfrentaram um lobo!

(MÚSICA.)

(Pedro aparece no portão. Está apreensivo, olhando para trás e para os lados, como se procurasse
se certificar de que não há ninguém o olhando. Cuidadosamente, evitando fazer qualquer barulho,
abre o portão apenas o suficiente para seu corpo passar e, depois, fecha-o com a mesma cautela.
Uma vez do outro lado do portão, festeja alegremente sua “façanha”, mas logo volta a ficar
apreensivo e a olhar para todos os lados. Alguns passos depois, ele relaxa.)

PEDRO - Ah, que bom, tudo tranquilo por aqui...


(Aparece o Melro no galho de uma árvore. Ao ver Pedro, assobia.)

PEDRO - (falando baixo, como se não quisesse ser escutado por alguém na casa de onde veio.) Oi,
passarinho!

MELRO - Oi, menino. Meu nome é Melro, e o seu?

PEDRO - Meu nome é Pedro. Nossa, como suas penas são bonitas! São pretas como as asas da
graúna.

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MELRO - (rindo) Obrigada! Mas é claro que são pretas como as asas da graúna! Graúna e melro
são o mesmo pássaro!

PEDRO - Ah, sei! Assim como papagaio e louro também são o mesmo pássaro, né?

MELRO - (rindo) É mesmo. Como você é esperto, Pedro!

PEDRO - Obrigado! Foi meu avô que me ensinou isso.

MELRO - E onde está ele?

PEDRO - (desconcertado) Quem? O meu avô?

MELRO - Ele mesmo.

PEDRO - (Voltando a falar baixo, com cuidado) Ele está lá dentro (apontando para a casa, de onde
veio).

MELRO - (Falando como Pedro) Ah, sei. E ele não sabe que você está aqui?

PEDRO - (Acenando negativamente com a cabeça) Hum-hum.

MELRO - Ih, isso não é bom, Pedro.

PEDRO - (lamentando) É, eu sei... mas é que ele não deixa eu vir aqui fora sozinho.

MELRO - Não, é? Mas deve ter algum motivo para ele não deixar, não é?

PEDRO - (desdenhando) Ele diz que na mata mora um lobo.

MELRO - Ah, é mesmo! Mora sim! No outro dia, eu bem vi o lobo passando por aqui.

PEDRO - (fascinado) Sério?! E como ele é?

MELRO - Ele parece um cachorrão, tem olhos atentos, dentes afiados e anda sorrateiramente pela
mata, sem ninguém perceber.

PEDRO - Nossa!

MELRO - Mas pode deixar que, daqui de cima, eu posso ver se ele estiver chegando. Daí, então, eu
te aviso e você corre para casa.

PEDRO - Está bem. Obrigado, Melro. (pausa) (pensativo) Poxa, eu queria ser um pássaro e saber
voar, como você.

MELRO - É? Por quê?

PEDRO - Porque se eu soubesse voar, poderia passear pela mata sem correr perigo. Eu iria ver
tudo do alto, e os perigos ficariam láááá embaixo.

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MELRO - (rindo) Ui, Pedro, você é engraçado!

PEDRO - (rindo) Eu? Por quê?

MELRO - Porque você está se esquecendo de todas as coisas que as pessoas podem fazer e os
pássaros não podem. Tomar banho de cachoeira, jogar bola, andar de bicicleta, ir ao teatro... esse
monte de coisa legal nós, os pássaros, não podemos fazer.

PEDRO - (pensando) É verdade... Se bem que eu trocava um mês disso tudo por uma voadinha de
alguns minutos por aí, viu?

MELRO - (rindo) Ui, como você é engraçado, Pedro! (de repente, para de rir e fica séria, um pouco
triste)

PEDRO - O que foi, Melro?

MELRO - É que eu me lembrei de uma parte ruim de ser pássaro...

PEDRO - Qual?

MELRO - Uma coisa muito triste que as pessoas fazem com os pássaros, sabe, Pedro.

PEDRO - E o que é que as pessoas fazem de tão triste com os pássaros?

MELRO - Algumas pessoas esquecem que os pássaros não foram feitos só para cantar, mas
também para voar. Então, pegam os pássaros e prendem em gaiolas.

PEDRO - Eles fazem isso para poder ouvir a beleza do canto dos pássaros, ora.

MELRO - Só que isso não é justo, Pedro. Prender um bichinho só porque ele canta bonito? Que
triste...

PEDRO - (pensando) Pois é, Melro, sabe que você tem razão? Todo mundo diz que eu sei desenhar
muito bem e que os meus desenhos são muito bonitos. Mas eu é que não iria gostar de ficar
engaiolado só para as pessoas poderem ver e admirar os meus desenhos...

MELRO - É muito melhor ver pássaros e desenhos soltos por aí, não é mesmo? (ri)

PEDRO - (rindo) É mesmo!

(Nesse momento, aparece o Pato. Ele vem de toca de banho e segura uma toalha e um patinho de
borracha.)

PATO - (falando alto) Ai, ai... que belo dia para tomar um banho beeeeeem gostoso na lagoa! Vou
ficar na sombra daquela árvore beeeeem ali! (aponta a árvore em que o Melro está)

PEDRO - (assustando-se, não com o Pato, mas com a possibilidade de a barulheira atrair a atenção
de seu avô) (falando baixo) Meu Deus, mas que barulhento!

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PATO - “Qüem!” “qüem!”

PEDRO - Ora essa, como “quem”? Você mesmo!

PATO - Eu não disse “quem”, eu disse “qüem”!

PEDRO - “Qüem”?! O que isso quer dizer?

PATO - Não quer dizer nada, ué! Eu sou um pato, e todo pato faz “qüem! qüem!”

PEDRO - Eu sei que você é um pato e também sei que patos fazem “qüem!”, mas precisava chegar
fazendo tanto barulho?

PATO - (bem-humorado) Ah, me desculpe, menino. Acabei de chegar de viagem e quero tomar um
banho beeeeeem (Pedro tapa os ouvidos e olha para a casa) refrescante naquele lago.

MELRO - (rindo) Pato, você é engraçado!

PATO - (perdendo o humor) Engraçado, eu?! Por quê, posso saber?

MELRO - Por acaso você é um pássaro?

PATO - (já sem humor) É claro que eu sou um pássaro, não está vendo minhas asas, minhas
penas...

MELRO - (rindo) Que espécie de pássaro é você, que não sabe voar?

PATO - (irritado) Como é que é?! Quem foi que disse que eu não sei voar, hein, urubu?

MELRO - (rindo mais) Não sou um urubu, sou um melro!

PATO - Pois parece muito mais uma graúna, sabia?

MELRO - (rindo ainda mais) Melro e graúna são o mesmo pássaro!

PEDRO - Isso mesmo, assim como louro e papagaio também são um mesmo pássaro!

PATO - Tá, tá, corvo, urubu, graúna, que seja... Eu estou é querendo saber quem foi que disse que
pato não voa, hein, Melro?!

MELRO - (rindo) Ué, se pato voa, então por que você não veio voando?

PATO - Olha só, melrinho querido, eu não vim voando porque eu estou muito cansado. E sabe por
que eu estou cansado, sabe?

MELRO - Não, não sei, não.

PATO - Pois é, você não sabe de nada mesmo... Eu estou cansado justamente porque eu voei a
noite toda, migrando do Norte, onde está um frio danado, até aqui, o Sul, só para curtir esse verão
maravilhoso. Entendeu agora?

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MELRO - Ah, tá, entendi.

PEDRO - Eu também.

PATO - E tem mais: os patos sabem andar, voar e nadar. Sendo assim, agora eu pergunto: Que
espécie de pássaro é você, que não nadar, hein, hein?

(O Melro desce da árvore e começa a discutir com o Pato: o primeiro assobiando, e o outro fazendo
“qüem!”. Pedro assiste à discussão com atenção e acha tudo engraçado. De repente, aparece o
Gato de prontidão. Vem andando pé ante pé, ainda sem ser visto pelos outros.)

GATO - (para a plateia) Ah, o Melro está ocupado discutindo com o pato e, agora, eu vou poder
pegá-lo! Hummmm, esse melro vai virar almoço já, já... (continua andando com cautela, pronto
para dar o bote no Melro)

PEDRO - (percebendo o Gato) Cuidado, Melro, o Gato!

(Imediatamente o Melro voa novamente para a árvore.)

MELRO - Ufa! Essa foi por pouco!

GATO - Droga! O Melro voou... (avaliando) Será que vale a pena eu subir lá? Quando eu chegar ao
alto, o danado do passarinho já terá voado de novo.

MELRO - (rindo) É, gatinho, ainda não foi dessa vez que você me pegou.

(Pedro, que assistia a tudo, também ri junto com o Melro.)

PATO - Nossa, quanta confusão! (para o gato) O que você quer aqui? Por acaso também veio me
dizer que eu não sei voar, é?

GATO - Eu sou o Gato e queria almoçar o Melro. Mas, que pena, não sei voar... Se eu soubesse, ele
já estaria na minha barriga!

MELRO - (rindo) Já que você voa, Pato, ensine ao Gato como voar!

PEDRO - (rindo) Um pato ensinar a um gato como voar... Essa foi boa, Melro!

GATO - E pato lá sabe voar?

PATO - (irritado) Não apenas voar, mas também sei andar e nadar, está sabendo? Se eu fosse
comida de gato, como esse (aponta o Melro) passarinho, já teria voado para bem longe. Ou então,
teria entrado no lago. Afinal, todos sabem que gato tem medo de água.

GATO - Epa, epa, epa! Vamos parar um pouquinho! Quem disse que gato tem medo d’água?

PATO - “Qüem!”

GATO - Exatamente, foi isso que perguntei: quem?

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MELRO - (rindo) Gato, como você é engraçado!

GATO - Engraçado, eu?! Ora, por quê?!

MELRO - Ele não disse “quem”, ele disse “qüem”! (ri)

(Pedro e o Pato também caem na gargalhada. Vem chegando o Avô.)

AVÔ - (entrando) Ah, que barulheira é essa? (vendo Pedro) Pedro?! (bravo) Menino, eu já não falei
para você não passar do portão? A mata (aponta) é perigosa, Pedro.

PEDRO - Eu sei, vô, mas é que hoje está um dia tão bonito... Eu queria sair um pouco para ver os
pássaros, subir nas árvores, brincar perto do lago...

AVÔ - Passear e brincar na mata é muito bom, meu neto, eu sei. Mas você é uma criança e tem
que me chamar para vir aqui, na mata, com você.

PEDRO - Eu sei, vô... só que você estava ocupado, então eu vim sozinho.

AVÔ - Mas não pode vir sozinho, Pedro, tem que chamar um adulto! O que você faria se o Lobo
saísse da mata, hein?

PEDRO - Eu ia sair correndo, né, vô.

AVÔ - Quer saber de uma coisa? Você não ia nem conseguir ver o Lobo chegando. Ele anda de
mansinho, sem ninguém perceber.

PEDRO - Não, vô, o Melro é meu amigo! Ele iria me avisar!

AVÔ - (levando Pedro para dentro) Pedro, a mata é muito perigosa para uma criança ficar sozinha,
eu já disse. Agora, vamos, entre.

PEDRO - Deixa eu ficar só mais um pouquinho, vô!

AVÔ - Não, meu neto. Quando eu terminar meu trabalho na horta, prometo que trago você aqui
fora, na mata.

PEDRO - Por favor, por favor, por favor, vô!

AVÔ - (ponderando) Bem, você pode ficar, então.

PEDRO - Eh!

AVÔ - Mas não poderá passar daqui do portão, certo?

PEDRO - (desapontado) Poxa, vô, o Melro é meu amigo. Ele vai me avisar, se o Lobo vier.

AVÔ - Os melros não veem nem quando um gato vem, quanto mais um lobo... Agora vamos
combinar assim: você fica aqui dentro, que eu volto já, está bem?

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PEDRO - Está bem, então. Eu prometo que ficarei deste lado do portão.

(O Avô sai.)

GATO - (rindo) Essa foi boa! Os melros não veem nem quando um gato vem...

MELRO - Vejo sim, vejo sim! Tanto que subi aqui e você não me pegou, tá?

PATO - (caçoando) Viu nada! Foi o Pedro que avisou que o Gato estava vindo! (ri)

GATO - (rindo) É, foi mesmo!

MELRO - (desconcertado) É um trato que fizemos... eu aviso, se um lobo vier, e ele grita, se um
gato chegar, é isso...

PATO - Ah, tá bom! Até parece que melros e meninos fazem pactos...

GATO - (assustado) O quê?!! Fazem PATOS?!

MELRO - (rindo) Ai, ai, gatinho, você é mesmo muito engraçado! Ele não falou pato, falou pacto.

GATO - Pacto?

PATO - É, isso mesmo, pacto. Vai me dizer que você não sabe o que é um pacto?

GATO - Eu não.

PATO - E vocês ainda ficam implicando comigo, dizendo que não sei voar... Pior é o Gato, que não
sabe voar, não sabe nadar e, ainda por cima, nem sabe o que é pacto!

MELRO - (rindo) Pacto é um trato, seu Gato!

PEDRO - É mesmo. Eu, por exemplo, fiz um pacto com meu avô. Nós combinamos que eu ficaria
aqui dentro, esperando ele chegar.

GATO - Ahn, quer dizer que pacto é um combinado...

PEDRO - Isso mesmo.

GATO - Então, caro Melro, que tal fazermos um pacto?

MELRO - Qual?

GATO - Você desce da árvore e eu prometo que não cometo nenhuma besteira...

MELRO - (rindo) Boa tentativa, Miau. Mas eu lá tenho cara de bobo? Se eu desço aí, logo viro bolo.
E depois de tanta discussão e tanta briga, vou parar na sua barriga? Na-na-ni-na-não!

GATO - Mas eu só quero propor um pacto! Não vou almoçar você...

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PATO - Desista, Gato, não adianta. Se o Melro não for seu almoço, você guarda ele pra janta...

GATO - E você, Pato, não se meta! Nós já não aguentamos sua voz de corneta. Vá nadar por aí!

MELRO - (rindo) Ou voar...

(Pedro observa, do portão, a nova discussão. O Melro assobia, o Pato faz “qüem” e o Gato mia.
Nenhum dos quatro reparou que o Lobo vem entrando, sorrateiramente, pela plateia, até parar na
boca do palco.)

LOBO - (para a plateia) Pssssiu! Vocês querem fazer o favor de ficar quietos? Com essa barulheira
toda eles vão acabar me vendo aqui! Ah, já sei, já sei! Podemos fazer um pacto: se vocês ficarem
quietinhos, em silêncio, sem nenhum pio, eu prometo... eu prometo... não comer vocês!
Combinado? Não?! Grrrrrr!!!!

(O Lobo continua andando sorrateiramente, rastejando, sem que ninguém o veja. A discussão
entre o Pato, o Melro e o Gato continua acalorada, tanto que o Pato nem repara que deixou cair o
patinho de borracha que levava para a lagoa. O Lobo, então, descuidadamente, pisa no patinho,
que emite um som, e acaba alertando os demais. A discussão pára na hora. O Melro voa para o
portão, perto de Pedro, e o Gato sobe na árvore. Só o Pato fica parado.)

PATO - (irritado) Ah, mas era só o que faltava: pisar no meu patinho de borracha! (imitando) “Veja,
é o Pato bobo! Ele não sabe voar, então eu vou pisar no patinho dele!” (para o Lobo) Ora,
francamente, quem você pensa que é para fazer isso com o meu patinho de borracha, hein?!

LOBO - Eu sou o Lobo!

PATO - “Qüem!”

LOBO - Grrrrr! O Lobo!

PATO - O Lobo, o Lobo... E daí que você é o... (se mancando) LOBO!!!!!!!!! Ai, socorro! (Sai
correndo para trás da árvore.)

(O Lobo sai correndo atrás do Pato. Ouvem-se uns sons de “qüem-qüem” esganiçados e umas
penas saem voando de trás da árvore. Logo depois, sai o Lobo, com a boca cheia de penas e
passando a mão na barriga.)

LOBO - Hummm, que gostoso esse pato! Mas ele era só a entrada. Quero agora outro prato!
Quem sabe um menino, um melro, ou um gato? (olha para o Gato e pondera. Avaliando ser mais
fácil, começa a rondar a árvore, procurando uma forma de subir.)

MELRO - (para Pedro) Ih, ele vai pegar o Gato!

PEDRO - E daí? O Gato não ia comer você? Agora ele vai ver só o que é bom...

MELRO - Pedro, não! O Lobo já engoliu o Pato. Não podemos deixar que ele agora coma o Gato.
Ele também é nosso amigo.

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PEDRO - Mas Melro, se ele é seu amigo, porque quer comer você?

MELRO - O Gato me persegue há muito tempo e nunca conseguiu me pegar. O coitado até tenta,
mas não sabe voar. Ele pensa que é esperto, mas quando chega perto, pronto para o salto, logo
voo pro alto. Mal ele não me faz, porque se ele é esperto, eu sou mais!

PEDRO - Você tem razão, Melro, não podemos deixar o Lobo o pegar. Eu tive uma ideia!

MELRO - Qual?

PEDRO - Aqui tem uma corda que o vovô usa para amarrar o portão. Mas, para o plano dar certo,
preciso da sua ajuda.

MELRO - Pode dizer o plano, mas que seja depressa! Porque, se não me engano, o Lobo está com
fome à beça!

GATO - Socorro, socorro! Mais um passo desse Lobo e eu morro!

PEDRO - (para o Melro) Vou fazer um laço nessa corda... assim. Agora você pega a corda pelo laço
e leva até o Lobo. Quando estiver bem em cima dele, largue a corda, que eu puxarei com muita
força. Quem sabe assim a gente não prende esse lobo malvado, hein? Torça!

MELRO - Ai, Pedro, que medo! E se o Lobo me pegar?

PEDRO - É preciso cuidado. Mas você é muito esperto, não vai sair machucado, tenha certeza.

MELRO - (rezando) Papai do Céu, me proteja! Se for do seu agrado eu prender o Lobo, que assim
seja!

(O Melro voa com a corda no bico até o Lobo. Quando chega sobre sua cabeça, larga a corda. O
Lobo se sacode e esbraveja, mas está preso e não consegue se mexer.)

PEDRO - Isso! (abrindo o portão) Agora eu vou dar umas voltas com a corda em torno dele!

GATO - (interrompendo) Não, Pedro! Lembre-se do trato que você fez com seu avô!

MELRO - Você combinou que não passaria do portão, enquanto ele não chegasse!

PEDRO - Hum, é verdade... Mas o que vamos fazer, o Lobo ainda não está todo preso.

LOBO - (tentando se livrar) Deixem só eu sair daqui! Comerei todos vocês!

MELRO - (voltando para perto do portão) Ai, que medo!

GATO - (criando coragem) Eu termino o serviço...

(O Gato desce da árvore e, apesar de o Lobo esbravejar e grunhir, dá várias voltas com a corda em
torno dele.)

GATO - Pronto, agora esse Lobo não pode mais fazer mal a ninguém!

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PEDRO - (comemorando) Êêêêêêêê!!!

MELRO - (comemorando) Êêêêêêêê!!!

AVÔ - (aparecendo, brandindo a bengala) Ah, é agora que eu te pego, seu Lobo! Estava vindo para
cá, quando ouvi o Gato pedir socorro. (vai bater no Lobo)

PEDRO - (impedindo o Avô) Não, vovô! Não precisa mais disso! Eu, o Melro e o Gato já prendemos
o Lobo!

GATO - É verdade! Agora só é preciso levá-lo para o zoológico!

PEDRO - (puxando o Lobo pela corda) Isso, isso! Vamos! Para o zoológico!

AVÔ - Ótimo, então vamos prender o Lobo no zoológico. (Para o Lobo) Andando, andando!

LOBO - (humildemente) Eh... esperem um pouco, por favor.

AVÔ - Ora essa... Esperar por quê?(para os outros) Cuidado, o Lobo pode estar tramando alguma
armadilha...

LOBO - O que eu poderia tramar se estou todo amarrado?

AVÔ - Bem, isso é verdade... mesmo assim, cuidado, não cheguem muito perto.

LOBO - Por que vocês vão me levar para o zoológico?

AVÔ - Porque lá você ficará preso e não poderá mais fazer mal a ninguém.

LOBO - Mas isso não é justo! Que mal eu fiz? Eu só estou com fome... preciso comer.

MELRO - Ai, senhor Lobo, mas eu é que não quero virar sua comida!

GATO - Nem eu...

PEDRO - Eu também não.

AVÔ - Agora, vamos. Chega de conversa! Direto para o zoológico!

LOBO - Não, calma... não podemos fazer um pacto?

TODOS - Um pacto?!

AVÔ - Hum, não sei não... qual pacto?

LOBO - Vocês me soltam na mata, que é a minha casa, e eu me comprometo a não caçar nenhum
animal aqui perto do sítio. Que tal?

AVÔ - Não sei, Lobo...

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MELRO - Pedro, lembra da nossa conversa sobre as pessoas que prendem os pássaros na gaiola?

PEDRO - Lembro.

MELRO - Você não achou mais justo ver pássaros e desenhos soltos por aí?

PEDRO - Sim, é verdade.

MELRO - Então... se levarmos o Lobo para o zoológico, isso será injusto e ele vai ficar igual a um
pássaro na gaiola!

PEDRO - Hum, estou entendendo...

AVÔ - Então, se nós te soltarmos, Lobo, você promete não caçar perto do sítio?

LOBO - Prometo.

GATO - Agora temos um pacto!

PEDRO - Isso mesmo, um combinado!

AVÔ - (soltando o Lobo) Pode partir, Lobo. E não se esqueça do nosso pacto, hein?

LOBO - Pode deixar. Obrigado por me soltarem...

MELRO - (rindo) Que caras incríveis nós somos, eu, Pedro e o Gato!

PATO - (em off) Ei! Ei!

GATO - Psssss! Silêncio! Vocês ouviram alguma coisa?

PATO - (em off) Ei! Aqui dentro!

GATO - Escutem! É o Pato! Ele está dentro da barriga do Lobo!

PATO - (em off) Não esqueçam que eu também ajudei a pegar o Lobo! Eu fiquei distraindo ele,
enquanto vocês faziam o resto do plano! Agora, que tal me tirarem daqui, hein?

(Todos ficam olhando a barriga do Lobo, pensando numa forma de tirar o pato de lá de dentro.)

AVÔ - Felizmente, o Pato conseguiu sair de dentro da barriga do Lobo com a ajuda de Pedro e seus
amigos. E depois de resolvidas as injustiças, todos passamos a viver em paz aqui no sítio.

FIM

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