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Conhecendo A Vida Do Solo - Mesofauna
Conhecendo A Vida Do Solo - Mesofauna
Meso
VO LUME 3
fauna
© 2017 by Maíra Akemi Toma, Rogério Custódio Vilas Boas e Fatima Maria de Souza Moreira
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou forma,
sem a autorização escrita e prévia dos detentores do copyright.
Direitos de publicação reservados à Editora UFLA.
Impresso no Brasil – ISBN: 978-85-8127-067-8
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Comercial/Financeiro: Damiana Joana Geraldo Souza
ISBN: 978-85-8127-067-8
VO LU M E 3
Meso
fauna
AUTORES
Leopoldo Ferreira de Oliveira Bernardi
Universidade Federal de Lavras | leopoldobernardi@gmail.com
REVISÃO TÉCNICA
Paulo Rebelles Reis
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG Sul de Minas/EcoCentro
paulo.rebelles@epamig.ufla.br
REVISÃO DE TEXTO
Paulo Roberto Ribeiro
V O L U ME 3E 3
A B
C D
E F
4 VOLUMVMLEO 3 4 A E3 EO C OBO
Importância
da mesofauna
P or apresentarem tamanho cor-
poral semelhante e viverem no
solo, esses organismos encontram-se
Entre os benefícios promovidos
por esses organismos, podem-se ci-
tar: o controle de pragas e parasitas,
em um mesmo grupo, o da mesofau- revolvimento do solo, auxílio na ci-
na edáfica; porém, eles apresentam clagem de nutrientes e incorporação
formatos e estilos de vida completa- de matéria orgânica no solo.
mente distintos. Alguns deles podem Nas camadas iniciais do solo, prin-
ser predadores, outros se alimentam cipalmente nos primeiros 15 cm, on
de matéria orgânica em decomposi- de é encontrada a grande maioria
ção, alguns podem saltar e outros ter dos organismos pertencentes à me
a capacidade de revolver o solo. Todos sofauna, existe uma grande quantida-
esses organismos juntos e essa grande de de raízes e matéria orgânica morta
diversidade de estilos de vida auxiliam (folhas, troncos, animais mortos, en-
na manutenção da qualidade do solo, tre outros), que constituem o princi-
trazendo benefícios para o ecossiste- pal recurso, a base da cadeia alimentar
ma no qual são encontrados. da qual fazem parte os organismos
da mesofauna edáfica. Poucos são os
Fauna edáfica: é o conjunto de organismos encontrados em camadas
organismos que vivem no solo. A mais profundas, pois além de apre-
palavra “edáfico” é originária do sentar pouco alimento, são bastante
grego, derivada do termo “edá-
fos”, que significa solo ou terra.
compactadas, o que dificulta a loco-
moção da maior parte dessas espécies.
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Ácaros
O s ácaros são organismos per
tencentes ao grupo dos que-
licerados (o mesmo onde se en-
Apresentam tamanho bastante re
duzido, geralmente entre 0,08 e 1
milímetro, mas em alguns casos, po-
contram as aranhas e escorpiões). dem atingir mais de 0,5 centímetro.
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Hábitos alimentares
O hábito alimentar desse grupo é micro-organismos, e até mesmo,
o mais diversificado entre os que- em alguns casos, podem ser oní-
licerados. Algumas espécies são voros, alimentando-se tanto de
predadoras, outras parasitas de outros organismos como de maté-
plantas ou animais, alguns podem ria orgânica em decomposição ou
se alimentar de matéria orgânica e partes de vegetais vivos.
CU RI OS ID AD ES :
stas
Flo re st a Am az ôn ica e, principalmente, em flore
Na
as da Eu ro pa , os or ib at ídeos (um grupo específico
temperad nsidades
ác ar os ) po de m se r en contrados em grandes de
de tro
de nd o ch eg ar at é a 10 0.000 espécimes por me
no solo, po dos os
ad ra do . Ele s po de m re presentar até 95% de to
qu
em determinados locais.
invertebrados presentes
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Características morfológicas
Uma característica interessante dos Observe na figura abaixo a estru-
ácaros é que todos apresentam os tura corporal de um ácaro:
segmentos do corpo fundidos (não A. Quelíceras
sendo possível distinguir o cefalo- B. Palpos
tórax do abdômen, tal como nas C. Pernas
aranhas), sendo essa a principal ca-
racterística que difere os ácaros dos
outros aracnídeos.
A maioria dos ácaros adultos tem
um par de quelíceras, localizadas na
porção frontal. Abaixo delas, locali-
zados lateralmente, existem um par
de palpos. No corpo, podem ser vis-
tos quatro pares de pernas.
Ciclo de vida
O ciclo de vida dos ácaros é bastan-
te variado, mas é constituído basi-
camente de: a) ovo; b) uma fase de
larva com 3 pares de pernas; c) uma
a três fases de jovens com 4 pares de
pernas (que se chamam protonin-
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Reprodução
A reprodução dos ácaros pode se da fêmea. Na forma assexuada, o
dar de duas formas: a sexuada e a ovo gera um novo espécime sem ter
assexuada (partenogenética; desen- sido fecundado. Essa última forma
volvimento do óvulo sem fecunda- é bastante vantajosa, pois apenas
ção). A forma sexuada ocorre quan- uma única fêmea, ao chegar em um
do existe troca de gametas, ou seja, determinado local, pode estabelecer
o espermatozoide fecunda o óvulo uma nova população.
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Palpígrados
O s palpígrados são pequenos
aracnídeos esbranquiçados
e cegos que vivem principalmen-
público leigo, quanto pelos cien-
tistas. Eles são raramente encon-
trados, e, no Brasil são conhecidas
te no solo e em meio a detritos. cerca de dez espécies.
São pouco conhecidos tanto pelo
Características morfológicas
Por pertencerem à Classe Chelice- comprimento do corpo do animal.
rata, seu corpo é composto de uma Esse flagelo provavelmente apresen-
porção anterior (cefalotórax) e pos- ta função sensorial.
terior (abdômen). Na porção an- Nos palpígrados, o primeiro par
terior, estão localizados um par de de pernas não é utilizado para lo-
palpos, um par de quelíceras e 4 pa- comoção. Esse membro tem função
res de pernas. Na porção posterior, semelhante à das antenas, pois nele
se encontram os órgãos sexuais, e estão localizados órgãos sensoriais
um longo flagelo, que pode atingir que auxiliam o organismo a reco-
um tamanho igual ou maior que o nhecer e “sentir” o meio ao redor.
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Hábitos alimentares e reprodução
Pouco se sabe a respeito dos hábi- eles possam se alimentar de micro-
tos de vida desse grupo. Acredita- -organismos. Sua reprodução pode
se que sejam predadores de ácaros, ser feita de forma sexuada, ou as-
colêmbolos e invertebrados do sexuada. Muito ainda precisa ser
solo. Porém, já foram encontra- descoberto sobre o grupo, mas são
dos dentro do sistema digestório poucas as pessoas que dedicam
desses animais restos de cianobac- parte de seus estudos para enten-
térias, e por isso, suspeita-se que der mais sobre eles.
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Sínfilos
Características morfológicas
São pequenos organismos, com percepção de sensações químicas,
tamanho que varia de 0,5 a 8 mm. físicas, detecção da umidade do
Sua coloração é esbranquiçada e o ambiente e até mesmo detectando
corpo é dividido em duas partes vibrações aéreas. Para compensar
(cabeça e tronco). A cabeça não a falta de visão, o corpo é coberto
possui olhos, mas apresenta um por cerdas sensoriais, que auxiliam
par de órgãos localizados na base na percepção do ambiente. O tron-
das antenas, conhecidos como co é dividido em placas, que podem
Tömösvary, com função sensorial. variar entre 15 e 22 segmentos, e
Ainda não se conhece a função estão presentes 12 pares de per-
exata desse órgão, mas especula- nas nos indivíduos adultos. O últi-
se que pode estar relacionada à mo segmento apresenta um par de
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cercos (estruturas alongadas que expelindo seda (teia) para afugen-
se parecem com caudas), que têm tar quaisquer predadores que se
função semelhante às fiandeiras, aproximam da parte traseira.
Reprodução
Os sínfilos são animais dioicos, e a que são depositados e armazenados
reprodução ocorre de forma indire- em uma cavidade pré-oral. O ovo é
ta. Os machos deixam espermatófo- depositado sob e em fendas no solo,
ros (cápsulas com espermatozoides) musgos, matéria orgânica e outros.
espalhados no substrato, e as fêmeas A fecundação dos ovos se dá poste-
coletam essas cápsulas com a boca, riormente, quando a fêmea espalha
rompendo a membrana, permitindo os espermatozoides armazenados
assim a saída dos espermatozoides em sua cavidade oral sobre os ovos.
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Hábitos alimentares
Os sínfilos podem se alimentar de guns plantios agrícolas, como cana-
detritos e de partes de vegetais vi- de-açúcar e abacaxi. Algumas poucas
vos (herbívoros), tal como raízes. Por espécies apresentam um hábito ali-
serem herbívoros, algumas espécies mentar diferente, e são predadores
podem causar sérios prejuízos a al- de outros invertebrados.
Características morfológicas
São pequenos invertebrados com tenas e um par de órgãos sensoriais
não mais de 2 mm de comprimen- que provavelmente são utilizados
to, geralmente esbranquiçados. Na para sentir a umidade do ambiente.
cabeça, apresentam um par de an- Os paurópodes não possuem olhos.
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Curiosamente também não apre- significa pés pequenos. Quando
sentam nenhum tipo de sistema adultos eles possuem nove pares
respiratório e nem coração. Devi- de pequenas pernas, mas os jovens
do ao seu diminuto tamanho, suas nascem com um reduzido par de
trocas gasosas são feitas através do pernas, e vão adicionando outros
seu fino tegumento (respiração por pares ao longo de seu crescimento.
difusão). O nome desse grupo foi Esses animais são dioicos.
derivado de um termo grego que
Hábitos alimentares
Vivem em lugares úmidos, como tais como raízes, mas algumas espé-
o solo de florestas e se alimentam cies são predadoras de pequeninos
principalmente de tecidos vegetais, invertebrados.
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dos insetos são: ausência de antenas das no interior da cavidade cefálica.
e, principalmente, a localização das Justamente essa última característi-
peças bucais, que estão posiciona- ca é que dá nome ao grupo.
Ciclo de vida
O ciclo de vidas dos proturos é sim- completar 12 segmentos, o desen-
ples, do ovo eclode uma larva pouco volvimento está completo e o orga-
desenvolvida, com seis pernas e 9 nismo chega à fase adulta. Curiosa-
segmentos abdominais. O cresci- mente, as mudas nos proturos não
mento se dá em forma de muda, e param depois da fase adulta; contu-
durante cada evento um novo seg- do, nenhum outro segmento é adi-
mento é adicionado ao corpo. Ao cionado ao corpo.
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Estratégias de defesa
Os dipluros são dotados de habili- um dos pouco artrópodes que con-
dades de defesa interessantes. Caso seguem regenerar, produzindo no-
algum predador tente capturá-los vas estruturas, tais como pernas ou
segurando seus cercos abdominais, cercos abdominais, caso esses te-
eles podem soltar seus cercos por nham sido perdidos. O processo de
vontade própria, escapando do or- muda pode ser realizado mais de 30
ganismo que estava tentando captu- vezes ao longo da vida dos dipluros;
rá-los. Essa ação de soltar uma parte a regeneração do órgão ou apêndice
do corpo é conhecida como autoto- perdido pode ocorrer durante esse
mizar. Além disso, os dipluros são processo.
Hábitos alimentares
Os dipluros são comuns em solos ção. Os dipluros que apresentam
úmidos, serrapilheira ou húmus, os cercos em forma de pinças são
mas são raramente vistos devido geralmente predadores e aqueles
ao seu tamanho e hábitos subter- com cercos filiformes são geral-
râneos. Esses organismos podem mente detritívoros (que se alimen-
ser predadores ou se alimentar de tam de matéria orgânica em de-
matéria orgânica em decomposi- composição).
Características morfológicas
São organismos que apresentam an- o tórax, onde estão localizadas as
tenas de tamanho variado. Em algu- pernas, e o abdômen, a parte fi-
mas espécies, podem ser tão longas nal). O nome Collembola, foi dado
quanto o próprio tamanho do corpo devido a uma estrutura localizada
ou curtas a ponto de serem difíceis posteriormente às pernas, que tem
de visualizar. formato de tubo, ou êmbolo (coló-
A cabeça geralmente apresenta foro), capaz de produzir uma secre-
um par olhos e um corpo que pode ção que funciona como uma cola,
ser alongado ou globoso (essa re- fixando o organismo ao solo ou
gião apesar de parecer uma só, é qualquer outro substrato (“Colla” =
resultado da fusão de duas partes, cola, adesivo; embolon = êmbolo).
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Outra estrutura peculiar aos colêm- zendo com que o organismo consi-
bolos é uma “cauda”, chamada de ga saltar, o que funciona como uma
fúrcula, que está localizada ao final maneira rápida e eficiente para fu-
do corpo. A fúrcula, quando alon- gir de predadores.
gada, funciona como alavanca, fa-
A. Antenas
B. Cabeça
C. Tórax
D. Abdômen
E. Colóforo
F. Pernas
G. Fúrcula
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Reprodução e ciclo de vida
Os colêmbolos são organismos ame- nunca param de crescer, realizando
tábolos, isso significa que o jovem, mudas durante toda a vida.
mesmo aquele que acabou de sair A reprodução dos colêmbolos
do ovo, tem o corpo com forma se- pode se dar de duas formas, sexuada
melhante ao adulto, diferindo basi- e assexuada, semelhante àquela que
camente na ausência de órgãos se- ocorre nos ácaros.
xuais. Curiosamente, os colêmbolos
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Características morfológicas e diversidade
Ao contrário das minhocas, são or- permite visualizar seus órgãos in-
ganismos extremamente pequenos, ternos. Seu corpo é constituído de
apresentando apenas 0,2 a 2 milí- segmentos que lembram anéis, e
metros de diâmetro de corpo (lar- não possuem apêndices locomo-
gura) e dificilmente ultrapassam 4 tores. Eles se movem por rasteja-
centímetros de comprimento. mento e escavam o solo por meio
Esses organismos são alongados de contrações musculares. Ao
e cilíndricos, com uma coloração longo dos segmentos corporais, é
esbranquiçada translúcida, o que também possível encontrar algu-
VOCÊ SABIA?
Em uma floresta tropical, é possível
encontrar até 23.000 espécimes de
enquitreídeos em um metro quadrado
de solo. Em florestas temperadas, esse
número pode chegar a 146.000.
Hábitos alimentares e
importância ecológica
A dieta dos enquitreídos é, de ma- de muitos ecossistemas terrestres.
neira geral, 80% baseada em micro- Apesar de sua importância, já
-organismos e 20% em matéria orgâ- existem evidências de que os en-
nica. Devido à sua atividade no solo, quitreídeos estão sendo negativa-
ao se movimentar ou alimentar, os mente afetados pelas modificações
enquitreídeos são responsáveis por ambientais humanas. Isso ocorre
uma série de funções, tais como: porque são influenciados pela umi-
decomposição da matéria orgânica, dade do solo (pouco tolerantes a
ciclagem de nutrientes, dispersão de ambientes secos devido à cutícula
esporos de fungos, promoção do au- delicada e respiração cutânea), pH
mento da micro-porosidade do solo, (preferem solos com pH neutro ou
assim como estimulam a recoloni- levemente ácido), temperatura e
zação e crescimento de micro-orga- compactação (não conseguem so-
nismos e facilitam a ação decompo- breviver em solos compactados).
sitora por triturar e semidigerir a Por esse motivo, são considerados
matéria orgânica. Por essas razões, indicadores da qualidade do solo,
são considerados atualmente um sendo sensíveis a contaminantes e
importante grupo da fauna de solo a mudanças no seu uso.
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Reprodução
Os enquitreídeos são hermafroditas mininos do outro e vice-versa), mas
(órgãos sexuais femininos e mascu- pode ocorrer autofertilização. Algu-
linos estão presentes em um mesmo mas espécies são capazes de se repro-
espécime), e se reproduzem princi- duzir por partenogênese e outras por
palmente através de fecundação cru- fragmentação, em que o espécime se
zada (os gametas masculinos de um divide em algumas partes e cada uma
espécime fecundam os gametas fe- delas dá origem a um novo ser.
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luminosa. Dessa forma, o organis- no pote contendo álcool ou outra
mo passa pela peneira localizada substância que preserva os seres
dentro do funil e acaba por cair da decomposição.
Os editores
ISBN 978-85-8127-067-8
9 788581 270678