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Orientação

Profissional
Ética no Trabalho

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Issa Ibrahim Berchin

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Ética no Trabalho

• Introdução;
• Origens do Conceito de Ética no Trabalho;
• Ética no Ambiente Empresarial;
• A Ética como Princípio de Gestão Socialmente Responsável.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Conhecer os conceitos de ética empresarial;
• Reconhecer a responsabilidade social como fator de empregabilidade e exercício da cidadania;
• Compreender o cenário empresarial contemporâneo e as necessidades de atuação com
ética e responsabilidade.
UNIDADE Ética no Trabalho

Introdução
As mudanças socioeconômicas globais, alinhadas com as inovações tecnológicas,
transições demográficas, mudanças econômicas e alteração das relações de trabalho,
requerem um aumento das discussões sobre ética, responsabilidade social e susten-
tabilidade. Nesse sentido, globalização e ética são dois dos mais importantes fatores
de influência para os negócios no século XXI (SINGH et al., 2005).
A palavra ética é de origem grega, derivada de Ethos, que nos remete a costu-
mes e hábitos do ser humano vivendo em sociedade. Tendo em vista a pluralidade
de sociedades e culturas, nota-se a complexidade na avaliação do comportamento
humano e das relações entre ética, moral e justiça.

No mundo, há várias sociedades agindo e convivendo de formas diferentes, com


costumes, religiões, códigos de sobrevivência e convivência diversos. Fazer uma ava-
liação sobre o que é correto ou não, vai muito além da nossa educação, da nossa
cultura e da forma como enxergamos o mundo e a sociedade. É preciso conhecer
como cada sociedade está ligada às suas próprias origens e à própria história.

Se observarmos a forma como a mulher é tratada em algumas sociedades islâmi-


cas, sob o ponto de vista da nossa sociedade ocidental, não nos será possível entender
como funcionam as regras do Islamismo. Quando, porém, analisamos sob os aspectos
da sociedade deles, considerando seus conceitos religiosos e comportamentais, pode-
mos entender um pouco mais sobre sua cultura e história e os tratamentos dados à
mulher. Da mesma forma, vale a reflexão: quando sabemos que no mundo ocidental as
mulheres ganham salários menores do que os homens, ocupando e desempenhando
a mesma função, será que estamos sendo éticos, justos?

A ética se presta e nos auxilia a qualificar as organizações (empresa ética), as pes-


soas (sujeito ético) e os comportamentos (conduta e procedimentos éticos) no seio de
uma sociedade. Dessa maneira, podemos e devemos considerar que a ética de um
indivíduo, grupo, empresa ou comunidade seria a manifestação visível, por meio de
comportamentos, hábitos, práticas e costumes, de um conjunto de princípios, normas
e valores que norteiam e dirigem a sua relação com o mundo.

Uma condição essencial para que o ser humano atinja seus objetivos é, sem dúvida,
que ele viva em sociedade. Vivendo só, o ser humano não seria capaz de conseguir
a maioria de seus bens, atingir seus objetivos e suas finalidades. Assim, podemos
concluir que a sociedade é uma comunidade, uma comunhão ou uma organização
em que alguns suprem o que falta aos outros e todos, conjuntamente, conseguem
fazer o que nenhum, isoladamente, seria capaz de obter. E, portanto, são guiados
por padrões, normas e valores em comum, que visam manter a ordem e o bem-estar
social. Reflita sobre as noções de princípio moral e ética apresentadas na charge de
Calvin e Hobbes (veja no link abaixo).

Reflexões sobre ética em Calvin e Hobbes. Disponível em: https://bit.ly/3m7q6QN

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Origens do Conceito de Ética no Trabalho
O termo “ética no trabalho”, criado há séculos, foi desenvolvido com o intuito de
atribuir uma autorresponsabilidade aos indivíduos pelo seu próprio sucesso pessoal
e profissional, valorizando as atitudes e comportamentos e prezando o trabalho dili-
gente (MILLER; WOEHR; HUDSPETH, 2002).

Kant considerava que deveríamos encontrar a ética de validade universal sustentada


na igualdade entre os seres humanos, centrando as questões éticas na obrigação moral.
Portanto, os conteúdos éticos nunca são dados do exterior, o que nos leva a entender
que essa moral está relacionada com a racionalidade do sujeito, e não somente com
aspectos exteriores, como leis, costumes e tradições. Nesse sentido,
O que devemos fazer não deve resultar do que queremos fazer. Nossas
necessidades, nossas emoções, nossas intuições devem ser sacrificadas
em favor de critérios objetivos, como o imperativo categórico, ou seja,
agir consistentemente com uma regra que trataríamos como uma lei uni-
versal. Essa capacidade implica um alto nível de liberdade contra contin-
gências ambientais, bem como predisposições egoístas. Sob essa pers-
pectiva, nem recompensas nem regras convencionais podem ser a base
da moralidade. É através de nosso próprio raciocínio que transcendemos
nossos próprios corpos, criamos regras como leis universais e alcança-
mos o mais alto nível de moralidade. (KANT, 1956)

Com essa concepção, imagina-se ter procedimentos práticos que possam se tor-
nar universalizáveis, ou seja, princípios que possam valer para todos. Seguindo
essa linha de pensamento, Valls (1996, p. 16) considera que: “Uma boa teoria ética
deveria atender à pretensão de universalidade, ainda que simultaneamente capaz de
explicar as variações de comportamento, características das diferentes formações
culturais e históricas”.

Para tanto, as normas e sua prática cotidiana auxiliam na interiorização de concei-


tos e princípios, principalmente se essa for incentivada pela motivação do indivíduo
em buscar as próprias propensões e desenvolver as próprias capacidades. Segundo
Arvanitis (2017), esse “não é um processo passivo unidirecional direcionado do ambiente
para o organismo, mas uma acomodação ativa do ambiente pelo organismo”. Essa ideia
ressalta a importância do desenvolvimento de um código de ética formalizado e de sua
prática por todos os funcionários, principalmente pelos líderes e gestores.

Mais recentemente, o construto “ética do trabalho” derivou das análises e publi-


cações de Max Weber no início do século XX, com a publicação do ensaio intitulado
A ética protestante e o espírito do capitalismo, em 1904 e 1905. Nesse ensaio,
Weber atribuiu grande parte da introdução e da rápida expansão do capitalismo e
da industrialização na Europa Ocidental e na América do Norte ao ascetismo e à
religião (MILLER; WOEHR; HUDSPETH, 2002).

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UNIDADE Ética no Trabalho

De acordo com os pensamentos de Weber (2004), publicados originalmente em


1904 e 1905, a valoração religiosa do trabalho contínuo, sistemático e incansável
opera como o mais alto meio para o ascetismo e representa a prova mais segura da re-
denção das pessoas e da fé genuína, sendo a alavanca mais poderosa para a expansão
dessa atitude em relação à vida; o que Weber considerou ser o espírito do capitalismo.

Nesse sentido, a atividade econômica representaria um veículo para o sucesso


econômico, e o sucesso econômico representa um sinal de salvação. Isso levaria ao
que Weber considerou como “ética do trabalho”, uma devoção completa e implacável
ao papel econômico do indivíduo no mundo, também chamada de “ética protestante
do trabalho” (WEBER, 2004).

Apesar de ter sido a força motora da rápida propagação do capitalismo, a ética


protestante já não é mais o principal conceito motor do capitalismo. Como uma
máquina com funcionamento mecânico, o capitalismo motiva as pessoas a busca-
rem seu sucesso profissional e econômico em um processo natural que independe
de qualquer princípio religioso e, por consequência, seguirão os princípios éticos e
morais determinados pela sociedade (MILLER; WOEHR; HUDSPETH, 2002).

Miller, Woehr e Hudspeth (2002) acreditam que a ética no trabalho representa um


conceito multidisciplinar, que reflete uma constelação de atitudes e crenças referen-
tes ao comportamento no ambiente de trabalho. A Figura 1 apresenta algumas das
características multidisciplinares do constructo de ética no trabalho.

Figura 1 – Características multidisciplinares do constructo de ética no trabalho


Fonte: Adaptado de MILLER; WOEHR; HUDSPETH (2002)

A ética no ambiente de trabalho deve, portanto, ser considerada como um cons-


tructo multidimensional e, por consequência, de responsabilidade individual e coletiva
(veja o Quadro 1).

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Quadro 1 – Perfil ético do trabalho multidimensional
Dimensão Definição
Crer no trabalho por causa de sua impor-
Centralidade do Trabalho tância em todos os elementos da vida.
Dedicar esforço para alcançar a independência
Autoconfiança em seu trabalho diário.
Crer nas virtudes do trabalho contínuo,
Trabalho duro sistemático e incansável.
Assumir atitudes e crenças pró-lazer, re-
Lazer forçando a importância das atividades não
relacionadas ao trabalho.
Moralidade/Ética Acreditar em uma existência justa e moral.
Possuir orientação para o futuro; adiamento
Atraso na gratificação das recompensas.
Otimizar e valorizar atitudes e crenças que
Perda de tempo refletem o uso ativo e produtivo do tempo.
Fonte: Adaptado de MILLER; WOEHR; HUDSPETH, 2002

Meriac et al. (2013) ressaltam a importância dos estudos de Miller, Woehr e Hudspeth
(2002) para a ciência e literatura referente à ética no trabalho. Porém, ressaltam que,
apesar de ser uma definição completa e muito aceita, esse perfil ético do trabalho mul-
tidimensional (Figura 1) é pouco aplicável devido à sua extensão. Esse perfil deveria ser
revisto para ser mais objetivo e aplicável pelas empresas (MERIAC et al., 2013).

Ética no Ambiente Empresarial


Se a ética pode ser entendida como a forma com que os indivíduos se comportam
na sociedade, a moral deve ser entendida como a forma com que a sociedade per-
cebe esse e seus atos perante ela. O conceito de justiça, ou seja, o que o indivíduo
considera justo ou não, está direta e intimamente ligado às suas convicções pessoais
e sobre o que ele entende por certo ou errado.

Um exemplo clássico que mistura o entendimento e a praticidade dos dois concei-


tos é dado na seguinte situação: um filho que entende ser justo matar o homem que
assassinou a sua mãe. Essa atitude é proibida e ilegal na sociedade brasileira, que não
permite que se “faça justiça com as próprias mãos”. Assim, dentro do espaço íntimo
e da ótica de um filho que se encontra nessa situação, pode ser considerada por ele
como “justa” a atitude.

O fator histórico/temporal também influencia na análise de padrões considerados


morais. É possível identificar diferentes padrões morais estabelecidos em épocas
distintas na mesma sociedade. À medida que a sociedade muda ou até mesmo se glo-
baliza, segue mudando os seus conceitos morais. Há algumas décadas, na sociedade
brasileira, como em outras culturas, havia procedimentos e comportamentos vistos
como imorais como, por exemplo, o divórcio e a maternidade de mulheres solteiras.
Atualmente, a sociedade em geral entende como normal esse tipo de circunstância,

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UNIDADE Ética no Trabalho

que passou a ser um assunto totalmente livre e discutido em meios televisivos, entre
amigos e nas famílias.

Segundo o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (MICHAELIS, 2015):


• Moral: pode ser definida como “(1) Conjunto de valores e princípios morais (virtude,
honestidade etc.) que norteiam a conduta e o pensamento de uma pessoa e sua rela-
ção com a sociedade em que vive; moralidade”; e “(2) Conjunto de regras de conduta
estabelecidas e admitidas por um grupo social numa época determinada”;
• Imoral: pode ser definida como “Contrário à moral, aos costumes vigentes em deter-
minada época ou sociedade ou às regras que um indivíduo decide tomar como norma
pessoal de conduta; indecoroso, obsceno, vergonhoso”;
• Ética: pode ser definida como: Ramo da filosofia que tem por objetivo refletir sobre
a essência dos princípios, valores e problemas fundamentais da moral, tais como a
finalidade e o sentido da vida humana, a natureza do bem e do mal, os fundamentos
da obrigação e do dever, tendo como base as normas consideradas universalmente
válidas e que norteiam o comportamento humano.
Por extensão, a ética representa um “conjunto de princípios, valores e normas morais e de
conduta de um indivíduo ou de grupo social ou de uma sociedade”.
• Justiça: pode ser definida como: (1) Qualidade ou caráter do que é justo e direito. (2)
Conformidade dos fatos com o direito; faculdade de julgar segundo o que é justo e di-
reito. (3) Princípio moral e de valor que se invoca para dirimir a disputa entre as partes
litigantes. (4) Aplicação do direito e das leis; poder de fazer justiça, poder de decidir so-
bre os direitos de cada um. (5) O exercício desse poder. (6) O sistema pelo qual as pessoas
são julgadas em cortes. (7) Tribunais, magistrados e todas as pessoas encarregadas no
exercício da justiça. (8) Cada uma das jurisdições que têm a seu cargo a administração da
justiça. (9) O reconhecimento do mérito e do valor de algo ou alguém.

Alguns consideram que comportamento ético é somente um comportamento ade-


quado e ajustado aos costumes em vigor, mas isso é um equívoco e, acima de tudo,
uma visão excessivamente simplificada. “Não são apenas os costumes que variam,
mas também os valores que os acompanham, as próprias normas concretas, os pró-
prios ideais, a própria sabedoria, de um povo a outro” (VALLS, 1996, p. 13).

O comportamento moral não está baseado em reflexões, mas sim nos costumes
da sociedade, considerando lugar e tempo. Dando fundamento a qualquer decisão
que tomamos, na vida profissional ou particular, moral e justiça estarão sempre pre-
sentes orientando os nossos valores morais. Diante do conceito de ética e do con-
ceito de moral, concluímos que a moral se baseia no comportamento, nos valores e
princípios da sociedade; a ética baseia-se na reflexão desse comportamento, criando
normas universais com fins a estabelecer um padrão de conduta esperado pela so-
ciedade. Esse padrão de normas informais, valores e expectativas pode ser traduzido
em normas formais positivadas (leis), que irão reger os padrões de conduta em uma
sociedade, determinando o que é justo perante a lei daquela sociedade. Repare que o
conceito de justiça se mescla com a moral de uma nação, o que torna difícil a gover-
nança de uma sociedade composta por diversas culturas.

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O entendimento individual do conceito de ética e sua prática cotidiana está vin-
culado a fatores normativos baseados na legislação vigente, fatores pessoais base-
ados no desenvolvimento moral e fatores organizacionais traduzidos pela cultura
organizacional e formalizados pelo código de ética (SINGH et al., 2005). A ética no
trabalho também pode ser compreendida como as particularidades de cada indivíduo
em relação a um conjunto de crenças e atitudes que refletem o valor do trabalho e
as formas de atuação e comunicação com a empresa e com os demais stakeholders
(MERIAC et al., 2013).

No âmbito do trabalho, a ética pode ser observada por diversas perspectivas, sob a
ótica da empresa (políticas e estratégias corporativas), dos colaboradores (atitudes e cren-
ças individuais dos gestores e demais funcionários) e do público externo (relacionamento
com clientes, fornecedores, distribuidores, comunidade local). Tais perspectivas são in-
fluenciadas pelas estratégias de marketing, transparência, idoneidade, responsabilidade
social e ambiental, ações sociais, prestação de contas (accountability) e são represen-
tadas pelo código de ética da empresa, em conformidade com a legislação vigente.

Código de Ética Empresarial


O código de ética formaliza um padrão de conduta considerado adequado para uma
empresa (LEE et al., 2014). Quando uma empresa decide adotar uma postura ética
em seus relacionamentos, é importante que essa decisão conste de um documento
interno, o qual normalmente é chamado de código de ética ou código de conduta.

O código de ética é, por assim dizer, um instrumento que visa transcrever os


princípios/valores, visão, missão e normas da empresa visando à aplicação da éti-
ca em todos os processos. Ele também se presta a orientar e disciplinar as ações
das políticas empresariais, de seus funcionários e colaboradores, além de explicitar
a postura social da empresa diante dos diferentes públicos com os quais interage,
como clientes, fornecedores e público em geral.

É de vital importância que o conteúdo do código de ética seja refletido nas atitudes
das pessoas a quem o código se dirige, encontrando sustentação na alta gestão da
empresa e em todos os seus colaboradores, de maneira a ser incorporado na cultura
organizacional, de sorte que até o mais recente funcionário tenha a responsabilidade
de vivenciá-lo e praticá-lo constantemente (LEE et al., 2014).

As pessoas que trabalham em uma empresa têm formações culturais, intelectuais


e científicas distintas, além de experiências sociais e opiniões diversas quanto aos
fatos da vida. Entretanto, o código de ética tem a dura tarefa de padronizar e forma-
lizar o entendimento sobre organização empresarial, incluindo o comportamento de
seus empregados em seus diversos relacionamentos e em suas operações, evitando
que os julgamentos subjetivos atrapalhem, deturpem, impeçam ou diminuam a apli-
cação plena dos princípios.

Pode-se considerar, dentre outras, algumas formas para que a organização cum-
pra e obedeça ao código de ética estabelecido. São elas:

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UNIDADE Ética no Trabalho

• Treinamento dos conceitos constantes do código;


• Sistema de revisão e verificação do efetivo cumprimento das normas do código
de Ética;
• Criação de um canal de comunicação destinado a receber e a processar relatos
sobre eventuais violações às normas traçadas no código de ética.

O código de ética, segundo já destacamos, formaliza-se numa espécie de docu-


mento orientador da empresa, de seus padrões éticos e morais, criando dessa ma-
neira as regras de conduta. Portanto, pode-se dizer que administrar a ética dentro
de uma empresa é gerir o alinhamento do comportamento dos seus colaboradores e
dirigentes com um conjunto de normas consideradas indispensáveis e que formam a
base da cultura desejada para a organização.

O respeito ao código de ética depende da vontade e engajamento de cada um dos


envolvidos na organização, além de conhecer, seguir e tornar conhecidos os prin-
cípios éticos, exigindo de todos a sua observância. Nesse sentido, o cumprimento
do código de ética requer o apoio constante dos colaboradores, gestores e demais
stakeholders da empresa, que garantirão o sucesso da implantação de uma cultura
ética em todos os processos e relacionamentos da empresa, gerando resultados po-
sitivos tanto em imagem pública quanto em retorno financeiro (LEE et al., 2014).

O desenvolvimento de programas de treinamento focados na promoção da éti-


ca, responsabilidade social e sustentabilidade são essenciais para assegurar o cum-
primento do código de ética da empresa, criando processos e padrões de com-
portamento internos e externos. Como resultado, a adoção de padrões éticos de
comportamento e políticas empresariais estimulam os colaboradores e aumentam a
sensação de pertencimento, identificação e comprometimento dos funcionários com
a empresa (LEE et al., 2014).

Saiba mais sobre código de ética empresarial. Disponível em: https://bit.ly/2Rfdd9j

Outro fator importante para a implantação de comportamentos e valores éticos


nas empresas é o uso de compliance, que representa a conformidade das empresas
com suas obrigações legais e conduta ética. Essas práticas de treinamento constante
para educar os colaboradores a seguir os padrões de conduta previstos no código de
ética auxiliam na criação e manutenção de uma cultura organizacional mais ética,
responsável e espontânea.

Para saber mais sobre compliance, leia os artigos:


• Compliance: O Guia Essencial. Disponível em: https://bit.ly/3hbQrJW
• Introdução à governança corporativa e compliance. Disponível em: https://bit.ly/3bOeHAH

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A Ética como Princípio de Gestão
Socialmente Responsável
Conforme exposto, uma nova realidade está presente no ambiente empresarial,
promovendo um movimento em prol de princípios éticos. Uma nova configuração do
mercado exige uma nova postura das empresas, com uma redefinição das estratégias,
de comportamentos e da comunicação interna e externa. A comunicação empresarial
representa o novo desafio das empresas no século XXI, preocupando-se com ques-
tões sociais, ambientais e éticas e promovendo ações responsáveis no cumprimento
dessas questões (LEE et al., 2014).

Atualmente, a sociedade espera das empresas uma atuação mais responsável e o


consumidor tem tomado consciência dos seus direitos. Assim, as empresas se veem
comprometidas com uma nova postura que evidencia as suas preocupações com
questões sociais e com a ética. Fica evidente a importância de a comunicação das
organizações considerar esse novo ambiente corporativo, refletindo a externalizando
as práticas e políticas internas das empresas.

Em outras palavras, as empresas se veem obrigadas a externalizar suas políticas e


práticas sociais e ambientais previstas em seu código de ética, tornando públicas as
suas ações e resultados. Além das ações éticas, sociais e ambientais, o mercado tem
estimulado cada vez mais a transparência financeira das organizações.

Esse conjunto de mudanças do mercado, motivadas pela globalização, inovações


tecnológicas, novos recursos de comunicação, mudanças socioeconômicas e am-
bientais, apresenta-se como um desafio aos executivos, empreendedores e empre-
sários, uma vez que muda comportamentos, decisões e posturas referente à posição
das empresas diante da sociedade. Segundo Kunsch (1999, p. 74), “é exatamente no
âmbito desses cenários mutantes e complexos que as organizações operam, lutam
para se manter e para cumprir sua missão e visão e para cultivar seus valores [...]”.

O atual ambiente corporativo aponta dois aspectos que podemos considerar


paradoxais:
• O aumento da produtividade em razão de novas tecnologias e da disseminação
de novos conhecimentos. Isso motiva as empresas a investirem mais em novos
processos de gestão em busca de vantagens competitivas;
• O aumento nas disparidades e desigualdades sociais, as quais levam todos à
reflexão sobre o sistema econômico, social e ambiental.

É possível perceber uma preocupação em estabelecer padrões de ética e respon-


sabilidade social nas atividades empresariais, quando se olha e analisa o cenário
de mudanças e transformações sociais, econômicas e tecnológicas pelo qual são
submetidas as empresas. Ashley (2002, p. 50) afirma: “parece lícito afirmar, que
hoje em dia as organizações precisam estar atentas não só a suas responsabilidades
econômicas e legais, mas também as suas responsabilidades éticas, morais e sociais”.

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UNIDADE Ética no Trabalho

Nos últimos anos, esses conceitos têm sido incorporados à vida das empresas na
tentativa de se estabelecer relações de harmonia entre o lucro e a sua atuação diante
do público externo, considerando o relacionamento e a comunicação com seus
stakeholders (LEE et al., 2014).

A ética empresarial pode ser definida, portanto, como o comportamento social-


mente responsável da pessoa jurídica, quando as empresas agem em conformidade
com os princípios morais e éticos considerados aceitáveis pela sociedade, alinhadas
com as normas regidas pelas legislações vigentes.

Seguindo as diretrizes de seu código de ética, a empresa tem a obrigação de


proceder com ética em todos os seus relacionamentos e processos, incluindo seus
funcionários, clientes, fornecedores, concorrentes e governo.

Ética e Responsabilidade Social Empresarial


A incorporação da ética nos negócios tornou-se presente no universo corporativo
em todo o mundo, como não poderia deixar de acontecer. Não se trata somente de uma
preocupação de alguns executivos e líderes, mas sim de todas as pessoas que compõem
uma organização. São muitas as razões para o aparecimento de empresas que têm
entre suas preocupações o interesse de promover e aplicar a ética em seu cotidiano.

Muitos são os motivos que têm promovido a ética no ambiente empresarial. Entre
eles se destacam os elevados custos causados por escândalos e ações judiciais contra
atitudes ilícitas ou antiéticas das empresas, o que, via de regra, terminam em perda
de confiança do público na empresa, multas elevadas, desconfiança e desmotivação
de colaboradores, entre outras coisas.

Nash (1993, p. 3) afirma que “a ética e os negócios têm parecido, com frequ-
ência, se não completamente contraditórios, pelo menos extremamente distantes”.
Afirmando isso, a autora coloca em dúvida a opinião daqueles que defendem que a
noção de integridade nas empresas é atingível, mas deixam os dilemas éticos a cargo
da consciência de cada um. Para que se analise a ética no mundo empresarial, pre-
cisamos, em primeiro plano, entender sua dimensão nas empresas. Segundo Nash
(1993, p. 06):
Ética dos negócios é o estudo da forma pelo qual normas morais pessoais
se aplicam às atividades e aos objetivos da empresa comercial. Não se
trata de um padrão moral separado, mas do estudo de como o contexto
dos negócios cria seus problemas próprios e exclusivos à pessoa moral
que atua como um gerente desse sistema.

Algumas ferramentas de gestão empresarial podem melhorar a capacidade de ga-


nhos de competitividade, gerando vantagem competitiva. Os que estudam o assunto
destacam a ética como outro fator importante para garantir a tal competitividade
da empresa. Tansey (1995, p. 104) afirma que “ter padrões éticos significa ter bons
negócios em longo prazo. Existem estudos indicando a veracidade dessa afirmativa.
Na maioria das vezes, contudo, as empresas reagem a situações de curto prazo”.

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Ainda segundo Tansey (1995), empresas realmente empenhadas em melhorar os
padrões de conduta ética em seu relacionamento com seus stakeholders terminam
conquistando a confiança deles. Se a finalidade é garantir empresas com compro-
misso ético no relacionamento com seus públicos, devemos refletir a seguinte colo-
cação de Tansey (1995):
A alta administração da empresa deve estar consciente de que a forma
de atuação da empresa para fora, para o mercado, terá reflexos internos.
Em outras palavras, não se pode exigir conduta ética dos funcionários
se a empresa está viciada em procedimentos condenáveis. Os padrões
éticos da companhia são a base do comportamento dos funcionários.
(TANSEY, 1995, p. 100)

As corporações precisam estar em alerta, cuidando sempre para que haja condi-
ções e espaço para a ética. Nesse formato, a ética aparece como fator de relevância
nas práticas empresariais e como condicionante de competitividade, por impregnar
mais confiabilidade aos processos decisórios tão constantes no cotidiano de execu-
tivos e gestores.

Os valores intangíveis das empresas (como recursos humanos e suas competências


e conhecimentos, processos específicos, marcas registradas e relacionamentos) po-
dem, em muitos casos, constituir valor maior do que bens tangíveis, como edifícios,
máquinas e equipamentos. Sendo assim, as práticas de responsabilidade social têm
papel vital e nitidamente importante com relação aos bens intangíveis das empresas.
Usando como exemplo, pode-se lembrar de que as relações com a população, prin-
cipalmente a mais próxima, devem seguir padrões éticos para estimular o compro-
misso social das organizações.

A área de Relações Públicas de uma empresa tem a missão de estabelecer o rela-


cionamento da organização com seus públicos fundamentados na ética. Considera-se
que um diretor ou gerente de uma empresa não é uma entidade moral independente.
Devemos vê-lo como um líder direta e indiretamente responsável pelo comporta-
mento de colaboradores e da própria empresa. Cumprir essa responsabilidade deve
exigir, no mínimo, investigação e posição aberta e clara da empresa aos aspectos
éticos da atividade dela, desde a estratégia escolhida para as ações que se seguirão
rotinas administrativas e contábeis, passando pela posição que oriente os aspectos
de responsabilidade social.

O site Betterteam apresenta um modelo interessante para criação de um código de ética e


conduta profissional, disponível em: https://bit.ly/3ihfn4f
Modelo base para o código:
• Seja inclusivo: Nós damos as boas vindas e apoiamos pessoas de todas as origens e
identidades. Isso inclui, entre outros, membros de qualquer orientação sexual, iden-
tidade e expressão de gênero, raça, etnia, cultura, origem nacional, classe social e
econômica, nível educacional, cor, status de imigração, sexo, idade, tamanho, status
familiar, crença política, religião e capacidade mental e física;

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• Seja atencioso: Todos nós dependemos um do outro para produzir o melhor traba-
lho possível como empresa. Suas decisões afetarão nossos clientes e colegas, e você
deve levar essas consequências em consideração ao tomar decisões;
• Seja respeitoso: Nem todos concordamos o tempo todo, mas discordâncias não
são desculpa para comportamentos desrespeitosos. Todos sentiremos frustração de
tempos em tempos, mas não podemos permitir que essa frustração se torne ataques
pessoais. Um ambiente em que as pessoas se sentem desconfortáveis ​​ou ameaçadas
não é produtivo ou criativo;
• Escolha suas palavras com cuidado: Sempre se comporte profissionalmente. Seja
gentil com os outros. Não insulte ou agrida outros. O assédio e o comportamento de
exclusão não são aceitáveis. Isso inclui, mas não está limitado a:
» Ameaças de violência;
» Insubordinações;
» Piadas e linguagem discriminatórias;
» Compartilhar material com conteúdo sexualmente explícito ou violento por meio
de dispositivos eletrônicos ou outros meios;
» Insultos pessoais, especialmente aqueles que usam termos racistas ou sexistas;
» Atenção sexual indesejada;
» Defender ou encorajar qualquer um dos comportamentos acima.
• Não assedie: Em geral, se alguém lhe pedir para parar algo, então pare. Quando discor-
darmos, tente entender o porquê. Diferenças de opinião e discordâncias são inevitáveis.
O importante é que resolvamos divergências e opiniões divergentes construtivamente;
• Faça das diferenças pontos fortes: Podemos encontrar força na diversidade. Pessoas
diferentes têm perspectivas diferentes sobre questões e isso pode ser valioso para re-
solver problemas ou gerar novas ideias. Ser incapaz de entender por que alguém tem
um ponto de vista não significa, que eles estão errados. Não se esqueça que todos co-
metemos erros e culpar um ao outro não nos leva a lugar algum.
Em vez disso, concentre-se em resolver problemas e aprender com os erros.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Accountability: a evolução da responsabilidade pessoal
https://youtu.be/L8AMRE2ov6o
Compliance e Gestão de Riscos
https://youtu.be/hD7IeCbdblM
Afinal, o que é compliance?
Para saber mais sobre cultura organizacional ética na breve entrevista com Alexandre
Di Miceli.
https://youtu.be/FLpEEY8v14I

Leitura
A ética e o espírito do capitalismo segundo Weber
https://bit.ly/3k4Anvl

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Referências
ARVANITIS, A. Autonomy and morality: A Self-Determination Theory discussion
of ethics. New Ideas in Psychology, v. 47, p. 57-61, 2017. Disponível em: <https://
doi.org/10.1016/j.newideapsych.2017.06.001>. Acesso em: 27/07/2020.

ASHLEY, P. A. (coord.). Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo:


Saraiva, 2002.

KANT, I. Groundwork of metaphysic of morals. Nova York: Harper Torchbooks,


1956.

KUNSCH, M. Gestão integrada da comunicação organizacional e os desafios da


sociedade contemporânea. Comunicação e Sociedade, n. 32, p. 71-88, 1999.
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