Você está na página 1de 108

MÓDULO 2

O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental


Segurança e Primeiros Socorros

Autores
Edner Brasil
Márcio Rocha Dias

Organizadoras
Marcela Pimenta Campos Coutinho
Patrícia Reis Pereira
MÓDULO 2
O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental
Segurança e Primeiros Socorros

Autores
Edner Brasil
Márcio Rocha Dias

Organizadoras
Marcela Pimenta Campos Coutinho
Patrícia Reis Pereira

Brasília/DF
outubro 2013
IABS – Instituto Ambiental Brasil Sustentável
Luis Tadeu Assad – Diretor Presidente
Eric Jorge Sawyer – Diretor Administrativo Financeiro

CECAV – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas


Jocy Brandão Cruz – Chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas

FUNBIO/TFCA
Rosa Lemos de Sá – Secretária Geral
Fabio Leite – Gestor da Unidade de Programas
Natália Prado Lopes Paz – Gerente do TFCA

EQUIPE TÉCNICA CECAV/ICMBIO


Cristiano Fernandes Ferreira - Analista Ambiental
Issamar Meguerditchian - Analista Ambiental
Lindalva Ferreira Cavalcanti - Analista Ambiental
Maristela Felix de Lima - Analista Ambiental

EQUIPE TÉCNICA INSTITUTO AMBIENTAL BRASIL SUSTENTÁVEL


Marcela Pimenta Campos Coutinho – Coordenadora Geral
Cibele do Carmo Santana Sawyer – Coordenação Administrativa/Financeira
Patrícia Reis Pereira – Responsável Técnica

responsável parceiro financiador

Curso de Capacitação para Guias e Condutores de Espeleoturismo – Módulo II / Edner


Brasil e Márcio Rocha Dias (autores) / Patrícia Reis Pereira e Marcela Pimenta Campos Coutinho
(orgs.). Instituto Ambiental Brasil Sustentável – IABS / Centro Nacional de Pesquisa e Conserva-
ção de Cavernas – CECAV / Tropical Forest Conservation Act - TFCA / Editora IABS, Brasília-DF,
Brasil - 2013.

104 p.

1. Noções em Condução Turística. 2.Segurança e Primeiros Socorros. I. Título. II. Instituto


Ambiental Brasil Sustentável – IABS. III. Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Caver-
nas – CECAV. IV. Tropical Forest Conservation Act - TFCA. V. Editora IABS.

CDU: 338.48
614.88
SUMÁRIO

1. MONITOR/CONDUTOR DE TURISMO DE AVENTURA E SUA ATUAÇÃO PROFISSIONAL.................. 9


1.1.Histórico e Conceitos Fundamentais para o entendimento do Turismo de Aventura no Brasil................................. 9
1.1.1. Organização Pública do Turismo Brasileiro............................................................................................... 9
1.2. Turismo de Aventura e Ecoturismo............................................................................................................... 10
1.2.1. Normalização do Segmento de turismo de aventura................................................................................ 13
1.2.2. Ecoturismo.......................................................................................................................................... 14
1.2.3. Turismo de aventura............................................................................................................................. 14
1.2.4. Movimentos Turísticos.......................................................................................................................... 14
1.2.5. Atividades de turismo de aventura......................................................................................................... 14
1.2.6. Sustentabilidade.................................................................................................................................. 15
1.2.7. Cidadania e seus princípios.................................................................................................................. 15
1.2.8. Resumindo......................................................................................................................................... 16
1.3. O condutor................................................................................................................................................ 16
1.3.1. Normalização e Regulamentação da Atuação do Condutor....................................................................... 16
1.3.2. Apresentação Pessoal e Postura Profissional (Ética Profissional).............................................................. 19
1.3.3. Competências: Conhecimento, Habilidades e Atitudes do Condutor........................................................... 20
1.4. Fases e Técnicas da Condução de Grupos em Áreas Naturais........................................................................ 20
1.4.1. Da preparação ao encerramento............................................................................................................ 20
1.5. O desenvolvimento da atividade e as competências comportamentais............................................................. 24
1.6. Comunicação e Habilidade Interpessoal....................................................................................................... 29
1.6.1. Percepção........................................................................................................................................... 29
1.6.2. Confiança........................................................................................................................................... 29
1.6.3. Empatia.............................................................................................................................................. 30
1.6.4. Saber Ouvir......................................................................................................................................... 30
1.6.5. Comunicação...................................................................................................................................... 30
1.6.6. Comunicação Verbal............................................................................................................................ 31
1.6.7. Comunicação não verbal...................................................................................................................... 31
1.7. Educação Ambiental e Atividades educativas na natureza.............................................................................. 32
1.7.1. A necessidade de conservar o meio e o surgimento da Educação Ambiental.............................................. 32
1.7.2. Interpretação Ambiental e Sensibilização................................................................................................ 33
1.7.3. Jogos Educativos e Atividades Lúdicas.................................................................................................. 35
1.8. Áreas Protegidas e a Prevenção do Impacto................................................................................................. 37
1.9. Noções básicas de orientação e navegação................................................................................................. 38
1.9.1. Mapas e Cartas................................................................................................................................... 38
1.9.2. Bússola.............................................................................................................................................. 42
1.9.3. Declinação Magnética.......................................................................................................................... 44
1.9.4. Navegação e Orientação....................................................................................................................... 46
1.10. Legislação para o conhecimento do condutor............................................................................................. 50
1.10.1. A Política Nacional de Turismo............................................................................................................ 50
1.10.2. Normas Técnicas de turismo de aventura e ecoturismo.......................................................................... 51
1.10.3. Relação e síntese das Normas Técnicas desenvolvidas.......................................................................... 52
1.10.4. Voluntariedade e Obrigatoriedade das Normas Técnicas......................................................................... 52
1.11. Responsabilidade Civil............................................................................................................................. 53
1.11.1. Atos ilícitos e responsabilidade civil..................................................................................................... 53
1.12. Responsabilidade Subjetiva...................................................................................................................... 54
1.13. Responsabilidade Objetiva........................................................................................................................ 54
1.14. Gestão de Riscos..................................................................................................................................... 55
1.15. Direito do consumidor.............................................................................................................................. 56
1.15.1. Princípios......................................................................................................................................... 56
1.15.2. Responsabilidade Civil Objetiva no Código de Defesa do Consumidor..................................................... 58
1.15.3. Direito de regresso............................................................................................................................. 58
1.15.4. Responsabilidade solidária................................................................................................................. 58
1.15.5. Excludentes de responsabilidade......................................................................................................... 58
1.15.6. Cláusulas abusivas............................................................................................................................ 58
1.16. Legislação Ambiental............................................................................................................................... 59
1.16.1. Constituição Federal de 1988............................................................................................................. 59
1.16.2. O Sistema de Unidades de Conservação............................................................................................... 60
1.16.3. Áreas de Preservação Permanente (APP)............................................................................................. 60
1.16.4. Instrumentos da política nacional........................................................................................................ 60
1.16.5. Lei de Crimes e Infrações Administrativas Ambientais............................................................................. 61
1.16.6. Legislação Ambiental para Consulta.................................................................................................... 62
1.17. Bibliografia............................................................................................................................................. 64

2. SEGURANÇA E PRIMEIROS SOCORROS........................................................................................................67


2.1. Introdução...................................................................................................................................................... 67
2.1.1. Objetivos do Curso de Brigadista................................................................................................................. 67
2.1.2. Objetivos da Parte Teórica.......................................................................................................................... 67
2.1.3. Aspectos legais......................................................................................................................................... 67
2.2. Grandes incêndios.......................................................................................................................................... 67
2.3. Temperatura................................................................................................................................................... 69
2.4. Propagação do fogo........................................................................................................................................ 70
2.4.1. Fases do fogo........................................................................................................................................... 70
2.5. Incêndios em líquidos inflamáveis.................................................................................................................... 72
2.5.1. Classes de incêndios................................................................................................................................. 73
2.5.2. Prevenção de Incêndios............................................................................................................................. 74
2.5.3. Medidas de Prevenção............................................................................................................................... 74
2.5.4. Métodos de extinção.................................................................................................................................. 75
2.5.5. Agentes Extintores..................................................................................................................................... 75
2.5.6. Sistemas Fixos.......................................................................................................................................... 78
2.5.7. Equipamentos de detecção, alarme e iluminação.......................................................................................... 78
2.5.8. Abandonos de área................................................................................................................................... 78
2.5.9. Pessoas com mobilidade reduzida.............................................................................................................. 79
2.5.10. Riscos específicos da planta..................................................................................................................... 79
2.5.11. Psicologias em emergências.................................................................................................................... 79
2.5.12. Fase pré-impacto.................................................................................................................................... 79
2.5.13. Fase do impacto..................................................................................................................................... 80
2.5.14. Fase do pós-impacto............................................................................................................................... 80
2.6. Sistema de Controle de Incidentes (sci)............................................................................................................. 80
2.6.1. Princípios ................................................................................................................................................ 80
2.6.2. Suporte básico de vida............................................................................................................................... 81
2.6.3. Regras Elementares para Emergência e Urgência.......................................................................................... 81
2.6.4. Biossegurança.......................................................................................................................................... 82
2.6.5. Avaliação Inicial da Vítima.......................................................................................................................... 83
2.6.6. Análise primária........................................................................................................................................ 83
2.6.7. Análise secundária:................................................................................................................................... 84
2.6.8. Intervenções............................................................................................................................................. 84
2.6.9. Parada Cardiorrespiratória.......................................................................................................................... 87
2.6.10. Reanimação Cardiopulmonar para todas as idades.................................................................................... 88
2.6.11. Métodos da Hemostasia........................................................................................................................... 92
2.7. Emergências clínicas....................................................................................................................................... 93
2.7.1. Tratamento de Fratura Fechada:.................................................................................................................. 94
2.7.2. Tratamento de Fratura Aberta:..................................................................................................................... 94
2.7.3. Tratamento de Queimaduras Térmicas......................................................................................................... 95
2.7.4. Tratamento de Queimaduras Químicas......................................................................................................... 95
2.7.5. Tratamento de Queimaduras Biológicas....................................................................................................... 96
2.7.6. Choque Elétrico......................................................................................................................................... 96
2.7.7. Envenenamento........................................................................................................................................ 96
2.7.8. Intoxicação por Monóxido de Carbono......................................................................................................... 97
2.7.9. Afogamento.............................................................................................................................................. 97
2.7.10. Picadas de Animais Peçonhentos.............................................................................................................. 97
2.8. Referências..................................................................................................................................................... 98
Apresentação

O projeto “Curso de Capacitação para paleontológicos, riquezas minerais e hídricas,


Guias e Condutores de Espeleoturismo” tem aspectos históricos, pré-históricos e culturais,
por objetivo capacitar condutores de espeleo- além da vasta diversidade de fauna e flora.
turismo do alto, médio e baixo São Francis- Considerando as ameaças (mineração,
co em temas relacionados ao meio ambiente, turismo, agricultura, ocupação urbana, obras
cultura, espeleologia, normas de segurança e de engenharia, vandalismo e outras práticas
gestão do turismo para assegurar experiências danosas) ao Patrimônio Espeleológico e o co-
sustentáveis e de alta qualidade nas visitas tu- nhecimento incipiente, o PAN Cavernas do São
rísticas em cavernas. Francisco identificou a necessidade de cons-
Serão realizados três cursos de capacita- cientização e capacitação dos monitores e con-
ção, no alto, médio e baixo São Francisco, em dutores espeleológicos acerca do tema.
três módulos totalizando 120 horas cada, para Como algumas cavernas inseridas nesta
até 30 guias/condutores de cada região. Serão região recebem um fluxo considerável de vi-
elaborados conteúdo e material didático apre- sitantes, esta iniciativa inédita busca levar aos
sentando conceitos básicos de meio ambiente profissionais que trabalham em cavernas a ca-
e turismo e temas relacionadas ao espeleotu- pacitação inicial necessária para melhoria da
rismo, para serem disponibilizadas nas aulas experiência turística.
teóricas e discutidas em visitas técnicas. Esta apostila é referente ao Módulo 2 -
A realização do curso de capacitação em Noções em Condução Turística / Segurança e
espeleoturismo é uma ação emergencial apon- Primeiros Socorros. Para o último dia de cur-
tada pelo Plano de Ação Nacional (PAN) Caver- so, está programada uma visita técnica com o
nas do São Francisco, em virtude do elevado seguinte foco: “Condução Turística na Prática”.
número de cavernas abertas à visitação e a Acreditamos que esta apostila também
baixa qualidade na experiência turística verifi- servirá para futuras consultas e, portanto,
cada nestas cavidades. buscamos ilustrar os conceitos apresentados e
A Bacia do São Francisco apresenta ex- enriquecê-la com o máximo de informações,
pressivas paisagens cársticas, numerosos pa- imagens e referências bibliográficas, tornando
redões e entradas de cavernas que favorecem -a um referencial e importante apoio ao guia e
a preservação de vestígios arqueológicos e condutor de espeleoturismo.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 7


1.MONITOR/CONDUTOR DE TURISMO DE
AVENTURA E SUA ATUAÇÃO PROFISSIONAL
AUTOR: EDNER BRASIL

1.1 Histórico e Conceitos Fundamen- pública para o planejamento e a gestão do tu-


tais para o entendimento do Turismo rismo brasileiro, assim como quais são as me-
de Aventura no Brasil tas e programas futuros – no caso do Plano
Nacional 2013-2016.
1.1.1 Organização Pública do Turismo Brasileiro

O turismo foi identificado como um dos


elementos propulsores para o desenvolvimen- Saiba Mais!
to socioeconômico brasileiro, ideia que ganhou
destaque na última década. A partir disso e Há muitas referências impor-
para organizar e colocar o turismo brasileiro tantes para os profissionais do tu-
em pauta no cenário político e social foram rismo – o que inclui você, condu-
desenvolvidos os Planos Nacionais de Turismo tor – na área de publicações do
para os períodos de 2003 a 2007, de 2007 a Ministério do Turismo para con-
2010 e de 2013 a 2016. Outra referência em sulta. Muitas delas são desdobra-
planejamento que merece destaque é o Do- mentos dos Planos Nacionais, ou
cumento Referencial Turismo no Brasil 2011- seja, são publicações que foram
2014. Tais documentos foram os principais ins- elaboradas a partir dos progra-
trumentos de planejamento e gestão pública mas e metas estabelecidos nestes
do turismo brasileiro nos últimos anos. Planos como, por exemplo, os ca-
E por falar em planejamento, desde o dernos de segmentação, cartilhas,
primeiro plano, desenvolvido para o perío- manuais e muitas outras.
do de 2003 a 2007, o uso sustentável está
Consulte:<http://www.turismo.gov.br/
em destaque. Logo nas mensagens iniciais
turismo/o_ministerio/publicacoes/>
de abertura do documento podemos obser-
var o reconhecimento “de que essa atividade
[o turismo] está destinada a constituir fator
decisivo para ampliação de oportunidades e Em termos de organização do turismo, os
para utilização sustentável de nossos recur- conceitos que vamos apresentar mais adiante
sos naturais e culturais...” (Ministério do Tu- neste capítulo têm toda relação com o resumo
rismo. 2003, p. 6). histórico que apresentaremos a seguir e, em
Os Planos Nacionais de Turismo compõem última análise são resultantes do processo de
os alicerces do desenvolvimento do turismo no segmentação1 do turismo. Sobre os métodos
Brasil e são documentos que nos ajudam en- e técnicas que aprenderemos neste módulo
tender melhor como se organizou a iniciativa do curso na temática de noções de condução

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 9


turística, podemos afirmar que muitos deles 1.2 Turismo de Aventura e Ecoturismo
têm suas origens em momento anterior a toda
organização do turismo, contudo houve gran- Como resultado de um planejamento que
de evolução técnica, principalmente no que diz começou antes mesmo da criação do atual
respeito a documentação e padronização de Ministério do Turismo, quando a Embratur –
referências técnicas, com grande contribuição na época Empresa Brasileira de Turismo e hoje
a partir do movimento de organização e seg- Instituto Brasileiro de Turismo – era responsá-
mentação do turismo brasileiro. vel pelo planejamento do turismo de maneira
Vale salientar que, antes da segmenta- geral, ocorreu em Caeté-MG, em abril de 2001,
ção do turismo brasileiro, este mercado – do uma oficina para o planejamento do turismo de
turismo – cresceu de maneira desordenada, aventura, denominada “Oficina para a Elabo-
sem grandes avanços no que diz respeito ao ração do Plano Nacional de Desenvolvimento
planejamento estruturado. Durante muitos Sustentável do turismo de aventura”. Este foi
anos houve mais investimentos na promoção o primeiro evento apontado como marco públi-
e comercialização e o resultado foi o excesso co para o planejamento do segmento em nível
de consumo, que teve seu apogeu entre as nacional. Nesta oficina, entre outras coisas, foi
décadas de 1980 e 1990, sendo denominado elaborado o primeiro conceito de turismo de
turismo em massa. aventura, o qual atualmente não é mais utili-
zado pelo Ministério do Turismo.

Importante!
Curiosidade!
O turismo em massa possui
características que seguem em
O primeiro conceito de turis-
sentido contrário do que hoje se
mo de aventura desenvolvido na
preconiza para no turismo: a sus-
Oficina em Caeté-MG foi: “Seg-
tentabilidade. Entre estas carac-
mento de mercado turístico que
terísticas podemos citar:
promove a prática de atividades
de aventura e esporte recrea-
• Super utilização das áreas na-
cional, em ambientes naturais e
turais, principais atrativos pro-
espaços urbanos ao ar livre, que
curados pelos turistas;
envolvem riscos controlados, exi-
• Condições deficitárias para re- gindo o uso de técnicas e equi-
ceber os turistas. As redes de pamentos específicos, adoção de
tratamento de esgoto e abas- procedimentos para garantir a
tecimento de água passaram a segurança pessoal e de terceiros
não atender ao número de pes- e o respeito ao patrimônio am-
soas nas localidades; biental e sociocultural”.(Ministé-
rio do Turismo, 2005. p. 9)
• Crescimento desordenado das
cidades para suprir as necessi-
dades dos turistas, gerando es-
peculação imobiliária e urbani- Percebe-se que o conceito remete à prática
zação fora dos padrões. de atividade de aventura e de esporte recrea-
cional, o que possibilita ampla margem de inter-
pretação. Esta primeira tentativa de conceituar

1 De maneira bem simplificada podemos afirmar que a segmentação é a divisão do turismo por tipologia como, por exem-
plo, ecoturismo, turismo de aventura, turismo esportivo, turismo rural etc.

10 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


o turismo de aventura acabou englobando em no imaginário destas pessoas, apesar das dis-
um mesmo conjunto ideais e práticas que hoje tintas motivações.
temos mais clareza em afirmar que são ra- Hoje, em termos práticos, existe uma ga­
mos distintos – turismo e esporte de aventu- ma muito grande de atividades e esportes de
ra. Mas se tratando de atividade de aventura2 aventura que formam a base para o surgimen-
é compreensível que certa confusão tenha sur- to de práticas adaptadas, oferecidas como pro-
gido naquele momento – e que, em partes, dutos de turismo de aventura. Atualmente há
perdura até hoje –, em vista da dificuldade que maior clareza para determinar o que é turismo
há de se determinar com precisão uma origem e o que é esporte, apesar das sobreposições
no tempo. É possível perceber, ao analisar o que ocorrem.
histórico do desenvolvimento de algumas ati- Vale destacar que os participantes da ofi-
vidades, que a motivação para realizar uma cina realizada em Caeté-MG fizeram uma dis-
aventura variou ao longo de seu desenvolvi- tinção entre os praticantes e, do ponto de vista
mento, o que contribuiu em tornar a tarefa de da demanda, identificaram dois grupos princi-
conceituar mais difícil. pais: aqueles que buscam o meio natural para
Por exemplo, se considerarmos o monta- a prática de “atividades de aventura” de forma
nhismo, as primeiras atividades de aventura no voluntária, tais como os intrépidos explorado-
Brasil datam de meados do século XIX, com in- res que escalam montanhas – que podemos
cursões tais como a primeira subida ao planal- denominar como praticantes autônomos – e;
to do Itatiaia (1856), no Atual Parque Nacional as pessoas que buscam simplesmente emo-
do Itatiaia, a subida de cumes como o Monte ções e desafios, em atividades cujos riscos são
Olimpo (1879), ponto mais alto do atual Par- controlados, propiciando, assim, uma forma de
que Estadual Pico do Marumbi. Existem relatos lazer – neste caso, apesar de alguns realizarem
de ascensões anteriores à do Monte Olimpo, as atividades com certa assiduidade não prati-
entretanto entre as primeiras ascensões é difí- cam de forma autônoma3.
cil apontar com precisão a motivação das pes- Após a transformação da Embratur em
soas que realizaram tais feitos. O que podemos Instituto Brasileiro de Turismo, em 28 de mar-
considerar é que em um primeiro momento as ço de 1991 e a criação de um ministério para
incursões foram motivadas pela conquista de tratar somente da pauta do turismo em 2003,
território. Somente depois de algum tempo elas o Ministério do Turismo passou a estabelecer
foram realizadas pelo simples prazer de conhe- e implementar políticas públicas enquanto a
cer lugares pouco ou nunca visitados, não obs- Embratur concentrou seus objetivos na pro-
tante prevaleça certo sentido de conquista, que moção e no apoio à comercialização turística.
vem perdendo força frente a novas ideias de O governo federal editou um documento nor-
superação de desafio e autoconhecimento que mativo, estabelecendo os marcos conceituais
a visita a tais sítios proporciona. para os diversos segmentos turísticos e a de-
Independentemente de apontarmos com finição de turismo de aventura foi atualizada,
precisão o momento em que surgiram as ati- passando a ser a seguinte: “turismo de aven-
vidades de aventura no Brasil, fica claro que as tura compreende os movimentos turísticos de-
motivações para realizá-las variaram bastante correntes da prática de atividades de aventu-
ao longo do seu desenvolvimento. No caso das ra de caráter recreativo e não competitivo.”
cavernas, por exemplo, a motivação religio- (ABETA; Ministério do Turismo, 2009, p. 30).
sa move fiéis a visitar tais ambientes desde A origem da prática de atividades do turis-
a última década do século XVII e ainda assim mo de aventura não pode ser percebida co­mo
certamente há um senso de aventura presente um fato isolado, primeiro porque tais atividades

2 Empresa de desfecho incerto, que incorre em risco, em perigo.


3 Autônomo no texto se refere à ideia de que o praticante quando realiza de maneira autônoma, está praticando uma
atividade de aventura no contexto esportivo, sem necessariamente ter uma empresa provendo serviços seja segurança,
logística ou qualquer serviço relacionado à atividade fim.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 11


Figura 1

podem ter a conotação da prática esportiva – do poder aquisitivo, bem como da busca do
algumas com histórico secular –, por outro lado, homem moderno pelo reencontro com a na-
no contexto do turismo as atividades tiveram tureza, entre outros fatores. Tal crescimento
sua gênese nas práticas esportivas e evoluíram torna-se mais claro a cada dia e vem ajudando
paralelamente a partir de então. a aumentar a consciência sobre as boas práti-
Para comprovar esse aspecto, basta citar cas para o desenvolvimento sustentável, ain-
alguns trechos do diagnóstico realizado para o da que as atividades de ecoturismo e turismo
segmento, que indica que “as primeiras ativida- de aventura não ocorram conforme estas me-
des de prestação de serviço na área de turismo lhores práticas. Na verdade isso ocorrerá na
de aventura ocorreram entre os anos de 1975 medida em que os segmentos se assentarem
e 1986” (ABETA; Ministério do Turismo, 2009, sobre uma base planejada, cuja solidez depen-
p. 41). Esse diagnóstico destaca também que, de da gestão sistemática de alguns princípios
nas décadas iniciais, “eram poucos aqueles que sustentadores: ambiental, econômico, socio-
se dedicavam profissionalmente ao turismo de cultural e político-institucional.
aventura – uma minoria – e foi na década de De forma abrangente, o turismo de aven-
1990, mais precisamente após o governo Col- tura no Brasil evoluiu pelo mesmo caminho
lor, que o número de pessoas atuando no setor do Turismo de Natureza (Ministério do Turis-
de fato aumentou” (Ibidem, p. 43). mo, 2005), que também tem interface com
Após os anos de 1990, diversas iniciativas o ecoturismo, sendo mais expressivo a cada
surgiram impulsionadas pelo crescente inte- ano. Pode-se observar, em diversas referên-
resse pela conservação do patrimônio natural. cias, que o termo “ecoturismo” é utilizado pela
A necessidade de planejar os diversos segmen- indústria do turismo, na atualidade, muitas
tos do turismo com foco na sustentabilidade, vezes de forma oportuna. Sem planejamen-
em face da crescente degradação do meio am- to nem base técnica, o sufixo “eco” aparece
biente – causada pelas diversas formas de usos mais “decorativamente” do que em respeito
(e abusos) dos recursos naturais e culturais –, a seu significado verdadeiro. Afinal, ecoturis-
tornou-se latente. Podemos depreender que mo expressa ou deveria ser uma “(...) viagem
parte dos consumidores que configuravam o responsável a áreas naturais, com o fim de
turismo em massa passou então a demostrar conservar o meio ambiente e promover o bem
certa preocupação com o ambiente e cultura, o -estar da comunidade local” (BLANGY e WOOD
que se refletiu em mudanças de hábitos. apud LINDBERG e HAWKINS, 1995).
Podemos notar desde então que o cresci- De qualquer maneira, o “ecoturismo” re-
mento do setor de turismo – principalmente presenta uma grande fatia do segmento do tu-
o turismo de aventura e o ecoturismo – vem rismo e requer uma observação atenta a suas
se configurando como uma das consequências práticas para que possamos tirar melhores con-
do aumento do tempo de lazer, da elevação clusões. Se observarmos que esse segmento

12 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


do turismo teve um crescimento significativo As Normas Técnicas deram grande contri-
conjugando uma mudança no comportamento buição para a profissionalização da operação
frente ao meio natural, às comunidades e à do turismo de aventura no Brasil, criando um
cultura local mais integrado, respeitoso e res- ambiente propício para a sua inserção no mer-
ponsável, concluiremos que não se trata de cado internacional. Dentre diversas normas já
uma manifestação qualquer. publicadas, algumas têm caráter transversal,
No tocante à regulamentação do turismo ou seja, são a base para o desenvolvimento
de aventura e ecoturismo no Brasil, a partir da de qualquer atividade do turismo de aventura.
oficina realizada em 2001, que envolveu tan- São elas:
to praticantes de atividades de aventura e es-
portistas, quanto empresários do segmento – e GG
ABNT NBR 15285 – turismo de aventura
posteriormente com a criação do Ministério do – Condutores – Competência de Pessoal
Turismo – sucederam diversas iniciativas para
organização do segmento. O Projeto de Norma- GG
ABNT NBR 15286 – turismo de aventu-
lização e Certificação em turismo de aventura ra – Informações Mínimas Preliminares a
e o Programa Aventura Segura são exemplos. Clientes

1.2.1 A Normalização do Segmento de turismo de GG


ABNT NBR 15331 – turismo de aven-
aventura tura – Sistema de Gestão de Segurança
– Requisitos
Seguindo as tendências internacionais,
em que o desenvolvimento de normas técnicas GG
ABNT NBR 15500 – turismo de aventura
tem sido utilizado como ferramenta de organi- – Terminologia
zação e desenvolvimento econômico e social,
o Ministério do Turismo criou o Projeto de Nor- É importante destacar que a normalização
malização em turismo de aventura. Executado tem como fundamento a criação ou fortaleci-
entre dezembro de 2003 e maio de 2007, por mento e melhoria de padrões existentes, que
iniciativa do Ministério do Turismo, o projeto visam dar resposta a determinados proble-
teve como entidade executora o Instituto de mas, a fim de obter um ótimo grau de orde-
Hospitalidade (IH) e, como parceira, a Asso- nação naquele contexto. Seja na indústria, no
ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), comércio ou no setor de serviços, a normali-
que é o Fórum Nacional de Normalização. zação em si não tem força de regulamentação
Transcrevendo, compilando e aprimo- legal, ou seja, as normas técnicas fornecem
rando o conhecimento técnico que até então um padrão a ser adotado voluntariamente.
contava com poucas referências escritas em Já a regulamentação geralmente se dá pela
língua portuguesa, criou-se o acervo técnico intervenção implementada pelo Estado, seja
constituído pelas Normas Técnicas Brasileiras por meio de um decreto, lei ou outro diploma
(NBRs), que deu base para a elaboração de legal que poderá exigir o uso de uma determi-
diversas referências, incluindo esta apostila. nada norma técnica ou estabelecer padrões
O objetivo da normalização em turismo de legais a serem seguidos.
aventura foi estabelecer um sistema de nor- É fundamental que você, condutor, este­ja
mas técnicas que possibilitasse o desenvolvi- bem informado sobre o assunto. Oportuna­
mento desse segmento com qualidade e segu- mente, faremos referência a tais normas ao
rança. As normas foram criadas no âmbito do longo do conteúdo desta apostila. Basicamente
Comitê Brasileiro do Turismo – ABNT/CB 54, as Normas Técnicas para o turismo de aventura
com ampla participação de todos os interessa- compõem um sistema cuja espinha dorsal é o
dos, incluindo empresas, organizações, profis- sistema de gestão da segurança, apoiado por
sionais, consumidores, institutos de pesquisa normas específicas para algumas atividades,
e universidades, além do governo. tais como as de requisitos de competência,

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 13


requisitos operacionais para produtos, procedi- de atividades de aventura de caráter recreati-
mentos, aspectos construtivos; e algumas nor- vo e não competitivo.” (Ministério do Turismo,
mas transversais como já mencionamos. 2006, p. 14).
Aparentemente uma ideia simples engloba
algumas ideias que precisam ser destacadas:
Para saber mais: “atividades de aventura”, “movimentos turísti-
cos” e “caráter recreativo e não competitivo”.
Dois livros de grande importân- Apesar da simplicidade é preciso compreender
cia para entender sobre a regulamen- alguns detalhes dos termos utilizados, pois se
tação, normalização e certificação do não forem esclarecidos podem levar à confu-
turismo de aventura no Brasil são: são com outros segmentos como, por exem-
plo, o de turismo esportivo ou, então, a con-
 Regulamentação, normalização e fusão com as práticas esportivas de aventura.
certificação em turismo de aven- Vejamos as definições que seguem.
tura. Relatório Diagnóstico. Brasí-
lia: Ministério do Turismo, 2005. 1.2.4 Movimentos Turísticos

 Diagnóstico do turismo de aven- Os movimentos turísticos são aquelas ati-


tura no Brasil. Belo Horizonte: Mi­ vidades que efetivam as atividades conside-
nistério do Turismo/ABETA, 2009. radas turísticas, tais como os deslocamento
e estadias. No caso do turismo de aventura,
envolvem a oferta de serviços que podemos
1.2.2 Ecoturismo chamar de tradicionais como, por exemplo:
hospedagem, alimentação, transporte; e as
É “um segmento da atividade turística que atividades próprias do turismo de aventura,
utiliza, de forma sustentável, o patrimônio na­ que geralmente são passeios que envolvem a
tural e cultural, incentiva sua conservação e recreação com controle de riscos, conforme se
busca a formação de uma consciência ambien­ observa a seguir.
talista através da interpretação do ambiente,
promovendo o bem estar das populações envol- 1.2.5 Atividades de turismo de aventura
vidas.” (Ministério do Turismo. 2010, p. 17).
A definição elaborada no processo de Nor-
Ao analisarmos o conceito de ecoturismo,
malização para o turismo de aventura no Brasil,
verificamos que há alguns pressupostos que de-
conforme consta da Norma ABNT NBR 15500
vem ser considerados em toda prática ou ativi-
– turismo de aventura – Terminologia é: “Ativi-
dade que venha a ser caracterizada como eco-
dades oferecidas comercialmente, usualmen-
turismo. Primeiro temos a necessidade de pro-
te adaptadas das atividades de aventura, que
porcionar interação do homem com o meio por
tenham ao mesmo tempo o caráter recreati-
meio da vivência do turista com o ecossistema,
vo e envolvam riscos avaliados, controlados e
com os costumes e a com história local fazendo
assumidos”.
uso da interpretação ambiental. A partir desta
Na definição dada pela ABNT NBR 15500
interação, pressupõe-se que ocorra o uso sus-
há ainda 3 notas que ajudam a esclarecer a
tentável do patrimônio natural e cultural, o que
definição: NOTA 1 - “Riscos assumidos” signi-
incentiva a conservação destes patrimônios.
fica que ambas as partes têm uma noção dos
riscos envolvidos. NOTA 2 - As atividades de
1.2.3 Turismo de aventura
turismo de aventura podem ser conduzidas em
ambientes naturais, rurais ou urbanos. NOTA
Como mencionado anteriormente, o con-
3 - As atividades de aventura frequentemente
ceito “turismo de aventura compreende os
têm como uma das suas origens os esportes
movimentos turísticos decorrentes da prática
na natureza.

14 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Assim, a aventura remete à incerteza, Turismo x Esportes
àquilo que há por vir. É oferecida comercial-
mente a partir da adaptação de atividades que Existem diversas formas de turismo de
têm como uma de suas origens os esportes aventura e boa parte delas tem como origem
na natureza. Requer que sejam identificados, os esportes praticados na natureza, como a
comunicados e gerenciados os riscos inerentes escalada, o ciclismo, a canoagem, o mergu-
da prática. Também é importante mencionar lho, entre outros. A adaptação de atividades
que as atividades de aventura envolvem, além desses esportes são combinadas com as ativi-
das experiências físicas, as experiências sen- dades que efetivam o turismo (hospedagem,
soriais relacionadas ao desafio, proporcionan- gastronomia etc.) para a criação de um roteiro
do sensações diversas, tais como liberdade, de turismo de aventura.
prazer, divertimento e superação, dependendo
da expectativa do turista e das dificuldades da 1.2.6 Sustentabilidade
atividade.
Veremos em outros módulos as questões A prática, tanto do ecoturismo quanto do
específicas sobre a gestão do risco, incluindo turismo de aventura, requer uma integração
as implicações legais relacionadas à segurança equilibrada entre o homem, o meio – tanto o
nas atividades de aventura. social quanto o meio ambiente – e as ativida-
des que são desenvolvidas durante o percurso.
Essa integração equilibrada promove a susten-
Patrícia Reis Pereira

tabilidade, mas para isso é preciso respeitar


alguns princípios básicos. Em primeiro lugar é
importante entender o que são os princípios e
de onde vêm.

1.2.7 Cidadania e seus princípios

Alguns princípios orientam o turismo de


maneira geral e estão relacionados com a nos-
sa atuação em sua perspectiva mais básica,
pois sua aplicação depende do nosso compor-
tamento e da nossa visão de cidadania.
Para pensar, deixamos aqui a visão sobre
o que é ser cidadão para que você, condutor,
observe como sua postura pode influenciar o
alcance dos objetivos do turismo de aventura
e do ecoturismo. Em resumo, em sua acepção
plena, cidadão é um indivíduo que, a partir da
consciência de seus direitos e deveres, parti-
cipa ativamente das diversas esferas da vida
da sociedade. Assim sendo, ser cidadão sig-
nifica assumir-se como sujeito de direitos e
deveres, o que implica participar dos grandes
problemas, não só de sua cidade como de toda
a sociedade.
No que se refere ao turismo de aventura e
ao ecoturismo, o princípio de sustentabilidade
leva a uma série de condutas adequadas à vi-
são de cidadania de que estamos falando. Veja
Figura 2 aqui uma breve lista:

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 15


Conservar o ambiente, sem causar danos 1.3 O condutor
irreversíveis, inaceitáveis ou desnecessários à
natureza; 1.3.1 Normalização e Regulamentação da Atuação
Desenvolver a região, trazendo benefí- do Condutor
cios eco­­­­nômicos e culturais para as comuni-
dades locais; Vale destacar que não existe uma lei que
Respeitar o código de conduta ética esta- regulamenta a profissão de condutor, também
belecido pela Organização Mundial do Turismo denominado por monitor ambiental4. Atual-
(OMT), bem como a conduta desejável esta- mente, existe uma exigência legal em relação
belecida em códigos de associações como a à contratação de condutores, exigência esta
dos esportes, de turismo de aventura e eco- que se deu com a publicação, no final de 2010,
turismo que ocorrem concomitantemente nas do Decreto nº 7.381/2010, que regulamenta a
áreas em que atividades acontecem; da Lei Geral do Turismo (Lei nº 11.771 de
Respeitar as normas de segurança e as 2008). Por força do art. 34, inciso I, do Decreto
boas práticas consagradas; as agências de turismo, que comercializam tu-
Respeitar as comunidades locais e buscar rismo de aventura, devem: “dispor de condu-
interagir de maneira a não interferir ou julgar tores de turismo conforme normas técnicas ofi-
seus hábitos e costumes; ciais, dotados de conhecimentos necessários,
Utilizar equipamentos de qualidade e pes- com o intuito de proporcionar segurança e con-
soas capacitadas para a condução e orientação forto aos clientes”.
dos clientes. Pode-se considerar que já existisse algu-
Assim, o condutor precisa antes de tudo ma iniciativa de regulamentação relativa aos
compreender tais conceitos e incorporar os condutores e monitores em âmbito municipal
va­lores que são a parte fundamental, são os ou estadual, anterior à legislação federal,. Um
pressupostos que dão uma base sólida para o exemplo é o caso da Resolução da Secretaria de
desenvolvimento do turismo de aventura. Ve- Meio Ambiente de São Paulo – SMA/SP 32/98,
remos isso em mais detalhes no item 1.2.2 de 31 de março de 1998 –, que regulamenta o
Apre­­sentação Pessoal e Postura profissional credenciamento de monitores ambientais para
(Éti­­ca Profissional). o ecoturismo e educação ambiental nas unida-
des de conservação do Estado de São Paulo.
1.2.8 Resumindo Por outro lado, como mencionado ante-
riormente, o processo de normalização do tu-
O ecoturismo e o turismo de aventura são rismo de aventura ocorreu paralelamente a
excelentes oportunidades para aproximar as qualquer iniciativa de regulamentação legal.
pessoas do meio ambiente, mas para que Entre as normas técnicas vale destacar uma
essa inte­­gração aconteça de forma saudável, que diz respeito especificamente à atuação do
divertida, segura e enriquecedora, é necessá- condutor, de espeleoturismo de aventura:
rio que se­jam observados alguns princípios e ABNT NBR 15399 - Turismo de aventura
boas práticas. – Condutores de espeleoturismo de aventura
Neste tópico apresentamos os concei- – Competências de pessoal
tos­básicos e um pouco do desenvolvimento Essa norma estabelece os requisitos de
e organização dos segmentos de turismo de competência mínima – conhecimento, habili-
aventura e ecoturismo. O condutor deve ser dade e atitude – que são a base para os con-
um facilitador da relação entre turista e o meio dutores atenderem a uma série de “resultados
cultural e ambiental que se visita e para obter esperados” para o que uma atividade de es-
sucesso nessa “missão”, deve procurar conhe- peleoturismo seja bem-sucedida. Temos uma
cer as expectativas dos seus clientes, ajudan- definição breve das ações que caracterizam o
do-as a concretizá-las. papel do condutor que é, segundo a ABNT NBR

4 Geralmente associada às atividades de ecoturismo quando ocorrem em Unidades de Conservação.

16 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


15399 (2006): “...o profissional que recepcio- – atualmente a exigência de cadastro passou
na, orienta, prepara e conduz o cliente de for- a ser do Ministério do Turismo por meio do Ca-
ma segura nas atividades de espeleoturismo de dastur5. Para que possam se cadastrar é neces-
aventura”. Entretanto para que a competência sário ter se formado em um “Curso de Forma-
do condutor de espeleoturismo esteja de acor- ção Profissional de Guia de Turismo” e também
do com os requisitos desta norma, ele deve que o curso seja classificado como de profissio-
também ter as competências “transversais” ou nal de nível técnico, “cujo plano de curso tenha
mínimas para qualquer condutor, independen- sido previamente aprovado pelo órgão próprio
temente da atividade que conduz e que estão do respectivo Sistema de Ensino, inserido no
estabelecidas na: Cadastro Nacional de cursos de Nível Técnico
ABNT NBR 15285 - Turismo de aventu- administrado pelo MEC, e apreciado pela EM-
ra – Condutores – Competências de pessoal. BRATUR”, conforme texto da Deliberação Nor-
Recepcionar, orientar, preparar e conduzir mativa nº 426, de 04 de outubro de 2001.
são as ações básicas que compõem o dia a dia Estas são apenas questões legais e buro-
do condutor, pelas quais o condutor é responsá- cráticas que diferenciam o guia do condutor.
vel. Vale destacar que tais ações já eram atri- Em termos legais, de acordo com a Lei Ge-
buídas, parcialmente, a outro profissional, o guia ral do Turismo: as excursões e passeios são
de turismo, com sua profissão definida em Lei serviços turísticos que podem ser fornecidos
desde janeiro de 1993 (Lei nº 8.623/1993) e re- por uma agência, e por força de lei anterior
gulamentada pelo Decreto nº 946, de 1º de ou- (Lei nº 8.623/1993) as agências seriam obri-
tubro de 1993, tem como principais atribuições: gadas a contratar guias de acordo com suas
acompanhar, orientar e transmitir informações. especialidades.
A profissão de guia têm classes distintas Os condutores de turismo de aventura têm
determinadas pelo decreto de regulamentação. uma atuação mais específica, pois para condu-
No decreto fica claro que as atribuições depen- zir, preparar e informar os turistas é necessá-
dem da abrangência geográfica da atuação do ria competência técnica específica da modali-
guia (regional, nacional e internacional) ou da dade que vai conduzir como o caso do espeleo-
especialização em atrativos turístico. Esta última turismo, do rafting, entre outras. Muitas vezes
classe, apesar de manter o critério geográfico – na prática um condutor de turismo de aven-
pois ainda delimita que a especialização é válida tura pode ser reconhecido como condutor de
na unidade de federação em que o guia se for- ecoturismo e também monitor ambiental, mas
mou –, coloca a atribuição do guia em transmi- não há legislação específica que regulamente
tir informações como sendo “técnico-especiali- a profissão e deste modo, os termos usados
zadas sobre determinado tipo de atrativo natural para denominar um condutor são meramente
ou cultura” (Lei nº 8.623/1993). variações que remetem a uma mesma ques-
Nestes termos, é possível perceber certa tão: a necessidade de competência específica.
sobreposição relacionada com as atribuições Há também um aspecto relacionado com o
dos guias de turismo e condutores; no en- fato de os condutores geralmente serem pes-
tanto, é necessário esclarecer que existe soas que moram próximo ao atrativo ou lo-
uma diferença entre esses dois “atores” que cal a ser visitado. Muitas vezes fazem parte
inclui e vai além das questões de regulação da comunidade local, o que os relaciona com
ou de normalização. o ecoturismo pelo fato de geração de renda
Os guias podem exercer sua profissão des- ser atribuída como fator de aumento do “bem
de que devidamente cadastrados na Embratur -estar das populações envolvidas”. Assim a

5 Até 2002, o cadastro oficial dos prestadores de serviços turísticos era de responsabilidade do Instituto Brasileiro de Tu-
rismo (EMBRATUR), por meio do Sistema Automático de Gerenciamento dos Prestadores de Serviços Turísticos (SAGET).
A partir de 2003, essa responsabilidade foi transferida ao Ministério do Turismo (MTUR) e, em 2006, para promover
o ordenamento, a formalização e a legalização dos prestadores de serviços turísticos, foi implantado o CADASTUR, o
sistema de cadastro oficial dos empreendimentos, equipamentos e profissionais do setor de turismo no Brasil.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 17


contratação de condutores, que muitas vezes quando detalhamos características específi-
recebem a denominação de condutor local, é cas, tanto das atribuições, quanto os outros
prática das agências no sentido de contribuir pontos mencionados, ficam claras as diferen-
com este “bem-estar”. ças. Percebe-se que a atuação do condutor re-
Outro ponto que contribuiu para a pers- quer um nível de competência bastante espe-
pectiva de sobreposição nas atribuições entre cífico, que geralmente o guia de turismo não
guias e condutores está relacionado com o fato possui. Mas, por outro lado, é evidente que um
de que as atividades de turismo de aventura guia formado em um curso profissionalizante
são realizadas, em sua maioria, em ambientes e devidamente cadastrado pode, também, ad-
e atrativos naturais. Por exemplo, as cavernas quirir ou possuir as competências específicas
são o ambiente para a prática de espeleotu- de um condutor e vice-versa.
rismo. Muitas vezes esta característica se so- Para concluir, vale ressaltar que a atuação
bressai sobre as demais, visto que a classe de do condutor geralmente está associada a um
guia especializado em atrativo turístico abran- agente, ou seja, uma personalidade jurídica –
ge atrativos naturais. empresa, cooperativa, associação etc. – que
Contudo, a formação do guia especializa- operacionaliza a atividade em si. Assim, se o
do, por vezes é generalizada no que diz respei- condutor for um empresário e tiver personali-
to aos atrativos tanto naturais quanto cultu- dade jurídica, ele mesmo poderá ser o agente.
rais; em outros casos, quando é mais específi- Segundo o que se lê no decreto de regula-
ca, esta especificidade se limita a dotar o guia mentação da Lei Geral do Turismo, conforme
de informações sobre o atrativo, o que não mencionamos anteriormente o inciso I do Art.
o torna competente para conduzir uma ativi- 34, a atuação do condutor, legalmente, está
dade específica naquele ambiente/atrativo. Já atrelada às agências de turismo.
os condutores têm formação na atividade em A agência de turismo é quem legalmente
si, o que engloba possuir informações espe- comercializa de outros fornecedores ou forne-
cíficas não só da atividade, mas também do ce diretamente aos clientes os passeios turís-
ambiente em que a atividade será realizada, ticos – que incluem as atividades de turismo
a depender da atividade de aventura. Confor- de aventura. Na prática vemos que, o agente,
me a atividade, a formação do condutor está pode ter diversas denominações em função de
associada à sua experiência prática na aven- suas especificidades, tais como: operadores e
tura, o que acontece, muitas vezes, por se- receptivos turísticos, atrativos turísticos orga-
rem eles praticantes no contexto esportivo, ou nizados, meios de hospedagem, cooperativas
seja, são praticantes autônomos que, a partir de condutores e guias.
de determinada experiência, começam a atuar Independentemente das denominações,
como condutores. Em termos de formação, tal uma das interpretações que se pode fazer é
como os cursos de guia, não existia no Bra- que qualquer agente que se caracterize con-
sil, no âmbito do turismo, cursos específicos forme o art. 27 da Lei Geral do Turismo será
para os condutores de turismo de aventura6. entendido como agência de turismo. Vejamos:
Foi a partir da publicação das normas e com “Compreende-se por agência de turismo a pes-
investimentos em qualificação iniciados com o soa jurídica que exerce a atividade econômica
Programa Aventura Segura, que surgiram os de intermediação remunerada entre fornece-
primeiros cursos de condutores baseados nas dores e consumidores de serviços turísticos ou
normas técnicas. os fornece diretamente”.
Portanto, ao passo que as atribuições em No parágrafo primeiro determina-se o que
um primeiro momento parecem sobrepostas, são os serviços turísticos: “São considerados

6 A formação por meio de cursos e outras iniciativas já existia no âmbito esportivo das diversas modalidades. Geralmen-
te tais cursos são executados por clubes e associações esportivas ligadas a uma estrutura federativa própria e que no
geral tem o objetivo de formar praticantes, o que não necessariamente dá formação para o indivíduo conduzir outras
pessoas e grupos.

18 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


serviços de operação de viagens, excursões e aventura e de ecoturismo. Podemos relacionar
passeios turísticos, a organização, contratação as seguintes premissas:
e execução de programas, roteiros, itinerários,
bem como recepção, transferência e a assis- GG
respeitar e cumprir a legislação, o que in-
tência ao turista”. Desta forma consideraremos clui as normas locais, o código de conduta
ao longo desta apostila estas duas possibili- e as boas práticas de sua profissão;
dades: o condutor ao mesmo tempo em que
é condutor pode ser a agência de turismo, no GG
respeitar o meio cultural, o que inclui res-
caso de ele ter personalidade jurídica ou; é peitar a comunidade local, outros grupos
contratado por uma agência de turismo, qual- que frequentam o mesmo local de sua
quer que seja a denominação dada ao negócio atuação, sejam eles conduzidos por agên-
que efetiva o fornecimento do serviço turístico. cias de turismo ou praticantes autônomos;

1.3.2 Apresentação Pessoal e Postura Profissional GG


prevenir prejuízos ambientais e sociais
(Ética Profissional) decorrentes das atividades, o que inclui
atender a legislação ambiental e regras
Dado este primeiro passo na abordagem específicas dos locais visitados como os
da atuação do condutor em função das ques- planos de manejo e programas de uso pú-
tões legais e das características mais genera- blico das unidades de conservação, sejam
lizadas desta atuação, veremos que, para en- elas públicas ou privadas;
tender o papel do condutor a partir dos concei-
tos explorados inicialmente, será necessário GG
interpretar o meio e educar o cliente, o que
aprofundar alguns elementos. É importante inclui sensibilizar e orientar o grupo sobre
reforçar que a prática do ecoturismo e do tu- a importância da conservação do meio am-
rismo de aventura será viável com planeja- biente e o respeito às comunidades locais;
mento e monitoramento adequados, de acor-
do com as necessidades de conservação do GG
prestar atendimento e serviços de quali-
meio ambiente, do turismo sustentável. dade, o que inclui preparar a atividade,
A atuação de condutores é indispensável, saber quais são as expectativas do cliente,
justamente para atender e monitorar tais ques- orientar o grupo de modo adequado em
tões, assim como para fazer parte do planeja- cada uma das etapas e situações do tra-
mento das atividades. A conduta pessoal deve balho, relacionando-se de forma saudável
ser um exemplo àqueles que serão conduzidos, com todos;
de maneira a propiciar uma interação saudá-
vel com o meio ambiente e sociocultural. Como GG
assegurar o bem-estar e a segurança fí-
mencionado anteriormente, o condutor deve sica e emocional do cliente, o que inclui
ser um facilitador. Mais do que isso, ele será o gerenciamento de riscos estabelecendo
efetivamente o elo entre o patrimônio natural e planos de prevenção. O condutor é parte
cultural de sua região e o turista. É preciso que envolvida no processo de gerenciamento
o condutor tenha consciência da importância do de crise uma vez que ocorra um aciden-
seu trabalho e de como sua postura poderá in- te; assim é preciso que saiba estabelecer
fluenciar positivamente a experiência do grupo planos de ação em caso de emergências.
e a experiência individual das pessoas que ele
conduz. Ele é um dos elementos fundamentais Linguagem, forma de tratamento e rela-
para uma mudança de atitude do turista, em cionamento com os clientes, o que inclui saber
relação ao ambiente que está sendo visitado. se portar, tanto na comunicação verbal, quan-
Assim, vamos assumir algumas premis- to não verbal. Isso quer dizer evitar uma co-
sas que compõem os valores para uma con- municação carregada de gírias e com conteú-
duta ética por parte do condutor de turismo de do malicioso, mas não quer dizer que precisa

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 19


exacerbar o tratamento formal. O condutor bagagem sociocultural, como senso de
deve ser cortês, atencioso e gentil, mas deve justiça, prudência, coragem etc.
evitar intimidades ou relacionamentos exclusi-
vos com os clientes durante as atividades. Deve Já vimos que nossa atuação está totalmente
saber gerenciar situações constrangedoras. relacionada com nossa conduta, ou seja, o sa-
Considerando estas premissas, o condutor ber ser. Quando associamos estes três saberes
terá uma base sólida para seguir desenvolven- de maneira equilibrada, buscando sempre nos
do suas competências e sua atuação será ba- aprimorar, adquirindo novos conhecimentos,
lizada pela ética. treinando nossas habilidades e atentos à nossa
conduta, teremos o resultado da equação que
1.3.3 Competências: Conhecimento, Habilidades e dará o tom entre um ótimo condutor, um condu-
Atitudes do Condutor tor mediano, ou um péssimo condutor. À medida
que o condutor aprimora os saberes, ele vai con-
A competência do condutor, conforme quistando excelência no serviço prestado, tor-
conceito estabelecido na Norma ABNT NBR nando-se um condutor de grande competência.
15285, está ligada à sua capacidade de mo-
bilizar, desenvolver e aplicar conhecimentos, 1.4 Fases e Técnicas da Condução de
habilidades e também atitudes com finalidade Grupos em Áreas Naturais
de gerar resultados.
A competência pode ser traduzida em três 1.4.1 Da preparação ao encerramento
saberes:
Não basta boa vontade e improviso. Além
GG
O saber ou o conhecimento. O conjunto de conhecer o seu papel enquanto cidadão
de informações que o condutor agregou é importante conhecer técnicas que ajudam
em sua bagagem. Geralmente o conhe- no desenvolvimento do “antes”, “durante” e
cimento pode ser adquirido em cursos de “depois”. Saber como preparar a atividade é o
formação e também pela observação e vi- primeiro passo para criar as condições propí-
vência com o meio, com a atividade, com cias para conduzir o grupo.
a sociedade etc.; Ecoturismo e turismo de aventura não com-
binam com improvisações. Você já parou para
GG
O saber fazer ou habilidade. Depende pensar nisso? Não basta “gostar” de natureza
também da quantidade de informações para ser condutor, afinal, existem muitas res-
que o condutor detém, mas está relacio- ponsabilidades no exercício dessa profissão. Im-
nado diretamente com sua capacidade de proviso não garante bons resultados e pode até
executar ou colocar em prática o conhe- provocar consequências graves. Se você pen-
cimento adquirido. No caso de atividade sava que planejamento, objetivos, planos de
de turismo de aventura, envolve fatores ação, relatórios etc. são apenas formalidades
como a capacidade física, coordenação sem consequências práticas, é preciso repensar!
motora, destreza, assim como outros fato- Um grupo sendo conduzido em atividades
res intelectuais. As habilidade geralmente de turismo de aventura não é apenas um amon-
são adquiridas por meio do treinamento toado de pessoas fazendo atividades juntas,
e práticas levando em consideração o co- mas sim pessoas que se reúnem por um deter-
nhecimento técnico adquirido. minado tempo para alcançar metas específicas,
ou seja, seus objetivos individuais e suas ex-
GG
O saber ser ou atitudes. As atitudes pectativas. E, também, possuem metas gerais –
estão ligadas a algumas características mesmo que nem todos saibam ou compartilhem
psicológicas, da formação do caráter do – que estão ligadas ao compromisso do condu-
indivíduo. Aqui estamos falando dos va- tor em zelar pelo grupo, ambiente e sociedade
lores que o condutor incorporou em sua conforme as premissas já estabelecidas.

20 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Para conduzir um grupo de clientes de
forma adequada, a atuação do condutor Importante
deve estar focada em três fases fundamen-
tais: preparação, desenvolvimento e encer- Para que o serviço em questão es-
ramento. Cada uma delas possui suas carac- teja totalmente em convergência com
terísticas e atividades específicas e veremos as normas técnicas é ideal que tenha
isso na sequência. sido planejado levando em conside-
ração os requisitos da norma: ABNT
Preparação NBR 15503 – Turismo de aventura —
Espeleoturismo de aventura — Requi-
A preparação é a primeira fase, compos- sitos para produto.
ta pelo planejamento do trabalho, recepção e De maneira abrangente, o pla-
integração dos cliente. O planejamento é uma nejamento estratégico/tático deve
etapa anterior à recepção do grupo de clientes. contemplar questões como:
Cabe lembrar que o produto, ou melhor, o ser-
 Escolher e planejar as atividades
viço turístico em que uma determinada ativida-
de forma que atendam aos objeti-
de de aventura está incluída, também tem sua
vos da organização e a sua missão;
etapa de planejamento no contexto da organi-
zação que o compõe. Podemos considerar este  Preparação de itinerários, consi-
planejamento como um planejamento macro derando o local de operação e sua
ou estratégico/tático do produto/serviço. infraestrutura disponível (acesso,
Já o planejamento de que estamos tratan- estruturas físicas de apoio etc.);
do nesta etapa de preparação está relacionado
 Recursos necessários, como ma-
com o âmbito operacional do trabalho, o que não
teriais e equipamentos a serem
exclui o condutor de participar do planejamento
utilizados, seguro etc.;
(estratégico/tático) do serviço, seja ele uma ex-
cursão, viagem ou passeio turístico, que inclua  Alternativas e estratégias para os
uma atividade de aventura. A complexidade do casos de condução de grupos sob
planejamento irá depender do tamanho e estru- mau tempo, conduta inadequada
tura do negócio deque o serviço faz parte, assim por parte de clientes, indisposi-
como da complexidade do serviço em si. ções físicas e psicológicas ou ou-
É no planejamento operacional que o con- tros aspectos inesperados;
dutor irá, sempre que necessário, fazer uma
releitura do planejamento anterior de nível  Medidas em caso de emergência,
estratégico/tático e, considerando os aspectos como, por exemplo, plano para re-
deste planejamento, irá organizar suas ações moção de vítimas, rotas e caminhos
para garantir o êxito durante o desenvolvi- alternativos, registro de incidentes
mento da atividade. O planejamento opera- para mapeamento dos riscos etc.;
cional contempla ações como, por exemplo,  Processo de comunicação com o
avaliação e tratamento de informações forne- cliente que contemple informar o
cidas e recebidas dos clientes, conferência e cliente sob as características das
separação de equipamentos etc. atividades e serviços e consultar
O processo de comunicação com o clien- informações sobre o cliente.
te deve ter sido realizado durante a venda do
serviço, antes da etapa de preparação, e irá
fornecer subsídios para o condutor seguir com ser o responsável por toda a comunicação pré-
a preparação. Este processo de comunicação via com o cliente.
pode ter a participação do condutor em maior Tal processo consiste em disponibilizar in-
ou menor intensidade, sendo que ele poderá formações ao cliente sobre as características

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 21


da atividade, ao mesmo tempo em que solicita O passo seguinte da preparação é a re-
uma série de informações sobre ele. A consul- cepção e integração do grupo de cliente. Neste
ta ao cliente deverá fornecer algumas informa- momento se estabelece a forma de funciona-
ções ao condutor, como os dados sobre condi- mento do grupo durante as atividades. Aqui
ções físicas e de saúde, o que ele busca com ocorrem as apresentações iniciais da equipe
a atividade etc., ao passo que as informações que irá conduzir, se estabelece um contrato de
passadas ao cliente devem incluir todas as ca- convívio, esclarecimento de dúvidas, enfim, a
racterísticas da atividade, assim como da or- recepção e integração dos clientes podem ser
ganização fornecedora do serviço. No sistema resumidas nos seguintes passos:
de normas para o turismo de aventura temos
uma referência que estabelece os requisitos GG
Recepcionar, dando boas-vindas e apresen-
mínimos para informações preliminares: tando a empresa e a equipe que irá condu-
zir. Uma apresentação não deve ser algo
ABNT NBR 15286 – turismo de aventura – maçante para o cliente, deve reforçar o
Informações Mínimas Preliminares a Clientes senso de credibilidade e de confiança que
os clientes depositaram na empresa até o
As informações mínimas preliminares es-
momento;
tão relacionadas aos aspectos contratuais,
quais sejam as questões relativas à segurança, GG
Conhecer as expectativas que eventual-
aos itens que estão inclusos ou não no serviço,
mente não foram reveladas na consulta
aos valores, às regras específicas dos locais de
prévia. Busca entender os interesses e
prática e a outros aspectos das atividades de
possíveis preocupações que os participan-
aventura relacionadas ao serviço.
tes tenham em relação às atividades que
Independentemente de o condutor partici-
irão participar;
par ativamente da etapa de comunicação pré-
via com o cliente, ou seja, da comunicação di- GG
Esclarecer o(s) objetivo(s) e a duração da
reta anterior à contratação do serviço por parte
atividade e reforçar as informações que
do cliente, é preciso que este processo esteja
foram enviadas preliminarmente;
sistematizado de maneira a garantir que as in-
formações sobre o cliente cheguem ao condu- GG
Integrar os participantes do grupo a fim
tor. No momento da preparação, o condutor
de promover os primeiros contatos e faci-
deve ter conhecimento das informações obti-
litar o relacionamento entre eles e estabe-
das junto ao cliente, assim como saber qual
lecer os contratos de convívio, proporcio-
informação prévia é fornecida ao cliente.
nando aos participantes diretrizes sobre
A sistematização do processo de comuni-
como irão trabalhar juntos;
cação, utilizando formulário e contratos como
termos de conhecimento de risco e informes GG
Esclarecer o seu papel, explicando suas
padronizados com a informação mínima é cru-
responsabilidades e modo de ação, além
cial para uma boa preparação, além de ser útil
de esclarecer o que se espera de cada in-
durante o desenvolvimento e avaliação do tra-
tegrante do grupo;
balho no encerramento.
Na etapa de planejamento o condutor irá: GG
Obter compromisso do grupo quanto às
GG restrições e outros aspectos que forem
Avaliar as informações obtidas junto aos
abordados, assegurando que os objetivos
clientes e dar o devido tratamento de acor-
sejam atingidos.
do com os critérios e os procedimentos
preestabelecidos;
O processo de recepção e integração do
GG
Conferir e separar equipamentos necessá- grupo deve ser descontraído, mas sem perder a
rios para o seu uso e para uso dos clientes. seriedade nos momentos em que informações

22 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


importantes relativas à segurança e caracte- fundamental para oferecer um serviço de qua-
rísticas importantes das atividades estão sen- lidade, assim como um bom desenvolvimento.
do transmitidas. No transcorrer dessa etapa é Mas não é incomum ocorrer desvios durante o
muito importante que o condutor fique atento desenvolvimento da atividade, mesmo quando
às reações dos clientes, mantendo-se sempre empresários e condutores se dedicam a plane-
aberto a perguntas, além de tirar todas as dú- jar a atividade com profissionalismo e atenção,
vidas que por ventura surgirem. É importante podem ocorrer falhas. O final do trabalho será
observar o comportamento dos clientes desde marcado por algumas atividades do condutor,
o início e buscar perceber informações que não com a finalidade de assegurar-se da satisfa-
estão sendo relevadas na comunicação verbal. ção dos clientes e ter um processo contínuo de
Veremos alguns detalhes sobre comunicação melhoria dos serviços prestados. Dessa forma,
não verbal mais adiante. caberá ao condutor:

Desenvolvimento da Atividade GG
Registrar as críticas e as sugestões dos
clientes;
Em termos mais gerais, o desenvolvimento GG
Fazer análise da qualidade da atividade
da atividade vai depender de um bom planeja-
turística realizada, perguntando aos clien-
mento desde o nível estratégico ao operacional.
tes sua opinião acerca das atividades, in-
A depender do tamanho da organização o pla-
fraestrutura e outros serviços prestados;
nejamento em sua totalidade pode ter recebi- GG Realizar a revisão dos equipamentos de
do contribuições de diversas pessoas, incluindo
segurança;
os condutores. Entretanto, independentemente GG Preencher o relatório de atividades;
de o condutor ter participado do planejamento GG Fazer o correto registro de incidentes e
em menor ou maior grau, é no desenvolvimen-
acidentes (caso tenham ocorrido), assim
to que é colocada a prova sua competência.
como a análise crítica dos planos de ação
Isso porque o desenvolvimento é um pro-
em emergência e da atuação da equipe
cesso dinâmico. É resultado da interação de
segundo estes planos;
pes­soas que podem ou não se conhecer, que GG Discutir com a equipe de profissionais en-
eventualmente estão realizando uma ativida-
volvidos no trabalho os pontos fortes e
de de aventura pela primeira vez e mesmo
fracos de toda a atividade, buscando me-
que já tenham realizado a mesma atividade,
lhoria contínua.
possivelmente estão participando em um
novo local, interagindo com a comunidade e
outros fatores igualmente dinâmicos, como o
ATenção
tempo e o ambiente.
Assim o desenvolvimento abrange uma
Embora o condutor deva sem-
parcela bastante significativa dos resultados
pre realizar seu trabalho com dedi-
esperados contidos nas normas de requisitos
cação e melhores práticas e com-
de competência. É claro que a preparação e
petência, a principal finalidade das
encerramento são igualmente importantes,
atividades de encerramento será
mas durante o desenvolvimento as habilidades
verificar a satisfação dos clientes,
interpessoais, as atitudes e o conhecimento do
fazer o registro de incidentes e co-
condutor são mais exigidos. Por isso vamos
laborar para um processo de me-
desenvolver as questões relacionadas aos três
lhoria contínua nos serviços presta-
saberes ao longo desta apostila.
dos. Isso garantirá a continuidade
dos trabalhos e o aumento da se-
Encerramento da Atividade
gurança nas atividades, com a pre-
Como garantir a qualidade de um servi- sença de novos e antigos clientes.
ço? Seguramente, um bom planejamento é

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 23


1.5 O desenvolvimento da atividade e Em uma aventura em grupo, é neces-
as competências comportamentais sário que todos trabalhem como uma
equipe. Assim, o grupo independe de
Podemos entender por competências sua natureza, da formação dos indi-
comportamentais, no contexto da condução víduos, faixa etária e outras carac-
de atividades de aventura, a capacidade do terísticas individuais. Duas variáveis
indivíduo de articular habilidade e atitudes di- fundamentais devem ser levadas em
recionando suas ações para conduzir o gru- consideração: a “tarefa” e as pessoas
po de maneira que desenvolvam um sentido envolvidas. (Ibidem)
de equipe. Ou seja, ao mesmo tempo em que
tem sua individualidade respeitada, os indiví- A tarefa a que nos referimos, pode ser qual-
duos compartilham valores e objetivos para quer tarefa realizada em um grupo de pessoas,
alcançar as expectativas do grupo. Vamos re- mas aqui vamos entender como a atividade de
lacionar algumas habilidades e atitudes que aventura e algumas de suas etapas: o momen-
são importantes para que o condutor consiga to de interação inicial e integração do grupo,
articular a competência comportamental dos o início da atividade de aventura propriamen-
indivíduos no grupo levando-os a trabalhar em te dita e seu desenvolvimento. Seguindo com
equipe. a mesma referência temos: “Para melhorar o
Vale fazer referência ao que dissemos em entendimento sobre o comportamento em gru-
outro trabalho (ABETA; Ministério do Turismo, po, vejamos como se desenvolvem as relações
2009, p. 27): interpessoais decorrentes do processo de inte-
ração grupal, em função das ‘tarefas’ a serem
Ressaltamos que boa parte das ati- desempenhadas.” (Ibidem, p. 28).
tudes necessárias às boas práticas Mencionamos naquele material que o de-
na condução de turismo de aventura senvolvimento se caracteriza por 4 estágios
refere-se à nossa capacidade de co- diferentes. Na sequência da descrição destes
municação e ao bom relacionamento estágios podemos observar um gráfico atua-
entre pessoas, já que, via de regra, lizado (figura 3) de como, em uma situação
seremos os líderes desses grupos. ideal, a interação grupal pode culminar em um
estágio de desempenho do grupo em relação
Nunca devemos exercer a liderança à “tarefa” desenvolvida, que podemos carac-
de forma autoritária, ou seja, impon- terizar como a melhor forma de trabalho em
do nossa posição sobre os demais. equipe. Vale destacar que a descrição dos es-
Talvez possamos exercê-la de forma tágios considera esta situação ideal de intera-
democrática, dividindo as responsa- ção, mas na prática nem sempre o grupo de
bilidades com o grupo e conduzindo pessoas consegue atingir o ápice.
-o de forma a atender os anseios da
maioria. Mas, certamente, devemos No primeiro estágio, também conhe-
desenvolver nossa liderança de forma cido como namoro, as relações entre
sociocrática, ouvindo a todos, me- os membros do grupo são caracteri-
diando os conflitos existentes entre zadas pela dependência do líder, que
as diversas opiniões e fazendo com estará concentrado em definir os ob-
que todos compreendam e tomem o jetivos da atividade e alinhar a expec-
caminho do consenso. tativa de todos.

Assim, vale destacar a diferença entre No segundo estágio, fica clara certa
grupo e equipe e como a interação grupal pode confusão, caracterizada pelo conflito
ocorrer no desenvolvimento de uma atividade, ou por uma crise nas relações inter-
citando o mesmo trabalho: pessoais, ao mesmo tempo em que o

24 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


grupo começa a se organizar interna- ficam estagnados no estágio anterior.
mente. Essas dificuldades iniciais fa- Ele é caracterizado pela interdepen-
zem parte do processo de interação dência entre os integrantes e pelos
grupal e representam o momento em processos de solução conjunta de
que as pessoas passam a se conhecer, conflitos do grupo. Há, nesse estágio,
trazendo para o grupo alguns dos tra- uma colaboração mais produtiva e um
ços de suas próprias personalidades. sentido de competição funcional. A
tarefa fica muito clara para cada ele-
No estágio seguinte, o terceiro, as re- mento e todos estão altamente com-
lações são marcadas pela coesão e prometidos com a atividade comum.
a característica básica é a fluidez na No terceiro estágio é possível obter
comunicação entre os elementos do um nível de resultados satisfatórios
grupo. É durante esse estágio que a todos, mas somente na última fase
as pessoas começam a perceber que o grupo tem condições de apresentar
realmente pertencem a um grupo. o desempenho ideal e altos níveis de
Passa a prevalecer a visão do conjun- satisfação. (ABETA; Ministério do Tu-
to. As pessoas começam a comparti- rismo, 2009, p. 29)
lhar ideias e sentimentos, começam a
explorar as ações relacionadas com a Não é fácil lidar com os clientes quando
tarefa e a partilhar o que é necessário se trata de fornecer a eles um produto intan-
à sua concretização. Nesse estágio, o gível, ou seja, o serviço que tem por objetivo
grupo se torna mais produtivo do que satisfazer expectativas de diversão, desafio e
nos anteriores. outras coisas que os clientes desejam. Quan-
do tudo corre dentro do planejado, e uma si-
O último e quarto estágio é muito di- tuação ideal de interação é alcançada como
fícil de ser alcançado. Muitos grupos mostrado anteriormente, encantar os cliente e

Desenvolvimento

Independência

Normalização
Estágios de interação

Coesão

Tempestade
Conflito/Crise

Formação ou Namoro

Dependência

Apresentação Início do Desenvolvimento Encerramento


/integração desenvolvimento

Etapas da atividade

Figura 3 Etapas da atividade x interação grupal em um cenário ideal.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 25


satisfazê-los já é um desafio, pois certamen- de atividades específicas, seja uma simples
te em um determinado momento um conflito caminhada ou uma atividade que exija mais
irá surgir. Algo inesperado pode acontecer, um técnicas, como a escalada ou o rafting.
cliente que não se comporta bem, o grupo está A liderança do relacionamento, ou seja, a
incomodado, com medo ou tantas outras va- influência exercida pelo conduto sobre o clima
riáveis que podem tornar a condução do pas- do grupo, buscando manter o estado de es-
seio um trabalho difícil. pírito sempre elevado é um desafio. Tratando
Um bom condutor não vai tentar coagir ou de relacionamentos, a liderança do condutor
chegar ao ponto de abandonar o cliente – nem será exercida de modo a influenciar compor-
poderia fazer isso. E para não deixar que uma tamentos positivamente, motivando o grupo,
situação chegue ao ápice de uma crise é ne- administrando e ajudando a resolver conflitos
cessário um trabalho de coordenação adequa- e tomando decisões acertadas.
da das atividades e o uso da capacidade de
influenciar os relacionamentos e o clima do
grupo. Esta é a habilidade de saber liderar. Importante
Quando um grupo de pessoas está re-
unido para atingir algum objetivo conjunto, Além das competências míni-
ocorre o que chamamos de processo de in- mas transversais, o condutor terá
teração grupal – quando as relações inter- que ter conhecimento e habilida-
pessoais se desenvolvem em decorrência do des específicas relacionadas com a
processo de interação. As pessoas têm for- atividade praticada. No caso deste
ma de pensar e agir próprias, são diferentes curso os conhecimentos adquiridos
umas das outras, têm seus valores, suas fi- e práticas realizadas no módulo I.
losofias e orientações de vida. Assim, o rela-
cionamento interpessoal desenvolvido entre
elas, em função das situações vivenciadas
nas atividades de aventura, pode tornar-se e Motivar é saber criar condições capazes
manter-se harmonioso e prazeroso ou então de estimular os clientes, proporcionando-lhe a
tender a algo tenso e conflitivo. É o que de- oportunidade de superar a si mesmo e satisfa-
terminamos como “clima do grupo”. zer os desejos que o levaram a buscar uma ati-
Embora na fase de recepção e interação vidade de turismo de aventura, sempre respei-
do grupo o condutor já esteja desempenhando tando os limites de cada indivíduo. Saber quais
a função de líder, é no desenvolvimento que os motivos que levaram um cliente a buscar as
sua liderança se estabelece de forma mais cla- atividades ajuda o condutor a criar o ambien-
ra e decisiva. Liderar grupos significa inspirar te propício para isso. Se o condutor conhece
e influenciar o grupo a agir na direção certa e as expectativas do cliente, assim como limita-
na forma adequada para atingir os objetivos ções físicas, fobias e outros fatores psicológi-
estabelecidos. Significa assumir uma posição cos, ele terá mais condições de no momento
de responsabilidade para dirigir e coordenar que for necessário dosar o estimulo ao cliente.
todas as atividades, assim como para influen- Por isso é de extrema importância o processo
ciar os relacionamentos e o clima do grupo. de comunicação que antecede a fase de prepa-
Ao conduzirmos um grupo, podemos dizer ração e a preparação em si, do planejamento
que a liderança se estabelece em duas frentes: operacional à recepção e integração inicial do
a de liderar a atividade e a de liderar o rela- grupo. Veremos mais adiante outras formas de
cionamento interpessoal. A liderança das ativi- estimular e sensibilizar o cliente por meio da
dades se refere a dirigir e coordenar todas as relação com o meio e cultura local.
tarefas, levando os clientes a atingirem suas O condutor também terá que gerenciar
expectativas. De maneira geral o ecoturismo e conflitos, pois mesmo com todo trabalho
turismo de aventura são desenvolvidos a partir de preparação e bom planejamento desvios

26 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


tensão e a depreciação do clima do grupo da-
Exemplos mos o nome de conflito e que se não for rever-
tido pode gerar o que denominamos por crise.
Aqui vão alguns exemplos de O conflito, em si, não precisa ser destruti-
como o condutor pode motivar os vo. De um ponto de vista amplo pode ser que
clientes e o grupo: o conflito dê um impulso positivo, uma vez que
funciona como um estimulador das mudanças
●● Dê objetivos e desafios concretos,
pessoais e grupais. O conflito é, digamos as-
e acompanhe a evolução do gru-
sim, uma trombada de ideias que, dependen-
po, mostrando que as pessoas fi-
do da maneira como é encarado, pode gerar
zeram progressos;
uma solução muito criativa.
●● Estimule e encoraje os partici- Precisamos aprender a lidar com os con-
pantes a satisfazerem suas pró- flitos e extrair o melhor para as partes en-
prias expectativas e a superarem volvidas. Alguns pontos são essenciais para
desafios, de forma responsável e a atuação do condutor. Primeiro identificar a
segura; causa do problema e a partir disso pensar em
opções que podem reverter à situação esco-
●● Tenha uma atitude positiva em re-
lhendo, segundo seu julgamento, a que for
lação à interação e ao trabalho do
melhor dada a situação.
grupo, estimulando, por exemplo,
A gestão de conflitos está ligada a capaci-
a ajuda mútua para realização de
dade do condutor saber negociar as situações
determinada atividade;
e para isso é preciso aprender algumas técni-
●● Mantenha as pessoas informadas cas ou estratégias utilizadas.
e bem orientadas, principalmente
em situações que possam trazer
algum desconforto ou risco. Não
Embora seja necessário ter muita
deixe que elas sejam negativa-
sensibilidade e intuição para intervir
mente surpreendidas se você pu-
nos conflitos, entre tantas estratégias
der evitar isso!
de negociação podemos citar três:
●● Tolere erros, medos e incertezas
●● Ganha-Perde, cuja solução leva a
das pessoas que ainda não domi-
vitória para uma das partes e a
naram totalmente uma atividade.
perda para outra.
●● Divida os aplausos, demonstran-
●● Perde-Perde, que leva a ganhos
do reconhecimento pelas realiza-
e perdas parciais para todas as
ções, contribuições e superações
partes.
individuais ou grupais.
●● Ganha-Ganha, cuja solução pro-
podem ocorrer. Como dissemos, o clima do porciona ganho para todas as
grupo vai ser influenciado pelas situações vi- partes.
venciadas ao longo das atividades e pela ma-
neira de perceber, pensar, sentir e agir.
Num grupo, as diferenças individuais tra-
zem naturalmente diferenças de opinião que Como se pode observar, a opção ganha/
podem conduzir a discussões, tensões, insa- ganha é a mais produtiva e enriquecedora e
tisfações, ativando sentimentos e emoções traz maior satisfação a todos. Contudo, esta
que podem afetar a objetividade do trabalho e opção também é a mais difícil de se empre-
transformar o clima do grupo. A este estado de gar, pois é a que pede maior envolvimento e

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 27


disposição das partes para encontrar interes- chamar de decisões programadas. São deci-
ses que se combinem e chegar a um acordo. sões que estão relacionadas à rotina e são to-
É um tipo de solução que passa, necessa­ madas com uma boa base de planejamento
riamente, pelo consenso interpessoal ou gru­ e informações que subsidiam o processo. O
pal. Só é possível quando as divergências são segundo tipo diz respeito ao cancelamento de
percebidas como enriquecedoras, em vez de uma operação por problemas climáticos ou de
competitivas. Só é possível também quando as segurança, ou por problemas comportamen-
pessoas estão dispostas abrir mão de alguns tais dos clientes, ou então por outras situa-
interesses individuais e resolver as situações ções imprevistas. Este tipo de decisão é ca-
de conflito. racterizado por outra dinâmica e requer certa
Situações como as que caracterizam um capacidade intuitiva e agilidade do condutor,
conflito exigem do condutor a capacidade de denominamos de decisões não programadas.
negociação e outras habilidades como a to- De maneira geral a tomada de decisão é
mada de decisões. Existem outras situações um processo com algumas etapas encadea-
que irão exigir esta mesma habilidade, como das. Mas como vimos temos dois tipos: as
a atuação em emergências, a escolha de rotas programadas e as não programadas. Assim,
de fuga em função do mau tempo para evitar é importante para o condutor entender estes
uma emergência. Na verdade quase todas as dois tipos e exercitar sua intuição, mas tam-
tarefas envolvidas em preparar, desenvolver bém é necessário compreender que a tomada
e encerrar uma atividade estão encadeadas de decisão pode ser um processo com algumas
numa corrente de tomada de decisão. etapas encadeadas.
Nas atividades de turismo de aventura Para haver uma tomada de decisão ade-
não é possível deixar para depois algumas quada são necessários alguns passos e aqui
decisões, pois na dinâmica de suas etapas, identificamos de maneira resumida os 3
principalmente durante seu desenvolvimento, principais:
as situações imprevistas podem ocorrer, nem Identificação das Causas: Diz respeito à
tudo pode ser previsto e calculado, uma vez exploração da situação e do ambiente, a fim de
que as atividades envolvem seres humanos, levantar informações e dados palpáveis. Refe-
outros seres vivos (fauna e flora ) e o meio re-se à análise dos pontos positivos e negati-
ambiente. vos de uma determinada situação, conhecen-
Problemas podem surgir e causar efeitos do os riscos e oportunidades de decisão.
indesejáveis, que demandam uma solução. Estabelecimento de Prioridades: Uma vez
De maneira resumida, a tomada de decisão que o problema foi identificado, é preciso deci-
pode ser entendida como um processo de dir por onde começar, ou seja, definir a ordem
análise e escolha de alternativas que estejam em que as coisas devem acontecer. Definir as
disponíveis para que possamos seguir o curso prioridades.
de nossas ações. Enfocamos aqui a decisão Escolha da(s) solução(ões): Definidas as
frente a um problema, mas é importante pen- prioridades vamos escolher entre as possíveis
sar que o problema pode não ter uma cono- alternativas de ação ou quais medidas corre-
tação negativa – é apenas uma situação que tivas propostas serão a melhor para o caso
influencia na sequência posterior das ações a em questão, de forma a eliminar permanente-
serem realizadas e tem algum impacto sobre mente a causa que deu origem ao problema.
o resultado final. Caso não se possa tomar a medida corretiva
No turismo de aventura, podemos ter dois por qualquer razão – tempo, falta de infraes-
tipos diferentes e opostos de tomada de deci- trutura etc. –, é necessário pensar e escolher
são. Primeiro o processo de decisão relaciona- Medidas Provisórias de contemporização, que
do à rotina e possíveis sistemas de segurança, fazem ganhar tempo, enquanto se buscam as
qualidade, responsabilidade social e outros que condições ideais para a eliminação definitiva
possam fazer parte da empresa, que podemos do problema.

28 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


1.6 Comunicação e Habilidade alguém é captá-lo através dos sentidos e tam-
Interpessoal bém fixar essa imagem.
As relações entre as pessoas e o mundo
Falamos sobre motivação, resolução de que as rodeia são regidas pelo mecanismo
conflitos, capacidade de tomar decisões, de perceptivo e todo o conhecimento é adquirido
liderar, enfim de conduzir grupos. Já falamos por meio da percepção (leitura, audição, visão,
sobre isso não é mesmo? Que habilidades in- sensações físicas, impressões etc.)
terpessoais, afinal, são necessárias para que O processo perceptivo inicia-se com a cap-
o condutor lidere os relacionamentos? Qual a tação, pelos órgãos dos sentidos, de um estí-
postura necessária para conseguir que o gru- mulo que, em seguida, é enviado ao cérebro.
po se relacione de maneira positiva e consiga A percepção pode então ser definida como a
manter-se em harmonia e terminar a ativida- recepção, por parte do cérebro, de um estímu-
de com as mais diversas sensações de prazer, lo, ou o processo pelo qual um indivíduo sele-
liberdade, amor e respeito? ciona, organiza e interpreta estímulos.
As pessoas reagem às outras pessoas, É fundamental, por isso, que o condutor
com as quais o condutor entra em contato, co- desenvolva cada vez mais sua percepção e di-
municam-se, simpatizam e sentem atrações, rigir ela ao grupo, percebendo o que ocorre
antipatizam e sentem aversões, aproximam- com os clientes e com o ambiente em que es-
se, afastam-se, entram em conflito, compe- tão inseridos. Deve, inclusive, ficar atento para
tem, colaboram, desenvolvem afeto. Esse pro- o fato de que, às vezes, a percepção pode nos
cesso ocorre sob forma de comportamentos induzir ao erro.
manifestos e não manifestos, verbais e não A partir da percepção desenvolvemos ou-
verbais, pensamentos, reações mentais e/ou tras habilidades como a capacidade de análise
físico-corporais. critica, de comunicação, de tomada de deci-
Para o condutor ter sucesso no seu traba- são. No desenvolvimento das atividades a ca-
lho junto ao grupo de clientes no turismo de pacidade de lidar com as pessoas o que in-
aventura, precisará desenvolver sua compe- clui, principalmente, uma comunicação eficaz
tência interpessoal, ou seja, sua habilidade de é muito importante. Além disso, a confiança
lidar com outras pessoas de forma adequada dos clientes não pode ser imposta. Não será
às necessidades de cada uma e às exigências possível nos comunicarmos de forma adequa-
da situação. Os elementos mais importantes da com as pessoas se nossas ideias estiverem
da competência interpessoal são: a capaci- baseadas em preconceitos e prejulgamentos.
dade de percepção, comunicação, empatia, Por isso, o condutor deve estar aberto a per-
abertura, flexibilidade e relacionamento grati- ceber seus clientes – suas expectativas, seus
ficante e respeitoso com todos. medos, anseios e inseguranças. Isso o ajudará
a entender as pessoas, liderar com eficácia,
1.6.1 Percepção administrando conflitos e tomando decisões
acertadas quando elas se fizerem necessárias.
A percepção é o processo de perceber, cap-
tar, sentir, por meio dos sentidos, o que é dito e 1.6.2 Confiança
o que não é dito, comportamentos, atitudes, ex-
pressões, sinais das pessoas e dos ambientes. As pessoas buscam uma relação de con-
Percepção é a aplicação cuidadosa da fiança. Sabemos que a confiança não pode ser
mente a alguma coisa. Em termos gerais, a decretada; é preciso conquista-la e para isso
percepção pode ser descrita na forma como deve haver coerência entre aquilo que falamos
vemos o mundo à nossa volta, o modo segun- e aquilo que somos.
do o qual o indivíduo constrói em si a repre- A confiança nasce quando um indivíduo
sentação e o conhecimento que adquire das percebe que outro possui certos valores, os
coisas, pessoas e situações. Perceber algo ou comunica de maneira clara e seus atos estão

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 29


íntegros de acordo com tais valores. Quando Perguntas na medida certa encorajam
o condutor consegue se expressar adequada- quem está falando.
mente e mostrar, que está tomando as deci-
sões de acordo com princípios e padrões reco- GG
Retransmitir a pessoa o conteúdo, senti-
nhecido, ele leva os participantes do grupo a mentos e o significado daquilo que se está
se sentirem confortáveis e seguros em todas recebendo dela: ou seja, responder sem
as situações, o que, certamente, os levará a julgar, de forma concisa e objetiva, de
atingir seus objetivos com maior facilidade. modo pertinente ao assunto. A resposta
deve resumir o que foi dito e acrescentar
1.6.3 Empatia informações.

A sabedoria milenar nos diz que é pre- Outros pontos são importantes para exer-
ciso compreender para ser compreendido. É citar a capacidade de ouvir: O condutor deve
preciso que todos nós reconheçamos o direito demonstrar abertura para as pessoas durante
do outro de ser ele mesmo, de se expressar o processo de comunicação. As pessoas estão
com autenticidade. Portanto, a empatia (capa- em constante transformação. Somos seres de
cidade que temos de nos colocar no lugar do aprendizado contínuo e buscamos nosso auto-
outro, de ver pelo ponto de vista do outro) é desenvolvimento. Assim, a sensibilidade (capa-
uma base segura para o condutor lidar de for- cidade de perceber o outro para além das pala-
ma eficaz com os as diferenças individuais dos vras) e a flexibilidade para entender o outro em
participantes do grupo. seus momentos e interesses, dão ao condutor
a habilidade de mostrar-se aberto e disponível
1.6.4 Saber Ouvir aos seus clientes; O condutor deve exercitar a
neutralidade. As pessoas têm uma identidade
Uma das maiores dificuldades apresenta- própria que as distinguem das outras: a sua
das pelo ser humano é a de trocar informações personalidade. Dessa forma, a neutralidade do
de forma eficaz, primeiramente porque existe condutor deve sempre estar presente, evitan-
uma grande diferença entre ouvir e escutar. do que preconceitos, pré-julgamentos ou pro-
Enquanto o primeiro refere-se à decodifica- jeções que o afastem do seu papel profissional.
ção do som emitido, o segundo significa estar
atento ao que foi falado, ou seja, ouvir com 1.6.5 Comunicação
atenção e envolvimento.
Se o condutor demonstrar isso, encoraja- Comunicação é a habilidade de expressar
rá os clientes a exprimirem seus sentimentos, ideias, pensamentos e transmitir informações,
ideias e opiniões, sentindo-se importantes e com linguagem clara e objetiva. É dialogar, tro-
bem atendidos em suas necessidades. Além car informações, entender o ponto de vista do
disso, saber ouvir ajudará o condutor a tomar outro; é transmitir uma mensagem, ou seja,
decisões acertadas nos momentos em que compreender e ser compreendido, influenciar e
elas forem necessárias. ser influenciado. Comunicação implica, portan-
Algumas atitudes ajudam o condutor a di- to, um profundo processo de interação humana.
recionar sua percepção e atenção tornando-os O condutor necessita ser um bom comuni-
receptivos. São elas: cador, tanto para transmitir de modo eficaz o
que deseja quanto para entender o que o gru-
GG
Manter a atenção em quem fala: inclui a po de clientes está, efetivamente, dizendo. A
postura, movimentos do corpo, contato comunicação é composta por alguns elemen-
visual e interesse. Evitar distrações. tos que podemos destacar:

GG
Acompanhar e encorajar quem fala: per- GG
Emissor: quem emite a mensagem
mitir que o outro fale sem interrupções. GG
Receptor: quem recebe a mensagem

30 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


GG
Mensagem: conteúdo da informação mãos e a abertura dos braços para dar a ideia
GG
Código: linguagem utilizada na mensagem de quão grande é o objeto.
GG
Canal: forma ou meio de transmissão da Contudo, mesmo sem sabermos, os ele-
mensagem mentos não verbais estão presentes em nos-
sas mensagens, ajudando-nos ou não naquilo
Existem dois tipos de comunicação, que se que desejamos transmitir, basta observar al-
complementam: a verbal e a não verbal. guns detalhes no corpo:

1.6.6 Comunicação Verbal GG


A Face. As diferentes expressões faciais
produzidas durante a fala, ou mesmo
A comunicação verbal, isto é, a comuni- quando estamos quietos, dão veracidade
cação oral e escrita, refere-se ao conteúdo da ou não ao que queremos transmitir.
mensagem, ao que foi dito, às ideias proferi-
das por um encadeamento de palavras. As- GG
Os Olhos. O olhar tem uma enorme capa-
sim, é necessário que o condutor fale de for- cidade de transmitir, ou trair, emoções e
ma clara e objetiva, de modo a proporcionar sentimentos. Através do olhar é possível
bom entendimento e interesse dos clientes nas transmitir medo, raiva, amor, inseguran-
atividades. ça, carinho, frieza etc.
Fazer verbalmente a descrição de um pro-
cedimento com uma série de etapas encadea- GG
O corpo. O uso conjunto de movimentos
das também ajudará os clientes a terem um e posições adotadas pelo corpo tem um
melhor entendimento sobre o assunto. A ma- impacto muito grande na mensagem que
neira pela qual utilizamos a voz também influi se deseja transmitir, ao ponto de que, se
na mensagem que transmitimos. Quando que- as palavras forem mentirosas, os gestos
remos acalmar alguém, diminuímos o tom de as denunciarão. É bom que o condutor
voz e falamos mais pausadamente; ao contrá- aprenda a entender os sinais do corpo
rio, se queremos pôr alguém em movimento, para melhor conduzir o grupo de clientes
falamos mais alto e numa velocidade maior. O ao objetivo desejado.
entendimento da mensagem não ocorre, ape-
nas, pela decodificação das palavras, ele está Para o condutor ter sucesso no seu tra-
relacionado também à comunicação não verbal. balho junto ao grupo de clientes no turismo
de aventura, precisará desenvolver competên-
1.6.7 Comunicação não verbal cias interpessoais, ou seja, habilidades para
lidar com outras pessoas de forma adequada
A comunicação não verbal está relaciona- às necessidades de cada uma e às exigências
da à forma, à maneira pela qual a mensagem da situação.
é proferida independentemente de estar ou Isso ajudará o condutor a entender as
não associada a comunicação verbal. Sua im- pessoas e liderar com eficácia, administrando
portância reside justamente aí, pois ela pode conflitos e tomando decisões acertadas quan-
tanto complementar quanto contradizer a fala do elas se fizerem necessárias. Lembre-se de
e, consequentemente, aumentar ou diminuir o que as habilidades comportamentais estão re-
impacto e a credibilidade da mesma. lacionadas a valores e princípios que são fun-
Ela é composta por vários elementos, que damentais para o desenvolvimento profissio-
podem ser utilizados de maneira consciente ou nal e humano, pois no ecoturismo e turismo
inconsciente. Conscientemente, sempre asso- de aventura o fator humano é determinan-
ciamos algum (ou vários) dos elementos para te – sem ele não teríamos o turismo. Desta
reforçar a ideia que queremos transmitir; é o maneira é muito importante que o condutor
caso, por exemplo, de quando dizemos que estude o material que foi preparado para in-
algo é grande e acompanhamos a fala com as troduzir como a ética e cidadania influenciam

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 31


de maneira positiva no turismo ou de maneira a ser resolvido claro que, guardadas as de-
negativa se não estivermos atentos a seguir vidas proporções e épocas em que situações
com uma conduta desejável. como esgotamento de recursos, equilíbrio am-
biental e outras tenham surgido.
1.7 Educação Ambiental e Atividades No século XV, na Europa, já predominava a
educativas na natureza ideia de que os recursos não eram só limitados
– ao contrário do que pensavam até então –,
1.7.1 A necessidade de conservar o meio e o surgi- mas que estavam definitivamente acabando.
mento da Educação Ambiental Vivia-se às vésperas da descoberta das Améri-
cas e do caminho marítimo para a Ásia. De re-
Parece que o mundo vem mostrando si- pente, o mundo se ampliou. Os recursos então
nais de “cansaço”, não é mesmo? Faz algum se “multiplicaram”, as colônias estavam aí com
tempo que ouvimos da mídia em geral com recursos abundantes. A natalidade cresceu e o
certa frequência – e às vezes com indiferen- horizonte do desenvolvimento passou a dispor
ça – sobre desastres que ocorrem no planeta de uma visão de progresso sem limites, mais
tendo como possíveis causas as interferências uma vez.
originadas pelos seres humanos. Já existem Durante séculos, os recursos naturais,
muitos estudos apontando que o desenvolvi- vindos em abundância das colônias como o
mento, com base na sociedade de consumo Brasil, não eram percebidos como recursos fi-
sem medidas, está diretamente relacionado nitos. Não ao menos para os que impulsiona-
às causas pelas quais nosso planeta demostra vam o desenvolvimento e o crescente consu-
esse cansaço. mo destes recursos.
Independentemente do espanto que nos Entretanto, nas últimas décadas a socie-
causa, só vamos demonstrar nossa real preo- dade adentra novamente em um impasse, tal-
cupação para com os sinais de desgaste e es- vez o mesmo que foi vivenciado séculos atrás
gotamento que nos assombra, se partirmos nas grandes cidades do velho mundo. O uso
do pressuposto que realmente precisamos irrestrito dos recursos começa a ter conse-
melhorar a nossa relação, melhorar a integra- quências globais, e o surgimento de alguns
ção e equilíbrio entre o homem e o meio. Você conceitos como desenvolvimento sustentável
parou para pensar que estamos entre mudar e Educação Ambiental refletem a preocupação
nossos hábitos ou apostar talvez na descober- da sociedade organizada e de governos de vá-
ta de uma “nova América”, só que desta vez rias nações do mundo numa tentativa de re-
em outro planeta? verter este quadro.
Bem, inicialmente, se você concorda ao Foi a partir da década de 1960 que essa
menos em parte com as colocações feitas aqui, preocupação, latente, deu início a um movi-
podemos seguir e entender que o ecoturismo mento mais perceptível e com potencial de
e o turismo de aventura podem ser de fato grandes mudanças. Ao se observar que o uso
uma oportunidade para mudar nosso com- irrestrito dessas fontes de recursos traria cada
portamento em relação ao meio e aos outros. vez mais problemas ambientais, o pensamen-
Assim, a educação ambiental é uma das fer- to ambientalista se intensificou.
ramentas para ser aplicada no contexto das Em diferentes frentes, diversos conceitos
atividades de aventura. ligados às ideias de preservação, conserva-
Resumidamente, a questão ambiental, ção e sustentabilidade começaram a surgir, e
que é talvez uma das questões mais antigas isso foi ganhando força com algumas inicia-
e que perpasse civilizações, ou seja, a rela- tivas, apesar de ainda vivermos a realidade
ção do homem com o meio, na atualidade tem do consumo, muitas técnicas para minimizar
a conotação de problemática ambiental, mas o impacto e conhecimento sobre conservação
veio a ter uma conotação de problema. Mas e preservação foi gerado a partir de então.
esta relação nunca deixou de ser um problema Grande impulso ao tema foi dado a partir de

32 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


conferências mundiais e da constante mobili- aspectos ecológicos, psicológicos, legais,
zação da sociedade organizada. políticos, sociais, econômicos, científicos,
Podemos afirmar que o histórico da preo- culturais e éticos;
cupação ambiental, que já promoveu alguns
resultados como o surgimento da Educação GG
O estímulo e o fortalecimento de uma
Ambiental, apesar de recente é marcado por consciência crítica sobre a problemática
várias conferências internacionais e diversos ambiental e social;
Tratados. Ainda assim sabemos que os avan-
ços são pequenos em relação a reverter o ce- GG
O incentivo à participação individual e co-
nário de uso intensivo dos recursos e seus im- letiva, permanente e responsável, na pre-
pactos negativos. servação do equilíbrio do meio ambien-
te, entendendo-se a defesa da qualidade
ambiental como um valor inseparável do
exercício da cidadania.
Importante!
São objetivos alinhados com os valores
Se você ainda tem dúvidas em que norteiam a conduta ética para o trabalho
relação ao fato que as atividades de conduzir grupos no turismo de aventura e
humanas criam problemas para ecoturismo. Assim o condutor deve estudar
o planeta, assista o curta metra- o tema, se aprofundar e conhecer técnicas e
gem “Ilha das Flores”, que pode princípios de como aplicar a educação ambien-
ser acessado aqui <hyperlink: tal durante todo o seu trabalho.
http://www.youtube.com/watch?
v=ybfr5YBslsc>

VOCÊ SABIA??

No Brasil, a Educação Ambien-


Mas como dissemos a Educação Ambiental tal é política pública, assinalada na
pode ser uma ferramenta para o condutor, vis- Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999
to que não se restringe à educação formal. A <http://www.planalto.gov.br/
lei que estabelece a Politica Nacional de Educa- ccivil_03/Leis/L9795.htm>, que dis­­
ção Ambiental trata da modalidade não formal põe sobre a educação ambiental e
de Educação Ambiental: ações e práticas edu- institui a Política Nacional de Edu-
cativas voltadas à sensibilização da coletivida- cação Ambiental.
de sobre as questões ambientais e à sua orga-
nização e participação na defesa da qualidade
do meio ambiente. Trata-se de educar sem ir
à escola, coisa que pode ser feita em inúmeras
situações sociais, de maneira transversal, pre- 1.7.2 Interpretação Ambiental e Sensibilização
sente em praticamente todos os momentos da
vida. Trata-se de entender que este é um dos A interpretação ambiental, a sensibiliza-
direitos e deveres de um cidadão. Vejamos, ção é apenas uma pequena parte do que cha-
entre os objetivos colocados para esta prática mamos de Educação Ambiental. Saber inter-
educativa temos: pretar o ambiente que nos cerca é um modo
muito eficiente de diferenciar os locais em que
GG
O desenvolvimento de uma compreensão as atividades são realizadas. Assim, um rafting
integrada do meio ambiente em suas múl- ou o passeio a uma caverna nunca será igual
tiplas e complexas relações, envolvendo a outro, por exemplo. É importante também

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 33


para explicar a dinâmica da região e quebrar positivamente para uma boa vivência de to-
barreiras dos clientes com o meio, dando sig- dos. Esse assunto está contemplado nas ha-
nificado e estimulando a reflexão. bilidades comportamentais que discutimos
A magia de uma atividade de ecoturis- anteriormente. Mas o condutor sempre tem
mo ou de turismo de aventura não acontece oportunidades de trabalhar o grupo, exerça o
apenas na hora da escalada, no instante da bom senso sempre. Se o grupo não se mos-
corredeira mais forte do rafting ou na escu- trar aberto o suficiente para se trabalhar, dê
ridão de uma caverna. A tal magia aconte- espaço, espere um momento mais adequa-
ce em todos os instantes da atividade. E em do. Ofereça sua experiência, não imponha.
todos os momentos podemos estimular uma
determinada atitude dos participantes, como
confiança ou companheirismo. Tentar que- Reflita conosco!!!
brar barreiras, provocar emoções, estimular
as boas práticas pelo exemplo e postura. Sem Quem chega ao fim de uma ca-
muita falação, apostando a atividade no valor minhada e celebra a paisagem de
da conquista pessoal de cada um, e em como um cume de montanha ou de uma
isso mexe conosco. Como chegar ao cume da praia deserta não celebra o resul-
montanha e tirar as botas, sentir os pés na tado, mas a soma das experiências
rocha. Abra os sentidos, trabalhe todos eles. vividas pelo grupo até aquele mo-
Faça dessa oportunidade algo único, a ser lem- mento. É a grande subida que foi
brado conforme aponta Neiman e Rabinovici vencida, o frio cortante da manhã,
(apud NEIMAN, 2002): o desafio de um rafting... Enfim,
é a realização pessoal conquistada
Para desencadear-se o processo de em grupo. É essa soma de fato-
Educação Ambiental, é necessário res que contribui para que o par-
que os procedimentos contenham ticipante tenha suas expectativas
impacto emocional, sejam positivos não apenas correspondidas, mas
ou negativos, mas que despertem superadas.
inicialmente um sentimento de vín-
culo com o espaço, uma percepção
subjetiva de sua beleza selvagem,
uma conquista para seus encanta- O importante é entender que as mudan-
mentos. Só assim gerar-se-ão preo- ças nos clientes devem ser mais profundas e
cupações que alertem para compor- serão sentidas não apenas no meio em que se
tamentos agressivos e motivações desenvolve a atividade, mas no dia a dia dos
para o envolvimento e a participa- turistas, em sua casa, na sua cidade, ele vai
ção das pessoas no sentido de busca levar a experiência com ele.
de soluções. Em nossas atividades somos extrema-
mente solícitos, ajudando o cliente em todos
Mas isso não é uma receita de bolo, e é os pontos possíveis de queda, por exemplo.
claro que nem todo grupo tem os mesmos ob- Dessa maneira diminuiremos o contato do
jetivos. Se alguns vão para escalar e querem a cliente com o meio e também suas conquis-
colaboração de um condutor, ótimo, mas e se o tas. Se entendermos que este contato é que
grupo não tiver esta característica, o condutor vai fazer com que o turista tenha uma rela-
dirige a atividade da mesma maneira? ção de cumplicidade e carinho com o local,
Aí entra a leitura de grupos, sua capa- ao invés de ajudá-lo repetidamente em lo-
cidade de perceber e saber ouvir. O condu- cais escorregadios, ensine-o a descer com
tor deve estar atento, observar qual é a ati- segurança. Estimule-o. Aí, sim, a conquista
tude do grupo e como ele pode influenciar será do cliente.

34 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


O condutor deve estudar esta técnica que objetivo, que dependerá de cada situação. Por
pode ser estruturada em maior ou menor grau, exemplo, podemos querer quebrar o gelo no
mas deve levar em consideração os princípios início da atividade, ou despertar mais cons-
orientadores: ciência de grupo. Cada objetivo terá suas pró-
prias dinâmicas.
GG
Promover o entretenimento e de maneira Existem diversas fontes em que podemos
amena embutir o tema a ser interpretado; encontrar material sobre técnicas e dinâmicas.
Um dos autores mais conhecidos se chama Jo-
GG
Pertinência e significado pessoal, tan- seph Cornell. Pesquisem sobre ele, busquem
to do ponto de vista do condutor quanto informação!
da leitura que ele faz das expectativas do Hoje com a internet é muito fácil encon-
cliente; trar informação sobre o assunto, mas a práti-
ca exige bom senso e suas habilidades com-
GG
Incentivar a participação das pessoas, portamentais, portanto é necessário além do
provocar, questionar a todos; conhecimento ter experiência prática de algu-
mas atividades. Durante o curso iremos fazer
GG
Sem deixar de lado o bom humor que é um algumas dinâmicas e jogos. Abaixo colocamos
fator essencial para envolver e sensibilizar. algumas referências que podem ser úteis.

Esta é apenas uma visão da Educação Am-


biental, uma de suas práticas, entre inúmeras Outras fontes
aplicações. Entendemos que a sensibilização é
uma passo fundamental para conseguir uma Existem diversas publicações
boa interpretação ambiental. E uma prática sobre o tema, e aqui indicamos ape-
poderosa para aplicar a Educação Ambiental nas algumas. O que nós queremos é
de maneira informal e realmente pode e deve que você, condutor, busque informa-
ser trabalhada nas atividades de ecoturismo e ção sempre.
turismo de aventura.
●● A educação pelas pedras: ecotu-
1.7.3 Jogos Educativos e Atividades Lúdicas rismo e Educação Ambiental. -
SERRANO, Célia Maria de Toledo
Em uma atividade de turismo de aventura, (Org.). São Paulo: Chronos, 2000.
é comum que uma parte do grupo espere al- ●● A Alegria de Aprender com a Na-
guns momentos até a atividade ter prossegui- tureza, CORNELL, Joseph. São
mento. É o caso da escalada (um cliente deve Paulo: Senac, 1995.
esperar o outro finalizar o percurso), da sepa- ●● Brincar e Aprender com a Nature-
ração de um grupo grande em grupos menores za, CORNELL, Joseph. 2° ed. São
(espaçando os grupos em intervalos de tem- Paulo: Senac,1996
po), e de diversas outras atividades. O condu-
tor deve conhecer algumas ferramentas para Além das referências citadas
poder ocupar este tempo de forma a agregar acima transcrevemos um trecho da
valor na atividade, sensibilizar o cliente para cartilha “Noções Básicas Visitantes
as questões ambientais, nunca para “gastar o Condução de em Áreas Naturais” -
tempo”. Dessa maneira, podemos lançar mão Ministério do Meio Ambiente, 2005.
de Dinâmicas de Grupo. Esta cartilha pode ser encontrada na
Existem inúmeras dinâmicas de grupo, internet no link: <http://www.mma.
mas o condutor deve saber o momento cer- gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_
to e qual a melhor dinâmica para aquele local arquivos/Conducao.pdf>.
e para os clientes. Devemos sempre ter um

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 35


ALGUNS EXEMPLOS DE DINÂMICAS Cada pessoa do grupo deve escolher um
animal ou planta da região para representar;
As atividades, jogos e brincadeiras são O condutor pergunta a eles qual animal se ali-
mais eficazes quando utilizados numa deter- menta de que; Á medida que os participantes
minada sequência, independentemente da vão dizendo, pede para que eles se organizem
idade dos participantes, do seu estado de es- em fila, tentando seguir a ordem de quem se
pírito e do local em que são realizados. O mo- alimenta de quem; Ao finalizar a fila, pede para
nitor deverá conhecer o grupo e depois esti- que façam um círculo; Com o círculo formado,
mular uma participação intensa e guiá-lo, pas- solicita que cada um sente no colo do outro,
so a passo, para atividades progressivamente ainda mantendo a formação circular. Discutir
mais sensíveis e experiências mais profundas. sobre a dependência de cada um em relação
Lembre-se que as atividades sugeridas serão aos demais nesta formação, para manter o
entremeadas pelo caminhar, o apreciar da pai- equilíbrio do ‘ciclo’; Solicitar que um dos mem-
sagem, os banhos de cachoeira, as conversas bros se retire (‘foi extinto’); Discutir o equilí-
livres, etc. brio do ciclo sem um dos membros e associar
Segundo Joseph Cornell1 , um dia de ativi- à ideia de extinção e equilíbrio ecológico.
dades ao ar livre divide-se em quatro estágios:
O monitor perceberá se alcançou os ob-
1. despertar o entusiasmo; jetivos desse estágio ao observar que todos
2. concentrar a atenção; estão participando com alegria.
3. dirigir a experiência;
4. compartilhar a inspiração. Mapa sonoro

Vamos conhecer exemplos de atividades Objetivo: focar a atenção do grupo


para cada um destes momentos? Trabalho: consciência auditiva, propiciar calma
Neste momento, o grupo precisa entrar Local adequado: área natural (noite ou dia)
em sintonia com o lugar, isto é, ter a percep- Participantes: 1 ou mais
ção do ‘agora’ do ambiente visitado, se dar Material necessário: uma folha de papel e um lápis
conta de que vai fazer coisas diferentes de sua por participante
vida cotidiana. As atividades sugeridas para Como jogar:
esse estágio são ativas, seja para concentrar
o interesse a partir da agitação, seja para es- Em cada folha de papel faça um X no cen-
timular os desintegrados e desinteressados. tro; Diga aos participantes que a folha é um
O monitor perceberá se alcançou os objetivos mapa e que o X corresponde ao local onde es-
desse estágio ao observar que todos estão tão; Sempre que ouvirem algum som, devem
participando com alegria. marcar no mapa algo que identifique este som
e sua localização; As marcas devem também
Cadeia alimentar ser interpretativas (não escrever o nome ou
algo similar) e não devem tomar muito tempo,
Objetivo: despertar o entusiasmo pois os visitantes devem estar concentrados
Trabalho: conhecimento da cadeia alimentar em ouvir; Peça aos participantes para mante-
Local adequado: área natural (noite ou dia) rem os olhos fechados enquanto ouvem; Es-
Participantes: 5 ou mais colha um local onde as pessoas possam ouvir
Material necessário: participantes sons variados e estabeleça o tempo confor-
Como jogar: me perceber a disposição do grupo (em torno

7 O professor Joseph Cornell é um dos mais respeitados educadores naturalistas do mundo. A metodologia e as atividades
propostas pelo professor Joseph Cornell baseiam-se na consideração de que há um grande espaço a ser percorrido no
caminho da busca da compreensão e da interação com a Natureza.

36 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


de 5 minutos é suficiente para começar); Ao e o desenvolvimento sustentável, além de seu
final peça para os participantes imitarem os papel no que diz respeito ao manejo dos ser-
sons que ouviram para o grupo ou mostrarem viços ambientais.
o mapa aos seus companheiros. Pode-se tam- No Brasil, a legislação sobre áreas prote-
bém fazer algumas perguntas como:- Quantos gidas foi incrementada pela Lei n. 9.985, de
sons diferentes você ouviu?- Quais os sons de 2000, que criou o Sistema Nacional de Unida-
que mais/menos gostou? -Quais nunca tinha des de Conservação – SNUC. O SNUC define
escutado antes? dois grupos distintos de Unidades de Conser-
vação: unidades de conservação de proteção
Encontre sua árvore integral e unidades de conservação de uso
sustentável. As diferenças básicas entre os
Objetivo: dirigir a experiência dois grupos são que as unidades de proteção
Trabalho: empatia, consciência olfativa e tátil integral buscam a preservação da natureza
Local adequado: mata permitindo somente o uso indireto de seus re-
Participantes: 2 ou mais cursos naturais, ou seja, elas não aceitam con-
Material necessário: vendas para os olhos (se dispo- sumo, coleta, dano ou destruição dos recursos
nível) do meio. Já as unidades de uso sustentável
Como Jogar: procuram combinar a conservação da nature-
za com o planejamento, a gestão territorial e
Devem ser formadas duplas, sendo que a adoção de critérios de sustentabilidade para
um de cada dupla deve ser vendado ou o par- utilização de parte de seus recursos.
ceiro pode cobrir seus olhos durante a expe- Nesse sentido, Educação Ambiental, tu-
riência. O parceiro não vendado (líder) auxilia- rismo de aventura e Unidades de Conserva-
rá o vendado a explorar o ambiente ao redor ção apresentam aspectos que convergem não
até encontrar uma árvore. O líder pedirá que apenas no que diz respeito a efetiva aplicação
seu parceiro toque a árvore, sinta seu cheiro, da educação ambiental mas, também, na pre-
sinta se há algo sobre os galhos, tronco, folhas. venção do impacto gerado pelas atividades.
Esta ficará sendo a ‘sua árvore’; Quando o par- O condutor precisa entender que as Unidades
ceiro estiver familiarizado com ‘sua árvore’, o de Conservação são planejadas para múltiplos
líder deve levá-lo para outro lugar, distante usos de acordo com sua categoria. Este plane-
dali e abrir os olhos do parceiro; Depois disso jamento do uso público é expresso em progra-
ele deve tentar encontrar ‘sua árvore’. mas de uso público e de manejo da visitação
que são parte integrantes do documento que
rege o planejamento e monitoramento destas
áreas: O plano de manejo.
1.8 Áreas Protegidas e a Prevenção do A prevenção do impacto deve ser plane-
Impacto jada também nas áreas que não são especial-
mente protegidas como o caso das Unidades
A criação de áreas protegidas contempla de Conservação. Além do mais a maior parte
critérios mais amplos, incluindo fatores como dos locais onde executamos as atividades de
a representatividade ecossistêmica, proteção aventura são de alguma maneira protegidas
à fauna, à flora, aos recursos hídricos, à diver- por lei como, por exemplo: as margens de rios
sidade biológica, além de incorporar alguns as- e nascentes, os topos de morro entre outros.
pectos sociais. Ultimamente os pesquisadores Idealmente toda área que sirva para visitação
avaliam que a contribuição das áreas protegi- pública deveria ter um planejamento e ma-
das vai além de sua função de conservação, nejo adequado da visitação. As cavernas não
promovendo aspectos como a qualidade de são uma exceção, para que a visitação ocorra
vida das populações locais, e por que não di- é necessário que a caverna em questão tenha
zer de toda a sociedade, a redução da pobreza seu Plano de Manejo Espeleológico aprovado.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 37


É fácil entender o funcionamento de um
sistema de coordenadas com a utilização
Atenção!
de uma carta topográfica, um mapa ou até
mesmo um globo. Para navegação em trilhas e
Um dos objetivos do SNUC é
caminhos a carta topográfica é a representação
“favorecer condições e promover
mais utilizada e para sua utilização é preciso
a educação e interpretação am-
conhecer outros detalhes que vão além do
biental, a recreação em contato
sistema de coordenadas. As cartas topográfi-
com a natureza e o turismo eco-
cas são confeccionadas a partir de uma base
lógico”. Desta maneira qualquer
que representa determinada região. Essa base
Unidade de Conservação do Sis-
pode ser um levantamento aerofotogramétri-
tema também incorpora (ou in-
co ou uma imagem de satélite e a partir desta
corporará) este objetivo. Para os
base são confeccionadas projeções bidimen-
empresários e condutores é im-
sionais do terreno com uma escala determina-
portante entender que Educação
da. As cartas topográficas buscam apresentar
Ambiental e também incorporá-la
as formas de relevo e outros detalhes por meio
como prática no turismo de aven-
de linhas e outras representações gráficas.
tura e ecoturismo.
Uma escala pode ser representada grafi-
camente. Nada mais é do que uma relação de
grandezas: das dimensões de uma porção do
1.9 Noções básicas de orientação e terreno em seu tamanho real com as dimen-
navegação sões do desenho que representa esta porção do
terreno em um plano bidimensional. Vejamos
1.9.1 Mapas e Cartas um exemplo comum em cartas topográficas.

O globo terrestre é dividido em linhas ima-


ginárias. Entender como essas linhas “funcio-
nam” é importante, por exemplo, para nos lo-
calizarmos em uma determinada região. Para
se localizar em locais agrestes, o condutor
Figura 4 Representação gráfica de uma escala de
deve ter conhecimentos específicos para saber
1:25.000
onde está, para onde vai e como voltar para o
local de origem. Isso fica fácil quando você já
andou bastante pelo terreno, principalmente A representação da figura 4 mostra uma
quando aprendeu seus caminhos com alguém escala de 1 centímetro para 25 mil centímetros,
que já conhecia, não é mesmo? Mas você já ou seja, cada centímetro do mapa tem 25 mil
saiu para uma caminhada em trilhas desco- centímetros ou 250 metros no terreno. As car-
nhecidas, sem ninguém para lhe acompanhar, tas topográficas brasileiras editadas pelo IBGE
como seria possível se localizar após algumas possuem algumas escalas que constituem a
horas de caminhada? Como é possível conhe- base do Sistema Cartográfico Nacional (SCN),
cer uma determinada porção do terreno sem a qual se apoia na carta topográfica deriva-
tê-lo visitado anteriormente? da da escala 1:1.000.000 (carta internacional
Para responder a questões como essas, o ao milionésimo). Assim, as escalas compreen-
primeiro passo e observar que algumas con- didas no SCN são 1:1.000.000, 1:500.000,
venções sobre o globo existem para criar uma 1:250.000, 1:100.000, 1:50.000 e 1:25.000.
maneira de endereçar qualquer local na terra. Alguns estados possuem também cartas em
A isso damos o nome de sistema de coordena- escalas maiores como de 1:10.000 produzidas
das geográficas. Existem alguns tipos de siste- por outros órgãos e serviços cartográficos. As
mas como veremos adiante. escalas mais comumente encontradas no Brasil

38 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


e que poderiam ser utilizadas para navegação a ser representada maior é a escala ou escala
terrestre seriam as de 1:50.000 e 1:25.000. grande, significando que os detalhes do relevo
Para melhor entender esta questão de es- são mostrados relativamente maiores. Vejam
calas pequenas vejamos o exemplo: em uma que estruturas que não apareciam naquela es-
carta topográfica de escala 1:50.000 as qua- cala da figura 5 (1:50.000 - escala pequena)
drículas possuem 4 cm e são equivalentes a 2 na figura 6 (1:25.000 - escala grande) podem
km no terreno, então, 1 cm no mapa equivale ser visualizadas como, por exemplo o campo
a 500 m no terreno. Já uma carta de 1:25.000 de futebol do Estádio da Varzea F. C. no canto
terá quadrículas também com 4 cm e cada cen- superior esquerdo na figura 5 não aparece.
tímetro equivale a 250 m no terreno. Compare
os fragmentos de duas cartas topográficas de
Teresópolis. Nas figuras que seguem:

4 cm na carta equivalem a 1 Km no terreno

Figura 6 Representação do mesmo trecho do terreno


que a figura anterior, só que em escala de 1:25.000
4 cm na carta = 2 km no terreno

Figura 5 Representação em escala de 1:50.000


Observe a tabela 1 e as diversas aplica-
ções de diferentes escalas.
Quanto maior a porção do terreno a ser Assim, como a maioria das cartas que são
representada numa folha de papel, menor vai encontradas para o território brasileiro pos-
ser a escala, por isso denominamos como: suem escala de 1:50.000, teremos sempre
escala pequena, aquela que representa uma uma precisão mediana para fins de navega-
grande proporção entre o mapa e o terreno, ou ção. É muito comum que haja cartas que não
seja, as características de relevo e do local são identificam trilhas e construções mais recentes
mostradas relativamente pequenas no mapa. ou, ao contrário, que indicam trilhas que não
Portanto, quanto menor a porção do terreno existem mais. Iremos tratar com mais detalhes

Tabela 1

Quanto ao tamanho Quanto à representação Escala Aplicações

Escala Grande Escala de Detalhe até 1:25.000 Cartas topográficas

de 1:25.000
Escala Média Escala de Semi detalhe Cartas topográficas
até 1:250.000

Escala de Reconhecimento de 1:250.000


Escala Pequena Cartas Topográficas e cartas gerais.
ou de síntese e menores.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 39


sobre esta questão no tópico de navegação e
utilização da carta em conjunto com a bússola.

Atenção

No Brasil, temos uma grande


defasagem com relação a bases
topográficas mais precisas e atua-
lizadas. É que boa parte das cartas
topográficas foram produzidas a
partir de fotos aéreas tiradas entre Figura 7 Recorte de uma carta topográfica com escala
as décadas de 1960 e 1970 com de 1:50.000. As setas apontas as curvas mestras res-
pectivamente de 800 e 900 metros de altitude. Entre
as primeiras edições impressas a
as curvas mestras temos as curvas de níveis a uma
partir daí. Tivemos poucas reedi- equidistância de 20 metrios
ções e atualizações nas cartas, al-
gumas foram apenas sendo reim-
pressas sem atualizações. Para ter Esta apresentação em curvas ajuda na
acesso as cartas disponibilizadas leitura do relevo que está representado em
gratuitamente e outros dados do uma carta topográfica. Entre as curvas de ní-
Instituto Brasileiro de Geografica vel também há uma diferença constante de
e Estatística IBGE acesse o servi- altitude, o que chamamos de equidistância.
ço de diretório no site <hyperlink: Para sabermos qual é o valor de determinada
ftp://geoftp.ibge.gov.br> curva intermediária, basta observar as curvas
mestras que tem o seu valor impresso e somar
ou diminuir a equidistância a cada curva de ní-
vel que fica mais próxima da curva mestra de
O emprego de uma carta topográfica é
maior ou menor valor.
fundamental para podermos nos localizar e
determinar uma rota, ou reconhecer um ca-
minho. Uma carta é um dos instrumentos ou
Atenção!
ferramentas de navegação que é necessário
utilizar para andar por uma porção do terreno. É importante observar que equi­
E para isso é importante entender como um distância é a diferença de alti­tude
mapa ou carta topográfica representa o relevo entre as curvas e não a distância
por meio das curvas de nível. entre elas.
As cartas topográficas possuem várias cur-
vas de nível, nas cartas brasileiras geralmen-
te em cor marrom e tem duas características:
as curvas mestras ou curvas índices que são Com uma carta topográfica e o conheci-
mais escuras, separadas entre si em interva- mento de sua escala e da equidistância é pos-
los com seu valor – a altitude em relação ao sível ter uma visão tridimensional do terreno
nível do mar – impresso ao longo de seu tra- sem mesmo ter ido até o local. Observem a
çado; as curvas intermediárias, que são mais ilustração com uma representação gráfica do
finas e não possuem a indicação da altitude que famoso morro da Urca e Pão de Açúcar no Rio
representam. de Janeira e a respectiva representação topo-
As curvas representam os contornos do re- gráfica. Vejam como as curvas de nível repre-
levo. Cada curva tem um valor constante que sentam o relevo. Observem que apesar de não
representa a mesma altitude ao longo da de constar a escala é possível identificar que a
uma curva. equidistância é de 50m.

40 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


coordenadas geográficas em duas formas dis-
tintas: A latitude e longitude no formato Grau
(°) e minuto (’) e segundos (”) que estão im-
pressas nas margens e também um sistema
de quadrantes conhecido como UTM - Uni-
versal Transverso de Mercator, desenvolvido
durante a 2ª Guerra Mundial.
Na figura 10 vemos uma parte da carta de
Teresópolis/RJ na escala de 1:25.000. Obser-
vem a notação nas margens da carta. Vemos
no canto inferior direito a notação de latitude
e longitude. Os quadrantes formados nas car-
tas são apresentados por linhas de cor preta
e não coincidem com as coordenadas geográ-
ficas (latitude e longitude), mas também tem
seus valores representados ao longo das mar-
gens. Com a UTM – quadrantes impressos na
cor preta – a utilização da bússola sobre a car-
ta se torna mais fácil do que se utilizássemos
Figura 8 Representação em curvas de nível e a repre-
sentação gráfica de um dado perfil
as coordenadas geográficas. Veremos isso
mais adiante com as explicações da utilização
da bússola.Em uma carta há outros aspectos
Além das curvas de nível para que uma importantes que devem ser ressaltados. Para
carta topográfica seja útil para a navegação uma boa leitura de uma carta topográfica é
é preciso que ela tenha a notação de um ou necessário observar as informações que são
mais sistemas de coordenadas como mencio- representadas por cores ou símbolos e que
namos anteriormente. As cartas topográfi- obrigatoriamente devem estar enunciadas na
cas brasileiras possuem as informações das legenda da carta.

Figura 9 Notação dos sistemas de coordenadas geográficas nas margens da carta

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 41


Figura 10 Legenda dos símbolos e sinais convencionais de uma carta topográfica (IBGE)

1.9.2 Bússola
Atenção!
A bússola é instrumento indispensável
Nos dias atuais ouvimos falar
para a orientação e navegação quando utiliza-
muito do GPS (Global Positioning Sys­­
da em conjunto com mapas e cartas topográ-
tem) ou Sistema de Posicionamento
ficas. Sem ela, a precisão da navegação fica
Global. Este sistema é composto por
comprometida. Imagine estar em uma cami-
diversos satélites em orbita terrestre
nhada de longo curso em que você tranquila-
que fornecem aos aparelhos recepto-
mente navega com uso de mapa e com refe-
res móveis (em terra) a posição do
rências visuais, repentinamente uma neblina
mesmo. Apesar da tecnologia empre-
começa a ficar tomar conta do espaço a sua
gada e da precisão que se pode obter
volta... Sem pontos de referência visuais, as
na navegação o GPS nunca deve ser
cartas teriam sua utilidade reduzida. E se você
utilizado como instru­mento único de
só estiver utilizando cartas e não souber como
navegação, pois para seu funciona-
orientá-las, não vão servir para nada.
mento é necessário que ele receba o
A bússola é uma ferramenta que irá auxi-
sinal dos satélites. O que em alguns
liá-lo na tarefa de orientar o mapa e também
modelos não permite seu funciona-
se orientar no terreno. É composta por uma
mento o tempo todo, por exemplo,
agulha magnética apoiada sobre um eixo, ge-
dentro de uma floresta fechada ou
ralmente envolta em um líquido translúcido e
em um cânion profundo. Além do que
fechada em uma cápsula em forma de disco. A
é um aparelho eletrônico sujeito a ou-
agulha por estar imantada é atraída e orienta-
tras falhas, por exemplo, pela falta de
da pela força magnética da terra o que sempre
energia (baterias) ou defeitos.
vai coloca-la no sentido norte-sul.

42 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


A bússola é um dos instrumentos utiliza-
dos na navegação ainda nos dias de hoje, pois Atenção!
funciona a base do magnetismo terrestre. Ain-
da que possa sofrer interferência magnética de A bússola é um instrumento
outros metais que sejam colocados próximos simples, mas com grande potencial
a agulha, se tomarmos o cuidado de não fa- para confusões e mau uso, pois a
zer a leitura da bússola com outros metais na agulha magnetizada apenas aponta
mão como por exemplo, a pulseira do relógio para o norte magnético. Uma das
etc., isso diminui a possibilidade de errarmos possíveis confusões sobre o uso da
a leitura. bússola na navegação é em função
Existem diversos modelos de bússola, as da diferença de posicionamento
aquelas dotadas de base plana e transparente entre o polo norte verdadeiro e o
podem ser utilizadas no campo ou sobre a car- magnético (veremos detalhes mais
ta. Utilizando-as sobre uma carta, elas tam- adiante sobre declinação magné-
bém assumem a mesma função de um trans- tica) outro ponto é que ela sofre
feridor, ou seja, para medir de ângulos. Outras interferência de objetos metálicos
bússolas são fechadas e dotadas de uma pe- como já mencionamos.
quena alça de mira, para aumenta a precisão
de trabalho em campo, mas não são adequa-
das para o uso sobre mapas por não serem
transparentes. Existem bússola que conjugam um anel graduado de 0º a 360º, uma cápsu-
a precisão para ser utilizada em campo e la que pode ser dotada de função para cor-
também características para serem utilizadas rigir declinação; e outras marcações como a
sobre o mapa. Vejamos alguns modelos: seta de rumo impressa na base e o portão im-
presso na cápsula. Vejam os detalhes na figu-
ra 11. É importante observar que, para que
a leitura do azimute seja precisa, a escala do
anel giratório deve estar graduada de 2 em 2
graus, no mínimo.
Quanto ao uso da bússola, além de apon-
tar para o norte sua função é de tirar azimu-
tes. A palavra azimute vem do árabe as-su-
mút que significa direção, ponto no horizon-
te. O azimute é a diferença em graus entre
o norte e o ponto mirado (ângulo no senti-
do horário). Para tirar um azimute, se utiliza-
mos a bússola no campo, apontamos a seta
de rumo para o ponto e giramos a cápsu-
la até que o portão esteja devidamente ali-
nhado com a agulha apontando para o norte.
Para tirar um azimute sobre o mapa ignora-
mos a agulha. Temos que saber nossa posição
no mapa e traçar uma linha imaginária até o
Figura 11
ponto que desejamos. Para traçar a linha po-
demos utilizar uma régua auxiliar ou a lateral
As bússolas planas são compostas de vá- da bússola e então alinhamos giramos a cáp-
rias partes. Geralmente possuem uma régua sula alinhando o portão com o norte. Nas car-
graduada, que pode ser graduada nas escalas tas topográficas editadas pelo IBGE podemos
mais conhecidas ou apenas em centímetros; considerar o alinhamento do portão com as

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 43


linhas da quadrícula que apontam para o topo geográfico e o Norte Magnético, cuja posição
da carta. Observe na figura 11 a bússola que não coincide com o verdadeiro, além do que
está sobre o mapa o portão – que são as linhas há uma variação em sua posição ao longo do
e seta impressas no fundo da cápsula – está tempo. Veremos que estes detalhes precisam
alinhada com as linhas da quadrícula e a base ser considerados no momento da utilização da
está apontando para uma direção, 310 graus. bússola, pois do mesmo modo que interferên-
cias magnéticas vão prejudicar a precisão da
leitura, desconsiderar a declinação também irá.
A terra forma um campo magnético em
Importante! torno de seus polos (Norte-Sul) e os polos
magnéticos estão deslocados dos polos Norte
Uma informação importan- e Sul – geográficos – do eixo imaginário da
te a ser lembrada é que metais e terra. O fato dos polos geográfico e magnéti-
outros objetos imantados podem co não coincidirem, juntamente com o campo
afetar o bom funcionamento da magnético gerado produzem a necessidade de
agulha da bússola. Para que não ajustar esta diferença. Pois dependendo do lo-
haja interferência na hora da lei- cal na terra onde o observador esteja utilizan-
tura, mantenha a bússola ao me- do sua bússola, com a agulha apontada para o
nos 20 cm de qualquer objeto com Norte Magnético e o Norte Verdadeiro desloca-
essas características tais como do alguns graus para o Oeste ou para o Leste.
relógios, moedas, canetas, anéis Estamos acostumados a ver a terra dividida
e pulseiras metálicas. Se estiver com as linhas imaginárias, meridianos e para-
trabalhando sobre o mapa certifi- lelos representadas de maneira simétrica entre
que-se que a superfície que apoia si, mas o campo magnético da terra não é uni-
o mapa não é metálica como, por forme e as linhas que ligam um polo magnético
exemplo, sobre um veículo etc. ao outro são assimétricas e varia com o tempo.
Na aquisição de uma bússola Geralmente temos tabelas e informações
também deve ser observada a ca- gráficas no rodapé das cartas topográficas e
libragem de fábrica que a agulha mapas, que ajudam a determinar qual é o va-
imantada recebe. Algumas bússo- lor da declinação magnética para dada região.
las são calibradas para serem utili- A figura 12 mostra o campo magnético da Ter-
zadas no hemisfério norte e outras ra projetado em um plano. Cada linha possui
no sul e existem também bússolas um valor que precisa ser subtraído ou declina-
calibradas para uso global. O uso ção a Leste – linhas vermelhas –; adicionado
no hemisfério norte de uma bússo- ou declinação a Oeste – linhas azuis –, confor-
la calibrada para o hemisfério sul me a posição do observador.
vai causar imprecisão nas leituras. Estas linhas, ou melhor, curvas são conhe-
cidas como curvas isogônicas. Há também a li-
nha verde, conhecida como curva agônica, que
significa dizer que ao longo dele o observador
1.9.3 Declinação Magnética não precisa fazer nenhuma correção, pois a
direção do norte magnético coincidira com o
Saber calcular corretamente a declina- verdadeiro.
ção magnética é importante para a navegação Observem que o mapa mostra a varia-
de grandes distâncias com o uso de bússola ção em graus que o Norte Magnético está em
e mapa agregando precisão a orientação. Isto relação ao verdadeiro conforme cada linha.
porque, como mencionamos anteriormente, a Portanto as linhas com valores positivos mos-
agulha da bússola aponta para o norte mag- tram que o Norte Magnético está a leste do
nético, entretanto há um norte verdadeiro ou Verdadeiro e as linhas com valores negativos

44 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Figura 12 Esta imagem pode ser obtida por meio do site da Agencia Americana National Oceanic and Atmospheric
Administration (NOAA) <http://www.ngdc.noaa.gov/geomag/geomag.shtml>. Mostra com boa precisão (publicado
em janeiro de 2010) as linhas magnéticas e sua variação em função do local no globo.

mostram que o Norte Magnético está a oeste Observando a figura 13 notamos também
do Verdadeiro. que o Norte das Quadrículas (NQ) não coinci-
Para calcular a declinação magnética, de- de com o Norte Geográfico (NG). Geralmente
vemos sempre nos ater ao contexto apresenta- essa diferença é tão pequena que pode ser
do, pois as curvas colocadas sobre o mapa te- desprezada para efeitos práticos numa cami-
rão valores específicos e fixos ao longo dos pó- nhada em trilhas, sendo que deve ser consi-
los, porém esse valor cresce anualmente. Nos derado em navegações que percorrem longas
mapas e/ou cartas topográficas esses valores distâncias, como atravessar um oceano.
vem expressos geralmente da seguinte forma: A maior diferença e variação ficam entre
o Norte Magnético (NM) e o Geográfico. Neste
exemplo de uma carta publicada em 1995 a di-
ferença era de -21°11’ (vinte e um graus e onze
minutos para Oeste) e destacado mais abaixo
temos a informação que nesta região a varia-
ção cresce a uma taxa de -5,5´ (menos cinco
minutos e meio) anualmente. Esta informação
é muito importante, pois é utilizada para atuali-
zar a declinação magnética para os dias atuais.
Tomando o exemplo da figura, podemos
determinar que em 2013 a declinação mag-
nética na região desta carta – Teresópolis/RJ
– é de -22° 50’, pois a declinação anotada na
carta é -21° 11’ (vinte e um graus e onze mi-
Figura 13 Esta notação frequentemente aparece nas nutos a Oeste) há 18 Oeste) anos (1995) e
cartas editadas pelo IBGE.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 45


ela cresce anualmente -5,5’ (cinco minutos e 360° ou 0°, mas pode ser movimentado na
meio ao ano para Oeste). Portanto, 18 (anos) cápsula conforme a declinação, já as bússolas
x -5,5’ (minutos) = -99’ (Minutos), sendo 1° que não possuem esse recurso o portão é fixo
(grau) = 60’ (minutos), então 99’ convertido na cápsula.
em graus correspondem a 1° 39’ (um grau Precisamos de atenção em relação ao uso
trinta e três minutos).Veja o raciocínio passo deste recurso, pois ele é bastante útil para tirar
a passo novamente: os azimutes no campo, sendo que o valor en-
contrado já estará convertido com a declina-
1º. Declinação magnética em 1995: -21° ção magnética, no entanto se utilizarmos essa
11’ bússola sobre o mapa deve ser desconsidera-
2º. Quantos anos se passaram: 18 anos do o ajuste.
3º. Variação a cada ano: 5,5’ No caso da bússola não possuir a possibi-
4º. Variação total: 18 x - 5,5’ = 99’ = lidade de ajustar a declinação, ela deverá ser
-1° 39’ calculada toda vez que tirarmos um azimute no
5º. Declinação magnética em 2012 = campo e transferirmos para o mapa, pois ao
-21° 11’ + (-1° 39’) = -22° 50’ utilizarmos a bússola no campo estamos nos
orientando pelo norte magnético. No caso do
Brasil quando tirarmos um azimute no cam-
po subtrairemos o valor da declinação do valor
Atenção!
que obtivemos para o azimute. Por exemplo se
apontamos para o cume de uma montanha e o
Você sabe como fazer esses
azimute é de 60º, então vamos descontar o va-
cálculos? Sabe como transformar
lor da declinação. Isto porque a declinação no
99’ em 1° 39’?
Brasil é para Oeste, caso contrário deveríamos
O primeiro passo é compreen-
somar. Se utilizarmos a bússola sobre a carta
der que cada grau corresponde a
já estaremos trabalhando com o Norte da Qua-
60 minutos:
dricula/Verdadeiro, desta maneira quando ob-
1° (um grau) = 60’ (sessenta tivermos um azimute pela carta ao buscar essa
minutos). Assim, -99’ (menos oiten- direção no campo iremos somar a declinação.
ta e oito minutos), dividido por 60’ :
1.9.4 Navegação e Orientação
-99 | 60
39 1 A bússola e o mapa propiciam um conjun-
to de ferramentas para a navegação e orien-
Assim, teremos -1° 39’. Repare tação nas diversas atividades de aventura,
que o “resto” da divisão correspon- que envolvam caminhadas, descidas de rios
derá à quantidade de minutos e por e outras que exijam ir de um lugar ao outro.
isso você não deve continuar a di- A navegação neste contexto, geralmente está
visão, utilizando vírgula – como faz associada ao momento de planejamento da
a calculadora. Faça a conta à mão, atividade, aquele planejamento estratégico/
para não ter erro! tático que mencionamos anteriormente, vis-
to que o condutor ao seguir as boas práticas
estará conduzindo pessoas em locais que ele
É importante saber calcular a declinação conhece previamente, ou seja, roteiros pre-
para se utilizar a bússola. Algumas possuem viamente planejados. Neste caso a navegação
um mecanismo para ajustar a declinação, no momento de desenvolvimento da atividade
deslocando somente o portão de acordo com será utilizada apenas em situações específi-
o calculo efetuado. Nas Bússolas que possuem cas, seja por motivos de impossibilidade de
esse recurso o Portão vem alinhado no valor navegação utilizando referências visuais, ou

46 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


até para acrescentar informações utilizando a Podemos utilizar um relógio analógico para
navegação como ferramenta educativa. determinar o Norte-Sul pela observação do sol.
Antes de seguir e abordar algumas técni- Como o Brasil está no Hemisfério Sul, então
cas de navegação que poderão ser utilizadas, alinhando a posição das 12h com o sol, cria-
tanto no planejamento quanto no desenvolvi- mos um ângulo imaginário entre as 12h do seu
mento da atividade vamos apresentar a dife- relógio e o ponteiro das horas no momento em
rença entre navegação e orientação. que estiver realizando a operação observem as
A orientação é a arte de determinar a nos- linhas vermelhas na figura 15. Em seguida, tra-
sa posição na Terra, bem como saber identificar çamos a bissetriz do ângulo e teremos a direção
a direção dos pontos cardeais. Requer um co- norte conforme indicado pela linha verde.
nhecimento prévio do manuseio da bússola e
alguns conhecimentos sobre a observação dos
astros como, por exemplo, o sol ou constelações
como o cruzeiro do sul. Já a navegação consis-
te em determinar um objetivo a ser alcançado
em determinado trecho de terreno e estabele-
cer uma rota que leve ao objetivo. Requer um
conhecimento prévio de orientação, além do co-
nhecimento do uso e leitura de mapas e cartas
topográficas. Assim, dependendo da forma pela
qual estamos nos orientando, podemos dizer
que navegamos por instrumentos ou no visual.
Orientar-se é, antes de tudo, ter consciên-
cia de onde fica o norte, e por consequência
conhecer os outros pontos cardeais. Para isso,
podemos fazer o uso da bússola ou utilizar mé-
todos simples de observação dos astros. Por
exemplo, podemos localizar o norte pela ob-
servação do sol. O sol sempre nasce no leste
e se põe no oeste. O condutor pode estudar
experimentos como a construção de um re-
lógio de sol, com a utilização de uma vareta
fincada no chão na posição vertical e tempo Figura 15 Exemplo de como utilizar o relógio analógico
de observação da trajetória da sombra desta para determinar o norte

vareta em local plano é possível identificar os


pontos cardeais. Vejam a ilustração.
Atenção!

Temos que considerar os devi-


dos descontos ao utilizarmos mé-
todos de observação do sol quando
estiver vigente o horário de verão.

Durante a noite podemos observar as es-


trelas, no hemisfério Sul temos o do Cruzeiro
Figura 14 A trajetória do sol vai projetar a sombra da do Sul para determinar a direção sul. Prolon-
vareta. Há diversas formas de proceder para construir
gue a haste maior da constelação do cruzeiro
este experimento.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 47


do sul quatro vezes e meia no horizonte, con- navegação, como por exemplo: a possibilidade
forme ilustração. Isso indicará a direção Sul. de marcar pontos, marcar uma rota, a cone-
Olhando de frente para esse ponto, à sua es- xão com computadores para o planejamento
querda estará o Leste, à sua direita, o Oeste e de rotas, entre outras. O uso do GPS requer
atrás, o Norte. conhecimentos específicos que podem ser ad-
quiridos através de cursos rápidos, mas sem-
pre atentando para o fato de que cada modelo
de aparelho receptor tem funções específicas
e formas diferentes de operação.

Dica

O uso de mapas e bússola tam-


bém é uma oportunidade de en-
volver o grupo e mostrá-los como
Figura 16 como utilizar a constelação do cruzeiro do sul uma carta topográfica representa
para encontrar a direção sul
uma determinada região.Logo no
início da atividade, seja ela um
passeio com veículo fora-de-es-
Atenção!
trada, canoagem, cachoeirismo,
abra o mapa e mostre ao grupo a
É importante ressaltar que
posição inicial e também faça isso
esses métodos não são tão precisos
ao longo do caminho, quando tiver
quanto uma boa bússola.
elementos da paisagem que pos-
sam ser avistados e comparados
com o mapa.

Para navegarmos por instrumentos, ne-


cessariamente precisaremos de mapa e bús-
sola. Outro instrumento que podemos utilizar
para navegação é o GPS. O GPS é um aparelho
Para obtermos nossa posição no mapa, po-
que se comunica com uma rede de satélite e
demos fazer uso da orientação visual, ou seja,
além de servir para navegação também serve
comparando o mapa com o terreno. Tomemos
para orientação, pois geralmente esses apare-
como exemplo a próxima imagem. Nossa rota
lhos possuem uma bússola eletrônica interna.
é a trilha que circunda o lago da fazenda Vale
Porém, é altamente desaconselhável utili-
Encantado e do Sítio Água Branca. Fica fácil
zar o GPS como o único instrumento de nave-
determinar nossa posição logo após deixar-
gação, pois o GPS é um aparelho eletrônico e
mos a estrada e tomarmos a trilha – ponto
por isso está sujeito a uma série de condições
iluminado com um X vermelho dentro do cír-
que podem “tirá-lo da jogada”.
culo. Devido às características do local é fácil
Entre essas condições podemos citar fal-
determinar nossa posição ao continuarmos
ta de energia (quando não temos pilhas ou
pela trilha somente observando as margens
baterias extras), eventual mau funcionamento
do lago, pois a trilha vai margeando-o.
da rede de satélites ou até mesmo problemas
Mas muitas vezes não é possível comparar
eletrônicos com o aparelho receptor.
o terreno com o mapa para sabermos nossa
O GPS é muito útil quando utilizado como
posição. Por exemplo, se estamos caminhando
complemento da bússola, pois ele possui uma
em uma trilha fechada dentro da mata. Então,
série de funções que facilitam o processo de

48 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


é interessante marcar a progressão no mapa, A maior dificuldade no que diz respeito
estimando quanto se caminhou a partir de al- à navegação acontece quando estamos rea-
gum ponto conhecido e anotando na carta; po- lizando atividades, como exemplo uma cami-
demos também anotar os pontos onde certas nhada de longo curso em áreas montanhosas,
características podem ser notadas mesmo em onde o caminho leva a vales, cristas e colos,
uma trilha fechada, como a travessia de um rio passando por trechos rochosos. É muito fácil
ou riacho. Fazendo esse monitoramento, sem- se enganar ao chegarmos a determinado colo
pre teremos condições de estabelecer nossa de onde partem duas ou mais cristas, ou che-
posição na carta, ainda que seja apenas uma gamos sobre um amplo platô rochoso e somos
posição aproximada. surpreendidos por uma neblina que prejudica
nossa orientação visual. Assim sendo, somen-
te com um planejamento adequado é que po-
demos tomar a decisão acertada na hora da
dúvida.
A navegação na etapa de planejamento
pode auxiliar no desenvolvimento de um iti-
nerário e já mencionamos que um bom plane-
jamento pode resolver muitos problemas du-
rante uma atividade. Para planejar adequada-
mente é necessário um levantamento prévio
de informações. Essas informações podem vir
de diversas fontes:
Figura 17 Exemplo de ponto de referência visual
Atualmente podemos consultar sites es-
pecializados em roteiros e navegação, como
os serviços do Wikiloc <http://www.wikiloc.
com>, que é uma comunidade para compar-
Lembre-se... tilhar dados, como rotas e pontos de interes-
se demarcados por GPS, assim como relatos
Quando utilizamos instrumen­ sobre diversas atividades ao redor do mun-
tos na navegação, é fundamen- do. Há também o GoogleEarth < http://www.
tal ter senso de velocidade e de googleearth.com>, que dispõe de um serviço
quanto se caminhou em determi- com imagens de satélite e fotos aéreas, sendo
nado intervalo de tempo. possível navegar virtualmente sobre a Terra.
Ao navegar obtendo azimutes Outra fonte de informação são as pessoas
do mapa, no momento de trans- que conhecem a área onde desejamos realizar
por para o campo, e vice-versa, é nossa atividade. Além disso, devemos consul-
necessário observar o norte ver- tar croquis ou livros-guia, que são publicações
dadeiro, ou seja, temos que fazer que podem trazer informações como a descri-
os cálculos de declinação necessá- ção da rota, o tempo estimado necessário para
rios. O norte da carta é por con- completá-la, ganhos de altitude, quilometra-
venção sempre a direção do topo, gem e assim por diante. Este levantamento de
ou seja, a parte de cima. informações deve ser seguido de um reconhe-
Se vamos somente comparar cimento no local.
o mapa com o terreno, navegan- Todas essas fontes podem ser consultadas
do no visual, podemos orientá-lo e suas informações se somarão às da carta to-
sem nos preocuparmos muito com pográfica. Com base nelas podemos iniciar a
a precisão. identificação de um itinerário ou uma rota. O
processo para identificação e uso de um itine-
rário pode ser dividido em duas fases:

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 49


1ª fase: planejamento, que consiste na
coleção de todas as informações possíveis e Atenção!
sua planificação sobre a carta, o que chama-
mos de iluminar a carta, ou seja, incluir in- Na fase de planejamento,
formações e fazer alterações sobre uma carta também temos que estar aten-
ou mapa, referentes a região que vamos vi- tos a informações relativas à se-
sitar. Essas anotações devem agregar novas gurança e ao nível de dificuldade
informações ao que já está impresso na carta, que determinada rota pode ofere-
como uma ponte que caiu, uma trilha que não cer. Portanto, é fundamental ob-
existe mais, uma nova trilha aberta etc. Esta ter informações que respondam
fase é realizada antes da atividade. a algumas questões como: A rota
pode ser facilmente identificada
2ª fase: consiste na orientação e navega- no campo? É uma trilha bem mar-
ção durante a atividade, quando utilizaremos cada? A rota passa por qual (ou
todas as informações previamente coletadas quais) tipo(s) de paisagem, mata
para desenvolver o roteiro em campo. fechada, campo aberto? O tempo
estimado está condizente com a
No planejamento ao iluminar a carta de- prática da atividade pretendida?
vemos tomar notas e identificar algumas fei- Responder a esses e outros
ções do terreno que possam nos orientar e au- questionamentos pertinente de-
xiliar a atingir o objetivo, como exemplo: pende da experiência do condutor
e, principalmente, de sua dedica-
Identificar um “corrimão” navegável ção em obter o conhecimento ne-
podemos chamar de uma linha de viagem, que cessário para isso.
deve ser um elemento do cenário local, que
aponte para a mesma direção do deslocamen-
to pretendido, como: uma crista de montanha,
uma borda de vale, um rio, uma estrada, uma 1.10 Legislação para o conhecimento
linha de transmissão de energia etc. Essa li- do condutor
nha deve ser iluminada na carta e pode servir
de referência caso seja necessário reencontrar 1.10.1 A Política Nacional de Turismo
uma rota perdida no campo.
Existe um extenso conjunto de normas
Estabelecer uma “linha base”, deve que se aplicam às atividades de turismo de
ser um ponto de referência no território que aventura e ecoturismo. Em primeiro lugar,
seja longo o suficiente para não ser confundido qualquer atividade comercial nesses segmen-
e esteja sempre na mesma direção a partir da tos deve observar a legislação brasileira, que
nossa posição e durante o deslocamento pela prevê leis sobre turismo, responsabilidade ci-
rota pretendida. Uma linha base pode servir vil, direitos do consumidor e proteção ao meio
como meio de encontrar o caminho de volta ambiente. A essas leis, somam-se normas téc-
para casa. Porém, temos que ter a certeza da nicas, criadas no âmbito do Fórum Nacional
nossa posição no terreno e nos assegurarmos de Normalização, que no Brasil é a Associação
de que a linha de base escolhida está, de fato, Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, e que
onde pensamos que ela está; Se escolhermos, tratam de questões relacionadas à operação
por exemplo, um grande lago que verificamos das atividades, como segurança, informações
estar a oeste de nossa posição como linha de a clientes, competência de pessoal e requisitos
base, saberemos que, ao caminharmos para de operação, entre outros aspectos.
oeste, necessariamente chegaremos à mar- A legislação específica referente ao se-
gem desse lago. tor turístico orbita em torno da Lei federal n.

50 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


11.771, de 17 de setembro de 2008. Conheci- turismo, transportadoras, organizadoras de
da como Lei Geral do Turismo, essa lei dispõe eventos, parques temáticos e acampamentos
sobre a Política Nacional de Turismo e define turísticos.
as atribuições do Governo Federal no planeja- O decreto estabelece alguns dispositivos
mento, desenvolvimento e estímulo ao setor legais pertinentes à operação e ao agencia-
turístico. mento turístico, aos meios de hospedagem,
A Política Nacional do Turismo tem como à condução, transporte, eventos etc. que se
objetivo desenvolver o turismo tanto em âm- aplicam também aos segmentos de turismo de
bito nacional quanto internacional, por meio aventura e ecoturismo. Em particular, mere-
da divulgação de destinos, maior conscienti- cem destaque dois artigos: o artigo 22, que
zação sobre a prática das atividades e maiores estabelece a necessidade de licenciamento
investimentos, tendo em vista a preservação ambiental nos casos de atividades turísticas
do meio ambiente e do patrimônio cultural e que possam poluir ou degradar o meio am-
turístico e a saúde e o bem-estar na prática biente e o artigo 34, que estabelece exigências
das atividades. legais a serem observadas pelas agências que
Entre os muitos objetivos da Política Na- operam turismo de aventura.
cional, dois deles estão estreitamente ligados Dessa forma, por meio do artigo 34, o De-
os segmentos de turismo de aventura e eco- creto de regulamentação da Lei Geral do Turis-
turismo: desenvolver, ordenar e promover os mo faz referência às normas técnicas relativas
diversos segmentos turísticos; e propiciar a ao segmento de turismo de aventura.
prática de turismo sustentável nas áreas na-
turais, promovendo a atividade como veículo 1.10.2 Normas Técnicas de turismo de aventura e
de educação e interpretação ambiental e in- ecoturismo
centivando a adoção de condutas e práticas de
mínimo impacto compatíveis com a conserva- Norma Técnica é um instrumento que
ção do meio ambiente natural. estabelece regras com as quais determinado
Entre os objetivos da Política Nacional serviço, produto ou processo deve estar de
de Turismo também estão o estabelecimento acordo. Também sistemas de gestão e pes-
de padrões e normas de qualidade eficiência soas podem ser objeto de normalização, caso
e segurança na prestação dos serviços turís- em que podem ser definidos requisitos de
ticos, bem como a promoção da formação, qualidade, desempenho e segurança; proce-
qualificação e capacitação dos operadores das dimentos; padronizações de tipos, usos, for-
atividades. mas e dimensões; classificações e medidas ou
A Lei Geral do Turismo também traz a métodos de ensaio.
definição de prestadores turísticos (Art. 21), As normas podem ser adotadas no âmbi-
determinando a obrigatoriedade do cadastro to interno de uma instituição (como uma nor-
junto ao Ministério do Turismo. Segundo a lei, ma de qualidade de um produto numa em-
os prestadores só poderão prestar serviços de presa, por exemplo), ou ter um alcance maior
turismo ou intermediá-los quando cadastrados – regional, nacional ou mesmo internacional,
no MTur. como é o caso das normas ISO.
Em dezembro de 2010, a Lei Geral do É importante notar que as normas técnicas
Turismo foi regulamentada pelo Decreto n. não são leis. Em vez disso, são documentos
7.381, o qual estabeleceu as normas de fun- estabelecidos por consenso e aprovados por
cionamento do SINASTUR – Sistema Nacional um organismo reconhecido (como a Associação
de Cadastramento, Classificação e Fiscaliza- Brasileira de Normas Técnicas – ABNT ou In-
ção dos Prestadores de Serviços Turísticos – ternational Organization for Standardization –
e também definiu regras de funcionamento e ISO), que compila regras e diretrizes de uso
as infrações e as penalidades administrativas comum e repetido, voltadas para a execução
para os meios de hospedagem, agências de das atividades ou para seus resultados.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 51


1.10.3 Relação e síntese das Normas Técnicas de- mínimas para condutores de turismo de aventu-
senvolvidas ra com atividade de caminhada de longo curso.

Atualmente (abr/2012) o ecoturismo e o ABNT NBR 15399 – turismo de aven-


turismo de aventura contam com 28 normas tura – Condutores de espeleoturismo de
técnicas, aplicáveis a 25 atividades. Aventura – Competências de pessoa - Es-
As normas técnicas relativas a tais ativida- tabelece resultados esperados e competências
des turísticas identificam os aspectos essenciais para condutores de turismo de aventura para
a uma operação responsável e segura. Elas ver- a prática de atividades de espeleoturismo. São
sam sobre temas como: a gestão da segurança considerados dois tipos de condutores: condu-
no oferecimento dessas atividades, as compe- tores de Espeleoturismo de Aventura e condu-
tências mínimas dos condutores, as especifica- tores de espeleoturismo vertical. Essa norma
ções dos produtos e equipamentos utilizados é complementar à NBR 15285.
na operação, e as informações mínimas que o
cliente deve receber antes de iniciar sua prática. ABNT NBR 15500 – turismo de aven-
A tabela a seguir apresenta as Nor- tura – Terminologia - Estabelece os prin-
mas ABNT relativas aos segmentos de turis- cipais termos e suas respectivas definições
mo de aventura e ecoturismo. Relacionamos empregadas no turismo de aventura utiliza-
apenas aquelas que estão relacionadas com dos em pelo menos duas ou mais atividades
espeleoturismo: específicas.

ABNT NBR 15285 turismo de aventu- ABNT NBR 15503 – turismo de aven-
ra – Condutores – Competências de pes- tura – Espeleoturismo de Aventura – Re-
soal - Estabelece resultados esperados e com- quisitos para Produto - Define requisitos
petências mínimas para condutores de turismo para produtos (serviços) de turismo de aven-
de aventura, independentemente do tipo de tura para a prática de atividades de espeleo-
atividade praticada. turismo e de Espeleoturismo vertical relativos
à segurança de clientes e condutores.
ABNT NBR 15286 - turismo de aventu-
ra – Informações mínimas preliminares a ABNT NBR 15505-1 – Turismo com
clientes - Elenca requisitos gerais mínimos de atividades de caminhada – Parte 1: Re-
informações relativas à segurança e aos aspec- quisitos para produto - Estabelece os requi-
tos contratuais pertinentes, referentes a pro- sitos para produtos de turismo com atividades
dutos e serviços que incluam atividades de tu- de caminhada que não envolvam pernoite, re-
rismo de aventura, ofertados por pessoa física lativos à segurança dos clientes e condutores.
ou jurídica, antes da formalização da compra.
ABNT NBR 15505-2 – Turismo com
ABNT NBR 15331 turismo de aven- atividades de caminhada – Parte 2: Clas-
tura – Sistema de gestão da segurança sificação de percursos - Estabelece os cri-
– Requisitos - Especifica requisitos para um térios referentes à classificação de percursos
sistema de gestão da segurança e aplicação de utilizados em caminhadas sem pernoite quan-
processos de melhoria contínua visando pro- to às suas características e severidade.
mover a prática de atividades de aventura de
forma segura. 1.10.4 Voluntariedade e Obrigatoriedade das Nor-
mas Técnicas
ABNT NBR 15398 – turismo de aven-
tura – Condutores de caminhada de longo A princípio, não existe obrigatorieda-
curso - Competências de pessoal-Estabele- de em seguir as normas técnicas, pois, via
ce os resultados esperados e as competências de regra, elas são desenvolvidas e utilizadas

52 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


voluntariamente. No entanto elas podem se Se o dano for causado em decorrência
tornar obrigatórias quando isso for previsto em da atuação humana, em desacordo com uma
contrato ou quando uma lei (ou outra norma obrigação pactuada entre as partes, por
jurídica, como um decreto ou portaria) assim meio de contrato, fica caracterizada a res-
determinar. É o caso do turismo de aventura. ponsabilidade civil contratual. Se não houver
Dessa forma, nos segmentos de ecoturis- descumprimento de um contrato, mas a ação
mo e turismo de aventura, algumas normas humana for contrária à lei e causar dano, fica
técnicas já aprovadas passaram a ser obriga- caracterizada a responsabilidade civil extra-
tórias em dezembro de 2010, quando o De- contratual. Isso significa que cumprir corre-
creto n. 7.381 regulamentou a Lei Geral do tamente os termos de um contrato não é su-
Turismo – Lei n. 11.771/2008, determinando ficiente para evitar a responsabilização por
que as agências de turismo que oferecem ati- dano eventualmente causado a um turista
vidades de turismo de aventura devem: – é necessário cumprir as normas estabele-
Dispor de condutores de turismo confor- cidas pela legislação que forem aplicáveis às
me normas técnicas oficiais, dotados de co- atividades oferecidas.
nhecimentos necessários, com o intuito de
proporcionar segurança e conforto aos clien- Responsabilidade contratual: decorre
tes. Ex. ABNT NBR 15285 – Turismo de aven- do descumprimento voluntário ou involuntá-
tura - Condutores – Competências de pessoal; rio de uma obrigação assumida em contrato.
Dispor de sistema de gestão de segurança O contratante que tiver sido prejudicado pelo
implementado, conforme normas técnicas ofi- descumprimento do contrato deve provar que
ciais, adotadas em âmbito nacional. Ex. ABNT esse descumprimento ocorreu e demonstrar
NBR 15331 – Turismo de aventura – Sistema o dano resultante dessa quebra de contrato.
de gestão da segurança – Requisitos; Nesse caso, não é necessário provar a culpa
Dispor de termo de ciência pelo contra- da outra parte para exigir restituição ou res-
tante, em conformidade com disposições de sarcimento, por meio de indenização. Quem
normas técnicas oficiais, que verse sobre as descumprir o contrato pode alegar, a seu favor,
preparações necessárias à viagem ou pas- algum fator que exclua sua responsabilidade
seio oferecido. ABNT NBR 15286 – Turismo de (força maior, por exemplo) ou simplesmente
aventura – Informações mínimas preliminares arcar com as consequências.
a clientes.
Assim, as normas técnicas que versam so- Responsabilidade extracontratual: de-
bre condutores, sistema de gestão da segu- corre de ação ou omissão voluntária, negligên-
rança e informações preliminares a clientes, cia, imperícia ou imprudência, que resulte em
passaram a ser obrigatórias. violação do direito de alguém, causando-lhe
dano, ainda que exclusivamente moral. Neste
1.11 Responsabilidade Civil caso, o direito violado e o dano causado não
estão previstos em contrato, mas sim em toda
1.11.1 Atos ilícitos e responsabilidade civil a legislação brasileira. Por isso, a responsabi-
lidade extracontratual pode surgir da violação
A operação de atividades de turismo de de direitos previstos na legislação civil, traba-
aventura e ecoturismo se submete às regras lhista, ambiental, do consumidor etc., confor-
gerais de responsabilidade civil, que dizem me cada situação.
respeito à obrigação de reparar o dano causa-
do a alguém. A legislação prevê a garantia de Outro ponto bastante importante e com
restituição ou compensação por parte daquele consequências práticas evidentes para os seg-
que comete um ato ilícito, causando dano a mentos de turismo de aventura e ecoturismo
outrem, e essa regra geral se aplica também é a distinção entre responsabilidade subjetiva
às atividades turísticas. e responsabilidade objetiva.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 53


1.12 Responsabilidade Subjetiva inutilização de seus bens ou direitos. Se a le-
são afetar o patrimônio da pessoa, fala-se em
A responsabilidade subjetiva decorre de dano material. Por outro lado, se atingir um
ato ilícito praticado com culpa. A culpa, em dos direito de personalidade do ser humano,
sentido amplo, é a inobservância de um dever causando um prejuízo imaterial, ficará carac-
de conduta, previsto pela lei, em atenção à paz terizado um dano moral.
social. Se a violação é proposital, caracteriza-
se o dolo (ex., diz-se “homicídio doloso” aque- Nexo causal – É a relação de causa e
le cometido com intenção de matar); se, no efeito entre a conduta e o resultado. O dano
entanto, o ato ilícito decorreu de negligência, sofrido pela vítima deve ser proveniente da
imprudência ou imperícia, diz-se que a pessoa ação ou omissão do agente. Caso o dano não
agiu com culpa, agora empregando-se a pala- esteja relacionado com a conduta do agente
vra num sentido mais específico (ex. “homicí- ou não fique provada essa relação, não haverá
dio culposo” é aquele cometido sem a intenção obrigação de indenizar.
de matar). De modo simplificado:
Culpa – É a inobservância de um dever
Imprudência: inobservância das precau- de conduta previsto por lei. Como vimos, se a
ções necessárias à ação, ou seja, o sujeito im- violação é proposital, fala-se em dolo; se, ao
prudente é aquele que age precipitadamente, contrário, a pessoa age com negligência, impru-
sem tomar os cuidados necessários para evitar dência ou imperícia, sua atuação é apenas cul-
as consequências danosas da sua ação. Seria posa. Por fim, deve ser mencionado que a culpa
o caso de um condutor de rafting que mantém também pode ser classificada de acordo com a
a decisão de realizar a atividade mesmo diante sua gravidade: alta (grave), leve ou levíssima.
de um volume de água muito superior ao que
se admite como seguro. Conforme os preceitos do artigo 927 do
Código Civil, a responsabilidade subjetiva sur-
Imperícia: falta de aptidão técnica para a ge a partir do momento em que uma pessoa
realização de determinada tarefa, como acon- pratica um ato ilícito, descumprindo a lei por
teceria caso um condutor de canionismo con- conduta culposa ou dolosa. A prova da culpa
duzisse uma atividade com imperícia por des- do agente passa a ser pressuposto necessário
conhecer o uso técnico correto de um equipa- para que haja indenização pelo dano causado,
mento descensor; de modo que não havendo culpa ou dolo, não
existe a obrigação de ressarcimento.
Negligência: omissão de alguma provi-
dência que poderia ter evitado o resultado da- 1.13 Responsabilidade Objetiva
noso. Seria o caso de um condutor que não
comunicasse os turistas do perigo de se apro- Nos casos de responsabilidade objetiva,
ximar da beira de um precipício cuja formação não se exige prova de culpa para que seja
rochosa não fosse suficientemente sólida para surja a obrigação de reparar o dano. Havendo
garantir a segurança dos visitantes. dano, surge o dever de reparar ou ressarcir
a pessoa prejudicada, sem necessidade de se
Para existir responsabilidade civil subjetiva comprovar que o causador do dano agiu com
é necessário que fique provada a existência de: culpa ou dolo. Isso acontece em situações es-
pecíficas previstas em lei (como é o caso da
Fato ou conduta – Pode ser uma ação ou responsabilidade objetiva atribuída ao poder
omissão ilícita. público, que responde pelos danos que seus
funcionários causam, cabendo-lhe indenizar a
Dano ou prejuízo – É toda lesão cau- vítima). Em outros casos, a responsabilidade
sada a alguém pela violação, deterioração ou se funda no risco: quem desenvolve atividade

54 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


que, por sua natureza, oferece riscos ao direi- aos direitos dos turistas ou outras pessoas en-
tos de outras pessoas é objetivamente respon- volvidas. Se assim entender, ficará caracteri-
sável pelos danos decorrentes de sua atuação, zada a responsabilidade objetiva e surgirá o
ainda não que não aja com intenção de causar dever de reparar o dano ou indenizar, indepen-
dano (dolo), nem com culpa (negligência, im- dentemente da comprovação de dolo ou culpa.
prudência ou imperícia). Desse modo, uma empresa pode ser judi-
Quando a culpa é presumida, o autor da cialmente condenada a pagar indenização em
ação (aquele que está requerendo reparação virtude de fenômenos naturais, se for conside-
por prejuízo sofrido) só precisa provar a ação rado que os riscos oferecidos eram inerentes
ou omissão, e o dano resultante da conduta, à atividade realizada. Nesses casos, se há um
porque a culpa do agente já é presumida. dano causado a um cliente, a empresa que
Para que fique caracterizada a responsa- oferece a atividade turística será responsabi-
bilidade civil objetiva, é necessário provar a lizada objetivamente. Veremos, inclusive, que
existência de: essa é a regra geral do Código de Defesa do
Consumidor, de modo que ficando caracteriza-
Fato: O fato, e não a culpa, torna-se o da a existência de uma relação de consumo,
elemento mais importante para que surja o não poderá o prestador de serviço esquivar-se
dever de reparar o dano causado. Ocorrido o da responsabilidade pelo dano causado.
fato, haverá o dever de reparação indepen-
dentemente de culpa. 1.14 Gestão de Riscos

Dano: O dano, ou prejuízo, é, pressupos- As atividades de ecoturismo e turismo de


to de responsabilidade civil, contratual ou ex- aventura pressupõem riscos diferentes dos
tracontratual, podendo ser classificado como riscos oferecidos por outras modalidades de
patrimonial (material) ou extrapatrimonial turismo e isso exige uma abordagem diferen-
(moral). Não haveria que se falar em indeni- te por parte das empresas. Em todo caso, é
zação se não houvesse dano. necessário prevenir para que danos não ocor-
ram. Além de ser o melhor remédio, a preven-
Nexo causal: É a relação de causalidade ção pode evitar problemas judiciais envolven-
entre a conduta humana (ação ou omissão do do os praticantes.
agente) e o dano verificado. Se o dano não É viável tentar diminuir o impacto de uma
estiver relacionado com a conduta do agente, ação de indenização ou reparação com base na
não há que se falar em obrigação de indenizar. responsabilidade civil, mas é quase impossí-
vel evitar que algum pedido de ressarcimento
Na legislação brasileira, a responsabilida- seja distribuído no Poder Judiciário. A empre-
de subjetiva é a regra geral. De acordo com o sa deve se cercar de instrumentos jurídicos
Código Civil, as hipóteses de responsabilidade ou tomar outras medidas para minimizar estes
objetiva são mais restritas, porque tal tipo de riscos. Por exemplo:
responsabilidade pode ser alegada apenas nas
hipóteses previstas em lei ou quando a ativi- GG
Elaborar um contrato no qual estejam
dade normalmente desenvolvida pelo autor do bem claras e delimitadas as obrigações,
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos e deveres;
direitos de outras pessoas.
Nos segmentos de turismo de aventura e GG
Implementar um sistema de gestão da se-
ecoturismo pode ficar caracterizada a segunda gurança baseado na ABNT NBR 15331;
hipótese. Em realidade, havendo uma discus-
são jurídica, o juiz deverá analisar a potenciali- GG
Oferecer seguro contra acidentes para os
dade lesiva da atividade desenvolvida e decidir participantes e colaboradores envolvidos
se a atividade implica, por sua natureza, riscos nas atividades.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 55


Não esqueça como já abordado, que o for- contratações. Para tanto, deve disponibilizar
necimento de serviço de ecoturismo e turismo aos consumidores a maior quantidade possível
de aventura, trata-se de uma relação de con- de informação para que, inclusive, eles pos-
sumo. Isso implica que os turistas, na condi- sam decidir pela não contratação dos serviços.
ção de consumidores dos serviços prestados Nenhuma informação ou dado relevante pode
pelos envolvidos na atividade, têm no Código ser ocultado do consumidor, inclusive em rela-
de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/1990), ção ao preço, desconto, forma de pagamento,
um instrumento muito eficaz para buscar seus riscos, entre outros aspectos.
direitos.
  Direito de receber informações adequadas e claras
1.15 Direito do consumidor
O consumidor tem o direito de dispor das
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 condições necessárias para escolher cons-
prevê a defesa do consumidor no rol de garan- cientemente o produto ou serviço oferecido
tias e direitos fundamentais do cidadão (art. no mercado. Para que isso acontece, cabe ao
5º, XXXII). A partir dessa previsão constitu- fornecedor transmitir-lhe informações ade-
cional, promulgou-se, em 1990, a Lei federal quadas e claras a respeito da atividade e dos
n. 8.078, que ficou conhecida como Código de riscos envolvidos.
Defesa do Consumidor. Por isso, uma empresa de turismo de
Na qualidade de fornecedor, as empresas aventura ou ecoturismo não deve negar os ris-
de turismo de aventura e ecoturismo têm a cos oferecidos pelas atividades, mas, ao con-
obrigação de conhecer e respeitar os direitos trário, assumir que eles existem, buscar meios
dos consumidores que, de maneira geral, es- de controlá-los e então informar aos clientes
tão previstos no artigo 6º do Código de Defesa seus esforços nesse sentido.
do Consumidor. Quando um cliente contrata uma empre-
sa de ecoturismo ou turismo de aventura, ele
1.15.1 Princípios transfere para ela a responsabilidade pelos ris-
cos da atividade, pois de outra forma, ele fa-
Direito a proteção à vida, à saúde e à segurança ria as atividades sem contratar seus serviços.
À empresa, cabe avisá-lo de todos os perigos
Os produtos e serviços colocados no mer- e riscos envolvidos, para que ele tenha plena
cado não devem expor o consumidor a poten- certeza sobre aquilo que está adquirindo.
ciais danos à saúde, segurança e patrimônio.
Desse modo, não se pode alegar que o fato de Direito à proteção contra a publicidade enganosa
um cliente se machucar durante uma atividade ou abusiva
é “normal” ou então “faz parte” da aventura.
No ecoturismo e no turismo de aventura, o O fornecedor não pode utilizar métodos
risco muitas vezes é parte do produto. Assim, comerciais coercitivos ou desleais, nem adotar
a melhor forma de lidar com isso é minimizar práticas ou cláusulas abusivas no fornecimen-
estes riscos e comunicá-los de forma clara aos to de produtos e serviços. Isso significa que a
consumidores, para que eles estejam cientes empresa deve ser cuidadosa ao elaborar seus
dos riscos das atividades. anúncios publicitários – pode ser criativa, mas
não irresponsável.
Direito a educação e divulgação É importante lembrar que tudo o que for
anunciado deverá ser realizado e que cláusulas
Os fornecedores devem proporcionar o contratuais que eximam a empresa de qualquer
consumo adequado dos produtos e servi- responsabilidade serão consideradas abusivas
ços que oferecem, assegurando a seus clien- e não surtirão qualquer efeito numa discussão
tes a liberdade de escolha e a igualdade nas judicial, uma vez que o Código de Defesa do

56 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Consumidor estabelece que a responsabilidade para evitar um contrato mal elaborado, que
é, em regra, dos fornecedores. Há exceções, pretenda transmitir ao consumidor a assunção
como situações em que fique configurada a de algum risco que na verdade é de responsa-
culpa exclusiva do consumidor, como, por bilidade da empresa, por força de Lei.
exemplo, no caso de um cliente que se feriu Assim, adotar medidas de prevenção de
porque deliberadamente retirou o capacete riscos nas atividades não é nada mais do que
durante uma atividade de rapel, mesmo tendo cumprir corretamente a lei de proteção ao
sido informado sobre os riscos que o não uso consumidor. Nesse sentido, a observância da
dos equipamentos de segurança acarretava. Norma ABNT – NBR 15331 – Turismo de aven-
Mas esse tipo de situação é exceção, e não re- tura – Sistema de Gestão da Segurança – Re-
gra! Portanto, qualquer cláusula que pretenda quisitos permite à empresa cumprir a Lei do
transferir ao cliente a responsabilidade que é consumidor prevenindo riscos, não de forma
do fornecedor não terá validade jurídica. intuitiva e particular, mas de forma padroni-
Toda comunicação deve ser clara, precisa, zada, sistêmica e consolidada nacionalmente.
objetiva e efetiva e isso inclui a publicidade.
Os riscos e dificuldades envolvidas não devem Direito ao acesso à Justiça
ser omitidos e a empresa não deve anunciar
aquilo que não irá oferecer aos clientes. O consumidor tem facilidade de acesso à
Justiça para que seus direitos sejam garanti-
Modificação das cláusulas contratuais dos. Exemplos disso são os Juizados Especiais,
o PROCON, as Delegacias Especializadas e os
O consumidor tem direito a pedir a mo- sistemas públicos de proteção ao consumidor.
dificação das cláusulas contratuais que esta-
beleçam prestações desproporcionais ou sua Direito à inversão do ônus da prova
revisão em razão de fatos que as tornem ex-
cessivamente onerosas. Em geral, quando as pessoas estão dis-
Se, em virtude de fato que não poderia ser cutindo uma relação jurídica na justiça, todos
previsto no momento da contratação, o con- devem fazer prova do que estão alegando, ou
trato ficar excessivamente caro para o cliente, seja, cada um deve apresentar provas (docu-
ele poderá pedir a revisão das cláusulas que se mentais e testemunhais, por exemplo) para
tornaram injustas, de forma a não sair prejudi- confirmar suas alegações. É com base nessas
cado na contratação dos serviços ou aquisição provas que o juiz irá tomar sua decisão.
dos produtos. Entretanto, nas relações de consumo,
É direito do cliente que a empresa assuma os consumidores geralmente não possuem a
o compromisso e pense preventivamente so- mesma quantidade de informações que o for-
bre todos os aspectos da operação, buscando necedor – ou porque não detêm conhecimento
evitar que danos ocorram. Saber disso é muito técnico, ou porque a documentação com as
importante para evitar um contrato mal feito, informações necessárias para comprovar suas
que desse a falsa sensação de que o consumi- alegações estão em poder do fornecedor.
dor assumiu algum risco que na verdade é da Nesse caso, poderá ser invertido o ônus da
empresa, por força de Lei. prova em favor o consumidor, ou seja, cabe-
rá somente ao consumidor imputar alegações
Direito à prevenção e reparação de danos patri­ em desfavor do fornecedor e este deverá fa-
moniais e morais, individuais, coletivos ou difusos zer prova de que não houve dano, ou ainda,
que não contribuiu de qualquer forma para a
É direito do cliente que a empresa assuma ocorrência do dano. Cumpre ressaltar que so-
o compromisso e pense preventivamente sobre mente será concedida a inversão do ônus da
todos os aspectos da operação, buscando prova, quando ficar evidenciado a vulnerabili-
evitar que danos ocorram. Isso é fundamental dade técnica/hipossuficiência do consumidor.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 57


1.15.2 Responsabilidade Civil Objetiva no Código de Se por um lado não se pode garantir que a
Defesa do Consumidor sua empresa fique ilesa de eventual reparação
a turistas que se sintam prejudicados, a ela-
A legislação de defesa dos direitos do con- boração zelosa e responsável de um contrato
sumidor adota como regra a responsabilidade garante o exercício do direito de regresso.
civil objetiva, na qual – como vimos – a de-
monstração da culpa é desnecessária, bastan-
1.15.4 Responsabilidade solidária
do esclarecer a ocorrência de um dano nas re-
As agências de turismo, os receptivos,
lações de consumo. Dessa forma, no caso das
os meios de hospedagem, as transportadoras
atividades de ecoturismo e turismo de aven-
turísticas, os guias e condutores e todos en-
tura, ao ficar caracterizada a relação de con-
volvidos na cadeia de fornecimento, indepen-
sumo, o juiz não buscará a culpa da empresa,
dentemente da existência de culpa respondem
do guia, do meio de hospedagem etc., ele bus-
solidariamente pela ocorrência de danos. Isso
cará apenas identificar se o consumidor sofreu
significa que, na prática, o consumidor pode
algum dano e se o dano decorre da atividade
pedir a responsabilização de qualquer um dos
oferecida pela empresa. Em caso afirmativo,
envolvidos, pois não cabe a ele – consumidor
surgirá a obrigação de indenizar.
– provar de quem é a culpa. Se ele pedir res-
O consumidor deve apenas provar a ocor-
sarcimento de dano em relação à agência de
rência de um dano, ao passo que o fornece-
turismo e tiver o pedido atendido pelo juiz, a
dor deve provar que tal dano não teve ligação
agência deverá ressarcir o dano, ficando reser-
com nenhuma conduta por ele praticada, ou
vado seu direito de regresso contra a empresa
mesmo praticada pelos demais fornecedores
ou pessoa que, de fato, tiver agido com culpa
envolvidos.
na produção do dano.
Assim, ao oferecer serviços no mercado, a
empresa assume certos riscos, dos quais não
1.15.5 Excludentes de responsabilidade
poderá se esquivar.
Nos três exemplos, fica claro que não foi a
O Código de Defesa do Consumidor reco-
empresa a culpada pelos danos causados aos
nhece a possibilidade de o fornecedor não ser
clientes. Ainda assim, estes podem acioná-la ju-
responsabilizado pelo dano, desde que com-
dicialmente, pedindo ressarcimento dos danos.
prove no processo a culpa exclusiva do con-
Afinal, foi a empresa de turismo que fez negó-
sumidor, a inexistência do defeito ou, ainda,
cio com o cliente e, na condição de fornecedora
que não colocou o produto ou o serviço no
do serviço, ela assume a responsabilidade pelos
mercado de consumo.
danos causados, independentemente de culpa.
No que se refere aos casos fortuitos e à
força maior, o fornecedor deverá comprovar
1.15.3 Direito de regresso que utilizou de todos os meios para evitar o
ocorrido, mas que não pode ser responsabili-
Entretanto, seria injusto se a lei não re-
zado pelo inesperado, pelo imprevisível e prin-
conhecesse a responsabilidade subjetiva do
cipalmente, pelo inevitável. É aí que entram os
condutor negligente, do motorista que dirigiu
fenômenos da natureza. Caso fortuito e força
alcoolizado e do fabricante da boia defeituosa.
maior se caracterizam pela ocorrência do even-
Nessas situações, a empresa não pode alegar
to por força irresistível, isto é, algo estranho
a ausência de culpa e deve pagar a indeniza-
à relação que não poderia ser previsto pelos
ção ao cliente prejudicado, mas por outro lado
envolvidos, como por exemplo, um terremoto.
poderá pedir o ressarcimento daquele que, de
fato, provocou o dano: primeiro ela paga e de- 1.15.6 Cláusulas abusivas
pois ela pede que seja reconhecida a respon-
sabilidade de quem agiu com culpa. Isso é o O Código de Defesa do Consumidor es-
que chamamos direito de regresso. tabelece expressamente um rol de cláusulas

58 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


abusivas nas relações de consumo. Trata-se de chapadas, dunas, mangues e todas as encos-
uma técnica legal de controle do conteúdo dos tas com declividade superior a 45°.
contatos de consumo, trazendo como efeito a Posteriormente, houve um avanço sig-
sua completa nulidade, pois, contrariam nor- nificativo nestas questões com o estabeleci-
mas de ordem pública e o interesse social da mento da Lei n. 6.938/1981, que instituiu a
proteção e defesa do consumidor. Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA),
Nesse sentido, qualquer disposição con- dando novo enfoque às questões ambientais.
tratual que seja lesiva aos interesses do con- A PNMA instituiu a figura dos “recursos am-
sumidor será taxada como cláusula abusiva e, bientais” – atmosfera, águas interiores, super-
portanto, deverá ser considerada como “não ficiais e subterrâneas, estatuários, mar terri-
escrita” em nome do equilíbrio contratual. torial, solo, subsolo e elementos da biosfera.
Entre as cláusulas abusivas expostas po- Antes da promulgação dessa lei, apenas al-
demos citar: guns recursos naturais tinham proteção legal
específica.
GG
Cláusulas que permitam variação unilate- A PNMA estabeleceu princípios que altera-
ral do preço; ram as diretrizes nacionais para assuntos am-
GG
Cláusulas que concedam ao fornecedor a bientais, como a descentralização das ações
opção para concluir ou não o contrato; (União, Estados e Municípios passaram a ser
GG
Cláusulas que subtraiam ao consumidor a responsáveis, conjuntamente, por legislar e
opção de reembolso; fiscalizar o cumprimento da legislação am-
GG
Cláusulas que autorizem ao fornecedor biental) e a participação popular na proteção
alteração unilateral do conteúdo após a do meio ambiente.
celebração ou ainda qualquer disposição Além disso, a Lei 6.938/81 definiu os ins-
contratual que possibilite vantagem exa- trumentos pelos quais o poder público deve
gerada ao fornecedor ou ameace efetiva- implementar a política de meio ambiente, en-
mente o equilíbrio contratual. tre os quais estão:

Às vezes, percebe-se no mercado a exis­ GG


O estabelecimento de padrões de qualida-
tência de documentos variados, chamados de ambiental;
Termo de Isenção de Responsabilidade, Termo GG
O zoneamento ambiental;
de Conhecimento de Risco, entre outros. Tais GG
A avaliação de impactos ambientais;
documentos devem ser feitos de acordo com os GG
O licenciamento e a revisão de atividades
preceitos do Código de Defesa do Consumidor, efetiva ou potencialmente poluidoras;
sob pena de invalidade. GG
A criação de áreas de proteção ambiental.

1.16 Legislação Ambiental 1.16.1 Constituição Federal de 1988

Antes da Constituição Federal de 1988 e No ano de 1988, com o advento da nossa


das leis que se seguiram à sua promulgação, atual Constituição Federal, a proteção ao Meio
o meio ambiente no Brasil não havia sido tra- Ambiente ganhou status de proteção consti-
tado de forma ampla. Havia somente o Código tucional e a questão ambiental passou a ser
Florestal (Lei n. 4.771/1965), que protege as tratada de forma mais completa e abrangente,
florestas e demais formas de vegetação. consagrando-se as diretrizes que devem nor-
O Código Florestal também criou áreas es- tear a legislação ambiental. Nesse sentido, seu
pecialmente protegidas, as Áreas de Preserva- artigo 225 determina que:
ção Permanente (APP), onde se desenvolve a Veremos agora os principais aspectos da
maioria das atividades de ecoturismo e turis- legislação brasileira que contribuem para efeti-
mo de aventura, que são: as margens dos rios, var as diretrizes constitucionais e que estão in-
as nascentes, montanhas e serras, restingas, timamente ligados às atividades de natureza.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 59


1.16.2 O Sistema de Unidades de Conservação existem áreas de preservação permanente,
reconhecidas como tal por sua grande impor-
No ano de 2000, com a promulgação da Lei tância ecológica, sendo cobertas ou não por
n. 9.985 criou-se o Sistema Nacional de Unidades vegetação nativa, e que têm como função pre-
de Conservação, também conhecido por SNUC, servar os recursos hídricos, a paisagem, a es-
que observas regras mais rígida, em compara- tabilidade geológica, a biodiversidade, a fauna
ção ao regime anterior, para a utilização, direta e a flora, bem como proteger o solo e asse-
ou indireta, das áreas de maior relevância sob o gurar o bem estar das populações humanas.
ponto de vista de proteção ambiental. Como exemplos de APP estão:
Essa lei estabelece critérios e normas para
a criação, implantação e gestão das unidades GG
áreas de mananciais;
de conservação (UCs). A lei definiu dois grupos GG
encostas com mais de 45 graus de de­cli­
de Unidades de Conservação: vidade;
GG
escarpas e bordas de chapadas e tabu­
I. Grupo de Proteção Integral: Parques leiros;
Nacionais; Reservas Biológicas; Esta- GG
manguezais, restingas e dunas;
ções Ecológicas; Monumentos Natu- GG
topo de morros, montes, montanhas e
rais; Refúgio da Vida Silvestre. serra;
GG matas ciliares;
II. Grupo de Uso Sustentável: Áreas de GG áreas com vegetação, nativas ou não, em
Proteção Ambiental; Áreas de Relevan­ altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos)
te Interesse Ecológico; Reservas Extra­ metros;
tivistas; Reservas de Fauna; Reservas GG locais de refúgio ou reprodução de aves
de Desenvolvi­ mento Sustentável; Flo- migratórias ou de exemplares da fauna
restas Nacionais; Reservas Particulares ameaçadas de extinção;
do Patrimônio Natural – RPPN. GG praias, em locais de nidificação e reprodu-
ção da fauna silvestre.
Algumas unidades permitem visitação tu-
rística, desde que respeitadas às normas de
Essas áreas são protegidas pelo Código Flo-
cada UC; outras somente permitem a visitação
restal e não precisam estar dentro de uma Uni-
em caráter de estudos científicos.
dade de Conservação para receber tal proteção.
No caso da prática de turismo de aventu-
ra em áreas de UC, quando ela for possível, é
necessária prévia autorização do gestor da UC. 1.16.4 Instrumentos da política nacional
Algumas dessas UCs somente poderão
ser visitadas em caráter educacional ou cien- O Estudo Prévio de Impacto Ambiental
tífico, tais quais as Reservas Biológicas e as (EIA) tem natureza preventiva. Quando o em-
Estações Ecológicas, sendo que nos Refúgios preendimento ou atividade for potencialmen-
da Vida Silvestre e nos Monumentos Naturais te prejudicial ao meio ambiente e causador de
somente serão permitidas visitações mediante possíveis degradações, deverá ser realizado
condições e restrições estabelecidas no Plano um estudo prévio que indique essas degrada-
de Manejo da unidade. Nas demais unidades ções e qual será o impacto no meio ambiente,
de conservação somente serão permitidas a a fim de se avaliar a viabilidade ou não de sua
visitação mediante regras estabelecidas pelo realização ou as formas de mitigar seus efeitos.
órgão gestor da unidade. Após o estudo, é gerado o Relatório de Im-
pacto Ambiental (RIMA), que aponta as vanta-
1.16.3 Áreas de Preservação Permanente (APP) gens e desvantagens do empreendimento, do
ponto de vista ambiental e também socioeco-
Além das áreas protegidas especialmen- nômico. É este relatório que instrui o processo
te pela lei como Unidades de Conservação de licenciamento ambiental.

60 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


O licenciamento ambiental é o instrumen- Licença de Operação (LO) – autoriza
to por meio do qual a administração pública o funcionamento do empreendimento ou ati-
busca exercer o necessário controle sobre as vidade, após verificação do cumprimento das
atividades humanas que interferem nas con- exigências que constam nas licenças anterio-
dições ambientais. res, com as medidas de controle ambiental e
Desta forma este instrumento tem por condicionantes determinados para a operação.
princípio a conciliação do desenvolvimento
econômico com o uso dos recursos naturais, O processo de licenciamento varia de acordo
de modo a assegurar a sustentabilidade dos com cada situação, dependendo do porte e do
ecossistemas em suas variabilidades físicas, impacto do empreendimento ou atividade a ser
bióticas, socioculturais e econômicas. Deve, licenciada. De acordo com cada empreendimen-
ainda, estar apoiado por outros instrumentos to, poderão ser solicitados estudos ambientais.
de planejamento de políticas ambientais como Para obtenção do licenciamento de em-
a avaliação ambiental estratégica; avaliação preendimento ou atividade potencialmente po-
ambiental integrada; bem como por outros luidores, o interessado deverá dirigir sua soli-
instrumentos de gestão; zoneamento ecológi- citação ao órgão ambiental competente para
co econômico, planos de manejo de unidades emitir a licença, podendo esse ser o Instituto
de conservação, planos de bacia etc. Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-
Para a condução do Licenciamento Am- turais Renováveis (Ibama), os órgãos de meio
biental, foi concebido um processo de ava- ambiente dos estados e do Distrito Federal ou
liação preventivo que consiste no exame dos os órgãos municipais de meio ambiente. As-
aspectos ambientais dos projetos em suas sim, o órgão licenciador informa ao empreen-
diferentes fases: concepção/planejamento, dedor se o licenciamento ambiental é neces-
instalação e operação. O processo de licen- sário e que tipo de documento técnico deverá
ciamento se dá em etapas, por meio da con- ser apresentado para a obtenção de licenças.
cessão das Licenças Prévia, de Instalação e
de Operação, e acompanhamento das conse- 1.16.5 Lei de Crimes e Infrações Administrativas
quências ambientais de uma atividade econô- Ambientais
mica ou empreendimento. Cada licença con-
siste no seguinte: Todos nós sabemos que a proteção efeti-
va do meio ambiente só é possível se houver
Licença Prévia (LP) – concedida na no ordenamento jurídico mecanismos de res-
fase de planejamento da obra ou atividade, ponsabilização daqueles que causarem danos.
aprovando sua localização, concepção, ates- Sem a possibilidade de reparar o dano, apli-
tando a viabilidade ambiental e estabelecen- cando as sanções civis, penais e administrati-
do os requisitos básicos e condicionantes a vas cabíveis, a legislação protecionista perde
serem atendidos nas próximas fases de sua a efetividade. Entretanto, até 1998 ainda não
implementação. Esta Licença não autoriza o havia uma legislação específica que determi-
início de qualquer obra ou serviço no local do nasse formas de punição e responsabilização
empreendimento; daqueles que não seguissem as leis ambien-
tais, apesar das incontáveis legislações já
Licença de Instalação (LI) – autoriza existentes sobre regras de conduta e formas
a instalação da obra ou atividade, de acordo de licenciamento ambiental, entre outros as-
com as especificações constantes dos planos, pectos. Isso foi introduzido pela Lei de Crimes
programas e projetos aprovados, incluindo as e Infrações Administrativas Ambientais.
medidas de controle ambiental e condicionan- Assim, somente com o advento da Lei n.
tes. Esta Licença autoriza o início da obra ou 9.605, disponível em: <http://www.planalto.
serviço no local do empreendimento, porém gov.br/ccivil_03/Leis/L9605.htm>, no ano de
não autoriza seu funcionamento; 1998, regulada pelo Decreto n. 3.179/1999,

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 61


as infrações ambientais passaram a ser efeti- como a obrigatoriedade de preservação das
vamente consideradas por empresários e em- áreas especificadas onde se desenvolvem ou se
presas que utilizam recursos naturais ou cujas pretendem desenvolver atividades turísticas.
atividades apresentam potencial para causar
danos ao meio ambiente. A lei prevê responsa- Lei n. 11.284/2006 Gestão de Flo­
bilizações administrativas (tais como multas, restas Públicas. Dispõe sobre a gestão de flo-
embargos de atividades, apreensão de equi- retas públicas para a produção sustentável, ins-
pamentos, entre outras), responsabilização ci- titui o Serviço Florestal Brasileiro e cria o Fundo
vil (objetivando especialmente a recuperação Nacional de Desenvolvimento Florestal voltado
do dano ambiental causado) e responsabiliza- para o desenvolvimento tecnológico, promoção
ção criminal (visando punir os infratores). e assistência técnica de incentivos para o de-
Com a nova legislação o poder público senvolvimento florestal brasileiro. Define três
passou a atuar de forma mais efetiva, espe- formas de gestão das florestas públicas para
cialmente por meio da atuação das Promoto- produção sustentável: a criação de unidades de
rias de Justiça, para a proteção do meio am- conservação que permitam a produção flores-
biente e responsabilização dos envolvidos em tal sustentável; destinação para uso comuni-
crimes ambientais. E destaca-se: de TODOS tário, como assentamentos florestais, reservas
os envolvidos, uma vez que a lei brasileira or- extrativistas, áreas quilombolas e Projetos de
denou a responsabilização solidária pelos da- Desenvolvimento Sustentável (PDS); e con-
nos causados ao meio ambiente. cessões florestais pagas, baseadas em uma
determinada região após a definição das uni-
1.16.6 Legislação Ambiental para Consulta dades de conservação e áreas destinadas ao
uso comunitário. O turismo é citado como uma
Constituição Federal de 1988. D e f i n e possibilidade em serviço de manejo florestal
como incumbência do poder público garantir possibilitando benefícios decorrentes do mane-
a todos o direito ao meio ambiente ecologi- jo e da conservação de florestas. Altera a Lei
camente equilibrado, bem de uso comum do n. 4.771/1965, que institui o Código Florestal.
povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se também a coletividade o dever de Lei n 5.197/1967 – Proteção à Fau-
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e na e Lei n. 9.605/1998 – Crimes Ambien-
futuras gerações. tais. Estabelece que todos os animais que
Assim, deve assegurar a preservação e vivem naturalmente fora de cativeiro são pro-
restauração dos processos ecológicos essen- priedades do Estado, entre outras disposições.
ciais e do manejo ecológico das espécies e Determina os animais que constituem a fauna
ecossistemas; a exigência de estudo ambien- silvestre e inclui à proteção ninhos, abrigos e
tal prévio à instalação de obra ou atividade de criadouros naturais. Proíbe à utilização, per-
significativa degradação do meio ambiente; a seguição, destruição, caça ou apanha dos ele-
promoção da educação ambiental em todos os mentos da fauna silvestre. Assim, ao agregar
níveis de ensino e a conscientização pública atividades de observação de animais em seu
para a preservação do meio ambiente; a pro- produto turístico, deve-se atentar para a proi-
teção da fauna e da flora; entre outras (Capí- bição, a qualquer tempo, da utilização, per-
tulo VI – Do Meio Ambiente, Art. 225). seguição, caça e apanha de espécies da fau-
na silvestre, bem como da comercialização de
Lei n. 4.771/1965 – Código Florestal. espécimes e de produtos e objetos que im-
Trata das florestas existentes no território na- pliquem a sua caça, cabendo ao proprietário
cional e as demais formas de vegetação reco- fiscalizar o cumprimento da Lei.
nhecidas como sendo de utilidade às terras que
revestem. Apresenta os critérios para a defi- Lei n. 6.938/1981 – Política Nacio-
nição de áreas de preservação permanente, nal do Meio Ambiente (PNMA) e Decreto

62 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


n. 99.274/1990 – Decreto de regula- critérios e normas para a criação, implantação
mentação. Apresenta sua finalidade e me- e gestão das Unidades de Conservação.
canismos de formulação e aplicação; cons- Cabe ressaltar que a visitação ao SNUC é
titui o Sistema Nacional de Meio Ambiente; um dos principais recursos e atrativos para o
institui o Cadastro de Defesa Ambiental; e desenvolvimento de inúmeras atividades turís-
ainda define conceitos pertinentes. Determi- ticas no País, ocupando lugar de destaque na
na que as atividades empresariais, inclusi- política ambiental, a partir de atividades com-
ve as atividades turísticas, devem estar em patíveis com a conservação da biodiversidade.
consonância com as diretrizes dessa política.
Decreto n. 1.922/1996 – Reserva
Apresenta os instrumentos da PNMA, en- Particular do Patrimônio Natural (RPPN)
tre os quais, para fins turísticos, destacam-se e Decreto n. 5.746/2006 – Decreto de re-
o estabelecimento de padrões de qualidade, gulamentação. Estabelecem meios para que
a avaliação de impactos ambientais, a produ- as propriedades particulares possam conser-
ção e instalação de equipamentos e tecnologia var ou preservar locais de relevante beleza cê-
voltada à melhoria da qualidade ambiental, a nica ou representações de condições naturais
garantia de prestação de informações relativas primitivas ou recuperadas. Define RPPN62 e
ao meio ambiente, o zoneamento, o licencia- estabelece que o objetivo da RPPN é a prote-
mento de atividades poluidoras, a criação de ção dos recursos ambientais da região.
espaços territoriais protegidos, entre outros,
além de estabelecer o licenciamento prévio Decreto n. 4.339/2002 – Política Na-
obrigatório para a construção, instalação, am- cional da Biodiversidade Considerando
pliação e funcionamento de estabelecimentos os compromissos assumidos pelo Brasil
e atividades que utilizam recursos ambientais. na Convenção da Diversidade Biológica.
Institui o Cadastro Técnico Federal de Ativi- Dispõe sobre sete eixos temáticos, sendo eles:
dades Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos 1-Conhecimento da Biodiversidade; 2-Con-
Ambientais e apresenta a lista das atividades servação da Biodiversidade; 3-Utilização Sus-
sujeitas à taxa, incluindo o Turismo. tentável dos Componentes da Biodiversidade;
4-Monitoramento, Avaliação, Prevenção e Mi-
Lei n. 9.433/1997 – Política Nacio- tigação de Impactos sobre a Biodiversidade;
nal de Recursos Hídricos e Decreto n. 5- Acesso aos Recursos Genéticos e aos Co-
24.643/1934 – Decreto de regulamenta- nhecimentos Tradicionais Associados e Repar-
ção. Cria o Sistema Nacional de Recursos Hí- tição de Benefícios; 6-Educação, Sensibiliza-
dricos e dá outras providências. Além de criar a ção Pública, Informação e Divulgação sobre
Política Nacional, institui o Sistema Nacional de Biodiversidade; 7-Fortalecimento Jurí­ dico e
Gerenciamento de Recursos Hídricos a partir do Institucional para a Gestão da Biodiversidade.
Código de Águas (Decreto n.º 24.643/1934),
que regulamenta o uso e classificação das Lei n. 9.795/1999 – Política Nacional
águas brasileiras. Define o conteúdo mínimo de Educação Ambiental. Apresenta os ob-
necessário aos Planos de Recursos Hídricos, jetivos da política, diretrizes e uma proposta
que devem ser de longo prazo e cumprir todos programática de promoção da educação am-
os seus itens, com ênfase às propostas para biental em todos os setores da sociedade. Con-
a criação de áreas sujeitas à restrição de uso, siderando que o ecoturismo deve promover a
visando à proteção dos recursos hídricos. educação ambiental, deve-se ter em mente os
objetivos fundamentais dessa ação.
Lei n. 9.985/2000 – Sistema Nacio-
nal de Unidades de Conservação da Na- Resolução 422, de 23 de Março de
tureza (SNUC) e Decreto n. 4.340/2002 – 2010. Diretrizes para as campanhas,
Decreto de regulamentação. Estabelecem ações e projetos de Educação Ambiental.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 63


Estabelece diretrizes para conteúdos e pro- LINDBERG, K. e HAWKINS, D. E. Ecoturismo –
cedimentos em ações, projetos, campanhas Um guia para planejamento e gestão. São
e programas de informação, comunicação e Paulo: Senac, 1995.
educação ambiental no âmbito da educação
Ministério do Turismo. Ecoturismo: orientações
formal e não formal, realizadas por instituições
básicas. Ministério do Turismo, Secretaria
públicas, privadas e da sociedade civil.
Nacional de Políticas de Turismo, Departa-
mento de Estruturação, Articulação e Or-
Decreto n. 99.556/1990 – Proteção das
denamento Turístico, Coordenação Geral
cavidades naturais subterrâneas. Apre­senta
de Segmentação. 2. ed. – Brasília: Minis-
o conceito de cavidade natural subterrânea
tério do Turismo, 2010. 90p
(grutas, cavernas, abismos e outras), estabe-
lecendo medidas de proteção e fiscalização. ____________. Plano Nacional do Turismo
2003-2007. Brasília: Ministério do Turis-
Lei no 9.605/1998 – Crimes Ambien- mo, 2003.
tais. Regulamenta crimes e infrações admi-
nistrativas contra o meio ambiente, incluindo ____________. Regulamentação, normaliza-
crimes contra o ordenamento urbano e o pa- ção e certificação em turismo de aventura.
trimônio cultural. Relatório diagnóstico. Brasília: Ministério
do Turismo, 2005. 92 p. il.

1.17 Bibliografia ____________. Turismo de Aventura: orien-


tações básicas. Ministério do Turismo, Se-
ABETA; Ministério do Turismo. Diagnóstico do cretaria Nacional de Políticas de Turismo,
turismo de aventura no Brasil. Belo Hori- Departamento de Estruturação, Articula-
zonte: Ed. dos autores, 2009. 156 p. (Sé- ção e ordenamento Turístico, Coordena-
rie Aventura Segura) ção Geral de Segmentação. – Brasília: Mi-
nistério do Turismo, 2010. 75 p.
____________. Manual de boas práticas de
competências mínimas do condutor de turis- NEIMAN, Zysman. (Org). Meio Ambiente –
mo de aventura. Belo Horizonte: Ed. dos au- Educação e Ecoturismo. Barueri/SP: Edi-
tores, 2009. 55 p. (Série Aventura Segura) tora Manole, 2002.

64 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


2. SEGURANÇA E
PRIMEIROS SOCORROS
Autor: Márcio Rocha Dias

2.1 Introdução o resultado de uma reação química entre o


combustível, o oxigênio e o calor. Mas o que
2.1.1 Objetivos do Curso de Brigadista é reação química? Em linguagem bem sim-
ples: quando duas substâncias diferentes são
Estabelecer as condições mínimas para a misturadas e dessa mistura surgem outras
composição, formação, implantação, treina- substâncias totalmente diferentes, aí temos
mento e reciclagem da brigada de incêndio a reação química.
para atuação em edificações e áreas de risco
no Estado de São Paulo e outros Estados, na Fogo: É uma reação química denomina-
prevenção e no combate ao princípio de incên- da combustão, onde ocorre a decomposição de
dio, abandono de área e primeiros socorros, uma substância sólida, líquida ou gasosa, em
visando, em caso de sinistro, proteger a vida presença de um gás comburente (oxigênio), li-
e o patrimônio, reduzir os danos ao meio am- berando energia em forma de calor e luz. Para
biente, até a chegada do socorro especializa- que tenhamos fogo precisamos basicamente
do, momento em que poderá atuar no apoio. de 3 elementos: combustível, comburente
e calor.
2.1.2 Objetivos da Parte Teórica
Incêndio: é uma combustão sem contro-
Conhecer os objetivos gerais do curso e le que ceifa vidas, o meio ambiente e bens
comportamento de um condutor materiais.

2.1.3 Aspectos legais

No Estado de São Paulo a composição, for-


mação, implantação, treinamento e reciclagem
da Brigada de Incêndio estão definidos no De-
creto Estadual nº 56.819/2011, regulamentados
pela Instrução Técnica nº 17. Nos demais Esta-
dos através de suas legislações locais. No âmbito
normativo através da NBR nº 14.276 (ABNT).

2.2 Grandes incêndios Figura 18

Teoria do Fogo: Lavoisier, um cientista Triângulo Do Fogo: O fogo é represen-


francês, afirmou e demonstrou que o fogo é tado graficamente por um triângulo eqüilátero

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 67


(lados iguais) no qual cada lado representa um Combustão: É a combinação dos 3 ele-
elemento indispensável para que haja a com- mentos do Triângulo do Fogo sob condições pro­
bustão. Recentemente, estudos mais aperfei- pícias e classificam-se em:
çoados chegaram à conclusão da existência de
VELOCIDADE
um quarto elemento, igualmente necessário TIPOS DE COMBUSTÃO
DE QUEIMA
ao processo de combustão:
a) Oxidação lenta:
Nula
ferrugem

b) Combustão simples:
+ ou - 1 m/seg.
madeira, papel, etc.

c) Deflagração: pólvora + ou - 400 m/seg.

d) Detonação:
Acima de 400 m/seg.
nitroglicerina

e) Explosão:
corresponde às letras C e D

Tabela 2

Comportamento do Combustível: É relativo à velo-


cidade de propagação em misturas adequadas de
combustível + oxigênio.
Figura 19 Reação em cadeia. Assim, didaticamente,
deixou-se de representar o fogo por um triângulo eqüi-
Limite Explosivo: Limites explosivos ou
látero, utilizando-se para tal um tetraedro.
limites de explosividade ou inflamabilidade são
os limites de concentração entre os quais uma
Combustível: É o material que alimenta mistura gasosa é explosiva ou inflamável. Es-
o fogo e serve de campo à sua propagação. sas misturas são expressas em percentagens
Podem ser divididos em 3 (classes): SÓLIDOS em relação ao volume de gás ou vapor no ar,
(papel, madeira, tecido, plástico, borracha, e são determinadas a pressão e temperaturas
etc.), LÍQUIDOS (gasolina, diesel, querosene, normais para cada substância. São definidos
éter, solventes, álcool, etc.) e GASOSOS (GLP, dois limites;
acetileno, nafta, gás natural, etc.).
Limite Inferior de Explosividade (LIE):
É a menor concentração de uma substân-
Comburente: É o elemento que dá vida
cia que misturada com o ar forma uma
ao fogo. O mais comum dos comburentes é o
mistura inflamável.
oxigênio, pois intensifica a reação química. No
ar atmosférico temos 21% de oxigênio. Para
Limite Superior de Explosividade (LSE):
que tenhamos chama numa combustão são
É a maior concentração de uma substância
necessários 16% de oxigênio, abaixo disso a
que misturada com o ar forma uma mistura
chama se extinguirá.
inflamável.

Calor: É o elemento que dá início à com- Uma mistura abaixo do limite inferior é
bustão. É o responsável pela produção de va- dita “pobre” e uma mistura acima do limite su-
pores inflamáveis nos corpos combustíveis. A perior é dita “rica”. Tanto a mistura “rica” como
temperatura que vai provocar a produção de a “pobre” estão fora dos limites para poderem
vapores inflamáveis varia de um combustível queimar ou explodir. Exemplo dos limites de
para outro. algumas substâncias:
O calor pode ser adquirido de várias ma-
neiras: atrito, reação química (exotérmica), Etanol – 3,5%15% Acetileno – 1,50%-82%
Gasolina – 1,4%-7,6% Butano – 1,50%-8,50%
energia elétrica, radioatividade, etc.

68 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


2.3 Temperatura do comburente é suficiente para o início da
combustão.
Todo material possui certas propriedades
que o diferenciam de outros em relação ao ní- Reação Em Cadeia: Os combustíveis,
vel de combustibilidade. Por exemplo: pode- após iniciarem a combustão, geram mais calor,
se incendiar a gasolina com a chama de um o qual provocará o desprendimento de mais
isqueiro de imediato, não ocorrendo o mesmo gases ou vapores, desenvolvendo então, uma
com o papel, isso porque o calor gerado pela transformação ou reação em cadeia, ou seja, o
chama do isqueiro não é suficiente para levar o produto de uma transformação gerando outra
papel, de imediato, à temperatura necessária transformação.
para que ele libere vapores combustíveis. To-
dos os materiais combustíveis, dependendo da Material/ Ponto de Ponto de Ponto de
temperatura a que estiver submetidos, libera- Combustível Fulgor Combustão Ignição

rão maior ou menor quantidade de vapores. + ou –


Gasolina - 42ºC 250ºC
(- 41 a 249ºC)

Pontos de Temperatura ou Fases da Combustão + ou –


Diesel 45ºC 300ºC
(46 a 299ºC)

Aos diferentes estágios de temperatura + ou –


Éter - 40ºC 170ºC
dos materiais combustíveis damos os seguin- (- 39 a 169ºC)

tes nomes: + ou –
Papel jornal 85ºC 185ºC
(86 a 184ºC)

Ponto de Fulgor: É a temperatura míni- + ou –


Álcool 12ºC 251ºC
ma na qual um material combustível começa (13 a 250ºC)

a desprender gases ou vapores, necessita de Tabela 3


chama externa para que haja fogo, mas o fogo
não continua devido a insuficiência de gases. Diferentes Formas de Combustão: po-
dem se classificar quanto à sua velocidade,
das seguintes formas; Completa, Incompleta,
Explosão, Espontânea

Tal diferenciação deve-se principalmente


à porcentagem de oxigênio contida no am-
biente e, secundariamente, à divisão do ma-
terial combustível, pois quanto mais fraciona-
do mais a superfície estará exposta ao calor e,
conseqüentemente, maior quantidade de ga-
Figura 20 ses produzirá (Exemplo: um cubo de madeira
queimará com maior dificuldade do que uma
Ponto De Combustão: É a temperatura mesma massa da mesma madeira em forma
mínima necessária para que um material com- de raspas ou serragem).
bustível emita gases ou vapores, em quanti-
dade suficiente para que haja fogo, necessita Combustão Completa: É aquela em que
de chama externa para que haja fogo e o fogo o fogo, além de produzir calor, produz chama,
continua, pois há gases suficientes. isto é, luz. A razão para tal fenômeno justifica-
se pelo fato de que tal reação se processa em
Ponto De Ignição: É a temperatura na ambiente rico em oxigênio.
qual os materiais combustíveis se auto in-
flamam, não necessitando de chama exter- Combustão Incompleta: É aquela em
na para que haja fogo, somente a presença que o fogo só produz calor, não apresentando

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 69


chamas, geralmente em ambientes com taxa
de oxigênio abaixo de 16%.

Combustão Espontânea: Alguns mate-


riais, geralmente de origem vegetal, tendem a
fermentar quando armazenados e, dessa fer-
mentação, resulta o calor que se eleva gradati-
vamente (reação exotérmica) e faz o combus-
tível atingir seu ponto de ignição (Exemplo:
gás metano). De igual forma, determinados
Figura 22
produtos, quando em contato com outros, re-
agem quimicamente gerando calor (incompa- Convecção: Quando a propagação é fei-
tibilidade entre produtos) e, conseqüentemen- ta por meio de deslocamento de massa de ar
te, uma combustão (Exemplo: fósforo branco aquecido (sempre para cima, pois é mais leve
em contato com oxigênio). que o ar comum), a qual se desloca do local
em chamas levando energia calorífica suficiente
Explosão: É uma combustão ultra-rápi-
para que outros materiais combustíveis atinjam
da e que atinge altas temperaturas. Essa re-
seus pontos de fulgor, combustão e ignição.
ação se caracteriza por violenta dilatação de
gases que, conseqüentemente, exercem tam-
bém violenta pressão às paredes em que são
confinados.

2.4 Propagação do fogo:

O calor se propaga por contato direto da


chama sobre os materiais combustíveis, pelo Figura 23
deslocamento de partículas incandescentes que
Irradiação: Quando a transmissão de
se desprendem de outros materiais em combus-
energia calorífica se dá por meio de ondas
tão ou pela ação do movimento de moléculas
através do espaço.
de um corpo. Neste último processo de propa-
gação, a transmissão do calor pode ocorrer por:
2.4.1 Fases do fogo

Figura 21

Figura 24
Condução: Quando o calor se propaga
através de corpos sólidos, transmissores de Fase Inicial: Nesta primeira fase, o oxi-
calor, de molécula para molécula nas substân- gênio contido no ar não está significativa-
cias que estejam em contato direto ou próxi- mente reduzido e o fogo está produzindo va-
mas a uma fonte de calor, possibilitando novos por d’água (H20), dióxido de carbono (CO2),
focos de incêndio. monóxido de carbono (CO) e outros gases.

70 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Grande parte do calor está sendo consumido simultaneamente, haverá uma queima ins-
no aquecimento dos combustíveis, e a tempe- tantânea e concomitante desses produtos,
ratura do ambiente, neste estágio, está ainda o que poderá provocar uma explosão am-
pouco acima do normal. O calor está sendo biental, ficando toda a área envolvida pelas
gerado e evoluirá com o aumento do fogo. chamas. Esse fenômeno é conhecido como
“Flashover”.

Figura 25

Queima Livre: Durante esta fase, o ar,


rico em oxigênio, é arrastado para dentro do
ambiente pelo efeito da convecção, isto é, o ar
quente “sobe” e sai do ambiente. Isto força a
Figura 27
entrada de ar fresco pelas aberturas nos pon-
tos mais baixos do ambiente.
Queima Lenta: Como nas fases ante-
Os gases aquecidos espalham-se preen-
riores, o fogo continua a consumir oxigênio,
chendo o ambiente e, de cima para baixo,
até atingir um ponto onde o comburente é in-
forçam o ar frio a permanecer junto ao solo;
suficiente para sustentar a combustão. Nes-
eventualmente, causam a ignição dos com-
ta fase, as chamas podem deixar de existir
bustíveis nos níveis mais altos do ambiente.
se não houver ar suficiente para mantê-las
Este ar aquecido é uma das razões pelas quais
(na faixa de 8% a 0% de oxigênio). O fogo é
os bombeiros devem se manter abaixados e
normalmente reduzido a brasas, o ambiente
usar o equipamento de proteção respiratória.
torna-se completamente ocupado por fumaça
Uma inspiração desse ar superaquecido pode
densa e os gases se expandem. Devido a pres-
queimar os pulmões. Neste momento, a tem-
são interna ser maior que a externa, os gases
peratura nas regiões superiores (nível do teto)
saem por todas as fendas em forma de lufa-
pode exceder 700 ºC.
das, que podem ser observadas em todos os
pontos do ambiente. E esse calor intenso re-
duz os combustíveis a seus componentes bá-
sicos, liberando, assim, vapores combustíveis.

Figura 26 Figura 28

Flashover”: Na fase da queima livre, Backdraft (Explosão de Fumaça): A


o fogo aquece gradualmente todos os com- combustão é definida como oxidação, que é
bustíveis do ambiente. Quando determinados uma reação química na qual o oxigênio com-
combustíveis atingem seu ponto de ignição, bina-se com outros elementos.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 71


O carbono é um elemento naturalmente conseqüências danosas, é o bleve. (Boiling
abundante, presente, entre outros materiais, na Liquid Expanding Vapor Explosion).
madeira. Quando a madeira queima, o carbono Quando um recipiente contendo líquido sob
combina com o oxigênio para formar dióxido de pressão tem suas paredes expostas diretamen-
carbono (CO2 ), ou monóxido de carbono (CO te às chamas, a pressão interna aumenta (em
). Quando o oxigênio é encontrado em quanti- virtude da expansão do gás exposto à ação do
dades menores, o carbono livre ( C ) é liberado, calor), tendo como resultado a queda de re-
o que pode ser notado na cor preta da fumaça. sistência das paredes do recipiente. Isto pode
Na fase de queima lenta em um incêndio, a resultar no rompimento ou no surgimento de
combustão é incompleta porque não há oxigê- fissura. Em ambos os casos, todo o conteúdo
nio suficiente para sustentar o fogo. Contudo, o irá vaporizar-se e sair instantaneamente. Essa
calor da queima livre permanece, e as partículas súbita expansão é uma explosão. No caso de
de carbono não queimadas (bem como outros líquidos inflamáveis, formar-se-á uma grande
gases inflamáveis, produtos da combustão) es- “bola de fogo”, com enorme irradiação de calor.
tão prontas para incendiar-se rapidamente as- O maior perigo do bleve é o arremesso de
sim que o oxigênio for suficiente. Na presença pedaços do recipiente em todas as direções,
de oxigênio, esse ambiente explodirá. A essa com grande deslocamento de ar. Para se evitar
explosão chamamos “Backdraft”. o bleve é necessário resfriar exaustivamente
A ventilação adequada permite que a fu- os recipientes que estejam sendo aquecidos
maça e os gases combustíveis superaquecidos por exposição direta ao fogo, ou por calor irra-
sejam retirados do ambiente. Ventilação ina- diado. Este resfriamento deve ser preferencial-
dequada suprirá abundante e perigosamente mente com jato d’água em forma de neblina.
o local com o elemento que faltava (oxigênio),
provocando uma explosão ambiental.

As condições a seguir podem indicar uma situa­


ção de “Backdraft”:

GG
Fumaça sob pressão, num ambiente fe-
Figura 29
chado;
GG
Fumaça escura, tornando-se densa, mu-
dando de cor (cinza e amarelada) e saindo
Boil Over – Ebulição Turbilhonar
do ambiente em forma de lufadas;
GG O boil over pode ser explicado da seguin-
Calor excessivo (nota-se pela temperatura
te maneira:
na porta);
GG
Pequenas chamas ou inexistência destas;
GG
Resíduos da fumaça impregnando o vidro
GG
Quando se joga água em líquidos combus-
tíveis, de pequena densidade, a água ten-
das janelas;
GG de a depositar-se no fundo do recipiente.
Pouco ruído;
GG
Movimento de ar para o interior do am-
GG
Se a água no fundo do recipiente for sub-
biente quando alguma abertura é feita
metida a altas temperaturas , pode vapo-
(em alguns casos ouve-se o ar assovian-
rizar-se. Na vaporização da água há gran-
do ao passar pelas frestas).
de aumento de volume (1 litro de água
2.5 Incêndios em líquidos inflamáveis transforma-se em 1.700 litros de vapor).

Bleve – Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion GG


Com o aumento de volume, a água age
como êmbolo numa seringa, empurrando o
Um fenômeno que pode ocorrer em re- combustível quente para cima, espalhando
cipiente com líquidos inflamáveis, trazendo -o e arremessando-o a grandes distâncias.

72 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


2.5.1 Classes de incêndios:

Para facilitar os estudos de prevenção e


combate a incêndios, convencionou-se adotar
uma classificação, em 04 (quatro) tipos distin-
tos: A, B, C e D.

Figura 31

Classe “A”: Abrange em geral todos os


combustíveis sólidos comuns que ao se quei-
marem na superfície e profundidade deixam
resíduos ao final do processo de queima.
Exemplos: madeira, papel, tecidos, espuma,
borracha, etc.

Figura 30

Antes de ocorrer o BOIL OVER podemos


identificar alguns sinais característicos:

1. Através da constatação da onda de ca-


lor: dirigindo um jato d´água na lateral
do tanque incendiado, abaixo do nível
Figura 32
do líquido, podemos localizar a exten-
são da onda de calor, observando-se
onde a água se vaporiza de imediato; Classe “B”: Abrange todos materiais com-
bustíveis líquidos e os gases inflamáveis. Quei-
2. Através do som (chiado) pouco antes mam somente na superfície e não deixam resí-
de ocorrer a explosão , podemos ouvir duos.Exemplos: gasolina, diesel, graxa, álcool,
um chiado semelhante ao de um vapor querosene, GLP, acetileno, gás natural, etc.
de uma panela de pressão fervente.

Ao identificar esses sinais, devemos aban-


donar o local imediatamente, e, em seguida,
se possível, utilizar água em varredura, deslo-
cando os combustíveis que estejam queiman-
do ou não, para locais onde possam queimar
com segurança ou onde as causas da ignição
possam mais facilmente ser controladas. Figura 33
Evitar que os combustíveis possam ir para
drenos, esgotos ou locais onde não seja possí- Classe “C”: É caracterizada pela presença
vel a contenção. de energia elétrica e oferece grande risco,

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 73


quando de sua extinção, cujo procedimento 2.5.2 Prevenção de Incêndios:
deverá ser feito somente com agentes extin­
tores não condutores de eletricidade. Exem- Existe um conhecido jargão que diz: “O
plos: painéis elétricos, computadores, televiso- incêndio só acontece onde a prevenção
res, geradores, centrais telefônicas, transfor­ falha”.
mado­res, cabines de alta tensão, etc.
Todo cidadão deve se preocupar com me-
didas que possam prevenir incêndios e/ou fa-
cilitar seu combate, na empresa onde traba-
lha e também em sua residência. Dentre essas
medidas podem-se citar as condições de segu-
rança dos estoques, os cuidados no armaze-
namento nos materiais combustíveis e infla-
máveis, a manutenção periódica nas redes e
equipamentos elétricos, manutenção constan-
te nos extintores portáteis, sobre rodas e nos
Figura 34 sistemas fixos de combate a incêndios.

Classe “D”: Ocorre em metais pirofóri- 2.5.3 Medidas de Prevenção:


cos (metais que na sua composição molecular
já existe a presença de oxigênio, dependendo Inflamáveis - Muitos incêndios têm sido
apenas de temperatura para que haja fogo) e provocados pelo uso indevido de líquidos in-
necessitam de agentes extintores especiais na flamáveis. Tais líquidos se evaporam rapi-
extinção. (Exemplos: magnésio, alumínio em damente quando os recipientes em que são
pó, zinco, zircônio, sódio, potássio, etc.) guardados ficam abertos por algum tempo.
Tenha muito cuidado com eles. Armazene-os,
se necessário, em pequenas quantidades, em
recipientes fechados, se possível em armários
de aço e longe do alcance das crianças.

Eletricidade - Evite ligar dois ou mais


aparelhos elétricos numa só tomada. Isto so-
brecarrega o sistema elétrico, provocando su-
peraquecimento. Quando um fusível queima
Figura 35 seguidamente é porque há problemas com a
instalação elétrica. Jamais reforce os fusíveis
Classe “E”: Considera-se incêndio de clas- tentando evitar que queimem. O uso de um
se “E” aqueles que acontecem em locais onde fusível de amperagem maior que a do circuito
existam materiais radioativos (césio, urânio anulará sua função de segurança. Ao final do
enriquecido, etc.) tais como indústrias, hos- expediente desligue da tomada todas as má-
pitais, centros radiológicos, etc. Nesta classe quinas e aparelhos elétricos, se possível.
de incêndio, caso não haja vítimas, orienta-se
isolar a área (raio de 300 metros, se possível) Cigarros - Um simples cigarro pode pro-
e acionar pessoas especializadas no trato com vocar grandes tragédias. Procure fumar em lo-
materiais radioativos, pois possuem vestimen- cal destinado a fumantes e ao terminar apague
tas e equipamentos de proteção próprios para completamente o que restou do cigarro. Não o
este tipo de atuação, além de medidores de deixe queimando no cinzeiro. Ao despejar as
nível de vazamento de radioatividade (CNEN - cinzas e pontas de cigarro na lixeira verifique
Comissão Nacional de Energia Nuclear). se não há nenhum resquício de fogo.

74 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Hidrantes, Extintores e Saídas de Emer- Extinção Química: Consiste na interrup-
gência - Mantenha sempre livre o acesso a es- ção da reação em cadeia através de substân-
ses equipamentos e às Saídas de Emergência. cias cujas moléculas se desassociam pela ação
do calor e se unem com mistura inflamável
Gás Liquefeito de Petróleo – GLP (gás ou vapor mais comburente), formando
outra mistura não inflamável.
Vazamento de Gás sem Fogo – É o
mais perigoso. Não ligar e nem desligar as lu-
2.5.5 Agentes Extintores
zes elétricas ou acender fósforos ou isqueiros.
Caso perceba vazamento adentre ao local sem
Entende-se por agentes extintores to-
calçados. Ventile o local abrindo portas e ja-
das as substâncias (sólidas, líquidas ou ga-
nelas. Transporte o botijão para local aberto e
sosas) que possam ser utilizadas na extinção
ventilado, longe de riscos.
de um incêndio, quer abafando, quer resfrian-
do, quer interferindo na reação em cadeia. Os
Vazamento de Gás com Fogo – Prote-
agentes extintores mais conhecidos são:
ger os materiais combustíveis em volta do bo-
tijão. Se possível fechar a torneira existente
no regulador de gás. Caso não consiga trans- Água – É a substância mais encontrada
porte o botijão para local aberto. Caso ainda na natureza. Age principalmente por resfria-
não consiga fazer a extinção do fogo acione o mento, ou seja, absorve o calor, podendo tam-
Corpo de Bombeiros. bém agir por abafamento de acordo com a ma-
neira que for empregada (chuveiro ou neblina
2.5.4 Métodos de extinção aplicado através de equipamento apropriado).
Na forma de jato sólido, resfria; na forma de
Uma vez conhecidos os elementos es- chuveiro, resfria e abafa; na forma de neblina,
senciais ao fogo, isto é, sabendo-se que para age por abafamento.
ocorrer o fenômeno da combustão, deveremos
ter: combustível, comburente (oxigênio) Espuma Mecânica – Constitui-se num
e calor, podemos concluir que para a extinção aglomerado de bolhas de ar, formadas de pe-
de tal combustão, devemos agir diretamente lículas de água. Para sua formação é neces-
contra esses elementos. A tais procedimentos sário um agente espumante chamado LGE
chamamos Métodos de Extinção, a saber: - Líquido Gerador de Espuma (geralmente
Retirada Do Material, Ou Isolamento, Ou usa-se o AFFF) que ao sofrer um batimento
Remoção, Ou Corte Do Suprimento De Com- juntamente com a água, torna a água mais
bustível: Tal processo consiste no controle de leve, gaseificando-a, permitindo-lhe flutuar
combustível, isto é, na retirada, diminuição ou sobre os líquidos inflamáveis mais leves que
interrupção do campo de propagação do calor. a água.

Resfriamento: Consiste no controle do Pó Químico Seco PQS – No Brasil o


calor, isto é, na diminuição da temperatura até Pó Químico Seco mais utilizado é à base de
o ponto em que o material não mais queime bicarbonato de sódio, finamente pulverizado
ou emita gases inflamáveis. Utiliza-se princi- e especialmente tratado, para se tornar re-
palmente nos incêndios de Classe A. pelente à água, perdendo dessa maneira sua
higroscopicidade (perda de umidade). Quan-
Abafamento: Consiste em evitar que o do expelido para fora do recipiente no qual
comburente (oxigênio) contido no ar se mis- foi pressurizado e/ou por pressão injetada,
ture com os gases emanados do combustível, forma uma nuvem de pó e forma bolhas de
tornando-o um produto inflamável. Utiliza-se CO2 que eliminará o oxigênio, agindo dessa
principalmente em incêndios de Classe B e C. forma por abafamento.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 75


Pó ABC – São extintores de uso múlti-
plo para as classes A, B e C. Constituem-se
de Monofosfato de Amônia siliconizado como
agente extintor. Isolam quimicamente os mate-
riais combustíveis de classe A e se derretem e
aderem à superfície do material em combustão.
Atuam abafando e interrompendo a reação em
cadeia de incêndios de classe B. Não são con-
dutores de eletricidade.

Gás Carbônico (CO2) : Também conhe-


cido como bióxido de carbono ou dióxido de
carbono. É mais pesado que ar e, em tempe-
ratura e pressão normais é considerado inerte, Figura 36
sem cor, sem cheiro e não condutor de ele-
tricidade. Quando comprimido a cerca de 60 Extintor De Água
kgf/cm2 (850 PSI), se liquefaz, permitindo ser (Pressurizado)
armazenado em cilindros. Não é um gás ve- Capacidade: 10 litros
nenoso, mas, dependendo da quantidade ex- Alcance do jato: 10 metros
pelida num ambiente torna-se sufocante. Age Pressão de trabalho: 14,5 kgf/cm2
por abafamento, principalmente, e secunda- Princípio de Operação: a pressão in-
riamente resfria por suas características de terna faz o arrastamento da água quan-
baixa temperatura. do o gatilho é acionado
Tempo de descarga: 60 segundos
Gás FE 36, FM 200 – Destinados a princí- Aplicação: princípio de incêndio Classe “A”
pios de incêndio de classes B e C principalmente,
por não serem condutores de eletricidade e não
danificarem equipamentos eletrônicos sensíveis.
Obs.: O FE 36 é um gás asfixiante. O FM
200 não é asfixiante.

Equipamentos De Proteção Individual


(EPI): Os Brigadistas deverão utilizar nas in-
tervenções práticas, se possível, Equipamen-
tos de Proteção Individual (capacetes, óculos,
capas, macacões, botas, etc.).

Equipamentos de Combate a Incên-


Figura 37
dios são classificados como:

Portáteis (Extintores Portáteis); Sobre Extintor De Espuma Mecânica


Rodas (Carretas); Sistemas Fixos (Hidrantes, (Pressurizado)
Sprinklers, Sistemas de Espuma, Sistemas de Capacidade: 10 litros
CO2, FM 200, etc) Alcance do jato: 5 metros
Pressão de trabalho: 21 kgf/cm2
Extintores Portáteis: São aparelhos Princípio de Operação: a mistura de água
destinados a combater princípios de incên- e LGE, já sob pressão, quando acionado o
dios, bastando somente uma pessoa para gatilho, ao passar pelo esguicho lançador
sua operação. ocorre o arrastamento do ar atmosférico e

76 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


o batimento, formando a espuma, sendo
lançada contra um quebra-jato.
Tempo de descarga: 60 segundos.
Aplicação: princípio de incêndio classe
“B” e secundariamente classe “A’”.

Figura 40

Extintor de Gás Carbônico/Co2


Figura 38
(Pressurizado)
Capacidade: 2, 4 e 6 kg
Extintor de Pó Químico Seco Pressão de Trabalho: 60 kgf/cm2
(Pressurizado) Alcance do jato: 2,5 metros
Capacidade: 1, 2, 4, 6, 8 e 12 kg Tempo de descarga: variável confor-
Alcance do jato: 5 metros. me o peso. Ex.: 6 kg = 25 segundos
Pressão de Trabalho: 14,5 kgf/cm2 Aplicação: princípios de incêndios clas-
Tempo de descarga: variável de acor- ses “C” e “B”.
do com o peso. Ex.: 15 segundos para o
de 4 kg e 25 segundos para o de 12 kg.
Aplicação: princípio de incêndio classe
“B” e secundariamente classe “C”.

Figura 39

Extintor de Pó Abc
(Pressurizado) Figura 41

Capacidade: 4, 6, 8 e 12 kg Extintor de Gás Fe36


Aplicação: Princípios de incêndios de Capacidade: 1,5 kg e 2,5 kg
classes ¨A¨, ¨B¨ e ¨C¨. Pressão de Trabalho: 10,5 kgf/cm2
Pressão de Trabalho: 21 kgf/cm2 Alcance do jato: 5 a 7 metros
Tempo de descarga: variável de acordo Aplicação: princípios de incêndios de
com o peso. Ex.: 8 a 10 segundos para o classe C¨ e ¨B¨.
de 4 kg.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 77


Sprinklers: São sistemas de proteção
através de chuveiros automáticos. Formados
por uma rede de tubulações, dotadas de dis-
positivos especiais que automaticamente en-
tram em funcionamento dependendo da tem-
peratura para a qual foram dimensionados,
descarregando água sobre um foco de incên-
dio, em quantidade suficiente para o controle e
até a extinção. É dotado de alarme para aviso
aos ocupantes da edificação.
Figura 42
Sistemas de Espuma Mecânica, CO2,
Extintores sobre rodas (Carretas) FM 200: Também são sistemas automáticos
(não dependem da atuação do homem) e têm o
São equipamentos com maior quantidade funcionamento idêntico aos Sprinklers, descar-
de agente extintor, indicados para princípios regando os agentes extintores específicos. Uti-
de incêndios e incêndios, montados sobre ro- lizados principalmente em Tanques de Combus-
das para facilitar o transporte, sendo operados tíveis (espuma) e CPD (CO2, FM 200 e outros).
no mínimo por duas pessoas
Podendo ser de: Água, PQS, Espuma Me- 2.5.7 Equipamentos de detecção, alarme e ilumi-
cânica, Pó ABC (pressão injetada e pressuriza- nação
do) e CO2 (pressurizado).
São equipamentos instalados nas edifica-
2.5.6 Sistemas Fixos ções com a finalidade de detectar possíveis fo-
cos de incêndios (detectores de fumaça), avi-
sos aos ocupantes sobre um possível incên-
dio (alarmes de incêndios) e iluminação nas
rotas de fuga em caso de incêndio (luzes de
emergência), pois a energia é sempre cortada
e os ambientes ficam carregados de fumaça
facilitando o deslocamento dos ocupantes da
edificação.
Figura 43 Todo Brigadista deve conhecer os tipos de
equipamentos instalados na planta de atua-
Hidrantes: Os hidrantes são equipados ção, funcionamento, os meios mais comuns de
com mangueiras e esguichos (1,5 pol., 2,5 pol. sistema e manuseio, identificar as formas de
e mangotinhos). Sua ação exclusiva é de resfria- acionamento e desativação dos equipamentos.
mento, sendo apropriado para incêndios Classe
“A” e secundariamente em Classe “B”, em forma 2.5.8 Abandonos de área
de neblina (abafamento), nunca em Classe “C”.
Todas as empresas devem ter um Plano
de Emergência para casos de incêndios. De-
vem ser efetuados exercícios periódicos (no
mínimo a cada 6 meses) a fim de condicionar
a população fixa da edificação para casos de
emergências.
Os Brigadistas devem conhecer as técnicas
de abandono de área, saída organizada, pontos
de encontro e chamada e controle de pânico.
Figura 44

78 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Para o abandono da edificação todos os o comportamento das pessoas que estão ex-
funcionários e visitantes devem ser instruídos a: postas a esses tipos de riscos, desde a ação
preventiva até o pós-trauma, observando as
• Manter a calma • Não usar elevador questões de experiência pessoal do trauma.
O trauma estagna as pessoas de modo a
• Não subir para deixá-las com desorganização corporal, perda
• Não correr
andares superiores, de sentidos e paralisa a consciência temporal
sempre descer pode abalar a criatividade e motivação da pes-
soa para vida toda. Os principais objetivos de
• Não tentar salvar • Nunca saltar do auxílio psicológicos são o de aliviar as mani-
objetos edifício festações sintomáticas e o sofrimento, fazen-
do com que o sentimento de anormalidade e
• Fechar portas e • Seguir à risca o Plano
enfermidade seja reduzido.
janelas, se possível de Abandono A fase de pré-impacto corresponde ao in-
tervalo de tempo que medeia entre o prenúncio
da ocorrência de um fenômeno ou evento ad-
• Desligar máquinas
e equipamentos
verso definido e o desencadeamento de um de-
elétricos sastre. A duração da fase de pré-impacto varia
em função das características intrínsecas de um
desastre e da eficiência dos sistemas de previ-
2.5.9 Pessoas com mobilidade reduzida: são de desastres.
Os desastres naturais, atualmente, podem
Os Condutores devem ter o conhecimento ser previstos por meio de satélites climatoló-
de todas as pessoas com mobilidade reduzida gicos, radares, sinais de rádio, que rastreiam
na Planta, bem como as técnicas de aborda- furacões, terremotos, vulcões e tormentas.
gem, cuidados e condução de acordo com o Além de sistemas de comunicação capazes de
Plano de Emergência. informar antecipadamente a toda população
sobre ameaças eminentes de desastres.
2.5.10 Riscos específicos da planta:
2.5.12 Fase pré-impacto
Os Condutores nas reuniões ordinárias,
devem discutir os riscos específicos e o Plano A fase de pré-impacto corresponde ao in-
de Emergência Contra Incêndio da Planta. tervalo de tempo médio entre o prenúncio da
ocorrência de um fenômeno ou evento adver-
2.5.11 Psicologias em emergências so definido e o desencadeamento de um de-
sastre. A duração da fase de pré-impacto varia
Vários eventos catastróficos ocorrem fre- em função das características que está dentro
qüentemente deixando pessoas do mundo de um desastre e da eficiência dos sistemas de
todo sem condições para uma vida sustentá- previsão de desastres.
vel. Desses eventos podemos dizer que alguns Os desastres naturais, atualmente, podem
se implicam sobre a própria condição de vida ser previstos por meio de satélites climatoló-
das pessoas que são vitimas de eventos na- gicos, radares, sinais de rádio, que rastreiam
turais, devido a sua realidade social que já se furacões, terremotos, vulcões e tormentas.
condiciona a um desastre. Além de sistemas de comunicação capazes de
E é com o propósito de ajudar pessoas informar antecipadamente a toda população
que estão comprometidas com essas situações sobre ameaças eminentes de desastres.
que surgiu uma nova área na psicologia de- REAÇÕES OBSERVADAS: Medo; Confusão
nominada Psicologia nas Emergências e nos mental; Passividade; Negação do risco; Resis-
Desastre. Esta Psicologia envolve estudar tência à mudança; Invulnerabilidade.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 79


2.5.13 Fase do impacto os princípios ou características principais do
SCI, Listar as funções do Sistema de Controle
A fase de impacto também guarda rela- de Incidentes.
ções com as características que está dentro O Que é Sci: É uma ferramenta de ge-
de um desastre e corresponde ao intervalo de renciamento de incidentes padronizada, para
tempo, durante o qual o evento adverso ma- todos os tipos de sinistros e eventos, que
nifesta-se em toda a sua plenitude. permite a seu usuário adotar uma estrutura
Caracteriza-se pela desordem, é um mo- organizacional integrada para suprir as com-
mento caótico, de choque que pode durar se- plexidades e demandas de incidentes úni-
gundo ou minutos, o afetado tem a sensação cos ou múltiplos, independente das barreiras
de um “vácuo no tempo”, ou seja, é observa- jurisdicionais.
do um longo silêncio seguido de ruídos e de Aplicação do Sci: Eventos diversos (in-
muita confusão. cidentes, shows, visitas e etc); Sistema útil a
REAÇÕES OBSERVADAS: (Estas reações todos os incidentes sem limites, se usado cor-
podem durar horas ou dias) Ansiedade; Medo; retamente; Objetiva a interação e articulação
Preocupação; Vergonha; Culpa; Desorientação; entre várias instituições; O sistema não falha
Lentidão de raciocínio; Dificuldade de compre- se for utilizado corretamente; Largamente uti-
ensão sobre o que lhe dizem; Indecisão; Confu- lizado em incêndios florestais.
são com relação ao tempo; Dependência, gra- Aplicação do Sci: Aplica-se em todos os
tidão, docilidade com relação aos socorristas e níveis e variedades de incidentes e eventos.
autoridades; Rebeldia, culpando autoridades e Um sistema eficaz deve ter: Sustentação forte
exigindo atenção prioritária para suas necessi- da instituição Treinamento e exercícios intensi-
dades; Sofre a influência do “boato”. vos Processo de avaliação e de ação corretiva

2.5.14 Fase do pós-impacto 2.6.1 Princípios : 

A fase de atenuação, também conhecida Terminologia comum : Elementos Or-


como fase de limitação de danos, ou ainda, ganizacionais, Títulos das posições, Recursos
como fase de rescaldo, corresponde à situação Instalações;
imediata a do impacto quando os efeitos físicos, Alcance de Controle: Número de pesso-
químicos e biológicos, dos fenômenos ou even- as supervisionadas;
tos adversos, iniciam o processo de atenuação. Alcance de Controle : Comandante, Pla-
Por esses motivos, o dispositivo de resposta nejamento, Segurança.
ao desastre deve ser mantido em estado de Organização Modular: Está baseada no
prontidão e em condições de atuar, com toda tipo, magnitude e complexidade do incidente;
a sua capacidade, caso se torne necessário. Na Cresce de baixo para cima em função dos re-
fase de atenuação predominam as atividades cursos na cena e do alcance de controle; É es-
assistenciais e de reabilitação dos cenários dos tabelecida de cima para baixo de acordo com
desastres. as necessidades.
REAÇÕES OBSERVADAS: Desespero; Luto; Comunicações Integradas no Sci: Equi-
Aflição; Vulnerabilidade; Vitimação; Menos va- pamentos; Planejamento; Procedimentos; Lin-
lia; Isolamento. guagem comum (texto claro) .
Canais de Comunicações: Canal do co-
2.6 Sistema de Controle de Incidentes mando Canal (is) táticos; Canal (is) de apoio
(sci) Terra-ar Ar-ar.
Plano de Ação Inicial (Pai): Plano de
Objetivos: Conceituar o Sistema de Con- Ação; Objetivos; Organização; Estratégias.
trole de Incidentes, Nomear as aplicações do Plano de Ação do Incidente (Pai): Ne-
Sistema de Controle de Incidentes, Conhecer cessário em cada incidente; Necessário plano

80 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


por escrito; Evolução do Incidente; Múltiplos GG
Avaliação Inicial
Períodos Operacionais. GG
Avaliação do Cenário
Período Operacional: Período de 1 - 24 GG
Mecanismo da Lesão
horas - 12 hr: 0600 – 1800 24 hr: 0600 – 0600 GG
Número de Vítimas
dado ao término de um conjunto de ações do
Plano de Ação do Incidente determinado pelo Cadeia da Sobrevivência – Elos Vitais
Comandante do Incidente (PAI).,
Cadeia de Comando: Cada pessoa den-
tro da organização responde e informa somen-
te à pessoa designada.
Comando Unificado: Planejar de forma
conjunta as atividades; Determinar os objeti-
Figura 45
vos para o período operacional; Conduzir as
operações de forma integrada.
Comando Unificado: Instalações (com- 2.6.3 Regras Elementares para Emergência e Urgência
partilhadas) juntas; Um posto de comando do
Incidente; Operações, Planejamento, Logística Emergência é a constatação de uma si-
e Atividades de finanças compartilhadas; Um tuação crítica de agravo à saúde, com ocorrên-
processo coordenado para requisitar recursos; cia súbita, implicando risco iminente de mor-
Um só processo de planejamento e Plano de te ou sofrimento intenso, exigindo tratamento
Ação do Incidente (PAI). imediato.
Instalações Padronizadas: Posto de Urgência é uma situação imprevista de
Comando do Incidente (PC) Área de Concen- agravo à saúde com ou sem risco potencial de
tração de Vítimas (ACV) Base do Incidente (B) morte que exige ação rápida, contudo possui
Helibase (H); Heliponto (H1) Acampamen- caráter menos imediatista.
tos(A) Áreas de Espera (E)
Manejo Integral dos Recursos: Garan- Ações em uma Emergência
te a segurança do pessoal; Maximiza a eficá-
cia; Contabiliza e controla o uso dos recursos; Para que se possa atender uma emergên-
Reduz a dispersão no fluxo de comunicações; cia de maneira adequada, há a necessidade
Mantém o alcance de controle. de uma seqüência de ações pré-estabelecidas,
Controle de Pessoal: Registro da che- padronizadas, onde uma seqüência de priori-
gada ao Incidente, Unidade de Comando; dades é respeitada.
Unidade de Informação sobre os recursos; São três as ações a se realizar perante a
Lista de atribuições da Divisão/grupo; Ano- uma emergência:
tações sobre as unidades; Manejo Integral
dos Recursos. GG
AVALIAÇÃO DO CENÁRIO
GG
ACIONAR O S.M.E (Serviços Médicos de
2.6.2 Suporte básico de vida Emergência/Urgência)
GG
ATENDER A VÍTIMA
PRONTO SOCORRISMO é o atendimento
imediato e provisório dado a uma vítima de aci- Avaliação do Cenário: Todo o atendimen-
dente ou enfermidade imprevista, por qualquer to a emergências deve ser iniciado, com uma
pessoa, fora do ambiente hospitalar, desde que avaliação da cena, visando garantir a segurança
treinada. Geralmente se presta no local do aci- pessoal do socorrista e colher o maior número
dente até que se possa colocar a vítima aos de informações possíveis sobre o evento. Temos
cuidados médicos. de avaliar, no cenário da emergência, três itens:
Objetivos - Diminuir a dor, evitar o agrava- Riscos e Perigos - O socorrista deve
mento das lesões e a morte da vítima. procurar por possíveis riscos e perigos à sua

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 81


segurança, de sua equipe, dos observadores e Morto ou Lesão Fatal – são as vítimas
da própria vítima, antes de interagir junto ao que se encontram em parada cárdio-respira-
cenário da emergência, como: tória ou sofreram grandes amputações ou per-
Ambientais: Fogo, Água, Animais Sel- deram grande quantidade de sangue.
vagens, Acesso Dificultado, Desmoronamen- Obs.: Em situações de maior número de
to, Condições Atmosféricas Adversas, Terreno vítimas do que socorristas, estes devem ser
Acidentado, Contaminação. atendidos por último.
Humanos: Rebeliões, Tumultos, Lincha- Lembre-se: Em situações na qual é ne-
mento, Assaltos, Confrontos. cessário realizar a triagem, o objetivo maior é
Mecanismo das Lesões - Observar o de salvar o maior número de vítimas possível.
mecanismo e as causas da lesão, pois, são fun- Devemos priorizar as vítimas graves, po-
damentais para que se realize um atendimen- rém, passíveis de serem estabilizadas.
to adequado à vítima. Nenhuma emergência Acionar o S.M.E :Após realizada a ava-
é igual a outra, e, são inúmeras as situações liação do cenário, termos a consciência dos
que podem levar uma pessoa ou um grupo de riscos e perigos que envolvem a situação, co-
pessoas a sofrerem algum tipo de lesão. nhecermos o mecanismo de lesão e conhecer-
Número de Vítimas - Ainda dentro da mos o número das vítimas, devemos acionar
avaliação do cenário, devemos verificar o o SME, e transmitir todas as informações ob-
número de vítimas, para que o S.E.M, pos- tidas, para que possa ser enviado ao local o
sa disponibilizar os recursos adequados à recurso necessário.
situação.
Em qualquer situação onde houver uma 2.6.4 Biossegurança
quantidade maior de vítimas do que de so-
corristas, deve ser realizado um procedimen- A biossegurança é um processo funcional
to chamado de triagem. Este procedimento e operacional fundamental na realização de
consiste em priorizar as vítimas e determi- um socorro para proteção contra agentes bio-
nar quem deve ser atendido imediatamente, lógicos de quem estiver prestando o socorro
quem pode esperar e aqueles que serão aten- como também a vítima.
didos por último. Durante o desenvolvimento do socorro,
tanto no atendimento direto à vítima ou nas
Podemos dividir as múltiplas vítimas em atividades de apoio, os socorristas entram
quatro grupos: em contato com material biológico. Como
material biológico, nos referimos, a sangue,
Vítimas Críticas - são as que necessitam secreções e excreções tipo vômito, urina, fe-
de atendimento imediato. Devem ser atendi- zes, sêmen, leite materno, escarro, saliva e
dos primeiros. São as vítimas de GRANDES outros fluidos corporais. Estes materiais bio-
HEMORRAGIAS, que podem entrar em estado lógicos podem estar alojando microrganis-
de choque mos, por isso considera-se estes fluidos de
Vítimas Sérias - são aquelas que neces- pacientes ou os equipamentos e ambiente
sitam de auxílio, mas têm condições de aguar- que tiveram contato com eles, como poten-
dar, pois não estão em risco imediato de vida, cialmente contaminados por germes trans-
como por exemplo, os casos fraturas em ossos missíveis de doenças.
pequenos, luxações, entorses e contusões. Sempre que estiver disponível utilize no
Ferido andando – são as vítimas que atendimento a vítimas os Equipamentos de
normalmente são encontradas perambulando, Proteção Individual – EPI, tais como;
desorientadas, pelo local da ocorrência. Es-
tes devem ser colocados em local específico G GLuvas de vinil ou de látex
em separado e seguro. Estas podem aguardar G GÓculos de Segurança
mais tempo pelo atendimento. G GAventais e máscaras faciais descartáveis

82 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


2.6.5 Avaliação Inicial da Vítima as condições da vítima nas seguintes áreas: O
princípio a ser seguido pode ser representado
Na emergência, a vítima não pode receber pela expressão “CAB da Vida” onde CAB deri-
uma assistência adequada, se seus problemas va das palavras inglesas e Circulation, Airway,
de saúde não forem corretamente identifica- Breathing significando respectivamente, vias
dos. A avaliação da vítima é um procedimento aéreas, respiração e circulação.
que auxilia a identificação das possíveis causas
da doença ou do trauma, e ajuda o Socorris- C - Circulação.
ta a tomar decisões sobre os cuidados mais A - Vias aéreas superiores (estabilização
adequados. Há muitos métodos de avaliação, da coluna cervical em vítimas de trauma);
no entanto, abordaremos um esquema de as- B – Respiração
sistência baseada nos princípios da Análise
Primária e Análise Secundária, como uma
forma simples, ágil e fácil de identificar pro-
blemas e tomar decisões sobre o tratamento
da vítima.
Durante a avaliação você não deve estar
preocupado em identificar a causas e trata-
mentos específicos de doenças ou traumas,
pois não compete ao socorrista estabelecer
diagnósticos. Por exemplo, uma queixa de
dor torácica súbita requer certos cuidados de
emergência. Diagnosticar se a causa da dor é
decorrente de um infarto agudo do miocárdio,
é de competência do médico que vier a aten-
der a vítima.
Ao relatar informações sobre o estado de
saúde da vítima descreva apenas os sinais e
sintomas e a história colhida da própria vítima
ou testemunhas.

Figura 46
2.6.6 Análise primária

Verifique inicialmente as condições de se- Cuidados especiais devem ser dispensa-


gurança pessoal, da cena de emergência e da dos a vítima de trauma mesmo antes de sua
vítima. Escolha adequadamente seus equipa- abordagem. Ao se aproximar de uma vítima
mentos de proteção individual (EPI). inconsciente que dela não se tenha informa-
Podemos conceituar Análise Primária ções precisas sobre o tipo de acidente ou en-
como sendo um processo ordenado para iden- fermidade sofrida, ou aquelas que certamen-
tificar e corrigir de imediato, problemas que te sofreram um trauma, faça-o em direção a
ameacem a vida em curto prazo. sua face e estabilize sua cabeça manualmen-
Se a vítima estiver consciente, apresente- te, evitando, desse modo, que a movimen-
se dizendo seu nome, identificando-se como tação da cabeça, instintivamente na direção
pessoa tecnicamente capacitada e perguntan- do socorrista, possa agravar lesão cervical
do se poderá ajudá-la (pedido de consenti- existente.
mento para prestar o socorro). Em regra geral toda vítima encontrada in-
Posicione-se ao lado da vítima e execute consciente sem que haja informações sobre
a avaliação rapidamente, geralmente em um seu estado de saúde deve ser tratada como
prazo inferior a 30 segundos, para determinar vítima de trauma.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 83


Seqüência de procedimentos: Se necessário, corte as vestes da vítima para
ter acesso aos ferimentos. Terrenos gramados
Estabilize a cabeça da vítima manualmente. ou de terra podem ocultar sangramentos. Ilu-
mine local escuro. Trate as hemorragias imedia-
Verifique se a vítima está ou não conscien- tamente utilizando-se de técnicas apropriadas.
te, aplicando-lhe estímulos auditivos e táteis. Lembre-se que o propósito da Análise
Toque em seu corpo e chame-a por no míni- Primária consiste na identificação e correção
mo 3 vezes. Utilize expressões, tais como: “Ei, imediatas das falhas nos sistemas respiratório
como está você”, “Ei, fala comigo”, “Ei, você e/ou cardiovascular, que representem para a
está me ouvindo?” vítima risco iminente de morte.

Diferenças de abordagem dependendo do número


de socorristas.

Se a vítima estiver consciente, identifi-


que-se como alguém treinado para prestar-lhe
primeiros socorros, obtenha o consentimento
para o atendimento e prossiga na sua avalia-
ção. Se a vítima estiver inconsciente, prossiga
na assistência.

Se a vítima estiver inconsciente, efetue a libe­


ração das vias aéreas com a manobra de “Inclina­ Figura 47
ção da Cabeça e Elevação do Queixo”.
2.6.7 Análise secundária:
1. Posicione-se na altura do tórax da vítima.
2. Apoie uma das mãos na testa da vítima; Tem por finalidade descobrir lesões ou
3. Com o dedo indicador, médio e anular problemas que possam ameaçar a sobrevi-
da outra mão, colocada na lateral da vência da vítima, se não forem tratados con-
mandíbula da vítima, incline sua cabe- venientemente. Constitui-se em:
ça totalmente para trás.
4. Certifique-se da presença da respira- Subjetiva
ção observando o tórax e abdômen
pelo tempo de até 10 segundos. Ob-
GG
Relacionar o local com a vítima;
serve presença de vida incluindo mo-
GG
Questionar a vítima;
vimentos de músculos voluntários de
GG
Questionar testemunhas;
braço e pernas.
GG
Informações médicas.
5. Se a vítima respira, ou apresenta rea-
ções como tosse ou movimento de al- Objetiva
guma parte do corpo é óbvio que há
batimentos cardíacos.
GG
Exame da cabeça aos pés;

Nas vítimas de trauma ou com suspeita 2.6.8 Intervenções


de trauma:
Inspecione visualmente, de forma rápida,
GG
Se a vítima estiver consciente significa
a parte anterior do corpo da vítima e apalpe a que ela está com seus movimentos car-
parte posterior, no sentido da cabeça em dire- díacos e pode estar respirando.
ção aos pés para verificar se existem hemorra-
GG Se estiver engasgada com qualquer tipo
gias que comprometam a vida do acidentado. de objeto ou alimento devemos executar

84 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


as manobras de Heimlich para vítima cons- Obstrução Parcial
ciente.
GG Se estiver inconsciente e com obstrução GG
Na obstrução parcial das vias aéreas, a
respiratória devemos aplicar a mesma ma- vítima: 
nobra pra vítima inconsciente. GG Está consciente; Respira  com muita difi-
culdade; Com ruídos invulgares; Embora
Parada Respiratória: É interrupção dos respire os lábios começam a ficar cianosa-
movimentos involuntários da respiração. dos “azulados”; Tosse;

Causas: Atuação: Não interferir com a tentativa


GG natural e espontânea  da vítima tentar expe-
Sufocamento;
GG lir o corpo estranho, mas incentivar a tossir;
Afogamento;
GG Aconselhar a vítima a inclinar-se para baixo,
Engasgamento;
GG pois esta posição ajuda o corpo estranho a sair
Traumas.
para o exterior, pela própria ação da gravida-
de; Se não recuperar, atuar como se tratasse
Procedimentos: Se durante a observação
de uma obstrução total.
que a vítima não respira, utilizar os seguintes
procedimentos:
Obstrução Total
Ventilar 02 (duas) vezes (se tiver barreira
de proteção), se não houver expansão torácica
Na obstrução total das vias aéreas, a ví-
verificar se há obstrução respiratória, aplican-
tima apresenta expressão de angústia; Olhos
do em seguida as manobras de desobstrução;
muito abertos; Boca aberta; Quer tentar fa-
Causas de Obstrução das Vias Aéreas Superiores lar; Mãos agarram o pescoço; Lábios, língua,
unhas e orelhas cianosados “azulados”.
Chamamos asfixia ou obstrução da vias aé- Atuação - Em vítima consciente: Fi-
reas a qualquer situação em que o ar não che- car de pé atrás da vítima, inclinando-a para
gue aos pulmões. Como consequência, o sangue a frente; Aplicar até 5 pancadas nas costas
fica sem oxigênio. Se não se atuar prontamen- com a mão – pancadas interescapulares (ta-
te, as células do cérebro são privadas de sangue potagem); A outra mão deve apoiar o peito da
oxigenado provocando de 4 a 6 minutos a morte vítima; Se não resultar, iniciar de imediato a
da vítima ou lesões cerebrais irreversíveis. desobstrução das vias aéreas através da apli-
cação da manobra de Heimlich. 
Obstrução

GG
Parcial (há passagem de algum fluxo de ar);
GG
Total (não há passagem de ar para os
pulmões);

Tipos De Obstrução:  

GG
Anatômica (queda da língua);
GG
Mecânica (objeto estranho);         
GG
Patológica (edema, tumor);
GG Figura 48

Obs.: Pode existir uma obstrução parcial Manobra de Heimlich (compressões abdominais):
ou total das vias aéreas com diferentes obje-
tos: vômito, sangue, placa dentária, alimen- GG
Colocar-se atrás da vítima e com os bra-
tos, botões, moedas, etc. ços envolver a cintura da vítima;

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 85


Figura 49

GG
Colocar a sua mão fechada com o polegar
para dentro, contra o abdômen da vítima,
ligeiramente acima do umbigo e abaixo do
limite das costelas;
GGAgarre firmemente o punho com a outra
mão;
GGEfetue 5 compressões abdominais, para
dentro e para cima.
GGAs compressões devem ser pausadas, se-
guras e secas;
GGVerifique se o corpo estranho saiu pela
boca;

Figura 50
Se a obstrução se mantiver: Alternar
cinco pancadas interescapulares com cinco
compressões abdominais quantas vezes que
forem necessárias até a expulsão do próprio criança sobre o outro, de cabeça para baixo;
objeto de forma alternada e cíclica. Segure o peito com uma das mãos e, com a
Atuação - Em vítima inconsciente: Co- outra, dê palmadas entre as omoplatas; Se
loque a vitima em decúbito dorsal (de costas) não resultar, efetuar compressões abdomi-
no chão, com via aérea desobstruída ; Ajoe- nais (manobra de Heimlich) – exercer pressão
lhe-se, com as coxas da vítima entre as suas só com uma mão.
pernas, de forma a poder aplicar compressões
na região abdominal; Colocar a palma de uma
das mãos no centro da parte superior do abdô-
men da vítima e sobrepor a outra mão, man-
tendo os dedos afastados do abdômen; Com
os braços esticados, exercer uma rápida com-
pressão no abdômen, para dentro e para cima;
Figura 51
Realizar essas compressões abdominais cinco
vezes; Procurar retirar o corpo estranho; Se Manobra De Heimlich (compressões
não obtiver êxito, repetir a manobra de Heimli- abdominais) em Crianças: Sente a criança
ch, tantas vezes quanto as necessárias para no colo ou coloque-se de pé, atrás dela, com
desobstruir a via aérea. um braço à volta do abdômen; Feche o punho
e coloque-o, com o polegar voltado para den-
Desobstrução das Vias Aéreas em Crianças: tro, no centro da parte superior do abdômen.
Ampare-lhe as costas com a outra mão.; Com
Pancadas Interescapulares: Sente-se numa o punho fechado, exerça uma pressão no ab-
cadeira ou ajoelhe-se num joelho só, deitando a dômen, fazendo um movimento rápido para

86 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


dentro e para cima (a pressão deve ser muito 2.6.9 Parada Cardiorrespiratória
menor do que a usada para um adulto); Repita
a operação, se necessário; Cada compressão É o cessar da atividade mecânica do co-
deve ser suficientemente forte para, por si só, ração. É um diagnóstico clínico confirmado
deslocar a obstrução. pela falta de respostas a estímulos, ausência
de pulso detectável e suspensão da respiração
ATENÇÃO: Em gestantes e obesos aplicar ou uma respiração agônica, Pode ser revertido
a Manobra de Heimlich sobre o osso esterno. com intervenção rápida.
O objetivo da ressuscitação cardiorrespi-
Manobra De Heimlich (compressões ratória é fazer circular o sangue e oxigenar o
abdominais) em Bebês: Apoiar o bebê no corpo retardando o prejuízo cerebral enquanto
braço do socorrista, com a cabeça mais abai- o tratamento definitivo não é implementado.
xo que o corpo, tendo o cuidado de manter a É um procedimento temporário não sendo
boca do bebê aberta; Aplicar 5 batidas com o capaz de manter a integridade das células ce-
“calcanhar” da mão do socorrista nas costas rebrais por período prolongado.
do bebê, na região entre as escápulas; Virar
o bebê com a barriga para cima, mantendo a Causas de parada cardiorrespiratória
inclinação original e a boca aberta, e iniciar
GG
Doenças cardiovasculares (infarto agudo
5 compressões no osso do peito da criança,
do miocárdio) e cerebrovasculares (aci-
logo abaixo da linha imaginária traçada entre
dente vascular encefálico);
os mamilos; Repita sse ciclo até o bebê expelir
GG Problemas respiratórios graves;
o objeto; Utilizar os dedos indicador e médio.
GG Intoxicações;
Obs.: Se o ar estiver passando iniciar a
GG Choque elétrico;
Reanimação Cárdio-Pulmonar.
GG Afogamento;
GG Traumas cranianos, etc.

Fatores de risco para doenças cardíacas:

1. Fumar – Um fumante tem 70% a mais


de probabilidade de sofrer um ataque
cardíaco em relação a um não fumante;

2. Alta pressão sangüínea – A hiper-


tensão arterial é a principal causa dos
ataques cardíacos e dos acidentes vas-
culares cerebrais. Recomenda-se veri-
ficar a pressão arterial pelo menos uma
vez a cada seis meses;

3. Alto nível de gordura no sangue –


Um médico poderá facilmente medir o
nível de colesterol no sangue com um
simples teste. Uma alimentação equili-
brada, com uma dieta de baixo nível de
colesterol e gorduras, poderá ajudar a
controlar esses níveis.

4. Diabetes – A diabetes aparece mais


Figura 52 freqüentemente durante a meia idade,

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 87


muitas vezes em pessoas com peso 2.6.10 Reanimação Cardiopulmonar para todas as
corporal excessivo. Somente exames idades
médicos periódicos poderão identifi-
car adequadamente esta enfermidade
e recomendar um programa adequado
ao seu controle.

Observação: Existem ainda fatores que


contribuem indiretamente com os problemas
cardíacos, tais como a obesidade, a inativida-
de e o estresse. Figura 53

Ressuscitação Cardiopulmonar Sequência de RCP para Leigos não Treina-


dos– Técnica de “Somente Compressões”
É o conjunto de medidas executadas por Quando um socorrista não puder execu-
profissional da saúde ou leigos treinados, tar ventilações de resgate, quer por não saber
durante uma emergência, adotados para re- ventilar com equipamentos ou não dispor de
tardar a morte cerebral até que se possam equipamentos de ventilação deverá ser orien-
instituir as medidas de suporte avançado à tado a executar “somente compressões torá-
vida. cicas contínuas” que deve persistir até que:
A vítima comece a apresentar sinais de vida
Identificação da parada cardíaca (respirar espontaneamente, tossir ou se mexer);
Chegue o socorro médico especializado e
As Diretrizes de Ressuscitação Cardiopul- assuma o atendimento da emergência.
monar adotadas em consenso pelo ILLCOR,
instituição que engloba o Conselho Europeu Quando NÃO iniciar a Ressuscitação Cardiopulmonar
de Ressuscitação e a Associação America-
na de Cardiologia com vigência a partir de Ao se deparar com as condições abaixo
outubro de 2010 estabelece uma nova se- que indicam morte tardia o socorrista deve-
qüência para o atendimento de vítimas em rá acionar o socorro médico de emergência a
parada cardíaca de maneira a simplificar o bordo, no entanto, dispensará as medidas de
processo de avaliação da vítima e agilizar RCP. Cuidar para que o local de crime não seja
o inicio das medidas de ressuscitação car- alterado isolando a área da emergência.
diopulmonar com enfaze nas compressões
torácicas. Os passos para a avaliação inicial GG
Rigidez cadavérica (rigor mortis);
do paciente continuam as mesmas com base GG
Manchas hipoestáticas (livor mortis);
no ABC da vida, no entanto, ao se consta- GG
Decapitação;
tar que uma vítima apresenta os sinais de GG
Carbonização / calcinação;
parada cardíaca o processo de tratamento GG
Separação do tronco;
é estabelecido segundo a sequência CAB, GG
Esmagamento da cabeça e tórax.
onde C representa as compressões toráci-
cas precoce para restabelecer a Circulação, Havendo dúvida sobre a condição de
A e B representa as medidas de, respecti- morte inicie e mantenha a ressuscitação car-
vamente, abertura de vias aéreas e ventila- diopulmonar até a chegada do socorro médico
ção de resgate. A partir daí as técnicas de especializado.
ressuscitação variam de acordo com o nível
de treinamento dos socorristas, o número Procedimentos para aplicação da Ressuscitação
de socorristas e a disponibilidade de equi- Cardiopulmonar (RCP) por Socorrista Leigo Trei­
pamentos na reanimação. nado (Técnica de “Somente Compressões”):

88 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


GG
Avaliar a segurança do local para si e para GG
Posição incorreta das mãos sobre o tórax
a vítima. Caso necessário, remova-a do lo- fora do ponto de compressão;
cal de risco; GG
Compressão inadequada do tórax em ve-
GGAjoelhar-se ao lado da vítima; locidade e profundidade;
GGEfetuar a estabilização cervical (cabeça e GG
Duração inadequada da compressão.
pescoço);
GGConstatar a inconsciência; Revezamento de socorristas durante a RCP
GGSe posicionar a vítima em decúbito dorsal
sobre superfície plana e rígida, se neces- Havendo mais de 1 socorrista efetue o re-
sário; vezamento nas compressões a cada 2 minu-
GGAbrir as vias aéreas superiores com a ma- tos aproximadamente. Compressões torácicas
nobra de “inclinação da cabeça e elevação produzem fadiga no socorrista que a aplica o
do queixo”; que pode interferir na eficácia da circulação
GGVerificar se há presença de sinais de res- sanguínea.
piração (movimentos de tórax e abdômen,
tosse, movimentos corporais) pelo tempo Quando INTERROMPER a Ressuscitação Cardio­
de até 10 segundos. Considerar o empre- pulmonar
go de RCP quando houver apenas “gas-
ping” (respirações agônicas). GG
Uma vez iniciada as medidas de ressusci-
GGSolicitar o apoio do serviço médico espe- tação cardiopulmonar devem ser manti-
cializado; das até que:
GGSolicitar que alguém traga o desfibrilador GG Retorne os sinais de vida (boa respiração,
externo automático (DEA). Caso o DEA es- sinais como tosse e movimentos corpo-
teja disponível deve ser empregado ime- rais);
diatamente (ver capítulo posterior); GG O socorro médico especializado ordene a
GGDescobrir o tórax da vítima; interrupção;
GGApoiar a “mão mais forte” no centro da GG Em condições extremas de estafa física de
linha média intermamilar (entre os mami- um socorrista que executa RCP sozinho
los), no terço inferior do externo; por longo período de tempo.
GGPosicionar a outra mão sobre a primeira
mantendo os braços estendidos forman- Procedimentos para aplicação da Ressuscitação
do um ângulo de 90º em relação ao tórax Cardiopulmonar (RCP) por socorrista leigo – trei­
da vítima; nado (Técnica de Compressões e Ventilações de
GGRealizar compressões torácicas contínuas, Resgate):
com frequência mínima de 100 por minuto
e profundidade de compressão mínima de A ventilação de resgate é essencial para
5 cm (pacientes adultos); a qualidade da RCP em especial naquelas que
GGGarantir retorno total do tórax após cada deve ser empregada por longo período de
compressão, minimizando as interrupções tempo (mais que 5 minutos) ou em situações
nas compressões torácicas; em que a cauda primária da parada cardíaca
GGSomente interromper as manobras de por um problema respiratório (afogamento,
RCP depois que houver retorno dos sinais engasgamentos, trauma de crânio, envenena-
de vida ou o socorro médico especializado mentos / uso de drogas e choque elétrico.
ordenar.
Ventilações executadas de modo inadequado po­
A RCP pode ser ineficaz quando os seguintes pro­ dem ser prejudiciais quando produzem:
blemas ocorrerem:
GG
Interrupção demasiada da circulação san-
GG
Inicio tardio da RCP; guínea;

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 89


GG
Insuflação do estômago e conseqüente re- Ventrículo Direito - ejeta sangue para
gurgitação; os pulmões.
GGInsuflação de secreções aos pulmões;
GGLesão pulmonar por ventilação excessiva.

Somente utilize a ventilação de resga-


te se dispuser de medidas de biossegurança
para realizá-la e a executá-la de maneira efi-
caz com o uso de equipamentos de ventilação
(máscara de bolso ou ressuscitador manual do
tipo Ambu).

Sequência de procedimentos:

1. Constate a parada cardíaca;


2. Priorize o início imediato de 30 com-
pressões torácicas, conforme reco-
mendado anteriormente;
Figura 54
3. Execute 2 ventilações de resgate su-
cessivas (gaste o tempo de 1 segundo
Átrios e ventrículos funcionam 24 horas
em cada ventilação com ar suficiente
por dia, desde o dia do nascimento, até o dia
apenas para expandir o tórax como se
da morte. Para que esta máquina funcione
reproduzisse uma respiração espontâ-
harmonicamente, é necessário que um con-
nea – com volume normal)
junto de estruturas, coordene os impulsos elé-
4. Efetuar Somente compressões toráci-
tricos, visando um trabalho efetivo do coração.
cas, no ritmo de + ou - 100 compres-
A este conjunto de estruturas, chamamos de:
sões por minuto;
5. A cada 200 compressões ou a cada 2
CIRCUITO ELÉTRICO DO CORAÇÃO.
minutos verificar a respiração.

As contrações dos ventrículos são dire-


Desfibrilador Externo Automático (Dea) - Utilização
tamente controladas pelo sistema elétrico do
coração, formado pelas seguintes estruturas.
O correto funcionamento do coração é
Veja esquema abaixo:
controlado por um sistema elétrico, que pro-
Nó sino-atrial – conhecido como o marca
move os estímulos para que o músculo cardía-
-passo cardíaco. É um conjunto de neurônios
co contraia de maneira adequada, na freqüên-
responsável por controlar o ritmo cardíaco.
cia, ritmo e força necessária.
Nó átrio-ventricular - outro conjunto de
O coração possui quatro câmaras, duas
neurônios que vai transmitir os impulsos do
delas, os átrios, responsáveis por receber o
coração para os ventrículos.
sangue que chega no coração.
Feixe nervoso do coração - conjunto de
Átrio Esquerdo - recebe o sangue que
fibras nervosas que levam os estímulos elé-
vem dos pulmões.
tricos, provenientes do nó átrio-ventricular,
Átrio Direito - recebe o sangue que vem
por todo o músculo cardíaco.
do corpo .
Após chegar nos átrios, o sangue passa
Esquema: circuito elétrico do coração.
para os ventrículos, que são responsáveis por
ejetarem o sangue do coração para fora.
A principal estrutura é o Nó sino-atrial ,
Ventrículo Esquerdo - ejeta sangue
pois controla o ritmo da emissão dos impulsos
para todo o corpo.

90 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Para promover a DESFRIBILAÇÃO, em ví-
timas de ataque cardíaco súbito, a ferramenta
do socorrista é um aparelho chamado Desfi-
brilador Externo Automático (Dea).
O DEA é um aparelho de fácil uso, que
permite ao socorrista, com o mínimo de trei-
namento, manuseá-lo e salvar uma vida.
O DEA analisa o ritmo cardíaco e, se ne-
cessário, aplica um choque elétrico a uma víti-
ma de ataque cardíaco, fornecendo automati-
Figura 55 camente o tratamento apropriado.

nervosos para o coração, fazendo com que es-


tes impulsos consigam promover uma contra-
ção do músculo cardíaco adequada , provocan-
do um PULSO.
Pulso - É toda contração do coração que
ejeta uma quantidade ideal de sangue, su-
ficiente para suprir todos os órgãos do cor-
Figura 56
po, principalmente o Sistema Nervoso Cen-
tral (S.N.C). Em situações que o coração sofre
algum dano, principalmente em Ataques Car- Segundo a AMERICAN HEART ASSO-
díacos Súbitos, este sistema elétrico sofre ava- CIATION, a administração da desfibrilação
rias, não controlando mais de maneira adequada dentro dos primeiros 5 minutos, em uma si-
as contrações do coração. Estas situações, onde tuação de FV, é de alta prioridade, como po-
os impulsos elétricos do coração ficam caóticos, demos ver no gráfico abaixo:
o músculo cardíaco também se contrai de manei-
ra inadequada e não gera um pulso.

Fibrilação Ventricular (Fv)

FIBRILAÇÃO VENTRICULAR (FV) são se-


mi-contrações do músculo cardíaco que não
conseguem gerar um pulso. Isto ocorre porque
com os impulsos elétricos caóticos a contração
muscular também fica desorganizada.
A fibrilação ventricular é o mais comum
Figura 57
ritmo cardíaco que o coração assume após um
ATAQUE CARDÍACO SÚBITO.
Com o coração em FV o fluxo sanguíneo Gráfico: Porcentagem de êxito de uma
fica insuficiente, deixando principalmente o desfibrilação comparada com a demora da uti-
Sistema Nervoso Central sem sangue e con- lização do DEA
seqüentemente sem oxigênio. Daí a importância de um DEA estar dis-
ponível em locais públicos e de fácil acesso ao
Utilizando um Dea (Desfibrilador Externo Auto­ maior número possível de socorristas treina-
mático) dos, como por exemplo: aeroportos, aviões,
shopping centers, praças esportivas, indús-
O único tratamento para a FV é a DESFI- trias e outros lugares públicos, onde se con-
BRILAÇÃO. centram grandes números de pessoas.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 91


Necessidade Da Desfibrilação Rápida Interna: É mais difícil de reconhecer, por-
- O ritmo mais freqüente em Paradas Cardía- que o sangue se acumula nas partes ocas do
cas súbitas é a Fibrilação Ventricular; O trata- corpo, tais como: estômago; pulmões; bexi-
mento mais efetivo para a Fibrilação Ventricu- ga; cavidade abdominal; cavidade craniana;
lar é a Desfibrilação Elétrica; A probabilidade cavidade torácica, etc.
de sobrevivência sem a Desfibrilação efetiva Sintomas: O paciente queixa-se de: sede;
vai diminuindo com o tempo; A Fibrilação Ven- frio; fraqueza; ansiedade e dor à apalpação.
tricular vai se transformar em parada cardíaca. Sinais: alteração do nível de consciência,
O DEA é para ser utilizado em conjunto passividade, agressividade, tremores e arre-
com as manobras de RCP, por isso, é funda- pios, pulso rápido e fraco, respiração rápida,
mental que um socorrista que vai utilizar um pele pálida, fria e úmida, sudorese e perfusão
DEA estar sempre praticando a RCP, treinando capilar lenta.
e refinando suas técnicas. Procedimentos: encaminhar a vítima o
O uso do DEA em vítimas de ataque cardía- mais rápido possível para o hospital (com se-
co súbito deve seguir a seqüência da RCP, onde gurança). Manter a vítima com as pernas ele-
o DEA vai se somar às compressões cardíacas. vadas [30 a 40 cm], se não houver indícios de
trauma na cabeça.
Hemostasia: é a interrupção da perda
sanguínea.

2.6.11 Métodos da Hemostasia

Pressão sobre o sangramento: é um


método utilizado para pequenas, médias e
grandes hemorragias, podendo ser utiliza-
do com as mãos ou de preferência um pano
limpo ou gaze esterilizada, utilizando o modo
compressivo.
Figura 58 Elevação do membro acidentado;
Obs.: não elevar se produzir dor ou se houver
Grandes Hemorragias: Hemorragia é o suspeita de lesões internas.
rompimento de vasos sanguíneos com a saída Torniquete: é uma medida extrema. Uti-
do sangue. Sabe-se que a hemorragia é grave liza-se somente em último caso, desde que os
pela quantidade de sangue perdido e pela ra- outros métodos não sejam suficientes. Depois
pidez da perda. de feito só deve ser tirado por médico em am-
A perda de sangue pode levar ao estado biente hospitalar.
de choque e consequentemente à morte. Estado De Choque: É quando o sistema
Pode ser externa e interna. circulatório está sob falência; ou seja; provo-
Externa: Pode ser arterial, venosa ou ca- cou a interrupção ou alteração no abasteci-
pilar. Na hemorragia arterial a perda de san- mento de sangue no cérebro, com acentuada
gue obedece à pulsação do coração. Este tipo depressão das funções orgânicas.
de hemorragia é grave pela rapidez com que a Tipos: Hipovolêmico (hemorragias, quei-
perda se processa. Na venosa a perda é con- maduras graves, desidratação); Cardiogênico
tínua e com pouca intensidade e pressão. É (Infarto, arritmia cardíaca, insuficiência car-
menos grave que a arterial, mas a demora no díaca); Neurogênico (dores intensas, lesão
tratamento pode ocasionar sérias complica- da medula espinhal); Obstrutivo (embolias,
ções. Na capilar a perda de sangue é pequena pneumotórax); Séptico (infecções graves);
devido ao pequeno calibre dos vasos que re- Anafilático (reação de hipersensibilidade a me-
cobrem a superfície do corpo. dicamentos, alimentos, etc.).

92 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Identificação: pulso rápido e fraco; au- de convulsão. Podem ser precedidas, em 50%
mento da freqüência respiratória; pele fria, dos casos, por um grupo de sintomas deno-
pálida e úmida; perfusão capilar lenta ou nula; minado de aura, que dura alguns segundos e
tontura ou desmaio; agitação ou depressão do envolvem sensações peculiares, como alucina-
nível de consciência; pupilas dilatadas. ções visuais ou gosto peculiar. Sempre causam
Tratamento: Colocar o paciente deitado perda de consciência. A fase tônica dura de
(observar sempre a possibilidade de outras 15 a 20 segundos e se caracteriza por perda
lesões); Elevar os membros inferiores do pa- de consciência e contração muscular contínua,
ciente para que o sangue chegue em maior inclusive do diafragma.
quantidade à cabeça e aos principais centros No início desta fase, a contração da muscu-
nervosos; Aquecer o paciente com cobertores; latura abdominal força o ar pela laringe fecha-
Afrouxar as peças de roupa para facilitar a cir- da, produzindo um grito (grito epiléptico). Na
culação; Fornecer ar puro ou oxigênio, se pos- fase clônica, que dura geralmente entre 30 a
sível; Transportar para o Hospital. 60 segundos, ocorre alternância de contrações
musculares, relaxamento em rápida sucessão,
2.7 Emergências clínicas com movimentos intensos. Pode haver parada
respiratória e perda do controle de esfíncteres
Desmaios e Vertigens: O desmaio consis- urinário e intestinal (eliminação de urina e fe-
te na perda transitória da consciência e da for- zes), acompanhada de salivação excessiva.
ça muscular, fazendo com que a pessoa caia ao Normalmente a vítima recupera a cons-
chão. Pode ser causado por desnutrição, exces- ciência nos primeiros 10 minutos após a crise
so de sol, cansaço, nervosismo, angústia e emo- (fase de estupor), porém, se isto não ocorrer, o
ções fortes, além de outros fatores. A vertigem é socorrista deve preparar-se para ocorrência de
o sinal e sintoma que antecede o desmaio. novo episódio convulsivo. A recuperação plena
Identificação:Tontura; Mal-estar; Pele fria, da vítima pode durar de 5 minutos a algumas
pálida e úmida; Suor frio; Perda de consciência. horas (período pós-convulsivo). Ao atender uma
vítima em crise convulsiva, o socorrista deverá
Tratamento: afastar os objetos próximos para que ela não se
machuque (batendo contra eles). Não impeça
GG
Colocar a vítima em ambiente arejado; os movimentos convulsivos, apenas posicione-
Afrouxar as roupas da vítima; se de joelhos atrás da cabeça da vítima e pro-
GG Deitar a vítima, se possível com as pernas teja-a, a fim de evitar traumatismos. Posicione
elevadas; a vítima lateralmente, com o auxílio de outras
GG Não permitir a aglomeração de pessoas pessoas, para que ela não aspire vômitos e ou-
para não prejudicar a vítima. tras secreções para os pulmões.
Quando os espasmos desaparecerem,
Convulsões: A convulsão pode ser con- acomode a vítima confortavelmente e certifi-
ceituada como uma contração violenta, ou que-se de que ela está respirando (ver, ouvir e
uma série de contrações dos músculos volun- sentir). Depois a encaminhe para receber as-
tários, com ou sem perda da consciência por sistência médica qualificada.
parte da vítima. Suas causas mais comuns são Basicamente, podemos dizer que o trata-
a epilepsia e a febre alta. Os sinais e os sin- mento deste tipo de vítimas, resume-se em
tomas da convulsão são em geral a perda do proteger a vítima durante o ataque e encami-
equilíbrio, a inconsciência, a palidez, a cianose nhá-la para atendimento especializado quando
dos lábios e a presença de espasmos incontro- a consciência for recuperada. Durante a crise,
láveis que sacodem o corpo da vítima. não use de força para conter a vítima, nem
Convulsão Epiléptica: A epilepsia é uma tente abrir ou colocar algo em sua boca.
doença do sistema nervoso central que se ca- O socorrista deve prevenir a convulsão
racteriza em sua fase mais grave, por crises febril em crianças, promovendo banhos de

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 93


imersão em água morna, em temperatura pelo GG
Observar a perfusão capilar na extremida-
menos 1 grau abaixo da temperatura corporal. de do membro atingido;
É recomendável manter compressas (panos GG
Observar se há pulso distal e sensibilidade;
embebidos em água morna) na região frontal GG
Tranquilizar e aquecer o acidentado;
da cabeça, debaixo das axilas, nos dois lados GG
Prevenir o estado de choque;
da virilha e sob os joelhos, locais onde passam GG
Remover o paciente se possível em pran-
grandes artérias. cha longa ou maca;
A criança deverá ser mantida neste ba- GG
Transportar para o hospital.
nho até a temperatura baixar a níveis próxi-
mos do normal. A criança deverá vestir rou- 2.7.2 Tratamento de Fratura Aberta:
pas leves e ser mantida em local arejado e
sem correntes de ar. GG
Estancar a hemorragia se houver;
Uma vez ministrados esses cuidados, en- GG
Não tentar recolocar o osso no interior da
caminhe-a para receber assistência qualificada ferida;
para detectar e tratar a causa da febre. GG
Prevenir a contaminação com assepsia lo-
Fratura: É quando acontece a ruptura cal, cobrindo o ferimento com gaze esteri-
parcial ou total de um osso. lizada, ou pano limpo, ou com as próprias
roupas do paciente;
Podem ser fechadas ou Abertas. GG Imobilizar da maneira que estiver;
GG Checar pulso distal e sensibilidade;
GG Se não houver pulso distal ou sensibilida-
de remover urgente para o hospital;
GG Prevenir o estado de choque;
GG Evitar que o paciente veja o ferimento;
GG Transportar para o hospital

Queimaduras: São lesões produzidas nos


tecidos de revestimento do organismo por
agentes térmicos, químicos, biológicos, etc., e
se classificam em:
Figura 59

Fechada - Não há rompimento da pele. O Primeiro Grau: (Figura 60) Atinge so-
osso fica no interior do corpo mente a epiderme. Caracteriza-se por dor lo-
Aberta – Há o rompimento da pele. Ocor- cal e vermelhidão da área atingida.
rendo geralmente um quadro de hemorragia Segundo Grau: (Figura 61) Atinge a epi-
externa, com risco de infecção. derme e derme. Caracterizam-se por dor local,
vermelhidão e formação de bolhas d’água.
Identificação: Dor local; Incapacidade fun- Terceiro Grau: (Figura 62) Atinge o
cional; Inchaço ou deformação; Crepitação ós- tecido de revestimento, alcançando o teci-
sea; Mobilidade anormal. do muscular, podendo chegar aos ossos. A
pele fica esbranquiçada ou escurece. O pa-
2.7.1 Tratamento de Fratura Fechada: ciente pode se queixar de muita dor ou não
queixar de dor pela destruição dos terminais
GG
Imobilizar se em membros superiores ou sensitivos.
inferiores, com o emprego de talas confor-
me o alinhamento do osso; É considerada grave qualquer queimadu-
GGImobilizar também a articulação acima e ra (mesmo que seja de 1º grau) que atinja
abaixo da fratura para impedir qualquer acima de 75% do corpo, em toda face ou em
movimentação da parte atingida; toda a área dos órgãos genitais.

94 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Figura 60 Figura 61 Figura 62

Extensão da Queimadura: 2.7.3 Tratamento de Queimaduras Térmicas

Em um adulto para se calcular a porcenta- GG


Retirar parte da roupa que esteja em volta
gem de área queimada, toma-se em conta os da área queimada. [Não retirar a que esti-
seguintes dados: ver grudada no corpo];
GG Retirar anéis e pulseiras para não estran-
Cabeça 9% gularem as extremidades dos membros,
Pescoço 1% quando incharem;
Tórax e abdome 18% GG Em queimaduras de 1º grau utilizar água
Membros superiores (cada um) 9% fria e limpa ou soro fisiológico (se possí-
Membros inferiores vel) para amenizar a dor;
(cada um incluindo nádegas) 18%
GG Não perfurar as bolhas em queimaduras
Costas 18% de 2º grau;
GG Não aplicar medicamentos nas queimadu-
ras;
Para crianças:
GG Cobrir a área queimada com plástico lim-
Cabeça (incluindo o pescoço) 18%
po;
Membros superiores (cada um) 9% GG Se a vítima estiver consciente, ministrar
Membros Inferiores
água;
(cada um incluindo nádegas) 14% GG Evitar ou tratar o estado de choque;
Tórax e abdome 18% GG Transportar a vítima (se grave, com ur-
Costas 18% gência) para hospital especializado.

2.7.4 Tratamento de Queimaduras Químicas

GG
Retirar a roupa da vítima impregnada com
o agente químico.
GG
Lavar o local afetado, com água corrente,
sem esfregá-lo (5 minutos para ácidos, 15
minutos para soda cáustica)
GG Para substância em pó, tirar o excesso do
pó antes de jogar água, remover com es-
cova macia.
GG Transportar a vítima para o hospital.

Figura 63

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 95


2.7.5 Tratamento de Queimaduras Biológicas 3º. Ministrar oxigênio (se possível);
4º. Tratar as queimaduras no ponto de en-
GG
Lavar o local afetado com água limpa ou trada e saída da corrente elétrica;
soro fisiológico. 5º. Transportar para o hospital.
GG
Se possível identificar o agente agressor.
GG
Se necessário transportar a vítima para o 2.7.7 Envenenamento:
hospital.
Ocorre quando a pessoa entra em contato,
2.7.6 Choque Elétrico ingere ou aspira substâncias tóxicas de natu-
rezas diversas, que possam causar distúrbios
É um acidente originado pelo contato funcionais ou sintomáticos, gerando um qua-
com correntes elétricas de alta ou de baixa dro clínico grave.
tensão, podendo originar queimaduras de 3º Pode resultar em doença grave ou morte
Grau (temperatura acima de 1.000ºC), cau- em pequeno espaço de tempo, se a vítima não
sando destruição total dos tecidos. Tem sem- for socorrida.
pre dois pontos de queimadura (ponto de con-
tato e ponto de terra), podendo causar Parada Vias de Penetração:
Respiratória e Parada Cardíaca. Nos casos em
que a corrente atravessa a linha do coração Pele: contato direto com substâncias quí-
pode ocorrer a parada cardíaca ou fibrilação. micas tóxicas ou plantas tóxicas.
Se for abaixo do coração pode ser que não in- Boca: ingestão
tervenha no seu funcionamento. A natureza e
os efeitos da perturbação variam e dependem Vias Respiratórias: aspiração
de certas circunstâncias, como: o percurso da
corrente no corpo humano, a intensidade e o Identificação:
tempo de duração da corrente, as condições
orgânicas das pessoas, efeitos notados fisio- GG
Sinais evidentes na boca, pele ou nariz de
logicamente, formigamento, lesão muscular, que a vítima tenha introduzido substân-
parada respiratória e parada cardíaca. cias tóxicas para o organismo.
O Choque Elétrico por sua vez pode ser GG Hálito com odor estranho.
classificado segundo a ação do agente causa- GG Dor e sensação de queimação nas vias
dor em: aéreas.
Dinâmico - é produzido por um con- GG Sonolência, confusão mental e nível de al-
tato com um corpo energizado, dura en- teração da consciência.
quanto houver energia. GG Alucinações e delírios.
Estático - é produzido pelo contato GG Lesões cutâneas, queimaduras intensas
com um corpo eletrizado, dura o tempo com limites bem definidos.
necessário para descarregá-lo. GG Depressão da função respiratória.
Descarga Atmosférica – é produzido pela
ação direta ou indireta de raios e geralmente Tratamento:
tem efeitos terríveis e imediatos. Há casos em
que a vítima sofre verdadeira explosão interna. Contato na pele
O que fazer diante de uma situação de
Choque Elétrico? GG
Para substâncias líquidas usar água limpa
e corrente para lavar o local afetado.
1º. Desligar o sistema; GG
Substâncias sólidas devem ser retiradas
2º. Checar os Sinais Vitais e iniciar imedia- do local sem friccionar a pele, lavando em
tamente as manobras de reanimação, seguida com água corrente.
se necessário;

96 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Ingestão pela boca Habitat: Dentro de Residências; Escon-
didas sob Telhas, Quadros; Dentro de Roupas
GG
Não provocar vômito se a vítima estiver e Sapatos.
inconsciente, com convulsões ou se tiver Sintomas: Dor pequena e despercebida;
ingerido ácidos, soda cáustica ou deriva- após 12 a 24 hs, dor local com inchaço, mal
dos de petróleo. -estar geral, náuseas, e, às vezes, febre. Pode
GG Quando ingerir ácido ou soda cáustica ofe- causar necrose local e apresentar urina cor de
recer água para a vítima beber para diluir coca-cola.
a substância. Tratamento: Ocorrendo acidentes com a
GG Deixar a vítima em decúbito lateral es- aranha marrom, colete a aranha e dirija-se ao
querdo. hospital ou posto de saúde, pois é necessário
receber soro antiaracnídeo. A vacina antitetâ-
2.7.8 Intoxicação por Monóxido de Carbono nica também é recomendada.

Sintomas: dor de cabeça; pele e lábios


Armadeira: Bastante agressiva; 3,5
vermelhos; náuseas e vômitos; respiração
cm comprimento; atividades ao entardecer e
acelerada; vertigens e desmaios.
a noite; não tece teia.
Habitat: Principalmente, em bananeiras e
Tratamento:
folhagens; interior de residências.
GG
Retirar a vítima do local gaseado; Sintomas: A picada resulta em dor violen-
GG
Liberar as vias aéreas da vítima; ta no local, que se irradia pela região atingida.
GG
Ministrar oxigênio, se possível; A vítima apresenta tonturas, queda de pres-
GG
Transportar urgente para hospital. são, vômito, sua muito e pode ter espasmos.
Tratamento: Caso ocorra picada por esta
2.7.9 Afogamento: espécie de aranha, a vítima deve procurar um
hospital para aplicação de soro antiaracnídico
Em casos de afogamento, se a vítima ain- e aplicação de anestésico ao redor da picada.
da estiver na água, o socorrista deverá domi-
nar as técnicas de salvamento aquático para Viúva Negra: 8 a 12 mm comprimen-
o resgate, pois, caso não domine poderá tam- to; totalmente negras; mancha vermelha no
bém se tornar vítima. abdome; sedentárias;
Se não dominar as técnicas de salvamento Habitat: em teias irregulares entrelaça-
aquático procurar jogar uma bóia (se disponí- das com folhas secas.
vel), uma corda, uma vara comprida ou qual- Sintomas: Dor muito aguda que se irra-
quer material que mantenha a flutuabilidade dia por todo o membro ou local atingido. A ví-
da vítima. tima fica irritada, apresenta tremores, contra-
Se resgatar a vítima inconsciente aplicar ções, rigidez abdominal, delírio, alucinações,
as técnicas de RCP e transportar para hospital. entre outros sintomas.
Tratamento: A pessoa picada deve ser
2.7.10 Picadas de Animais Peçonhentos levada imediatamente para o hospital para so-
roterapia. Se possível, coletar a aranha para
Definição: Animal peçonhento é todo ani- identificação.
mal que tem a peçonha (secreção venenosa),
e capacidade para inoculá-la em uma pessoa. Aranha De Jardim ou Tarântula:
pouco agressivas; hábitos diurnos; não faz teia.
Aranhas Habitat: Gramados de jardins; campos;
próximo aos riachos e rios; residências.
Marrom: Pouco Agressiva; Hábitos No- Sintomas: A picada é dolorida, mas, nor-
turnos; Tamanho Pequeno. malmente, não evolui para casos mais graves.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 97


Em algumas pessoas pode ocorrer necrose lo- Cascavel: cauda com guizo
cal, porém não há necessidade de aplicação de Jararaca: cabeça triangular e cauda lisa
soro antiaracnídeo. Na dúvida, colete a aranha Coral verdadeira: dentes sulcados
e leve ao hospital ou posto de saúde. na porção anterior da boca . Coloração viva e
brilhante.
Caranguejeira: Espécies de grande Coral falsa: presa sulcada na parte
porte; podem atingir 30 cm; somente uma es- posterior da boca.
pécie causa envenenamento sério (trechona ve- Surucucu: cauda com escamas arre-
nosa), mata atlântica; pêlos que, em contato piadas no final.
com a pele, causam irritação; possuem ferrões Urutu: desenhos na cabeça em forma
grandes e responsáveis por ferroadas dolorosas. de cruz.
Sintomas: dor local e irritação na pele. Principais Sintomas: visão dupla; pál-
Tratamento : não é necessário soro. pebras caídas; falta de ar e dificuldade para
engolir; dificuldade para abrir os olhos; dor
Escorpiões (Amarelo E Negro) muscular; urina avermelhada; inchaço no lo-
cal; Hemorragia.
Características: pouco agressivos; hábi-
tos noturnos; são carnívoros podendo ocorrer O que fazer no caso de acidentes com
canibalismo; visão pouco desenvolvida, locali- cobras:
zam sua presas pelo tato, orientando-se pela
vibração do ar e do solo. GG
Não fazer garrote;
Habitat: pilhas de madeiras e entulhos GG
Não cortar ou perfurar o local da picada;
cercas; sob pedras; cupinzeiros; ambiente do- GG
Não beber e nem colocar querosene, fe-
mestico (porões); cemitérios; dormente de zes de animais ou qualquer substância no
ferrovias; córregos. local da picada;
Sintomas em caso acidentes: náuseas; GG Manter a calma;
vômitos; salivação; tremores; convulsão; alte- GG Lavar com água e sabão neutro o local da
rações cardíacas e pressão arterial; insuficiência picada;
respiratória; choque. Dificilmente leva um adul- GG Levar o animal causador do acidente para
to a óbito, podendo, no entanto, matar um bebe. identificação, se possível.
Tratamento: transportar o acidentado GG Procure um hospital o mais rápido possí-
rapidamente para a unidade de saúde; repou- vel, mas não corra.  
so; soro se necessário. GG Tomar o soro antiofídico específico.

Serpentes Peçonhentas
2.8 Referências
Características para identificação: Fos-
seta loreal, exceção coral verdadeira; dentes American Heart Association Advanced Car-
inoculadores de veneno (ocos ou sulcados). diac Life Support Course. Dallas, 2010

98 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


Instrutores do Módulo 1

Edner Antonio Brasil

Profissional com formação técnica em processamento de dados e gra-


duando em tecnologia de processos gerenciais. Montanhista e praticante
de atividades ao ar livre. Com vivência no montanhismo – caminhadas e
escaladas, incluindo algumas experiências de escalada nos Andes (Chile e
Argentina), e no canionismo.
Trabalhou durante 8 anos como condutor em empresas de Turismo de
Aventura, conduzindo atividades de cachoeirismo, montanhismo e esca-
lada, em destinos como Brotas e Monte Verde. Após a experiência como
condutor, trabalhou durante 4 anos como consultor no Programa Aventura
Segura Nacional (MTur/SEABRE/ABETA), elaborou como coautor os ma-
teriais didáticos e manuais de boas práticas de competências mínimas do
condutor e de sistema de gestão da segurança, realizou oficinas e visitas
técnicas para apoiar as empresas na implementação de seus sistemas de
gestão da segurança e foi um dos tutores do curso de educação à distância
de competências mínimas do condutor.
Atualmente é consultor com foco nos segmentos de Turismo de Aven-
tura e Ecoturismo. Trabalha com a implementação de processos geren-
ciais e com treinamento de pessoal, tendo como ponto central a segu-
rança, eficiência operacional e eficácia dos sistemas de gestão em orga-
nizações destes segmentos.

MARCIO AUGUSTO ROCHA DIAS

Experiência de 13 anos atuando como professor e/ou Instrutor minis-


trando aulas nas áreas de Segurança do Trabalho, Emergências Medicas e
resgate para Brigadas de Incêndio. Experiência em trabalhos executados
como instrutor-guia de montanhismo, excursionismo, técnicas verticais,
canoyng, escalada em rocha, orientação geográfica, caminhadas longas e
curtas (trekking / hikking); Desenvolvimento de atividades ligadas a Edu-
cação Ambiental em Unidades de Conservação; Treinamento Empresarial
de Liderança (Executivos e Empresários) como facilitador com o objetivo de
fortalecer a inter-relação grupal e humanizando as relações do trabalho; Ge-
renciamento e co-implantação do projetos ligados a áreas ambientais; Pa-
lestras sobre qualidade de vida, meio ambiente, gestão ambiental, ecologia
e educação ambiental para áreas empresariais e educacionais. Experiência
atuando como enfermeiro na área hospitalar nos setores como Clinica me-
dica, Pronto Atendimento, Pronto Atendimento Infantil e UTI. Experiência
atuando como Enfermeiro em treinamentos de APH e resgate juntamente
com plantões de resgate para aulas de combate a incêndio em nível avan-
çado. Experiência na área de socorrismo e remoções com ambulâncias.

CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA GUIAS E CONDUTORES DE ESPELEOTURISMO 101


organizadoras

Marcela Pimenta Campos Coutinho

Bacharel em Turismo, possui Master em Gestão Turística com foco em tu-


rismo sustentável pela Universitat de Les Illes Balears - Espanha. Atuou em
parceria com a Organização Mundial do Turismo no Projeto Rotas do Leste
do Uruguai, foi interlocutora entre Minas Gerais e a OMT na implementação
do Programa Volunteers, Minas Gerais – Brasil 2010: Rota das Grutas de
Lund. Coordenou o inventário da oferta turística de Minas Gerais entre os
anos de 2008 e 2010. Atualmente é coordenadora do Núcleo de Turismo
do Instituto Ambiental Brasil Sustentável e responsável pelos projetos da
Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento
em Alagoas, sob gestão IABS.

Patrícia Reis Pereira

Graduada em Ciências Biológicas, especialização em Administração e Ma-


nejo de Áreas Protegidas, mestranda em Geografia no Programa de Tra-
tamento da Informação Espacial Puc – MG. Experiência profissional em
atividades relacionadas a Criação, Implantação e Gestão de Áreas Protegi-
das, acompanhamento de processos de Licenciamento Ambiental, Planos
de Manejo, Gestão de Conflitos, planejamento de Território, Regularização
Ambiental, Programas de capacitação, Educação Ambiental e coordenação
de equipe. Atuou como gerente do Monumento Natural Estadual Gruta Rei
do Mato e na Coordenação do Sistema de Áreas Protegidas do Vetor Norte
da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

102 MÓDULO 2: O Trabalho do Monitor • Condutor ambiental • Segurança e Primeiros Socorros


responsável parceiro financiador

Você também pode gostar