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TEORIA GERAL DAS EMPRESAS

PLURALISMO JURÍDICO, DIREITO


MODERNO E DOGMÁTICA JURÍDICA
Marília Rodrigues Mazzola

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Olá!
Você está na unidade Pluralismo jurídico, direito moderno e dogmática jurídica. Conheça aqui o conceito de

pluralismo jurídico, analisando-o sob as vertentes cultural e sociológica.

Aprenda sobre uma espécie de pluralismo jurídico chamada de direito alternativo, e veja como se dá a crise atual

do Direito, com base na sua evolução a partir da Era Moderna.

Analise também a dogmática jurídica e os conceitos de direito central e periférico.

Bons estudos!

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Pluralismo jurídico e direito alternativo
O pluralismo jurídico surge como concepção antagônica ao monismo jurídico (o que considera a socialidade do

direito, fundamentalmente e trata do monopólio das normas jurídicas exercidas pelo Estado, ou estatalidade do

direito).

Nasce como afirmação da modernidade, levando em conta o capitalismo e as consequência dos processos

estruturais de difícil convergência para uma racionalização jurídica nos termos modernos, resultantes do

colonialismo, da dependência, e da marginalização.

Diversas teorias e fatos compõem o pluralismo jurídico, seja do ponto de seu surgimento como de sua

manutenção.

As teorias tradicionais do pluralismo jurídico são extraídas das obras de vários juristas, entre eles o alemão Otto

Von Gierke (1841-1921), que “analisou o direito das várias organizações sociais (corporações –

Genossenschaften) na Alemanha, sustentando que cada organização possui vontade e consciência e cria suas

próprias regras jurídicas” (GIERKE apud SABADELL, 2005, p. 123).

O pluralismo jurídico é composto pela diversidade de normas. São elas vigentes em certa sociedade de forma

simultânea, sendo considerada como questão social. Por isso, o pluralismo se utiliza de diversas teorias, das mais

diversas ciências (como psicologia, sociologia, ciências políticas, antropologia, etc.). Referidas normas irradiam,

assim na norma jurídica dos Estados, que as reconhecem e implementam em seu ordenamento jurídico

(partindo da norma suprema).

O pluralismo jurídico leva em conta o direito como fato ideológico e sua análise é do ponto de vista sociológico. É

caracterizado pela possibilidade da existência de diversos ordenamentos em um mesmo espaço temporal e

geográfico, sendo que um pertence ao Estado e outros não.

Nas palavras de Wolkmer (2000, p. 151):

Assista aí

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2. Pluralismo jurídico cultural
Como visto acima, o termo “pluralismo jurídico” designa a coexistência de diversas realidades, “múltiplas formas

de ação prática”, com particularidades, que se inter-relacionam.

Seria ele o conviver diferentes possibilidades, distintas racionalidades, que levam a uma descentralização

normativa, considerando o movimento do centro para a periferia, do Estado para a sociedade, da lei para as

alternativas de negociação e mediação de conflitos.

Para alguns autores, seria o “pluralismo comunitário e participativo”, o qual se opõe à concepção de

individualismo e relativismo cultural, afirmando a necessidade do reconhecimento de novos sujeitos coletivos.

(WOLKMER, 2001, p. 157-159.)

A sociedade é mutável, historicamente, e esta divisão entre os direitos oficiais e direitos oficiosos (ocultos),

mostra claramente uma realidade que está por baixo de uma superestrutura jurídica oficial, excludente, que está

a serviço dos grupos que detêm o poder e impede o desenvolvimento real da democracia brasileira.

E o Direito seria formado pelo conjunto normativo resultado das expectativas normativas generalizáveis, cuja

função seria a afirmação normativa, mesmo contra os fatos da vida real.

A partir da compreensão de que toda a criação jurídica reproduz determinado tipo de relações sociais

envolvendo necessidades, produção e distribuição, torna-se natural perceber a cultura jurídica brasileira como

materialização das condições histórico-políticas e das contradições socioeconômicas, traduzidas, sobretudo, pela

hegemonia das oligarquias agroexportadoras ligadas aos interesses externos e adeptas do individualismo liberal,

do elitismo colonizador e da legalidade lógico-formal.

Mas a realidade contemporânea é que existem diversos sistemas e cada sistema, além de agir de acordo com sua

função, relaciona-se com os demais sistemas, seja por acoplamentos, seja por processo de comunicação entre

sistemas, nos quais existem os mais variados sujeitos históricos.

Novos sujeitos históricos podem ser descritos como identidades coletivas conscientes, sendo mais ou menos

autônomos, e advindos de diversos estratos sociais. Possuem capacidade de auto-organização e

autodeterminação, e tem em comum interesses e valores, “compartilhando conflitos e lutas cotidianas que

expressam privações e necessidades por direitos, legitimando-se como força transformadora do poder e

instituidora de uma sociedade democrática, descentralizadora, participativa e igualitária” (WOLKMER, 2001, p.

240).

Da mesma forma que novos sujeitos são considerados na realidade social contemporânea, os conceitos de

carência e necessidade também tomam novos rumos.

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A expressão “necessidades” apresenta certa ambiguidade na língua portuguesa, pois pode ter o

sentido objetivo de “determinismo” (aquilo que tem que ser) ou o sentido subjetivo referente a

“alguma privação” que um indivíduo ou grupo sente. Carência” (sentido estrito) é designada como

privação ou falta de alguma coisa, enquanto “necessidade” (sentido genérico, mais abrangente) todo

aquele sentimento, intenção ou desejo consciente que envolve exigências valorativas, motivando o

comportamento humano para aquisição de bens materiais e imateriais considerados essenciais

(WOLKMER, 2001, p. 242.).

Os novos sujeitos sociais podem e devem, a partir de um esforço de dentro, na dimensão educacional e

pedagógica, buscar a luz e as saídas para os problemas mais amplos, que vão sendo esculpidos num processo

dialógico, dialético e intercultural.

É, no século XXI, que o exercício de uma cidadania social, emancipatória e libertadora, construída a partir dos

novos sujeitos sociais, que desenvolvem suas potencialidades e se apercebem enquanto excluídos, discriminados

e vitimados pelo sistema vigente, que participam do projeto-Brasil alternativo, enfrentando as tragédias e

encontrando as possibilidades de êxito e desenvolvimento de toda potencialidade de sua realidade concreta.

Observam-se na sociedade diferentes instâncias da organização social, que questionam e desejam diminuir o

papel instituidor do social assumido pelo Estado. No entanto, isto não quer dizer, que de fato se deva promover a

supressão do Estado por completo, mas de que se deve modificá-lo restringindo a sua função e limitando a sua

ação ao nível da conciliação e coordenação das novas solidariedades.

Há diversas fontes de direito, como a doutrina, o costume, a lei, o Estado. Portanto, são múltiplas as

manifestações de pluralismo jurídico e judiciário. A gestão fraca do pluralismo não ameaça o monopólio estatal

do direito.

É ai que o Pluralismo jurídico assume o seu papel de iluminar dentro da realidade novas alternativas, que se

colocam dentro de um processo dinâmico e que criam direitos vivos, rompendo com a velha estrutura positivista

e revolucionando as grandes tradições culturais e jurídicas, consolidadas e que tendem a ser legitimadas pela

ideologia dominante.

O Pluralismo Jurídico ampliado e de novo tipo permite a discussão de questões relevantes, vinculadas aos

fundamentos, ao objeto e às fontes de produção do direito.

O Direito não age sobre a sociedade e a sociedade sobre o Direito. Nas sociedades há Direito como forma de

organização social, sendo esse um dos sistemas de comunicação social entre os existentes.

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3.Pluralismo jurídico sociológico e Direito Alternativo
A pluralidade de ordens jurídicas e o pluralismo jurídico permitem superar a problemática do Estado de direito

ao afirmar que o Estado não tem monopólio da produção do direito oficial.

Existem muitas fontes ou fatores causais para explicar não só os fenômenos naturais e cosmológicos, mas,

igualmente, as condições de historicidade que cercam a própria vida humana.

O pluralismo reconhece que a vida humana é constituída por seres, objetos, valores, verdades, interesses e

aspirações marcadas pela essência da diversidade, fragmentação, circunstancialidade, temporalidade, fluidez e

conflituosidade.

Mais ainda do que a constatação da pluralidade das ordens jurídicas, conta a da interação delas: um médico é

sujeito às regras deontológicas ditadas pelo Conselho Regional de Medicina, mas também aos princípios gerais

da responsabilidade civil; um detento continua a obedecer às leis do meio, mesmo sendo forçado a observar as

do estabelecimento carcerário (ROULAND, 2003, p. 173-174).

A limitação jurídica do Estado não pode ser oriunda do próprio Estado, por intermédio de um direito cujo

domínio ele conserva de todos os modos. No plano interno, ela vem mesmo da sociedade, da qual se deve

reconhecer que produz sistemas de direito.

Pluralismo ‘político’ incorpora proposições que se pautam pela rejeição de toda e qualquer forma de

concentração e unificação do poder ou força de ação monolítica (política, ideológica ou econômica). O pluralismo

‘político’, enquanto diretriz histórico-estratégica ou modo de análise assentado em práticas de direção

descentralizadas, realça a existência de um complexo corpo societário formado pela multiplicidade de instâncias

sociais organizadas e centros autônomos de poder, que, ainda que antagônicos ou mantendo conflitos entre si,

objetivam restringir, controlar ou mesmo erradicar formas de poder corporificado no Estado (WOLKMER, 2001,

p. 172-173.).

Fique de olho
O pluralismo ‘sociológico’ se consolida na medida em que socialmente se ampliam os papéis, as
classes e as associações profissionais no âmbito da sociedade industrial.

Para a atuação dos agentes sociais no contexto das práticas diárias, de enfrentamento do modelo normativo

estatizante, de questionamento do reducionismo dogmático-positivista próprio da ideologia monista

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centralizadora, um novo referencial epistemológico que atenda às exigências da atualidade, que se encontra

diante de fenômenos advindos no bojo das transformações tecnológicas e de novas condições globais no âmbito

do sistema capitalista.

Neste sentido de afirmação de novas instâncias legislativas e jurisdicionais de dimensão pluralista, em defesa de

um possível direito alternativo à legalidade instituída, demonstrando os déficits do direito estatal monista,

burguês e capitalista, Wolkmer, manifesta-se nos seguintes termos:

[...] Antes de tudo é indispensável, uma vez mais, ter presente que, na modernidade da sociedade

liberal-burguesa ocidental, toda a tradição da produção legislativa e das práticas de aplicação da

justiça e resolução dos conflitos é formalmente dominada pelos órgãos oficiais do Estado. Quanto

maior é o poder de intervenção, dirigismo e responsabilidade administrativa, maior é a necessidade

que tem o Estado de criar ‘mitos-fundantes’ para proteger e justificar sua onisciência frente a outras

instâncias sociais. Todo esse esforço para centralizar a ‘regulamentação’ da vida social incidirá em

funções clássicas (polícia, justiça e defesa) que serão canalizadas em procedimentos formais de

cunho legislativo, administrativo e jurisdicional. Por mais ampla, forte e totalizadora que possa ser

esta ‘regulamentação jurídica’ da sociedade moderna por parte da ação monopolizadora do Estado,

este não consegue erradicar e inviabilizar todo o fenômeno de regulação informal provenientes de

outros grupos sociais não-estatais. Para além da oficialidade global dos aparelhos de produção e

distribuição da justiça estatal, subsiste, paralela, subjacente e concorrente, uma pluralidade de níveis

autônomos e semiautônomos de instâncias legislativas e jurisdicionais. Esses procedimentos

societários não estatais envolvendo a convenção de padrões normativos de conduta e a resolução

consensual de conflitos, articulados informalmente por segmentos ou vontades individuais e

coletivas, assumem características específicas de uma validade distinta, legítima e diferenciada, não

menos verdadeira, podendo ser, por vezes, até justa e autêntica (WOLKMER, 2001, p. 286.)

Na concepção sociológica do pluralismo jurídico, o poder de coerção ou a sanção não reside, exclusivamente, nas

esferas de poder jurídico do Estado e não depende somente das "fontes oficiais do direito-estatal". Nem tudo o

que é direito necessita ser transformado em lei. Também, é um postulado fundamental, que muito do que se

possa compreender como direito, poderá não ser alcançado pela lei ou estar num plano fora ou à margem da lei e

ser, também, contra a lei.

Se o direito estatal é o único a existir, o Estado de direito não passa de uma ilusão.

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é isso Aí!
É isso ai!

Nesta unidade, você teve a oportunidade de:


• Aprender sobre o pluralismo jurídico;
• Compreender o direito alternativo;
• Estudar o Direito moderno e o direito contemporâneo;
• Analisar as razões da crise do Direito;
• Diferenciar o direito central do direito periférico.

Referências
ADEODATO, João Maurício. Ética e retórica: para uma teoria da dogmática jurídica. São Paulo: Saraiva, 2002.

ANDRADE, Lédio Rosa de. O que é o Direito Alternativo?. 3 ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. 96 p.

ARAÚJO, Sarah Camelo Brandão. A crise do direito na pós-modernidade e o papel da filosofia jurídica para a

busca de soluções. Compreendendo o contexto e apontando os caminhos. Disponível em: http://ambito-juridico.

com.br/site/?N_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=19024. Acesso em 08.Fev.2020.

ASSIS, Olney Queiroz; POZZOLI, Lafayette. Pessoa Portadora de Deficiência: Direitos e Garantias.2. ed., São Paulo:

Editora Damásio de Jesus. 2005.

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