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Ministério da Educação

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

CPTL - CÂMPUS DE TRÊS LAGOAS


Período Letivo: 2021/2
[0783] HISTÓRIA – LICENCIATURA

Disciplina: [0709.000465-2] Introdução à História da África


Professora: Cintia Lima Crescêncio

Nome: Matheus Medeiros Piquera


Data: 26/08/2021

PROVA

Instruções

a) É vetada a consulta a colegas para a realização da prova. Caso seja identificada


cópia/plágio, a prova é zerada.
b) É autorizada a consulta a fichamentos, textos, anotações e etc, mas proibido o
“copia e cola” de atividades já realizadas, da Internet e dos próprios textos.
c) A prova será submetida a programas localizadores de plágio.
d) A prova deverá ser devolvida até às 21:00h (MS) do dia de hoje (26/08), para o
meu e-mail cintia.crescencio@ufms.br.
e) O arquivo da prova deve ser nomeado, exemplo: fulana_de_tal_prova.doc.x
f) Provas enviadas com atraso, para outro endereço/pessoa, não identificadas como
instruído, não serão aceitas.

Questões

1) Com base no texto de Lélia Gonzalez, explique o racismo à brasileira e a


importância de um debate sobre cidadania a partir de um olhar étnico e racial
(2,5 pontos).
Como debatido por Lélia Gonzalez, a sociedade brasileira sempre foi
marcada pela marginalização e discriminação do povo negro de forma autoritária
e implacável.
O desconhecimento e a incapacidade humana de compreender e respeitar o
diferente foi o motivador principal de praticamente todas as atrocidades
cometidas no curso da história mundial, a dominação imperialista na África,
destruição de diversas etnias e o controle europeu do tráfico de escravos não
podia gerar algo diferente que uma sociedade construída na base da
discriminação.
Aquele com poder, detém a força para controlar e subjugar os demais, isso
se fez presente durante todo o curso da história. Essa relação no Brasil é
evidente e muito presente, a autora de forma assertiva faz crítica a comparação
do movimento feminista com o movimento negro, obviamente o movimento
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negro tem menos força visto que o negro sofreu uma marginalização social e
uma opressão muito maior que as mulheres, e nesse contexto que se encontra
nos piores casos é a mulher negra que em si própria se vê como sendo parte de
duas minorias oprimidas.
Mas mesmo que a sociedade brasileira tenha se construído me cima de uma
estrutura de um racismo intrínseco na cultura, e que inclusive gera até hoje o
racismo velado, a população negra brasileira não foge à luta e briga por seus
diretos em sociedade. Visto que o próprio Brasil foi construído em cima do
sangue, suor e vidas negras, contra vontade das mesmas, é mias que necessário
que estas tenham hoje seu lugar de fala, sua representatividade, o devido respeito
e reparação social mais do que merecida.
É fato que os movimentos negros encontram ainda hoje no século XXI uma
oposição forte, porém aos poucos as vozes desses movimentos vêm ganhando
mais espaço e mais força. Levando em conta que a diferença constitui a
sociedade, ela deve ser respeitada para que seja feita finalmente uma sociedade
para todos, onde as vivências, a história e as lutas dos povos oprimidos sejam
finalmente ouvidas e respeitadas.

2) A partir do texto de Martha Abreu e Hebe Mattos, discuta o conceito de


pluralidade e sua relação com os PCNs, a Lei 10.639 e as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a educação das relações étnico raciais (2,5 pontos).
Assim como debatido na questão anterior, é impossível pensar no Brasil
fora de um parâmetro racial e étnico. Tendo em vista que a sociedade brasileira
se construiu com a opressão dos sujeitos negros, é impossível pensar que a
educação no Brasil se distanciaria do racismo presente na sociedade.
Por muito tempo os materiais didáticos sugerem uma homogeneidade
cultural no Brasil que claramente não existe, com a necessidade de se quebrar
com esse conceito e com o errôneo e ridículo conceito, também presente velado
nos materiais didáticos, da democracia racial, e é claro enfrentando diversos
problemas teóricos de como acabar com o racismo presente nos materiais
didáticos e na formação escolar de forma objetiva e eficiente, a Lei 10.639 e um
parecer aprovado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, passaram a tratar do
tema da educação das relações étnico-raciais, já que os criticados PCNs tratavam
a questão como pano de fundo para debater o eixo transversal da pluralidade
cultural.
As Diretrizes trazem a escolas os debates do combate ao racismo, a questão
racial no Brasil, e o combate ao “mito da democracia racial”. É fato que ainda
assim muitos dos assuntos que tratam da questão racial no Brasil foram tratados
de forma simplista nos livros didáticos, porém, é inegável a importância desse
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primeiro passo, sem dúvida advindo de muitos movimentos negros que lutaram
por tal representatividade.
Para finalizar, é importante ressaltar a necessidade da melhoria e a
continuação de atitudes de conscientização racial nas escolas, que nos materiais
didáticos a questão racial no Brasil seja extensivamente trabalhada, para que as
diferenças e as lutas diárias dos negros no Brasil sejam compreendidas e
respeitadas, visto que na sociedade brasileira assim como em todas as outras não
somos todos iguais, somos todos diferentes, e as diferenças tem de ser ensinais
para que sejam de fato respeitas e nunca apenas toleradas, e tal processo começa
em casa e nas escolas, na formação das crianças. Como futuro professor, creio
que questões como essa devem ser debatidas, devem crescer no nosso país para
que uma sociedade meramente igualitária tenha esperança de se ver presente.

3) Tendo como referencial o texto de Ki-Zerbo e Boubou, disserte sobre os


conceitos de tempo e de história nas sociedades africanas tradicionais (2,5
pontos).
Para se debater sobre esse tema devemos entender que diversos dos
conceitos históricos presentes na análise são constantemente debatidos tanto no
campo da História, quanto nos demais campos de outras ciências como o
conceito de tempo sendo debatido em suas particularidades na Física.
Dessa forma é imperativo também se desvencilhar de quaisquer amaras
culturas de conhecimento do que é tempo para o ocidente. Como debatido por
Ki-Zerbo e Boubou, os povos africanos têm outra noção de tempo, o tempo
africano não é linear como a nossa concepção ocidental, ele é vivo, dinâmico.
As sociedades africanas têm sua ideia de concepção através de mitos
criadores, o que se correlaciona com o tempo e sua cronologia. Estas sociedades
se mantiveram isoladas dos ocidentais por muito tempo dessa forma mantendo
sua cultura e suas concepções como a sua concepção de tempo, porém, com o
contato com as demais culturas principalmente ocidentais as noções de tempo
ficaram voláteis, gerando outras noções de tempo.
De qualquer forma, os africanos têm consciência que são agentes
transformadores na sua própria história, eles sabem de seu lugar nela. E o
isolamento africano também condiciona a sua visão de história. Seus modelos de
vida, de pensamento e sua forma de construir sua própria história são únicos. O
conceito ocidental de história “surgido” com o iluminismo e forçadamente
transplantado na África, foi combatido e não pode ser considerado para entender
a história africana e como eles a entendem. Todo sujeito africano é um sujeito
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histórico para a história de seu povo, todos a transformam e eles tem consciência
disso.
É importante lembrar que, para cada sociedade e cultura, suas próprias
concepções de documentação e tempo (que de forma geral são imprescindíveis,
ainda que das mais diferentes formas que eles possam ser apresentados, para o
fazer histórico) geram consequências na concepção do que é História para este
determinado grupo. Além disso, é importante ressaltar, um fator assinalado por
Ki-Zerbo e Boubou, de que a concepção de progresso seja dissociada da
concepção de história, este fator é imprescindível para o respeito a história de
qualquer povo e para sua análise, além de ser imprescindível para o debate do
tema.

4) Com base no texto de Jan Vansina, debata sobre a importância da tradição oral e
sua relação com a História científica (2,5 pontos).
A tradição oral existe desde os primórdios da humanidade, acompanhando
o desenvolvimento dos diversos agrupamentos humanos através do globo
terrestre. Inúmeros grupos étnicos tinham a fala, o discurso, a oralidade, como
meio de preservar sua história. É desnecessário abordar o quão importante é
preservar a história de um determinado povo, para isso basta olhar para a
sociedade de hoje e ver os inúmeros debates históricos que se construindo
através do tema.
Os gregos, nórdicos, inúmeras tribos célticas, quase todos os grupos étnicos
africanos, inúmeras tribos indígenas brasileiras, entre muitos outros povos
utilizavam do discurso oral para manter viva sua identidade, suas tradições
passadas dessa forma através de gerações, sua história basicamente. É justo
portanto descartar essa forma de história? Como podemos ver no meio
acadêmico hoje, a resposta para essa pergunta é não. Caso isso fosse aplicado
renegaríamos espaço a diversas culturas que não teriam representatividade
socialmente e no meio dos estudos acadêmicos.
É fato que a história em seu desenvolvimento principalmente no século
XIX priorizou, com a escola tradicional, a utilização de documentos, de fontes
históricas escritas, e de grande preferência pelos ditos documentos oficiais, mas
em relação a isso deve-se questionar, todas as sociedades no percurso da história
da humanidade, baseadas em sua cultura e de suas realidades, desenvolveram o
hábito de se escrever suas leis, regras religiosas, canções, histórias de dinastias,
cartas míticas, entre outros fatores que são importantes para tal sociedade? A
resposta pra essa pergunta é justamente a justificativa que marca o principal
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fator do qual a história oral é sim um tipo legítimo de história e hoje é


considerada academicamente como tal.
Ainda que malvista por muitos conservadores a história oral ganhou seu
espaço e hoje é debatida nas universidades de diversas formas diferentes nos
cursos de História. Porém, é necessário estabelecer metodologias para se analisar
a história oral de um determinado povo, por ser uma tradição oral a mesma está
sujeita a distorções, ao parcialismo de quem reproduz essa história através das
gerações, a dificuldade em estabelecer paralelos entre as fontes orais e escritas,
entre outros dilemas metodológicos.
O autor Jan Vansina por ser ocidental também é parcial em algumas
análises e toda reflexão histórica deve ser contestada, porém, muitas de suas
afirmativas tem um valor muito grande para o debate. Creio que de forma geral
com suas particularidades e se analisada com a metodologia correta (na qual eu
não me atreveria a debater visto que não conheço muito sobre o tema), a história
oral deve crescer no meio acadêmico e ganhar sua legitimidade dando também
relevância aos povos que compartilham desse traço cultural.

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