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O Efeito do Estresse na Qualidade de Vida de Idosos:


O Papel Moderador do Sentido de Vida

The Effect of Stress on Elderly Quality of Life: Meaning in Life


as a Moderating Role

Rômulo Lustosa Pimenteira de Melo, a, Maria do Carmo Euláliob, Valdiney Veloso Gouveiaa
& Hermesson Daniel Medeiros Silvaa
a
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil & bUniversidade Estadual da Paraíba, João Pessoa, Brasil

Resumo
O objetivo principal deste estudo foi conhecer se o sentido de vida pode moderar a relação entre o estresse
e a qualidade de vida em idosos. Participaram 210 pessoas com idade média de 74 anos, a maioria do sexo
feminino (68,58%). Estas responderam aos seguintes instrumentos: Mini-Exame do Estado Mental, Inventário
de Eventos de Vida Estressantes para Idosos, Questionário de Qualidade de Vida para Idosos, Teste de Pro-
pósito de Vida e perguntas demográficas. Foram realizadas análises de componentes principais, correlações
de Pearson e regressões lineares. Os resultados indicaram que a influência do estresse na qualidade de vida
era significativa para o grupo com baixo sentido de vida, porém não ocorreu o mesmo para o grupo com alto
sentido de vida. Assim, o sentido de vida parece ter operado como um recurso protetor da qualidade de vida
frente ao estresse, indicando seu papel moderador.
Palavras-chave: Sentido de vida, estresse, qualidade de vida, saúde, idoso.

Abstract
The main objective of this study has been to know if the relationship between stress and elderly quality of
life can be moderated by the meaning in life. Two hundred and ten participants with mean age of seventy
four years old, most of them female (68.58%) took part in the study. The participants answered the following
instruments: Mini Mental State Exam, Stressing Events Inventory, Elderly Quality of Life Questionnaire,
Purpose in Life Test (PIL) and demographic questions. Principal component analysis, Pearson correlation
coefficients and linear regressions were analyzed. The results obtained indicated that the influence of stress
on quality of life is significant for the group with low meaning in life, but it was not the same for the group
with high meaning in life. Thus, the meaning in life seems to have acted as a protective factor for the quality
of life showing its moderating role with respect to stress.
Keywords: Meaning in life, stress, quality of life, health, elderly.

É notório o crescimento da população idosa no con- e mental, diminuindo a qualidade de vida (Fortes-Burgos,
texto brasileiro (Banco Internacional para a Reconstrução Neri, & Cupertino 2008). Tais mudanças, vivenciadas pe-
e o Desenvolvimento [BIRD], 2011), demandando maior los idosos, corroboram o sentimento de perda de controle
conhecimento nas várias áreas do saber. Assim sendo, sobre si e sobre o ambiente, sendo comumente percebidas
existe interesse em compreender não apenas os antece- como potencialmente estressantes (Neri & Fortes, 2006).
dentes de uma vida longa ou maior esperança de vida, A propósito, segundo Aldwin (1990; Aldwin & Gilmer,
mas também como envelhecer com a qualidade de vida 2004), os eventos estressantes do envelhecimento podem
satisfatória, apesar das diversidades cotidianas. ser diferenciados em dois tipos básicos: egocêntrico e
O processo de envelhecimento humano tem sido rela- não-egocêntrico. O primeiro é fruto de eventos e preocu-
cionado a mudanças de ordem biopsicossocial, que apre- pações que dizem respeito ao próprio idoso (por exemplo,
sentam um efeito significativo na redução da saúde física problemas ligados a sua dependência física e sua condição
econômica), já o segundo diz respeito a eventos ocorridos
com pessoas significativas para o idoso (por exemplo,
*
Endereço para correspondência: Departamento de problemas de saúde e morte de parentes e amigos).
Psicologia, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes,
Universidade Federal da Paraíba, Campus I, Cidade Apesar de apresentar uma classificação e compreensão
Universitária, s/n, Cidade Universitária, João Pessoa, geral, é preciso assinalar que nem todas as pessoas viven-
PB, Brasil 58051-900. E-mail: romulo_psiq@hotmail.
com, carmitaeulalio@terra.com.br, vvgouveia@gmail.
ciam o evento estressante da mesma forma; isso dependerá
com e hermessondaniel@hotmail.com da avaliação que elas farão do evento em si. Quanto mais

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Psicologia: Reflexão e Crítica, 26(2), 222-230.

o evento for percebido como adverso e relacionado com dificuldades os eventos estressores do dia a dia. Neste
a perda e a incontrolabilidade, maior a chance de serem contexto, o presente estudo tem como objetivo conhecer
vividos como estressantes (Monat, Lazarus, & Reevy, em que medida o sentido de vida pode diminuir os efeitos
2007). Assim, um determinado agente estressor pode ser do estresse na qualidade de vida de idosos.
estressante para um idoso, mas não para outro. Esta dis-
tinção do potencial danoso do evento estressante se deve, Método
em parte, à possibilidade de a pessoa utilizar recursos
psicossociais que favoreçam estratégias de enfrentamento Participantes
(coping) diante dos eventos (Lazarus & Folkman, 1984; Este artigo faz parte de um acompanhamento da
Margis, Picon, Cosner, & Silveira, 2003). Neste marco, amostra utilizada pela Rede FIBRA Assim, tomou-se
o sentido de vida (SV) poderia ser considerado um fator como referência uma amostra composta por 254 idosos
que auxilia no enfrentamento de situações consideradas os quais apresentavam desempenho cognitivo acima da
adversas, potencializando os níveis de saúde e de qualidade nota de corte ajustada para escolaridade no MEEM. Após
de vida das pessoas. um ano deste estudo, foram encontrados os endereços de
Enquanto construto psicológico, o SV foi primeiramen- 229 idosos, dos quais seis já haviam falecido e 13 come-
te tratado por Frankl (1978), que o concebia como um dos çaram a apresentar déficit cognitivo. Neste sentido, já não
motivadores principais do ser humano. Sua abordagem, poderiam fazer parte do estudo. Portanto, a amostra final
conhecida como logoterapia, sugere que a presença de SV foi composta por 210 idosos de Campina Grande (PB). A
está ligada ao bem-estar psicológico e subjetivo, enquanto maioria do sexo feminino (51,9%) com idade média de 74
que a sua ausência é capaz de gerar um estado de apatia e anos (DP =7,70), sendo que a maior parte (51,90%) está
desânimo (Frankl, 2003, 2004). Depois deste autor, outros no grupo de 70-79. Quanto ao estado civil, 47,14% decla-
se dedicaram a avaliar o SV e seu efeito na saúde das pesso- raram ser casados /conviventes, com 28,1% de analfabetos
as. Por exemplo, tem sido demonstrado que este construto e 58,6% que possuíam até os estudos básicos. A média de
é um preditor importante de saúde física (Jim & Andersen, renda pessoal foi de 868 reais (DP = 1.100,00) com uma
2007; Krause, 2009), bem-estar psicológico e qualidade de moda de 510 (55,50% da amostra); 61,90% dos idosos
vida (Bauer-Wu & Farran, 2005; Ho, Cheung, & Cheung, recebiam entre 0.0-1.0 salários mínimos, disso deriva a
2010; Kashdan & Steger, 2007; Melton & Schulenberg, grande dispersão da renda pessoal dos idosos (os dados
2008; Park, Malone, Suresh, Bliss, & Rosen, 2008; Steger demográficos estão descritos na Tabela 1).
& Frazier, 2005). Contrariamente, sua ausência tem sido
relacionada com níveis maiores de depressão, ansiedade Instrumentos
(Mascaro & Rosen, 2005; Steger, Mann, Michels, & Co- Os participantes responderam a um protocolo composto
oper, 2009) e ideação suicida (Aquino, 2009). pelos seguintes instrumentos:
Segundo Steger et al. (2009), Frankl não se preocupou Questionário de Qualidade de Vida para Idosos
em delimitar uma definição do construto SV, porém foi (WHOQOL-OLD). Este tem como objetivo mensurar a
enfático em sugerir que ele estaria ligado à crença de que satisfação do idoso com os diversos aspectos que envolvem
a vida da pessoa é plena de significados, que transcendem sua vida (Fleck, Chachamovich, & Trentin, 2006). Sendo
a própria realidade material. De acordo com Reker (1997), assim, a escala é composta por 24 itens, distribuídos em
o SV está associado com um propósito, uma direção e uma seis facetas com quatro itens cada uma: funcionamento
razão para a existência. Ele é um construto multidimen- dos sentidos, autonomia, atividades passadas, presentes
sional, apresentando componentes cognitivos, motivacio- e futuras, participação social, morte e morrer e intimida-
nais e afetivos (Reker & Wong, 1988). O cognitivo está de. Os itens são respondidos em escala de cinco pontos,
relacionado com as crenças e interpretações do mundo; variando de 1 (Nada) a 5 (Completamente), segundo o
o motivacional diz respeito ao sistema de valores de cada conteúdo abordado (por exemplo, satisfação, felicidade).
indivíduo, os quais interferem na realização de metas As pontuações são padronizadas, variando de 0 a 100; o
pessoais; e, finalmente, o afetivo compreende a satisfação somatório dos itens das seis facetas produz uma pontuação
com a vida, isto é, a concepção de que a vida vale a pena. total de qualidade de vida.
O conhecimento de como o SV atua na saúde física e Teste de Propósito de Vida (PilTest-12). Original-
mental das pessoas é escassamente discutido, existindo mente desenvolvido por Crumbaugh e Maholick (1964),
menos ainda evidências empíricas. A propósito, McK- este instrumento faz uma avaliação geral da sensação de
night e Kashdan (2009) sugerem que o sentido de vida realização existencial vivenciada. Sua versão inicial era
atua como mecanismo de autorregulação, auxiliando composta por 20 itens, reunindo evidências de validade
na percepção de eventos e oferecendo uma sensação de e precisão em diversos países; por exemplo, apresentou
significado existencial. Estes autores entendem que este alfas de Cronbach entre 0,70 e 0,90 (Melton & Schulen-
construto, por si só, não regula o comportamento, porém berg, 2008; Schulenberg & Melton, 2010). Não obstante,
direciona as pessoas para que, por meio da utilização de emprega-se neste estudo a versão brasileira abreviada,
seus recursos psicossociais, possam superar com menos composta de 12 itens, que são respondidos em escala

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Psicologia: Reflexão e Crítica, 26(2), 222-230.

Tabela 1
Perfil Sociodemográfico
Variável Categoria
Masculino Feminino
Sexo
66 (31,42%) 144 (68,58%)
65-69 70-79 > 80
Grupos de idade
57 (27,10%) 109 (51,90%) 45 (21,0%)
Casado/convivente Não casado
Estado civil
99 (47,14%) 109 (52,86%)
Analfabeto Est. Básicos Est. Médios Est. Superiores
Escolaridade
59 (28,1%) 123 (58,6%) 19 (9%) 9 (4,3%)
Sim Não
Atividade Laboral
42 (20%) 168 (80%)
Sim Não
Aposentadoria
168 (80%) 42 (20%)
Renda pessoal 0.0-1.0 SM 1.1-3.0 SM 3.1-5.0 SM > 5.1 SM
(em faixas de SM) 130 (61,90%) 68 (32,38%) 9 (4,28%) 3 (1,42%)
Renda familiar 0.0-1.0 SM 1.1-3.0 SM 3.1-5.0 SM > 5.1 SM
(em faixas de SM) 44 (20, 95%) 131 (62,38%) 19 (9,04%) 16 (7,61%)

com sete pontos, variando de 1 (Discordo totalmente) a 7 Nitrini, Caramelli, Bertolucci e Okamoto (2003): 17 para
(Concordo totalmente) (Aquino, 2009). os analfabetos, 22 para idosos com escolaridade entre 1
Inventário de Eventos de Vida Estressantes para e 4 anos, 24 para os com escolaridade entre 5 e 8 anos e,
Idosos (ELSI). Foi elaborado por Aldwin (1990), estando por fim, 26 para aqueles que tinham 9 ou mais anos de
composto por 31 itens que apresentam eventos estressantes escolaridade.
potencialmente vivenciados no ano anterior à coleta dos da- Questionário Demográfico. Foram incluídas pergun-
dos. Este instrumento avalia a frequência do acontecimento tas de natureza demográfica na parte final do protocolo,
dos eventos estressantes e o nível de estresse atribuído visando descrever as características dos participantes do
pelo respondente. Neste sentido, as respostas são dadas em estudo. Concretamente, as seguintes perguntas foram tidas
escala de seis pontos, variando de 0 (Evento não aconte- em conta: idade, sexo, estado civil, escolaridade e renda
ceu) a 5 (Extremamente estressante). Sua análise é feita mensal do idoso.
em função da soma dos seguintes atributos: (a) número
de eventos estressantes (0 = Não, 1 a 5 = Sim) e (b) soma Procedimento
do nível de estresse atribuído a todos os itens (soma das Em atenção aos critérios estabelecidos pela Resolução
pontuações de 1 a 5). Tavares (2004) realizou a adaptação 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, este estudo foi
brasileira deste inventário, incluindo o item “Assumir mais realizado após parecer favorável do Comitê de Ética em
responsabilidade com os filhos” e modificando “Morte de Pesquisa (Protocolo nº 0022.0.133.000-10), da Univer-
um neto” para “Morte do pai ou da mãe”. Portanto, a versão sidade Estadual da Paraíba (UEPB). A coleta de dados
considerada neste estudo foi esta última, formada por 32 ocorreu entre os meses de junho e dezembro de 2010. Oito
itens, mantendo-se a escala de resposta. estudantes de graduação em Psicologia, de uma instituição
Mini-Exame do Estado Mental (MEEM). Consiste em de ensino público na Paraíba, foram previamente treinados
30 itens que avaliam sete categorias de funções cogniti- para coletar os dados. Estes se dividiram em quatro duplas
vas: orientação temporal, orientação espacial, memória com o fim de percorrer os domicílios dos idosos e aplicar
imediata, atenção e cálculo, evocação atrasada de pala- os instrumentos. Na ocasião foram descritos os objetivos
vras, linguagem e praxia construtiva (Folstein, Folstein, do estudo e, em seguida, os idosos eram solicitados a par-
& McHugh, 1975). Sua pontuação total pode atingir 30 ticipar. Após sua concordância em colaborar, recebiam o
pontos; as notas de corte utilizadas para exclusão com Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que
base neste instrumento foram baseadas nos critérios da deveria ser assinado por eles ou um responsável. Inicial-
Rede FIBRA, que utilizou as médias menos um desvio mente, procedeu-se a avaliação de seu status cognitivo me-
padrão dos grupos de escolaridade do trabalho de Brucki, diante um teste de rastreio cognitivo (MEEM). Os idosos

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Melo, R. L. P., Eulálio, M. C., Gouveia, V. V. & Silva, H. D. M. (2013). O Efeito do Estresse na Qualidade de Vida de Idosos: O Papel
Moderador do Sentido de Vida.

que pontuaram abaixo da nota de corte para seu nível de foram identificados como vazio existencial e realização
escolaridade foram excluídos; esta decisão foi necessária existencial, apresentando índices de consistência interna
para assegurar maior confiabilidade das respostas dos de 0,73 e 0,63, respectivamente. Um fator geral, incluindo
participantes. Os idosos excluídos receberam explicações todos os itens, apresentou índice de consistência interna
compatíveis, sendo agradecidos por sua disponibilidade adequado (α = 0,77), sendo nomeado como sentido de vida.
em colaborar; os demais responderam a todos os outros
instrumentos anteriormente descritos. Nestes casos, um Descrição dos Indicadores de Qualidade de Vida,
tempo médio de 50 minutos foi suficiente para concluir Sentido de Vida e Estresse
sua participação no estudo. Procurou-se descrever as pontuações dos participantes
em cada um dos instrumentos utilizados, sendo os resulta-
Análise de Dados dos apresentados na Tabela 1. É importante destacar que
Utilizou-se o PASW (versão 19) para tabulação e aná- a classificação das pontuações foi realizada com base na
lise dos dados. Foram calculadas análises estatísticas de divisão em três partes iguais da variação de cada escala.
distribuição de frequências, mediadas de tendência central Assim, por exemplo, o instrumento PilTest-12 possui uma
e dispersão para as variáveis qualidade de vida, sentido variação de 84 pontos, que foram divididos em três partes
de vida e estresse. Para a escala de Qualidade de vida e iguais correspondendo aos tercís respectivos.
estresse foram utilizados os critérios estabelecidos pelos Quanto ao WHOQOL-OLD, a maioria dos idosos
trabalhos de validação. Para a escala de sentido de vida considerou sua Qualidade de Vida Geral (QV Geral) como
(PilTest-12), devido à carência de estudos que utilizaram “boa ou muito boa” (59,9%; M = 66,9, DP = 10,97). As
a escala, foi realizada uma análises de componentes prin- facetas Funcionamento dos Sentidos e Morte e Morrer
cipais. Também foram realizadas correlações de Pearson, apresentaram, respectivamente, 72,4% e 61,9% da amostra
correlações Bisseriais por ponto dos escores das escalas avaliando-as como “boa ou muito boa”. No que se refere
com os dados sociodemográficos. Para conhecer o papel aos demais domínios, a Autonomia apresentou o maior
moderador do sentido de vida foram utilizadas duas regres- percentual (12,1%; M = 60,1, DP = 16,39) da amostra
sões lineares simples tendo como variável independente avaliando-a como “ruim ou muito ruim”, seguida de Inti-
o sentido de vida e o estresse e como variável resposta a midade (7%; M = 67,6, DP = 16,80) e Participação Social
qualidade de vida. Posteriormente, realizou-se outra re- (6,8%; M = 59,9, DP = 16,09). O domínio Atividades
gressão linear simples de um termo interativo do sentido Passadas, Presentes e Futuras foi o que apresentou maior
de vida e estresse com a qualidade de vida e por fim duas percentual da amostra no tercil intermediário (“nem ruim
regressões lineares do estresse na qualidade de vida para nem boa”; 47,6%; M = 64,7, DP = 15,92).
cada grupo de sentido de vida (alto SV e baixo SV). No que se refere ao Sentido de Vida (SV), a maioria
dos idosos deste estudo (93%; M = 65,2; DP = 10,77)
Resultados apresentou níveis altos. Coerentemente, eles também
apresentaram nível alto de Realização Existencial (58,2%;
Os resultados deste estudo são organizados de forma M = 35,6, DP = 5,28) e baixo de Vazio Existencial (68,7%;
hierárquica, segundo a ordem de precedência para co- M =18,1, DP = 7,84).
nhecer o papel moderador do sentido de vida em relação Finalmente, quanto aos níveis de estresse, 61% dos
ao estresse e à qualidade de vida. Portanto, inicialmente, idosos relataram ter vivenciado eventos nada ou pouco
checou-se os parâmetros do instrumento PilTest-12. estressantes. No entanto, é valido ressaltar que 39% apre-
Posteriormente, procurou-se descrever as pontuações dos sentaram nível mediano ou alto de estresse. Os eventos
idosos em cada uma das medidas empregadas: qualidade mais frequentes foram “a morte de um amigo”, estando
de vida (WHOQOL-OLD), sentido de vida (PilTest-12) e presente em 119 participantes (56,9%), seguido por “perda
estresse (ELSI). Depois, comprovaram-se as correlações de memória” e “doença ou queda”, ambos presentes em 96
das variáveis demográficas com indicadores de qualidade idosos (45,9%). Tiveram ainda 172 relatos ligados a morte
de vida, estresse e sentido de vida. Por fim, averiguou-se o de entes queridos, como pais, filhos e parentes próximos.
papel moderador do sentido de vida em relação à influência
do estresse na qualidade de vida. Correlatos Demográficos de Qualidade de Vida, Sentido
de Vida e Estresse
Parâmetros das Medidas de Qualidade e Sentido de Vida Conhecida a adequação dos instrumentos de interesse,
Procurou-se checar se a matriz de correlações inter- passou-se a avaliar em que medida suas pontuações esta-
-itens do Teste de Propósito de Vida era fatorializável, o riam correlacionadas com nove variáveis demográficas:
que foi confirmada [KMO = 0,81 e Teste de Esfericidade sexo (1 = Masculino, 0 = Feminino), estado civil (1 =
de Bartlett, χ² (66) = 447,18, p <0,001]. Por meio de análise Casado, 0 = Não casado), exerce atividade laboral (1 =
de componentes principais foi possível identificar dois Sim, 0 = Não), está aposentado (1 = Sim, 0 = Não), nível
componentes com valores próprios superiores a 1, os quais escolar (0 = Analfabeto, 1 = Estudos Básicos, 2 = Estudos
explicaram conjuntamente 39,8% da variância total. Eles Médios, 3 = Estudos Superiores), vive sozinho (1 = Sim, 0 =

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Psicologia: Reflexão e Crítica, 26(2), 222-230.

Tabela 2
Estatísticas Descritivas para as Medidas de Qualidade de Vida, Sentido de Vida e Estresse
WHOQOL-OLD
Ruim ou Nem ruim, Boa ou
Facetas M (DP) Mdn
muito ruim nem boa muito boa
Funcionamento dos sentidos 8,2% 19,2% 72,4% 75,9 (20,89) 81
Autonomia 12,1% 51,7% 36,1% 60,1 (16,39) 63
Atividades (passado, presente e futuro) 5,3% 47,6% 47,1% 64,7 (15,92) 63
Participação social 6,8% 38,8% 45,4% 65,9 (16,09) 69
Morte e morrer 14,9% 2,4% 61,1% 67,9 (23,42) 75
Intimidade 7,0% 34,6% 58,6% 67,9 (16,80) 69
QV - Pontuação total 1,0% 39,1% 59,9% 66,9 (10,97) 68
PilTest-12
Baixo ou Alto ou
Fatores Médio M (DP) Mdn
muito baixo muito alto
Vazio existencial 68,7% 28,4% 2,8% 18,1 (7,84) 16
Realização existencial 1,9% 39,9% 58,2% 35,6 (5,28) 36
Sentido de vida 0,0% 7,0% 93,0% 65,2 (10,77) 69
ELSI
Nada ou Muito ou
Medianamente
Pontuação total de Intensidade pouco extremamente M (DP) Mdn
estressante
estressante estressante
Estresse 61,0% 34,2% 4,8% 15,5 (11,23) 13

Não), renda pessoal e renda familiar (ambas informadas em escolar (r = -0,27, p < 0,001); entretanto, não se observou
termos de moeda corrente, Real). Portanto, descrevem-se correlação significativa com a realização existencial (r =
a seguir os padrões de correlações por construto avaliado, 0,12, p > 0,05).
excetuando o estresse, que não apresentou qualquer relação
com tais variáveis: Sentido de Vida como Variável Moderadora
Qualidade de Vida. Quatro das variáveis demográfi- Com o fim de verificar se o SV moderaria o efeito do es-
cas não apresentaram qualquer correlação significativa tresse na pontuação geral da qualidade de vida nos idosos,
com este construto (p > 0,05): sexo, aposentadoria, seguiram-se dois passos. Primeiramente, comprovou-se se
nível escolar e renda pessoal. Sua pontuação total foi o SV e o estresse predizem esta pontuação de qualidade
correlacionada unicamente com o estado civil, com os de vida. Posteriormente, em caso afirmativo, procurou-se
casados apresentando maior pontuação (r = 0,14, p < averiguar se a predição do estresse em relação à qualidade
0,05); esta mesma variável se correlacionou com outros de vida se alteraria na presença de níveis diferentes de SV,
dois fatores específicos desta medida: morte e morrer (r isto é, baixo e alto. No primeiro caso, foram realizadas
= 0,14, p < 0,05) e intimidade (r = 0,29, p < 0,001). A duas análises de regressão simples; a primeira tendo como
variável idade se correlacionou inversamente com au- preditor o SV e a segunda o estresse, sendo a qualidade
tonomia (r = -0,17, p < 0,05), enquanto que trabalha se de vida a variável dependente em ambos os casos. O SV
correlacionou diretamente com este fator (r = 0,21, p < explicou 24% da variabilidade de resposta para a pontua-
0,01) e viver sozinho o fez inversamente com intimidade ção geral de qualidade de vida. Por outro lado, o estresse
(r = -0,16, p < 0,05). também se mostrou um preditor adequado desta pontuação,
Sentido de Vida. A pontuação geral desta medida se contribuindo com a explicação de 14% da variabilidade
correlacionou unicamente com o nível escolar, fazendo-o de respostas.
de forma direta (r = 0,23, p < 0,01), isto é, os idosos com No segundo passo, buscou-se avaliar se o SV pode-
maior escolaridade apresentaram maior sentido de vida. ria moderar a relação entre o estresse e a qualidade de
De modo coerente, seu fator específico denominado vazio vida. Portanto, foi analisado em que medida as linhas de
existencial se correlacionou negativamente com o nível regressão (as inclinações, os slopes) entre tais variáveis

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Melo, R. L. P., Eulálio, M. C., Gouveia, V. V. & Silva, H. D. M. (2013). O Efeito do Estresse na Qualidade de Vida de Idosos: O Papel
Moderador do Sentido de Vida.

diferiam significativamente para pessoas com baixa e das pontuações do PilTest-12 em três partes iguais. Assim,
alta pontuações em SV. Neste sentido, primeiramente foi considerando que o valor mínimo alcançado pela escala
inserida a interação entre estresse e SV (i.e., criou-se um PilTest-12 foi 33 e o máximo foi 84 e que a amplitude foi
termo de interação ao multiplicar o estresse pelo SV), de 51, formaram-se tercís de 17 pontos a partir do valor
com os resultados demonstrando que esta interação foi um mínimo alcançado. Em seguida, foi excluído o grupo inter-
preditor significativo da pontuação total em qualidade de mediário, restando os participantes com pontuações extre-
vida [β = -0,27; t(176) = -3,65, p < 0,001]. Isso sugeriu mas: os que apresentavam baixa e alta pontuação em SV.
um efeito moderador do SV na relação entre estresse e Posteriormente, realizou-se uma regressão linear
qualidade de vida. simples do estresse na pontuação total de qualidade de
Com o propósito de conhecer o sentido da moderação vida para cada grupo de SV (baixo e alto). Os resultados
previamente identificada, dividiu-se os idosos em catego- demonstraram que a predição do estresse e qualidade de
rias segundo sua amplitude no SV. Em virtude da primeira vida era significativa para os idosos com baixo SV [β =
classificação do SV, por meio da variação da escala, não -0,27; t(64) = -2,10, p < 0,05], porém não o foi para os de
ter apresentado idosos no tercil com baixo sentido de vida, alto SV [β = -0,08; t(60) = -0,63; p > 0,05]; a representação
optou-se por uma nova classificação baseada na amplitude gráfica destes resultados é apresentada na Figura 1.

De acordo com estes resultados, a qualidade de vida unicamente com a escolaridade. O estresse não apresentou
dos idosos com nível baixo de sentido de vida (baixo SV) correlação com as variáveis sociodemográficas. Por fim,
foi mais vulnerável ao estresse do que a daqueles que os resultados indicaram que a QV Geral dos idosos que
apresentaram nível alto desta variável (alto SV). apresentaram nível elevado de SV ficou menos vulnerável
as alterações do Estresse.
Discussão
Indicadores de Qualidade de Vida, Sentido de Vida
Este trabalho possuiu como objetivo principal examinar e Estresse
se o sentido de vida poderia atuar como recurso capaz de Os resultados anteriormente descritos sobre o nível de
diminuir os efeitos do estresse na qualidade de vida de qualidade de vida em idosos são coerentes com estudos
uma amostra de idosos residentes na cidade de Campina prévios, encontrando-se no intervalo do que tem sido
Grande – PB. As estatísticas descritivas demonstram que observado. Por exemplo, em estudo realizado em hospital
uma pequena parcela de idosos apresentou índices nega- escola de Natal (RN), Maués, Paschoal, Jaluul, França e
tivos de QV. Em relação aos índices de SV, estes foram Jacob (2010) encontraram médias de Qualidade de Vida
majoritariamente positivos. Para os índices de Estresse, Geral maiores que as do presente estudo (M = 83,7, DP =
a maioria relatou ter vivenciado eventos nada ou pouco 11,92). No entanto, Torres, Reis, Reis e Fernandes (2009),
estressantes. Os eventos estressantes mais presentes na trabalhando com idosos dependentes funcionalmente,
amostra foram respectivamente: morte de um amigo; pro- encontraram médias bem inferiores (M = 47,9, DP =
blemas com a memória; e doença ou queda. Os escores de 33,40), tendo estes achados sido coerentes com aqueles
QV correlacionaram-se com o estado civil, viver sozinho, descritos por Nunes, Menezes e Alchieri (2010), os quais
exercer atividade laboral e idade. O SV correlacionou-se trataram com idosos institucionalizados (M = 52,9, DP =

227
Psicologia: Reflexão e Crítica, 26(2), 222-230.

17,70). Possivelmente, tais discrepâncias têm múltiplas Correlatos Demográficos de Qualidade de Vida
explicações, porém duas plausíveis são: (a) a multiplici- É válido salientar que os correlatos das variáveis
dade e subjetividade do construto qualidade de vida, que demográficas com a Qualidade e o Sentido de Vida, va-
representa uma síntese de múltiplas determinações (Fleck riaram de r = 0,12 a r = 0,29, o que para Cohen (1988)
et al., 2006); e (b) a natureza diversa das amostras tidas em são correlações de efeito pequeno (+ 0,1) e médio (+ 0,3).
conta. Pois, apesar de todos serem idosos, desfrutam de Os idosos casados apresentaram maiores pontuações
indicadores sociais e econômicos variados, pertencendo a na QV Geral e nas facetas Morte e Morrer e Intimidade,
contextos culturais e/ou institucionais diferentes. Contudo, enquanto os que relataram morar só apresentaram menor
estudos futuros serão necessários para dirimir dúvidas e pontuação em intimidade. Alguns estudos mostraram que
avaliar estas duas explicações. a maioria dos homens e mulheres que mantém algum tipo
Quanto aos índices elevados de SV encontrados neste de vínculo conjugal apresenta mais sentimentos de com-
estudo, é possível que sejam respaldados em Reker (2001). panheirismo e amor, pois expressam melhor seus afetos e
Este autor afirma que, possivelmente, os idosos se consti- a sexualidade, mesmo que seja por meio de simples gesto,
tuem em um grupo com maior facilidade de desenvolver como um olhar, um abraço, um toque de mão ou um sorriso
SV se comparados com adultos e jovens, uma vez que (Moura, Leite, & Hildebrand, 2008; Perry & Potter, 2005).
parecem ser mais realistas em relação a suas metas e têm Isso pode potencializar a qualidade de vida, a sensação
menor predisposição ao vazio existencial. Portanto, por de prazer em viver. Nesta direção, E. L. Garcia, Banegas,
sua experiência de vida, é provável que as pessoas idosas Perez-Regadera, Cabrera e Rodriguez-Artalejo (2005),
tendam a fazer uma leitura mais autêntica da realidade e em estudo populacional com 4.000 idosos da Espanha,
de suas capacidades, tomando decisões mais compatíveis concluíram que aqueles idosos que não moram só possuem
com a situação e ficando menos expostos à frustração. melhor qualidade de vida, pois parecem possuir melhor
Destaca-se, igualmente, que em virtude da escassez de suporte emocional e sensação de segurança decorrente de
estudos com idosos que tenham respondido o PilTest-12, um senso de pertencimento e integração.
oferecem-se com esta pesquisa pontuações que podem As correlações indicam que os idosos com maior idade
servir como referentes para avaliar o sentido de vida deste tendem a apresentar menor pontuação na Faceta Auto-
grupo etário com respeito a dita medida. nomia. Os sujeitos com maior autonomia possuem mais
No tocante aos eventos estressantes, assim como sentimentos de controle sob sua vida, isso gera a possibi-
ocorreu neste estudo, outros autores evidenciaram como lidade de fazer planos para seu futuro o que o torna mais
eventos mais citados as questões ligadas à memória, saúde esperançoso, melhorando sua qualidade de vida (Agich,
e finitude da vida (Aldwin, Sutton, & Lachman, 1996; 2008). Além da idade, o declínio da autonomia pode ocor-
Chapleski, Kaczynski, Gerbi, & Lichtenberg, 2004; Couto, rer devido a limitações físicas, sociais, financeira ou pela
2007; Fortes-Burgos et al., 2008). impossibilidade de trabalhar (Bulla & Kaefer, 2003). Cabe
Problemas graves de saúde e morte são situações que aqui ressaltar o papel fundamental do trabalho para o de-
os indivíduos podem percebê-las como inevitáveis, sen- senvolvimento pessoal e reconhecimento social, servindo
do vividas com um grau elevado de emoções negativas, como um regulador da organização social (Zanelli & Silva,
sentimentos de frustração e desamparo, o que potencia- 1996). Em linha com estes autores, em estudo populacional
liza a sensação de falta de controle em relação à vida com idosos que vivem em regiões metropolitanas no Brasil,
(Schulz & Heckhausen, 1998). Neste ponto cabe indicar Lima-Costa, Guerra, Barreto e Maia (2000) observaram
que, talvez, a preocupação com morte não esteja ligada que o trabalho estava associado com maior independência
ao evento em si, mas ao medo de sofrimento que possa nas esferas física, social e econômica da vida, sendo um
anteceder o processo de morte (Lunardi, Sulzbach, Nunes, preditor importante de saúde destas pessoas.
& Lunardi, 2001). Acrescenta-se, a este contexto, o fato Finalmente, no caso do sentido de vida, os idosos com
de seus amigos e familiares estarem morrendo, o que maior nível educacional apresentaram maiores pontuações.
pode aumentar a percepção do evento como um processo Embora não tenham sido encontrados estudos e subsídios
doloroso, potencializando sentimentos de insegurança, teóricos que pudessem explicar esta relação, uma conjetura
tristeza e insatisfação (Frumi & Celich, 2006). No entanto, pode ser apresentada: as pessoas com maiores pontuações
mesmo diante dessas situações, Frankl (2003) entende que em sentido de vida apresentam maior abertura à mudança,
é possível transformar uma tragédia em uma conquista uma visão mais universal do mundo, não se limitando a
humana, para isso lança mão do conceito de valor de aspectos restritos da vida, sendo mais orientadas a valores
atitude, como um valor capaz de dar sentido à vida. Para intrínsecos, interativos ou suprapessoais (Aquino, 2009),
Frankl (1978) o sofrimento, quando rico de significado, o que parece ser compatível com pessoas que apresentam
pode transformar-se em desempenho e auxiliar o homem maior escolaridade. Entretanto, estudos futuros poderão
a enxergar outras possibilidades frente às desventuras contribuir para entender esta relação, indicando, se for o
inevitáveis que se apresentam ao longo da vida. Ofere- caso, as vantagens de educar os idosos.
cendo subsídio na forma como se percebe a morte, não
ficando apenas com a sensação que pouco tem o que se
fazer diante do problema.

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Melo, R. L. P., Eulálio, M. C., Gouveia, V. V. & Silva, H. D. M. (2013). O Efeito do Estresse na Qualidade de Vida de Idosos: O Papel
Moderador do Sentido de Vida.

Sentido de Vida como Variável Moderadora um papel decisivo, oferecendo amor, mas também alguma
Alguns autores discutem a capacidade que o SV tem disciplina, evitando prejuízos para a convivência familiar.
de auxiliar as pessoas a enfrentar eventos estressantes. Provavelmente, a qualidade de vida experimentada pelos
Melton e Schulenberg (2008) colocam que os idosos com idosos compartilhe alguma variância com a percepção
maiores níveis de SV são emocionalmente mais estáveis, dos estilos filiais.
mais criativos, investem mais tempo em atividades que
envolvem a família e os amigos e se percebem com mais Referências
controle de eventos estressantes. Isso auxilia na ampliação
da autoconfiança e da uma visão mais positiva e otimista Agich, G. J. (2008). Dependência e autonomia na velhice: Um
do mundo (Ho et al., 2010). No presente trabalho o evento modelo ético para o cuidado de longo prazo. São Paulo, SP:
estressante mais presente foi a morte de um(a) amigo(a), Edições Locais.
Aldwin, C. M. (1990). The Elders Life Stress Inventory: Ego-
diante disso Baumeister e Vohs (2002) argumentam que
centric and nonegocentric stress. In M. A. P. Stephens, J. H.
idosos que apresentam melhores níveis de SV lidam melhor Crowther, S. E. Hobfoll, & D. L. Tennenbaum (Eds.), Stress
com o luto de entes queridos, pois conseguem atribuir um and coping in later-life families (pp. 49-69). New York:
significado a perda. Hemisphere.
Frankl (2003, 2004) propõe que o SV tende a atuar Aldwin, C. M., & Gilmer, D. F. (2004). Health, illness, and
como um efeito de tampão ou deslocamento das conse- optimal aging: Biological and psychological perspectives.
quência deletérias das dificuldades no bem-estar do indi- Thousand Oaks, CA: Sage.
víduo. Dessa forma, a percepção de que o sofrimento tem Aldwin, C. M., Sutton, K. J., & Lachman, M. (1996). The
development of coping resources in adulthood. Journal of
um sentido faria com que as dificuldades impostas pelos
Personality, 64, 837-871.
eventos estressantes fossem encaradas como um desafio Aquino, T. A. A. (2009). Atitudes e intenções de cometer suicídio:
compreensivo e manejável. Para S. C. Garcia (2008) e Seus correlatos existenciais e normativos (Tese de doutorado,
Schulenberg e Melton (2010) a procura deste sentido é um Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba,
alicerce da motivação para a pessoa construir resiliência. João Pessoa, PB, Brasil).
É importante assinalar que alguns autores têm se dedicado Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento.
a desenvolver intervenções pautadas nos pressupostos da (2011). Envelhecendo em um Brasil mais velho. Brasília, DF:
Logoterapia, procurando minimizar os efeitos danosos do Banco Mundial.
estresse na saúde dos indivíduos. Fabry (1985, 1988) relata Bauer-Wu, S., & Farran, C. J. (2005). Meaning in life and psycho-
spiritual functioning: A comparison of breast cancer survivors
procedimentos individuais e de grupo para iniciar reflexões
and healthy women. Journal of Holistic Nurse, 23, 172-190.
acerca desse sentido, agrupados em cinco caminhos: Auto Baumeister, R. F., & Vohs, K. D. (2002). The pursuit of me-
conhecimento, possibilidades de escolha, nossa singulari- aningfulness in life. In C. R. Snyder & S. J. Lopez (Eds.),
dade, responsabilidade a auto-transcedência. Para Melton Handbook of positive psychology (pp. 608-618). NewYork:
e Schulenberg (2008) a logoterapia pode ser integrada a Oxford University Press.
outras formas de psicoterapia e estratégias de tratamento, Brucki, S. M. D., Nitrini, R., Caramelli, P., Bertolucci, P. H. F., &
tais como gestão de medicamentos, podendo acomodar Okamoto, I. H. (2003). Sugestões para o uso do Mini-Exame
uma grande variedade de tratamentos clínicos. do Estado Mental no Brasil. Arquivos de Neuropsiquiatria,
61, 777-781.
Bulla, L. C., & Kaefer, C. O. (2003). Trabalho e aposentadoria:
Conclusão As repercussões sociais na vida do idoso aposentado. Texto
& Contexto Enfermagem, 2, 34-46.
Os resultados sugerem que o SV desempenha uma Chapleski, E. E., Kaczynski, R., Gerbi, S. A., & Lichtenberg, P.
função moderadora da relação do estresse na QV Geral dos A. (2004). American Indian elders and depression: Short- and
idosos, atuando como um recurso protetor. Intervenções re- long-term effects of life events. Journal of Applied Gerontol-
guladas pelos pressupostos teóricos da Logoterapia podem ogy, 23, 40-57.
ser uma importante ferramenta para trabalhar a Qualidade Cohen, J. (1988). Statistical power analysis for the behavioural
sciences (2nd ed.). New York: Academic Press.
de Vida e saúde dos idosos. Por fim, será fundamental
Couto, M. C. P. P. (2007). Fatores de risco e de proteção na
seguir investigando neste âmbito da qualidade de vida em promoção de resiliência no envelhecimento (Dissertação de
idosos. Identificar fatores que a promovam, mesmo diante mestrado, Departamento de Psicologia, Universidade Federal
de eventos estressantes que são inevitáveis e inerentes à do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil).
terceira idade, deveria se constituir em uma agenda de Crumbaugh, J. H., & Maholich, L. T. (1964). The psychometric
pesquisa. Parece pouco produtivo dirigir o olhar para os approach to Frankl’s concept of noogenic neurosis. Journal
fatores de risco da qualidade de vida. É importante pensar of Clinical Psychology, 20, 200-207.
em fatores que assegurem sua proteção. Neste âmbito, Fabry, J. (1985). Wege zur Selbstfindung. Freiburg im Breisgau,
Germany: Herderbücherei.
as relações interpessoais podem ser um fator importante
Fabry, J. (1988). Guideposts to meaning. Oakland, CA: New
a considerar. Um desafio poderia ser estudar estilos de Harbinger.
socialização filiais. Parece paradoxal, mas as pessoas são Fleck, M. P. A., Chachamomovich, E., & Trentin, C. (2006). De-
(re)socializadas em múltiplas etapas de suas vidas, e na senvolvimento e validação da versão em Português do módulo
terceira idade não é diferente; os filhos, comumente, têm WHOQOL-OLD. Revista de Saúde Pública, 40, 785-910.

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Grande do Sul, Curso de Pos-Graduacao em Psicologia and its content may not be copied or
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