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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Instituto de Psicologia
Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade
PSI01053 – Desenvolvimento Humano II-A
Giana Bitencourt Frizzo

Atendimento clínico em adultos na meia-idade

Eduarda Mercanti Azambuja


Fábio Luiz Viegas
Guilherme Lannig de Souza
Luísa Canfield de Castro
Resumo

O presente trabalho pretende estabelecer uma aproximação entre a prática de


atendimento clínico e bases teóricas referentes à fase do ciclo vital conhecida como
meia-idade. Para tanto, recorreu-se à literatura disponível sobre o tema visando ao
estabelecimento de eixo conceitual consistente que permita o entendimento do adulto na
meia-idade, bem como realizou-se uma entrevista com psicóloga profissional
acostumada ao atendimento dessa demanda. Por fim, buscou-se realizar o paralelo entre
a fala de nossa entrevistada com o conteúdo levantado em estudos e teorias.

O adulto de meia-idade

Entende-se por meia-idade a fase do ciclo vital que se estende aproximadamente dos 40
aos 60 anos, acompanhada por uma transição lenta e gradual do jovem adulto sem
modificações físicas ou psicológicas abruptas (Margis & Cordioli, 2001).
Segundo a teoria de oito estágios do ciclo vital, proposta por Erikson, o indivíduo da
meia-idade se encontra no estágio psicossocial da generatividade versus estagnação, de
maneira que o sujeito tem a preocupação com tudo o que pode ser gerado, desde filhos
até ideias e produtos. Dedica-se à geração e ao cuidado com o que gerou, o que é muito
visível na transmissão dos valores sociais de pai para filho (Rabello & Passos). Dessa
forma, o adulto na meia-idade possui uma forte tendência a reavaliar sua própria
experiência durante seu ciclo vital e possui marcada preocupação na transmissão desses
valiosos ensinamentos para as próximas gerações (filhos, netos, etc.). Todavia,
problemas na generatividade podem acarretar na estagnação pessoal, dificuldades em
estabelecer e aceitar as transformações no ambiente familiar, profissional, físico e
psicológico, culminando na chamada crise da meia-idade.
Um aspecto significativo dessa fase é que nela ocorre o maior número de saídas e
entradas de membros da família, iniciando com o lançamento dos filhos adultos e
prosseguindo com a entrada de seus cônjuges e filhos (Carter & McGoldrick, 1995). O
processo de tornar-se avô/avó assinala outro aspecto fundamental que os adultos de
meia-idade atravessam, assinalando o ingresso no processo de quarta individuação
(Colarusso in Kipper & Lopes, 2006).
Como podemos observar, a adultez na meia-idade abrange diversas modificações na
estrutura familiar, requer uma adaptação do indivíduo a um novo papel a ser
desempenhado na vida profissional, afetiva e até mesmo conjugal. Tamanhas mudanças
no equilíbrio de funções podem significar dificuldades de aceitação na nova estrutura
que se configura, provocando a necessidade de atendimento psicológico para amenizar
eventuais crises na meia-idade. Buscando compreender como acontece a procura e o
atendimento clínico na mencionada faixa etária, realizamos uma entrevista com uma
profissional acostumada a esse tipo de demanda.

Entrevista com psicóloga

Conduzimos nossa entrevista com a psicóloga Dra. Maria do Carmo de Freitas Cardoso,
especializada em psicologia organizacional, que realiza suas consultas em consultório
particular bem como em clínicas de atendimento médico especializado e empresas
particulares. A doutora utiliza como abordagem terapêutica a teoria cognitiva
comportamental, em que adquiriu especialidade após curso de extensão com duração de
dois anos. Em suas consultas, atende crianças, adolescentes, adultos e idosos,
encontrando a maior demanda entre crianças (7 a 10 anos) e adultos (30 a 50 anos).
Suas sessões psicoterápicas costumam ser realizadas semanalmente, durando
aproximadamente 45 minutos, com pré-agendamento via telefone.
Perguntada sobre a principal demanda para o atendimento em adultos na meia-idade,
Maria do Carmo mencionou pacientes com depressão, Síndrome do Pânico, Transtorno
Obsessivo Compulsivo (TOC) e crise de ansiedade generalizada, com destaque para a
frequência de atendimentos com pacientes deprimidos.
Questionamos, então, a relação da família com esses pacientes. Sua resposta aparece
transcrita conforme segue:

Normalmente, no trabalho psicoterápico em pacientes deprimidos, você analisa o


histórico da família e percebe o emaranhado de conflitos nessa estrutura familiar.
Infância com pais desajustados, alcoolismo, abuso, maus tratos, humilhação, estrutura
familiar fragilizada. Procuro trabalhar com a família quando criança, com adultos é
mais difícil.

A intrincada rede familiar e suas especificidades aparecem permeando a questão do


desenvolvimento do indivíduo e, ao ser questionada sobre a importância das relações
iniciais pais-bebê, a psicóloga designou grande importância para a questão, sendo desde
a infância o comportamento sendo moldado pelo reforçamento dos pais. Uma base
sólida nas relações iniciais pode garantir um desenvolvimento sadio em idades mais
avançadas, como a meia-idade. Problemas na estrutura familiar não resolvidas em
períodos anteriores podem desencadear os transtornos mencionados na fase adulta do
indivíduo.

Considerações e paralelo entre prática e teoria

Com base no resumo da entrevista mostrado, podemos observar a importância de uma


separação sadia entre os pais e os filhos. Entre os mais frequentes conflitos observados
pela doutora, encontram-se filhos que saíram de casa cedo demais, ou que apresentam
problemas conjugais com suas esposas e , até mesmo, má relação com seus netos.
A crise da meia-idade também afeta a identidade laboral de muitos pacientes atendidos,
observando estreita relação entre a nova realidade em que se encontram, preparando-se
para uma aposentadoria que muitas vezes soa ameaçadora, e as metas não alcançadas ou
sonhos frustrados que possuíam quando mais jovens.
A meia-idade, por se tratar de um período de reavaliação e transmissão de sua
experiência profissional, frequentemente coloca os indivíduos vítimas de depressões,
apontadas pela doutora entrevistada como a maior demanda nesse tipo de atendimento.
Esse quadro patológico pode ser relacionando justamente com essa problemática fase do
ciclo vital, x em que severas modificações na estrutura familiar aliadas a reavaliações de
uma identidade laboral produtiva, necessitam de um olhar clínico atento e disposto a
ajudar no enfrentamento dessas grandes mudanças.

Referências bibliográficas

CARTER, B. & MCGOLDRICK, M. (1995). As mudanças no ciclo de vida familiar


– uma estrutura para a terapia familiar. In: B. Carter & M. McGoldrick (Eds.),
As mudanças no ciclo de vida familiar – uma estrutura para a terapia familiar.
(p. 21). Porto Alegre: Artmed.
KIPPER, C. D. R., & LOPES, R. C. S. (2006). O tornar-se avó no processo de
individuação. Psicologia: Teoria e pesquisa, 22, 29-34.
MARGIS, R. & CORDIOLI, A. C. (2001). Idade adulta: meia-idade, In: C. L. Eizirik,
F. Kapczinski, & A. M. S. Bassols, (Orgs.), O ciclo de vida humana: Uma
perspectiva psicodinâmica (p.159). Porto Alegre: Artmed.
RABELLO, E. T. & PASSOS, J. S. Erikson e a terapia psicossocial do
desenvolvimento. Retirado de http://www.josesilveira.com/artigos/erikson.pdf,
em 01 de julho de 2012.

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