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Jane Borges
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“os autores que, nos últimos anos, têm trabalhado mais sistematicamente as histórias de
vida dos professores (Ivor F. Goodson, Jeniffer Nias, Michaël Huberman, Miriam Bem-
Peretz, Peter Woods) mantêm uma grande vigilância teórica e metodológica; mas sem
ignorarem a necessidade de um maior rigor conceptual” (op.cit.p.24). Becker tece
reflexões sobre a história de vida na sociologia contemporânea considerando-a como um
dos instrumentos de pesquisa. Explica que a história de vida “pode ser particularmente útil
para nos favorecer uma visão do lado subjetivo de processos institucionais muito
estudados, sobre os quais pressupostos não verificados também são feitos com freqüência”
(Becker, 1994, p.108), facilitando na observação da maneira como as pessoas
experimentam os processos. Acrescenta que “novamente em virtude de sua riqueza de
detalhes, pode ser importante naqueles momentos em que uma área de estudo se tornou
estagnada” (op.cit.p.109) e destaca outra contribuição fundamental, qual seja, a de “dar
sentido à superexplorada noção de processo”. A trajetória profissional perpassa por
diferentes e sucessivas fases que têm sido estudadas por autores mediante o emprego de
histórias de vidas, com destaque para Huberman, que há muito vem investigando sobre os
“ciclos de vida” profissional do professor (Huberman, 1992).
Conhecemos as críticas, quanto à metodologia utilizada pela história oral no campo
das ciências sociais, apresentadas por Queiroz, principalmente na questão da entrevista. A
entrevista é considerada como uma técnica por excelência, porém “encarada como
desvirtuadora dos relatos” (Queiroz, 1988, p.19). O pesquisador deve tomar todo cuidado
para não interferir no caminho do narrador deixando que ele decida o que vai relatar.
Entretanto concordamos com Souza quando afirma: “o fato é que a coleta de dados, ainda
não vem demonstrando sua potencialidade em estudos produzidos na área da pesquisa
histórica e registrados ou cujo conhecimento se quer ampliar, pela via dos relatos orais, é
um recurso que vem demonstrando sua potencialidade em estudos produzidos na área da
pesquisa histórica e educacional, com resultados bastante fecundos” (Souza, 1998, p.28).
Para trabalharmos a história de vida deste educador consultamos todo o material
escrito sobre ele, disponível em livros, recortes de jornais e correspondências; verificamos
documentos oficiais nas bibliotecas das escolas onde lecionou (programas de concertos e
de disciplinas, partituras, livros de Atas e de Registros); no Museu Villa-Lobos
consultamos sua tese de Docência Livre, fotos e documentos que comprovam sua atuação
ao lado de Villa-Lobos e no acervo da família (documentos, correspondências, partituras,
fotos). Recorremos também ao diálogo triangular através de entrevistas com educadores
que conviveram com ele e com sua esposa. Junte-se a estes dados o fato de termos sido sua
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aluna, portanto testemunha ocular de sua atuação docente, no Conservatório Brasileiro de
Música-RJ, em 1977.
O tratamento das fontes que utilizamos seguiu especificações de Pujadas (1992).
Através destas fontes foi possível viabilizar a pesquisa. Os depoimentos das pessoas que
conviveram com ele foram de grande importância na reconstituição de sua história de vida.
Estes registros nos ajudaram a conhecer melhor seu ideal, suas ações na sociedade em que
estava inserido bem como aspectos de sua formação.
Neste estudo observamos as três categorias que devem constar em Histórias de
Vida segundo Santamarina e Marinas (1994), são elas: Formação, Vida Profissional e
Construção da Identidade.
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Ministério de Educação e Cultura tendo, em setembro de 1932, aperfeiçoado seus estudos
de piano com a famosa pianista francesa Marguerite Long, que ministrou um curso no
Instituto Nacional de Música da Universidade do Rio de Janeiro.
Em 1945 Vieira Brandão seguiu para os EUA com bolsa de estudos, realizando um
Curso de Aperfeiçoamento em Educação Musical na Universidade do Sul da Califórnia
(U.S.C.). Aproveitou a oportunidade para divulgar a cultura musical brasileira através de
conferências e recitais em diversas cidades, como Los Angeles, Chicago, Washington,
Filadélfia, “tendo participado como representante do Brasil no Congresso de Educadores
realizado em Cleveland, de 27 de março a 4 de abril, pronunciando, durante o mesmo, uma
palestra sobre o ensino de canto orfeônico no nosso país e executando um programa de
obras brasileiras, para um público de seis mil estudantes”.1
Em 1949 realizou concurso à Docência Livre de Piano na Escola de Música da
Universidade do Brasil com a tese: “O Nacionalismo na Música Brasileira para Piano” e
em 23 de junho de 1969 recebeu o título de Doutor.
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Matéria publicada no jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro, de 15 de abril de 1946, intitulada VIEIRA
BRANDÃO E A MISSÃO CUMPRIDA NOS ESTADOS UNIDOS
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Informação retirada dos “Dados Biográficos de José Vieira Brandão”, encontrado no acervo da Prof. Nilda
Miranda, que foi sua assistente no Conservatório Brasileiro de Música
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orfeônico. Villa-Lobos institui o ensino do canto orfeônico em âmbito nacional e mobiliza
os escolares em grandes concentrações públicas. Nesta época acontecia não só no Brasil,
mas em todas as Américas um processo de profissionalização do pedagogo musical.
Além da atuação como Técnico de Educação do MEC e como pianista Vieira
Brandão fez parte do primeiro corpo de funcionários da antiga SEMA (Superintendência
de Educação Musical e Artística) da Prefeitura do Distrito Federal. Esse organismo foi
criado pelo governo, ligado ao Departamento de Educação da Prefeitura do Distrito
Federal “com o fim de cultivar e desenvolver o ensino da música nas escolas primárias e
nas de ensino secundário e profissional, assim como nos demais departamentos da
municipalidade” (Villa-Lobos, 1946, p.507)
Devido a sua convivência com Villa-Lobos e capacidade artística apresentou
inúmeras primeiras audições mundiais das obras para piano do grande compositor, muitas
delas no exterior.
Em 1940 assumiu a posição de professor titular de Piano e Canto Coral no
Conservatório Brasileiro de Música, fundado por Lorenzo Fernândez em 1936.
Vieira Brandão preocupou-se com a formação de professores de Educação Musical
e em 1943 assumiu o cargo de Professor de Técnicas de Ensino de Canto Orfeônico e
posteriormente de Polifonia Coral e Prática de Regência no Conservatório Nacional de
Canto Orfeônico.
Foi membro fundador da Academia Brasileira de Música, indicado por Villa-Lobos
para ocupar a cadeira de nº 36, cujo patrono foi Barroso Neto. A Academia Brasileira de
Música foi fundada por Villa-Lobos em 1945 seguindo o modelo da Academia Francesa3.
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O objetivo de Villa-Lobos era reunir personalidades mais notáveis no meio musical brasileiro favorecendo a
cultura e a educação musical do país. Grupo composto por 40 acadêmicos.
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ideológicos. O casamento é concebido como o alicerce da sociedade. Assim, em 1949
casou-se com a pianista e ex-aluna Eunice da Costa Pereira Brandão com quem viveu até o
final de sua vida. Dessa união nasceram os filhos: Cláudio, Fábio, Márcio, Andréa e
Sérgio.
Eunice também vinha de uma família com um passado aristocrático. Quando
completou 9 anos seus pais decidiram colocá-la para estudar piano e contrataram Brandão
como seu professor. Não podiam imaginar que 9 anos mais tarde iniciaria entre os dois um
romance que se perpetuaria por toda a vida. A princípio os pais de Eunice foram contra o
relacionamento, mas segundo seu relato, “depois se renderam à força do amor”.4
Ao ser entrevistada, D. Eunice afirmou que foram 53 anos de muitas lutas, porém
de felicidade. Ela testemunhou que o marido era muito dedicado, um bom pai e viveu para
a música. Gostava de ir ao cinema, ao teatro e não perdia um concerto. Tinham um seleto
grupo de amigos com quem costumavam conversar e compartilhar os ideais educacionais.
O orçamento familiar era baseado no salário de professor que mais tarde foi
complementado pelo salário da esposa que se aposentou como professora da Aliança
Francesa. As preocupações financeiras não escapavam à rotina de vida de Brandão que
escreveu a um amigo: “A luta pelo pão cotidiano deixa para meu trabalho de composição
tão poucos momentos que chego a desesperar. Roubo horas de sono para dar conta dos
projetos que tenho em mente”.
Do ponto de vista das relações sociais, pelo que tudo indica, Vieira Brandão sempre
se relacionou muito bem com as pessoas, prezando pela moral e bom costume. A seguir
relacionamos alguns adjetivos atribuídos a ele por seus ex-alunos e colegas, por mim
entrevistados: “gentleman, um homem educadíssimo, atencioso, generoso, amável, íntegro,
entusiasta, pessoa maravilhosa, muito elegante e atraente”.
Em 1961 a Lei de Diretrizes e Bases retirou do currículo escolar a disciplina Canto
Orfeônico. Brandão ficou decepcionado, mas não desistiu de seus ideais e continuou
desempenhando com dinamismo e entusiasmo suas atividades como professor.
Vale a pena destacar seu amor à profissão, sua paixão pela educação, a busca de
maior competência no fazer pedagógico e seu interesse pelo sucesso dos educandos. Sua
contribuição para a cultura musical brasileira é de enorme valor, revelando-se um
batalhador pelas causas musicais com ideais nobres e merecedor de nosso reconhecimento.
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Dados colhidos na entrevista realizada em sua residência, no Rio de Janeiro, no dia 13 de julho de 2003.
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Alcançou respeito e reconhecimento na cidade do Rio de Janeiro e verificamos que
aos poucos a importância de sua atuação vai sendo reconhecida, de forma crescente, em
âmbito nacional e internacional.
Apresentamos a seguir trechos da entrevista com um de seus alunos5: “Eu vim para
o sul em 1948. Imediatamente travei conhecimento não só com Brandão como com Villa-
Lobos também. Nós fomos bastante, digamos assim, íntimos. E Brandão, para minha sorte,
dois anos depois foi meu professor. (...) nosso relacionamento foi constante, assim de
amigão para amigão. Conheci uma alma muito bacana, muito grande! Foi uma grande sorte
tê-lo em meu círculo de amigos. (...) Eu quero destacar isso: que foi uma pessoa totalmente
dedicada à música. De dedicação integral, um grande músico! Bem casado com a Eunice,
pai de cinco filhos, todos muito musicais. É um prazer estar com aquela família! (...)
Grande parte da obra dele tem finalidade didática, é para ser usada nas escolas e ele tem
também, inegavelmente, uma das principais contribuições artísticas que o Brasil já teve no
campo do canto coral. (...) O Brandão tem uma influência muito grande na minha vida (...)
ele queria me ajudar a descobrir as coisas gostosas do ensino da música, e conseguiu”.
Destacamos também trechos da entrevista realizada com a educadora Valéria
Peixoto6. “A maior contribuição que Vieira Brandão deu à Academia Brasileira de Música
foi o exemplo de vida que deixou, em que os interesses institucionais e, principalmente, o
amor à música brasileira, sobrepujaram os interesses pessoais. Jamais ele se deixou seduzir
pelas facilidades que sua condição de fundador e decano poderiam propiciar.(...) Em todas
as oportunidades que se apresentavam, não hesitava em trazer à baila o assunto de sua
devoção: a educação musical. (...) Como educador, ensinou-nos a jamais desistirmos de um
ideal. Perseverança, obstinação, firmeza de princípios, amor à música brasileira e a certeza
de que a música é acessível a TODOS, são lições de mestre que ele nos deixa.(...)
Concluindo
Acreditamos que José Vieira Brandão fez esta opção de vida pelo magistério
abrindo mão não só da carreira de pianista como também de compositor, assumindo todas
as dificuldades sem se arrepender e sempre entusiasmado com a educação musical.
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Trata-se do prof. Ermano Soares de Sá. Regente coral e Coordenador de Educação Musical do Centro
Educacional de Niterói desde a sua fundação (1960), tendo acumulado a atividade de Educação Musical até
2000. Durante mais de 40 anos foi professor, coordenador e regente de corais na Rede Estadual de Educação
do Rio de Janeiro.
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Coordenadora do Banco de Partituras de Música Brasileira e Assessora Técnica da Presidência e da
Diretoria da Academia Brasileira de Música. Foi Coordenadora de Música da FUNARTE, Diretora do
Instituto Nacional de Música da FUNARTE, Coordenadora Nacional de Educação Musical e professora da
Escola de Música Villa-Lobos.
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Observamos na sua trajetória escolar rica e diversificada educação formal. A
educação continuada também se destaca pelo hábito de leituras, por viagens ao exterior,
por defesas de teses ou, ainda pela continuação de estudos feitos após a graduação. Na
verdade, nunca se aposentou. Após a aposentadoria compulsória como professor,
continuou em plena atividade como compositor; participou das atividades como membro
da Academia Brasileira de Música, e como presidente da Sociedade Civil Mantenedora do
Conservatório Brasileiro de Música.
Verificamos que o maior tempo de sua vida foi gasto como educador e regente
coral. Muitas foram suas experiências nestas áreas e ocupou lugares de destaque no campo
da Educação como professor da Escola de Música da UFRJ (Universidade do Rio de
Janeiro), do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, do CBM (Conservatório Brasileiro de
Música), do CNCO (Conservatório Nacional de Canto Orfeônico) e do MEC (Ministério
de Educação e Cultura). Integrou numerosas bancas de concursos e recebeu muitos
prêmios, títulos e homenagens. Destacamos também o eficiente trabalho realizado como
regente do Madrigal Vox e do Coro do CBM, durante muitos anos.
Consideramos que o perfil de José Vieira Brandão não se enquadra no período que
Huberman (1992) chamou de desinvestimento, segundo qual o docente em final de carreira
estaria desmotivado ou descomprometido, o que comprometeria a ação docente.
Em nossa Dissertação de Mestrado encontram-se diversos depoimentos de pessoas
que apresentam comprovada atuação e reconhecido destaque no cenário musical brasileiro,
que conviveram com Vieira Brandão e que apontam a importância de seu trabalho didático.
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