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ANGLO

ENSINO FUNDAMENTAL
9 º-
ano

2
Volume

MANUAL
DO
PROFESSOR
BIOLOGIA
9º ano
Ensino Fundamental

Manual do
Professor
Biologia
José Manoel Martins
Marcos Engelstein

2
volume
Direção Presidência: Mario Ghio Júnior
Direção de Conteúdo e Operações: Wilson Troque
Direção executiva: Irina Bullara Martins Lachowski
Direção editorial: Luiz Tonolli e Lidiane Vivaldini Olo
Gestão de projeto editorial: Rodolfo Marinho
Gestão de área: Isabel Rebelo Roque e Tatiana Leite Nunes
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Rodrygo Martarelli Cerqueira
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Adjane Oliveira (coord.), Daniela Carvalho e Mayara Crivari
Revisão: Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff Marques (coord.),
Rosângela Muricy (coord.), Arali Gomes, Brenda T. M. Morais,
Carlos Eduardo Sigrist, Danielle Modesto, Hires Heglan,
Kátia Lopes Godoi, Marilia Lima, Maura Loria, Ricardo Miyake,
Tayra Alfonso; Amanda T. Silva e Bárbara de M. Genereze (estagiárias)
Arte: Daniela Amaral (ger.), Erika Tiemi Yamauchi (coord.) e
Daniel Hisashi Aoki (edit. arte)
Diagramação: JS Design
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Roberta Freire Lacerda Santos (pesquisa iconográfica)
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Angra Marques (licenciamento de textos), Erika Ramires,
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Martins, José Manoel


Ensino fundamental 2 : biologia 9º ano : volume 1 e 2 :
professor / José Manoel Martins, Marcos Engelstein. -- 1.
ed. -- São Paulo : SOMOS Sistemas de Ensino, 2019.

1. Biologia (Ensino fundamental). I. Engelstein,


Marcos. II. Título.

2018-0061 CDD-372.35

Julia do Nascimento – Bibliotecária – CRB-8/010142

2019
ISBN 978 85 468 1860 0 (PR)
1a edição
1a impressão
Impressão e acabamento

Uma publicação
SUMÁRIO

VOLUME 2 ...............................................................................................4
9. Alterações na cadeia alimentar – os javalis invasores e outros casos .................................... 5
10. Interações ecológicas – o caso das acácias e das formigas ................................................. 12
11. Bioacumulação – o caso das tartarugas-matamatás ............................................................. 17
12. A crise hídrica e a conservação ambiental ......................................................................... 22
13. O caso da fragmentação florestal e dos corredores ecológicos .......................................... 28
14. O caso dos lebistes e a seleção natural ............................................................................... 35
15. Especiação – o caso dos bugios na América do Sul ............................................................ 40
16. A seleção natural em ação .................................................................................................. 46

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VOLUME 2

Caros professores,
Dando continuidade aos estudos de caso, neste volume vamos apresentar temas sobre Ecologia e evo-
lução, relacionando-os, direta ou indiretamente, a fatos que poderão estar ligados ao cotidiano dos alunos.
Os estudos de caso abordados nessa temática trarão assuntos como: espécies exóticas invasoras, cadeia e
teias alimentares, bioacumulação, crise hídrica, conservação, corredores ecológicos, fragmentação de ecos-
sistemas, especiação e seleção natural.
Esperamos que, ao final desse segundo volume, este material tenha auxiliado em seu trabalho e atendido
às suas expectativas. Permanecemos sempre à disposição para ouvir suas críticas e sugestões, fundamentais
na construção de um material didático de qualidade.
Bom trabalho!
Os autores

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8 Ensino Fundamental
9. ALTERAÇÕES NA CADEIA ALIMENTAR –
OS JAVALIS INVASORES E OUTROS CASOS

AULAS 25, 26, 27 e 28

Neste Módulo, apresentamos o estudo de caso da presença do javali no Brasil como uma espécie exótica inva-
sora, bem como o impacto dessa situação para o ambiente e, em especial, para outras espécies com as quais ele
compartilha parte do nicho ecológico. Essa análise se dá principalmente por meio do estudo de cadeias e teias
alimentares. São discutidas formas de controle desses invasores e também é apresentado, no mesmo tema (espécie
exótica invasora), outro estudo de caso: o do uso da joaninha-asiática como controle biológico.

Objetivos
• Identificar e diferenciar uma espécie nativa de uma espécie exótica.
• Entender o conceito de espécie exótica invasora e aplicá-lo ao caso dos javalis no Brasil.
• Compreender o conceito de nicho ecológico.
• Entender o conceito de cadeias e teias alimentares e saber nomear seus diferentes níveis tróficos.
• Analisar o desequilíbrio gerado em teias alimentares quando se adiciona um novo integrante que não sofre
predação.
• Entender as consequências da invasão de javalis para o ambiente e para as comunidades, bem como as impli-
cações socioeconômicas dessa invasão.
• Compreender as formas de se mitigar, manejar e conter os efeitos dos javalis invasores.
• Compreender o caso da joaninha-asiática, uma espécie exótica invasora no Brasil, conhecendo os motivos de
sua introdução voluntária e as consequências para o ambiente.

Roteiro de aula (sugestão)

Aula Descrição Anotações


Retorno da tarefa 3 do Módulo 8
Quem são os javalis “invasores”?
De olho... na espécie exótica invasora
25
Atividade 1
Rumo ao Ensino Médio (item 1)
Orientações para a tarefa 1 (Em casa)
Manual do Professor
Retorno da tarefa 1
Cadeias e teias alimentares
26 Atividade 2
Rumo ao Ensino Médio (item 2)
Orientações para a tarefa 2 (Em casa)

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5
Retorno da tarefa 2
Consequências para o ambiente
O controle dos javalis
27
Atividade 3
Rumo ao Ensino Médio (item 3)
Orientações para a tarefa 3 (Em casa)
Retorno da tarefa 3
Outro caso de espécie introduzida: a joaninha-asiática
28 Atividade 4
Rumo ao Ensino Médio (item 4)
Orientações para a tarefa 4 (Em casa)
Observaç‹o: Os testes da seção Rumo ao Ensino Médio podem ser trabalhados em sala ou indicados como tarefa para casa.

Noções básicas • Na natureza, as cadeias alimentares apresentam-se inter-


ligadas formando as teias alimentares. Um mesmo orga-
• As espécies exóticas são aquelas que chegam a locais, nismo pode fazer parte de diferentes cadeias alimentares,
de forma acidental ou intencional (pelo ser humano),
ocupando mais de um nível trófico. As teias podem ser
onde antes não habitavam.
analisadas desmembrando-se em cadeias alimentares.
• Os javalis causam uma série de impactos no ambien-
Professor(a): os conceitos de espécie exóti- te: competem com espécies nativas, como catetos e
ca e espécie exótica invasora já foram estudados queixadas; destroem plantas novas e sementes, afe-
em Ciências no 6o ano, Caderno 3. tando a flora local; cavam o solo, acelerando, assim,
o processo de erosão e promovem o assoreamento
• As espécies exóticas competem com espécies nativas de lagos e rios; transmitem doenças, como a febre
pelos recursos do ambiente e geralmente têm vanta- aftosa, a pneumonia suína e a teníase; cruzam com
gem, pois não têm predadores naturais. São, assim, porcos domésticos asselvajando suas crias; destroem
consideradas invasoras. plantações e áreas agrícolas.
• Os javalis no Brasil se encaixam no conceito de • O controle e o manejo dos javalis invasores com o
espécie exótica invasora: são naturais de regiões da objetivo de deter seu avanço e reduzir a população
Europa, Ásia e África, mas, atualmente, já se espalha- incluem: a caça e o abate controlados em criadouros
ram por vários estados brasileiros. e abatedouros autorizados; o combate aos criadouros
• A cadeia alimentar é composta de produtores (autó- clandestinos; e a orientação no manejo e transporte
trofos), consumidores herbívoros (heterótrofos que se de animais de criadouros legalizados.
alimentam de produtores) e carnívoros (heterótrofos • A joaninha-asiática, uma espécie exótica invasora,
que se alimentam de consumidores), bem como de foi introduzida voluntariamente com o objetivo de
decompositores (heterótrofos que se alimentam de controlar biologicamente a população de pulgões em
seres mortos, decompondo-os). plantações onde estes se tornaram pragas.
• Cada elemento da cadeia ocupa um nível trófico. • O controle biológico feito pela joaninha-asiática é bem
Os consumidores são classificados, de acordo com efetivo, mas elas acabam competindo com espécies de
sua posição na cadeia, como primários, secundários, joaninhas nativas, causando a diminuição dessas popu-
terciários, e assim sucessivamente. lações, assim como da biodiversidade local. Em alguns
• Os produtores ocupam o 1o nível trófico; os consumi- países onde essa espécie foi introduzida verificaram-se
dores primários, o 2o nível trófico; os consumidores prejuízos econômicos, como danos em plantações de
secundários, o 3o nível trófico; e assim sucessivamente. uvas viníferas no Canadá e nos Estados Unidos.
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8 Ensino Fundamental
Estratégias e orientações ideia justamente é fazer com que o aluno perceba que os
javalis afetam diretamente os organismos que compõem
Alguns dos temas deste Módulo já foram estudados em
as teias alimentares da comunidade que invadem.
séries anteriores, como é o caso de espécies exóticas inva-
soras e cadeias e teias alimentares. Tenha em mente essa Uma boa estratégia é dividir a turma em duplas ou
informação em todo o desenvolvimento do Módulo, sem- trios e pedir que façam a leitura do texto desta aula e,
pre recorrendo à lembrança dos alunos para esses temas. em seguida, os exercícios da Atividade 2 e o item 2 da
seção Rumo ao Ensino Médio. A correção pode ser feita
Quem são os javalis “invasores”? (página 6) na lousa pelos próprios alunos, demonstrando o seu
raciocínio para a turma.
Uma das formas de iniciar o levantamento de conheci-
mentos prévios é solicitar aos alunos que descrevam uma A tarefa 2 da seção Em casa exige que o aluno exe-
cadeia alimentar de determinado ambiente. Com base na cute o “desmembramento” da teia alimentar em cadeias
cadeia escolhida, pergunte a eles o que ocorreria caso alimentares e esse exercício é fundamental para uma
um animal ou uma planta fosse introduzido. Apresente visualização mais clara dos níveis tróficos que cada ser
o nicho ecológico desse organismo exótico, enfatizando pode ocupar em diferentes cadeias. Faça uma pequena
seu habitat, sua forma de obtenção de alimento e seus demonstração desse tipo de análise quando estiver pre-
principais predadores, caso existam. Peça a eles que façam parando-os para executar essa tarefa em casa.
previsões do que poderia ocorrer com os seres vivos da
Consequências para o ambiente (página 11) e
cadeia alimentar. A competição por alimentos costuma
ser percebida, mas o aumento de predação de certo nível O controle dos javalis (página 11)
trófico pelo surgimento de um novo consumidor não é É possível que a região em que você vive tenha sido
tão facilmente identificado pelos estudantes. alvo de invasão dos javalis. É muito interessante que os
Em seguida, pode-se retomar os conceitos de espécie conhecimentos prévios dos alunos a respeito desse tema
exótica e espécie exótica invasora, assunto do boxe De sejam levantados no início desta aula. É provável que
olho... na espécie exótica invasora (página 7 do Caderno algumas das consequências que serão discutidas sejam
do Aluno), trabalhados no 6º ano. A leitura do texto em do conhecimento deles.
duplas pode ser uma boa estratégia para a continuação da Para esta aula, a leitura coletiva compartilhada do texto
aula. A forma narrativa como se conta o caso dos javalis ou mesmo uma aula expositiva podem ser estratégias ade-
favorece uma leitura mais agradável aos alunos. A única quadas. Há alguns conceitos que são apresentados e talvez
ressalva é em relação ao conceito de nicho ecológico, que precisem de uma explicação contextualizada, o que você
é apresentado pela primeira vez. Ele será retomado nas pode fornecer. Após essa apresentação, reúna a turma em
atividades, quando poderá ser reforçado pelo professor, grupos para realizar a Atividade 3. O exercício 2 resgata um
pois se trata de um conceito que não é de simples enten- conhecimento sobre teníase que os alunos já estudaram no 7o
dimento para os alunos. É muito comum que se confunda ano, mas que pode ser reforçado pela interpretação do texto.
nicho ecológico com habitat e ambiente – trabalhe essas O item 3 da seção Rumo ao Ensino Médio resume as
distinções. Os exercícios propostos na Atividade 1 e no estratégias adotadas pelo Ibama para conter a invasão
item 1 da seção Rumo ao Ensino Médio podem ser feitos dos javalis e, propositalmente, pede que se assinale a
pelas duplas de alunos e corrigidos em seguida. alternativa incorreta, no intuito de o aluno ter acesso a
A tarefa 1 da seção Em casa traz um resumo sobre um número maior de afirmações corretas para sedimentar
os principais conceitos relativos a espécies exóticas na esses conhecimentos. A tarefa 3 da seção Em casa busca
forma de um texto que deverá ser corrigido pelos alu- trazer outro aspecto que não é tão explorado no texto,
nos, o que exige atenção, além de construção textual. mas que deve ser considerado: influências eventualmente
O item 1 da seção Rumo ao Ensino Médio traz um teste positivas das espécies invasoras. Os alunos são convida-
de vestibular recente, o que mostra a importância do dos a refletir sobre esse tema.
Manual do Professor
tema e sua atualidade.
Outro caso de espécie introduzida:
Cadeias e teias alimentares (página 9) a joaninha-asiática (página 13)
Cadeias e teias alimentares já foram estudadas no Para esta aula, como se trata de um novo estudo de
7o ano e retomadas na aula anterior a partir dos conheci- caso, o trabalho em grupo com leitura e a execução de
mentos prévios. Trata-se, portanto, de uma revisão, mas exercícios são uma boa estratégia. Separe a turma em
com uma aplicação mais prática que deve ser resgatada trios ou quartetos e peça que realizem a leitura do texto
ao final da aula com a retomada da questão dos javalis. A e, em seguida, façam a Atividade 4 e o item 4 da seção

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Rumo ao Ensino Médio, que explora os principais temas alimento, e espaço. Uma vez que os javalis não têm
do Módulo: análise de uma teia alimentar com a inclusão predadores naturais no Brasil, acabam prevalecendo
de uma espécie exótica. A tarefa 4 da seção Em casa sin- sobre as populações de catetos e queixadas.
tetizará os estudos de caso trabalhados neste Módulo e
apresentará mais um exemplo, por meio de um pequeno Atividade 2 (página 10)
trecho de um texto.
Vale ressaltar que observar o trabalho de cada estu- 1. a)
Lagartas de
dante dentro do grupo, durante a aula, fornece elementos Capim Lagartos
borboleta
avaliativos importantes. Note se o estudante participa da
discussão, se propõe soluções para os problemas enfren-
tados, se sabe ouvir e respeitar a opinião dos colegas, se
ajuda a organizar o tempo disponível para a execução
de tarefas, se compartilha seus conhecimentos com os
Seriemas Serpentes
demais estudantes, se consegue colocar de forma clara
suas ideias para o grupo, etc.
Existem muitos exemplos de alterações nas cadeias Professor(a): comente que poderíamos
alimentares que podem ser apresentados aos estudantes. incluir nessa teia alimentar também os decom-
Lembre-se de incluir no planejamento da aula as rela- positores que dela fazem parte, mas como
ções ecológicas envolvidas nos exemplos escolhidos. não é o nosso foco da discussão, preferimos
Pode-se pensar, por exemplo, nos coelhos introduzidos manter apenas produtores e consumidores.
no fim do século XIX na Austrália, assim como no cacto
do gênero Opuntia, no mexilhão-dourado no rio Paraná
b) Capim: produtor (1o nível trófico); Lagartas de borbo-
e na introdução do escargot em vários pontos do litoral
leta: consumidor primário (2o nível trófico); Lagartos:
brasileiro. Pesquise se há algum caso regional que pode
consumidor secundário (3o nível trófico); Seriemas:
ser mais significativo para os estudantes. Caso considere
consumidor secundário (3o nível trófico), terciário
oportuno, sugira aos alunos que façam essa pesquisa e,
(4o nível trófico) ou quaternário (5o nível trófico);
quando possível, numa roda de conversa com a turma,
Serpentes: consumidor terciário (4o nível trófico).
estimule-os a expor e debater os resultados de suas
pesquisas. 2. Com o crescimento da população de javalis, aumen-
taria a predação de insetos (lagartas) e de lagartos
e, portanto, haveria menos alimentos para os lobos-
Respostas e comentários -guarás e as seriemas. Assim, é provável que as po-
Atividade 1 (página 8) pulações dessas espécies também diminuíssem.
1. a) Espécies nativas são aquelas que ocorrem natural-
Atividade 3 (página 13)
mente em determinada localidade. Espécies exóti-
cas são aquelas que não ocorrem naturalmente em 1. Espera-se que os estudantes mencionem medidas de
certa localidade, mas são introduzidas, geralmente caráter preventivo, como aumento da fiscalização de
pelos seres humanos, de forma intencional ou não. criadouros clandestinos; orientação para o manejo
b) É uma espécie exótica que, introduzida em um e transporte dos animais de criadouros legalizados;
ambiente, causa impactos que prejudicam as es- responsabilização do criador pelo escape de animais
pécies nativas e que se expandem rapidamente. e por descuidos na criação; entre outras.
c) Os javalis são considerados uma espécie exótica 2. a) Como a larva (cisticerco) se aloja nos músculos de
no Brasil, pois não são naturais do país; e invasora, porcos e bois, o ser humano é infectado por essa
pois ocuparam o espaço das espécies nativas, cau- larva por meio da ingestão de carne malpassada
sando prejuízos diversos por causa da competição contaminada de porco ou de boi.
por recursos do ambiente. b) Uma vez que se contrai teníase ingerindo carne
2. Javalis, queixadas e catetos ocupam nichos ecológicos malpassada contaminada, uma das formas para
semelhantes, isto é, utilizam recursos muito similares evitar a contaminação, além do controle sanitário
do ambiente onde vivem, incluindo as fontes de ali- apropriado na criação desses animais, é cozer bem
mento. Assim, acabam estabelecendo uma relação de as carnes, evitando a ingestão de carne malcozida,
competição interespecífica por recursos, como água e pois nestas as larvas podem permanecer vivas.
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8 Ensino Fundamental
Atividade 4 (página 15)
1. O principal impacto da joaninha-asiática no Brasil é o de desalojar espécies nativas de joaninhas.
2. Até o momento, os impactos não são considerados tão intensos quanto os provocados por outras espécies exó-
ticas invasoras; no entanto, seu estudo é importante, pois, dessa forma, pode-se tentar mensurar os impactos
da dispersão dessa espécie no território, tendo em vista que ela já criou danos mais graves em outras partes do
mundo, como França, Canadá e Estados Unidos.

Em casa (página 15)


1. Espécies exóticas são animais ou vegetais que podem se instalar em locais onde já existem espécies nativas com
nicho ecológico semelhante. Essas espécies exóticas tornam-se invasoras quando têm determinadas caracte-
rísticas, como ausência de predadores, ciclo reprodutivo rápido e baixa especificidade de recursos alimentares.
Assim, tornam-se facilmente pragas, pois crescem rapidamente. Como compartilham o nicho ecológico com
espécies nativas, alteram o equilíbrio ecológico do local.
2. a) São encontradas cinco cadeias:
• vegetal – grilo – lagarto – gavião;
• vegetal – grilo – lagarto – raposa – gavião;
• vegetal – grilo – raposa – gavião;
• vegetal – rato – raposa – gavião;
• vegetal – rato – gavião.
b) A raposa.
c) O vegetal, o grilo, o rato e o lagarto.
3. Esse hábito de chafurdar que os porcos em geral têm, entre eles os javalis (mesmo invasores), funciona também
como uma espécie de arado para o solo, pois, ao revolvê-lo, esses animais trazem nutrientes mais subterrâneos
para a superfície, além de possibilitar a entrada de ar no solo, beneficiando algumas espécies de plantas.

Professor(a): comente que no Pantanal essa atividade realizada pelos porcos-do-mato (ou catetos)
e os queixadas é muito importante para que, na época de cheias, os solos revirados tenham seus nu-
trientes expostos, o que facilita a alimentação de peixes e outros organismos aquáticos que vão ocupar
esses corixos.

4. Javalis Joaninhas-asiáticas Tucunarés e tilápias

Forma de Voluntária
Voluntária e acidental Voluntária
introdução e acidental

Principais Desalojamento de espécies nativas; perda


Desalojamento
consequências de biodiversidade; impacto no ambiente, Desalojamento
de espécies
da introdução/ como erosão do solo e assoreamento de rios de espécies
nativas; extinções
invasão para e lagos; transmissão de doenças; impactos nativas; perda de Manual do Professor
locais; perda de
a comunidade socioeconômicos na agricultura e na biodiversidade
biodiversidade
afetada suinocultura

Aumento da
Efeitos Controle biológico
O revolvimento do solo possibilita o quantidade desses
positivos de insetos, como
desenvolvimento de plantas peixes para uso
da introdução pulgões
comercial

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Rumo ao Ensino Médio (página 17) para a América do Sul. Na década seguinte, esse molusco
proliferou através dos sistemas fluviais sul-americanos,
1. Alternativa B. A assertiva I está errada, pois a introdução destruindo o habitat nativo e perturbando o funciona-
de espécies exóticas não desloca necessariamente as mento de usinas hidroelétricas e de tratamento da água.
espécies nativas, que podem acabar sofrendo extinções Espécie invasora, ela agora ameaça o ecossistema inteiro
locais. A assertiva IV está errada, pois as espécies exóti- da Amazônia.
cas não criam nichos ecológicos para as espécies nati- A bióloga computacional brasileira Marcela Uliano
vas, mas sim competem pelos já existentes. A assertiva da Silva é um dos cientistas que trabalham para tentar
V está errada, pois a introdução de espécies exóticas por um fim à invasão do mexilhão-dourado. Ela desen-
altera as características bióticas dos ecossistemas. volve o sequenciamento do genoma do molusco pela
primeira vez. Em recente entrevista ao TED-Fellows,
2. Alternativa D. A alternativa a está errada, pois o pri-
blog da célebre organização de depoimentos em vídeo,
meiro elo de uma cadeia é sempre um ser autótrofo Marcela explica como espera usar a informação obtida
(produtor). A alternativa b está errada, pois os con- a partir do perfil molecular desse animal para parar
sumidores primários são sempre o segundo nível a invasão atual e impedir as outras que acontecerão
trófico. A alternativa c está errada, pois os produtores no futuro.
sintetizam matéria orgânica.
TED – Fale-nos sobre o mexilhão-dourado. Por que ele
3. Alternativa C. Está incorreta, pois a introdução de representa um problema para a América do Sul?
vírus letais que acabassem com os suínos não só
poderiam acabar com os javalis, mas também com Marcela Uliano da Silva – O marisco dourado é origi-
nário da Ásia e chegou à América do Sul ao redor de
outros porcos nativos, como catetos e queixadas. 1990, nos depósitos de água de lastro dos navios. Os
4. Alternativa D. Se a joaninha for extinta da comunida- primeiros mexilhões foram lançados no estuário do
de em questão, a população do pulgão (1) aumenta Rio da Prata, na Argentina, e rapidamente começaram
na ausência desse predador. Como não há joaninhas a se espalhar pelo Rio Paraná, subindo o rio até alcan-
disponíveis, a população da libélula (3), que se ali- çar as planícies do Pantanal. Nessas bacias fluviais, os
mexilhões-dourados se reproduzem em larga escala, e
mentava delas, diminui até se extinguir. A população
em ritmo rápido, se incrustando e entupindo os dutos
do sapo (2), por sua vez, diminui até certo ponto, das usinas hidrelétricas e das estações de tratamento
estabilizando-se, pois também se alimenta de borbo- de água. Ao mesmo tempo, o molusco ocupa o espa-
letas e gafanhotos. A alternativa a está errada, pois a ço das espécies nativas. Esses mexilhões chegaram a
raposa não chegaria à extinção, já que ainda poderia Itaipu – uma das maiores hidrelétricas do mundo – e
se alimentar de bem-te-vis e coelhos. A alternativa b foram além, alcançando agora várias hidrelétricas de
está errada, pois, neste caso, a população de joaninha São Paulo e Minas Gerais.
tende a aumentar, já que não há um de seus preda- O mexilhão-dourado, no entanto, não se espalha ape-
dores, e a cobra não se extingue, pois ainda pode nas através das águas de lastro e das larvas que sobem
se alimentar de sapos. A alternativa c está errada, os rios nadando contra a corrente – o público também
pois a população do sapo tende a aumentar e a do desempenha um papel muito ativo nessa invasão. To-
gafanhoto pode sofrer uma diminuição por causa do dos os anos, existem vários festivais de pesca em todo o
aumento do número de sapos, mas não vai se ex- sul e sudeste do Brasil, e o público vem a eles de carro,
puxando seus barcos normalmente estacionados no
tinguir. A alternativa e está errada, pois a população sul. Quando colocam seus barcos na água, eles intro-
da gramínea tende a diminuir muito, uma vez que duzem os mexilhões dourados em novos rios. Essa é a
a quantidade de consumidores primários aumentará forma como eles foram introduzidos no Pantanal. E por
consideravelmente (ratos e coelhos). isso a educação ambiental e o despertar das consciên-
cias nas pessoas é tão importante: precisamos evitar a
introdução desses moluscos em novas locações.
Texto de apoio ao professor
TED – Como os mexilhões afetam o ecossistema nativo?
Pode-se utilizar este texto como leitura complementar
Os cientistas agora chamam o mexilhão-dourado de
para os alunos ou mesmo como mais um estudo de caso “engenheiro ecossistêmico”, pelo fato de que, infeliz-
importante no contexto nacional. mente, ele muda de ambiente com enorme facilidade e
Mexilhão-dourado. Uma invasão que ameaça o eficiência. Uma das suas características é a reprodução
Pantanal e a Amazônia intensiva, com a criação de novas vastas populações.
Ele se alimenta através da filtragem da água, de modo
Na década de 1990, o mexilhão-dourado (Limnoperna que, quando existem muitos mexilhões em uma zona,
fortunei) tomou carona em navios que vinham da Ásia isso aumenta a transparência da água. Como resultado,

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8 Ensino Fundamental
a luz do Sol penetra muito mais profundamente na lamento brasileiro chamado NORMAM 20, que obriga
água, provocando alterações nos níveis do fitoplâncton os navios comerciais que vão à Amazônia a jogar fora
e no equilíbrio das espécies que vivem na superfície. duas vezes suas águas de lastro antes de penetrarem
Em alguns rios já existem evidências de um aumento na bacia do Amazonas.
de 20% da população de peixes porque eles encon-
tram nos mexilhões uma nova e abundante fonte de As águas da bacia amazônica também variam muito
alimento. Mas quando você aumenta o número de pei- em termos de características físico-químicas e, numa
xes, acontece um efeito dominó, já que eles estão no certa medida, isso tem ajudado a prevenir o estabe-
topo da cadeia alimentar. Como consequência, quando lecimento do mexilhão-dourado em certas áreas. No
ocorre uma invasão de mexilhões, ela transforma todo entanto, as assim chamadas “águas brancas” – que
o ecossistema, fazendo diminuir a biodiversidade e têm pH próximo do neutro e uma grande quantidade
homogeneizando o ambiente. de minerais sólidos em suspensão – seriam receptivas
ao mexilhão-dourado. As águas das bacias do Paraná,
TED – Os mexilhões-dourados constituem uma ameaça do Paraguai e do Uruguai, nas quais o mexilhão já se
para a Amazônia? instalou, têm características similares.
Sim, com certeza, e esta é a principal razão para jus- TED – Fale-nos sobre a tese que você publicou recen-
tificar nosso trabalho de desenvolvimento de uma so- temente. Por que ela é importante?
lução baseada na genética. A Amazônia é a região de
maior biodiversidade em todo o mundo. Se o mexilhão- Meu trabalho se destina a identificar os dados ge-
-dourado chegar a ela, irá modificar o ambiente, da néticos do mexilhão-dourado e a usar nosso conhe-
mesma forma que já o fez em outras bacias sul-ame- cimento do perfil molecular desse animal de modo
ricanas. Irá desequilibrar o ecossistema da Amazônia. a impedi-lo de continuar a afetar e destruir o nosso
E isso será um desastre. meio ambiente.
TED – O que impediu, até agora, que o mexilhão- SILVA, Marcela Uliano da (em entrevista ao TED-Fellows).
-dourado chegasse à Amazônia? Mexilhão-dourado. Uma invasão que ameaça o Pantanal e a
Amazônia. Disponível em: <https://www.brasil247.com/pt/247/
Além das campanhas educacionais para prevenir que revista_oasis/159408/mexilhão-dourado-uma-invasão-que-ameaça-
as larvas do mexilhão se espalhem, existe um regu- o-pantanal-e-a-amazônia.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019.

Sugestão de material para consulta

Na internet
• IBAMA. O javali asselvajado – normas e medidas de controle. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/
phocadownload/biodiversidade/javali/ibama-cartilha-javali_asselvajado.pdf>.
• . Plano nacional de prevenção, controle e monitoramento do javali (Sus scrofa) no Brasil. Disponível em:
<https://www.ibama.gov.br/phocadownload/javali/2017/2017-PlanoJavali-2017.2022.pdf>.
• . Biossegurança na suinocultura. Cartaz informativo. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/
phocadownload/biodiversidade/javali/ibama-javali_biosseguridade.pdf>.
• . Javalis, javaporcos e suiformes nativos – saiba diferenciar e conserve a fauna nativa. Informativo produzido
pelo Projeto Javali, da Embrapa. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/phocadownload/biodiversidade/
javali/ibama-javalis_javaporcos_e_suiformes_nativos.pdf>.
Acesso em: 25 fev. 2019.
Manual do Professor

11
8
10. INTERAÇÕES ECOLÓGICAS – O CASO DAS ACÁCIAS
E DAS FORMIGAS

AULAS 29 e 30

Neste Módulo, apresentamos as principais interações ecológicas interespecíficas e intraespecíficas, que já foram
abordadas ao longo do 6o e 7o ano em Ciências, e as características do bioma Savana, no 6o ano. Esses conteúdos
são apresentados como preparação para o estudo de caso que envolve acácias, formigas e grandes herbívoros das
Savanas africanas. As várias interações entre esses seres vivos ajudam a entender o delicado equilíbrio ecológico
nesse ecossistema.

Objetivos
• Reconhecer e classificar interações ecológicas intraespecíficas e interespecíficas.
• Conhecer o bioma Savana e relembrar as principais características do bioma Cerrado, reconhecendo-o como
um tipo de Savana.
• Compreender as várias nuances das relações entre acácias, formigas e grandes herbívoros africanos.
• Relacionar as interações ecológicas entre seres vivos com a manutenção do equilíbrio ecológico.

Roteiro de aula (sugestão)

Aula Descrição Anotações


Retorno da tarefa 4 do Módulo 9

Tipos de interação ecológica

Savanas africanas

29 De olho... na nossa Savana, o bioma do Cerrado

Atividade 1

Rumo ao Ensino Médio (item 1)

Orientações para a tarefa 1 (Em casa)

Retorno da tarefa 1

Entendendo a relação ecológica entre formigas e acácias

De olho... no nicho ecológico


30
Atividade 2

Rumo ao Ensino Médio (item 2)

Orientações para a tarefa 2 (Em casa)

Observação: Os testes da seção Rumo ao Ensino Médio podem ser trabalhados em sala ou indicados como tarefa para casa.

12
8 Ensino Fundamental
Noções básicas • As acácias isoladas de grandes herbívoros crescem
menos e sua população diminui, o que não seria es-
• Os seres vivos interagem ecologicamente com seres perado. Isso foi explicado pelo fato de as acácias, sem
da mesma espécie (interações intraespecíficas) e
esses herbívoros, produzirem menos seiva liberada
com seres de espécies diferentes (interações interes-
no corte das folhas e, assim, atraírem menos formigas
pecíficas). Essas interações podem ser neutras (os
C. mimosae, o que as deixa vulneráveis a parasitas
indivíduos não são prejudicados nem beneficiados),
e outros predadores (besouros e outras espécies de
harmônicas (nenhum indivíduo é prejudicado) ou de-
formigas).
sarmônicas (pelo menos um indivíduo é prejudicado).
Entre as interações harmônicas intraespecíficas • O nicho ecológico é o papel desempenhado pelo ser
• vivo no ambiente e envolve todas as suas interações
(que geram benefícios para os indivíduos daquela
com os fatores abióticos e bióticos do ambiente
espécie, sem gerar prejuízos), temos: sociedade (os
onde vive.
indivíduos cooperam entre si, dividindo tarefas) e
colônia (os indivíduos cooperam entre si e estão • Cada espécie faz parte de um nicho ecológico e
unidos fisicamente). interferências em seus componentes podem causar
desequilíbrio ecológico.
• A competição intraespecífica é uma interação desar-
mônica entre indivíduos da mesma espécie, que gera
prejuízos para todos os indivíduos envolvidos.
• Entre as interações harmônicas interespecíficas (que Estratégias e orientações
geram benefícios para uma ou ambas as espécies, Existe a possibilidade de iniciar este Módulo com
sem gerar prejuízos), temos: mutualismo (relação um jogo entre presa e predador. Veja a seção Sugestão
obrigatória), cooperação (relação não obrigatória) de atividade extra ao final deste Módulo (Aprendendo
e comensalismo (uma espécie se beneficia e para a sobre a relação presa-predador por meio de jogos pe-
outra a relação é neutra). dagógicos) e avalie a possibilidade de usá-lo como um
• O comensalismo pode ser classificado, ainda, em in- motivador e ponto de partida para o estudo de caso
quilinismo (quando um ser vivo se instala em outro se aqui proposto.
beneficiando, mas sem causar prejuízo ao hospedeiro)
e epifitismo (no caso específico de uma planta que
vive sobre outra sem causar prejuízos para a hospe- Tipos de interação ecológica (página 20)
deira, mas se beneficiando da interação entre elas).
No início desta aula, recupere os conhecimentos
• Entre as interações desarmônicas interespecíficas prévios dos alunos a respeito das interações ecológicas
(que geram prejuízos para uma ou ambas as espé- que já foram estudadas no 6o e 7o ano em Ciências.
cies), temos: parasitismo (o parasita se beneficia e o Uma boa estratégia é pedir a eles que façam uma leitura
hospedeiro é prejudicado), predatismo (o predador prévia do texto deste item, em casa, antes da aula, para
se beneficia e a presa é prejudicada) e a competição facilitar o processo de revisão. Se considerar adequado,
(ambas as espécies se prejudicam). solicite aos alunos que organizem uma tabela com as
• As interações entre as espécies são importantes interações ecológicas listadas e exemplos. Essa ativi-
para a manutenção do equilíbrio ecológico de uma dade os ajuda a concretizar esses conceitos.
comunidade. Em relação à análise das interações ecológicas, vale
• As Savanas africanas têm predomínio de vegetação a pena relembrar aqui algumas das considerações feitas
herbácea, árvores esparsas, entre elas as espinhosas no 6o ano, no Módulo 24 do Manual do Professor, no
acácias, alimento de grandes herbívoros, como gira- Caderno 3.
fas e elefantes. O nosso Cerrado é um tipo de Savana. As interações entre seres vivos podem ser analisa- Manual do Professor
• As acácias das Savanas africanas têm nectários que for- das de diversos modos, de acordo com os diferentes
necem alimento às formigas da espécie Crematogaster autores. Por isso, temos de optar por uma dessas visões
mimosae. Essas formigas também se alimentam da seiva e a escolhida foi a que aparece em PURVES et al. (ver
do floema das acácias. indicação ao final deste Módulo, na seção Sugestão de
• As formigas C. mimosae defendem a acácia de pre- material para consulta), resumida na Tabela 1 a seguir.
dadores (predatismo) herbívoros (besouros e outras Esses autores consideram a forma como se estabelecem
formigas, girafas e elefantes), estabelecendo com a o prejuízo, o benefício ou a neutralidade da relação
planta uma relação de cooperação. entre as espécies.

13
8
Tabela 1 – Tipos de interação ecológica

Efeito na espécie 2

Prejudicial Benéfico Neutro


Efeito na espécie 1

Prejudicial Competição (–/–) Predação ou parasitismo (–/+) Amensalismo (–/0)

Benéfico Predação ou parasitismo (+/–) Mutualismo (+/+) Comensalismo (+/0)

Neutro Amensalismo (0/–) Comensalismo (0/+) —

Fonte: PURVES, W. K. et al. Vida: a ciência da Biologia. v. II. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 975.

O amensalismo não foi abordado neste Módulo por A tarefa 1 da seção Em casa e o item 1 da seção
considerarmos que as relações apresentadas são suficientes Rumo ao Ensino Médio solicitam interpretação de tex-
para o entendimento da importância das interações ecológi- tos, nos quais os alunos devem analisar situações de
cas na manutenção do equilíbrio ambiental. O herbivorismo interações ecológicas.
também apresenta certa controvérsia: pode ser considerado
uma relação benéfica para o herbívoro e prejudicial para Entendendo a relação ecológica entre formigas
a planta, mas também uma relação de predatismo (se a e acácias (página 27)
planta for morta), ou mesmo de cooperação, pois a ação
do herbívoro sobre a planta pode estimulá-la a rebrotar. Nesta aula será estudado o caso da interação entre
Por causa dessas nuances de interpretação, optamos por formigas, acácias e animais herbívoros e parasitas. Para
também não apresentar aqui essa interação ecológica. isso, uma leitura coletiva compartilhada pode ser uma
Uma forma de trabalhar as diferentes interações entre boa estratégia. À medida que se vai fazendo a leitura,
os seres vivos é escrever na lousa uma lista de animais as interações que forem aparecendo podem ser regis-
e plantas de determinado local e pedir aos alunos que tradas na lousa, sem que haja ainda uma classificação
façam agrupamentos dos seres listados, dois a dois, es- de qual seria a interação, pois isso será pedido no item
tabelecendo interações ecológicas entre eles e apresen- 2 da Atividade 2. Leia o primeiro parágrafo, faça os
tando justificativas para tal. registros na lousa e, antes de dar continuidade à leitu-
O item 1 da Atividade 1 (página 25) pode ser traba- ra, pergunte aos alunos como fariam um experimento
lhado logo após essa atividade inicial da aula. Para se para validar a hipótese de que os herbívoros sejam
entender as interações propostas entre as espécies, pode prejudiciais às plantas. Baseando-se no conhecimento
ser que os alunos precisem realizar uma pesquisa, bus- adquirido nos capítulos anteriores sobre metodolo-
cando conhecer tais espécies. Para isso, pode-se montar gia científica, sugira que façam um plano de como o
uma estrutura de pesquisa a ser realizada na própria aula, experimento deve ser executado e a que conclusões
em pequenos grupos, com disponibilidade de livros e/ou pretendem chegar.
acesso à internet, ou pode-se solicitar como lição de casa, Prossiga até o fim da leitura e conceitue nicho eco-
com orientação de onde encontrar essas informações em lógico (boxe De olho... no nicho ecológico – página 28)
livros (na biblioteca) ou em sites. de modo que os alunos entendam que as espécies, numa
comunidade, sempre têm sobreposição de parte de seus
nichos ecológicos e que essas sobreposições podem ser
Savanas africanas (página 24)
neutras, vantajosas ou desvantajosas. As consequências
Ainda nesta aula é prevista a apresentação das Sa- da sobreposição de nichos ecológicos são evidentes nes-
vanas africanas e do boxe De olho... na nossa Savana, se estudo de caso.
o bioma do Cerrado (página 24). Para isso, pode ser Organize a turma em duplas e peça a cada uma que
feita uma leitura compartilhada coletiva ou em peque- faça a Atividade 2 (página 28) e também o item 2 da
nos grupos já montados para a pesquisa anteriormente seção Rumo ao Ensino Médio, em que o estudo de caso
citada. Solicita-se também a execução do item 2 da aqui trabalhado é o mote da questão e solicita também
Atividade 1. a análise de gráficos.
14
8 Ensino Fundamental
A tarefa 2 da seção Em casa (página 29) exige Atividade 2 (página 28)
que seja feita uma interpretação de texto à luz do
que foi estudado no caso das interações ecológicas 1. A ação das girafas, ao comerem as folhas de acácias,
entre formigas, acácias e animais herbívoros, com mantém a produção da secreção da seiva do floema
previsão de consequências para o equilíbrio ambiental que alimenta as formigas C. mimosae. A falta dessa
em ecossistemas africanos, possibilitando uma síntese seiva faz com que diminua a população de formigas
deste Módulo. C. mimosae vivendo na acácia, que, dessa forma,
fica vulnerável a outras espécies prejudiciais ao seu
desenvolvimento.
Respostas e comentários
2. a) Predatismo. Os herbívoros alimentam-se da acácia,
Atividade 1 (página 25) causando prejuízo para a planta.
b) Competição interespecífica. As duas espécies com-
1.
Professor(a): para esta atividade, pode ser petem pela mesma fonte de alimento: as acácias.
que os alunos precisem fazer uma pesquisa. c) Sociedade. Os formigueiros são exemplos típicos
Considere isso em seu planejamento. de sociedade, sendo constituídos por indivíduos
com divisões de tarefas entre si.
a) Sociedade. Relação intraespecífica e harmônica d) Cooperação. Os estudos indicaram que, quando a re-
entre cupins que se organizam em cupinzeiros, lação é quebrada, o prejuízo para a acácia é elevado,
ou termiteiros, com indivíduos realizando coope- mas a princípio conseguiriam viver sem a interação.
rativamente diferentes funções e formando grupos e) Competição interespecífica. As espécies disputam
como soldados, operários e rainha. o mesmo alimento e espaço – no caso, a acácia.
b) Comensalismo do tipo inquilinismo. Relação f) Predatismo, no caso das formigas que se alimen-
interespecífica harmônica em que o peixe fie- tam das acácias, e inquilinismo, no caso das es-
rásfer, ou peixe-agulha, vive dentro do pepi- pécies que simplesmente usam os buracos nas
no-do-mar como inquilino, se beneficiando da árvores para abrigar-se.
relação, mas sem causar benefício ou prejuízo
ao hospedeiro. Em casa (página 29)
c) Cooperação. Relação interespecífica harmônica
entre o peixe-cirurgião-amarelo e a tartaruga-ver- 1. Espera-se que o aluno identifique como as espécies
de; o peixe se alimenta de algas que crescem no se comportam nas relações ecológicas apresentadas.
casco desta, que por sua vez recebe uma espécie • Cooperação – as duas espécies são beneficiadas.
de “limpeza” de seu corpo. Essa relação é benéfi- • Predação – uma espécie se beneficia e a outra é
ca para ambas as espécies, mas não obrigatória. prejudicada.
• Comensalismo do tipo inquilinismo – uma espécie
Professor(a): vale ressaltar que essa rela- se beneficia e a outra não é afetada.
ção pode ser considerada, por alguns autores, • Mutualismo – ambas as espécies são beneficiadas.
um caso de comensalismo, em que o peixe- 2. Espera-se que os estudantes usem os conceitos de equi-
-cirurgião-amarelo se beneficia da relação, líbrio ecológico e de interações ecológicas para explicar
mas é neutra para a tartaruga-verde, que, de que o declínio na população de elefantes na África pode
fato, não teria vantagem alguma com a lim- afetar diversas outras populações, como as de acácias,
peza de seu casco. formigas C. mimosae, outras espécies de insetos, etc.
Manual do Professor
2. O bioma brasileiro é o Cerrado. Ocupando parte da Rumo ao Ensino Médio (página 30)
região conhecida como planalto Central, o Cerrado
é o segundo maior bioma brasileiro. Apresenta tem- 1. Alternativa D. O peixe bodião se alimenta de parasi-
peraturas médias entre 20 °C e 30 °C e o clima é tas, tecidos contaminados e muco do peixe herbívoro,
bem marcado por períodos de seca no inverno e de ambos se beneficiando dessa relação, mas não de-
chuva no verão. O Cerrado é caracterizado por uma pendendo dela para sobreviver (protocooperação). O
vegetação predominantemente composta de gramí- peixe bodião realiza o predatismo quando se alimenta
neas e apresenta árvores com troncos retorcidos. de parasitas.

15
8
2. Alternativa A. As acácias com formigas têm uma taxa O material pode ser acessado no site indicado na
de sobrevivência maior e menos predação por her- fonte.
bívoros que na ausência de formigas. A alternativa O emprego da ludicidade por meio de jogos pe-
b está errada, pois as acácias se beneficiam da inte- dagógicos tem sido uma prática crescente por causa
ração com as formigas. A alternativa c está errada, do potencial de interatividade e da retenção de aten-
pois, quando existem formigas na acácia, há menos ção dos alunos. O objetivo do presente trabalho foi o
insetos herbívoros nessas árvores. A alternativa d de produzir dois jogos: um de representação (RPG) o
está errada, pois as acácias são beneficiadas com a qual permite aos alunos de Ensino Médio vivenciarem
personagens de uma aventura e favorece uma percep-
presença de formigas. A alternativa e está errada,
ção vívida e uma experiência marcante. O outro é um
pois na presença de formigas há menos insetos her- jogo de perguntas e respostas para alunos do Ensino
bívoros, como mostra o segundo gráfico. Fundamental que tem como finalidade o aprendizado
sobre a ecologia do Cerrado Paulista, com destaque
Sugestão de atividade extra a Cuesta da região de Botucatu. Em ambos os casos,
os jogadores, isto é, os estudantes aprendem através
Aprendendo sobre a relação presa-predador por de conceitos multidisciplinares como é a interação
dos animais entre si e com o meio ambiente e ainda,
meio de jogos pedagógicos
aprendem sobre as características geomorfológicas,
Um interessante jogo que traz a relação entre presa e paisagísticas, históricas e culturais em relação à região.
Cada jogo é constituído além do manual de instruções,
predador, no estilo RPG, é proposto por pesquisadores do
um texto de apoio ao professor.
Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da
Unesp Botucatu. Ele foi imaginado para alunos do Ensino Fonte: FERREIRA, J. H. B. P.; LAMARCA, K. P.; DINIZ, R. E. S.;
NISHIDA, S. M. Aprendendo sobre a relação presa-predador por
Médio, mas pode ser adaptado para turmas do último ano meio de jogos pedagógicos. Disponível em:
do Ensino Fundamental. Veja, a seguir, o resumo desse <http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2005/artigos/capitulo%
trabalho. Outra possibilidade é um jogo altamente recomen- 2010/aprendendopresapredador.pdf>.
dável, no formato de perguntas e respostas sobre a ecologia Acesso em: 25 fev. 2019.
do Cerrado Paulista para alunos do Ensino Fundamental.

Sugestão de material para consulta

Na estante Na internet
• PALMER, T. M. et al. Breakdown of an ant-plant • ÁRVORE escraviza formigas. Galileu. Disponível em:
mutualism follows the loss of large herbivores from <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/
an African savanna. Science, vol. 319: 192-195, 2008. 0,,EMI345179-17770,00-ARVORE+ESCRAVIZA+FOR
• PURVES, W. K. et al. Vida: a ciência da Biologia. Porto MIGAS.html>.
Alegre: Artmed, 2002. • DANTAS, D. Amigos, mas não para sempre. Ciência
• YOUNG, T. P. et al. KLEE: a long-term multi-species Hoje On-line, 10 jan. 2008. Disponível em: <http://www.
herbivore exclusion experiment in Laikipia, Kenya. cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/933/n/amigos,_mas_
African Journal of Range and Forage Science, 14(3): nao_para_sempre>.
94-102, 1997. • INTERAÇÕES mutualísticas entre formigas e plantas.
Disponível em: <https://www.periodico.ebras.bio.br/
ojs/index.php/ebras/article/view/44/72>.
Acesso em: 25 fev. 2019.

16
8 Ensino Fundamental
11. BIOACUMULAÇÃO – O CASO DAS
TARTARUGAS-MATAMATÁS

AULAS 31, 32 e 33

Este Módulo mostra, por meio de exemplos, as consequências de desequilíbrios ambientais gerados pela presença
de substâncias tóxicas, como mercúrio e DDT, no ambiente, afetando as cadeias alimentares.
A bioacumulação é um assunto que tem se feito presente no cotidiano das pessoas por meio de algumas práticas
que começam a ser adotadas pela população – como o consumo de produtos orgânicos – e da discussão da legis-
lação sobre o uso de agrotóxicos. Do ponto de vista pedagógico, o tema serve para rever conceitos relacionados à
cadeia alimentar, como níveis tróficos (produtores, consumidores, presas e predadores) e transferência de matéria
e energia de um nível trófico a outro.
Outra questão ainda em pauta é o acidente com os rejeitos de mineração que ocorreu na cidade mineira de Ma-
riana. Trata-se de comparar impactos ocorridos anteriormente (contaminação por mercúrio em Minamata, no Japão,
cujos efeitos já são conhecidos) com um mais recente, ocorrido no Brasil (rompimento da barragem de rejeitos, em
Mariana, cujos efeitos estamos começando a conhecer), possibilitando traçar um paralelo entre eles.

Objetivos
• Rever os conceitos básicos relacionados a cadeias e teias alimentares.
• Entender o que é bioacumulação por meio de exemplos como do mercúrio e do DDT.
• Reconhecer o papel de modelos em Ciência para analisar ambientes em desequilíbrio.
• Conhecer as consequências dos desastres de Mariana e da baía de Minamata e refletir sobre elas.

Roteiro de aula (sugestão)


Aula Descrição Anotações
Retorno da tarefa 2 do Módulo 10
As matamatás e o mercúrio
Bioacumulação
31
Atividade 1
Rumo ao Ensino Médio (item 1)
Orientações para a tarefa 1 (Em casa)
Retorno da tarefa 1
Manual do Professor
Modelos científicos
Bioindicadores
32
Atividade 2
Rumo ao Ensino Médio (item 2)
Orientações para a tarefa 2 (Em casa)

17
8
Retorno da tarefa 2
Casos conhecidos e por conhecer
33 Atividade 3
Rumo ao Ensino Médio (item 3)
Orientação para a tarefa 3 (Em casa)
Observação: Os testes da seção Rumo ao Ensino Médio podem ser trabalhados em sala ou indicados como tarefa para casa.

Noções básicas Bioacumulação (página 33)


• Nas cadeias alimentares, energia e matéria são trans- Defina bioacumulação e biomagnificação com base
feridas de um nível trófico a outro. na leitura do texto. Bioacumulação é o termo geral
• Alguns materiais, não metabolizados, acumulam-se que descreve um processo pelo qual substâncias (ou
nos organismos; esse fenômeno é chamado de bioa- compostos químicos) são absorvidas pelos organismos.
cumulação. Porém, alguns autores observam que, embora o termo
Quando o acúmulo de substâncias persistentes ocor- “bioacumulação” possa ser confundido ou usado como

re ao longo da cadeia alimentar, damos o nome de sinônimo de “biomagnificação” ou “bioconcentração”,
biomagnificação. existe uma distinção importante entre esses termos.
Bioacumulação ocorre num nível trófico e representa
• Para entender os efeitos de materiais tóxicos nos o aumento da concentração de uma substância nos
ecossistemas e nos seres vivos, são usados modelos tecidos ou órgãos dos organismos. Bioconcentração
científicos, ou seja, seres vivos que apresentam ca- ocorre quando as substâncias são absorvidas pelos or-
racterísticas que possibilitam entender e evidenciar ganismos em concentrações mais elevadas do que o
os fenômenos que estão ocorrendo. ambiente circundante. Assim, a bioconcentração e a
• Bioindicadores são organismos vivos que indicam a bioacumulação ocorrem considerando um organismo,
presença de alterações ambientais. enquanto a biomagnificação ocorre entre os diferentes
níveis da cadeia alimentar (níveis tróficos). Não é o caso
de discutir essas distinções com os alunos, mas vale a
Estratégias e orientações
pena tê-las diferenciadas, caso surjam dúvidas ou usos
As aulas deste Módulo não apresentam textos mui- inadequados.
to longos ou muitos conceitos a serem explicados, A relação entre hidrelétricas e mercúrio reside no fato
o que favorece a criação de momentos de discussão de que, com o represamento de rios, o fluxo de mercúrio
sobre desequilíbrios ambientais. Assim, após leitu- diminui e favorece sua acumulação nas águas. Não há
ras compartilhadas dos textos e das explicações dos uso desse metal nas hidrelétricas; portanto, não é a usina
conceitos, é interessante criar momentos para que diretamente que provoca o aumento da concentração do
os alunos reflitam e exponham seus pontos de vista mercúrio no corpo de água. Para saber um pouco mais
baseados em conhecimentos prévios. sobre o assunto, consulte o site <http://revistapesquisa.
Essa prática será especialmente interessante na se- fapesp.br/wp-content/uploads/2018/03/053-055_
gunda e na terceira aula, abrindo espaço para que os mercurio_265novo.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2019. Ou-
alunos possam propor intervenções. tro fator importante sobre o mercúrio é a formação da
forma metálica lipofílica, o metil-mercúrio. Como é um
composto solúvel em gorduras, ele é capaz de atravessar
As matamatás e o mercúrio (página 31)
as membranas plasmáticas, incluindo a da placenta e a
Inicie a primeira aula revendo os conceitos de cadeia da barreira hematoencefálica, o que explica os danos
e teia alimentares, nicho ecológico, fatores bióticos e que causa ao sistema nervoso. É nessa forma orgânica
abióticos e ecossistema no contexto da narrativa do que o mercúrio entra na cadeia alimentar e se acumu-
caso das tartarugas-matamatás. Isso pode ser feito, por la em plantas e animais. Para saber um pouco mais,
exemplo, por meio de questões orais ou escritas, aná- veja os sites <https://www.scienceinschool.org/pt/2007/
lise de algum texto ou de algum filme, que levantem issue7/Mercury> e <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.
esses conceitos. br/5853/5853_2.PDF>. Acesso em: 25 fev. 2019.
18
8 Ensino Fundamental
O uso de inseticidas na agricultura gera uma ex- Além da leitura compartilhada e da discussão dos tex-
celente discussão sobre impactos ambientais e de- tos, oriente os alunos a analisar a distribuição de liquens
senvolvimento da humanidade. Se, por um lado, eles em árvores de uma área da cidade mais sujeita à polui-
contaminam o ambiente, por outro, eles aumentam a ção e compará-la com a de árvores de uma área menos
produtividade das culturas, o que pode significar um impactada ou, ainda, a comparar árvores da periferia e
menor custo dos alimentos. Não é o caso de discutir o do interior de parques, para avaliarem se há diferenças.
uso do DDT, pois ele já foi proibido, mas sim a utiliza-
ção de outros tipos de inseticida e demais defensivos
agrícolas. Dessa forma, foge-se da simples polêmica Casos conhecidos e por conhecer (página 38)
“usar versus conservar” ou “ruim versus bom”. Um pon- Na terceira aula, a discussão se faz em torno de dois
to de partida interessante pode ser uma pesquisa de desastres: o da baía de Minamata, no Japão, em decorrência
opinião sobre o livro Primavera silenciosa, de Rachel do despejo de mercúrio no mar, e o de Mariana, em Minas
Carson. Para conhecer um pouco mais essa obra, su- Gerais, decorrente do rompimento da barragem de Fun-
gerimos o artigo “Rachel Carson, ciência e coragem”, dão. Os dois exemplos evidenciam e reforçam o conceito
de Elenita M. Pereira, de out. 2012. Disponível em: de bioacumulação e mostram a importância dos modelos
<http://cienciahoje.org.br/artigo/rachel-carson-ciencia- científicos para a compreensão das consequências da pre-
e-coragem/>. Acesso em: 25 fev. 2019. sença de substâncias tóxicas no ambiente e nos diferentes
níveis tróficos, incluindo o ser humano, que é o último
Modelos científicos (página 35) nível de uma cadeia. Além disso, evidenciam a necessidade
de estudos de impacto ambiental diante de riscos de ma-
Os exemplos apresentados anteriormente também são
teriais lançados no ambiente: tanto o mercúrio da baía de
muito úteis para a compreensão de modelos científicos
Minamata quanto o ferro da lama de Mariana por si só não
como recurso para explicar fenômenos complexos. Os
apresentariam riscos muito elevados; o problema é que o
exemplos da tartaruga-matamatá e do DDT mostram a
mercúrio se transforma em outra substância muito tóxica e
importância desses modelos na compreensão dos dese-
o ferro atrai outros metais, que são também muito tóxicos.
quilíbrios ambientais. Os organismos usados de modelos
são conhecidos como bioindicadores. A aula pode ser iniciada com a leitura de artigos
de jornais da época que você pode fornecer ou podem
ser pesquisados pelos alunos (neste caso, lembre-se de
Bioindicadores (página 37) orientá-los previamente). Outra opção é uma abordagem
mais direta, com a leitura compartilhada do texto do
Outro exemplo que possibilita enriquecer a discussão
Módulo, seguida da análise dele.
é o impacto dos inseticidas e dos antibióticos na seleção,
respectivamente, de insetos e de bactérias mais resistentes As pesquisas que estão sendo realizadas nos ecossiste-
a essas substâncias. Essa resistência pode estar diretamen- mas ligados ao rio Doce mostram a importância dos mo-
te ligada ao combate ao mosquito vetor da dengue. Leia delos científicos para explicar os fenômenos decorrentes
mais em “Aedes aegypti: inseticidas, mecanismos de ação e do desastre de Mariana. O gráfico que apresenta os dados
resistência”, de Ima A. Braga e Denise Valle, de 2007. Dis- da pesquisa com peixes e camarões mostra os níveis de
ponível em: <https://www.agrolink.com.br/downloads/_ vários metais nesses animais e os limites aceitáveis pela
th/Downloads/Aedes%20aegypti%20-%20inseticidas,%20 legislação. Ele pode ser usado para discutir o efeito des-
mecanismos%20de%20a%C3%A7%C3%A3o%20e%20 ses metais em seres humanos que se alimentem desses
resist%C3%AAncia.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2019. pescados e, ao mesmo tempo, refletir sobre os impactos
nas comunidades que vivem da pesca desses animais.
Existem bioindicadores que podem ser observados
na região próxima à escola, se houver oportunidade. É O desastre de Mariana é recente, mas perdeu espaço
o caso de determinados tipos de líquen em cascas de na mídia por conta da tragédia em Brumadinho. Sobre esta Manual do Professor
árvore, que usamos como exemplo no boxe Você sabia? última ainda não existem resultados de pesquisas, mas há
da página 37 do Caderno do Aluno. Para conhecer um muito material disponível para consulta dos alunos sobre o
pouco mais sobre esses organismos, veja o artigo “Liquens ocorrido em Mariana e a possibilidade de desenvolvimento
são usados como biomonitores de poluição em Porto de outras atividades. Assim, há sugestões de atividades
Alegre”, de Isis N. Diniz, de 2012. Disponível em: <http:// extras sobre o assunto no fim deste material.
revistapesquisa.fapesp.br/2012/02/29/liquens-s%C3%A3o- A reflexão proposta no final do texto sobre os desastres
usados-como-biomonitores-de-polui%C3%A7%C3%A3o- não tem e nem pretende ter resposta, mas é um convite
em-porto-alegre/>. Acesso em: 25 fev. 2019. à reflexão do papel do aluno como cidadão que ele já é.

19
8
O que poderia fazer um jovem de cerca de 13 a 15 anos? (como o ser humano ou a matamatá, nas sugestões de
Informar-se, discutir em casa e, principalmente, saber que cadeias) devem apresentar as maiores taxas da substância
é um ator na sociedade, que pode cobrar de autoridades tóxica. Se as pessoas comerem alguns dos componentes
competentes as decisões esperadas em casos como estes. contaminados da cadeia alimentar, elas passarão a acu-
Para ajudar na reflexão do professor sobre Brumadi- mular as substâncias tóxicas.
nho, existe uma interessante análise do que poderia ter
sido feito e sobre as responsabilidades em um podcast Atividade 3 (página 41)
de jornalistas da revista Piauí, disponível em: <https:// a) Por serem herbívoras, as espécies I e II são as
piaui.folha.uol.com.br/foro-de-teresina-37-vale-ataca- primeiras a apresentar os compostos organoclo-
novamente-desinformacao-versus-jean-wyllys-e-flavio- rados em seus tecidos. É o caso da cigarrinha e
e-os-donos-do-segredo/>. Acesso em: 25 fev. 2019. Esse do gafanhoto.
mesmo podcast contém mais duas análises que tratam
b) Inseticidas organoclorados, como o DDT, acumu-
de outro assunto.
lam-se ao longo das cadeias e teias alimentares,
apresentando-se em maior quantidade em espé-
Professor(a): encerre a aula pedindo aos alu- cies do topo da cadeia alimentar. As curvas V e VI
nos que tragam de casa uma conta de água para podem corresponder aos lagartos e às serpentes.
ser utilizada na próxima aula.
Em casa (página 41)
1. a) capim → preá → serpente → gavião
Respostas e comentários
b) Cada ser vivo absorve uma determinada quanti-
Atividade 1 (página 35) dade de DDT do meio e pelo menos parte dela é
transferida via alimentação para o próximo nível
Organize os alunos em grupos de três a quatro
trófico. Desse modo, os últimos componentes
integrantes e incentive a troca de ideias. As respostas
de uma cadeia (seres vivos de topo de cadeia),
podem incluir um ou mais dos itens a seguir, entre
como os gaviões, deverão ter mais dessa subs-
outros: educação das populações ribeirinhas locais
tância no organismo.
para valorizar a conservação do ambiente (vale até
a ideia de exploração turística); desenvolvimento de 2. Os seres humanos também podem ser considerados
projetos de criadouros das espécies nativas de “valor animais de topo de cadeia alimentar e, portanto,
comercial”, visando reduzir a caça de indivíduos selva- também estão sujeitos a acumular grandes quan-
gens; fiscalização e controle de comércio, transporte e tidades de mercúrio em seus corpos, ao consumir
criação de animais; controle da poluição e proibição do peixes e a tartaruga contaminados. Dessa forma,
uso de determinadas substâncias na região (mercúrio, podemos admitir que as matamatás são um modelo
por exemplo); implantação de processos de filtragem para explicar a quantidade de mercúrio que pode
e recuperação de áreas já contaminadas; combate ao ser acumulada no corpo dos seres humanos do ecos-
desmatamento e à mineração ilegais e fiscalização das sistema em questão.
atividades autorizadas; monitoramento e conservação 3. Uma explicação possível é que os agrotóxicos te-
de áreas de reprodução e alimentação dos animais; nham contaminado o solo e a água de rios, que
recuperação de populações ameaçadas. deságuam no mar. Uma vez no mar, os agrotóxicos
contaminam o plâncton marinho e, a partir dele, a
Atividade 2 (página 37) cadeia alimentar desse ecossistema, incluindo os ele-
Resposta pessoal. Sugestões de cadeias alimentares: fantes-marinhos, que são animais de topo de cadeia.
Fitoplâncton ou plantas aquáticas → pequenos peixes →
→ peixes grandes → tartarugas (adultas ou filhotes) Rumo ao Ensino Médio (página 42)
Fitoplâncton ou plantas aquáticas → peixes → 1. Alternativa A. A alternativa b está errada, pois o cara-
→ tartarugas (adultas ou filhotes) → seres humanos mujo ocupa apenas o 2o nível trófico dessa cadeia de
A poluição por mercúrio na água leva à absorção quatro níveis tróficos. A alternativa c indica o 3o nível
desse metal pelos seres vivos que vivem na região. Com trófico, consumidores secundários, ou seja, não é o
os processos de bioacumulação e biomagnificação, os mais alto, aquele que acumula a maior quantidade do
organismos que ocupam o topo das cadeias alimentares metal. A alternativa d também indica um animal do 2o

20
8 Ensino Fundamental
nível trófico e a alternativa e indica o 1o nível trófico, alunos. Divida a classe em quatro grupos. Cada grupo
o dos produtores, portanto ambas estão incorretas. trará informações sobre um assunto: a situação atual
2. Alternativa B. A alternativa a está incorreta, pois indica das barragens que acumulam os rejeitos da minera-
o formato da figura (pirâmide de energia), que não é ção de ferro; a situação da população afetada pela
descrita no enunciado. A alternativa c indica uma teia lama; o andamento das pesquisas sobre os impactos
alimentar, o que pode servir de distrator, apesar de o ambientais; as consequências legais para a empre-
esquema apresentar uma cadeia alimentar. Tal como a sa Samarco. Cada grupo selecionará as informações
alternativa a, a alternativa d se refere ao desenho, e não às mais significativas sobre o assunto correspondente e
informações do enunciado. Já a alternativa e está errada, organizará o painel, cuja forma de apresentação você
pois indica transformações bioquímicas que não apare- poderá estabelecer: cartazes em cartolina ou em um
cem nem no enunciado nem no esquema desenhado. programa de computador que os alunos dominem,
para fazer uma espécie de banner.
3. Alternativa E. Nenhuma das outras alternativas sugere
uma explicação razoável para o fenômeno, pois ele Parcerias com professores de outras disciplinas, como
se refere apenas ao animal que ocupa o topo da Geografia e Língua Portuguesa, podem enriquecer o trabalho.
cadeia alimentar, não tendo relação com o fato de O tema também possibilita apresentações digitais com
ser detritívoro (que se alimenta de restos) nem com os mesmos conteúdos do painel.
o seu porte (animais grandes podem ser herbívoros) Há muita disponibilidade de material de pesquisa em
ou com a velocidade da digestão. sites oficiais de jornais e de ONGs.
Outro caminho interessante é fazer um debate sobre
Sugestão de atividade extra o uso de inseticidas. Para isso, os estudantes podem
ser divididos em grupos que devem julgar, contra-argu-
O desastre de Mariana: um exemplo atual
mentar e decidir sobre o uso dessas substâncias. Antes,
O desastre de Mariana e suas consequências po- cada grupo deve pesquisar informações para defender
dem ser tema para a construção de um painel pelos a sua posição, apresentando argumentos consistentes.

Sugestão de material para consulta

Na estante em: <http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2012/08/


estudo-mostra-que-mercurio-tem-afetado-tartarugas-
• LEMELL, P. et al. Feeding patterns of Chelus fimbriatus da-amazonia.html>.
(Pleurodira: Chelidae). The Journal of Experimental
• MONTONE, R. C. Bioacumulação e biomagnificação.
Biology. 205, p. 1495-1506, 2002.
Instituto Oceanográfico. Disponível em: <http://www.
• SCHNEIDER, L. et al. Mercury levels in muscle of io.usp.br/index.php/oceanos/textos/antartida/31-
six species of turtles eaten by people along the Rio portugues/publicacoes/series-divulgacao/poluicao/811-
Negro of the Amazon Basin. Arch. Environ. Contam. bioacumulacao-e-biomagnificacao>.
Toxicol, 58, 444-450, 2010.
• SILVA, L. M. Metais pesados em tecidos de Chelonia
mydas encalhadas no litoral do Rio Grande do Sul, Bra-
Na internet sil. Imbé, 2011. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.
• ESTUDO mostra que mercúrio tem afetado as tar- br/bitstream/handle/10183/40099/000786761.pdf>. Manual do Professor
tarugas da Amazônia. G1, 16 ago. 2012. Disponível Acesso em: 25 fev. 2019.

21
8
12. A CRISE HÍDRICA E A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

AULAS 34, 35 e 36

Este Módulo apresenta casos de crises hídricas em dois grandes centros urbanos, os possíveis motivos dessas
crises e como atitudes de conservação ambiental podem ajudar a evitá-las. Além disso, discute outras medidas que
podem ser tomadas para evitar a falta de água nas cidades.

Objetivos
• Relacionar o abastecimento de água ao ciclo hidrológico.
• Entender as relações entre crescimento populacional e a carência de água em regiões urbanas.
• Entender as relações entre a conservação de áreas naturais e de recursos hídricos.
• Refletir sobre soluções possíveis para o problema da água em áreas urbanas.
• Refletir sobre as soluções sociais e econômicas para a questão da água.

Roteiro de aula (sugestão)


Aula Descrição Anotações
Retorno da tarefa 3 do Módulo 11
Quanta água existe no mundo?
De olho... no consumo de água no Brasil
Atividade 1
34 Você sabia? A conta de água
Os grandes aquíferos presentes no território brasileiro
Rumo ao Ensino Médio (item 1)
Orientações para a tarefa 1 e para a pesquisa da tarefa 2
(Em casa)
Retorno da tarefa 1
Atividade 2
A água nas cidades – o exemplo de Nova York
Atividade 3
35
De olho… na qualidade da água das torneiras
Pagamento por serviços ambientais (PSA)
Rumo ao Ensino Médio (item 2)
Orientações para a tarefa 2 (Em casa)

22
8 Ensino Fundamental
Retorno da tarefa 2
Crise hídrica no Brasil
Em Extrema (MG), uma solução para a crise hídrica
36
Atividade 4
Rumo ao Ensino Médio (item 3)
Orientações para a tarefa 3 (Em casa)
Observaç‹o: Os testes da seção Rumo ao Ensino Médio podem ser trabalhados em sala ou indicados como tarefa para casa.

Noções básicas de água doce no planeta, a heterogeneidade da distribui-


ção dessa água nos continentes e a inter-relação entre
• Ao lado da biodiversidade e do aquecimento global, o ciclo da água e o abastecimento para as populações.
a disponibilidade de água está se tornando uma das Converse com os alunos sobre o que eles sabem a respeito
principais questões socioambientais do mundo atual. do abastecimento de água da região onde vivem: qual é
• A distribuição de água doce no planeta é bastante o reservatório principal, onde ele fica, quem o administra,
heterogênea e parte significativa da população hu- entre outras questões.
mana vive sob estresse hídrico.
Na sequência, explore o gráfico do boxe De olho...
• O aumento da população e a urbanização provocam no consumo de água no Brasil. Essa discussão é mui-
uma intensa pressão de usos múltiplos dos recursos
to importante, pois existe uma tendência de olhar os
hídricos e impactos na qualidade da água.
números e creditar a culpa nos “outros”, aqueles que
• As soluções têm de passar pela conservação de áreas consomem mais, no caso, agricultura e indústria. Mos-
de mananciais e de reservas e atacar o desperdício nos
tre aos alunos que nós também somos agentes desse
vários pontos, desde a captação da água, passando pela
consumo, o que pode ser enfatizado com a realização
distribuição e chegando ao consumidor final (indústrias,
da Atividade 1, que poderá ser feita em grupos de três
comércio e população consumidora, entre outros).
ou quatro alunos, conforme sugerido.
A Atividade 1 visa a uma aproximação dos estudantes
Estratégias e orientações com a questão de consumo e o desperdício de água nas
A ideia deste Módulo é discutir a crise hídrica e a con- nossas casas. Muitas vezes, o discurso não gera mudança
servação ambiental como parte fundamental para a gestão de hábito na população. Dessa forma, você pode discutir
dos recursos hídricos em uma perspectiva de longo prazo. com os estudantes o que significam os pequenos des-
perdícios, incluindo o lado econômico, que podem ser
É muito importante, para discutir esse tema, conhecer
controlados pelos cidadãos.
a situação hídrica da sua região e verificar que medidas
são tomadas para a conservação de água, quais são os Os grandes aquíferos presentes no território
problemas existentes e de que forma as ideias aplicadas brasileiro (página 47)
em outras regiões podem ser adotadas localmente. Di-
vida essas medidas em governamentais (nas suas várias A parte final da aula apresenta os dois maiores aquí-
instâncias) e individuais. feros do Brasil. É interessante refletir sobre esse privilégio
Para saber um pouco mais sobre a situação hídrica na do país e sobre o impedimento de transporte dessa água
região, existe uma dica no boxe Você sabia? A conta de para regiões mais secas. Discuta também a necessida-
água. Oriente os alunos para essa pesquisa, que pode ser de de conservação das regiões onde se encontram os Manual do Professor
feita na internet ou diretamente nos órgãos responsáveis aquíferos para que eles não sejam contaminados por
do município. agrotóxicos ou poluentes urbanos.
Na página <http://portal1.snirh.gov.br/ana/apps/
Quanta água existe no mundo? (página 44) webappviewer/index.html?id=6f1c6551a61e42ceb8bd77b
a0e784d99> (acesso em: 25 fev. 2019), da Agência Nacional
Esta parte da primeira aula retoma conhecimentos de de Águas, encontra-se um mapa interativo dos aquíferos
anos anteriores, como a quantidade de água no planeta e brasileiros. Pode ser interessante propor um trabalho in-
o ciclo da água. Essa revisão visa discutir a disponibilidade terdisciplinar com o professor de Geografia.

23
8
Esse portal tem, ainda, um interessante vídeo sobre dos exemplos anteriores, é possível traçar um parale-
aquíferos que pode ser encontrado na página <http:// lo, comparando causas, efeitos, medidas e resultados.
www3.ana.gov.br/videos> (acesso em: 25 fev. 2019). Se Oriente os alunos a pensar em algumas medidas que
houver possibilidade, esse material pode ser acessado, poderiam surtir efeitos positivos. Essa discussão pode ser
o que possibilitará conhecer um pouco mais sobre a sua feita em pequenos grupos para anotação das principais
região, apenas com o objetivo de ampliar esse conheci- ideias, seguida de um debate maior, em que cada grupo
mento e ilustrar um aspecto da questão hídrica. apresente suas propostas.
Para encerrar, dê tempo para a realização do Rumo Há muita informação disponível, por exemplo, no site
ao Ensino Médio (item 1). da Sabesp, disponível em <http://site.sabesp.com.br/site/
Default.aspx> (acesso em: 25 fev. 2019), que contém da-
A água nas cidades – o exemplo de Nova York dos diários dos níveis dos reservatórios do estado de São
(página 49) Paulo. Outro material interessante é o capítulo “Lições e
desafios”, disponibilizado pela Agência Nacional de Águas,
Inicie a segunda aula com a Atividade 2, que relaciona no endereço <http://conjuntura.ana.gov.br/static/media/
a Floresta Amazônica às chuvas no Sudeste e no Sul do licoes_desafios.6ce1ed00.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2019.
Brasil. Mais uma vez vale lembrar o ciclo hidrológico.
Dessa forma, o estudante pode analisar as situações se- Em seguida, oriente a realização da Atividade 4 e,
guintes, sempre da perspectiva de que as causas e os depois, a realização do item 3 da seção Rumo ao Ensino
efeitos não são apenas regionais, mas o impacto das Médio e da seção Em casa.
nossas ações pode repercutir em outras regiões também.
Da mesma forma, fica claro que as soluções não serão Respostas e comentários
pontuais e únicas, mas exigirão várias medidas.
Atividade 1 (página 46)
O exemplo de Nova York apresenta as razões da
crise de abastecimento na década de 1990 e as soluções As respostas são pessoais, dependem da família e do
adotadas para a diminuição desse problema, que só ten- consumo registrado na conta de água analisada. Para que
deria a aumentar. O caminho foi a eliminação de pontos os alunos tenham mais clareza dos volumes considerados,
de desperdício e a conservação ambiental no entorno uma dica interessante é converter o volume expresso em
dos reservatórios. m3 para litros (multiplicando por 1 000).
Oriente, então, a realização da Atividade 3 cuja pro- A forma como as contas são apresentadas varia em
posta é chamar a atenção dos alunos para o fato de que cada região. Portanto, é importante analisar uma antes
não somos apenas pacientes dessas crises, mas também de fazer o trabalho com os alunos.
agentes delas. Outra preocupação que você deve ter é com o fato de
muitos alunos viverem em apartamentos, em que muitas
Pagamento por serviços ambientais (PSA) vezes a conta de água é conjunta, estando em nome do
(página 50) condomínio. Uma solução possível é fazer o trabalho
em pequenos grupos de três a quatro alunos, garantindo
Sobre este tema, é importante salientar os bons resul-
que algum deles more em casa e tenha aceso à conta de
tados dessa prática, ainda que haja custos para os gover-
água individual.
nos envolvidos. É importante mostrar que as iniciativas
trazem resultados, mesmo que não sejam a curto prazo.
Atividade 2 (página 48)
Crise hídrica no Brasil (página 50) a) A água passa para a atmosfera por evaporação do
A terceira aula aborda a crise hídrica no Brasil, com solo e dos corpos de água e pela transpiração dos
enfoque na situação vivida recentemente pela região Su- seres vivos, principalmente as árvores da floresta.
deste, em especial São Paulo, em 2014 e 2015. É importante b) Apesar de a figura mostrar a água proveniente da
discutir as razões da crise, as medidas emergenciais, que Amazônia indo para o Sul e o Sudeste, boa parte
não resolvem a questão de abastecimento, e as soluções de da água que sustenta as grandes cidades dessas
longo prazo que precisam ser implantadas. Explore tam- regiões vem das nascentes e dos reservatórios em
bém o exemplo de Extrema (MG), que mostra resultados áreas naturais próximas. Essas são as áreas que
interessantes com o pagamento de serviços ambientais. precisam receber as chuvas dos chamados “rios
Se for possível, transponha a situação para a sua aéreos”. Ou seja, sem a conservação dessas áreas,
região, o que torna a discussão muito mais rica. A partir a água também não chega às cidades.
24
8 Ensino Fundamental
Atividade 3 (página 49) Rumo ao Ensino Médio (página 54)
a) Destruição da vegetação nativa na região, locais 1. Alternativa E. Todas as informações estão corretas
que abrigavam as principais nascentes e reserva- e, de certa forma, constituem uma boa síntese do
tórios que forneciam água para a cidade. gerenciamento de água.
b) Além do crescimento numérico da população, o 2. Alternativa D. O texto aborda o problema da escassez
consumo exagerado de água e seu consequente de água na perspectiva socioeconômica, mostrando
desperdício também foram responsáveis pela crise. também que, ainda que haja água, haverá muitas
pessoas que não poderão pagar por ela.
Atividade 4 (página 53) 3. Alternativa B. Tanto no mundo, em média, como
Resposta pessoal. Alguns critérios que podem ser ci- no Brasil, a atividade econômica que mais consome
tados são a presença de nascentes, rios e lagos ou, ainda, água é a agricultura, seguida pela indústria, pelo uso
reservatórios; apresentar cobertura vegetal conservada ou doméstico e pelo consumo animal.
de recuperação viável. Pode-se destacar também a im-
portância da fiscalização dessas áreas e sua manutenção. Professor(a): oriente os alunos a consultar
o gráfico do boxe De olho... no consumo de
Em casa (página 53) água no Brasil para resolver esse exercício.
1. A água precipita, indo da atmosfera para a superfície
terrestre. Ela infiltra e percola (passagem lenta de um
líquido através de um meio) no solo ou nas rochas, Sugestão de atividade extra
podendo formar aquíferos, ressurgir na superfície na
forma de nascentes, fontes, pântanos, ou alimentar rios Dispersão de poluentes
e lagos. Nos casos em que a precipitação é maior do Pensando no ciclo hidrológico, a água com poluen-
que a capacidade de absorção do solo, ela escoa sobre tes percorrerá os mesmos caminhos, atingindo outras
a superfície. A água evapora retornando à atmosfera. regiões, contaminando o solo, penetrando entre as par-
Além da evaporação da água dos solos, rios e lagos, tículas e atingindo o lençol freático e reservatórios sub-
uma parte dela é absorvida pelos seres vivos. Estes, por terrâneos, como os aquíferos.
sua vez, liberam a água para a atmosfera por meio da
Esta atividade é muito útil para mostrar como des-
transpiração e da excreção. Também pode ocorrer o
cargas de poluentes se comportam em rios e lagos, por
congelamento da água, formando as camadas de gelo
exemplo, e o que determina um ambiente ser conside-
nos cumes de montanha e geleiras. Estas podem sofrer
rado poluído.
degelo, liberando água líquida na superfície.
Possivelmente é necessária uma aula inteira para rea-
2. Como as informações são específicas de cada região, a
lizar esta atividade, portanto é preciso avaliar a disponi-
resposta deve conter dados sobre a preservação de áreas
bilidade de tempo para isso.
de nascentes, reservatórios e rios da região estudada.
3. A resposta deve conter dois pontos importantes: a Introdução
destruição dessas áreas obriga a buscar água em re- Para que um ambiente seja considerado poluído, é
giões mais distantes, o que aumenta o custo de for- preciso que as substâncias poluentes estejam em uma
necimento; e a destruição das fontes leva ao risco de concentração capaz de prejudicar os seres vivos, ou seja,
que ocorra escassez de água. caso essa concentração não tenha sido atingida no am-
Além desses dois tópicos, podemos considerar tam- biente, ele é considerado não poluído. Para analisar a
bém o custo de tratamento da água proveniente de qualidade do ar, da água ou do solo e verificar se há
reservatórios e fontes que apresentem problemas com ou não poluição, são considerados alguns padrões de Manual do Professor
poluição decorrente da degradação dessas áreas. qualidade, que são determinados de acordo com a maior
concentração que um material pode alcançar em deter-
Professor(a): esta é uma resposta esperada, minado meio sem que este se torne poluído ou cause
porém pode acontecer de o aluno responder prejuízos aos seres vivos.
pelo lado positivo decorrente de iniciativas de Nesta atividade, você vai representar, por meio de um
conservação; de qualquer forma, mostrará com- modelo, um lago que recebe descargas de um poluente
preensão do tema. periodicamente. Usando o modelo, será possível visua-
lizar como o poluente se dispersa e suas consequências.

25
8
Material O que aconteceu com a concentração do “poluente”
• 1 proveta graduada no local da descarga? E na extremidade oposta?
• 1 rolha ou 1 chumaço de algodão para o tubo de ensaio f) Se o “lago” não estiver poluído, repita a descarga
• 3 conta-gotas de 20 mL de “poluente” e retire material do “fundo
• 1 bandeja de plástico do lago” da mesma forma que na primeira descarga.
• 1 tubo de ensaio Compare-as novamente com o padrão de qualidade.
• 1 azulejo branco Repita o procedimento até que o “lago” esteja poluído.
• 1 estante para tubos de ensaio ou outro apoio Que quantidade de poluente foi necessária para al-
• 50 mL de solução de azul de metileno cançar o padrão de qualidade?
• água Que tipo de material o azul de metileno pode estar
O lago, representado pela bandeja com água, vai representando?
receber um poluente, o azul de metileno. Como o “po- O espalhamento de poluentes é, ao mesmo tempo,
luente” escolhido é uma substância colorida, podemos re- vantajoso e desvantajoso. Discuta essa afirmação.
lacionar a intensidade da cor à concentração da solução. As perguntas que aparecem após cada item podem
ser feitas oralmente, para uma discussão durante a
Padrão de qualidade:
atividade experimental, ou apresentadas impressas
a) Coloque no tubo de ensaio 9 mL de água e 1 mL de azul para os grupos, a fim de que sirvam para a realização
de metileno. Tampe o tubo com a rolha ou o algodão de um texto com as principais conclusões.
e agite-o para que o corante se misture bem à água.
b) Pingue uma gota dessa solução no azulejo. Simulando pequenos vazamentos de torneira
Esta é uma atividade simples, mas que costuma causar
Modelo do lago: impacto entre os alunos. Ela pode ser ampliada para a
a) Coloque água na bandeja, até aproximadamente um medida de consumo de água em banhos, escovação de
terço da altura dela. dentes e até lavagem de louça.
b) Meça 20 mL de “poluente” e, cuidadosamente para não Material
agitar a água, despeje em uma das extremidades da • Balde ou bacia
bandeja. Esse local corresponde ao local de descarga • Proveta ou béquer grande
do poluente.
Procedimento
c) Imediatamente, usando 2 conta-gotas ao mesmo tem-
po, retire uma gota de água do “fundo do lago” na Colete, com o balde ou a bacia, água de uma torneira
região de descarga e outra da extremidade oposta. pouco aberta, para simular um pequeno vazamento, por
um intervalo de tempo de 30 segundos, por exemplo.
d) Coloque as duas gotas no azulejo e compare-as com Usando a proveta ou béquer, verifique o volume total
o padrão de qualidade. da água coletada. Calcule o volume que teria sido des-
Em que região do “lago” a concentração do “poluente” perdiçado em 24 horas.
é mais elevada?
Duas coisas podem ter acontecido no seu “lago”: Depois, calcule o desperdício em 500 torneiras com
esse volume de água vazando.
• em uma das regiões o “poluente” ficou mais con-
centrado que o padrão de qualidade; O quadro mostra o desperdício de água, em um dia,
com diferentes aberturas de torneiras mal fechadas.
• em nenhuma das duas regiões o “poluente” alcan-
çou o padrão de qualidade. Desperdício nas torneiras mal fechadas
Seu “lago” tornou-se poluído em alguma das regiões?
Que fator facilita a dispersão de poluentes em am-
bientes aquáticos reais? Gotejando Abertura de 1 mm Abertura de 2 mm
e) Para simular o que acontece na realidade, agite a água 46 litros 2 060 litros 4 915 litros
da bandeja e retire duas amostras do fundo nas mes-
mas regiões da coleta anterior. Pingue uma gota de
cada amostra no azulejo e compare-as com o padrão
de qualidade. Abertura de 6 mm Abertura de 9 mm Abertura de 12 mm
A concentração de “poluente” agora é diferente nas 16 400 litros 25 400 litros 33 984 litros
duas regiões?
O “lago” está inteiramente poluído? Litros desperdi•ados em 1 dia. Fonte: Sabesp.
Fonte

26
8 Ensino Fundamental
Esse mesmo tipo de encaminhamento pode ser feito para avaliar o consumo de água por banho ou durante
a escovação de dentes, comparando a torneira aberta e fechada.

Sugestão de material para consulta

Na internet

• AGÊNCIA Nacional de Águas. Programa Produtor de Água. Disponível em: <http://produtordeagua.ana.gov.br/>.


• GUEDES, F. B.; SEEHUSEN, S. E. (Org.). Pagamentos por serviços ambientais na Mata Atlântica: lições aprendidas
e desafios. Brasília: MMA, 2011. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/202/_arquivos/psa_na_mata_
atlantica_licoes_aprendidas_e_desafios_202.pdf>.
• KFOURI, A.; FAVERO, F. Projeto Conservador das Águas Passo a Passo: uma descrição didática sobre o de-
senvolvimento da primeira experiência de pagamento por uma prefeitura municipal no Brasil. Brasília, 2011.
Disponível em: <http://www.dokuwiki.lcf.esalq.usp.br/pedro/lib/exe/fetch.php?media=ensino:graduacao:
livro_projeto_conservador_das_aguas_web_1_.pdf>.
Acesso em: 25 fev. 2019.

Manual do Professor

27
8
13. O CASO DA FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL
E DOS CORREDORES ECOLÓGICOS

AULAS 37, 38 e 39

Neste Módulo vamos recordar e aprofundar o conceito de ecossistema, estudar o que é fragmentação e como
ela pode trazer desequilíbrio ecológico para um ecossistema. Também veremos quais são as consequências da
fragmentação e da perda de habitat para a fauna e a flora florestal. Além disso, vamos abordar brevemente como
a separação de ambientes de um ecossistema impede o fluxo de genes entre as populações separadas e quais os
efeitos dessa interrupção.
A partir dessas informações, analisaremos o potencial do projeto de corredores ecológicos para diminuir o efeito
de borda nos fragmentos e evitar a interrupção do fluxo de genes, mitigando os efeitos sobre os ecossistemas.

Objetivos
• Rever os elementos bióticos e abióticos dos ecossistemas.
• Entender o conceito de bioma e identificar a localização dos biomas brasileiros.
• Relacionar o desmatamento às atividades humanas e entender as consequências dele.
• Entender o que é fragmentação, o efeito de borda e seus efeitos sobre as populações da fauna e da flora dos
fragmentos de florestas.
• Conhecer o papel dos corredores ecológicos na preservação da biodiversidade.
• Conhecer iniciativas de desenvolvimento e conservação de áreas naturais.

Roteiro de aula (sugestão)


Aula Descrição Anotações

Retorno da tarefa 3 do Módulo 12

Ecossistemas, biomas e áreas florestadas


37
De olho... nos níveis de organização ecológica

Rumo ao Ensino Médio (item 1)

Como a fragmentação afeta as populações da


floresta remanescente

Efeito de borda
38
Atividade 1

Rumo ao Ensino Médio (item 2)

Orientações para a tarefa 1 (Em casa)

28
8 Ensino Fundamental
Retorno da tarefa 1
Um exemplo real de fragmentação
De olho... na variabilidade genética
Os corredores ecológicos
39 Definições oficiais dos componentes dos
corredores ecológicos
Atividades 2 e 3
Rumo ao Ensino Médio (item 3)
Orientações para as tarefas 2 e 3 (Em casa)
Observação: Os testes da seção Rumo ao Ensino Médio podem ser trabalhados em sala ou indicados como tarefa para casa.

Noções básicas
• Bioma é uma unidade biológica ou espaço geográfico caracterizado de acordo com o macroclima, a fitofisio-
nomia (aspecto da vegetação de um lugar), o solo e a altitude específicos. O desmatamento traz muitos danos
e impactos negativos e, na maioria dos casos, o desmatamento florestal é parcial, ou seja, alguns trechos da
floresta original permanecem. Essas áreas recebem a denominação de fragmentos florestais e não guardam mais
as mesmas características da floresta intacta.
• Um dos problemas enfrentados pelos fragmentos é o efeito de borda. A borda é o limite entre a floresta e a área
não florestada. No caso do fragmento de floresta, a área não florestada é, muitas vezes, ocupada com estradas,
agricultura ou pasto. Essa paisagem adjacente ao fragmento é denominada matriz e vai influenciar diretamente
as mudanças que ocorrem no fragmento.
• Corredor ecológico é uma faixa de vegetação que liga fragmentos de florestas. Tem como objetivo possibilitar o
deslocamento de animais ou a dispersão de sementes e deve apresentar características semelhantes aos ambien-
tes que conecta, ou seja, um corredor entre dois fragmentos florestais deve ser florestal também. Os corredores
ecológicos são uma possibilidade de preservação da biodiversidade.

Estratégias e orientações

Professor(a): os temas desenvolvidos neste Módulo são parte da discussão sobre desequilíbrio ecológico e
riscos à biodiversidade provocados pelas ações humanas em busca de terras para a agropecuária e de matéria-
-prima para a indústria.

A situação das fragmentações florestais não é simples. A decisão de explorar ou não determinadas áreas envolve
questões sociais, políticas, econômicas, ambientais, e pode trazer benefícios como renda, alimento e emprego para
as pessoas da região. Pode-se propor aos estudantes uma atividade que envolva a distribuição de diferentes papéis
sociais para o encaminhamento dessa discussão. Uma possibilidade seria dividir a turma em quatro grupos: comu-
nidade tradicional local, empresários, ambientalistas e políticos. Cada um dos três primeiros grupos apresentaria
uma posição sobre um desmatamento hipotético em uma região da Floresta Amazônica que é rica em minério,
mas faz divisa com a área da comunidade tradicional local. No final dessa discussão, o grupo que representa os Manual do Professor
políticos decide se a região pode ou não ser desmatada.

Ecossistemas, biomas e áreas florestadas (página 56)


Inicie a primeira aula com a leitura do texto deste tópico. Ao longo da leitura, retome brevemente as ideias de níveis de
organização de ecossistemas. A imagem de ecossistema terrestre da página 56 será muito útil para rever fatores abióticos
e bióticos e as relações que se estabelecem entre eles. Uma sugestão é “traduzir” as setas que mostram as relações entre
os seres vivos. Faça também a leitura do boxe De olho... nos níveis de organização ecológica, de forma compartilhada.

29
8
Explore o mapa dos biomas brasileiros: é possível monstram a importância dos corredores ecológicos para
que os estudantes já o tenham estudado em Geografia, a preservação de biomas. Sempre que possível, resgate
lembrando que esse conteúdo foi visto no 6º ano, Ca- as informações de Módulos anteriores (por exemplo, os
derno 4 de Ciências. tópicos já citados nos Módulos 3 e 5 para as informações
sobre Genética e o Módulo 10 para alguns conceitos
Como a fragmentação afeta as populações da sobre Ecologia).
floresta remanescente (página 57) Oriente os alunos a realizar a Atividade 2 e a tarefa 2
Proponha uma leitura compartilhada do texto deste da seção Em casa.
tópico. Essa leitura também pode ser feita em pequenos
grupos. É importante que os estudantes entendam o que Definições oficiais dos componentes dos
são os fragmentos e o efeito de borda. corredores ecológicos (página 67)
Em seguida, sugira um confronto dos dados da leitura
Apresente os objetivos oficiais do corredor ecológico,
com as consequências do desmatamento analisadas pelos
bem como a finalidade das Unidades de Conservação e
estudantes na aula anterior.
Terras Indígenas, que são componentes dos corredores
Oriente os alunos a realizar a Atividade 1 e a tarefa ecológicos. Explore o mapa que localiza as Unidades de
1 da seção Em casa. Conservação no Brasil, mencionando os biomas em que
elas estão mais presentes.
Um exemplo real de fragmentação (página 62)
Pesquise se há corredores ecológicos em sua região
Organize os estudantes em pequenos grupos de três ou e analise a possibilidade de visitá-los com os estudantes.
quatro estudantes e peça que façam a leitura deste tópico, Assim, será possível identificar os ecossistemas afetados,
identificando os aspectos citados no texto sobre os efeitos o tipo de matriz e alguns dos impactos citados no texto.
da fragmentação sobre as populações. Depois, organize Antes do trabalho de campo, procure informações para
uma discussão entre os grupos, verificando se todos iden- preparar um roteiro de trabalho, determinando os obje-
tificaram os aspectos referidos e as causas e os efeitos da tivos que devem ser atingidos pelos estudantes.
fragmentação; sistematize essas informações no quadro.
Por ser uma aula mais objetiva e com menos discus-
Faça a leitura do boxe De olho... na variabilidade ge- sões, é um bom momento para fazer o trabalho com “pa-
nética de forma compartilhada. Os alunos podem precisar péis sociais”, sugestão proposta no início deste Módulo.
de uma ajuda para entender os conceitos envolvidos com
Oriente os alunos a realizar a Atividade 3 e a tarefa 3
a variabilidade genética. Procure resgatar os conhecimen-
da seção Em casa.
tos trabalhados nos Módulos anteriores, especialmente
sobre conceitos de Genética (Módulos 3 e 5), para que
os estudantes percebam que os temas estão relacionados. Respostas e comentários
Sugerimos que oriente a resolução do exercício da seção Atividade 1 (página 61)
Atividade extra ao final desse Módulo, que pode ser feito em
grupos e é uma boa oportunidade para que o aluno aplique 1. a) As hipóteses deverão conter explicações que en-
o conceito de variabilidade genética, ao mesmo tempo que volvam alimentação, diminuição de área, perda
introduz os problemas de fragmentação e perda de habitat. de árvores e relação com predadores. Também
podem conter aumento de mortalidade por causa
da estrada. Dois exemplos de respostas:
Professor(a): uma boa leitura sobre o efeito de
borda pode ser encontrada no texto “A floresta em 1º Diminuição da área de exploração da espécie,
pedaços e a floresta vazia”, do livro O poema imper- caso de alguns macacos que precisam de am-
feito, de Fernando Fernandez (Editora UFPR, 2004). plos espaços para encontrar comida suficiente.
Dependendo do tempo disponível e do grau de 2º Desaparecimento de espécies vegetais impor-
envolvimento dos estudantes, é possível fazer uma tantes para esses animais, por exemplo, as ár-
leitura desse texto com eles. vores. As causas para o desaparecimento desses
vegetais podem ser múltiplas: introdução de
novas espécies, ocorrência de pragas e doen-
Os corredores ecológicos (página 65)
ças, como fungos e cupins, crescimento de tre-
Inicie a aula com a leitura compartilhada deste tópico, padeiras, perda de proteção contra o vento ou
destacando as informações contidas no texto que de- diminuição de luminosidade.
30
8 Ensino Fundamental
b) Pode-se pensar em uma diminuição de presas para proporcionando uma exploração equilibrada do
as serpentes. Como no estudo ocorreu a observa- ambiente. O segundo objetivo é possibilitar uma
ção de que nem todas as populações de pequenos troca genética por meio do cruzamento entre as
mamíferos apresentaram diminuição numérica, e populações das áreas preservadas, aumentando
os roedores terrestres pareciam se beneficiar dos ou mantendo a diversidade genética.
recursos da borda, uma segunda hipótese pode ser b) As principais ameaças ambientais no corredor leste
levantada: provavelmente as serpentes atravessam da Amazônia são as que ocorrem em praticamente
as estradas e estão mais sujeitas a atropelamentos. qualquer área da Amazônia: extração predatória
Uma terceira possibilidade é que os predadores de madeira, queimadas para implantação de pas-
das serpentes tenham aumentado com o efeito de tagens, criação extensiva de gado, expansão de
borda, como as aves de rapina. projetos agrícolas de grande porte (agronegócio),
c) Nessa resposta o estudante pode incorporar os mineração e garimpo.
dados das duas situações. É esperado que ele
elabore hipóteses com explicações envolvendo Em casa (página 70)
alimentação e relação com predadores. Exemplos:
1º Os pequenos mamíferos terrestres aumentaram 1. Nas bordas, a exposição à luz e ao vento é maior;
sua população porque o efeito de borda oca- como consequência, há aumento de temperatura e
sionou aumento da fonte de alimento deles. diminuição da umidade do ar. Essa situação é contrária
2º Houve aumento na população de pequenos à que ocorre no interior de uma floresta tropical, mas
mamíferos porque a população de seus pre- é semelhante à que ocorre nas copas das árvores. Com
dadores (como as cobras) diminuiu. a fragmentação, espera-se encontrar, nas bordas, o
crescimento de espécies com tolerância à ação direta
Atividade 2 (página 66) do sol e a diminuição ou desaparecimento do número
de espécies adaptadas a pouca luz e alta umidade.
Situação I
2. a) Três atividades são importantes:
Os quatro fragmentos pequenos teriam maior prejuízo
Agricultura – principalmente a ligada ao agrone-
ambiental. Apesar de a área total (borda + fragmento)
gócio, como o cultivo de soja.
ser semelhante à do fragmento 1, como cada fragmen-
Pecuária – o crescimento do consumo de car-
to é menor, suas proporções de borda aumentam. Isso
significa que cada um desses fragmentos menores tem ne, em parte decorrente do aumento do poder
a borda proporcionalmente maior do que o fragmento aquisitivo da população, vem modificando o
grande, resultando em áreas menores de área nativa. A estilo da pecuária nesse bioma, que antes era
fragmentação maior diminui a distância borda-centro, o principalmente extensiva. Agora a pecuária é
que intensifica o “efeito de borda”. predominantemente intensiva, com a substi-
tuição do pasto natural por pasto cultivado,
Situação II
eliminando a vegetação original.
Fragmento 1. Apesar de a área de ambas ser a mesma, Mineração – incluindo o garimpo, a minera-
a distância entre suas bordas é menor, o que causa maior ção altera a paisagem destruindo a vegetação
exposição da área central do fragmento (novamente por e contaminando os rios da região. As principais
causa da distância borda-centro). Como regra geral, fragmen- minerações no Cerrado estão relacionadas à
tos com formato arredondado apresentam menor efeito de extração de minério de ferro e caulim e ao ga-
borda relativo ao total de área por terem menor área exposta. rimpo de ouro e diamante.
Quanto maior for o perímetro de um fragmento, maior será
b) Levantamento das áreas que ainda conservam ve-
seu efeito de borda, pois mais áreas estarão expostas.
getação nativa e/ou com populações de animais Manual do Professor
remanescentes.
Atividade 3 (página 69) Estabelecer ligações por áreas com tamanhos que
1. Animais de populações de um fragmento podem garantam deslocamento e permanência seguros
migrar e cruzar com os de outros fragmentos. Isso para os animais.
evita endocruzamentos e aumenta a possibilidade de Pode-se aproveitar as ligações feitas por meio das
uma população com alta variação genética. matas ciliares dos rios da região.
2. a) O primeiro objetivo é possibilitar o trânsito se- 3. Alternativa A: os parques, na falta desses corredores,
guro de espécies nativas entre áreas preservadas, constituem ilhas isoladas de ampliação da biodiver-

31
8
sidade e de formação de novas espécies. Essa alternativa está incorreta porque o fato de os parques estarem
isolados tende a causar a extinção de espécies e não a criação de novas espécies.
As outras alternativas estão corretas. b: corredores ecológicos possibilitam o fluxo gênico e a manutenção dos
ciclos biológicos das espécies; c: mamíferos de médio e grande porte, como os mencionados na questão, nor-
malmente são beneficiados por corredores ecológicos; d: animais que dependem de corredores normalmente
são muito sensíveis a mudanças ambientais e não conseguem usar a matriz.

Rumo ao Ensino Médio (página 71)


1. Alternativa C. A alternativa a está incorreta, pois o impacto interfere em todos os aspectos do ecossistema, não
apenas no florístico. A alternativa b está errada, pois os animais não se deslocam em busca de habitat diferen-
tes. A alternativa d está incorreta, pois, se as camadas mais férteis são perdidas, não há como o solo ficar mais
produtivo.
2. Alternativa B. O processo de extinção não tem origem apenas na antropização; existem processos naturais, como
a competição com outras espécies ou o esgotamento das fontes alimentares. As outras alternativas estão corretas.
3. Alternativa E. A proposição II está errada, pois qualquer espécie pode ser extinta, dependendo da extensão das
modificações do ambiente. É claro que espécies com populações menores ou com especializações maiores no
ambiente estão mais sujeitas à extinção.
A proposição IV está errada, pois descreve claramente um hotspot, área ideal para preservação.

Sugestão de atividade extra


Como forma de fazer com que o aluno aplique o conceito de variabilidade genética e, ao mesmo tempo, intro-
duzir os problemas de fragmentação e perda de habitat, sugerimos a atividade a seguir.
Observe as ilustrações abaixo. Elas representam uma espécie de ave de interior de floresta que tinha sua po-
pulação estável em uma área florestada grande (A). As diferentes formas geométricas, ao lado de cada miniatura,
correspondem às cores das aves e indicam variabilidade genética entre elas. A área foi parcialmente desmatada
para criação de estrada e pastos; sua área ficou menor e foi dividida pela estrada (B). Assim, uma região que tinha
um contínuo de floresta agora tem dois fragmentos. Com base nessas informações e na imagem abaixo, responda:

A B

Desmatamento por
a•‹o humana

Pasto Estrada Floresta


Floresta

a) Houve perda de variabilidade genética de A para B? Justifique.


Resposta: Houve perda de variabilidade genética na população de aves após o desmatamento. Antes do desmatamento, quando
a área florestal era contínua, existiam quatro variedades diferentes de ave na população (representadas pelas formas: , , e ).
Depois do desmatamento só restaram três na região. Talvez o estudante responda analisando cada fragmento; nesse caso, a
perda de variabilidade genética é maior ainda, porque no fragmento menor só há duas variedades de aves.
b) Se após o desmatamento houver perda de variabilidade genética, o que pode acontecer com a população de
aves? Explique.
32
8 Ensino Fundamental
Resposta: A perda de variabilidade genética aumenta as chances de endocruzamento e do aparecimento de doenças fatais
na população. Além disso, também ocorre a homogeneização genética da população, que a deixa mais vulnerável à extinção
caso a pressão de seleção mude. Assim, a população de aves pode ser extinta ou diminiur mais ainda de tamanho, o que a
coloca em maior risco de extinção.
c) Existe alguma ação que possa ser feita para evitar perdas de variabilidade nessas populações? Explique.
Resposta: Para evitar a perda de variabilidade genética é importante garantir a manutenção do fluxo gênico entre as popu-
lações restantes. Um meio de alcançar isso é a implementação de um corredor ecológico que una as populações isoladas.

Professor(a): esta última pergunta é bem aberta e tem como objetivo fazer o estudante pensar em possíveis
ações para mitigar os efeitos do desmatamento. Talvez valha a pena retomar a resposta a essa pergunta no final
do módulo para ver se as sugestões seriam diferentes.

Textos de apoio ao professor


Parte das informações do primeiro texto abaixo, do site do Ministério do Meio Ambiente (MMA), consta do tópico
Definições oficiais dos componentes dos corredores ecológicos, presente no Caderno do Aluno.

TEXTO I

Projeto Corredores Ecol—gicos


Corredores Ecológicos são áreas que possuem ecossistemas florestais biologicamente prioritários e viáveis para
a conservação da biodiversidade na Amazônia e na Mata Atlântica, compostos por conjuntos de unidades de conser-
vação, terras indígenas e áreas de interstício. Sua função é a efetiva proteção da natureza, reduzindo ou prevenindo a
fragmentação de florestas existentes, por meio da conexão entre diferentes modalidades de áreas protegidas e outros
espaços com diferentes usos do solo.
A implementação de reservas e parques não tem garantido a sustentabilidade dos sistemas naturais, seja pela
descontinuidade na manutenção de sua infraestrutura e de seu pessoal, seja por sua concepção em ilhas, ou ainda
pelo pequeno envolvimento dos atores residentes no seu interior ou no seu entorno.
Integrante do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, o Projeto atua em dois corredores:
o Corredor Central da Mata Atlântica (CCMA) e o Corredor Central da Amazônia (CCA).
A implementação desses Corredores foi priorizada com o propósito de testar e abordar diferentes condições nos
dois principais biomas e, com base nas lições aprendidas, preparar e apoiar a criação e a implementação de demais
corredores.
A participação das populações locais, comprometimento e conectividade são elementos importantes para a
formação e manutenção dos corredores na Mata Atlântica e na Amazônia.
Objetivos do projeto:
• Reduzir a fragmentação mantendo ou restaurando a conectividade da paisagem e facilitando o fluxo genético
entre as populações.
• Planejar a paisagem, integrando unidades de conservação, buscando conectá-las e, assim, promovendo a constru-
ção de corredores ecológicos na Mata Atlântica e a conservação daqueles já existentes na Amazônia.
• Demonstrar a efetiva viabilidade dos corredores ecológicos como uma ferramenta para a conservação da biodi-
versidade na Amazônia e Mata Atlântica.
• Promover a mudança de comportamento dos atores envolvidos, criar oportunidades de negócios e incentivos a
Manual do Professor
atividades que promovam a conservação ambiental e o uso sustentável, agregando o viés ambiental aos projetos
de desenvolvimento.
Para atingir este objetivo, o Projeto Corredores Ecológicos desenvolve uma abordagem abrangente, descentrali-
zada e participativa, permitindo que governo e sociedade civil compartilhem a responsabilidade pela conservação
da biodiversidade, podendo planejar, juntos, a utilização dos recursos naturais e do solo; envolvendo e sensibilizando
instituições e pessoas, criando parcerias em diversos níveis: federal, estadual, municipal, setor privado, sociedade
civil organizada e moradores de entorno das áreas protegidas.
Fonte: BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Projeto Corredores Ecológicos. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/
programas-e-projetos/projeto-corredores-ecologicos>. Acesso em: 25 fev. 2019.

33
8
TEXTO II

Corredor Ecológico Costa Esmeralda de SC


Localizado no litoral norte do Estado de Santa Catarina, em área de 774 km2, esse corredor possui ecossistemas de
mata atlântica e marinhos, tais como: floresta ombrófila densa, florestas quaternárias, restingas, manguezais, estuá-
rios e costões, além de várias ilhas oceânicas. Também existem na área do corredor ecológico diversas áreas-núcleo,
constituídas por unidades de conservação, como: Reserva Biológica Federal do Arvoredo e Área de Proteção Ambiental
Federal de Anhatomirim.

Esse projeto de conservação ambiental nasceu da mobilização da comunidade de Zimbros, em Santa Catarina,
que buscava impedir o modelo de ocupação do solo proposto pela administração pública regional. Visa garantir a bio-
diversidade e a qualidade de vida dos habitantes locais, aliando ações de manejo que garantam a utilização racional
dos recursos ambientais para a sustentabilidade econômica da região e a conservação dos remanescentes de mata
atlântica. O projeto cresceu para outros municípios, uma vez que os princípios que norteiam sua concepção referem-se
à abordagem biorregional de conservação de ambientes naturais.

O Corredor Ecológico Costa Esmeralda abrange inicialmente a região dos municípios de Bombinhas, Porto Belo e
Itapema, situados na Península de Porto Belo, envolvendo as ilhas adjacentes e o arquipélago de Arvoredo.

Os ecossistemas associados a essa zona costeira são bem diferenciados e apresentam uma beleza exuberante.
Sob o domínio da mata atlântica, manguezais, restingas, florestas ombrófilas densas e aluviais guardam alta riqueza
de espécies e de comunidades florísticas e faunísticas.

[...]
Fonte: ARRUDA, Moacir Bueno; SÁ, Luís Fernando S. Nogueira. Corredores Ecol—gicos: uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil.
IBAMA (MMA). Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/livros/corredoresecologicosdigital.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2019.

Sugestão de material para consulta

Na estante
• NASCIMENTO, H. E. M.; LAURANCE, W. F. Efeitos de área e de borda sobre a estrutura florestal em fragmentos
de floresta de terra firme após 13-17 anos de isolamento. Acta Amazônica, v. 36(2), p. 183-192, 2006.
• RODRIGUES, E. Efeito de bordas em fragmentos de floresta. Cadernos da Biodiversidade, v. 1, n. 2, 1998. p. 1-6.
• ROSA, C. A. da. Efeito de borda de rodovias em pequenos mamíferos de fragmentos florestais tropicais. Dissertação
(Mestrado em Ecologia Aplicada) – Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2012.

Na internet
• AYRES, J. M. et al. Os corredores ecológicos das florestas tropicais do Brasil. Sociedade Civil Mamirauá, 2005.
Disponível em: <http://www.bibliotecaflorestal.ufv.br/bitstream/handle/123456789/3495/Livro_Corredores-ecol%
C3%B3gicos-das-florestas-tropicais-do-Brasil_MMA.pdf?sequence=1&isAllowed=y>.
• VALERI, S. V.; SENÔ, M. A. A. F. A importância dos corredores ecológicos para a fauna e a sustentabilidade de
remanescentes florestais. Disponível em: <http://www.saoluis.br/revistajuridica/arquivos/005.pdf>.
• VIDOLIN, G. P.; BRAGA, F. G. Ocorrência e uso da área por carnívoros silvestres no Parque Estadual do Cerrado,
Jaguariaíva, Paraná. Cadernos da Biodiversidade, v. 4, n. 2, 2004. Disponível em: <http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/
File/artigo_4.pdf>.
Acesso em: 25 fev. 2019.

34
8 Ensino Fundamental
14. O CASO DOS LEBISTES E A SELEÇÃO NATURAL

AULAS 40, 41 e 42

Por meio da utilização de parte do trabalho dos biólogos David Reznick e John A. Endler (publicado no perió-
dico Evolution, v. 36, n. 1, jan. 1982), este Módulo apresenta uma abordagem experimental como ferramenta para
demonstrar a seleção natural como mecanismo responsável pelas diferenças entre populações de uma mesma es-
pécie, os lebistes.

Objetivos
• Conhecer a história natural do peixe lebiste e identificar o processo de seleção natural.
• Entender que, na seleção natural, são favorecidas as características que aumentam as chances de sobrevivência
do indivíduo.
• Conhecer o neodarwinismo: síntese que envolve o darwinismo, as leis de Mendel e o conceito de mutações.
• Entender a seleção sexual e a seleção artificial.

Roteiro de aula (sugestão)


Aula Descrição Anotações
Retorno das tarefas 2 e 3 do Módulo 13
A teoria da seleção natural
Os lebistes em ambientes naturais
De olho... no controle biológico
40
Os lebistes como modelo para o estudo da evolução
Atividades 1 e 2
Rumo ao Ensino Médio (item 1)
Orientações para a tarefa 1 (Em casa)
Retorno da tarefa 1
Outros exemplos de seleção
41 Atividade 3
Rumo ao Ensino Médio (item 2)
Orientações para a tarefa 2 (Em casa)
Retorno da tarefa 2 Manual do Professor
Seleção artificial: as raças dos cães domésticos
Atividade 4
42
Você Sabia? Bactérias resistentes a antibióticos
Rumo ao Ensino Médio (item 3)
Orientações para a tarefa 3 (Em casa)
Observa•‹o: Os testes da seção Rumo ao Ensino Médio podem ser trabalhados em sala ou indicados como tarefa para casa.

35
8
Noções básicas aceite a evolução e defenda o criacionismo. Nesse caso,
a crença religiosa deve ser respeitada, mas alerte a tur-
• Evoluir é mudar com o tempo. Na biologia, as mudan- ma de que a discussão dos conceitos envolvidos nesta
ças nas populações surgem da seleção de variações
e em outras aulas são de cunho científico, não estando
entre os indivíduos, que, por sua vez, se originam
em questão argumentos de outras naturezas. Para esse
de mutações no material genético dos seres vivos. As
tipo de debate, como o religioso, existem foros mais
mutações surgem ao acaso; são selecionadas aquelas
adequados do que a aula de Biologia.
que conferem vantagem ao organismo.
• A seleção sexual ocorre, em geral, em paralelo à
seleção natural. Na seleção sexual, as características A teoria da seleção natural (página 73)
vantajosas são as que ajudam a conseguir parceiros Após levantar os conhecimentos e a representação
sexuais. Isso aumenta o potencial de geração de dos estudantes sobre o que significa evolução, conti-
descendentes, o que sugere sucesso competitivo na nue a aula com a leitura da breve síntese sobre seleção
dinâmica da população. natural, em voz alta, procurando avaliar o que a turma
• Há, ainda, o mecanismo evolutivo conhecido como lembrava e corrigir os erros mais comuns, principalmente
seleção artificial. Por meio de cruzamentos planeja-
afirmações finalistas e proposições lamarckistas. É sempre
dos, as características desejadas vão sendo fixadas
importante lembrar aos estudantes que não existe “lei
através das novas gerações, até que se possa definir
do mais forte”, uma expressão muito utilizada, mas que
aquela população como uma nova raça ou variedade.
caracteriza um erro; Darwin nunca se referiu à seleção
Determinadas características podem ser perpetuadas
natural dessa forma. A seleção natural não trata do mais
ou eliminadas pela seleção artificial.
forte, e sim do mais adaptado a determinada condição
ambiental; o que importa é sobreviver e poder deixar
Estratégias e orientações descendentes, ou seja, reproduzir-se.
Antes de tudo, discuta com os estudantes o significa- Outra questão importante, mas que não está expli-
do de evolução segundo o conhecimento prévio deles. citada no material, é que um indivíduo não evolui, mas,
Existe uma tendência a considerar que “evoluir” é “ficar sim, a espécie. Embora esse seja um tema para ser desen-
melhor”, e ela precisa ser abandonada. Evoluir é mudar volvido no Ensino Médio, vale mencionar para os alunos
com o tempo. Destaque que a evolução não é um pro- que a evolução envolve os indivíduos, mas é a espécie
cesso intencional. Por exemplo, as aves não criaram asas que evolui, que muda com o tempo.
para voar; ao longo do tempo, aqueles organismos que Em seguida, explique a teoria sintética da evolução,
tinham estruturas capazes de fazer o indivíduo levantar indicando como o trabalho de Mendel se encaixa no
voo apresentaram uma vantagem adaptativa ante os de- trabalho de Darwin.
mais, e, assim, tiveram mais chance de se reproduzir e A grande dificuldade de Darwin foi explicar como
passar essa característica adiante. Lembre-se de que esse as variações de características (variabilidade) ocorrem
tema foi trabalhado no 7º ano. entre os indivíduos, dentro das populações, e como essas
Os estudantes devem, ao final da aula, consolidar a características eram passadas para as gerações seguintes.
noção de que as variações surgem ao acaso e de que Não deixe de fazer referência aos Módulos 3 e 5, estu-
são selecionadas aquelas que conferem vantagem ao dados anteriormente.
organismo, dependendo do contexto em que vive. Se precisar de algumas referências teóricas, um inte-
Reforce que devemos evitar as explicações finalistas ressante reforço conceitual pode ser encontrado na seção
no contexto da evolução biológica. Explique que mu- Sugestão de material para consulta ao final deste Módulo.
danças fenotípicas não originadas de alterações genéticas Se houver tempo hábil, pode ser interessante contar a
(ou que não interagem com e influenciam o material história dos trabalhos do Darwin e da sua viagem a bor-
genético de alguma forma) não são transmitidas aos des- do do Beagle e apresentar alguns exemplos de estudos
cendentes. Por exemplo, pais que fazem musculação e do naturalista inglês. Isso costuma instigar a curiosidade
aumentam significativamente o volume dos músculos em dos estudantes.
decorrência de estímulos gerados pelo exercício físico
não passam aos filhos tal característica, isto é, a presença
Os lebistes em ambientes naturais (página 74)
de músculos hipertrofiados.
Considere também a possibilidade de haver algum Continue a aula com a leitura do texto sobre os le-
estudante que pertença a um grupo religioso que não bistes. Pode ser uma leitura coletiva, com a sua media-
36
8 Ensino Fundamental
ção para destacar os pontos importantes e salientar os Em regiões litorâneas, os estudantes podem se lembrar de
pontos levantados anteriormente sobre seleção natural. alguns caranguejos, como o chama-maré (gênero Uca).
Estudantes que conhecem aquarismo devem se referir a Em seguida oriente a leitura do item Um exemplo de
esses animais como sendo coloridos, especialmente os seleção sexual: a beleza oculta das aves e a realização
machos. Comente que, na natureza, quase não existem da Atividade 3. A discussão importante é procurar qual
machos coloridos. Peça que levantem hipóteses para a a vantagem evolutiva que a espécie terá com a escolha
compreensão desse fato. Os estudantes devem chegar correta do macho ou da fêmea para acasalamento. Afinal,
à conclusão de que, como são mais visíveis, serão mais a passagem dos genes para as próximas gerações é uma
predados. Relacione isso com a seleção natural. dimensão que leva ao sucesso evolutivo de uma espécie.
O boxe De olho… no controle biológico resgata co-
nhecimentos anteriores de Ecologia, principalmente ca- Seleção artificial: as raças dos cães domésticos
deias alimentares e relações ecológicas. O professor pode, (página 79)
ainda, fazer um paralelo entre a ação de predadores e pa-
rasitas com um tipo de pressão de seleção sobre a praga. Inicie a terceira aula orientando a leitura compartilhada
do tema Seleção artificial: as raças dos cães domésticos.
Use outros exemplos de seleção artificial ao longo da
Os lebistes como modelo para o estudo da
leitura, como o milho (indicamos um texto interessante –
evolução (página 75) Misturar é preciso! – na seção Sugestão de material para
Novamente, o uso de modelos é utilizado para a consulta). Procure, em cada um dos exemplos, destacar as
investigação científica. Neste caso, sobre evolução e se- técnicas utilizadas, a característica que se desejou selecio-
leção natural, apresenta-se um interessante contraste com nar e como isso se assemelha ao que ocorre na natureza.
o que ocorre na natureza. Não deixe de relacionar esse Oriente a realização da Atividade 4 e a leitura do boxe
tema com os Módulos 1 e 2, sempre pedindo que os Você sabia? sobre a resistência de bactérias a antibióti-
estudantes identifiquem qual a hipótese (no caso, se a cos, um exemplo de seleção que nos atinge fortemente. É
seleção natural influencia as variações existentes numa importante frisar os alertas sobre o uso indiscriminado e
população de peixes), quais os métodos empregados e pouco rigoroso de antibióticos. Sugira, então, que resolvam
se a hipótese foi ou não confirmada. Se quiser conhecer o item 3 da seção Rumo ao Ensino Médio e a tarefa 3 da
o experimento e seus desdobramentos, eles estão discu- seção Em casa.
tidos no livro Evolução: o sentido da Biologia, EL-HANI,
Charbel Nino; MEYER, Diogo (Unesp, 2005, p. 54-58).
Respostas e comentários
Depois da leitura, oriente os estudantes para a reso-
lução das Atividades 1 e 2, que trazem um texto muito Atividade 1 (página 76)
interessante sobre experimentação e teste de hipótese, 1. A presença e a quantidade de predadores.
e do item 1 da seção Rumo ao Ensino Médio.
2. Na lagoa existiam lebistes em diferentes fases de de-
Se tiver tempo e quiser apresentar outros exemplos, senvolvimento e, portanto, de diversos tamanhos. Na
existe outro experimento, também com peixes lebistes, presença dos predadores, observou-se que lebistes que
também chamados de guppy, que pode ser encontrado apresentavam maturidade sexual precocemente – e,
em um link do Instituto de Biociências da USP – Seleção portanto, eram menores – apresentavam vantagens
artificial em laboratório –, indicado na seção Sugestão adaptativas, se reproduziam mais cedo e geravam des-
de material para consulta. Siga passos semelhantes aos cendentes em um período de tempo mais curto que
desenvolvidos anteriormente. os lebistes grandes. Em outras palavras, os predadores
Finalize a aula com o item 2 da seção Rumo ao En- não provocaram a diminuição do tamanho dos lebistes,
sino Médio e a orientação da tarefa 1 da seção Em casa. mas eliminaram os animais maiores, pois estes tinham
menos chances de se reproduzir e gerar descendentes. Manual do Professor
Outros exemplos de seleção (página 77)
Atividade 2 (página 77)
Inicie a aula perguntando aos estudantes se eles conhe-
cem espécies que apresentam diferenças bem marcantes A predação maior que existe no Sul pode ter sele-
entre machos e fêmeas. É possível que eles se lembrem cionado os caracóis que viviam em cima, na costa, fora
do pavão (um de nossos exemplos), de leões (a juba do do alcance de muitos predadores. No Norte, a pressão
leão) e de espécies de aves, tais como o tiziu (Volatinia seletiva pode não ter sido tão forte a ponto de excluir
jacarina), o chopim (Molothrus bonariensis) e a galinha. plenamente os caracóis não adaptados a viver na costa.

37
8
Atividade 3 (página 78) Rumo ao Ensino Médio (página 82)
O dimorfismo sexual é um caráter que possibilita a 1. Alternativa A. A alternativa b está incorreta, pois os
escolha de um parceiro com características “melhores” seres vivos não criam adaptações, elas surgem ao
do ponto de vista do indivíduo que faz a seleção, au- acaso e são selecionadas pelo meio. A alternativa
mentando as chances de gerar descendentes com essas c está incorreta, pois usar ou deixar de usar uma
mesmas características. parte do corpo não é uma característica transmitida
às gerações seguintes. A alternativa d está incor-
Atividade 4 (página 79) reta, pois o ambiente não induz a variabilidade.
A alternativa e está incorreta, pois características
1. Por meio de cruzamentos preferenciais é possível induzidas pelo ambiente não são necessariamente
separar, no exemplo dos pombos, indivíduos cujas transmitidas aos descendentes.
características sejam interessantes para o ser huma-
no, colocando para cruzamento sempre aqueles que
apresentam tal característica. Desse modo, pode-se Professor(a): algumas características do ambien-
chegar aos indivíduos que concentram essas diferen- te, como o Sol, outros tipos de radiação e algumas
ças e criar uma nova raça. substâncias químicas, podem induzir modifica-
2. Separavam os maiores grãos de cada espiga para ção no material genético dos seres vivos. Essas
plantá-los na estação seguinte e, da espiga gerada modificações só terão importância evolutiva se
nesse plantio, retiravam-se os maiores grãos também, provocarem mudanças nas células de reprodução,
os gametas. Caso contrário, não serão passadas
e assim por diante durante várias gerações, até chegar
às gerações seguintes.
à espiga que conhecemos hoje, com muitas sementes
grandes e suculentas. A cada estação, as plantas ori-
ginadas das sementes se reproduziam, mantendo-se 2. Alternativa C. A alternativa a está incorreta, pois a
essas características em seus descendentes. característica cauda longa foi alterada artificialmente.
A alternativa b está incorreta, pois não há referên-
Em casa (página 81) cias sobre a fertilidade do macho, apenas que mais
machos com caudas longas obtiveram mais sucesso
1. As bactérias que sobrevivem na cultura B são capa- reprodutivo. A alternativa d está incorreta, pois o
zes de metabolizar a lactose e surgiram por mutação gráfico traz a informação contrária, um maior suces-
aleatória a partir de ancestrais que não tinham essa so reprodutivo. A alternativa e está incorreta, pois
capacidade. não há referências sobre resistência dos machos de
cauda longa a microrganismos nem sugestão de que
2. Os cães domésticos passaram por uma seleção arti- os machos nessa condição tiveram uma diminuição
ficial. Por meio de cruzamentos, foram selecionadas de mortalidade por doenças.
as características desejadas para cada raça. Já os cães
selvagens passam por seleção natural e apenas os 3. Alternativa B. A alternativa a está incorreta, pois
mais aptos sobrevivem e se reproduzem, o que di- o uso de agrotóxico não desenvolve a resistên-
minui a variedade destes. cia, apenas pode selecionar os organismos que já
apresentam essa resistência. A alternativa c está
3. a) Não, a praga não desenvolve resistência. Por mu-
incorreta, pois não há intencionalidade dos seres
tação, algumas apresentam resistência e têm mais
vivos à adaptação. A alternativa d está incorreta,
chance de sobreviver, reproduzir-se e deixar des-
pois não há sugestão de dependência por parte das
cendentes com a mesma característica.
ervas daninhas. A alternativa e está incorreta, pois
o agrotóxico não induz mutações.
Professor(a): é sempre muito importante destacar
que não há intencionalidade na Evolução, ela acon-
tece ao acaso. Professor(a): mais uma vez, as alternativas procu-
ram confundir o estudante sugerindo que fatores
ambientais geram a resistência ou a característica
b) Sim, porque preserva os predadores e os parasitas que ofereça uma vantagem adaptativa ao ser vivo;
que são inimigos naturais das pragas, estratégia fique atento(a).
utilizada para o controle biológico.
38
8 Ensino Fundamental
Sugestão de material para consulta

Na estante
• MEYER, D.; EL-HANI, C. N. Evolução, o sentido da Biologia. São Paulo: Unesp, 2005.
• MONTEIRO, A. B. Biogeografia evolutiva: a seleção sexual e o índice de predação como fatores evolutivos dos
lebistes (Poecilia reticulata) em comunidades íctias. Rio Claro: Unesp, 2013.
• SICK, H. Ornitologia brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
• SILVA, D. P. Canis familiaris: aspectos da domesticação (origem, conceitos, hipóteses). Brasília: UnB, 2011.

Na internet
• ALMEIDA, A. M. Misturar é preciso!. Darwinianas – a ciência em movimento, 18 abr. 2017. Disponível em:
<https://darwinianas.com/2017/04/18/misturar-e-preciso/>.
• KELLNER, A. Cristas, chifres e seleção sexual. Ciência Hoje On-line. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.
br/colunas/cacadores-de-fosseis/cristas-chifres-e-selecao-sexual>.
• SELEÇÃO artificial em laboratório. Portal Entendendo a Evolução – Universidade de São Paulo (USP). Disponível
em: <http://www.ib.usp.br/evosite/evo101/IVB1bInthelab.shtml>.
• SELEÇÃO natural em funcionamento: um estudo de caso. Portal Entendendo a Evolução – Universidade de São
Paulo (USP). Disponível em: <http://www.ib.usp.br/evosite/evo101/IIIE1aTegula.shtml>.
Acesso em: 25 fev. 2019.

Manual do Professor

39
8
15. ESPECIAÇÃO – O CASO DOS BUGIOS NA
AMÉRICA DO SUL

AULAS 43, 44 e 45

Neste Módulo, estudaremos o conceito de especiação geográfica ou alopátrica, por meio da história evolutiva
de bugios e de um grupo de aranhas sul-americanas. Também vamos rever e aprofundar uma série de conceitos
relativos a evolução e especiação estudados em anos anteriores, bem como a elaboração e o teste de hipóteses
feitas por cientistas.

Objetivos
• Compreender e aplicar o conceito biológico de espécie.
• Entender o sistema de classificação adotado pela sistemática filogenética.
• Identificar as relações de parentesco entre grupos em uma árvore filogenética ou cladograma.
• Entender o processo mais comum de formação de novas espécies: a especiação geográfica (ou alopátrica) e
conhecer o processo de especiação simpátrica.
• Compreender a história evolutiva dos bugios (Alouatta spp.).
• Compreender a história evolutiva de um grupo de aranhas sul-americanas (Ericaella spp.).
• Elaborar e levantar hipóteses científicas e identificar em quais casos elas podem ser refutadas ou aceitas.

Roteiro de aula (sugestão)

Aula Descrição Anotações


Retorno da tarefa 3 do Módulo 14
Para entender a especiação
43 Atividade 1
Rumo ao Ensino Médio (item 1)
Orientações para a tarefa 1 (Em casa)
Retorno da tarefa 1
Os bugios (Alouatta spp.) e a especiação
44 Atividade 2
Rumo ao Ensino Médio (item 2)
Orientações para a tarefa 2 (Em casa)
Retorno da tarefa 2
O caso das aranhas, também separadas pelos Andes
45 Atividade 3
Rumo ao Ensino Médio (item 3)
Orientações para a tarefa 3 (Em casa)
Observa•‹o: Os testes da seção Rumo ao Ensino Médio podem ser trabalhados em sala ou indicados como tarefa para casa.

40
8 Ensino Fundamental
Noções básicas • O mesmo modelo de especiação alopátrica dos bu-
gios pode ser aplicado a um grupo de aranhas sul-
• O conceito biológico de espécie define como or- -americanas do gênero Ericaella. Elas também foram
ganismos da mesma espécie aqueles que cruzam e
separadas durante o soerguimento da cordilheira dos
conseguem produzir descendentes férteis, em con-
Andes e formaram novas espécies.
dições naturais.
No sistema de classificação de Lineu, a espécie é • Não existe verdade absoluta em Ciência. São formula-
• das hipóteses e essas devem ser testadas. Entretanto,
identificada por uma nomenclatura binomial e deve
não é possível provar que uma hipótese é verdadeira,
receber algum tipo de destaque no texto, normalmente
mas, sim, que ela é falsa. Os cientistas buscam refutar
em itálico. Nesse sistema, o nome científico de cada
uma hipótese e, se não conseguem, os resultados
espécie deve ser composto de duas palavras (latinas ou
fornecem evidências que permitem apoiar a hipótese,
latinizadas), sendo a primeira um substantivo (gênero)
mas sem considerá-la definitiva.
e a segunda um adjetivo (que caracteriza a espécie).
• A sistemática filogenética busca entender as relações
evolutivas entre grupos de seres vivos de diferentes Estratégias e orientações
categorias taxonômicas. Essas relações podem ser re- Este Módulo se baseia em parte nos conhecimentos
presentadas em árvores filogenéticas ou cladogramas. prévios dos alunos, especialmente o que foi estudado no
• Nas árvores filogenéticas, as bases dos ramos repre- 7º ano. Para engajá-los logo de início, ou mesmo para
sentam os ancestrais comuns àqueles ramos. Quando finalizar a sequência de aulas, existe a possibilidade de
dois grupos compartilham o mesmo ancestral recente uma atividade lúdica que mostra como funciona a seleção
(o mesmo nó), eles são considerados mais aparen- natural em populações isoladas geograficamente. Veja a
tados (grupos irmãos). seção Sugestão de atividade extra (O jogo dos clipsita-
• Todas as espécies viventes tiveram um ancestral co- cídeos: uma simulação do processo de seleção natural
mum, mais ou menos remoto. Quanto mais recente como estratégia didática para o ensino de evolução).
for o ancestral comum, mais próximo será seu grau
de parentesco, e quanto mais distante for o ancestral Para entender a especiação (página 84)
comum, mais remoto é seu grau de parentesco.
• Os grupos naturais são aqueles que podem ser de- Nesta aula recomenda-se recordar o que foi estudado
finidos por meio da existência de um ancestral em em Ciências no 7º ano, nos Cadernos 1 e 2, Módulos 4,
comum. 5 e 7. Uma boa maneira de iniciar a aula seria fazer um
• No modelo de especiação geográfica ou alopátrica, levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos a
uma espécie é separada em populações menores respeito de conceitos já trabalhados, como: o conceito
por uma barreira geográfica que interrompe o fluxo biológico de espécie; os sistemas de classificação dos
gênico entre elas. Com o passar do tempo, essas seres vivos (sistema proposto por Lineu e as categorias
populações acumulam diferenças; assim, caso elas taxonômicas); as árvores filogenéticas e sua interpretação;
venham a se encontrar novamente, não poderão e a especiação geográfica. Como se trata de uma aula
mais reproduzir entre si, ocorrendo, portanto, a baseada em recordação e aprofundamento de conceitos,
especiação. a condução mais diretiva pelo professor pode ser uma
• No modelo de especiação simpátrica não há uma boa estratégia. No entanto, recomenda-se que os exer-
barreira geográfica que separe as populações da cícios sejam feitos em duplas, dando a oportunidade de
espécie. A especiação ocorre por haver uma barreira os alunos debaterem.
ecológica (exploração de diferentes nichos ecoló- Ao discutir a definição de espécie biológica, questione
gicos), comportamental (preferência pelo período os estudantes sobre os limites das definições em Ciência.
diurno ou noturno), morfológica ou qualquer outra Ainda nesse questionamento, proponha que os estudantes Manual do Professor
que seja suficiente para interromper o fluxo gênico imaginem o cruzamento entre cães das raças chihuahua
entre as populações do mesmo local. e dogue alemão. Esses animais são da mesma espécie,
• A hipótese da história evolutiva dos macacos bugios porém foram isolados reprodutivamente por causa da
sugere que havia uma única espécie ancestral vivendo seleção artificial. Entretanto eles podem, potencialmente,
na América do Sul e o soerguimento da cordilheira cruzar e gerar descendentes férteis. Leões e tigres também
dos Andes isolou suas populações. Assim, houve podem cruzar e deixar descendentes férteis, porém esse
especiação alopátrica que originou as diferentes cruzamento só foi visto em condições de cativeiro, como
espécies atuais. zoológicos. Como não há registro desse cruzamento em

41
8
ambiente natural, leões e tigres não são considerados da que vem sendo trabalhado em Ciências desde o 6º ano,
mesma espécie. Relembre ainda que as mulas são resulta- no Caderno 1, Módulo 1. Os exercícios propostos vão
do do cruzamento entre égua e burro e são animais bas- trabalhar exatamente o aprofundamento do caso dos
tante apreciados para o transporte de carga, mas estéreis; bugios e a questão da “verdade absoluta” em Ciência.
portanto cavalos e burros não são considerados da mesma Uma roda de conversa pode ser realizada ao final
espécie. Como fazer para aplicar o conceito biológico de dessa aula para debater a ideia, comumente usada pelos
espécie a organismos nos quais não conhecemos repro- meios de comunicação, de que determinado produto tem
dução sexuada, como alguns tipos de bactéria? Isso é im- “eficácia comprovada cientificamente”, usando a Ciência
portante para os alunos perceberem que a Ciência não é de forma inapropriada. Não se trata aqui apenas de mos-
algo pronto, mas um fazer humano que sofre modificações trar como é o pensamento científico, no qual não existem
à luz de novos conhecimentos. Além disso, a Ciência não verdades absolutas, tampouco definitivas. Também se
tem respostas prontas, sempre precisa de ajustes. quer mostrar aos alunos os limites da Ciência e como
No 7º ano, os alunos aprenderam que as filogenias esta pode ou não pode ser empregada. Assim, espera-se
são as formas de representação das relações de paren- formar cidadãos que façam uma leitura questionadora
tesco de um grupo de organismos. Neste Módulo, esse da realidade e das “verdades” que são veiculadas pelos
conceito será aprofundado para o de árvores filogenéticas meios de comunicação.
e cladogramas, explicados no texto. A tarefa 2 da seção Em casa (página 96) reforça a
Quanto à especiação, o mesmo modelo de especiação concepção de especiação alopátrica ao ser aplicada a
geográfica (alopátrica) utilizado no 7º ano é recupera- outro exemplo. O item 2 da seção Rumo ao Ensino Mé-
do para facilitar o andamento da aula. Aproveite para dio (página 97) traz uma questão de múltipla escolha em
introduzir o modelo de especiação simpátrica, que é que o aluno terá que aplicar mais uma vez o conceito
muito utilizado para explicar a diversificação existente de especiação e as condições necessárias para ocorrer
em moscas-das-frutas. tal fenômeno.
Ambos os exercícios da Atividade 1 (página 89) são
de vestibulares, para que os alunos fiquem ainda mais fa- O caso das aranhas, também separadas pelos
miliarizados com esse tipo de questão, além dos que vão Andes (página 92)
encontrar na seção Rumo ao Ensino Médio (página 96).
O item 1 da Atividade 1 e o item 1 da seção Rumo Novamente, trata-se de uma aula em que é reco-
ao Ensino Médio trazem interpretações de cladogramas mendado o trabalho em duplas para o estudo de mais
hipotéticos. Esse mesmo tipo de exercício pode ser feito um caso de especiação alopátrica, agora das aranhas do
com filogenias de verdade. Se achar interessante, recupe- gênero Ericaella, estudadas por um grupo de pesquisa-
re uma filogenia nos Cadernos 2, 3 e 4 do 7º ano e peça dores brasileiros. Peça que os alunos leiam e resolvam
aos alunos que façam o mesmo tipo de análise. O item os exercícios da Atividade 3 (página 94). O primeiro
2 da Atividade 1 e a tarefa 1 da seção Em casa trazem exercício requer interpretação da árvore filogenética apre-
a aplicação do modelo de especiação alopátrica. Esses sentada para o grupo de aranhas. O segundo exercício é
dois exercícios são interessantes para conectar com o uma questão de múltipla escolha de vestibular, em que
assunto da aula seguinte, por tratarem do mesmo tipo de os alunos devem interpretar mais um cenário no qual é
especiação que ocorreu com os bugios (Alouatta spp.). possível ocorrer especiação alopátrica.
A tarefa 3 da seção Em casa (página 96) traz uma
questão de vestibular em que o exemplo trabalhado em
Os bugios (Alouatta spp.) e a especiação
aula é o mote da questão. O item 3 da seção Rumo ao
(página 90)
Ensino Médio (página 97) traz uma questão de múltipla
Nesta aula será estudado o caso da história evolutiva escolha em que o aluno tem de interpretar uma árvore
dos bugios (Alouatta spp.). Como é um caso relativamen- filogenética de macacos antropoides, assunto trabalhado
te simples de entender depois da aula sobre especiação também no 7º ano, Caderno 4, Módulo 32.
alopátrica, uma boa estratégia é reunir os alunos em Como fechamento do Módulo, pode-se ler o relato
duplas e pedir que eles leiam esse item e respondam do experimento clássico feito por Diane Dodd em 19891
aos exercícios da Atividade 2 (página 91). Mesmo o item (ver a seção Texto de apoio ao professor, ao final des-
da página 91 (Então, a hipótese está correta?) é um tema te Módulo), em que simula a especiação alopátrica em
1
DODD, D. M. B. Reproductive isolation as a consequence of adaptive divergence in Drosophila melanogaster. Evolution, 43, p. 1308-1311, 1989.

42
8 Ensino Fundamental
moscas-das-frutas (Drosophila melanogaster). Também 2. O fluxo gênico é a troca de genes dentro de uma
é recomendável apresentar o esquema do experimento população ou entre populações da mesma espécie.
para os alunos, questionando quais as limitações do estu- No caso dos bugios da América do Sul, com o soer-
do, como o fato de as condições do experimento serem guimento da cordilheira dos Andes, as populações
muito diferentes das encontradas na natureza. ancestrais ficaram isoladas, o que impediu o fluxo
gênico. Mutações fixadas em uma das populações
Respostas e comentários não foram passadas para a outra, e vice-versa. Com
o passar do tempo, essas variações, causadas pelas
Atividade 1 (página 89) diferentes pressões ambientais e pelo isolamento ge-
1. Alternativa E. Todas as outras afirmações estão incor- nético, acumularam-se e as populações se tornaram
retas. A afirmação I está incorreta, pois as espécies X espécies distintas.
e Z evoluíram em eventos distintos e não é possível
afirmar qual ocorreu antes pelo cladograma. A afir- Professor(a): esse exercício exige que o aluno
mação II está incorreta não apenas pela afirmação resgate o conceito de mutação já trabalhado em
“mais evoluídas” ser incorreta, mas porque é impos- Módulos anteriores, como os Módulos 6, 8 e 13.
sível, pela configuração do cladograma, identificar Retome-o antes dos exercícios, se julgar necessário.
quais espécies são mais diferenciadas. A afirmação
III está incorreta, pois a espécie W é mais próxima
evolutivamente à espécie X e a espécie Y é mais Atividade 3 (página 94)
próxima à espécie Z.
1. a) Três, representados pelos nós 1, 2 e 3.
2. a) As modificações observadas nas populações iso-
ladas geograficamente são devidas ao acúmulo b) O nó 1, pois ele indica a separação do ancestral
de diferenças genéticas, resultantes de mutações comum a todas as espécies que vivia ainda em
e seleção natural. Cada ambiente terá pressões de uma área não separada pela cordilheira do Andes.
seleção diferentes que resultarão em características c) A espécie Ericaella florezi existe no mínimo há
distintas fixadas nas populações. O isolamento 10 milhões de anos, pois estima-se que o final do
geográfico impede o fluxo gênico entre as popu- evento de soerguimento da cordilheira dos Andes
lações impossibilitando que as novas variações se deu há 10 milhões de anos (no máximo há 23
(genéticas, morfológicas, ecológicas, etc.) sejam milhões de anos, considerando o início do soergui-
difundidas nas duas populações. mento). Pela árvore filogenética, percebe-se que
b) Se indivíduos das duas populações se encontra- houve dois eventos de especiação. O primeiro foi
rem e não puderem se reproduzir, ou produzirem quando surgiu a cordilheira do Andes, e o segun-
descendentes estéreis, pode-se dizer que houve do criou as quatro espécies mostradas na árvore
isolamento reprodutivo, ou seja, as populações filogenética.
representam duas espécies distintas. Isso significa 2. Alternativa D. O canal do Panamá isola populações do
que passaram pelo processo de especiação. lado esquerdo e direito, interrompendo o fluxo gêni-
co, podendo acumular diferenças genéticas e, assim,
desenvolver mecanismos de isolamento reprodutivo. A
Atividade 2 (página 91)
afirmação a está errada, pois o isolamento das popula-
1. Para tal verificação, seria necessário acompanhar o ções, devido à construção do canal, leva à diminuição
encontro das populações e perceber se indivíduos da variabilidade genética (aumentando a possibilidade
das duas populações cruzariam entre si e produziriam de endocruzamentos). A afirmação b está errada, pois
descendentes férteis. Se isso ocorresse, as populações o fluxo gênico nos ambientes aquáticos não se altera. Manual do Professor
voltariam a ser consideradas da mesma espécie. Ou O canal continua permitindo que as espécies aquá-
seja, as diferenças acumuladas ao longo do tempo de ticas se encontrem e reproduzam, mantendo dessa
separação em cada população não seriam suficientes forma o fluxo gênico. A afirmação c está errada, pois
para criar duas novas espécies. No entanto, se elas não há mecanismos de seleção artificial envolvidos
não pudessem se reproduzir e gerar descendentes no funcionamento do Canal do Panamá (não há um
férteis, então o processo de especiação estaria carac- direcionamento intencional de escolha de certas ca-
terizado e poderiam ser consideradas duas espécies racterísticas). A afirmação e está errada, pois o canal
diferentes, agora vivendo no mesmo local. por si só não é um fator que induz mutações.

43
8
e sua prole tem capacidade de reprodução, eles per-
Professor(a): alguns dos mecanismos que apare- tencem à mesma espécie. A alternativa a está errada,
cem nas alternativas não são tratados explicitamente pois barreiras ecológicas, como é o caso na especia-
no Módulo, como a seleção artificial, por isso vale ção simpátrica, também servem como mecanismo de
a pena um reforço sobre eles antes de os alunos isolamento reprodutivo para a formação de novas
fazerem o exercício. espécies. A alternativa b está errada, pois o isolamen-
to reprodutivo é o principal evento que caracteriza a
formação de uma nova espécie. A alternativa c está
Em casa (página 95) errada, pois as variações climáticas em função das
estações do ano são mudanças a que os organismos
1. Com o isolamento causado pelo istmo, duas popula-
estão adaptados e fazem parte de seu ciclo de vida.
ções foram separadas. Ao longo do tempo, essas po-
A alternativa d está errada, pois a formação de novas
pulações foram se modificando e se diferenciaram em
espécies se dá em uma população de uma espécie
duas espécies distintas. O istmo causou a separação
ancestral, e não de famílias ancestrais, o que impli-
física necessária para que o processo de especiação
caria especiação a partir de espécies distintas.
alopátrica ocorresse.
3. Alternativa D. Segundo a árvore filogenética mostrada
2. A especiação mostrada na figura é a geográfica (alo-
na questão, o gorila se diferenciou primeiro do que o
pátrica). Uma barreira geográfica (rio) surgiu separan-
chimpanzé/bonobo/humano. Assim, é correto afirmar
do a espécie em duas populações (pode ser mais de
que o ser humano é mais próximo filogeneticamente
duas), isolando-as geneticamente. Essas populações
do chimpanzé do que do gorila. A alternativa a está
acumularam diferenças ao longo do tempo devido
errada, pois o chimpanzé e o bonobo são espécies
à seleção natural e a diferentes pressões ambientais,
atuais. Nenhum ancestral do ser humano, ou de qual-
originando duas (ou mais) espécies novas.
quer espécie, possui espécimes vivos. A alternativa b
3. a) Porque a cordilheira dos Andes é uma barreira está errada, pois todos os seres vivos dessa árvore
geográfica e seu surgimento provocou a fragmen- filogenética fazem parte de um grupo natural, tendo
tação da comunidade original em pequenos gru- um ancestral comum. Portanto, todos são aparentados.
pos (populações isoladas), favorecendo o processo A alternativa c está errada, pois o grupo mais recente
de especiação. a se diversificar foi o que deu origem ao chimpanzé e
b) Diversificação genética e fixação de caracteres, ao bonobo. A alternativa e está errada, pois os macacos
influenciadas por pressões ambientais, provocaram antropoides com maior parentesco com o ser humano
isolamento reprodutivo, que caracteriza a separa- são os chimpanzés e os bonobos.
ção das espécies.
Professor(a): a alternativa e exige que o aluno
Rumo ao Ensino Médio (página 96) recorde o que estudou sobre Primatas no 7º ano
1. Alternativa B. O primeiro grupo a se diferenciar foi o I, em Ciências, Caderno 4, Módulo 32. Por isso, foi
portanto sua especiação foi necessariamente anterior ao feito um boxe de glossário na questão para facilitar
surgimento dos outros três grupos. A alternativa a está essa recordação.
errada, pois a espécie III compartilha o mesmo ances-
tral comum a todas as espécies, na base do cladograma.
A alternativa c está errada, pois o evento mais recente Sugestão de atividade extra
de especiação se deu com a formação não apenas da O jogo dos clipsitacídeos: uma simulação do
espécie IV, mas também da espécie III. A alternativa d processo de seleção natural como estratégia
está errada, pois o cladograma é composto de três nós,
didática para o ensino de evolução
e deles se desenvolvem ramos distintos. A alternativa
e está errada, pois os grupos I e II não são grupos- Esse jogo é prático e mostra de maneira lúdica para os
-irmãos; o ancestral que compartilham em comum é alunos como funciona a especiação alopátrica. Diferentes
compartilhado por todas as espécies do grupo. pressões ambientais (disponibilidade de alimentos) levam
2. Alternativa E. Um dos principais requisitos para a à diferenciação de populações que estejam isoladas geo-
caracterização de uma espécie é a capacidade de graficamente. Segue a descrição do jogo segundo seus
reprodução com descendentes férteis. Assim, se indi- autores. O material pode ser acessado pelo site indicado
víduos de duas populações distintas se reproduzem na fonte.
44
8 Ensino Fundamental
Este trabalho descreve a aplicação do jogo dos Clip- afetou certos genes envolvidos no comportamento
sitacídeos como estratégia didática para promover a de reprodução. Este é o tipo de resultado que seria
compreensão de conceitos estruturantes da teoria da de se esperar, se a especiação alopátrica fosse um
seleção natural, no contexto de uma sequência didática modo típico de especiação.”
sobre ensino de evolução. Este jogo simula mudança po-
Evidências para especiação – Entendendo a evolução –
pulacional decorrente de variação na oferta de alimen- Instituto de Biociências – USP. Disponível em: <http://www.ib.usp.
tos, num contexto de separação geográfica e isolamento br/evosite/evo101/VC1fEvidenceSpeciation.shtml>.
reprodutivo de uma população inicial de pássaros com Acesso em: 25 fev. 2019.
variação fenotípica em seus tamanhos de bicos. Além
de descrever o jogo, este artigo traz recomendações
metodológicas para sua aplicação, bem como alguns
resultados pedagógicos alcançados em sala de aula.
Fonte: REIS, V. P. G. S.; CARNEIRO, M. C. L.; AMARANTE, A.
L. A. P. C.; ALMEIDA, M. C.; SEPÚLVEDA, C. A. S.; EL-HANI,
C. N. O jogo dos clipsitacídeos: uma simulação do processo
de seleção natural como estratégia didática para o ensino de
evolução. Disponível em: <http://www.cienciaemtela.nutes.ufrj.br/
artigos/0602sa01.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2019.

Texto de apoio ao professor


Alimento à base de maltose Alimento à base de amido
Evidências para a especiação
“[...] Resultados Experimentais:  Os primeiros
passos de especiação têm sido produzidos em diver- Muitas gerações passam
sos experimentos de laboratório envolvendo isola-
mento “geográfico”. Por exemplo, Diane Dodd exami-
nou os efeitos do isolamento geográfico e seleção nas
moscas-das-frutas. Ela tirou as moscas-das-frutas
de uma única população e dividiu-as em popula-
ções isoladas morando em gaiolas para simular o
isolamento geográfico. Metade da população vivia
em uma alimentação baseada em maltose e a ou-
tra metade vivia em uma alimentação baseada em
amido. Depois de muitas gerações, as moscas foram
testadas para saber com quais moscas elas preferem
se acasalar. Dodd descobriu que algum tipo de isola-
mento reprodutivo ocorreu como resultado do isola-
mento geográfico e seleção por diferentes fontes de
alimentos nos dois ambientes: “moscas da maltose” O experimento de Diane Dodd com moscas-das-frutas sugere que
preferiram outras “moscas da maltose” e “moscas do populações isoladas em diferentes ambientes (por exemplo, com
amido” preferiram outras “moscas do amido”. Embora diferentes fontes de alimentos) podem levar ao início de um isola-
não possamos ter certeza, essas diferentes preferên- mento reprodutivo. Esses resultados são consistentes com a ideia
cias provavelmente existiram porque a seleção por de que o isolamento geográfico é um importante passo para alguns
utilização de diferentes fontes de alimentos também eventos de especiação.

Sugestão de material para consulta


Manual do Professor
Na estante Na internet
• CORTÉS-ORTIZ, L. et al. Molecular systematics and • Modos de especiação. Instituto de Biociências da Uni-
biogeography of the Neotropical monkey genus, versidade de São Paulo. Disponível em: <www.ib.usp.
Alouatta. Molecular Phylogenetics and Evolution, br/evosite/evo101/VC1aModes Speciation.shtml>.
v. 26, p. 64-81, 2003. • Biodiversidade da Amazônia explicada. Disponível
• HOOM, C. et al. Amazonia through time: Andean em: <http://cienciahoje.org.br/coluna/biodiversida
uplift, climate change, landscape evolution and bio- de-da-amazonia-explicada/>.
diversity. Science, v. 330, p. 927-931, 2010. Acesso em: 25 fev. 2019.

45
8
16. A SELEÇÃO NATURAL EM AÇÃO

AULAS 46, 47 e 48

Neste Módulo, estudaremos sobre melanismo industrial, um caso clássico sobre seleção natural observado em mari-
posas de Manchester, na Inglaterra. A predação de mariposas por pássaros é o principal fator ambiental que seleciona os
indivíduos adaptados a determinadas condições ambientais. Na sequência, complementaremos este estudo fazendo uma
simulação do processo de seleção natural atuando sobre uma população de mariposas fictícias confeccionadas pelos alunos.

Objetivos
• Compreender o caso do melanismo industrial como um exemplo clássico de observação da seleção natural,
conhecendo seus questionamentos históricos e compreendendo como os dados obtidos corroboraram a conti-
nuidade dessa hipótese como válida.
• Correlacionar o processo de predação com o de seleção natural.
• Desenvolver a habilidade de confeccionar uma simulação (montagem de mosaicos e mariposas) desenvolvendo
uma atividade prática que exemplifique o processo de seleção natural.

Roteiro de aula (sugestão)


Aula Descrição Anotações
Retorno da tarefa 3 do Módulo 15
O caso das mariposas de Manchester
46 Atividade 1
Rumo ao Ensino Médio (item 1)
Orientações para a tarefa 1 (Em casa)
Retorno da tarefa 1
47 Atividade experimental (procedimentos 1 e 2, teste dos
padrões de camuflagem e preparação para o jogo)

Atividade experimental (hora do jogo e registrando os


resultados)

48 Atividade 2
Rumo ao Ensino Médio (itens 2 e 3)
Orientações para a tarefa 2 (Em casa)
Observação: Os testes da seção Rumo ao Ensino Médio podem ser trabalhados em sala ou indicados como tarefa para casa.

Noções básicas
• O melanismo industrial observado nas mariposas de Manchester, na Inglaterra, é um exemplo clássico de seleção
natural. A forma melânica da mariposa Biston betularia era menos predada pelas aves que a forma clara, mais
46
8 Ensino Fundamental
evidente nos troncos escurecidos pela fuligem no industrial, pois é possível que já tenham ouvido falar dele.
período da Revolução Industrial, iniciado no século Anote no quadro de giz as informações que trouxerem e
XVIII e intensificado no século XIX. retorne a elas no final da aula para checagem.
• Recentes estudos genéticos e experimentos feitos na A tarefa 1 da seção Em Casa (página 105) traz dados
natureza com observação de predação corroboram dos experimentos de Michael Majerus, analisados por
a hipótese do melanismo industrial como sendo um Lawrence M. Cook e colaboradores. Trabalhar com dados
caso de seleção natural. concretos de pesquisas científicas é um bom contraponto
• A predação é uma forma de selecionar, ao longo do com a simulação que será feita na aula seguinte. Tais dados
tempo, os indivíduos mais adaptados à sobrevivência ajudam a fundamentar a importância e a pertinência da
em um ambiente (seleção natural). simulação. Vale ressaltar que, no aprendizado de Ciências,
• A camuflagem é uma forma de os organismos se o lado lúdico desse tipo de atividade ajuda bastante no
esconderem no ambiente, evitando, por exemplo, a envolvimento dos alunos. O item 1 da seção Rumo ao
predação. Ensino Médio (página 106) traz a questão de múltipla es-
• Na simulação da predação de mariposas por pássaros, colha de um vestibular em que uma alternativa pode ser
pode-se verificar que as mariposas mais bem camu- desconhecida para os alunos, por isso incluímos um boxe
fladas foram encontradas menos vezes, logo estariam de glossário para facilitar a execução. A mesma dificuldade
menos sujeitas a ser devoradas. Ou seja, elas seriam de entendimento de duas alternativas com conceitos novos
os organismos selecionados naquele ambiente, e isso acontece no exercício 2 da Atividade 1 (página 100), e
demonstra como ocorre a seleção natural. nesse caso optamos por não incluir suas definições junto
ao exercício para não desviar demais do tema da aula. No
Estratégias e orientações entanto, na resposta oferecida neste Manual, apresentamos
exemplos que vão ajudar na conceituação dos fenômenos
Antes da segunda aula, prepare a turma para uma aos estudantes (irradiação e convergência).
aula de Atividade experimental de simulação. Esse tipo de
atividade tem função explicativa, didática, mas não com-
Atividade experimental – Jogo das mariposas
probatória, como as atividades experimentais simples.
(página 101)
A simulação baseia-se no trabalho de Stebbins e Gill-
fillan (1963) e exige habilidades manuais (recortes com A segunda aula destina-se a preparar o material para
tesoura e colagens). Não se esqueça de providenciar os simular (por meio de um jogo) a seleção natural de
materiais necessários para a realização da atividade. mariposas. Sugere-se que a simulação seja feita em du-
Vamos propor para essas aulas uma modificação no plas, mas, se a turma for pequena, pode ser feita indivi-
encaminhamento padrão para as atividades. Isso porque dualmente. Sugerimos que não ultrapasse 10 duplas ou
a simulação exige um tempo de preparação (cerca de grupos para que não se prolongue muito a etapa de
uma aula) e de realização (uma aula) que não permite anotar os resultados na tabela. Trabalhando em pares, dá
margem para correção de tarefa da seção Em casa no para reduzir o tempo a ser despendido na avaliação dos
início das aulas (terceira aula, em especial) e para a esforços de camuflagem e na tabulação dos dados em
realização dos itens da seção Rumo ao Ensino Médio. classes maiores. Determine um número de identificação
No entanto, os alunos terão oportunidade de realizar os para cada dupla ou grupo.
itens da seção Rumo ao Ensino Médio, mas na forma de
tarefa na última aula deste Módulo.
Professor(a): caso não seja possível terminar a
montagem dos mosaicos na aula, indique como
O caso das mariposas de Manchester (página 98) tarefa para casa.
A primeira aula trata do exemplo clássico de seleção Manual do Professor
natural proporcionado pelo melanismo industrial identi- Na terceira aula será realizado o jogo das mariposas.
ficado nas mariposas de Manchester, desde o século XIX. É interessante que ele seja organizado numa sala com as
Como se trata da exposição de um estudo de caso, a es- cadeiras afastadas, ou num ambiente em que os alunos
tratégia de dividir a turma em duplas e pedir que realizem possam ficar equidistantes dos mosaicos nos quais eles
uma leitura e, posteriormente, os exercícios da Atividade 1 deverão localizar as mariposas. Ambientes como o pátio
(página 100) pode ser um bom encaminhamento. Antes de da escola ou a quadra podem ser bons recursos para
fazer tal divisão, faça um levantamento dos conhecimen- essa atividade, especialmente se as condições do clima
tos prévios dos alunos a respeito do caso do melanismo estiverem agradáveis.

47
8
Durante o jogo proceda da seguinte maneira: Não deixe de mencionar uma das conclusões impor-
1. Escolha um(a) aluno(a) para auxiliá-lo na atividade. tantes que deve ser tirada dessa atividade: as espécies
têm vantagem na manutenção da variabilidade; esse
2. Peça aos alunos que permaneçam em silêncio e com
é um fator essencial para a ocorrência de seleção
os olhos fechados.
natural em diferentes cenários.
3. Exponha a linha III do primeiro mosaico e solicite Por fim, oriente os alunos que a tarefa a ser executada
aos alunos que abram os olhos. Mostre o mosaico em casa para essa aula também inclui a realização dos
por dois segundos – tempo que eles terão para tentar itens 2 e 3 da seção Rumo ao Ensino Médio (página
localizar as mariposas – e, em seguida, esconda-o. 106), excepcionalmente por conta da natureza das
4. Instrua os alunos que identificaram (ou pensaram atividades desempenhadas nas duas últimas aulas
ter identificado) a mariposa na área A a levantarem deste Módulo.
a mão, depois repita as instruções para a área B e,
depois, para a C. Respostas e comentários
5. O aluno assistente deverá marcar no quadro de giz
quantos colegas identificaram a mariposa nas três Atividade 1 (página 100)
áreas. Em seguida, revele em qual das áreas a maripo- 1. A partir de 2012, já se constatava que a variedade clara
sa estava de fato. Oriente os alunos a anotar quantos de mariposas era mais abundante que a variedade
identificaram a posição correta da mariposa na tabela escura. Isso porque o ambiente menos poluído pos-
da página 104 (Registrando os resultados). sibilita que os troncos das árvores fiquem mais claros,
Uma possibilidade para evitar a troca de informação com liquens, facilitando a camuflagem das mariposas
entre os alunos seria eles próprios anotarem em uma mais claras e dificultando a das mais escuras, que,
folha à parte a área em que viram a mariposa e, de- neste caso, serão mais predadas. A diminuição drás-
pois, compartilharem suas observações. tica das aves predadoras diminuiria como um todo a
Caso não possua uma aula adicional para correção e predação, de modo que as variedades clara e escura
discussão do item 2 da seção Em casa (página 105), deveriam permanecer com a mesma proporção entre
execute-a na forma de roda de conversa ao final si, mas com um número maior de indivíduos, já que
desta aula. A correção pode ser realizada da seguinte a predação havia diminuído.
forma: prenda no quadro de giz todos os mosaicos
em ordem crescente de eficiência de camuflagem das 2. Alternativa C. O exemplo clássico é da seleção natu-
mariposas. Faça perguntas como: ral. Para ser de uma herança genética, deveria ser um
experimento em que fossem observadas características
• Por que algumas mariposas foram vistas mais herdadas em descendentes após cruzamentos. Para ser
facilmente? especiação, deveria ocorrer formação de novas espécies.
• Por que algumas mariposas ficaram tão bem es- Para ser irradiação adaptativa, deveriam se formar várias
condidas (camufladas)? espécies a partir de um mesmo ancestral. Para ser con-
• Se fossem mariposas de verdade, todas pertencen- vergência evolutiva, diferentes espécies deveriam evoluir
tes à mesma espécie, e todos os troncos em que em locais distintos e apresentar adaptações semelhantes
descansam permanecessem os mesmos, o que por conta de pressões seletivas também semelhantes.
poderíamos esperar depois de várias gerações em
relação à distribuição dos indivíduos de diferentes Professor(a): alguns dos mecanismos que apare-
colorações na população? cem nas alternativas não são tratados explicitamente
Pegue uma mariposa com baixa eficácia de ca- no Módulo ou mesmo na coleção, como a irradiação
muflagem e discuta quais mudanças no ambiente adaptativa e a convergência evolutiva. Explique-os
lhe seriam favoráveis. Depois que todos os alu- com antecedência para os alunos por meio de exem-
nos chegarem a uma conclusão sobre o ambiente plos simples, como o da irradiação adaptativa dos
mais favorável, pegue a mariposa que apresentou mamíferos depois da extinção dos dinossauros e o
maior sucesso de camuflagem e pergunte o que da convergência evolutiva de golfinhos, tubarões e
aconteceria com ela nesse novo ambiente. A ideia ictiossauros, grupos bem distintos de vertebrados
é conduzir ao entendimento de que o fato de que apresentam a forma hidrodinâmica do corpo
determinada característica ser vantajosa ou não semelhante, selecionada pelo ambiente aquático
depende também do ambiente no qual os orga- onde vivem ou de onde vieram (ictiossauro).
nismos estão inseridos.
48
8 Ensino Fundamental
Atividade experimental – Registrando Rumo ao Ensino Médio (página 106)
os resultados (página 104)
1. Alternativa A. A seleção natural pode ser evidencia-
O preenchimento da tabela dependerá dos resultados da pela sobrevivência de indivíduos de cor verde
obtidos pela turma. A seguir, um exemplo de resultados: clara e escura em detrimento dos vermelhos, que
morrem com o passar do tempo. A alternativa b está
Número de identificação incorreta, pois não se formaram novas espécies. A
1 2 3 … alternativa  c está incorreta, pois, para ser a teoria
sintética da evolução, teriam que estar representados
III A 8 C 4 3 ... ... os mecanismos genéticos envolvidos na sobrevivência
Linha do tronco dos sapos verdes. A alternativa d está incorreta, pois
II A 6 A 9 7 ... ...
(mosaico) a lei do uso e desuso não poderia ser evidenciada,
I B 9 B 8 6 ... ... já que a variabilidade de verdes permanece e teria
Total de vezes tendência a ter apenas um tom de verde (o mais
em que foram “usado”). A alternativa e está incorreta, pois, como
23 21 16 ...
identificadas a população permanece com variabilidade, não fica
corretamente evidente qualquer empecilho para a reprodução.
2. Alternativa C. As mariposas têm variações de ca-
Atividade 2 (página 105) muflagem, e as que melhor se escondem de seus
predadores sobrevivem por mais tempo e deixam
Esse total indica que o padrão menos visto é o mais mais descendentes, sendo, dessa forma, selecionadas
bem camuflado. Em relação aos padrões mais e menos naturalmente. A alternativa a está incorreta, pois o
vistos, a resposta é pessoal (da dupla). que se está dizendo se refere à teoria de Lamarck:
mariposas se camuflam por necessidade e transmitem
Em casa (página 105) suas características adquiridas a seus descendentes.
A alternativa b está incorreta, pois há confusão entre
1. a) As mariposas claras sobreviveram mais em 2004 as ideias de Lamarck (mariposas se camuflarem por
e menos em 2003. necessidade) e as de Darwin (seleção natural). A
b) As mariposas escuras foram mais predadas em alternativa d está incorreta, pois há confusão entre
2004 e menos em 2006. as ideias de Lamarck (mariposas transmitirem suas
características adquiridas aos seus descendentes) e
c) Em 2004, as aves claramente predaram mais a for-
as de Darwin (que até utilizou a ideia da herança
ma melânica do que a forma clara das mariposas.
do adquirido, mas não como base de sua teoria de
Isso pode ser evidenciado pelos dados numéricos
evolução por seleção natural) e também não deixa
(frequência de sobrevivência) e também pela am-
claro que as mariposas sobreviventes apresentavam as
plitude da diferença entre esses dados, a maior em
características de camuflagem de maneira despreten-
todos os anos amostrados.
siosa em relação à seleção natural; logo, poder-se-ia
d) Resposta pessoal. Espera-se que o aluno crie uma admitir também uma interpretação lamarckista. A al-
hipótese que seja plausível e falseável. Uma pos- ternativa e está incorreta, pois, apesar de a explicação
sibilidade seria: a taxa de sobrevivência da forma inicial estar correta (as que tinham a melhor camu-
melânica foi maior em 2006, contrastando com a flagem sobreviveram – induzindo a se pensar em
tendência em anos anteriores e em 2007. Em casos seleção natural), o restante da frase remete a ideias
como esse, normalmente o resultado inesperado lamarckistas, visto que a camuflagem viria de tanto as
tem maiores chances de ser atribuído a algum pro- mariposas pousarem em liquens (uma espécie de “uso Manual do Professor
blema na coleta dos dados do que a algum outro e desuso”) e esta seria uma característica adquirida
fator que pudesse interferir na predação pelas aves. que passaria aos seus descendentes.
2. Resposta pessoal. Espera-se que os alunos digam que 3. Alternativa B. Os troncos das árvores em áreas in-
os padrões de coloração das mariposas que tendem dustrializadas se tornam mais escuros e, nesse con-
a ser mais parecidos com os padrões ambientais (no texto, as mariposas mais claras ficam mais evidentes
caso, com três cores) sejam mais eficazes no processo aos predadores nesses troncos do que as mariposas
de camuflagem, pois os troncos também apresentam mais escuras, que se camuflam melhor nessa situa-
as mesmas três cores. ção, sendo menos predadas. A alternativa a está

49
8
incorreta, pois tanto as mariposas claras quanto as escuras são suscetíveis à poluição. A alternativa c está
incorreta, pois nela se propõe que as mariposas escuras se modificaram, ao longo da vida, por causa de uma
necessidade e passavam essa característica adquirida aos descendentes, o que é uma visão lamarckista. A
alternativa d está incorreta, pois não há essa diferenciação de preferência dos predadores em razão do sabor
das mariposas, assim como não há essa diferença de palatabilidade entre as asas das mariposas claras ou
escuras. A alternativa e está incorreta, pois não ocorre escurecimento de asas das mariposas escuras como
consequência da poluição, tampouco as mariposas claras são mais suscetíveis à poluição que as escuras.

Sugestão de material para consulta

Na estante
• STEBBINS, R. C.; GILLFILLAN, G. Animal Coloration: An Introduction to the Concept of Natural Selection. Berkeley
(EUA): University of California, 1963.
• WEINER, J. O bico do tentilhão: uma história da evolução no nosso tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.

Na internet
• MUTAÇÃO que criou mariposa negra na revolução industrial é identificada. G1 Globo, 2 jun. 2016. Disponível em:
<http://g1.globo.com/natureza/noticia/2016/06/estudo-acha-mutacao-que-gerou-mariposa-negra-na-revolucao-
industrial.html>.
• RUMJANEK, Franklin. A saga da mariposa. Ciência Hoje, 5 ago. 2016. Disponível em: <http://cienciahoje.org.
br/artigo/a-saga-da-mariposa/>.
• Simulação on-line – Seleção natural. Disponível em: <https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/natu
ral-selection>.
Acesso em: 25 fev. 2019.

50
8 Ensino Fundamental
ANGLO
ENSINO FUNDAMENTAL

9 º-
ano

2
volume

Biologia
José Manoel Martins
Marcos Engelstein
Direção Presidência: Mario Ghio Júnior
Direção de Conteúdo e Operações: Wilson Troque
Direção executiva: Irina Bullara Martins Lachowski
Direção editorial: Luiz Tonolli e Lidiane Vivaldini Olo
Gestão de projeto editorial: Rodolfo Marinho
Gestão de área: Isabel Rebelo Roque e Tatiana Leite Nunes
Edição: Amarilis Lima Maciel, Bianca Berneck, Carolina Taqueda
e Rodrygo Martarelli Cerqueira
Gerência de produção editorial: Ricardo de Gan Braga
Planejamento e controle de produção editorial: Paula Godo (ger.),
Adjane Oliveira (coord.), Daniela Carvalho e Mayara Crivari
Revisão: Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff Marques (coord.),
Rosângela Muricy (coord.), Aline Cristina Vieira, Cesar G. Sacramento,
Daniela Lima, Danielle Modesto, Luciana B. Azevedo, Luís M. Boa Nova,
Marília Lima, Maura Loria, Paula T. de Jesus, Ricardo Miyake,
Tayra Alfonso, Vanessa P. Santos;
Amanda T. Silva e Bárbara de M. Genereze (estagiárias)
Arte: Daniela Amaral (ger.), Erika Tiemi Yamauchi (coord.)
e Daniel Hisashi Aoki (edit. arte)
Diagramação: JS Design
Iconografia: Sílvio Kligin (ger.), Roberto Silva (coord.),
Roberta Freire Lacerda Santos (pesquisa iconográfica)
Licenciamento de conteúdos de terceiros: Thiago Fontana (coord.),
Angra Marques (licenciamento de textos), Erika Ramires,
Luciana Pedrosa Bierbauer e Claudia Rodrigues (Analistas Adm.)
Tratamento de imagem: Cesar Wolf e Fernanda Crevin
Ilustrações: Luis Moura, Setup Bureau
Cartografia: Eric Fuzii (coord.)
Design: Daniela Amaral (proj. gráfico e capa)
Foto de capa: Eric Isselee/Shutterstock/Glow Images
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Martins, José Manoel


Ensino fundamental 2 : biologia 9º ano : volume 1 e 2 :
aluno / José Manoel Martins, Marcos Engelstein. -- 1. ed. -
- São Paulo : SOMOS Sistemas de Ensino, 2019.

1. Biologia (Ensino fundamental). I. Engelstein,


Marcos. II. Título.

2018-0060 CDD: 372.35

Julia do Nascimento – Bibliotecária – CRB-8/010142

2019
ISBN 978 85 468 1859 4 (AL)
1a edição
1a impressão
Impressão e acabamento

Uma publicação
SUMÁRIO

BIOLOGIA

9. Alterações na cadeia alimentar – os javalis invasores e outros


casos .............................................................................................. 6
10. Interações ecológicas – o caso das acácias e das formigas ....... 19
11. Bioacumulação – o caso das tartarugas-matamatás .................. 31
12. A crise hídrica e a conservação ambiental ................................. 44
13. O caso da fragmentação florestal e dos corredores ecológicos.... 55
14. O caso dos lebistes e a seleção natural ....................................... 73
15. Especiação – o caso dos bugios na América do Sul .................... 84
16. A seleção natural em ação ............................................................ 98
Anexos .................................................................................................. 107
Biologia
Autores:
José Manoel Martins
Marcos Engelstein
9 ALTERAÇÕES NA CADEIA
ALIMENTAR – OS JAVALIS
INVASORES E OUTROS CASOS

Os seres vivos interagem entre si e a manutenção dessas interações garante o equilíbrio


ecológico na natureza. Muitas vezes, essas interações envolvem a busca por alimento
e podem ser caracterizadas por relações de predação entre espécies. Então, imagine:
O que pode acontecer quando uma nova espécie é introduzida em determinado ambiente?
Neste Módulo, vamos estudar algumas consequências da introdução de uma nova
espécie em um ecossistema, como é o caso do javali no Brasil em áreas de formações
abertas e florestadas. Essa introdução pode ser prejudicial tanto para o ambiente quanto
para os seres vivos que o habitam. Além disso, conheceremos alternativas para manejo
e controle de populações introduzidas e veremos outros casos de espécies invasoras.

PHOTOCECHCZ/SHUTTERSTOCK
Javali selvagem (Sus scrofa).
Os adultos medem entre
1,2 m e 1,8 m de
comprimento, podendo
atingir até 100 cm de altura,
considerando o dorso. Os
machos são maiores que as
fêmeas e pesam de 130 kg a
250 kg, enquanto as fêmeas
têm entre 80 kg e 130 kg.

QUEM SÃO OS JAVALIS “INVASORES”?


O javali é um porco selvagem da espécie Sus scrofa, originário da Europa, da Ásia e do
Norte da África. Por ter sua carne muito apreciada pelos seres humanos, foi transportado
para diversas regiões do mundo, como animal de criação, para suprir as necessidades de
consumo humanas. Os javalis domesticados são mansos e toleram bem o confinamento.
Entretanto, alguns javalis podem escapar de seu confinamento ou mesmo ser aban-
donados propositalmente no ambiente natural. Esses javalis, fora do confinamento,
apresentam comportamento mais agressivo e se adaptam facilmente ao novo ambiente.
A ausência de predadores naturais nos locais em que foi introduzido levou o javali a
entrar na lista das cem espécies exóticas invasoras mais devastadoras para os ambientes,
de acordo com dados publicados pela União Internacional da Conservação da Natureza
(IUCN, sigla em inglês). Nesses casos, ele é considerado uma praga e tem provocado
graves problemas ambientais, sociais e econômicos.

6
8 Ensino Fundamental
De olho... na espécie exótica invasora
Todas as espécies têm uma área de ocorrência geográfica natural e, em geral,
apresentam características que lhes permitem sobreviver às condições do ambiente
em que ocorrem. Além disso, estão inseridas em um contexto de equilíbrio ecológico,
interagindo com o meio e com as outras espécies que vivem no local.
Ao se deslocar, o ser humano pode retirar espécies de seres vivos de seus locais
de origem e transportá-las consigo para outras áreas. Ao longo da história, muitas
espécies foram deslocadas, seja acidentalmente, como alguns vírus ou insetos, seja
intencionalmente, como diversas plantas e animais.
Essas espécies levadas para novos locais são chamadas de espécies exóticas, e po-
dem passar a viver nesses novos ambientes sem causar impactos. Na maioria das vezes,
porém, essas espécies alteram o ambiente, competindo com espécies nativas por re-
cursos, como água, alimentos ou espaço. Neste caso, elas são chamadas de espécies
exóticas invasoras. Quando não encontram predadores no ambiente onde foram in-
troduzidas, as espécies exóticas invasoras tendem a prevalecer na competição com as
espécies nativas e a se multiplicar rapidamente, aumentando sua população.
GETTY IMAGES/ISTOCKPHOTO

O Aedes aegypti (mosquito


transmissor da dengue, da
febre amarela urbana,
da chikungunya e da zika)
é um inseto originário
da África, trazido para o
Brasil acidentalmente com
mercadorias e animais.
Ele é considerado uma
espécie exótica invasora.
Esse mosquito mede cerca
de 5 mm de comprimento.

Os primeiros registros da introdução do javali na América do Sul datam de 1904 e


1906, ocasiões em que alguns indivíduos foram trazidos da Europa para a província de
La Pampa, na região central argentina. Considera-se a hipótese de que alguns javalis
tenham cruzado a fronteira entre Brasil e Argentina, chegando ao sudoeste do Rio Gran-
de do Sul, possivelmente motivados pela diminuição da oferta de alimento. Além disso,
na década de 1990, criadouros das regiões Sul e Sudeste do Brasil importaram javalis
originários do hemisfério norte.
Atualmente, no Brasil, há registros de criadouros clandestinos de javalis, além de
grupos desses animais vivendo em ambiente natural (denominados javalis asselvajados).
Essa situação já foi registrada em quatorze estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Nicho ecológico:
Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Roraima, Tocantins, Maranhão, Bahia, corresponde ao conjunto
Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro; e no Distrito Federal. de todas as atividades que
Nos ambientes brasileiros em que o javali foi introduzido, há duas espécies nativas de uma espécie realiza no seu
Biologia

habitat, tais como: o local


porcos-do-mato, conhecidas como catetos (ou caititus) e queixadas. Ambas as espécies onde vive, a maneira como
nativas se alimentam de vegetais, principalmente de raízes e folhas, ovos e, eventual- se alimenta, os locais e a
mente, predam pequenos animais, como répteis e filhotes de aves. Esses hábitos são época de reprodução, como
responde a competidores,
muito semelhantes aos dos javalis. Assim, podemos dizer que tanto os animais nativos predadores e parasitas, etc.
(catetos e queixadas) quanto o exótico (javali) ocupam nichos ecológicos semelhantes e

8
7
competem pelos mesmos recursos. Além disso, os javalis introduzidos também impac-
tam as populações de outros animais e vegetais dos quais se alimentam, pois elas são
predadas por mais uma espécie, além dos seus predadores naturais.

LONELY PLANET IMAGE/GETTY IMAGES


LUCIANO QUEIROZ/PULSAR IMAGENS
A B

Exemplares adultos de cateto (A) e queixada (B), ambos animais nativos do Brasil. Os catetos
(Pecari tajacu, medem até 100 cm de comprimento e 45 cm de altura; o peso varia de
14 kg a 30 kg) apresentam uma faixa clara, diagonal, que vai do dorso ao pescoço. A queixada
(Tayassu pecari, mede 150 cm de comprimento e 50 cm de altura; o peso varia de 25 kg a 40 kg)
apresenta coloração preta e uma mancha clara ao longo da mandíbula.

ATIVIDADE 1

1 Com base nas informações deste Módulo, responda às questões abaixo.


a) O que são espécies nativas e espécies exóticas?

b) O que é uma espécie exótica invasora?

c) Como o javali pode ser classificado no Brasil, dentro do contexto apresentado no texto? Justifique.

2 Usando os conceitos que você já estudou sobre relações ecológicas, explique por que a presença dos javalis asselvajados
em ambientes brasileiros pode impactar as populações de catetos e queixadas.

8
8 Ensino Fundamental
CADEIAS E TEIAS ALIMENTARES
Uma maneira de estudar um ambiente é conhecer as relações alimentares entre os seres
vivos que o compõem. Essas relações envolvem seres autótrofos e heterótrofos e formam
cadeias alimentares, sequências de interações alimentares entre organismos.
Em uma cadeia alimentar, os seres autótrofos são os produtores, enquanto os seres
heterótrofos são os consumidores ou os decompositores. Os seres autótrofos (pro-
dutores) têm a capacidade de produzir compostos energéticos (alimento) a partir de
substâncias simples, como ocorre na fotossíntese; e os heterótrofos (consumidores ou
decompositores) obtêm energia a partir dos produtores (direta ou indiretamente), por
meio da alimentação.
Os consumidores são classificados como primários (quando se alimentam diretamente
de produtores), secundários (quando se alimentam de consumidores primários), terciários
(quando se alimentam de consumidores secundários) e assim por diante. Os decompo-
sitores também fazem parte das cadeias e teias alimentares, obtendo seu alimento de
organismos mortos.
As cadeias alimentares podem ser representadas por diagramas nos quais as setas
indicam sempre o caminho do consumo do alimento. Veja um exemplo abaixo com
produtores e consumidores.

Serve de
Serve de alimento para
alimento para Representação esquemática
de uma cadeia alimentar.
(Elementos fora de proporção
entre si. Cores fantasia.)

Capim Rato Serpente


Produtor Consumidor primário Consumidor secundário

Dizemos, então, que cada componente de uma cadeia alimentar ocupa um determi-
nado nível trófico. Assim, no exemplo acima, temos:
• capim: produtor (ocupa o 1o nível trófico);
• rato: consumidor primário (ocupa o 2o nível trófico);
• serpente: consumidor secundário (ocupa o 3o nível trófico).
Quando analisamos um conjunto maior de seres vivos, podemos estabelecer uma
teia alimentar, em que os componentes podem ocupar algumas cadeias alimentares, em
diferentes níveis tróficos, e o mesmo nível trófico pode ser ocupado por mais de um ser
vivo, dependendo da cadeia considerada.

Representação esquemática de
uma teia alimentar. (Elementos
fora de proporção entre si.
Gafanhoto Cores fantasia.)
Consumidor primário
Sapo
Consumidor
secundário
Serpente
Consumidor
Biologia

secundário
Capim e terciário
Produtor

Rato
Consumidor primário

8
9
ATIVIDADE 2

1 Considere as seguintes informações sobre animais e plantas do Cerrado brasileiro:


• No solo do Cerrado, encontramos uma enorme quantidade de herbívoros, como as lagartas de borboletas, que fazem
de gramíneas, como o capim, sua fonte de alimento.
• As lagartas de borboleta têm como predadores naturais pequenos lagartos e aves, como a seriema.
• A seriema, por sua vez, é uma ave que tem uma dieta muito ampla, alimentando-se de pequenos insetos, como lagar-
tas, além de lagartos e até serpentes.
• Além da seriema, os lagartos também têm como predadores naturais as serpentes que vivem no Cerrado.
a) Com base nas afirmações anteriores, construa a teia alimentar composta dos seres vivos descritos.

b) Indique o nível trófico de cada componente dessa teia alimentar.

2 Analise a teia alimentar representada abaixo.


Catetos

Capim Insetos Lagartos Lobo-guará

Seriemas

Javalis

Quais seriam as possíveis consequências para as populações de lobos-guarás e de seriemas caso o número de javalis
aumentasse muito em determinada localidade?

10
8 Ensino Fundamental
CONSEQUÊNCIAS PARA O AMBIENTE
A introdução de espécies no ambiente requer conhecimento sobre as relações que
podem ser estabelecidas entre os animais exóticos com os seres vivos nativos presentes
na área. No caso dos javalis, há poucas informações sobre sua alimentação e a posição
que ocupam nas cadeias alimentares dos ambientes onde foram introduzidos.
No entanto, podemos constatar que a invasão de javalis nos ambientes pouco mo-
dificados causa ainda outros tipos de impacto ambiental. Devido ao hábito de cavar e
remexer o solo, os javalis destroem plantas que estão crescendo e expõem sementes,
que são então facilmente encontradas por outros animais, impedindo assim que as
plantas se desenvolvam e que as sementes germinem. Dessa forma, esses animais
contribuem para a diminuição e a possibilidade de extinção de diversas espécies da
flora nativa. Além disso, quando cavam o solo, podem também causar a aceleração
do processo de erosão e o aumento do assoreamento de lagos e rios.
MINDEN PICTURES RM/GETTY IMAGES

Javali asselvajado
em plantação
de milho.
Esses animais
podem causar
diversos danos
aos cultivos
agrícolas.

Os javalis asselvajados podem ainda facilitar a transmissão de doenças como a febre


aftosa e a pneumonia suínas para porcos domésticos, além da teníase. Outros impactos
sociais e econômicos também podem ser ocasionados pelo ataque a seres humanos e
a animais domésticos, pelo cruzamento com porcos domésticos ou asselvajados e pela
destruição de plantações em áreas agrícolas.

O CONTROLE DOS JAVALIS


O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
órgão governamental responsável pelo controle e manejo de espécies exóticas inva-
soras, como o javali, vem adotando uma série de medidas para tentar conter o avanço
dessa espécie e reduzir sua população. Entre as medidas adotadas pelo Ibama estão:
• autorização do abate e da caça controlados, sem que os animais abatidos sejam
destinados à alimentação, pois podem portar doenças que são transmissíveis ao
ser humano e a animais domésticos;
Biologia

• aumento da fiscalização de criadouros clandestinos;


• orientação no manejo e transporte de javalis de criadouros legalizados.
Além dessas medidas, o Ibama vem estudando o impacto que os javalis podem exercer
sobre a fauna e a flora nativas, principalmente nas unidades de conservação onde já foi
detectada a presença desses animais.

11
8
Você sabia?
O que são Unidades de Conservação?
O Brasil é considerado um país megadiverso, pela grande quantidade de espécies de seres vivos que
nele vivem. Buscando preservar essa biodiversidade, foram criadas as Unidades de Conservação (UC),
grandes áreas protegidas em que a exploração dos recursos é controlada por lei. Há diferentes tipos de
Unidades de Conservação e, dependendo do tipo, a exploração de recursos pode ser totalmente proibida
ou permitida apenas de forma sustentável. A criação e a gestão das unidades de conservação estão pre-
vistas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), um plano governamental que dá dire-
trizes para essas ações.

Unidades de Conservação do Brasil


55º O

Equador

Unidades de Conservação – Mapas. Disponível em: <http://snif.florestal.gov.br/pt-br/


dados-complementares/212-sistema-nacional-de-unidades-de-conservacao-mapas>.
Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente – Sinima. Sistema Nacional de
Fonte: Sistema Nacional de Informações Florestais – Snif, integrado ao Sistema
Limite entre países
Unidades da Federação
Unidades de Conservação (UCs)
UC proteção integral
Estação ecológica
Monumento natural Trópico
de Capri
córnio
Parque

Acesso em: 25 fev. 2019.


Refúgio de vida silvestre
Reserva biológica
UC uso sustentável
Floresta OCEANO
Reserva extrativista ATLÂNTICO N
Reserva particular do patrimônio natural
O L
Reserva de desenvolvimento sustentável
Área de proteção ambiental S
Área de relevante interesse ecológico 0 370 km
Outros

Mapa mostrando a localização das Unidades de Conservação brasileiras (2018).

A realização de novos estudos ecológicos é importante porque pode fornecer evidên-


cias que auxiliem no controle da população desses animais. Informações mais completas
sobre o caso dos javalis “invasores” permitiriam a elaboração de medidas eficazes para
a diminuição do impacto da presença desses animais e o estabelecimento de diferentes
estratégias para seu manejo e/ou sua captura.
12
8 Ensino Fundamental
ATIVIDADE 3

1 No texto são apontadas medidas adotadas pelo Ibama para tentar conter ou diminuir o impacto causado pela introdução
do javali no território brasileiro. Reúna-se com os colegas e, juntos, discutam sobre o que pode ser feito para reduzir o
risco de novos casos de introdução do javali em áreas onde esses animais ainda não foram encontrados. Registre as ideias
do grupo nas linhas abaixo e em seu caderno, caso necessário.

2 A teníase é uma parasitose causada por platelmintos. A transmissão da teníase para seres humanos se dá por larvas da tênia
(Taenia solium no caso de porcos ou Taenia saginata no caso de bois), chamadas de cisticercos. Os cisticercos desenvolvem-
-se em vermes adultos que se fixam no intestino humano e passam a produzir e liberar ovos. Os ovos são eliminados do
corpo humano com as fezes e podem ser ingeridos por porcos e bois. As larvas se instalam, então, nos músculos dos animais.
a) Como deve ocorrer a transmissão da teníase para seres humanos?

b) Como a teníase pode ser evitada?

OUTRO CASO DE ESPÉCIE INTRODUZIDA:

PATRICK LORNE/GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES


A JOANINHA-ASIÁTICA
As joaninhas são insetos predadores que se alimentam de outros
insetos, principalmente de pulgões, que, por sua vez, são parasitas de
plantas, sugando sua seiva. Na agricultura, os pulgões são considera-
dos uma praga, pois seu ataque às plantas pode causar sérios danos
e prejudicar a colheita.
Dessa forma, as joaninhas atuam como um controle biológico
Biologia

dos pulgões, pois são predadores naturais desses insetos-praga. Esse


controle não agride o ambiente, uma vez que se evita o uso de inse-
ticidas, que poderiam causar danos à saúde humana e ao ambiente,
para matar os pulgões. Portanto, usar as joaninhas como controle Joaninha-asiática (Harmonia axyridis) predando
biológico em uma plantação é um ótimo negócio, certo? um pulgão de cerca de 1 mm de comprimento.

13
8
Depende. A princípio, a ideia é ótima, desde que se use uma joaninha nativa, pois,
no caso de se usar uma joaninha exótica, vários problemas podem ocorrer.
Foi o que aconteceu com a joaninha-asiática (Harmonia axyridis), introduzida na América
do Sul, em Mendoza, na Argentina, com a ideia de controlar biologicamente pulgões e outros
insetos afídeos em plantações de pêssegos. Essa espécie de joaninha ocorre naturalmente em re-
giões do continente asiático, em países como Rússia, Coreia e Japão e parte da China. Além da
América do Sul, essa joaninha já foi encontrada na América do Norte, na Europa e na África.
No Brasil, a joaninha-asiática entrou pelo Paraná, em 2002. Dessa data até 2018, ela já
foi encontrada no estado de São Paulo e avistada em Brasília. O grupo de pesquisa da
bióloga brasileira Lúcia Massutti de Almeida, da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
vem desenvolvendo estudos de acompanhamento da joaninha-asiática ao longo desses
anos e chegou a algumas conclusões importantes sobre essa espécie:
• prolifera rapidamente e desaloja espécies nativas de joaninhas por onde passa, como
a joaninha-vermelha (Cycloneda sanguinea);
• num prazo de cinco anos já correspondia a mais de 90% da população de joaninhas,
considerando as oitos espécies que foram estudadas;
• foi encontrada em 38 espécies de plantas nas regiões de coleta, um número bem alto;
• alimenta-se, nessas plantas, de 20 espécies de insetos, como os pulgões, seu principal
alimento, que encontra com muita facilidade (apresenta uma percepção aguçada);
• predadora mais voraz e agressiva que as espécies de joaninhas nativas; na escassez
de alimentos, as larvas comem ovos da própria espécie (canibalismo);
• também se alimenta de frutas, pólen e alimentos que outras joaninhas não consomem.
FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTîGRAFO

GER BOSMA PHOTOS/SHUTTERSTOCK


A B

A joaninha-vermelha Cycloneda sanguinea (A), de cerca de 4 mm a 8 mm de


comprimento, é uma das mais comuns no Brasil e está perdendo espaço para a
joaninha-asiática Harmonia axyridis (B), de cerca de 5 mm a 9 mm de comprimento.

Todas essas características conferem à joaninha-asiática muito sucesso na invasão do


ambiente. Apesar disso, seu efeito sobre ele não é tão danoso como o dos javalis inva-
sores, ou de outras espécies exóticas invasoras, como o caramujo-gigante-africano. No
entanto, em alguns lugares do planeta, há registros de impactos importantes causados
pelas joaninhas-asiáticas:
• na França, durante o inverno, elas invadem as casas em bandos e procuram ali-
mentos açucarados;
• no Canadá e nos Estados Unidos, espalham-se em plantações de uvas usadas na
produção de vinho e, acidentalmente, são processadas com as uvas, conferindo ao
vinho um sabor que lembra o pimentão e o aspargo. Esse efeito no sabor do vinho
é conhecido como “mancha da joaninha”, numa tradução livre, e faz com que ele
tenha de ser descartado.
14
8 Ensino Fundamental
ATIVIDADE 4

1 Qual é o principal impacto que a joaninha-asiática invasora causa nos ambientes brasileiros onde se instala?

2 Por que o estudo das joaninhas-asiáticas invasoras no Brasil é tão importante se seus impactos não são tão intensos
quanto os de outras espécies exóticas invasoras em nosso país, como os javalis?

EM CASA

1 Leia o texto a seguir sobre espécies exóticas.


Espécies exóticas são animais ou vegetais que se instalam em locais onde não existem espécies
nativas com o mesmo nicho ecológico. Essas espécies exóticas podem se tornar invasoras se possuírem
determinadas características, como ausência de predadores, ciclo reprodutivo lento, alta especifici-
dade de recursos alimentares. Mesmo assim, dificilmente se tornam pragas, pois crescem devagar
e, como não compartilham o mesmo nicho ecológico das espécies nativas, não alteram o equilíbrio
ecológico do local.
Analise se todas as informações desse trecho estão corretas. Caso haja alguma(s) informação(ões) equivocada(s),
reescreva o texto corrigindo tais erros.

2 Analise a teia alimentar abaixo.

Grilo

Lagarto

Vegetal

Raposa
Biologia

Gavião

Rato

15
8
Agora responda:
a) Quantas e quais cadeias podem ser encontradas nessa teia alimentar?
b) Qual organismo ocupa somente o nível trófico de consumidor secundário e terciário simultaneamente na teia
alimentar?
c) Qual(is) organismo(s) ocupa(m) apenas um nível trófico nessa teia alimentar?

3 O hábito de chafurdar o solo que os porcos, como os javalis, realizam com o focinho remexendo o solo em busca
de raízes, tubérculos, minhocas, fungos, vermes, etc. acaba por criar buracos e causar um importante impacto ao
ambiente. Seria possível encontrar nessa atividade dos javalis invasores algum aspecto positivo para o ecossis-
tema? Justifique.

4 Leia o trecho a seguir, sobre o caso de espécies exóti-

FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTîGRAFO


cas invasoras no Nordeste brasileiro. A
[...] Alguns dos casos mais graves de inva-
são biológica no Nordeste do Brasil são conse-
quências de introduções voluntárias. Um caso
emblemático é o do tucunaré (Cichla ocellaris) e
da tilápia (Oreochromis niloticus) em rios, lagos
e açudes, o que certamente resultou em diver-
sas extinções locais de espécies, com perda de
biodiversidade em escala regional [...]. Essas in-
troduções foram intensificadas por programas

MINDEN PICTURES RM/GETTY IMAGES


de governo que, por meio do Departamento de B
Obras Contra a Seca (Dnocs), do Ministério da
Integração Nacional, levaram à introdução de
42 espécies de peixes e crustáceos em aproxi-
madamente 100 reservatórios de água doce no
Nordeste [...]
LEÃO, T. C. C.; ALMEIDA, W. R.; DECHOUM, M.; ZILLER,
S. R. Espécies Exóticas Invasoras no Nordeste do Brasil:
Contextualização, Manejo e Políticas Públicas. Recife:
Cepan, 2011. Disponível em: <http://www.lerf.eco.br/ (A) Tucunaré (Cichla ocellaris), espécie nativa, mede cerca de
img/publicacoes/2011_12%20Especies%20Exoticas%20 80 cm de comprimento; (B) Tilápia (Oreochromis niloticus),
Invasoras%20no%20Nordeste%20do%20Brasil.pdf>. espécie exótica, proveniente da África, mede cerca de 20 cm
Acesso em: 25 fev. 2019. de comprimento.

Compare o caso dos javalis invasores e o das joaninhas-asiáticas com o das tilápias e dos tucunarés no Nor-
deste brasileiro, preenchendo em seu caderno a tabela a seguir. Algumas das células já estão preenchidas
para sua orientação.

Javalis Joaninhas-asiáticas Tucunarés e tilápias

Forma de introdução Voluntária e acidental ********** **********

Principais consequências da Desalojamento de


introdução/invasão para a ********** espécies nativas; perda **********
comunidade afetada de biodiversidade

Efeitos positivos da introdução ********** ********** **********

16
8 Ensino Fundamental
RUMO AO ENSINO MÉDIO

1 (Ulbra-RS) De acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB,


“Espécie Exótica” é definida como toda espécie que se encontra fora de sua área de distribuição
natural e “Espécie Exótica Invasora”, por sua vez, é definida como sendo aquela que ameaça ecossis-
temas, habitats ou espécies nativas. A destruição das barreiras biogeográficas por meio da ação antró-
pica provocou uma forte aceleração no processo de invasões biológicas. Além disso, com a crescente
globalização e o aumento do comércio internacional, espécies exóticas são introduzidas, intencional
ou não intencionalmente, para locais onde não encontram predadores naturais. As espécies exóticas
têm invadido e afetado a biota nativa de, praticamente, todos os ecossistemas da Terra.
(Texto adaptado disponível em http://www.mma.gov.br/biodiversidade/biosseguranca/especies-exoticas-invasoras.
Acessado em 10/09/2017)

Após a leitura do texto, analise as assertivas abaixo.


I. A introdução de espécies exóticas, em um ecossistema, propicia o deslocamento das espécies nativas evitando
a extinção.
II. A introdução de espécies exóticas pode provocar alterações nas teias alimentares dos ecossistemas.
III. A introdução de espécies exóticas pode provocar a competição com as espécies nativas por recursos naturais.
IV. A introdução de espécies exóticas pode levar ao estabelecimento de novos nichos ecológicos das espécies nativas.
V. A introdução de espécies exóticas não altera as características bióticas dos ecossistemas.
Estão corretas:
a) apenas I, II e V. d) apenas II, III e V.
b) apenas II e III. e) apenas I, II, III e V.
c) apenas III e IV.

2 (Fadip-MG) Dentro de um ecossistema, os seres vivos se organizam de acordo com as relações de alimentação
existentes entre eles, e que são representadas por diagramas conhecidos por teias alimentares. Sobre os conceitos
principais de teias alimentares, é correto afirmar que:
a) os primeiros elos das cadeias de uma teia alimentar são sempre um organismo heterotrófico.
b) os consumidores primários que se alimentam dos produtores constituem o primeiro nível trófico.
c) os produtores são organismos que sintetizam matéria inorgânica que alimentará os demais níveis tróficos.
d) ao morrer, produtores e consumidores dos vários níveis tróficos servem de alimento a diversos animais de-
compositores.

3 Assinale a alternativa que apresenta uma forma INCORRETA para se controlar e manejar os javalis invasores:
a) Não deixar proliferar criadouros clandestinos, ampliando a fiscalização principalmente nos estados fronteiriços
com estados ainda não invadidos.
b) Autorizar o abate dos javalis de forma controlada por meio de fiscalização do Ibama em áreas particulares e em UCs.
c) Introduzir uma espécie parasita de suínos, como vírus letais, que possam causar o extermínio total dos javalis
Biologia

invasores.
d) Em criadouros legalizados, estimular que o manejo desses animais seja feito com o cuidado necessário para não
escaparem para a natureza.
e) Realizar um controle mais intenso do transporte dos javalis dos locais de criação para os de abate legalizados.

17
8
4 (FMJ-SP) Na teia alimentar ilustrada, o número de indivíduos em cada população se manteve estável ao longo
do tempo.

REPRODUÇÃO/FMJ-SP, 2017
O gráfico mostra o comportamento numérico de três populações dessa comunidade após a introdução, no tempo
t0, de uma espécie exótica que se alimentou preferencialmente de uma das espécies da comunidade, o que pro-
vocou sua extinção.

REPRODUÇÃO/FMJ-SP, 2017

É correto afirmar que a espécie extinta e as populações 1, 2 e 3 são, respectivamente,


a) rato, gramínea, gavião e raposa.
b) bem-te-vi, amoreira, joaninha e cobra.
c) cobra, bem-te-vi, sapo e gafanhoto.
d) joaninha, pulgão, sapo e libélula.
e) raposa, coelho, gramínea e gafanhoto.

18
8 Ensino Fundamental
10 INTERAÇÕES ECOLÓGICAS –
O CASO DAS ACÁCIAS
E DAS FORMIGAS

Os seres vivos interagem de diversas formas no ambiente (com outros seres vivos e
com os fatores abióticos). Ainda que determinada interação pareça, a princípio, prejudi-
cial a uma espécie, ela faz parte de um delicado equilíbrio, que deve ser mantido para
que todo o conjunto de espécies seja preservado. Por exemplo, um gavião, ao predar
um rato-do-mato, causa prejuízos para a população desses ratos, pois está diminuindo
a quantidade de indivíduos da população. Porém, essa interação ajuda a controlar a
população dos ratos, que, se não tivesse alguns indivíduos predados pelo gavião, po-
deria se tornar superpopulosa, levando a desequilíbrios, como a falta de alimento para
os próprios ratos.
Neste Módulo, vamos estudar a importância das interações ecológicas para os seres
vivos, as características do bioma Savana, suas particularidades regionais e a importância
da preservação de espécies para a manutenção do equilíbrio ecológico.

ERIC DENEMARK/ACERVO DO FOTîGRAFO

Biologia

Formigas Crematogaster mimosae sobre acácia (Acacia sp.), um exemplo de interação ecológica.
As duas espécies estão em interação. Essa formiga mede cerca de 5 mm de comprimento.

19
8
TIPOS DE INTERAÇÃO ECOLÓGICA
Antes de estudar o caso das acácias e das formigas, vamos relembrar as interações ecológicas
que já foram estudadas em anos anteriores. Elas estão relacionadas ao estudo deste Módulo.
É possível classificar as interações ecológicas em dois tipos básicos: intraespecíficas,
quando envolvem seres vivos da mesma espécie, e interespecíficas, quando a interação
ocorre entre espécies diferentes.
Além dos seres vivos envolvidos, as interações podem ser denominadas neutras,
quando os indivíduos não são beneficiados nem prejudicados; harmônicas (ou positivas),
no caso de nenhum dos organismos ser prejudicado; ou desarmônicas (ou negativas),
quando pelo menos um dos organismos sofre prejuízo.
A seguir, apresentamos uma breve classificação das interações mais conhecidas entre
os seres vivos.

Intraespecíficas
• Colônia: organismos colaboram uns com os outros, vivendo ligados entre si. Como
exemplo temos os corais, formados por milhares de indivíduos (pólipos) que estão
fisicamente ligados.

VLADAN MILISAVLJEVIC/GETTY IMAGES


Recife de coral,
um exemplo de
colônia. Algumas
colônias desses
organismos
podem atingir
quilômetros de
extensão.

• Sociedade: indivíduos colaboram entre si, mas apresentam relativa independência


e mobilidade. Formigas e abelhas são exemplos de animais que vivem em socie-
dade, formando formigueiros e colmeias, respectivamente, em que os indivíduos
desempenham diferentes funções.
FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO

Colmeia de abelhas
da espécie Apis
mellifera. Esses
animais vivem
em sociedade
e medem cerca
de 1 cm de
comprimento.

20
8 Ensino Fundamental
• Competição intraespecífica: indivíduos da mesma espécie compartilham o mesmo
nicho ecológico e por isso competem por recursos do ambiente, como nutrientes,
parceiros para reprodução, espaço, etc. A competição é positiva do ponto de vis-
ta evolutivo, pois funciona como uma pressão seletiva e os indivíduos mais bem
adaptados têm mais chance de sobreviver e de gerar descendentes. Como exemplo,
podemos citar árvores que necessitam de muita luminosidade para se desenvolver e
que têm uma área sombreada em torno de si, fator que impede o desenvolvimento
de suas próprias sementes ou de plantas jovens em locais próximos.
GERSON GERLOFF/PULSAR IMAGENS

Ipê-roxo
(Handroanthus
impetiginosus), uma
árvore que precisa de
muita luminosidade e é
encontrada geralmente
em áreas abertas. Pode
atingir cerca de 30 m
de altura.

Celulose: substância que


Interespecíficas compõe a parede celular
das células vegetais. A
• Mutualismo: há vantagens para os organismos das duas espécies envolvidos na parede celular confere
relação, da qual dependem para sobreviver. Um exemplo de mutualismo obrigató- a essas células rigidez
e proteção e localiza-se
rio ocorre com animais ruminantes, como os bois, e a comunidade de bactérias e externamente à membrana
protozoários que vive apenas no interior dos tubos digestórios desses animais. Os plasmática. Células
ruminantes não são capazes de digerir celulose, mas determinadas espécies desses de origem animal não
apresentam parede celular
microrganismos sim. nem celulose.
KEN LUCAS, VISUALS UNLIMITED/SPL/FOTOARENA

A (A) Cupins (Zootermopsis


B angusticollis); medem cerca de
4 mm de comprimento.
(B) Protozoário (Trichonympha
sp.; aumento de cerca de 500
vezes). Esses seres apresentam
uma relação de mutualismo em
que os protozoários vivem no
interior do intestino do cupim
e digerem a celulose.
A
EN
AR
OTO
E/ F
ERIC
V. GRAVE/SCIENCE SO U RC

• Cooperação ou protocooperação: há vantagens para as duas espécies, embora elas


possam sobreviver separadas, sem estar em interação. Um exemplo de cooperação
Biologia

ocorre entre a ave gavião-carrapateiro e o boi, conforme podemos observar na


página seguinte. Essa ave costuma se alimentar de carrapatos que estão no couro
do boi, o que é vantajoso para ambos os animais. Mas a relação não é obrigatória,
pois o gavião-carrapateiro consegue obter outros alimentos e os bois têm compor-
tamentos alternativos para se livrar do parasita, como rolar na lama ou na areia.

21
8
GERSON SOBREIRA/TERRASTOCK
Gavião-carrapateiro (Milvago
chimachima) e boi (Bos taurus).
Essas espécies podem apresentar
uma relação de cooperação.
O gavião mede cerca de 45 cm
de comprimento e o boi cerca
de 2 m de comprimento.

• Comensalismo: uma espécie consegue alimentos graças à outra, mas sem prejudicá-
-la. Quando, por exemplo, um boi caminha pelo pasto e espanta insetos que estavam
pousados no capim, esses insetos, ao saírem voando, são facilmente capturados
por aves, como as garças-vaqueiras. Não existe vantagem ou desvantagem para o
boi, mas a ave é beneficiada.

GERSON SOBREIRA/TERRASTOCK
Boi (Bos taurus) e garças-
-vaqueiras (Bubulcus ibis) em
uma relação de comensalismo.
Essas garças medem cerca de
50 cm de comprimento.

Existem alguns casos especiais de comensalismo em que um organismo vive sobre ou


dentro de outro sem lhe causar prejuízos. O inquilinismo ocorre quando um indivíduo
usa outro como moradia sem prejudicá-lo. Quando o inquilinismo se refere a uma
planta que vive sobre outra, ele é chamado de epifitismo. Esse é o caso das bromélias
e das orquídeas que vivem apoiadas nos troncos das árvores. Bromélias e orquídeas
não retiram nutrientes da planta hospedeira, só têm acesso a maior incidência de
luz. Para a planta hospedeira, a presença da bromélia ou da orquídea é indiferente.
VAUGHAN FLEMING/SPL/FOTOARENA

Orquídea (Oncidium
nubigenum) epífita
sobre o tronco de uma
árvore. O ramo da flor
mede cerca de 60 cm
de comprimento.

22
8 Ensino Fundamental
• Predatismo: um organismo de uma espécie animal mata organismos de outra es-
pécie para se alimentar. Exemplo: onça-pintada que caça uma capivara.
PETR SIMON/SHUTTERSTOCK

Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare)


predando piranha (Serrasalmus sp).
Esses animais medem cerca de
2,5 m e 40 cm de comprimento,
respectivamente.

• Parasitismo: um organismo de uma espécie (parasita) se alimenta ou se reproduz às


custas de um organismo de outra espécie (hospedeira). A lombriga é um exemplo
de parasita dos seres humanos.
SCIENCE PHOTO LIBRARY - SPL/FOTOARENA

Carrapato parasitando um
cachorro. O carrapato mede
cerca de 1 cm de comprimento.

Você sabia?
Qual doença a lombriga causa?
SEOUL ST. MARY’S HOSPITAL, THE CATHOLIC
UNIVERSITY OF KOREA
A lombriga (Ascaris lumbricoides) é um nematelminto que
pode parasitar animais vertebrados, incluindo seres humanos,
causando a ascaridíase. Essa doença é contraída pela ingestão
de alimentos ou água contaminados com ovos da lombriga e
pode ser prevenida pela higienização adequada de alimentos
e por boas condições de higiene e saneamento básico.
Biologia

Fotografia tirada durante endoscopia (técnica que


produz imagens do interior de órgãos), mostrando uma
lombriga (cujos adultos podem ter de 30 cm a 40 cm de
comprimento) dentro de um intestino humano.

23
8
• Competição interespecífica: ocorre quando o nicho ecoló-
ROBERTO NEGRAES/ACERVO DO FOTÓGRAFO

gico de organismos de duas espécies se sobrepõe e estes


acabam competindo pelos recursos ambientais. No Brasil, a
onça-parda ou suçuarana e a onça-pintada competem por
presas como veados e porcos-do-mato. Também é comum
relações de competição entre aves de rapina como gaviões
e águias.

Caracará (Caracara plancus; cerca de 56 cm de


comprimento), abaixo, atacando uma águia-cinzenta
(Harpyhaliaetus coronatus; cerca de 80 cm de
comprimento). Essas aves competem por presas.

SAVANAS AFRICANAS
Bioma: região que apresenta As Savanas são biomas que se destacam por apresentar vastas áreas relativamente
clima bem definido, com fauna
e flora características, além de planas com predominância de vegetação de gramíneas, como o capim. Além dessas
outras condições ambientais plantas, nas Savanas podem ser encontrados muitos arbustos e árvores esparsas. Em
próprias, como altitude, tipo algumas regiões, essas árvores podem se apresentar em maior concentração, formando
de solo, áreas de alagamento.
Em um bioma em equilíbrio pequenos bosques, mas ainda de vegetação aberta.
ecológico, a quantidade As Savanas ocorrem na África, na América do Sul e na Austrália e apresentam carac-
e a diversidade de seres
vivos tendem a permanecer
terísticas particulares em cada região.
relativamente constantes.

De olho... na nossa Savana, o bioma do Cerrado


A maior paisagem de Savana da América do Sul ocorre no Brasil: trata-se do
Cerrado, o segundo maior bioma do país. Como estudamos em anos anteriores, além
das características típicas de Savana, no Cerrado há padrões particulares de vegetação:
o Campo limpo (sem árvores, com predominância de gramíneas), o Campo sujo (com
maior cobertura vegetal) e o Cerradão (com presença de árvores altas em maior
número). É comum ocorrerem queimadas naturais no Cerrado brasileiro.

ROGÉRIO REIS/PULSAR IMAGENS

Aspecto típico de uma área do Cerrado brasileiro, em Pirenópolis (GO), 2018.

24
8 Ensino Fundamental
Nas Savanas africanas, as árvores mais comuns são as acácias, um grupo com várias Espinho: folha modificada,
geralmente reduzida, que
espécies. Essas plantas medem entre 5 e 15 metros de altura, em média. Seus ramos apre- evita a perda de água pela
sentam espinhos
espinhos, característica vantajosa no ambiente de poucas chuvas em que vivem. transpiração e protege
a planta de possíveis
predadores.
SCIENCE PHOTO LIBRARY - SPL/FOTOARENA

K
OC
RST
DER VYVER/SHUTTE
AN
LA V
CAR
Acácias da espécie Acacia erioloba (até 15 m de altura) em paisagem de
Savana africana. No detalhe, os espinhos que se espalham por seus ramos.

ATIVIDADE 1

1 Classifique as relações entre seres vivos que aparecem destacadas nas imagens abaixo, justificando sua resposta.
a) Rainha em um cupinzeiro sendo cuidada por operários e soldados.
NATURAL HISTORY MUSEUM LONDON UK/DIOMEDIA

Os cupins operários
(os menores da fotografia)
medem cerca de
8 mm de comprimento.

Biologia

25
8
b) Pepino-do-mar e peixe fierásfer, ou peixe-agulha, que vive em seu interior.

REPRODU‚ÌO/BBC
O pepino-do-mar mede
cerca de 13 cm de
comprimento.

c) Tartaruga-verde e peixe-cirurgião-amarelo, além de outros tipos de peixe, que se alimentam das algas que crescem na
carapaça da tartaruga.

AGE FOTOSTOCK RM/GETTY IMAGES


A carapaça da
tartaruga-verde pode
atingir cerca de 1,4 m
de comprimento.

2 O bioma retratado no texto é o da Savana africana. Em qual bioma brasileiro podemos encontrar paisagens típicas de
Savana? Caracterize esse bioma do Brasil.

26
8 Ensino Fundamental
ENTENDENDO A RELAÇÃO ECOLÓGICA ENTRE
FORMIGAS E ACÁCIAS
Um aspecto muito interessante das acácias das Savanas africanas é a interação eco-
lógica que ocorre entre elas e uma espécie de formiga, a Crematogaster mimosae.
Essas formigas constroem seus ninhos no interior dos espinhos das acácias e se
alimentam da seiva do floema produzida pela planta e do néctar presente nos

PIOTR NASKRECKI//MINDEN
PICTURES/LATINSTOCK
nectários em seus ramos. (Veja fotografia na página 19.) Ao mesmo tempo, as
formigas defendem a planta contra predadores herbívoros (sejam insetos, como
besouros e outras formigas, sejam grandes mamíferos, como girafas e elefantes).
Em 1997, pesquisadores quenianos e estadunidenses iniciaram, no Quênia,
um experimento que buscou testar como se dava a interação entre as acácias e
os herbívoros africanos (como girafas e elefantes) e o gado criado localmente. Para
isso, isolaram diversas áreas em que havia acácias, impedindo que herbívoros e gado
se aproximassem das plantas.
Formiga Crematogaster
Em janeiro de 2008, continuando o estudo, os pesquisadores publicaram, na revista mimosae, que mede
científica Science, outros resultados desse longo experimento, que durou 10 anos. A cerca de 5 mm de
equipe de pesquisadores percebeu que as acácias isoladas apresentaram problemas de comprimento.
desenvolvimento e ocorreu diminuição da sua população. As árvores em contato com
os herbívoros, por outro lado, cresciam com aspecto mais saudável. Nectário: estrutura que
Por que, ao ficar isoladas de seus predadores, as acácias têm seu desenvolvimento contém o néctar, uma
comprometido? Como explicar esse fato? substância nutritiva
produzida pela planta e
Os pesquisadores verificaram que dez anos de isolamento de seus predadores herbívoros consumida por animais
bastaram para que as acácias diminuíssem a produção da seiva que alimenta as formigas que, em geral, estabelecem
Crematogaster mimosae. Por causa da falta de alimento, a população dessa formiga diminuiu. alguma relação com
essa planta.
Com a redução da população de C. mimosae, as acácias ficaram mais vulneráveis à
ação de besouros e de, pelo menos, outras três espécies de formiga que predam essas
plantas. As larvas predadoras de besouros, por exemplo, cavaram buracos no tronco
das acácias, os quais são utilizados como abrigo por uma das espécies de formiga,
ou seja, a presença de besouros facilita a presença dessas formigas. Outra espécie de
formiga se alimenta de partes essenciais ao desenvolvimento da planta, prejudicando
seu crescimento. Uma terceira espécie causa a destruição dos nectários das acácias,
diminuindo ainda mais as chances de as formigas C. mimosae se instalarem na planta.

Você sabia?
Como ocorre a metamorfose em insetos?
As larvas de besouros têm aparência bastante diferente da dos besouros adul-
tos. Isso porque, durante seu desenvolvimento, passam pelo processo de meta-
morfose e, portanto, dizemos que esses insetos têm desenvolvimento indireto e
são chamados de holometábolos.
Enquanto são larvas, realizam mu-
das sucessivas, passando por dife-
rentes estágios até chegar à fase Ovos
de pupa, durante a qual ocorre, de
fato, o processo de metamorfose. Larva
Biologia

As fases do desenvolvimento indireto Adulto


de um besouro. (Elementos fora de
proporção entre si. Cores fantasia.)
Pupa

27
8
Esse experimento mostra a importância da manutenção das interações ecológicas

FABIO LOTTI/SHUTTERSTOCK
entre os seres vivos, já que o desequilíbrio dessas interações pode levar à extinção de
espécies e a impactos ambientais. Em um primeiro momento, poderíamos pensar que
a ação de herbívoros, como a girafa e o elefante, apenas danifica as populações de
acácias. Porém, esse caso é um bom exemplo de que cada ser vivo ocupa um nicho
ecológico e de que a interrupção das interações ecológicas pode ser prejudicial para
outros seres vivos.

De olho... no nicho ecológico


Girafa comendo
folhas de acácia. As Os seres vivos desempenham papéis bem definidos no ambiente, os quais são
girafas adultas têm, influenciados pelas interações com os fatores abióticos e com outros seres vivos
aproximadamente,
5 metros de altura (fatores bióticos). Quando consideramos os hábitos de vida, tipos e formas de
(considerando o alimentação, estrutura social, período de reprodução, entre outros fatores, estamos
pescoço e a cabeça). definindo qual é o nicho ecológico de um ser.
Atenção: nicho ecológico é o papel desempenhado pelo ser vivo no ambiente que
ocupa, e não o local que ele ocupa – este é o habitat.

Outros animais da
Predadores
mesma espécie

Representação
esquemática de
algumas características Condições de
Parasitas
que compõem o reprodução
nicho ecológico de
uma girafa.

Temperatura e
Alimento e água
umidade

ATIVIDADE 2

1 O texto anterior sugere, inicialmente, que as girafas seriam prejudiciais às acácias. A que conclusões os pesquisadores
chegaram no estudo realizado?

2 Este Módulo trouxe exemplos de como diversas espécies podem se relacionar no bioma Savana. Indique quais interações
ecológicas ocorrem entre os organismos nas situações propostas a seguir e justifique sua resposta.
a) Elefante/girafa e acácia.

28
8 Ensino Fundamental
b) Elefante e girafa.

c) Indivíduos da população de formigas Crematogaster mimosae.

d) Formigas Crematogaster mimosae e acácia.

e) Entre as três espécies de formigas que vivem nas acácias isoladas.

f) Formigas das acácias isoladas e acácias.

EM CASA

1 (Escola Bahiana de Medicina-BA)


Relações ecológicas são as interações dos diferentes organismos que compõem uma comunidade
biológica. Na natureza, existem diversos tipos de relações entre os seres vivos, sendo algumas benéficas
e outras prejudiciais para cada um dos envolvidos. Essas relações são classificadas como positivas,
quando há ganho para um dos envolvidos ou para ambos, e como negativas, quando há prejuízo pelo
menos para um dos envolvidos.
SEIXAS, Cristina Faganelli Braun. Relações ecológicas: Os tipos de relacionamento entre os seres vivos.
Disponível em: <http//:www.educação.uol.com.br>. Acesso em: 18 nov. 2016. Adaptado.
Considerando as relações de protocooperação, predação, inquilinismo e mutualismo, indique se os organismos
são prejudicados, beneficiados ou não afetados pela relação em cada situação.
2 Leia o trecho a seguir.
ONU: relatório encontra níveis “muito altos” de caça ilegal de elefantes na África
Biologia

Um declínio contínuo no número total de elefantes continua a ocorrer, com a caça ilegal de ele-
fantes africanos continuando a superar as taxas de crescimento da população durante todo o ano de
2014. Foi o que revelou um novo relatório apoiado pelas Nações Unidas [...].
“Populações de elefantes africanos continuam a enfrentar uma ameaça imediata para a sua so-
brevivência a partir de altos níveis de caça ilegal para roubo de seu marfim, especialmente na África

29
8
Central e Ocidental, onde a situação parece ter se deteriorado”, disse John E. Scanlon, secretário-geral da
Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (CITES). [...]
NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. ONU: relatório encontra níveis “muito altos” de caça ilegal de elefantes na África.
Disponível em: <http://nacoesunidas.org/onu-relatorio-encontra-niveis-muito-altos-de-caca-ilegal-de-elefantes-na-africa/>.
Publicado em: mar. 2015. Acesso em: 21 nov. 2018.

Com base no que você estudou neste Módulo, explique de que maneira a situação descrita no texto pode afetar
as diversas populações de seres vivos que habitam os ecossistemas africanos.

RUMO AO ENSINO MÉDIO

1 (Fema-SP)
O peixe bodião de noronha (Thalassoma noronhanum) é considerado um “peixe faxineiro”, uma vez que a sua ali-
mentação consiste em parasitas, tecidos doentes e muco de peixes maiores, herbívoros em sua maioria.
As relações ecológicas existentes entre o peixe bodião e o peixe herbívoro e entre o peixe bodião e os parasitas
são denominadas, respectivamente,
a) predatismo e comensalismo. d) protocooperação e predatismo.
b) parasitismo e mutualismo. e) comensalismo e predatismo.
c) inquilinismo e parasitismo.

2 (UEFS-BA) As acácias são plantas que possuem espinhos dilatados, cobertura dura e interior macio, fácil para formi-
gas escavarem. Um pesquisador, querendo saber se as formigas eram benéficas a essa planta, fez um experimento:
removeu as formigas de algumas acácias e comparou a sobrevivência desse grupo com o grupo das plantas com
formigas. O estudioso ainda comparou a frequência com que outros insetos herbívoros foram encontrados em
ambos os grupos. Os gráficos ilustram os resultados observados pelo pesquisador.

REPRODU‚ÌO/UEFS-BA, 2018

(Michael L. Cain et al. Ecologia, 2011. Adaptado.)

Os resultados obtidos pela pesquisa indicam que:


a) As acácias são beneficiadas quando há presença de formigas.
b) As acácias são prejudicadas quando há presença de formigas.
c) A presença de formigas potencializa a ação dos insetos herbívoros sobre as acácias.
d) As acácias não são prejudicadas e nem beneficiadas quando há presença de formigas.
e) A presença de formigas não interfere na presença de insetos herbívoros sobre as acácias.

30
8 Ensino Fundamental
11 BIOACUMULAÇÃO – O CASO DAS
TARTARUGAS-MATAMATÁS

Algumas atividades humanas, como a mineração, são especialmente prejudiciais ao


ambiente, pois podem causar a contaminação da água e do solo com substâncias tóxicas
aos seres vivos.
O acúmulo dessas substâncias em um organismo pode causar danos irreversíveis
não só para o próprio indivíduo, mas também para toda a cadeia ou teia alimentar
relacionada a ele.
Neste Módulo, vamos analisar casos de liberação de substâncias tóxicas no ambiente
decorrentes de mineração e de práticas agrícolas. Também vamos estudar como ocorre
o acúmulo e a transferência dessas substâncias ao longo de cadeias e teias alimentares
e como alguns seres vivos podem indicar a poluição e a contaminação do ambiente.

RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS


Diversos rios da Amazônia estão contaminados com mercúrio, elemento químico usado no garimpo de
ouro. Na fotografia, balsas de mineração navegam no rio Madeira, em Porto Velho (RO), 2016.

AS MATAMATÁS E O MERCÚRIO
Biologia

A sobrevivência das espécies no ambiente depende da manutenção do equilíbrio eco-


lógico. Porém, a ação humana pode proporcionar a quebra desse equilíbrio de diversas
maneiras, prejudicando todo o ecossistema (conjunto de fatores bióticos e abióticos e
das relações que ocorrem entre eles, em determinado local).

31
8
De olho... no equilíbrio ecológico
O equilíbrio ecológico depende de uma série de relações que se estabelecem
entre os seres vivos e entre eles e o ambiente. Nesse equilíbrio, há um ajuste mais
ou menos constante no ecossistema, que envolve todas as espécies da fauna e da
flora e todos os fatores abióticos, como luminosidade, relevo, temperatura média
anual, nutrientes no solo, quantidade de chuva, entre outros, indicando que há uma
forte dependência entre todos os elementos.
Esse equilíbrio é dinâmico e pode ser observado no gráfico a seguir, que mostra
a interação entre predador (lince) e presa (lebre), com dados obtidos no final do
século XIX e começo do século XX.

160
Milhares de lebres

Milhares de linces
120 9

80 6

40 3
Gráfico mostrando a
0 0 variação do tamanho
1850 1875 1900 1925 da população de
Ano lebres e de linces,
Linces ao longo dos anos.
Lebres
Fonte: MODELO Predador-Presa. Disponível em: <http://ecologia.ib.usp.br/ecopop/doku.
php?id=exercicios:exe_lvpp>. Acesso em: 9 jan. 2019.

Neste caso, podemos perceber como uma população interfere em outra. Assim,
quando a população de lebres é maior, existe mais alimento para os linces, favorecen-
do sua sobrevivência e reprodução. Com isso, sua população cresce, aumentando a
predação de lebres. Isso faz com que a população de lebres diminua e comece a faltar
alimento para os linces.
É importante perceber que o equilíbrio ecológico é dinâmico e que qualquer
interferência em algum dos fatores, bióticos ou abióticos, altera esse equilíbrio.

A tartaruga-matamatá Entre a grande diversidade de espécies de animais que vivem na Amazônia está a
(Chelus fimbriata) tartaruga conhecida como matamatá (Chelus fimbriata). Trata-se de uma espécie de
apresenta cerca de aparência incomum, por apresentar carapaça com pontas de cor amarronzada e cabeça
50 cm de comprimento achatada e triangular, de onde partem diversas protuberâncias.
e 18 kg quando adulta.
Os ovos e a carne das tartarugas amazônicas são mui-
to apreciados, por isso elas são caçadas ilegalmente para
CYRIL RUOSO/JH EDITORIAL/MINDEN PICTURES/LATINSTOCK

alimentação. Mas apenas algumas populações ribeirinhas


usam as matamatás como alimento, pois elas são dificil-
mente encontradas na natureza, apresentam uma aparência
considerada estranha e, ao se sentirem ameaçadas, exalam
um cheiro forte e regurgitam alimentos.
Em 2009, um grupo de pesquisadores do Instituto Nacio-
nal de Pesquisas da Amazônia (INPA) realizou um estudo
envolvendo seis espécies de tartarugas que ocorrem na
Amazônia, entre elas a matamatá. O objetivo desse estudo
era verificar se havia diferença na concentração de mercú-
rio no corpo dessas espécies e, caso houvesse, qual seria
a causa que determinaria essa diferença.
32
8 Ensino Fundamental
De olho... no mercúrio
O mercúrio é um metal líquido à temperatura ambiente (24 8C). O símbolo desse
elemento químico é Hg. Ele é usado na mineração de ouro e de prata por ter a pro-
priedade de se unir a esses metais, formando amálgamas, o que possibilita a sepa-
ração deles de grãos de areia e outros sedimentos. Após a separação dos metais de
valor comercial, os outros materiais, contaminados pelo mercúrio, são descartados
no ambiente, causando contaminação da água e do solo.

BIOACUMULAÇÃO
O bioma Amazônia apresenta um solo rico em mercúrio, se comparado com o solo
de outros biomas brasileiros. Porém, ações humanas, como o desmatamento, o garimpo
de ouro e a construção de diversas usinas hidrelétricas na região, podem ter sido res-
ponsáveis pelo aumento na quantidade dessa substância nos organismos dos diversos
níveis tróficos das cadeias alimentares.
O caso descrito acima é um exemplo de bioacumula•‹o, um fenômeno no qual os
organismos absorvem e acumulam em seu corpo determinadas substâncias nocivas,
como metais pesados (o mercúrio é um exemplo) e compostos organoclorados (como o
inseticida diclorodifeniltricloroetano – DDT). Essa acumulação pode ocorrer por contato
direto com a substância presente no ambiente (no solo ou na água) ou por meio da
ingestão de alimentos que estejam contaminados por essas substâncias. Frequentemente,
ocorrem as duas formas de assimilação, especialmente nos ambientes aquáticos.
Além do mercúrio, são considerados metais pesados o cobre, o chumbo, o níquel,
o tálio, o estanho, entre outros. Os metais pesados, ao atingir certas quantidades no or-
ganismo, podem ser extremamente tóxicos. Geralmente esses elementos são liberados
em grandes quantidades no ambiente por meio do despejo de resíduos industriais e de
práticas de extração de minérios.
Os organoclorados, por sua vez, são substâncias orgânicas com pelo menos um átomo
de cloro na estrutura química. Eles têm diversas propriedades e, por isso, apresentam
muitas aplicações industriais. O uso dessas substâncias é controverso, por conta dos
danos ambientais que podem causar.
Organoclorados têm a característica de serem persistentes, isto é, não são destruídos
por microrganismos decompositores e são resistentes à degradação química e física (por
agentes como calor e luz).

De olho... nos organoclorados


As propriedades inseticidas do DDT foram descobertas no início dos anos 1940,
especialmente para o combate a mosquitos transmissores de doenças, como a ma-
lária e a dengue. Essa descoberta foi tão importante que valeu um prêmio Nobel,
em 1948.
Esse e outros inseticidas semelhantes já foram proibidos em muitos lugares no
mundo, desde os anos 1970. No Brasil, estão proibidos desde 2009, apesar de exis-
tirem restrições ao seu uso desde 1985.
Se são tão bons – e também baratos –, qual a razão da proibição? Essas substâncias
Biologia

se acumulam nos organismos vivos, causando problemas à saúde ao longo do tempo.


Atualmente, existe uma preocupação com outros produtos organoclorados, conhe-
cidos como PCB (bifenilo policlorado), resultantes de diferentes atividades industriais,
principalmente relacionadas à indústria do petróleo e do plástico.

33
8
Substâncias como as exemplificadas anteriormente tendem a se acumular nos orga-
nismos vivos, concentrando-se, principalmente, no tecido adiposo (em certas condições,
o mercúrio é solúvel em gorduras) e no sistema nervoso. Desse modo, se um ser vivo
absorvê-las continuamente, a quantidade delas nos tecidos aumentará.
Quando os seres vivos são predados por outras espécies, as substâncias acumuladas
em seus tecidos são transferidas para seus predadores, que passam a armazená-las
também. Desse modo, todos os organismos seguintes da cadeia alimentar ficam con-
taminados. Os consumidores finais, chamados de consumidores de topo de cadeia,
acabam por acumular mais dessas substâncias nocivas em seus corpos. O acúmulo
dessas substâncias ao longo da cadeia ou teia alimentar recebe o nome de biomag-
nificação ou magnificação trófica.

Água do mar
Sedimento 0,000002 Mamíferos
0,005-0,16 marinhos
160

Fitoplâncton
8

Peixes
1-37

Zooplâncton
10

Aves marinhas
110
Invertebrados
5-11
Esquema de
biomagnificação da
concentração de PCB O estudo realizado pelo INPA em 2009 verificou que, entre as espécies de tartarugas da
(miligramas por litro Amazônia analisadas, os indivíduos de matamatá eram os que apresentavam maior quan-
ou miligramas por tidade de mercúrio no corpo. O mercúrio é um elemento químico associado às mudanças
quilograma de gordura)
em uma cadeia
fisiológicas e de comportamento de tartarugas (terrestres e marinhas), embora pouco ainda se
alimentar marinha. conheça sobre os reais efeitos da bioacumulação desse metal no organismo desses animais.
(Elementos fora de Com essa informação, pesquisas iniciadas em 2014, no mesmo instituto, selecionaram
proporção entre si. as matamatás como modelos de organismos para se estudar a influência da contaminação
Cores fantasia.)
dos ambientes fluviais amazônicos nos seres vivos e os efeitos da bioacumulação de
mercúrio nas cadeias alimentares. A matamatá é um bom modelo científico porque, ao
contrário das demais espécies de tartarugas amazônicas, que são predominantemente
herbívoras, ela é estritamente carnívora e predadora, ou seja, comporta-se como predador
de topo de cadeia alimentar aquática.
34
8 Ensino Fundamental
ATIVIDADE 1

As populações de tartarugas amazônicas, não só as de matamatás, vêm sendo reduzidas. O desequilíbrio ambiental as-
sociado ao desmatamento, à mineração e à caça ilegal são as principais causas dessa redução.
Para evitar a extinção de espécies, deve-se pensar em medidas e políticas públicas que preservem e ajudem na recuperação
dessas populações. Além da proibição de caça, proponha medidas que deveriam ser implantadas para proteger as popu-
lações de tartarugas e justifique-as.

MODELOS CIENTÍFICOS
Os fenômenos observados na natureza envolvem vários processos complexos que
dificilmente são compreendidos por nós em toda sua extensão. Uma tentativa de explicar
esses fenômenos complexos envolve elaborar modelos científicos.
Os modelos podem ser construídos a partir de observações e de dados coletados,
e consistem em representações parciais de objetos, fenômenos da natureza, processos,
eventos, etc. Os modelos utilizados em ciência têm por objetivo facilitar a percepção de
um aspecto, possibilitando o desenvolvimento de novas ideias. Sabendo disso, pode-
-se concluir que os modelos sempre serão mais simples do que o fenômeno real – eles
visam ressaltar apenas um ou alguns poucos aspectos ou variáveis.
Um exemplo de modelo utilizado em ciência é o uso das matamatás para o en-
tendimento dos efeitos da contaminação dos ecossistemas aquáticos amazônicos
nos seres vivos. Os efeitos do mercúrio em todos os seres vivos desse ecossistema
são certamente mais complexos do que os que poderão ser observados no modelo
e, provavelmente, há outros fatores envolvidos nesse processo. Entretanto, pode-se
evidenciar alguns aspectos, como a quantidade de mercúrio acumulada nas mata-
matás e a quantidade de mercúrio disponível na cadeia alimentar, já que elas são
carnívoras e predadoras.
Um exemplo bem conhecido que revela alguns dos efeitos da bioacumulação foi
descrito na década de 1970, nos Estados Unidos, quando populações de aves de rapina,
como as da águia-careca e as do falcão-peregrino, apresentaram um declínio acentuado
em decorrência do acúmulo do defensivo agrícola DDT em seus corpos. Esse inseticida
era usado na agricultura, mas se acumulava em todos os animais que entrassem em
contato com a área em que havia sido pulverizado. Essa absorção acontecia de várias
formas: consumo de água contaminada – o DDT foi absorvido pelo solo e, consequente-
mente, contaminou aquíferos –; aspiração do DDT no momento da aplicação; consumo
das plantas diretamente pulverizadas e de outras espécies próximas que receberam o
inseticida indiretamente.
Biologia

Insetos, roedores e pequenas aves que apresentam hábitos herbívoros são contami-
nadas diretamente, por meio da alimentação. Aves de rapina, répteis e mamíferos que se
alimentam desses consumidores primários são contaminados em um segundo momento,
e assim por diante até que todos os organismos da cadeia alimentar se contaminam. Um
dos efeitos mais impactantes observados nas aves de rapina foi o enfraquecimento das

35
8
cascas dos ovos, que quebravam facilmente, diminuindo o número de nascimentos. A
proibição do uso do DDT a partir dos anos 1970, somada ao aparecimento de programas
de recuperação e proteção dessas aves, evitou que a extinção realmente ocorresse, mas
suas populações continuam ameaçadas até hoje.

DDT = 25 ppm

Águias

DDT = 2 ppm

Peixes
grandes
DDT = 0,5 ppm

Peixes
pequenos
Zooplâncton
Fitoplâncton
DDT = 0,04 ppm

DDT na água = 0,000003 ppm

Biomagnificação da concentração do DDT em uma cadeia


alimentar. O acúmulo de DDT ao longo da cadeia alimentar é
dado em ppm (partes por milhão). Note que ele vai aumentando
drasticamente à medida que se aproxima do predador de topo
de cadeia. (Elementos fora de proporção entre si. Cores fantasia.)

No caso da pesquisa com as matamatás e a bioacumulação de mercúrio, temos


que lembrar que o ambiente amazônico se caracteriza por uma grande quantidade
de rios que se conectam. Dessa forma, se um rio é contaminado por mercúrio, esse
contaminante pode se espalhar rapidamente, atingindo todo o ambiente aquático
da região.
Com a presença de mercúrio na água, vários seres vivos, incluindo pequenos pei-
xes, apresentarão acúmulo desse elemento em seu organismo. Os predadores de topo
de cadeia, como a matamatá, acumularão o mercúrio proveniente dos organismos que
consumiram e o mercúrio absorvido da própria água em que vivem.
Ao analisar amostras retiradas das tartarugas-matamatás, poderemos concluir se a
região analisada representa ameaça aos organismos que vivem ali, incluindo aos seres
humanos. É dessa maneira que essas tartarugas podem ser utilizadas como bioindicadoras
da contaminação no ambiente.
36
8 Ensino Fundamental
BIOINDICADORES
Bioindicadores são organismos vivos que indicam a presença de alterações ambientais.
Essas alterações podem causar mudanças bioquímicas, comportamentais, ecológicas, fi-
siológicas, genéticas ou morfológicas nos seres vivos e traduzem o acúmulo de poluentes
e contaminantes nos organismos. Assim, os bioindicadores informam sobre um possível
problema de contaminação no ecossistema.
Os bioindicadores mais utilizados nos ambientes aquáticos são os macroinvertebra-
dos bentônicos, como larvas de insetos, crustáceos, moluscos e vermes que vivem e se
alimentam no fundo de lagos, rios e lagoas – que pode ser composto de lodo, areia,
pedra, cascalho ou folhas e galhos. Cada um deles tem um limite de tolerância para
poluentes e contaminantes.
Assim, há os animais sensíveis (que só vivem em ambientes não contaminados ou não
poluídos) e os tolerantes (que vivem também em ambientes contaminados ou poluídos).
Dessa forma, quando os cientistas vão investigar se a água está poluída ou contaminada, FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO

procuram saber quais animais estão vivendo naquele ambiente.


A posição do organismo bioindicador na cadeia alimentar também é uma característica
muito importante: quanto mais baixo o nível trófico e quanto mais ele servir de alimento
para outros seres de níveis superiores da cadeia alimentar, melhor indicador o organismo
será, pois pode-se supor que toda a cadeia está contaminada.

Você sabia?
Liquens como indicadores de poluição atmosférica
Os liquens são extremamente sensíveis a alterações ambientais. São os me-
lhores bioindicadores conhecidos dos níveis de poluentes atmosféricos, como
dióxido de enxofre, monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio. A presença de
liquens, como na árvore da fotografia, geralmente sugere baixo índice de poluição
atmosférica, enquanto o desaparecimento desses organismos sugere agravamento
da poluição ambiental.

Liquens em
casca de árvore.

ATIVIDADE 2

Com base nas informações dadas sobre a pesquisa com matamatás, construa uma cadeia alimentar com seres vivos que
vivem na Amazônia, incluindo essa espécie. A cadeia alimentar deve apresentar, no mínimo, quatro níveis tróficos. Depois
dessa representação, justifique a frase: “Tudo o que o ser humano fizer para o ambiente acabará voltando para ele mesmo”.
Biologia

37
8
CASOS CONHECIDOS E POR CONHECER
O mercúrio na baía de Minamata – Japão
Em meados do século XX, na cidade costeira japonesa de Minamata, começaram a
ocorrer alguns problemas. Muitas aves passaram a perder a coordenação motora e a voar
de forma descontrolada, caindo no solo. Além disso, alguns gatos eram vistos correndo
em círculos, espumando pela boca.
Muitas pessoas, particularmente as famílias de pescadores, passaram a apresentar
sintomas como fadiga, irritabilidade, dores de cabeça, falta de sensibilidade nos braços
e nas pernas e dificuldade de deglutição. Nos casos mais graves, os órgãos senso-
riais e a coordenação motora também ficavam comprometidos. Segundo o governo
japonês, quase 3 mil pessoas foram afetadas e perto de 1 800 morreram. As pessoas
afetadas viviam em uma pequena área e boa parte das proteínas de sua dieta vinha
de peixes da baía de Minamata.

Japão – Cidade de Minamata


140º L

RÚSSIA Mar de
Okhotsk

I. Hokkaido

Fonte: CALDINI, V.; ÍSOLA, L. Atlas geográfico Saraiva. São Paulo:


CHINA

40º N

Mar do Japão
COREIA DO (Mar do Leste)
NORTE OCEANO
PACÍFICO

COREIA
DO
SUL Nagasaki
Tóquio
Mapa mostrando
a localização

Saraiva, 2013. p. 143.


da cidade de Minamata
Minamata, no
N N
sul do Japão. I. Shikoku
I. Kyushu O L O L

S S
0 195 km 0 65 km

Mas qual foi a causa desses problemas? Uma fábrica de cloreto vinílico, instalada
às margens da baía, utilizava mercúrio em seus processos de produção. O mercúrio
era liberado em resíduos descarregados na baía e convertido em outra substância, o
metilmercúrio, por bactérias existentes na baía. O metilmercúrio passa facilmente pelas
membranas celulares e, transportado pelos glóbulos vermelhos, percorre todo o corpo
chegando às células do cérebro, danificando-as.
Os peixes absorvem o metilmercúrio da água cem vezes mais rápido do que absor-
vem mercúrio (não se sabia disso antes dessa epidemia no Japão). Uma vez absorvido,
o metilmercúrio é retido por duas a cinco vezes mais tempo do que o mercúrio. As po-
pulações que se alimentavam dos peixes contaminados também passaram a acumular o
metilmercúrio, o que levou às lesões no sistema nervoso.
Os efeitos prejudiciais do metilmercúrio dependem de uma série de fatores, incluindo
a quantidade ingerida, a rota de ingestão dentro do organismo, a duração da exposição
e as espécies afetadas.
38
8 Ensino Fundamental
Desastres em Minas Gerais
Caminho dos rejeitos de Mariana
Em 5 novembro de 2015, ocorreu um dos piores 45º O
BA
desastres da mineração brasileira, no município de
Mariana, em Minas Gerais. A tragédia aconteceu Governador
Valadares Tumiritinga
após o rompimento da barragem de mineração de
Fundão: 34 milhões de metros cúbicos de rejeitos Belo Oriente e

ocD
de minério de ferro jorraram do complexo de mine-

Rio
Vila de
ração e percorreram 55 quilômetros do rio Gualaxo t
Regência

e
MG or
do Norte e outros 22 quilômetros do rio do Carmo N
20º S

x o do
até desaguarem no rio Doce. ES

a
N

al
No total, a lama percorreu 663 quilômetros até

Gu
Mariana io
O L

R
encontrar o mar, no município de Regência (ES). OCEANO
BARRAGEM ATLÂNTICO S
Ainda não é possível mensurar completamente a DE REJEITOS 0 75 km
DE FUNDÃO
dimensão do impacto desse desastre na natureza
porque boa parte da lama continua nas margens e Cidade
Caminho percorrido
na calha do rio e, ainda, parte dos rejeitos que che- RJ pela lama
garam ao oceano continua sendo carregada pelas
correntes marinhas. Também não há análises defini- Fonte de pesquisa: JANSEN, R; ARAÚJO, C.
Desastre de Mariana, 2 anos: em busca da própria Mapa mostrando o
tivas nas regiões afetadas pela lama, mas pesquisas história e de reparação. Disponível em: <https:// caminho percorrido pelos
importantes vêm sendo feitas e divulgadas. Leia brasil.estadao.//brasil.estadao.com.br/noticias/
geral,desastre-de-mariana-2-anos-em-busca-da-
rejeitos de mineração
em seguida resultados obtidos por algumas delas. própria-historia-e-de-reparacao,700020722336>. desde Mariana até o
Acesso em: 8 fev. 2019. oceano Atlântico.
Um dos estudos, realizado por uma equipe da
RICARDO MORAES/REUTERS/FOTOARENA
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS),
da Bahia, revela que os animais e o meio ambiente
ao longo da bacia do rio Doce estão contaminados
com altos níveis de metais pesados, como ferro,
bário e níquel, em decorrência do rompimento da
Barragem de Fundão, em Mariana (MG).
Realizado entre setembro e dezembro de 2016, o
estudo analisou populações de girinos ao longo de
seis cidades no Espírito Santo e duas em Minas Ge-
rais. Os girinos são ótimos indicadores da situação
do meio ambiente, sobretudo da água, por causa
de sua pele permeável e muito sensível.
Os dados coletados com a observação de 1 500
girinos de 24 espécies revelam que mesmo pontos
de amostra que não tiveram contato direto com a
lama da barragem de Fundão também apresentaram
contaminação de animais e da água. Segundo os
pesquisadores, isso pode ser explicado pela con-
taminação por meio do lençol freático.
Os girinos mostraram níveis muito altos de me-
tais em todos os pontos de coleta. Ainda não se
Região destruída
sabe quantos alcançarão a idade adulta e, quando pela enxurrada de
adultos, se conseguirão se reproduzir com a mesma eficiência. Além disso, esses giri- lama proveniente do
nos farão parte da cadeia alimentar de vários outros animais, o que impactará a fauna rompimento da barragem
silvestre sobrevivente. de rejeitos de mineração
Biologia

de Fundão, cinco dias


O relatório constatou que o ferro, visto como pouco nocivo a seres humanos e pre- após o desastre, em
sente em altas quantidades nos rejeitos de mineração, acabou atraindo os metais tóxicos. Mariana (MG).
O espalhamento do rejeito enriquecido com ferro possibilita o aumento da concentração,
no ambiente, de outros elementos químicos com afinidade pelo ferro, como manganês,
níquel e chumbo, com potenciais toxicológicos conhecidos.

39
8
Outro estudo, conduzido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiver-
sidade (ICMBio) nas águas do rio Doce, analisou pescados e mariscos da região afeta-
da pela lama da barragem do Fundão. Segundo o estudo, a concentração de metais é
140 vezes maior do que a permitida pela legislação.
Limite (mg/kg) Medição mais alta
Camarão 1 88
0,5 2,7
0,5 2,7

Linguado 1 43

Gráfico mostrando a presença 0,1 0,9


de metais pesados em alguns 0,3 1,9
seres vivos afetados pelo
desastre de Mariana (MG). Peroá
1 34
(Elementos fora de proporção
entre si. Cores fantasia.) 0,5 1,3
0,3 0,28

Roncador 1 140
0,05 0,6
0,3 1,7

Metais Arsênio Cádmio Chumbo


Fonte: FERNANDES, V. Contaminação de peixes do Rio Doce é 140 vezes maior que limite.
Disponível em: <http://s2.glbimg.com/PGvjFVYECAx3sipgN5ziqsAS4KM=/s.glbimg.com/jo/g1/f/
original/2016/03/28/1918138.jpg>. Acesso em: 19 jan. 2019.

A pesquisa aponta que houve acumulação significativa de metais tóxicos no zoo-


plâncton, que foi usado como parâmetro por estar presente em todos os pontos de
coleta de amostras e com níveis significativos de contaminação. A alta concentração
de metais tóxicos também foi encontrada em corais da região.
Ainda há muito o que pesquisar para avaliar os impactos da bioacumulação ocasio-
nada pelo desastre em Mariana.
Nem bem os primeiros resultados de pesquisas sobre esse desastre surgiram, quan-
do, em 25 de janeiro de 2019, o Brasil assistiu a uma repetição da tragédia na região
de Brumadinho, a 20 km de Belo Horizonte (MG). Desta vez, com centenas de mortos.
Mais do que descrever essa nova tragédia, procurar culpados e pesquisar os impactos,
fica uma pergunta para reflexão: como nós, cidadãos, podemos atuar para evitar que
esse tipo de evento se repita, mesmo que ele não nos atinja diretamente?

WWW.FOTOARENA.COM.BR

Visão aérea da região


afetada pelo rompimento da
barragem em Brumadinho,
em 25 de janeiro de 2019.

40
8 Ensino Fundamental
ATIVIDADE 3

(Unicamp-SP) Em um canavial foi aplicado um inseticida organoclorado. Pesquisadores preocupados com o meio ambiente
rapidamente iniciaram uma avaliação periódica deste composto nos tecidos de animais presentes no canavial. Foram cole-
tados, com intervalos regulares de tempo, exemplares da mesma espécie de lagarto, cigarrinha, aranha, gafanhoto, serpente
e libélula. Os resultados da concentração do inseticida nos tecidos de cada espécie estão representados no gráfico a seguir.

REPRODU‚ÌO/UNICAMP, 2003
a) Explique por que as espécies representadas pelas curvas I e II foram as primeiras a apresentar os compostos nos seus
tecidos. Quais dentre as espécies estudadas podem corresponder a estas curvas?

b) Explique por que as espécies representadas pelas curvas V e VI apresentaram as maiores concentrações nos seus teci-
dos. Identifique dentre as espécies coletadas quais podem corresponder a estas curvas.

EM CASA

1 Até alguns anos atrás, o DDT era muito utilizado como defensivo agrícola para combater insetos nas plantações.
Biologia

No entanto, esse agrotóxico apresenta outros efeitos danosos no ambiente: causa o enfraquecimento da casca de
ovo de aves, o desenvolvimento de câncer em seres humanos e pode se acumular no leite e ser transmitido aos
filhotes de mamíferos. O DDT pode ser absorvido e se acumular nos diversos níveis tróficos, pois, quando um ser
vivo se alimenta de outro, acaba adquirindo o DDT da presa. Por causa desses vários efeitos danosos, o uso desse
composto foi proibido.

41
8
Suponha que um avião lance o inseticida DDT em certa região. Ao fazer uma análise da quantidade desse inseticida em
organismos da região, um pesquisador encontrou as seguintes concentrações desse inseticida em animais e plantas:

Organismo capins serpentes gaviões preás


Concentração (ppm*) 5 240 1 600 40
*ppm 5 partes por milhão

Com base na tabela acima e no texto anterior, faça as atividades a seguir.


a) Esquematize a provável cadeia alimentar constituída pelos organismos da tabela.
b) Por que os gaviões apresentam maior concentração de DDT?

2 De que modo as tartarugas-matamatás poderiam servir de modelo para evidenciar que os seres humanos podem
ser afetados pela poluição da água por mercúrio na Amazônia?

3 Leia o fragmento de artigo abaixo e depois escreva uma explicação possível para a situação descrita.
O uso de pesticidas, ao longo do século passado, foi importante para aumentar a produção agrícola
mundial e torná-la grande o suficiente para alimentar a população do globo. [...] Nos últimos anos a
equipe do oceanólogo Adalto Bianchini, da Universidade Federal do Rio Grande, detectou a presença
de praguicidas onde eles jamais foram aplicados: na Antártida. Analisando a gordura de elefantes-
-marinhos (Mirounga leonina) [...] encontraram níveis elevados de diferentes componentes de agrotóxicos
– como o DDT, cujo uso foi abolido em boa parte do mundo – tanto no organismo de fêmeas adultas
como de seus filhotes. [...]
Fonte: Leite amargo. Pesquisa FAPESP, ed. 157, mar. 2009. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/
2009/03/01/leite-amargo/>. Acesso em: 10 jan. 2019.

RUMO AO ENSINO MÉDIO

1 (Enem) A figura representa uma cadeia alimentar em uma lagoa. As setas indicam o sentido do fluxo de energia
entre os componentes dos níveis tróficos.

REPRODU‚ÌO/ENEM, 2011

42
8 Ensino Fundamental
Sabendo-se que o mercúrio se acumula nos tecidos vivos, que componente dessa cadeia alimentar apresentará
maior teor de mercúrio no organismo se nessa lagoa ocorrer um derramamento desse metal?
a) As aves, pois são os predadores do topo dessa cadeia e acumulam mercúrio incorporado pelos componentes
dos demais elos.
b) Os caramujos, pois se alimentam das raízes das plantas, que acumulam maior quantidade de metal.
c) Os grandes peixes, pois acumulam o mercúrio presente nas plantas e nos peixes pequenos.
d) Os pequenos peixes, pois acumulam maior quantidade de mercúrio, já que se alimentam das plantas
contaminadas.
e) As plantas aquáticas, pois absorvem grande quantidade de mercúrio da água através de suas raízes e folhas.

2 (UCS-RS) Os alimentos que conhecemos como frutos do mar são considerados ingredientes fundamentais na ali-
mentação balanceada, porém podem conter substâncias que, em vez da longevidade prometida, aceleram o fim.
Isso ocorre pois algumas substâncias ficam concentradas nos organismos que estão no ápice da cadeia alimentar.
A figura abaixo representa essa situação, que pode ser denominada:

REPRODU‚ÌO/UCS, 2012
a) Pirâmide trófica.
b) Bioacumulação.
c) Teia alimentar.
d) Pirâmide de energia.
e) Transformação bioquímica.

3 (Enem)
Os botos-cinza (Sotalia guianensis), mamíferos da família dos golfinhos, são excelentes indicadores
da poluição das áreas em que vivem, pois passam toda a sua vida – cerca de 30 anos – na mesma re-
gião. Além disso, a espécie acumula mais contaminantes em seu organismo, como o mercúrio, do que
outros animais da sua cadeia alimentar.
MARCOLINO, B. Sentinelas do mar. Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br.
Acesso em: 1 ago. 2012 (adaptado).
Os botos-cinza acumulam maior concentração dessas substâncias porque
a) são animais herbívoros.
b) são animais detritívoros.
Biologia

c) são animais de grande porte.


d) digerem o alimento lentamente.
e) estão no topo da cadeia alimentar.

43
8
12 A CRISE HÍDRICA E A
CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

Você já passou pela situação de ficar sem fornecimento de água em sua casa? Já
se perguntou os motivos pelos quais isso acontece? Será que suas atitudes cotidianas
poderiam ajudar a evitar isso? Será que elas seriam suficientes?
Neste Módulo, estudaremos casos de crise hídrica em grandes centros urbanos, os
possíveis motivos para que elas ocorram e como atitudes de conservação ambiental, além
de outras medidas, podem ajudar a evitá-las.

JAN PHANOMPHRAI/SHUTTERSTOCK
Imagine uma situação como a representada na fotografia acima: ao abrir
a torneira, caem apenas algumas gotas de água.

QUANTA ÁGUA EXISTE NO MUNDO?


A disponibilidade de água está se tornando uma das principais questões socioam-
bientais do mundo atual, ao lado da manutenção da biodiversidade e do aquecimento
global. Quase 20% da humanidade – mais de 1 bilhão de pessoas – não tem acesso
à quantidade mínima necessária de água potável, 20 litros por pessoa por dia, de
acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Em contrapartida, o consumo
per capita em países ricos como Estados Unidos e Canadá é de 300 litros diários, muito
acima do recomendado.
Muitas regiões do planeta convivem com a escassez e o estresse hídricos, resultantes
do desequilíbrio entre demanda e oferta de água, causado, entre outros fatores, pela
contaminação dos corpos de água.
44
8 Ensino Fundamental
Distribuição de água no planeta Terra

LUCA LUCERI/SHUTTERSTOCK
Distribuição da

UMKEHRER/E+/GETTY IMAGES
Distribuição de água água no planeta. As
no planeta Terra principais fontes de
água para consumo
Água salgada humano são as
97,5% águas subterrâneas
Água subterrânea Glaciares e os rios e lagos.
0,514% 1,979%

KC LENS AND FOOTAGE/SHUTTERSTOCK


GERSON GERLOFF/PULSAR IMAGENS

Água doce
2,5% Fonte de pesquisa: MINISTÉRIO
DO MEIO AMBIENTE. Água.
Disponível em: <http://www.
Rios e lagos Atmosfera mma.gov.br/estruturas/
0,006% 0,001% sedr_proecotur/_publicacao/140_
publicacao09062009025910.pdf>.
Acesso em: 10 jan. 2019.

O Brasil detém 12% da água doce de superfície do mundo, o rio de maior volume e os
principais aquíferos subterrâneos, além de altos índices de chuva. Ainda assim, falta água
no semiárido e nas grandes cidades, porque a distribuição desse recurso é bastante desigual
no país. Cerca de 70% da reserva brasileira de água está no Norte, onde vive menos de 10%
da população. A situação é pior nas regiões populosas, nas quais o consumo é muito maior
e a poluição das indústrias e do esgoto residencial reduz o volume disponível para o uso.
É o caso da bacia do rio Tietê, na região metropolitana de São Paulo, onde os habitantes
têm acesso a um volume de água menor do que o recomendado para uma vida saudável.

De olho... no consumo de água no Brasil


A água é utilizada para muitas finalidades: irrigação, produção industrial, abastecimento de centros urbanos
(para cozinhar, para a higiene pessoal, para a limpeza de ruas), navegação, lazer, entre outras. As porcentagens
de uso médio anual para algumas finalidades podem ser analisadas no gráfico a seguir.

Total de água consumida no Brasil (média anual)

água. Disponível em: <http://conjuntura.ana.gov.br/


static/media/uso_agua.f9c46ece.pdf>. Acesso em:
Fonte: AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Usos da
Abastecimento
rural
Abastecimento 2,4%
Mineração
urbano
0,8%
8,8%

Total de consumo Termelétricas


1109 m3/s 0,3%
Abastecimento
animal
11,1%
10 jan. 2019.

Indústria
Biologia

9,5% Irrigação
67,2%

Estimativa do consumo de água médio anual no Brasil, por finalidade, em 2016.

45
8
ATIVIDADE 1

Organizem-se em grupos de três a quatro integrantes. Para esta atividade vocês utilizarão uma conta de água trazida
de casa por algum integrante do grupo. Com os demais colegas, leia a conta de água atentamente. Verifiquem as infor-
mações que ela traz: volume de água consumido no mês e nos meses anteriores, média de consumo, data da leitura de
consumo e valor a ser pago. Observem que se paga também pelo esgoto.
a) Quantas pessoas moram na residência cuja conta está sendo analisada?

b) Qual é o volume de água consumido por pessoa, em média?

c) Qual é o consumo de água por dia?

d) Com os dados do gráfico abaixo, calcule o volume de água em cada uma das atividades com base no volume total
consumido pela residência cuja conta de água vocês estão analisando.

Total de água consumida no Brasil (média anual)


Porcentagem de ‡gua usada (%)
45

Fonte: SESCSP. Aproveitamento de água da chuva. Disponível em: <http://sustentabilidade.


G
40

35

sescsp.org.br/apps/agua-da-chuva/tela-7.html>. Acesso em: 10 jan. 2019.


30

25

20 F Legenda

15 A: beber
E G B: cozinhar
D C: regar as plantas
10
F D: lavar louça
B C H
5 E: lavar roupa

A F: descarga
0 G: banho
H: outros

7% alimentação 93% higiene e limpeza

Gráfico comparando as porcentagens de água usada em cada atividade doméstica.

46
8 Ensino Fundamental
Você sabia?

A conta de água
A conta de água refere-se à cobrança pelos serviços de coleta, tratamento e distribuição de água e de
esgoto e é emitida pelas empresas responsáveis pelo saneamento básico em cada região. 
Para saber qual é a empresa que presta os serviços de saneamento em seu estado ou município, consulte
o Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), do Ministério do Desenvolvimento Regional.
É para esse órgão que você deve encaminhar suas reclamações (ou sugestões) sobre os serviços prestados.

OS GRANDES AQUÍFEROS PRESENTES NO TERRITÓRIO


BRASILEIRO
Aquífero é um grande reservatório de águas subterrâneas, localizado a centenas de
metros de profundidade.
Aquíferos presentes
no território brasileiro
GUIANA
VENEZUELA SURINAME
Guiana
COLÔMBIA Francesa
0o (FRA) Equador
EQUADOR

BRASIL
PERU
OCEANO Mapa mostrando a
ATLÂNTICO
BOLÍVIA localização dos aquíferos
Grande Amazônia e
PARAGUAI Trópico de C
apricórnio
Guarani na América do Sul,
CHILE incluindo dados sobre sua
ARGENTINA
OCEANO extensão e volume de água.
PACÍFICO
URUGUAI

Sistema Aquífero Grande Amazônia


N Extensão: 1,3 milhão de km2
Volume de água: 162 520 km3
O L
Sistema Aquífero Guarani
S Extensão: 1,2 milhão de km2
0 1005 km Volume de água: 39 000 km3
60º O
Fonte: Agência Nacional das Águas (ANA)
e Ministério do Meio Ambiente (MMA).

O Sistema Aquífero Guarani se estende por quatro países, ficando a maior parte no Brasil.
Essa área é formada por rochas sedimentares, muita areia e pouca argila, características que
facilitam a absorção das águas das chuvas, que, após absorvidas, ficam confinadas em rochas
impermeáveis a centenas de metros de profundidade. O acesso a essa água para milhares
de pessoas ocorre por meio de poços com profundidades que variam de 100 a 300 metros.
Mesmo no subsolo, a água do Aquífero Guarani tem sido contaminada por atividades
humanas, principalmente as agrícolas e as industriais, como o uso de agrotóxicos na
agricultura e o descarte do vinhoto (resíduo da destilação fracionada da cana-de-açúcar),
que atingem o reservatório.
O Sistema Aquífero Grande Amazônia é considerado o maior aquífero do mundo
Biologia

em volume de água disponível. Seu volume supera em mais que o dobro o do Aquífe-
ro Guarani. Imagina-se que a quantidade de água subterrânea armazenada no Grande
Amazônia poderia abastecer todo o planeta por 250 anos. Até 2013, esse aquífero era
conhecido como Alter do Chão, mas novos estudos feitos por pesquisadores da Univer-
sidade Federal do Pará (UFPA) apontaram para uma área de abrangência maior.

47
8
Várias cidades da região Norte usam reservas de água disponibilizadas por esse
aquífero, incluindo Manaus, que tem 40% de seu abastecimento proveniente dessa fon-
te. No entanto, ocorre também, nessa mesma região, a maior parte da contaminação
dessa reserva, devido a problemas no tratamento da água e no saneamento ambiental.
O crescimento da atividade agropecuária na região Norte também poderá representar
uma ameaça, caso sejam empregadas grandes quantidades de agrotóxicos.
A manutenção e a sustentabilidade do aquífero dependem da conservação da floresta,
pois boa parte do abastecimento dele vem da grande quantidade de chuva que cai na re-
gião. Isso ajuda a explicar seu grande volume de água. Assim, a manutenção da Floresta
Amazônica nessa área é fundamental, pois a ampliação do desmatamento colocaria em risco
a disponibilidade de água desse recurso hídrico. 
O aquífero tem de ser visto no ciclo hidrológico completo. As águas do sistema
subterrâneo são as que alimentam os rios, que são abastecidos também pelas chuvas.
Mesmo com a grande quantidade de água do aquífero é difícil imaginar o seu uso para
abastecimento de regiões secas, como o semiárido brasileiro. O transporte da água para
o Nordeste ou para o Sudeste, por exemplo, implicaria um custo muito elevado.

ATIVIDADE 2

Elementos fora de proporção de tamanho


Observe a figura abaixo. e distância entre si. Cores fantasia.

Rios aéreos... ... trazem água...

Sem floresta...
... da Amazônia... ... para o Sul e o Sudeste.
... a água acaba.

Essa figura mostra uma relação entre florestas (no caso, a Floresta Amazônica) e a ocorrência de chuvas (no caso, nas
regiões Sudeste e Sul do Brasil).
a) Explique de que forma a água que está no ecossistema florestal passa para a atmosfera. Considere o ciclo da água
para responder a esta questão.

b) O processo mostrado na figura substitui a necessidade de conservação de áreas nas grandes cidades do Sul e do
Sudeste do país? Por quê?

48
8 Ensino Fundamental
A ÁGUA NAS CIDADES – O EXEMPLO DE NOVA YORK
Na década de 1990, a cidade estadunidense de Nova York enfrentou uma grave
crise no abastecimento de água. Seus reservatórios, que chegaram a apenas 27% da
capacidade total, sofreram as consequências do aumento do consumo de água, aliado
à ocupação irregular das áreas de mananciais. Mas esse problema não surgiu repen-
tinamente. Desde a metade do século passado, Nova York já vivia a ameaça de uma
crise no abastecimento de água. O crescimento populacional da cidade e a ocupação
do seu entorno projetavam para a cidade um futuro de racionamentos frequentes e
consequente perda de recursos financeiros devido à falta de água. Mata ciliar: qualquer tipo
de cobertura vegetal nativa
Na tentativa de resolver a questão, as medidas tomadas foram: promover a con- que fica às margens de lagos,
servação de áreas de mananciais e reservas hídricas, onde a água era obtida; e im- rios, igarapés, olhos-d’água e
pedir o desperdício em vários setores, desde a captação da água, até a distribuição represas. É considerada uma
formação vegetal importante
e a chegada ao consumidor final (indústrias, comércio e a população consumidora). para a conservação ambiental,
No entanto, apesar das campanhas, o problema persistiu, pois a cidade consumia pois, como o próprio nome
além dos níveis considerados seguros. indica, protege os corpos de
água, assim como os cílios
A partir de 1997, a prefeitura de Nova York adquiriu as terras no entorno das protegem os olhos. As matas
numerosas nascentes, dos reservatórios hídricos e das faixas de matas ciliares ao ciliares são importantes
longo dos cursos de água ao norte da cidade. Passou a remunerar os fazendeiros corredores ecológicos e evitam
danos ambientais como os
locais pelos serviços ambientais prestados, além de implantar pequenas estações de assoreamentos.
tratamento de esgoto e de resíduos oriundos das atividades rurais do local.

ATIVIDADE 3

Quanto ao caso da crise hídrica de Nova York, responda:


a) Quais foram os principais fatores relacionados ao ambiente que levaram à escassez de água na região?

b) É correto afirmar que os habitantes locais também tiveram responsabilidade sobre a crise? Por quê?

De olho... na qualidade da água das torneiras


Biologia

Para garantir a qualidade da água distribuída nas residências, dois dos recursos
utilizados são a fluoretação (acréscimo de flúor à água, que ajuda a prevenir a cárie
dentária) e a cloração (acréscimo de hipoclorito de sódio, que visa à eliminação de
microrganismos que podem estar presentes na água).

49
8
PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS (PSA)
Uma das medidas governamentais que visam à conservação ambiental é o Paga-
mento por Serviços Ambientais (PSA). Por esse programa, o proprietário de certa área
é compensado financeiramente ou de outra forma pelo desenvolvimento de serviços
de recuperação e conservação do ambiente, abrindo mão de explorar áreas nativas.
Esse tipo de “acordo” foi aplicado no caso de Nova York e vem sendo aplicado no
Brasil principalmente em áreas da Amazônia e da Mata Atlântica.
É interessante notar que o pagamento pela conservação de um ambiente poderá
gerar um custo extra, por exemplo, na produção de água potável para a população. Os
governos e administrações podem compensar esse custo criando ou direcionando parte
de taxas e impostos para custear essa ação. É o caso de alguns estados do Brasil, que
destinam uma parcela do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
a serviços de conservação ambiental. Esse é o chamado ICMS ecológico.
Após 25 anos, o resultado da aplicação de PSA em Nova York pode ser percebido
de duas formas: na queda de cerca de 30% no consumo de água, como consequência
da reeducação da população, e na melhoria da qualidade da água que passou a sair
das torneiras.

CRISE HÍDRICA NO BRASIL


O caso do Sistema Cantareira
Perceba que o problema que a cidade de Nova York enfrentou na década de 1990
tem semelhanças com a crise hídrica que diversas áreas do Sudeste do Brasil vêm
enfrentando nas últimas décadas.
Veja abaixo, por exemplo, duas imagens aéreas de uma das represas do Sistema Can-
tareira, na Grande São Paulo.
FOTOS: DIGITALGLOBE/GOOGLE EARTH

2013 2015

Imagens aéreas da represa Jaguari, do Sistema Cantareira, em São Paulo, mostrando a


redução de nível da água devido à crise hídrica pela qual passou a região. A primeira
fotografia foi tirada em fevereiro de 2013 e a segunda, em fevereiro de 2015.

50
8 Ensino Fundamental
Na Grande São Paulo, são apontados como principais responsáveis pela crise hídrica:
o desmatamento e a ocupação urbana em áreas de nascentes; as condições inadequadas
dos sistemas de tubulação e distribuição da água, o que causa vazamentos frequentes;
e o consumo excessivo e o desperdício de água por parte da população, das atividades
industriais e agropecuárias e de outros setores. A proteção de áreas de nascentes é fun-
damental para a conservação de recursos hídricos, pois é nesses locais que está a fonte
de diversos tipos de corpos de água dos quais dependemos para o abastecimento.
Depois do fim da crise hídrica histórica em São Paulo (que compreendeu o período de
2014 e 2015, pois a crise hídrica ainda permanece), o índice de perdas de água por meio
de vazamentos na rede e fraudes como ligações clandestinas chegou a 31,4%, uma alta
de 10% em relação a 2015, quando havia racionamento de água e pressão muito menor
na tubulação. Na prática, a cada mil litros de água tratada pela Sabesp (empresa brasileira
que detém a concessão dos serviços de saneamento básico no estado de São Paulo),
314 litros se perdem por vazamentos na tubulação antes de chegar aos consumidores
ou são furtados, causando prejuízo financeiro.  Entre janeiro e setembro de 2016, mais
de 600 bilhões de litros de água tratada foram desperdiçados, o que corresponde a mais
da metade da capacidade normal (sem contar o volume morto) do Sistema Cantareira.
A maior parte das medidas tomadas para evitar a carência de água – como multas
para aumento de consumo e descontos para quem consegue economizar – serve apenas
para contornar os efeitos imediatos.
Obras de captação de água em reservatórios secundários e rios distantes, além de
terem altos custos, tendem a adiar a crise, mas não solucionam o problema da falta de
água nas grandes cidades.
Mesmo assim existem alternativas que podem diminuir, pelo menos parcialmente,
essa crise que ainda persiste. É o caso do projeto de PSA na Mata Atlântica, que teve sua
implantação iniciada no começo deste século.
Desde o início de 2017, a situação do Sistema Cantareira melhorou, mas os cuidados
da população não devem parar, assim como a fiscalização das autoridades sobre os
desperdícios na produção agrícola e industrial. Em 30 de janeiro de 2017 foi registra-
do um volume útil de água quase quatro vezes maior do que no mesmo dia em 2016.
O índice é o melhor para o período desde 2012.
DELFIM MARTINS/PULSAR IMAGENS

Represa Jaguari, do Sistema


Cantareira, em Joanópolis
(SP), em 2017, com nível de
água considerado normal.
Biologia

A elevação dos níveis dos reservatórios foi possível graças à grande ocorrência de
chuvas na região, que acumulou, no início do mês de janeiro de 2017, 377,5 milímetros
de precipitação, enquanto a média histórica para janeiro era de 262,6 milímetros.

51
8
Em 2018, as chuvas foram menos intensas e, com a chegada do inverno, período
mais seco, observou-se uma diminuição gradativa do volume útil no Sistema Cantareira.
Veja na tabela abaixo os índices de maio, junho e julho de 2018.

1o de maio/2018 1o de junho/2018 1o de julho/2018


Índice armazenado 51% 46,2% 43,7%
Pluviometria do dia 0% 0% 0,1%
Pluviometria acumulada no mês 0% 0% 0,1%
Pluviometria média histórica
78,6% 61,1% 46,7%
do mês
Fonte: Boletim diário das condições dos mananciais divulgado pela Sabesp.

Observe na tabela que mês a mês o índice de armazenamento diminui. Até agora, não
vimos iniciativas para estimular a população a economizar água, ainda que tudo indique
que, num futuro próximo, não passaremos por uma crise hídrica tão grave como a de
2015. O hábito de economizar água e de cuidar dela deveria estar presente sempre, inde-
pendentemente das condições do momento.

Os dados diários do abastecimento de água podem ser acompanhados para todos os


sistemas do estado de São Paulo consultando o site da Sabesp. Disponível em: <http://
www2.sabesp.com.br/mananciais/DivulgacaoSiteSabesp.aspx>. Acesso em: 10 jan. 2019.

Em Extrema (MG), uma solução para a crise hídrica


O município de Extrema localiza-se na região sul do estado de Minas Gerais, região que
abriga várias nascentes e faz parte da bacia hidrográfica dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.
Desde a década de 1990, vêm sendo desenvolvidos na região programas de conser-
vação e recuperação de águas, como o projeto Recuperar e preservar a quantidade e
qualidade das águas dos mananciais de consumo e desenvolvimento do médio Sapucaí.
Em 2005, foi iniciado o Projeto Conservador das Águas, que inclui a implantação de
Áreas de Preservação Permanente (APPs), o estudo socioeconômico dos proprietários
rurais, obras de melhorias na infraestrutura rural (como estradas e saneamento rural)
e o monitoramento constante da qualidade da água das bacias do projeto. Além disso,
proprietários rurais recebem um valor calculado em função da área preservada e do tipo
de serviço que eles estabelecem em sua propriedade.
O projeto prevê a recuperação gradativa de várias áreas na região de Extrema e os
resultados são perceptíveis. Nas áreas onde o projeto já se desenvolve, percebe-se uma
recuperação da cobertura vegetal nativa, o que deverá facilitar a conservação de nascentes.

Você sabia?
O que é uma APP
A Área de Preservação Permanente (APP) é uma área protegida que tem a
função ambiental de preservar os recursos hídricos e, principalmente, as matas
ciliares, o que evita o assoreamento de rios. Além disso, as APPs ajudam a garantir
o abastecimento dos lençóis freáticos e a preservar a vida aquática.

52
8 Ensino Fundamental
ATIVIDADE 4

Em sua opinião, quais devem ser os critérios ambientais para a escolha de áreas que sejam custeadas pelo PSA?

EM CASA

1 O ciclo hidrológico, ou ciclo da água, é o movimento contínuo da água dos oceanos, dos continentes (superfície,
solo e rochas) e da atmosfera. A energia do Sol provoca a evaporação das águas dos oceanos e dos continentes.
Na atmosfera, a água forma as nuvens, que, quando carregadas, provocam precipitações, na forma de chuva,
granizo, orvalho e neve.
Nos continentes, a água precipitada pode seguir diferentes caminhos.
A partir da análise do esquema abaixo, que representa o ciclo hidrológico, escreva os caminhos da água precipitada.

Precipitação Precipitação

Geleiras Evaporação

Infiltração

Evapotranspiração
Degelo Escoamento
superficial

Mar

Infiltração Fluxo
Base Rio
Recarga
Infiltração Descarga
Fraturas
Água subterrânea
na rocha
Fluxo água
subterrânea

Esquema do ciclo hidrológico. (Elementos fora de proporção entre si. Cores fantasia.)

2 Considere as formas de captação de água na região em que você mora. De que maneira a conservação e o cui-
dado ambientais podem garantir o fornecimento de água? Avalie, na sua região, se esse fornecimento vem sendo
Biologia

feito de maneira adequada.

3 Por meio dos exemplos citados, discuta qual é a relação entre a conservação de áreas de nascentes e de
reservatórios e o fornecimento de água a baixo custo para as cidades.

53
8
RUMO AO ENSINO MƒDIO

1 (UPE) A água é uma condição básica para a vida no planeta Terra. Mantém a biodiversidade e impulsiona os ciclos
biogeoquímicos, por exemplo. Como tem, também, importância para a economia dos continentes, ela precisa ser
melhor gerenciada. Sobre os problemas referentes aos recursos hídricos em escala global, analise os itens a seguir:
1 – Esses problemas podem ser muito bem sintetizados no conjunto de situações que resultam do crescimento
populacional, da intensa urbanização e da contaminação de recursos hídricos superficiais e subterrâneos.
2 – O aumento da população e a urbanização provocam uma intensa pressão de usos múltiplos dos recursos hídricos
e impactos na qualidade da água.
3 – A infraestrutura de baixa qualidade ou incompleta ocasiona distribuição ineficiente da água tratada e perdas de
boa parte dela.
4 – É necessário ampliar, em escala global, a mobilização pública no processo de decisão e desenvolver a capacidade
de informação eficiente para melhorar a educação relacionada à água.
5 – Todos os processos relativos à água estão inter-relacionados, são de natureza complexa, dinâmicos e demandam
conhecimento multidisciplinar.
Estão CORRETOS
a) apenas 1 e 4. b) apenas 2 e 5. c) apenas 1, 2 e 3. d) apenas 2, 4 e 5. e) 1, 2, 3, 4 e 5.

2 (FGV-SP) Leia atentamente o texto a seguir:


As Nações Unidas estimam que, até 2025, dois terços da população mundial sofrerão escassez, mode-
rada ou severa, de água. Essa situação tem sido interpretada como resultante da falta física de água doce
para o atendimento da demanda das populações da Terra. Entretanto, no plano geral, há água suficiente
no mundo (...) para satisfazer as necessidades de todos. De fato, este cenário de escassez significa que, no
ano 2025, apenas um terço da humanidade deverá dispor de dinheiro suficiente para pagar o serviço de
abastecimento d’água decente, isto é, com regularidade de fornecimento e qualidade garantida da água.
REBOUÇAS, Aldo. O ambiente brasileiro: 500 anos de exploração.
In: RIBEIRO, Wagner Costa (Org.). Patrimônio Ambiental Brasileiro. São Paulo: Edusp, 2003. p. 206.

Considerando os argumentos do texto, é correto afirmar que:


a) A “crise da água” resulta do elevado crescimento da população dos países mais pobres.
b) A “crise da água” não pode ser enfrentada com as tecnologias disponíveis, por isso tende a se aprofundar.
c) No cenário projetado pela ONU, a escassez de água tenderá a se agravar devido à continuidade do processo
de urbanização.
d) Fatores sociais e econômicos desempenham um papel importante no problema da escassez de água.
e) A água é um recurso natural renovável, portanto, a escassez resulta apenas da distribuição desigual desse
recurso pela superfície da Terra.

3 (Unifei-MG) À medida que crescem a população e as cidades, ocorre também uma crescente demanda pela água,
que é utilizada de diversas formas como, por exemplo, no uso doméstico, nas indústrias, na agricultura e pecuária.
Com relação à demanda de água, assinale a alternativa que mostra onde a água é requerida em maior quantidade.
a) No uso doméstico, pelas atividades cotidianas como as de limpeza e lazer.
b) Na agricultura, principalmente na irrigação de lavouras.
c) Na pecuária, na dessedentação (matar a sede) de animais.
d) Na indústria, principalmente nos parques industriais para, por exemplo, mover máquinas, resfriar peças e
gerar energia.

54
8 Ensino Fundamental
13 O CASO DA FRAGMENTAÇÃO
FLORESTAL E DOS CORREDORES
ECOLÓGICOS

Você já deve ter ouvido falar que a destruição das florestas é uma das principais
agressões ambientais ao planeta em que vivemos. Estima-se que cerca de um quarto
das florestas do mundo já tenha sido completamente destruído, e as florestas que restam
estão sob forte ameaça, com altos níveis de desmatamento anual.
Neste módulo, vamos estudar as consequências da destruição das florestas para os
seres vivos que as habitam. Vamos aprender também como os corredores ecológicos
atuam na redução dos danos causados pela fragmentação das florestas.

ADRIANO GAMBARINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO

Biologia

Fotografia aérea da região da Usina Serra Grande em Alagoas, 2015. Observe os limites entre
os fragmentos de floresta e as áreas já desmatadas.

55
8
ECOSSISTEMAS, BIOMAS E ÁREAS FLORESTADAS
O ecossistema é um dos níveis de organização ecológica. Ele engloba os componen-
tes bióticos, representados pelos seres vivos, e os componentes abióticos, representados
principalmente pelo relevo, pelo tipo de solo, pela quantidade de chuvas, pelos reser-
vatórios de água, pelas variações de temperatura ao longo do ano, pela luminosidade e
intensidade do vento. Tão importante
Coruja quanto sua composição, um ecossis-
Sol tema compreende também o conjun-
to das relações que são estabelecidas
Pica-pau
entre os seres vivos e entre eles e o
Águia
ambiente. Um ecossistema pode ter
qualquer tamanho: ele pode ser a
água acumulada entre as folhas de
uma bromélia ou ser um manguezal,
por exemplo.
Onça-pintada
Caititu

Exemplo de um ecossistema florestal com


Borboleta
representação dos seus componentes
bióticos e abióticos, assim como de
algumas relações entre seus elementos.
Libélula As setas são alguns exemplos de fluxo de
Mosca
Zooplâncton energia no sistema. (Elementos fora
de proporção entre si. Cores fantasia.)

De olho... nos níveis de organização ecológica


Em Ecologia, como em muitos ramos da ciência, convencionou-se a criação de níveis de organização para
simplificar o entendimento das relações entre os seres vivos e seus ambientes de vida. Eles são, do mais
abrangente para o mais específico:

• Biosfera – conjunto de todos os ecos-


sistemas existentes no planeta Terra.
Biosfera
• Ecossistema – conjunto formado pe-
los seres vivos (fatores bióticos), os
elementos não vivos do ambiente (fa-
tores abióticos, como solo, água, ar,
etc.) e todas as relações que se esta- Ecossistema
belecem entre esses componentes.
• Comunidade – conjunto de popu-
lações de espécies diferentes que se Comunidade
desenvolvem e interagem em uma
mesma região.
• População – conjunto de organismos
População
da mesma espécie que habitam uma
mesma área.
• Organismo – forma individual de vida. Organismo

56
8 Ensino Fundamental
Quando vários ecossistemas formam um ambiente mais complexo, regido por fatores
climáticos mais amplos, tem-se o que se conhece por bioma. Essa unidade ecológica
apresenta características bem definidas e alguns padrões gerais podem ser encontrados
no mundo todo. Nos biomas, a parte física do ambiente é muito importante, e seus limites
geográficos são mais definidos em comparação aos dos ecossistemas. No Brasil, podemos
classificar os principais biomas em: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Caatinga
e Pampa. O mapa abaixo indica, além dos biomas brasileiros, as áreas desmatadas.

Biomas brasileiros

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

OCEANO
PACÍFICO

Trópico de Capricórnio

Floresta Amazônica
Mata Atlântica
Cerrado
N Mapa do Brasil com
Pantanal
destaque para a distribuição
Caatinga O L
dos biomas.
Pampa S
Área desmatada 0 370 km
60º O

Fonte: IBGE. Biomas brasileiros. Disponível em: <https://cnae.ibge.gov.br/en/


component/content/94-7a12/7a12-vamos-conhecer-o-brasil/nosso-territorio/1465-
ecossistemas.html?Itemid=101>. Acesso em: 25 fev. 2019.

Como a fragmentação afeta as populações


da floresta remanescente
Ecossistemas florestais são parte fundamental de biomas brasileiros como a Mata
Atlântica, a Floresta Amazônica e até mesmo o Cerrado. Esses ecossistemas influenciam
no clima, filtram o ar, protegem os recursos hídricos, evitam a erosão do solo e abrigam Biodiversidade: variedade de
uma das maiores biodiversidades do planeta. Por esse motivo, o desmatamento traz formas de vida que podem
Biologia

muitos danos ao ambiente natural. ser encontradas em um local.


Na maioria dos casos, o desmatamento florestal, por exemplo, é parcial, ou seja, alguns
trechos da floresta original permanecem. Essas áreas, que podem apresentar tamanhos
variados, recebem a denominação de fragmentos florestais, e muitas vezes não têm as
características da floresta intacta.

57
8
Refúgio: em Ecologia, A fragmentação florestal é, portanto, um processo por meio do qual um ambiente
refúgios são áreas de de floresta perde parte de sua área e passa a ficar dividido em manchas ou fragmentos.
vegetação nativa que
geralmente estão cercadas As áreas de vegetação podem ser fragmentadas de maneira natural ou por ação do ser
por áreas modificadas humano.
pelo ser humano (como A compreensão das modificações que ocorrem nas áreas florestadas após a fragmen-
pastos, plantações, estradas
e cidades). Esses refúgios tação está longe de ser completa. Pesquisas sobre o tema e projetos de conservação de
servem de abrigo e proteção fragmentos florestais são de extrema importância, pois estes, muitas vezes, constituem
para a fauna e a flora nativas
que sofreram a perda de seu
o último refúgio de vvárias espécies.
habitat original. Os fragmentos ocasionados por processos naturais ou por ações antrópicas podem
Antrópico: relativo à ação do acarretar isolamento de populações e posterior diferenciação genética de uma espécie
ser humano. Em geral, essa
palavra é utilizada para se
preexistente. A fragmentação natural pode ocorrer por alterações climáticas, diferenças no
referir a ações humanas que solo, áreas que ficam temporariamente alagadas, entre outros. Já os fragmentos criados
alteraram o meio ambiente. por atividades antrópicas podem ocorrer por meio de queimadas ou desmatamentos para
Monocultura: produção
ou cultura de apenas uma
conversão de florestas em pastos ou monoculturas
monoculturas, abertura de estradas, construção de
especialidade agrícola. As barragens para hidrelétricas, entre outros.
monoculturas se caracterizam
por ocupar áreas extensas,

SERGIO RANALLI/PULSAR IMAGENS


como grandes plantações de
soja ou de cana-de-açúcar.

Fragmentos florestais em meio a plantações de cana-de-açúcar em Canarana (MT), 2018.

Habitat: conjunto de Além da redução da área total, a fragmentação florestal provoca perda e isolamento
componentes bióticos e de habitat
habitat, redução de populações nativas e alteração ou impedimento de migração
abióticos de um ecossistema
que favorece a sobrevivência e e de dispersão
dispersão, tanto de plantas quanto de animais. Espécies de interiores florestais
a reprodução de determinada ficam expostas às novas condições externas, tais como alteração de umidade, de lumi-
espécie. Em seu habitat, a
espécie encontra alimento,
nosidade, de temperatura e de ventos.
abrigo, parceiros para
reprodução, entre outros
recursos. Efeito de borda
Dispersão: capacidade de
deslocamento de uma espécie, Um dos principais problemas enfrentados nos fragmentos é o fenômeno conhecido
durante sua vida ou durante a por efeito de borda. A borda é o limite entre dois ambientes diferentes, como floresta e
fase juvenil, à procura de um
novo território.
campo, campo e estrada, floresta e plantação. De maneira geral, a borda é o limite entre
floresta e áreas abertas.
58
8 Ensino Fundamental
O efeito de borda ocasiona a alteração da comunidade vegetal e animal que ocorre na Matriz: em Ecologia, as
região de fronteira entre o fragmento florestal e a matriz (entorno). Isso acontece em função matrizes são ambientes
alterados pelo ser humano
da mudança de condições ambientais tais como iluminação, temperatura, umidade do ar e – como pasto, agricultura,
influência dos ventos. O efeito de borda pode afetar de alguns metros do fragmento a até mais estradas e cidades –, que
de 400 m para seu interior. Quanto mais distintas forem as formações vegetais do fragmento dominam uma área e fazem
divisa com fragmentos de
e da matriz, mais larga é a borda. Os limites dos fragmentos geralmente são expostos a maior vegetação nativa, como
iluminação, menor umidade do ar e do solo, maior temperatura do ar e maior intensidade florestas.
de ventos, o que limita a sobrevivência de vegetação e fauna nessas áreas.
As plantas baixas do interior da floresta, por exemplo, estão adaptadas a pouca luz
e a altas taxas de umidade. Na borda, onde ocorre intensa influência de ventos laterais,
oscilação maior de temperatura e, consequentemente, menor umidade, essas plantas ge-
ralmente apresentam diminuição populacional ou até desaparecem. No caso das árvores
de grande porte, elas são afetadas também pelas mudanças no solo, além das alterações
na incidência de luz e de umidade. A degradação do solo pode dificultar a sustentação
dessas plantas e, como a incidência de ventos é maior na borda, essas árvores podem
cair, o que reduz ainda mais o tamanho do fragmento.

Ilustração esquemática mostrando


Fragmento florestal o efeito de borda e como, com
Borda do fragmento o tempo, esse efeito pode se
intensificar.
1 – Fragmento florestal e
sua região de borda.
2 2 – Por causa das alterações
microclimáticas, as árvores que
estão na região de borda morrem,
e novas espécies aparecem nessa
região. Essas espécies podem ser
invasoras e se adaptam à região
de borda.
3 – As árvores originais do
fragmento que estavam na borda
morrem e caem. Ao caírem,
Crescimento de plantas tolerantes a maior incidência de luz, abrem mais a floresta, movendo a
maior temperatura, mais ventos e menor umidade. Árvores do interior borda do fragmento mais para
de florestas, que estão na borda do fragmento, começam a morrer. o interior, deixando outros
indivíduos expostos aos efeitos
de borda. (Elementos fora
3 de proporção de tamanho e
distância entre si. Cores fantasia.)
Biologia

Árvores mortas caem e criam mais aberturas para o interior do fragmento.


A colonização de plantas resistentes aos efeitos de borda continua.

59
8
FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO
Ocorrência de capim em
borda de floresta no cerrado
de Furnas (MG), 2012. Esse
tipo de vegetação não é
característica de floresta e se
aproveita da maior exposição
de luz para invadir a borda
e as clareiras nos fragmentos
de floresta.

Como nem todas as espécies resistem às mudanças mencionadas, o número de


extinções na área é considerável; ou seja, há influência direta na perda de biodiversi-
dade. Isso acontece por diversos motivos: as populações dessas espécies já ocorriam
em pequeno número; elas necessitavam de um espaço maior; ou ainda porque elas
necessitavam de condições ambientais muito específicas, as quais foram alteradas pelas
condições da borda.
Soma-se a isso o fato de novas plantas, muitas vezes invasoras, iniciarem seu desen-
volvimento na borda, tomando, lentamente, o interior do fragmento, e competindo por
recursos com a vegetação florestal nativa.
Gambá (Didelphis As pesquisas com fragmentos florestais têm mostrado que existe uma relação direta
albiventris), pequeno entre o formato do fragmento e o impacto do efeito de borda. Quanto menor o tamanho
mamífero que pode
atingir 40 cm de do fragmento ou quanto mais irregular for o contorno dele, maior a área de borda, o
comprimento sem a que diminui a área preservada do fragmento.
cauda. Essa espécie se A resposta dos animais ao efeito de borda tem se mostrado variável. As populações
beneficia do efeito de de pequenos mamíferos terrestres ou de vida arbustiva, como roedores, gambás e cuícas,
borda e fragmentação.
Apesar de ser uma muitas vezes se aproveitam do crescimento de novas plantas e da migração de novos
espécie florestal, insetos na região de borda para conseguir alimento, e assim suas populações podem
apresenta aumento de aumentar. No entanto, mamíferos de médio ou grande porte não têm essa “vantagem”.
população em áreas A fragmentação reduz muito seus territórios e torna sua permanência praticamente
fragmentadas e é
comum em ambientes
impossível, uma vez que eles necessitam, geralmente, de maiores áreas para explorar
rurais e em áreas e conseguir alimentos.
residenciais. Além do aparecimento de espécies vegetais invasoras e
da diminuição de espécies nativas que não encontram os
JAIM SIMÕES OLIVEIRA/GETTY IMAGES

recursos necessários para sua sobrevivência, os fragmentos


de floresta sofrem impactos diretos da ação e da presença
humana. Exemplos são a movimentação de veículos, que
causam atropelamentos de mamíferos, répteis e aves, o
excesso de ruído, que pode afugentar algumas espécies,
ou ainda o aumento de substâncias tóxicas, principalmente
no caso de matrizes com atividades agrícolas.
Por isso, a conservação de áreas fragmentadas é impor-
tante para a preservação ambiental. Entre as soluções para
os efeitos de borda, podemos citar o estabelecimento de
zonas de amortecimento, que são zonas de transição entre
o fragmento e as matrizes, o que pode diminuir alguns tipos
de impacto, como ruídos e agrotóxicos.
60
8 Ensino Fundamental
ATIVIDADE 1

Durante os estudos feitos nas estradas de bordas de matas na região sul de Minas Gerais, foi observada uma queda
populacional de várias espécies de animais. Diversas causas e explicações foram levantadas e, para cada situação,
podemos pensar em processos e em resultados diferentes.
Leia as duas situações abaixo e responda às perguntas.

Situação 1
Uma das observações foi a diminuição de espécies de mamíferos arborícolas, o oposto do que ocorreu com os mamíferos
de solo. A diminuição aconteceu apesar do aparecimento de novas árvores na borda da mata.

Situação 2
No mesmo estudo, percebeu-se a diminuição de répteis nas áreas, principalmente de serpentes predadoras de pequenos
mamíferos terrestres.
a) Com base na situação 1, elabore uma hipótese que possa explicar a diminuição da presença de mamíferos arborícolas.

b) Baseando-se na situação 2, qual fator provavelmente deve ser o responsável pela diminuição de populações
desses répteis? Nota: os répteis costumam ir ao asfalto à noite, pois ele retém o calor, possibilitando o aqueci-
mento dos animais.

c) Com base nas situações 1 e 2, formule uma hipótese para o aumento de espécies de pequenos mamíferos de solo.

Biologia

61
8
UM EXEMPLO REAL DE FRAGMENTAÇÃO
O Brasil é reconhecido mundialmente como um país megadiverso (ou seja, de grande
biodiversidade), pois abriga cerca de 20% do total de espécies do planeta. Muitas espé-
cies que se desenvolvem no país são consideradas endêmicas, ou seja, ocorrem somente
aqui. Muito embora seja evidente a importância da biodiversidade, sua conservação vem
sendo extremamente afetada pelas ações humanas e atualmente esse é um dos proble-
mas mundialmente mais expressivos. Dentre as ameaças conhecidas à conservação dessa
biodiversidade, a fragmentação florestal produzida por atividades antrópicas é uma das
mais preocupantes. Como dito anteriormente, a fragmentação resultante da atividade
humana é proveniente, principalmente, da ocupação acentuada do solo para atividades
agropecuárias (como as monoculturas e pastos), exploração excessiva de matérias-primas,
construção de barragens e rodovias, poluição e queimadas. Vamos observar um exemplo
real dessa problemática.
O Parque Estadual do Cerrado (PEC), localizado entre os municípios de Jaguariaíva
e Sengés, no Paraná, perto da divisa com São Paulo, é uma das últimas áreas de reserva
de Cerrado na região. O parque, mesmo com sua área recentemente expandida, tem
cerca de 1 830 hectares (18,3 km2) e está próximo de outros pequenos fragmentos de
vegetação nativa.

Mapa do estado do Paraná


50° O

SÃO PAULO

Trópico de Capricórnio

PARANÁ

Parque
Estadual
do Cerrado

Jaguariaíva
N
N
OCEANO
Mapa do estado do Paraná O L
ATLÂNTICO
O L
com destaque para a região S
de Jaguariaíva. 0 17 km SANTA
S
0 55 km
CATARINA

Fonte: Ministério Público do Paraná. Comarca – Jaguariaíva. Disponível em: <http://www.planejamento.


mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=2117>. Acesso em: 25 fev. 2019.

Um estudo sobre a ocorrência de mamíferos carnívoros na região apontou que eles explo-
ram intensamente essa área, uma vez que restam poucos fragmentos de Cerrado preservados.
A movimentação entre os fragmentos é feita pelos corredores formados pelos rios
Santo Antônio e Jaguariaíva ou por plantações e reflorestamentos.
Em 2001 e 2002, um levantamento feito por biólogos da Universidade Federal do
Paraná encontrou cerca de 10 espécies de carnívoros na região, com destaque para o
lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), a jaguatirica (Leopardus pardalis) e a onça-parda
(Puma concolor).
Esses animais necessitam de uma área grande de exploração para caçar e usam, em
conjunto, todas as áreas do parque. Em busca de mais recursos, acabam saindo das áreas
de reserva. Os pesquisadores observaram duas situações interessantes.

62
8 Ensino Fundamental
Uma delas é que os três grandes predadores raramente caçam nas mesmas áreas, apesar
de terem dietas parcialmente semelhantes, constituídas por pequenos mamíferos e aves.
As onças-pardas foram registradas usando mais as matas ciliares dos rios Santo Antônio e
Jaguariaíva. Os lobos-guarás tendem a se aproximar mais das áreas ocupadas pelos seres
humanos. Além dos hábitos de cada espécie, a hipótese baseia-se no comportamento
de “evitar o encontro” que pode resultar em conflito e em competição pelo alimento.
Outra conclusão dessa pesquisa é que a biodiversidade na reserva vem diminuindo nos
últimos vinte anos. Segundo os pesquisadores, isso pode ser resultado do confinamento
dentro do parque, além de caça e destruição dos fragmentos remanescentes. O fato de
não haver continuidade entre as áreas preservadas obriga a permanência dos seres vivos
nos poucos fragmentos de Cerrado que restaram. Isso leva a uma “superexploração” dos
recursos de alimentos da área.
Uma das mais preocupantes consequências da fragmentação das florestas é o impe-
dimento da migração natural entre as populações que habitam cada fragmento. Uma
população isolada acaba tendo aumento no índice de cruzamentos de indivíduos com
alto grau de parentesco familiar, o que é conhecido como endocruzamento. O endo-
cruzamento favorece o compartilhamento de características parecidas ou idênticas, ou
seja, diminui a variabilidade genética.

De olho... na variabilidade genŽtica


A variabilidade genética de uma população é a diferença na composição do
material genético que os indivíduos têm entre si, o que geralmente se revela na
diversidade das características fenotípicas do grupo. Quanto maior a variabilidade da
população, é mais provável que a espécie consiga persistir e sobreviver a eventuais
mudanças ambientais. Em geral, populações grandes, por terem mais indivíduos,
tendem a ter maior variabilidade genética.
Um exemplo de variabilidade genética pode ser percebido na variação da cor
e da forma dos cabelos da população humana. Essas características hereditárias
resultam da combinação do material genético dos gametas, que originam um novo
indivíduo. Outro exemplo é a diferença na coloração das asas de uma espécie de
joaninha (Labidomera suturella).
NATURE/FOTOARENA

Biologia

Variabilidade genética observada na variedade de coloração de


asas em uma espécie de joaninha (Harmonia axyridis).

63
8
A perda da variabilidade genética da população tem duas consequências imediatas:
a possibilidade do aparecimento de doenças e mutações genéticas raras, que podem se
tornar comuns; e a homogeneização das características. A seleção natural atua eliminando
ou preservando características em uma população variada. Se determinada característica
não for vantajosa, será selecionada negativamente, ou seja, os indivíduos portadores dessas
características não deixarão descendentes. Em uma população pequena, que tende a ser
mais homogênea, a morte de indivíduos como consequência de determinada caracte-
rística pode representar a extinção de toda a população de uma espécie, contribuindo
para a perda da biodiversidade.
Como a diminuição de biodiversidade inclui várias presas desses carnívoros, como o
cateto, a conclusão é que, em pouco tempo, os maiores carnívoros deverão desaparecer
dessas áreas. A proposta dos pesquisadores para evitar a ocorrência desse fenômeno está
no aumento da área do parque, no estímulo da implantação de áreas de preservação
particulares e na implantação de novos corredores entre as áreas. Vamos aprofundar a
noção de corredores ecológicos no tópico a seguir.

A
L
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C

PH
RE
FF

O
T OC
O
GE

ECHC
Z

Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus, em A), jaguatirica (Leopardus


pardalis, em B) e onça-parda (Puma concolor, em C).

64
8 Ensino Fundamental
OS CORREDORES ECOLÓGICOS
Uma das formas de tentar diminuir a perda da variabilidade genética em fragmentos
isolados é a implantação de corredores ecológicos entre as áreas. Os corredores ecoló-
gicos, também conhecidos como corredores de biodiversidade, são faixas de vegetação
de grande extensão, semelhantes aos ecossistemas naturais, que unem fragmentos flo-
restais isolados. A formação desses corredores tem como objetivo minimizar as ameaças
geradas pela fragmentação florestal, conectando áreas anteriormente isoladas e servindo
de local de deslocamento ou habitat para algumas espécies.
A função dos corredores pode ser diferente para organismos diversos. Quando Fluxo gênico: migração de
assume papel de habitat, o corredor oferece tudo de que a espécie necessita para genes entre uma população
se estabelecer e sobreviver. Já na função de deslocamento, o corredor atua como via e outra, levados pelos
indivíduos que se deslocam
para as espécies transitarem de um fragmento ao outro, proporcionando, assim, a por esse corredor e
dispersão de sementes e, principalmente, o fluxo gênico. Isso garante a manutenção acasalam posteriormente.
da variabilidade genética.
ESTADÌO CONTEòDO

Biologia

Exemplo de corredor ecológico em Sinop (MT), 2015. Na imagem é


possível ver um corredor ecológico ligando fragmentos florestais.

65
8
ATIVIDADE 2

Existe uma relação entre os tamanhos das áreas preservadas e sua borda, de maneira que fragmentos com áreas seme-
lhantes podem apresentar problemas diferentes em função do tamanho de suas bordas.
Observando as duas situações representadas a seguir, aponte em qual dos fragmentos espera-se encontrar maior pre-
juízo ambiental em função do efeito de borda em cada situação. Discuta a sua resposta com os colegas.
Situação I
1 fragmento de 1 km por 1 km (1 km2) 4 fragmentos totalizando uma área de 1 km2

Área verde 5 interior do


fragmento florestal

Área cinza 5 efeito de borda em cada fragmento

Área vermelha 5 estrada hipotética que


separou a área em 4 fragmentos distintos

Situação II
Fragmento 1 (2 km por 0,5 km) Fragmento 2 (1 km por 1 km)

Área 1 km2

Área 1 km2

Área cinza 5 efeito de borda

Área verde 5 interior do fragmento florestal

66
8 Ensino Fundamental
Definições oficiais dos componentes dos corredores ecológicos
Os corredores ecológicos são considerados uma das estratégias de conservação da
biodiversidade mais promissoras em todo o mundo, pois podem aumentar a chance de
sobrevivência de populações de diferentes espécies e a recolonização de áreas ante-
riormente degradadas. Eles são criados através de estudos sobre o ecossistema em que
serão inseridos, área de vida dos organismos (área necessária para o suprimento de suas
necessidades vitais e reprodutivas), fluxo e distribuição de espécies vegetais e animais
daquele ambiente, entre outros. Para se tornar oficiais, após os estudos realizados, pre-
cisam ser reconhecidos pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Desde a década de 1990, o Ministério do Meio Ambiente desenvolve o Projeto Cor-
redores Ecológicos, que tem como objetivos:
[...]
• Reduzir a fragmentação mantendo ou restaurando a conectividade da paisagem e
facilitando o fluxo genético entre as populações.
• Planejar a paisagem, integrando unidades de conservação, buscando conectá-las e,
assim, promovendo a construção de corredores ecológicos na Mata Atlântica e a con-
servação daqueles já existentes na Amazônia.
• Demonstrar a efetiva viabilidade dos corredores ecológicos como uma ferramenta para
a conservação da biodiversidade na Amazônia e Mata Atlântica.
[...]
Fonte: Ministério do Meio Ambiente.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/programas-e-projetos/
projeto-corredores-ecologicos.html>. Acesso em: 12 dez. 2018.

Os corredores são regulamentados pela lei 9 985/2000, que institui o Sistema Nacional
de Unidades de Conservação (SNUC).
Atualmente existem seis corredores reconhecidos:

Corredor Capivara-Confusões Portaria no 76 de 11 de março de 2005

Corredor Ecológico da Caatinga Portaria no 131 de 4 de maio de 2006 

Portaria no 137 de 9 de outubro de 2001


Corredor Ecológico Santa Maria
(Ibama)

Corredor Ecológico Chapecó Decreto Estadual (SC) no 2 957/2010

Corredor Ecológico Timbó Decreto Estadual (SC) no 2 956/2010


Biologia

Corredor Ecológico da Quarta Colônia Portaria no 143/2014 (RS)

Fonte: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/instrumentos-de-gestao/


corredores-ecologicos#via-minist%C3%A9rio-do-meio-ambiente>. Acesso em: 25 fev. 2019.

67
8
De olho... em áreas de preservação
[...]
Unidades de Conservação (UCs) são espaços territoriais e seus componentes abran-
gem as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídas
pelo poder público, com objetivos de preservação/conservação e limites definidos, sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.
As unidades de conservação podem ser de uso indireto quando não envolvem consu-
mo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais e de uso direto quando envolvem
o uso comercial ou não dos recursos naturais, como definidas no Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (Snuc).
Terras indígenas (TI), assim como as UCs, são áreas protegidas legalmente pela
Constituição, definidas como bens da União, inalienáveis e indisponíveis, destinadas
à posse e ao usufruto exclusivo dos índios que as ocupam, constituindo-se espaços
privilegiados para a conservação da diversidade biológica.
Áreas de interstício são aquelas situadas entre as UCs e áreas indígenas, podendo
pertencer ao domínio público ou privado. Nesse contexto enquadram-se as demais
áreas protegidas, tais como as áreas de preservação permanente, reservas legais, reservas
particulares de patrimônio natural e áreas não protegidas.
[...]
Fonte: Ministério do Meio Ambiente. Projeto corredores ecológicos. Disponível em: <http://www.mma.
gov.br/areas-protegidas/programas-e-projetos/projeto-corredores-ecologicos/
conceitos?tmpl=component&print=1>. Acesso em: 25 fev. 2019.

Observe as Unidades de Conservação no Brasil e os biomas em que se encontram.

Unidades de Conservação – Brasil, junho de 2017

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

Unidades de
Conservação
Biomas
Floresta Amazônica
Mata Atlântica
Cerrado Trópico de Capricórnio
Pantanal
Caatinga
Pampa N
Massa de água continental
Massa de água costeira O L
(mar territorial)
S
Massa de água costeira
0 440 km
(zona contígua)
60º O

Fonte: INPA. Programa de pesquisa em biodiversidade.


Disponível em: <https://ppbio.inpa.gov.br/Mapas/UCs/Todas>. Acesso em: 25 fev. 2019.

68
8 Ensino Fundamental
ATIVIDADE 3

1 Como a variabilidade genética pode ser garantida com a implantação dos corredores ecológicos?

2 (Fuvest-SP) A partir do início dos anos 2000, o governo brasileiro começa a lançar mão de uma nova estratégia de proteção
ambiental no território nacional da qual resultou a delimitação das áreas a serem conservadas, representadas no mapa abaixo.

Corredores ecológicos no Brasil


Norte
da Amazônia

Central Leste
da Amazônia da Amazônia

Ocidental
da Amazônia dos Ecótonos
Sul-Amazônicos

Central
da Mata
Atlântica

Serra do Mar

0 445 km

a) Indique dois objetivos da criação de corredores ecológicos. Explique-os.

b) Identifique duas ameaças à proteção ambiental no corredor Leste da Amazônia. Explique-as.


Biologia

69
8
EM CASA

1 As plantas apresentam preferências por quantidades diferentes de luz e água. Nas florestas, temos plantas que
preferem ambientes com pouca luz e que ocupam áreas úmidas. No entanto, há plantas que apreciam grande
quantidade de luz e aquelas que toleram a ação direta do sol.
Com base nessas informações, pesquise e produza um pequeno texto que explique como a fragmentação e o
efeito de borda podem modificar a ocorrência dos tipos de planta de uma área alterada.

2 O projeto apresentado pelo Ministério do Meio Ambiente para a implementação de corredores ecológicos con-
templa basicamente dois ambientes florestais brasileiros: a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, englobando vários
tipos de áreas de conservação. No entanto, um dos biomas mais ameaçados no Brasil é o Cerrado.
a) Quais são as principais atividades responsáveis pela destruição do Cerrado?
b) Como deveriam ser estabelecidos os corredores ecológicos nesse ambiente?

3 (UFMG) Analise esta figura:

Atalho para a biodiversidade:


corredor ecológico de 800 km interligará parques
do Centro-Oeste do Brasil

REPRODU‚ÌO/UFMG, 2003

Considerando-se a implantação de corredores ecológicos, é INCORRETO afirmar que:


a) os parques, na falta desses corredores, constituem ilhas isoladas de ampliação da biodiversidade e de
formação de novas espécies.
b) esse tipo de ligação permite o fluxo gênico entre indivíduos da mesma espécie e a manutenção de seus
ciclos biológicos.
c) alguns animais favorecidos, nas regiões assim interligadas, são a onça-pintada, o lobo-guará, a ema e o
veado-campeiro.
d) os animais e plantas dependentes desses corredores são espécies sensíveis a ambientes alterados.

70
8 Ensino Fundamental
RUMO AO ENSINO MÉDIO

1 (Unama-PA) Leia o texto abaixo para responder esta questão.

Segundo a reportagem de Marco Túlio Pires e Elida Oliveira sobre a perda de habitat deve acelerar
extinção na Amazônia. O desmatamento é uma bomba-relógio para o futuro dos animais vertebrados
da Amazônia, de acordo com uma pesquisa publicada na revista Science. Pesquisadores da Universi-
dade Rockfeller, nos Estados Unidos, e do Imperial College London, da Inglaterra, criaram um método
que prevê o impacto da perda de habitat para espécies de mamíferos, anfíbios e aves. Como resultado,
os cientistas conseguiram apontar quantos animais podem desaparecer em cada área, conforme o
avanço do desmatamento. Quando uma espécie desaparece de uma localidade, ela ainda pode se
refugiar em outro local, mas a biodiversidade já estará comprometida. Caso a espécie tenha somente
aquela região por área de vida, sua extinção já pode ser esperada. Isso cria o que os pesquisadores
chamam de “débito de extinção”. Essa “dívida” ocorre quando as espécies de plantas e animais perdem
seu habitat, mas não desaparecem. A extinção da espécie às vezes leva várias gerações, mesmo após
a perda de seu ambiente natural.
(Adaptado http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/perda-de-habitat-deve-acelerar-extincao-na-amazonia.
Acesso: 12/04/2014).

O desmatamento nos ecossistemas naturais, a exemplo da Amazônia, como menciona o texto acima, tem
interferido nos habitats naturais de várias espécies. Em relação às consequências do desmatamento, é
correto afirmar que:
a) A expansão das terras cultivadas e o crescimento das cidades têm causado somente impactos na vida florís-
tica, pois se desmatam as florestas para que as terras sejam utilizadas para a agricultura.
b) O desmatamento é uma bomba-relógio para os animais vertebrados da Amazônia, mas estes podem futura-
mente buscar outros habitats diferentes que não irá afetar a biodiversidade.
c) O desmatamento tem interferido nos habitats naturais, alterando o equilíbrio dos ecossistemas, além de levar
“comunidades de espécies” à extinção.
d) Com a retirada da cobertura vegetal, o solo fica desprotegido, perdendo suas camadas férteis e seus minerais
levados pelas chuvas, deixando-o mais produtivo.

2 (Acafe-SC) Uma das aves mais raras do mundo foi “redescoberta” no Cerrado de Minas Gerais

Pesquisadores brasileiros encontraram, em Minas Gerais, a rolinha-do-planalto (Columbina cyano-


pis), espécie com ocorrência registrada, pela última vez, em 1941 e considerada extinta por especialistas;
segundo autores, o achado demonstra a importância do licenciamento ambiental. Espécie exclusiva do
Brasil, a rolinha-do-planalto apresenta olhos azuis claros e manchas azuis escuras nas asas, que se des-
tacam da plumagem, predominantemente, castanho-avermelhada. Descoberta em 1823, a ave só foi vista
novamente em 1904 e, depois, em 1941. Desde então sua presença nunca mais foi registrada.
Fonte: O Estadão, 21/05/2016. Disponível em: http://ciencia.estadao.com.br

Assim, é correto afirmar, exceto:


a) Muitos são os fatores antrópicos que levam à extinção das espécies, como por exemplo, o tráfico de animais,
Biologia

o desmatamento, as queimadas, a caça predatória, as atividades agrícolas, o avanço da pecuária e a poluição,


dentre outros.
b) O processo de extinção está relacionado exclusivamente à antropização, o que leva ao desaparecimento de
espécies ou grupos de espécies em um determinado ambiente ou ecossistema.

71
8
c) O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, considerado como um dos hotspots mundiais de bio-
diversidade. Na flora, encontramos presença de árvores de galhos tortuosos e de pequeno porte. Sua fauna
é composta por anta, cervo, onça-pintada, suçuarana, tatu-canastra, lobo-guará, lontra, tamanduá-bandeira,
gambá e capivara, entre outros.
d) Os sistemas agropastoris e o extrativismo predatório e pouco sustentável podem levar à fragmentação de
um ecossistema. Essa fragmentação poderá provocar a diminuição do número de indivíduos e a população
remanescente passar a ter um tamanho menor que o mínimo adequado. Isso poderá acarretar o aumento da
homozigosidade e diminuição da heterozigosidade populacional, favorecendo a perda de variação genética e
a extinção da espécie.

3 (UFPI) O ritmo acelerado de ações antrópicas nas extinções de espécies provoca sérias preocupações acerca do
futuro da diversidade biológica na Terra. A conservação da biodiversidade não é apenas uma questão científica
ou econômica, mas levanta uma série de preocupações morais e éticas que a definem. A maioria das atividades
humanas que tem causado a extinção de espécies animais e vegetais não é nova, e não se sabe quantas espé-
cies serão extintas durante os próximos 100 anos, todavia, medidas mais severas devem ser tomadas. Analise as
proposições abaixo sobre os processos de extinção, como verdadeiras, se totalmente corretas, ou como falsas, em
seguida, marque a alternativa correta:
I. A destruição e fragmentação do habitat são importantes causas de extinção de espécies atualmente, mas a
sobre-exploração, a qual historicamente resultou em muitas extinções provocadas pelo homem, ainda é uma
importante causa de extinção.
II. As espécies mais comuns não correm riscos de extinção, diferentemente das espécies raras, que são mais
vulneráveis e, portanto, encontram-se mais ameaçadas de extinção.
III. Predadores, competidores e doenças exóticas introduzidas pelo homem são importantes causas de extinção.
IV. A melhor maneira para manter populações é estabelecer áreas nas quais as espécies e seus habitats sejam
protegidos. Regiões com alto índice de riqueza de espécies e de endemismo não são consideradas áreas com
alta prioridade para parques e reservas.
A sequência correta é:
a) V, F, F, V.
b) V, F, V, V.
c) F, V, F, V.
d) F, F, V, V.
e) V, F, V, F.

Anotações

72
8 Ensino Fundamental
14 O CASO DOS LEBISTES E
A SELEÇÃO NATURAL

Ao longo do tempo, uma população de seres vivos pode passar por modificações
corporais e comportamentais que têm a possibilidade de se estabelecer na espécie através
das gerações e fixar-se como característica permanente do grupo.
Neste Módulo, estudaremos alguns dos mecanismos por meio dos quais a evolução
biológica – isto é, mudanças na espécie ao longo das gerações – ocorre. Esses mecanis-
mos podem envolver, por exemplo, pressões ambientais, reprodutivas ou até processos
artificiais. Estudaremos também um pouco da teoria que norteia o estudo da evolução
dos seres vivos. Esse estudo será ampliado nos Módulos 15 e 16.

AL
AM
Y/
FO
TO
AR
NAE
Lebiste (Poecilia reticulata). O
peixe com a cauda colorida é
o macho, que tem em média
3,5 cm de comprimento. A
fêmea tem um padrão de
coloração do corpo mais
discreto, e mede cerca de
5 cm de comprimento. Lebistes
apresentam dimorfismo sexual.

A TEORIA DA SELEÇÃO NATURAL


A teoria da seleção natural foi elaborada pelo naturalista inglês Charles Darwin (1809-
-1882), como resultado de estudos e observações feitas em sua viagem pelo mundo a
bordo do navio H. M. S. Beagle. Durante essa viagem, Darwin coletou fósseis e seres
vivos de diversas espécies que habitaram ou habitam diferentes regiões do mundo.
Após analisar os dados coletados, Darwin percebeu que os seres vivos sofrem modi-
Biologia

ficações ao longo do tempo, e que estas se acumulam ao longo das gerações.


Segundo a teoria elaborada por Darwin, esse processo se daria da seguinte maneira:
as condições do ambiente geram desafios à sobrevivência dos seres vivos que, por sua
vez, têm algumas características individuais que podem variar dentro da população.
Essas variações podem conferir ao indivíduo alguma vantagem para a sua sobrevivência

73
8
(Darwin chamou de adaptação) em relação ao indivíduo que não a tem, aumentando
suas chances de se reproduzir. Assim, essas características, selecionadas naturalmente,
são transmitidas às gerações seguintes (ou seja, são hereditárias). Darwin deu a esse
mecanismo o nome de seleção natural.
A teoria da seleção natural foi publicada pelo próprio Darwin na obra intitulada
A origem das espécies, de 1859.
Com o conhecimento científico que se tinha na época, Darwin não conseguia explicar
os mecanismos que produzem as variações que existem entre os indivíduos de uma mesma
população, nem como ocorria a transmissão de características ao longo das gerações. Esses
conhecimentos foram trazidos pelo avanço dos estudos da Genética, como os realizados
por Mendel, e incorporados à teoria da seleção natural, resultando em uma nova teoria
Teoria sintética da evolução chamada de teoria sintética da evolução, também conhecida como neodarwinismo
neodarwinismo.
ou neodarwinismo: é a A principal contribuição da Genética foi explicar as variações existentes entre os in-
teoria da seleção natural de
Darwin com a incorporação divíduos e como essas variações são transmitidas para as gerações seguintes.
de conceitos ligados à O conhecimento sobre a natureza do material genético (DNA) explicou o que são as
Genética que explicam como
a variabilidade ocorria na
mutações: uma alteração na sequência de informações do DNA. A mutação é a “matéria-
população. -prima” para o surgimento de novidades.
Os fatores que Mendel previu são os genes, que estudamos no Módulo 3. A repro-
dução sexuada possibilita que novas combinações de genes sejam formadas, o que pro-
duz diferenças entre os indivíduos, chamadas de variabilidade. Algumas dessas novas
combinações podem conferir algum tipo de vantagem adaptativa aos indivíduos que as
têm, aumentando suas chances de sobrevivência e de reprodução. Essas características
serão passadas, então, às próximas gerações. Cabe destacar que a vantagem adaptativa
depende do meio e do contexto em que o organismo vive.

OS LEBISTES EM AMBIENTES NATURAIS


O lebiste (Poecilia reticulata), também conhecido como barrigudinho ou, entre os
aquaristas, como guppy, é uma das espécies mais populares entre os criadores de peixes
ornamentais. São onívoros, vivíparos e têm fecundação interna.
As espécies selvagens apresentam pouca ou nenhuma coloração chamativa, espe-
cialmente onde há muitos predadores. Na natureza, os lebistes podem ser encontrados
em corpos de água doce, como rios e lagos, incluindo águas poluídas e com pouco
oxigênio. Sua distribuição geográfica natural é ampla, ocorrendo desde as ilhas do Ca-
ribe próximas à América do Sul até a Amazônia, nos estados de Roraima, Pará e Ama-
pá. Porém, essa distribuição foi expandida pela ação humana por duas vias principais:
quando o lebiste foi introduzido em diversas bacias hidrográficas para controlar larvas
de mosquitos transmissores de doenças; e por descuido de aquarofilistas que descartam
os alevinos (nome dado ao peixe logo após o nascimento) na natureza, sem saber que
estão causando desequilíbrio ambiental.

De olho... no controle biológico


O controle biológico é um recurso usado por seres humanos para conter
populações de animais ou plantas que são considerados pragas e, como tal, podem
causar prejuízos sociais, econômicos e ambientais.
Esse recurso emprega predadores, parasitas ou a disseminação de doenças para
combater a praga.
A principal medida de combate a doenças transmitidas por mosquitos é impedir
que suas larvas – organismos aquáticos – se desenvolvam. A dengue, a febre amarela
e a malária são exemplos dessas doenças.

74
8 Ensino Fundamental
OS LEBISTES COMO MODELO PARA
O ESTUDO DA EVOLUÇÃO
Em 2009, uma equipe de pesquisadores estadunidenses realizou um estudo po-
pulacional com lebistes em uma ilha do Caribe, Trinidad, da República de Trinidad
e Tobago.

Mapa da América Central, evidenciando a ilha


de Trinidad e Tobago
75º O
AMÉRICA
DO NORTE

OCEANO
Golfo do México
ATLÂNTICO

Nassau

Fonte: Atlas Geográfico Saraiva. 4. ed. São Paulo, 2013. p. 102.


Trópico de Câncer

Havana Ilhas Virgens


BAHAMAS (RUN)
CUBA Ilhas Turks e Caicos
(RUN) Ilhas Virgens
(EUA)

AMÉRICA Ilhas Cayman


DO NORTE (RUN)
I. Anguilla (RUN)
HAITI REPÚBLICA Porto Rico
G DOMINICANA (EUA) I. San Martin (FRA)
r San Juan ANTÍGUA E
a JAMAICA Porto São
n Basseterre BARBUDA
Kingston Príncipe Domingo
Belmopán d SÃO CRISTÓVÃO E NÉVIS St. John’s
e
s I. Montserrat (RUN)
BELIZE A n I. Guadalupe
t i l (FRA)
GUATEMALA h a s
Mar das DOMINICA
Cidade da HONDURAS Roseau I. Martinica
Antilhas s
Guatemala a (FRA)
Tegucigalpa l h
(Mar do Caribe) t i Castries
A n SANTA LÚCIA
BARBADOS
San Salvador a s Bridgetown
u e n
EL SALVADOR P e q Antilhas SÃO VICENTE E
NICARÁGUA Holandesas GRANADINAS Kingstown
OCEANO I. Aruba (PBS) (PBS)
Manágua I. Bonaire St. George’s GRANADA
PACÍFICO Lago de Nicarágua I. Curaçao (PBS)
(PBS) Port of Spain
N TRINIDAD
Canal do
COSTA RICA E TOBAGO
Panamá
O L São José Cidade do
Panamá
S PANAMÁ
0 250 km AMÉRICA DO SUL

Mapa mostrando a localização da ilha de Trinidad e Tobago.

Estudos anteriores já haviam demonstrado que, em locais onde havia muitos preda-
dores, os lebistes tendiam a ter tamanho do corpo menor do que em locais onde havia
baixa taxa de predação. Isso porque os predadores exerciam pressão seletiva sobre os
lebistes, de modo que eram selecionados (sobreviviam em maior quantidade) apenas
aqueles que atingiam maturidade sexual em um estágio mais jovem do desenvolvimento
(portanto, de menor tamanho). Essa característica, por sua vez, era transmitida para as
novas gerações.
Os pesquisadores buscaram, então, verificar se esse padrão se repetiria caso
as populações fossem deslocadas e submetidas a diferentes pressões seletivas do
ambiente. Para isso, analisaram populações que foram introduzidas em uma bacia
Biologia

hidrográfica onde não havia registros de ocorrência de lebistes. Essas populações


foram retiradas de um ambiente com alta taxa de predação e deslocadas para um
riacho na região acima de uma cachoeira, onde a taxa de predação de lebistes era
baixa. Eles acabaram ocupando também o riacho abaixo da cachoeira, onde havia
um grande número de predadores naturais.

75
8
Riacho alto: baixas
taxas de predação.

Representação
esquemática dos locais
onde foram introduzidos
os lebistes para estudo.
(Elementos fora de
proporção entre si.
Cores fantasia.)

Riacho baixo: altas


taxas de predação.

Durante oito anos (correspondentes a cerca de 26 gerações de lebistes), os pesqui-


sadores acompanharam as duas populações, coletando periodicamente amostras de
indivíduos e medindo-os. Eles constataram que os indivíduos na parte alta do riacho
tinham tamanho corpóreo, em média, 14% maior do que a população na parte baixa.
Além disso, também atingiam a maturidade sexual mais tardiamente que os indivíduos
do riacho com alta taxa de predação.
O resultado desse estudo mostrou a ação da seleção natural sobre duas populações
de lebistes em menos de dez anos. No riacho abaixo da cachoeira, onde a taxa de pre-
dação era alta, manteve-se a pressão que selecionava apenas lebistes que conseguiam
reproduzir-se prematuramente, resultando em lebistes menores. Já no riacho alto, onde
havia poucos predadores, prevaleceram os lebistes maiores, que tinham mais vantagens na
competição por recursos naturais, e que chegavam à idade reprodutiva mais tardiamente.
Ao menos uma conclusão pode ser destacada desse experimento: a seleção natural pode
explicar as diferenças encontradas entre populações de uma mesma espécie que estão sobre
pressões seletivas diferentes (lebistes maiores e com maturação sexual tardia 3 lebistes me-
nores e com maturação sexual precoce). Tal conclusão indica, ainda, que a seleção natural
é um mecanismo que pode explicar o surgimento de novas espécies, com origem inicial em
duas populações que acumulam muitas diferenças entre si ao longo do tempo, configurando,
assim, mudanças evolutivas mais expressivas.

ATIVIDADE 1

1 No caso dos lebistes, qual é o principal fator ambiental que atua na seleção dos indivíduos?

76
8 Ensino Fundamental
2 É correto afirmar que os predadores provocaram a diminuição do tamanho dos lebistes? Justifique sua resposta.

ATIVIDADE 2

O caracol da foto a seguir (do gênero Tegula) é comum no litoral da Califórnia, sendo que algumas espécies vivem so-
mente em águas profundas e outras muito acima, na costa. No sul daquele estado americano, esses caracóis vivem na
costa, enquanto no norte da Califórnia eles vivem em águas profundas.

NANCY NEHRING/GETTY IMAGES


Indivíduos da
espécie Tegula
funebralis, que
medem cerca
de 2,5 cm.

Sabendo que existem mais predadores, como polvos, estrelas-do-mar e caranguejos, no sul do que no norte da Califórnia,
como se explica essa distribuição diferente dos caracóis do norte e do sul da Califórnia?

Seleção sexual: ocorre, em


OUTROS EXEMPLOS DE SELEÇÃO geral, em paralelo à seleção
natural. Praticamente todas
as espécies animais têm
Um exemplo de seleção sexual: a beleza oculta das aves estratégias reprodutivas,
usadas na competição por
Em alguns casos, no reino animal, um tipo especial de seleção natural é respon- parceiros sexuais, que não
sável por determinar as características que serão mantidas ou eliminadas. Trata-se da diferem muito das estratégias
Biologia

de sobrevivência e luta por


seleção sexual, processo em que um animal seleciona seu parceiro sexual de acordo recursos naturais. Agem de
com a presença de uma ou algumas características. forma similar, garantindo ao
Um exemplo bastante conhecido é o do pavão (Pavo cristatus). Essa espécie apresenta indivíduo maior ou menor
sucesso competitivo na
dimorfismo sexual, assim como os lebistes. No caso dos pavões, os machos são coloridos dinâmica de sua população.
e as penas de sua cauda são exuberantes, enquanto as fêmeas têm coloração discreta

77
8
e as penas da cauda são como as demais penas do corpo. Em geral, após um ritual de
Um pavão macho exibe acasalamento no qual os machos apresentam suas caudas, as fêmeas dão preferência
suas penas para a fêmea
(ave menor da foto) no
àquele que tem a maior cauda.
ritual de acasalamento.

SEKSON THIPPANYA/SHUTTERSTOCK
ATIVIDADE 3

Na natureza, machos de lebiste apresentam metade do tamanho das fêmeas e nadadeira caudal longa e pouco colorida.
As fêmeas, muito maiores, apresentam coloração monótona. Em aquários, entretanto, é possível selecionar machos com
caudas bem coloridas, que seriam predados em condições naturais.
As fêmeas selvagens, quando colocadas com machos tanto selvagens quanto domesticados (chamados guppy),
preferem os machos guppy, por serem mais coloridos do que os machos selvagens.
Explique como o dimorfismo sexual (diferenças externas marcantes entre machos e fêmeas) é favorável à perpetuação
das espécies.

78
8 Ensino Fundamental
SELEÇÃO ARTIFICIAL: AS RAÇAS DOS CÃES DOMÉSTICOS
Por milhares de anos, os seres humanos têm influenciado a evolução, tanto por meio
de mudanças que causam no meio ambiente como por meio de seleção artificial (do-
mesticação) de plantas e animais.
Determinadas características podem ser perpetuadas ou eliminadas pela seleção arti-
ficial. Como o próprio nome sugere, esse mecanismo não depende da ação da natureza.
Assim, as modificações ocorrem por meio da seleção de características desejadas, em
organismos, de acordo com o interesse humano.
A seleção artificial vem sendo empregada há milhares de anos na história da humanidade,
com plantas (como trigo, milho, cana-de-açúcar) e animais (como gatos, cavalos e bois).
Outro exemplo é a domesticação de cães. Não há muita certeza de quando ou como
se deu essa domesticação, mas alguns estudos apontam que os primeiros casos surgiram
da convivência de lobos com povoados humanos ancestrais.
Ao longo do tempo, e de acordo com os interesses humanos, determinadas carac-
terísticas foram selecionadas nos cães por meio de cruzamentos planejados. Para gerar
bons cães de caça, por exemplo, era preciso selecionar indivíduos com bom faro, ágeis
e de boa estrutura corpórea. Já para companhia, era necessário gerar indivíduos dóceis
e que seguissem determinado padrão de beleza. Assim, surgiram as diferentes raças.

DORA ZETT/SHUTTERSTOCK
A seleção artificial em cães levou ao surgimento de raças muito diferentes em uma mesma espécie.

A partir de cruzamentos planejados de gerações de descendentes, as características


desejadas são fixadas até que se possa definir uma nova raça (ou variedade). Foi assim
que os machos de lebiste denominados guppy, destacados na atividade 3, foram obtidos.

ATIVIDADE 4

1 Segundo dados históricos, Darwin tinha uma criação de pombos com mais de 150 variedades. A presença de diversas
variedades de uma mesma espécie é bastante comum e há muitos exemplos relacionados com a criação ou o cultivo de
organismos por seres humanos. Como é possível desenvolver novas variedades de uma mesma espécie?
Biologia

79
8
2 As espigas de milho que conhecemos hoje não se parecem muito com as produzidas pela espécie que lhes deu origem,
o teosinto, uma gramínea que se parece com o capim e que produzia uma espiga pequena com poucas sementes.
Espiga de teosinto
A Espiga de milho B

Representação
esquemática de Milho
teosinto (A) e
de milho (B).
(Elementos fora de
proporção entre si.
Cores fantasia.)
Teosinto

Foram os olmecas, povo pré-colombiano da região do México, que começaram a seleção para obter espigas maiores e
com sementes mais suculentas. Como os olmecas devem ter procedido, em linhas gerais, até chegarem ao milho atual?

Você sabia?
Bactérias resistentes a antibióticos
“[...] A lavagem correta das mãos e dos alimentos, por exemplo, são práticas eficazes que devem ser estimu-
ladas para a prevenção da transmissão de bactérias. [...]”, enfatiza [Ana Paula Assef, do Laboratório de Pesquisa
em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).]
[...]
A cada ano, morrem cerca de 700 mil pessoas em todo o mundo por infecções causadas por bactérias resis-
tentes. Segundo um estudo encomendado pelo governo britânico, a partir de 2050, esse número poderá chegar
a dez milhões por ano.
Fonte: ROCHA, Lucas (ICO/Fiocruz). A ameaça global das bactérias resistentes aos antibióticos. Portal Fiocruz. Disponível em: <https://
portal.fiocruz.br/noticia/ameaca-global-das-bacterias-resistentes-aos-antibioticos>. Acesso em: 25 fev. 2019.

Os trechos do texto acima abordam uma questão cada vez mais importante para a humanidade: a re-
sistência de bactérias a antibióticos. Antibióticos são medicamentos usados para eliminar bactérias sem que
se danifiquem as células de nosso corpo.
Porém, algumas espécies desses microrganismos podem manifestar resistência a antibióticos. Essa resistên-
cia pode ocorrer quando, no uso do medicamento, não são consideradas a dose e a frequência ideal. Assim,
pode-se provocar a seleção artificial das bactérias, eliminando-se os indivíduos mais sensíveis ou sem resistên-
cia natural ao antibiótico e abrindo-se espaço, na competição por recursos, para a proliferação daqueles natu-
ralmente mais resistentes aos componentes do medicamento.
Como bactérias se reproduzem em um espaço de tempo muito curto, de geração em geração, essa caracte-
rística é então repassada rapidamente aos descendentes, aumentando-se, na população, o número de bactérias
que tem resistência. Isso acaba tornando o antibiótico ineficaz. Embora a resistência ocorra naturalmente, o
uso indiscriminado de antibióticos e o uso deles em animais que consumimos na alimentação e em produtos
de limpeza e estéticos, podem ser fatores que aceleram este processo.

80
8 Ensino Fundamental
EM CASA

1 (Fuvest-SP) Uma colônia de bactérias em que todos os indivíduos se originaram de uma única célula era incapaz
de metabolizar lactose. Durante várias gerações, essas foram cultivadas em meio que continha glicose e lactose.
Dessa cultura, foram retiradas duas amostras com quantidades iguais de células, que foram transferidas para novos
meios de cultura: o meio A continha apenas glicose e o meio B, apenas lactose, como únicas fontes de carbono.
O gráfico abaixo mostra as curvas de crescimento bacteriano nas culturas A e B.

REPRODU‚ÌO/FUVEST, 2006
Como surgiram as bactérias capazes de sobreviver na cultura B?
2 Cães domésticos apresentam uma grande variedade de raças, tais como o pastor-alemão, o dálmata e o dober-
mann. Já os cães selvagens, como o lobo-guará ou o cachorro-do-mato, apresentam uma diversidade muito
menor. Se todos são cães, como se explica essa diferença?
3 Os trechos a seguir foram retirados do artigo Pragas resistentes são sério problema para a agricultura no Brasil, pu-
blicado na Revista Scientific American do Brasil, em 2009.
Um dos problemas associados ao uso de pesticidas é que as pragas acabam desenvolvendo resis-
tência aos compostos químicos, tornando-se invulneráveis. Para alguns tipos de pragas essa resistência
chega a milhares de vezes. [...]
Uma das principais estratégias de manejo da resistência de pragas a produtos químicos está re-
lacionada à redução na frequência de aplicação de inseticidas e/ou acaricidas. A realização do moni-
toramento populacional de pragas pode ser uma ferramenta valiosa para o manejo da resistência. A
utilização de produtos somente quando as densidades populacionais da praga estão acima do nível de
dano econômico pode reduzir consideravelmente o número de aplicações contra as pragas, reduzindo
assim a pressão de seleção com os agroquímicos.
Outra estratégia fundamental é a preservação de inimigos naturais nas áreas agrícolas. Os inimigos
naturais podem manter a população da praga em baixas densidades por longos períodos no campo,
não havendo necessidade de intervenções químicas durante esse período. Os inimigos naturais podem
se alimentar tanto de insetos (ou ácaros) suscetíveis como dos resistentes, diminuindo assim o número
de organismos resistentes no campo. [...]
SATO, M. Pragas resistentes são sério problema para a agricultura no Brasil. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/
noticias/pragas_resistentes_sao_serio_problema_para_a_agricultura_no_brasil.html>. Acesso em: 14 dez. 2018.
Após a leitura, responda:
Biologia

a) No primeiro parágrafo, o autor diz que “as pragas acabam desenvolvendo resistência aos compostos químicos”.
Essa frase é correta? Justifique sua resposta.
b) É possível afirmar que a preservação de inimigos naturais da praga é uma forma de controle biológico? Por quê?

81
8
RUMO AO ENSINO MÉDIO

1 (IFTM-MG) Na natureza as espécies mais adaptadas são mais bem-sucedidas e sobrevivem. A evolução biológica
procura explicações para as mudanças que ocorrem nos seres vivos ao longo do tempo e as vantagens que ga-
rantem sucesso, como na tira de Calvin a seguir:

REPRODUÇÃO/IFTM, 2014
A girafa (Giraffa camelopardalis) pode atingir 5,5 m de altura e se alimentar no alto das árvores, e o ocapi (Okapia
johnstoni), com, no máximo, 1,7 m, são da mesma família Giraffidae e ambos, provavelmente, evoluíram a partir
de um ancestral comum. Os cientistas ainda buscam uma explicação para o aumento do pescoço da girafa. Com
relação às hipóteses sobre o aumento do pescoço da girafa, é correto afirmar:
a) A girafa de pescoço comprido apresenta uma vantagem seletiva por evitar a competição com outros herbívoros
e assim consegue se alimentar e se reproduzir deixando mais descendentes de pescoço comprido.
b) As girafas foram capazes de criar sua adaptação ao meio por uma necessidade imposta pelo meio ambiente.
c) A girafa adquire o pescoço comprido pela lei do uso e desuso. As girafas que esticam seus pescoços geram uma
prole que já nasce de pescoço um pouco mais comprido e assim, sucessivamente, o tamanho do pescoço vai
aumentando ao longo das gerações.
d) As mudanças no meio, como a diminuição da vegetação rasteira e o surgimento de brotos mais suculentos na
copa das árvores, induziram a variabilidade genética e o surgimento da girafa com pescoço comprido.
e) As alterações provocadas pelo ambiente nas características físicas de um organismo são transmitidas aos seus
descendentes.

2 (UFGD-MS) Um experimento foi realizado da seguinte forma: em aves normais, penas foram aumentadas ou encur-
tadas artificialmente por meio de colagem ou corte, respectivamente, sendo observado o número de ninhos que
cada tipo de ave conseguiu formar. Os resultados obtidos estão apresentados no gráfico a seguir.
REPRODUÇÃO/(UFGD, 2013

82
8 Ensino Fundamental
As informações permitem concluir que:
a) A seleção sexual afeta a evolução de caudas longas nas aves avaliadas.
b) Quanto mais longa a cauda, mais fértil é o macho.
c) O número médio de ninhos foi proporcional ao tamanho da cauda das aves.
d) Machos com caudas alongadas tiveram menor sucesso reprodutivo.
e) Caudas longas indicam machos com maior resistência a microrganismos.

3 (UEL-PR) Leia o texto a seguir.


A sociedade contemporânea convive com os riscos produzidos por ela mesma e com a frustração
de, muitas vezes, não saber distinguir entre catástrofes que possuem causas essencialmente naturais
e aquelas ocasionadas a partir da relação que o homem trava com a natureza. Os custos ambientais e
humanos do desenvolvimento da técnica, da ciência e da indústria passam a ser questionados a partir
de desastres contemporâneos como AIDS, Chernobyl, aquecimento global, contaminação da água e
de alimentos pelos agrotóxicos, entre outros.
(Adaptado de: LIMA, M. L. M. A ciência, a crise ambiental e a sociedade de risco. Senatus. v. 4. n. 1. nov. 2005. p. 42-47.)

O uso indiscriminado e abusivo de agrotóxicos, como os herbicidas, pode acarretar a necessidade da utilização
de concentrações cada vez mais frequentes e maiores de substâncias presentes nesses produtos, para obter os
efeitos esperados. Depois de um longo período de tempo, esse agrotóxico não surtirá mais os efeitos desejados,
ou seja, exterminar as ervas daninhas, que competem pelos nutrientes do solo em plantações de soja. Acerca da
explicação para esse fenômeno, assinale a alternativa correta.
a) As pequenas doses do agrotóxico desenvolveram resistência nas ervas daninhas.
b) As ervas daninhas resistentes foram selecionadas pelo uso do agrotóxico.
c) As ervas daninhas se acostumaram e se adaptaram ao agrotóxico.
d) As ervas daninhas submetidas ao agrotóxico tornaram-se dependentes da substância.
e) O agrotóxico modificou as ervas daninhas, induzindo mutações.

Anotações

Biologia

83
8
15 ESPECIAÇÃO – O CASO DOS
BUGIOS NA AMÉRICA DO SUL

Como é possível encontrar tamanha variedade de seres vivos distribuídos nos mais
diversos ambientes do planeta Terra? Será que conseguimos compreender como surgem
novas espécies?
Neste Módulo, vamos estudar a história evolutiva dos macacos bugios (Alouatta spp.)
e usá-la de exemplo para entender como surgem novas espécies de seres vivos, processo
chamado especia•‹o. Também vamos estudar de que modo os cientistas elaboram e
testam hipóteses por meio de estudos científicos. Por fim, conheceremos um segundo
caso de especiação, similar ao caso dos bugios, mas em um grupo de aranhas.

MARC MORITSCH/NATIONAL GEOGRAPHIC/


GETTY IMAGES
THOMAS MARENT/MINDEN PICTURES/LATINSTOCK

A B

DANITA DELIMONT RM/PETE OXFORD/DIOMEDIA


NATURE/FOTOARENA

C D

Espécies de macacos bugios (Alouatta spp). (A) Alouatta caraya, cerca de 50 cm de


comprimento; (B) Alouatta palliata, cerca de 45 cm de comprimento; (C) Alouatta seniculus,
cerca de 60 cm de comprimento e (D) Alouatta macconnelli, cerca de 90 cm de comprimento.

PARA ENTENDER A ESPECIAÇÃO


Antes de iniciarmos o estudo da história evolutiva dos bugios na América do Sul,
vamos recordar alguns conceitos básicos que foram estudados em anos anteriores,
em Ciências. Entre eles, estão o conceito de espécie, os sistemas de classificação
dos seres vivos, as árvores filogenéticas e sua interpretação e, por fim, a formação
de novas espécies ou especiação. Aproveitaremos para aprofundar o conhecimento
de alguns desses conceitos.
84
8 Ensino Fundamental
O que são espécies?
A menor categoria de classificação dos seres vivos geralmente adotada pelos cientistas
é a espécie. Porém, definir o que é uma espécie ainda gera muita polêmica no meio
científico. Para determinar uma espécie é preciso reconhecer se a diferença entre dois
indivíduos é apenas uma variação comum de uma espécie ou se representa caracte-
rística de espécies distintas. Imagine, por exemplo, as conchas da fotografia abaixo.
Embora sejam muito diferentes, elas são variações morfológicas de uma mesma espécie,
a Littorina saxatilis.
ALAMY/FOTOARENA

Variabilidade morfológica
da concha de um molusco
(Littorina saxatilis). Apesar
das diferenças, todos os
indivíduos são da mesma
espécie e podem chegar a
até 19 mm de comprimento.

Existem diversos conceitos de espécie e não há um consenso entre os cientistas sobre


qual deles é o melhor, pois muitas espécies desafiam algumas definições, como vere-
mos a seguir. Entre o mais amplamente aceito, podemos citar o conceito biológico de
espécie: indivíduos que cruzam entre si deixando descendentes férteis (isto é, que também
podem se reproduzir), em condições naturais (ou seja, não em cativeiro). Vale ressaltar,
no entanto, que o conceito biológico de espécie esbarra em certas limitações, como a
de espécies que se reproduzem de forma assexuada, o que ocorre com a maioria das
bactérias e com outros seres vivos.

De olho... no sistema de nomenclatura de uma espŽcie


O sistema de nomenclatura utilizado para nomear as espécies foi proposto
por Lineu, em 1735. Segundo esse sistema, o nome científico de uma espécie é Gênero
formado por duas palavras em latim. A primeira palavra (um substantivo) indica
o gênero a que o organismo pertence, deve começar com letra maiúscula e Homo sapiens
pode aparecer sozinha quando se pretende referir a todas as espécies daquele Espécie
Biologia

gênero. A segunda palavra (em geral, um adjetivo) deve começar com letra
minúscula e sempre vir acompanhada da primeira palavra. Os nomes científicos A composição do
devem sempre aparecer destacados do restante do texto, de preferência em nome científico da
itálico ou grifado. espécie humana.

85
8
O sistema de classificação dos seres vivos e a filogenética
O sistema de classificação foi proposto quando não se tinha a ideia de evolução dos
seres vivos. A classificação era feita com base em semelhanças e diferenças entre orga-
nismos. Os seres eram considerados imutáveis e a classificação utilizava principalmente
critérios com base em dados morfológicos. Com o avanço dos estudos sobre a evolução
dos seres vivos, isto é, de que as espécies se transformam ao longo do tempo, essa va-
riável passou a ser incorporada na classificação dos organismos.
A filogenética, ou sistemática filogenética, é o ramo da Biologia que procura entender
as relações evolutivas entre todos os grupos de seres vivos e as características compar-
tilhadas pelos grupos estudados. Supõe-se que existe uma única filogenia para todos os
seres, assumindo que a vida surgiu uma única vez na Terra e, portanto, todos os orga-
nismos existentes são descendentes de um mesmo ancestral. Para realizar estudos em
filogenética, são utilizadas as mais diversas fontes de informação, como as semelhanças
ou as diferenças morfológicas até a análise do material genético dos organismos. Esses
estudos geram diversos tipos de representação gráfica que visam ilustrar a diferenciação
de grupos e seu parentesco, sendo a mais comum chamada árvore filogenética. Quando
essa representação traz a hipótese de relações de parentesco, mas não traz informações
sobre os ancestrais, então a chamamos de cladograma.
Numa árvore filogenética é possível identificar quais grupos de seres vivos têm um
ancestral em comum, representado na base do ramo que agrupa tais seres vivos. Pode-
mos dizer que duas espécies aparentadas evolutivamente tiveram um ancestral comum,
mas que na maioria dos casos não existe mais, pois já foi extinto. Nessa classificação,
grupos de espécies que têm um ancestral comum são chamados grupos naturais.

A B C D E
Exemplo de cladograma. Mesmo sem conhecer
a classificação desse grupo, visualmente
4 conseguimos observar um pouco sua história
3 evolutiva. Observe, por exemplo, que as espécies
D e E têm um ancestral comum exclusivo (4) e
as espécies B e C têm em comum o ancestral
3. Essas quatro espécies juntas (B, C, D e E)
2 compartilham o mesmo ancestral 2 e, por último,
todas as espécies apresentam o ancestral comum
1, tratando-se, portanto, de um grupo natural.
1

Especiação
A especiação é o processo de formação de novas espécies. Há vários tipos de es-
peciação, como a especiação geográfica ou alopátrica (do grego, “pátria diferente”),
que ocorre quando as espécies são isoladas por barreiras geográficas (o soerguimento
de uma cordilheira ou a mudança do curso de um rio, por exemplo). Essas barreiras
podem impedir a reprodução – a troca de material genético, também chamada fluxo
gênico – entre as populações que foram separadas. Como as condições ambientais ao
longo da barreira geográfica podem ser bastante diferentes, as pressões seletivas sobre
as populações também diferem. Com isso, dentro da variabilidade genética naturalmente
existente nas populações, os indivíduos mais bem adaptados às novas condições am-
bientais tendem a deixar mais descendentes. Com o passar do tempo, novas mutações
podem surgir nas duas populações que, por causa da barreira geográfica, acabam não
sendo transmitidas entre si. Após várias gerações, tais diferenças podem ser tão grandes
que as populações passam a ser duas espécies distintas.
86
8 Ensino Fundamental
Em Ciências, já estudamos um exemplo hipotético de especiação geográfica. Nele,
uma população de caramujos terrestres que habitava uma floresta foi dividida em
duas populações isoladas. Houve um evento geográfico no qual um rio se formou,
causando a separação da população inicial de caramujos. Com o passar do tempo, as
populações de caramujos acumularam diferenças e se tornaram duas novas espécies.
Isso pôde ser confirmado quando, após um novo evento geográfico, as duas popu-
lações voltaram a conviver no mesmo espaço, mas não conseguiram se reproduzir
entre si e gerar descendentes férteis. Dizemos, então, que ocorreu especiação.

Tempo

Especiação geográfica ou alopátrica em uma espécie hipotética de caramujo, cuja população inicial é separada por um rio. Ao longo
do tempo, ocorre a diferenciação das duas novas populações que, posteriormente, caso voltem a ter contato, já serão duas espécies
distintas, no caso uma com cor verde-escuro e outra com cor verde-claro. (Elementos fora de proporção entre si. Cores fantasia.)

Outro tipo de modelo de especiação é a especiação simpátrica (do grego, “mesma


pátria”), em que não há a presença de uma barreira geográfica para interromper o
fluxo gênico. Este pode ser interrompido por alguma preferência ecológica durante
a exploração de um novo nicho ecológico, ou outras situações biológicas. Assim,
indivíduos da mesma espécie passam a ter hábitos distintos e, com o tempo e com
o acúmulo de diferenças, pode haver especiação. Insetos herbívoros, por exemplo,
podem ter preferência por se alimentar de certas plantas e, após várias gerações,
acumulam diferenças genéticas suficientes para se tornar uma nova espécie.

Biologia

Tempo

Especiação simpátrica em uma espécie hipotética de caramujo. Ao longo do tempo, mesmo sem a presença de barreira
geográfica, ocorre a diferenciação das duas novas populações que, posteriormente, se tornarão duas espécies distintas,
no caso uma com cor verde-escuro e outra com cor verde-claro. (Elementos fora de proporção entre si. Cores fantasia.)

87
8
Você sabia?
Modificações dentro de e entre espécies
Além de as populações poderem passar por especiação, elas também podem simplesmente se modificar
ao longo do tempo, sem necessariamente formar novas espécies; apenas se tornam diferentes de sua popu-
lação inicial. Esses dois processos estão ilustrados a seguir.

A" B"

Evento originando modificações


dentro de cada espécie
(A A' A") (B B' B")

A' B'

A B
Tempo

Evento originando
duas novas espécies
(A e B) de borboletas

Ancestral comum

Determinado evento originou duas novas espécies de borboletas (A e B) e essas, ao longo do tempo, foram
se modificando. (Elementos fora de proporção entre si. Cores fantasia.)

88
8 Ensino Fundamental
ATIVIDADE 1

1 (SLMandic-SP) A árvore filogenética apresentada abaixo é uma hipótese para as relações evolutivas entre quatro espécies.
X W Y Z

Considere as seguintes afirmações sobre esse cladograma.


I. A espécie X evoluiu primeiro e a espécie Z, por último.
II. As espécies X e W são mais evoluídas do que as espécies Y e Z.
III. As espécies W e Y estão mais intimamente relacionadas entre si que as espécies X e Z.
IV. As quatro espécies compartilham um ancestral comum.
É correto o que se afirma apenas em:
a) I e II.
b) I e IV.
c) III e IV.
d) II e III.
e) IV.

2 (Fuvest-SP) Devido ao aparecimento de uma barreira geográfica, duas populações de uma mesma espécie ficaram isola-
das por milhares de anos, tornando-se morfologicamente distintas.
a) Explique sucintamente como as duas populações podem ter se tornado morfologicamente distintas no decorrer do
tempo.

b) No caso das duas populações voltarem a entrar em contato, pelo desaparecimento da barreira geográfica, o que indi-
caria que houve especiação? Biologia

89
8
OS BUGIOS (ALOUATTA spp.) E A ESPECIAÇÃO

MARIANA RA„O/ACERVO DA FOTîGRAFA


Os bugios são espécies do gênero Alouatta, que se distribuem nas Américas do Sul e
Central. Existem dez espécies conhecidas e cada uma ocupa uma área de distribuição geo-
gráfica específica. Os bugios vivem em árvores e se alimentam de flores e de alguns frutos.
Comunicam-se por meio da vocalização, emitindo sons muito característicos. Pesquisas
sobre a relação de parentesco entre as dez espécies do gênero Alouatta mostram que elas
apresentam um ancestral comum que tinha ampla distribuição territorial nas Américas do
Sul e Central.
Mas qual é a história desse ancestral comum? O que deve ter ocorrido com ele? A
hipótese atual é a de que, com o surgimento da cordilheira dos Andes, estabeleceram-
Machos de bugio
-se barreiras geográficas, que separaram indivíduos desse ancestral em duas populações
(Alouatta sp.) menores, uma na América Central e outra na América do Sul. Essas populações ficaram
vocalizando. Seus isoladas entre si, impedindo cruzamentos entre elas (fluxo gênico). Após anos de isola-
rugidos podem ser mento reprodutivo, essas populações se especiaram, ou seja, acumularam características
ouvidos a até 5
quilômetros de distância.
e ficaram tão diferentes que se tornaram espécies distintas.
Fotografia tirada na Acompanhe as ilustrações a seguir para entender a hipótese da história evolutiva dos
Argentina em 2012. macacos bugios. ANDIA/UIG/GETTY IMAGES

A população de bugios tinha ampla


distribuição geográfica.

A cordilheira dos Andes é resultado do choque, há milhões Com o soerguimento da cordilheira dos
de anos, de duas placas tectônicas, a placa de Nazca e a Andes, a população ficou dividida, uma parte
placa Sul-Americana. Essa última placa, por ser mais densa, em cada lado da cordilheira. Com isso, os
ficou por baixo da placa de Nazca, que se elevou, formando grupos ficaram isolados e sujeitos a condições
essa cadeia de montanhas de forma abrupta, isto é, muito ambientais diferentes entre as áreas separadas,
rapidamente em termos geológicos. impossibilitando o contato entre essas
populações e a reprodução entre elas.
60º O

Ao longo do tempo, diferenças entre as


populações de cada lado foram se
OCEANO
ATLÂNTICO acumulando, fruto da variabilidade das
Equador
populações e da seleção natural.

Dessa forma, as populações separadas foram


evoluindo e acumulando características
N próprias ao longo do tempo. Considera-se,
então, que esses grupos pertencem a espécies
O L
diferentes. Esse mecanismo é conhecido
S como especiação geográfica.
OCEANO 0 640 km
PACÍFICO
Cordilheira dos Andes Águas costeiras
Processo de isolamento geográfico e especiação dos bugios (Alouatta spp.),
Montanhas e morros Oceanos
devido ao soerguimento da cordilheira dos Andes como barreira geográfica.
Terras baixas Rios
(Elementos fora de proporção entre si. Cores fantasia.)

90
8 Ensino Fundamental
Então, a hipótese está “correta”?
A hipótese atualmente aceita é a de que a cordilheira dos Andes funcionou como
uma barreira geográfica, isolando populações de macacos bugios que, com o tempo,
diferenciaram-se e formaram novas espécies. Os estudos sugerem que essa hipótese não
está errada. Mas ela está correta?
Em Ciência, não podemos afirmar que uma hipótese é correta ou verdadeira.
Entretanto, podemos afirmar que uma hipótese é errada ou falsa. Isso acontece por-
que, mesmo que as evidências encontradas sejam a favor de determinada hipótese,
é possível que informações e estudos futuros mostrem novas evidências, invalidando
a hipótese anterior. Entretanto, se evidências invalidam a hipótese, pode-se dizer
que a hipótese é falsa. A Ciência admite que nunca há conhecimento suficiente para
determinar que uma hipótese é 100% correta e considera que novos conhecimentos,
produzidos por outros cientistas ao longo da história da humanidade, poderão inva-
lidar uma hipótese a qualquer momento.

ATIVIDADE 2

1 Caso os bugios de lados diferentes da cordilheira dos Andes voltassem a se encontrar em razão de um evento geográfico,
por exemplo, a abertura de uma passagem pela cordilheira em que houvesse o crescimento de uma mata tropical, como
poderia ser confirmado se as populações são de espécies diferentes?

2 No caso dos bugios da América do Sul, como se relaciona o fluxo gênico e as mutações com a formação das espécies
hoje existentes?

Biologia

91
8
Você sabia?
Os bugios transmitem a febre amarela?
Não. Nos últimos anos, tem ocorrido no Brasil um surto de febre amarela, principalmente na região
Sudeste. Preocupadas, assustadas e sem as devidas informações, muitas pessoas passaram a agredir ma-
cacos, como saguis e bugios, acreditando que eles transmitem o vírus da febre amarela.
Além de essas agressões serem completamente injustificadas (em qualquer situação, diga-se de passa-
gem), trata-se de um crime ambiental que coloca em risco a saúde da população de macacos.
O bugio não é o transmissor do vírus da febre amarela; na realidade, ele é vítima do vírus e mui-
tas vezes morre por causa da doença. Em ambientes silvestres o vírus da febre amarela fica inerte em
mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Quando esses mosquitos infectados com o vírus picam
humanos ou macacos, o vírus é transmitido e a doença se manifesta. Se um mosquito que não carrega
o vírus picar um humano ou macaco que está doente, o mosquito passa a carregar o vírus e o transmite
nas próximas vezes que picar.
Portanto, quando aparecem macacos mortos, pode ser por causa da febre amarela. Feito esse diag-
nóstico, em caso positivo, a morte desses animais serve de alerta para a população de que o vírus da
febre amarela está circulando naquela região. O melhor a se fazer é tomar a vacina contra o vírus da
febre amarela para se prevenir da doença. Dessa forma, também estaremos impedindo que o vírus seja
transmitido no ambiente urbano, por meio da picada do Aedes aegypti contaminado.

Haemagogus e
Sabethes
Ciclo silvestre
Ciclo urbano

Ser humano

Aedes aegypti

O ciclo de transmissão silvestre da febre amarela tem os mosquitos dos gêneros Haemagogus
e Sabethes como agentes transmissores para os macacos e eventualmente para o ser humano.
O ciclo de transmissão urbano, por sua vez, tem o Aedes aegypti como agente transmissor
para o ser humano. (Elementos fora de proporção entre si. Cores fantasia.)

92
8 Ensino Fundamental
O CASO DAS ARANHAS, TAMBÉM SEPARADAS PELOS ANDES
Aranhas apresentam ampla distribuição dentro dos diferentes biomas da Terra. Existem
hoje cerca de 42 000 espécies descritas, mas, segundo alguns pesquisadores, esse número
não traduz a real diversidade do grupo. Acredita-se que muitas espécies ainda não foram
descritas e classificadas, ou seja, o número total de espécies é provavelmente muito maior.

FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO


FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO

A B

ARTUR KEUNECKE/PULSAR IMAGENS


C
FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO

Espécies de aranha. (A) Papa-mosca (Família Salticidae), cerca de 1,5 cm


de comprimento; (B) Caranguejeira (Família Theraphosidae), cerca de
20 cm de comprimento; (C) Aranha-marrom (gênero Loxosceles), cerca
de 3 cm de comprimento e (D) Armadeira (Phoneutria nigriventer),
cerca de 4 cm de comprimento.

Em meados de 2005, uma nova espécie de aranha do gênero Ericaella

ALEXANDRE BRAGIO BONALDO/ACERVO DO FOTÓGRAFO


foi descrita pelos pesquisadores brasileiros Alexandre B. Bonaldo, Antônio
D. Brescovit e Cristina A. Rheims do Instituto Butantan (São Paulo) e Mu-
seu Emílio Goeldi (Pará). O nome atribuído foi E. florezi, em homenagem
ao aracnólogo colombiano Eduardo Florez. Ela é a quarta espécie descrita
nesse gênero e foi encontrada também na Colômbia. Além dela, outras três
espécies do mesmo gênero – E. longipes, E. samiria e E. kaxinawa – também
foram encontradas na América do Sul. Após estudos filogenéticos (análise
das relações evolutivas entre grupos de seres vivos), os pesquisadores che-
garam à conclusão de que, possivelmente, as três espécies compartilharam
Biologia

um único ancestral comum no passado.


Fotografia da aranha Ericaella
florezi, de tamanho total de
aproximadamente 5 mm.

93
8
A hipótese é que o ancestral dessas aranhas tinha ampla dis- Ericaella samiria
tribuição territorial na América do Sul, mas após o surgimento
2
de uma barreira geográfica – a cordilheira dos Andes – essa
população foi fragmentada e separada em populações menores. Ericaella kaxinawa
1
Árvore filogenética para quatro espécies de aranha do gênero Ericaella longipes
Ericaella na América do Sul. Ambas as espécies do nó 2
ocorrem a oeste da cordilheira dos Andes e ambas as 3
espécies do nó 3 ocorrem a leste dessa cordilheira.
Ericaella florezi

ATIVIDADE 3

1 Observando a árvore filogenética para as quatro espécies de aranha do gênero Ericaella (acima), responda:
a) Quantos eventos de especiação são evidenciados na árvore filogenética? Como estão representados?

b) Baseado na árvore filogenética e na legenda, qual nó deveria representar o soerguimento da cordilheira dos Andes, o
nó 1, o 2 ou o 3? Justifique.

c) Considerando que o soerguimento da cordilheira dos Andes ocorreu entre 23 e 10 milhões de anos atrás, há quanto
tempo, no máximo, deve existir a espécie Ericaella florezi? Justifique.

2 (Fameca-SP) O Canal do Panamá é um dos maiores feitos da engenharia moderna. Com Istmo: estreita faixa de
82 quilômetros de extensão, ele corta o Istmo do Panamá
P na América Central e liga o Ocea- terra que liga duas áreas
de terra maiores.
no Pacífico ao Oceano Atlântico, facilitando o comércio marítimo internacional. O canal tem
largura de 90 metros no Estreito de Culebra e de 350 metros no Lago de Gatún, e conta com
três grupos de eclusas.
(http://noticias.r7.com. Adaptado.)

94
8 Ensino Fundamental
O Canal do Panamá influencia os mecanismos de evolução biológica na região uma vez que favorece:
a) o aumento da variabilidade genética nas populações.
b) a redução do fluxo gênico nos ambientes aquáticos.
c) a seleção artificial de espécies melhor adaptadas.
d) o surgimento de novas espécies por especiação alopátrica.
e) o aumento de mutações pontuais nas populações.

EM CASA

1 A figura a seguir mostra a distribuição de duas espécies de um molusco gastrópode marinho do gênero Cypraea,
conhecidos comumente como búzios. Em A, vemos o registro fóssil da distribuição geográfica de um ancestral
dessas duas espécies. Em B, vemos a distribuição atual dessas duas espécies.

A B

Cypraea zebra

Cypraea cervinetta

Espécie ancestral

Na atualidade
Antes do fechamento do istmo do Panamá

Distribuição geográfica de gastrópode do gênero Cypraea em dois momentos no


tempo. (A) Distribuição da espécie ancestral antes da formação da América Central. (B)
Distribuição atual das espécies Cypraea cervinetta e Cypraea zebra. Em verde estão
Biologia

representados os continentes e, em vermelho, a distribuição das espécies.

Como o surgimento do istmo que liga a América do Sul à América do Norte, conhecido hoje como América Cen-
tral, contribuiu para a formação das espécies C. cervinetta e C. zebra?

95
8
2 Que tipo de especiação é mostrado na figura abaixo? Explique como ela ocorre.

Rio

Rio

Tempo

3 (Unicamp-SP)
A biodiversidade brasileira, no que diz respeito a aranhas, pode ser ainda maior do que suspeitavam
os cientistas. É o que apontam as últimas descobertas de uma equipe de pesquisadores brasileiros.
Entre janeiro e julho de 2005, o grupo identificou nove espécies novas de aranha, a maioria da região
amazônica. Os pesquisadores também compararam geneticamente a espécie Ericaella florezi com
outras do mesmo gênero e sugeriram que a especiação pode ter se iniciado com o aparecimento da
Cordilheira dos Andes, há cerca de 12 milhões de anos.
(Adaptado de “Brasileiros acham nove espécies de aranha em 2005”, Folha de S. Paulo, 22/08/2005).

a) Por que o surgimento da Cordilheira dos Andes teria iniciado o processo de especiação?
b) Que processos posteriores devem ter ocorrido para que essas aranhas se tornassem espécies distintas?

RUMO AO ENSINO MÉDIO

1 Observe o cladograma a seguir sobre a evolução de um determinado grupo de animais com quatro espécies (I, II, III e IV).

III IV
I II

É CORRETO afirmar:
a) A espécie representada pelo ramo III tem ancestral diferente das demais espécies.
b) O evento de especiação que originou II, III e IV é mais recente do que o que deu origem à espécie I.

96
8 Ensino Fundamental
c) A espécie IV é a última que sofreu especiação entre todas as espécies do grupo.
d) O cladograma é composto por três nós, e somente a partir de um deles é que se desenvolvem ramos distintos.
e) Os grupos representados pelos ramos I e II são grupos-irmãos, isto é, que compartilham o mesmo ancestral
comum recente.

2 (FPS-PE) A especiação é um dos processos que origina espécies e pode ocorrer por alterações bruscas, como modi-
ficações climáticas ou eventos geológicos, que podem impedir a permanência dos indivíduos da população inicial,
separando essa população em duas ou mais. Acerca da especiação, é correto afirmar que:
a) quando as barreiras ecológicas impedem o cruzamento entre os indivíduos das populações, não há formação
de nova espécie.
b) quando as diferenças desenvolvidas proporcionarem o isolamento reprodutivo entre os indivíduos das popula-
ções, não haverá formação de nova espécie.
c) as modificações climáticas causadas pelas diferentes estações do ano favorecem o surgimento de novas
espécies.
d) a especiação é o nome dado ao processo de surgimento de novas espécies a partir de espécies de famílias
diferentes.
e) quando as diferenças desenvolvidas não forem suficientes para impedir o cruzamento entre os indivíduos das
populações, não haverá formação de nova espécie.

3 (SLMandic-SP) Considere a seguinte árvore filogenética hipotética arrolando a espécie humana e espécies viventes
de macacos do velho mundo e dos grandes macacos:
macacos do velho mundo (ex: babuíno)

gibão

gorila

chimpanzé

bonobo

homem

orangotango

A interpretação dessa árvore filogenética permite afirmar que


a) chimpanzés e bonobos são ancestrais do homem.
Macaco antropoide:
b) macacos do velho mundo e gibões não são relacionados. são os primatas
sem rabo. Nesse
Biologia

c) o grupo que se diversificou mais recentemente é o humano. grupo estão: gibão,


orangotango,
d) chimpanzés e humanos são mais relacionados do que gorilas e chimpanzés. gorila, ser humano,
chimpanzé e bonobo.
e) o orangotango é o macaco antropoide que tem
t o maior parentesco com o homem.

97
8
16 A SELEÇÃO NATURAL EM AÇÃO

Já vimos que os seres vivos passam pelo processo de seleção natural. Um pássaro,
quando caça insetos, larvas ou minhocas, come aqueles que consegue ver e capturar mais
facilmente. Aqueles animais que não são capturados (por serem capazes de se esconder
melhor, por exemplo) sobrevivem e podem se reproduzir. Os animais que escaparam
ou que não foram vistos pelos pássaros foram naturalmente selecionados e, ao deixarem
descendentes, puderam perpetuar as características que os fizeram sobreviver. Conforme
veremos a seguir, temos vários desses exemplos na natureza.
Vamos estudar neste Módulo um caso clássico: o melanismo industrial em mariposas,
na Inglaterra. Também faremos uma simulação desse modo de ocorrência da seleção
natural. Será que a mariposa mais bem camuflada realmente é a menos predada em uma
simulação? Como chegamos à conclusão de que uma mariposa é a mais bem camuflada
e o que ela precisa ter para isso?

HENRIK LARSSON/SHUTTERSTOCK
Observe como as asas da
mariposa (Biston betularia)
são parecidas com o tronco da
árvore, permitindo a camuflagem.
O indivíduo adulto pode atingir
6 cm de comprimento.

O CASO DAS MARIPOSAS DE MANCHESTER


Um caso clássico, conhecido como melanismo industrial, vem sendo usado há décadas
como um exemplo prático do processo de seleção natural. A Revolução Industrial na
Inglaterra iniciou no século XVIII e ocorreu com grande intensidade no século seguinte,
modificando o ambiente das cidades e cercanias. Na cidade de Manchester e em outras
cidades industrializadas da Inglaterra, a fuligem lançada pelas chaminés das indústrias
contribuiu para o escurecimento dos troncos das árvores, tanto pela deposição da fuligem
quanto pela morte dos liquens que viviam ali e davam cores mais claras a esses troncos.
98
8 Ensino Fundamental
SCIENCE & SOCIETY PICTURE LIBRARY/EASYPIX BRASIL

Gravura retratando
a cidade industrial
de Manchester
em meados do
século XIX.

Nesse cenário, mariposas da espécie Biston betularia utilizavam esses troncos durante
A
o dia como local de repouso. Assim, estavam expostas à predação por aves. Existem duas
formas dessa espécie de mariposa, a clara e a escura, ou melânica. Antes da Revolução
Industrial, a forma mais clara era mais frequente, mas, com o aumento das atividades
industriais, a forma melânica passou a ser mais comum. Assim, a forma clara passou a ser
cada vez menos observada, de modo a totalizar apenas 5% da população de mariposas,
em 1898, em Manchester.
A explicação para isso seria a maior facilidade de a forma clara da mariposa, quando
pousada sobre troncos escuros, ser predada por pássaros. Nessa situação, a forma me-
lânica apresentava vantagens sobre a forma clara por se camuflar melhor nos troncos B
fuliginosos e foi selecionada naturalmente.
No entanto, com a melhoria da qualidade ambiental na região, no século XX, houve

A
EN
AR
menor quantidade de fuligem sendo liberada pelas indústrias e as árvores em Manchester

TO
FO
Y/
ficaram cada vez menos cobertas por fuligem, e com os troncos mais claros, novamente

M
ALA
recobertos por liquens. Nessas condições, era de se esperar que as formas claras da ma-

S:
TO
FO
riposa voltassem a predominar, por estarem mais bem camufladas no ambiente e, assim,
serem menos predadas. No entanto, alguns estudos populacionais não confirmavam essa
previsão, pois predominava ainda a forma melânica. A seleção natural para explicar o Formas clara (A) e
melânica (B) da mariposa
melanismo industrial começou a ser posta em xeque. Biston betularia.
SCIENCE SOURCE/FOTOARENA

Mariposas (Biston betularia)


nas formas clara e escura
Biologia

em um tronco de árvore
com fuligem. O nível de
camuflagem varia de acordo
com a superfície na qual estiver
pousada, se clara ou escura.

99
8
Esse dilema começou a ter um novo capítulo a partir dos estudos do biólogo britâ-
nico Michael Majerus (1954-2009). Ele soltou no ambiente 4 864 exemplares das duas
formas da mariposa (clara e melânica) e observou sua predação na natureza, contando
a quantidade de cada uma das formas ao longo do tempo. Mas, em razão de sua morte,
o estudo não chegou ao final, e apenas em 2012 o pesquisador britânico Lawrence M.
Cook e colaboradores publicaram os dados finais de Majerus mostrando que a frequência
das mariposas claras aumentou significativamente na era pós-industrial. Dessa forma,
puderam interpretar que as mariposas claras estavam sendo selecionadas positivamente
em detrimento da forma escura, mais predada por aves nessas novas condições.
Transpóson ou gene Estudos posteriores utilizando-se de dados genéticos corroboraram ainda mais essa
saltador: segmento de
DNA que pode se mover
hipótese. Foram identificados os genes responsáveis pela forma melânica, que são do
no cromossomo, alterando tipo transpósons ou genes saltadores.
saltadores Também foram capazes de prever que esses genes
sua posição dentro de um começaram a se manifestar na forma melânica por volta de 1819, período que coincide
genoma, o que influencia na
expressão de outros genes.
com o avanço da Revolução Industrial e o registro da forma melânica na natureza. Quais
novas descobertas os próximos capítulos dessa história nos reservam?

ATIVIDADE 1

1 Caso as populações de aves predadoras diminuíssem drasticamente, após 2012, por alguma doença específica, o
que deveria acontecer com a proporção dessas formas de mariposas claras e escuras na população da floresta?
Justifique.

2 (Unifor-CE) Em coleções animais feitas na Inglaterra no século XVII, a mariposa sarapintada Biston betularia era sempre
de uma coloração clara com algumas pintas escuras. Uma segunda forma da mariposa com muitas pintas escuras (me-
lânica) foi então registrada e aumentou muito em frequência até constituir em mais de 90% a população de mariposas
em áreas poluídas na metade do século XX. Em áreas não poluídas, a forma clara (sarapintada) permaneceu comum.
Leis de purificação do ar foram criadas na metade do século XX, e a frequência da forma melânica diminuiu nas áreas
originalmente poluídas.
A mariposa sarapintada ilustra um exemplo clássico de:
a) herança genética.
b) especiação.
c) seleção natural.
d) irradiação.
e) convergência.
100
8 Ensino Fundamental
ATIVIDADE EXPERIMENTAL

Jogo das mariposas


Você vai preparar uma réplica de tronco de árvore e de mariposas com diferentes padrões de coloração. Depois,
vai escolher a mariposa que melhor se camufle nele.

Preparação dos troncos de árvore e das mariposas


Material
• Anexos 1-A, 1-B e 1-C (no final deste Caderno)
• Tesoura com pontas arredondadas
• Cola branca
• Fita adesiva dupla face

Procedimento 1 – Preparação do tronco de árvore (mosaico)

a. Recorte a figura do Anexo 1A – tronco.


b. No Anexo 1B – padrões (liquens e camuflagens), faça pequenos recortes de formas variadas nas partes bege,
verde e marrom, com no máximo 3 cm cada um. Eles representarão liquens no tronco de árvore.
c. Ainda no Anexo 1B, recorte pequenas formas como fez para os liquens, porém essas serão usadas na monta-
gem das mariposas. Reserve-as.
d. Cole as formas recortadas (liquens) na folha que representa o tronco, formando um padrão do tipo mosaico
(veja o modelo abaixo).
e. Distribua os recortes verdes o mais uniformemente possível no tronco. Concentre os recortes beges no meio
do tronco (área II) e coloque alguns poucos no topo (área I). Com isso, simulamos uma área do tronco com
muitos liquens. Na parte inferior do tronco (área III), cole alguns recortes marrons; isso simulará a porção menos
ocupada por liquens. Ao final, você deve obter uma coloração geral mais escura na área I, intermediária na II e
mais clara na III (veja o modelo abaixo).
f. No verso da folha que representa o tronco, faça marcações leves a lápis, dividindo-a em nove quadrantes
(3 linhas e 3 colunas), que devem ser identificados por A-I, A-II, A-III, B-I, B-II, B-III, C-I, C-II e C-III (veja o modelo
abaixo). Identifique sua folha com seu número de classe.
A B C

II
Biologia

III

101
8
Procedimento 2 – Preparação das mariposas de papel

Destaque a página com o Anexo 1C – mariposas e recorte os moldes da mariposa como mostrado na figura abaixo.
Você deve obter dez mariposas (da cor bege).

Mariposa

Corte Corte

Teste dos padrões de camuflagem

a. Separe uma mariposa e cole, em apenas uma de suas asas, alguns dos recortes verdes e marrons que foram
reservados durante a montagem do tronco da árvore, como na figura A.

b. Repita esse procedimento para confeccionar mais duas mariposas, criando padrões de coloração distintos.
c. Teste agora os padrões de coloração das três mariposas no seu tronco de árvore. Escolha aquela que se camufla
melhor nas três áreas (I, II e III).
d. Faça mais duas mariposas idênticas à escolhida.
e. Complete a outra asa de cada mariposa com o mesmo padrão da asa já testado, de modo que as asas fiquem
simétricas (figura B abaixo). Não misture padrões diferentes (figura C).

B C

Preparação para o jogo

O objetivo do jogo é demonstrar qual mariposa se camuflou melhor no tronco de árvore.


Coloque cada uma das três mariposas em uma das linhas (I, II e III) do tronco, em A, B ou C, na direção que você
desejar.
Com um pedaço de fita adesiva dupla face, cole uma mariposa dentro dos limites de cada divisão (veja um exem-
plo no modelo da próxima página). Não deixe que seus colegas percebam quais posições você escolheu.

102
8 Ensino Fundamental
Escreva nas costas do tronco (que chamaremos de mosaico) um número de identificação, que será determinado
pelo professor e utilizado mais tarde na preparação de uma tabela.
A B C

II

III

Hora do jogo

Você e seus colegas imaginarão que são aves famintas à procura de insetos nos troncos das árvores de uma floresta.
Todas as mariposas que forem vistas por vocês serão predadas. Aquelas que melhor desenvolverem a capacidade
de se camuflar no ambiente sobreviverão e poderão produzir descendentes parecidas com elas.
O professor mostrará todos os troncos (mosaicos), um a um, para a classe. Um aluno será o assistente.
É importante que você e seus colegas estejam mais ou menos à mesma distância do tronco.
Sobre cada um dos troncos haverá três mariposas com um determinado padrão de coloração. Você julgará qual
das mariposas se camuflou melhor.
Vejamos as etapas do jogo:
a. Todos os alunos devem fechar os olhos e só devem abri-los quando o professor pedir.
b. O professor cobrirá parcialmente o mosaico, deixando visível apenas a linha III. Ele, então, pedirá a todos que
abram os olhos e tentem localizar a mariposa naquela linha (se está na área A, na B ou na C da linha).

Cobrir
II
Biologia

III

A B C

103
8
c. Em seguida, o professor cobrirá todo o mosaico.
d. O aluno designado como assistente do professor pedirá aos colegas que levantem as mãos se acham que a
mariposa está na posição A. Ele anota no quadro quantos levantaram a mão. O mesmo procedimento será feito
para os que acham que a mariposa está na área B e na C. Só levante a mão para a situação onde achar que
está a mariposa.
e. O professor então revelará em qual posição a mariposa estava. Copie na tabela (Registrando os resultados) os
dados anotados pelo assistente no quadro (a posição que a mariposa estava e o número de pessoas que iden-
tificaram a mariposa na posição correta).
f. O professor repetirá esse procedimento, mostrando a linha III de todos os mosaicos. Quando terminar, fará a
mesma coisa com a linha II e finalmente com a linha I.
g. Após preencher toda a tabela, faça a soma do número de vezes em que cada mariposa foi identificada
corretamente.

Registrando os resultados

Seguindo as orientações do professor, preencha a tabela a seguir com a posição (A, B ou C) de cada mariposa
no tronco (mosaico), o número de vezes que elas foram vistas e o total de vezes que elas foram corretamente
identificadas.

Número de identificação

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

III * **

Linha do
tronco II
(mosaico)

Total de vezes
em que foram
identificadas
corretamente

* Posição de cada mariposa na área.


* * Número de pessoas que identificaram a mariposa corretamente na área em que estava.

104
8 Ensino Fundamental
ATIVIDADE 2

Observe na tabela que você completou na Atividade experimental o total de vezes que as mariposas foram vistas em
cada mosaico. Qual foi o padrão mais visível e qual o de melhor camuflagem? Descreva esses dois padrões de coloração
das mariposas.

EM CASA

1 O gráfico a seguir mostra os resultados obtidos por Michael Majerus e analisados por Lawrence M. Cook e colabo-
radores em 2012 sobre a taxa de sobrevivência de mariposas de formas clara e melânica em Madingley, Inglaterra.
Analise-o para responder às perguntas que se seguem.
100
Porcentagem de sobrevivência (%)

90
Gráfico da taxa de
sobrevivência de mariposas
80 em relação à predação por
aves entre 2002 e 2007
em Madingley, Inglaterra.
70 A linha pontilhada azul
representa a porcentagem
de sobrevivência das
60 mariposas da forma
clara e a linha contínua
vermelha a porcentagem de
50 sobrevivência das mariposas
da forma melânica.
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Ano

a) Em que ano a taxa de sobrevivência das mariposas claras foi maior? E menor?
b) Em que ano a taxa de mortalidade das mariposas melânicas foi maior? E menor?
c) O que se pode concluir a respeito da predação das aves no ano de 2004 para as duas formas da mariposa?
d) A taxa de sobrevivência da mariposa melânica foi bem diferente no ano de 2006, em relação a anos anteriores
e posteriores. Crie uma hipótese para explicar esse dado.
Biologia

2 Com base nas simulações feitas em classe, responda: se as mariposas tivessem apenas duas cores em vez de três,
seria mais fácil ou mais difícil criar um padrão colorido que favorecesse a camuflagem nas três linhas (I, II e III) do
mosaico? Justifique sua resposta.

105
8
RUMO AO ENSINO MÉDIO

1 (Uninove-SP) A figura ilustra como o processo evolutivo atua ao exer-

REPRODU‚ÌO/UNINOVE
cer um papel essencial na frequência de características mais adapta-
das à sobrevivência dos indivíduos de uma população.
Tal processo está associado diretamente:
a) à seleção natural.
b) à especiação alopátrica.
c) à teoria sintética da evolução.
d) à lei do uso e desuso.
e) ao isolamento reprodutivo.

2 Assinale a alternativa que, segundo a teoria de Darwin, explica o que aconteceu com as mariposas durante o jogo.
a) As mariposas desenvolveram a capacidade de se camuflar no ambiente por terem de se camuflar melhor nos
troncos com liquens e poderão produzir mais descendentes que herdarão essa camuflagem.
b) As mariposas desenvolveram a capacidade de se camuflar no ambiente por terem de se camuflar melhor nos
troncos com liquens, isto é, foram selecionadas naturalmente pelos predadores (ambiente) e poderão produzir
mais descendentes parecidos com elas.
c) As mariposas que melhor apresentaram a capacidade de se camuflar no ambiente sobreviveram, isto é, foram se-
lecionadas naturalmente pelos predadores (ambiente) e poderão produzir mais descendentes parecidos com elas.
d) As mariposas que melhor desenvolveram a capacidade de se camuflar no ambiente sobreviveram e poderão
produzir mais descendentes que herdarão essa camuflagem, transmitida pelos caracteres adquiridos.
e) As mariposas que melhor desenvolveram a capacidade de se camuflar no ambiente sobreviveram, pois de tanto
pousarem sobre os liquens acabaram, com o passar do tempo, desenvolvendo tal camuflagem, característica
essa transmitida aos seus descendentes.

3 O chamado melanismo industrial é um fenômeno que foi observado em algumas regiões industriais e poluídas da
Inglaterra, onde as mariposas mais escuras da espécie Biston betularia se tornavam mais abundantes do que as ma-
riposas mais claras. Em geral, em florestas de outras regiões, a predominância nessa espécie é a de mariposas mais
claras. Esse aumento de mariposas mais escuras e diminuição das mais claras nas regiões industrializadas pode ser
explicado porque:
a) as mariposas mais escuras, por terem tal cor, se acostumavam melhor à poluição e por isso sobreviveram mais
que as mariposas mais claras, bem mais suscetíveis aos efeitos da poluição.
b) as mariposas mais claras ficavam mais evidentes nos troncos escurecidos das árvores pela poluição e por isso
eram mais predadas que as mariposas mais escuras nesses mesmos troncos.
c) as mariposas mais claras, para se adaptarem ao ambiente agora mais escuro, se modificaram e se tornaram mais
escuras, diminuindo assim em número e passando essa característica para os seus descendentes.
d) as mariposas mais claras eram mais saborosas ao gosto de seus predadores, os pássaros, do que as mariposas
mais escuras, que tinham asas mais resistentes e difíceis de serem comidas.
e) as mariposas mais escuras são em maior número, pois a poluição escureceu as suas asas e, ao mesmo tempo,
matou mais mariposas mais claras que eram suscetíveis aos seus efeitos.

106
8 Ensino Fundamental
ANEXO 1A – TRONCO

A B C

II

III

108
8 Ensino Fundamental
ANEXO 1B – PADRÕES (LIQUENS E CAMUFLAGENS)

110
8 Ensino Fundamental
ANEXO 1C – MARIPOSAS

Dobrar

Cortar

112
8 Ensino Fundamental
Anotações

Biologia

113
8
Anotações

114
8 Ensino Fundamental
Anotações

Biologia

115
8
Anotações

116
8 Ensino Fundamental
Anotações

Biologia

117
8
Anotações

118
8 Ensino Fundamental
ANGLO
A força do leão está presente na coleção de Ensino Fundamental do Sistema Anglo de Ensino.
O desenvolvimento de competências e habilidades imprescindíveis para o aluno em sua vida
pessoal e profissional é o principal objetivo do material.
Em espírito colaborativo, a nova edição traz mudanças construídas a partir das sugestões de
professores, pais e alunos da rede.
Há mais propostas interdisciplinares, testes de múltipla escolha e novas seções: recursos que
enriquecem a aula e mantêm o interesse do jovem.
Por isso, desejamos valiosos momentos com a coleção. Bons estudos!

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