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A C OMUNICAÇÃO NO A MBIENTE V IRTUAL : DOS M ODELOS À

T EORIA DE T EIXEIRA

Marcelo Mendonça Teixeira∗

Centro Universitário UNISÃOMIGUEL

DOI : 10.25768/20.04.01.030
R ESUMO : A interação global, baseada no compartilhamento de informações e conhecimen-
tos, e os avanços das tecnologias digitais, vêm promovendo transformações no processo co-
municativo das pessoas em sociedade há séculos. Nesse sentido, apresentamos, nesse trabalho
de pesquisa, as transições sobre os principais modelos de comunicação na história da huma-
nidade. A pesquisa qualitativa e empírico descritiva foi desenvolvida de julho a dezembro de
2019.
PALAVRAS - CHAVE : teorias da comunicação; modelos de comunicação; tecnologias de infor-
mação e comunicação; universo virtual; interatividade.
A BSTRACT:
K EYWORDS :

Índice 1.6 Modelo de Comunicação de Ro-


man Jakobson . . . . . . . . . . . 6
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.7 Modelo de Comunicação de
1 Modelos de Comunicação . . . . . . 2
Gerhard Maletzke . . . . . . . . . 7
1.1 Modelo de Comunicação de Aris-
tóteles . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.8 Modelo de Comunicação Inter-
1.2 Modelo de Comunicação de Ha- pessoal de Wilbur Lang Schramm . 8
rold Lasswel . . . . . . . . . . . . 3
1.9 Modelo de Comunicação de Lee
1.3 Modelo de Comunicação de Osborne Thayer . . . . . . . . . . 8
Claude Shannon e Warren Wea-
ver . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.10 Modelo de Comunicação para o
1.4 Modelo de Comunicação de Ho- Ambiente Virtual . . . . . . . . . 9
race Newcomb . . . . . . . . . . . 5
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.5 Modelo de Comunicação de Ge-
orge Gerbner . . . . . . . . . . . . 5 Referências . . . . . . . . . . . . . . . 11


Pós-Doutorado em Modelagem Computacional pelo Educação a Distância no Centro Universitário UNISÃOMI -
Departamento de Estatística e Informática na Universi- GUEL . E-mail: proreitoria.marcelo@gmail.com
dade Federal Rural de Pernambuco, Doutor em Tecnologia
pela Universidade do Minho (Portugal), e Pró-Reitor em
Marcelo Mendonça Teixeira

almente em perceber o processo de produção


da informações midiáticas, valorizando o con-
teúdo e as formas de veiculação das mensa-
Introdução
gens síncronas e assíncronas, como se cons-
E faz notório na literatura pós-moderna tata na “Teoria da comunicação para o uni-
S que a era atual é, segundo Castells
(2020), fruto da convervência comunicativa
verso virtual”. Consequentemente, uma rela-
ção direta no processo comunicativo entre o
física para a virtual mediada pelas tecnolo- emissor e o receptor da mensagem, e os efeitos
gias de informação e comunicação, proporci- causados pelas trocas que advém desse pro-
onando uma nova dimensão as formas de pen- cesso. É como previram Tapscott e William
sar, agir e interagir das pessoas, dispersas ou (2010) em que a interação global, baseada na
não geograficamente. Sobre o assunto, Mac- partilha de informações e conhecimentos, e os
quail (2017) adianta que os meios evoluíram, avanços das tecnologias de informação, muda-
de fato, pois estando presentes em uma pla- rão o conceito de economia e sociedade para
taforma digital em rede ocorre numa potenci- sempre.
alização dos recursos de comunicação ofere- Face ao exposto, o presente trabalho de
cidos, antes limitados a presencialidade cor- pesquisa reflete uma análise do processo de
pórea. Ou seja, o resultado da convergência comunicação humana e as principais teorias
tecnológica permitiu a digitalização, o arma- que surgiram em diferentes períodos históri-
zenamento, a hipertextualidade, a compreen- cos, apud o momento vivenciado, na tenta-
são do sinal e a automatização dos processos tiva de estabelecer uma lógica que justifique
de produção e emissão das informações. a inerente necessidade de comunicação entre
Por outro lado, em justaposição as ideias as pessoas.
de Morin (2003) “Na comunicação pelo meio
(teoria complexa da comunicação)”, constata- 1 Modelos de Comunicação
mos que no transcorrer dos anos, face a emer-
gência de novas formas de comunicação in- 1.1 Modelo de Comunicação de
terativa (muitos para muitos) e a miríade de Aristóteles
conteúdos informativos na no universo virtual, Um dos primeiros modelos registrados sobre
o processo comunicativo tornou-se dinâmico o processo de comunicação humana foi apre-
e multidirecional através de diferentes recur- sentado pelo filósofo Aristóteles em sua obra
sos tecnológicos. É nesse caminhar que urge “Arte Retórica” durante o século IV a.C. Se-
o estudos sobre o processo de comunicação gundo o filósofo, para se estudar, compreen-
humano, dos registros em pedra ao ciberes- der e cultivar a retórica se faz necessário con-
paço, juntamente com as teorias da comuni- siderar três elementos essenciais no processo
cação, amparados por aspectos sociais, histó- de comunicação: 1) A pessoa que fala (locu-
ricos, econômicos e tecnológicos. tor); 2) O discurso que faz; 3) A pessoa que
Em tela, Paz e Teixeira (2020), acompa- ouve. Tal abordagem traduz a essência de ou-
nhando a retórica de Macquail e Mark (2020), tros modelos que surgiram na história, base-
destacam que os estudos comunicacionais da ado na tríade: Emissor – Mensagem – Recep-
era contemporânea se fundamentam essenci- tor (Poe, 2010).

rece de expressa autorização do editor e do(s) seu(s) au-


c 2020, Marcelo Mendonça Teixeira. tor(es). O artigo, bem como a autorização de publicação
c 2020, Universidade da Beira Interior. das imagens, são da exclusiva responsabilidade do(s) au-
O conteúdo deste artigo está protegido por Lei. Qualquer tor(es).
forma de reprodução, distribuição, comunicação pública
ou transformação da totalidade ou de parte desta obra ca-

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Figura 1. Modelo de Comunicação Aristotélico


Fonte: O Autor.

A esse respeito, Cardoso (2013) assegura tica (quem obtém o quê? quando? de que
que a maior parte dos contemporâneos mode- forma?), o Modelo Lasswelliano, proposto em
los de comunicação são similares ao de Aris- 1948 a partir da Teoria Funcionalista (que pro-
tóteles, embora mais complexos e que adé- cura explicar aspectos da sociedade em termos
quam a cada período histórico, adiciona Tei- de funções), afirma que uma forma adequada
xeira (2012) na obra “Da Comunicação hu- para se descrever um ato de comunicação é
mana a comunicação em rede: uma plurali- responder as seguintes perguntas: Quem? Diz
dade de convergências”. O modelo aristoté- o quê? Através de que meio? Com que efeito?
lico serviu como base para a elaboração das explica Mauro Wolf (2003) nas “Teorias da
primeiras teorias de comunicação dos sécu- Comunicação”.
los XX e XXI. Inclusive, a autora enfatiza O estudo científico do processo comuni-
que os estudos posteriores realizados no âm- cativo tende a concentrar-se em uma ou outra
bito da Filosofia, da Sociologia, da Psicologia destas interrogações. Para Poe (2010), é um
e das demais ciências humanas sobre a Comu- modelo cuja aparição pode situar-se na fase de
nicação tiveram como base o modelo aristoté- transição entre as primeiras teorias (não cien-
lico, considerando, ainda, que muitos desses tíficas) sobre a comunicação social, em con-
estudos buscavam principalmente a compre- creto a teoria das balas mágicas ou da agulha
ensão dos fenômenos sociais, ou seja, os efei- hipodérmica, e os primeiros estudos científi-
tos políticos, culturais, psicológicos, econô- cos sobre os efeitos da comunicação, como o
micos e tecnológicos das práticas comunica- Modelo Psicodinâmico de Cantril (1940) ou
cionais (ibidem). Nesse caminhar, no decor- as teorias funcionalistas do fluxo de comuni-
rer dos anos, a partir de Aristóteles, a intera- cação em duas etapas (two step) ou em etapas
ção global, assente na partilha de informações múltiplas (multistep). Na figura seguinte, ex-
e conhecimentos em larga escala, e os avan- pomos a proposta hipodérmica de Lasswel:
ços das tecnologias de informação e comuni-
cação, mudaram o conceito de sociedade, in-
duzidos por um processo contínuo de comuni-
cação massiva, como se destaca nos modelos
a seguir.

1.2 Modelo de Comunicação de


Harold Lasswel
Elaborado nos anos 30, exatamente na época
da Teoria Hipodérmica ou Teoria da Agulha
Hipodérmica (propõe que uma mensagem mi-
diática enviada as massas afeta da mesma ma-
neira a todos os indivíduos), como aplicação
de um paradigma para a análise sociopolí-

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Figura 2. Representação do Modelo de Comunicação de Lasswel


Fonte: O Autor.

O Modelo de Comunicação de Lasswell, Nesse modelo, as instâncias dos interlocuto-


fortemente norteado pela literatura dos fi- res são divididas em duas, respectivamente: o
lósofos e educadores norte-americanos John locutor é a fonte da mensagem; ele comunica
Dewey e George Herbert Mead, influenciou por meio de um transmissor; o ouvinte é o des-
Claude Shannon e Warren Weaver, que por tinatário; ele se serve de um receptor. O lo-
sua vez propôs uma complexa e mais coerente cutor produz ondas acústicas, que o transmis-
teoria sobre o ato comunicativo. Assim, nasce sor transforma em sinais elétricos, que pas-
o “Modelo Matemático da Comunicação”, ob- sam em forma de energia elétrica por meio de
jetivando mensurar cientificamente a informa- um fio metálico, chamado canal. Neste ca-
ção a partir da relação entre o emissor e o re- nal a qualidade dos sinais pode ser prejudi-
ceptor. cada por interferências, que o modelo repre-
senta como ruído. O receptor do destinatá-
1.3 Modelo de Comunicação de rio transforma os sinais transmitidos em sinais
Claude Shannon e Warren acústicos para o ouvinte, outorga Nöth (2011).
Weaver O esquema proposto por Shannon e Weaver,
também conhecido como “Mother of All Mo-
Além do Modelo de Comunicação de Las-
dels”, tornou-se o escopo da investigação epis-
swell, o presente modelo também foi ins-
temológica no campo das Ciência Sociais, ra-
pirado na Teoria da Informação e tornou-se
tificam Teixeira e Ferreira (2014), e norte para
mundialmente conhecido na literatura através
outros modelos de comunicação que surgiram
do artigo “A Mathematical Theory of Com-
a seguir. Vejamos como se apresenta modelo
munication”, escrito pelos norte-americanos
em voga:
Claude Shannon e Warren Weaver, em 1948.

Figura 3. Representação do Modelo de Comunicação de Shannone Weaver


Fonte: O autor, baseado em Shannon e Weaven (1949).

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Na prática, a tramitação do sinal é unilate- modelo de comunicação com uma forma tri-
ral do emissor para o receptor, com ou sem angular (Souza, 2006). Este modelo sustenta
possibilidade de ruído, sem retroinformação que as pessoas precisam de informações para
no processo comunicativo. Aqui, não são re- saber como se socializarem e também para sa-
conhecidos outros elementos que podem vir a berem como reagir ao meio ambiente. Incenti-
influenciar no fluxo de comunicação. vando equilíbrios, a comunicação entre as pes-
soas fomenta a probabilidade de os participan-
tes (A e B) negociarem orientações similares
1.4 Modelo de Comunicação de
em relação aos referentes (X) da comunicação
Horace Newcomb
que estabelecem entre eles. No processo co-
O Modelo de Horace Newcomb, de 1953, opta municativo, se apresenta em forma triangular,
por representar as motivações comunicacio- seja na sociedade, em um grupo ou em uma
nais dos indivíduos nas interações e sugere um relação social, como se evidencia na figura 4:

Figura 4. Representação do Modelo de Comunicação de Newcomb


Fonte: Souza (2006).

Ou seja, nas palavras do pesquisador por- Westley e MacLean resultou de uma adapta-
tuguês Jorge Sousa (2006), pode dizer-se que ção do modelo de Newcomb aos meios de
o modelo de Newcomb, mais do que descre- comunicação de massa, com a introdução de
ver como decorre um ato comunicativo, atenta um elemento C e, consequentemente, o alar-
nos motivos que explicam as dinâmicas e mo- gamento do modelo anterior.
tivações comunicacionais das pessoas em in-
teração, mostrando que as percepções que os 1.5 Modelo de Comunicação de
interlocutores fazem uns dos outros e dos refe- George Gerbner
rentes externos influenciam o processo comu-
nicativo. Incentivando equilíbrios, a comuni- Em 1956, George Gerbner elaborou um mo-
cação interpessoal fomenta a probabilidade de delo baseado na descrição dos processos de
os interlocutores (A e B) negociarem orienta- comunicação simples ou complexos, como
ções similares em relação aos referentes (X) uma produção (de mensagens) e uma percep-
da comunicação que estabelecem entre eles. ção (de mensagens e acontecimentos a comu-
“Quando mais divergentes forem as orienta- nicar), segundo explicam os estudiosos da co-
ções dos interlocutores em relação a referentes municação Dennis Macquail e Sven Windahl
externos, mais os interlocutores precisam de citados em Cruz (2010). A consolidação da
comunicar para atingir patamares de entendi- denominada “sociedade de massa no Brasil”
mento em relação a esses referentes”, explica trouxe consigo a expansão dos meios de co-
o pesquisador (2006, p.65). municação, tanto no que se refere ao lazer
quanto à informação, muito embora seu foco
Em 1957, o Modelo de Comunicação de ação ainda fosse local. Nesta compreen-

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são sobre a comunicação, para esse período, deste modo que o modelo de George Gerbner
há uma correlação entre a produção e a per- dedica-se a reconhecer a comunicação como
cepção, uma visão bem diferente dos mode- uma transmissão de mensagens, como se des-
los anteriores onde a comunicação se estabe- taca abaixo:
lece entre um emissor e um destinatário. É

Figura 5. Representação do Modelo de Comunicação de Gerbner


Fonte: http://observatoriodaimprensa.com.br/diretorio-academico/
para-ir-mais-longe-no-estudo-do-jornalismo/.

O processo comunicativo representa uma sagem. Acrescenta, ainda, o contato, que re-
realidade em voga entre o emissor e o recep- presenta, simultaneamente, o canal físico em
tor, partilhando sentimentos, emoções, infor- que a mensagem circula e as ligações psico-
mações, ou seja, a comunicação influencia de lógicas entre destinador e destinatário. Estes
forma direta e indireta o comportamento hu- só percebem a mensagem porque dominam o
mano e as ações que advém desse interação, mesmo código, observemos:
escrevem Teixeira e Ferreira (2014) na obra
“The communication model of virtual uni-
verse”.

1.6 Modelo de Comunicação de


Roman Jakobson
De acordo com Souza (2006), em 1960 Ro-
man Jakobson apresentou um modelo direci-
onado para o estudo da comunicação sob o
prisma da linguística. De alguma maneira, re-
presenta um modelo que faz a ponte entre as
escolas processuais e a semiótica. De base
linear, coloca em relação um destinador de
uma mensagem e o destinatário da mesma.
No entanto, o modelo mostra que a mensa-
gem tem que possuir um contexto, ou seja,
tem de se referir a algo externo à própria men-

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Figura 6. Representação do Modelo de Comunicação de Jakobson


Fonte: Nesteriuk (2018).

1.7 Modelo de Comunicação de tigo colocado num blog interativo; a forma


Gerhard Maletzke como ele interage com essa informação, dos
O Modelo de Maletzke, de 1963, distingue- dois tipos, é significativamente diferente, nem
se em suas concepções dos modelos anteriores que seja pelo fato do seu feedback (relativa-
por explorar as implicações sociais e psicoló- mente ao artigo) ser mais rápido e anonima-
gicas da comunicação de massas. É também mente transmitido na Internet versus um jor-
o único autor que acrescenta ao seu modelo nal impresso. Quanto ao outro aspecto levan-
dois novos conceitos: a pressão ou constran- tado por Maletzke – a imagem do receptor so-
gimento causado pelo meio, e a imagem que bre o meio – salientamos que esta é especi-
o receptor tem desse mesmo meio. No que almente relevante aquando da seleção de um
concerne o primeiro aspecto, é de notar que determinado meio em detrimento de outro, ha-
o meio causa pressão no receptor, já que este vendo alguns que oferecem mais credibilidade
tem de se adaptar as diferentes mídias: a vi- e prestígio que outros. O receptor está também
vência do receptor é influenciada pelas carac- condicionado a outros fatores, para além des-
terísticas e conteúdos do próprio meio. Por tes, na forma como interage com os diferentes
exemplo, um receptor experiência um artigo tipos de meios de comunicação de massa (ibi-
de jornal de forma diferente do que um ar- dem).

Figura 7. Representação do Modelo de Comunicação Maletzke


Fonte: Maletzke (1963).

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1.8 Modelo de Comunicação 2014). O conhecimento (ou campo de expe-


Interpessoal de Wilbur Lang riência) da fonte e do destino se compatibili-
Schramm zam, permitindo a comunicação. Se a super-
fície comum aos dois campos de experiência
Wilbur Schramm, jornalista e acadêmico é grande, a comunicação será fácil, mas se a
norte-americano, em 1958, desenvolveu o seu superfície comum é pequena, será difícil co-
modelo de comunicação após avaliar a co- municação com a outra pessoa. Seu segundo
municação de massas em diferentes partes do modelo introduz pela primeira vez o conceito
mundo, especialmente influenciado por Shan- de feedback e torna-se o primeiro modelo cir-
non e Weaver. Nesse caminhar, o modelo cular de comunicação. Em síntese, o modelo
de Schramm apresenta à ideia de que o pro- propõe que cada emissor pode funcionar como
cesso de codificação/descodificação da men- receptor em um mesmo ato comunicativo, de-
sagem depende das experiências do codifica- vido ao mecanismo de retroação ou feedback,
dor e do decodificador (Teixeira & Ferreira, reparemos:

Figura 8. Representação do Modelo da Tuba


Fonte: Shintaku e Costa (2018).

O modelo de Schramm remete a uma aná- também funcionar como receptor num mesmo
lise sequencial sobre o processo comunicativo ato comunicativo (devido ao mecanismo de re-
dos meios de comunicação de massa. Os mo- troação ou feedback). Deste modo, cada emis-
delos de comunicação descrevem o processo sor/receptor tem a habilidade de descodificar e
comunicativo de forma metafórica e em sím- interpretar as mensagens recebidas e de codi-
bolos. Em seguida, nasce o Modelo de Co- ficar mensagens a emitir, modelo este consi-
municação Circular do inglês Jean Cloutier derado linear por Freixo (2006), bem como o
com a proposta do EMEREC, ou seja, a co- modelo de Horace Newcomb.
municação áudio-scripto-visual na hora dos
self-media, o indivíduo como emissor e recep- 1.9 Modelo de Comunicação de Lee
tor das informações, escreve Freixo (2006). Osborne Thayer
Deste modo, eles formam perspectivas gerais
da comunicação em suas diferentes formas, Na visão de Hesketh e Almeida (1980), a
dimensões, sentidos e expressões. Em sín- maior contribuição do trabalho de Thayer, de
tese, Souza (2006) acrescenta que o Modelo 1973, é indubitavelmente a sua teoria sobre
de Schramm propõe que cada emissor pode a comunicação organizacional. Para os auto-
res, de acordo com Lee Thayer, a compreen-

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são do fenômeno da comunicação organizaci- teoria matemática de Shannon e Weaver e a


onal requer antes de tudo o exame de alguns teoria da informação, – de origens comuns; c)
“pressupostos orientadores”. Primeiramente, a concepção da organização como uma rede
ele afirma que a comunicação ocorre sempre de comunicação; d) os sistemas e a teoria dos
num contexto organizado ou, em outras pala- sistemas abertos (Ibidem). O terceiro pressu-
vras, a condição suficiente para a ocorrência posto apresentado por Thayer propõe que os
da comunicação é algum modelo ou plano ar- sistemas de comportamento – quer sejam in-
ticulado no sistema psicológico do indivíduo trapessoais ou interpessoais – têm uma ten-
(nível intrapessoal), das relações entre algum dência característica para estabilizar-se num
aspecto dos objetos, pessoas ou ideias do seu estado de proporção mínima de mudança. Isto
mundo, com o qual está disposto a tratar (nível significa que as organizações tendem a limi-
interpessoal). tar sua abertura e seu funcionamento, tão logo
O segundo pressuposto define que a comu- atingem um estágio de desenvolvimento que,
nicação é a função organistica, interpessoal e hipoteticamente, não pede senão uma percen-
organizacional essencial e predominante, isto tagem mínima de mudança. Há, então, uma
é, a entrada, processamento e saída programá- imposição de limites aos sistemas de compor-
ticos da informação. Este pressuposto é re- tamento envolvidos, e isso transforma a comu-
sultante da confluência de quatro importantes nicação.
linhas de pensamento: a) a cibernética; b) a

Figura 9. Representação do Modelo de Comunicação de Thayer


Fonte: http://bizcommunicationcoach.com.

1.10 Modelo de Comunicação para o 2015, tal modelo foi inspirado no arcabouço
Ambiente Virtual teórico de Shannon e Weaver (1949), Roman
Jakobson (1960), e pelas ideias de “Vida Lí-
O Modelo de Comunicação para o Ambiente quida” de Zygmunt Bauman (2007), visando
Virtual, do acadêmico luso-brasileiro Marcelo representar o processo de comunicação no
Mendonça Teixeira, surge em 2014 na obra ambiente virtual mediado por tecnologias de
“The Communication Model of Virtual Uni- informação e comunicação. De acordo com
verse” escrito em parceria com o também aca- os autores, vivemos em um novo cenário co-
dêmico Tiago Alessandro Espínola Ferreira, municacional em que o processo comunicaci-
ambos investigadores do Programa de Pós- onal é influenciado direto e indiretamente pela
Graduação em Informática Aplicada da Uni- forma como as pessoas interagem e intercam-
versidade Federal Rural de Pernambuco (Bra- biam informações e saberes através de recur-
sil). Outorgado pela Wikipedia e licenciado
pela Creative Commons, em Dezembro de

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Marcelo Mendonça Teixeira

sos tecnológicos, em um mundo onde agimos na comunicação (communication noise) no ci-


localmente e pensamos globalmente. berespaço, onde se faz possível existir uma
Nessa ótica, existe uma adequação aos grande quantidade de emissores (senders) e
modelos mencionados em epígrafe à realidade de receptores (receivers) da mesma mensa-
vivenciada pela comunicação multimídia na gem (podendo reproduzi-la para outros recei-
sociedade contemporânea (reflexo da vida lí- vers), de forma síncrona e assíncrona em meio
quida). Aqui, o emissor (sender) envia a men- a um variado leque de interfaces tecnológicas
sagem ao receptor (receiver) através de inter- (twitter, whatssap, skype, blog, fórum, redes
faces multimídia (multimedia interfaces) na sociais, entre outros), promovendo um inter-
world wide web por meio de um ou mais ca- câmbio de informações e conhecimentos (ex-
nais de comunicação (virtual communication change of informations and knowledges) em
channel). Essa comunicação se estabelece de um cenário de “glocalização” (glocalization),
maneira “espiral” por depender de inúmeros e tudo passa por um processo cíclico de comu-
fatores que incluenciam em sua trajetória co- nicação (feedback) que se completa ou não na-
municacional (como a velocidade da Internet, quele momento. Abaixo, observamos tal mo-
por exemplo), de um ponto a outro ou a multi- delo:
pontos, daí o risco eminente de ruído/barreira

Figura 10. Representação do Modelo de Comunicação para o Ambiente Virtual


Fonte: Teixeira e Ferreira (2014).

Para Teixeira e Ferreira (2014), é notório a década de 70. O que se pode constatar são
que temos novas formas de comunicação e que ensaios, pensamentos, propostas, ideias, mais
o contexto tecnológico media direta e indire- nada solidificado, ancorado em um estudo pré-
tamente o proceso comunicacional humano. vio subjacente. A partir dessa perspectiva, as
Daí, observamos uma lacura conceitual até en- discussões se ampliam e progridem no sentido
tão existente na literatura sobre o tema desde

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A Comunicação no Ambiente Virtual: dos Modelos à Teoria de Teixeira

de entender a evolução no ato das pessoas se cepções até o adequado “Modelo de Comuni-
comunicarem. cação para o Universo Virtual”.

Referências
Conclusão
Cardoso, A. (2013). Comunicação empresa-
Novos modos de vida são permeados por uma rial. Salvador: Editora UNIFACS.
cultura global que potencializa novas formas
de sociabilidade no mundo contemporâneo Cruz, M. (2010). Teorias e modelos de comu-
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ranças culturais eternizadas por uma dinâmica municação organizacional: teoria e pes-
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dêmica, de uma legitimação para ser conside- pio: Revista de Comunicação e Cultura,
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exemplo, vimos que no século XX o sistema
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tituía já um fenômeno social que foi ampla- ted Kingdom: Taylor & Francis Group.
mente estudado, debatido e consolidado na li-
MacQuail, D. & Mark, D. (2020). MacQuail’s
teratura. Por isso a importância do modelo de
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Shannon e Weaver, que através da teoria mate-
Thousand Oaks: Sage Publications.
mática da comunicação, ajudou a consolidar a
teoria da comunicação numa perspectiva glo- Morin, E. (2003). A comunicação pelo meio
bal, não apenas na área das Ciências Sociais. (teoria complexa da comunicação). Re-
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