T EORIA DE T EIXEIRA
DOI : 10.25768/20.04.01.030
R ESUMO : A interação global, baseada no compartilhamento de informações e conhecimen-
tos, e os avanços das tecnologias digitais, vêm promovendo transformações no processo co-
municativo das pessoas em sociedade há séculos. Nesse sentido, apresentamos, nesse trabalho
de pesquisa, as transições sobre os principais modelos de comunicação na história da huma-
nidade. A pesquisa qualitativa e empírico descritiva foi desenvolvida de julho a dezembro de
2019.
PALAVRAS - CHAVE : teorias da comunicação; modelos de comunicação; tecnologias de infor-
mação e comunicação; universo virtual; interatividade.
A BSTRACT:
K EYWORDS :
∗
Pós-Doutorado em Modelagem Computacional pelo Educação a Distância no Centro Universitário UNISÃOMI -
Departamento de Estatística e Informática na Universi- GUEL . E-mail: proreitoria.marcelo@gmail.com
dade Federal Rural de Pernambuco, Doutor em Tecnologia
pela Universidade do Minho (Portugal), e Pró-Reitor em
Marcelo Mendonça Teixeira
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A esse respeito, Cardoso (2013) assegura tica (quem obtém o quê? quando? de que
que a maior parte dos contemporâneos mode- forma?), o Modelo Lasswelliano, proposto em
los de comunicação são similares ao de Aris- 1948 a partir da Teoria Funcionalista (que pro-
tóteles, embora mais complexos e que adé- cura explicar aspectos da sociedade em termos
quam a cada período histórico, adiciona Tei- de funções), afirma que uma forma adequada
xeira (2012) na obra “Da Comunicação hu- para se descrever um ato de comunicação é
mana a comunicação em rede: uma plurali- responder as seguintes perguntas: Quem? Diz
dade de convergências”. O modelo aristoté- o quê? Através de que meio? Com que efeito?
lico serviu como base para a elaboração das explica Mauro Wolf (2003) nas “Teorias da
primeiras teorias de comunicação dos sécu- Comunicação”.
los XX e XXI. Inclusive, a autora enfatiza O estudo científico do processo comuni-
que os estudos posteriores realizados no âm- cativo tende a concentrar-se em uma ou outra
bito da Filosofia, da Sociologia, da Psicologia destas interrogações. Para Poe (2010), é um
e das demais ciências humanas sobre a Comu- modelo cuja aparição pode situar-se na fase de
nicação tiveram como base o modelo aristoté- transição entre as primeiras teorias (não cien-
lico, considerando, ainda, que muitos desses tíficas) sobre a comunicação social, em con-
estudos buscavam principalmente a compre- creto a teoria das balas mágicas ou da agulha
ensão dos fenômenos sociais, ou seja, os efei- hipodérmica, e os primeiros estudos científi-
tos políticos, culturais, psicológicos, econô- cos sobre os efeitos da comunicação, como o
micos e tecnológicos das práticas comunica- Modelo Psicodinâmico de Cantril (1940) ou
cionais (ibidem). Nesse caminhar, no decor- as teorias funcionalistas do fluxo de comuni-
rer dos anos, a partir de Aristóteles, a intera- cação em duas etapas (two step) ou em etapas
ção global, assente na partilha de informações múltiplas (multistep). Na figura seguinte, ex-
e conhecimentos em larga escala, e os avan- pomos a proposta hipodérmica de Lasswel:
ços das tecnologias de informação e comuni-
cação, mudaram o conceito de sociedade, in-
duzidos por um processo contínuo de comuni-
cação massiva, como se destaca nos modelos
a seguir.
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Na prática, a tramitação do sinal é unilate- modelo de comunicação com uma forma tri-
ral do emissor para o receptor, com ou sem angular (Souza, 2006). Este modelo sustenta
possibilidade de ruído, sem retroinformação que as pessoas precisam de informações para
no processo comunicativo. Aqui, não são re- saber como se socializarem e também para sa-
conhecidos outros elementos que podem vir a berem como reagir ao meio ambiente. Incenti-
influenciar no fluxo de comunicação. vando equilíbrios, a comunicação entre as pes-
soas fomenta a probabilidade de os participan-
tes (A e B) negociarem orientações similares
1.4 Modelo de Comunicação de
em relação aos referentes (X) da comunicação
Horace Newcomb
que estabelecem entre eles. No processo co-
O Modelo de Horace Newcomb, de 1953, opta municativo, se apresenta em forma triangular,
por representar as motivações comunicacio- seja na sociedade, em um grupo ou em uma
nais dos indivíduos nas interações e sugere um relação social, como se evidencia na figura 4:
Ou seja, nas palavras do pesquisador por- Westley e MacLean resultou de uma adapta-
tuguês Jorge Sousa (2006), pode dizer-se que ção do modelo de Newcomb aos meios de
o modelo de Newcomb, mais do que descre- comunicação de massa, com a introdução de
ver como decorre um ato comunicativo, atenta um elemento C e, consequentemente, o alar-
nos motivos que explicam as dinâmicas e mo- gamento do modelo anterior.
tivações comunicacionais das pessoas em in-
teração, mostrando que as percepções que os 1.5 Modelo de Comunicação de
interlocutores fazem uns dos outros e dos refe- George Gerbner
rentes externos influenciam o processo comu-
nicativo. Incentivando equilíbrios, a comuni- Em 1956, George Gerbner elaborou um mo-
cação interpessoal fomenta a probabilidade de delo baseado na descrição dos processos de
os interlocutores (A e B) negociarem orienta- comunicação simples ou complexos, como
ções similares em relação aos referentes (X) uma produção (de mensagens) e uma percep-
da comunicação que estabelecem entre eles. ção (de mensagens e acontecimentos a comu-
“Quando mais divergentes forem as orienta- nicar), segundo explicam os estudiosos da co-
ções dos interlocutores em relação a referentes municação Dennis Macquail e Sven Windahl
externos, mais os interlocutores precisam de citados em Cruz (2010). A consolidação da
comunicar para atingir patamares de entendi- denominada “sociedade de massa no Brasil”
mento em relação a esses referentes”, explica trouxe consigo a expansão dos meios de co-
o pesquisador (2006, p.65). municação, tanto no que se refere ao lazer
quanto à informação, muito embora seu foco
Em 1957, o Modelo de Comunicação de ação ainda fosse local. Nesta compreen-
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são sobre a comunicação, para esse período, deste modo que o modelo de George Gerbner
há uma correlação entre a produção e a per- dedica-se a reconhecer a comunicação como
cepção, uma visão bem diferente dos mode- uma transmissão de mensagens, como se des-
los anteriores onde a comunicação se estabe- taca abaixo:
lece entre um emissor e um destinatário. É
O processo comunicativo representa uma sagem. Acrescenta, ainda, o contato, que re-
realidade em voga entre o emissor e o recep- presenta, simultaneamente, o canal físico em
tor, partilhando sentimentos, emoções, infor- que a mensagem circula e as ligações psico-
mações, ou seja, a comunicação influencia de lógicas entre destinador e destinatário. Estes
forma direta e indireta o comportamento hu- só percebem a mensagem porque dominam o
mano e as ações que advém desse interação, mesmo código, observemos:
escrevem Teixeira e Ferreira (2014) na obra
“The communication model of virtual uni-
verse”.
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O modelo de Schramm remete a uma aná- também funcionar como receptor num mesmo
lise sequencial sobre o processo comunicativo ato comunicativo (devido ao mecanismo de re-
dos meios de comunicação de massa. Os mo- troação ou feedback). Deste modo, cada emis-
delos de comunicação descrevem o processo sor/receptor tem a habilidade de descodificar e
comunicativo de forma metafórica e em sím- interpretar as mensagens recebidas e de codi-
bolos. Em seguida, nasce o Modelo de Co- ficar mensagens a emitir, modelo este consi-
municação Circular do inglês Jean Cloutier derado linear por Freixo (2006), bem como o
com a proposta do EMEREC, ou seja, a co- modelo de Horace Newcomb.
municação áudio-scripto-visual na hora dos
self-media, o indivíduo como emissor e recep- 1.9 Modelo de Comunicação de Lee
tor das informações, escreve Freixo (2006). Osborne Thayer
Deste modo, eles formam perspectivas gerais
da comunicação em suas diferentes formas, Na visão de Hesketh e Almeida (1980), a
dimensões, sentidos e expressões. Em sín- maior contribuição do trabalho de Thayer, de
tese, Souza (2006) acrescenta que o Modelo 1973, é indubitavelmente a sua teoria sobre
de Schramm propõe que cada emissor pode a comunicação organizacional. Para os auto-
res, de acordo com Lee Thayer, a compreen-
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1.10 Modelo de Comunicação para o 2015, tal modelo foi inspirado no arcabouço
Ambiente Virtual teórico de Shannon e Weaver (1949), Roman
Jakobson (1960), e pelas ideias de “Vida Lí-
O Modelo de Comunicação para o Ambiente quida” de Zygmunt Bauman (2007), visando
Virtual, do acadêmico luso-brasileiro Marcelo representar o processo de comunicação no
Mendonça Teixeira, surge em 2014 na obra ambiente virtual mediado por tecnologias de
“The Communication Model of Virtual Uni- informação e comunicação. De acordo com
verse” escrito em parceria com o também aca- os autores, vivemos em um novo cenário co-
dêmico Tiago Alessandro Espínola Ferreira, municacional em que o processo comunicaci-
ambos investigadores do Programa de Pós- onal é influenciado direto e indiretamente pela
Graduação em Informática Aplicada da Uni- forma como as pessoas interagem e intercam-
versidade Federal Rural de Pernambuco (Bra- biam informações e saberes através de recur-
sil). Outorgado pela Wikipedia e licenciado
pela Creative Commons, em Dezembro de
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Para Teixeira e Ferreira (2014), é notório a década de 70. O que se pode constatar são
que temos novas formas de comunicação e que ensaios, pensamentos, propostas, ideias, mais
o contexto tecnológico media direta e indire- nada solidificado, ancorado em um estudo pré-
tamente o proceso comunicacional humano. vio subjacente. A partir dessa perspectiva, as
Daí, observamos uma lacura conceitual até en- discussões se ampliam e progridem no sentido
tão existente na literatura sobre o tema desde
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de entender a evolução no ato das pessoas se cepções até o adequado “Modelo de Comuni-
comunicarem. cação para o Universo Virtual”.
Referências
Conclusão
Cardoso, A. (2013). Comunicação empresa-
Novos modos de vida são permeados por uma rial. Salvador: Editora UNIFACS.
cultura global que potencializa novas formas
de sociabilidade no mundo contemporâneo Cruz, M. (2010). Teorias e modelos de comu-
através de tecnologias digitais. Em outras pa- nicação. Disponível em: http://teoriasem
lavras, trata-se de uma virtualização cultural odelosdecomunicao.blogspot.com.br/20
da realidade humana, fruto da migração do 10/02/modelos-de-comunicacao.html.
espaço físico para o virtual (mediado pelas Consultado a 20 de janeiro de 2020.
TIC s), regido por códigos, signos e relações Castells, M. (2020). Fim de milênio. A era da
sociais próprias. Avante, surgem formas ins- informação: economia, sociedade e cul-
tantâneas de comunicação, interação e possi- tura, vol. III. Rio de Janeiro: Editora Paz
bilidade de rápido acesso às informações, no & Terra, 7a edição.
qual não somos meros emissores, mas produ-
tores, reprodutores, colaboradores e distribui- Fidler, R. (1997). Mediamorphosis: unders-
dores daquelas. As novas tecnologias também tanding new media. Thousand Oaks:
têm servido para “conectar” pessoas de dife- Pine Forge Press
rentes culturas fora do espaço virtual, o que Freixo, M. (2006). Teorias e modelos de co-
há pelo menos cinquenta anos era impensável. municação. Rio de Janeiro: Editora: Ins-
Nessa gigantesca teia de relacionamentos, tituto Piaget.
absorvemos, reciprocamente, crenças, costu-
mes, valores, leis, hábitos, uns dos outros, he- Hesketh, J. & Almeida, M. (1980). Co-
ranças culturais eternizadas por uma dinâmica municação organizacional: teoria e pes-
físico-virtual em permanente metamorfose. É quisa. Revista Administração de Empre-
deste modo que Sharma (2018), defende na sas, 20(4) , Oct./Dec. São Paulo.
obra “Introduction of mass communication” Lopes, A.; McQuail, D. & Windahl, S. (2005).
que as teorias e os modelos da comunica- Modelos da comunicação, para o estudo
ção precisam, como qualquer disciplina aca- da comunicação de massas. Caleidoscó-
dêmica, de uma legitimação para ser conside- pio: Revista de Comunicação e Cultura,
radas no âmbito do campo cientifico. Como (5/6), julho.
exemplo, vimos que no século XX o sistema
dos meios de comunicação de massas cons- MacQuail, D. (2017). Communication. Uni-
tituía já um fenômeno social que foi ampla- ted Kingdom: Taylor & Francis Group.
mente estudado, debatido e consolidado na li-
MacQuail, D. & Mark, D. (2020). MacQuail’s
teratura. Por isso a importância do modelo de
media and mass communication theory.
Shannon e Weaver, que através da teoria mate-
Thousand Oaks: Sage Publications.
mática da comunicação, ajudou a consolidar a
teoria da comunicação numa perspectiva glo- Morin, E. (2003). A comunicação pelo meio
bal, não apenas na área das Ciências Sociais. (teoria complexa da comunicação). Re-
Na sequência, novos modelos foram desenvol- vista Famecos (20), Porto Alegre. Dis-
vidos, garantindo a máxima da mediamorpho- ponível em: www.revistas.univerciencia.
sis de Roger Fidler (1997) até a migração dos org/index.php/famecos/article/viewFile/
mass media para o universo virtual. Inevita- 335/266. Consultado a 15 de maio de
velmente, vieram os primeiros ensaios e con- 2020.
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