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Aula 5
Esse tipo penal se assemelha muito a violação de domicilio, mas a diferença na essência
está no sujeito ativo, porque o crime de violação de domicilio é um crime comum, já o delito da lei
de abuso de autoridade é um crime próprio, pois de ele só pode ser praticado por agente público.
A conduta adentrar não exige a superação de um obstáculo, nem o emprego de uma força
física. Exemplo: sujeito que forma clandestina, astuciosa e à revelia da vontade do ocupante entra
na porta da casa que se encontra destrancada.
O art. 22 é classificado como um tipo penal misto alternativo, porque a prática de mais de
um núcleo do tipo não implica pluralidade criminosa quando dentro do mesmo contexto fático.
Exemplo: caso o agente público invada e depois permaneça no imóvel alheio ele pratica crime
único.
A prática de mais de um núcleo do tipo pode ser valorada na primeira fase da dosimetria
da pena, nas circunstâncias judiciais, especialmente nas circunstâncias do crime.
O tipo penal consagra uma presunção do desejo de não ingresso do agente público, se o
ocupante nada diz, então o agente público não pode entrar em seu imóvel. Portanto, se há revelia
da manifestação de vontade do ocupante do imóvel, presume-se que o ocupante não quer o
ingresso do agente público, tal presunção tem razão de ser, porque prestigia o direito a
propriedade, vida privada e intimidade.
O “fora das condições estabelecidas em lei” previsto no art. 22 trata de uma norma penal
em branco, porque é necessário consultar outro diploma legislativo para descobrir quais são as
condições legais que autorizam o ingresso em imóvel alheio, mesmo contra a vontade do seu
ocupante. A norma nesta etapa final demanda complemento normativo e este complemento se dá
A pena é de detenção, o que significa que o regime inicial mais gravoso possível é o
semiaberto, é possível o regime inicial fechado a título de regressão de regime, a pena mínima é
de 1 (ano), desta forma admite-se a suspensão condicional do processo se presentes os requisitos.
Há a previsão da pena de multa, sendo necessário se valer do que dispõe o Código Penal a
respeito do valor mínimo e máximo da multa.
Na forma prevista no caput, quer dizer que o sujeito não tem determinações judiciais e
está fora das condições legais.
O crime se consuma no momento da coação, ainda que o sujeito coagido não franqueie a
entrada no imóvel da pessoa que o coagiu, o coator.
É preciso que o autor do crime coaja alguém, pessoa certa e determinada, e essa coação
seja mediante violência ou grave ameaça contra a pessoa, se for contra a coisa não restará
configurado a infração penal em apreço, salvo se a violência contra a coisa puder ser considerada
como uma grave ameaça à pessoa.
II - (VETADO);
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes
das 5h (cinco horas).
Por ordem judicial o agente público só pode entrar na casa de alguém durante o dia, essa é
uma garantia constitucional, se o mandado judicial é cumprido durante a noite ele será ilícito e
inconstitucional, no inciso III o legislador estabelece um critério objetivo que confere segurança
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados
indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de
desastre.
O § 2º segue a linha do preceito constitucional que diz que a casa é asilo inviolável nela
ninguém podendo entrar, salvo por determinação judicial durante o dia ou em situação de
flagrante delito, desastre ou para prestar socorro. Ainda que o § 2º nada dissesse nesse sentido
não haveria crime, porque há a previsão constitucional que deve ser respeitada.
Além disso, o Código Penal distingue processo civil e administrativo de processo penal e diz
que neste último a pena será em dobro, a lei de abuso de autoridade não faz essa distinção, de
maneira que quando a lei não distingue não cabe ao interprete distinguir, então não se pode dizer
que a pena será maior se o processo for penal e não civil.
Para existir crime é preciso que o agente público tenha agido com especial fim, é preciso
que o elemento subjetivo se faça presente, só haverá crime quando a inovação artificiosa se der
com o fim de eximir o agente público de sua responsabilidade, de responsabilizar criminalmente
alguém que não deveria ou responsabilizar alguém que seria responsabilizado pelo crime, mas o
agente público altera o estado de lugar, de coisa ou de pessoa para agravar a responsabilidade
desse individuo.
Não é preciso para fins de consumação que a finalidade que animou o agente se cumpra na
vida real, o delito é de intenção, é um crime formal.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:
A conduta é a mesma do caput, o que o parágrafo único faz é trazer outros elementos
subjetivos do tipo. Na verdade os três incisos previstos no caput se somam as duas previstas no
parágrafo único. Portanto, há cinco situações que caracterizam o mesmo crime.
O agente público praticou a diligência que era devida, mas houve excesso e para que o
agente público não fosse responsabilizado administrativamente e civilmente ele inova
artificiosamente, ainda que ele não consiga se eximir da responsabilidade há crime.
Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado de instituição
hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido,
com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apuração:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
Exemplo: o agente público chega até o hospital de urgências na madrugada e há um individuo que
já morreu, mas esse agente constrange um funcionário ou empregado do hospital a admitir para
tratamento o individuo morto, o objetivo é dizer que essa pessoa foi submetida a uma cirurgia e
morreu no hospital, o animo do agente público é alterar o local ou o momento de crime para
prejudicar a apuração da infração penal.
O constrangimento previsto no art. 23 tem que se dar com violência ou grave ameaça
contra a pessoa, não basta violência contra a coisa.
O crime é bipróprio, pois exige-se uma especial qualidade do sujeito ativo que deve ser o
agente público e exige-se também uma especial qualidade do sujeito passivo que deve ser
funcionário ou empregado de instituição hospitalar, não pode ser qualquer pessoa, em razão da
tipicidade e legalidade estrita não se pode admitir o crime se o constrangimento é exercido sobre
o dono ou sócio do hospital particular ou público.
Caso o agente público não saiba que a vítima já morreu não haverá dolo e crime.
Não estando caracterizado o especial fim de agir do agente público não haverá a infração
penal do art. 24, a finalidade deve ser de alterar o local ou momento do crime, se for o caso de
Material elaborado por Divina M. Araújo Miranda
uma contravenção penal não haverá a infração penal em apreço. Em regra, não é possível uma
interpretação em desfavor do réu, a lei fala em crime e não em contravenção penal, a infração
penal é gênero da qual são espécies os crimes e contravenções penais.
A parte final que prevê a pena disciplina o cúmulo material, isto é, haverá a soma da pena
de violência com a pena do crime da lei de abuso de autoridade. Exemplo: houve uma lesão
corporal leve exercida sobre o empregado da instituição hospitalar, a pena da lesão corporal leve
é somada com a pena do delito abusivo funcional.
É necessário se atentar para alguns fatos, como a obtenção de prova ilícita que é criminosa
e pode ocorrer em processo de investigação ou fiscalização, esse crime não se limita a seara penal.
Exemplo: em um procedimento de fiscalização de um imóvel rural o agente do IBAMA procede à
obtenção de prova manifestamente ilícita, nesse caso haverá crime, ainda que essa prova seja
utilizada em um processo administrativo e não penal.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do investigado ou
fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude.
O parágrafo único trata da situação em que o agente público não foi quem produziu a
prova, mas tendo conhecimento prévio da sua ilicitude a emprega em desfavor do investigado ou
do fiscalizado.
O conhecimento da ilicitude da prova deve ser prévio, caso o agente público tenha
conhecimento da ilicitude após ou concomitantemente ao emprego da prova não haverá crime,
porque a lei penal exige para fins de subsunção do fato a norma que esse conhecimento se prévio.