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Relatos de Sala de Aula

Desafio Militar: Missão Dada é Missão Cumprida −


Contextualização e Interdisciplinaridade na Educação
Química

Sérgio Henrique Frasson Scafi e Jefferson Biajone

Relata-se neste trabalho a contextualização e a interdisciplinaridade no ensino de química aplicado a uma


atividade de vivência militar. No curso da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, os alunos participam de
proposta de atividade interdisciplinar nomeada Desafio Militar, que consiste no cumprimento de missões de cunho
militar como a simulação de detonação de uma ponte e a destruição de peças de artilharia inimigas. Vivenciando
a aplicabilidade da Química em missões desse tipo, os alunos, utilizando conhecimentos adquiridos em todas as
disciplinas, resolvem situações problemáticas e tarefas que os levam não só a cumprir a missão que receberam,
mas a desenvolver, no processo, o raciocínio lógico e os atributos da área afetiva que são fundamentais para o
militar. Como resultado, essa atividade evidenciou o fato de que quando ela se relaciona com o futuro exercício
profissional do aluno, este demonstra vivenciar uma aprendizagem muito mais significativa e maiores níveis de
motivação pela carreira das armas.
168
ensino militar, ensino de química, práticas interdisciplinares

Recebido em 11/11/2010, aceito em 13/07/2011

Q
uando se fala em ensino egresso tenha desenvolvido sua e Maldaner, 2004; Almeida e cols.,
militar no Brasil, uma refe- capacidade de pesquisar e buscar 2008). Facilita sobremaneira o
rência que se sobressai é a informações em detrimento da processo de ensino-aprendizagem
Escola Preparatória de Cadetes do memorização. Em outras palavras, da Química pelo contato com os
Exército − EsPCEx −, estabeleci- aprender a aprender, relacionar, assuntos desse saber, propiciando
mento de Ensino Médio Militar que criar, analisar e sintetizar são al- o desenvolvimento do interesse dis-
tem por objetivo preparar os seus guns dos principais atributos que cente pelo conhecimento químico
alunos para serem cadetes na Aca- consubstanciam os objetivos que nas aproximações possíveis de se
demia Militar das Agulhas Negras caracterizam o projeto didático fazer entre conceitos da disciplina e
− AMAN −, instituição de Ensino dessa escola. Nesse sentido, a a aplicabilidade deles na vida e/ou
Superior do Exército Brasileiro que EsPCEx tem buscado tornar o seu futura carreira do aluno como militar.
visa formar os oficiais combatentes ensino mais contextualizado e bali- É também criar um ambien­te pro-
de carreira da Força Terrestre. zado pela interdisciplinaridade, de pício de ensino no qual o discente
Ser profissional militar hoje re- forma a adequar o seu currículo e possa vislumbrar a aplicabilidade
quer, como qualquer profissão, múl- os conteúdos às demandas que a conceitual na carreira militar e em
tiplas competências e habilidades profissão militar vem sofrendo ao sua vida, interligando com experi-
básicas, seja tanto para o exercício longo desses últimos anos. ências pessoais vivenciadas (Scafi,
de uma plena cidadania quanto Não obstante, é mister salientar 2010).
para o desempenho das atividades que contextualização é um processo Já a interdisciplinaridade, enten-
profissionais inerentes aos misteres educativo tal que ações didáticas de-se como uma
da ciência da guerra. são promovidas, tendo em vista o
Tendo, pois, esse horizonte estabelecimento de analogias entre [...] abordagem pela qual
ocupacional por norte, o ensino o conteúdo do saber disciplinar e o se interessam duas ou mais
na Escola busca focar sua ação cotidiano de vida do educando e/ disciplinas que, intencional-
didático-pedagógica na promoção ou de sua futura carreira profissio- mente, estabelecem nexos e
da excelência, de forma que seu nal (Freire e cols., 2008; Uhmann vínculos entre si. Daí resultam

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a busca de um entendimento Essas iniciativas, que também lhando-se a uma gincana realizada
comum e o envolvimento encontram fecundo campo de re- num único dia, demandando de
direto dos interlocutores [...]. percussão nas outras disciplinas seus participantes o cumprimento
Numa ação interdisciplinar, as do currículo da escola, têm tentado de uma série de atividades e tarefas,
partes envolvidas dão-se as ir ao encontro do que preconiza o físicas e/ou intelectuais, mas que
mãos, voltadas para o tema artigo doze dos Parâmetros Curri- perpassam por um viés eminente-
central. […] O essencial de culares Nacionais do Ensino Médio, mente militar.
interdisciplinaridade consiste qual seja, a não dissociação entre Naquele mesmo ano de criação
em se produzir uma ação co- formação geral e a preparação bá- do Desafio Militar, duas edições do
mum. (Coimbra, p. 15, 2002, sica para o trabalho, de tal forma evento foram idealizadas e promo-
grifos nossos) que essa última não seja confundida vidas e, pelos satisfatórios resulta-
com a formação profissional (Brasil, dos obtidos, o comando da Escola
Ação comum essa que propicia 1999; 2008). determinou que ele passasse a ser
ao sujeito aprendente possibilidades Contudo, tais iniciativas, até prin- realizado duas vezes no ano letivo,
de utilização desse conhecimento cípios de 2007, consubstanciaram-se em momentos limítrofes do curso
multifacetado como ferramenta ca- em torno do que cada seção e subse- da escola, a saber, uma próxima do
paz de resolver situações-problema ção de ensino julgavam ser pertinente final do primeiro semestre e a outra
nas quais uma visão global em vez realizar dentro da jurisdição de suas no final do segundo semestre.
da visão compartimentalizada (e especialidades: não havia, até então, A edição que ocorre no primeiro
muitas vezes imediata e reducio- uma ação em conjunto planejada semestre é denominada de Desafio
nista) da realidade é imprescindível e deliberadamente interdisciplinar Militar I e tem por proposta principal
(Biajone e Scafi, 2010). que viesse a somar esforços para a promover a contextualização dos
A interdisciplinaridade permite formação integral do aluno. saberes médios e militares dentro
a permeação do conhecimento em Recentemente, no entanto, a da ótica da futura carreira profissio-
sua totalidade pelas diversas áreas criação da atividade Desafio Militar nal do aluno.
do saber, fornecendo ao indivíduo provocou mudanças nesse pano- Para tanto, as tarefas que com- 169
seu uso como ferramenta de vida, rama de dificuldades e preencheu preendem a participação discente
sem a necessidade de comparti- essa lacuna de vivência interdis- para a sua realização geralmente
mentação do conhecimento para ciplinar, abrindo uma fronteira de incidem sobre atividades simples e
resoluções de situações-problema possibilidades de trabalho extrema- de curta duração, dentro do âmbito
(Godin e Mól, 2008; Sá e Silva, 2008; mente contextualizado e interdisci- das subseções de ensino e atrela-
Silva, 2008). plinar que, até o surgimento dessa das aos conteúdos conceituais de
Esclarecidas ambas as noções, atividade, restringia-se apenas a todas as disciplinas ministradas até
é lícito resgatar o pressuposto de iniciativas isoladas de uma ou outra aquela altura do curso da EsPCEx e
que no que compete à contextuali- disciplina. O Desafio Militar, como se dos aspectos militares.
zação dos conteúdos das diversas verá, tem provado ser não só útil no Já próximo do final do ano letivo,
disciplinas1 que compõem o curso enriquecimento da formação média ocorre a realização do Desafio Militar
da EsPCEx com temas da vida e militar do aluno da EsPCEx, como II, este agora objetivando a vivência
cotidiana e, sobretudo, da carreira tem servido de lócus de prática da interdisciplinaridade, a qual não
militar, esta nunca deixou de ser das almejadas contextualização e vem dissociada da contextualização
uma preocupação constante da interdisciplinaridade de conteúdos do ensino, característica de sua
escola como um todo nem do Exér- dos diversos saberes e das áreas primeira edição.
cito Brasileiro na formação de seus de preparação específica do aluno Com efeito, o Desafio Militar II
recursos humanos. para o posterior ingresso na AMAN. propõe atividades mais complexas
Na educação química do aluno Segue-se, assim, a explanação do e de maior duração aos alunos. Es-
da EsPCEx, a prática pedagógica que vem a ser o Desafio Militar e tas são originadas do trabalho em
tem buscado motivar os alunos ao como ele permitiu colocar em prá- conjunto de todas as subseções de
propiciar tentativas de contextuali- tica a contextualização da Química ensino Médio, Militar e Treinamento
zação por intermédio da realização e uma vivência interdisciplinar dela Físico Militar, de forma que elas
de atividades pertinentes aos que a com outros saberes da formação do não apenas contextualizem seus
Química possa contribuir frente às aluno da EsPCEx. conteúdos, mas elaborem tarefas e
particularidades da carreira militar, atividades que só a interdisciplina-
tendo por caminho um olhar inter- O Desafio Militar ridade de seus saberes permite so-
disciplinar sob as auspicies de ativi- O Desafio Militar foi instituído na lucionar. O objetivo é propiciar aos
dades experimentais significativas, EsPCEx em 2007 e, desde a sua alunos propostas interdisciplinares
que possam despertar e renovar o criação, tem por objetivo propor ao de aplicação dos conhecimentos
interesse do aluno pelo aprendizado corpo discente da escola a vivência que obtiveram na sala de aula e nas
dessa ciência (Scafi, 2010). de uma competição ampla, asseme- instruções militares.

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Independente da edição I ou No que competiu à subseção zação, descreve-se na íntegra, no
II do Desafio Militar, as atividades de Química, esta optou por elabo- Quadro 1, o documento entregue a
podem ser de exigência de atribu- rar uma atividade que abordasse cada grupamento Black por ocasião
tos da esfera física e intelectual do conceitos de Termoquímica, cuja de sua apresentação no Laboratório
aluno, sempre imersas na temática missão consistiu na simulação da de Química.
militar, que compreende disputas destruição de peças de artilharia Da análise desse documento,
de cabo-de-guerra, simulações (canhões, obuses, morteiros etc.) percebe-se que a realização da
de combate com armas de paint de forças inimigas com o uso de missão exigiria dos alunos uma ex-
ball, corridas de revezamento com granadas incendiárias de termita. ploração crítica dos conhecimentos
armamento, confecção da própria Para melhor caracterizar a situação, por eles adquiridos no conteúdo de
refeição, resoluções de problemas atribuiu-se à missão proposta pela Termoquímica. Porquanto, propunha
e enigmas relativos aos conteúdos Química o nome de missão Natrium. a eles o cálculo do calor desprendi-
das disciplinas do Ensino Médio, Em linhas gerais, o satisfatório do na reação aluminotérmica (rea-
entre tantas outras. cumprimento da missão Natrium ção entre alumínio metálico e óxido
Para que tudo isso ocorra de demandaria que cada patrulha com- de ferro) da granada de termita e
forma harmônica e representativa, o posta por até quatro alunos de cada do calor necessário para a fusão
Desafio Militar é organizado de for- um dos quinze pelotões (patrulha do metal componente da peça de
ma que os participantes, dispostos essa denominada de grupamento artilharia a fim de inutilizá-la.
em pequenos grupos derivados dos Black) destruísse peças de artilharia De fato, somente após chegarem
quinze pelotões de alunos da Esco- inimiga com utilização de granadas a um resultado conclusivo com re-
la, possam disputar em sistema de incendiárias de termita (Thermite) lação à possibilidade de destruição
rodízio o cumprimento das diversas modelo AN-M14 (TH3), as quais, da peça mediante os cálculos reali-
atividades ou missões (como são depois de ignificadas, podem atingir zados previamente e em correlação
conhecidas no jargão militar) que temperaturas de até 3000 oC. com a temperatura de ação, é que os
recebem ao longo do dia dentro da No início da atividade, a partir de componentes do grupamento Black
170 exigência de realizarem em menor um ponto de liberação das diversas poderiam detonar o artefato incen-
tempo possível. turmas na Escola, cada pelotão de diário. Isso feito, acionariam uma
O computo dos tempos da reali- alunos recebeu aleatoriamente das granada simulada de termita, que
zação de cada uma dessas missões mãos de seu comandante um enig- ocasionaria o derretimento de latas
é cumulativo e gera ao final do dia ma cuja solução daria acesso ao de alumínio (simulando a peça de
do Desafio Militar uma classificação local para onde deveriam seguir e morteiro), caracterizando, assim, o
dos quinze pelotões, na qual os três lá receber a sua missão. Para tanto, cabal e efetivo cumprimento da mis-
primeiros colocados naquele indi- tiveram que resolver um enigma ini- são. Não obstante, o acionamento
cador são declarados vencedores cial ou um desafio intelectual (deriva de tal granada de termita só seria fa-
e recebem, do comando da escola, daí o nome da atividade) que os cultado aos grupos que obtivessem
méritos em cerimônia militar. informava da realização da missão. êxito nos cálculos termoquímicos.
Com o intuito de melhor esclare- Uma vez resolvida a charada, A granada simulada ou simula-
cer como o Desafio Militar nas suas cada patrulha de alunos partiu para cro (Figura 1) foi feita de papelão
edições anuais tem conseguido o cumprimento de suas respectivas cilíndrico envolvo em um plástico
propor e vivenciar a contextualiza- missões. Para aquelas patrulhas adesivo vermelho com as inscrições
ção e a interdisciplinaridade, será que receberam a missão Natrium, AN-M14 INCEN (TH3). Buscava-se,
discorrido sobre o proposto nesses a localidade apontada pela charada assim, assemelhar o artefato com a
anos de existência a participação da indicava ser a frente do laboratório granada real, que é vermelha com
disciplina de Química. da Química da Escola. as mesmas inscrições. Quanto a
Quando no local previsto, a seu preenchimento, este foi feito
O Desafio Militar na sua proposta de
patrulha foi recebida por um pro- com aproximadamente 20 gra-
Contextualização (Desafio Militar I)
fessor que lhes entregou instruções mas de mistura real de termita. O
Na esteira da intenção de que escritas indicativas da missão Na- morteiro foi simulado com latas de
contextualizar era preciso, o Desafio trium propriamente dita, bem como alumínio envoltas em papel contact
Militar I proposto no último ano pelas demais informações e condições verde (Figura 2).
diversas seções de ensino, no âm- para o exitoso cumprimento da ati- No momento que receberam
bito de suas respectivas subseções, vidade. Havia, para tanto, um limite a missão Natrium, os homens do
teve por incumbência desenvolver de tempo a ser obedecido, a saber, grupamento Black deveriam primei-
uma atividade simples, relativamen- quinze minutos. ramente escrever a reação termo-
te de curta duração, mas sob o ideal Para melhor compreensão do química de formação da alumina
de contextualizar os conteúdos nela contexto subjacente à missão Na- e da hematita. Em seguida, eles
trabalhados com a futura profissão trium e melhor demonstrar como deveriam calcular, por meio da lei
militar do aluno. esta pode promover a contextuali- de Hess, a entalpia da reação (DHr)

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Quadro 1: Missão Natrium; destruição de peças de artilharia inimiga por ação de grana-
das incendiárias.

MISSÃO: DESTRUIÇÃO DE PEÇAS DE ARTILHARIA INIMIGA

Prezado Aluno chefe de patrulha: Você e seus companheiros integram uma


fração de homens denominada grupamento Black cuja especialidade é promover
a destruição de peças de artilharia e morteiros por ação térmica com uso de
granadas incendiárias de termita.
Segundo informações da Central de Inteligência do Exército, foi localizado Figura 1: Simulacro da granada in-
um conjunto de peças de artilharia inimiga recentemente abandonado no campo cendiária, modelo AN-M14 INCEN (TH3),
de Teviliz, uma área hostil, e que deverão ser destruídas por seu grupamento. empregada no desafio militar, contendo
Sua missão consiste em infiltrar nessa área hostil e posicionar estrategica- 20 g de termita.
mente granadas de Termita que levarão à destruição de peça inimiga por ação
incendiária, por intermédio da fundição da peça e sua consequente inutilização.
Esta missão objetiva garantir a segurança de manejo de tropas aliadas na área,
devendo, portanto, ser de caráter sigiloso e ser efetuada rápida e antecipadamente
ao rearranjo das tropas inimigas.
Seu grupamento será municiado com granadas incendiárias de termita do tipo
AN-M14 (TH3) com reação aluminotérmica. Assim sendo, posicione as granadas
em locais estratégicos na peça e as acione para destruição da mesma.
A Central de Inteligência do Exército reuniu informações de que a reação
aluminotérmica que ocorre durante a ação da granada consiste na reação entre
o alumínio metálico e o óxido de ferro III, conforme a reação descrita a seguir: 2
Al (s) + Fe2O3 (s)  Al2O3 (s) + 2 Fe (s). Complementarmente, informou que a Figura 2: Ação da granada incendiária de
entalpia de formação (DHof) da alumina (Al2O3) é de – 1675,7 kJ/mol e a entalpia termita na simulação da missão Natrium.
de formação (DHof) da hematita (Fe2O3) é de – 824,2 kJ/mol. A reação de Termita Acionamento realizado pelo aluno chefe
é difícil de ser iniciada, e pode ser ignificada pela reação de oxidação enérgica de de grupamento e derretimento da peça 171
glicerina pelo permanganato de potássio, componentes de seu kit de primeiros- simulada de morteiro inimigo.
socorros ou pela mistura explosiva iniciadora de clorato de potássio e sacarose.
A central de inteligência do Exército informou também que a peça de artilharia
entre 2500 e 3000 oC, calor suficien-
inimiga é moldada em aço 304, aço esse que apresenta ponto de fusão em torno
de 2400 oC, sendo que o calor liberado na reação pode ser relacionado à tem- te para causar o derretimento da
peratura reacional conforme a tabela de correlaçTabela de correlação peça forjada em aço 304 que apre-
sentava ponto de fusão de apenas
Calor de reação liberado Temperatura reacional atingida
2400 oC ou geração de ferro fundido
(PF: 1535 oC) na alma da arma que
100 kJ Até 500 oC
impede seu bom funcionamento.
300 kJ 500 – 1000 oC
500 kJ 1000 – 1500 oC
Objetivos atingidos na Missão Natrium
700 kJ 1500 – 2000 oC Se o cerne do Desafio Militar I era
850 kJ 2500 – 3000 C
o o de propiciar a contextualização
1000 kJ Acima de 3500 oC
dos conteúdos de sala de aula no
viés da profissão militar do aluno,
De posse da missão, lembre-se sempre que: Missão dada é Missão Cumprida! pode-se dizer, pelos resultados
Brasil! Acima de Tudo! obtidos, que tal objetivo foi sobeja-
mente atendido.
De fato, no acompanhamento
ocorrida na granada de termita (re- por escrito a justificativa, bem como dos professores de Química aos
ação aluminotérmica), verificando, esclarecimento do fato relativo à pos- diversos grupos Black no laboratório
logo a seguir, conforme informações sibilidade de o calor ter sido suficiente ao longo do dia, foi constatado que
da Central de Inteligência (vide ou não para atingir temperaturas o tempo médio de cumprimento da
Quadro 1), se o calor liberado pela superiores ao ponto de fusão do missão era de dez minutos, o que
reação aluminotérmica seria sufi- material da peça de artilharia. demonstrou dos alunos domínio
ciente para a destruição da peça Baseado nas informações for- dos conhecimentos aprendidos em
de artilharia, correlacionando-a à necidas no documento, os alunos sala de aula e relativa presteza em
temperatura de reação. encontraram nos cálculos de en- transpor do papel para a realidade.
Isso realizado, a patrulha passaria talpia de reação o calor liberado O acionamento real da granada
então a aferir qual temperatura deve- nessa situação, sendo de -851,5 kJ, de termita era realizado, resguarda-
ria ser atingida para que a granada o que corresponderia, na tabela de das as devidas medidas de segu-
tivesse êxito na sua ação e fornecer correlação, à temperatura de reação rança, sempre por um único aluno

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do grupo em local especialmente O tema central de que orbitou do Exército Brasileiro responsável
preparado, posicionado à frente do a definição de interdisciplinaridade por ações militares que envolvem
Laboratório de Química. foi o cumprimento de uma missão grande risco e alto grau de profis-
Com relação ao acionamento contextualizada e que produzisse a sionalismo e operacionalidade.
desse dispositivo, tal ação sempre ação comum de se dispor os alunos a
gerava uma grande quantidade de colocarem em prática seus múltiplos
fagulhas, ferro fundido e intensa conhecimentos adquiridos em sala
liberação de calor, que invariavel- de aula.
mente levava ao derretimento das As partes envolvidas que se
latas de alumínios (cujo ponto de juntaram no Desafio Militar II com a
fusão é 660º C), que simulavam o disciplina de Química foram as sub-
morteiro, deixando os alunos pre- seções de Física, Biologia, Idiomas, Figura 3: Símbolo alusivo adotado no
sentes em imenso estado de euforia Matemática, Desenho e Instrução Desafio Militar II (Lápis na Caveira).
e de entusiasmo. Porquanto, para a Militar. A missão proposta por elas
maioria deles, era a primeira vez em foi a seguinte: detonar uma ponte Com o início do Desafio, os grupos
suas vidas que faziam uso da Quí- inimiga de vital interesse estratégico, de alunos que receberam a orientação
mica para simular a destruição de valendo-se de cargas explosivas de constante no Quadro 2 seguiram em
algum alvo inimigo e, no processo, ruptura de TNT. deslocamento (Figura 4) para o refei-
tinham a oportunidade de constatar Para cumprir essa missão, cada tório da Escola, local onde se daria a
o poder latente de uma ciência que grupamento, composto de até qua- fase ALFA da missão, qual seria, utili-
tinha muito mais a ver com o exercí- tro alunos de cada um dos quinze zando conhecimentos de Matemática
cio profissional deles que até então pelotões, teria que, utilizando os (geometria analítica) e Desenho (arco
supunham imaginar. conhecimentos adquiridos em capaz), determinar a posição do alvo
Consequentemente, a contextua- cada uma das áreas de conheci- (a ponte) a ser destruída (Instrução
lização de uma atividade de aplica- mento, realizar marchas, coletar/ Militar), bem como calcular a distân-
172 ção da Química na carreira militar, na elaborar materiais que se fizessem cia de segurança de acionamento do
representação de uma simulação de necessários e propor soluções para explosivo (a ser confeccionado nas
ação real de emprego de artefatos problemas encontrados durante disciplinas de Química e Física) ao
exclusivamente militares, além de o cumprimento da missão. Cada indicarem no mapa da EsPCEx os
ter proporcionado uma participa- etapa deveria ser cumprida fosse azimutes da bússola (Instrução Militar)
ção maior e mais ativa do aluno, por meio de informações levantadas a serem seguidos. A orientação com
fez com que este tivesse os seus em outros idiomas, desvendamento utilização de bússola faz parte dos
conhecimentos de sala de aula (re) de charadas e enigmas ou com a assuntos ministrados nas instruções
significados, acarretando assim uma orientação de bússolas, seguindo militares. O Quadro 3 transcreve as
melhor e mais ampla aprendizagem. até a conclusão da missão com a orientações recebidas pelos alunos
A atividade contextualizada com exitosa detonação da ponte-alvo. para a realização da fase ALFA. Julga-
a carreira militar, por representar Esse premente conluio de várias se pertinente observar que todo o
uma simulação de uma ação real disciplinas fez com que a missão não vocabulário que subjaz os saberes das
de emprego de artefatos militares, pudesse ser resumida aos alunos disciplinas (nas fases empregadas) é
além de acarretar um dinamismo num único documento esclarecedor especificamente militar.
maior para a aula e proporcionar do que haveria de ser feito por eles. Cumpridos os trabalhos no refeitó-
uma participação maior e mais ativa Nisso pensando, os organizadores rio e encontrada a posição da ponte
do aluno, ainda fomentou uma fonte da missão em conjunto das Seções e os valores calculados, o oficial de
a mais de estudos aplicativos de de Ensino dividiram a atividade em ligação − professor(a) de matemática
conceitos químicos teóricos. três etapas cognominadas de ALFA, ou desenho responsável por acompa-
BRAVO e CHARLIE, nas quais cada nhar os alunos − entregou à patrulha
O Desafio Militar na sua proposta de
grupo de disciplinas proporia ativida- as coordenadas do local para onde
Interdisciplinaridade (Desafio Militar II)
des que, realizadas naquela sequên- deveriam seguir para a vivência da
Pautando-se no lema de que a cia de letras, propiciariam os meios fase BRAVO.
interdisciplinaridade era necessária, adequados para que a detonação da Importa ressaltar que essas co-
o Desafio Militar II envolveu na sua ponte inimiga ocorresse com sucesso. ordenadas eram dadas por azimutes
realização todas as seções de ensino Isso esclarecido, passa-se, ago- de bússola, os quais, aferidos pelos
da EsPCEx na geração de incumbên- ra, a discutir as três fases da missão alunos, dar-lhes-iam a correta posi-
cias interdisciplinares, idealizando interdisciplinar proposta para o De- ção do local de realização da fase
missões em conjunto, de forma a safio Militar II, denominada de Lápis BRAVO − um local não muito distante
garantir que os alunos interpenetras- na Caveira (Figura 3) − alusão ao do Refeitório −, onde duas pessoas
sem na prática seus conhecimentos símbolo Faca na Caveira represen- sentadas em um banco, vestidos com
adquiridos em sala de aula. tativo dos Comandos, tropa de Elite trajes civis, aguardavam-nos. Eram

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Quadro 2: Orientação inicial recebida pelo grupamento quando do início da missão do
Desafio Militar II.

MISSÃO: CORTE DAS LINHAS DE SUPRIMENTO INIMIGAS

Prezado chefe da patrulha: Você e seus companheiros integram uma fração


de homens especializada em demolições com uso de explosivos. Segundo
informações da Central de Inteligência do Exército, há uma importante PONTE
Figura 4: Deslocamento dos pelotões pela
na rota de trânsito de viaturas de suprimento inimigas no terreno que deverá ser
área da Escola durante o Desafio Militar II.
destruída por meio de uma Carga Explosiva de ruptura de TNT, a fim de que o
abastecimento das tropas inimigas seja terminantemente cortado.
Desloque sua fração para o prédio do refeitório e se apresente ao oficial de se soubesse se comunicar em um
ligação que lá encontrar. Ele irá participar a você dos demais detalhes para o dos quatro idiomas, pois a informação
cumprimento dessa missão! Lembre-se: Missão Dada é Missão Cumprida! do próximo ponto só era fornecida
Brasil Acima de Tudo! naquelas línguas.
Ora, era do conhecimento da
Seção de Idiomas que a maioria dos
Quadro 3: Orientação da fase ALFA da missão interdisciplinar. Utilização dos conheci- alunos daquele ano tinha fluência em
mentos adquiridos nas disciplinas de matemática, desenho e instrução militar. Inglês e/ou Espanhol. No entanto,
havia alguns com conhecimento da
língua alemã e um até da linguagem
MISSÃO: CORTE DAS LINHAS DE SUPRIMENTO INIMIGAS
Tupi-Guarani.
FASE ALFA Feitas as indagações da posição
Objetivo: Localizar no mapa terreno da EsPCEx o ponto D, correspondente à do local onde o explosivo seria elabo-
ponte inimiga, onde será detonada uma Carga Explosiva. rado no idioma que dominassem, os
O que fazer: alunos se deslocaram e lá chegando
(1) Construa a escala gráfica do mapa do terreno, sabendo que a largura AB passaram para o segundo momento 173
do campo de futebol da EsPCEx é 74 metros. Essa construção deve ser obtida da fase BRAVO, a ser realizada em um
por meio de operações gráficas; “laboratório químico inimigo” abando-
(2) Determine, com auxílio dessa escala, a DISTÂNCIA entre o PONTO DE
nado, sito numa área de vegetação
REUNIÃO (PR) e o ponto D, onde deverá ocorrer a detonação;
(3) Determine graficamente o AZIMUTE que deverá ser seguido para se atingir cerrada próxima ao campo de futebol
o ponto D partindo de PR; da escola (Figura 5).
(4) Todos os desenhos devem ser feitos no papel calco fornecido. Nesse laboratório, a patrulha se
deparou com a necessidade de en-
ATENÇÃO, Comandante da patrulha! contrar os três materiais necessários
- Um homem de vossa patrulha deverá ser designado para identificar no ter- para elaboração do explosivo que
reno o ponto de reunião PR e ser capaz de conduzir a patrulha em segurança até seria utilizado na detonação da ponte.
esse ponto no momento de efetuar a detonação da Carga Explosiva. Esses materiais são: 1) a espoleta
- Os valores obtidos para o AZIMUTE e DISTÂNCIA devem ser registrados no
elétrica, que tem a função de encetar a
PRONTO DAS FASES DA MISSÃO e este PRONTO deverá ser apresentado ao
oficial de ligação de cada fase da missão. reação do explosivo iniciador por meio
- A perda do PRONTO em qualquer fase ou o não êxito em cada etapa da de um curto-circuito em um fio metá-
missão acarretará no retorno da patrulha ao ponto de partida para obtenção de lico condutor; 2) o explosivo iniciador
informações complementares. a ser formulado a partir de reagentes
- Com o PRONTO da fase ALFA conferido pelo oficial de ligação, vocês de- químicos ali existentes (o iniciador
verão se dirigir ao ponto denominado Zona de Reunião (ZREU) na carta do terreno seria formulado a partir da mistura de
e lá tomarem 100º à leste do Norte magnético da bússola, percorrendo nessa dois sais com caráter oxidante e um
direção uma distância de aproximadamente 180 m até o local onde encontrarão carboidrato2); e 3) da carga explosiva
um oficial de ligação que lhes fornecerá os meios para a próxima fase! AVANTE!
principal simulada de TNT, que possui
a função de ruptura e destruição.
No que se refere à espoleta elétri-
os denominados espiões das forças primeiro momento da fase BRAVO, ca, esta foi montada em uma pequena
aliadas. cujo objetivo era levar os alunos a caixa de papel com um fio condutor
Com efeito, ao tentarem iniciar construírem o artefato explosivo para, muito fino. Dentro dessa caixa, são
uma interação com estas, a patrulha na fase CHARLIE, detonarem-no, mas colocados alguns gramas do reagente
descobriria que elas apenas se comu- o local de obtenção e elaboração do explosivo iniciador. Acoplado a esse
nicavam em quatro idiomas, a saber, artefato só poderia ser conhecido num dispositivo, posiciona-se uma bomba
Inglês, Espanhol, Tupi-Guarani e Ale- daqueles quatro idiomas supramen- de solo (ou estampido) contida em
mão. Eram, sem dúvida, as disciplinas cionados. Assim sendo, a patrulha só uma caixa de papelão com as ins-
de idiomas as responsáveis por esse conseguiria seguir adiante na missão crições TNT (utilizou-se, por motivos

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para a subseção de Física trabalhar ções relativas à velocidade de reação,
com baterias, fios e cargas que se- escolheu dentre três cargas explosivas
riam utilizadas para o dispositivo de a que apresentasse características
espoleta elétrica responsáveis pelo adequadas à detonação, ou seja, com
acionamento do artefato. De fato, uma velocidades de reação superiores a
vez, nesse espaço, a patrulha recebeu 3000 m/s.
dos professores de Física ali existentes O Quadro �������������������
4������������������
e Quadro ��������
5�������
trans-
um documento escrito (Quadro 4) que crevem na íntegra as orientações
lhe solicitava que calculasse e elabo- recebidas pela patrulha para o cum-
rasse a montagem da espoleta elétrica primento desses dois momentos da
Figura 5: “Laboratório de Química inimi- baseada em informações técnicas de fase BRAVO.
go” contendo dispositivos de armadilha tensão elétrica e resistência necessária Ao concluir ambos os momentos
onde o aluno encontrou os reagentes para o funcionamento do dispositivo. com êxito, a patrulha recebeu em
necessários para síntese do explosivo Feito isso, a patrulha, de posse da mãos, do oficial de ligação, a carga
iniciador e materiais que compõem a espoleta elétrica montada, seguiu para explosiva principal simulada de TNT
espoleta da carga explosiva principal.
a área da química (responsabilidade e deixou o local portando a espoleta
dos docentes de Química) e recebeu elétrica com o iniciador, a carga explo-
óbvios, uma bomba de solo ou estam- outro documento (Quadro 5) que lhe siva e um conjunto de fios e pilhas para
pido de pólvora negra no 4, também requeria, usando os reagentes ali exis- utilização na fase CHARLIE.
denominada de bomba tipo São João, tentes, a síntese do reagente explosivo Não obstante, ao evacuarem
para simular o petardo de TNT). iniciador que seria usado juntamente o local, eis que o inimigo havia lhe
Cabe lembrar que, nesse local, com a espoleta elétrica na ignição da deixado uma surpresa. Era o terceiro
não havia somente um laboratório carga explosiva principal. Em seguida, momento da fase BRAVO, isto é, da
químico abandonado com reagentes usando conhecimentos de cinética aplicação dos conhecimentos de
químicos, mas também um espaço química e baseando-se em informa- primeiros-socorros ministrados pela
174 subseção de Biologia, bem como de
Quadro 4: Orientação da parte I da fase BRAVO: Cálculos de informações técnicas e transporte de feridos ministrados pela
montagem da espoleta elétrica, aplicando-se conhecimentos obtidos da disciplina de Instrução Militar.
Física. De fato, no caminho por onde
passariam − corredor do balizamento
(Figura 5) −, havia a armadilha de
MISSÃO: CORTE DAS LINHAS DE SUPRIMENTO INIMIGAS
cordel de tropeço. Tal artefato, ao ser
FASE BRAVO PARTE I - Elaboração do Circuito Elétrico e da Carga Explosiva acionado pelo transitar da patrulha,
Prezado comandante de Patrulha suscitou a detonação de uma carga
Aqui sua patrulha receberá uma Carga Explosiva e uma ESPOLETA. explosiva e fumígenos, indicando
A Carga Explosiva Principal (Explosivo de ruptura) composta pelo explosivo que o combatente que nele subjugou
trinitrotolueno (TNT) é o elemento principal que irá detonar o alvo cuja localiza- teria sido ferido e seus companheiros
ção foi determinada na fase ALFA, mas, para que isso ocorra é necessária uma teriam, então, de socorrê-lo até o Hos-
temperatura muito elevada de ignição que deverá ser fornecida pela ESPOLETA. pital de Campanha (simulado por uma
Esta ESPOLETA por sua vez possui um RESISTOR que, ao ser ligado em uma
barraca de campanha) próximo dali.
fonte adequada, forneceria certa quantidade de energia térmica suficiente para
provocar o aquecimento de uma mistura deflagrante iniciadora de compostos Quanto ao cordel de tropeço, trata-
químicos existente no seu interior. Como resultado, o composto químico entraria se de um fio transparente montado
em ignição atingindo a temperatura necessária para a ignescência da Carga rente ao chão e vegetação e, dessa
Explosiva Principal e a destruição do alvo. forma, quase imperceptível. Quando
Quanto à ESPOLETA, será necessário que sua patrulha providencie o CIR- transpassado, aciona um dispositivo
CUITO ELÉTRICO para que o RESISTOR seja acionado a uma distância de se- elétrico (semelhante à espoleta usada
gurança. A patrulha terá à sua disposição um interruptor, fios de cobre e algumas no desafio) que ativa um pequeno
baterias e pilhas. explosivo acoplado e fumígenos po-
O que deve ser feito então?
sicionados em local seguro próximo
- Faça um esboço do CIRCUITO ELÉTRICO que deverá ser montado.
- Sabendo que o RESISTOR da ESPOLETA deverá liberar a energia descrita ao balizamento, causando enorme e
nos seus dados de placa em um tempo de 1(um) segundo, determine qual de- inesperado efeito surpresa na patru-
verá ser a DDP da fonte necessária ao funcionamento do CIRCUITO ELÉTRICO. lha. Esse efeito, sem dúvida, visava
- Selecione a fonte de energia que deverá ser levada pela sua patrulha ao proporcionar aos alunos mais uma
local de explosão. rica oportunidade de exploração inter-
- Cumprida a parte I desta fase, apresente-se ao oficial de ligação e siga para disciplinar do que sabiam: primeiros
a parte II, onde você e sua patrulha obterão a carga explosiva necessária para o socorros e instrução militar pertinente
cumprimento cabal da missão! ao deslocamento de tropas em terreno
inimigo e áreas hostis.

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Quadro 5: Orientação da parte II da fase BRAVO: Síntese do explosivo iniciador, apli-
Uma vez no local onde a ponte
cando-se conhecimentos obtidos na disciplina de Química.
existia (representando a ponte, fora
construída uma maquete de pape-
MISSÃO: CORTE DAS LINHAS DE SUPRIMENTO INIMIGAS lão), a patrulha foi recebida por um
oficial de ligação (professor) que con-
FASE BRAVO PARTE II - Elaboração da Carga Explosiva iniciadora juntamente com os alunos montaram
Prezado comandante de Patrulha todos os dispositivos cuja detonação
Agora você e seus companheiros obterão a carga explosiva iniciadora e a levaria à sua destruição (Figura 6).
principal.
Para tanto, a patrulha recebeu desse
Mas antes, recorramos à algumas importantes definições sobre reações
químicas envolvendo Explosivos ... professor documento contendo as
A reação química de decomposição de um explosivo pode dar-se sob a forma orientações previstas para o cumpri-
de combustão ou queima, deflagração, explosão e detonação em função das mento da fase (Quadro 7).
características químicas da substancia explosiva, bem como das condições de Cumpridas as orientações, toma-
iniciação e confinamento desta. das as medidas de segurança, eis
Combustão - É uma reação química de oxidação e geralmente ocorre por que era chegado o grande e espe-
conta do oxigênio do ar. O fenômeno ocorre em baixas velocidades (inferiores a rado momento. O aluno comandante
1.000 m/s) e tem como exemplo a queima de um pedaço de carvão. da patrulha, a distância, puxou um fio
Deflagração - Quando a velocidade da reação de decomposição da substancia
que ocasionou a ignição da espoleta,
explosiva é maior que o caso anterior, chegando a alguns casos em torno de 1.000
m/s, ocorre a deflagração. Nesta reação há a participação não só do oxigênio do levando à detonação do explosivo e
ar, mas também daquele intrínseco à substância. E o caso da decomposição das à consequente completa destruição
pólvoras em condições adequadas, ou ainda de explosivos mais potentes (se da ponte. Nos anos subsequentes,
submetidos a condições desfavoráveis de iniciação e confinamento). o acionamento foi feito por meio de
Explosão - Quando a velocidade da reação de decomposição da substancia controle remoto.
explosiva é maior que o caso anterior, chegando em alguns casos aproximada- Isso realizado, o tempo gasto
mente entre 2.000 m/s e 3.000 m/s, ocorre a explosão. Nesta reação há a partici- pela patrulha, desde o momento
pação não só do oxigênio do ar, mas também daquele intrínseco à substância. da apresentação do refeitório (fase 175
E o caso da decomposição das pólvoras, ou ainda de explosivos mais potentes
ALFA) até aquela detonação (fase
(se submetidos a condições favoráveis de iniciação e confinamento).
Detonação - É uma reação de decomposição com a participação exclusiva CHARLIE) foi registrado e, ao final do
do oxigênio intrínseco da substância explosiva, ocorrem com velocidades que dia, a relação dos tempos de todos os
variam de 3.000 m/s a 9.000 m/s ou superiores. Em função da quantidade de pelotões seguiu para a organização
energia envolvida no processo, far-se-á sempre acompanhada de uma onda de geral do evento, sendo daí somada
choque, também chamada onda de detonação. E esta onda de choque que às classificações obtidas nas demais
com sua frente de elevada pressão dinâmica, confere a detonação um enorme missões, gerando, assim, uma clas-
poder de ruptura. sificação única e final indicativa do
O que deve ser feito então? pelotão vencedor.
- Cada Carga Explosiva Iniciadora é composta por três diferentes reagentes.
No cumprimento da missão Lápis
- Utilizando os seus conhecimentos de química, formule a síntese do reativo
iniciador usando os reagentes químicos disponíveis. Lembre-se tratar-se de uma na Caveira, as patrulhas levaram de
reação de oxirredução. 60 a 90 minutos para a realização de
- Consulte a tabela que lhe será fornecida e escolha também a Carga Explo- todas as suas três fases. Não houve
siva de Detonação. patrulha de alunos que não conseguiu
- Se a sua escolha estiver correta o oficial de intendência, responsável pelos realizar a missão completa, apesar de
explosivos, lhe entregará a Carga Explosiva correspondente. algumas terem demonstrado certa
De posse da carga explosiva principal (TNT) e liberado pelo oficial de ligação, dificuldade em transpor alguns dos
você e sua patrulha deverão deixar o perímetro pelo corredor de balizamento, conhecimentos aprendidos na sala de
recebendo na saída um conjunto de baterias do mesmo oficial, seguindo para o
aula na prática dessa missão.
local da detonação. EM FRENTE BRAVOS SOLDADOS!
3. Conclusões
Como apontado no início deste
O documento que foi entregue à para o local onde, na fase ALFA, artigo, a proposta do Desafio Militar
patrulha referente ao cumprimento haviam detectado no mapa o pon- foi a de propiciar vivências de contex-
desse terceiro e último momento to de detonação. Tratava-se da tualização e interdisciplinaridade de
consta no Quadro 6. fase CHARLIE, na qual o objetivo saberes na formação média e militar
Após “encaminhamento” do era destruir a ponte inimiga por do aluno da EsPCEx.
aluno “ferido” ao Hospital de Cam- intermédio do artefato explosivo Os relatos das duas versões do
panha e sua recuperação, a patrulha elaborado e na qual o sucesso nas Desafio Militar aqui descritas corrobo-
seguiu adiante para a derradeira fases antecessoras garantiria que ram que ambas as vivências puderam
fase da missão. Concluída a fase a ponte seria destruída e a linha de ser sobejamente atendidas. Não obs-
BRAVO, a equipe discente seguiu suprimento inimiga seria cortada. tante, há de se ressaltar que nem só

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cumprimento da missão; 3) disciplina
para um aluno ouvir o outro, obedecer
às instruções do oficial orientador e
do companheiro em comando; 4)
meticulosidade para apreciar/avaliar
a dificuldade dos desafios; 5) adapta-
bilidade para enfrentar os obstáculos
oferecidos e suplantá-los; e finalmente
6) decisão para tomar a atitude correta
em face aos meios oferecidos e à cres-
cente passagem do tempo sempre a
pressionar os grupamentos.
A vivência desses atributos, como
efeito colateral da busca pela con-
textualização e interdisciplinaridade,
apenas corrobora para o fato de que o
entusiasmo, a motivação e o interesse
do aluno são os faróis para os quais a
prática pedagógica docente deve se
nortear (Biajone, 2009).
As missões do Desafio Militar pro-
Figura 6: Acoplamento da espoleta elétrica à carga explosiva principal e posicionamento vocaram resultados animadores, pois
na ponte simulada que foi detonada. redefiniram as relações professor-alu-
no e aluno-conhecimento, o que levou
Quadro 6: Orientação referente à parte III da fase BRAVO: Primeiros-socorros e trans- os estudantes a sentirem-se parte do
176 porte de feridos, aplicando-se conhecimentos obtidos nas disciplinas de Biologia e processo. Com efeito, por serem muito
Instrução Militar.
mais dinâmicas e participativas, elas
instigaram os alunos a desenvolver
MISSÃO: CORTE DAS LINHAS DE SUPRIMENTO INIMIGAS de maneira mais concisa não só o
raciocínio químico, mas o interpenetrar
FASE BRAVO PARTE III - A patrulha sofre baixa e necessita evacuá-la em com outros raciocínios que o levassem
segurança a compreender que a realidade não é
O inimigo, ciente das possibilidades de infiltração em seu território, deixou estanque, mas integral, e a compreen-
no terreno algumas surpresas altamente mortíferas. Infelizmente, ao passar der a complexa realidade em que se
pelo corredor de balizamento, um dos integrantes de sua patrulha foi vítima de encontram inseridos e as perspectivas
uma dessas armadilhas deixadas pelo inimigo. Explosivos ativados por meio de
da carreira militar.
cordéis de tropeço feriram um dos integrantes da patrulha.
Se vocês não realizarem os procedimentos de primeiros-socorros previstos
De fato, por meio do trabalho rea-
no companheiro seriamente ferido, transportando-o inclusive para a enfermaria lizado, os alunos são levados a com-
das forças aliadas mais próxima, ele falecerá e com esta baixa, a patrulha não preender que a teoria e a prática a ela
poderá prosseguir, falhando em sua missão. associada não constituem um mundo
Após a entrega do ferido no hospital de campanha, a patrulha receberá do fechado, mas um horizonte sem limi-
oficial médico a autorização para prosseguimento para a terceira e última fase. tes a ser vislumbrado, permitindo a
CORAGEM E AVANTE GUERREIROS DO BRASIL! conexão dos conteúdos vivenciados
na escola à prática futura de suas
promissoras carreiras militares.
contextualização e interdisciplinarida- sempre em condições de cumprir a
de acabaram sendo os maiores alvos sua missão constitucional, qual seja, Notas
atingidos pela atividade. Há também a defesa da Pátria, a garantia dos po- 1
As disciplinas que compõem o
de se mencionar os aspectos socio- deres constitucionais e, por iniciativa curso da EsPCEx pertencem a duas
interacionais afetivos fundamentais na destes, da Lei e da Ordem. áreas de formação do aluno: a do
formação e na vida dos educandos. Da variedade de AAA considera- Ensino Médio e a do Ensino Militar. As
Esses aspectos tratam de Atri- dos fundamentais para a carreira mili- do Ensino Médio são: Química, Física,
butos da Área Afetiva − AAA −, os tar no Desafio Militar, sobressaíram-se Biologia (Seção de Ciências Natu-
quais são de enorme relevância, se sobejamente, a saber: 1) capacidade rais); Matemática e Desenho (Seção
desenvolvidos em seus membros, por de liderança por parte dos alunos de Ciências Matemáticas); História,
serem a espinha dorsal dos valores e comandantes de patrulhas; 2) coo- Geografia, Sociologia, Política, Antro-
das tradições que fazem do Exército peração por parte de todos os com- pologia (Seção de Ciências Sociais);
uma instituição sólida, permanente e ponentes das patrulhas em prol do Inglês e Espanhol (Seção de Idiomas);

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Quadro 7: Orientação referente à fase CHARLIE: Detonação da ponte e conclusão da e Português (Seção de Português). Já
missão. Instrução Militar e Treinamento Físico
Militar são as do Ensino Militar.
MISSÃO: CORTE DAS LINHAS DE SUPRIMENTO INIMIGAS
2
Tal formulação foi tema de uma
das aulas práticas de laboratório de
FASE CHARLIE química.
Detonação da Carga Explosiva e Destruição da Ponte
Prezado comandante de Patrulha: É chegada a hora de cumprirem com a
sua missão! Sérgio Henrique Frasson Scafi (shfscafi@espcex.
O que deve ser feito então? ensino.eb.br), bacharel e licenciado em Química,
mestre em Química Analítica, doutor em ciências
De posse do AZIMUTE e da distância calculados na fase ALFA, a partir do PR
pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
encontre o ponto exato (a ponte) onde a Carga Explosiva deverá ser posicionada. segundo-tenente da reserva de 2a classe do Exército
Uma vez feito isto, monte o CIRCUITO ELÉTRICO e posicione a ESPOLETA Brasileiro, é professor efetivo das atividades práticas
na Carga Explosiva de ruptura. O lacre de isolamento do EXPLOSOR (conjunto do laboratório de química da Seção de Ciências
formado pelo CIRCUITO ELÉTRICO + INTERRUPTOR + BATERIAS) só deverá Naturais (Subseção de Química) da EsPCEx. Jefferson
ser retirado com autorização do oficial de ligação. Biajone (jbiajone@espcex.ensino.eb.br), licenciado em
ATENÇÃO Comandante da patrulha! Matemática, mestre em Educação Matemática pela
O cumprimento da missão dar-se-á com a adoção de todas as medidas de Unicamp, primeiro-tenente da reserva de 2a classe
do Exército Brasileiro, fundador e diretor do periódico
segurança e a explosão da Carga Explosiva com sucesso. A limpeza dos detritos
indexado SecMat: Educação Matemática Militar em
originados da explosão faz parte também do cumprimento da missão. Revista, é professor associado da Seção de Ciências
Matemáticas (Subseção de Matemática) da EsPCEx.

Referências ção do ensino de química como forma Pra saber mais


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FREIRE, M.P. e cols. A contextualiza- Sul, 2004. MISSÕES. Santo Ângelo, 2006.

Abstract: Military Challenge: Given mission is a mission fulfilled - Contextualization and Interdisciplinarity in the chemical education. The findings of the paper refers to the contextualization and
interdisciplinatity of the Chemistry teachings applied to a military school field activity. During their course, the students of The Army Preparatory Cadet School engage in an exercise that consists of
simulations and military challenges. In the paper, we will present the simulation of a bridge desctruction, as well as enemy artilhery. Desirous to see the applicability of Chemistry in their professional
lives as military officers, these students will solve problems and challenges in a contest called Military Challenge. As the challenge goes on, other results come up, such as emotional attributes that
are essential to the army officer that the country will need in the years ahead.
Keywords: Military Education, Chemistry education, Interdisciplinary practices

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