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Revista Brasileira de Educação do Campo

ARTIGO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n2p472

Educação do Campo: percalços na construção do curso de


licenciatura em Educação do Campo na Universidade
Regional do Cariri

Ronald de Figueiredo e Abuquerque1, Eloisa Rodrigues Pássaro2, Tatiane de Araújo Figueirêdo3


1
Universidade Regional do Cariri - URCA. Centro de Educação. Rua Cel. Antônio Luis, 1161. Pimenta - Crato-
CE. Brasil. ronaldalbuquerque@yahoo.com.br. 2Universidade Regional do Cariri - URCA. 3Universidade
Regional do Cariri - URCA.

RESUMO. Este é um trabalho coletivo por exigir de todos nós


o esforço de refletir sobre a nossa prática. Nele relatamos e
pensamos sobre as dificuldades na construção e ao longo do
curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade
Regional do Cariri (LEDOC/URCA). Pretendemos contribuir
para a implantação de outros cursos de formação de professores
como este, fundamentado na educação do campo
contextualizada e em alternância como base na construção de
uma nova sociabilidade, adotando a educação libertadora, como
nos propõe Freire (2007) e o Movimento Sem Terra. A partir do
diagnóstico inicial, feito pelos docentes e discentes do curso, a
principal dificuldade enfrentada era a alternância, assim,
entendemos a necessidade de refletir sobre as práticas
pedagógicas por não estarmos acostumados a olhar o contexto
sociopolítico e, a partir dele, lidar com os desafios encontrados.
A realização deste estudo de caso requereu a leitura dos
documentos que regimentam o funcionamento do curso; os
relatórios de reuniões, dos seminários e das práticas docentes;
dialogamos com as descobertas de pesquisa em andamento
conduzida pela coordenação da LEDOC/URCA. Apontamos que
esta experiência é um ponto de partida enriquecedor na busca de
institucionalização da LEDOC como curso regular.

Palavras-chave: Educação do Campo, Alternância, Educação


Contextualizada, Formação de Professores, Práticas
Pedagógicas.

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licenciatura em Educação do Campo...

Peasant Education: mishaps in the construction of the


undergraduate course in peasant education at the Regional
University of Cariri

ABSTRACT. This is a collective work for requiring all of us


the effort to reflect on our practice. In it, we report and think
about the difficulties in the construction and during the course of
graduation in peasant education of the Regional University of
Cariri (LEDOC/URCA). We intend to contribute to the
implementation of other teacher training courses such as this
one, based on the contextualized peasant education and
alternation as a basis for building a new sociability, adopting
liberating education as proposed by Freire (2007) and the
Landless Movement. From the initial diagnosis, made by the
teachers and students of the course, the main difficulty faced
was the alternation, so we understand the need to reflect about
pedagogical practices because we are not used to look at the
socio-political context and, from it dealing with the challenges
we found. The accomplishment of this case study required the
reading of the documents that regulate the operation of the
course; Reports on meetings, seminars and teaching practices;
We dialogued with the research findings underway led by the
LEDOC/URCA coordination. We point out that this experience
is an enriching starting point in the search for institutionalization
of LEDOC as a regular course.

Keywords: Peasant Education, Alternation, Contextualized


Education, Teacher Training, Pedagogical Practices.

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Educación del Campo: percances en la construcción del


curso de licenciatura en Educación del Campo en la
Universidade Regional do Cariri

RESUMEN. Este es un trabajo colectivo por exigir de todos


nosotros el esfuerzo de reflexionar sobre nuestra práctica. En él
relatamos y pensamos sobre las dificultades en la construcción y
a lo largo del curso de licenciatura en educación del campo de la
Universidade Regional do Cariri (LEDOC/URCA).
Pretendemos contribuir para la implantación de otros cursos de
formación de profesores como este, fundamentado en la
educación del campo contextualizada y en alternancia como
base en la construcción de una nueva sociabilidad, adoptando la
educación libertadora como nos propone Freire (2007) y el
Movimiento Sin Tierra. A partir del diagnóstico inicial, hecho
por los docentes y dicentes del curso, la principal dificultad
enfrentada era la alternancia, así, entendemos la necesidad de
reflexionar sobre las prácticas pedagógicas por no estarnos
acostumbrados a mirar el contexto sociopolítico y, a partir de él,
manejar los desafíos encontrados. La realización de este estudio
de caso requiso la lectura de los documentos que rigen el
funcionamiento del curso; los informes de reuniones, de los
seminarios y de las prácticas docentes; dialogamos con las
descubiertas de investigación en marcha guiada por la
coordinación de la LEDOC/URCA. Señalamos que esta
experiencia es un punto de partida enriquecedor en la búsqueda
de institucionalización de la LEDOC como curso regular.

Palabras clave: Educación del Campo, Alternancia, Educación


Contextualizada, Formación de Profesores, Prácticas
Pedagógicas.

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Introdução consubstanciados pela literatura correlata


ao tema com destaque para Caldart (2004),
O trabalho que segue é um estudo de
Freire (2007), Fernandes (2008), Ianni
caso, contendo análise conceitual da fase
(2009), Liguori (2003) e Kosik (2010).
inicial do Programa de Apoio à Formação
Dividimos o texto em blocos de
Superior em Licenciatura em Educação do
modo que se possa ter uma melhor
Campo (PROCAMPO), a partir da
compreensão da trajetória do curso, ao
apresentação e reflexão sobre a nossa
mesmo tempo trazendo as reflexões sobre
experiência de construção e execução do 1º
o caminho percorrido até aqui, as
Curso de Licenciatura em Educação do
dificuldades encontradas e a importância
Campo na Universidade Regional do Cariri
da Educação do Campo para a reversão do
(URCA). Nossas análises e inferências têm
processo de esvaziamento das zonas rurais.
como ponto de partida a leitura dos
relatórios elaborados durante o processo de Educação Contra-Hegemônica:
Possibilidades e Limites
organização da proposta de construção da
Licenciatura em Educação do Campo Fazer educação no Brasil é, sem
(LEDOC/URCA), da leitura e dúvida, complicado, isso porque a via de
compreensão do Plano Político-Pedagógico regra envolve compromissos, interesses e
do curso em questão, complementadas pela submissão a objetivos oriundos das classes
leitura dos relatórios de Execução do dominantes. A história da Educação do
Tempo Escola e Tempo Comunidade e das Campo é expressão da negação do
atas de reuniões em que foram reunidos pensamento que a educação que deve ser
professores e educandos para avaliar: o ofertada é a que interessa aos segmentos
percurso do curso com seus Tempos dominantes, comprovando que é possível
Escola e Comunidade, metodologia iniciar inovações na forma e no conteúdo
utilizada em cada momento pedagógico, as da educação escolar, em qualquer nível de
interações ensino. Mas é importante estar ciente de
professores/educandos/comunitários, e sua que as mesmas serão submetidas a vários
importância no processo de construção de tipos de dificuldades.
uma consciência campesina. Esses A Educação do Campo é um pleito,
documentos e as conversas registradas são que tem sido levantado pelos Movimentos
uma fonte singular de informações para a Sociais do campo, a partir da provocação
nossa pesquisa. Os dados coletados foram feita pelo Movimento dos Trabalhadores

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Rurais Sem Terra (MST) em diálogo com mecanizada, com uso intenso de produtos
os demais movimentos sociais e sindicais químicos (pesticidas e insumos) nas
com inserção no campo, como nos informa lavouras, subcontratando os agricultores
Caldart (2004), desde a década de 1990. com baixa remuneração e precarização do
Preocupados com a educação do homem trabalho. Somado a isso, temos ainda a
do campo, principalmente com a educação exclusão dos sujeitos pelo processo de
dos assentados que passaram por um rico grilagemi de terras dos pequenos
processo de luta e afirmação da sua produtores e das terras públicas. Os
condição de camponês, o MST propôs e camponeses têm vivenciado a progressiva
realizou a “1ª Conferência Nacional de expulsão de seus Territórios.
Educação para Reforma Agrária”, Mas todas as situações, que
intitulada: Por uma Educação Básica do envolvem o esvaziamento do campo, o
Campo. No texto preparatório para essa deslocamento das populações, sua retirada
conferência (item II, letra a) é dito: dos lugares em que estavam assentados,
relacionados, historicamente referenciados,
Um primeiro desafio que temos é
provocaram a reação dos camponeses. Essa
perceber qual educação está sendo
oferecida ao meio rural e que reação encorpou os debates já em
concepção de educação está presente
nesta oferta. Ter isto claro ajuda na andamento nos movimentos sociais, e
forma de expressão e implementação contou com a colaboração de alguns
da nossa proposta. A educação do
campo precisa ser uma educação partidos políticos e de intelectuais. Uma
específica e diferenciada, isto é,
alternativa. Mas sobretudo deve ser das estratégias de enfrentamento dessa
uma educação, no sentido amplo de realidade imposta pelo capital tem sido o
processo de formação humana, que
constrói referências culturais e investimento em uma “Educação do
políticas para a intervenção das
pessoas e dos sujeitos sociais na
Campo”, que reivindica o fim da educação
realidade visando a uma humanidade rural em prol de uma pedagogia que
mais plena e feliz (Fernandes, Cerioli
& Caldart, 2011 p. 23). respeite a especificidade dos povos do
campoii (Fernandes, 2008).
Essa reflexão nasceu da consciência
Podemos afirmar que o movimento
da classe trabalhadora a respeito de uma
que gerou a reflexão sobre Educação do
constatação básica: o território rural está se
Campo estabeleceu parâmetros de
transformando em espaço do agronegócio,
sociabilidade desejados, inclusivos,
que expulsa os agricultores do seu espaço
elaborados a partir da oposição ao projeto
de vida/trabalho para dar vasão à produção

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de modernização imposto pelos interesses conhecimento e de reconhecimento, de


das elites econômicas e políticas. vivência e de convivência, diferente do
Esses coletivos organizados moderno, que é o espaço da produção, dos
conseguiram avançar no debate sobre a ritmos estressantes, das relações pautadas
realidade do campo ideologicamente na pressa, na relação com a máquina e não
apontada como atrasada e arcaica. E com o homem que produz junto. E nessa
ganhou dimensão quando se buscou constatação atinge-se a compreensão do
estabelecer: afinal, em relação a que o querer a produção não como fim, mas
campo é atrasado e arcaico? Seria em como meio de promoção da vida e, nessa
relação ao conceito de moderno como perspectiva nasce o novo olhar,
inovador? Como sinônimo de bem-estar, relativizando o moderno e o arcaico, o
de melhoria de vida? Moderno como tradicional e o novo.
adoção de tecnologias que aumentam a Essa discussão levou a novas
produtividade e, consequentemente, o posturas com relação à educação e,
lucro dos investidores? Sendo o fim e o principalmente, à Educação do Campo.
meio de ganhar mais, lucrar mais, então Esse novo olhar trouxe para a academia
estariam certos os que viam esse lado uma visão de que o novo, o moderno, nem
como lado positivo, seu oposto era o sempre é o desejável, mas aquilo que
campo em sua forma campesina. Para Ianni satisfaz aos interesses dos segmentos
(2009), os camponeses incomodam por trabalhadores, que permite uma nova
embarreirar o desenvolvimento do sociabilidade que tenha como valor não o
capitalismo: trabalho alienado, mas o trabalho enquanto
práxis, produtor dos valores de uso e, a
Em essência, o seu caráter radical
está no obstáculo que representa à partir daí, produtor de uma nova
expansão do capitalismo, na humanidade. Para esclarecer melhor o
afirmação do valor de uso sobre o
valor de troca, sobre a mercadoria, significado dessa nova maneira de fazer
enquanto tal, sobre o trabalho
alienado, na resistência da educação, cabe discutir o conceito de
transformação da terra em práxis na forma como aparece em Kosik
monopólio, na afirmação de um
modo de vida e trabalho que tem (2010). Para ele:
evidentemente uma conotação
comunitária (Ianni, 2009, p. 139).
A práxis na sua essência e
universalidade é a revelação do
Mas a realidade se impõe, o dito segredo do homem como ser
como atrasado é também espaço de ontocriativo, como ser que cria a
realidade (humano-social) e que,

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portanto, compreende a realidade A proposta de implantação da


(humana e não-humana, a realidade
na sua totalidade). A práxis do LEDOC nessa universidade foi elaborada a
homem não é atividade prática partir de múltiplos sujeitos. A equipe que
contraposta à teoria; é determinação
da existência humana como conduziu esse processo aponta como
elaboração da realidade (Kosik,
2010, p. 202). fundamental a importância da contribuição
da Escola Família Agrícola Dom Fragoso,
Assim, o que está posto pela
como norteadora basilar da construção
Educação do Campo é a construção desse
proposta. No sentido de dar clareza de
novo sujeito que tem na sua história, nas
como poderia funcionar a articulação
suas lutas, na sua organização, o projeto de
prática e orgânica dos eixos: Educação
um novo homem, sujeito de suas próprias
Contextualizada, Estudos por área do
ações, capaz de construir uma nova
conhecimento em um Regime de
sociedade em bases mais humanas.
Alternância. Além destes, embeleceu-se
Esse debate chegou em 2007 à
um regime de parceria e colaboração entre
Universidade Regional do Cariri (URCA).
vários cursos e setores da URCA, contando
Há muito que os trabalhadores do campo
ainda com a contribuição de vários
envolvidos no movimento sindical,
educadores da Universidade Federal do
pleiteavam interagir mais intensamente
Ceará que, com suas leituras e pesquisas,
com a universidade, pleiteavam integrar
nos ajudaram a amadurecer as ideias, bem
com mais força os espaços de debate, de
como, foi muito importante a contribuição
reflexão, de fazer ciência, de construir
dos movimentos sociais para modelar
compreensões mais qualificadas sobre o
nossa proposta.
mundo do trabalho do campo e da cidade,
o mundo da política e, finalmente, o Construção da Proposta
mundo do humano. Pretendiam se
No ano de 2007, em diálogo com a
qualificar para os embates, sabendo que
professora Celi Nelza Zulke Taffarel
poderiam, naquele momento, fazê-lo de
(professora titular da Universidade Federal
forma mais intensa. Germinava a
da Bahia), a URCA tomou conhecimento
concretização da ocupação dos espaços
das experiências piloto de Cursos de
universitários da URCA pelos sujeitos do
Licenciatura em Educação do Campo
campo, como agentes do fazer e
(LEDOC), que estavam sendo realizados
compartilhar ciência.
em parceria com o Ministério de Educação
(MEC) na Universidade Federal da Bahia,

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na Universidade de Brasília, na região, esse coletivo deu início as suas


Universidade Federal de Minas Gerais e na atividades a partir da investida para coletar
Universidade Federal de Sergipe. os dados da pesquisa diagnóstica que tinha
Acreditamos que se abria “mais uma como foco perceber qual é a demanda no
porta” para a discussão sobre a educação âmbito do ensino fundamental e do ensino
como instrumento de compreensão da médio das comunidades rurais a serem
realidade em suas contradições e nos seus beneficiadas pelo projeto, bem como perfil
processos de exploração e exclusão e características sociais, culturais e
próprios ao modo de produção capitalista. econômicas de suas populações da Região
Motivados pela intenção de fundar o do Cariri Cearense, onde nossa Instituição
1° curso de nível superior de Educação do de Ensino Superior (IES) está situada.
Campo no Cariri Cearense, criou-se a Logo depois intensificaram-se as
condição necessária para afinar o diálogo articulações para identificar quais eram os
entre a URCA e os sujeitos do campo na Comitês/Fóruns de Educação do Campo,
discussão/construção da proposta. com quem poderiam realizar diálogos para
Animados com essa possibilidade construir a proposta. Foi identificado que,
estabeleceu-se um grupo que tomou para si até aquele momento, o estado do Ceará
a tarefa de capitanear um coletivo de ainda não tinha organizado as estruturas de
professores e técnicos da Universidade comitê e/ou fórum de Educação do Campo.
Regional do Cariri para elaborar uma E a partir daí fortaleceram-se as
proposta inicial do que viria a ser articulações junto aos sindicatos dos
futuramente a LEDOC/URCA. Sob a trabalhadores rurais do estado com a
coordenação dos professores Ronald de Federação dos Trabalhadores Rurais
Figueiredo e Albuquerque, Fabio Agricultores e Agricultoras Familiares do
Rodrigues, João Luis do Nascimento Mota, Estado do Ceará (FETRAECE).
Jorge Pimentel e Francisca Carminha de Os elementos necessários para a
Lima Macêdo, iniciaram-se os trabalhos construção da LEDOC eram novos, ou
para elaborar o Plano Político-Pedagógico pouco conhecidos pelos membros da
do Curso de Licenciatura em Educação do equipe que estava responsável pela
Campo da URCA. elaboração do Plano Político-Pedagógico
Considerando, inicialmente, que a do curso. Para superar essa realidade, a
Licenciatura em Educação do Campo Universidade financiou uma atividade de
beneficiaria os educadores e escolas da campo de visita à Escola Família Agrícola

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Dom Fragoso, no município de Ainda em 2007, seguindo em 2008,


Independência. Naquele momento era a foram realizados seminários, reuniões de
única instituição, no interior do Ceará, que estudo, e encontros de debates na URCA,
realizava as práticas necessárias e que pretendiam entender, coletivamente, as
associadas aos interesses da Educação do possibilidades de organização curricular
Campo. por área de conhecimento, dentro da
As ideias pouco a pouco se proposta da Pedagogia da Alternância em
consolidavam e, na medida em que o articulação com a formação para a
projeto foi ganhando forma, realizamos docência multidisciplinar. Os envolvidos
vários seminários envolvendo professores estavam cientes de que esses elementos
da URCA e também trazendo a careciam de entendimento amadurecido
colaboração de colegas da Universidade para que se objetivasse uma prática
Federal do Ceará (UFC) para contribuir no educativa em diálogo com a realidade dos
debate conosco, entre eles destacamos os povos do campo, sobretudo em dialética
professores: João Batista de Albuquerque com a realidade campesina, que é, por
Figueiredo, na época recém-chegado Pós- aproximação, nosso contexto mais latente.
doutorado em Educação, com trabalho A URCA está situada em uma região cuja
acerca da Interculturalidade, vida da zona rural é expressiva e, até então,
Descolonialidade e Perspectiva Eco- ainda não havia uma Licenciatura que
relacional; Babi Fonteles, então atendesse a essa demanda de formação.
Coordenador do Curso de Magistério Dentro dessa nova fase da jornada
Indígena Tremembé Superior/UFC; Sônia foram estabelecidos termos de
Pereira Barreto, na época com pesquisas na compromisso com professores da URCA,
área de espaços de participação e das várias áreas do conhecimento, para
escolarização de trabalhadores rurais; formar o corpo docente multidisciplinar da
Raquel Carine Martins Beserra, LEDOC. Era da ciência de todos que os
pesquisadora em educação popular e docentes seriam a maior contrapartida da
processos de cooperação no campo – e Universidade. A ação docente junto ao
militantes sindicais dos sindicatos dos curso não seria remunerada, já que as aulas
trabalhadores rurais de Crato, Jardim, se realizariam principalmente no período
Potengi, Brejo Santo; delegados da de recesso dos cursos regulares, haveria
FETRAECE e Associação Cristã de Base - então, por parte dos professores, uma ação
ACB.

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militante junto a esse projeto, que teria Cursos de Licenciatura em Educação do


turma única. Campo para a formação de professores da
Depois do amadurecimento e educação básica nas escolas situadas nas
melhoramento teórico-crítico da proposta áreas rurais. Esse edital delineava uma
do Curso, vivenciado nos Seminários, proposta bastante específica para Cursos de
submetemos a mesma ao crivo dos Licenciatura em Educação, apontava e
militantes e trabalhadores organizados da trazia o foco para um processo ensino-
região do Cariri cearense, em reunião aprendizagem mediado pela realidade
realizada na Delegacia Regional da vivida por todos aqueles que participassem
FETRAECE no Crato. Num segundo do processo formativo.
momento, realizamos esse mesmo Uma vez que o projeto foi aprovado
processo, na sede da FETRAECE em pelo Conselho Universitário CONSUNI da
Fortaleza, com a presença de dirigentes URCA, o PPP construído para a LEDOC
sindicais de todo o estado – que, foi encaminhado para o MEC, conforme o
preocupados com a Educação do Campo, que estabelecia o EDITAL MEC/SECADI
trouxeram suas experiências e nº 2, de 23 de abril de 2008. A proposta foi
contribuíram com a melhor compreensão aprovada e, em novembro de 2009, foi
do que deveria ser a dinâmica e a firmado o convênio financeiro entre a
pedagogia desse curso que, diferente das URCA e o MEC. Entre muitas dificuldades
licenciaturas regulares, estaria pautado em financeiras e burocráticas, em 2010.1 foi
práticas pedagógicas apoiadas em elaborado e realizado o vestibular
concepções de educação que têm por base específico, em que, no ato da inscrição, o
a educação para a libertação de Paulo candidato escolhia que habilitação
Freire: “a realidade opressiva é desejava cursar: Ciências da Natureza e
experimentada como um processo passível Matemática ou Linguagens e Códigos.
de superação, a educação para a libertação
Dos desafios de colocar a prática
deve desembocar na práxis
educativa pretendida em curso
transformadora” (Freire, 1979, p. 72).
No projeto, uma inovação de
Dentro desse processo, já em curso,
fundamental importância: a pedagogia da
foi lançado o Edital MEC/SECADI nº 2, de
Alternância. Com a alternância se vive a
23 de abril de 2008, que convocava
prática, a vida acontecendo, requerendo
Instituições Públicas de Educação Superior
mudanças, inovações, compreensões. É
públicas para apresentarem projetos de

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interessante afirmar que, na vida produtiva O curso inicia pretendendo vivenciar,


na comunidade, na maioria das vezes, no processo formativo, uma experiência de
passa despercebido o significado da educação com forte vínculo com a
produção familiar, da inserção desta contextualização dos saberes que é defesa
produção no contexto maior do do contexto local como partida para uma
capitalismo, dos conhecimentos maior compreensão do mundo: “o regional
elaborados, construídos ao longo das emerge do local, tal qual o nacional surge
gerações no trato com a terra e com as do regional ... como é errado ficar aderido
pessoas no trato com a terra. ao local, perdendo-se a visão do todo,
Os jovens, ao retornarem, ao errado é também pairar sobre o todo sem
integrarem o campo à sua experiência de referência ao local de onde se veio”.
aprendiz, e não apenas de aprendiz, mas (Freire, 2015 p. 87-88). Envolveria
também de mestre, desvendam as educandos e educadores no desvelamento
realidades, as diversas esferas da realidade da realidade e na transformação da mesma,
em que dominam e são dominados, em que de acordo com os interesses que, no
cooperam e são cooperadosiii, são vistos e processo, se consolidariam. Nesse sentido,
ouvidos de maneira diferente: ele é aquele a Educação contextualizada estaria apoiada
que lá fora aprende e ensina o modo de ser em Freire (2007), quando nos diz que
do agricultor familiar e, aqui dentro, educar é ler o contexto e não apenas o
aprende e ensina a ser produtor familiar e texto. A LEDOC também envolveria o
camponês. regime de alternância, no qual o processo
Essa era a educação que queríamos de formação alterna os tempos e espaços
experimentar. De início percebemos que formativos entre estar aqui, na escola, e
encontraríamos dificuldades, mesmo tendo estar lá, no espaço de moradia/trabalho
sido implantada respaldada nas pressões (Antunes-Rocha, 2012).
exercidas pelo MST e pela Confederação Fica claro, nas atas que registram as
Nacional dos Trabalhadores Rurais reuniões precedentes à construção do Plano
Agricultores e Agricultoras Familiares Político-Pedagógico, que os envolvidos no
(CONTAG), mesmo sabendo que os povos processo se animavam com essa
do campo estariam mobilizados em sua possibilidade, mas desconfiavam também.
defesa, sabíamos que encontraríamos Eles refletiam sobre “como, “de repente”,
dificuldades. o governo federal estaria financiando uma
proposta educacional que submeteria as

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condições de produção e as relações de Cabe sublinhar que estamos longe de


uma teoria funcional-estruturalista:
trabalho, no campo e na cidade, a uma tanto o Estado como a sociedade civil
crítica mais radical?” (Urca, 2017). O texto estão atravessados pela luta de
classes. Os processos nunca são
analítico, apresentado na quinta reunião, unívocos; a dialética é real, aberta,
não predeterminada. O Estado é um
expressa que sabiam que, instrumento (de uma classe), e, ao
mesmo tempo, lugar de luta (pela
desde a I Conferência Nacional Por hegemonia) e processo (de unificação
uma Educação Básica do Campo, das classes dirigentes) (Liguori,
realizada em Luziânia, Goiás, de 27 a 2003, p. 180).
30 de julho de 1998, havia uma forte
pressão dos movimentos sociais por Ainda que receosos, acreditavam
políticas públicas que contemplassem
a educação para os povos do campo que, se a proposta de criação da LEDOC
(MST, 2002). estava posta no formato requerido pelos
Mas perceber esse passo os deixava movimentos do campo, ela seria
intrigados. implantada. A partir da criação dos cursos
Na leitura da URCA, sendo iniciada nas IES (mesmo que inicialmente com
a crítica às estruturas vigentes, ela previsão de turma única), as Universidades
necessariamente aprofundaria e engajadas no projeto e os trabalhadores
radicalizaria as contradições, o que organizados manteriam a pressão
aumentaria a pressão para que as estruturas necessária para garantir a implantação e
de poder se modificassem, ou fossem execução do curso. E dessa forma
superadas em sua forma atual. E todos os poderíamos garantir a manutenção da
envolvidos no processo de construção da LEDOC, com as características postas pelo
proposta se motivavam com essa edital, como pré-requisitos para sua
possibilidade. criação: realização do processo seletivo
O Estado, mesmo quando assumido específico para os sujeitos do campo,
por progressistas, é um espaço de poder, organização do calendário acadêmico do
espaço de contradições e disputas, o que curso pelo Regime de Alternância,
faz com que o governo se estabeleça nas organização do currículo por área do
suas entranhas contraditórias e conhecimento, estruturando os conteúdos a
antagônicas, também assumindo sua forma partir da contextualização.
contraditória e antagônica. Liguori (2003,
Um curso com proposta diferenciada
p. 180), comentando Gramsci, diz sobre o
para educandos específicos
Estado:

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licenciatura em Educação do Campo...

Durante a investida para construir a formação prevista; parte massiva dos


proposta de uma licenciatura plena em professores sem formação atuava nas
Educação do Campo, havia a primeira creches, na educação infantil e no
contradição a ser superada: o progressivo fundamental I, até porque haviam poucas
fechamento das escolas em área rural da escolas com fundamental II na zona rural e
região do Cariri cearense. Durante o estas situavam-se nos distritos; mais raras
diagnóstico percebeu-se que a demanda de eram as escolas de nível médio no campo,
educadores que careciam de formação as exceções não tinham autonomia, pois
nessa região do contradizia as hipóteses eram anexos das escolas da cidade e
iniciais de demanda. A previsão inicial era funcionavam com muita precariedade.
que, para que o curso observasse os A percepção a partir da pesquisa era
princípios pelos quais havia sido criado era que, possivelmente, com a realização do
necessário que seu corpo discente fosse vestibular, parte significativa dos inscritos
ligado à terra, filhos de agricultores e seria oriunda dos centros urbanos, sua
também agricultores, senão que vissem na vinculação com o campo provavelmente
terra a sustentação primeira e primordial de seria esporádica, superficial e inorgânica,
todos eles, professores efetivos, sem com possibilidade de serem sujeitos que
formação em nível superior, que vivessem não percebiam a importância do campo, o
na zona rural e atuassem em escolas do vendo como espaço do atraso, do arcaico.
campo. Como reverter o quadro educacional
As pesquisas diagnósticas nos territórios rurais do Cariri, era uma
comprovaram que mais de três quartos dos questão urgente e fundamental. Mas antes
professores que trabalhavam em escolas da era necessário construir um processo
zona rural residiam na sede do município seletivo afirmativo, que tivesse como meta
ou nos distritos; os que atuavam nas promover igualdade de oportunidades aos
escolas do campo eram massivamente povos do campo subalternizados nos
temporários sem vínculo empregatício processos educacionais, evidenciando
estável; do total de professores (efetivos e quais sujeitos o curso atenderia. (SECADI-
temporários) em exercício nas escolas MEC, 2007). Inicialmente pensava-se que
rurais, uma terça parte tinha feito cursos as vagas deviam ser exclusivamente dos
sequenciais, que, embora não fossem professores em exercício nas escolas
cursos de graduação, eram cursos de nível públicas do campo, de preferência efetivos,
superior que atendiam às exigências de e outros profissionais com atividades de

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educação (professores, gestores, monitores, para os 60 estudantes selecionados, entre


instrutores e coordenadores pedagógicos), eles tínhamos educandos residentes em
ou educadores de projetos sociais todas as regiões do Ceará, nem todos eram
vinculados à Educação do Campo, que, professores do sistema regular de ensino, o
prioritariamente, não possuíssem curso de que extrapolou completamente a ideia de
Nível Superior completo. que estaríamos formando professores da
Depois dos momentos de estudos região do Cariri. Isto anunciou desafios
sobre o perfil pretendido para o educando e para pensar as estratégias de logística para
a realidade local, abriram-se as inscrições que todos estivessem presentes no Tempo
para vestibular específico, através do Escola e para a elaboração de propostas de
Edital nº 002/2010 – CEV/URCA, atividades de Tempo Comunidade.
aprovado ad refendum pelo Conselho de Ao iniciar as aulas do 1º tempo
Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) em Escola da LEDOC, em 2010.2, realizamos
10/03/2010, ampliando as orientações do uma sequência de Rodas de Conversas,
MEC sobre os profissionais que poderiam palestra e Mesas-redondas, para discutir,
concorrer. Definiram-se vagas para: coletivamente, sobre a construção de um
professores efetivos ou temporários sem curso dessa natureza na URCA.
graduação, ou com graduação interessados Apontávamos sua necessidade em
em segunda licenciatura, agricultores contraponto ao processo de expansão do
sindicalizados, profissionais ligados a agronegócio, que restringe inclusive a base
Organizações Não Governamentais alimentar da população, que até apossa-se
(ONGs) e técnicos dos governos estadual e de terras públicas, que alimenta a indústria
municipal, com projetos educativos com mão de obra barata e desorganizada,
focados no campo. que despreza o saber e a cultura dos
Dentro desse processo seletivo se camponeses, que amplia as áreas de
inscreveram 324 candidatos, 111 foram submissão do trabalho aos interesses do
desclassificados por não apresentar, ou capital. Foram várias discussões
apresentar de forma irregular a envolvendo os recém-chegados professores
documentação que comprovava o perfil. em formação, os docentes comprometidos
Destes, 60 foram selecionados e 103 com o curso, militantes e sindicalistas do
ficaram na listagem de classificáveis e 50 campo, todos preocupados com a
não atingiram o perfil mínimo da nota de Educação do Campo.
corte. Em 2010.2 iniciaram-se as aulas

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A Alternância na prática traz desafios concentração dos educandos nos estudos


não previstos
por tantas horas consecutivas.
Começamos o curso com sessenta Os conteúdos da disciplina deveriam
educandos, trinta e nove concluíram todas ser distribuídos entre os dois tempos. E
as disciplinas e estão construindo elaborar isso era novo, além de haver
monografia. O que houve? Várias coisas. pouco aporte teórico de subsídio que
Primeiro, a intensidade do período de orientasse os professores
Tempo Escola, os conteúdos eram metodologicamente a respeito. Além disso,
extensivos e intensivos, porque o Tempo era necessário, pelo formato e filosofia do
Comunidade acabava por exigir que, curso, que se sistematizassem os conteúdos
durante o Tempo Escola, fosse abordada oriundos das comunidades. Para isso era
uma gama de saberes necessários para necessário que se fizesse previamente uma
subsidiariam com solidez as atividades que pesquisa, que, nas comunidades e com os
seriam realizadas na comunidade. No PPP educandos, resultasse no apanhado dos
(2008, p. 55) diz: “os professores em conteúdos e saberes do campo e na
formação vivenciam um processo de preparação da intervenção, a partir desses
imersão da universidade durante o Tempo conteúdos somados e destrinchados pela
Escola”, na prática traz um desafio sobre ciência, organizados pelos docentes e
como conduzir um processo educativo que discentes, se retornassem junto à
concentra as aulas em blocos de 30 a 40 comunidade e com ela fosse inovada a
dias por semestre. ação produtiva e comunitária a partir dos
Cada disciplina só tem 50% da carga saberes que dialogavam com os aportes
didática dedicada para os estudos teóricos, teóricos estudados.
a outra metade está prevista para a
O tempo escola sem um corpo docente
dinâmica da alternância, em que os saberes
efetivo da LEDOC
são aprendidos por outras perspectivas. E
Antes de encaminhar o projeto para o
nem sempre os professores estavam
MEC, foram procurados vários professores
preparados para essa metodologia que não
da URCA das várias áreas de
permitia um tempo de leitura e a maturação
conhecimento previstas no currículo do
de conceitos em curto tempo. Sem contar o
curso, sobretudo os que tinham dedicação
desafio físico que é conduzir tantas
exclusiva nessa IES, sendo apresentadas as
horas/aula mantendo um bom nível de
disciplinas que ofertaríamos na LEDOC e

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foi estabelecido termo de compromisso de esvaziava a proposta de educação em


colaboração. Estava claro que, para que alternância. E isso se complicou a partir do
submetêssemos a proposta, os docentes 3º semestre. Por conta das sucessivas
seriam uma contrapartida da Universidade greves, o período letivo de nossa IES
proponente. passou a coincidir com as aulas da
A situação foi apresentada aos educação básica. O que fazer?
educadores envolvidos: as aulas da A solução para a continuidade do
LEDOC seriam ministradas nas férias curso foi a contratação de professores
letivas dos cursos regulares e não haveria temporários. Mas começa com um
remuneração extra pelo trabalho docente problema: a maior parte deles não tinha
que seria realizado, sem ainda ter a noção experiência em Educação do Campo.
clara da demanda do Tempo comunidade. Desconheciam essa prática pedagógica e
Considerando que seria turma única, os suas particularidades, mesmo quando
professores assumiram o compromisso conheciam a proposta Freiriana. O Freire
com o projeto militante, com oferta de uma que conheciam era o lido em sala de aula, a
disciplina cada. Isso foi possível até o 3º partir de conteúdos teóricos e não teórico-
semestre letivo, embora com muitos práticos, ou prático-teóricos, sem contato
limites no acompanhamento das atividades com a realidade, a não ser a vivência de
de Tempo Comunidade. professores que repetem há anos as
Entretanto, esses professores não mesmas discussões, utilizando as mesmas
tiveram como se dedicar intensamente ao práticas e os mesmos conteúdos esvaziados
curso, não foi possível incluir as das reflexões dos próprios autores.
disciplinas da LEDOC em suas cargas No entanto, foram colocados diante
horárias semestrais, por causa da da possibilidade que se abria, no interior da
sobrecarga em seus cursos de origem. O discussão que era realizada entre a
tempo que dispunham para a LEDOC era coordenação deste curso e professores
pequeno, no máximo dedicavam-se ao oriundos de outras universidades. A maior
Tempo Escola, mas o Tempo Comunidade, parte destes participou dos seminários de
que careciam de uma presença maior formação que foram implementados para
acompanhando as atividades dos suprir as carências teórico-práticas. O
educandos na sua relação com as escolas e interessante é que nos contatos com as
as comunidades, eram incompatíveis. Em comunidades de origem dos professores-
decorrência dos problemas apontados, discentes começaram a desenvolver a

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percepção do Tempo Comunidade e de sua suporte e acompanhamento necessário, as


associação à contextualização, se deram atividades de Tempo Comunidade
conta da interação entre os saberes, que são começaram a trazer um novo fôlego ao
expressivos, pois decorrentes da própria curso. E no início de cada semestre
comunidade na sua inter-relação com os vivenciávamos a realização dos Seminários
comunitários, entre eles e com eles e a Integradores, quando cada estudante
natureza. apresentava as atividades realizadas em sua
Havia dificuldades para viajar para comunidade e essa socialização fomentava
as atividades de Tempo Comunidade, pois uma cartilha de saberes e fazeres muito
quase todos tinham outros vínculos com rica.
instituições de ensino da educação básica.
Outras dificuldades
Mas, com todos os limites começaram a
existir os encontros de Tempo A principal dificuldade seria o
Comunidade, ainda que aquém do governo superar as legalidades
desejado. Semestre a semestre foram sendo estabelecidas pelos governos passados.
desenvolvidas atividades que geravam Sabíamos que era possível que a própria
tempo de convivência nas comunidades estrutura dos ministérios (nesse caso
rurais, momentos de acompanhamento das Educação e Desenvolvimento Rural)
ações dos educandos-docentes nas escolas, criasse dificuldades para efetivação do
diálogos diversos com organizações sociais curso. Elemento que não tardou a se
da comunidade rural onde viviam, manifestar. Segundo o Edital
intervenções em situações problema que MEC/SECADI nº 2, de 23 de abril de
atingiam coletivamente a comunidade, 2008, as propostas selecionadas teriam
rodas de conversa sobre temas que financiamento de R$ 960.000,00
dialogavam saberes acadêmicos com os (novecentos e sessenta mil reais, recurso
saberes da terra, etc. que era previsto para custear gastos que
Algumas dessas atividades propostas adivinham da alternância dos tempos e
como tempo comunidade foram deslocadas espaços formativos e que davam suporte
da proposta inicial, algumas se para que os estudantes e professores se
cauterizavam como experimentação ou deslocassem da Comunidade a
observação, mas a grande maioria das Universidade e vise e versa. Estes seriam
ações teve caráter de pesquisa ação distribuídos ao longo de 4 anos em 4
prevista pelo PPP. Nem sempre com o parcelas de R$ 240.000,00 (duzentos e

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quarenta mil reais). O primeiro desafio se consolidação do movimento que vem


estabeleceu a partir do processo fortalecendo o agronegócio no Brasil,
burocrático e operacional necessário para abriu-se uma possibilidade improvável de
firmar o convênio. O repasse foi feito em estruturação da política educacional para o
2010 com atraso, o que dificultou muito campo, que se deu pela pressão dos
todo o processo de construção e realização movimentos populares. Os avanços foram
do vestibular especial e início das aulas. conquistados pela luta e ocorreram dentro
Mas o pior estava por vir. A segunda de um espaço de tensões e contradições
parcela do recurso não pôde ser depositada, constantes.
só em setembro de 2013 a IES recebeu a A fragilização da educação, como
segunda parcela depois de um longo um todo, é um dos indicativos das
processo burocrático para firmar um contradições citadas, que vão impactar
segundo convênio. Essa sazonalidade foi ainda mais nas escolas do campo, que
justificada pela equipe técnica da SECADI, sempre tiveram situação mais precária. Na
pela necessidade de tramitar e aprovar a medida em que, nos últimos 15 anos,
Resolução Nº 20, DE 22 de junho de 2012, houve avanços na legislação e programas
que estabelece regras para a assistência que favorecem a Educação do Campo,
financeira às Instituições de Educação como podemos perceber através do que
Superior para os projetos educacionais que nos diz SECADI/MEC em “Educação do
promovam o acesso e a permanência na Campo: Marcos Normativos” (2012), no
universidade de estudantes de baixa renda mesmo período foram fechadas cerca de
e grupos socialmente discriminados. 37.000 (trinta e sete mil) escolas básicas no
Contudo, nada justifica que de 2013 a 2017 campo, como aponta o Censo 2014 do
a 3ª parcela ainda não tenha sido INEP. Dados da Secretaria de Educação do
depositada, mesmo a universidade já tendo Município do Crato indicam o fechamento
cumprido todo o ritual burocrático de de 15 escolas entre 2002 e 2006. Se
construção e aprovação do Plano de tomarmos dados mais antigos, de 1997, e
Trabalho Anual (PTA). confrontarmos com os de 2016, veremos
que foram fechadas 41 escolas.
A Educação do Campo num sistema
(SEDUCRATO, 2016).
educacional urbanizante
O fenômeno do fechamento em
Podemos perceber que, em paralelo à
massa das escolas em território rural não
crise da agricultura camponesa e à
pode ser analisado somente pelo viés

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educacional. Faz-se necessário observar planeta por produzir em boas condições


que há um projeto de país em curso, que ambientais. Assim, também acreditávamos
está propondo que o “desenvolvimento” do que a agricultura familiar era possível, era
campo se dará através do agronegócio inclusive a condição essencial para que o
(Molina & Sá, 2012). E para que “o campo produzisse os alimentos necessários
projeto” se concretize, o campo, aos trabalhadores. Era necessária como
obrigatoriamente, deixa de ser o lugar de instrumento de combate à agricultura
vida das populações camponesas, para moderna, capitalista, que em sua sede de
consolidar o que está posto pelo mercado e lucro esvazia o campo e mata a cultura
pelo lucro em benefício do agronegócio. A campesina, uma das bases de sustentação
tão propalada governança é o da sociabilidade brasileira.
estabelecimento de acordos convenientes A Educação do Campo com seu
que possibilitam a implantação de políticas formato, que não é apenas educacional,
comprometidas com os interesses dos mas é também político, fundamenta-se no
trabalhadores. político com sua opção clara pela
Assim, dar acesso à educação para os agricultura familiar camponesa. É um
camponeses passou a ser uma curso para formar militantes, pessoas
caminhoneta, ou um ônibus que desloca os compromissadas, organizadas e capazes de
estudantes para as escolas da cidade. Essa desenvolver lutas a partir da percepção das
tem sido uma prática generalizada, as possibilidades que a agricultura camponesa
escolas são fechadas, os educandos tem, inclusive em liderar com sua visão de
deslocadosiv, como diz Jesus (2011). O mundo, mudanças para além do
argumento é o da racionalidade de capitalismo.
recursos, não há necessidade de manter e
Dificuldades com as Secretarias de
criar escolas no campo, porque sua
Educação dos Municípios
população está migrando para as cidades.
O Tempo Escola exigia dos
Mas, a grande questão era reverter
professores em formação estarem afastados
esse processo, o espaço rural poderia voltar
de seu cotidiano de 30 a 40 dias. Em
a pertencer aos pequenos e médios
relatos dos estudantes percebemos que
agricultores familiares. Morin (2013), em
afastar-se da família, principalmente para
seu livro “A via para o futuro da
as mulheres, era conquista difícil, mas
humanidade”, se refere à agricultura
possível. Foram muitos os casos de
familiar como a única capaz de salvar o

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dificuldades com os cônjuges, sobretudo débito com a escola por ficar aqui na
URCA 1 mês, semestre passado, tive
quando havia filhos. Mas o afastamento do que fazer um projeto no contra turno
trabalho se mostrou o obstáculo para pagar as horas aulas que eu
devia. E não tinha como dar de conta
intransponível para quase metade da turma. de tanta coisa...
Unanimemente os que trabalhavam
Motivos semelhantes foram
sofriam pressão por se afastarem por um
apresentados por muitos e a situação era
período “tão longo”. E várias foram as
ainda mais opressora para os temporários.
demissões.
ainda estudantes que já tinham uma
Soma-se a isso a necessidade de
primeira licenciatura e desistiram, pois
dedicar tempo de estudo para realizar as
esperavam que o curso fosse “mais leve”,
atividades propostas ao retornar para casa.
por ser em alternância, mas ao perceberem
As pesquisas preparatórias, as intervenções
uma dinâmica que fazia com que o tempo
após ela e a preparação da sistematização,
de estudos na IES, ou na comunidade
que seria a base para a partilha de saberes e
fossem intensos, optaram por não
fazeres no Seminário Integrador, exigiam
continuar. Outros motivos existiram,
tempo. E tudo isso era feito
dentre eles a expectativa, para os que não
simultaneamente com a sua vida cotidiana.
eram ligados diretamente ao magistério
Nenhum dos estudantes teve direito à
municipal, que esperavam que o curso
redução de carga horária de seu trabalho
possibilitasse a inscrição em concursos
para se capacitar e poucos tiveram, de fato,
para educação, que lhes desse uma
o apoio da família nessa jornada. Um dos
titulação como docentes de história, de
estudantes escreveu, em sua carta de
letras, etc. Mas o formato do curso é
pedido de trancamento de matrícula, no
generalista, focado em duas áreas de
quarto semestre:
conhecimento: Linguagens e Códigos ou

Não tenho como continuar. Se eu vier Ciências da Natureza e Matemática. Esse


próximo módulo vou perder meu formato permitiria o concurso e a
emprego. Estou em estágio
probatório e a diretora disse habilitação para o ensino fundamental.
claramente que se eu faltar mais um
mês (mesmo que eu coloque um Essa discussão nos colocou
substituto, o que não tenho como claramente que parte dos nossos educandos
fazer porque ganho muito pouco) ela
vai me avaliar negativamente e vou não desejava continuar no campo, ou não
perder minha vaga no concurso. Sem
esperavam permanecer só no campo,
contar que tive muitas dificuldades
nas últimas atividades de Tempo desejavam o magistério urbano. Por isso,
Comunidade. Como eu já estava em

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para evitar que o curso tomasse uma municipais. Os educandos, aprovados no


dimensão para a qual não foi criado é que, vestibular do PROCAMPO, eram oriundos
no projeto e na proposta inicial da de mais de 22 municípios do estado do
Educação do Campo, o foco era a Ceará. Isso indicava que a influência do
formação de profissionais do campo, que curso repercutiria de maneira intensa,
residiam e estavam dedicados à Educação provocaria mudanças e debates que
no Campo. Era fomentar, com eles, uma extrapolariam a região do Cariri. Sendo
educação que fortalecesse os laços dos assim, o curso e os profissionais que
homens do campo com o campo, que formariam teriam respaldo, seriam
estimulasse a agricultura familiar apoiados na sua luta contra o
camponesa e mostrasse a importância de conservadorismo na educação, contra a
sua cultura e tradições para os jovens filhos educação bancária que apenas informa,
de camponeses. Era evitar o esvaziamento mas não forma o cidadão, capaz de lutar
do meio rural brasileiro. por seus interesses.
Nesse sentido havia outra Foi exatamente por entender que
compreensão, não apenas dos nossos mudar a Educação do Campo não é fácil,
educandos, mas que era compartilhada pela haveria reação dos poderes constituídos,
coordenação do curso. Esse formato de que procuramos formar as Rodas de
curso era o reconhecimento de que os Conversa que se realizariam nos Tempos
jovens do campo deveriam continuar Escola e Comunidade. Seriam convidadas
apenas com o ensino fundamental? Os que lideranças populares para discutir suas
desejassem cursar o ensino médio vidas, lutas e, dialogando com nossos
deveriam ir para as cidades mais educandos e professores, compreendessem
próximas? Sabemos que a compreensão a importância e o significado da proposta
dos governos municipais, estaduais e o de Educação do Campo. Essa interação
federal, é que para o campo é suficiente poderia criar uma barreira: a reação
apenas a educação fundamental. Iríamos conservadora do poder local e regional à
compartilhar com essa visão? Se o curso se introdução a uma educação crítica.
voltava para a formação de professores do Analisando os pedidos de
ensino fundamental, então reafirmamos trancamento de curso, é salutar que tem
essa compreensão. contribuído para o abandono do mesmo a
Mas o problema que mais impactou resistência dos secretários municipais de
foi sempre a má vontade dos governantes educação, onde há estudantes da LEDOC.

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Parte deles justifica o impedimento da O Tempo Comunidade - A realidade em


diálogo com as teorias
frequência dos professores-educandos nos
Tempos Escola com o prejuízo dos Mudar o perfil do campo era o que
estudantes das escolas municipais, que motivava a Coordenação do curso. O
ficam sem professor. A ausência dos campo poderia ser espaço de dificuldades,
professores, mesmo que para capacitação, mas, poderia também ser o espaço do
é tida como prejudicial para os estudantes. novo, da construção de uma sociabilidade
Mais que isso, repetindo o que já dissemos, centrada na vida camponesa enquanto vida
docentes capacitados, embasados no de convívio, de diálogo e de humanidade.
pensamento de Freire, críticos e Abaixo relatamos, a partir da leitura das
questionadores da escola municipal, com sínteses dos relatórios de tempo
relação ao processo de esvaziamento do comunidade, elaboradas pela coordenação
campo, cobrando, dos poderes públicos, do curso ao fim de cada semestre,
políticas para a pequena produção rural realidades de algumas das comunidades
que evite a emigração para os centros rurais da cidade de Caririaçu, que por ter
urbanos do Sul, não são desejáveis. 12 estudantes na LEDOC torna-se
Não há preocupação com a educação, emblemática como bom exemplo das
nunca houve e não é agora que os pesquisas e intervenções do Tempo
secretários de educação, normalmente Comunidade.
políticos ou chefes políticos municipais, No Sítio Bananeiras, situado no
vão interessar-se por educação ou por uma município de Caririaçu, os jovens
população educada e informada. O que se entrevistados afirmavam não querer
pretende é o controle, se existe escola no trabalhar na roça, consideravam o trabalho
campo ela existe em áreas controladas por duro e sem retorno financeiro. Eles
vereadores, ou por chefes políticos ligados enxergavam a queda na fertilidade do solo,
aos prefeitos. Existem com um único a enxada a bater em terra seca, a falta de
intuito: controlar, tutelar, impedir que os água, o fogo, o preço do produto agrícola,
votos existentes nesses espaços migrem a falta de armazéns, a venda na safra e a
para os opositores. Que migrem para fora compra na entressafra. Vida dura sem
do campo, para outras cidades ou regiões, alternativas. A solução viável era emigrar
mas não migrem em direção a outras para as terras agrícolas de São Paulo e
lideranças políticas locais. Minas Gerais, ou para a cidade industrial
de Nova Serra, nesse último estado.

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Estivemos em Caririaçu - Ceará, para tempos cronometrados, dos espaços


entrevistar jovens e adultos que migraram fechados limitando o horizonte, limitando
para Nova Serrana, no interior de Minas os contatos mesmo quando o trabalho era
Gerais, que é um polo calçadista. Eles coletivo. Mas, mesmo com o transporte
voltam no período do Natal e ficam até apertado dos ônibus cheios, era trabalho do
depois do dia primeiro de janeiro, usam o salário (não percebiam nele a escravidão
período de férias para estar com a família do tempo e do trabalho excedente), era o
nas festas de fim de ano. Há grande trabalho do ano inteiro, não via nele,
quantidade de ônibus, de turismo informalv principalmente nos primeiros momentos, o
que encontramos na cidade e na zona rural, trabalho que não se efetiva, da rotatividade
nesse período. Conforme a pesquisa provocada e permitida pelo desemprego.
realizada no final do ano de 2015, Os velhos, as esposas, os pais, os que
aproximadamente 50 ônibus, que têm em ficam não veem mais sentido no campo, já
média 45 lugares, estavam a trazer os não têm forças para continuar trabalhando,
filhos de Caririaçu para estar com os seus. vendem a terra e vão morar nas periferias
Segundo informações obtidas nas das cidades, ou das vilas (já não querem
entrevistas, foi verificado que 6.644 ficar sozinhos). As terras são ajuntadas
pessoas, que moram no Cariri cearense, pelo agronegócio, que fecunda
justificaram seus votos na última eleição. resplandecente, adubado com o dinheiro
Esse número não é absoluto, pois público, ou são cooptadas pela especulação
contabiliza apenas os sujeitos votantes que imobiliária, que inicia a prática de vender
vivem em Nova Serrana e mantêm seu loteamentos de luxo nas áreas rurais da
título na cidade de origem e desconsidera região.
os sujeitos não votantes e os que não Como nenhum processo é absoluto, a
justificaram votos. Mas nos dá uma clara pesquisa também encontrou experiências
noção do número de migrantes. de resistência, entre elas destaca-se: a
Para eles, assim, o campo não era verdejante e exuberante agrofloresta de D.
espaço de vida, não da vida que era Zefinha, professora e pequena agricultora,
anunciada: de consumo, de festas, de que a partir do diálogo com a LEDOC,
trabalho leve, shows. Não percebiam que o despertou para a possibilidade de organizar
trabalho, para quem trabalha, era sempre as mulheres da comunidade que a circunda
duro. Na cidade a labuta na fábrica, os e montar uma pequena cooperativa de
turnos, principalmente o noturno, dos frutas, polpa de frutas que comercializa

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para a Merenda Escolar. Como verdeja as produção, dos modos de reter a terra, das
terras de sua mãe, vizinhas a sua, que convivências dos vizinhos, das relações
produz agricultura de subsistência e com proprietários e com parceiros, das
mantém artesanato de pano. Além de fazer canções, das danças, das conversas, das
o aproveitamento das frutas da propriedade trocas de serviço, da cooperação, do
de sua família, a cooperativa compra as compartilhamento e das parcerias.
frutas que há na comunidade. A produção Para Arroyo (2011 p. 77), “a escola é
dos demais sítios não é organizada para o mais um dos lugares em que nos
comércio. Cada comunitário disponibiliza educamos”. Isso quer dizer que os espaços
para a venda as frutas das fruteiras que já educacionais são todos os espaços em que
existem em suas pequenas propriedades, os homens e mulheres estão em relação. E
que excedem o seu consumo. a Educação do Campo, como proposta,
Faz parte, da agricultura familiar, indicava uma relação mais estreita com as
alternar trabalho agrícola com atividades comunidades rurais, significava, em
artesanais propícias às trocas no mercado primeiro lugar, o envolvimento dos
mais próximo. Assim vivem as duas e professores-educandos com os
viveriam todos se o foco não fosse o comunitários, com suas histórias, com a
agronegócio, a produção para exportação história da própria comunidade. Levantar
de matérias primas para a indústria as histórias era restabelecer compromissos,
nacional ou estrangeira, articulando rever posições e relações, era fomentar em
indústria e produção monocultora para cada um aquilo que era e, ao mesmo
exportação, lucrando com a terra e com o tempo, aquilo que é. Quais os fatos
trabalho assalariado. marcantes, que fatos e relações com o
Por isso a necessidade de uma entorno modificaram as condições de ser e
educação que permita o envolvimento dos ser em relação de cada um. O que existe de
educandos, dos professores e da positivo e, a partir daí, que possibilidades
comunidade, todos em defesa da podem ser efetivadas, construídas.
agricultura familiar camponesa, em defesa Em diálogo com essa perspectiva
do campo e da terra. Uma educação que temos ainda a vivência dos estágios
envolva os saberes da terra, os supervisionados que propuseram a
conhecimentos científicos (as mais realizarem o inventário da realidade, no
diversas ciências), a tradição, a cultura e a intuito de superar um impasse que se
história, as histórias dos modos de colocava para os estudantes da LEDOC

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ante a necessidade de pensar um estágio Educação do Campo. Ao voltar-se para si


que superasse a lógica do saber mesmo, para o que construiu, para a
fragmentado, cientes de que os sujeitos da percepção e constatação de que construiu
escola precisam conhecer a realidade atual, alguma coisa, é percebida a importância do
do seu entorno. Para conhecer é preciso continuar sendo, ou do voltar a ser, ou do
pesquisar, estudar essa realidade. vir a ser sujeito, pessoa, conceito tão forte
Buscamos identificar as experiências da que, ao longo do tempo, foi trabalhado pela
cultura popular local e, a partir desse, Igreja Católica e pode ainda ser
elaboramos material didático e aulas, cujo significativo recuperando a condição de
conteúdo era multidisciplinar e humano de cada um.
transdisciplinar, permitindo assim a relação Assim, um primeiro dado é o
entre teoria e prática e o alcance dos reconhecimento das comunidades de
objetivos formativos e de ensino origem dos professores-educandos. Em
formulados. A intensidade desse trabalho seguida é preciso envolvê-las e por isso
foi tão forte que os educandos estão realizamos, como citado, os seminários, a
aprofundando essas construções e partir de cidades escolhidas como polo,
trazendo, dessa elaboração, cartilhas e com a presença dos professores, dos
materiais didáticos organizados de forma educandos-professores, com professores
contextualizada com a realidade da das escolas locais, comunitários e
comunidade. lideranças sindicais e comunitárias. Os
Esse é um ponto que, de alguma eventos buscaram apresentar a proposta do
maneira, poderá repor os laços e contrapor curso, sua significação como instrumento
o local às condições impostas pela de valorização e fortalecimento dos
municipalidade comprometida com os saberes, culturas e tradições locais e
interesses da economia capitalista. Nesse regionais.
processo de recuperação da história está a Nesse momento se fortaleciam os
recuperação de laços, a valorização daquilo laços entre professores-educandos e
que foi construído, mesmo que, no comunidades. Estas, ao verem-se
momento, encoberto pelas dificuldades que envolvidas, tomavam a condição de
foram sendo impostas pelo regime de defensoras da nova proposta educacional,
produção predominante. Nesse momento, evitando que os professores ficassem
consolida, essa é a perspectiva, um sujeitos às perseguições comuns nos
coletivo que reage e apoia a nova forma de municípios menores.

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Conclusão produzindo para a vida. No campo, as


relações de produção capitalista produzem
O Curso de Licenciatura em
o lucro e lucro para poucos. Suas terras são
Educação do Campo da Universidade
terras de negócio, voltadas para a
Regional do Cariri, em breve, vivenciará a
reprodução ampliada do capital; as terras
colação de grau desses que serão os
dos camponeses, sendo terras de trabalho,
primeiros Licenciados em Educação do
são para reproduzirem a vida. Essa visão
Campo no Ceará. No momento, estamos
do camponês coloca-se em franca oposição
em processo de construção do projeto de
com a visão capitalista da terra, que é
criação de um curso regular de
espaço de vida e não de lucro e este é o
Licenciatura em Educação do Campo em
fundamento, em última análise, da
alternância, revendo alguns pontos já
Educação do Campo.
amadurecidos pela experiência inicial. Esse
Próximo do fim, o Curso de
compromisso é de todos: professores,
Licenciatura em Educação do Campo,
educandos, sindicalistas, militantes sociais
segundo seus educandos, conseguiu formar
e da própria administração da URCA.
pessoas, formar educadores, com essa
Todos acreditam que esse curso, ao formar
visão de campo: campo para a vida, para os
educadores e pessoas a partir da educação
camponeses e suas famílias. Ainda
contextualizada e através da alternância,
segundo os educandos com os quais
formará militantes da questão agrícola-
estabelecemos a conversa sobre os
agrária assentada na agricultura familiar
objetivos do curso e a formação de
camponesa. O campo não é objeto de
militantes que está em sua proposta, todos
privatização, de desertificação, da ausência
eles afirmaram que, se não forem capazes
de pessoas e culturas, vazio, apenas
de inaugurarem escolas assentadas na
preenchido de forma monótona por
Alternância e na Contextualização, como
grandes, imensas plantações monocultoras,
práticas pedagógicas e educacionais, pelo
homogêneas sem a diversidade que é, antes
menos formamos professores capazes de
de tudo, vida.
situar o campo e educar tendo o campo e
Na formação, como na origem do
os camponeses como base, como
curso, está presente entre todos que o
referência, como fundante de uma cultura
campo é espaço do social, da
social e política mais humana e mais
solidariedade, da troca, do diálogo. Espaço
adequada à convivência dos diversos.
de pessoas que convivem e sobrevivem

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Para nós, educação é diálogo e que ter a realidade envolvente como objeto
diálogo aberto entre as pessoas envolvidas. de reflexão, como espaço da ação política
Para nós, as pessoas envolvidas são compromissada com os interesses dos
educandos, professores e comunitários, segmentos populares.
situados historicamente e politicamente, Lutar pela terra, lutar para ficar na
autônomos, capazes de expressar e agir terra, lutar para produzir vida e vida
conforme seus interesses. Esse diálogo é saudável, essa é a verdadeira Educação do
possível na escola que se tem e pode se Campo. Quando construímos o projeto, na
fazer nos espaços comunitários, educandos realidade, era assim que pensávamos e
e professores na convivência permitida assim resumíamos a filosofia que estava
pelos movimentos sociais e nos sindicatos por trás do projeto e o sustentava.
e associações. Para tanto, basta vivenciar Educação compromissada com os
esses espaços, as lutas que levantam e segmentos sociais mais pobres e
trazer para a escola suas causas e falar, desprovidos de autonomia e liberdade, era
dialogar com os educandos, trazer as falas assim que víamos e desse modo era isso
da comunidade, reproduzir essas falas, que queríamos: formar professores capazes
ouvir os educandos, que são também de ler a realidade e contribuir para que seus
comunitários. Nunca esquecer que os educandos também estivessem aptos a ler a
educandos, seus pais e os professores realidade e, ao lê-la, tê-la como objeto de
vivem em espaços sociais e políticos, sua ação transformadora. Transformar a
portanto, capazes de expressar e se realidade para torná-la mais humana.
expressar e de atualizar livros e conteúdos Também era nosso objetivo fazer
programáticos, a partir de suas vidas, educadores, mesmo precários, sempre
dentro e fora da escola. sujeitos à demissão, lutarem para mudar o
Pensamos que a Educação do Campo fato que os faziam sempre temporários,
é compromisso com o educando e com a passageiros, transitórios. Torná-los
sua comunidade, com suas necessidades e efetivos, sonho que poderia realizar-se na
desejos, com sua libertação das amarras medida em que envolvesse, no processo
que os mantém sob o jugo do capital e dos educacional, toda comunidade, como
capitalistas, dos proprietários de terra, aprendiz e mestra, compreendendo-se desta
latifundiários e monocultores, dos forma, dialogando com os professores e,
governos e dos governantes. Fazer com eles, sonhando e realizando uma nova
educação contextualizada nada mais é do realidade.

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Pensando assim construímos o que Caldart, R. S. (2004). Pedagogia do


Movimento Sem Terra. São Paulo-SP:
chamamos de roda de conversa, espaços
Expressão Popular.
para a fala dos outros que, como nós,
Fernandes, B. M., Cerioli, P. R., & Caldart,
tinham desejo e sonho de mudança. Juntá-
R. S. (2011). Primeira Conferência
los a nós e nos fortalecer na luta pelo novo, Nacional “Por uma Educação Básica do
Campo”. In Arroyo, M. G., Caldart, R. S.,
pelo permanente, pela presença forte de
& Molina, M. C. (Orgs.) Por uma
todos. Não conseguimos, como queríamos, educação do campo (pp. 19-63).
Petrópolis-RJ: Editora Vozes.
reunir os dirigentes sindicais e
associativos, torná-los autores, como nós, Fernandes, B. M. (2008). Por uma
educação do campo. Brasília-DF:
dessa experiência educacional, que
INCRA/MDA.
acreditamos ser capaz de fazer a diferença.
Freire, P. (1979). Educação e mudança.
Se queremos efetivar o curso teremos que
Rio de Janeiro-RJ: Paz e Terra.
pensar em possibilidades que reúnam a
Freire, P. (2015). Pedagogia da esperança:
todos na construção, efetivação e posterior
um reencontro com a pedagogia do
inserção dos nossos educandos-docentes oprimido. São Paulo-SP: Paz e Terra.
nos sistemas escolares municipais. Se não
Freire, P. (2007). Pedagogia do oprimido.
conseguirmos, não conseguiremos a força São Paulo-SP: Paz e Terra.
necessária para mudar a Educação do
Ianni, O. (2009). A Utopia Camponesa. In
Campo. Welch, C. A., Malagodi, E., Cavalcanti, J.
S. B., & Wanderley, M. N. B. (Org.)
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coletivo, aumentando de forma substancial a mais
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SEDUCRATO. (2016). Relatório Foi noticiado, no dia 26/01/2008, o fechamento
Operacional da Secretaria de Educação do de 10 escolas no Crato, todas da zona rural, com a
Crato. Crato-CE. Arquivo da justificativa de economia de recursos financeiros e
o número de matriculas. Numa delas, situada no
LEDOC/URCA. Sítio Romualdo havia 50 estudantes que, a partir de
então foram para a sede do município em
URCA. (2007). Ata da 5ª reunião do transportes muitas vezes precários.
Grupo de Trabalho responsável pela
elaboração do Plano Político Pedagógico

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v
Empresa de Turismo Informal é aquela que não
tem um sistema de contabilidade próprio, emprega
de uma até cinco pessoas, pode até ter CNPJ
(Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica). Os
trabalhadores por conta própria e os autônomos
estão nesse universo.

Recebido em: 27/02/2017


Aprovado em: 13/03/2017
Publicado em: 31/07/2017

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APA:
Albuquerque, R. F., Pássaro, E. R., & Figueirêdo, T.
A. (2017). Educação do Campo: percalços na
construção do curso de licenciatura em Educação do
Campo na Universidade Regional do Cariri. Rev. Bras.
Educ. Camp., 2(2), 472-501. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n2p472

ABNT:
ALBUQUERQUE, R. F.; PÁSSARO, E. R.;
FIGUEIRÊDO, T. A. Educação do Campo:
percalços na construção do curso de licenciatura em
Educação do Campo na Universidade Regional do
Cariri. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v.
2, n. 2, p. 472-501, 2017. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n2p472

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Ronald de Figueiredo e Abuquerque


http://orcid.org/0000-0003-4951-0696

Eloisa Rodrigues Pássaro


http://orcid.org/0000-0003-2656-240X

Tatiane de Araújo Figueirêdo


http://orcid.org/0000-0001-5697-5948

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