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A MORTE

DE ANTARES
EO
RENASCIMENTO
DE REGULUS

POR

Lucius de Leon Rojo

Dedicado aos Espíritos Livres


E aos Puros de Coração

2007
SUMÁRIO

O Locou
O Archetekton
Maria Madalena
O Verbo
O Tetragrama
O Mestre dos Arcanos
Os Dois Caminhos
A Batalha
O Caduceu de Mercúrio
A Iniciação
A Esfinge
Isadora Kali – A Dominadora de Leões
A Alquimia
A Morte
A Revolução Sexual
O Shabbath Negro
A Ruína de Sansão
A Esperança
O Shabbath Branco
A Aliança
O Julgamento
O Andarilho
O Mundo

-
P R Ó L O GO

Este não é um livro comum, entretanto não escrito para pessoas comuns. Trata-se de um
romance cabalístico, portanto iniciático, escrito para os espíritos livres e revolucionários, logo se deduz
que foi escrito a um número muito limitado de buscadores que eu chamo de Filhos da Viúva.
O autor não é nem um literário profissional, portanto está isento das obrigações e dos clichês
literários impostos pela indústria da literatura, mesmo porque ele escreve para os simples, os livres, os
quebradores de regras, os rompedores da dialética, ou seja, para os Aguais rebeldes.
O principal objetivo desta obra é levar a ciência secreta aos Anjos caídos, aos Espíritos
Lucíferes que se encontram encadeados na Roda da Dialética, aos Filhos da Viúva e de Samael, o
Fogo.
Alguns dogmáticos do esoterismo sacerdotal e outros mercenários do peudo-esoterismo que
nestes dias abundam por toda parte questionarão esta obra em relação se pertence à Loja Branca ou
a Loja Negra, porém o autor é um Filho da Viúva, não pertence à Loja Branca e muito menos a Loja
Negra, porque seu objetivo é estar a além do bem e do mal, nem negro e nem branco, nem bem e
nem mal, para este só o Caminho do Centro Invariável, o Fio da Navalha é o que de fato interessa. O
Cristo Íntimo, o rebelde Horus, batalha contra os Eons da esfera da Dialética, o Sansara, a Esfera
Zodiacal, portanto não pode estar nem na Loja Branca e nem na Negra. Aliás, quem foi que inventou
estes termos Loja Branca e Loja Negra? A Maçonaria fala destas duas Lojas maçônicas, porém não
no sentido que o mundo ocultista entende. O Caminho libertador é o Caminho Cristico, este não se
encontra nem na mão direita e nem na mão esquerda, mas é o Centro Invariável, o Vertical. Nossa
Loja Interna rompe com estes paradigmas esotéricos. A Força é uma só, o que a difere é o grau
vibratório; sair do nível do caos ou material para o nível espiritual é o objetivo da Iniciação Cristica. A
Natureza é regida pela lei do binário bem e mal, branco e negro, Caim e Abel, por isso fará de tudo
para manter o Espírito humano encadeado nela. Uma meditação minuciosa no Arcano 10 da Cabala
vai demonstrar o que queremos dizer. Decifrar o enigma da Esfinge para sair da Roda é imprescindível
ao revolucionário. Incrível, mas o Cristo Íntimo combate as duas Forças e, isso, é comprovado no livro
gnóstico de Pistis Sophia; tanto o darma como carma, isto é, o bem e o mal, prendem o homem à
Roda dos sucessivos nascimentos e mortes. Não negamos a existência destas duas Forças, porque
são delas que o Mestre extrai a sabedoria do bem e do mal necessárias para sua maestria, todavia
negamos a submissão a elas.
A história aqui narrada se passa nos anos quarenta, cinquenta e sessenta e é baseada em
fatos reais da vida passada de um Mestre da Franco-Maçonaria sincero que não se vendeu ao poder
econômico que governa as consciências e, com isso, determina as ações dos homens. Os nomes são
fictícios assim também como muitos dos fatos e cenários, que foram criados com objetivo de
embelezar a narrativa e de velar fatos que não se podem divulgar por motivos herméticos e até
mesmo de segurança. Alguns personagens fictícios expressam alguns princípios deste Mestre como,
por exemplo, a Mestra chinesa do Raio Jaina, Miao Sham, que personifica a Sabedoria do Mestre, sua
Budhi ou sua Minerva interna. Entretanto a personagem Perséfone representa uma de suas
reencarnações como filha de um eminente cabalista da Idade Média. Miguel representa outra de suas
reencarnações na Idade Média como frei franciscano que alcança a iniciação gnóstica depois que
entrou em contato com os velhos manuscristos dos antigos gnósticos preservados no interior da
biblioteca do mosteiro franciscano. Antares é a síntese destas duas últimas reencarnações e
representa a queda do Mestre. Heloísa é sua Shekinah. Lung Nu é seu principio feminino prostituída
pelo demônio, mas regenerada pelo sinal da cruz cabalística. Ofélia é sua Lilith interior que o conduz à
queda. Alguns dos personagens representam seus discípulos e seus traidores.
O livro é carregado de esoterismo e magia, trata de muitos ângulos os mistérios da
sexualidade, porque a história em seu apogeu se passa justamente no inicio da Era de Aquário nos
anos sessenta. O autor dá uma ênfase especial aos mistérios da Cabala, do Tantra Chinês, da Gnose
e da Franco-Maçonaria, Escolas cujas iniciações trás no Espírito.
O romance inciático de cunho surrealista sintetiza as três principais reencarnações do Mestre
misterioso e obscuro S.A.I. ou ‫ מאש‬que aqui será chamado Antares devido a natureza sexual que este
escrito expressa, porém o Mestre pertence a Ordem zodiacal de Aquário e opera pelo Raio de Urano
da onde provém sua Mônada. O Espírito humano deste Mestre do Raio de Urano gira como Sansão
na roda do moinho, porém seus cabelos começam a crescer novamente ainda que duma forma lenta.
A projeção da atual personalidade deste Lúcifer uraniano em seu Microscomo humano delineia um
pentagrama em seu mapa astral.
Muitos acusarão esta pessoa humana de profanador dos mistérios por está expondo aos
Espíritos Livres esta Ciência revolucionária. Outros o chamarão de espírita por acharem que esta
história foi captada por fenômenos mediúnicos, porém afirmo que não sou médium e até enfatizo que
a mediunidade destrói o corpo mental. Os reacionários do sexo e os de moral ressentida talvez me
acusem de libertino, visto que descrevo as cenas eróticas em seus mínimos detalhes, porém o que
faço é poetizar o sexo e exaltá-lo como princípio de libertação, as pessoas devem compreender que
Urano é exaltado em Escorpião.
Enfatizo para as pessoas que se proporem ler este livro, que cheguem ao final, só assim
poderão beber deste poço da Sabedoria Universal que chegou até nós através dos grandes Mestres
que já passaram por este Vale da Sombra da Morte. Entretanto, ocultamos a forma pela qual esta
história veio até nós, para evitar certos problemas com fanáticos, mitômanos e alguns seguimentos
reacionários de certas instituições religiosas e ocultistas.

O Amor é dar contínuo do Poder


Não o tem quem não sabe que precisa
O progresso é uma necessidade de uma vontade livre
Pela Libertação chega-se ao Triunfo
Libertação de si mesmo e Triunfo sobre si mesmo
Liberta-se da inocência é liberta-se pelo saber
Liberta-se do prazer e triunfar sobre a dor
A vida efêmera é o degrau para a Vida Eterna
A dor é o grilhão dos atrasados
A Natureza não pode deixar de dar, porque seria indigna do Absoluto
O Absoluto não pode criar nada cujo progresso seja detido
A Libertação significa não desejar nada, porque o todo já tem tudo
Isto sou Eu.

Dr. Jorge Adoum.


Capítulo ‫ש‬
O Louco

Ano de mil novecentos e quarenta e dois, Paris e Londres estavam sendo bombardeadas
pelos nazistas alemães. Em um hospital parisiense mantido por uma Instituição Católica de freiras,
havia muitos feridos vitimas dos fortes ataques realizados pelos nazistas contra a cidade da arte e
dos intelectuais. Neste hospital trabalhavam muitas pessoas altruístas que prestavam serviços de
socorro voluntariamente as vitimas da guerra. Entre estas pessoas havia uma medica de trinta e dois
anos de idade, simples e humilde, voltada ao trabalho altruísta e humanitário, uma aquariana de
espírito livre e revolucionária, não aceitava as injustiças do mundo e lutava a sua maneira para
modificá-lo. Seu nome era Elisabeth casada com o obscuro Grão-Mestre da Franco-Maçonaria,
Antares De Le Puy, homem famoso no sul da França herdeiro de uma imensa fortuna, porém, assim
como sua esposa, era um homem simples e humilde, desapegado dos bens materiais e aplicava seu
capital em beneficio da humanidade doente. Elisabeth nasceu na cidade de Lyon, pertencia a
Fraternidade Maçônica do Rito Egípcio de Adoção, Rito fundado pelo misterioso Conde Cagliostro,
porém residia na cidade de Marselha junto com o esposo que dirigia uma Loja Maçônica do mesmo
Rito. Nesses dias de guerra o Conde De Le Puy utilizava grandes somas de dinheiro e sua influência
política para libertar amigos judeus das garras dos nazistas, para isso subornava os generais
corruptos, porém ele sempre se manteve anônimo e jamais permitiu que estes seus atos fossem
divulgados ao mundo, todavia este fato não foi conhecido na história, era segredo. Mas, o suborno
não é uma ação negativa? Muitos poderiam questionar, porém tipos de homens, assim, estavam
além do bem e do mal. O Conde De Le Puy e mais alguns amigos maçons sinceros gastaram mais
da metade de suas fortunas para salvar muitas vitimas da guerra. Ele e a sábia esposa fundaram
uma colônia nos Alpis no sul da França, e para lá enviavam as crianças órfãs, as viúvas e todos
aqueles que conseguiam arrancar dos campos de concentração dos tenebrosos nazistas. A
humanista Elisabeth trabalhava incansavelmente para salvar vidas, porém naquele dia três de junho
de mil novecentos e quarenta e dois sua história teve um final trágico, os nazistas em um de seus
ataques surpresas, bombardearam Paris e algumas bombas caíram sobre o hospital onde a nobre
médica exercia a virtude da medicina.

Em uma fria sala do necrotério maçônico, onde os corpos eram guardados para a cremação,
um homem e uma mulher aguardavam alguém; na atmosfera o odor da morte se fazia presente. O
homem tinha estatura mediana, tez clara e ar enigmático. Os olhos de águia traziam tristeza, o
semblante, sofrimento. Usava chapéu com a aba quebrada, um sobretudo negro cobria-lhe o corpo
magro. Em seu dedo solar da mão direita trazia um anel de ouro com a insígnia da cruz de malta,
isso revelava que tal homem possuía um elevado grau maçom. Uma mulher de corpo delgado de
cabelos longos, lisos e sedosos, de tez morena e de arquétipo judaico, trazendo no semblante os
traços da angustia, acompanhava o misterioso homem. Uma enfermeira chamou o homem que
estava esperando na sala, este entrou em uma ampla sala do necrotério onde ficavam os defuntos,
a enfermeira abriu uma das gavetas refrigeradas, retirando o plástico preto do cadáver, expôs a
defunta de tez pálida: “Sim é ela”, disse De Le Puy ao reconhecer o corpo da esposa, logo partiu
com a angustiada dama que lhe fazia companhia dizendo-lhe: “Agnes, minha amiga, a vida não é
nada”.

‫ש‬

Cidade de Hong Kong ano de mil novecentos e quarenta, o mundo se encontra em guerra, e
Hong Kong está sobre ameaça de invasão pelos japoneses que recebiam apoio dos nazistas. Por
estes dias conturbados e marcados pela guerra, Hong Kong se encontrava em um verdadeiro caos.
Porém, muitas atividades da vida social seguiam seus cursos normais. Havia em Hong Kong uma
seita mafiosa ligada com a magia negra, era conhecida como a Ordem do Escorpião Negro; esta
seita mafiosa mantinha suas atividades criminosas em toda Hong Kong, Tailândia, Laos e outros
pontos da Indochina. Qual era a atividade desta seita tão temida por aqueles que a conheciam? O
assassinato por encomenda através da magia negra. Os membros da tal seita eram treinados desde
crianças na arte negra dos antigos xamãs. Entre os membros da Ordem do Escorpião Negro, havia
um Anjo Caído, um Espírito Lucífero do Clã de Samael, embaixador de Lúcifer no planeta Marte.
Este Anjo Caído estava por estes tempos encarnado em corpo feminino na raça chinesa.

Num bairro de classe média, afastado do centro de Hong Kong, uma Mercedes de cor negra
saia de dentro dos domínios de uma mansão que todos sabiam ser o quartel general da Ordem do
Escorpião Negro. No interior do carro havia quatro pessoas. O automóvel percorreu
aproximadamente uns trezentos quilômetros; a certa altura da rodovia o carro entrou em uma
estreita estrada ladeada por uma floresta de bambus e cercada por uma vegetação rasteira, de
quando em quando o carro passava por alguns camponeses que peregrinavam à beira da estrada,
alguns destes olhavam com desconfiança para o carro que percorria a estrada em velocidade
reduzida. Depois de certo tempo o carro parou diante de um belo portal feito com madeira de lei e
com entalhes de dragões, um dos passageiros desceu e abriu-o para que o carro seguisse adiante.
Uma pequena vereda de mais ou menos três quilômetros dava acesso a um templo de arquitetura
chinesa. O templo se ocultava no centro de uma intensa vegetação de bambus. Nas redondezas
havia belos jardins e magníficas esculturas no estilo da arte chinesa. Uma longa escada dava
acesso à entrada do exótico templo. Havia adornos de dragões nos quatros cantos do templo. O
carro parou em certo ponto, os passageiros desceram e subiram os degraus, um sacerdote Xamã os
recebeu com um sorriso desprovido de alma. Havia três homens e uma mulher. Os homens
vestiam-se com ternos pretos e usavam sobretudo da mesma cor, todos tinham cabelos longos; um
deles, que parecia ser o líder, tinha cabelos grisalhos e uma fina e longa barba pontiaguda e bem
tratada, o olhar deste era severo e falava muito pouco, apenas o necessário, seus olhos eram
mortos. Mas, quem era aquela bela chinesa de pele dourada, cujos cabelos longos, negros e
sedosos refletiam a luz do Sol? Quem era esta jovem de corpo leve como pluma e de andar
prudente e astuto como o rastejar da serpente, cujos olhos brilhavam a brandura da pomba, porém,
com fúria, agia como o tigre e com a força do leão?
Já no interior do templo, depois de duas horas, a jovem mulher seguiu o velho Xamã até
uma sala ampla, onde havia outras pessoas, os três companheiros seguiram para outra repartição
do templo. A jovem e bela chinesa, penetrou o amplo salão que era iluminado com certa quantidade
de velas de cera1; a ampla sala era adornada com sedas negras e escarlates, nas quais havia belas

1
Os magos negros confeccionam suas velas de cera, devido o motivo da cera fornecer um elemento astral que
favorece a goagulação de forças tenebrosas evocadas pelos mantras secretos da magia negra. Os magos
cristicos utilizam velas de para-fina.
figuras de dragões, fênix‟s e escorpiões negros; o local apresentava um ambiente místico com um
toque de luxo. Todos que se encontravam no interior do templo aguardavam o inicio do ritual onde
aquela jovem mulher passaria pelo rito de iniciação que era realizado através de um pacto de
sangue, tal pacto era selado com o sangue que se obtinha através da perfuração da pele das costas
com o tebori2, à medida que o sacerdote especialista nesta arte tatuava o escorpião negro em toda a
superfície das costas. A jovem misteriosa penetrou numa certa câmara que se localizava ao lado
esquerdo; todos estavam sentados em forma de circulo na posição de flor de lotos.
A jovem, que sempre estava sendo orientada pela sacerdotisa que lhe acompanhava,
despiu-se da túnica, deixando o belo e delicioso corpo exposto aos olhos dos iniciados que a
veneravam. A jovem sentou-se sobre uma bela e exótica mofada em posição de flor de lótus. O
Xamã a fez cair em um transe hipnótico, auxiliado pela sacerdotisa passou a pintar com tinta negra
especial a forma do escorpião na delicada pele das costas. O tebori penetrava a delicada pele
suavemente, deixando gravado nesta um traço harmonioso e fino. Os iniciados recitavam em coro
certos mantras secretos desta Ordem tenebrosa, à medida que o artista Xamã avançava em sua
bela obra, o belo e negro escorpião ia se formando; era como se fosse um poder que estava sendo
trazido a existência. Depois de um tempo prolongado, a arte estava completada na tela humana
daquela tigresa dourada, porém feroz e perigosa. As costas daquela jovem transformou-se em um
quadro vivo, cuja gravura consistia em um belo escorpião negro subindo pelas costas e entre
chamas rubras. O Xamã tirou a jovem do transe, porém antes deu uma sugestão: “Quando voltares
ao teu corpo não sentirás nenhuma dor”. A Jovem acordou naturalmente e se comportou como se
nada houvesse ocorrido, em seguida disse ao Xamã: “Sinto um poder e uma força dentro de mim”. A
jovem vestiu-se e realizou certos gestos a pedido do Xamã, depois ele recitou uma longa invocação
e disse para ela: “Agora o poder do Escorpião está em ti, felicito-a por esta maravilhosa dádiva que
recebestes!”. Logo todos se retiram dali, já era tarde da noite. O Anjo caído reiniciou suas atividades
na magia negra no ano de mil novecentos e quarenta quando o Sol se encontrava a sete graus da
constelação de Escorpião e a Lua em vinte nove graus na constelação dos Senhores da Chama,
Leão, em seu aspecto de Hécate, a Lua minguante; tudo que começa na Lua minguante extingue,
este fato passou despercebido pelo Xamã que realizou o ritual. Pois, este só levou em consideração
a posição da Lua Negra, Lilith, que se encontrava no signo déspota de Áries, uma Lilith violenta e
assassina, a quinze graus; Mercúrio em Virgem junto com o belicoso Marte de Samael; Júpiter em
Touro a quinze graus; Saturno retrogradando a quatorze graus de Touro; Urano, a oitava de Vênus e
planeta da revolução sexual, retrogradando em Touro a vinte seis graus; Netuno, oitava de Mercúrio,
a vinte e quatro de Virgem; por fim o infernal Plutão a três graus de Leão; a energia sexual, Plutão o
Senhor da magia prática, fluindo pelo Coração Macrocosmo, indicando sublimação, antes desta
sublimação o caos foi estabelecido, pois com a entrada de Plutão no Coração Cósmico, os dois
Fogos, do sexo e do amor, entraram em conflito e, isso, refletiu no mundo através da Segunda
Guerra Mundial; depois da guerra as energias se sublimaram, desta forma o ambiente se preparava
para a entrada da Era de Aquário que ocorreria com a entrada dos sete principais planetas na
constelação de Aquário, com o transito de Urano em Leão, Netuno em Escorpião e Plutão em
Virgem, fecundando a Virgem celestial com as energias anteriormente sublimadas no signo anterior.
Este era o ambiente astral da época em que o Espírito Lucífero encarcerado naquele belo corpo
feminino iniciou-se na Ordem do Escorpião Negro; neste mesmo dia, trinta de outubro de mil
novecentos e quarenta, a jovem completava seu décimo oitavo inverno de sua existência no vale da
sombra da morte.

2
Instrumento de bambu que os antigos samurais utilizavam para tatuar o corpo.
Já fazia um mês que a jovem Lung Nu havia sido iniciada na Ordem do Escorpião Negro, foi
quando deram a ela sua primeira missão, ela deveria seduzir um poderoso político tailandês corrupto
envolvido com a máfia e que conspirava contra seu próprio país a favor dos japoneses que estavam
prestes a invadir o antigo Sião, a moderna Tailândia. Quem contratou os serviços, isto era segredo
absoluto. Lung Nu armada com o poder do escorpião, os elixires venenosos preparados pela arte
xamânica da magia negra, parte para Bangcoc.
Chegando em Bangcoc, Lung Nu se hospedou em um hotel de luxo onde se encontrava
hospedado seu alvo. Ela se disfarçou de repórter que havia sido enviada à cidade de Bangcoc para
fazer a cobertura sobre a ameaça de invasão dos japoneses. Depois de dois dias estudando e
observando os passos do tal político corrupto, ela descobriu que ele era um viciado em jogatinas e
que era um assíduo frequentador do cassino do hotel. Provavelmente o político corrupto gastava
grande parte de seu dinheiro sujo ali.
Era aproximadamente meia noite, o cassino do hotel estava repleto de pessoas dadas ao
vício da jogatina e, entre estas, algumas mercadoras de Cupido. Lung Nu estava vestida
elegantemente, seu vestido negro era sensual e deixava uma parte dos seios medianos a mostra,
isso fazia alguns jogadores chauvinistas desviarem a atenção do jogo. Aproximou-se da mesa onde
o político estava jogando e passou a observar o jogo de cartas. Ela pediu para entrar no jogo, porém
todos a olharam com desdém e preconceito, mas sua beleza unida ao poder sexual que se
manifestava pela forte sensualidade, foi mais forte do que as conveniências impostas pela velha e
decadente moral burguesa. Lung Nu usando o poder da magia negra, ganhava uma partida atrás da
outra, depois por sua própria vontade e por uma questão de estratégia, retirou-se da jogatina já com
uma certa quantidade de dólares na refinada e delicada bolsa de couro negro, porém ao se levantar
fez questão de revelar os seios desnudos ao tal político e, isso, ela fez quando pediu que este
acendesse seu cigarro, neste instante ela inclinou o corpo e os seios desnudos de sutiã se
revelaram ao político; como uma serpente de olhos negros, ela fixou o olhar sedutor e carregado de
uma falsa luxuria, obviamente ela estava atraindo a presa para o ninho da morte. Logo caminhou
para o bar com o cigarro aceso entre os dedos e pediu uma bebida. O político já não tinha mais
concentração no jogo, devido ao fato de seus olhos estarem sempre voltados para Lung Nu. O
político levantou e se aproximou de Lung Nu que estava sentada em uma mesa disfarçando
descontração. Ambos conversaram sobre muitos assuntos, pois ela havia revelado a ele que era
uma repórter de um renomado jornal de Hong Kong, ele não duvidou, porque ela demonstrava ter
conhecimentos profundos da política internacional. Lung Nu o envolveu em sua magia e fez com que
ele a convidasse para seu quarto para fazer amor, pois o político era elegante e dotado pela
natureza de certa beleza refinada, desta forma não levantaria suspeita. Alguns até mesmo achavam
que se tratava de uma prostituta de luxo querendo fisgar alguns dos tubarões milionários que fazia
do cassino seu centro de gravidade permanente. O político deu o número da suíte onde estava
hospedado para Lung Nu, pois não era conveniente que ambos saíssem juntos dali, pois o político
tinha uma imagem pública a ser zelada. Lung Nu partiu, depois de aproximadamente duas horas, já
na madrugada, o político se retirou do cassino. Lung Nu se encontrava no corredor e olhava para os
lados para ter certeza de que não estava sendo vigiada, depois deu dois toques na suíte setenta e
seis.
Uma vez na suíte luxuosa do político, depois de certos diálogos e de jogos sedutores, a
dama da morte, cujo codinome era Garra da Morte, despiu-se de seu belo vestido que ocultava as
costas, porém não acontecia o mesmo com a frente. Um momento antes de se darem às loucuras
de Eros, a astuta Lung Nu foi ao toalete, tirou um pequeno frasco da bolsa abriu e molhou as unhas
dos dedos da mão esquerda no liquido peçonhento, deixou secar e logo retornou para a cama, onde
o político já a guardava ansioso para saciar seu apetite sexual naquele inefável corpo. Ela evitou
ficar de costas para ele, assim, ocultava a insígnia de sua Ordem gravada na pele de suas costas. O
político avançou vorazmente para cima do belo e delicado corpo não encontrando resistência; a
musa da morte o beijou com muita sofreguidão; no instante em que o fogo do político estava à beira
da erupção vulcânica, e crente ele que ia saciar sua sede e fome sexual naquele corpo
deliciosamente belo, a musa da morte sussurrando um dissimulado delírio sexual, cravava as unhas
afiadas como a da tigresa nas costas daquele infeliz cujo espírito da vida o abandonaria minutos
depois. O infeliz começou agonizar minutos depois, a musa da morte levantando do leito, revelou
suas costas ao moribundo, este ao ver o escorpião entre chamas rubras nas costas da musa da
morte, arregalou os olhos miúdos e esvazio-se de espírito, a morte a ele se revelou. Lung Nu
abandonou o hotel na mesma noite. No dia seguinte a manchete dos principais jornais de Bangcoc
anunciava a morte do político provocada por um ataque cardíaco. Lung Nu repetiu este ato por
muitas vezes, os anos se passaram, e ela agora tinha vinte e dois anos quando recebeu a missão de
eliminar um frei franciscano que residia na Espanha e um Maçom que residia em Marselha, sul da
França.

Lung Nu desembarcou no aeroporto de Madri e se hospedou em um luxuoso hotel no centro


da cidade, ali permaneceu por três dias arquitetando o modo pelo qual poderia atingir seu alvo, pois
como se tratava de um monge, a tática sexual como força de atração talvez não funcionaria com o
subversivo frei franciscano. Ela, então, começou arquitetar um plano pelo qual pudesse penetrar as
fortalezas do Mosteiro franciscano com segurança e sem ser percebida, porém uma vez lá dentro
seria muito perigoso, já que ela não sabia a localidade exata dos aposentos do frei; eliminá-lo
dormindo não levantaria suspeita, porém isso para ela se apresentava como um problema, então
resolveu mudar de tática. Ela sabia que o frei era um professor que lecionava suas cátedras na
Universidade Católica de Madri, então seria melhor segui-lo e observar de longe o caminho e os
locais que ele percorria e passava partindo do Mosteiro até a Universidade. Ela passou a segui-lo e
percebeu que ele sempre estava acompanhado de outras pessoas e que saia de manhã e só
retornava à noite, porém estava sempre acompanhado. Porém, ela observou que ele sempre saia a
certa hora da noite para caminhar, isto ele fazia sozinho. A assassina Garra da Morte, então
percebeu que estes passeios noturnos eram de praxes para o frei, agora ela já sabia como agir.

Frei Miguel andava suavemente e em estado contemplativo pela rua deserta que circundava
uma praça, onde um solitário casal de enamorados prestava culto a Eros, à medida que se afastava
do Mosteiro, mais a solidão se fazia presente naquela rua ladeada por pinheiros. Uma coruja passou
voando sobre o frei como se estivesse visto alguém e, por isso, levantou vou. Algo insólito ocorreu
com frei, ouviu uma voz misteriosa ecoando das profundezas de seu ser, sim, era seu divino Daímon
lhe alertando sobre o eminente perigo: “Fuja para o sul, pois ao norte a morte te espreita!” O frei
assombrado, não pelo perigo, mas pela voz misteriosa que lhe ecoou em seu interior, pensou
consigo mesmo: “Será este um fenômeno mediúnico!?”; mais uma vez ouviu a voz: “Fuja, a morte se
aproxima!”. Então, o frei assombrado olhou para trás e viu de longe um vulto vindo em sua direção,
então correu de volta para o Mosteiro pelo sul, o vulto o perseguiu com a velocidade de um tigre,
porém a vantagem do frei era de duzentos metros; mas a assassina usava dos poderes da arte jina
negra e pode colocar o corpo fora da terceira dimensão, porém ao colocar o corpo na quarta
dimensão para romper o espaço e o tempo e, com isso, alcançar o frei, foi interceptada por um
Cavaleiro Kadosh, um dos doze guardiões da Ordem do Leão Vermelho. Garra da Morte avançou
com grande fúria em direção ao Cavaleiro Kadosh e o combate foi carregado de magia. Garra da
Morte ao ver o semblante do Cavaleiro se assombrou, pois era o mesmo homem que se encontrava
na fotografia e que ela deveria eliminá-lo em Marselha. O Cavaleiro com a espada flamigera no
punho e apontando para o coração do Anjo Caído disse: “Que estado lamentável chegastes, soldado
de Samael! Por que buscas eliminar teus irmãos, os filhos do Fogo e da Viúva? Traístes tua mãe
Isis! E agora serves Lilith!”. O Cavaleiro Kadosh era conhecido no mundo físico pelo nome de
Antares De Le Puy, o Grão-Mestre da Franco-Maçonaria do Rito Egípcio de Adoção, o Cavaleiro de
Escorpião, o oitavo apostolo da Ordem do Leão Vermelho, esta Ordem sagrada não existia na
terceira dimensão, seu Templo sagrada se localizava no seio de uma bela floresta na quarta
dimensão, onde nenhum profano poderia penetrar, na cidade de Shambbalah. Depois disso, Garra
da Morte voltou para a terceira dimensão com o corpo vital ferido pelo fogo que foi lançado da
espada do Querubim3 que guardava a entrada do Éden e que salvou seu irmão Kadosh, o Cavaleiro
de Leão, que ainda se encontrava dormindo, sim, aquele frei subversivo era um grande Mestre caído
e pertencia à mesma Ordem do Grão-Mestre Antares De Le Puy. Porém, as palavras do Cavaleiro
Kadosh penetraram em Lung Nu e não saíram mais, pois apesar de tudo, a chama do amor ainda
não havia se extinguido por completo naquele Anjo Caído que agora era um Demônio que descia em
direção ao núcleo do Fogo Central que arde em nosso planeta, pois o objetivo da iniciação negra é
unir a alma com este Fogo conhecido na Cabala de Bafometo e na mitologia egípcia e grega de
Tífon. Ou seja, os objetivos da iniciação negra é descer as esferas da Árvore do Conhecimento do
bem e do mal, e da iniciação Cristica é de escalar as esferas da Árvore da Vida, unindo o Espírito ao
seu Logos que reside na esfera de Keter, o nono céu, o de Netuno. Lung Nu se encontrava
iniciaticamente no inferno de Marte, o quinto, ou seja, ela havia se tornado um dos arquidemônios do
inferno de Marte, era uma de suas hierarquias. Governava uma província infra-atômica deste
inferno. Chavajoth e Asmodeu reinavam neste inferno tenebroso cujo hidrogênio vibra em 1536 leis
mecânicas da Natureza, vibração elevadíssima comparada com a do mundo tridimensional que vibra
em 48 leis.
Frei Miguel, já no interior do Mosteiro franciscano, ofegante pensou consigo mesmo: “Deus,
obrigado por me salvar mais uma vez”. Pela manhã o frei relatou o acontecimento com o Abade que
era seu amigo e este, então, vendo o perigo pelo qual o amigo frei passava o enviou para o México
secretamente.

Lung Nu retornou à cidade de Hong Kong com o espírito atormentado, as palavras do


Cavaleiro Kadosh despertaram nela sentimentos estranhos para ela; pois sua alma era chinesa e
palavras como: „soldado de Samael‟; „Filho do Fogo e da Viúva‟ eram incompreensíveis para ela.
Quem eram estes que diziam ser seus irmãos? Lung Nu entrava num conflito interno consigo
mesma, pois não conhecia a si mesma. Então ela fez a famosa pergunta filosófica: “Quem sou eu?”.
Depois destes eventos a assassina Garra da Morte já não tinha mais instinto para matar, deste
modo fracassou mais uma vez, pois havia sido enviada para assassinar um milionário inglês que
vivia em Hong Kong e que era um importante arqueólogo que havia encontrado um misterioso
manuscrito gnóstico que se viesse a público colocaria muitos negócios do tipo religiosos em dúvida.
Garra da Morte deveria eliminar o arqueólogo milionário e se apoderar do manuscrito. Mas, não era
uma tarefa de poucos dias, ela primeiro deveria conquistá-lo, envolver-se afetivamente com ele,
depois ganhar sua confiança, somente assim poderia chegar ao manuscrito que era guardado a sete
chaves. Porém, Lung Nu despertou pelo arqueólogo uma paixão devastadora, ambos se tornaram

3
Hierarquias criadoras que moraram no céu de Urano.
amantes e ela revelou o macabro plano contra a vida dele. O alvo agora era Lung Nu, estava
marcada para morrer e grávida. O casal parte secretamente em um navio inglês para Londres.

‫ש‬

Era o dia 10 de setembro de mil novecentos e quarenta e cinco, dois dias após o fim da
Segunda Guerra Mundial. Chega em Madri frei Miguel acompanhado de uma monja franciscana que
viera com ele do México para realizar seu mestrado na Pontífice Universidade Católica de Madri. Os
rumores de que o frei mantinha um caso com a jovem franciscana de nome Heloísa e que juntamente
com esta e outros monges e monjas mantinham uma sociedade secreta onde estudavam os escritos
gnósticos, obrigou a Ordem Franciscana tomar medidas severas contra o frei. Por muito tempo a
Ordem fez vistas grossas às atividades subversivas do frei, porém agora com os rumores de que ele
mantinha relações afetivas com a monja que havia abandonado o habito há poucos meses, foram à
gota d‟água.

Frei Miguel se preparava para abandonar o mosteiro franciscano, pois fora acusado de heresia
e excomungado pela Igreja, deixara o mosteiro logo após a conspiração, partiu secretamente no meio
da madrugada. Foi sua última noite ali. Caminhava suavemente pelos corredores gelados daquele
Mosteiro antigo que ainda conservava a arquitetura medieval, carregando uma simples e humilde
mochila com seus poucos pertences, desprovido de impaciência e de toda ansiedade avançava para
fora das muralhas do velho Mosteiro. Viveu ali um bom período de sua vida. Chegara aos quatorze
anos de idade, e saíra com trinta primaveras. Era órfão de pai e mãe. Seu pai era um político
revolucionário, um comunista, morto na guerra civil espanhola; sua mãe era uma judia russa da
corrente comunista defendida por Leon Trotski, fora executada pelos agentes da KGB na frente do
próprio filho que só escapou com vida porque fugiu e se escondeu na linda catedral da cidade de
Leon, onde um padre o encontrou, o menino foi entregue a um frei franciscano que conhecera seu pai
e, como ele, também era um comunista; este o levou para o Mosteiro de Madri, e ali o garoto
permaneceu como seminarista, porém a educação do adolescente foi especialmente direcionada pelo
frei comunista, seu mentor intelectual. O jovem destacou-se nas aulas de filosofia, política e religião. O
garoto com apenas 17 anos de idade deixou seus mestres surpreendidos, quando apresentou uma
tese filosófica baseada no neoplatonismo, onde relatava sobre o Logos, Psique e Nous. O menino
Miguel por si mesmo escolheu trilhar a senda do monge.
O revolucionário frei depois que teve contato com as idéias filosóficas de alguns cristãos
primitivos, tais como o neoplatonico Plotino, o rebelde Orígenes, Clemente de Alexandria, a filósofa
Hipatia, Amônio Saca, Saturnino de Antioquia, Carpócrates e outros; passou a ter uma visão
revolucionária do cristianismo. As idéias filosóficas pregadas por Carpócrates foram as que mais lhe
atraíram e o influenciaram. Carpócrates exaltava a comunidade das mulheres, recomendava a magia;
e considerava a sexualidade transcendental uma revolta contra o mundo do Anticristo, e via nela, pela
união dos opostos, um caminho de Salvação. Baseado nesta filosofia esotérica de Carpócrates, e em
outros escritos anônimos, passou defender o matrimônio sagrado e pregar contra o celibato.
Enfim, o rebelde frei saia dos domínios do medieval Mosteiro para nunca mais voltar. Levava
consigo a maldição do Papa, uma mochila com duas mudas de roupas e uma sandália franciscana nos
pés, na mão o livro de Nietzsche, o “Anticristo”, e partiu para cidade de Leon, onde se encontraria com
Heloísa, sua amante e ex-monja franciscana.
Miguel partiu para a cidade de Leon, onde se encontrou com Heloísa depois de um mês de
estadia na casa desta, foi levado por dois homens que se identificaram como sendo da polícia secreta
do Vaticano. Miguel os acompanhou sem manter resistência. Depois deste sequestro não se ouviu ou
viu o frei rebelde por um espaço de treze meses, Heloísa já o tinha dado por morto, mas
misteriosamente Miguel apareceu na cidade de Leon.
Miguel chegou na cidade de Leon, logo após o pôr do Sol, dirigiu-se para casa de seu tio que
ficava a três quilômetros da estação de trem. Caminhava suavemente e sem presa de alcançar o
destino. Seu tio era um velho alfaiate solteirão de aproximadamente oitenta e um anos de idade, um
velho judeu irmão de sua falecida mãe. Depois de certo tempo, deparou-se diante de uma humilde
casa e bateu palmas por várias vezes, mas ninguém atendia. De repente, uma mulher gorda de
aproximadamente setenta anos, com traços de depravação e de muito mau humor, grita:
“O velho Nicolau não se encontra mais entre os vivos, se quiser falar com ele vá ao inferno,
pois provavelmente lá ele se encontra!”, gritou a mulher com muita fúria, “o crápula morreu me
devendo três meses de aluguel!”, exclamou com fúria a velha asquerosa.
O frei rebelde seguiu para a casa de Heloísa, esta era a única pessoa com quem podia contar
com a ajuda no momento, pois estava sem dinheiro e desamparado. Era tempo de recessão
econômica não só na Espanha como em toda Europa, pois era uma época de crise, a Europa estava
devastada, pois acabara de passar pela Segunda Guerra, a Espanha passava por profundas crises
políticas e econômicas, o governo de Francisco Franco havia instalado as Cortes ao estilo fascistas,
época difícil, principalmente para um ex-frei franciscano subversivo no campo político e religioso. Frei
Miguel estava contido na lista negra da política fascista de Francisco Franco e além de ser
considerado perigoso à igreja, também era considerado perigoso pelo Estado fascista espanhol. Frei
Miguel havia de fato sido filiado ao Partido Comunista Espanhol, mas rompeu com o Partido por não
concordar com a política de Stálin. Frei Miguel pensava como Liev Trotski, ou seja, numa revolução
permanente, mas depois compreendeu que a revolução só é possível quando ela acontece de dentro
para fora, para ele era impossível mudar o mundo sem a mudança do homem, este primeiro deveria
mudar a si mesmo para depois mudar o mundo em que vivia, pois o mundo era uma representação da
vontade perversa, do mau desejo e da má mente do homem caótico e corrompido pelos falsos valores.
Por ser considerado politicamente um trotskista, era boicotado também pelos comunistas. Mas, esta
transformação não foi por acaso, pois só ocorreu devido à experiência que passou durante o período
que esteve no cárcere da Opos Dei; outro fator importante que o levou a uma transformação foi os
ensinamentos de um monge gnostico que se encontrava juntamente com ele no cárcere eclesiástico,
Miguel não era o mesmo de treze meses atrás.
Heloísa morava em uma humilde casa na periferia da cidade de Leon, ganhava a vida
prestando consultas psicológicas à comunidade carente, era uma psicanalista. Heloísa havia
abandonado o hábito antes de emigrar à Espanha, seu espírito era livre e de caráter revolucionário,
era uma anarquista e estava envolvida com o movimento sindicalista, era oposta a Miguel, este não
acreditava mais na política e fazia duras criticas a companheira em seus debates filosóficos. Heloísa
acreditava em uma transformação social através de uma revolução política que destruísse o Estado.
Miguel acreditava em uma revolução da consciência, pois para ele a mudança do mundo só poderia
acontecer através da mudança da consciência do homem. Para ele o homem era um caos de onde
emergiria a Estrela Flamígera, o Novo Homem, ou seja, a Babilônia deveria ser destruída e em seu
lugar erguida à cidade santa, a Nova Jerusalém. Babilônia era o símbolo do reino do Anticristo dentro
do próprio homem, era o microcosmo degenerado e corrompido, enquanto que a Nova Jerusalém era
o símbolo do microcosmo regenerado, ou seja, o homem dotado de Consciência Nous. Miguel era um
neoplatônico, com certa influência de Nietzsche, Schoppenhauer e Hegel. Ele reencontrou sua amada,
ela ficou muito feliz em revê-lo, pois ela pensava que ele estava morto. Colocaram a conversa em dia
e depois se beijaram ardentemente. Heloísa percebera que Miguel não era o mesmo amante que era
anteriormente, pois até mesmo a forma de fazer amor havia modificado. Muitas transformações
ocorreram com Heloísa, esta já não era a mesma monja que Miguel conhecera anos atrás. Heloísa
estava muito ligada à política libertária dos anarquistas e centrava sua vida nesta atividade, sem
dúvida já não era a monja religiosa de tempos passados, isto preocupou Miguel, porque ele tinha um
projeto metafísico com ela, e esta mudança de postura poderia arruinar seus planos esotéricos com a
ex-monja franciscana.
Já se fazia três meses que Miguel morava com Heloísa, ambos mantinham uma ligação
amorosa muito estreita desde a época que ela ainda era uma monja. Uma certa dama misteriosa da
alta sociedade de Madri, de nome Ofélia, amiga de Miguel, periodicamente ia visitá-lo; era uma dama
muito culta e Miguel tinha muito gosto de dialogar com Ofélia, esta era uma de suas ex-alunas no
curso de mestrado da Universidade Católica de Madri; era uma dama muito influente no meio da alta
sociedade, pois seu pai era da nobreza espanhola e tinha ligação estreita com o príncipe; devido a
esta influencia é que foi possível Miguel escapar com vida do cárcere, é o que pensava Ofélia, pois a
história não havia sido exatamente assim. Ambos passavam horas conversando, isso despertou o
ciúme de Heloísa, este evento gerou grandes discussões entre o casal.
“Não gosto das visitas de Ofélia, pois ela de olha com desejo!”, disse brava Heloísa.
“Somos amigos, não tenho culpa que ela me olhe dessa forma, é o jeito dela”, disse
calmamente Miguel.
“Percebo que você tem grande gosto em conversar com ela, por que você não conversa
comigo os mesmos assuntos, por ventura sou eu uma inculta?”.
“Claro que não minha amada, você é a minha sabedoria, meu impulso intelectual, meu desejo
inspirador, não fale tamanha asneira, apenas converso os assuntos que ela deseja saber e tirar
dúvidas, pois ela foi minha aluna como você mesmo sabe”, disse isso, à medida que agarrava Heloísa
e dava um ardente beijo.
O Diabo interno de Heloísa, cujo átomo residia na parte inferior da espinha dorsal, emanava
grandes correntes de átomos infra-atômicos do terceiro inferno4, a morada de Lilith, o demônio
feminino da luxuria, semeando em sua mente idéias de sua esfera. Heloísa era admirada e cortejada
por um dos membros do partido anarquista que ela militava, Juan Ramires era seu admirador que
sempre estava cortejando-a com belas frases e delicado cavalheirismo. Heloísa sempre se esquivava
do galanteio daquele moço bonito e de grande magnetismo sexual, porém o amor que sentia por
Miguel era seu anjo protetor. Quando Miguel estava desaparecido, ele a visitava periodicamente, esta
situação a deixava carente, esta carência levava sua imaginação a criar fantasias com Juan Ramires,
mas sempre conteve tais fantasias. Certa vez depois de uma reunião do grupo anarquista, ela
convidou Juan Ramires a ir à sua casa para discutirem certas estratégias políticas, conversaram sobre
o assunto bebendo vinho, Heloísa ficou um pouco embriagada, mas mantinha controle sobre seus
atos, belo menos em parte. Juan Ramires aproveitando a oportunidade a cariciou no rosto, ela não
manteve resistência, então ele foi avançando cada vez mais, até que ambos estavam em ardentes
beijos e caricias quasem eróticas, quando ele começou a despi-la pediu que ele parasse, ele
perguntou por que, ela respondeu a ele que amava um homem, por isso não achava justo trair este
amor. Heloísa conteve o ímpeto erótico, e seu amigo teve que ser conter também para não perder a
amizade daquela erótica e deliciosa dama mexicana. Porém, as sementes da luxuria foram semeadas
4
Este inferno é uma esfera infra-atômica que emana sua energia através de um dos sete chacras involutivos
que se localiza no baixo ventre, a carne de porco abre estes chacras devido o motivo dela ser constituída de
átomos involutivos que vibram em leis mecânicas de alta densidade. Por isso que o consumo desta carne era
proibida pelos judeus e mulçumanos e também pelos escolas de mistérios, pois estes átomo infra-atômicos
estimulam a fornicação.
e a fertilidade ou não do corpo, era que ia determinar o crescimento desta árvore cujos frutos trazem
grandes sofrimentos, miséria e dor ao mundo. Heloísa sabia que Miguel não havia morrido e que um
dia apareceria, por isso suportava as tentações da carne.
Heloísa caiu na tentação de relatar ao amigo Juan Ramires o ciúme que sentia de Ofélia com
Miguel, este Diabo prestidigitador aproveitando a oportunidade lançou grandes dúvidas na mente de
Heloísa, deixando-a confusa mais ainda. Heloísa, então passou a desconfiar que de fato Miguel tinha
um caso com a burguesa de Madri. Heloísa cometeu outro erro, pois comentou com Juan Ramires que
Miguel mantinha certas atividades subversivas secretamente com certos monges que apoiavam suas
idéias. Juan Ramires começou, então, a elaborar um plano maquiavélico contra Miguel, assim, seu
objeto de desejo ficaria livre para ele.

Miguel acordou no meio da noite atormentado com o sonho que acabara de ter, pois sonhara
com uma mulher nua e de beleza fatal que tinha uma grande serpente negra enroscada em seu belo e
fatal corpo, a mulher trazia um punhal na mão esquerda, a serpente o atacou nos órgãos sexuais,
neste momento despertou em pânico. Ficou atormentado com o sonho e permaneceu a noite quase
inteira sentado à beira da cama olhando Heloísa em seu sono profundo. Heloísa tinha costume de
dormir nua, a visão do belo corpo de Heloísa despertou o ímpeto erótico de Miguel, mas se conteve.
Naquele dia Miguel acordou cedo e pensativo devido ao sonho que tivera, resolveu sair para
visitar um velho amigo padre, disse à Heloísa que só voltaria à noite, pois tinha alguns assuntos para
tratar com seu amigo padre. Heloísa ficou desconfiada e achou que ele ia se encontrar com Ofélia.
Era aproximadamente três horas da tarde quando Juan Ramires bateu na porta da casa de
Heloísa, esta não o esperava ali àquelas horas, mas Juan Ramires veio lhe informar que haveria uma
reunião à noite e que ela deveria comparecer na mesma. Ambos ficaram conversando sobre a pauta
da reunião, logo que o assunto acabou Heloísa se desabafou com o amigo e disse:
“Nesse momento, meu amigo, ele esta nos braços da burguesa, estão se amando loucamente,
e eu aqui com o coração ardendo de ciúmes”, disse isso, à medida que olhava com volúpia para Juan
Ramires, este percebera que esta seria a hora de consumar o ato que não foi consumado
anteriormente, logo continuou, “Você sabe que nem amor ele faz mais comigo, apenas nos beijamos e
nos acariciamos e quando penso que ele vai iniciar o intercurso sexual, ele se retira, não entendo este
método tão paradoxal de se amar”.
“É um crápula minha amiga, não merece teu amor”, disse Juan Ramires com os olhos
brilhando de desejo.
Juan Ramires percebera que Heloísa tremia e sua respiração estava acelerada, então aquela
era a hora de atacar sua presa sexual e saciar seu instinto erótico. Ambos se olhavam em silencio
como dois tigres fixando a presa, com sofreguidão e volúpia animalesca Juan Ramires se lançou sobre
a fêmea ávida de sexo, esta sem mostrar a mínima resistência o abraçou com impaciência, ambos
permaneceram por algum tempo em beijos ardentes e ferozes. Ela respirava com dificuldade e dizia:
“Não posso, para... para... não... não... posso... ele... pode... aparecer...”, sussurrava, á
medida que abraçava o amante freneticamente.
Juan a despiu com uma certa impaciência, ao ver a fêmea nua se encantou com a beleza do
corpo magro, porém belo e erótico; seus mamilos enrijecidos e sua vulva molhada o deixaram louco de
luxuria, ela implorava que o queria dentro dela; Lilith dominou sua alma e seus sentidos. O ato
pecaminoso se consumava ali mesmo, no tapete da sala. O gato de Heloísa permanecia deitado no
sofá observando o ato involutivo do amor.
Miguel se aproximando da porta ouviu sussurros e gemidos lascivos vindo do interior da sala.
Olhou pela fresta da janela e viu sua amada, a mulher que escolheu como companheira possuída
sexualmente por aquele homem que a visitava como amigo, teve ânsia de vomito, tremia e sua
respiração ficou desequilibrada. Não acreditou na cena que via. Miguel ouviu, por fim o grito orgástico
de Heloísa. Depois de saciar o instinto sexual, Heloísa olhou com desdém para Juan Ramirez e disse
friamente:
“Vai embora e nunca mais volte aqui, esqueça o que ouve aqui”.
Miguel ocultou-se entre as árvores do quintal, sentou-se embaixo da macieira e chorou muito,
não compreendia o porquê da traição, agora seu sonho estava claro.
Heloísa tomou um banho demorado, mesmo assim se sentia imunda, sua consciência estava
atormentada, e um grande arrependimento se apoderou dela. Como encarar Miguel depois desta
traição? Não teve coragem de comparecer a reunião, e permaneceu deitada esperando Miguel, porém
adormeceu antes que ele aparecesse.
Depois de certas horas já sabendo que Heloísa estava dormindo e com as forças
recuperadas, penetrou no quarto e viu Heloísa no leito dormindo sob um pesado sono, pois o ato
sexual que havia realizado consumiu suas forças vitais, levando-a a um desgaste que proporcionou
um sono profundo. Heloísa dormiu segurando o diário sobre os seios, a caneta estava dentro do diário.
Miguel apanhou o diário para colocá-lo sobre o criado mudo, porém antes de colocá-lo sobre este, leu
as últimas palavras escritas nele:
„Hoje descobri que possuo duas naturezas dentro de mim: o anjo e o demônio. Infelizmente
hoje o demônio se tornou senhor de meu corpo e fez com que este realizasse suas concepções de
luxuria. Fez arder em minha alma um fogo que me proporcionou um delírio na alma e uma forte e
incontrolável sensação erótica em minha carne; senti algo que jamais senti em minha vida, perdi a
razão e o controle dos sentidos. Percebi que a traição ou o proibido intensifica em graus muito
elevados o instinto erótico, o prazer é enorme, porém uma vez saciado o gozo sexual, sobrevêm as
tristezas, a angustias e a dores na consciência que nos leva ao arrependimento. Sou Dalila, a
defraudadora do leito do amor. Acendi fogo ímpio no altar de meu amado, Eros fugiu de mim como
fugira de Psique ao descobrir seus segredos, agora compreendo pela minha própria experiência que o
segredo que Psique descobriu de Eros, era o lado sombrio deste fogo do fogo; fogo ímpio que furta
consciência, deixando em seu lugar a negra fumaça e a decadência moral‟.
Miguel percebera que Heloísa estava arrependida do que fizera, porém ele não confiava mais
nela. Perdoou sua amada, mas não poderia viver em paz com esta traição que presenciara com os
próprios olhos. Miguel não confiava mais nas mulheres, pois estas são sacerdotisas da Natureza e
estão a trabalhar pela procriação das espécies, agora compreendia a metafísica do amor exposta pelo
filosofo Schopenhauer e o desdém que Nietzsche tinha pelas mulheres. Agora entendia que o trabalho
de Eros é fazer com que o macho e fêmea se atraem para procriar a espécie não importando os meios
utilizados para isso. „Mulher virtuosa que o acharás!‟, pensou no versículo dos Provérbios do sábio
Salomão.
Logo pela manhã, antes que Heloísa acordasse, pegou suas coisas, que não eram muitas, e
partiu para sua peregrinação iniciática.
Ao acordar Heloísa lembrou que havia dormido com o diário entre os seios, porém percebeu
que este estava sobre o criado mudo. Procurou por Miguel, mas não o achou, então notou que suas
coisas não estavam mais ali, então percebeu que ele havia lido seu diário. Chorou por muitos dias e
noites em claras, porém seguiu sua vida com seu pesado fardo.
Ofélia queria dissolver a união de Miguel com Heloísa. Ela havia dito a Miguel que Heloísa era
astuta e dissimulada e que ela não era quem ele pensava ser, era uma víbora peçonhenta. Ofélia
conhecia a arte da magia negra e foi exatamente valendo desta arte macabra que esta mulher de
beleza fatal fez com que ela caísse nos braços de Juan Ramires, foi ela mesma que disse para Miguel
que os dois eram amantes e se ele fosse para sua casa ele encontraria os dois em pleno ato de
luxuria, pois Ofélia havia passado de carro em frente à casa de Heloísa e viu Juan Ramires entrar em
sua casa, deduziu o que ocorreria e usou isso a seu favor, pois ela estava indo ao encontro com
Miguel em um café no centro da cidade e de fato depois da visita que Miguel fez ao amigo padre, ele
se encontraria com Ofélia no tal café, pois haviam combinado anteriormente.
Depois destes eventos nem Ofélia e nem Heloísa tiveram notícias de Miguel. Porém, este
homem ilustre tinha uma missão a cumpri e forças ocultas estavam guiando-o para sua missão.

‫ש‬

Era dez horas do dia quando Miao Sham, conhecida como a Leoa de Jade, dirigia-se ao
consultório de medicina chinesa que ficava próximo a famosa biblioteca de Leon. Era muito
observadora, percebeu algo insólito, um mendigo sentado próximo às proximidades da famosa
biblioteca da cidade de Leon, de alguma forma aquela figura esfarrapada não era estranha, ela tinha
uma sensação de que conhecia aquele homem miserável de algum lugar. Próximo ao mendigo um
cachorro, seu semblante era melancólico e pessimista, sua situação era precária. Três coisas lhe
chamaram a atenção: o mendigo às vezes escrevia; alguns jovens que frequentavam a biblioteca, às
vezes faziam roda em volta dele e parecia que ele falava-lhes algo muito interessante; outras vezes o
mendigo ficava em profundo estado contemplativo como se estivesse meditando de olhos abertos.
Durante dois meses Miao Sham, dirigindo-se ao seu consultório, percebia a figura exótica e insólita
daquele mendigo misterioso. Miao Sham estava querendo investigá-lo, pois poderia ser que esse
fosse o mendigo que os Irmãos Maiores disseram a ela que iria educar a filha de Lung Nu.
Miao Sham no fim do dia se dirigiu à sua casa que ficava três quadras do consultório onde
medicava, ao passar pela frente da biblioteca percebeu que o mendigo não estava ali, isso ocorria
toda à tarde, “para onde aquela figura ia, um albergue assistencialista?”, pensou Miao Sham. A dama
chinesa depois do banho, foi jantar com sua convidada e discípula, Perséfone. Ouviu alguém batendo
palmas em frente ao portão de sua residência, e pediu que Mercedes fosse ver de quem se tratava;
ela observou que ele tinha uma tigela na mão. Informou a Miao Sham que se tratava de um mendigo
pedindo alimento, isso era normal naquela época de grandes crises econômicas pós-guerra.
“Pois não, em que eu posso ajudá-lo?”, disse a receosa Mercedes, a empregada de Miao
Shan ao mendigo.
“Perdoa-me distinta senhorita em perturbá-la, mas só peço uma pequena caridade, que me
forneça um pouco de alimento para saciar minha fome”, disse o mendigo apresentando a tigela.
Mercedes pegou a tigela meio receosa e tímida e retornou ao interior da residência, depois
voltou com ela cheia de comida, o mendigo agradeceu e em silêncio seguiu em direção ao norte, onde
havia um albergue mantido pela prefeitura de Leon. Mercedes informou que o tal mendigo portava
uma tigela e possuía um certo cavalheirismo não comum aos miseráreis mendicantes. Miao Sham
ficou surpresa, pois esta prática de mendigar comida era praticada no oriente pelos monges budistas,
e bem sabia ela que ali não havia monges budistas, este fato insólito lhe chamou a atenção. E pensou
consigo se tal mendigo não era de fato um monge budista com alguma missão especial. Miao Sham
sentou-se, pegou o livro TAO TE CHING de Lao-Tsé e leu um trecho:
Quem não tem a visão do TAO
Age por virtuosidade.
Quem não tem virtuosidade
Age pela caridade.
Quem nem disso é capaz
Obedece a ritos e tradições.
Miao Shan instruía Perséfone no TAO, fazendo um comentário sobre essa parte do livro TAO
TE CHING:
“Orquídea Negra, quem tem o TAO age pelo não-agir, realiza em si o TAI CHI5, ou seja, o
equilíbrio do Chi que é a força vital que produz a ação e a não-ação, desta forma se alcança o TAO.
Toda ação que se encontra acima do bem e do mal, é o agir pelo não-agir, esta é a prática libertadora
do TAO. Quem possui o TAO, não pode ter virtuosidade, porque esta tem sua própria negação que é o
vício, logo é dialética, assim, ilusório. No TAO a essência da virtude que é o princípio do bem e a
essência do vício que é o princípio do mal, se fundem. Quem possui a visão do TAO não age pela
caridade, porque esta nasce do bem e este possui sua negação, o mal. Pois, a caridade é uma ação
que nasce do bem, assim, produz méritos, e estes também prendem o homem na roda dos
nascimentos e mortes.
O TAO é o Religare, ou seja, o Logos que liga e conduz o homem ao seu Real Ser6. Então ele
é a Religião Sabedoria que liga o homem ao seu Real Ser. O Religare Dialético liga o homem às
forças da Natureza e o prende aos sistemas religiosos naturais através dos ritos e das tradições”.

No dia seguinte a médica chinesa via novamente o mendigo rodeado por cinco jovens de
aparências rebeldes, e tomou coragem e resolveu saber o que tal mendigo falava àqueles jovens. Ela
parou próximo ao mendigo e, fingindo que estava esperando alguém, permaneceu ali ouvindo o
discurso daquela figura maltrapilha. Miao Sham ficou assombrada com o discurso do mendigo, pois
estava comentando a filosofia de Schopenhauer:
“Pois, percebam que este mundo é pura ilusão, como já colocava o grande mestre
Schopenhauer: „viver é sofrer‟, o homem vive dentro de um vale profundo de angustia eterna dentro do
fenômeno; o Espírito exteriorizado no fenômeno vive em profunda angustia, porque vive uma realidade
que não lhe corresponde, seu infinito é obstruído pelo finito; sua transcendentalidade é limitada pela
fenomenalidade; é um pesadelo no qual ele conhece sua própria negação, sua contradição. À vontade
do homem é dirigida pelo instinto cego, é uma má vontade pela qual o mundo ilusório é objetivado,
este caos, ou seja, esta entropia evocada por esta má vontade, nivela todos por baixo. É pelo ímpeto
da má vontade que as idéias, no caso egoístas, são objetivadas, é através dessas idéias egoístas que
o ego é cristalizado na alma, corrompendo-a e desvirtuando-a. Assim, nasce o sofrimento, a dor e
amargura existencial. Não há paz e nem felicidade dentro do mundo do fenômeno. Enquanto à
vontade do homem for dirigida pelo instinto cego, ele sempre será escravo da dialética, isto é, do
mundo fenomenal que é totalmente ilusório, sem realidade eterna”, discursava o Mendigo.
“Professor, parece que o sistema filosófico exposto por Schopenhauer encontra sua base na
doutrina budista e cristã, estou errado?”, questionou um dos jovens de nome Pedro. Miao Sham ficou
atenta à resposta do Mendigo chamado de professor pelos jovens.
“Eu diria que Schapenhauer não plagiou os grandes mestres, mas bebeu da mesma fonte.
Percebeu e compreendeu através de suas reflexões e contemplações a senda da libertação”.
“Professor, percebo que o sistema capitalista que gera tanta miséria no mundo, e por
consequência sofrimento, aplica certos conhecimentos filosóficos em seu processo de dominação, por
exemplo, Schopenhauer afirma que a interrupção temporária do processo de infelicidade, que em
nossa limitada consciência é gerada pelo caos, é que vai criar a ilusão de um bem estar. Posso
5
O TAI CHI é simbolizado pelo círculo Yang e Yin, é o giro da luz OD que é centrifuga e da luz OB que
centrípeta, com o movimento do centro. Esta luz ultravioleta e infravermelha da Natureza ou da corrente vital.
6
“EU SOU O CAMINHO A VERDADE E A VIDA. NINGUÉM VEM AO PAI, SENÃO POR MIM”. João
14:6. Por este versículo fica claro que o Logos ou Cristo é o TAO que é o Caminho, a Verdade e Vida.
perceber claramente isso ser aplicado pela ideologia capitalista, pois eles realmente criam, através da
propaganda massificante, uma ilusão de um bem estar presente através do fetiche da mercadoria, pois
o sujeito encontra um momento de prazer fugaz ao consumir a mercadoria, sente uma satisfação no
eu ao consumir o objeto de sua adoração, a mercadoria, é massificado pela propagando e, assim, cria-
se no sujeito o desejo de Ter, tornando-se consumista de mercadorias supérfluas, sua vida fica
resumida no desejo do Ter e não do Ser, a satisfação deste desejo é como uma droga que adormece
sua consciência, ou seja, fica alienada ao desejo do Ter”, disse mais uma vez aquele jovem carregado
de inquietudes.
“Qual seu nome jovem?”, perguntou o Mendigo ao jovem intelectual que fez a colocação.
“Pedro”, responde o jovem de aspecto profundamente angustiado e que trazia no semblante
os traços do sofrimento.
“Vejo que andou lendo Marx. Ele expõe muito bem em sua obra: „O Capital‟ a questão do
fetiche da mercadoria. De fato, Pedro, a consciência do homem da sociedade capitalista, encontra-se
presa no universo das mercadorias; Marx colocou em sua filosofia política e econômica que são as
condições concretas de nossa existência que determinam a nossa consciência, ou seja, o modo de
como pensamos; ora se nossa consciência é determinada pelos fatores sociais e históricos, então por
que não nos subvertemos a dominação que nos mantém escravos da miséria material e da pobreza de
espírito? Porque nossa consciência é dialética, percebe as coisas e os fenômenos apenas como
aparências das coisas reais, fragmentadas, pois não há consciência do todo; vê os efeitos e não as
causas, desta forma se produzem imagens e idéias que vão representar a realidade, estas imagens
formam um imaginário invertido, ou seja, do efeito e não da causa, formando, assim, um conjunto de
representações sobre os seres humanos e suas relações, sobre o bem e o mal, o justo e o injusto, os
costumes, etc... Isto como idéia é a ideologia que domina às consciências, logo a consciência do
sujeito da sociedade capitalista reflete a ideologia deste sistema, ou seja, uma consciência modelada e
formada dentro dos parâmetros da ética burguesa, isto é, a ética de mercado, do consumo. A
consciência está profundamente adormecida no fenômeno. Não há felicidade real e liberdade na
esfera do fenômeno, este é o cárcere da consciência”, dissertou o Mendigo.
Miao Sham estava cada vez mais espantada e assombrada com o conhecimento que aquela
insignificante pessoa marginalizada possuía. De fato se tratava de um mestre caído. Ela estava se
segurando para não entrar no meio da conversa filosófica.
“Schopenhauer possuía uma proposta de libertação com base na contemplação artística, na
ética da piedade e na renuncia quietista ao mundo e todas suas solicitações, que incluía a mortificação
dos instintos, a auto-anulação da vontade e na fuga para o Nada. Dessa forma ele acreditava que o
homem poderia ser libertar, e de fato estava correto. Não era um pessimista como era visto por
muitos, mas uma alma que percebeu a contradição de si mesmo e do mundo no qual estava inserido.
Ele acreditava que através da atividade artística, poderíamos entrar em contato com os arquétipos, as
idéias eternas, onde reside a essência e a verdade. Para ele o amor ao próximo era a chave para
superar o egoísmo, a renuncia ao mundo ilusório era imprescindível à libertação da alma”, disse o
mendigo.
“Pelo que foi colocado, vejo que o filosofo Schopenhauer era um pregador das idéias de
Jesus, ele parece que compreendeu filosoficamente o sistema de Jesus de Nazaré e de Platão!”, disse
com um certo tom irônico um dos jovens.
“Parece que este filósofo rebelde foi compreendido apenas pelo seu discípulo Nietzsche, pois
na obra deste: „ASSIM FALOU ZARATUSTRA‟, o personagem Zaratustra é o arquétipo do Super-
Homem, pois Zaratustra contemplava a arte, tinha amor ao próximo e negou o mundo para viver como
ermitão na montanha, depois desceu a montanha para ensinar, porém não foi compreendido”, concluiu
o Mendigo.
“Mais de qualquer forma o budismo influenciou o pensamento de Shopenhauer”, disse o jovem
Pedro a seu amigo.
“Este anacoreta é um louco, completamente louco!”, exclamou um dos jovens que era cético, à
medida que virava às costas e se afastava junto com Pedro.

Miao Sham estava assombrada com este fato insólito, jamais poderia imaginar que aquele
Mendigo possuía tamanha cultura, agora ela queria saber o porquê daquele homem viver daquela
maneira, qual foram às causas que produziram tais efeitos em sua vida? Miao Sham, a Leoa de Jade,
pensava numa maneira de se aproximar do Mendigo. Ela percebeu que o Mendigo possuía um Tau
franciscano de madeira de oliveira preso a um cordão com três nós. Percebeu também que o Mendigo
culto usava uma sandália franciscana, isso lhe fez crê que se tratava de fato de um monge franciscano
que renegou tudo para viver como mendigo, era o voto da pobreza levado ao extremo, pois esta
conjectura era apoiada no fato do conhecimento que ele possuía, pois os franciscanos são voltados à
cultura e a erudição, então pensou:
“Será que este é o mendigo que procuro, pois tem as características de um educador?”.
Capitulo ‫א‬
Archetekton

O enigmático franco-maçom Antares, bisneto do conde de De Le Puy e herdeiro do mesmo,


era o Grão-Mestre da Franco-Maçonaria da Loja de Marselha, tinha relações estreitas com o pai de
Perséfone que também era franco-maçom. Os pais de Perséfone desejavam que a filha se unisse em
matrimônio com Antares De Le Puy, porém eles não se conheciam ainda, já que Perséfone passou
toda sua juventude sobre os cuidados de Miao Sham que era amiga de sua mãe e havia sido grande
amiga do avô de Perséfone, um judeu cabalista; o próprio avô pediu que Kassandra, sua filha,
enviasse a filha a Miao Sham para receber ensinamentos da medicina chinesa. Kassandra, a mãe de
Perséfone, enviou Antares à casa de Miao Sham para que esta intermediasse o encontro dos dois.
Miao Shan convidou Antares para tomar chá e filosofar sobre diversos temas do tipo esotérico, ambos
falavam intuitivamente. De Le Puy teve grande entusiasmo em dialogar com esta dama adepta dos
mistérios do Raio chinês. Por outro lado, Miao Sham sabia que este romance não se consolidaria por
motivos carmicos, mas ela manteve silêncio e deixou os eventos fluírem.
Miao Shan, então acompanhou o Grão-Mestre até o apartamento de Perséfone para
apresentá-lo, esta já sabia que ele estava em Leon para conhecê-la, pois sua mãe já havia notificado-
a por uma missiva.
“Entrem”, disse Perséfone à Mestra que estava acompanhada de um homem de aspecto misterioso.
No umbral da porta a imagem enigmática de Perséfone atraiu os olhos de águia do franco-
maçom, que fixados nela, irradiavam um brilho misterioso e penetrante. Perséfone diante daquele
olhar de mago, ficou um tanto desconcertada e introvertida, mostrando um certo desconforto perante a
presença elétrica-magnética de Antares.
Perséfone de fato era uma espanhola sefaradim muito bela. Poderíamos compará-la com uma
rosa rubra, mas Perséfone estava mais para uma orquídea negra cercada de mistérios do que para
uma rosa rubra. A presença enigmática desta misteriosa mulher enfeitiçava os homens, mesmo ainda
que seu gracioso corpo de tez morena, delicado como a porcelana chinesa, leve como uma seda
conduzida pelo vento, fosse destituído da beleza fatal de Nahemah. Os cabelos longos, cheios e
ondulados, delatavam uma leonina; os olhos felinos eram como duas esmeraldas refletindo a glória de
Apolo7. O sorriso discreto revelava os brancos dentes de marfim. O semblante trazia a expressão da
castidade e do pudor. Um delicado e simples vestido azul de algodão, com alguns símbolos bordados
com fios vermelhos, caia-lhe deliciosamente ao longo do corpo delgado, cobrindo-lhe os delicados
joelhos. Os seios eram harmoniosos com o corpo. Os graciosos pés eram calçados por sandálias
púrpuras. Uma fina cadeia de ouro trazendo um pequeno pentagrama, também de ouro, adornava-lhe
o erótico e delicado pescoço. No fino dedo de Apolo, da mão esquerda, trazia um anel de prata com
um azeviche engastada. A ausência de vaidade era evidente na musa de olhos esmeraldinos e de
rosto felino.
“Quem é este homem cavalheiro e de aparência carismática, onde o belo e feio se fundem,
porém de ar misterioso como o deus Plutão8 e com um certo poder na áurea?”, pensava Perséfone

8
O deus Plutão é o senhor dos mortos e o deus do inferno, como astro rege a constelação do Escorpião; é o
senhor da magia prática.
consigo mesma, à medida que contemplava aquela figura misteriosa que lhe olhava com pureza e
adoração, porém lhe causando um certo temor mágico na alma.
O olhar casto do franco-maçom causou uma impressão misteriosa na alma de Perséfone; era
a primeira vez que um homem a olhava sem desejo e sem profanação. Este gesto abalou seu espírito
e perturbou sua alma.
Perséfone teve uma forte impressão que o conhecia de algum lugar e que até mesmo era
parte dela. E a mesma impressão teve Antares.
O Mago e Mestre Antares era um homem de estatura mediana, corpo magro, porém forte, de
personalidade carismática, mente dinâmica; dotado de uma poderosa imaginação criadora e de uma
intuição penetrante; um certo poder místico o caracterizava. Seus cabelos eram curtos e grisalhos, o
rosto era liso de traços finos e nobres. As narinas delatadas mostravam uma poderosa força sexual.
Era elegante no vestir, e tinha um porte de nobre. Era viúvo há dez anos. De Le Puy era o tipo de
homem procurado pelas filhas de Pandora, comunidade de damas de seios fecundos e amantes das
vitrines, como já dizia Homero. O poder e a força de sua áurea o tornavam um homem atrativo para
certas mulheres. De Le Puy era como um Plutão, porém Perséfone era como uma Presorpina: bela,
misteriosa e mágica.
Miao Shan apresentou Perséfone ao amigo; este ao pegar na delicada e úmida mão da ninfa
de mistérios, sentiu uma familiaridade; a moça tocou-lhe à face com os doces lábios, era como uma
flor tocando-lhe o rosto e deixando impregnado na pele o odor de seu perfume amadeirado.
O franco-maçom corria os olhos de águia pelo primeiro recinto daquele exótico apartamento
da anfitriã. O odor amadeirado e suave do perfume de Perséfone caracterizava o cheio do ambiente
arejado.
O espelho refletia o retrato de Sofia, pintado por ela mesma. Na escrivaninha, o hermético
poema discorria sobre Eros:
„Impetuoso fogo,
Corrente fatal do ser e não ser.
Laço ígneo que nos ata à dialética esfera,
Sinuosa estrada do nebuloso deserto.
Faca duplo fio que penetra o peito e flameja
Na alma o vício ou a virtude.
Serpente rubra que fecunda
O negro oceano em vinho de luz extasiante.
Desiderato fogo
Que transmuta a rocha em pedra filosofal,
Elixir da imortalidade.‟

Adornando a parede leste da sala, havia um misterioso quadro que parecia familiar ao Grão-
Mestre. A imagem era composta de um dragão rubro que devorava a própria cauda, circundando,
assim, uma estrela de seis raios. Sobre a cabeça do dragão havia uma cruz de malta, cruz formada
por 4 triângulos isósceles. Inserido no triangulo da base que formava a cruz havia uma cruz cristã com
uma rosa rubra no centro e cujo ramo se elevava de um crânio humano na base da cruz. Nos dois
triângulos horizontais haviam duas esfinges aladas no estilo egípcio, a da direita era branca e da
esquerda negra ambas estavam unificadas pelas suas partes inferiores de forma que o ponto de união
das duas era exatamente no eixo da cruz. Exatamente no ponto da união havia uma esfera alaranjada
de quatro pétalas nas quais havia as quatro letras hebraicas do Tetragrammaton. 9 Inserido na esfera
havia um quadrado, dentro deste a suástica vermelha formada por quatro letras hebraicas Resh‟s10.
Ao centro da suástica havia o símbolo chinês do yang e yin nas mesmas cores das esfinges. No
triângulo superior, destacava-se um belo leão alado vermelho que se elevava das chamas de uma
pira, sobre sua cabeça havia uma bela coroa, trazia nas garras o caduceu do deus Mercúrio. O
triângulo positivo da estrela circundada pelo dragão era vermelho o negativo azul; ao centro da estrela
havia uma cruz cristã cujas extremidades terminavam em semicírculos, onde havia as doze letras
elementares da Cabala11. No eixo da cruz um círculo com sete raios em forma de pétalas nas quais
estavam inseridas as sete letras 12 duplas da Cabala hebraica; dentro do círculo havia uma estrela de
seis raios, na ponta superior havia a letra Schim13 que é a mãe do fogo, na inferior a letra Mem 14 que é
a mãe da água, no centro da estrela a letra Aleph15 que é a mãe do ar; nas quatro pontas laterais da
estrela havia as letras Iod16 à direita superior, He17 à esquerda superior, a Aleph à direita inferior e
outra He à esquerda inferior. Na estrela circundada pelo dragão, havia inserido na ponta superior um
Sol místico18, na inferior uma Lua mística; nas quatro pontas laterais havia as quatro letras do
Tetragrama19. No ângulo superior direito da estrela, observava-se uma cabeça de leão entre quatro
asas; na esquerda uma cabeça de homem entre quatro asas; no ângulo inferior direito uma cabeça de
águia entre quatro asas, no esquerdo uma cabeça de touro também entre quatro asas. No ângulo
lateral direito havia uma taça com uma serpente naja verde dentro, e no oposto o tirso 20 de Dioniso.
Uma fita de pergaminho cujas extremidades terminam em „V‟ adornava a base do círculo do dragão;
no pergaminho havia gravado em letras góticas: „Filosofia, Arte, Ciência e Religião.‟
O Grão-Mestre parado diante do quadro disse:
“Magnífico este símbolo cabalístico; onde adquiriu esta obra prima?”.
“Um monge franciscano desenhou para mim, achei o símbolo profundo, e pintei”, disse a
inefável Orquídea Negra ao Mago.

9
O sagrado nome de Deus que se traduz como JEOVA= IEVE (‫)יהוה‬, formado pela letra IOD que é o símbolo
do poder criador masculino, por HE que representa o Santo Graal e é o poder criador feminino, é o
recepitáculo da luz; a terceira letra do Tetragrammaton é a VÔ que é a representação do Andrógino criador ou
ELOHIM, ou seja, é o resultado da união entre IOD-HE; seu símbolo é o caduceu de Mercúrio, a cruz e a
estrela de seis raios; a terceira letra é outra HE, aqui ela representa o Pentagrammaton, a Estrela flamígera, o
Fogo Criador o INRI, o Ouro ou a Pedra Filosofal, é o Pentragrama, porque seu valor cabalístico é 5 que é o
número do Mestre dos Arcanos.
10
A vigésima letra do alfabeto hebraico (‫ )ר‬que simboliza a ressurreição, simboliza o sêmen e é regida pelo
planeta Mercúrio, segundo o livro Sepher Yetzirah, o livro cabalístico da Criação.
11
As doze letras hebraicas simples (‫ ;)הוזחטילנסעצק‬nos três semicirculos da ponta superior da haste vertical se
encontra a Hê, a Vô e a Zain que correspondem aos signos de Aries, Touro e Gêmeos; nos três semicirculos
da haste horizontal do sul, isto é, do lado direito, há as letras Heth, Teth e Iod, que representam os signos de
Câncer, Leão e Virgem; nos da base da haste vertical que correspondem ao ocidente estão as letras: Lamed,
Nun e Samech, que correspodem os signos de Libra, Escorpião e Sagitário; nos da esquerda da haste
horizontal que correspondem o norte, estão as letras Ayn, Tzade e Coph, que represetam os signos de
Capricórnio, Aquario e Peixes.
12
‫בגדכפרת‬
13
‫ש‬
14
‫מ‬
15
‫א‬
16
‫י‬
17
‫ה‬
18
Com rosto.
19
‫יהוה‬
20
Bastão enfeitado de hera e pâmpanos e terminado em forma de pinha, usado por Dioniso e pelas suas
sacerdotisas. Era um instrumento usado no fabrico de vinho.
“Magnífica obra, de fato ela é uma excelente artista, percebe-se pela leveza dos traços e pela
forte atração que as cores possuem; um estilo bem impressionável e original, uma síntese cabalística
pintada ao estilo surrealista; obviamente se trata de uma Mestra do Raio da Arte”, pensou o
enigmático Mago.
“Este símbolo possui alguns elementos da cabala alquímica, é um magnífico símbolo, o
Antimônio filosófico, dizem que tal símbolo se encontra em um determinado livro de alquimia escrito
por Apolo de Alexandria, um cabalista gnóstico que era discípulo da filosofa neoplatônica Hipatia,
dizem que o manuscrito foi confiscado pelo Santo Oficio durante o período da Inquisição na ocasião
em que o papa Inocêncio III enviou a histórica Cruzadas contra os Albigenses em 1209; o manuscrito
se encontrava no acervo de uma biblioteca de um dos castelos destruídos. Como conheceu tal
monge?”, perguntou Antares com o semblante sério, à medida que passava a mão direita sobre o
queixo.
“De fato tive alguns contatos com este subversivo frei franciscano comunista e que divulgava
certas idéias de cunho gnóstico. Este monge franciscano era o bibliotecário do mosteiro, eu o conheci
num curso de línguas grega e aramaica, pois ele era meu professor e foi indicado pelo meu próprio
avô, porém perdi o contato com ele, não o vi mais. Talvez tenha sido exterminado pelas forças
reacionárias do governo facista de Franco, pois parece que o frei além de estar com problemas com
Roma, também estava envolvido com a política revolucionária”, disse Perséfone.
“Que homem paradoxal, comunista e gnóstico! Espero que não tenha acontecido algo de
grave com este ilustre frei, desejo conhecê-lo, algo me diz que temos assuntos do tipo esotérico a
tratar, pode ser que este monge pelo fato de ser o bibliotecário tenha tido acesso ao manuscrito de
Apolo de Alexandria”, disse Antares.
“Só me disse que era um símbolo que expressava a união mística da alma masculina com a
feminina, e que era a chave que Freud não desvelou, mas que Jung compreendeu de uma certa
forma, nada mais; confesso que este símbolo mexeu com meu espírito, pois sabemos muito bem o
que ele expressa, segundo comentários o Dr. Jung estudou simbolismo e gnoses com ele”, disse
Perséfone.
“Esta conversa me fez lembrar um Mendigo que conheci na porta da biblioteca de Leon, pois
tal Mendigo trazia o Tau franciscano no peito, além de calçar uma sandália de couro tipicamente
usada pelos monges franciscanos, parecia um asceta que levou o voto de pobreza ao extremo, mas
confesso que aquele Mendigo tem um mistério na alma, de certo é um budhisattwa caído, este homem
é muito misterioso e possui uma erudição extraordinária, mas não dá nenhum valor a ela, parece se
tratar de um Mestre pagando um carma muito duro”, disse Miao Shan ao amigos.
“Mas, acho muito difícil que o frei franciscano que conheci levasse os votos de pobreza a sério
como este Mendigo, ele estava muito ligado a questões políticas e ao combate aos dogmas da igreja,
parece que seu interesse estava limitado ao campo político, apesar de conhecer bem os elementos da
Cabala, pois por diversas vezes passamos horas a fio conversando sobre Cabala, mas ele nunca foi
além da terceira fase que é a explicação do mito, nunca chegou no SOD, pelo menos não comigo”,
disse Perséfone.

Depois desse breve diálogo, Perséfone conduzia a dialética metafísica ao mito de Lilth, queria
saber a opinião do Mago sobre o assunto.
Perséfone apanhou o Fausto de Goethe, e abriu na página:
Fausto: “Quem é aquela?”. Mefistófeles: “Aquela, é Lilith!”.
Fausto: “Quem?”.
Menfistófeles: “A primeira mulher de Adão. Acautela-te contra seus belos
cabelos, aquele esplendor é único a vesti-la. Com eles aprisiona um jovem e não o deixa escapar
tão cedo”.
A cabalista Perséfone se interessava pelo mito de Lilith, devido o motivo de estar engajada
num trabalho social juntamente com algumas monjas franciscanas, inclusive foi por intermédio do frei
que ela se relacionou com as monjas franciscanas. O trabalho era realizado com as prostitutas da
cidade de Leon. Perséfone procurava compreender a psicologia da mulher prostituída, através do
arquétipo da anima negra, Lilith.
Além de artista plástica, Perséfone era psicóloga, o fato de ser artista plástica a favoreceu em
compreender a teoria do Dr. Jung, pois ela se baseava neste eminente psicanalista supostamente
gnóstico, pois trazia um anel gnóstico no dedo; esteve diversas vezes na suíça assistindo palestras
dele. Como psicóloga, preparava já há anos um estudo profundo sobre a psicologia feminina para
apresentar como tese de doutorado; seus dados eram objetivos, concretos e colhidos pela
comprovação direta dos fatos. O objetivo de Perséfone não era apenas defender uma tese, mas
chegar a uma síntese do problema e, assim, entregar à humanidade uma proposta revolucionária
capaz de emancipar a mulher de sua angustia causada pela opressão patriarcal.
Antares e Perséfone realizavam ali um caloroso debate metafísico, enquanto isso Miao Shan
permanecia como ouvinte.
“Vejo uma aparente contradição no mito de Lilith, Perséfone. Se Adão era andrógino como ele
pode ter uma primeira esposa? Se o macho e a fêmea eram um só corpo? Para mim Lilith é a mesma
Vênus Pandemos, a Eva depois da queda, portanto a segunda esposa e não a primeira, pois esta era
Eva imaculada. Obviamente não se pode falar em esposa antes da separação do princípio masculino
e do feminino em dois corpos antagônicos. Parece que Lilith, esposa de Samael-Bafometh, concebeu
deste um filho, Caim; e Heva concebeu de Adão: Abel e Seth”, questionou o franco-maçom.
“Mas, a vida não sai da morte como a luz das trevas? Pois sendo Lilith a morte; e Eva a vida,
pois seu próprio nome significa vida; tendo esse ponto de vista, não seria correto afirmar que a Lilith
como trevas e morte, portanto o caos, não antecede Eva que é a vida e luz, a harmonia, e assim seria
de fato a primeira esposa de Adão?”, indagou Perséfone.
“Seria correto essa posição, dentro da cosmogonia e da psicologia esotérica. Pois na
cosmogonia Lilith que é sempre o arquétipo feminino do caos, a morte, seria a Matéria ou a Terra sem
forma e vazia do princípio da criação; é chamada na religião bramânica de Kali, a Negra; esta
personifica a Substância Original, a Phisis dos pré-socráticos, em seu estado caótico; Kali é o primeiro
aspecto de Maravydia, a Grande Sabedoria, ou seja, a Substância Libidinosa ainda em seu estado
caótico, isto é, a Alma do Mundo em seu estado não criador; mas quando esta Matéria é fecundada
pelo Fogo Sagrado do Espirito Santo, ou seja, é revestida com a Luz do terceiro Logos, Shiva, torna-
se criadora, nasce o movimento; porém se ela é fecundada pelo Fogo fatal de Samael-Baphometh,
gera Caim e seu reino maldito; compreenda aqui que Samael-Baphometh fecundando Lilith, a Matéria
caótica, é o Fogo Natural utilizado por uma vontade perversa para realizar o mal, o reino do Anticristo,
o niilismo de onde deverá emergir o Homem-Cristo. Na psicologia Lilith é a libido feminina em seu
estado caótico, não criador, indiferenciada, não transmutada em luz; neste aspecto de fato Lilith é a
primeira esposa de Adão, pois seria seu princípio feminino ainda indiferenciado; é a alma emocional
dominada pelo mal desejo, que realiza as concepções malditas, os eões, da alma intelectual dominada
pela má mente e pela má vontade, estou falando aqui de psicologia esotérica. Mas, a parti do
momento que Adão é diferenciado, que Eva é tirada da sua costela, ou seja, que os sexos são
separados, então o caos ou a morte é desfeito, manifesta-se Eva como segunda esposa, ou seja, Lilith
é a Luz Astral caótica e Heva é a mesma organizada e harmoniosa. Mas, Eva cai e volta ao caos, ou
seja, torna-se Lilith, a Morte.
O princípio feminino, a anima como chama Jung, do homem caído é Lilith, a alma desejo ou
emocional passiva em seu estado caótico, ou seja, carregada de eões21; também é a corrente
instintiva passiva da Natureza, a esposa de Tifão, o Fogo ímpio da Natureza. É um absurdo acreditar
que Lilith era individual de Adão antes de Eva; é lógico vê Lilith como princípio feminino de Adão
indiferenciado, caótico, não criador, mas psicologicamente não fisicamente, porque fisicamente a Eva
caída é Lilith, a Vênus Pandemos. Para que Adão se tornasse força criadora, foi necessário à
diferenciação, pois como é em cima é em baixo; Adão desdobrou-se em macho e fêmea, retornando a
unidade criadora através do sexo; mas com o desequilíbrio sexual de ambos houve a queda, Adão
Belial e Lilith como forças diferenciadas, ou seja, todo homem caído é um Adão Belial, toda mulher
caída é uma Lilith”, discorreu o Grão-Mestre.
“Seu conceito metafísico é interessante, Mestre De Le Puy, porém a parte que me interessa é
a psicológica.
Com certeza os cabalistas viam Lilith como o princípio feminino indiferenciado, já que seria
ilógico vê-la já diferenciada se Adão ainda era andrógino. Mas, esta anima caótica do homem
andrógino ainda não era preenchida pelos arquétipos da corrente instintiva do mal, ou seja, das forças
titânicas ou eônicas da Natureza, pois Adão não havia caído, a queda só é possível com a
diferenciação de Adão em macho e fêmeo; o caos também seria a força sexual, a libido, preenchida de
pecado22; então há dois aspectos de Lilith: um caótico no sentido de não ser criador; e outro caótico no
sentido de forças corrompidas, contaminadas pelo pecado; dentro desse prisma, então o que seria o
pecado em sua opinião?” perguntou a cabalista de Leon.
“O produto do contramovimento, ou seja, do desequilíbrio sexual do macho e da fêmea;
obviamente o equilíbrio produz o movimento criador da suástica sexual que transmuta a matéria
caótica em luz geradora que cristifica ou imortaliza os corpos internos da alma, e que gera os corpos
de glória ou solares. Já o contramovimento que é produzido pelas forças sexuais em movimento
involutivo, a suástica movimentada no sentido anti-horário, forja o homem besta, o Satã, o Adão Belial;
porque com tal movimento involutivo produzido pelo desequilíbrio sexual, cristalizam-se os arquétipos
do mal na alma, ou seja, as forças eônicas ou ímpias da Natureza que são chamadas à existência pelo
desequilíbrio da paixão23 ou da libido; as forças ímpias da Natureza são os sete Eões que
representam as seta cabeças do dragão vermelho do Apocalipse. As sete cabeças são as sete causas
do pecado. Essas causas pela má mente modelam e dão forma, com a matéria psíquica, aos seus
arquétipos do mal relacionados com os sete pecados capitais ou causais; assim o mal se cristaliza no
corpo astral da alma, que por sua natureza receptiva é o receptáculo das formas evocadas, isto é, o
pensamento entra em fusão com um elemental semi-inteligente da corrente da força ímpia da
Natureza, dando nascimento a um eon, ou seja, um eu-diabo”, explicou o Grão Mestre.
“Então a anima como receptáculo das formas ímpias, seria Lilith, mas límpida seria Eva, a
prostituta regenerada? É a energia do desejo ou emocional, limpa através de um processo alquímico
denominado de Grande Arcano?”, questionou Perséfone.
“Este é o Grande Arcano da Magia que o quadro à parede representa, basta agora resolver o
enigma da Esfinge”, respondeu o Mago Antares.
“A anima como Lilth é o depósito de todos os afetos deturpados, de todas as emoções
conturbadas, sentimentos sórdidos e sádicos, nossas depravações sexuais, nossas neuroses, nossas

21
Formas monstruosas de forças naturais ímpias chamadas à existência pela vida contrária ao Real Ser; são os
arquétipos do mal e do bem evocados pela corrente da Paixão ou Instintiva desequilibrada.
22
O pecado é o produto do contramovimento das forças criadoras, o pecado então é a criação do movimento
involutivo. Pecado é o mesmo que carma, por exemplo, a cegueira é o pecado da crueldade.
23
O substantivo Paixão tem aqui um sentido filosófico, como colocava o filósofo Espinosa em sua teoria da
paixão ativa produtora das virtudes e da Paixão passiva produtora dos vícios.
esquizofrenias, nossas psicoses, nossos desejos inferiores. Toda essa Sombra obscurece a
consciência que reside na anima, assim, o consciente se torna inconsciente”, disse Perséfone.
“Por este motivo, Lilith na mitologia hebraica é a mãe dos Lillim, os demônios infra-atônicos
chamados à existência pela força do desejo, é a força que evoca e anima os eões. Lilith é a Alma-
Desejo fatal que reside no corpo de desejo ou emocional24. Diz à mitologia que ela reside no mar
vermelho, este é símbolo do fígado que é o centro das emoções e do desejo, é o órgão do corpo
astral. Também diz a mitologia hebraica que Adão, a alma intelectual, unindo-se com Lilith, o desejo
insaciável, juntamente com Nahemah, a Paixão, gera Asmodeus e toda uma legião de demônios, ou
seja, os eões. Em nosso sistema esotérico Lilith é a mesma Eva caída, ou seja, é a Alma-Desejo que
esta escrava do dragão escarlate de sete cabeças, este é o símbolo da Paixão que é a alma do corpo
físico. É o Instinto cego que encadeia Lilith ou Eva, Alma-Desejo, e Adão, Alma Pensante ou
Intelectual. É Tífon Bafometo, o Espírito da Natureza Dialética, escravizando as duas almas para que
estas realizem suas concepções malditas”, disse mais uma vez o enigmático Mago Antares.
“Se nós analisarmos a imagem cabalística do Arcano 15 do Tarô dos Boêmios, podemos
compreender tudo isso que acaba de expor, Mestre Antares. Pois vemos na imagem um casal
acorrentado por Bafometo, obviamente o casal é Adão e Eva caídos e subjugados pelo Espírito
maldito da terra. Para que o casal subjugue a Força que o escraviza, é necessário que decifrem o
enigma da esfinge que está condito no próprio simbolismo que compõe a imagem cabalística de Tífon
Bafometo, este é o Grande Arcano da Magia que tanto falou Elifas Lévi. É através do Grande Arcano
que o casal se torna em Andrógino IOD-CHAVAH nos três planos”, disse Perséfone.
“A Religião Sabedoria chinesa em sua metafísica revela que o corpo físico é animado por dois
princípios anímicos: Hun que é a alma Yang luminosa e Po que é a alma Yin obscura. Hun é o veículo
do Espírito Originário e reside nos olhos, porém durante o sono ele reside no fígado onde sonha. Po a
luz obscura é o veículo do Espírito Consciente que reside no coração. Po é a alma emocional que se
encontra agrilhoada à Paixão, a Serpente Píton de sete cabeças, dessa forma Po, o desejo insaciável,
obriga Hun, alma pensante ou Yang, a realizar as concepções malditas da Paixão. Infelizmente nossa
consciência, que reside em Po, está presa no Ego que é o conjunto das ilusões que residem na alma
Yin, estas ilusões são como nuvens negras que obstrui a luz do sol de chegar até nós, por isso quando
dormimos não saímos em corpo astral de forma consciente. O Ego, o conjunto de defeitos psicológicos
expostos por vocês, torna a alma Yin inconsciente, subconsciente e infra-consciente, isso quer dizer
que o Espírito Consciente que reside no coração e tem a alma Yin como veículo, está submerso no
grande oceano das ilusões, profundamente adormecido no Ego, a força magnética do Ego faz com
que o Espírito Consciente permaneça dormindo, ou seja, em estado inconsciente. Quando Hun a alma
Yang luminosa penetra o corpo astral, cujo órgão é o fígado, como já foi falado, ela é subjugada por
Po, então a alma intelectual, onde se encontra o Espírito Originário, se perde no grande mar das
ilusões de Po, dessa forma o Espírito Originário não pode penetrar no Espírito Consciente para
iluminá-lo. Enfim, a alma Yin esta subjugada pela força ímpia da Natureza que é representada pela
Serpente tentadora, assim, o Espírito Consciente ao invés de receber a Luz do Espírito Originário e se
iluminar com a Sabedoria superior e, com isso, construir a maestria no homem, ele esta recebendo,
através de sua alma Yin subjugada pelo mundo exterior, a sabedoria do bem e do mal, ou seja, do
saber dialético, é este saber que prende o homem à roda dos nascimentos e mortes. Existe um
segredo no taoísmo que denominamos de movimento circular da Luz com a preservação do centro,
este é o nosso Grande Arcano que liberta o homem e a mulher das ilusões quando estes realizam este
princípio no intercurso sexual e na meditação”, explicou Miao Shan.

24
Corpo Astral.
“Muito interessante tudo isso, a questão de nossa Consciência se alimentar do conhecimento
do bem e do mal. Na sagrada escritura, no mito de Adão e Eva, Jeová, que na Cabala é o Elohim que
governa a geração, disse ao casal que no dia que comecem do fruto da Árvore do Conhecimento do
bem e do mal, certamente morreriam, ou seja, cairiam na Roda da dialética, dos sucessivos
nascimentos e mortes, mas o mais interessante nisso tudo é que este tipo de conhecimento do bem e
do mal que adquirimos após a queda, é que edifica o Adão Belial, a Besta como é retratada no
Apocalipse. Obviamente o sexo descendente conduz ao conhecimento do bem e do mal, porque leva
o homem à esfera da dialética, já que o homem nesse processo sexual esvazia-se das forças vitais
que o mantém imortal no Éden que é o mundo etéreo, o paraíso terreno. A Anima, Eva, já subjugada
pela Serpente, o Eros, faz o Animus, Adão a alma intelectual, voltar-se para fora, para o exterior que é
o mundo fonemenal ou dialético, nesse processo as forças de Anima e Animus se esvaem e a vida
que se encontra na força vital se consome”, fez a colocação Perséfone com entusiasmo.
A dialética entre os três iniciados amigos era calorosa, e ali se falava dos mistérios da vida e
da morte.

‫ש‬
Era aproximadamente o horário de Peixes, cinco horas da tarde, na bela mansão de Lung Nu
um Mendigo bate à sua porta, ela mesma atende:
“Que deseja miserável homem, cujo semblante não me é estranho?”.
“Apenas um prato de comida distinta dama”.
Lung Nu pediu que o Mendigo entrasse e se sentasse à mesa com ela para saciar a fome. O
Mendigo ficou assombrado com a ação generosa daquela musa chinesa de boa situação financeira,
em toda Leon não viu gesto tão nobre como este. Lung Nu viu um místico ermitão e não o mendigo. O
Mendigo sentou-se à mesa com Lung Nu e sua filha Jade e juntos saciaram o instinto da fome. Depois
ela o convidou para um banho e mandou comprar roupas para ele. Logo após o banho ela o convidou
para um chá ao som de Vivaldi. Lung Nu ficou assobrada quando o Mendigo comentou com ela os
conceitos filosóficos de Schoppenhauer referente à música, informou-a que Schoppenhauer afirmava
que todos os fenômenos da Natureza era o mundo como representação da Vontade absoluta, menos
a música, pois esta era uma emanação direta desta Vontade absoluta. Lung Nu se agradou muito com
a companhia do Mendigo e o convidou a retornar no dia seguinte para dialogarem mais sobre arte e
música, pois Lung Nu via no Mendigo alguém a sua altura intelectual, pois ela era uma sábia e muito
inteligente e devido a isso era solitária, porque até então não havia encontrado ninguém para
compartilhar o bom dialogo filosófico. Devido a grande nobreza daquela distinta senhorita ele aceitou
retornar.
Este foi o primeiro ato de generosidade de Lung Nu para com o Mendigo.
Capítulo ‫ב‬
Maria Madalena

Perséfone depois do diálogo sobre Lilith conduziu o discurso para outro ponto polêmico, mas
que ainda estava sobre a esfera do discurso anterior.
“Miao Sham, disse-me sobre teu pensamento revolucionário, e até mesmo li um de teus livros
maçônicos; nele você afirma que Maria Madalena era esposa de Jesus, e que os antigos cristãos
primitivos que eram gnósticos, tinham na sexualidade o fundamente da Igreja, e que o próprio Pedro
simbolizava este fundamento, a Pedra Filosofal, e que nos mistérios da crucificação estava ocultado o
Grande Arcano. Teu livro é muito interessante e intrigante e, até mesmo, perigoso. De onde provém à
base filosófica e cientifica que afirma um casamento místico entre os antigos iniciados cristãos?”,
questionou a cabalista Perséfone.
“Há muitos documentos antigos que falam dos mistérios sexuais entre os Essênios e os
Nazarenos, estes eram uma derivação dos Essênios; ambas escolas gnósticas. O próprio Jesus, João
Batista e suas famílias eram membros da comunidade mística dos Essênios. Na época de Jesus os
Essênios eram os verdadeiros depositários da Religião Sabedoria da Persa, O Zoroastrismo legítimo;
o culto ao Fogo Divino era o Culto ao Cristo, o Fogo Sexual ou Criador Primordial. O Judaísmo da
época de Jesus era uma religião do sistema dialético, ou seja, já havia se degenerado, perdido sua
verdadeira essência cuja raiz se encontrava na Religião Sabedoria dos caldeus. A base do culto
zoroastríco era a poderosa Magia Sexual ou o culto tântrico dos persas; esse tântrismo era
simbolizado no altar de bronze do Tabernáculo do culto hebraico, onde eram oferecidos os
holocaustos e sacrifícios, onde se cultuava o Fogo Sagrado, o Cristo Universal, o INRI que é o
Regenerador Universal, o Tântra é a Arca do Concerto trazido da Atlântida”, o Grão-Mestre expunha
sua teoria metafísica para Miao Sham e Perséfone, logo após a pausa, ele continuou a discorrer o seu
esoterismo maçônico:
“A letra Thau dos gregos, latinos e hebreus, é o símbolo do Grande Arcano, sem o qual se
torna impossível gerar o Homem Novo ou semear os corpos espirituais ou de glória dos quais nos fala
Paulo; aliás, Paulo com sua dialética religiosa dogmática e com seu forte sentimentalismo farisaico,
próprio de seu eu fanático muito caracterizado em sua personalidade, e transparente em sua dialética
cristã, lançou as bases da teologia cristã do cristianismo reacionário e dialético que temos hoje no
mundo; pois achar que estamos redimidos pela morte do Cristo histórico é um absurdo; achar que
estamos salvo e que nossos pecados são purificados pelo Cristo histórico, apenas mantendo a fé
nesse sacrifício, é loucura e destituído de toda razão. Claro que o Cristo histórico como Salvador do
mundo teve e sempre terá sua missão de redimir o mundo pela sua Religião Sabedoria, a Gnoses, é
através desse Conhecimento Superior, tachado de heresia pela religião dialética, que a alma
arrependida pode através dos Mistérios da Geração, a Gnoses, ressuscitar da morte para a vida
eterna; é a através dos mistérios sexuais que o Novo Homem, o Homem Crístico, nasce; a Boa Nova é
a Ciência da Regeneração, da Libertação, é a Gnoses. O Cristo intimo deve nascer em nós para nos
libertar da escravidão. O Cristo histórico purificou as esferas mental, astral e física de nosso planeta,
pois a maldade era tanta que impedia que a luz descesse das esferas superiores e chegasse à
humanidade decaída; a missão do Cristo Jesus além de entregar a Gnoses ao mundo, foi também de
limpar a Luz Astral do planeta, encerrando os demônios que nela habitavam no abismo da Natureza,
como relata o evangelho gnóstico Pistis Shophia Esse processo é demonstrado pela luta de Miguel, o
Cristo Solar cuja Alma humana era Jesus, com o Dragão vermelho relatada no Apocalipse doze”,
definiu o Mestre.
Perséfone, a Orquídea Negra, estava admirada com as transcendentais definições esotéricas
discorridas pelo Mestre Antares cujo poder infundia em sua alma um temor voluptuoso, pois Perséfone
era judia e não conhecia o lado esotérico do cristianismo, para ela Jesus era apenas um grande
filosofo revolucionário que questionou a religião judaica.
“Você afirma em seu texto que Maria Madalena é prostituta sagrada que trabalha no ministério
do fogo sagrado; como posso compreender isso, já que nos evangelhos ela era uma prostituta
arrependida?”, questionou Perséfone no intuito de saber mais.
“Quando emprego o termo „prostituta sagrada‟ não estou tendo como base as antigas
prostitutas sagradas da antiga Babilônia que oficiavam nos templos. Este culto da deusa Sthar na
antiga Babilônia já estava totalmente degenerado, mas refiro-me ao arcaico culto da deusa Vesta ou
até mesmo da deusa Sthar ainda não degenerado. Refiro-me as vestais ou sacerdotisas que oficiavam
nos templos de mistérios. As vestais nos mistérios greco-romanos ainda não degenerados, velavam
pelo fogo sagrado, e a missão da vestal era cuidar para que o fogo sagrado não se apagasse nunca.
Isso tudo era simbólico; e se referia aos mistérios sexuais que eram praticados pelos sacerdotes
solteiros que ainda não havia se casado. As „prostitutas sagradas‟, as vestais, praticavam a magia
sexual com os sacerdotes solteiros; o fogo que velavam para que não se apagasse era o fogo sexual,
e não o fogo material orgânico. O ministério da „prostituta sagrada‟ ou da vestal, era totalmente
sagrado; não se pode de forma alguma compará-lo com o culto orgíaco de Baco cabeça de touro que
era uma degeneração dos mistérios de Dioniso; no culto degenerado as sacerdotisas vestais vendiam
o corpo no próprio templo para recadar dinheiro à casta sacerdotal degenerada e corrompida. No
cristianismo esotérico ou gnóstico, a vestal é simbolizada na figura de Maria Madalena, a Sacerdotisa
de Isis, a deusa dos mistérios da geração, a IO dos gregos. Obviamente que os iniciados gnósticos, os
monges e as monjas que viviam nos mosteiros gnósticos praticavam a magia sexual secretamente.
Carpócrates fundou vários conventos na Espanha onde estes mistérios eram praticados. Isso nunca
veio ao conhecimento do público, porque estes mistérios pertenciam a Igreja Gnóstica e não a Igreja
Romana que é a forma dialética do cristianismo. A Igreja Romana é infra-sexual, porque prega o
celibato que é uma anátema contra o culto sagrado do Espírito Santo, pois como o Cristo nascerá em
nós sem os mistérios sexuais? A Igreja dialética, a institucional e reacionária, está dentro da esfera de
Lilith; é por isso que podemos verificar o alto índice de homossexualismo pedofilia25 na casta

25
O homossexualismo, pedofilia, sadismos e todos os tipos de infra-sexualidade, estão sobre a regência
astrológica dos raios fatais da Lua Negra, Lilith, Maria Negra.
sacerdotal desta prostituta escarlate que está sentada sobre sete montes; antítese tenebrosa da Igreja
oculta do deserto, simbolizada na mulher vestida do Sol, coroada de doze estrelas e tendo a Lua sobre
os pés; e que é perseguida pelo dragão vermelho, o sistema, a alma do governo do Anticristo. A Igreja
Gnóstica tem se expressado no mundo por alguns movimentos já conhecidos, como os Cátaros, por
exemplo, ou os antigos Rosa-Cruzes. É uma Igreja revolucionária, e por isso não é dialética, não está
inserida no sistema, apesar de estar no mundo, não é do mundo; pois o mundo dialético jaz do dragão
escarlate.
Maria Madalena como prostituta arrependida, é o arquétipo de Lilith que renega o sistema que
a prostitui, pois a mulher é prostituída pelo demônio que é o sistema, e se torna uma sacerdotisa do
Fogo Sagrado, uma Vestal, isto é, do Cristo. Maria Madalena é toda mulher que trabalha no ministério
do Fogo. O Sacramento do Sacerdócio é justamente o trabalho sagrado do sacerdote e de sua
sacerdotisa, Maria Madalena, nos ministério do Fogo; é por isso que esse sacramento é regido por
Miguel que é o Espírito do planeta Sol”, respondeu o Grão-Mestre.
Perséfone percebera que o franco-maçom contemplava o quadro à parede com um certo
brilho no olhar, algo lhe intrigava naquele quadro, pois havia certos elementos ali que compunham a
insígnia da Ordem secreta da qual ele era adepto.
“Qual o simbolismo secreto da crucificação?”, perguntou Perséfone.
“A Cruz é o símbolo do Grande Arcano e representa a letra Tau grega e judaica, como você
sabe a letra Thau hebraica representa a vigésima segunda lâmina do Tarô e neste Arcano se encontra
os mistérios do Grande Arcano. No Tarô do Boêmios a imagem deste Arcano é composta por um
circulo serpentino no qual há uma mulher nua e segurando em equilíbrio duas varas, á medida que
pisa a cabeça da serpente Nahash,26 do lado de fora do circulo nos quatros ângulos há os quatro
seres viventes do Apocalipse que representam o Tetragrama da Natureza. No Tarô cabalístico e
misterioso a imagem da mulher nua que representa Isis desvelada, é substituída por um Mercavah 27 e
nele se encontra um casal entrelaçado, de forma que o homem se encontra inserido no triângulo
positivo e a mulher no negativo, no centro seus órgãos geradores estão acoplados e ocultados por um
Sol de quatro pétalas onde se encontram as quatro letras do Tetragrama. A Cruz em si é o Tetragrama
em movimento criador, é a suástica gnóstica. Jesus crucificado na Cruz é a personificação de Lúcifer
sofrendo morte de Cruz, ou seja, é Lúcifer caído sendo regenerado pelo sinal da Cruz, isto é, pelos
mistérios do Tetragrammaton. Quando Lúcifer que é representado pela sagrada letra ‫ ש‬que é a mãe
do Fogo, é crucificado na Cruz Tetragramática, este Fogo é bipolarizado e produz Luz, o Cristo, nasce
o Salvador no homem, por este motivo o nome salvador cabalisticamente é composto pelas quatro
letras ‫ יהוה‬do Tetragrama, a Cruz redentora, e pela letra ‫ ש‬colocada no centro do Tetragrama, este é o
Grande Arcano da Cabala gnóstica”, explicou Grão-Mestre da Franco-Maçonaria do Rito Egípcio de
Adoção.
Perséfone ficou assombrada com a revelação do Grão-Mestre e com seu profundo
conhecimento de Cabala cristã. Até mesmo Miao Sham ficou impressionada com o esoterismo do
Grão-Mestre.

“Terminei o quadro no qual estava empenhada há sete meses, gostaria que vocês fossem os
primeiros a contemplá-lo”, disse Perséfone.
A cabalista dirigiu-se em direção ao quadro que estava coberto por um pano de linho violeta.

26
A serpente tentadora que se enrosca na Árvore do Conhecimento do bem e do mal.
27
Estrela de seis raios representa o Veículo de Jeová, o regente dos mistérios da geração ou da Magia Sexual.
Entre os tântras representa a união de Shiva, o triângulo positivo, o Falo, e de Shakiti, o triângulo negativo, a
Yone.
“Este é o quadro!”, exclamou puxando o pano do quadro, “magnífico!”, exclamou Miao Shan
entusiasmada.
O franco-maçom ficou extasiado diante da obra, por alguns minutos, como se estivesse
entrado dentro do quadro, ficou em profundo estado de contemplação. Realmente a obra possuía um
profundo simbolismo misterioso.
“Ele é mágico”, disse Perséfone sorridente para os amigos, “percebi”, respondeu o franco-
maçom. “Como percebeu!”, exclamou a artista. “Pelo poder que dele é emanado”, respondeu, “Poder!”,
exclamou interessada em obter mais explicação do amigo. “Meu Espírito contemplou a essência desta
magnífica forma”, disse Antares.
“Qual o tipo da essência desta obra?”, perguntou curiosa Perséfone. “Da mesma qualidade do
Espírito que a exteriorizou”, respondeu o franco-maçom. “Por quê?”. “Porque o Espírito se exterioriza
na cultura para nesta se interiorizar”, respondeu Antares valendo da filosofia de Hegel.
O quadro era constituído da seguinte imagem:
O ambiente no qual o quadro se apresentava era noturno, sobre o céu anilado uma bela lua
cheia resplandecia magneticamente; a constelação de Escorpião era visível no céu. As cores índigo,
azul e púrpura estavam bem marcadas nas imagens que compunham o quadro. Era um deserto
perdido na noite misteriosa. Uma íngrime vereda perdia-se entre os rochedos, a vereda conduzia para
três montanhas que estavam um tanto obscurecidas no quadro, quase imperceptíveis aos olhos. No
princípio desta havia um eremita; sobre a cabeça um capuz que lhe cobria o rosto, um velho manto
amarelo lhe vestia o corpo. Trazia em uma de suas mãos um cajado, na outra segurava uma lâmpada
de três chamas à altura do rosto. Sobre o cajado, observava-se uma serpente naja hasteada.
No meio do deserto rochoso, destacava-se um velho templo piramidal, um pátio se estendia à
frente, cujo piso era axadrezado. No pórtico que dava acesso ao pátio, havia duas colunas, uma
branca à direita, e outra negra à esquerda, com capitéis de cabeças de leões. Entre as duas colunas,
havia um cubo negro com um pentagrama dourado gravado nele, o pentagrama possuia na cabeça a
letra Shim, no braço direito a Iod, no esquerdo a He; na perna direita a Vau, na esquerda outra He.
Sobre o cubo havia um ser alado, era o Bafometo dos Templários; sua cabeça unia os traços do bode,
touro e cão; chifres bem erguidos, orelhas horizontais e uma barba pontiaguda, formando, assim, a
figura de um pentagrama em sentido involutivo, no entanto, na sua testa havia um pentagrama em
posição reta, evolutivo. Entre os chifres achava-se um castiçal em formato de chifre com três chamas,
unindo-se, superiormente, numa única. Os olhos de Bafometo eram ternos, seu torso estava coberto
de escamas; possuia seios, revelando o aspecto andrógino. O braço direito, masculino, no qual se lia a
palavra “solve”, estava levantado, apontando para uma clara foice de lua crescente. O braço esquerdo,
feminino, com a palavra “coagula”, estava abaixado e apontando para uma foice escura de lua
minguante. Suas pernas eram caprinas, cruzavam-se à frente do cubo; um manto rubro velava a parte
inferior do corpo. Da virilha se elevava um caduceu com duas circunvoluções; nele, as serpentes eram
de prata e o resto, de ouro, a haste do caduceu era um falo ereto e rigido. A esfera, da parte superior
do caduceu, acha-se na altura do plexo solar de Bafometo. Uma serpente azul, formava uma
circunferência em torno do caduceu, mas somente a metade da circunferência estava visível, a outra
com a cabeça da serpente estava velada por um manto rubro. Ao centro do pátio, observava-se duas
tábuas de pedra, nas quais estavam gravadas as dez primeiras letras do alfabeto hebraico28, de modo
que as quatro primeiras letras na tábua da direita e as seis últimas na da esquerda. Uma esfinge alada
de cor índigo apoiava as patas dianteiras sobre a tábua esquerda; uma esfinge alada de cor vermelha
apoiava as patas dianteiras sobre a tábua direita. Entre as duas tábuas havia uma figura feminina nua.
Seus longos cabelos cobriam-lhe os seios e os contornos do corpo, que apesar de estar nu, transmitia

28
‫אבגדהוזחטי‬
pureza e pudor; pendurado ao pescoço uma corrente prateada que trazia um pentagrama de ouro;
segurava na mão direito uma vara florida, na esquerda uma taça de prata de onde emergia uma
serpente naja na cor verde. Uma cruz de ouro resplandece na região sexual da musa, no centro da
cruz uma rosa rubra. A musa mantinha o pé direito sobre a cabeça de uma serpente escarlate.
Em frente do pórtico havia um andarilho esfarrapado, trazendo pendurado na ponta de uma
vara que trazia apoiada ao ombro, um fardo; com a mão direita segurava um pequeno bastão de
madeira no qual se observava quatro nós, ele apontava com o bastão para a parte inferior do
Bafometo, como se estivesse respondendo um enigma. Um cachorro lhe acompanha. Nove degraus
davam acesso ao pórtico.
Do lado esquerdo da pirâmide, havia um cemitério, de onde saia um cavalo amarelo, cujo
cavaleiro era uma caveira segurando uma foice, um capuz e um manto negro, cobriam-lhe o
esqueleto espectral.

“Onde adquiriu o modelo?”, interrogou o franco-maçom com os olhos contemplativos e


demonstrando admiração pela arte cabalística que se encontrava diante de si.
“Tirei esta obra do meu inconsciente através da imaginação criadora”, disse Perséfone.
“Parece que seu inconsciente é um receptáculo de muitos mistérios cabalísticos, que bela
linguagem tem sua alma, de fato a arte é a obra do gênio como já disse um grande filosofo”, disse
admirado o Grão-Mestre Antares De Le Puy.
“Recebi a iniciação hebraica em uma de minhas vidas passadas quando fui esposa de um
renomado cabalista na idade média”, disse Perséfone.

Miao Shan ficou contemplando o quadro, tal contemplação lhe trouxe profundas reflexões. Por
alguma razão ela comparou o mendigo que conhecera com aquele mendigo do quadro que era uma
representação esotérica do Louco do Taro decifrando o enigma da Esfinge bafomética, o Guardião da
chaves do Templo da Alma.

“Gostaria de realizar alguns comentários sobre o simbolismo deste magnífico quadro que
acaba de pintar, de fato há uma rica Cabala nele”, disse o franco-maçom com o intuito de retornar à
casa da distinta musa de mistérios.
“Podemos marcar um outro dia, pois adoraria ouvir seus comentários e também expor os
meus”, disse Perséfone.

Miao Sham percebeu que Perséfone havia se interessado pelo Mago, e o amor brilhava em
seus olhos esmeradinos.
Miao Sham e De Le Puy despediram-se da bela e exótica cabalista, e partiram.

‫ש‬
Lung Nu era uma mulher muito caridosa e sentiu no coração que deveria ajudar aquele pobre
homem culto e erudito a sair daquela miserável situação, tivera um sonho na noite em que o Mendigo
estivera em sua casa. Sonhara que visitava um templo tibetano, onde encontrou um sábio lama que
lhe disse que devido a grande generosidade dela para com o bodhisattva, recebera muitos dharmas
que lhe anularia a grande divida cármica adquirida pelo seu passado negro, pois a deusa Kuan Yin
cheia de misericórdia e compaixão a perdoou e lhe mostraria o caminho do TAO. Lung Nu não
compreendia estas palavras místicas e cheias de mistérios, mas compreendia que tudo isso estava
relacionado com o Mendigo, cujo nome ela ainda não sabia, mas sua fisionomia não lhe era estranha.
Lung Nu se encontrava acomodada no ditoso sofá de sua exótica sala decorada com obras de
artes antingas, pois era uma chinesa ocidentalizada. Estava lendo um romance chinês. Seu novo
amigo, o Mendigo bateu na porta da exótica mansão, ela o recebeu com satisfação. Depois de um
jantar especial que ela havia preparado especialmente para ele, ambos tomavam chá e dialogavam
sobre a bela história que ela estava lendo no romance chinês, isso levou o diálogo para o polêmico
tema do amor.
“O amor é cruel meu amigo, é um fogo devorador, queima a alma e entorpece o espírito”,
disse Lung Nu.
“Parece que temos algo em comum generosa senhorita, pois o amor é trágico e isso é
mostrado por William Shakespeare em sua tragédia „Romeu e Julieta‟; em „Medéia‟ de Eurípedes; este
Eros impetuoso é sempre trágico em suas manifestações. Parece que o filosofo Schoppenhauer
estava certo em suas reflexões sobre o amor em sua „Metafísica do amor‟, onde ele conceitua que é à
vontade de vida que determina a atração entre dois seres opostos, ou seja, segundo ele o instinto
sexual é uma ilusão que se manifesta como amor com a finalidade única de realizar a vondade de vida
no mundo fenomenal, isto é, a procriação da espécie”, disse o filosofo Mendigo.
“Então a atração erótica é a força motriz pela qual à vontade de vida se realiza no mundo
sensível, ou seja, é a idéia platônica do novo ser provindo do mundo inteligível que utiliza o instinto
erótico para se manifestar no mundo fenomenal ou sensível?”.
“Certamente, Schoppenhauer afirma que os olhares inflamados de desejo dos amantes já é á
vontade de vida, o novo ser, querendo nascer”.
“Então, partindo de Platão que afirma que o sensível é ilusório, como ele expõe no „Mito da
Carvena‟, então a existência humana no mundo fenomenal é ilusória!”, disse Lung Nu espantada.
“Pura ilusão, e isso já era afirmado pela mitologia hindu com seu conceito de Maia e pelo
próprio Buda Galtama”.
“Que sentido tem então a vida fenomenal se é ilusão?”.
“O homem é um fenômeno da Natureza, a grande Maia, uma ilusão”.
“Sou uma mulher angustiada, talvez a causa desta angustia esteja no fato de que eu
intuitivamente já percebia esta ilusão”.
“A angustia da alma, pois a alma pertence ao mundo inteligível e não ao sensível, provém
exatamente desta existência ilusória, pois o sofrimento e a dor são naturais deste mundo, não há
como escapar deles, é um fato”.
“Que ironia do destino, o amor é uma força que une os opostos para procriar a espécie, para
realizar a ilusão!”, exclamou Lung Nu ansiosa.
“A existência é uma fatalidade. O instinto sexual possui uma força elétrica e magnética que
atrai e repudia, porém seu magnetismo além de agir como força atrativa para unir os opostos para a
procriação, também hipnotiza a consciência levando-a a um profundo adormecimento, pois faz parte
do plano da Natureza que o homem não perceba sua cruel realidade”.
“Então a satisfação dos sentidos e dos desejos realizados é proporcionada por esta força que
os gregos chamam de Eros é um brinquedo que mantém a alma presa à ilusão?”, perguntou Lung Nu.
“Exatamente, esta é a forma pela qual ela ilude a consciência e mantém as almas presas aos
sentidos, ao fenômeno. Na verdade o mal não é a satisfação do Instinto de vida, mas sua
degeneração, seu desequilíbrio”, respondeu o Mendigo filosofo.
Lung Nu e o Mendigo permaneceram por longas horas dialogando sobre este assunto. Lung
Nu estava muito feliz por ter encontrado alguém com quem pudesse filosofar sobre assuntos tão
insólitos e paradoxais. Pensava consigo mesmo o por quê daquele sábio homem que demonstrava
pureza de alma e espírito culto, viver numa situação tão lamentável e lastimável.
Lung Nu de alma tão generosa e conhecedora do bem e do mal, não podia deixar aquele
homem voltar para o albergue e resolveu por pura generosidade hospedá-lo em sua casa, este foi o
segundo gesto generoso da ex-maga negra de Hong Kong. O Mendigo mais uma vez se espantou em
ver a nobreza de espírito daquela misteriosa mulher. Lung Nu hospedou-o no melhor quarto de sua
mansão, e este foi o terceiro gesto de generosidade.

Capítulo ‫ג‬
O Poder do Verbo

Havia já sete anos que Perséfone recebera o TAO de sua Mestra Miao Sham. E, em uma de
suas aulas recebera uma palavra mágica, um mantra, para recitá-la quando fosse dormir. Ela estava
recitando-a todas às noites, até que em uma das noites obteve resultado na prática. A palavra mágica
na realidade era uma letra que ela deveria recitar no mínimo meia hora por noite ou dia, era a sagrada
letra M que deveria ser recitada com a boca fechada, como um mungido de um boi. Esta letra que é
conhecida em nossos dias como consoante, na verdade é uma vogal, que provém de épocas e povos
muito remotos, ela simboliza a Mãe cósmica e sua pronuncia produz satisfação para a alma.
Perséfone estava mais ou menos a vinte minutos na prática do mantra, de repente sentiu o
corpo paralisar, ouviu um barulho agudo como estes que os grilos fazem em noites quentes; no
princípio ficou com um certo medo, mas logo já não havia mais medo. De repente, observou que havia
saído do corpo, para seu espanto, viu a si mesma dormindo na cama, observou que um pequeno fio
de cor de prata estava conectado em seu umbigo e que ligava o corpo astral e o físico, o fio ligava
ambos os corpos pelo umbigo.
A Orquídea Negra percebeu a diferença do mundo tridimensional, para o mundo da quinta
dimensão da natureza, pois ela percebia tudo com mais nitidez, ou seja, tudo em quinta dimensão.
Dirigiu-se para fora de seu quarto, observou as redondezas, e saiu; olhando para o lado, percebeu
algumas fadinhas no jardim. Contemplou estas pequenas e inofensivas criaturas elementais da
Natureza por alguns instantes. Depois, lembrou-se de como se deve se proceder para fazer uma
viagem astral, deu um salto para cima e flutuou deliciosamente, pensou no tribunal da Justiça Divina,
que fica na constelação de Libra, e quase instantaneamente apareceu diante do sagrado Templo da
Justiça Divina. Alguém, que estava acompanhando-a, ensinou-lhe os procedimentos para se entrar em
um Templo de Sabedoria nos mundos internos. Perséfone se pôs diante dos dois guardiões armados
com suas espadas de fogo, fez o sinal de passe e penetrou no recinto sagrado. Ali, orientada por um
Mestre do Templo, foi consultar o seu livro da vida para ver como andava seus negócios com a Lei.
Depois de um longo período analisando seu livro da vida, retirou-se do santo recinto. Já sabendo de
algo sobre si.
Ainda nos domínios do templo de Libra, ela viu algo de muito estranho, pois havia um homem
de aparência chinesa muito parecido com alguém com quem conhecera na antiga China, mas o mais
interessante é que o homem a seguia, ela curiosa ficou sem ação, parou e fixou olhar no homem que
se encontrava já bem próximo. Parecia um Mestre.
“Perséfone não tenha medo de mim. Você será a Sheknah29 do Cavaleiro de Taurus, vocês
dois forjarão a Pedra Filosofal, eu estarei espiritualmente junto com vocês nesse trabalho, porém este
trabalho só terá inicio após os treze dias de angustia do Cavaleiro de Leão no reino do Escorpião,
onde Apolo desce com seu arco e flechas para combater Píton, depois será necessário que Apolo
entre na casa do Centauro para receber a sabedoria de Quirom, logo em seguida Apolo renovado e
sábio, se encontrará com a irmã Diana no reino de Pã para ouvirem a melodia de sua flauta de sete
canos de bambu, então embriagados pela melodia voluptuosa de Pã, penetrarão no reino paradisíaco
de Dioniso para produzirem o vinho sagrado, só assim se elevarão gloriosos do grande mar de
Netuno, mas tudo isso são conseqüências da conjunção da Morte e da Fecundidade na casa do
matrimônio; Apolo, o Cavaleiro do Leão, quando entrar na casa do Centauro te levará ao Cavaleiro
que ainda dorme”, o Mestre enigmático disse isso e sumiu.
Logo despertou em seu corpo físico maravilhada com a experiência, relatou à sua Mestra a
experiência transcendental ocorrida na quinta dimensão da Natureza. Nas noites seguintes, Perséfone
obteve novos êxitos, pois sua Mestra Miao Sham a ajudava secretamente; às vezes somos ajudados
quando estamos iniciando, para que não desanimamos da prática, mas temos que ser tenazes em
nossas práticas religiosas, para obtermos nossa própria luz, que é o desenvolvimento dos centros
magnéticos ligados com as faculdades da alma, era o que sempre enfatizava sua Mestra Miao Shan.
“O Mestre me disse que eu seria a Sheknah do Cavaleiro de Taurus, pois segundo ele nós
realizaremos a elaboração da Pedra Filosofal, porém isso só se daria após a conjunção da Morte e da
Fecundação, que significa isso Mestra? Cavaleiro que ainda dorme quem é este? E que treze dias são
estes?”, perguntava eufórica.
“Tudo ocorrerá depois que Saturno entrar em Libra e formar uma conjunção com a Lua cheia,
então a Vida e a Morte se encontrarão na casa do matrimônio perfeito, somente com a conjunção
perfeita entre Apolo e Diana, o Sol e a Lua crescente é que Lúcifer nascerá glorioso em Peixes onde é
exaltado”, disse enigmaticamente a Mestra do TAO.
Perséfone estava amando o Grão-Mestre Antares De Le Puy, devido a este amor achou que
tal enigma tivesse relação com este amor.
“O candidato à iniciação, deve trabalhar tenazmente e calado como o touro; deve obter a força
e poder do leão para querer realizar a Grande Obra; deve por intermédio da inteligência, do anjo,
buscar o saber que lhe serve como lâmpada aos seus pés e luz para seu caminho; deve ser ousado
como águia, para tomar o céu de assalto”, lembrava Perséfone as palavras de seu avô por alguma
razão desconhecida. Será que era o Espírito do avô falando com ela pela intuição?

‫ש‬
Perséfone se encontrava na varanda de seu apartamento, cuja vista se dava para um parque
ecológico. Seu olhar fixado no anilado céu da negra noite contemplava a bela Selene que peregrinava
no reino de Aquário. A cabeleira solta e esvoaçante, dava-lhe a aparência de uma deusa conduzida
por Zéfiro. Um fino e leve vestido branco de linho cobria-lhe o corpo dando um certo toque de
erotismo casto naquela estrela que brilhava na varanda do sexto andar daquele velho prédio, cuja
29
A sacerdotisa esposa, o altar vivo do sacerdote.
arquitetura delatava o século dezenove. O barulho da batida na porta despertou Perséfone da
contemplação. Ao abrir a porta se surpreendeu com a presença do Mestre franco-maçom, cujo fogo já
lhe ardia à alma.
“Oi, que surpresa vê-lo por aqui! Por que Miao Shan não veio?”.
“Foi medicar uma senhora, pede-lhe desculpa por não ter vindo, devido seu compromisso”.
“Vim lhe pedir um favor”.
“Qual”?
“Que me empreste o livro: Os Mistérios de Daath”.
“Como sabe que possuo tal obra, nunca disse isso a ninguém?”,
perguntou Perséfone assombrada com tal pedido.
“Quando estive aqui pela última vez, pude observá-lo sobre tua escrivaninha”.
“Impossível, nunca o deixei à vista de estranhos ou mesmo de amigos; agora você me diz que
o viu sobre a escrivaninha, isso é loucura caro amigo. Sou uma mulher séria e não sou voltada para
brincadeiras com pessoas que mal conheço!”, exclamou Perséfone com severidade leonina.
“Afirmo com sinceridade, senhorita que o vi sobre sua escrivaninha, também sou uma pessoa
séria, e jamais a ofenderia com tais brincadeiras, se falo que vi, é porque vi, e isso é tudo senhorita”.
“Como o viu, homem?”.
Perséfone já estava perturbada e confusa com tal conversa. Antares então resolveu, dá-lhe
uma explicação para acalmar o entusiasmo da moça, que se sentia espionada por alguém que mal
conhecia, porém que já lhe atormentava a alma.
“Tenho a faculdade do desdobramento astral desenvolvida; e posso sair de meu corpo físico
conscientemente, e dessa forma pude visitá-la na noite anterior, e foi nessa visita que vi o livro”.
“Você está me espionando em corpo astral!”.
“Claro que não! Foi à própria senhorita que me convidou quando em corpo astral”.
“Isso explica de fato seu conhecimento sobre o livro, pois sinto intuitivamente que está dizendo
a verdade”, disse aliviada Perséfone.
“Tudo bem, posso lhe emprestar o livro, mas com uma condição, que me empreste seu livro
secreto „Os Filhos de Lúcifer‟, tudo bem?”.
A astuta e prudente Perséfone fez essa proposta, porque sabia que o Grão-Mestre franco-
maçom não lhe emprestaria de forma alguma seu livro secreto a uma pessoa que mal conhecia, e ela
também não estava disposta a emprestar seu livro, pois era um livro cabalístico escrito por seu avô
cabalista, nele havia o SOD da Cabala do Quarto Caminho desenvolvido pelo avô, que era uma
síntese do sistema psicológico dos ensinamentos de Gurdjieff com o esoterismo cabalístico e a gnoses
cristã.
“O que me pede é duro senhorita, muito duro, pois os conhecimentos contidos neste escrito
são a síntese de todo meu esoterismo que me outorgou não só minha maestria como também todo o
fundamento filosófico da alta maçonaria”.
“Tudo tem um preço, este livro me custou muito, não valores materiais, mas valores
espirituais; para adquiri-lo passei por terríveis provas em minha vida; se quiser levá-lo tem que
sacrificar uma de suas paixões, ou seja, teu próprio saber; este livro é mágico, e a troca é justa”.
O Grão-Mestre franco-maçom pensou durante algum tempo, e depois exclamou com ênfase:
“Aceito o sacrifício!”.
Perséfone ficou assombrada com a decisão do Mestre, jamais esperava tal resposta.
“Como! Vai entregar seus mais íntimos segredos para uma pessoa que você mal conhece?
Porventura está louco?”.
“Vejo sua essência senhorita, por isso confio em você. Você correrá riscos, porque entregará
nas mãos de um estranho os ensinamentos herméticos que teu avô te outorgou, pois sei que era um
renomado cabalista hassídico, pois ninguém teria tal livro em mãos, se não fosse puro de coração,
conheço este livro, e sei que só o Baal Shem Tov30 possuía-o, pois se trata de uma obra de Cabala
alquímica, de difícil compreensão, pois seu avô escreveu dois livros este que te pertence é o Urim,
mas outro é o Tumim, somente pelo Urim se compreende os mistérios de Tumim, dizem os cabalistas
que foram discípulos de teu avô que quem possuir os dois pode produzir ouro, dizem que o Tumim foi
entregue nas mãos de um discípulo secreto de teu avô, o mais puro de todos, porém ninguém sabe
quem é. Garanto a você que não estará violando seu hermetismo para com a Ordem, devido o motivo
de está me emprestando o livro; também estarei em suas mãos. Estaremos ligados um ao outro pelos
segredos contidos nos livros. Eu também correrei riscos. Será justa esta troca, pois há anos tento
compreender certos pontos dos Mistérios de Daath, mas não tenho obtido êxito, dessa forma você
poderá me ajudar com comentários”, disse De Le Puy.
“Então está feito o acordo, vou lê-lo e comentá-lo contigo, à medida que você também for
lendo o meu, vou esclarecendo os pontos que ficarem obscuros para você, faremos os comentários
por correspondência, pois moramos em paises diferentes, desta forma não será possível nos
encontrar periodicamente para os comentários. Vou tomar um banho para refrescar, enquanto isso
você pode ir contemplando o quadro que iremos comentá-lo, já volto fique a vontade”.
Antares possuía um instinto de investigador, e enquanto Perséfone se encontrava no banho
inspirador; ele corria os olhos de águia em todo o ressinto, em busca de algo. Caminhou até a porta do
quarto de Perséfone, entrou na câmara secreta daquela sacerdotisa misteriosa em busca de algo que
ele mesmo nem sabia o que era. Parecia um inquisidor em busca de provas para incriminar a herege.
Observou no quarto o último quadro que ela pintou. Havia também um pequeno altar cúbico onde se
observava uma lamparina de azeite ardendo, sobre o mesmo altar uma cruz cabalística de bronze
sobre uma pequena base em forma cúbica; um pequeno vaso de porcelana contendo algumas flores
de Alfazema, cujo aroma impregnava o local; uma taça de prata contendo água; e um pequeno
pentagrama esotérico de ouro, cujas pontas traziam as cinco letras hebraicas sagradas do nome:
IESHUA31, Jesus em hebraico. Havia também uma pequena estante, onde se observava um pequeno
acervo com títulos variados. O franco-maçom temendo o advento de Perséfone, abandonou a câmara,
voltando à sala. Pensou consigo mesmo o porquê daquela atitude. Descobriu um eu-diabo atuando
inconscientemente em sua psique, um eu espião! A reflexão do franco-maçom foi interrompida pelo
sentido da visão, que lhe trazia ao seu cérebro a percepção da imagem da amiga saindo do banheiro.
O delicioso e sacro corpo de Perséfone trazia apenas a toalha branca, onde se observava bordado
com fios rosas as iniciais de seu nome. O Mestre olhava à tentação, uma chama impetuosa invadiu
seu sangue, despertando o Eros adormecido, mas competia a ele resisti à tentação pelo fruto proibido.
Perséfone, que olhava o Mestre discretamente, percebeu que se tratava de um homem casto, pois não
havia expressão de luxuria em seu semblante, mas percebia que em seu interior havia uma luta
tremenda; ela precisava prová-lo com o mais ardente dos fogos, o fogo erótico, somente assim poderia
comprovar que de fato aquele era o homem que seria seu sacerdote, pois Perséfone estava em busca
de um homem capaz de adorá-la sem profanação e de amá-la sem paixão. E ao transpassar o umbral
da porta de seu quarto, deixou propositadamente a toalha abaixar um pouco, para prová-lo com sua
sedução ou tentá-lo eroticamente; a ela cumpria o papel de sedução, mas a ele cumpria o papel de
resistir os encantos da serpente que agia por intermédio dela. A musa penetrou na câmara deixando a
porta propositadamente semi aberta, de maneira que dava para ver o espelho dentro da câmara, mas
isso só era possível olhando do lado leste da sala, este era o lado que se encontrava De Le Puy.
Perséfone deixou escorrer a toalha pelo corpo desiderato, seu corpo nu refletia no espelho, mas o

30
Mestre do bom nome, titulo que só os grandes cabalistas tinham.
31
‫יהשוה‬
Grão-Mestre fugira para o ocidente, fora de toda tentação e perigo. Perséfone percebera a prudência
do Mestre. Antares percebera que a cabalista estava lhe pondo a prova de Irene para testar sua
castidade, porém a própria Perséfone lutava terrivelmente com seu instinto erótico.
Depois de um certo tempo, Perséfone saiu do quarto, sobre o corpo, um longo vestido de linho
de cor azul turquesa; a cabeleira presa em forma de coque, dava uma expressão séria ao semblante;
um pelo par de brincos de ouro, adornava suas graciosas orelhas; os pequenos e delicados pés
descalços deslizavam como serpente sobre o brilhoso biso de madeira de lei; trazendo o livro na
destra, seguiu em direção ao Grão-Mestre, e lhe entregou a obra hermética.
Depois de uma conversa descontraída, o casal discorreu sobre o significado do simbolismo da
obra que Perséfone pintara.
Perséfone retornou ao quarto e voltou com o quadro cabalístico. Com o intuito de discutir seu
simbolismo; na verdade ela pretendia avaliar o conhecimento esotérico do Mestre sobre Cabala.
“Bafometo sobre o cubo e entre as duas colunas, além de expressar o equilíbrio do binário que
é as duas colunas, também expressa o Guardião do Templo, o Querubim”, disse o fraco-maçom
assinalando com o indicador esta parte da obra, “Qual teu conceito, Perséfone, sobre esta parte da
obra?”. Ele também queria ver o nível de conhecimento esotérico da dama cabalista.
“As duas colunas, que são Jakim e Boaz, são as duas polaridades do fogo sexual
simbolizadas na figura panteísta de Tifão Bafometo. O cubo é o símbolo cabalístico da Autoridade e do
Sexo, indicando, assim, que Bafometo que é a Alma da Natureza, mantém sua autoridade sobre os
homens através do sexo; os homens estão representados na figura do Louco do Taro, que na obra
está representado pelo Andarilho que decifra o enigma da Esfinge contido em Bafometo. Obviamente
é o desequilíbrio das duas colunas que mantém os homens escravos de Bafometo, ou seja, da Alma
da Natureza.” , discorreu Perséfone querendo impressionar Antares, este percebendo que ela queria
impressioná-lo, resolveu explorar os conhecimentos da dama, que parecia ter grande satisfação em
demonstrá-lo ao amigo. Perséfone despertou sua dialética esotérica, que a até então parecia está em
um bom sono.
“O cubo se desdobra em cruz, por isso representa o sexo, de fato é pela cruz que vencemos o
Diabo, Bafometo, e é pela mesma que ele nos vence, não é?”, indagou o franco-maçom.
“Claro, sem dúvida!”, exclamou a dama cabalista com um certo tom de ênfase como que se
quisesse estar acima do conhecimento do Mestre franco-maçom. Antares percebia que a distinta
senhorita queria de fato sobressair no diálogo cabalistico.
“Sabemos, senhorita, que o fogo da paixão, representado por Bafometo, é a Alma da Árvore
do Conhecimento do bem e do mal; compreendo que este fogo é a causa das ações dos homens,
sejam elas boas ou más. Ele pode voltar o fogo tanto para o bem como para o mal, então o Diabo ou
Bafometo na verdade é uma força dialética, binária, é a dialética da Natureza, as duas polaridades: o
Urim e o Tumim que é o mesmo Jakim e Boaz, é o fogo elétrico que dissolve a forma, e o fogo
magnético que se coagula ou se cristaliza na forma da imagem mental de algum arquétipo da
natureza; é o calor que delata e o frio que contrai. Os homens impulsionados por esta força
determinam suas ações em boas ou más, em ações positivas ou negativas, e dessa forma a dialética
do homem é contraditória; porque é constituída em tese e antítese, são essas idéias que tece o
mundo, por isso chamamos o mundo de dialético, o mundo das aparências, das contradições. Como a
dialética do homem é o conjunto de idéias contraditórias, como as idéias, segundo Platão, desse
mundo não são reais, mas sim aparências ou sombras das idéias puras do mundo espiritual, o mundo
então é a cristalização do pensamento contraditório do homem, por isso definimos o mundo dialético
como o sistema do Anticristo, do Diabo, o Dragão vermelho, a Alma da Árvore do conhecimento do
bem e mal. Esse Dragão que Thomas Hobbes chama de Leviatã, que segundo ele é o próprio Estado,
é o que controla e subjuga a humanidade desequilibrada. O Fogo da paixão é de fato a alma da
dialética, do ser e do não-ser da filosofia de Hegel; esse fogo natural desequilibrado divide a
humanidade em duas classes sociais: a classe dominante e a classe dominada; o desequilíbrio da
Força forja escravos; o equilíbrio elimina as classes, e unifica a humanidade em uma só classe: a raça
solar, perfeita e isenta de contradições; o comunismo real só esta para o coletivo de homens reais,
despertos, homens unificados no UNO, o Sagrado Sol Espiritual. O carma é o efeito da transgressão
da lei da Natureza, qual lei? A lei do binário, a Dialética! Os desequilíbrios das forças criadoras as
fazem destruidoras, por isso que na Índia o deus Shiva que é a Fonte Primordial da Força Sexual
Criadora, é também o deus da destruição. Nas sagradas Escrituras, observamos que o mundo
dialético representado na árvore genealógica de Caim surge com o desequilíbrio sexual de Adão e
Eva. No reino de Deus, o comunismo real, não há sofrimento ou carma, porque não é um reino
dialético, regido pelas contradições entre bem e mal”, expôs a metafísica cabalista o franco-maçom
com autoridade de conhecimento.
“Sua política transcendental é utópica, porque não vejo possibilidade alguma da humanidade
decaída, como um todo, aceitar os mistérios sexuais para sua própria redenção, já que a redenção do
homem se encontra no sexo; como que o reino comunista se cristalizaria sem a regeneração coletiva
da humanidade, e outra, é impossível pará o giro da Roda com o cessar da Dialética, pois não consigo
imaginar o mundo fenomenal estático, isso equivaleria o cessar do tempo ou do movimento e com
isso, da morte; assim, um elemental da esfera mineral jamais alcançaria a esfera humanóide em seu
estágio evolutivo, porque sem a Dialética da Natureza, ele seria sempre um Gnomo”, argumentou
Perséfone.
“Está equivocada, porque estou falando dos remidos de todas a eras e raças que formarão a
sexta Raça raiz que viverá no éter, na esfera da quarta dimensão, o Éden terrestre. Estou falando dos
cento e quarenta e quatro mil, ou seja, daqueles que trabalharam na nona esfera e que receberam a
iniciação. Pelo seu ponto de vista, vejo que ainda é equivocada em certos assuntos esotéricos”, disse
ironicamente o franco-maçom.
Perséfone ficou assombrada com a ousadia do Grão-Mestre e com seu aprofundamento na
metafísica cabalística; seu orgulho místico de fato doeu, mas o Ser de Perséfone predominava na
personalidade, obstruindo a reação dos agregados psicológicos associados ao orgulho e ao amor
próprio.
“144 é um número cabalístico cuja síntese é 9, o número da iniciação e da nona esfera, a
esfera do sexo. Sua raiz quadrada é 12, o trabalho com a cruz redentora, o sexo; número da Grande
Obra, a 32Nova Jerusalém de Ouro, não vejo esta como o mundo fenomenal cristificado, mas como um
símbolo cabalístico do microcosmo cristificado, a quarta dimensão, o Éden ou Paraíso, sendo o próprio
tempo, então é ainda uma esfera dialética”, enfatizou Perséfone.
“Vejo que a senhorita domina a Cabala”, disse em tom sério e admirador o Mestre franco-
maçom enquanto passava a mão no queixo, “É claro que a própria sexta Raça Raiz e suas sete sub-
raças que se desenvolverão no éter ainda estarão sendo regidas pela dialética, pois ainda estão em
evolução, porque desta sai à sétima Raça Raiz que é a última, a Raça dos Elohim humanos, os
homens deuses que serão os criadores das próximas Rondas planetárias, a sétima Raça viverá na
Luz Astral onde tempo e espaço, dão lugar a eternidade, esta é a humanidade solar que me referi
acima e que formarão o reino do comunismo real que é o mundo astral cristificado pelo Logos, ou seja,
o mundo astral deixa de ser receptáculo das formas monstruosas evocada pelo microcosmo decaído
para ser o receptáculo da Luz do Sol Espiritual, o Logos, então a Natureza será glorificada, como é
simbolizado na mulher vestida do sol do Apocalipse doze, então a Sabedoria se coagulará no reino

32
A cidade de ouro representa na cabala gnóstica os corpos de ouro ou solares do Super Homem, o Adão
Kadmon, os corpos da imortalidade.
astral fazendo deste uma Jerusalém de ouro espiritual. A Raça Solar, a sétima, se desenvolve na Luz
Astral, obviamente todo planeta orgânico e etérico caminha para a morte; o Sol morre, as constelações
morrem, as galáxias também morrem, pois a síntese de tudo é a sétima Raça Raiz que glorificará e
habitará o corpo astral do planeta onde se desenvolveu. Como é encima é embaixo como disse o
grande Hermes Tresmegisto. Um planeta que evolui naturalmente suas Setes Raças sem decadência,
ele se torna um Sol de um futuro sistema solar de uma próxima Ronda planetária. As hierarquias que
habitam o mundo astral de um Sol são aqueles que alcançaram a sétima Raça da Ronda anterior.
Cada planeta desenvolve sete Raças e suas sub-raças, cada Ronda sete planetas, obviamente que as
Raças Solares destes planetas formam as hierarquias do futuro Sol da Ronda futura. Estas hierarquias
são compostas dos Lucíferes ungidos pela Luz do Logos, ou seja, Lúcifer passa a ser o veículo do
Logos. O Espírito do Sol é um Lúcifer glorioso, é um Prometeu que cria homens e mundos”, expôs a
metafísica teosofia o Mestre franco-maçom.
“Agora te compreendo, te fato tem razão”, disse Perséfone.
“Os mistérios de Lúcifer são profundos, o próprio Cristo era chamado de Lúcifer pelos cristãos
primitivos que eram gnósticos e até mesmo na idade média ele recebia este nome. De fato é um
grande equivoco chamar o Portador da Luz de Satã ou Diabo, este é o Lúcifer caído e não o glorioso,
quando ele cai perde seu nome divino e se torna Satã, o opositor do Logos”, explicou o Grão-Mestre.
“Voltando ao assunto anterior, estou de pleno acordo com seu conceito filosófico; como você
sabe a palavra dialética vem do grego „dia‟ que significa duplo e „lética‟ que deriva de logos, ou seja,
duplo logos, ou seja, dupla razão. Como o Logos é uma força criadora Pensante, então sua
diferenciação seria o pensamento, que é espírito, diferenciado em bem e mal, é a morte e vida, o sim e
não, a negação, como já foi colocado pelo filosofo Hegel; porque a vida nega a morte e esta à vida; a
noite nega o dia, este à noite, não foi esta uma das partes do enigma da Esfinge que Édipo teve que
decifrar? Então, o Logos é a Força Pensante diferenciada em duas polaridades opostas que devem
manter o equilíbrio para gerar a harmonia na criação. Ora, se o desequilíbrio da Força criadora se deu
no sexo, que é a Árvore do conhecimento do bem e mal, é lógico e evidente que o equilíbrio da
mesma se dá na mesma esfera. Lúcifer é o Logos como Espírito da Natureza, é o Logos se movendo
na corrente dos Instintos, governando, assim, o mundo das sensações. Tendo isso em vista, posso
conceituar que a segunda Besta do Apocalipse que é semelhante a um Cordeiro, mas que fala como
Dragão, que sobe da terra, ou seja, do abismo ou inferno; é a Corrente fatal da Natureza, o Bafometo,
o Instinto cego que governa as vontades e, assim, coagula o bem e o mal, emanados da sombra do
Logos, a razão edificando o bem e o mal, ou seja, as idéias da corrente ímpia no mundo, gerando o
reino do Anticristo, o mundo dialético ou do duplo verbo que é o pensamento em ação bem e mal”,
colocou Perséfone.
“Interessante sua colocação, e só para completar seu pensamento; afirmo que o Dragão33 é a
Paixão, e o sofrimento encontra sua causa na Paixão como disse Buda. As sete cabeças do Dragão
são as sete causas do pecado: Preguiça, Inveja, Luxuria, Orgulho, Ira, Gula e Cobiça, as sete filhas
diabólicas de Mara, o Satã dos budistas; os dez chifres, que na simbologia cabalística simboliza reino,
são as dez esferas ou reinos infra-atômicos da Natureza, ou seja, as dez esfera do inferno. O Dragão
é a Alma do inferno, ou seja, o Fogo que se deve furtar do Diabo”, disse o Grão-Mestre.
“O que é o Diabo?”, perguntou Perséfone com o intuito de saber o conceito do franco-maçom.
“O Fogo Sexual ultrajado e prostituído pelas nossas más ações; é a Força Vital governada
pelo instinto cego”, respondeu o Grão-Mestre.

33
O dragão é o símbolo da força sexual, isso significa que a causa de todo mal se encontra no desequilíbrio da
mesma força; este desequilíbrio afeta o sistema nervoso simpático por onde a força flui, causando
conseqüências graves na psique do homem.
“A feiúra e monstruosidade de Bafometo é devido ao pecado?”, perguntou Perséfone.
“Não, pelo menos não vejo desse ângulo, sua cara de bode e seus pés caprinos, indicam o
elemento terra e os instintos, já que este elemento se associa aos instintos e as sensações que estão
ligadas ao corpo físico e ao elemento Terra; suas asas ao elemento Ar e aos pensamentos e ao corpo
mental; as escamas verdes ao elemento Água, associa-se ao corpo etérico; a tocha tripla que se
encontra entre seus chifres, além de representar a letra Schim (‫ )ש‬que é a mãe do fogo, também
representa o elemento Fogo, as emoções ou desejo que são princípios do corpo astral. Observa-se
que o falo de Bafometo está ereto e forma a haste vertical do caduceu, onde se observa duas
serpentes entrelaçadas, indicando maravilhosamente a bipolarização do fogo sexual; a serpente em
forma de círculo, cuja metade está velada pelo tecido rubro, símbolo da paixão que encontra seu
acento no baixo ventre, indica o fogo sexual em movimento criador; podemos também ver claramente
que este círculo serpentino é o próprio órgão gerador feminino, e o fato de está disposto desta forma,
indica o falo introduzido no yone, e as duas serpentes entrelaçadas em forma de oito no falo, é óbvio,
indica a bipolarização dos dois fogos: o macho, Jakim; e a fêmea, Boaz. Esses são os mistérios do
Bafometo que os Templários cultuavam e que nós francos-maçons ainda cultuamos, e que foi mal
compreendido pelo esoterismo pseudo. Obviamente Bafometo não dominado pelo equilíbrio sexual, é
a fatalidade que escraviza todos à roda da dialética; é o Diabo; observa-se que na palavra Diabo há o
verbo mágico da Magia Sexual: IAO, dos antigos gnósticos”, explicou o Grão-Mestre.
Perséfone estava extasiada pelo vinho de sabedoria do Grão-Mestre da Franco-Maçonaria do
Rito Egípcio de Adoção, pois apesar de ser uma iniciada, jamais tinha ouvido uma dissertação tão
profunda sobre o Bafometo; jamais imaginava que o Grão-Mestre penetraria com tanta profundidade
na alma do quatro cabalístico que pintara. E pensava: “Qual será suas definições esotéricas para o
resto do quadro?”. Mas, Perséfone propôs ao Mestre um outro dia para discursarem sobre o resto do
simbolismo do quadro, pois às horas estavam avançadas e ela ainda pretendia realizar algumas
práticas esotéricas.
Perséfone acompanhou Antares até a porta, este pegou suavemente em sua mão úmida e
suave, neste instante Perséfone sentiu um fogo arder em seu peito, ficou imóvel diante do enigmático
homem que a fixava o olhar em seus olhos, o Mestre parecia conhecer bem a arte do amor. Antares
subjugou a dama em seus braços, esta se tornou lânguida e sua respiração ficou acelerada revelando
fortes batidas em seu coração. Não houve palavras, apenas gestos de afetos, mas na hora do beijo
que selaria o romance místico e, com certeza seria ardente, Perséfone disse sussurrando no ouvido
de Antares:
“Não, ainda é cedo, devemos nos conhecer melhor”.
O Mestre abandonou os braços da amada, e seguiu sua jornada misteriosa com a alma em
chamas de amor.
Perséfone fechou a porta e encostou-se a ela dando um profundo suspiro e rindo com o olhar,
para ela era um instante de felicidade, por um instante teve vontade de correr atrás do enigmático
maçom e beijá-lo ardentemente, mas conteve o impulso erótico.

‫ש‬
Logo cedo o Mendigo acordou, fazia um longo tempo que não dormia tão bem assim. Olhou
pela janela, o Sol já havia nascido. A janela do quarto onde estava hospedado era voltada para o
quintal dos fundos da mansão, onde havia um belo jardim, algumas árvores e um grande espaço
gramado adornado por belas estatuetas. Era uma bela mansão era localizada no centro de uma área
de seis mil metros quadrados, pertenceu ao inglês arqueólogo que era o pai de sua filha, ele havia
dado a filha como parte de sua herança. Percebera que Lung Nu praticava juntamente com sua filha
de aproximadamente oito anos de idade, o Tai Chi Chuan. Depois de um certo tempo, desceu e se
dirigia para o local onde se encontrava Lung Nu e a menina. Sentou-se num banco do jardim e ficou
contemplando os lentos e belos movimentos daquela arte milenar chinesa. A menina possuía traços
orientais e ocidentais. Logo após o termino dos exercícios, Lung Nu se dirigiu juntamente com a
menina até o local onde se encontrava o Mendigo, cumprimentou-o demonstrando alegria e satisfação
no semblante, a menina se afeiçoou ao Mendigo. Depois do desjejum, Leung Nu pediu que seu
motorista particular levasse a menina à escola.
Lung Nu convidou o Mendigo para acompanhá-la até a biblioteca de sua residência que ficava
no final de um corredor. A biblioteca tinha um enorme acervo de obras literárias e era decorada com
belos quadros. Ela pediu com graciosidade que o Mendigo se sentasse, á medida que ela se sentava
no lado oposto em uma poltrona aconchegante. Logo disse:
“Nesses dois dias que nos conhecemos, percebi que é um homem muito culto e ético, não sei
te explicar, mas só sei que confio em você mesmo não sabendo nada sobre sua vida. Já algum tempo
venho procurando alguém com suas qualidades intelectuais e morais para ser o educador de minha
filha Jade, pois é uma menina especial e inteligente necessita ser orientada por um educador
preparado, te pagarei um bom salário, mas gostaria que residisse aqui conosco, pois acho muito
importante que a discípula resida sobre o mesmo teto que o mestre, isso é muito importante para mim,
aceita?”.
“Fico muito grato por depositar tamanha confiança em mim, mas devo informá-la algo sobre
mim, pois assim meu espírito ficará em paz, desta forma poderá avaliar melhor se deve o não entregar
a educação de Jade sobre minha responsabilidade. Você foi muito generosa comigo me ajudou e
continua querendo me ajudar, educar Jade será uma grande honra para mim, nunca fui mestre de
pequeninos, apenas de gente adulta”, Lung Nu interrompe, “Então de fato é um mestre?”, perguntou,
“Sim, mas esta é uma longa história que lhe contarei se estiver disposta em me ouvir”.
“Claro que estou disposta, pode começar”.
“Permaneci por muito tempo na Ordem Franciscana. Como frei graduei-me em Filosofia,
Teologia e realizei o mestrado em Ciência da Religião e defendi minha tese de doutorado sobre as
influências do órfismo no cristianismo. Falo quatro línguas mortas: o aramaico, grego antigo e
moderno, latim e hebraico; este conhecimento me possibilitou aprofundar cada vez mais nas
contradições do cristianismo tal como se apresenta, desta forma começaram meus problemas com a
Igreja. Mas, fracamente este aglomerado de conhecimento não passa de pura vaidade, o importante é
a Gnoses, o Conhecimento Superior, que nos liberta do mundo fenomenal.
Nesta Ordem, nós os franciscanos, fazemos votos de pobreza e de castidade, assim, foi
possível criar em mim um ethos 34 desmercantilizado, desta forma minha personalidade serviu de
veículo para o principio que Jung chama de Self, ou seja, o Real Ser de Parmênides, o Nous dos
neoplatônicos, ou ainda o Cristo Ìntimo dos gnósticos. Eu defino esta partícula divina em minha
filosofia de Átomo Pensador, ou seja, uma centelha divina do Logos em nós, dentro deste Átomo
Pensante reside a Sabedoria que não é outra coisa a não ser as famosas idéias puras das quais tanto
falou Platão. Com uma vida dedicada à renúncia ao mundo, com a práxis 35 dos princípios cristiscos e
com boas ações ao próximo, comprovei pela minha própria experiência direta, que este Átomo sai de
seu estado potencial e passa à atividade, quando isso ocorre começa um processo dinâmico na
34
Em grego a palavra ethos escrita com a vogal longa, eta, indica costume; mas escrita com a vogal breve,
epsilon, indica caráter, índole etc.; porém aqui o autor deixa claro que ethos tem o sentido de caráter.
35
Práxis aqui esta sendo usada em sentido sociológico, ou seja, a união da teoria com a prática conduz a
práxis. E não praxe que é um substantivo que define o sujeito que prática algo habitualmente, coisas
rotineiras.
personalidade, diríamos que este é o processo de transfiguração. Mas este processo anda
unilateralmente com a endura, que é o caminho da demolição do Eu. O Pensador manifesta-se, então
a idéia pura provinda da Sabedoria do Átamo Pensante, determina a ação crística sobre o mundo do
Anticristo, o fenomenal, como o pensamento cristico determinará as ações humanas capaz de forjar o
reino cristico, reino de Deus na terra, saindo fora dos paradigmas do sistema do Anticristo, então
desencadeia uma perseguição furiosa contra aqueles que ameaçam com a práxis cristica o reino do
Anticristo. Isso foi mostrado no mito de Hórus no Egito, com Sócrates na Grécia e para nós com a
saga de Jesus Cristo. As idéias do Novo Homem, o Pensador, o Homem Filosofo36, são paradoxais,
por isso sempre desencadeará perseguição, prisão e morte, como foi revelado no drama iniciático de
Jesus. O Pensador é subversivo ao sistema do Anticristo, o mundo sensível.
A vida que levei como franciscano, possibilito-me o despertar do Átomo Pensante, desta forma
estou me tornando um amigo de Minerva37, sou como os heróis gregos, educado por Minerva e
acompanhado por Ela nas batalhas. Minerva é revolucionária, por isso anda armada de espada e
lança, trás o escudo e tem como companheiros o leão, o dragão e a coruja. Semeei a verdade, porém
com esta ação despertei a fúria de muitos inimigos no âmbito não só da política clerical, mas também
da política do Estado fascista. Tentaram me assassinar muitas vezes, mas pela providencia divina fui
salvo. A manifestação do Átomo Pensante, sempre trás conseqüências trágicas. Faz alguns anos que
deixei o mosteiro franciscano de Madri, por duas razões uma delas foi porque fui excomungado,
devido as minhas concepções filosóficas e as minhas criticas ao sistema dogmático da Igreja; a outra
razão é devido às questões políticas, pois sempre lutei e lutarei contra o Estado fascista seja ele
capitalista ou socialista, mas sempre deixei claro que a revolução se dá de dentro para fora, e isso só
é possível com o despertar do Pensador, este despertar só pode se dá com a negação ao sistema do
Anticristo dentro e fora de nós. A Opos Dei tentou contra minha vida seis vezes, o serviço secreto do
partido comunista sobre o comando de Stalin, tentou me envenenar por três vezes. As três fúrias 38,
como eu os chamo, as três harpias negras enviadas pela Prostituta Escarlate que se assenta sobre
sete montes, estão nesses últimos anos que desapareci, na minha captura. Não pela minha vontade,
mas pelas condições que o destino me impôs, para minha própria sorte talvez, estou vivendo como
clandestino, tornei-me um fugitivo esfarrapado como Moisés logo após a fuga do Egito. A igreja alega
que minhas idéias são perigosas de mais, porque podem inflamar a revolução religiosa, isso poderia
despertar uma nova Inquisição, liderada por este Caifás39 que rege as más vontades dos fiéis. Uma
vez despertada a revolução religiosa, a ideologia do Estado capitalista não serve à nova consciência
que nascerá da revolução religiosa; desta forma este Pilatos 40 que sempre controlou a mente das
massas sofridas através de sua ideologia, vê um perigo eminente para seu governo, pois o despertar
da consciência anula a ideologia do Estado na mente das massas, assim, desencadearão uma
perseguição aos germes de Super Homens, aos filhos da Sabedoria. Minhas idéias revolucionárias
estavam ocultas, até que Judas41 me entregou a Caifás e este a Pitatos.

36
Aqui filosofo possui um sentido transcendental, é o Pensador que expressa a idéias puras, logo suas ações
também puras, ou seja, o Sábio, o Mestre.
37
Minerva é a personificação da Sabedoria.
38
As três fúrias aqui é um indicação dos três poderes: o Clero, o Estado e Sociedade.
39
Caifás é o símbolo gnóstico do demônio da má vontade, e politicamente representa a Religião do Estado
do Anticristo.
40
Pilatos é símbolo no esoterismo cristão do demônio da má mente, a segunda Fúria da mitologia,
politicamente é o Estado que em nosso atual processo histórico é o capitalista, mas que na época de Jesus era
o Império Romano. A ideologia do Estado dirige as mentes das massas.
41
Judas é o símbolo do demônio do mau desejo, a terceira Fúria; politicamente personifica as relações
mercantilistas e a sociedade como traidora do Cristo a que grita: “Crucifique-o!”.
O filosofo não pode conquistar a vitória sobre seus inimigos internos se não tiver domínio
sobre a teoria revolucionária, deve-se compreender por processos de reflexões e meditações a
teoria revolucionária, logo uni-la a prática revolucionária para realizar a práxis. A teoria
revolucionária tem sua base sobre quatro colunas: a filosofia, a ciência, a arte e a religião; estas
quatro colunas formam a Gnoses, que é o Conhecimento Superior pelo qual o filosofo é guiado em
seu processo revolucionário. Uma Ordem religiosa revolucionária deverá ser fundada com base na
Gnoses. Qualquer Ordem que não tem como base a Gnoses, é reacionária e dialética, estará a
serviço do mundo fenomenal, ou seja, da natureza, assim, seu dogma são grilhões que escraviza o
homem na roda do moinho do mundo, a alegoria cabalística de Sansão revela este principio. Dalila é
a natureza fatal que fascinou a consciência de Sansão e a conduzia ao adormecimento, ou seja,
ficou cego, de modo que foi preso à roda do moinho. A Força núcleo que rege nosso pensamento
revolucionário provém do Átomo Pensante, esta Força é a Gnoses. O Átomo Pensante que reside
em nós na região da cabeça, no espaço entre as duas sobrancelhas, quando é despertado emana
uma Luz gnóstica para o coração com o intuito de despertar a Consciência Nous que é o Átomo
crístico que reside no coração; este Átomo que é chamado na bíblia de Rosa de Saron, ou seja, a
Rosa Mística de sete pétalas, é vibrado pela Luz gnóstica, sua vibração afeta a glândula timo e a faz
produzir um hormônio especifico que servirá como veículo das vibrações de Nous. Este hormônio
conduzirá através do sangue as vibrações de Nous até o Átomo Pensante na cabeça, assim, Este
Grande Arquiteto que é o Átomo Pensante, instruirá a Consciência Nous no Conhecimento Superior,
ou seja, na Gnoses. Assim, uma nova corrente de idéias puras invade Pistis Sophia, o Espírito
humano preso aos fenômenos da Natureza, ou seja, aos Eões. Assim, como é revelado no
Evangelho gnóstico de Pistis Sophia, o Espírito humano se opõe aos Eons que são as forças da
Natureza dialética, desta forma tem inicio a revolução de Pistis Sophia. A revolução é a invocação
da guerra e da batalha contra as forças do Anticristo, por isso o grande Mestre gnóstico Jesus disse
que não veio trazer a paz ao mundo dialético, mas a espada.
Há seis meses atrás sofri uma grande traição, esta me trouxe grandes tormentos e
sofrimentos na alma e me levou a ter uma concepção diferente sobre o amor, esta traição me
conduziu ao estado lastimável no qual você me encontrou, sobre este fato ainda não estou
preparado para falar dele um dia talvez possamos falar, mas hoje não, espero que compreenda”.
Lung Nu compreendeu que de fato este era o homem certo para educar Jade.
“Já que confiou em mim relatando fatos de sua vida, também desejo contar o enredo de
minha tragédia. Nasci em uma pobre vila em Xangai na China, fiquei órfã de pai e mãe aos cinco
anos de idade até aos doze anos fui criada pelos meus tios, gente muito pobre e de caráter
corrompido. Aos doze anos eles me venderam para uma seita mafiosa envolvida com ritos de magia
negra, fui levada para a cidade de Hong Kong e lá fui treinada nas artes misteriosas desta seita e
recebi uma refinada cultura, um árduo treinamento em magia e artes marciais com o propósito único
de me transformarem numa feiticeira sedutora, cujo objetivo era atrair as vitimas como a serpente
atrai sua presa para dá o pote fatal. Aos dezoito anos fui iniciada e recebi minha primeira missão,
tinha que me aproximar de um político envolvê-lo em meus encantos, ou seja, tinha que assassiná-
lo, para isso era necessário deixá-lo embriagado pela minha beleza fatal e pelos meus
encantamentos, assim, minhas vitimas eram destruídas por completo. O assassinato direto só
ocorria algumas vezes, em casos extremos. Na maioria das vezes eu seduzia pela magia negra,
desta forma arruinei muitos homens de negócios levando-os a falência total e ruína moral e social,
era um trabalho macabro que envolvia a magia negra chinesa; muitos ficaram loucos e se
suicidaram pela sugestão telepática e pelos rituais de magia negra que realizávamos em nosso
templo macabro”.
Miguel ouvia com muita atenção o relato daquele demônio feminino arrependido de suas
maldades.
“Dos dezoito aos vinte dois anos fiz muita coisa errada. Ai tudo mudou, recebi uma missão
para arruinar um milionário inglês arqueólogo que estava interferindo nos negócios da seita a qual
eu pertencia. Dentei destruí-lo com minha sedução e feitiços, porém meus encantamentos fatais não
conseguiram penetrar na alma nobre daquele homem juste e bom; não conseguia fazer mal aquele
homem que a primeira vista despertou em minha alma sentimentos que nunca havia sentido antes.
Este fato insólito levou-me a uma devastadora paixão pelo homem que eu deveria destruir. Nos
amamos ardentemente, por fim deixei Hong Kong secretamente e partir com ele para Londres. Ele
era casado e não quis assumir nosso amor, entretanto disse a ele que estava grávida, então ele deu
uma parte de sua fortuna para a filha que ia nascer, no princípio eu não aceitei os milhões de
dólares que estava dando para a filha antes de nascer, porém devido as minhas circunstâncias e
pelo fato ainda de ser estrangeira chinesa e estar sendo perseguida pela seita que trai, não tive
outra opção a não ser aceitar, já que de fato era um dinheiro limpo e era a herança de minha filha
que ia nascer, dessa forma nos tornamos ricas. Sai de Londres e nunca mais o vi, então vim para a
Espanha para a cidade de Leon”.
“Mas, como exatamente ocorreu a idéia de que você viesse à Espanha exatamente para a
cidade de Leon?”.
“Nos primeiros meses da gravidez estava tendo muitas complicações na gestação e estava
sendo atacada por emanações magnéticas fatais emanadas pela seita de magia negra a qual
abandonei, eles queria destruir a mim e a criança que carregava em meu ventre. O pai de Jade
conhecia uma excelente médica chinesa que tinha o saber das ervas e com este saber dominava a
arte da medicina chinesa, era uma devota do Taoísmo, esta médica era da cidade de Leon, ele
mandou buscá-la para que eu pudesse se tratada por ela, em poucos dias de tratamento minha
gestação se normalizou, ela, além das ervas, aplicou a arte da acupuntura para ativar certos
meridianos ou ponto energéticos em meu corpo. Era uma mulher muito misteriosa parecia ser uma
maga, ela me contou que a criança que eu trazia no ventre possuía grande poder e por esse motivo
a minha vibração do Chi não era compatível com a vibração do Chi do feto gerado, por isso as
complicações. Segundo ela meu Chi estava carregado de maldade, no princípio não dei muita
atenção para as coisas que ela me dizia, porém quando ela relatou que a seita de magia negra a
qual eu era membro ia me encontrar e me executar devido a traição, então passei a dar crédito a
sua fala, pois como ela sabia destas coisas? O pai de Jade jamais relataria meu negro passado a
ninguém, pois isso era um segredo guardado com sete chaves e ele jamais comentaria com alguém
mesmo sendo seu melhor amigo. Isso me levou a crê que de fato se tratava de uma maga.”
“Muito interessante e misterioso tudo isso que me conta”.
“Agora respondendo sua pergunta, a médica me convenceu que eu deveria partir com ela
para Leon, e que deveria por o nome de Jade na criança que iria nascer, pois ela me disse que eu
carregava uma bela menina em meu ventre, e que quando esta completasse oito anos eu deveria
entregá-la a um sábio mendicante que bateria em minha porta em busca de alimento!”.
Miguel ficou espantado com tudo isso, pois seu encontro com Lung Nu se tratava de uma
profecia, e disse:
“Mas, como pode ter certeza distinta e generosa dama que sou eu este homem, pois a
muitos sábios peregrinos que renegaram o mundo e vivem na pobreza e que poderia dar uma boa
educação à Jade, como esta insignificante pessoa que nada vale pode ser um pedagogo? Sou um
filosofo marcado para morrer e vivo na clandestinidade, seria uma grande ameaça para vocês”.
“Por ventura não sou eu também marcada para morrer e também não vivo na
clandestinidade? Porém, querem te eliminar belo bem e pela verdade que vive, mas eu mereço a
morte! Fiz muita coisa errada e meu passado é negro, mas o seu é transparente como o cristal”,
disse isso com grande tristeza nos olhos.
“Vou refletir sobre a proposta que me faz com base em tudo que me relatou, e amanhã lhe
darei a resposta”, disse o ex-frei franciscano.
“Mas, ainda gostaria de te falar sobre algo estranho que ocorreu em minha vida, pois minha
mudança de fato não foi provocada apenas pela paixão que senti pelo pai de Jade, algo muito
misterioso ocorreu em minha vida de maga negra. Certa vez recebi uma missão para eliminar dois
homens, um deles era um frei-franciscano espanhol e outro era um Grão-Mestre da Franco-
Maçonaria, oficial da inteligência do exército françês”, nestes instantes Miguel ficou tremulo e
inquieto parecia recordar algo. “Algo insólito me ocorreu no momento que usei de magia para
eliminar o frei, pois o próprio Grão-Mestre que eu eliminaria após eliminar o frei me interceptou no
momento que eu ia eliminar o frei utilizando também de magia, travamos uma terrível batalha na
qual fui derrotada, ele me disse palavras profundas, pois ele sabia quem eu era na essência, parecia
conhecer todo meu passado que nem eu mesma conhecia e conheço, este fato me produziu
mudanças profundas em meu ser, já não tinha mais impulso para executar meu trabalho macabro,
tive arrependimento e minha alma chorou e chora até hoje pelo mal que causei as pessoas. Quem
era aquele guerreiro que, também como eu, trazia a insígnia do Escorpião? Esta era a pergunta que
fiz a mim mesmo muitas vezes. Tive vontade de procurá-lo e agradecer a ele pelo bem que me fez,
porém tive medo de me expor. Certa vez escrevi uma missiva ao frei que tentei assassinar, porém a
carta retornou com uma outra me informando que o tal frei havia sido transferido para outro mosteiro
em outro pais”. Miguel estava assombrado com o que ouvia e perguntou:
“Onde fica tal mosteiro e como se chamava o frei?”.
“Em Madri. O nome que me passaram foi o de frei Miguel”, ao ouvir isto Miguel ficou
assombrado e sua alma foi tomada por um pânico, porém ele manteve o equilíbrio e não revelou sua
identidade a mulher que um tinha tentou executá-lo, agora ele compreendia que Deus havia enviado
um Guerreiro para salvá-lo das garras do mal. Ele de fato reconheceu que Lung Nu havia se
arrependido, por isso achou melhor não revelar a ela que era ele o alvo, pois isso poderia abalar a
relação entre os dois.
“E o segundo alvo, o franco-maçom, como se chamava?”, perguntou Miguel.
“Antares De Le Puy, o Grão-Mestre da Franco-Maçonaria da Loja de Marselha na França”,
respondeu.
“Já ouvi algo sobre ele, é o homem mais admirado no sul da França pelos gestos que
realizou salvando judeus dos campos de concentração. Só não compreendo o porquê de alguém
querer a morte deste bom homem”, disse Miguel.
“Tem questões políticas envolvidas, coisas envolvendo sociedades secretas”, disse Lung
Nu.
Nestes instantes Lung Nu já desconfiava que o frei que ela tentou eliminar e o que se
encontrava sentado em sua frente se tratava da mesma pessoa, pois a história de Miguel confirmava
suas suspeitas sem contar que ele também pertencia ao mosteiro de Madri, então Lung Nu
percebeu algo que até então não havia percebido, pois o Mendigo ainda não havia dito seu nome
para ela, então ela disse: “Engraçado já nos conhecemos há dois dias e até agora eu não sei seu
nome e nem você o meu, o meu é Lung Nu e o seu?”. Miguel ouviu ecoar em seu interior a mesma
voz que lhe alertou quando Garra da Morte o perseguia, então ouviu o nome Regulus ao mesmo
tempo que Lung Nu perguntava seu nome, então lembrou que este foi o nome pelo qual foi chamado
quando esteve no Templo na quarta dimensão.
“Regulus”.
“Bonito nome”, disse Lung Nu.
“É o nome da estrela alfa da constelação do Leão, conhecida como Coração de Leão”.
“Vou chamá-lo de Coração de Leão, o significado do meu é Mulher Dragão meu pai era um
devoto da deusa Kuan Yin, ele teve um sonho no qual esta deusa lhe disse que quando eu nascesse
ele deveria por este nome em mim”, disse Lung Nu.
“O velho frei Miguel morreu, Regulus nasceu em meu interior e está preste a crescer, a
realizar sua história”, pensava secretamente Miguel.
“Mas quando esteve no mosteiro você não conheceu o tal frei?”, perguntou como se
estivesse querendo saber algo mais, Lung Nu.
“Conheci, porém pelo que estou sabendo ele morreu alguns meses atrás por uma picada de
cobra”, disse Regulus.
“Entendo”, disse Lung Nu.
Lung Nu ficou com grande dúvida no coração se realmente se tratava do mesmo frei ou não,
porém Regulus agora possuía cabelos longos e barba, isso a confundia já que naquela época seus
cabelos eram curtos e não usava barba.
O gesto de entregar a filha a Regulus para educá-la foi à quarta ação generosa de Lung Nu.
Capitulo ‫ד‬
O Tetragrammaton

Logo pela manhã, Regulus saiu. Lung Nu ouviu os passos no corredor, olhou pela janela de
seu quarto e viu Regulus saindo dos domínios da residência com Jade, de certo a levaria para um
passeio juntamente com o motorista da residência. Aproveitando a ausência de Regulus, resolveu
entrar em seu quarto para bisbilhotar seus escritos e suas gravuras no intuito de conhecer um pouco
mais da sabedoria daquele filosofo rebelde, pois ela sabia que todo filósofo possuía um diário onde
fazem suas anotações inspiradoras, também queria tirar a dúvida que tinha em seu coração se
Regulus e o frei Miguel eram a mesma pessoa ou não, pois se fosse o fato ocorrido estaria registrado
em seu diário; ela achou o diário que se encontrava dentro da gaveta da mesa que ficava ao lado leste
do quarto.
Lung Nu passou a folhear o diário, com o desígnio de saber o pensamento do frei rebelde e
sobre sua vida, ávida de curiosidade passou a lê-lo:
“Hoje encontrei na biblioteca do mosteiro, dois preciosos manuscritos: O Evangelho apócrifo
dos Nazarenos e um manuscrito escrito por um gnóstico alexandrino, conhecido pelo nome de Apolo
de Alexandria; é escrito no antigo grego, e trás o título: „A Pedra Cubica‟. Na introdução este autor
afirma ser discípulo de Hipatia, a filósofa neoplatônica que foi mestra de Sinésio, o bispo de Ptolemais.
E que fora morta pela fúria de fanáticos monges ascetas, loucos e cheios de mitomanias. O
manuscrito era original, nem o Vaticano possui uma cópia desta obra prima de estimado valor cultural.
O manuscrito era curto, dando para reproduzir o texto em cinco dias aproximadamente, à medida que
o copiava, traduzia-o para o espanhol. Foi com esse precioso manuscrito esquecido e abandonado na
biblioteca do mosteiro, que pela providência divina, encontrei nele a chave secreta do Grande Arcano,
os Mistérios Sexuais. Nos manuscritos de Carpócrates, ele fala desses mistérios, porém jamais revela
a chave, pelo menos nos manuscritos que eu li.
Apolo de Alexandria revela em seu tratado de filosofia e ciência oculta, que a chave do Grande
Arcano, a Pedra Cúbica, se oculta nas quatro letras hebraicas do sagrado nome de Deus, o
Tetragrammaton; e que o próprio Grande Arcano é simbolizado na Cruz, com a qual se lapida a Pedra
dos sábios em Pedra filosofal; e foi por isso que Nosso Senhor, o Cristo, pôs Pedro como base ou
fundamento da Igreja; tanto da Igreja coletiva, quanto da Igreja ou Templo homem. Ele afirma, e com
muita razão, que a Cruz é formada pelas quatros letras sagradas do nome de Deus; e que os quatros
seres viventes que formam o Querubim de Ezequiel, correspondem ao Tetragrama da Natureza, ou
seja, as almas dos quatro elementos.
Os quatros elementos, segundo Apolo de Alexandria, é a matéria-prima da Grande Obra. Ele
afirma que a semeadura dos corpos de glória ou espirituais citados pelo apóstolo Paulo, é a Grande
Obra que o cristão devoto deve realizar; mas para semear os corpos espirituais é necessário um
instrumento sagrado que é a Cruz e de duas substâncias secretas chamadas de matéria-prima; ele
afirma que estas duas substâncias secretas são o fogo e a água filosofais; e foi por isso que Cristo
disse a Nicodemos que o homem deve nascer de novo, do fogo e da água. Diz ele que tudo isso é o
Grande Arcano, e que estão encerrados no Tetragrama divino. O Iod é o fogo, o enxofre dos sábios,
que fecunda a He que é a água da vida, o mercúrio dos sábios; a união amorosa do fogo e da água
formam o que ele chama de AZOTH ou de Vapores, e este principio está representado pela terceira
letra do nome divino: Vau, cujo símbolo é a Estrela Magna, formada por dois triângulos entrelaçados.
A última letra que é também uma He é a matéria fecundada, a quadratura do círculo. Ele afirma que a
segunda letra He, cujo símbolo é um pentagrama, representa o INRI que é o Fogo Crístico liberado
das águas fecundadas pelo fogo. O Fogo Crístico é chamado de Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo, pois é com esse Fogo que se queima o pecado cristalizado nos corpos mortais, que ele
chama também dos sete metais corruptos, vulgares. É esse mesmo Fogo Sagrado que se coagula na
matéria corrupta, transmutando-a em ouro espiritual, em corpos de glória. Os metais impuros são
banhados nos vapores do mercúrio volatilizado, para receberem a tintura do ouro; dessa forma se
transmuta o metal vulgar em ouro filosofal. Somente com a Pedra filosofal é que se pode transmutar
os sete metais planetários em ouro espiritual. A Pedra filosofal é a quintessência da Pedra dos sábios,
a Pedra bruta, caótica. A Pedra bruta passa por quatro testemunhos de purificação pelo fogo filosofal.
O primeiro testemunho é o da Pedra negra, a ônix negra, que corresponde ao período de Saturno; é a
putrefação da matéria prima; Apolo de Alexandria representa este período negro por um abutre;
segundo ele este é o estágio filosofal onde eliminamos as impurezas do corpo físico, os baixos
instintos do corpo, o chumbo da personalidade; é um período lento e difícil, é onde o velho Ethos 42 é
destruido. O segundo testemunho é o da Pedra branca, a ônix branca; corresponde ao período de
Diana, e é representado por um cisne branco; corresponde a purificação do corpo emocional. O
terceiro testemunho é o da Pedra amarela, representada por um berilo amarelo; é o período de
Mercúrio e sua ave é uma Íbis; período que corresponde a purificação do corpo mental. O quarto e
último testemunho é o período de Apolo, e corresponde a Pedra vermelha, representada pelo
carbúnculo vermelho; esta é a Pedra filosofal, a Pedra solar; a ave é a Fênix de cabeça vermelha, a
ave sagrada de Heliópolis, a cidade do Sol.
Estou assombrado com tudo isso, e como estava enganado em relação ao Cristo?
Cristo é o Fogo Libertador que deve nascer em todos através da ciência do Tetragrammaton,
só assim, segundo Apolo de Alexandria, é que o homem pode alcançar a redenção final, que só pode
se dá pela morte na Cruz Tetragramática, ou seja, pelos mistérios sexuais, porque a Cruz sexual forja
o fogo exterminador de nossas imagens de esculturas criadas em nossa alma pela quebra do segundo
mandamento, ou seja, pelo desequilíbrio do binário sexual.
O homem é o Iod, a mulher é a He; a soma dá 15 que é a letra Samech 43 da Cabala, que
significa um dragão devorando a própria cauda. O 15 é o número de Bafometo, a atração, esse
número é a Serpente Tentadora, a síntese dele: 1+5= 6 que é a letra Vau, representado a união
amorosa do homem e da mulher. A última He é o „ouro filosófico‟, o produto final da alquimia sexual do
homem que é o Sol e o Iod, e da mulher que é Lua e a He. Ele afirma que o 15 é a alma da Árvore do
conhecimento do bem e do mal, esta é simbolizada na letra Vau, a união sexual dos dois princípios. A
Vau é a própria Cruz. Para que a operação do Grande Arcano, a Alquimia sexual, se realize com
sucesso é necessário fazer o dragão, representado no número 15, devorar a própria cauda, para isso
pasta resistir à tentação do fogo, assim a água vital, que é a própria Pedra dos sábios e o fruto da
Árvore da vida, pode ser elevada a altos graus pelo fogo; assim as partículas crísticas encerradas no
cárcere, são libertadas e conduzidas ao trono de Zeus, o nosso Pai celestial, pelo caduceu de
Mercúrio, formados pelos dois Serafins que são as duas Testemunhas à direita e a esquerda da
espinha dorsal. Ele afirma que essas duas Testemunhas estão mortas naqueles que praticam a
fornicação, e que são ressuscitadas com a castidade do Iod e da He; só dessa forma o casal pode
retornar a unidade através do Tetragrama, e assim, o nome do Todo Poderoso: IEVE pode ser
evocado pela formação do Andrógino sagrado, o Tetragrama humano, o Elohim humano.
42
Na Filosofia grega essa palavra significa modo de vida, a moral. Aqui representa aos falsos valores que
modelaram a personalidade. Um exemplo é o homem da sociedade capitalista, cujo caráter é mercantilizado.
O homem é um produto, uma coisa, do meio em que vive, seu caráter é forjado por modelo de moral dialética.
43
‫ ס‬esta letra representa o Arcano 15 da Cabala e do Tarô, é o Bafometo e é representada por uma serpente
que devora a própria cauda.
O manuscrito possuía, além de uma bela capa de couro, onde havia uma gravura cabalística
pirogravada, outras nove gravuras acompanhavam o texto que se dividia em nove partes. A
composição artística do velho manuscrito é esta: Um velho livro, cuja encadernação é artisticamente
trabalhada em couro de carneiro, com alguns símbolos e hieróglifos pirogravados no couro que
compõe sua bela capa; todas as páginas são de papiro especial; o texto grego é escrito à pena e com
um tipo de tinta especial que eu desconheço.
Nas laterais da capa, há duas colunas persas com bases e capitéis cúbicos sobre os capitéis
duas formosas Esfinges aladas, a da direita porta uma lança, e da esquerda uma taça. Ramos de vide
com cachos de uvas enroscam-se ao longo das colunas. No centro há um altar cúbico em chamas.
Bailando sobre as chamas, um homem alado de seios, de cabelos longos e de barba ponte aguda;
está nu, uma serpente forma um círculo em torno de seus órgãos sexuais, que são substituídos por
um bastão, onde duas serpentes entrelaçam-se formando o número oito. Está coroado, trás um cetro
na mão direita, e um livro aberto na esquerda. Em forma de arco, e ligando os dois capitéis das
colunas, está a frase com caracteres gregos: A Pedra Cúbica, e como subtítulo com caracteres
menores e centralizado no centro da abóbada à frase: A Ciência do Dragão. Essa é a capa.
Ao abrir a primeira página, vejo a primeiro gravura, é de uma mulher prostituta, vestida
sedutoramente, como as dançarinas persas, destaca-se em suas vestimentas as cores púrpura e
escarlate. Possui sobre a cabeça uma tiara escrita em grego a palavra mistério; ricamente adornada
com jóias, trazendo na mão um cálice de ouro, transbordando um líquido de cor vermelho escuro sujo.
Seu semblante era de uma mulher embriagada pela luxúria. É conduzida por um dragão escarlate de
sete cabeças e dez chifres. A mulher cavalga sobre as águas negras de um oceano, que contém
várias formas monstruosas de demônios; o aspecto é de um caos total. Alguns demônios com asas de
morcegos bailam na atmosfera; outros se acasalam; outros brigam entre si.
Na página seguinte há um título: A Massa Confusa; e um subtítulo: O Caos. Logo abaixo
segue um longo texto, tratando sobre a purificação da matéria.
A gravura seguinte é de uma árvore sefirótica composta de 11 esferas; dentro das esferas há
símbolos e imagens de deuses. Na primeira há o deus Netuno com seu tridente na mão conduzido por
uma carruagem puxada por dois hipocampos sobre um grande mar; o signo do infinito acima de sua
cabeça; a letra hebraica Zain também se encontra dentro desta esfera. A segunda esfera há o deus
Urano, um ancião com longa barba e cabelos grisalhos, trazendo à mão um cajado. Uma videira cheia
de frutos está à direita do deus. A letra hebraica Heth se encontra no quadro. A terceira esfera trás a
imagem do deus Saturno; uma macieira contendo uma serpente mordendo a cauda encontra-se ao
lado do deus; há também a letra hebraica Teth. A quarta esfera trás a imagem do deus Júpiter com
seu cetro e segurando seus raios; uma águia está ao seu lado. A deusa IO, uma das esposas de
Júpiter, encontra-se ao lado do esposo; está nua, seus órgãos sexuais são ocultados pelo resplendor
do Sol, cujos raios também ocultam os contornos de seu corpo; pisa a cabeça de uma serpente verde;
seu braço direito está voltado para cima, e com os dedos polegar, indicador e médio, apontados para o
céu, enquanto os dedos do Sol e de Mercúrio estão dobrados. Com o braço esquerdo faz a mesma
posição do direito, só que voltado para baixo, para a terra. Tem asas e sua coroa trás 12 pentagramas.
Há também uma letra Iod na gravura desta esfera. A quinta esfera, trás um guerreiro de armadura cor
de ferro, armado de espada, e lança, trás à mão um escuto; é conduzido por um carro de guerra
puxado por dois dragões vermelhos. No quadro também aparece a deusa Minerva, de armadura; trás
na mão direita uma espada, na esquerda uma balança; seu carro de guerra é puxado por um leão
verde e outro vermelho. Na armadura de Minerva, está gravada a letra Lamed. Na sexta esfera, há o
deus Apolo armado de arco e flechas serpentinas brancas. Ele aponta para um enorme dragão
vermelho de sete cabeças. É conduzido por um carro puxado por quatro leões vermelhos. Sete
escorpiões velam uma criança que se encontra entre as chamas. Há no quadro a letra Nun. A sétima
esfera, trás a deusa Vênus vestida com uma túnica rosa, e ricamente adornada, trazendo à mão um
espelho, e uma pomba lhe faz companhia; Eros armado de arco e flechas é conduzido por um carro
puxado por dois centauros. A letra Samech é gravada nas rodas do carro de Eros. A oitava esfera, trás
o deus Mercúrio portando o caduceu na mão direita, e um saco de moedas na esquerda. Seu carro é
conduzido por um carneiro e um bode; o deus Pan se encontra nas proximidades, e toca sua flauta de
sete canos; um galo se encontra próximo. A letra Ayin se encontra na imagem. A nona esfera, trás a
deusa Diana armada de arco e flechas, ferindo um javali negro com suas setas, um cachorro lhe
acompanha. No céu a deusa Selene é conduzida por um carro conduzido por duas esfinges, uma
branca e outra negra. O quadro trás também a deusa Hécate, portando uma faca e um archote em
chamas nas mãos; um cão de três cabeças lhe segue, ela emerge do abismo. A letra Tzade está
gravada nessa esfera. A décima esfera, trás a imagem do deus Vulcano forjando uma armadura de
ouro a beira de uma fornalha. Uma pedra cúbica de carbúnculo vermelho, trás gravada na cor dourada
a letra Coph. Há também a imagem de Prometeu alado acorrentado em uma rocha; um abutre devora
seu fígado. Ao seu lado há uma Uroboros verde, dentro do círculo serpentino, há dois escorpiões. A
décima primeira esfera, trás a imagem de uma cratera feita no solo, no meio de um jardim, de onde
ascende um carro ou carruagem puxada por dois reluzentes cavalos negros; sobre o carro estão
Plutão com seu cetro, e Prosérpina com seu tridente. Nas proximidades há um campo de trigo e
algumas vinhas, vemos Dioniso e Deméter em um carro puxado por quatro panteras, que percorre
uma senda entre os campos de trigo e vinhas. O título desse quadro é: A Cidade Metálica e seus doze
fundamentos. O subtítulo: Os dozes construtores. Segue um complexo texto dos reinos metálicos e
das transmutações dos sete metais em ouro filosófico.
A terceira gravura apresentava a seguinte imagem:
Uma estrela de seis raios, com o triângulo ativo branco, e passivo negro; é circunscrita por um
duplo círculo, do lado direito deste há escrito a palavra solve e do lado oposto coagula. Uma grande
cruz serve como barra de suporte, sendo que sua haste vertical se alonga e penetra às águas cor de
chumbo do mar, na cruz que se localiza ao centro da estrela há duas serpentes najas nas cores
vermelha e azul, suas caudas estão inseridas nas águas do mar e se elevam em forma de oito, onde
se observa espermatozóides pulando sobre as águas. Na ponta superior da estrela há um sol dourado;
na inferior uma lua prateada; nas quatros pontas laterais da mesma estrela, há as quatro letras do
Tetragrama. Nos quatro ângulos da mesma estrela, há as cabeças do quatro seres viventes do
Apocalipse. Na ponta superior do lado direito há uma cabeça de águia; na inferior do mesmo lado há
uma cabeça de touro. Nas duas pontas do lado esquerdo, há na superior uma cabeça de leão, e na
inferior uma cabeça de homem com traços no rosto de andrógino. De fundo observa-se um pequeno
barco de pesca, no qual há um casal pescando, observa-se um dragão vermelho emergindo das
profundezas do mar.
O texto correspondente a esse quadro, trás o título: O Solvente Universal. E um subtítulo: A
Conjunção. Segue logo a seguir um texto não muito longo, tratando da união dos opostos.
Uma quarta gravura apresenta a seguinte imagem: Entre um rochedo, e sentado sobre uma
rocha, um anjo ancião segurando uma foice; dois leões, um verde sem asas, e um outro vermelho
alado, ameaçam o anjo ancião. Dos rochedos, observa-se sair serpentes douradas. Um outro anjo,
jovem, vestido de túnica branca e de capa púrpura, segura raios com a mão direita, e com esquerda
um cetro, encontra-se próximo ao dois leões.
O texto trás o seguinte título: A Semente Filosófica. O subtítulo: A Matéria Prima. O texto trata
do mercúrio fixo e do volátil, cuja neutralização de ambos formará a massa Rebis de onde sai o Ovo
Filosofal.
Um quinto quadro trás a seguinte imagem: Um casal de rei e rainha encontra-se de joelhos em
oração, ao pé de uma cruz cristã. Ao pé da cruz, há um altar cúbico de cor branca, sobre o altar há um
Ovo no qual há uma serpente rubra enrolada. Uma outra imagem se destaca no quadro; é composta
por uma ninfa de longos cabelos ondulados; trás à mão direita um bastão, na esquerda uma taça;
sobre o peito destaca-se um medalhão de ouro com o signo do pentagrama; nos órgãos sexuais
resplandece uma cruz ansata ou egípcia. A ninfa se encontra dentro de uma elipse formada por uma
serpente verde esmeralda, e pisa a cabeça da serpente elíptica. Uma Esfinge alada encontra-se
próxima à ninfa, mas fora da elipse.
O texto correspondente a esse quadro, trás o seguinte título: O Sinal da Cruz. E um subtítulo:
O Ovo Filosofal. O texto, não muito longo, trata de um princípio secreto pelo qual se choca o Ovo
Filosofal, de onde nasce uma fênix, que simboliza a Pedra Filosofal.

A sexta gravura, trás a seguinte imagem: O casal anterior encontra-se em estado moribundo,
um abutre e um corvo devora suas carnes putrefatas, e de dentro dos dois corpos, saem pequenas
serpentes negras, observa-se um sapo sobre a vulva da rainha. Ao redor, observam-se sepulturas.
O título desse texto é: A Putrefação. O subtítulo é: A dissolução das impurezas metálicas. O
texto trata da purificação da água filosofal.
A sétima gravura trás a seguinte figura: Entre uma vinha há um lagar, dentro deste dois sátiros
pisam uvas. O vinho cai dentro de um odre segurado por Sileno. Deitado próximo do lagar, e com
aspecto de embriagado. Dioniso está com heras enfeitando sua cabeça, segurando um tirso com a
mão direita e uma taça com a esquerda. Ariadne, sua esposa, segura o cisto místico e um cântaro nas
mãos; estão cercados por panteras, tigres, linces, bodes, por Eros, Vênus, Pã, Ampelos e por duas
dançarinas dionisíacas que seguram em suas mãos archotes ardentes. Por todas as partes há vinhas.
O título desse quadro é: As Bodas Alquimicas. O subtítulo é: O Matrimônio Místico. Um texto
explica os mistérios do Santo Tetragrama, e da transmutação das águas criadoras em elixir vermelho.
A oitava gravura apresenta a seguinte imagem:
A cruz e o altar do quinto quadro aparecem novamente aqui, o Ovo que está sobre o altar está
quebrado, e uma fênix de cabeça vermelha ascende do Ovo Filosofal; a serpente que estava enrolada
no Ovo, agora sobe pela haste vertical da cruz. O caduceu alado de Mercúrio se encontra entre o rei e
a rainha que se encontram nus. O rei apóia sua mão direita na serpente vermelha do caduceu; a
rainha apóia a mão direita na serpente índiga do mesmo. Nos órgãos sexuais do rei há um Sol
dourado; no da rainha há um crescente lunar prateado.
O título do texto é: O Fogo Sagrado. O subtítulo: A Fecundação. O texto aqui trata do Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo microcosmico.
A nona e última gravura apresenta a seguinte imagem:
O dragão se encontra caído em um bosque; suas sete cabeças estão decapitadas; o sangue escorre
como se fosse sete braços de um rio, e penetra na terra, de onde nascem sete flores: do primeiro veio
de sangue que escorre da primeira cabeça, nasce uma Rosa branca; do segundo um Lírio do vale; do
terceiro um Narciso; do quarto um Girassol; do quinto um Cravo vermelho; do sexto uma Hortênsia; do
sétimo uma Lotos. O casal de rei e rainha, aqui possuem asas, vestem-se com túnicas brancas, estão
de mãos dadas e contemplando a decapitação do dragão. A mesma prostituta, encontra-se aqui como
uma Virgem alada, sua túnica é dourada; usa uma coroa de ouro com doze pequenos pentagramas;
pisa sobre a cabeça de uma serpente verde; seu semblante é puro e casto. Trás um caduceu na mão,
e na outra mão um pequeno cubo encimado por uma pirâmide, de pedra carbúnculo. O título do texto
é: O Renovador Universal. O subtítulo: A Pedra Filosofal. O autor enfatiza em seu texto que é
necessário antes de transmutar o chumbo em ouro, produzir a Pedra Filosofal.
Estas são as gravuras que adornam o manuscrito de Apolo de Alexandria.
Terminando o meu trabalho de escriba na reprodução dessa maravilhosa obra, pude de fato
me deleitar na satisfação do conhecimento superior, a Gnoses. Esse conhecimento forneceu o
fundamento de nosso grupo revolucionário; tal fundamento é o Grande Arcano, sem o qual todo
caminho espiritual é um peco sem saída. Depois de duas semanas, pude reunir uma assembléia
secreta com os monges e as monjas de nossa Ordem franciscana gnóstica, recém formada. A Ordem
revolucionária é composta apenas de cinco monges, contando comigo e de três freiras franciscanas
subversivas , são elas: Isadora, Ana e Isabel, são todas ainda jovens, na casa dos vinte. Os monges
são Juan, Rafael, Diego e Leon; todos já maduros, com exceção de Rafael. Realizamos as reuniões
herméticas da recém nascida Ordem, sempre aos sábados à noite”.
Lung Nu fechou o diário e o colocou no mesmo local. Sua face trazia o assombro e ao mesmo
tempo satisfação e o gozo pela curiosidade satisfeita, queria continuar a leitura, porém temia o
advento do frei subversivo.
“É um monge franciscano alquimista!”, pensou Lung Nu.

‫ש‬

Miou Sham, a mestra chinesa, conhecia o mais antigo segredo dos Jainas que era a arte jina
de colocar o corpo dentro da quarta dimensão da Natureza. Miao Sham na antiga China foi discípula
do Mestre Jaina Shaolim. O Kung Fú ensinado pelo milenar Mestre Shaolim provinha da raça verde, e
seus movimentos nada mais eram do quê exercícios jinas para colocar o corpo na quarta dimensão da
Natureza. Mio Sham treinou sua discípula fiel na misteriosa arte dos jainas.
Miao Shan depois de um certo tempo de meditação e concentração produziu o Tai Chi em seu
corpo etérico, rompeu com a gravidade, penetrou o próprio tempo, e colocou seu corpo físico na
quarta dimensão da Natureza. Assumia a forma de um falcão branco e voou ao grande Templo da
Ordem do Dragão Amarelo.
Capítulo ‫ה‬
O Mestre dos Arcanos

Já se passaram doze meses, e Miguel ainda continuava sobre o teto da mansão de Lung Nu.
A dama havia obtido grandes progressos com as conversas filosóficas com Regulus e também com as
leituras secretas de seu diário; e Jade crescia em mente, corpo e espírito, de fato ele estava educando
com grande maestria e a menina tinha grande veneração e estima pelo mestre.
Miguel penetrou com passos lentos a ampla sala daquela exótica casa, ouviu uma deliciosa
música, a Marcha Fúnebre de Chopin, tocada, talvez, no piano que se encontrava à sala.
Recebido pela desiderata dama, o rebelde frei beijou sua mão demonstrando nobreza
cavalheiresca.
Miguel dirigiu-se a dama, que lhe recebia, dizendo: “Vejo que a senhorita hoje traz uma alegria
na alma, percebo pelo brilho especial de seus olhos”. Lung Nu, com um olhar lânguido, e com uma
certa satisfação em ver em sua frente o frei, disse: “Nada disso, você que é um cavalheiro e quer me
agradar”.
“Vejo que a distinta dama além de apreciar a boa arte e a boa literatura, também é
enamorada da boa música!” Lung Nu querendo impressionar o frei, diz mostrando no semblante uma
sutil altivez: “Não só a música, a literatura, a escultura, a arquitetura, aliás, a arte em geral me fascina;
como também gosto de me embriagar pela boa filosofia. A arte me arrebata a alma, salvando-me da
solidão que sempre leva à depressão, porque me envolvo, através da emoção, em um mundo criado
em meu imaginário, um mundo com o qual anseio; ela ativa minha imaginação criadora, e assim, crio
meu próprio cenário, onde já não sou mais solitária. A música me alegra em um arrebatamento de
espírito trazendo-me alegria à alma. A literatura me transporta a lugares que eu não conheço, e me
instrui na cultura e nos mitos dos povos; a poesia é bela e me inspira o coração triste e abatido pela
dor duma perda inconsciente de alguém que não sei quem é, talvez seja a da alma gêmea, que se
separaram, como você sabe. A filosofia da qual sou amante, é como um látego que expulsa de minha
mente as bestas da fantasia e da futilidade, é um vinho de sabedoria que me conduz a embriagues
filosofal, ela me faz questionar tudo, antes de aceitar qualquer conceito, sou muito feliz porque tenho
você para compartilhar a boa filosofia, sempre fui amante dela, Aristóteles é o meu preferido, amo sua
metafísica”. A astuta Lung Nu disse tudo que Regulus admirava e buscava em uma mulher, pois como
estava lendo secretamente o diário do frei, sabia o tipo de mulher que ele admirava, pois ela tinha o
intuito de conquistá-lo, nela estava despertando uma paixão devastadora, mas ela sabia que esta
paixão era uma vontade de vida querendo se exteriorizar no mundo fenomenal, uma vontade de vida
muito poderosa, mas ela, assim como ele, não queriam servir à natureza.
Lung Nu era uma jovem mulher de aproximadamente trinta e duas primaveras, Miguel já
estava com quarenta verões, como sabemos o sol de verão cria e destrói. Possuía uma forte virilidade
que parecia se complementar com a fertilidade atrativa de Lung Nu, isso era fácil de perceber pelos
olhos lânguidos de ambos. Havia de fato uma atração poderosa despertando entre os dois, porém
Regulus sabia manter o equilíbrio de seus afetos, pois não confiava no amor, pois este possuía muita
astúcia, tinha um pavor enorme de Eros desde o ocorrido com Heloísa, porém Eros tem pavor à
Minerva44 a quem Regulus adora e é amigo fiel.
Regulus adorava os diálogos com Lung Nu, pois além de culta, era uma pensadora de uma
excelente dialética; de fato sua dialética tinha uma lógica muito objetiva; o seu discurso de uma certa
forma o prendia, pois se havia uma coisa que o satisfazia muito era o diálogo filosófico com aquela
mulher inteligente e sábia. Depois de uma certa pausa, Regulus pergunta:
44
A Sabedoria.
“Fora Aristóteles, há algum outro filosofo que admira?”, perguntou Regulus.
Depois de um momento de reflexão, disse: “A filósofa neoplatônica Hipatia, filha do último
grande instrutor da escola de Alexandria, Téon. Dizem que Hipatia gostava tanto de filosofia, que
parava na rua para instruir alguém que lhe perguntasse sobre algum pensamento complicado de
Platão ou Aristóteles, por isso talvez eu tenha certa admiração também por este grande filosofo
discípulo de Platão. Um outro filósofo e poeta que admiro pelo seu estilo revolucionário e questionador
dos valores da sociedade capitalista, é Bertolt Brecht; infelizmente este grande poeta não é
compreendido, assisti uma de suas peças teatrais: „Arturo Ui‟, alguns dias atrás. Acho que todos os
filósofos tiveram seus papéis, suas teorias filosóficas são muito importantes, porque com elas forjamos
nosso próprio conhecimento, por isso Aristóteles argumenta que ninguém pode alcançar a verdade,
porém também ninguém erra inteiramente, pois cada uma diz algo sobre a natureza em si mesma. Por
exemplo, a paidéia de Platão que é a dialética como movimento ascendente que parte da imagem do
mundo sensível, a eikásia, à crença ou a opinião, pistis ou dóxa, e desta para as matemáticas, a
dianóia; e, por fim, desta para a intuição intelectual, o Nous, que penetra no mundo inteligível,
epistéme, e conhece a idéia pura, a essência verdadeira de uma coisa. Eu penso que a teoria do
conhecimento exposta por Platão é importante para a alma que busca o retorno para seu mundo
original de onde um dia saiu, ou seja, o inteligível; é o processo de libertação e iluminação da alma
humana”, Regulus interrompe o discurso de Lung Nu, “este conhecimento é a gnoses, o conhecimento
superior pelo qual a alma alcança o mundo inteligível e, com isso, rompe com a escravidão e as trevas
dos mundo sensível, alcançando, assim, a libertação e a iluminação, é o sair da caverna”,
“exatamente! Porém penso que a Lógica exposta por Aristóteles com suas quatro causas é importante
para o conhecimento do mundo fenomenal, ou seja, a teoria do conhecimento exposta por Aristóteles
é importante para conhecermos as causas e os efeitos dos fenômenos do mundo sensível, penso que
isso também é importante, pois é através da ciência que dominamos a natureza, valendo-se da lógica
aristotélica, a ciência pode comprovar a existência e a constituição do átomo, e a energia atômica e
desenvolver uma tecnologia que avança a cada dia”, conclui Lung Nu.
“Concordo plenamente com você. Mas gostaria de esclarecer algo sobre o conceito de
dialética. O conceito de dialética em Platão não é o mesmo em Hegel, este em minha opinião é um
dos maiores filósofos modernos. Para Hegel a ciência da lógica é atividade do Espírito pela qual o
Espírito conhece a si mesmo ao criar-se, ou seja, à medida que se exterioriza como natureza e cultura;
esta ciência da lógica é a dialética para Hegel. Ele afirma que a história é a vida do Espírito, mas não a
história como causa e efeito como conhecemos. Esta história é a vida do Espírito, o Verbo divino, o
Logos, na qual ele se exterioriza para logo se interiorizar. A lógica como vida do Espírito é o
movimento dialético com o qual produz o mundo e a cultura, reconhecendo a si mesmo como produtor,
portanto esta lógica dialética é atividade criadora e de autoconhecimento do Espírito. Para Hegel a
dialética é a negação. A Flor nega-se a si mesma para gerar o fruto. Para Platão e Aristóteles esta
dialética é o logos dividido internamente em predicados que são opostos um ao outro, o pensamento
transformado em conceitos antagônicos ou contraditórios. Para Platão a função da dialética era
expulsar a contradição; em Aristóteles a função da lógica era garantir o principio de identidade. Mas,
Hegel afirma que ambos estão errados, porque a dialética é a única maneira pela qual podemos
alcançar a realidade e a verdade como movimento da contradição. Ele afirma que Heráclito tinha razão
ao afirmar que a realidade era o fluxo eterno dos contrários, porém Heráclito errou também, porque
afirma em sua filosofia que os termos contraditórios eram pares de termos positivos opostos, por
exemplo, o fogo e a água ou o homem e a mulher são termos opostos positivos, isso seria uma
negação externa. Para Hegel a negação é interna, e esta é a dialética. Por exemplo, a árvore nega
sua realidade de árvore para assumir uma nova realidade de canoa, ou seja, a realidade do ser canoa
é a negação do ser árvore; o ser canoa é o não-ser árvore. É o Ser e ou Não-ser. Tudo trás sua
própria negação, a flor trás em estado potencial sua própria negação que é o fruto, e este também trás
sua própria negação que é a semente, esta a sua própria negação que é a árvore em estado potencial,
a árvore sua própria negação e assim por diante, é através deste movimento dialético que o Espírito
vai ser aprimorando até chegar no absoluto”, dissertou Regulus.
“Mas, vejo uma contradição nessa dialética hegeliana, apesar de ter algo de verdadeiro em
sua filosofia, pois percebo que este movimento dialético não pode alcançar o absoluto, pois ele se
movimenta em círculos, por exemplo, a semente nega-se para ser árvore, a árvore dá os frutos e este
trás novamente a realidade da semente, ou seja, seu retorno, e a semente novamente se transforma
em árvore, ou seja, eterno retorno‟, questionou Lung Nu.
“Sensacional sua visão! O que você disse é representado pela serpente ouroboros, ou seja, a
serpente que devora a própria cauda, a fatalidade que nos prende ao Sansara, ou seja, na Roda do
Destino; estamos condenados como fenômenos da Natureza a sofrer transformações eternas e
sempre retornar ao que éramos, uma semente! Mas, segundo a metafísica gnóstica a negação da
árvore é o animal!”, disse Regulus.
“Como, não compreendo esta metafísica?”.
“Segundo esta metafísica, o Logos, se exterioriza ou se cristaliza na Natureza primeiramente
em um único elemento que é que os hindus chamam em sua metafísica de Akasha, a Substância de
Aristóteles, o Fogo primordial de Heráclito, e a Phýsis dos pré-socráticos; do Akasha emana o que se
chama de Éter e deste os quatro elementos: Fogo, Água, Ar e Terra; o filósofo pré-socrático
Empédocles estava correto em atribuir a cosmologia a estes quatro elementos. E ainda outro fato
muito interessante que Empédocles coloca em sua concepção cosmológica é que existe dois
princípios antagônicos que organiza e destrói a criação: o Eros, amor e seu oposto Anteros, o ódio.
Eros é a força de atração que une opostos ou organiza os elementos para gerar a criação e Anteros é
o que gera o caos da mesma, aqui podemos colocar Eros como a força da evolução e Anteros da
involução. Como o Logos trás em si o arquétipo, então a Inteligência que é o próprio Logos valendo-se
de Eros, que é a alma da Natureza, ou seja, dos elementos, a Força motriz, modela e da forma a
matéria, os quatro elementos, assim nasce a Natureza que é a matéria revestida da forma segundo o
arquétipo, esta é a exteriorização do Espírito na Natureza. A bíblia expõe este mistério de forma
alegórica quando diz que no princípio a terra, a matéria, era sem forma e vazia, pois o Logos ainda
não havia fecundado-a.
O Logos preenche os elementos e por eles se exterioriza em forma de Natureza. O Espírito
então dá evolução primeiramente nos reinos minerais da Natureza que é a condensação do elemento
Terra; a partícula do Logos evoluindo nos reinos minerais conhecida como Gnomos, estes são as
inteligências que trabalham nos reinos minerais criando os diversos tipos de metais, rochas e pedras,
estas são seus próprios corpos físicos; quanto mais nobre é o metal ou pedra, mais evoluída é a
Monôda, o Logos, em sua exteriorização como Natureza. Por exemplo, a Mônada do ouro é mais
evoluída do que a Mônada da prata, esta mais do que a Mônada do ferro, porque nela há mais
experiência e conhecimento. O mesmo acontece com as pedras, ou seja, a Mônada do diamante é
mais evoluída do que a da safira. Depois que a Mônada completa seu estagio de evolução no reino
mineral e absorveu toda sabedoria dele. Depois passa para o reino seguinte que é o vegetal, neste a
Mônada evolui como planta. A partícula da Mônada que evolui neste reino é conhecida como Elfos.
Completando a evolução neste reino e absorvendo toda sua sabedoria, a Mônada passa para o reino
animal e por ele evolui como nos outros. Observe que todos estes estágios evolutivos a Mônada nega-
se como um ser Gnomo, por exemplo, e assume a realidade de outro ser, o ser Elfo do reino vegetal,
que é o espírito da árvore uma fada que é o elemental da flor. No reino animal há vários estágios, por
exemplo, um silfo é uma Mônada elemental vivendo a realidade de pássaro ou ave, como a águia ou o
beija-flor”, Lung Nu interrompe Regulus e pergunta:
“Então dentro de um reino da Natureza o Espírito se nega diversas vezes para assumir um
estágio mais evoluído, como por exemplo, o Silfo de uma águia seria mais evoluído de que um Silfo de
beija-flor, porque o da águia devido já ter passado por vários estágios possui mais sabedoria, agora
compreendo porque o ser árvore é a negação do ser animal, porque o reino animal é a negação do
vegetal”.
“Exatamente você compreendeu bem a metafísica da evolução do Logos. Continuando a
metafísica gnóstica da evolução, no reino animal há várias espécies, portanto vários estágios de
evolução neste reino. A Mônada elemental que corresponde aos felinos, por exemplo, possuem corpo
humano, porque já estão bem próximo do reino humano, e cabeça de animal, ou seja, o Mônada
elemental do leão possui corpo humano e cabeça de leão e, assim, com os gatos, tigres, leopardos,
panteras etc... Assim, também com os caninos. Quando passam para o reino humano ganham uma
cabeça humana e com esta a razão, a inteligência e uma quantidade de reencarnações para
evoluírem neste reino, neste a Mônada humana peregrina para conhecer o bem e o mal, ou seja, para
adquirir a sabedoria do bem e do mal e, assim, ganham a maestria; e se tornam como os Elohim:
conhecedores do bem e do mal, pois diz as sagradas escrituras: „eis que o homem se tornou como um
de nós‟. Se a Mônada humana caiu na ilusão da Natureza, ela adormece e vive uma existência
fenomenal, nesta circunstância ela depois de passar pelo seu ciclo evolutivo passa ao involutivo,
descendo novamente pelos quatros reinos da Natureza de forma involutiva até alcançar o Fogo
luciférico que arde no centro do planeta, este Fogo que é a Alma do planeta, dissolve todas as
matérias aderidas à Mônada, pois esta matéria pertence a este Fogo e a ele retorna, ou seja, o
Espírito retorna ao Logos e a as substâncias materiais que formam os corpos inferiores retornam à
Natureza. Depois de passar pela grande dissolução, a Mônada elemental é liberada e recomeça
novamente outro ciclo evolutivo ou neste planeta ou em outro, este é significado das migrações das
almas”.
“Estou maravilhada com esta metafísica esotérica, agora sei o sentido da existência!”,
exclamou entusiasmada Lung Nu.
“Perceba agora por que este mundo é dialético? Pois se o espírito humano não sair da Roda
da Dialética, ou seja, dos ciclos de reencarnações ou de evolução e involução, através da conquista
da sabedoria que lhe outorga a maestria, ele não pode alcançar o grau de Cristo, o Mestre Interno de
toda alma humana. Pois perceba que a dialética exposta por Hegel é válida enquanto o espírito evolui
pelos quatros reinos, porém se não rompermos este ciclo, a Roda gira involutivamente, ou seja, a
realidade involutiva passa ser a negação da realidade evolutiva da Natureza e, assim, permanecemos
no giro quase eterno”.
“Você disse quase eterno, por quê?”.
“Porque depois que a Mônada passa por vários Eões e não alcança a maestria ela volta ao
Uno que a projetou para o mundo fenomenal”.
“Esta metafísica gnóstica é extraordinária, derruba todos os conceitos cosmológicos expostos
pela ciência!”, exclamou Lung Nu.
“Penso que a dialética tem dois instantes: a dialética da própria Natureza que é o seu devir,
sua constante mudança, sua negação constante; e uma outra dialética que é a oposição de Espírito e
Matéria. O Espírito que é a Essência das coisas em si, não tem dialética, porque Nele não há
contradição, Ele é o Logos onde se encontra a idéia pura de todos os seres, ou seja, os arquétipos. A
dualidade bem e mal pertence exclusivamente aos domínios da Natureza; não há nem bem e nem mal
no Espírito. A Luz sempre dissipa as trevas, mas esta jamais dissipará a Luz, pois se as trevas se
aproximar da Luz, ela se tornará iluminada, mas se a luz se retira, as trevas se manifestam, neste
instante surge à dialética que acorrenta o homem à ilusão. O Espírito ou o Logos se opõe a Alma da
Matéria, que é Lúcifer, este a se afastar do Logos, torna-se trevas, Satã, o Opositor do Logos, mas se
o Logos penetra as Trevas, então Satã torna-se Lúcifer, o Portador da Luz, mas Luz do Logos, assim
Lúcifer é o Cristo, ou seja, o Ungido pela Luz do Logos”, disse mais uma vez Regulus.
“Isso que você acaba de me dizer é extraordinário, Lúcifer é o Cristo!”, exclamou Lung Nu.
O diálogo entre os dois recebeu uma pausa; a criada de Lung Nu os convidou para um chá
com bolachas. Mas, logo retornaram à dialética.
“Qual o filosofo mais ousado em seu conceito, Regulus?” perguntou a Mulher Dragão.
“Nietzsche, sem dúvida!” Exclamou com ênfase o frei.
“Para Nietzsche a moral racionalista, que é ressentida, foi forjada pelos fracos de espírito para
dominar os fortes, cuja força vital afirma a vida pela paixão, pelo desejo, pela vontade; os fortes de
espírito não tem culpa, inveja, orgulho, falta... para ele, a moral racionalista transformou tudo que é
natural na alma em mal e bem, impôs ao homem o dever e a virtude. A moral racionalista foi inventada
pelos fracos para dominar os fortes tirando-lhes a liberdade de expressar a sua paixão, desejo e
vontade pela vida”, expôs Regulus.
“Então se eu quisesse fazer amor aqui agora com você, não me acarretaria culpa, visto que eu
estaria expressando o impulso da paixão sexual naturalmente?”, disse Lung Nu com certo tom de
sedução.
Diante do questionamento da Mulher Dragão, Regulus se manteve equilibrado e indiferente a
sua sutil provocação, e disse;
“Se seu instinto erótico for dirigido por sua vontade, e não esta pelo instinto cego, então o ato
amoroso será sublime, nobre e libertador! A alma é nobre e seus valores também o são, por isso
Nietzsche nos fala da nobre moral, toda ação que nasce desta moral, é livre em sua expressão vital”.
“Então se minha personalidade foi formada pelos valores da moral ressentida, logo minha
consciência está encouraçada nesta moral racionalista, então todos meus atos são gerados por uma
vontade fraca dirigida pelo instinto cego e ávido de paixão e de desejo desenfreados, é essa a nossa
realidade?”, questionou Lung Nu demonstrando certa tristeza misturada com surpresa.
“Correto. A moral nobre afirma a vida em todos seus atos, enquanto que a ressentida afirma a
morte, porque a força vital esvai com a bestialidade humana, ou seja, a paixão, o desejo e a vontade,
escravizados pelo instinto cego, só podem gerar o Satã interno”, explicou o frei rebelde.
“Impressionante tudo isso, li Nietzsche, mas não percebi esta profundidade de sua filosofia,
pelo que compreendo um artista, por exemplo, como Beethoven, possui uma nobre vontade capaz de
dirigir a paixão e o desejo em composições musicais sublimes como já conhecemos, e o que falar
então de obras arquitetônicas como a da Sé de Évora, e tantas catedrais góticas espalhadas pela
Europa; e as pinturas de Miguel Ângelo e Rafael!”, exclamou com grande entusiasmo Lung Nu.
“A nobre moral vem do Espírito, e seus servos: a paixão, o desejo, e a mente, fazem a sua
vontade; desta forma o Espírito fecunda a Vida e a faz produzir obras sublimes, ou seja, produz a
cultura do Espírito pela qual Ele se exterioriza e se interioriza para se auto-conhecer, isto é, a adquirir
maestria. Mas, se a força vital deixa o comando do Espírito, e passa a gerar as idéias provindas de
uma moral ressentida, então a força vital se converte no Diabo, ou seja, é o instinto cego dirigindo a
vontade perversa na concepção do mal através da força vital.”, explicou Regulus.
“Entendo”, disse Lung Nu.
“A alma da vida é a força vital, o Espírito é o deus microcósmico em nós, a vida no princípio da
criação é sem forma e vazia, como revela o Gênese em seus primeiros versículos, o Espírito do
homem baila sobre as águas, ou seja, a força vital, então o Espírito do homem projeta o Verbo sobre a
matéria prima de sua obra, a força vital, e esta se faz luz, com esta luz se gera o Super Homem, o
Anjo; mas se a força vital permanecer no caos, não se faz luz, então as trevas gerarão a besta, o
demônio”, expôs o frei.
“Mas, como se faz à luz?”, perguntou a Lung Nu.
“A força vital possui duas polaridades: a positiva e a negativa, as duas colunas do templo de
Salomão, quando estas duas forças são bipolarizadas através do sexo, então se faz a luz. A luz então
fecunda a vida, nossa divina Mãe representada pela Virgem Maria, esta gera em seu ventre sagrado o
Cristo, o Super Homem”, disse mais uma vez o sábio frei.
Lung Nu e Regulus se retiram para seus aposentos, já era tarde.

‫ש‬

Lung Nu possuía uma fazenda no interior, e convidara seu amigo Regulus para passar um
final de semana lá.
Depois do almoço, Lung Nu levou Regulus para conhecer uma gruta onde havia no seu
interior uma piscina natural de água quente que ficava aproximadamente a uma légua dali.
Depois de andarem em silêncio por alguns minutos, já no bosque, Regulus quebrou o silêncio,
chamando o cão fiel de Lung Nu que estava nas proximidades:
“Cérbero, venha a cá, meu velho amigo!”, chamou-o assobiando e acenando com a mão. O
cão atendendo o chamado do amigo correu para seus braços carinhosamente, e assim ambos
brincavam, Regulus parecia uma criança feliz.
O cachorro era da raça Setter, raça de cães de caça de pelo comprido ruivo e ondulado, é de
uma espécie muito inteligente. Lung Nu o encontrou ainda pequeno abandonado na rua, levou consigo
e cuidou do animal com todo carinho, desde então são amigos, Lung Nu quando viu o cão pela
primeira vez o chamou de Desamparado, porém Regulus o chamava de Cérbero.
“Cérbero não era o cão infernal do deus Plutão, o soberano do submundo?”, perguntou Lung
Nu querendo entender mais sobre o mito do guardião do inferno.
“Justamente, era o guardião do portal do inferno; na verdade o Cérbero personifica um
princípio, um impulso dentro da psicologia”, respondeu.
“Qual é o mistério que Cérbero personifica?”.
“O Instinto erótico”.
“Por esse motivo é considerado o melhor amigo do homem, já que sem o impulso ou instinto
erótico os opostos jamais poderiam se unir para gerar a vida; mas o instinto erótico violento e
descontrolado é o veículo da luxuria que saqueia a água vital do poço da Sabedoria, o poço onde
Jacó deu de beber as ovelhas de Raquel, sua noiva; tais águas são a matéria prima da criação,
chamada na ciência esotérica de Hidrogênio 12. Os nossos Eus-diabos, que residem em nossa
psique, e que são chamados à existência pela força da paixão desequilibrada, saqueiam este depósito
para satisfazer desejos relacionados com a corrente fatal da natureza, a Força Píton45 sétupla que é a
causa sétupla do pecado, ou seja, do sete pecados capitais”, falou Regulus.
“Cérbero é o guardião dos portais do Inferno, como podemos compreender isso em relação ao
homem?” Perguntou Lung Nu.
“Sua pergunta é interessante. Segundo estudos esotéricos que já fizemos juntos, você já sabe
que o homem é uma réplica microcosmica, e que nele há os planetas e as doze constelações de
nosso sistema, não é isso?”, perguntou Regulus, “Sem dúvida”, respondeu Lung Nu, “Então segundo
seu conhecimento, qual é a constelação do zodíaco que simboliza o Inferno?”, “obviamente a

45
A Píton é a Força Ímpia da Natureza, é a causa dos Eons, os Eus-diabos. É a Corrente dos Instintos.
Cérbero é o Instinto erótico, quando este é desequilibrado ele produz a luxuria, esta vai evocar todos seus
Eons, a população pscológica de nossa Vênus psicológica.
constelação do Escorpião!”, exclamou com suavidade na voz a Mulher Dragão. “E que parte do corpo
rege o signo do Escorpião?”, “os órgãos geradores, o sexo”, respondeu mais uma vez a Lung Nu,
demonstrando compreensão. “Aí está!” Exclamou com ênfase e gesticulando com as mãos.
“Qual é a definição que se dá para a Libido”, perguntou a Mulher Dragão.
“Pode defini-la como energia psíquica, a força da alma ou energia sexual, essa energia possui
dois pólos: ativo e passivo, quando se neutralizam, ou seja, quando o pólo positivo fecunda o pólo
negativo, ela cria, quando são desassociadas, geram a morte e a destruição”, respondeu Regulus.
“Parece que na Índia o instinto erótico é simbolizado pelo javali, que acha disso?”, perguntou
Lung Nu.
“Simboliza sim. Observei uma estatueta de bronze que retratava a deusa Devata Ganesha, a
deusa com cara de elefanta, que é o nono aspecto de Maravidya, a Grande Sabedoria. Ela esta
relacionada com o trabalho criador, e sua montaria é o javali; observa-se que ela está em pé sobre um
javali com um cabresto serrando sua boca, indicando o controle do instinto erótico no ato sexual que é
personificado pela Deusa; o javali está sobre um caixão de defunto que é o símbolo da morte,
indicando que os mistérios sexuais estão relacionados com a morte, ou a morte do ego que é a morte
mística, ou com a morte do homem que se dá pela vampirização de sua Força Vital, pela Força fatal
da Natureza conhecida por Píton, a Força ímpia da natureza”.
“A libido e a força ímpia são dois princípios diferenciados?” Perguntou mais uma vez Lung Nu
ao frei subversivo.
“Sim, porque a Libido é o desejo sexual, é o Fogo sexual do corpo astral, cuja manifestação se
dá no fígado, é de natureza emocional. A Força ímpia é uma força de natureza instintiva que é o
princípio ligado à animalidade, ligada ao corpo físico e que se manifesta pelos sentidos; enquanto que
a Libido está ligada ao corpo astral. A libido é o fogo astral, que se manifesta como desejo, emoções
ou sentimentos; a libido é uma energia de natureza psíquica e se manifesta através da força do
instinto erótico, assim podemos notar a diferenciação entre ambas as forças”, disse Regulus.
“Sendo a libido a energia do desejo, então está ligada a anima, correto?”, perguntou Lung Nu.
“Exatamente, mas seria um dos aspectos da anima que é o depósito dos afetos, pois temos
desejo de comer, desejo de fumar, desejo sexual, desejo de maledicência, desejo de brigar, desejo de
furtar, etc; o desejo é impulsionado pela paixão e é o impulso das emoções”, explicou.
“Qual é a etimologia da palavra Mahavidya, o que ela significa exatamente?”, perguntou Lung
Nu.
“Maha vem do sânscrito, e significa grande; vidyâ é sabedoria cuja raiz sânscrita vem de budh
que significa conhecer. Budhi é a Sabedoria do Espírito emanada de Geburah, o quarto céu da
Cabala, cujo chacra cósmica é o Sol; Budhi é a Alma Divina, é a Consciência, o Fogo Cristico, o Cristo
Íntimo. Maravidya é a Sabedoria Cristica que tudo cria, sua fonte primordial é Chokmah que é a
Grande Sabedoria, o Cristo Cósmico da Cabala”, respondeu, “Está vendo aquela árvore de oliveira
próximo ao cedro e ao carvalho, logo ali na frente”, disse apontando para as árvores, “É a árvore
consagrada da Deusa Minerva que é a mesma Maravidya. Minerva é a Deusa da Sabedoria. A árvore
da oliveira simboliza Minerva, visto que seu fruto produz o azeite que é o símbolo da energia
cristônica, a matéria criadora, o combústivel do fogo que produz a luz, e assim, a iluminação. O azeite
é o símbolo oculto do ens sêminis, o esperma sagrado onde está encerrado a potência criadora do
Logos ou do Cristo que é Maravidya, ou seja, a Grande Sabedoria”, respondeu .
“Então o costume sagrado que os antigos tinham em ungir com azeite, como fez Samuel com
Davi, era uma sombra da verdadeira unção gnóstica?”, perguntou inquieta Lung Nu.
“Exatamente. O que é essa verdadeira unção?”, questionou Regulus, “O azeito da vida
transmutado e fixado nos sete copos da alma, dessa forma a alma se torna uma ungida, ou seja,
crístificada”, respondeu ele mesmo.
“Muito interessante isso tudo!”, exclamou Lung Nu.
“O Budhismo é a religião do Cristo, a religião da Sabedoria?”, perguntou Lung Nu
“Sim, é a religião pura emanada do próprio Cristo ou Logos, não se deve confundir o budismo
com dois „dês‟ que é o sistema pregado pelo Buddha Sidarta Gautama, que hoje já se encontra
totalmente degenerado; assim como o Cristianismo puro foi degenerado nas formas religiosas que
conhecemos hoje, com o de um „d‟, pois o Budhismo deriva de Budhi, então Budhismo é a religião
pura e imaculada, a Gnósis, a Sabedoria que guia a alma para a Luz, é óbvio que quando encarnamos
a Budhi nos tornamos um iluminado, um Budha”.
“Então posso afirmar que o Budhismo assim como você expôs é a Religião do Imperador
Amarelo, ou seja, Solar?”, perguntou a Mulher Dragão.
“Sim!”, exclamou com ênfase satisfatória o frei rebelde, “Religião Solar é aquela que trás luz
ao mundo através de sua doutrina pura; aquela que dissipa com seu esplendor as trevas da
ignorância. É uma Religião revolucionária, e sua proposta é libertadora; seus Mestres e Sacerdotes
são homens que alcançaram a iluminação total, são guias de consciências despertas; sabemos se
uma religião é pura, quando observamos a proposta daqueles que a pregam; geralmente seus
profetas são perseguidos e mortos pela religião do Anticristo; pois sua doutrina ameaça o sistema da
Besta. Isto se deu com todos o profetas que tentaram falar abertamente sobre a libertação, como
Jesus, e seus apóstolos que foram perseguidos e mortos pela religião do Anticristo e pelo seu Império
que naquela época era expresso pelo Império Romano e a religião dos fariseus, cujo sacerdócio negro
está a serviço do governo do Anticristo, que utilizam suas formas religiosas com seus dogmas para
escravizar as vontades dos homens ao erro e a mentira”.
Regulus admirou-se com as inquietudes Lung Nu, e percebeu que ela possuía uma
capacidade intelectual boa para assimilar a filosofia oculta em sua profundidade, possuía forte dote
para ser uma dama adepta, ou seja, grande iniciada da Igreja Oculta, isto é, da Igreja Gnóstica. A
Igreja Oculta em sua essência é formada por Almas Solares, ou seja, por homens e mulheres
crístificados. Os que nasceram do Espirito ou Logos, o Homem-Cristo, o Novo Homem que habitará a
Cristianópolis, o Reino da Ordem, da Justiça e da Verdade.
Regulus pensava serenamente, enquanto contemplava o riacho serpentino que cortava as
terras daquele bucólico local, indo desembocar no rio que ficava próximo dali, nesses instantes
observava a amiga brincando com as águas cristalinas do riacho, parecia uma bela criança espantada
com a beleza natural das águas. Os moradores da região batizaram o riacho com o nome de Pequeno
Tigre, em homenagem ao rio Tigre onde Tobias e o Anjo Rafael pescaram o peixe milagroso, que é o
símbolo da ciência secreta e do Mercúrio filosófico. Ele pensava em Lung Nu:
“Essa moça realmente possui uma força misteriosa, que de alguma forma está relacionada
comigo; sinto uma chama ardente em meu peito quando a contemplo; seu corpo, sua emoção e sua
mente, parecem complementarem-se com os meus, seu olhar é como o arco de cúpido, armado pelo
dardo serpentino prontos para serem lançados ao alvo; não o dardo da paixão que escraviza, mas o
dardo do amor que liberta. Seus olhos negros e pequenos, transmitem sinceridade e severidade que
desconcerta qualquer profano que tenta profanar este sagrado santuário vivo da Natureza. Os cabelos
lisos e negros, caiam sobre as costas como se fossem um véu de cetim negro, os contornos e a
estrutura do corpo, são de características do signo de Escorpião, delatando o seu signo solar, porém
trás à face os traços da rebeldia uraniana, característicos nos nativos de Aquário, revelando seu
ascendente. A sensualidade é presente no corpo, pois o poder do Escorpião e o aspecto
revolucionário de Aquário, envolve-a numa áurea de uma força elétrica magnética terrível, pois Urano
rege Aquário e está exaltado em Escorpião, prometendo revolução sexual, isso explica o poder que
está dama exercia sobre suas vitimas. O mistério era determinante em sua personalida
Capítulo ‫ו‬
Os dois Caminhos

Lung Nu ficou na espreita, observando o memento em que o frei se ausentava, pois pretendia
entrar novamente no quarto e lê o misterioso diário, pois ela tinha quase certeza que Regulus era
alquimista e queria descobrir, além de sua verdadeira identidade, as fórmulas secretas pelas quais
pode se fazer o elixir da longa vida. Enfim, o frei rebelde saiu sabe-se lá pra onde, suas saídas eram
misteriosas, e quando saia, voltava tarde.
Lung Nu sentada na poltrona ao lado da janela e absorta, mantinha os olhos castanhos e
pequenos fixados na vegetação de sua residência. Já entediada em ficar observando pela janela
aquela paisagem outonal; lembrou-se do diário de Regulus e com um certo ímpeto, foi até o quarto do
hóspede e o apanhou em uma bolsa de couro de camurça preta. A face que revelava um certo tédio,
agora revela uma certa satisfação. Abre as memórias do monge, folheia-o e para em uma página onde
está relatada a seguinte memória:
“Passei terríveis tentações nesses últimos meses. Vi-me entre dois caminhos, em um deles
estava a monja Heloísa, no outro estava Ofélia; qual das duas deveria escolher? Vejo em Maria
Madalena a Vestal, minha sacerdotisa do fogo; em Ofélia vejo o complemento intelectual. Ofélia é
culta, inteligente, forte, dialoga sobre tudo, e gosta de me confrontar nos discursos; mas vejo nela algo
de perigoso, pois é dotada de uma terrível força sexual, capaz de embriagar os mais castos dos
homens, eu mesmo estou lutando, como santo Antônio, contra esta Leviatã fêmea de olhos de
Azeviche, esta serpente tortuosa embriagadora dos sentidos e despertadora dos desejos mais ocultos;
além disso, vejo nela uma forte tendência ao lado negro, sua energia é de uma bruxa. Astuta como
uma serpente, rapineira como uma águia, voraz como uma loba, perigosa como as flechas serpentinas
lançados do arco de Eros.
Vejo em Ofélia uma grande probabilidade de um binário destrutivo, mas a força dessa
enigmática dama me prende de alguma forma, ainda tenho uma certa esperança em relação com que
ela aceite a ciência secreta.
Ofélia é uma das mulheres mais cobiçadas de Madri, muitos homens, até mesmo casados,
rende-lhe culto, e são capasses de abandonar família, negócios pela desejada dama comerciante de
maçãs. Ela possui consciência de sua força, e já a vi empregá-la em uma negociação. Muitas vezes
fechou lucrativos negócios valendo-se de sua força luciférica, mas é isso justo? De onde provém esta
terrível força? Por que, Ofélia à vezes some entre a escuridão da noite, para onde vai? Por que
despertou impetuosa paixão por esta insignificante pessoa que aqui escreve, e nada vale? O que quer
uma dama rica como Ofélia, comigo que nada tenho, a não ser as roupas do corpo e alguns livros?
Uma coisa é certa Ofélia despertou por mim uma voluptuosa e ardente paixão, e me deseja a qualquer
custo.
Essa terrível força sexual emanada dessa dama escarlate, que muito sabe sobre os prazeres
carnais, mexe de uma certa forma com minha libido, quando estou dentro de sua esfera magnética.
Ofélia é um fogo que arde no Escorpião, Heloísa é fogo que arde no Leão. Maria Madalena se propôs
ser vestal e escolheu-me como sacerdote no trabalho com a magia sexual; ofereceu-me seu corpo
como altar vivo para o sacrifício e o holocausto. Quer me ajudar com o trabalho com o fogo. Mas,
disse-me que não pode me amar e comigo estabelecer o matrimônio místico, sua função é de
„prostituta sagrada‟, nada mais. Eu a quero como esposa, mas ela me rejeita, disse-me que só pode
oferecer o seu altar para que eu possa oficiar nele; até que venha aquela que Deus me reservou; ela
diz ser apenas Léia, mas jamais pode ser Raquel. Jacó só ama Raquel, mesmo que ainda tenha Léia
também como esposa.
Isabel e Isadora fizeram os mesmos votos que Maria Madalena, e estão trabalhando na flama
de Vulcano com Leon e Rafael. Maria Madalena me escolheu e pede uma decisão de minha parte;
pois ela sabe que Ofélia está em minha espreita, mesmo ainda não sabendo de sua existência, como
a serpente de Dã junto à vereda, esperando o momento certo para o bote. Maria Madalena possui um
caráter firme, é inteligente, de espírito livre, humanitária, desapegada dos bens materiais, dedicada ao
estudo da política revolucionária, é misericordiosa para com os semelhantes, e possui grande
entusiasmo para o trabalho social.
Maria Madalena alertou-me: „cuidado com a serpente prateada de olhos negros‟. Não pude
deixar de meditar constantemente sobre esta frase, e penso: Por que Maria Madalena me disse isso,
será que sabe algo sobre Ofélia, mas ela não a conhece e nunca a viu ou ouviu falar sobre ela, nunca
comentei nada sobre Ofélia, esta serpente tortuosa, que prova periodicamente minha castidade. Que
destino o meu, oh! Deus! estou entre o vício e a virtude, entre Lilith e Heva, entre a vida e a morte!
Analisando a personalidade de Ofélia, esta serpente prateada de olhos negros se enquadra
nela. Pois a prata simboliza a força sexual passiva, que é abundante em Ofélia; é pelos olhos que se
emana a força sexual, sendo de cor negra, que é a cor da ônix, a pedra de capricórnio, signo da magia
e da morte, isto revela que Ofélia possui realmente um mistério em seus olhos lânguidos e negros,
percebi que emana grande quantidade de força pelos olhos. É isso! A serpente é o símbolo da força
sexual, sendo prateada é a força passiva, os olhos negros enfeitiça e vampiriza a força vital, por isso
são os olhos da morte. Maria Madalena me alertou intuitivamente sobre isso. Mas, temo julgar Ofélia
que tem sido muito boa e amiga, pois tem ajudado muito com generosas contribuições o povo do
vilarejo. Hoje vou visitá-la e vou ver até que ponto isso pode estar relacionado com ela.
Já faz mais ou menos meia hora que estou aguardando Ofélia descer de seus aposentos. Isso
sempre acontece quando venho visitá-la. O ar fresco da tarde está embriagador, pois um perfume de
odor amadeirado está impregnado por toda atmosfera. É Ofélia se preparando para me seduzir,
sempre faz isso, mas não tem obtido sucesso em suas investidas sedutoras. Confesso que sua força
erótica é como uma lança que espeta meus eus lascivos que estão ocultos nas minhas cavernas
psicológicas. Mas estou aqui para isso. Oh! Serpente de prata de olhos negros como tem sido
generosa comigo! Por tua causa tenho resgatado um pouco de luz. Não posso subestimar a força de
Eros, Perséfone subestimou e foi raptada por Plutão.
Preciso recuperar minha força que Ofélia vampirizou desde quando a conheço, é esta minha
força presa nela que me prende a ela.
Nestes instantes vem à mente uma frase de Goethe pela boca de seu personagem
Mefistófeles: “Aquela, é Lilith!” É nesse exato momento no qual estou ainda com a frase na mente,
que vejo descer pelas escadas Lilith na figura de Ofélia. Seu encantamento, sua delicadeza, seu
refinamento no vestir, seus longos e sedutores cabelos negros são à base de sua beleza maligna;
seus olhos lânguidos inflamado pela luxúria fixam em mim, sinto imediatamente a reação psicológica e
o centro sexual como um leão preso à jaula tenta romper com o cárcere. O centro do plexo solar
também tenta reagir. A força emanada é terrível e difícil de domar. Sinto pela primeira vez que estou
correndo perigo, a morte investe todo seu poder contra mim, vejo-me encurralado sem saber para
onde ir, mas não deixo isso transpassar para fora, pois se ela perceber que estou lutando contra sua
sedução seu poder será maior. Ela está se aproximando e sabe muito bem o que deseja, luta pelo seu
ideal e quer conquistar sua presa. Penso em Maria Madalena por algum motivo, isso me fortalece um
pouco, é como se estivesse ao meu lado para me proteger. Evito nesses instantes, de combate feroz
contra mim mesmo, dialogar, e permaneço quieto. Isso incomoda Ofélia, porque a luxuria amiga fiel
do orgulho e da vaidade, se sente defraudada, devido à indiferença que tenho diante de sua maligna
vaidade. Sua paixão parece crescer, diante da resistência. Evito olhar em seus olhos.
Ela se dirige para o piano, seus dedos deslizam pelas teclas, as notas produzem um delicioso
som, não conheço a música, mas parece ser agradável e calmante. A concentração na música, tanto
minha que ouvia, quanto de Ofélia que tocava, fez com que a corrente fatal do instinto erótico se
desviasse, assim tive uma trégua no combate contra a mulher escarlate. Observava atentamente
Ofélia tocando aquela deliciosa música. Nestes instantes já não a via como uma força tentadora, mas
como uma frágil e delicada dama vítima de seu próprio veneno. Sem dúvida era escrava de sua
própria força, que despertava nos homens apenas o desejo escravizador, e não o amor que liberta.
Acreditava que possuía poder sobre qualquer homem, não conhecia a ciência divina, por isso era
equivocada em seus conceitos. Nestes instantes que Ofélia se encontrava ao piano, observei todos
seus traços e detalhes. Sentava-se como uma rainha, a postura de nobreza era natural. Isto fez com
que eu tivesse uma fugaz lembrança de alguém de um passado remoto. Observei em seu dedo médio
da mão esquerda um belo anel de prata, no qual havia um rubi engastado, algo me atrai naquele anel,
talvez a beleza da pedra de rubi, que era a pedra de Aries, seu signo. Usava um belo e clássico
vestido rubro combinando com seu anel. Uma fina cadeia de ouro que estava em seu pescoço trazia
um ornato no qual havia uma discreta pedra de carbúnculo. Os cabelos estavam soltos, mas muito
bem penteados para trás, deixando a vista uma faixa negra nas costa. Os sapatos negros de saltos
médios deixavam a mostra às costas dos pés pequenos. O vestido era discretamente provocante,
devido o decote.
Ofélia, neste dia 18 de abril, estava comemorando seu aniversário, e quis fazer uma surpresa
para mim, que tinha a pouco retornado do México. Eu era seu único e especial convidado. Havia
preparado um belo jantar. Mas, algo me dizia que o pior ainda viria. Depois do jantar a conversa se
estendeu, e a hora passou, preparava-me para ir embora, mas era tarde da noite, era perigoso sair
dali naquele horário, alguns inimigos ganhariam na loteria se me encontrassem na estrada àquela hora
da noite. Mas também era perigoso estar ali sozinho com aquela mulher, cuja paixão podia impeli-la a
qualquer ato para realizar seus instintos passionais, e também corria um grande risco de cair na
tentação, enfim a pedido da dama que estava preocupada e ao mesmo tempo desejosa de estar ali
comigo, fiquei sabendo que ali seria travada a batalha das mais terríveis de minha vida. Parece que
Ofélia havia premeditado tudo isso.
Ofélia revelou a mim que havia sido uma bailarina clássica na França onde conheceu seu ex-
noivo. Depois abandonou sua carreira.
Observei três raios em sua testa, indicando, assim, que ela era do raio de Vênus, por isso era
refinada, culta e artista.
A dama, com intenções bem determinadas queria dançar para mim, insisti que não fizesse tal
coisa, mas ela resolveu por seu plano em ação; acho que esse tipo de mulher se sente muita atraída
pelos monges e padres, pelo fato destes serem castos, isso parece mexer com a libido deste tipo de
mulher, porque isso lhes dá uma certa sensação erótica no fato da possibilidade em tirarem a
castidade dos monges e padres, e se conseguem, dão uma gargalhada e desprezam a vitima, mas se
são vencidas despertam uma violenta paixão; às vezes podem também despertar o amor, e esta era
minha esperança com esse delicioso fruto, mas proibido para mim. Ela me Levou para o andar
superior, onde pediu que aguardasse em uma enorme sala onde praticava a dança, achei que ela ia
apresentar um balé clássico, mas quando a vi vestida como uma dançarina persa, percebi que estava
sendo provado pelo fogo de Eros. Não comentei nada apenas me observei e fiquei ali esperando seu
ataque. Pôs uma música indiana usada muito pelas praticantes do tântra, isso me chamou a atenção,
pois essas músicas acompanhadas pela dança sedutora desperta o fogo erótico de forma intensa.
Enfim, Ofélia começou sua dança em ritmo muito leve e sedutor, o jogo de olhares combinados com o
corpo ao ritmo da música, eram tentadores, e qualquer homem não preparado, cairia rendido aos pés
daquela fêmea de delicioso magnetismo, mas proibida para aqueles que querem a libertação. A luta
era terrível. A dançarina de Baal e sacerdotisa de Lilith tentava com todas as suas forças me tragar
com a corrente fatal da paixão. Confesso que teve momentos nos quais eu quase cedi para Eros, mas
a força do Cristo em mim, somado pela esperança que tinha pelo amor de Heloísa, pude estar ali
ainda vivo. Seu corpo se ondulava como de uma serpente, e sinuosamente vinha em minha direção ao
ritmo da música, e lançava sobre mim sua fatal sedução. Freneticamente se lançava sobre mim com o
intuito de provocação erótica. Seus olhos lânguidos inflamado pela luxuria e sedentos de prazer, fixa-
me em um gesto manhoso e de maligna beleza. Estava, segundo seus planos, preparando o
ambiente, onde daria o último bote em sua vítima. Era realmente uma ótima bailarina, e se voltasse
todo esse fogo e arte para o trabalho esotérico, daria uma boa sacerdotisa de Vênus, mas parece que
estava mais para a mão esquerda do que para a direita.
Dançava eroticamente, seu corpo semi nú era terrivelmente tentador; o fogo da paixão sexual
ardia violentamente em meu sangue, a luta com meu Eros interior era terrível. Por um instante quase
me lancei sobre ela para beijá-la e amá-la ali mesmo. Mas, continuei resistindo o canto fatal da Sereia,
amarrado com as cordas da fé no mastro da vontade.
Quando dei por mim já estava no quarto exótico e luxuoso daquela ninfa deliciosa. Ali, no
ninho da serpente, estava eu preso aos encantos fatais daquela fêmea perigosamente deliciosa e de
encantos fatais. O beijo aconteceu e foi ardente e longo; por um instante o magnetismo erótico de
Ofélia, hipnotizou-me. Quando percebi já estava despido e diante de um delicioso corpo feminino
plenamente nu, os seios pareciam de uma virgem de quinze anos; o corpo era uma escultura humana
perfeita; os longos cabelos negros davam um certo brilho ao corpo nu; os pelos pubianos eram negros
como azeviche, da negra vulva emanava um poder atrativo muito poderoso. Felizmente, recuperei
minha consciência e não me lancei ao ato libidinoso, mas confesso sem hipocrisia que estive a beira
do precipício, quase me lancei ao fogo fatal da luxúria embriagador dos sentidos.
Desconsolada e desconcertada, por eu não haver cedido aos seus caprichos de índole
lasciva, já sem esperança, a sacerdotisa de Vênus Pandemos, caiu rendida aos meus pés com seu
orgulho ferido e a vaidade humilhada. E dirigindo-se a mim com ímpeto, disse-me: “Por que repudia o
amor que sinto por ti?”, continuando, disse ainda: “não tenho eu provado em meus atos que te amo,
por que foge, e se faz indiferente aos meus sentimentos?”
“O que você sente é puramente paixão, nada mais, só desejo. Porventura é o amor egoísta,
sensual, orgulhoso e vaidoso? Não! Fujo e fugirei do odor fatal do narciso, cujo único objetivo é me
levar ao reino fatal de Plutão. Não comerei de suas tentadoras maçãs e nem poluirei minhas duas
oliveiras com o odor venenoso de seus narcisos, para que meu azeite não venha se perder e meu
candelabro, assim, se apagar”.
Ofélia ofendida pelas minhas palavras, disse-me: “És tu um deus, para que não possas ser
tocado pela chama do desejo, que prazer e alegria trás a alma macambúzia? Foges das delícias que
posso lhe proporcionar imensuravelmente no santuário de Afrodite, onde se ocultam os mistérios do
amor e as delícias paradisíacas?”.
“A peçonha da paixão não só mata homens como também deuses. Não compreende o amor,
que não é venenoso, mas é o antídoto contra a peçonha da serpente da paixão. Confunde o santuário
de Vênus, com o de Lilith! As maçãs de ouro da macieira do templo de Vênus alimentam o amor sem a
necessidade de ser comidas, mas as rubras maçãs da macieira do templo de Lilith são comidas
Vorazmente pelos insensatos que insultam a vida e o criador”.
Ofélia já em tons sarcásticos, disse-me: “Que amor é este que repudia o desejo, por ventura
há felicidade no amor, quanto não se deseja o ser amado? Não é a união dos opostos feita pelo
desejo? Como o fogo se alimentará sem oxigênio? Não é Eros, a paixão sexual, filho de Afrodite, o
amor? Então por que condenas a paixão, sem o qual a vida não existiria?”.
“Você não está compreendendo os inefáveis mistérios de Elêusis, onde se cultuava os
segredos do amor. Não lhe falei de duas maçãs, uma de ouro e outra comum? Você compreende que
sem o desejo a vida não pode ser manifestar, isso é correto. Mas, de que vida fala, de que paixão
fala? Porventura já não nascemos morrendo? A morte não é a única certeza que temos? Então onde
está a vida da qual você fala? A vida da qual estou falando é a eterna e não a mortal, esta é filha da
paixão que escraviza; enquanto a primeira é fruto da dominação da força do desejo pela vontade do
homem que quer se libertar! Não nascemos nós da lascívia de nossos pais, e por isso somos filhos da
paixão e do pecado que é a morte? Então de que vida fala Ofélia? Meu coração é o escudo de
Minerva, que repele os dardos ardentes de sua paixão, lançados do arco da volúpia!”.
Ofélia combate minha castidade, dizendo-me: “Sozinhos estamos, venhas! O leito preparado
está, quem saberá? Lá os mistérios de meu corpo conhecerás, então te amarei ardentemente, assim,
saberás que verdadeiramente te amo, que a paixão e o amor são unos e inseparáveis. Venhas
peregrino leão, o deserto lhe deixou sedento e com fome estas, então venhas saciar tua sede em
minhas águas, tua fome em minha carne! Porventura não és tu homem? Então porque negas beber
em meu cálice? A ti me entregarei, só por esta noite, então lhe esquecerei, não me deixes com este
fogo ardendo em meu coração ferido!”
“Sozinho não estou, e no leito da morte não deleitarei! Nada está oculto do olho que tudo vê, e
todo crime é julgado. O desejo é escravo do amor, e não o amor escravo da paixão, por isso não são
unos, mas dualidade; o amor é o senhor, a paixão é o servo, se isso for invertido o caos se
estabelecerá, e a morte será soberana. Das águas de seu cálice não beberei, porque são águas
peçonhentas, de tua carne não comerei, porque é vampírica e vida arrebata!”.
Ofélia já sem nenhuma esperança, solta um grito entre lágrimas e soluços:
“Ingrato és, arrebatas o meu coração, e agora me negas, como se o amor que tenho por ti fosse
uma arma assassina! Não quero vê-lo mais, pois fizestes de mim uma ridícula e sem valor, sou uma
dama de respeito e de honra. Hoje dormirás aqui, pois ainda sou uma ser humana, mas amanhã
partirás cedo, antes que eu saia do meu leito abatido e defraudado.”
Senti em Ofélia uma nova inimiga, pois sua paixão defraudada e não consumada se
transformou em ódio, e percebi que se vingaria a qualquer custo.
Indicou o quarto onde eu dormiria que ficava ao fundo do corredor. Já estava deitado, quando
ouvi a porta do quarto de Ofélia se abrir lentamente, como para que eu não ouvisse. Levantei
lentamente, mantendo a luz apagada, e abri um pouco da porta sem fazer nenhum barulho. Ouvi
passos descendo a escada, resolvi ir até a escada para ver o que estava acontecendo, não pela
curiosidade, mas por temer algo contra mim. Observei Ofélia se dirigir ao piano, sentando-se começou
a tocar „Tristão e Isolda‟ de Wagner. De fato havia uma tristeza em seu olhar. Tive nesse momento
vontade de ir até ela, e acariciá-la, confortando-a, pois as trevas da noite não se tornam em luz com o
advento do Sol?
Voltei ao meu quarto trancando-o, selei com um círculo mágico feito pela minha Esfinge
elemental, para evitar algum ataque tenebroso ao meu corpo físico. Resolvi seguir Ofélia no mundo
astral, para saber aonde ia. Dormi primeiro, assim, facilitou que eu a seguisse. Não foi nenhuma
surpresa, quando a vi penetrar naquele sinistro castelo de Salamanca, onde fusiona o Templo do
Graal Negro. Ofélia, passando pelos dois guardiões negros, que traziam suas espadas opacas do lado
esquerdo da cintura, entrou com grande orgulho místico no antro das orgias e da fatalidade. O
arquidemônio que dirige o salão da bruxaria deste castelo sinistro e de terrível beleza maligna e
sedutora é Klingsor o mesmo que foi derrotado por Persifal no clássico conto místico do músico e
poeta Wagner. Ofélia era uma adepta da Magia Negra.
Logo de madrugada, quando se via ao leste a glória de Lúcifer preparando o caminho de
Apolo, saí despercebidamente para nunca mais voltar ali, onde travei um combate terrível com a
sacerdotisa do Graal Negro, Ofélia, aliás, seu nome é Ophis que significa serpente na língua grega.
No caminho, próximo do mosteiro das monjas franciscanas, que ficava na solidão de um
delicioso bosque, percebi nas proximidades, num lugar secreto próximo de um riacho e de uma
pequena queda d‟água, onde ficava também a gruta secreta onde nos reuníamos às vezes para a
prática do ritual gnóstico e para o estudo, Maria Madalena que estava fazendo prática de
contemplação, observava minha aproximação, senti uma forte corrente de amor casto vindo dela,
então compreendi que ela era a vestal com a qual me iniciaria nos mistérios do sexo. De fato escolhi a
sacerdotisa de Isis, que se encontra à direita na lâmina do Arcano seis da Cabala, os Enamorados. A
sacerdotisa de Lilith que se encontra à esquerda da lâmina, foi vencida pela vontade e pela castidade.
Eu e Maria Madalena nos acertamos para esta tarefa sagrada, e combinamos o dia e a hora
para a realização da iniciação da Magia Sexual.
Depois de certo período de preparação, Maria Madalena e eu fizemos aquilo que em alquimia
se diz: „Conivnctio sive cortus‟.
Minha sacerdotisa vestal dançava para mim, na augusta câmara nupcial. Leve como a pluma,
deslizava seus suaves e deliciosos pés sobre o suave tapete por ela mesmo tecido. No teatro do amor,
nós representávamos juntos os Cânticos dos cânticos . Inefáveis delicias do casto amor, vivi ali
naqueles instantes de divina volúpia com minha vestal. Sobre as chamas ardentes do altar de bronze,
e presas pela fina rede de Vulcano, nossas almas unificadas pela união suprema superior, amavam-se
ardentemente no sublime Sancto sactorum do Templo de Vulcano, nossos corpos se magnetizavam
entres delírios e suspiros de amor casto! Nestes instantes de delicias paradisíacas, o Cristo montado
em seu corsel branco combatia com sua lança, o rebelde dragão que habita as profundezas do
abismo, nesses instantes de divino combate, furtamos o archote ardente de Lúcifer, e saímos
vitoriosos do reino de Plutão, o Escorpião”.
Luing Nu fechou o diário. A leitura causou-lhe uma certa sonolência, logo penetrou num
estado letárgico. Neste estado teve uma visão:
Via-se como uma sacerdotisa da Antiga Caldéia, e ungia os pés de um sacerdote com um
ungüento e os enxugava com seus próprios cabelos. Saindo do estado de letargia, ficou refletindo no
significa místico do sonho, e ao mesmo tempo assombrada com o que acara de lê. Pois, pelo que lia,
parece que havia uma seita secreta entre os franciscanos que praticavam o rito da magia sexual,
quem era esta Maria Madalena? Quem era de fato este frei paradoxal?
Regulus percebeu que Lung Nu havia sumido há quase duas horas. Ouvindo o barulho do
motor do automóvel, olhou pela janela, era ela. Onde será que ela foi?”, pensou ele com uma certa
desconfiança provocada por um leve ciúme, a paixão despertou na alma daquele casto frei o ciúme,
ele percebera que estava penetrando em um abismo terrível, nasceu nele um desejo quase insaciável
de possuí-la, pois ele conhecia a arte e os mistérios do sexo, podia ensiná-los a ela, por que não?
Mas, Lung Nu possuía um terrível poder sexual não era por acaso que seu nome chinês significa
„mulher dragão‟. Era o tipo de mulher que fazia florar no homem a paixão.
Lung Nu penetrou em seus aposentos, despiu-se e se dirigiu ao banheiro de sua suíte,
enquanto a banheira enchia, sua mente se fixava eroticamente em Regulus que se encontrava em um
dos aposentos no corredor. Ela o queria sexualmente, o desejava ardentemente, pois ela lera no diário
secretamente as experiências sexuais do frei com uma dama de nome Maria Madalena. Desejava
conhecer aquele método sexual secreto que ele relatava em seu diário. Ela já ouvira falar que alguns
taoístas conheciam os segredos do sexo, mas não sabia como se realizava; agora uma poderosa
vontade se apoderou de sua alma, ela queria saber mais sobre isso, pois estava cansada de viver
solitária, queria amar novamente e ser amada, e Regulus tinha todas as qualidades que ela admirava
em um homem: inteligente, culto, sábio, nobre de espírito, revolucionário e possui um impulso sexual
extraordinário, sim ela o queria.
Regulus abriu a porta de seu quarto lentamente, com passos leves seguiu até a porta do final
do corredor, esta dava acesso à suíte de Lung Nu. Encostou o ouvido direito na porta, mas nada
ouviu, a porta estava apenas encostada. Uma terrível tentação invadiu sua alma; seus batimentos
cardíacos aceleraram, sua respiração forte e ritmada, tornou-se quase incontrolável. Ele abriu
lentamente a porta, a câmara possuía a mais exótica decoração chinesa; uma fragrância impregnava o
ar. Seus olhos já inflamados pelo fogo sexual se fixaram no leito de Lung Nu, aliás, um leito
confortável, luxuoso e protegido por véus índigos presos por argolas de bronzes inseridas em varais
também de bronze, porém o leito estava vazio.
Ele percebeu um barulho de água provindo de uma porta semi aberta do lado esquerdo do
leito; com passos lentos avançou, detendo-se ocultamente ao lado da porta. Com muita cautela olhou
para o interior, e o sentido da visão trouxe-lhe ao cérebro uma imagem escultural de uma ninfa nua
deliciosamente bela. O delicioso corpo de Lung Nu penetrou a banheira já preparada com os sais de
banhos, cujos aromas impregnavam toda a atmosfera, imergindo o belo corpo naquela água
perfumada, mantendo apenas a cabeça de fora, fechou os olhos desfrutando, assim, a deliciosa
sensação no corpo; a mão direita da musa pousou sobre a negra, pequena e delicada vulva, os dedos
se posicionaram entre os grandes lábios da vulva, colocando-se sobre o clitóris, passaram acariciar o
ponto vulnerável com suaves massagens. Regulus presenciava toda essa ação, e por um instante um
poderoso impulso erótico invadiu sua alma e ele quase penetrou intrepidamente à banheira para
possuí-la, porém resistia o poderoso fogo erótico que ardia em seu sangue. O delicado corpo de Lung
Nu agitava as águas da banheira; Regulus por um instante pegou o falo que estava quente e duro
como o aço, mas resistiu o impulso que o incitava a se masturbar, pois bem sabia ele os efeitos
negativos que tinha o ato da masturbação.
Depois de uma hora, Lung Nu saia com muita dificuldade da banheira Regulus ainda estava à
espreita, a musa apanhou a toalha branca com as iniciais de seu nome bordadas com fios rosas; neste
instante suas costas voltaram-se para a porta; Regulus, então, percebeu um escorpião negro entre
chamas rubras tatuado ao longo das costas da musa; o escorpião era belo e artisticamente pintado na
pele amarela e libidinosa, este costume de pintar o corpo era praticado pelos antigos samurais e por
alguns iniciados de certas escolas esotéricas, agora praticada pela máfia chinesa e japonesa.
Regulus, então, percebeu que Eros o havia flechado no peito, estava de fato enamorado de Lung Nu.
Ele se retirou lentamente dos aposentos da musa; a musa percebeu pelo espelho a presença de
Regulus, e fez tudo aquilo para provocá-lo, excitá-lo, queria testá-lo para ver até que ponto ele
agüentaria, pois ela sabia que ele a queria também.
Regulus sabia que o extraordinário poder magnético desta dama poderia ser transmutado
através dos mistérios do sexo, porém havia um perigo: ela poderia arrastá-lo ao abismo caso ele não
dominasse, pelo poder de sua vontade, esta serpente tentadora que se enroscava no corpo astral
desta mulher prostituída pelo demônio, ele teria que libertá-la deste poder fatal, mas se a desejasse
passionalmente e a profanasse, ela o arrastaria ao abismo de sua própria natureza. Ele necessitava
de uma mulher com as qualidades anímicas de Lung Nu para acender o fogo sagrado nele e divinizá-
lo, mas antes ele deveria libertá-la do poder do demônio; ele a libertaria do sacerdócio de Lilith e faria
dela uma Vestal, uma sacerdotisa de Isis, da Virgem Maria.
Lung Nu já no leito, não conseguia dormir, pois o fato de saber que Regulus a espionava em
seu banho, despertou ainda mais seu desejo sexual por ele, virava de um lado para o outro sem
conseguir dormir. Sem suportar mais a pressão de seu fogo sexual, levantou-se e se dirigiu até a porta
do quarto de Miguel, segurou a maçaneta de bronze da porta e tentou abrir, porém a porta estava
fechada por dentro, frustrada desceu as escadas e foi até a cozinha onde bebeu um copo de água, até
que o fogo sexual abaixasse, então se dirigiu novamente ao seu leito e dormiu. Pegou seu diário, onde
reproduzido uma parte que lera no diário de Regulus, e passou a lê-lo:
“Ontem depois da prática de magia sexual com Maria Madalena, tive uma experiência muito
interessante. Penetrei em estado de meditação no mundo causal, o mundo da vontade consciente.
Minha Mãe divina conduziu-me aos registros da Natureza ou Akashicos como é chamado pelos
hindus. Via tudo como se fosse um filme, mas a única diferença era que o filme era projetado na Luz
eletrônica, o Akasha, ao invés de ser em uma tela de cinema; a tela da Natureza é a Luz Astral, onde
se encontra todos os registros da história do homem e da humanidade. Vi projetado nesta tela de Luz
Astral, uma história que me envolvia. Este filme, de uma de minhas vidas passadas, passava-se na
época da antiga Caldéia, a terra sagrada dos astrólogos e dos magos cabalistas. Viajava junto a uma
outra pessoa, um amigo, estava em busca de uma sacerdotisa. Deparei-me com um edifício alto
usado para observar as estrelas, onde encontrei uma velha maga astróloga, e a consultei para saber
sobre o paradeiro da sacerdotisa que buscava; subi junto com a maga astróloga ao topo do edifício; a
velha maga apontava para a constelação de Aquário e me revelava algo que não lembro. Ao descer
do edifício avistei uma inefável dama que estava vestida de negro e tinha sobre o rosto um véu da
mesma cor. Senti algo voluptuoso na alma, um amor repentino; era a mulher que buscava, o Santo
Graal estava ali mesmo. Trazia um archote na destra e duas chaves na outra mão. Dei a ela uma
pequena pedra branca, e ela me deu uma negra. Ela me conduziu por uma estreita vereda, era noite,
e o fogo do archote que ela segurava iluminava a estreita vereda. Logo despertei. Compreendi que
aquela mulher era minha Medéia, a sacerdotisa de Hécate; a mulher que me ajudaria a vencer o
dragão e a conquistar o Tosão de ouro. Li um trecho de uma de minhas vidas passadas na antiga
Caldéia, em meu livro da vida.
Comentei a experiência com o meu velho amigo cátaro, e ele me disse: „Com certeza esta é
aquela com a qual você saiu do Éden, e é com esta mesma que deve retornar ao paraíso perdido; ela
é a parte passiva do Elohim microcósmico, o Andrógino criador. A maga astróloga certamente lhe quis
dizer que vocês terão uma missão na era de Aquário que entrará no dia 4 de fevereiro do ano de 1962,
onde os sete Logos planetários se unirão num concílio na constelação de Aquário. A pedra branca é
Urim, e a negra é Tumim, as duas polaridades da força criadora. Veste-se de negro, porque é uma
sacerdotisa de Hécate, a deusa da morte, da magia e dos infernos; é a cor da alta magia. Ela possui
as chaves dos mistérios da Natureza e porta o Fogo da iluminação. A vereda que percorre com ela, é
a senda da Iniciação‟.
A Tigresa Branca, Lung Nu, ficou por um tempo meditando no que lera, e queria saber o que
era de fato esta magia sexual que Regulus sempre relatava em seus escritos, depois dormiu com
pensamento fixo na magia sexual; e sonhou que Regulus estava sentado em posição de flor de lótus e
ela estava sobre seu colo conectada sexualmente, grandes labaredas de fogo envolvia-os, com o
tempo as labaredas se tornaram em luz dourada em forma ovulada; um dragão de luz azul saia de seu
coração e unia-se com um outro dragão vermelho que saia do peito de Regulus; os dragões se
elevaram entrelaçados em forma de oito sobre suas cabeças; o dragão vermelho lançava uma chama
dourada e o azul uma prateada, da união das chamas nasceu um ser andrógino com características
do casal. Um pombo branco saia do coração do andrógino e emanava intensa luz branca. Lung Nu
acordou maravilhada e espantada com a experiência que tivera.
Regulus também tivera um sonho e neste se via como um cavaleiro lutando contra um furioso
dragão escarlate de sete cabeças que vigiava uma fonte de águas límpidas; nesta havia uma gruta, na
entrada desta havia uma linda musa nua portando um tridente na destra e uma taça de prata com a
mão esquerda, do interior da taça elevava-se uma serpente naja; do órgão sexual da musa emanava
um delicioso magnetismo. Acordou e meditou sobre o sonho.
Regulus sentado em uma confortável poltrona da sala aguardava Lung Nu para irem ao teatro.
A alma do frei rebelde estava inflamada pelos dardos de Eros. O centro de gravidade do Eros de
Regulus estava concentrado na bela Lung Nu, ela, como Psique, estava enamorada do mestre que
queria penetrar em seus mistérios.
Suas almas estavam erotisadas, o fogo inspirador do amor fazia florescer de seus espíritos as
mais belas poesias. Lung Nu, como personificação da Natureza, estava disposta a servir seu corpo
como altar de bronze ao sacerdote Regulus para que este sacrificasse o bode do Shabbath e
oferecesse seus holocaustos ao seu Deus Íntimo. Ela seria seu santo graal onde ele beberia o
sagrado vinho de Dioniso. Seria sua sacerdotisa dionisíaca e para ele dançaria volúpituosamente,
extasiada e embriagada pelo vinho de luz, pronunciaria a palavra mágica: Evoé...
Depois de um certo tempo prolongado, Lung Nu apareceu vestida com um belo vestido azul
safira de gala, estava linda, pois ia ao teatro com seu amado Miguel. Iam assistir uma opera que
retrava o drama musical de Wagner: „O Fantasma da Opera‟. Regulus vestiu seu sobretudo e apanhou
seu chapéu, colocando-o sobre a cabeça, seguiu de braços dados com a mulher que um dia foi uma
das mulheres mais perigosas da máfia chinesa de Hong Kong.
O templo da arte, o teatro, estava bem movimentado e ali se encontravam diversas
personalidades do mundo burguês. Regulus e Lung Nu seguiram ao camarote reservado para eles,
acomodaram-se e aguardaram o inicio do drama musical. Um verbo inefável provindo da laringe de
uma linda jovem dá início a opera. O êxtase invadiu o casal de amantes, seus olhares se cruzavam e
deles emanavam a luz do amor. Lung Nu mantinha os olhos fixos na artista até que algo lhe chamou a
atenção, observou uma elegante dama chinesa no camarote oposto que estava acompanhada de uma
elegante e bela mulher que para ela não era estranha, a mulher tinha um porte nobre, trazia uma certo
entusiasmo no semblante, era como se estivesse em profunda reflexão sobre algo contemplado. Não
dava para definir exatamente quem era, mas a figura insólita não era estranha, porém ela reconheceu
a dama, sim, era ela, Miao Sham.
Perséfone observou que Maio Sham não tirava os olhos do casal que ocupava o camarote
oposto, e olhou; para sua surpresa viu seu antigo professor, o frei franciscano acompanhado de uma
linda jovem chinesa que ela não conhecia, sim era ele, estava diferente, seus cabelos estavam longos
e agora possuía uma fina barba bem tratada.
“Veja Mestra, aquele insólito sujeito ao lado da jovem chinesa, é o frei franciscano do qual lhe
falei”, disse Perséfone em tom baixo, à medida que aproximava os finos lábios ao ouvido direito de
Miao Sham.
“Impressionante, a mulher ao seu lado é Lung Nu, o que faz este homem eclesiástico ao lado
de Lung Nu?”, pensava secretamente a mestra taoísta.
Miao Sham não percebeu que o frei era o mesmo Mendigo que procurava, apesar de ter a
impressão de conhecê-lo, não passou por sua mente esta idéia, mesmo porque estava longe demais.
Perséfone não tirava os de Regulus. Miao Sham deu um leve sorriso e voltou à atenção a opera.
Logo após o termino da opera e depois dos aplausos, Perséfone se dirigia à recepção com o
intuito de falar com o frei, enquanto Miao Sham e uma amiga comentavam sobre o espetáculo.
Perséfone procurou na multidão o frei, localizando-o se dirigia até o local onde se encontrava, pois
estava aguardando Lung Nu retornar do toalete próximo de uma das colunas que sustentava o templo
da arte, logo que retornou seguiram, mas foram abordados pela cabalista de Leon.
“Que satisfação em encontrá-lo aqui frei Miguel!”, exclamou com um certo entusiasmo
Perséfone.
“Senhorita acho que está me confundindo com alguém, sinceramente não a conheço e nem
sou frei”, disse isso em tom cavalheiresco.
Lung Nu ficou perplexa e sem ação ao ouvir Perséfone chamar Regulus de Miguel, sim suas
suspeitas não estavam equivocadas, ele de fato era o frei Miguel , pois ela sabia que ele era de fato o
frei, porém não comentou nada. Regulus ficou assustado e apreensivo, pois seria muito perigoso para
ele se a tal senhorita divulgasse sobre seu paradeiro, e devido a este fato observou Perséfone, e
quando esta se aproximou de um local isolado a puxou pelo braço pedindo que ela fizesse silêncio,
Lung Nu acompanhava secretamente o evento.
“Sou eu mesmo senhorita e me lembro perfeitamente de você, foi uma de minhas alunas,
jamais podaria esquecer nossos diálogos sobre Cabala, por isso peço um grande favor que mantenha
minha identidade em segredo, pois caso comente sobre meu paradeiro colocaria sua vida e a minha
em risco, é uma história muito longa e não dá para contá-la no momento”, disse isso e sumiu no meio
da multidão sem deixar pista alguma, Perséfone queria encontrá-lo novamente, mas isso não seria
possível no momento.
Perséfone não compreendeu o ocorrido, porém guardou silêncio sobre o fato, entretanto iria
investigar o mistério do frei, pois quem sabe ela não poderia ajudá-lo nesta questão. Perséfone voltou
para junto da Mestra, porém permaneceu em silêncio e pensativa.
“O homem que conversava não é estranho para mim, conheço de algum lugar; tem um ar
misterioso, parece um bruxo, você viu os cabelos compridos e a barba pontiaguda, figura insólita, você
o conhece?”, disse certa dama da sociedade, esposa de um senador para Perséfone.
“Não conheço este homem distinta senhora, ele apenas me pediu uma informação nada mais,
se eu soubesse que se trata realmente de um bruxo teria marcado uma consulta para solicitar com ele
um bom filtro de amor”, disse isso sarcasticamente Perséfone, à medida que seguia em direção a Miao
Sham que a esperava na saída do teatro.
Miao Sham procurou por Lung Nu para cumprimentá-la e conhecer o frei rebelde amigo de
Perséfone, porém estes desapareceram na multidão.

“Eu sempre soube que você era de fato frei Miguel, porém me mantive silenciosa, e sei
também que se manteve silencioso para me preservar, muito nobre de sua parte”, disse Lung Nu.
“Frei Miguel morreu por uma picada de víbora como já te disse, sou Regulus, este frei não
existe mais”, disse Regulus.
“Que ironia do destino, o homem que eu tentei assassinar agora é o homem que eu amo, isso
me faz lembrar a obra literária de William Blake: „O casamento do céu e do inferno‟, que mistério é a
vida meu amigo, que mistério...”, disse Lung Nu.
Depois de certo tempo, o carro penetrou pelos portais da mansão de Lung Nu.
Capítulo ‫ז‬
A Batalha

Logo após a opera Lung Nu e Regulus se dirigiram para a mansão, antes de se retirarem para
os aposentos permaneceram na sala dialogando sobre a opera. Ela estava ávida em saber mais sobre
o esoterismo gnóstico de Regulus, queria achar o momento oportuno para puxar o assunto da magia
sexual pelo qual tinha grande interesse em conhecer, mas não queria ir direto ao assunto.
“Já nos conhecemos por algum tempo e entre nós não pode haver mais segredos, gostaria de
saber sobre sua atividade esotérica como gnóstico”, disse a Tigresa Branca ao Leão Vermelho.
“Vou lhe contar como começou, pelo menos uma parte. Nós éramos apenas um embrião de
um poderoso corpo revolucionário ainda em estado potencial. Nossa revolução era de princípios
religiosos com base na pura e santa doutrina libertadora do Cristo. Não queríamos dar um golpe de
Estado, pois sabemos que o sistema só pode ser destruído pelas forças da natureza, é impossível
desintegrá-lo, visto que a maioria da população do planeta, que o sustenta, não possui nenhuma
possibilidade de regeneração. Para nós só interessa resgatar aqueles com possibilidade de
regeneração, não necessitamos do sistema, possuímos métodos de auto-sustentação.
Não queremos incomodar ninguém, apenas queremos viver em paz com aqueles que são
nossos afins, e realizarmos uma revolução muito mais superior do que a política: a revolução da
consciência. Não somos deste mundo e nem o queremos, „dê ao Capital o que é do Capital, e a
Deus o que é de Deus.‟ Se os guerreiros cósmicos conhecidos como Jardineiros do Universo,
quisessem por abaixo o sistema do Anticristo, assim o faria com muita facilidade, para isso
necessitariam apenas de uma nave cósmica de uma alta tecnologia, que o Adão Belial, o homem
decaído, não possui e nunca possuirá, e com o poder do sétimo Raio cósmico, desintegraria em
poucos segundos o lixo que polui a natureza. Temos uma missão, somos os mensageiros da era de
Aquário”.
“Que mensagem é esta da era de Aquário, isso muito me intriga”, perguntou Lung Nu..
“A Era Aquariana tem como objetivo formar um exército de salvação mundial, para forjar
homens conscientes, que formarão o embrião da sexta Raça Raiz. Não estamos aqui para reformar o
sistema, este já está sentenciado, e logo será aniquilado pelo Raio da Justiça Divina. Nosso único
objetivo é derrubar o governo do Anticristo dentro de nós, para que nossa alma se liberte do jugo
desse sistema satânico. A Força da Natureza não deve escravizar o homem, mas libertá-lo do jugo da
ignorância; empregar a Força da Natureza para a libertação é fazer revolução contra a própria
Natureza que nos prende ao tempo que é à morte. É óbvio que o sistema e toda sua estrutura esta a
serviço da natureza. Apoderar-se da Força é vencer e dominar a Natureza é ser senhor dela e não
escravo.
Para combater o governo do Anticristo dentro de nós, é necessário primeiramente deixarmos
de alimentá-lo. Se analisarmos e estudarmos a técnica de combate que nosso organismo utiliza para
combater as bactérias e vírus, vamos conhecer a verdadeira arte do combate através de nosso próprio
organismo. O nosso organismo nos fornece a melhor técnica de combate, pois a Natureza é sábia,
pois ela possui o Logos latente em si.
Sabemos que é na Luz Astral que ocorre o combate entre os anjos e os demônios, tanto fora
como dentro do homem. A Luz Astral em nós é o sangue, que é a Luz Astral materializada, por isso o
sangue é e foi muito usado nos ritos macabros de magia negra. O sangue é o veículo da alma, se a
alma está presa dentro da forma pensamento que personifica algum eu-diabo relacionado com algum
desejo, então esta luz astral ou sangue será contaminado pela sombra que é o agregado psíquico
chamado de eõn, uma forma pensamento coagulada no corpo de desejo. O sangue é alimentado por
átomos que chegam na corrente sangüínea através da respiração, da aspiração e dos alimentos, o
pensamento e o tipo de alimentação são que vão determinar se os átomos são evolutivos ou
involutivos.
Uma pessoa cujos pensamentos são negativos, ou seja, aspira os desejos e as paixões
bestiais e a materialidade, sua atmosfera estará impregnada de átomos involutivos, por isso é comum
para uma pessoa sensitiva sentir o ambiente pesado quando está próximo de uma pessoa impura. É
muito comum também o sensitivo sentir esse peso na atmosfera onde se encontram pessoas que
digerem carne de porco, esse tipo de alimento é involutivo, contamina o sangue com seus átomos
involutivos, fazendo, assim, com que as paixões bestiais encerradas nas formas pensamentos que
habitam nossa Luz Astral, e os instintos animalescos, aflorem e se manifestem em ações e atos
negativos.
Nós temos uma região elétrica-magnetica localizada no centro sexual que se chama Igreja de
Esmirna ou o Santuário do centro sexual, o chacra esplênico ou do baço; esse chacra é sumamente
importante para absorver Força Vital e energizar o corpo vital. Dentro desta igreja habita um ser
angelical, ou seja, um poderoso Átomo, que se chama Râkinî, sua cor é como de um lótus azul, possui
uma beleza inefável e segura diversas armas em suas mãos, possui quatro braços indicando, assim,
que é um ser andrógino. A meditação nessa Igreja, ajuda a se livrar dos inimigos tais como: luxuria,
ira, inveja, orgulho, enfim os demônios que habitam a grande Babilônia que é a nossa psique
corrompida pela ignorância ou ausência de sabedoria, a luz do Logos em nós.
O órgão do baço, que na Cabala é atribuído ao Arcano Zain que é o das batalhas, é composto
basicamente de duas substâncias, que são os glóbulos brancos responsáveis pela geração de
anticorpos, a defesa do organismo; e os glóbulos vermelhos que são responsáveis pela remoção de
partículas de materiais indesejáveis, tais como as bactérias e vírus. Os glóbulos brancos compõem a
polaridade passiva do sangue, os vermelhos a polaridade ativa. Os brancos defendem o organismo
dos vírus e bactérias, os vermelhos aniquilam os inimigos. Quando a defesa é rompida pelo inimigo,
então as células que compõem o organismo são afetadas, então sobrevém a doença, afetando a
vitalidade e levando o organismo celular à morte. Os vírus e as bactérias são vampiros que sugam a
vitalidade do organismo, ambos constituem as forças tenebrosas da Natureza que geram a morte.
Devemos assimilar bem este processo, pois ele é análogo aos processos psicológicos. Os vírus e as
bactérias psicológicas são os defeitos, os nossos erros, nossas paixões bestiais que formam o eu-
diabo em nós; os globos brancos representam o fogo passivo da força vital e os vermelhos o fogo ativo
da mesma, as duas correntes do corpo de desejo, o corpo astral: a centrifuga que é ativa e repulsiva; e
a centrifuga que é passiva e atrativa, esta é uma força coaguladora ou cristalizadora. As formas
mentais evocadas pela mente perversa são coaguladas no corpo astral através da força centrípeta; e a
força centrifuga está a serviço da Vontade e repulsa as formas mentais evocadas pelo demônio do
Umbral do corpo mental. São representadas por Kaim e Abel, quando estas duas forças se
desequilibram, Kaim que é força centrípeta, mata seu irmão Abel, desta forma edifica seu reino
maldito, a Grande Babilônia psicológica, o Caos.
O eu-diabo é o vírus psicológico que vampiriza força vital e consciência. Com o pecado
inserido no sangue, e percorrendo através das artérias, todo organismo, assim, ele controla a
maquina humana a partir das células, contaminando-as com átomos involutivos, ou seja, de baixa
vibração; na verdade não existe bem e mal, mas níveis de vibrações, porém quando a vibração se
encontra abaixo de 48 leis, chamamos de mal, e quando se encontra acima, de bem. Todas as células
possuem consciência, pois cada célula se desdobra em moléculas, e estas em átomos estes são
dotados de consciência. O átomo é sétuplo, ou seja, os vitais formam o corpo vital; os atrais formam o
corpo emocional; os mentais o corpo mental; os eletrônicos o corpo causal; os intuicionais o corpo da
consciência divina; os espirituais formam o corpo do Espírito. Eles constituem a matéria dos sete
planos ou dimensões da Natureza. Existe em todo homem um Átomo central de Lúcifer localizado no
baixo ventre, este Átomo rege o sistema simpático inferior e as sensações, ou seja, ele é Senhor
absoluto do mundo sensível. A Serpente tentadora que vive na Árvore do conhecimento do bem e do
mal é a alegoria do poder e da força da paixão, o fogo luciférico que embriaga os sentidos e faz com
que a alma emocional, a Eva, como do fruto proibido e persuade Adão, a alma racional para que esta
realize as concepções mentais ou os ideais do bem e do mal, ou seja, a dialética. Então, Adão, a
razão, fecunda Eva e, esta, gera em seu ventre as idéias do bem e mal formuladas pela razão escrava
do desejo, princípio de Eva, a alma emocional, e da paixão, o fogo luciférico; desta forma os
pensamentos ímpios contidos como arquétipos na sabedoria de Lúcifer, se apoderam da razão por
intermédio da força do desejo emanada de Eva, assim, os Eões saem do estado potencial para
atividade na alma. Eva caída é Lilith, o principio feminino que reside no corpo emocional ou de desejo.
Então o que fazer para impedir com que a corrente da paixão emanada de Lúcifer degenerado
se apodere da alma emocional e da alma racional? Batalhar contra ela! Este combate é representado
por Percival, o Rei do Santo Graal, que batalha contra o dragão escarlate de sete cabeça, como é
mostrado no quadro do famoso São Jorge. Como? Apoderando-se da força ímpia ou instintiva, o fogo
da paixão, controlando-a e dominando-a, pois é através dessa força que os eões são trazidos a
existência, valendo-se dos cinco sentidos do corpo. A raiz desta batalha se dá no sexo, pois o fogo
sexual bipolarizado através de uma ação sexual casta produz luz, e esta luz é criadora do Novo
Homem e destruidora do Adão Belial, o caos; ela destrói para construir. Para que o ocorra à
bipolarização do fogo sexual se faz necessário à formação do Andrógino Adão e Eva, ou seja, a alma
emocional e racional, mas isso só é possível através dos mistérios do sexo entre homem e a mulher
no plano físico.
Este Andrógino é formado pelo equilíbrio sexual entre o macho e a fêmea; o Andrógino é os
dois Serafins à direita e à esquerda do candelabro, ou seja, a espinha dorsal e os sete centros elétrico-
magnéticos. A formação deste poderoso androginato somente se dá pela união sexual superior; nesse
sentindo o sexo é uma poderosa arma, e a neutralização dos dois fogos sexuais, suas duas
polaridades, o Serafim macho e o Serafim fêmea, dá origem ao Fogo Sagrado do Espírito Santo, o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e abre os sete selos dos chacras ou centros elétrico-
magnéticos. Este Cordeiro é o Fogo Crístico que extermina de nossa alma o pecado. O pecado que é
a força ímpia cristalizada nos corpos emocional e mental é incinerado pelo Fogo Sagrado simbolizado
no Cordeiro de Deus, ou seja, o Fogo Crístico. Este Fogo Sagrado queima o lixo de nossa Luz Astral,
pois os corpos emocional e mental são constituídos de matéria astral e mental da quinta dimensão.
Como as forças ímpias estão cristalizadas nos corpos emocional e mental, as almas emocional e
racional que residem neles, estão como que presas num receptáculo de chumbo. Como a força ímpia
é de natureza magnética, e está cristalizada nos corpos, então a alma emocional e racional estão
presas a este magnetismo fatal da natureza, desta forma a consciência se encontra em estado
hipnótico, adormecida, uma vez que o principio de Consciência reside nessas duas almas. Como a
alma está em sono hipnótico, não percebe que é escrava do mundo dialético, do dualismo, do bem e
do mal. Neste estado a alma é presa à roda do destino, que evolui e involui. A Natureza Dialética, que
é o mundo físico, o mundo orgânico, animal, tem como alma este fogo ímpio dos instintos; as duas
polaridades deste fogo é o bem e o mal, o Urim e o Tumim dos cabalistas; o fogo do sexo, que é a
Árvore do Conhecimento do bem e o mal. Quando esta força se desequilibra no ato da união sexual,
sua polaridade magnética que é vampírica, infravermelha, chamada de Píton de sete cabeças, ou seja,
a força geradora dos sete pecados capitais e sua legiões de demônios, predomina no sangue,
dominando o corpo físico, astral e mental. Assim, quando temos alguma sensação negativa que
capinamos pelos cinco sentidos, este fogo maligno arde em nosso sangue, então criamos com a força
do pensamento, que é a polaridade ativa da alma, uma forma pensamento chamada à existência pela
força do desejo. Por exemplo, contemplo uma imagem do sexo oposto com o sentido da visão e acabo
me fascinando com tal imagem, assim, crio uma sensação erótica que ativa o fogo do desejo em meu
sangue, fantasio, esta já é uma atividade mental; então crio pela força do desejo uma forma
pensamento idêntica com a imagem fantasiada pela minha mente; dessa forma nasce um habitante de
minha Babilônia psicológica relacionada com o pecado capital da luxuria. O mesmo ocorre com os
outros pecados: gula, inveja, orgulho, cobiça, preguiça e ira; esses são nossos inimigos internos que
devem ser aniquilados com o poder do fogo da vontade, estes são os demônios escarlates do deus
Set.
Quando nós vigiamos, percebemos a manifestação desses demônios dentro de nós. Este
desejo que sentimos em comer além do necessário; em falar mal do próximo; em se irá com alguém;
em se orgulhar por algo ou por alguém; em cobiçar algo; em se manter na inércia e ociosidade; em
criticar o próximo por pura inveja; é a paixão gerando a morte em nós. Quando nos conscientizamos
desses nossos inimigos que habitam nossos corpos internos e poluem nosso rio da vida, o sangue,
então podemos combatê-los e vencê-los um a um até limpar nossos corpos, esta é a grande batalha
do Amargedom.
Primeiro temos que vencer nossos baixos instintos passionais, com a purificação do sangue
através de jejuns, alimentação correta, exercícios físicos tais como os de Tai-Chi Chuam e de Yoga.
Depois fortalecer o corpo vital através de respirações pela manhã e a pela noite antes de dormir; deve-
se respirar profundamente, reter o ar por alguns segundos, e depois soltar; faça-se por meia hora
todos os dias, se possível no campo ou em áreas onde a natureza é intrínseca. Segundo passo é
purificar o corpo emocional, eliminando as baixas emoções e os desejos desordenados; devemos
eliminar de nós tudo que desperte as emoções e sentimentos inferiores, desde objetos, músicas,
conversas e até pessoas; há pessoas que fazem despertar em nós sentimentos de inveja, luxuria, ira,
e outros; isso se dá, porque as forças planetárias, cuja polaridade negativa é o vício, entra em conflito
com nossos próprios planetas que regem determinadas áreas ou casas astrológicas, assim despertam
em nós o lado fatal da corrente planetária; uma Vênus em quadratura com a Lua Negra ou uma outra
Vênus, desperta sentimentos de luxuria nas pessoas envolvidas nos aspectos negativos; um Marte de
uma pessoa formando quadratura com o Mercúrio de outra, ativa a ira que leva a discussão, afetando
as áreas onde se localizam os planetas em questão. Devemos manter distância ou pelo menos
estarmos alerta com pessoas cujos planetas entram em maus aspectos com os nossos, por isso o
Mestre Jesus nos orientou a não estar na roda dos escarnecedores. Um Marte de um homem mau
caráter, entrando em conjunção com uma Vênus de uma dama casta seja na casa do romance, da
atração amorosa ou a casa do sexo, tal homem pode corromper a castidade de tal dama com muita
facilidade, caso a dama não fuja da influência da energia marciana do homem em questão; se a dama
é uma iniciada e possui total controle sobre si, ela pode usar esse tipo de influência para desintegrar
seus defeitos que se manifestam ou saem da caverna de seu inconsciente, desta forma conhece a si
mesma e pode mudar sua vibração psicológica. A Astrologia gnóstica é usada no trabalho psicológico
e não simplesmente para a magia.
O terceiro passo é eliminar os maus pensamentos. Os maus pensamentos não só os
mórbidos, lascivos, avarentos, vingativos e outros, mas também pensamentos fúteis, vulgares;
devemos libertar a consciência desses pensamentos relacionados com o bem e o mal do mundo
fenomenal ou material. Uma pessoa que fica o tempo todo pensando em como ganhar dinheiro está
com sua consciência presa na cobiça; outro que fica o tempo todo pensando em como conquistar
sexualmente sua secretária ou amiga, está com a consciência presa na luxuria. Expulsar com o látego
da vontade esses nossos inimigos do santuário da cabeça, é purificar a força vital que reside no corpo
mental e que se manifesta à direita da espinha dorsal.
O Sexo é a alma do mundo; é a própria roda da dialética, porque é nele onde gravita a vida e
a morte, o ser e o não ser. É pelo sexo que o homem é escravizado à natureza, e pelo mesmo que ele
se liberta dela. O sexo é a pedra angular do universo, é também a pedra de tropeço; é a pedra
rejeitada. O poder sexual do homem reside na glândula pineal e desce pelos dois cordões nervosos
semi-etéricos, que se enroscam em forma de oito à direita e à esquerda da espinha dorsal, até os
órgãos sexuais para gerar; mas infelizmente o Inimigo Secreto, nosso Diabo interior, cujo átomo reside
na base da espinha dorsal, usurpa este poder criador, para com ele gerar seu reino fatal em nossa
alma. De que forma ele usurpa? Escravizando Adão, ser Pensante; e Eva, ser Desejo, fazendo com
que estes realizem suas concepções, ou seja, o reino do Anticristo.
O Cristo Íntimo é o Guerreiro que combate os exércitos da grande Babilônia, mas o Cristo só
pode combater o inimigo secreto que é Satã e seus exércitos, através da força sexual neutralizada
pela castidade. A força sexual é a munição e o sexo é a arma. Se a força sexual é neutralizada pela
castidade, ela será a arma com a qual o Cristo derrubará as cidadelas psicológicas onde habita
nossos eus infra-atômicos; mas se a força é desequilibrada pela fornicação, então ela será uma arma
contra o Cristo. A arma é a mesma, por isso o sexo é fonte que cria ou destrói. A força neutralizada é
libertadora e conduz a vida eterna, mas desequilibrada é escravizadora e conduz a morte. A
polaridade positiva da força sexual ou vital é análoga aos glóbulos vermelhos de nosso sangue; a
polaridade passiva é análoga aos glóbulos brancos. Se a força passiva que é a resistência, o campo
magnético, de nossa psique se romper, então nossos inimigos que são os vírus psicológicos, os eus
infra-atômicos invadirão nossa alma para ser apoderarem de seu núcleo, a consciência, mas se
resistirmos à tentação, então o campo magnético será uma fortaleza contra nossos inimigos internos,
assim, a força elétrica, que é ativa, o raio ultravioleta, desintegrará as formas malignas de nossos
pensamentos negativos. Controlando a força do instinto, do desejo e mental, tiramos as armas e os
alimentos das mãos do inimigo, e a utilizamos para exterminá-los de nossa luz astral. É um fogo
neutro que extermina de nosso sangue as impurezas. Este Fogo neutro é o Fogo do Cristo que nasce
em nós para nos libertar do jugo da Besta. Para triunfar sobre o inimigo, é necessário sermos castos
em nossas ações e pensamentos. No princípio o inimigo se oporá com grande força, como um rei que
vê seu reino em perigo, mas a perseverança e a tenacidade nos farão vitoriosos. O guerreiro espiritual
deve desenvolver os valores das quatros letras sagradas do nome de Deus dentro dele, isso só é
possível sendo casto. O valor da Iod que é representada por um Leão alado, é o querer; o valor da
letra He que é representada por um homem alado, é o saber; o valor da letra Vau que é representada
por uma Águia, é o ousar; e o valor da quarta letra que é uma outra He e que é representada por um
Touro alado, é o calar. Estes são os quatro verbos do revolucionário, a Esfinge que deve se atrelada
ao carro de guerra do Cristo Íntimo.
Esta é a arma do Cristo chamada de Tetragrammatom, com essa Arma podemos pôr abaixo o
reino da Besta e o governo do Anticristo dentro e fora de nós, já que o externo é o reflexo do interno”.
“Esta metafísica do sexo é impressionante, é como se eu já a conhecesse e agora através de
seu verbo estou me lembrando. Sempre tive a intuição que a prática sexual comum gera infelicidade e
angustia depois de ter sido saciada. Então, este fogo erótico cujo objetivo é ativar o sexo para objetivar
a vontade de vida, pode ser controlado e voltado a uma criação superior?”, perguntou Lung Nu.
“Exatamente, este é o Grande Arcano da Magia! A força voltada para fora objetiva a vontade
de vida no fenômeno, porém voltada para dentro cria o Homem Espiritual, o Além Homem”.
“Quero ser iniciada por você nestes mistérios sexuais, sei que é o homem certo para me
conduzir a estes mistérios, há muito tempo estou em chamas ardentes, minha alma está em chamas e
deseja ser fecundada pelo fogo da vida. Sei que também possui os mesmos sentimentos por mim,
então o que impede que unificamos nossas almas em chamas para criar o belo?”. Questionou Lung
Nu, à medida que acariciava o rosto de Regulus olhando fixamente em seus olhos.
O Leão Vermelho ficou surpreso com a ousadia da Tigresa Branca, e não teve palavras,
apenas deixou ser conduzido pelo fluxo da força.
“Tem certeza de que é isso que você quer? Pois a força é muito poderosa e há que ter uma
vontade muito poderosa para suportar sua pressão”.
“Eu quero pisar sobre a cabeça da serpente, não quero mais ela enrolada em meu corpo, me
liberte dela, e eu farei de ti um deus!”.
Regulus ficou assombrado com as palavras esotéricas de Lung Nu. Possuía de fato a ciência
secreta dos filósofos e dos magos em seu inconsciente. Ele se aproximou e com toques suaves tocou
em seu rosto, alisou seus longos e negros cabelos lisos, pegou em seus braços, aproximou o seu
rosto ao dela e fixou os olhos de águia nos pequenos olhos da deliciosa mulher, logo deu alguns
suaves beijos no rosto. Ela aproximou os lábios vermelhos e finos aos dele. Lung Nu esperava um
longo e ardente beijo, porém Regulus direcionou os lábios para a testa da amada dando um suave
beijo, disse sussurrando em seu ouvido direito, à medida que alisava seu delicado pescoço delgado:
“Suba e prepare a câmara nupcial, acenda velas de parafina e perfume o ambiente com
aromas amadeirados. Na hora exata de visitarei no leito sagrado do amor”.
Lung Nu fez como ele pediu.
Regulus não acreditava nas mulheres e nem no amor, porém compreendeu depois de muitas
meditações que a mulher é a personificação da Natureza e que o homem é o mago que deve dominá-
la no sexo para operar com a magia; Eros é o Grande Agente mágico que também deve ser dominado
pela vontade do mago e empregado numa realização espiritual e não material como os magos negros
fazem.
Quando o relógio marcou uma hora da madrugada, o horário de Escorpião, o signo do sexo e
da morte, Regulus se dirigiu à câmara no final do corredor, e deu nove batidas. A Sacerdotisa
apareceu no umbral e abriu a porta do seu santuário ao Sacerdote, este atravessou o umbral e se
deparou com a imagem mágica da mulher que deveria ser iniciada por ele nos mistérios do sexo. Ela
vestia um quimono chinês de seda de cor negra, neste havia um tigre artisticamente pintado na cor
branca. Lung era experta e intuía tudo, e também deixou sobre a cama de Regulus um outro quimono
semelhante, da mesma cor, porém com um dragão pintado na cor rubra. Miguel sabia que a cor negra
era usada nos rituais de alta magia, então percebeu que Lung Nu possuía uma intuição poderosa para
estes assuntos mágicos.
A câmara estava iluminada por quatorze velas, ou seja, por dois candelabros de sete braços,
peça rara e valiosa que Lung Nu ganhara do pai de Jade, um era de ouro e outro de prata, ambos
eram adornados com lápis-azuli. Era uma peça tibetana. As cortinas que contornavam o leito eram de
cor índigo e compostas por véus adornados de flores; o lençol da cama era rosa e de seda. A cama
possuía dois metros de largura e três de comprimento. Na parte superior, onde ficavam os varais e as
argolas de bronze que sustentavam as cortinas, eram contornadas por um tecido de seda com pregas
da mesma cor dos véus. O leito era semelhante aos dos nobres chineses. A cama era de madeira de
oliveira; no madeiro que formava a cabeceira havia entalhado um tigre e um dragão, entre os dois
emergia uma fênix entre labaredas de chamas. As quatros colunas da cama que sustentavam a
estrutura do leito e serviam de bases para os varais de bronze, eram adornadas com entalhes de
flores de lótus; a parte superior dos varais cilíndricos se sobressaiam sobre a cobertura do leito e suas
extremidades eram encimadas por cabeças de tigres; tudo no estilo da arte chinesa. A câmera tinha
um tom místico e era artisticamente adornada no estilo da arte chinesa. Lung Nu tinha um gosto
extraordinário, sua câmara era uma verdadeira obra de arte, ela de fato venerava o belo.
Ambos se fixaram e em silencio se contemplavam um ao outro. Estavam se conhecendo
intimamente. Tocavam-se, admiravam-se; mantinham o auto-controle e o equilíbrio. Seus gestos eram
suaves, sem ansiedade, sem presa. Abraçavam-se fortemente. A Tigresa Branca sempre escapava
das investidas do Dragão que queria beijá-la. A Tigresa Branca conduziu o Dragão a uma pequena
mesa onde havia uma bandeja de prata com diversos frutos. Sentaram-se e ela com muito carinho e
uma certa destreza típica de mulheres inteligentes, arrancou uma uva do cacho, beijou suavemente, á
medida que olhava com certa manha erótica para o potente Dragão que se encontrava ao lado oposto
da mesinha de madeira de cedro, o gesto foi contribuído pelo Dragão. Ele pegou uma maçã olhou-a
fixamente, contemplou-a, cheirou-a, a papou-a, depois ofereceu para a Tigresa Branca, esta depois de
um olhar lânguido para o Dragão, olhou para a maçã de forma erótica, á medida em que a sentia em
suas mãos, levou-a próxima da narinas e deu um profundo cheiro na maçã; logo disse ao Dragão:
“Faltou duas coisas meu amor: a audição e o paladar”, á medida que dizia isso conduzia a
maçã suavemente aos lábios para degustá-la, mas o Dragão em um gesto nobre e com um tom de voz
suave, disse:
“Não faça isso, porque o dia em que comer deste fruto, certamente morrerás”.
Lung Nu não compreendeu tais palavras, mas sabia que nestas palavras havia sabedoria,
então não mordeu a maçã. Regulus sabia que Lung Nu era sábia e muito inteligente, e no momento
certo ela entenderia o porquê deste gesto com a maçã. A Tigresa Branca o pegou pela mão e o
conduziu para próximo do leito, logo lhe deu um forte abraço demorado. Ela sentia as batidas de seu
coração acelerado e ele o dela, então ela o beijou ardentemente. A Tigresa desatou o laço que prendia
o quimono do Dragão e o tirou deixando-o completamente nu; ela rodeava o Dragão tocando-o as
costas, o peito, os longos cabelos lisos e negros; abraçou-o e sussurrou em seu ouvido esquerdo que
o amava e que era uma mulher muito feliz em ter encontrado um homem que a respeitava. Logo deu
uma recuada e começou a despir-se de seu quimono, mas fazia isso de forma muito lenta e suave,
olhando o Dragão com muita languidez nos olhos pequenos onde o fogo radiava voluptuosidade.
Como um passe de mágica o quimono de seda deslizava por aquele inefável e delicado corpo da
Tigresa Branca. Regulus finalmente contemplava a beleza oriental totalmente nua. Sim, a Isis chinesa
finamente tirou o véu para ele, e revelava seus mistérios ocultos naquele belo e delicado corpo que
anteriormente era utilizado para o mal. Os seios eram medianos e firmes, seu corpo era magro, porém
irradiava um poderoso magnetismo erótico, uma força sexual extraordinária. Seus mamilos rodeados
por aureolas escuras eram grandes e estavam enrijecidos. Seus longos, negros e lisos cabelos,
cobriam-lhe as costas ocultando a tatuagem do escorpião negro. Sua vulva era pequena e com
rasteiros pelos pubianos no formato triangular, porém emanava um poder sexual tremendo. À vontade
do Dragão teria que ser muito poderosa para resistir os encantos fatais daquela natureza
deliciosamente bela. Regulus temia por si mesmo, pois se sua vontade não resistisse aquele fruto
proibido e não dominasse aquela bela natureza prostituída pelo demônio, ela o arrastaria para dentro
de seu abismo e ele perderia a essência vital de seu corpo, temeu, porém era tarde para desistir
daquele empreendimento mágico.
A Tigresa Branca se aproximou do Dragão, pegou em sua destra e o conduziu para o interior
do sancto sanctorum do templo do amor, á medida que dizia:
“Venha meu amor, conheça os meus mistérios”.
Os seus corpos nus finalmente se encontraram, o sol e a lua entraram numa conjunção
criadora. O fogo ardia intensamente em seus corpos, ambos estavam soados e suas respirações
ofegantes. Estremeciam de prazer, seus corpos friccionavam-se um no outro como duas serpentes
entrelaçadas. A Tigresa Branca suspirava profundamente e soltava gemidos suaves. O Dragão
acariciava-a em todos os pontos eróticos da Tigresa, ela retribuía com grande destreza. A Tigresa
Branca ávida de amor, tocou o bastão de jade daquele potente Dragão que a amava com grande arte,
sentiu quente, forte como aço e gotejado o néctar do amor. Ele acariciava sua yone que estava
molhada, ela se contorcia e soltava suspiros ofegantes, à medida que empinava os quadris para cima.
Ela então direcionou o falus hermeticus com a mão direita para os grandes lábios de sua yone
molhada de amor, ela ao sentir o falus em sua vulva, que pulsava de desejo em tê-lo dentro de si,
contorceu os quadris com o intuito de absorvê-lo para dentro de seu abismo erotisado, porém o
Dragão resistia o poder emanado daquela vulva deliciosa e dotada de um poder hipnótico já visto por
ele atuando em Heloísa. Teve uma chispa iluminadora que o fez com que sua consciência lembra-se
da maçã, então com o poder de sua vontade controlou o impulso erótico de si mesmo e de Lung Nu,
esta não compreendia a demora dele penetrá-la e consumar o ato do amor. Nestes momentos
inefáveis de delicias paradisíacas, ela estava totalmente embriagada pelo fogo erótico e sua razão
hipnotizada pelo poder magnético do mesmo. À vontade do Dragão era soberana e Eros estava
acorrentado por ela. O Dragão por diversas vezes esteve à beira do abismo, onde lançava o fogo para
iluminá-lo. A Tigresa Branca enlouquecia de prazer com estas investidas do Dragão, contorcia-se
como uma serpente. Mas, Regulus por um instante perdeu a razão e chegou penetrar alguns
centímetros daquela deliciosa yone completamente molhada de desejo, uma voz interior ecoou em sua
consciência alertando-o do perigo, então se retirou do ato mágico ainda casto, mais uma vez ele
venceu Eros na grande batalha dos sexos. Lung Nu ficou surpreendida com aquela maneira insólita e
até revolucionária de se fazer amor e ficou espantada com o domínio e o poder da vontade daquele
homem tão misterioso para ela. Lembrou-se da maçã, então compreendeu tudo.
Lung Nu estava muita satisfeita e sentia na alma uma alegria jamais sentida por ela antes.
Conhecia muito bem a outra extremidade do sexo e sabia que este sempre trás angustia, tristeza e
falta de inspiração e caminha sempre para o desgaste, culpa e desamor; era de fato uma fatalidade.
Porém, o que acabara de experimentar era uma satisfação na alma que a inspirava muito, pois seu
fogo sexual foi bipolarizado se tornando criador, sentimentos superiores nasceram nela, sua vontade
de viver se renovou e viu um sentido superior no ato sexual.
Regulus se retirou para seus aposentos feliz depois de duas horas de prática amorosa. Lung
Nu permaneceu relaxada sobre o leito que ainda mantinha o aroma do amor meditando sobre
ocorrido.
Esta foi a quinta ação generosa de Lung Nu, ou seja, de oferecer seu corpo como altar vivo
para o Mestre Regulus elaborar a Grande Obra.
Capítulo ‫ח‬
O Caduceu

Já fazia aproximadamente dois meses que Lung Nu e Regulus praticavam magia sexual; as
práticas eram diárias, pois Lung Nu se sentia cheia de vida desde que começou praticar, tinha uma
grande disposição para o sexo, somente nos períodos de menstruação é que não praticava. Regulus e
Lung Nu eram como o deus Shiva e sua esposa Shakiti, de dia filosofavam e à noite faziam amor.
Devido ao sonho que Lung Nu tivera anteriormente, onde ela se via conectada sexualmente com
Regulus, na qual este estava sentado na posição de flor de lótus e ela sobre seu colo com as pernas
entrelaçadas em seus quadris, e envoltos por uma áurea ovulada dourada. Ela vinha meditando sobre
este sonho, era uma mulher muito inteligente e intuitiva, pensou consigo mesma: “E se o fogo sexual
fosse bipolarizado em pleno intercurso sexual, esta prática não se tornaria muito mais poderosa do
que já é?”. Pois a visão que tinha da imagem de seu sonho era que a força sexual era controlada e
conduzida para cima, para o alto da cabeça em forma de dragão de fogo, pois no sonho a imagem que
se tinha era de que ambos estavam em estado de êxtase divino. Devido a estas inquietudes de Lung
Nu foi que ela finamente lembrou-se da médica, a velha e sábia taoísta Miao Sham que salvara sua
vida e de sua filha e que a trouxe á Leon. Pois, ela já ouvira falar que os taoístas possuíam uma
sabedoria secreta referente ao sexo, e que também ouviu comentários sobre um certo livro secreto
sobre alquimia sexual conhecido com o nome: „O Segredo da Flor de Ouro‟.
Lung Nu e sua filha Jade resolveram fazer uma visita à velha amiga, esta se encontrava no
jardim aguando as plantas e as flores. Havia muitas plantas de diversas espécies em seu quintal, a
maioria com propriedades medicinais. Como a velha Mestra tinha a consciência desperta, pode
compreender a visita de Lung Nu. Miao Sham disse:
“Como cresceu esta menina de olhos esmeraldinos”, disse isso, á medida que acariciava os
longos cabelos castanhos de Jade.
“O tempo passa rápido, Miao Sham, veja como cresceu! Quando a levei em seu consultório
ela tinha cinco anos, agora tem oito anos, e a profecia se cumpriu como você previu, agora ela tem um
mestre que zela por ela e a educa”, disse Lung Nu.
“O meu professor se chama Regulus e ele esta me ensinado latim: Igne Natura Renovatur
Integra”, disse a pequena Jade.
“Que bom doce menina, vejo que tem um bom professor. E o que quer dizer esta frase?”,
perguntou a Mestra taoísta.
“A Natureza inteira é renovada pelo fogo”, respondeu Jade rindo com o ar de inocente.
“Parabéns menina Jade, você esta indo muito bem em suas aulas de latim”, disse a velha
sábia Miao Sham
“O mestre de Jade, porventura era o homem que lhe fazia companhia no teatro?”, perguntou
Miao Sham.
“Sim”, respondeu Lung Nu.
“Muito bem, é um bom homem, pois sua áurea radiava uma intensa luz amarela, isso indica
que é um ser espiritualizado e de total confiança”, disse a Mestra taoísta.
A mestra taoísta pegou na mão de Jade e se dirigiu para o interior da casa com Lung Nu.
Havia uma bela mulher de aproximadamente vinte e seis anos sentada em uma mofada de estilo
chinesa lendo um livro, era Perséfone a cabalista de Leon. A velha Mestra a apresentou a Lung Nu e a
Jade. Perséfone fechou o livro, levantou e com gesto bem calmo e com a voz baixa e suave
cumprimentou as visitantes. Depois de certo tempo, Miao Sham pediu que Perséfone fosse passear
com Jade no bucólico quintal, esta compreendeu que a Mestra teria um longo dialogo com a Mulher
Dragão, Lung Nu.
“Vejo em tua áurea que teu Ching está polarizado e radiante, o que anda praticando Mulher
Dragão?”, perguntou a Leoa de Jade, Miao Sham.
“Ouvi falar que a senhora possui o TAO, gostaria que me iniciasse no TAO, estou cansada de
nascer e morrer, quero SER”, disse Lung Nu.
“Tem certeza de que quer percorrer o Caminho do Centro Invariável? Uma vez neste Caminho
vertical, deve negar o Caminho horizontal, mesmo que ainda viva nele; deve negar toda riqueza deste
mundo ilusório e todos seus prazeres e paixões que ele lhe outorgou por miríades e miríades de
nascimentos e mortes, é um Caminho de muitos sofrimentos e dores, pois se trata de negação ao Eu,
é a morte desta que resultará no nascimento do Espírito Originário, porém este nasce com dores e
sofrimentos”, disse a sábia Miao Sham.
“Estou cansada de ser escrava, quero libertação!”, exclamou Lung Nu muito decidida.
“Sua decisão despertará a fúria da Natureza ímpia e, ela, como um dragão cheio de ódio e
fúria, perseguirá sua alma humana por ter almejado à libertação, será uma luta sangrenta minha
amiga, deve receber a preparação para o combate”, disse Miao Sham.
“Meu Espírito é guerreio, quero o combate!”, exclamou com entusiasmo Lung Nu.
“Minha Essência é Invocando a Guerra e a Batalha; vou invocá-las em você, prepará-se,
passará por terríveis provas, precisamos testá-la, prová-la no fogo”, disse Maio Sham.
“Isso significa que me aceitou como discípula, venerável Mestra?”, perguntou Lung Nu.
“Sim, mas para selar este pacto você terá que se despojar de todo o luxo que sua riqueza lhe
outorgou, e aplicar toda esta fortuna para o bem da humanidade e para o serviço do TAO aqui na
terra, se aceitar estas condições poderá ser novamente minha discípula e, assim, ingressar
novamente na Ordem do Dragão Amarelo e receber o TAO”, disse Miao Sham.
“Como? Já fui sua discípula em reencarnações passadas?”, perguntou surpresa a Mulher
Dragão.
“Sim, por muitas vezes, a história de nossos Espíritos remota a antiga Lemuria, nesta Raça
Raiz nossos Espíritos possuíam corpos hermafroditas”.
“Por isso me ajudou salvando minha vida?”.
“Sim, tudo que ocorreu com você até agora fomos nós, os Irmãos Maiores da Ordem do
Dragão Amarelo, que forjamos tudo para te libertar das trevas e te trazer para o TAO novamente, nada
ocorreu por acaso, até mesmo o seu encontro com o pai de Jade e com o Mendigo foi planejado e
executado com sucesso. Jade, sua filha, é um Mestre de nossa Ordem que precisava de um corpo
apropriado para gerar seu corpo físico feminino, pois necessitava de um corpo feminino para atuar no
mundo fenomenal, pois tem uma grande missão juntamente com mais dois iniciados, Perséfone que
você já conhece e outro que eu ainda não sei quem é, ainda não me foi revelado a sua identidade,
nesta missão este Espírito de Luz teria que ter um bom corpo feminino com as qualidades e
faculdades físicas apropriadas para a sua manifestação, ou seja, de um veículo capaz de suportar sua
intensa força. Como os genes de seu DNA e os do pai de Jade possuem certas propriedades ocultas,
devido as iniciações que vocês receberam em passadas existências, então os Espíritos do Raio da
fecundação através da força atrativa da Natureza fizeram com que você e o pai de Jade se
enamorassem para gerar o corpo do Mestre em questão”.
“Estou sem palavras”, disse Lung Nu soltando soluços e lagrimas.
“Aceita então as condições que coloquei?”, disse a Mestra taoísta.
“Claro que sim”, respondeu Lung Nu de forma ululante.
“Então está feito o pacto. Deduzo que o homem que lhe acompanhava no teatro é de fato o
Mendigo do qual te falei não é?”, Lung Nu respondeu, “sim”, “este homem passa por terríveis carmas
em sua atual existência, desde que escolheu percorrer novamente o Caminho Crístico, como é
chamado o TAO pelos gnósticos, há três reencarnações atrás. Tua alma e a dele estão ligadas desde
épocas remotas. O amor que sente por ele é muito antigo, não surgiu alguns meses atrás quando o
conheceu, mas apenas despertou quando suas almas se encontraram. Ele te libertará e você o
levantará, vocês são almas gêmeas”, disse a Mestra Miao Sham.
“Como, não compreendo estes mistérios?”, questionou Lung Nu.
“Com o tempo entenderá, o importante para você agora é a escolha do Caminho. Daqui a dois
dias um grande Mestre despertará sua Consciência em seu Budhisattwa, que é o homem que esta
vivendo com você, pois este necessita de uma sacerdotisa para trabalhar no Kung Fú sexual, então
você deverá iniciar imediatamente o processo de alquimia sexual, pois ele, o dragão, necessita do
tigre, para formar o Tai Chi, este é a Luz que revela o TAO, o Caminho que conduz ao Real Ser. Ele
no momento ainda se encontra adormecido para estes mistérios, entende de forma ainda muito vaga,
cabe a você fazer ele relembrar tudo isso, pois daqui alguns meses ele passará por uma prova de vida
ou morte, a essência de Ching pode salvá-lo se vocês começarem o mais rápido possível e de forma
intensa”, disse Maio Sham.
Lung Nu então retornou ao Caminho do Centro Invariável, a Senda do Meio, o Caminho do
Budhisattwa, agora daria seus primeiros passos no Caminho do Fio da Navalha.
“O que é Ching bondosa Mestra?”, perguntou a Mulher Dragão.
“A essência sexual, aliás, percebo que teu Ching esta cheio de Chi, ou seja, vida, de força
vital”, respondeu a Leoa de Jade.
“Exatamente, é o que estou praticando que me trouxe até você, sei que possui certos
ensinamentos taoístas secretos sobre a forma de trabalhar o Ching no sexo”, disse enfaticamente a
Mulher Dragão.
A Leoa de Jade permaneceu pensativa por um instante, depois disse:
“Vejo que já está trabalhando com o Ching através do sexo, vejo isso em sua áurea, isso é
bom”.
“Sim, estou trabalhando há dois meses, porém a voz de minha consciência me diz que falta
algo”, respondeu a Mulher Dragão.
“Como está praticando?”.
Lung Nu contou toda a história para a velha Mestra, esta ouvia com muita seriedade o relato
daquela jovem mulher de sombrio passado.
“Muito bem posso te ajudar nesta questão, realmente há uma segunda parte no Kung Fú
sexual, é a parte que corresponde ao processo alquímico, o processo onde Ching passa por uma
destilação, pois esta destilação libera a essência de Ching, através desta se cria os corpos de luz do
Espírito”, disse a Leoa de Jade.
“Então o ato sexual não se trata apenas do casal se magnetizar, mas de fato há uma união de
seus órgãos geradores?”, indagou a Mulher Dragão.
“Sim, há efetivamente uma junção do bastão de jade e da caverna da lua, porém há que ter
um treinamento intenso para controlar o dragão feroz; uma coisa é controlá-lo no processo de
magnetização e outra coisa é controlá-lo em seu próprio reino, a caverna da lua. Para a mulher o
processo é mais fácil, porque sua força flui para dentro e não para fora como a do homem, entretanto
para o homem é terrivelmente difícil, por isso os taoístas chamam de Kung Fú sexual, pois é no sexo
que se trava a batalha contra a alma da Natureza, ou seja, contra o dragão escarlate que habita o
grande abismo da natureza mulher. É este dragão que dota a mulher de magnetismo sexual para atrair
o homem para fecundá-la e procriar a espécie, é o dragão da água, Yin. Tudo é gerado na água como
já dizia o filosofo Tales de Mileto, mas é claro que está água é pura energia Yin. O dragão Yin, fêmea,
busca o dragão do fogo, Yang, para realizarem uma criação seja ela material ou espiritual. O Tai Chi, o
equilíbrio, deve ocorrer no ato sexual para formar Wu Chi, o Vazio Iluminador, o êxtase espiritual. A
força Yang flui para fora, por isso o homem ejacula e perde sua essência da vida; a força Yin para
dentro, por isso a mulher atrai para dentro de seu útero o Ching do homem. A alquimia do corpo
transforma o Chi em Ching, a alquimia sexual transforma Ching em criação”, disse a Leoa de Jade.
“Então o homem e a mulher devem reter o Ching para que este sofra uma transmutação
alquímica e, assim, libere sua quinta-essência que é a energia em seu estado criador?”, perguntou a
Mulher Dragão.
“Esta quinta-essência é o elixir da longa vida. Quando o dragão Yang resiste o poder
magnético do dragão Yin, e este detém a impetuosidade ativa de Yang, ocorre o movimento circular da
luz e a preservação do centro, então a Luz polarizada de Yang e Yin forma o Tai Chi que revela o
TAO”, disse a Leoa de Jade.
“O que seria exatamente este movimento circular da luz e a conservação do centro?”.
“O movimento circular da luz é o Tai Chi, ou seja, o dragão Yang e o Yin que são as duas
luzes em movimento criador. A conservação do centro corresponde ao sexo, pois este é o centro
gerador da vida, é no centro sexual ou chacra do baço que a luz Yang, ultravioleta; e a luz Yin,
infravermelha; formam um movimento circular através do combate sexual do homem e da mulher, ou
seja, o Kung Fú sexual; desta forma o centro sexual se conserva e, através deste, transmuta-se o
Ching em luz criadora. O dragão do fogo, Yang; e o dragão da água, Yin, são as duas polaridades do
Fogo da Natureza, o Fohat. Como o Yang é de natureza ativa e Yin passivo, ou seja, uma força
estática no centro sexual que produz a atração pelo seu magnetismo e outra expansiva que se dirige
para fora deste centro; é necessário, então, que Yang seja conservado no centro sexual para se
polarizar com Yin que se encontra estática no mesmo centro. Se o fluxo de Yang sai pelos órgãos
sexuais, o Ching se perde, então, não há transmutação sexual, não há alquimia. O rompimento da
simetria sexual é o rompimento do movimento circular da luz desequilibrando o chacra ou centro
sexual, provocando um desequilibrio do sistema nervoso e da glândula do baço e da pituitária, esta é a
glândula do chacra frontal localizado no chamado terceiro olho, afetando, assim, a visão do Espírito.
Chi, a força vital, penetra no corpo pela glândula do baço e pelas glândulas supra renais, esta é a
glândula do plexo solar; também pelo ar que respiramos, pois o Chi se encontra no átomo de oxigênio,
por isso a transmutação sexual se encontra relacionada com os processos de respirações. O dragão
Yang e o dragão Yin se encontram à direita e à esquerda da espinha dorsal, ligando a glândula pineal
com as glândulas sexuais. O dragão Yang é o solar e o Yin é o lunar. Os átomos de oxigênio da força
Yang entram pela narina direita no homem e os átomos de oxigênios da força Yin pela esquerda, na
mulher o processo é inverso. Os dragões Yang e Yin se unificam na raiz do nariz entre as duas
sobrancelhas, onde há o Átomo do Espírito; desta forma se relacionam com o Átomo do Espírito e com
os processos de respiração, isso quer dizer que os processos de respiração põe em movimento a
energia sexual unindo-a com o Átomo do Espírito localizado entre as duas sobrancelhas, a união da
terra e do céu. Compreende agora o porquê da santidade do sexo?”. Indagou a Leoa de Jade.
“Sim. Impressionante esta metafísica do sexo, agora compreendo que é o desequilíbrio desta
força que trás sofrimento, dor, angustia e miséria ao ser humano, tal desequilíbrio impede a ligação
com o Espírito, é necessário que a energia da Natureza, Yang e Yin, se polarizem através do Kung Fú
sexual e seja conduzida até o céu, a cabeça, para unir-se com o Espírito, é a união do céu e da terra;
os egípcios representavam esta união com a serpente naja e o abutre na tiara dos faraós e dos
deuses; a serpente simbolizava Isis, a Natureza ou a Terra; o abutre simbolizava Osíris, o Céu!”,
exclamou a Mulher Dragão.
“Exatamente. Quando no Kung Fú sexual um dos opostos vence, há o desequilíbrio e a
energia da Natureza não pode ser transmutada e conduzida ao céu. E necessário que nem o dragão
Yang e nem o dragão Yin vençam, mas que cheguem à harmonia através do equilíbrio das duas
forças que se opõe”, disse Miao Sham.
Maio Sham logo após a exposição metafísica, convidou Lung Nu a acompanhá-la no preparo
de um chá. Encheu a chaleira de água e a levou ao fogo, e disse:
“Observe este processo alquímico. Veja eu tenho aqui três coisas: um objeto que é a chaleira
e dois fenômenos da natureza, o fogo e a água. Água se encontra estática, passiva dentro da chaleira
e o fogo é ativo e se encontra fora da chaleira, porém em contato com esta. Pela ação do fogo a
chaleira adquiriu alta temperatura a ponto de ferver a água, esta por sua vez passa do estado estático
para o gasoso, ou seja, recebe uma sublimação que a faz volátil, então ela se eleva para cima. Este
processo é análogo ao processo de alquimia sexual, pois a chaleira corresponde o corpo, o fogo é o
Yang e a água é o Yin, a água volatilizada é o Ching sublimado que é elevado através dos dois
dragões à direita e à esquerda da espinha dorsal, que juntos formam o sistema nervoso simpático, até
o cálice sagrado, a cabeça que é o santuário do Espírito. Porém a sublimação não é a transmutação,
pois a sublimação é a mudança do elemento de um estado para o outro, assim ele pode retornar ao
estado anterior; mas no processo de transmutação a água se transforma em chá quando
acrescentamos a ela a erva, esta representa a essência de Ching. Obviamente o chá possui
propriedades curadoras do corpo, porém a essência de Ching volatilizada produz não só a cura do
corpo como também da alma”, expôs a Leoa de Jade.
Lung Nu mais uma vez ficou assombrada com a sabedoria da velha Mestra taoísta, agora
compreendia com mais nitidez o processo de alquimia sexual. Nestes instantes Perséfone e Jade
entram na sala, e todas juntas tomam o delicioso chá de erva cidreira acompanhados de deliciosos
biscoitos caseiros. Jade se deliciava com os biscoitos.
Miao Sham e Perséfone acompanharam as visitantes até o portão, a Leoa de Jade perguntou:
“Ainda treina Kung Fú?”.
“Todos os dias!”, exclamou a Mulher Dragão.
“Faz bem, pois desenvolve os meridianos do corpo, tornado-os fortes, equilibra o Chi e eleva o
Shien. Traga Jade para treinar comigo, pois esta é uma idade adequada para receber a iniciação no
Kung Fú”, disse a Leoa de Jade.
Lung Nu consultou Jade sobre a proposta da Mestra taoísta, Jade aceitou. Lung Nu ficou feliz
em entregar a filha para ser instruída nas artes misteriosas dos taoístas. Pois, receberia a instrução
intelectual de Regulus e a espiritual de Miao Sham.
Lung Nu depois da visita que fizera a Miao Sham, tomou um gostoso banho e descansou em
seu ditoso leito. Regulus às vezes desaparecia por longas horas, eram umas sumidas misteriosas, ela
tinha curiosidade em saber qual era esta atividade secreta que o fazia sumir, às vezes permanecia por
dois ou três dias desaparecido, mas como Lung Nu era muito prudente e não era ciumenta, não se
preocupava com este fato. Fazia muito tempo que ela não lia o diário do mago, pois este passara a
trancar a porta do quarto. Por causa disso Lung Nu não pode mais ler o hermético diário, porém ela
tinha cópias das chaves, mas como ela desconfiou que ele poderia estar fechando pelo motivo de
alguém estar fuçando em suas coisas, manteve a prudência de não mais ler seu diário, porém agora
estava querendo saber mais sobre a vida dele, pois pretendia expor para ele a metafísica do sexo na
versão taoísta, desejava muito praticar este método, mas tinha medo de que ele não aceitasse, por
isso queria conhecer mais sobre seu pensamento e vida, então pegou a cópia da chave e penetrou na
câmara hermética para se embriagar com o vinho da sabedoria, pegou o diário e leu:
„Era aproximadamente a sétima hora do dia, que no relógio astrológico corresponde à
constelação de Libra, quando chegaram dois sujeitos estranhos à residência de Heloísa. Heloísa
nesses instantes se encontrava no jardim da casa, conversando com as fadas das rosas. Os dois
homens ficaram por algum tempo observando-a, e deram-na como louca devido o fato de estar
conversando com as flores. Observei pela fresta da janela os dois estranhos que observam a monja
Heloísa, esta notou a presença dos estranhos e se encaminhou até ao portão para atendê-los.
“Boa tarde!”, disse um dos homens à Heloísa.
“Boa tarde!”, respondeu a monja, “o que os senhores desejam?”, perguntou Heloísa com um sorriso
no rosto, expressando simpatia e cordialidade.
“Somos da policia secreta do Vaticano, e viemos aqui para levar frei Miguel, por favor, pode chamá-
lo”, Disse um dos homens mantendo a mão direita na cintura e ao mesmo tempo que olhava
severamente à monja, enquanto que o outro se identificou com a carteira e o mandato na mão direita,
foi que ouvi e vi pela porta que estava semi aberta.
Heloísa nesses instantes ficou com a face vermelha e espantada, não compreendia do que se
tratava aquilo tudo, “o que fez Miguel de errado para que a polícia do Vaticano viesse prendê-lo”,
talvez tenha pensava meio confusa e sem compreender nada.
Os agentes seguiram Heloísa até o interior da casa. Heloísa pediu que aguardassem na sala,
enquanto ela me chamaria. Eu me encontrava na biblioteca preparando as aulas que daria na
faculdade onde lecionava filosofia, de lá acompanhei a conversa dos agentes com Heloísa, via tudo
pela fresta da porta. Sobre a mesa deixei o livro do „O Anticristo‟ de Nietzsche, onde marquei com lápis
o parágrafo: „A mulher fez o homem comer o fruto da árvore da ciência, e que sucedeu? O Deus antigo
foi presa do pânico. O próprio homem veio a ser o maior equívoco; havia criado um rival; a ciência
torna o homem igual a Deus – pobre dos sacerdotes e deuses se o homem chega a ser científico!
Moral: a ciência é a coisa proibida em si, só ela é proibida. A ciência é o primeiro pecado, o germe de
todo pecado, o pecado original‟.
“Dois agentes da policia do Vaticano vieram te encarcerar”, disse Heloísa mostrando no
semblante a tristeza e o assombro.
“Que a sim seja, pois tudo passa”, disse eu, à medida que me dirigia lentamente à sala, onde
se encontravam os agentes.
“Frei Miguel de La Cruz temos um mandato da policia do Estado do Vaticano que nos autoriza
levá-lo, pois foi acusado de heresia e de divulgar idéias subversivas contra a Santa Igreja Católica
Apostólica Romana, por favor, você tem que nos acompanhar até a santa Sé”, o agente me disse isso
com um olhar inquisidor. Olhei o miserável ignorante com profunda paz e misericórdia, mantive um
profundo silencio na alma e mantive o equilíbrio emocional, que, diante de tais circunstâncias, ficaram
sem reação alguma.
“Senhores, servos da justiça dialética, quais são as provas do suposto crime do qual me
acusam? Pois, nada mais tenho com a madre Igreja...”, interroguei-os.
“Ora, frei Miguel, provas são que não faltam, mas, por favor, nos acompanha e tudo isso será
esclarecido na santa Sé”, disse um dos agentes ao mesmo tempo em que olhava desconfiado para
Heloísa, logo olhou para o outro agente como se quisesse dizer algo com os olhos, “Vamos!”,
exclamou com atitude déspota, á medida que me puxava pelo braço esquerdo; permaneci em
profundo silêncio, mas preocupado com o olhar dos agentes para Heloísa, pois ela também tinha sido
uma monja franciscana e fazia parte do nosso grupo, além de estar envolvida afetivamente comigo,
entrei no carro e parti. Pensei que estavam me levando apenas para um rotineiro depoimento.
O automóvel percorreu umas seis horas de viagem aproximadamente, percebi que estavam
indo pela estrada que dava para a cidade de Salamanca em Madri, então foi que notei que de fato
havia algo de errado. O carro encostou-se à frente de um velho mosteiro localizado nas montanhas
daquela região bucólica. A muralha daquele velho e medieval mosteiro era de aproximadamente cinco
metros de altura. Um dos homens saiu do automóvel e se dirigiu até o portal, depois voltou para o
carro. O portal se abriu, e o negro automóvel penetrou para o interior da grande muralha, já no interior,
percebi o sombrio e desértico local, pude também perceber alguns monges silenciosos com aspectos
de fanáticos e com a moral ressentida expressadas em seus semblantes, revelando, assim, uma
solidão espiritual e uma morte na alma, tais monges me olhavam com desdém. Pude perceber que tais
monges eram da tenebrosa Ordem da Opus Dei, nesses instantes um frio percorreu minha espinha
dorsal, tive medo, porque sabia o que tal Ordem representava.
Os dois homens que se passavam por agentes do estado do Vaticano, levaram-me para o
subsolo, e me jogaram dentro de uma cela fria e com cheiro nauseabundo. Permaneci ali por toda à
noite, na solidão e na escuridão, com fome e sede entre os ratos que me faziam companhia. Escutei
uma voz roca e potente vinda de um canto da cela: “Quem é você amigo, cujo destino lhe trouxe a
este antro onde a luz do sol não se vê?”. Disse em tom roco àquela voz que se ecoava pelo antro em
trevas.
“Eu Sou alguém que não sabe o porquê de estar aqui, acusam-me de estar subvertendo a
ordem da Igreja com escritos que denunciam a farsa que sustenta a Igreja há vários séculos”,
respondi.
“Meu irmão”, disse o ancião, “pela manhã te conduzirão ao salão do julgamento, onde com
certeza submeter-te-ão à tortura para arrancar de teus lábios o que eles querem que você diga, é um
sofrimento terrível, poucos resistem a essas torturas. A inquisição, meu irmão, aqui dentro dessa
fortaleza da Opus Dei, não foi extinta, continua em plena atividade. Estou aqui a três anos, e já vi
muitos iguais a você entrarem aqui, neste cárcere, vivos e saírem mortos. Todos esses homens que
entraram aqui serviram a Igreja, alguns acusados de terem furtado os bens da Igreja outros porque
ouviram algo que não poderia ser ouvido, e ainda outros que escreveram algo que colocou a
autoridade e a legitimidade da Igreja em dúvida, assim, como no seu caso. Eu mesmo, irmão, fui
condenado devido a um escrito gnóstico que traduzi da antiga língua copta para o francês, ia publicá-
lo para desmascarar o pseudo-cristianismo que a igreja institucionalizada defende em seu dogma, e
exaltar o tipo puro de cristianismo gnóstico que a comunidade Cátara praticava e que a Igreja de
Roma persegui-os e matou-os como o próprio Império romano fizera no passado, aliás, o Império
romano nunca caiu, porque ele se vestiu com a roupagem do cristianismo. A besta tornou-se
semelhante a um cordeiro. Os próprios Cátaros eram os remanascentes dos cristãos primitivos, eles
possuíam a gnoses.
Sou um dos remanescentes do Movimento Cátaro, alguns catáros sobreviventes do grande
massacre de Lombrives onde 510 cátaros que viviam na Catedral Catarina natural, a Grande Gruta,
foram emparedados vivos, os poucos que escaparam ocultaram-se no próprio seio da igreja, e ali
permaneceram como ascetas. Passaram secretamente de lábios ao ouvido a doutrina sagrada durante
séculos, foi assim que conheci a doutrina libertadora de Cristo, dizem que o próprio São Francisco de
Assis e sua amada Santa Clara eram cátaros. Fui também, assim como você, um monge franciscano,
e fiz grandes descobertas com minhas pesquisas sobre a literatura dos livros apócrifos e do
Catarismo. A Opus Dei, que é um tipo de sociedade secreta da Igreja de Roma, como você mesmo
sabe, perseguiu-me como um dragão de dez chifres e com dentes de ferro e cheia de ódio para me
devorar, durante vinte anos. Fugi para a cidade de Leon e ali, por intermédio de um sábio cabalista,
que havia conhecido o esoterismo cristão e passou a práticá-lo, por causa disto foi excomungado da
comunidade judaica sefaradin‟s, fui iniciado na Gnoses; este cabalista conheceu os mistérios dos
Cátaros, a Gnoses; foi assim que me tornei gnóstico”, disse-me o sábio ancião.
Permaneci calado e nada mais disse ao ancião. O ancião percebendo que eu não estava se
dando ao diálogo, calou-se e dormiu. De fato a história do velho era semelhante a minha, porém eu
nada sabia dos mistérios da Fraternidade dos Cátaros, o que sabia era apenas teorias históricas sobre
eles, mas nada sabia de seus secretos ensinamentos.
Pela manhã, um monge trouxe-nos o desjejum, que não era tão mal, consistia de um copo de
leite quente e de um pedaço de pão integral. Dessa forma pude saciar minha fome com satisfação.
“Pode ser que ainda demore dois a três dias para que te levem para o salão do julgamento,
pois os juízes deste tribunal corrupto, pertencem às várias ordens reacionárias da Igreja, pois
demorará alguns dias até que todos se juntem aqui para o delito”, disse-me o ancião, à medida que
molhava um pedaço de pão no leite e o levava à boca. Nesse momento olhei para a figura do ancião
que se encontrava oculta no canto, e vi um ancião de longa barba branca e cabelos também longos e
brancos; o ancião me disse que tinha agora oitenta e um anos de idade, mas permanecia lúcido e com
o corpo saudável, porque praticava exercícios de lamanceria, pranayamas e meditação todos os dias.
“Por vários anos que permaneci no seio da Igreja, jamais pude perceber que havia esse tipo
de decadência fatal em seu seio, pois jamais passou pela minha mente que ainda eram assassinos”,
disse de forma triste e olhando fixamente ao ancião, “o santo oficio ainda mantém o tribunal da
inquisição em atividade, que calamidade!”, exclamei com fúria.
“Meu irmão, compreenda que esta Igreja é uma sombra fatal, nela habita a corrupção moral e
a infra-sexualidade, é morada de demônios e coito de todo espírito imundo como a qualifica o
Apocalipse de São João; ela é a grande prostituta escarlate que se encontra assentada sobre a Besta
de sete cabeças e dez chifres; sim, é ela a grande prostituta Jesebel, essa Lilith infernal que mata os
profetas e os santos”, discursava com ênfase o ancião com sua voz roca, de fato estava me
simpatizando com este ancião cátaro.
“Amigo, a prostituta escarlate em um aspecto político, é a própria sociedade capitalista, por
isso, é adornado de ouro e jóia, símbolos da riqueza; é essa sociedade corrompida que dá de beber a
todas as nações o vinho de sua prostituição, isto é, o fetiche da mercadoria, o culto à forma, à matéria
como fim único; a Besta de sete cabeças na qual está assentada, isto é, que é sua montaria, é o
Estado, o Sistema e seus sete pilares, que são: a lei; a política; a força militar; o governo; a cultura; a
ciência e a propriedade privada,” discursava o ancião com entusiasmo, enquanto eu absorvia a
sabedoria do velho em silencio, “a Lei vai legitimar este Estado capitalista em todas suas ações,
assegurando o direito da propriedade privada. A Política vai assegurar os interesses da elite capitalista
no governo. O exército burguês vai assegurar a dominação desse Estado espoliador sobre as nações,
fazendo delas um amplo mercado a ser explorado. O Governo é burguês e seu governo é para a
classe burguesa, foi eleito para defender os direitos político da classe burguesa. A Cultura dentro do
Estado burguês será instrumento de dominação, sua finalidade é modelar através da educação o
Ethos46 da sociedade, criando, assim, o sujeito de caráter mercantil, pois a sociedade capitalista é
formada por indivíduos de caráteres mercantilizados. A lógica mercantil vai ditar os valores sociais
pelos quais se regerão os comportamentos dos homens. A Ciência estará a serviço do Capital, suas
pesquisas serão visando apenas o avanço tecnológico para aumentar a produção e, assim, os lucros.
Esta ciência materialista tem como objetivo o crescimento do capital das indústrias, e jamais o bem
estar do povo. A ciência tecnológica veio para substituir a classe trabalhadora, e não para aliviar seu
fardo. A ciência está a serviço do Capital e não do povo, ela é também um instrumento de dominação.
As armas de fogo; as bombas nucleares, de hidrogênio, químicas, usadas nas guerras são frutos
dessa ciência materialista. Por fim, temos a propriedade privada que é um roubo como disse
Rousseau. A propriedade privada é a causa de todos os males, é à base da sociedade capitalista, a
sociedade de classes; é a origem do egoísmo, do individualismo, da competição, do orgulho, das
guerras, das mortes. A propriedade privada é um roubo, porque ela é o fruto do lucro, e este é uma
fraude; o lucro é um roubo como já disse Karl Marx em sua obra „O Capital‟; dentro do comunismo real
não há propriedade privada, tudo é comum; no cristianismo primitivo não havia propriedade privada,

46
O modo de vida, uma moral.
pois todos viviam em comum, vendiam suas propriedades e fazendas, e repartiam com todos, criando
entre eles uma sociedade que tinham tudo em comum; é como está relatado em Atos dos Apóstolos
2:42-45 e 4:32.
Irmão Miguel, a Besta do Apocalipse é o Estado em todas as suas eras, em nossos dias devemos
vê-la como o Estado burguês ou capitalista. Se analisarmos a Besta, veremos que ela possui uma
parte de cada império que já existiu sobre a terra; a Besta saiu do mar, isto é, das nações, dos povos;
ela é semelhante ao leopardo, isto é, ao império grego que age com muita agilidade; seus pés são
como os de urso, ou seja, movimenta-se como o império medo-pérsa de forma destruidora; sua boca é
como a do leão, isto é, devora tudo que vê pela frente, características do império babilônico. O dragão
lhe deu o seu poder e seu trono, e grande poderio, isto é, o poder centralizador outorgou-lhe o
domínio. O Estado capitalista é a síntese de todos os impérios que já houve anteriormente, é o
feudalismo financeiro, é o último estágio do Estado, é este Estado que também é representado na
estatua de Nabucodonosor descrita em Daniel capítulo 2, que será destruído pela vinda do reino de
Deus.
O reino da Besta é o reino do Anticristo; é o Sistema”, nesse momento pedi a palavra e fiz a
seguinte colocação: “É o reino da Dialética, do bem e do mal, da contradição, onde conhecemos a
infelicidade, as trevas, é necessário descer ao caos para comer o fruto proibido, somente assim
podemos forjar consciência do bem e do mal, e sermos como os deuses, conhecedores do bem e do
mal; somente assim é que podemos ter a consciência da real felicidade”.
“Magnífico irmão! O reino do Anticristo é regido pelo binário bem e mal, o reino do Cristo está
além do bem e do mal, isto é, da dialética!”, disse o ancião feliz, “é da lei binária que se manifesta o
ternário maldito, isto é, as três Fúrias 47, que gerarão o reino da Besta em nós e fora de nós, o ternário
maldito gerará o setenário, isto é, a Besta de sete cabeças, o reino do Anticristo”, completou o ancião
cátaro.
O velho estava me instruindo nos mistérios gnósticos, era uma visão diferenciada da qual eu
tinha forjado com minha leitura dos apócrifos; a doutrina do velho mestre tinha uma profundidade
impressionante, ele continuou sua maravilhosa dissertação metafísica:
“São os três espíritos imundos que saíram da boca do Dragão, da Besta e do Falso Profeta,
ou seja, do Poder centralizador, do Estado e da Religião natural; estes três espíritos imundos são
personificados em Judas que é o demônio do mau desejo, que sempre trai o Cristo, é a corrente do
mau desejo emanada do poder centralizador, evocando, assim, o mal; é o comércio, isto é, as
relações mercantilistas, o poder econômico. É este poder personificado no demônio do desejo, Judas,
que produz através do fogo da paixão, emanado do Dragão, o poder centralizador, o fetiche da
mercadoria, ou seja, o culto à mercadoria, esta passa a ter um caráter sagrado, assim, a humanidade
impulsionada pela força do mau desejo, busca a posse da mercadoria, esta fascina a consciência do
homem e a mantém presa ao seu poder hipnótico, assim, o sujeito passa adorar o objeto de seu
desejo, é o poder hipnótico do mau desejo criando a ilusão de ter e de possuir bens materiais na
consciência do homem. Então percebemos que a alma impulsionadora do comércio é Judas, o mau
desejo, a Medusa da mitologia grega, cujos cabelos de serpentes representam o poder do mau desejo
e sua força petrificante emanado de seus olhos, ou seja, é o poder que materializa ou cristaliza a idéia
relacionada com a má mente, Pilatos, o Estado; é o mau desejo adormecendo as consciências no
fetiche da mercadoria e materializando a ideologia do Estado capitalista na vida diária do homem,
construindo, assim, o reino do Anticristo no mundo, que no atual processo histórico da humanidade, é
47
Três mulheres com cabelos de serpentes que portavam um punhal e um archote nas mãos; Medusa, uma das
Fúrias, tinha o poder de petrificar quem olhasse para ela; o herói Perseu, personificação da Alma Humana,
decaptou-a.
o sistema capitalista, o feudalismo financeiro que controla a humanidade; Judas personifica as
relações mercantilistas. Este mau desejo é a força motriz da sociedade de consumo que num futuro
próximo se tornará muito mais poderoso, devido ao avanço tecnológico dos meios de comunicação,
que utilizara a cultura de massa para despertar com intensidade o desejo te ter da humanidade.
Pilatos está a serviço do Estado, é o demônio da má mente, que sempre lava as mãos ao
invés de assumir uma postura de fidelidade ao Cristo Íntimo, é a mente diabólica que modela e dá
forma aos pensamentos do mal; é a mente que elabora a ciência do mal, produzindo pensamentos
como de Maquiavel que diz frases como: „Os fins justificam os meios‟, é o intelecto a serviço do
Anticristo, o Inimigo Secreto. Obviamente que o Estado é o conjunto ideológico que expressa os ideais
políticos e econômicos da sociedade capitalista, o Estado é um produto da sociedade burguesa, por
isso o profeta João disse no Apocalipse que a Besta emerge do mar, que é o símbolo da humanidade.
O homem é alienado ao Estado burguês, ele não é senhor de sua própria história, ele em uma
situação alienada reproduz o mundo ilusório do Estado burguês, ele faz esta reprodução através da
ideologia burguesa. O homem alienado ao Estado capitalista, deixa de fazer sua própria história, ou
seja, não realiza no mundo o estado de Ser divino de sua Essência. Os valores nobres se encontram
na Essência do homem, é através desses valores que o reino do Cristo Íntimo é realizado em nós, e
através de nós, no mundo, criando, assim, um reino de justiça, verdade e amor. Os sete valores
nobres da alma humana são: Esperança, Temperança, Amor, Fé, Fortaleza, Justiça e Prudência;
estes são os sete pilares com os quais a Sabedoria edifica seu reino; são as sete causas do reino do
Cristo Íntimo em nós e fora de nós. A Sabedoria é o Pensamento puro emanado do Cristo Íntimo, a
Sabedoria através da ação dos sete valores, cristaliza-se no reino da manifestação, o mundo da
Dialética, para neutralizar o bem e o mal produtores da contradição e do reino do Anticristo em nós e
fora de nós. As sete causas do reino do Anticristo são: Preguiça, a Inveja, a Luxúria, o Orgulho, a Ira, a
Gula a Cobiça. Ora, essas sete causas diabólicas que edificam o reino do Anticristo, são emanadas do
triângulo fatal, ou seja, do mau desejo, da má mente e da má vontade, que por sua vez são emanadas
de Satanás, o Dragão vermelho, o Inimigo Secreto, o Impulso primordial do mal, o Instinto cego.
Já os sete nobres valores emanam do Triângulo sagrado que é composto pela Vontade,
Consciência e Inteligência ou Razão superior (Nous). Este Triângulo sagrado que representa os três
princípios divinos no homem, são emanados do Cristo Íntimo, do Logos. O princípio da Vontade se
encontra no Espírito do homem; o princípio da Consciência em sua Alma divina; o princípio da
Inteligência, o Nous, encontra-se na Alma humana. Estes princípios do homem superior formam em si
uma unidade que se expressará pelos sete valores nobres, isto é, a ação do homem real é feita
através dos sete nobres valores.
O Espírito é o Real Ser, o Homem Espiritual; a Consciência 48 é a Gnosis desse Homem
Espiritual, ou seja, seu Conhecimento superior, sua Sabedoria; a Alma humana é a Mente Abstrata do
Homem Espiritual; com a Mente Abstrata o Espírito pode expressar sua Consciência, ou seja, sua
Gnosis, através da Mente concreta que é a Alma humana em seu aspecto concreto; a Gnosis pode se
manifestar no reino da dialética, no mundo físico para realizar a Grande Obra do Homem Espiritual, o
Mestre, o Portador da Gnosis ou da Consciência iluminada.
A Consciência em seu aspecto concreto, isto é, revestida pela mente concreta, é chamada no
esoterismo cristão de Pistis Sofia, a Consciência que desce ao Caos para absorver o conhecimento da
esfera dialética, ou seja, do bem e do mal, é ai que se encontra todo o mistério de Eva que come o
fruto proibido e dá a seu esposo Adão. O fruto proibido é a substância da esfera da atividade orgânica;
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Consciência encontra sua raiz na palavra cônscio que é um adjetivo que qualifica a pessoa que domina o
conhecimento sobre algo, e no substântivo ciência que é o próprio saber sobre algo, por exemplo, o mestre
Paracelso é cônscio na ciência da medicina, ou seja, possui a consciência da medicina natural. Consciência é
Conhecimento Superior, é Gnoses.
é a paixão como impulso da atividade da alma eônica ou natural do homem dialético. A Paixão, como
disse o filosofo Espinosa, possui duas naturezas: a passiva que produz os vícios e a ativa que produz
as ações virtuosas, ou seja, a corrente passiva e ativa da alma do mundo dialético, a Paixão, produz
ações do bem e do mal. Então, concluímos, que a Corrente da Paixão, o Grande Dragão vermelho, a
Alma da esfera orgânica e dialética, é a causa das atividades do mundo dialético, ou seja, das
atividades de bem e de mal. A Corrente da Paixão que é o princípio da Alma animal ou natural, foi
desequilibrada no homem natural quando este rompeu com a simetria da atividade sexual, assim o
pólo passivo da Paixão, Caim, dominou o homem natural e o escravizou à esfera dialética ou orgânica
da existência, para que este realizasse as concepções do mal, que resultou na escravidão do homem
no mundo temporal, então o homem preso à Roda dos nascimentos e mortes, vai absorvendo o
conhecimento do bem e do mal em sua Consciência, ou seja, Pistis Sofia torna-se escrava dos Eões
da esfera dialética. As atividades do bem e do mal alimentam os Eões na esfera refletora que é o
mundo astral, ou seja, estas atividades na esfera orgânica que é o mundo físico, produz um certo
alimento muito essêncial aos Eões e que mantém suas existências, este alimento é o hidrogênio
sexual onde reside o etér luminoso, é exatamente este etér que é essencial à existência dos Eões que
é a nossa própria produção dialética, ou seja, que foram evocados por várias existências que tivemos
na esfera da manifestação fenomenal, isto é, é o resultado das atividades de bem e de mal de
diversas personalidades que o Microcosmo enviou à esfera da ação. Estes Eões são os habitantes do
Microcósmo, este se tornou a Grande Babilônia psicológica do Homem decaído; os Eões são
potestades antidivinas que só podem manter suas existências através da atividade dialética de Pistis
Sofia, que é uma chispa divina desprendida do Cristo Íntimo. Pistis Sofia vem ao mundo dialético para
realizar a Grande Obra do Cristo Íntimo, mas infelizmente acaba caindo e realizando, assim, a obra da
Sombra do Cristo, ou seja, de Lúcifer, pois o objetivo deste é criar no homem um reino ilusório para
que Pistis Sofia, a Alma humana, conheça o bem e o mal. Pistis Sofia não possui consciência de sua
felicidade original, é necessário que ela coma do fruto proibido para que conheça o sofrimento e a dor,
estes gerarão nela a infelicidade que lhe outorgará a consciência da felicidade, mas para que Pistis
Sofia conheça o bem e o mal é necessário que Lúcifer, o Deus Natural, edifique nela um reino
dialético, onde as ações de bem e de mal de Pistis Sofia evocarão os Eões, formas mentais animada
pela energia psíquica e que possuem vida própria, estas formas habitam no nosso corpo astral.
O Objetivo de Lúcifer é outorgar a Pistis Sofia o conhecimento do bem e do mal, ele é um
Pedagogo a serviço do Cristo Íntimo, porém ele se rebelou e manteve Pistis Sofia presa eternamente à
ilusão para que ela através do desejo e da razão edifique seu reino e o mantém. Lúcifer é a Estrela
flamígera, o Fogo da existência natural. É o Deus Natural. Ele é representado na mitologia greco-
romana por Urano49, o pai dos Titãs, ou seja, dos Eões, as Forças ímpias da natureza das quais ele
próprio tinha horror, e por isso as encerrou no Tártaro, no Abismo, o Caos”, pedi a palavra ao velho
franciscano cátaro e fiz a seguinte colocação:
“Vejo que é um iniciado em certos mistérios, e tenho muito que aprender contigo, se assim o
permitir, mas como veio parar aqui?” Perguntou o frei franciscano ao sábio ancião.
“Há três anos atrás estava em Paris dando uma conferência no salão Franco-Maçonaria,
sobre o simbolismo esotérico dos mitos gregos, ou seja, os mistérios órficos. Após a conferência,
retornei à casa de um amigo franco-maçom onde era hospede e ali passei à noite. No dia seguinte
peguei o trem para o sul da França, à cidade de Marselha, onde encontraria minha infelicidade, pois a
Ordem da Opus Dei ficara sabendo por espiões que eu estaria ali para dar uma série de conferências
públicas, então fui seqüestrado e trazido para esta fortaleza, onde fui torturado por várias vezes, e só

49
Urano (Ur= fogo e Anas= a água, ou seja, Fogo e Água, Calor e Frio, as duas Forças Gêmeas da Natureza)
é o Céu, ou seja, o Macrocosmo e o Microcosmo.
estou vivo até agora, porque finjo que estou louco, dessa forma eles me deixaram viver, porém jamais
deixaram-me ultrapassar o portal da fortaleza deste mosteiro. É claro que vim para este antro para
cumprir um carma e ao mesmo tempo uma missão”, respondeu-me o ancião.
“Você relacionou Lúcifer ao arquétipo de Urano, isso é extraordinário, pois o mito relata que
Vênus a Beleza, o Amor, a Alma da Natureza, nasceu dos testículos de Urano que quando castrado
pelo seu filho titânico Saturno, o Tempo que é a Dialética, caíram no mar e produziu uma espuma,
desta nasceu Vênus a encarnação da Beleza e mãe de Eros, o amor erótico; e que as gotas de
sangue do falo decapitado caíram na terra, e dessa união nasceram as três Fúrias que são os três
traidores do Cristo Íntimo. Como compreender todos estes fatores metafísicos relacionados com o mito
de Urano e Gaia?” Perguntei enfaticamente e com muito entusiasmo na alma ao ancião.
“Veja, irmão, Urano é o Lúcifer Primordial, Gaia sua esposa é a Matéria Primordial. Vênus, que
é a Estrela matutina, é o Lúcifer Microcosmo, enquanto sua oitava superior Urano é o Céu
Macrocósmo. Vênus é a Alma humana, o Pensador que reside na Mente abstrata, pois a Alma
humana, o Filho do homem, reside na esfera de Tiphereth que é a sexta da Árvore da Vida na Cabala,
isto é, o céu de Vênus. Pistis Sofia, é a Manas inferior, o Pensador 50 que reside na Mente concreta, é
o Pensador da mente concreta que se encontra preso à esfera dialética, o mundo natural ou físico, o
mundo de Aziah que é Malchuth, a décima esfera da Árvore da Vida, ou seja, o mundo das ações do
bem e do mal; enquanto que o mundo de Tiphereth é o mundo das causas, é nesse mundo causal que
reside Prometeu-Lúcifer, o Creador do Microcosmo que se encontra acorrentado na rocha e que
alimenta o abutre com seu fígado. Prometeu-Lúcifer roubou o Fogo divino dos deuses e deu ao
homem natural, que Ele mesmo creou51, para elevá-lo a condição de um deus, mas infelizmente o
homem natural traiu seu Pai Prometeu-Lúcifer, e utilizou o Fogo divino em suas concepções malignas
e suas magias negras, como resultado desta traição ocorreu à exterminação da raça dos homens pelo
dilúvio universal, ou seja, a submersão da Atlântida no oceano que leva seu nome”, disse o velho
mestre de avançada idade.
“O que seria a rocha, onde Prometeu foi acorrentado? E que significado teria o abutre
devorando seu fígado?”, perguntei ao velho sábio.
“O abutre é o Fogo sagrado do Espírito Santo que devora nossas baixas paixões e desejos,
pois é no fígado que reside nossa animalidade que deve ser regenerada pelo solvente universal 52
representado pelo abutre, pois este é o agente que transmuta a matéria putrefata em fogo crístico; a
rocha é o sexo onde o fogo-alma deve ser preso e contido. Obviamente que Hércules, o Homem
crístico, o Homem real, o Adão Kadmon, deve libertar Prometeu-Lúcifer no final de seus 12 trabalhos
iniciáticos, seu mestre Quiron o rei dos centauros, o Sagitário do zodíaco, é sacrificado em seu lugar,
pois os mistérios sexuais já não são mais necessários ao homem que se libertou da Roda fatal dos
nascimentos e mortes, este é o aspecto alquímico do mito; o outro aspecto é que a rocha onde se
encontra Lúcifer acorrentado representa a matéria densa, o fígado é a alma desejo sendo devorada
pela morte em sucessivos nascimentos e mortes”, respondeu-me, mas logo prosseguiu com sua
gnosis:
“Também vejo pela ótica cosmológica o mito de Prometeu-Lúcifer. Mas, continuando o relato
do simbolismo do castramento de Urano, percebemos que o contato dos testículos que são as

50
Pistis Sofia é o Pensador que porta a Sabedoria.
51
Prometeu-Lucifer é o deus natural que deu a Pistis Sofia a alma animal ou natural para que esta viesse a se
manifestar no plano físico que é a esfera dialética. O homem natural ou carnal como é chamado na Bliblia é
composto de corpo físico, corpo etérico ou vital, energia vital (prana) e Instinto, este último é a alma animal
chamado de kama na Teosofia; na Cabala a alma natural ou eônica é chamada de Nefeche. A alma animal é o
princípio animico do corpo físico.
52
O Azoth da alquimia.
glândulas sexuais produtoras da energia criadora, ao entrarem em contato com as águas 53 dão
nascimento a Alma do Microcosmo, Lúcifer-Vênus, enquanto que o sangue, que é a Alma de Urano,
entrou em contato com a matéria do caos e gerou as Três Fúrias, o ternário diabólico, que por sua vez
gerou as sete causas do mal, ou seja, os sete pecados capitais, os sete raios da força ímpia, e estes
geram miríades e miríades de eões no céu astral do Microcosmo homem, ou seja, planetas
microcosmos povoados por eus-diabos ou demônios . Percebemos, então, que a Alma de Urano cujo
caráter é divinal, ao entrar em contato com a matéria do caos que é antidivina, produz dessa
mesclagem o ternário do mal que evocará os arquétipos do mal que estavam em estado pontencial na
corrente da Força ímpia da Natureza, assim as idéias ou os pensamentos da corrente do mal, elevam-
se do caos como nuvens ao céu, ou seja, a mente, esta má mente modela e da forma as estas
nuvens segundo seus arquétipos, isto é, a má vontade evoca a idéia; a má mente da forma a esta
idéia; e o mau desejo cristaliza esta forma com a matéria do desejo ou astral.
E para concluir nossa dissertação em relação os Três traidores do Cristo Íntimo, afirmamos
que Caifás está a serviço da religião natural, isto é, da dialética, que está sempre conspirando contra o
Cristo para matá-lo, é o demônio da má vontade; é a vontade perversa que emprega o mau desejo e a
má mente na concepção do mal 54”, dissertou o ancião com ênfase, à medida que olhava fixamente
para mim.
Mas o velho mestre não parou, e continuou sua gnosis:
“O Anticristo é o Dragão vermelho, o poder centralizador da dialética, que emana o mau
desejo, Judas, que tem ao seu serviço duas Bestas: a que se eleva do mar, isto é, dos povos, esta é o
Estado, Pilatos; e a outra Besta semelhante ao cordeiro, mas que fala como o dragão, esta é a religião
dialética, o falso profeta, Caifás. Temos, então, o Estado como expressão do reino ou governo do
Anticristo. O Estado através de um poder setuplo, as sete cabeças, mantém as consciências presas
através de um poder ideológico elaborado pela má mente, em valores ilusórios, valores que
expressam o modo de vida burguês, a vida dialética, 55 a vida mercantilizada, assim, a consciência fica
presa no fetiche da mercadoria. É por isso que o grande gnóstico cabalista, o profeta São João, disse
em Apocalipse capítulo 1356 que ninguém pode comprar ou vender, relações mercantilistas, senão
aqueles que possuírem o sinal, ou o nome da besta ou seu número em suas testas e em suas mãos
direitas, ou seja, em seus pensamentos e em suas ações. É a Religião, a segunda Besta, a serviço do
Estado, a primeira Besta, é a religião dialética ou natural atrelada ao Estado; é o poder sacerdotal que
escraviza as consciências em dogmas, superstições e conceitos ideológicos, conduzindo-as as trevas
da ignorância, ao adormecimento da consciência. O poder sacerdotal, a segunda Besta, o Caifás,
ordena, através de seus princípios dogmáticos, que se faça uma imagem a primeira Besta que é o
Estado, Pilatos. Que imagem é esta que determina a vida e a morte, àqueles que não a adoram? É o
Capital! Senhor absoluto da sociedade burguesa, o deus da sociedade capitalista. O Capital determina
os pensamentos (sinal na testa), as ações (sinal na mão), é ele que determina o que se deve pensar e
como se deve agir. O Império do Capital reina sobre toda a terra, ele é o deus Mamom! Quem não agir
e pensar como determina a ideologia do deus Capital, morrerá. Porque não poderá nem comprar e

53
O Mar aqui é mito de Vênus simboliza a Luz Astral.
54
É o que afirmava Elifas Levi em seu Dogma e Ritual de Alta Magia, quando diz: “O DIABO, EM MAGIA
NEGRA, É O GRANDE AGENTE MÁGICO EMPREGADO PARA O MAL POR UMA VONTADE
PERVERSA.”
55
A corrente produtora dos impulsos que conduz a consciência a realizar ações bem e mal; esse Impulso
universal é personificado da figura panteísta de Tífon Bafometo, a Força dos Instintos.
56
O número 13 é do Arcano da Morte.
nem vender; o deus Capital tem sua própria religião, e esta legitima o sistema capitalista, então a
massa cativa do Capital grita: „Quem é semelhante a Besta? Quem poderá batalhar contra ela?‟ 57
Irmão ouve-me e presta muita atenção em minha revelação, pois os pensamentos e as ações
mercantilistas dos homens, criaram uma forma ou uma imagem mental do Capital, os gnósticos
chamam essa imagem de Eon que é uma forma monstruosa composta de força natural ímpia; tal
Eon58 foi chamado à existência no decorrer do tempo em que a atividade mercantilista começou a
operar, ou seja, com o surgimento das feiras e dos burgos no final da sociedade feudal. Essa imagem
mental revestida de forças naturais ímpias tem vida própria e se encontra na esfera refletora59, e de lá
controla a humanidade que lhe serve e realiza suas concepções malditas. Essa é a imagem astral da
Besta, que age no inconsciênte coletivo; é a mão invisível da teoria econômica de Adam Smith. É este
Eon astral, o deus Capital, que através do poder da ideologia, forja o sujeito com caráter
mercantilizado, é esse sujeito que vai alimentar com seus pensamentos e atividades o deus Capital
eônico”, o ancião calou-se, porque ouviu passos no sombrio e gelado corredor. Fiquei assombrado
com a sabedoria do anciã cátaro.
Perguntei ao mestre cátaro sobre o significado gnóstico do capitulo 11 do apocalipse, pois
muito me intrigava este capitulo que falava das duas testemunhas e da mulher grávida vestida do sol,
pisando sobre a lua e tendo uma corou de 12 estrelas e que fugia do dragão indo para o deserto e ali
alimentada por 1260 dias. Então a sabedoria do velho cátaro disse:
“Estive estudando o capitulo 11 do Apocalipse por longo tempo, onde é tratado o caduceu de
Mercúrio. Pude compreender neste capítulo grandes verdades sobre o Fogo Serpentino. As duas
testemunhas que são também as duas oliveiras e os dois castiçais, são os dois Serafins 60 que se
enroscam em forma de oito ao longo da espinha dorsal, sendo que partem da glândula pineal até as
duas glândulas sexuais. A glândula pineal é a sede do Átomo do Espirito Santo, e é regida pelo
planeta Netuno, enquanto que as glândulas sexuais são regidas pelo planeta Urano, que é o planeta
da revolução da Consciência, que tem sua base em outra revolução, a sexual. A energia sexual
criadora, a Kundalini, desce da glândula pineal através dos dois Serafins, isto é, dos dois cordões
semi-etéricos do sistema nervoso simpático, até as glândulas sexuais para criar os reinos internos do
homem, isto é, a árvore da vida microcósmica, e não só o corpo físico.
Os dois Serafins à direita e à esquerda da espinha dorsal são os dois polos da alma, as duas
polaridades do poder sexual criador que se manifestam na e pela alma, é o fogo da alma ou da
consciência; é através desta corrente que a Força de Pimandro 61 se manifesta no Microcosmo para
redimi-lo e limpá-lo de todos os Eôns 62 que residem no Pentagrama, ou seja, no Microcosmo-homem.

57
Apocalipse 13:4
58
Eon representa longos períodos de tempo, por isso representa uma entidade astral que foi formada por um
período muito longo de atividade ímpia, ai o porquê de se chamar Eon. Palavra muito usada no evangelho
gnóstico de Pistis Sofia, representando as forças naturais dos planetas e das constelações.
59
O mundo astral inferior, onde reside as entidades astrais evocadas pela força do desejo; é o mundo do
desejo e das emoções.
60
Dragões de fogo.
61
O Espirito Santo que se manifesta no homem renascido para o SER.
62
Monstruosa formação de potestades da natureza que reside no Fogo-alma do Microcósmo, são os eus-
diabos infra-atômicos criados pelo homem decaído no decorrer de muitos eons ou tempos, em consequência
de sua vida contrária ao Criador, ou seja, são todas as atividades mentais, emocionais, instintivas e volitivas
evocadas por uma vontade, desejo e mente pervérsos; todos impulsos, inclusive os pretensos bons, criam e
alimentam os eons, estes escravizam o Microcósmo à Roda da Dialética. O Microcósmo decaído é
representado por um Pentagrama involutivo, ou seja, com a ponta superior voltada para baixo. Os Eons
impulsionam a Pistis Sofia, a Alma humana, à uma atividade ímpia para que o reino do Anticristo seja criado
e alimentado no Microcósmo.
É necessário que as duas Testemunhas ressuscitem em nós para que possam profetizar por mil
duzentos e sessenta dias.
Mas, quando é que de fato estas duas Testemunhas ressuscitam em nós? Quando o homem
natural é afetado pela Luz da Gnosis63! Quando a Luz afeta o Átomo Crístico ou Búdhico 64 que reside
na Igreja de Tiatira, o Santuário do coração, no ventrículo direito do coração, Ele produz uma vibração
que vai emanar uma Luz afetando a glândula timo, esta por sua vez vai despertar e vai produzir um
tipo especial de hormônio que servirá de veículo para a Luz crística; o hormônio, então, penetrará na
corrente sanguínea e o conduzirá até o cérebro, assim, a Luz crística afetará a Igreja de Laodicéia, o
Santuário da cabeça, então surgirão no homem idéias puras provindas do mundo de Atziluth, o mundo
dos arquétipos, o Inteligível onde Plantão diz residir as idéias puras ou a essências de todos os seres;
o próprio Platão nos revelou que só possível alcançar este mundo com a consciência Nous. Uma vez
que a Luz do Logos foi acesa no Santuário da cabeça Ela influênciará o Serafim que se encontra à
direita da espinha dorsal, o Jakim; então a Luz crística descerá até o plexo sacro despertando, assim,
a primeira Testemunha. Uma vez que a Luz afeta o Santuário do centro sexual santificando-o, ela
sobe pelo segundo Serafim, Boaz, que é a segunda Testemunha, o da esquerda da espinha dorsal,
despertando-a também, assim os dois campos o estimulador, Serafim ativo, e o revelador, o Serafim
passivo, são despertados e unidos na Igreja de Éfeso, o Santuário Sexual; onde profetizarão por mil
duzentos e sessenta dias vestidas de saco, ou seja, vestidas com os corpos lunares ou do pecado.
Estes 1260 é um número cabalístico e deve ser compreendido à luz da Cabala, pois é um
número cabalístico que indica a operação das duas Testemunhas com o Grande Arcano da Magia
Sexual, a geradora dos corpos espirituais do Novo Homem, o Homem-Cristo. É o período simbólico e
cabalístico que levará para a edificação da Cristianópolis ou da Nova Jerusalém, os corpos de Luz do
Homem-Cristo ou Solar.
O 1 é a letra Aleph e representa o homem; o 2 é a letra Beth e representa a mulher; 6 é a letra
Vô e representa o homem e a mulher unidos sexualmente; o 0 é a serpente sexual devorando a
própria cauda, é a ouroboros, é o fogo sexual dominado pelo casal e colocado em movimento criador
pela ação sexual do casal”, o velho satisfeito em transmitir sua sabedoria deitou-se no chão duro e
descansou, eu fiz o mesmo, porém fiquei meditando em seu verbo.
Lung Nu fechou o diário por um instante. Estava espantada, pois era o mesmo ensinamento que
recebera de Miao Sham, porém este era descrito pelo mestre de Miguel de forma cabalística. Porém
não era claro se a união sexual comentada no diário se tratava de uma conecção sexual, logo abriu
novamente o diário e continuou sua leitura:

Dois homens penetraram no cárcere, agarrara-me e me levaram para um grande salão, onde
se encontravam vários eclesiásticos. Fiquei espantado em vê tantas autoridades que eram vistas
como homens santos da igreja, ali reunidas. Entre eles estava uma grande autoridade da Ordem
Franciscana, Miguel não entendia o porquê daquele homem justo e bom está ali no antro da Opos Dei.
O abade olhava com olhos interrogadores e frios para mim, que nesses momentos de aflição senti um
calafrio e vi a morte se aproximar, compreendi então que este grande mestre era um traidor da Ordem
Franciscana, jamais passara pela minha mente que homem tão casto e santo, fazia parte da Opus Dei.
Ali também vi muitos renomados bispos, só faltou o papa Pio XII, o homem da ação católica. Um bispo
presidia a assembléia, ele próprio era o inquisidor.

63
O Alento de Deus, o Logos, a Sabedoria, o Sol Espiritual.
64
Este Átomo Crístico é o Botão da Rosa Mística de sete pétolas que deve ser desabrochado no centro da
cruz-homem para formar, assim, a Mística Rosa-Cruz.
“Senhores, aqui estais o perigo, o herege, o traidor da santa Madri Igreja, eis aqui o homem
que tanto mal tem nos causado”, disse o inquisidor de forma enfática e apontando o dedo indicador da
mão esquerda para mim, “este homem, irmãos, é acusado de corromper nossos jovens monges e
monjas com suas teorias anticristã e comunistas, divulga abertamente um manifesto contra o celibato,
prega que a fé na morte de Jesus na cruz, nada vale para a salvação individual do homem; veja,
irmãos que loucura, a que ponto este herege chegou! Disse que Jesus é o arquétipo do Super Homem
realizado por um homem que nasceu naturalmente como qualquer um outro sobre a face da terra, e
que todo homem pode se elevar a posição de Cristo e que isto é que é a salvação; e o homem
chamado Jesus não salvou ninguém, mas o Cristo que nele nasceu salvou o mundo microcosmo
chamado Jesus, e não o mundo como o homem entende, para que o homem individual seja salvo, é
necessário que seu Cristo Íntimo nasça em sua alma e salve seu mundo microcosmo que se encontra
carregado de pecado. Vejais amados irmãos a que ponto chegou à loucura desse herege depravado e
louco!”, discursava o bispo inquisidor demonstrando ódio em seus olhos e ironia em seu semblante e
em seus gestos e palavras, seu ódio contra mim era imenso.
“Senhor bispo, este homem é uma ameaça para santa Madri Igreja”, gritou o abade
franciscano furioso, “que caos se dará no mundo religioso se a massa religiosa resolve dar ouvidos a
esta horrível heresia, meus irmãos!”, exclamou o abade, enquanto olhava-me e gesticulava com as
mãos, outros gritavam freneticamente: “Que morra o blasfemador e herege!”.
“Vejam senhores, que perigo representa este homem para a Igreja e para sua comunidade!
Dizem que as salas de conferências nas quais este herege administra palestras, lotam de jovens
rebeldes que muito entusiasmo tem pela sua heresia que eles a chamam de „filosofia libertadora da
Era de Aquario‟, e falam abertamente de uma revolução da consciência, onde os valores e a moral da
sociedade devem ser aniquiladas da psique humana, vejam amados irmãos, o herege também é
comunista”, disse o bispo inquisidor apontando para mim, “este homem deve ser submetido à tortura
sagrada para que seja redimido de seus crimes e que também possa confessar seu arrependimento;
com toda certeza, irmãos, é com esta heresia que tais hereges estão fundando uma comunidade, que
segundo eles é uma comunidade de homens e mulheres livres, que tal homem seja levado à expiação
de seus pecados!”, exclamou com entusiasmo o bispo inquisidor da Opus Dei.
Alguns fanáticos avançaram violentamente para cima de mim, espancando-me, logo me
arrastaram pelos cabelos até um instrumento de tortura que se encontrava na sala. Meus olhos
estavam roxos, meus finos lábios estavam inchados e sangrados, devido as fortes bancadas que eu
tomava no rosto; olhava-os de forma misericordiosa para os agressores, pois não sabiam o que
estavam fazendo, como já dizia Cristo, este gesto deixou-os cada vez mais violentos.
Horas de tortura passei ali naquele antro que se diz sagrado, da minha boca nada saiu,
porque nada tinha para sair, a não ser suspiros e gemidos de dor. Passei por grandes sofrimentos na
carne e na alma.
Dois monges me conduziram novamente à cela. Fui arrastado, porque tinha perdido os
movimentos das pernas, devido as fortes bancadas que recebi no ato da tortura. Estava tremendo de
frio, perdi os sentidos e estava delirando, enquanto sussurrava palavras de um alfabeto estranho, que
para mim era conhecido.
“É todo seu velho louco”, disse um dos monges, á medida que me lançava com violência nos
braços do bondoso ancião.
O ancião me amparou sobre os braços e me deitou em seu colo, e com um pano molhado
limpava o sangue de me rosto. “Que fizeram com você filhote de dragão?”, perguntou-me o velho
mestre, porém nestes instantes de sofrimento e dor, perdi o sentido e nada mais vi.‟
Lung Nu guardou o diário e seguiu para seus aposentos onde permaneceu por longas horas
meditando em tudo que lera, e percebeu que o esoterismo que acabara de ler era semelhante aos
ensinamentos expostos por Miao Sham. Miguel não retornou para casa, Lung Nu percebera que todos
os dias vinte e sete do mês e aos sábados ele desaparecia e só voltava no dia seguinte.

‫ש‬
Perséfone se encontrava em seu apartamento. Um sentimento de profunda saudade arrebatou
o coração da distinta dama adepta. Penetrou na sala de meditação, e ali passou a meditar nos
sentimentos que se manifestavam em sua alma.
A Orquídea negra, como a chamava mestre Miao Sham, deitou-se na posição de decúbito
dorsal,65relaxou o corpo imaginando uma luz azul penetrando nas células, moléculas e átomos que
formavam seu delicado corpo, depois fez algumas respirações profundas, concentrou-se no coração e
em suas batidas; depois de um certo tempo controlou a mente esvaziando-a de todos os
pensamentos, logo nem mais a idéia de coração havia em sua mente, sua Essência se desprendeu do
Eu e penetrou o mundo eletrônico, o mundo causal. A Manas inferior, a Pistis Sofia, daquela
personalidade chamada Perséfone, integrou-se com a Manas superior, ao som da Ave Maria de
Beethoven cantada por uma voz maravilhosa e angelical, a Consciência de Perséfone se submergiu
no grande oceano eletrônico do mundo de Thipheret 66, o mundo causal, o mundo da Alma humana. A
Manas Inferior, a Pistis Sophia, a Mente concreta, libertou-se dos Eões da Natureza, dos Eus infra-
atômicos, dos Eus-diabos, e fundiu-se completamente com a Manas Superior de seu Real Ser.
Imagens projetadas no Akasha, 67 revelavam à Perséfone fatos históricos de suas vidas
passadas associadas ao monge franciscano Miguel. Sua Consciência lia uma de suas vidas passadas
na qual ela, Jade a filha de Lung Nu, Miguel, e outras pessoas eram da Fraternidade Cátara. Ela via
diante do olho da Consciência todo seu processo histórico junto à dispersão cátara. Ela via nas
imagens daquele filme akáshico um homem sofrendo as torturas do tribunal do „santo ofício‟, a
inquisição. Sim, era ele, Miguel, que sofria as torturas cruéis da „santa inquisição‟. Perséfone via as
trágicas imagens históricas que envolvia a destruição de castelos e cidades inteiras daqueles que
defendiam o movimento gnóstico cátaro. O exército da Igreja enviado pelo papa Inocêncio III, a
Cruzada contra os Albigenses68, saqueavam populações inteiras com a morte de mulheres, crianças e
idosos que eram passadas a fio da espada. Perséfone via a queda de Montesegur em 1669 de março
de 1244, onde 205 cátaros foram queimados vivos numa imensa fogueira, inclusive ela e todos seus
companheiros de reencarnação.
Perséfone logo após a meditação, passou a refletir sobre o que lera nos registros akáshicos; e
agora ela sabia de onde vinha sua ligação com o monge rebelde.
A cabalísta Perséfone sentia uma tristeza na alma, mas não sabia a causa de tal sentimento,
Miguel estava em seus pensamentos, logo intuiu que algo se passava com monge franciscano.
“O que se passa com Miguel?”, perguntava para si mesma a cabalista, à medida que passava
a mão direita sobre os longos cabelos e mantinha o olhar perdido no nada.
Perséfone pegou uma pequena toalha de linho branco com o símbolo do Pentagrama Iod-He-
Schim-Vô-He70 bordado com fios vermelhos, azuis e amarelos; estendeu-a sobre uma mesa que se
65
Posição de morto.
66
Sexta dimensão da Natureza, o mundo da Mente Superior, da mente abstrata, o mundo do Principados.
67
Luz eletrônica da Natureza, onde reside toda memória da Natureza; onde se encontra registrados dos nossos
atos de vidas passadas, toda história da ação do homem.
68
Eram também gnósticos assim com os Cátaros.
69
Número fatal e de queda na Cabala.
70
As cincos letras hebraicas que formam o sagrado nome de Jesus que por sua vez signifca Salvador. Este
nome enserra grande Mistério, porque é formado pelas quatro letras do Tetragrama, a Cruz Cabalística da
localizava ao lado direito do norte da câmara onde se encontrava hospedada. Depois apanhou em sua
mala um candelabro de bronze de três braços, este era artisticamente trabalhado, magnífica obra de
arte de bronze. A base do candelabro era constituída por quatro colunas adornadas com videiras e
seus frutos, estas são sustentadas por esfinges aladas voltadas para os quatro ângulos, as partes
traseiras das esfinges se unificam no centro, de onde sai um suporte no formato de flor de lírio, no
centro desta se elevava uma musa nua e alada com uma serpente naja alada enroscada em seu corpo
e sobressaindo sobre a sua cabeça , trazia em sua destra o caduceu de Mercúrio. As quatros colunas
sustentavam uma base cúbica no formato de um pequeno altar; nos quatro lados desta base há
símbolos cabalísticos em alto relevo, os símbolos da pedra filosofal: o do lado frontal é constituido por
um dragão que devorava sua própria cauda, no centro havia as palavras: SOLVE ET COAGULA. No
quadrado direito do cubo havia um triângulo positivo com o nome de Adão em hebraico no centro; no
quadrado esquerdo há um triângulo negativo com o nome de Eva também em hebraico e no centro.
No quadrado oriental havia uma cruz de malta contendo as letras Iod em cima, a Vô na base, uma He
no lado direito e outra no esquerdo da cruz; nos quatro ângulos do cubo havia carrancas de cabeças
de bodes. Uma haste se elevava do centro do altar cúbico do candelabro, a haste era encimada por
um Schim, assim, formava-se um tridente; dois dragões alados em forma de oito estavam hasteados
ao longo da haste do tridente. Os dragões lançavam chamas de suas bocas, estas se neutralizavam
em forma de um pentagrama Iod-he-schim-vô-he, no centro deste havia o monograma INRI71. O
pentagrama se encontrava sob o schim do tridente, este em si era um receptáculo que contém azeite,
este alimentava as três chamas do tridente que em si era uma lâmpada em formato da letra schim.
Perséfone, então, colocou o candelabro sobre a mesa, acendendo suas três chamas. Depois
queimou essência de mirra no local, pronunciou as conjurações cabalísticas dos quatros elementos e
dos sete gênios, logo pronuncio a invocação do sábio Salomão. Sentou-se e permaneceu por um
instante em estado de contemplação, logo pegou o Tarô, espalhando-o sobre a mesa. Depois se
concentrou, mantendo as mãos estendidas sobre as cartas magnetizando-as; por fim puxou uma
lâmina ao mesmo tempo em que pensava em Miguel, saiu o Arcano seis, o Enamorado72; em seguida
tirou outra lâmina, saiu o Arcano quatorze, a Transmudação 73; e por fim o Arcano oito, da Justiça74.

Geração, mas o Schuim que é a Mãe do Fogo e representa Lúcifer, logo neste nome se encontra encerrado
todo Mistério da crucifixão.
71
Igne Natura Renovatur Integra, ou seja, o Fogo Renova Integralmente a Natureza; Este Fogo é o Crístico
que transfigura a natureza dialética do homem decaido, gerando, assim, o Novo Homem; é o Renovador
Universal, o Fogo Redentor que limpa o Microcósmo das impurezas infratômicas, ou seja, desmoronando o
reino do Anticristo que é o velho céu e a velha terra microcósmicos, fazendo dele a Estrela Matutina, o
Pentagrama Iod-he-schim-vô-he, o Lúcifer Ungido pela Luz do Logos, dando, assim, a manifestação do
Homem-Cristo, do Verbo de fazendo carne, da Humanização do Logos e da divinização de Lúcifer.
72
A gravura desta lâmina é formada por um moço de túnica curta que se encontra entre um vereda bifurcada;
sua postura é de escolha. Do lado direito se encontra uma mulher de semblante casto vestida com um longo
vestido branco e com uma cruz pendurada no pescoço. Encontra-se ao lado de uma videira com frutos e porta
uma taça de prata na mão esquerda e com a direita convida o moço para junto de si. Do lado esquerdo há a
mesma mulher, porém se veste de forma luxuriante e derrama vinho da taça no solo de onde nascem três
cabeças de caveira humana; seu rosto é sedutor; oferece com a mão direita uma maçã já mordida ao moço.
Atrás desta há uma macieira carregada de frutos, uma serpente verde prateada e de olhos negros se enrosca no
tronco da macieira. Bailando no ar há um Cupido ameaçando lançar um dardo de seu arco nobre a mulher da
macieira.
73
A gravura desta lâmina é composta de homem e de uma mulher nus e de frente um para o outro; dos órgãos
sexuais do homem emana um dragão condensado de luz vermelha, dos órgãos da mulher outro dragão
condensado de luz azul. Ambos se entrelaçam em forma de oito se elevando acima da cabeças; são alados e
de suas bocas são lançadas chamas de violetas que se condensam na forma de um ser alado com
características andróginas; o ser possui uma taça de prata na mão esquerda e outra de ouro da direita; de
ambas vertem –se de uma para outra um arco íris. Nos órgãos sexuais do andrógino há uma esfera com quatro
“O Arcano seis indica que no passado ele fez uma escolha entre Isis e Lilith, entre a castidade
e luxuria; a escolha correta, a mulher da direita, levou-o ao amor, este o conduziu para o Arcano
quatorze, o matrimônio místico onde ocorre à transmutação sexual. Muito interessante, ora o
enigmático frei rebelde se encontra enamorado e com a amada transmuta o fogo criador, muito
interessante. O Arcano oito trás equilíbrio para esta relação, porém trás a prova de Jó, prova difícil
para os iniciados. Como síntese dos três Arcanos temos o Arcano dez, a Roda da Cabala, a
Retribuição, o Arcano do carma. Vejo um carma duro para este casal”, Perséfone permaneceu
pensativa diante das lâminas. Utilizou o método Amom-Rá para leitura intuitiva do oráculo cabalístico.

patolas com as letras do tetragrama hebraico. No centro da esfera há uma suástica formada por quatro letras
Rech‟s do alfabeto hebraico, no eixo desta há um Tai Chi.
74
A lâmina oitava, a da letra Heth, trás a seguinte imagem: Observamos duas
colunas cilindricas encimadas por esfinges: a da direita é de ouro, e a da esquerda de
prata; a esfinge da direita é branca a da esquerda negra; o piso do local é axadrezado; entre as duas colunas,há
uma pedra cúbica de cor azul safira; sobre esta há uma cruz cristã como balança; no prato da
direita há uma letra Schim, no da esquerda a letra Mem, e no eixo da cruz a letra Aleph. A deusa Minerva
vestida como uma guerreira romana, toca com a mão esquerda a ponta superior da cruz, enquanto que com a
direita empunha uma espada de fogo voltada para cima; a deusa se encontra em pé ao lado do cubo. Sobre a
cabeça de Minerva, há um belo elmo adornado com três dragões. Na frente do cubo, a uma serpente de cor
verde esmeralda devorando a própria cauda; este circulo serpentino circunda uma Cruz de Malta, ou seja, uma
Cruz formada por 4 triângulos isósceles. Na haste horizontal da Cruz de Malta, encontra-se as duas esfinges
acopladas pelas suas partes inferiores, no centro da unificação das duas esfinges, que fica no eixo da Cruz, há
uma esfera esmeralda, no centro dessa esfera há uma suástica azul claro formada por 4 letras Reche‟s, no eixo
da suástica há o Yang e Ying. No triângulo superior da haste vertical, há um leão vermelho alado com o
caduceu na garra direita; no triângulo da base inferior da haste vertical, há um dragão vermelho alado com o
tridente na destra. Na base da lâmina, à esquerda há o símbolo astrológico do signo de Câncer; à direita a letra
Heth; e ao centro o número 8.
Capítulo ‫ט‬
A Iniciação

Era de praxes para Miao Sham e Perséfone, exercitarem-se na aurora com a prática do Tai
Chi Chuan; e só após os exercícios esotéricos é que faziam os desjejuns, para logo após se ocuparem
com seus afazeres cotidianos.
Perséfone relatava a Miao Sham, sua mestra Jina, um sonho que tivera na noite anterior;
enquanto passava manteiga no pão e enchia a caneca de leite:
“Vi em minhas visões da noite, que tu e eu, estávamos sobre a torre de uma antiga catedral
gótica, semelhante a Catedral de Ambiano. A catedral estava localizada próximo de um enorme
cemitério. Nós observávamos a constelação do Aquário, quando de repente uma de suas estrelas saiu
da constelação, cortou o espaço sideral, e se aproximou de nosso planeta. A Estrela se transformou
em uma carruagem de fogo puxado por duas Esfinges aladas, um poderoso Arcanjo conduzia a
carruagem. O Arcanjo, vestia-se com uma curta túnica de uma belíssima cor negra; uma armadura de
ouro cobria-lhe a parte superior do corpo, engastada na armadura, à altura do coração, havia uma
pedra de diamante negro no formato de um abutre no estilo egípcio; à altura do plexo solar um
triângulo maior de rubim, dentro deste um segundo de safira azul, e ainda um terceiro de topázio fogo,
neste havia uma pedra de azeviche no formato da letra hebraica Tzade; todos se encontravam
também engastados na armadura à altura do plexo solar; usava braceletes de ouro com pedras de
safiras azuis na forma de dragões alados em formato de „S‟. Uma capa púrpura cobria-lhe as costas,
colchetes de ouro no formato de cabeça de leão prendiam à capa ao pescoço. Sua aparência era de
um sábio, porém guerreiro; seus cabelos eram longos e sobre a cabeça uma coroa com nove pedras
preciosas, sendo a pedra central um diamante azul na forma geométrica do pentagrama; seus olhos
eram chamas azuis. Na mão direita empunhava uma espada de luz. Deteve-se sobre a cidade dos
mortos, e de seu coração foi emanado uma luz azul eletrônica na forma de um dragão alado; o dragão
penetrou uma das sepulturas, e dela ressuscitou um Cavaleiro, que emergiu da sepultura já montado
sobre um belíssimo cavalo negro reluzente; à direita da cintura, havia uma bela espada, cujas
extremidades do cabo eram em formato de cabeças de águias, de forma que a extremidade superior
era bicéfala; no eixo do cabo havia uma cruz de malta com pedras de carbúnculo no formato das letras
hebraicas que formam o nome Iod-He-Shim-Vô-He75; trazia seguro na mão esquerda um escudo
hexagonal, onde havia gravada uma estrela de seis raios com uma estrela pentagrama ao centro; na
mão direita trazia uma lança. No peito, gravado na armadura, uma cruz isóscele circundada por uma
serpente ouroboros76. Seu elmo era adornado por três dragões, um no centro e dois ladeados. Uma
bela capa vermelha caia-lhe sobre os ombros; sua armadura era toda de prata.
O Cavaleiro seguiu para o portal do cemitério, onde havia um lobo branco que lhe seguiu ao
sair. Em seu caminho, havia vários saqueadores vândalos que o atacavam violentamente. O

75
Salvador em hebraico, que é o nome sagrado que se traduz por Jesus, IESHUAH, nome misterioso e
cabalístico que é formado pelas 4 letras do Tetragrama que corresponde o sagrado nome de Deus, mais a
soma da letra Schim que é a mãe do Fogo Natural. O Schim representa o Fogo-Alma da Natureza, o Lúcifer.
As 4 letras do Tetragrama que corresponde o nome de JEOHVAH, o Elohim da Geração e Regente das Luas.
A Lua rege a geração e a fecundação. A Lua é a Grande Isis a Mãe Divina que gera em seu ventre o Cristo
Íntimo. As 4 letras sagradas do nome de Jeohvah formam a Cruz Geradora do Cristo Íntimo. Com o Schim no
centro da Cruz Tetragramática, revela que o Bode expiatório é regenerado pelo Sinal Cruz. A letra THAU, a
Cruz dos Mistérios Sexuais, a Suástica em movimento criador.
76
Serpente que devora a própria cauda. Dentro dos 4 triângulos isósceles há os mesmos símbolos do simbolo
do Grande Arcano descrito no primeiro capítulo.
Cavaleiro, à medida que seguia sua jornada, matava com sua lança os inimigos, e se protegia com o
escudo. Um Abutre que o seguia, saciava-se com as carnes dos cadáveres. O sangue dos inimigos
corria para dentro das entranhas da terra, e ao mesmo tempo nasciam várias rosas rubras e brancas.
Chegando num determinado ponto do caminho, uma anciã vestida com túnica branca e
coberta por um manto vermelho, abordou o Cavaleiro, dizendo-lhe: „Se quiseres tomar os céus de
assalto, necessitarás primeiro encontrar o Santo Graal.‟ O Cavaleiro perguntou: „Onde encontrá-lo
venerável anciã?‟ Esta, em um tom misterioso, apontou para uma fonte natural de águas cristalinas
onde havia uma mulher presa por correntes ao rochedo da fonte e um dragão alado portando um
tridente nas garras que parecia ser o guardião da fonte e da mulher que estava acorrentada‟ Nesse
momento voltei para o corpo físico”, relatou Perséfone a cabalista de Leon.
“Um mestre caído da Ordem zodiacal do Aquário, vai ressuscitar sua Alma humana para
trabalhar na senda, quem será?”, interrogou a si mesmo Miao Sham.
“Será que tudo isso tem relação com o monge franciscano que você me disse haver conhecido
e que nós suspeitamos ser um dos três antigos mestres fundadores da Ordem Gnóstica do Leão
Vermelho?”, questionou pensativa e passando as pontas dos dedos no queixo Miao Sham.
“De certo esta visão deve está ligada com o ex-frei franciscano Miguel, mas não posso afirmar
que ele seja a reencarnação do Mestre fundador da Fraternidade Gnóstica do Leão Vermelho, mas
sinto que ele está ligado de alguma forma com tudo isso, ainda é cedo para que eu possa deduzir algo
sobre tudo isso, mas posso afirmar que ontem à noite consultei o oráculo e foi me revelado que entre
nós a um grande mistério”, disse Perséfone.
“Miguel é enigmático, é um Microcosmo com um Sol central muito poderoso, ou seja, um
Lúcifer; trata-se de fato de um Arcanjo caído”, disse mais uma vez Perséfone.
“É um Pentagrama de muito força e luz. Você e Miguel tem uma missão juntos, não foi por
acaso que vocês se conheceram e novamente se encontraram aqui em Leon, forças ocultas agem por
trás de nós todos. Eu também tenho uma missão aqui em Leon, estou trazendo um anjo que se tornou
demônio novamente para luz, é uma responsabilidade que assumi, pois se trata de uma antiga
discípula que tive na lendária China; venho trabalhando neste projeto a quatrocentos anos”, disse Miao
Sham.
Perséfone percebera intuitivamente que se tratava de Lung Nu, mas manteve o silêncio para
não se meter nos negócios esotéricos da mestra.

‫ש‬
Perséfone se encontrava no magnífico jardim da bela mansão de seus pais juntamente com a
mãe que lhe instruía em certos mistérios relacionados com o grande rito, pois o pai de Perséfone era
um Mestre do 33º da Franco-Maçonaria e sua mãe era filha de um judeu sefaradim, um cabalista
hassidico77 que descendia direto de Moisés de Leon, o grande e famoso cabalista de Leon que
traduziu o Zohar para a língua espanhola. O Tzadk78 Scham Ben Tzade, o avô de Perséfone, instruiu a
filha e a neta nos mistérios da Cabala. O Tzadk Scham Ben Tzade morreu num campo de
concentração na Alemanha. A mãe e a filha escaparam, devido o motivo do esposo ser um mestre da
Maçonaria e não ser judeu, além de ser um prospero comerciante. O cabalista Scham Ben Tzade era
um grande amigo de Miao Sham e orientou a filha a enviar a neta para receber o ensinamento taoísta,
que ele tanto venerava, com Miao Sham. O velho Tzadk era de vida simples e não possuía posses
77
O movimento Hassid era formado por judeus místicos.
78
Homem justo, um mestre de sabedoria dos mistérios hebraicos.
materiais; dizem que era um alquimista e fazia ouro para ajudar os pobres de sua raça, porém
conhecendo a cobiça dos homens jamais ensinou esta ciência a ninguém, nem mesma a filha e a
neta. Via o genro como um homem de muita ambição, por isso não passou a arte da alquimia da via
seca para neta e nem à filha, pois temia que esta arte caísse nas mãos da Franco-Maçonaria já em
decadência através de seu genro. Perséfone havia herdado a nobreza de espírito do avô e como ela
era desprendida do materialismo e dedicada ao estudo e a prática da Cabala e do Taoísmo.
Era vinte e cinco de Julio de mil novecentos e cinqüenta, Perséfone chegava as vinte e cinco
primaveras de sua existência, e seus pais, que residiam em Madri, organizaram um baile para a filha.
Alguns membros da Loja Maçônica chegavam à residência dos pais de Perséfone, outros que
tinham vindo de outras cidades e estados já se encontravam lá, e ainda outros que ainda não tinham
vindo para o grande baile. Perséfone percebera a entrada de um homem de aproximadamente 32
anos, franzino e alto, nariz aquilino, olhos pequenos e investigativos, pouca beleza física, cabelos
curtos e fina barba; falava pausadamente e gesticulava com as mãos. Perguntou para uma das
pessoas que ali se encontravam sobre o grã-mestre Dom Diego, o pai de Perséfone; a jovem mulher
que lhe atendeu pediu que aguardasse, pois ela o chamaria, a moça logo em seguida desapareceu no
corredor da enorme mansão. O rapaz o aguardava na ampla sala; estava um pouco ansioso em rever
o amigo e mestre; enquanto o aguardava contemplava a exótica beleza que decorava aquela enorme
sala. Perséfone estava nas proximidades observando com o olhar investigativo, e pode observar que o
homem trazia uma pasta preta; observou que tal homem era estranho para ela, nunca o viu ali antes,
mas pode observar em seu dedo do sol da mão direita o anel de prata com a insígnia de ouro da
franco-maçonaria.
Momentos depois, três toques na porta da biblioteca do grã-mestre. A porta se abriu, e uma
deliciosa melodia de Mozart, a Flauta Mágica, saia do interior do ressinto:
“Ele chegou, mestre”, disse a jovem mulher a Dom Diego.
Instantes depois o pai de Perséfone estava já com o homem misterioso, o homem entrou na
biblioteca, ambos permaneceram por aproximadamente uma hora trancados na biblioteca. Perséfone
estava na espreita querendo saber o quê se passava entre seu pai e aquele homem com
características inglesas que pelo anel que portava no dedo era um Cavaleiro da Serpente de Bronze
que corresponde ao 25º do Rito Escocês Antigo e Aceito da Franco-Maçonaria. Logo os dois saíram
da biblioteca, o grã-mestre Dom Diego portava um pacote como num formato de um livro grande na
mão direita, logo ambos desapareceram pela enorme mansão.

Todos ali estavam vestidos elegantemente e assistindo a bela cantora de ópera que cantava
com ímpeto na alma o drama de Wagner, „O Fantasma da Opera.‟ A bela cantora era a própria
Perséfone, a filha única de Kassandra.
Perséfone estava vestida com um belo vestido de gala de cor azul safira e de seda, seu
delicado pescoço trazia um belo colar de ouro com doze pedras de safiras engastadas no colar. No
dedo solar da destra, trazia um delicado anel de ouro com uma pedra de diamante. Um belo penteado
adornava sua cabeleira felina.
Após a ópera, Perséfone passou a estar entre os convidados e com eles a dialogar sobre
diversos temas, entre estes a intriga de Nietzsche e Wagner, relatada na obra de Nietzsche „O Caso
Wagner‟. Enquanto dialogava com os convidados, percebeu que o conde De Le Puy encontrava-se
rodeado de pessoas, e isso lhe chamou a sua atenção, pois até seus pais se encontravam ao seu
lado; percebeu que até mesmo o misterioso homem que estivera com seu pai trancado na biblioteca,
ali se encontrava ao lado do enigmático Grão-Mestre de refinada nobreza. O Conde trazia no dedo do
sol da mão direita, o anel maçônico do 74º de Grande Mestre da Sabedoria do Rito de Mênfis, um
elevado grau na maçonaria.
“Que mistério trás este enigmático homem na alma, cujo olhar lança dardos ígneos em meu
coração inflamando minha alma de amor?”, perguntava para si mesma a musa da ópera, à medida
que fixava os olhos lânguidos sobre o magnético Conde De Le Puy. De repente, o Conde lançou um
fugaz olhar magnético em Perséfone, esta atribuiu com um sorriso misterioso e um olhar questionador,
à medida que rodeava uma estatueta de bronze de uma esfinge grega que estava próxima à escada
que dava acesso ao andar superior da mansão, no mesmo instante que levava a taça de vinho do
porto aos lábios doce como mel e suavemente rubros. Percorria todo o salão com os olhos pequenos
de esmeraldas até fixá-los em Franchesco, um cientista e arqueólogo que pertencia à família de sua
mãe. Logo seguiu em passos lentos e nobres, até o homem no qual ela mantinha os olhos fixados,
este estava acompanhado de uma linda mulher.
“Franchesco, meu velho amigo!”, exclamou cheia de entusiasmo a jovem Perséfone.
“Minha menina de olhos esmeraldinos, há quanto tempo!”, exclamou com alegria o amigo
Francesco.
“Vejo que ainda é uma boa cantora de ópera”, disse Franchesco.
“Quem é a distinta senhorita que acompanha o cavalheiro?”, perguntou Perséfone ao mesmo
tempo em que sorria para a musa que acompanhava o amigo.
“Perdoa-me por não tê-la apresentado, esta é Ofélia uma pianista e dançarina que conheci em
Barcelona”, disse ao mesmo tempo em que apontava a mão direita em direção da musa que lhe fazia
companhia.
Franchesco era primo de Perséfone por parte de sua mãe, era um judeu sefaradim 79 pequeno
burguês que tinha uma loja de antiguidades em Barcelona, também dirigia uma Loja Maçônica na
mesma cidade.
“Ainda mora na cidade de Leon, para onde sua mãe te mandou para estudar com a grande
mestra taoísta Miao Sham?”, sim me adaptei lá, adoro aquela mística cidade dos nossos ancestrais
cabalistas.
“E sua velha mestra onde se encontra?”, perguntou Franchesco.
“Ali”, apontou para um canto solitário do salão, onde se encontrava Miao Sham acompanhada
de algumas damas e senhores.
Perséfone percebeu um ar pensativo no semblante de Ofélia, mas não deu muita importância.
“Franchesco, quem é aquele homem que se encontra com aquelas pessoas?”, perguntou
Ofélia direcionando o olhar para o franco-maçon enigmático que lhe atormentava a mente de
curiosidade.
“É o Conde Antares De Le Puy, conhecido como Mestre De Le Puy, o segundo na hierarquia
da Grande Loja Maçônica da França. Perdeu a esposa na segunda guerra, quando o exercito nazista
atacou Paris”.
Perséfone achou estranho o fato de Ofélia quer saber quem era De Le Puy, como Ofélia era
uma mulher muito bonita e parecia ser também inteligente, via-a como uma adversária, pois Perséfone
tinha interesse pelo Grão-Mestre De Le Puy, e queria selar seu romance com ele naquela noite em
seu baile, isso para ela seria um bom presente, por isso se sentiu ameaçada por Ofélia que também
demonstrou interesse pelo Conde.
Franchesco pediu licença às damas que lhe faziam companhia, e se direcionou em direção a
Miao Sham que estava ao lado do pedestal onde se encontrava a estatua de bronze de Perseu; de
fato o astuto, porém prudente Franchesco, queria estar por dentro do diálogo da sábia Mestra do Raio

79
Judeus da Espanha.
chinês e ao mesmo tempo se apresentar para ela. Franchesco havia adquirido um antigo manuscrito
chinês sobre medicina, e queria negociá-lo com a médica e mestra taoísta, porém Miao Sham não
dispunha da enorme quantia de dinheiro que ele pedia pelo velho manuscrito.
“Perséfone, quando comentou sobre a cidade de Leon, veio à memória algo, pois conheci
algum tempo atrás um monge rebelde que fora expulso da Ordem Franciscana, e que segundo alguns
monges do mosteiro do qual era membro, ele, além de ser expulso por subversividade aos dogmas da
fé, também foi acusado de ter rompido o voto de celibato com uma monja chamada Heloísa da mesma
Ordem, que por coincidência tal monja reside na cidade de Leon; como somos amigos, visitei-o por
algumas vezes na casa da monja, porém esta também já não era monja, ambos estavam morando
juntos; parei com as visitas a seu pedido, pois a ex-monja era ciumenta e ele não queria arrumar
confusão com ela”, disse Ofélia, à medida que olhava com olhos cobiçosos para o Conde De Le Puy.
“Fale-me mais sobre o frei franciscano que conhecera em Madri”, pediu Perséfone com um
certo ar de curiosidade no semblante.
“Alguns anos atrás fui fazer meu mestrado em História da Arte na Pontífice Universidade
Católica de Madri, onde tudo começou, tinha apenas vinte e dois anos, lembro-me como ainda fosse
hoje. Um dos meus orientadores no curso foi justamente o monge em questão, doutor em simbologia
religiosa. Quando meus olhos fixaram nele pela primeira vez, um fogo ardeu em meu sangue, e uma
paixão devastadora manifestou-se em minha alma à primeira vista. Estava determinada em ser sua
amante, de viver com ele uma paixão proibida, de me entregar a ele sem nenhuma restrição”,
Perséfone ouvia atentamente o conto de Ofélia, e nesses momentos lembrou de suas aulas de línguas
antigas com frei Miguel, de fato ele era um interessante homem, “sim, ele era um homem idealista e
com uma personalidade bem estruturada em nobres valores e possuidor de um caráter ético
extraordinário, diferentemente de muitos padres e monges que cairiam aos meus pés sem eu fazer
muito esforço. Eu Tornei-me sua amiga íntima, ele gostava da minha companhia, porque
dialogávamos sobre filosofia, arte, ciência, religião, alguns assuntos vulgares também, etc; certa vez
tomamos vinho demais, e acabamos nos beijando, foi o beijo mais delicioso de minha vida, queria
fazer amor com ele, mas ele resistiu, como sempre, a tentação de romper com o celibato. Ele estava
em dúvida com sua fé, por muitas vezes em conversas filosóficas quase o convenci a abandonar seus
votos e passar a vivermos juntos. Foi ai que tudo começou, pois em sua cruel dúvida ele foi pedir um
conselho ao seu mestre, este não querendo perder o excelente discípulo, enviou-o ao México, onde
permaneceu por alguns anos em missão. Fiquei sem vê-lo, mas a paixão apenas se intensificou ainda
mais. Após estes anos ele retornou acompanhado de uma monja franciscana comunista, que segundo
comentários, esteve juntamente com ele, envolvida com Trotski que na época estava exilado no
México. Heloísa, segundo ele, era uma pesquisadora que iria realizar algumas pesquisas sobre a
comunidade do País Basco. Logo os comentários de que ele mantinha um caso secreto com a monja
mexicana, espalhou-se como erva daninha entre os monges e mais seus escritos subversivos contra o
celibato e outros dogmas da igreja, foi a medida para sua expulsão da Ordem Franciscana.
Eu tinha casado durante o período que ele ficou em missão no México, confesso que foi um
casamento com base em interesses familiares e no status social, pois minha família pertence à
linhagem da realeza espanhola; para meu próprio bem fiquei viúva após dois anos de casada. Quando
ele retornou, após alguns dias, foi meu aniversário e ele não esqueceu, convidei-o para
comemorarmos juntos em minha casa, ele aceitou o convite. Como ele estava abandonando sua fé,
pensei que finalmente ficaríamos juntos, e naquela noite maravilhosa resolvi me entregar a ele de
corpo e alma, mas para minha surpresa ele resistiu mais uma vez, apesar de se encontrar muito
próximo da consumação do ato amoroso. Compreendi naquele instante com muita fúria e ódio na
alma, que havia uma mulher em sua vida e esta era a monja mexicana. Depois que ele saiu de minha
casa, jurei nunca mais vê-lo, porém acabei visitando-o algumas vezes na cidade de Leon, apesar de
tudo o considero muito.
Já fazia alguns meses que ele estava morando com a ex-monja, foi quando fiquei sabendo por
acaso que ele havia sido levado pela Opus Dei para um antigo mosteiro em Salamanca, onde
permaneceu preso por mais de um ano. Pedi ao meu pai que pedisse ao príncipe da Espanha que
interviesse por ele, pois muitos bispos influentes deviam favores ao príncipe, não demorou muito foi
dada à ordem para libertá-lo, porém o fantástico ocorre, quando foram tirá-lo do cárcere, este se
encontrava vazio, então disseram que um velho que se encontrava preso na mesma cela com sua
feitiçaria o libertou, isso foi que um certo bispo disse a meu pai. Depois de sua liberdade o visitei
algumas vezes, mas os ciúmes de Heloísa ficavam cada vez mais fortes, então eu me afastei para
evitar problemas para ele. Depois nunca mais o vi, a única coisa que eu sei é que a ex-monja não vive
mais com ele.
“Qual o nome do monge pelo qual você foi apaixonada?”.
“Dom Miguel”, respondeu Ofélia confirmando, assim, as suspeitas de Perséfone.
Perséfone percebeu o perigo que tal dama representava, pois recebia uma mensagem
telepática de Miao Sham, dizendo-lhe que ela era uma adepta da Ordem do Graal Negro. “Mas, qual
era o motivo pelo qual Ofélia estava ali juntamente com seu primo Franchesco?”, pensou Perséfone.
O Conde De Le Puy se aproximou de Perséfone e de Ofélia, e se apresentou com um refinado
cavalheirismo à Ofélia, ambas estavam impressionadas com a figura enigmática do Grão-Mestre De
Le Puy. Nesses momentos, o Conde em estilo Lancelot, pediu a honra de dançar uma valsa de
Strauss com Perséfone, esta aceitou demonstrando cortesia. Ofélia projetou um olhar de raiva
produzido por um sentimento de ciúme e competição feminina. Perséfone sentiu um leve dor no
terceiro olho.
Perséfone deslizava pelo salão conduzida suavemente pelos braços do Conde De Le Puy.
Sentiu um certo êxtase na alma por se encontrar nos braços daquele inefável cavalheiro, que com
todo respeito que se presta a uma dama, a conduzia maravilhosamente na dança.
Terminando a valsa, Perséfone retornou para junto de Ofélia, pois queria saber mais sobre
Dom Miguel. Perséfone percebeu que havia troca de olhares entre De Le Puy e Ofélia, mas pensou
que o Mestre Franco-Maçom francês estava investigando-a, talvez ele também sabia que ela era uma
adepta da Grande Loja Negra. Depois que Perséfone se afastou de Ofélia, o Conde De Le Puy se
aproximou dela e com ela permaneceu por alguns instantes, ela estava fazendo o jogo da sedução,
senti que ela o deseja e o queria; parecia que ele estava encantado pelo poder sexual desta maga
negra. De fato Ofélia era o tipo de mulher que os homens inteligentes gostavam de tê-la como
companhia, já que era uma mulher de elevada cultura e erudição, porém era tremendamente erótica,
pois seu poder erótico exercia uma forte atração sobre os homens, e era necessário ter muito valor
para resistir os encantos fatais de sua força libidinosa.
Perséfone se preocupou com a presença de Ofélia no baile, e agora parecia estar cada vez
mais claro o motivo de sua presença ali. Franchesco parecia estar enamorado dela, e demonstrava
ciúmes ao vê-la com De Le Puy.
Perséfone percebeu que Ofélia olhava Miao Sham com muito ódio e procurava se manter
distante dela, havia um combate psíquico entre as duas magas.
O baile acabou, quase todos os convidados partiram para suas moradas, outros
permaneceram hospedados na mansão. Perséfone tinha esperança que se encontraria no final do
baile com De Le Puy, pois ele estava hospedado na residência de seus pais, achava que ele a pediria
em namoro no final do baile, porém ele se retirou para seus aposentos, então ela pensou que ele
havia deixado a conversa romântica para o dia seguinte; como era um homem de sabedoria e
prudência, deve ter pensado que Perséfone estava cansada e por isso deixou o pedido para o dia
seguinte na presença de seus pais, mas isso não ocorreu, ele partiu cedo antes dela acordar, ela se
frustrou e ficou magoada.
No dia seguinte Miao Sham e Perséfone partiram para Leon novamente.
Perséfone perguntou para Miao Sham o motivo de Ofélia ter vindo ao baile de seu aniversário,
esta respondeu que ela foi enviada pela Loja Negra para tirar o Grão-Mestre De Le Puy da Loja
Branca e levá-lo para a Negra, esta era a missão de Ofélia. A enigmática Mestra chinesa informou à
Perséfone que o Mestre De Le Puy era ainda um dos poucos Mestres da Maçonaria que não se
corrompeu e que ainda conservava, como conservou Jorge Adoum, a pureza dos ensinamentos
maçons. Esta informação ela obteve conversando com alguns iniciados sérios da Maçonaria durante o
baile. A sábia Miao Sham vendo a frustração da discípula disse:
“Esqueça este homem, seu destino é com outro que ainda vai aparecer, seu amor pertence a
ele, porém o carma não permite a união de vocês nesta atual existência. Se ele não permanecer em
estado de alerta percepção, sua queda será inevitável, os dois caminhos se abriram diante dele”.
Perséfone pensou no Arcano seis da Cabala.

‫ש‬

Sobre a escrivaninha da biblioteca que ficava ao lado da sala da simpática e exótica mansão
de Lung Nu, havia um copo com um resto de chá, alguns papéis rascunhados com alguns símbolos e
palavras no idioma chinês, encontravam-se ali espalhados, havia também sobre a escrivaninha, dois
livros chineses, um que se encontra aberto e outro fechado, tratavam-se do livro chinês „A Donzela
Enigmática‟ e do „O Segredo da Flor de Ouro‟, ambos foram pertenciam a Miao Sham que os
emprestou a Lung Nu. Um gostoso divam ali se encontrava, Miguel sobre ele estava lendo de forma
muito gostosa uma obra de Plotino do rico acervo da biblioteca de Lung Nu, no semblante do mestre
havia questionamentos e seriedade, seu corpo esquelético repousava no delicioso divam.
Lung Nu também se encontrava na biblioteca estudando os livros que Miao Sham havia lhe
emprestado, estava escrevendo algo. Às vezes parava a escrita e, com a mão direita sobre o queixo,
permanecia por algum tempo em estado contemplativo e reflexivo, mas logo voltava a escrever sem
pausa e constantemente, como se fosse impulsionada por um raio elétrico de inspiração, ás vezes
contemplava com olhos desejosos e mordendo os finos lábios para Miguel que ditoso, sobre divam,
olhava-a com sorriso ao mesmo tempo que pensava o que ela estava lendo naqueles livros chineses
que a fazia se comportar daquela forma de tigresa manhosa?
Lung Nu depois de certo tempo levantou-se da escrivaninha, a cadeira estofada fez um certo
barulho, nesse instante Miguel tira os olhos de águia do livro e olha para amante, esta o olha com
olhos contemplativos, e solta um leve sorriso. Ele retribui, porém seu sorriso estava perdido entre um
oceano de pensamentos.
Ela pega o copo e segue para fora da pequena biblioteca, deixa-o sobre a pia de mármore
negro, logo enche um copo com água, e toma. Depois de ter saciado a sede, segue adiante e
transpassa o umbral da porta que dá acesso para os fundos daquela mansão de dois andares e de
arquitetura suíça, sobre o umbral havia um símbolo sagrado chinês que espantava os maus espíritos.
Lung Nu segue para o jardim onde havia algumas variedades de flores, ali havia orquídeas-catleias,
ela conversava com a orquídea ao mesmo tempo em que a tocava em um gesto carinhoso. Depois
pegou um aguador e passou a regar as plantas, ela fazia isso todas às tardes tinha grande amor pelas
plantas e animais. O semblante dela revelava felicidade. Depois de regar as plantas, vai alimentar
Cérbero, o cão acompanhava ela que feliz abana o rapo à amiga fiel e carinhosa. Logo retorna ao
interior da casa. Perséfone veio apanhar Jade para levá-la a Miao Sham que se afeiçoou muito pela
menina e queria vê-la novamente, Jade acompanhou Perséfone feliz, pois gostou muita da idéia de
treinar Kung Fú com a Mestra taoísta, ela se encontrava sozinha com Miguel, então aproveitou a
oportunidade para dialogar sobre o TAO do sexo.
“Estive ontem com a médica chinesa Miao Sham, fui buscar respostas a certas inquietudes
que me atormentavam o espírito”, disse Lung Nu á Miguel, este apresentou uma certa curiosidade e
perguntou?
“Está com algum problema de saúde meu amor?”.
“Não. Fui em busca de luz, pois ela além de médica é uma Mestra taoísta de grande
envergadura”.
Miguel mostrou um espanto no semblante, quando ela lhe informou que Miao Sham era uma
Mestra taoísta, e exclamou:
“Uma Mestra taoísta, que interessante!”.
“Ela é muito generosa e sua Sabedoria me instruiu no TAO do amor”.
Mais uma vez o Leão Vermelho, Miguel, ficou assombrado com o fato da Mulher Dragão ter
ido atrás da gnosis chinesa, pois de fato ela buscava a libertação, a cura de sua alma, isso para
Miguel era muito importante.
“Diga-me os conceitos sobre o TAO do amor que ela te passou, minha bela e amada Tigresa
Branca.
Lung Nu contou sobre o sonho que tivera onde ela e ele estavam unidos sexualmente. E
expôs num diálogo aberto e sincero sobre as dúvidas que tinha sobre o método sexual utilizado por
eles, antes de relatar o ensinamento que Maio Sham lhe passou sobre o assunto em questão.
“E se controlarmos o instinto erótico no ato sexual em si, ou seja, conectados sexualmente, ao
invés apenas de controlarmos nas carícias eróticas? A força sexual não alcançaria níveis mais
elevados e, assim, alcançaríamos a transmutação sexual de energias muito mais poderosas, em vez
de ficarmos apenas no estágio de bipolarização do fogo erótico?”, questionou a Mulher Dragão, à
medida que Miguel arregalou os olhos e demonstrou uma certa ansiedade.
“Como, você ficou louca! Ninguém desce ao inferno sem se queimar, quem suportaria o fogo
fatal que reside no abismo da mulher, quem? A castidade reside justamente em não descer ao inferno
onde o fogo da paixão arde poderosamente”, disse Miguel em tom questionador.
“Você! Nobre cavaleiro, a sua vontade é poderosa e de fato pode descer ao inferno para
roubar o fogo do diabo, e eu te iluminarei com meu archote nessa descida ao grande abismo da
morte!”, exclamou com ênfase a Mulher Dragão.
“Este empreendimento é muito perigoso, poucos homens na face da terra conseguiram
realizar esta façanha como, por exemplo, Orfeu que só conseguiu descer e voltar vivo, devido o poder
mágico do som de sua lira que adormecera Cérbero, minha vontade não seria tão poderosa assim,
prefiro me manter na primeira fase do Grande Arcano da Magia”.
“Não concordo com você, intuo que você é capaz sim de realizar a segunda etapa do Grande
Arcano, como pode saber se tem ou não vontade se não tentou? Pois durante estes dois meses que
permanecemos apenas nas carícias que, aliás, foram deliciosas e me trouxeram equilíbrio emocional e
clareza mental, não posso negar isso, foi o suficiente para nos conhecermos intimamente e dominar o
ímpeto erótico no momento mais crucial do ato amoroso, por isso afirmo que estamos, sim,
preparados”.
“Não é por acaso que seu nome significa mulher dragão, é de fato uma Medeia disposta a
ajudar Jasão a conquistar o velocino de ouro”.
“Então meu amor, vamos realizar esta façanha juntos como Medeia e Jasão, os meus
encantamentos te ajudarão a se apoderar do fogo do diabo e transmutá-lo em velo de ouro”, tentava
com argumentações tentadoras persuadir o Leão Vermelho.
“Estou espantado com seu logos ou inteligência”, Miguel elogiou Lung Nu, à medida que a
cariciava seus longos e lisos cabelos negros que ele tanto admirava nela. Lung Nu passou, então, a
relatar os ensinamentos que recebera de Miao Sham, depois de ouvir atentamente, disse:
“De fato esta metafísica do sexo possui uma lógica esplendida, porém vou meditar e depois
terá minha resposta, mas caso eu resolver descer ao inferno e falhar, peço que tenha clemência e
misericórdia para com esta pessoa humana que nada vale”, disse Miguel.
“Fique despreocupado, se falhar na primeira tentativa, tente outro, mais outra, aliás, esta obra
é análoga aos experimentos dos alquimistas, pois depois de muitas falhas e erros é que eles
alcançaram a produção da pedra filosofa com a qual transmutaram os metais em ouro filosofal”.
Miguel estava cada vez mais espantado com a expansão da consciência de Lung Nu, pois a
sabedoria através de seu verbo fazia a luz resplandecer, Miguel não teve mais dúvida se tratava de
uma grande iniciada caída, anjo caído, que lutava desesperadamente para se levantar.
Depois deste dialogo esotérico, Miguel foi meditar para tomar a decisão e Lung Nu foi à casa
de Miao Sham para buscar Jade.

Lung Nu sobe lentamente pelos degraus da escada que dão acesso ao andar superior, parou
na metade da escada e olhou de forma fugaz para o gato negro de olhos de mel que no memento
soltava um miado manhoso, depois continuou a subir. Na parede direita do corredor havia um belo
quadro que continha a imagem de um sábio chinês de longos cabelos escorridos e grisalhos e de
barba longa e pontiaguda, a imagem era pratiada e a figura do mestre estava entre as estrelas do
espaço sideral; outro quadro com a imagem de Kuan Yin, encontrava-se na parede esquerda do
corredor. Ela olha o quadro de Kuan Yian, segue até ao final do corredor e penetra em uma da portas,
a da direita, onde observou Jade em um sono de anjo foi até ela e a beijou no rosto. Depois penetrou
em sua exótica e agora mística câmara, apanha algumas peças de roupas e as colocam sobre o leito,
logo começa a se despir. O vestido de tecido fino e suave desliza pelo belo e esbelto corpo,
repousando no brilhoso assoalho de madeira de lei. Os lisos e longos cabelos negros cobrem-lhe as
costas; tira o sutiã, e joga-o sobre o assoalho, por fim tira a última e delicada peça de roupa que
ocultava o poderoso escorpião. Nua e bela, seguia ao banho, seu andar era suave e lento; seu corpo
delicado e belo entrou na banheira de forma suave, parecia um belo cisne sobre as águas de um lago
inspirador, e relaxou com o delicioso aroma dos sais. Magnífica imagem era daquela ninfa chinesa ao
banho. Logo após o banho se dirigiu ao altar de estilo chinês que ficava ao leste, e começou orar para
a deusa Koan Yin pedindo para que a deusa a perdoasse de todas as maldades que cometera no
passado sombrio desta e de outras encarnações de sua alma; também pediu pela filha, por Regulus
para que este domasse a decisão certa, por todos os aflitos e pobres de espírito. Depois deitou-se no
ditoso e sagrado leito e esperou pelo sacerdote para guiá-lo ao inferno, lembrou-se nestes instantes
de reflexão e relaxamento do mito grego de Perseu que venceu Cérbero e desceu à morada de Plutão
e Hécate para cortar a cabeça da Medusa, o desejo insaciável que petrifica a consciência, mas toda
esta façanha não seria possível se Minerva, a Sabedoria, não o ajudasse dando-lhe a espada, o
escudo e a armadura, além de indicar o caminho e o que deviria fazer; saindo vitorioso pode libertar
Andrômeda do mostro do mar, a grande Leviatã, a força da paixão. Mas, o mostro só pode ser vencido
pela própria cabeça cortada da Medusa que Perseu portava. Sim, ela compreendia perfeitamente o
mito grego, ela própria era a personificação de Minerva nestes instantes sublime do Kung Fú sexual,
pois Minerva era guerreira, mas também era Andrômeda acorrentada no rochedo em sacrifício a
Leviatã, a mulher sacrificada à força da paixão, a mulher presa à natureza para servi-la unicamente
como procriadora da espécie. Sim, ela deveria ajudar Regulus como Minerva, e ser salva por ele logo
após sua vitória no inferno.

Era aproximadamente uma hora da madrugada, quando se ouviu passos no corredor, três
batidas leves na porta do quarto da Tigresa Branca, que acabava de sair de uma prática de meditação.
“Entra!”, disse Lung Nu com sua voz suave e baixa. Era Regulus, o sacerdote de Dioniso.
A Tigresa Branca se encontrava vestida com um quimono de sede de cor negra, com duas
fênix‟s bordadas com fios de ouro. O Leão Vermelho vestia-se com um belo quimono de seda na cor
vermelha, neste havia dragões bordados com fios índigos. Os dois candelabros, como era de praxe,
estão ardendo.
O Leão Vermelho se aproximou da Tigresa Branca de forma lenta, a musa estava de costas e
de frente ao altar. Miguel escorreu as mãos sobre os cabelos da amada, neste instante ela contraiu os
ombros. Regulus, então, lentamente juntou os cabelos da ninfa chinesa e os colocou presos em sua
mão direita, descobrindo, assim, a nuca da deliciosa dama de mistérios. Regulus cheira ao mesmo
tempo em que beija a nuca da ninfa, esta se contraiu mais ainda e deu um profundo suspiro; ela se
virou abruptamente e lhe deu um beijo apaixonado na boca. Os olhos do casal inflamados de erotismo
fixam-se languidamente um ao outro, logo se abraçaram profundamente. Depois de certos beijos,
carícias e sussurros, o casal penetrou os véus do leito do amor. Ali, na câmara de jade80 havia uma
áurea de felicidade, paz e amor, ali o rito do amor estava sendo realizado.
Já no leito do amor, e sentados sobre a cama, Miguel começou a despir sua sacerdotisa do
sexo, lentamente soltou a faixa presa à cintura fina da ninfa, seu quimono se abriu e revelou os seios
tipo bola com os grandes mamilos enrijecidos contornados por aréolas escuras, indicando uma
personalidade forte e vigorosa. A Tigresa Branca nada tinha por baixo do quimono, as sobrancelhas
grossas desta bela ninfa chinesa, indicava de fato uma abundância de pêlos pubianos; sua nádega
caída indicava um forte impulso sexual, impulso que deveria ser controlado não só por ela, mas pelo
próprio sacerdote que oficiaria naquele altar sagrado, cuja chama da libido se manifestava
poderosamente.
O casal se encontrava plenamente despidos, e ali na câmara de jade81, no leito do amor,
brincavam eroticamente. Miguel fazia o jogo da seda provocante, com o lenço de sede ele acariciava
diversas partes do corpo da amada.
Com o beijo-farejador, o Leão Vermelho corria as narinas farejadoras pelo peito e pescoço
delicados da ninfa, que nestes instantes de volúpia deliciosa, entrelaçava a perna direita no quadril do
amante. O corpo da ninfa como fina porcelana, exalava um doce aroma de jasmim; Ambos inalavam e
cheiravam a respiração um do outro, produzindo um forte erotismo entre o casal. O odor natural dos
órgãos genitais excitados era captado pelo olfato do casal, que nestes instantes estavam envoltos por
uma chama deliciosa de amor.
O casal por um instante fez uma pequena pausa. Miguel nesses instantes de volúpia
paradisíaca contemplava o altar sagrado onde ofereceria seus holocaustos; ali ele a amava sem
passionalidade e a adorava sem profanação. A musa nesses instantes massageava com óleo de

80
Termo do taoísmo tantrico para definir a câmara núpcial, a o resinto do amor.
81
A pedra de jade tem significado sexual e místico para os taoístas.
essência de sândalo, o bastão de jade, 82 que rijido como aço, vibrava em sua destra. A Tigresa
Branca massageava vários pontos do corpo do amante, onde se encontrava os pontos do amor,
ativando o Chi83 e o liberando pelos vários meridianos ativados, atingindo não só os músculos do
corpo, mas todo o sistema nervoso central, que está intimamente ligado a função sexual. Com isso
aumentava maravilhosamente a libido.
Miguel massageava o delicado corpo de sua amante com óleo de essência de sândalo;
pressionando com leveza o hui-yin84, depois de um certo tempo começa a massagear o Campo do
Cinábrio,85 onde se encontra sete pontos do amor, massageia com suavidade, à medida que as mãos
de Miguel tocavam o corpo ardente da amada, ela se contorcia projetando para cima o monte do
Cinábrio,86 mordendo os lábios úmidos e passando as mãos sobre a cabeça, ela sussurrava palavras
de amor, ela orientava o local de seu corpo onde seu amante deveria massageá-lo . Miguel passa do
segmento do yin-chiao87, para o chi-hai,88 depois passa suas mãos ardentes e suaves pelo ponto do
amor shih-men89; deslizando deliciosamente as mãos pelo sagrado ventre da amada, ele encontra o
quarto ponto do amor que é o kuen-yuan,90 toca o chung-chi91 o quinto ponto, por fim toca com suas
mãos em chamas ardentes o sexto ponto o chu-ku92, nesse momento a ninfa deliciosa e ardente, solta
um profundo suspiro e olha com o olhar lânguido e inflamado de erotismo para o amante, que lhe
retribui o olhar.
Miguel passa a massagear os seios da amada, unta-os com o óleo de essência de sândalo,
aumentado a excitação da amada, que se contorcia na cama, à medida que mordia os lábios de mel e
acariciava os cabelos longos e grisalhos do amante. Miguel corria as mãos pelas virilhas da amante,
massageando-as por um espaço de tempo; logo passava a massagear as coxas e as pernas; depois
as canelas, que é o ponto do amor mais importante da parte inferior da perna, o yin-chiao,93 esse
ponto se localiza na face interna da canela, aproximadamente sete centímetros e meio acima da
extremidade superior do maléolo medial e por trás da tíbia.
Lung Nu deita com a barriga para baixo, deixando as costas voltadas para cima, Miguel
começa a massagear a parte superior das costas onde se localiza quatro pares de pontos do amor.
Escorrendo as mãos deliciosamente pelas costas de pele amarela e suave, o amante alcança o ponto
ming-men94 na parte inferior das costas, onde há dois pontos de amor na mesma altura de quatro a
oito centímetros da coluna, e começa a pressionar firmemente com as pontas dos dedos, depois de
massageá-lo, Miguel desliza suas mãos untadas de óleo de essência de sândalo, para a área
sacrococcígea, nesta região há oito pontos do amor, Miguel pressionava com firmeza.
A Tigresa Branca se encontrava em chamas, seu corpo estava ardendo de desejo pelo
amante que a levava ao êxtase sexual com suas deliciosas e suaves mãos. Os corações e os sexos

82
Termo taoísta para indicar o falo, o órgão sexual masculino.
83
A energia vital.
84
O períneo, um ponto entre os órgãos sexuais e o ânus, ponto onde se concentra muita força sexual, o
fortalecimento desse ponto ajuda obter o controle da ejaculação que deve ser evitada durante o intercurso
sexual.
85
Localizado entre o umbigo à sínfise pubiana, a junção anterior dos ossos púbidos, logo acima dos genitais.
86
O monte de Vênus, a região púbiana.
87
Encruzilhada Sexual.
88
O Portal do Mar.
89
O Portal da Pedra.
90
O Passo da Primazia.
91
Meio Absoluto.
92
O osso púbico.
93
Interseção dos três Yin. Massagear este ponto ajuda a curar a impotência, a frigidez e a ejaculação precoce.
94
Portal da Vida.
de ambos ardiam com as labaredas do fogo mágico de Eros, o deus do amor. Os Querubins dos
amantes cantavam o rito do amor que ali, na câmara de jade, no leito do amor, era oficializado. Ambos
de joelhos sobre o leito beijavam-se ardentemente, carícias suaves e deliciosas se praticavam ali. A
sacerdotisa do sexo, ardente de desejo, pegou com a destra o Bastão de Jade, conduzindo-o ao
Pálacio Oculto, o Vale da Solidão, o Caminho do Yin, a Caverna do Cinábrio. 95 A Tigresa Branca
dobrando as pernas, deitou-se de costas, enquanto que o Dragão ajoelhava entre suas coxas,
empurrando seus pés para frente até ficarem sobre os sinos do amor, 96 com a ajuda da mão direita, o
Bastão de Jade entra na Caverna da Lua, 97 que molhada pelo orvalho do amor, absorve
deliciosamente o Bastão de Jade, nesses instantes Lung Nu solta um suspiro profundo e morde os
lábios, à medida que segura o lençol da cama com força. Essa posição sexual é a dos dragões
entrelaçados. O Bastão de Jade faz uma investida superficial, uma penetração rasa, na qual
massageia a esponja uretral e o ponto “G” do Palácio Oculto; nesses instantes a Tigresa Branca
ardendo em chamas libidinosas sente um grande prazer. Miguel investia com seu Bastão de Jade oito
penetrações rasas e uma profunda, nesta ele mantinha o Bastão de Jade em repouso, e fazia
respirações profundas, à medida que pronunciava mantras secretos, o mesmo fazia Lung Nu, desta
forma controlavam o ímpedo sexual que geralmente o levariam ao orgasmo sem não fosse controlado
pela pausa magnética na penetração profunda. Depois de certo período em que o fogo do Bastão de
Jade começa a abaixar e o orvalho da Caverna da Lua começou a secar, foi necessário que
pronunciassem eróticos sussurros, ardentes beijos e doces carícias novamente, para manterem as
chamas do amor acessas; então o Bastão de Jade recuou ao Portal de Jade, realizando mais uma
série de oito penetrações superficiais e uma profunda. Depois de algumas séries, o casal, trocou a
posição dos „dragões entrelaçados‟ pela posição: „os martins-pescadores se unem‟. A Tigresa Branca
abaixou as pernas, mantendo os joelhos levantados, e as solas dos pés apoiadas na cama; o Leão
Vermelho ficou com as pernas apoiadas na cama, postura do „Tártaro Agachado‟, troca à posição sem
retirar o Bastão de Jade da Caverna da Lua. A Caverna da Lua jorra orvalho do amor, mantendo,
assim, a lubrificação do Caminho do Yin, 98o Bastão de Jade realiza suaves vai e vens, penetrações
rasas e profundas. A Tigresa Branca suspira e contorce os quadris, contraindo os músculos vaginais,
isso produz uma sensação erótica muito agradável, mas perigosa, Miguel mantém total controle e
vigilância nesses momentos de êxtase sexual. Nesses instantes de volúpia, há uma harmonia entre o
Yang, o Dragão, e o Yin, o Tigre. Neste Kung Fú sexual, ou seja, nesta batalha entre os sexos, o Yin
tenta vencer o Yang, esta resistência de ambas as partes, é que vai produzir o equilíbrio entre os
opostos, o Tai Chi sexual.
Lung Nu respira profundamente, com o ventre e a cintura fina estremecendo de sensualidade,
projetando para cima o Palácio de Cinábrio; Miguel como um mago dominando a natureza, faz girar a
amante em diversas posições. Ás vezes dão uma trégua nesse Kung Fú sexual, e nesses momentos
respiram ritmicamente e pronunciam as palavras secretas da magia sexual. É natural da mulher querer
vencer o homem, mas é dever do homem dominá-la no ato do amor, resistindo os encantos fatais da
serpente tentadora, dessa forma o homem conquista o amor da mulher.
Miguel por um instante sentiu que as comportas do rio amarelo iam se desabar e inundar o
Palácio Oculto, com o poder da vontade dominando sobre o desejo, pressionou os músculos
esfíncteres do períneo e, assim, evitou o espasmo que conduz ao orgasmo e a perda da essência da
vida produzida pelas pérolas99 do Dragão. Nesses instantes sublimes de erotismo, os músculos da
95
A Vagina, o Yone, o Calice Sagrado da Libação dos Deuses, o Santo Graal.
96
Os seios.
97
A Yone.
98
O canal da vagina.
99
Glândulas sexuais, os testículos.
vagina de Lung Nu palpitavam, contraiam-se, a serpente que habita nas profundezas dessa Caverna
Escarlate, ávida em beber a essência da vida, e sem poder, devorou a própria cauda. Miguel, à
medida que se retirava da cópula metafísica, era beijado freneticamente por Lung Nu que dizia:
“Vencemos a batalha, a vida nasceu, eu te amo... eu te amo...dorme comigo, agora somos um
só, o leito também agora é seu”.
Depois do longo ato amoroso, o casal realizou várias respirações rítmicas, entrando em
estado de meditação logo em seguida. Pela manhã Miguel e Lung Nu acordaram abraçados, ainda
estavam nus. Miguel estava excitado e queria novamente fazer amor com Lung Nu, porém esta o
informou que Miao Sham havia a alertado que de uma operação alquímica para outra teria que haver
um intervalo de vinte e quatro horas, pois era o tempo necessário para que as glândulas sexuais
reproduzissem novamente o Ching que era a matéria prima da alquimia sexual.
Miguel e Lung Nu repetiram por muitas e muitas noites este ato secreto do amor, o amor neles
se bipolarizou e suas almas se unificaram. Miguel e Lung Nu dominaram Eros que sempre esteve a
serviço de sua mãe Vênus, a Fertilidade, na procriação da espécie; agora o atrelaram ao Carro de
Guerra, o sexo, para combaterem a grande legião de demônios de seus infernos internos, o
inconsciente, gerando, assim, o Super Homem do caos. De fato o mundo microcosmo decaído acaba
pelo Fogo: „Igne Natura Renovatur Integra!‟. 100

100
A Natureza inteira é renovada pelo Fogo.
Capítulo ‫י‬
A Esfinge

Perséfone foi para Madri para obter informações sobre frei Miguel, pois tinha fortes suspeitas
que ele era a reencarnação do Mestre da Ordem do Leão Vermelho, pois ela, Jade e este Mestre
tinham uma grande missão juntos, pois deveriam por em atividade na terceira dimensão a Ordem
Gnóstica do Leão Vermelho. As investigações de Perséfone já vinham desda época em que ele foi seu
mestre de línguas antigas na Universidade Católica de Madri.
Já fazia três dias que Perséfone se encontrava em Madri, conversava com a mãe Kassandra
sobre suas investigações, a mãe era uma grande clarividente. Kassandra via na Luz Astral, o Akasha,
um medieval castelo ocultado no meio de uma floresta no sul da França. O contexto que se
apresentava a ela era do período medieval, ela via em suas visões que no castelo havia algumas
pessoas, entre elas uma dama cuja áurea fazia lembrar sua filha Perséfone, ela própria se via neste
contexto juntamente com o pai cabalista, Scham Ben Tazde. As pessoas pareciam felizes na naquele
lugar. Ela viu também que as pessoas desciam as escadas que davam acesso ao subsolo, através de
uma passagem secreta ocultada na parede do castelo, onde havia um templo; ali ela percebia que as
pessoas se reuniam para realizarem um ritual, uma espécie de missa gnóstica. O que fora seu pai
nesta atual existência era seu irmão naquela. Ela e Perséfone eram sacerdotisas neste templo,
Perséfone neste contexto era sua mãe, o esposo de Perséfone era um dos sacerdotes que estava de
guardião. Este era o engmatico Antares nesta atual existência, porém percebeu algo insólito que lhe
chamou a atenção, os sacerdotes traziam um medalhão sobre o peito que era uma espécie de talismã
onde havia a famosa estrela de Davi, a de seis raios, com as letras do Tetragrama em suas pontas,
nos ângulos as cabeças dos quatros seres viventes descritos pelo profeta Ezequiel, e nos dois ângulos
laterais da estrela magna havia um cálice e o tirso do deus Dioniso. No centro da estrela havia três
pedras preciosas no formato de triângulos, sendo que cada um estava inserido no outro, o primeiro
que era o maior era de safira, o segundo de berilo amarelo e o menor era de rubi e nele havia
incrustado um diamante azul no formato da letra yod da Cabala hebraica. Também via em suas visões
cabalísticas um quadro enorme em uma das paredes do templo, tratava-se de um brasão pintado
artisticamente, sua gravura era composta por duas colunas coríntias, sobre os capitéis das colunas
havia badejas nos formatos de taças; na bandeja da direita havia contido cachos de uvas, na da
esquerda maças. Havia um dragão vermelho alado hasteado na coluna direita, na esquerda um
dragão análogo, porém na cor azul. Entre as duas colunas havia um escudo branco no formato
geométrico do pentagrama, inserido neste havia uma cruz isósceles101 de cor vermelha; os dois
dragões mantinham as garras na porte superior do escudo pentagonal. Na base da cruz havia uma
cruz cristã na cor de madeira, em sua base havia um crânio humano de onde se elevava um ramo de
rosa que se estendia até o eixo da cruz onde havia uma rosa rubra. Na haste horizontal encontravam-
se duas esfinges egípcias unidas pelas suas ancas de forma que o ponto central de junção entre as
duas se dava no eixo da cruz; a branca se encontrava inserida no triângulo direita da cruz e portava o
tirso de Dioniso. A esfinge negra que portava seios, encontrava-se no triângulo esquerdo e portava
uma taça contendo uma serpente verde. No eixo da cruz onde as esfinges se unificavam, havia um sol
vermelho de quatro petulas, dentro destas havia as quatro letras do Tetragrama hebraico, inserida no
101
Esta cruz é a famosa cruz de Malta, formada por quatro triângulos isósceles cujas pontas se unem no
centro.
sol havia uma suástica formada por quatro letras Resh‟s unidas pelas suas bases, no eixo desta um
Tai Chi chinês nas cores das duas esfinges. Inserida no triângulo superior uma águia bicéfala trazendo
nas garras dois testículos. A linha reta da parte superior da cruz unidas as duas linhas superiores do
escudo pentagonal, formava um triângulo. Um leão alado de cor púrpura estava em pé sobre a cruz e
voltado para a direita portando um caduceu, sobre sua cabeça uma coroa. Unindo as duas colunas
havia em forma de arco e em letras góticas as palavras: Filosofia, Ciência, Arte e Religião. O símbolo
era magnífico e produzia em Kassandra forte impressão mística.
A mãe de Perséfone relatou nos mínimos detalhes a visão que acabara de ter, esta ficou
impressionada com as informações e como era uma habilidosa artista do Raio da Arte, desenhou com
muita perfeição os símbolos que a mãe lhe descrevia. Perserfone viu semelhanças no brasão que sua
mãe descreu com o símbolo que frei Miguel tinha desenhado para ela e que ela pintou. Sim, agora ela
tinha uma pista que a levaria ao Mestre que ela procurava.
“Pode ser que o guardião que a senhora viu em sua visão e que era meu esposo, tenha
alguma ligação com o Mestre do Triplo Triângulo, pois seu talismã possuía o triplo triângulo, pois pelos
elementos contidos no talismã, de fato se trata de um sacerdote de Dioniso. A Ordem Gnóstica do
Leão Vermelho é uma escola órfica, então o que a senhora viu em visão se trata de uma das
atividades de nossa Ordem na idade média”, disse Perséfone para a profetisa e mãe.
“Seu avô antes de ser levado pelos nazistas me orientou que você deveria encontrar uns dos
Mestres do Triplo Triângulo, pois este o levaria ao castelo que se encontra no sul da França, pois ele
me disse que os velhos manuscritos da Ordem se encontravam ocultos neste castelo, foi me revelado
pela visão o templo subterrâneo que eu não sabia que havia, só tinha conhecimento da existência do
castelo nem sabia que ali funcionava uma Ordem Gnóstica da qual nós mesmas participamos, agora
tudo está claro para mim. Você deve ir á França à cidade de Marselha, onde reside o Grão-Mestre
Antares De Le Puy, é um dos poucos homens cofiáveis hoje da Franco-Maçonaria, ele era um destes
Mestres que se encontrava na visão”, orientou Kassandra à filha Perséfone.
“Sim, agora me lembro quando De Le Puy esteve em meu apartamento, ele contemplou
misteriosamente o quadro que eu pintei com base em um desenho que o frei fez para mim. Ele me
disse que se tratava de um símbolo alquímico contido em um manuscrito que pertenceu a um discípulo
da filósofa Hipatia de Alexandria de nome Apolo, de fato De Le Puy pode me dá informações
decisivas, com certeza ele sabe de muita coisa”, disse Perséfone entusiasmada para Kassandra.
No dia seguinte Perséfone pegou uma certa quantia de dinheiro com seu pai e partiu para
Marselha.

Chegou na cidade de Marselha por volta das dezessete horas, hospedou-se em um hotel
simples, banhou-se e descansou. Como estava cansada da viagem dormiu até o dia seguinte. Pela
manhã andou pela cidade, visitou alguns livreiros que negociavam livros antigos no intuito de achar um
bom e velho livro de Cabala. Pois muitos judeus haviam sido saqueados antes de serem mandados
para os campos de concentrações, e seus objetos eram vendidos para ambiciosos homens de negócio
que lucraram muito com a desgraça de seu povo. Porém, nada encontrou para comprar. Depois do
passeio pela cidade se dirigiu ao escritório de onde De Le Puy dirigia seus negócios, mas não o
encontrou. A secretária lhe informou que ele havia saído com a noiva, e lhe deu o endereço de sua
residência a pedido de Perséfone, mas isso só foi possível quando ela lhe disse que era filha de Dom
Diego e de Kassandra, porém ficou triste em saber que ele tinha uma noiva, pois ela o amava muito e
ficara sabendo que havia sido sua esposa sacerdotisa na Idade Média, quando ambos pertenciam
àquela misteriosa Ordem dos Templários. Perséfone não compreendeu o fato dele ter uma noiva, pois
em seu baile ele estava sem companhia, e achou muito estranho isso, pois ela nutria a possibilidade
de um futuro romance com ele, e isso a deixou frustrada e angustiada.
Um táxi levou Perséfone até o endereço do família De Le Puy. O táxi a deixou em frete de um
belo portão de aço forjado com adornos de símbolos maçônicos. A mansão de arquitetura
renascentista ficava oculta no centro de uma grande propriedade entre árvores de diversas espécies e
jardins, tal propriedade privada revelava sua origem nobre e poder econômico que a família De Le Puy
possuía. Uma estradinha de pedra e ladeada por pinheiros conduzia até a mansão, à distância entre o
portão e a mansão era de aproximadamente duzentos metros. O Conde De Le Puy já a esperava, pois
sua secretária telefonou informando-o que Perséfone o procurava e se dirigia até sua residência. Seu
motorista já a esperava na frente do portão, mas do lado de dentro. Perséfone entrou na Mercedes
negra que a conduziu até a entrada da mansão onde De Le Puy a esperava com a mãe e a irmã mais
nova. Perséfone parou diante da enorme mansão, contemplando-a profundamente aquela beleza
arquitetônica. O Conde franco-maçom vendo o êxtase artístico da musa, depois de complementá-la
com muito cavalheirismo e demonstrando felicidade em tê-la como visitante, contou-lhe a história de
sua propriedade; ele a informou que era uma herança que passava de pai para filho e que tinha
pertencido a seu bisavô que era o Conde do condado Le Puy no sul da França, e que fora guilhotinado
na ocasião da revolução francesa. Depois ambos penetraram naquela magnífica mansão cujo interior
era ricamente adornada com as mais belas obras de artes. Tomaram chá e depois foram para a
biblioteca de rico acervo.
Perséfone o havia informado o motivo de sua vista e ele, com nobreza, pôs-se à disposição da
cabalista de Leon para lhe informar sobre o que fosse possível. Perséfone mostrou os desenhos ao
Grão-Mestre franco-maçom, este por alguns minutos contemplou-os com certo espanto, e disse:
“De onde tirou estas cópias?”.
“Minha mãe viu numa visão que tivera. O desenho do talismã estava no peito de um sumo
sacerdote que celebrava uma missa gnóstica no interior de um templo subterrâneo, porém todos
sacerdotes tinham o mesmo taslismã; e a insígnia estava pintada num quadro em uma das paredes do
mesmo”, disse a cabalista olhando nos olhos do franco-maçom que demonstrava uma certa
curiosidade no semblante.
O Grão-Mestre levantou de sua confortável cadeira estofada e coberta por veludo na cor
púrpura, dirigiu-se até a enorme estante que ocupava todos os dez metros da parede do leste,
procurou um livro na terceira fileira e tiro-o, dirigindo-se novamente para o assento. Folheou por alguns
instantes e mostrou à Perséfone:
“Veja a insígnia e compara-a com o desenho”.
Perséfone olhou a insígnia contida no livro e comprovou que o desenho que fizera através da
descrição passada pela mãe, de fato eram semelhantes. Acompanhando a insígnia havia um longo
texto composto por letras pequenas. O livro trazia na capa o titulo: „A História da Maçonaria Egípcia‟.
Ela devolveu o livro ao Grão-Mestre após te lido o titulo da capa, este passou a contar à história que
envolvia o símbolo.
“Segundo a lenda maçônica deste símbolo, este era o brasão de um nobre Cavaleiro
Templário que partira com seus companheiros nas cruzadas para Jerusalém. Dizem que este
Cavaleiro juntamente com seus doze companheiros foram convocados pelo rei Templário que
governava Jerusalém para por fim a uma casta de cavaleiros passionais que movidos pela cobiça
haviam se integrado ao exército cruzado na conquista de Jerusalém e que estavam saqueando
caravanas árabes e assassinando mulheres, crianças e comerciantes que seguiam com a caravana.
Este nobre guerreiro com seus soltados interceptou um grupo de perversos cruzados que
estavam atacando uma caravana, diz à lenda que a batalha foi sangrenta, mas o nobre templário com
seus companheiros colocaram em fuga os cruéis cruzados. Seguindo esta caravana que estava sendo
atacada, seguia uma linda mulher de raça árabe filha de um próspero comerciante de Alexandria. A
lenda relata que o amor entre os dois foi a primeira vista, ele e seus cavaleiros acompanharam-na
segura até a Palestina, onde o pai a esperava ansioso. A filha relatou os fatos ocorridos ao pai, que
comovido com o gesto nobre do cavaleiro templário mandou forjar uma bela espada com cabo de
bronze e com a cruz de Malta de pedra de rubi incrustada dentro de uma esfera de lápis-lazúli
engastada no eixo que dividia a lâmina e o cabo; este era de ouro e prata, uma cabeça de falcão
encimava o cabo, os olhos do falcão eram de diamantes. A haste horizontal da espada era composta
de asas abertas no estilo egípcio; duas serpentes em alto relevo ladeavam a esfera central. O aço da
lâmina era temperado por uma fórmula alquímica, dando a lâmina uma resistência análoga às espadas
dos samurais japoneses, pois o comerciante conhecia a alquimia árabe, por isso conhecia os segredos
das fórmulas que davam resistência ao aço que era usado para forjar a espada, esta era espada de
Horus com a qual combatia Set; a espada tinha um nome, Geburiah, Força Infinita. Percebendo o
grande amor que a filha tinha pelo Cavaleiro templário e este por sua filha, o rico comerciante deu a
filha como esposa ao Cavaleiro e como presente lhe deu um manuscrito escrito por um discípulo da
filosofa Hipatia de Alexandria chamado Apolo, o judeu helênico. Segundo a lenda este comerciante
árabe que era um estudioso de alquimia e um iniciado da Maçonaria egípcia, adquiriu o manuscrito de
cunho alquímico de um outro comerciante com o intuito de produzir ouro, mas descobriu nele os
mistérios gnósticos que conduzem a iniciação; o próprio comerciante árabe era um iniciado de uma
das correntes gnósticas que predominavam naquela região, e que os próprios templários eram
iniciados. O cavaleiro templário junto com a esposa árabe e seus soldados retornaram ao sul da
França onde se localizava seu condado, levando consigo o Santo Graal 102 e a Arca dos Mistérios
Gnósticos.
A fatalidade apanhou o nobre cavaleiro templário com a doença terrível da lepra. Sua bela
esposa de tez morena e de olhos grandes e negros era uma sábia mulher que havia ouvido falar na
existência de certos religiosos terapeutas conhecidos como cátaros que viviam nas regiões
montanhosas dos Pirineus em Languedoc na mesma região onde se localizava seu castelo, que
possuíam um elixir composto de ervas que curava a lepra. A sábia esposa do Cavaleiro templário saiu
em busca destes sábios da medicina natural e travou grande amizade com eles, estes foram até o
castelo feudal onde vivia o Cavaleiro templário e que ficava ocultado no centro de uma grande floresta
em Languidoc, e o curaram da lepra. O cavaleiro templário, seus soldados e sua esposa aderiram ao
Movimento iniciático cristão denominado de Cátaros, assim, a Ordem Templária dirigida por este
Cavaleiro, unificou-se com o Movimento Cátaro, e passaram a ser os guardiões do Santo Graal que
continha o Sangue de Cristo e da Lança sagrada que perfurou seu fígado 103. Ele transformou seu
castelo em refugio para estes místicos curadores que fugiam da Inquisição católica. Transformou o
grande salão que se encontrava no subsolo, e que era utilizado para se protegerem de eventuais
ataques bárbaros, em um templo gnóstico, pois os cátaros eram remanescentes gnósticos e
conservavam a pureza do cristianismo primitivo. Porém, o castelo do nobre templário cátaro foi
invadido e quase todos ali foram massacrados pela Cruzada enviada por Inocêncio III 1209, todos
foram queimados vivos, porém um guardião fiel e sua esposa, fugiram para o seio da floresta através
de uma passagem secreta que ligava o templo subterrâneo à floresta, levando consigo o Santo Graal
e a Lança sagrada para a grande gruta subterrânea de Lombrives chamada a catedral do Catarismo.
Os cruzados inquisidores saquearam a biblioteca do castelo e levaram consigo muitas obras
herméticas e filosóficas do acervo do nobre Cavaleiro templário, inclusive o manuscrito de Apolo, o
judeu helênico de Alexandria. Este manuscrito se encontra certamente esquecido em algum mosteiro
católico. A lenda disse que o brasão do nobre Cavaleiro foi composto utilizando símbolos alquímicos
102
A Esposa Sagrada que é personificada no esoterismo cristão, a Gnoses, Maria Madalena.
103
Aqui o leitor deve compreender que não se trata de objetos, mas dos mistérios ocultos na simbologia do
Graal e da Lança, obviamente o iniciado compreenderá que se trata do Grande Arcano da Magia, que os
Templários guardavam com muito sigilo hermético.
deste manuscrito. Porém, a lenda maçônica nos informa que o templo jamais foi violado e os segredos
desta fraternidade cátara-templária permanecem hermeticamente seladas no templo até nos dias de
hoje como os do templo de Salomão.
“Então provavelmente o manuscrito de Apolo de Alexandria se encontra no mosteiro dos
franciscanos em Madri, onde o ex-frei foi bibliotecário, pois se não tivesse lá como tal frei conseguiria
reproduzir um símbolo do tal manuscrito?”, interrogou Perséfone.
“Provavelmente este manuscrito se encontra na biblioteca do mosteiro franciscano em Madri,
mesmo porque só o abade e o frei tinham acesso livre à biblioteca já que era o bibliotecário, ninguém
mais”, concluiu o Grão-Mestre.
“E quanto ao talismã que tem a me dizer?”, perguntou Perséfone.
“Não há nenhuma lenda maçônica que envolve o tal talismã, mas...”, disse o Grã-Mestre.
“Mas... o quê?”, perguntou Perséfone com o semblante especulativo.
“Aproximadamente há doze anos atrás convidei um Mestre gnóstico que estudava o
Movimento Cátaro a fundo, para dar uma palestra sobre este Movimento e da relação deste com a
Maçonaria. Este Mestre havia também sido um frei franciscano que largou a batina para se dedicar ao
estudo do gnosticismo cátaro. A ultima vez que o vi foi nesta palestra aqui em Marselha, dizem que
tinha problemas com a Opos Dei, talvez esteja ai a causa de seu sumiço. Lembro-me agora que ele
trazia oculto um talismã de ouro e de pedras preciosas incrustadas nos formatos dos símbolos que
compunham o talismã. Este Mestre gnóstico era um ancião, perguntei a ele onde havia adquirido jóia
cabalística tão rara e antiga, ele me disse que tinha ganhado de um Mestre cabalista com quem
estudou muitos anos ainda quando era um frei franciscano e foi devido a estes estudos que ele deixou
a Igreja”, disse o Grão-Mestre.
Perséfone ficou confusa com esta última informação do Grão-Mestre De Le Puy, agora com o
aparecimento deste Mestre gnóstico que possuía em seu poder o talismã do Mestre do Triplo
Triângulo, as suspeitas que ela tinha que frei Miguel fosse tal Mestre agora se tornaram vagas. Mas,
onde se encontraria o Mestre gnóstico ou o cabalista seu Mestre? Pois, uns dos dois poderiam revelar
o enigma e levá-la até o Mestre do Triplo Triangulo, se de fato não fosse um dos dois o próprio Mestre.
Antares sabia que aquele talismã era usado pelos Mestres do Triplo Triângulo que pertenciam a uma
antiga Fraternidade de cabalistas da antiga Caldéia, mas não revelou nada a Perséfone.
“E o castelo medieval ainda existe?”, perguntou Perséfone.
“Sim, esta localizado nos Pirineus em Longuedoc, foi reformado antes da revolução francesa
pelo marquês de Longuedoc que era um franco-maçom conhecedor da lenda, por isso o adquiriu por
uma fortuna considerável, porém este marquês foi guilhotinado durante o período sombrio da
revolução francesa juntamente com a esposa, não tinha herdeiros, então sua herança foi parar nas
mãos de um primo distante; os descendentes deste jamais conseguiram vender o medieval castelo por
duas razões: uma pelo fato do povo dos vilarejos próximos divulgarem a noticia de que ali se praticou
em idos passados a magia negra; e a outra razão é a localidade do castelo que fica num profundo vale
cercado por uma densa floresta dificultando, assim, seu acesso e fortalecendo as crendices populares
de que ali é uma região sombria habitada por vampiros e bruxas. Mas, alguns anos atrás um grande
amigo meu, um Mestre do Rito Egípcio de Adoção comprou o castelo e deu a sua jovem noiva de
presente, eu mesmo estive no castelo na ocasião de seu matrimônio místico com a jovem dama
iniciada”, respondeu o Grão-Mestre.
“Pode me fazer um mapa da localidade exata do castelo?”, perguntou Perséfone.
“Sim, mas não a conselho penetrar sozinha nas profundezas daquela floresta, pois é muito
perigoso nunca se sabe o que se pode encontrar pelo caminho”.
O Conde De Le Puy traçou o mapa e deu a Perséfone. Ambos depois levaram o diálogo para
assuntos artísticos, pois o Grão-Mestre mostrava a ela alguns quadros que adornavam a grande
mansão. Havia um grande quadro na sala de estar com a pintura de uma linda mulher de ar
misterioso, ele disse que se tratava de sua falecida esposa, Elizabeth. O Conde não tinha filhos. Ele
insistiu que ela ficasse ali como sua hospede, mas ela não aceitou e retornou ao hotel, conduzida pelo
motorista particular da família De Le Puy. Ela sabia que a história do castelo não só a envolvia como
também o próprio Antares estava envolvido. Agora ela sabia que o Mestre que procurava era aquele
nobre Cavaleiro templário da lenda que Antares lhe narrou, mas quem era ele na atual existência?
Perséfone no dia seguinte lembrou do livro do Grã-Mestre que deveria entregá-lo e pegar o
seu, pois ambos já haviam lido os livros. Ficou surpresa em encontrar no seio daquela esotérica
mansão a dama do Graal Negro, Ofélia, a Beleza fatal. Esta se incomodou com a presença de
Perséfone e pensou que ela estava ali atrás do amor do Conde De Le Puy, de fato Perséfone o amava
e por ele tinha uma forte atração sexual, mas Perséfone era pura e tinha total controle sobre sua
paixão, além do mais seguiu os conselhos de sua Mestra Miao Sham que lhe havia informado que
deveria esquecê-lo. De Le Puy informou a Perséfone que estava noivo de Ofélia e que logo se uniriam
em matrimônio e que ela antecipadamente já estava convidada para o grande baile de seu enlace.
Perséfone devolveu o livro ao Conde, pegou o seu e seguiu seu destino pensando consigo
mesma: “Espero que ele seja poderoso como Miguel em resistir à fatalidade no leito, porque caso
contrário sua Torre será fulminada”. Logo retornou à Espanha onde tinha muitos negócios a tratar com
Miguel, pois desde que o viu com Lung Nu no teatro nunca mais o viu novamente, pois ela tinha
grande consideração por ele, pois desde a época que foi sua aluna, tornaram-se grandes amigos.

‫ש‬

Era tarde da noite um vulto negro subia a escada da residência de Lung Nu lentamente e com
muita cautela; penetrou no corredor e se dirigiu a uma das sete portas que se encontrava ali, abriu a
primeira e a segunda, mas nada encontrou, assim com passos lentos, como um gato que procura a
presa, seguiu até a porta no final do corredor a que dava acesso à câmara de Lung Nu, como esta não
a fechava com a intenção de que Miguel a visitasse inesperadamente, o vulto penetrou e foi até o leito,
olhou e via uma linda chinesa coberta com um lençol de seda. Lung Nu ouvindo os passos e o vulto
vindo em sua direção pensou ser Miguel, pois ela o estava aguardando para realizarem o TAO do
sexo, porém o vulto olhando-a logo abandonou o recinto.
Lung Nu não compreendeu o afastamento do vulto, pois deseja Miguel, queria-o em seu leito.
Pensou que o frei não teve coragem para prosseguir com a intenção erótica, então ela mesma decidiu
ir até seu leito para saber o porquê de seu afastamento, pois Lung Nu sentia grande ardência sexual e
o queria em seu leito, pois ela pensara que talvez ele se afastou, porque estava dormindo. Ao chegar
diante da porta do quarto de Miguel, achou estranho em vê-la totalmente aberta, observou que o vulto
estava diante do leito do frei, porém para sua surpresa Miguel estava deitado e se debatendo na cama
em uma luta desesperada para se livrar daquela mão que se mantinha em sua boca e narinas um
pano molhado com uma substância química, éter no caso, enquanto uma outra pessoa totalmente
vestida de preto como a outra, colocava uma perigosa serpente próximo ao corpo seminu de Miguel.
Lung Nu ligou a luz e percebeu que se tratava de assassinos profissionais com rostos ocultados por
uma espécie de capuz negro que só deixava de fora os dois olhos.
Por um instante Lung Nu ficou parada em estado de perplexidade, mas logo uma fúria terrível
invadiu sua alma e ela então partiu para o combate feroz, parecia um leão em luta com hienas; os
inimigos revidaram os poderosos golpes de Kong Fú da chinesa marcial, mas a habilidade da jovem
chinesa era extraordinária, dominava completamente o estilo do dragão; os inimigos armados de
punhais tentavam em vão atingir a musa que com movimentos graciosos, defendia-se ao mesmo
tempo em que atacava com grande fúria; os inimigos também dominavam a arte marcial, usavam um
estilo marcial de karatê japonês, mas suas técnicas não eram comparadas a da chinesa Lung Nu. Um
terceiro inimigo apareceu e se juntou ao outros para tentar combater a fúria do dragão de Lung Nu;
este parecia ser mais habilidoso e atingiu alguns golpes em Lung Nu, o punhal deste rasgou o belo
quimono negro adornado com a fênix e o dragão bordados com fios dourados, deixando o corpo de
guerreira seminu; neste instante os três inimigos perceberam o belo escorpião negro tatuado das
costas da oponente, se assustaram e partiram em fuga. Lung Nu observou que se tratava de três
mulheres.
Lung Nu correu para o leito para socorrer Miguel, ele se encontrava inconsciente devido o
éter. Ela procurava a víbora desesperadamente, ao levantar o lençol que cobria o corpo de Miguel a
víbora lançou um bote sobre ela, esta se desviou com habilidade, apanhou a serpente com muita
agilidade e a colocou em um recipiente de vidro. Mas, infelizmente ela já havia picado Miguel e
lançado sua peçonha maldita em sua corrente sanguínea. Miguel foi despertado, mas já estava
agonizando e em delírio, estava morrendo; Lung Nu sabia se não fizesse algo rapidamente ele
encontraria a dama esquelética que o conduziria aos portais do reino de Plutão. Não poderia levá-lo ao
hospital, porque sabia que ele era procurado pelas autoridades, então o que fazer? Foi então que
lembrou de sua mestra taoísta que era médica. Acordou a criada e o motorista de sua confiança, pediu
que a criada cuidasse do frei por alguns instantes, enquanto ela e o motorista fossem em busca da
médica taoísta.
Era já tarde da noite quando se ouviu palmas no portão da residência de Miao Sham, esta
como já estava acostumada a socorrer enfermos na madrugada, por isso não achou estranho, vestiu o
roupão e colocou a cabeça na janela para saber de quem se tratava, avistou um casal em frente. Foi
até lá atendê-los, porém foi tomada de espanto quando avistou Lung Nu, pois Miao Sham achou
estranho aquela visita de Lung Nu, por isso temeu o pior. Lung Nu relatou o ocorrido, a médica
apanhou seu equipamento e se dirigiu à mansão de Lung Nu. Lá encontrou um moribundo a beira da
morte. Lung Nu mostrou a serpente à mestra, ela avistando disse:
“Rápido precisamos agir, pois daqui alguns minutos o veneno vai atingir o coração e vai matá-
lo!”.
Miao Sham se apoderou das agulhas de acupuntura e começou a aplicá-las em certos
meridianos do corpo com o objetivo de neutralizar a peçonha. Depois abriu a boca do frei e cuspiu
dentro: Lung Nu achou aquilo desagradável, mas a médica sabia o que estava fazendo. Apanhou em
sua bolsa certas ervas secas e pediu que se fizesse um chá para dar a Miguel.
“Este homem possui uma força vital extraordinária, pois já era para estar morto,
impressionante!”, disse Miao Sham com um certo espanto no semblante, só se encontra vivo ainda
devido à quantidade de Ching transmutado em seu corpo, se o grande dragão amarelo já estivesse
despertado nele a peçonha não teria nenhum efeito em seu sangue eletrificado pelo Fogo de
Kundalini, a Serpente sagrada de Esculápio que não só cura as enfermidades da alma como também
do corpo.
Miao Sham percebeu que não se tratava de qualquer homem, pois ela observou no nimbo da
áurea de Miguel uma maravilhosa cor açafrão-amarelo, indicando assim uma rica espiritualidade. Sua
áurea no geral indicava uma tonalidade amarela dourado, isso revelava um mestre; mas por que
queriam eliminá-lo? Definitivamente este fato era misterioso ao Miao Sham. Um fato lhe chamou a
atenção, um sinal entre os dois olhos do enfermo, ela por um instante refletiu, e começou a observar
os traços do rosto de Miguel, trazia sofrimento.
“Este homem passa por processos iniciáticos profundos em sua atual existência, um
budhisattwa caído que luta terrivelmente para se levantar”, pensava Miao Sham, à medida que
aplicava as agulhas em diversas partes do corpo do mestre caído.
Miao Sham observou a dedicação de Lung Nu para salvar Miguel, ela percebia intuitivamente
o grande amor dela por ele; percebia por sua clarividência a grande emanação de luz azul que
emanava de seu chacra cardíaco ao frei subversivo. Então ela compreendeu o motivo deste mistério
intuitivamente, e deve grande entusiasmo na alma para salvar o frei. De fato esta emanação mantinha
em grande parte Miguel vivo, pois havia uma simbiose entre suas almas que se fortaleciam a cada
operação de alquimia sexual.
Ali diante do leito de Miguel, Lung Nu o observava com grande tristeza na alma, lágrimas
rolavam de seus pequenos olhos. À medida que soluçava e enxugada as lágrimas com um pequeno
lenço de seda, relatava para sua mestra o fato ocorrido e sua luta contra as três Fúrias que foram
enviadas pela Prostituta Escarlate para eliminá-lo.
Os dias passaram, mas o enfermo ainda se encontrava inconsciente. Pela manhã e pela tarde
Miao Sham acompanhada de Perséfone o visitava. Desta forma foi nascendo um laço de amizade
entre Lung Nu e Perséfone que permaneceu o tempo todo ao lado do amigo enfermo. Foi grande a
alegria das duas quando o enfermo reagiu, abriu o olho e pronunciou em delírio o nome:
“Heloísa, Heloísa por que me traiu, por quê?”.
“Quem será Heloísa?”, perguntou Perséfone em voz baixa, à medida que olhava Lung Nu.
Esta ficou calada, mas não disse nada à Perséfone, pois ela sabia muito bem quem era Heloísa, pois
havia lido sobre ela no diário de Miguel. Perséfone pensava que se tratava de alguém que o entregou
aos assassinos que tentaram matá-lo. Miao Sham informou as discípulas que ele já se encontrava fora
de perigo. Lung Nu ocultou o fato de Jade para evitar seu sofrimento, pois a menina o tinha como pai.
Por isso a deixou na casa de Maio Sham. Mas a menina era desperta e sabia tudo que se passava,
apenas Miao Sham sabia que o budhisattwa Jade era desperto; a menina com apenas nove anos já se
sentava em posição de flor de lótus e passava várias horas em estado de meditação.

Já havia se passado três dias que Miguel se encontrava em delírio, devido ao envenenamento
de seu sangue, porém estava totalmente fora de perigo, mas infelizmente ainda não havia recuperado
a consciência. Lung Nu permanecia quase todo o tempo ao seu lado junto com Perséfone que lhe
fazia companhia. Aproveitando a ausência de Perséfone, apanhou o diário de Miguel com o intuito de
achar algo que a levasse aos assassinos, desta vez lia:
„Recuperando a consciência, perguntei ao velho gnóstico cátaro:
“Há quantos dias fiquei desacordado, bondoso ancião?”.
“Três dias e seis horas, Filhote de Dragão”, disse o ancião com um leve sorriso no rosto já
enrugado pelo tempo.
“Obrigado por ter cuidado de mim, meu amigo, aliás, nem seu nome sei, qual é?”.
“Chamo-me Julius, e tu Filhote de Dragão, como te chamas?” Disse com um tom grave na voz
o bondoso ancião.
“Era Miguel, mas este morreu há três dias e seis horas atrás, agora sou o sem nome, pois
acabo de nascer nos braços de Julius, meu parteiro, qual meu nome mestre?” O ancião se espantou
ao ouvir tal frase, e disse:
“Finalmente o Filhote de Dragão rompeu o ovo, o germe do Super Homem brotou, meu pupilo
despertou! Seu nome é Regulus, o Coração de Leão!”.
“Sim, lembrei-me, pois me deu este nome quando estivemos reencarnados na primeira ronda
planetária, no período de Saturno na antiga Arcádia, no reino de Pã”.
“Quem dissestes a ti estes arcaicos mistérios de muitos eões, 104 Filhote de Dragão?”.
“A Grande Esfinge105, a guardiã do tempo, Mestre. Quando estive desacordado, minha
Consciência penetrou no Éden, o Paraíso, e lá fui instruído nos mistérios da Natureza pela Esfinge que
se apresentou a mim no portal do Éden; tal Esfinge era minha própria alma natural, meu Nefesh 106,
que trazia dentro de si toda memória de minha peregrinação pela Roda de Saturno, 107 ciclos de vida e
morte. O Éden estava dentro de mim mesmo, então compreendi que o Éden era minha Sefiroth Jesod
microcósmica, meu corpo etérico imortal que construir em períodos remotos de minha história
cósmica. O meu próprio corpo etérico era a fonte de todos os meus registros akáshicos, 108um filme
projetado na tela do etér refletor, todas as minhas vidas passadas que vivi como dramas, comédias,
aventuras, como rico, rei, mulher, homem, demônio, anjo, mendigo, ladrão, corrupto, prostituta,
explorador, matador, soldado, médico, sacerdote, sacerdotisa, bruxa, adultero e adultera, feiticeiro e
muitos outros; vi todas as minhas migrações de planeta para planeta; vi todas as minhas evoluções e
involuções; vi minhas ascensões espirituais e também as minhas quedas. Vi que em minhas
ascensões espirituais havia uma mulher que sempre me acompanhava, também uma outra que me
conduziu ao inferno por muitas vezes”.
“Muito bem, Filhote de Dragão, mas se faz necessário à demolição dessas lembranças que
formam em tua psique a população eônica de Eus-diabos que constituem em ti o país psicológico, este
é o grande caos, o grande oceano da Maia Microcósmica, de onde emergirá o Super Homem,
Hércules, o Homem Solar que libertará Prometeu-Lúcifer dos grilhões. O germe de Hércules se
encontra no Templo de teu coração, mas se faz necessário tecer antes os corpos solares de Hércules,
o Homem-Cristo, o Super Homem. Tu sabes, Filhote de Dragão, que a matéria prima são os átomos
crísticos encerrados em teu sêmen, este é o grão de ouro da Mãe Divina Demeter, nossa Isis interior,
o Princípio Feminino de Elohim em nós. O Tantra, a Magia Sexual, é o Tear com o qual Shiva-Shakiti,
o Elohim criador Microcósmico, tece os corpos espirituais de Hércules, o Homem-Cristo. Cuidado!
Filhote de Dragão, derramar o sêmen no vaso hermético, o santo graal da mulher é anátema contra o
Espirito Santo, o Terceiro Logos, Shiva-Shakiti”, disse o Mestre gnóstico.
“Compreendi a fundo Mestre Julius, o enigma da Esfinge, a Guardiã do Éden, a Tebas interior,
que foi edificada com os dentes do dragão de Marte que Cadmo, guiado por Minerva 109, matou na
fonte de Dirceu e que plantando seus dentes na terra filosofal, nasceram deles os guerreiros que
edificaram a sagrada Tebas. A Esfinge é a alma natural do homem que é a composta pelos quatro
elementos da Natureza. A Esfinge é a unidade dos quatro seres viventes relatados em Ezequiel e em
Apocalipse, ou seja, a alma dos quatro elementos condensadores da matéria física. A Esfinge é o
Grande Arcano, é o Tetragrama da Natureza. A Esfinge do Edén é o próprio Querubim em sua forma
andrógina, é o Bafometo dos Templários.
Esta Esfinge andrógina é a neutralização das duas Esfinges: a Jakim e a Boaz, as forças gêmeas
da Natureza, a força motora que faz a Roda da Dialética girar. Jakim, a Esfinge branca é o pólo ativo
da Árvore do conhecimento do bem e do mal, enquanto que Boaz, a Esfinge negra, é o pólo passivo. A
primeira é a corrente que produz o bem; a segunda é a corrente que produz o mal. A terceira Esfinge,

104
Períodos muito longos de Tempo.
105
Um Querubim com cabeça humana, corpo e garras dianteiras de leão, anca de touro e asas de águia.
106
A alma animal que anima os corpos físico e etérico.
107
O Tempo.
108
É a Luz Natural chamada de Astral, onde ficam como filmes toda a história do homem e, portanto, da
humanidade.
109
A Deusa da Sabedoria, Justiça e Verdade.
que se encontra acima da Roda da Dialética 110 é a Revolução, é o resultado da neutralização das duas
polaridades do Fogo natural 111 que é a Alma da Dialética, ou seja, o Tifon Bafometo inimigo mortal de
Júpiter e de todos os deuses do Olimpio. Isto revela que para penetrarmos na esfera do paraíso que é
o Éden, se faz necessário primeiro a neutralização dessas duas forças gêmeas em nós, ou seja, é
necessário fazer que as duas Esfinges se acoplam em uma união suprema superior, este é o Grande
Arcano da Magia. As duas Esfinges são as duas polaridades do Grande Agente Mágico. Moisés
colocou sobre a Arca do concerto os dois Querubins ou Esfinges acopladas no lugar mais sagrado do
Tabernáculo: o sancto sanctorum; as asas das Esfinges se tocavam nas extremidades formando,
assim, o triângulo de Sheknah, e nele Elohim se manifestava para gerar, pois o triângulo é o símbolo
do Fogo gerador, que se manifesta com o androginato da Esfinge, ou seja, com a neutralização do
binário representado pelas duas Esfinges. Foi desta forma que Moisés ocultou o Grande Arcano no
simbolismo da Arca da aliança”, expus para o Mestre cátaro os mistérios que lembrei que ele havia me
iniciado enquanto permanecia inconsciente.
“A Luz da Natureza ou Eônica, as duas Esfinges, desdobra-se em doze aspéctos que são os
doze Eons da Natureza, as doze Portas zodíacais da Roda da Dialética, o Sansara, a Roda do
Destino, por onde Pistis Sofia entra para se reencarnar no mundo de Asiah, o mundo da manifestação,
a décima esfera da Árvore da Vida, os Pés da Grande Mãe Original, a Malkuth dos cabalístas. Pistis
Sofia, a Manas inferior, a Alma Pensante concreta que se encontra presa ao mundo do fenômeno, o
sensível112, entra na Roda das reencarnações por um dos doze signos zodiacais segundo seu carma
individual, se entra pela casa de Leão é porque o pecado do orgulho nela é forte e por isso deve
trabalhar com a morte desse pecado desenvolvendo unilateralmente a virtude da humildade;
geralmente Pistis Sofia em um corpo leonino trás sempre um defeito no corpo físico que fere
mortalmente a vaidade orgulhosa do leonino. O sexto livro do Evangelho de Pistis Sofia, relata-nos
que uma alma que robusteceu o pecado113 da arrogância, depois que seu tempo se completa na
esfera dos Eões,114os recebedores de Ariel a tiram do corpo e passam três dias viajando com ela ao
redor do mundo, instruindo-a sobre os mistérios da criação. Depois levam-na para o Amente diante de
Ariel que lhe pune por algum tempo; logo é conduzida para o caos 115 diante de Ialdabaoth116 e seus
quarenta e noves demônios que pune a alma com seus castigos apropriados. 117 Depois a alma é
conduzida para o caminho do meio, lá seus regentes também se vingam dela. Depois de todas as
punições, Pistis Sofia, o Espírito humano, é conduzida à Virgem da Luz para que receba o julgamento.
E quando a Esfera da Roda da Dialética gira entregam-na aos recebedores de Ariel para que possam
lançá-la nos eons da Esfera das reencarnações, mas antes ela é conduzida para o mar de fogo que se
encontra abaixo da esfera, onde é purificada, o purgatório dos católicos.
E Yaluham, o recebedor de Sabaoth, o Adamas, dá uma taça com o elixir do esquecimento à
alma, para que esta esqueça todas as coisas e as regiões por onde passou. E lançam-na num corpo

110
Veja o Arcano 10 do Tarô.
111
O Fohat.
112
O mundo sensível é o mundo regido pelos sensações, submetido aos instintos; na Filosofia de Platão é o
mundo da ilusão, a Sombra do Inteligível onde as idéias puras se encontram, mas quando se manifestam no
fenômeno perdem sua pureza e se tornam ilusões ou sombras das verdadeiras coisas. A Idéia pura, o arquétipo
original de todas as coisas se encontra no Logos que é o Verbo do UNO ou Deus. A Idéia pura ou a essência
de todos os seres é a Sabedoria que reside dentro da Consciência NOUS, o Cristo Íntimo.
113
O pecado é o produto do contramovimento, ou seja, é o resultado da cristalização das forças ímpias ou
involutivas da natureza.
114
Esfera da Roda do Sansara ou da Dialética.
115
O Abismo, as Infradimenções, o Inferno.
116
O deus Plutão dos gregos.
117
Estas punições são necessárias à purificação de Pistis Sofia, uma espécie de purgatório.
coxo e deformado, para que todos a desprezem constantemente; geralmente esta alma entra pela
porta de Leão118, o quinto Eon”, me instruía o Mestre cátaro.
“Mestre, pelo que expôs, compreendo que o mapa astral de uma alma que vem ao mundo é
uma projeção do Lúcifer íntimo119 de cada alma, estou certo em meu conceito ou será uma
conjectura?”.
“Filhote de Dragão, concluiu correto. Em Lúcifer, o Ser Áurico do homem, o Espírito da Luz
eônica ou ainda o Sol Natural da alma, encontra-se todo o carma de Pistis Sophia, esta é a alma
humana-espiritual onde reside o poder Pensante (Manas) e a Consciência (Budhi); Pistis Sofia não
pode ser confundida com a alma natural ou eônica, esta provém do Deus Natural que é Lúcifer, por
isso nos mistérios greco-romano Prometeu é o pai dos homens naturais, pois Ele os fez do lodo da
terra. Lúcifer é a Sombra do Logos ou Cristo, a Inteligência divina que modela e dá a forma à
Natureza; Pistis Sofia é uma centelha desprendida do Logos, assim como a alma natural é uma
centelha depreendida de Prometeu-Lucifer, o pai do Adão terrenal, porém este trás dentro de si uma
chispa divina do Logos, a Pistis Sofia, a alma Pensante. Pistis Sofia, a Alma imortal, reveste-se da
alma natural, o Adão carnal, para poder se manifestar no reino natural que é o mundo físico-etérico”.
Depois desta colocação o Mestre cátaro calou-se por certo tempo.
.
“Qual a causa desse carma, mestre?”, perguntei com certa inquietude.
“Estivemos encarnados na época do Império Romano, e fomos generais do terrível exército
romano; praticamos juntos muitas maldades e crueldades, saqueamos judeus, mandamos muitos
cristãos à arena e violamos suas esposas e nos apossamos de seus bens; fomos conspiradores; além
disso, praticávamos nós mesmo a magia negra e a orgia báquica, famos cruéis Filhote de Dragão,
enquanto o Império se desmoronava e as conspirações se fazia presente”.
Agora eu compreendia o porquê de nossa ligação com a Igreja, sim, era a lei de retorno e
recorrência em operação, então chorei no colo do Mestre cátaro por tanta barbaridade que cometi em
algumas de minhas cruéis reencarnações. Chorei muito e minha alma se abateu profundamente, à
medida que minhas lembranças emergiam do grande oceano de meu subconsciente. Lembrei-me de
uma cena onde me encontrava com outras pessoas afins reunidos no interior de um templo, onde
praticávamos os rituais gnósticos, sim, éramos cátoros‟.
Lung Nu dirigia a atenção para o frei, que se mexia no leito, parou a leitura e foi ver o que se
passava.

‫ש‬
Miao Sham e Perséfone estavam preocupadas com o frei e com Lung Nu, certamente quando
os assassinos descobrirem que Miguel não morreu, voltarão para terminar o serviço contratado por
alguém que queria seu fim.
“Temos que tirar Miguel o mais rápido possível da casa de Lung Nu, pois ele corre grande
perigo, eu creio que agora ela também corre perigo, devido o motivo de estar em envolvida com ele”,
disse Miao Sham.

118
Os aspéctos negativos do signo do Leão são: a arrogancia, a vaidade, o orgulho, a prepotencia,o
despotismo, a rudez, a ira que se manifesta no leoniono quando o Eu-diabo do orgulho ou do amor próprio é
ferido.
119
O divino Daimon.
“Incrível, o ilustre cientista religioso era o mesmo Mendigo que você procurava, como pode
uma personalidade como esta cair em um nível tão decadente!”, exclamou Perséfone com espanto.
“A clandestinidade o levou a este estado”, disse Miao Sham.
“Minha família possui uma fazenda no interior de Zamora, podemos mantê-lo lá, depois
podemos ajudá-lo a sair do país”, propôs Perséfone.
“Uma coisa é certa, se a Opos Dei o encontrou, logo a polícia política de Franco o encontrará
também”, disse Miao Sham.
“Como supõe que foi a Opos Dei e não a KGB ou os ditadores de Franco, já que estes
também o procuram, pois fiquei sabendo que ele estava envolvido com um grupo de comunistas
seguidores de Trotski em Madri?”, questionou Perséfone.
“O método de extermínio utilizado pela KGB é diferente, lembra como Trotski foi assassinado
no México? Esse método de envenenamento valendo-se de animais peçonhentos ou substâncias
químicas é tipicamente utilizado pelo clero corrupto, pois temos alguns exemplos na história, isso já foi
herdado do próprio Império Romano”, disse Miao Sham.
“Tem razão, isto está parecendo coisa de inquisidores, porém algumas sociedades secretas
ocultistas também agem desta forma”, disse Perséfone.
“Hoje visitarei novamente o frei para avaliar seu estado, falarei com Lung Nu sobre o perigo
que eles correm, mas antes tenho alguns assuntos a resolver referente ao frei”, disse Miao Sham.

Miao Sham estava em busca de pistas sobre a tentativa de assassinato contra Miguel, que já
havia aproximadamente há uma semana que estava em estado inconsciente.
A Leoa de Jade se dirigiu à famosa biblioteca de Leon, lá se encontrou com dois adeptos
tibetanos que pertenciam à mesma Ordem secreta que ela. Tratava-se de dois insignes Mestres do
Primeiro Raio.
“Ele possui uma grande missão, a Grande Loja Negra quer de qualquer forma exterminá-lo,
devido a esta importante missão; temos que protegê-lo a qualquer custo, é a Alma humana de um
grande Mestre encarnada, é um dos Mestres do Triplo Triângulo. Sua missão é de fato expor à
humanidade os Mistérios Crísticos”, disse uns dos adeptos a Miao Sham.
“Como pensei!”, exclamou Miao Sham.
“É considerado altamente perigoso pela Igreja, devido suas idéias revolucionárias que
colocam a autoridade da Igreja em dúvida e podem levar a Instituição da Igreja de Roma a queda, por
isso querem exterminá-lo. Miguel ao sair da Ordem Franciscana levou consigo uma cópia de um
secreto manuscrito da biblioteca do mosteiro franciscano de Madri, um manuscrito alquímico escrito
por Apolo de Alexandria, umas das reencarnações do próprio frei Miguel; o conteúdo deste manuscrito
revela grandes segredos da alquimia cristica, se este livro vier ao conhecimento do público, provocará
uma verdadeira revolução no mundo cristão”, disse o outro adepto que tinha aparência de ancião.
“E quanto a sua esposa Lung Nu e sua filha Jade, que faremos?”, perguntou Miao Sham aos
adeptos tibetanos.
“Ela tem um carma a ser pago, já está fecundada a uma semana. Nós a colocamos no
caminho do frei, como você sabe, e também a induzimos telepaticamente a ler o diário do mestre
caído. A leitura tem despertado nela o Átomo Búdhico120 e um grande arrependimento esta nascendo
em seu interior, deseja a libertação, ela deu um grande avanço esotérico; a missão dela foi de levar o
frei à iniciação sexual e aos mistérios menores para prepará-lo para o Ascenso de Kundalini, aos
Mistérios Maiores; e de receber a imaculada concepção pela magia sexual, pois em seu ventre esta

120
Centelha Crística onde reside à sabedoria íntima do Espírito.
sendo gerado o corpo físico de um Buda que deverá ser entregue à nossa Ordem Sagrada do Tibet
logo ao nascer”, disse mais uma vez o tibetano.
Miao Sham depois do encontro hermético com os adeptos tibetanos, partiu para a casa de
Lung Nu, com o intuito de ver o estado de saúde de Miguel. A própria Lung Nu a recebeu com grande
entusiasmo, porém a médica taoísta percebeu que o estado ainda não era dos bons, devido o motivo
dele ainda permanecer inconsciente e delirando.
“Talvez ainda permaneça neste estado por um ou dois dias, mas terá melhoras”, disse Miao
Sham.
“Permaneci com ele todos estes dias, e ele sempre em seus delírios fala de uma tal de
Heloísa, quem é esta mulher misteriosa?”, perguntou Lung Nu mantendo os olhos fixos no enfermo,
mas sem esperança de obter resposta.
“São os eus agonizando nas profundezas do inconsciente; se trata de um trauma nascido de
alguma experiência negativa com a chamada Heloísa; isso é normal em pessoas que deliram
enquanto estão enfermos, não se preocupe ele tem por ti grande amor”, disse Miao Sham no intuito de
pacificar o espírito conturbado de Lung Nu.
“Entendo”, disse Lung Nu.
“Há muitos mistérios a serem descobertos, necessitamos conversar senhorita Lung Nu”, disse
Maio Sham.
“Quais mistérios Mestra?”.
“Carrega em seu ventre uma criança especial?”, informou Miao Sham.
“Como! Miguel jamais derramou o sêmen em meu ventre, isso é impossível!”, disse a Mulher
Dragão, à medida que passava a mão no ventre e com semblante espantado.
“Isso é possível, pois na magia sexual às vezes pode escapar um único e potente
espermatozóide e viajar até o óvulo para fecundá-lo, uma concepção desta é imaculada, devido o
motivo de não ter sido realizada da maneira natural como é comum em todas as espécies de animais;
com este tipo de concepção nascem os iluminados como Buda, Jesus, Zoroastro e muitos outros. Os
corpos dos iluminados são gerados pelo Fogo Sagrado no ato glorioso da Magia Sexual, são Filhos do
Fogo Sagrado do Espírito Santo, enquanto que os filhos da Natureza nascem do fogo da paixão. Mas,
este tipo de concepção só ocorre quando os Anjos da fecundação, regidos por Gabriel como ensina o
esoterismo cristão, necessitam trazer um iluminado ao mundo, por isso Gabriel levou a mensagem à
virgem Maria. Maria era virgem não no sentido de nunca ter coabitado, mas no sentido de nunca ter
sido contaminada com o fluxo seminal lançado em seu útero, pois os átomos seminais derramados no
útero se tornam impuros; porque neles há carma, pois o sêmen é uma concentração muito poderosa
de força vital, uma gota de sêmen equivale a cem gotas de sangue; por esse motivo o esoterismo
cristão, a Gnoses, diz que o pecado reside no sangue. A Luz Astral é o receptáculo das formas
mentais que personificam não só nossas boas ações como também nossas más ações que são
evocadas através de uma atividade ímpia. O sangue é a alma do corpo, é o veículo da Luz Astral e
esta da alma, porque o corpo da alma é feito de Luz Astral.
José praticava magia sexual com sua sacerdotisa vestal, pois Maria era uma sacerdotisa
vestal do templo de Salomão; assim como Zacarias o esposo de sua prima Isabel, que também
concebeu João Batista que era a reencarnação do profeta Elias. Por isso tanto José como Zacarias de
principio não aceitaram a gravidez de suas esposas vestais, devido o motivo deles não conhecer o fato
de que se poderia gerar sem ser através do derrame seminal. Porém, a mulher fecundada deve ser
afastar imediatamente da operação alquímica e retornar depois que a criança desmamar”, disse
Perséfone que acompanhava Maio Sham na conversa com Lung Nu.
Lung Nu estava muito feliz em saber que carregava em seu ventre um iluminado filho dela e
de Miguel, porém ficou abatida quando Miao Sham a informou que o filho deveria ser entregue aos
lamas tibetanos, isso era uma foto insólito para ela e uma decisão muito difícil para uma mãe.
Capítulo ‫כ‬
Isadora Kali, a dominadora de leões.

Lung Nu, antes de dormir pegou mais uma vez o diário de Miguel, com o intuito de buscar
forças para aplicar em sua decisão, abriu e leu:
„O velho cátaro Julius, instrui-me mais uma vez nos grandes mistérios da vida e da morte:
“A lua se encontra em seu aspecto de Selene, isto é, a lua cheia. Este aspecto é excelente
para a magia prática, chegou a grande hora, Filhote de Dragão, colocarei, com a ajuda das forças da
lua cheia e planetárias, nossos corpos na quarta dimensão da Natureza, para escaparmos desse
antro repugnante da Ordem do Graal Negro, desde que me encontro aqui espero as conjunções
planetárias necessárias para utilizar estas forças na alta magia. Na quarta dimensão, podemos nos
metamorfosear em qualquer coisa ou animal, pois as leis dessa dimensão favorecem este tipo de
magia prática. Mas, é necessário que antes coloquemos os nossos corpos na quarta dimensão, este
é o Éden da Terra, ou seja, seu paraíso”, disse o Mestre cátaro ao seu discípulo.
“Qual é o método pelo qual podemos realizar esta operação mágica?”, perguntei com
entusiasmo na alma.
“O mesmo que usávamos na antiga China, quando éramos Jinas,”121disse Mestre Julius.
“Não me lembro, Mestre”.
Mestre Julius aproximou-se de mim e me tocou com os dedos polegar, indicador e médio em
forma de cone em um ponto específico da minha espinha dorsal, então ocorreu em meu ser um
fenômeno metafísico.
Vi clarividentemente minha reencarnação como jaina na antiga China, via-me dentro de um
templo Shaolin acompanhado de um Mestre ancião, que me passava os treinamentos secretos da
arte Jina. Em minha Consciência, minha Budhi interior, despertava tal saber que me permitia
penetrar o iper-espaço da Natureza, pois toda a sabedoria do meu Mestre interno se encontra dentro
de sua Alma divina, dentro de seu Sol Búdhico, a Consciência Superlativa do meu Ser que ilumina o
Manas Superior e Inferior122 que é a Alma humana do Mestre Íntimo. Então, lembrei-me da ciência
perdida.123
O Mestre gnóstico me contemplava com seus olhos de águia, manteve-se por alguns
minutos em profundo silêncio diante de mim, logo rompe o silêncio e diz:
“Somente com a dissolução da ilusão, é que de fato pode ver a Gnoses; para isso é
necessário acender em ti o fogo da Consciência, a Budhi, a Sabedoria, somente Ela pode lhe guiar
no caminho; somente este Dragão ígneo pode lhe restaurar a visão, e dissolver tua ilusão. A Budhi,
este resplandecente Dragão da Sabedoria, encontra-se em estado embrionário no Santuário de teu

121
Os Jinas eram os iniciados da Religião Sabedoria. A Ordem esotérica dos Jainas tem como símbolo o
dragão amarelo e a suástica como relata o espanhol tosófico Mario Roso de Luna em sua obra O Simboloismo
das Religiões. Os próprios monges shaulins eram jinas; o próprio Kung-fú nada mais é do que exercícios jinas
para colocar o corpo na quarta dimensão, Shaulin foi um Mestre de Sabedoria Jaina da antiga e maravilha
China. Este é o objetivo maior da arte do Kung-fú. O Taoísmo puro é Jaina. O Kung-fú provém da raça verde,
raça de Saturno, a raça que rege o Tempo, ou seja, a quarta dimensão.
122
O Pensador, o princípio pensante do Mestre Íntimo, o Microcósmo Homem setuplo.
123
A vocábulo consciência indica pela sua etmologia o conhecimento da ciência, pois cons-ciência, pois cons
vem de conscio que significa conhecedor da ciência.
coração, ou seja, na Igreja de Tiatira.124 Ela é a Rosa Mística de sete pétalas, a Rosa de Saron,
nossa Consciência. Esta Consciência é Perséfone que foi raptada por Plutão e levada ao abismo,
logo após ser persuadida por Eros a cheirar a flor do Narciso.125 É a Kundalini, o Fogo Serpentino do
Espirito Santo, que se encontra adormecida na base de nossa espinha dorsal, o bastão de Brahma,
na Igreja ou Santuário de Eféso. Este é o Fogo sexual criador que quando desperta, fecunda a
Semente crística do Novo Homem que se encontra no Santuário do coração. Obviamente que o
Fogo Serpentino desperta unilateralmente com o Fogo do coração, ou seja, o Fogo Búdhico em
atividade impulsiona o Kundalini a subir as trinta e três vértebras ou câmeras secretas, e o faz abrir
os sete selos das sete Igrejas ou Santuários ao longo da espinha dorsal, restaurando as virtudes e a
sabedoria da Alma humana perdidos com a queda de Perséfone no reino de Plutão. 126 Este Fogo
Sagrado é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ou seja, que purifica o Microcósmo.
Para despertar o Kundalini, o Cordeiro de Deus, é necessário restaurar a cadeia de Força
dentro de nós; essa cadeia foi rompida quando se comeu o fruto da Árvore do conhecimento do bem
e do mal, ou seja, quando Pistis Sofia passou a realizar a dialética dentro de si mesma. Esta cadeia
elétrica-magnética se rompeu quando o desejo, Eva, dominou a mente, Adão 127; dessa forma a
cadeia da Paixão128 passiva e ativa se desequilibrou. A Serpente à esquerda da espinha dorsal, ou
seja, o polo passivo do Fogo Serpentino, Boaz, desceu ao inferno juntamente com Perséfone,
obviamente que Dioniso, o Cristo feito carne ou manifestado na matéria, nasce do ventre de
Perséfone e no reino de Platão, a Nona Esfera cabalística, pela segunda vez”.
“Qual a relação do mito de Adão e Eva com o rompimento da cadeia de força elétrica-
magnética que circula no sistema nervoso simpático?”. Perguntei com a intenção de saber a visão
do Mestre sobre este assunto hermético.
“O mito de Adão e Eva, o casal Andrógino Jod-Chavah,129simboliza o princípio do corpo
astral e mental, ambos representam o Andrógino astral. Eva é o alma emocional do Microcósmo

124
Tiatira significa Contrição, pois o arrrependimento de Pistis Sofia, a Alma humana, parte do coração que é
a sede da Alma divina, a Budhi, a Rosa de Saron.
125
Esta parte da mitologia grega é análoga ao mito de Eva que foi persuadida pela Serpente (erótica) a comer
do fruto proibido. A flor do Narciso simbolisa a embriaguês dos sentidos que leva, assim como o fruto
proibido de Eva, ao adormecimento da Budhi ou da Consciência.
126
No homem o reino de Plutão é seu inferno íntimo que se localiza na região do baixo ventre, onde se
encontra localizado os sete chacras involutivos, as sete portas do inferno. Plutão é um dos aspéctos de Lúcifer,
o Tifon Bafometo, o Senhor absoluto do inferno. Há no homem um Átomo luciférico denominado no
esoterismo gnóstico e maçônico de Átomo do inimigo Secreto, é este Átamo que rege as sensações e os
instintos. É Ele que atormenta a Pistis Sofia, a Alma humana, com as emanações do erro e do mal. Como o
homem decaído não tem controle sobre seus impulsos, devido sua vontade ser débil, então a corrente da
paixão emanada de Bafometo, que é o Espirito da Alma Natural ou Eônica, controla e escravisa a Alma
humana na corrente passional da Natureza para que esta possa realizar suas concepções que é o bem e o mal,
ou seja, a dialética que prende o homem à Roda da vida e da morte. A Alma humana, cujo princípio é a
Vontade, deve dominar sua Alma animal ou natural, para que esta não realize mais a dialética, mas que possa
servir-se de veículo à Alma humana, para que esta realize a Vontade do Pai, do LOGOS sobre reino de Tifão
Bafometo. Quando o Átomo Nous ou Cristico, entra em atividade, a Alma humana começa a ser gerada no
templo coração, é o desabrochar da Rosa Mística, então começa a Grande Revolução da Dialética, o reino de
Bafometo baseado no bem e no mal, começa a se desabar, e o Novo Reino do Cristo Íntimo começa a ser
edificado. A Alma humana que é o Filho do homem, passa ser cristificada, o LOGOS ou VERBO nela e por
ela se faz Carne, ou seja, torna-se em corpo cristico setuplo.
127
Adão é o Manas, o Pensador. É a Imagem e a Semelhança do Homem Real, ou seja, do Adão Kadmon.
128
O Impulso, o Fruto proibido, a Alma da Dialética.
129
Adão (IOD, letra que representa na Cabala o princípio gerador masculino) e HEVA que significa VIDA.
homem, Adão é Manas, a Alma pensante, o Pensador, mas dentro da realidade de Netzach 130 Adão
é Manas Inferior, o Adão terrenal, a Mente concreta que cria, impulsionado pelo eu-desejo,131 ou
seja, pela alma emocianal, Eva, as formas mentais que se cristalizam na realidade dialética. O
desejo esta ligado a emoção, e a razão ao Ser Pensante. Eva é Alma do corpo astral; Adão é Alma
do corpo mental. Estes dois Princípios no homem dialético, encontram-se escravos do Inimigo
Secreto, como é mostrado na décima quinta lâmina do Tarô dos Boêmios.
Com a quebra da simetria na atividade santa da união suprema superior, a magia sexual, o
Andrógino astral Jot-Chavah se desequilibrou e, assim, foram expulsos do Éden, que é a esfera
sexual transcendental, onde se encontra a Árvore do conhecimento do bem e do mal e a Árvore da
vida; o Éden é a esfera de Yesod 132 que é o fundamento, onde se encontra o princípio vital. Com o
rompimento da simetria sexual, nasceram Kain e Abel, as duas polaridades da corrente da
Paixão133, que é o princípio da Alma natural ou animal do homem.
Kaim é o prato do demérito, é o mal, a Paixão passiva da Corrente Natural, é o
infravermelho da Luz Astral. Abel, o bem, é o prato do mérito, da Paixão ativa, o polo ultravioleta da
Corrente da Luz Eônica da Natureza, ou seja, da Luz Astral. Kaim e Abel são os dois polos da
Dialética, o bem e o mal. Na Luz Eônica ou Astral, encontram-se os arquétipos do bem e do mal em
estado potencial, quando estes arquétipos saem do estado potencial para atividade, formam o
mundo dialético. Como? Através do desequilíbrio do Andrógino Astral, o casal Adão e Eva ou Jot-
Chavah. Eva, a Alma emocional ou Ser-desejo é persuadida pela Paixão, o Bafometo, que é a Alma
da Dialética, isto é, o Espirito da Árvore do conhecimento do bem e mal, a comer do fruto proibido
que é a ciência dialética, ou seja, a Paixão produz no corpo emocional um forte desejo relacionado
com a idéia arquétipica da Corrente da Paixão, assim, o Ser-desejo persuadi Adão, o Manas Inferior,
o Pensador, a criar a formas mentais com as quais o mundo dialético vem à existência. Desta forma,
o homem desequilibrado, no decorrer de sua peregrinação pela Roda da Dialética, 134vai forjando o
reino do Anticristo, ou seja, o mundo das atividades dialéticas, através da má vontade, da má mente
e do mau desejo, ou seja, as três Fúrias135 que são os três aspectos fatais do Inimigo Secreto, o
Espírito da Natureza Dialética, invocam e chamam à existência os Eões que são as formas mentais
monstruosas de forças naturais ímpias. É exatamente essa atividade ímpia do homem decaído que

130
A esfera ou universo da mente concreta, ou seja, o plano mental inferior que é regido pelo planeta
Mercúrio, logo pelo Logos Rafael; a mente abstrata ou causal pertence a Alma humana que é regida por
Vênus.
131
Eva, o Alma-Desejo, é tentada pela Serpente Píton que é o Fogo Instintivo ou da Paixão da Natureza
Dialética, ou seja, este Fogo Passional (que vem de passivo) é o que se chama em alta Cabala e Maçônaria de
Tifon Bafometo que personificava na mitologia grega e egípcia o Fogo Nataral ou Eônico, Alma Animal, cujo
princípio é o Instinto ou Paixão.
132
É a nona esfera da Árvore Sefirótica ou da Vida, que representa o Macrocosmo e o Microcósmo em suas
totalidades. No corpo esta esfera localiza-se na região dos órgãos sexuais. Na Árvore Sefirótica
microcósmica, corresponde ao corpo vital ou etérico. No mesocósmo, o planeta, é a quarta dimensão, é o
Éden ou paraíso.
133
Na Filosofia de Espinosa a Paixão passiva (de passional) que é triste conduz ao vicío, enquanto que a
Paixão ativa que é alegre conduz à virtude. Ele também qualifica o desejo como um tipo de paixão.
134
A Roda do Sansara, dos nascimentos e mortes. É a esfera malkuth que é a esfera física e natural da Árvore
da Sefirótica.
135
No esoterismo cristão ou maçônico, gnostico, são os três traidores do Cristo Íntimo: Caifás, o Sacerdote
que conserva a religião natural de cunho dialético, que controla as vontades dos homens, é a má Vontade;
Pilatos que é o Estado, a má Mente que conceitua a ideolgia com a qual escraviza a mente da sociedade em
determinado sistema político, econômico e social; e por fim, Judas o mau Desejo que representa o comércio,
ou seja, as relações mercantilistas, o poder hipnótico que leva o homem ao fetiche da forma. É este mau
Desejo dentro e fora do homem que o faz reproduzir e gerar as idéias ímpias, cria o fitiche do TER.
o faz ser uma Besta de sete cabeças e dez chifres como revela o Apocalipse treze. A Besta
apocalíptica é o próprio Adão Belial, o homem desequilibrado, dialético. Dessa forma, Pistis Sophia,
a Essência divina, impulsionada pelo desejo, pensa o mundo dialético e, assim, fica presa ao Caos”,
revelou-me mais uma vez sua gnoses o mestre cátaro.
Depois do discurso hermético, eu e o mestre cátaro passamos a realizar certos movimentos
secretos acompanhados de profundas respirações. Depois de um certo tempo, passamos a
pronunciar certo mantra secreto.
Senti uma certa diferença na atmosfera, de repente percebi uma certa neblina misteriosa
fora do cárcere. Olhei para o ancião sábio e o viu metamorfoseado em um falcão branco,
compreendi então que se encontrava em estado de jinas, estava na quarta dimensão da Natureza,
estava dentro do próprio Tempo. Usando o poder da vontade e da concentração acompanhados da
imaginação criadora, metamorfoseie-me também em um falcão branco, e voamos para fora da
masmorra com as asas da liberdade, depois de um ano e três meses confinado ali. O mestre Julius
vinha trinando há três anos a arte misteriosa dos Jinas até que juntos obtivemos excedo.
Voamos nos céus do Éden, sobre a cidade secreta de Shambbalah onde viviam os Mestres
de Consciências despertas. Eu, do alto, contemplei muitos templos inefáveis dessa cidade sagrada.
Rasgávamos o céu de Sambbalah em um magnífico vou esotérico, até alcançarmos a floresta
sagrada de Sambbalah, onde se encontrava o Templo Gnostico da Ordem do Leão Vermelho.
Nós, os Falcões de Rá, o Sol, contemplávamos o paraíso florestal com todas as suas
riquezas elementais. O Templo ficava oculto numa planilha entre três montanhas; ao lado do Templo
havia uma enorme queda d‟água tão bela como a cabeleira de Berenice. Dessa queda d‟água
formava-se um belo rio que como uma serpente em movimento percorria todas as entranhas das
montanhas até desaparecer entre a bela vegetação daquele maravilhoso paraíso do reino elemental
dos elfos, fadas e gnomos e outros seres da Natureza.
Pousamos sobre um rochedo em frente ao grande portal de bronze hexagonal do Templo.
Voltamos, então, a nossas formas humanas, descemos do rochedo e seguimos rumo ao portal, de
repente ouvimos uma voz melodiosa e suave:
“O que buscais aqui neste Templo onde profano nenhum pode contemplar o seu interior?”,
disse a voz oculta.
O mestre cátaro gritou com a voz entusiasmada: “A Fênix nasce do fogo de Tiatira!”. Esta
era a palavra de passe para ter acesso aos domínios do templo.
“Seja bem vindo irmão Teth com seu Pupilo ao Templo de Dionísio!”, exclamou a voz
melodiosa, à medida que se manifestava uma inefável dama acompanhada de um lindo leão alado
de cor vermelha.
“Veja, Regulus! Esta é Isadora Kali, a dominadora de leões, a bela musa das batalhas e
guardiã do Templo do Leão Vermelho, o Santuário de Dioniso”.
Isadora era de uma beleza indescritível; sua cabeleira ondulada era dourada como os raios do Sol,
assim como sua tez; seus olhos flamejantes eram azuis como safira; o corpo parecia ser modelado
pelas mãos do maior perito de todos os escultores; o andar era como o estandarte conduzido pelo
vento. Vestia-se como uma guerreira. Sua túnica era de cor negra como o corvo; sua égide peitoral
era dourada e enfeitada por dragões alados que desciam dos ombros e lançavam de suas bocas
chamas que se encontravam á altura do peito entre os seios, as chamas formavam uma fênix. Trazia
uma espada do lado direito da cintura; a espada era flamígera e seu cabo era de ouro e formado por
dragões entrelaçados; no eixo do cabo, onde se encontravam as caudas dos dragões que formavam
a haste horizontal do mesmo, havia uma cruz formada por quatro triângulos isósceles, nestes
haviam engastadas pedras de carbúnculos no formato das letras do Tetragramaton, no centro da
cruz isósceles havia a letra Schim. Trazia uma lança na mão direita e um escudo de bronze com a
insígnia formada pela Ouroboros, o Mercavah e o Pentagrama, sendo que o Mercavah estava
circundo pela Ouroboros e dentro do Mercavah havia o Pentagrama com as cinco letras hebraicas
que formam o nome de IESHUAH que significa SALVADOR, ou seja, é a união do Tetragrama com
a letra sagrada Schim que é o hieróglifo do Fogo Sagrado bipolarizado pelos mistérios do
Tetragrama, símbolo perfeito do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ou seja, que
preenche o Microcosmo de Luz. No centro do Pentagrama a letra Aleph, representando o Mago.
Trazia sobre a cabeça inefável a tiara de ouro no formato de abutre análoga à da deusa Maat do
Egito; a tiara era adornada com pedras de safiras, os olhos do abutre eram de pedras almandinas.
Braceletes de ouro com incrustações de pedras de carbúnculos no formato de leões alados
adornavam seus braços. Suas sandálias eram adornadas com pedras preciosas e presas às canelas
por delicadas fitas douradas. Isadora Kali era a personificação da Sabedoria do Templo do Leão
Vermelho. Isadora Kali era uma guerreira Valquíria. Isadora, a Sabedoria como Dádiva de Isis,
guiou-nos ao grande portal do Templo. Eu, que até então não conhecia tais mistérios, assombrei-me
com a enorme muralha hexagonal de nove metros de altura e com o grande portal de bronze de
dezoito metros quadrados e também na forma hexagonal, onde havia em alto relevo a Esfinge
armada de espada flamígera e sobre ela a frase em letras góticas: „Decifra-me ou eu te devorarei‟. A
Esfinge apontava a espada para cima, onde havia a insígnia da Ordem. Esta insígnia estava sobre o
portal hexagonal. Paramos diante do portal e observamos Isadora pronunciando as palavras
mágicas e os sinais de passe. O grande portal se abriu magicamente, deslizando-se para dentro da
muralha. O portal dava acesso a uma estrada de pedras que se estendia e se deparava com os
trinta e dois degraus que davam acesso ao átrio do templo, que era no formato de cruz cristã‟.

Lung Nu ao término da leitura já tinha tomado sua decisão, dirigiu-se ao leito e dormiu com a
mente concentrada no que lera.
Capítulo ‫ל‬
O Sacrifício

Perséfone se achava atormentada com o fato de saber que o conde De Le Puy estava noivo
de uma sacerdotisa da Ordem do Graal Negro, pois ela de fato estava amando-o, mas não podia
interferir em sua escolha, infelizmente ele escolhera a dama da esquerda.
“Há certos mistérios que envolvem o homem que está amando que no momento não deve
saber, mas dou minha palavra que saberá”, disse Maio Sham.
“Amo demais este homem, não suporto sua ausência, isto me enlouquece e me enche de
dúvidas, quero ser seu altar para que ele possa realizar seus sacrifícios e seus holocaustos”, disse a
angustiada Perséfone, pois desde que viu Ofélia com o Grão-Mestre seu espírito não achou paz,
mesmo sabendo que sua Mestra lhe havia dito que eles não ficariam juntos na atual existência.
Miao Sham percebeu que Perséfone estava muito confusa e cheia de dúvidas, isto poderia
atrapalhar o trabalho do Mestre Regulus que estava prestes a despertar, prometeu a Perséfone que
lhe esclareceria tudo no momento certo.
“Combinei com De Le Puy um encontro logo após o baile, mas ele não apareceu, pois fiquei
sabendo que ele e Ofélia estavam juntos e partiram logo cedo, me sinto defraudada”.
“Já lhe falei Orquídea Negra, este não é o homem predestinado para você, tenha paciência
que quando estiver preparada o sacerdote aparecerá para acender as chamas do altar sagrado em teu
coração”. Disse a mestra do TAO.
“Tudo passa, espero que estes sentimentos que atormentam minha alma também passam”,
disse Perséfone com o olhar triste.
“Hoje Miguel despertará, quero que esteja lá, pois a ti um mistério se revelará”, disse Miao
Sham enigmaticamente.
De repente um lindo falcão branco apareceu do nada e pousou sobre o madeiro da varanda
da casa de Miao Sham. Perséfone olhou o falcão pousado e disse:
“Que linda ave de rapina, um falcão branco nunca vi desta espécie antes”, disse Perséfone
maravilhada pela beleza da ave.
Miao Sham assovio para a ave e gritou:
“Venha Horus”.
O falcão pousou sobre o braço direito da Mestra taoísta.
“Que lindo falcão, há nele uma familiaridade, não consigo explicar”, disse Perséfone, á medida
que acariciava a cabeça da bela ave de olhos azuis, fato insólito.
Miao Sham levou a ave para um quarto, Perséfone achou aquilo estranho. Logo, sua Mestra
retornou sem o falcão, e disse:
“Logo uma parte dos mistérios que envolvem Jade será revelada para você”.
Passado certo tempo, Jade saiu do quarto onde Miao Sham levou o falcão.
“Felicito-as!”, exclamou Jade, á medida que observava o espanto no semblante de Perséfone.
“Como se explica isso!”, exclamou Perséfone.
“Isso é um fenômeno da quarta dimensão minha doce discípula, Jade é uma Jina como eu,
chegou aqui metamorfoseada em falcão”.
“Extraordinário, não conhecia esta magia!”, exclamou Perséfone extasiada.
“Ainda não te passei estes mistérios, porque não passou ainda pelas provas que deves
passar; porém estas só serão possíveis a ti quando encontrar seu sacerdote e com ele praticar magia
sexual para que teu Kundalini desperte, assim, poderá penetrar nestes mistérios”, disse Miao Sham.
“Perséfone buscais o Mestre do Triplo Triângulo em vão, pois não se trata de uma
individualidade, mas um grupo de Mestres que se unirão numa síntese para realizarem uma Grande
Obra; como sabes eu mesmo sou um deles, reencarnei em corpo feminino devido minha missão, mas
ainda meu corpo é de uma criança não está preparado, somente daqui a dez anos que este corpo de
fato estará preparado para receber minha totalidade de Força, até lá muitas coisas ocorrerão, hoje
Mestre Regulus se manifestará em seu budhisattwa e se manifestará para mais uma atividade”, disse
a menina Jade com muita seriedade e maestria.
“Mas quem é Regulus?”, disse Perséfone.
“Hoje saberás”, disse Miao Sham.
Depois de certo tempo, os três partiram à mansão de Lung Nu para ter com Miguel.

‫ש‬
Lung Nu estava deitada em sua macia cama de estilo oriental, quando ouviu passos na sala,
levantou-se cautelosamente, abriu a porta de sua câmera vagarosamente, tomando muito cuidado
para não fazer barulho. Seguiu lentamente como uma tigresa a atacar a presa, desceu os degraus da
escada que dava acesso a sala, percebeu uma luz de lanterna vindo da biblioteca, seguiu lentamente
em direção a biblioteca.
A musa chinesa permaneceu oculta vendo toda ação do invasor. Lung Nu percebeu que se
tratava de um corpo feminino, estava vestida de negro e com lenço negro ocultando seu rosto. O
invasor estava procurando algo, depois de um certo tempo, pareceu desistir, pois não achou o que
procurava. Lung Nu permanecia silenciosa e intacta, seus olhos pequenos e penetrantes não
desviavam do inimigo.
O invasor, depois de ter vasculhado a biblioteca, subiu lentamente a escada, parecia ser uma
pessoa com treinamentos especiais. Lung Nu se ocultou atrás da poltrona e de lá manteve sua
vigilância. O invasor averiguava os quartos, observou que um dos quartos se encontrava com a cama
desarrumada, como se alguém tivesse se levantado isso assustou o intruso, que desceu a escada um
tanto assustado, pois suspeitou que talvez a dona da casa tinha um hospede indesejável. Lung Nu
percebeu que o invasor se encontrava armado com uma pistola automática hangler. Ela conhecia
aqueles olhos de algum lugar, permaneceu oculta e deixou o invasor ou a invasora escapar, ela
achava melhor deixar o invasor com dúvida se realmente ele foi percebido ou não.
Lung Nu logo após a fuga do inimigo, foi até a biblioteca para averiguar se não faltava nada.
Tudo estava intacto. Mas, um fato lhe chamou atenção, sua agenda não se encontrava na mesma
posição que deixara. Lung Nu, por ser treinada na arte da espionagem, foi cautelosa com este fato,
apanhou uma mascará protetora e abriu a agenda, como imaginava havia um pó branco semelhante a
bicarbonato, era uma espécie de veneno tailandês bem conhecido pelos agentes do serviço secreto
chinês, pois a lógica era que folheando a agenda o pó subiria e ela o inalaria, entraria na corrente
sangüínea pela respiração e a mataria em poucos segundos. Sim, os assassinos que tentaram contra
a vida de Miguel, agora tentavam eliminá-la também, pois ela conhecia bem este método de
envenenamento pela inalação do pó tailandês, agora sabia que estava correndo perigo; pois, tirando-a
do caminho ficaria mais fácil para executar Miguel, pois perceberam que ela era como sua guardiã e
que possuía grande habilidade marcial, mas como sabiam que Miguel ainda estava vivo?
Subiu para averiguar Miguel, pois ela trancava a porta do quarto por cautela, quando penetrou
o leito ouviu:
“Tua habilidade é extraordinária, obrigado por ter salvado minha insignificante vida”, disse
Miguel com uma grande potência na voz, era como se nunca estivesse enfermo; Lung Nu ficou
assombrada.
“Que bom, você esta fora de perigo! Permaneceu em delírio por nove dias meu amor”.
“Tudo isso!”.
“O importante é que agora está sanado”, disse Lung Nu, à medida que o acariciava e o
abraçava com grande felicidade.
“Preciso deixar Leon o mais rápido possível, pois já me acharam, e quando perceberem que
eu ainda estou vivo, tentarão novamente, pois já tentaram muitas vezes contra minha vida. Peço
perdão, pois não queria envolvê-la nesse meu drama, pois não quero que você e Jade corram perigo
por minha causa”, disse tristemente o frei rebelde.
“Agora eu já estou envolvida e não tem mais volta, agora mesmo alguém invadiu a biblioteca e
colocou veneno tailandês em minha agenda, e provavelmente sabem que ainda está vivo, caso
contrário por que retornariam?”. Indagou Lung Nu.
“Sua alma despertou em mim forças adormecidas, agora compreendo o porquê de nosso
encontro”, disse Lung Nu mais uma vez.
“Que tipo de forças?”, perguntou Miguel.
“O amor e a vontade de viver!”, exclamou Lung Nu.
“Para onde for eu irei meu amado, pois jamais o abandonaria, agora somos almas unificadas,
carrego em meu ventre um filho teu”, disse Lung Nu.
“Um filho! Como?”, indagou Miguel espantado.
“Sim meu amor um filho da Luz; eu também fiquei espantada, porém Miao Sham me disse que
isso é possível com a magia sexual, a gestação se encontra ainda nas primeiras semanas”, disse a
Mulher Dragão.
“Magnífico! Um filho do Fogo!”, exclamou com satisfação o Leão Vermelho.
Nestes instantes Perséfone e Jade entraram na câmara onde Miguel e Lung Nu conversavam.
Miguel deu um grande abraço em Jade e esta retribuiu com muita felicidade e disse:
“Felicito-o Mestre Regulus!”, exclamou Jade.
Tanto Perséfone como Miguel ficaram espantados com a revelação de Jade.
“Como sabe meu nome secreto menina Jade?”, perguntou Miguel.
“A menina Jade muita coisa sabe”, disse Jade com seriedade e paz no espírito.
Miguel achou que a menina Jade andara lendo seu diário, por isso sabia seu nome iniciático.
Não suspeitou que Jade era um Buda desperto encarnado em corpo feminino.
Perséfone estava assombrada com a revelação, pois Miguel sabia que era Regulus, mas nada
revelou a ninguém. Sim, ali estava reunido diante da Mulher Dragão que já sabia que Miguel era
Regulus, pois ele já havia falado para ela. Miguel já havia revelado para Lung Nu que ele era de fato o
alvo que ela tentara eliminar tempos atrás, por isso ela o chamava de Miguel e não de Regulus.
“Confesso que despertei por você um grande amor desde que a vi pela primeira vez, e agora
que salvou minha vida e cuidou de mim, a amo mais ainda”, disse Miguel.
Depois de um longo diálogo, Perséfone informou Miguel e Lung Nu que eles deveriam sair
imediatamente dali, porque forças negras estavam conspirando contra suas vidas.
“Vocês devem partir para o sul da França junto comigo para a província de Languidoc, ali Lung
Nu terá o filho que há de nascer, ali teremos uma missão juntos. Precisamos encontrar um castelo
medieval onde se encontram os velhos manuscritos de nossa Ordem que no passado foi instalada ali.
Já tenho as informações necessárias para esta expedição secreta. Jade ficará aos cuidados de Miao
Sham, pois ela não corre perigo, devido sua existência esta ocultada aos malfeitores do Graal Negro.
Partiremos quando Miguel se encontrar totalmente recuperado; eu já aluguei uma casa em Languidoc
onde ficaremos, esta é a mensagem de Miao Sham”, disse Perséfone.

‫ש‬
Em Barcelona no interior de uma paróquia, havia um misterioso homem de aspecto clerical,
estava sentado no banco do meio da fileira do lado esquerdo. Uma mulher misteriosa de cabelos
curtos, alta, bonita e elegante, sentou-se ao lado do misterioso homem e disse:
“Parece que a operação medusa teve sucesso, pois averiguei e constatei que há dias a
mansão se encontra fechada sem ninguém”.
“Tem certeza? Entrou dentro da residência para constar alguma pista?”, disse o homem.
“Sim, o interior da mansão se encontra tal como antes, tudo está intacto, inclusive as roupas.
Estive especulando com a vizinha e esta me informou que certo dia dois carros com mais o menos oito
chineses vestidos de preto e armados, entraram na residência e levaram não só a chinesa como
também a filha desta e um homem misterioso que vivia naquela mansão com a chinesa. Pela
descrição parece se tratar do frei, depois disso ninguém mais entrou na residência, a não ser a policia
que veio investigar o desaparecimento da família”, informou a mulher misteriosa.
“Sim, fui informado que ela possuía um dragão pintado nas costas, isso indica que de fato
estava ligada com a máfia chinesa. Se a máfia levou o frei junto ele não escapou, com certeza foi
eliminado junto com a amante e a filha, a máfia oriental sempre some com os corpos eliminados para
não deixar vestígio, finalmente estamos livres do grande perigo que nos ameaçava, alguém fez o
serviço sujo por nós”, disse o homem. Logo ambos se retiraram e sumiram na multidão que circulava
na principal rua de Barcelona.
A astuta Lung Nu alugou a mansão ao lado e pôs Perséfone lá como moradora, porque sabia
como este tipo de gente age, pois já havia sido uma delas. Então Perséfone passou todas as
informações para a tal mulher que estava especulando a vida de Lung Nu e Miguel. Depois de ter
certeza de que eles não retornariam mais, Perséfone partiu para Languidoc para se encontrar com os
amigos iniciados que lá já se encontravam.

‫ש‬

Já havia um mês que Perséfone se encontrava em Languidoc, residia juntamente com Miguel
e sua esposa Lung Nu.
Uma certa noite os três se encontravam a beira da lareira, proseando, quando Lung Nu
perguntou a Miguel quem era Heloísa.
“Quem lhe disse sobre Heloísa”, perguntou desconfiado Miguel.
“Quando estava enfermo, em delírio, chamava todo tempo o nome Heloísa”, disse Lung Nu
com a confirmação de Perséfone.
“Esta é uma história dramática e longa, mas tudo bem, contarei já que o momento é propicio.
“Heloísa foi uma excelente monja franciscana que conheci no México, era uma anarquista
cristã, de espírito rebelde e de grande sensibilidade pelos oprimidos. Nós realizávamos uma práxis
política em um povoado constituído de camponeses explorados pelo latifúndio desta região mexicana,
quando ali estive e a conheci.
Quando a conheci ela alfabetizava pessoas oprimidas e necessitadas, um belo trabalho era
realizado por ela, era uma excelente professora que desenvolveu uma pedagogia libertadora com
bases na Paidéia socrática, onde o sujeito é conduzido pelo pedagogo filosofo a buscar o
conhecimento dentro de si mesmo, libertando-se, assim, do conhecimento exterior que parte de fora
para dentro, e que é a reprodução ideológica da classe dominante, e levando a reflexão, através desta
se desenvolvia uma consciência critica capaz de repensar o mundo e perceber suas contradições;
desta forma o espírito seria livre da alienação e faria sua própria história, pois a história até hoje foi à
história das classes dominantes. Tinha grande amor e vocação pela obra que fazia ali, mas nossa
práxis despertou o ódio dos latifundiários da região. Na verdade eu já me correspondia com Heloísa a
muito tempo, ela no México e eu na Espanha, porém só vim a conhecê-la quando fui enviado ao
México.
Conheci Heloísa pessoalmente em Guadalajara, depois ela me levou até o vilarejo localizado
no interior de Zacatecas, chegando lá vi o grandioso trabalho que ela realizava, percebi, então, que
seu espírito humano se exteriorizava em uma produção cultural magnífica. Seu espírito, seu logos
divino, produzia história e se reconhecia como produtor desta história, se interiorizava através desta
história que era sua vida, sua produção cultural era seu logos divino objetivado.
Ao invés de retornar para o mosteiro onde realizava minhas atividades intelectuais, engajei-me
em sua história, ou seja, minha história naquele instante uniu-se a história dela, e uma força desta
união sacra nasceu; então os tintãs da natureza ímpia despertaram suas fúrias contra nós; estes Eões
do reino dialético queriam obstruir a história do logos divino, queriam acabar com a vida do espírito
humano como os tintãs a mando de Hera acabaram com Dionísio. Logo se desencadeou uma
perseguição furiosa por parte dos políticos da região, então fomos forçados a abandonar a região
secretamente, pois estávamos marcados para morrer. Por fim, partimos à cidade de Madri.
Foi em Madri que comecei a falar sobre as doutrinas antigas dos gnósticos e órficos à monja
rebelde. Devido o motivo de Heloísa ser uma adepta da política libertária e era fortemente influenciada
pelo pensamento anarquista; ela não aceitava a filosofia oculta dos cristãos gnósticos, eu já havia me
afastado das idéias marxistas, pois tinha chegado à conclusão que o comunismo real só estava para o
homem real; não basta mudar a consciência burguesa pela socialista, há que transformar a psicologia
do homem, aqui eu me identifico com Nietzsche em seu conceito de valores, há que transmutar a
velha moral ressentida em uma nova moral nobre, somente homens de moral nobre podem edificar um
reino nobre, e por causa destas minhas idéias é que também fui e sou perseguido pelo Partido
Comunista sobre o comando do fascista Stalin.
Na época Heloísa estava se preparando para realizar seu mestrado na ciência da religião, e
escolheu-me como seu orientador, foi exatamente neste instante histórico de nossas vidas que passei
a dialogar com ela sobre a filosofia hermética. O tema que ela escolheu para sua tese de mestrado foi
sobre a Escola mística e filosófica fundada por Orfeu, esta escolha foi à base pela qual pude introduzir
a gnoses em sua vida. Ela percebeu que o cristianismo tinha uma certa influência do orfismo e que o
cristianismo gnóstico era de fato o renascimento dos mistérios órficos, ela notou intelectualmente que
tais mistérios estavam evidentes no evangelho gnóstico Pistis Sofia. O fato de que a religião órfica era
a religião de muitos filósofos da Magna Grécia, e que homens como Platão, Sócrates, Pitágoras eram
iniciados no orfismo, só fortaleceu as bases pelas quais Heloísa realizaria sua revolução religiosa”.
“Mestre Regulus, mas você já era um gnóstico nesta época?”, perguntou Perséfone.
“Não tinha a práxis gnóstica e a mim faltava-me o esoterismo gnóstico, pois tinha apenas a
teoria que adquiri em alguns livros secretos contidos na biblioteca franciscana”, respondeu.
“Sócrates era iniciado órfico? Quais são as provas para esta afirmação?”, questionou Lung Nu.
“Ora, Sócrates era inspirado pelo divino Daímon, pois os órficos afirmavam que o homem tinha
uma potência ou princípio divino que governava seu destino, e que este Daímon juntamente com a
alma veio habitar um corpo conseqüentemente devido a uma culpa originária. Este fato comprova que
Sócrates era um órfico”, respondeu o V. Mestre Regulus.
“De fato não havia percebido este detalhe tão revelador, mas já que entramos no assunto,
desejo tirar algumas dúvidas sobre este assunto; a crença órfica coloca que através da iniciação dos
mistérios sagrados, desenvolve práticas e ritos que ensinam a alma a ouvir os conselhos de seu divino
Daímon e que através desses conselhos e da orgias a alma pode se libertar da roda dos sucessivos
nascimentos, pois sabemos que a base do culto de Baco136 é a orgia que é antítese da magia sexual
sagrada, como compreender isso?”, questionou Perséfone.
“Na antiga Grécia o termo orgia não tinha o significado pejorativo que tem hoje, para os
órficos este vocábulo tinha o sentido de sacramento e sua finalidade era purificar a alma para que esta
escapasse à roda dos nascimentos e mortes. Por isso Dionísio está ligado ao culto da geração ou da
magia sexual, pois é através destes mistérios que a alma pode se purificar e escapar da roda das
Moiras137. Mas, com a degeneração do culto dionisíaco este termo passou a significar festim licencioso
com base nas paixões sexuais desenfreadas. Este culto dionisíaco degenerado foi dotado pelas
bruxas e feiticeiras na forma do sába negro, o culto do Jeová negro ou do tetragrama invertido, pois
Dionísio é o mesmo Jeová dos cabalistas, Osíris dos egípcios e Shiva dos hindus138”.
“Então sendo Shiva e Dionísio o mesmo deus, logo isso me leva a compreender que o Tântra
que é à base do culto sexual de Shiva-Shakti é o mesmo culto sexual dionisíaco praticado pelos
órficos, por isso o gnóstico Carpócrates exaltava a comunidade das mulheres, recomendava a magia;
e considerava a sexualidade transcendental uma revolta contra o mundo do Anticristo, e via nela, pela
união dos opostos, um caminho de Salvação! Essa doutrina dos gnósticos pelo que eu intuo de fato
tem sua base na religião órfica, pois sabemos que Orfeu foi iniciado no Egito assim como Moisés e
Pitágoras, só muda os termos segunda a cultura dos povos, mas a essência é a mesma, o Culto é
único e universal”, expôs Perséfone.
“Exatamente, e podemos comprovar isso no livro sagrado dos gnósticos o „Pistis Sophia‟ onde
podemos perceber a forte influência do orfismo”, disse Mestre Regulus.
“Então, voltemos a falar sobre Heloísa”, disse Lung Nu.
“Através de um árduo estudo filosófico sobre o orfismo, o neoplatonismo e o gnosticismo,
Heloísa despertou seu Átomo Nous, seu Logos divino, então seu espírito humano passou a
exterioriza-se sua gnoses. Então passamos a realizar juntos os mistérios sexuais secretamente, não
como os pratico atualmente, pois naquela época só conhecia a primeira parte do Grande Arcano, o
meu Mestre não havia me instruído no segundo estágio que é o da alquimia, porém isso despertaram
suspeitas diante dos membros da Ordem, depois de algum tempo fomos expulsos e perseguidos pela
facção reacionária da Igreja, a poderosa Opus Dei, pois cometi grande erro de escrever um tratado
contra o celibato e expondo que de fato Carpócrates queria dizer com sua teoria da união dos opostos
como revolta contra o governo do Anticristo, com este manifesto deixei claro que o celibato era uma
anátema contra o Espírito Santo, nesta época era ingênuo e não sabia sobre a necessidade de se
manter calado sobre assuntos esotéricos, pois não tinha um mestre para me orientar. Como Opus Dei
possui grande influência política, passamos também ser perseguidos por subversividade política, pois
nossa gnoses denunciava o sistema político e econômico atual como uma das formas do governo do
Anticristo. Por fim, fui residir em Leon, minha cidade natal, ali permanecemos secretamente por

136
Baco é o mesmo Dionísio, nos mistérios romanos Dionísio era chamado de Baco.
137
A Roda dos sucessivos nascimentos e mortes, o Sansara dos hindus e a Roda da Dialética dos gnósticos.
138
Veja a Isis sem Véu , vol. II, pp. 65, 526, ed. Ingl. Blavatsky.
alguns anos, porém a Opos Dei nos achou, eu fui levado para um antigo mosteiro que era usado como
base pela Opus Dei. Este mosteiro era usado como cárcere, ali eram encarcerados os monges e
padres subversivos e submetidos aos métodos de tortura utilizados pelo santo ofício na inquisição.
Passei por coisas e vi coisas ali que não merecem ser reveladas. No cárcere conheci um bondoso
ancião que cuidou de mim, revelou-me os mistérios mais profundos da Gnoses e me libertou do
cárcere através de uma magia que possibilita colocar o corpo na quarta dimensão e metamorfoseá-lo
em qualquer animal, este ancião iniciado nos mistérios gnósticos se chama Julius que a mim se
apresentou como também sendo um ex-frei franciscano e discípulo de um Mestre cabalista de Leon”.
“Qual o nome do Mestre cabalista de Leon?”, perguntou Perséfone.
“Ele não me revelou”.
“Mais a final de conta o que ocorreu com Heloísa depois de sua prisão pela Opos Dei”,
perguntou Lung Nu.
“Logo após a minha liberdade o mestre Julius me levou para o templo de sua Fraternidade
Gnóstica na quarta dimensão, e lá permaneci por três meses, recebendo os mistérios menores da
iniciação cristã ou gnóstica. Depois retornei à terceira dimensão da Natureza para pagar carma e
trabalhar com o INRI. Heloísa não me via há a mais de um ano, pensava que eu estava morto. No
período em que estive ausente ela havia mudado em muito suas concepções espirituais e estava cada
vez mais metida com a política de esquerda. Já não era mais a mesma Heloísa, porém voltei para ela
e nos amamos ardentemente. Passou a ter crises de ciúmes e a questionar meus métodos sexuais e
passou a demonstrar muita insegurança afetiva. Enfim, estava se envolvendo sem perceber com certo
membro do grupo anarquista que ela militava, até que de fato consumiu o ato libertino, cheguei a
presenciar a cena luxuriosa que acontecia na sala pela fresta da janela, não porque fui curioso, mas
porque ouvi palavras que não merecem ser repetidas aqui. Ela nunca ficou sabendo que cheguei
presenciar o ato adultero; depois do ato ela deixou claro em seu diário que sentia um grande
arrependimento. Quando entrei na casa ela já estava dormindo com o diário sobre o peito, tirei para
pô-lo sobre o criado mudo, então percebi seu arrependimento pelo que estava escrito ali. Abandonei o
lar antes dela despertar, nunca mais nos vimos desde então. Não tinha dinheiro e nem para onde ir,
pela força do destino me tornei mendigo e perambulei como o Louco do Tarô pelas ruas de Leon.
Tentei retornar para a quarta dimensão para o templo para buscar ajuda dos Mestres, mas não
consegui penetrar o iper-espaço sozinho. Mas, depois compreendi que tudo estava escrito. O resto da
saga vocês já conhecem”.
Miguel ficou em silencio e não desejou mais falar sobre o triste assunto.
Lung Nu estava cansada e se retirou para seus aposentos, Miguel e Perséfone permaneceram
à frente da deliciosa lareira onde ardia um fogo baixo e calmo que os aquecia do frio daquele inverno
rigoroso cuja nevoa cobria a vegetação rasteira daquela casa de dois andares onde os três iniciados
residiam. Perséfone se levantou e se dirigia à janela para contemplar o cair suave da branca nevoa.
“Hoje recebi uma carta de Miao Sham onde ela me mandou uma outra carta do Grã-Mestre De
Le Puy endereçada a mim; nesta carta ele me enviou o endereço do atual proprietário do castelo do
qual já te falei, trata-se de um banqueiro que falecera o ano passado deixando a fortuna para a jovem
mulher; amanhã irei procurá-la para saber se deseja vender o castelo”, disse Perséfone, à medida que
observava a nevoa cair.
“Mas custará uma fortuna se caso ela queira vendê-lo”, disse Miguel passando a mão direita
nos longos cabelos.
“De fato, será uma fortuna”, disse Perséfone.
“Mas você tem esta fortuna em mãos para negociar o castelo?”, perguntou Miguel.
“Não, Lung Nu possui e me disse que disponibilizará a quantia necessária para a negociação,
mas eu disse a ela que não necessitaria, porque eu e você faríamos ouro alquímico na quantidade
exata do valor que será pedido pela proprietária”, disse Perséfone.
“O quê?! Você só pode estar brincando, ouro alquímico isso não existe, os alquimistas falavam
duma transmutação alquímica se referindo a transmutação do chumbo da personalidade em ouro do
espírito, não em ouro material, isso é um absurdo!”, exclamou Miguel.
“Não é um absurdo, há duas Vias na Alquimia, uma seca e outra úmida, esta de fato trata do
ouro do espírito latente na aura seminalis como definia Paracelso, ou seja, a luz cristica latente no
sêmen cuja extração se faz através da alquimia sexual, como você mesmo sabe, e fixada nos corpos
naturais da alma que representam os metais vulgares, para transmutá-los em corpos de ouro ou
solares como queira, para imortalizá-los, esta é a Grande Obra da Via úmida. Porém, a obra da Via
seca consiste de fato em transmutar metais inferiores em ouro puro da melhor qualidade. Os
cabalistas antigos produziram ouro, isso explica o fato do povo judeu ser o mais rico do mundo, meu
próprio bisavô possuía um livro que tratava da Cabala da produção do ouro, Asch Mezareph, que por
alguma razão misteriosa esteve também nas mãos do alquimista Nicolas Flamel. Meu próprio avô, o
grande cabalista de Leon, Scham Ben Tzade, tinha a fama de possuir o segredo dos alquimistas
cabalistas, eu mesma tenho em mãos um livro secreto que trata desta Arte escrito pelo meu próprio
avô e Mestre, porém meu avô temendo que este livro caísse em mãos erradas escreve-o em duas
partes sendo que só poderá compreendê-lo quem possuir os dois tomos: o Urim e o Tumim, este se
encontra comigo, porém o Urim com um discípulo que era seu braço direito que eu não sei quem é, se
eu encontrar o Urim teremos as chaves da cabala alquímica para se produzir ouro material”, disse
Perséfone.
“Você poderia me mostrar o livro?”, perguntou Miguel.
“Claro, vou buscá-lo em meu quarto”, respondeu Perséfone.
Miguel estava espantado com os conhecimentos que esta dama adepta dos Mistérios
Hebraicos possuía, nunca imaginou que se podia produzir ouro material por processos alquímicos,
sempre pensou que os alquimistas tratassem apenas da alquimia espiritual em forma alegórica, ou
seja, utilizando os utensílios e substâncias que usavam em seu trabalho para revelar de forma
simbólica o caminho da iniciação, como fez o médico Paracelso.
“Este é o livro”, mostrou Perséfone.
Miguel permaneceu imóvel e com os olhos espantados ao ver o livro.
“Incrível como a providência divina tece os fios de nossas histórias, possuo um livro
semelhante a este, trás o titulo: „Os Mistérios do Tetragrammaton‟ e um subtítulo: „Urim‟. Estou sem
palavras”, disse Miguel contemplando o livro que trazia o titulo: „Os Mistérios de Daath‟ e um
subtítulo: „Tumim‟.
“Como? Por acaso você é o discípulo misterioso de meu avô?”, indagou com espanto
Perséfone.
“Não. Meu velho Mestre Julius que encontrei quando estava no cárcere, deu-me juntamente
com um medalhão de ouro rodeados por escritas hebraicas e contendo um Mercavah 139 cujo centro
há três pedras preciosas no formato de triângulos. Ele me disse que eu só compreenderia o
esoterismo contido no livro quando encontrasse a Grã-Sacerdotisa de Dionísio que se encontrava
entre as duas colunas Jaquim e Boaz do Templo da Sabedoria e que estava sentada sobre o cubo
dos mistérios portando o livro Tumim e a Cruz da Iniciação nas mãos. Sim, esta Grã-Sacerdotisa só
pode ser você Perséfone!”, exclamou Miguel entusiasmado.

139
Estrela de seis raios formadas por dois triângulos entrelaçados um símbolo cabalístico que representa a
união do Espírito de da Matéria no plano metafísico e do homem e da mulher no plano humano.
“Pode ser que sim, meu avô também me disse um enigma quando me deu o livro, ele me
disse que quando encontrasse a vara mágica de Arão e depositasse novamente na arca da aliança,
então ela floriria e daria os frutos novamente dos mistérios do Tetragrama, mas antes teria que
encontrar o Sumo Sacerdote do Templo de Jeová que como você sabe é o mesmo Dionísio, pois o
sumo sacerdote possuía o livro da lei. Pois parece que o Sumo Sacerdote e a Grã-Sacerdotisa se
encontraram finalmente”, disse alegre Perséfone.
“Como sabe ser eu, talvez seja outro, o próprio Mestre Julius, pois o livro estava com ele?”,
interrogou Miguel.
“O Mestre Julius sabia o que estava fazendo quando te deu o livro e o medalhão, inclusive
este medalhão é o mesmo que se encontrava no peito do Sumo Sacerdote que oficiava a missa
gnóstica no interior do templo subterrâneo do castelo que estamos procurando, pois minha mãe viu
clarividentemente e segundo a descrição que ela me deu, trata-se de fato do mesmo, onde se
encontra o pentáculo?”, perguntou Perséfone.
“Aqui”, tiro-o para fora do peito e mostrou á Perséfone que ficou admirada com a
semelhança que tinha com o desenho que fizera do mesmo, porém era muito mais belo.
“Agora sim, podemos produzir ouro, Grão-Sacerdote de Jeová!”.
Miguel e Perséfone se recolheram para a pequena biblioteca e começaram a estudar os
hieróglifos e as frases enigmáticas dos dois livros tentando compreendê-los.
“Parece que o livro Urim trata da Via Seca da Alquimia, enquanto que Tumim da Via Úmida.
O Sol apolíneo e a Lua dionisíaca”, disse Perséfone.
“Magnífico toda esta simbologia da Cabala alquímica”, disse Miguel contemplando os
símbolos contidos nos herméticos livros.
Miguel estava de olhos fixos numa gravura que representava um cubo desdobrado em cruz
cristã com símbolos e nomes em hebraicos contidos nos seis quadrados que compunham a cruz. No
quadrado da base havia um círculo formado pelas doze letras hebraicas elementais. No centro deste
a figura cabalística do Baphometh com as famosas frases alquímicas em latim: Solve, no braço
direito; e coagula, no esquerdo. No quadrado seguinte havia um caduceu de Mercúrio. No quadrado
do centro a gravura era formada por um Mecavah com as quatros letras do Tetragrama nas pontas
laterais e com a letra Schim inserida na ponta do triângulo positivo e com a letra Mem na ponta do
triângulo negativo; no centro da estrela a letra Aleph. As estrela hexagonal, o Mercavah, estava
dentro de um sol amarelo de sete pétalas, dentro destas havia as sete letras duplas da Cabala
hebraica. No quadrado da direita um triângulo positivo com o nome de Adão em hebraico; no
esquerdo um triângulo negativo com o nome Heva em hebraico. No quadrado superior uma estrela
flamígera, um Pentagrama, com a letra Schim na ponta superior, e as quatros letras do Tetragrama
nas pontas restantes. No centro da estrela pentagonal o monograma INRI.
“Impressionante, a síntese da Grande Obra contida neste misterioso símbolo cabalístico que
é a própria Pedra cúbica de Yesod, ou seja, a Pedra filosofal”, disse Miguel, á medida que mantinha
os olhos fixos ao misterioso símbolo do livro Tumim.
“Há anos venho meditando neste símbolo. O texto deste livro trata dos mistérios contidos
neste cabalístico símbolo. Que representa o Templo Cabalístico que é o próprio homem, e todos
seus mistérios contidos em seu próprio corpo”, disse Perséfone.
“Impressionante, o Templo onde estive na quarta dimensão, apresentava uma arquitetura
análoga a este símbolo”, disse espantado, à medida que olhava para Perséfone, “tais templos são
construídos pelos Sacerdotes-Arquitetos de Dionísio, o Demiurgo, o Grande Arquiteto do universo.
Tais sacerdotes construtores pertencem a Ordem Órfica fundada por Orfeu a milhares de anos. O
culto desta Ordem está centralizado nos Mistérios de Dionísio. O próprio rei Salomão contratou um
sacerdote mestre arquiteto dionisíaco, Hiram a figura central das lendas maçônicas, para arquitetar e
dirigir a construção do Templo de Jerusalém, por isso que neste Templo há uma rica simbologia dos
mistérios sexuais. Pois, o culto dionisíaco é o mesmo culto de Jeová, pois este é o Dionísio judeu e
a prova disso se encontra no rito do tabernáculo erguido por Moisés do deserto e no templo de
Salomão. No culto dionisíaco são expressados os mistérios da geração, os Mistérios da Lua ou Isis,
a esposa inefável de Osíris, o Sol. Dionísio personifica o Sol em seu aspecto gerador e é o mesmo
Osíris, o Sol, que depois de dilacerado em quatorze partes, desceu ao mundo inferior onde é rei e
juiz dos mortos, é o próprio Plutão egípcio, o Sol reinando no mundo inferior, onde as Monadas
evoluem nos reinos minerais e onde as almas passam pelo julgamento e pelo processo de
purificação. Dionísio depois de ser dilacerado pelos Titãs, também foi dividido em quatorze partes,
porém seu pai Zeus pegou seu coração que ainda batia, misturou com sementes de romã, fez uma
poção mágica e deu a Perséfone, esposa de Plutão, para tomar, Perséfone, a Isis Negra, ficou
fecunda de Dionísio, então este nasceu pela segunda vez do ventre de Perséfone, a Rainha do
mundo inferior, como a gloriosa Fênix de Heliopolis. Ainda diz o mito que depois de ter nascido pela
segunda vez, viajou por toda Ásia e Índia ensinando aos homens a cultura do vinho, ou seja, os
Mistérios, depois subiu ao Olímpio e se sentou à direita de seu Pai Zeus,” disse Miguel.
“Pelo que pude observar e compreender, Jesus em seu drama representou o próprio
Dionísio! Pois, segundo os livros apócrifos Jesus logo após sua ressurreição, andou pela Índia e
chegou no Tibet, onde existem registros nos templos budistas provando que ele esteve ali ensinado
a Gnoses, depois ascendeu ao Pai e se sentou á sua direita”, disse embriagada pela sabedoria,
Perséfone.
“Exatamente, Jesus foi um grande iniciado dos Mistérios de Dionísio e, através deste, se
auto realizou, tornou-se um Cristo, ou seja, um Ungido pela Luz do Logos. O drama iniciático vivido
por Jesus, revela os Mistérios dionisíacos que levam o Microcosmo à redenção através da Gnoses.
Por isso, seu primeiro milagre foi nas bodas de Canaã, o matrimônio alquímico, onde transmutou a
água em vinho. Com este milagre Jesus se identifica com Dionísio, o deus do vinho. É água filosofal
transmutando-se em vinho de luz que nos embriaga de sabedoria”, expôs o Mestre Regulus.
Miguel desejava que Perséfone o iniciasse na Cabala, Perséfone desejava que o Mestre
Regulus a iniciasse na Gnoses. Passaram muito tempo dialogando sobre os mistérios contidos nos
símbolos cabalísticos dos livros Urim e Tumim. Um poderoso magnetismo prendia os dois iniciados
em um profundo diálogo esotérico, os dois estavam gerando alquimia do conhecimento. Por fim,
ambos se retiraram para seus aposentos.
No dia seguinte Perséfone foi visitar a dona do castelo, esta não se encontrava. A
governanta da rica mansão informou à Perséfone que Madame Agnes, a dona do castelo,
encontrava-se no Egito em férias, e só retornaria depois do inverno. Perséfone agradeceu e partiu.
Perséfone encontrou Lung Nu sentada no sofá de forma aconchegante. Esta pediu que
Perséfone sentasse ao seu lado, pois queria aproveitar que Miguel estava em profunda meditação
para lhe dizer algo.
“Sei que meus dias estão se findando, pois gero uma força poderosa em meu ventre, e sei
por intuição que não suportarei o parto. Por isso, desejo esta conversa com você minha doce
amiga”, disse em tom sério Lung Nu à Perséfone.
“Não fale isso, amiga, a Mestra Miao Sham virá para realizar o parto, e te salvará novamente
como te salvou no parto de Jade”, disse suavemente e com carinho, à medida que alisava o rosto de
Lung Nu.
“Não, eu sei que meus dias estão findos, pois dei minha vida em prol de Miguel, que trás na
alma um carma pesado que lhe custaria à perda do corpo físico, pois ele tem uma grande obra
juntamente com você e outros, ele não pode desencarnar agora, então me sacrificarei por ele,
assim, pago grande parte de minha divida com os senhores do carma, e na próxima reencarnação
volto com o fardo mais leve, assim, posso terminar meu trabalho que iniciei. Vou voltar mulher na era
de Aquário, pois, assim, me disse Maio Sham, nossa Mestra. Não quero que Miguel saiba disso,
pois com certeza ele não concordaria com minha decisão”, disse Lung Nu.
“Nunca vi tamanha nobreza de espírito em toda minha existência”, disse espantada
Perséfone.
“Sei que depois que parti, Miguel entrará em profunda angustia de espírito e sua alma
penetrará em um deserto de sofrimentos, pois nossas almas são gêmeas e estão unidas pelo laço
do amor eterno, ele sofrerá muito com minha perca, porém isso é necessário para que ele alcance
níveis mais elevados de consciência. Peço que fique ao seu lado, ele necessitará muito de seu apoio
com minha partida. Miao Sham tem me instruído nos mundos internos, ela me disse que você tem
acompanhado o Mestre Regulus em muitas reencarnações, vocês pertencem a mesma Ordem
esotérica e são grandes amigos, por isso você deve ajudá-lo a sair da profunda angustia que ele
entrará”, disse Lung Nu demonstrando grande paz de espírito.
Perséfone ficou triste em saber que amiga partiria para outra dimensão da natureza, porém
estava admirada em saber que ainda havia sobre o mundo corrompido pessoas de elevada nobreza
de espírito. Compreendeu as palavras enigmáticas de sua Mestra Miao Sham que lhe disse certa
vez: „Um demônio que se torna anjo, é mais elevado em atos de nobreza do que um anjo que nunca
foi demônio, pois este conheceu a ciência do bem e do mal em sua essência‟.

Depois do jantar Miguel e Perséfone retornaram ao diálogo da noite anterior sobre o símbolo
cabalístico do cubo desdobrado em cruz; Perséfone e Lung Nu ouviam atentamente a exposição
gnóstica do Mestre Regulus, que aos poucos estava assumindo o controle de sua personalidade de
nome Miguel, referente aos elementos simbólicos que compunham o hermético símbolo cabalístico.
“Esta cruz cabalística representa o homem. O Baphometh, figura hermética do culto
templário, aqui representa o guardião das chaves dos mistérios. Vemos que ele se encontra ao
centro de um círculo formado pelas doze letras elementais da Cabala, estas representam os doze
Eões. É o Deus Natural cercado pelos seus doze construtores ou signos zodiacais, é a Roda da
Dialética, do Destino, dos sucessivos nascimentos e mortes na esférica dialética, a do bem e do mal.
É a representação do Microcosmo. Num Microcosmo decaído o Baphometh ao centro é o
Pentagrama invertido cercado pelos seus doze apóstolos construtores do reino do Anticristo, o
próprio Baphometh. As estrelas que compõem o firmamento microcósmico dos doze signos ou Eões,
são focos magnéticos e formam a totalidade de forças, valores e ligações resultantes de diversas
personalidades que tiveram existência no Microcosmo, neste está concentrado o carma. Estas
forças, valores e ligações ou estes sóis infravermelhos, são os eões que escravizam Pistis Sophia à
Roda da Dialética. Estas estrelas ou luzes do firmamento do Microcosmo determinam a qualidade de
forças e substâncias absorvidas pelo Microcosmo do Macrocosmo, desta forma tais forças são
introduzidas na psique e na personalidade, o mapa astral é a Roda da Dialética, por suas doze
portas penetra o carma e o darma que prendem Pistis Sophia ao mundo do Fenômeno, devemos
romper com esta dialética zodiacal através da revolução da consciência.
A terra microcósmica é o corpo físico onde se manifesta a personalidade eônica. O
Apocalipse de São João nos fala de uma nova terra e de um novo céu, ou seja, de um novo
Microcosmo e de uma nova personalidade como expressão e veículo do Cristo Íntimo que deve
nascer para libertar Pistis Sophia, o Espírito humana, e destruir os eões que a oprime; é necessário
mudar a natureza do firmamento do Microcosmo, ou seja, é necessário que o Cristo Íntimo nasça em
nós para destruir a velha configuração microcósmica, assim, manifestará um novo céu e uma nova
terra microcósmicos; desta forma a personalidade, a terra, manifestará os focos de luz cristicas que
compõem o novo céu microcósmico, ou seja, a Consciência Crística se manifestará na nova terra,
formando a nova personalidade. A personalidade dialética é formada segundo a configuração
astrológica dos doze Eões ou signos astrológicos do horário de nascimento; este mapa astral é uma
projeção de Lúcifer, o Princípio do Microcosmo, o divino Daímon dos órficos. Quando o Logos
penetra a Matéria Original, a Grande Isis, nasce Lúcifer, a Alma da Natureza, esta Alma é um Fogo
inflamado na Matéria Original pelo Logos, esta é a Alma Original. Lúcifer é o Sol Natural ou Eônico
que acompanha seu planeta, a personalidade. Os Mistérios egípcios representavam Lúcifer pelo
deus Seth, a estrela Sírios da constelação do Grande Cão, ou seja, o Sol central da galáxia, o
Macrocosmo. Quando Seth, Lúcifer, o Sol Natural e central do Macrocosmo e do Microcosmo,
desejou tomar o lugar do Sol Espiritual, o Logos, Osíris; manifestou-se, então, o pecado original;
Seth perdeu sua beleza divinal e assumiu uma aparência de um demônio terrível de cor escarlate
com corpo andrógino com calda e cabeça de carneiro ou de crocodilo, reunindo em si todos os
atributos do mal; no esoterismo gnostico e cabalístico, esta imagem horrível é expressa pela imagem
de Tiphon Baphometh. Seth mata Osíris, o Logos, dividindo-o em quatorze pedaços, ou seja, desfez
a unidade da Consciência; e passou a perseguir Isis grávida de Horus, o Cristo Libertador que deve
nascer da Matéria Original para salvar o Microcosmo homem, ou seja, restaurar o reino de Osíris,
seu Pai, novamente. Este mito é reproduzido no Apocalipse doze.
O Cristo Íntimo nasce da Matéria Primordial, a Virgem Maria ou Isis, fecundada pelo Espírito
Santo, Osíris. O Cristo Íntimo é o Cavaleiro Kadosh, Solar, que como Hércules, o Homem Solar,
deve penetrar nos doze Eões ou esferas zodiacais para destruir os eões, ou seja, nossos demônios
internos evocados no Microcosmo pelos três traidores do Cristo Íntimo, ou seja, por Judas o
demônio do mau desejo; Pilatos, o demônio da má mente; e por Caifás, o demônio da má vontade.
Horus combate Seth e seus demônios vermelhos com cara de crocodilo, esta é a Grande Batalha do
Amargedon.
O homem natural ou eônico, o Adão terreno, possui uma triplica consciência. Pilatos, a má
mente, domina a consciência da Igreja de Laudicéia, ou seja, do santuário da cabeça, dominando a
inteligência concreta e fazendo com que esta trabalhe intelectualmente na edificação do reino do
Anticristo; à vontade desta consciência é o intelecto. Nos intelectuais predomina esta consciência. A
segunda consciência se localiza na Igreja de Tiatira, o santuário do coração e é governada por
Caifás, o demônio da má vontade. Esta consciência está associada com a religião natural; os
místicos, os artistas e os religiosos de diversas instituições possuem em maior atividade este centro
da consciência natural. À vontade desta consciência cria através da emoção e do sentimento. A
terceira consciência se localiza no baixo ventre no sistema fígado-baço na Igreja de Smirna, o
santuário do sexo, e é regida por Judas, o demônio do mau desejo. À vontade desta consciência é a
paixão. O homem regido por esta vontade se encontra no estado mais animalesco, é o ser passional
movido pelo instinto cego. A grande maioria dos homens são regidos por esta consciência”, o Mestre
dá uma pausa a pedido de Lung Nu.
“Muito interessante esta gnoses, pois na „República‟ de Platão, Sócrates fala que a alma é
dividida em três partes: a cognitiva, que age pelo nous ou logos; a irascível, que é emocional e é
movida pelos sentimentos; e a apetitiva, age pelos instintos. Comparou esta divisão com a divisão
social: os políticos, os cidadãos e os escravos”, disse Lung Nu.
“Podemos comparar esta divisão de Sócrates em alma espiritual, portadora do Átomo Nous
ou da Centelha do Logos, esta é a alma dos verdadeiros filósofos, sua morada é na cabeça. A alma
humana, portadora das emoções e sentimentos superiores como: a misericórdia, o amor ao próximo,
a compaixão, as virtudes. A música das esferas, clássicas, eruditas; a arte régia, o belo; são virtudes
desta alma que mora no coração. Por fim, a alma animal ou natural regida pela paixão e pelos
instintos, esta é alma do mundo sensível, fenomenal; sua morada é no fígado. Esta alma quando
regida pelo logos, produz o bem natural”, disse o Mestre.
“Espinosa em seu tratado sobre a Ética, onde ele coloca que a duas paixões: uma ativa que
produz o bem ou virtudes e outra passiva que produz o mal ou os vícios, parece que se refere a esta
alma natural ou animal. Obviamente que esta paixão conduzida pela razão, produz o bem, mas
conduzida pelo instinto cego produz os vícios, logo o sujeito que age pela paixão passiva é um
passional”, disse Lung Nu.
“O que vocês colocaram é muito interessante. Na Cabala a alma espiritual é Neshmah; a
alma humana é Ruach e a animal é Nephesh, esta reside do fígado e é a alma do corpo físico. Está
regida pelo binário bem e mal, e é representa por Caim e Abel; Caim é o desejo de receber e é o
pólo mal da Árvore do conhecimento do bem e do mal; Abel é o desejo de dar, é o pólo positivo, o
bem. Caim mata Abel, ou seja, o mal prevalece sobre o bem e a partir daí a geração maldita de
Caim é evocada na terra do Microcosmo. Dentro da Ética de Espinosa Caim é a paixão passiva, a
força centrípeta de Baphometh, o deus da Natureza; Abel a paixão ativa, a força centrifuga do
mesmo deus. Seth é a estabilização da Força. Pois, o nome Sheth é uma chave cabalística que nos
conduz ao segredo do Grande Arcano da Magia. Cabalizando as letras que compõem este nome
temos: a letra Schim que é a mãe do Fogo e Thau que é a Cruz, onde o Fogo deve ser bipolarizado.
O hieróglifo da letra Schim é um tridente formado por três chamas; é OD a chama direita, Abel; OB a
chama esquerda, Caim; e AUR, a Luz, a chama central, Sheth. Schim no plano metafísico
representa Movimento, porque é o Fogo da Natureza; Thau é a Cruz cabalística e representa
Reciprocidade, logo o nome Sheth significa o Movimento Recíproco que é a base da simetria e da
estabilização das forças. O Schim é o próprio Baphometh que emana de si uma corrente de força
representada pela Serpente Nahash, a Tentadora, ou seja, a Paixão, e através desta escraviza Adão
e Eva; esta dominação se deu logo após o casal ter comido do fruto da Árvore (Baphometh) do
conhecimento do bem e do mal, pois com a queda nasceram Caim e Abel, isto é, a simetria da força
se rompeu e o caos se estabeleceu. Sheth é a promessa de libertação, é através dele que o
Tetragrama é invocado novamente no Microscósmo. A soma cabalista de Schim e Thau dá 700 que
é o valor da letra Nun final, o Arcano 14 que representa o matrimônio místico e a transmutação
sexual, então Sheth é a chave do Grande Arcano pela qual Adão e Eva podem abrir as cadeias que
os prendem ao Baphometh. O próprio nome de Baphometh cabalizado nos conduz a cura, pois a
letra Beth, Phe e Thau somadas levam ao Arcano 18, o da Magia, e que reduzido leva ao 9 que é o
valor da letra Teth que significa Serpente, mas não a Serpente Tentadora que é simbolizada por
Samech a do Arcano 15, mas a Serpente de Bronze que é hasteada no thau cabalístico para nos
curar da peçonha maldita de Nahash, a Serpente Tentadora. Devido a toda esta simbologia que o
cabalista que desenhou a gravura do Baphometh, como se apresenta no tarô do Boêmios, indicou
na própria figura a forma pela qual nos libertamos dele. Estes mistérios que aqui expus foram
retirados do livro Tumim „Os Mistérios do Éden‟, e se referem à explicação da gravura do primeiro
quadrante da cruz cúbica que estamos analisando”, disse Perséfone.
“Baphometh é a Esfinge que diz ao neófito que aspira a iniciação: „Decifra-me ou eu te
devorarei‟. Édipo respondeu os dois enigmas dizendo que era o homem que ao amanhecer andava
de quatro patas, ao meio dia com duas e a noite com três; e que as duas irmãs que se devoravam
uma a outro era o dia e a noite, ou seja, o sol e a lua, o solve et coagula escritos nos braços do
Andrógino Astral, o Baphometh.
Para vencer Baphometh é necessário possuir o caduceu de Mercúrio que está contido no
segundo quadrado do cubo e representa o Azoth dos filósofos alquimistas, o Solvente Universal. O
sol é Adão que se encontra no quadrado direito da haste horizontal da cruz cabalística; a lua é Eva
que se encontra no quadrado esquerdo. O sol de sete pétalas com as sete letras duplas é a Rosa de
Sarom de sete pétalas, é o Átomo Crístico que se encontra no santuário do coração, a Igreja de
Tiatira que significa Contrição. A Estrela de seis raios no centro do sol místico indica o androginato
de Adão e Eva, a alma intelectual e a alma emocional unificadas pelos mistérios do Tetragrama que
são as quatro letras nas pontas laterais da estrela. A letra schim representa o sol, o fogo, o espírito,
o triângulo positivo que simboliza o Espírito Santo que penetra o triângulo da água representado
pela letra mãe mem, que no plano metafísico representa as águas criadoras, a Matéria Primordial, a
Grande Isis. A letra Aleph, mãe do ar que se encontra no centro da estrela formada pela conjunção
dos dois triângulos, simboliza o Cristo Íntimo, a Fênix que se eleva da águas criadoras fecundadas
pelo fogo sagrado do Espírito Santo; as três letras mães inseridas no Mercavah, indica o equilíbrio
ou a simetria sexual alcançada pelos mistérios do Tetragrama, a Estrela ou o Mercavah é o sexo, o
veículo criador de Jeová, o Arcanjo da Geração. A Estrela pentagonal que se encontra no quadrado
superior, que representa o santuário da cabeça, e que trás as quatro letras do Tetragrama mais a
schim na ponta superior que unidas formam o nome Jesus em hebraico, Salvador, e que trás o
monograma INRI ao centro, representa Lúcifer regenerado pelo Renovador Universal, INRI. É o
Baphometh que perdeu sua forma bestial através dos Mistérios do Tetragrammaton, ou seja, o
Diabo redimido pela Cruz Tetragrama que é formada através da União Suprema Superior de Adão e
Eva, é desta união que nasce o Azoth ou o Solvente Universal, a ressurreição das duas
Testemunhas do Apocalipse, os Fogos da alma que se encontram entrelaçados em forma de oito, á
direita e à esquerda da espinha dorsal. O Azoth dissolve as impurezas do Microcosmo que é
representado pelo Pentagrama, desta forma se manifesta o INRI, a Luz do Logos que ilumina o
Microcosmo, nasce então o Salvador do mundo microcósmico, o Cristo Íntimo, o Cavaleiro Kadosh
que desce ao inferno junto com seus doze cavaleiros, a região do baixo ventre, o Amargedom, para
batalhar contra os eões,” interpretou Mestre Regulus os símbolos cabalísticos da cruz cúbica.
“Agora compreendo como se faz ouro!”, exclamou Perséfone espantada com a exposição da
metafísica cabalística do Mestre Regulus.
“Mestre Regulus, mas quando é que a nossa alma desperta para estes mistérios?”,
perguntou Lung Nu.
“Quando o Raio Cristico da Gnoses penetra o santuário do coração e produz na alma a
contrição, por isso este centro é chamado de Igreja gnóstica de Tiatira, ou seja, Contrição. Quando
Pistis Sophia, a alma humana, sente um profundo arrependimento pelos erros que cometeu durante
miríades e miríades de existências vividas no Microcosmo, esta contrição a faz buscar a salvação e
o retorno ao mundo divino, ou seja, tem ânsia pela Luz. Desta forma, atrai para si o Raio Crístico da
Gnoses. Quando este Raio afeta o Átomo Nous ou Cristico, que é a Semente Crística ainda em
estado potencial ou o Botão da Rosa Mística, ele vibra e esta vibração faz com que a glândula timo
produza um hormônio especial, cristico, para servir de veículo as vibrações de Nous. As vibrações
da Consciência Nous ou Cristica, através destes hormônios viaja pela corrente sanguínea até a
Igreja de Laodiceia, o santuário da cabeça, onde reside as três centelhas da Santíssima Trindade do
Microcosmo. Laodiceia significa „Jugamento do povo‟; quando a vibração de Nous afeta a glândula
pineal, onde se encontra a Centelha divina de Paracleto, o Espírito Santo, seu Poder Criador, o Fogo
Serpentino ou Kundalini que reside nesta glândula, vibra e desce pela primeira Testemunha do
Apocalipse, que corresponde o fogo serpentino à direita da espinha dorsal do sistema simpático, até
a Igreja de Éfeso140, o santuário sacro localizado no final da espinha dorsal, para fecundar Isis que
mora neste santuário, no baixo Egito. Nesta região reside também o Átomo ou Centelha de Lúcifer-
Baphometh que domina o sistema simpático inferior e rege as sensações e os instintos. Lúcifer-
Baphometh domina a atividade sexual involutiva que é voltada para a procriação da espécie através
de um contra movimento das forças criadoras, onde o fluxo seminal é lançado na matriz da mulher.
Através do fogo seminal, o hidrogênio 12, Lúcifer-Baphometh não só mantém o reino dialético de

140
Desejável, representa a Pureza.
seu reino anticristo, através da procriação da espécie, mas também seu reino interno no homem,
pois através desta potente energia criadora ele plasma seus pensamentos diabólicos evocados pelo
Adão decaído, a faculdade intelectual. Para que o Espírito Santo, Osíris, recrie o Microcosmo é
necessário que Ele se apodere do sexo. Quando o Fogo Sagrado do Espírito Santo penetra no
santuário de Isis, ele se apodera do sexo, antão o iniciado passa a uma nova atividade sexual,
ocorre a revolução sexual pela qual é gerado os corpos cristicos do Cristo Íntimo, de Horus, que se
encontra em estado potencial na Semente Cristica no coração. Isis é revestida do Sol Sagrado
Espiritual, isto é, é fecundada pelo Espírito Santo; é coroada de doze estrelas, os doze Eões, ganha
asas de águia e pisa sobre a cabeça da Serpente Tentadora, ou seja, domina a corrente dos
instintos que sempre esteve a serviço do Inimigo Secreto; está grávida e com ânsia de dar a luz,
então o dragão de sete cabeças e dez chifres, Seth, vendo a Isis grávida quer destruir seu Filho,
pois este é uma grande ameaça ao seu reino, pois é o Libertador que colocará o reino do Anticristo
abaixo. Tudo isso é representado pelo mito gnóstico do nascimento de Jesus, pois Herodes
persegue o menino Jesus para matá-lo, mas sua mãe o leva para o Egito onde ele cresce em
sabedoria e corpo, depois retorna para iniciar sua missão. Horus combate Seth, o Lúcifer decaído, e
começa a destruir seu reino, ou seja, seus eões que formam o Microcosmo decaído”, expôs a
iniciação gnóstica Mestre Regulus.
“Jesus é a Alma Original que nasce da união do Espírito Santo com a Matéria Original, a
Phisis dos filósofos, um Novo Lúcifer que se torna Cristo quando é ungido pela Luz do Logos no rio
Jordão. Por isso Jesus fala do Novo Céu ou Microcosmo e da Nova Terra em seu evangelho, ou
seja, é este Lúcifer-Cristo que destruirá o velho Microcosmo. Ele é o Novo Sol Sírios que brilha no
centro do Microcosmo, ou seja, do coração do Novo Homem, magnífico!”, exclamou Lung Nu.
“João Batista é o homem natural, por isso se alimentava de frutas, mel silvestre e vestia-se
com pele de camelo com um cinto de couro em torno de seus quadris, símbolo da castidade. Ele é a
alma natural a serviço do Cristo Íntimo e que acusa a iniqüidade de Herodes, o Lúcifer decaído.
Salomé é a luxuria, a Lilith, que pede a Herodes a cabeça de João Batista, pois o homem natural a
serviço do Cristo Íntimo, assumi a castidade que é a base da nova atividade sexual, pois a luxúria, a
antítese da castidade, é a base da sexualidade passional pela qual Típhon Baphometh mantém
Adão e Eva presos à Roda dos sucessivos nascimentos e mortes e reproduz seu reino.
Os doze apóstolos são os doze Eões purificados pelo INRI, o Renovador Universal, e ao
invés de estarem a serviço de Herodes, como Mateus o cobrador de impostos, agora segue o Cristo
Íntimo. Eles formam a coroa de doze estrelas da Natureza, Isis, esta é a Nova Natureza renovada
pelo Fogo INRI; é nesta Natureza cristificada que o Novo Microcosmo é edificado”, disse mais uma
vez Mestre Regulus.
“Quando é que as duas Testemunhas entram em atividade criadora?”, perguntou Perséfone
para o Mestre.
“Quando a nova atividade sexual entra em ação. Os dois Serafins ou Serpentes de fogo que
representam o poder e a força de Adão e Eva, ou seja, da alma emocional e da alma intelectual,
unificam-se na Igreja de Éfeso, o santuário dos mistérios sexuais, é neste santuário que o Andrógino
Adão e Eva ou Jot-Chavah, o Tetragrama humano, unem-se sexualmente, este é o Caduceu de
Mercúrio que conduz ao santuário da cabeça a energia sexual transmutada pelo Grande Arcano da
Magia. É com esta santidade sexual no centro sacro que ocorre a bipolarização das duas
polaridades do fogo serpentino, o Fogo Sagrado do Espírito Santo, o Cordeiro de Deus, INRI, que
tira o pecado do mundo microcósmico e, desta forma, fecunda Isis, a Serpente Sagrada, o Kundalini,
a Matéria Primordial, que deve ascender até o terceiro olho e lá se unificar com o Abutre sagrado de
Osíris.
Mas, para que estes processos iniciáticos ocorram, antes o Nous deve ser despertado e,
assim, controlar a consciência natural do coração, logo após a da cabeça e por ultimo a do centro
pélvico, desta forma João Batista, o Adão terrenal ou natural, passa a anunciar à vinda do Libertar, o
Cristo Íntimo, ou seja, as atividades emocionais, intelectuais e instintivas que estavam a serviço do
Anticristo, agora se colocam a serviço do Cristo Íntimo, isto é, a tríplice consciência do homem
natural se põe a serviço do Cristo Íntimo; então uma nova forma emocional, uma nova maneira de
pensar e novas sensações entram em atividade através do homem natural. Ou seja, primeiro o
Cristo Íntimo assumi o controle do coração do homem, logo de sua mente e depois de seu sexo,
desta forma a alma começa ter um reto sentir, um reto pensar e um reto agir.
Todo este processo é dividido em três graus: o primeiro grau é o do Aprendiz, neste grau a
alma arrependida passa a desbastar a Pedra bruta que representa, além da personalidade dialética,
seu sêmen ou sua energia criadora, esta é a Pedra dos sábios, este grau é dividido em dois
períodos: o de Saturno e de Diana. Este é um período doloroso para o neófito, luta contra suas
baixas paixões e passa por dolorosas provas iniciáticas. Este é o inicio da endura, a morte mística
do velho Adão, então começa o processo da transfiguração do Microcosmo. No grau de Aprendiz o
neófito passa pelos dois períodos onde a Pedra foi desbastada: o período de Saturno representa a
cor negra das energias criadoras, o caos, e a purificação do corpo físico e o domínio dos instintos
passionais que correspondem ao corpo físico, aqui o bode, símbolo de Saturno, é sacrificado e
queimado no fogo do altar sexual, o altar de bronze do Santuário de Éfeso. Este é um período lento,
longo e doloroso para o neófito gnóstico. No grau de Aprendiz o neófito deve forjar em sua
personalidade uma nobre moral e uma postura ética com base na doutrina libertadora gnóstica, deve
negar a velha cultura do mundo do Anticristo, que modelou sua personalidade dentro de valores
ilusórios e de uma falsa moral imposta pelo sistema religioso natural, a religião de Caifás. No
período de Saturno ele passa pelo período de purificação do sangue de seu corpo físico através do
controle e domínio de seus instintos, desenvolve a rígida disciplina e prudência de Saturno sem as
quais ele não tem avanço. Com a purificação do sangue, os hidrogênios inferiores que contaminam
o sangue através de alimentos que vibram em 92 leis dialéticas ou mecânicas para baixo, pois o
hidrogênio é o fogo da alma, são eliminados do sangue, assim, se alcança o hidrogênio 48 que é o
que corresponde o corpo físico; desta forma se purifica a Pedra dos sábios, o mercúrio filosófico, o
sêmen que é a essência do corpo físico.
Depois do período de Saturno o neófito penetra no período de Diana que corresponde ao
corpo astral. O alimento do corpo astral são as emoções. O hidrogênio do corpo astral vibra em 24
leis, porém também se encontra poluído por hidrogênios constituídos por átomos infra-atômicos dos
mundos infernais que constituem as emoções inferiores como a ira, o ódio, a inveja, o orgulho a
cobiça, a luxuria e outros. Por exemplo, a luxuria que corresponde ao inferno de Vênus, possui um
hidrogênio ou fogo-alma que vibra em 368 leis mecânicas, a mesma vibração dos átomos
hidrogênicos que constituem a carne de porco; a ira que corresponde ao inferno de Marte possui um
hidrogênio que vibra em 1472 leis, terrível densidade material; o orgulho que corresponde ao inferno
do Sol vibra em 736 leis. Quando os hidrogênios inferiores são eliminados do corpo astral, ou seja,
quando são eliminados do desejo que é o princípio da alma emocional, Eva, é restaurado o
hidrogênio natural deste corpo que vibra em 24 leis. Este é o período de Diana e corresponde a cor
branca da energia criadora ou do mercúrio filosófico, então desperta o fogo serpentino carmesim da
esquerda da espinha dorsal, Eva, a primeira Testemunha do Apocalipse, ressuscita, ou seja,
desperta no homem natural, o João Batista, seu princípio feminino. Desta forma o fogo serpentino
que é a alma do corpo astral começa fluir pelo nervo etérico esquerdo que forma o sistema
simpático. Com o corpo astral vibrando em 24 leis e com seu princípio despertado, o neófito passa a
sair consciente em corpo astral e receber de seu Mestre Interno o conhecimento esotérico
correspondentes a este grau e segundo o Raio que pertence.
No grau de Companheiro o candidato a iniciação de Mistérios Maiores, deve purificar seu
corpo mental para que Adão, a alma intelectual, desperte do sono da morte e forme com Eva, a alma
desejo, o Andrógino astral, o Elohin ou Tetragrama humano. No segundo grau da Iniciação aos
Mistérios Menores, o de Companheiro, o neófito deve eliminar de seu corpo mental os hidrogênios
inferiores associados aos arquétipos ou idéias dos infernos planetários e que alimenta sua mente
com pensamentos da esfera involutiva infra-atômica, como diz Hermes Trismegisto, o grande
gnóstico egípcio, em sua obra magna: „A Tábua Esmeraldina‟, que o denso deve ser separado do
sutil com muita destreza. Esta etapa da Grande Obra corresponde ao período de Mercúrio. Depois
que o denso, os hidrogênios inferiores, são eliminados do sutil, o hidrogênio do corpo mental que
vibra em 12 leis, então o mercúrio filosófico ou energia criadora assumi a cor amarela, assim, Adão
que é a primeira Testemunha, ressuscita para se unir com Eva e iniciar a criação do Novo
Microcosmo, pois as energias criadoras foram purificadas, saíram do caos sexual que se
encontravam. É restaurado o Caduceu de Hermes ou do Arcanjo Rafael, a Medicina de Deus. Neste
período, de Mercúrio, o Companheiro lapida a Pedra dos sábios, ou seja, estuda a filosofia, a
ciência, a arte e a religião; é um período de atividade intelectual superior, isso se dá devido o
despertar de seu Manas Inferior ou Pensador concreto, o Adão ou deus Thoth dos egípcios. Com o
fogo serpentino amarelo que flui pelo nervo direito do sistema simpático, Thoth restaura seu
Caduceu pelo qual Isis, a Serpente alada, é despertada e elevada até a Igreja de Laodicéia ou o
santuário da cabeça para unir-se com Osíris, o Abutre sagrado, que é o símbolo do alto Egito que
representa a cabeça. Com a formação do Caduceu de Mercúrio o neófito passa para o grau de
Mestre e inicia-se nas Iniciações de Mistérios Maiores com o despertar da Serpente sagrada do
Kundalini, a Isis ou a mulher alada do Apocalipse, e seu ascenso às trinta e três vértebras da
espinhas dorsal, ou seja, as trinta e três câmaras onde o Mestre adquire seus graus de Sabedoria e
ganha a maestria. Com o ascenso do Fogo Sagrado do Espírito Santo, o Cordeiro de Deus, pela
espinha dorsal, os sete selos do Apocalipse são abertos, ou seja, os sete santuários são iluminados,
isto é, os chacras entram em atividade, então os poderes e as virtudes do Mestre são despertado. O
Mestre que desperta é o próprio Cristo Íntimo, o Lúcifer glorificado pela Luz do Logos, esta é a
Revolução de Lúcifer, o divino Daímon dos Mistérios órficos.
Quando o iniciado entra no grau de Mestre sua energia criadora ou seu hidrogênio assumi a
cor vermelha, este é o período de Apolo ou do Sol e corresponde ao nascimento do Cristo Íntimo no
homem. O hidrogênio sexual, a energia criadora ou a matéria prima com a qual o Grande Arquiteto,
o Demiurgo, edificará o Novo Microcosmo, vibra em 12 leis, este é o hidrogênio 12 dos alquimistas
gnósticos. No processo de alquimia sexual este hidrogênio passa pela lira de Apolo, ou seja, passa
por uma oitava na escala alquímica e se transmuta em hidrogênio SI-12, o INRI, o fogo sexual
transmutado que renova a natureza do homem. O fogo sexual bipolarizado, ou seja, o mercúrio dos
sábios fecundado pelo enxofre, forma o Azoth, o Solvente Universal que corresponde o Fogo das
duas Serpentes de Fogo do Caduceu unificadas na Igreja de Éfeso, o santuário do centro sexual. A
ação do Azoth ou do fogo sexual bipolarizado sobre a matéria prima, o sêmen, dissolve as sementes
seminais, assim, os átomos cristicos ou os grãos de ouro de Isis ou Demeter, são liberados da casca
e são conduzidos pelo Caduceu de Mercúrio até ao trono do Demiurgo, o Espírito Santo, no
santuário da cabeça, então o Arquiteto do Universo microcosmico edificará com estes átomos
cristicos a Nova Jerusalém de Ouro, ou seja, os corpos espirituais do Cristo Íntimo, do Homem
Solar.
As duas Testemunhas estão associadas aos processos de inspiração e expiração; elas
ligam as duas narinas aos dois testículos e ovários; a narina direita liga-se com a glândula sexual
esquerda, e narina esquerda com a glândula sexual direita, na mulher o processo é inverso. Pela
narina direita penetra a força cristica ultravioleta do Logos; pela esquerda a infravermelha do
mesmo. Os hindus em seus mistérios chamam esta energia cristica de Prana. O veículo da força
cristica é o oxigênio. Quando o oxigênio penetra no sangue através dos pulmões, o hidrogênio que
reside no sangue entra em combustão, manifesta-se o fogo na alma. O fogo solar é a queima de
hidrogênio e é deste fogo que manifesta a luz e a vida para o planeta. Como é em cima é em baixo,
como diz Hermes. O Nitrogênio é o elemento controlador possui uma ação retardadora e outra de
inércia; a inércia permite que o plano de manifestação se realize sem interrupção, a força
retardadora permite e possibilita o desenvolvimento do plano manifestado e impede que o processo
de combustão do hidrogênio não entre em explosão, se isso ocorresse o corpo deixaria de existir. O
carbono é elemento cristalizador, ou seja, ele cristaliza o plano ou idéia contida no hidrogênio, ou
seja, é pela ação cristalizadora do carbono que todas as substâncias orgânicas são produzidas
enquanto formas. O mesmo se dá no interior do homem, suas formas mentais, os eões, são as
cristalizações dos hidrogênios inferiores na alma. Todo o Microcosmo decaído arde no princípio
alma hidrogênico, o fogo ímpio da Natureza, o Lúcifer decaído. Este princípio alma nascido na
matéria deve ser aniquilado e uma Alma Original deve tornar a nascer do Logos; um novo hidrogênio
imaculado ou cristico deve se manifestar na alma. Este é o significado das palavras de Jesus
quando disse a Nicodemos que ele deveria nascer de novo, mas desta vez do Espírito e da Água;
pois o Espírito inflama na Água, a Matéria Original, um novo princípio Alma, assim, manifesta-se
uma nova concentração de hidrogênio cristico que trás em si o arquétipo do Novo Homem.
Pelos dois fogos serpentinos circula a força e o poder criador do Espírito Santo, ou seja, a
força criadora ativa e passiva, o Raio ultravioleta e infravermelho do Logos. Através da magia sexual
estas duas forças que fluem pelo sistema simpático se polarizam no santuário de Éfeso; então este
Fogo sagrado do Espírito Santo se polariza no sexo e fecunda as águas criadoras, Isis. Inflamando
nesta o Filho, INRI. Com a ajuda dos átomos de oxigênios que chegam através das duas
Testemnhuas pelo processo de inspiração e expiração realizados perante o intercurso sexual, o
hidrogênio 12 entra em combustão, este fogo sexual dissolve a semente seminal e libera os átomos
de hidrogênio cristicos encerrados na semente, o SI-12, a quinta-essência do hidrogênio sexual,
então os vapores seminais se elevam pelas duas Testemunhas. Os átomos cristicos do hidrogênio
SI-12 são fixados nos corpos naturais do homem, desta forma os corpos naturais se transmutam em
corpos de luz ou espirituais, estes são os corpos do Cristo Íntimo que nascerá da Virgem Isis. É este
Fogo sagrado que vai dissolvendo o velho Microcosmo e edificando ao mesmo tempo o Novo
Microcosmo. Isis, a Serpente alada do Kundalini, é despertada e começa sua jornada no deserto
esotérico, o ascenso pela espinha dorsal dos sete corpos do homem, onde é alimentada por 1260
dias cabalísticos, ou seja, pelo processo de magia sexual, isto é, pelo: ‫ =ט =אבוש‬9, Yesod a esfera
do sexo.
Esta é a forma pela qual os filósofos extraem ouro da terra filosofal para edificarem a Nova
Jerusalém, a Grande Obra. Desta forma os alquimistas transmutam a Pedra dos sábios em Pedra
filosofal, com esta Pedra maravilhosa, representada pelo apóstolo Pedro, os sábios alquimistas
transmutam a velha personalidade em ouro do espírito, esta é a Pedra angular da edificação do
Templo sagrado do Cristo Íntimo”, concluiu o Mestre Regulus.

Perséfone e Lung Nu se embriagaram com o vinho de sabedoria do Mestre gnóstico.

‫ש‬
As árvores estavam florindo, os pássaros cantavam felizes com a chegada da primavera, o
Sol entrara em libra e deu inicio ao equinócio da primavera. Lung Nu se encontrava em seu oitavo
mês de gestação, Miao Sham e Jade chegam em Languidoc. Pois, Miao Sham realizaria o parto de
Lung Nu.
Perséfone montou um pequeno laboratório alquímico, e estava trabalhando junto com Miguel
tenazmente na Via Seca na elaboração da Pedra filosofal para produzir ouro.
“Todos metais são constituídos por uma liga de mercúrio e enxofre, porém as propriedades
mais perfeitas do mercúrio e de enxofre se encontram nos metais nobres como o ouro e a prata; se
desfizermos esta liga e retornarmos a refazê-las, podemos dá aos metais corruptíveis a liga perfeita
do enxofre e do mercúrio, desta forma podemos transmutá-los em metais nobres. A primeira fase
desta operação consiste em elaborar o Azoth 141. Este deve agir no ouro e na prata para extrair deles
grandes quantidades de sol vivo e lua viva, ou seja, de enxofre perfeito e mercúrio perfeito. Estes
princípios são liberados em forma de dois fermentos que devem ser colocados em um vasilhame de
vidro chamado de ovo pelos alquimistas, e submetidos a um lento aquecimento por uma chama
fraca de uma lamparina de óleo contida no atanor; com o tempo o calor produz uma série de
fenômenos físicos e químicos. As primeiras semanas de carbonização a massa Rebis assume
tonalidades diferentes, este é o reino de Mercúrio; depois torna-se esverdeada e logo preta, este é o
período de Saturno, a cabeça de corvo; então a massa morre para renascer. No terceiro estágio a
massa se torna marrom com reflexos azuláceos, o vapor que torna a cair em forma de chuva, este é
o reino de Júpiter. O quarto estágio é o de Diana, a massa se torna branca ofuscante, se for para se
obter o pó branco para uma transmutação em prata, esta segunda fase está concluída, mas se
deseja uma transmutação em ouro a operação prossegue adiante. Então a massa assume
tonalidades verde, azul e vermelha, este é o reino de Vênus. O sexto estágio corresponde ao reino
de Marte, a massa assume a tonalidade alaranjada, depois se coloca semelhante ao rabo do pavão,
assume todas as cores do arco-íres. Finalmente aparece no ovo acima da massa vapores rubros
que se condensam e a massa seca se torna incandescente, este é o reino de Apolo, o último
período, a sétima fase. Quando o ovo se resfria, então é quebrado, dentro se encontra um pó
cristalino, muito pesado rubro e com cheiro de sal marinho queimado, esta é a Pedra filosofal. Este
pó após duas horas de fervura com uma quantidade de chumbo derretido, cujo peso é dez vezes
maior do que a do pó, este transmuta a mistura em ouro,” disse Perséfone, à medida que mostrava
uma certa quantidade de ouro a sua mestra Miao Sham.
Miguel e Perséfone elaboraram cento e quarenta e quatro quilos de ouro. O ouro possuía um
quilate superior a do ouro comum, com este ouro Perséfone compraria o castelo.

Perséfone se encontrava no interior de uma magnífica mansão de estilo arquitetônico


renascentista. Aguardava a proprietária do castelo para negociar sua compra.
“Parece que este castelo possui algum mistério, pois certos tempos atrás dois misteriosos
homens me procuraram para comprá-lo, porém disse a eles que não estava a venda, ambos usavam
anéis com as letras S e P combinadas com a flor de lis, este fato me levou a crê que se tratava de
dois membros da Sociedade Secreta do Priorado de Sião, pois meu falecido esposo era um
Chanceler da Franco-Maçonaria, lembro perfeitamente que certa vez um membro desta Sociedade

141
A elaboração do Azoth consiste em bipolarizar os turbilhões da luz astral e condensá-los através do
magnetismo e eletricidade humana pela magia, este é um segredo que aos magos alquimistas não revelam ao
profano, o iniciado deve chegar por si mesmo neste mistério.
esteve com ele e usava um anel semelhante, você é amiga de Antares não é?”, perguntou Madame
Agnes.
“Sim, como sabe?”.
“Estive com ele há dois dias atrás e ele me disse que a filha do Grão-Mestre da Grande Loja
de Madri queria conhecer o castelo. Como já lhe disse meu falecido esposo era um franco-maçom,
como sabe existe um laço fraterno entre os maçons, logo é de se compreender que tanto o Conde
De Le Puy quanto seu pai eram amigos de meu falecido esposo; o Conde De Le Puy é um grande e
sincero franco-maçom tenho grande apreço por ele” disse Madame Agnes.
“De Le Puy de fato é um grande franco-maçom, talvez seja o grau mais elevado em moral
atualmente dentro da Franco-Maçonaria, é um Venerável Mestre muito respeitado não só na Franco-
Maçonaria, como também em outras Ordens Esotéricas como a Teosofia e Antroposofia, por
exemplo. Seu saber é esplendendo”, disse Perséfone com o brilho do amor nos olhos.
“Parece que ele é um homem importante para você, mas vejo que o império esotérico de De
Le Puy está por desmoronar”, disse Madame Agnes com voz ululante.
“Por que diz isso, Madame?”.
“A mulher com a qual ele está envolvido trás a fatalidade, ele se encontra totalmente
embriagado de paixão por ela, conheço bem este tipo de mulher, é o tipo fatal, é uma maga negra
de terríveis poderes”, respondeu Agnes.
“Vejo que é uma iniciada, pois somente uma mulher de mistérios reconheceria uma maga
negra, de fato se trata de uma sacerdotisa da Ordem do Graal Negro, foi enviada para destruir o
último dos grandes mestres da Franco-Maçonaria, só não compreendo o porquê de um iniciado da
envergadura de De Le Puy se deixar levar por esta corrente fatal”, disse Perséfone triste.
“Dirijo o Rito Egípcio de Adoção de uma Loja Maçônica feminina. Quando estive com De Le
Puy em Marselha lhe dei muitos conselhos e lhe informei sobre o perigo que lhe rondava, mas ele
não me deu ouvidos, disse-me que sabia que ela era uma maga negra, e que a tiraria da Grande
Loja Maçônica Negra, esta era sua missão, e que sacrificou o amor que sente por você em prol
desta missão, mas não era compreendido”, disse Madame Agnes.
“Também o amo, mas ele fez sua escolha, não compreendo este ato, talvez um dia
compreenderei, mas vamos deixar esta conversa para uma outra ocasião, agora trataremos de
negócios, tenho 144 barras do melhor ouro, cada uma pesando três quilos, estas barras cobrem o
valor da propriedade?”, perguntou Perséfone.
“O melhor ouro é o alquímico, vejo que a senhorita herdou do avô as habilidades, mas como
lhe falei o castelo não está a venda, mas levando em consideração que tenho por De Le Puy uma
grande divida e que este castelo apesar de ser minha propriedade não me pertence, pois conheço a
história deste castelo e sei que pertenceu a um nobre Cavaleiro Templário que atualmente se
encontra reencarnado e se chama Regulus, o grande Mestre Templário da Ordem Gnóstica do Leão
Vermelho, pretendo devolvê-lo à Ordem, pois sei que vocês pretendem colocar a Ordem do Leão
Vermelho novamente em atividade esotérica, estou errada?”, disse Madame Agnes
enigmaticamente.
“Impressionante, como sabe tudo isso?”.
“Sou uma discípula do Mestre Cabalísta Scham Ben Tzade, seu avô, que tinha como
discípulo mais avançado o V. M. Julius, o Sacerdote de Dionísio; o castelo pertence à Ordem do
Leão Vermelho, por isso veio parar em minhas mãos. Deixa o ouro alquímico para fundir os objetos
sagrados do templo. Encontrei com a pessoa humana do Mestre Regulus na ocasião que ele foi
levado pelo V. M. Julius ao Templo da Ordem na quarta dimensão.
“Agora compreendo foi você que apresentou o Mestre Julius ao Grão-Mestre De Le Puy, e
provavelmente conheceu meu avô, o Cabalista de Leon”.
“Sim. Conheci seu avô no Egito na cidade de Alexandria; sou uma judia egípcia, meu pai era
um velho rabino liberal, e por muitas vezes ouvi os longos debates sobre Cabala entre meu pai e seu
avô, isso despertou em mim um forte entusiasmo pelo conhecimento cabalístico, solicitei que o Baal
Shem Tov Scham Ben Tzade me iniciasse nesses mistérios, então ele me aceitou como discípula e
o segui à Espanha. Seu avô me disse que eu fui uma antiga sacerdotisa do templo de Selketh.
Conheci o Mestre Julius por intermédio de seu avô. Na ocasião da segunda guerra mundial, eu me
encontrava com seu avô em Varsóvia onde havia uma Sociedade Secreta de Tzadik‟s cabalistas da
qual eu e seu avô fazíamos parte; um traidor delatou aos nazistas o local onde acontecia as
reuniões secretas, todos os membros foram presos e conduzidos ao campo de concentração;
infelizmente seu avô e todos os outros membros, foram executados na câmara de gás, porém
devido a minha beleza, juventude e meu dote intelectual, fui separada pelos nazistas para servir de
prostituta aos oficias nazistas. O Conde De Le Puy e meu falecido esposo empregavam grandes
quantidades de dinheiro para subornar oficias nazistas e salvar judeus da morte. Em uma certa
ocasião o Conde De Le Puy estava subornando o oficial nazista que me mantinha como prostituta,
pois este oficial mantinha em cativeiro diversos maçons judeus que eram grandes intelectuais e
cientistas, então ele me viu na residência do tal oficial e ofereceu certa quantia em dinheiro por
minha liberdade, mas o oficial não queria se desfazer de mim e recusou a oferta, mas movido pela
cobiça o oficial acabou cedendo. De Le Puy me levou para sua residência, onde permaneci por
algum tempo e me tornei grande amiga dele e de sua jovem esposa que falecera vitima de um
ataque dos bombardeiros alemães que atacaram a França. Ele sofreu muito a perda da amada
esposa. Foi por intermédio dele que eu conheci meu falecido esposo e que era vinte anos mais
velho do que eu”, disse Agnes.
“Que terrível processo iniciático você passou, de fato é uma dama adepta de grande força!”,
exclamou Perséfone.
“Passei por todo este processo para chegar ao castelo, percebe? Seu avô sempre soube da
missão que você teria, juntamente com outros, em colocar a Ordem do Leão Vermelho em atividade
no mundo físico. Pois todos nós estamos envolvidos com a história deste castelo, foi ali que teve
inicio a Ordem Gnóstica do Leão Vermelho; esta Ordem é a Guardiã dos Mistérios de Dionísio, a
verdadeira Maçonaria trazida do Egito e adaptada à cultura grega por Orfeu. Os célebres antigos
maçons: os Artífices Dionisianos foram no passado os grandes construtores dos templos espalhados
por toda Grécia antiga e Ásia menor e principalmente em Atenas, e os próprios maçons construíram,
como sabe, as belas catedrais góticas ricas em simbolismo gnóstico. O Próprio Hiram, contratado
pelo rei Salomão para construir o Templo, era um Arquiteto Dionisiano, Mestre Maçom, isto explica o
simbolismo sexual que o Templo de Salomão apresenta. Pois, assim como Orfeu trouxe o culto
sexual Isíaco para a Grécia na roupagem esotérica do mito do deus Dionísio, também Moisés que foi
um iniciado egípcio, e ocultou o culto de Isis, os Mistérios Sexuais, no Culto hebreu do Tabernáculo,
onde o Tetragrama era venerado na figura do deus Jeová que segundo a Mestra Helena Petrovina
Blavatsky em sua obra Isis sem Véu, havia uma identificação do Elohim Jeová com Dionísio. Pois,
Moisés recebeu a iniciação no Monte Sinai, um símbolo esotérico, foi neste Monte que nasceu
Dionísio e Osíris. Um outro fator muito interessante é o fato de que o Elohin Jeová, Construtor do
Universo, é na hierarquia angelical o Regente dos Anjos Fecundadores, a Ordem dos Querubins que
moram na constelação de Câncer casa de Isis, a Lua; a mesma hierarquia de Gabriel, por isso este
Anjo, regente da Lua, anuncia o nascimento de Jesus a Maria. Não foi por acaso que Moisés
mandou construir uma arca, símbolo da geração, com dois Querubins, a Esfinge Jakim e Boaz,
conectadas sexualmente sobre a arca; muito interessante também são os objetos sagrados contidos
na arca”, expôs Agnes.
Depois destes cabalísticos diálogos, a mulher iniciada, Perséfone; e a dama adepta,
conhecida pelo nome esotérico de Selketh, tomaram chá e conversaram sobre política, falavam do
Movimento Sionista; depois comentaram a obra literária: „Sansão‟ do escritor e jornalista Wladimir
Jabotinski um russo de descendência judaica. Agnes marcou com Perséfone uma visita ao castelo,
também solicitou a presença do Mestre Regulus nesta visita.
Perséfone partiu, chegando no lar comentou o ocorrido com os amigos iniciados.
CAPÍTULO ‫מ‬
A MORTE

O sino daquela exótica e bela catedral de estilo gótico soava quatorze badaladas, indicando
que era o horário do Escorpião, a oitava hora do dia. Três lindas mulheres de cabelos longos e negros,
vestidas como executivas, subiram os degraus de um edifício de arquitetura do século passado e
penetraram seu interior. Eram Équidna, Lâmia e Empusa, estes eram pseudonomes das três musas
executivas. As três iniciadas da Ordem do Graal Negro foram anunciadas ao Grão-Mestre que se
encontrava no interior de um escritório com belos quadros renascentistas, sobre a parede que ficava
ao norte e atrás da escrivaninha do Grão-Mestre, havia o símbolo da Ordem que dirigia: um graal142
negro com uma serpente escarlate emergindo de seu interior trazendo presa nas mandíbulas uma
rosa branca pingando sangue, gravado no graal negro o monograma da Ordem.
“Entrem, minhas meninas, a muito aguardo vocês”, disse o Grão-Mestre, “vocês sabem por
que foram chamadas aqui?”.
“Quando somos chamadas em conjunto, é porque a situação é grave, Venerável”, disse
Équidna.
“Minhas irmãs, a Ordem corre grande perigo, pois há alguns elementos perigosíssimos que
devem ser a qualquer custo obstruídos. Nesse caso extremo não importa os meios utilizados, mas a
finalidade alcançada”.
“Quem são estes elementos que apresenta tamanho perigo à Ordem, Venerável Mestre?”,
perguntou Empusa.
“Um deles já vocês já conhecem muito bem, é o ex-frei franciscano Miguel, um Mestre
Templário reencarnado e cuja missão é colocar a Ordem Gnóstica do Leão Vermelho em atividade
novamente, é um grande inimigo de nossa Ordem, há séculos o Dragão Negro, que é o emblema de
nossa Ordem, trava batalha com o Leão Vermelho da Maçonaria Templária. O frei gnóstico se
fortaleceu e está sendo apoiado por duas sacerdotisas, uma delas é a Grã-Mestra da Franco-
Maçonaria do Rito Egípcio de Adoção, discípula de Scham Ben Tzade, outro grande inimigo nosso
morto pelos nazistas, a outra é a poderosa Mestra taoísta Miao Sham, iniciada no Jainismo chinês e
no Budismo Jinaiana dos tibetanos trantricos, mulher muito perigosa e de extremo poder que é a
guardiã de um Buda que está para nascer, amiga intima do cabalista Scham Ben Tzade. Nossa outra
ameaça é o Conde Antares De Le Puy, o Grão-Mestre da Franco-Maçonaria da Loja de Marselha,
homem de grande influência política e econômica, vem apoiando a inimiga da qual já lhes falei,
Madame Agnes que é a Grã-Mestra da Maçonaria Egípcia e que é uma das sacerdotisas da Ordem do
Leão Vermelho. O advento desta Ordem no mundo físico põe em risco o plano da Ordem do Graal
Negro”, discorreu o Grão Mestre do Graal Negro.
“Venerável Mestre, mas há alguma ligação da Ordem do Leão Vermelho com o Conde De Le
Puy?”, perguntou Lâmia.
“Não sabemos minha doce menina, foi justamente este um dos motivos que nós a designamos
para esta missão, esperamos que não caia no mesmo erro da missão que envolvia o ex-frei
franciscano Miguel, teu disfarce foi muito bem elaborado, mas você se deixou levar pelos sentimentos.
Vejo que tem obtido bons resultados nesta nova missão; espero que você não se deixe levar pelos
seus sentimentos novamente, caso isso ocorra, entenderemos isso como um ato de traição, você sabe
muito bem o que ocorre com os traidores da Ordem; estamos lhe dando esta nova chance para

142
Taça ou Cálice utilizado na missa, onde contém o vinho da unção tomado pelo sacerdote.
reparar o erro cometido com o frei. Temos formado alianças com vários seguimentos da Franco-
Maçonaria , mas este Conde De Le Puy tem sido um verdadeiro estorvo aos nossos projetos, além do
tudo ele vem apoiando a Grã-Mestra Agnes, dona do castelo que provavelmente será a sede da
Ordem do Leão Vermelho; isso atrapalha em muito nossa atividade, pois como nossa sede se
encontra em um castelo na mesma região, e ali oficiamos nossos ritos secretos, isso indica que com a
manifestação de uma nova egrégora na região, um novo foco de força também se manifestará, então
haverá um choque entre das duas correntes de força, isso obstrui nossa expansão astral. Ele também
de um documento em seu poder que compromete os membros de nossa Ordem”, disse o Grão-
Mestre.
“Sim Venerável Mestre, tenho obtido excelentes resultados, estou envolvida com o Grão-
Mestre De Le Puy, através deste poderei me infiltrar em seus negócios e descobrir seus planos
secretos, assim, poderei recuperar o documento que compromete nossa Ordem; de fato ele possui um
projeto maçônico que envolve grandes mestres maçons, rosa-cruzes, teosofistas e antroposofistas,
eles pretendem instalar uma nova ordem mundial que inclui o aniquilamento do cristianismo da face da
terra e de todas as Ordens esotéricas que eles chamam de Ordens Negras, mas não obtive muitas
informações sobre este projeto, pois o Conde De Le Puy é muito silencioso com os assuntos da
Ordem Maçônica”.
“De fato Lâmia, esta Nova Ordem Mundial representa um grande perigo, temos infiltrado
homens nesta Ordem para desarticular seus projetos, porém a Franco-Maçonaria está controlada pelo
Conde De Le Puy, e com ele na frente da Ordem fica muito difícil desarticular seus projetos. Dizem
que esta Nova Ordem de Governo Mundial será regida por um Sacerdote-Rei que regerá a Nova Era
de Aquário”, disse o Grão-Mestre do Graal Negro.
“Excelentíssimo esta é uma missão muito difícil, e se não utilizarmos certos artifícios
relacionadas ao ocultismo prático e da magia, será impossível combater estes magos, que tudo indica
possuem o conhecimento de nossas atividades secretas nos diversos governos do mundo. Como
fomos treinadas na arte da magia, pedimos a permissão à Ordem para utilizarmos estes meios em
nossa missão,” disse Équidna.
“Claro que vocês estão autorizadas a valer da magia sagrada, inclusive a ordem é o
aniquilamento total, pois com a cabeça da serpente esmagada o corpo também morre, são homens
como o Conde De Le Puy que financiam organizações subversivas como a Fraternidade do Leão
Vermelho”, disse o Grão-Mestre.
“Vocês devem desarticular a qualquer custo este projeto secreto, se ele chegar aos ouvidos
dos rebeldes sem causas, eles então terão uma causa, eles o terão como esperança libertadora, então
todo o sistema ideológico que mantém as bases de nosso sistema político, econômico e social será
colocado em dúvida, pois este é o plano da Maçonaria do Conde De Le Puy e da Fraternidade
Gnóstica do Leão Vermelho, levando o mundo ao caos eles acreditam que um Novo Reino com bases
em seus ideais se levantará deste caos, chamam isso de Nova Era de Aquário que será regida por um
Rei-Sacerdote da Ordem de Samael, o Regente da quinta Raça”.
“Preciso fazer com que aja uma divisão na Sociedade Maçônica, para isso devemos semear a
intriga, a desconfiança um no outro, a disputa pelo poder da Ordem, só assim podemos torná-los
fracos, mas para isso antes devemos fazer com que todos deixem de acreditar na poderosa
personalidade do Grão-Mestre De Le Puy”, disse Lâmia.
“Exatamente, esta é a sua missão!”, exclamou o Grão-Mestre.
Depois de uma longa reunião, as três damas deixaram aquele edifício em Salamanca, e
partiram para a estação de trem duas quadras dali. Équidna observou que havia um homem do outro
lado da rua, parecia estar vigiando-as.
De fato havia um homem misterioso observando as três fatais damas. O homem tinha cabelos
longos e uma barba bem feita; usava chapéu e óculos escuros; um sobretudo cobria-lhe o corpo
esbelto e de músculos definidos.
“Não é nada, é apenas um repórter querendo saber algo sobre o Ministro, nosso Grão-
Mestre”, disse Lâmia.
“É... parece que sim”, disse meio desconfiada e com semblante contemplativo, Équidna.
O misterioso homem pegou o bonde e partiu dali.

‫ש‬

Zain, o Cavaleiro de Gêmeos, penetrou o salão do Leão, onde se encontravam os iniciados


junto ao Mestre Samech, Julius.
“Zain, estávamos a sua espera há dois dias, soube de algo?”, disse o Venerável Mestre
Samach ao Cavaleiro Kadosh.
“Sim, Mestre, as três serpentes se encontraram com o dragão negro em sua própria gruta, a
informação que obtive é que estão muito temerosos e agitados, parece que há um plano”.
“Nosso homem, não obteve informações mais precisas?”, indagou o Mestre se referindo ao
secretário do Ministro da Defesa da Espanha, pois o secretário era um iniciado espião infiltrado no
escritório do Grão-Mestre da Ordem do Graal Negro.
“Infelizmente, tal reunião foi fechada, e a única coisa que ele pode ouvir foi um assunto
relacionado sobre ao Franco-Maçonaria e ao Conde De Le Puy, mas não soube informar do que se
tratava”, disse Zain.
“O que eles querem com o Mestre Schim?”, indagou o Venerável Mestre preocupado.

‫ש‬

Aproximadamente à hora do Sagitário, às 14:00, Miguel e Perséfone chegaram à residência


daquela distinta dama adepta dos Mistérios Egípcios, pois esta os conduziria a uma visita ao Castelo
Templário. Selketh ficou muito feliz em rever o Mestre Regulus, o Cavaleiro de Rá, o Guardião dos
Mistérios do Leão da Fraternidade Órfica dos Cavaleiros Kadosh‟s, renascendo das próprias cinzas.
Pois, o Mestre Regulus ainda estava passando pelos processos iniciáticos, seu Cristo Íntimo ainda não
havia assumido o controle total deste Arcanjo caído143, ele ainda deveria passar pela última prova de
Jó. Sua Isis interior, sua Mãe Divina, estava grávida de Horus, o Cristo Íntimo, e estava preste a dar a
Luz, ao Revolucionário Cristo Vermelho144 que combateria o Grande Dragão das Trevas e todo seu
séqüito de eus-diabos que habitam a grande Babilônia psicológica, a terra do cativeiro de Pistis
Sophia, a Alma Humana.

143
Lúcifer.
144
Os gnósticos representa o Cristo Vermelho ou Marciano na figura de São Jorge, Percival o Rei do Graal.
Os três iniciados partiram para a região montanhosa dos Pirineus, onde se localizava o
Castelo. Depois de viajarem por duas horas aproximadamente, o motorista entrou numa pequena
vereda serpentina daquela floresta misteriosa, passaram por um pequeno vilarejo onde viviam alguns
montanheses pastores de ovelhas e cabras, logo penetraram nas terras que pertenciam a grande
propriedade de Agnes, onde estava localizado o Castelo. Nas terras havia uma grande vinha, cujos
frutos produzia o melhor vinho da região; nesta propriedade a terra era cultivada pelos camponeses
contratados pelos vinhateiros que prestavam serviço ao falecido Conde esposo de Agnes e que eram
homens de total confiança. Pierre era um senhor de aproximadamente setenta anos de idade,
administrador da propriedade. Pierre recebeu os visitantes com muita cortesia. Os camponeses viviam
nas terras da própria propriedade, e tiravam grande parte de seus alimentos daquelas terras férteis
que além da vasta vinha, possuía também um pomar de frutas nativas. Grande parte da propriedade
era formada por um grande bosque, onde a flora era em grande parte conservada.
Miguel, por um instante, foi arrebatado por um êxtase contemplativo, algo naquele lugar era
familiar, era como se já estivesse ali antes, e de fato estivera. Os dois chacras pulmonares de Miguel
ardiam, pois estes chacras desenvolvidos outorgavam a faculdade de lembrar as vidas passadas;
algumas imagens que se apresentavam num cenário de idade média invadiram sua mente. O mesmo
ocorria com Perséfone, porém esta deixava rolar algumas lagrimas de seus olhos esmeraldinos, pois
ela lembrava o grande massacre que ocorreu naquele local a centenas de anos atrás. Miguel se
afastou das damas como se estivesse procurando algo perdido, retornou e disse:
“Próximo daqui há alguma queda-d‟água que forma um rio que rega toda à parte leste da
propriedade e desce pelas entranhas daquela montanha?”, perguntou Miguel a Agnes, apontando para
uma montanha ao oeste e com os olhos investigativos.
“Sim, a duas léguas ao leste do Castelo há uma nascente que forma uma bela queda-d‟água
formando, assim, uma maravilhosa piscina natural, desta nasce um rio serpentino que penetra as
entranhas daquela montanha e se une com o rio principal desta região”, respondeu Agnes.
Depois de comentarem a beleza inefável daquele bosque de Pã, Pierre conduziu-os ao interior
do imenso Castelo que havia sido reformado pelo Conde.
“Magnífico, encontra-se em perfeito estado!”, exclamou Perséfone olhando para os amigos.
“Foi restaurado alguns anos atrás, meu esposo utilizava-o para retiros espirituais junto com
outros membros da Ordem. Nosso matrimônio aconteceu neste local. Este Castelo era muito
importante para ele, pois ele conhecia os fatos históricos que ocorreram neste local”, disse Agnes.
O Castelo era de três andares; no primeiro andar ficava o amplo salão, a cozinha, a área de
serviços, a biblioteca e duas salas médias, uma do lado direito e outra do esquerdo; no centro havia a
sala de estar com uma lareira. No segundo andar havia doze câmaras e mais uma sala de estar ao
centro; no terceiro andar havia mais doze câmaras; a câmara principal era a maior e dava acesso ao
terraço e ao pináculo da torre do Castelo. Todo interior do Castelo era adornado com a arte egípcia,
isto revelava o toque de Selketh que além de ser uma judia egípcia, era uma iniciada no Rito Egípcio
de Adoção fundado pelo conde Cagliostro.
Selketh mostrou todas as repartições do Castelo aos amigos. Almoçaram e depois do almoço
Pierre os levou para conhecer o Lagar onde era produzido o vinho, depois levou ao deposito onde
eram armazenados os barris de vinho, onde eram envelhecidos. Depois realizaram um passeio belo
busque que rodeava o castelo; ao entrar da tarde, retornaram para o Castelo para tomar chá com o
delicioso pão feito pela esposa de Pierre. Mas, quando estavam se preparando para retornarem à
cidade, um grande temporal desabou. Selketh informou aos amigos que deveriam passar à noite ali,
pois com o temporal, o rio se alagava e obstruía a estrada.
À noite o temporal já havia passado. Os três permaneceram por algumas horas dialogando
sobre o Castelo e os mistérios que o envolviam. Perséfone relatou aos amigos que havia uma lenda
da existência de um templo subterrâneo no Castelo.
“Eu já sabia desta lenda, aliás, este foi o motivo pelo qual meu esposo comprou o Castelo,
pois segundo ele a lenda maçônica informa que os segredos da Ordem Templária do Leão Vermelho,
estão ocultos no interior deste templo, e só o Cavaleiro Templário, o Grão-Mestre deste templo, é que
pode encontrar a entrada secreta deste templo”, disse Selketh olhando misteriosamente para Miguel
que a fitava com os olhos de águia.
“Minha mãe viu o templo clarividentemente e me descreveu com muita precisão, ele de fato
existe não é uma lenda”, disse Perséfone.
Selketh não tirava os olhos de Miguel, onde ele ia ela o acompanhava com os olhos. Miguel
passeava pelos largos corredores do Castelo contemplando as belas artes egípcias. Perséfone e
Selketh permaneceram sentadas dialogando.
“Você, como eu, é uma iniciada egípcia, seu avô, meu Mestre, me revelou isso. Você foi uma
sacerdotisa do Templo de Basteth em Bubaste, deve sentar-se à direita do trono de Horus”, disse
Selketh.
“Eu já sabia, meu nome iniciático é Basteth, a sacerdotisa da magia sexual, a Esfinge Jakim
do Templo do Leão Vermelho”, disse Perséfone com muita convecção.
“Mas, quem será Sehkmeth, a que senta a esquerda de Horus?”, indagou Selketh.
“Lung Nu, a esposa sacerdotisa de Miguel, talvez”, disse Perséfone.
“Não a conheço”.
“Se a junta sacerdotal não estiver completa, não há possibilidades de colocar em atividade o
Raio Gnóstico deste Templo que se encontra adormecido e que só poderá despertar com o Grande
Rito da Magia Gnóstica”, disse Selkerth.
Selketh acompanhou Perséfone até uma das câmaras do terceiro andar, ao lado da sua, onde
ela passaria a noite. Procurou Miguel para conduzi-lo a câmara onde dormiria, porém não o encontrou.
A câmara de Selketh tinha uma porta interna que dava acesso a um corredor, no final deste havia uma
escadaria rústica que dava acesso ao pináculo da torre. Era de praxe para Agnes antes de dormir
contemplar as constelações daquele belo céu anilado. Havia três torres no Castelo que eram
interligadas por passagem estreitas; Agnes percebeu um vulto na torre oposta, que se encontrava á
direita da sua, seguiu até a torre oposta, onde percebeu Miguel pronunciando palavras secretas de
conjurações em latim em direção ao norte. Ficou parada observando o mago em operação, depois de
um certo tempo ele calou-se e permaneceu com os olhos fixos ao norte.
“Uma força maligna esta sendo emanada para cá em formas mentais de grandes morcegos
negros com olhos infravermelhos, eles sabem que estamos aqui, manterei a vigília esta noite, pode
dormir vocês estão seguras”, disse o Mestre Regulus com o semblante muito sério e preocupado.
“Ficarei ao seu lado combateremos juntos. De fato depois daquela colina ao norte, há um
Castelo onde se diz que se pratica a magia negra e sábas em luas cheias, mas pensei que se tratava
de crendice dos aldeões da região”, disse Selketh assustada com o fato ocorrido.
“Não se trata de crendice, de fato ali funciona a sede da Ordem do Graal Negro. O Venerável
Mestre Julius havia comentado comigo na ocasião que estávamos encarcerados. Alguns eclesiásticos
da Igreja concorrem a este Castelo para participarem de suas orgias tenebrosas. Veja, hoje a lua esta
cheia”, disse Miguel apontado para o globo vermelho noturno”, “Estão oficiando rituais negros lá.
Provavelmente á meia noite, quando a lua cheia atingir o meio de céu, eles entrarão em metamorfose
e assumirão a forma de lobos e harpias tenebrosas, atacarão os animais para se apossarem de seu
sangue e quem sabe até mesmo de pessoas”, disse o Mestre Regulus.
“Temos que pedir ajuda ao Templo da quarta dimensão, os camponeses que vivem nestas
terras podem serem atacados!”, exclamou assombrada Selketh.
“Hoje não há necessidade, enviei minha Esfinge Elemental para traçar círculos mágicos e
pentagramas nas casas dos camponeses. Isso afugentará os malignos do caminho tenebroso”, disse o
Mestre demonstrando segurança.
“Como será que eles souberam que estávamos aqui?”, perguntou Selketh.
“Há uma bruxa aqui entre os camponeses, ela nos delatou aos membros desta Ordem
tenebrosa”, disse Miguel.
“Mas, quem será, pois todos aqui são pessoas religiosas e boas, nunca ouvi falar de casos de
bruxaria aqui, será que estão me ocultando algo?”, questionou Selketh.
“Quando você e Perséfone se encontravam no pomar, Pierre me levou á casa de um dos
camponeses daqui para averiguar um caso de enfermidade, tratava-se de um rapaz com a áurea fraca
e com a vitalidade muito esgotada quase por completa, com certeza o rapaz está à beira da morte.
Seus pais me informaram que isso teve inicio desde que ele passou a manter encontros secretos com
uma certa mulher que vive numa cabana próximo ao rio. Diagnostiquei imediatamente um vampirismo,
pois provavelmente a mulher do caso amoroso do mancebo está lhe sugando toda a vitalidade para se
manter mais jovem e bonita”, disse Miguel.
“Nossa! Temos que ajudar esta pobre alma, vamos até acabana onde ela vive e armaremos
uma armadilha para ela, colocaremos uma tesoura com mostarda preta para pegá-la!”, exclamou
Selketh com misericórdia no semblante.
“É muito perigoso penetrar no bosque a esta hora da noite; veja, a lua cheia já está quase no
meio do céu”, disse apontando novamente para a lua.
“Tem razão, amanhã antes de irmos embora, farei uma visita a esta sacerdotisa de Lilith que
vive em nossas terras e a expulsarei daqui!”, exclamou com fúria Selketh.
“Isso não é possível, pois ela vive na outra margem do rio, já nos domínios das terras de outro
proprietário”, disse Miguel.
“Isso é mal, pois nada podemos fazer, a não ser orientar os camponeses a manter distância
dela”, disse Selketh.
“Eu já orientei Peirre e sua esposa para alertar os camponeses do perigo que os rondam”,
disse Miguel.
Miguel e Selketh mantinham a sentinela, quando ouviram uivos de lobos vindo do interior do
bosque; Perséfone que estava dormindo despertou assustada com os uivos.
Pela amanhã os três retornaram à cidade; no caminho encontraram uma jovem e bela
camponesa que olhou sedutoramente para Miguel, mas este não lhe deu importância, a tal moça
chamava-se Samanta e vivia na cabana próxima do rio.

O motorista de Agnes parou o automóvel em frente a residência de Miguel e Perséfone. A


menina Jade correu ao encontro de Miguel e lhe informou que Maio Sham havia levado sua mãe ao
hospital, pois ela estava tendo muita dificuldade em dar a luz ao bebe iluminado. Agnes que ainda se
encontrava no carro levou Miguel e Perséfone ao hospital com urgência.
O cirurgião saiu da sala de parto cabisbaixo, olhou para Miao Sham e acenou negativamente
com a cabeça. Miguel meio desajeitado perguntou ao médico cirurgião o que se passava com sua
esposa, este disse.
“Infelizmente fizemos tudo para salvá-la, mas não foi possível, ela acaba de dar luz a um
menino forte e sadio, porém não suportou o parto e falecera”.
Miguel deu um grito ululante, deixando rolar lágrimas de seus olhos de águia. Perséfone e
Agnes se entristeceram diante da fatal tragédia, e tentaram consolar o amigo, mas este se afastou
para um canto isolado. De repente abriu os braços e gritou como um louco:
“Que tenho eu contigo Anúbis, por que levastes minha esposa e não eu? Oh! Chacal
devorador de almas! Por ventura não tenho eu pago minhas velhas dividas! O que mais deseja desta
pobre alma defraudada pelo destino? Primeiro levastes meus pais; depois lanças em meu encalço
lobos devoradores que tentam tirar minha vida a qualquer custo; logo me lanças no cárcere onde sou
torturado; coloca em meu caminho a traição que me leva à miséria; agora tira a metade de minha
alma, o que mais deseja, oh! Chacal da lei!”, exclamava com voz ululante e gesticulando com as
mãos, à medida que olhava para o alto como se estivesse encenado uma peça teatral.
“Está blasfemando contra os agentes carmicos?!”, perguntou exclamativamente Perséfone
para Miao Sham.
“Não, está apenas protestando contra seu cruel destino”, disse sussurrando a Mestra.
“Oh! Isis, minha adorável Mãe Divina, esposa viúva de meu Pai Osíris, sofro como ti a perda
do ente querido, livra-me do Poder Rosto de Leão!”, exclamou com ênfase, à medida que olhava à
imagem de Nossa Senhora do Parto no canto da parede daquela maternidade católica.
Selketh compreendia que o Mestre da Ordem do Leão Vermelho estava passando por duras
provas iniciáticas. Ela Abraçou Miguel e o consolou, enquanto que Miao Sham e Perséfone estava
observando a criança no berçário, era uma criança de olhos rasgados e de abundante cabelos lisos e
negros, características orientais, porém o nariz era semelhante ao do pai. Enquanto que Selketh levou
Muiguel para ver o corpo da amada. Este a contemplou com veneração.
“Devemos cremá-la o mais rápido possível”, disse Miguel.
“Sim, vou ver isso para você”, disse Selketh.
Depois ambos foram ao berçário ver a criança.
“Vejo uma amizade muito poderosa entre estas duas almas”, disse Miao Sham à Perséfone.
“De fato, já se conheciam, a mulher egípcia é a dona do Castelo e iniciada no Rito Egípcio de
Adoção. É uma sacerdotisa do Templo do Leão Vermelho”, disse Perséfone.
No dia seguinte, Miao Sham realizou um rito fúnebre segundo os mistérios taoístas da morte.
Depois o corpo de Lung Nu foi incinerado.
O luto durou por sete dias. Miguel se encontrava em profunda tristeza juntamente com Jade.
“Perséfone tenho que ir ao Tibet levar o menino, Miguel partirá comigo, vou deixar Jade aos
seus cuidados, volto daqui a dois meses”, disse Maio Sham.
“Sim, vou morar no Castelo junto com Selketh, pois temos planos por lá, como já lhe disse.
Levarei Jade comigo. Quando Miguel retornar ele se integrará conosco, mas estou um pouco receosa
enquanto a isso, pois Miguel mudou com a morte de Lung Nu”, informou Perséfone.
“Não se preocupe, ele está sofrendo muito com a perda da esposa, esta viagem ao Tibet será
benéfica para ele”, disse Miao Sham.
Depois do luto Maio Sham, a criança Buda e seu pai Miguel partiram para o porto de
Languidoc-Roussillon onde embarcariam num navio que os conduziriam até Índia, desta seguiriam
para o Nepal, depois ao Tibet, uma viagem dura e longa. Perséfone, Jade e Selketh se despediram
dos amigos. O navio partia lentamente penetrando o Golfo do Leão.

‫ש‬
Já havia se passado cinco meses desde quando Miao Sham e Miguel partiram. Perséfone
recebeu uma carta de Miao Sham avisando que ocorreu tudo bem na viagem e que já estava
retornando.

Perséfone e Jade aguardavam o navio no qual Miao Sham e Miguel viajavam. Depois de três
horas de espera o navio encostou-se ao cais, várias pessoas desembarcavam, Perséfone já estava
preocupada, pois não localizava Miao Sham e Miguel, mas logo Jade gritou:
“Veja, é a Mestra!”, exclamou Jade apontando para Miao Sham, mas Perséfone observou que
Miao Sham estava só.
O momento foi de felicidade, porém a tristeza abateu Jade e Perséfone quando receberam a
noticia de Maio Sham.
“Infelizmente Miguel não retornou, travou amizade com uma renomada Lama que cuidará da
educação de seu filho, ingressou na Escola Búdhica Jinayana, onde passará por um longo retiro
espiritual, permanecerá em silêncio por três anos e neste período se dedicará às práticas de
meditação e exercícios esotéricos, depois se tornará um lama e terá o direito de pregar o dharma”,
disse Miao Sham.
“Como? Nós tínhamos uma missão aqui, e agora como ficará?”, questionou Perséfone.
“Não sei, mas tenha paciência e confie na providência”, respondeu Miao Sham, à medida que
entrava no táxi.
“Selketh e eu estavamos muito entusiasmadas com a chegada de Miguel, pois nós precisamos
dele para organizar a Ordem do Leão Vermelho”.
“Ele mandou uma carta para vocês duas e outra para Jade, talvez nesta carta vocês
encontrem a resposta que procuram”, disse Miao Sham secamente já chateada com o assunto.
Perséfone conduziu Miao Sham á residência de Selketh, lá ela descansaria da longa viagem e
depois de alguns dias retornaria para Leon onde tinha seus negócios.
Selketh ficou muito entristecida com a ausência do amigo, depois leu a carta junto com
Perséfone:
„Distintas damas de mistérios,
Ao lerem esta missiva espero estarem todas bem.
Nossas estrelas seguiram órbitas diferentes, a solidão é minha casa e o silêncio meu amigo.
Não tentem compreender minha decisão, mas sigam em frente com as vossas missões. A Ordem
pode ser colocada em atividade sem a minha presença, não estou preparado para assumir o comando
deste Carro de Guerra de Horus. Busquem a orientação do Mestre Julius com o qual Selketh mantém
contado.
Perséfone procure um jovem de nome Pedro em Leon e ele a conduzirá aos meus discípulos
Leon, Rafael, Isadora e Isabel, todos ex-freis e monjas da Ordem Franciscana. Estas pessoas são de
minha total confiança e possuem os mistérios e podem juntamente com vocês por a Ordem do Leão
Vermelho em atividade. Formem com eles uma comunidade monástica, transformem o Castelo em um
Mosteiro; estes monges são pessoas ligadas ao altruísmo desinteressado. Pedro não é iniciado nos
mistérios, o entrego sobre as vossas responsabilidades para que possam iniciá-lo, pois devo isso a
ele.
Selketh, aconselha o Grão-Mestre De Le Puy em meu nome, que a serpente que se enrosca
no corpo de Ofélia está mantendo-o encantado e embriagado de paixão e se ele quiser salvar a si
próprio e a ela, ele deve fazer a serpente devorar sua própria cauda, só assim o feitiço é quebrado,
que não cometa a mesma loucura do Conde Zanoni que se deixou tragar pelo encanto fatal da artista
de Nápoles, porém esta era uma mulher comum, porém de beleza fatal. Ofélia é uma iniciada do Graal
Negro, muito mais perigosa e poderosa. Conheço esta mulher em profundidade, porque com ela já
travei batalha e venci. Tentei tirá-la do caminho tenebroso, mas não tive sucesso, pode ser que De Le
Puy consiga esta façanha como Percival em relação a Kundre, porém os tenebrosos não deixarão ela
sair tão facilmente de sua egrégora.

Sem mais,

Paz Inverencial!‟

Mestre Regulus.

No dia seguinte, Perséfone seguiu juntamente com Miao Sham e Jade para Leon, ia atrás de
Pedro como orientou o Mestre Regulus.

‫ש‬
Em uma alta colina se localizava o templo tibetano da Escola Jinayna, dois veneráveis lamas
observavam aquele monge de vontade férrea em posição de flor lótus em profundo estado de
meditação, já havia nove dias que ele estava ali imóvel. Estava magro e sua longa cabeleira estava
amarrada em forma de coque.
“Se encontra em estado de Vazio Iluminador”, cochichou um dos lamas no ouvido do outro.
“Possui uma missão muito importante, por isso veio até nós para cumprir um longo retiro
espiritual, este Bodhisattva trilha a Senda do Fio da Navalha, por isso sua alma humana sofre o
indivisível. Trava grandes batalhas com seus demônios interiores, esta passando pela terrível
aniquilação budista”, cochichou novamente o lama.
Depois dos nove dias meditando, o Mestre Regulus abriu os olhos e os dois lamas o ajudaram
a se levantar e o conduziram para seu leito, pois seu corpo estava fraco, foi alimentado com uma leve
sopa nutritiva.
Capitulo ‫נ‬
A Revolução Sexual

Perséfone e Maio Sham penetraram na grande biblioteca de Leon, onde Miguel havia dito que
elas encontrariam o jovem Pedro. Maio Sham conhecia as fisionomias daqueles jovens que sempre
estavam dialogando com Miguel quando este era mendigo. E avistou um dos jovens e disse à
Perséfone:
“Veja, aquele ali é um dos jovens será que é Pedro”.
Perséfone discretamente se aproximou do jovem e perguntou sobre Pedro, o jovem disse a
ela que este se encontrava na gráfica onde trabalhava de desenhista. Então, Perséfone pediu o
endereço no homem que precurava; o mancebo de princípio ficou meio desconfiado, mas acabou
dando o endereço de Pedro, pois havia se simpatizado com a beleza exótica e com o charme da
Cabalista de Leon.
Ao cair da tarde Perséfone seguiu à casa de Pedro que ficava no subúrbio. A casa se
localizava em um cortiço de muito mau aspecto. Perséfone ao chegar no local, ficou temerosa, pois se
tratava de uma região perigosa onde havia muitos marginais. Encontrou uma senhora despenteada e
com vestimenta de muito mau aspecto que se encontrava sentada no princípio de um corredor
ladeados pelas portas das casas do cortiço, de fato era um local repugnante; e perguntou sobre Pedro.
“Sim, que deseja senhorita?”, perguntou a mulher asquerosa demonstrando os dentes
cariados através de um sorriso interesseiro.
“Qual destas casas mora Pedro?”, perguntou Perséfone.
“O que uma senhorita que parece ser de boa família e refinada quer com este diabo
arruaceiro, o que ele aprontou desta vez? A senhorita é emissária da Justiça?”, perguntou receosa a
mulher asquerosa.
“Não, apenas desejo falar com ele sobre negócios”, respondeu Perséfone querendo se livrar
logo da mulher que lhe causava ânsia de vomito.
Pedro era um anarquista e já havia sido preso por várias vezes, por isso a mulher ficou
receosa com a presença daquela mulher simples, porém de ar nobre. Pois de fato a presença de uma
mulher como Perséfone ali era algo insólito. Por fim, a mulher asquerosa foi chamar Pedro, que
morava num cubículo no final do corredor. Pedro pensou que se tratava de alguma dama da
sociedade que lhe viera encomendar alguma obra de arte. Com relutância saiu da espelunca e foi ver
de que se tratava a visita.
Diante de Perséfone se manifestou uma figura insólita de ar intelectual, de estatura mediana,
cabelos castanhos claros e curtos, esbelto, nariz aquilino e narinas delatadas; de comportamento
introvertido, demonstrava angustia e sofrimento no semblante. Tinha aproximadamente uns vinte sete
anos de idade e com características do signo de Câncer. Segurava na mão esquerda um livro do
filosofo Soren Kierkegaard; através do tipo de leitura que o rapaz lia, Perséfone compreendeu que de
fato se tratava de um homem angustiado e sofrido pela labuta da vida. O rapaz pediu que ela entrasse
até o interior de sua casa, onde poderiam conversar reservadamente.
O rapaz morava em dois cômodos, a cozinha era limpa e organizada, porém o quarto era
desorganizado, porém limpo. Havia em canto três pilhas de livros um violão e alguns materiais
utilizados na pintura de telas. Em outro canto um pequeno armário que era utilizado para guardar as
roupas e uma mesa onde ele talvez utilizasse para os estudos. Apesar dos objetos que se
encontravam ali delatasse um artista, não havia nenhum quadro adornando às paredes.
“O que deseja senhorita?”, perguntou tímido e desconfiado Pedro.
“Sou amiga de Miguel, o Mendigo com o qual você dialogava na biblioteca de Leon”, disse
Perséfone antes de responder o que desejava.
“Amiga?! uma mulher refinada como a senhorita tem amigos mendigos”, disse com um ar
sarcástico o jovem, à medida que coçava a cabeça demonstrando desconfiança no semblante.
“De fato não tenho, mas posso te garantir que não carrego este tipo de preconceito. O fato é
que o conheci ele antes de se tornar mendigo e o reencontrei depois que ele já não era mais
mendigo”, disse em tom sério Perséfone com um certo toque autoritário típico das personalidades
leoninas.
“O malandro se deu bem, senhorita; casou com uma chinesa muito bonita e rica que o tirou da
miséria”, disse Pedro deixando Perséfone pasmada com aquele vocabulário de subúrbio.
“De fato se trata de um homem de muita sorte, mas também de grande fardo”, disse
Perséfone, á medida que olhava o rapaz de forma desconfiada.
“Ele desapareceu não o vi mais, mas que será que aconteceu com ele? Era um homem muito
misterioso, até hoje não compreendo este sumiço; desconfio que ele era um fugitivo das autoridades,
mas ele nunca me disse nada. A única coisa que sei é que ele depois que foi morar com aquela bela
chinesa, às vezes se encontrava com algumas pessoas para discutirem diversos assuntos filosóficos e
de ciências ocultas.
Miguel levou-me algumas vezes a uma velha paróquia abandonada onde residia seu amigo
Leon e sua companheira Isadora, pois estávamos estudando juntos o Antroposofismo de Rodolf
Steiner, foi assim que conheci este casal simpático”, disse o rapaz com voz melancólica e
demonstrando angustia no semblante.
“Poderia me levar até esta paróquia para falar com o casal?”, perguntou Perséfone.
“Sim, porém antes devo passar na casa de Heloísa, minha amiga; é a psicanalista com quem
me trato, pois acho que possuo um certo grau de esquizofrenia, mas nada tão grave já estou quase
curado”, disse Pedro dando um leve sorriso.
“Também já estive sobre um divam de uma psicanalista, sei muito bem como é isso”, disse
Perséfone rindo.
“Claro, a senhorita também tem visões, ouve vozes e tem pesadelos com demônios querendo
de pegar?”, disse o rapaz surpreso.
“Oh! Não, sou louca, mas minha loucura é sublimada na arte”, respondeu rindo Perséfone.
“Por que deseja ver Leon e Isadora?”.
“Tenho um recado de Miguel para o casal”.
“Então aquele malandro está bem. E onde ele se encontra?”, disse Pedro dando um leve
sorriso.
“Parece que sim, mas ele se encontra muito longo daqui, em um templo no Tibet”.
“Nossa! Ele então foi para o Tibet, tornou-se budista, de fato é um louco como eu, queria está
lá com ele, estou cansado deste mundo corrompido e hipócrita, mas infelizmente sou uma águia de
asas cortadas senhorita”.
“Ele perdeu a esposa que tanto amava, isso lhe deixou muito abatido, então foi buscar
respostas dentro de si mesmo, por isso se retirou para um mosteiro tibetano”.
“O quê! Ela partiu deste mundo, nossa! Ele deve está sofrendo muito, pois ele gostava muito
desta mulher. Estive com ela muitas vezes, ela me ensinava Kung Fú. Meu deus que destino fatal, ela
era uma mulher muito generosa, pagou minha faculdade inteira, pois estava sendo expulso do curso
de Filosofia por estar devendo; mas, ela faleceu do quê?”.
“De parto”.
“Que tragédia?!”.
“Vomos sair daqui, pois o ambiente aqui é muito denso para uma senhorita de beleza nobre
como a sua”, disse o rapaz com ar galanteador e já demonstrando um certo entusiasmo no semblante,
Perséfone abaixou a cabeça demonstrando timidez.
“Mas, para onde vamos?”, perguntou Perséfone.
“Siga-me e eu de mostrarei um mundo que talvez você não conheça”, disse Pedro pegando o
chapéu e o casaco, à medida que saia pela porta junto com Perséfone, esta ficou receosa, pois não
sabia para onde ele a levaria, mas confiou nele, já que era amigo de Miguel.
Os moradores do cortiço olhavam com curiosidade Pedro saindo acompanhado daquela
mulher delicada e de ar nobre. Os dois andaram por algum tempo, então Pedro entrou num bar exótico
onde havia música ao vivo de bandas que tocavam rock rool e outros estilos de músicas.
“Seja bem vinda à casa dos anarquistas, dos filósofos e dos artistas angustiados!”, exclamou
Pedro à Perséfone, esta ficou temerosa, pois nunca havia estado antes em local como este onde se
reuniam rebeldes do mundo intelectual e artístico.
De fato aquele mundo era oposto ao mundo onde Perséfone foi educada. Pois ela recebera a
melhor educação em colégios católicos e havia mestrado em História da Arte pela Pontífice
Universidade Católica de Madri; era uma erudita de elevada cultura; seu mundo era diferente, sempre
teve tudo que desejou, boas roubas, viagens para diversos países; não conhecia aquele mundo onde
estava penetrando, o mundo que era a negação de seu mundo. Perséfone apesar de humilde,
pertencia a uma família muito rica da classe burguesa, era o extremo oposto de Pedro. Por fim, ambos
se sentaram numa pequena mesa nos fundos do bar, um local mais reservado onde poderiam
conversar com mais liberdade.
“O que vai tomar senhorita”, perguntou Pedro à Perséfone, “eu tomarei uma boa caneca de
cerveja”, disse Pedro.
“Um suco de laranja por gentileza”, respondeu Perséfone.
“Nunca tomou cerveja senhorita?”, questionou Pedro rindo do pedido da moça.
“Não bebo”, respondeu Perséfone mostrando certo espanto.
“Ah! Vamos lá! Uma caneca de cerveja não faz mal algum”, disse Pedro persuadindo a moça
delicada que se demonstrava acanhada diante do jovem fanfarrão.
Por fim, ela cedeu e tomou não só uma caneca, mas três. Pedro percebera que a moça estava
já um tanto alegre e pediu para ela parar, mas ela queria tomar outra, mas Pedro convenceu ela parar,
pois ele sabia que ela era novata na arte do levantamento de copo. Perséfone lembrou de um velho
ditado hassidico dito pelo seu avô: „Não importa onde esteja, mas o importante é não esquecer de si
aonde queira que esteja‟. Ela estava gostando da companhia de Pedro, e ambos dialogavam sobre
arte e música. Perséfone observou um belo quadro em uma das paredes do bar que trazia a imagem
de um anjo acorrentado numa máquina a vapor e com um abutre com aspecto diabólico devorando o
fígado do anjo, em volta um capitalista chauvinista com chifres e rabo de diabo contando notas de
dólares. Ficou impressionada com aquele quadro sul-realista e ficou por um certo tempo
contemplando, levantou e se dirigiu ao balcão e perguntou ao homem que se encontrava do outro
lado:
“Quem foi o gênio que pintou esta obra prima?”.
“O louco que está bebendo com você, ele não te contou, pois conta está história a todos que
vem aqui, é frustrado, um fracassado na vida? Estava me devendo muito, como não tinha dinheiro
para quitar sua divida, aceitei o quadro como pagamento”, disse o proprietário do bar.
Perséfone voltou para a mesa, Pedro achou estranha a atitude da moça que lhe fazia
companhia.
“Você é um excelente artista, por que não me disse que foi pintado por você”, perguntou
Perséfone.
“Você não perguntou”.
“É verdade”.
“Ele te disse sobre o quadro não é? Também disse que sou um louco?”.
“Sim. Louco somos todos, todos nós precisamos da terapia do Dr. Jung”, disse rindo e
demonstrando uma certa embriagues, Perséfone.
“Viva os loucos, porque seus espíritos são livres!”, exclamou Pedro levantando à caneca de
cerveja e rindo.
“Você é um grande artista, por que não divulga suas obras?”, perguntou Perséfone.
“Ninguém dá valor para um artista pobre como eu, eles dizem que minha arte é ousada e fere
a moral burguesa, a ultima vez que expus minha Arte fui preso e meus quadros confiscados. Vivemos
sobre uma ditadura fascista, ser livre pensador é crime aqui neste país”, disse Pedro angustiado.
“Também sou uma artista plástica e canto também, meu estilo é como o seu, sul-realista”,
disse Perséfone.
“Você é uma artista!”, exclamou entusiasmado o rapaz.
“Amo a Arte em todos seus aspectos”, disse Perséfone.
“Eu toco violão e também canto, mas nada profissional”, disse Pedro.
“Eu canto opera e toco violino e piano”, disse Perséfone.
“Violino? Adoro!”, exclamou Pedro.
“Comecei cedo, está é a vantagem de ser burguesa”, disse rindo Perséfone.
“Vamos cantar uma melodia juntos? Ramires tem um ótimo violão, eu toco e você canta?”,
perguntou Pedro alegre de cerveja.
“Não sei, nunca cantei em um lugar assim, me sentiria desconcertada”, disse Perséfone.
“Que nada, aqui é comum às pessoas cantarem e tocarem seus instrumentos, o bar já é
próprio pra isso, vamos lá mostre seu talento!”, exclamou Pedro entusiasmando a moça acanhada.
“Tudo bem, vamos lá, vamos fazer uma versão nova do „Fantasma da Opera‟, gosto muito
desta, consegue levar está?”, perguntou Perséfone sem graça.
“Claro, vamos lá, mas pra esta vou de saxofone, tem algum problema para você”, perguntou o
rapaz alegre.
“Não, só é insólito para mim, mas seguirei o ritmo”, respondeu Perséfone.
Pedro sobrava o saxofone tenor, produzindo uma melodia melancólica fascinante, enquanto
Perséfone esperava o momento certo para entrar com sua deliciosa voz melodiosa. Quando sua voz
ecoou pelo recinto, houve um silêncio total. As pessoas estavam como hipnotizadas pelo som
maravilhoso daquela música wagneriana adapta à canção popular. Um sentimento paradoxal invadiu
a alma daquelas pessoas que ali se encontravam, pois nunca tinham ouvido algo assim. Todos
pediram freneticamente para ela cantar mais, porém rejeitou o pedido.
Logo em seguida Pedro e Perséfone se retiram e saíram do bar, na saída Ramires disse:
“A senhorita canta muito bem, poderia retornar mais vezes”.
“Não, estou só de passagem este não é o meu mundo, obrigada pela proposta”, disse
Perséfone educadamente; Ramirez chamou Pedro em um canto e disse:
“Onde conheceu esta mulher extraordinária meu amigo? Vê se trás ela novamente, posso lhe
pagar uma ótima gorjeta”.
“A Arte não é prostituta meu amigo, até mais”, respondeu secamente Pedro, à medida que
pegava no braço de Perséfone dirigindo-a para fora do bar. Perséfone ficou admirada com a resposta
de Pedro.
Ambos passeavam pelas ruas de Leon dialogando sobre o ocorrido. Pareciam que já se
conheciam há muito tempo.
“Você toca saxofone muito bem, parece que houve uma boa simetria entre nós, vamos montar
uma banda e ir para a Inglaterra fazer sucesso”, disse dando risada Perséfone.
“É uma ótima idéia”, disse rindo Pedro.
Já era tarde da noite e Pedro levou Perséfone para casa.
“Eu moro aqui”, disse Perséfone parando diante de um edifício de seis andares localizado
próximo a catedral, um local bem valorizado e onde morava muitos intelectuais e artistas da região.
“Bom local para uma artista morar”, disse Pedro.
“Moro no apartamento que foi de meu avô, ele deixou para mim como herança. Meus pais
moram em Madri, resido aqui sozinha”, disse Perséfone.
“Não vai me convidar para subir, pois estou curioso em conhecer seus quadros?”, perguntou
Pedro com um certo interesse de amor aventureiro.
“Não, estamos embriagados, e nunca se sabe o que duas pessoas embriagadas podem fazer
dentro de um apartamento, não é?”, negou o pedido de Pedro questionado-o.
“É verdade”, respondeu.
Pedro prometeu levar Perséfone até a psicanalista Isadora, depois seguiu seu destino e
Perséfone subiu para seu apartamento. Nunca havia passado por tais experiências em sua vida,
estava conhecendo um mundo que para ela era estranho. Ela sentiu prazer em estar com Pedro e
pelas experiências que acabara de passar juntamente com ele. E por um instante havia tirado De Le
Puy de sua cabeça; comparou Pedro com De Le Puy, e percebeu que Pedro era como um dragão
ainda no ovo e De Le Puy um velho dragão de sabedoria. Pedro era um jovem de espírito livre e
revolucionário sem qualquer preconceito, e sem responsabilidade, era um boêmio, um louco que com
certeza queria fazer amor com ela sem ao menos conhecê-la, era um típico dionisíaco nietzscheano,
faltava-lhe o espírito apolíneo, apesar de exercer muito bem a arte plástica. Perséfone rolava de um
lado para outra da cama, não conseguia pegar no sono, aquele jovem louco não saia de sua cabeça;
levantou e andava de um lado para o outro mordendo os lábios e demonstrando um semblante
característico de quem esta pensando numa travessura, depois pegou no sono. No dia seguinte
Perséfone acordara com dor de cabeça causada pela cerveja. Tomou banho e vestiu-se com roupas
leves e seguiu para a casa de sua Mestra Miao Sham. Relatou à Mestra suas experiências da noite
passada, a Mestra manteve silêncio e não lhe reprovou em nada.
“Conhecer o bem é necessário, o mal também é necessário, uni-los em uma síntese é o TAO;
o que é o mal, o que é o bem quando se está no TAO? O sol também mata e a lua também gera a
vida”, disse a sábia Mestra à fiel discípula.
Perséfone com as palavras da Mestra intuiu uma imagem e anotara em seu diário. Depois
seguiu ao encontro com Pedro e juntos foram visitar Isadora. Perséfone relatou a proposta de Miguel à
Isadora, esta marcara um dia para que todos se encontrassem para estudarem a proposta, Perséfone
marcou um encontro em seu apartamento no final de semana para discutirem sobre o assunto. Isadora
lhe disse que eles receberam uma carta de Miguel falando-lhes da proposta de formarem uma
comunidade em um castelo em Languidoc.

Perséfone depois do encontro com Isadora, despediu-se de Pedro prometendo sair com ele
novamente para irem ao centro cultural de Leon para assistirem a uma palestra sobre as obras de
William Blake,145 depois retornou á casa de Miao Sham.
“Mestra desde que conheci aquele rapaz forças estranhas estão se manifestando em minha
alma”, disse Perséfone á Miao Sham.
“Que tipo de forças Orquídea Negra”, perguntou a Mestra.

145
Poeta, escritor, pintor inglês do século XVIII.
“Um desejo ardente está despertando em minha alma, algo que nunca senti antes; é como se
houvesse uma segunda natureza dentro de mim”, disse Perséfone.
“Mas, quando exatamente isso teve inicio?”, perguntou Maio Sham.
“Quando estive com Pedro na noite passada, pois ele me mostrou um mundo que eu não
conhecia, confesso que este mundo me fascinou; sinto uma ânsia muito grande em penetrar neste
mundo e conhecer sua essência”.
“Você despertou seu demônio interior quando penetrou em seu reino, deve tomar muito
cuidado, porque este demônio vai querer assumir o controle de seu corpo, mantendo-o aprisionado
nas ilusões de seu reino através de suas percepções sensoriais. De agora em diante duas mulheres
antagônicas entrarão em luta em seu interior, O demônio colocará em seu caminho deliciosos
prazeres ilusórios para fascinar sua consciência e adormecê-la. Se for sábia conhecerá o mal que
reside em ti através deste demônio, porém se for tola este demônio te arrastará para o abismo”, disse
Maio Sham muito séria.
“Este demônio é Lilith?”, perguntou Perséfone.
“Sim, é ela. Sua missão é trazer o rapaz para a luz, mas primeiro deve vencer Lilith, pois esta
em ti possui uma paixão devastadora pelo rapaz”, disse Miao Sham.
“Nossa! De fato um fogo estranho manifestou em minha alma; um fogo diferente daquele que
sinto arder diante de De Le Puy, pois diante deste sinto arder fogo no coração, mas com Pedro o fogo
arde em meu sexo! Estou temerosa Mestra, ajuda-me a vencer a Mulher Escarlate?”, disse Perséfone.
“Deve sublimar este fogo, levá-lo ao coração, compreende? Esta é a única forma pela qual
pode vencer Lilith em ti!”, exclamou a sábia Mestra, depois se manteve silenciosa e foi meditar.
Perséfone acompanhou Jade até o colégio, depois retornou para seu apartamento par pintar um
quadro que imaginava.

Dois dias depois Perséfone foi ao centro cultural para se encontrar com Pedro para juntos
assistirem a palestra sobre William Blake, porém Pedro não apareceu. Perséfone ficou desconsolada.
Mas, uma força magnética poderosa a atraia para ele, então não resistiu o impulso e foi a até o bar
onde esteve anteriormente com ele, antes de penetrar no bar ela avistou Pedro sentado à mesa com
outro rapaz e mais duas moças, uma delas mantinha o braço sobre o ombro do rapaz, pareciam estar
discutindo algo muito sério, pois não havia cerveja sobre a mesa, mas a fumaça dos cigarros era
abundante. Perséfone retornou para seu apartamento triste, pois a presença de Pedro a agrava muito,
e ela desejava estar com ele novamente para uma nova aventura louca, queria conhecer mais o
mundo de Pedro. Por fim, resolveu não mais procurar o rapaz, pois ele despertava nela emoções
estranhas.
“Não se pode confiar em um artista errante, pois pertence ao mundo, a dama da noite é a
musa de suas inspirações. Como Miguel estava errado em relação a este boêmio louco sem
responsabilidade e que não honra seus compromissos; este não serve para a iniciação, é escravo do
demônio do Umbral”, pensava Perséfone com certa fúria.

No sábado á noite Perséfone foi surpreendida com a inesperada visita de Pedro, este se
encontrava na companhia das mesmas pessoas que ela vira no bar. Pedro e os amigos foram buscar
Perséfone para ir juntamente com eles a um baile. Ela negou o convite, mas logo aceitou quando ficou
sabendo que a moça de cabelos curtos que se encontrava com ele no bar era sua amiga e não sua
namorada. Pediu aos amigos que esperassem por um instante até que ela se arrumasse. Enquanto
isso os boêmios filhos da noite aguardavam-na na mística sala enfeitada com belos quadros pintados
por ela mesma.
“Parece que a amiga de Pedro é uma bruxa, veja que quadros insólitos”, disse a moça loura
de cabelos longos para a moça morena cochichando, enquanto que Pedro e o outro rapaz de nome
Antonio contemplavam os quadros á parede.
“Não, parece ser uma cabalista, apesar do nome Perséfone estar associado com magia, pois
na mitologia grega Perséfone era a rainha do inferno”, disse a moça morena.
“Será que ela joga tarô? Vamos perguntar?”, indagou a moça loura, cujo nome era Helena.
“Boa idéia”, disse a moça morena que se chamava Heloísa, a que se encontrava com os
braços sobre os ombros de Pedro no bar.
Perséfone estava linda e sensual, parecia Diana-Lucifer, a deusa vermelha do amor portando
seu archote146. Os boêmios saíram para se encontrarem com a dama da noite para usufruírem as
delicias que ela oferece aos amantes.
O baile estava animado, a nova onda, o rock roll de Elvis Prasley estava animando os
rebeldes sem causa e com causa. Perséfone que jamais havia estado em um baile de jovens da
classe proletáriada, permanecia tímida sentada junto com Heloísa, que também era recatada, porém
os outros caíram na farra. Pedro tentou arrastar Perséfone pelo braço para dançar, porém esta
rejeitou, pois não sabia dançar aquele ritmo louco que era a „febre‟ do momento cultural da época.
Então, tirou Heloísa, que deixando seu recatamento de lado, foi para a pista de dança com grande
entusiasmo. Pedro era um bom bailarino, o tipo espanhol ardente na dança. Perséfone ficou fascinada
com os dois dançarinos que pararam o baile; Heloísa dançava muito bem. Perséfone ficou com ciúme
em ver aquela mulher boêmia sendo conduzida maravilhosamente por aquele jovem rebelde que
dançava com a alma e que a fazia arder de desejo, ela queria estar ali no lugar de Heloísa, mas a
timidez não deixava, então começou a beber cerveja para criar coragem. Perséfone já se encontrando
com a consciência alterada pelo álcool levantou e tomou Pedro das mãos de Heloísa que o entregou
sem resistência, começou a dançar um bom blues; no principio era um pouco desajeitada, mas Pedro
a conduziu com muita maestria. Seus movimentos tornaram-se sensuais e provocantes. A união de
Pedro e Perséfone despertava uma força fascinante, força que fazia com que todos ali se
encantassem com o casal, de fato a união de ambos produzia uma terrível força magnética. Perséfone
despertou nos homens que se encontravam ali, paixão; e nas mulheres ódio e inveja. Já Pedro não
despertava nada nas mulheres, pois era uma pessoa destituída de beleza e inteligente de mais para
ser suportado pelas filhas de Pandora. Muitos não compreendiam o porquê daquela mulher nobre e
bela estar interessada naquela insignificante homem, que era um anarquista frustrado e amante da
filosofia de Nietzsche e Schoppenhauer, e que tinha a pretensão de fazer revolução através de uma
arte ousada que se opunha à falsa moral burguesa e denunciava a decadência humana que o Capital
produzia.
Perséfone observava atentamente a Lilith que se manifestava de suas profundezas
psicológicas, queria conhecê-la e ver até que ponto esta anima negra poderia chegar. Uma coisa era
certa, ela produzia devastação, o baile terminou em briga, e a causa desta foi exatamente à
manifestação desta força psíquica carregada de erotismo; Perséfone estava conhecendo sua Lilith
ariana que produzia guerra e disputa entre os homens. Mas, o que mais deixou Perséfone admirada
foi o fato desta força não influenciar Pedro. O que Pedro admirava em Perséfone era a inteligência e o
talento artístico. Helena demonstrava inveja e ódio contra Perséfone e a tratou mal, dizendo que o
baile terminou por culpa dela, porém Heloísa teve opinião oposta da amiga e teve afinidades com
Perséfone; Heloísa defendeu Perséfone dizendo que a culpa não foi dela, mas sim da luxuria dos
homens e da inveja das mulheres, Perséfone admirou a sabedoria daquela mulher que se mantinha

146
O Archote de Diana-Lucifer, representa o fogo sexual feminino, fogo que inspira poetas, artistas e
filosofos, e enlouquece os tolos.
em silêncio por quase todo o tempo, Perséfone percebera que Heloísa trazia, assim como Pedro, uma
angustia na alma.
“Ta vendo, não te disse que ela era uma bruxa”, disse Helena cheia de rancor na alma.
“Deixa de besteira mulher...”, disse Heloísa repreendendo-a.
“Vamos para minha casa, lá tenho um bom vinho e podemos passar à noite bebendo e
filosofando, que tal?”, perguntou Heloísa muito animada.
“Boa idéia, você quer ir Perséfone? Ou deseja que te leve para casa?”, perguntou Pedro.
“Parece uma boa idéia, tomar vinho e filosofar é bom, vamos lá então”, respondeu Perséfone
entusiasmada pelo convite. Todos entraram no carro de Antonio e partiram.
Heloísa pegou duas garrafas de vinho do porto e alguns copos e os colocou sobre a mesa de
centro da sala, os boêmios anarquistas se serviram e degustaram deliciosamente do delicioso vinho
do Porto. Riam o tempo todo, contando velhos casos de suas aventuras políticas quando todos foram
presos momento que faziam passeatas contra o governo de Franco. Quase todos ali eram
anarquistas, exceto Perséfone. Perséfone percebia que Heloísa e Pedro eram como dois irmãos que
riam e brincavam o tempo todo, o efeito do vinho parece que os deixou livres, mas ninguém ali estava
bêbado, mas apenas alegre.
Helena era uma moça fútil e vulgar que apesar de andar com pessoas politizadas e cultas,
ainda continuava idiota e estúpida. Enquanto todos ali falavam de assuntos bem interessantes, ela
estava preocupada com sua aparência e as conveniências impostas pela sociedade de consumo, de
fato era uma massa libidinosa com a única finalidade de reproduzir a espécie e servi o corpo para os
machos saciarem seus instintos eróticos, era uma mulher bela de corpo e rosto, porém só era
suportada ali devido o motivo dela ser amante de Antonio, um professor de história amigo de Heloísa e
Pedro. Era uma pequena burguesa de família falida, e cheia de complexos e que só se juntou aos
anarquistas para provocar os pais, nada sabia de política nem ao menos sabia conceituar o
pensamento de Proudhon; o anarquismo foi à forma que ela encontrou para expressar a revolta que
tinha pelos pais.
Perséfone teve curiosidade de saber mais sobre Heloísa, pois teve uma boa simpatia por esta
e também queria saber como ela e Pedro se conheceram, pois ambos demonstravam uma grande
amizade um pelo outro, era uma amizade bonita. E resolveu especular um pouco com intuito de saber
mais sobre Pedro.
Heloísa por um instante se afastou do grupo e se dirigiu à varanda onde parou e passou a
contemplar o céu estrelado, a lua estava cheia e se encontrava no meio do céu na brilhante
constelação de Aquário. Perséfone aproveitou a oportunidade para se aproximar da mulher que trazia
na alma uma certa tristeza.
“Como conheceu Pedro, Heloísa?”, perguntou Perséfone inesperadamente.
“É uma história longa, mas farei um resumo para você. Conheci Pedro quando este fazia uma
exposição pública de seus quadros na praça central de Leon, achei este ato bem ousado e até
perigoso, já que suas obras são verdadeiras criticas ao capitalismo e a moral burguesa. Apesar de ser
um anarquista e de tratar de política em suas obras, percebe-se que seu estilo surrealista possui uma
forte influência do filosofo Schoppenhauer, onde se percebe o desespero e a angustia de sua alma
através das exóticas e paradoxais imagens pintadas. Quando apreciei suas obras, percebi de imediato
que se tratava de um gênio da arte possuidor de um humanismo extraordinário; sua arte é profunda de
mais para ser compreendida e apreciada por esta sociedade medíocre e hipócrita de moral ressentida.
Eu mesma já posei nua para ele, pois também sou ousada e gosto de confrontar sarcasticamente a
moral burguesa”, relatava Heloísa, à medida que mantinha os olhos fixos à lua cheia.
“Nossa! Você posou nua! Que ousadia, você não se sentiu envergonhada diante dele?”,
perguntou espantada Perséfone.
“Não, ele tem o espírito livre de preconceitos e venera muito o nu artístico, pinta com muita
naturalidade, pois é um artista pobre e não tem recursos para pagar uma modelo profissional, então eu
mesma me ofereci a ele como modelo; posei para ele muitas vezes, na maioria de seus quadros onde
o nu feminino aparece, você observará, se tiver oportunidade, que é a minha imagem que aparece nua
em seus quadros, eu possuo um destes quadros em meu quarto”, disse Heloísa.
“Gostaria de ver o tal quadro, poderia me mostrar?”, perguntou Perséfone curiosa.
“Claro, venha”, disse Heloísa segurando a mão da amiga e se dirigindo para a escada que
dava acesso ao andar superior de sua casa. Ambas entraram no quarto.
“Veja”, apontou Heloísa para o quadro que se encontrava na parede do sul.
“Que belo!”, exclamou Perséfone fixando os olhos esmeraldinos no quadro, permanecendo por
um instante em estado de contemplação.
O quadro realmente era belo e trazia a imagem de Heloísa completamente nua com todos os
detalhes do corpo perfeitamente traçado com suavidade e leveza. O contexto do quadro era o inferno;
Heloísa segurava uma adaga na mão direita pingando sangue, e tinha características diabólicas,
próximo dela havia outra Heloísa com asas de anjo e com semblante de pureza, esta estava feriada no
coração de onde escorria sangue, este atingia o solo, e deste se elevava uma bela rosa rubra. O que
chamou muita atenção de Perséfone foi à capacidade do artista em dar à imagem com adaga uma
sagrada nudez fatal e para a outra imagem uma casta nudez com certo magnetismo bipolarizado.
.
“E o mais misterioso neste genial artista é que ele retratou um mistério que trago na alma sem
ao menos saber sobre este meu segredo, apenas posei nua e pedi para ele pintar o que sentia em seu
espírito. Seu poder intuitivo em captar a essência do objeto de sua arte é extraordinário”, disse
Heloísa.
“Nossa estou impressionada!”, exclamou Perséfone.
“Ele batizou o quadro com o nome: „O Anjo e o Demônio‟, percebe o poder que este simples e
humilde artista possui?”, indagou Heloísa.
“Também sou artista plástica, e confesso que morro de vontade de ser pintada nua, mas sou
tímida de mais para realizar esta façanha”, disse Perséfone, á medida que saiam do quarto e
retornavam para junto dos amigos.
Ao chegarem à sala, Perséfone percebeu a ausência de Pedro, então ela perguntou para
Antonio sobre ele, este respondeu que o amigo havia saído para tomar um ar no quintal. O quintal da
casa de Heloísa era grande e possuia, além de um jardim, um carvalho, uma oliveira e uma macieira,
era um local muito gostoso e agradável. Heloísa deixou Antonio e Helena na sala e se retirou para a
varanda, sentou-se nos degraus e passou novamente a contempla o céu estrelado, ela adora fazer
isso, pois isso lhe trazia paz de espírito e lhe aquietava a mente. Perséfone avistou Pedro encostado
na macieira e também olhando para o céu estrelado. Perséfone se aproximou com passos lentos,
quando se aproximou de Pedro, este indagou.
“Que homem é o homem que não pode mudar a si mesmo e com isso o mundo em que vive?
Perguntou para mim certa vez um sábio mendigo que conheci; estas palavras me atormentam até
hoje, e balaram profundamente minhas concepções políticas e minha visão de mundo”, disse isso se
referindo a Miguel.
“De fato, a política dialética é um golpe de um Estado contra outro Estado, capitalistas e
socialistas, o vencedor sempre instalará seus dogmas ideológicos para modelar o ethos da sociedade
que dominam e, assim, pretendem se perpetuar no poder; mas nenhum sistema preocupou-se até
hoje em construir uma cultura revolucionária capaz de emancipar o homem de seus falsos valores.
Eles não compreendem que o mundo real só pode ser edificado pelos homens de consciências
emancipadas, só assim o novo reino da ordem, da justiça e da verdade pode se manifestar”, disse
Perséfone.
“Posso te contar algo?”, perguntou Pedro.
“Claro que sim”, respondeu Perséfone.
“Não acredito mais nas propostas anarquistas, acho que se nós chegarmos ao poder, também
seremos opressores como os capitalistas e os socialistas, veja o que Stalin vem fazendo com povo
que fez a revolução na Rússia? Que sentido tem a vida se o espírito do homem não é livre para forjar
sua própria história e sua própria cultura e, assim, se elevar como águia e tomar o céu de assalto?
Ainda por estes dias dialogava com Heloísa sobre estes assuntos e ela concordou comigo, também
não acredita mais na política dita revolucionária; somos marionetes nas mãos de velhacos
intelectuais”, dizia melancolicamente Pedro.
“Só o amor é libertador”, disse isso olhando profundamente para Pedro, à medida que fixava
os olhos nos olhos dele; aproximando-se lentamente o abraçou suavemente; permaneceram por
algum tempo em silêncio com os rostos bem próximos, suas respirações, tornaram-se aceleradas. Os
lábios doces e úmidos de Perséfone tocaram os lábios de Pedro e o beijo ardente e demorado
aconteceu. Perséfone sentia a chama do desejo arde em seu sangue, beijavam-se com sofreguidão
voluptuosa. Pedro percebeu que Perséfone estava indo longe demais, e obstruiu o poderoso instinto
erótico daquela fêmea ávida de amor. Ela retomou a consciência e percebeu que te fato havia ido
longe demais, mas ficou muito admirada com a vontade de Pedro que mantinha o total controle
daquela situação que a deixou desconcertada e tímida.
Depois o casal seguiu novamente para o interior da casa, porém Perséfone sentou-se ao lado
de Heloísa para conversar e se aconselhar com ela sobre o que acabara de fazer.
“Você e Pedro me fizeram lembrar os momentos deliciosos que tive com meu passado amor
ali mesmo debaixo daquela macieira, amor que traí e que nunca mais retornará para mim, pois não
sou digna dele”, disse tristemente Heloísa.
“Tenho medo deste fogo, percebi que ele faz com que eu perca a razão, não sabia que o
poder desse fogo que ardeu em minha alma e por alguns instantes me enlouqueceu, é de difícil
domínio, estou assustada com esta força despertada em mim, agora estou compreendendo o porquê
de Eros ser temido até pelos deuses, que fogo delicioso e maravilhoso, porém tão perigoso!”,
exclamou Perséfone demonstrando certo temor no semblante.
“Sim, amiga deve tomar cuidado para não queimar sua alma com este fogo impetuoso e astuto
em seus desígnios, pois conheço bem este fogo ele já me levou ao abismo uma vez”, disse Heloísa.
“Por que Pedro teve controle sobre este fogo, pois não são os homens que são mais
escravizados por ele?”, buscou resposta Perséfone em Heloísa.
“Ele sublima a chama ardente de sua paixão na arte e possui uma poderosa vontade de
potência na alma, isso faz com que não esteja sobre o jugo das mulheres. Eu mesma já o seduzi
várias vezes, pois quando o conheci o desejei como homem, porém ele sempre se esquivou, assim,
consegui sublimar o Eros nesta amizade que temos, hoje somos como irmãos. Estava muito carente
na época, ele me ouvia, era carinhoso, cavalheiro, poeta, porém é um boêmio, sem responsabilidades
nos relacionamentos, é livre no amor e nunca o vi preso a nenhuma mulher”, disse Heloísa.
Antonio, Pedro e Helena convidaram Heloísa e Perséfone para irem ao Bar de Ramires, mas
ambas rejeitaram o convite e preferiram ficar ali dialogando. Pedro manteve a indiferença diante da
recusa de Perséfone e seguiu com os amigos rumo ao templo da boemia.
Perséfone sentiu uma emoção estranha queimando em seu plexo solar, pois sentiu medo
devido o motivo de pensar que Pedro poderia se interessar por alguma jovem intelectual freqüentadora
do bar e perguntou à Heloísa: “Será que ele tem alguém por lá a sua espera?”.
“Não, ele parece estar interessado em você, pois ele te beijou ardentemente, isso é um sinal
que ele está apaixonado por você”, respondeu Heloísa.
“Mas, senti que ele tem medo de se envolver afetivamente, parece que traz algum trauma”,
disse Perséfone.
“Ele tem medo de perder a liberdade, pois ele se envolveu com uma militante anarquista
francesa há certo tempo atrás, e esta tinha por ele uma doentia paixão que o sufocava muito, quando
ele rompeu com ela, esta se suicidou. Ele se sente culpado pela morte da jovem. A jovem era uma
dependente emocional, era uma espécie de vampira que se alimentava da abundante emoção de
Pedro, quando não teve mais o alimento vital para sua alma decadente, não suportou a perda e tirou a
própria vida. Além disso, é traumatizado pelo fato de ter sido criado num reformatório. Era filho de mãe
solteira, esta o abandonou nas mãos de uma tia neurótica que o espancava constantemente, e foi para
a América; quando tinha oito anos fugiu de casa e passou a morar na rua, tornando-se um
delinqüente, aos dez anos foi levado para o reformatório onde sofreu várias agressões morais e
físicas”, disse Heloísa.
“Meu deus! Que sofrimento passou este homem!”, exclamou chocada pelo que ouvia
Perséfone.
Heloísa convidou Perséfone para passar à noite ali com ela, pois já era madrugada. Entre as
duas nasceu uma amizade à primeira vista. Na casa de Heloísa havia dois quartos, porém um dos
quartos estava vazio sem móveis e cama, então ela ofereceu seu leito à Perséfone e dormiria no chão,
porém Perséfone disse para ela que não se incomodava em dormir na mesma cama já que a cama
era de casal, então as duas deitaram no mesmo leito e passaram várias horas conversando.
“Heloísa você já teve muitas experiências sexuais?”, Perguntou Perséfone especulativamente.
“Algumas, por que a pergunta?”, questionou Heloísa rindo levemente.
“É porque eu nunca tive, e gostaria de saber se este fogo que senti quando estava beijando
Pedro é intensificado na união dos órgãos sexuais”.
“Já experimentei os dois lados do sexo o devastador e o romântico, então acho que posso te
dizer algo de minhas experiências, mas é somente na prática é que de fato podemos sentir o poder do
sexo em ação. Tive minha primeira experiência sexual com um jovem revolucionário que conheci no
México. Nesta época eu tinha dezoito anos e tinha acabado de sair do convento das freiras
franciscanas, confesso que nunca tive vocação para freira, porém como era uma menina pobre e não
tinha como bancar meus estudos, então ingressei na Ordem franciscana para estudar, este foi meu
objetivo, e também pelo fato dos trabalhos sociais e humanitários que estas monjas realizam nos
vilarejos pobres me agradarem muito, pois tenho vocação para estes tipos de trabalhos. Trabalhava
alfabetizando os pobres dos vilarejos. Certa vez fui convidada por um frei franciscano com tendências
rebeldes a ir ver os trabalhos artísticos de Diego Ravera pintados em murais na cidade do Novo
México; nesta época muitos comunistas perseguidos por Stalin e que apoiavam Trotski, juntamente
com este vieram se refugiar no México, inclusive Trotski e a esposa se hospedaram por um tempo na
casa de Diego Ravera. Na exposição do mural pintado por Ravera, conheci um comunista russo que
veio fugido da Rússia e que apoiava Trotski em sua teoria da revolução permanente. Travei amizade
com este comunista que era vinte anos mais velho que eu, e acabei ajudando ele a refugiar-se no
vilarejo onde eu morava juntamente com outras monjas franciscanas, pois nesta época os agentes da
KGB estavam eliminando os trotskistas por toda parte e tinham acabado de assassinar Trotski. Ele
falava inglês, isso possibilitou em muito nossa comunicação. Aprendi muito sobre política com ele e
me tornei uma franciscana comunista da corrente trotskista, algo paradoxal, pois logo abandonei esta
corrente política e me tornei anarquista. Ele foi me seduzindo aos poucos, e eu me deixei levar e,
como a água que vai aos poucos fervendo, o fogo da paixão foi fervendo aos poucos em meu sangue
e minha alma foi se apaixonado loucamente por este ilustre comunista. Um fogo análogo a este que
está despertando em seu interior. Um dia cai na tentação e convidei-o para irmos a uma linda
cachoeira. Ele tirou as roupas e ficou totalmente nu diante de mim, eu fiquei sem graça, então ele me
persuadiu que fizesse o mesmo, depois de muita insistência cedi, mas que ele virasse as costas para
mim e esperasse eu entrar na água, ele fez o que pedi. Mas, quando estávamos banhando ele
encostou seu corpo militar ao meu, o contato dos corpos fez manifestar em nós um fogo impetuoso,
então nos beijamos ardentemente. Senti seu membro rígido como o aço tocar a minha vulva inocente,
porém ávida em ser perfurada pela aquela potente lança de Marte. Ficamos por muito tempo na água,
mas não fizemos amor, ele queria, mas eu queria que fosse algo especial já que era minha primeira
vez, ele respeitou meu desejo e marquei com ele de ir a sua casa. Quando as monjas que moravam
comigo dormiram, eu me levantei e segui secretamente para casa dele, ele me inicio no sexo, nos
amamos ardentemente por quase toda à noite, ele era como um leão saciando a fome vorazmente, eu
como uma ovelha sendo devorada pelo leão faminto. O visitei por muitas noites seguidas, mas com o
tempo me senti usada e aquele fogo foi se extinguindo aos poucos. Não havia romantismo, somente
atividade sexual, então percebi que isso era uma ilusão. Mas, não me arrependo, porque aprendi
muito com isso, pois temos que ter consciência dos fenômenos e isso só é possível com a prática.
Depois conheci um monge franciscano rebelde que era contra o celibato e também aos
próprios dogmas da Igreja. Fascinei-me por este monge e com ele aprendi o outro lado do sexo que
não conhecia. Este monge despertou com muito mais intensidade o fogo em minha alma. Fazíamos
amor mais sem fazer entende?”.
Perséfone curiosa perguntou: “Como assim, não compreendo, explica-me”.
“Ficávamos nus e nos acariciando um ao outro por longo tempo e com beijos ardentes; eu
gostava, porque percebia que o fogo não se apagava e, assim, outorgava-me uma sensação de paz
interior e felicidade na alma. Percebi que aquela paixão sexual impulsiva que sentiu por ele ia se
transmutando em amor, ao invés de se sentir usada, insaciada, sentia-me cheia de vida e o fogo não
se extinguia como antes, queria estar com ele a todo tempo. Entende? O desejo não se acabava, era
continuo. Enfim, tornei-me sua prostituta sagrada e com ele vivi alguns anos até que cometi um erro
imperdoável. Agi como Psique, e Eros fugiu de mim”, dizia Heloísa com tristeza.
“Mais que método interessante de ser fazer sexo, como o monge aprendeu este método?”,
perguntou curiosa e mostrando-se excitada em obter informações sobre o assunto.
“Segundo ele, aprendeu em uma comunidade utópica nos EUA quando ali esteve em missão
franciscana; era um método muito popularizado na colônia Oneida, em 1866, cujo objetivo era o
controle obrigatório da natalidade. O nome deste método era Karezza, uma técnica de fazer amor
supostamente originária da Pérsia, para ele a castidade consistia exatamente nesta forma de se fazer
amor, porque desta forma a libido era polarizada e sublimada em oitavas superiores; ele afirmava em
sua critica contra o celibato que a abstinência sexual através da repressão do instinto erótico, produzia
o neurótico como já havia afirmado Freud em sua teses, para ele este não compreendeu a verdadeira
natureza da sublimação sexual e se tivesse compreendido teria produzido uma verdadeira revolução
sexual no mundo. Também criticava a teoria de Wilhelm Reich que atribuía a causa das neuroses a
fatores sociais de repressão sexual que criavam uma couraça na psique, a peste emocional; ele
afirmava que Reich se equivocou acreditando que se poderia chegar a cura da peste emocional
através da revolução sexual com base nas mudanças dos valores sociais, e que, assim, obteria-se a
potência orgástica, ou seja, com a eliminação dos preconceitos e repressões impostos pela sociedade,
obteria novamente a potência orgástica, e esta curaria as neuroses através de um orgasmo livre de
couraças. Ele afirmava que de fato Reich estava certo em afirmar que os fatores sociais e culturais
com seus preconceitos e repressões bloqueavam a energia do instinto sexual, porém o orgasmo livre
dos fatores repressivos impostos pela sociedade não levava a cura, mas a uma satisfação completa
do instinto erótico que fica saciado, porém o orgasmo priva o organismo da força vital e leva a um
desequilíbrio do sistema nervoso e, com esse, os distúrbios psíquicos.
A teoria psicanalítica de Reich foi importante, porque demonstrou que o fascismo político e a
peste emocional da qual padece as massas, são efeitos da repressão sexual; o problema é que Reich
deu muita ênfase em mostrar os aspectos destrutivos da repressão e ignorou as funções espirituais
transformadoras da energia sexual. Com Carl Jung ocorreu o oposto, ele enfatizou o aspecto
transcendental da energia psíquica em seus conceitos de inconsciente, animus, anima e self, mas
deixou de fora o papel principal do corpo físico neste desenvolvimento”, respondeu Heloísa.
“Imagino que este monge sofreu muito pela sua ousadia de expor tal método e ainda criticar a
ciência e os dogmas da Igreja, mas o que aconteceu com ele depois de defender tais métodos?”,
perguntou Perséfone.
“Ele foi excomungado e expulso da Ordem, eu já havia abandonado por livre vontade a
Ordem. Depois passamos a viver juntos. Só compreendi profundamente este método depois que o
traí, gostava desse tipo de sexo, porém não tinha a plena consciência de seu verdadeiro valor. Depois
que ele desapareceu, eu me aprofundei nas pesquisas cientificas sobre a sexualidade; unifiquei a
concepção psicanalítica de Reich e Jung ao método Karezza. Desde então realizo trabalhos sociais
onde aplico este método no controle da natalidade e na cura da patologia psíquica; oriento casais e
jovens nesta sexologia transcendental que tem como base o ato de magnetização sexual entre os
parceiros de sexos opostos. Alguns casais que chegaram até mim totalmente com a relação
desgastadas e conflituosa, encontraram novamente a vontade e alegria de viver, e suas uniões foram
salvas através da práxis deste método de revolução sexual. Venho recebendo muitas criticas e até
mesmo já fui chamada de corruptora de jovens, de depravada e imoral por ensinar Karezza como
método de cura em meu trabalho junto a sociedade. Tornei-me uma psicanalista das massas
oprimidas.
Meu primeiro caso resolvido foi o de Pedro; este jovem chegou até mim totalmente
desequilibrado sexualmente; seu frenesi sexual estava destruindo sua frágil identidade em formação
através de fantasias sexuais e de intensa atividade com parceiras diferentes, sua luxuria era muito
forte e de difícil controle. Via a mulher como uma prostituta, tinha ódio ao sexo oposto, por isso usava
as mulheres sexualmente para humilhá-las e fazê-las sentir prostitutas. Isso era demonstrado em
alguns quadros que pintava. Percebi quando contemplei sua exposição na praça quando o conheci;
porém havia outros arquétipos expostos em sua arte que demonstrava uma nobreza de espírito e um
pedido de socorro, foi então que eu resolvi ajudá-lo. Penetrei em sua vida de forma cautelosa e com
muita prudência, aos poucos fui conquistando sua confiança e então o convenci a realizar sessões de
terapias em minha própria casa. Então descobri que a causa de sua revolta contra o sexo oposto se
encontrava na figura da mãe que o abandonou. Ele culpava inconscientemente a mãe por todas as
desgraças que ele passou, isso criou em seu imaginário uma imagem negativa da mulher. Com o
tempo os arquétipos de seu inconsciente expressados em suas pinturas e desenhos, passaram ser
harmoniosos e cheios de vida, então compreendi que estava curado da peste emocional que o
atormentava e que o arrastava para o mais baixo nível de ser. Sua energia sexual estava livre das
couraças psicológicas e se sublimava num maravilhoso trabalho artístico. Quando posei nua para ele
de fato foi para ajudá-lo, porém neste ato estava provando se o trabalho que realizei foi de fato bem
sucedido, então percebi que o rapaz estava curado de seu ódio contra as mulheres”, explicou Heloísa.
“Nossa! Que trabalho genial que você realizou com este rapaz!”, exclamou Perséfone
admirada.
“Por fim, experimentei um fogo muito mais fatal do que aquele que senti pelo russo; vitima do
ciúme e da duvida, deixei-me levar pelas circunstâncias e me envolvi num caso de adultério. Percebi
que o desejo da traição e o sentimento em querer se vingar do parceiro por achar que ele estava me
traindo, intensificou poderosamente este fogo impetuoso. Mas, graças ao arrependimento não me
tornei escrava sexual de meu amante. Só fiz amor com ele uma única vez, mas esta única vez foi o
suficiente para destruir meu amor. Desde então não me envolvi com homem nenhum, desta forma
conheci o mal que este fogo nos causas quando não é controlado pela vontade e sublimado em
virtude”, disse Heloísa.
“Mas, você o sentiu de novo com Pedro, não é”, questionou curiosa Perséfone.
“Com Pedro foi diferente, apenas tentei projetar nele o amor que trago na alma, pois ele se
parece em alguns aspectos com o monge rebelde com o qual vivi, mas ainda bem que isso não
ocorreu, pois talvez se tivesse acontecido sexo entre nós, não haveria esta amizade bela entre nós.
Neste caso consegui sublimar, com a ajuda dele, é claro, o fogo em amizade sincera e verdadeira”,
respondeu Heloísa bocejando de sono.
Logo após este longo diálogo onde Heloísa expôs suas experiências sexuais, ambas caíram
num delicioso sono.

Heloísa e Perséfone se tornaram grandes amigas. Heloísa não sabia nada da vida de
Perséfone, apenas sabia que era uma burguesa simples, inteligente e humilde. Tinha curiosidade em
saber quem era esta mulher misteriosa que estava enamorada de Pedro. Certa noite foi visitá-la em
seu apartamento.
“Perséfone percebo que os arquétipos expressados em seus quadros estão associados ao
simbolismo da Cabala, por acaso você estuda esta ciência secreta dos judeus?”, perguntou Heloísa, à
medida que contemplava o quadro que Perséfone comentara anteriormente com De Le Puy.
“Sim, meu avô era um judeu cabalista e me iniciou no SOD desta ciência oculta dos meus
antepassados”.
“O que é SOD?”.
“O Segredo, o quarto nível do conhecimento cabalístico. O primeiro é o simples e o aparente;
o segundo é o conhecimento através dos mitos e lendas; o terceiro era a explicação do mito; o quarto
é o SOD que é o conhecimento esotérico da Cabala, limitado apenas há um número muito pequeno de
iniciados. Os outros níveis anteriores são exotéricos e pertence ao público não iniciado nos mistérios”,
respondeu Perséfone.
“Muito interessante, esta ordem é análoga à exposta por Platão em sua teoria do
conhecimento: Eikásía seria o simples e o aparente, o conhecimento das imagens das coisas do
mundo sensível; Pístis que a crença e opinião das coisas do mundo sensível, ou seja, o mito; Dianóia
que é conhecimento racional, seria a explicação do mito racionalmente livre das opiniões e crendices
supersticiosas; e por fim o Nous que é o nível da consciência que penetra a essência das coisas e
adquiri o verdadeiro conhecimento, o segredo”, disse Heloísa.
“Exatamente, e por que são análogas? Porque Platão foi iniciado no Egito, em Menfis, como
Moisés que possuía a ciência do Egito”, disse Perséfone.
“O frei franciscano com o qual vivi era um estudioso da ciência e filosofia oculta, ele tentou me
iniciar nestes estudos, mas na época não me interessava por estes assuntos, estava muito ligada a
política”.
“É, de fato há muitos padres e monges que estudam a Cabala secretamente, meu próprio avô
teve um discípulo renomado que havia sido um ex-frei franciscano”, disse Perséfone.
“Você pode me iniciar? Pois, o conhecimento desta simbologia pode me ajudar em muito na
compreensão dos arquétipos manifestados do inconsciente de meus pacientes!”.
“Claro que sim, tenho o grau de Mestra em Cabala, sou a terceira na linha do meu avô, ensino
a Cabala do Caminho Estreito, uma Cabala desenvolvida pelo meu avô o Mestre Scham Ben Tzade,
tenho autoridade para ensiná-la a você; iniciaremos pelo Nível Terceiro, a explicação do mito, pois seu
grau de consciência já é maduro para iniciar neste Nível, todavia o SOD dependerá de seu próprio
esforço, somente você pode penetrar e isso se dá com o despertar do Átomo Nous que se localiza em
estado potencial em seu coração, a sede de Ruach, o Espírito humano”.
“Fico muito grata em me aceitar como discípula, quando iniciaremos?”.
“Hoje mesmo, te explicarei o significado cabalístico de cada uma das vinte e duas letras. Cada
uma delas possui uma imagem que representa um dos vinte dois arquétipos pelos quais os Elohin‟s
criaram o universo e o homem, estes mistérios são ensinados no grande livro cabalístico o „Sefêr
Yetsirá‟, ou seja, o Livro da Criação”.
“Estas imagem seria o Tarô?”.
“Sim, o Tarô ou a Tora, a Lei do Universo”.
“Você usa o Tarô como oráculo cabalístico?”.
“Sim, às vezes eu consulto em questões delicadas”.
“Você poderia consultar o oráculo sobre algo que eu desejo saber?”.
“Sim, se for algo importante para você, posso consultar. Hoje iniciaremos a nossa primeira
aula de Cabala e amanhã consultaremos o oráculo, pois esta consulta exige uma preparação mística
antes”.
Perséfone permaneceu por quase toda à tarde explicando as vinte e duas letras da Cabala à
Heloísa que assimilava com certa facilidade. Esta era sua primeira discípula nunca havia ensinado
Cabala a ninguém, porque são os discípulos que buscam a Cabala por suas livres e espontânea
vontade. Perséfone estava feliz, porque havia muitos renomados mestres de Cabala em Leon, porém
esta grande mulher a escolheu para ser sua mestra.

À noite Pedro apareceu no apartamento de Perséfone. Esta ficou feliz em vê-lo, não o via a
mais de uma semana, a última vez que o vira foi quando estiveram na casa de Heloísa. Perséfone
imaginou que ele estava fugindo dela devido o beijo, mas agora estava feliz em vê-lo ali em sua casa
para dialogarem sobre arte, música e, talvez, amor.
Perséfone preparou um jantar delicioso da cozinha judaica e jantaram juntos, parecia um
ritual. Depois ela tocou uma bela música em seu violino, a música produziu uma paz inefável na alma
daquele jovem artista de tendências rebeldes. Isso tudo era novo para ele, nunca foi tratado desta
forma, exceto por Heloísa que sempre o tratou bem, mas esta era sua amiga, com Perséfone era
diferente, havia uma magia romântica nessa relação afetiva, sim, ele estava despertando o amor pela
aquela burguesa refinada, porém de espírito livre e humilde. Ele compôs uma canção para ela e ao
som de seu violão cantou para ela. Sim, os dois estavam enamorados e o fogo de Eros ardia em suas
almas.
Perséfone propôs um negócio para Pedro.
“Quero que pinta para mim um quadro, porém neste quadro estarei nua”.
Pedro ficou pálido, a timidez se apoderou de sua alma, e espantado exclamou:
“Nua?! Você é mesmo louca, e eu que pensava que só Heloísa era louca!”.
“Vamos lá eu preciso de sua ajuda para vencer meu demônio interior!”, exclamou persuasiva
Perséfone, à medida que fixava os olhos lânguidos em Pedro. Esta idéia de pousar nua a excitava
muito.
“Já que deseja, que seja feita a sua vontade, quando começaremos?”.
“Agora mesmo, só vou me preparar e já retorno”, disse isso caminhando em passos lentos
para o quarto, à medida que andava, virava a cabeça para trás para observar languidamente Pedro
que se encontrava sem jeito e um tanto tímido diante do fato insólito que lhe pegou de surpresa. Ele
achava que aquilo tudo era um sonho e que logo acordaria frustrado por não ser real.
Perséfone depois de um certo tempo retornou envolta em um quimono negro adornados com
uma fênix chinesa que havia ganhado de presente de Lung Nu. Depois conduziu Pedro pela mão até o
seu ateliê que por coincidência estava já preparado para o trabalho; na verdade ela o havia preparado
antes, porque desejava pintar um quadro que tinha em mente.
“Eu prefiro que o ambiente seja iluminado com luz de velas, há algum problema para você?”,
perguntou Perséfone baixinho e tímida.
“Não, tanto faz, se assim deseja pode ser”.
Perséfone ficou a três metros de distância do artista, ele já se encontrava posicionado em
frente à tela, para pintar a deusa que se encontrava a sua frente, e que a qualquer momento se
despiria diante de seus olhos. Perséfone, então desfez o laço da fita que prendia o quimono deixando-
o solto, logo se despiu por completa deixando o quimono cair suavemente ao chão revestido com
brilhosos pisos de madeira de lei. A imagem que se apresentou diante de Pedro foi de uma deusa
casta e pura, uma bela e perfeita escultura humana esculpida por algum deus artista de muito bom
gosto.
Os cabelos ondulados, longos e castanhos caiam sobre as costas nuas; seus seios eram
médios com aureolas escuras e mamilos grandes, seios que nunca havia sido tocado por homem
algum; seu semblante era radiante, os olhos brilhavam como duas esmeradas ao sol; o corpo esbelto
de tez latina radiava força e vida; os pelos pubianos eram negros e refletiam a luz das velas, não eram
nem espessos e nem ralos, mas harmoniosos com o corpo; de sua vulva emanava um poder
magnético tremendo, dificultando a concentração do artista na totalidade do corpo, sempre era atraído
para esta região, não porque estava desejando esta parte do corpo, mas porque de fato o poder
magnético que ali se concentrava atraia seus olhos como o ímã atraia o ferro. Por fim, o habilidoso
artista começava a execução de sua obra prima. Era silencioso e concentrado no trabalho, de quando
em quando levantava a cabeça sobre a tela para olhar a modelo de sua arte. Permaneceu por
aproximadamente duas horas trabalhando sobre a tela, depois pediu que a musa inspiradora se
vestisse, pois continuaria a obra em outra ocasião determinada por ela.
“Nossa! É cansativo o ofício de modelo, porém é muito excitante estar nua diante do artista de
sexo oposto sem ser cobiçada sexualmente por ele; tive a sensação de estar sendo adorada e
venerada”, disse Perséfone espreguiçando e dando um leve sorriso satisfatório, à medida que vestia o
quimono.
“Este foi um trabalho difícil distinta musa, estive a beira do abismo, travei uma grande batalha
em meu interior contra o dragão que tentava a todo custo lançar seu fogo ímpio sobre teu corpo
sagrado e deliciosamente belo, porém com este fogo produzi luz com a qual pude observar com
precisão a beleza inefável de tua alma ardente de amor”, disse Pedro olhando nos olhos de Perséfone,
à medida que a cariciava o rosto da musa com os dedos levemente.
Perséfone ficou encantada com o lirismo de Pedro e por um instante deve desejo ardente em
abraçá-lo e beijá-lo ardentemente e ali mesmo se entregar a ele de corpo e alma, porém dominava sua
força erótica como a Maga do Tarô que dominava com muita delicadeza o feroz leão.
Ambos dialogaram por algum tempo, depois Pedro se despediu com um beijo no rosto de
Perséfone. Perséfone queria que ele permanecesse por mais um tempo ali com ela, queria namorar,
porém Pedro partiu deixando a musa inspiradora em chamas. Isso fez com que a chama ardesse
ainda mais em sua alma ávida em conhecer as delicias do amor. Perséfone estava sentindo a pressão
do fogo em seu sexo; sua alma estava agitada e seu espírito inquieto. Deitou-se em sua macia cama,
com os pensamentos perdidos no ar e com olhos fixados no nada, pousou a mão esquerda sobre a
vulva e começou a cariciá-la deslizando os dedos até os grandes lábios vaginais, parando-os sobre
clitóris, logo conteve o impulso que a impulsionava ao ato de masturbação, pois ela bem sabia os
efeitos negativos na psique que este ato provocava. Levantou e dirigiu-se ao banheiro para tomar uma
ducha fria, isso a manteve calma, depois realizou diversas respirações profundas e ritmadas para
deslocar a energia sexual da região uterina e sublimá-la pelo corpo. Desta forma produziu em seu
corpo uma sensação de bem estar e de clareza mental. Depois dormiu suavemente.

No dia seguinte Perséfone acompanhou Heloísa até um sebo judaico, onde Heloísa
poderia adquirir alguns livros de Cabala. Dom Elias, o dono do sebo era um velho cabalista primo do
avô de Perséfone que conservava secretamente algumas obras não editadas ao público; estas obras
eram verdadeiras obras de artes, pois eram escritas com tinta nanquim preta e vermelha com letras
manuscritas e de boa encadernação aveludada na cor preta e com gravuras douradas. Perséfone
adquiria três obras e presenteou-as a sua discípula e amiga.
Chegando no lar, Perséfone lembrou da promessa que fizera no dia anterior à Heloísa, então
preparou o ambiente e lançou as lâminas sobre uma toalha branca de linho com a gravura do
Pentagrama, logo colocou no turíbulo que já continham brasas incandescentes, preparadas por ela
momentos antes, e lançou resina de incenso sobre as brasas; um suave odor impregnou o ambiente.
“O que deseja saber?”, Perguntou Perséfone séria e concentrada.
“Se meu amor retornará novamente para mim”.
Perséfone espalhou as lâminas e as magnetizava com as palmas das mãos estendidas a uma
certa altura das lâminas, com os olhos cerrados puxou uma única lâmina.
“Arcano 15: El Deablo la Serpente del Mar”, disse isso, à medida que mantinha os olhos fixos
na lâmina.
“Nossa!? O Diabo!”, exclamou com um certo pânico Heloísa.
A imagem da lâmina era constituída por um contexto sombrio, o inferno, isso era indicado pela
figura de Cérbero, o cão infernal que guardava os portais do Hades ou Inferno; na parte superior havia
a figura cabalística de Baphometh que estava sentado sobre o cubo inserido em um globo, ou seja,
indicando que este deus da Natureza possuía autoridade, cubo, sobre o mundo físico, o globo, e,
assim, sobre o casal que nele vive; Baphometh estava bailando entre turbilhões infravermelhos. Na
parte inferior da lâmina havia uma serpente escarlate que devorando a própria calda, formava uma
elipse, no centro desta havia a figura de um casal nu e abraçado fortemente, seus órgãos sexuais
pareceriam estar unidos; a aparência do casal é de controle sobre à força serpentina. Duas correntes
de cor de bronze que ligava o casal ao cubo do Baphometh, estavam rompidas por uma forte luz
ofuscante. De uma dos lados da lâmina, havia um vaso hermético selado por um pequeno bastão, de
onde se elevavam duas serpentes; o vaso estava envoltos por chamas e em seu interior havia água
onde nadavam espermatozóides, alguns destes explodiam liberando pequenos pontos dourados.
“Sim, veja a imagem desta lâmina”, disse virando a lâmina para Heloísa, “Este Arcano revela a
fatalidade que ocorreu no passado, a traição. Mas, ela indica também uma união mágica entre Adão e
Eva que anteriormente estavam escravizados a Paixão, representada pela figura do Bode de Mendes.
Este Arcano foi idealizado pelo meu avô que deu a ele uma versão diferente dos Tarôs tradicionais,
onde Adão e Eva estão acorrentados ao cubo de Baphometh, nestas circunstâncias o casal é escravo
de Baphometh através do sexo que é simbolizado pelo cubo da autoridade. Porém, nesta versão que
utilizo o casal é libertado da escravidão. O oráculo revela cabalisticamente que esta união libertadora
conduz ao amor, pois reduzindo o 15 a um único número, obtemos a síntese que é a soma 1+5 que dá
6, o Arcano 6 da Cabala indica o amor, união do triângulo ativo, o sol; e do passivo, a lua; ou seja, a
união lingâmica sagrada de Adão e Eva, produz a simetria das forças sexuais, desta forma o casal
bipolariza o fogo e se liberta da influencia maldita do Diabo.
“Nossa! Isso é o Karezza!”, exclamou Heloísa.
“Pode ser também, porém aqui há algo mais”.
“Como assim algo mais, o casal não está controlando o impulso?”.
“Sim, mas aqui se trata da magia sexual que conduz a uma união mais plena; observe a
lâmina em todos os seus detalhes tenta intuir seu profundo simbolismo”, disse Perséfone mostrando
com o dedo indicador da mão direita as imagens contidas na lâmina.
Heloísa permaneceu por alguns instantes meditando na lâmina e disse: “Parece que o casal
está com os órgãos sexuais conectados, e pela expressão de seus semblantes demonstram controle”,
disse Heloísa.
“Controle do quê?”, perguntou Perséfone.
Heloísa permaneceu com os olhos fixados no vaso em chamas, logo disse: “Parece que é no
controle do orgasmo que leva a ejaculação, pois o vaso está fechado e os espermatozóides estão
como cozidos pelo calor do fogo, isto leva a liberação de um ponto dourado que ao meu ver seria a
essência do sêmen. Meu Deus!!! Agora compreendo tudo, pois o Caduceu é o símbolo da cura, sim
está é a grande revolução sexual. Só podemos nos apoderar do elixir da vida, representado pelos
pontos dourados, através da conexão sexual equilibrada, pois a estrela de seis raios formada pelo dois
triângulos entrelaçados, expressa o equilíbrio e a simetria sexual única capaz de vencer o Fogo ou o
deus da Natureza representado pelo Arcano 15!”, exclamava extasiada e eufórica com a sabedoria
que recebia de Perséfone.
“Agora você já conhece o Grande Arcano da Magia, este vai te trazer seu grande amor
novamente aos seus braços, somente ele pode limpar a traição do passado; esta é a lição de Cabala
do dia de hoje, por hora basta”, disse Perséfone olhando nos olhos de Heloísa que nestes instantes
chorava como uma criança.
Depois de certo tempo, quando o clima mágico se desfez, ambas passaram a dialogar sobre
assuntos diversos do cotidiano.
“Estou em chamas minha amiga, o poder do fogo sobre meu sexo é tremendo. Ontem posei
nua para Pedro”, disse rindo suavemente Perséfone.
“O quê? Você posou nua, mas como isso ocorreu?!”.
“Não sei explicar aconteceu espontaneamente e sem premeditação; ontem nós jantamos
juntos, eu toquei violino para ele e ele cantou uma bela canção para mim ao som de seu violão, um
poema lindo que ele escreveu para mim, sim estou amando loucamente aquele homem que não me
profanou. É um amor cabalístico!”, disse feliz e rindo Perséfone.
“Que maravilha, vocês estão se amando, isso é belo e se completa com o sexo sagrado, por
que não faz amor com ele duma vez mulher? Você precisa transmutar este fogo em luz se não ele vai
te consumir!”, exclamou Heloísa segurando os braços da amiga e olhando rindo para ela.
“Isso não é assim quando se trata de Cabala, se eu me unir a ele estaremos unidos em um
matrimônio místico e serei sua Sheknah, ou seja, sua esposa sacerdotisa; e ele meu sacerdote que
imolará o bode sobre meu corpo que será para ele o altar dos sacrifícios e dos holocaustos. Desejo
este homem em meu seio, porém quero fazer a coisa certa”, disse Perséfone.
“Sua união sexual sagrada com ele será a aliança entre vocês, não há necessidade de
casamento institucional, nós os revolucionários do sexo fazemos nossas regras com base no amor e
na verdadeira justiça. Fazer sexo de forma sagrada com a pessoa que amamos não é a verdadeira
união libertadora? Não é o sacerdócio do amor? Não é a cura para nossa psique? Então por que
reprimir esta vontade de potência que quer entrar em atividade para realizar a Obra de Deus em ti?
Viva o Sexo! O Sexo é Vida, é Amor é Libertação, é o Poder de Deus no homem!”, exclamou com
muito entusiasmo Heloísa em seu aspecto de Maria Madalena, a Prostituta arrependida de seu delito.
As palavras de Heloísa penetraram na alma de Perséfone como raio, então ela se alegrou
pela sabedoria da amiga. Depois dessa conversa esotérica, Heloísa foi visitar um casal para realizar
uma sessão de psicanálise.
Depois de dois dias Pedro apareceu novamente para continuar a pintura. Diante dele estava a
deusa Diana completamente nua como no banho com as ninfas, porém Pedro não a profanava como
fez Actéon ao observar a casta deusa caçadora no banho com suas ninfas, mas Pedro era como o
pastor Endimão que foi amado por Diana, assim, Pedro a amava castamente Perséfone em seu
aspecto de Diana, a deusa vermelha do amor casto e caçadora e dominadora do javali negro, o
instinto erótico. Perséfone desta vez se sentia mais à vontade diante do artista. Faltava pouco para o
término da pintura, mas uma sessão o terminaria.
Depois do trabalho artístico, o casal passou um longo tempo conversando sobre questões
afetivas. Perséfone queria namorar Pedro, o desejava ardentemente, porém o rapaz não tomava
iniciativa, se mostrava inseguro e tinha medo de que Perséfone pensasse que ele estava aproveitando
da situação para seduzi-la, não era ético que o artista se envolvesse com a modelo. Perséfone
percebendo a falta de iniciativa do rapaz, usou de seu poder feminino para seduzi-lo, mas não
funcionou, Pedro era uma rocha impenetrável, porém em chamas. Pedro, então se levantou da
poltrona confortável com o intuito de ir embora.
“Não vá meu amado”, implorou Perséfone com a voz aveludada e lânguida, à medida que
segurava Pedro pelos braços.
Quando Pedro ouviu a palavra „amado‟, não resistiu aos encantos daquela mulher bela e
misteriosa para ele, então se voltou lentamente para Perséfone, como um leão despertado do sono,
fixou-a com olhos inflamados de erotismo, agarrou-a pelos braços e puxou-a para si, ela jogou a
cabeça para trás e inclinou o peito para frente. Ele abraçou-a com força e permaneceu por um tempo
assim, à medida que afogava o rosto na abundante cabeleira ondulada da musa inspiradora, o
perfume de seus cabelos o deixou por um instante embriagado de prazer. Ambos sentiam as fortes
batidas de seus corações. Perséfone tremia de prazer. É claro que Pedro não conhecia os mistérios
do sexo, para ele o sexo era livre de preconceito e tabu, era comum para um rapaz de espírito livre
praticar sexo com as mulheres com as quais de relacionava. Então Pedro de fato desejava o corpo
daquela mulher bela e misteriosa. Estava decidido: queria amá-la de verdade com todas suas forças.
Depois do forte abraço, ambos se beijaram ardentemente quase sem parar; Perséfone tremia de
desejo e soltava suspiros leves. Pedro, que era um mestre na arte de amar, quando percebeu que a
musa estava totalmente embriagada de prazer e contorcendo o corpo sobre o dele, então ele
suavemente desfez o laço que prendia o quimono que cobria o corpo nu da musa, que ela havia
vestido antes de pousar para ele. Abriu o quimono expondo a nudez frontal da musa; agora a escultura
natural da deusa que pintava estava mais próxima de seus olhos e ele pode finalmente tocá-la com
suavidade e veneração aquele corpo delicioso que exalava o perfume do jasmim. Então tocou aqueles
seios jamais tocado antes; contornava com mãos suaves de artista aquele corpo divino digno de
adoração. Perséfone não manteve resistência deixava o fluxo da força fluir naturalmente. Por fim, ela
deixa cair o quimono sobre o lindo tapete persa, deixando o corpo completamente nu para o amado
que a venerava em êxtase. Perséfone, então, despia com suavidade o rapaz que estava em chamas
como ela; ambos queriam que seus corpos se tocassem por completo; por fim, Pedro estava
completamente despido diante de Perséfone. Os mamilos de Perséfone estavam rígidos, indicando,
assim, o forte erotismo que dominava sua alma. Perséfone, que ainda não havia conhecido
intimamente nenhum homem, se extasiava de prazer paradisíaco, agora ela sentia o corpo do amado
tocando ao seu, isso a fez estremecer de volúpia. Ela se soltou com muita naturalidade; por um
instante ela percebeu clarividentemente todo a sala em chamas. Um poder tremendo se manifestou
ali. Perséfone por fim, segurou o falo quente, volumoso e rígido como uma vara de ferro e o colocou
na entrada de sua vulva como se estivesse convidando Pedro a penetrá-la. Pedro dentou emburrar
para dentro da gruta sagrada a lança de Eros, porém Perséfone segurou a espada de Marte que
deseja perfurar o graal ainda virgem, obstruindo seu impulso. O cavaleiro compreendeu então que
ainda não era a hora de travar a grande batalha. Continuaram as carícias por um longo tempo, o fogo
cada vez mais se intensificava, ambos estavam loucos de amor e Pedro desejava ardentemente
possuir a musa ainda virgem, e tentou mais um investida dirigindo o falo gotejando de amor à entrada
da yone em chamas e molhada de prazer, desta vez conseguiu penetrar os grandes lábios, porém a
musa esquivou-se para trás em um gesto delicado e gracioso daquela mulher que apesar de nunca ter
conhecido homem algum, sabia fazer o jogo erótico com muita maestria. Pedro gostava deste jogo,
para ele agora era um desafio conquistar o direito de penetrar aquela mulher sagrada para amá-la
intensamente. Permaneceram ainda mais inflamados de desejo. Para Perséfone aquele estado era
maravilhoso, e desejava permanecer eternamente naquele estado de volúpia, porém era necessário
saber o momento certo de parar para evitar a manifestação da luxuria que a arrastaria para as
profundezas do abismo. Então no auge do clímax Pedro tenta a terceira investida rumo a caverna
sagrada, desta vez Perséfone extasiada não percebia que o potente falo avançava um pouco mais
para dentro de sua gruta divina, então ela sentia uma leve dor, e soltou um pequeno grito inclinando o
quadril para trás, ainda não era a hora certa para isso. Um gelo se apoderou dela quando percebeu o
perigo que corria, pois por muito pouco aquele falo ardente não rasgou o véu do santuário e penetrou
em seus mistérios profanando-os, pois Pedro não sabia a ciência de reter o sêmen no intercurso
sexual, ainda teria que ser treinado nesta arte tão difícil para os homens. Perséfone confiava ainda
mais em Pedro, pois este a compreendeu e respeitou sua vontade em não realizar a consumação
sexual. Naquela noite Pedro passou a noite com Perséfone e dormiram juntos, porém o rapaz não a
procurou, pois ele deixou que ela a procurasse quando o desejasse.
Pela manhã, Perséfone acordou com um homem deitado ao seu lado. Pedro dormia como
uma criança satisfeita no leito macio e perfumando pelo corpo daquela musa que o inspirou
profundamente.
Perséfone levantou, banhou-se e fez o desjejum, não queria atrapalhar o sono de Pedro, por
isso deixou-o dormir a vontade. Ela meditava muito sobre o ocorrido na noite anterior e percebeu que
estava amando de verdade aquele homem louco, e tinha duvidas se Pedro sentia o mesmo por ela,
então pensou em algo.
Pedro acordou feliz e vigoroso, nunca se sentiu tão bem em toda sua vida; sua mente estava
clara e suas emoções inspiradoras, resolveu então terminar o quadro, desta vez não havia a
necessidade de Perséfone pousar, porque sua imagem já estava completada na obra, agora só faltava
alguns detalhes para o término. Perséfone não havia visto o trabalho do artista, porque entendia que
quebraria o encanto. Pedro quando terminava o trabalho, ocultava-o com um tecido aveludado de cor
rubra que Perséfone utilizava para proteger suas pinturas.
“Andei meditando muito esta manhã e tenho uma proposta a lhe fazer, mas antes preciso
saber algo depois de tudo isso que aconteceu entre nós, você me ama?”, perguntou Perséfone, à
medida que abraçava o amante e olhava profundamente nos olhos brilhosos de Pedro.
“Há um tempo atrás jamais diria o que vou te dizer a mulher alguma, porém você me
completou em todos os sentidos: corpo, sentimento, emoção, mente, alma e espírito; nunca
experimentei tamanha felicidade em toda minha vida até acho que estou sonhando e logo vou acordar;
tendo tudo isso em conta, posso afirmar enfaticamente que não só te amo, mas também a venero com
muita transcendentalidade”, respondeu Pedro.
“Então venha morar comigo hoje mesmo, tenho um quarto sobrando e você pode se instalar
nele e juntos podemos dividir o ateliê em nossos trabalhos artísticos”, pediu com voz manhosa a musa
de Pedro. Pois, ela queria ajudar o homem que amava a sair da espelunca que vivia, lugar miserável
de gente baixa e sem escrúpulos e de densa energia vibratória.
“Morar juntos?! Nós nem nos conhecemos direito, como podemos morar juntos? Não faz nem
um mês que nos conhecemos e nos tornamos íntimos ontem a noite, você é louca?”, questionou com
um certo pânico no semblante, pois era um homem livre e essa proposta de certa forma o
atormentava, pois já tivera esta experiência anteriormente e sua vida se tornou um inferno, mas ele
amava Perséfone e ela o amava, talvez com ela fosse diferente.
“O amor não pertence ao espaço e tempo, ele é eterno e se ele despertou em nós é porque
nós já nos amávamos em outras vidas passadas, você não acredita em reencarnação?”, questionou
Perséfone.
“Claro, Rudolf Steiner fala sobre a reencarnação a sim como Platão, eu creio que as almas
retornam ao mundo”, respondeu Pedro.
“Eu acredito e sinto que nosso amor vem da eternidade, nossas almas são unidas pelo
matrimônio perfeito, então por que não unir os corpos que as revestem? Que crime a nisso? O pacto
que realizamos em vidas passadas é indissolúvel, uma vez feito não há mais como voltar atrás; fomos
separados pelo carma, mas agora pagamos estas velhas dividas, nada mais impede nossa união na
esfera da ação”, persuasivamente Perséfone tentava convencer o amado a vim morar com ela, pois
bem sabia Perséfone que a relação sexual que manteve com Pedro na noite passada a fez esposa
dele e para continuarem com esta atividade ela deveria juntamente com ele estabelecer o lar vestal
onde ela seria a sacerdotisa vestal que manteria sempre a chama do lar místico acesa no altar de
Vesta.
Por fim, Pedro aceitou o convite meu receoso, mas estava feliz de permanecer ao lado da
mulher que amava. Perséfone o acompanhou até o cortiço para apanhar suas coisas. Os vizinhos de
Pedro ficaram assombrados pelo fato insólito, de verem este rapaz insignificante unido a uma mulher
nobre e de beleza exótica. Tanto Pedro, quanto Perséfone eram pessoas paradoxais, porém de
mundos opostos.
No final da tarde Pedro contemplou a maravilhosa obra que acara de pintar e chamou
Perséfone para ver, esta ficou extasiada com a beleza artística diante de seus olhos, a imagem era
constituída assim:
O contexto era de um bosque próximo a uma fonte, o céu era anil e estrelado, observava-se à
lua cheia na constelação de Aquário. A imagem de Perséfone nua era rodeada de chamas e
conduzida por um enorme escorpião rubro; sobre sua cabeça uma tiara de abutre tal como usada
pelas deusas egípcias, segurando na mão esquerda uma serpente naja próxima à vulva e na direita
uma flor de lótus entre os seios. Em seu oposto, sobre uma rocha, havia a figura de Baphometh,
porém ao invés de ter cabeça de bode sua cabeça era humana com os traços de Pedro, porém
conservava todo o resto do simbolismo tradicional, porém o bastão do caduceu que representava o
falo de Baphometh, nesta imagem era constituído de um falo ereto e rígido. A imagem de Pedro em
seu aspecto de Baphometh contemplava a imagem de Perséfone em um ato de adoração e
veneração. Perséfone ficou assombrada com o profundo simbolismo que o quadro apresentava.
Perséfone extasiada perguntou:
“Da onde tirou todo este simbolismo?”.
“Uni a inspiração com o conhecimento, por exemplo, a figura de Baphometh foi inspirada com
base no livro de Eliphas Levi o „Dogma e Ritual de Alta Magia; porém os elementos que constituem a
sua imagem tirei-os da mitologia egípcia. A arquitetura foi criada pela minha imaginação criadora
impulsionada pelo fogo emanado de teu corpo”, respondeu Pedro.
“Vou mandar fazer uma moldura especial para ele, depois vou colocá-lo como adorno no
templo do amor, onde o sacerdócio do sexo será oficiado por nós”, disse Perséfone admirando a obra.
Perséfone foi visitar sua Mestra e expôs para ela sua decisão em viver junto com Pedro e ela
lhe disse:
“O amor esta acima do bem e do mal. Pode e deve deliciar-se com as delicias das caricias e
dos inefáveis beijos paradisíacos, depois de quarenta dias podem conectar-se; durante este período
vocês farão um grande ritual de magia sexual de acordo com seu conhecimento e inspiração; depois
conhecerá os mistérios do sexo em sua plenitude criadora. Durante estes quarenta dias, vocês se
conhecerão intimamente e aprenderão a dominar pela vontade o impulso sexual. Pois o impulso
sexual é como um touro que nunca foi montado e como um leão furioso para saciar a fome. Vocês
precisam domar o touro antes de atrelarem ao arado com o qual semearão a terra filosofal e
controlarem a fúria do leão, ou seja, sexo e fogo devem ser completamente dominados, só assim
renasce a fênix que se eleva ao céu com a serpente nas garras, então se formará o andrógino da
revolução sexual onde há intensa batalha, este é o Kung Fú Sexual”.

Perante os quarenta dias Perséfone e Pedro se amaram intensamente e se conheceram.


Pedro recebeu as orientações sexuais de Perséfone e ficou maravilhado em conhecer o lado
revolucionário do sexo. Esta era a aliança mística onde ambos eram revolucionários sexuais.
Perséfone e Pedro partiram ao Castelo em Languedoc, pois ela fora levar os dois casais: Leon e
Isadora; Rafael e Isabel para organizarem a comunidade e estabelecer os alicerces da Nova Ordem
do Leão Vermelho segundo a vontade do Grão-Mestre da Ordem, Mestre Regulus. Selketh os
aguardavam já há meses.

Já era noite, e as estrelas brilhavam no firmamento. Rafael e Isabel se encontravam


passeando nas proximidades do Castelo, parecia um recém casal de enamorado fascinado com a
beleza bucólica e a paz daquele lugar tão familiar para eles.
Ambos seguiram para o interior do Castelo para tentarem achar a porta secreta que dava
aceso ao templo subterrâneo onde os mistérios deveriam ser oficiados.
Perséfone relatou a Pedro que desejava que sua iniciação sexual fosse realizada no seio
da natureza e sob o luar da lua cheia que resplandecia na constelação de Touro, signo onde ela
estava exaltada, então o casal no cair da noite misteriosa e cheia de encantos partiram rumo a um
local que já era conhecido por eles e que não apresentava perigo algum, era um santuário natural,
era um jardim construído segundo a orientação de Selketh, foi edificado já com intenção de servir de
lugar sagrado para meditação e outras práticas esotéricas, era um símbolo do Éden, este na
simbologia da Cabala representa o Jardim da volúpia, o santuário natural do amor. Ali havia uma
bela escultura da deusa egípcia Batesth, a deusa do rito sexual.
Neste santuário natural, observavam-se algumas variedades de flores como a Iúca,
Heliotrópico, o Girassol, o Gerânio-rosado, o Goivo, o Lírio branco, a Madressilva, a Murta, a
Orquídea, a Rosa, o Cravo e a Peônia. Também havia algumas árvores no local, como a Macieira, a
Oliveira, o Cedro, o Carvalho, a Romanceira, a Goiabeira, a Videira, o Pinheiro, a Cerejeira, e uma
Figueira. Uma nascente d‟água formava uma pequena cachoeira, e esta formava uma piscina
natural, e desta nascia um riacho. Algumas rochas rodeavam a piscina natural. Na verdade muitas
dessas flores e árvores foram cultivadas por Selketh, já com a intenção de embelezar o local, neste
santuário natural Selketh realizava a magia elemental.
Pedro e Perséfone estenderam a pele de tigre próximo ao riacho, e embaixo de uma
macieira; logo depois Perséfone acendeu uma fogueira, que já tinha sido preparada antes durante o
dia. O casal permaneceu a beira do fogo enamorado. Depois de um certo tempo, Pedro pega
algumas brasas, e as depositam num turíbulo, logo em seguida deposita pó de nardo, incenso e
mirra, sobre as brasas incandescentes; um delicioso vapor aromático impregnou à atmosfera. Pedro
pronuncia certas conjurações que Perséfone lhe havia ensinado, á medida que vai defumando o
local. Perséfone prepara o local, decorando-o com alguns objetos sagrados. Coloca um pentagrama
sob um galho da macieira.
A Lua cheia, que rege a magia sexual, enche de mistério e êxtase aquele local sagrado.
Sob o céu estrelado, e sob a proteção de Isis, a Lua, o casal dá inicio ao sagrado ritual da vida, o do
amor. As Esfinges Jaquin e Boaz guardam o portal do santuário do amor para que nem um profano
se aproxime; a deusa Batesth vigia atentamente o casal.
Os olhos de Perséfone estavam lânguidos de amor, seus cabelos soltos lhe davam uma
aparência sagrada; sobre seu corpo caia um fino vestido de algodão de cor rosa, de estilo hindu;
assim a sacerdotisa do fogo, atiçava a chama sagrada do esposo sacerdote, que a contemplava
com muita adoração e santidade, para ele, a própria deusa do amor estava ali lhe oferecendo a vida.
Pedro aproxima-se da mulher sagrada, e toca levemente em seu rosto, à medida que lhe
dá um doce e suave beijo em seus lábios; ela o abraça suavemente, e escorrega suas úmidas e
delicadas mãos sobre o peito e as costas do mago. Um leve vento faz com que os longos cabelos da
maga voam até a boca do parceiro, seu olfato sente uma deliciosa fragrância emanada dos cabelos.
As doces e suaves carícias são recíprocas. Delicadas palavras de amor são sussurradas aos
ouvidos de ambos. Sagrada volúpia invade a alma do casal, e a Serpente erótica vibra em seus
corações. Perséfone despe o mago suavemente, á medida que dá suaves beijos no peito já nu do
esposo. Ela deixa cair o vestido, deixando o corpo nu, apenas uma pequena cruz de madeira de
oliveira, fica sobre o inefável corpo da maga; seus delicados seios tocam o peito de Pedro, nutrindo-
o de amor.
Pedro derrama essência aromática no corpo da amada, espalhando-a ao mesmo tempo
que massageia o delicado corpo. Seus dedos deslizam suavemente pelas entranhas da amada, de
cujos lábios saem sussurros de amor.
“Estou louca de amor por ti, amado meu”.
“Tua magia, embriaga-me, oh! Rosa de Saron”.
“Teu fogo, oh! Amado meu, faz gotejar o lírio de meu vale!”.
“Oh! Rosa de Saron! Nutre-me com teu néctar, embriaga-me com teu doce aroma!”.
“Venhas! Amado meu, sacramentar o rito da vida no santuário do amor”.
“Meu coração está em ardentes chamas, chamas de amor por ti, oh! Rosa de Saron!”.
“Venhas! Amado meu, as uvas já estão a esperar no lagar”.
“O Querubim flameja em meu peito, ímpeto a criar tenho, oh! Rosa de Saron”.
“A lança de Percival, toca a porta do Éden, e nela sinto o úmido suor e o vibrar das
batalhas”.
“Oh! Amada Rosa de Saron, desabroche de volúpia em meu cetro!”.
“A espada inflamada de Eros, guarda o Éden, mas a ti deixarei passar, porque o amor
inflamou-me, extasiada estou por ti, oh! Amado meu!”.
“Venhas! Rosa de Saron! Deliciar-se com as delícias do Éden, a casa do amor, onde o
Verbo é fecundado!”.
“Penetre no jardim das delícias, oh! Amado meu; anseio pela fecundação, arrebata-me o
fogo, e inunda-me com tua luz!”.
“O bode do sacrifício já está pronto, venhas Rosa de Saron! Imolá-lo com a espada
inflamada de Eros”.
“Despertastes em mim a serpente do amor, extasiada estou pelo seu doce sibilo;
embriaga-me, oh! Amado meu, com teu vinho aromático, e beba do mosto de minhas romãs, e
juntos passamos a noite nas delícias paradisíacas!”.
“Oh! Rosa de Saron! Dominadora de leões, o rubro fogo do altar de Vênus, deseja
consumir o bode, venhas ao sacrifício minha amada!”.
“Venhas! Oh! Amado meu, desçamos ao jardim da volúpia, e sob a macieira façamos a
serpente devorar a cauda”.
“Jaz a dualidade! Oh! Rosa de Saron, tu e eu somos uno pela cruz divina, onde as quatro
letras do sagrado nome resplandecem, e o Elohin homem cria!”.
“Festejamos ao nascimento de Dionísio, que pela segunda vez nasce das entranhas de
Perséfone em delírio e suspiros eróticos!”.
A lança sagrada rasgou o véu do santuário da geração e penetrou o Sancto Sancturum da
sacerdotisa de Isis.
O casal sagrado gera através do amor; ambos estão arrebatados pelo êxtase de Dionísio,
de seus lábios emana o delicioso verbo IAO. Pedro e Perséfone, encontram-se na mesma posição
sexual que o Buda e sua esposa no Vajra Satwa. O Andrógino, o Tetragrama humano, manifesta-se
para gerar o Super-homem. A Trindade se manifesta na unidade do casal para criar.
O casal mantém a passividade no ato sublime do amor; ás vezes a chama abaixa, então
doces e ardentes beijos e delicadas carícias atiçam o fogo novamente. Inspiram e expiram, inspiram
e expiram...profundamente, ao mesmo tempo que se concentram na energia que sobe pela espinha
dorsal.
Ambos observam clarividentemente uma luz dourada ovulada em torno deles. O santuário
celestial se abriu, então o casal embriagado pelos vapores púrpuros do vinho de Dionísio, vê os dois
Querubins inflamados pelo fogo do amor, amando-se sobre a Arca do Concerto, entre o triângulo de
Sheknah, resplandece a glória do Senhor. Nesses instantes sublimes de êxtase divino, ouvem-se
poderosos trovões e raios cortando o céu de Urânia. Perséfone sente uma forte dor na base de sua
espinha dorsal; é Ela, Devid Kundalini, o Fogo Serpentino, que desperta do milenar sono. Perséfone
entra em um êxtase embriagador, sua Consciência despertou, e inicia sua jornada no deserto
esotérico. Perséfone inicia o caminho esotérico. O Kundalini de Pedro faz pressão na base de sua
espinha dorsal, porém ainda não era o momento para iniciar nos Mistérios Maiores, ainda deveria
escalar os nove degraus das iniciações de Mistérios Menores.
Terminando o Grande Ritual da iniciação sexual de Perséfone, o casal segue em silencio
para o Castelo.
Capítulo ‫ס‬
O Shabbath Negro

No Interior da exótica e maçônica mansão do Conde De Le Puy encontrava-se a Ruína cujo


nome era Ofélia, a terrível sacerdotisa da Ordem do Graal Negro, mulher de encantos fatais e de
beleza maligna. A sacerdotisa de Lilith estava colocando seu diabólico plano em ação. O Conde De Le
Puy queria com muita sinceridade trazer esta maga negra para o Caminho da Luz, mas estava tendo
terríveis dificuldades em se manter casto diante daquela beleza magnética carregada de erotismo
fatal. Ofélia estava enchendo a cabeça do Grão-Mestre de dúvidas e ao mesmo tempo inflamando em
sua alma uma paixão devastadora, coisa que ela não havia conseguido com frei Miguel, homem que
ela amava terrivelmente e que jamais o esqueceria, apesar deste pertencer ao Caminho Crístico.
Ofélia estava tendo muita dificuldade em penetrar nos mistérios do Grão-Mestre Antares,
então começou a persuadi-lo na idéia dela residir em sua mansão, pois uma vez vivendo sob o mesmo
teto seu campo magnético o influenciaria com muito mais poder e força. Depois de muita resistência,
pois De Le Puy era prudente e cauteloso com o poder desta maga negra que o fascinava
terrivelmente, ele deu seu primeiro passo diante da fatalidade, então cedeu aos encantos fatais
daquela mulher deliciosamente diabólica e a colocou sob seu teto, então de fato se iniciou seu grande
tormento.
O comportamento de Ofélia era quase todo tempo voltado à sedução. Seus vestidos eram
sedutores e sensuais, seus gestos diante da pessoa do Conde eram carregados de intenções
libidinosas. Acompanhava-o em muitos eventos promovidos pela Franco-Maçonaria, muitos membros
da Sociedade maçônica que se mantinha fiéis a tradição, escandalizavam-se pelo fato de verem o seu
Grão-Mestre envolvido com uma mulher fatal daquelas. Ofélia além da beleza fatal era culta e muito
inteligente, estes dotes fascinavam os homens de espírito fraco e despertava o ódio em muitas
mulheres fúteis da alta sociedade. Um sentimento negativo se apoderou do Conde De Le Puy, um
ciúme ardente despertou em sua alma, atormentando-a e enlouquecendo sua razão de dúvidas e de
pensamentos até então estranhos a sua mente. Ofélia percebera o grande despertar do fogo da
paixão na alma nobre daquele juste e bom homem iniciado nos mistérios, assim, despertou na alma de
De Le Puy o grande dragão escarlate de sete cabeças, cuja uma das cabeças era a luxúria que
emanava na alma do Grão-Mestre o ciúme ardente que o impulsionava ao desejo de possuir aquele
corpo libidinoso carregado de atração e de beleza maligna.

A Loja Maçônica de Lyon do Rito Egípcio de Adoção havia organizado um grande evento para
levantar fundos em beneficio de projetos sociais em prol das famílias vitimas das atrocidades
promovidas pelos nazistas na segunda guerra. Agnes foi uma das grandes organizadoras do evento.
Neste evento encontrava-se o Grão-Mestre acompanhado de Ofélia. Agnes percebeu que Ofélia era o
centro das atenções, era foco dos cochichos e boatos, por outro lado Perséfone e Pedro estavam pela
primeira vez expondo ao público maçom suas obras artísticas, ambos alcançaram a glória neste dia,
porém renegaram em beneficio da humanidade, pois o dinheiro arrecado por eles nas vendas dos
quadros foram doados ao projeto de Agnes. Esta anuncio publicamente a fundação de uma
organização altruísta sem fins lucrativos cuja finalidade era trabalhar em prol da evolução humana
divulgando princípios pelos quais o ser humano poderia construir uma moral nobre e um caráter com
base em valores humanísticos e espirituais. Agnes anúncio diante de todos que estava doando toda
sua riqueza em prol da humanidade doente. As pessoas ali ficaram pasmadas diante da nobreza desta
mulher que negava sua imensa riqueza para seguir uma vida de sacrifícios pela humanidade doente.
Agnes proferiu o seguinte discurso: “Meus frates, se de fato assim eu posso chamá-los, por
muito tempo vi nossa ilustre Maçonaria envolvida em política e em questões econômicas
internacionais; esta Ilustre e Venerável Mulher que se veste como rainha e soberana do mundo,
trabalha arduamente para manter as relações políticas e econômicas de seus membros em harmonia,
fazendo, assim, com que o Império do Capital destes maçons abastados e bilionários cresça cada vez
mais; com isso acha que pode edificar o reino de Sião na terra com base na Fraternidade, Liberdade e
Igualdade. Esta Rainha se tornou uma tirana e opressora, sacrifica a humanidade em prol de seus
interesses capitalistas e nada faz para libertar a humanidade de seu cativeiro babilônico. Hoje eu
anuncio o nascimento de Isis alada vestida do sol e pisando sobre a cabeça da Píton; a coroa desta
Nova Rainha tem doze Pentagramas que constituem sua força e poder, quem a combaterá? Esta
Mulher é protegida por sete Escorpiões que ocultam seus passos e tem um Filho revolucionário de
nome Horus, este clama em alta voz no calor das batalhas: „Quem como Osíris?‟, este é o Libertador
que libertará seu povo do jugo da ignorância e da infâmia! Quem combaterá este potente Leão
Vermelho que porta como arma o grande caduceu da medicina universal e que toma o céu de assalto,
porque possui asas de falcão rebelde, que o combaterá? Quem conterá o vôo rasante desta Fênix que
renasce de suas próprias cinzas e que se eleva ao céu com a Serpente da Sabedoria em suas garras?
Quem é capaz aqui de venerá a Rosa Cruz sem profaná-la? Quem deseja adotar o novo culto do
Tetragrama que nasce da união sagrada das duas Esfinges no centro da Cruz Isóscele e da onde se
manifesta o movimento criador simbolizado pela suástica libertadora? Quem pode equilibrar as duas
colunas de seu templo interno e, com isso, despertar os dois Serafim‟s?
Um convide faço a todos que aqui se encontram: Todo aquele que deseja adotar esta Mulher
solar como Mãe e aderir ao Movimento revolucionário de seu Filho, deve antes negar suas riquezas e
segui-la pela jornada do deserto esotérico. Quem aqui é capaz de tamanha ousadia revolucionária?”,
disse Agnes com voz eloqüente, à medida que se ouvia gritos vindo da multidão eufórica: “Esta mulher
é louca, traidora da Ordem!!!”, todos ali abandonaram o recinto, inclusive o Grão-Mestre De Le Puy por
quem Agnes tinha grande consideração. Apenas oito homens e algumas mulheres permaneceram ali
diante da insígnia da Fraternidade Gnóstica do Leão Vermelho exposta na pintura de um belo quadro
pintado por Perséfone. Estes oito homens eram os antigos Cavaleiros templários discípulos de Mestre
Regulus, contando com Pedro, Leon e Rafael, e mais um que não havia se manifestado ainda,
completaria novamente os doze Pentagramas da coroa da Igreja Gnóstica do Leão Vermelho, desta
forma a Ordem poderia iniciar um novo ciclo de atividade revolucionária. Todos foram expulsos da
Franco-Maçonaria.

A Fraternidade Gnóstica do Leão Vermelho estabeleceu quadro Escolas, segundo a


orientação do Venerável Mestre Julius a Agnes-Selketh: A Escola de Filosofia que tinha como símbolo
uma Águia; a Escola de Ciência que tinha como símbolo um andrógino alado portando uma taça com
uma serpente verde dentro; uma Escola de Arte que tinha como símbolo o Touro branco alado; e a
Escola de Religião que tinha como símbolo o Leão vermelho alado. A sede da Fraternidade foi
estabelecida em Languidoc no Castelo doado por Agnes. Pedro juntamente com outros dois apóstolos
da Ordem ficaram responsáveis pela Escola da Arte; Rafael com outros dois apóstolos ficaram
responsáveis pela Escola da Ciência; Leon juntamente com mais dois apóstolos administrariam a
Escola da Religião, pois Leon era do Raio da Devoção; um homem enigmático de nome Leonel
juntamente com mais um companheiro assumiu a Escola da Filosofia. Leonel ocupou a Casa de
Gêmeos; Jade, uma mulher, a Casa de Libra; a Casa de Escorpião estava vazia.
Leonel era um filosofo rebelde e de espírito livre, era muito criticado no seio da maçonaria pela
ousadia de seus pensamentos. Era pobre e se pertenceu a Franca-Maçonaria foi pelo fato do
brilhantismo de seu intelecto. Foi o Conde De Le Puy que o apresentou a Ordem. Agnes o amou antes
mesmo de conhecê-lo pessoalmente, pois ela leu um dos seus tratados filosóficos e se identificou
fortemente com a ousadia do filosofo de Lyon. Certa ocasião quando ela e o esposo estiveram em
Marselha visitando o Grão-Mestre De Le Puy em seu luto, ela foi apresentada ao filosofo rebelde, e o
amou a primeira vista. Seus olhos brilhavam diante do discurso filosofal de Leonel. Porém, era casada
e fiel ao esposo tão generoso e bom com ela. Leonel também a amou, mas se afastou da mulher que
para ele era proibida. Depois deste encontro nunca mais o encontrou, pois Leonel era solitário e não
gostava de freqüentar as reuniões sociais promovidas pelas Lojas Maçônicas. Mas, agora ele estava
ali diante de seus olhos brilhantes de felicidade, pois ela não era mais proibida para ele.

‫ש‬

O Conde De Le Puy se sentia um traidor por não ter aderido ao Movimento revolucionário da
Fraternidade do Leão Vermelho. Pois ele também pensava como eles, então por que não aderiu? O
que estava aconteceu com seus ideais? Foi o medo de perder Ofélia que impediu sua aliança com
Agnes. Pois, Ofélia ameaçou deixá-lo caso ele aderisse a Ordem gnóstica. Sim, ele foi fraco, e a
vontade da maga negra se impôs sobre a sua. A Torre do Grão-Mestre De Le Puy começava a tremer
anunciando perigos eminentes.
Ao chegarem da viagem que ambos fizeram a Lyon, Ofélia retirou-se para seu quarto e De Le
Puy para o seu. Porém, o Conde sentiu um forte desejo em possuir Ofélia. Virava de um lado para o
outro da cama, um fogo ardia em sua alma; levantou por várias vezes e chegou até mesmo colocar a
mão na maçaneta da porta do quarto de Ofélia. Esta ainda estava acorda, pois também estava em
chamas. Ela percebera que o Conde estava ansioso por algo, pois ouvira por várias vezes seus
passos no corredor. Então percebeu que chegara a grande hora de se unir sexualmente com De Le
Puy. Mas, ainda não era a hora exata de arrastá-lo ao seu leito, pois precisava acender ainda mais as
chamas do desejo nele, pois ele ainda mostrava resistência caso contrário já teria invadido seu leito e
possuído-a. Ofélia era uma habilidosa maga negra, e não era o primeiro mago branco que pretendia
arrastar para o lado negro da Força, pois já fizera isto antes com sucesso; sabia como agir. Ofélia
levantou de seu leito, abriu a porta e bateu de propósito, assim, anunciaria ao Conde que estava
saindo do quarto. Este levantou e olhou pela porta semi serrada, e viu o vulto de Ofélia descer os
degraus da escada. Logo a seguiu. O corpo de Ofélia estava apenas coberto por uma fina camisola
transparente de cor rósea delicadamente adornada. Era como se estivesse nua. De Le Puy a abraçou
por trás sentindo o corpo seminu. Ela em um gesto meio brusco e demonstrando voluptuosidade virou
e o beijou com sofreguidão. Seus seios grandes e de aréolas rosadas, tocaram o peito do Conde, este
começou acariciá-los com muito cavalheirismo, à medida que a beijava suavemente. A impetuosidade
da fêmea era contida pelos gestos suaves daquele homem que demonstrava ter grande destreza na
arte de domar fêmeas vorazes como Ofélia. Esta se contorcia como uma serpente e soltava suspiros
indecifráveis diante daquele potente mago que mantinha total controle diante da fêmea, então pegou a
fêmea pela mão e a conduziu-a aos degraus da escada, de quando em quando paravam e se
beijavam e se acariciavam, ela soltou um sussurro desesperado: “Eu te quero muito....desejo...quero
sê sua de corpo e alma...vomos logo...não estou suportando...mais...a presão...do
fogo...vamos...vamos... meu amor...”.
Ele a pôs sobre o leito com muita delicadeza, à medida que recitava um poema erótico à musa
do Graal Negro. O fato de dominar sexualmente uma maga negra era muito excitante ao Conde que
ingenuamente acreditava que ia resgatá-la para a Luz. Mal sabia que ela tinha planos tenebrosos
contra ele. Depois de um longo período de caricias entre o casal voluptuoso, a lança de Marte penetra
intrepidamente o abismo do monte de Vênus, que como um vulcão em erupção lançava chamas. A
dama do Graal Negro se contorcia e soltava suspiros profundos, à medida que sussurrava palavras
eróticas, isto enlouquecia o Conde de erotismo. A frenesi sexual era enlouquecedora entre o casal de
amantes. De Le Puy jamais conhecera uma mulher como esta que conhecia tão bem a arte do sexo,
porém terrivelmente perigosa para um homem casto. Ela pedia em estado de frenesi que De Le Puy
chegasse juntamente com ela ao orgasmo explosivo que ela já estava anunciando pelas fortes
contrações da musculatura vaginal. O Conde sentiu o prenuncio do espasmo que leva ao orgasmo,
então abraçou-se fortemente a Ofélia para reter seus movimentos, à medida que mantinha seu potente
falo quieto nas profundezas daquela lânguida vulva. Ela, então, percebeu a astúcia do mago branco
em controlar a ejaculação. Então esperou seus movimentos fálicos para extrair o fluxo seminal das
gônadas do mago. O movimento sexual se iniciou entre o casal novamente, desta vez o mago percebe
que Ofélia se contorce deliciosamente, à medida que contraia fortemente os músculos de sua vagina
com a intenção de extrair o sêmen do mago. Soltava sussurros e gemidos tentadores; contorcia-se
como uma serpente. Então, Ofélia solta um potente grito orgástico. O mago saiu vitorioso e não
derramou uma só gota de seu sêmen sagrado. Ofélia apesar de ter alcançado a plena satisfação
sexual, ficou frustrada em saber que não fez o mago chegar ao orgasmo e disse:
“Não sentiu prazer?”.
“Claro que sentir, este foi um dos melhores sexos que já fiz em toda minha vida, como poderia
não sentir prazer?”, disse olhando fixamente para Ofélia que estava deitada de costas para o Conde
demonstrando sua insatisfação.
“Então, por que não me semeou?”.
“Está louca! Quer me levar à morte?”, disse isso, à medida que se levantava espantado.
“Deixe de besteira, teu sêmen deve mesclar com meus fluidos para bipolarizar os átomos
solares e lunares”, disse Ofélia persuasivamente. De Le Puy não lhe deu atenção e saiu do quarto de
Ofélia. Pois, ele bem sabia que este método de mesclar os fluidos sexuais e depois atrair com o poder
mental os átomos bipolariozados novamente através de um processo de magia sexual negra, era a
causa do despertar da cauda de satã, o Kundalini despertado negativamente. O Grão-Mestre da
Franco-Maçonaria sabia muito bem que os átomos bipolarizados absorvidos tentam subir pela espinha
dorsal, porém o anjo da Espada, o Querubim que guarda a entrada do Éden, precipita-os para baixo
para a região da base da espinha dorsal que corresponde aos infernos infra-atômicos do homem,
então estes átomos se chocam com o Átomo do Inimigo Secreto, Bafometo, despertando a cauda de
Satã. Esta cauda vai descendo cada um dos nove infernos outorgando ao mago negro os poderes e
as iniciações dos respectivos infernos; quando a cauda de Satã alcança o núcleo central da Terra
onde reside a Alma do Mundo, o inferno de Netuno, então o mago negro se torna uma hierarquia do
reino do Anticristo, ou seja, converte-se em um demônio como Belial ou Asmodeu, por exemplo.

‫ש‬

Ofélia disse a De Le Puy que precisava se ausentar por alguns dias, pois pretendia visitar sua
família na Espanha. O Conde desejou acompanhá-la, porém esta lhe disse que precisava de um
tempo sozinha, isso lhe causou certo ciúme e até mesmo uma leve desconfiança, porém com muita
luta interior compreendeu e não se opôs aos planos dela. Mas, Ofélia estava mentindo ao Conde, pois
na verdade ela havia recebido um convide para ir a um ritual de shabbath negro que aconteceria na
sede da Ordem do Graal Negro em Longuidoc. Ofélia se encontrou com algumas pessoas e juntas
partiram para o antro da perdição.
Várias pessoas se encontravam já no Castelo do Graal Negro, estavam todos felizes e
ansiosos aguardando o inicio do culto a Baco com cabeça de touro. O ambiente era místico e até
mesmo havia um certo ar de santidade no local tenebroso. Todos receberam uma máscara e uma
túnica apropriada para o rito. Todos se vestiram e colocaram suas mascaras báquicas, desta forma
ninguém se reconheceria, assim, suas identidades estariam ocultas, já que ali haveria uma orgia
coletiva entre os iniciados esotéricos do Graal Negro. Sobre o altar do tenebroso templo havia um
deus com cabeça de bode e pés caprinos, uma versão negra do Grande Bafometo da Magia Cristica.
O sumo sacerdote defumava o antro da orgia, à medida que possuía em sua mão esquerda um cajado
encimado com a cabeça de bode. Todos se vestiam com túnicas escarlates e possuíam pentagramas
invertidos no peito. Ao som do piano uma voz melodiosa e lírica ecoou pelo recinto, o canto era
apropriado para o ritual luxuoso e pomposo. Todos formaram um círculo em torno do sumo sacerdote
e da suma sacerdotisa que se encontravam ao centro de um pentagrama invertido delineado no chão.
O sumo sacerdote escolhia uma sacerdotisa e entregava-a a um sacerdote, até que se completou os
dezesseis casais que participariam do culto orgíaco do Sába Negro.
Todos formaram um circulo em torno do pentagrama e observam atentamente o rito de magia
sexual negra iniciado pelo sumo sacerdote e sua suma sacerdotisa. À medida que os casais
contemplavam o ato erótico do casal ao centro do pentagrama, a excitação sexual entre os casais
aumentava e ganhava intensidade. Os casais excitados liberavam uma forte carga de energia sexual,
o sumo sacerdote empregava esta força para projetar em uma imagem mental criada por ele, era com
este fluido astral sexual que ele animava suas formas mentais utilizadas em suas magias negras. A
forma mental alimentada pelo fluido sexual liberado na orgia era de um demônio com cabeça de
crocodilo que era projetado como feitiço sobre a egrégora da Fraternidade Gnóstica do Leão
Vermelho. Por fim, o rito macabro e orgíaco teve inicio entre os casais que uivavam como animais no
cio; a frenesi sexual se apoderou de todos. De repente algo insólito ocorreu, uma das sacerdotisas que
praticava magia sexual negra deu um grande grito e caiu inconsciente ao chão, todos pararam
assustados e olharam à sacerdotisa ao chão. O sumo sacerdote pronunciava palavras de conjuração
contra o demônio que ele mesmo criou, o demônio plasmou-se com o material bioplásmatico liberado
pela forte excitação sexual dos participantes do Sába, e se tornou visível a todos; era enorme e tinha
um terrível poder. Com muito custo o demônio que atacou a sacerdotisa e a levou a morte instantânea,
foi desintegrado por uma substância secreta que o sumo sacerdote tinha ali por segurança, pois ele já
havia presenciado isso antes.
“Mestre qual o motivo deste retorno devastador?”, perguntou uma das sacerdotisas
mascarada que pela voz parecia ser Ofélia.
“Estão sendo protegidos por uma poderosa cadeia de lamas tibetanos, eu os vi clarividemente.
O estranho é que entre estes lamas havia um lama com características ocidentais, foi exatamente este
que lançou de seu coração uma poderosa luz vermelha que se condensou em um potente leão alado
que se lançou contra nosso demônio; isto fez com que sofrêssemos um choque de retorno, não
esperava por este imprevisto, precisamos criar uma força mais poderosa ainda, esta Ordem coloca em
risco nossos projetos. Temos que trazer o homem mais poderoso de nossa Ordem no próximo ritual,
somente ele pode se opor com possibilidades de vitória contra esta Ordem Gnóstica”, respondeu o
sumo sacerdote mostrando pânico no semblante.
Os tenebrosos depois de certo tempo fizeram uma grande fogueira e incineram o corpo
daquela jovem mulher que havia sido fulminada pelo demônio. No dia seguinte partiram.

‫ש‬

Pedro se encontrava numa estrada solitária cercada de ruínas. Passou por uma taverna
asquerosa e percebeu três mulheres fatais com aspectos de bruxas, elas olharam para ele e deram
um sorriso sarcástico com ar diabólico, ele as olhou e seguiu sua jornada pela estrada solitária. De
repente um ar diabólico tomou conta da atmosfera, um calafrio percorreu sua espinha, então acelerou
os passos demonstrando um certo pânico, diante de si formou-se um grande turbilhão de onde saiu
um ser diabólico com aparência de símio de aproximadamente quatro metros de altura carregado de
poder hipnótico fatal que produzia um pânico terrível na alma de quem o via; Pedro sentiu medo e
pensou em fugir, porém manteve-se sem ação diante do demônio do umbral.
“É assim que me pagas depois de tantas coisas que lhe dei, agora me troca por este a quem
chama Cristo?”, disse o demônio com ênfase oratória.
Pedro tremia de medo diante da horrível figura diabólica, mas mesmo assim perguntou:
“Quem é você horrível demônio? Deixe-me seguir meu caminho em paz!”.
“Quem sou eu? Esquecestes de mim traidor! Sou teus desejos passionais! Esquecestes dos
desejos deliciosos que te proporcionei e das paixões que te concedi? Sou teu filho, tu me criastes ao
longo de tuas várias existências e agora perguntas quem sou eu?! Ingrato és com aquele que te
realizou os melhores desejos!”.
“Não quero mais beber do vinho de tua prostituição, deixe-me em paz maldito! Afasta-se de
mim!”, disse isso, à medida que caminhava para cima do demônio.
O demônio do umbral fez aparecer diante de Pedro várias imagens que personificavam seus
desejos inconscientes, e disse: “Tudo isso lhe darei se me seguires! Este ao qual tu segues só lhe
trará dor e amargura, por que negas os desejos mais deliciosos que se pode gozar na vida? Dinheiro,
riqueza, mulher belas, sexo, luxo, poder, fama... Tudo isso terás, para isso pasta negar este a quem
serve agora...”.
“Almejo a libertação, não quero mais ser teu escravo maldito afasta-se de mim!!!”.
O demônio vendo que não podia persuadi-lo assumiu a forma da Anima negra carregada de
fatalidade e beleza maligna:
“Não me deixes meu amado, não me abandones! Esquecestes das deliciosas noites que
passamos juntos?”, disse Lilith.
Nestes instantes Pedro ficou como hipnotizado diante da mulher ideal que ele desejava,
mantendo-se calado e com olhos fixados em sua Lilith interior que lhe se dúzia terrivelmente.
“Venhas ao meu leito, pois te desejo ardentemente!”, disse o demônio feminino cheio de
astúcia e de simulação. Pedro despertou e gritou: “Afasta-se de mim não desejo mais seu leito de
corrupção e prostituição!”.
Então o demônio sumiu novamente sua aparência diabólica e partiu para cima de Pedro para
apavorá-lo e colocá-lo em fuga, assim o venceria nesta primeira prova do umbral do mau desejo, o
demônio ou Fúria que impedia a entrada da alma ao mundo astral superior. A energia cristica que
Pedro adquiriu através da transmutação sexual lhe deu os méritos necessários para enfrentar este
demônio e vencê-lo, então ele partiu como um guerreiro intrépido para cima do demônio pronunciando
uma conjuração: “Afasta-se de mim demônio! Te conjuro em Nome do Cristo, pelo Poder do Cristo e
pelo Sangue do Cristo!!!”, o demônio se pôs em fuga apavorado. Logo Pedro então percebeu que se
encontrava no mundo astral. O seu Mestre, Regulus, manifestou-se diante de si e lhe exclamou com
felicidade: “Felicito-o!”, logo transportou Pedro para o mundo astral superior onde houve uma festa à
sua vitória. Depois revelou a Pedro o local onde se localizava a entrada secreta que dava acesso ao
templo subterrâneo do Castelo do Leão Vermelho.

Logo pela amanhã Pedro informou à junta sacerdotal o local exato que dava acesso ao
templo. Todos comprovaram a existência do templo tudo ali estava intacto, apenas os objetos
perecíveis haviam se deteriorado pelo tempo. Agnes e as outras sacerdotisas cuidaram dos
ornamentos e da limpeza do templo, os doze apóstolos cuidaram do serviço pesado como a
restauração de algumas partes dos altos relevos que adornavam as paredes. Todo o trabalho de
restauração levou aproximadamente seis meses.
Capitulo ‫ץ‬
A ruína de Sansão

Agnes em corpo astral seguiu até o Tibet para visitar o Mestre Regulus. Chegando nos
domínios do templo encontrou Mestre passeando com uma venerável Lama pelo belo jardim florido,
tratava-se de uma monja desencarnada, pois Agnes observou que ela não tinha o cordão de prata que
ligava o corpo físico ao astral. A lama olhou para Agnes e acenou fazendo um leve movimento com a
cabeça indicando para Regulus a chegada de sua grande amiga e Grã-Sacerdotisa da Ordem
Gnóstica do Leão Vermelho. Regulus e Selketh entraram no templo tibetano; eles deram um salto para
trás e se livraram de seus corpos astrais solares e penetraram no mundo mental concreto como seus
corpos mentais; depois fizeram o mesmo com o corpo mental e penetraram no causal ou mental
abstrato que é um mundo de natureza eletrônica. Enfim, ambos penetraram no templo causal da
Ordem do Leão Vermelho utilizando as palavras de passes e deram os sete passos sagrados até o
interior do templo, ajoelharam-se diante do Venerável Sumo Sacerdote que dirigia este templo e dele
receberam a ordenação necessária para dirigirem e representarem a Ordem Gnóstica do Leão
Vermelho no mundo da terceira dimensão. Depois da cerimônia abandonaram aquele templo em
formato de cruz e cercado por muralha de jaspe em forma hexagonal. Regulus levou Agnes a diversos
lugares belos desta região inefável onde não há dualidade e nem bem e mal. Este era o mundo onde
se encontrava a causa do mundo sensível. Depois de visitarem o templo da música, ambos partiram
para um templo Taoísta onde a Mônada humana daquela personalidade conhecida como Lung Nu
estava morando e se preparando para sua próxima reencarnação. Lung Nu ficou muito feliz em rever o
grande amor e juntos passearam pelos bosques desta região eletrônica da sexta dimensão da
Natureza.
Agnes contemplava aquele céu de um azul eletrônico intenso e percebia a intensidade dos
brilhos das estrelas. Depois os registros Akashicos se abriram para ela como uma tela de cinema. Lia
a sua história cósmica; via as migrações de sua Mônada humana por diversos planetas e
constelações; também foi mostrada a ela a queda de um grande pinheiro, ela sabia que este era um
símbolo esotérico que revelava a queda de um grande Mestre, ela então pensou no Grão-Mestre De
Le Puy. Agnes preocupada com o Grão-Mestre da Franco-Maçonaria, invocou com mantras secretos o
Lúcifer glorificado daquele grande Mestre franco-maçom e com ele manteve um diálogo. Diante de sua
presença o Lúcifer ou Mestre Interno, o Divino Daímon, de De Le Puy, manifestou-se em sua forma
humana, pois o mundo causal é o mundo do Filho do Homem ou Manas superior, a Espírito humano.
Este Lúcifer cristificado vestia-se com sua túnica de cor negra como a azeviche da gama ultravioleta, e
trazia sobre o peito o medalhão com um escorpião de prata. A Mestra Selketh perguntou-lhe: “Por que
não salvas tua Manas concreta, tua Pistis Sophia?”, Lúcifer respondeu com voz de trovão: “Necessito
descer ao inferno mais uma vez para desenvolver certos princípios que eu ainda não possuo. Tu
sabes que cada vez que o Escorpião se transmuta na Fênix, esta renasce mais gloriosa ainda. Sete
vezes cai o justo e se o é outras sete vezes se levantará”, disse isso e desapareceu em silêncio.
Agnes voltou para seu corpo físico maravilhada com a experiência. Saiu para dar uma volta e
contemplar o céu da madrugada, então se dirigiu até a torre. Tamanha foi à surpresa dela quando
encontrou Leonel passeando pelas valas que ligavam as três torres.
“Que surpresa maravilhosa em encontrá-lo aqui”, disse isso Agnes com os olhos brilhosos, à
medida que fitava Leonel que contemplava o céu estrelado.
“Sabia que te encontraria aqui, sei que ás vezes na madrugada você vem até aqui para
contemplar as estrelas, de fato esta é uma experiência maravilhosa. Gosto de passear durante a noite
quando estou realizando algum trabalho filosofal, esta prática me deixa muito inspirado. Estava a
pouco dormindo, tive um sonho cujo contexto era o Egito, estava no templo da deusa Selketh
juntamente com uma sacerdotisa que me mostrava uma estrela caindo do céu. Esta sacerdotisa era
você. Sei muito bem que este é um presságio que indica a queda de um Mestre. Será De Le Puy?
Nestes últimos meses estive com ele e percebi que ele mantém uma ligação efetiva com uma estranha
mulher. Ele mudou muito depois que se relacionou com a tal dama; comentam-se nos círculos
maçônicos que ela o faz gastar fortunas em seus caprichos”, disse Leonel mantendo os olhos fixados
no céu.
“De Le Puy é um grande Pinheiro prestes a ser cortado, logo jogará sua pedra filosofal na
água, então ela se dissolvera e seu Espírito saíra dele como o vento, levando consigo sua maestria,
sim, Lúcifer descerá ao abismo mais uma vez!”, exclamou Agnes com os olhos fixados no coração do
Escorpião.147
“Mas, se não negar os poderes terá um duplo centro de gravidade, transformar-se-á em um
hanasmussem, o anjo e o demônio ocuparão o mesmo corpo”, disse Leonel.
“Se apaixonou por uma maga negra como Sansão por Dalila, pois esta era uma sacerdotisa
negra treinada na magia negra em um templo em Memphis, Egito. O mito cabalístico de Sansão, o
homem solar, representava a queda do Super-Homem. As sete tranças simbolizavam a castidade,
esta Sansão perdeu quando disse a Dalila que sua força consistia na castidade, com a perda da
castidade perdeu a consciência, ou seja, sua visão foi tirada pelos filisteus que personificavam no mito
cabalístico os demônios infra-atômicos, assim, foi escravizado à roda de moinho que personifica a
roda do destino, do carma, dos sucessivos nascimentos e mortes”, dialogava Agnes.
“Mas, seus cabelos tornaram a crescer e sua força voltou, com isso pôs o templo de seus
demônios internos abaixo se apoiando nas duas colunas, magnífico mito!”, exclamou Leonel.
Ambos ficaram por um instante em silencio e em estado de contemplação, logo Leonel
rompeu o silêncio e disse: “Quando a vi pela primeira vez te amei”, Agnes ficou vermelha e tímida
diante da declaração que surgiu como uma estrela cadente.
Agnes ficou parada e com os olhos fixados nos olhos de Leonel, logo disse: “Eu também
sempre te amei; me mantive calada todos estes anos, passei por um sofrimento indivisível, chorei
muitas noites por não poder viver o amor que a mim me pegou de surpresa; certa vez contei ao meu
marido que jamais poderia amá-lo, porque meu coração pertencia a outro homem, ele era um homem
muito nobre e compreendeu. Sempre tive medo de não ser correspondida neste amor; quando você
aderiu nossa Fraternidade fiquei muito feliz. Agora ouvindo suas palavras me sinto a mulher mais feliz
do mundo”, disse isso chorando, à medida que dava um forte abraço em Leonel, logo o beijo
aconteceu e o casal de enamorados ficaram juntos por toda madrugada.

‫ש‬

Já fazia alguns meses que Ofélia e De Le Puy se uniam intimamente. Ofélia era muito curiosa
em saber de onde vinha o poder e a força de De Le Puy; então certa noite depois do ato de amor ela
perguntou a ele de onde vinha este poder que lhe outorgava riqueza e sabedoria. Então ele revelou
que o poder de sua áurea que atraia riqueza, glória e sabedoria, era o resultado de muitos anos de
transmutação sexual, não só da atual existência como de muitas outras vidas passadas, porém ela
não acreditou. Ela o combatia no sexo, porque para ela o fato dele não ejacular durante o intercurso

147
Estrela Antares o alfa da constelação do Escorpião.
sexual, era como se ele não a amasse de verdade. Ofélia se sentia usada sexualmente, e para uma
mulher como ela, que dominava os homens pelo sexo, isso era inadmissível, pois ela era uma mulher
que refletia o arquétipo de Lilith como feiticeira. Obviamente ela era a personificação da Natureza que
deveria ser dominada pelo mago branco. Ela nunca aceitou o fato do Espírito dominar a Natureza,
toda mulher é uma sacerdotisa da Natureza e, assim, deve servi-la, dizia ela. Ofélia afirmava que a
mulher era a própria terra que deveria ser semeada, este era o rito da geração e da vida, como não
praticá-lo? Ela, como Gaia, não suportava mais realizar as concepções de Urano, a Alquimia Sexual,
assim, tentava a todo custo castrar seu amante, então com a ajuda de Saturno, o Fogo da Matéria, o
Bode do Sába, castraria o Mago e obstruiria a revolução sexual de Urano.148
Era sábado, e neste dia Ofélia estava terrivelmente tentadora e deliciosamente bela e fatal,
como Cleópatra. Um belo e fino vestido escarlate cujo decote deixava uma parte dos lindos seios
amostra, cobria-lhe o corpo bem delineado e belo. Comprou o vestido em uma refinada e luxuosa loja
em Paris, nunca tinha usado, pois estava guardando para uma ocasião especial, esta era uma ocasião
especial, pois havia preparado um jantar a luz de vela para comemorar o aniversário do Conde De Le
Puy; o vestido a deixava fatal e com uma refinada luxuria. Contratou violinistas para esta ocasião
especial, Vivaldi era seu músico predileto.
Logo após o luxuoso jantar, ambos dançaram uma deliciosa valsa ao som dos violinos. De Le
Puy estava fascinado pelo poder sedutor daquela mulher fatal, não conseguia mais manter o controle
sobre os fortes impulsos eróticos lilitianos que emanavam como chamas impetuosas sobre sua áurea.
Ela brincava com ele como o gata que brinca com a presa antes de matá-la; ela já sabia qual era seu
ponto fraco e explorava o máximo. A paixão estava cegando De Le Puy, estava acorrentado pelas
cadeias de cobre da fêmea fatal e ajoelhado aos seus pés, implorava o seu amor, porém ela o
ignorava com dissimilação e gestos caprichosos.
O Conde agarrou-a pelos braços puxando-a ao encontro de seu peito disse: “Peça o que
quiser, e eu de darei”, ela como voz manhosa perguntou: “Tudo meu amor?”, ele respondeu: “Bem,
quase tudo”, respondeu. “Como assim? Você falou tudo!”, exclamou Ofélia com dengo. “Menos minha
vida, é claro”, disse o Conde, à medida que perseguia Ofélia pela ampla sala. “Sua vida já é minha e a
minha já é sua, porém quero que me dê à fecundação como o sol dá a lua”, pedia Ofélia astutamente,
à medida que o Conde se aproximava ela fugia.
O Conde parou de persegui-la e permaneceu pensativo, não compreendia este enigma,
depois de certo tempo perguntou: “Como assim, não compreendo? Quer um filho meu?”, indagou
surpreso, à medida que Ofélia respondia enfaticamente: “Sim, um filho, desejo ardentemente um fruto
de nosso amor, mas como o terei com esta forma antinatural de ser fazer amor?”.
“O que me pede é duro está fora de meu alcance, compreende?”, disse De Le Puy
demonstrando tristeza no semblante.
“Como assim? Esta dizendo que não pode conceber a vida em mim, isso é uma anátema
contra a Natureza!”, exclamou com uma certa fúria no semblante.
“Não disse que não posso lhe dá um filho, posso dá-lo, porém...”, refutou o Conde.
“Porém não me ama o suficiente para me dar um filho, não é?”.
“Não, não é nada disso, posso e quero lhe dá um filho, porém deve ter paciência, pois mesmo
por este método de sexualidade você pode gerar, mas isso não está sobre minha vontade, mas sim
sob a vontade da lei divina que determina aos anjos da fecundação a liberação de um único
148
Saturno é o bem e o mal, a dialética, o mundo sensível. É a Morte. É a Matéria dominando sobre a Alma,
pois seu símbolo astrológico é constituído por uma cruz de braços iguais sobre a lua minguante, formando a
foice da Morte. Urano é o planeta da revolução sexual, está exaltado em Escorpião que rege o sexo; Urano
rege as glândulas sexuais e é o Regente da Era de Aquário, a constelação da alquimia sexual. O campo de
batalha onde Urano realiza sua revolução é o Sexo.
espermatozóide para fecundá-la, mas isso implica méritos de ambas as partes, pois uma criança
nascida nestas circunstancias é especial, não posso lhe dá um filho por minha livre vontade, espero
que compreenda meu amor”, disse De Le Puy.
“Não compreendo, você não me ama, só quer usar meu corpo em benefício próprio, que mal
há em semear-me uma única vez para que eu possa gerar uma criança em meu ventre, você precisa
de um herdeiro e eu de um filho; sou plenamente satisfeita sexualmente com você, mas sou
insatisfeita por não poder gerar”, disse persuasivamente a astuta Ofélia.
Este dialogo lançou muitas dúvidas na mente de De Le Puy, ele pensou consigo mesmo:
“Uma única vez em beneficio de trazer uma vida ao mundo, talvez Ofélia tenha razão”. Ficou
pensando nisso, assim, foi nascendo um forte desejo em semear Ofélia. Ele tinha medo de perder
Ofélia, pois estava completamente apaixonado e não queria perdê-la. Ofélia estava sentada no
luxuoso sofá demonstrando birra. De Le Puy se aproximou dela e tentou abraçá-la, ela se afastou
dele, mas quando ouviu estas palavras: “Sim, vou semeá-la, entretanto somente farei isso uma única
vez, com isso perderei alguns graus de minha iniciação, mas te darei um filho, quando estiver fértil
semea-la-ei”, eufórica de felicidade exclamou: “Estou fértil meu amor!”.
Ofélia subia os degraus sedutoramente, à medida que dizia: “Venha, eu te darei meu presente,
mas antes vou prepará-lo, aguarde em seu leito, quando ouvir a música, venha receber o seu presente
meu amor”.
Depois de um certo tempo esperando ansioso, ele ouviu um som musical árabe, destes que as
dançarinas do ventre utilizam em suas deliciosas danças eróticas. Abriu a porta lentamente, então viu
diante de si Ofélia de costas vestida como uma dançarina persa, ela dançava sedutoramente, à
medida que virava lentamente para o Conde. As vestiduras da dançarina eram negras, transparentes e
abertas nas laterais, estava com os cabelos soltos; o belo rosto estava sedutoramente maquiado. De
Le Puy estava intacto e ardendo em chamas de desejo. Ofélia dançava deliciosamente diante da
presa, estava mais sedutora que quando dançara para o frei Miguel. Seu corpo libidinoso e seus
gestos lascivos produziam um ar fatal no ambiente. De Le Puy não estava mais suportando a pressão
do fogo erótico em seus órgãos sexuais; ele tentava agarrá-la para possuí-la, porém ela contorcendo o
corpo como uma serpente astuciosa, fugia graciosamente em um delicioso jogo erótico com o amante,
isso o excitava ainda mais. Ele tentava conquistá-la, mas ela resistia suas investidas. Até que por fim
ela foi se desfazendo dos véus, da fina e longa saia sedutora, dá pequena blusa que lhe mantinha o
ventre nu e os seios semi-ocultos; entregando cada peça que tirava ao amante que a venerava como
uma deusa; ele cheirava as peças, à medida que serrava os olhos demonstrando profundo desejo na
alma; por fim ela estava completamente nua, apenas mantendo os adornos do corpo como os
braceletes de ouro em formato de serpentes, o belo colar de ouro engastado com pedras de rubi e os
belos brincos também de ouro e rubi. Ele fez como todo cavalheiro faz com sua amada antes do coito,
beijaram-se com sofreguidão e uma volúpia já com um certo toque de luxuria embriagadora. Ofélia se
comportava com lascívia refinada, o amante embriagado de prazer não percebia o perigo luxurioso
que lhe dominava a alma como muita sutileza no frenesi sexual. O Conde por um longo tempo resistiu
os encantos fatais da serpente tortuosa que se movia freneticamente sobre o leito do amor. Ofélia
havia treinado seus músculos vaginais com uma certa técnica do tantra negro da Índia com a única
finalidade de fazer o Conde ejacular em sua matriz geradora; as fortes contrações vaginais produziam
uma forte sensibilidade no falo do amante que já se encontrava a beira do precipício. Ele tentava reter
o espasmo que anunciava o orgasmo, pois havia se arrependido da promessa que fizera a Ofélia,
porém esta também lutava poderosamente contra o falo potente daquele mago poderoso que estava
preste a cair nas profundezas do abismo da lascívia maga negra. Por fim, a lua negra venceu o sol e o
escureceu com seu fumo fatal, então os gritos de desejos lascivos de Ofélia ecoaram na câmara
nupcial juntamente com os do Conde que liberou o sêmen jamais saído de suas gônadas em um
explosivo orgasmo satânico. Ofélia em frenesi sexual desenfreado contorcia os quadris, à medida que
soltava um explosivo grito orgástico de satisfação luxuriosa.
Depois da fugaz sensação erótica explosiva, ambos caíram para os lados com suas forças
totalmente esgotadas. De Le Puy macambúzio e cheio de remorso na alma disse: “Você me destruiu,
lascívia Lilith”, a amante satisfeita com a semeadura, disse: “Deixa de besteiras, homem; foi bom para
mim e para você...”.
Perséfone sentiu um terrível abalo na alma, pois sentiu a queda do grande Mestre De Le Puy,
ela o amava antes que Pedro aparecesse em seu destino; nunca ocultou este amor de Pedro, pois ela
disse para este que a afinidade sexual, emocional e mental para com ele era o suficiente para ambos
realizarem juntos o Grande Arcano da Magia, porém seu coração pertencia a sua Alma gêmea, pois o
amor por Antares era eterno, mas eles não estavam predestinados na atual existência, pois ele fez sua
escolha. Pedro também tinha as mesmas afinidades por Perséfone, assim como ela, ele também
amou uma mulher cujo amor não era correspondido, está mulher era Heloísa, esta jamais soube do
amor que o amigo sentia por ela, mas quando conheceu Perséfone um amor muito mais nobre e
poderoso se manifestou em sua alma. Enquanto Pedro e Perséfone realizavam intensivas magias
sexuais para se elevarem no Caminho do Fio da Navalha, o Conde e Ofélia caiam no abismo da
luxuria e da loucura, pois ele já não tinha vontade suficiente para reter o sêmen; por fim, o Kundalini do
Mestre Antares desceu até a base da espinha dorsal, e ali dentro do chacra Mulandaha a divina
Serpente dos mágicos poderes se alojou em três voltas e meia e adormeceu, voltou a estado
pontecial. O Espírito Santo, Osíris, foi assassinado e se dividiu em quatorze pedaços, ou seja, o
Espírito Santo Íntimo de De Le Puy se fragmentou, perdeu a unidade. O Mestre Antares negou sua
maestria, assim, não se tornou um anjo e um demônio ao mesmo tempo; os planos de Ofélia de levar
o esposo para a Grande Loja Negra, fracassou. O Grão-Mestre perdeu todas as iniciações de
Mistérios Maiores que havia ganhado com muito sacrifício, tornou-se o Louco do Tarô.
Ofélia nunca ficou grávida. De Le Puy caia na degeneração e a cada dia sua fortuna era
voltada para os caprichos da esposa maga negra. Realizavam cruzeiros por todo o mundo, gastavam
fortunas nos cassinos de Los Angeles. O grande império deste Grão-Mestre foi caindo aos poucos. De
Le Puy já não tinha prestigio nos círculos esotéricos da Franco-Maçonaria e de outras Ordens
esotéricas. Abandou Marselha e foi residi em Paris a pedido da esposa lilitiana, onde viveram por
algum tempo no luxo. Passou-se três anos, a paixão de Ofélia pelo Conde foi esfriando a cada dia, à
medida que a fortuna deste ia se acabando. Por fim, a pedido da ambiciosa esposa ele investiu o resto
de sua fortuna em ações de uma grande empresa inglesa que estava em alta no mercado; entretanto
se tratava de um golpe fatal contra aquele bom homem que se deixou levar pelos encantos desta
víbora tortuosa que o levou à ruína espiritual e material. Quando a paixão que Ofélia sentia pelo
Conde se esfriou, ela conheceu um mago negro hindu que ensinava tantra negro em uma escola
secreta que fundara em Paris; Ofélia se associou a este homem tenebroso da mão esquerda. Este
homem era um habilidoso negociante vigarista que lidava com ações; este adepto do tantrismo negro
passou a praticar magia sexual negra com Ofélia secretamente. Aos poucos persuadiu Ofélia a
convencer o marido traído a investir o resto da fortuna em ações de uma empresa que estava em
ascensão no mercado; De Le Puy que era apaixonado e dominado pela esposa, deixou-se se levar
pela falácia da esposa tenebrosa e investiu toda a fortuna nas ações da empresa, tornando-se dono
de quarenta por cento da empresa multinacional, de fato a empresa cresceu e De Le Puy multiplicou a
fortuna, porém não tinha vontade nenhuma em administrar o seu capital, nunca gostou do capitalismo
apesar de ser rico, seus negócios sempre foram voltados para obras de artes e a ciência, sua fortuna
sempre esteve a favor da evolução da humanidade nunca a serviço do Império do Capital, porém com
sua queda sua nobreza obscureceu-se pelo fumo da paixão que sentia por Ofélia. Então cometeu um
erro fatal, deixou Ofélia, que era uma habilidosa administradora, como sua procuradora nos negócios,
esta então transferiu toda as ações do marido para o nome do mago negro por quem estava
apaixonada, ambos fugiram para os Estados Unidos da América, para a cidade de Nova York no ano
de mil novecentos e sessenta.
De Le Puy era apaixonado pela maga negra, não suportou a traição e a perda da esposa,
entrou num estado de melancolia e depressão muito profundo; passou a freqüentar os bares noturnos
de Paris, e era difícil de vê-lo sóbrio, passava a maior parte de seus dias e noites bêbado e cercado de
prostitutas, estas se tornaram grandes amigas dele. De Le Puy a cada dia conhecia pela sua própria
experiência o submundo. Bêbado repetia sempre à mesma história de que foi um milionário conde e
grande mestre da maçonaria, mas todos riam dele achando que ele fazia piada. Nada lhe sobrou,
apenas um pequeno apartamento. A pequena quantia que Ofélia lhe deixou para ele manter a
subsistência era gasto com bebida e prostitutas. Por estes tempos de Anjo caído, Antares
perambulava no astral inferior com alguns demônios liderado por Asmodeu, este queria levá-lo ao
templo negro que dirigia para iniciar Antares na Magia Negra, porém este homem tinha ainda muita luz
em sua alma e, desta forma, não caia nas armadilhas de Asmodeu.
Ele passou a freqüentar sempre o mesmo bar, este bar era freqüentado por algumas
prostitutas e cafetões. Entre as prostitutas havia uma moça de aproximadamente vinte e três anos que
se chamava Irene, esta moça tinha uma certa afinidade por Antares De Le Puy ela sempre o levava
bêbado ao seu apartamento, e acabava dormindo por lá mesmo. Isso acontecia quase todas as
madrugadas. Ela tinha pena dele, pois ela percebia que ele não era igual aos outros homens, apesar
de se encontrar na desgraça, ele tinha certa nobreza na alma, sempre a respeitou com muito
cavalheirismo e nas poucas horas que estava sóbrio conversava com ela assuntos inteligentes. Ela
sabia no intimo que ele de fato era um nobre homem que por alguma razão fatal caiu no submundo,
assim, como ela que se tornou prostituta devido ao preconceito e a falsa moral da sociedade. Irene
queria ajudá-lo de alguma forma, mas não sabia como, pois ela mesma necessitava de ajuda. Antares
não tinha vontade de exercer sua carreira de arquiteto para manter sua subsistência, porém quem
empregaria um bêbado? Irene foi morar em seu apartamento como amiga e não como amante, ela
pagava as contas da casa e sustentava o amigo com o dinheiro sujo adquirido pela venda do corpo; a
Mercadora de Cupido e o Mestre caído se tornaram grandes amigos, porém ela não conseguia se
libertar da prostituição e nem ele da bebida. Assim, ambos, foram levando a vida como dava.

‫ש‬
Ano de mil novecentos e sessenta e dois, um homem misterioso calmo e com passos lentos
entrou em um bar em Paris. O homem era delgado, tinha cabelos longos e negros e amarrados em
forma de coque, de aproximadamente quarenta anos. Suas vestimentas eram simples como as dos
monges tibetanos. Não tinha barba e trazia nas costas uma mochila. Seus olhos de águia rebelde
fixaram-se brandamente, cheio de misericórdia e compaixão sobre Irene, depois se desviaram para
uma mesa do canto e fixaram-se sobre De Le Puy que estava já um pouco embriagado. Irene
acompanhava o movimento calmo do misterioso homem que se dirigia em direção a De Le Puy, este
olhou para o homem misterioso e perguntou:
“Sua fisionomia não me é estranha peregrino, de onde vem?”.
“De muito longe, da terra do sol nascente e dos Budas iluminados”, respondeu o misterioso
homem, à medida que Irene se encostava à parede ao lado com o intuito de saber o que aquele
homem com aparência de monge falava para seu amigo.
“O que deseja aqui santo homem neste antro de perdição?”, perguntou De Le Puy um pouco
desconfiado com a presença do monge enigmático que se vestia como lama, porém tinha traços de
ocidental.
“Estou em busca de uma Fênix que foi metamorfoseada em Escorpião por uma poderosa
feiticeira, e agora o Escorpião se oculta no submundo; vejo que conhece bem este mundo, poderia me
dá uma pista de onde encontrar o Escorpião?”, indagou enigmaticamente o monge peregrino.
“O Escorpião esqueceu de sua verdadeira realidade, agora não lembra mais de quando era
Fênix, gosta de ser Escorpião, não deseja mais as alturas, ele vive bem no submundo, aliás, o inferno
é a sua verdadeira morada como poderia ele viver fora de seu reino?”, indagou De Le Puy. Irene ouvia
o enigmático diálogo.
O monge manteve o silêncio por algum tempo, depois disse: “Solitária é a vida do Escorpião,
pesado é seu fardo, cercado está pelas chamas da paixão, há outro meio de escapar do circulo das
chamas da paixão a não ser pelo alto? Sim, somente pelo alto o Escorpião pode libertar-se, porém é
necessário antes quebrar o encantamento para retornar à forma de Fênix, só assim poderá escapar
pelo alto num vôo arrasante e tomar o céu de assalto”.
“Vejo que é um sábio e vê além da forma, quem te envio?”, perguntou De Le Puy.
“Sou apenas um peregrino em busca de Escorpiões, quebro encantamentos para que estes
retornem a ser Fênix‟s. Os Escorpiões me atraem, desta forma sempre sou conduzido para eles”,
disse o sábio Lama.
Irene estava assombrada com o dialogo enigmático, agora sabia que de fato De Le Puy tinha
um passado misterioso.
“O Escorpião é a morte e é alimentado pelo sol da paixão, como poderemos tirar seu alimento
sem receber suas ferroadas fatais?”, indagou De Le Puy meio irônico.
“O Escorpião projeta-se para o sol do inferno, a Fênix para o sol do céu, como reverter seu
curso? Obstruindo seu caminho para o sol do inferno, a morte mata a própria morte, ai esta o mistério
do Escorpião que injeta em si mesmo seu próprio veneno quando é obstruído, o elixir que mata a
morte é feito do próprio veneno; o elixir será o novo alimento do escorpião, é ele que produz
mudanças no metabolismo do Escorpião, assim, este vai metamorfoseando-se aos poucos até
assumir a forma total da Fênix, assim, esta se eleva acima do fogo da paixão levando nas garras a
serpente da sabedoria”, respondeu o Monge sábio com um leve sorriso.
O Monge se levantou levemente e se despediu de Antares dizendo que lhe faria novas visitas
se assim o permitisse. Antares agradou-se com a conversa de mestres que tiveram e isso lhe trouxe
uma certa alegria, pois fazia seis anos que não dialogava com ninguém sobre assuntos
transcendentais. O Mestre caído encontrou-se com o Mestre que se levantou; encontro enigmático e
misterioso. A poderosa áurea violeta do Lama expulsou a legião de demônios de Asmodeu que
estavam ao lado de De Le Puy, assim, a esfera astral deste estava limpa. Quando o Lama se afastou
e se aproximava da saída do bar, Antares gritou: “Qual seu nome sábio Lama?”, este respondeu: “Meu
nome é Regulus, o Coração do Leão!”, exclamou o Lama. De Le Puy empalideceu e ficou assombrado
quando ouviu o nome Regulus. Sim, Regulus retornava ao mundo ocidental para realizar sua Grande
Obra. O Lama ainda com o rosto virado para De Le Puy, perguntou: “E o seu qual é?”. “Antares, o
Coração do Escorpião”, disse rindo De Le Puy. Este dia era dois de fevereiro de mil novecentos e
sessenta e dois às dezesseis horas da tarde, horário de Aquário; os sete planetas estavam transitando
na constelação de Aquário, iniciava-se a Era de Aquário.
Irene perseguiu o Lama e lhe pediu com a voz ululante e soltando lágrimas dos olhos: “Por
favor, Mestre, liberte Antares do inferno, ele é um bom homem e não merece estar aqui”.
“Finalmente encontrei a segunda e grande mulher que conheci nesta minha atual existência,
bendita seja tu entre as mulheres, prostituta arrependida! Mesmo ainda em estado lamentável, não
abandou seu Mestre e ainda pede por ele... Vá e não peque mais”, Regulus disse isso e seguiu seu
caminho solitário, para onde? Ninguém sabe.
Passaram-se dias depois da visita de Regulus, Antares não bebia mais e não ia mais ao bar.
Irene já não se prostituía, e estava lutando com todas suas forças para ajudar Antares a vencer o vicio.
Ambos passaram por terríveis dificuldades financeiras e até fome passaram juntos, pois era Irene que
sustentava a casa com o dinheiro da prostituição, agora como não se prostituía mais, não havia de
onde mais tirar o dinheiro. Antares não estava ainda preparado para exercer a função de arquiteto e
Irene não tinha profissão, então Irene foi trabalhar de empregada doméstica para um casal de
advogados e Antares foi trabalhar numa fábrica, seu salário mal dava para pagar as contas. Antares
percebeu que Irene era uma antiga sacerdotisa da deusa Sthar na antiga Caldéia, era uma prostituta
sagrada do templo desta deusa, porém caira na degeneração quando o culto de Baal foi instalado na
antiga Babilônia, por isso estava escrava deste terrível demônio. O Lúcifer, a Fênix gloriosa do Mestre
De Le Puy, precisou descer ao inferno como Escorpião para buscar a alma de Irene que estava no
inferno de Vênus; Irene era uma de suas antigas discípulas. O Mestre Antares a inicio nos Mistérios na
antiga Caldéia quando ali viveu como Mestre cabalista. Antares De Le Puy falou dos Mistérios Sexuais
para Irene, e esta novamente encontrou a Senda do Fio da Navalha.
Capitulo ‫פ‬
A Esperança

Rumores se espalharam por toda Europa que o Grão-Mestre Antares De Le Puy caíra na
desgraça e na pobreza absoluta e que andava entre prostitutas e ladrões de Paris. Também se ouviu
dizer que havia um Mestre Tantrico vindo do Tibet dando conferencias em toda Paris e até mesmo em
Londres. A Era Tantrica de Aquário estava entrando em atividade, a grande revolução sexual dava
inicio na Europa e na América com o Movimento Gnóstico do Avatara de Aquário o Venerável Mestre
Samael Aun Weor, o Espírito Humano do Logos de Marte, o Regente da Raça Ariana. A Loja Negra
havia perdido um dos maiores Arquidemônios para o Caminho do Centro Invariável, o autor desta
façanha cósmica foi o Mestre Samael que conquistou Belzebu e o tirou das trevas; isso enfraqueceu
muito a Loja Negra e com isso possibilitou o avanço da Gnoses pelo mundo. Muitos movimentos
tantricos surgiram na Europa e na América. O budismo tibetano saia dos mosteiros para o mundo. O
lama Lobsang Rampa foi outra figura destacada neste período, seu trabalho tinha como objetivo a
preparação dos leigos. Muitos neófitos que leram as obras de Lobsang Rampa acabaram encontrando
a Gnoses e outras Escolas mais profundas. As Obras de Jorge Adoum estavam por toda parte, e seu
discípulo Antares De Le Puy estava novamente se levantado.
A Fraternidade do Leão Vermelho funcionava hermeticamente, não havia ainda se projetado
no mundo exoterico, limitava aos rituais internos e as escolas externas de filosofia, ciência, arte e
religião para leigos. Agnes não tinha conhecimento do retorno de Regulus e nem sabia de sua
atividade em Paris e Londres. Um maçom amigo de Agnes, mas que não conhecia Regulus, informou
a Agnes que esteve em Paris e assistiu algumas conferencias do tal Lama tibetano e que ficou
surpreso em ver Antares De Le Puy ao lado do Lama e que ele estava acompanhado de uma mulher
jovem que parecia ser uma discípula e amiga do caído Grão-Mestre Antares. Todos ficaram
assombrados com esta noticia.
“De Le Puy caiu e já está se levantando, que homem fantástico!”, disse com ênfase Perséfone
aos amigos.
“Quem será este Lama que está causando rumores em Paris?”, perguntou Agnes ao amigo
que estivera assistindo às conferencias.
“Não conheço, mas tem característica ocidental, isso não há dúvida. Fala do sexo
abertamente e sem rodeios, é muito ousado; já tem inimigos por toda parte”, disse o maçom.
“As emanações dionisíacas do planeta Urano regente da Nova Era de Aquário, já estão a todo
vapor, alguns mestres do Raio de Urano já estão se manifestando. Urano é terrível é a Essência da
Revolução, derrubará os ídolos da velha Era de Peixes e seus velhos valores!”, exclamou cheia de
emoção Agnes.

‫ש‬
Sete anos se passaram desde a morte de Lung Nu, e agora Jade já era uma moça de
dezessete primaveras, treinada nas artes misteriosas dos Jinas e na habilidade marcial do Kung Fú.
A Mestra taoísta imortal Miao Sham e sua discípula Jade estavam próximas de um bosque
onde havia um belo lago cercado de rochedos e de árvores campestres.
Miao Sham convida Jade a um nobre combate de Kung Fú, esta sem excitar aceita, pois
queria superar a habilidade de Miao Sham. Miao Sham utilizou o estilo do bêbado e Jade o da Águia.
Miao Sham enche uma taça de água e utiliza um cajado que trazia consigo, então começa o feroz
combate entra as duas marcianas.
“Venha”! Gritou Miao Sham.
Jade como uma Águia rebelde parte para cima de Maio Sham, esta simulando que estava
bêbada e apoiada no bastão e segurando a taça d‟água, esquiva-se com grande nobreza ao mesmo
tempo em que dava um leve golpe em Jade que caia ao chão. Miao Sham tinha como objetivo ativar a
fúria de Jade. Porém esta ainda permanecia controlada. Parte novamente para o combate e outra vez
é lançada ao chão, agora o golpe foi mais forte, então Jade já deixa transparecer no semblante uma
leve fúria.
“Tua técnica é muito fraca Águia Vermelha, não prestastes a devida atenção em meus
ensinamentos?”, disse rindo e com sarcasmo, Miao Sham.
Miao Sham combatia como se estivesse ouvindo uma bela música das esferas, praticamente
mais se defendia do que combatia, a cada ataque que Jade realizava sua grande fúria despertava
cada vez mais.
“Se queres vencer teus inimigos internos, volte à fúria para eles e não para mim”, disse rindo
ironicamente a sábia Mestra.
“Como Mestra, ensina-me!”, disse isso partindo com suas garras de águia para cima de Miao
Sham que a cada golpe esquivava-se elegantemente.
“Se queres vencer o combate, primeiramente deves formar o Tai Chi 149 para formar o Wu
Chi e fortalecer teu Ching e Shen, jamais pode deixar o liquido da taça derramar em um combate de
150

Kung Fú, a vara bêbada é teu apoio, o dragão amarelo por ela deve subir até a morada de Shen,
somente assim poderás te embriagar do vinho dos deuses e iluminar tua consciência que estás em
trevas”, dizia Miao Sham a furiosa Águia Vermelha que tentava absorver com a consciência os
enigmas da Mestra.
Em um último golpe mais forte do que os anteriores Miao Sham lançou Jade mais uma vez ao
chão, esta já estava totalmente cheia de hematomas por todo o corpo; mas, mais uma vez se levantou
e se lançou para cima da Mestra, esta queria avaliar o grau de rebeldia de sua discípula.
“Só assim poderás encontrar o TAO”, disse Miao Sham admirada com a valentia de sua
discípula, que tinha herdado da mãe.
Exausta e ferida Jade abraça a Mestra e diz:
“Me ensina a técnica pela qual posso formar o Tai Chi e vencer o combate, Mestra?”.
Perséfone e Pedro estavam de longe presenciando o evento, então Perséfone disse:
“Estes chineses possuem métodos tão insólitos para ensinar seus discípulos”.
“A jovem é guerreira como a mãe”, disse Pedro.
“Miao Sham esta provando a discípula, ela sempre prova seus discípulos antes de enviá-los
alguma missão; fez isso comigo também, como sou do Raio de Vênus, provou-me na castidade,
lembra de nossas terríveis tentações que passamos juntos?”, indagou Perséfone ao esposo.

“Para alcançar o Tai Chi deves aniquilar seu eu, morrer é necessário, sem a morte não há
nascimento; o fogo gerado pelo Tai Chi destrói o eu e gera luz na consciência, assim, poderás ver o

149
O equilíbrio da força vital.
150
A unidade de Yang e Yin que se manifesta pelo Tai Chi.
TAO, Águia Vermelha”, disse Miao Sham, à medida que levava a taça à boca e bebia seu liquido,
depois continuou dizendo:
“Você é Yin, o Tigre; seu parceiro é Yang, o Dragão; se te lançares com grande fúria sobre o
Dragão no Kung Fú sexual, então perderás o Ching151 que é o líquido contido na taça e a vara
quebrará e não terás apoio, assim, te embriagarás com o vinho da luxuria e caminharás para a morte.
Nunca esqueças que para nascer é necessário morrer primeiro; a morte encontra seu fim no Tai Chi e
sua causa no desequilíbrio do Chi”.
Depois desta aula combatente, as duas voltaram para a casa. Perséfone e Pedro foram à casa
de Holoísa. Miao Sham cuidou dos hematomas de Jade e fez chá e deu para esta, em poucos minutos
ela estava totalmente recuperada.
“Amanhã vou te ensinar o método de meditação mais avançado, deves praticar para encontrar
em ti teu Real Ser, pois somente Nele é que poderás encontrar a verdadeira sabedoria”, disse Miao
Sham.
Perséfone foi se despedi de Heloísa, pois esta seguiria à Paris e de lá retornaria ao Estados
Unidos da América para realizar ali um trabalho, mas antes passaria em Paris para assistir as
polêmicas palestras do Mestre Tântrico. A Mônada de Heloísa era do Raio de Urano, por isso se
interessava muito pela revolução sexual.

“Menina Jade chegou à hora de partir e encontrar teu destino em Paris e unir-se ao Mestre
Regulus, este te aguarda lá”, disse a Mestra Miao Sham que tudo sabia.
“Sim, Mestra partirei amanhã. Perséfone já sabe que meu pai retornou do Tibet?”, perguntou
Jade.
“O Lama Regulus por alguma razão que eu desconheço, ainda não se manifestou aos seus
discípulos da Ordem do Leão Vermelho, sua missão esta focada para o mundo exoterico neste
momento e não para o esotérico, na hora exata ele vai aparecer aos amigos pode ficar
despreocupada”, respondeu a Mestra Miao Sham.
“Sim, Mestra irei encontrá-lo”.
“Nossa jornada nesta existência termina aqui, daqui a duas semanas partirei ao Tibet, minha
missão aqui acabou, agora me dedicarei a seu irmão lá no Tibet, prometi a sua mãe que faria isso.
Tudo que sabia te ensinei, nada mais há para te ensinar”, disse Maio Sham, à medida que dava um
forte abraço em sua discípula.

‫ש‬
Heloísa havia estudado Cabala profundamente com Perséfone, e estava empenhada na
divulgação da sexologia transcendental com muita dedicação, e tinha realizado vários seminários em
diversas universidades sobre o polêmico assunto. Ajudou muita gente e continuava ajudando, iria à
Paris e depois seguiria para os Estados Unidos onde realizaria um trabalho com a emergente
juventude rebelde fortemente agitadas pela onda dionisíaca da Nova Era de Aquário que acabara de
entrar. O Espírito de Heloísa se exteriorizava na produção de sua própria cultura pela qual se auto-
realizava e, assim, interiorizava-se nela, desta forma ganharia a maestria.

O trem para Pamplona sairia às 23:00 horas da Estação Central de Leon; de Pamplona
Heloísa pegaria outro para Marselha, desta para Lyon e depois para Paris.

151
A essência sexual.
Ao lado de Heloísa, sentou-se uma bela jovem de cabelos louros e longos; e de pele dourada,
o corpo esbelto vestia-se com roupas indianas e era adornado com jóias confeccionadas
artesanalmente segundo e estilo da arte indiana; tinha ar de nobreza, porém demonstrava uma
educação só vista em espíritos livres. A jovem tinha um rosto belo e arredondado trazendo traços
leves da raça oriental, esta mistura de raça outorgava à jovem uma beleza paradoxal, algo angelical
havia nesta exótica jovem, parecia a deusa Shakiti a esposa divina do deus Shiva; os olhos eram azuis
e de forte brilho; estatura mediana e nariz inglês. Esta era Jade.
O trem partia lentamente até alcançar a velocidade máxima. Heloísa estava sentada na
poltrona ao lado da janela. Seus olhos estavam fixados na leitura de um livro. Jade tentava dormir,
porém a ansiedade lhe roubou o sono. Queria puxar conversa com a companheira ao seu lado, porém
devido à educação não achou prudente perturbar a leitura de alguém que parecia estar fascinada
naquilo que lia. Porém, Heloísa logo fechou o livro e encostou a cabeça demonstrando sono. Jade
observou o titulo do livro: „A Revolução de Bel‟ de Samael Aun Weor. Jade achou interessante o titulo,
mas não conhecia o autor, ficou curiosa e agora já tinha um motivo para puxar conversa com a mulher
misteriosa sentada ao seu lado.
Heloísa dormiu por quase toda viagem, acordando na madrugada; Jade deu apenas um
cochilo. Então, vendo a mulher ao seu lado desperta, perguntou: “Deve ser um bom livro este que
você lê, quem é Samael?”, Heloísa olhou meigamente para a bela jovem de olhos de safira e disse:
“Também gosta de assuntos místicos?”, Jade respondeu: “Estudo desde criança, mas tenho mais
afinidade com a Franco-Maçonaria, apesar de conhecer Taoísmo”, Heloísa disse logo em seguida:
“Muito interessante tão jovem e já buscando a Gnoses; eu estudo Cabala e também tantrismo hindu,
acho que temos algo em comum”, disse Jade rindo: “Influencia de família, mas quem é este Mestre?”.
“Não conheço, dizem que ele é o Avatara da Era de Aquário; é um Mestre gnóstico com ação
no México. Uma amiga minha que mora na cidade do México me envio, pois é um livro muito
interessante, conta como este Mestre tornou-se amigo do Príncipe dos demônios e conquistou-o para
o Caminho da Luz”.
“Nossa! Que história interessante! Nunca ouvi falar sobre isso”.
“Nem eu, somente agora lendo o livro. Nele Samael narra a história da Alma humana do Anjo
Bel que recebeu a iniciação negra na primeira Ronda planetária quando ainda nosso planeta só existia
no plano mental. Esta Alma humana chegou na mais alta iniciação negra e se tornou o lendário
arquidemônio Belzebu, o Príncipe dos demônios”.
“O Príncipe dos demônios deixou as trevas!”, exclamou a jovem Jade.
“Estou terminando de lê-lo, falta apenas um capitulo, posso de emprestar se assim o deseja”.
“Claro eu aceito, quando retornar à cidade de Leon te devolvo, você reside em Leon não é?”.
“Sim. Sou psicanalista e estou indo a Paris para conhecer um lama, depois vou à Nova York
realizar um trabalho, depois retornarei a Leon”, respondeu Heloísa.
“Um lama? Estou indo me encontrar com um lama, meu pai, será que não se trata da mesma
pessoa?”, perguntou Jade.
“Muito interessante à filha de um lama viajando ao meu lado! Não sei se são a mesma pessoa
eu não conheço, só sei que é um Mestre Tantra que está causando grandes polemicas em Paris”.
“Há! Então só pode ser meu pai, ele é um turbilhão, onde chega agita as palhas para que o
trigo aparecer”, disse Jade sorrindo meigamente.
“Você está indo vê-lo?”
“Sim, mas também estou indo à Paris para ingressar na faculdade de Medicina; estudei
medicina chinesa com minha Mestra Miao Sham, agora vou ingressar na universidade; sou do Raio da
Medicina”.
“Então temos uma médica, bela carreira; praticar a virtude da medicina ou a arte da cura é
algo muito satisfatório para a alma”.
“Se quiser pode ficar hospedada em meu apartamento, será bom ter uma companhia como
você”, disse Jade.
“Mas, e seu pai...”.
“Não, meu pai não está hospedado no apartamento, ele nem sabe que eu aluguei, na verdade
eu nem sei onde ele está hospedado, vou te que procurá-lo, mas acredito que não será difícil achá-lo”.
“Então tudo bem é melhor que hotel; terei mais privacidade em seu apartamento, você pode
ficar tranqüila eu sei cozinhar”, disse rindo Heloísa.
“Que bom! Eu não sei cozinhar muito bem, mas fritar um ovo parece que não será tão difícil”,
disse rindo Jade.

Heloísa e Jade desembarcaram na Estação Central de Paris, pegaram um táxi e seguiram ao


apartamento que não ficava muito longe do centro. Já no apartamento, à noite saíram para a cidade
culta e refinada para conhecê-la.
Jade e Heloísa entraram em uma galeria de artes onde havia uma exposição de um jovem
artista da Franco-Maçonaria de nome Johfra e se maravilharam com o estilo surrealista iniciático do
jovem artista; as obras eram de um profundo esoterismo maçônico. Na exposição se encontravam
algumas personalidades do mundo esotérico como, por exemplo, os Espíritos Lucíferes caídos
conhecidos como Antares e Irene. De Le Puy foi reconhecido imediatamente por Jade que com ele
teve uma história em sua última reencarnação, pois Jade havia se desencarnado na Segunda Guerra.
De Le Puy a conheceu e se dirigiu a Jade e disse:
“Veja só quem está aqui, Elisabeth! Reencarnou rápido”, disse isso com um leve sorriso, De
Le Puy.
Jade olhou com misericórdia para aquele que havia sido seu esposo em sua reencarnação
passada, mas não disse nada. Heloísa ouvia e não compreendia nada.
“Quem é este homem tão misterioso, você conhece?”, perguntou Heloísa à Jade.
“Um amigo, agora um Anjo caído perambulando pelo vale da sombra da morte, tornou-se um
renegado, um Louco do Tarô. Tipos de homens como este, vivem trocando o céu pelo inferno e o
inferno pelo céu e, assim, vão se tornando muito poderosos, como a Fênix que renasce muitas vezes
de suas próprias cinzas; ora são Escorpiões, ora são Fênix‟s. Mas, sete vezes cai o justo e sê o é
outras sete vezes se levantam”, respondeu enigmaticamente Jade.
“Anjos se encarnam?”, perguntou Heloísa.
“Sim, o Anjo envia sua parte humana para reencarnar no mundo fenomenal, enquanto sua
parte divina fica em dimensões superiores”.
“Interessante isso, me conte mais”, pediu Heloísa.
“O mito do Arcanjo Lúcifer, que personifica todos os Arcanjos caídos, revela este mistério.
Lúcifer é a Alma que se desprende do Logos e desce ao inferno para forjar a Sabedoria do bem e do
mal e, assim, tornar-se Mestre de Sabedoria, o Portador da Luz, a Estrela Matutina. Lúcifer envia para
o mundo sensível sua alma humana que se reveste de uma personalidade dialética e de uma alma
natural ou animal e evolui pelos quatro reinos da Natureza. Lúcifer é o Pai do primeiro homem, Adão
natural de alma animal, mortal, roubou o Fogo dos deuses para dá-lo ao homem mortal para que este
se imortalizasse, mas o homem imprudente aplicou este Fogo divino em suas loucuras, pois começou
usar o poder do Fogo em suas magias negras, por causa disso houve o dilúvio, a Atlântida afundou no
oceano que leva seu nome. Lúcifer foi acorrentado na rocha e sofre, por causa da imprudência do
homem, o suplicio. Hercules, o Super Homem, deve emergir do caos, realizar os doze trabalhos e
libertar Prometeu-Lucifer de seu suplicio”.
Heloísa estava impressionada com o conhecimento de Jade, que apesar de pouca idade já
demonstrava maestria. Ela mantinha os olhos fixos em De Le Puy que se mantinha afastado do
publico ao lado daquela mulher que parecia ser sua amiga. De Le Puy percebendo que a mulher ao
lado de Jade o olhava constantemente, pegou na mão de Irene e se dirigiu para fora da galeria. De Le
Puy que alguns anos atrás era um famoso e enigmático Grão-Mestre da Franco-Maçonaria Egípcia,
agora não passava de um homem simples e comum, desprezado pela elite esotérica. Mas, um homem
não o despregava, este era seu Mestre Regulus. Mas, ninguém sabia até então que Regulus e Antares
pertenciam à mesma Ordem esotérica. Somente duas pessoas sabiam deste segredo: Jade e a
enigmática Mestra do TAO, Miao Sham. Os olhos de Heloísa seguiam os movimentos de De Le Puy,
este atravessando o umbral da porta da galeria, logo foi seguido discretamente por Heloísa. Jade
estava parada diante de um belo quadro de Johfra e contemplava a obra esotérica.
De Le Puy e Irene estavam indo embora, quando ouviram uma suave voz aveludada: “Senhor
por gentileza espere, pois acho que pode me ajudar dando-me uma informação”, pediu Heloísa.
“Em que eu posso ajudá-la, distinta dama?”.
“Estou procurando um Lama tântrico que vem dando uma série de conferencias aqui em Paris,
você sabe onde eu posso encontrá-lo?”.
“Talvez, mas o que deseja com ele?”, indagou De Le Puy.
“Desejo apenas assistir algumas conferencias, pois tenho interesse pelo assunto que ele
divulga”.
“Interessante, parece que sua pessoa não me é estranha, tenho uma forte impressão que a
conheço de algum lugar. Ele amanhã estará dando uma palestra no salão nobre da Sociedade
Teosófica”.
De Le Puy deu o endereço à Heloísa e seguiu seu caminho com Irene, à medida que se
afastava dizia à Irene: “A conheço de algum lugar, só não sei de onde, mas a conheço”.
Heloísa retornou para o interior do salão da exposição e viu Jade explicando o simbolismo de
um certo quadro de Johfra a uma senhora muito elegante, esta trazia um broche de ouro com a
insígnia da Fraternidade Rosa Cruz Gnóstica preso ao casaco. Depois Jade se afastou da senhora e
se aproximando de Heloísa perguntou: “Que você queria com De Le Puy?”.
“Perguntei a ele sobre o Lama, ele me deu o endereço da Sociedade Teosófica, pois segundo
ele o Lama vai dar uma palestra lá amanhã”.
“Muito bom, vamos à palestra do turbulento Lama, amanhã”.
Depois da exposição a jovem Mestra e a sua amiga foram a um restaurante. Depois
retornaram para o apartamento.
“Você me disse que estudou Cabala, quem foi seu mestre?”, perguntou Jade.
“Foi uma Mestra e amiga”.
“Em Leon só há uma Mestra de Cabala, esta é Perséfone que também foi discípula de minha
Mestra Miao Sham e filha do grande cabalista de Leon, Scham Ben Tzade. Seria porventura
Perséfone sua Mestra?”, perguntou Jade.
“Sim, é ela!”, exclamou espantada e surpresa Heloísa.
“Vejo então que estudou Cabala com uma grande Mestra”, disse Jade.
“De fato, Perséfone conhece profundamente a Cabala”, disse Heloísa.
“É uma Mestra do Raio da Arte, sua missão é divulgar a Cabala pela Arte”, disse Jade.
“Percebi nesse pouco tempo que a conheço, que é uma jovem diferente, parece que você vê
além da forma, o inconsciente em ti parece ser consciente, percebo que você possui o Olho de Shiva,
o Olho que tudo vê, você sabe quem eu realmente sou?”, perguntou Heloísa a Jade que de fato era
desperta.
“Somente você poderá saber quem realmente é, esta é à busca de todos nós, a busca do Real
Ser, onde reside toda a sabedoria. Deve branquear seu Lúcifer, seu divino Daímon, para que a Luz se
manifeste em ti, assim, conhecerás a Verdade e a Verdade te libertará”, disse Jade.
“Compreendo”, disse Heloísa.
“Deve branquear Lúcifer que atualmente é um Pentagrama preenchido de luz eônica
infravermelha carregada de maldades, o Fogo ultravioleta cristico emanado do Átomo Nous dissolve
estes demônios de teu Microcosmo cuja Alma é Lúcifer, assim, sua Consciência despertará para o
Real Ser”, aconselhou Jade.
“Percebo que usa os termos esotéricos da Franco-Maçonaria com grande autoridade, você é
uma iniciada fronco-maçônica?”, perguntou Heloísa.
“Sim, recebi a iniciação em minha reencarnação anterior a esta, como lembro de minha última
reencarnação, então também lembro de todo o saber que nela adquiri, apesar de meu Lúcifer está
revestido com uma nova personalidade, tudo isso para mim é familiar, porque este saber não pertence
à personalidade que é filha de seu próprio tempo, mas é a sabedoria de minha Alma, de meu Lúcifer, é
sua maestria. Nós somos o Eu inferior, o Manas ou a Inteligência concreta presa ao mundo sensível
que se reveste de uma personalidade projetada de Lúcifer, o Eu Superior, a Inteligência abstrata, o
Manas Superior que tem dentro de si a Sabedoria, a Budhi, o Cristo Íntimo onde se encontra o Espírito
Santo, o Logos, o Demiurgo que provém do Uno que é o Deus Íntimo ou a Monôda de todo homem”.
“Muito interessante tudo isso e é semelhante à doutrina dos neoplatônicos”, disse Heloísa.
“A Sabedoria é universal por isso a semelhança”, disse Jade.
“Uma coisa me intriga, aquele homem misterioso chamado De Le Puy parecia ser familiar a
você e até te chamou de Elisabeth, não compreendi isso, poderia me explicar?”.
“Este homem foi meu esposo em minha última reencarnação, juntos realizamos uma parte da
Grande Obra, porém me desencarnei na Segunda Guerra ainda nova, por isso reencarnei logo em
seguida para prossegui com minhas iniciações, logo encontrarei minha alma gêmea e com ela
retornarei ao Éden perdido. Eu e o Mestre Antares De Le Puy chegamos na quinta iniciação de
Mistérios Maiores, a do corpo causal, porém ele rolou e perdeu as iniciações”.
As amigas conversaram sobre muitas coisas e a Sabedoria de Jade instruía Heloísa em
muitos mistérios como se estivesse preparando-a para a iniciação.

Era a terceira hora da noite, horário de Gêmeos, o salão nobre estava lotado, pois ali estaria o
polêmico Lama e Mestre gnóstico Regulus para expor alguns aspectos do tantrismo branco tibetano
aos esoteristas da Sociedade Teosófica.
Jade e Heloísa chegaram à Sociedade Teosófica vinte minutos antes da palestra, porém
foram barradas, pois o porteiro exigiu o convite, porém elas não dispunham dos convites. Heloísa
discutiu com o porteiro, porém este não cedeu, Jade mantinha a calma e a serenidade; pediu que os
ânimos se alcançassem. O porteiro informou-as que os lugares já haviam sido reservados antes, por
isso não era possível a entrada das duas no salão nobre. De repente uma potente voz ecoou: “Deixem
as senhoritas entrarem, são minhas convidadas!”, exclamou De Le Puy. Jade deu um leve sorriso para
Heloísa, à medida que penetrava o recinto já lotado. Heloísa agradeceu Antares e logo seguiu Jade.
Heloísa ficou curiosa em saber o porquê do porteiro ter concedido a entrada a ela e a Jade a pedido
de Antares. Este acompanhou as duas e se sentou ao lado de Heloísa, Irene sentou-se à direita de
Antares. Heloísa curiosa perguntou a De Le Puy: “Por que ele cedeu seu pedido?”.
“Foi eu que organizei a palestra a pedido do Mestre, pois tenho alguns velhos amigos
teosóficos”, disse Antares sorrindo.
“Quem é este Mestre?”, perguntou Heloísa.
“Regulus”. Ao ouvir o nome Regulus, Jade olhou para De Le Puy surpresa, não sabia que
Regulus era amigo íntimo do enigmático ex-Grão-Mestre da Franco-Maçonaria do Rito Egípcio.
“Quem é Regulus?”, cochichou baixinho Heloísa no ouvido direito de Jade, esta respondeu do
mesmo modo: “É meu pai, o Lama”.
Jade agora compreendia que De Le Puy era o Cavaleiro Kadosh da Casa de Escorpião, o
poderoso signo do sexo da Fraternidade do Leão Vermelho, o Cavaleiro de Osíris.
O salão era enorme e havia aproximadamente trezentas pessoas ali, todos estavam
aguardando o Lama tantrico. O secretário abriu a conferencia dando alguns anúncios e
agradecimentos, logo anuncio o Lama. Do meio da multidão saiu um homem simples de aparência
serena e humilde, vestia-se como um Lama; os longos cabelos estavam penteados para trás, seguia
lentamente para à mesa onde havia algumas pessoas sentadas, este virou para frente e de sua laringe
ecoou um poderoso verbo: “EU SOU Regulus, estou aqui esta noite para vos anunciar a ciência da Era
de Aquário, o Tantra”, depois discorreu o tema. Heloísa ao ver o Lama ficou vermelha, tremula e de
seus olhos emanou o espanto. Jade e Antares não compreendiam o comportamento de Heloísa. Jade
apreensiva perguntou o que se passava com amiga, esta lhe disse: “Eu conheço este homem, seu
nome é Miguel, foi um ex-franciscano com o qual eu vivi alguns anos atrás, porém cometi um grave
delito e ele se afastou de mim”. Jade lhe disse: “Não temas, todos cometemos erros, o importante é o
arrependimento, esta é a única porta que jamais fecha, sempre está aberta ao coração contrito”.
Heloísa ouvindo a jovem Mestra, acalmou o animo e controlou as emoções e passou a prestar a
atenção na palestra. Ela percebeu que Miguel não era mais o mesmo, havia mudado muito era como
se uma nova personalidade tivesse nascido nele, sua voz se tornou grave e potente, seus gestos eram
lentos e suaves, do semblante emanava pura misericórdia e compaixão. A palestra durou duas horas
devido às perguntas inquietantes vindas do auditório. Muitos que se encontravam ali o acusaram de
profanador dos mistérios, outros o chamaram de charlatão e ainda outros o chamaram de louco.
Poucos ali se interessaram pelo tema do Mestre Regulus a grande maioria abandonou o salão
proferindo criticas a pessoa do Mestre.
Jade se dirigiu ao Mestre Regulus a quem considerava como pai, pois este foi o grande amor
e alma gêmea de sua falecida mãe, Regulus ao vê-la disse: “Veja como cresceu minha pupila
dourada”, logo ambos se abraçaram fraternalmente. Jade radiava alegria e felicidade, segurou a mão
direita de Regulus e disse: “Venha eu quero te mostrar uma coisa”, logo ambos se dirigiram para onde
se encontrava Antares, Irene e Heloísa. Regulus fixou os olhos em Heloísa, porém manteve silencio e
não disse nada, Jade e Antares ficaram na espreita. Regulus estava feliz em ver Heloísa arrependida
e com ela manteve um longo diálogo, logo todos partiram para o apartamento de Antares, onde o
Mestre estava hospedado secretamente. Heloísa não compreendia o fato de Jade ser filha de Miguel,
agora Regulus, porém Jade relatou toda a história que envolvia ela, sua mãe e Miguel. Heloísa foi
perdoada e disse que amava e sempre amou Regulus que jamais o esqueceu e se cometeu o delito,
foi porque não soube vencer seu lado sombrio. Porém, Regulus disse a ela que seu coração pertencia
a Mulher Dragão, Lung Nu, e que não poderia amá-la como ela o amava; Heloísa compreendeu e
recolheu-se aos seus aposentos.
“Amanhã partiremos para Languedoc, onde realizarei o Grande Rito Dionisíaco”, disse
Regulus.
Capitulo ‫צ‬
Hecate e Lilith: A Magia Branca e a Magia Negra.

Perséfone estava sobre a torre esquerda do Castelo contemplando o nada, porém avistou
cinco pessoas se aproximarem do portal do Castelo, à medida que eles se aproximavam Perséfone foi
reconhecendo e ficou assombrada ao ver De Le Puy acompanhado de uma moça, Jade, Heloísa e o
Mestre Regulus. Tanto De Le Puy quanto Miguel estavam mudados. Mas, pensou ela, o que Heloísa
fazia com eles. Perséfone desceu as presas para avisar Agnes e os amigos da chegada do Mestre
Regulus. Agnes e os outros se apressaram em receber o Mestre Regulus e os outros. Agnes correu ao
encontro do Mestre, este disse ao ver a mulher adepto: “Felicitou-a, oh! Grã-Sacerdotisa Selketh!”.
Logo, todos penetraram à morada dos iniciados. Perséfone olhava De Le Puy e não compreendia o
porquê dele estar acompanhado do Mestre Regulus, qual era a ligação dele e de Heloísa com
Regulus, aliás, ninguém ali compreendia nada, porém teve festa em comemoração ao retorno do
Grão- Mestre Regulus, e todos ali ficaram felizes em verem o Mestre caído De Le Puy ao lado do
Mestre que se levantava, Regulus. Perséfone olhava com admiração para De Le Puy ao lado de
Regulus e pensava consigo mesma: “Que Fênix rebelde, a pouco se incinerou e agora já está
querendo renascer de suas próprias cinzas!”.
Regulus e Selketh estavam dialogando sobre os preparativos do Grande Rito Dionisíaco que
ocorreria na noite do dia seguinte, enquanto isso Perséfone conversava com Heloísa e Irene. Irene
relatou como foi o encontro de dela e de De Le Puy com o Mestre Regulus. Heloísa relatava a suposta
coincidência de seu encontro com Jade. Agora ficava claro para Perséfone os mistérios que envolviam
a todos.
Jade olhou para o Mestre Regulus e fez um sinal, à medida que se dirigia para um dos
compartimentos do Castelo, o Mestre a seguiu, logo ambos estavam sós.
Jade olhando fixamente para Regulus disse: “Tua hora está próxima, poucos dias lhe restam”.
“Consagrarei Leonel como o Grão-Sacerdote do Templo do Leão Vermelho, depois colocarei o
Castelo na quarta dimensão, então partirei”, disse o Venerável Mestre Regulus à Jade.
“O Mestre Leonel é o único no momento que possui o grau exigido para assumir este difícil
sacerdócio, pois De Le Puy, o Cavaleiro Kadosh do Escorpião, rolou ao abismo e perdeu os graus, o
bastão de mando e as asas do Caduceu, este carrega um carma terrível e deverá desencarnar logo; o
Serafim Boaz de seu Caduceu desceu ao inferno para forjar mais luz”, disse a jovem Mestra Jade.
No dia seguinte, dia de Saturno, o Shabbath, à noite um grupo seleto de iniciados, incluindo
alguns iniciados que vieram de Paris e que aderiram a Ordem do Leon Vermelho, e que vieram para o
Grande Rito, desciam para uma parte subterrânea do Castelo através de uma passagem secreta.
Embaixo do colossal castelo havia um Templo em forma de estrela hexagonal. Maravilhoso Templo de
arquitetura original e insólita, iluminado por grandes archotes de bronzes adornados por dragões. Um
corredor de dez metros de largura circundava o Templo, havia setenta e duas colossais colunas de
bronze adornadas com dragões em alto relevo ao longo do corredor e ao centro do mesmo. Ao longo
das paredes do corredor havia figuras de esfinges, leões alados, unicórnios, dragões, cavalos alados,
Prometeu preso à rocha, Cadmom na fonte de Dirceu batalhando com o dragão de Marte, a deusa
Hécate atormentando os demônios, o deus Dionísio e sua esposa Ariadne e todo séqüito que os
acompanham, a deusa Deméter e sua filha Perséfone, muitos símbolos herméticos; tudo em alto
relevo. Algumas colossais esculturas de querubins e de leões adornavam o corredor. Havia seis
enormes portas de madeira de cedro com querubins talhados nelas, as portas davam acesso aos seis
ângulos da Estrela-Templo. Cada ponta da Estrela-Templo era de sessenta e dois metros quadrados,
ou seja, eram câmeras de três lados, cada lado media vinte e quatro metros. Cada câmera triangular
possuía duas entradas, uma interna que dava acesso ao centro que era o Templo, e outra externa que
dava acesso ao ângulo, e desta para o corredor, totalizando doze portas, sendo que em cada uma
delas havia um pentagrama talhado e no centro deste a letra elemental da Cabala que correspondia a
cada um dos doze signos zodiacais; somente a câmara superior não tinha portas, pois na parte interna
havia um véu, sendo que a câmara inferior, da entrada, possuia quatro portas externas, duas do lado
direito e duas do esquerdo; sendo que a da direita era a anticâmara dos sacerdotes e a da esquerda a
das sacerdotisas. O centro hexagonal do Templo-Estrela media cento e quarenta e quatro metros
quadrados, seu piso era axadrezado. No centro havia um altar de bronze de um metro de largura por
um metro de altura e um metro de comprimento. O altar possuía em cada lado, em alto relevo, os
seguintes símbolos: do lado leste um triângulo positivo com a letra Iod ao centro; do lado do sul um
triângulo negativo com a letra Hê ao centro; no ocidente uma estrela de seis pontas com a letra Vô ao
centro; ao norte um círculo com um quadrado ao centro e inserido neste uma outra letra hebraica Hê.
Nos quatro ângulos do altar havia carrancas de cabeças de bode. Em cada lado, sobre o cubo, havia
dois dragões alados que apoiavam as garras numa cruz de malta que se encontrava ao centro de
cada lado do cubo; totalizando oito dragões. Sobre o cubo a figura, também de bronze, de Tifon
Bafometo, o archote sobre sua cabeça e entre seus chifres, ardia constantemente. No leste havia um
altar de mármore branco de um metro cúbico; sobre este um candelabro de ouro de sete lâmpadas e
outros objetos sagrados com a espada Geburiah152 e o Santo Graal. Belos quadros adornavam as
paredes brancas do Templo. A câmera superior que consistia na ponta superior do Templo-Estrela era
o Sancto sanctorum, havia a arca de ouro, com a cruz tetragramática gravada em alto relevo sobre a
parte frontal da arca; sobre a arca um casal humano alado em posição meditativa, porém o casal se
encontrava unidos sexualmente, suas asas se tocavam acima das cabeças, formando um triângulo
positivo; as outras asas se tocavam e se cruzavam na parte inferior sobre os órgãos sexuais do casal,
formando um triângulo passivo, formando com o ativo um losango. O homem alado era de ouro e a
mulher alada de prata, ouro e prata produzidos pela Alquimia. Nessa câmera não havia porta, mas
uma cortina de cetim branca coberta por véus nas cores azul, amarelo e carmesim que fechavam os
vinte e quatro metros dessa parte, pois nessa câmara não havia a parede divisória com o centro e nem
porta, mas apenas a longa cortina como divisória. A câmara oposta, na ponta inferior do Templo-
Estrela, possuía duas colunas do lado externo da porta interna; uma das colunas, a do lado esquerdo,
era de mármore negro, era cilíndrica e possuía capitel com cabeça de dragão; a coluna da direita era
semelhante, porém branca; suas bases eram cúbicas. Entre as duas colunas, acima do umbral, havia
um compasso entrelaçado com um esquadro, no centro uma pedra cúbica com um pentagrama com a
letra „G‟ no centro, sobre o cubo um nível em formato da letra „A‟ com um prumo; na base do cubo
havia o malho; duas espigas de trigo ladeavam o símbolo que se encontrava circundado por uma
serpente que devorava a própria cauda. Tudo em bronze e em alto relevo. Essa era à entrada do
Templo-Estrela.

152
A Espada do Grão-Mestre Templário já descrita em outro capitulo. Geburiah é uma palavra hebraica que
significa Força (Gebur) Infinita (Iah, nome divino da segunda esfera da Árvore da Vida, Chokimah); Gebur
está associada a quinta esfera da mesma Árvore Geburah, a esfera da Força e da Sabedoria do Logos que
habita o Microcosmo, sendo que Chokimah é a esfera da Sabedoria do Logos, o Macrocosmo.
As quatro câmaras laterais pertenciam aos sacerdotes e as sacerdotisas do Templo, sendo
que as do sul ficavam os sacerdotes, e as do norte as sacerdotisas; nas duas superiores que
ladeavam a câmara do Sancto sanctorum, ficavam o sumo sacerdote e a suma sacerdotisa. Nessas
câmaras ficavam as túnicas ritualísticas e todos os objetos sagrados que eram utilizados nos rituais.
Os sacerdotes se dirigiram às câmaras do sul, entrando pela porta externa; as damas
iniciadas se dirigiram às câmaras do norte. Eram doze sacerdotes e doze sacerdotisas, além do sumo
sacerdote e a suma sacerdotisa. Haviam sete sacerdotes casados, portanto acompanhados de suas
respectivas esposas sacerdotisas, mas os outros cinco eram solteiros ou viúvos, então para estes o
Grão-Sacerdote, que era o Mestre Regulus, escolheria cinco sacerdotisas vestais solteiras para
servirem de altar sagrado aos sacerdotes no rito da magia sexual shabbatica, o Grande Rito de
Dioniso, o deus do Tantra; estas sacerdotisas antes de oficiarem nesse ofício sagrado, foram treinadas
pela Grã-Sacerdotisa Selketh, só depois de devidamente preparadas e testadas, é que podiam
participar do grande culto de Elêusis, o Shabbath branco. Regulus dirigiria o culto, porém não se uniria
a nenhuma sacerdotisa vestal para realizar a prática.
A Magia Sexual tinha três objetivos para o iniciado: o primeiro era de gerar os corpos de luz
que são imortais; o segundo era de destruir, com o Fogo bipolarizado, a legião de Eus-diabos ou Eons
que habitam a Luz Astral dos corpos astral e mental; e o terceiro era despertar e o ascenso do Fogo
Serpentino, Kundalini, que desperta os poderes latentes da Alma humana, à medida que ascende pela
espinha dorsal e abre os sete chacras, também desintegra os mais poderosos Eus-diabos que são as
sete causas do mal e seu ternário maldito, as três Fúrias ou demônios do Umbral.
Os iniciados depois de certo tempo de preparação, e vestidos com suas túnicas negras
aveludadas de alta magia, e portando ao peito um medalhão de ouro na forma de um escorpião,
penetraram no templo fazendo o passe mágico aos dois guardiões do templo.
O Grão-Sacerdote trazia a lança na mão direita como báculo, trazia também a espada
Geburiah do lado direito da cintura com a qual realizava alguns sinais mágicos nas conjurações que
fazia. O coro de iniciados realizava os mantras secretos; depois beberam o vinho e comeram o pão.
Regulus passou ao centro, enquanto que os vinte quatro iniciados ficaram em torno do altar do
Bafometo e em forma circular. Jade se encontrava oculta em uma das câmaras e com sua harpa de
nove cordas tocava uma bela melodia erótica sagrada, à medida que seu verbo aveludado e suave
ecoava uma melodia tântrica inefável. O Grão-Sacerdote direcionou cada vestal solteira aos
sacerdotes que não tinham parceiras.
Era a primeira vez que Perséfone participava ativamente do Shabbath, pois só conhecia como
teoria, pois Perséfone já havia participado de rituais neste templo, porém nenhum de ordem sexual.
Não sabia o que se passava no secreto rito shabbático na prática.
A maravilhosa melodia provinda da laringe criadora de Jade ecoava pelo vácuo do Templo; os
delicados dedos de Jade se moviam entre as nove cordas da harpa. A combinação do verbo de Jade
com o som da harpa, dentro de uma simetria produzida pelas oitavas superiores das notas musicais,
produziam uma especial vibração erótica no sangue dos magos e das magas que ali se encontravam,
ou seja, a própria música ali era magia.
O Grão-Sacerdote com a lança em punho dirigia atentamente o rito mágico. Pedro de frente
para Perséfone fitava-a com grande veneração. A Grã-Sacerdotisa Selketh, no ritmo da mágica
música, despiu-se da túnica, deixando o corpo totalmente nu diante do sacerdote Leonel que a olhava
com êxtase na alma. Perséfone seguindo o exemplo de Selketh fez o mesmo; o poderoso e magnético
corpo esbelto de Perséfone se manifestava magnético diante de Pedro; este tocou levemente o rosto
da sacerdotisa, os mamilos da sacerdotisa se enrijeceram e seus olhos se inflamaram de erotismo.
Todos seguiram o exemplo. Pedro ficou de frente à sacerdotisa, ambos se contemplavam, e
acariciavam-se. Os outros casais faziam o mesmo. Havia um poder mágico no recinto, era um rito de
magia prática que ali ocorria. Palavras secretas e mágicas eram pronunciadas em coro pelos
praticantes do Shabbath.
Leonel diante da Grã-Sacerdotisa, contemplava-a profundamente, depois de um certo período
no qual ele permaneceu contemplando-a, ela se sentia parada e como hipnotizada pelo poder sexual
do poderoso Mago que ela sempre amou. Por fim, ele tocou suavemente a pele daquele corpo macio e
esbelto que exalava a fragrância do amor já conhecedor do bem e do mal. Ele escorria as pontas dos
dedos no belo rosto da musa, que se encontrava diante de si. Sua postura diante da sacerdotisa do
amor era de adoração e veneração; seus dedos escorriam pela boca, logo pelo pescoço fino como da
porcelana chinesa, até pararem por um instante entre os seios rígidos, com mamilos enrijecidos e pele
arrepiada de prazer erótico. Dos dedos do sacerdote-mago emanava um magnetismo delicioso que fez
com que despertasse no coração da Grã-Sacerdotisa um fogo extasiante, um forte impulso então se
manifestou na alma daquela desiderata musa de mistérios, impulsionada pela força do desejo, deu um
ardente e demorado beijo no sacerdote-mago, que com ela realizaria pela primeira vez magia sexual;
o beijo ardente fez com que intensificasse ainda mais o fogo do desejo em seus corpos astrais que se
complementavam em um fogo uno. A caricia era recíproca. Selketh que até então achou que seu
erotismo não se manifestaria, devido à timidez diante dos outros membros que ali se encontravam,
agora estava inflamada de amor erótico. Seu chacra sacro girava poderosamente emanando um poder
terrível; sua vulva pequena e delicada pulsava de prazer. Manter o total controle sobre este estado
anímico, era a chave para vencer a Esfinge e penetrar na esfera do Éden, o jardim da volúpia,
pensava ela secretamente em seu coração em chamas.
O sacerdote-mago Leonel adorava e prestava culto àquele cálice sagrado que os gnósticos
chamam de santo graal153 e que os cabalístas chamam de arca do concerto, a Sheknah, onde se
manifesta o Tetragrammaton para gerar o Super Homem, o Cristo Íntimo, o Deus Horus que combate
Set e toda sua legião de demônios infra-atômicos coagulados no Raio infravermelho de Lúcifer, o
Espírito da Luz Astral.
Leonel e Skeketh se uniram em uma união suprema superior, formando, assim, um poderoso
Andrógino, um Elohim humano Jot-chavah.154 Os outros sacerdotes com suas sacerdotisas seguiram o
exemplo. A posição sexual era semelhante a do Buda com sua esposa no Vajra Satwa.155
Sheketh, então se sentou no colo daquele eminente sacerdote-mago, e com a mão direita
direcionou aquele falo volumoso, firme, rígido e quente para dentro de sua yone lânguida e úmida pelo
orvalho do amor156; nestes instantes de voluptuosidade, Sheketh sentiu o poder criador dentro de si,
sua yone latejava de prazer; a vara mágica de Arão florava dentro da Arca da aliança alquímica.
Formou-se uma cadeia mágica de doze Elohin‟s humanos. O Grão-Sacerdote permanecia no
centro. Os casais eram intercalados de forma que um sacerdote ficava com as costas para o lado
externo e outro ao lado com as costas para o lado interno. Assim, o sacerdote mantinha uma das
mãos soltas para acariciar sua parceira e com a outra segurava a mão da sacerdotisa do lado, esta
era a grande cadeia mágica do culto shabbático.
Nestes instantes de êxtase sexual, todos ali cantavam o grande mantra da magia sexual o
IAO, de forma harmoniosa, simétrica e no tom da nota Fá, era de fato um coro de Elohin‟s criando pelo
poder sexual através do verbo. Com o „I‟ levavam a energia sexual transmutada até o centro do
terceiro olho, com o „A‟ até o centro da laringe e com o „O‟ até o coração, neste centro a energia
assumia a forma de dragão alado de luz azul eletrônica que irradiava intensamente.
153
A Yone, o órgão gerador feminino.
154
O Tetragrama IOD-HE-VÔ-HE humano, o criador do mundo Microcósmo.
155
Esta posição o homem senta em postura de yoga e sua esposa senta em seu colo absorvendo o falo em sua
yone e mantendo as pernas cruzadas no quadril do mago.
156
A lubrificação da vagina provocada pela sessação erótica.
Perséfone extasiada de erotismo percebeu clarividentimente um poderoso vórtice de energia
eletrônica que era gerado pela cadeia mágica dos Elohin‟s humanos. O vórtice abria um portal para
certa dimensão superior. Do outro lado do portal Perséfone observava um grande Templo em forma de
cruz cristã e no centro de uma muralha de forma hexagonal, também havia uma torre de nove andares
e encimada por uma pirâmide. Sobre o Templo havia um Ser de radiante Luz com aspecto crístico, era
acompanhado por um leão vermelho alado, por um touro branco alado, por um homem alado e por
uma potente águia branca, todos condensados de luz radiante. Estavam bailando nos ares em forma
de cruz. O Ser de Luz radiante estava no centro deles, do coração do Ser de Luz emanava uma
poderosa Fênix de asas abertas da qual emanava uma luz para o centro da cadeia mágica, que se
unia com um dragão alado que saia do coração de Perséfone. Perséfone percebeu que o Ser de Luz
era seu Cristo Íntimo; era o Mestre de Sabedoria que emanou sua Budhi em forma de Fênix para unir-
se com sua Alma humana em forma de Dragão alado. Quando a Fênix uniu-se ao Dragão, Perséfone
se sentiu humana e divina, sentiu-se SER, EU SOU. Neste estado de consciência Perséfone penetrou
no Vazio Iluminador, no êxtase dionisíaco, o shamadhi.
O Grão-Sacerdote dava fortes passes magnéticos na coluna vertebral dos iniciados para
ajudar o Kundalini subir mais vértebras.
Depois de aproximadamente duas horas de prática, os casais se desconectaram sexualmente,
sendo que não houve orgasmo e nem perda de sêmen neste sagrado ritual shabbático, o legítimo
culto dionisíaco, este era os Mistérios de Dioniso, o Jeová do hebreus e seu culto do Shabbath, o culto
da Geração do Super-Homem.

Heloísa e Irene de encontravam juntamente com Antares no salão do Castelo, enquanto


ocorria o culto secreto; Heloísa estava inquieta e de certa forma estava curiosa em saber onde havia
ido todos, então perguntou para Antares:
“Onde se encontra as pessoas daqui, todos sumiram?”.
“Desceram à nona esfera para realizarem o Grande Rito”, respondeu o Mestre caído.
“Nona esfera, onde fica?”, perguntou Heloísa.
“É uma forma esotérica de se falar, na verdade me refiro ao um templo subterrâneo localizado
neste Castelo”, respondeu Antares.
“Como sabe destas coisas?”, perguntou Irene.
“Já vivi aqui na Idade Média, conheço todos os segredos deste Castelo, eu mesmo o descobri
novamente e indiquei sua compra para um velho amigo que, infelizmente, não se encontra mais entre
nós, este o deu de presente de casamento a Agnes, a viúva deste meu amigo a qual vocês já
conhecem”, respondeu Antares.
“Interessante esta história, então a história deste Castelo o envolve?”, perguntou Heloísa
demonstrando interesse em saber algo mais sobre este assunto.
“Há uma história maçônica sobre os mistérios que envolvem este Castelo e as pessoas que se
encontram aqui hoje, prometo que em uma outra ocasião contarei a vocês”, disse Antares.
“Você quer dizer que nós duas também estamos envolvidas nesta história?”, perguntou Irene.
“Sim, todos nós eu falei”.
Irene percebeu que Heloísa olhava seu Mestre caído com certa admiração, parecia que nela
estava despertando algum novo sentimento. Antares trazia uma grande tristeza na alma, era um
homem calado e de poucas palavras desde seu encontro com Regulus que o trouxe para o Castelo.
Irene possuía grandes sentimentos por Antares, mas seus sentimentos eram fraternos, pois ela sentia
pelo Mestre um grande amor como de uma filha para com o pai; Antares já estava com quase meio
século de idade, Irene ainda era uma jovem mulher de vinte e poucos anos, porém já conhecedora do
bem e do mal. Irene também era um Anjo caído.
Depois deste dialogo curto, Antares, que gostava de passear pela noite, levantou-se e seguiu
para fora do Castelo. Heloísa o acompanhou, pois queria saber mais sobre este homem misterioso
que por alguma razão não estava junto com os outros no templo. Irene se retirou para sua câmara, à
medida que subia os degraus daquela enorme escada medieval, olhou para trás e viu Heloísa seguir
seu Mestre de longe, ela deu um pequeno sorriso para a amiga como que se já soubesse de suas
intenções, esta também riu e se dirigiu logo com o propósito de encontrar Antares perdido no sei da
noite, porém ela o perdeu de vista, porém quando esta estava voltando para o Castelo, ouviu ecoar
uma voz potente e triste:
“É perigoso para uma dama andar sozinha por esta negra noite que muitos mistérios oculta,
onde forças brancas e negras agem; é uma região de muitos lobos”, disse Antares que se encontrava
próximo de um carvalho, onde fumava um cigarro.
“Gosto da noite, o céu estrelado e a lua me fazem bem, vejo que também gosta dela, senhor
De Le Puy”, disse rindo Heloísa.
“Desde que cheguei aqui, algo me intriga, uma voz misteriosa dentro de mim me diz que no
interior desta floresta há algo que eu devo encontrar, uma força me atrai para lá, qualquer dia destes
irei em busca de respostas, vem comigo?”, disse rindo Antares.
“Não, nada disso, morro de medo só em pensar, deve ser perigoso, não faça isso, pode
colocar sua vida em risco meu amigo!”, exclamou mostrando temor, Heloísa.
Depois ambos sentaram-se em um banco feito com troncos de árvores velhas, e ali
permaneceram.
“Percebi que você e Regulus tiveram uma história infeliz juntos, estou errado?”, perguntou
Antares.
“De fato uma parte de nossa história é muito desagradável, e eu não quero falar sobre isso,
porque este assunto já morreu e desintegrou-se de minha alma, porém há o lado positivo de nossa
história, amei este homem profundamente, porém perdi seu amor por equívocos que cometi. Mas, ele
encontrou seu grande amor que infelizmente já não se encontra entre nós”, disse Heloísa.
“Realmente depois que encontramos o verdadeiro amor, é impossível amar outra pessoa.
Conheço os dois lados do amor: o puro e o diabólico. Também tive uma esposa que amei muito,
também, assim como Regulus, sou viúvo, somos também Filhos da Viúva. Conheci e vivi a paixão
diabólica, e ela me destruiu por completo. O amor puro me deu a maestria, porém o profano me tirou a
mesma”, disse Antares.
“Nossa história é semelhante, somos dois profanadores do amor meu amigo. Porém, a paixão
devastadora me conduziu para a luz”, disse Heloísa.
“A minha me degenerou e me conduziu para as trevas!”.
“Percebo que desde que estamos aqui, você não tira os olhos das profundezas da floresta”,
disse Heloísa.
“Como lhe disse no princípio algo ali me atrai, não sei o que é, mas algo me chama para lá”,
disse Antares.
“Então vá até lá e tire sua dúvida eu me recolherei”, disse isso Heloísa, à medida que se
levantava e se dirigia para o interior do Castelo com passos rápidos demonstrando um certo medo.
Antares de fato seguiu sua intuição e seguiu para o interior da floresta, a lua estava cheia em
Touro, desta forma à noite estava clara; andou pela trilha por aproximadamente meia hora, esta trilha
dava no riacho onde as pessoas geralmente banhavam-se em dias quentes. Ao chegar próximo do
riacho viu uma pessoa banhando-se, aproximou-se cautelosamente com o intuito de saber de quem se
tratava; ocultou atrás de uma grande rocha próxima do riacho e percebeu que se tratava de uma
mulher. Um belo cavalo negro estava marrado numa árvore do outro lado da margem, provavelmente
era o veículo da tal mulher que se banhava com muita naturalidade e com liberdade. Antares ficou por
um bom tempo observando. A mulher conversava com alguém, porém Antares não viu mais ninguém
a não ser a mulher e seu garanhão negro, porém havia também um belo lobo branco que estava
observando a mulher ao banho como se fosse seu guardião. O lobo ao perceber a presença de
Antares começou a uivar alertando a presença de estranhos. A mulher olhou justamente à rocha do
outro lado da margem aonde se ocultava Antares, temerosa saiu das entranhas das águas
completamente nua, Antares ficou erotisado ao visualizar aquele maravilhoso corpo nu cuja cabeleira
molhada ocultava as nádegas bem formadas da ninfa das águas. Ela se vestiu, montou no cavalo e
saiu a galopes penetrando numa vereda serpentina que dava acesso a uma região montanhosa ao
sul. Antares retornou para o Castelo com a ninfa na mente, seu espírito ficou perturbado e desejava
ardentemente saber de quem se tratava.
“Achou algo lá na floresta?”, perguntou Heloísa ansiosa em saber sobre as descobertas do
amigo, pois ela o esperava em uma das repartições do Castelo.
“Sim”, respondeu.
“O quê?”.
“Uma ninfa das águas”.
“Uma ninfa das águas! Dizem que o canto de uma sereia seduz os homens, você resistiu ao
canta desta sereia?”, perguntou ingenuamente Heloísa achando que de fato se tratava de uma ninfa
das águas.
“Ela não cantou para mim”, disse isso, à medida que se retirava.
Heloísa se retirou para o leito, Irene ainda estava acordada.
“Você está se enamorando por Antares, não é?”, perguntou com uma certa malicia inocente
Irene.
“Não, somos amigos apenas!”, exclamou demonstrando timidez e como que se esteve
ocultando seus verdadeiros sentimentos.
“É um homem muito atraente apesar da idade, eu morei um tempo com ele e só Deus sabe o
esforço que tive que fazer para resistir à tentação, pois nossa amizade é muito forte, não poderia
estragá-la, graças ao bom Deus ele não misturou a amizade com sexo, apesar de eu querer muito, ele
sempre se esquivou, isso só fez com que eu o admirasse ainda mais, desta forma ele se tornou meu
confidente e nossa amizade se consolidou ainda mais”, disse Irene.
“Nossa! Imagino o suplicio que sua alma passou, de fato se trata de um homem muito atraente
sexualmente, apesar da idade já te levado uma parte de sua beleza física”, disse Heloísa rindo
maliciosamente pra amiga.
“E seus sentimentos por Regulus como estão?”, perguntou Irene curiosa.
“Regulus se tornou um santo através do grande amor que sentiu e ainda sente pela aquela
que foi a mãe de Jade; eu amei muito este homem e talvez ainda o ame, porém nosso amor não
pertence à eternidade, não sou digna deste amor; minha ligação com ele foi apenas cármica”.
Depois de dialogarem por um bom tempo, enfim caíram no sono.

Depois do Grande Ritual, os iniciados se encontraram em corpo astral para uma missão
especial, ocorreria um combate na Luz Astral com os tenebrosos magos da Ordem do Graal Negro
que queriam destruir a nascente Fraternidade Gnóstica do Leão Vermelho.
Doze carros de guerra no formato de escorpiões puxados por dois dragões alados cada carro,
voavam pelo belo e brilhante primeiro céu da Árvore da Vida, esfera de Hod, o mundo astral localizado
na quinta dimensão da Natureza. Sobre cada carro de Osíris, havia um Cavaleiro Kadosh armado de
espada flamígera e de escudo no formato hexagonal com um pentagrama Ieschuah ao centro. Os
Cavaleiros vestiam-se com túnicas negras reluzentes; os troncos dos Cavaleiros eram protegidos por
uma armadura dourada com a insígnia da Fraternidade do Leão Vermelho gravada em baixo relevo e
com pedras preciosas incrustadas no baixo relevo. As pedras eram de diversos tipos e obedeciam ao
formato de cada símbolo da insígnia. Sobre as costas de cada Cavaleiro estendia-se uma bela capa
dourada. Sobre as cabeças dos Cavaleiros havia exóticos e belos elmos adornados com dragões.
Braceletes dourados e incrustados com pedras de carbúnculo no formato de leões alados adornavam
os punhos e antibraços dos Cavaleiros. No centro do pentagrama, no escudo, havia a insígnia do
signo zodiacal que cada Cavaleiro representava.
Uma legião de demônios com cabeças de porcos e corpos humanos e asas de morcegos,
formas mentais tenebrosas evocadas pelas vontades perversas dos magos negros e coaguladas na
luz astral, estavam em posição de guerra e voavam em direção aos carros de guerra dos Cavaleiros
Kadosh‟s com grande ira, porém eram incinerados pelas espadas flamígeras dos Guerreiros de Osíris
e pelas chamas lançadas dos dragões que puxavam os carros de guerra. A batalha era terrível e os
demônios eram muitos, depois de um longo confronto os demônios foram reduzidos às cinzas. Os
carros de guerra pousaram em um vale sombrio cercado por uma floresta pantanosa do primeiro
subplano do mundo astral. No seio desta se localizava o tenebroso templo do Graal Negro. Os carros
pousaram e os doze Cavaleiros Kadosh‟s comandados por um Grão-Cavaleiro, penetraram na
sombria floresta pantanosa. O Ar era fatal e provocava terror, obviamente se tratava do astral inferior.
A segunda legião de demônios artificiais eram harpias negras estavam por toda parte e de seus arcos
lançavam dardos malignos contra os Cavaleiros; estas harpias eram comandadas por uma bruxa de
beleza fatal e maligna e possuidora de grande poder mágico das trevas. Os dardos eram bloqueados
pelos escudos e as harpias ao verem os pentagramas gravados nos escudos gritavam horrorizadas e
se desintegravam com a luz emanada dos pentagramas, outras eram incineradas pelo fogo das
espadas dos Cavaleiros; esta luta foi mais terrível de que a primeira. O Cavaleiro de Leão, Regulus,
atravessou a nuvem negra de harpias e, à medida que avançava para onde se encontrava a bruxa, ia
desintegrando muitas harpias com o poder do fogo de sua bela espada flamígera; por fim ficou frente a
frente com a tenebrosa bruxa que lançou sobre Regulus um feitiço na forma de um monstro horrível;
quando este se aproximou de Regulus, este ergueu o escudo na cara do monstro que vinha com
grande fúria para atacá-lo, porém ao ver o poderoso pentagrama do escudo a besta deu um grande
rugido e se apavorou diante da estrela mágica, neste instante Regulus cravou a espada flamígera no
peita da besta incinerando-a totalmente. A bruxa que estava envolta por um manto negro de capuz
deu um leve sorriso satânico para Regulus e logo desapareceu pelo seio da floresta tenebrosa, os
lobos negros que a acompanhavam uivaram tenebrosamente, porém não se aproximaram do
Guerreiro Kadosh, devido o poder de luz emanado do pentagrama. As harpias foram desintegradas,
então os Cavaleiros avançaram para o interior da floresta sombria no encalço da tenebrosa bruxa do
Graal Negro, porém não alcançaram. Depois de uma longa caminhada pelo difícil pântano que era
como um labirinto, os Cavaleiros finalmente avistaram o sombrio Castelo do Graal Negro. Um poder
magnético fatal rodeava a áurea do Castelo, este era protegido por tenebrosos dragões negros. O
Castelo se localizava em local de difícil acesso, somente voando dava para entrar em seus domínios,
como a quinta dimensão não está submetida à lei da gravidade, então se pode voar. Porém os
dragões iriam atacar com grande fúria, muitos magos negros se encontravam na torre do Castelo
observando a aproximação dos Cavaleiros Kadosh´s e prontos para o ataque; os Cavaleiros do Graal
Negro se vestiam como os Cavaleiros medievais e eram vampiros tenebrosos, suas vestimentas eram
de cor escarlate e negro opaco e suas armaduras de prata. Um poderoso Leão vermelho alado
acompanhava os Cavaleiros Kadosh´s.
O Arquimago do Graal Negro ordenou o ataque e o primeiro dragão negro foi enviado, porém
o Leão de Minerva que acompanhava os Cavaleiros Kadosh‟s partiu para o combate feros e a luta foi
terrível entre o Leão da Sabedoria e o dragão das trevas, porém o Leão foi vitorioso, mas um segundo
dragão mais poderoso do que o primeiro foi lançado para cima do Leão, porém mais uma vez o Leão
venceu. Então a fúria invadiu os magos negros que enviaram mais cinco dragões. O Cavaleiro Kadosh
da constelação de Touro, Aldebaram, enviou o poderoso Touro branco alado de Shiva para ajudar o
Leão vermelho de Regulus; o Cavaleiro de Escorpião enviou a poderosa Águia ao combate; da mesma
forma o Cavaleiro da constelação do Escaravelho sagrado, Câncer, envio o Andrógino ao combate. A
luta foi terrível, os quatros seres viventes estavam tendo muita dificuldade para vencê-los, porém o
Grão-Mestre que liderava os doze Cavaleiros, emanou de seu coração uma poderosa energia que se
plasmou em uma poderosa Fênix, então com ajuda desta os dragões das trevas foram abatidos.
Então, os Cavaleiros Kadosh´s avançaram para o interior do tenebroso Castelo, porém foram
interceptados por um exercito de Cavaleiros vampiros, os magos negros, o confronto se deu corpo a
corpo. Regulus cravou a Espada Geburiah no peito do Arquidemônio que liderava os vampiros, porém
este permaneceu intacto, então Regulus percebeu que este havia despertado no mau e para o mau.
Um tenebroso magnetismo fatal envolvia os vampiros. Regulus e os outros Cavaleiros sabiam que
estes tenebrosos vampiros do Graal Negro só não sofreram a segunda morte, a morte do corpo astral
lunar, devido o motivo deles se alimentarem do éter refletor sugado dos corpos emocionais de
pessoas que viviam em corpo físico. Qualquer tipo de reunião que excita as emoções fornece grandes
quantidades de éter refletor aos Eons grupais que se organizam em Lojas Negras e são eles que
formam as hierarquias dialéticas, os “príncipes deste mundo”. Estas hierarquias consistem na
formação metafísicas provenientes da humanidade decaída, é pela atividade ímpia da humanidade
que estes Eões grupais se autoconservam no plano astral. Todas as atividades religiosas naturais,
políticas, econômicas, sociais fornecem o éter refletor aos Eons grupais. Quando maior é a excitação
emocional de pessoas que pertencem às tais grupos religiosos, políticos, econômicos ou sociais,
maior é a quantidade de éter refletor. É com este éter que os magos negros alimentam seus corpos
astrais lunares e suas egrégoras.
O objetivo do Mestre e de seus Cavaleiros era de aprisionar estes magos negros vampiros e
conduzi-los ao submundo para ali sofrerem a segunda morte. Porém não era tão fácil assim aprisioná-
los, pois muitos destes vampiros possuíam o Kundalini despertado negativamente e isso lhes
outorgavam grandes poderes, porque a cauda de Satã, o Fogo Serpentino (Kundalini) despertado para
baixo os ligavam ao Fogo hidrogênico central do planeta, o Fogo Ímpio da Natureza. Enquanto que o
Fogo Serpentino do Cavaleiro Kadosh despertado pela Magia Sexual subia pela espinha dorsal e o
ligava ao Cristo Íntimo, o Logos Íntimo; o do mago negro ou vampiro que era despertado pela magia
sexual negra descia aos infernos infra-atômicos íntimo do mago negro e o ligava com seu Lúcifer
Intimo decaído, Satã, o Pentagrama carregado de luz infravermelha e com a ponta superior voltada
para baixo. Os Cavaleiros Kadosh‟s não estavam sujeitos a segunda morte, porque possuíam o corpo
astral solar criado pelos átomos cristicos liberados do sêmen através da alquimia sexual; porém o
corpo astral lunar do mago negro era fortalecido pelo poder infravermelho do Fogo central ímpio, isso
lhes davam um terrível poder magnético fatal. Por fim, alguns magos negros foram aprisionados e
conduzidos a Osíris (Plutão) e a Isis Negra (Hécate-Perséfone) para serem julgados por Anúbis e seus
quarenta e dois juízes e sofrerem a segunda morte nos reinos minerais da Natureza, ou seja, a
desintegração do Ego e de seus corpos lunares, uma vez que a essência divina contida no caos
satânico é liberada pela desintegração da matéria ímpia, esta essência escala novamente a roda da
evolução.
O Arquidemônio vampirico do Graal Negro junto com outros demônios escaparam. A
tenebrosa sacerdotisa negra estava no pináculo da torre observando o combate, ela fixava os olhos de
ódio sobre Regulus, este a reconheceu imediatamente, era uma antiga inimiga oculta da antiga
Atlântica. Regulus se metamorfoseou em uma potente Águia branca e voou em direção a torre onde
se encontrava a maga negra; Arquimago que liderava os Cavaleiros Kadosh‟s o alertou para não ir,
pois era perigoso demais penetrar sozinho no Castelo tenebroso, porém esta Águia rebelde intrépida
voou para o ataque, à medida que alcançou a maga negra atacou-a com suas potentes garras, porém
o Arquidemônio lançou de seu arco fatal um dardo venenoso que atingiu a Águia, esta voltou à forma
humana e caiu ao chão, o Cavaleiro de Touro correu para ajudá-lo, porém um outro dardo penetrou a
coxa de Aldebaram, ambos ficaram abatidos no solo astral; Aldebaram mancando e Regulus com o
braço esquerdo ferido pelo dardo, conseguiram escapar. Logo se retiraram e voltaram para seus
carros de guerra. O Cavaleiro de Libra e os outros Cavaleiros conduziram os demônios vampiricos
aprisionados ao submundo. Enquanto que o Arquimago seguiu com os dois feridos até ao Templo da
cura. Chegando no Templo foram atendidos por Asclépio e Paracelso. Asclépio disse à Paracelso:
“Isso é um mau presságio contra estes insignes Cavaleiros da Ordem do Graal. O veneno penetrou a
corrente sanguínea do corpo astral e se não eliminarmos rápido vai alcançar a corrente sanguínea de
seus corpos etéricos e logo os físicos; este veneno produz o despertar das paixões infraconsciêntes e
as trás a tona com grande violência, é necessário agir rápido!”.
O Grande Mestre Gnóstico do Raio da Medicina Asclépio apanhou um frasco contendo um
elixir verde e deu para os Cavaleiros, estes beberam e logo foram curados da fatalidade que os
ameaçavam, porém Asclépio disse com voz profética: “Não é bom ser ferido em um combate astral,
isso pode trazer conseqüências trágicas ao corpo físico”. Depois os Cavaleiros voltaram aos seus
corpos físicos.

‫ש‬

Perséfone, Agnes e outras sacerdotisas estavam realizando um ritual mágico no interior do


templo. Estavam realizando uma invocação a Hécate a deusa da Magia e da Morte. Heloísa estava
sendo iniciada nos Mistérios de Hécate. Todas estavam vestidas com túnicas brancas e com o
pentagrama no peito. Perséfone viu clarividentemente a potente deusa Hécate, o terceiro aspecto da
Grande Isis, a mãe Divina de Heloísa ali no plano astral consagrando a filha a seus mistérios.
Perséfone venerava a beleza divina de Hécate, a rainha do submundo. Hécate possuía uma bela tiara
na forma de coruja dourada com detalhes vermelhos e brancos e as sobrancelhas douradas da coruja
se elevavam dois raios no formato de dois finos e delicados chifres, entre este e, sobre a tiara, havia
um sapo coroado, as patas dianteiras do sapo sobressaiam na parte superior da tiara, enquanto que
as inferiores sobressaiam na parte de baixo; o sapo era verde e tinha dois pequenos chifres. Uma
longa capa dourada estava presa na parte inferior da tiara e se estendia ao longo das costas. Um colar
de prata no formato da cabeça do Bafometo adornava seu peito; a parte superior do vestido dourado
de Hécate estava preso na boca do Bafometo dando a impressão de que era uma energia dourada
emanada de sua boca. O vestido se unificava entre os belos e sagrados seios deixando-os a mostra e
se estendia cobrindo o plexo solar e toda região do baixo ventre. Um belo cinto de prata cingia seus
quadris; na parte frontal do cinto havia ornamentos na forma de uma esfera pratiada ladeadas por
duas serpentes najas na forma de “S” que ficavam sobre ventre. O belo vestido dourado se dividia em
duas partes a altura dos quadris deixando a mostra as belas e sagradas coxas. Suas sandálias eram
de prata e adornadas com símbolos herméticos da magia, se elevam até a canela onde terminavam
com uma bela serpente naja com asas répteis abertas. Belos braceletes adornavam seus braços e
anti-braços. Possui um belo cajado de prata encimado por um sol e ladeados por duas foices de lua
minguante e crescente, abaixo destas havia duas serpentes com asas de dragões. Era um belo cajado
e era segurado suavemente pela deusa da Magia e do Tarô. Belos brincos adornavam suas sagradas
orelhas. Era uma imagem inefável. O Semblante da deusa era de uma mulher madura e mágica;
diferente da deusa Diana que tinha semblante de ninfa.
Palavras mágicas foram pronunciadas ali, poderosas magias de quebra de feitiços foram ali
realizadas. Hécate quebrava com o poder de seu cajado mágico todos os encantamentos realizados
contra os membros da Fraternidade Gnóstica do Leão Vermelho pelas sacerdotisas de Lilith 157 da
Ordem do Graal Negro. Um lobo branco seguia a deusa Hécate. Enquanto que um lobo negro sempre
acompanhava Lilith em suas solitárias peregrinações pelo vale da sombra da morte. No fim do ritual,
Hécate foi conduzida pelo seu inefável carro puxado pelos dois dragões à sua morada sombria onde
atormentava os demônios com seu poder. Heloísa foi consagrada sacerdotisa do Templo Gnóstico do
Leão Vermelho e recebeu o nome da deusa Batesth, a deusa do tantra egípcio, representa os poderes
benéficos do Sol, é a deusa do prazer, da dança e da música, seu culto é dionisíaco. Perséfone era
Nekbath, a deusa Abutre associada aos aspectos maternos e a fecundação. Agnes era Selketh, a
deusa Escorpião guardiã do submundo e associada à morte, ao sexo e a magia. Shekmeth, a
poderosa, deusa da guerra, defensora da ordem divina e representa os raios destrutivos do Sol, era
Lung Nu. Jade era Maath a deusa da Verdade, da Justiça e da Ordem. Isadora era Háthor, deusa do
prazer e da maternidade, encarnação de tudo que é prazeroso nas mulheres. Isabel era Nuth, deusa
do céu e do firmamento, protetora dos mortos.
Logo após a consagração de Heloísa seguiu-se à consagração de Irene, e a deusa Diana-
Lucifer, a portadora do archote, deusa vermelha do amor casto e da caça concorreu à invocação. Irene
foi consagrada e recebeu o nome da deusa Isis. Os nomes estavam associados com o próprio destino
de cada sacerdotisa; quando Irene recebeu o nome de Isis, todas ali sabiam o drama iniciático que
envolvia o nome de Isis.

Antares retornou algumas vezes ao riacho à noite com o intuito de encontrar novamente
aquela misteriosa mulher, porém foram em vão suas tentativas. Aquela mulher não saia de sua
cabeça, pois ele queria desvendar aquele mistério que o atormentava. Abandou o aposento no meio
da noite e subiu para a torre direita do Castelo para contemplar as estrelas e a lua cheia. Observou
uma fumaça se elevar do seio da floresta e ficou pensando do que se tratava aquilo e resolveu descer
para averiguar, pensou em chamar Leonel ou Leon para lhe acompanhar, porém resolveu ir sozinho.
Quando descia às escadas observou as sacerdotisas saindo da passagem secreta que dava acesso
ao interior do templo. Heloísa olhou curiosa para Antares e Irene ficou surpresa em vê-lo ali e se dirigiu
ao amigo para saber para onde ele ia àquelas horas, porém Antares disse à ela que ia andar um
pouco pelas redondezas para refletir sobre uma experiência astral e que era para ela ficar
despreocupada, Irene então subiu para seu aposento. Agnes pediu para Antares tomar cuidado, pois
havia lobos na região que costumava atacar as pessoas.
Antares seguiu para o seio da floresta por uma pequena trilha, atravessou o rio por uma ponte
formada por grossos troncos de arvores até sair numa pequena planície cercada por rochedos, então
viu uma mulher envolta por um longo manto de capuz de cor rubra próxima de uma pequena fogueira,
estava traçando um circulo mágico no chão com uma vara e próximo dela havia um pequeno
receptáculo de bronze que se encontrava sustentado sobre a fogueira. Antares ficou ocultado atrás de
uma rocha observando o ritual daquela que parecia ser uma Maga ou quem sabe uma Bruxa. Ele logo
compreendeu que se tratava de um ritual, porém não sabia se era de magia branca ou negra. A Maga
estava realizando uma invocação aos elementais da Natureza, parecia ser o que se chama entre os
157
Lilith é a sombra da deusa Hécate; e muitas vezes Hécate é confundida com Lilith pela bruxas. Lilith como
lua negra é a sombra de Hécate e é a rainha das feiticeiras e bruxas como já dizia Elifas Levi com muito
acerto. Lilith como pólo fatal do raio de Vênus é a Luxuria, a lascívia e a magia sexual negra e toda infra-
sexualidade; porém como lua negra é o aborto, a magia negra, a morte.
druidas de uma feiticeira branca. Ficou observando na espreita, parecia que ela estava em transe e
conversava com uma salamandra do fogo. Logo ecoou uma doce voz melodiosa: “Por que me
persegues, que tenho eu contigo homem?”.
Antares ficou surpreso com aquela feiticeira que percebera sua oculta presença, porém não
respondeu a indagação daquela maga. Antares percebeu a presença do lobo branco que estava
diante de si em completo silencio, parecia ter se afeiçoado por Antares, foi que percebeu que se
tratava da mesma mulher do riacho.
“Fotes tu quem perturbastes meu banho naquela noite?”.
“De certo distinta maga, desde aquela noite meu espírito se encontra atormentado e desejo
travar amizade contigo”.
“Por que desejas ser amiga daquela que não deseja amigos?”, respondeu a maga.
“Minha intuição me diz que há um mistério entre nossas almas, nada mais, vim em paz”,
respondeu Antares.
“Um mistério entre nossas almas!? Tu nem me conheces, e falas de mistérios entre nossas
almas! Quem és tu homem e de onde vens?”.
“Sou apenas um Andarilho em busca de respostas, não pertenço a lugar nenhum, sou do
mundo”.
“Sei muito bem quem és! Tu és uma daquelas estrelas que caiu do céu, e agora vives
vagando por este vale da sombra da morte em busca de paz, porém esta foge de ti constantemente, a
angustia e o desespeiro são seus eternos companheiros. Estavas renascendo, porém mais uma vez
fostes incinerado pelo fogo de tua própria paixão voluptuosa, és um tolo, trocastes o cedro do poder
pela vara do Louco!”, disse com grande autoridade a maga. Antares ficou assombrado com os poderes
daquela mulher que parecia conhecer bem quem ele era.
“Quem em você ilustre mulher que de mim sabe muito, porventura me conhece?”.

“Sou Medéia, a sacerdotisa de Hécate e tenho uma profecia a te revelar, te aproximes não
tenhas receio, não sou Bruxa apenas uma Maga Órfica, meus rituais são inofensivos e só visam o
bem. Eu te vi quando chegastes aqui junto com teus amigos, sei que teus amigos realizam rituais
dionisíacos no interior do Castelo. Sei que tu és um grande Mago, preciso de tua ajuda para realizar
um ritual, sei muito bem que, apesar de caído, possui grandes conhecimentos de magia; preciso do
pólo positivo da força para realizar uma magia para salvar alguém que esta indo para o caminho das
trevas, uma irmã prestes a se tornar uma sacerdotisa de Lilith. Eu te escolhi como a leoa escolhe o
leão para fecundá-la, te conheci na Atlântida e te reencontrei em Marselha, logo lembrarás de mim e
saberás quem eu sou”, disse Medéia.
“De fato possui grandes poderes, caso contrario não teria conhecimento de coisas tão
secretas e não teria força para me chamar telepaticamente, mas de fato quem é você?”.
“Já te disse sou Medéia e moro na solidão da floresta; morava na cidade, porém há dois anos
abandonei a cidade e vim morar no seio da Natureza, presto culto e amo a Grande Mãe Natura, por
isso me deleito em viver em seu seio; a solidão é minha única companheira e moro em um humilde
rancho sobre aquela montanha, desci a montanha para te encontrar e para te revelar algo”, disse isso
apontando para o sul.
“Que profecia é esta que deseja me revelar?”, perguntou Antares desconfiado.
“Venhas até mim, para que a fumaça te mostre o que deves saber, não tenhas receio,
venhas”.
“Por que eu deveria acreditar em você?”, indagou Antares.
“Porque a mim foi dada esta missão, sempre estive ligado a você e você a mim, tu mesmo
afirmastes que há um mistério entre nossas almas, não errastes de fato há; logo compreenderás
tudo!”.
Antares se aproximou de Medéia cautelosamente, pois queria contemplar sua face, pois o
capuz do belo manto rubro ocultava o rosto da misteriosa Maga órfica. Algo lhe atormentava a mente
inconsciente, imagens surgiam em sua mente, forças misteriosas manifestavam-se das profundezas
de seu ser, sim era o efeito do aroma da erva que Medéia queimava em seu recipiente de bronze.
“Quem é esta mulher cujo poder me atrai e atormenta meu espírito? Qual a explicação lógica disso
tudo? Será que não é uma bruxa querendo me acorrentar aos seus encantos fatais?”, pensava
Antares em seu intimo. Ele se lembrava de uma misteriosa mulher que apareceu para ele duas vezes.
A Primeira vez a encontrou num evento maçônico em Marselha, onde ele se encontrava com sua
falecida esposa Elisabeth, pois ele lembrava muito bem desta voz profética que lhe dizia que poucos
dias restavam à sua esposa, profecia comprida com precisão. A mulher após dizer isso desapareceu
na multidão, na ocasião Antares achou que se tratava de uma louca fanática, porém quando ocorreu o
acidente fatal com sua esposa, percebera que de fato se tratava de uma profetisa. A segunda vez a
misteriosa mulher apareceu no interior de sua mansão como se estivesse surgido do nada, e diante de
dele em total silencio e de olhar severo lhe mostrou a lâmina do Arcano 16 do Tarô dos Boêmios,
depois se dirigiu para o belo jardim e desapareceu entre misteriosas brumas. Antares compreendeu
naquela ocasião que a misteriosa mulher havia penetrado na quarta dimensão. Agora novamente a
misteriosa mulher aparecia novamente na linha de sua vida e lhe dizia que tinha algo para revelar, que
seria desta vez, pensava já temeroso.
A Maga encontrava-se voltada para o leste, Antares vinha do oeste, desta forma ele não via
seu rosto, mas apenas o corpo envolto do manto e a cabeça ocultada no capuz. Quando Antares se
aproximou do circulo mágico a sacerdotisa órfica voltou-se para ele, porém seu rosto estava ocultado
pelo capuz. Ele sentiu o poder emanado da Maga; como havia caído e perdido seus poderes
psíquicos, não pode vê quais forças estavam ali presente, porém a Maga o fez vê uma energia
eletrônica de um intenso azul turquesa condensada em forma de dragão alado emanada de seu
coração; quando Antares viu este poder-dragão, uma poderosa chama ardeu em seu peito e de seu
coração um dragão vermelho condensado de luz eletrônica, manifestou-se. Era seu Fogo do cárdia
despertando para atividade criadora. A Maga retirou o capuz, e a luz do fogo resplandeceu em seu
semblante; um belo rosto sagrado, revelou-se ao Mestre caído. A Maga jogou uma mistura de ervas
secas nas brasas contidas no turíbulo de bronze e uma deliciosa fragrância mágica alterou seu estado
de consciência, via na fumaça toda a história que envolvia ele e aquela mulher desde épocas remotas
até dias mais recentes; sua vida passava como filme diante de seus olhos, também viu seu futuro
amargo e doloroso; viu Regulus encarcerado, uma mulher o trairia e o levaria à morte, mas ele não via
o rosto da mulher, ele via sua própria morte diante de si; caiu de joelhos no chão e ali permaneceu até
o efeito da erva passar, quando retornou ao estado normal Medéia havia sumido misteriosamente ai
pensou:
“Certamente a astuta maga me iludia com ervas alucinógenas!”, disse isso e partiu para o
Castelo.

Perséfone estava inquieta e não conseguia dormir, levantou-se e foi para a torre com o intuído
de contemplar a beleza resplandecente de Urânia 158; deparou com o Mestre Régulos que estava com
os olhos fixados em um ponto. Perséfone se aproximou, porém não interrompeu a contemplação do
Venerável Mestre, porém ficou curiosa e pensou o porquê de Régulos manter os olhos fixos naquele

158
O céu estrelado.
ponto. Ela, então, manteve descrição, porém também fixou seus brilhantes olhos esmeraldinos no
mesmo ponto e viu clarividentemente um poderoso vórtice de luz naquele ponto. Depois a visão se
desfez e Perséfone rompe o silencio e pergunta: “Algo mágico ocorreu no seio da floresta, viu o que eu
vi?”. Régulus manteve o silencio por alguns instantes, mas logo respondeu: “Um poder foi despertado,
duas forças se encontraram e se unificaram magicamente”, disse isso e retornou a contemplação,
Régulus.
“Um poder que foi despertado, que mistério é este?”, indagou a Cabalista de Leon.
“Uma sacerdotisa órfica que vive ocultada no seio da floresta, encontrou um velho amigo da
magia, de certo tem negócios a tratar com ele”, disse isso, à medida que se retirava para seu
aposento. Perséfone permaneceu ali por algum tempo, depois desceu e se dirigiu à cozinha para
comer algo, pois estava sem sono e lhe deu fome.
Perséfone ouviu barulho de passos, ela estava sentada no sofá de uma das repartições do
Castelo, levantou cautelosamente dirigiu ao salão principal e avistou a figura imponente daquele
poderoso Mago que um dia ela o amou e talvez ainda o amasse. Perséfone ficou espantada com o
que via, pois viu Antares cercado por labaredas de fogo. E pensou consigo mesma: “Que se passa
com este homem, onde será que esteve? O que será que estava fazendo? Será que aquele fenômeno
que presenciei pela clarividência tem haver com ele, será?”. O espírito de Perséfone estava inquieto e
com muita ânsia em saber o mistério que rondava Antares, o Mestre caído.
Neste momento, Heloísa saia de uma outra repartição e se encontro em um dos corredores
com Antares, este pediu que ela o acompanhasse até a torre para conversarem um pouco, já que
ambos estavam sem sono. Perséfone ficou na espreita e ficou surpresa com a amizade de ambos, não
sabia que estavam tão íntimos assim.
“Heloísa estive no seio da floresta e lá encontrei uma misteriosa maga realizando uma magia,
misteriosamente ela já espera por mim, me disse coisas que só eu sabia”, disse Antares.
“Então era ela que te chamava telepaticamente, não é?”.
“Sim. Ela realizou um ritual e queimou certas ervas mágicas, cujo aroma me alterou minha
consciência, este estado vi minha vida passar diante de meus olhos como um filme, porém ao retornar
ao estado normal, ela já não se encontrava mais lá”.
“Meu Deus! Será uma bruxa que te encantou com seus sortilégios?”.
“Não, já vi esta mulher outras vezes em minha vida, não se trata de uma feiticeira, mas de
uma maga órfica. Parece ter muitos anos de vida, porém sua aparência é como uma moça de dezoito
anos de idade, esta mulher talvez tenha algo que procuro a anos”.
“O quê?”, perguntou curiosa Heloísa.
“A Panacéia universal, a fórmula alquímica secreta pela qual podemos rejuvenescer, esta
fórmula é feita com certas ervas secretas”.
“Meu Deus! Isso não é uma lenda, de fato existe!”.
“Existe. Minha força vital esta se esvaindo, tenho que encontrar esta fórmula, pois com ela
posso prolongar minha vida e assim posso colocar muitos de meus planos em ação”.
“Pede para Régulus, com certeza ele possui”, disse Heloísa animando o amigo.
“De fato ele possui, porém ele não me daria, pois desta forma estaria traindo os segredos da
Ordem”.
“Entendo”.
“Amanhã sairei em busca desta mulher, ela reside em um rancho em uma montanha ao sul”,
disse Antares esperançoso.
“Mas, ela também não estaria traindo seus mestres se caso lhe entregasse a tal fórmula?”,
perguntou Heloísa.
“Não sei, pode ser que ela tenha encontrado por si só, desta forma ela não estaria traindo
ninguém”.
“Posso ir com você? Desejo conhecer esta mulher”, pediu Heloísa.
“Deixa eu primeiro travar amizade, depois eu te levo até ela”.
“Tudo bem que assim seja então”.
“Heloísa sua presença me faz bem, gosto de estar com você”, disse Antares, à medida que
passava meigamente as pontas dos dedos da mão direita no semblante de Heloísa, esta sentiu um
fogo percorrer sua espinha dorsal e uma certa ardência no coração. Sentiu medo dos sentimentos que
estavam despertando em seu interior. Ela também estava sentindo os mesmos sentimentos por
Antares, porém nada disse, permaneceu em silencio e receptiva as investidas de Antares. Porém o
poder de Antares colocava sua frágil alma em terror. Um medo misterioso, porém delicioso, invadiu
sua alma, então fugiu de Antares.
Heloísa entrou assustada no quarto e Irene, perguntou:
“Que foi, parece assustada, viu algo na noite?”.
“Sim, vi algo em e fora de mim que deu medo”.
“O que, me conte? Sou sua amiga fiel”, disse Irene abraçando fraternamente a amiga.
“Antares está me querendo, porém ele me dá medo”, disse preocupada Heloísa.
“É um poder misterioso não é?”.
“Sim, como sabe?”.
“Eu o conheço, esqueceu que já convivi com ele no mesmo teto? É um poder do submundo, a
alma do Escorpião vive nele, ele é mágico. Isso de fato revela que ele te quer, ele liberou o poder do
escorpião, difícil agora vai ser de contê-lo”, disse Irene.
“Como assim, ele agarra a gente!?”, disse espantada Heloísa.
“Deixa de ser ingênua mulher! Ele é um bom homem e muito cavalheiro para com as
mulheres, porém estou falando que o poder do escorpião que reside nele vai te envolver aos poucos
até que este fogo desperte em ti a paixão, mas isso só ocorre se você for receptiva”.
“Há meu Deus! Vai começar tudo de novo em minha vida! Eu também tenho este poder, e com
certeza ele já sabe, por isso me quer, e agora que eu faço?”.
“Entregasse, afinal de contas ele precisa de uma mulher como você, acho que já passou da
hora de você ter um novo amor em sua vida, vai em frente não perca esta oportunidade”.
“Você não entende, eu estou com medo, talvez estou imaginando coisas!”, exclamou baixo
Heloísa.
“Faça sua escolha como queira, agora me deixe dormir”, disse Irene bocejando de sono.

Todos os iniciados estavam no amplo salão do Castelo dialogando sobre assuntos diversos,
porém Antares estava afastado e pensativo, Irene e Heloísa perceberam o estado do Mestre caído.
Antares desde sua queda já não era mais o mesmo, uma terrível angustia atormentava sua Alma
humana, porém desde seu encontro mágico com Medéia seu Espírito estava entusiasmado, porque
nele despertaram forças adormecidas a milênios. Uma poderosa vontade o impulsionava para ir
rever a poderosa sacerdotisa órfica, então se afastou do circulo dos amigos e partiu para a floresta
em busca do rancho, aonde vivia Medéia. Tinha ânsia de vê-la. Heloísa acompanhava com os olhos
Antares se afastando.

Antares deparou-se com os rochedos próximo ao rio, parou próximo de uma rocha e sentou-
se e permaneceu por algum tempo ali em estado de contemplação; a voz da Natureza penetrava
seus sentidos e tocava sua alma que vibrava harmoniosamente como a lira de Orfeu. Observou que
do outro lado do rio havia uma cabana e da janela desta um rosto de mulher olhava para ele. Este
tipo de vida exótica atraia a atenção de Antares e, então, resolveu se aproximar da cabana e saber,
talvez alguém ali poderia lhe inçar a morada de Medéia. Atravessou a estreita ponte do rio e seguiu
até a cabana, à medida que se aproximava a fisionomia da mulher que se encontrava na janela da
cabala se fazia mais nítida. “Talvez seja a Bruxa que ouvi falar no Castelo”, pensava Antares, à
medida que se aproximava da cabana. A visão de Antares se deparou com um rosto de beleza fatal
e carregado de mistério, ele logo percebeu que se tratava de uma bela bruxa. A bruxa sorriu para o
visitante, pois ela pensava que se tratava de algum cliente novo que viera até sua cabana em busca,
quem sabe, de algum filtro amoroso e de algum feitiço contra algum inimigo. Antares era um
pesquisador da magia seja ela negra ou branca e teve vontade de travar amizade com a tal bruxa
para saber quais eram seus métodos mágicos. A bruxa olhou com sedução e com a voz manhosa
perguntou:
“Que deseja com esta simples e pobre mulher?”.
“Venho de longe e desejo apenas informações, distinta dama”, respondeu Antares.
A bruxa saiu da janela e se dirigiu para fora da cabana para receber o inesperado visitante.
Fez uma volta em torno de Antares de forma sedutora, à medida que perguntava com certa
curiosidade:
“Qual o motivo que trouxe um homem tão cavalheiro e refinado a esta floresta misteriosa e
cercada de perigos mágicos?”.
Antares com sua astúcia de serpente e a brandura de um pombo, logo percebeu que de fato
se tratava de uma feiticeira, pois Agnes o informou que nesta floresta viviam muitas feiticeiras
solitárias, então para não levantar suspeita sobre sua verdadeira identidade disse:
“Sou curandeiro e busco uma erva rara para preparar um elixir, disseram-me que por estas
bandas vive uma mulher de grandes conhecimentos e que a tal conhece a erva que busco”.
“Tu não pareces ser um curandeiro, pareces mais um alquimista ou mago, vejo isso em tua
áurea”, disse sorrindo e com olhos lânguidos para Antares.
“Sou apenas um médico naturalista nada mais. Não sei nada sobre questões de magia ou
alquimia, talvez você possa me instruir neste saber, pois você despertou minha curiosidade”, disse o
astuto Mago Antares.
“Quem sabe. Venhas, entre”, disse a bruxa, à medida que penetrava na cabana, Antares a
seguiu.
Antares percorreu os olhos em todo o recinto para reconhecer o campo; de fato se tratava
de uma bruxa; ele percebeu alguns objetos sobre uma pequena mesa; parecia que preparava algo
muito bom no fogão à lenha; o ardor do cravo impregnava o ambiente. A bruxa teve simpatia pelo
Mestre caído, e parecia que ele estava gostando de travar amizade com aquela bela bruxa que
todos ali no Castelo pareciam repugnar. A bela, porém perigosa, sacerdotisa de Lilith lhe ofereceu
um chá de ervas e alguns biscoitos feitos por ela; Antares discretamente os magnetizou, depois os
degustou deliciosamente. A bruxa olhava Antares saboreando os biscoitos com admiração; os olhos
da ninfa das trevas estavam lânguidos e fixados em Antares; ela tentava penetrar seus mistérios,
porém encontrava resistência, pois a áurea do Mago era uma fortaleza. Dos olhos da bruxa fluía
uma potente corrente de desejo sexual que tentava envolver Antares, porém ao tentar penetrar o
campo elétrico-magnético do corpo etérico do Mago, a corrente do desejo perdia sua força e
retornava polarizada para o corpo de desejo da bruxa. Desta forma seu desejo acalmou, então
ambos puderam entrar num gostoso dialogo. Porém a bruxa ficou impressionada com a resistência
daquele nobre Cavaleiro que se encontrava diante de si; pois todos os homens que penetraram sua
cabana se rederam a seus pés, porém este misterioso homem que a tratava com tanto
cavalheirismo era imune a sua sedução.
“Estamos conversando a mais de uma hora e nem ao menos sei seu nome, como se chama
misteriosa ninfa da floresta?”, perguntou Antares.
“Samanta, e o teu?”.
“Antares”.
“Bonito nome; se de fato o nome representa a nossa essência, então tu tens alma de
escorpião; já que Antares é uma estrela de primeira grandeza da constelação do Escorpião, o
Coração de Escorpião. Vou chamá-lo assim, Coração de Escorpião”, disse a bela bruxa Samanta.
“Gostei de ser chamado de Coração de Escorpião tem muito haver com minha
personalidade e com meu campo de ação”, disse Antares, à medida que olhava fixamente no
terceiro olho de Samanta.
“Interessante, queres dizer que teu campo de ação se encontra relacionado com o que
representa o Escorpião: morte, sexo e magia, estes são teus campos de ação, Coração de
Escorpião?”, disse rindo em tom de brincadeira a bela Samanta.
“Nada disso, você não sabia que o Escorpião também se relaciona com a regeneração?
Hora, meu trabalho é este regenero as pessoas com meus elixires, sou Curador como já te disse
outrora”, disse Antares.
“Sei não... tu me pareces ser Mago e dos poderosos, o que desejas de mim?”, perguntou
com o semblante sério.
“Que me ajude a encontrar a tal mulher, disseram-me que ela se chama Medéia e mora em
um rancho por estas redondezas”.
Samanta arregalou os olhos e ficou eufórica, demonstrando ansiedade, porém manteve o
controle diante do visitante e respondeu:
“Posso de ensinar como chegas ao rancho, porém te alerto: todo cuidado é pouco com esta
mulher terrível, dizem que é uma poderosa feiticeira e já arruinou a vida de muitos homens que por
ela se apaixonaram”, disse a astuta bruxa com o objetivo de fundir medo na alma do visitante com o
objetivo e impedi-lo de ir até Medéia quem ela conhecia muito bem.
“Como faço para ir até lá?”.
“Segue aquela vereda até o final onde encontrarás um único rancho, lá está quem procuras.
Leve este talismã para te proteger do poder magnético da terrível Medéia, dou-lhe como presente.
Desejo que retorne mais vezes, muito me agradou a conversa”, disse passando as mãos no peito de
Antares para seduzi-lo.
Antares despediu da bela bruxa com a processa de retornar para um chá, logo subiu a
montanha para encontrar Medéia.

Perséfone e algumas ninfas, ou seja, algumas sacerdotisas do Templo, entre elas Heloísa,
seguiram ao rio para banhar-se. Todas brincavam como crianças inocentes. Perséfone percebera
algo estranho, por um instante fugaz olhou para Isabel e percebeu que esta a olhava de uma forma
estranha. Percebera intuitivamente que esta sacerdotisa a olhava com inveja e até com certo ódio.
Estes sentimentos inferiores invadiram a alma de Isabel desde que Isadora e Perséfone se
conheceram e se tornaram amigas, pois Isadora nunca confiara em Isabel, pois percebia algo de
estranho nela, porém não sabia explicar o que era. Isadora e Leon perceberam que Isabel dominava
e manipulava seu esposo sacerdote, Rafael. Isadora sempre aconselhou Isabel, porém esta não lhe
dava muita atenção. Todos os iniciados da Fraternidade já tinham conhecimento sobre o caráter
debilitado de Isabel e esta só ingressou na Fraternidade Gnóstica do Leão Vermelho, devido o
motivo de seu esposo ser um dos discípulos e amigo do Mestre Régulus.
Todas estavam descontraídas e brincando nas águas cristalinas do delicioso rio serpentino
que se perdia entre as entranhas da misteriosa e mágica floresta. De repente o eco da voz de Isabel
fez com que todas ali voltassem à atenção para a outra margem do rio.
“Veja só quem esta saindo da cabana da bruxa Samanta!”, disse Isabel apontando para
Antares. Perséfone pensou consigo mesma qual seria o motivo que levou o Mestre Antares até a
cabana da bruxa Samanta, seria ela a causa do fenômeno que ela e o Mestre Régulus viram
clarividentemente na noite anterior? Perséfone conjecturava as hipóteses consigo mesma, e tal fato
a levou a desconfiar do Mestre Antares, pois bem sabia ela que este Mestre estava caído, e não se
pode confiar em um Anjo caído, pois este sempre esta sujeito a muitos erros; pois ela sabia a
fraqueza que este Mestre tinha por mulheres daquele tipo, pois ela mesma amou Antares e foi
trocada por Ofélia, a sacerdotisa do Graal Negro. Ela precisava levar o assunto à Junta Sacerdotal
do Templo do Leão Vermelho.
Isabel se encarregou de articular o fato presenciado no rio para os outros membros da
Fraternidade. Perséfone permaneceu calada, depois teve que confirmar o relato de Isabel. Régulus
e Heloísa permaneceram calados. Infelizmente, como em qualquer grupo, quase todos ali tinham
uma certa desconfiança de Antares, ninguém concordou com Régulus em ter trazido o Mestre
Antares para a Fraternidade, porém o Mestre Régulus era ousado e sabia muitas coisas que ali
ninguém sabia; a presença do Mestre Antares havia incomodado muitos ali e o embrião da discórdia
foi gerado no seio da Fraternidade.
“Este homem tem a tendência para o lado negro, temos que afastá-lo de nosso meio, para
não afetar a agregora da Fraternidade, pois onde já se viu se envolvendo com bruxas, que sacrilégio
meus frates!”, disse Rafael.
“Não vamos julgá-lo, pois ele não está aqui para se defender”, disse Heloísa.
Régulus olhou para Heloísa com admiração e deu um leve riso de aprovação à sua
colocação. O germe da discórdia já estava ali lançado, o mal já havia se infiltrado no seio da recente
formada Fraternidade.

Antares subia a estreita vereda que dava acesso ao rancho de Medéia, depois de duas
horas de caminhada alcançou o ponto destinado. O rancho se localizava na região montanhosa do
Pirineus. Antares avistava toda a região a baixo, à direita, ao sul, avistava o Castelo da Fraternidade
Gnóstica do Leão Vermelho, à esquerda, ao norte, o tenebroso Castelo do Graal Negro, para onde
concorria várias bruxas que residiam no seio da floresta. O rancho de Medéia era isolado e o vizinho
mais próximo se localizava a duas léguas dali. O rancho estava ocultado entre árvores e havia um
belo jardim próximo do portão de madeira. Antares chamou por Medéia, mas esta não respondeu,
então abriu o portão e penetrou os domínios do exótico rancho. Um belo garanhão negro estava
preso à cerca, isso lhe deu a certeza de que de fato se tratava do rancho de Medéia. Antares se
aproximou da porta e chamou mais uma vez, mas ninguém atendeu, exceto um belo gato negro de
raça angorá que olhou para Antares meigamente e miou manhosamente, à medida que rosava o
corpo peludo na perna direita do Mestre, este apanhou o belo gato nas mãos e olhando nos olhos
destes disse: “Onde está sua companheira meu amigo?”, o gato miou e voltou à cabeça para o oeste
atrás do rancho. Então seguiu para o oeste para uma planície que se encontrava atrás do rancho,
escalou uma pequena rocha que se encontrava nas proximidades e colocou a mão direita sobre os
sobrancelhas para proteger os olhos do brilho do sol que se punha, então avistou um vulto
localizado a uma certa distancia dali; desceu da rocha e seguiu para o local onde se localizava o
vulto.
O Lobo branco que sempre acompanhava Medéia rosnou anunciando a aproximação de
alguém, a Maga virou e avistou a figura enigmática do Mestre Antares, ela sorriu e demonstrou
felicidade no semblante ao avistá-lo ao mesmo tempo em que passava à mão sobre a cabeça do fiel
lobo acalmando-o. Medéia estava colhendo algumas hortaliças em sua horta para preparar o jantar.
Estava descalça e suja de terra. Os cabelos estavam soltos, os olhos negros brilhavam e a face bela
e exótica resplandecia com o brilho da felicidade. As maçãs do belo rosto eram rubras,
demonstrando vitalidade. O corpo delgado estava coberto por um vestido de algodão que cobria as
canelas e tinha um leve decote, dando-lhe uma leve sensualidade. Os pés estavam descalços.
Medéia deu um forte e demorado abraço em Antares, à medida que cochichava em seu ouvido
esquerdo: “Sabia que tu virias, esteves visitando Samanta?”. “Sim, como sabe?”. “Sinto a energia
dela em tu, ela é a mulher a qual lhe falei que necessito ajudá-la”. Depois ambos seguiram para o
rancho; e no caminho Antares relatou como ocorreu seu encontro com Samanta.
Antares já dentro do rancho sentou-se numa cadeira rústica, enquanto Medéia apanhava
uma moringa contendo água fresca e uma caneca; encheu esta de água e deu ao amigo, este
saciou a sede que lhe adormentava o corpo cansado pela longa caminhada. Depois de um certo
tempo, Medéia convidou Antares para banhar-se numa pequena fonte que nascia dos rochedos que
havia próximo de uma caverna localizada a uns quinze minutos do rancho. Já na fonte, Medéia
como uma criança despiu-se naturalmente deixando o corpo completamente nu diante de Antares,
estava testando Antares por alguma razão que só ela sabia. Logo penetrou na pequena piscina
natural formada pelas cavidades das rochas; Antares percebeu que a água estava gelada, pois os
mamilos escuros dos belos seios de Medéia estavam enrijecidos; então teve receio de penetrar a
fonte natural onde à bela Ninfa se encontrava descontraída e alegre como uma criança cheia de
felicidade. Antares estava tímido diante do fato insólito desta mulher ousada e de espírito livre, e
estava receoso em despir-se diante daquela mulher mágica e enigmática para ele. Ela gritou com a
voz suave e aveluda: “Venhas, não tenhas receio nunca se banhou com uma mulher nua”. Antares
despiu-se com muita timidez; o sentido da visão de Medéia trouxe-lhe a imagem de um corpo forte e
potente. Antares penetrou as águas e juntou-se a Medéia. Ambos brincavam como crianças
inocentes.
Depois do banho Medéia conduziu Antares para o interior da caverna que ali se localizava e
cuja entrada era ocultada pela vegetação. Antares observou que no interior daquela misteriosa
caverna havia vários objetos utilizados em rituais e até um altar onde ardia à chama de uma grande
vela de parafina.
“Este é o meu templo natural onde realizo meus rituais e minhas meditações”, disse sorrindo
para Antares.
“Magnífico, como encontrou este santuário natural?”, perguntou Antares.
“Travei amizade com as ondinas que vivem nesta fonte e elas me revelaram a existência
desta caverna. Uma delas me disse que no passado alguns catáros gnósticos celebravam seus
rituais aqui”.
“Muito interessante. Estas terras são suas?”.
“Pertencem aos meus pais que vivem na cidade, às vezes eles passam as férias aqui
comigo”.
“Como faz para viver isolada aqui longe de toda civilização?”.
“Alimento-me de hortaliças e cereais que eu mesmo planto, do leite das minhas cabras que
crio e do mel das colméias que cultivo. No inverno vivo com meus pais na cidade”.
“Seu estilo de vida é muito interessante e admiro muito. Eu sempre tive uma vida entre a alta
sociedade, e pouco sei das coisas simples e boa da vida. Arrependo-me por ter perdido tanto tempo
de minha vida; foi necessário descer ao inferno para conhecer a simplicidade da vida e o mal
também. Meu futuro é um campo onde colherei os frutos do sofrimento e da dor, pois cometi um erro
gravíssimo, dissolvi a Pedra Filosofal no fogo da luxuria, recebi em minha testa a marca do adultério
espiritual”.
“Nem tudo ainda esta perdido, podes ainda levantar a Serpente no Tau gerador, eu te
ajudarei nesta missão, porém deves permanecer comigo aqui, podemos receber juntos as Iniciações
de Mistérios Maiores aqui mesmo neste santuário natural. Caso contrario, toda união para você será
um carma. Se tu queres viver, permaneça aqui longe da vista do dragão escarlate que com fúria te
persegues, porém és livre para seguir em direção à morte que te espreita”.
“Eu Sou uma Águia Rebelde, meus domínios é céu, onde me sinto livre; você é uma
Serpente curadora, a solidão nas entranhas da floresta é sua morada”.
“Estou cansada de viver na solidão, conduza-me ao céu em tuas garras e juntos tomaremos
o céu de assalto! Permaneça comigo aqui e lhe darei a vida eterna”.
“Uma Águia não pode viver confinada em seu ninho, a não ser por algum tempo quando já é
velha e quer se rejuvenescer. Sou uma Águia velha e quero me rejuvenescer sei que pode me dá a
panacéia universal se assim o desejar”, disse astutamente Antares.
“Pode ser, mas algo muito precioso deverás me dar”, disse Medéia.
“O que desejas deste miserável homem que nada vale?”.
“Tudo tem sua hora, quando esta chegar tu saberás”.
Depois ambos retornaram ao rancho, o lobo branco, o guardião de Medéia, seguiu o casal.
Medéia preparava o jantar vegetariano, enquanto Antares descansava na macia e simples cama da
maga órfica. Depois do jantar à luz do lampião, ambos dialogavam sobre muitos assuntos.
“Seus amigos devem estar preocupados com sua ausência acho melhor partir, pode levar o
Azeviche contigo, é um ótimo cavalo e está acostumado a viajar a noite”, disse Medéia preocupada.
“Ali conspiram contra mim, não compreendem o Mestre Regulus e nem a mim, julgam-me
com os olhos do mundo sensível, não vêem o inteligível em nós. Tenho ali poucos amigos, o resto
quer me vê longe dali, eles não perceberão minha falta”.
“Quem é Irene, falastes dela hoje como afeição?”.
“Uma prostituta arrependida que no passado foi minha discípula e amiga, a encontrei em
Paris quando ali estive entre prostitutas e ladrões. Grande mulher, a coloquei novamente no
caminho do Fio da Navalha. O Mestre Regulus ao retornar do Tibet nos procurou em Paris e nos
trouxe para a sede da Fraternidade”.
Depois de certo tempo de silencio, Medéia abraçou Antares e disse suavemente em seu
ouvido direito: “Quero fazer amor no santuário natural...”.
Antares ficou assombrado com tal solicitação, mais uma vez a Medéia estava testando-o,
por quê? Pensava ele secretamente em seu coração, porém Medéia leu seus pensamento e disso:
“Não estou te testando, que mal há em duas pessoas livres fazer amor, não vejo mal algum,
mal seria se profanássemos o sexo, mas pelo contrário celebraremos a vida, nos Mistérios de
Eleuses não se fazia isso com muita naturalidade?”, disse Medéia.
“Sim. Porém não sei se suportarei a pressão da força, vinha fornicando estes últimos anos
com aquela que foi a causa de minha desgraça, tenho medo de profanar seu vaso santo”, disse
receoso Antares.
“Eu te ajudarei no controle da força, você não me quer?”, perguntou Medéia.
“Não vim aqui com estas intenções, fico inibido com tal evento. Mas, que homem de sã
consciência não desejaria oficiar em neste altar vivo? Mas, tenho uma mulher em minha mente e
penso que talvez esteja traindo ela”, disse Antares querendo esquivar-se da proposta de Medéia que
estava ardendo em chamas.
“Mas tu já tens algum compromisso com ela?”.
“Não. Ela nem sabe que eu a quero”.
“Então estas livre para fazeres amor comigo eu quero e desejo”, Medéia disse, à medida que
abraçou Antares e lhe deu ardentes beijos, logo seguiram para o santuário natural.
Medéia era muito habilidosa na arte de amar e desta forma conduziu o sexo com muita
maestria. Foi conduzindo o ato de forma que Antares pudesse manter a reversão do fluxo seminal.
“Dei-me amor...”, sussurrou Medéia manhosamente no ouvido de Antares. Permaneceram
por muito tempo em caricias, pois o fogo era intenso entre os dois, desta forma uma investida era
perigosa, Antares poderia derramar o sêmen. Medéia sabia disso e por muita vezes reteve o impulso
devastador daquele potente Mago que a satisfazia plenamente. Por fim, houve a conjunção do
lingam-yone. Quando o lingam de Shiva penetrou a yone de Shakiti, Medéia soltou um suave grito
voluptuoso e se contorcia como serpente. Gemia e suspirava a cada movimento, sussurrando
palavras eróticas, isso enchia a alma de Antares de erotismo. Teve um momento que ele deve que
reter os movimentos suaves para conter os movimentos eróticos daquela voluptuosa Shakiti. Medéia
era terrível e parecia conhecer muito bem a arte do sexo. O Intercurso sexual permaneceu por um
longo tempo, a lânguida e ígnea yone de Medéia mantinha o falo de Antares preso à fina rede do
deus Vulcano. A caverna estava preenchida por grandes labaredas de fogo sagrado, e Medéia viu
clarividentemente uma legião de Querubins assistindo aquele ato sacramental. Antares e Medéia
tiveram muita dificuldade em desfazer a conexão sexual, por fim conseguiram escapar da rede de
Vulcano vitoriosos. Passaram o resto da noite ali mesmo, quando acordaram já era tarde, deram um
mergulho nas deliciosas águas daquela piscina natural e depois seguiram seus destinos, Medéia
alcançou seu objetivo, estava fecundada. Mas, nada disse a Antares com receio de que este
pensasse que foi usado como touro fecundador. Medéia havia planejado tudo, sabia que estava
fértil, e atraiu propositadamente Antares a quem ela escolheu para ser pai de seu futuro filho que foi
concebido pela imaculada concepção.

Antares desceu a montanha e foi visto por Samanta, esta achou estranho ver Antares
descendo a vereda que dava acesso ao rancho de sua irmã Medéia, e logo desconfiou que este
havia passado à noite com a irmã rival, mas nada disse ao homem misterioso, porque havia mais
dois ranchos naquela montanha, um dos ranchos morava um velho Ermitão que a inicio em certos
mistérios e que a levou em um ritual no Castelo ao norte, então ela pensou que provavelmente
Antares estivera hospedado no rancho do velho Ermitão que era Bruxo e freqüentador do Castelo
onde uma vez por mês, na Lua cheia, os bruxos e bruxas concorriam ao Sabá que ali era realizado,
talvez Medéia não quis ajudá-lo e ele foi ao Bruxo, pensavava Samanta.
Medéia havia pedido que Samanta se afastasse de seu rancho, devido o motivo dela estar
envolvida com tal Bruxo, pois as energias que rondavam a irmã desequilibravam seu sistema
nervoso; desde então Samanta morava na cabana à beira do rio. Medéia só via a irmã quando ia
pescar no rio ou ia à cidade uma vez por mês; ela sempre alertou a irmã do perigo que ela corria
pelo fato de estar envolvida com os iniciados daquele Castelo, porém Samanta não aceitava os
conselhos da irmã.
Samanta sorridente pediu que Antares entrasse em sua cabana para um chá, o Mago
penetrou a exótica cabana mais uma vez e sentou-se no banco próximo a cama da Bruxa. O Mago
Andares sentiu uma tremenda força sexual emanada do chacra Mulandhara de Samanta. Ficou na
espreita e em alerta percepção. O Mago estranhou certo ato de Samanta, pois esta havia colocado
um copo de água na mesinha próximo dele sem que ele houvesse solicitado. Pois bem sabia ele que
os magos negros com o intuito de realizarem algum feitiço, às vezes colocavam um copo de água
próximo a certas partes do corpo da vitima para através deste absorverem uma parte da substância
da matéria etérica que compõe o corpo vital, para através desta lançar algum feitiço sobre a vitima.
Porém, Antares era ainda um poderoso Mago, mesmo que ainda havia perdido uma grande parte de
seus poderes. Samanta lhe deu um chá, ele antes de beber fez uma certa conjuração mental ao
mesmo tempo que magnetizava o chá com as emanações lançadas de seus olhos. Depois tomou
tranqüilamente. Antares pediu que Samanta o levasse ao cemitério do vilarejo, pois ela precisava
encontrar um certa planta que só nasce em cemitérios por alguma razão misteriosa; Samanta que
tinha segundas intenções para com Antares, aceitou o convite. Depois do chá partirem ao cemitério,
mas antes tragou a água contida na caneca. Ele observou que Samanta demonstrava certa
frustração no semblante. Ambos partiram em silencio. Antares teve a sensação de que estava sendo
vigiado. De fato o Bruxo Ermitão se encontrava ocultado atrás de uma árvore próxima ao rio. Mas,
não só o Bruxo o vigiava como também outras pessoas que se encontravam do outro lado do rio.
Antares olhou para o outro lado do rio próximo a grande rocha e viu Leon, Rafael, Isabel
acompanhados de mais duas pessoas. Mas isso não o incomodou, porém o que de fato lhe
incomodava era uma vibração densa que se fazia presente ali.

‫ש‬
“Vejam ele realmente se encontra intimo da Bruxa, talvez tenha passado à noite com ela já
que não retornou para o Castelo desde ontem à tarde! O caso é grave, não podemos mais admiti-lo
em nossos trabalhos templários para não mesclar forças estranhas a corrente mágica da
Fraternidade”, disse espantado Rafael aos amigos. Logo, voltaram ao Castelo e expuseram o caso a
Junta Sacerdotal, esta imediatamente se reuniu em um concilio e julgaram o caso. Todos ali
voltaram a favor da expulsão de Mestre Antares. Foram oito votos a favor da expulsão e quatro
contra. O Mestre Régulos, Pedro, Agnes e Heloísa não foram a favor da expulsão. Régulos em um
discurso enfático disse que todos ali estavam equivocados e estavam julgando um homem sem dá a
este o direito de defesa. Mas, ninguém deu atenção para a vós do Grão-Mestre Régulos, este calou-
se, depois saiu para um passeio com Pedro seu amado e fiel discípulo.
“Pedro, logo partirei com Heloísa e De Le Puy para a América e não mais retornarei, depois
de hoje percebi que você é o mais preparado para assumir a frente da Fraternidade Gnóstica do
Leão Vermelho; meus antigos discípulos ainda estão com a Maçonaria no coração, não
compreendem sobre os mistérios, estão ainda bem adormecidos, até Perséfone sua esposa me
surpreendeu voltando contra De Le Puy, que se passa com esta grande iniciada?”, questionou o
Mestre Régulus.
“Falta a ela, Mestre, o batismo da dor, tem misericórdia dela, pois ela não sabe o que fez”,
respondeu Pedro.
“Realmente sábio discípulo falta a ela o batismo da dor; é uma mulher que sempre teve tudo,
rica, bonita e de grandes dotes artísticos e intelectuais, de fato falta a esta Mestra da Cabala uma
prova das mais terríveis, isso será necessário para salvá-la. Hoje anunciarei seu verdadeiro nome
Pedro à Fraternidade”, disse Régulus, à medida que caminhava abraçado com o amado discípulo.
Depois ambos retornaram ao interior do Castelo, todos ainda estavam reunidos e debatendo
sobre a questão de De Le Puy. Agnes tentava convencê-los a voltarem a trás, porém todos resistiam
os argumentos da sábia Grã-Sacerdotisa, de repente Regulus disse:
“Meus irmãos que bom que ainda estejam todos aqui reunidos tenho algo mais a falar a
vocês. Depois de hoje meus planos para com o futuro da Fraternidade mudaram, daqui
aproximadamente há um mês estarei indo à América e não retornarei mais, e em meu lugar nomeio
o Mestre Aldebaran”, disse isso apontando para Pedro. Todos ali ficaram surpresos com o anuncio
do Grão Mestre Régulus. O Mestre Leonel olhou espantado para sua esposa Agnes esperando que
esta fizesse um protesto contra a decisão de Régulus, porém Agnes não se opôs à decisão do Grão
Mestre da Fraternidade, pois bem sabia ela que ele era um homem desperto e sabia muito bem o
que estava fazendo. Todos ali ficaram com inveja do Mestre Aldebaram que apesar de jovem era o
mais preparado para assumir a Fraternidade. Régulus chamou Perséfone no canto e disse: “Vou te
salvar e por isso te submeterei a mais terríveis das provas, a prova do Arcano oito!”. Perséfone
abaixou a cabeça e disse: “A prova de Jó, ai...ai...ai...Mestre tenha misericórdia de mim!”, disse com
voz ululante Perséfone. Régulus silencioso se afastou. Heloísa olhou a tristeza no semblante de
Régulus, pois este estava triste com seus discípulos.

Depois de duas horas de caminhada Antares e Samanta chegaram ao cemitério do vilarejo,


Antares disse a Samanta: “Finalmente chegamos, sinto-me como se estivesse em casa. Ambos
saíram em busca da milagrosa planta depois de percorrerem o cemitério acharam a planta próxima a
um sepulcro abandonado. Na saída do cemitério próximo a uma bela sepultura adornada com
mármore negro, Antares viu clarividentemente seu Lúcifer Íntimo vestido com a longa túnica negra
reluzente e com o medalhão de prata com o Escorpião ao peito; Lúcifer mostrou a sua Alma humana
o terrível Arcano treze da Cabala, a Morte. Antares em silencio abandonou a morada de Plutão e
partiu dali aterrorizado pela visão. Antares acompanhou Samanta até o armazém, depois de
comprarem algumas especiarias ambos retornaram para o seio da floresta. Depois de andarem por
algum tempo em silencio Antares disse:
“Deve abandonar a magia negra, pois esta leva à miséria, à dor e ao sofrimento”.
“Que passa contigo homem, por ventura andou conversando com minha irmã Medéia? Bem
que desconfiei quando vi você descer a montanha onde ela reside!”, exclamou com certa fúria a
Bruxa.
“Verdade estive com sua irmã, é uma grande Maga e trabalha com a Força Cristica em
beneficio da humanidade, deve fazer o mesmo se de fato deseja viver na luz”.
“Siga teu caminho e eu sigo o meu e minha irmã o dela, porventura vocês estão
mancomunados contra mim?”, questionou Samanta.
“Apenas um conselho de alguém que conhece o inferno e o céu, não está aqui mais quem
falou”, disse isso e depois disso ambos seguiram por um longo tempo em silencio. Depois Samanta
rompe o silencio e disse:
“Conheces minha irmã de onde? Vocês são amantes não é? Tu és o homem que ela
esperava”, perguntou Samanta demonstrando ciúmes, pois ela estava apaixonada pelo enigmático
Mago que para ela se apresentou como curador.
“A certos mistérios para nós que não tem explicação lógica, são coisas que só
compreendemos pela intuição, sim eu fiz amor com sua irmã e a fecundei, dei a ela o filho que ela
sempre sonhou em ter, cumpri meu destino com ela, mas somos apenas amigos, nada mais. Não é
nosso destino permanecermos juntos nesta existência”. De fato Antares sabia intuitivamente que
Medéia realizou magia sexual com ele com a única intenção de ser fecundada, mas ele não disse
nada a ela.
“Sempre desconfiei que eras um Mago, só não sei o porquê ocultou de mim sua verdadeira
identidade, és um daqueles Magos do Castelo de Agnes não é?”.
“Sim, lá funciona nossa Fraternidade. Nunca te ocultei que era um Mago, pois Curandeiro e
Mago são a mesma coisa para mim”, respondeu Antares.
O casal de amigos, o Mago Branco e a Sacerdotisa de Lilith, chegaram à cabana já no cair
da tarde, ambos estavam cansados . Sentaram embaixo de uma figueira e ali adormeceram.
Samanta acordou primeiro que Antares, então olhou o potente homem que estava ali dormindo
como uma criança, então ela pensou consigo mesma: “Não minha irmã este homem será meu e não
seu”. Foi até a cabana e retornou com uma tesoura na mão e cortou um mecha de cabelos de
Antares, este ao acordar não percebeu. Ele entrou na cabana e pediu para Samanta uma vasilha
com água, foi ao fogão de lenha que se encontrava em uma pequena cobertura próximo da cabana,
acendeu o fogo e colocou a vasilha com água, depois que a água estava fervida retirou-a do fogo e
picou a planta e a colocou no recipiente com a água fervida, à medida que ia colocando a planta no
recipiente pronunciava mentalmente palavras mágicas e poderosas relacionadas com o elemental
daquela poderosa planta que tinha o poder de desfazer pactos de magia negra e quebrar feitiços de
todas espécies, além de revigorar o corpo vital com grande força. O astuto Mago sabia o que estava
fazendo, pois ele pretendia salvar aquela mulher que havia sido em um remoto passado no antigo
Egito dos Faraós sua discípula. Depois de um certo tempo o poderoso chá estava pronto para ser
tomado, então ele pegou duas canecas e encheu e bebeu uma na frente de Samanta e deu a outra
para ela, esta depois de obter a informação que o chá revigorava o corpo vital, tomou avidamente.
Antares se despediu da amiga, mas esta com charme sedutor o abraçou e disse: “Venhas
ao meu leito quero ser sua, minha irmã não precisa saber”. Antares sentiu o fogo sexual daquela
mulher penetrar em seu corpo de desejo, porém resistiu a forte sensação erótica que percorria seu
corpo e disse: “Somos amigos, controle sua força e será uma poderosa Maga do Sendero da Luz”,
logo seguiu seu caminho rumo ao Castelo. Depois que Antares se afastou, Samanta disse em voz
alta: “Você será meu mesmo contra sua vontade”.

Ao chegar no Castelo, Antares foi tratado com indiferença. Regulus foi avisado de sua
chegada. Agnes disse a Antares para ir até a câmara de Regulus, porque este tinha algo para lhe
falar. Antares, então, foi ter com seu Mestre. O Mestre Regulus expôs a problemática que o envolvia;
Antares compreendeu e disse que partiria no dia seguinte, pois tinha onde ficar e que era para
Regulus ficar despreocupado. Ao sair da câmara de Regulus, Agnes disse a Antares: “Eu nada
tenho com isso, pois conspiraram contra ti, você é meu hospede, porém como sabe este Castelo já
não é mais minha propriedade, por este motivo nada pude fazer por ti meu amigo”. Antares
respondeu: “Estou querendo salvar a moça das trevas, nada mais, caluniaram-me, aliás, desde o
inicio senti uma certa rejeição, porém não sei a razão disso, pois nada fiz para eles. Penso que a
coisa é pessoal, talvez seja porque não aderi a Fraternidade na ocasião que você anuncio, de fato
fui um covarde na época e devo pagar pela minha covardia”. Agnes com seu coração abatido disse:
“Sempre soube que você nunca esteve metido com magia negra, e se travou relação com a irmã de
Medéia é porque esta pediu que a ajudasse”. Agnes tinha grande consideração pelo ex-Grão Mestre
da Maçonaria do Rito Egípcio e conhecia Medéia, pois esta era uma poderosa sacerdotisa da
Fraternidade Órfica dos Cavaleiros Kadosh´s, a mesma Ordem que eles pertenciam. Por isso
Medéia sempre foi enviada pela Ordem para alertar Antares dos perigos que o envolviam. Um outro
fator que Agnes e Regulus sabiam é que a Ordem oculta dos Cavaleiros Kadosh´s nomeou Medéia
e Antares para gerarem o novo corpo físico de Lung Nu. Medéia sabia desta missão, e foi ela que
escolheu Antares quando o nome deste foi proposto, porém Antares nada sabia deste fato.
“Segue seu caminho em paz...”, disse Agnes se despedindo do amigo.

Samanta envolta em um manto negro de capuz abandonou sua cabana e seguiu para certo
lugar na floresta onde encontrou com o Ermitão Bruxo, e juntos realizaram um rito de magia negra
utilizando a mecha de cabelo de Antares. Foi dado ao feitiço uma forma mental que representava
Samanta e Antares coabitando, a forma foi animada pela substância vital contida nos cabelos de
Antares. Samanta e o Bruxo realizaram a magia sexual negra, à medida que permanecia conectada
sexualmente ao Bruxo Ermitão, ela visualizava a forma mental sexual que funcionaria como filtro
amoroso para conquistar a paixão de Mago.
No plano astral o Mestre Regulus percebeu um poderoso feitiço de amor voltado contra seu
amigo Antares; porém percebeu que o feitiço não tinha poder para penetrar o corpo vital de Antares,
pois este estava protegido pela Couraça Dourada do Cavaleiro Kadosh, ou seja, O Dourado Manto
Nupcial. A magia negra ao tentar penetrar na áurea de Antares e não conseguindo, retornou para
seus criadores, mas ao penetrar o campo elétrico e magnético da áurea de Samanta o feitiço se
desintegrou, isso se deu devido o chá mágico que Antares havia dado a Samanta, pois a substância
mágica da planta através do sangue pode alcançar o corpo vital e de desejo da Bruxa e desintegrar
as larvas astrais que se encontravam em ambos os corpos.
Pela manhã Antares pegou seus poucos pertences e partiu; quando se encontrava já fora
dos domínios Irene o chamou e disse: “Vou com você”. Antares disse: “Não minha amiga, seu lugar
é aqui, já falei com Agnes e ela cuidará de você e te instruirá nos mistérios da ciência secreta”.
Irene, então, despediu do amigo e o acompanhou até certo ponto. Quando Antares se aproximava
do riacho, avistou Heloísa e Perséfone passeando pelas redondezas. Heloísa avistou Antares e foi
ter com ele.
“Estou partindo minha amiga em busca da panacéia universal, ficarei ausente por alguns
meses, depois retornarei rejuvenescido e partiremos juntos para a América”, disse Antares.
“A Maga lhe dará o elixir, que maravilha!”, exclamou cheia de felicidade pelo sucesso do
amigo.
“Se quiser pode passar o dia comigo lá, já que deseja conhecer Medéia”, convidou Antares.
“Sim, quero”, depois foi até onde se encontrava Perséfone e lhe informou que iria com
Antares conhecer alguém e que ficaria o dia e a noite fora. Perséfone ouvira uma parte da conversa,
então disse consigo mesmo: “Que maga é esta que lhe entregará o grande segredo do
rejuvenescimento?”. Depois de conversar com Heloísa se despediu de Antares lhe desejando sorte,
logo partiu de volta para o Castelo. Heloísa subiu a montanha com Antares.

Medéia avistou Antares se aproximar do rancho e com ele uma mulher de aproximadamente
quarenta anos, recebeu-os com cortesia e simpatia.
“Esta é uma amiga, Heloísa”, apresentou amiga para Medéia, Antares.
“Prazer sou Medéia”, disse esta com sorriso cortez no rosto.
“Da onde tu és, teu sotaque é diferente dos espanhóis?”, perguntou Medéia.
“Sou de Sonora, México”, respondeu Heloísa.
“Sua característica étnica é insólita, tua beleza tropical não é comum”, disse Medéia.
“Meus avós maternos eram originários do País Basco e meu avô paterno era de
descendência branca e negra e minha avó paterna era uma descente direta do antigo povo Maia,
como vê sou a mistura de muitas raças”, disse rindo Heloísa.
“Tenho em minha casa uma filha da sexta sub-raça da Raça-Raiz Ariana. Uma branca,
negra e vermelha, faltou-lhe o amarelo mangól”, disse Medéia.
“Talvez não, já que em meu sangue também há sangue indígena, pois segundo alguns
antropólogos alguns povos indígenas são descendentes dos mongóis pela suas características
físicas”, disse Heloísa.
“Pode ser, mas de qualquer forma corre em suas veias a sabedoria milenar de pelo menos
quatro grandes raças, imagine a grande sabedoria do povo Maia que se encontra registrada na Luz
Astral de seu sangue?!”, exclamou Medéia.
Os três dialogaram muito sobre antropologia, e Heloísa ficou fascinada com as exposições
que Antares e Medéia faziam sobre a antropologia gnóstica.
“Como faço para entrar em contato com esta sabedoria que se encontra latente em meu
sangue?”, perguntou Heloísa para Medéia.
“Despertando a consciência através da morte mística, deves dissolver de tua alma as
impurezas, desta forma teu sangue serás límpido como o cristal, assim, poderás conhecer a ti
mesmo e toda história que carrega registrada na Luz Astral de teu sangue. Todo mal e bem que
evocamos pela má vontade, pelo mau desejo e pela má mente, são formas monstruosas que
personificam nossas maldades, estas formas animadas habitam esta Luz Astral, esta é o Akasha
dos mistérios hindus. Como toda a sabedoria se encontra no Espírito da Luz Astral, Lúcifer, logo as
emanações desta sabedoria são obstácularizadas por estas legiões de demônios que habitam a Luz
Astral de nossa alma. Porém posso lhe dá um chá feito com certa erva que abrirá teu sentido
espacial, desta forma poderás vê algo de ti mesmo nesta Luz”, disse Medéia.
“Quero sim!”, exclamou com entusiasmo Heloísa.
“O transe durará algumas horas”, disse Medéia.
Medéia saiu e apanhou a era, preparou o chá e deu para Heloísa, esta penetrou num
profundo transe.
“Será que a consciência dela compreenderá os mistérios que ela vai vivenciar na Luz
Astral?”, indagou Antares.
“Alguma coisa sim, porém lhe dei o chá para despertar nela o impulso para a busca do Ser,
você sabia que ela é uma de nós, um Anjo caído?”, perguntou Medéia.
“Sim”, respondeu Antares olhando para Heloísa sobre a cama de Medéia.
“Quando começaremos o processo de meu rejuvenescimento?”.
“Daqui a dezenove dias quando a lua cheia de Maio entrar”, respondeu Medéia.
“Muito bom!”, exclamou Antares com entusiasmo.
“Sei que te concebi, era isso que eu havia de lhe dá pelo meu rejuvenescimento?”,
perguntou Antares.
“Sim, estava fértil ontem, era o momento certo para a fecundação, porém não sabia tudo
aconteceu naturalmente”, disse Medéia.
“Você deseja muito este filho, não é?”, perguntou Antares.
“Sim, é natural a toda mulher a maternidade, também cabe a mulher iniciada gerar o Cristo
Íntimo. Posso dá meu útero a ti se assim quiseres para que teu Cristo Íntimo nasça em ti, porém
deves permanecer comigo aqui e juntos também criaremos nosso filho que há de nascer”, disse
persuasiva Medéia.
“Não estou preparado para esta façanha, com minha queda adquiri um terrível carma, os
Mestres impedirão minha recapitulação das Iniciações de Mistérios Maiores; sei que entre você e eu
há um mistério, sempre esteve comigo, como grande amiga que é, quer me levantar novamente;
nossos sete centros estão em perfeita harmonia, isto de fato possibilitaria um trabalho extraordinário
mesmo que nossas almas não pertençam uma a outra. Elisabeth tentou esta mesma façanha
comigo e eu falhei. Venho tentando escalar as três montanhas da iniciação desde minha queda na
Atlântida, porém sempre falho. O único meio é encontrar novamente a outra metade de minha alma,
com ela sai do Éden e com ela retornarei um dia, sua ausência me trás uma dor terrével, causa de
um sofrimento enorme em minha alma; sinto-me vazio sem ela”, disse melancólico Antares.
“O Prato do mérito de tua balança esotérica é mais pesado do que o do demérito, salvastes
muitas vidas na Segunda Guerra, pode usar estas moedas cósmicas para quitar tua divida e se faltar
eu completo”, disse Medéia.
“Já utilizei para quitar as dividas de Irene e de Samanta, pois elas tinham uma divida que as
impedia de entrarem no Caminho do Fio da Navalha, agora resta uma terceira pessoa cuja alma se
encontra no inferno de Vênus e eu preciso salvá-la, nada resta para mim, minha balança já pendeu
para o prato do demérito”, disse Antares.
“Vejo que fizestes tua escolha, não retornarei mais a falar deste assunto”, disse Medéia.
“Não fiz escolha alguma, e talvez retomaremos o assunto”, disse Antares para aquela
mulher que trazia nos olhos o amor por ele.
Enquanto Medéia e Antares conversavam, Heloísa via na Luz Astral, muitos mistérios que
envolviam ela e Antares. Ela via muita dor e sofrimento, miséria, angustia e ilusões. Medéia
contemplava Heloísa.
“A Alma humana deste corpo chora amargamente, esta vendo toda sua miséria e seu caos
interior”, disse Medéia.
“Será que foi uma boa idéia dá-lhe o chá?”, indagou preocupado Antares.
“Por alguns dias ela sentirá muita dor na alma, porém isso é necessário para levá-la ao
arrependimento. Pistis Sophia sofre amargamente por estes instantes vê sua própria desgraça
registrada na Luz Astral. Depois que Pistis Sophia atravessar o grande mar das ilusões onde ela
agora vê as causas de seus sofrimentos, ela alcançará o núcleo de seu Microcosmo onde se
encontra Lúcifer, então saberá quem te fato é”, disse Medéia.

Já era quase seis horas da tarde quando Heloísa despertou da profunda meditação que o
transe lhe conduziu, seu semblante estava carregado de dor e sofrimento. Ela viu sua verdadeira
realidade, sua miséria e seus próprios filhos, seus demônios interiores. Não falou nada e se retirou
para um local afastado do rancho e ali permaneceu em profunda angustia até quase dez horas da
noite, foi quando Antares saiu para procurá-la. Ela estava sentada sobre a pedra no fundo do rancho
e contemplava o céu estrelado. Antares se aproximou dela, mas nada disse.
“Veja o céu que lindo, nosso céu interior é semelhante, porém nossas estrelas são
infravemelhas e nelas habitam nossos próprios demônios, nossas estrelas perderam o brilho real e
com ele jaz nossa felicidade primordial. Agora compreendo o porquê dos egípcios atribuírem a Seth
a estrela central de nossa galáxia, a Siríus do Grande Cão. Ai...ai...ai...Cheguei nesta Estrela e vi o
mal que causei a ela pelas minhas próprias transgressões; esta galáxia microcósmica dentro de mim
mesmo é um universo de maldades e de ilusões. Corrompi a Alma de meu Logos e, devido isso, a
sua Sabedoria se ocultou”, disse com dor e muito sofrimento Heloísa.
“Você foi iluminada?”, perguntou Antares.
“Não, vi apenas uma Luz muito longe de mim, eu estava cercada por todo este universo
microcosmico de estrelas infravermelhas cujo magnetismo me pareceu intuitivamente causa de meu
adormecimento hipnótico; não pude chegar à Luz, estas forças magnéticas emanadas destas
estrelas infravermelhas me impediam de chegar à Luz, a dor foi imensa e o sofrimento mais ainda.
Queria retornar para meu verdadeiro Ser, porém não pude”.
“O velho Microcosmo deve ser destruído, só assim alcançará Siríus, o núcleo de teu
Microcosmo. Um novo céu de estrelas resplandecentes deve surgir em seu interior e uma nova
Terra cuja capital universal é a Nova Jerusalém, deve ser criada para que seu Cristo Íntimo desça
nela e habite em sua capital e de lá reja todas as nações que são as obras de seu Espírito e não
mais de seu Inimigo Secreto cujo Átomo reside na base de sua espinha dorsal”, disse o Mestre
Antares.
“Vejo que ainda é um Mestre de sabedoria”, disse Heloísa.
“Ainda possuo o Mestre dentro de mim, porém à medida que minhas estrelas
resplandecentes se tornam vermelhas como o sangue, a Sabedoria deste Mestre Íntimo encontra
dificuldade de penetrar o núcleo de minha Consciência, esta aos poucos vai se fascinando pelo
poder hipnótico destas estrelas carregadas de ilusões, desta maneira certos níveis de minha
Consciência já estão em profundo sono hipnótico”, disse triste Antares compartilhando a dor com a
amiga.
Depois Antares deu a mão para Heloísa e a convidou para dar uma volta.
“Aqui próximo há uma linda queda d‟água que forma uma bela piscina natural, deseja
conhecer, fará bem ao seu animo macambúzio?”, perguntou Antares.
“Desejo”, logo seguiram. Medéia observava tudo da varanda do rancho onde se encontrava
sentada em sua cadeira de balanço e com seu gato negro no colo.
Heloísa ficou encantada com a queda d‟água e ambos deitaram no chão e passaram
contemplar as estrelas ao som delicioso das águas, permaneceram, assim, por um longo tempo em
silencio, depois Heloísa rompe o silêncio e pergunta: “Se estivesse com roupas de banho daria uma
boa mergulhada nestas águas que parecem ser agraveis ao corpo”.
“Pode banhar-se nua, eu e Medéia ontem banhamo-nos nus como duas crianças”, disse
Antares.
Heloísa ficou assustada com o que ouvia, parecia que o astuto Antares estava com
segundas intenções, ela levantou séria e exclamou: “Meu Deus! Vocês são amantes! Só amantes
tomam banho nus, o que se passa contigo homem? Há poucos instantes estava a falar de coisas do
espírito e agora quer que eu fique nua diante de ti!”.
“Mantenha a calma e não me julgue precipitadamente. Eu e Medéia somos espíritos livres e
desprendidos de toda moralidade ressentida, não somos amantes apenas amigos nada mais.
Banhamo-nos livremente sem nenhuma intenção erótica como duas crianças felizes e brincando,
não vejo mal algum nessa atitude”.
Quando Antares disse isso, Heloísa acalmou-se, sua reação não foi pelo fato de ambos
banharem-se nus, mas o medo de que ambos fossem amantes. Pois, ela própria já havia ficado nua
várias vezes diante de Pedro quando este a pintava, ela também era uma mulher de espírito livre e
não estava modelada dentro da moralidade burguesa.
“Tudo bem compreendo, perdoa-me pelo pré-julgamento, mas eu me sinto inibida, acho que
não terei coragem”, Heloísa de fato estava inibida, ficar nua diante de Pedro que é um artista é uma
coisa, agora ficar nua diante do homem que estava mexendo com seus sentimentos era outra coisa.
“Você não precisa ficar nua diante de mim, você é precipitada em seus julgamentos, eu me
afastarei e você se despe e pula na piscina onde ás águas ocultarão de corpo, eu não vou te ver
nua, pode ficar tranqüila, tome o banho que deseja”, disse isso com cavalheirismo.
“Meu Deus, você deve estar pensando que eu sou uma puritana moralista...”, disse
envergonhada.
“Nada disso, todos nós temos nossas debilidades, eu mesmo fiquei tímido, também foi para
mim algo insólito”, disse Antares com a intenção de desinibir Heloísa.
Antares levantou-se e foi para um local longe da visão de Heloísa, depois de certo tempo
ouviu um grito: “Pode vim!”.
Antares sentou-se e ficou observando aquela mulher que despertava nele sentimentos que
ele já conhecia, afinal de contas ele era um romântico platônico. Eros estava oculto em alguma
moita esperando a hora exata para lançar seus dardos ígneos.
“Venha, às águas estão uma delicia, prometo que não olho”, disse Heloísa rindo.
“Não sei se devo”, disso Antares mostrando desinteresse.
“Está com medo que às águas esquentem?”, indagou brincando, mas logo pensou: “Meu
Deus o que falei, estou fora de mim!”.
Antares ficou em silencio, porque percebeu que não havia malicia na brincadeira, porém
percebeu que a musa se libertava dos vestígios da velha moralidade que ainda residiam em seu
inconsciente.
“Vou lançar o fogo nas águas para prová-la, vamos ver se de fato ela pode vencer o poder
do Escorpião”, pensou secretamente Antares, pois ele sabia da história que envolvia Heloísa e
Miguel, pois este mesmo contou toda sua tragédia para o amigo Antares.
Antares despiu-se sem avisar Heloísa esta colocou as mãos nos olhos e exclamou: “Meu
Deus, você é louco!”.
Antares entrou nas águas e ficou bem próximo de Heloísa, esta ficou desconcertada e sem
graça, porém logo nadou para longe de Antares, este novamente se aproximou descontraidamente,
e ela novamente fugiu, então ele indagou: “Por que esta tão longe, está com medo de mim?”.
Heloísa respondeu: “Eu? Medo de você, não. Estou com medo de mim mesmo, pois às águas já
estão a esquentar, posso me queimar se elas ferverem”, disse debochando de Antares.
Antares percebeu que ela tinha medo de sua Lilith interior, mas ela precisava dominar esta
escarlate dama da noite que vagueia pelas trevas ávida em beber os sangues dos homens
imprudentes. Antares se aproximou, porém desta vez Heloísa não fugiu, enfrentou seus impulsos
ainda adormecidos. Ambos então começaram a brincar de jogar água um no outro, isso fez com que
ela ficasse descontraída, então ele segurou ela pela frente para impedir o movimento de suas mãos,
porém fez isso sem perceber que seus corpos entraram em contato, Heloísa tremeu e um fogo
invadiu sua alma, então Antares percebeu o que de fato ocorreu naturalmente, pois a lei da atração
estava operando poderosamente. Os braços de Heloísa estavam cruzados sobre os seios. Ambos
ficaram imóvel e em silencio olhando um nos olhos do outro, permaneceram assim por um instante,
Antares aproximou os lábios para beijá-la, ela fechou os olhos esperando o beijo, mas logo se
esquivou e sussurou: “Não...não faça isso comigo...eu imploro...”, ambos estavam excitados, porém
a vontade de Antares era muito mais poderosa de que seu instinto erótico. Ele percebeu que Heloísa
lutava terrivelmente para não se entregar, porém sabia ele que ela era uma mulher venerável
naquele momento, assim, se retirou do campo de batalha, mas antes disse: “Que mal há em duas
pessoas de espírito livre fazer amor?”, o astuto Antares usou a mesma frase com a qual Medéia o
persuadiu.
“Fazer amor é lindo, mas fazer com a pessoa que amamos é mais lindo ainda. Quero lhe dá
meu coração, e isso leva algum tempo, e não meu sexo apenas. E você deseja me dá seu
coração?”, disse Heloísa.
“Quem sabe... quem sabe...”, disse isso enigmaticamente, à medida que se retirava das
águas já geladas.
“Comigo só terá o sexo se tiver amor, já sofri muito por causa de homem, não quero mais
cometer velhos erros”, gritou com uma certa fúria na voz.
“E eu por mulheres, como vê somos recíprocos nesta velha questão dos séculos”,
respondeu irônico.
Depois ambos seguiram para o rancho, Medéia ainda estava acordada estudando um livro.
“Heloísa se recuperou? Parece estar chateada com algo, que andaram falando?”, perguntou
Medéia curiosa em saber o que se passava com os dois.
“Coisas de mulheres, nada mais. Levei-a para se descontrair na queda d‟água”, respondeu
Antares.
“Esta é a mulher que esta despertando teus sentimentos, não é?”.
“Sim, quer meu amor, porém não posso dá-lo, ainda não tenho, precisa ser fecundado”,
respondeu Antares.
“Entendo, mas parece ser uma extraordinária mulher, caráter forte e alma nobre, acho que
vocês tem muito em comum, já investigastes quem ela foi em tuas reencarnações passadas pode
ser que ela seja aquela com a qual saístes do Éden, nunca pensou nesta possibilidade?”, perguntou
Medéia.
“Interessante não havia pensado nisso ainda, só sei que algo despertou em nós desde Paris
quando a vi pela primeira vez junto com a menina Jade, tive uma intuição que Jade a trouxera para
mim como uma pedra preciosa que eu havia perdido há muito tempo e que ela havia encontrado e
que estava me devolvendo; porém não creu que seja meu princípio feminino; os sentimentos que
sinto por ela são normais, qualquer homem poderia senti-los, pois se trata de uma mulher de espírito
livre, inteligente e bela, qualquer romântico ou poeta a teria como musa inspiradora; mesmo porque
meus planos mudaram, pensei em sua proposta e aceitei ficar aqui com você, quero como minha
sacerdotisa”, disse carinhosamente para Medéia que demonstrou radiante felicidade nos olhos.
“Tem certeza disso?”, perguntou Medéia.
“Sim”.

Na manhã seguinte Antares levou Heloísa até as proximidades do Castelo. No caminho


nada falaram do ocorrido à noite anterior, apenas comentaram coisas sobre o cotidiano.
“Vou ao E.U.A por que não vem conosco?”, disse Heloísa.
“Quem mais vai?”, indagou curioso Antares.
“O Mestre Regulus tem uma missão por lá, partiremos juntos daqui a dois meses”,
respondeu Heloísa.
Antares entendeu que de fato aquela mulher pela qual havia despertado certo sentimento
ainda estava presa ao amor do passado, então compreendeu que fez a escolha certa em optar por
Medéia que parecia amá-lo e que lhe daria um filho que ele tanto desejava.
“Gostaria muito, porém meus planos mudaram e eu desviei o curso do rio de meu destino”,
respondeu com uma certa dor na alma em saber que a amiga partiria.
“Deu seu coração a Medéia não é? Vi o jeito com que ela te olha, ela trás amor nos olhos”,
disse triste Heloísa porque já estava amando Antares.
“Não dei meu coração para ela”, respondeu.
“Então vem comigo?”, implorou Heloísa.
“Não posso, Medéia carrega o filho que tanto deseja no ventre”, respondeu Antares.
Heloísa empalideceu e um sentimento de perda profunda manifestou em sua alma, então
deixou, então, uma lagrima escorrer do olho direito.
“Vocês já eram amantes e mesmo assim queria fazer amor comigo, não compreendo isso!”,
exclamou furiosa.
“Não somos amantes, porém há mistérios que ainda não compreende”, disse Antares.
“Mais ela esta grávida e isso é a prova que vocês fizeram amor! Este é teu mistério não é?
Vai embora e não apareça mais”, disse isso e partiu em lagrimas. Sabrina contemplava de longe os
dois, e foi tomada de ciúmes. Antares foi ter com ela logo após a partida de Heloísa.

Heloísa encontrou com Irene e disse: “Pode haver coisa mais cruel do que o amor?”.
“Sim.”, respondeu Irene.
“O quê?”, perguntou Heloísa.
“A Ignorância!”, exclamou Irene.

Heloísa rio tristemente e se confinou no leito da amargura; à noite saiu para dar uma volta e
encontrou Regulus conversando com Pedro, este percebendo que Heloísa queria falar algo com seu
Mestre, deixou-os.
“O amor sempre trás consigo a felicidade, porém logo atrás vêm a dor e o sofrimento, o
Anteros. Quando nos tornamos egoístas Eros foge de nós e em seu lugar Anteros aparece trazendo
consigo dor e sofrimento. O amor se encontra além da razão e se tentarmos desvendar seus
mistérios como fez Psique, ele fugirá de nós. O problema é que você quis egoisticamente o amor de
Antares, por isso ele fugiu de ti como Eros fugiu de Psique”, disse Regulus.
“Como sabe de tudo isso se eu não lhe disse nada?”, indagou Heloísa.
“Vejo as imagens em sua áurea astral”.
“Como agi egoisticamente, não compreendo?”, perguntou.
“Você queria o amor dele como uma posse e ele percebeu, por isso fugiu de ti. Ele estava te
pondo em prova, de fato você foi vitoriosa na parte que corresponde ao corpo, o sexo, porém falhou
na parte que corresponde a alma. Este sempre foi seu fraco”, respondeu.
“Como devo amar? Revele-me este segredo para que eu possa me salvar”, suplicou
chorando ao Mestre que conhecia muito bem este lado sombrio de Heloísa.
“Realize as provas de Vênus, e seja vitoriosa, então Eros retornará para ti”, respondeu o
sábio Mestre.
“Que provas são estas?”, perguntou.
“Medite profundamente no mito de Psique e Eros e encontrarás a resposta”, respondeu.
Heloísa foi até a biblioteca e apanhou um bom livro de mitologia e passou a lê o drama de
Psique.

Ao cair da noite aproximadamente no horário da constelação do Caranguejo, a casa de


Hécate, o Ermitão Bruxo foi ter com a Bruxa Samanta. O Bruxo ao se aproximar de Samanta com
gestos sensuais, pois já havia algum tempo que ele vinha iniciando-a na magia sexual negra, ela o
rejeitou e pediu que se retirasse. O Bruxo furioso disse: “É ele não é? Está apaixonada por um de
nossos inimigos não é?”. Samanta manteve o silencio e mais uma vez solicitou a retirada do Bruxo,
este na mesma noite realizou magia negra contra Samanta para prendê-la a ele, porém a substância
mágica que o mago Antares havia lhe dado a protegia milagrosamente. Algo havia mudado no interior
daquela exótica Bruxa cuja beleza sempre escravizou os homens a seus pés, porém agora ela
percebia que seu poder sexual e mágico não tinha efeito sobre um homem: Antares, o enigmático
Mestre do Raio de Urano, o rebelde Lúcifer Antares, o Filho da viúva e de Samael, o Fogo. O
Archetekton159 da Franco Maçonaria do Rito Egípcio estava de fato, junto com Medéia, libertando
Samanta das garras da Magia Negra.

‫ש‬
Havia se passado aproximadamente quinze dias que Antares havia deixado o Castelo e quase
todos os iniciados da Fraternidade Gnóstica do Leão Vermelho haviam retornado para suas cidades
natais. Perséfone e Pedro para Leon e de lá partiriam para o Brasil em missão segundo a orientação
do Mestre Regulos. Jade havia se retirado logo após o Grande Rito Dionisíaco e não havia participado
da conspiração contra O Mestre Antares, pois havia retornado à Paris para realizar seus estudos na
Universidade de Paris. Leon e Isadora foram enviados à Grécia em missão. Alguns outros para outros

159
Palavra derivada do grego Arkhé que é a Substância Original da criação, e Tekton que significa
Construtor, ou seja, este termo designa os Arquitetos Maçons Místicos aqueles que modelam pela Magia a
Substância Original, o Akasha dos hindus, isto é, são os Arquitetos humanos que edificam a Grande Obra
Alquímica, a Nova Jerusalém Celestial, os Corpos Solares do Novo Homem. São os Archetekton de Dionísio,
os Construtores do Templo, dos Mistérios Órficos. Hiram Abiff é o símbolo maçom destes insignes construtores
ou maçons. O Verdadeiro Maçom, o Archetekton, edifica sua Grande Obra, os Corpos Solares, a partir do caos
seminal; o sêmen transmuta-se em Pedra Filosofal, e esta transmuta os metais impuros que constituem os corpos
lunares, os corpos de pecado ou naturais que são mortais.
pontos da Europa, apenas Selketh, Leonel, Irene e ainda Regulus e Heloísa, permaneciam no Castelo.
Rafael e Isabel foram à Espanha.
Isabel era uma serpente tortuosa e havia persuadido o marido a delatar seu Mestre Regulus,
porém este resistia, mas não por muito tempo. Quem era Isabel? O que se sabia dela era que era uma
ex-monja franciscana que aderiu o manifesto do rebelde Frei Miguel e a este se uniu. Porém sua
verdadeira identidade não era esta, pois ela era uma agente espiã adepta de uma tenebrosa
Sociedade Secreta que se infiltrou na Ordem Franciscana para seguir de perto a subversiva ação de
Frei Miguel. Isabel cujo codinome era Empusa não havia ainda informado seus superiores sobre o
advento do Frei, pois todos pensavam que este estava morto. Somente ficara sabendo quando foi
convidada por Perséfone a ir ao Castelo para organizar a comunidade, porém por motivos de
segurança ela não havia informado a seus superiores, pois queria ter certeza de que ele estava vivo e
também espionar as atividades da nascente Fraternidade Gnóstica do Leão Vermelho. Empusa estava
também vigiando de perto as atividades de Leon, Isadora e de Rafael, por isso simulou uma falsa
união com Rafael para sempre está próxima dos discípulos do subversivo Frei Miguel. Esta percebera
a fraqueza de Rafael e passou a utilizar esta fraqueza em prol de seus macabros interesses, por fim
Isabel convenceu Rafael juntamente com ela a delatar as atividades esotéricas da Fraternidade e de
seu Grão Sacerdote, Regulus, a Opus Dei.
O dois traidores, os inimigos ocultos de Frei Miguel, partiram para a Sé de Madri e lá se
encontraram com o arcebispo que era um membro de alta hierarquia da Opus Dei. O casal delator,
informou a cúpula da Opus Dei que no Castelo da Condessa Agnes se praticava Magia Negra em um
templo subterrâneo e, como os antigos Templários, eles também cultuavam a figura do demônio cuja
imagem de bronze se encontrava no interior do templo. Também relatou o plano de expansão da
nascente Fraternidade e que eles eram uma dissidência da Franco-Maçonaria e, como esta, também
tinham o objetivo de divulgarem ao mundo uma Nova Ordem Mundial, porém, diferentemente da
Maçonaria que tinha a política e a economia mundana quase por completos em suas mãos, a nova
Fraternidade pregava a negação ao poder temporal e divulgavam a Fraternidade justa, humanitária,
igualitária e altruísta, esta seria a Nova Ordem Mundial da Nova Era de Aquário. Os inimigos ocultos
de Miguel também relataram que o Frei rebelde agora estava unido com o perigoso Grão-Mestre da
Franco-Maçonaria Francesa, o enigmático Conde De Le Puy, o mais ferrenho inimigo da Opus Dei e
da Franco-Maçonaria mundana que controlava a economia e a política mundial. O anuncio de tal união
colocou em pânico a Opus Dei, pois bem sabiam eles que estas duas Forças unidas produziriam uma
terceira muito mais poderosa.
Depois de uma longa reunião com a Opus Dei, os dois traidores deixaram a Sé.
CAPITULO ‫ק‬
A Aliança

A Lua cheia de Maio chegou e Antares daria inicio a seu rejuvenescimento.


“Tu deves se retirar por quarenta dias à gruta para lá realizares um jejum. Deverás apenas
beber o orvalho de Maio, que eu mesma recolherei de forma especial e vestida com uma pura túnica
de linho puro. Este orvalho será recolhido sobre os trigos em ervas de minha horta. Começarás tua
refeição com um copo de orvalho e comendo ervas tenras e novas”, disse Medéia.
Antares fez o que Medéia solicitou e se retirou para o templo na gruta onde permaneceu os
quarenta dias. No dia décimo sétimo Medéia fez nele uma leve sangria, depois que Antares despertou
após a sangria, Medéia lhe deu o primeiro grão de medicina universal. Sentiu um desmaio que durou
três dias, depois convulsões, transpirações, evacuações consideráveis. Tomava, partir deste dia, seis
gotas de bálsamo de azoto pela manhã e seis à tarde, aumentado as gostas a cada dia até trinta e
duas. Depois renovou a pequena emissão de sangue no crepúsculo da manhã, dormiu em seguida e
ficou de cama até o fim da quarentena. Depois mudou de roupa e cama, em seguida tomou um caldo
de carne de boi sem gordura, temperada com arruda, salva, valentina, verdura e melissa. No dia
seguinte ingeriu o segundo grão de medicina universal que é o mercúrio astral combinado com o
enxofre de ouro. No seguinte tomou um banho morno. No trigésimo sexto dia tomou um copo de vinho
do Egito. No trigésimo sétimo recebeu o terceiro e último grão de medicina universal. No trigésimo
oitavo dia tomou um banho de ervas aromáticas. No trigésimo nono dia Medéia lhe deu duas colheres
de vinho tinto dez gotas de elixir de Acharath. No quadragésimo dia a obra foi concluída. Os cabelos,
os dentes, as unhas e a pele se renovaram, Antares estava rejuvenescido por completo.

‫ש‬
O Mestre Regulus subiu a montanha para ter com o Mestre Antares e Medéia. O Mestre
Regulus chamou Medéia pelo seu nome iniciático: Mestra Naja.160 Regulus ficou surpreendido com a
aparença rejuvenescida do Mestre Antares.
A Mestra Naja sabia colocar o corpo na quarta dimensão da Natureza e junto com o Mestre
Antares, que também conhecia a arte jina, visitaram alguns lugares secretos da quarta dimensão. O
Mestre Regulus havia aprendido esta técnica Jina com os monges jinayanas do Tibet, onde esteve
em retiro espiritual por sete anos e onde recebeu também os Mistérios Maiores praticando tantrismo
com uma distinta Lama tibetana. O Mestre Regulus havia recebido uma mensagem de seu Mestre
Samech que vivia junto com outros grandes iniciados no Templo Órfico localizado na quarta
dimensão, Medéia era uma sacerdotisa deste Templo e Antares e Regulus eram uns dos Cavaleiros
Kadosh‟s; porém Antares havia sido afastado, não expulso, porque não cometeu nenhum sacrilégio
com os mistérios da Ordem, mas havia negado sua maestria ao comer do fruto proibido pela ocasião

160
Naja em egípcio significa Serpente da Sabedora colocada na fronte dos Faraós.
da queda com Ofélia, entretanto causou mal a si mesmo. Regulus subiu a montanha para levar a
mensagem para Medéia, pois deveriam comparecer ao Templo Órfico dos Cavaleiros Kadosh‟s, o
Grande Templo de Dionísio. Regulus e os dois amigos dialogaram por quase todo o dia no cair da
tarde, o Mestre Regulus retornou para sua morada esotérica.

‫ש‬
Nos aposentos o Mestre Aldebaram e Mestra Nekabah dialogavam:
“Perséfone, à noite anterior o Mestre Regulus apareceu em nossa sala em estado de jina,
trazia uma mensagem para nós, disse-me que nós deveríamos comparecer ao Templo Órfico dos
Cavaleiros Kadosh‟s, pois haverá uma grande reunião por lá”, disse o Mestre Aldebaram à Mestra
Nekebah.
“Entendo, temos trabalhos por lá”, disse Perséfone.
“Algo de extraordinário vai acontecer, estas reuniões só acontecem muitas raras vezes,
segundo Regulus”, disse Pedro.
“Será anunciado a vinda de um poderoso e colossal planeta”, disse Perséfone.
“Como sabe?”, perguntou Pedro curioso.
“Esta noite fui transladada em corpo causal para a região eletrônica do mundo da causa e lá vi
as imagens da destruição da terra provocada pela chegada de um grande planeta que esta vindo em
direção ao sistema solar; vi também naves espaciais chegando em nosso planeta para resgatar as
pessoas com possibilidades de regeneração, pessoas que não se corromperam diante das grandes
abominações provocadas pelas emanações deste planeta involutivo que se aproxima da Terra. Vi
grandes calamidades, onde era terra virou mar e onde era mar virou terra; grandes erupções
vulcânicas. Foi me dito que dá última vez que este planeta, que pertence a um sistema solar vizinho,
passou pelo nosso sistema solar, houve o dilúvio e a destruição do antigo continente da Atlântida”,
respondeu a Mestra Nekabah.

‫ש‬
Regulus instruía Irene e Heloísa em uma das câmaras secretas do Templo subterrâneo,
tratava com elas sobre a Cosmologia contida no Gêneses:
“O Éden que se localiza na quarta dimensão foi plasmado e desenvolvido no Período Lunar.
As Hierarquias que crearam 161 o Éden foram os humanos que se tornaram Arcanjos no Período Solar,
o anterior ao Lunar, o Período Solar foi à cristalização do Mundo Astral conhecido na Cabala de Esfera
de Hod, este é o Período do Filho; o Grande iniciado deste Período Solar foi o Arcanjo Miguel que
reencarnou na Terra como Jesus de Nazaré. Os Anjos do Período Lunar, que é a humanidade que
alcançou o estágio de Anjo no Período Lunar, são os creadores do Período Terrestre, o nosso atual.
No Período de Saturno, o do Pai que está oculto foi o Grande Iniciado deste período; neste Período o
globo terrestre era apenas um caos negro onde o elemento Fogo ainda se encontrava em estado
potencial e somente o calor se fazia presente, não havia chamas e as Monôdas da humanidade atual
ainda estavam no estado mineral, neste período ainda não havia o reino vegetal, porque a Luz não
havia se manifestado, porque o Fogo no núcleo da Terra ainda se encontrava em estado potencial.
Somente com o Período Solar, o do Filho, o Fogo se uniu ao elemento Ar, então se manifestou a Luz,

161
O autor não utiliza o vocábulo „criar‟, visto que este defini a criação de gado, por exemplo; o vocábulo
crear defini um ato pelo qual faz algo em estado potencial vir a existência.
porque o Fogo se fez, e o nosso globo terrestre passou a um grau mais evoluído, ao reino vegetal.
Com a manifestação do Fogo no núcleo do planeta, as águas que cobriam todo o planeta e, o Espírito
Santo, o Senhor Jeová, bailava sobre as águas do grande abismo, foram aquecidas e evaporaram-se
e condensavam-se; por isso o Filosofo Tales de Mileto dá a origem do mundo fenomenal a água. O
Fogo despertado no núcleo da Terra no Período Solar fez com que os minerais se dissolvessem e do
interior da terra grande erupções vulcânicas lançavam lava ígnea para fora do interior da Terra, o
contato com as águas que cobriam a face da Terra formou a crosta terrestre.
No Período Lunar o Grande Iniciado foi Elohim Jeová, este Período é atribuído ao Espírito
Santo, e juntamente com seus Anjos passaram a crear as Formas do Período Terrestre. O Elohim
Jeová é o Grande Arquiteto do mundo terrestre, ou seja, ele é o Construtor que trabalhou com a
Arché, a Substância Original pela qual Ele e seus Anjos, os Senhores da Forma, modelaram a terra
vermelha que surgiu como resultado da evaporação da umidade que ficava em torno no núcleo ígneo
da Terra. A condensação destes vapores formados pela ação do fogo sobre a umidade, cristalizou-se
numa terra vermelha muito peculiar da qual Jeová modelou as formas para encarcerar e extinguir os
espíritos do fogo. Para este fim Jeová, junto com as hostes de Elohins que trabalhavam ao seu lado,
pronunciaram em forma de canto o Grande Verbo divino: o Fiat Lux, os arquétipos dos peixes, das
árvores, dos animais e inclusive da primitiva forma humana, manifestaram-se e com a terra vermelha,
a substância original, os Senhores da Forma modelaram os corpos destes arquétipos manifestados
pelo Verbo divino. Alguns desses Anjos de Jeová se rebelaram contra este plano, porque tinham
grande afinidade com Fogo para suportar o contato com a Água e, assim, recusaram a crear as formas
como ordenou o Elohim Jeová. Desta forma tais Anjos rebeldes negaram-se a evoluir pelas vias
convencionais e tornaram-se uma anomalia na Natureza. Recusando a autoridade de Jeová tiveram
que conseguir suas iniciações que os levaria a salvação a sua maneira. Isso foi conseguido pelo
Arcanjo Lúcifer, o Grande líder dos rebeldes. Lúcifer e seus Anjos foram para o planeta Marte, o Anjo
Samael foi o embaixador de Lúcifer em Marte; e os Anjos de Jeová que não se rebelaram foram
enviados as muitas luas dos planetas de nosso sistemas solar, Gabriel permaneceu como embaixador
de Jeová em nossa Lua. Os Anjos de Jeová são as hierarquias da Constelação de Câncer e regem a
Vida ou a Fecundação; os Anjos de Lúcifer são as hierarquias da Constelação de Escorpião e regem o
sexo e a morte, a regeneração e a degeneração. As hierarquias de Escorpião vestem túnicas negras e
trazem em seus peitos um medalhão com um escorpião, são os Espíritos Lucíferos”, ensinava Regulus
quando foi interrompido pela sua discípula Heloísa.
“Mestre, tudo isso é novo para mim e agora estou compreendendo o significado esotérico do
livro de Gêneses, mas uma coisa ainda me intriga nisso tudo, qual o esoterismo contido no mito dos
Filhos de Deus ou dos Anjos de Jeová terem tomado para si esposas entre as filhas dos homens
naturais como revela o livro de Enoque e que é exposto alguma coisa no Gêneses?”, perguntou
Heloísa.
“Sua pergunta é muito boa e merece ser respondida em detalhes! O Período Lunar
corresponde o período onde os Anjos se rebelaram, porém no Período Terrestre, os Períodos
anteriores são recapitulados pela Natureza, e cada Período ou Ronda como chama a Teosofia, é
constituído de Sete Raças e sete sub-raças. A primeira Raça e suas sete sub-raças de nosso Período
Terrestre que é a quarta Ronda foi a Raça Polar que corresponde à revolução de Saturno, as
hierarquias de Saturno, os Senhores da Mente, estavam presentes neste período ajudando a evolução
do homem terrestre que neste período possuía corpo monstruoso e ainda não tinha a atual forma que
temos hoje. A segunda Raça foi a Hiperbórea e foi à recapitulação do Período Solar, as hierarquias do
Sol desceram ao nosso planeta recém formado para ajudarem o homem ainda primitivo, neste período
a forma humana era mais refinada do que da raça anterior, os homens deste período eram andróginos
e possuíam corpos etéricos, pois ainda não havia forma física adequada para o homem que se
desenvolvia no mundo etérico que corresponde ao Éden localizado na quarta dimensão da Natureza.
A terceira Raça foi à recapitulação do Período Lunar, esta foi a Raça Lemuriana que era semi-etérica e
hermafrodita. Entre a quarta e a quinta sub-raça deste período houve a separação dos sexos e o
homem lemuriano foi dotado de mente, agora era dotado de sexo e mente. Com a separação dos
sexos houve a necessidade da união dos dois pólos para a procriação da espécie, isto era realizado
pelos Anjos de Jeová que estavam reencarnados neste período, os casais sobre certos cuidados e
sobre a fase da Lua cheia e as conjunções planetárias corretas, eram levadas aos templos para
realizarem sobre a direção dos Anjos o ato gerador; o homem deste período era inconsciente de seu
corpo físico e o corpo não era como o de hoje. Neste período o homem não ejaculava na matriz
feminina para fecundá-la, pois os Anjos fecundadores faziam um único espermatozóide escapar e
fecundar o óvulo. Devido a este fato da energia sexual não ser desperdiçada com orgasmos frenéticos
que consomem grande quantidades de energias, esta humanidade lemuriana tinha seu Kundalini
erguida na espinha dorsal, isso, outorga-lhes poderes psíquicos.
Os Espíritos Lucíferes que eram os Anjos Caídos do Período Lunar estavam em seu caminho
evolutivo entre o homem e os anjos; necessitavam adquirir corpo físico para encarnar no mundo físico
para adquirir conhecimento e consciência. Estes Espíritos Lucíferes contribuíram na modelagem do
futuro homem e na formação do cérebro destes, por isso na mitologia se diz que Prometeu (Lúcifer) foi
o pai do primeiro homem (coletivo). Eles necessitavam descer para o mundo físico para forjar
conhecimento e, assim, evoluírem, porém o mundo físico se encontrava em uma onda de vida inferior
a deles que viviam na atmosfera do plano etérico. Eles não sabiam construir corpos físicos para
descerem ao mundo físico. O homem deste período semi-etérico era inconsciente de seu corpo físico
e mantinha contato com os Espírito Lucíferes no plano etérico; então estes Espíritos Lucíferes, os
Anjos Caídos do Período Lunar, ensinaram a humanidade o ato gerador com a perda seminal, com
isso possibilitou a construção de corpos pelos quais os Anjos Caídos podiam encarnar no plano físico.
Isso foi simbolicamente representado pelo mito da serpente tentadora que fez Eva comer do fruto da
Árvore do bem e mal, o sexo, e dá a seu parceiro Adão. Obviamente estamos falando do ponto de
vista cosmológico, pois este mito também simboliza um aspecto metafísico e ontológico na iniciação
cósmica do homem. O ato gerador com perda seminal fez com que o homem abrisse os olhos
sensíveis, pois até então era inconsciente do mundo do Fenômeno, pois eles eram conscientes
apenas no Éden ou plano etérico. Já no plano materializado e com os nascimentos que se davam,
devido o ato gerador conhecido tal como hoje, os Anjos caídos começaram a ensinar as diversas
ciências aos filhos da Natureza. Neste período lemuriano houve duas raças sobre a fase da terra a
simbolizada por Caim e por Abel. Caim era a raça dos homens construtores das cidades e da Torre de
Babel que a bíblia menciona, foram os filhos gerados da união dos Anjos Caídos com as filhas dos
homens naturais; na lenda maçônica se diz simbolicamente que Caim era filho de Samael, o Fogo,
com Eva, a Natureza, e Abel de Adão, o homem natural com Eva. A raça simbolizada por Abel eram
aqueles que seguiam a evolução normal, esta foi instinta, porque os filhos dos Anjos caídos, eram
gigantes e astutos e dominavam a Natureza pela ciência e pela magia, período da Atlântida. Neste
período muitos Anjos que não eram caídos foram persuadidos pelos Espíritos Lucíferes a adotarem o
ato gerador com a perda do sêmen, desta forma muitos caíram, foi o caso de Javé que não se pode
confundir com Jeová, segundo Saturnino de Antioquia, gnóstico e cabalista do cristianismo primitivo.
Diz a Bíblia que vendo os Filhos de Deus, os Anjos de Jeová que se auto-realizaram no Período
Lunar, as filhas dos homens, o homem natural depois da separação do sexo, serem belas e formosas
tomaram para si como esposa e com elas tiveram filhos; estes filhos foram os terríveis Atlantes que
conheciam a magia negra. Neste período a humanidade que era semi etérica passou ao estado físico,
a terra tinha se estabelecido. Surgiu uma nova raça denominada de Seth, esta será os povos iniciados
que seguiam os preceitos de Jeová, por isso se diz na Bíblia que com o nascimento de Seth o nome
de Deus foi novamente evocado na terra. Seth representa os iniciados de Jeová e Noel, o grande
profeta atlante que anuncio o dilúvio, ou seja, o afundamento da Atlântida no mar que leva seu nome,
descendia dele. Noel antes da queda da Atlântida levou seu povo ao oriente, os semitas, o povo que
habitou as regiões onde hoje corresponde ao oriente médio. Por outros lado os Filhos de Caim, os
Arianos, os Filhos do Carneiro, o Fogo, habitaram a meseta central da Ásia. Tanto os filhos de Seth na
figura de Noel, os Filhos da Lua ou de Jeová, quanto os Filhos de Samael, regente de Marte, a raça de
Caim, traziam os Mistérios. Os Filhos do Elohim Jeová representaram seus Mistérios pelos símbolos
conditos no Tabernáculo; os Filhos de Samael, os Arianos que eram os embriões da quinta Raça Raiz,
traziam seus Mistérios contidos na simbologia Maçônica, mas esta não era como a de hoje, assim
como os Mistérios dos Semitas expressados no Egito e na Mesopotâmia não era como os dos judeus
modernos. Estes Arianos ou Filhos do Fogo, Samael, foram os Grandes Construtores da antiguidade,
e Hiram Abiff era um Mestre maçom Filho do Fogo e da Viúva ou de Isis a Filha de Rá, o Sol, e esposa
de Osíris que havia sido assassinado por seu irmão Set; enquanto que Salomão era filho de Seth e
edificou um templo a seu deus Jeová, porém o construtor foi Hiram Abiff, o filho do Fogo. O deus
Horus, o Cristo marciano, personifica os iniciados que trabalham com o Fogo Sagrado e combatem
Set e seus demônios vermelhos, ou seja, o Satã interno com suas legiões de eus-diabos chamados a
existência por uma vida contraia ao Cristo Íntimo; é bom lembrar que o Falcão é uma ave marciana. A
religião zoroastrica com seu culto ao Fogo, é ariana; foi desta religião que nasceu os essênios que era
a Escola Espiritual de Jesus. O culto de Jeová foi degenerado ou materializado na forma religiosa dos
judeus e destes para o cristianismo e o islamismo, ou seja, na religião natural, dialética. O culto ariano,
de Samael, degenerou-se nas religiões hinduístas, tibetanas, e budistas; o orfismo e o pitagorismo
grego se degeneram no culto idolatra dos antigos gregos. A Maçonaria que conservava e, conserva
ainda em seu simbolismo, degenerou-se, porque uniu-se ao mundo materialista e perdeu de vista os
aspectos espirituais. Hoje o mundo ocidental e do oriente médio se divide em duas correntes
dialéticas: a Maçonaria com todas suas ramificações e o Cristianismo com suas derivações. A
Maçonaria governa o mundo material através da política e da economia, são os construtores do
mundo capitalista; o Cristianismo governa o mundo espiritual da humanidade; o triângulo do Fogo,
Samael, e o triângulo da Água, Jeová, devem formar a Grande Estrela Flamigera de seis raios.
Somente assim o Cristo, o Sol Espiritual, poderá se manifestar no centro da Estrela como a Fênix
renascida do Fogo e da Água filosofais. Foi exatamente este mistério que Jesus disse a Nicodemos,
ou seja, que o Novo Homem nasce do Fogo, o Espírito, e da Água. Lúcifer e Jeová unificam-se no
sexo e desta unificação nasce o Super Homem; obviamente que Lúcifer é o Fogo sexual que age no
sêmen, governado por Jeová, para libertar a Essência Cristica que nele esta encerrada. O Fogo de
Lúcifer produz Luz quando é bipolarizado no sexo, porém produz trevas quando esta bipolarização não
é alcançada...”, ensinava Regulus.
“Então no mundo atual há duas classes de humanidade?”, perguntou Irene, a prostituta
arrependida.
“Sim, os filhos de Samael, o Fogo e pai de Caim; e os filhos da Natureza, Seth, nascidos da
união de Adão e Eva. Os Anjos Caídos e os homens naturais, ou seja, aqueles humanos do Período
Lunar que se tornaram Anjos, porém caíram; e os humanos que atualmente se desenvolvem neste
Período Terrestre. Hoje estamos na sexta sub-raça da Raça Raiz Ariana. Raça Ariana não tem haver
com o que o nazismo pregou; este termo vem da constelação de Áries, o signo de Samael, pois o
Arcanjo Samael é o regente da Raça Ariana; nada tem haver com cor de pele; arianos são todos que
vivem neste período. Todos vocês da Fraternidade Gnostica do Leão Vermelho são Anjos Caídos;
nossa doutrina é destinada para os Anjos Caídos e não para o homem natural que se encontra ainda
num estado muito infantil de espiritualidade; porém isso não impede que alguns filhos da natureza que
possuem espíritos rebeldes, não venha percorrer este Caminho do Fio da Navalha, o Caminho Direto;
mas infelizmente a grande maioria segue o Caminho da espiral em seu ciclo evolutivo. Todos nós
somos Espíritos Lucíferes, ou seja, os Anjos rebeldes de Jeová; todos aqueles que ingressam em
nossa Ordem Maçônica, são Espíritos Lucíferes encarnados em corpos físicos”, respondeu Regulus.

‫ש‬
Era já noite, quando Regulus e Agnes estavam passeando ao redor do Castelo e
conversavam sobre a reunião extraordinária que ocorreria no Templo Maçônico na quarta dimensão,
quando Agnes apontou para dois homens que se aproximavam e disse:
“Veja Mestre Regulus, nosso frater Mestre Samech! Quem será aquele que o acompanha?”,
perguntou Agnes.
A Alegria invadia os corações dos dois iniciados quando tiveram a certeza de que era de fato o
Mestre Samech, o guardião dos Mistérios de Sagitário, acompanhado de um Cavaleiro Kadosh que
tinha aproximadamente quarenta primaveras.
“Que a paz esteja convosco”, disse o Cavaleiro Kadosh de Sagitário, “este é o Mestre Zain, o
guardião dos Mistérios de Gêmeos”, disse mais uma vez o Mestre Samech apresentando o
companheiro Kodosh.
O Mestre Zain era uma figura insólita, seus cabelos eram longos e negros, sua barba era
negra e longa, seus olhos era penetrantes e pequenos. Possuía uma nobreza na alma típica dos
Cavaleiros; demonstrava coragem, integridade, cortesia, respeito às mulheres e oferecia proteção aos
pobres e fracos, estes Cavaleiros tinham como patrono São Jorge (por isso a lenda de São Jorge na
Lua), ou seja, Percival o Rei do Graal, o Grande senhor Jeová, o Espírito Santo; o Grande Iniciado da
Terceira Ronda, o Período Lunar.
Coisas extraordinárias ocorrem no mundo dos magos e das magas. Irene ao ver o Cavaleiro
Zain sentiu uma grande ardência no coração, sua alma estava inflamada de amor, os dardos de Eros
lançados dos olhos de Zain, inflamaram-na e ela soube naquele instante que de fato era o Santo Graal
daquele sagrado Cavaleiro Kadosh.
O Mestre Samech era um homem desperto, e já sabia todo processo mágico que envolvia ele
nesta situação. Estava ali juntamente com Zain para levar os amigos ao Templo Órfico dos Cavaleiros
Kadosh‟s localizado em Shambbalah na quarta dimensão da Natureza, pois ali seria anunciado o
nome do Mensageiro da Era de Aquário.
Os iniciados conversaram muito e o Mestre Samech expôs uma problemática ao grupo.
“Vocês foram traídos. A Opus Dei e a Grande Loja Maçônica Negra estão com planos
unilaterais para destruírem a nascente Fraternidade Gnóstica do Leão Vermelho, pois a Nova Ordem
Gnóstica Maçônica, que esta entrando em atividade no mundo físico, constitui uma grande ameaça
para o governo do Anticristo. A mulher vestida do Sol, coroada com doze estrelas e tendo a Lua aos
seus pés, está preste a dar a luz, o grande dragão escarlate está furioso querendo devorar o menino
filosofal que a Mulher está preste a dar a luz; o Castelo da Fraternidade Gnostica do Leão Vermelho
será alvo de sucessivos ataques”, disse o Mestre ao grupo.
Alguns lobos começaram uivar, eram jinas negros que vieram da quarta dimensão seguindo
os dois Cavaleiros Kadosh‟s, havia dezoito lobos negros que saíram dentre as brumas. Como mágica
os lobos começaram a se metamorfosear em vampiros dotados de uma beleza maligna e sinistra.
Estavam vestidos como cavaleiros medievais. Usavam túnicas compridas de cor escarlate e suas
costas eram cobertas por longas capas negras opacas. Traziam no lado esquerdo a espada opaca. Na
mão seguravam o escudo com a insígnia da Ordem que pertenciam. Tinham olhos de anjos mortos.
Suas armaduras eram de prata e tinham também a insígnia da ordem do Graal Negro.
Os vampiros tentaram penetrar no Castelo para atacar as pessoas que ali se encontravam,
porém havia um círculo mágico que protegia o mesmo. Heloísa e Irene jamais haviam presenciado
este tipo de fenômeno, e de fato ficaram espantadas com tudo aquilo, pois estavam vivenciando um
fenômeno de alta magia. O Mestre Samech, Julius, acalmava as damas dizendo que estava invocando
as forças crísticas para socorrê-los. Regulus e Agnes viam clarivedentimente uma grande batalha na
luz astral daquele ambiente, e percebeu que não era fácil derrubar os sacerdotes guerreiros de Satã,
pois possuíam também grandes poderes.
Do nada surgiu uma grande estrela de seis raios formada pela luz do éter diante do portal do
Castelo; de dentro da estrela saíram guerreiros armados de espadas de fogo, vestiam-se com túnicas
negras, porém um negro brilhoso da gama ultravioleta. Seus escudos eram na forma geométrica do
pentagrama, no centro destes havia a insígnia da Fraternidade Órfica dos Cavaleiros Kadosh‟s. Suas
armaduras eram de ouro e cobriam todo o tronco, tinham em alto relevo na parte frontal a águia
bicéfala trazendo nas garras a serpente naja. Usavam longos protetores de braço de ouro e adornados
com dragões alados, suas ombreiras eram adornadas com cabeças de leões. Suas capas eram
douradas. Seus elmos eram de ouro ladeados por esfinges e no centro um dragão alado. Traziam do
lado direito à espada flamígera. Usavam belas sandálias douradas semelhantes a do Arcanjo Miguel,
como mostra a famosa pintura sacra de sua imagem.
Haviam oito Cavaleiros Kadosh‟s, porém eram doze. Por que então havia somente oito?
Justamente porque o quinto Cavaleiro era o Mestre Regulus, o Guardião dos Mistérios de Leão; o
terceiro Zain, o Guardião dos Mistérios de Gêmeos; o oitavo era o Mestre Antares o Guardião dos
Mistérios do Escorpião e o nono era o Mestre Samech o Guardião dos Mistérios de Sagitário. Os
dozes cavaleiros representavam os dozes construtores e guerreiros do Templo, cada um representava
um signo do zodíaco; o décimo terceiro Cavaleiro Kadosh representava a constelação da Águia e este
posto era ocupado pelo Grão Mestre, o Mestre dos mestres. Uma música que evocava as batalhas
vibrava no akasha, então a batalha se tornou sangrenta. As espadas flamíngeras se chocavam com as
dos vampiros que ferozes e com grande fúria partiam para cima dos Cavaleiros Kadosh‟s. O Cavaleiro
da constelação de Aries incinerou o líder dos vampiros. Foi exatamente ai que perceberam que os
dezoito vampiros eram formas mentais exteriorizadas pela matéria ideoplástica sexual dos magos de
Satã. Dessa forma, os outros também foram aniquilados. Os oitos Cavaleiros Kadosh‟s penetraram
novamente no iper-espaço e se retiram para quarta dimensão.
Heloísa e Irene ficaram espantadas com o que acabaram de ver, pois estas coisas para elas
eram apenas teorias até então. E de uma certa forma ficaram com certo temor, pois não conheciam
este outro lado da magia, ou seja, a utilização da alta magia em batalhas concretas no mundo da
terceira dimensão. Leonel e mais dois Cavaleiros eram os guardiões do Castelo Templário, desta
forma permaneceram no Castelo, enquanto Antares e Sekelth concorriam à reunião extraordinária.
Logo após o dialogo, os dois Cavaleiros Kadosh‟s, partiram para a quarta dimensão seguidos
pelo Mestre Regulus e a Mestra Sheketh.

Perséfone e Aldebaram já se encontravam em estado de jinas e estavam parados diante do


portal hexagonal do grande Templo da Fraternidade Órfica dos Cavaleiros Kadosh‟s. Perséfone
percebera que se tratava do mesmo Templo que vira em sua visão quando praticava magia sexual
com o Mestre Aldebaram. Ficou assombrada com o colossal Templo em forma de cruz cristã e no
estilo arquitetônico da arte gótica. A muralha era de nove metros de altura e na forma hexagonal,
nos seis ângulos havia dragões alados que guardavam o templo; cada linha reta que ligava os seis
ângulos era de trezentos metros, assim, a muralha era de mil oitocentos metros quadrados. O
pórtico da entrada era de bronze e na forma hexagonal, sua medida era de dezoito metros
quadrados, havia em alto relevo neste uma bela esfinge alada e armada de espada flamígera; na
parte superior, acima da esfinge, havia gravado em alto relevo e, em letras góticas, a frase: „Decifra-
me ou eu te devorarei.‟ Acima do portal havia a insígnia da Fraternidade que consistia na mesma
insígnia da Fraternidade Gnóstica do Leão Vermelho: Uma placa de bronze de doze metros
quadrados que estava sobre o portal, trazia em baixo relevo o símbolo da Ordem do Leão Vermelho.
Estes relevos serviam de engastes as pedras nas respectivas formas dos símbolos que o
compunham. O Símbolo era da seguinte forma: Tratava-se de um brasão confeccionado
artisticamente, a insígnia era composta de duas figuras humanas dispostas como duas colunas; a
figura da direita era masculina e da esquerda feminina, ambos estavam nus, a mulher trazia a lua
mística sobre o sexo, e fazia com a mão esquerda o sinal do esoterismo sacerdotal, porém apontava
para baixo; o homem fazia o mesmo sinal, porém apontava para cima e tinha no sexo o sol místico.
Ambos estavam sobre um cubo; este era adornado com ramos de videiras e no centro de cada uma
havia um triângulo com um letra hebraica, sendo que o da mulher o triângulo era negativo e trazia no
centro a letra ‫ ;ה‬o do homem o triângulo era positivo e no centro trazia a letra ‫י‬. Entre as duas
colunas humanas havia um escudo branco no formato geométrico do pentagrama, inserido neste
havia uma cruz isóscele162 de cor vermelha. Na base da cruz havia uma cruz cristã na cor da
madeira, em sua base havia um crânio humano de onde se elevava um ramo de rosa que se
estendia até o eixo da cruz onde havia uma rosa rubra. Na haste horizontal encontravam-se duas
esfinges egípcias unidas pelas suas ancas de forma que o ponto central de junção entre as duas se
dava no eixo da cruz; a branca se encontrava inserida no triângulo direito da cruz e portava um tirso
de Dioniso. A negra que tinha seios no triângulo esquerdo e portava uma taça contendo uma
serpente verde. No eixo da cruz onde as esfinges se unificavam, havia um sol vermelho de quatro
pétalas onde havia as quatro letras do Tetragrama163 hebraico, inserida no sol havia uma suástica
formada por quatro letras Resh‟s164 unidas pelas suas bases, no eixo desta um Tai Chi chinês nas
cores das duas esfinges. Inserida no triângulo superior uma águia negra bicéfala trazendo nas
garras dois testículos e no pico de uma das cabeças uma serpente naja. A linha reta da parte
superior da cruz unida as duas linhas superiores do escudo pentagonal, formava um triângulo. Um
leão alado de cor púrpura estava em pé sobre a cruz e voltado para a direita portando um caduceu,
sobre sua cabeça uma coroa, suas asas ladeavam as duas linhas superiores do escudo. Unindo as
duas colunas humanas havia em forma de arco e em letras góticas as palavras: Filosofia, Ciência,
Arte e Religião.
Dois enormes guardiões com cabeça de leão e corpo humano estavam à direita e à esquerda
do portal, ambos armados de espadas flamígeras. O Mestre Aldebaram e sua esposa Perséfone
pronunciaram a palavra de passe e penetraram a grande muralha; do lado interno do portal havia a
gravura em alto relevo do pentagrama Ieshoah (‫)יהשוה‬. Diante dos olhos de Perséfone e de
Aldebaram se estendia uma estrada de pedra ladeada por setenta e duas esculturas de anjos
guerreiros, sendo que trinta e seis estavam do lado direito e trinta e seis do lado esquerdo. Os anjos 165
portavam elmos alados, túnicas curtas e um escudo peitoral onde havia as insígnias que
correspondem os signos zodiacais; suas sandálias eram aladas; os escudos eram no formato
hexagonal e com a estrela de seis raios delineada, dentro desta a estrela pentagrama com a letra
hebraica elemental segundo o signo que cada uma representava. Os guerreiros que correspondiam os
signos diurnos estavam ao lado direito e eram divididos em grupo de seis para cada signo; os da
esquerda estavam os noturnos e eram divididos da mesma forma. Os olhos das esculturas eram de
162
Esta cruz é a famosa cruz de Malta, formada por quatro triângulos isósceles cujas pontas se unem no
centro.
163
‫יהוה‬
164
‫ר‬
165
Estes 72 gênios da Cabala, são os regentes da esfera de 360º da Roda zodiacal.
pedra almadina, pedra que brilhava na escuridão da noite. Do lado interno da muralha havia como um
pequeno bosque. Dois belos jardins ladeavam a escada que dava acesso ao pátio do Templo. Os
jardins eram em forma de quadrado, circulo e triângulo um inserido no outro e formado pelas próprias
flores. No centro do triangulo do jardim direito havia a escultura de Eros; no da esquerda a de Psique.
No principio da escada de nove degraus que dava acesso ao átrio do Templo, havia duas
esfinges de bronze sobre duas curtas colunas de bronze; a esfinge da direita portava uma espada e da
esquerda uma taça. Das colunas que sustentavam as esfinges se estendia para-mãos adornados por
delicadas pequenas colunas de bronze. Os para-mãos ligavam as colunas das esfinges as colunas do
final da escada, sobre estas haviam duas piras ardendo constantemente. O piso do pátio era na forma
de xadrez. Havia para-peitos ao longo do pátio, também de bronze e adornados com belas pequenas
colunas. Duas enormes colunas de bronze no formado de pentagrama sustentavam um grande
triângulo também de bronze; a distancia de uma coluna para a outra era de sete metros. No triângulo
havia em alto relevo uma cruz cristã cuja extremidades terminavam em três semicírculos; nos três
semicírculos da haste superior havia engastadas três pedras preciosas de lapiz azuli na forma das
letras He, Vau e Zain (‫ ;)הוז‬na ponta direita da haste horizontal as letras Heth, Teth e Iod (‫ ;)חטי‬na
ponta esquerda da mesma haste as letras Lamed, Nun e Samech (‫ ;)לנס‬na base da haste vertical da
cruz as letras Ayin, Tzad e Coph (‫)עצק‬, todas de lapiz azuli. No centro da cruz havia uma esfera de
sete pétalas sendo que em cada pétala havia incrustadas pedras de carbúnculos no formato de cada
uma das sete letras duplas da Cabala que correspondiam aos sete planetas, ou seja, as letras Beth,
Guimel, Daleth, Caph, Phê, Resh e Thau (‫)בגדכפרת‬. A esfera de sete pétalas circundava uma estrela
de seis raios. Incrustadas na ponta superior da estrela havia uma pedra de safira azul no formato da
letra Schim (‫ ;)ש‬na mesma forma havia no centro da estrela a letra Aleph (‫ ;)א‬na ponta inferior da
estrela uma letra Men (‫ )מ‬da mesma natureza das outras. Nas quatro pontas laterais da estrela havia
quatro pedras de diamantes azuis no formato das quatro letras do Tetragrama (‫)יהוה‬. As duas colunas
pentagonais estavam sustentadas por bases hexagonais; cada um dos seis lados destas bases tinham
em alto relevo a cruz de malta formada por quatros triângulos isósceles, ou seja, cujos vórtices estão
voltados para o centro e unificam no mesmo. Nos cinco lados das colunas em suas bases haviam
cabeças de bode em alto relevo; nos cinco lados da parte superior cabeças de carneiros em alto
relevo. No centro das mesmas havia a letra Iod na da direita e a letra Beth na da esquerda, ambas em
alto relevo.
Os olhos de Perséfone brilhavam diante de tamanha beleza esotérica e sua alma
transbordava de êxtase. Incrustada na parede frontal do lado esquerdo havia em bronze a imagem da
deusa Minerva armada de escudo e lança e com a espada do lado direito da cintura ao seu lado o leão
alado. Do lado direito da mesma forma à imagem de Lúcifer portando na mão direita uma espada
flamigera, e na esquerda uma balança na forma de cruz com uma serpente naja hasteada nesta; no
prato do mérito a letra Schim e no do demérito a letra Mem; no eixo da cruz a letra Aleph. Lúcifer
mantém o pé direito sobre um dragão com asas de répteis. Sobre a cabeça uma coroa com nove
pedras preciosas; vestia túnica curta e sandálias como as usadas pelos guerreiros romanos. Na
armadura peitoral de Lúcifer havia uma cruz isósceles com as quarto letras do Tetragrama inseridas
nos quatro triângulos, sendo que a Iod no triângulo superior, a Vau no da base e as duas He‟s nos dois
horizontais. Encimando a cruz de malta um triângulo com a letra Schim no centro; três pequenos
triângulos são formados nos três ângulos deste triângulo, sendo que em cada um havia um olho. Todo
este conjunto formava o símbolo do Enxofre Filosofal.
O Mestre Aldebaram e Perséfone pararam diante do portal do Templo entre as duas colunas;
o portal era no formato hexagonal e também com as medidas de dezoito metros quadrados neste
portal havia em alto relevo duas esfinges ladeando um pentágono, neste havia inserido a letra Nun
que corresponde à constelação do Escorpião e também a décima quarta lâmina do Tarô, a
Temperança ou Transmutação. Neste portal havia dois guardiões vestidos como Cavaleiros Kadosh‟s.
O casal antes de entrar no Templo, resolveu primeiramente conhecer todos os domínios
externos daquele maçônico e cabalístico Templo de Mistérios Maiores, ambos ficaram maravilhados
com a arquitetura em forma de cruz cristã e no estilo gótico, logo em seguida penetraram à primeira
câmara.
A câmara tinha cento e quarenta e quatro metros quadrados, o piso era de mármores negros.
O teto era enfeitado com pinturas que representavam as constelações de nossa Via Láctea. Sete
grandes lustres em forma de esfera iluminavam a câmara, o lustre maior ficava no centro e os outros
ao redor. Havia doze colunas de bronze semelhante as da entrada, de forma que ficavam três colunas
para cada lado, porém em suas bases hexagonais haviam os hieróglifos correspondentes aos doze
signos zodiacais, ou seja, cada signo era representado por uma coluna. No centro da coluna havia a
insígnia da Ordem. As colunas sustentavam as galerias; estas tinham janelas em forma pentagonal e
suas cortinas eram de um belo veludo negro. Os para-peitos eram de bronze adornados com cruz
maltas. Havia seis galerias em cada lado, totalizando vinte quarto.
Um Mestre mostrava os belos quadros que adornavam a aquela exótica câmera; esta era
chamada de salão do Aprendiz. Perséfone ficou assombrada com a magnífica beleza mística daqueles
quadros que retratavam os mistérios maçônicos. Todos os quadros eram do mesmo tamanho, ou seja,
possuíam 8 metros quadrados. Do lado do ocidente, na entrada, havia dois quadros, o da direita
continha a pintura do deus Plutão que era representado por um ser de longos cabelos negros e barba
pontiaguda, vestia-se com túnica negra, trazia no peito uma medalhão de prata com um escorpião. Na
mão esquerda portava um cajado encimado com uma cabeça de abutre, na parte inferior do cajado
havia uma naja hasteada. Cérbero, o cão de três cabeças, o acompanhava; fazia com a mão direita o
sinal do esoterismo sacerdotal. Encontrava-se entre brumas rubras magnéticas e sombrias.
O quadro da esquerda do portal de entrada trazia a imagem da deusa Perséfone, era
constituído pela imagem de uma ninfa nua, de longos cabelos ondulados e semblante casto e sério.
Trazia um cálice de prata na mão esquerda, de dentro desta saia uma linda naja verde. Com a mão
direita segurava o tridente. Aos seus pés havia um ovo rompido por uma criança dourada e portando o
tirso dionisíaco; em volta do ovo havia sete escorpiões rubros entre chamas. O cenário era constituído
de puras ondas de energia púrpura.
Na parede do sul havia três quadros, o primeiro deles era constituído pela seguinte imagem:
um cenário bucólico cuja vida campestre era intrínseca. Observava-se um cavaleiro de armadura de
bronze adornada em alto relevo na parte frontal com o símbolo da Ordem, trazia a lança com o
estandarte vermelho, no centro deste um círculo amarelo e dentro deste um triângulo azul com um
leão vermelho alado portando nas garras o caduceu de Hermes. Vestia-se com túnica branca como as
dos templários e uma capa vermelha. Trazia uma espada do lado direito da cintura, esta tinha a ponta
superior do cabo em formato de cabeça de falcão, as pontas da haste horizontal da base da espada
eram no formato de asas abertas no estilo egípcio, no eixo desta uma esfera azul safira. O cavaleiro
combatia com a lança um dragão escarlate de sete cabeças. Próximo havia uma macieira carregada
de frutos maduros e com uma serpente de cor de prata e de olhos negros enroscava no tronco. Uma
bela musa estava próxima da macieira. Estava seminua, e seu corpo revelava uma deliciosa sedução,
sobre o corpo um fino vestido rubro transparente. Um cachorro de caça acompanhava o cavaleiro.
O segundo quadro era constituído por um cenário que correspondia o interior de um templo,
cujo piso era axadrezado. Um sumo sacerdote realizava uma cerimônia matrimonial. O noivo era o
cavaleiro anterior, porém estava vestido com uma bela túnica azul de gala. Um cinto de ouro adornado
com cabeça de leão cingia sua cintura. Uma bela capa vermelha caia-lhe sobre as costas. A noiva era
a mesma musa que se encontrava próxima à macieira e que era vigiada pelo dragão. Um manto
finíssimo azul-claro com uma longa cauda cobria quase totalmente seu belo vestido branco.Os cabelos
pendiam soltos sobre os ombros, sobre a cabeça havia uma coroa nupcial. As mãos dos noivos
estavam enlaçadas por uma fina e belíssima grinalda de flores e fios de ouro.
O terceiro quadro do sul era constituído por um cenário entre turbilhões de energia de cores
azul anil e rubro. Havia uma pirâmide, desta se estendia um pátio cujo piso era axadrezado. Uma
escada de nove degraus dava acesso ao pátio. Havia quatros pequenas colunas de bronze nos quatro
ângulos, sobre estes os quatros seres viventes, ou seja, do lado direito o leão alado e a águia, do
esquerdo o touro alado e o homem alado, todos de bronze. Parapeitos dourados contornavam o pátio.
No centro do pátio havia um altar cúbico ardendo. No lado frontal do altar de bronze havia em alto
relevo a gravura de Tífon Bafometo. A parte superior do altar era adornada com dragões dois para
cada lado, sendo que ambos os dragões sustentavam com as garras uma cruz malta com as quatro
letras do tetragrama. Nos quatros ângulos haviam cabeças de bodes. Um casal nu se encontrava ao
lado do altar. O casal era os noivos do quadro anterior. Nos órgãos sexuais do homem havia um
escorpião rubro e no da mulher um negro. Ela segurava com a mão esquerda uma taça de prata com
uma serpente verde saindo dela. Com a destra fazia o sinal do esoterismo sacerdotal para baixo. O
homem trazia seguro pela mão esquerda uma lança e com a destra fazia o sinal do esoterismo
sacerdotal apontando para cima.
Das chamas do altar se elevava uma cruz de malta condensada de luz amarela com as quatro
letras do Tetragrama nos quatro triângulos isósceles que formam a cruz condensada de luz rubra. Esta
servia de base a um grande triângulo vermelho. Neste havia inserido três cubos nos quais haviam as
três letras mães da Cabala. Sobre o cubo da direita, o da letra schim (‫)ש‬, havia um candelabro de sete
chamas, dentro das chamas ardia as sete letras duplas da Cabala (‫)בגדכפרת‬. O candelabro era de
ouro assim como o cubo. No cubo da esquerda, também de ouro, havia sobre ele uma taça contendo
vinho e doze pães. A letra deste cubo era a mem (‫)מ‬. Na parte superior do triângulo e no centro, havia
o terceiro cubo de ouro, neste tinha a gravura da letra alefe (‫ ;)א‬sobre este cubo havia um incensório
de onde se elevava um vapor púrpura, este vapor penetrava a circunferência de uma esfera azul pelo
vórtice, e este penetrava a esfera e unia-se com o vórtice do triângulo passivo que constituía uma
estrela de seis raios cuja circunferência circundava, formando, assim, um losango. O triângulo ativo
era da cor vermelha e o passivo azul índigo. Nas seis pontas da estrela e nos seis ângulos haviam as
doze letras elementares da Cabala na seguinte ordem: ‫הוזחטילנסעצק‬, ou seja, da direita para esquerda
seguindo a ordem dos doze signos zodiacais. De forma que as letras dos signos de fogo ocupavam as
pontas do triângulo ativo, sendo que Leão ‫ ט‬ocupava a ponta da direita, o pólo neutro do Fogo (‫)ש‬.
Áries (‫ )ה‬o pólo ativo, ocupa o vórtice. Sagitário (‫ )ס‬o pólo passivo do fogo natural, ocupava a ponta
esquerda. No triângulo passivo havia as três letras do Ar (‫)א‬, ou seja, o signo de Libra (‫ )ל‬ocupando o
vórtice, o pólo neutro do elemento Ar. O signo de Gêmeos (‫)ז‬, o pólo ativo do mesmo. E Aquário (‫)צ‬, o
passivo. As outras letras que ocupavam os ângulos seguem a ordem zodiacal. As letras eram de cor
de fogo. No centro da estrela havia uma arca cúbica adornada de videiras e seus frutos. Na parte
frontal da arca havia uma cruz malta semelhante a do altar de bronze, porém nesta observa-se que
além do Tetragrama, também havia no centro a schim. A arca era rodeada de fogo azul, sobre a arca
observa-se o mesmo casal, porém se encontram em posição sexual do vajra satwa166. Aqui o casal é
alado, suas asas de tocam e formam um triângulo, no centro deste uma pomba resplandece.
Na parede do oriente, onde se encontra o portal da letra Zain que dá acesso a segunda
câmara, havia mais dois belos quadros. O primeiro é constituído por uma bela imagem de Eros. O

166
A posição tantrica que se encontra o Buda e sua esposa. Nesta posição Buda se encontra sentado em
posição de flor de lótus e sua esposa se encontra sentada sobre seu colo e mantendo as pernas entrelaçadas nos
quadris de Buda, a posição sexual é meditativa.
contexto é o mesmo da macieira, porém observa-se que Eros possui asas de dragão, segura um
archote na mão esquerda e com a direita apóia o arco de prata no chão. Sobre os ombros do deus do
amor, uma aljava com dardos de ouro. Os olhos de Eros são de chamas azuis, seu semblante é de
um moço de quinze anos e angelical, porém com uma certa astúcia nos traços. Seus cabelos louros
são longos e caracolados. Seu corpo é erotizado e coberto por uma curta túnica rosa, sua cintura é
cingida por um cinto de ouro no formato de uma serpente que devora a própria cauda. Encontra-se
abaixo da macieira, alguns frutos da macieira são dourados outros permanecem rubros. Nas
proximidades há uma fina rede de bronze que prende dois escorpiões, um rubro e outro negro.
O segundo quadro do oriente se encontrava à direita do portal, e era constituído da seguinte
imagem: o contexto é um rochedo. No alto deste há uma rocha modelada cubicamente, sobre esta
vemos a mesma figura de Plutão, acorrentado à rocha cúbica por duas cadeias de cobre. Seu
semblante é de martírio, um fabuloso abutre devora seu fígado; o sangue escorre pelo corpo passando
pelo cubo e escorrendo pela rocha em forma de rio rubro, este rio sanguíneo penetra um crânio
modelado na parte inferior do rochedo, neste crânio há duas rosas: uma branca e outra rubra. O rio
rubro sai pela boca da caveira, porém na cor azul safira e se divide em quatro braços, formando,
assim, uma cruz que encima uma piscina natural de forma de triângulo feminino, das águas azuis
desta piscina triangular, eleva-se uma ninfa nua de longos cabelos ondulados, olhos castos e
penetrantes, seu semblante revela uma beleza misteriosa e divina. A ninfa segura na destra uma
espada semelhante do cavaleiro que lutava contra o dragão, dois dragões de fogo se elevam em
forma de oito ao longo da lâmina da espada. Com a mão esquerda segura um cálice de prata, deste
se eleva um pombo branco condensado de luz. No pescoço havia um medalhão com o pentagrama de
ouro.
Na parede do norte havia três quadros. No primeiro o noivo e a noiva se vestem com túnicas
de operários. Ambos se encontram com o avental maçônico. Havia uma mesa de bronze e sobre esta
um pedaço de rocha esmeraldina de tamanho médio. Observa-se que o operário esta desbastando à
rocha esmeraldina com um malho e cinzel. No local havia um quadro de traço no qual se observava
um desenho cúbico com as medidas de dois côvados para a altura, a largura e o comprimento. A noiva
segura uma lamparina. Ambos usavam luvas brancas.
O segundo quadro do norte tem como imagem um cenário composto por um cemitério, o
portal deste é composto por duas colunas cilíndricas com capitéis de crânio humano. Um triângulo liga
as duas colunas, no centro do triângulo há um compasso entrelaçado com o esquadro, no centro deste
uma estrela pentagrama, e no centro desta um crânio. Dois ramos de romã ladeiam o símbolo
maçônico da morte. Entre as duas colunas há o mesmo casal, porém neste contexto eles estão em
estado de putrefação. O homem faz com a mão direita o sinal do esoterismo sacerdotal apontando
para cima; o mesmo sinal faz a dama, porém aponta para baixo. Entre o casal há um leão negro
deitado. Na frente do cemitério há uma caveira espectral coberta com um negro manto de capuz,
montada num cavalo amarelo opaco. A morte porta a foice, um abutre lhe segue. Paralelamente ao
cavaleiro da morte, há uma bela madona vestida de negro e portando na mão esquerda o archote e na
direita uma faca. Há nas redondezas sete monstros com asas de morcego nas sete cores do arco-íris,
porém cores opacas. Todos estão decapitados, de seus corpos decapitados se elevam crianças
condensadas de luz dourada que se dirigem ao sol.
O último quadro do norte é composto pela seguinte imagem: observa-se o mesmo casal,
porém neste cenário se encontra ajoelhado diante da pedra cúbica esmeraldina desbastada, sobre
esta uma cruz cristã, também há sobre o cubo um ovo e uma serpente rubra enroscada com três
voltas e meia. A túnica dele é vermelha e a dela azul índigo. A postura de ambos é de veneração.
Sobre um rochedo nas proximidades, observa-se a deusa Diana de longos cabelos lisos e de
semblante belo, porém expressa a castidade e a valentia de uma guerreira. Veste-se com uma bela
túnica curta de cor branca, um cinto de prata cruza seu tórax, no eixo do cinto há uma cabeça de gato.
Uma bela capa violeta cobre-lhe as costas. Suas sandálias são adornadas com fitas douradas e
pedras preciosas. Porta uma aljava com flechas de ouro e um arco de prata, ela lança dardos sobre
um javali negro. Um leão branco se encontra sentado ao seu lado observando a cena.
Perséfone que era artista estava assombrada com a beleza de toda arte que ali havia, diante
do terceiro quadro do sul, contemplava-o profundamente, parecia estar em êxtase, sua alma vibrava
em chamas de felicidade, jamais tinha tido este tipo de experiência.
“Fale com ele, pois ele tem vida. Peça que lhe revele seus mistérios, e ele revelará”, disse o
Mestre à Perséfone, à medida que se aproximava dela.
“Impressionante, de fato tem vida, veja as imagens se movem, este quadro é mágico!”,
exclamou com muito espanto Perséfone.
“Não se esqueça que estamos no reino da magia, aqui tudo é mágico”, disse o Mestre que
acompanhava o casal.
Perséfone e Pedro estavam diante do quadro de Prometeu, o casal ficou espantado com o
fenômeno mágico que ocorria ali, pois Perséfone dialogava naturalmente com a musa que se elevava
das águas.
“Qual é seu mistério, inefável musa?”, perguntou Perséfone à musa do quadro.
“Eu sou Pistis Sophia, renascida da alma transmutada de Prometeu.
Perséfone lembrou do nascimento de Vênus que nasceu das águas criadoras de Urano, ou
seja, do seu sêmen. E isso a levou a profundas concepções filosofais.
“Que magnífico Pedro, do sangue ou da alma de Urano em contato com a terra, matéria, luz
astral ou hylé, nasceram as três Fúrias, as forças ternárias naturais ímpias que geraram o Adão Belial,
o homem satã. E do sangue transmutado de Prometeu-Lúcifer, nasceu Pistis Sophia, ou seja, a Fé e a
Sabedoria que a alma humana extraiu do caos através de sua peregrinação pelo Vale da Sombra da
Morte, isto é, pela Roda da Dialética; É a Sabedoria do bem e do mal que a alma humana adquiriu
pelo sofrimento e pela dor”, discorreu Perséfone.
Depois das contemplações, o Mestre os conduziu a segunda câmara. Os três iniciados,
transpassaram o segundo portal, o portal de Gêmeos que corresponde à letra Zain, este portal era
semelhante ao anterior, o da letra Samech, mudando apenas a letra. Esta câmara correspondia o
salão das conferências. Possuía a mesma medida do primeiro, cento e quarenta e quatro metros
quadrados. As paredes deste salão eram cobertas por cortinas aveludadas da cor negra, os assentos
e o piso eram também negros. Colchetes dourados com forma de cabeça de coruja prendiam as
cortinas em trilhos cor de prata. Eram cento e quarenta e quatro assentos sendo setenta e dois para
cada lado, todos estavam voltados para o sul, onde havia um palco e sobre este um púlpito de
madeira de cedro, na frente deste havia talhado em alto relevo o símbolo da Ordem.
Nas cortinas negras das paredes havia símbolos bordados com fios de ouro. No sul havia uma
cruz cristã trifólia, isto é, cujas extremidades terminavam em três semicírculos, nestes havia as dozes
letras elementares da Cabala. Na extremidade do leste, a parte superior da haste vertical, havia os
três que correspondem os três primeiros signos. Na do sul os outros três; no ocidente mais três e ao
norte mais três, seguindo a ordem zodiacal. No centro da cruz havia um sol de sete patolas, dentro
destas as sete letras duplas da Cabala. Dentro da esfera solar havia uma estrela de seis raios
delineada; inserida na ponta superior da estrela uma letra schim, na inferior uma men; no centro dela
havia uma estrela pentagrama com a letra alefe ao centro. Na ponta superior do pentagrama havia
uma outra letra schim, no braço direito do mesmo uma iod, no esquerdo uma he, na perna direita uma
vau e na esquerda outra he. Na ponta direita da estrela de seis raios havia uma alef, na esquerda uma
he; na direita da base uma iod e na esquerda uma outra he. Nos quatros ângulos da estrela havia as
cabeças aladas dos quatros seres viventes do Apocalipse. No dois ângulos à direita e à esquerda da
estrela, o alfa e o ômega. Esta cruz cabalística tinha quatro metros de altura e ficava do lado direito de
quem olha para o sul.
Do lado esquerdo de quem olha para o sul, havia uma árvore da vida nas mesmas proporções
de tamanho da cruz, compostas de dez esferas. Na primeira esfera havia apenas a letra ‫ א‬alefe. Na
segunda um triângulo passivo com a letra mem ‫מ‬. Na terceira outro triângulo, porém ativo com a letra
schim ‫ש‬. Entre estas duas esferas e as outras duas que correspondem Chesed e Geburah, havia uma
outra esfera chamada de Daath, nesta havia uma estrela de seis raios, no centro da estrela havia uma
letra alefe ‫א‬, na ponta superior um schim ‫ ש‬e na inferior uma ‫ ;מ‬nas quatro pontas laterais da estrela
havia as quatro letras ‫ יהוה‬do tetragrama; nos quatro ângulos as cabeças aladas do Querubim; nos
dois ângulos laterais o alfa e o ômega. Na esfera de Chesed havia a cruz isóscele com as letras do
tetragrama e a letra schim no eixo da cruz formando o nome sagrado de ‫ יהשוה‬que é o nome Jesus
em hebraico, isto é, Salvador e encimada por um triângulo contendo uma fênix entre chamas. Na
esfera correspondente a Geburah, havia um dragão devorando a própria cauda; havia um quadrado
circundado pelo dragão, no centro do quadrado um livro aberto com o alfa e o ômega. Na esfera de
Tiphereth havia o círculo formado pelo dragão que devorava a própria cauda, este encimava a mesma
cruz isóscele do símbolo de Chesed, porém na cruz não havia as letras hebraicas, mas os símbolos
alquímicos do enxofre, mercúrio, sal e azoth. O dragão circundava uma estrela de seis raios; no centro
da estrela havia um casal alado na mesma posição sexual do Buda no Vajra Satwa, ou seja, o homem
sentado em posição de flor de lótus e sua esposa sentada em seu colo e absorvendo com sua yone o
falo; o casal era rodeado de chamas. Na ponta superior da estrela continha o sol místico na ponta
inferior a lua mística. Nas quatro pontas laterais da estrela estavam contidas as letras góticas que
formam o monograma INRI. Nos quatro ângulos as cabeças aladas dos seres viventes e nos dois
ângulos laterais o tirso e a graal de Dionísio.
Na esfera de Netzach havia uma esfinge macha com uma lança na garra. Na esfera de Hod
havia uma esfinge fêmea com uma taça na garra. Na esfera de Yesod havia uma arca e sobre esta as
duas esfinges deitadas e acopladas pelas suas partes inferiores de forma que uma ficava olhando
para o sul e outra para o norte. No eixo onde estavam acopladas havia uma esfera e dentro desta uma
suástica formada por quatro letras rech‟s e no eixo da suástica um tai chi, ou seja, um Yang e Ying. Na
esfera de Malchuth havia a figura panteísta de Tifon Bafometo, porém nas chamas de seu archote
entre chifres, havia um casal acoplado sexualmente como o de Tiphereth, mas não era alado. Duas
serpentes se elevam das cabeças do casal, se cruzam em Yesod, passam por Hot e Netzach para
logo cruzarem em Tipherth, depois passam por Geburah e Chesed e se cruzam em Daath, por fim sua
cabeças penetravam nas esferas de Binah e Chokmah.
Na parede do oriente havia as onze primeiras letras do alfabeto hebraico: ‫אבגדהוזחטיכ‬, e na
parede do ocidente as outras onze restantes: ‫למנסעפצקרשת‬, estes eram os vinte arcanos da Cabala;
todas as letras estavam inseridas em formas pentagonais; tanto as letras como as formas pentagonais
eram tecidas com fios de ouro.
Nas cortinas negras que cobriam a parede do norte, havia uma cruz formada por seis
quadrados. O quadrado superior havia um pentagrama Ieshuah com o monogramo INRI no centro. No
quadrado do eixo havia Uma estrela de seis raios com as quatros letras do tetragrama ‫ יהוה‬inseridas
no centro. No quadrado direito que formava a haste horizontal, havia um triângulo positivo com o nome
de Adão em hebraico: ‫אדמ‬. No quadrado esquerdo havia um triângulo passivo com o nome de Heva
em hebraico: ‫הוה‬. No quadrado abaixo da haste horizontal, havia um caduceu de Hermes. No
quadrado da base da cruz, havia um dragão devorando a própria cauda, no centro deste havia escrito
em letras góticas: Solve et Goagula. Ao lado da cruz havia um cubo, cujas faces havia os mesmos
símbolos inseridos nos quadrados que formavam a cruz. A cruz era o próprio cubo desdobrado.
Os iniciados observam atentamente os símbolos herméticos contidos no segundo salão, este
era o salão do quarto Eon ou de Câncer; o salão anterior era do sexto Eon, a câmara de Virgem. Os
quatros atravessaram o salão de Virgem e penetraram pelo portal da letra Teth que dava acesso ao
quinto Eon, o do Leão. No salão do quinto Eon havia uma bela escultura de um leão alado de ouro
com olhos de pedras de diamantes azuis. O leão trazia na garra direita um caduceu de Mercúrio,
estava sobre um cubo de pedra negra, esta era a famosa pedra heliogabala. Como as outras câmaras,
esta também era adornada com belos quadros.
Na parede do ocidente do lado direito do portal, havia um quadro com a imagem do deus
Vulcano na beira de uma fornalha com o malho e uma pinça, forjando uma armadura de ouro. O deus
Marte e a deusa Vênus estavam entre as chamas da fornalha acoplados sexualmente, na posição de
vajra satwa. O deus Eros lançava madeira na fornalha. No quadro que se localizava ao lado esquerdo
do portal, havia a imagem de um cavaleiro montado sobre um cavalo vermelho. Sua armadura era de
bronze e sua capa era vermelha. Trazia na destra uma espada e com esta atacava a besta de sete
cabeças como descrita no do Apocalipse 13. O cavaleiro tinha a mesma fisionomia do noivo e tinha
sobre a cabeça um elmo semelhante à de Isadora Kali. Uma bela sacerdotisa com a fisionomia da
noiva contemplava a batalha.
Na parede do norte, há três quadros com as seguintes imagens: o primeiro é constituído da
mesma imagem do casal maçom que estava desbastando a pedra de esmeralda, porém neste
contexto o casal se encontra lapidando a pedra; no quadro de traço há o desenho cúbico da pedra. O
noivo com um prumo verifica a precisão da lapidação, a noiva verifica os ângulos com o esquadro.
Sobre a mesa há uma régua e um livro aberto. O segundo quadro que adorna esta parede, é
constituído de uma imagem insólita e rica em elementos simbólicos. No contexto deste quadro há a
fonte de Dirceu guardada pelo dragão de Marte. Encostado sobre um belo carvalho, observamos o
deus Pan tocando um flauta de sete canos; o dragão parece estar adormecido pelo som da flauta de
Pan. Oito cinocéfalos roubam com ânforas, as águas da fonte e as leva para o deus Hermes que as
deposita em um atanor sobre um forno alquímico. Do vaso hermético, do atanor, eleva-se um vapor
dourado em forma de oito, os vapores penetram um pentagrama dourado no céu delineado no globo
solar. Próximo ao deus Mercúrio ou Hermes, um leão amarelo. O terceiro quadro, é constituído do
mesmo cenário do casal maçom, porém com alguns detalhes diferenciados. O casal maçom estava
sem o avental e vestia túnicas brancas. A pedra, já lapidada, revela os mesmos símbolos da gravura
da pedra cúbica da câmera anterior, porém sobre a pedra havia uma pirâmide. No quadro de traço,
observa-se o desenho já finalizado da pedra filosofal. Sobre a mesa de bronze, há o compasso
entrelaçado com o esquadro. A sacerdotisa maçom trazia sobre a cabeça o véu de Isis e o Sacerdote
maçom a espada do lado direito e o cajado de sete nós encimado por uma cruz.
Ao lado direito do portal que dava acesso ao salão de Áries ou do primeiro Eon, há um quadro
magnífico. O casal do quadro de Diana da primeira câmera, aqui se encontram alados e nus, porém
nos órgãos sexuais do homem há um sol místico e da mulher uma lua mística; entre ambos há um
caduceu. A pedra neste contexto está lapidada e o ovo rompido, deste sai o deus Mercúrio em forma
de criança dourada. A serpente rubra sobe pela haste vertical da cruz que se encontra sobre o cubo.
No rochedo acima, observa-se a figura do deus Apolo, com seu arco de prata, lançando dardos de
serpentes de ouro sobre a Píton, a serpente maléfica de sete cabeças. Ao lado de Apolo há um belo
leão vermelho alado. Apolo veste-se como rei e esta sobre um cavalo branco. Do lado esquerdo do
portal, há um quadro trazendo um misterioso símbolo, este é composto de um dragão que devora a
própria cauda. O dragão circunda uma estrela de seis raios. Nos quatros ângulos laterais da estrela,
há as cabeças aladas dos quatros animais sagrados do Apocalipse. Inseridas nas quatro pontas
laterais da estrela, as quatro letras do tetragrama. No centro da estrela uma cruz cuja base é um
crânio humano, deste crânio cadavérico, emerge uma rosa rubra que se elevava até o eixo da cruz.
Uma bela fênix segura a ouroboros, o dragão que devorava a própria cauda, pelas garras.
Na parede do sul, havia mais três quadros. O primeiro é constituído pela imagem da deusa Isis
nua e alada dentro de um contexto desértico. Nas proximidades há sete escorpiões que lançam
chamas e entre as chamas há uma criança. Uma grande cruz sobre um rochedo, traz uma serpente
naja de cor de bronze hasteada em forma de “S”. Sobre o ventre de Isis resplandece o sol místico, Isis
pisa a cabeça de uma serpente verde. Outro quadro apresenta a seguinte imagem: observa-se um
mar entre rochedos e furioso. Nas águas furiosas há um grande crocodilo de enorme cauda sendo
atacado por uma águia branca. O terceiro quadro traz uma bela musa de longos cabelos caracolados
e nua sobre um cubo com as insígnias da pedra filosofal, esta é Pistis Sophia. Traz na mão direita um
livro aberto, na mão esquerda uma maçã de ouro. Línguas de fogo rodeiam a parte superior do cubo.
Do lado direito do cubo há um grifo com cabeça de fênix e segurando com a garra direita um tridente.
Do lado esquerdo um homem alado com cabeça de galo, portando na destra um látego e com a mão
esquerda segura um escudo, neste há a gravura do pentagrama Ieshuah. Uma águia branca voa
sobre Pistis Sofia, segurando nas garras dois testículos e uma serpente naja no pico. É um quadro
magnífico. O piso do salão do quinto Eon é negro, e suas paredes brancas. Este é o salão da música e
da sabedoria, neste salão os iniciados filosofam sobre diversos assuntos e que os músicos entoam o
canto sagrado.
Logo após a contemplação das obras de artes do salão do quinto Eon, o Mestre conduziu os
iniciados ao salão da arte, o segundo Eon, o salão de Touro. O portal que dava acesso ao segundo
Eon, trazia a letra Vô. Neste salão havia os mais diversos estilos de obras artísticas produzidas pelos
Mestres do Raio da Arte. No centro deste salão havia um magnífico touro alado de bronze sobre um
cubo. Perséfone, que era uma artista, estava extasiada diante de tanta beleza e harmonia artística.
Depois da visita à câmara de Touro, seguiram para o portal da letra Zain, o salão do terceiro Eon, a
câmera de Gêmeos. Este salão é o da biblioteca do Templo, esta câmara estava aos cuidados dos
Mestres do Raio de Mercúrio. Eles fornecem os livros segundo o grau de cada um. Nesta câmara há
um cubo de bronze, sobre este um casal nu, entre o casal há um caduceu.
Finalmente os iniciados chegaram ao salão dos Cavaleiros, o primeiro Eon, o de Áries, e
atravessaram o portal hexagonal da letra He. Magnífica câmera cujo vermelho predominava nos
detalhes dos ornamentos que outorgavam beleza ao salão. Do lado leste, havia um trono ornamentado
com cabeças de leões e dragões e flores de lótus talhadas na madeira de carvalho que formava o belo
trono de forma cúbica. Ladeando o trono havia duas esfinges de estilo egípcio de bronze. Havia dois
acentos à direita e à esquerda do trono, ao lado das Esfinges. Sete degraus davam acesso ao trono.
Na parede do leste, atrás do trono, havia um belo quadro de quatro metros quadrados com a insígnia
dos Cavaleiros Kadosh, a Águia branco-negro bicéfala segurando nas garras um escudo em formato
circular com a cruz alquímica trifóli* ao centro. Na parte inferior do quadro havia escrito em letras
góticas a palavra: NECHAMIAH. Este quadro estava colocado na parte superior da parede do leste,
abaixo dele havia mais três quadros nas mesmas proporções, porém harmoniosamente distribuídos ao
longo da parede. Os três quadros traziam as imagens de deuses egípcios. O primeiro tinha a imagem
da deusa Shekmeth, a deusa cabeça de leão saindo das chamas com uma espada na mão direita. O
segundo quadro tinha a imagem do deus Ptah entre objetos de arte. O terceiro quadro trazia a imagem
do deus Toth segurando o caduceu com a mão direita e com a esquerda um livro aberto. Na parede
oeste havia mais três quadros que traziam as imagens de mais três deuses egípcios. O primeiro trazia
a imagem de Maat com a espada e a balança nas mãos. No segundo havia a imagem de Osíris. O
terceiro trazia a imagem da deusa Hathor. No sul havia mais três belos quadros, estes traziam as
imagens do deus Râ, da deusa Isis e da deusa Neit. Os três quadros do norte traziam as imagens de
Anúbis, Batest e Tuéris. Estes são os deuses que regem os doze Eões da Alma. A Águia bicéfala
simbolizava o décimo terceiro Eon, a constelação da Águia que divide com o signo de Escorpião a
segunda parte do equinócio do outono. São os doze arquétipos divinos dos doze Cavaleiros Kadosh‟s
ou Apóstolos do Cristo Íntimo.
No centro do salão havia uma grande tabula redonda em forma de mesa, esta era de mármore
negro. Havia na tabula doze divisórias feitas com fios de ouro, como as divisórias da roda zodiacal. Em
cada parte havia uma palavra escrita em caracteres góticos e uma letra hebraica. Na primeira parte
havia a letra ‫ ה‬He e a palavra aspiração. Na segunda a letra ‫ ו‬Vô e a palavra integração. Na terceira
a letra ‫ ז‬Zain e a palavra vivificação. Na quarta a letra ‫ ח‬Heth e a palavra expansão. Na quinta a letra
‫ ט‬Teth e a palavra intrepidez. Na sexta a letra ‫ י‬Iod e a palavra adaptação. Na sétima a letra ‫ ל‬Lamed
e a palavra equilíbrio. Na oitava a letra ‫ נ‬Num e a palavra criatividade. Na nona a letra ‫ ס‬Samech e a
palavra energia especulativa. No décimo a letra ‫ ע‬Aiyn e a palavra discernimento. No décimo primeiro
a letra ‫ צ‬Tzade e a palavra lealdade. Na décima segunda a letra ‫ ק‬Coph e a palavra compreensão.
Todas gravuras em ouro. Havia dois círculos dourados na tabula, o espaço de um para outro era de
um metro; o círculo interno circundava um pentagrama Ieshuah cuja ponta superior apontava para o
leste. Havia doze assentos de madeira de cedro adornados com atalhos de dragões e flor de lírios. No
sul havia um cubo de bronze, sobre este um cordeiro portando uma cruz com uma serpente hasteada
em forma de “S”, tudo de bronze.
O Grande Venerável Mestre e a duas iniciadas subiram os sete degraus. O Grão Mestre
sentou-se no trono, enquanto Batesth sentou-se à esquerda da esfinge Boaz, e Shekemeth à direita
da esfinge Jakim, que ladeavam o trono. O Mestre Regulus ocupou o assento do quinto Eon, do Leão
zodiacal. As outras onzes cadeiras estavam ocupadas pelos seus respectivos Cavaleiros Kadosh‟s.
Cada Cavaleiro Kadosh possuía sua palavra de passe que correspondia o nome do deus egípcio que
regia o Eon que cada um ocupava. O posto do oitavo Eon na Tabula Redonda que era ocupado pelo
Cavaleiro Kadosh Antares, encontrava-se ocupada por outro Cavaleiro, pois com a queda deste
Mestre ele perdeu o posto, porém ainda era permitida sua entrada nos salões do Templo, mas sua
entrada no Templo de Mistérios Maiores não era permitida, seu nome estava escrito no livro vermelho.
O próprio nome do Mestre Regulus permaneceu por muito tempo neste livro vermelho onde os
rebeldes eram escritos devido suas rebeldias contra a Ordem, e nele permaneciam até conquistarem
novamente suas iniciações perdidas. As duas Serpentes sagradas que ladeiam o Sol alado de Horus,
foram restauradas em seus respectivos lugares, estas eram simbolizadas pelas duas damas adeptas:
Shekemeth, Jade; e Batesth, Medéia; estas eram as personificações das duas Esfinges: Jakim e Boaz,
ou seja, a Lua crescente, a vida, Diana, representada por Jade; e a Lua minguante, da morte, Hecate,
representada por Medéia. O deus Horus, a personificação do Sol, era representado pelo Grão Mestre;
e os doze Cavaleiros Kadosh‟s, representavam os doze signos do zodíaco. Na verdade o Grão
Sacerdote deste Templo Maçônico da Ordem Órfica era o avô de Perséfone o Grande Mestre da
Maçonaria Filosófica da Fraternidade Órfica dos Cavaleiros Kadohs‟s que havia perdido seu corpo
físico na Segunda Guerra Mundial numa câmara de gás. Porém, ele estava ali presente em Espírito. O
Mestre Regulus, depois de um grande tempo de ausência, devido a certos erros que cometera no
passado, ocupava novamente o posto do Leão na Tabula Redonda.
Quando todos já se encontravam acomodados em seus respectivos postos, o Grão Sacerdote
anuncio a todos que o Tempo do Fim estava próximo, pois um enorme planeta estava vindo em
direção à Terra. Depois desta extraordinária reunião, todos ali participaram da Missa Gnóstica que foi
oficiada no santuário do Templo subterrâneo, neste Templo somente os Cavaleiros Kadosh‟s e suas
sacerdotisas juntamente com o Grão Sacerdote penetravam, era o Templo de Mistérios Maiores.
Antares se encontrava no segundo Templo que era o dos Mistérios Menores onde seria realizado
também uma Missa Gnóstica para membros das câmaras mesotéricas, ou seja, para iniciados de
Mistérios Menores.
O Templo de Mistérios Menores era um grande edifício cilíndrico de nove andares, sobre
este havia uma grande Pirâmide, sua base era cúbica. As janelas eram semelhantes as do Templo
de Mistérios Maiores e em número de setenta e dois sendo oito para cada andar. Na base do
edifício, que era uma grande câmara cúbica, havia trinta e duas 167 janelas, número significativo na
Cabala, sendo dez para cada lado e apenas duas na parte frontal. O portal era no formato hexagonal
e era de bronze. Nele havia duas esfinges aladas cujas patas dianteiras se apoiavam em um
pentágono que delineava um pentagrama, cujas pontas trazia as cinco letras do nome de IESHUAH
(‫)הושהי‬168, isto é, na ponta superior que representa a cabeça havia a letra Schim; na ponta direita, o
braço direito, havia a letra Iod; na esquerda a letra He; na ponta inferior que representava a perna
direita, havia a letra Vô, na esquerda outra letra He. No centro do pentagrama havia o monograma
de Cristo, ou seja, INRI. À direita e à esquerda do portal, havia duas colunas cilíndricas cujas bases
eram cúbicas; a da direita era branca e sua base negra; a da esquerda era negra e sua base branca;
ambas eram de bronze. Na base da coluna branca havia uma suástica em alto-relevo na cor branca,
esta se encontrava na posição evolutiva, ou seja, o movimento do leste para o sul; enquanto na base
da coluna negra havia outra suástica em movimento involutivo na cor negra, isto é, do leste para o
norte. Os capitéis das colunas eram no formato de grandes taças, sendo que na taça da coluna
direita havia um Sol místico169 em alto relevo, dentro desta havia cachos de uvas de bronzes; no
capitel esquerdo havia gravado em alto relevo a Lua mística, dentro desta havia maçãs de bronzes.
Nos pés das taças que eram os capitéis havia serpentes najas, que davam três voltas e meia em
torno dos pés das taças, de forma que as cabeças se destacavam em posição frontal e se elevavam
acima dos capitéis; ambas serpentes eram de bronzes. Havia acima do portal e incrustado na
parede um grande triângulo de bronze no qual se destacava em alto relevo uma cruz trifólia170 de
hastes iguais; nos doze semicírculos havia as doze letras elementais da Cabala; 171 na extremidade
da haste vertical superior havia um triângulo positivo com a letra Iod (‫ )י‬ao centro, embaixo havia a
cabeça entre asas de um leão. Na haste direita horizontal, havia um triângulo negativo com a letra
He (‫ )ה‬ao centro, ao lado uma cabeça humana entre asas. Na haste oposta, um círculo com um
quadrado dentro, no centro deste uma segunda He, ao lado uma cabeça de touro entre asas. Na
haste vertical da base da cruz, havia uma estrela de seis raios com a letra Vau (‫ )ו‬ao centro, acima
uma cabeça de águia entre asas. No eixo da cruz, havia uma letra Schim (‫ )ש‬no centro de um círculo
formado por um dragão que devorava a própria cauda. Todas as letras inseridas nos semicírculos
eram constituídas de pedras semipreciosas que correspondiam as doze pedras dos signos do
zodíaco como relatada no Apocalipse 21:19 e 20. A letra Schim no centro era de pedra carbúnculo

167
Os 32 Caminhos da Sabedoria. A síntese do 32 (3+2 =6) conduz ao Mercavah, pois isso é extraordinário,
já que 32 é constituido pelos valores cabalísticos das letras hebraicas Lamed (Arcano 12, do Enforcado, o do
Sacrificio do Cristo na Cruz) e da Beth (Arcano 2, o da Sacerdotisa, da Sabedoria e da Gnosis), ambas as
letras formam a palavra LEV, cuja tradução é coração. Pois, no chacra, centro eletromagnético, cardíaco há
um Mercavah ou dois triângulos entrelaçados em forma de Estrela; no Centro do coração há um Templo, onde
reside o Átomo Nous ou Crístico, o Átomo Budhico, o da Sabedoria.
168
Nome cabalístico que significa o Salvador, nesse caso do Microcósmo, sendo que o próprio pentagrama
representa o Microcósmo que será estudado profundamente adiante. Essas 5 letras compõem o nome Jesus em
hebraico.
169
Sol com rosto.
170
Cruz dos quatro elementos cuja extremidades terminam em três semi-círculos, estes representam os 12
Eões ou signos do zodiáco.
171
As 12 letras arquétipicas do alfabeto sagrado dos hebreus: Hê, Áries; Vau, Touro; Zain, Gêmios; Heth,
Câncer ou Escaravelho Sagrado; Teth, Leão; Iod, Virgem; Lamed; Libra; Nun, Escorpião; Samech, Sagitário;
Ayin, Capricórnio; Tzade, Aquário; Coph, Peixes.
vermelho, a perda incrustada no bronze no formato de dragão mordendo a cauda era uma jade
verde.
Sobre a grande câmara cúbica (9 metro de altura e 90 metro de comprimento e 90 de
largura) que sustenta o edifício cilíndrico, havia os quatros seres viventes: No ângulo frontal direito
havia o leão alado; no esquerdo o homem alado; na parte de trás havia no ângulo direito a grande
águia e no esquerdo o touro alado; todos seres eram de bronze. Uma escada de nove degraus dava
acesso à entrada entre as duas colunas. Havia um pequeno muro adornado com jardins suspensos
que fechava o pátio de 12 metros quadrados e que servia também de corrimão. O piso do pátio era
de mármores negros e brancos. Todas as paredes externas da base do edifício eram adornadas
com relevos de figuras místicas como esfinges, centauros, ninfas, elfos, silfos, fadas, gnomos,
faunos. A pirâmide sobre o edifício cilíndrico tinha em alto relevo olhos abertos nos quatros lados.
Antares, que não podia penetrar no Templo de Mistérios Maiores, devido ter perdido suas
iniciações, acompanhou Diana, sua irmã, até o interior do Templo de Mistérios Menores para assistir
a Missa Gnóstica oficiada ali para membros de primeiros e segundos graus, ou seja, os graus de
Aprendiz e Companheiro. A grande câmara cúbica era dividida internamente por quatro menores
câmeras que eram as câmeras da Filosofia, da Ciência, da Arte e da Religião. Uma escada dava
acesso para o Templo que era subterrâneo, este Templo de Mistérios Menores era no formato
hexagonal adornado com belas obras esculturais de bronze e belos quadros místicos relacionados
com os ensinamentos dos Mistérios Menores. Antares e sua irmã Diana receberam ali a unção
gnostica.
Antares e Diana passeavam pelo magnífico Templo, ele explicava cada arte que ali havia e
todo o simbolismo do Templo de Mistérios Menores, logo deixaram o interior. Já do lado de fora
Diana maravilhada perguntou a seu Mestre e irmão:
“Mestre Antares qual o simbolismo deste Templo?”.
“Este Templo possui quatro partes: A Pirâmide que encima o edifício cilíndrico representa a
consciência desperta nos quatro planos inferiores 172, veja que ela possui quatro olhos de Horus nos
quatro lados. Internamente esta Pirâmide possui três repartições; a primeira que se encontra na
base é a câmara da meditação dos Aprendizes, a segunda que se encontra logo acima é a câmara
de meditação dos Companheiros e a ultima é a do Mestre; este recebe a energia cósmica que
penetra pelo pináculo diamantino da Pirâmide e repassa aos Companheiros e aos Aprendizes.
O edifício cilíndrico representa a Alma do Mundo, possui setenta e duas janelas que
simbolizam os setenta e dois gênios da Cabala que regem os trezentos e sessenta graus da Esfera
dialética. Possui nove andares, estes representam as nove iniciações que o Adepto deve passar
para entrar na Pirâmide que também representa o EU SOU, o Cristo Íntimo, as nove dimensões da
Árvore da Vida cabalística. Em cada andar há um cubo dividido em quatro câmaras, estas
representam as câmaras da Filosofia, da Ciência, da Arte e da Religião nos nove planos, ou seja, à
medida que o iniciado escala cada andar compreende com um grau mais elevado de consciência a
Gnoses que é representada pela: Filosofia, Ciência, Arte e Religião. Trinta e seis é a metade de
setenta e dois e sintetizado cabalisticamente se reduz em nove, o número da iniciação e do iniciado.
A união do cubo e do circulo do cilindro, formam a quadratura do circulo nos nove planos. O edifício
cúbico que sustenta o edifício cilíndrico também se divide em quatro partes como você mesmo já viu
quando ali esteve; é a antecâmara que fica entre os mundos superiores representados pelo edifício
cilíndrico e os mundos inferiores representados pelo Templo subterrâneo, aonde o iniciado desce
para receber as iniciações de Mistérios Menores, representa o mundo físico chamado na Cabala de
Malkuth, por isso há sobre este edifício cúbico as quatro esculturas dos seres viventes do

172
Mundos Físicos, Etérico, Astral e Mental.
Apocalipse que representam as almas dos quatro elementos de onde sai o mundo físico e também a
alma dos quatro corpos inferiores que também são representados pelas quatro câmaras do edifício
cúbico; as duas colunas à direita e à esquerda simbolizam os dois Serafins 173 que se encontram à
direita e à esquerda da espinha dorsal, ou seja, os dois canais por onde flui o Fogo Serpentino,
chama-se Jakim, a coluna direita; e Boaz a coluna esquerda. A taça do Sol sobre a coluna Jakim
com as uvas representa o vaso hermético do homem, os cachos de uvas simbolizam o fruto da
Árvore da Vida, o sêmen onde reside o Átomo do Logos ou Cristico pelos quais se edificam a Nova
Jerusalém de Ouro, ou seja, os Corpos Solares do Super Homem, o Homem-Cristo; a taça da Lua
sobre a coluna Boaz contendo as maçãs simboliza o vaso hermético feminino, as maçãs, o fruto
proibido, representam o fruto da Árvore do Conhecimento do bem e do mal, ou seja, o Fogo Sexual.
O triângulo de bronze entre as duas colunas representa o Fogo Sagrado do Espírito Santo que
regenera a Alma. A cruz com todo seu simbolismo ao centro, simboliza o Grande Arcano da Magia,
ou seja, a Magia e a Alquimia Sexual sem o qual é impossível penetrar no Templo da Iniciação. As
trinta duas janelas do edifício cúbico simbolizam as trinta e duas vias da Sabedoria por onde o
iniciado percorrerá para alcançar o EU SOU que reside na última câmara da Pirâmide, ou seja, onde
encontra o Mestre Interno. Mas, antes ele deve descer as nove esferas infernais para encontrar seu
Lúcifer Intimo que reside na nona esfera da Árvore do Conhecimento do bem e dom, a esfera de
Netuno. No interior do Templo subterrâneo de Mistérios Menores há uma passagem secreta que dá
acesso as nove esferas subterrâneas”, Diana interrompeu Antares e perguntou: “Não entendo como
isso pode ser feito sem nenhuma tecnologia, poderia me explicar?”.
“Há mistérios que não podemos compreender, pois aqui na quarta dimensão há seres
gigantes do reino elemental, seres que conhecem a arte de esculpir na rocha, seres que conhecem
toda a arte de trabalhar com metais, como os gnomos, e de executar a arquitetura; foram esses
seres que trabalharam na construção deste magnífico Templo em sua totalidade. As nove câmaras
subterrâneas foram esculpidas em uma grande rocha pelos elementais Ciclopes. Foram estes
mesmos gigantes em épocas remotas que edificaram a grande Pirâmide Kéops e a grande Esfinge
dos egípcios”, respondeu Antares.
“Nossa! Todos os Mistérios Maçônicos se encontram sintetizados neste Templo?”,
perguntou mais uma vez Diana.
“Sim. O Templo de Mistérios Maiores, por exemplo, é um cubo desdobrado em cruz, é o
símbolo da Pedra Filosofal. A Pedra Filosofal, que é o sêmen transmutado em uma quinta-essência,
somente pode ser adquirida pelo Mestre que despertou o Fogo Sagrado, o Kundalini, e o conduziu
pelas trinta e três câmaras secretas da espinha dorsal, ou seja, pelas trinta e três vértebras. O Grau
de Mestre se adquiri quando o sêmen é transmutado numa quinta-essência, neste ponto o Cordeiro
de Deus que é o Fogo Sagrado ou Kundalini que tira o pecado do mundo microcosmico, isto é, que
limpa os corpos internos com o aniquilamento dos Eons, desperta e sobe pela coluna vertebral
abrindo os sete selos do Apocalipse, ou seja, colocando em atividade os sete chacras. É este Fogo
que dissolve o pecado na alma, ou seja, que destrói o produto do contramovimento das forças

173
Dragões ou Serpentes de Fogo; representam as duas polaridades da Alma humana: Adão, a Alma racional,
e Eva a alma emocional; o Animus e a Anima da psicologia junguiana. No homem caído estas duas Forças
estão desequilibradas e são chamadas no Apocalipse 11 de Duas Testemunhas que são ressuscitadas no
homem e mulher quanto ocorre a simetria sexual já foi que foi o desequilíbrio do fogo sexual que „matou‟ as
duas Testemunhas; quanto os dois Fogos Jakim e Boaz (Adão e Eva) se unificam novamente pela Magia
Sexual onde ocorre a simetria sexual, então as duas polaridades da Alma humana forma o Andrógino ou
Elohim humano, então a energia sexual que até então foi utilizada para formar o reino psicológico do
Anticristo em nós, passa ao co-movimento criador levando ao homem ao estado psicológico equilibrado e a
construir seus corpos internos solares ou espirituais, ou seja, a Árvore da Vida Microssísmica.
criadoras. Os pecados residem no corpo de desejo ou emocional (astral) e no corpo mental, são
entidades denominadas pela Maçonaria e Gnoses de eus-diabos infra-atômicos, são arquétipos do
bem e do mal evocados pela má vontade, modelados pela má mente e revestido de matéria do
desejo, são estes os demônios internos que residem no corpo emocional e mental e que atormentam
a alma, são o conteúdo do inconsciente, os Eons que o Kundalini, a Mãe Divina, deve dissolver de
nossa Alma emocional e racional. Por isso que só os Mestres penetram no Templo de Mistérios
Maiores, ou seja, somente aqueles que possuem o Fogo Sagrado despertado”, explicou Antares.
“Na Cabala se fala de 231 portões, o que seria exatamente estes portões?”, perguntou
Diana ao Mestre franco-maçom caído.
“O Fogo Sagrado ascende pelas trinta e três vértebras da espinha dorsal dos sete corpos
que o Espírito possui, cada corpo destes pertence a uma das esferas da Árvore sefirótica da Cabala
e em seu conjunto somado ao Triângulo do Logos Intimo que corresponde as esferas de Binah,
Chochimah e Keter, formam a Árvore da Vida Microcosmica. Multiplicando 33x7 dá 231, ou seja, os
portões das 231 câmaras localizadas na espinha dorsal dos sete corpos”, respondeu Antares.
“E quais são estes corpos?”, perguntou a inquieta Diana.
“São os três superiores: o do Espírito chamado na Teosofia de átmico; o do Cristo Íntimo
onde reside a Consciência e a Sabedoria chamado na Teosofia de Budhico; o do Espírito humano,
Manas Superior, o Pensador no mundo causal ou abstrato, que é o Mental abstrato a sede da
Inteligência do Espírito; o Manas inferior, o Pensador no mundo concreto, o corpo mental inferior a
sede do Espírito racional; o corpo astral sede do desejo e morada do principio feminino do Espírito
racional, ou seja, o Espírito emocional; o corpo vital ou etérico, o físico superior, sede da força vital;
e por fim, o corpo físico denso, sede do Espírito natural, cujo principio é o da paixão e do Instinto. O
Espírito natural se reveste do corpo físico e vital, a alma é a energia deste Espírito que anima o
corpo”, respondeu Antares.
“Então pelo que eu compreendi o Mestre nasce com o desperta do Fogo Serpentino e
cresce com o ascenso do Fogo pelas 231 vértebras dos sete corpos?”, perguntou mais uma vez
Diana.
“Sim. Quando seu Fogo Sagrado penetra a última câmara do corpo do Espírito, o sétimo, ele
se torna um Mestre de Sabedoria, neste estado de iniciação pode encarnar sua tríade superior
logóica e se tornar um Cristo, um Salvador do Mundo, assim, no próximo Dia Cósmico ele será um
Criador de Mundos, um Elohim”, respondeu.
O dialogo esotérico entre Antares e Diana foi interrompido por Medéia que os chamou para
se retirarem da quarta dimensão. Na saída Perséfone ficou surpreendida em ver o Mestre caído
junto com Medéia e a irmã Diana, os três penetraram no Mercavah de luz que os conduziu para a
terceira dimensão. Antares havia colocado a irmã na quarta dimensão pela primeira vez.
“Não compreendo o porquê deste grande Mestre ter jogado sua Pedra Filosofal na água!”,
exclamou Perséfone admirando profundamente a sabedoria de Antares.
“Sete vezes cai o justo e sê o é outras sete vezes se levantará”, disse Regulus. Depois disso
os quatros partiram para a terceira dimensão da Natureza.

‫ש‬

Antares e Medéia desceram a montanha e foram ter com Samanta, o sol já havia se posto e
Samanta estava à beira de uma fogueira quando avistou a aproximação da irmã e do amigo que ela
amava. Samanta percebeu que ambos estavam carregando suas bagagens, então, sentiu um aperto
no coração, também percebeu que Antares estava completamente rejuvesnescido, isso só fez com
que seu amor crescesse ainda mais. Sim, Antares sua grande paixão ia partir e junto levaria sua irmã
Medéia.
“Minha irmã, que tanto amo, viemos nos despedi, partiremos amanhã cedo para Marcelha,
pois vou passar o resto de minha gestação junta à família de Antares”, disse Medéia, à medida que
dava um forte abraço na irmã mais nova, ambas deixaram rolar delicadas lágrimas dos olhos negros.
Também Antares deu-lhe um forte abraço na discípula e disse: “Isso que sente por mim é paixão não
amor, por isso logo passará”, disse isso com o intuito de confortá-la.
Depois de passarem um longo tempo com Samanta, ambos seguiram para o Castelo onde
passariam à noite. Medéia pediu para que a irmã retorna-se para o rancho e cuidasse de seus animais
e de suas coisas, esta prometera que faria isso no dia seguinte. Quando o casal abandou a cabana de
Samanta, esta chorou muito, porque sua paixão era devastadora. O amor que ela sentia pelo Mago
Antares a salvou da magia negra.
Chegando no castelo Agnes os recebeu com alegria no coração e hospedou o casal naquela
noite. Antares pediu a Agnes que cuidasse de Samanta e de Irene e que aceitasse Samanta na
Fraternidade do Leão Vermelho, onde estaria protegida das influências da Ordem do Graal Negro.
Agnes prometera que faria de tudo pelas antigas discípulas do ex-Grão Mestre da Franco-Maçonaria,
pois tinha com este uma imensurável divida.
“Agnes, tenho uma última coisa para te falar, sua amiga Elisabeth está encarnada novamente
e ela é aquela que vocês conhecem pelo nome de Jade, a filha de Lung Nu e discípula de Miao Sham,
minha velha amiga”, disse Antares.
“Meu Deus! Jade é a reencarnação de Elisabeth!”, exclamou com grande entusiasmo na alma.
Na manhã seguinte, Antares, Medéia, Heloísa e Regulus se despediram dos amigos e
partiram. Antares e Medéia partiram para Marselha, onde Antares passaria para se despedi de sua
anciã mãe e de suas três irmãs. Regulus e Heloísa seguiram direto para Paris para se encontrarem
com Jade e se despedirem; Antares e Medéia encontraria os amigos em Paris e de lá partiriam juntos
para a América do Norte, para a conturbada cidade de Nova York.
Heloísa permaneceu em seu quarto e de lá não saiu até que Antares fosse embora. Depois de
uma semana partiu para Paris com Regulus e de lá foram para Nova York.

Antares e Medéia chegaram na mansão dos De Le Puy‟s já no cair da noite, sua velha mãe e
suas três irmãs juntamente com os dois cunhados, pois a mais nova ainda era solteira, receberam o
filho pródigo com muita alegria em seus corações e ficaram surpreendidas com sua aparência nova. A
mãe de Antares e suas irmãs ficaram muito felizes em saber que a sábia Medéia trazia em seu ventre
um filho de Antares. Pois elas sempre reprovaram a união dele com Ofélia, pois elas sabiam que
aquela mulher traria a desgraça à família franco-maçônica. As irmãs de Antares lhe disseram que o pai
de Perséfone havia deserdado a filha, devido o fato desta te se casado com Pedro. Antares
respondeu: “Que pena, Pedro é um grande Mestre e agora será o Grão-Mestre da Fraternidade do
Leão Vermelho, seu pai deveria ficar feliz em ver a filha casada com um homem tão integro e virtuoso
como Pedro; o preconceito de classe social é uma desgraça e trás muita dor e sofrimento”, disse
Antares.
“Você conhece o esposo de Perséfone, meu irmão?”, Perguntou Diana, a irmã mais nova de
Antares.
“Conheço, é um excelente jovem do Raio da Arte”.
Depois de longo tempo dialogando, Antares e Medéia se retiraram para seus aposentos.
“Medéia, desde que minha ex-esposa faleceu este quarto ficou trancado, agora ele lhe
pertence, este é um quarto sagrado e nele há muito poder, já que era aqui que nós realizávamos o
Grande Arcano da Magia”, disse Antares, logo se dirigiu para outro quarto no mesmo corredor.
Medéia estava com três meses de gestação e estava muito feliz, porém percebia que havia
uma tristeza na alma de Antares.
No dia seguinte, pela manhã, a mãe de Antares, que era uma iniciada, disse para Medéia:
“Você deve permanecer aqui conosco minha filha, pois carrega em seu ventre uma criança,
você sabe, assim como eu, que Antares é um homem perseguido e jurado de morte por uma
sociedade secreta negra que o tem como grande inimigo, você também correrá risco de vida se partir
com ele”, disse a mãe de Antares preocupada.
“Eu sei bondosa senhora, e sei também que ele não nutre por mim o mesmo amor que tenho
por ele, parece que meu destino com ele é apenas de lhe dá este filho que carrego no ventre”.
“De fato Antares é como o pai, determinado em realizar seus propósitos esotéricos, por isso
está contigo, porém difere do pai em relação à administração dos negócios da família, nunca se
importou com os negócios e pouco valor dá para o dinheiro, por isso desperdiçou sua herança com
aquela mulher que lhe levou a ruína espiritual e material”, disse amargurada e triste a senhora Latona
que não compreendia como o filho tão sábio deixou se levar por encantos tão fatais.
Antares permaneceu com a família até que a criança nascesse, Medéia deu a luz a uma linda
menina e a chamou de Minerva, porque trazia dentro de si a sabedoria, a verdade e a justiça.
Quando Minerva completou três meses Medéia teve um dialogo com Antares:
“Antares sei que teu amor para comigo é de um irmão, porém o amor que sinto por ti é de uma
mulher pelo seu amante, não suporto vê-lo mais sofrer, te amo demais para suportar teu sofrimento;
sei que amas Heloísa e sei também que sacrificou este amor por minha causa; meu amor não pode
ser a causa desta tua escravidão, meu amor é libertador, siga teu destino. Eu retornarei para meu lar
com nossa filha, não quero criá-la dentro do conforto que sua família vive. Estou feliz por tua felicidade
meu amigo”.
“Obrigado por tudo que fez por mim, cuide bem de nossa Minerva, seguirei meu destino
incerto e duvidoso. Irei à Paris levar Diana, pois ela resolveu residir por lá, de lá decidirei meu destino”,
disse isso, depois deu um beijo na filha e se retirou.
Em uma tarde de sábado, antes de partir à Paris, ele levou Medéia num quarto secreto onde
ele escrevia suas obras e onde ele guardava seus livros esotéricos e seus objetos, como talismã e
pentagramas, que utilizava em rituais secretos de alta magia, e disse:
“Todo meu saber se encontra nestes manuscritos, agora são seus e serão de nossa filha,
quero que instrua nossa filha nos mistérios que estão contidos nestes manuscritos”, disse Antares
mostrando para Medéia muitas obras que escrevera durante sua vida, também entregou um envelope
selado para que Medéia guardasse. Este quarto ficava no subsolo da mansão, onde também havia um
pequeno templo onde a família De Le Puy realizava seus rituais mágicos.
Antares pediu à mãe que lhe desse uma certa quantia de dinheiro para o custo da viagem, no
dia seguinte despediu de toda família e partiu para Paris junto com a irmã Diana. Medéia retornou com
a filha à cidade Languedoc para os Álpis.

Antares e a irmã encontraram com aquela que havia sido sua esposa na vida passada, ou
seja, com Jade; Antares entregou para Jade um baú mediano contendo todos os utensílios utilizados
por sua ex-esposa Elisabeth na magia gnóstica, também lhe entregou o diário de Elisabeth e seus
livros maçônicos. Jade reconheceu os objetos e agradeceu muito pelo gesto de Antares. Este solicitou
que Jade residisse em seu apartamento para fazer companhia à irmã Diana, ela aceitou o pedido com
gosto.
“Recebi uma correspondência dos U.S.A. na qual informa que meu pai Regulus faleceu há
dois dias atrás vitima de várias doenças que se manifestaram quase ao mesmo tempo, suas
enfermidades vinham molestando-o há dois meses, como informa a carta enviada por Heloísa que
muito sofre a perda do amigo”, disse triste a jovem Jade, “pobre Mestre levou sobre sua carne todos
os sofrimentos de seus discípulos como é comum a qualquer Mestre que de fato se sacrifica pela
humanidade doente”.
“Que fatalidade com o Mestre Regulus, na última vez que falamos por telefone ele estava tão
feliz pelo trabalho que vinha realizando em Nova York”, disse demonstrando tristeza no semblante.
“Heloísa e alguns de seus discípulos que seguiam seus ensinamentos já enviaram o corpo
para ser incinerado, pois antes de falecer deu todas as coordenadas à Heloísa”, disse Jade.
“E Heloísa retornará a Leon?”, perguntou demonstrando preocupação pela amada.
“Acho que não, parece que retornará ao México ou permanecerá por lá mesmo. Esta sofrendo
muito com a perda do seu melhor amigo”, respondeu Jade.
“Ela de fato o amava muito, tentou esquecer este amor despertando sentimentos por mim,
mas na verdade sempre amou seu antigo amante, agora estou novamente solitário e com o coração
partido, parece que não nasci para o amor”, pensava secretamente Antares.
“Por que você não vai ao E.U.A. encontrar com Heloísa para saber como as coisas andam por
lá?”, perguntou Jade.
“Não dá, estou partindo para o México onde me encontrarei com alguns francos-maçons
rebeldes para juntos formarmos um grupo por lá”, disse Antares.
De fato Antares estava se correspondendo secretamente com alguns rebeldes francos-
maçons.
Jade sabia que Heloísa amava Antares e este Heloísa, por isso tentava convencer Antares de
passar antes E.U.A. para confortar a amiga.
“Posso dá uma olhada na correspondência?”, pediu Antares.
“Claro”, Jade retirou da bolsa e mostrou para Antares.
“Estranho à letra está tremula, parece que foi escrita com pressa”, disse Antares.
“Percebi isso, achei muito estranho também, mas é realmente a letra de Heloísa, pois recebi
outras correspondências anteriores e sei que se trata da mesma letra. Suas cartas são detalhadas,
porém esta foi fria e objetiva”, disse Jade.
“Pensando melhor acho que vou dar uma passada em Nova York para averiguar como anda
as coisas por lá”, disse Antares.
“Será bom, mantenha-me informada de tudo”, disse Jade.
Dois dias depois Antares partiu à Nova York.
CAPITULO ‫ר‬
O Jugamento

Pedro e Perséfone estavam no Brasil e estavam residindo na cidade de São Paulo. Lá


encontraram com alguns seguidores do eminente Mestre maçom Dr. Jorge Adoum, pertencente ao
Colégio dos Magos da antiga Caldéia, que havia falecido nos anos quarenta, este eminente Mestre
deixou um legado enorme em obras iniciáticas à posteridade da Era de Aquário. Perséfone, a cabalista
de Leon Rojo, e seu jovem esposo artista travaram amizade com alguns iniciados da Escola de Jorge
Adoum e, juntos, fundaram um grupo de estudos de Cabala. O objetivo era divulgar a Cabala da
Escola do Leão Vermelho, a Cabala do Fio da Navalha. Era um grupo seleto, cujo objetivo era estudar
a Metafísica do Sexo dentro da ótica cabalística. Estes estudos tão cobiçados pelas castas do pesou-
esoterismo eram utilizados como iscas para pescar iniciados de outras escolas que estavam
insatisfeitos com suas Ordens. A Escola do Leão Vermelho não tinha a missão de tornar público o
esoterismo prático e teórico da Ciência Secreta. O objetivo da Fraternidade do Leão Vermelho era
encontrar Anjos caídos e entrega-lhes o conhecimento regenerador, da Franco-Maçonaria Universal e
revolucionaria que nada tinha em comum com a Maçonaria prostituída que estava a serviço do Estado
e se encontrava presa ás Instituições reacionárias e envolvida com a política de diversos países
prestando culto ao deus Capital. A Escola do Leão Vermelho denunciava através de seus elevados
ensinamentos todo o sistema esotérico do Governo do Anticristo que governa a geração maldita de
Caim, cujas hierarquias são constituídas pelos Anjos caídos do Período Lunar que despertaram no mal
e para o mal, este é o Governo oculto deste mundo dialético que nossos irmãos gnósticos da Rosa
Cruz Áurea denunciam em seus escritos. Os Anjos rebeldes, os filhos da Viúva, filhos de Isis, nossa
Divina Mãe, são aqueles que não despertaram no mal, são aqueles que negaram suas maestrias e
vivem no mundo como pessoas simples e normais como as outras, porém se diferenciam dos filhos da
Natureza, porque buscam a pátria perdida e na maioria das vezes inconscientemente; são aqueles
que possuem inquietudes espirituais, que buscam a Gnoses ou esoterismo de qualquer forma, era
estes que a Escola do Leão Vermelho estava a procurar, como uma mãe que busca um filho perdido.
Em mil novecentos e cinquenta ocorreu o Grande Julgamento. Samael, o Anjo do Juízo Final,
prendeu o rei dos demônios, Javé,174 e converteu para o Caminho Cristico o Príncipe dos demônios
conhecido como Belzebuh. Neste período Samael tirou muitos Anjos caídos que se encontravam no
abismo infra-atômico da Natureza. Samael, o regente de Marte e embaixador de Lúcifer, também
estava caído e se ergueu por estes tempos, por isso retirou do abismo muitos de seus discípulos;
também diversos demônios foram soltos para reencarnar, assim teriam uma ultima oportunidade de
arrependimento, devido a isso o mundo se encheu de trevas, estes são os „gafanhotos‟ que saíram do
fumo que se elevou do poço do abismo, inferno, na ocasião do som da quinta trombeta tocada por
Samael, o quinto Anjo do Apocalipse. Com esta grande façanha deste poderoso Arcanjo, as
hierarquias divinas lhe conferiram a missão de Mensageiro da Era de Aquário, este Grande Mestre
divulgou ao mundo o Grande Arcano da Magia pelo qual a humanidade doente poderia se regenerar,
porém devido este fato as Ordens esotéricas que servem o poder econômico, o Anticristo, o perseguiu,
também seus discípulos e as Escolas espirituais que estavam ao seu lado.

Perséfone e o Mestre Aldebaram passaram a sofrer perseguições e ameaças por parte de


muitas escolas esotéricas que viam neles uma grande ameaça, pois muitos de seus lideres estavam
aderindo ao chamado da Escola libertadora da Fraternidade do Leão Vermelho. O Mestre Aldebaram e
174
Não confundi Jeová com Javé, como afirma Saturnino de Antioquia, um dos pais da Igreja primitiva, Javé
é arquidemônio, foi no passado remoto da Lemuria um grande Anjo, porém caiu na Magia Negra.
a cabalista Perséfone se refugiaram numa pequena cidade do nordeste brasileiro e dali dirigiam as
atividades da Escola que agia clandestinamente devido sua situação revolucionária. Como Perséfone
e o esposo eram de espíritos livres e rebeldes, não demorou muito para se engajarem em num
trabalho social visando o beneficio daquele povo sofrido e ignorante daquela região atrasada do
nordeste brasileiro; ambos passaram, então, a realizar uma obra social na qual agiriam com muita
cautela e discrição para introduzirem certos princípios gnósticos que trariam alguns benefícios ao povo
daquela região. Pedro e Perséfone montaram uma escola de artes e de alfabetização de jovens e
adultos juntamente com duas professoras que seguiam a linha da Pedagogia libertadora, estas
professoras eram duas freiras franciscanas adeptas da Teologia da Libertação.

‫ש‬

Um ano antes de Antares chegar em Nova York.

Antares havia dado à Heloísa alguns livros de sua própria autoria, e entre estes livros havia
um cujo título era: „A Paidéia Gnóstica‟. Com a leitura deste livro, Heloísa compreendia o motivo pelo
qual Antares era odiado pelos seus inimigos. Ela agora conhecia algo do pensamento político
revolucionário do Mestre caído. Neste livro ele apresentava uma proposta de um novo sistema político-
econômico baseado na igualdade dos povos, na fraternidade e na liberdade dos mesmos; também
criticava severamente os iluministas franceses por terem profanado estes três lemas da Franco-
Maçonaria Universal e por terem utilizado equivocadamente na Revolução francesa. Ele afirmava que
somente um homem de consciência livre poderia praticar a igualdade e a fraternidade, porém este
novo sistema político e econômico somente estaria para o novo homem como o absoluto só está para
o homem absoluto, o homem de consciência desperta, o homem que dissolveu de sua consciência os
falsos valores como: a cobiça que faz do homem um explorador de seu próximo; o orgulho que gera o
amor próprio e com isso os preconceitos de todos a espécies; a cólera que coloca os homens em
guerra; o egoísmo que gera a disputa e, com isso, a fraude, a desonestidade com o semelhante, o
individualismo que não pensa no bem estar do próximo e desune os homens; a inveja, esta velha
depravada e mentirosa que gera desavenças, separações, calunias, assassinatos e muito mais; a
inércia que faz do homem um ser improdutivo e passivo diante de sua própria exploração; a luxuria
que faz do homem uma besta passional, neurótica, mórbida e sádica; a gula que cria no sujeito hábitos
alimentares que conduz à enfermidade do corpo e entorpece a mente etc. Denunciava que o sistema
capitalista exaltava todos esses valores e que o homem da sociedade de consumo tem seu caráter
modelado dentro destes falsos valores e que para o sistema capitalista quando mais corrompido seja o
caráter da sociedade mais eles ganham economicamente, porque atrás de todos estes vícios da alma
se encontram as industrias que sempre criam necessidades de consumo supérfluas para aumentarem
seu capital; todos estes falsos valores alimentavam diversos ramos da industria como, por exemplo, a
industria pornográfica, industria farmacêutica, cinematográfica, de cosméticos e modas e outras.
Denunciava que o sistema capitalista além de degradar o caráter do ser humano também deixava a
humanidade em sua grande maioria em estado de miséria absoluta, por isso ele não servia como
modelo político e econômico para a humanidade. Também afirmava que todas as instituições estão a
serviço do Capital, inclusive a própria Franco-Maçonaria e diversas outras Ordens de renome.
Propunham a dissolução do sistema capitalista através de um modelo de educação capaz de crear o
novo homem, o homem integral, homem de consciência desperta e de valores nobres e humanitários,
pois o homem de caráter mercantilizado é desumano; o papel da educação libertadora com base em
princípios elevados da Gnoses Universal é de humanizar o homem, unir o homem novamente com sua
Espírito humano. Com este modelo de educação os nobres valores da alma e do espírito seriam
realizados dentro do próprio homem, desta forma o homem despertaria por si mesmo o seu verdadeiro
Ser onde se encontra todos os valores nobres e sua maestria; despertaria sua real consciência, a
consciência dotada de iluminação filosófica no real sentido; sua consciência seria forjada de dentro
para fora e não de fora para dentro. A consciência do novo homem seria determinada pelo seu próprio
Ser e não determinada pela ideologia do sistema capitalista. Antares afirmava que para se estabelecer
a Ordem, a Verdade e a Justiça do novo reino era necessário dissolver as instituições capitalistas, a
religião e todos aparelhos ideológicos que mantém a consciência do homem alienada em falsos
valores, mas isso não se daria por uma revolução armada, mas por uma revolução da consciência
com base na educação libertadora, desta forma o comunismo real seria realizado na terra.

Já fazia três dias que o Mestre Regulus se encontrava em estado de meditação, pois ele se
preparava à missão que teria inicio com uma conferencia. Os E.U.A. estava agitado politicamente,
havia realizado uma intervenção no Vietnã que levaria à guerra. A população americana estava
realizando fortes protestos contra esta intervenção, este era o reflexo da Guerra Fria e das
conspirações de algumas Ordens ocultas que controlavam o poder político e econômico do mundo.
Havia um grande número de jovens visionários que estavam sendo afetados pela onde elétrica-
magnética dionisíaca emanada de Urano regente da Nova Era de Aquário que havia acabado de
entrar. Muitos destes jovens estavam afetados pela onda mística dionisíaca e pregavam a paz e o
amor livre, como protesto. O objetivo de Regulus era direcionar estas pessoas para o caminho da
revolução sexual e da consciência para que estes não caíssem no pólo negativo da onda de Urano
que levaria para a rebeldia sem causa e a um falso conceito de liberdade sexual.
Regulus estava na sala lendo o jornal do dia, quando Heloísa saiu de seu quarto para dialogar
com Regulus.
“Estou lendo o livro sobre a Paidéia Gnóstica, muito interessante, mas uma coisa me intriga,
como esta educação libertadora seria implantada?”, perguntou Heloísa.
“Este modelo de educação cujo objetivo é formar o homem integral, o homem consciente, teria
que se implantada primeiramente nas escolas pré-primarias e primarias, por quê? Porque a criança
cuja personalidade está em formação até os sete anos, não se encontra ainda com seu caráter
corrompido ideologicamente, isso facilita a implantação deste modelo revolucionário de educação, esta
acompanharia todo desenvolvimento desta criança até a idade adulta. Nada seria introduzido na
criança e no jovem, ela seria conduzida a seu autoconhecimento, despertaria aos poucos seus graus
de consciência onde a sabedoria particular de cada um se encontra em estado de latência, desta
forma a sabedoria despertaria e se manifestaria de dentro para fora. Desenvolveria-se uma geração
de sábios, de homens despertos de diferentes Raios, assim, teríamos uma geração de mestres de
diferentes saberes, já que cada um trás sua própria sabedoria, sua maestria. Teríamos uma geração
de pessoas humanizadas e de mestres de todas as espécies: da ciência, da medicina, da filosofia, da
arte, e outros; desta forma uma nova consciência se manifestaria no planeta e o desenvolvimento em
geral se faria por si só. A ciência alcançaria graus muito elevados, com isso, a industria operaria com
uma tecnologia fabulosa com o objetivo de libertar o homem da alienação do trabalho e de apenas
suprir as necessidades existenciais da humanidade, a riqueza sem cobiça seria distribuída igualmente
aos homens. O homem produziria cultura e com isso realizaria sua própria história pela qual seu
Espírito se interiorizaria.
Este novo homem nasceria dentro do próprio sistema capitalista e o dissolveria ao poucos, à
medida que as novas consciências interviriam na máquina capitalista, uma vez que não poderíamos
dissolvê-los radicalmente, pois isso geraria o caos. O capitalismo trás o germe de sua própria
destruição, como afirma Marx, os filhos da „Paidéia Gnóstica‟ seriam esta negação. Este processo
levaria muitos anos, não é algo feito do dia para a noite. Moisés retirou o povo do Egito e permaneceu
por quarenta anos no deserto, até que todo o povo de caráter corrompido pelos vícios e pela ideologia
egípcia morresse, nem mesmo Moisés penetrou a terra prometida, apenas aqueles que saíram bebes
do Egito e aqueles que nasceram no deserto, estes já não possuíam a consciência caótica, mas a
nova consciência forjadas pelos preceitos dos dez mandamentos”.
“Isso é lindo, porém é utópico demais, pois seria impossível implantar esta nova Paidéia na
estrutura educacional do sistema capitalista, observe que Moisés retirou o povo do Egito e os conduziu
para o deserto onde se forjou a nova consciência baseado sem dúvida nas leis que Moisés trouxe
simbolicamente do monte, na verdade o que Moisés fez foi estabelecer com este novo código moral as
bases ideológicas que legitimariam a nação judaica como um „povo escolhido‟; esta Paidéia não
levaria ao estabelecimento de uma nova ideologia que legitimaria uma nova classe social?”,
questionou Heloísa.
“Provavelmente, porém isso só ocorreria se este modelo educacional fosse atrelado ao Estado
capitalista, tornando-se uma educação institucionalizada, desta forma sim seria utópico porque isso
seria impossível, devido o motivo do sistema jamais adotar este tipo de educação em sua instituição, e
se por alguma razão ocorresse esta atrelação, ela seria mais um dos tantos aparelhos reprodutores da
ideologia capitalista, porque teria que se adaptar as exigências do mercado, todavia esta Paidéia é de
caráter revolucionário e postula os valores humanitários que são antagônicos aos valores
mercantilistas pelos quais se modelam o ethos capitalista. O projeto de Antares é de estabelecer
escolas gnósticas não institucionalizadas, onde o sujeito receberia uma educação libertadora desde a
pré-escola até a universidade. Estas escolas estariam legalizadas do ponto de vista burocrático,
porque seriam uma escola de formação como qualquer uma outra, porém sua pedagogia seria
autônoma e libertadora, estaria voltada para a construção dos valores humanos e não como uma
aparelho reprodutor da ideologia capitalista. Como não poderia funcionar na ilegalidade, desta forma
seria uma escola que educa nos valores humanitários e instrui no domínio da técnica, por isso temos
que diferenciar educação e instrução. O que temos hoje é uma instrução pessimamente desenvolvida
nas camadas pobres e abastadas sem nenhuma educação, o rico é instruído para dominar e o pobre
para ser dominado. O homem pode ser um grande cientista, porém sem nenhum valor humano dentro
de si, ou seja, que não recebeu educação. O termo educação na Paidéia universal implica a noção de
práxis virtuosa: a virtude da medicina, do direito, da arquitetura, da agronomia etc...Um sujeito
educado e instruído só poderia voltar sua práxis à evolução da sociedade e não para seu egoísmo
nascido de um individualismo cruel e desumano”, explicou Regulas.
“Entendo. Mas, a Paidéia gnóstica à medida que vai instruindo vai educando e com isto
destruindo o velho ethos, isso conduziria um conflito com a instituição da família, visto que a criança
levaria para o seio de sua família valores que não corresponderia os valores da família, obviamente
que a concepção de religião para uma criança ou jovem educado livremente será antagônica as
concepções de seus pais, cujas consciências estão modeladas em falsos valores religiosos da velha
moralidade ressentida”, colocou Heloísa.
“Este conflito sempre haverá, não há transformação sem conflito, não a liberdade sem
conflito; o maior conflito é travado dentro de nós mesmo quando negamos o falso valor. Quando
descobrimos por nós mesmo que todas as nossas crenças filosóficas, religiosas, políticas e culturais,
não passam de falsos valores dialéticos que sustentam uma ideologia que por sua vez legitima e
mantém vivo um sistema desumano; desta forma penetramos numa angustia e sofrimento indivisível, é
deste conflito que nasce em nós a consciência do real valor que por sua vez determinará na nobre
moral175 pela qual nascem às virtudes que determinarão nossa práxis”, disse Regulus, à medida que
se retirava para seu quarto.
Heloísa se arrumou e foi dar uma volta pela noite de Nova York. À medida que caminhava
pela selva de pedra, surgia em sua mente o nome Antares, isto a levou à melancolia, então entrou em
um bar para descontrair a mente com uma cerveja. Os mexicanos não eram bem vistos pelos
americanos, por causa deste preconceito racial alguns que se encontravam no bar a olhavam com
desdém. Havia em uma das mesas duas mulheres jovens vestidas exoticamente, pareciam hippys.
Uma delas que era uma bela negra de corpo esbelto e cabelos longo encaracolados olhou para
Heloísa e sorriu amigavelmente, esta correspondeu o sorriso, então a moça loura convidou Heloísa
para sentar-se à mesa com elas.
“Oi tudo bem, sente-se. Vejo que não é daqui”, disse uma das moças.
“Sou do México, porém resido na Espanha”, respondeu Heloísa.
“Me chamo Jaqueline e esta é minha amiga Alexandra”, disse a moça negra.
“Eu me chamo Heloísa prazer”, apresentou-se pegando nas mãos das duas moças.
“Veio à nossa cidade a trabalho ou está apenas a passeio?”, perguntou Alexandra.
“A trabalho, sou psicóloga e estou trabalhando na divulgação de uma nova concepção de
Psicologia”, respondeu.
“Que bom, acabo de me formar em Filosofia e minha amiga é professora de História, como é
esta nova concepção de Psicologia?”, perguntou Jaqueline com interesse.
Heloísa expôs uma breve síntese de sua teoria, as duas moças muito interessadas em saber
mais faziam diversas perguntas, quando Heloísa se deu por conta já era de madrugada e sua
consciência estava um pouco alterada pelo álcool. As duas moças ficaram muito interessadas pelos
conceitos de sexualidade que a nova Psicologia abordava, então Heloísa informou que estava
organizando um seminário onde seu Mestre daria uma conferencia onde seria abortado a metafísica
do sexo.
Heloísa e Alexandra e Jaqueline se tornaram grandes amigas e juntas foram numa passeata
promovida pelo pastor Martin Luther King pela igualdade dos direitos Civis pelos negros. Nesta
passeata pacifica, Heloísa conheceu algumas pessoas de espíritos livres e as convidou para a
conferência de Regulus sobre a Metafísica do Sexo que se daria no dia sete de novembro de mil
novecentos e sessenta e três, alguns dias antes do assassinato do presidente Robert Kennedy em
Dallas, Texas.
A conferência aconteceu com grande sucesso, depois da primeira conferência Regulus
conferencio mais algumas que não tiveram o sucesso da primeira, porém destas conferências algumas
pessoas aderiram à proposta apresentada pelo Mestre. Algumas destas pessoas começaram a
frequentar assiduamente o apartamento do Mestre, porém através destas pessoas outras chegavam.
Então Regulus vendo que o apartamento já não suportava o número de pessoas que buscavam seus
conhecimentos, então solicitou à amiga Agnes ajuda econômica para que pudessem alugar uma casa
maior que comportasse os discípulos, esta envio sem demora e uma casa grande foi alugada em um
bairro de fácil acesso, muito de seus discípulos passaram até mesmo residirem no local.
O FBI passou a investigar a grande movimentação na casa de Regulus suspeitando que se
tratasse de uma fachada para divulgação dos ideais comunistas e passou a investigar o passado do
Mestre e suas atividades e descobriram que ele havia sido um rebelde frei franciscano na lista negra
da Opus Dei e que já havia se envolvido em atividades políticas do partido comunista espanhol. Estas
informações recolhidas pelo FBI caíram como uma bomba na vida do Mestre Regulus e ele passou a
sofrer perseguições e a prestar depoimentos exaustivos ao FBI, por fim o Mestre foi encarcerado

175
Os termos “moral ressentida e nobre, são retirados dos conceitos da filosofia de Nietsche.
sobre acusação de manter atividades políticas subversivas e de corromper a moral da juventude com
sua doutrina sobre o sexo. O passado de Heloísa também veio à tona e ela foi presa submetida à
tortura, depois foi enviada para um presídio feminino. O Mestre Regulus foi julgado e condenado como
criminoso político. O rebelde Mestre passou por muito maus tratos e desta forma sua saúde foi se
esvaindo até que não suportando mais faleceu dentro do abominável cárcere. Heloísa não havia sido
julgada e se não fosse condenada teria a chance de ser extraditada para o México, pois seu passado
político não veio à tona como o de Regulus, porque ela nunca se expôs politicamente apenas esteve
envolvida em atividades sociais promovidas pela ala progressista da Igreja. Heloísa recebia visitas
periódicas de Alexandra e Jaqueline foi quando foi informada da morte do Mestre, entrou em profunda
angustia existencial. As autoridades americanas querendo omitir a verdadeira causa da morte de
Regulus que se deu pelos maus tratos, fez Heloisa escrever uma carta afirmando que a causa foi à
enfermidade. As visitas à Heloísa foram proibidas e as amigas nunca mais a viram novamente.
CAPITULO ‫ש‬
O Andarilho

Antares desembarcou no aeroporto de Novo York às 10:30 da manhã pegou um táxi e pediu
que o motorista se dirigisse até o endereço indicado, o astuto motorista vendo que se tratava de um
francês fez o caminho mais longo, porém Antares não ligou para atitude do malandro que não parava
de falar. O carro passava lentamente pelas ruas em trânsitos insuportáveis, às pessoas trafegando
pelas calçadas como formigas sonhando sabe lá com quê; Antares observava todo este inferno pela
janela do táxi, à medida que ouvia sem muita atenção a tagarelice do motorista que contava seus
sonhos ilusórios a Antares. Por fim, o táxi parou em frente do endereço solicitado, Antares pagou e o
malandro se foi.
Alexandra ouviu o barulho da palmas e foi atender. Diante de seus olhos manifestou-se um
misterioso homem de cabelos longos, o rosto era francês e tinha uma pequena barba bem tratada,
parecia calmo e paciente, era inverno e o corpo estava coberto por um longo casaco preto e um toca
de lã sobre a cabeleira. Trazia apenas uma mochila e uma bolsa de couro. A jovem moça de principio
ficou cismada com a presença daquele homem enigmático cuja área trazia mistério e poder. Ela ficou
parada como fascinada diante de Antares, mas logo acordou e perguntou:
“Que deseja, senhor?”.
“Sou amigo de Heloísa e desejo vê-la”, a moça ficou desconcertada e abaixou a cabeça
demonstrando tristeza.
“Que se passa senhorita?”, perguntou Antares preocupado.
“Por favor, senhor queira entrar, lá dentro explicaremos tudo para o senhor”, a moça abriu o
portão e dirigiu Antares até o interior da casa onde Jaqueline e mais duas jovens se encontravam,
Antares percebeu que todos ali apresentavam tristeza.
“E Heloísa onde se encontra?”, indagou Antares já percebendo que algo ruim havia
acontecido. As amigas de Heloísa contaram toda a história, Antares foi tomado de uma profunda
angustia e seu espírito se abateu.
“Quem é o senhor? Pelo seu estado percebo que não sabia de nada disso e que tinha grande
consideração por Regulus e Heloísa”, perguntou Jaqueline.
“Perdoam-me, meu nome é Antares”, Jaqueline e Alexandra ficaram surpreendidas quando
souberam que Antares estava ali diante delas, pois Heloísa já havia falado muito deste Mestre caído
para ambas e também do amor que sentia por ele.
Jaqueline e Alexandra dirigiram Antares até o quarto de Regulus que estava fechado desde
sua prisão, então Antares pegou todos os objetos e livros que pertenceram ao Mestre e encaixotou-os
para enviá-los a filha Jade em Paris. Penetrou no quarto de Heloísa, as moças perceberam a grande
tristeza de Antares que deixava às lágrimas escorrerem pela face. O deixaram sozinho, as moças
colocaram uma triste canção de amor de Pink Floyd: „Hey You‟. A som da melodia as imagens dos
momentos que teve com Heloísa passavam em sua mente como um filme. Ele pegou uma camiseta
que se encontrava sobre a cama que ainda conservava o cheiro da amada levando-a ao rosto inspirou
profundamente o odor da amada ainda conservado na camiseta. Permaneceu ali por um longo tempo,
até que por fim apareceu diante das jovens discípulas de Regulus. Antares se despediu de todos para
partir para um hotel, porém os jovens imploram que ficassem ali com elas, Antares permaneceu
porque percebeu que aquelas jovens eram como ovelhas perdidas e desorientadas.
No dia seguinte Antares foi visitar um velho amigo de sua família para tentar obter com este
informações sobre Heloísa, já que se tratava de um judeu com certas influencias na política. Antares
era muito considerado pelos judeus, devido os grandes atos que realizou para com este povo na
Segunda Guerra. Porém, tal judeu negou ajudá-lo, pois tinha medo de se envolver com as questões
políticas de Antares. Este visitou outros amigos, mas todos não puderam ajudá-lo. No fim do dia
retornou cansado e angustiado para casa.
“Não obtive nem uma informação que pudesse nos levar à Heloísa, todos tem medo de se
envolver com estas questões”, disse Antares para as jovens.
Antares permaneceu por três meses em busca desesperada, mas nada conseguiu. Até que
uma luz surgiu no fundo do túnel.
“Conheço alguém que talvez possa nos ajudar a encontrar Heloísa”, disse Jaqueline.
“Quem?”, disse demonstrando uma certa felicidade no semblante, Antares.
“Conheço uma filosofa que foi minha professora na faculdade e ela esteve presa acusada de
comunista, fiquei sabendo que ela estava presa em uma prisão feminina onde o governo mantém os
presos políticos. Esta professora também ficou desaparecida por quatro meses, parece que esta
prisão é mantida em sigilo pelo governo. Mas, pelo que me contaram ela sofre de uma aguda neurose
provocada pelos maus tratos e pela lavagem celebral que ali sofreu”, disse Jaqueline.
“Você pode me levar até esta professora?”, perguntou Antares cheio de esperança.
“Claro! Podemos ir à sua casa agora mesmo”, respondeu Alexandra e logo ambos partiram.
No caminho Jaqueline disse:
“Sabemos que você é um Mestre, andamos conversando a seu respeito e gostaríamos que
continuasse conosco os ensinamentos que o Mestre Regulus vinha nos dando durante este tempo que
permaneceu conosco, que acha?”, pediu quase suplicante a jovem que tinha cede e fome pelo
conhecimento.
“A Sabedoria do meu Íntimo pode colocá-las em perigo, você não sabe o que pede minha
jovem. Se isso fosse em outro país poderia até ser, porém aqui é perigoso de mais falar da verdade,
estamos na sede mundial do Anticristo”, disse Antares percebendo no semblante da jovem a tristeza
provocada pela negação.
“Você poderia nos ensinar secretamente como faziam as sociedades secretas da antiguidade”,
disse a jovem.
“Agora não é o momento para falarmos destas coisas tão perigosas, vamos nos concentrar no
problema de Heloísa, depois poderemos retornar nesse assunto com mais calma”, disse Antares,
todavia seu coração nobre se encheu de compaixão por aquelas jovens órfãs de Mestre, então ouviu
seu divino Daímon no fundo de seu íntimo: “Deves conduzir os filhos para a Luz! Se de fato desejas
ver novamente sua amada, este é o preso!”. Antares ficou assombrado com a ordem categórica de
seu Lúcifer. E meditou profundamente.
Chegaram na casa desejada, uma das filhas da professora os recebeu com muita
cordialidade.
A professora estava sentada no sofá da sala imóvel e com o olhar parado no nada. Antares
percebeu logo que o caso era muito grave e dali não sairia nada. A professora estava enferma
psiquicamente, ele não poderia obter nenhuma informação desta pobre professora; primeiro deveria
ajudá-la a sair daquele estado caótico. Jaqueline havia dito a filha que Antares tinha grandes
conhecimentos e conhecia meios eficazes que poderia ajudar sua mestra, por isso o levou até ela.
Depois de muita insistência a filha única que tinha dezoito anos, concordou. Antares passou a realizar
visitas periódicas a professora neurótica, Antares aplicou o método do Dr. Jung para tratá-la
combinado com seus conhecimentos ocultos.
Até que um dia a professora rompeu o silêncio e fixou os olhos em Antares e disse
implorando: “Por favor, não me bata mais eu conto tudo eu sei de muita coisa”.
“Eu não sou um deles eu estou aqui para te ajudar, não tenha medo, sou seu amigo”, Antares
falou isso carinhosamente, à medida que alisava a cabeça afetivamente da professora, isso surtiu um
efeito positivo. Parece que ele havia dado o primeiro passo ao progresso.
Já havia se passado três meses desde que Antares começara o tratamento com a
revolucionária professora de filosofia e esta finalmente estava curada. Já dialogava com Antares sobre
diversos assuntos intelectuais demonstrando, assim, perfeita sanidade psíquica, então Antares falou
sobre Heloísa.
“Sim, quando estávamos sendo transferidas para a penitenciária feminina onde eles mantêm
as presas políticas, havia uma mulher de aproximadamente trinta e seis anos com características
latinas, lembro-me muito bem quando uma das presas perguntou o nome para ela e esta respondeu
que se chamava Heloísa, o sotaque era mexicano com toda certeza. Estava profundamente
angustiada; pobre mulher se eu que sou americana sofri tanto, imagina o que esta mulher passou ou
ainda passa”, disse a dama mostrando grande compaixão pelo homem que lhe curou. Antares ali, na
frente da dama filosofa, chorou...
“Você a ama muito, seu amor é belo e verdadeiro, mantenha as esperanças meu amigo, logo
a encontrará. Porém, acho difícil eles permitirem sua visita naquele antro abominável”, disse a dama.
“Eu sei, ainda mais que sou francês e ela mexicana, parece que estou diante de uma rua sem
saída”, disse melancólico o angustiado Antares.
“Tenho um irmão juiz que talvez possa te ajudar, pois foi ele que me livrou das garras do FBI.
Mas, antes devo expôs seu caso para ele para ver se há algo que possa ser feito; ele é um bom
homem e é justo não compartilha com esta podridão que dominou nossa nação”, disse a dama.
Antares voltou a ter esperanças e depois da longa conversa que teve com a dama, partiu para
a casa onde estava hospedado.

Antares estava sentado nos degraus da escada da varanda, já era noite. Fumava um cigarro
tranqüilamente. As três amigas vendo que o misterioso homem se encontrava solitário e melancólico,
apanharam uma garrafa de vinho e quatro copos e se sentaram junto a Antares. Beberam, riram muito
até que a conversa ficou séria.
“Não se preocupe meu amigo, somente através da angustia é que de fato nós podemos nos
elevar a existência autentica, pois a angustia aniquila nele todas as seguranças habituais para
entregá-lo ao abandono, de onde unicamente pode surgir a autêntica existência”, disse Alexandra.
“Vejo que é uma existencialista”, disse admirado Antares.
“Não sei se de fato sou, porém sei que me identifiquei profundamente com a Filosofia
existencialista”, disse Alexandra.
“A angustia é a vertigem da própria liberdade, como afirmava o filosofo Kierkegaard”, disse
Antares com o coração alegre.
“Devemos optar pró ou contra a própria existência, o que mata as pessoas é que elas não
optam, elas são marionetes nas mãos dos que governam o mundo e que determinam para nós um
mundo que não corresponde com a nossa vontade. Devemos ter escolha, as pessoas não têm
escolhas, apenas seguem cegamente as regras e paradigmas sem questionar se serve o não para sua
vida, são inertes não são pró e nem contra a esta existência cruel e desumana que é coloca para o
povo como modelo de vida, isso é um absurdo! Não importa se somos pobres ou ricos, brancos ou
negros, todos estamos no mesmo barco. Eu não concordo com isso droga!!!”, exclamou revoltada
Jaqueline.
“A opção deve ser feita num processo dialético-paradoxal, pois a própria existência é
constituída de paradoxos, superar os paradoxos é superar a própria existência”, disse Alexandra.
“Que homem é o homem que não pode mudar a si mesmo e com isso o mundo em que vive! A
história não é do povo, mas daqueles que dominam o povo, ou seja, nossa história é uma história que
não corresponde nossa realidade, esta história é a história dos poderosos, aliás, eu odeio esta palavra
„poder‟, porque ela trás consigo a noção de domínio e quem domina obviamente domina alguém”,
disse a rebelde Jaqueline.
“Isto que se denomina „poder‟ se impôs ao homem como moral racionalista, esta foi erguida
com a única finalidade de reprimir os instintos de vida no homem, tirando-lhe a liberdade e
escravizando sua consciência a uma moral ressentida. Esta moral racionalista transformou tudo que é
natural e espontâneo no homem, em vicio, culpa, falta. Tudo que na verdade oprime a natureza
humana se impõe como dever, virtude. Paixões, desejos e vontade são expressões naturais da força
vital, portanto afirmam a vida, reprimi-las é afirmar a morte. Por medo da força vital os fracos
inventaram o poder e a moral racionalista para dominar os fortes e escravizar os livres. Inventaram o
dever e o castigo para os transgressores do dever. Transgredir normas e regras estabelecidas é a
verdadeira expressão da liberdade e somente os fortes são capazes desta ousadia. Para dominar a
vontade dos fortes a moral racionalista dos fracos transformou a transgressão em falta, culpa e
castigo. A força vital se manifesta como saúde do corpo e da alma e como imaginação criadora. O
poder quer destruir os fortes 176, porque estes os ameaçam. Assim Falou Zaratustra!”, exclamou com
ênfase a jovem Alexandra.
“Meu deus?! Além de existencialista ainda é nietzschiana!”, exclamou Katarine que era tímida
e calada.
“Mas, como mudar a si mesmo? Alguém poderia me dizer como isso ocorre?”, questionou
Antares.
“Mantendo a expressão natural do Instinto da vida em perfeita harmonia”, disse Alexandra.
“E como posso manter a perfeita harmonia da força vital?”, questionou Antares.
“Eu não sei responder filosoficamente, mas posso dar um exemplo: se estiver com fome e me
alimento o essencial para saciá-la, então ai eu estou em harmonia com o instinto da vida direcionado
para esta fusão, porém se como além do necessário me torno obesa, minhas funções intelectuais
ficarão lentas e preguiçosas, manifestarão doenças etc...”, disse a jovem Katarine.
“Magnífico!!! Katarine, compreendeu Nietsche sem lê-lo, magnífico!”, exclamou entusiasmado
Antares.
“Viva Dionísio! O germe do Super Homem saiu do ovo filosofal!”, exclamou Jaqueline
levantando o copo de vinho para comemorar a resposta de Katarine.
“O Tantra é a harmonia do instinto sexual, é o fluxo natural, espontâneo deste instinto, agora
compreendi com mais clareza depois da colocação de Katarine. De fato a desarmonia deste instinto
leva a neurose e ao sadismo”, disse Alexandra.
Antares estava fazendo com que as jovens despertassem os seus próprios conhecimentos e
expressassem para fora, elas não estavam recebendo de fora, mas estavam buscando dentro delas
mesmo.
As três jovens ficaram felizes pelo bom papo que realizavam ali, e perceberam que Antares
estava instruindo-as sutilmente, ele vinha fazendo isso já algum tempo sem que elas percebessem.
“Chega de conversa séria, agora quero cair na noite ouvir um bom blues, dançar, beber alguns
goles e esquecer minha desgraça, quem me acompanha nesta noite boêmia? Prometo que a conta
será minha”, convidou Antares.

176
É importante ressaltar que o conceito de „forte‟ aqui é nietzschiano e nada tem haver com o sujeito que
detém o poder político, econômico e cultural em suas mãos, aqui o conceito de “fortes” vem do sujeito que
expressa a força vital naturalmente sem ressentimentos, hipocrisia, repressão e outros.
Todas concordaram em acompanhar Antares. Se arrumaram e saíram.
“Eu sei onde há uma ótima casa noturna onde há um excelente blues, os caras que tocam lá
são bons, porém é um lugar caro, tudo bem?”, perguntou Jaqueline.
“Sem problema, dinheiro é para ser gasto”, respondeu Antares rindo. Todos entraram no Ford
branco de Katarine e partiram para o local.
“Que Mestre paradoxal”, disse Alexandra rindo para ás amigas.
O local era de fato de primeira. Sentaram-se, beberam, dançaram, divertiram-se muito.
Todos ali já estavam meio alterados pelo efeito do álcool, e nestes estados geralmente os
instintos afloram com poder e o inconsciente vomita alguns complexos. Antares era um homem vivido
e astuto, queria na verdade conhecer o perfil psicológico de cada uma daquelas rebeldes jovens,
porque ele havia decidido iniciá-las na Franco-Maçonaria. Quem eram estas jovens? Três Anjos
caídos em busca de luz.
Antares já havia dançado com Katarine e Alexandra, ambas se comportaram normalmente.
Depois a banda que tocava ali, tocou uma bela canção romântica, destas que mechem com o mais
profundo da alma. Então chamou Jaqueline, esta feliz foi com muito grado. Jaqueline era uma negra
bela, sensual e dotada de uma poderosa força sexual que ela tinha grandes dificuldades para
controlar. Ela agarrou Antares como que se este fosse seu amante. As amigas já conheciam
Jaqueline, porém achavam que com Antares ela se comportaria. Porém, esta dançava com
sensualidade apertando seu belo corpo esbelto no corpo de Antares e acariciando com as mãos os
longos cabelos do parceiro. Ela deixava a musica penetrar em sua alma, mover seu corpo, aquecer
seu sangue. Acariciava o rosto de Antares com as duas mãos, à medida que o fixava com os olhos
lânguidos e grandes. Antares deixou o fluxo fluir naturalmente, pois na verdade ela estava sentindo a
música, não havia nada de mais nisso. Antares ainda estava um pouco inibido, porém Jaqueline lhe
disse sussurrando no ouvido: “Não fique inibido, deixe a música penetrar em sua alma, neste momento
eu sou sua amada, eu sou Heloísa, eu quero ser ela para ti”. Antares ao ouvir isto, apertou Jaqueline e
dançou apaixonadamente, as duas amigas até pesaram que entre os dois estivesse rolando um forte
clima.
“Nossa! Como aquele casal dança apaixonadamente”, disse uma dama refinada sentada em
uma das mesas acompanhada de um homem vestido elegantemente.
“Parece um bruxo, veja a moça é jovem, e ele parece ter o dobro de sua idade”, disse o
acompanhante da dama elegante.
“Não sei, a meia luz atrapalha minha visão, mas parece alguém que já vi antes”, disse a dama.
“Impressão sua”, disse o companheiro.
“Dança como um francês, é carinhoso e cavalheiro com a moça”, disse mais uma vez a dama
elegante que não tiravam os olhos dos bailarinos.
“Você parece interessada por ele”, disse demonstrando ciúmes o homem.
A música acabou e o casal se retirou para o canto direito no fundo, a dama elegante
acompanhou com os olhos, porém dá onde estava não dava para vê-los. Então a astuta mulher
levantou e disse ao companheiro que ia ao banheiro, de longe avistou o homem com três jovens á
mesa rindo muito, pareciam embriagados. Antares de relance viu a tal dama, um silencio tomou conta
dele, ele ficou pensativo.
“Que foi? De repente você ficou calado, falamos algo errado?”, perguntou Alexandra
preocupada.
“Parece que vi uma velha raposa passar ao toalete”, disse Antares.
“Uma velha raposa, vou investigar isso agora mesmo”, disse Jaqueline rindo, à medida que
levantava e seguia ao toalete.
“Espere por mim sua ingrata”, gritou Alexandra que seguiu a amiga.
“Esta velha raposa foi algo muito ruim em sua vida, não foi?”, perguntou Katarine.
“Sim. Me levou à ruína e a desgraça. É uma mulher muito perigosa. Mas, não é nada, apenas
alguém que me fez lembrá-la, nada mais”, respondeu Antares.
No toalete Jaqueline percebeu que a tal mulher não parava de olhar para ela, e disse:
“Deseja algo senhora? Percebo que não para de olhar para mim”, disse em tom irritado
Jaqueline, Alexandra rio.
A dama sarcasticamente se aproximou de Jaqueline olhando-a como se você uma lésbica
disse:
“Fiquei muito excitada com sua maneira deliciosa de dançar, você é linda gostaria de tê-la em
minha cama, que tal?”, Jaqueline ficou furiosa e partiu para cima da dama, porém foi interceptada por
Alexandra.
“Na faça isso minha tigresa, você não sabe com quem está se metendo”, disse
sarcasticamente deixando Jaqueline mais furiosa ainda. A dama se retirou rindo. Jaqueline ficou com o
sistema nervoso abalado e totalmente desequilibrado, fora de si e com fortes dores nos nervos e na
cabeça. Alexandra retornou à mesa e chamou Antares para socorrer a amiga.
“O que houve?”, perguntou Antares.
“De fato você estava certo se trata de uma raposa”, disse Jaqueline.
Antares examinou o estado de Jaqueline e diagnosticou um ataque psíquico projetado por
uma mente treinada na arte da magia negra, mas não disse nada para as amigas para não apavorá-
las, pois isso faria com que o medo fortalecesse a forma pensamento de ódio que havia sido projetada
na áurea de Jaqueline. Antares magnetizou alguns pontos do corpo de Jaqueline e esta logo se
recuperou, então retornou à mesa.
Antares percebeu que o casal estava indo embora, então pediu a conta rapidamente e
também foram embora. Quando entraram no carro, disse:
“Katarine, segue este carro sem que eles percebam”.
“Por que?”, perguntou assustada Katarine.
“Depois explico com mais calma, mas talvez esta seja a raposa que eu estou caçando a muito
tempo”, disse Antares.
“Pisa fundo, vamos caçar raposa!”, exclamou rindo Jaqueline.
“Pra já, vamos lá”, disse Katarine partindo atrás do carro.
Seguiram o carro por meia hora, até que ele entrou pelos portões automáticos de uma rica
mansão de um bairro de classe média alta.
“A raposa entrou na toca, que faremos agora?”, disse Jaqueline.
“Vamos para casa minhas meninas, agora já sei onde fica a toca da raposa, apenas preciso
comprovar se é a raposa que procuro”, disse isso, á medida que Katarine fazia a manobra.

Antares estava sentado no sofá de olhos fechados e relaxado, as moças haviam subido ao
quarto, estavam cansadas. Jaqueline estava sem sono e desceu para tomar um copo d‟água e
percebeu Antares ainda ali, talvez estava também sem sono como ela, então aproveitou a
oportunidade para conversar sobre certos assuntos que lhe agoniava sua mente.
“Está acordado?”, perguntou com voz baixa Jaqueline.
“Sim, estou sem sono, estou pensando na forma pela qual poderei confirmar se aquela mulher
que seguimos é a raposa que procuro”, disse Antares mantendo os olhos fechados.
Jaqueline deitou no sofá e colocou sua cabeça sobre o colo de Antares carinhosamente.
“Você é tão diferente do Mestre Regulus. Você faz coisas que ele não fazia, porém ambos são
de grande sabedoria e inteligência”, disse Jaqueline.
“Que tipo de coisa?”, perguntou Antares.
“Ele se mantinha sempre em estado silencioso, retirado em meditação. Sua alimentação era
vegetariana e pouca; não bebia, não fumava e não saia para dançar. Você, pelo contrário, bebe, fuma,
dança, fala muito; enfim, você não parece um Mestre normal, você é louco como nós”, disse soltando
um leve riso provocado pela sensação gostosa do cafuné que Antares fazia nela, como que se esta
fosse uma criança que estava sendo preparada para o sono.
“Ele é um homem desperto, Mestre de Sabedoria. Eu, pelo contrário, sou um Louco, um
Mestre caído”, disse Antares.
“Caído?! Como assim, não compreendo?”, perguntou Jaqueline levantando a cabeça e
olhando seriamente para Antares.
“Troquei minha maestria por um amor profano e lascivo; dei meu sangue a uma Vampira que o
sugou até a última gota, esvaziando-me da luz que me fazia vê o mundo inteligível; perdi minha
consciência NOUS onde se encontrava a Sabedoria do meu Mestre interno”, respondeu Antares.
“A raposa que procura é a tal Vampira?”, perguntou Jaqueline.
“Sim. Ela me destruiu. Roubou-me alguns milhões de dólares e me desgraçou espiritualmente,
uma raposa astuta e perigosa, todo cuidado é pouco com esta víbora peçonhenta”, respondeu
Antares.
“Meu deus! Além de Mestre foi um burguês!”, disse alarmada Jaqueline com a triste história de
Antares.
“Nunca dei importância para o dinheiro, sempre empreguei a parte de minha herança deixada
pelo meu grande pai conde Jacques De Le Puy, em beneficio da humanidade doente. Sou anti-
capitalista. A perda do dinheiro encontra sua causa na ruína espiritual.
“Você é um nobre, um Conde! Sou amiga de um Conde!”, disse eufórica Jaqueline.
“Deixe de besteiras, títulos, etiquetas, refinada educação, dinheiro, vida luxuosa, tudo isso são
vaidades, logo ilusões”, disse Antares reprovando a fascinação de Jaqueline pela sua insignificante
pessoa.
“Então sua queda encontra sua causa no desequilíbrio do instinto sexual, já que a harmonia
deste é o Tantra, certo?”, perguntou Jaqueline.
“Sim. A harmonia do instinto sexual outorga à alma seus poderes latentes e unidade
psicológica elevando o grau de consciência; o desequilíbrio entorpece a consciência, fragmenta a
psique em miríades e miríades de eus diabos que são pura personificações trazidas à existência pelo
desequilíbrio do instinto da vida”, respondeu Antares.
“Então se nós somos tal como afirma, então este mundo não passa de uma cristalização desta
psique fragmentada, por isso é o mundo da ilusão como afirma os budistas e a filosofia mística da
Índia”, disse Jaqueline com alegria por ter descoberto algo.
“Exatamente, este mundo é uma mentira, uma miragem, um pesadelo de nossa consciência
que dorme profundamente nos quarenta e nove níveis da mente”, disse Antares.
“Triste realidade é a nossa, lamentavelmente não somos...”, disse triste Jaqueline.
“Por este motivo estamos condenados a angustia. Para romper esta falsa realidade o único
caminho é retornar à unidade psicológica pelo equilíbrio do Instinto da Vida; o desequilíbrio deste nos
leva ao sofrimento, a dor, a angustia, intermináveis”, disse Antares.
“Estou como medo, pois tenho um forte apetite sexual, não consigo controlar meus orgasmos,
pelo que compreendi, são a causa do desequilíbrio nervoso e, com isso, do instinto sexual, são
explosivos, acho que não sirvo para o Tantra”, disse triste Jaqueline.
“Os nativos do signo de Câncer tem dificuldade de controlar esta força, deve lutar, assim
chegará ao controle”, disse Antares.
“Como sabe que meu signo é Câncer?”, perguntou surpresa Jaqueline.
“Deduzi observando seu comportamento e sua grande sensibilidade; deve superar a
dependência emocional e eliminar os conflitos que tem com a família”, respondeu Antares.
“Meu deus! Você sabe muita coisa sobre minha vida!”, exclamou Jaqueline.
“Isso é fácil quando se conhece a astrologia esotérica”, disse Antares.
“Você poderia me ajudar a manter o controle sobre esta força?”, perguntou Jaqueline.
“Sim. Vou te ensinar os métodos através de um livro que escrevi”, respondeu Antares.
“Não... você não compreendeu, falo em termos práticos. Pois já li em um livro tântrico que
alguns mestres na Índia ensinam esta arte para suas discípulas na prática sem nem um preconceito”,
disse Jaqueline.
“De fato alguns revolucionários mestres tântricos ensinam algumas discípulas na prática,
porém são mestres que alcançaram certo grau de pureza; caso contrário cairiam na luxuria e no
Tântra negro. Não sou a pessoa indicada para isso, poderia profaná-la e desejá-la”, disse Antares.
“Eu confio em você, acho que é capaz de me ajudar, não quero fazer isso com alguém que
não confio, preciso de um Mestre para me orientar nesta questão tão delicada, por favor, considere
meu caso; sei que você me orientará corretamente e não me profanará, mesmo porque você não
correrá o risco de se apaixonar por mim, porque já encontrou o amor verdadeiro e eterno, eu também
amo alguém e não correrei riscos. Quero que apenas me ensine com práticas e não com teoria, isso
me ajudaria muito”, disse suplicante Jaqueline.
“Não insista, já disse que não sou a pessoa certa para isso, porém podemos conversar em
outra ocasião e eu te ensinarei algumas técnicas de respirações que lhe ajudarão a sublimar a energia
sexual, desta forma poderá manter o controle. Vá para seu quarto, agora vou dormir estou cansado”,
disse isso, à medida que se levantava e se dirigia ao quarto que ficava isolado no fundo da casa.
Antares era experiente e sábio de mais para cair nos engodos de Jaqueline, esta na verdade estava
atraída sexualmente por ele, percebeu isso quando estava dançando com ela.

No dia seguinte Antares recebeu um telefonema da professora Sophie. Esta estava


convidando-o para um jantar em sua casa, pois seu irmão estaria lá para conversar com ele sobre o
assunto que envolvia Heloísa.

Antares chegou para o jantar e foi bem recebido e o juiz agradeceu pelo que ele havia feito
pela irmã. Durante o jantar Antares expôs toda a vida de Heloísa ao juiz, disse-lhe que Regulus não
estava envolvido com política, este era apenas um Mestre que ensinava certos princípios humanísticos
para algumas pessoas que o procuravam em sua casa, nada mais. Heloísa era sua secretária. Que de
fato este Mestre havia sido um frei franciscano que no passado se envolveu com a política, porém se
decepcionou, abandou a atividade política e seguiu o caminho puramente espiritual. E, que até
mesmo, foi perseguido pelos agentes da KGB pelas duras criticas que realizava contra o stalinismo.
“Sinto muito meu caro pelo sua triste história. Sophie já havia me relatado sobre o caso da
mulher que você procura. Eu andei investigando o paradeiro desta grande mulher que você teve a
felicidade de conhecer, porém não encontrei nenhum registro na penitenciária que ela deu entrada,
porém nada encontrei, não existe registros; isso pode significar que Heloísa veio a falecer na prisão e
para evitar complicações com o Consulado Mexicano e com os direitos humanos, eles deram fim na
documentação, eles sempre agem desta forma, é o sistema, sinto muito meu amigo”, disse triste o juiz.
Antares se retirou para um canto da sala e ficou ali por um tempo calado. Agradeceu pelo
jantar e pelo ajuda e partiu com a alma dilacerada de dor e sofrimento. Ficou duas semanas em
estado de depressão profunda, depois voltou a normalidade, pois não havia mais dúvida, sua amada
havia sido executada secretamente.
“Minhas amigas, estou triste por Heloísa, porém meu espírito é feliz, porque conheci
excelentes jovens como vocês. Estou partindo para á cidade do México daqui a um mês
aproximadamente, tenho negócios esotéricos por lá. Eu estou triste por não poder continuar com
vocês”, disse Antares, à medida que as três jovens rebeldes avançaram para ele abrando-o, disseram:
“Não nos abandone Mestre, iremos contigo”, disse Katarine.
“Vocês são novas tem muita sabedoria ainda para ser extraída de suas vivencias filosofais, se
forem comigo podem se arrepender”, disse Antares consolando as jovens.
“Está resolvido iremos com você, viva o México, lá vamos nós!”, exclamou voz alta Jaqueline.
“Se é à vontade de vocês, então que assim seja, vamos comemorar” disse Antares, à medida
que se dirigia para a copa da cozinha para apanhar uma garrafa de vinho.
“Vamos de carro? Meu carro é seminovo colocaremos pneus novos e atravessaremos todo o
país, será uma aventura maravilhosa, que tal?”, disse Katarine entusiasmada.
“A viagem será muito longa, vamos de avião”, disse Jaqueline.
“Vamos votar, eu prefiro a aventura, quero ir de carro”, disse Alexandra.
“Eu também, pois podemos aprender muita coisa pelo caminho, será uma experiência muito
interessante”, disse Antares.
“Há! Assim não vale seus trapaceiros, vocês conspiraram...”, disse rindo Jaqueline.

Depois do almoço Antares disse às amigas que precisava resolver alguns negócios que talvez
só retornaria à noite se elas quisessem poderia acompanhá-lo, ele não conhecia ainda bem à cidade e
precisava da ajuda delas, por fim o quarteto partiu.
“Para onde iremos?”, perguntou Katarine, a motorista do grupo.
“Segue para a toca da raposa”, disse Antares.
“A toca da raposa para quê?”, perguntou assustada Katarine.
“Vamos tirar nossa dúvida, vamos investigar aquela mulher”, disse Antares.
“Adoro estas coisas, não vejo a hora de pôr as mãos naquela bruxa”, disse irritada Jaqueline.
“Vamos manter a calma, não vamos fazer nada, apenas investigar se de fato é a raposa,
apenas isso”, disse em tom de reprovação, Antares.
“Está bem, não está aqui mais quem falou”, disse Jaqueline se desculpando da atitude infantil.
Chegando nas proximidades, Katarine estacionou o carro em um local discreto e ficaram
observando de longe à toca da raposa. Já estavam ali há quase duas horas, mas nada ocorreu. Foi
quando Alexandra viu uma mulher sair pelo portão da mansão e avisou os amigos que cochilavam no
carro, pelos trajes parecia ser uma das empregadas da casa.
“Alguém de vocês pode segui e puxar conversa com aquela mulher?”, pediu Antares.
“Deixa comigo, eu vou”, disse Jaqueline.
“Você não, deixe Katarine”, disse Antares, pois Jaqueline era nervosa e poderia estragar os
planos.
“Tudo bem, eu vou”, disse Katarine.
Depois de meia hora o trio avistou Katarine junto com a mulher que retornava para a mansão,
pareciam descontraídas na conversa.
“E ai, conseguiu algo”, perguntou Alexandra curiosa.
“Disse para ela que estava procurando emprego de arrumadeira e se sua patroa não estava
precisando de alguém. Ela disse que não, mas eu arranquei algumas informações dela. Ela me disse
que se trata de um casal estranho que todas sextas feiras à noite faz no interior da mansão uma
reunião que não pode ser vista por nenhum empregado, desta forma ela dispensa os empregados da
casa mais cedo”, explicou Katarine.
“Levando em consideração o que ela fez com Jaqueline, só posso deduzir que tais reuniões só
pode ser magia negra”, disse Antares pensativamente, à medida que passava a mão direita na fina
barba.
“Há! Já estava me esquecendo ela citou o nome da patroa, à medida que falava, ela se refaria
a patroa como madame Ofélia”. Antares ao ouvir o nome foi tomado de um calafrio na espinha dorsal e
um espanto dominou sua alma.
“Minha intuição não estava errada meninas, achamos a raposa, agora temos que articular um
plano para pegá-la!”, exclamou Antares com um brilho nos olhos.
“Miserável, sustenta uma riqueza com o dinheiro roubado”, disse Jaqueline.
“Como assim, não estou entendendo?”, perguntou Alexandra.
“Esta é uma longa história que já contei à Jaqueline, depois esta explica para vocês, agora
vamos embora, amanhã é sexta-feira, retornaremos para investigar o tipo de gente que freqüenta a tal
reunião”, disse Antares.
“Gostaria de passar na casa de meus avós, pois minha avó se encontra doente e eu queria
vê-la antes de partir para o México”, disse Jaqueline.
“Tudo bem, vamos para lá, onde fica”, disse Antares.
“No Brooklin”, respondeu Jaqueline.
À medida que o carro saia do Centro e ia penetrando na Periferia, o tapete ia se levantando e
a sujeira ia aparecendo. Diante dos olhos de Antares surgiam imagens que a indústria cinematográfica
de Hollywood, que é financiada pelo Governo, não mostra em seus filmes, aliás os filmes são
mecanismo ideológicos para levar a cultura de consumo ao povos, este é o principal objetivo. Por fim,
o carro entrou no Brooklin, bairro marginalizado. A pobreza e crime eram evidentes. A população do
Brooklin era constituída em sua grande maioria por negros e mestiços formados por negros e brancos
e latinos. Os prédios eram horríveis e populosos, a sujeira e o mau cheiro estavam por todas as
partes. Antares jamais havia visto coisa semelhante em toda sua existência. O prédio onde a avó de
Jaqueline morava e, onde ela também havia residido, era de muitos andares e era um cortiço, horrível.
Os moradores eram pessoas honestas e trabalhadoras, porém também ali havia o resultado da
marginalização que o capitalismo gera: drogados, traficantes, ladrões de carro, assaltantes e
prostitutas. As amigas de Jaqueline já haviam estado ali por muitas vezes, inclusive Katarine que havia
vindo de Santa Fé, Novo México, era uma mestiça, ou seja, seu pai era um apache e sua mãe uma
branca descendente de irlandeses, também morava ali no Brooklin junto com a irmã que era na época
era uma dançarina de boate, porém agora tinha uma pequena loja de artigos místicos, não precisava
mais ganhar a vida expondo o corpo. A irmã de Katarine deixou Santa Fé para tentar a vida em Nova
York, porém sem emprego, foi obrigada pelas circunstâncias a dançar em uma boate freqüentada por
mafiosos italianos. Katarine veio à Nova York atrás da irmã para levá-la de volta, pois ficara sabendo
da situação que ela se encontrava, porém a irmã, orgulhosa, não quis retornar. Katarine foi trabalhar
num escritório de advocacia, onde conheceu Alexandra que na época era ainda adolescente, o
escritório pertencia ao pai de Alexandra. Esta sempre esteve em conflito com a família, era a „ovelha
negra da família‟ o pai queria que ela seguisse a carreira de advogada, pois seu pai queria que a filha
seguisse a carreira que ele seguia, porém Alexandra tinha vocação para Filosofia e não para Direito.
Alexandra e Katarine conheceram Jaqueline em uma passeata contra a intervenção do E.U.A. no
Vietnã; por fim, conheceram Heloísa. Desde então, tornaram-se grandes amigas. Jaqueline era órfã de
mãe, esta era negra e o pai, que ela não conheceu, era um italiano mafioso. Foi quando Heloísa
convidou as três moças para residirem com ela e Regulus.
Quando Antares entrou no prédio, percebeu a realidade desumana daqueles moradores, povo
sofrido e marginalizado, sentiu uma dor no coração e um profundo sentimento de compaixão.
“Esta é a América tão cobiçada por aqueles que buscam fortunas e glórias?”, disse Antares
para as amigas.
“Esta é a contradição desta rica nação”, disse Alexandra.
Entraram no apartamento apertado onde moravam os avós de Jaqueline e um tio alcoólatra
que era sustentado pelo baixo salário do avô de Jaqueline, esta havia saído de casa porque não
suportava a convivência com tal tio, o sonho dela era tirar os avós dali, porém o baixo salário de
professora pública mal dava para sua própria subsistência. Por fim, Antares foi apresentado aos avós.
Antares dialogou por algum tempo com a enferma e diagnosticou uma doença não muito
grave, mas que poderia se agravar se não fosse tratada. Recomendou que ela tomasse todos os dias
um copo de suco feitos com algumas hortaliças e alguns legumes específicos, fazendo isso estaria
curada em um mês. A velha ficou feliz e agradeceu muito. Depois foram para o apartamento de
Katarine, pois ela ia se despedi da irmã.
A irmã de Katarine não se encontrava, porém a bolsa dela se encontrava sobre a cama, isso
indicava que ela havia ido ao mercado comprar algo. Antares observou que na pequena estante havia
vários livros sobre a filosofia esotérica, alguns de Elifas Lévi; inclusive havia também a Doutrina
Secreta de Helena P. Blavatski e alguns sobre xamanismo. Antares perguntou de quem era os livros,
Katarine respondeu que eram dela, porém os de xamanismo eram da irmã. Depois de
aproximadamente quarenta minutos, a irmã chegou e ficou surpresa com a presença de Antares, ela já
conhecia as amigas de sua irmã, mas não sabia que a irmã tinha também um amigo. Antares se
apresentou com cavalheirismo, à irmã logo percebeu que se tratava de alguém que havia sido
educado em „berço de ouro‟, era francês, porém falava inglês quase sem sotaque. Não parecia ser
prostituta, era uma mulher de aproximadamente trinta anos a beleza e a feiúra eram sintetizadas em
seu corpo. Trazia o sofrimento e a angustia no semblante; o rosto era sonhador, era uma piscina sem
dúvida deduzia Antares em seus pensamentos. Era uma mulher culta e inteligente, porém não
compreendeu como poderia tal mulher ser uma prostituta.
Antares conversou muito com a irmã de Katarine, parecia que já se conheciam, tornaram-se
amigos a primeira vista.
As moças estavam no quarto de Katarine arrumando as coisas que ela levaria, como alguns
objetos, algumas roupas e seus livros. Antares estava sentado à mesa conversando com Michelle
sobre xamanismo, Antares observou que a distinta dama possuia alguns conhecimentos básicos,
estava comentando sobre um ritual xamanico com a erva da maconha.
“Meu avô é o que se acha aqui entre os brancos de pele vermelha, um apache, um grande
Xamã, ele não me ensinou muita coisa, porque não confiava muita em mim, tinha receio de que eu
usasse a sabedoria xamânica de forma errada, na época eu era muito nova, tinha apenas quinze
anos, aos dezesseis fugi de casa e vim para cá em busca da ilusão, enfim aqui estou ainda após
quatorze anos, uma solteirona de trinta anos sem filho e sem amor. Já me envolvi com alguns
homens, mas gente sem futuro, homens que não me valorizaram, eu não sei o que se passa comigo,
só me atraiu por homens degenerados e cafajestes. Meu deus! Veja, te conheci a pouco e já contei
toda minha vida pra você”, disse rindo, à medida que passava o café, cujo aroma impregnava o
ambiente.
“Pode ficar a vontade, sua história é interessante, sinta-se à vontade”, disse Antares.
“Vejo em sua áurea grande luz vermelha clara com orlas amarelas, isso indica que você está
sempre fazendo esforços para ajudar os demais. Possui também amarelo-dourado, tonalidade rara,
você é uma pessoa de grande envergadura espiritual, porém vejo alguns tons opacos em sua áurea, é
como se você tivesse perdendo a espiritualidade, nunca vi nada igual antes, geralmente a grande
maioria das pessoas trazem em suas áureas suas paixões desenfreadas e seus pensamentos
maléficos, meu Deus quem é você! Deixa me ler sua mão”, disse isso, à medida que pegava as mãos
de Antares. Ao ler as linhas da mão de Antares ela ficou triste e calada.
“Tudo que viu em minha áurea está correto e o que leu em minha mão é de fato meu destino,
você é uma grande clarividente positiva, não é uma médium, pois se fosse sua clarividência seria
negativa; seu dom é legítimo, isso revela sua forte ligação com seu Espírito”, disse Antares.
“Você também possui a visão do Grande Espírito, o Espírito do Coiote te protege, isso significa
que você já teve encarnado nestas terras em épocas passadas como um grande guerreiro apache, a
lei do retorno te trouxe de volta para cá. Vejo imagens de um Xamã sentado na beira de uma fogueira,
o Espírito da Águia está te levando até ele, suas almas devem se encontrar em breve”, disse mais
uma vez Michelle.
“Vocês piscianos são voltados para o esoterismo prático, são místicos e profundos”, disse
Antares.
“Como sabe que sou do signo de Peixes?”, perguntou curiosa.
“Pelas suas características físicas, psicológicas e pelo carma”, respondeu.
“Carma, como assim?”, perguntou Michelle curiosa.
“O signo ascendente indica a essência da pessoa, quem ela é em seu interior, o seu Eu,
porém o solar revela onde se concentra o carma, por exemplo, Jaqueline é do signo de Câncer, este
rege a família, logo o carma dos nativos de Câncer envolve a família. O carma se relaciona com as
regências do signo solar. Sendo Peixes o signo do sacrifício, logo atrai pessoas em seus
relacionamentos pelas quais exige sacrifício. O carma do pisciano se desenvolve numa vida de
sacrifícios”, respondeu.
“Minha nossa! Que astrologia interessante! Qual seu signo?”, perguntou Michelle.
“Meu ascendente é Gêmeos e meu signo solar Escorpião”, respondeu.
“Então você é viúvo?”, perguntou Michelle.
“Sim”, respondeu.
“Vejo que trás na alma um eterno amor, um amor de muitas eras e eons; porém ele se foi de ti
e não mais retornará”, disse Michelle.
“Eu sei”, disse Antares.
“Você é um Mago, um Mestre, um Sacerdote, aliás, quem você é? Vejo que não é comum,
minha irmã nunca me falou de você antes”, perguntou curiosa Michelle.
“Já fui os três, porém hoje sou como o Louco do Tarô que carrega sobre os ombros o fardo da
existência, sendo constantemente atormentado por Cérbero e prestes a cair num grande precipício.
Sou um Peregrino peregrinando sem destino, sem esperança e sem futuro. A Fênix dourada
metamorfoseou-se em Escorpião”, disse lamentosamente Antares, à medida que levava a xícara de
café aos lábios para degustá-lo.
“Nossas Almas sofrem o mesmo suplício, somos irmãos na dor e no sofrimento”, disse
Michelle.
“Todos que se encontram dentro desta casa neste momento, são Anjos caídos, são os Filhos
do Sol que deixaram sua morada para viverem nas trevas da existência”, disse Antares.
“Muito me interessa estes assuntos, gostaria de vê-lo novamente antes de partir para o
México. Pegue, este é o endereço de minha loja, apareça por lá quero te mostrar algo”, disse Michelle,
à medida que entregava um cartão de visita para Antares.
Já era tarde quando Antares e as moças saíram dali.

Antares tinha o hábito de sentar no sofá de forma relaxada antes de se recolher para seu
quarto, neste estado ele realizava uma retrospectiva dos eventos do dia, partindo do último para o
primeiro. Porém, Jaqueline tinha o hábito de permanecer ali com ele dialogando, isso às vezes o
incomodava, porém ele mantinha a paciência.
“Já tem um plano para pegar a raposa e pegar de volta o que ela te roubou?”, perguntou
Jaqueline.
“Tomar de volta o que ela me roubou será impossível, posso conquistar novamente através de
muito sacrifício, dor e amargura sabe lá em quantas reencarnações, porém se você se refere ao
dinheiro, talvez já que eu a denuncie como uma fraudulenta, mas isso aqui na América não sei...”,
respondeu.
“Este tipo de gente são como traficantes, eles guardam o dinheiro geralmente na própria casa
em um cofre, vai por mim?”, disse a moça.
“Como sabe destas coisas?”, perguntou surpreendido.
“Fui criada no Brooklin entre grandes ratazanas, já ouvi muitas coisas por lá, coisas que você
nem imagina, posso arrumar uma ajuda especial com alguém que conheço, tenho um tio da máfia
italiana que é irmão de meu falecido pai, que deus o tenha no inferno para o bem da sociedade, se
quiser posso falar com ele”, disse Jaqueline.
“Deixe de besteiras, isso é assunto meu não quero o envolvimento de pessoas estranhas
nesse negócio perigoso, tenho meus próprios planos, aliás, vou precisar da ajuda de vocês
novamente, preciso entrar naquela casa, amanhã mesmo após a tal reunião, já que os empregados
não estarão por lá”, disse Antares.
“Então teremos aventura amanhã à noite...”, disse Jaqueline.
Jaqueline era uma jovem de vinte três anos muito ousada, sabia fazer o jogo da sedução, ela
sabia que Antares estava solitário e carente e ela o desejava ardentemente, ela o queria, porém ela
estava confundido as coisas, Antares a tratava como uma amiga e com muito respeito e carinho, ele
era um homem como qualquer um outro, sujeito aos impulsos. Porém, isso era normal para uma jovem
americana, ela não se importava com nada, tinha desejo e queria saciá-lo. Diferente as outras duas
amigas que haviam assimilado muito bem os mistérios que envolvem o sexo, Jaqueline parecia não ter
compreendido.
“Eu não suporto mais o fogo arde em mim, quero você agora aqui mesmo....”, Jaqueline disse
isso de forma ofegante, à medida que se lançou com sofreguidão sobre Antares para beijá-lo. Antares
por um instante não sabia o que fazer ficou sem ação diante da situação.
“Não...faça...isso...por favor...eu não posso...”, dizia sussurrando e se contorcendo no sofá
mostrando excitação. De fato não era fácil controlar o instinto sexual diante daquela jovem quase
perfeita e inteligente, de fato Jaqueline tinha tudo que um homem inteligente busca numa mulher.
Antares não lutava com Jaqueline, mas com seu próprio demônio.
“Vamos...eu quero...você....também...quer...”, implorava a fêmea por um ato de amor.
Jaqueline estava já completamente nua quando Antares recuperou a força, tirou Jaqueline de seu colo
e disse:
“Controle seu fogo menina, está louca? Quer acabar com nossa amizade? Se vista e vá lá fora
sente com a coluna reta e faça durante uma hora inspirações pelas duas narinas, retenha o ar por oito
segundos e solte pela boca, ritmicamente, vá agora mesmo”, ordenou Antares imperativamente. Ela
cabisbaixa envergonhada pelo que fez, saiu para fazer o que Antares ordenou. Antares teve
compreensão, pois Jaqueline tinha uma força sexual extraordinária e estava na flor da juventude.
Durante o café da manhã, Jaqueline olhava para Antares envergonhada, não tinha coragem
de olhar em seus olhos, as amigas perceberam algo de errado entre os dois, porém nada disseram,
aliás, elas sabiam que Jaqueline estava desejando sexualmente Antares e que havia aprontado algo
àquela noite.
“Preciso falar com você”, disse Jaqueline para Antares.
“Tudo bem, vamos para um local reservado”, disse seguindo para o quintal.
“Peço perdão pela minha imprudência ontem à noite, como disse para você minha fúria sexual
me controla, eu fico cega e perco a razão”, disse amorosamente.
“Esquece o passado, vive o instante, porém para seguir o Caminho do Fio da Navalha, o
controle desta força é essencial, sem este controle não poderá penetrar na iniciação”, disse Antares.
“Eu sei, mas estou feliz, pois ontem fiquei uma hora praticando como você solicitou, e me senti
muito bem, de fato houve um equilíbrio, dormi bem e até tive sonhos mais nítidos”, disse Jaqueline.
“Muito bem, já deu o primeiro passo, hoje faça de novo como indiquei, explique os efeitos
positivos paras suas amigas e peça para elas fazerem também. De hoje em diante vou submetê-las à
disciplina esotérica, teoria sem prática não tem valor, se querem ser minhas discípulas devem provar
que merecem isso, caso contrário vão embora daqui e não apareçam mais!”, disse categórico.
Jaqueline ficou assombrada com atitude de Antares, aquele cavalheiro desapareceu, agora
surgia um Mestre rígido. Ela informou às amigas como solicitou Antares.
“Estava na hora do Mestre aparecer, isso indica que estamos preparadas para iniciar nossa
jornada no deserto esotérico”, disse entusiasmada Alexandra recebendo todo o apoio da amiga
Katarine. Antares entrou repentinamente na sala onde se encontravam as três e disse:
“Hoje as três iniciarão ao primeiro grau da Franco-Maçonaria que é o de Aprendiz; neste grau
vocês desbastarão a pedra bruta de vossas personalidades na forma cúbica. Passarão pelo processo
de putrefação, vossas personalidades que foram formadas com os hábitos, costumes e vícios desta
sociedade corrompida, devem morrer e em seu lugar deverá ser edificada uma nova personalidade
que sirva de veículo para o Real Ser, somente no estado de Eu Sou é que vocês poderão vivenciar a
verdadeira realidade e, para vivenciar esta, vocês deverão viver o instante, não ficar com a
consciência presa ao passado e nem ao futuro, porque o passado já não existe e o futuro também
não, somente o presente é. Observem constantemente vossas ações, vossos pensamentos e
perguntem: Por que fiz isso? Qual a causa desta atitude? Vocês descobrirão que a causa se encontra
no pensamento seja ela consciente ou inconsciente, ou talvez num sentimento ou emoção; então
vocês perguntem: Qual a causa destes pensamentos ou sentimentos? Por que estou pensando ou
sentindo isso? Busquem compreenderem as causas partindo do efeito, então vocês descobrirão que
vossos sistemas psicológicos são um verdadeiro caos, uma multiplicidade de „Eus‟, que não há uma
individualidade psíquica. Compreendendo a contradição psicológica, o eu dialético, vocês podem
destruí-la liberando dela a consciência que nela está presa, é nesta consciência liberada que reside o
verdadeiro conhecimento de vocês, as vossas maestria, a sabedoria de vosso Ser. Para
compreenderem este importante trabalho de regeneração, vocês podem refletir no mito egípcio da
batalha do deus Horus com o deus Seth, depois comentaremos. Façam uma lista de vossos hábitos,
defeitos psicológicos, manias, vícios e trabalhem sobre eles tendo ordem e disciplina, mantenha o
centro de gravidade permanente neste trabalho. Vai ser um trabalho terrível e extremamente difícil de
ser realizado, vocês devem fortalecer vossas Vontades para que ela vence vossos inimigos ocultos.
Dentro de vocês residem três entidades tenebrosas que governam vossas vontades, desejos e mente,
estas entidades chamamos de demônios do Umbral, estas entidades estão sob a autoridade de uma
outra entidade tenebrosa chamada de Inimigo Secreto ou Satã, o Átomo desta entidade reside na
base de vossas espinhas dorsais e ela rege o sistema nervoso simpático inferior, assim, vossas
sensações estão sob o governo desta entidade. Esta entidade é o Anticristo interior e é o rei supremo
de todos vossos demônios interiores. Quando começarem o trabalho intimo, esta entidade fará de tudo
para obstruir vocês neste trabalho e tirar vocês do caminho da revolução da consciência. Esta
entidade é Seth que batalha contra Horus, o Cristo Íntimo de vocês”, explicou com seriedade e rigor os
primeiros ensinamentos da Franco-Maçonaria Egípcia.
Antares e suas discípulas observavam de longe a movimentação na mansão de Ofélia,
Alexandra ficou escandalizada quando viu algumas pessoas amigas de seus pais, penetrando na casa
de Ofélia. Aproximadamente umas sessenta pessoas entraram ali. Quando as pessoas cessaram de
chegar, Antares penetrou cautelosamente no antro luxuoso, ocultou-se entre as árvores que ali havia e
depois seguiu para os fundos onde provavelmente havia uma entrada. A porta dos fundos estava
apenas encostada e dava acesso à cozinha onde as luzes estavam apagadas; Antares atravessou a
cozinha e tentou observar o que ocorria no salão nobre daquela mansão de hálito fatal, ouviu um som
tenebroso ecoando de um órgão. Tentou observar mais a visão de onde estava não alcançava o salão
nobre, então manteve a calma e pensou em outro caminho, então percebeu que a escada que dava
acesso ao andar superior estava na sala de estar e não no salão nobre que era a primeira repartição
da mansão. Antares com muita cautela conseguiu alcançar a sala de estar e subiu pela escada ao
andar superior. No corredor havia aproximadamente uns trinta quartos, de uma das pequenas janelas
Antares observou o interior do salão nobre, as imagens que chegaram à visão de Antares foram de
orgias. Todos os participantes se encontravam com máscaras báquicas e completamente nus; ali
ocorria culto do Baco cabeça de touro, o aspecto diabólico do sagrado culto dionisíaco. As pessoas ali
eram como bestas copulando freneticamente ao ritmo do som tenebroso do órgão. Ofélia teve uma
forte sensação que estava sendo observada e dirigia o olhar temeroso por todos os lados, até que
fixou-os na janela onde se encontrava Antares, traçou um pentagrama mentalmente para obstruir a
visão interior de Ofélia, esta achou que se tratasse de uma entidade, então voltou a normalidade.
Antares foi ao final do corredor, onde provavelmente ficava o quarto de Ofélia, de fato era o quarto,
uma enorme suíte luxuosa e carregada de fatalidade. Por um instante ficou parado pensando o que
faria, logo passou a procurar algo. Olhou por todos os cantos, mas nada achou. Olhou atrás dos
quadros que adornavam a parede, mas não havia nem um cofre. “Onde uma mulher astuta e
ambiciosa poderia guardar seus objetos de valor?”, pensou Antares, ele precisava ser rápido logo a
orgia acabaria. Ouviu uma voz interior que lhe dizia pela intuição: “Vá ao porão”. Então saiu
rapidamente dali, desceu a escada e procurou a entrada que dava acesso ao porão; a entrada era
pela cozinha e o porão era onde ficava a rica dispensa. Procurou por algum tempo, mas nada achou,
foi quando algo insólito lhe chamou atenção. Alguns sacos de mantimentos empilhados; retirou os
sacos e descobriu que havia uma pequena entrada protegida por uma porta de madeira, esta dava
acesso à um pequeno cômodo de aproximadamente doze metros quadrados, acendeu a luz e diante
dos seus olhos viu vários objetos de valor como obras de artes, objetos esotéricos utilizados em rituais
de magia negra, barras de ouro e alguns baús. Abriu os baús e diante de seus olhos apareceram
vários machos de dólares em notas de 100. Nos outros baús haviam outros objetos de valores. Então
pegou dois sacos plásticos utilizados para o lixo e começou a enchê-los de dinheiro. No baú havia
cinco milhões de dólares, isso era apenas um terço do dinheiro que Ofélia roubou. Pegou as oito
barras de ouro que ali se encontravam, colocou os sacos novamente no local e saiu. Primeiro levou
um dos sacos para fora e o deixou próximo do jardim, depois retornou e pegou o outro saco e as
barras de ouro, e dali partiu. Jaqueline havia entrado no quintal e estava aguardando Antares, ambos
pegaram os sacos e partiram.
“Minha nossa! Quanto tem aqui?”, exclamou Katarine assustada com tanto dinheiro e com as
barras de ouro.
“Um terço do que ela me roubou, contando com as barras de ouro acho que dá uns 10 milhões
de dólares”, respondeu Antares. Todas ficaram eufóricas com tanto dinheiro. Logo partiram sem
deixarem nenhuma pista.
No dia seguinte Antares comprou duas malas, onde colocou os dólares e as barras de ouro,
depois foi a um banco francês onde tinha sua conta e depositou os cinco milhões de dólares e guardou
as barras de ouro no cofre do mesmo. Depois se dirigiu a uma concessionária de veículos e negociou
uma carreta de carga com baú como os dos moradores de circo, ou seja, o baú adaptado para servir
de moradia. Depois de ter feito todos estes negócios, pegou o cartão de visita de Michelle e segui para
o endereço indicado, o local ficava próximo ao bairro chinês. Antares parou diante da loja e leu: „Veja
sua sorte no Tarô‟. Entrou na loja, Michelle estava mostrando algo para um cliente e não percebeu a
presença de Antares. Quando se voltou para a entrada da loja viu Antares, deu um sorriso satisfatório
e disse:
“Esta noite tive um sonho. Havia uma serpente naja sobre o balcão desta loja, porém uma
águia branca entrou pela porta, apanhou a serpente pelas garras e vou...”, disse rindo e misteriosa a
proprietária da loja. O cliente que estava próximo e ouvia, disse: “Este é um ótimo sonho, algo de
muito bom ocorrerá em sua vida”. Antares exclamou rindo: “Que bom! Este é um bom presságio!”.
Antares observava com olhos misteriosos os artigos da loja, enquanto Michelle fazia o
atendimento ao cliente simpático, o cliente era um negro de longos cabelos embuchados, parecia ser
um jamaicano, tratava-se de um rapaz de aproximadamente trinta e três anos de idade. Comprava
incenso e pedras semipreciosas, parou diante da prateleira onde estavam expostos os livros ocultistas,
pegou o livro: „Magia Aplicada‟ de Dion Fortune, olhou por um tempo e depois colocou de volta na
prateleira, Michelle disse: “Gostou do livro não é?”, respondeu o jamaicano: “Sim. Porém, no momento
não posso comprá-lo. “Não há problema, leva-o depois você me paga”, o rapaz agradeceu muito
satisfeito. Antares observava a generosidade de Michelle para com o rapaz. O rapaz ainda não havia
prestado atenção sobre Antares, porém quando se deparou de frente com ele, regalou os olhos e ficou
como fora de si. Michelle não compreendia o que estava acontecendo e ficou preocupada. De repente
o rapaz saiu do transe e exclamou com muita felicidade e euforia: “Mestre até que enfim de encontrei,
te procurei por três reencarnações!”. Michelle não compreendia o que se passava, ficou pasmada
quando Antares abraçou o jamaicano e feliz disse: “Águia Negra, quanto tempo me velho amigo,
quanto tempo...”, o rapaz disse: “O senhor lembra também, que maravilha”. Conversaram muito o
rapaz marcou de ir na casa de Antares. Michelle ficou assobrada, porque ambos lembravam suas
reencarnações anteriores.
“Meu deus vocês lembram suas vidas passadas, que interessante!”, exclamou Michelle.
“Você não lembra as suas?”, perguntou Antares.
“Somente em sonhos, porém as imagens são confusas porque vêm misturadas com as outras
imagens do inconsciente”, respondeu Michelle.
“Entendo. Vocalize em voz alta a vogal „A‟ meia hora por dia com assiduidade, e com o tempo
você vai lembrar suas vidas passadas”, orientou Antares.
Antares queria averiguar as habilidades que Michelle tinha com o Tarô, e pediu que esta
lançasse as lâminas para ele. Colocou uma pequena placa na porta da loja dizendo que estava
fechado para o almoço e dirigiu-se com Antares para um pequeno cômodo no fundo da loja, este era
decorado misticamente. Uma mesa no centro do cômodo envolta por toalha de mesa aveludada e na
cor púrpura. Apanhou Târo de Waite embaralhou as lâminas com os olhos fechados, colocou-as sobre
a mesa e as magnetizou com as duas mãos. Colocou-as em posição de leitura segundo seu método e
passou a consultar o oráculo com muita seriedade e mística.
“A casa do passado trás a Torre, indicando uma queda fulminante que lhe trouxe
conseqüências trágicas e uma mudança radical de seu destino. A lâmina da Justiça encontra-se na
casa do Sol, onde também se encontra a lâmina dos Enamorados. Na casa de Urano, a dos amigos e
das sociedades secretas encontra-se a lâmina da Lua, indicando a esfera onde se encontram seus
inimigos ocultos, onde também há a lâmina da Rainha de Espadas; isso revela que a lâmina dos
Enamorados, que também é do Amor, da Escolha e da Indecisão; atrairá da esfera dos amigos a
Rainha de Espada que se encontra na casa oposta, de Urano. Como a Justiça se encontra nesta casa,
isso revela que este amor passará por muitas provas e dores, o carma obstrui este amor, ele para ti
não é possível. Na casa de Saturno, a do destino, encontra-se a lâmina da Rainha de Copas e a
lâmina da Temperança, isso revela que a força desta mulher será mesclada com a sua força, esta
união atrairá a ciência oculta representada na lâmina da Grã-Sacerdotisa que se encontra na casa
oposta, a da Lua. Sua filosofia e seu sistema místico representados pela lâmina da Força que se
encontra na casa de Júpiter será divulgado através de uma longa viagem. Na casa oposta, a casa de
Mercúrio, encontra-se a Imperatriz indicando riquezas materiais e espirituais na esfera da Mente; a
Força na casa de Júpiter atrairá a Imperatriz, porém para que esta Imperatriz com toda sua riqueza
material e espiritual chegue até você, é necessário o domínio do Leão solar; porém se o Leão não for
controlado pela sua Consciência e pela sua Vontade, os aspectos negativos da Imperatriz serão
determinados pelo desequilíbrio da Força. Na casa de Mercúrio, a sexta, a do cárcere, encontra-se o
Diabo que te levou a queda representada pela Torre na casa de Netuno. Na casa de Vênus, a
segunda, encontra-se a lâmina do Sol, revelando, assim, os valores humanísticos de sua Alma
humana adquiridos pelo processo de regeneração, da casa oposta: a de Plutão, onde se encontra a
lâmina do Ermitão, valores adquiridos pela iniciação que o Ermitão recebeu no deserto esotérico e
pela solidão. O Carro de Guerra se encontra na casa de Marte, revelando sua essência, isto revela
que sua essência sempre invoca a guerra e a batalha contra seus inimigos declarados na casa oposta,
a da Vênus libriana, onde se encontra a lâmina da Morte e o Rei de Ouros. Você atrai a Morte que se
encontra na casa dos inimigos declarados, porém estes inimigos são fortemente combatidos por ti e
você sempre obteve a vitória contra eles. Desta forma, você possui a Morte como sua inimiga
declarada e um poderoso homem, o Rei de Ouros, deseja te destruir”, interpretou Michelle as lâminas
do Târo expostas nas doze casas da mandala zodiacal.
Antares ficou impressionado com as habilidades desta peudo-esoterista. Ficou em silêncio
profundo, à medida que contemplava às lâminas sobre a mesa. Tudo que ela lhe falou estava correto,
sua vida estava ali exposta pelo oráculo dos cabalistas. Sabia muito bem que aquela Rainha de
Espadas era Heloísa, seu grande amor, porém o destino levou este amor dele para castigá-lo através
do sofrimento e da dor. Sabia que tinha muitos inimigos ocultos e declarados que queriam destrui-lo;
também sabia que aquele Rei de Ouros era o Grão-Mestre de uma poderosa sociedade secreta que
liderava uma importante Ordem esotérica conhecida internacionalmente. Este homem poderoso
acusou Antares de trair os segredos da Ordem quando este ensinou em seu livro intitulado “Os
Mistérios de Isis”, neste livro Antares divulgou a poderosa Magia Sexual como porta da iniciação.
Antares divulgou tal ensinamento para combater o mago negro inglês A. Crowley que ensinava em
suas asquerosas literaturas um sistema de magia sexual pervertido. Mas, uma coisa atormentava o
espírito de Antares: quem era aquela Rainha de Copas?
“Quem é você homem que trás tantos mistérios na Alma”, perguntou Michelle.
“Não importa quem sou eu, mas quem sou eu para você”, respondeu Antares.
“Você é o homem que eu sempre procurei...”, disse isso mantendo fixos olhos sonhadores em
Antares.
“Eu amo uma mulher e sempre amarei, pois se trata de um amor eterno, não posso lhe dá
está safira azul, porque ela já pertence a uma outra mulher”, respondeu Antares mulher ousada e
direta.
“A pedra que desejo de ti não é a safira, isto seria muita pretensão de mim parte, porém
desejo o carbúnculo vermelho, já é para mim algo valiosíssimo. Sei que me pode dar esta pedra,
minha irmã me disse que você conhece os mistérios sexuais”, disse Michelle.
“Se é isso que deseja, de fato posso de ajudar, vou pedi que minha irmã Hécate envie para
você um exemplar de meu livro: “Os Mistérios de Isis”, nele eu ensino os métodos adequados da
Magia Sexual com a qual você poderá obter o Carbúnculo Vermelho”, 177 disse Antares.
“Não, você não entendeu eu quero que me dê esta pedra sagrada com a qual eu posso me
regenerar; eu estou lhe oferecendo meu corpo como altar vivo para que você possa queimar nele suas
impurezas e eu as minhas; eu necessito da Vara mágica para operar com a Alta Magia e dominar
minha Esfinge interior”,178 e você precisa do Santo Graal 179 para fazer suas libações a seu Cristo
Intimo, pois sei que não tem sacerdotisa para este trabalho”, disse persuasiva Michelle.
Antares surpreso com a pretensão ousada de Michelle e a admirou mais ainda. O que Medéia
não havia conseguido em muitos meses, esta mulher insólita e paradoxal estava preste a consegui no
segundo encontro, pois Antares sentia uma poderosa atração sexual por Michelle, uma mulher simples
e do povo. Queria ajudá-la, porque sentiu na alma que devia isto a ela. Porém, Antares permaneceu
em silêncio e não tratou mais sobre este assunto. Pagou a consulta, porém Michelle recusou o
pagamento, pois ela não cobrava para lê o oráculo, todavia ela não lia o Târo para qualquer pessoa,
somente para aqueles que gemiam e sofriam pelas abominações cometidas no mundo.

Havia se passado sete dias que Michelle e Antares não se viam, aliás, Michelle achava que
Antares estava fugindo dela, porém ela também não o procurou. Porém, Antares enviou uma
mensagem através de Katarine na qual Antares convidava ela para jantar em um restaurante francês,
porém Michelle enviou uma outra dizendo que ela preferia preparar um jantar especial para ele em sua
própria casa. Antares aceitou o convite, no dia marcado pegou um táxi e se dirigiu ao apartamento de
Michelle.
Antares chegou no horário marcado e levou rosas vermelhas para Michelle e um embrulho de
presente. O ambiente estava decorado no estilo indiano caracterizando um ar místico. Michelle se
vestia como Shakiti.180 Seus cabelos longos e negros estavam soltos, belas jóias indianas adornavam
seu corpo. Usava uma bela e longa saia indiana de cor azul anil; a parte superior do corpo era vestida
por uma bela bata transparente de cor rosa, também indiana. O bordado da bata ocultava os seios
medianos cobertos pelo sutiã branco. Os pés graciosos estavam protegidos por uma delicada sandália
de coro. Antares ficou fascinado pela mulher que estava diante dele. Michelle era uma romântica de
temperamento artístico e de natureza delicada. Era diferente de Heloísa, esta era uma mulher de
natureza ardente e racional. Michelle era doce e romântica.
Michelle viu nas rosas uma resposta de Antares. Abriu o presente e na pequena caixa havia
um par de luvas brancas, Michelle não compreendeu. Antares percebendo que ela não entendia,
disse:
“É um símbolo maçônico”.
“Mas, o que simboliza?”, perguntou Michelle com riso.
“Que eu aceitei sua proposta, esta luva indica que eu serei seu companheiro filosofal na
edificação da sua Grande Obra”, respondeu Antares. Michelle ficou feliz e seus olhos brilhavam como
nunca.
O ambiente estava iluminado pela chamas de velas; o odor do cravo impregnava o local.
Sobre a mesa havia carne de bode assada, legumes, cereais diversos e verduras tropicais. Jantaram,
dialogaram assuntos fúteis e beberam vinho do porto; depois da digestão Michelle colocou em sua
vitrola uma música romântica, Antares com o cavalheirismo típico dos franceses, tirou a dama para
177
Pedra que simboliza na Alquimia a energia sexual transmutada em quinta-essência.
178
A Esfinge representa os quatro elementos da Natureza.
179
É a Taça sagrada dos gnosticos e representa o órgão gerador feminino.
180
Esposa de Shiva, o deus do Sexo.
uma dança. Seus olhares se fixavam um no outro, abraçavam-se fortemente, à medida que o som
invadia seus sentidos e dirigia o ritmo de seus corpos lânguidos. A mão direita de Antares acariciava a
nunca de Michelle e com a esquerda segurava a cintura delgada da musa pisciana, esta retribuía
alisando as costas do futuro amante; no meio da melodia o ardente beijo aconteceu selando o
romance, depois deste outros beijos ocorreram; o ato amoroso ocorreria sem dúvida pela vontade de
Michelle, porém o poderoso ímpeto sexual desta mulher romântica e delicada foi obstruído pela
vontade de Antares.
“Por que você se esquivou de mim, não te agrado sexualmente?”, perguntou preocupada
Michelle.
“Sua fúria sexual é imensa, isso nos levaria a queda, é necessário o controle desta força
poderosa, medite na lâmina da Força, se é que de fato deseja elaborar a Pedra Filosofal”, respondeu
Antares.
“Eu tenho este problema, meu fogo sexual é devastador, tenho grande dificuldade em
controlar esta força. Já tive muitos problemas por causa disso. Perco totalmente a razão e o domínio
de meu corpo; muitas vezes quando percebo já estou fazendo amor freneticamente, não consigo
controlar esta força, por favor, me ajude...”, disse Michelle com sinceridade no semblante.
“Sua potência sexual é extraordinária, vou te ajudar a controlar esta força. Praticaremos por
quarenta dias o método Diana, ou seja, caricias eróticas sem consumir o ato, desta forma você se
conscientizará do poder da força e aprenderá a controlá-la pelo poder da vontade. Depois começará o
Grande Arcano da Magia pelo método passivo; quando obtiver total controle neste método passara ao
segundo que é ativo, este é praticado pelos taoístas chineses e necessita de grande destreza e
controle de ambas as partes”, disse Antares.
“Então desejo praticar o método Diana agora”, disse isso, à medida que se despia
freneticamente diante de Antares.
“Calma, deixe que o fluxo nos conduza naturalmente, controle sua ansiedade, relaxe, você
está tensa e sua respiração esta descontrolada, seu corpo está tremulo. Apenas sinta o calor do fogo,
não se precipita nas chamas se não será queimada. Mantenha a percepção em sua respiração e em
seu corpo, assim, poderá senti o que se passa com ele...”, dizia isso, à medida que massageava os
ombros de Michelle com suavidade. Antares a despiu com suavidade e paciência, agora ela já estava
completamente relaxada, estava totalmente concentrada na respiração e nas reações de seu corpo,
quando percebeu já se encontrava totalmente nua diante daquele homem misterioso e diferente de
todos os homens que ela já havia conhecido na cama. Diante de Antares estava uma mulher ávida de
sexo e carente de amor totalmente nua. Michelle fazia um esforço tremendo para controlar o fogo que
ardia em seu sangue. Antares se despiu e ficou diante dela contemplando-a e adorando-a sem
profanação. Depois de certo tempo sem se tocarem, mas apenas olhando um ao outro, deram um
forte abraço demorado, se beijaram ardentemente e realizavam doces caricias eróticas. Em um dado
momento Michelle perdeu o controle e disse: “Eu quero... eu desejo...”, disse isso com a voz tremula e
sensual, à medida que segurava o falo de Antares e direcionava-o para sua vulva latejando de amor.
Antares se afastou da tentação em comer o fruto do conhecimento do bem e do mal e disse: “Por hoje
já basta”. Michelle sentiu uma ilusória frustração, porém aceitou com naturalidade a retirada de
Antares.
No dia seguinte ambos fizeram o desjejum; Michelle estava feliz e diferente. Sua face estava
corada e os olhos com um intenso brilho. Antares acompanhou Michelle até a loja, depois seguiu para
sua casa.
Jaqueline havia saído para dar suas aulas de história na periferia; Alexandra e Katarine
estavam regando as plantas no jardim. Quando apareceu no portão um negro alto de corpo delgado e
com músculos definidos e com cabelos longos embuchados, pelo visto parecia um emigrante
jamaicano, ambas as moças se assustaram a primeira vista com aquela figura insólita, mas logo
ficaram aliviadas quando perceberam a chegada de Antares.
“Não tenham medo deste homem exótico, é um velho amigo, venha entra”, disse Antares, à
medida que entrava pelo portão. As moças continuaram a regar as plantas, à medida que os dois
penetraram o interior da residência.
“Que homem estranho, parece um destes feiticeiros do Haiti”, disse Alexandra.
“Já vi este homem na loja de Michelle comprando artefatos de magia; será que o Mestre o
aceitou como discípulo?”, indagou curiosa Katarine.
“Sei lá, o Mestre é cercado de mistérios”, disse Alexandra.
Já havia aproximadamente duas horas que Antares estava trancado no quarto com o
Jamaicano.
“Sempre soube que te encontraria, mas não imaginava que minha sacerdotisa estivesse aqui
com você”, disse Águia Negra.
“Quem é sua sacerdotisa?”, perguntou Antares.
“A moça loura que estava no jardim aguando as plantas”, respondeu.
“Alexandra, é o nome dela. Deixe que ela descubra por si mesmo isso, essas moças ainda
não compreendem nossos mistérios”.
“Compreendo”, disse pensativo o Jamaicano.
“Desde quando está consciente?”, perguntou Antares.
“Despertei pela meditação assídua e sucessivos jejuns, venho praticando desde meus quinze
anos. Agora preciso de uma sacerdotisa para o trabalho tântrico, necessito despertar o Kundalini”,
respondeu Águia Negra.
“Daqui dois meses partirei para o México onde me encontrarei com alguns iniciados,
pretendemos edificar uma Loja Maçônica independente, se desejar pode partir conosco. Alexandra irá,
acho que você não tem escolha”, disse rindo Antares.
“Então vamos ao México!”, exclamou Águia Negra.

Capitulo ‫ת‬
O Mundo

Águia Negra se despediu de Antares e partiu, na saída encontrou Alexandra na varanda


sentada confortavelmente e lendo um livro de Nietzsche: „Além do Bem e do Mal‟. Ela percebendo sua
presença levantou os olhos por cima do livro e o olhou desconfiada como se estivesse olhando para
algo repugnante, ele percebeu que a moça o olhava, vendo o titulo do livro que ela lia disse:
“O que é feito por amor, ocorre sempre além do bem e do mal”, ela o tratou com indiferença e
não deu atenção às suas palavras e continuo lendo o livro. Alexandra conjeturou que aquele insólito
negro estava desejando-a devido à maneira que a olhava e lembrou uma frase que havia acabado de
ler: „O baixo-ventre é o motivo pelo qual o homem não se toma tão facilmente por um deus‟.
Continuou sua leitura nietzschiana e ficou assombrada quando seus olhos leram a frase citada pelo
negro jamaicano. “Com certeza ele leu este livro...”, pensou Alexandra, à medida que fechava o livro e
contemplava o nada como se estivesse vendo algo inconscientemente.

Águia Negra passou na loja de Michelle para pagar o livro que havia comprado anteriormente.
Michelle ficou satisfeita em vê-lo, porque queria saber algo sobre ele e Antares.
“Observei o diálogo entre você e Antares e fiquei impressionada e desde então meu espírito
se encontra impaciente desejando saber quem realmente são vocês, porque algo dentro de mim me
diz que eu também faço parte desta história desconhecida”, disse Michelle.
“Você acredita em extras terrestres, naves espaciais, jardineiros do universo, civilizações que
já não existem mais, coisas deste tipo?”, perguntou Águia Negra.
“Claro! Algo insólito ocorreu comigo desde que presenciei o dialogo entre você e Antares,
sonho quase todas as noites com naves espaciais. Sonhei que nós éramos tripulantes de uma enorme
nave que viajava pelo espaço sideral e que havia outras naves que eram nossas inimigas, muito
estranho parece filme de ficção cientifica”.
“Seus sonhos são verdadeiros e se referem a épocas muito remotas. Nós éramos jardineiros
do universo e viajávamos pelo espaço sideral, trabalhávamos através da Engenharia Sideral levando
pessoas de outras constelações para habitar planetas desabitados, porém quando muitos destes
planetas eram habitados e ali evoluía uma humanidade, nossos inimigos LANDROS invadiam o
planeta e tentavam através da semente da discórdia e da traição destruir a harmonia do planeta, isso
aconteceu com a própria Terra quando os invasores LANDROS aqui chegaram, neste período reinava
sobre o planeta a grande civilização AL-TALANTE, este nome significa „povos que vivem na superfície
da terra‟. Ao contrário de ATLÂNTIDA que quer dizer: „Terras cobertas de águas‟. Nossas Mônadas
evoluíram dentro de um sistema solar pertencente à constelação do Grande Cão onde se encontra o
Sol Sírius que é o Sol central de nossa galáxia; tudo isso pode ser comprovado pelos Registros
Akáshicos da natureza”, disse o Jamaicano.
“E o que ocorreu conosco para chegarmos neste estado lamentável de existência?”, perguntou
Michelle.
“Houve uma rebelião e fomos expulsos do circulo da humanidade solar”, respondeu.
“Você quer dizer que passamos para o lado dos LANDROS?”, perguntou assustada.
“Não, isso envolve outros assuntos um dia você poderá lê nos Registros Akáshicos e
confirmar tudo isso”, respondeu.
Depois deste diálogo Águia Negra se retirou e seguiu seu destino.

‫ש‬
Já fazia quarenta e dois dias que Antares e Michelle estavam juntos, porém Antares nunca
havia falado de como ficaria a relação dos dois, depois que ele partisse para o México. Então ele
expôs o problema para ela.
“Manhã irei embora para o México e você vem comigo ou fica?”, perguntou de forma bem
objetiva.
“Agora sou sua esposa sacerdotisa e aonde quer que vá e também irei, sua cruz também é
minha cruz, sua dores são minhas dores, seus sofrimentos são meus sofrimentos, sua alegrias são
minhas alegrias, seus êxitos são meus êxitos, nossos espíritos são unos em um mesmo propósito”,
respondeu Michelle feliz.
“Que bom! Estou feliz por isso!”, exclamou Antares.
“Quem vai conosco além das três meninas”, perguntou Michelle.
“Somos em sete, Águia Negra partirá conosco e a sétima encontraremos no caminho”,
respondeu.

Antares estava acariciando sua companheira na revolução sexual, esta correspondeu suas
caricias.
“Hoje iniciaremos a segunda etapa da prática sexual”, disse Antares.
“Eu sei e já preparei o ambiente”, disse Michelle.
Já na câmara nupcial, onde o odor amadeirado da canela impregnava, encontrava-se o casal
em caricias e beijos extasiantes.
“Seja paciente, sua respiração esta ofegante e seu corpo tremulo; controle sua respiração
para equilibrar seu sistema nervoso e concentre-se na energia que circula em seu corpo, não se
identifique com o meu corpo mantenha a atenção no seu”, dizia Antares para a amada que estava um
tanto ansiosa pela experiência que estava preste a acontecer.
As batidas cardíacas de Michelle estavam aceleradas demais, ela tinha grande dificuldade
para manter o controle sobre a pressão da força nos genitais, queria lançar-se com sofreguidão e
volúpia insaciável para se livrar da pressão através do orgasmo, isso se dava devido o vicio da
fornicação que por anos praticou, porém Antares a ajudava a alcançar o controle necessário para que
o intercurso sexual se realizasse com êxito. Depois que passaram as tempestades dos primeiros
instantes, Michelle obteve um certo equilíbrio na respiração e com isso as batidas cardíacas se
harmonizaram. Antares, com muita destreza e sabedoria, foi conduzindo a dama em chamas para o
intercurso sexual. Antares utilizou o método passivo, sentou-se sobre uma mofada confortável e pediu
que Michelle sentasse em seu colo, ela fez o que ele pediu, então, guiada pelo instinto sexual,
absorveu deliciosamente para o interior de sua lânguida e lubrificada yone, o lingam de Shiva, este
manteve-se sacro no santuário da Lua. Michelle estava completamente embriagada pelo vinho do
amor do deus Dioniso. Mantinha toda sua percepção voltada para as sensações eróticos que
percorriam seu delicado corpo, ela jamais havia sentido isso em toda sua vida sexual, porque jamais
havia lembrado de si em pleno intercurso sexual, sempre perdia a razão e o frenesi sexual lhe roubava
a consciência neste ato tão sublime e sagrado. As vezes realizavas suaves cavalgadas, nesses
instantes os músculos vaginais de sua yone davam fortes contrações, porém Antares estava no
comando do Carro de Guerra,181 assim, continha a fúria sexual desta mulher de grande força sexual.

181
É interessante a sutileza do autor em divulgar certos mistérios em suas narrativas sexuais, pois na frente do
Carro de Osíris que é o Arcano sete do Târo, há o ligam-yone, isso indica que o Carro de Guerra é o veículo
sexual e sua forma cúbica prova isso, porém foi colocado propositadamente o lingam –yone para revelar este
mistério; as duas esfinges que puxam o Carro cúbico são Jakim e Boaz, as duas polaridades da força sexual. O
Condutor do Carro representa a Vontade que deve ser soberana durante o ato sexual.
Esta primeira operação com o Grande Arcano da Magia, repediu-se por muitas vezes. Michelle tinha
grande disposição sexual e um fogo imensurável.

‫ש‬
Quando o Sol entrou em Libra e se encontrava a três graus, Antares e os amigos deixaram
Nova York, partiram no ônibus-trailer como ele havia recomendado anteriormente. Antes da viagem,
Antares foi ao banco francês e pegou as barras de ouro e as vendeu a um amigo de sua família que
residia na cidade, depositou o cheque em sua conta.
Viajaram toda à tarde e à noite atravessando o Estado da Pensilvânia. As mulheres dormiam e
Águia Negra e Antares revezavam no volante. Pela manhã Antares estacionou o ônibus-trailer em um
motel que ficava na beira da rodovia que dava acesso à cidade Cleveland, onde se assearam e
fizeram o desjejum. Depois partiram e pararam na cidade de Cleveland onde abasteceram o ônibus-
trailer, permaneceram ali por um dia conhecendo a cidade, depois seguiram a viagem. Quando o dia
amanheceu eles já estavam no sul do Estado de Indiana, onde passaram o dia acampados em uma
região campestre onde a vida bucólica era intrínseca. As mulheres tinham espíritos aventureiros e riam
e brincavam, Águia Negra era solitário e falava muito pouco, apenas dialogava poucas vezes com
Antares. Um dado momento o Jamaicano retirou-se e sumiu no meio da floresta. Alexandra o achava
muito estranho e de certa forma sua aparência exótica lhe intrigava; Antares jamais relatou com elas
sobre a vida deste insólito homem. A curiosidade em saber o que fazia o Jamaicano invadiu o espírito
de Alexandra, então ela se afastou do grupo e foi cautelosamente atrás do misterioso Jamaicano.
Passou muito tempo tentando avistar o Jamaicano, mas não o encontrou na direção em que ela
procurava. Alexandra, então foi para a direção oposta onde dava para uns rochedos, porém ali havia
ursos. Foi então que ela avistou o Jamaicano sentado em posição de lotos sobre um rochedo, porém
ela se encontra atrás dele, ocultou-se atrás de um rochedo e ficou ali o observando de longe. Parecia
um budha negro com a consciência submersa no grande oceano nirvânico. Uma força magnética
envolvia o Jamaicano e atraia Alexandra como a serpente atraia sua presa, então ela se aproximou
com passos leves como a pena, porém ao aproximar-se ficou horrorizada pela que via diante de seus
olhos. Havia muitas serpentes de várias espécies em torno do Jamaicano, era como se fosse suas
guardiãs. Ela em pânico abandou o local imediatamente. Chegando no acampamento vermelha e
assustada, as amigas se preocuparam, então Jaqueline a mais ousada das três disse:
“Que foi o Jamaicano tentou de agarrar, pois já percebi há muito tempo à maneira como ele te
olha”, disse isso rindo muito junto com Katarine.
“Deixem de besteiras, o que eu vi vocês não vão acreditar”, disse com o semblante vermelho e
com os olhos assustados.
“O que você viu, uma cobra negra querendo entrar em sua gruta dourada!”, exclamou
chulamente Katarine rindo de forma irônica. Michelle neste momento se aproximava e ouvira as
palavras chulas da irmã, não acreditando no que ouvia da boca da irmã, disse severamente:
“É dessa forma que você busca seu Real Ser minha irmã, que coisa feia profanando o verbo!”.
Katarine de fato não era desta forma e até ficou surpreendida com seus atos. Michelle comentou com
Antares o ocorrido, este disse:
“É necessário que as bestas saiam das guaritas infraconscientes para que sejam degoladas,
não se preocupe com Katarine ela está se observando e com certeza apanhou a besta pelos cornos.
Entre nós há um Mestre do Raio da Morte. Muitas bestas emergirão de nossos inconscientes durante
esta viagem, pois os átomos emanados deste Mestre nos ajudam na morte mística”.
“Muito interessante”, disse meigamente Michelle, à medida que saia de mãos dadas para um
passeio com Antares.
A noite chegou e nada do Jamaicano, Michelle estava preocupada com o sumiço de Águia
Negra. Alexandra nada disse devido o sarcasmo das amigas, porém vendo a preocupação de
Michelle, resolveu contar o que vira para esta. Então ela informou Antares, este disse:
“Então passaremos à noite aqui, será agradável”. Fizeram uma fogueira e ficaram até tarde da
noite conversando e rindo dos assuntos insólitos ali relatados. Antares também falou de coisas sérias
como, por exemplo, o processo da segunda morte, que é o desintegração do corpo de desejo onde
estão agregados todas as paixões bestiais; Antares ensinava que o corpo de desejo era desintegrado
nos reinos infra-atômicos da natureza, os sete infernos. E que cada inferno tinha uma vibração mais
densa do que o outro.
Pela manhã Águia Negra manifestou-se silenciosamente entre os amigos. Estava brando,
desperto e contemplativo. Sua voz era suave e pausada. Com o retorno de Águia Negra, os
aventureiros seguiram a viagem. A cidade de Chicago ficava aproximadamente seis horas dali,
Antares necessitava realizar uma parada ali pelo menos uns três dias, tinha negócios a tratar ali.

Chegando em Chicago se hospedaram num hotel simples. Antares deixou os amigos e partiu
misteriosamente. Águia Negra ficou como guardião das mulheres.
“Este homem é muito estranho, parece um feiticeiro; ontem quando eu cheguei tremula, eu
não disse, mas eu vi este homem, que Antares chama de Águia Negra, meditando sobre um rochedo e
ele estava cercado de víboras e, o mais insólito, é que as víboras não lhe causavam mal algum, muito
pelo contrário elas pareciam protegê-los, fiquei horrorizada”, disse Alexandra para as amigas.
“Meu deus! Que coisa louca!”, exclamou eufórica Jaqueline.
“Você já perceberam que os cabelos deste homem paradoxal parecem serpentes como os da
Medusa da mitologia?”, indagou Katarine.
“Realmente, parece Medusa a que petrifica com o olhar”, disse Alexandra, à medida que
olhava desconfiada para o Jamaicano que se encontrava longe delas e se encontrava dialogando com
Michelle. Quando Águia Negra se afastou de Michelle e passou entre as moças, uma delas disse:
“Medusa, por que você é tão calado?”, perguntou Jaqueline em tom irônico.
“Medusa? Você sabe quem é Medusa minha jovem? Por que me chama pelo nome do
demônio do desejo? Por que me tratam com escárnio que mal tenho eu feito a vocês? Vocês não
passam de jovens rebeldes sem causas, cheias de mimos, preconceitos, brincam de esotéricas e
acham que já são iniciadas, pelo motivo de Antares tê-las aceitado como discípulas no grau de
Aprendiz. Vocês não são nada! Absolutamente nada! Não passam de aglomerados de forças
psicofísicas carregadas de falsos valores! Não compreenderam nada das coisas que o Mestre Antares
vem ensinado a vocês!”, exclamou energicamente com autoridade no verbo. Todas ficaram estáticas e
espantadas, Katarine, a mais sensível de todas, correu para os braços da irmã gritando e chorando.
“Minha irmã este seu amigo é um groso”, Michelle que ouvia tudo, nada disse a irmã, manteve
silencio. Já Jaqueline que era a mais ousada e agressiva partiu para cima de Águia Negra com gritos e
insultos. À medida que insultava o Jamaicano, este totalmente calmo e demonstrando misericórdia,
olhava profundamente no interior daquela jovem rebelde e cheia de cólera; depois virou e segui
indiferente aos ataques verbais de Jaqueline, esta ficou possessa de cólera e ficou por muito tempo
remoendo o assunto com sua canção psicológica.
Alexandra seguiu o Jamaicano e disse:
“Perdoa elas, pois não sabem o que falam, são ainda muito imaturas, mas são boas pessoas,
tenha paciência com elas”, disse meigamente Alexandra. Águia Negra não ficou surpreso com a
atitude de Alexandra, pois ele conhecia bem esta jovem mulher.
“E você, também pensa como elas em relação a meu estado de ser?”, questionou
objetivamente olhando profundamente nos olhos de Alexandra, esta ficou desconcertada com a
pergunta e ficou parada sem resposta por um tempo.
“Não, nada disso, apenas acho você uma pessoa paradoxal”, disse preocupada.
“Por que me vigiava ontem quando eu estava recebendo os ensinamentos das serpentes?”,
perguntou propositadamente com o intuito de estender o dialogo.
“Meu deus! Como sabia? Pois, você estava virado de costas para mim, como...”, Alexandra
demonstrou grande espanto e até pensou que te fato se tratava de um feiticeiro.
“Eu não vi, foram as serpentes que me disseram”.
“Nossa! Realmente falava com as serpentes, achei que estava brincando comigo, que arte é
esta!?”.
“Meus pais foram assassinados pelos fanáticos da seita da KU KLUX KLAN no Texas, pois
como vê, sou americano como você, não jamaicano como todos aqui pensam. Um velho apache que
ainda vive, este me achou órfão e me levou para o meio dos seus onde fui criado em seus costumes,
este sábio apache hoje vive no Novo México e se encontra em idade avançada. Este apache é um
Xamã muito poderoso na arte da magia e me ensinou a falar com os animais, com o fogo, com o
vento, com a lua, com a fumaça, com o rio, com a floresta etc., enfim, ele ajudou a despertar aquilo
que eu já trazia dentro de mim em estado potencial, por isso falei com aquelas serpentes que para
mim são seres invencíveis e dóceis”.
“Meu deus, como eu estava equivocada em meus conceitos!”, exclamou arrependida
Alexandra.
“Como já sabe sou Águia Negra e fui em busca de Águia Branca, o Grande Espírito me levou
até a Fênix Vermelha, e esta me guiou até Águia Branca”.
“Quem é Fênix Vermelha? Quem é Águia Branca, não compreendo sua linguagem xamânica”.
“Um dia saberá, a hora não é esta, mas a hora chegará”, disse isso e seguiu seu solitário
caminho, porém Alexandra o seguiu e lhe fez uma última pergunta:
“Por que foi tão duro com agente?”.
“Já leu a teoria da curvatura da vara?”, perguntou Águia Negra.
“Sim, Lênin a escreveu”, respondeu.
“Eu apliquei esta lei com suas duas amigas para salvá-las”, disse e se retirou sem mais nada
falar.
Alexandra passou o dia refletindo e pensava em tudo em que Águia Negra disse para ela,
depois deste diálogo algo mudou nela, agora seus belos olhos azuis viam aquele insólito homem de
forma diferente. Ela queria retornar o diálogo, porém Águia Negra era silencioso e só falava o
necessário, apesar de estar sempre de conversas particulares com Michelle que também era uma
xamânica e, provavelmente trocavam conhecimentos mágicos.

‫ש‬
Antares estava sentado em uma das mesas de um bar discreto freqüentado por intelectuais, o
bar se localizava em uma das principais ruas de Chicago, parecia aguardar alguém. Lia uma revista
cientifica, de quando em quando olhava o relógio à parede, como se estivesse esperando alguém. Um
executivo de aproximadamente quarenta anos portando uma maleta preta, entrou no bar e se dirigiu
em direção à mesa onde Antares se encontrava.
“Como vai meu velho frater! Há quanto tempo não nos vemos, apesar de meio século, parece
um jovem de trinta anos, você não fica velho nunca, por acaso encontrou a fórmula secreta de
Cagliostro?”, disse sorridente o executivo.
“Como anda as coisas na Loja de Chicago?”, perguntou Antares.
“Vão indo, as coisas mudaram muito por aqui, os fiéis maçons já não existem mais, todos
rendem culto ao deus Capital. Há muitas conspirações, muitos dos nossos foram expulsos e outros
perseguidos. As nossas Lojas estão infectadas de porcos chauvinistas. A bela e donzela Maçonaria de
idos passados, jaz adormecida na gélida sepultura do mundanismo; agora é uma prostituta escarlate
adornada de ouro e pedras preciosas, porta a taça do vinho da prostituição e está embriagada pelo
poder mundano. Teu Manifesto maçônico chegou até nós e causou grande polêmica entre muitos por
aqui; seu nome se encontra no livro negro é considerado o grande traidor da Maçonaria. A Maçonaria
revolucionária que você propôs em seu manifesto é uma verdadeira afronta contra os interesses de
muita gente, abandonar o luxo e a riqueza em beneficio da humanidade doente, não é o propósito
daqueles que detêm o poder nas mãos. A Maçonaria já caiu há séculos. Teus escritos provocaram
grande cisão entre os maçons. Enviaram um chacal à Nova York para te eliminar, ainda bem que leu
minha carta a tempo”, disse executivo maçom que apoiava Antares.
“Estou indo ao México lá alguns fiéis frates me esperam para formamos uma Loja. Vamos
organizar uma Escola espiritual onde se possa educar a humanidade doente na Filosofia, na Ciência,
na Arte e na Religião Sabedoria. Estamos na Era de Aquário, estamos na era das grandes revoluções;
a Gnose revolucionária de Urano demolirá os velhos ídolos da Era de Peixes! O velho homem caótico
forjado pelas ilusões da Era de Peixes deve morrer, somente assim o Super Homem nascerá da
Alquimia sexual de Urano182”, exclamou Antares com o espírito cheio de entusiasmo.
“Viva a grande revolução espiritual que há de acontecer!”, disse o executivo brindando, pois
ambos tomavam vinho.
“Enfim, vamos ao que interessa no momento, você tem noticias do Mestre Aleph?”, perguntou
Antares.
“Sim, passou três anos encarcerado em uma penitenciária sobre a acusação de fraude. Ele
acusou o Grão-Mestre de nossa Loja de envolvimento com KU KLUX KLAN; devido a esta acusação,
armaram uma cilada para ele para degradarem sua imagem. Teve muita sorte de não ser eliminado
pelos membros fanáticos e sectários desta sociedade secreta diabólica, isso só não ocorreu pelo fato
de que se isso ocorresse o Grão-Mestre seria o principal suspeito, isso levaria o povo à indignação,
uma vez que a policia, o sistema judiciário e político se encontram nas mãos destes canalhas, e por
partes destes com certeza nada daria, o caso seria abafado, porém eles temeram e perceberam que o
Mestre Aleph era mais perigoso para eles morto do que vivo. O irmão do Mestre Aleph nos informou
que este após cumprir a pena foi embora para o Colorado e lá vive isolado num rancho localizado nas

182
O nome Urano trás em si um mistério, pois este nome é formado segundo Roso de Luna de duas palavras:
Ur que significa esotericamente Fogo e Anas que significa Águas (Ur-Anas), ou seja, o Fogo sexual e o
Sêmen onde se encontram os átomos do Logos em estado potencial; estes átomos entram em atividade pelo
processo da Alquimia Sexual. Por isso, os Mistérios de Urano e Aquário regem a Revolução Sexual o que
ocorre com os processos de alquimia sexual onde as energias sexuais sofrem uma transmutação alquímica
através da reversão do fluxo que ao invés de saírem para fora dos órgãos genitais, são revertidos para dentro e
para cima até a glândula pineal onde se encontra o Átomo do Espírito Santo, a sede da Inteligência. As
auréolas dos santos representam este mistério. Jesus ensinou este processo quando disse a Nicodemos que o
segundo nascimento se dá através do Fogo e da Água, ou seja, do fogo sexual e das águas seminais.
terras de uma viúva amiga de sua família. Na solidão ele produz os textos filosóficos de seus ideais”,
respondeu.
“Você tem o endereço deste rancho?”, perguntou Antares.
“Sim, vou anotá-lo pra você”, disse o advogado maçom amigo fiel de Antares.
Depois do longo diálogo, o advogado abandonou o bar olhando para os lados como se
estivesse com medo de ser visto por alguém, logo desapareceu no meio das pessoas que trafegavam
por ali. Antares saiu logo depois e seguiu para o hotel, o sol já estava se pondo.
Antares penetrou em seu quarto, Michelle estava deitada preguiçosamente lendo um dos
livros de Antares que tratava sobre alta magia.
“Oi meu amor! Como foi o encontro com seu amigo maçom?”, perguntou meiga, Michelle.
“Foi um em encontro produtivo e deu tudo certo, localizei o Mestre Aleph. Esta em uma
pequena cidade do Colorado”, respondeu Antares e relatou toda a tragédia do Mestre seu amigo para
a esposa sacerdotisa.
“Estou lendo este complexo livro. Percebi que minha clareza intelectual se tornou mais
aguçada, compreendo com mais facilidade o esoterismo contido neste livro”, disse Michelle, à medida
que abraçava meigamente o amante.
“É a transmutação sexual, esta possibilita um contato mais direto com o Átomo Nous
localizado no coração. Nous é a sede do Cristo Íntimo; neste Átomo reside a Sabedoria de seu Cristo
Íntimo. Ele está saindo do estado potencial para a atividade, logo terá experiências extraordinárias. A
vibração de Nous põe em atividade a glândula timo, esta produz um hormônio especial que serve de
veículo as vibrações do Cristo Íntimo; estas vibrações penetram na corrente sanguínea e chegam ao
celebro, por isso você está tendo clareza mental e idéias puras. O estado de consciência Nous nos
coloca em contato com o mundo budhico 183 onde se encontra a sabedoria do Cristo Íntimo”, explicou
atenciosamente o Mestre Antares.
“Que sabedoria esplendida! Então a gnoses ou o conhecimento superior provindo da
sabedoria de nosso Cristo Íntimo, só pode ser alcançado pela intuição e não pela razão?”, perguntou
Michelle.
“Exatamente. É pelo estado de consciência Nous que o homem penetra no inteligível e
conhece a idéia pura pela intuição como ensina a teoria do conhecimento do filosofo Platão”,
respondeu o Mestre.
Depois do diálogo, o casal ficou namorando por um longo tempo, depois fizeram amor com
grande ardência e maestria.

No final do terceiro dia, o grupo partiu de Chicago rumo ao Colorado. Atravessaram o Estado
de Iowa e o Estado de Nebraska, onde realizaram uma parada de dois dias e meio e ficaram
acampados em um bosque onde havia uma região muito bela.

Antares observou que Alexandra estava despertando sentimentos de afeição por Águia Negra,
pois esta o olhava constantemente, porém Águia Negra era um ser silencioso e não dado a conversas.
Águia Negra era um homem de um reto falar, de um reto agir e de um reto pensar. Não bebia bebidas
alcoólicas, não fumava e não comia carne. Como de praxe o grupo, no cair da noite o grupo fez uma
fogueira e se reuniu ao seu redor. Katarina tocava uma bela canção em seu violão ao mesmo tempo
183
O mundo da Consciência, Intuitivo; este mundo é o mundo do Cristo Íntimo. Corresponde a esfera de
Geburah da Árvore Sefirótica da Cabala. Encontra-se acima do mundo causal ou mundo da Inteligência
abstrata, do Manas Superior da Teosofia. O veículo de Manas Superior ao da Alma humana é o corpo mental
abstrato que se encontra acima do corpo mental concreto que é o veículo de Manas Inferior que esta preso ao
mundo sensível ou do fenômeno.
que cantava uma melodia deliciosa e produzia na alma uma certa paz de espírito. Águia Negra se
afastou do grupo e permaneceu a uma certa distância da claridade do fogo. Parado observava o céu
anilado e estrelado, ficou nesse estado de contemplação por um longo tempo. Alexandra
discretamente se aproximou do estático homem e disse:
“O céu estrelado é belo, sempre que contemplo sinto algo dentro de mim, é como se eu já
navegasse por estas miríades e miríades de estrelas, sinto saudade inexplicável, como alguém que se
ausenta por longo tempo de seu lar”, disse isso fixando o céu.
“Realmente a deus Urânia é bela. Também tenho os mesmos sentimentos que os seus
quando contemplo esta deusa inefável e desiderata”, disse Águia Negra.
De repente Alexandra aponta o dedo para um ponto do céu e exclama eufórica: “Veja aquilo,
meu deus é uma estrela andando!”.
“Não é estrela, é uma nave espacial trafegando pelo espaço sideral, vou me comunicar com
eles”, disse Águia Negra, à medida que mantinha os olhos serrados e o rosto voltado para o céu.
Alexandra achou estranho, porém não questionou e permaneceu em silencio, porém pensou
secretamente que o amigo não regulava bem da mente.
Depois de certo tempo o ponto luminoso que se movimentava, crescia e parecia que estava
vindo em direção ao local onde o grupo se encontrava. Tanto Alexandra quando Águia Negra,
permaneceram estáticos e com os olhos fixos no ponto que crescia a cada instante. Chegou a um
certo ponto que o ponto parou e de dele saiu um outro pequeno ponto de luz avermelhada que se
locomovia em alta velocidade em direção ao local onde o grupo se encontrava. Até então, Antares e
os outros não havia percebido nada, porém algo insólito ocorreu, as pessoas ali ao redor da fogueira
sentiram a presença de uma força inexplicável. Antares se levantou e disse: “Eles estão chegando”,
disse isso, à medida que virava o corpo para o local onde se encontrava Águia Negra e Alexandra.
Todos ali ficaram eufóricos, menos Antares e Águia Negra, com a presença daquele pequeno disco
voador que estava pousando a uns duzentos metros dali. As mulheres ficaram com muito medo e
entraram em pânico com o fato insólito, porém Antares acalmou-as dizendo que se tratava de amigos
extraterrestres que vieram visitá-los. Um ser desceu da pequena neve e parou poucos metros, depois
chamou telepaticamente Águia Negra, este sem receio se aproximou do ser de pele dourada e de
longos cabelos prateados. O ser era afeições angelicais. Águia Negra ficou aproximadamente dez
minutos se comunicando através da telepatia com este ser. Alexandra estava paralisada como se
estivesse em estado de choque. Depois Águia Negra voltou e chamou Antares, disse algo ao amigo e
depois retornou para junto do ser, ambos penetraram na nave e esta em uma velocidade
extraordinária seguiu para a nave mãe.
“Meus deus o que é isso! Águia Negra se foi com os extras terrestres!”, exclamou eufórica
Alexandra para a Antares.
“Não se preocupe, ele foi apenas passear em um determinado planeta, em poucos minutos
estará de volta, o tempo e o espaço deles é deferente do nosso”, disse acalmando a discípula.
“Eu pedi para ir, porém eles não permitiram”, disse Antares para sua companheira Michelle,
esta e as outras não acreditavam no que viram.
Depois de quarenta minutos, o fenômeno ocorreu novamente, só que desta vez eles traziam
de volta seu visitante Águia Negra. Este se encontrava muito feliz, permaneceu em silencio por um
bom tempo, depois disse aos amigos:
“A milhões de anos não realizava uma viagem destas, isso para mim foi um presente dos
deuses, apesar de não ter méritos para isso. Eles pediram que lhes dissessem que logo a terra entrará
em colapso, devido o motivo de estar vinda para a órbita de nosso planeta um colossal planeta
vermelho cujo nome se chama Hercólubus184, o mesmo que passou aqui na ocasião da ruína da
Atlântida. Este planeta pertence ao sistema solar vizinho do nosso. A força gravitacional deste planeta
fará com que os pólos da terra que foram invertidos na ocasião da queda de Atlântida, voltem como
antes, o continente de Atlântida emergirá novamente e grandes partes de nossos terras se tornarão
grandes mares. Uma nova terra aparecerá do caos que este planeta vermelho provocará em nosso
globo terrestre. As emanações densas deste planeta provocará grandes distúrbios psicológicos e
grandes epidemias. Esta raça decadente será exterminada, a força magnética deste planeta arrastará
a sujeira do plano astral de nosso planeta. E as pessoas que não conseguiram evoluir neste planeta e
que ainda se encontram presas ao ciclos das reencarnações, serão levadas para reencarnarem neste
planeta cuja a vida ainda se encontra em estado primitivo. Somente aqueles que se encontram em um
estado de vibração mais elevado e que equilibraram suas energias sexuais, poderão escapar da
grande catástrofe. Nesta ocasião os Jardineiros do Espaço enviaram suas naves para resgatar as
almas que evoluem e que gemem e suspiram pela abominação cometida na terra. Nossa missão é
divulgar esta mensagem aos povos do planeta. Os LANDROS também entrarão em ação e divulgarão
mentiras através dos médiuns espíritas para desvirtuar esta mensagem”.
A ouvir o nome LANDROS, Michelle se lembrou da história sideral que envolvia todos ali. As
moças estavam assustadas e eufóricas, agora percebiam a profundeza dos ensinamentos que viam
recebendo, até então não haviam despertado a consciência sobre o significado profundo destes
ensinamentos. Até então achavam que se tratava apenas de uma filosofia de vida. Agora percebiam
que suas almas precisavam se regenerar para escapar desta catástrofe eminente. Com esta
experiência suas almas receberam o assombro necessário que serviria de impulso à revolução de
suas consciências adormecidas no fenômeno da Natureza e escravizadas na dialética da mesma.

No final do dia seguinte chegaram ao sul do Colorado e seguiram para a fazenda onde se
encontrava o Mestre Aleph vivendo uma simples e tranqüila vida de camponês.
O Mestre Aleph estava descrente de todas as escolas espiritualistas. Ele já não tinha mais fé
na Maçonaria, na Rosa Cruz, na Teosofia, nas Escolas Gnosticas de diversas linhas. Para ele todas
haviam se rendido ao culto do Anticristo, ao deus Capital; todas negaram o Espírito e se
materializaram. Tornou-se um homem angustiado, não compreendido pela família, amigos e até
mesmo a jovem esposa o abandonou quando ele caiu em ruínas; todos viraram às costas quando ele
mais precisou da ajuda deles. Estava sonsinho no mundo e vivendo de favores nas terras de uma
bondosa anciã que o estimava muito.
Antares estacionou o ônibus-trailer próximo do rio que passava pelas terras daquela fazenda
onde eram cultivados enormes campos de trigo. As pessoas da região olhavam com desconfiança e
pensavam secretamente que se tratava de vagabundos artistas de alguma companhia de teatro
ambulante, que vieram de alguma cidade grande do norte para corromper a moral da juventude com
seus modos de vida degenerados. Os sulistas, como eram chamados os povos destas regiões
americanas, eram pessoas em sua grande maioria puritanas, gente conservadora e cheia de
preconceito, pessoas perigosas. Águia Negra informou Antares que resolvesse seu negócio o mais
rápido possível, pois esta era uma região perigosa demais para pessoas de espíritos livres como eles.
Esta era uma região dominada pelo protestantismo calvinista. Antares seguiu para a residência da
fazenda onde se encontrava seu amigo, um capataz da fazenda interceptou Antares e perguntou o
que ele desejava ali, este se identificou como francês e disse que desejava falar com a proprietária da

184
Hoje já é provado pela ciência a aproximação deste planeta. Esta pessoa que escreve estas linhas já viu
clarividentemente no plano causal esta grande catástrofe que se aproxima. Grandes furações serão despertados
e entrarão em erupção.
fazenda, pois tinha negócios a tratar com ela. O capataz que era um homem louro, forte e de
semblante emburrado, com muita má vontade dirigiu Antares até o casarão da fazenda onde residia a
anciã e a família. O capataz pediu que Antares aguardasse enquanto ia chamar a patroa. Disse à
patroa que um francês estranho de cabelos longos e grisalhos estava procurando por ela, esta achou
estranho, não conhecia nenhum francês, porém foi ver do que se tratava. Antares informou a anciã
que estava procurando o amigo e esta lhe falou que ele vivia em um rancho dentro de suas terras
localizado próximo ao rio. Ela pediu que um dos empregados da fazenda levasse Antares até o rancho
de caminhonete. Quando a caminhonete se afastou, o capataz disse:
“Que francês estranho, que será que ele quer com o filosofo?”.
“Os franceses são pessoas cultas e elegantes, este é um bom homem se vê pelo anel que trás
no dedo e a forma elegante como se veste”, disse a anciã, pois ela sabia que o anel que Antares
usava era maçom, pois sua família pertencia a Maçonaria.
O barulho do motor anunciava a aproximação da caminhonete, isso não era normal pensou o
Mestre Aleph, pois ninguém nunca o visitava ali. Neste dia o filosofo se encontrava em profunda
angustia, esta era o impulso que o inspirava nos mais profundos pensamentos filosóficos, ele estava
escrevendo uma novela onde o enredo tratava sobre a moral decadente do homem contemporâneo. A
novela contava uma história de um professor filosofo adepto das idéias de Nietzsche que tinha como
adversário intelectual um padre liberal adepto da filosofia de Tomas de Aquino, e amava uma judia
filha de um rabino ortodoxo. O Mestre Aleph tinha acabado naquele dia seu romance filosófico.
Ouvindo o ronco do motor da caminhonete estacionando a uma certa distância, saiu para
saber do que se tratava a visita. Sua angustia desapareceu e uma enorme felicidade invadiu sua alma
dilacerada pelas injustiças do mundo quando viu seu velho e fiel amigo francês que há muito tempo
não o via, pois a última vez que se encontraram foi no crematório onde o corpo de sua amiga e esposa
de Antares, foi cremado.
“Meu amigo Joseph há quanto tempo!”, exclamou Antares, à medida que abraçava sorrindo e
feliz por reencontrar seu fiel amigo.
“Como veio parar aqui neste fim de mundo onde as hienas governam no lugar dos leões?!”,
exclamou interrogativamente Joseph, cujo nome maçom era Mestre Aleph.
“Isso é uma longa história que com certeza você irá saber”, respondeu Antares, cujo nome
maçom era Mestre Schim, à medida que penetrava o rancho de Joseph.
A casa de Joseph era desorganizada e havia livros espalhados por todos os cantos. A
desorganização refletia a angustia que este filosofo maçom passava em sua alma. Conversaram
durante duas horas sem cessar. Antares relatou seus projetos para o amigo e o convidou para ser um
dos arquitetos da nova Franco-Maçonaria revolucionária que ele e outros estavam prestes a organizar
no México. Joseph aceitou a proposta com grande regozijo na alma, juntou seus livros e os poucos
pertences que tinha e partiu com Antares, mas antes foi até o casarão para se despedir e agradecer a
bondosa anciã que lhe deu abrigo e alimento sem nada pedir em troca. A ancião ficou feliz pelo estado
animador daquele que desde que chegou ali só vivia angustiado e depressivo, depois ordenou que seu
empregado levasse a bagagem na caminhonete até o ônibus-trailer, a anciã muito se simpatizou com
Antares e o agradeceu por restaurar a vontade de viver novamente naquela alma vitima das injustiças
daqueles que detém o poder em suas mãos.
Michelle encontrava-se absorta sentada deliciosamente sob a sombra de um grande carvalho,
quando viu Antares e um homem descer duma caminhonete. O sujeito que acompanhava Antares era
magro, nariz aquilino, de aproximadamente um metro e oitenta de altura, cabelos curtos e ruivos, os
olhos eram azuis e pequenos, usava óculos de grau redondo; vestia-se muito mau e com desleixo;
tinha aspecto de intelectual e destituído de beleza, e com certeza não era agradável às mulheres que
buscam um macho potente, belo e forte para ser o genitor de sua espécie. Se o corpo deste homem
era destituído de beleza, frágil e débil, o mesmo não se dava com sua alma, pois trazia na áurea uma
força de atração inexplicável, sua imaginação criadora era extraordinária e sua mente era brilhante.
Seu caráter era o veículo de valores nobres e transcendentais; virtuoso e conhecedor do bem e do
mal. Homem simples e humilde que, a primeira vista, parecia uma pessoa ingênua. Este homem que
Michelle contemplava ao lado do seu companheiro era Joseph, o Mestre Aleph, um dos últimos franco-
maçom, homem incorruptível e de espírito revolucionário, porém, como todo geminiano era angustiado
e taxado de louco por aqueles que não compreendiam seus idéias elevados.
Antares apresentou o amigo ao grupo. Águia Negra que nunca havia rido, devido sua
seriedade, ao ver Joseph ria sem parar. Ninguém entendia o que se passava, porém logo após o
ataque de riso Águia Negra abraçou fortemente Joseph e exclamou com grande entusiasmo:
“Meu deus!!! Eu não acredito!!! É você mesmo Mestre Aleph? A Última vez que nos
encontramos foi na fogueira do Santo Oficio, onde fomos queimados vivos!”, exclamava eufórico e
rindo de felicidade em rever o velho amigo.
“Mestre Mem, o Anjo da Morte, sim agora me lembro de você”, disse Joseph seriamente ao
velho amigo não retribuindo os risos, porém demonstrava um brilho especial nos olhos ao rever o
velho amigo de eons.
“Estes iniciados são estranhos falam de suas vidas passadas como algo normal como se
estivessem além do tempo e do espaço. Será que nós também nos lembraremos nossas vidas
passadas como eles?”, perguntou baixinho Jaqueline para Katarine que estava contemplando a cena
com admiração.
“Acho que sim, eles praticam muita meditação, são desperto em outras dimensões, por isso
lembram quem são”, respondeu em tom baixo Katarine.
“São homens que estão na senda do Fio da Navalha, estão na seda do Super Homem, são
Zaratustra‟s que desceram a montanha da iniciação para levar a Boa Nova aos homens de boa
vontade”, disse Alexandra que ouvia a conversa das amigas.
“Nossa! Que profundidade filosófica! Vejo que anda progredindo desde que começou com
seus diálogos isolados com Águia Negra”, disse Katarine.
“Eu sei que diálogos são esses...”, disse sarcasticamente Jaqueline. Esta tinha grande
antipatia por Águia Negra e não o suportava, até pensou em abandonar o grupo e retornar para Nova
York, porém Antares havia tido um diálogo particular com ela e a convenceu a não fazer isso. A
personalidade de Jaqueline foi forjada num contexto social onde reinava a violência e o crime. Aos
treze anos foi estuprada por um traficante que dominava a área onde ela morava; ficou órfã muito cedo
e foi criada pelos avós que sempre viveram em extrema pobreza. Tinha traumas e neuroses
profundas. Antares sabia de sua situação, porque conversava muito com ela; ele era seu psicólogo,
ouvia sua trágica história de vida e tentava ajudá-la. Certa vez, quando todos dormiam e Antares
dirigia o ônibus-trailer, Jaqueline ficou ao seu lado relatando fatos de sua vida. Antares perguntou a ela
o motivo deste desdém pelo amigo Águia Negra, ela disse que não compreendia a repugnância que
sentia por ele, logo em seguida ela falou sobre seu estupro, Antares então percebeu que ali havia algo
de errado, então percebeu que a repugnância que ela sentia por Águia Negra de alguma forma estava
associado a seu trauma. O ódio que ela tinha do traficante que a estuprou era reprimido pelo medo
que ela tinha dele, então este ódio se projetava na realidade por outras vias, já que ela não podia se
vingar do tal traficante, então projetava o ódio naqueles que faziam ela lembrar inconscientemente de
algo que lembrava o traficante. Provavelmente Águia Negra tinha algo que fazia sua neurose florar,
mas o quê? Antares tentava através de seus diálogos com Jaqueline, levar a amiga à compreensão
deste eu diabo que residia em sua psique, somente desta forma ela poderia dissolver de sua psique
este agregado formado pelo trauma e pelo medo.
Ao contrário de Águia Negra, Joseph era extrovertido e comunicativo e passou toda a viagem
relatando o enredo do livro que tinha acabado de escreve.

Depois de oito horas na rodovia, o grupo finalmente chega a Santa Fé no Novo México, cidade
de Michelle e Katarine, divisa com o México. O ônibus-trailer estacionava em frente da casa onde
residiam à família de Michille. A alegria da mãe foi imensa quando viu as duas filhas, o pai com muita
cordialidade recebeu os amigos da filha com muita simpatia.
Águia Negra muito se simpatizou com pai de Michelle que era descendente direto dos
apaches, conversaram muito sobre o velho Xamã que adotou Águia Negra, o pai de Michelle havia
visitado algumas vezes a cidade onde residia o velho apache Xamã, e disse que havia levado Michelle
algumas vezes até o Xamã para curá-la, pois a filha quando criança era muito doente e fraca. Ele
relatou que o Xamã fez um ritual e deu alguns chás feitos com ervas especiais à filha, esta com o
tempo foi sanada completamente.
Permaneceram por quase toda à noite conversando, os pais de Michelle ficaram felizes em
saber que a filha primogênita estava unida com Antares. A mãe de Michelle era voltada a ler romances
e ficou satisfeita em saber que em sua casa havia um escritor com o qual ela travava amizade, este
escritor era Joseph que discutia a obra de Dostoievski „Crime e Castigo‟ com a distinta dama filha de
irlandeses emigrantes; a venerável dama era culta e tinha espírito livre, dote que passou para as
filhas. Ela relatou que quando conheceu o pai de suas filhas, sua família não aceitou o romance dela
com um índio apache, porém ela abandonou a família e foi viver humildemente com seu amado que
era um simples guia turístico. Ela pertencia a uma família de intelectuais metidos com a política. Ela
era da Califórnia da cidade de Los Angeles. Na época que conheceu o esposo ela era uma estudante
de Antropologia e havia ido com uma equipe de estudantes e professores ao Novo México para
estudarem a cultura apache, o esposo foi o guia turístico da equipe nos dias que permaneceram juntos
eles acabaram se apaixonando.
Também comentaram a obra de Franz Kafka: „O Processo‟. Participaram da roda de debates
Jaqueline, Alexandra e Katarine. Antarres havia acompanhado Michelle que havia ido visitar uma fiel
amiga em um bairro próximo. Águia Negra e o pai de Michelle estavam na varanda da casa em um
caloroso dialogo apache. As jovens discípulas do Mestre Schim, Antares, estavam maravilhadas com
a cultura literária do filosofo romancista Joseph, a velha e companheira angustia deste filosofo
frustrado havia desaparecido, ele se encontrava muito feliz entre pessoas do mesmo nível de ser dele,
pois agora ele estava sendo compreendido e seus valores reconhecidos. Por fim, debateram sobre os
conceitos expostos no „Elogio da Loucura‟ de Erasmo de Rotterdam, pois estavam comentando o fato
dos filósofos serem vistos como loucos e fracassados no amor, como Nietzsche e Schoppenhauer, por
exemplo. A dama intelectual prometeu que no dia seguinte falaria com eles sobre as ricas culturas dos
Maias e Astecas. Neste momento Antares e a esposa chegaram e todos foram dormir.
No dia seguinte Águia Negra combinou com o grupo de amigos para irem visitar o vilarejo
onde residia o velho e sábio Xamam que o criou. Este vilarejo ficava a quatro horas de Santa Fé.
Dois dias depois todos partiram para o vilarejo apache, inclusive os pais e o irmão de Michelle.

Águia Negra conduziu o grupo até seu velho pai adotivo, o velho Xamã ao ver o filho muito se
alegrou. O grupo ficou hospedado na casa do Xamã e ali ouviam suas sábias histórias, fumaram o
cachimbo da paz e festejaram. Permaneceram no vilarejo por dias, e nestes três dias muitas coisas
ocorreram.
Antares e os outros estavam ao redor do Xamã ouvindo seus sábios ensinamentos, porém
Águia Negra se encontrava do lado de fora da casa contemplando a Lua. Alexandra percebendo
ausência daquele homem que não saia de seus pensamentos, afastou-se discretamente e saiu como
se estivesse sendo chamada por uma força misteriosa. Ela avistou Águia Negra contemplando a Lua e
seguiu para junto dele.
“É linda, fascinante e misteriosa”, disse Alexandra olhando também para a Lua cheia.
“Falei com a Lua, esta misteriosa deusa da noite me disse que Águia Branca ama Águia
Negra, porém ela tem grande dúvida em seu coração, mas que encontrarão a paz finamente”, disse
Águia Negra mantendo os olhos fixos na Lua.
“Então Águia Branca é uma mulher prometida pra você, pois sei que os apaches têm estes
costumes?”, perguntou Alexandra.
“Sim, Águia Branca é uma mulher, mas não pertence ao povo apache e nem a ninguém. Águia
Branca é livre e é senhora de si mesma, só que ainda não sabe disso; voou de mundo longe até aqui,
mas não é daqui, é branca e não vermelha”, respondeu.
“Por que encontrarão a paz finalmente, o que houve de grave no passado com vocês?”,
perguntou curiosa.
“A história dos dois amantes aconteceu em uma época que reinava a trevas, ou seja, na Idade
Média, época que reinava o terror da Inquisição. Período difícil para os magos e as magas. O Espírito
humano de Águia Negra neste período estava reencarnado como um jovem que pertencia à
aristocracia que reinava no período feudal. Águia Negra neste período não tinha consciência de seu
Real Ser, porém era humanista e não compreendia o mundo de sua época. Águia Negra buscava
respostas para suas inquietudes de espírito, e numa destas buscas encontrou a Fênix Vermelha em
uma taberna com outros Cavaleiros que seguiam um nobre Cavaleiro feudal, eram templários que
estavam indo à Jerusalém para proteger os peregrinos cristãos. Fênix Vermelha me apresentou a seu
líder e ele me consagrou Cavaleiro Templário da Ordem do Leão Vermelho, e parti com eles para
Jerusalém. Antares era o Fênix Vermelha e o nosso líder foi aquele que você conheceu em Nova York
pelo nome de Regulus”, dizia Águia Negra olhando para a Lua quando Alexandra exclamou: “Meu
deus! Que história fantástica, vocês são membros de uma mesma Ordem secreta!”. Águia Negra
continuava sua narrativa: “Somos. O filosofo que se uniu conosco há poucos dias também era um dos
Cavaleiros Templários. O Templo desta sagrada Ordem existe na quarta dimensão, o Éden, porém
somente seus membros e suas esposas iniciadas podem penetrá-lo. É um Templo magnífico em
forma de cruz cristã e no estilo da arte gótica, e adornado com os mais belos relevos e símbolos
herméticos, encontra-se no centro de uma enorme muralha hexagonal.
Houve um sangrento combate com um grupo de cruzados desleais com o rei de Jerusalém no
deserto, Águia Negra foi ferido e se perdeu dos amigos, ferido e sem forças peregrinou por dois dias
perdido no deserto. Ficou inconsciente e nada mais viu, quando retornou à consciência percebeu que
estava deitado dentro de uma tenda árabe e estava sendo tratado por uma linda mulher árabe. Na
tenda, além da mulher, havia um homem que parecia se o pai da mulher, que era jovem e revestida da
misteriosa beleza árabe. O árabe me informou que havia encontrado-me no deserto à beira da morte e
que agora eu estava seguro nas mãos da dedicada esposa, então fiquei sabendo que aquela mulher
era sua esposa, apesar da pouca idade, isso era comum entre os árabes. Meu estado de saúde era
muito delicado e meu anfitrião e salvador queria que eu sanasse o mais rápido possível para
abandonar sua tenda, pois temia por sua vida, pois se soubessem que ele mantinha um inimigo em
sua tenda ele seria executado, uma vez que os mulçumanos estavam em guerra contra os cristãos.
Permaneci por vinte dias ali no deserto. O que eu temia, aconteceu a jovem esposa daquele
homem que me salvou despertou em mim o amor, ela também me amou, porém era um amor proibido,
desta forma nós reprimíamos a todo custo a força do amor que havia despertado em nós, mas quem
pode conter o amor? Ele se encontra acima do bem e do mal e ninguém pode detê-lo em sua
atividade. Educada na religião mulçumana e nos costumes árabes, esta mulher jamais poderia
entregar-se a outro homem que não fosse seu próprio esposo, ela não temia por sua própria vida, mas
pela vida Águia Negra, este também tinha seus ideais nobres e jamais deitaria com a mulher do
homem que lhe salvou a vida, o amor entre os dois era impossível, eles sabiam disso. Padeceram de
grande sofrimento. Até que um dia ocorreu a grande fatalidade, alguns beduínos saqueadores que
viviam pelo deserto em busca de acampamentos indefesos para saquearem, chegaram até o
acampamento deste bondoso homem que era o chefe do clã, porém sua tribo foi massacrada, seus
bens saqueados e as mulheres levadas como escravas, inclusive minha amada. Combati como um
leão feroz, mas eles estavam em numero superior ao nosso, minha espada tombou muitos daqueles
homens cruéis, não sei explicar como sai com vida daquele combate feroz, porém o mesmo não
aconteceu com o homem que me salvou a vida, este morreu com uma adaga penetrada no coração.
Minha alma encheu de sofrimento, voltei para Jerusalém e lá me encontrei com meus amigos, relatei a
história para eles e saímos em busca de minha amada, porém foram em vão nossas buscas. Nunca
mais a vi novamente, passei aquela existência em profundo sofrimento, dor e amargura. Por fim,
retornamos à Europa. Por aquela ocasião o Santo Ofício perseguiu os Templários e muitos de nós
fomos queimados nas fogueiras da inquisição, inclusive Águia Negra, Antares, Joseph e nosso Mestre
e líder, alguns de nós conseguiu fugir, mas a grande maioria foi exterminados”.
“Que história triste, mas agora você a encontrou novamente e podem ficar juntos”, disse
Alexandra.
“Sim, agora eu a encontrei, paguei o carma que devia”, disse Águia Negra.
“Mas, quem é esta mulher misteriosa que você chama de Águia Branca, como ela é? Ela se
encontra aqui conosco?”.
“Sim se encontra conosco. Seus olhos de safira são puros e resplandecem a sabedoria. Seus
longos e dourados cabelos lisos são como águas douradas caindo de um alto rochedo. Seu corpo é
belo como o das ninfas das florestas. Seu andar é como as folhas do bambu movidas por um delicado
espírito do vento, sua alma é límpida como o cristal...”, disse Águia Negra.
Alexandra ficou profundamente pensativa, pois ali só havia uma mulher com tais descrições e
esta mulher era ela. Seu espírito foi invadido por um estado interior inexplicável, afastou-se de Águia
Negra e permaneceu em profunda reflexão. Águia Negra ainda permanecia contemplando a Lua.
“Meu deus? Minha família jamais aceitará que eu me uno a um negro! Se eu me unir a ele não
só minha família me crucificará como também toda a sociedade, além de colocar a vida dele em risco,
sei muito bem que minha família fará de tudo para impedir esta união e sei que eles são capazes de
mandar alguém assassiná-lo, casos destes são comuns nesta sociedade hipócrita e racista. Eles não
permitem que os negros andem de ônibus junto com os brancos, imagine então um romance de um
negro com uma branca”, pensava Alexandra nas conseqüências que tal romance teria caso ela se
unisse a Águia Negra. Então fugiu de Águia Negra, não porque estava repudiando-o, mas porque o
amava e queria protegê-lo.

‫ש‬

Paris, 14 de outubro de 1964, o Sol a 21º de Libra e Lua a 8º de Aquário.

Agnes e Leonel haviam fundado um centro de estudos em Paris para divulgar os ideais da
Fraternidade a qual dirigia juntamente com os outros iniciados. Jade era uma das dirigentes deste
grupo recém formado. Diana era uma iniciada da Ordem do Leão Vermelho e era uma iniciada de
Mistérios Menores. A Escola Gnóstica fundada por Regulus, Agnes e Perséfone, era uma
representação da Ordem do Leão Vermelho no mundo físico, por este motivo utilizavam a insígnia e o
nome da Ordem. Diana foi para Paris com o principal objetivo de trabalhar na organização de uma
Loja Gnóstica juntamente com Leonel, Agnes e Jade. Porém, Leonel e Agnes residiam na sede central
no Castelo em Languedoc, desta forma somente uma vez por mês iam à Paris para darem palestras
aos estudantes que se inscreviam nos estudos de primeira câmara da Escola Gnóstica. Jade e Diana
eram instrutoras da Loja e trabalhavam arduamente na instrução de neófitos que buscavam os
ensinamentos gnósticos. Porém, havia um grave problema, desde que Regulus havia se
desencarnado, as atividades da Escola se centralizaram no Castelo, onde já havia se formado uma
comunidade de maçons gnósticos, pois Agnes havia autorizado as pessoas de várias escolas
espirituais que iam aderindo à Fraternidade do Leão Vermelho, a construírem suas casas nas terras
do próprio Castela, visando, assim, uma comunidade auto-sustentável. Desta forma a sede foi se
fortalecendo e as células espalhadas em alguns paises e cidades da França, iam perdendo a força,
devido à falta de voluntários preparados para dirigirem os centros de estudos. Muitos destes centros
foram fechando suas portas para a sociedade e os poucos estudantes que se interessavam em
aprofundar seus estudos esotéricos, concorriam ao Castelo e ali permaneciam.
O Grão-Mestre da Ordem era o Aldebaram, porém este estava em missão junto com
Perséfone no Brasil, outros membros fiéis ao Mestre Regulus se encontravam fora do país, desta
forma Leonel assumia a função de Grão-Mestre, porém se tratava de um homem de espírito rebelde
que tinha uma certa fascinação pelo poder. Leonel passou a ditar as regras, mesmo tendo sua esposa
Agnes em oposição, assim, ganhava a simpatia de muitos membros que se filiavam a Fraternidade e
foi adquirindo poder e autonomia. Jade e Diana realizavam criticas constantes ao modo como a
Fraternidade era direcionada, pois a Fraternidade na direção de Regulus e de seus discípulos fiéis
tinha como missão levar o conhecimento libertador à humanidade doente, este era o sacrifício, porém
Leonel queria transformar a Fraternidade no mesmo esquema da Franco-Maçonaria, ou seja, uma
Sociedade secreta e formada por uma elite privilegiada.
O Mestre Regulus já havia informado Jade de que só confiava em dois homens: Antares e
Pedro, por isso entregou a direção da Fraternidade ao Mestre Aldebaram, já que não podia entregar a
Antares que era o mais preparado e que tinha até mesmo mais experiência do que ele próprio, pelo
motivo dele não ter sido aceito na Fraternidade. Com o desencarne de Regulus, Pedro que era jovem
e sem experiência e que também estava desmotivado devido à morte de seu Mestre que tanto amava,
foi cedendo o campo para Leonel que era um Titã da Franco-Maçonaria. Perséfone que havia votado
contra a permanecia de Antares na Fraternidade, agora compreendia o porquê de seu velho amigo
Regulus não ter dado o mando a Leonel. Na verdade foi mais um sentimento de vingança de
Perséfone contra Antares, pois esta jamais aceitou que Antares havia trocado ela por Ofélia, a maga
negra; apenas um fio tênue separa o amor do ódio, mas de fato ela amava Pedro e com ele vivia feliz,
porém nunca negou que amou Antares. No final de toda esta história caro leitor, Diana e Jade foram
coagidas e forçadas a se desligarem da Fraternidade. Antares era informado de tudo isso pela a
própria irmã quando estes se encontravam em estado de jinas no Templo da Ordem do Leão
Vermelho na quarta dimensão quando concorriam à missa gnóstica e rituais secretos.
Diana era uma jornalista e tinha uma pequena editora que publicava livros humanistas e
filosóficos. Antares querendo ajudar o amigo Joseph enviou um dos manuscritos do amigo para que a
irmã lesse e avaliasse a possibilidade de publicá-lo. Tratava-se de um romance que contava a história
trágica de um filosofo fracassado adepto da filosofia de Nietzsche e que vivia marginalizado pela
sociedade, e de uma dama da alta sociedade. Bonita e jovem e dotada de uma alma sensível e nobre,
acabou casando com um chauvinista capitalista decadente e imoral que a oprimia constantemente
com seus sadismos sexuais. Isso levou sua alma sensível a profundas angustias e sofrimentos a
ponto de negar a própria existência que para ela era um tormento. Dirigiu-se a um penhasco rochoso
de onde pretendia se jogar, porém chegando lá viu o filosofo com as mesmas intenções já pronto para
pular, ela se desesperou em ver alguém querendo tirar a própria vida, então ela correu para próximo
do homem e o convenceu com muita insistência de não cometer suicídio. Nascia ali um profundo
sentimento de amor entre os dois, porém ela era fiel ao marido e a instituição burguesa do casamento,
reprimia as forças que nela nascia e que lhe dotava de vontade de viver. O filosofo tentava
constantemente convencê-la com seus argumentos que o amor estava além do bem e do mal e que
não era pecado ela se entregar ao amor.
Diana ao ler o romance achou muito ousado e provocador, além de conter sutilmente
elementos da doutrina secreta. Era um livro perigoso porque atacava a moral burguesa e expunha os
principais conceitos de Nietsche referente a moral. Diana pensou muito sobre a possibilidade de
publicá-lo. Viu em Joseph um escritor revolucionário e genial. Sua história era narrada com alma,
parecia que ele próprio tinha vivido. Por fim, resolveu publicar o ousado romance filosófico, porém
antes deveria ir ao México conhecer pessoalmente este escritor ousado.

‫ש‬
O mordomo de Ofélia entregava-lhe uma missiva sem remetente, ela achou estranha, porém
abriu o envelope para ler a misteriosa carta.

„À Ofélia.

Distinta dama, cometestes crimes horríveis e deves pagar por eles. O prato do mérito de tua
vida diabólica se encontra completamente vazio, desta forma não tens como pagar o que deves a
Anúbis. Pois, o prato do demérito de tua alma se encontra carregado das maldades que cometestes
em muitas de tuas reencarnações. Os sacerdotes de Baal não poderão de socorrer do destino que te
aguarda em um futuro muito próximo, estais sobre o domínio da esfera do Arcano 16 da Cabala.
Ai...ai...ai...Caiu a grande Ofélia, cuja beleza maligna seduziu homens sagrados e corrompeu almas
inocentes!
Por muitos eons tu tens escapado da segunda morte, devido tuas macabras iniciações negras,
mas agora teu tempo se consumiu e deves descer a morada de Plutão para dissolver tuas maldades
no fogo central do abismo, tua jornada será longa neste cárcere de tormentos! Porém, há uma porta
ainda aberta para ti: a do arrependimento.

Mestre Schim.‟

Ofélia ao ler a missiva deu uma grande gargalhada e exclamou com fúria na voz: “Miserável,
quem você pensa que é para escrever tamanhas asneiras!”. Ofélia não sabia o nome franco-maçônico
de Antares, por isso achou que se tratava de algum inimigo querendo intimidá-la e infundir o medo
nela.
O mestre do tantrismo negro indiano que vivia com Ofélia estava planejando deixar Ofélia,
porque estava envolvido com uma dama da elite americana que freqüentava os ritos orgíacos
praticados na mansão onde residiam. Ofélia era muito astuta e desperta no mal e para o mal,
percebeu que o indiano tenebroso estava com a intenção de abandoná-la para ficar com a tal dama.
Ofélia usando de seus poderes macabros realizou um feitiço poderoso operando com a arte da magia
negra do Vodu, contra a tal mulher que estava envolvida com seu parceiro. A infeliz estava morrendo
lentamente vitima do feitiço. Ofélia estava já com um plano em sua mente e ela mesma estava
envolvida com um poderoso mafioso que conhecera quando fora ao teatro assistir uma opera italiana.
O mafioso era um poderoso demônio do sétimo inferno das hostes de Moloch que estava
reencarnado, porém tal mafioso era inconsciente deste fato, mas Ofélia sabia que ele era um soldado
de Moloch. Na verdade Ofélia não tinha medo de ser abandonada pelo indiano, porque ela estava
apaixonada pelo mafioso, entretanto tinha medo da miséria, pois ela sabia muito bem que ele era um
fraudulento e poderia roubá-la.
Um dia depois de Ofélia ter recebido a carta era o dia em que ela pretendia fugir com toda a
fortuna que estava guardada no porão. Esperou o indiano sair para seus negócios, logo em seguida
arrumou as suas bagagens e desceu ao porão para apanhar os milhões de dólares e as barras de
ouro. Porém, quando percebeu que não havia mais nada lá, sua alma negra aterrorizou-se e um
grande ódio se apoderou de seu espírito contra o indiano, pois ela achava que ele havia roubado sua
fortuna, porém mais espantada ficou quando viu uma pequena medalha de ouro com a insígnia do
escorpião, pois ela conhecia bem esta medalha, era o símbolo de Antares que sempre carregava em
seu pescoço numa cadeia de prata. O ódio foi mais violento ainda, agora entendia o motivo da carta e
que Antares era o Mestre Schim. Ficou o dia inteiro em profunda depressão, pois estava na ruína e
nada mais lhe restava, porém logo se lembrou que o mafioso italiano com o qual estava tendo um
caso, guardava seu dinheiro sujo em um dos apartamentos onde os dois se encontravam para a
libertinagem. Elaborou um plano em sua macabra mente, preparou um filtro que tinha o poder de
produzir um profundo sono, telefonou para o amante e marcou com este um encontro amoroso no
apartamento. Logo após saciarem a fome sexual, Ofélia colocou algumas gotas do filtro na bebida do
amante, não demorou muito este penetrou num profundo sono. Ofélia que já havia planeja tudo
desceu pelo elevador de serviços até a garage do prédio e pegou duas malas grandes que estavam na
porta malas do seu automóvel e subiu novamente. O dinheiro ficava escondido na parte oca dos sofás
da sala, era muito dinheiro havia aproximadamente vinte milhões de dólares, porém esta não era toda
a fortuna da máfia, havia outros apartamentos que serviam de esconderijo para o dinheiro da máfia.
Ofélia pegou o que as malas suportavam, aproximadamente dois milhões em notas de 100 dólares em
maços de 100 cédulas, levou as malas para o carro, despejando o dinheiro na porta malas, fez isso
por duas vezes. Logo retornou ao apartamento, despiu-se e deitou-se ao lado do amante defraudado
que roncava como um suíno, deu um leve riso diabólico e cheio de malicia e permaneceu ali fingindo
que dormia até que o mafioso italiano despertasse. Depois de seis horas de sono, ele despertou e viu
Ofélia dormindo ao seu lado e disse:
“Ei, garota acorda está na hora de dar o fora, vamos...”.
“Nossa! Já é tarde! Preciso ir, se não meu marido vai desconfiar de nossas brincadeirinhas
particulares”, disse simulada e se mostrando carinhosa.
Ambos arrumaram-se e saíram com certa presa. Porém o mafioso achou estranho o fato
insólito dele ter havido dormido tanto. Ele ficou pensativo buscando compreender está situação. Algo
esta errado pensava ele. No dia seguinte voltou ao apartamento para averiguar o dinheiro e percebeu
que em um dos sofás o volume estava menor, então com ajuda dos capangas contaram os maços e
percebeu que estavam faltando dois mil maços, ou seja, dois milhões de dólares havia desaparecido.
“Cadela miserável, meu roubou! Sabia que aquele sono não era normal, ela planejou tudo!”,
gritou furioso o mafioso.
O mafioso mandou seus capangas irem atrás de Ofélia, porém está já havia abandonado a
mansão. Os capangas encontrando o indiano o levaram para o chefe. Torturaram o indiano para
obterem informações, este nada sabia, por fim meteram uma bala na cabeça do miserável e jogaram
seu corpo em um rua deserta da boca do lixo de Nova York. O mafioso espalhou a informação por
toda Nova York e ofereceu uma recompensa pela cabeça de Ofélia. A máfia tinha espiões por toda
parte e alguém viu uma mulher com a descrição de Ofélia em um luxuoso hotel de Manhattans, o
mafioso mandou averiguar se realmente se tratava de Ofélia. Alguém avisou o chefe da máfia que de
fato era ela, então ele exclamou:
“Tragam-na viva para mim!”. Os capangas fizeram o que o chefe pediu e em poucos minutos
depois Ofélia estava diante de seu amante furioso tremula e apavorada.
“Por que me traiu sua vagabunda? Era só me pedi e eu dedaria até um terço de minha fortuna
para você. A traição é um crime sem perdão e te digo que não queria estar em sua pele, há não...”,
disse sadicamente o mafioso, à medida que passava o dorso da mão esquerda na face de Ofélia
curiosamente e dando-lhe um leve beijo em seus lábios, esbofeteando-a logo em seguida com fúria.
Esta chorava e com pavor implorava pela misericórdia do amante e pela sua vida.
“Não vou te matar minha bela e sensual garota, a morte seria um alivio em vista do que eu
desejo fazer com você”, disse ironicamente o cruel mafioso.
Ofélia foi trancafiada em um dos quartos e dois capangas vigiava a porta. Passou por grandes
tormentos. Invocou os seus mestres da magia negra, porém seus mestres não concorreram o
chamado, porque ela havia envergonhado a todos com seus desregramentos. Tentou colocar o corpo
em estado de jinas, mas não tinha concentração para isso. Ficou ali presa por três dias e refletiu muito
sobre seus atos. Depois soluçando disse para si mesma: “Maldita seja o dia em que eu te conheci
Antares”.
Na noite do terceiro dia o mafioso comprou um vestido negro de alto valor e muito sensual,
deu a Ofélia e disse:
“Veste, hoje iremos realizar uma festa em sua própria casa, fiquei sabendo que lá vocês
realizavam deliciosos bacanais, isso me deu uma ótima idéia e eu mudei meus planos para com você,
vejo que tem muita sorte”.
“Miserável! Quem te passou esta informação? Isso era segredo!”, exclamou com fúria Ofélia.
“Não há segredo para um homem como eu minha doce e bela menina...”.
Na mansão de Ofélia acontecia a ultima orgia promovida pela máfia de Nova York, porém
Ofélia foi à única mulher ali presente, não precisa ter grande imaginação para saber que ocorreu ali.
No final da festa o mafioso disse:
“De hoje em diante esta nobre mansão será uma casa de meretrizes de luxo, você ganhará
muito dinheiro para mim. Vê como sou um homem generoso? Estou poupando sua vida. Você será
muito mais valiosa para mim viva. Tenho certeza que muitos magnatas depositarão seus impérios
sobre seus pés, afinal de conta sua beleza e seu poder de sedução são magníficos, nunca vi algo
semelhante, por isso resolvi fazer este grande investimento com você. E não tenta fugir, porque eu te
acharei no inferno, além de tudo você terá alguns guardiões. Só sairá da mansão com minha
permissão e acompanhada de meus homens, estamos resolvidos?”.
“Canalha! Você não vale nada, fez com que eu transasse com mais de cinqüenta homens,
estou arrebentada, podia me poupar desta desgraça, você não sabe como isso é doloroso para uma
mulher; você esta me prostituindo seu desgraçado, eu te odeio, você não sabe com quem está
mexendo, você correrá grande perigo deixando eu viva, por isso aconselho que me meta uma bala na
cabeça antes que seja tarde demais para você seu crápula!”, exclamou Ofélia cheia de ódio e
cuspindo no rosto do mafioso.
“Eu adoro mulheres bravas, mas acho que você não esta em condições de ameaçar ninguém
sua estúpida estou te pondo num grande negocio e você nem ao menos me agradece. Te entreguei
aos meus homens, porque tinha que impor respeito, afinal de conta eu rompi o código da máfia para te
poupar a vida, porém teria que fazer algo desse tipo para não perder o respeito diante deles”.
Ofélia se retirou para seu quarto com um plano em mente, não estava disposta em ser escrava sexual
e prostituta da máfia, pois ela era uma nobre mulher, preferiria a morte a viver vegetando como
prostituta. Na mesma noite realizou um ritual Vodu para por fim a vida do mafioso, porém o feitiço não
teve efeito algum, pois o mafioso era um demônio de grande poder nos reinos infernais e dissolveu a
magia negra, porém inconscientemente. Ofélia vendo que não obteve sucesso com a magia negra,
preparou um elixir venenoso e tomou tirando a própria vida. O mafioso ficou furioso, afinal de contas
ela renderia uma fortuna para ele. Este foi o fim de Ofélia que andou entre os magos brancos e
negros. Ofélia se encontra nos reinos infra-atômicos da Natureza onde sofre a desintegração de seu
corpo astral em grandes suplícios e agonia.

‫ש‬
O Grande Xamã realizou um ritual onde Antares e seus discípulos participaram. No dia
seguinte retornaram à casa dos pais de Michelle e ali permaneceram por uma semana.
Alexandra estava confusa em relação aos sentimentos que sentia por Águia Negra, e seu
espírito estava muito perturbado. Alexandra estava sentada na varanda, isolada e em suas reflexões.
Joseph se aproximou dela em silencio e disse:
“Este é o Caminho do Fio da Navalha, difícil de ser peregrinado, exige a renuncia ao mundo;
não há possibilidade alguma de seguir este Caminho estando ainda apegado ao velho mundo que é o
pai e mãe de nossa personalidade dialética. Se quiser progredir deve abandonar seu pai, sua mãe,
seus irmãos, seus amigos, seus parentes, seus conceitos, seus hábitos, a sociedade e toda sua
cultura, deve esvaziar-se do conteúdo ilusório e se preencher do Rel Ser, deve tornar-se o caos do
qual se manifestará a Luz. Deve demolir seu eu natural que é filho da Natureza, e edificar o Super
Homem, este nasce do caos filosofal. A rocha de seu coração deve ser desbastada em forma cúbica e
depois lapidada. Use o malho de sua vontade e o cinzel de seu intelecto para dar a forma cúbica à
rocha bruta de sua personalidade dialética, não esquecendo de usar a régua de vinte e quatro
polegadas que é a retidão nas vinte quatro horas do dia. Negue a si mesmo e carregue sua cruz se é
que de fato sua vontade almeja a libertação”.
“Então você afirma que dentro do mim mesmo eu trago minha própria negação?”, perguntou
Alexandra já se mostrando angustiada.
“Você é o Não-Ser, não é real, é um aglomerado de ilusões, não há realidade em sua
existência, você não é, mas deve Ser. O homem dialético é um fenômeno da Natureza, está em
constantes conflitos para ser, porém nunca é, no mundo do fenômeno nada é, só é aquilo que é real, e
real só é aquilo que está além do bem e do mal, ou seja, além do fenômeno. Só NOUS é real em ti,
porém Ele se encontra em estado potencial; NOUS é a Consciência do Cristo Íntimo, o Real Homem
ou o Super Homem; NOUS entra em atividade ou desperta quando o caos fenomenal é desfeito,
quando o eu natural morre e se transfigura no Cristo Intimo”, disse sabiamente o Mestre Aleph.
“Eu não sou, eu não entendo como não posso ser? Eu estou aqui e agora, eu sou real!”,
exclamou não aceitando de imediato o que o Mestre falava.
“Esta realidade é fenomenal, portanto ilusória. Seu corpo, por exemplo, que é um fenômeno
da Natureza, não pode Ser, porque Ser é ser eterno, imutável, sem conflitos dialéticos. O corpo com
sua personalidade é mutável, mortal, está submetido à lei da dialética, está subjugado à mecânica da
Natureza. Somente o Espírito é Real, porém ele se encontra exteriorizado no fenômeno; exteriorizou-
se na ilusão para se auto-conhecer, ou seja, conhecer sua própria Sombra, e conhecer a Sombra é
sofrer, porque a verdade na Sombra é dualidade, é bem e mal; conhecer o bem e mal implica
sofrimento, dor, angustia, amargura. No fenômeno ele negou sua própria realidade, ele deixou de Ser
para ser o Não-Ser, ou seja, dentro do fenômeno ele nega sua realidade para viver a ilusão, o
sofrimento, a dor, a angustia, porque no fenômeno ele é cativo, finito, limitado, inerte. O Espírito desce
ao fenômeno para conhecer o bem e o mal, por isso os Elohin‟s disseram nos Gêneses: „eis que o
homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal‟. A ilusão é necessária para a
maestria do Espírito, eis o grande mistério do plano do Grande UNO. Sem o sofrimento e a dor não há
consciência da felicidade. O sofrimento é o mestre da consciência, a ilusão é sua pedagogia. Viver no
fenômeno é sofrer, como já disse Schoppenhaur. O principio do sofrimento é a ilusão, não há
felicidade no fenômeno, somente sofrimento, dor e amargura!”.
“Então a vida não tem sentido, para que viver se já estou condenada desde meu nascimento
ao sofrimento. Mas, o amor nos trás felicidade e conforta nossa alma dolorida, não é?”, questionou
Alexandra.
“Dentro do fenômeno até o amor é ilusório, porque está a serviço da Natureza na procriação
das espécies, porém o Espírito revolucionário pode reverter esta força em beneficio de sua libertação,
se, assim, sua vontade determinar. O Amor real que se encontra acima do bem e do mal, este se
encontra latente em NOUS, como poderia falar em amor se NOUS se encontra em estado potencial?
O Amor só se manifesta, se e somente se NOUS entrar em atividade. Se NOUS se encontra em
estado potencial e sendo o amor um de seus princípios, logo o amor também se encontra em estado
potencial”, argumentou o Mestre Aleph.
“Se este sentimento não é amor, então que sentido há numa relação? Apenas uma prazer
promovido pela atração sexual que uma vez satisfeita e desgastada, transforma-se em repulsão?
Sendo esta atração finita, visto que encontra na esfera do fenômeno, logo tem um fim, e não estaria ai
a causa do fracasso da instituição do casamento e da família?”, questionou Alexandra.
“O mundo do fenômeno é dialético, ou seja, é mecânico, é regido por leis, logo tudo que se
encontra inserido nele se encontra submetido a estas leis. Dentro da mecânica do fenômeno tudo tem
um inicio, um meio e um fim, isto é, é gerado, nasce, cresce, amadurece, envelhece e morre;
absolutamente tudo desde um sentimento como a paixão até o Sol; desde uma simples instituição
como também sólidos impérios e sistemas políticos e econômicos, por quê?”.
“Porque não existe realidade, porque nada é eterno fora da eternidade”, respondeu Alexandra.
“Exatamente, porque só é real o eterno, o imperecível como já dizia Platão, o amor só é ou
existe na eternidade. Fora da eternidade o amor não passa de uma ilusão com a única finalidade de
escravizar o homem à Natureza; fora da eternidade é apenas uma força sexual regida pela lei de
atração e repulsão que gera conflitos; dentro destes parâmetros ele também é gerado, nasce,
desenvolve sua maior potencia, declina e morre, porque está submetido à dialética da natureza, eis a
fatalidade!”.
“Não compreendo e até vejo uma grande contradição na filosofia gnóstica, pois vocês colocam
o sexo como base da revolução da consciência, e agora você afirma que ele é a fatalidade e que
escraviza o homem à Natureza, não entendo isso”.
“De fato é uma força cega, mecanizada e um dia acabará. Porém a revolução da consciência
ocorre unilateralmente com a revolução sexual, e o que seria a revolução sexual?”, indagou o Mestre
Aleph.
“Uma forma livre de fazer sexo, uma maneira não comum”.
“Sim. Todavia isso é muito vago e ingênuo. A revolução sexual é romper com a mecânica ou
com a dialética do sexo, é decifrar o enigma da Esfinge. É ir contra a própria natureza. É romper a
cadeia que nos escraviza na corrente do bem e do mal. É realizar o co-movimento das forças sexuais
em plena atividade sexual, é realizar a simetria sexual pelo poder da vontade, é desfazer o caos
sexual. É transmutar o fogo fatal que nos escraviza à dialética da Natureza em Fiat Lux e elevá-lo até
o coração para despertar NOUS, desta forma nasce o amor real no fenômeno homem”.
Alexandra era uma mulher racional e esta metafísica do sexo exposta pelo filosofo Joseph não
era fácil de ser assimilada por sua mente racional e concreta, mesmo porque este tipo de
conhecimento está além da razão, além do bem e do mal, pertence à Consciência NOUS.
Depois deste filosofar, Joseph deixou Alexandra com suas reflexões e entrou. Alexandra ficou
angustiada ainda mais e penetrou num profundo estado de depressão, queria compreender pela razão
o que não pertence à razão, por este motivo ficou profundamente angustiada. Joseph havia destruído
todos seus conceitos, suas crenças e seus dogmas filosóficos. Agora ela já não sabia mais quem era
de fato. E pensou consigo mesma: “Quem sou eu? Será que realmente eu não passo de um sonho, de
uma miragem do meu Espírito que dorme nas profundezas de meu oceano de ilusões? Há! Que
homem cruel é este Joseph que lançou em minha alma a dúvida que me atormenta e que me tira a
paz de espírito que eu pensava que tinha!”.

O grupo se despediu dos pais hospitaleiros de Michelle e Katarine, e seguiu para o México.

‫ש‬

Depois de uma semana, Antares e seu grupo de amigos chegaram no destino, à cidade de
Monterrey, onde se estabeleceram. O Grupo alugou uma casa ampla de seis dormitórios, uma sala
grande, um cozinha considerável e um cômodo que serviria de biblioteca e sala de estudos, era de
dois andares. As mulheres cuidaram da mobília e da decoração. Os amigos de Antares que residiam
em Monterrey haviam fundado uma Loja Franco-Maçônica independente. Antares e suas discípulas e
os dois Mestres amigos, passaram a freqüentar assiduamente as atividades templárias desta Loja. Na
Cidade do México e em Santiago do Chile, haviam outros francos-maçôns que aderiram ao manifesto
do Mestre Schim e que também fundaram Lojas independentes em suas respectivas cidades. A Loja
de Monterrey foi consagrada com o nome Horus. Esta Nova Ordem Fraco-Maçônica adotou o Rito
Egípcio de Adoção, porém com algumas modificações e adaptações. Era constituído de três graus:
Aprendiz, Companheiro e Mestre e se estabeleceu como Escola de regeneração e filosófica. Os
Mistérios Menores se recebiam nos graus de Aprendiz e Companheiro os de Mistérios Maiores no
grau de Mestre que eram recebidos nos Templos nos mundos internos segundo a Ordem esotérica
que cada Mestre pertencia. A Loja era organizada segundo o modelo da Cruz Solar trifólia como
descrita em capítulos anteriores185. A Letra yod (‫ )י‬representava a Metafísica da Escola que era a
Gnoses divulgada pelo Grão Mestre Schim. A letra he (‫ )ה‬representava o campo a ser fecundado e o

185
A Cruz trifólia de hastes iguais e suas quatro extremidades eram terminadas em três semicírculos.
Nos doze semicírculos haviam as doze letras elementais da Cabala; na extremidade da haste vertical superior
havia um triângulo positivo com a letra Iod (‫ )י‬ao centro, embaixo havia a cabeça entre asas de um leão. Na
haste direita horizontal, havia um triângulo negativo com a letra He (‫ )ה‬ao centro, ao lado uma cabeça humana
entre asas. Na haste oposta, um círculo com um quadrado dentro, no centro deste uma segunda He, ao lado
uma cabeça de touro entre asas. Na haste vertical da base da cruz, havia uma estrela de seis raios com a letra
Vau (‫ )ו‬ao centro, acima uma cabeça de águia entre asas. No eixo da cruz, havia uma letra Schim (‫ )ש‬no
centro de um círculo formado por um dragão que devorava a própria cauda. Nos três semicírculos da haste
vertical superior há as letras: ‫ ;הוז‬na haste horizontal à direita inseridas nos três semicírculos há: ‫ ;חטי‬no oposto
ao norte: ‫ ;ץצק‬e nos três semicírculos da base da haste vertical a oeste: ‫לנס‬. Estas letras representam os doze
Apóstolos ou os doze Cavaleiros Kadhosh‟s.
corpo de discípulos, ou seja, a Ekklesia186. A Letra Schim (‫ )ש‬o elemento de atração da Escola pelo
qual atraia discípulos; este eram os nobres ideais da Escola. A letra vau (‫ )ו‬representava o culto desta
Escola que era a Magia Sexual representada na imagem panteísta de Tiphon Baphometh. E a
segunda he (‫ )ה‬representava a família esotérica que exercia influência no mundo externo e a política
da Escola com seu regime teocrático com o poder centralizado no Grão Mestre e em seus doze
apóstolos.

Antares estava conversando com sua esposa sacerdotisa em seu quarto. Relatava à esposa
que havia juntamente com outros amigos francos-maçons da corrente revolucionária, adquirido uma
grande propriedade em uma cidade interiorana alguns quilômetros de Monterrey. Tratava-se de uma
propriedade agrícola de muitos alqueires de terra. Formaria ali uma espécie de Kibutz187, uma
comunidade franco-maçônica alto-sustentável. A comunidade ali viveria em comum, trabalhariam com
a cultura da terra, com a criação de gado que forneceria o leite; com a produção de utensílios pela
técnica de artesões como, por exemplo, a confecção de roupas e sapatos, a construção de moveis e
de casas. O excedente seria comercializado no mercado sem fins lucrativos e com a troca pela
moeda poderia adquirir outras mercadorias essenciais à subsistência dos membros da comunidade.
Seria formada na comunidade uma escola que, com base na Paidéia Gnóstica, que transmitiria os
nobres valores da Filosofia, da Ciência, da Arte e da Religião. As pessoas que aderissem à
comunidade deveriam ser pessoas que negassem o sistema do anticristo, representado no sistema
político e econômico capitalista; pessoas sujeitas a viverem dentro dos princípios afirmado pela Escola
gnóstica. Pessoas que buscavam a regeneração, de espíritos livres, sem preconceitos, humanitárias,
dispostas a se sacrificarem pelo bem estar e pela libertação do próximo.

Havia três meses que Antares e os companheiros estavam trabalhando na reforma do grande
cassarão da propriedade. Depois do término muitos deles foram residir na recém formada
comunidade. Antares e os amigos e as famílias de alguns francos-maçôns passaram a residir no
casarão e em algumas moradias que haviam ali, outros construíram casas. Alguns sinceros adeptos
de outras Escolas espirituais que não suportavam o materialismo exacerbado de suas Ordens
abandonaram-nas e aderiram à proposta revolucionária do Mestre Schim e de seus companheiros
revolucionários. É claro que a comunidade no principio apresentava precariedade, mas seus membros
eram pessoas com fé e vontade, e estes eram princípios fundamentais que faziam levar avante o
projeto revolucionário. A comunidade era clandestina e não era divulgada ao público senso comum,
isto seria perigoso. Para o olho do vulgo ali era uma simples comunidade agrícola, pois pagava seus
impostos devidamente.
Depois de certo tempo, Antares e Michelle partiram à Cidade do México, onde se encontrariam
com um casal franco-maçom que havia aderido a Franco-Maçonaria revolucionária para juntos
formarem uma Loja. O casal passou a residir num pequeno apartamento no centro da cidade. A três
jovens discípulas de Antares e seus dois amigos permaneceram na comunidade ajudando em sua
organização. A Loja da Cidade do México foi fundada e consagrada com o nome de Osíris. Depois da
consagração da Loja Osíris, Antares e Michelle partiram para Guadalajara onde havia um outro foco
de maçons rebeldes e junto com eles fundaram uma Loja consagrada com o nome de Isis. Depois
retornaram á Cidade do México.

186
Palavra grega que significa Assembléia de adeptos que formam uma unidade esotérica que irradia a
Gnoses Universal, um Fogo de Luz.
187
Sistema comunitário fundado em Israel, uma espécie de comunismo que seu certo.
‫ש‬
Dia doze de agosto de mil novecentos e sessenta e cinco, o Sol se encontrava a 20º de Leão;
a Lua 21º de Aquário; Mercúrio 25º de Leão; Vênus 23º de Virgem; Marte 8º de Libra; Júpiter 22º de
Gêmeos; Saturno 16º de Gêmeos; Urano 12º de Virgem; Netuno 17º de Escorpião e Plutão 14º
de Virgem formando uma poderosa conjunção com o planeta da revolução sexual: Urano, o
planeta do Mestre Schim. Sob este céu astral o Mestre Regulus adquiriu um novo corpo físico,
e nasceu no nordeste brasileiro do ventre de Perséfone. Quando a alma humana do Mestre
Regulus veio ao mundo novamente, o galo cantou, era madrugada.
Neste mesmo dia aproximadamente às 14:00 horas, Diana desembarcava no aeroporto
de Monterrey em busca do irmão, trazia consigo uma carta que Jade havia pedido que ela
entregasse para Antares. Pegou um ônibus e partiu à comunidade onde pensava que se
encontraria com o irmão.
Diana era uma bela francesa de aguçada inteligência, ousada e polêmica; tinha trinta e
quatro anos. Era ruiva e de cabelos longos e lisos; seus olhos eram azuis como os da mãe. O
corpo era delgado; era observadora e nada escapava aos olhos. Quando chegou na
comunidade despertou a curiosidade de muitos ali; a mulheres solteiras da comunidade viram-
se ameaçadas, os homens uma oportunidade. Com Alexandra viu Diana e ficou sabendo que
era a irmã mais nova de Antares, logo deduziu que aquela sim era a Águia Branca e não ela
como pensava, despertou nela um leve ciúme e um temor, pois amava Águia Negra apesar de
nunca de declarado este amor, e se Águia Negra lhe disse que Águia Branca se encontrava
entre eles, estava de fato se referindo que ela estava encarnada e logo se encontrariam. Águia
Negra observou a forma pela qual Alexandra olhava Diana, ele logo intuiu o que se passava
no interior dela. Chegou perto de Alexandra e disse: “ Bela mulher, não é?”.
“Sim, uma bela Águia Branca, agora entendo seu amor por ela”, disse triste Alexandra.
“Não, ela não é a Águia Branca, seu codinome é Coruja Branca, Águia Branca só
existe uma entre nós e, esta, é você”, disse olhando nos olhos de Alexandra, esta ficou imóvel
sem respostas, mas logo de um forte abraço em Águia Negra dizendo-lhe: “Meu amor, tive
medo em não ser eu, por um estante minha alma se encheu de agonia e terror, mas agora já
passou, quero ser sua por toda eternidade, eu te amo muito”, logo se beijaram, desta forma
selaram o romance que já deveria ser selado há muito tempo se não fosse as duvidas que
atormentavam o interior de Alexandra.
As discípulas de Antares acolheram carinhosamente Diana e informo-a que seu irmão
havia saído em missão pelo México junto com a esposa. Diana ficou surpresa, pois não sabia
que Antares havia casado novamente, pois ela sabia que o irmão amava Heloísa, não
compreendeu o motivo dele está unido com outra mulher.
“Quem é Joseph?”, perguntou Diana.
“É um filosofo polêmico e pessimista que vive solitário e em uma cabana a uns dois
quilômetros daqui. Alexandra é a única aqui a compreendê-lo, pergunta para ela, pois ela o
conhece melhor que todos aqui”, disse Jaqueline.
“Quem é Alexandra?”, perguntou Diana.
“Aquela que está tirando água do poço”, respondeu Katarine apontando para o local
onde se encontra Alexandra e Águia Negra.
Quando Alexandra entrou no casarão Diana se aproximou dela com o intuito de saber
mais sobre o filosofo cujo livro ela pretendia editá-lo. Depois de certo tempo dialogando sobre
assuntos da comunidade, Diana pediu informações sobre o insólito filosofo Joseph.
“É um filosofo não compreendido, ele sempre diz que a solidão é sua morada e a
sabedora sua amante. É o professor de filosofia da escola da comunidade, seus ensinamentos
são elevados e é muito estimado pelos jovens da comunidade. Quando está escrevendo, fica
isolado e não gosta de ser incomodado. Não gosta de ser visitado por ninguém, exceto eu com
a qual ele trava debates sobre filosofia, pois eu sou formada em Filosofia e aprendi mais com
ele do que na universidade. É um homem extraordinário e sua dialética revolucionária costuma
levar as pessoas que buscam seus ensinamentos as mais profundas das angustias, é um
destruidor de ídolos e de ilusões. Sua filosofia é uma síntese de Plotino, Hegel,
Schoppenhauer e Nietzsche. Diz ele que todos estes filósofos eram gnosticos inconscientes e
que receberam a gnose de seus divinos Daimon‟s através da intuição, porém não tinha
consciência disso. Quando dialoguei com ele pela primeira vez, fiquei dois meses em profunda
angustia”, disse Alexandra.
“Eu tenho negócios a tratar com este filosofo, poderia me levar até a cabana onde
vive?”, perguntou Diana.
“Claro, deixe-me terminar meus afazeres do dia e no cair da tarde iremos lá”,
respondeu Alexandra, à medida que preparava a massa do pão.

No cair da tarde Alexandra acompanhou Diana até a cabana de Joseph. Ao se


aproximarem da cabana o coiote domesticado que Joseph havia ganhado do Xamã ainda
pequeno, olhava meigamente para as duas damas que se aproximavam. Ambas ouviram um
delicioso e calmante som de harpa provindo do interior da cabana.
“Ele sempre toca sua harpa quando está sem inspiração para escrever, isso bom.
Porque quando escreve não gosta de ser incomodado por ninguém”, disse Alexandra rindo
suavemente.
“Que música profunda, produz uma sensação agradável de paz, não vamos
interromper, esperemos que acabe a música primeira, interrompê-lo seria um sacrilégio, e
talvez ele não nos perdoaria por isso”, disse Diana.
“Tem razão”, concordou Alexandra.
“Incrível! As notas são em oitavas cada vez mais elevada; além de filosofo é um
profundo músico!”, exclamou com voz baixa Diana.
“Ele conhece os segredos místicos da música e, quando nos reunimos para meditar,
ele sempre toca uma música cujo poder nos conduz a um estado profundo de meditação. É
algo inefável e incompreensível, podemos penetrar em níveis profundos de nossa mente
subconsciente e podemos analisar seu conteúdo com nitidez”, disse Alexandra.
“Tem toda razão, a música faz vibrar a alma e a eleva aos mais levados céus, porém
há também a música que produz vibrações densas e abaixa a alma aos infernos. A musica
infernal tem o poder de libertar as bestas passionais do inferno intimo do homem e desperta
neste as emoções inferiores que leva a um estado depressivo e melancólico, desejos
mórbidos que servem de impulsos aos pensamentos decadentes e caóticos, porém a música
superior da qual tratou Pitágoras em sua escola órfica, tem o poder de liberar idéias sublimes e
emoções superiores com as quais o homem pode plasmar um mundo melhor”, disse Diana.
“Schoppenhauer afirma que a arte reproduz as idéias eternas, apreendidas mediante
pura contemplação, o essencial e permanente de todos os fenômenos do mundo, e conforme
a matéria em que ela se reproduz, se constitui em artes plásticas, poesia, música, escultura,
arquitetura; e que sua única origem é o conhecimento das idéias puras e seu objetivo é a
comunicação deste conhecimento”, disse Alexandra.
“E o mesmo filosofo também afirmou que a arte é a obra do gênio”, completou Diana.
Depois que a música parou, Alexandra chamou Joseph, este olhou desconfiado pela
pequena janela da cabana. E viu Diana radiante como uma estrela no índigo céu, amou-a a
primeira vista. Quando este saiu, Diana o contemplou com veneração, os olhos de safira da
musa resplandeciam como o diamante à luz do Sol. Alexandra percebeu que havia um mistério
entre estas duas grandes almas. E sentiu uma forte ardência no cárdia, ela estava sentindo a
energia do amor se manifestando ali. Joseph e Diana eram totalmente opostos, ele era
destituído de beleza e desleixado no modo de se vestir, sua cabana era uma bagunça, porém
limpa. Era totalmente desorganizado. Dialogaram sobre assuntos abstratos não
compreendidos pela mente concreta de Alexandra, então esta percebeu que a única coisa
recíproca entre os dois era a inteligência e o grau de cultura que ambos possuíam, fora isso
eram totalmente opostos. Ela era rica, elegante, bonita e nobre. Alexandra logo percebeu que
este casal seria como Shiva e Shakiti, ou seja, filosofariam de dia e a noite fariam amor com
grande ardência, isso era muito óbvio para ela. Pareciam que já se conheciam há séculos;
conversavam de forma muito natural. Uma força magnética prendia os dois numa calorosa
dialética platônica. Diana teve muita dificuldade de abandonar aquela cabana desorganizada,
a força magnética daquele homem simples e humilde a prendia ali, por fim partiu com
Alexandra com a promessa de retornar no dia seguinte para discutirem sobre o livro que ela
pretendia editar. Porém, levou consigo um outro manuscrito que ele havia terminado de
escrever.
Diana ficou lendo o manuscrito por quase toda à noite, a história era empolgante,
destituído de discursos fúteis e supérfluos. A linguagem era objetiva e clara.

Logo pela manhã, Diana foi invadida por um forte impulso, pois estava ansiosa em
rever o filosofo romancista. Então se dirigiu à cabana.
Chegando ao local percebeu que Joseph se encontrava sentado com as pernas
cruzadas em estado contemplativo, os olhos estavam serrados, logo percebeu que a Essência
do filosofo se encontrava no inelegível em busca de idéias puras. Então se sentou ao solo e
passou a contemplar a imagem daquele filosofo paradoxal até que sua Consciência NOUS
retornasse ao mundo fenomenal, talvez com algum material extraordinário para seus escritos.
Enquanto Diana contemplava Joseph, sua imaginação creadora creava cenários
envolvendo ela e Joseph, sim ela havia encontrado o homem de sua vida e com ele realizaria
as bodas alquímicas, o matrimônio perfeito.
Depois de certo tempo, Diana levantou e foi dar uma volta nas redondezas, pois havia
já uma hora que se encontrava ali observando Joseph, depois retornou e percebeu que ele já
não se encontrava mais no local. Então se dirigiu à cabana e chamou por Joseph, este
imediatamente atendeu com muito entusiasmo a musa inocentemente sedutora. Ambos se
contemplaram ardentemente e por muito pouco não se abraçaram e até mesmo se beijaram,
ambos já estavam loucos de amor platônico. Joseph apanhou a harpa e tocou uma linda
música que mexeu profundamente com os sentimentos de Diana, após terminar a música,
olhou fixamente para Diana e perguntou:
“Quer casar comigo agora mesmo?”. Diana ficou assombrada com a objetividade de
Joseph e por um instante ela achou que ele de fato era louco ou estava brincando com ela,
porém respondeu:
“Quero!”, rindo meigamente, pois ela não levou a sério, pois sabia que ele havia dito
isso apenas para demonstrar seus sentimentos para com ela.
Beijaram-se loucamente com muita ardência.
“Você é louco, por isso te amei a primeira vista e não neguei seu pedido. Por muito
tempo te procurei...”, sussurrava, à medida que abraçava freneticamente o amado.
“Casar agora é brincadeira, porém no futuro, não”, disse rindo Joseph com o olhar
lânguido de erotismo.
O casal estava abeira da loucura erótica, e as caricias eróticas eram ardentes e sem
limites. Ela despiu-se diante dele, este agiu com muita naturalidade e compreendeu que
aquela mulher de corpo perfeito e rosto belo o queria e ele também a queria.
“Você conhece a técnica tântrica taoísta?”, pergunto Diana com voz ofegante e já não
suportando mais a forte excitação.
“Sim, mas você tem certeza de que deseja fazer amor?”, perguntou Joseph olhando no
olho da francesa deliciosamente bela.
“É o que mais quero nesse momento, vamos já estou enlouquecida de amor”,
respondeu Diana.
“Possa se que eu falhe, pois há muito tempo não pratico, mas posso tentar conduzir o
coito metafísico com o método chinês”, disse meu temeroso e tremulo o filosofo.
“Vamos tentar, não dá mais para voltar atrás. Eu também não pratico há muito tempo,
aliás, eu só fiz sexo duas vezes, quando pedir minha virgindade aos dezenove anos com meu
primeiro namorado e uma outra aos vinte dois anos com um cara que conheci num baile,
porém foram duas experiências desastrosas, aquilo não era amor, mais sexo instintivo, aliás,
eu não sei o que é fazer amor, espero saber agora com você; se falharmos, tentaremos
novamente, não há problema”, disse sussurrando Diana, à medida que friccionava a vulva
ruiva no falo do filosofo como se quisesse instintivamente absorvê-lo para seu interior.
“Mais é certo isso?”, perguntou receoso Joseph.
“O amor está além do bem e do mal, por isso adoro quebrar regras, romper com a
dialética do sexo e toda sua moral ressentida, amor é livre e não está condicionado a
nenhuma regra ou tabu...”, respondeu ofegante e com a respiração acelerada. Joseph ficou
assombrado com a liberdade sexual daquela mulher revolucionária e falava dionisiacamente.
Desta forma ele a amou mais ainda.
Por fim, Diana já estava quase convencendo o receoso filosofo, que até no ato
amoroso fazia seus questionamentos filosóficos.
“Mas dizem os mestres do tantra que não é bom fazer amor de dia e somente a luz da
Lua, que é a regente da magia sexual, pois segundo eles Shiva e Shakiti filosofavam de dia e
á noite faziam amor”, questionou mais uma vez o filosofo, à medida que dava beijos no corpo
de Diana e fazia suaves caricias eróticas em sua vulva com espessos pelos pubianos.
“Algumas regras, meu amor, foram feitas para serem quebradas, que mal há quebrar
esta regra uma única vez, muitas noites haverá...”, disse isso já se contorcendo de excitação e
não suportando mais o erotismo que inflamava sua alma de desejo, por fim pegou o falo do
amado com a mão direita e o colocou na entrada da gruta sagrada, à medida que com um
movimento serpentino absorveu por completo, ela neste momento deu um suave gemido e
disse palavras eróticas indecifráveis. A posição taoísta que Diana escolheu para realizar o ato
amoroso foi o da „As gaivotas voam‟. Ela deitou sobre a cama de costas e ergueu as pernas
apoiando no peito e nos ombros de Joseph, este estava em pé. Á medida que o bastão de
jade ia e vinha suavidade, ela dava gritos suaves e implorava seu amor, ele mantinha total
concentração no ato, qualquer vacilo poderia levá-lo ao orgasmo frenético. Era uma batalha
tremenda, quando percebia as fortes contrações dos músculos vaginais, repousava o falo na
gruta do amor para impedir o orgasmo de Diana. As penetrações eram no método chinês:
nove rasas e uma profunda, dando pausa quando estava à beira do orgasmo, depois
continuava uma nova série, permaneceram assim por mais ou menos uma hora. Diana
enlouquecia de amor e já não tinha mais noção de nada, sua consciência se submergiu no
oceano erótico, sua consciência estava completamente perdida em êxtase dionisíaco. Em um
transe frenético gritava em sussurros: Evoé! Baco. Evoé! Evoé! Vamos! Coragem Baco! 188
Estas palavras mágicas enchiam a alma do filosofo de fogo erótico, renovando sua
fúria sexual. Quando Joseph desconectou o falo da yone, Diana permaneceu por um longo
tempo em estado meditativo. Depois de um certo tempo retornou à consciência e exclamou:
“Meu deus! Que loucura ocorreu aqui. Nossa! De fato fizemos amor de verdade, agora
sei os prazeres misteriosos que o sexo pode proporcionar quando é realizado sem profanação,
você me amou com beleza e santidade, foi lindo e eu quero repetir muitas vezes com você,
não me abandone jamais, o amor nasceu em mim e agora crescerá sadio e forte. Ajuda-me a
pisar à cabeça da serpente e eu te darei a espada flamigera e o cetro com o qual poderá
governar os elementos da Natureza. Hoje eu dominei o leão com doçura e delicadeza,
vencemos a morte através de uma transgressão a Natureza”, disse Diana com felicidade no
semblante e forte brilho nos olhos.
“As correntes que nos prendia ao cubo de Baphometh foram dissolvidas pela
bipolarização sexual, vencemos a força da Natureza, somos livres!”, disse Joseph.
“Você já havia realizado amor desta forma com outra mulher, não é? Pois no
manuscrito que li ontem Abelardo, o professor filosofo, convenceu em um longo debate sobre
a moral, Débora, a filha do rabino ortodoxo, a realizar a magia sexual cabalística com ele.
Compreende agora como seu romance me influenciou?! Confesso que desconfiei que o
personagem Abelardo é você mesmo e o enredo provavelmente relata um fato real de sua
própria vida. Fui fortemente influenciada pelo que li, e quis experimentar sem medir
conseqüências; seu romance me fez realizar o que eu jamais imaginava realizar, quis vivenciar
o fato e comprovar se de fato isso era possível. Seu romance me fez romper regras e tabus.
188
Este era o grito da Bacantes no culto dionisíaco da magia sexual.
Você poderá ajudar muitas pessoas frutadas sexualmente e com relacionamentos
desgastados a se revolucionarem sexualmente e a encontrar a libertação pelo sexo, percebe o
grande beneficio que poderá outorgar as pessoas que buscam uma forma nova de
sexualidade? Quantas pessoas sinceras equivocadas buscam no tantra negro ou cinza esta
libertação e acabam entrando no caminho do inferno, porque não encontraram os mistérios da
sexualidade sagrada em seus caminhos!”, exclamava com persuasão Diana.
“Você me compreendeu, estou muito feliz por isso, mas temo que estes mistérios
acabam sendo profanados belo senso comum”, disse Joseph.
“Não, o senso comum não está à altura desse tipo de literatura, e outra coisa, você
camuflou muito bem estes mistérios, pois seu enredo trata mais sobre filosofia, e a massa não
suporta filosofia, pois percebi nos dois manuscritos que li que o sexo só ocorre no meio e no
final do livro, garanto a você que somente os espíritos livres chegarão no final do enredo
filosófico. O senso comum e os pervertidos de espíritos não suportariam ler dois capítulos de
seus livros”, disse Diana.
Diana e o Joseph passaram o dia inteiro juntos, fizeram amor todos os dias da semana,
porém Diana necessitava ir à Cidade do México visitar Antares, convidou Joseph para ir com
ela, porém ele não pode, devido os compromissos com a escola de filosofia da comunidade.
As pessoas na comunidade ficaram surpreendidas com a união deste casal cujo amor ardia
fortemente em suas almas.

‫ש‬
Diana havia desembarcado na rodoviária de Monterrey e de lá pegou um táxi até o
aeroporto onde pegou um vou para a Cidade do México. Depois de uma hora de vôo chegou à
Cidade do México, foi ao toalete para dar uma ajeitada no cabelo e retocar a leve maquiagem.
Quando estava passando o batom vermelho suave nos lábios finos, observou pelo espelho
uma dama mexicana que não tirava os olhos dela. Diana com cortesia francesa perguntou se
ela desejava algo, a dama pediu desculpa e disse que ela lembrava alguém que conhecera na
França, mas ouvindo o sotaque francês percebeu que se tratava de uma francesa, então
compreendeu o motivo da lembrança.
“Já esteve na França?”, perguntou Diana.
“Sim, sou mexicana, mas resido na Espanha, tenho amigos na França”, respondeu a
dama que se vestia com roupas exóticas como as indianas. Era uma mulher bonita e
aparentava uns quarenta anos de idade, era séria e parecia ser muito bem instruída pelo livro
que trazia em mãos: „Guerra e Paz‟ de Leon Tolstoi.
“Vim à Cidade do México visitar meu irmão e sua esposa, é a primeira vez que venho
ao México e já me apaixonei, mas ele é americano”, disse rindo Diana.
“Que bom, o amor correspondido é maravilhoso, eu amei, talvez ainda amo, um
francês, mas o destino conspirou contra nosso amor, mas já superei, agora estou envolvida
com outra pessoa, alguém com que tenho compartilhado meus ideais revolucionários, ele é do
Chile e está vindo à Cidade do México para se encontrar comigo, daqui partiremos para a
Espanha, é um ex-padre que conheci há muito tempo atrás, ele apareceu novamente em meu
destino no momento mais trágico de minha vida, e as coisas aconteceram entre nós. Tivemos
uma história junta no passado, mas uma história de luta pela libertação do oprimido; é um
grande cientista religioso da Teologia da Libertação. Na época ele era padre e fazia missão
aqui na Cidade do México, eu também estava envolvida com o movimento da Teologia da
Libertação e o conheci na militância. Como vê o acaso nos uniu novamente, mas agora
afetivamente, pretendemos morar juntos”, disse a dama.
“O verdadeiro amor sempre encontra obstáculos, tenho observado isso em grande
parte da literatura de grandes mestres como William Shakespeare e nas lendas medievais
como a de Tristão e Isolda, por exemplo, parece que o amor é por natureza trágico, espero
que meu recém nascido amor não seja trágico”, disse Diana, à medida que guardava o batom
na bolsa.
Diana percebeu logo que se tratava de uma revolucionária que talvez estivesse
envolvida com rebeldes mexicanos apoiados por Cuba, pois sabia que este movimento
progressista da Igreja era de tendência marxista, por isso se afastou da dama, não porque era
contra os rebeldes, pois ela mesma era uma revolucionária, mas poderia ser que se tratasse
de uma procurada ou de uma espiã comunista, desta forma estaria se comprometendo em sua
companhia.
“Vejo que se assustou com a palavra „revolucionários‟, pode ficar tranqüila não sou
nenhuma guerrilheira, apesar de ter grande vocação para isso, meus ideais revolucionários se
encontram em outra esfera, na da consciência. Estou na Cidade do México para divulgar meu
trabalho, sou Doutora em psicologia e desenvolvi um novo método de psicologia com base na
filosofia oriental e na proposta de revolução sexual de Wilhelm Reich, na verdade eu corrigi os
erros de Reich e propus uma nova proposta de revolução sexual. Realizo seminários sobre
esta minha proposta”, explicou a dama.
“Muito interessante gostaria de assistir uma destas conferências”, disse Diana.
A dama lhe deu um panfleto onde havia o endereço do grupo que ela havia formado
para divulgar suas teorias, Diana o colocou na bolsa e seguiu seu destino e a dama o seu.
Estas duas misteriosas mulheres teriam um novo encontro, porém na França em uma situação
muito trágica para ambas.

Diana pegou um táxi e seguiu para o endereço de Antares. Chegando no local, entrou
no prédio e subiu de elevador para o sétimo andar e tocou a campainha do apartamento 32, o
próprio irmão atendeu e ficou surpreso em rever a irmã, pois não imaginava que estava no
México. Michelle havia saído com uma amiga esposa de um iniciado da Loja Franco-Maçônica.
“O que lhe trouxe aqui minha irmã?”, perguntou Antares.
“Vim a negócios, resolvi publicar os livros de Joseph, já estive na comunidade e já
tratei com ele. Mas, o mais interessante disso tudo, é que eu me envolvi com ele, nos amamos
a primeira vista, é um homem extraordinário. Posso te contar um segredo?”, perguntou Diana.
“Claro”, respondeu Antares.
“Fizemos amor um dia depois que nos conhecemos, foi uma experiência maravilhosa
meu irmão, finalmente conheci os mistérios do sexo e os prazeres paradisíacos que eles
proporcionam”, disse Diana.
“Se isso lhe faz feliz e lhe traz jubilo ao coração, não há mal algum; sexo é bom
quando é praticado com consciência e equilíbrio, rejuvenesce, trás paz e alegria para a alma.
Se você tem certeza de que é isso que quer, vai em frente, Joseph é um gênio e precisa de
uma grande mulher ao seu lado”.
“Por falar em sexo, conheci uma doutora psicóloga que divulga uma nova teoria sobre
a sexualidade, parece ser interessante se sobrar tempo pretendo assistir uma de suas
conferências para avaliar sua teoria sobre o assunto, fala em termos de revolução sexual,
como agora sou uma revolucionária sexual, desejo saber qual é a proposta desta cientista,
espero que ela não acabe no cárcere como Wilhelm Reich”, disse rindo Diana.
“Parece ser interessante, eu gostaria de assistir uma de suas conferências. De fato
estamos na Era de Aquário e até os cientistas falam de revolução sexual, este é o assunto da
década, e as energias de Netuno fluindo pela constelação de Escorpião e a conjunção de
Urano e Plutão em Virgem só tendem a fortalecer mais ainda esta revolução sexual, porém há
também o aspecto negativo desta revolução que é banalização do sexo e a libertinagem, pois
estas forças poderosas estavam reprimidas durante todo o período da velha Era de Peixes, e
agora foram libertadas”, disse Antares, à medida que lia o panfleto que Diana lhe deu.
“Muito interessante meu irmão tudo isso, como ocorreu esta repressão na Era de
Peixes?”, perguntou Diana.
“A Era de Peixes foi regida por Júpiter e Netuno, porém o que prevaleceu foi o pólo
negativo destes planetas, ou seja, a religião autoritária e dogmática de Júpiter negativo e a
ilusão de Netuno negativo. A religiosidade dogmática manteve as consciências presas numa
ilusão espiritual cheia de superstição, impondo dogmas repressores para controlar as massas,
criando uma moral ressentida que levou a humanidade a uma neurose coletiva, e Freud
analisou muito bem este aspecto quando afirmou que as idéias religiosas não passam de
ilusões evocadas pela força do desejo e é destas idéias religiosas que nasce o Super Ego com
todo seu código moral repressivo e controlador do Instinto da vida 189 e obstruindo o livre
desenvolvimento da nobre moral e quando Nietzsche declara a morte de deus estava pleno de
consciência, pois este deus para Nietzsche era o Super Ego, o velho deus da humanidade
decadente, de fato o ego que esta a serviço do Super Ego deve ser dissolvido a um caos
absoluto para que deste surge o homem deus, o Super Homem”, explicou Antares.
“Interessante, estive refletindo por estes dias sobre a vibração negativa da Era de
Aquário. A onda do espírito dionisíaco negativo se alastra por todas as partes. O aspecto
negativo de Urano, regente do Novo Eon, a Era de Aquário, é bem característico em nossos
dias. Explodem revoluções sociais e políticas pelo mundo; a tecnologia avança cada vez mais
em beneficio da dominação. A liberdade sexual, mal canalizada e compreendida, alastra-se
pelo mundo...”, disse Diana.
“Urano dissolve os ídolos, as ilusões edificadas pela velha Era de Peixes, o mundo
entrará em um caos tremendo, somente depois que o caos for estabelecido pelas forças
revolucionárias da Era de Aquário através de Urano, seu regente, é que a nova sociedade
aquariana vai emergir. Infelizmente a humanidade está degenerada e não tem condição de

189
Instinto de vida e nobre moral são conceitos de Nietzsche, o autor aqui faz uma junção dos termos
freudiano e nietzschiano para expressar com mais clareza o conceito.
absorver as emanações positivas de Urano, por isso as forças uranianas tipicamente
dionisíacas, são canalizadas de forma negativa pela humanidade”, disse Antares.
“O diálogo está muito interessante, mas infelizmente preciso tomar um bom banho e
descansar um pouco. Jade mandou esta carta pra você”, disse Diana entregando a carta,
depois se retirou deixando o irmão sentado no sofá da sala lendo a carta.
Depois que terminou a carta, ficou surpreso com as informações contidas nela, pois
Jade informava que Heloisa estava viva e se encontrava na Cidade do México, ficou feliz em
saber que amada havia escapado da morte, ele ainda a amava muito, porém entregou seu
coração a Michelle, porque pensava que Heloisa estava morta, ele sempre soube, assim como
ela, que o destino jamais uniria os dois nesta existência, o carma obstruía esta poderosa
conjunção, ambos eram almas gêmeas, Heloisa era o principio feminino de Antares. Antares
na verdade estava colaborando com Michelle no trabalho de magia sexual, pois ele sabia que
seu Kundalini não despertaria e com isso não recapitularia suas iniciações, pois com sua
queda adquiriu um carma terrível e este carma o obstruía, como o Querubim na porta do Éden,
sua entrada novamente no caminho iniciático, teria que pagar este carma em futuras
reencarnações, porém tinha velhas dividas para com Michelle, e o pagamento consistia em
ajudar a amiga a entrar no Caminho Esotérico que consistia nas Iniciações de Mistérios
Maiores. Michelle já havia sido iniciada em reencarnações passadas e estava agora, com a
ajuda de Antares, recapitulando suas iniciações. Antares, logo após a leitura da carta, dirigiu-
se à janela e pensativo olhava para as pessoas trafegando na rua como formigas, ficou ali até
que Michelle chegou e disse:
“Que perfume cheiroso é este, recebeu a visita de alguma amiga?”.
“Diana, minha irmã se encontra conosco, veio me visitar”, respondeu.
“Que bom finamente conhecerei sua irmã que tanto te adora, e onde ela está?”.
“Descansado da viagem, dorme no quarto de hospedes”.
“Então vamos preparar uma boa comida mexicana para ela, que tal?”, sugeriu Michelle.
“Será bom, vamos lá”, respondeu Antares, à medida que se dirigiu para a pequena
cozinha do apartamento.
“Esta manhã acordei com maus pressentimentos, tive uma visão no plano astral muito
estranha, foi me mostrado um necrotério, e este havia as palavras: “Necrotério da Maçonaria”,
havia alguns corpos sobre as mesas de concreto, porém não pude identificar de quem se
tratava. Depois penetrei o cemitério da Maçonaria e lá havia um velório com muitas pessoas,
entorno do caixão havia sete mulheres velando o corpo e chorando, que será isso?”,
perguntou Michelle.
“Pode ser que seja uma exortação para a morte mística ou de fato alguém será
desencarnado, alguém da Ordem”, respondeu Antares.
“Espero que seja a primeira”, respondeu Michelle.
“Amanhã estou querendo visitar uma das pinturas em murais de Diego Ravera, vamos
e aproveitaremos para mostrar os pontos turísticos à sua irmã”, disse Michelle.
“Boa idéia, porém pretendo ir a uma conferencia sobre psicologia sexual que será dada
no salão nobre de um hotel aqui próximo, se quiser me acompanhar...”, disse Antares.
“Tudo bem, vamos à conferencia e depois de amanhã iremos ver a obra de Ravera”,
concordou Michelle.
Depois de duas horas, Diana acordou e saboreou o bom prato mexicano, depois
dialogaram por muito tempo falando dos assuntos da família. Diana havia trazido uma
fotografia de Minerva para o irmão, já estava andando e falando as primeiras palavras, o pai
ficou muito entusiasmado ao ver o retrato da filha.
“Estive pensando, já que você e Joseph estão juntos, ele poderia ir à França com você
para formar uma Loja de nossa Ordem por lá, que acha?”, perguntou Antares.
“Ótima idéia, espero que ele concorde”, respondeu Diana.
“Ele irá, é sua missão e a dele, a história de vocês se dará na França e não aqui”, disse
Antares confiante.

No dia seguinte Antares, Michelle e Diana, foram ao salão nobre do hotel onde a
psicóloga que Diana conhecera no aeroporto, daria a conferência. Chegaram meia hora antes,
e o salão já se encontrava com muitas pessoas. O público era formado por estudantes e
psicólogos. Algumas pessoas que estavam hospedadas no hotel também estavam ali.
Entre o público havia uma mulher executiva muito bem vestida que às vezes olhava
para Antares discretamente, Antares percebeu, porém fingiu que não estava percebendo as
discretas olhadas da dama. Porém, Antares deve uma certa impressão que já havia visto esta
mulher algumas vezes durante a semana, porém não deu muita atenção para este fato, estava
mais interessado em ouvir a tal psicóloga que ainda não havia se posicionado para a
conferência, depois de certo tempo de espera Diana chamou a atenção de seu irmão que
nesse instante estava conversando sobre algo com a esposa.
“Veja meu irmão é aquela mulher!”, exclamou com voz baixa, à medida que apontava à
mulher.
“Esta é Heloísa!”, exclamou com ênfase e demonstrando espanto.
“É ela mesma!”, exclamou também com espanto Michelle, que havia conhecido Heloísa
quando Katarine a levou em sua loja em Nova York. Antares ainda não havia relatado à
esposa que Heloísa estava viva.
A conferencia durou duas horas, de fato a teoria exposta por Heloísa era
extraordinária, e Antares ficou admirado com a maestria daquela que era seu principio
feminino. Seus olhos brilhavam ao ouvir aquela voz calma que discorria com grande
autoridade o assunto, de fato era uma mulher de excepcional envergadura intelectual, ela
nunca havia comentado que era uma doutora em psicologia, sabia que havia sido uma monja
franciscana anarquista, mas nunca imaginou que Heloísa fosse uma mulher da ciência.
Heloísa havia feito uma extraordinária síntese entra a ciência psicanalítica acadêmica tendo
Reich e a ciência tântrica dos hindus como bases. A polêmica foi enorme, muitos a atacaram
outros acharam interessante a teoria da revolução sexual apresentada por ela.
No meio da conferência a dama que olhava Antares, saiu balançando a cabeça
negativamente em protesto. Atravessou a rua movimentada e entrou no prédio à frente.

Quando a conferencia acabou. Diana foi até Heloísa e disse algo a ela:
“Ótima conferencia, meu irmão é Mestre da Franco-Maçônaria e deseja dialogar sobre
o assunto com você”, disse Diana.
“Claro estou aberto ao dialogo, estou hospedada neste hotel, este é o número de meu
quarto, pode subir com ele, vai ser um prazer, eu aguardarei vocês”, disse Heloísa que não
mínima noção que se tratava de Antares, logo se retirou com seu companheiro.
Meia hora depois, os três bateram na porta do quarto 81. Grande foi à surpresa de
Heloísa em rever Antares. Suas pernas ficaram bambas, seu rosto vermelho, e seus
movimentos desajeitados. O companheiro de Heloísa percebeu o amor no olhar de ambos,
pois ele sabia de toda história que envolvia o dois, porque Heloísa havia lhe dito e não
escondeu de seu amante que amava Antares. Este também jamais havia ocultado este fato de
Michelle. Depois da euforia, dialogaram muito. Antares questionou alguns pontos da teoria de
Heloísa, esta aceitou a critica com agrado. Heloisa relatou que havia sido deportada para o
México, e que havia escapado com vida, porque ainda era oficialmente uma freira da Ordem
Franciscana e pela intervenção desta ela conseguiu escapar e ser deportada. Antares também
relatou que havia feito muitos esforços junto com as amigas de Heloísa para achá-la, porém
não havia pistas sobre seu paradeiro, então eles acharam que estava morta. Heloísa achou
estranho em ver Antares casado com a americana, pois quando partiu da França ele estava
com Medéia e até mesmo uma filha tiveram juntos, o que poderia te acontecido? Indagava em
mente. Discretamente conversaram sobre este assunto, e Antares disse para Heloísa que
Medéia renuncio o amor que sentia por ele, porque sabia que ele amava Heloisa e que ela
mesma incentivou ele a procurá-la, porém o destino conspirou contra este amor.
“Abandonarei tudo e partirei com você, Pablo compreenderá, é um homem justo e bom,
tenho certeza que Michelle também compreenderá, não suportarei viver sem você agora que
te encontrei novamente, não me abandone meu amor, eu morei de amor...”, disse Heloísa.
“Isso é impossível nesta existência, o amor é trágico e o destino cruel”, disse Antares.
“Não faço isso comigo, não suportarei viver sem você!”, exclamou com lagrimas nos
olhos.
“Partirei e não nos veremos novamente, será melhor assim, não quero que as pessoas
que estão envolvidas conosco sofram, te amarei sempre, mas nossa história termina aqui,
adeus minha amada”, disse Antares, à medida que seguia para onde se encontrava os outros,
logo em seguida partiram. Heloísa trancou-se no toalete e chorava muito.
Já fazia cinco minutos aproximadamente que Antares e as companheiras haviam
deixado a suíte de Heloísa, esta ainda estava trancada no toalete quando um grande calafrio
se apoderou de sua alma, ela abriu a porta e saiu gritando desesperadamente
Antares...Antares... Pablo achou que ela havia enlouquecido e correu atrás dela.
Uma bala atingiu Antares no ombro direito, outra no esquerdo, depois uma terceira no
joelho direito e outra no esquerdo, o Mestre caiu no chão imobilizado, o atirador queria
imobilizá-lo antes de dar o tiro de misericórdia, queria vê-lo sofrer. Pessoas corriam por toda
parte, Michelle e Diana gritavam desesperadas por socorro, mas todos fugiam dali. Antares
com grande esforço levantou a cabeça e gritou: “Canalhas, tiram-me o corpo, mas meu
pensamento ainda ficará vivo para o tormento de vocês!!!”, exclamou em grande voz, à medida
que o quinto tiro atingia seu coração. Neste momento Heloísa apareceu na porta do hotel e
correu desesperada para junto do corpo de Antares gritando: “Não...Não...o que fizeram com
meu amor, assassinos!!!!”. Ali a Estrela Vermelha se apagou. O vestido branco de Heloísa
ficou vermelho com o sangue que lhe escoria do peito, pois uma bala lhe atingiu, ela caiu ao
lado de Antares ainda viva, porém chegando ao hospital falecera.
As manchetes dos jornais mexicanos anunciaram o crime sem muita ênfase, pois
achavam que se tratava de algum comunista trotskista eliminado por algum agente da KGB.
Os jornais franceses também não deram ênfase, apenas notificaram bem superficialmente que
as Sociedades Secretas estavam em guerra, que um franco-maçom francês em atividade no
México havia sido executado com cinco tiros disparados por um assassino profissional. Na
verdade a Franco-Maçonaria não querendo ver seu nome envolvido, ocultou o assassinato de
Antares o máximo que pode, já que ela tinha poder e grande influencia na imprensa. A tristeza
abateu a todos.
Diana levou o corpo do irmão para Marselha onde era aguardado pela família e
amigos. As três discípulas de Antares, Águia Negra e Joseph, partiram logo em seguida à
França para velar o amigo. Michelle acompanhou Diana, Heloísa por alguma razão
desconhecida não foi.
Muitas pessoas concorreram ao velório, Agnes estava abatida e triste ao lado do
esposo Leonel que havia sido discípulo de Antares e o traiu. Ao lado do caixão havia sete
mulheres: Perséfone, Michelle, Medéia, Diana, a mãe de Antares, e as outras duas irmãs:
Hécate e Selene. Perséfone havia retornado à Espanha dois dias antes da morte de Antares,
pois fazia alguns dias que tinha chegado do Brasil com o filho recém nascido e Pedro.
Samanta chorava muito ao lado de Irene e de Jade, as pessoas horrorizadas comentavam o
assassinato, e faziam diversas conjecturas, alguns afirmavam que era coisa da Opus Dei,
outros dos maçons rivais que se sentiram traídos e que tinham eliminado Antares por este ter
revelado os mistérios da Ordem , outras ainda os comunistas stalinistas. Havia várias pessoas
da comunidade judaica no velório de Antares, pois Antares serviu ao exército francês e
trabalhou na inteligência deste, salvando muitos judeus dos nazistas ao lado da esposa
Elisabeth que era uma médica da Cruz Vermelha.
No velório havia uma mulher israelita de aproximadamente trinta e cinco anos que era
uma agente do Mossad, o serviço secreto israelense, que fora salva junto com a família por
Antares e seus soldados, quando estes interceptaram um trem que levava judeus para o
campo de concentração na Polônia, na época ela era uma jovem de quinze anos; esta ação foi
montada pelo próprio Antares na tentativa de livrar o Cabalista de Leon, Scham Ben Tzade.
Fato que era desconhecido por todos, menos por Regulus e Agnes, nem mesmo Perséfone
sabia que Antares era discípulo de seu avô. A agente do Mossad relatava este fato para
Joseph e para Águia Negra em um dialogo misterioso e secreto. Ela passou a informação que
o Mossad protegia Antares, porque havia uma poderosa Sociedade Secreta que queria
eliminá-lo a qualquer custo, porque Antares possuía uma lista de nomes de importantes
estadistas que estiveram envolvidos com os nazistas e foram eles que desenvolveram o plano
diabólico anti-semita para usurparem as fortunas dos judeus capitalistas para com ela
financiarem a guerra e foram eles que atribuíram a suástica como emblema do Nazismo, visto
que esta era um símbolo de grande poder esotérico e poderia liberar forças reprimidas do
inconsciente coletivo,190isso provava que havia homens com conhecimentos esotéricos
190
Wilhelm Reich afirma em seu livro „A Psicologia da Massa Fascista‟ que de fato a suástica como símbolo
sexual do misticismo hindu tinha o poder de despertar a libido reprimida nas massas alemães e que esta
orientando Hitler, este era apenas um fantoche e devido seu poder carismático e de persuasão
de movimentar as massas, foi modelado secretamente pelos mestres desta Sociedade
Secreta. Scham Ben Tzade e Antares havia descoberto que tal Sociedade Secreta com sede
na Alemanha era uma Sociedade Maçônica organizada por homens lunáticos, sectários e
fanáticos que sonhavam em organizar uma Europa segundo seus ideais equivocados. A
agente do Mossad informou que eles enviaram uma poderosa assassina chinesa envolvida
com magia conhecida como Garra da Morte para eliminar Antares durante a guerra, porém por
alguma razão misteriosa esta assassina havia falhado; depois mudaram de tática enviando
uma de suas agentes de codinome Lâmia, esta era conhecida como Ofélia, esta conseguiu
destruir moralmente Antares devido seu grande poder de sedução e sua refinada inteligência
para o mal, também tentou destruir o frei franciscano Miguel, mas não teve excedo. Porém,
Antares levantou-se novamente e tornou-se uma ameaça. Por fim, enviaram a segunda agente
de codinome Équidna para o México, esta foi à assassina de Antares. A agente israelense informou
que a terceira agente desta Sociedade Secreta de codinome Empusa, havia se infiltrado entre eles e
que esteve muito próxima de Regulus e que foi ela mesma que o denuncio às autoridades norte
americanas como comunista. Esta agente era a mais perigosa das três e estava envolvida em várias
missões secretas, ela mesma arquitetou o plano desde o principio, e tudo foi pensado com lógica
visando às causas e os efeitos de cada ação que realizaria. Usou disfarces bem elaborados e era uma
grande atriz, encenava cada personagem que criou para suas ações com grande destreza. Foi
comunista, anarquista, ocultista, freira, prostituta, dançarina etc. Ela até mesmo assassinou uma
monja franciscana e assumiu sua identidade, isso ocorreu logo após o fracasso de Garra da Morte que
havia também sido enviada para assassinar o rebelde frei Miguel que depois passou a se chamar
Regulus, como também a judia Agnes e um outro monge franciscano de nome Julius que
desapareceu, porém dizem que vive em algum lugar ocultado, todos próximos Antares e marcados
para morrer, a próxima vitima seria Agnes, que era prima por parte de pai da agente do Mossad, se a
agente não tivesse descoberto a tempo este plano satânico. Ela informou que Antares havia escrito
um manuscrito onde relatava os nomes das pessoas envolvidas com esta Sociedade Secreta, que o
Mossad estava em busca deste manuscrito para por fim de uma vez por todas nesta tramóia diabólica.
“Por Dioniso! Jamais pude imaginar que meu amigo Antares estivesse envolvido com
espionagem, com inteligência militar, com serviço secreto israelense, com Scham Ben tzade, agora
compreendo o motivo de seu assassinato, mas quem afinal de contas é esta Empusa?”, perguntou
eufórico Joseph.
“Talvez vocês ainda não tenham tido contato com ela, é uma mulher muito perigosa e foi
conhecida como Isabel, o nome da monja que talvez ela tenha assassinado no México para usurpar
sua identidade, pois sabia que esta era a única forma de se aproximar do então frei Miguel, e através
deste chegar a Antares e Agnes; ela seduziu o abade que havia enviado Miguel ao México e se
passando como prima do frei, descobriu seu paradeiro. A Isabel verdadeira de fato era uma boa
mulher que lutava bela causa dos pobres e necessitados, era uma profunda pesquisadora social, era
da corrente progressista da Igreja, a Teologia da Libertação, porém frei Miguel não a conhecia.
A verdadeira Isabel havia estado em missão no Estados Unidos, na Califórnia na cidade de
Los Angeles, e ali entrou em contato com um frei rebelde que era simpatizante das idéias subversivas

liberação em forma de neurose era direcionada pela propaganda fascista em favor dos objetivos diabólicos dos
nazistas. Combinada com a cor negra e vermelha facilitava a alienação psicológica aos ideais nazistas. A
suástica foi profanada pelos nazistas, trata de um símbolo sagrado usado pela própria maçonaria e é o
principal símbolo do Jainismo da Índia, Tibet e China. Também é uma runa do alfabeto nórdico chamada
Gibur.
de frei Migule, logo a verdadeira Isabel ficou simpatizante de tais teorias e desejou entrar em contato
com frei Miguel. A falsa Isabel aproximou-se da verdadeira tornando-se amiga intima desta e obtendo
todas as informações de sua vida e até mesmo assimilou seus costumes e hábitos. A Isabel
verdadeira já era tida pela Igreja como uma rebelde, e este fato facilitou em muito ao plano da
impostora, pois ela sabia quem era o frei e deduziu que ele logo teria afinidades com a monja
franciscana, a partir daí traçou seu plano diabólico.
Heloísa havia obtido informações sobre as atividades de Miguel através de um frei franciscano
de Madri com o qual mantinha contato, este frei era Leon, este era simpatizante das idéias divulgadas
por Miguel; então Heloisa teve grande interesse em entrar em contato com Miguel, e se
corresponderam algumas vezes, porém não se conheceram pessoalmente. Miguel já havia comentado
da monja Isabel através das correspondência com Heloísa, as duas então comessaram a entrar em
correspondência, ambas residiam no México, porém em cidades diferentes”, explicava a agente do
Mossad, quando Joseph interrompeu.
“Mas, não entendo como a falsa Isabel ficou sabendo desta monja rebelde?”, questionou
Águia Negra.
“Nem nós sabíamos, somente quando estive em Madri e investiguei o abade franciscano e
mostrei a foto da falsa Isabel, ao ver a foto se assombrou e me disse que não era Isabel que eu estava
equivocada, esta mulher da foto era a suposta prima de frei Miguel, foi ai que tudo se encaixo.
O abade me relatou que devido ao charme e a simpatia da impostora, ele se deixou levar e
relatou para ela que havia enviado Miguel ao México para protegê-lo e para afastá-lo da Espanha, pois
ele estava com certas idéias subversivas e como tinha grande estima por ele, afastou-o da Europa
para protegê-lo, mas ele nunca imaginou que a impostora se passaria pela monja que até então ele
não sabia que era também uma rebelde como Miguel, pois este fato nem nós sabíamos, somente
agora com os acontecimentos recentes é que ficamos sabendo. Deduzimos, então, que ela já sabia
sobre as atividades da tal monja, por isso usou sua identidade para se aproximar de Miguel de
Heloísa. A partir daí ela passou a agir, sabendo que o frei havia sido enviado para Guadalajara e que a
monja Isabel se encontrava no interior do Estado de Sonora em um vilarejo onde realizava missão, ela
viajou para Sonora e depois foi para o vilarejo onde se encontrava Isabel. Então chegou no vilarejo se
passando por uma assistente social pesquisadora, logo se tornou amiga de Isabel e ficou sabendo de
todas suas atividades, leu secretamente a agenda da monja e ficou sabendo de todas suas
experiências e pensamentos. Isabel relatou para a impostora sobre as atividades de Heloísa e que ela
não havia conhecido pessoalmente. Na época a monja Isabel tinha vontade de conhecer
pessoalmente as atividades de Heloísa. Certa vez a impostora convidou a monja Isabel para visitar um
amigo em outro Estado, esta aceitou o convite e jamais retornou para Sonora, porém a partir daí a
impostora assumiu a identidade da monja e foi a Guadalajara com o intuito de se aproximar do frei
Miguel, disse ao frei que realizava um trabalho de alfabetização de camponeses em um vilarejo, de
fato ela já havia preparado toda o cenário, pois valendo da identidade da verdadeira Isabel chegou em
Guadalajara, onde já se encontrava Heloísa. Envolveu-se com o frei Miguel e com a monja Heloísa e
até realizaram trabalhos sociais juntos. Com a convivência continua, com o tempo acabaram se
tornando grandes amigos. A falsa Isabel decobrira que Miguel e Heloísa haviam se tornados amantes,
então escreu uma carta anônima para a Ordem Franciscana denunciando o caso amoroso dos dois,
isto resultou na expulsão do frei da Ordem franciscana. Miguel e Heloísa passaram a residir na cidade
de Leon que era a cidade natal do frei, Isabel se envolveu com um jonvem monje que era discípulo de
Miguel e se chamava Rafael. Na verdade esta falsa Isabel era também uma mexicana que vivia há
muito tempo em Barcelona, este foi um outro fator que a favoreceu como espiã. Como ela ficou
sabendo da verdadeira Isabel? Através de Ofélia que havia ingressado na Universidade Católica para
se aproximar de Miguel que na época lecionava nesta Universidade. Ofélia era uma excelente aluna
no curso de mestrado, e logo ganhou a simpatia do mestre. Tornaram-se grandes amigos e ela,
apesar de espiã, acabou despertando pelo frei uma devastadora paixão, por este motivo ela foi
afastada da missão e uma outra, mais perigosa e fria, foi colocada em seu lugar para continuar a
espionagem. Miguel havia relatado à Ofélia sobre a monja mexicana e até mesmo revelou uma de
suas cartas para ela.
Já fazia algum tempo que Miguel estava morando junto com Heloísa em Leon, quando algo
insólito ocorreu, a Opus Dei levou o frei para um mosteiro secreto e lá o manteve prisioneiro por um
ano, este fato desarticulou por um tempo o plano que a falsa Isabel estava designada a cumprir,
depois Miguel apareceu novamente em Leon, porém a falsa Isabel que era suposta amiga e
frequentadora de sua casa percebeu que Miguel havia desaparecido novamente por algum motivo que
ela desconhecia. Depois ela descobriu que ele havia se envolvido com uma milionária chinesa. Depois
de certo tempo o próprio Miguel procurou Isabel e outros amigos que neste período residiam em Leon.
Isabel recebeu ordens de sua hierarquia para exterminá-lo, então tentaram assassiná-lo na mansão da
própria chinesa, e por algum tempo pensaram que de fato haviam acabado definitivamente com o frei,
mas logo receberam uma informação que ele ainda estava vivo e que a chinesa com a qual vivia havia
falecido de parto, depois destes episódios ele desapareceu e ninguém o viu mais por um espaço de
sete anos. Então a falsa Isabel lembrou que Miguel era amigo de um jovem artista metido com o
movimento anarquista espanhol, então travou grande amizade com este jovem para tentar chegar em
Miguel que se encontrava desaparecido, porém este nada sabia, mas foi através deste que ela chegou
a Perséfone que a convidou, a pedido do próprio Miguel, que neste período se encontrava no Tibet, a
participar na formação de uma Comunidade Monástica, foi desta forma que ela descobriu o paradeiro
de Miguel. Integrou-se ao grupo da Comunidade e lá reencontrou Miguel que depois de alguns anos
apareceu na Comunidade juntamente com Heloísa e Antares. A partir daí ela passou a agir, colocou
até mesmo Rafael contra o Mestre e o fez com que ele o delatasse a Opus Dei, desta forma ela
desarticularia através da intriga a união de Miguel e Antares e lançaria as bases da futura destruição
da recém formada Ordem.
“Mas como vocês ficaram sabendo de toda esta tramóia, isso não era segredo?”, perguntou
Águia Negra.
“Sim, porém nós tínhamos um informante na Opus Dei, este nos passou a informação sobre a
espiã, seguestramos a falsa Isabel e a levamos para um local secreto, um dos nossos agentes deu-lhe
uma droga especial que utilizamos para arrancar informações dos terroristas, dizendo-lhe que se
tratava de um calmante, sobre o efeito da droga ela relatou nos mínimos detalhes o plano desde seu
principio, quando ainda tinha vinte anos de idade quando entrou para a Sociedade Secreta destes
ocultistas macabros, havia vinte anos que ela trabalhava nesta missão. Sequestramos a assassina de
Antares, Équidna, as duas foram levadas secretamente para Israel, pois são testemunhas de que de
fato há uma Sociedade Secreta que esteve envolvida com o Nazismo; a terceira, Lâmia, cometeu
suicídio depois de ter se envolvido com um mafioso de Nova York, o motivo que a levou ao suicídio é
desconhecido. Com o manuscrito de Antares e o testemunho das duas espiãs, poderemos incriminar
esta Sociedade macabra”, respondeu à Agente.
“Precisamos falar com Diana para saber se ela sabe do paradeiro deste importante
documento”, disse Joseph.
“Já falei com ela, inclusive tudo que relatei a vocês, relatei também para ela, mas ela nada
sabe”, disse a agente com tristeza no semblante pela morte de Antares, pois eram grandes amigos e
ela se sentia culpada por ter falhado na segurança do amigo.

Por fim, o corpo de Antares foi levado ao crematório, aquele corpo extraordinário que outrora
foi o veículo do Mestre Schim que atuou esotericamente pela Franco-Maçonaria nesta sua existência,
foi incinerado. A personalidade dialética demorou alguns anos para ser dissolvida pelo tempo, seu
corpo vital dissolvia lentamente. O Lúcifer que havia projetado no mundo dialético a personalidade
conhecida como Antares, recolheu sua alma humana, onde residia toda a sabedoria do bem e do mal
recolhida por Pistis Sophia191 nesta atual existência dialética. O nome deste luminoso Lúcifer é:
„Invocando a Guerra e a Batalha‟ é um Gênio da brilhante constelação de Aquário, é conhecido entre
os mestres secretos como o Mestre do Triplo Triângulo, por quê? Isto é segredo!

FIM

Antares foi esquecido com tempo, seus livros desapareceram, ninguém sabe ao certo o que
aconteceu com a Franco-Maçonaria revolucionária fundada pelo Mestre Schim e seus discípulos e
nem sobre a comunidade no México, isto é uma incógnita. Tornou-se uma Ordem secreta e oculta? Ou
foi dissolvida logo após a morte do Mestre?
Michille depois da morte de Antares entrou em profunda depressão e angustia, ficou anêmica
e logo perdeu também seu corpo físico. O Mestre Aleph e Diana viveram juntos e talvez ainda vivem,
filosofando de dia e a noite praticando o sexo-yoga. Águia Negra ou Mestre Mem, trabalhou
arduamente na forja do deus Vulcano com sua esposa sacerdotisa Alexandra e alcançou elevados
graus na iniciação esotérica de Mistérios Maiores. Katarine e Jaqueline casaram e viveram na
comunidade. A cabalista Perséfone e seu esposo Pedro se desiludiram com a Ordem do Leão
Vermelho, abandonaram tudo e seguiram suas iniciações solitariamente e realizavam seus trabalhos
artísticos como de costume, foram morar em Israel em um Kibutz onde havia uma comunidade de
cabalistas.
A comunidade do Leão Vermelho entrou em decadência e se dissolveu alguns anos depois; a
Ordem do Leão Vermelho se reduziu a poucos iniciados e se manteve na obscuridade total. Agnes
negociou com o tribunal da Justiça Divina a reencarnação do Mestre Schim oferecendo seu útero para

191
Pistis Sophia é a Alma humana que desce ao mundo dialético. Lúcifer é a Alma do Microcosmo homem,
Pistis Sophia deriva de Lúcifer. Lúcifer é uma emanação do Logos ou do NOUS, o Cristo Íntimo de todo
homem. Lúcifer é a Alma do Mundo e do homem.
gerar o novo corpo do Mestre, porém seu pedido foi negado, pois o Mestre Schim tinha um pesado
carma que deveria ser pago em seu futuro retorno ao vale da sombra da morte.
Medéia e sua filha Minerva levaram suas vidas na simplicidade. Medéia cansou de viver no
plano físico e parou de tomar o elixir da longa vida. Samanta e Irene tornaram-se grandes iniciadas e
foram discípulas de Medéia.

Era vinte e cinco de junho de mil novecentos e sessenta e sete, ano 5º da Era de Aquário. O
Sol a 3º da casa de Isis; Mercúrio a 22º na mesma casa; Vênus a 18º da casa de Rá; Marte a 20º da
casa de Maath; Júpiter a 3º da casa de Rá; Saturno a 21º da casa de Shekmeth; Urano a 17º da casa
de Nuth; Netuno a 22º da casa de Osíris; e Plutão a 20º da casa de Nuth. Esta era a configuração do
céu macrocosmo quando Lúcifer S.A.I projetou uma nova personalidade em seu microcosmo para
uma nova existência na esfera de Malkuth, o mundo de Asiah ou da Ação, a esfera dialética.
Um dos anjos da vida deu à alma humana do Mestre Schim a taça do esquecimento, para que
este não lembrasse de nada que viu enquanto esteve no mundo interno e nem se lembrasse da sua
última existência como Antares, depois o levou à Virgem da Luz e Ela o colocou na esfera do
Escaravelho sagrado, a constelação de Câncer, para retornar ao mundo da terceira dimensão. Nasceu
às 4:00 da madrugada (hora noturna de Aquário) com o ascendente em Gêmeos, o galo cantou no
momento de seu nascimento. Nasceu do ventre de uma camponesa de dezessete anos de idade que
residia em uma fazenda no nordeste brasileiro. Seu pai era um simples pastor de gado. Nasceu no
seio de uma família cujos membros eram quase todos seus inimigos, sua mãe era uma velha inimiga
do passado remoto, assim, como seus seis irmãos. Nos primeiros anos de sua infância foi um menino
doente e debilitado. Aos dois anos de idade o demônio Asmodeu o jogou contra a quina de uma
escada para por fim a sua vida, felizmente ele se safou, porque era guardado pelo anjo Nith Haia,
porém levou a marca por toda sua vida no lado esquerdo da fronte. Quando tinha três anos de idade
seus pais foram residir na capital de São Paulo, e ele já tinha um irmão e uma irmã, dois ferrenhos
inimigos de vidas passadas o terceiro inimigo também reencarnou anos depois no sei desta família
pobre e desestruturada.
Sua personalidade foi formada no seio de um lar desestruturado e sem nenhum principio de
valores nobres. A mãe era neurótica e o pai era um pobre proletariado, cujo salário mal dava para
pagar o aluguel e manter as despesas da casa. Sofria sucessivas agressões da mãe e do pai. A
criança era constantemente espancada. Aos sete anos ingressou na escola primaria e ficou retido
quatro anos na segunda série, era um adolescente rebelde e inteligente e não gostava de estudar, foi
expulso várias vezes da escola. Aos onze anos de idade já havia fumado maconha e andava com os
marginais do bairro onde morava, passou fome muitas vezes. Aos catorze anos se envolveu com uma
feiticeira e com ela aprendeu alguns rituais. Seu pai o enviou para Escola profissionalizante
Salesianas, uma instituição católica mantida pela Ordem Salesiana fundada pelo padre Dom Bosco,
uma instituição que recuperava menores delinqüentes das periferias de São Paulo. Foi aí que sua
personalidade geminiana, ascendente Gêmeos, começou a vibrar os raios positivos de Mercúrio.
Aprendeu nesta escola a profissão de tipógrafo e com ela ganhou a vida e ajudou sua pobre família. À
medida que seu corpo mental ia se formando, o Manas 192 inferior ia se apoderando de sua máquina
humana e ia controlando-a. Casou-se precipitadamente aos 17 anos com uma mulher dominada por

192
Um termo usado na Teosofia para designar a Alma humana, a Inteligência que age nos quatro corpos
inferiores. Manas é o Pensador, é a partícula do Logos em nós. Dentro do Manas esta a Budhi, a Consciência
transcendental onde reside a Sabedoria do Cristo Íntimo. E dentro da Budhi se encontra o Átma, o Mestre
Interno, o Espírito. Estes três formam a tríade do microcosmo homem. Esta tríade provém da Tríade Superior
que é o Deus Intimo do homem, esta Tríade Superior é formada pelo UNO, NOUS ou LOGOS e ALMA
(LÚCIFER).
Lilith. Até esta idade nunca havia fornicado e nem se masturbado, mas sua vida sexual com esta
mulher escorpionina e dominada por Lilith o levou a ruína. Sofreu o indivisível, pois a dita o traiu com
outro e usurpou suas pequenas economias. A partir daí sua vida começa um ciclo de sofrimento e dor.
Aos vinte e quatro anos descobriu que era um comunista e um revolucionário, época em que seu
corpo mental havia se completado, neste período encontrou um grande Mestre que foi seu amigo em
reencarnações passadas, porém este Mestre, assim como ele, estava caído e inconsciente de sua
verdadeira essência. Este Mestre caído era um professor de matemática e economista, foi este amigo
que o introduziu na política revolucionária e o iniciou nos estudos marxistas. Aos vinte e nove anos
encontrou uma outra iniciada caída, também militante da política revolucionária, esta o introduziu nos
estudos esotéricos e juntos procuram uma Ordem esotérica séria, chegaram freqüentar a Ordem
Rosa-Cruz, mas não se interessaram pelos seus ensinamentos, pois queriam algo mais profundo e
revolucionário. Nesta mesma época ingressou na faculdade de Ciências Sociais da Fundação Santo
André para se aprofundar em seus estudos políticos, mas perdeu o emprego e se viu obrigado a
abandonar a faculdade no segundo ano. Uniu-se a esta iniciada e com ela teve uma filha. No período
de gestação de sua filha encontrou a Gnoses de Samael Aun Weor e junto com a esposa filio-se a
Ordem onde passou a receber os ensinamentos esotéricos, recebeu desta brilhante escola esotérica a
chave suprema do Grande Arcano da Magia e iniciou a pratica com a esposa. Antes de retornar ao
esoterismo, teve um transe e sentiu seu terceiro olho rasgar como folha de papel, era o despertar do
Mestre, depois desta experiência transcendental, começou a captar os ensinamentos de seu Divino
Daimon intuitivamente, e escreveu alguns manuscritos destes ensinamentos cabalísticos e maçons
que intuía de seu Real Ser.
No período que estava estudando a Gnoses na Loja onde era afiliado, encontrou uma antiga
sacerdotisa, houve atração recíproca e grandes experiências astrais devido o despertar de forças
inconscientes, porém desviou a corrente de Eros, pois estava praticando magia sexual com sua velha
amiga iniciada e com ela tinha uma filha. Porém, sua vida econômica entrou na decadência total e foi
sustentado pela esposa por um tempo; a relação foi desgastando, porque ela não compreendia seus
processos de iniciação, por fim ambos decidiram se separarem. Os processos iniciáticos foram
terríveis para esta pessoa humana chegou ao ponto máximo da pobreza só não passou fome, porque
seus pais lhe davam o que comer, porém ouviu muito o adjetivo „vagabundo‟. Sua profissão havia sido
extinta devido aos processos da revolução tecnológica, desta forma o desemprego o levou a beira
marginalização.193 Assim, foi caminhando e caminha com os pés nus sobre as pedras da senda do Fio
da Navalha em sua solidão no deserto esotérico da existência no vale da sombra da morte.
Começou ler os filósofos e se identificou com a filosofia de Nietzsche e Shoppenhauer,
ingressando na Pontifícia Faculdade Católica de Filosofia e Teologia da Diocese de São Paulo,
graduando-se em Filosofia e passou a lecionar esta disciplina no ensino Médio.
No ano de 41 da Era de Aquário (2004), escreveu seu terceiro livro: „A Revolução da Fênix‟,
um livro cabalístico onde trata dos mistérios da Iniciação hebraica pelo esoterismo contido no
simbolismo do Tabernáculo do deserto. Neste mesmo ano conheceu uma grande iniciada caída de

193
Marginalização aqui é no sentido do sistema não dá ao individuo o mínimo para sua subsistência como:
emprego, escola, moradia etc; os processos políticos e econômicos da sociedade capitalista produz e reproduz
incessantemente a marginalização da sociedade, pois o sistema capitalista é espoliador, logo produz miséria, e
esta a ignorância, a cegueira espiritual, a alienação da consciência no fetiche da mercadoria e a morte da
razão. A lógica do capital é o lucro, e este como afirma Marx é um roubo, logo o sistema capitalista é
fraudulento e desumano; destrói os valores humanitários para implantar a cultura de consumo. Cria
necessidades de consumo supérfluas para multiplicar o capital, desta forma podemos compreender que o
feudalismo financeira desta sociedade degenerada é a representação mais „evoluída‟ do reino do Anticristo, é
a Era do Caos, ou seja, a Entropia que nivela todos por baixo.
descendência judaica que residia na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, com qual manteve
calorosos debates metafísicos. Foi convidado por esta a ir à cidade de Juiz de Fora, lá conheceu uma
tradicional família de artistas da Rosa Cruz, os Bracher‟s, e estes convidaram-no para que desse a
eles um curso de Cabala, porém a tal amiga judia se opôs ao curso e, desta forma, foi boicotado.
Recebeu sucessíveis ataques da Loja Negra neste período. O curso que daria aos rosas cruzes foi
preparado intelectualmente, e por fim nasceu um dos seus melhores livros de Cabala: „A Cabala de
Thoth‟ com o subtítulo: „Os Mistérios do Tetragrama‟. Neste livro expôs os mistérios das vinte e duas
letras e descreveu as vinte e duas imagens do Tarô criadas pela imaginação criadora, o livro consiste
praticamente na explicação esotérica destas vinte e duas imagens cabalísticas. Havia também escrito
„Os Mistérios do Éden‟. Nenhuns destes livros foram publicados e o projeto era colocá-los na rede da
Internet. Á medida que sua consciência ia aumentando em porcentagem, seus escritos era
aperfeiçoados cada vez mais. Depois parou de escrever para se graduar em Filosofia, pois havia
percebido que seus escritos eram profundos e estavam em níveis muito mais elevados dos que os
livros sobre Cabala que eram apresentados ao mundo, as poucas pessoas que entraram em contato
com estes ensinamentos não compreenderam. Tornou-se um Mestre não compreendido e isso o levou
a angustia e a solidão esotérica. Impedido de encontrar sua Ordem Franco-Maçonica e seus amigos e
discípulos, devido ao carma pesado que carrega, o Mestre segue solitariamente sua senda.
Em seu mapa astral a Lua se encontrava na nona casa em Aquário, ele sabia
inconscientemente que esta era aquela que se chamou Michelle em sua vida passada e que ele iria
encontrá-la fora do Estado onde residia, por isso fez planos para retornar ao nordeste para lecionar e
realizar seu trabalho esotérico por lá, pois tinha em mente em formar um grupo de iniciados.

Certa noite, no plano astral, se deu conta que se encontrava em um apartamento de uma
jovem mulher iniciada na Cabala, era Perséfone, pois esta o havia invocado seu Mestre Interno e junto
concorreu também seu Espírito humano. O diálogo foi longo.
“Andei lendo seu livro „A Cabala de Toth‟, vejo que o Mestre do Ternário do Triângulo vem
despertando seu Espírito humano novamente. Seus escritos são ousados e tremendamente
revolucionários, causará muito ódio aos chelas de Satã”, disse Perséfone, o principio feminino do
Mestre S.A.I.
“Não tenho medo, estou envolto pela muralha de Samael”, respondeu o Mestre caído.
“Somos almas derivadas do mesmo Ser, porém o carma nos separou, saímos juntos do Éden
e juntos retornaremos, porém só poderemos nos rencontrar novamente na Roda do Sansara quando
recapitulares a quinta iniciação de Mistérios Maiores. Até lá deves seguir com a tua Maria Madalena, o
carma está obstruindo o encontro com tua Maria Madalena, deves pagar para encontrá-la novamente
e com ela seguirás até a quinta de Maiores, a segunda montanha e a terceiro nós subiremos juntos,
porém isso se dará em futuras existências. Deves encontrar Maria Madalena para que ela te lave os
pés e unta-os com o ungüento da pureza. Escreverás um livro e com ele pagarás a divida que impede
o encontro com tua sacerdotisa”, disse a misteriosa Perséfone, à medida que me conduziu até ao
tribunal da Justiça Divina na constelação de Libra, onde ele leu no livro da vida a sua vida passada
como Antares.
“Agora, revelarás ao mundo os mistérios através da história de sua vida passada, seu nome
de hoje em diante serás Lucius, porque trarás ao mundo a Luz”, disse a enigmática Perséfone que
ainda se encontrava reencarnada na terra e com o corpo físico em avançada idade.

Fim.
Vinte e seis de dezembro do ano 46 da Era de Aquário. Dia de Júpiter horário de Aquário
(16:00).

Relatos de Belzebú a Seu Neto


G. I. Gurdjieff
lagares@yawl.com.br

Lucius Del Leon Rojo

Lucius Del Leon Rojo é estudioso da Franco-Maçônaria Egípcia do Rito do Leão Vermelho Independente. Formado em
Filosofia pela Pontífice Faculdade Católica Diocesana de São Paulo e autodidata da metafísica rosa-cruz, maçônica,
gnóstica, teosofia e cabala. Desenvolveu um sistema independente de metafísica cabalística envolvendo os conceitos de
Super Homem de Nietsche e a filosofia de Schoppenhauer e o existencialismo de Kierkegaard. Discípulo do eminente Dr.
Jorge Adoum (autor de Adonai e Batismo de Sangue). Apreendeu com seu Mestre que o conhecimento não é dele, mas se
encontra dentro dele, por isso deve ser usado em beneficio da libertação da humanidade infectada pelo vírus da
ignorância; também que a transcendentalidade de Eros é à base do Caminho do Fio da Navalha, o Caminho cheio de
pedras pontiagudas no qual se percorre com os pés descalços...
Seu divino Daímon selou sua existência paradoxal no signo de Isis com ascendente Gêmeos com Júpiter Tonante e Vênus
em Leão na casa de Hermes e o misterioso Netuno em Escorpião, unindo sexo, morte e espiritualidade. Seu modo de vida
simplório unido à inteligência livre de intelectualismo formal, outorgo-lhe uma existência paradoxal.
Escreveu os tratados da metafísica cabalística: O Renascimento da Fênix; A Cabala de Toth; A Metafísica do Sexo; Os
Mistérios do Éden ou Os Mistérios do Tetragrammaton. Tratados acadêmicos: Os oráculos de Minerva: Nietsche,
Schoppenhauer e Kierkegaard; Jung encontrou a Pedra Filosofal! (uma análise metafísica do livro „O Segredo da Flor de
Ouro‟) Romances iniciáticos: A Morte de Antares e o Renascimento de Régulus ou a Revolução de Lúcifer; A Morte de
Heloísa e a Metamorfose de Abelardo; A Metafísica do Escorpião.

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