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o Inês e Brás da Mata casam, o que se revela pouco vantajoso para Inês, pois ela perde
a sua liberdade; antes de sair em missão para África, Brás da Mata, dá ordens ao seu
moço para vigiar e trancar Inês em casa. Três meses após a sua partida, Inês recebe
a notícia de que o seu marido foi morto por um mouro.
o Livre, ela deseja casar novamente, e Lianor Vaz traz novamente a notícia que Pero
Marques continua solteiro e casadoiro, como lhe tinha prometido que esperaria por
ela.
o Inês casa com Pero Marques.
o No final da história surge um ermitão e Pero Marques carrega Inês às costas para o
ver, o qual se tornou amante dela. O ditado «mais quero asno que me carregue que
cavalo que me derrube» assume aqui toda a sua importância, pois para além de a
carregar às costas, levando-a ao encontro do seu amante, eles ainda cantam “assim
são as coisas”.
• Estrutura externa e estrutura interna – esta é a obra mais extensa de Gil Vicente, sendo
considerada a sua obra-prima.
o Estrutura externa: embora não tenha divisões em atos e cenas, é possível
estabelecer três cenas, com a entrada e a saída das personagens, como é típico no
teatro vicentino.
o Estrutura interna: a farsa estrutura-se a partir de episódios que podem ser
organizados da seguinte forma:
▪ vida de Inês, ainda solteira, com a mãe;
▪ conselhos de Lianor Vaz sobre o casamento;
▪ apresentação e entrada de Pero Marques;
▪ recusa da proposta de casamento por Inês;
▪ anúncio e entrada de um novo pretendente;
▪ casamento de Inês com o Escudeiro;
▪ desencanto com o casamento;
▪ viuvez de Inês Pereira;
▪ nova vida de casada com Pero Marques;
▪ Concretização do desejo de Inês.
Assim:
em casada e em viúva
▪ casa com Brás da Mata, o Escudeiro, sem saber que ele é pobre e
interesseiro;
▪ fica a viver em casa da mãe, que se retira para viver num casebre;
▪ é infeliz, pois o seu marido não a deixa cantar r prende-a em casa;
▪ fica sozinha quando o marido vai para Marrocos lutar contra os mouros;
▪ é vigiada pelo Moço;
▪ reconhece que errou ao rejeitar Pero Marques e ao casar com o
Escudeiro;
1
Célia Cameira et alii, Mensagens – Português 10º ano, Texto Editores, Lisboa, 2015, pp. 147-149.
▪ deseja a morte do marido e jura que se casará uma segunda vez com um
marido que seja submisso, para gozar a vida e vingar-se das provações
sofridas enquanto casada com o Escudeiro;
▪ não se comove com a morte do marido, pelo contrário, sente-se livre;
▪ é hipócrita ao chorar pelo marido morto e ao dizer que está triste;
▪ reconhece que a experiência de vida ensina mais do que os mestres;
O quotidiano representado refere-se à época de Gil Vicente, ao primeiro quartel do século XVI,
pois esta farsa foi levada a cena em 1523. Não faltam exemplos, ao longo da farsa, de hábitos
de vida e de costumes do dia a dia da época e Mestre Gil soube dar-lhes uma segunda dimensão,
Assim:
• modo de vida popular (Pêro Marques) vs. Modo de vida cortês (Escudeiro);
• cerimónia do casamento e o hábito de recorrer a casamenteiros;
• conceções de vida e de casamento (Mãe e Lianor Vaz vs. Inês Pereira);
• episódio relatado por Lianor Vaz (devassidão do clero);
• prática religiosa – ida à missa;
• falta de liberdade da rapariga solteira, confinada à casa da mãe;
• a ocupação da mulher solteira em tarefas domésticas (coser, bordar, …);
• adultério; …
Em suma, verificamos: