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GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO /SEC – BA


UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA- UNB
EVENTO: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
TUTOR: ROGÉRIO GEDEON DE ARAÚJO

A CAPOEIRA COMO EXPRESSÃO DA CULTURA AFROBRASILEIRA

Alex Souza Amorim.

Este projeto propõe um trabalho de caráter interdisciplinar para abordar a Capoeira nas
escolas pública da rede estadual da Bahia, partindo do pressuposto de que esse elemento
cultural perpassa por diversas áreas de conhecimento, constituindo-se como uma
legítima expressão da cultura afro-brasileira.
DESCRIÇÃO

Participantes
As propostas serão direcionadas aos alunos do 9º ano do ensino fundamental
(antiga 8ª série) dos Colégios Estaduais da rede pública. A escolha está relacionada ao
objetivo proposto que é o de ampliar a percepção dos educandos sobre o universo do
movimento da Capoeira. Entendemos que por ser uma faixa etária que está em fase de
transição entre o ensino fundamental e o médio, percebemos que é o momento de
consolidar competências e habilidades desenvolvidas durante essa etapa.

Cronograma
O projeto será desenvolvido durante cinco semanas, entre os meses de
outubro e novembro do ano corrente, com culminância no dia 20/11, dia da Consciência
Negra no Brasil.

1ª ETAPA.
Reunir todas as turmas e todos os professores que participarão do
miniprojeto, apresentado o cronograma com todas as atividades que serão
desenvolvidas, bem como os objetivos propostos e os resultados esperados. Em seguida,
exibir o documentário: Mestre Bimba- A história da capoeira. Disponível em
http://youtu.be/dtBtuREXSNg.

2ª ETAPA.
Reconstruindo a história da capoeira. Nas aulas de História e Geografia
propor aos alunos que tentem, a partir dos conhecimentos que possuem sobre a
capoeira, inventar a história mais criativa possível para a origem da capoeira. Os
professores podem começar a atividade fazendo uma pequena introdução. Depois os
alunos serão separados em grupos, cada grupo terá um número e criará um trecho para a
história. Ao final, os trechos são reunidos e produz-se uma narrativa em uma única folha
ou cartolina, com o título “A história da capoeira inventada pelos alunos do 9º ano”.
Após a produção das narrativas, os professores devem comparar as produções com os
conhecimentos referentes à sua área de atuação.

3ª ETAPA.
Pesquisa e produção de vídeo. Identificar com os alunos quais são os locais
no bairro ou na cidade que oferecem a prática da capoeira. Cada grupo deverá visitar um
espaço que ofereça aulas de capoeira. Entrevistar o professor ou mestre dessa entidade e
procurar identificar se a capoeira é regional ou angola. Perguntar ao professor sobre os
golpes que conhece. Trazer os resultados da pesquisa para a sala de aula e comparar as
informações com outros grupos.

4ª ETAPA.
Vivências. Realizar as vivências ao som de um CD com músicas de
capoeira, para que os alunos aprendam a executar os movimentos de forma ritmada,
sincronizados com a ginga. Solicitar que os alunos ginguem um de frente para o outro,
procurando ficar bem próximos, mas sem se tocarem. Golpes de ataque: armada, meia-
lua de compasso, cabeçada, benção, chapa, chapa de costas e martelo. Golpes de defesa:
au, cocorinha e negativa.

5º ETAPA.
Os instrumentos da capoeira. Nas aulas de artes investigar quais são os
instrumentos mais frequentes da capoeira na Bahia; como são fabricados, qual o
material que são feitos, como se toca cada instrumento e qual o seu papel na roda de
capoeira. Conseguir alguns dos instrumentos para apresentar aos colegas. Apresentar a
pesquisa para o resto das turmas. Confeccionar qualquer um dos instrumentos utilizados
na capoeira. Esse tipo de atividade dá aos alunos a oportunidade de se tornarem agentes
na construção do conhecimento, propiciando uma maior valorização da capoeira como
elemento da cultura corporal.

6ª ETAPA.
Aprendendo a fazer uma ladainha. Nas aulas de português os alunos ouvirão
algumas ladainhas. Dividir as turmas em grupos. Cada grupo criará com o auxílio do
professor uma ladainha. Depois, apresentarão para o restante da classe, procurando
utilizá-la na roda de capoeira.

7ª ETAPA.
Culminância. A capoeira na escola. Convidar um ou mais mestres,
professores ou membros de grupos de capoeira para uma apresentação na escola.
Aproveitar os grupos que foram entrevistados na pesquisa anterior. Apresentação das
histórias construídas na 2ª etapa. Apresentação dos vídeos produzidos na 3ª etapa.
Apresentação dos instrumentos confeccionados na 5ª etapa. Apresentação das ladainhas
compostas na 6ª etapa.

JUSTIFICATIVA
Temos observado nas últimas décadas, principalmente após a transição do
país para um sistema democrático de governo, uma série de avanços no que se refere ao
reconhecimento e, sobretudo, a valorização de uma parcela da sociedade que
historicamente sempre enfrentou muitas dificuldades para ter os seus direitos
reconhecidos e sua cultura valorizada.
Todo esse processo de reconhecimento das chamadas “minorias” tem se
materializado em leis, dentre elas, a LEI N° 10.639, de 09 de janeiro de 2003 que
estabelece a inclusão no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da
temática” História e Cultura Afro-brasileira”.
Sendo assim, o resgate e a valorização da cultura afro no Brasil torna-se
uma reflexão necessária na elaboração dos projetos políticos pedagógicos e
consequentemente nos planejamentos das diversas disciplinas, pois é uma temática que
perpassa e promove o diálogo entre elas.
Somado a isso, existe o fato de estarmos na Bahia, estado que,
historicamente, tem na sua cultura uma forte influência africana, presente na culinária,
na música, na dança e, sobretudo no movimento da capoeira. Esta última, carregada de
uma enorme simbologia, pois é, sem dúvida alguma, reflexo da identidade do povo
baiano e da expressão da cultura negra no Brasil.
Contudo, a realidade mostrada nas escolas é que quando a capoeira figura
no currículo escolar ela é abordada de forma parcial e fragmentada, resumindo-se ao
olhar isolado de determinada disciplina, ora a Educação Física trabalhando os
fundamentos técnicos, ora a história discutindo a formação dos quilombos e a origem da
capoeira, impedindo assim, a ampliação da percepção do aluno sobre o significado
desse elemento cultural na sua totalidade.

FUNDAMENTAÇÃO
A capoeira é genuinamente o principal esporte brasileiro, apesar de alguns
estudiosos defenderem a sua origem como sendo da África, uma síntese de arte, ginga e
dança característica do nosso povo que depois de muitos anos renegada e censurada no
Brasil começa a ser reconhecida pelos seus méritos, valor histórico para a cultura
brasileira e, uma maneira saudável de praticar esporte.
A LEI No 10.639, DE nove DE JANEIRO DE 2003 traz em seu texto no
art. 26-A que nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e
particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira e em
seu art. 79-B que o calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia
Nacional da Consciência Negra’." Em 15 de julho de 2008, em Salvador, a capoeira
tornou-se o mais novo patrimônio cultural brasileiro reconhecido e votado pelo
Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do IPHAN (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional).
E ainda de acordo com as orientações curriculares da secretaria do Estado da
Bahia a inclusão da capoeira como prática educativa na rede pública de ensino é fruto
do processo de escolarização da mesma que tem uma ligação muito íntima com todo o
processo civilizatório brasileiro, sobretudo no que diz respeito à construção de nossa
identidade cultural.
Partindo desse pressuposto, qual seja: a valorização da cultura afro no Brasil
e a ampliação da percepção dos alunos acerca dos elementos da cultura corporal de
movimento, nesse caso específico da capoeira, concordamos com (FALCÃO, 2001,
p.61).
Levando em consideração os objetivos em que está pautado
atualmente o ensino da Educação Física Escolar, podemos afirmar que a
apreensão dos gestos técnicos não é o foco do trabalho pedagógico. Sendo assim,
fica claro que a prática de capoeira nas aulas não pode ter como parâmetro os
princípios do rendimento atlético.
Em vez de apenas copiar gestos, rituais e fundamentos, professor e alunos
são desafiados a ampliar os conhecimentos em relação à capoeira e ao mundo, através
de processos didáticos pedagógicos críticos que questionam a adaptação e a submissão e
visem ao esclarecimento, à compreensão, a competência e a autonomia.
Seguindo esse mesmo raciocínio, SOARES et al. (1992) argumenta que a
Educação Física brasileira precisa resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural,
ou seja, trabalhar a sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e
político que a gerou.
Nessa mesma linha, podemos afirmar que ao trabalhar o conteúdo capoeira
podemos proporcionar a sociabilização, uma “capoeira da escola” que sem perder as
suas características originais e essenciais, é reconstruída e reinventada a partir dos
referenciais educacionais (SILVA; HAINE, 2008).
Finalmente, muito mais importante do que a opção por trabalhar ou não com
determina do conteúdo é, sem dúvida alguma, a capacidade de refletirmos sobre os
sentidos e significados que atribuímos a eles. Por isso, como bem lembra (SOUZA;
OLIVEIRA, 2001) ao escolhermos a capoeira como conteúdo fugimos dos conteúdos
tradicionais e proporcionamos novos significados socioculturais.

Método
O projeto será desenvolvido nas dependências dos colégios da rede pública
do estado da Bahia, aproveitando os espaços disponíveis, como sala de aula, auditório,
sala de vídeo, sala de informática e quadra poliesportiva. Serão desenvolvidas
atividades que permitam associar teoria e prática: aulas expositivas, vivências da prática
corporal tematizada, exibição de filme, pesquisa local, produção de vídeos, produção de
textos, composição de músicas, confecção de instrumentos.

Recursos didáticos
Serão utilizados durante a realização do projeto a câmera de vídeo, o
Datashow, a câmera fotográfica, computador com programas de edição de vídeo.

Abrangência
Educação Física: vivências do jogo de capoeira de uma forma lúdica e as
situações que proporcionem liberdade de criação de ataques e defesas, reconstruindo
noções de autonomia para a vida dos alunos.
Geografia: a reconstrução dos espaços geográficos onde localizavam os
focos da resistência negra, os quilombos.
História: a reconstrução da história da capoeira no Brasil.  
Língua Portuguesa: o estudo do gênero Ladainha.
Artes: os instrumentos musicais que compõem a roda de capoeira.
Avaliação
Segundo Perrenoud (1999), a avaliação da aprendizagem, no novo
paradigma, é um processo mediador na construção do currículo e se encontra
intimamente relacionada à gestão da aprendizagem dos alunos. Partindo desse
pressuposto a avaliação será feita a partir da participação efetiva dos alunos, pelo
envolvimento nas atividades propostas, pela capacidade de trabalhar em grupo, pela
capacidade de pesquisar, pela criatividade.

OBJETIVOS

Objetivo Geral
Ampliar a percepção dos alunos do 9° ano do ensino fundamental sobre o
universo da capoeira, reconhecendo-a como expressão da cultura afro brasileira.

Objetivos específicos
Trabalhar de forma interdisciplinar.
Possibilitar o conhecimento das origens, contextos e significado
histórico/social da capoeira no Brasil, na Bahia e seu papel na luta e resistência dos
povos negros.
Compreender a capoeira como jogo e dança e seu significado como
patrimônio imaterial.
Identificar e entender a musicalidade da capoeira-instrumentos, cânticos e
ladainhas.
Identificar e realizar os fundamentos básicos da capoeira
Reconhecer a cultura e a identidade dos remanescentes de quilombos no
Estado da Bahia e no Brasil.
Compreender o processo de produção do espaço geográfico a partir das
relações entre os agentes/elementos humanos e os agentes/elementos naturais.
Conhecer e produzir o gênero Ladainha
Analisar, refletir e compreender os diferentes processos de arte, com seus
diferentes instrumentos de ordem material e ideal, como manifestações socioculturais e
históricas.
RESULTADOS ESPERADOS

Resultados esperados
Pretendemos com esse trabalho, possibilitar ações históricas e didáticas da
pratica da capoeira na comunidade escolar, assim como, entender sua cultura e trabalhar
os seus principais fundamentos que servirão de conteúdos para as aulas de educação
física do 9° ano.

Considerações Finais
A intenção norteadora desse miniprojeto é a possibilidade de aplicação da
capoeira como conteúdo das aulas de Educação Física Escolar no 9º ano do ensino
fundamental, estabelecendo um diálogo interdisciplinar com a Língua Portuguesa,
Geografia, História e Artes, enfocando a formação humana e a capacitação do aluno
acerca desse rico elemento da cultura corporal de movimento.
Na fundamentação podemos perceber o quanto esse elemento cultural é
importante para ser trabalhado nas aulas, tanto no que se refere à aquisição de valores e
atitudes quanto na aquisição de habilidades.
Procuramos neste contexto, fornecer elementos para àqueles que são
protagonistas no processo educacional, professores e alunos, possam valorizar a
capoeira assim como tantas outras manifestações culturais genuinamente brasileiras, que
desde a sua origem, busca preservar os seus valores e sua filosofia, resistindo às
mudanças que possam descaracterizá-la.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n° 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de


dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e
Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.
FALCÃO, J. L. C. Capoeira. In: KUNZ, E. (org). Didática da Educação Física. 2ªed.
Rio Grande do Sul: Unijuí, 2001, p.55-94.
FALCÃO, J. L. C.O jogo da capoeira em jogo e a construção da práxis capoeirana.
Tese (Pós-graduação em Educação) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004.
PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens, entre
duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999.
SILVA, G. de O.; HEINE, V. Capoeira: um instrumento psicomotor para a
cidadania. São Paulo: Phorte, 2008.
SOUZA, S. A. R.; OLIVEIRA. A. A. B. Estruturação da capoeira como conteúdo da
educação física no ensino fundamental e médio. Revista da Educação Física/UEM.
Maringá, v.12, n.2, p. 43-50, 2001.
SOARES, C.L. et al. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez,
1992.

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