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DE ODINRIGHT
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Evidências convincentes de que o Criador existe
Ariel A. Roth
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio,
sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.
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À minha paciente esposa, Lenore.
Mais do que ninguém, ela sabe que,
quando alguém escreve um livro,
quase todos no círculo de influência
do autor sofrem igualmente.
Quero expressar minha dívida para com um grande número de pessoas com
quem tenho mantido um relacionamento construtivo e duradouro. Meus alunos
como um todo, em especial os da pós-graduação, têm sido para mim uma fonte
constante de novas ideias e desafios.
Sou muito grato pelas habilidades editoriais de Gerald Wheeler, editor da
versão em inglês, que fez maravilhas para melhorar meu estilo. Seu
conhecimento, interesse e insights foram muito úteis. De igual modo, agradeço
aos editores da versão em português, Marcos De Benedicto e Neila Oliveira.
Muitos colegas meus, com suas qualificações e especialidades, forneceram
sugestões úteis para a elaboração do manuscrito. Quero expressar de modo
especial minha dívida para com Mart de Groot, James Gibson, Paul Giem, Lee
Greer, Marcus Ross, Larry Roth, William Shea e Tim Standish pela sábia e
inteligente assessoria. Contudo, eles não têm nenhuma responsabilidade por
meus pontos de vista e viés, pelos quais assumo total responsabilidade.
A vida humana tem algum significado ou propósito? Deus existe? Se Ele
existe, por que permite tanto sofrimento? A ciência não vem oferecendo
respostas adequadas sem levar em conta Deus? Perguntas dessa natureza
mantêm inquietos nossos mais profundos pensamentos à medida que buscamos
respostas sobre nossa origem, propósito e destino. Poucos conseguem ignorar
esses enigmas desconcertantes que insistem em retornar à medida que
contemplamos, maravilhados, os mistérios de nossa existência. A discussão
sobre a existência de Deus não pode simplesmente ser passada por alto.
Felizmente, no que diz respeito aos questionamentos fundamentais sobre
origens, nem tudo é conjectura. Em anos recentes, cientistas realizaram inúmeras
descobertas extraordinárias que revelam um nível tão elevado de precisão e
complexidade que está ficando muito difícil sugerir que tudo que existe surgiu
por acaso. Parece que um Deus muito sábio tinha que estar envolvido no
planejamento das maravilhosas complexidades que estamos descobrindo em
todo o Universo.
Alguns cientistas afirmarão de imediato que a ciência não pode considerar
Deus pelo fato de a ciência e Deus representarem diferentes campos de
pensamento. Infelizmente, essa concepção obriga a ciência a atuar de um ponto
de vista muito estreito que limita sua capacidade de encontrar toda a verdade. A
ciência não poderá encontrar Deus enquanto Ele estiver fora de seu repertório de
explicações. Se a ciência espera prover respostas significativas e verdadeiras aos
nossos questionamentos mais profundos, ela precisa se libertar da prisão do
secularismo em que se deixou prender. A ciência deveria estar aberta à
possibilidade de que Deus existe em vez de excluí-Lo ou relegá-Lo apenas a
outro campo de investigação.
Este livro aborda a discussão sobre a existência de Deus segundo a
perspectiva de que a ciência constitui, ou pelo menos deveria constituir, uma
busca aberta pela verdade e que devemos permitir que os dados da natureza nos
conduzam aonde quer que possam nos guiar. A ciência frequentemente se dá ao
luxo de discutir diversas especulações e hipóteses, como a existência de outros
universos além do nosso ou a vida se originando completamente por si. Se quiser
ser coerente, a ciência deve também estar disposta a considerar a possibilidade
de que existe um Deus. Com essa mentalidade imparcial, a ciência, considerando
Deus uma hipótese provável, poderia enfim encontrá-Lo.
Nessa discussão sobre a existência de Deus, é importante ressaltar que todos
os pioneiros da ciência moderna, como Kepler, Galileu, Boyle, Pascal, Lineu e
Newton, incluíram Deus em sua perspectiva científica. Esses cientistas sempre
mencionavam Deus, e, para eles, seus estudos científicos representavam a
descoberta das leis que Deus criou. Esses gigantes intelectuais demonstraram
como a ciência e a religião podem trabalhar em cooperação ao se estudar a
natureza. Desde essa época, porém, a ciência e a religião têm se distanciado, e
atualmente a ciência basicamente ignora o conceito de uma divindade. Além
disso, alguns cientistas estão profundamente preocupados com o fato de que uma
retomada do sentimento religioso na sociedade seria um sério empecilho à
ciência. Por outro lado, há indícios de um renovado interesse em Deus por parte
de alguns cientistas e acadêmicos. Isso se deve parcialmente a recentes e
importantes descobertas, como os exatos valores necessários para as forças
básicas da física e os complexos caminhos bioquímicos dos organismos vivos.
Essas descobertas levantam sérias dúvidas a respeito de qualquer sugestão de
que esses fatos científicos teriam simplesmente surgido por acaso. Está se
tornando mais razoável acreditar em Deus do que nas explicações extremamente
improváveis a que os cientistas céticos precisam recorrer.
Este livro adota uma abordagem bastante eclética que acreditamos ser
essencial para proporcionar uma visão abrangente que a discussão sobre a
existência de Deus merece. Visto que os desafios mais contundentes sobre a
existência de Deus procedem do meio científico, nossa discussão terá como foco
principal temas científicos inter-relacionados. Com o objetivo de auxiliar o leitor
a avaliar as descobertas e conclusões da ciência, incluímos inúmeros relatos
sobre os procedimentos empregados por cientistas em suas descobertas, fazendo
a discussão convergir de modo especial para detalhes relacionados com o
assunto da existência de Deus.
Nosso ponto de partida será uma breve revisão histórica que nos conduzirá à
surpreendente constatação de que quatro entre dez cientistas norte-americanos
acreditam em um Deus pessoal que responde às orações. O paradoxo é que
poucos, se é que existe algum, dentre esses cientistas publicarão algo a respeito
de Deus em revistas científicas ou livros escolares. Há uma grande disparidade
entre o que muitos cientistas acreditam e o que publicam em nome da ciência.
Em seguida, discutiremos questões vitais relacionadas com a existência de Deus,
como a complexa organização da matéria do Universo e a precisão das forças da
física. Após essa discussão, mencionaremos vários temas da biologia, incluindo
a origem da vida, o código genético e certas estruturas complexas como o olho e
o cérebro. Passaremos então a considerar o problema que o fator tempo impõe à
evolução quando se analisa o registro fóssil. A conclusão a que se chega é de que
as eras geológicas são totalmente inadequadas para as improbabilidades
pressupostas.
A terceira e última parte do livro aborda uma intrigante pergunta: mesmo
diante de tantos dados que parecem exigir a existência de um Criador como
única explicação para os fatos observados, por que os cientistas persistem em
ficar calados a respeito de Deus? Lidaremos com esse assunto do ponto de vista
da pressão sociológica de paradigmas dominantes, como a evolução, e do
exclusivismo e elitismo de um empreendimento científico comprovadamente
bem-sucedido. A conclusão deste livro é de que a ciência está fornecendo
inúmeras evidências que apontam para a existência de um Deus. Nossa
esperança é que os cientistas permitam que Deus volte a fazer parte da
perspectiva científica, como acontecia na época dos pioneiros da ciência
moderna.
Este livro lida principalmente com duas visões opostas de mundo. Por um
lado, existem aqueles que limitam a realidade ao que pode ser observado na
natureza. Para esses, tudo que existe se resume aos fatos observados. Essa visão
se encaixa perfeitamente no ambiente científico do qual Deus é excluído. Outros
acreditam que existe uma realidade transcendente além dos simples fatos
observados. Para esses, é particularmente importante pensar que nossa existência
tem um significado supremo, que existe um Deus que nos projetou e nos dotou
de características singulares, como consciência, compreensão, interesse pelo
próximo e senso de justiça. Em outras palavras, a realidade vai além da matéria
observável e há propósito para nossa existência. Nossa visão de mundo e
filosofia pessoal serão profundamente afetadas por qualquer uma dessas duas
abordagens que viermos a adotar. Este estudo parte do pressuposto de que a
separação entre essas duas visões opostas não seja sustentável. Dados da própria
ciência nos estão compelindo a concluir que algo fora do comum está em
operação, e tudo indica que se trata de um Deus sábio e transcendente que Se
preocupou em projetar as complexidades que estão sendo descobertas.
Seria este livro totalmente objetivo? Infelizmente, a resposta é negativa.
Quem pode alegar para si completa objetividade? Por outro lado, esforcei-me ao
máximo em ser justo com os dados, além de ter procurado, com cuidado,
selecionar os melhores. Convido o leitor a tirar suas conclusões com base nesses
dados e não simplesmente em inferências geralmente aceitas. Este livro não se
propõe a apresentar um mero levantamento de interpretações correntes. Ao
contrário, algumas conclusões não refletem o pensamento dominante. Se
queremos, de fato, tirar proveito de nossos pontos de vista aceitos, precisamos
estar igualmente dispostos a nos libertar deles.
Diversas palavras utilizadas no livro, como “verdade”, “ciência”, “religião”,
“Deus”, “evolução” e “criação”, são muito importantes para o diálogo, mas
apresentam diferentes usos e significados. Sugiro que o leitor consulte o
glossário na parte final do livro para ter uma ideia clara do significado dessas
palavras no contexto de nossa discussão. Em alguns casos, identifiquei no texto
algum uso específico.
Após mais de 50 anos de envolvimento com o debate entre ciência e
religião, estou consciente da intensa carga emocional refletida em toda discussão
relacionada com visões de mundo que norteiam filosofias pessoais. Estou
também consciente de que alguns julgarão minha abordagem questionável.
Lamento. Temos muito que aprender uns com os outros, e gostaria de incentivar
aqueles que têm pontos de vista diferentes a manter o diálogo aberto e a
continuar contribuindo para o aumento do cabedal de conhecimento da
humanidade.
Ariel A. Roth
Loma Linda, Califórnia
Reconheço que alguns leitores têm verdadeira aversão a números. Eles me
fascinam, mas procurei limitá-los ao mínimo possível. Ocasionalmente, fui
obrigado a usar números extremamente grandes. Em casos em que precisei fazer
rápidas comparações, em vez de escrever os números em sua totalidade, adotei
simplesmente a convenção comum de usar um pequeno número sobrescrito
depois do número ordinário 10 para indicar a quantidade de zeros (potências de
10). A título de ilustração, observe os exemplos abaixo:
101 = 10
102 = 100
103 = 1.000 = mil
104 = 10.000
105 = 100.000
106 = 1.000.000 = um milhão
107 = 10.000.000
108 = 100.000.000
109 = 1.000.000.000 = um bilhão
1010 = 10.000.000.000
Etc.
Esse pequeno número sobrescrito simplesmente indica a quantidade de vezes
que o número 10 é multiplicado por si mesmo e representa a mesma quantidade
de zeros caso o número fosse escrito da maneira convencional. Este
procedimento poupará o leitor de ter que contar todos os zeros em números
grandes, além de facilitar as comparações. Por exemplo, é fácil perceber que
1019 tem dois zeros a mais que 1017 sem precisar contar todos os zeros, caso
fossem escritos.
Nesse sistema, não se pode absolutamente esquecer que cada potência
multiplica o número por 10; portanto, 103 (1.000) é 10 vezes maior que 102
(100), e, da mesma forma, 107 (10.000.000) é 1.000 vezes menor que 1010
(10.000.000.000).
A ciência sem a religião é manca,
a religião sem a ciência é cega. 1
Albert Einstein
O incansável
Ele era profundamente com prometido com a religião e escreveu
amplamente a respeito das profecias bíblicas de Daniel e Apocalipse. Foi
membro de uma comissão encarregada de construir cinquenta novas igrejas nos
arredores de Londres e ajudou também a distribuir Bíblias aos pobres. 2 Quem
foi ele? Pastor, teólogo ou evangelista? Nenhum dos três. Trata-se de alguém
considerado por muitos o maior cientista de todos os tempos: Sir Isaac Newton.
Um homem com um intelecto muito superior ao de seus contemporâneos, ele
ajudou a lançar os fundamentos da ciência moderna. Sua vida foi marcada por
profunda reverência a Deus e incansável dedicação à pesquisa científica.
Isaac Newton nasceu na Inglaterra ( Figura 1.1 ) como um presente de Natal
em 1642. Seu pai, infelizmente, havia falecido três meses antes. Seu nascimento
foi aparentemente prematuro. Ele era tão pequeno que podia caber em uma
caneca de um litro. Paradoxalmente, esse grande líder dos filósofos de sua época
teve um início humilde, sendo criado em uma família sem instrução ou qualquer
distinção social. Seu pai, embora não vivesse na miséria, era incapaz de assinar o
próprio nome. A infância de Isaac foi um mosaico de experiências marcadas por
um desejo insaciável de elaborar projetos mais eficientes para diferentes tipos de
inventos, como pipas e relógios de sol. Gostava muito de ler, tinha poucos
amigos e preferia o estudo ao convívio social. Por isso, nem sempre era
compreendido ou apreciado. Ao deixar o lar para estudar na Universidade de
Cambridge, os empregados se alegraram com sua partida e comentaram
ironicamente que ele só servia para a universidade. 3 Descrito como
“incansável”, 4 Isaac era propenso a trabalhar isoladamente em seus vários
projetos e com intensidade tal que se esquecia às vezes de comer ou dormir.
Em Cambridge, Newton alcançou distinção imediata, e logo se tornou um
renomado membro do corpo docente. Ele submeteu à apreciação da Sociedade
Real de Londres um novo tipo de telescópio refletor ( Figura 1.2 ) que havia
idealizado. O instrumento causou grande sensação, gerando considerável
entusiasmo, e logo chamou a atenção dos principais astrônomos da Europa. Em
seguida, Newton apresentou à Sociedade Real documentos meticulosamente
preparados a respeito das propriedades da luz e da cor, sendo igualmente
bastante apreciados. Newton relutava em apresentar suas novas ideias e, por isso,
frequentemente havia um intervalo de anos entre o início de um projeto e sua
apresentação pública. Seu trabalho era apresentado aos poucos, “mas cada
porção representava um monumento imortal a seu gênio”. 5
Era talvez inevitável que a chegada repentina de um jovem cientista tão
bem-sucedido suscitasse críticas por parte da velha-guarda, o que não demorou
muito a acontecer no caso de Newton. Diversas controvérsias se desenvolveram,
sendo amplamente discutidas pelos historiadores. Newton conseguia ser um
temível inimigo. Tendo passado anos absorto em suas descobertas, às vezes lhe
era difícil ser paciente com pessoas que não haviam dado a mínima consideração
às suas ideias, ou não as entendiam, e decidiam opor-se a elas.
Um célebre e prolongado conflito se desenvolveu entre Newton e Robert
Hooke, o diretor de experiências da Sociedade Real. Hooke não era um cientista
qualquer, chegando quase ao nível de um gênio. Além disso, havia escrito o
tratado Micrographia, relacionado com tópicos sobre a luz e a ótica. Hooke
considerava-se a autoridade final sobre muitos assuntos e tinha o repugnante
hábito de afirmar que era o responsável pela maior parte das descobertas.
Quando as ideias de Newton foram debatidas na Sociedade Real de Londres,
Hooke imediatamente ressaltou que a maior parte dos conceitos de Newton já
estava presente em sua obra Micrographia. Newton, que se encontrava em
Cambridge, apontou posteriormente que em sua maior parte os conceitos de
Hooke sobre luz pertenciam ao famoso cientista e filósofo francês René
Descartes! Hooke, com todo o tato de uma morsa desajeitada, sugeriu, com ar de
superioridade, que Newton, sendo apenas um novato, deveria continuar a
trabalhar com telescópios e deixar o campo da luz experimental com os que já
haviam elaborado conceitos satisfatórios. 6
Uma acirrada polêmica começou a se formar. Em Londres, intelectuais
influentes faziam reuniões secretas num café popular, onde discutiam as ideias
de Newton. Hooke, um dos participantes, mantinha, como era de se esperar, que
o jovem cientista havia adotado algumas de suas próprias ideias. 7 Havia
também discussões a respeito da natureza da luz, assunto que de certa forma
permanece sem solução até hoje. Discutia-se também sobre o que causa as
diferentes cores da luz. Newton, que já tinha realizado inúmeras experiências
sobre o assunto, rejeitava categoricamente os argumentos de Hooke. As disputas
continuaram por anos até a morte de Hooke. “Para Hooke”, resume um
historiador, “Newton era um temido rival; para Newton, Hooke não passava de
um chato intolerável, um chacal dissimulado e indigno de se alimentar entre os
leões.” 8
Outros, além de Hooke, desafiavam os conceitos de Newton sobre a luz. Na
Europa continental, um idoso professor jesuíta em Liège, Bélgica, que se
autodenominava Linus, discordava das ideias de Newton sobre a luz colorida.
Ele havia feito experiências com prismas, como Newton, e chegara à conclusão
de que as várias cores da luz eram causadas pelas nuvens no céu. Quando Linus
apresentou seus pontos de vista para a Sociedade Real, Newton contestou, dando
instruções sobre a maneira de conduzir uma experiência decisiva que colocaria
fim à polêmica, e solicitou que a Sociedade Real a fizesse. Correspondências
posteriores provenientes de Liège indicaram que Linus havia morrido, mas que
seu fiel discípulo John Gascoines estava pronto para prosseguir a batalha contra
Newton. Insinuações de que Newton houvesse realizado seu experimento uma
vez apenas indicavam não somente uma patética ignorância da meticulosidade
de Newton, mas também a superficialidade dos comentários provindos de Liège.
O experimento crucial, que Newton sugerira, foi finalmente realizado na
Sociedade Real, com a presença de Robert Hooke, o qual, podemos supor, não
ficou nada contente com os resultados. 9 Estes foram exatamente como Newton
havia predito. Alguém poderia pensar que isso silenciou as objeções de Liège,
mas não foi o caso. Outro professor, Anthony Lucas, retomou a batalha contra
Newton, mas logo ficou óbvio que Lucas e Newton se encontravam em níveis
muito diferentes de objetividade. Por fim, Newton solicitou que as cartas de
Lucas não mais lhe fossem encaminhadas.
Mais famosa ainda foi a batalha entre Isaac Newton e Gottfried Wilhelm
Leibniz. Ambos disputavam quem havia primeiramente descoberto os
complexos procedimentos matemáticos do cálculo. Logo a contenda ganhou
dimensões internacionais. Na Alemanha, Leibniz tinha um grupo de adeptos,
especialmente nos principais países do continente europeu, que lhe dava todo o
apoio. Por outro lado, na Inglaterra, a Sociedade Real servia como base fiel,
apoiando Newton como inventor. Os dois adversários têm sido acusados de
terem roubado teorias do cálculo um do outro. O enigma, alvo de extensas
investigações, é complexo e muito intrigante, mas não fornece detalhes factuais
que permitiriam uma solução definitiva. Em geral, os estudiosos concordam que
é provável que ambos tenham inventado o cálculo independentemente, 10 sendo
que Newton o teria feito antes de Leibniz, que, por sua vez, publicou suas
descobertas antes de Newton. (Os símbolos do cálculo que Leibniz desenvolveu
ainda são ensinados hoje.) À medida que a batalha se intensificou, os adeptos de
Newton acusaram Leibniz de ignorar uma antiga carta que ele havia recebido de
Newton sugerindo o cálculo. Por outro lado, há acusações de que Newton tenha
influenciado a Sociedade Real a emitir relatórios a seu favor, indicando que ele
havia inventado o cálculo muito tempo antes de Leibniz. Newton foi o
presidente dessa prestigiosa organização durante os últimos 24 anos de sua vida,
quando a disputa ainda estava em andamento. No que diz respeito ao cálculo de
Leibniz, a opinião de Newton era que inventores secundários não merecem
consideração.
Isaac Newton pode ser acusado com justiça de ter sido um enclausurado,
especialmente durante seus primeiros anos, e, embora se esquivasse de
confrontos, não hesitava em usar a força de seu intelecto e sua posição para
diminuir o trabalho dos que se opunham a ele. Contudo, ele tinha também seu
lado bom. Quando seu meio-irmão ficou doente com uma febre maligna, sua
mãe passou a cuidar dele, mas acabou sendo acometida da mesma doença. Ao
tomar conhecimento do fato, Isaac partiu de Cambridge e logo estava ao lado da
mãe para cuidar dela pessoalmente. Um de seus parentes relata que Isaac ficava
acordado noites inteiras ao lado da mãe, aplicando-lhe tratamentos físicos e
cuidando de suas bolhas com as próprias mãos, usando assim sua famosa
destreza manual para aliviar-lhe a dor. 11 Todos os seus esforços não foram
suficientes para deter a devastadora doença, que finalmente ceifou a vida de sua
mãe. Embora o relacionamento familiar na infância de Isaac Newton tivesse sido
conturbado, devido ao segundo casamento de sua mãe, que, por sinal, não o
criou, ele mostrou ser um filho leal e dedicado. Como executor do testamento
dela, Newton providenciou que a mãe fosse sepultada junto de seu próprio pai, a
quem nunca tinha visto.
Newton, sempre relutante em publicar o que quer que fosse, finalmente
publicou os resultados de muitos anos de estudo na obra Principia, 12 aclamada
como “talvez o maior acontecimento na história da ciência – certamente o maior
até anos recentes”. 13 Além disso, “nenhuma alma viva podia desafiar a
originalidade e o poder” dessa obra. “Newton havia se tornado
reconhecidamente o ditador do pensamento científico, e não havia nenhum rival
que pudesse desafiá-lo ao duelo.” 14 A importância da obra Principia, em três
volumes, é que ela introduziu na ciência um alto nível de rigor matemático e
observacional, o que contribuiu para aumentar drasticamente o respeito pelos
estudos científicos. Newton colocou a ciência em bases muito mais sólidas do
que as que vigoravam até então. Principia é uma obra repleta de deduções
matemáticas, cobrindo temas como gravidade, mecânica celeste, cometas, a Lua,
marés, movimento dos fluidos e as leis que os governam. Seus estudos deram
um golpe mortal no sistema cosmológico popular desenvolvido pelo grande
filósofo e matemático francês René Descartes, famoso por sua célebre frase:
“Penso, logo existo”. Descartes propôs que os planetas se movem pela ação de
vórtices giratórios no éter (ou meio), estendendo-se por todo o Universo. Os
cálculos sofisticados de Newton, que mostravam como a gravidade explica
muitos detalhes dos precisos padrões giratórios dos planetas, eliminavam
qualquer necessidade das teorias de Descartes. No fim da segunda edição de
Principia, Newton acrescentou algumas observações conclusivas sob o título
“General Scholium”. Aí ele permitiu que um pouco do seu fervor religioso
viesse à tona ao dar crédito a Deus como o Criador, comentando que “este
maravilhoso sistema composto pelo Sol, planetas e cometas só poderia ter
surgido a partir do conselho e domínio de um Ser poderoso e inteligente”. 15
Newton acabou publicando também o resultado de suas muitas pesquisas
sobre a luz e a ótica. Parece que boa parte dessas pesquisas já estava pronta
quando, ao retornar certo dia da capela em Cambridge, percebeu que uma vela
havia iniciado um fogo que queimara seu manuscrito e outros documentos muito
valiosos. Essa perda o perturbou de tal forma que, conforme se relata, ele ficou
fora de si por um mês. Alguns descrevem esse episódio como resultado de um
esgotamento mental, ao passo que outros mantêm um ponto de vista totalmente
diferente. 16 Todos os detalhes da vida desse gênio têm sido assunto de extrema
investigação e especulação. 17 Mais de uma década depois do incêndio, Newton
finalmente publicou seus estudos sobre a luz com o título de Opticks. O
historiador de ciência Sir William Dampier comenta que “a obra de Newton
sobre ótica, mesmo que tivesse sido a única de sua autoria, seria suficiente para
colocá-lo na vanguarda dos homens da ciência”. 18 Opticks mereceu três edições
em inglês, duas em francês e duas em latim.
Muitas honras foram conferidas a Newton. Em Cambridge, suas façanhas
matemáticas lhe conquistaram a posição de professor de matemática. Após
mudar-se para Londres, foi nomeado mestre da casa da moeda, envolvendo-se
em muitos assuntos cívicos. A Academia de Ciências da França o elegeu como
associado estrangeiro, e a rainha Ana concedeu-lhe o cobiçado título de
cavaleiro, tornando-se Sir Isaac Newton. Voltaire, um dos grandes líderes do
movimento da razão e do livre pensamento, que estava florescendo na época,
mantinha contatos pessoais com Newton. Ele o elogiava, afirmando que, “se
todos os gênios do Universo se reunissem, Newton seria o líder do grupo”. 19
Mais de um século depois, o aclamado matemático e cosmólogo Laplace era da
opinião de que a obra seminal Principia tinha garantido para sempre “uma
preeminência acima de todas as outras produções do intelecto humano”. 20
Recentemente, ao analisar as pessoas mais importantes do último milênio, a
revista Time elegeu Newton como a mais importante do século 17. 21 Não há
dúvida de que Isaac Newton foi uma das pessoas mais brilhantes de todos os
tempos, intelectualmente falando.
Newton, em paralelo com sua perspicácia científica de grande magnitude,
possuía profunda devoção a Deus, o que tem implicações significativas ao
considerarmos a relação entre Deus e ciência. Newton não aprovava a descrença
em Deus, afirmando que “o ateísmo é tão sem sentido e odioso para a
humanidade que nunca veio a ter muitos defensores”. 22 Ele não tolerava
qualquer leviandade em assuntos religiosos. Quando presenciava tal
comportamento, criticava-o severamente. 23 Embora a maioria dos cientistas de
sua época acreditasse em Deus, sendo, inclusive, prática usual referir-se a Deus
em obras acadêmicas, Newton se distinguia por seus intensos estudos sobre
tópicos religiosos. Ele deixou para a posteridade uma quantidade extraordinária
de escritos, e pelo menos um terço deles lida com temas religiosos.
Newton tinha um interesse especial pelas profecias bíblicas e estudava tudo
que podia sobre o assunto, independentemente de ter sido o material escrito em
grego, aramaico, latim ou hebraico. Costumava compilar longas listas com as
várias interpretações. A relação entre profecias bíblicas e história lhe despertava
interesse especial, e antes de sua morte estava pronto um manuscrito discorrendo
sobre a interpretação de datas históricas. Era importante definir bem essas datas
a fim de estabelecer pontos de referências corretos para as profecias bíblicas.
Esse manuscrito de seus últimos anos teve uma publicação póstuma com o título
de Chronologies of Ancient Kingdoms Amended [Cronologias Corrigidas dos
Reinos Antigos]. Os dois livros essencialmente proféticos da Bíblia, Daniel e
Apocalipse, lhe foram de especial interesse. Ao estudar esses livros, Newton
empregou a mesma abordagem analítica que adotava ao estudar a natureza. Ele
desenvolveu uma série de quinze “regras para a interpretação das palavras e
linguagem nas Escrituras”. 24 Interpretava as profecias desses dois livros
distintos como revelação da história mundial. Muitas interpretações
contemporâneas desses dois livros bíblicos ainda ecoam as ideias de Newton.
Vários anos depois de sua morte, suas investigações nessa área foram publicadas
num livro com o título de Observations upon the Prophecies of Daniel and the
Apocalypse of St. John 25 [Observações Sobre as Profecias de Daniel e o
Apocalipse de São João]. O cientista escreveu também a respeito da vida de
Cristo e de outros assuntos religiosos, mostrando, às vezes, grande
independência em seu pensamento teológico, como sua rejeição da doutrina da
Trindade. Acreditava, como a Bíblia indica, que todas as nações procederam de
Noé, e que Deus foi o Criador de todas as coisas, como Ele mesmo afirma nos
Dez Mandamentos. 26 O estudo que Newton realizava sobre a natureza criada
por Deus e as Sagradas Escrituras, inspiradas pelo mesmo Deus, revelava seu
intenso desejo de conhecê-Lo mais plenamente.
Newton também estudou e escreveu extensivamente sobre alquimia. Ele
tinha profunda familiaridade com a literatura alquímica de sua época e abordava
o assunto com a mesma atitude analítica com que abordava outros temas. Alguns
charlatões haviam trazido grande descrédito à alquimia devido às suas tentativas
de criar ouro a partir de metais inferiores. No entanto, na época de Newton, a
alquimia começava a se emancipar de seu manto místico para se tornar a
respeitável química. Alguns têm procurado deduzir uma personalidade mística
em Newton devido aos seus escritos alquímicos, mas essa conclusão parece não
corresponder à sua meticulosa abordagem racional em relação à física, à
matemática e à Bíblia. Algumas implicações da alquimia podem ter interessado a
Newton em seus questionamentos metafísicos, mas ele sempre realizava
verificações experimentais assim como fazia em relação à física. 27
A aura de fervor religioso que circundava a personalidade de Newton
conquistou-lhe muitos admiradores. Um francês renomado até tentou criar uma
nova igreja com o nome Religião de Newton. Outro francês chegou a criticar a
Inglaterra por não dar o devido respeito à teologia de Newton. Além disso,
houve propostas de que o calendário deveria ser revisado para começar a partir
da data do nascimento de Newton e que uma igreja fosse construída no local em
que ele nascera. 28 O matemático suíço Fatio de Duillier foi um bom amigo de
Newton, e uma carta que escreveu a Newton reflete a influência e a
profundidade espiritual do cientista inglês. Fatio adoeceu e perdeu a esperança
de viver. Ao escrever a Newton a que lhe parecia ser sua última carta, ele assim
se expressa: “Agradeço a Deus porque minha alma se encontra em perfeita paz, e
devo isso principalmente a você.” 29
Newton encontrou seu derradeiro lugar de descanso entre os mais honrados
da Inglaterra, sendo sepultado na reverenciada Abadia de Westminster.
Paradoxalmente, cerca de 150 anos depois, Charles Darwin, cujas ideias sobre
Deus eram bem diferentes das de Newton, foi sepultado no mesmo local, a
poucos metros de distância onde jaz Newton. Quando visitei os túmulos desses
dois ícones do mundo científico, não pude deixar de meditar sobre o legado
contrastante sobre Deus que ambos deixaram à humanidade. Esse contraste
constitui a base de boa parte da discussão dos capítulos que se seguirão.
Para Newton, Deus não era um conceito qualquer. Ele tinha profunda
reverência por Deus e comentou que “este Ser governa todas as coisas, não como
a alma do mundo, mas como Senhor sobre tudo”. Em seguida, acrescentou: “O
Deus supremo é um Ser eterno, infinito e absolutamente perfeito.” 30 Para ele,
Deus era também um ser muito pessoal que nos ama e a quem deveríamos amar
e respeitar. Um tom de sinceridade irradia de suas palavras ao dizer que
“devemos crer que existe um único Deus ou Monarca supremo a quem possamos
temer e obedecer, guardando Suas leis e dando-Lhe honra e glória. Devemos crer
que Ele é o Pai por meio de quem todas as coisas existem, e que ama Seu povo
como Seus filhos de maneira que eles O amem em reciprocidade e Lhe
obedeçam como Pai”. 31
Isaac Newton, provavelmente mais do que qualquer outra pessoa, ajudou a
estabelecer a ciência sobre um sólido fundamento. Isso foi possível pelo fato de
que ele aplicou padrões muito rigorosos em suas pesquisas e publicações. Para
alguns, pode parecer contraditório que um dos cientistas mais ilustres que o
mundo já conheceu tenha sido profundamente religioso. Mas a vida de Newton
ilustra claramente como a excelência científica e uma firme fé em Deus podem
andar de mãos dadas.
Síntese
Os pioneiros da ciência moderna, como Kepler, Boyle e Newton, eram
crentes devotos em Deus e na Bíblia. Nenhum deles via conflito entre Deus e a
ciência, pois criam que Ele havia criado os princípios da ciência. Obviamente, é
possível a um grande cientista crer em um Deus ativo na natureza. Desde o
tempo desses pioneiros houve um processo de distanciamento. A ciência tomou
seu próprio rumo, isolando-se da religião e procurando respostas para muitos
questionamentos, incluindo as profundas questões sobre a origem e o propósito
da vida humana, sem qualquer referência a Deus. Embora muitos cientistas
acreditem em Deus atualmente, Ele é excluído praticamente de toda
interpretação científica. Cientistas renomados da atualidade fazem questão de
praticar uma ciência separada de Deus.
De tempos em tempos, a ciência passa por um processo de redefinição, e
este é um fato que merece consideração. Em geral, a maioria considera a ciência
o estudo de fatos e explicações sobre a natureza, mas os detalhes da definição
podem variar muito. Quando os fundamentos da ciência moderna foram
lançados, os estudiosos da natureza (os cientistas) eram chamados de
historiadores da natureza ou filósofos da natureza. Esses cientistas glorificavam
em seus escritos o Deus que eles consideravam ativo na natureza. Deus era
frequentemente mencionado como o criador de todas as coisas. Ele havia
estabelecido as leis da natureza, sendo assim parte da interpretação científica. A
importância de Deus na ciência foi diminuindo aos poucos, especialmente em
meados do século 19. Atualmente, presenciamos uma forte tendência no sentido
de excluir Deus da prática científica. Se alguém tentar incluí-Lo, não será
considerado um verdadeiro cientista. Deus é excluído por uma questão de mera
definição. Essa visão fecha as portas que poderiam permitir que a ciência
descobrisse Deus. Dentro desse paradigma, a ciência não pode ser vista como
uma busca aberta da verdade, o que pode conduzir ao erro, especialmente no
caso de Deus realmente existir!
Neste livro, proponho que o cientista deve estar aberto para a possibilidade
da existência de Deus e que a ciência deve seguir os dados da natureza,
aceitando qualquer direção para onde eles possam conduzir. Nossa preocupação
é encontrar a verdade, não adequar nossas conclusões a uma definição limitada
de ciência. Nas páginas a seguir, consideraremos a ciência como o estudo dos
fatos e interpretações da natureza. Uma questão básica que discutiremos no
último capítulo será a razão por que a ciência exclui Deus de seu repertório de
explicações.
Nas últimas décadas, temos visto um crescente interesse pela religião no
meio científico. A discussão sobre Deus vem ocorrendo de maneira séria,
refletindo padrões de como a ciência e a religião se relacionavam no passado.
Além disso, o Deus descrito na Bíblia é um Deus lógico, racional, que combina
bem com os princípios de causa e efeito da ciência. Na verdade, no que diz
respeito às abordagens racionais fundamentais, Deus e a ciência não são
diferentes, e a brecha estabelecida entre a ciência e Deus merece ser reparada.
Referências
1
Einstein A. 1950. Out of my later years. Nova York: Philosophical Library, p. 26.
2
Manuel FE. 1974. The religion of Isaac Newton. Oxford: Clarendon, p. 6.
3
Westfall RS. 1993. The life of Isaac Newton. Cambridge: Cambridge University Press, p. 18.
4
Westfall RS. 1980. Never at rest: a biography of Isaac Newton. Cambridge: Cambridge University Press.
5
More LT. 1934. Isaac Newton: a biography. Nova York: Dover, p. 97.
6
Ibid., p. 106.
7
Christianson GE. 1984. In the presence of the Creator: Isaac Newton and his times. Nova York: Free
Press, p. 193.
8
Ibid., p. 194.
9
Ibid., p. 197.
10
(a) Dampier WC. 1949. A history of science: and its relations with philosophy & religion. 4a edição.
Nova York: Macmillan, p. 159. (b) Westfall, The life of Isaac Newton, p. 276-286.
11
Westfall, The life of Isaac Newton, p. 134.
12
O título completo desse tratado é: Philosophiae naturalis principia mathematica.
13
Dampier, p. 154.
14
More, p. 287.
15
Newton I. 1686, 1934. Mathematical principles of natural philosophy and his system of the world.
Traduzido para o inglês em 1729 por Andrew Motte; tradução revisada por Florian Cajori. Berkeley:
University of California Press, p. 544.
16
More, p. 390-391.
17
Por exemplo, veja algumas sugestões em: Manuel FE. 1968. A portrait of Isaac Newton. Cambridge:
Harvard University Press.
18
Dampier, p. 160.
19
Citado por Miller DC. 1928. Newton and optics. In: The History of Science Society: Sir Isaac Newton,
1727-1927, a bicentenary evaluation of his work. Baltimore: Williams and Wilkins, p. 15.
20
Ibid., p. 15.
21
Gray P. 1999. The most important people of the millennium. Time 154 (27), p. 139-195.
22
Brewster D. 1885. Memoirs of the life, writings, and discoveries of Sir Isaac Newton, v. 2, reimpresso
em 1965 da edição de Edinburgh. Nova York: Johnson Reprint Corporation, p. 347.
23
Christianson, p. 355; Manuel, The religion of Isaac Newton p. 6, 61.
24
Manuel, The religion of Isaac Newton, p. 116-125.
25
Newton I. 1773. Observations upon the prophecies of Daniel and the Apocalypse of St. John. Londres:
impresso por J Darby e T Browne. [Esse livro foi publicado em português em 2008 pela editora
Pensamento-Cultrix.]
26
Westfall, The life of Isaac Newton, p. 301,303.
27
Christianson, p. 225.
28
Manuel, The religion of Isaac Newton, p. 53.
29
Turnbull WH, editor. 1961. The correspondence of Isaac Newton, v. 3, 1688-1694. Cambridge:
Cambridge University Press, p. 229-230.
30
Newton, Mathematical principles of natural philosophy and his system of the world, p. 544.
31
Citado por Manuel, The religion of Isaac Newton, p. 104; de Yahuda MS. 15. 3, fol. 46r.
32
Dampier, p. 127.
33
Manuel, The religion of Isaac Newton, p. 61.
34
Pascal B. 1952. Pensées. In: Pascal B. The provincial letters; Pensées; scientific treatises. Trotter WF,
tradutor. Great Books of the Western World Series. Londres: Encyclopedia Britannica, p. 270.
35
Dampier, p. 140.
36
Manuel, The religion of Isaac Newton, p. 33.
37
Nordenskiöld E. 1928, 1942. The history of biology: a survey. Traduzido por Eyre. Nova York: Tudor,
p. 206, 207.
38
Para saber mais, ver: Roth AA. 1983. Where has the science gone. Origins 10, p. 48-49.
39
Ver http://www.gallup.com/poll/content/default.aspx?ci=1942. Acesso: junho de 2005.
40
Gould SJ. 1999. Rocks of ages. Nova York: The Library of Contemporary Thought.
41
Larson EJ, Witham L. 1997. Scientists are still keeping the faith. Nature 386, p. 435-436.
42
Larson EJ, Witham L. 1998. Leading scientists still reject God. Nature 394, p. 313.
43
Para uma revisão geral de alguns fatores relacionados com essa questão, veja: Pearcey NR. 2004. Total
truth: liberating Christianity from its cultural captivity. Wheaton: Crossway, p. 97-121.
44
Para discussão adicional, ver Larson EJ, Witham L. 1999. Scientists and religion in America. Scientific
American 281 (3), p. 88-93.
45
Skell PS. 2005. Why do we invoke Darwin? The Scientist 19 (16), p. 10.
46
Ver os capítulos 7 e 8.
47
Algumas publicações significativas, entre muitas, são: (a) Behe MJ. 1996. Darwin’s black box: the
biochemical challenge to evolution. Nova York: Touchstone. (b) Dembski WA. 2004. The design
revolution: answering the toughest questions about intelligent design. Downers Grove: InterVarsity. (c)
Dembski WA. 1999. Intelligent design: the bridge between science & theology. Downers Grove:
InterVarsity. (d) Johnson PE. 2000. The wedge of truth: splitting the foundations of naturalism.
Downers Grove: InterVarsity. (e) Johnson PE. 1991. Darwin on trial. Downers Grove: InterVarsity. (f)
Wells J. 2000. Icons of evolution: science or myth? Why much of what we teach about evolution is
wrong. Washington, DC: Regnery Publishing.
48
Shipman P. 2005. Being stalked by intelligent design. American Scientist 93, p. 500-502.
49
Ver http://www.atheists.org/flash.line/evol10.htm. Acesso: junho de 2005.
50
Release da Associated Press, Topeka, 9 de maio de 2005. Ver
http://www.cbsnews.com/stories/2005/05/09/national/main693896.shtml. Acesso: junho de 2005.
51
Para uma revisão ampla de alguns argumentos, ver Dembski, The design revolution.
52
Ashton JF, editor. 1999. In six days: why 50 scientists choose to believe in creation. Sydney: New
Holland Publishers.
53
Dawkins R. 2000. Sadly, an honest creationist. Free Inquiry 21 (4), p. 7-8.
54
Gould SJ. 1999. Dorothy, it’s really Oz. Time 154 (8), p. 59.
55
Moore R. 2001. Educational malpractice: why do so many biology teachers endorse creationism.
Skeptical Inquirer 25 (6), p. 38-43.
56
Larson EJ, Witham L. 1999. Scientists and religion in America. Scientific American 281 (3), p. 88-93.
57
Ibid.
58
Margenau H, Varghese RA, editores. 1992. Cosmos, bios, theos: scientists reflect on science, God, and
the origins of the universe, life, and Homo sapiens. La Salle: Open Court Publishing Company.
59
Easterbrook G. 1997. Science and God: a warming trend? Science 277, p. 890-893.
60
Brown D. 2000. Quiet agenda puts science on defense: creation debate evolves into politics. American
Association of Petroleum Geologists Explorer 21 (1), p. 20-22.
61
Ver 10 cartas em Readers’ Forum. 2000. American Association of Petroleum Geologists Explorer 21
(3), p. 32-37.
62
Davies P. 1983. God and the new physics. Nova York: Simon and Schuster, p. ix.
63
Davies P. 1989. The cosmic blueprint: new discoveries in nature’s creative ability to order the universe.
Nova York: Touchstone, p. 203.
64
Davies P. 1992. The mind of God: the scientific basis for a rational world. Nova York: Simon &
Schuster, p. 15.
65
(a) Giberson KW. 2002. Bottom-up apologist: John Polkinghorne—particle physicist, Gifford lecturer,
Templeton Prize-winner, and parish priest. Christianity Today 46 (6), p. 64-65. (b) Polkinghorne J.
1990. God’s action in the world. CTNS Bulletin 10 (2), p. 1-7. (c) Polkinghorne J. 1986. One world: the
interaction of science and theology. Londres: SPCK. (d) Polkinghorne J. 1989. Science and creation:
the search for understanding. Boston: New Science Library. (e) Polkinghorne J. 1989. Science and
providence: God’s interaction with the world. Boston: New Science Library.
66
Alguns exemplos são: (a) Ashton JF, editor. 2001. The God factor: 50 scientists and academics explain
why they believe in God. Sydney: Thorsons, Harper Collins. (b) Ashton, In six days. (c) Barrett EC,
Fisher D, editores. 1984. Scientists who believe: 21 tell their own stories. Chicago: Moody Press. (d)
Mott N, editor. 1991. Can scientists believe? Some examples of the attitude of scientists to religion.
Londres: James & James. (e) Richardson WM, et al., editors. 2002. Science and the spiritual quest: new
essays by leading scientists. Nova York: Routledge.
67
Para uma análise recente, ver Stark R. 2003. For the glory of God: how monotheism led to
reformations, science, witch-hunts, and the end of slavery. Princeton: Princeton University Press, p.
147-157.
68
Whitehead AN. 1925. Science and the modern world. Londres: Macmillan, p. 19.
69
Collingwood RG. 1940. An essay on metaphysics. Oxford: Clarendon, p. 253-255.
70
Hooykaas R. 1972. Religion and the rise of modern science. Grand Rapids: Eerdmans, p. 98-162.
71
(a) Jaki SL. 1974. Science and creation: from eternal cycles to an oscillating universe. Nova York:
Science History Publications. (b) Jaki SL. 1978. The road of science and the ways to God: the Gifford
Lectures 1974-1975 e 1975-1976. Chicago: University of Chicago Press. (c) Jaki SL. 2000. The savior
of science. Grand Rapids: Eerdmans, p. 9-48.
A gravidade pode colocar os planetas em
movimento, mas, sem o poder divino, ela
jamais poderia colocá-los em seu movimento
circulatório ao redor do Sol; assim,
por essa e outras razões, sou forçado
a atribuir a estrutura desse sistema
a um agente inteligente. 1
Sir Isaac Newton
Síntese
Embora o Universo seja imenso, constatamos também que ele é composto de
partículas subatômicas minúsculas. Todas essas partículas estão relacionadas
entre si por meio de leis e uma variedade de outros fatores que tornam possível a
existência de um universo capaz de sustentar a vida. A precisão que constatamos
indica fortemente que existe um planejador do Universo ( Tabela 2.1 ). Alguns
cientistas aceitam essa conclusão, ao passo que outros não.
Alguns têm procurado atribuir a existência desses fatores precisos a um vago
non sequitur baseado num tipo de princípio antrópico, enquanto outros recorrem
a uma multiplicidade de universos imaginários. Mas quantas coincidências de
ajustes finos alguém necessita constatar antes de reconhecer que eles precisam
ser explicados? Se alguém quiser esquivar-se da conclusão de que há um
planejador, basta apelar às alternativas mencionadas. Contudo, elas não passam
de distrações para desviar a atenção dos inegáveis dados científicos que indicam
que alguma inteligência deve ter criado a matéria e as forças do Universo de
maneira que nosso ambiente fosse adequado à vida. Um Planejador desse calibre
certamente superaria o Universo que Ele criou.
Referências
1
Newton I. 1692. Second letter to Bentley. In: Turnbull HW, editor. 1961. The correspondence of Isaac
Newton, v. 3, 1688-1694. Cambridge: Cambridge University Press, p. 240.
2
Rees M. 2000. Just six numbers: the deep forces that shape the universe. Nova York: Basic Books, p. 42.
3
Jastrow R. 1992. God and the astronomers. 2a edição. Nova York: W. W. Norton, p. 11.
4
Wilkinson D. 2001. God, time and Stephen Hawking. Londres: Monarch, p. 35.
5
Hawking SW. 1996. A brief history of time: the updated and expanded tenth anniversary edition. Nova
York: Bantam, p. 38.
6
De Pree C, Axelrod A. 2001. The complete idiot’s guide to astronomy. Indianapolis: Alpha, p. 277.
7
Nos últimos anos, tem-se descoberto muitas pequenas “luas”, especialmente ao redor dos planetas mais
distantes. Veja: Cowen R. 2003. Moonopolies: the solar system’s outer planets host a multitude of
irregular satellites. Science News 164, p. 328-329.
8
(a) Ross H. 1995. The Creator and the cosmos: how the greatest scientific discoveries of the century
reveal God. 2a edição. Colorado Springs: NavPress, p. 137. (b) The editors. 1993. Our friend Jove.
Discover 14 (7), p. 15.
9
Rees, p. 73.
10
Dyson F. 1979. Disturbing the universe. Nova York: Harper & Row, p. 251.
11
Ross H. 1996. Beyond the cosmos. Colorado Springs: NavPress, p. 30.
12
Webb JK, et al. 2001. Further evidence for cosmological evolution of the fine structure constant.
Physical Review Letters 87 (9), p. 091301-1-4.
13
Hawking, A brief history of time, p. 33, 34.
14
Rees, p. 33.
15
Wilkinson, p. 111.
16
Para discussões e avaliações, ver: (a) Arp H. 1998. Seeing red: redshifts, cosmology and academic
science. Montreal: Apeiron. (b) de Groot M. 1992. Cosmology and Genesis: the road to harmony and
the need for cosmological alternatives. Origins 19, p. 8-32. (c) Hoyle F, Burbidge G, Narlikar JV. 2000.
A different approach to cosmology: from a static universe through the big bang towards reality.
Cambridge: Cambridge University Press. (d) Narlikar JV. 1989. Noncosmological redshifts. Space
Science Reviews 50, p. 523-614.
17
Jastrow, p. 9.
18
Como relatado em Jastrow, p. 21.
19
Baseado em 10-33 cm como sugerido em Wilkinson, p. 47.
20
Jastrow (veja a nota 3).
21
Ross, The Creator and the cosmos.
22
Jó 9:8; Salmo 104:2; Isaías 40:22; Jeremias 10:12; Zacarias 12:1.
23
Rees, p. 117.
24
Hawking SW. 2001. The universe in a nutshell. Nova York: Bantam.
25
(a) Ibid., p. 82-83. (b) Overman DL. 1997. A case against accident and self-organization. Lanham:
Rowman & Littlefield, p. 161.
26
(a) Hawking, The universe in a nutshell, p. 82-83. (b) Overman DL. 1997. A case against accident and
self-organization. Lanham: Rowman & Littlefield, p. 161.
27
Hawking, A brief history of time, p. 146.
28
Ross, The creator and the cosmos, p. 91.
29
Ver também Wilkinson, p. 70, 71.
30
Para uma discussão adicional, ver Strobel L. 2004. The case for a creator: a journalist investigates
scientific evidence that points towards God. Grand Rapids: Zondervan, p. 93-192.
31
Assume-se que várias probabilidades são independentes de cada evento.
32
Hart MH. 1979. Habitable zones about main sequence stars. Icarus 37, p. 351-357.
33
Rees, p. 47.
34
Barrow JD. 1991. Theories of everything: the quest for ultimate explanations. Oxford: Clarendon, p. 95.
35
Gribbin J, Rees M. 1989. Cosmic coincidences: dark matter, mankind, and anthropic cosmology. Nova
York: Bantam, p. 246.
36
Ibid.
37
Ross, The Creator and the cosmos, p. 113.
38
Hoyle F. 1981. The Universe: past and present reflections. Engineering and Science 45 (2), p. 8-12.
39
Gribbin, Rees, p. 247.
40
Leslie J. 1989. Universes. Nova York: Routledge, p. 35.
41
Ibid., p. 36.
42
Overman, p. 140, 141.
43
Leslie, p. 4.
44
Davies P. 1984. Superforce: the search for a grand unified theory of nature. Nova York: Simon and
Schuster, p. 242.
45
Citado por Barrow JD, Tipler FJ. 1986. The anthropic cosmological principle. Oxford: Oxford
University Press, p. 318.
46
Hawking SW. 1981. Is the end in sight for theoretical physics? Physics Bulletin 32, p. 15-17.
47
Barrow, Tipler, p. 400; Leslie, p. 5; Ross, The Creator and the cosmos, p. 114.
48
Woit P. 2002. Is string theory even wrong? American Scientist 90 (2), p. 110-112.
49
Rees, p. 135.
50
Hawking, A brief history of time, p. 181.
51
(a) Penrose R. 1989. The emperor’s new mind. Oxford: Oxford University Press, p. 344. Ver também:
(b) Dembski WA. 1999. Intelligent design. Downers Grove: InterVarsity, p. 265, 266. (c) Leslie, p. 28.
(d) Overman, p. 138-140.
52
Esses números são baseados em pressuposições que podem ser debatidas. Por exemplo, Penrose assume
a existência do Big Bang e que o Universo é termodinamicamente um sistema fechado. Os números
servem para ilustrar quão altamente organizado é o Universo.
53
Ross H. 1998 Big Bang model refined by fire. In: Dembski WA, editor. Mere creation: science, faith &
intelligent design. Downers Grove: InterVarsity, p. 363-384.
54
Algumas referências significativas são: (a) Barrow, Tipler [veja a nota 45]. (b) Carr BJ, Rees MJ. 1979.
The anthropic principle and the structure of the physical world. Nature 278, p. 605-612. (c) Carter B.
1974. Large number coincidences and the anthropic principle in cosmology. Reimpresso em Leslie J,
editor. 1998. Modern cosmology & philosophy, 2a edição. Amherst: Prometheus, p. 131-139. (d) Davies
P. 1992. The mind of God: the scientific basis for a rational world. Nova York: Simon & Schuster. (e)
Davies PCW. 1982. The accidental universe. Cambridge: Cambridge University Press. (f) Greenstein G.
1988. The symbiotic universe: life and mind in the cosmos. Nova York: William Morrow. (g) Gribbin,
Rees. (h) Leslie, Universes. (i) Overman. (j) Rees. (k) Ross, The Creator and the cosmos. (l) Ward PD,
Brownlee D. 2000. Rare earth: why complex life is uncommon in the universe. Nova York: Copernicus.
(m) Wilkinson D. 2001. God, time and Stephen Hawking. Londres: Monarch.
55
Leslie, Universes, p. 128.
56
Barrow, Tipler, p. 15.
57
Carter, p. 131-139.
58
Leslie, Modern cosmology & philosophy, p. 1-34.
59
Por exemplo, Heeren F. 2000. Show me God: what the message from space is telling us about God,
edição revisada. Wheeling: Day Star Publications, p. 234.
60
Ver as referências na nota 54 e também a extensa lista nas páginas 23-26 em Barrow, Tipler [veja a nota
45].
61
Silk J. 1994, 1997. A short history of the universe. Nova York: Scientific American Library, p. 9.
62
Gingerich O. 1994. Dare a scientist believe in design? In: Templeton J, editor. Evidence of purpose.
Nova York: Continuum, p. 21-32.
63
Boslough J. 1985. Stephen Hawking’s Universe. Nova York: William Morrow, p. 124.
64
Swinburne R. 1989. Argument from the fine-tuning of the universe. In: Leslie J, editor. 1998. Modern
cosmology & philosophy. 2a edição. Amherst: Prometheus, p. 160-179.
65
Para entender as complicações quando se exclui um designer, ver Strobel, p. 138-152.
66
Conforme citado por Fripp J, Fripp M, Fripp D. 2000. Speaking of science: notable quotes on science,
engineering, and the environment. Eagle Rock: LLH Technology Publishing, p. 56.
67
Leslie, Universes, p. 53.
68
Ross, The Creator and the cosmos, p. 99.
69
Leslie, Universes, p. 53.
70
Greenstein, The symbiotic universe, p. 27.
A origem da vida me parece
incompreensível como sempre,
assunto que causa admiração,
mas não se explica. 1
Franklin M. Harold, bioquímico
Micróbios
A senhora estava para dar à luz o seu bebê e chorava. Havia sido
encaminhada à Primeira Clínica, e esse era o lugar para onde ela não queria ir.
Ela desejava ir para a Segunda Clínica. Explicou ao Dr. Ignaz Semmelweis que
as mães, aparentemente, morriam mais na Primeira Clínica do que na Segunda.
Isso perturbou muito Semmelweis, que era um jovem médico assistente na
Primeira Clínica. Teria razão aquela senhora? Ele decidiu investigar. Os números
eram estarrecedores. Examinando os registros hospitalares, ele descobriu que,
em seis anos, quase duas mil mulheres haviam morrido na Primeira Clínica, e
menos de setecentas na Segunda. 2
Isso aconteceu no Hospital Geral de Viena, Áustria, há um século e meio,
quando epidemias da temível febre puerperal não eram tão incomuns. Com
demasiada frequência, uns quatro dias após o parto, a nova mamãe ficava febril e
quase sempre morria dentro de uma semana. Considerava-se que a doença era
causada por algum tipo de vapor nocivo no ar, ou problemas com o leite da mãe.
Às vezes, o ar fresco era empregado como medida de controle. Nada disso
explicava por que a taxa de mortalidade na Primeira Clínica era quase três vezes
maior que na Segunda.
Os médicos, que, como parte de seu preparo e pesquisas, estudavam os
corpos dos falecidos, dirigiam a Primeira Clínica. As parteiras, que não
participavam das pesquisas, dirigiam a Segunda Clínica. Teria isso a ver com a
dramática diferença nos índices de mortalidade? Surgiu um indício quando um
dos colegas de Semmelweis se cortou enquanto realizava uma autópsia. Ele teve
febre no quarto dia e morreu pouco depois. Um estudo de sua autópsia mostrou o
mesmo tipo de achado visto no caso das mulheres que sucumbiam à febre
puerperal. Ali estava um homem com febre puerperal, mas essa devia ser uma
doença de mulheres! Teria acontecido que, ao cortar-se, o colega havia se
aproximado demais do corpo de alguém que morrera da temida doença?
Semmelweis estabeleceu estritos procedimentos, usando cloro para limpar as
mãos, a fim de impedir o contágio daquilo que ele chamou de “veneno
cadavérico” dos corpos de mortos aos pacientes da Primeira Clínica. O resultado
foi dramático. Os índices de mortalidade caíram de 12% para cerca de 1%. O
que causava tantas mortes era o fato de que os médicos realizavam as autópsias
das mulheres que haviam morrido com febre puerperal e depois atendiam as
parturientes sem lavar as mãos, passando adiante a doença letal.
Alguém poderia pensar que o sucesso de Semmelweis seria saudado como
grande divisor de águas, mas, com frequência, a humanidade não segue os dados
aonde eles conduzem. Enquanto alguns aceitaram as conclusões de Semmelweis,
o sistema médico não. O despeito se revelou no hospital. Admitir que os
médicos tivessem causado tantas mortes era algo difícil de encarar. Além disso,
havia hospitais que não realizavam autópsias, e tinham taxas de mortalidade tão
altas quanto 26%. A ideia de limpar as mãos com cloro foi ridicularizada. O
chefe de Semmelweis, em Viena, não renovou o contrato dele. Muitas petições
resultaram apenas no oferecimento de um cargo inferior. Um desanimado e
desalentado Semmelweis partiu discretamente de Viena, retornando à sua terra
natal, Hungria, sem mesmo entrar em contato com os amigos.
Em 1861, Semmelweis publicou os resultados do seu estudo sobre como
evitar a febre puerperal. Enviou-os a muitos médicos na Europa, mas não foram
bem recebidos. A comunidade profissional cria que essa ideia havia sido
desacreditada. Cada vez mais preocupado com a morte de tantas jovens mães,
ele espalhou panfletos denunciando aqueles que disseminavam a doença. Ficou
intensamente preocupado e sua depressão se aprofundou. Sua esposa, por fim,
concordou em mandar interná-lo num asilo para doentes mentais, onde ele
morreu duas semanas mais tarde, unindo-se a milhares de mães que também
foram mártires do preconceito e de mentes fechadas. A resistência à verdade
pode ser incrível! Felizmente, poucos anos mais tarde, a ciência médica
reconheceu que Semmelweis tinha razão, e agora ele recebe o devido respeito
por ter aberto o caminho para a vitória sobre essa febre mortal.
O que Semmelweis e outros de sua época não sabiam é que um minúsculo
micróbio vivo causa a febre puerperal. Alguns cientistas estavam descobrindo
um mundo de pequeníssimos organismos, mas ainda não havia sido estabelecida
uma relação sólida entre micróbios e doenças contagiosas. Agora, devido aos
dramáticos avanços da ciência, sabemos qual micróbio (germe) causa qual
doença, e muitos livros podem ser escritos acerca de um único micróbio.
Os micróbios são muito complexos. Um dos mais bem estudados é o
Escherichia coli, que se encontra em muitos lugares, como no trato digestório de
humanos e animais e no solo. Embora geralmente seja um micróbio inofensivo,
alguns são germes temíveis. Trata-se de um minúsculo organismo em forma de
bastão. É tão pequeno que seriam necessários quinhentos, alinhados um atrás do
outro, para preencher a extensão de um milímetro. Embora tão pequeninos,
descobrimos que são muito complicados. Exteriormente, cada micróbio tem de
quatro a dez filamentos espirais alongados (flagelos) salientes para fora do
corpo, e usados para locomoção. O motor na base desses flagelos tem sido
cabalmente estudado 3 e é um bom exemplo do conceito de complexidade
irredutível, que consideraremos mais adiante. Por dentro, dois terços do
micróbio consistem de uns quarenta bilhões de moléculas de água. Além disso, a
composição do organismo é de uma complexidade espantosa. Como
complexidade, referimo-nos a partes dependentes umas das outras a fim de
funcionar de modo adequado, 4 e não a uma porção de partes que simplesmente
não se relacionam.
O DNA (ácido desoxirribonucleico) é o centro de informações que dirige as
atividades da célula, providenciando a fórmula genética que, no caso do
Escherichia coli, codifica mais de quatro mil tipos diferentes de moléculas de
proteína. O DNA é uma alça fina em forma de fio de ácido nucleico tão longa
que precisa ser dobrada muitas vezes para caber dentro do micróbio. Na verdade,
é oitocentas vezes mais longa que o próprio micróbio! Como o organismo
consegue acessar todas as suas informações genéticas é algo que desafia nossa
imaginação. A Tabela 3.1 dá alguns pormenores da composição de um
organism Escherichia coli. As proteínas, os carboidratos (polissacarídios),
lipídios (substâncias do tipo gorduroso) e outras moléculas especiais
compreendem uns cinco mil tipos diferentes de moléculas, a maioria das quais
são multiplicadas muitas vezes, num total de várias centenas de milhões de
moléculas especiais em apenas um micróbio microscópico! Só porque algo é
pequeno não quer dizer que seja simples. O que antes se considerava ser uma
vida simples revela-se como incrivelmente complexo. A questão que nos deixa
perplexos é: como uma complexidade assim chegou a organizar-se, para
começar?
Aviso: os quatro parágrafos seguintes não são de fácil leitura, mas você deve
captar seu significado, mesmo que não se lembre de todos os detalhes. O próprio
DNA é uma molécula complexa, com uma forma que lembra um pouco uma
escada torcida. Detalhes de uma pequena porção são mostrados na Figura 3.1 .
A molécula consiste de unidades básicas chamadas nucleotídeos, compostos de
um açúcar, um fosfato e as todo-importantes bases, que providenciam a
informação através do código genético, necessário para formar e manter uma
célula como a Escherichia coli. Há quatro tipos de bases no DNA: adenina,
timina, guanina e citosina, abreviadas como A, T, G e C. No RNA (ácido
ribonucleico), semelhante ao DNA e importante na comunicação das
informações na célula, a timina (T) é substituída pela uracila (U). O DNA do
Escherichia coli consiste de 4.639.221 bases. 5
As proteínas são moléculas versáteis que agem como operárias e como
partes estruturais das células. São constituídas por dezenas a centenas de
moléculas mais simples, ou blocos de construção chamados aminoácidos. Há
vinte tipos diferentes de aminoácidos nos organismos vivos. Numa proteína, os
aminoácidos se ligam uns às extremidades dos outros como elos de uma corrente
ou contas de um colar ( Figura 3.2 , esquerda). A corrente, então, é dobrada
muitas vezes, em geral auxiliada por moléculas de proteína grandes e especiais,
apropriadamente chamadas de acompanhantes. O formato final da molécula de
proteína é determinado pela posição dos vários tipos de aminoácidos ao longo da
cadeia. A forma de uma proteína é muito importante para sua função, e se
permitem apenas variações mínimas na ordem dos aminoácidos, se for para a
proteína atuar devidamente no tipo certo de molécula.
Quando a célula precisa de determinada proteína, uma parte do DNA
apropriado é copiada para moléculas mensageiras do RNA. Estas, por sua vez,
são lidas como transferência de RNA que, em combinação com moléculas
especiais chamadas aminoacil-tRNA sintetases, as quais são específicas para
cada tipo de aminoácido, colocam o aminoácido correto onde for necessário na
proteína que está sendo formada. Isso ocorre em estruturas altamente
especializadas, chamadas ribossomos ( Figura 3.2 ), nas quais os aminoácidos
são acrescentados à taxa de três a cinco por segundo. Os próprios ribossomos são
complexos, formados por umas 50 moléculas diferentes de proteína e muito
RNA. Um organismo de Escherichia coli abriga 20 mil ribossomos.
Como é selecionado o devido aminoácido para formar uma molécula de
proteína? Isso é feito através do todo-importante código genético formado pelas
bases A, T, C e G do DNA, e as bases A, U, C e G do RNA. Os computadores
trabalham usando apenas dois tipos de símbolos básicos; em contraste, os
organismos vivos usam quatro tipos de bases. São necessárias três bases para
codificar um aminoácido. Por exemplo, no RNA, GAU codifica o aminoácido
glicina, e CGC codifica o aminoácido arginina. O triplete, ou unidade, de bases
que codificam um aminoácido é chamado códon. Os códons de vinte tipos
diferentes de aminoácidos são dados na Tabela 3.2 . Também há códons para
iniciar e interromper o processo da linha de montagem que fabrica as proteínas.
Sendo que existem 64 códons possíveis e apenas 20 tipos de aminoácidos em
organismos vivos, vários códons diferentes dão a fórmula para o mesmo
aminoácido. Todos os códons possíveis são usados.
É suficiente essa quantidade de detalhes. Poderíamos prosseguir, página
após página, descrevendo muitos outros sistemas celulares, semelhantes ao
sistema de produção de proteínas. A esta altura, você já deve ter formado a ideia
de que um micróbio é uma coisa exata e extremamente complicada. Enquanto o
Escherichia coli está vivo, passa por milhares de alterações químicas às quais
nos referimos coletivamente como metabolismo, e também reproduz mais
micróbios como ele mesmo.
Organismos como o Escherichia coli estão entre as formas vivas mais
simples que existem. Os vírus, que são muito menores, não se qualificam como
organismos vivos. Sendo apenas uma combinação inerte de DNA ou RNA e
proteínas, eles não se reproduzem por si e, assim, não poderiam representar as
primeiras formas de vida sobre a Terra. Uma vez tendo sido produzido um, esse
seria o fim. Os vírus são duplicados pelos complexos sistemas das células vivas
que por acaso eles estejam visitando. Existem uns poucos micróbios
(micoplasma), cujas dimensões são de aproximadamente um décimo daquelas do
Escherichia coli, que provavelmente representem as menores formas de vida
independente já descobertas. 6 Esses organismos ainda não foram cabalmente
estudados, mas sabemos que alguns têm mais de meio milhão de bases em seu
DNA, codificando quase quinhentos tipos diferentes de proteínas que realizam
uma multidão de funções específicas. Se a vida na Terra surgiu por si, como foi
que todas as partes certas se reuniram ao acaso, de modo a produzir a primeira
coisa viva?
Evolução química
No início do século 20, à medida que se aceitava a evolução, o interesse
também se concentrava em como a vida se originou por si mesma. Sem dúvida,
esse é o mais perturbador problema que a evolução biológica enfrenta, e
procurar dar-lhe uma resposta se tornou um empreendimento científico menor.
Por volta de 1924, o famoso bioquímico russo A. I. Oparin sugeriu um cenário
dentro do qual compostos inorgânicos e orgânicos pudessem formar compostos
orgânicos mais complexos, e estes, por sua vez, formariam organismos simples.
Na Inglaterra, o brilhante geneticista e bioquímico J. B. S. Haldane trabalhou
com algumas das mesmas ideias. Outros acrescentaram detalhes, e o conceito de
que a vida se originou por si mesma há muito tempo, naquilo que se costuma
chamar de “sopa orgânica morna”, tornou-se tópico para sérias considerações.
Em 1953, Stanley Miller, trabalhando na Universidade de Chicago, no
laboratório de Harold Urey, premiado com o Nobel, relatou um experimento que
se tornou ícone para os defensores da geração espontânea. A experiência foi
idealizada para simular as condições que supostamente existiam na Terra antes
que se originasse a vida, e que podem ter provocado o surgimento de organismos
vivos. Usando um aparato químico fechado que excluía o oxigênio, Miller expôs
uma mistura de gases – metano, hidrogênio, amônia e vapor de água – a
centelhas elétricas. O aparato continha um alçapão protetor para coletar as
delicadas moléculas orgânicas que poderiam ser produzidas. Depois de muitos
dias, ele descobriu que muitos tipos diferentes de moléculas orgânicas se haviam
formado, incluindo alguns dos aminoácidos encontrados em organismos vivos. A
experiência tem sido repetida muitas vezes, e incrementada, e parece que se
produzem os tipos diferentes de aminoácidos encontrados em proteínas, quatro
das cinco bases encontradas em ácidos nucleicos 11 e alguns açúcares. Milhões
de alunos de biologia foram ensinados a respeito dessa experiência, e cientistas e
professores a apregoaram por todo o mundo como evidência de como a vida
pode ter se originado por si. Durante meio século, foi efervescente a discussão
sobre a importância desse experimento. A verdade é que uma multidão de
problemas permanece sem solução.
Uma questão básica que precisa de consideração diz respeito a quão bem as
experiências de laboratório representam aquilo que realmente aconteceu na Terra
primitiva. Os químicos dos laboratórios, usando equipamento sofisticado e
produtos químicos purificados, podem não proporcionar bons exemplos das
condições que existiam numa Terra primitiva e rústica, muito tempo atrás. Às
vezes, pode-se relacionar devidamente as observações de laboratório com o que
se supõe ter acontecido no passado, mas às vezes não se pode. Por exemplo, no
experimento de Miller, os produtos desejados foram protegidos, num alçapão,
dos efeitos destrutivos das faíscas da fonte de energia usada. O uso de um
alçapão protetor especial não representa aquilo que se esperaria numa Terra
primitiva. 12
Precisamos conservar em mente que estamos falando aqui de uma Terra
primitiva sem vida, sem laboratórios e sem cientistas. Quando um cientista entra
no seu laboratório e executa experimentos com base em sua inteligência, e usa
informações e equipamentos reunidos após séculos de experiência, está fazendo
mais aquilo que esperaríamos de um Deus inteligente, e não aquilo que
esperaríamos de uma Terra vazia. Em muitos sentidos, o cientista está
representando mais as atividades criativas de Deus do que as condições
primitivas do acaso. A evolução química exige que todo tipo de coisas boas
aconteça por si, e não por meio de cientistas em sofisticados laboratórios.
Síntese
Uma das mais profundas questões que enfrentamos é acerca de como a vida
se originou. Pasteur demonstrou que a vida só provém de vida anterior. Desde
então, um verdadeiro exército de cientistas tem investigado como a vida pode ter
surgido por si mesma. Só que essa busca não tem se mostrado nada frutífera.
Estamos descobrindo que uma “simples” célula é imensamente mais complicada
do que se imaginava, e ainda temos muito a aprender.
Os cientistas têm obtido algum sucesso em criar moléculas orgânicas
simples, como aminoácidos, sob supostas condições da Terra primitiva. Contudo,
é suspeita a relação de seus experimentos de laboratório com aquilo que
realmente aconteceu numa Terra vazia e caótica. Além desse questionável
sucesso, tem havido enorme quantidade de problemas intransponíveis para a
evolução química. Não se encontraram evidências de uma sopa orgânica no
registro geológico. As moléculas necessárias para a vida são delicadas demais
para sobreviver aos rigores de uma Terra primitiva. Experimentos que produzem
moléculas simples da vida não apresentam a configuração ótica necessária e vêm
misturados com todo tipo de moléculas desnecessárias e prejudiciais. Como foi
que só as moléculas certas foram selecionadas? Nada parece fornecer a
informação específica necessária para as moléculas grandes, como as proteínas e
o DNA.
Muitos fatores interdependentes, como os encontrados no código genético,
na síntese do DNA e nas trilhas bioquímicas controladas, desafiam a ideia de que
podem ter se desenvolvido de forma gradual, sobrevivendo evolutivamente em
cada estágio, até que todos os fatores necessários estivessem presentes. Os
modelos alternativos são irreais e insatisfatórios, e ignoram totalmente o fato de
que a vida requer uma abundância de informações coordenadas. Depois, vem a
questão da formação de todas as partes da célula e de fazer com que essas partes
se reproduzam. Todos os cálculos matemáticos indicam, em essência,
probabilidades impossíveis. O pesquisador Dean Overman esboça o dilema da
evolução: “Alguém pode escolher, com base religiosa, acreditar em teorias sobre
a auto-organização, mas essa crença deve estar baseada nas pressuposições
metafísicas, e não na ciência e em probabilidades matemáticas.” 45
O fracasso da evolução química para apresentar um modelo plausível, junto
com a persistência dos cientistas em tentar criá-lo, provoca uma séria questão
sobre a prática atual da ciência. Por que tantos cientistas têm fé em modelos da
origem da vida que seguem uma multidão de proposições essencialmente
impossíveis, mas não consideram a fé em um idealizador? Existe uma atitude
preconceituosa contra Deus no atual ambiente científico? Estaria essa atitude
impedindo que a ciência encontre toda a verdade? Algo parece estranho.
Referências
1
Harold FM. 2001. The way of the cell: molecules, organisms and the order of life. Oxford: Oxford
University Press, p. 251.
2
Este relato de Semmelweis baseia-se principalmente em: (a) Clendening L. 1933. The romance of
medicine: behind the doctor. Garden City: Garden City Publishing Co., p. 324-333. (b) Harding AS.
2000. Milestones in health and medicine. Phoenix: Oryx Press, p. 24, 25. (c) Manger LN. 1992. A
history of medicine. Nova York: Marcel Dekker, p. 257-267. (d) Porter R. 1996. Hospitals and surgery.
In: Porter R, editor. The Cambridge illustrated history of medicine. Cambridge: Cambridge University
Press, p. 202-245.
3
Behe MJ. 1996. Darwin’s black box: the biochemical challenge to evolution. Nova York: Touchstone, p.
69-72.
4
Ver no capítulo 4 discussão adicional sobre o conceito da complexidade.
5
Blattner FR, et al. 1997. The complete genome sequence of Escherichia coli K-12. Science 277, p. 1453-
1474.
6
Fraser CM, et al. 1995. The minimal gene complement of Mycoplasma genitalium. Science 270, p. 397-
403.
7
Farley J. 1977. The spontaneous generation controversy from Descartes to Oparin. Baltimore: The Johns
Hopkins University Press, p. 6.
8
Vallery-Radot R. 1924. The life of Pasteur. Devonshire RL, tradutor. Garden City: Doubleday, p. 109.
9
Darwin C. 1859. 1958. The origin of species: by means of natural selection, or the preservation of
favoured races in the struggle for life. Nova York: Mentor, p. 450.
10
Darwin F, editor. 1888. The life and letters of Charles Darwin, v. 3. Londres: John Murray, p. 18.
11
Shapiro R. 1999. Prebiotic cytosine synthesis: a critical analysis and implications for the origin of life.
Proceedings of the National Academy of Sciences 96, p. 4396-4401.
12
Thaxton CB, Bradley WI, Olsen, RL. 1984. The mystery of life’s origin: reassessing current theories.
Nova York: Philosophical Library, p. 102-104.
13
Entre várias referências, ver: Yockey HP. 1992. Information theory and molecular biology. Cambridge:
Cambridge University Press, p. 235-241.
14
Yockey HP. 1992. Information theory and molecular biology. Cambridge: Cambridge University Press,
p. 240.
15
Denton M. 1985. Evolution: a theory in crisis. Londres: Burnett Books, p. 261.
16
Thaxton CB, Bradley WB, Olsen RL. 1984. The mystery of life’s origin: reassessing current theories.
Nova York: Philosophical Library, p. 52, 53.
17
Giem PAL. 1997. Scientific theology. Riverside: La Sierra University Press, p. 58, 59.
18
Hull DE. 1960. Thermodynamics and kinetics of spontaneous generation. Nature 186, p. 693, 694.
19
(a) Overman DL. 1997. A case against accident and self-organization. Lanham: Rowman & Littlefield,
p. 44-48. (b) Thaxton, Bradley, Olsen, p. 45-47. (c) Yockey, p. 234-236.
20
A identificação dessas formas para algumas moléculas complicadas é mais difícil.
21
Para recentes exemplos dando os mesmos resultados, veja: (a) Bernstein MP, et al. 2002. Racemic
amino acids from the ultraviolet photolysis of interstellar ice analogues. Nature 416, p. 401-403. (b)
Muñoz Caro GM, et al. 2002. Amino acids from ultraviolet irradiation of interstellar ice analogues.
Nature 416, p. 403-409.
22
Yockey (p. 237) indica que uma mistura dos dois tipos de aminoácidos interferiria no processo de
dobradura.
23
Sobre uma tentativa recente, ver Saghatelian A, et al. 2001. A chiroselective peptide replicator. Nature
409, p. 797-801.
24
Fraser [veja a nota 6].
25
Bradley WL, Thaxton CB. 1994. Information and the origin of life. In: Moreland JP, editor. The
creation hypothesis: scientific evidence for an intelligent designer. Downers Grove: InterVarsity, p. 173-
210.
26
Discussão adicional no capítulo 5.
27
Küppers B-O. 1990. Information and the origin of life. Manu Scripta A, tradutor. Cambridge: The MIT
Press, p. 60.
28
Alguns cientistas questionam se os íntrons nos genomas são úteis, mas outros sugerem mais e mais
funções para eles. Ver: (a) Brownlee C. 2004. Trash to treasure: junk DNA influences eggs, early
embryos. Science News 166, p. 243. (b) Dennis C. 2002. A forage in the junkyard. Nature 420, p. 458,
459. (c) Standish TG. 2002. Rushing to judgment: functionality in noncoding or “junk” DNA. Origins,
53, p. 7-30.
29
Nirenberg M, Leder P. 1964. RNA codewords and protein synthesis: the effect of trinucleotides upon
the binding of sRNA to ribosomes. Science 145, p. 1399-1407.
30
Raven PH, Johnson GB. 1992. Biology. 3a edição. St. Louis: Mosby-Year Book, p. 307.
31
O documento clássico é: Horowitz NH. 1945. On the evolution of biochemical syntheses. Proceedings
of the National Academy of Sciences 31, p. 153-157.
32
Behe, p. 154-156.
33
Ruse M. 2000. The evolution wars: a guide to the debates. New Brunswick: Rutgers University Press,
p. 154.
34
(a) Oparin AI. 1938, 1965. Origin of life. 2a edição. Morgulis S, tradutor. Nova York: Dover, p. 150-
162. (b) Fox SW, et al. 1970. Chemical origins of cells. Chemical and Engineering News 48, p. 80-94.
35
Day W. 1984. Genesis on planet earth: the search for life’s beginning. 2a edição. New Haven: Yale
University Press, p. 204, 205.
36
Javor GT. 1998. What makes a cell tick? Origins 25, p. 24-33.
37
(a) Hoyle F. 1980. Steady-state cosmology re-visited. Cardiff: University College Cardiff Press, p. 52.
(b) Hoyle F, Wickramasinghe NC. 1981. Evolution from space: a theory of cosmic creationism. Nova
York: Simon and Schuster, p. 24, 26.
38
Morowitz HJ. 1968. Energy flow in biology: biological organization as a problem in thermal physics.
Nova York: Academic Press, p. 67.
39
Anônimo. 1982. Threats on life of controversial astronomer. New Scientist 93, p. 140.
40
Behe, p. 39.
41
Radman M, Wagner R. 1988. The high fidelity of DNA duplication. Scientific American 259, p. 40-46.
42
Lambert GR. 1984. Enzymic editing mechanism and the origin of biological information transfer.
Journal of Theoretical Biology 107, p. 387-403.
43
A citação é de Irion R. 1998. RNA can’t take the heat. Science 279, p. 1303. Ver também Joyce GF.
1989. RNA evolution and the origin of life. Nature 338, p. 217-224.
44
Flew A, Habermas GR. 2004. My pilgrimage from atheism to theism: a discussion between Antony
Flew and Gary Habermas. Philosophia Christi 6, p. 197-211. Ver também Flew A, Varguese RA. 2007.
There is a God: how the world’s most notorious atheist changed his mind. Nova York: Harper One.
45
Overman, p. 101, 102.
O desafio de elucidar plenamente como
os átomos se reúnem – aqui na Terra e
quem sabe em outros mundos – para formar
seres vivos complexos o suficiente para
ponderar sobre suas origens é mais
amedrontador que qualquer outra coisa
na cosmologia. 1
Sir Martin Rees, astrônomo real
Tragédia
A notícia era ruim; alguns dias depois, ficou pior. Meu amigo Lloyd estivera
trabalhando até tarde da noite, e retornava para a universidade, onde o repouso,
as aulas e os compromissos aguardavam sua atenção. Mas demoraria um longo
tempo até que ele chegasse lá. Sentia-se exausto e, ao dirigir por uma solitária
estrada do interior, o cansaço o venceu, e o carro sem comando caiu num curso
de água. Ele sobreviveu, mas logo ficamos sabendo que seus ferimentos eram
muito graves. O acidente havia rompido os nervos na parte inferior da medula
espinhal e ele não mais podia controlar as pernas. Para o resto da vida, ficou
confinado a uma cadeira de rodas.
A recuperação, se a chamarmos assim, foi muito lenta. Felizmente, ele não
era uma pessoa comum, e decidiu não permitir que seu problema o
transformasse num fardo para a sociedade. Suas vigorosas capacidades mentais e
a perseverança o sustiveram ao longo do curso universitário e por décadas
depois. Ele trabalhou admiravelmente como professor, capelão e editor. Mas o
acidente não foi o fim dos seus problemas físicos. Com os nervos afetados, as
pernas se tornaram uma fonte constante de problemas, e a tendência para a
deterioração ficou tão grave que, cinco anos após o acidente, ele teve as pernas
amputadas.
Partes interdependentes
O transtorno que Lloyd sofreu com as pernas, depois que a medula foi
rompida, ilustra como muitas partes dos organismos vivos dependem de outras.
Os músculos nas pernas não funcionam sem que os nervos lhes enviem os
impulsos para fazer com que se contraiam. Os nervos, isoladamente, também
seriam inúteis sem músculos que respondessem ao impulso que estiver sendo
enviado, e ambos seriam inúteis sem um complicado sistema de controle no
cérebro, para determinar quando um movimento seria desejável, e assim
providenciasse o estímulo apropriado para mover o músculo. Esses três
elementos – músculos, nervos e o mecanismo de controle – representam um
exemplo simples de partes interdependentes. Nenhum deles funciona a menos
que todas as partes necessárias estejam presentes. No caso do meu amigo, o
nervo era a parte que faltava e, por causa disso, as pernas ficaram inúteis; eram
um transtorno do qual ele escolheu livrar-se.
Como de costume, estamos flagrantemente simplificando demais as coisas.
Em nosso exemplo, precisamos de mais partes vitais, como as estruturas que
transferem o impulso dos nervos para os músculos. Essas estruturas segregam
uma substância química especial que é recebida por um determinado receptor no
músculo, e esse receptor, quando estimulado, muda a descarga elétrica nas fibras
musculares e as leva a contrair-se. Há muitos outros fatores ainda.
Os nervos se desenvolvem a partir do sistema nervoso central, mas é
necessário um sistema que os associe ao músculo certo. Além disso, as fibras
alongadas e muito finas, que são parte das células nervosas e que transportam os
impulsos nervosos, podem medir mais de um metro; ainda assim, têm um
diâmetro de apenas um milésimo de milímetro. A fim de conservar em
funcionamento essas fibras celulares alongadas, sistemas especiais de transporte
levam partes e substâncias químicas para lá e para cá ao longo de sua grande
extensão. 2 Os músculos tampouco são estruturas simples. Nossa força muscular
é providenciada por muitos milhares de unidades contendo minúsculas
moléculas de proteína que rastejam ao longo das fibras, de modo a puxar e
contrair os músculos que ativam a maioria dos 206 ossos do nosso corpo.
O controle da atividade muscular também é algo muito complexo, com as
principais partes do cérebro ou da medula espinhal coordenando a ação de mais
de seiscentos músculos no corpo. Muitos movimentos corporais envolvem a
ação coordenada de vários músculos, tudo ao mesmo tempo. Sem um controle
adequado, podemos sofrer espasmos musculares e outras condições graves
ilustradas pela paralisia cerebral ou epilepsia. Para facilitar um movimento
suave, existem nos músculos estruturas especiais em forma de hastes, as quais
monitoram constantemente a atividade muscular. Elas são especialmente
abundantes nos músculos que controlam um movimento preciso, como aqueles
que movem nossos dedos. Nas hastes, há dois tipos de fibras musculares
modificadas que mantêm a tensão, a fim de que nervos sensoriais especiais nas
fibras possam monitorar o comprimento, a tensão e o movimento muscular.
Essas hastes se parecem um pouco com sistemas musculares em miniatura
dentro dos próprios músculos, e têm o seu próprio conjunto de partes
interdependentes. Nem todas as partes dessas hastes dependem de outras partes,
mas a maioria, se não todas, não funciona sem a presença de algumas outras
partes.
Um sistema de alarme contra roubo também ilustra as partes
interdependentes. Quer seja num carro, quer seja numa casa, é necessário certo
número de peças básicas. É preciso ter: (1) um sensor que detecte o intruso; (2)
fios (ou um transmissor) para a comunicação com um sistema de controle; (3)
um sistema de controle; (4) uma fonte de energia; (5) fios que se comuniquem
com um alarme; e (6) um alarme que, geralmente, é uma sirene. Assim como o
exemplo do músculo, nervo e mecanismo de controle, e vários outros exemplos
dados no capítulo anterior, esses são sistemas de partes interdependentes, em que
o sistema não funciona a menos que todas as partes necessárias estejam
presentes. Representam a complexidade irredutível, 3 às vezes também chamada
de estrutura irredutível. 4
Ao falar de complexidade, referimo-nos especificamente a sistemas como
um alarme contra roubo, que têm partes interdependentes. Não é, de forma
alguma, o mesmo que complicação. Muitas coisas podem ser complicadas, mas
não são complexas porque suas partes não se relacionam umas com as outras e
não dependem umas das outras. Por exemplo, um relógio com engrenagens
girando e ligando-se a outras é complexo; consiste de partes interdependentes,
necessárias para o devido funcionamento do relógio. Por outro lado, um monte
de lixo pode ser muito complicado e ter mais partes que um relógio, mas não é
complexo porque as peças não são interdependentes. Páginas de vários
documentos numa lixeira podem ser uma complicação, mas as páginas de um
romance são complexas; relacionam-se com outras e são interdependentes à
medida que o enredo se desenvolve.
Coisas complexas são complicadas, mas coisas complicadas não precisam
ser complexas, se as partes não se relacionam entre si. Na grande questão da
ciência descobrindo Deus, é importante distinguir entre complexo e complicado.
Infelizmente muitos, inclusive cientistas, confundem os dois termos. A maioria
dos sistemas biológicos é complexa; tem muitas partes interdependentes que,
como os músculos, serão inúteis a menos que outras partes necessárias, como os
nervos e o mecanismo de controle, também estejam presentes.
Dois séculos atrás, o filósoso e eticista inglês William Paley (1743-1805)
publicou um famoso livro intitulado Natural Theology 5 [Teologia Natural], que
se tornou um popular manual filosófico, tendo várias edições. O livro foi uma
resposta a sugestões de que a vida poderia ter se originado por si e de que não
havia Deus. Paley argumentava que as coisas vivas devem ter tido algum tipo de
fabricante. Ele chegou a essa conclusão muito antes de termos qualquer ideia
sobre quão complexas elas são. Seu mais famoso exemplo diz respeito a um
relógio. Se numa caminhada, afirmava ele, encontrássemos uma pedra,
provavelmente não saberíamos explicar como ela se originou. Por outro lado, se
encontrássemos um relógio no chão, concluiríamos imediatamente que o relógio
teve um fabricante. Alguém que compreendia a sua construção e o seu uso o
havia montado. Sendo que a natureza é mais complexa que um relógio, também
deve ter um fabricante. Argumentou ainda que, se um instrumento como um
telescópio teve um idealizador, também deve ser esse o caso dos olhos, que são
complexos. Paley desafiou a ideia de que o avanço evolutivo tenha sido o
resultado de uma multidão de pequenas alterações e o ilustrou referindo-se à
estrutura indispensável que chamamos de epiglote, em nossa garganta. Quando
engolimos, o alimento e a bebida são conservados fora do pulmão pela epiglote,
que fecha a traqueia. Se a epiglote se houvesse desenvolvido gradualmente por
um longo tempo, teria sido inútil na maior parte desse tempo, já que não fecharia
a traqueia antes de ter chegado ao seu tamanho completo.
Os argumentos de Paley foram difamados por longo tempo. Afirma-se
frequentemente que Darwin e seu conceito de seleção natural se encarregaram de
refutar os exemplos de Paley. No livro The Blind Watchmaker [O Relojoeiro
Cego], Richard Dawkins, famoso professor da Universidade de Oxford, trata
especialmente do exemplo do relógio citado por Paley, mostrando que “ele está
errado, gloriosa e completamente errado”. Disse também que o “único relojoeiro
da natureza são as forças cegas da física”, e que “Darwin tornou possível ser um
ateu intelectualmente realizado”. 6 Parece que isso tudo não vem ao caso. Os
recentes avanços na moderna biologia, revelando uma vasta coleção de sistemas
interdependentes, têm levado muitos a se perguntar se Paley e seu ridicularizado
relógio não teriam acertado o alvo.
Olhos complexos
Olhos avançados, como os nossos, sobre os quais temos aprendido bastante,
são maravilhas de complexidade. A seguinte descrição é um tanto técnica, mas
simplesmente por acompanhá-la você terá uma ideia geral desse fascinante órgão
que lhe permite ler esta página. Ao visualizar o arranjo das camadas de um olho
esférico, tente conservar em mente o que fica voltado para dentro, na direção do
centro da esfera do olho, e o que fica na direção da superfície externa do olho.
Isso é importante na discussão posterior sobre a retina reversa ou “invertida”.
O olho é essencialmente uma esfera um pouco oca, com elementos muito
complexos formando a parede externa ( Figura 4.1A ). Forrando o interior da
maior parte do olho está a importantíssima retina, o órgão que percebe a luz
entrando pelo olho através do orifício preto chamado pupila. A retina é muito
complicada e consiste de muitas camadas de células, conforme a ilustração
na Figura 4.1C e D . A camada mais próxima da superfície externa do olho é o
importante pigmento epitelial. A camada contém pigmento que recolhe a luz e
também nutre as células da camada seguinte no interior, a qual consiste de
bastonetes e cones. Esses bastonetes e cones são as importantíssimas células
fotorreceptoras que detectam a luz que entra pelo olho. Os bastonetes funcionam
especialmente na detecção de luz fraca, enquanto os três tipos de cones servem
para detectar luz mais brilhante e colorida.
Conforme a ilustração da Figura 4.1D , a porção final dos bastonetes e
cones alongados que fica mais perto do pigmento epitelial ou, em outras
palavras, a extremidade externa do olho, contém muitos discos. Esses discos têm
um tipo muito especial de molécula de proteína chamada rodopsina, e um
bastonete pode conter quarenta milhões dessas moléculas. Quando a luz atinge
uma molécula de rodopsina, faz com que a molécula mude sua forma. Essa
resposta é passada adiante a muitos outros tipos diferentes de moléculas,
resultando numa reação do tipo “avalanche” que rapidamente modifica a carga
elétrica na superfície do bastonete ou cone, indicando assim que a luz foi
detectada pela célula. Então, o processo todo é revertido, como preparação para
receber mais luz. Pelo menos uma dúzia de tipos diferentes de moléculas de
proteína se envolve nesse processo. 37 Muitos deles são específicos e
necessários para o processo visual. Esse é outro exemplo da complexidade
irredutível mencionada no capítulo anterior, e que representa um sério desafio à
evolução.
A mudança na carga elétrica na superfície do bastonete ou cone é passada
adiante, como um impulso, a uma complexa rede de células nervosas. Essas
células formam uma camada que fica por dentro (ou seja, na direção do centro
do olho) da camada de bastonetes e cones (“camada de células nervosas”
da Figura 4.1C ). Da camada de células nervosas, a informação é enviada para o
cérebro através do nervo ótico ( Figura 4.1A ).
Há mais de cem milhões de células sensíveis à luz (bastonetes e cones) na
retina humana, e a informação dessas células é parcialmente processada na
camada de células nervosas. Mais de cinquenta tipos diferentes de células
nervosas foram identificados nessa camada. 38 Através de cuidadosas pesquisas,
estamos começando a descobrir o que algumas dessas células fazem. Por
exemplo, se uma área específica é estimulada, a informação das células ao seu
redor é suprimida, de modo a reforçar o contraste. Esse tipo de processamento é
realizado em vários níveis de análise da luz que entra. Isso é muito complexo e
inclui sistemas de feedback. Sabemos que alguns outros circuitos dessas células
nervosas tratam da detecção de movimento, mas ainda temos muito mais a
aprender acerca do que estão fazendo todos os tipos diferentes de células dessa
camada.
Na realidade, não vemos com os olhos, embora intuitivamente pensemos
assim. O olho apenas recolhe e processa informações que são enviadas para a
parte de trás do cérebro, onde a imagem é produzida. Sem o cérebro, não
veríamos nada. Milhões de dados passam rapidamente do olho para o cérebro
através do nervo ótico. No cérebro, parece que os dados são subdivididos para a
análise dos vários componentes, como brilho, cor, movimento, forma e
profundidade. Depois, tudo é reunido numa imagem integrada. O processo é
incrivelmente complexo, incrivelmente rápido, e acontece sem esforço
consciente. Os pesquisadores que trabalham nessa área comentam que “as
tarefas visuais mais simples, como perceber cores e reconhecer rostos familiares,
exigem uma computação elaborada e mais circuitos nervosos do que possamos
imaginar”. 39
Olhos avançados incluem vários outros sistemas com partes
interdependentes que não funcionariam a menos que todos os componentes
básicos necessários estivessem presentes. O mecanismo que analisa o brilho da
luz e controla o tamanho da pupila é um. O sistema que determina se o ponto
focal da luz que entra está na frente ou atrás da retina, de modo a alterar a forma
da lente para manter a imagem focalizada na própria retina, é outro. E existem
vários outros sistemas complexos que nos ajudam a ver melhor, como o
mecanismo que mantém os dois olhos olhando a mesma coisa.
Todos esses fatores provocam perguntas sobre uma multidão de partes
interdependentes. Por exemplo, qual seria a utilidade de um sistema que pode
detectar que uma imagem no olho está fora de foco, sem um mecanismo que
possa ajustar a forma da lente e focalizar a imagem? Num cenário de evolução
gradual, esses mecanismos em desenvolvimento não sobreviveriam, sendo que a
maioria das partes, se não todas, seria inútil sem as outras. Aqui, como em
muitos outros aspectos, temos o típico enigma da galinha e do ovo: o que veio
primeiro, a galinha ou o ovo? Cada um é necessário para a sobrevivência.
Às vezes, Darwin não hesitava em lançar desafios aos críticos de sua teoria.
Logo após discutir a evolução do olho em A Origem das Espécies, ele dispara o
seguinte: “Se ficasse demonstrado que algum órgão complexo existiu, o qual
possivelmente não teria sido formado por numerosas, pequenas e sucessivas
modificações, minha teoria desmoronaria, simplesmente. Mas não encontro
nenhum caso como esse.” 40 Embora Darwin tentasse proteger seu desafio ao
exigir que alguém mostrasse que não teria “possivelmente” acontecido, ele cai
justamente no problema da sobrevivência de partes interdependentes, ao falar de
“numerosas” e “pequenas modificações”. Elas constituem, especialmente, um
problema para o seu mecanismo. Condições em que partes interdependentes em
lento desenvolvimento, que não funcionam enquanto as outras partes necessárias
não estiverem presentes, não sobrevivem por um tempo longo. Infelizmente,
como Darwin sugere, sua teoria desmoronou completamente.
O cérebro humano
Cada uma das células do corpo humano, das quais temos muitos trilhões,
tem mais de três bilhões de bases de DNA. O DNA em cada célula, se fosse
estendido, teria um metro de comprimento. Aliás, se todo o DNA de um corpo
humano comum fosse esticado, ele se estenderia da Terra a Júpiter, ida e volta,
mais de 60 vezes. Mas uma complexidade como essa, vista em nossas células,
empalidece e se torna insignificante quando comparada com o nosso cérebro.
Muitos consideram o cérebro a estrutura mais complexa de que temos
conhecimento no Universo.
No que tange a organismos vivos, o homem está no topo. Não por causa do
corpo, que não é nem o mais forte nem o maior, mas porque temos um cérebro
que excede o de todos os outros seres vivos. Podemos, dentro de limites,
manipular todas as outras criaturas, sem falar de nossa capacidade de destruir o
ambiente delas e também o nosso!
O cérebro consiste de aproximadamente cem bilhões de células nervosas
(neurônios) ligadas umas às outras por quase inacreditáveis 400 mil quilômetros
de fibras nervosas. Essas fibras muitas vezes se ramificam repetidamente, ao se
conectarem com outras células nervosas. Uma grande célula nervosa pode ligar-
se com até 600 outras células, totalizando umas 60 mil conexões. O número total
de conexões no cérebro é calculado de maneira conservadora em cem milhões de
vezes um milhão, que é o mesmo que cem mil bilhões (1014). É difícil visualizar
números tão grandes. Poderia ajudar se soubéssemos que num único milímetro
cúbico da parte principal do cérebro (o córtex cerebral), onde as células são
especialmente grandes, existem aproximadamente 40 mil células nervosas e um
bilhão de conexões. Estamos descobrindo que o cérebro é muito mais do que um
monte de conexões como as que temos num computador. O cérebro é capaz de
cobrir várias áreas de atuação e de se desenvolver onde for necessária uma
capacidade cerebral maior.
Um lufa-lufa de atividade mental e de coordenação ocorre no cérebro
quando mudanças na carga elétrica viajam ao longo das fibras nervosas,
conduzindo impulsos entre as células. Pelo menos trinta tipos diferentes de
substâncias químicas, provavelmente muito mais, são usados para transferir os
impulsos no contato de uma célula nervosa com outra. Isso é espantoso, porque
esses tipos diferentes de substâncias químicas precisam ser destinados para
conexões específicas. Estamos apenas começando a aprender acerca da
complexidade do cérebro, e percebendo o desafio de pensar sobre o órgão com o
qual pensamos! A grande questão que o cérebro coloca diante da evolução é:
seria possível que todos aqueles cem mil bilhões de conexões alcançassem o
padrão certo de conexão, com mudanças simplesmente aleatórias de tentativa e
erro acontecendo no lento e laborioso processo de seleção natural? Também, não
está nada claro que as capacidades mentais exclusivas do homem consigam
sobreviver evolutivamente, já que os babuínos parecem sobreviver muito bem
sem elas. Vários eminentes líderes do pensamento têm-se preocupado com
isso. 55 Stephen Hawking declara com franqueza: “Não está claro que a
inteligência tenha de sobreviver. As bactérias vivem muito bem sem
inteligência.” 56 Talvez nenhum processo evolutivo tenha criado nosso cérebro.
Darwin, que morou na Inglaterra, tinha um bom amigo e patrocinador nos
Estados Unidos, um famoso botânico de Harvard, Asa Gray. Darwin, às vezes,
partilhava alguns de seus mais profundos sentimentos com Gray, que era
simpático à evolução, mas cria muito num Deus ativo na natureza. 57 Numa
carta a Gray, Darwin confidenciou: “Lembro-me bem do tempo em que eu me
arrepiava só de pensar no olho, mas superei esse estágio da doença, e agora
pequenos particulares insignificantes de estrutura costumam me deixar
constrangido. Toda vez que olho para uma pena da cauda de um pavão, fico
doente!” 58
Por que a pena de um pavão faria com que Darwin se sentisse mal? Não sei
responder com certeza a essa pergunta, mas suspeito que poucas pessoas
consigam refletir sobre o elaborado desenho e, especialmente, sobre a beleza de
uma pena iridescente da cauda do pavão, sem se perguntar se aquilo não é o
resultado de algum tipo de intenção proposital. Além disso, por que apreciamos
a beleza, a música ou compreendemos que existimos? Isso leva a questão das
origens para um nível diferente – aquele de nossa mente misteriosa. Nesse
cérebro extremamente complexo de 1,5 quilo encontra-se o espantoso fato de
que ele é a sede do “quem sou eu”. Como foi que a multidão de conexões no
cérebro se programou para que possamos pensar com lógica (esperamos que a
maioria esteja pensando direito!), ter curiosidade de fazer perguntas sobre nossa
origem, aprender novos idiomas, criar teoremas da matemática e compor óperas?
Ainda mais desafiadoras à visão naturalista do mundo são as perguntas sobre o
nosso poder de escolha e características como responsabilidade moral, lealdade,
amor e uma dimensão espiritual. John Polkinghorne, físico de partículas,
administrador da Universidade de Cambridge e sacerdote anglicano, expressa a
preocupação de muitos. Referindo-se ao mundo físico, declara: “Não posso crer
que nossa capacidade de compreender sua estranha natureza seja uma curiosa
herança de nossos antepassados tendo que escapar de tigres-dentes-de-sabre.” 59
O debate em torno da mente concentra-se com frequência sobre a natureza
do enigmático fenômeno da consciência, que é a percepção consciente que todos
temos; em outras palavras, o senso de que existimos. Essa consciência parece
intimamente relacionada com nossa capacidade de pensar, nossa curiosidade,
nossas emoções, nosso julgamento e outros fenômenos da mente consciente.
Essa consciência que temos seria evidência de uma realidade além de uma
simples explicação mecanicista (naturalista), ou seria apenas um sistema
puramente mecanicista e muito complicado? A batalha entre essas duas ideias
vem sendo travada há séculos. A questão é se as explicações mecanicistas, que
excluem a Deus, são suficientes ou não para explicar toda a realidade.
Aqueles que defendem a posição de que a consciência é um fenômeno
puramente mecanicista sugerem que não há nada de especial nela. Na verdade,
ela nem mesmo existe. É só uma grande quantidade de atividade simples. Em
anos recentes, alguns têm enfatizado a analogia que pode ser feita entre um
computador e o cérebro. Algumas comparações frívolas ridicularizam qualquer
diferença entre os dois. Na verdade, o cérebro é um computador feito de
carne, 60 e dispositivos rudimentares como os termostatos têm crenças! 61 Um
reducionismo simplista como esse é contrariado por líderes do pensamento,
como Sir John Eccles, ganhador do Prêmio Nobel, que comenta: “Pode-se [...]
relembrar a penetrante pergunta feita por amantes do computador: em que
estágio de complexidade e desempenho concordaríamos em dotá-lo de
consciência? Felizmente, essa pergunta carregada de emoção não precisa de
resposta. Você pode fazer o que desejar com os computadores sem o receio de
ser cruel!” 62 O famoso matemático e cosmólogo Roger Penrose, da
Universidade de Oxford, comenta que “a consciência me parece ser um
fenômeno tão importante que simplesmente não posso crer que seja algo que
surgiu ‘por acidente’, por meio de um cálculo complicado. É o fenômeno pelo
qual se torna conhecida a própria existência do Universo”. 63
Parece não haver nada nas leis da ciência que diga que devemos ter uma
percepção consciente. 64 A consciência é algo que escapa da presente análise;
não a encontramos como característica da matéria. A existência da
conscientização aponta para uma realidade além da nossa compreensão
mecanicista comum.
Todavia, não é necessário apoiar-se no fenômeno da percepção consciente
para concluir que um desígnio proposital é necessário para a nossa mente. A
comparação do cérebro com o computador apenas fortalece a evidência de um
Deus projetista, porque sabemos que os computadores não se organizaram
simplesmente por si mesmos. Eles são produzidos por desígnio intencional,
envolvendo um conhecimento prévio que leva a uma complexidade correlata. O
mesmo se pode dizer de nosso extremamente complexo cérebro. Há mil vezes
mais conexões em cada cérebro do que estrelas em nossa galáxia. A mera
sugestão de que um conjunto organizado se originou como resultado de eventos
casuais desafia a credulidade. Como pode algum processo aleatório produzir
algo próximo dessa magnitude de complexidade? A seleção natural é prejudicial
à evolução de sistemas com partes interdependentes? Além de tudo, o cérebro
abriga mentes que processam e integram informações extremamente bem, e com
rapidez.
Síntese
Os órgãos avançados dão muitos exemplos de sistemas complexos com
partes interdependentes. A seleção natural constitui um problema para a
evolução desses sistemas. Embora a seleção natural possa eliminar tipos fracos e
anômalos, não pode planejar com antecedência, de molde a desenvolver
gradualmente as várias partes exigidas por sistemas complexos. A seleção
natural se limita a um sucesso imediato na sobrevivência. Nesse caso, também se
espera que elimine as várias partes novas de sistemas complexos com partes
interdependentes que evoluem de modo gradual. Essas novas partes extras
seriam inúteis e representariam um embaraçoso impedimento, até que todas as
partes necessárias estivessem presentes para constituir um sistema funcional que
sobrevivesse. Seria de se esperar que organismos com partes extras e inúteis
sobrevivessem menos que aqueles desprovidos delas. Consequentemente, parece
que o sistema de Darwin, que defende a sobrevivência do mais apto, na verdade
interfere no avanço evolutivo de sistemas complexos.
A maioria dos sistemas é complexa, mas o olho e o cérebro são exemplos de
órgãos extremamente complexos. Não parece que exista uma forma pela qual um
desses órgãos se haja desenvolvido sem planejamento inteligente. Esse é um
dado científico que favorece a ideia da existência de um Deus.
Referências
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2
Schnapp BJ, et al. 1985. Single microtubules from squid axoplasm support bidirectional movement of
organelles. Cell 40, p. 455-462.
3
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4
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5
Paley W. 1807. Natural theology; or, evidences of the existence and attributes of the deity. 11a edição.
Londres: R. Faulder and Son.
6
Dawkins R. 1986. 1987. The blind watchmaker: why the evidence of evolution reveals a universe
without design. Nova York: Norton, p. 5, 6.
7
Schwartz JH. 1999. Sudden origins: fossils, genes, and the emergence of species. Nova York: John
Wiley and Sons, p. 12, 13.
8
Por exemplo, ver Sagan C. 1977. The dragons of Eden: speculation on the evolution of human
intelligence. Nova York: Ballantine, p. 28.
9
Keeton WT. 1967. Biological science. Nova York: Norton, p. 672.
10
Para conferir os muitos problemas nesse cenário, ver Wells J. 2000. Icons of evolution, science or myth:
why much of what we teach about evolution is wrong. Washington, DC: Regnery Publishing, p. 137-
157.
11
D’Costa VM, et al. 2006. Sampling antibiotic resistance. Science 311, p. 374-377.
12
(a) Amábile-cuevas CF. 2003. New antibiotics and new resistance. American Scientist 91, p. 138-149.
(b) Ayala FJ. 1978. The mechanism of evolution. Scientific American 239 (3), p. 56-69. (c) Jukes TH.
1990. Responses of critics. In: Johnson PE. Evolution as dogma: the establishment of naturalism.
Dallas: Haughton, p. 26-28. Para discussão adicional, ver: (d) Anderson KL. 2005. Is bacterial
resistance to antibiotics an appropriate example of evolutionary change? Creation Research Society
Quarterly 41, p. 318-326.
13
Hall BG. 1982. Evolution on a Petri dish. Evolutionary Biology 15, p. 85-150. Para uma avaliação do
significado deste relatório, ver Pitman SD. 2005. Why I believe in creation. College and University
Dialogue 17 (3), p. 9-11.
14
Por exemplo, ver Chen H, et al. 2005. H5N1 virus outbreak in migratory waterfowl. Nature 436, p. 191-
192.
15
(a) Beardsley T. 1999. Mutations galore: humans have high mutation rates. But why worry? Scientific
American 280 (4), p. 32, 36. (b) Nachman MW, Crowell SL. 2000. Estimate of the mutation rate per
nucleotide in humans. Genetics 156, p. 297-304.
16
Futuyma DJ. 1998. Evolutionary biology. 3a edição. Sunderland: Sinauer Associates, p. 684.
17
Ver discussão adicional no capítulo 6.
18
Lenski RE, et al. 2003. The evolutionary origin of complex features. Nature 423, p. 139-144.
19
Por exemplo: Pitman SD. 2003. Computers and the theory or evolution.
http://www.detectingdesign.com. Acesso: 20 de março de 2005.
20
(a) Horgan J. 1995. From complexity to perplexity. Scientific American 272 (6), p. 104-109. (b) Lewin
R. 1992. Complexity: life at the edge of chaos. Nova York: Collier Books, Macmillan. (c) Oreskes N,
Shrader-Frechette K, Belitz K. 1994. Verification, validation, and confirmation of numerical models in
the earth sciences. Science 263, p. 641-646.
21
Futuyma, p. 681-684, 761.
22
Gould SJ. 1980. The panda’s thumb: more reflections in natural history. Nova York: Norton, p. 19-26.
23
Alguns evolucionistas generalizam e sugerem que tudo no mundo orgânico está no processo de evoluir.
Isso é pouco para servir de resposta ao problema da ausência de novos órgãos em evolução.
24
Ver o capítulo 3.
25
Para algumas ideias especulativas, ver: (a) Margulis L, Sagan D. 2002. Acquiring genomes: a theory of
the origins of species. Nova York: Basic Books, p. 165-172. (b) Williamson DI. 2003. The origins of
larvae, edição revisada. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers. (c) Williamson DI. 2001. Larval
transfer and the origins of larvae. Zoological Journal of the Linnean Society 131, p. 111-122. Essas
fontes sugerem que o ciclo complexo da vida das borboletas evoluiu através de alguns tipos de
minhocas e de borboletas que evoluíram independentemente, combinando depois seus genes por
hibridização, resultando num ciclo de vida lagarta-borboleta. Essa especulação não tem autenticidade
experimental e se encaixa na ciência livre. Além disso, não trata do problema sério da origem de toda a
nova atividade coordenada dos genes, especialmente a formação de muitos hormônios que
consideramos necessários para um bem-sucedido processo de conversão, passando de lagarta a
borboleta. Para mais interpretações tradicionais e perguntas, ver (d) Hall BK, Wake MH, editores. 1999.
The origin and evolution of larval forms. San Diego: Academic Press.
26
Darwin C. 1859 [1958]. The origin of species by means of natural selection or the preservation of
favoured races in the struggle for life. Nova York: Mentor Books, New American Library of World
Literature, p. 168-171.
27
Simpson GG. 1967. The meaning of evolution: a study of the history of life and of its significance for
man. Edição revisada. New Haven: Yale University Press, p. 168-175.
28
Dawkins, The blind watchmaker, p. 15-18, 77-87; Futuyma, p. 682-684.
29
Os evolucionistas às vezes propõem que detectores de várias cores teriam evoluído para realçar a
capacidade total de ver objetos, embora com cores diferentes, ressaltando assim uma “constância da
cor”. Não é isso que estamos considerando aqui. Nosso enfoque é a capacidade de distinguir entre
diferentes cores e reunir essa informação numa imagem significativa no cérebro. Para discussão
adicional, ver: (a) Goldsmith TH. 1991. The evolution of visual pigments and colour vision. In: Gouras
P, editor. The perception of colour. Boca Raton: CRC Press, p. 62-89. (b) Neumeyer C. 1991. Evolution
of colour vision. In: Cronley-Dillon JR, Gregory RL, editores. Evolution of the eye and visual system.
Boca Raton: CRC Press, p. 284-305.
30
Gregory RL, Ross HE, Moray N. 1964. The curious eye of Copilia. Nature 201, p. 1166-1168.
31
Alguns evolucionistas reconhecem que o olho evoluiu muitas vezes, e ao mesmo tempo sugerem que o
olho evoluiu dentro de grupos limitados. Ver: (a) Futuyma, p. 683; e (b) Salvini-Plawen LV, Mayr E.
1977. On the evolution of photoreceptors and eyes. Evolutionary Biology 10, p. 207-263. Seu exemplo
do olho de moluscos apresenta mudanças relativamente pequenas no desenvolvimento do olho, e pouco
explica a evolução do ocelo de um protista para o olho de uma águia.
32
Salvini-Plawen, Mayr [veja a nota 31].
33
Halder G, Callaerts P, Gehring WJ. 1995. Induction of ectopic eyes by targeted expression of the
eyeless gene in Drosophila. Science 267, p. 1788-1792.
34
Para uma versão simples de “Evo Devo” sob uma perspectiva evolutiva, ver: Carroll SB. 2005. Endless
forms most beautiful: the new science of Evo-Devo and the making of the animal kingdom. Nova York:
Norton.
35
(a) Clarkson ENK, Levi-Setti R. 1975. Trilobite eyes and the optics of Des Cartes and Huygens. Nature
254, p. 663-667. (b) Towe KM. 1973. Trilobite eyes: Calcified lenses in vivo. Science 179, p. 1007-
1009.
36
Levi-Setti R. 1993. Trilobites. 2a edição. Chicago: University of Chicago Press, p. 29.
37
Behe, p. 18-22.
38
Kolb H. 2003. How the retina works. American Scientist 91, p. 28-35.
39
Shapley R, et al. 1990. Computational theories of visual perception. In: Spillmann L, Werner JS,
editores. Visual perception: the neurophysiological foundations. San Diego: Academic Press, p. 417-
448.
40
Darwin C. 1859, 1985. The origin of species. Londres: Penguin Books, 219.
41
Nilsson D-E, Pelger S. 1994. A pessimistic estimate of the time required for an eye to evolve.
Proceedings of the Royal Society of London, B, 256, p. 53-58.
42
Duke-Elder S. 1958. The eye in evolution. Volume 1 de: Duke-Elder S, editor. System of
ophthalmology. St. Louis: C. V. Mosby Company, p. 143, 192, 591.
43
Baldwin JT. 1995. The argument from sufficient initial system organization as a continuing challenge to
the Darwinian rate and method of transitional evolution. Christian Scholar’s Review 24, p. 423-443.
44
Pettigrew JD. 1991. Evolution of binocular vision. In: Cronly-Dillon JR, Gregory RL, editores.
Evolution of the eye and visual system. Boca Raton: CRC Press, p. 271-283.
45
Dawkins R. 1994. The eye in a twinkling. Nature 368, p. 690-691.
46
Osorio D. 1994. Eye evolution: Darwin’s shudder stilled. Trends in Ecology & Evolution 9, p. 241-242.
47
http://www.geocities.com/evolvedthinking/evolution_of_the_eye.htm. Download da declaração em
2003, a qual aparecia no segundo parágrafo. Provavelmente, por uma boa razão, não aparecia mais na
página da web que ainda estava aberta em 2005.
48
Williams, GC. 1992. Natural selection: domains, levels, and challenges. Oxford: Oxford University
Press, p. 73.
49
Diamond, J. 1985. Voyage of the overloaded ark. Discover 6 (6), p. 82-92.
50
Futuyma, p. 123.
51
Thwaites WM. 1983. An answer to Dr. Geisler–from the perspective of biology. Creation/Evolution 13,
p. 13-20.
52
Dawkins, The blind watchmaker, p. 93.
53
Por exemplo, ver Duke-Elder, p. 147; Kolb [veja a nota 38].
54
Maximow AA, Bloom W. 1957. A textbook of histology. 7a edição. Filadélfia: W. B. Saunders, p. 566.
55
Por exemplo, Maynard Smith J. 1988. Did Darwin get it right? Essays on games, sex, and evolution.
Nova York: Chapman & Hall, p. 94.
56
Hawking S. 2001. The universe in a nutshell. Nova York: Bantam, p. 171.
57
Elucidação adicional em Ruse M. 2001. The evolution wars: a guide to the debates. New Brunswick:
Rutgers University Press, p. 93-96.
58
Darwin C. 1860. C. Darwin para Asa Gray. In: Darwin F, editor. 1888. The life and letters of Charles
Darwin, v. 2. Reimpresso em 2001. Honolulu: University Press of the Pacific, p. 90.
59
Polkinghorne J. 1996. Beyond science: the wider human context. Cambridge: Cambridge University
Press, p. 79.
60
Ruse, p. 197.
61
Brown A. 1999. The Darwin wars: the scientific battle for the soul of man. Londres: Touchstone, p.
153.
62
Eccles J. Citado em Horvitz LA. 2000. The quotable scientist. Nova York: McGraw-Hill, p. 68.
63
Penrose R. 1989. The emperor’s new mind: concerning computers, minds, and the laws of physics.
Oxford: Oxford University Press, p. 447, 448.
64
Com referência a uma tentativa recente e com reduzido impacto, ver: Ramachandran VS. 2004. A brief
tour of human consciousness: from impostor poodles to purple numbers. Nova York: Pi Press.
Líderes da ciência, ao falarem ex cathedra,
deveriam deixar de polarizar as mentes
dos alunos e novos cientistas criativos
com afirmações para as quais a fé
é a única evidência. 1
Hubert P. Yockey, biólogo molecular
Ignorando os fósseis
Existe outra tendência recente particularmente relacionada com o tempo.
Embora os fósseis nos forneçam as melhores pistas disponíveis a respeito da
vida passada sobre a Terra, é comum pesquisadores ignorarem evidências de
peso do registro fóssil quando elas não lhes parecem convenientes. Nem todos
estão de acordo com essa nova tendência, que, por sinal, tem sido alvo de muita
polêmica no meio científico. Enquanto um especialista afirma que “não cremos
que o tempo seja tão importante assim”, outro, mais cauteloso, argumenta que
falar em grandes períodos de tempo é um absurdo. 55 Essa nova tendência
poderá vir a ser mais uma dentre as muitas teorias fracassadas! Não sabemos que
caminho a ciência tomará, mas a tendência, por si só, é alarmante.
Essa nova abordagem permite que os evolucionistas expliquem problemas
como a explosão cambriana, pois, de acordo com o paradigma 56 que adotam, o
DNA lhes indica que os filos animais evoluíram uns dos outros em períodos
muito mais remotos. 57 O raciocínio é que, visto serem lentas as mudanças no
DNA e enormes as diferenças entre o DNA dos diversos filos animais, estes
devem ter evoluído muito tempo antes que seus fósseis aparecessem nas rochas.
Novamente, temos aí um campo de pesquisa que chega às raias de ciência
despojada de fatos.
Para determinar a velocidade das mudanças genéticas, faz-se uso do relógio
molecular, que frequentemente se pauta em supostos tempos geológicos para
avaliar os padrões de mudança. Infelizmente, verificou-se que esse relógio é
bastante imprevisível. 58 Há pesquisadores que mencionam o “extremo índice de
variação no relógio molecular” 59 e ressaltam que “os problemas relacionados
com o estabelecimento de pontos de calibragem precisos, a definição exata das
matrizes das filogenias e as estimativas precisas quanto à extensão das suas
ramificações continuam dificílimos”. 60 O respeitado paleontólogo James
Valentine, da Universidade da Califórnia, campus de Berkeley, ressalta que,
“infelizmente, os índices de evolução molecular não podem ser medidos como se
fossem regulados por um relógio, por várias razões: diferentes moléculas, bem
como partes distintas delas, evoluem com base em diferentes padrões de
mudança; moléculas pertencentes a uma mesma linhagem variam também em
relação a esses padrões de mudança, com o passar do tempo, e o mesmo ocorre
com moléculas homólogas de diferentes táxons”. 61
Apesar dessas limitações, há conjecturas de que a evolução de algumas das
formas básicas de animais possa ter ocorrido de meio a um bilhão de anos antes
da explosão cambriana, 62 embora não se tenha encontrado praticamente
nenhum registro fóssil relativo a esse imenso período de tempo. Trata-se de um
período com a mesma extensão, ou até o dobro, do tempo sugerido para a
evolução de quase todos os organismos desde a explosão cambriana até o
presente. Os paleontólogos, cuidadosos ao estudar os fósseis e analisar seu real
significado, são mais cautelosos em suas estimativas sobre quanto tempo, antes
do período cambriano, os animais teriam evoluído uns dos outros. Lembre-se de
que na base do Fanerozoico se encontram as camadas cambrianas, onde ocorre a
explosão cambriana e há uma abundância de diferentes espécies animais bem
preservadas, enquanto abaixo dele há quase completa ausência. Com o intuito de
explicar essa aparição repentina de espécies animais, os evolucionistas
mencionam fósseis raros e minúsculos bem como vestígios duvidosos de animais
encontrados no Pré-cambriano. No entanto, se a evolução dos filos animais
realmente tivesse ocorrido antes da explosão cambriana, teríamos que ter pelo
menos milhares de bons fósseis animais do Pré-cambriano que fossem
representativos de animais em processo evolutivo; mas, basicamente, nada foi
encontrado.
É deprimente observar que os dados fidedignos que temos à disposição sobre
a distribuição dos fósseis estejam sendo simplesmente ignorados por inúmeros
pesquisadores à medida que ganham espaço as novas tendências na classificação
evolutiva. O fato de muitos cientistas se mostrarem dispostos a seguir nessa
direção revela a facilidade com que a ciência pode ser conduzida por teorias e
não por fatos da natureza. Há mais de meio século, Richard Lull, afamado
paleontólogo e então diretor do mundialmente conhecido Peabody Museum, da
Universidade de Yale, aclamava os fósseis como “o tribunal de última instância
sempre que a doutrina da evolução for levada a juízo”. 63 É possível que tenha
sido mesmo, naquela época; mas agora que o registro fóssil está se mostrando
um problema sério para a evolução percebe-se uma tendência no sentido de
ignorá-lo. O tribunal de última instância para a evolução pode vir a ser
simplesmente uma aplicação duvidosa do suposto relógio molecular e a
incontestada pressuposição de que a evolução realmente ocorreu.
Os elos perdidos
Se vasculharmos as camadas das rochas, encontraremos muitas centenas de
fósseis de tartarugas; algumas enormes, com mais de três metros. Se
investigarmos abaixo da última tartaruga na camada de rocha mais inferior, não
encontraremos os elos evolutivos entre as tartarugas e o seu suposto ancestral
evolutivo, com aparência de lagarto. As tartarugas, na verdade, são uma espécie
diferente de animais, e surgem repentinamente. O mesmo pode ser dito sobre os
fósseis dos hostis répteis voadores, conhecidos como pterossauros, os fósseis de
morcegos e muitos outros grupos pertencentes à grande quantidade de filos de
animais que, subitamente, aparecem na explosão cambriana ( Figura 5.1 ). O
problema de ordem evolutiva relacionado com a explosão cambriana não se
resume no fato de que subitamente uma imensidade de filos de animais surgem
quase que ao mesmo tempo; o problema é mais amplo, pois abaixo da explosão
cambriana não encontramos fósseis das formas intermediárias a partir das quais
os filos de animais teriam que ter evoluído. Os outros importantes grupos de
organismos também tendem a surgir repentinamente no registro fóssil.
Novamente ressaltamos: se esses organismos tivessem evoluído de fato, teríamos
que encontrar os fósseis de todas as formas intermediárias abaixo deles, levando
em conta o lento processo evolutivo que teria dado origem à grande variedade de
filos.
Charles Darwin tinha consciência desse problema e honestamente o admitiu
em sua famosa obra A Origem das Espécies. Ele afirma: “Da mesma forma que
esse processo de extermínio ocorreu em escala gigantesca, o número de
variedades intermediárias, outrora existentes sobre a Terra, deve ter sido também
realmente imenso. Por que então as várias formações e camadas geológicas não
estão repletas desses elos intermediários? Certamente, a geologia não revela
nenhuma cadeia orgânica com uma sequência precisa de mudanças gradativas.
Esse fato representa, talvez, a mais óbvia e séria objeção que possa ser feita
contra a minha teoria.” 64 Em seguida, Darwin dedica muitas páginas tentando
explicar que os elos intermediários são inexistentes devido à grande imperfeição
do registro geológico. Ele ressalta como partes da coluna geológica estão
ausentes em muitos locais da Terra, e faz referência casual ao surpreendente fato
de que a camada logo abaixo dessas lacunas não apresenta os efeitos do tempo.
Com essa menção, Darwin inadvertidamente levanta um problema bastante
relevante relacionado com as longas eras necessárias para que ocorra o lento
processo evolutivo por ele mesmo proposto. É possível falar em lacunas na
coluna geológica ao se constatar que as partes ausentes, especialmente os fósseis
característicos, se encontram em outros locais da Terra. Além disso, Darwin
relata a respeito dos “muitos casos registrados em que uma formação é coberta
compativelmente, após um imenso intervalo de tempo, por uma outra formação
posterior, sem que a camada anterior sofra, nesse intervalo, qualquer
desgaste”. 65 Com o termo “compativelmente” Darwin quis dizer que a camada
logo abaixo da lacuna, supostamente muito mais velha, e a camada muito mais
recente logo acima dela encontram-se horizontalmente unidas uma com a outra.
Visto que a camada inferior é horizontal, temos aí uma evidência de que o
“imenso intervalo de tempo” sugerido por Darwin nunca ocorreu, já que não se
podem ver ali os efeitos destrutivos do tempo, como as erosões irregulares
previstas. Os geólogos chamam de desconformidades essas lacunas
significativas, para cuja existência as rochas não fornecem nenhuma ou pouca
evidência; e, caso exista uma leve erosão, chamam-nas de desconformidades. A
falta de “desgaste” nessas lacunas horizontais faz com que elas sejam de difícil
identificação, tornando-se necessário o estudo cuidadoso dos fósseis para
localizá-las. Trata-se de um verdadeiro desafio, pois não há nada nessas lacunas
que possa permitir sua representação. No entanto, a imensa quantidade delas e a
surpreendente horizontalidade de seus contatos levantam sérios questionamentos
a respeito da validade das longas eras geológicas, inclusive do complicado
processo de datação radiométrica empregado para determiná-las. 66
Adam Sedgwick, o velho professor de geologia de Darwin na Universidade
de Cambridge, não tinha problemas com as longas eras geológicas, apesar de ter
sérias dúvidas a respeito da evolução. Ele não permitiu que Darwin propagasse a
teoria de que a ausência de camadas, mesmo sem desgaste na camada inferior,
indicava enormes intervalos de tempo. Darwin tentou explicar essas camadas
identificando-as com regiões no fundo do mar, mas essa explicação não é
compatível com os fósseis e os tipos de rochas encontrados nessas lacunas. Em
um artigo crítico, publicado em The Spectator, Sedgwick, sem fazer uso de
muitas sutilezas, comenta que “não se pode fazer uma corda a partir de bolhas de
ar”, e, referindo-se especificamente às lacunas, indaga: “Onde será que podemos
encontrar uma prova da existência de enormes lapsos de tempo geológico que
possam explicar as mudanças? [...] Evidências no mundo físico revelam o
contrário. Para sustentar sua teoria sem fundamento, Darwin costumava apelar
para incontáveis intervalos de eras, os quais não apresentavam nenhum
monumento físico comensurável.” 67
Esse problema pode ser facilmente constatado no Grand Canyon ( Figura
5.2 , seta direita), visto que os períodos ordovicianos e silurianos, que cobrem
mais de 100 milhões de anos, não são encontrados ali; todavia, verificam-se
poucas evidências de erosão na camada inferior desse intervalo. Existem
inúmeras outras lacunas nas camadas do Grand Canyon, mas, como mostra a
ilustração, as camadas nessa região do registro geológico são extremamente
planas. O contraste da camada inferior horizontal nessas lacunas com o recorte
irregular do Grand Canyon por si só ilustra o enigma. O tempo produz muita
erosão irregular como a do Grand Canyon, mas não é possível ver erosão nessas
lacunas. 68 Com o decorrer do tempo, o desgaste da erosão é devastador. Com
base no índice médio de erosão nos continentes do nosso planeta, a previsão é de
que a superfície da Terra ficaria rebaixada em três quilômetros em 100 milhões
de anos, o que representa duas vezes a profundidade do Grand Canyon
inteiro! 69 O problema que Sedgwick apresentava em relação à falta de
evidência física para os longos períodos de tempo sugeridos para essas lacunas
permanece ainda sem solução. 70 Qualquer diminuição da escala padrão de
tempo geológico deixa menos tempo ainda para as improbabilidades da
evolução. Os dados encontrados nas lacunas geológicas apoiam fortemente o
modelo bíblico das origens.
Quase um século e meio depois, as preocupações de Darwin concernentes à
falta de fósseis intermediários estão ainda em pleno vigor. Já foi possível, desde
sua época, coletar inúmeros fósseis, e, à medida que subimos na escala
geológica, tipos importantes de fósseis surgem subitamente nas camadas, sem
dar indícios de que tivessem evoluído no decorrer do tempo a partir de diferentes
ancestrais. Alguns pesquisadores admitem o problema, como o conhecido
paleontólogo Robert Carroll, defensor da evolução. Esse pesquisador ressalta
que “a previsão seria de que os fósseis apresentassem uma progressão contínua
de formas com pequenas diferenças, ligando todas as espécies bem como todos
os principais grupos uns com os outros num espectro quase ininterrupto. Na
verdade, a maior parte dos fósseis bem preservados permite uma classificação
imediata num pequeno número de grupos básicos, semelhante ao que ocorre com
os seres vivos da atualidade. Referindo-se às características das várias espécies
de plantas que produzem flores, Carroll comenta que “em nenhum caso é
possível documentar a evolução gradual dessas características”. 71 Ao discutir a
relação entre paleontologia e teoria biológica, David Kitts, da Universidade de
Oklahoma, salienta que, “a despeito das animadoras promessas de que a
paleontologia forneceria os meios para “enxergar” a evolução, ela, ao contrário,
tem apresentado algumas dificuldades muito desagradáveis para os
evolucionistas, sendo a mais notória a presença de ‘lacunas’ no registro fóssil. A
evolução requer formas intermediárias entre as espécies, e a paleontologia não as
fornece”. 72 O paleontólogo T. S. Kemp, da Universidade de Oxford, confirma o
problema ao comentar que “o padrão de fóssil observado é invariavelmente
incompatível com o processo evolutivo gradualista. Somente em casos
extremamente raros é que se pode observar linhagens de formas intermediárias
com mudanças gradativas precisas capazes de associar ancestrais com seus
descendentes”. 73 O autor opta por uma série de outras possíveis explicações
para a evolução e o registro fóssil.
Alguns evolucionistas, como Stephen Gould, da Universidade Harvard,
chegam a sugerir que o processo da evolução ocorre por meio de pequenos
saltos, não deixando em seu rastro nada significativo no que diz respeito ao
registro fóssil. Trata-se do modelo do equilíbrio pontuado. Porém, essa teoria
não traz quase nenhuma contribuição para solucionar o problema com que a
evolução se depara ao investigar o registro fóssil, pois a total ausência de
intermediários é mais acentuada entre os grandes grupos de organismos, como os
filos animais, onde se esperaria encontrar o maior número de intermediários
evolutivos para servirem de ponte entre os grandes intervalos existentes entre
esses grandes grupos. E é justamente nesses espaços que as formas
intermediárias estão notoriamente ausentes; e o problema parece ser ainda mais
grave no reino vegetal. 74 Justamente onde se deveria encontrar grande
quantidade de pequenos saltos evolutivos, o registro se mostra praticamente,
para não dizer totalmente, desprovido de qualquer amostra. Apesar dessa
constatação, alguns evolucionistas, entre eles o porta-voz da Academia Nacional
de Ciências, nos Estados Unidos, alegam que muitos desses intervalos já foram
preenchidos, 75 o que não corresponde à verdade. Sendo fiéis aos fatos, não
podemos nos esquecer de que ter simplesmente encontrado um intermediário não
comprova a evolução, pois o achado poderia representar nada mais do que outra
variedade criada com traços que os evolucionistas interpretariam como forma
intermediária.
Muitos evolucionistas não parecem compreender o cerne do problema no
registro fóssil. Eles chamam a atenção para indícios isolados de possíveis partes
ou formas intermediárias. Mas esse não é o caminho para demonstrar que a
evolução ocorreu de fato. Até o momento, milhões de fósseis já foram
identificados, correspondendo a bem mais de 250 mil espécies diferentes.
Quanto mais fósseis são encontrados, mais óbvio nos parece que a falta de
intermediários seja um fato consumado. As poucas exceções existentes quase
não contribuem para solucionar o problema da evolução. Na verdade, muitos dos
supostos intermediários não passam daquilo que chamamos de mosaicos, ou
seja, formas que apresentam muitas características dos dois grupos para os quais
estariam servindo de ponte. No entanto, cada traço da espécie supostamente
intermediária, como uma pena ou tipo de tornozelo, se apresenta completamente
desenvolvido e não em estado intermediário.
Se a evolução tivesse realmente acontecido, num processo em que os
organismos tentassem evoluir por bilhões de anos, com os poucos sucessos e os
muitos fracassos previstos, teríamos que encontrar uma sólida continuidade de
intermediários, e não as poucas e questionáveis exceções. Essa sólida
continuidade teria que ser mais expressiva na coluna geológica logo abaixo de
onde surgem repentinamente os grandes grupos, como os da explosão cambriana
ou os mamíferos e pássaros modernos. Deveria haver muitos milhares de
intermediários, mas praticamente nenhum foi sugerido até o momento. 76
Charles Darwin estava, de fato, fazendo a pergunta correta, conforme discutimos
anteriormente, ao indagar “por que as diferentes formações geológicas e estratos
não estão repletos desses elos intermediários”. 77
Síntese
A discussão relacionada com a velocidade com que o passado transcorreu
tem dado margens a inúmeros questionamentos com profundas implicações não
somente para o debate sobre a existência de Deus, mas também para a maneira
como a ciência opera. Refletimos neste capítulo sobre uma imensa quantidade de
conclusões conflitantes a respeito do tempo. Observamos também como no meio
científico o catastrofismo, a princípio aceito, foi sepultado e recentemente
ressuscitado.
Faz pouca diferença apelar ou não para bilhões de anos a fim de explicar a
evolução. O fato é que o tempo geológico como um todo é totalmente
inadequado. Quando se acredita na criação, 78 temos então um Deus onipotente,
não limitado pelo tempo, que não necessita de muito tempo para criar. Vimos, no
entanto, que a evolução precisa de muito mais tempo do que realmente tem. Não
há tempo suficiente nem mesmo para a produção de uma única molécula de
proteína específica numa imensa sopa primordial primitiva, quanto mais para a
evolução de todas as várias formas de vida desde um micróbio até uma baleia.
Aparentemente, a ciência não está preocupada em descobrir Deus. A
tendência do pensamento científico atual é defender firmemente a evolução
naturalista. O descaso que a ciência mostra para com as implicações do registro
fóssil, seja em termos do breve período de tempo da coluna geológica, do
mistério da explosão cambriana ou da falta de intermediários entre os principais
tipos de fósseis, ilustra a facilidade com que a ciência ignora os dados. Será que
a ciência adota esse mesmo procedimento quando ignora as evidências para a
existência de Deus? Nos próximos capítulos investigaremos com cuidado alguns
traços peculiares da ciência.
Referências
1
H. P. Yockey. 1981. Self-organization origin of life scenarios and information theory. Journal of
Theoretical Biology 91, p. 13-31.
2
Thorarinsson S. 1964. Surtsey: the new island in the North Atlantic. Eysteinsson S, tradutor. Nova York:
Viking Press, p. 39.
3
Para uma discussão adicional, ver: (a) Gould SJ. 1970. Is uniformitarianism useful? In: Cloud P, editor.
Adventures in earth history. San Francisco: W. H. Freeman and Company, p. 51-53. (b) Hallam A.
1989. Great geological controversies. 2a edição. Oxford: Oxford University Press, p. 30-64. (c) Palmer
T. 1999. Controversy: catastrophism and evolution, the ongoing debate. Nova York: Kluwer Academic /
Plenum Publishers.
4
Hutton J. 1795. Theory of the earth: with proofs and illustrations, v. 2. Edinburgh: [sem editora].
Reimpresso em1959 por R. Engelmann (J. Cramer) e Wheldon & Wesley, p. 547.
5
Esta famosa afirmação é mencionada em muitas referências, entre elas: Cohn N. 1996. Noah’s flood: the
Genesis story in western thought. New Haven: Yale University Press, p. 102.
6
Hallam A. 1989. Great geological controversies. 2a edição. Oxford: Oxford University Press, p. 55.
7
Lyell KM, editor. 1881. Life, letters and journals of Sir Charles Lyell, v. 1. Londres: John Murray, p. 271
(14 de junho de 1830), p. 273 (20 de junho de 1830).
8
Cohn, p. 102.
9
Hutton, p. 551.
10
Ruse M. 2000. The evolution wars: a guide to the debates. New Brunswick: Rutgers University Press,
p. 34.
11
Palmer, p. ix.
12
Bailey E. 1963. Charles Lyell. Garden City: Doubleday, p. 191.
13
Bretz JH. 1923a. Glacial drainage on the Columbia Plateau. Geological Society of America Bulletin 34,
p. 573-608.
14
Bretz JH. 1923b. The Channeled Scablands of the Columbia Plateau. The Journal of Geology 31, p.
617-649.
15
Allen JE, Burns M, Sargent SC. 1986. Cataclysm on the Columbia: a layman’s guide to the features
produced by the catastrophic Bretz floods in the Pacific Northwest. Scenic trips to the Northwest’s
geologic past, nº 2. Portland: Timber, p. 44.
16
Bretz JH. 1978. Introduction. In: Baker VR, editor. 1981. Catastrophic flooding: the origin of the
Channeled Scabland. Benchmark Papers in Geology 55. Stroudsburg: Dowden, Hutchinson & Ross, p.
18-19.
17
Baker VR. 1981. Comentários do editor sobre os trabalhos 4, 5 e 6. In: Baker, p. 60.
18
Bretz JH, Smith HTU, Neff GE. 1956. Channeled scabland of Washington: new data and
interpretations. Bulletin of the Geological Society of America 67, p. 957-1049.
19
Para discussões recentes sobre o número de dilúvios envolvidos, ver: (a) Clague JJ, et al. 2003.
Paleomagnetic and tephra evidence for tens of Missoula floods in southern Washington. Geology 31, p.
247-250. (b) Shaw J, et al. 1999. The Channeled Scabland: back to Bretz? Geology 27, p. 605-608.
20
Bretz JH. 1969. The Lake Missoula floods and the Channeled Scabland. Journal of Geology 77, p. 505-
543.
21
Jepsen GL. 1964. Riddles of the terrible lizards. American Scientist 52, p. 227-246.
22
Alvarez L, et al. 1980. Extraterrestrial causes for the Cretaceous-Tertiary extinction: experimental
results and theoretical interpretations. Science 208, p. 1095-1108.
23
(a) Dobb E. 2002. What wiped out the dinosaurs? Discover 23 (6), p. 36-43. (b) Hallam A. 1989. Great
geological controversies. 2a edição. Oxford: Oxford University Press, p. 184-215.
24
Kauffman E. 1983. Citado por Lewin R: Extinctions and the history of life. Science 221, p. 935-937.
25
Nummendal D. 1982. Clastics. Geotimes 27 (2), p. 22-23.
26
Brett CE. 2000. A slice of the “layer cake”: the paradox of “frosting continuity”. Palaios 15, p. 495-498.
27
(a) Clark HW. 1946. The new diluvialism. Angwin: Science Publications. (b) Roth AA. 2003. Genesis
and the geologic column. Dialogue 15 (1), p. 9-12, 18.
28
Para discussão adicional e referências, ver: Numbers RL. 1992. The creationists. Nova York: Alfred A.
Knopf, p. 79-81, 123-219.
29
Ver: (a) Chadwick AV. 1987. Of dinosaurs and men. Origins 14, p. 33-40. (b) Kuban GJ. 1989.
Retracking those incredible man tracks. National Center for Science Education Reports 9 (4), 4 páginas,
suplemento especial não paginado. (c) Neufeld B. 1975. Dinosaur tracks and giant men. Origins 2, p.
64-76. (d) Numbers, p. 265-267.
30
Wald G. 1954. The origin of life. Scientific American 191 (2), p. 45-53.
31
du Noüy L. 1947. Human destiny. Nova York: Longmans, Green, p. 33-35.
32
Meyer SC. 1998. The explanatory power of design: DNA and the origin of information. In: Dembski
WA, editor. Mere creation: science, faith & intelligent design. Downers Grove: InterVarsity, p. 113-147.
33
Yockey HP. 1992. Information theory and molecular biology. Cambridge: Cambridge University Press,
p. 248-255.
34
Este assunto foi discutido no capítulo 3.
35
Trata-se de um número bem aceito. Por exemplo: Eigen M. 1971. Self-organization of matter and the
evolution of biological macromolecules. Die Naturwissenschaften 58, p. 465-523.
36
Morowitz HJ. 1992. Beginnings of cellular life: metabolism recapitulates biogenesis. New Haven: Yale
University Press, p. 31.
37
(a) Hayes JM. 1996. The earliest memories of life on earth. Nature 384, p. 21-22. (b) Mojzsis SJ,
Harrison TM. 2000. Vestiges of a beginning: clues to the emergent biosphere recorded in the oldest
sedimentary rocks. GSA Today 10 (4), p. 1-6.
38
Ver o capítulo 3.
39
Para alguns comentários críticos gerais e referências, ver: (a) Copley J. 2003. Proof of life. New
Scientist 177, p. 28-31. (b) Kerr RA. 2002. Reversals reveal pitfalls in spotting ancient and E.T. life.
Science 296, p. 1384-1385. (c) Simpson S. 2003. Questioning the oldest signs of life. Scientific
American 288 (4), p. 70-77.
40
Copley, p. 28-31.
41
Hofmann HJ. 1992. Proterozoic and selected Cambrian megascopic dubiofossils and pseudofossils. In:
Schopf WJ, Klein C, editores. The Proterozoic biosphere: a multidisciplinary study. Cambridge:
Cambridge University Press, p. 1035-1053
42
Por exemplo: (a) Bowring SA, Erwin DH. 1998. A new look at evolutionary rates in deep time: uniting
paleontology and high-precision geochronology. GSA Today 8 (9), p. 1-8. (b) Bowring SA, et al. 1993.
Calibrating rates of early Cambrian evolution. Science 261, p. 1293-1298. (c) Zimmer C. 1999. Fossils
give glimpse of old mother lamprey. Science 286, p. 1064-1065.
43
Conforme citado em Nash M. 1995. When life exploded. Time 146 (23), p. 66-74.
44
Meyer SC, Ross M, Nelson P, Chien P. 2003. The Cambrian explosion: biology’s Big Bang. In:
Campbell JA, Meyer SC, editores. Darwinism, design, and public education. East Lansing: Michigan
State University Press, p. 323-402. Ver também Apêndice C, Stratigraphic first appearance of phyla
body plans, p. 593-598; Apêndice D, Stratigraphic first appearance of phyla-subphyla body plans, p.
599-604.
45
(a) Valentine JW. 2004. On the origin of phyla. Chicago: The University of Chicago Press. (b) Valentine
JW. 2002. Prelude to the Cambrian Explosion. Annual Review of Earth and Planetary Sciences 30, p.
285-306.
46
Benton MJ. 2000. Vertebrate paleontology. 2a edição. Oxford: Blackwell, p. 327.
47
Stanley SM. 1981. The new evolutionary timetable: fossils, genes, and the origin of species. Nova
York: Basic Books, p. 93.
48
Para um estudo adicional, seria conveniente consultar as nítidas implicações matemáticas de Foote M.
1996. On the probability of ancestors in the fossil record. Paleobiology 22 (2), p. 141-151.
49
Behe MJ. 2007. The edge of evolution: the search for the limits of Darwinism. Nova York: Free Press,
p. 44-63.
50
Padian K. 2000. What the media don’t tell you about evolution. Scientific American 282 (2), p. 102-
103.
51
A discussão sobre a evolução dos pássaros será feita no capítulo 6.
52
Cowen R. 2000. History of life. 3a edição. Malden: Blackwell Science, Figura 3.9.
53
Benton, p. 32; Cowen, p. 50.
54
Gee H. 1999. In search of deep time: beyond the fossil record to a new history of life. Nova York: Free
Press, p. 145.
55
Conforme citado em DiSilvestro RL. 1997. In quest of the origin of birds. BioScience 47, p. 481-485.
56
O conceito de paradigmas será discutido amplamente no capítulo 6.
57
(a) Fortey RA, Briggs DEG, Wills MA. 1996. The Cambrian evolutionary “explosion”: decoupling
cladogenesis from morphological disparity. Biological Journal of the Linnean Society 57, p. 13-33. (b)
Smith AB, Peterson KJ. 2002. Dating the time of origin of major clades: molecular clocks and the fossil
record. Annual Review of Earth and Planetary Sciences 30, p. 65-88. (c) Valentine JW. 2002. Prelude to
the Cambrian Explosion. Annual Review of Earth and Planetary Science 30, p. 285-306.
58
(a) Ayala FJ. 1997. Vagaries of the molecular clock. Proceedings of the National Academy of Sciences,
USA 94, p. 7776-7783. (b) Ayala FJ. 1986. On the virtues and pitfalls of the molecular evolutionary
clock. Journal of Heredity 77, p. 226-235. (c) Smith AB, Peterson KJ. 2002. Dating the time of origin
of major clades: molecular clocks and the fossil record. Annual Review of Earth and Planetary Sciences
30, p. 65-88.
59
Vawter L, Brown WM. 1986. Nuclear and mitochondrial DNA comparisons reveal extreme rate
variation in the molecular clock. Science 234, p. 194-196.
60
Smith AB, Peterson KJ. 2002. Dating the time of origin of major clades: molecular clocks and the fossil
record. Annual Review of Earth and Planetary Sciences 30, p. 65-88.
61
Valentine JW. 2002. Prelude to the Cambrian Explosion. Annual Review of Earth and Planetary
Sciences 30, p. 285-306.
62
(a) Valentine [veja a nota 45]. (b) Wang DY-C, Kumar S, Hedges SB. 1999. Divergence time estimates
for early history of animal phyla and the origin of plants, animals and fungi. Proceedings of the Royal
Society of London, B, 226 (1415), p. 163-171. (c) Wray GA, Levinton JS, Shapiro LH. 1996.
Molecular evidence for deep Precambrian divergences among metazoan phyla. Science 274, p. 568-
573.
63
Lull RS. 1931, 1935. Fossils: what they tell us of plants and animals of the past. Nova York: The
University Society, p. 3.
64
Darwin C. 1859. On the origin of species by means of natural selection, or the preservation of favoured
races in the struggle for life. Londres: John Murray. In: Burrow JW, editor. Reimpressão de 1968. Nova
York: Penguin, p. 291-292.
65
Ibid., p. 298.
66
Para uma avaliação bem embasada, ver: Giem PAL. 1997. Scientific theology. Riverside: La Sierra
University Press, p. 111-190. Também: www.scientifictheology.com.
67
Artigo anônimo indiscutivelmente atribuído a Adam Sedgwick; Darwin referia-se a Sedgwick como o
autor em suas correspondências. 1860. Objections to Mr. Darwin’s theory of the origin of species. The
Spectator, 7 de abril de 1860, p. 334-335.
68
(a) Roth AA. 2003. Implications of paraconformities. Geoscience Reports nº 36, p. 1-5. (b) Roth AA.
1998. Origins: linking science and Scripture. Hagerstown: Review and Herald, p. 222-229, 262-266.
[Este livro foi publicado em português em 2003 pela Casa Publicadora Brasileira.] (c) Roth AA. 1988.
Those gaps in the sedimentary layers. Origins 15, p. 75-92.
69
A América do Norte vem sofrendo um processo de erosão a um índice de 61 milímetros a cada 1.000
anos. Este índice parece corresponder aproximadamente à média de erosão nos demais continentes. Ver
Judson S, Ritter DF. 1964. Rates of regional denudation in the United States. Journal of Geophysical
Research 69, p. 3395-3401. Para algumas outras estimativas, ver McLennan SM. 1993. Weathering and
global denudation. Journal of Geology 101, p. 295-303. Para mais referências, ver Roth, Origins, p.
263-266, 271-273. Com esse índice, prevê-se uma erosão de 6,1 quilômetros em 100 milhões de anos.
Estima-se que as práticas modernas de agricultura tenham duplicado o índice de erosão, de maneira que
a erosão prevista nos últimos 100 milhões de anos, sem a agricultura, seria de aproximadamente 3
quilômetros.
70
Para uma tentativa de solução, que se enquadra apenas em um caso particular, ver Newell ND. 1967.
Paraconformities. In: Teichert C, Yochelson EL, editores. Essays in paleontology & stratigraphy.
Department of Geology, University of Kansas Special Publication 2, p. 349-367.
71
Carroll RL. 1997. Patterns and processes of vertebrate evolution. Cambridge: Cambridge University
Press, p. 8, 9.
72
Kitts DB. 1974. Paleontology and evolutionary theory. Evolution 28, p. 458-472.
73
Kemp TS. 1999. Fossils and evolution. Oxford: Oxford University Press, p. 16.
74
Simpson GG. 1967. The meaning of evolution: a study of the history of life and its significance for
man. Edição revisada. New Haven: Yale University Press, p. 232-233.
75
(a) Futuyma DJ. 1998. Evolutionary biology. 3a edição. Sunderland: Sinauer Associates, p. 761. (b)
National Academy of Sciences. 1998. Teaching about evolution and the nature of science. Washington,
DC: National Academy Press, versão da internet, capítulo 5.
76
Exemplo disso é um recente artigo (Prothero DR. 2005. The fossils say yes. Natural History 114 [9], p.
52-56) que, apesar de afirmar que o registro fóssil não representa mais um empecilho à evolução,
apresenta uma lista de apenas uns poucos exemplos de supostos intermediários, alguns dos quais de
validade duvidosa, e nem sequer chega a mencionar o problema da explosão cambriana.
77
Darwin C, On the origin of species, p. 292.
78
Apoio a concepção de um universo antigo, de uma Terra antiga e de uma variedade de vida recente.
Para uma discussão mais elaborada, ver meu livro Origins [veja a nota 68].
Quase todos podem fazer ciência;
quase ninguém consegue fazer boa ciência. 1
L. L. Larison Cudmore, biólogo
Paradigmas
Meu professor de geologia física discutia o impressionante encaixe do tipo
“jogo de quebra-cabeça” entre as costas leste e oeste do Oceano Atlântico.
Comentava que, décadas antes, um homem chamado Wegener havia sugerido
que muito tempo atrás a Europa e a África se localizavam junto às Américas do
Norte e do Sul e que não havia o Oceano Atlântico entre elas. De lá para cá, um
enorme supercontinente se dividiu em continentes menores, criando entre eles o
Oceano Atlântico. Meu professor também mencionou que, embora a ideia fosse
interessante, ninguém mais lhe prestara muita atenção. O que ele não percebeu
foi que, seis anos mais tarde, a comunidade geológica faria uma reviravolta
completa, indo da rejeição quase unânime à aceitação quase total da ideia de
Wegener.
A ideia de que os continentes se moviam foi revolucionária e afetou muitas
interpretações geológicas, especialmente conceitos acerca de como os
continentes, montanhas e oceanos do mundo se haviam formado. Todos os livros
didáticos tiveram de ser reescritos. Conviver com essa grande mudança de
pensamento foi, ao mesmo tempo, emocionante e solene. Foi emocionante
porque se apresentaram muitas interpretações novas e porque Wegener, que
havia sido tão criticado, especialmente por geólogos americanos, 2 no fim das
contas tinha razão. Infelizmente, ele morreu muito antes de suas ideias serem
defendidas. A mudança foi solene porque deixou muitos de nós perguntando
quantas ideias ridicularizadas num determinado momento se tornariam um
dogma aceito. A mudança para a crença de que os continentes se moviam foi
dramática e grave. O ridículo e a sátira entravam frequentemente no debate.
Antes da aceitação, não faria parte da comunidade geológica quem acreditasse
que os continentes se movem. Depois, crer que eles não deslizaram pela
superfície da Terra faria da pessoa um leigo da geologia. Os fatores sociológicos
parecem ter preponderado. O intrigante era que grupos tão grandes de cientistas
tinham tanta certeza de que os continentes não se moviam, e então logo depois
estavam certos de que se moveram. Esse fato sugere que os cientistas tendem a
agir como grupos unificados que são leais uns aos outros ou a uma ideia, em vez
de agir como investigadores independentes. Não são apenas os cientistas que
fazem isso; também vemos essa tendência em muitas áreas, como o
nacionalismo, a política e a religião. Isso pode ter profundas implicações ao
tentarmos interpretar a ciência. Seria a ciência uma progressão decisiva rumo à
verdade, como alguns cientistas tendem a crer que seja, ou fica à mercê do
comportamento gregário de cientistas, que passam de uma ideia para outra?
Eu assistia a uma conferência da Associação Internacional de
Sedimentologistas, na qual se fazia todo tipo de apresentações técnicas acerca de
como identificar e interpretar estruturas e várias mudanças que se produziram ao
longo do tempo nos sedimentos geológicos. A apresentação inquestionavelmente
mais importante da conferência não foi sobre pormenores do modo como os
sedimentos se comportam, mas sobre como se comportam os próprios
sedimentologistas (aqueles que estudam os sedimentos). Sob o título de
“Fashions and Models in Sedimentology: A Personal Perspective” 3 [Modismos
e Modelos na Sedimentologia: Uma Perspectiva Pessoal], o presidente da
associação se dirigiu aos cientistas, mostrando como eles tendem a passar de
uma interpretação na moda para outra. Ao considerar interpretações do passado
acerca de sedimentos, ele mostrou como, por alguns anos, uma ideia predomina,
para depois de algum tempo outra atrair os holofotes, até ser substituída por
outra. Ele também identificou aquilo que ajuda uma ideia a se tornar popular.
Especialmente importantes para conseguir reconhecimento são os aspectos que
têm que ver com o momento certo, a simplicidade e a publicidade. É gratificante
ver que alguns cientistas de vanguarda reconhecem o fato de que outros fatores
podem conduzir o processo científico, além daquela alegada busca
despreconceituosa pela verdade. A aceitação popular de uma ideia pode refletir
um comportamento, em vez de ser baseada numa evidência inquestionável.
Em 1962, Thomas Kuhn publicou um livro considerado por muitos eruditos
como a análise mais influente do comportamento dos cientistas: The Structure of
Scientific Revolutions 4 [A Estrutura das Revoluções Científicas]. Nessa obra,
ele desafia a “percepção imaculada” da ciência como um avanço resoluto rumo à
verdade. Em vez disso, Kuhn propõe que a ciência é governada mais pelo
comportamento social dos cientistas do que pelos fatos da ciência. Como era de
se esperar, ele foi criticado sob muitas perspectivas, e alguns cientistas não se
mostraram nada impressionados. Vários filósofos, incluindo o filósofo húngaro
da ciência Imre Lakatos, saíram em missão de resgate da ciência, propondo um
cenário menos radical em que as ideias científicas mudam, porém mais com base
numa correção racional do que pelo comportamento social. 5
Kuhn indicou que, normalmente, os cientistas procedem às suas
investigações enquanto elas se encaixam nas conclusões sob a influência de
conceitos amplos, que ele chama de paradigmas. Os paradigmas são definidos
como conceitos “que por algum tempo apresentam problemas e soluções
modelos”. 6 Embora os paradigmas possam ser verdadeiros ou falsos, os
cientistas os aceitam, pelo menos por algum tempo, como verdadeiros. Alguns
exemplos seriam a evolução ou a ideia de que os continentes se movem. Antes, a
ideia amplamente aceita de que os continentes não se movem também seria um
paradigma. Como os paradigmas são aceitos como verdadeiros, as explicações
que não se encaixam no paradigma são consideradas falsas, ou dados contrários
são interpretados como anômalos. Pessoas que propõem ideias fora do
paradigma também são inaceitáveis. Uma atitude tão fechada tende a restringir a
inovação e ajuda a perpetuar a vida do paradigma.
Encaixar dados sob um paradigma aceito é o que Kuhn chama de ciência
normal. Ocasionalmente, ocorre uma mudança no paradigma, e isso é o que se
chama de revolução científica. A mudança da crença em que os continentes não
se movem para a crença contrária foi uma revolução científica. Kuhn
caracterizou a revolução científica como uma “experiência de conversão”, 7 uma
expressão que não lhe conquistou a simpatia de uma comunidade científica que
vê a objetividade e a razão como suas marcas registradas. A transformação de
um paradigma em outro é geralmente difícil e pode representar uma mudança
tanto para a verdade quanto para o erro. As ideias de Kuhn são, provavelmente,
extremas e tendem a minimizar as realizações da ciência. Por outro lado, com
base naquilo que aprendemos da história da ciência, seu conceito de paradigma é
uma análise sensível do comportamento dos cientistas.
Às vezes, uma mudança de paradigma pode retroceder a um paradigma já
rejeitado. Um exemplo mencionado antes é a ideia de que a vida pode surgir
espontaneamente, por si. Essa ideia foi geralmente aceita por longo tempo e
depois rejeitada como resultado do trabalho de Louis Pasteur, e agora foi
novamente aceita como parte do cenário evolutivo naturalista. 8 O mesmo se
pode dizer quanto ao papel das grandes catástrofes na história terrestre
(catastrofismo). Essa ideia foi aceita, rejeitada e novamente aceita. 9 Qualquer
avaliação da ciência precisa levar em consideração a influência dos paradigmas
dominantes sobre as conclusões a que chega.
Lições do Archaeoraptor
No dia 15 de outubro de 1999, a National Geographic Society convocou uma
importante entrevista coletiva no seu Salão do Explorador, em Washington, DC.
O centro da proclamação era a exibição de uma nova descoberta de fóssil, com o
nome de Archaeoraptor. A descoberta seria um “elo perdido” entre dinossauros e
aves. O fóssil tinha o corpo de ave, mas a cauda tinha, definidamente, a
aparência daquela de um dinossauro. Alguns dos cientistas presentes, que
haviam estudado o fóssil, comentaram: “Estamos contemplando o primeiro
dinossauro capaz de voar. [...] É nada menos que impressionante.” “Até que
enfim podemos dizer que alguns dinossauros sobrevivem; nós os chamamos de
aves.” 45 A mídia ficou devidamente impressionada e reagiu com outra onda de
“dinomania”. O anúncio precedeu a publicação da edição de novembro da
revista National Geographic, que trouxe a reportagem sobre esse achado fóssil
com o título “Penas para o T. rex? Novos fósseis semelhantes a aves são os elos
perdidos na evolução do dinossauro.” Esse artigo, 46 que ilustra um modelo
voador do Archaeoraptor e um jovem dinossauro T. rex com penugem, trazia a
declaração de que “podemos agora dizer que as aves são terópodes
[dinossauros], com a mesma confiança com que dizemos que os humanos são
mamíferos. [...] Tudo, desde lancheiras até exposições em museus, mudará para
refletir essa revelação.” O Archaeoraptor é caracterizado como “um elo perdido
entre dinossauros terrestres e aves que podiam mesmo voar”. Além disso, “essa
mistura de características avançadas e primitivas é exatamente o que os
cientistas esperariam encontrar em dinossauros na sua tentativa de voar”. Era
justamente desse tipo de descoberta que o grupo dos paleontologistas precisava
para defender sua ideia de que as aves evoluíram a partir dos dinossauros.
A euforia que acompanhou esse solene anúncio não durou muito tempo.
Levou apenas dias para que alguns cientistas questionassem a autenticidade do
fóssil. Os ornitólogos do BAND ficaram especialmente desconfiados. Storrs
Olson, numa carta aberta a Peter Raven, secretário da Comissão de Pesquisa e
Exploração na National Geographic Society, comentou que “a National
Geographic alcançou o ponto mais baixo, por ter-se engajado num jornalismo ao
estilo tabloide, sensacionalista, sem comprovação”. Também apontou que o bebê
T. rex “coberto de penas [...] é simplesmente imaginário e não tem espaço fora da
ficção científica”. Além disso, “a verdade e uma cuidadosa ponderação científica
das evidências estão entre as primeiras vítimas” do apoio prestado à origem
terópode das aves, “o que agora rapidamente se transforma numa das maiores
fraudes científicas de nosso tempo”. 47
O que acontece é que o Archaeoraptor é uma composição fóssil que consiste
de muitas partes cuidadosamente coladas juntas. A cauda de um dinossauro foi
acrescentada ao corpo de uma ave (ver a Figura 6.3 ). Ademais, as pernas são
apenas uma única perna direita, tendo sido usada como a outra perna a sua parte
correspondente encontrada na contraplaca de rocha. Hoje, o Archaeoraptor é
conhecido como “A Ave de Piltdown”, assim chamado como referência à famosa
farsa de Piltdown, em que no início do último século uma mandíbula semelhante
à de macaco foi rusticamente encaixada num crânio humano. Durante uns
quarenta anos, antes de a fraude ser descoberta, a montagem ocupou respeitada
posição como elo perdido na evolução da humanidade. A história do
Archaeoraptor é igualmente lamentável. Originou-se nos famosos estratos de
fósseis de Liaoning, na China, com partes extras coladas para realçar seu valor.
Por ser ilegal tirar esses fósseis do país, ele foi para os Estados Unidos
camuflado, e acabou na exposição anual, mundialmente renomada, de gemas,
minerais e fósseis de Tucson, no Arizona.
Stephen Czerkas, diretor de um pequeno museu em Blanding, Utah, ficou
estupefato quando viu o fóssil e percebeu imediatamente sua importância como
intermediário entre dinossauros e aves. Pagou o preço solicitado de oitenta mil
dólares e, após retornar a Blanding, procurou engajar o renomado Philip J.
Currie, do Museu Real Tyrell de Paleontologia em Alberta, Canadá, em seu
estudo. Currie entrou em contato com os líderes da National Geographic, que
frequentemente publicam sobre evolução, 48 e eles indicaram que apoiariam o
projeto. Também impuseram segredo absoluto quanto ao estudo, a fim de realçar
a eficácia de um anúncio público explosivo sobre esse notável elo perdido. Xing
Xu, do Instituto de Paleontologia dos Vertebrados, de Pequim, e Timothy Rowe,
da Universidade do Texas, além de outros, foram acrescentados à equipe do
estudo. Czerkas, Currie e Xu têm sido fervorosos defensores da visão
paleontológica de que as aves evoluíram dos dinossauros.
Concordaram em que o espécime contrabandeado retornaria para a China.
Estudos com raios X revelaram que a amostra da placa do fóssil consistia de 88
partes separadas. 49 Alguns dos investigadores também notaram que os ossos da
cauda do dinossauro não estavam adequadamente ligados ao corpo com
aparência de ave, e que as duas pernas eram a justaposição das duas metades da
placa de rocha que cobriam uma perna só. É possível que os pormenores daquilo
que aconteceu durante o estudo jamais se tornem conhecidos. Várias bandeiras
vermelhas foram acionadas, mas o projeto não foi detonado. Embora o fracasso
tenha sido atribuído em parte à falta de comunicação, Louis M. Simons, um
repórter investigativo veterano solicitado a examinar o assunto, encontrou muitas
discrepâncias enquanto entrevistava os participantes. Ele notou que “poucos
aceitam a culpa; todos acusam algum outro”. 50 A National Geographic gostaria
de ver publicações quase simultâneas dos detalhes do Archaeoraptor num órgão
técnico, mas nenhum se apresentava. Tanto a revista Nature quanto a Science se
recusaram a publicar um relatório técnico que admitia a natureza composta do
espécime, mas, ao mesmo tempo, o considerava um tipo de organismo.
Nesse meio tempo, a National Geographic, diante do prazo final para sua
enorme tarefa de publicação, foi em frente e publicou a infame edição de
novembro sem um relatório de apoio técnico, e também realizou seu
extraordinário anúncio público. Persistiram os comentários de que o fóssil era
uma fraude. Xing Xu, ao retornar à China, pôde encontrar a contraplaca
correspondente da cauda do Archaeoraptor. Combinava perfeitamente, e foi
ligada ao corpo de um dinossauro! Informou, pesaroso, aos seus colegas nos
Estados Unidos: “Temos de admitir que o Archaeoraptor é um espécime
falsificado.” 51 Embora alguns dos que estudaram o espécime não tenham
aceitado a princípio seu relatório, agora todos parecem concordar que se trata de
uma fraude. O constrangimento foi de grande interesse para a imprensa
internacional. A parte de ave do Archaeoraptor tem sido reestudada junto com
um espécime similar, e recebeu um nome científico diferente daquele que lhe foi
dado pela National Geographic. Agora se chama Yanornis martini, e aqueles que
a descrevem propõem que as pernas, mas não a cauda do Archaeoraptor,
pertencem a essa nova espécie. 52 Os ornitólogos do BAND venceram esse
“assalto”, mas os paleontologistas, que têm a mídia ao seu lado, demonstram
grande dose de persistência. Também foi expressa a preocupação quanto ao fato
de “os cientistas terem medo demais de revelar seus temores aos seus
patrocinadores da mídia”. 53 A mídia continua providenciando penas para o T.
rex, embora não se haja encontrado pena nenhuma em fósseis do T. rex. Keith
Thompson, professor e diretor do Museu da Universidade de Oxford, resume a
argumentação usada para fornecer penas ao T. rex, dando o placar final de
“Penas 3 X Lógica 0”. 54
Acontece que a teoria da evolução ainda não tem um modelo autenticado
para a origem de penas, voo ou aves, e a batalha entre paleontologistas e
ornitólogos do BAND continua, enquanto as teorias, e não os fatos, conduzem a
ciência. Parece que não foram aprendidas lições de cautela. Desde o desastre do
Archaeoraptor, a National Geographic Society e o museu de Stephen Czerkas,
em Utah, têm publicado livros ilustrando especialmente dinossauros com
penas! 55 Infelizmente, a evolução das aves não é um caso isolado. No livro
Icons of Evolution: Science or Myth? [Ícones da Evolução: Ciência ou Mito?], o
biólogo Jonathan Wells documenta uma variedade de outros exemplos. 56
A sociologia da ciência
Durante a Segunda Guerra Mundial, quando o governo dos Estados Unidos
criou o Projeto Manhattan, alguns dos melhores cientistas do mundo se
envolveram na produção da primeira bomba atômica. Esse é um exemplo de um
governo influenciando fortemente a direção da pesquisa científica. Sabe-se há
muito tempo que fatores externos, como a opinião pública e o apoio
financeiro, 73 afetam a investigação científica. Apesar disso, a prática da ciência
tem alegado ser objetiva e racional, e assim tem geralmente sido considerada. 74
Infelizmente, com demasiada frequência, esse não tem sido o caso.
A ciência teve seu apogeu após a Segunda Guerra Mundial, quando o
sucesso da bomba atômica e o lançamento do satélite russo Sputnik, de 1957,
reforçaram grandemente o respeito para com a ciência. Recursos para pesquisas
e projetos científicos jorravam para dentro das universidades num ritmo sem
precedentes, e não era difícil encontrar dinheiro para projetos de pesquisa
científica. Pessoalmente, recebi várias subvenções do governo para pesquisas e
trabalhei com vários projetos científicos financiados pelo governo.
A ciência ingressou em tempos mais difíceis de lá para cá. Seu valor para a
sociedade não mais é entendido como tão necessário, e a confiança em sua
objetividade e integridade está sendo desafiada. Vários sociólogos têm liderado
uma avaliação da ciência. Isso tem feito com que alguns cientistas se perguntem
se os sociólogos não deveriam cuidar da sua própria área. Mas os sociólogos
alegam que a sociologia da ciência é a sua área. Essa é uma questão sensível que
gera sua quota de controvérsia e disputa. Infelizmente, não é difícil melindrar a
autoestima de uma comunidade científica muito bem-sucedida, que parece ter
alguma dificuldade para se lembrar de todos os erros que já promulgou no
passado. Por outro lado, os sociólogos parecem se esquecer de que a ciência por
vezes lida com fatos objetivos simples, e estes não são facilmente sujeitos a
influências sociológicas.
Quando começaram a florescer os estudos sobre a sociologia da ciência, o
sociólogo Bernard Barber publicou um artigo sobre o assunto na revista
Science. 75 Com o título de “Resistance by Scientists to Scientific Discovery”
[Resistência dos Cientistas à Descoberta Científica], ele relacionava fatores
externos que podem afetar as conclusões da ciência. Alguns incluídos são: (1)
interpretações previamente aceitas; (2) conceitos metodológicos, como ser
excessivamente parcial ou excessivamente hostil à matemática; (3) a religião do
cientista tem influenciado a ciência de várias maneiras; (4) situação profissional;
(5) especialização profissional; (6) sociedades, grupos e “escolas de
pensamento”. São abundantes os exemplos dessas várias situações na literatura
sociológica e histórica. 76 Essas ideias nem sempre são bem-recebidas pelos
cientistas, já que desafiam a acalentada imagem da ciência como estando livre de
influências externas.
O caso lamentável do monge agostiniano Gregor Mendel (1822-1884), que
descobriu os princípios básicos da hereditariedade ao cultivar ervilhas, ilustra
bem a influência dos fatores sociológicos na ciência. Mendel publicou suas
épicas descobertas numa revista da sociedade de ciência natural de Brunn. Ao
contrário do que às vezes é relatado, essa revista circulava amplamente pela
Europa; mas, apesar dos dados impressionantes de Mendel, ele foi
completamente ignorado pelas autoridades na sua área. 77 Não foi senão anos
após sua morte que vários biólogos redescobriram e confirmaram suas
descobertas sobre reprodução. Por que foi ele ignorado? Essa é uma pergunta
intrigante para a qual não temos boas respostas, mas há várias sugestões que
refletem influências sociológicas na ciência. O fato de ele ser um monge
desconhecido, isolado, e não membro de uma comunidade científica regular, foi
sem dúvida um fator significativo. Sua abordagem nova, de misturar botânica
com matemática, como o estudo exigia, não foi compreendida nem apreciada
pela maioria dos cientistas. Havia outras ideias concorrentes sobre fatores
hereditários, e era o momento errado para que suas ideias revolucionárias fossem
aceitas. Felizmente, a ciência avançou por cima dessas barreiras e agora Mendel
é uma das pessoas mais importantes na história da ciência.
Síntese
A questão do paradigma na ciência e em outros estudos é indício da forte
influência de ideias aceitas. Isso nos deve deixar em guarda e estimular-nos a
cavar mais fundo, em vez de simplesmente seguir “o clima da opinião”
predominante.
A longa pesquisa sobre como as aves podem ter evoluído não é o tipo de
história que convence alguém de que as interpretações científicas são conduzidas
por dados. As muitas ideias contraditórias que têm sido fervorosamente
perseguidas por mais de um século e meio por vários grupos de cientistas
ilustram bem como as teorias, em lugar dos dados, podem ser a força motivadora
na ciência. Se a ciência é a busca pela verdade acerca da natureza, como alega
ser, por que condescender com tanta especulação, acompanhada por um
tribalismo intelectual, em vez de simplesmente deixar que os fatos falem por si
mesmos? Repetidas vezes, e mais do que muitos gostariam de admitir, os
cientistas – assim como o restante da humanidade – creem naquilo em que
desejam crer, preenchendo com suas pressuposições os dados que faltam. Tenho
certeza de que alguns dos meus colegas cientistas consideram ofensiva essa
afirmação, e eu gostaria que não fosse assim, mas, quanto antes percebermos
isso, melhor será para a ciência.
Com demasiada frequência, a ciência é dirigida mais por teoria do que por
dados. Por causa disso, é particularmente importante que se envide um esforço
especial para tentar separar a boa ciência, que leva à verdade acerca da natureza,
da má ciência, que não o faz. Os cientistas são bastante humanos, e pode ser
difícil encontrar um cientista que, como o restante da humanidade, não tenha
uma agenda a cumprir. Contudo, esses cientistas que dão prioridade aos dados,
em lugar de teorias, terão maior probabilidade de descobrir o que realmente
acontece na natureza.
Tudo isso pode ser muito significativo para a questão de Deus. Nos capítulos
2 a 5, apresentamos muitos exemplos de dados que indicam que é necessário
haver um planejador. A despeito das evidências, os cientistas se esquivam de
uma conclusão assim. Prevalece o paradigma dominante atual, de que a ciência
precisa explicar tudo sem Deus, embora isso envolva conjecturas desenfreadas
para testar e explicar os fatos encontrados. Atitudes pessoais e a sociologia da
comunidade científica determinam, com muita frequência, o que é aceito como
verdade. Outros fatores, além dos dados da natureza, muitas vezes moldam as
conclusões da ciência.
Referências
1
Cudmore LLL. 1977. The center of life. Citado em Fripp J, Fripp M, Fripp D. 2000. Speaking of
science: notable quotes on science, engineering, and the environment. Eagle Rock: LLH Technology
Publishing, p. 37.
2
Oreskes N. 1999. The rejection of continental drift: theory and method in American earth sciences.
Oxford: Oxford University Press.
3
Reading HG. 1987. Fashions and models in sedimentology: a personal perspective. Sedimentology 34, p.
3-9.
4
Kuhn TS. 1996. The structure of scientific revolutions. 3a edição. Chicago: The University of Chicago
Press.
5
Ideias adicionais sobre o argumento encontram-se em: (a) Lakatos I, Feyerabend P. 1999. For and
against method. Motterlini M. editor. Chicago: The University of Chicago Press. (b) Popper K. (1935)
2002. The logic of scientific discovery. Nova York: Routledge. (c) Ruse M. 1999. Mysteries of
mysteries: is evolution a social construction? Cambridge: Harvard University Press. Lakatos considera
a ciência algo objetivo, Feyerabend a vê como anarquia, Popper a vê como racional e Ruse dá muitos
exemplos de influências externas sobre as conclusões da ciência.
6
Kuhn, p. x.
7
Kuhn, p. 151. Ver também Cohen IB. 1985. Revolution in science. Cambridge: Harvard University
Press. Este livro também se refere às experiências de conversão na ciência, sem a implicação de
significado religioso do termo “religião”, como é normalmente entendido.
8
Ver o capítulo 3.
9
Ver o capítulo 5.
10
(a) Chambers P. 2002. Bones of contention: the Archaeopteryx scandals. Londres: John Murray, p. 103;
(b) Desmond AJ. 1979. Designing the dinosaur: Richard Owen’s response to Robert Edmond Grant.
ISIS 70, p. 224-234.
11
Darwin C. 1860. Letter to Asa Gray, June 8. In: Darwin, F, editor. 1903. More letters of Charles
Darwin: a record of his work in a series of hitherto unpublished letters, v. 1. Nova York: Appleton, p.
153.
12
Rupke NA. 1994. Richard Owen: Victorian naturalist. New Haven: Yale University Press, p. 211.
13
Ver o capítulo 5.
14
Boas referências gerais sobre a parte desta seção que fala do Archaeopteryx incluem: (a) Chambers
[veja a nota 10]. (b) Wells J. 2000. Icons of evolution; science or myth? Washington, DC: Regnery
Publishing, p. 111-135. Informações mais técnicas incluem: (c) Benton MJ. 2000. Vertebrate
paleontology. 2a edição. Oxford: Blackwell Science, p. 260-276. (d) Cowen R. 2000. History of Life. 3a
edição. Oxford: Blackwell Science, p. 228-237. (e) Ostrom JH. 1976. Archaeopteryx and the origin of
birds. Biological Journal of the Linnean Society 8, p. 91-182. Presto meu reconhecimento especial à
abrangente referência de Chamber em relação a vários pormenores desta seção.
15
Wagner JA. 1862. Relatado em Burkhardt F, et al., editores. 1999. The correspondence of Charles
Darwin, v. 11. 1863. Cambridge: Cambridge University Press, p. 7.
16
Falconer H. 1863. Letter to Charles Darwin, 3 January. In: Burkhardt, p. 4, 5.
17
Ostrom [veja a nota 14].
18
(a) Benton, p. 263-265. (b) Walker AD. 1972. New light on the origin of birds and crocodiles. Nature
237, p. 257-263.
19
Diz-se que a análise cladística dos caracteres favorece uma origem terópode (dinossauro) das aves (ver
Benton, p. 265), mas isso não se encaixa na sequência encontrada nos estratos fósseis (Wells, p. 119-
122).
20
Chambers, p. 192, 193.
21
De uma entrevista com Paul Chambers relatada em Chambers, p. 187.
22
Por exemplo: (a) Feduccia A. 1999. 1, 2, 3 = 2, 3, 4: accommodating the cladogram. Proceedings of the
National Academy of Sciences (USA) 96, p. 4740-4742. (b) Wagner GP, Gauthier JA. 1999. 1, 2, 3 = 2,
3, 4: a solution to the problem of the homology of the digits in the avian hand. Proceedings of the
National Academy of Sciences (USA) 96, p. 5111-5116.
23
Dalton R. 2000. Feathers fly in Beijing. Nature 405, p. 992.
24
Benton, p. 267.
25
Carroll RL. 1997. Patterns and processes of vertebrate evolution. Cambridge: Cambridge University
Press, p. 9.
26
Charig AJ, et al. 1986. Archaeopteryx is not a forgery. Science 232, p. 622-626.
27
Clausen VE. 1986. Debate recente sobre Archaeopteryx. Origins 13, p. 48-55.
28
Chen P, Dong Z, Zhen S. 1998. An exceptionally well-preserved theropod dinosaur from the Yixian
Formation of China. Nature 391, p. 147-152.
29
Qiang J, et al. 1998. Two feathered dinosaurs from northeastern China. Nature 393, p. 753-761.
30
Chambers, p. 230.
31
Qiang [veja a nota 29].
32
Chambers, p. 227-229.
33
Xu X, Zhou Z, Prum RO 2001. Branched integumental structures in Sinornithosaurus and the origin of
feathers. Nature 410, p. 200-204.
34
Conforme relato de Wang L. 2001. Dinosaur fossil yields feathery structures. Science News 159, p.
149.
35
Martin LD, Zhou Z. 1998. Confuciusornis sanctus compared to Archaeopteryx lithographica.
Naturwissenschaften 85, p. 286-289.
36
Xu X, et al. 2003. Four-winged dinosaurs from China. Nature 421, p. 335-340.
37
Por exemplo: (a) Martin LD [veja a nota 35]. (b) Prum RO, Brush AH. 2003. Which came first, the
feather or the bird? Scientific American 288 (3), p. 84-93.
38
O conceito de evolução paralela ou convergente, que sugere que processos evolutivos separados
independentes produziram a mesma estrutura, permitiria a evolução independente de penas tanto nos
dinossauros quanto nos ancestrais evolutivos do Archaeopteryx. Alguns fazem objeção, indicando que
as penas são estruturas tão altamente especializadas que seria improvável que sua evolução ocorresse
mais de uma vez. Tanto os ornitólogos do BAND quanto os paleontologistas usam livremente a
evolução convergente em suas interpretações.
39
Para uma revisão da perspectiva dos paleontologistas, ver Norell MA, Xu X. 2005. Feathered dinosaurs.
Annual Reviews of Earth and Planetary Sciences 33, p. 277-299.
40
Como exemplo ver Ruben JA, et al. 1999. Pulmonary function and metabolic physiology of theropod
dinosaurs. Science 283, p. 514-516.
41
Um relatório recente de Mark Norell, do Museu Americano de História Natural, não traz nenhuma
evidência convincente de que tenham sido encontradas penas genuínas em dinossauros. Ver Norell M.
2005. The dragons of Liaoning: a trove of feathered dinosaurs and other astounding fossils finds in
northern China shakes the roots of paleontology. Discover 26, p. 58-63. Estruturas estranhas têm sido
noticiadas como sendo penas em dinossauros, e é possível que penas reais sejam descobertas; contudo,
é preciso avaliar muito bem tais descobertas.
42
Brush AH. 1996. On the origin of feathers. Journal of Evolutionary Biology 9, p. 131-142.
43
Cowen, p. 205.
44
Thoresen AC. 1971. Designed for flight. In: Utt RH, editor. Creation: nature’s design and Designer.
Mountain View: Pacific Press Publishing Association, p. 8-23.
45
Conforme citação em Chambers, p. 245.
46
Sloan CP. 1999. Feathers for T. rex? New birdlike fossils are missing links in dinosaur evolution.
National Geographic 196 (5), p. 98-107.
47
Esta carta, junto com a correspondência relacionada, está disponível em muitas páginas da internet,
como Answers in Genesis, http://www.answersingenesis.org/ (acesso em abril de 2005).
48
Ver um exemplo recente em Quammen D. 2004. Was Darwin wrong? No. The evidence for evolution is
overwhelming. National Geographic 206 (5), p. 2-35.
49
Rowe T, et al. 2001. The Archaeoraptor forgery. Nature 410, p. 539-540.
50
Simons LM. 2000. Archaeoraptor fossil trail. National Geographic 198(4):128-132.
51
Relato em: Simons LM. 2000. Archaeoraptor fossil trail. National Geographic 198 (4), p. 128-132.
52
Zhou Z, Clarke J, Zhang F. 2002. Archaeoraptor’s better half. Nature 420, p. 285.
53
Chambers, p. 248.
54
Thomson KS. 2002. Dinosaurs, the media and Andy Warhol. American Scientist 90, p. 222-224.
55
(a) Czerkas SJ, editor. 2002. Feathered dinosaurs and the origin of flight. Blanding: The Dinosaur
Museum. (b) Sloan, C. 2000. Feathered dinosaurs. Washington, DC: National Geographic Society.
56
Wells [veja a nota 14].
57
Planck M. 1949. Scientific autobiography and other papers. Gaynor F, tradutor. Westport: Greenwood,
p. 33-34.
58
Branscomb LM. 1985. Integrity in science. American Scientist 73, p. 421-423.
59
(a) Larson EJ. 1997. Summer for the gods: the Scopes trial and America’s continuing debate over
science and religion. Cambridge: Harvard University Press, p. 206-208. (b) Larson EJ. 2004. Evolution:
the remarkable history of a scientific theory. Nova York: The Modern Library, p. 217.
60
Comentários adicionais, ver Ruse M. 2005. The evolution creation struggle. Cambridge: Harvard
University Press, p. 164-167.
61
(a) Gould SJ. 1994. The persistently flat earth. Natural History 103 (3), p. 12, 14-19. (b) Russell JB.
1991. Inventing the flat earth: Columbus and the modern historians. Nova York: Praeger.
62
Russell [veja a nota 6].
63
(a) Draper JW. 1875. History of the conflict between religion and science. 5a edição. Nova York:
Appleton and Company. (b) White AD. 1896, 1960. A history of the warfare of science with theology in
Christendom. 2 volumes. Nova York: Dover. Provavelmente tanto Draper quanto White tenham
aplicado a sugestão de William Whewell, que em 1837 publicou o livro History of the Inductive
Sciences.
64
Ruse M. 2001. The evolution wars: a guide to the debates. New Brunswick: Rutgers University Press,
p. 60.
65
Ver relatos desse incidente em: (a) Chambers, p. 14-22. (b) Hellman H. 1998. Great feuds in science:
ten of the liveliest disputes ever. Nova York: Wiley, p. 81-103.
66
Por exemplo: (a) Dampier WC. 1949. A history of science: and its relations with philosophy & religion.
4a edição. Cambridge: Cambrige University Press, p. 279. (b) Ruse, The evolution wars, p. 59, 60. (c)
Witham LA. 2002. Where Darwin meets the Bible: creationists and evolutionists in America. Oxford:
Oxford University Press, p. 212-214.
67
Lucas JR. 1979. Wilberforce and Huxley: a legendary encounter. The Historical Journal 22 (2), p. 313-
330.
68
Ver o capítulo 7.
69
Hellman, p. 178.
70
Freeman D. 1983. Margaret Mead and Samoa: the making and unmaking of an anthropological myth.
Cambridge: Harvard University Press.
71
Ibid., p. 288.
72
Hellman, p. 177-192.
73
Merton RK. 1970. Science, technology & society in seventeenth-century England. Nova York:
Howard Fertig.
74
Segerstråle U. 2000. Science and science studies: enemies or allies? In: Segerstråle U, editor: Beyond
the science wars: the missing discourse about science and society. Albany: State University of New
York Press, p. 1-40.
75
Barber B. 1961. Resistance by scientists to scientific discovery. Science 134, p. 596-602.
76
Como introdução, ver o artigo seminal de Shapin S. 1982. History of science and its sociological
reconstructions. History of Science 20 (3), p. 157-211. Mais exemplos se encontram em Collins H,
Pinch T. 1998. The golem: what you should know about science. 2a edição. Cambridge: Cambridge
University Press. E em Collins H, Pinch T. 1998. The golem at large: what you should know about
technology. Cambridge: Cambridge University Press.
77
Barber [veja a nota 75].
78
Documentação adicional no capítulo 8.
79
Ver o capítulo 2.
80
Huff D. 1954. How to lie with statistics. Nova York: Norton, p. 87-89.
Num pólo, os intelectuais da literatura;
no outro, os cientistas. [...] Entre os dois,
um golfo de mútua incompreensão. 1
Sir Charles Snow, escritor e cientista
A batalha da sociobiologia
A sociobiologia busca investigar a evolução do comportamento social. Tenta
responder a perguntas acerca de como os organismos se comportam da maneira
como o fazem, sob a perspectiva evolucionista, e penetra nas espinhosas
questões das causas do comportamento humano. A sociobiologia não deve ser
confundida com a sociologia da ciência, embora haja alguma sobreposição. A
primeira lida mais com as causas biológicas do comportamento de todos os tipos
de organismo, enquanto a última lida com o comportamento da comunidade
científica.
Um dos problemas que a sociobiologia aborda é: se, como Darwin propõe, o
avanço evolutivo ocorre porque o mais forte sobrevive ao menos apto, como
explicar a evolução do comportamento altruísta, quando organismos se dispõem
a sacrificar a vida pelo bem de outros? Isso é suicídio, e não contribui para a
sobrevivência do organismo. Por que esses traços evoluiriam, quando o
organismo não tem chance de passá-los para a geração seguinte? Um exemplo
comum é o da abelha que ferroa alguém para proteger outras na colônia. Sendo
que a abelha deixa partes vitais de seu corpo cravadas na pessoa, ela morre logo
depois. Isso é suicídio, e não sobrevivência. Os evolucionistas têm várias
explicações, incluindo a suposição de que a colônia inteira evolui como um tipo
de organismo único. Há particularidades genéticas nesses tipos de organismo que
favorecem essa ideia. Assim, é a colônia de abelhas que sobrevive, e não a
abelha individual.
Mais problemáticos são muitos exemplos de um comportamento de
autossacrifício entre aves e mamíferos. Os suricatos são um tipo altamente
sociável de mangustos ( Figura 7.1 ) que lutam pela vida no deserto de Kalahari,
sul da África. Vivem em grupos de três a trinta indivíduos, em túneis
subterrâneos. Estão entre os mais colaboradores animais conhecidos. Um
membro do grupo cuida de um filhotinho e o protege, enquanto a mãe biológica
sai por longos períodos para procurar alimento. Outros se colocam como
sentinelas em pontos de observação expostos, onde ficam muito visíveis aos
predadores. Seu plantão como guardas permite que outros membros do grupo
cuidem da tarefa de trazer alimento com segurança. Se uma sentinela percebe
um predador, como uma águia, ou avista uma cobra, o suricato dá o alarme,
colocando-se ainda mais em perigo ao chamar a atenção para o local em que se
encontra, mas ao mesmo tempo avisando os outros para que fujam com
segurança. Nesse tipo de comportamento, as sentinelas arriscam a vida pelo bem
dos outros. Por que deveria um comportamento tão altruísta evoluir,
considerando o fato de que os altruístas teriam menor probabilidade de
sobreviver? E, quando se trata de seres humanos, por que uma mãe correria para
dentro de uma casa em chamas, arriscando a vida, para tentar salvar o filho? 17
Esse tipo de comportamento envolvendo sacrifício próprio não é o que se espera
de um processo evolutivo, no qual a meta é a sobrevivência e não um altruísmo
que se sacrifica. Muitos veem o comportamento abnegado como um sério
desafio à teoria da evolução.
Alguns evolucionistas têm proposto o que consideram ser a resposta para
esse quebra-cabeça. É a chamada seleção de parentesco. Na seleção de
parentesco, o importante não é a preservação do organismo individual, mas a de
um tipo particular de genes. Ao preservar um parente próximo, a pessoa está
preservando seu próprio tipo particular de genes, já que os que são próximos em
parentesco têm o mesmo tipo de genes. Os irmãos têm os mesmos pais, e os
primos têm os mesmos avós; então, ao salvar parentes próximos, aumenta a
chance de se salvar para a posteridade o tipo especial de genes que se possui. Em
outras palavras, caso um animal dê a vida para preservar a vida de seu parente
próximo, isso pode ajudar a preservar seu próprio tipo de genes, embora o
próprio animal morra. A matemática do mecanismo da hereditariedade é tal que
se pode sugerir que, se você dá a vida para salvar três dos seus irmãos ou nove
dos seus primos, as chances são de que você esteja favorecendo a sobrevivência
de seu próprio tipo de genes. Quanto mais próximo for seu parentesco com
aqueles a quem salva, menos indivíduos terá de salvar a fim de preservar seu
tipo de genes. A seleção da consanguinidade é considerada uma explicação da
evolução para o comportamento altruísta. A profunda implicação de tudo isso é
que um ato altruísta não é isso de jeito nenhum; é um ato egoísta para ter a
certeza de que o seu tipo de genes se propague pelos parentes que sobrevivem. O
conceito de Darwin da sobreviência egoísta do mais apto se torna a explicação
para o comportamento altruísta.
A dramática descoberta da teoria da seleção da consanguinidade chamou a
atenção de um famoso entomologista da Universidade Harvard, Edward O.
Wilson. Ele ampliou o conceito e, em 1975, apresentou-o junto com ideias
relacionadas num livro que evocou uma das mais tempestuosas reações a um
livro já testemunhadas. Com o título de Sociobiology [Sociobiologia], 18 o
volume de tamanho exagerado discute o comportamento social de uma variedade
de animais. Porém, há pouca dúvida de que ali havia um manifesto com o
objetivo de dar razões evolucionárias ao comportamento social do homem. O
primeiro capítulo, intitulado “A Moralidade do Gene”, implica que nossas
emoções como amor, ódio, temor e culpa existem por seleção natural; e o último
capítulo, intitulado “Homem: Da Sociobiologia à Sociologia”, passou claramente
para o cenário do comportamento humano. A ênfase era: os genes controlam
tudo.
No ano seguinte, Richard Dawkins promoveu algumas das mesmas ideias no
seu famoso livro The Selfish Gene 19 [O Gene Egoísta]. Se um organismo parece
comportar-se altruisticamente, podemos ter certeza de que seu motivo é
fundamentalmente egoísta. Os organismos estão amplamente sob o controle de
seus genes e o princípio da sobrevivência do mais apto promove sua própria
sobrevivência egoísta em detrimento de outros genes diferentes. 20 Em 1978,
Wilson retornou com o livro On Human Nature [Sobre a Natureza Humana],
uma expansão do especialmente controverso último capítulo de Sociobiologia.
Aqui, os atos altruístas atribuídos até a nações não são resultantes de nenhum ato
de bondade, mas se devem à sobrevivência darwiniana do mais apto. Além
disso, ele se aventura dentro da área sensível da religião: “As mais sublimes
formas da prática religiosa, quando examinadas de perto, podem ser vistas como
conferindo vantagem biológica.” 21 Religião não é algo que escolhemos por seu
valor ou verdade; somos religiosos por causa da vantagem que ela proporciona
quanto à sobrevivência evolutiva.
Tudo isso era mais do que se podia suportar! 22 Desde o momento da
publicação da Sociobiologia de Wilson, reações contundentes explodiram.
Irrompeu uma guerra aberta de palavras, personalidades, livros e raro humor.
Surpreendentes fontes declararam guerra, incluindo formidáveis âmbitos
intelectuais. A batalha não era apenas sobre a natureza da humanidade; muitas
outras controvérsias surpreendentes apareceram no horizonte. Os críticos
declararam a sociobiologia como falsa, maligna, fascista e não científica. Uma
das grandes questões foi o temor de que a sociobiologia restabelecesse o
darwinismo social, em que os seres humanos superiores deveriam ser tratados de
modo a sobreviver aos inferiores (eugenia). Em contraste com a atitude que
prevalece agora, de que todos os homens devem ser tratados igualmente, a
sociobiologia estimularia um retorno à crença na superioridade de classe, com
base em genes superiores. Isso entra na controvérsia da natureza versus cultura, a
respeito daquilo que determina quem somos, se a natureza (genes) ou a cultura
(ambiente). 23 A distinção de classes era aceitável na Inglaterra vitoriana de
Darwin e atingiu horripilantes níveis desumanos durante a Segunda Guerra
Mundial, quando os nazistas usaram câmaras de gás para eliminar milhões de
seres humanos rotulados como inferiores. Meio século mais tarde, esse
Holocausto ainda está recente demais na mente das pessoas para favorecer
qualquer aceitação de superioridade genética.
Nas redondezas da Universidade Harvard, ativistas, muitos dos quais faziam
parte do seu corpo docente, distribuíam folhetos, realizavam reuniões e
publicavam artigos contra a sociobiologia. Wilson, que até certo ponto foi
malcompreendido, foi identificado como um mestre da ideologia racista. A
controvérsia se espalhou pela imprensa em geral, aparecendo até na capa de
Time. A Associação Americana Para o Progresso da Ciência realizou um
simpósio em Washington, DC, para discutir a sociobiologia. Quando Wilson se
levantou para apresentar sua palestra, uns dez ativistas se ergueram e tomaram o
microfone, acusando-o de racismo e genocídio. Um deles despejou um jarro de
água gelada sobre a cabeça dele, exclamando: “Wilson, você está todo
molhado!” 24 A apresentação continuou em conformidade com o programa, mas
não foi tão emocionante quanto sua incômoda introdução.
Os principais luminares no debate da sociobiologia incluíam Stephen J.
Gould, escritor muito apreciado e, até sua morte recente, o mais bem conhecido
fomentador da evolução nos Estados Unidos. Ele se opunha fortemente à
sociobiologia. Esse é também o caso de Richard Lewontin, popular geneticista, a
quem nos referimos antes. Esses dois oponentes trabalharam no mesmo prédio
de Harvard em que Wilson trabalhou, e ambos têm afinidades com o judaísmo e
o marxismo, que tenderiam para um tratamento igualitário dos seres humanos.
Alguns eruditos sugerem que essas afinidades podem ter afetado sua rejeição da
sociobiologia. Juntamente com muitos outros, eles fazem sérias objeções àquilo
que consideram as respostas simplistas que a sociobiologia tenta apresentar para
um comportamento humano complicado. Por outro lado, John Maynard Smith,
da Universidade de Sussex, na Inglaterra, especialista em biologia teórica,
juntamente com Richard Dawkins, de Oxford, tem prestado significativo apoio à
sociobiologia.
As atitudes para com a religião entre esses luminares variam grandemente.
Dawkins opõe-se a ela ativamente; Gould 25 e Maynard Smith tendem a separar
a religião da ciência; enquanto Wilson, por vezes, alega ser deísta. Deísta é
alguém que acredita em algum tipo de Deus que permite que o Universo ande
por conta própria. Esses especialistas não hesitam em criticar muitas coisas,
inclusive um ao outro. Maynard Smith, que apoia fortemente o darwinismo e não
concorda com o desvio de Gould da ideia tradicional da evolução, comenta: “Os
biólogos evolucionistas com quem tenho discutido a obra dele [de Gould]
tendem a vê-lo como um homem cujas ideias são tão confusas que mal vale a
pena incomodar-se com elas, e como alguém que não se deve criticar
publicamente porque, pelo menos, está do nosso lado contra os criacionistas.” 26
Gould reflete alguns dos mesmos sentimentos ruins ao referir-se a Maynard
Smith e Dawkins como “fundamentalistas darwinianos”. 27 A despeito da
argumentação científica interna, os evolucionistas tendem a se unir quando
enfrentam o espectro da criação, que eles sentem a necessidade de evitar.
Na cáustica batalha da sociobiologia, Wilson se sentiu traído pelos colegas e
perguntou por que Lewontin, que tinha escritório no mesmo prédio, não fora
discutir suas preocupações em particular, em vez de criticá-lo pela imprensa. 28
Deve-se admirar Wilson por ter sugerido um comportamento semelhante ao do
princípio bíblico de procurar primeiro o irmão ofensor, antes de fazer qualquer
outra coisa. 29 Sua sugestão bíblica, porém, dá margem a que se pergunte sobre
sua lealdade ao princípio evolutivo da competição e da sobrevivência do mais
apto, e de sua disposição de enfrentar as consequências do severo sistema
darwiniano que ele abraça.
Uma das críticas à sociobiologia introduzidas por Lewontin foi que as
mudanças na frequência dos genes em grupos humanos demonstram-se
extremamente lentas, enquanto as mudanças sociológicas através da história
podem ser muito rápidas; então, as mudanças genéticas não poderiam ser
responsáveis pela sociologia humana. Charles Lumsden e Wilson trataram desse
problema e de outros no livro intitulado Genes, Mind, and Culture [Genes,
Mente e Cultura]. 30 A solução matemática proposta no livro não recebeu
aprovação. Nem mesmo Maynard Smith (que apoia a sociobiologia), após
exaustivo estudo, conseguiu apoiar os modelos apresentados. 31
Um grande problema com a sociobiologia é sua alegação de responder a
uma ampla variedade de questões com base em dados muito limitados. Lewontin
expressou sua preocupação numa entrevista. “Se vou me sentar e escrever uma
teoria sobre como toda a cultura humana é explicada pela biologia, tenho um
bocado de fundamento epistemológico para aprender, ou melhor, uma
quantidade fantástica. [...] Esse pessoal simplesmente se precipitou num tipo
ingênuo e vulgar de explicação biológica do mundo, e a consequência é um
fracasso. É um fracasso como sistema de explanação porque eles não fizeram a
lição de casa.” “É algo barato!” 32 O filósofo Michael Ruse, da Universidade
Estadual da Flórida, expressa uma preocupação semelhante acerca do trabalho
dos arquitetos da sociobiologia: “Eles se precipitaram à frente das evidências e
depois se congratularam por um trabalho empírico benfeito. E estavam decididos
a não permitir que uma pequena contraevidência servisse de obstáculo. Para ser
franco, eles estavam decididos a não permitir nem que uma quantidade maciça
de contraevidências fosse obstáculo.” 33 Ruse mostra que os críticos têm sido
incomumente ríspidos.
O filósofo da ciência Philip Kitcher, da Universidade de Colúmbia, revela
preocupações adicionais acerca da sociobiologia quando comenta que “as
ambiciosas alegações que têm atraído tanta atenção do público repousam sobre
uma análise falsa e um argumento inconsistente” e “os sociobiólogos parecem
adotar uma especulação desvairada justamente onde deveriam ser mais
cautelosos”. Além disso, ele compara especificamente a sociobiologia de Wilson
com uma escada que “se desconjunta em cada degrau”. 34 Três décadas mais
tarde, em um movimento que deixou perplexos os sociobiólogos ao redor do
mundo, Wilson, embora fosse considerado o “pai da sociobiologia”, repudiou a
seleção da consanguinidade como uma explicação para o altruísmo, pelo menos
no caso de insetos sociais como as abelhas. 35 Agora ele favorece um modelo de
flexibilidade genética preliminar e um único salto para o altruísmo.
O debate da sociobiologia ilustra o que acontece quando uma atitude
científica exclusivista, e às vezes elitista, reforça as tentativas de aplicar a
ciência a tudo, entrando livremente em áreas onde a ciência não tem apresentado
evidências significativas nem respostas válidas. Ali a ciência pode ser um
tremendo fracasso.
Apesar de seu apoio científico muito frágil, a sociobiologia não está
completamente morta. Livros como The Triumph of Sociobiology 36 [O Triunfo
da Sociobiologia] procuram resgatar o conceito, mas o livro tem sido
caracterizado como “uma análise decepcionantemente superficial”, “usando a
desgastada tática de caracterizar os críticos com os termos mais exagerados”. 37
A sociobiologia tem passado por alguns melhoramentos ao longo dos anos, ao
serem consideradas algumas críticas, e ainda é popular entre alguns biólogos,
mas carece muito de autenticação na maioria de suas alegações, e algumas
parecem estar definitivamente erradas. Como exemplo, considere um dos
fascinantes ícones da sociobiologia, os suricatos, que mencionamos antes. Pois
bem, mesmo como modelos de comportamento cooperativo, eles suscitam uma
questão acerca da seleção por parentesco. Vivem em grupos que geralmente
incluem “imigrantes” geneticamente não consanguíneos, que são visitantes
dentro da família normal dominante do grupo. Esses suricatos não parentes
participam ativamente como sentinelas do grupo e como babás para os filhotes.
Por não serem consanguíneos, seu comportamento altruísta não pode resultar do
princípio sociobiológico da seleção por parentesco. 38 Esses dados desafiam a
explicação evolucionista do altruísmo nesses tipos de organismos como forma de
proteger os próprios genes.
As batalhas amainaram, e um novo conceito semelhante, chamado
psicologia evolutiva, substituiu a sociobiologia tradicional no que se refere ao
estudo da humanidade. Trata-se, essencialmente, de vinho velho em odres novos.
A psicologia evolutiva ainda enfatiza muito os genes como responsáveis por
quase tudo, incluindo religião, 39 mas o interesse volta-se mais para o que leva a
mente a funcionar da maneira como funciona. Um número significativo de novos
livros promove a ideia. 40 Entre eles está o de Robert Wright, The Moral Animal
[O Animal Moral], cuja menção na lista dos best-sellers do jornal The New York
Times por dois anos diz algo acerca da popularidade da psicologia evolutiva.
Wright fala de nós, humanos, como “uma espécie com consciência, simpatia e
até amor, tudo fundamentado basicamente no interesse genético próprio”. 41
Ideias contrárias, enfatizando as limitações, aparecem em livros como Alas,
Poor Darwin: Arguments Against Evolutionary Psychology 42 [Ah, Pobre
Darwin: Argumentos Contra a Psicologia Evolutiva], editado pela socióloga da
ciência Hilary Rose e pelo neurobiólogo Steven Rose. Esse livro inclui um
capítulo escrito por Stephen J. Gould, que faz perguntas acerca do darwinismo
tradicional e sua inadequação para explicar mudanças culturais. Embora Gould
tenha endossado agressivamente a evolução, não apoiou o cenário tradicional
simples.
Síntese
Para onde nos leva tudo isso? Existe alguma luz no fim do túnel?
Atualmente, a ciência tende a excluir aquelas áreas que não fazem parte do seu
cardápio materialista. O elitismo é evidente quando a ciência entra em áreas
como a sociobiologia e tenta responder a perguntas além de sua área de
conhecimento. A ciência atribui aspectos do comportamento humano, como
altruísmo e religião, a fatores mecanicistas como os genes. Então, a esquerda
acadêmica entra na rixa e acusa a ciência de ser apenas um constructo social. O
quadro é complicado, mas começam a emergir algumas conclusões importantes.
Através disso tudo, temos também alguns dados científicos confiáveis para
ajudar em nosso raciocínio.
A meta é descobrir o que é verdade ou, em outras palavras, a realidade. O
padrão pós-moderno de pensamento de alguns sociólogos, sugerindo que tudo é
relativo e que não há nada absoluto, não é uma solução. Esse tipo de raciocínio
conduz mais ao ceticismo do que à verdade que procuramos. Além disso, é
difícil levar a sério uma premissa como o pós-modernismo, que sugere que nada
é objetivamente verdadeiro. Isso significaria que a premissa do pós-modernismo
também não é verdade objetiva. 54 A melhor solução é chegar às melhores
conclusões que pudermos, com base nos melhores dados disponíveis, e nos
dispormos a aceitar todas as possibilidades e revisões, à medida que novas
informações se tornem disponíveis. As várias facções nessas batalhas poderiam
lucrar ao não ser tão exclusivistas e reconhecer que existe valor além da área de
sua especialidade.
A ciência tem sido exclusivista demais, evitando algumas importantes áreas
de investigação, enquanto permite que paradigmas dominantes determinem o
que é considerado verdade. Isso tem, às vezes, causado problemas à ciência,
como foi o caso ao ignorar as mortes causadas por germes da febre puerperal ou
grandes catástrofes.55 Por outro lado, é necessário adotar a perspectiva de que a
ciência tem muito de bom em si. Quando leio opiniões filosóficas, sociológicas,
psicológicas e teológicas variadas, a falta de dados e a abundância de conjecturas
me desapontam muitas vezes. Meu preparo como cientista pode influenciar
minha visão, mas sempre fico feliz ao recorrer à ciência quando existem alguns
fatos simples e sólidos da natureza com os quais posso começar. Isso acontece,
especialmente, nas ciências físicas como a física e a química, e nelas
encontramos algumas das mais fortes evidências de Deus. A biologia é mais
complexa, e é mais difícil chegar a conclusões firmes. Na psicologia ou
sociologia, é ainda mais difícil chegar a conclusões consistentes porque esses
sistemas são extremamente complicados e difíceis de analisar. Nessas áreas,
estamos lidando com a mente humana, que não é tão bem compreendida. Todas
essas áreas, contudo, são dignas de cuidadosa investigação e respeito. Há o bom
e o mau em todos esses campos, e precisamos com muito cuidado procurar
separar um do outro.
A ciência tem vários problemas. Um dos principais é que os cientistas estão
concentrados demais no sucesso da ciência. Existem alguns cientistas que não
hesitarão em mostrar-lhe quão bem-sucedida é a ciência. Esse, especialmente, é
o caso quando os cientistas dão a entender que a ciência tem resposta para quase
tudo. Embora isso seja, em parte, um comportamento humano normal, não
podemos jamais esquecer que não devemos interpretar o sucesso da ciência em
algumas áreas como superioridade universal e licença para o exclusivismo. A
batalha da sociobiologia nos ensina que, em algumas áreas, a ciência não pode
fazer contribuições aceitáveis. A ciência precisa aprender a prestar o devido
respeito àqueles âmbitos da realidade além do campo que ela domina. Um
exemplo é o nosso livre-arbítrio. A ciência baseia-se na causa e no efeito. O
livre-arbítrio, que a maioria de nós temos, não é causa e efeito. Se fosse, não
seria livre. A livre vontade é exemplo de uma realidade além da ciência.
Em resumo, a ciência não é tão má quanto alguns sociólogos acham e não é
tão boa quanto muitos cientistas pensam. Infelizmente, a ciência tende a ser
exclusivista e elitista demais. Com frequência, os cientistas visualizam a ciência
como aquele castelo inexpugnável que se ergue acima do plano da ignorância.
Na realidade, a ciência é mais como uma casa importante entre outras casas,
como a história, a arte e a religião, todas com seus pontos fortes e fracos. Todas
as casas são importantes na busca pela verdade. O problema é que muitíssimos
cientistas na casa da ciência fecharam as cortinas e não conseguem ver a igreja,
que fica ali bem ao lado.
Referências
1
Snow CP. 1959, 1963. The two cultures: and a second look. Nova York: Mentor, p. 11, 12.
2
Conforme relato em Dampier WC. 1949. A history of science, and its relation with philosophy &
religion. 4a edição. Cambridge: At the University Press, p. 181. Traduzido por mim de uma citação
francesa.
3
Hawking S. 2001. The universe in a nutshell. Nova York: Bantam, p. 85.
4
Citado em Nordenskiöld E. 1928. The history of biology: a survey. Eyre LB, translator. Nova York:
Tudor, p. 426.
5
Citado em Barber B. 1961. Resistance by scientists to scientific discovery. Science 134, p. 596-602.
6
de Duve C. 1995. The beginnings of life on earth. American Scientist 83, p. 428-437.
7
Ver o voto recente do Comitê da Associação Americana para o Progresso da Ciência: Frazier K. 2003.
AAAS Board urges opposing ‘Intelligent Design’ theory in science classes. Skeptical Inquirer 27 (2), p.
5.
8
Chauvin R. 1989. Dieu des fourmis Dieu des étoiles. Paris: França Loisirs, p. 214.
9
Lewontin R. 1997. Billions and billions of demons. New York Review of Books 44 (1), p. 28-32. Itálicos
no original.
10
Hanson RB, Bloom FE. 1999. Fending off furtive strategists. Science 285, p. 1847.
11
Dobzhansky T. 1973. Nothing in biology makes sense except in the light of evolution. The American
Biology Teacher 35, p. 125-129.
12
Ayala FJ. 2004. Teaching science in the schools. American Scientist 92, p. 298.
13
Eldredge N. 2000. The triumph of evolution and the failure of creationism. Nova York: W. H. Freeman
and Company.
14
Sagan, C. 1996. The demon-haunted world: science as a candle in the dark. Nova York: Random House.
15
Barrow JD, Tipler FJ. 1986. The anthropic cosmological principle. Oxford, Nova York: Oxford
University Press, p. 613-682.
16
Tipler FJ. 1994. The physics of immortality: modern cosmology, God and the resurrection of the dead.
Nova York: Doubleday.
17
O conceito de altruísmo recíproco, em que você ajuda um indivíduo em crise para que ele possa ajudá-
lo quando você estiver em crise, foi proposto para explicar esse comportamento. Há um problema em
gradualmente estabelecer esse comportamento dependente do grupo numa população, já que não pode
funcionar enquanto não estiver estabelecido. Ver Wilson EO. 1975. Sociobiology: the new synthesis.
Cambridge: Harvard University Press, p. 120, 121. Num sentido, esse é outro exemplo de partes
interdependentes que não funcionam enquanto todas as partes essenciais não estiverem presentes.
18
Wilson, Sociobiology [veja a nota 17].
19
Dawkins R. 1976, 1989. The selfish gene. Nova edição. Oxford: Oxford University Press.
20
Para avaliar a ideia de Dawkins, ver McGrath A. 2005. Dawkins’ god: genes, memes, and the meaning
of life. Oxford: Blackwell.
21
Wilson EO. 1978. On human nature. Cambridge: Harvard University Press, p. 188.
22
Três boas referências dessas batalhas são: (a) Brown A. 1999. The Darwin wars: the scientific battle for
the soul of man. Londres: Touchstone. (b) Ruse M. 2000. The evolution wars: a guide to the debates.
New Brunswick: Rutgers University Press, p. 203-230. (c) Segerstråle U. 2000. Defenders of the truth:
the battle for science in the sociobiology debate and beyond. Oxford: Oxford University Press. Esta
última referência é abrangente.
23
Foi discutido no capítulo 6.
24
(a) Segerstråle, Defenders of the truth, p. 23; (b) Wilson EO. 1994. Naturalist. Washington, DC: Island
Press/Shearwater Books, p. 307.
25
Gould SJ. 2002. Rocks of ages: Science and religion in the fullness of life. Nova York: Ballantine. Há
indícios de que Gould pode não ter apoiado sempre a religião como se reflete aqui.
26
Maynard Smith J. 1995. Genes, memes, & minds. The New York Review of Books 42 (19), p. 46-48.
27
Citado em Ruse, The evolution wars, p. 231, 232.
28
(a) Segerstråle, Defenders of the truth, p. 29, 30. (b) Shermer M. 2001. The evolution wars. Skeptic 8
(4), p. 67-74. (c) Wilson, Naturalist, p. 338.
29
Mateus 18:15-17.
30
Lumsden CJ, Wilson E. O. 1981. Genes, mind and culture: the coevolutionary process. Cambridge:
Harvard University Press.
31
(a) Maynard Smith J, Warren N. 1982. Models of cultural and genetic change. Evolution 36, p. 620-
627. (b) Segerstråle, Defenders of the truth, p. 162-164.
32
Entrevista relatada em Segerstråle. Defenders of the truth, p. 165, 166 [veja a nota 22].
33
Ruse, The evolution wars, p. 224.
34
Kitcher P. 1985. Vaulting ambition: sociobiology and the quest for human nature. Cambridge: MIT
Press, p. ix, 9, 333.
35
Wilson EO. 2008. One giant leap: how insects achieved altruism and colonial life. BioScience 58 (1), p.
17-25.
36
Alcock J. 2001. The triumph of sociobiology. Oxford: Oxford University Press.
37
Beckwith J. 2001. Triumphalism in science. American Scientist 89, p. 471-472.
38
(a) Bednekoff PA. 1997. Mutualism among safe, selfish sentinels: a dynamic game. The American
Naturalist 150, p. 373-392. (b) Clutton-Brock TH, et al. 2001. Effects of helpers on juvenile
development and survival in meerkats. Science 293, p. 2446-2449. (c) Clutton-Brock TH, et al. 1999.
Selfish sentinels in cooperative mammals. Science 284, p. 1640-1644.
39
Ver duas tentativas recentes em: (a) Hamer DH. 2004. The God gene: how faith is hardwired into our
genes. Nova York: Doubleday. (b) Newberg A, d’Aquili EG, Rause V. 2002. Why God won’t go away:
brain science and the biology of belief. Nova York: Ballantine.
40
Por exemplo, Gander EM. 2003. On our minds: how evolutionary psychology is reshaping the nature-
versus-nurture debate. Baltimore: The Johns Hopkins University Press.
41
Wright R. 1994. The moral animal: evolutionary psychology and everyday life. Nova York: Vintage, p.
378.
42
Rose H, Rose S, editores. 2000. Alas, poor Darwin: arguments against evolutionary psychology. Nova
York: Harmony.
43
Wegner DM. 2002. The illusion of conscious will. Cambridge: Bradford.
44
Thornhill R, Palmer CT. 2000. A natural history of rape: biological bases of sexual coercion.
Cambridge: MIT Press.
45
Ghiselin MT. 1974. The economy of nature and the evolution of sex. Berkeley: University of California
Press, p. 247.
46
Provine, WB. 2001. De uma palestra a que assisti na Universidade da Califórnia, campus de Riverside,
5 de abril.
47
(a) Gould SJ. 1989. Wonderful life: the Burgess shale and the nature of history. Nova York: Norton, p.
323. (b) Huxley A. 1937. Ends and means. Nova York: Harper & Brothers, p. 316.
48
Sokal AD. 1996. Transgressing the boundaries: towards a transformative hermeneutics of quantum
gravity. Social Text 46/47; 14 (1, 2), p. 217-252.
49
Ver relatos deste curioso incidente em: (a) Editors of Lingua Franca. 2000. The Sokal hoax: the sham
that shook the academy. Lincoln: University of Nebraska Press. (b) Segerstråle U. 2000. Science and
science studies: enemies or allies? In: Segerstråle U, editor. Beyond the science wars: the missing
discourse about science and society. Albany: State University of New York Press, p. 1-40.
50
Discutido no capítulo 6.
51
Gross PR, Levitt N. 1994, 1998. Higher superstition: the academic left and its quarrels with science.
Baltimore: The Johns Hopkins University Press.
52
Ibid., p. 34.
53
Informações adicionais sobre essa fascinante guerra são encontradas nas quatro referências
imediatamente acima e em: (a) Brown JR. 2001 Who rules in science: an opinionated guide to the wars.
Cambridge: Harvard University Press. (b) Collins H, Pinch T. 1998. The golem at large: what you
should know about technology. Cambridge: Cambridge University Press. (c) Collins H, Pinch T. 1998.
The golem: what you should know about science. 2a edição. Cambridge: Cambridge University Press.
(d) Gross PR, Levitt N, Lewis MW, editores. 1996. The flight from science and reason. Nova York: The
New York Academy of Sciences. (e) Koertge N, editor. 1998. A house built on sand: exposing
postmodernist myths about science. Oxford: Oxford University Press. (f) Sokal A, Bricmont J. 1998.
Fashionable nonsense: postmodern intellectuals’ abuse of science. Nova York: Picador USA.
54
Ver uma discussão deste enigma em Forman P. 1995. Truth and objectivity, part 1: Irony; part 2: Trust.
Science 269, p. 565-567, 707-710.
O sentido da vida consiste no fato
de que não faz sentido dizer que
a vida não tem sentido. 1
Neils Bohr, físico
O secularismo na ciência
Hoje a ciência geralmente reivindica uma posição naturalista estrita, e Deus
não faz parte do quadro. Gurus da ciência como Stephen Gould caracterizam a
ideia de um desígnio inteligente como uma “falácia” que foi “historicamente
roída por traças”. 17 Vários cientistas notáveis fazem questão de enfatizar que a
aparência de um desígnio na natureza é ilusória, ou que precisa ser evitada.
Julian Huxley, neto de Thomas Huxley, comenta: “Os organismos são formados
como se tivessem um desígnio proposital [...]; o propósito é apenas aparente.” 18
Na Universidade de Oxford, Richard Dawkins, em seu livro The Blind
Watchmaker [O Relojoeiro Cego], opina que “a biologia é o estudo de coisas
complicadas que dão a impressão de terem sido idealizadas para um
propósito”. 19 Ele então passa o restante do livro tentando mostrar que não é
assim. Francis Crick, Prêmio Nobel, adverte que “os biólogos devem ter sempre
em mente que aquilo que veem não foi planejado, mas evoluiu”. 20 Não é difícil
concluir que uma agenda secular está em ação aqui, e muitos exemplos mais
foram dados no início do último capítulo. Tudo isso indica que, considerando o
modo como a ciência é praticada agora, estamos lidando com uma filosofia
secular materialista fechada, e não com uma investigação científica aberta,
voltada para a busca de explicações reais sobre a natureza, seguindo os dados
aonde quer que eles conduzam. O fato de que meio milhão de cientistas
interpreta a natureza sem Deus, enquanto apenas um punhado inclui o Criador,
representa um tremendo preconceito contra Deus na literatura científica.
Qualquer evidência de Deus é sistematicamente desprezada. Deus deverá ter o
Seu “dia no tribunal”, na arena científica. Isso deve mesmo acontecer, se a
ciência está à procura da verdade.
Conquanto a ideia de algum tipo de criação esteja recebendo muito mais
atenção agora por parte dos cientistas do que no passado, ela muitas vezes não é
bem recebida, e alguns líderes da ciência desprezam o conceito. Esta é, afinal de
contas, a nova era científica na qual Deus não existe ou é irrelevante. Embora os
cientistas, na sua maioria, sejam inteligentes, benévolos e responsáveis, a
agressividade secular não está morta. Parece que alguns cientistas nunca se
cansam de reclamar de como a igreja maltratou Galileu por sua crença não-
ortodoxa, mas correta, de que a Terra gira em torno do Sol. Galileu se tornou
uma espécie de ícone de como a ciência estava certa e a igreja errada, e isso
pode se refletir na crença em Deus. Só um cientista muito corajoso ousaria agora
invocar algum tipo de divindade que estivesse em ação na natureza, embora os
dados da ciência apontem para essa necessidade a fim de explicar as minuciosas
engenhosidades e complexidades que encontramos. 21 Em instituições de ensino
avançadas, esses cientistas que creem em Deus se conservam em silêncio. A
pressão do grupo, o receio do ridículo e o medo de perder o emprego impedem
que os 40% dos cientistas que acreditam num Deus que responde às orações 22
publiquem algo acerca dEle. O sociólogo Rodney Stark, da Universidade de
Washington, indica que, “segundo o marketing dos últimos 200 anos, se você
quer ser uma pessoa da ciência, precisa manter sua mente livre dos grilhões da
religião”. 23 Se um químico prepara uma complexa molécula orgânica, isso é
ciência; se Deus faz a mesma coisa, não é ciência!
Dois séculos excluindo Deus deixaram uma insidiosa matriz intelectual
secular na ciência, e isso permeia as teorias, as interpretações e até o
vocabulário. Hubert Yockey, biólogo molecular no campus de Berkeley da
Universidade da Califórnia, critica a visão confiante mas limitada da ciência e
ridiculariza o uso de “oxímoros” como “evolução química, sopa prebiótica” e
“auto-organização” que criam na mente o preconceito sobre como a vida se
originou. 24
Atualmente, a ciência pergunta: “Como a vida evoluiu?”, e não: “A vida
evoluiu?” Mas fazer isso deixa de lado a questão crucial sobre Deus. Um forte
componente secular na ciência induz o preconceito nas conclusões a que se
chega. Acontece que, assim como é praticada atualmente, a ciência é a estranha
combinação do estudo da natureza e de uma filosofia secular que expulsa Deus.
Você pode excluir Deus por definição, mas isso não funciona muito bem se Deus
existe!
Infelizmente, a autocensura contra Deus é muito forte na ciência
contemporânea. Quando eminentes biólogos evolucionistas, como Richard
Dawkins, escrevem livros intitulados The God Delusion 25 [Deus, um Delírio], a
mensagem é clara. O cientificismo, que é a confiança excessiva na ciência, está
muito vivo. Cientistas que fervorosamente creem em Deus às vezes enfrentam
um dilema de partir o coração, ao terem de manter uma posição secular e
essencialmente fingir que são ateus, a fim de ser aceitos pela comunidade
científica e poder publicar em periódicos científicos. 26 Ao investigar as áreas da
ciência que envolvem a questão de Deus, sua integridade intelectual pode ser
desafiada ao terem de viver a vida de um agente secreto. É de esperar que, ao se
tornarem mais aceitas as evidências de Deus, esses cientistas possam expressar
livremente suas crenças e ajudar a libertar a ciência da prisão secular que ela
criou para si mesma.
Pode-se indagar legitimamente se a ciência não tem o direito de se definir
como um empreendimento secular. Certamente tem; mas, se fizer isso, deve
tratar apenas de questões seculares. Isso pode ser extremamente difícil de fazer
porque o conhecimento muitas vezes não se encaixa em compartimentos
distintos. Por exemplo, quando a ciência tenta responder tudo num contexto
secular, ela está inadvertidamente fazendo a grave declaração teológica de que
Deus não existe, e isso é invadir questões religiosas. O isolamento intelectual em
disciplinas distintas como arte, religião e ciência não funciona quando se
pergunta de onde vieram todas as coisas.
Se a ciência vai se definir como estritamente secular, precisa evitar todas as
áreas em que a questão de Deus possa estar envolvida, e guardar-se de fazer
pronunciamentos acerca do início de quase tudo sem evidências suficientes. A
ciência deve declarar francamente que é ateia e fechada à conclusão de que Deus
existe. Mas já mencionamos anteriormente que a Associação Nacional dos
Professores de Biologia não se dispôs a tomar uma posição tão radical. 27 Os
evolucionistas muitas vezes afirmam que a criação não é ciência porque não há
um meio científico de avaliar um milagre como a criação, mas esse argumento
tende a perder sua validade quando eles escrevem livros como Scientists
Confront Creationism 28 [Cientistas Confrontam o Criacionismo] e tentam
avaliar a criação usando a ciência. Podem andar dos dois lados? A definição de
ciência, como tem sido praticada atualmente, é nebulosa.
Sob uma perspectiva diferente, alguns se inclinam a presumir que os
cientistas são um bando de ateus. A realidade quanto a isso é mais complicada.
Existem todos os tipos de cientistas e apenas alguns poucos são charlatães ou
deliberadamente hostis à religião. Deve-se conservar em mente que parte da
razão pela qual muitos cientistas não mencionam Deus é que frequentemente
seus experimentos, hipóteses e teorias não têm relação alguma com a questão de
Deus. Os cientistas gostam de lidar com aquilo que podem observar na natureza.
É a sua especialidade, e se sentem muito confortáveis nesse campo. Muitos
aspectos da ciência, como as alterações químicas que ocorrem quando o cimento
endurece, podem ser estudados sem envolver nenhuma pergunta quanto à
existência de Deus. As consistentes leis da natureza permitem que se estude
muita coisa da ciência sem invocar alguma referência direta a Ele. Isso, contudo,
não significa que Deus não exista; pode simplesmente significar que Deus não é
tão simples como alguns aspectos da nossa ciência. A questão da existência de
Deus é mais focalizada quando fazemos perguntas mais difíceis, incluindo, por
exemplo, como as leis da natureza entram em ação em padrões correlatos a
ponto de tornar possível o Universo, ou como se originou a vida.
Um número significativo de cientistas associa Deus com a evolução. Com
esse tipo de abordagem pode-se ter uma posição científica semissecular e um
Deus para resolver os mais difíceis problemas da evolução, como a origem da
vida e a explosão cambriana. Já foi apresentada uma variedade de ideias, 29 mas
você não encontrará essas ideias promovidas em publicações científicas ou em
livros didáticos. Essas ideias não são compatíveis com o idealismo secular atual
da ciência. Ademais, no contexto dos grandes problemas que a evolução
enfrenta, se você tem um Deus ativo na natureza, resolvendo esses problemas, há
pouca necessidade da teoria geral da evolução, de qualquer maneira! Uma vez
permitindo realmente a entrada de Deus no quadro, todo o horizonte muda, e
muitos cientistas resistem a isso. Incluir Deus tende a desaprovar a autonomia da
ciência.
Outros cientistas escolhem viver em dois mundos diferentes ao mesmo
tempo; especificamente, duas diferentes esferas filosóficas da realidade: uma que
inclui Deus e outra que O exclui. Isso pode ser conveniente, mas não é maneira
de encontrar a verdade. A verdade não pode se contradizer. Ou existe um Deus
ou não existe.
Em resumo, a posição secular atual da ciência introduz um grave
preconceito e não reflete as crenças de muitos cientistas; mas sugerir a atividade
de Deus é considerado não científico. Essa posição é uma visão restrita que
compromete a alegação da ciência de encontrar a verdade. Por exemplo, se Deus
existe, a ciência jamais poderá encontrá-Lo enquanto Ele for excluído do
cardápio explanatório. Nessa área de investigação, a ciência não mais respeita a
liberdade acadêmica e perde suas credenciais. Na ciência, deixe que os dados da
natureza falem por si mesmos, incluindo a possibilidade de que exista um Deus.
Na minha opinião, essa seria uma abordagem científica mais aberta e melhor.
Síntese
A vida tem algum sentido? A existência da humanidade não vale nada?
Somos apenas acidentes da natureza? Bertrand Russell, o filósofo britânico
secular, expressou uma das mais significativas descrições da ausência de sentido:
“Ainda mais despropositado, mais vazio de sentido, é o mundo que a ciência
apresenta para que nele creiamos. Em meio a um mundo assim, nossos ideais
devem encontrar seu espaço daqui para a frente. Que o homem seja o produto de
causas que não previam o fim a ser atingido; que sua origem, seu crescimento,
suas esperanças e temores, seus amores e crenças sejam tão-só o resultado de
combinações acidentais de átomos; que nenhuma paixão, nenhum heroísmo e
nenhuma intensidade de pensamento e sentimento possam preservar uma vida
individual após a tumba; que todos os labores dos séculos, toda a devoção, toda a
inspiração e todo o brilho meridiano do gênio da humanidade sejam destinados à
extinção na vasta morte do sistema solar, e que o templo inteiro das conquistas
do homem deva ser inevitavelmente sepultado sob os escombros de um universo
em ruínas – todas essas coisas, se não são indiscutíveis, são, todavia, quase tão
certas que nenhuma filosofia que pretenda rejeitá-las pode ter a esperança de
permanecer. Somente junto aos andaimes dessas verdades, somente sobre o
firme fundamento de um desespero obstinado, pode a habitação da alma ser
edificada com segurança daqui para a frente.” 43
Que tom sinistro! Felizmente, os dados científicos que apontam para Deus
( Tabela 8.1 ) desafiam o “firme fundamento do desespero” de Russell. Além
disso, é difícil defender que a vida seja sem sentido e que não há propósito
naquilo que fazemos. Alfred North Whitehead, o eminente filósofo do século 20,
famoso em Cambridge e Harvard, desafia essa noção de falta de propósito
quando graceja: “Os cientistas que passam a vida com o propósito de provar que
ela é sem propósito constituem um interessante objeto de estudo.” 44 Existe uma
realidade além da ciência. Houston Smith aponta para isso claramente quando
comenta: “Ao visualizar a maneira como são as coisas, não há lugar melhor onde
começar do que a ciência moderna. Igualmente, não há lugar pior onde
terminar.” 45
A posição secular da ciência moderna é especialmente irrelevante para
algumas das questões mais profundas da vida, como a razão de nossa existência,
nossas percepções, nossos valores morais, nossa vontade de fazer o bem ou o
mal, e nosso amor e interesse pelos outros. A isso podemos acrescentar outros
mistérios, como a curiosidade, a criatividade e a capacidade de entender. São
aptidões que a ciência não encontrou na simples matéria e geralmente ignora,
mas entendemos que fazem parte da realidade e daquilo que dá sentido à vida.
Como Hubert Yockey ilustra, o homem não é apenas matéria: “Se a vida é
apenas material, então os crimes de Hitler, Stalin e Mao Tse-Tung não trazem
consequências. Se os seres humanos são apenas matéria, não é pior queimar uma
tonelada de seres humanos do que uma tonelada de carvão.” 46 Francis Collins,
ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas do Genoma Humano, o qual teve
muito que ver com o recente mapeamento do padrão genético humano (nossa
fórmula dos três bilhões de bases de DNA), acredita que “um poder superior
deve também desempenhar um papel naquilo que somos e no que nos
tornamos”. Ele também se pergunta: podem a genética e a biologia molecular
“realmente responder pelo conhecimento universal intrínseco de certo e errado,
comum a todas as culturas humanas, em todas as eras”, e “pela forma abnegada
de amor que os gregos chamavam de agape”? 47
Se a ciência naturalista tivesse apresentado modelos plausíveis para a origem
da matéria, da vida e de nossa mente, então se poderia seriamente considerar a
possibilidade de que não existe Deus. Mas o silêncio absoluto da ciência secular
nessas áreas implica a necessidade de um planejador mestre. Como parece que
somos o resultado de um desígnio, temos muito boas razões para crer que nossa
vida não seja sem sentido e sem propósito, e que nem tudo está acabado quando
morremos. Os dados científicos que apontam para Deus também sugerem que há
luz no fim do túnel da vida.
Não posso crer que simplesmente aparecemos aqui por acidente, e não posso
crer que Deus nos criaria para nada. Todavia, temos a liberdade de decidir se
queremos acreditar que nossa vida tem sentido ou não, se há um propósito para a
existência da humanidade ou não, ou se existe um Deus ou não. É lamentável
que, apesar de todos os dados que apontam para Deus, tantos cientistas concluam
que a vida não tem sentido. Eles tendem a perder a riqueza, o significado, a
satisfação e a esperança que se obtêm de uma vida dirigida aos mais elevados
ideais de bondade e interesse pelos outros. 48 Esses são ideais que não se
encontrarão em parte alguma na aridez da competição e da sobrevivência do
mais apto da evolução, nem nas simples interpretações mecanicistas da natureza.
Quando examino a natureza, parece-me que deve haver um Deus que criou
as coisas muito exatas e muito complexas que encontramos. Isso inclui nosso
cérebro complexo e a capacidade intelectual que ele tem de raciocinar e
compreender, nossas percepções e nossa consciência. Seria muito estranho que
um Deus criasse esses seres pensantes e não lhes deixasse algum tipo de
comunicação de Sua parte, de modo que saio em busca dessa comunicação. Para
mim, a Bíblia parece ser a melhor candidata para tanto, não só por causa de seu
significado e franqueza, mas porque o tipo de Deus racional, que vai da causa
para o efeito, encontrado nela combina com o efeito racional de causa e efeito
que a ciência encontrou no Universo. Essa conclusão se encaixa bem na tese
amplamente aceita que discutimos antes, 49 segundo a qual a razão por que a
ciência moderna se desenvolveu no mundo ocidental se deve à lógica racional da
tradição judaico-cristã, oriunda do tipo de Deus descrito na Bíblia. Podemos
considerar outras grandes religiões, como hinduísmo, budismo, confucionismo
ou xintoísmo, e descobrir o misticismo, mas não Deus; muitos deuses, às vezes
deuses em conflito uns com os outros, mas não o Deus coerente da Bíblia. Esse
tipo de Deus é congruente com a racionalidade que encontramos no Universo e
com a ciência; em particular, com as leis da ciência que funcionam ao nosso
redor.
Pode-se objetar que ainda é necessário invocar “milagres irracionais” de um
Deus que está ativo na natureza, a fim de explicar mistérios como a origem da
vida. Pode não ser esse o caso. Não sabemos como Deus atua. O que a princípio
parece irracional para nós, pode não sê-lo quando o entendemos melhor. Além
disso, esses “milagres” parecem ser escassos o suficiente para que a costumeira
racionalidade da realidade não seja destruída se uns poucos milagres ocorrem.
Requer-se fé para crer em Deus? Sim. Mas, em vista de todos os dados que
apontam para um planejador, requer-se muito menos fé para crer em Deus do
que para acreditar que toda a precisão, todas as complexidades e o sentido que
encontramos tenham simplesmente surgido por acaso. Ademais, deve haver
algum significado no fato de que a Bíblia, da qual bilhões de exemplares foram
impressos, e que tem uma distribuição muitas vezes maior que a de qualquer
outro livro, seja o mais aceito guia da humanidade para a vida. Embora escrita
por dezenas de autores em três continentes, cobrindo um período de 1.500 anos,
sua coerência interna é notável. Para mim, a combinação da ciência com a Bíblia
provê as melhores respostas para minhas perguntas mais profundas.
Podemos sempre alegar um conjunto extremamente fortuito de
circunstâncias, e que estamos aqui só por acidente. Contudo, em vista das muitas
improbabilidades extremas que esse tipo de raciocínio envolve, não parece ser
uma solução razoável. Parece necessária a existência de uma mente superior. Um
número elevado demais de graves problemas permanece sem solução quando
Deus é excluído. A natureza sugere um Deus com desígnio e propósitos, e
também que há sentido em nossa existência. Atualmente, a ciência, com sua
perspectiva restrita, não considera essa ideia. Mas, para formar uma sólida visão
do mundo, deve-se estar disposto a avaliar alternativas, e não a excluí-las. A
ciência devia retornar àquela abertura que tinha quando os pioneiros da
moderna ciência permitiram a entrada de Deus no quadro das explanações.
Durante os dois primeiros séculos da ciência moderna, Deus foi incluído no
cardápio explanatório da natureza. Agora, as interpretações dos cientistas
mudaram, e eles O excluíram. Muitas descobertas científicas recentes, porém,
mostram um grau de precisão e complexidade que é virtualmente impossível de
explicar com base em mudanças naturais aleatórias. Especialmente notáveis são
a sintonia fina das forças da física, que têm as constantes exatas para permitir um
universo habitável, e as numerosas e extremamente integradas complexidades
dos sistemas biológicos. Vários outros fatores também parecem exigir uma
elaborada formulação muito além daquilo que pode ser explicado por
ocorrências naturais ( Tabela 8.1 ). Todas essas descobertas apontam para um
tipo de complexo planejamento feito por um idealizador inteligente, um ser que
consideraríamos Deus.
A ciência descobriu Deus. Os dados científicos indicam que Deus é
necessário. Espera-se que mais e mais cientistas permitam que Deus volte às
interpretações científicas.
Referências
1
Citado em Horvitz LA. 2000. The quotable scientist: words of wisdom from Charles Darwin, Albert
Einstein, Richard Feynman, Galileo, Marie Curie, and more. Nova York: McGraw-Hill, p. 151.
2
Ver o capítulo 3.
3
Palestra feita por Gary Posner, em 9 de novembro de 2001, em Atlanta, Convenção do Centro de
Pesquisa.
4
Ver o capítulo 2.
5
Por exemplo, Shermer M. 2000. How we believe: the search for God in an age of science. Nova York:
W. H. Freeman and Company, p. 21.
6
Por exemplo, (a) Emberger G. 1994. Theological and scientific explanations for the origin and purpose
of natural evil. Perspectives on Science and Christian Faith 46 (3), p. 150-158. (b) Hick J. 1977. Evil
and the God of love. 2a edição. Londres: Macmillan. (c) Lewis CS. 1957. The problem of pain. Nova
York: Macmillan. (d) Wilder-Smith AE. 1991. Is this a God of love? Wilder-Smith P, tradutor. Costa
Mesa: TWFT.
7
Ver o capítulo 6. Para uma visão discordante, ver Cleland CE. 2001. Historical science, experimental
science, and the scientific method. Geology 29, p. 987-990. Para uma introdução abalizada, ver
Simpson GG. 1963. Historical science. In: Albritton CC, Jr., editor. The fabric of geology. Reading:
Addison-Wesley, p. 24-48.
8
Ver os capítulos 3 e 5.
9
Ver os capítulos 3-5.
10
Para alguns exemplos ilustrativos, ver: (a) Behe MJ. 1996. Darwin’s black box: the biochemical
challenge to evolution. Nova York: Touchstone. (b) Crick F. 1981. Life itself: its origin and nature.
Nova York: Simon & Schuster. (c) Denton M. 1985. Evolution: a theory in crisis. Bethesda, MD: Adler
& Adler. (d) Ho M-W, Saunders P, editores. 1984. Beyond neo-Darwinism: an introduction to the new
evolutionary paradigm. Orlando: Academic Press. (e) Løvtrup S. 1987. Darwinism: the refutation of a
myth. Nova York: Croom Helm. (f) Ridley M. 1985. The problems of evolution. Oxford: Oxford
University Press. (g) Shapiro R. 1986. Origins: a skeptic’s guide to the creation of life on earth. Nova
York: Summit. (h) Taylor GR, 1983. The great evolution mystery. Nova York: Harper & Row. (i) Wells
J. 2000. Icons of evolution: science or myth? Why much of what we teach about evolution is wrong.
Washington, DC: Regnery Publishing.
11
Smith H. 1976. Forgotten truth: the primordial tradition. Nova York: Harper Colophon, p. 132.
12
Futuyma DJ. 1998. Evolutionary biology. 3a edição. Sunderland: Sinauer Associates, p. 28.
13
Huxley, TH. 1871 (1893). Darwiniana: essays. Nova York: Appleton, p. 149.
14
Ver também a primeira parte do capítulo 7 para discussão anterior.
15
Ver os capítulos 3 e 7.
16
Ver a discussão no capítulo 5.
17
Gould SJ. 1985 (1998). Mind and supermind. In: Leslie J., editor. Modern cosmology & philosophy. 2a
edição. Amherst: Prometheus, p. 187-194.
18
Huxley J. 1953. Evolution in action. Nova York: Mentor, p. 13.
19
Dawkins R. 1986. The blind watchmaker: why the evidence of evolution reveals a universe without
design. Nova York: Norton, p. 1.
20
Crick F. 1988. What mad pursuit: a personal view of scientific discovery. Nova York: Basic Books, p.
138.
21
Ver os capítulos 2-5.
22
Ver o capítulo 1.
23
Citado em Larson EJ, Witham L. 1999. Scientists and religion in America. Scientific American 281 (3),
p. 88-93.
24
Yockey HP. 1992. Information theory and molecular biology. Cambridge: Cambridge University Press,
p. 288. Itálicos suprimidos.
25
Dawkins R. 2006. The God delusion. Boston: Houghton Mifflin.
26
Existem raras exceções. De interesse recente: Meyer SC. 2004. The origin of biological information and
the higher taxonomic categories. Proceedings of the Biological Society of Washington 117 (2), p. 213-
239. Esse artigo, que advoga o desígnio inteligente, causou furor desde sua publicação numa revista
científica. Essas reações comprovam a atual resistência da comunidade científica para com o conceito
de Deus.
27
Ver o capítulo 1.
28
Godfrey LR, editor. 1983. Scientists confront creationism. Nova York: Norton.
29
Para discussão e avaliação, ver: Roth AA. 1998. Origins: linking science and scripture. Hagerstown:
Review and Herald, p. 339-354.
30
Ver especialmente os capítulos 2-5.
31
Ver o capítulo 1.
32
Por exemplo: (a) Midgley M. 1985. Evolution as a religion: strange hopes and stranger fears. Londres:
Methuen. (b) Ruse M. 2003. Is evolution a secular religion? Science 299, p. 1523-1524.
33
Citado em 1987 em Palaios 2, p. 445. Lakatos crê que, em geral, a ciência progride com o tempo.
34
A expressão “histórias assim mesmo” é ocasionalmente usada na literatura científica em referência a
conceitos fantasiosos considerados como não tendo boa autenticidade. A expressão vem de um livro de
Rudyard Kipling, Just So Stories, escrito para crianças. Um relato nesse livro é que o elefante
desenvolveu sua longa tromba porque um crocodilo puxou por longo tempo o focinho do elefante. Ver:
Kipling R. 1907. Just so stories. Garden City: Doubleday.
35
Michael Polanyi. 1969. Knowing and being: essays by Michael Polanyi. Green M, editor. Chicago: The
University of Chicago Press, p. 41.
36
Ver o capítulo 1.
37
Ver o capítulo 1.
38
Lord Acton (John Emerich Edward Dahlberg). 1887. Citado em Partington A, editor. 1992. The Oxford
dictionary of quotations. 4a edição. Oxford: Oxford University Press, p. 1.
39
Ver o capítulo 1.
40
Citado em Gingerich O. 2004. Dare a scientist believe in design? Bulletin of the Boston Theological
Institute 3.2, p. 4-5.
41
Todd SC. 1999. A view from Kansas on that evolution debate. Nature 401, p. 423.
42
Rothman T. 1987. A ‘What you see is what you beget’ theory. Discover 8 (5), p. 90-99.
43
Russell B. 1929. Mysticism and logic. Nova York: Norton, p. 47, 48.
44
Citado em du Noüy L. 1947. Human destiny. Nova York: Longmans, Green, p. 43.
45
Smith, Forgotten truth, p. 1.
46
Yockey HP. 1986. Materialist origin of life scenarios and creationism. Creation/Evolution XVII, p. 43-
45.
47
Collins FS, Weiss L, Hudson K. 2001. Heredity and humanity. The New Republic 224 (26), p. 27-29.
Itálicos na versão original do autor.
48
Falo aqui das preocupações muito além da limitada preocupação pelos familiares mais próximos,
sugerida pelo conceito da seleção de parentesco da sociobiologia.
49
Ver o capítulo 1.
A questão de Deus: Como é usada neste livro, a expressão refere-se
especificamente à questão da existência ou não de Deus.
Agnóstico: Alguém que crê que são desconhecidas as respostas para as grandes
questões, como a existência de Deus ou a origem do Universo.
Aminoácido: Molécula orgânica simples, com um grupamento de nitrogênio. Os
aminoácidos se combinam para formar proteínas. Os organismos vivos têm 20
tipos diferentes de aminoácidos.
Ateu: Alguém que não crê na existência de Deus.
Base (DNA, RNA): Também chamada base nucleotídea. É uma molécula
semelhante a um anel, que contém nitrogênio e serve como a parte principal
dos nucleotídeos. Essas bases são as unidades do código genético. Os cinco
tipos diferentes encontrados no DNA e RNA são: adenina, guanina, citosina,
uracila (somente no RNA) e timina. Ver nucleotídeo.
Bastonete: Célula alongada fotorreceptora na retina dos vertebrados, sensível à
luz fraca, mas não a várias cores de luz. Ver cones.
Big Bang: Evento explosivo especial que se supõe ter ocorrido no início do
Universo, mudando-o de uma minúscula partícula a um cosmo em expansão.
Cambriano: Divisão (período) inferior da porção fanerozoica da coluna
geológica. É a unidade mais baixa, com abundância de fósseis.
Catastrofismo: Teoria de que fenômenos fora de nossa experiência atual da
natureza (grandes catástrofes) modificaram radicalmente a crosta terrestre por
meio de eventos repentinos, violentos, mas de curta duração, mais ou menos
em âmbito planetário.
Ciência histórica: Tipo de ciência menos objetiva e mais difícil de comprovar.
Isso frequentemente inclui eventos passados que não podem ser repetidos, daí
o qualificativo “histórica”. A ciência histórica contrasta com a ciência
experimental, em que se pode facilmente repetir um teste.
Ciência moderna: Ciência dos últimos cinco séculos, caracterizada por
objetividade, experimentação e matemática. Mais recentemente, também tem
sido caracterizada por uma filosofia naturalista (materialista).
Ciência sem fatos: Conclusões científicas baseadas em conjecturas, e não em
fatos.
Ciência: Estudo dos fatos e interpretações sobre a natureza. Alguns excluem a
possibilidade de um Deus ativo na natureza a partir das conclusões da ciência,
mas uma tese deste livro é que essa exclusão é restritiva e pode interferir na
descoberta da verdade sobre a natureza.
Cladística: Classificação de um seleto grupo de organismos de acordo com
semelhanças, especialmente as exclusivas.
Cladograma: Diagrama em forma de ramificações, ilustrando as semelhanças e
diferenças entre um grupo de organismos. Muitos cientistas consideram que
um cladograma representa as mudanças evolutivas que supostamente
ocorreram.
Classe (classificação): Ver classificação de organismos.
Classificação de organismos: Os biólogos usam frequentemente o seguinte
sistema hierárquico para classificar organismos. Cada categoria abaixo da
primeira é uma subdivisão da que vem acima.
Reino
Filo (animais) e Divisão (plantas)
Classe
Ordem
Família
Gênero
Espécie
Clima de opinião: Opinião ou ponto de vista que prevalece num grupo social.
Código genético: As 64 combinações das três bases nucleotídeas encontradas no
DNA (ver códon), que determinam quais dos 20 aminoácidos encontrados em
organismos vivos serão colocados numa posição específica numa molécula
de proteína.
Códon: Unidade básica do código genético. Cada códon consiste de três bases
de nucleotídeos, codificando um tipo de aminoácido.
Coluna geológica: Sequência vertical ou cronológica das camadas de rocha,
comumente representada no formato de coluna, com as camadas mais baixas e
antigas na base, subindo até as mais jovens no topo. A coluna pode representar
uma área local ou a sequência vertical geral de todas as camadas de rocha da
Terra.
Complexidade irredutível: Complexidade na qual os vários componentes são
todos necessários para o devido funcionamento. Ver partes interdependentes.
Complexidade: Relação de partes ligadas de algum modo umas às outras. Neste
livro, usamos o termo especialmente para designar partes dependentes umas
das outras a fim de poderem funcionar devidamente.
Cone (olho): Célula sensível à luz (fotorreceptora) da retina dos vertebrados,
que é sensível a diferentes cores de luz. Os cones proporcionam cor e visão
aguda na claridade.
Consciência: Percepção pessoal de que existimos.
“Counterslab” (paleontologia): Uma placa ou lâmina de rocha que esteve em
contato com uma outra que continha um fóssil, e reflete a imagem do fóssil.
Criação progressiva: Ideia de que Deus criou tipos cada vez mais avançados de
organismos ao longo de éons de tempo.
Criação recente: Ideia de que Deus criou a vida alguns milhares de anos atrás,
rapidamente, num período de seis dias, conforme o relato da Bíblia.
Criação: O termo tem muitos significados. Neste livro, refere-se ao ato
específico de Deus trazendo algo à existência, como o Universo, a vida ou a
nossa percepção da existência. Para usos mais específicos, ver criação recente,
criação progressiva.
Cromossomo: Forma compacta semelhante a filamentos do DNA que se produz
durante a divisão celular.
Deísmo: Crença em algum tipo de Deus que pode ser impessoal e atualmente
não está ativo na natureza.
Deísta: Alguém que acredita no deísmo. Ver deísmo.
Desconformidade: Lacuna significativa nos estratos geológicos sedimentares,
onde as camadas acima e abaixo da lacuna são paralelas uma em relação à
outra e onde há bem pouca ou nenhuma erosão da camada inferior.
Desígnio inteligente: Conceito de que o Universo exibe objetivamente um
planejamento discernível.
Desígnio: Conceito de que algo foi criado ou idealizado com um propósito, em
contraste com um surgimento acidental ou casual.
Deslocamento para o vermelho: Deslocamento das linhas de luz do espectro,
de galáxias distantes, na direção da extremidade vermelha do espectro de luz.
É interpretado como o afastamento da galáxia em relação ao ponto de
observação.
Deus: Ser supremo, criador e mantenedor do Universo. Há muitas outras
compreensões acerca de Deus. Alguns pensam nEle como sendo as leis da
natureza, ou como a própria natureza. Outros pensam em vários tipos
diferentes de deuses.
DNA: Abreviatura comum de “ácido desoxirribonucleico”, que forma a longa
cadeia de moléculas que codificam a informação genética de um organismo.As
moléculas do DNA podem ter milhões de nucleotídeos ligados um ao outro.
Ver nucleotídeo.
Elétron: Pequena partícula subatômica encontrada fora do núcleo dos átomos,
com carga elétrica negativa.
Elitismo: Consciência ou sensação de ser o melhor ou superior em relação a um
grupo maior.
Enzima: Moléculas de proteína em organismos vivos que promovem mudanças
em outras moléculas sem serem alteradas ou destruídas.
Equilíbrio pontuado: Modelo evolucionário que considera que as espécies
geralmente existem por longos períodos de tempo sem alteração, mas
ocasionalmente são “pontuadas” com breves períodos de rápidas mudanças.
Espécie: Organismos semelhantes que se cruzam, na prática ou potencialmente.
Ver também classificação de organismos.
Eugenia: Ciência do melhoramento da raça humana, ou de animais, pelo
controle ou eliminação da reprodução de indivíduos que possuem
características indesejáveis.
Evolução química: Mudanças químicas que supostamente possam ter ocorrido
na Terra primitiva, as quais produziram a primeira forma de vida.
Evolução teísta: Evolução que inclui as atividades de Deus, especialmente para
ajudar nos desafios mais difíceis da evolução, como a origem da vida e a
explosão cambriana.
Evolução: Desenvolvimento gradual do simples para o complexo. O termo é
geralmente usado para designar o desenvolvimento evolutivo da vida, de
organismos simples aos mais avançados (ver macroevolução e
microevolução). O termo também é usado para a origem da vida (ver evolução
química) e para o gradual desenvolvimento do Universo, etc. Comumente, o
termo implica que Deus não está envolvido. Ver evolução teísta.
Explosão cambriana: Expressão usada para descrever o fato segundo o qual, ao
se ascender pelos estratos geológicos, repentinamente a maioria dos fósseis de
filos animais parece plenamente formados no Cambriano. O termo se refere ao
que os evolucionistas consideram ser um fenômeno “explosivo” de rápida
evolução.
Fanerozoico: Porção da coluna geológica acima do Pré-cambriano. Sua grande
unidade inferior é o Cambriano. Em contraste com o Pré-cambriano, o
Fanerozoico tem abundância de fósseis de grandes organismos.
Filo (classificação): Ver classificação de organismos.
Força de vontade: O controle do comportamento baseado em propósito
deliberado ou pensamento racional. Contrasta com o comportamento
impulsivo ou acionado pela genética ou outros meios fora do controle da
pessoa.
Fotorreceptor: Uma parte de célula, uma célula ou órgão que detecta a luz. No
caso do olho dos vertebrados, os bastonetes e os cones são as células que
detectam a luz.
Gene: Unidade básica da hereditariedade que controla determinada
característica. Também, a sequência de bases nucleotídeas do DNA que
codifica uma proteína, ou a transcrição dessa informação.
Gênero (classificação): Ver classificação dos organismos.
Geração espontânea: Conceito de que formas vivas surgem de matéria
inorgânica.
Idade Média: Expressão usada para descrever a fragilidade da comunicação e
coordenação da atividade intelectual na Europa nos séculos anteriores ao
chamado período de “reavivamento do saber”. O reavivamento do saber,
conhecido como Renascença, ocorreu nos séculos 14 a 16. A ciência moderna
veio a seguir.
Invertebrados: Animais que não têm espinha dorsal (coluna vertebral).
Exemplos: esponjas, minhocas, estrelas-do-mar, medusas, lesmas e lulas.
Isômero: Uma de duas ou mais moléculas que têm o mesmo tipo e número de
átomos, mas o arranjo espacial dos átomos é diferente.
Isômeros óticos: Isômeros (ver isômero) que são imagens espelhadas um do
outro e giram a luz em direções opostas.
Livre-arbítrio: Faculdade de agir de acordo com as próprias escolhas.
Macroevolução: Grandes mudanças evolutivas em organismos, supostamente
ocorridas entre os níveis mais elevados da classificação, como entre famílias,
ordens, classes, filos, etc. Ver microevolução.
Microevolução: Pequenas mudanças herdadas em organismos, em torno do
nível de espécie na classificação. Ver macroevolução.
Mutação: Mudança mais ou menos permanente na fórmula do DNA de uma
célula. Inclui mudanças nas bases nucleotídeas, mudanças na posição dos
genes, remoção ou duplicação de genes e transferência de sequências externas
para dentro da célula.
Natureza versus cultura: Expressão usada para designar o conflito que discute
o que é mais importante na modelagem da sociedade: se a natureza (os genes)
ou o ambiente cultural.
Neocatastrofismo: Termo usado para designar o novo tipo de catastrofismo, que
sugere várias grandes catástrofes no decorrer de longas eras geológicas, em
contraste com o catastrofismo clássico, que considera o dilúvio bíblico dos
dias de Noé como o grande evento.
Nucleotídeo: Unidade básica das longas moléculas de DNA e RNA, que
consiste em uma base, ácido fosfórico e uma molécula de açúcar.
Paleontologista: Alguém que se especializa no estudo dos fósseis.
Paraconformidade: Significativa lacuna em camadas geológicas sedimentares,
na qual as camadas acima e abaixo da lacuna são paralelas em relação umas às
outras e a lacuna é representada por um contato dominantemente plano ou não
é visível.
Paradigma: Uma ideia geralmente aceita, que por algum tempo oferece uma
área para investigação e sugere soluções a uma comunidade de profissionais.
Partes interdependentes: Partes de sistemas complexos, como os encontrados
nos átomos ou olhos, nos quais as partes dependem umas das outras a fim de
funcionar adequadamente. Ver complexidade irredutível.
Partícula subatômica: Partes dos átomos, como elétrons, prótons, nêutrons,
quarks, etc.
Pré-cambriano: Porção da coluna geológica que fica abaixo do Fanerozoico.
Coloca-se justamente abaixo do Cambriano, que é a maior unidade inferior do
Fanerozoico. O Pré-cambriano, em contraste com o Fanerozoico, é
caracterizado por uma pronunciada escassez de fósseis, e esses fósseis são
todos essencialmente de organismos microscópicos.
Princípio cosmológico antrópico: Conceito de que só se encontra vida
inteligente onde as condições possam acomodá-la. Há várias versões desse
conceito.
Proteína: Grandes moléculas orgânicas, algumas vezes compostas de centenas
de aminoácidos. Os organismos vivos contêm de centenas a muitos milhares
de tipos diferentes de proteínas.
Próton: Uma das principais partículas subatômicas no núcleo dos átomos. É
pouco menor que o nêutron e tem carga elétrica positiva.
Quarks: Supostas partículas subatômicas minúsculas que formam partículas
subatômicas maiores, como nêutrons e prótons.
Racional: Característica de ter como base a razão, ser sensível e sadio, não ser
algo tolo ou absurdo.
Relatividade: Na física, teoria que reconhece o caráter universal da luz e a
relação relativa de espaço e tempo, etc., sobre o movimento do observador.
Religião: Crença num ser superior ou em seres pessoais com direito a
obediência e adoração. Há muitas outras definições, mas a que é dada aqui é
de entendimento usual e é a usada neste livro. A religião é também entendida
às vezes como algo a que uma pessoa se dedica, como princípios de
moralidade ou mesmo uma ideia secular, como a ciência.
Renascença: Período histórico na Europa durante os séculos 14 a 16, quando,
após a Idade Média, houve um reavivamento na arte e literatura. A Reforma e
a ciência moderna vieram após esse período.
Ressonância (mecânica quântica): Combinação de fatores favoráveis, como
energia e alvos, que favorecem determinada reação nuclear.
Ribossomo: Partícula complexa em células, composta de várias proteínas e
RNA. É nessas partículas que os aminoácidos se combinam para formar
proteínas de acordo com a fórmula que vem do DNA.
RNA mensageiro: O RNA que transfere a informação do DNA no núcleo de
uma célula para os ribossomos.
RNA: Abreviatura comum do ácido ribonucleico. Longa cadeia de ácidos
nucleicos semelhante ao DNA, mas contendo ribose de açúcar e bases
levemente diferentes. Ver DNA, nucleotídeo e base.
Secular: Algo que não diz respeito à religião ou a crenças religiosas.
Seleção natural: Processo pelo qual os organismos mais aptos sobrevivem aos
menos aptos por causa da competição entre organismos ou adaptação ao
ambiente. Ver sobrevivência do mais apto.
Seleção por parentesco: Proposição segundo a qual, com o sacrifício da própria
vida para salvar a vida de vários familiares próximos, é possível salvar o
próprio tipo de genes porque os parentes tendem a possuir genes semelhantes.
Sobrevivência do mais apto: O conceito de que, devido à competição, os
organismos que são superiores ou mais capazes em seu ambiente sobreviverão
aos inferiores. Ver seleção natural.
Sociobiologia: Estudo da evolução do comportamento social em animais,
incluindo humanos.
Sopa orgânica: Suposto fluido semelhante a um caldo que, na Terra primitiva,
continha vários compostos orgânicos que acabaram produzindo a primeira
vida.
Supernova: Estrela que repentinamente explode, exibindo um fulgor intenso
e temporário.
Teoria quântica: Também chamada mecânica quântica. A teoria é
especialmente significativa em nível atômico e inclui conceitos de que a
energia se apresenta em discretas unidades e que algumas interações atômicas
e subatômicas são previsíveis apenas estatisticamente.
Transferência de RNA: Breve sequência de RNA que liga um tipo específico
de aminoácido ao lugar certo ao se combinarem as proteínas em ribossomos.
Trilha bioquímica: Série de passos em sequência num processo bioquímico, no
qual as enzimas transformam gradualmente uma molécula para produzir o
necessário produto final.
Uniformismo: Conceito de que os processos geológicos no passado não
mudaram em ritmo e tipo em relação àquilo que se observa agora na Terra.
Pode ser expresso como “o presente é a chave para o passado”. Ver
catastrofismo.
Verdade: Aquilo que realmente é; realidade, isenção de erro. Às vezes, a
expressão “realidade última” é usada para descrever a verdade absoluta em
contraste com aquilo que se crê ou aceita pessoalmente como verdade, mas
que pode estar errado. Neste livro, a menos que venha indicado de outra
forma, usamos o termo verdade no sentido de realidade definitiva.
Vertebrados: Animais com coluna vertebral ou espinha dorsal. Incluem os
peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.
Visão materialista: Visão filosófica de que a matéria é tudo o que existe no
mundo real. É muito semelhante à visão mecanicista e visão naturalista.
Visão mecanicista: Visão filosófica de que, no mundo real, tudo consiste de
matéria e movimento. Não existe Deus. É muito semelhante à visão
materialista e visão naturalista.
Visão naturalista: Visão filosófica que admite apenas fenômenos naturais,
excluindo assim o sobrenatural como parte da realidade. Deus não existe. É
muito semelhante à visão materialista e visão mecanicista.