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Biol o g i a

Volume 12
S u m ár io
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e slides deste volume.

Desequilíbrios ecológicos e conservação


23 ambiental ................................................. 4
Poluição do ar ................................................................................................ 5
Poluição da água e do solo ............................................................................. 13
Biologia da Conservação ................................................................................ 19

24 Evolução biológica .................................... 30


Pensamento evolucionista ............................................................................. 31
Seleção natural e adaptação .......................................................................... 37
Evidências do processo evolutivo ................................................................... 46
Genética populacional ................................................................................... 55

O projeto gráfico atende aos objetivos da coleção de diversas formas. As ilustrações, os diagramas e as figuras contribuem para a
construção correta dos conceitos e estimulam o envolvimento com os temas de estudo. Assim, fique atento aos seguintes ícones:

Coloração artificial Formas em proporção Fora de escala numérica

Coloração semelhante ao natural Imagem microscópica Imagem ampliada

Fora de proporção Escala numérica Representação artística


23
io s ecológicos
Desequilíbr mbiental
e con s e r vaç ã o a
©iStockphoto.com/Smithore

Ponto de partida
Os seres humanos interagem continuamente com o ambiente, a fim de garantir sua sobrevivência. Contudo, essa
interação tem se mostrado desafiadora, uma vez que é necessário utilizar os recursos naturais de forma racional,
promovendo a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico e garantindo a preservação do ambiente.
1. De que maneira as atividades humanas podem impactar no equilíbrio ecológico dos ecossistemas e na disponi-
bilidade de recursos naturais?
2. Quais seriam as formas de garantir o desenvolvimento das atividades humanas reduzindo ao máximo os impac-
tos ao ambiente?

4
Objetivos da unidade:
Poluição do ar ƒ identificar as causas da
poluição do ar, da água e
Considera-se que o ar é poluído quando apresenta, além de seus do solo e as consequên-
componentes normais, que são principalmente nitrogênio (N2) e oxi- cias disso para a biosfera;
gênio (O2), grande quantidade de outras substâncias, como monóxido
de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx), óxidos de enxofre (SOx), ƒ reconhecer por que a
hidrocarbonetos (CxHy) e partículas sólidas (carvão, amianto e metais). conservação da biodi-
versidade é imprescin-
Essas substâncias responsáveis pela poluição atmosférica provêm,
dível para a manutenção
principalmente, de fontes energéticas não renováveis, sendo os com-
da vida na Terra;
bustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral) os mais utilizados. Tais po-
luentes são liberados na atmosfera sobretudo pela atividade de certas ƒ compreender as princi-
indústrias (como as siderúrgicas, petroquímicas, de cimento e papel), pais formas de desen-
usinas termelétricas abastecidas com carvão, motores de explosão volvimento sustentável
(principalmente diesel e gasolina), sistemas de aquecimento doméstico e uso racional dos recur-
e queimadas. Além das diversas alterações ambientais, como as climá- sos naturais.
ticas, a poluição atmosférica pode provocar danos à saúde humana e
dos demais seres vivos.
Com o objetivo de reduzir a quantidade de gases poluentes na atmosfera, di-
versas indústrias e laboratórios vêm realizando pesquisas para o aperfeiçoamento
de motores menos poluentes. Esses estudos visam, principalmente, aos sistemas
Considera-se poluição toda alteração
de “queima” de combustíveis, buscando a melhor mistura ar-combustível e a tem-
da natureza provocada por agentes
peratura ideal de combustão para que esta ocorra da forma mais completa possí-
físicos, químicos ou biológicos, deno-
vel. Além disso, procura-se fazer com que os gases liberados passem por filtros com
minados poluentes.
catalisadores, substâncias que provocam reações químicas para reduzir a presença
de gases poluentes.

Principais consequências da poluição do ar


Entre os principais efeitos causados pelo aumento da poluição atmosférica, estão chuva ácida, branqueamento dos
corais, aumento na incidência de doenças respiratórias, diminuição da diversidade vegetal e redução da quantidade de
gelo nas calotas polares.
iro

• Chuva ácida: o excesso de enxofre (S) e óxido nitroso (N2O) presen-


©Shutterstock/Alf Ribe

te na atmosfera combina-se com a água (H2O) formando ácidos, que


aumentam a acidez da chuva. Ao precipitar-se, a água da chuva pode
danificar as folhas dos vegetais e aumentar a acidez de solos e lagos,
afetando os organismos que vivem nesses ambientes.
• Branqueamento dos corais: a elevação da temperatura atmosférica,
que pode provocar a elevação da temperatura dos oceanos, e o au-
mento da acidez da água ameaçam diversas espécies que formam os
recifes de corais, sobretudo as algas que vivem associadas a eles e são Nas grandes cidades, os carros são
os principais agentes lançadores
responsáveis por grande parte de sua co-
©Shutterstock/acro_phuket

de gases poluentes na atmosfera.


loração. Sem as algas, os corais tornam-se
claros (branqueamento dos corais), ficam sem alimento e morrem. Inclusive, algu-
mas espécies de corais que só existem no litoral brasileiro estão bastante ameaça-
das por esse processo. Como constituem locais de alimentação e reprodução de
diversas espécies oceânicas, sua morte tem impacto negativo para outras espécies.

Recife de coral com algumas espécies


apresentando o processo de branqueamento

5
1980

• Aumento na incidência de doenças respiratórias: a poluição


atmosférica pode causar bronquite, rinite alérgica, asma e ou-
tros problemas de saúde, tais como: irritação na pele, lacrima-
ção exagerada, infecção nos olhos e ardência na mucosa da
garganta.

©NASA/Goddard Scientific Visualization Studio


• Diminuição da diversidade vegetal: as plantas são extrema- 2012
mente sensíveis à poluição atmosférica.
• Redução da quantidade de gelo nas calotas polares: a intensi-
ficação do efeito estufa causada por gases poluentes pode pro-
vocar o degelo das calotas polares, o que tem como principal
consequência a elevação dos níveis de oceanos e mares. Isso

©N
pode causar extinção de espécies em decorrência da inunda- Imagens comparativas demonstrando a redução
da área de cobertura de gelo no Oceano Ártico
ção de hábitats específicos e de extensas regiões povoadas. em 1980 e 2012

Conexões
Mesmo distantes das calotas polares, países tropicais como o Brasil têm sentido na fauna e na flora os
impactos negativos do degelo no Atlântico Norte, consequência do aquecimento global. [...]
No Brasil, o exemplo mais emblemático são os recifes de corais. “Em áreas tropicais, o aumento da
temperatura do oceano afeta os corais e priva muitos outros habitantes de sua fonte de alimentos” [...].
As tartarugas, por exemplo, têm sua reprodução ameaçada pela variação na temperatura da areia. “Elas
dependem da temperatura adequada para o processo de choca dos ovos. Isso interfere na quantidade de
filhotes que conseguem nascer”, explica o biólogo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS)
Denilson Cardoso.
[...] O papagaio-de-cara-roxa, espécie endêmica do litoral sul do Brasil, está sob risco de extinção. Uma
das causas do declínio da população da ave no Paraná se deve ao aumento do nível do mar, onde a espécie
se concentra na Ilha Rasa, facilmente coberta na maré alta. “As águas internas da ilha já estão se tornando
salobras, o que afeta as árvores que servem de ninhos naturais”, diz Cardoso. O papagaio faz seus ninhos
em ocos de árvores. Para tentar preservar a espécie, a SPVS tem implantado ninhos artificiais na ilha.
[...]
Outros fenômenos provocados pelas mudanças climáticas podem provocar alterações no hábitat e
ameaçar a sobrevivência de animais. Tormentas e tornados, por exemplo, podem destruir hábitats e ni-
nhos e interferir no sistema hídrico, impedindo gradativamente a reprodução das espécies.
GONÇALVES, Juliana. Degelo polar penaliza fauna e flora mundial. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/degelo-
polar-penaliza-fauna-e-flora-mundial-76s9kw1xht4lu2kukgt1zbx3i>. Acesso em: 31 ago. 2015.

Intensificação do efeito estufa


O efeito estufa garante uma temperatura atmosférica adequada para a manutenção da vida na Terra, evitando
que toda a radiação solar retorne ao espaço. No entanto, o aumento da concentração de gases estufa (CO2, CH4,
NO2 e CFCs) vem causando uma intensificação desse fenômeno, o que pode provocar maior retenção de calor na
atmosfera, levando ao aquecimento global.

6 Volume 12
A maior concentração desses gases na atmosfera resulta, principalmente,
da queima de combustíveis fósseis e da eliminação de metano (CH4) pelos
rebanhos bovinos em todo o mundo – o Brasil apresenta o maior rebanho O rebanho bovino representa a
comercial de gado. principal fonte de emissão de me-
tano na atmosfera. Isso se deve
Efeito estufa natural Efeito estufa intensificado ao fato de o alimento consumido
pelos bois formar um caldo no rú-
Mais calor Menos calor
men (primeira parte do estômago
escapa para escapa para desses animais), sendo digerido

r
Calo
o espaço o espaço
com o auxílio de micro-organis-
Pouco calor Muito calor
mos. Esse processo gera gás me-
Rad

Calor irradiado irradiado


tano, que é eliminado na atmosfera
iaçã

irradiado de volta de volta Calor


o u

por meio da eructação (arroto), da


irradiado
Angela Giseli e Divo. 2012. Digital.

para o para o
ltra

planeta planeta
eliminação de gases intestinais
vio
tale

ou com a respiração. Cada animal

Ma
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pode liberar, aproximadamente,
fa

gas
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es
es e

60 kg de metano por ano. O grande

estu
ra
G as

osfe

fa
problema é que, se comparado ao
Atm

gás carbônico, o metano retém até


Esquema ilustrativo da comparação entre o efeito estufa natural (à esquerda) e sua intensificação 25 vezes mais calor na atmosfera,
(à direita) provocada pelo aumento da concentração de gases estufa na atmosfera contribuindo para o efeito estufa.

O aquecimento global associado à excessiva retenção de calor gerada pela intensificação do efeito estufa não é um
consenso entre os cientistas. Muitos defendem que esse aquecimento sempre existiu, sendo uma ocorrência natural,
e não provocada pelo ser humano. Outros alegam que, durante toda a sua existência, o planeta Terra passou por pe-
ríodos de aquecimento e de posterior resfriamento, e um dos fatores que influenciam nesse processo são os períodos
glaciais e interglaciais. Para esses pesquisadores, a Terra estaria passando atualmente por um período interglacial, ou
seja, de aquecimento natural.
Contudo, sendo um fenômeno natural ou antrópico, sabe-se que a poluição do ar, da água e do solo deve ser
reduzida para que se consiga manter a qualidade de vida em um planeta tão populoso. Assim, em 1997, durante a
Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada no Japão, foi criado o Protocolo de Kyoto, que
propôs medidas para a redução da emissão de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono. Por meio
desse acordo, os países-membros, principalmente os desenvolvidos, teriam a obrigação de reduzir a emissão desses
gases em, pelo menos, 5,2% (em relação aos níveis de 1990) até o ano de 2012.
Uma das alternativas levantadas pelo Protocolo de Kyoto para diminuir a
excessiva concentração de gases estufa consistia no aumento do sequestro
de carbono da atmosfera. Para que isso fosse possível, os desmatamentos e as O processo de sequestro de carbono
queimadas deveriam ser evitados e o consumo de combustíveis fósseis para a caracteriza-se pela remoção, de maneira
geração de energia teria de ser reduzido. Como estabelecia metas para a redu- natural, do gás carbônico da atmosfera.
ção da emissão de gases que intensificam o efeito estufa, com destaque para Essa remoção é realizada principalmente
o CO2, a ratificação do Protocolo de Kyoto pelos países esbarrou na necessida- pelas florestas, que retêm o carbono em
de de mudanças em suas matrizes energéticas. Os elevados custos recairiam, suas estruturas – sobretudo na madeira,
principalmente, sobre os países desenvolvidos, em especial os Estados Unidos, na forma de celulose.
que não o ratificaram.
Sem a adesão dos Estados Unidos e não conseguindo atingir as metas estabelecidas, o Protocolo de Kyoto foi pror-
rogado durante a Conferência do Clima, realizada na cidade de Durban, na África do Sul, em dezembro de 2011. Desse
modo, o texto conta com novo período de comprometimento, com prazo de 2013 a 2020. Na verdade, os países não
conseguiram chegar a um acordo e adiaram a decisão sobre a definição das datas para atingir as metas de redução de
gases de efeito estufa.

Biologia 7
Monóxido de carbono
Gás inodoro e incolor produzido pela queima incompleta de combustíveis que, além de problemas ambientais,
ocasiona efeitos nocivos à saúde humana quando inalado. Os sintomas provocados pelo monóxido de carbono (CO)
variam muito de pessoa para pessoa, conforme a idade, o estado de saúde, a concentração e o tempo de exposição.
Dependendo da quantidade de gás inalado, a pessoa pode apresentar perda de consciência e, em casos mais graves,
pode ocorrer a morte por asfixia.
Isso ocorre porque o CO combina-se, de maneira irreversível, com as moléculas de hemoglobina presentes no
interior das hemácias, formando um composto estável denominado carboxiemoglobina. Assim, ao inspirar esse gás,
a quantidade de hemoglobinas disponíveis para o transporte de O2 (oxiemoglobinas) sofre intensa redução e, conse-
quentemente, menos O2 é transportado às células, que não conseguem realizar a respiração celular e produzir energia.
Por isso, deve-se evitar permanecer em garagens ou estacionamentos com carros ligados, assim como instalar
aquecedores a gás ou ficar próximo a fogareiros ou lareiras em ambientes sem ventilação, pois esses locais aprisionam
o monóxido de carbono, fazendo com que atinja rapidamente níveis letais.

Redução da camada de ozônio


A camada atmosférica de ozônio situa-se entre 15 e 50 km de altitude,
Próximo ao solo, o ozônio perde sua função
entre a troposfera e a estratosfera, e sua espessura é variável. A principal pro-
protetora e se transforma em um gás po-
priedade dessa camada é filtrar as radiações ultravioleta (UV) provenientes e,
luente, podendo causar irritação nos olhos
do Sol.
se inalado, reações inflamatórias.
Ao absorver as radiações ultravioleta, as moléculas de oxigênio (O2) libe-
ram os dois átomos de oxigênio (O), que sofrem colisão com outras molécu-
las de oxigênio, formando o gás ozônio (O3). Como é muito instável, o O3 é Por envolver moléculas de oxigênio presen-
facilmente dissociado pela radiação ultravioleta em novas moléculas de O2 e tes na atmosfera, a formação do gás ozônio
átomos livres de oxigênio (O). Com essas reações, a camada de ozônio absor- e sua conversão novamente em O2 e oxigê-
ve grande parte da radiação UV, evitando que atinja a superfície do planeta nio livre fazem parte do ciclo do oxigênio.
e prejudique os seres vivos.

Raios
ultravioleta +

Átomo de Molécula Ozônio


oxigênio livre de oxigênio
Jack Art. 2012. Digital.

Ozônio
O
3
+
Representação esquemática
Molécula Átomo de Ozônio da formação do gás ozônio
de oxigênio oxigênio livre na atmosfera terrestre

Uma das mais importantes alterações ambientais ocorridas nas últimas décadas tem sido a redução da espessura
da camada de ozônio. Diversas pesquisas, realizadas a partir de 1973, indicaram sua redução em vários países, como
Suíça, Alemanha, Canadá, Chile e Brasil. No entanto, a maior redução foi observada em 1977, quando cientistas identi-
ficaram a diminuição da espessura do ozônio sobre a Antártica, conhecida como “buraco” na camada de ozônio.
A grande causa da diminuição dessa camada é a liberação de um grupo
de compostos gasosos denominados clorofluorcarbonos (CFCs). Essas subs-
o
tâncias eram intensamente utilizadas na fabricação de diversos produtos in- Mais de 180 países assinaram o Protocol
e
dustriais, como refrigeradores, extintores de incêndio, condicionadores de ar, de Montreal, acordo que institui a redução
espumas polimétricas, propelentes de aerossóis e compressores de ar. Por isso, do uso industrial
a eliminação por completo
a utilização de gases à base de CFCs na fabricação desses produtos foi proibida. de produtos que liberam CFCs.

8 Volume 12
Ação dos CFCs Chuvas ácidas
Quando chegam à estratosfera, os gases à base de Chuva ácida ou deposição ácida é a denominação
CFCs são desintegrados pelas radiações ultravioleta, libe- dada à chuva, ou qualquer outra forma de precipitação
rando átomos de cloro. Observe, a seguir, a sequência de atmosférica, cuja acidez seja abaixo de 5,5. Em decor-
reações que ocorrem a partir de um clorofluorcarbono, rência de sua grande capacidade de dissolução, a água
cuja fórmula molecular é CF2Cℓ2. que evapora dissolve gases presentes na atmosfera. Caso
esses gases sejam dióxido de enxofre (SO2) ou monóxi-
CF2Cℓ2 ⎯⎯→
Raios UV
CF2Cℓ + Cℓ· do de nitrogênio (NO), ocorre a formação de ácidos, que
caem sobre a superfície terrestre com a chuva.
Ao mesmo tempo, as radiações ultravioleta também
realizam a degradação do ozônio formando O2 e O·, que Desse modo, a formação da chuva ácida pode ocorrer,
se combinam novamente, reconstituindo o O3. principalmente, de duas maneiras.

O3(g) ⎯⎯→
Raios UV
O2(g) + O· 1. O dióxido de enxofre lançado por usinas (termelé-
tricas e refinarias de petróleo, por exemplo) reage
com o oxigênio atmosférico, formando trióxido de
O2(g) + O· ⎯⎯→
Raios UV
O3(g) enxofre.

O cloro livre, por sua vez, reage com o ozônio forman- SO2(g) + 1/2 O2(g) → SO3(g)
do monóxido de cloro (CℓO·) e moléculas de oxigênio
(O2). No entanto, o oxigênio molecular (O2) não apresenta O trióxido de enxofre, por sua vez, reage com os
a mesma propriedade do ozônio na proteção da superfí- vapores-d’água presentes na atmosfera, formando
cie terrestre contra os raios ultravioleta. ácido sulfúrico (causador da chuva ácida).

Cℓ· + O3(g) → CℓO·(g) + O2(g) SO3(g) + H2O(v) → H2SO4(aq)

Em seguida, o monóxido de cloro reage com os áto-


mos de oxigênio produzindo moléculas de O2 e átomos 2. O monóxido de nitrogênio liberado por motores de
de cloro, que reiniciam o ciclo de degradação do ozônio. combustão associa-se ao oxigênio atmosférico, for-
mando dióxido de nitrogênio.
CℓO·(g) + O· → Cℓ· + O2(g)
2 NO(g) + O2(g) → 2 NO2(g)
Com a proibição do uso dos CFCs, a tendência é que sua
concentração na atmosfera diminua cada vez mais. Entre- O dióxido de nitrogênio reage com os vapores-
tanto, esses gases ainda continuam presentes na atmosfera, -d’água presentes na atmosfera, formando ácido
provocando a redução da espessura da camada de ozônio nítrico (causador da chuva ácida) e óxido nítrico.
e, consequentemente, a passagem de grande quantidade
de radiações ultravioleta, o que causa graves consequên- 3 NO2(g) + H2O(v) → 2 HNO3(aq) + NO
cias aos seres vivos e aos ecossistemas, tais como:
• queimaduras solares que podem gerar danos ao Em virtude de o ar poluído contendo compostos de
DNA, como mutações, ocasionando o câncer de enxofre e nitrogênio ser transportado pelo vento, co-
pele em humanos e outros animais; brindo distâncias entre 100 e 2 000 km, a chuva ácida é
• diminuição do fitoplâncton, alterando as teias ali- considerada uma forma de poluição que atravessa fron-
mentares marinhas; teiras. Por exemplo, a causa mais provável da deposição
ácida na Escandinávia foram ventos carregando nuvens
• alterações nos ciclos reprodutivos de diversas cul-
turas agrícolas; com compostos de enxofre vindos da Alemanha e da
Inglaterra; o Canadá recebe deposição ácida dos Estados
• intensificação do efeito estufa, pois os gases Unidos; o Uruguai é afetado pela chuva ácida formada
constituídos de CFCs também contribuem para o no Brasil pelo óxido de enxofre lançado na atmosfera por
aquecimento global. termelétricas.

Biologia 9
A chuva ácida pode provocar graves impactos ao ambiente, tais como:
• danificar as folhas das plantas, formando manchas ama-

©Shutterstock/Mary Terriberry
reladas e reduzindo sua capacidade de realizar fotossín-
tese, o que faz com que produzam menos alimento e
cresçam mais lentamente;
• aumentar a acidez do solo, dificultando a absorção de
nutrientes e água pelas raízes. A água ácida também dis-
solve os principais nutrientes do solo, podendo desen-
cadear reações químicas que liberam alumínio e outras
substâncias tóxicas para as plantas;
Floresta danificada pela ocorrência contínua
• contaminar lagos que recebem sua enxurrada, o que de chuva ácida
altera as características do ambiente e afeta a vida de
peixes e outros organismos aquáticos;
• dissolver estátuas, paredes externas de prédios e monumentos históricos em decorrência de sua ação corrosiva.

A chuva ácida não é um processo natural e interfere diretamente no ciclo da água. Isso ocorre porque, ao se
concentrar e precipitar-se, o vapor-d’água presente na atmosfera deve chegar ao solo livre de substâncias tóxicas
dissolvidas, e a água da chuva pode ser utilizada pelos seres vivos sem lhes causar danos.

Inversão térmica
Depois que as radiações ultravioleta são absorvidas pela superfície terrestre, ocorre a liberação de raios infraverme-
lhos na forma de ondas de calor, aquecendo o ar superficial. Como é menos denso, esse ar sobe e o ar das camadas
atmosféricas superiores, que é mais frio e denso, desce. Com isso, formam-se as correntes de convecção, contínuo fluxo
de ar que auxilia na dissipação de poluentes.
No entanto, especialmente no inverno, quando há menos ventos e chuvas e o aquecimento das camadas de ar
próximas à superfície é mais lento, pode ocorrer o aprisionamento de uma camada de ar quente entre duas de ar frio.
Com as massas de ar mais estáticas, os poluentes demoram mais tempo para serem dissipados, podendo acumular
diversas substâncias, que formam uma névoa densa ou neblina, caracterizando o fenômeno meteorológico denomi-
nado inversão térmica.
O agravamento da Situação normal Inversão térmica
inversão térmica pode
A B
provocar problemas car-
diorrespiratórios e alérgi- Ar mais frio Massa de ar frio

cos na população. Além


disso, esse processo con- Dispersão
tribui para a formação de Ar frio Ar quente
dos
chuvas ácidas. poluentes
Poluição
Ar quente acumulada Ar frio

Esquemas ilustrativos
demonstrando situação
©Shutterstock/Grmarc

normal de dispersão dos


gases na atmosfera (A) e
ocorrência de inversão
térmica (B)

10 Volume 12
Na tentativa de reduzir os impactos provocados pela poluição atmosférica e tendo como referência o Protocolo
de Kyoto, foi criado o mercado de créditos de carbono. Nele, as empresas ou os países que promovem a emissão
de gases poluentes abaixo das metas estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto têm direito à certificação de créditos de
carbono e podem comercializá-los com os países que têm metas a cumprir.
Para o cálculo dos créditos, a redução das emissões dos gases de efeito estufa é medida em toneladas de dióxido
de carbono equivalente (tCO2e) – cada tonelada equivale a 1 crédito de carbono. Assim, cada tCO2e não emitida
ou retirada da atmosfera pode ser negociada no mercado mundial por meio de Certificados de Emissões Reduzidas
(CERs).
Os países que não conseguem (ou não desejam) reduzir suas emissões podem comprar os CERs de outros países
e usá-los para cumprir suas obrigações. É um tipo de moeda trocado por diversos setores da economia mundial por
meio da adoção de medidas alternativas, como reflorestamento, troca de energias fósseis por energias renováveis,
controle de poluição e projetos de desenvolvimento sustentável.

Atividades

1. (IFPE) A poluição ambiental pode ser definida como o dão em nível do sistema nervoso central, provocan-
acréscimo de materiais e/ou energia ao ambiente, em do distúrbios neurológicos graves.
quantidades que causem uma alteração indesejável e
Estão corretas, apenas:
que possam ameaçar a sobrevivência ou as atividades
humanas e dos demais organismos. O fator causador a) I, II e III.
da poluição recebe o nome de poluente e pode ter ori- b) I, II e IV.
gem natural ou antrópica.
c) II, III e IV.
Sobre os poluentes ambientais, foram feitas as seguin-
tes afirmativas: d) II e III.

I. O dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2) é um e) I, II, III e IV.


subproduto das combustões e da respiração dos 2. (UFG – GO) Leia o texto a seguir.
seres vivos. Embora importante como matéria-pri-
ma para a fotossíntese, a concentração atmosférica A “colaboração” do aquecimento global
desse gás está aumentando e contribuindo de ma- Estudos publicados na revista científica Science
neira significativa para o efeito estufa. demonstraram que nos ovos do lagarto-barbado
II. Os óxidos de nitrogênio e de enxofre são conver- incubados em temperaturas entre 22 °C e 32 °C, a
tidos respectivamente em ácido nítrico e ácido proporção de nascimentos entre machos e fêmeas
sulfúrico que, quando combinados com o vapor- foi em torno de 50% para cada sexo. Entretanto,
-d’água atmosférico, são responsáveis diretos pela acima de 34 °C havia uma distorção progressiva
chuva ácida. nessa proporção a favor das fêmeas, chegando
III. Embora importante quando presente nas camadas ao extremo de, em uma das ninhadas, nascerem
superiores da atmosfera, pois filtra os raios ultravio- 94% de fêmeas e apenas 6% de machos.
leta, o ozônio (O3) é altamente tóxico para animais e PLANETA. São Paulo, ano 37, edição 437, 2009, p. 20.
vegetais. [Adaptado].

IV. O monóxido de carbono (CO) é um importante po- Levando-se em consideração o exposto no texto e as
luente, liberado na atmosfera pela queima de com- várias formas de interferência humana nos ecossiste-
bustíveis fósseis, e seus efeitos no organismo se mas naturais, descreva:

Biologia 11
a) duas causas que promovem diretamente a elevação de N2O já são duas vezes maiores do que as de
da temperatura média global. CFCs.
O óxido nitroso é emitido por fontes naturais
(bactérias do solo e dos oceanos, por exemplo) e
como um subproduto dos métodos de fertiliza-
ção na agricultura; de combustão; de tratamen-
to de esgoto e de diversos processos industriais.
Atualmente, um terço da emissão do gás deriva
de atividades humanas.
b) o cenário futuro para a população desses lagartos.
Segundo os pesquisadores, como o óxido ni-
troso também é um gás de efeito estufa, a redução
de suas emissões por atividades humanas seria
uma boa medida tanto para a camada de ozônio
como para o clima.
Adaptado de Agência Fapesp, 28.08.2009.

Considere as afirmações feitas sobre o texto.


I. Atividades humanas, como a agricultura, e diversos
3. Sobre o monóxido de carbono, marque a alternativa
processos industriais emitem a maior parte do óxido
correta.
nitroso hoje presente na atmosfera.
a) Além de contribuir para o agravamento do efeito
II. Uma das principais medidas para a preservação da
estufa, esse gás pode levar à morte se inalado em
camada de ozônio é a redução da quantidade de
pouquíssima quantidade.
bactérias do solo e dos oceanos.
b) Depois de inalado, o monóxido de carbono liga-se
III. A redução das emissões de CFCs e do óxido nitroso
à hemoglobina de maneira irreversível, formando
é importante para a preservação da camada de ozô-
carboxiemoglobina.
nio e para a diminuição do aquecimento global.
c) Trata-se de um gás inodoro, incolor e produzido pela
Está correto o contido em
queima completa de combustíveis, o que dificulta
sua identificação no ambiente. a) III, apenas. d) II e III, apenas.
d) A molécula desse gás é formada por dois átomos b) I e II, apenas. e) I, II e III.
de oxigênio e um átomo de carbono. Por isso, ele c) I e III, apenas.
consegue tomar o lugar da molécula de oxigênio nas
hemácias. 5. (FUVEST – SP) Observe a imagem, que apresenta uma
situação de intensa poluição do ar que danifica veí-
4. (FATEC – SP) culos, edifícios, monumentos, vegetação e acarreta
transtornos ainda maiores para a população. Trata-se
Novo e maior inimigo do ozônio
de chuvas com poluentes ácidos ou corrosivos produ-
O óxido nitroso (N2O) se tornou, entre todas zidos por reações químicas na atmosfera.
as substâncias emitidas por atividades humanas,
a que mais danos provoca à camada de ozônio,
que é responsável pela proteção das plantas, ani-
mais e pessoas contra o excesso de radiação ultra-
violeta emitida pelo Sol.
O óxido nitroso superou os clorofluorcar-
bonetos (CFCs), cuja emissão na atmosfera tem
diminuído seguidamente por causa de acordos
internacionais conduzidos com essa finalida-
de. Hoje, de acordo com pesquisas, as emissões
Atlas do meio ambiente do Brasil: Embrapa, 1996. Adaptado.

12 Volume 12
Com base na figura e em seus conhecimentos,

©iStockphoto.com/josemoraes
a) identifique, em A, dois óxidos que se destacam e,
em B, os ácidos que geram a chuva ácida, origina-
dos na transformação química desses óxidos. Res-
ponda [nas linhas a seguir].

a) Qual é o fenômeno ambiental responsável por esse


acúmulo de poluição?

b) Explique como esse fenômeno ocorre.


b) explique duas medidas adotadas pelo poder público
para minimizar o problema da poluição atmosférica
na cidade de São Paulo.

c) Quais são as consequências desse fenômeno am-


biental para a população?
6. A imagem a seguir retrata a cidade de São Paulo, em
um dia de inverno, com uma espessa e nítida camada
de poluição próximo ao solo.

Poluição da água e do solo


A poluição da água e do solo acompanha os seres humanos desde o início da organização dos primeiros povoados
em virtude da necessidade de eliminar esgoto e resíduos sólidos. Nas sociedades atuais, as proporções desse descarte são
ainda maiores em decorrência da grande quantidade de pessoas, do maior volume de embalagens e produtos plásticos,
do uso de agrotóxicos em extensas áreas de plantações, entre outros fatores,
o que compromete o ambiente, interferindo nos ciclos de nutrientes, nos há-
bitats, nas cadeias alimentares e no desenvolvimento de plantas e animais
e, principalmente, esgotando esses recursos naturais imprescindíveis à vida. Também chamado de efluente, o esgoto
doméstico, se liberado sem tratamento,
Eutrofização pode causar sérios danos ao ambiente. Por
Quando os ecossistemas aquáticos, especialmente lagoas, lagos, repre- isso, ele deve ser encaminhado para Estações
sas, pântanos e charcos, recebem uma grande quantidade de nutrientes de Tratamento de Esgoto (ETEs) a fim de que
nitrogenados e fosforados, considerados fatores limitantes para o desenvol- retorne aos rios sem resíduos prejudiciais ao
vimento de algas, ocorre o fenômeno de eutrofização (do grego eu, verda- ambiente. Nas indústrias, dependendo da
o,
deiro, bem; trophé, alimento). Trata-se de um processo em que os nutrientes quantidade e do tipo de efluente produzid
originados de fertilizantes agrícolas, esgotos domésticos ou resíduos indus- é necessário que se construam ETEs próprias
triais são levados pela enxurrada e se acumulam nos corpos de água. para o tratamento do esgoto.

Biologia 13
A princípio, é possível pensar que tais nutrientes são benéficos às populações. No entanto, verifica-se um cresci-
mento explosivo de micro-organismos aeróbios (consumidores primários), que consomem rapidamente o oxigênio
dissolvido na água, aumentando a demanda biológica de oxigênio. Isso causa a intensa mortalidade de espécies
aeróbias, como os peixes.
Em muitos ecossistemas eutrofizados, ocorre, primeiramente, a explosão populacional de algas e cianobactérias,
formando uma camada superficial geralmente esverdeada (floração das algas). A situação torna-se problemática por-
que o oxigênio produzido por essas algas é, em sua maior parte, li-
berado na atmosfera, não sendo dissolvido na água para ser utilizado

©Shutterstock/Lodimup
pelos seres aeróbios. Além disso, elas impedem a penetração de luz,
prejudicando as algas localizadas nas regiões mais profundas.
A ausência de luz e oxigênio provoca a morte de algas, peixes e
outros seres aquáticos, desestabilizando as cadeias alimentares e pro-
duzindo grande quantidade de matéria orgânica em decomposição,
o que agrava o problema da eutrofização. Além disso, algumas es-
pécies de cianobactérias produzem toxinas que, no caso de represas
ou corpos de água para abastecimento de cidades, podem ocasionar
problemas de saúde imediatos ou a longo prazo, intoxicações e, até
mesmo, a morte de espécies de animais, como mamíferos e aves. Lago eutrofizado com coloração verde
característica da grande quantidade de algas
As principais consequências da eutrofização ao ambiente são:
• multiplicação acentuada de algas e bactérias aeróbias;
• intensa redução do gás oxigênio (O2) dissolvido na água;
• diminuição da população de organismos aeróbicos autótrofos e heterótrofos;
• multiplicação de bactérias anaeróbias e mau cheiro na água.
Para que não aconteça a eutrofização de lagos, lagoas e represas, onde a presença de oxigênio é menor que a das
águas correntes dos rios, é fundamental a instalação de estações de tratamento de esgotos e a fiscalização mais intensa
de despejos clandestinos.

Bioacumulação
A bioacumulação ou magnificação trófica ocorre quando determinadas substâncias não biodegradáveis, como
os metais pesados (mercúrio, chumbo, cobre, zinco, cromo, cádmio) e os agrotóxicos (inseticidas, herbicidas, fungici-
das), acumulam-se no interior dos organismos ao longo das cadeias alimentares. Isso acontece porque os seres vivos
não conseguem metabolizar tais substâncias, que permanecem no corpo e se acumulam em tecidos e órgãos. Por isso,
os organismos que mais sofrem são aqueles que fazem parte dos últimos níveis tróficos.
A saúde humana também está sujeita a diversos efeitos da bioacumulação, porque muitas das substâncias tóxicas
não biodegradáveis são solúveis em gordura e podem se acumular no tecido adiposo, como nas glândulas mamárias,
contaminando o leite materno. Além disso, essas substâncias podem afetar o fígado, órgão que tem como uma de suas
funções metabolizar toxinas presentes no organismo, e causar vários tipos de câncer e lesões nos órgãos.
Entre alguns efeitos da bioacumulação, estão:
• esterilidade;
biodi-
• danos aos sistemas nervoso e locomotor e à medula óssea; A bioacumulação impacta diretamente a
hum anos , em
versidade. Assim como nos seres
• problemas de pele; répt eis
outros animais, como grandes mamíferos,
levar
• disfunções renais; e aves, os efeitos da bioacumulação podem
is e malform açõe s
a esterilidade, disfunções rena
• malformações congênitas, além de ocasionar a morte. congênitas nas espécies.

14 Volume 12
Observe o exemplo do mercúrio, substância liberada no ambiente, sobretudo pelas atividades do garimpo, que
polui os grandes rios, afetando a flora e a fauna, as quais são contaminadas pelo metal.

Cabelo humano
Jacaré 47 mg/kg
carne 1,9 mg/kg
fígado 1,9 mg/kg
Macrófitas enraizadas
0,03 mg/kg
0,07 mg/kg
30 kg (total)

Peixe
predador 1,3 mg/kg
outros 0,21 mg/kg

Raqsonu. 2013. Digital.


Sedimento
(0,5 cm) 0,067 mg/kg
3,500 kg (total)

Solo inundado
Folhiço inundado (0,5 cm) 0,071 mg/kg
0,084 mg/kg 8,800 kg (total)
80 kg (total)

Fonte: ROSA, Rogério da Silva; MESSIAS, Rossine Amorim; AMBROZINI, Beatriz. Importância da compreensão dos ciclos biogeoquímicos para o
desenvolvimento sustentável. Disponível em: <http://www.iqsc.usp.br/iqsc/servidores/docentes/pessoal/mrezende/arquivos/EDUC-AMB-Ciclos-
Biogeoquimicos.pdf>. Acesso em: 7 dez. 2015.

Representação esquemática de contaminação por mercúrio em áreas de garimpo no norte do Brasil.


Em determinadas regiões, observam-se índices três vezes superiores ao permitido por lei.

Como o mercúrio sofre o processo de bioacumulação, a população que consome esses peixes fica exposta aos ris-
cos de contaminação. Esses animais podem estar contaminados pelo mercúrio que foi eliminado a vários quilômetros
de distância.

Derramamento de petróleo
A poluição causada pelo derramamento de petróleo gera um impacto
ambiental de difícil controle e com prejuízos significativos ao ambiente. Aci-
O maior derramamento de petróleo
dentes desse tipo podem ocorrer com o petróleo no estado bruto ou com o
documentado ocorreu, em 2010, no Golf
seus produtos refinados, que podem vazar de navios petroleiros, plataformas
do México. Nesse desastre ambiental,
de extração ou oleodutos de distribuição danificados no ambiente terrestre. is
aproximadamente 75 milhões de barr
Um dos efeitos nocivos do derramamento de petróleo é a formação de de petróleo (cada barril equivale a cerc a de
uma película que dificulta as trocas gasosas entre a água e a atmosfera. Além 160 litros) vazaram, espalhando-se ao
disso, como é escuro, o petróleo bloqueia a passagem de luz, impedindo a longo de 110 km na costa norte-ameri-
realização da fotossíntese pelas algas, o que provoca a morte de inúmeras cana. Muito desse petróleo nem chegou
s
populações de organismos aeróbicos. Entre outros efeitos, têm-se: à superfície marinha, mas seus impacto
,
são sentidos até os dias atuais. Entre eles
• impregnação de petróleo nas brânquias dos peixes, causando asfixia aos ecos siste mas
destacam-se a ameaça
e morte, e nas penas das aves marinhas, que perdem a capacidade de
marinhos, a interrupção da pesca e do tu-
regular a temperatura corporal, ocasionando morte por hipotermia; s
rismo nas regiões afetadas e as alteraçõe
• prejuízos à biodiversidade dos manguezais, com a morte de carangue- genéticas em diferentes espécies.
jos e diversas plantas;

Biologia 15
©Shutterstock/kajornyot
• alteração nas atividades de moradores locais, pois, muitas vezes,
o petróleo derramado em alto-mar chega às praias, tornando a
água imprópria para a pesca e o banho.

Processo de controle de derramamento de


petróleo em uma praia da Tailândia em 2013

Desmatamento
Caracteriza-se pela retirada da vegetação nativa dos diferentes ecossistemas, como florestas e savanas, que são
substituídas por monoculturas, atividades agropecuárias, expansão de cidades, entre outros.
No Brasil, as principais atividades humanas que contribuem para o desmatamento estão relacionadas à indús-
tria madeireira, à especulação imobiliária para o crescimento das cidades e à obtenção de áreas para a agropecuária.
Contudo, a retirada da cobertura vegetal nativa acarreta inúmeras consequências, principalmente para o solo, como
erosão, assoreamento de rios e lagos, desertificação, alterações no ciclo da água e perda da biodiversidade.
• Erosão: sem a cobertura vegetal nativa, o solo, pela ação

dfield
do vento e da chuva, perde suas camadas superficiais mais
férteis, ficando sem nutrientes. Além disso, com o decorrer ©iStockphoto.com/NeilBra

do tempo, formam-se valas em virtude da ação de enxurra-


das, deixando os terrenos acidentados. Se o processo ero-
sivo ocorrer em encostas, a infiltração da água das chuvas
pode levar a deslizamentos de terra.
• Assoreamento de rios e lagos: o solo removido dos ter-
renos pela chuva é levado até rios e lagos e se acumula
em seus leitos, fazendo com que se tornem cada vez mais
Terreno em processo acentuado de erosão
rasos.
• Desertificação: a retirada da mata nativa e o manejo inadequado do solo o expõem à ação da chuva, do vento e
de outros fenômenos, levando ao processo de desertificação, em que o solo se torna infértil pela perda de suas
camadas superficiais ricas em matéria orgânica.
• Alterações no ciclo da água: as plantas retiram água do solo e, pela transpiração, a eliminam na atmosfera.
Com o desmatamento, esse ciclo se quebra e, consequentemente, o regime de chuvas fica comprometido e a
umidade relativa do ar é reduzida. Além disso, o desmatamento de áreas próximas a nascentes pode secá-las,
alterando cursos de rios e formação de lagos e lagoas.
• Perda da biodiversidade: além da perda decorrente da retirada de espécies vegetais de um ambiente, há a
perda de espécies animais, uma vez que elas dependem dos vegetais para sobreviver.

Resíduos e o solo
O consumo cada vez maior de alimentos industrializados, cosméticos, produtos de limpeza, eletrônicos, entre ou-
tros, leva à produção de resíduos compostos principalmente de embalagens, que, com os resíduos orgânicos, formam
o que chamamos de “lixo”. Quando não é devidamente destinado, o lixo pode contaminar o solo, os rios e os oceanos.
Um dos problemas gerados pelo lixo é a formação do chorume, líquido altamente poluente produzido pela de-
composição dos resíduos e que pode se infiltrar no solo, contaminando os lençóis de água subterrânea. Além disso, em
seu processo de decomposição, o lixo gera gás metano, que atua na atmosfera agravando o efeito estufa.

16 Volume 12
Para evitar esses problemas, é importante realizar a reciclagem dos resíduos e o encaminhamento adequado para
os aterros sanitários daqueles que não são recicláveis. A reciclagem envolve o reaproveitamento de materiais que já
foram beneficiados e utilizados – embalagens de plástico, alumínio, vidro, entre outras – como matéria-prima na pro-
dução de novos produtos. Com a realização desse processo, têm-se uma economia de recursos naturais não renováveis
e uma redução do volume de resíduos descartados em aterros sanitários ou incinerados.
Depois que o lixo é selecionado e os materiais recicláveis são separados, o restante é destinado aos aterros sanitá-
rios, onde são tomados todos os cuidados necessários para que não ocorra a poluição do solo, da água e do ar. Observe
como funciona um aterro sanitário.
O gás metano formado durante a
decomposição dos resíduos é recolhido por
Marcos Gomes. 2012. Digital.

meio de encanamentos. Esse gás é poluente


e precisa ser tratado, podendo ser utilizado
1 2 para a geração de energia elétrica.

O terreno em que
ficará o aterro é Resíduos
preparado; e o solo, depositados
compactado. O solo é coberto por uma
manta impermeabilizante
que impede a infiltração
do chorume, o qual
poderia chegar às águas
subterrâneas.

Camadas de argila
3 compactada são colocadas O chorume é
para a proteção do solo drenado por meio
original do terreno. de encanamentos.

4
Após ter sua capacidade
de armazenamento de
resíduos esgotada, o terreno
é coberto por camadas
de solo e a vegetação é
restabelecida.

O chorume é armazenado
em tanques e tratado para,
então, ser liberado no
ambiente. Os resíduos são depositados no
terreno em camadas compactadas Como a decomposição dos
e intercaladas com argila e manta resíduos não é interrompida, o gás
Representação de um aterro sanitário protetora, evitando a contaminação do metano e o chorume produzidos
solo e das águas subterrâneas. continuam sendo tratados para
serem liberados no ambiente.

Um grande problema da atualidade é o descarte de artigos eletrônicos, como computadores, celulares, câmeras di-
gitais, televisores e eletrodomésticos, que compõem o e-lixo ou lixo eletrônico. Esses aparelhos apresentam diferentes
metais em sua composição (mercúrio, cádmio, berílio, chumbo), que, se descartados de maneira incorreta, contami-
nam o solo e a água. Assim, é preciso que esse tipo de aparelho seja encaminhado a usinas específicas de reciclagem
para que seja cuidadosamente desmontado e seus resíduos sejam encaminhados de forma correta.
Várias atitudes podem reduzir o impacto das atividades humanas nos ecossistemas. Reduzir o consumo, reciclar
e reutilizar materiais, economizar água e energia, usar formas menos poluentes de transporte, reduzir as embalagens
e dar destino adequado aos resíduos são apenas algumas das ações que podem ser adotadas como hábitos nas
atividades diárias.

Biologia 17
Atividades

1. (UNISC – RS) A poluição de corpos-d’água doce por 3. Leia o texto e responda às questões.
esgoto doméstico pode provocar mortandade em
massa de peixes, a exemplo do que houve no Rio dos O município de Lucas do Rio Verde, no norte
Sinos, RS. do Mato Grosso, chama a atenção por ser o se-
gundo maior produtor de grãos do estado. [...]
Esse tipo de evento ocorre devido à Uma pesquisa da Universidade Federal de
a) falta de oxigênio na água, causada pela decomposi- Mato Grosso, de autoria da bióloga Danielly
ção da matéria orgânica. Palma, detectou a presença de agrotóxicos no
leite materno de 62 mulheres que moram na ci-
b) proliferação de macrófitos, causada pela eutrofização.
dade, que tem 45 mil habitantes. Dez substâncias
c) competição dos peixes pelo alimento, causada pela foram determinadas e todas as amostras de leite
piracema. apresentaram pelo menos um tipo de agrotóxico
d) proliferação de animais no zooplâncton, causada analisado.
pelo aumento de nutrientes na água. [...] “Os resultados podem ser oriundos da
exposição ocupacional, ambiental, alimentar do
e) intolerância de peixes a baixas temperaturas.
processo produtivo da agricultura que expôs a
2. (UNIMONTES – MG) A constante utilização de substân- população a 114,37 litros de agrotóxicos por ha-
cias não biodegradáveis nas mais variadas atividades bitante na safra agrícola de 2009/2010”, afirma
humanas tem gerado graves problemas aos ecossiste- Danielly.
mas. Leia o alerta abaixo. AGROTÓXICO utilizado na agricultura contamina leite materno
no MT. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/politica/
“Em 1962, Rachel Carson sugeriu em seu livro agrotoxico-usado-na-agricultura-contamina-leite-materno-no-
mt>. Acesso em: 3 set. 2015.
Primavera silenciosa, que o amplo uso do DDT (dicloro
difenil tricloroetano) poderia ser a principal causa da a) Como é possível justificar a presença de agrotóxicos
redução populacional de diversas aves; muitas delas no leite materno?
seriam as do topo da cadeia alimentar, como o falcão
peregrino e a águia calva (‘baldeagle’ – Haliaeetus
leucocephalus), animal símbolo dos EUA. Esse livro é
considerado a primeira manifestação ecológica contra
o uso indiscriminado do DDT”.

Com base no assunto abordado e nos conhecimentos a


ele associados, é correto afirmar.
a) Os seres considerados produtores têm maior quan-
b) Outras pessoas ou animais que venham a se ali-
tidade de energia disponível, entretanto apresentam
mentar de grãos produzidos com o uso de agro-
também maior concentração tecidual de DDT que os tóxicos também podem ser afetados por essas
seres de outros níveis tróficos. substâncias? Justifique sua resposta.
b) Ao longo da cadeia alimentar, geralmente, consu-
midores terciários tendem a ser mais afetados pelo
DDT que os consumidores primários.
c) Não há diferença entre as concentrações de DDT
nos seres que compõem cada nível trófico.
d) O nível de energia disponível garante aos produtores
proteção total contra os efeitos do DDT.

18 Volume 12
4. (UEG – GO) A contaminação do mar por grandes quan- como as terras semiáridas do Nordeste brasileiro. É o
tidades de petróleo acarreta a morte de muitos seres resultado de um mau uso da terra. A destruição do solo
marinhos, além de aves que buscam alimento no mar. pelo processo erosivo é equilibrada pela degradação
Em adição aos efeitos tóxicos dos poluentes, o petró- natural das rochas, mas quando o ser humano interfe-
leo compromete a concentração de oxigênio na água. re, essa compensação deixa de existir e o processo é
Sobre os desastres ecológicos envolvendo manchas de acelerado. São ações que aceleram o processo erosivo,
óleo, responda ao que se pede. exceto:
a) Como as manchas de petróleo comprometem a a) irrigação do solo.
concentração de oxigênio no mar? b) destruição da mata ciliar.
c) substituição da mata original.
d) desmatamento por queimadas.
6. (UEA – AM) Em relação à concentração de mercúrio
(Hg) nos ecossistemas aquáticos, é correto afirmar que:
a) o mercúrio é um metal, assim sendo, afunda na
b) Cite duas maneiras pelas quais os vazamentos de água e sua maior concentração na forma metilizada
petróleo, bem como outros poluentes marinhos, po- (MeHg) está no sedimento dos rios e lagos, e não
dem comprometer a vida de aves que buscam ali- nos organismos aquáticos.
mentos no mar. b) o mercúrio não é bioacumulativo, logo não repre-
senta nenhuma ameaça aos seres vivos aquáticos e
terrestres.
c) os peixes que se alimentam de fitoplâncton tendem
a ter maior concentração de mercúrio em seus teci-
dos do que os peixes carnívoros.
d) os peixes que se alimentam de fitoplâncton tendem
a ter menor concentração de mercúrio em seus te-
cidos do que os peixes carnívoros.
e) o consumo de peixes com elevada concentração de
5. (UERN) A desertificação é um processo que torna es- mercúrio em seus tecidos não representa mal algum
téreis as terras agrícolas e férteis de regiões secas, para a saúde de seus consumidores.

Biologia da Conservação
A transformação dos ambientes terrestres por diversas atividades antrópicas interfere no equilíbrio ambiental, provo-
cando impactos no desenvolvimento e na sobrevivência das espécies de seres vivos, inclusive dos próprios seres humanos.
Esses impactos ocorrem nas cadeias alimentares e nos ciclos biogeoquímicos e provocam mudanças climáticas
que interferem nos ecossistemas. Com isso, a biodiversidade, que corresponde à variedade de seres vivos que habitam
a Terra e às interações que estabelecem entre si e com o ambiente, é afetada, podendo ocorrer reduções nas popula-
ções de seres vivos e extinções de espécies.
A Biologia da Conservação reúne conhecimentos de diversas áreas, como Ecologia, Biologia de Populações, Antro-
pologia, Genética, Evolução e Biogeografia, para desenvolver ações que contribuam para a conservação da biodiver-
sidade. Assim, o objetivo principal dessa área de conhecimento é a pesquisa das principais tendências e processos de
redução da biodiversidade, evitando a extinção de espécies e minimizando os efeitos negativos desses processos para
a manutenção da vida no planeta Terra.

Biologia 19
O desaparecimento de uma espécie de determinado ecossistema caracteriza o pro-

©iStockphoto.com/Pjmalsbury
cesso de extinção. Por exemplo, muitas espécies de animais, plantas, fungos ou bacté-
rias que habitaram o planeta Terra há milhões de anos já não existem mais.
A extinção pode ser um evento natural ou artificial. O processo de extinção natural
de espécies normalmente acontece de forma lenta e gradual, ocasionado por inúmeras
alterações nos ambientes terrestres, como terremotos, erupções vulcânicas, glaciações
e alterações de relevo.
Os seres humanos vêm acelerando o processo de extinção das espécies, provocando
a chamada extinção artificial, em virtude de atividades que interferem na disponibilidade O rinoceronte-negro foi
de recursos naturais e nas áreas onde os seres vivos se desenvolvem. Entre as conse- declarado extinto em
quências dessas atividades, estão o aquecimento global, mudanças climáticas, desma- 2013. Sua extinção se
deve à caça ilegal.
tamentos e poluição dos ecossistemas.

Manutenção da biodiversidade
A necessidade de manutenção da biodiversidade estimula novas pesquisas nas diferentes áreas que compõem os
estudos da Biologia da Conservação. Com base nesses estudos, são delimitadas algumas medidas visando à preserva-
ção da biodiversidade. Entre elas, destacam-se:
• prevenir a extinção de espécies;
• determinar as causas de ameaça de extinção de espécies;
• prever as taxas atuais de extinção de espécies;
• estabelecer prioridades para os esforços de conservação;
• restaurar ecossistemas degradados.
Entre as medidas para a preservação da biodiversidade, a principal é a manutenção de áreas conservadas nos
diferentes ecossistemas, garantindo o hábitat ideal para que as espécies tenham alimento, abrigo e condições para a
reprodução. Essas áreas ajudam a manter o equilíbrio climático do planeta, beneficiando os ecossistemas e as espécies
como um todo, além de garantir que populações tradicionais, como ribeirinhos e indígenas, desenvolvam suas ativi-
dades de maneira sustentável.

Unidades de Conservação
Com o objetivo de garantir recursos naturais necessários para o desen-
volvimento dos seres vivos e conservar a diversidade biológica e os diferen-
tes ecossistemas, foram criadas as Unidades de Conservação (UCs). Essas
A Lei n.o 9.985, de 18 de julho de 2000, de-
áreas são determinadas pelo poder público municipal, estadual ou federal
termina as ações referentes à instituição de
por meio de legislação específica, que institui o Sistema Nacional de Unida-
Unidades de Conservação no Brasil. Em
des de Conservação (Snuc).
seu Art. 2.º, ela define essas áreas como “es-
paço territorial e seus recursos ambientais, A primeira Unidade de Conservação criada no Brasil foi o Parque Nacional
incluindo as águas jurisdicionais, com ca- de Itatiaia, no Rio de Janeiro, em junho de 1937. Nos anos seguintes, prin-
racterísticas naturais relevantes, legalmente cipalmente nas décadas de 1960 e 1970, foram realizados grandes avanços
instituídos pelo Poder Público, com objetivos quantitativos na criação de novas UCs e iniciaram-se os primeiros esforços
de conservação e limites definidos, sob re- para a criação de um sistema nacional de áreas protegidas sob o critério de
gime especial de administração, ao qual se representatividade ecológica.
aplicam garantias adequadas de proteção”. Atualmente, as Unidades de Conservação são classificadas em dois gru-
pos: de proteção integral e de uso sustentável.

20 Volume 12
©iStockphoto.com/Agustavop
• Unidades de Conservação de proteção integral: áreas que não
podem ser habitadas por seres humanos e onde é permitido fazer
apenas uso indireto de seus recursos naturais em pesquisa científica,
turismo ecológico e educação. Entre elas, estão estações ecológicas,
reservas biológicas, parques nacionais, monumentos naturais e refú-
gios da vida silvestre.
Parque Nacional de Aparados da Serra, no
Rio Grande do Sul, que apresenta diversas
atividades de turismo ecológico

©iStockphoto.com/Brasil2
• Unidades de Conservação de uso sustentável: áreas
em que é permitida a presença de moradores e cujo
objetivo é desenvolver a conservação da natureza as-
sociada ao uso sustentável dos recursos naturais. Entre
elas, estão Áreas de Proteção Ambiental (APAs), Áreas
de Relevante Interesse Ecológico (Aries), florestas nacio-
nais, reservas extrativistas, reservas de fauna, reservas de
desenvolvimento sustentável e reservas particulares do
patrimônio natural.

Nas reservas extrativistas, podem ser realizadas a agricultura familiar e a


coleta de maneira sustentável, como é o caso do açaí, fruto amazônico.

As diferentes categorias de UCs visam à conservação da biodiversidade respeitando as populações locais e seu
modo de sobrevivência. Para isso, são necessários investimentos, ações educacionais, fiscalização e suporte, sobretudo
para que, com o ambiente, seja possível conservar também as culturas locais e as formas de subsistência de maneira
sustentável.

Principais ameaças à biodiversidade


Com o objetivo de estabelecer prioridades para a conservação da biodiversidade e, até mesmo, criar Unidades
de Conservação e classificá-las, é importante que se conheçam as principais ameaças às diferentes espécies. Dessa
forma, alguns dos fatores responsáveis pela extinção de espécies são perda de hábitat, espécies exóticas e invasoras e
sobre-exploração.
Perda de hábitat
Pulsar Imagens/Palê Zuppani

É ocasionada pelo desmatamento de áreas para


agricultura e pecuária, pelo aumento de áreas urba-
nas, pela extração de recursos naturais e pela poluição.
Esses fatores provocam a perda de hábitat e, indireta-
mente, mudanças no clima, que também interferem
no ciclo natural das espécies, como aquecimento glo-
bal, inversão térmica e chuva ácida. Com a destruição
dos hábitats, muitas espécies não conseguem alimen-
to, abrigo ou, ainda, são impedidas de se reproduzi-
rem, sendo ameaçadas de extinção.

O macaco muriqui (Brachyteles arachnoides)


está ameaçado de extinção pelo
desmatamento e pela fragmentação de seu
hábitat: a Mata Atlântica.

Biologia 21
Espécies exóticas e invasoras
Uma espécie encontrada em um ecossistema que não é seu ambiente natural caracteriza-se como uma espécie
exótica. Por exemplo, as árvores de eucalipto encontradas no Brasil são exóticas, pois são provenientes da Austrália. A
introdução de seres vivos em ecossistemas diferentes pode ser prejudicial, pois sua presença pode reduzir o número
de espécies nativas, colocando em risco a diversidade de seres vivos da região.
Algumas espécies exóticas apresentam potencial para serem invasoras, ou

er Halasz
seja, adaptam-se às condições do ambiente no qual foram introduzidas, repro-

©Wikimedia Commons/Pet
duzem-se e dispersam-se por áreas maiores, competindo com as espécies nati-
vas ou se alimentando delas, as quais podem se extinguir.
A carpa-capim (Ctenopharyngodon idellus), por exemplo, foi introduzida no
Brasil para ser utilizada na piscicultura. Atualmente, ela é encontrada em rios e
lagos, onde passou a competir com espécies nativas e a destruir a vegetação
aquática.

©iStockphoto.com/Daehanx
A carpa-capim, natural da Ásia, é um exemplo
de espécie invasora nos rios brasileiros.

Sobre-exploração
Compreende a captura de organismos de diferentes espécies silvestres em
quantidades superiores à capacidade deles de se reproduzirem. Como exemplo,
pode-se mencionar a pesca em escala industrial do atum em alto-mar, a qual está
reduzindo consideravelmente as populações dessa espécie. Esse tipo de sobre-
-exploração interfere diretamente nas cadeias alimentares oceânicas, ocasionan-
do a redução de espécies que se alimentam dos atuns.

O atum é um exemplo de espécie


silvestre capturada em escala industrial.

Uso racional de recursos naturais e sustentabilidade


O intenso desenvolvimento econômico, associado ao grande número de pessoas, tem levado o ser humano a
utilizar mais recursos do que a natureza é capaz de repor. O resultado disso é o aumento dos problemas ambientais.
Para que esse quadro não se agrave ainda mais, é preciso proteger os recursos naturais e utilizá-los de maneira
que não se comprometa sua existência para as gerações futuras. Para tanto, são necessárias algumas mudanças de
comportamento, tais como:
• evitar o desperdício de água;
• reduzir o consumo reutilizando materiais, usando embalagens retornáveis e reciclando eletroeletrônicos, em-
balagens e outros produtos;
• promover o uso de energia renovável, como a solar e a eólica;
• reduzir a emissão de gases poluentes;
• considerar os impactos ambientais na tomada de decisões econômicas.
As soluções para as questões ambientais preveem um novo tipo de desenvolvimento, que seja capaz de manter o
progresso e ainda garantir um ambiente preservado para as futuras gerações. A sustentabilidade visa à existência de
harmonia entre a exploração de recursos, os investimentos e o desenvolvimento tecnológico. Um importante passo
para alcançar esse objetivo é a criação de legislações ambientais, tratados internacionais e políticas públicas, além da
busca por tecnologias que auxiliem na reparação de danos ambientais ou que os evitem.

22 Volume 12
Pegada ecológica
Um hectare global equivale a um hectare
s
Do mesmo modo que deixamos pegadas quando caminhamos na areia, de produtividade média mundial para terra
nossa “caminhada” pela Terra também deixa “rastros” de várias proporções e águas produtivas em um ano. Esse mod elo
nos diferentes ecossistemas. Esses “rastros” podem ser medidos pela pegada possibilita a comparação entre padrões de
ecológica, metodologia que avalia o impacto do consumo das populações consumo distintos, estimados por país ou
humanas sobre os recursos naturais e é expressa em hectares globais (gha). região, os quais são analisados para verificar
O cálculo da pegada ecológica revela se nosso estilo de vida está ou não se estão ou não de acordo com a capacidade
de acordo com a oferta de recursos do planeta. Considera-se que a média ecológica do planeta.
para evitar um colapso ambiental seja de, aproximadamente, 1,8 hectare
per capita (por pessoa). Se a pegada ecológica de um país for maior que esse valor, diz-se que existe um déficit eco-
lógico. Nesse caso, o país está vivendo de maneira insustentável. Se ocorrer o inverso, tem-se um crédito ecológico,
indicando que o país apresenta vida sustentável.
No Brasil, os dados sobre o orçamento familiar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) têm servido
de base para o cálculo da pegada ecológica ao considerar despesas, poder de compra e rendimentos de uma família.
Em 2012, a pegada ecológica brasileira foi de 2,93 hectares per capita, demonstrando que o país está caminhando para
a insustentabilidade.

Ecologia da Restauração
Na restauração natural, uma área degradada passa pelo processo de sucessão ecológica. Nesse caso, por meio de
lentos e gradativos eventos de desenvolvimento de organismos, a composição das comunidades vai se alterando até
o estabelecimento da comunidade clímax, o que pode demorar várias décadas.
A Ecologia da Restauração surgiu, na década de 1980, como uma ©Shutterstock/Dr. MorleyRead
ciência que visava promover estudos e planos de recuperação de áreas de-
gradadas. O objetivo era proporcionar ao ambiente degradado condições
favoráveis ao restabelecimento da vida em um período de tempo menor,
auxiliando no processo de sucessão ecológica. Para isso, existem algumas
técnicas de restauração de áreas degradadas, como a biorremediação e o
incremento biológico.
A biorremediação é um processo em que bactérias, fungos e plantas
são utilizados na recuperação de áreas contaminadas. Esses organismos têm
a capacidade de metabolizar a substância contaminante, como metais pe-
sados, petróleo, esgoto e substâncias tóxicas, e transformá-la em uma subs-
Área de solo contaminada por óleo
tância que não ofereça riscos ao sendo recuperada por biorremediação
Kino.com.br/Isa

ambiente e aos seres vivos.


No incremento biológico, seres vivos são utilizados para introduzir nu-
trientes essenciais em uma área degradada, promovendo o restabelecimento
de espécies vegetais, animais, fungos e micro-organismos. No caso do ni-
trogênio, elemento essencial para o crescimento vegetal, micro-organismos
fixadores ou plantas que apresentam em suas raízes associações com micro-
-organismos fixadores, como as leguminosas, são introduzidos na área de-
gradada para que o nitrogênio seja reincorporado ao solo e novas espécies
possam se desenvolver.

Árvore de ingá (Inga sp.) utilizada na recuperação de


áreas degradadas, restabelecendo o nitrogênio do solo

hectare: unidade de medida agrária que corresponde a 10 000 m2.

Biologia 23
Atividades
1. Explique a relação entre a criação de Unidades de Con- A respeito da importância do estabelecimento de uma
servação e a manutenção da biodiversidade. sustentabilidade ecológica para a preservação da vida
que habita o planeta, é correto afirmar.
a) A sustentabilidade ecológica consiste no aumento
das áreas de preservação ecológica livres de qual-
quer tipo de ação humana.
b) O primeiro passo na construção de comunidades
sustentáveis deve ser a compreensão dos princípios
de organização que os ecossistemas naturais de-
senvolveram ao longo do tempo para manter a vida.
2. (UFT – TO)
c) O uso adequado da tecnologia é o principal fator res-
Atualmente, são consideradas em perigo de ponsável por uma mudança de comportamento vi-
extinção mais de 16 mil espécies de seres vivos sando anular os impactos negativos da ação humana.
em todo o mundo. A atual taxa de extinção de es- d) O estudo da ecologia no nível ecológico de popula-
pécies devido às ações humanas é estimada como ções é o fator fundamental para o entendimento da
1 000 a 10 000 vezes maior do que a taxa natural biosfera como sistema vivo integrado.
de extinção. e) O aprendizado ecológico visa formar as futuras ge-
Fonte: <http://eco.ib.usp.br/lepac/conservacao/ensino/conserva_ rações para que tomem a iniciativa de implementar
extincao.htm>. Acesso em: 30-01-2014. medidas conservacionistas para salvar a natureza.
São consideradas ações humanas que podem levar as 4. (UNICAMP – SP) Cerca de 70% da superfície da Terra
espécies à extinção, exceto: é coberta por água do mar e abaixo dessa superfície a
água atinge uma profundidade média de 3,8 quilôme-
a) desmatamento.
tros. Os ecossistemas marinhos abrigam grande biodi-
b) competição. versidade, mas parte dela vem sendo ameaçada pela
pesca predatória. Na tentativa de controlar o problema,
c) poluição.
medidas governamentais têm sido adotadas, como a
d) caça e pesca predatória. proibição da pesca em período reprodutivo e a restrição
e) destruição dos hábitats. do uso de redes de malhas finas.

3. (UEFS – BA) a) Como a proibição da pesca em período reprodutivo


e como a restrição a redes de malhas finas minimi-
O aumento constante do impacto dos seres zariam o problema da pesca predatória, contribuin-
humanos sobre as demais espécies, sobre a at- do para a sustentabilidade da pesca? Explique.
mosfera, os mares e a superfície da Terra requer
novos padrões de adaptação e novos tipos de per-
cepção, pois o rumo natural de uma espécie que
destrói seu ambiente é a extinção. Precisamos
olhar mais à frente no futuro, usar mais ciência
de boa qualidade e aprender a pensar com mais
clareza sobre nossa interdependência com outras b) Monte uma cadeia alimentar típica dos oceanos,
formas de vida. Ao fazer isso, estaremos seguindo considerando a presença de quatro níveis tróficos.
a nossa natureza de espécie que sobrevive pelo
aprendizado.
(BATESON, 1997, p. 29).

24 Volume 12
Biologia em foco

Mudanças climáticas
[...]
O clima está mudando – mais rápido do que nunca. Desde o início dos tempos, ele passa por altera-
ções. Ao longo de períodos mais quentes e outros frios, a vida teve de se adaptar e evoluir. Mas agora as
atividades humanas afetam a dinâmica do próprio planeta. E o mais alarmante, o ritmo da mudança foi
dramaticamente alterado, ameaçando levar muitas plantas e espécies animais à extinção.
[...]
Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) publicou
seu último relatório científico, mostrando que a temperatura média global aumentou 0,74 °C ao longo do
século passado. Na região ártica, a temperatura média das partes emersas aumentou em até 5 °C durante
o mesmo período [...].
As geleiras estão derretendo mais rapidamente do que o esperado, acelerando a elevação do nível do
mar [...]
Já podemos ver com o que um aumento de 1 °C na temperatura global acima dos níveis preindustriais
se parece. E podemos antecipar o que um aumento de 2 °C na temperatura (o limite máximo aceitável de
elevação, de acordo com o IPCC) traria: mudanças na maneira pela qual as plantas crescem, para onde os
animais migram e na forma como os ecossistemas funcionam.
[...]
A explosão da vida moderna tem sido construída em torno de suprimentos aparentemente ilimitados
de carvão, petróleo e gás, fontes de energia para atender a uma demanda que cresce implacavelmente. O
pressuposto de todo o processo tem sido que nosso ambiente natural é capaz de fornecer suprimentos
infinitos de combustíveis e de acolher cada vez mais os subprodutos da produção de energia.
[...] Mudar para um novo paradigma de geração e utilização de energia, baseado em fontes renováveis
e eficiência energética, nos permitiria evitar muitos dos problemas de um mundo mais quente.
Atualmente, tanto as indústrias como as residências desperdiçam muito da energia que produzimos.
[...]
Assim, as ações para diminuir a demanda de energia são, obviamente, cruciais, porque têm um efeito
imediato sobre as emissões de gases estufa de usinas. [...]
Alcançar as mudanças necessárias nas formas de gerar e utilizar a energia exigirá, obviamente, esforços
de toda a sociedade. As decisões das empresas e dos consumidores vão, em última instância, determinar
o destino do nosso ambiente. Mas os governos têm um papel particularmente importante na criação de
incentivos que orientem essas decisões.
[...] Portanto, a mensagem é simples: é preciso agir agora.
MCGLADE, Jacqueline M. Mudanças climáticas. Disponível em: <http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/unesco-planeta/mudancas-
climaticas>. Acesso em: 4 set. 2015.

Discuta com os colegas e o professor as medidas que cada um de nós pode adotar para reduzir o consumo de
energia, a utilização de combustíveis fósseis e a produção de lixo. De que maneira essas atitudes podem garantir a
continuidade da vida na Terra?

Biologia 25
Hora de estudo

1. (IFMT) Sobre a temática abordada na imagem abaixo,


marque a alternativa correta. De acordo com o relatório “A grande som-
bra da pecuária” (Livestock’s long shadow), feito
pela Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação, o gado é respon-
sável por cerca de 18% do aquecimento glo-
bal, uma contribuição maior que a do setor de
transportes.
Disponível em: <www.conpet.gov.br>. Acesso em: 22 jun. 2010.

a) Aquecimento global é um problema exclusivo de na- A criação de gado em larga escala contribui para o
ções desenvolvidas como os EUA e os países do oes- aquecimento global por meio da emissão de
te europeu, já que são eles os grandes poluidores.
a) metano durante o processo de digestão.
b) O único gás implicado no aquecimento global é o
CO2, advindo da queima do carvão mineral e deriva- b) óxido nitroso durante o processo de ruminação.
dos de petróleo. c) clorofluorcarbono durante o transporte de carne.
c) Reduzir a emissão de gases do efeito estufa, investir d) óxido nitroso durante o processo respiratório.
no sequestro de carbono, seja biológico (caso do au-
mento de área de florestas), seja geológico (armazena- e) dióxido de enxofre durante o consumo de pastagens.
gem de gás carbônico no subsolo e nas profundezas 3. (ENEM)
dos oceanos), são medidas plausíveis na intenção de
diminuir a progressão do aquecimento global. Sabe-se que o aumento da concentração de
gases como CO2, CH4 e N2O na atmosfera é um
d) Segundo cientistas, o aquecimento pelo qual o pla-
dos fatores responsáveis pelo agravamento do
neta está passando é um processo absolutamente
efeito estufa. A agricultura é uma das ativida-
natural que caracteriza o tempo entre duas eras gla-
ciais, denominado período interglacial, nada tendo a des humanas que pode contribuir tanto para a
ver com a ação do homem. emissão quanto para o sequestro desses gases,
dependendo do manejo da matéria orgânica do
e) No Brasil, a preocupação com o ambiente tem le- solo.
vado o governo a investir grandes quantidades de
ROSA, A. H.; COELHO, J. C. R. Cadernos Temáticos de Química
recursos financeiros nas energias limpas, como pai- Nova na Escola, São Paulo, n. 5, nov. 2003 (adaptado).
nel solar, energia eólica e biocombustíveis, como o
etanol e o biodiesel. De que maneira as práticas agrícolas podem ajudar a
minimizar o agravamento do efeito estufa?
2. (ENEM)
a) Evitando a rotação de culturas.
b) Liberando o CO2 presente no solo.
c) Aumentando a quantidade de matéria orgânica do
solo.
d) Queimando a matéria orgânica que se deposita no
solo.
e) Atenuando a concentração de resíduos vegetais do
solo.

26 Volume 12
4. (FUVEST – SP) O metano (CH4), o gás carbônico (CO2) e os clorofluorcarbonetos (CFCs) estão relacionados, direta ou
indiretamente, à intensificação do efeito estufa e à destruição da camada de ozônio.
a) Qual (quais) desses gases pode(m) resultar de processos biológicos?
b) A camada de ozônio filtra raios ultravioleta (UV) que atingem a atmosfera terrestre. A diminuição dessa camada
aumenta a exposição dos seres vivos a esses raios, que podem induzir mutações no DNA. Considere que os raios
UV não penetram em nosso corpo além da pele.
1. Como a exposição aos raios UV pode, a longo prazo, afetar nossa saúde? Justifique.
2. Qual é a consequência de nossa exposição aos raios UV para a geração seguinte? Por quê?
5. Sobre a inversão térmica, marque V para as afirmações verdadeiras e F para as falsas.
a) ( ) A dissipação de poluentes na atmosfera ocorre naturalmente por correntes de convecção, que possibilitam um
fluxo contínuo de ar.
b) ( ) Nas grandes cidades, principalmente no inverno, as correntes de convecção são interrompidas quando ocorre
o aprisionamento de uma camada de ar quente entre duas de ar frio, acumulando os poluentes e prejudicando
a qualidade do ar.
c) ( ) A inversão térmica é causada pelo acúmulo de raios ultravioleta nas partículas de poluição atmosférica.
d) ( ) A inversão térmica é um fenômeno meteorológico em que os poluentes demoram mais tempo para serem
dispersos na atmosfera, formando uma névoa densa.
e) ( ) A população geralmente não é afetada pela inversão térmica, pois ela ocorre nas camadas superiores da
atmosfera, sendo prejudicial apenas quando há formação de chuva ácida.
6. (ENEM) As florestas tropicais úmidas contribuem muito para a manutenção da vida no planeta, por meio do chama-
do sequestro de carbono atmosférico. Resultados de observações sucessivas, nas últimas décadas, indicam que a
Floresta Amazônica é capaz de absorver até 300 milhões de toneladas de carbono por ano. Conclui-se, portanto,
que as florestas exercem importante papel no controle
a) das chuvas ácidas, que decorrem da liberação, na atmosfera, do dióxido de carbono resultante dos desmatamentos
por queimadas.
b) das inversões térmicas, causadas pelo acúmulo de dióxido de carbono resultante da não dispersão dos poluen-
tes para as regiões mais altas da atmosfera.
c) da destruição da camada de ozônio, causada pela liberação, na atmosfera, do dióxido de carbono contido nos
gases do grupo dos clorofluorcarbonos.
d) do efeito estufa provocado pelo acúmulo de carbono na atmosfera, resultante da queima de combustíveis fósseis,
como carvão mineral e petróleo.
e) da eutrofização das águas, decorrente da dissolução, nos rios, do excesso de dióxido de carbono presente na
atmosfera.
7. (ENEM) Uma região industrial lança ao ar gases como o dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, causadores da
chuva ácida. A figura mostra a dispersão desses gases poluentes.

Biologia 27
Considerando o ciclo da água e a dispersão dos gases, a proliferação de micro-organismos anaeróbicos,
analise as seguintes possibilidades. os quais consomem o oxigênio dissolvido na água,
I. As águas de escoamento superficial e de precipita- comprometendo a vida aquática.
ção que atingem o manancial poderiam causar au- c) um aumento da quantidade de nutrientes nesses
mento de acidez da água do manancial e provocar a ambientes, tendo como consequência a proliferação
morte de peixes. inicial de micro-organismos anaeróbicos, os quais
II. A precipitação na região rural poderia causar au- consomem o oxigênio dissolvido na água, compro-
mento de acidez do solo e exigir procedimentos cor- metendo a vida aquática.
retivos, como a calagem. d) um aumento da quantidade de gás carbônico nes-
ses ambientes, tendo como consequência a proli-
III. A precipitação na região rural, embora ácida, não
feração de micro-organismos aeróbicos, os quais
afetaria o ecossistema, pois a transpiração dos ve-
consomem os nutrientes dissolvidos na água, com-
getais neutralizaria o excesso de ácido.
prometendo a vida aquática.
Dessas possibilidades,
e) uma diminuição da quantidade de nutrientes nesses
a) pode ocorrer apenas a I. ambientes (eutrofização), tendo como consequên-
b) pode ocorrer apenas a II. cia a redução da quantidade de micro-organismos
aeróbicos responsáveis pela oxigenação da água,
c) podem ocorrer tanto a I quanto a II. comprometendo a vida aquática.
d) podem ocorrer tanto a I quanto a III. 9. A magnificação trófica ou bioacumulação é um fe-
e) podem ocorrer tanto a II quanto a III. nômeno que provoca o acúmulo de produtos tóxicos
(metais, inseticidas) em níveis superiores aos das teias
8. (UFPel – RS) alimentares. Por meio da análise da concentração de
DDT (inseticida) em organismos marinhos, um biólogo
obteve os seguintes resultados.

Organismo Quantidade de DDT*


Aves marinhas 26,5
Pescadas 2,36
Manjubas 0,72

<http://www.usp.br/
Microcrustáceos 0,08
espacoaberto/arquivo/2002/ * unidade arbitrária
espaco25nov/print/ptnotas.htm>
De acordo com os índices de DDT apresentados no
quadro, esquematize a provável cadeia alimentar cons-
O lançamento de dejetos humanos nos rios, lagos e
tituída por esses organismos e, em seguida, justifique
mares – principalmente nos grandes centros urbanos –
sua resposta.
é a forma mais comum de poluição da água.
10. (MACKENZIE – SP) No mês de setembro, notícias vei-
Com base em seus conhecimentos e nos textos, é cor-
culadas na mídia mostraram a situação problemática
reto afirmar que ocorre um comprometimento da vida
da USP-Leste, situada em Ermelino Matarazzo. Se-
aquática quando os dejetos são lançados na água, pois gundo os relatos, a universidade foi construída sobre
estes promovem uma área contaminada por lixo extraído do Rio Tietê. A
a) um aumento da quantidade de nutrientes nesses preocupação maior é o perigo decorrente da produção
ambientes (eutrofização), tendo como consequên-
a) do CO (monóxido de carbono), gás que provoca as-
cia a proliferação de micro-organismos aeróbicos,
fixia quando inalado.
os quais consomem o oxigênio dissolvido na água,
comprometendo a vida aquática. b) do CN (gás cianídrico) que, absorvido, provoca a morte.
b) uma diminuição da quantidade de nutrientes nesses c) do CH4 (gás metano) que é bastante inflamável, po-
ambientes (eutrofização), tendo como consequência dendo provocar explosões.

28 Volume 12
d) de contaminantes da água utilizada na universidade. planeta. Nos tempos mais remotos, a caça indiscrimi-
nada de animais mais vulneráveis, como, por exemplo,
e) de gases como o CO2 (gás carbônico) e o O3 (gás
aves não voadoras, era um dos principais motivos de
ozônio) que podem provocar o efeito estufa.
extinção de várias espécies. Atualmente o ser huma-
11. A Biologia da Conservação reúne conhecimentos das no continua sendo o principal promotor da perda de
áreas de Ecologia, Biologia de Populações, Antropo- biodiversidade. Um conjunto de possíveis causas de
logia, Genética, Evolução e Biogeografia para desen- extinção de espécies nos tempos atuais é:
volver ações que contribuam para a conservação da
biodiversidade, prevenindo a extinção de espécies. a) fragmentação de hábitat, uso de cobaias em pes-
Qual é a importância da Biologia da Conservação para quisas científicas e caça controlada.
a manutenção da vida humana? b) fragmentação de hábitat, introdução de espécies
exóticas e poluição.
12. (UNICAMP – SP) A preservação da biodiversidade ocupa
hoje um lugar importante na agenda ambiental de diver- c) poluição, introdução de espécies exóticas e repro-
sos países. Qual das afirmações abaixo é correta? dução de espécies em cativeiro.

a) A diversidade de espécies diminui com o aumento d) poluição, reprodução de espécies em cativeiro e


da produtividade do ecossistema. crendices populares.

b) A diversidade de espécies diminui com o aumento 15. (UEMA)


da heterogeneidade espacial do ecossistema. O impacto da atividade humana sobre o am-
c) A diversidade de espécies diminui com o aumento biente vem sendo amplamente discutido e, hoje,
da latitude. já é consenso a dependência dos recursos natu-
d) A diversidade de espécies em recifes de corais é a rais para nossa sobrevivência. Neste contexto,
menor entre os ecossistemas marinhos. a problemática do lixo é urgente pela demanda
crescente de volume de resíduo destinado de
13. (UFRGS – RS) Considere as afirmações abaixo sobre a forma inadequada em lixões e aterros sanitários e
introdução de espécies exóticas em um ecossistema,
as consequências geradas à saúde. Soluções mais
como a dos javalis na região da fronteira oeste do Rio
efetivas para esse problema devem proporcionar
Grande do Sul.
uma mudança de hábitos que implica em dimi-
I. A disseminação dos javalis causa problemas pela nuir a produção de resíduos, utilizar o máximo
escassez de predadores naturais que controlem a possível um mesmo objeto assim como reapro-
população desses animais. veitar os materiais.
II. A degradação dos ambientes naturais favorece as SANTOS, F. S.; AGUILAR, J. B. V.; OLIVEIRA, M. M. A. Biologia –
ser protagonista. v. 3. São Paulo: Edições SM, 2010 (adaptado).
espécies exóticas a ocupar ambientes anteriormen-
te usados pelas espécies nativas. O modelo de desenvolvimento sustentável preconiza
III. As espécies exóticas invasoras são consideradas o manejo dos recursos naturais, de modo a promover
uma das causas da perda de biodiversidade. o desenvolvimento econômico e, ao mesmo tempo, a
conservação do meio ambiente. Acerca do lixo, a reco-
Quais estão corretas? mendação é a aplicação do conceito dos três R’s que
a) Apenas I. d) Apenas II e III. determina, respectivamente,
b) Apenas II. e) I, II e III. a) reduzir, restaurar e refazer.
c) Apenas I e III. b) reduzir, reutilizar e reciclar.

14. (UNICAMP – SP) No decorrer de sua existência, a espé- c) reutilizar, reduzir e reciclar.
cie humana tem sido uma das principais responsáveis d) refazer, reduzir e refazer.
pelo desaparecimento de muitos organismos de nosso
e) reciclar, reduzir e refazer.

Biologia 29
24
Evolução biológica
©Shutterstock/Paul Atkinson

Ponto de partida
1. Na imagem, está representada uma pequena amostra da diversidade de insetos presentes no planeta Terra. De
que maneira a evolução biológica se relaciona com a biodiversidade?
2. Se a evolução é um processo relativamente lento, como ela pode ser estudada?

30
Objetivos da unidade:
Pensamento evolucionista ƒ reconhecer os diferentes pen-
samentos evolucionistas e
Até o início do século XIX, predominava uma visão de mundo suas principais considerações;
denominada fixismo, em que as espécies se mantinham imutáveis. ƒ compreender os processos de
Nessa perspectiva, elas poderiam apresentar semelhanças, porém formação de novas espécies;
não teriam relações de parentesco entre si.
ƒ relacionar o processo evoluti-
Contudo, uma revolução científica decorrente dos avanços nas vo às características adaptati-
áreas da Ciência e da Geologia, ocorridos no século XVIII e propa- vas de cada espécie;
gados no século XIX, possibilitou a disseminação de outro pensa-
mento, o qual considerava que os seres vivos se modificavam ao ƒ identificar as principais evi-
longo do tempo, adaptando-se de forma contínua e dinâmica ao dências do processo evolutivo,
ambiente. relacionando-o com a biodi-
versidade;
Esse novo pensamento, que posteriormente foi denominado
pensamento evolutivo, disseminou-se a partir de 1760, com o tra- ƒ relacionar os aspectos de ge-
balho do naturalista francês Conde George-Louis Leclerc de Buffon nética populacional com o pro-
(1707-1788), que apresentava a ideia da ocorrência de um processo cesso evolutivo.
de transformação (transformismo). Em suas observações, Buffon
chegou à conclusão de que os ossos dos membros dos mamíferos
apresentavam grande semelhança em diversos aspectos, mesmo esses seres vivendo em ambientes distintos. Assim,
suas hipóteses já faziam referência à existência de transformações, que, segundo ele, aconteciam por meio da trans-
missão de características que se modificavam durante a existência do indivíduo. No entanto, ele não explicou como
essas modificações aconteciam.
Em 1794, o naturalista Erasmus Darwin (1731-1802) publicou um longo
tratado, intitulado Zoonomia, no qual afirmava que existia a possibilidade
As espécies estão em constante processo de transformação dos seres vivos, porém ele também não apresentou
de
evolução. Por isso, o conhecimento a resp uma hipótese para explicar como esse processo ocorria. Posteriormente,
eito da
vida na Terra está constantemente se alterando as ideias transformistas foram complementadas por cientistas que suge-
ao
considerar novas ideias, pesquisas e constata riram explicações para as modificações das espécies ao longo do tempo.
ções.
Entre esses cientistas, destacam-se Lamarck e Charles Darwin.

Teoria de Lamarck
Em 1809, Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Cavaleiro de Lamarck
(1744-1829), um professor de Zoologia da França, publicou a obra Philosophie A compreensão dos processos evoluti-
zoologique (Filosofia zoológica), que tratava das modificações que aconteciam vos possibilita estabelecer relações entre
com os seres vivos. Lamarck é considerado o primeiro evolucionista, pois cons- as diversas áreas da Biologia, como
truiu uma teoria ampla sobre a transformação dos seres vivos, cujo propósito Botânica, Zoologia, Taxonomia, Biologia
era promover uma unificação dos estudos Celular, Ecologia e Genética. Sem o en-
©Wikipedia Commons/Autor desconhecido

relacionados à vida. Ele propôs o termo bio- tendimento de como ocorre a evolução
logia para essa nova área de estudos. das espécies, essas áreas se tornariam
Diante do período histórico em que esta- um conjunto de informações isoladas.
va inserido e dos conhecimentos científicos
da época, Lamarck defendia que os seres vivos se desenvolviam
d l i gradativamente
d i ao
longo das gerações, de maneira linear, adquirindo formas cada vez mais complexas,
que resultariam em espécies com estruturas corporais mais complexas. Com isso,
quanto mais complexo fosse um ser vivo, mais antigo ele era, pois maior era o tempo
que ele vinha se desenvolvendo a partir de um organismo primitivo.
Jean-Baptiste de Monet,
Cavaleiro de Lamarck

31
Para Lamarck, o desenvolvimento dos seres vivos somente poderia ser perturbado pela ação das condições existen-
tes no ambiente, como clima, temperatura e altitude, que atuavam na transformação dos indivíduos para garantir sua
sobrevivência. Assim, uma alteração no ambiente exigiria o aumento ou a diminuição do uso de certas partes do corpo.
Na teoria de Lamarck, isso significava que, quanto mais um órgão ou estrutura corporal fosse usado, maior seria seu de-
senvolvimento. As partes que não eram utilizadas atrofiavam-se ou desapareciam com o tempo – lei do uso e desuso.
Portanto, de acordo com Lamarck, o uso e o desuso dos órgãos explicavam a diversidade de espécies e gêneros de
seres vivos, considerando que as alterações sofridas pelos indivíduos durante sua vida seriam transmitidas aos descen-
dentes – lei da herança dos caracteres adquiridos.
Observe, a seguir, alguns exemplos que facilitam a compreensão das explicações de Lamarck para determinadas
características.
• Os ancestrais das serpentes teriam tido pernas, que, em determinado momento, passaram a atrapalhar o des-
locamento do animal em lugares apertados. Com o desuso, as pernas foram se atrofiando e desapareceram
completamente. Assim, o corpo das serpentes passou a não mais apresentar apêndices locomotores.
• Os anfíbios teriam se originado de peixes que precisavam encontrar alimentos e respirar em ambiente terrestre.
Por isso, desenvolveram pernas e pulmões.
• As aves aquáticas, como os flamingos, teriam adquirido a característica de pernaltas em virtude do esforço em
esticar as pernas para buscar alimento na água sem molhar suas penas.

Jack Art. 2013. Digital.


Representação esquemática da explicação lamarckista para o desenvolvimento das pernas
altas dos flamingos de acordo com o aumento gradativo do nível da água

Com a identificação de que as alterações corporais ocasionadas pelo uso e desuso não são hereditárias e por sugerir
que as espécies não apresentam grau de parentesco entre si, a Teoria de Lamarck não estava completa. No entanto,
seus estudos foram importantes e são citados, inclusive, por Charles Darwin, por ser um dos primeiros a destacar as
adaptações dos seres vivos ao ambiente e que estas ocorriam de forma gradual.

Teoria de Darwin
Charles Robert Darwin (1809-1882) foi um naturalista inglês, neto de Erasmus Darwin e
©Wikipedia Commons/Julia Margaret Cameron

filho do médico e consultor financeiro Robert Darwin. Para se dedicar aos estudos, deixou
sua cidade natal, Shrewsbury, na Inglaterra, com 16 anos para estudar Medicina na Escócia.
Logo abandonou os estudos na área médica e foi estudar para se tornar um sacerdote
anglicano, em Cambridge. Entretanto, a vida religiosa não o agradou, pois seu interesse era
a História Natural.
Em Cambridge, Darwin foi aluno do professor de Botânica e reverendo John Henslow.
Em 1831, Henslow apresentou Darwin ao professor de Geologia Adam Sedgwick, um
dos mais respeitados geólogos da Inglaterra, que o convidou para realizar uma expe-
dição geológica pelo País de Gales. A partir daí, Darwin tornou-se um observador da
Charles Darwin natureza, e os estudos geológicos lhe possibilitaram adquirir amplo conhecimento sobre
os fósseis e as modificações pelas quais a Terra passou.

32 Volume 12
O interesse de Darwin pela História Natural chamou a atenção de diversos professores da Universidade de
Cambridge, e ele foi convidado para fazer parte da tripulação (como naturalista) do navio oceanográfico HMS Beagle,
pertencente à Marinha Real Britânica.
A expedição tinha o objetivo de atualizar velhos mapas e fazer um levantamento completo de regiões pouco co-
nhecidas, incluindo a costa da América do Sul. Além disso, deveriam ser realizadas a descrição de diversas formas de
vida e a verificação dos recursos dessas regiões em virtude do interesse dos ingleses por sua exploração e comércio.
Assim, no dia 27 de dezembro de 1831, o Beagle partiu da Inglaterra; em fevereiro de 1832, chegou a Salvador e, em
abril do mesmo ano, ao Rio de Janeiro.
Observe, no mapa, o percurso da viagem do navio Beagle, a qual durou cinco anos.

VIAGEM DE CHARLES DARWIN

Marilu de Souza

Fonte: DARWIN ONLINE. Disponível em: <http://darwin-online.org.uk/converted/scans/1890_Voyage_F59(online)/1890_Voyage_F59_602.


jpg>. Acesso em: 17 dez. 2015. Adaptação.

Em março de 1835, o navio atingiu o Oceano Pacífico, chegando a Valparaíso,


no Chile, onde Darwin fez diversas observações geológicas na Cordilheira dos
Andes. Em setembro de 1835, a expedição chegou ao Arquipélago de Galápa- Existem 13 espécies de tentilhões
gos (galápago significa “jabuti”, em espanhol), situado 1 000 km a oeste da costa em Galápagos − 14 se for incluído
do Equador. também o tentilhão da Ilha dos Cocos
(Pinaroloxias inornata), que é uma es-
Em Galápagos, Darwin verificou a existência de diferentes espécies de árvores, pécie relacionada –, e cada uma tem
jabutis gigantes e aves. Ele ficou impressionado com as variedades e adaptações a forma do bico característica. Darwin
dos pássaros tentilhões nas diversas ilhas do arquipélago. Assim, observou um concentrou seus estudos na relação
grupo de 14 espécies de tentilhões, pertencentes a quatro gêneros, cada uma entre a forma do bico, o alimento e o
com um tipo de bico adaptado ao regime alimentar específico da ilha à qual hábitat de cada espécie.
pertencia (sementes, insetos, flores, cactos, entre outros).

Biologia 33
Tentilhão terrícola de grande porte Tentilhões com bico grande podem
(Geospiza magnirostris) quebrar sementes grandes e duras.

Tentilhão terrícola de médio porte


Granívoros: apresentam bico (G. fortis)
adaptado para apanhar e
quebrar sementes.
Tentilhão terrícola de pequeno porte
Tentilhões de bicos pequenos não
(G. fuliginosa)
conseguem quebrar sementes
grandes tão bem, mas são mais
adaptados no trato de sementes
Tentilhão ancestral (da área Tentilhão terrícola de bico fino
menores.
continental da América do Sul): (G. difficilis)
tiziu (Volatinia jacarina)
Tentilhão dos cactos de grande porte
(G. conirostris)
Os tentilhões dos cactos
apresentam bicos adaptados
Tentilhão dos cactos para abrir os frutos dos cactos
(G. scandens) e as sementes.

Tentilhão vegetariano
Vegetariano: apresenta bico
(Platyspiza crassirostris)
adaptado para agarrar e arrancar
brotos dos ramos de árvores.
Tentilhão arborícola de pequeno porte
(Camarhynchus parvulus) O tentilhão arborícola de grande
porte usa o bico para arrancar
pedaços de madeira e retirar
Tentilhão arborícola de grande porte
Insetívoros: apresentam bico de larvas de seu interior.
(C. psittacula)
formato variado, pois cada espécie
se alimenta de diferentes tipos e
tamanhos de insetos. Tentilhão arborícola de médio porte Os tentilhões do mangue e os
(C. pauper) arborícolas de pequeno e médio portes
capturam insetos nas folhas e nos
Ricardo Grube. 2011. Digital.

ramos das árvores e exploram rochas


Tentilhão do mangue em busca de presas escondidas.
(C. heliobates)
O tentilhão pica-pau usa o bico
longo para explorar espécies
Tentilhão pica-pau pequenas. Seus membros são
(C. pallidus) adaptados para comer sementes,
brotos e insetos.

Tentilhão cantor O tentilhão cantor utiliza movimentos


(Certhidea olivacea) rápidos para apanhar insetos
pousados nas plantas.
Fonte: PURVES,, Willian K. et al. Vida: a ciência da Biologia.
g 6. ed. Porto Alegre:
g Artmed,, 2005. v. 2,, p.
p 416.

Esquema representativo da irradiação adaptativa das espécies de tentilhões (da Família Fringillidae) observadas
por Darwin no Arquipélago de Galápagos (tamanho aproximado dos tentilhões: 15 cm de comprimento)

Após cinco anos de expedição no navio Beagle, Darwin regressou com muitas anotações e dados que precisavam
ser estudados. Além disso, ele entrou em contato com obras que tratavam do pensamento evolucionista.
Com todas as observações que realizou das espécies animais e vegetais, geológicas e fósseis, Darwin passou a de-
senvolver alguns métodos para a verificação de mecanismos que provocam a transformação das espécies. Assim, tra-
duziu sua compreensão da adaptação dos tentilhões e concluiu que, quando um ser está mais adaptado ao ambiente,
suas chances de sobrevivência são maiores e seres menos adaptados têm menos chances de sobreviver. Esse processo
denomina-se seleção natural. Resumindo nas próprias palavras de Darwin, “as espécies, ao contrário da crença quase
universal, não são estáticas e imutáveis, mas se modificam através de longos períodos de tempo, pela seleção natural,
permanecendo vivo o mais apto”.
Somente após 22 anos de seu retorno e cerca de 50 anos depois da publicação do livro de Lamarck, já sabendo do
trabalho desenvolvido pelo naturalista Alfred R. Wallace (1823-1913), Darwin publicou seu livro A origem das espécies:
por meio da seleção natural (The origin of species by means of natural selection), em 24 de novembro de 1859.

34 Volume 12
A ideia de ancestralidade foi defendida por Lamarck, que a imaginava como uma sequência linear. Darwin, entre-
tanto, inovou por conceber a ideia de ancestralidade como uma árvore, com inúmeras ramificações, na qual duas es-
pécies semelhantes seriam descendentes de uma única espécie existente no passado, sua ancestral. Para ele, a grande
diversidade de vida na Terra é o resultado de mecanismos que atuam durante milhões de anos e continuam atuando
nos dias atuais.

Ancestralidade por Lamarck Ancestralidade por Darwin

Tempo Tempo

Forma da espécie Forma da espécie

Fonte: RIDLEY, Mark. Evolução. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 32.

O pensamento evolucionista possibilita explicar como as espécies existentes descendem de outras que já ha-
bitaram a Terra e por quais modificações elas passaram. Entretanto, quando Darwin publicou seu trabalho, ainda
não se tinham conhecimentos sobre a estrutura dos cromossomos, dos genes e de seus modos de expressão, que
foram detalhados mais tarde, o que tornava mais difícil a tarefa de explicar de maneira satisfatória as caracterís-
ticas das espécies e o processo evolutivo.

Conexões
Darwin e Wallace

©Wkimedia Commons/London Stereoscopic & Photographic Company


Ao mesmo tempo que Darwin desenvolvia ideias a respeito da seleção na-
tural e da evolução, outro naturalista também escrevia sobre o mesmo tema: o
britânico Alfred Russel Wallace, o qual realizou duas grandes viagens – uma para a
Amazônia, onde permaneceu por 11 anos, e outra para a Ásia. Wallace escreveu o
ensaio “Sobre a tendência das variedades de se distanciar indefinidamente a partir
do tipo original” e o enviou a Darwin, a quem admirava, para críticas e sugestões.
Pela semelhança de seus trabalhos e com receio de ter a originalidade de suas
ideias ameaçada, Darwin escreveu ao amigo e renomado geólogo Charles Lyell.
Em virtude da influência de Lyell no meio científico, os trabalhos de Darwin e Wal-
lace foram apresentados ao mesmo tempo, no dia 1.º de julho de 1858, a Linnean
Society of London, considerado o mais importante centro de estudos de História
Natural da Inglaterra. Depois disso, Darwin publicou seu livro A origem das espécies.
Alfred Russel Wallace
Não se sabe ao certo por que o nome de Wallace foi obscurecido por Darwin.
Admite-se, porém, que isso se deve ao fato de Darwin já ser um naturalista bastante renomado na época. Contudo,
Wallace foi o primeiro a propor um mapa geográfico das espécies animais e, por isso, é considerado o pai da
Biogeografia.

Biologia 35
Organize as ideias
O pensamento evolutivo foi sendo elaborado cientificamente no decorrer do tempo. Monte um esquema ou quadro
elencando os principais pontos do pensamento evolutivo em cada período estudado: Erasmus Darwin, Lamarck e
Charles Darwin.

Atividades

1. (UNESP)
Aquecimento já provoca mudança em gene animal. Algumas espécies animais estão se modificando
geneticamente para se adaptar às rápidas mudanças climáticas no espaço de apenas algumas gerações,
afirmam cientistas.
Folha de S.Paulo, 09.05.2006.

O texto pressupõe uma interpretação darwinista ou lamarckista do processo evolutivo? Justifique.

2. (UPF – RS) Segundo Lamarck, todo ser vivo atual surgiu em decorrência de transformações sucessivas de uma forma
primitiva originada por geração espontânea a partir de matéria não viva, e o crescimento ou a atrofia de determinados
órgãos nos indivíduos depende de seu uso ou desuso. Por outro lado, Darwin afirmava que todo ser vivo, em algum
ponto do passado, compartilha um ancestral comum. Essas afirmações estão:
a) totalmente erradas, pois os autores das ideias estão invertidos.
b) parcialmente corretas, pois quem criou a lei do uso e desuso foi Darwin.
c) parcialmente corretas, pois Darwin nunca afirmou que os seres vivos têm ancestrais comuns.
d) parcialmente corretas, pois as ideias de geração espontânea e da lei de uso e desuso são do criacionismo.
e) totalmente corretas, segundo a História.
3. Estudos geológicos, de fósseis e das alterações do relevo são apontados como uma importante contribuição para o
desenvolvimento do pensamento evolutivo de Wallace e Darwin. Considerando que a Terra tem, aproximadamente,
4,6 bilhões de anos, qual seria a importância dessa informação para o desenvolvimento das teorias evolucionistas?

36 Volume 12
4. (UNIMONTES – MG) A evolução pode ser entendida como sendo o processo de variação e adaptação de populações ao
longo do tempo, podendo, inclusive, provocar o surgimento de novas espécies a partir de uma preexistente. O quadro
a seguir apresenta características de algumas teorias evolutivas. Analise-o.

Lamarckismo Darwinismo I
Ambiente Motor da evolução Motor da evolução Motor da evolução
Variabilidade II Intraespecífica III
Mecanismo de
IV V Mudança no fundo genético das populações
evolução
Reprodução diferenciada (a informação
Lei da herança dos
VI Reprodução diferencial genética é transmitida aos seus
caracteres adquiridos
descendentes)

De acordo com o quadro e o assunto abordado, analise as alternativas abaixo e assinale a correspondente ao VI.
a) Transmissão de características. c) Mutações e recombinações genéticas.
b) Lei do uso e desuso. d) Seleção natural.

Seleção natural e adaptação


A Teoria da Evolução das Espécies pela Seleção Natural, também chamada de darwinismo, que teve a grande
contribuição de Alfred Russel Wallace, contém alguns princípios fundamentais, tais como:
• todos os organismos sofreram uma diversificação (irradiação) adaptativa, ou seja, descenderam de um ancestral
comum, que passou por diversas modificações;
• deve haver diversidade entre os indivíduos de determinada população;
• o mecanismo que atua sobre a variação individual denomina-se seleção natural. Esse mecanismo evolutivo
favorece os mais bem adaptados ao ambiente, possibilitando a sobrevivência. Desse modo, os indivíduos da po-
pulação que apresentam variações favoráveis conseguem se alimentar e se reproduzir, deixando descendentes.
O conceito biológico de adaptação está relacionado às características dos seres vivos que favorecem sua sobrevivên-
cia em determinado ambiente. Essas características podem ser fisiológicas, anatômicas, morfológicas, entre outras, e sua
passagem aos descendentes é influenciada pela seleção natural. Contudo, como o ambiente está em constante mudança,
essas adaptações podem repentinamente se tornar desvantajosas.

Teoria Sintética da Evolução


Apesar de muito bem fundamentada, a Teoria da Evolução não explicou como acontecem as modificações nos
seres vivos, pois ainda não se conhecia a estrutura do material hereditário (DNA).
Assim, a partir da década de 1920, o darwinismo ganhou o reforço dos estudos de Mendel e da Genética, conso-
lidando uma nova teoria evolutiva, denominada Teoria Sintética da Evolução, também chamada de neodarwinismo.
Nessa concepção, as mutações e as recombinações genéticas, além da seleção natural, da migração e da deriva genética,
são as principais responsáveis pelas variações entre os indivíduos, determinantes no processo de evolução das espécies.
De acordo com o neodarwinismo, as mutações são o principal fator evolutivo, pois possibilitam a formação
de novas características nas populações. As recombinações gênicas, mecanismos que ocorrem durante a meiose
(segregação independente e crossing-over), possibilitam que novas combinações alélicas sejam formadas e se dis-
tribuam entre os seres vivos. As migrações também atuam na evolução das espécies ao proporcionar fluxo gênico
entre diferentes populações.

Biologia 37
A deriva genética ou oscilação genética, modificação das frequências alélicas e genotípicas que ocorre aleatoria-
mente, também é considerada um mecanismo evolutivo. Fatores climáticos, predação diferencial intensa e casamentos
consanguíneos (endogâmicos) podem aumentar ou diminuir a frequência de um alelo existente na população. Com
isso, ocorre a diminuição da variabilidade genética populacional. Exemplificando, em uma enchente, podem ser eli-
minados aleatoriamente muitos indivíduos de uma população, e os que sobrevivem não são necessariamente os mais
adaptados.
De acordo com sua ação, os principais fatores relacionados à evolução das espécies são reunidos em duas catego-
rias: os que aumentam a variabilidade genética e os que atuam sobre ela. Os fatores que aumentam a variabilidade
genética (mutação e recombinação gênica) possibilitam a existência de variações fenotípicas que favorecem o surgi-
mento de mais características. Já os fatores que atuam sobre a variabilidade genética (seleção natural, migrações e
deriva genética) agem na evolução, alterando as frequências gênicas (alélicas) das populações.

Mutações Seleção natural

aumentam atua sobre


Variabilidade atua sobre
genética Deriva genética
aumenta atua sobre

Recombinação gênica Migração


• segregação cromossômica
• crossing-over

Os atributos que favorecem a sobrevivência e a capacidade de reprodução são chamados de adaptativos. Essas
características tendem a ser transmitidas para os descendentes, ou seja, são herdáveis. Portanto, para Darwin, a modi-
ficação evolutiva é o resultado da atuação da seleção natural sobre a variabilidade de uma população.

Existem inúmeras discussões referentes ao nível biológico no qual a seleção natural atua: dos indivíduos, dos
genes ou das populações. O foco da ação da seleção natural ainda é discutido, mas atualmente há um consenso
maior de que ela pode atuar em cada um dos diferentes níveis da organização biológica. No entanto, não há respos-
ta sobre seu impacto em cada um desses níveis nem a respeito de como esses fenômenos se relacionam.

Suponha que certa espécie de pássaro passe a apresentar um gene mutante que lhe possibilite uma forma de
bico diferente, o qual captura melhor determinados insetos. Esse pássaro transmite esse gene aos descendentes e,
assim, a população passa a apresentar a característica favorável em relação ao hábito alimentar. Com o tempo, a fre-
quência desse gene tende a aumentar em razão da seleção natural.

População inicial Proliferação dos mutantes Predomínio dos mutantes Extinção do tipo original
Dagoberto Pereira. 2011. Digital.

Mutante

A seleção natural atua sobre a variação favorável mantendo o indivíduo que apresenta essa modificação (em azul).

38 Volume 12
Vários outros exemplos de atuação da seleção natural podem ser mencionados, entre eles, os casos dos insetos
resistentes a inseticidas; dos animais que conseguem se camuflar, escondendo-se dos predadores ou das presas; e das
plantas que apresentam a capacidade de retenção de água, conseguindo sobreviver em ambientes secos.

©Shutterstock/Fabio Maffei

©Shutterstock/SOMMAI
Animais camuflados não são
vistos pelos predadores ou
pelas presas, e plantas com
capacidade de retenção de ar
sobrevivendo em ambientes
aquáticos são exemplos da
atuação da seleção natural.

É importante ressaltar que não é o ambiente que provoca a modificação, ou seja, os seres vivos não apresentam
variações em virtude da necessidade de adaptação e sobrevivência ou porque precisam se aperfeiçoar. As novas
características geradas pelas mutações surgem espontaneamente, podendo ser vantajosas ou não. Os portadores
das características vantajosas são selecionados pelo ambiente e, por isso, conseguem sobreviver por mais tempo,
deixando descendentes com seu patrimônio genético. Portanto, o ambiente não modifica, apenas seleciona os mais
adaptados. Isso é seleção natural.

Conexões
A teoria de Darwin foi bastante inspirada nas ideias de Thomas Malthus (1766-1834), que fez importantes estudos
sobre o crescimento de populações humanas. Para Malthus, enquanto as populações crescem em progressão geo-
métrica, a produção de alimentos cresce em progressão aritmética. Ao ler os trabalhos de Malthus, Darwin pensou na
luta pela sobrevivência. Contudo, o que o intrigou foi o fato de que as populações crescem até certo ponto e, depois,
se mantêm estáveis, pois há competição por alimento e espaço. Essa conclusão foi central para o desenvolvimento da
ideia da seleção natural, publicada mais de 50 anos depois dos originais de Malthus.

Alimentos
População

Os estudos de Malthus mostraram que o crescimento


das populações é proporcionalmente maior que o
crescimento dos recursos alimentares.
1 2 3 4 5 6 7 8
Gerações

Biologia 39
Seleção natural Um exemplo de seleção estabilizadora pode ser ob-
servado em populações de determinados pássaros, como
Atualmente, estudos sugerem três tipos de seleção
os pardais, com base na análise do tamanho das asas dos
natural: direcional, estabilizadora e disruptiva.
animais mortos depois de uma forte tempestade. Entre
Seleção natural direcional os indivíduos mortos, a maioria apresenta asas muito lon-
gas ou muito curtas em relação aos intermediários exis-
É aquela em que um fenótipo extremo é favorecido e
tentes na população. Assim, as tempestades passaram a
tende a aumentar sua frequência na população. Em deter-
atuar como fator seletivo, eliminando mais intensamente
minada população de tainhas, por exemplo, os indivíduos
os pássaros com asas de tamanhos maiores e menores,
menores conseguem sobreviver porque a pesca é realiza-
mantendo maior quantidade de pardais com asas de ta-
da com técnicas que capturam os exemplares maiores e
manho médio.
possibilitam a fuga dos menores. Esse processo faz com
Seleção natural estabilizadora
que ocorra uma diminuição na média de tamanho entre
Frequência
os membros dessa população, pois os indivíduos meno- de indivíduos População
res passam a ter mais chances de sobrevivência. Esse tipo original

de seleção também pode atuar sobre os indivíduos gran-


des, dependendo da pressão do ambiente.
A resistência das bactérias aos antibióticos e a dos in-
setos aos inseticidas também são exemplos de seleção
natural direcional.
Seleção pela ocorrência de tempestades
Seleção natural direcional
Frequência Prevalência de indivíduos com asas médias
População
de indivíduos original
População
Frequência final
de indivíduos Pressão
seletiva

População
original

Seleção pelo uso de redes


Ilustrações: Jack Art. 2013. Digital.

Prevalência de indivíduos pequenos Representação gráfica da seleção natural estabilizadora e seus


efeitos sobre a distribuição dos fenótipos na população de pardais
Pressão
Frequência
seletiva População
de indivíduos
final
População
Seleção natural disruptiva
original
Também conhecida como seleção diversificadora,
ocorre quando os indivíduos extremos são favorecidos
na população, ou seja, aqueles que existem em menor
quantidade tendem a produzir maior descendência que
Representação gráfica da seleção natural direcional e seus efeitos
sobre a distribuição dos fenótipos na população de peixes os intermediários, que se localizam no centro da distri-
buição. Isso acaba produzindo dois picos na distribuição
em um gráfico.
Seleção natural estabilizadora
Ocorre em populações que habitam locais relativamen-
teórico, pois
te estáveis, onde a média dos organismos está regulada e, A seleção disruptiva é de particular interesse
em uma popula-
por isso, os indivíduos portadores de características inter- pode aumentar a diversidade genética
ão. isso,
Por
mediárias são favorecidos (fenótipo intermediário), dimi- ção e possibilitar o fenômeno de especiaç
ra.
nuindo aqueles que apresentam características extremas. também é chamada de seleção diversificado

40 Volume 12
Como exemplo de seleção disruptiva, podem-se citar De acordo com o critério de cada espécie, há atrativos
as sementes que servem de alimento a besouros, os quais nos indivíduos machos que garantem a conquista das fê-
preferem as de tamanho médio, desprezando as de ta- meas e, consequentemente, mais chances de reprodução
manho pequeno ou grande. Com isso, as sementes que e manutenção dessas características nos descendentes.
apresentam fenótipos extremos são favorecidas, aumen- Entre alguns exemplos de atrativos, estão a cauda do
tando o número de plantas que produzem sementes pe- pavão, o chifre do cervo, o tamanho do pescoço da girafa,
quenas ou grandes na população. o canto dos pássaros e o coaxar dos sapos.
Seleção natural disruptiva
Frequência Seleção artificial
de indivíduos População
original Compreende a seleção intencional, geralmente,
realizada por criadores de animais e plantas, os quais
selecionam indivíduos com base em características de-
sejáveis para a reprodução. Essas características podem
ser frutos maiores, quantidade maior de folhas, maior
produção de leite ou lã, entre outras, e as alterações são
Seleção pelo tamanho das sementes
percebidas em uma escala de tempo muito menor que
Prevalência de sementes grandes e pequenas na seleção natural.
Frequência População original
Pressão O método de seleção artificial era conhecido por
de indivíduos seletiva
População Darwin, que o empregava em sua criação de pombos
Jack Art. 2013. Digital.

final
para a formação de características diferentes entre os
indivíduos, como coloração e mais ou menos penas.
Animais como porcos, ovelhas, vacas e cavalos também
passaram pelo método de seleção artificial iniciado com
espécies selvagens, o que resultou em seu processo de
domesticação.
As diferentes raças de cachorros existentes na atuali-
Representação gráfica da seleção natural disruptiva e seus
efeitos sobre a distribuição dos fenótipos em sementes dade se desenvolveram a partir da seleção artificial feita
com lobos. As características como peso, altura, pela-
gem, docilidade e inteligência puderam ser escolhidas
Seleção sexual no momento de realizar os cruzamentos, resultando nas
inúmeras raças atuais.
Trata-se de uma forma de seleção em que os indiví-
duos com determinadas características obtêm parceiros
mais facilmente. Essas características podem ser orna-
©Shutterstock/Dora Zett

mentais, comportamentais ou estarem relacionadas ao


tamanho dos organismos.
©Shutterstock/FiledIMAGE

A seleção artificial de cachorros originou inúmeras raças.

No caso das plantas, os vegetais que compõem a base


da alimentação humana atualmente, como milho, soja,
trigo, arroz e feijão, passaram pelo processo de seleção ar-
tificial. Nesses casos, os agricultores escolhiam as plantas
Disputa de elefantes-marinhos machos pelas fêmeas
com frutos ou grãos maiores e mais saborosos, realizavam
os cruzamentos e replantavam até atingir seu objetivo.

Biologia 41
Entretanto, a seleção artificial faz com que, além da característica objetivada, outras menos vantajosas sejam sele-
cionadas, podendo levar ao desenvolvimento de doenças de origem genética e, principalmente, à redução da variabi-
lidade genética e da biodiversidade, fenômeno denominado erosão genética.

Formação de novas espécies


Uma espécie biológica é definida por Ernst Mayr (1904-2005) como um
grupo de seres vivos com características semelhantes que se reproduzem
O conceito de espécie de Ernst Mayr não entre si, gerando descendentes férteis. Esse conceito delimita, na classifica-
abrange seres vivos que se reproduzem ção biológica, a espécie como sendo a unidade reprodutiva, ecológica, ge-
de
forma assexuada. Assim, na classificação des- nética e evolutiva dos seres vivos.
ses organismos por espécie, como no caso das Os indivíduos pertencentes às mais diferentes espécies se modificam ao
bactérias, características morfológicas, gené longo do tempo. Assim, a todo momento, a seleção natural atua na variação
-
ticas e fisiológicas precisam ser consideradas. genética que é herdada, possibilitando que os indivíduos mais adaptados às
condições ambientais sobrevivam e se reproduzam.
O acúmulo das características adaptativas selecionadas nesses organismos possibilita a ocorrência de especiação,
ou seja, processo de formação de novas espécies, o qual pode ocorrer de duas maneiras: por especiação alopátrica ou
simpátrica.
Especiação alopátrica
A
A especiação alopátrica (do Indivíduos da mesma
grego alloio, diferente; e do latim espécie vivem na mesma
área geográfica.
patria, pátria) considera que o pro-
cesso de especiação ocorre por meio
do isolamento geográfico de uma B
Forma-se uma súbita
espécie ancestral. Nesse caso, uma barreira geográfica que
isola os indivíduos.
barreira geográfica pode fazer com
que os indivíduos de uma população Isolamento geográfico
se separem, interrompendo o fluxo
C
gênico entre eles. Assim, eles se- Em decorrência das
mutações, os organismos
guem caminhos evolutivos distintos, se diferenciam, e a seleção
uma vez que, em ambientes diversi- natural atua sobre essas
diferenças.
ficados, os agentes seletivos atuantes D
A barreira geográfica se
são diferentes. desfaz e os descendentes da
população original se unem.
Montanhas, rios, oceanos, de-
sertos e, até mesmo, uma estrada
podem funcionar como barreiras
geográficas, separando populações
de uma mesma espécie que antes
Dagoberto Pereira. 2013. Digital.

compartilhavam o mesmo hábitat.


Se essas populações se mantiverem
Descendência estéril
isoladas por muito tempo, podem Isolamento reprodutivo
Descendência fértil
ocorrer mutações, que se acumulam E
Se os cruzamentos originarem
e originam novas espécies. Se esses F Se os cruzamentos posteriores não
descendentes férteis, os
gerarem descendentes ou originarem
indivíduos se encontrarem nova- indivíduos ainda são da mesma
indivíduos estéreis, os organismos
espécie. No entanto, constituem
mente e não se reproduzirem mais, raças (variações) diferentes. constituem espécies diferentes.
significa que já se tornaram espécies
diferentes. Representação esquemática do processo de especiação alopátrica

42 Volume 12
Especiação simpátrica • isolamento comportamental ou etológico −
Na especiação simpátrica (do grego syn, juntamente; machos e fêmeas de espécies diferentes apresen-
e do latim patria, pátria), as populações não estão geo- tam comportamentos, sons e cheiros distintos,
graficamente isoladas. Nesse caso, ocorre a divergência como as danças nupciais e o canto das aves, o
genética de populações (de uma espécie ancestral única) coaxar dos sapos e a bioluminescência dos vaga-
que vivem em uma mesma região geográfica, formando -lumes e das águas-vivas;
espécies diferentes. Isso pode ocorrer por: • isolamento anatômico ou mecânico – nos ani-
• mutações cromossômicas durante as divisões ce- mais, há diferenças no tamanho e na forma dos
lulares (principalmente na meiose), as quais, no órgãos genitais de machos e fêmeas, tornando-os
decorrer de gerações, podem levar à formação de incompatíveis para a cópula. Nas plantas, o estig-
novas espécies; ma das flores pode se tornar incompatível à recep-
• favorecimento de indivíduos com características ção dos grãos de pólen;
extremas em virtude de mudanças ambientais, • isolamento gamético − mesmo que a cópula
podendo, em gerações, levar ao isolamento re- aconteça, os gametas masculinos podem não ser
produtivo, formando uma nova espécie; atraídos pelos gametas femininos. Além disso,
• deriva genética quando um desastre ecológico, podem não apresentar as enzimas necessárias
como inundação ou incêndio, elimina grande para romper os envoltórios do gameta feminino,
parte da população. Assim, os indivíduos que resis- tornando-se incompatíveis.
tiram (por estarem em um ponto não afetado, por Em alguns casos, mesmo se o cruzamento entre dois
exemplo, e não por suas características) aumen- seres vivos de espécies diferentes ocorrer e a fecundação
tam a frequência de determinadas características for viável, verificam-se os mecanismos pós-zigóticos,
por meio da reprodução. Em virtude dessa redu- que são:
ção na variabilidade genética, uma nova espécie • inviabilidade do híbrido − os zigotos híbridos
pode se desenvolver com o passar das gerações. apresentam viabilidade reduzida ou são inviáveis,
isto é, a prole híbrida pode não sobreviver ou so-
Mecanismos de isolamento reprodutivo breviver com dificuldades. Por exemplo, embora
Os mecanismos que impedem a reprodução entre es- algumas espécies de rãs habitem a mesma lagoa
pécies diferentes e resultam no isolamento reprodutivo e possam eventualmente cruzar-se, pode haver
podem ser pré-zigóticos e pós-zigóticos. uma geração de híbridos interespecíficos, mas
Os que acontecem antes do acasalamento, evitando que não se desenvolvem. Além disso, em muitos
a fecundação, denominam-se pré-zigóticos e podem mamíferos, o embrião pode ser abortado natural-
ocorrer por: mente pela fêmea;
• isolamento ecológico – as populações envolvidas • esterilidade do híbrido – mesmo que indiví-
habitam lugares distintos e, assim, não mantêm duos híbridos sejam vigorosos, eles podem não
contato durante seus períodos reprodutivos, es- produzir gametas normais, pois a estrutura ou o
tando isoladas reprodutivamente pela localização; número de cromossomos das espécies parentais
• isolamento sazonal – a época de reprodução impossibilita um pareamento adequado durante
(maturação de gametas) das espécies que tentam a meiose. Um exemplo é o cruzamento do jumen-
se acasalar é diferente. Com isso, machos e fêmeas to (Equus asinus) com a égua (Equus caballus), que
não estão prontos para a cópula no mesmo perío- resulta em um híbrido estéril (burro ou mula). Por
do. Esse isolamento também se aplica às plantas. não serem capazes de produzir prole quando aca-
Embora algumas espécies de orquídeas habitem a salam entre si ou com uma das espécies parentais,
mesma região, o florescimento ocorre em épocas o intercâmbio genético ou fluxo gênico entre as
diferentes, impedindo o cruzamento entre elas; espécies é bloqueado.

Biologia 43
Atividades

1. (ACAFE – SC) Os principais fatores evolutivos que afe- Ao propor a Teoria da Evolução das Espécies pela Sele-
tam o equilíbrio gênico de uma população mendeliana ção Natural, Darwin baseou-se em dois princípios para
são: a mutação, a seleção natural, a migração e a deri- explicar a mudança evolutiva.
va gênica.
Assinale a alternativa que apresenta estes princípios.
Os fatores que contribuem para o aumento da variabi-
a) As espécies mostram variação entre os indivíduos.
lidade genética de uma população são:
O processo responsável por essa variação constitui
a) mutação e migração. a adaptação das espécies.
b) migração e deriva genética. b) As espécies não são imutáveis. O processo respon-
sável por essa modificação constitui a evolução das
c) deriva genética e seleção natural.
espécies.
d) seleção natural e mutação.
c) As espécies evoluem a partir de características
2. (UFRN) A cauda do pavão, os chifres dos alces e as adquiridas em resposta ao ambiente. O processo
penas coloridas dos machos das aves-do-paraíso são responsável por essa evolução constitui a seleção
“acessórios” estratégicos para o ciclo de vida dessas natural.
espécies e representam uma evidência da evolução
d) As espécies mudam ao longo do tempo. O processo
biológica. As características apresentadas por esses
responsável por essa mudança constitui a seleção
animais favorecem a ocorrência do processo evolutivo
natural.
por seleção
4. (UNICENTRO – PR) A seleção natural pode atuar sobre
a) sexual.
os caracteres quantitativos de forma a produzir di-
b) artificial. ferentes tipos de respostas evolutivas. Um resultado
c) direcional. possível pode ser assim exemplificado: se um grupo
de pássaros tivesse apenas dois tipos de alimen-
d) disruptiva. tos (sementes duras e larvas xilófagas, escondidas
3. (CESUPA) na madeira em decomposição), seriam favorecidos
aqueles com bico fino e delicado, que teriam mais
facilidades em capturar as larvas, e os de bico mais
forte, capazes de quebrar as sementes; pássaros de
bico intermediário levariam desvantagem por não
serem hábeis na obtenção de nenhum dos dois tipos
de alimento. Esta situação poderia ser representada
pelo gráfico a seguir.
Comedores Comedores
de insetos de sementes

População
original
População
após seleção

(Adaptado de: <http://entendendoovelhodarwin.blogspot.com.


br/2010/09/selecao-disruptiva-ou-diversificadora.html>.
Acesso em: 3 out. 2013.)

44 Volume 12
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a seleção que é descrita no exemplo e representada pelo gráfico.
a) Estabilizadora. c) Dicopátrica. e) Disruptiva.
b) De espécie. d) Direcional.
5. (UEG – GO) Na Biologia, o processo de seleção pode envolver não apenas a aptidão de obter alimento ou escapar de
predadores, mas envolve também critérios de seleção sexual. Sobre esse tema, responda ao que se pede.
a) O que é seleção sexual?

b) Exemplifique um modelo de seleção sexual.

6. Os seres humanos deixaram de ser caçadores e coletores para se dedicarem à criação de animais e ao cultivo de es-
pécies de plantas para a alimentação. A seleção artificial de sementes possibilitou que espécies selvagens sofressem
modificações, originando as que conhecemos atualmente. Um exemplo é a mostarda-silvestre, por meio da qual se
obteve o cultivo de brócolis, couve-flor, repolho, entre outras plantas.

Brócolis – seleção
para supressão do Couve –
desenvolvimento seleção para
da flor folhas

Repolho – seleção

©Shutterstock/Csongor Tari/Egor Rodynchenko/


para gema

Edward Westmacott/Fatseyeva/matin/SeDmi
terminal Couve-de-bruxelas –
seleção para gemas
laterais

Couve-flor –
seleção para flores
estéreis

a) Considerando a seleção artificial, explique como ocorre o desenvolvimento de tantas variedades de plantas a partir
de uma única espécie.

b) Cite uma desvantagem da seleção artificial.

Biologia 45
Evidências do processo evolutivo
A análise criteriosa de evidências evolutivas encontradas até o momento sugere que os seres vivos existentes na
atualidade descendem de outros indivíduos que habitaram a Terra no passado.
Por meio de análises comparativas entre os seres vivos, os cientistas procuram evidências e argumentos científicos
da ocorrência de modificações nas espécies. Os métodos utilizados para demonstrar a ocorrência do processo evoluti-
vo são baseados em evidências paleontológicas, anatômicas, embriológicas e moleculares.

Evidências paleontológicas
A Paleontologia (do grego palaios, antigo; ontos, ser; logos, estudo) é a ciência que estuda os restos e os vestígios
de seres vivos que viveram no passado, denominados fósseis.
O processo de fossilização é raro (poucos organismos fossilizam) e, geralmente, apenas as partes duras fossilizam,
como troncos, conchas, carapaças, ossos e dentes. Contudo, em algumas situações excepcionais, grande parte do
organismo pode estar conservada. Nesses casos, os seres ficam envolvidos em materiais que os preservam do contato
com micro-organismos decompositores. Isso acontece, por exemplo, com insetos fossilizados na resina de árvores
(âmbar) ou em sedimentos finos, mamutes preservados na neve, entre outros.
Os fósseis contêm muitas informações sobre a evolução das espécies. Assim, relacionando dados sobre as mudan-
ças geológicas com as evidências do registro fóssil, podem-se verificar alguns detalhes de como a vida se modificou
ao longo da história da Terra.
José Luis Juhas. 2013. Digital.

1 2 3 4
O corpo do ser vivo é As partes moles se Com o passar do tempo Após milhares de anos, as
encoberto por desintegram pela ação (milhões de anos), várias camadas onde o fóssil está
sedimentos finos. de decompositores. camadas de sedimentos se enterrado são erodidas e
acumulam sobre o organismo, trazidas à superfície,
os ossos sofrem mineralização e expondo o fóssil.
transformam-se em estruturas
Esquema ilustrativo do processo de fossilização semelhantes a rochas.

46 Volume 12
Mundo do trabalho

Paleontologia
O paleontólogo é o profissional que estuda, por meio dos fósseis, as espécies que já existiram no planeta. Os
fósseis são muito importantes para o estudo da morfologia dos seres antigos e da geologia da Terra, desvendando
problemas biológicos relativos a evolução, origem e extinção da vida e ajudando na datação de rochas e no estu-
do sobre as mudanças climáticas e o movimento dos continentes.
No Brasil, não existem cursos de graduação na área de Paleontologia. Dessa forma, profissionais de áreas pró-
ximas, como Geografia, Geologia e Biologia, podem realizar estudos de pós-graduação envolvendo temas da
Paleontologia, como microfósseis e fósseis de dinossauros e outros vertebrados.

Evidências anatômicas
Os estudos da anatomia comparada de seres vivos possibilitam investigar as semelhanças entre suas estruturas,
e a correspondência entre elas ajuda a determinar a ancestralidade comum e o maior ou menor grau de parentesco
evolutivo. As evidências anatômicas incluem o estudo de órgãos homólogos, análogos e vestigiais.
Os órgãos homólogos compreendem regiões corporais de diferentes espécies que apresentam semelhanças entre
si, evidenciando que evoluíram a partir de um ancestral comum. Evidências fósseis podem indicar a existência desse
ancestral, que, ao sofrer mutações e isolamentos (geográfico e reprodutivo), formou diversas linhas evolutivas, as quais
deram origem às espécies. Como se assemelham no padrão anatômico, os órgãos homólogos têm a mesma origem
embrionária, podendo ou não apresentar a mesma função.
Ao comparar a anatomia dos mamíferos, por exemplo, é possível perceber que os braços dos seres humanos, as
pernas dianteiras dos cavalos, as asas dos morcegos e as nadadeiras das baleias são estruturas homólogas, pois apre-
sentam a mesma origem embrionária. Apesar da evidente diferença entre esses órgãos, eles têm o mesmo padrão de
músculos, ossos, nervos e vasos sanguíneos. As mudanças genéticas ocorridas durante o processo evolutivo desses
animais possibilitaram sua adaptação aos diferentes ambientes que habitam.
Essa diversificação de espécies a partir de um ancestral comum denomina-se irradiação adaptativa ou evolução
divergente.

Órgãos homólogos
Gato Cavalo Ser humano Morcego Baleia
Dagoberto Pereira. 2013. Digital.

mesma origem
embrionária

mesma função ou
funções distintas

Esquema comparativo dos membros anteriores de mamíferos considerados órgãos homólogos

Biologia 47
Os órgãos análogos apresentam
a mesma função em diferentes espé- Asa de ave

cies, mas não têm a mesma origem


embrionária. Essas espécies evoluí- Órgãos
ram de forma independente, mas análogos
Os membros anteriores de
sofreram pressões seletivas seme- aves e morcegos são
lhantes em seus ambientes. órgãos homólogos, porém
Asa de morcego as asas são análogas, pois,
Um clássico exemplo de órgãos origens nas aves, correspondem ao
braço e, nos morcegos, aos
análogos são as asas de insetos e embrionárias dedos e braço.

aves. Embora os dois tipos de asas distintas


estejam adaptados ao voo, ou seja,
apresentem a mesma função, eles
Asa de inseto
se diferenciam quanto à origem e
à estrutura anatômica. As asas das mesma
função Os suportes das asas dos
aves são órgãos locomotores que insetos são análogos aos
apresentam a estrutura interna se- ossos dos vertebrados.

melhante às asas dos morcegos


(homologia). Já as asas dos insetos
são estruturas quitinosas que se ori- Representação esquemática da estrutura das asas de aves, morcegos e insetos
ginam do revestimento do tórax do
animal.
A analogia é comum entre espécies que não têm parentesco evolutivo próximo, mas que apresentam adaptações
semelhantes. Isso evidencia a evolução convergente ou convergência adaptativa entre essas espécies. Por exemplo,
o formato hidrodinâmico do corpo do golfinho, do tubarão, do ictiossauro (réptil extinto) e do pinguim é muito pareci-
do, apresentando as mesmas adaptações para a natação. Assim, houve uma convergência evolutiva que aconteceu de
forma casual, pois as modificações genéticas que ocorreram com o tempo possibilitaram a esses indivíduos a explora-
ção de ambientes muito semelhantes.
Ilustrações: Ricardo Grube. 2013. Digital.

Ictiossauro
Tubarão

Representação da evolução convergente


de quatro vertebrados adaptados ao
Pinguim
Golfinho ambiente aquático por apresentarem a
forma hidrodinâmica do corpo

Outra evidência anatômica do processo evolutivo são os órgãos vestigiais ou rudimentares. Em algumas espécies,
constituem apenas vestígios reduzidos de órgãos que existiram em seus ancestrais e, geralmente, não executam uma
função importante. No entanto, podem estar presentes em outras espécies executando função definida.
Entre os vários exemplos de órgãos vestigiais, estão as asas atrofiadas de algumas aves (ema e avestruz), o esque-
leto remanescente dos membros inferiores das serpentes e dos cetáceos (baleias e golfinhos) e as folhas vestigiais de
plantas xeromorfas (cactos) e parasitas (cuscuta). Nos seres humanos, também existem algumas estruturas conside-
radas vestigiais, como o apêndice cecal, o terceiro par de dentes molares (dentes do siso), os músculos auriculares e
o osso cóccix.
Assim, as estruturas vestigiais constituem importantes indicações da irradiação adaptativa, ou seja, da ancestra-
lidade comum ou parentesco evolutivo, pois não haveria razão para a formação de órgãos vestigiais se não houvesse
uma ligação evolutiva entre os diversos grupos biológicos.

48 Volume 12
Evidências embriológicas Pode-se determinar esse sequenciamento tanto em
tecidos vivos quanto em tecidos preservados presentes
O estudo dos embriões, denominado embriologia,
em múmias, fósseis, peles secas expostas em museus e
pode fornecer importantes evidências sobre o processo
folhas prensadas em herbários (mesmo que apresentem
evolutivo. Comparações realizadas entre embriões de di-
uma mínima quantidade de DNA). Por meio das compa-
ferentes espécies animais demonstram que esses seres
rações moleculares dos seres vivos, é possível saber que
podem apresentar grandes semelhanças nas primeiras
os seres filogeneticamente mais próximos apresentam
fases de seu desenvolvimento. Por exemplo, ao comparar
maior semelhança genética que as espécies filogenetica-
os grupos de animais pertencentes aos cordados (cra-
mente mais afastadas. Portanto, as evidências molecula-
niados), como peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos,
res garantem mais precisão nos estudos evolutivos e são
é possível perceber grande semelhança em suas fases
fundamentais na construção das árvores filogenéticas.
embrionárias, sugerindo que se diversificaram há muito
tempo a partir de um ancestral comum.
Fendas
branquiais
Embrião humano es gráficas com informações
As árvores filogenéticas são representaçõ
cas que possibilitam estudar
comportamentais, moleculares e anatômi
que apresentam um ances-
as relações evolutivas entre várias espécies
nó ou ponto de ramificação
tral comum. Nas árvores filogenéticas, cada
antepassado comum, e os
com descendentes representa o mais recente
as estimativas do tempo de-
comprimentos de suas ramificações revelam
corrido no processo evolutivo.
Cauda muscular
pós-anal

Evolução humana
Fendas
branquiais Como a estrutura do material genético e as mutações
Embrião de ave
ainda eram desconhecidas em 1859, Darwin não soube
Raqsonu. 2016. Digital.

responder satisfatoriamente às críticas da comunida-


de científica sobre sua teoria. No entanto, o que deixou
a sociedade da época mais aborrecida foi o fato de ter
se espalhado a notícia de que Darwin havia dito que os
seres humanos e os macacos descendem de um ances-
tral comum. Na verdade, sua explicação foi interpretada
Cauda muscular
pós-anal erroneamente, já que Darwin não afirmou que o ser hu-
mano descende diretamente do macaco, pois esse não é
Representação esquemática de uma das primeiras fases
o modelo proposto em sua teoria.
embrionárias de um ser humano e de uma ave
LatinStock/SPL

Evidências moleculares
Revelam a semelhança na estrutura dos ácidos nu-
cleicos e das proteínas entre diferentes seres vivos. No
processo evolutivo, as mutações são alterações nas bases
nitrogenadas dos ácidos nucleicos, resultando em trocas
(ou perdas) de aminoácidos durante a codificação de
determinada proteína. Como o código genético é uni-
versal, existe a evidência de que todas as formas de vida
estão evolutivamente correlacionadas. Assim, quanto
Caricatura
maior é o grau de parentesco evolutivo entre as espécies, criticando Darwin
maiores são as semelhanças entre a estrutura do DNA e a pelo livro A origem
das espécies
sequência de aminoácidos de suas proteínas.

Biologia 49
Para compreender a evolução dos seres humanos, é importante ter em mente que:
• a história da humanidade envolve milhões de anos. Estima-se, por exemplo, que o Homo sapiens exista há pelo
menos 150 mil anos. Para nós, isso é muito tempo, entretanto, em relação aos 3,5 bilhões de anos do apareci-
mento das primeiras formas de vida, trata-se de um fato recente;
• os seres humanos pertencem à espécie Homo sapiens, classificada na Classe Mammalia, na ordem dos primatas,
que concentra três grupos principais: lêmures, társios e antropoides;
• a evolução humana não ocorreu em uma linha evolutiva reta, em que o objetivo final era o desenvolvimento
do Homo sapiens. Na verdade, os seres humanos fazem parte de uma árvore evolutiva bastante ramificada.
Evidências fósseis revelam que o surgimento da espécie humana atual (Homo sapiens sapiens) teve origem na
África, há cerca de 130 mil anos. Os principais sítios arqueológicos africanos em que essas evidências foram encon-
tradas se localizam na África do Sul, em Malauí, na Tanzânia, no Quênia e na Etiópia.
A análise de registros fósseis sugere que o grupo dos primatas antropoides, no qual está classificado o ser humano,
começou a divergir dos outros grupos de primatas há aproximadamente 50 milhões de anos, e as espécies ancestrais
que levaram ao surgimento dos seres humanos devem ter se separado do grupo dos grandes macacos – como gibões,
orangotangos e gorilas – entre 5 e 7 milhões de anos atrás.
Ordem Primata

Divo. 2010. Digital.


Família Hominidae

Gênero Homo

Lêmures, Macacos do Macacos do Chimpanzés


lóris e potos Társios Novo Mundo Velho Mundo Gibões Orangotangos Gorilas e bonobos Humanos
0

10
Tempo (milhões de anos)

20

30

40

50
Representação da árvore filogenética dos primatas
60 Primata ancestral

Fonte: CAMPBELL, Neil A.; REECE, Jane B. Biologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 726.

A reconstituição do caminho percorrido pelos antepassados humanos é possível pela análise do DNA. A ances-
tralidade materna é obtida por exames do DNA mitocondrial; e a paterna, por meio de análise do cromossomo Y.
Analisando as mutações do DNA e cruzando esses dados com as respectivas localizações geográficas dos indivíduos
dos quais provêm, é possível fazer uma retrospectiva do percurso da espécie humana.

O estudo das origens humanas é realizado pela Paleantropologia, e já foram


encontrados registros fósseis de cerca de 20 espécies extintas mais semelhantes
aos seres humanos que aos chimpanzés (parentes evolutivos atuais mais pró- Hominídeo é uma classificação ampla
ximos dos seres humanos). Essas espécies são chamadas de hominíneos e são que designa várias espécies. Por isso,
extremamente importantes para a compreensão das espécies ancestrais dos na Antropologia e na Paleantropologia,
seres humanos. prefere-se o termo hominíneo.

50 Volume 12
Atualmente, destaca-se na ordem dos primatas a família dos hominídeos (Hominidae), que inclui duas subfa-
mílias: Homininae (gorilas, seres humanos e chimpanzés) e Ponginae (orangotangos). Entre os Homininae, há uma
subdivisão (tribo) chamada Hominini, que inclui somente os seres humanos e sua linhagem imediata. Ressalta-se
que, nessa situação, o termo tribo designa um táxon entre a subfamília e o gênero, sem indicar qualquer relação com
a organização social desses indivíduos.

Os seres humanos evoluíram de espécies africanas isoladas que, como qualquer outra espécie, estiveram sujeitas
aos mecanismos de seleção natural. Os fósseis mostram que ocorreram determinadas modificações na linhagem de
primatas, formando os ardipitecos (Ardipithecus ramidus).
Supõe-se que, há 4 milhões de anos, essa linhagem primata tenha originado o gênero Australopithecus. Os australo-
pitecos, considerados os primeiros hominídeos, já apresentavam o bipedalismo, forma de locomoção em que o corpo
se mantém ereto e os movimentos acontecem pelo uso das pernas. Esse tipo de locomoção deixa as mãos livres para a
manipulação de objetos e facilita o carregamento de materiais e da prole durante as caminhadas. Além disso, os olhos
se mantêm elevados, possibilitando a localização das presas e dos predadores sobre a vegetação. Essas modificações
foram fundamentais para a sobrevivência e a continuidade do processo evolutivo dessas espécies.
LatinStock/Photo Researchers, Inc./Tom McHugh

O esqueleto fóssil mais completo


de australopiteco foi encontrado na
região de Hadar, na Etiópia, em 1974,
e pertence à espécie Australopithecus
afarensis. O fóssil era de uma jovem,
que ficou conhecida como Lucy, e
apresentava cerca de 1,1 m de altura
e pouco menos de 30 kg. Seu crânio
tinha entre 350 e 400 cm3, equivalente
a cerca de um terço do volume médio
do crânio dos humanos atuais.

Esqueleto de Lucy (Australopithecus afarensis), a mais completa evidência


fóssil de um hominídeo

Atualmente, o Australopithecus robustus


Estima-se que o Australopithecus afarensis tenha originado outras espécies,
que se diversificaram por vários locais da África, existindo por aproximada-
e o Australopithecus boisei estão classifi-
mente 1 milhão de anos no planeta Terra. Além do Australopithecus afarensis,
cados no gênero Paranthropus, sendo cha-
mados também de Paranthropus robustus e
existiram as espécies Australopithecus anamensis, Australopithecus africanus,
Australopithecus garhi, Australopithecus robustus, Australopithecus boisei
Paranthropus boisei.
e Australopithecus sediba (encontrada recentemente).
Gênero Homo
As mudanças evolutivas de determinadas espécies de australopitecos, que migraram para locais com diferentes
condições ambientais, originaram hominídeos que apresentavam a região pélvica e os ossos da perna mais seme-
lhantes às características dos humanos modernos, além de estatura maior e sistema nervoso mais desenvolvido, com
crânio mais volumoso. Essa teria sido a primeira espécie do gênero Homo, denominada Homo habilis. Registros fósseis
evidenciam que esses hominídeos viveram entre 2,4 e 1,6 milhão de anos atrás e apresentavam maior aptidão para
manipular objetos, comportamento comunitário organizado e capacidade de comunicação mais elaborada.
Entre as espécies mais antigas do gênero Homo identificadas, além do Homo habilis, estão o Homo ergaster, que
deve ter existido entre 1,9 e 1,5 milhão de anos atrás; o Homo rudolfensis, vivendo há aproximadamente 2 milhões de
anos; e o Homo erectus, que surgiu há cerca de 1,8 milhão de anos, sendo a primeira espécie de hominídeo a migrar
para fora da África.

Biologia 51
Getty Images/Brown Bear/Windmil Books
Representação artística do Homo habilis, ancestral humano que já apresentava
capacidade de manipulação e fabricação de ferramentas

O Homo erectus também apresentava estatura maior, e sua capacidade craniana era pouco maior que 1 000 cm3. O
cérebro mais desenvolvido em relação aos outros hominídeos possibilitou a aquisição de diversas habilidades, incluin-
do a utilização e capacidade de manipulação do fogo. Graças ao fogo, o Homo erectus pôde se aquecer e consumir
alimentos que não seriam digeridos em sua forma natural, como raízes e grãos. Além disso, o fogo eliminava a maioria
de possíveis micro-organismos dos alimentos e facilitava a digestão. Com o fogo, também podiam se proteger de
animais ferozes e fabricar ferramentas mais elaboradas e resistentes para a utilização na caça e na escavação de raízes
e caules. O fogo foi importante ainda para a vida social, intensificando os laços familiares e culturais entre os grupos.
Fósseis de Homo erectus encontrados na Ilha de Java, na Indonésia, e na China sugerem que esses hominídeos mi-
graram para a Ásia por volta de 1 milhão de anos atrás e se extinguiram do planeta há menos de 200 mil anos.
Raqsonu. 2016. Digital.

Ilustração artística de grupo social de Homo erectus utilizando o fogo

Outra espécie de hominídeo cujos fósseis foram encontrados é o Homo neanderthalensis ou homem de Neanderthal,
o qual recebeu essa denominação porque o primeiro fóssil desse grupo foi encontrado no vale de Neander, na Alemanha,
em 1857. Os neandertais viveram nas áreas que, atualmente, correspondem à Europa e ao Oriente Médio há 200 mil anos,
nunca saindo dessa região.
Eram hominídeos musculosos com capacidade craniana de 1 450 cm3, pouco maior que a dos humanos modernos,
que é de 1 350 cm3. Enterravam seus mortos e construíam ferramentas de pedra e madeira. Existem discussões cientí-
ficas de que os neandertais que se extinguiram há, aproximadamente, 28 mil anos provavelmente desapareceram por
perder a competição por território e alimento para os Homo sapiens.

52 Volume 12
O Homo sapiens sapiens, espécie humana atual, surgiu na África, há cerca de 150 mil anos. A tendência atual é con-
siderar que esses hominídeos, conhecidos como homens de Cro-Magnon (os primeiros fósseis foram encontrados em
Cro-Magnon, na França), evoluíram da espécie Homo ergaster. Há cerca de 80 mil anos, o Homo sapiens foi migrando
da África e, progressivamente, passou a se estabelecer nos continentes asiático e europeu. Posteriormente, chegou aos
outros continentes.
Considera-se que o desenvolvimento da linguagem do Homo sapiens foi fundamental para a conquista dos am-
bientes dos outros hominídeos com quem provavelmente coexistiu. Isso proporcionou mais versatilidade na comu-
nicação, possibilitando maior organização social dos bandos. Além disso, eles já acreditavam em mitos e dominavam
diferentes técnicas, como as queimadas.
Analisando o panorama evolutivo de diferentes espécies do gênero Homo, pode-se identificar que, pelos períodos
estimados de quando viveram e por habitarem territórios próximos, algumas espécies podem ter coexistido no mesmo
período histórico, mesmo de maneira breve. É muito difícil afirmar como eram as estruturas sociais e outros pontos
culturais dessas espécies. Elas podem ter colaborado entre si para sobreviver ou participado de conflitos entre grupos
de espécies diferentes, o que pode ter levado à extinção de uma ou outra espécie de hominídeo. A única certeza que
se tem é a de que alguns desses hominídeos devem ter se encontrado em algum momento da história da evolução
humana; entre eles, o Homo sapiens foi ganhando território.
A seguir, está representado um esquema dos possíveis caminhos do processo evolutivo da espécie humana.

Atualmente

Homo
Homo
sapiens
Homo neanderthalensis
Paranthropus Paranthropus erectus
boisei robustus
1

Homo Homo
habilis ergaster
Milhões de anos atrás

Australopithecus
2 garhi
Australopithecus
africanus

Australopithecus
3 sediba
Divo. 2002. Digital.

Representação esquemática simplificada (algumas espécies


4
foram omitidas) de árvore filogenética para o gênero Homo e
possíveis ancestrais mais próximos. As linhas grossas indicam
a abundância de restos fósseis, e o círculo revela a região
Australopithecus da árvore onde a espécie Australopithecus sediba melhor se
afarensis encaixaria.
5

Não existem subespécies (raças) entre os seres humanos atuais, porque as diferenças genéticas entre popu-
lações das mais diversas etnias são insignificantes. Os traços fenotípicos distintos que se manifestam na espécie
humana são condicionados por um número muito reduzido de genes, que representam uma pequeníssima parte do
genoma humano. Alguns desses genes, como os que determinam a pigmentação da pele, a altura e a massa dos
indivíduos, estão relacionados à herança quantitativa, ou seja, os efeitos são cumulativos, determinando diferentes
intensidades fenotípicas. Por isso, não importam características como cor da pele, feições do rosto, estatura ou ori-
gem geográfica, pois geneticamente pertencemos a uma única espécie (Homo sapiens), que apresenta apenas uma
subespécie (Homo sapiens sapiens).

Biologia 53
Atividades
1. Sobre as evidências evolutivas, marque V para as afir- III. As estruturas ósseas das asas de morcegos e de
mativas verdadeiras e F para as falsas. aves são homólogas, pois são derivadas de um an-
cestral comum.
a) ( ) As evidências evolutivas são importantes argu-
mentos científicos para sustentar a Teoria da IV. No processo de adaptação para o voo, asas de aves
Evolução com base em análises comparativas e de morcegos evoluíram independentemente, fenô-
entre os seres vivos. meno conhecido como evolução convergente.
b) ( ) Os fósseis contribuem apenas parcialmente Assinale a alternativa correta.
como evidência evolutiva, pois, muitas vezes, a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
são incompletos e não auxiliam na identificação
dos elos entre as espécies. b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
c) ( ) Os órgãos homólogos podem comprovar a
existência de um ancestral comum entre as d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
espécies. e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
d) ( ) Os órgãos análogos são regiões corporais que 3. (UFES) O Naturalismo teve forte influência das con-
apresentam a mesma função em diferentes cepções da Teoria da Evolução. Segundo essa teoria,
espécies, mas que não têm a mesma origem a morfologia e a função de uma estrutura refletem a
embrionária. adaptação do indivíduo ao meio ambiente. Porém, em
e) ( ) As evidências embriológicas demonstram que os alguns casos, apesar de diferentes organismos possuí-
embriões de mamíferos, aves e répteis não apre- rem determinadas estruturas com morfologias seme-
sentam semelhanças, tendo, assim, um ances- lhantes, a origem embrionária dessas estruturas não é
tral comum muito distante na escala evolutiva. comum. Esse processo é chamado de

2. (UEL – PR) Atletas utilizam seus membros anteriores a) convergência adaptativa.


para a realização de lançamentos. As figuras 13, 14 b) homologia.
e 15 representam membros anteriores de diferentes
c) irradiação adaptativa.
espécies animais.
d) recombinação.
e) seleção natural.
4. (EMESCAM – ES) Em 1978, Donald Johanson e uma
equipe de paleontólogos escavaram, na Etiópia, um es-
pécime de hominídeo, com esqueleto quase completo,
que teria pertencido a uma fêmea com 1,30 m de altura,
que viveu há cerca de 3,2 milhões de anos. Esse fóssil
foi batizado como Lucy em alusão à música dos Beatles
De acordo com as figuras e os conhecimentos sobre “Lucy in the sky with diamonds” que os membros da
características evolutivas dos animais, considere as equipe de paleontólogos costumavam ouvir no acampa-
afirmativas a seguir. mento. O esqueleto de Lucy pertenceu ao hominídeo
I. Por terem funções distintas, os membros anteriores a) Australopithecus anamensis.
de humanos e de aves apresentam esqueletos com b) Australopithecus robustus.
estrutura diferente.
c) Australopithecus boisei.
II. Os membros anteriores de morcegos e de humanos
são estruturas que surgiram de forma independen- d) Australopithecus ramidus.
te, com origem embrionária diferente. e) Australopithecus afarensis.

54 Volume 12
5. Como as teorias científicas explicam o fato de o Homo sapiens ter se desenvolvido como espécie até a atualidade e
as outras espécies de hominídeos que, provavelmente, coexistiram com ele terem sido extintas?

Genética populacional
A Ilha de Queimada Grande, em São Paulo, é o único Na Genética de Populações, são estudados os fatores
lugar do mundo onde existem indivíduos da espécie de que possibilitam a manutenção da frequência constante
serpente jararaca-ilhoa (Bothropoides insularis) que apre- dos genes e em que condições ocorrem modificações
sentam características hereditárias diferenciadas das ser- nessas frequências como resultado da atuação do pro-
pentes continentais do mesmo gênero. Essas diferenças cesso evolutivo. Para calculá-las e verificar como podem
foram causadas por mutações gênicas, transmitidas a ser empregadas nos estudos sobre evolução, utiliza-se o
várias gerações provavelmente por meio de sucessivos Teorema de Hardy-Weinberg.
cruzamentos consanguíneos. Esse tipo de cruzamento
aumenta a quantidade de indivíduos homozigotos re- Frequência, em Genética, determina proporção.
cessivos, elevando a frequência dos genes para as carac- Assim, as frequências alélicas e genotípicas tra-
terísticas deletérias. Tal fato tem causado a diminuição da balham as proporções dos alelos e genótipos nas
variabilidade genética desses animais, que vivem isolados. populações, e os fatores capazes de alterar essas fre-
quências ao longo das gerações buscam interpretar os
©Wikimedia Commons/Miguelrangeljr

fenômenos evolutivos.

Essas frequências normalmente são estimadas


em um grupo de indivíduos que se cruzam aleatoria-
mente em uma população mendeliana. O conceito
de população mendeliana está relacionado ao aspec-
to genético. Assim, esses indivíduos se reproduzem
sexuadamente e compartilham um patrimônio gené-
Jararaca-ilhoa
tico comum.
Nesse e em tantos outros casos, é possível perceber
que os estudos referentes à evolução são dependentes dos Princípio do equilíbrio gênico
conhecimentos da Genética, pois os mecanismos evolu-
tivos estão diretamente relacionados às alterações na fre- Aproximadamente oito anos depois da redescober-
quência de certos genes que as populações apresentam. ta dos estudos de Mendel (1822-1884), Wilhelm Wein-
Essa interação caracteriza a área denominada Genética de berg (1862-1937) e Godfrey Harold Hardy (1877-1947)
Populações, que estuda a variabilidade hereditária, ou seja, chegaram, independentemente e quase simultanea-
as modificações nas frequências gênicas das populações e mente, a conclusões semelhantes em seus estudos. Eles
os mecanismos que alteram essas frequências no decorrer perceberam que, se não existissem fatores evolutivos
do processo evolutivo. Por exemplo, se certo alelo determi- atuando sobre determinada população, as frequências
na o aparecimento de um caráter vantajoso na população, gênicas permaneceriam inalteradas e as proporções ge-
a quantidade de indivíduos portadores desse alelo tende notípicas atingiriam um equilíbrio estável, apresentan-
a aumentar em razão da seleção natural. Isso possibilita o do uma relação constante e semelhante ao longo do
aumento de sua frequência ao longo das gerações. tempo.

Biologia 55
Nessas populações consideradas “equilibradas”,
AA + Aa + Aa + aa = 100%
também conhecidas como panmíticas (do grego pan,
todo; mixis, mistura), o índice dos diferentes genótipos é o mesmo que
não se modifica ao longo das gerações.
A2 + 2Aa + a2 = 1

Se chamarmos as frequências dos alelos A e a na po-


pulação de p e q, respectivamente, e verificarmos a dis-
Existente apenas na teoria, panmítica é uma tribuição dos genótipos em toda a população, teremos:
população suficiente-
mente grande em que os cruzamentos acon
tecem ao acaso, aleato- A (p) a (q)
riamente, e não existe a atuação de fatores
evolutivos. AA Aa
A (p)
p2 pq
Aa aa
a (q)
pq q2
Os trabalhos desses autores resultaram no Teore-
Então:
ma de Hardy-Weinberg, o qual estabelece que de-
terminada população somente consegue manter seu Genótipo Frequência
equilíbrio genético se: AA p2
• for suficientemente grande e os cruzamentos Aa 2pq
ocorrerem ao acaso (panmixia), evitando a se- aa q2
leção sexual;
Como a totalidade dos alelos da população equivale a
• não ocorrerem modificações significativas nas 100%, a soma dos alelos (A + a) é igual a 1 ou 100%. Uma
frequências alélicas; vez que a frequência de um homozigoto (dominante ou
recessivo) é o quadrado da frequência do alelo corres-
• apresentar a mesma proporção de machos e pondente (A2 ou a2) e a frequência do heterozigoto é o
fêmeas; dobro da frequência dos alelos (2Aa), tem-se a fórmula
• todos os indivíduos apresentarem as mesmas do Teorema de Hardy-Weinberg:
chances de sobrevivência e forem igualmente
A2 + 2Aa + a2 = 1 ou p2 + 2pq + q2 = 1
férteis;
• não apresentar fatores evolutivos, como Em que:
mutação, migração, deriva genética, seleção • A ou p é a frequência do alelo dominante;
sexual e seleção natural.
• a ou q é a frequência do alelo recessivo;
O Teorema de Hardy-Weinberg é um padrão teórico • A2 (AA ou pp) é a frequência de indivíduos homo-
para o comportamento gênico das populações ao longo
zigotos dominantes (AA) – probabilidade de um
das gerações. Na prática, ele auxilia na elucidação dos
gameta com o gene dominante ser fecundado por
mecanismos que alteram sua composição gênica, propi-
outro gameta também com o gene dominante;
ciando a compreensão dos efeitos de fatores evolutivos
(mutações, seleção natural, deriva genética e migrações), • 2Aa ou 2pq é a frequência de indivíduos heterozigo-
e na determinação da frequência genotípica em casos es- tos (Aa) – duas probabilidades de um gameta com
pecíficos, como em casamentos consanguíneos (aumen- o gene dominante (ovócito ou espermatozoide) ser
to da homozigose). fecundado por um gameta com o gene recessivo;
Aplicando o Teorema de Hardy-Weinberg • a2 (aa ou qq) é a frequência de indivíduos ho-
Consideremos os genótipos AA, Aa e aa de uma po- mozigotos recessivos (aa) – probabilidade de um
pulação teórica, em que os alelos autossômicos A e a se gameta com o gene recessivo ser fecundado por
distribuem com a mesma frequência nos indivíduos femi- outro gameta também com o gene recessivo;
ninos e masculinos. Assim, • 1 é a totalidade da população (100%).

56 Volume 12
• heterozigotos;
Exemplo 1
Quais são as frequências alélicas e genotípicas de • homozigotos recessivos.
uma população panmítica, em que a porcentagem de Resolução
indivíduos com o genótipo recessivo (aa) é igual a 9%?
Nessa população, 60% (0,6) dos indivíduos apre-
Resolução sentam o alelo R. Sabendo-se que:
Se o genótipo recessivo (aa) é igual a 9% (fre- p+q=1
quência genotípica), calculam-se as frequências
alélicas. 0,6 + q = 1

q2 = 9%, ou seja, q2 = 0,09 q = 1 − 0,6

q = √0,09 q = 0,4 ou 40%

q = 0,3 ou 30% Assim, a frequência do alelo r é igual a 40%.

O resultado indica que 30% é a porcentagem de Como r2 = 0,16, existem 16% de indivíduos re-
todos os alelos a (recessivos) da população. Saben- cessivos com Rh negativo. Utilizando o Teorema de
do-se que: Hardy-Weinberg, tem-se a seguinte frequência dos
genótipos:
p+q=1
A2 + 2Aa + a2 = 1
p + 0,3 = 1
0,36 (AA) + 0,48 (Aa) + 0,16 (aa)
p = 1 − 0,3
p = 0,7 ou 70% A a
p = 0,6 q = 0,4
O resultado indica que 70% é a porcentagem de
A AA Aa
todos os alelos A (dominantes) da população. p = 0,6 p2 = 0,36 pq = 0,24
Obtendo-se os dois valores das frequências alé- a Aa aa
licas, podem-se determinar os demais valores das q = 0,4 pq = 0,24 q2 = 0,16
frequências genotípicas utilizando a fórmula do
Teorema de Hardy-Weinberg. • Genótipo homozigoto dominante: 0,36 (36%)
aa = q2 = (0,3)2 = 0,09 ou 9% • Genótipo heterozigoto: 0,48 (48%)
AA = p2 = (0,7)2 = 0,49 ou 49% • Genótipo homozigoto recessivo: 0,16 (16%)
Aa = 2pq = 2 · 0,3 · 0,7 = 0,42 ou 42%
Assim, de acordo com o equilíbrio gênico, as frequên-
AA + 2Aa + aa = 1 cias gênicas são mantidas constantes, determinando o
49% + 42% + 9% = 100% equilíbrio populacional na ausência de fatores evolutivos.
No entanto, sempre ocorrem fatores evolutivos nas po-
Exemplo 2 pulações reais. Além disso, nem todas são infinitamente
grandes, os cruzamentos não ocorrem ao acaso e deve-se
Nos seres humanos, o sistema sanguíneo Rh é considerar que a maioria das populações não está isola-
determinado por uma herança dominante contendo da. Todos esses fatores evolutivos alteram o equilíbrio das
dois alelos, R e r. Indivíduos Rh positivo podem ser RR populações, modificando as frequências gênicas.
ou Rr, e indivíduos rr apresentam Rh negativo.
O que torna o Teorema de Hardy-Weinberg importan-
Considerando uma população em equilíbrio em te é que ele permite saber se existe algum fator evolutivo
que a frequência do alelo R é de 0,6, calcule a porcen-
atuando na população. Além disso, ele possibilita deter-
tagem esperada de indivíduos:
minar quanto e como esse fator está afetando o equilíbrio
• homozigotos dominantes; da população.

Biologia 57
Atividades

1. (UFRR) Segundo o Teorema de Hardy-Weinberg ou do 4. (UFPE) O princípio de Hardy-Weinberg tem sido utili-
equilíbrio gênico, sob determinadas condições, a fre- zado pelos evolucionistas como uma importante ferra-
quência dos alelos de um gene em uma dada popula- menta para compreender as frequências gênicas nas
ção permanece constante. Qual alternativa é condição populações dos seres vivos. Sobre esse assunto, con-
necessária para que a população atinja o equilíbrio de sidere as afirmativas a seguir.
Hardy-Weinberg?
(0-0) A quantidade de indivíduos ou o isolamento re-
a) População muito pequena. produtivo de uma parte da população não interfe-
rem no equilíbrio gênico.
b) População onde ocorre migração.
(1-1) Em uma população sob influência de processos
c) População onde há a atuação de fatores evolutivos.
evolutivos, tais como migração e deriva gênica,
d) População que sofre mutações. as frequências de alelos nos descendentes per-
e) População onde os cruzamentos ocorrem ao acaso. manecem inalteradas.

2. Em uma população em equilíbrio de Hardy-Weinberg, (2-2) Como são fenômenos raros, as mutações não
o que se pode esperar em relação à frequência provocam alteração nas frequências de alelos
genotípica? de uma população com inúmeros tipos de cruza-
mentos possíveis.
(3-3) Na hipótese de prevalecerem na população cru-
zamentos entre indivíduos com características
fenotípicas vantajosas, a mesma tende a perma-
necer em equilíbrio gênico.
(4-4) Supondo que as frequências dos alelos “A” e “a”,
não ligados ao sexo, numa população em equi-
líbrio gênico, sejam, respectivamente, “0,7” e
3. (UFSC) Em uma população hipotética em equilíbrio de “0,3”, a probabilidade de se formar na população
Hardy-Weinberg, um gene possui dois alelos. Sabe-se indivíduos “AA” é de 49%.
que a frequência do alelo recessivo é de 0,4. Calcule o 5. (IFTO) Suponha-se que no Lago de Palmas-TO, pes-
percentual esperado de indivíduos heterozigotos nesta quisadores identificaram na população de determinada
população [...]. planta aquática a seguinte composição genética:

Genótipos N.º de indivíduos


BB 3 600
Bb 6 000
bb 2 400
Total 12 000
Com base na lei de Hardy-Weinberg e nos seus conhe-
cimentos sobre genética mendeliana marque a propo-
sição correta.
a) Ao longo das gerações, as frequências dos alelos
B e b (55% e 45%) e dos genótipos BB, Bb e bb
(0,30, 0,50 e 0,20) da população em estudo devem
se alterar para que ocorra evolução.

58 Volume 12
b) Se a frequência de um desses genes aumentar, po- e) Os indivíduos bb têm menos chance de sobreviver
de-se inferir que tal população está em equilíbrio. e se reproduzir do que os Bb, devido à sua recessi-
vidade e consequente dificuldade de adaptação ao
c) O aporte de esgoto nesse ecossistema pode provo-
ambiente.
car a morte de muitos organismos. Diante disto, a
composição genética dessa população se altera e o
potencial ambiental aumenta.
d) Na gametogênese dessas plantas, houve permuta-
ção dos genes B e b, indo apenas alguns deles para
cada gameta, para então, através da reprodução,
surgirem os genótipos BB, Bb e bb.

Biologia em foco
Nova espécie do gênero humano é descoberta na África do Sul
[...]
A criatura foi encontrada na caverna conhecida como Rising Star (estrela ascendente), 50 km a nordes-
te de Johanesburgo, onde foram exumados os ossos de 15 hominídeos. O primata foi batizado de Homo
naledi. [...]
Em 2013 e 2014, os cientistas encontraram mais de 1 550 ossos que pertenceram a, pelo menos, 15
indivíduos, incluindo bebês, adultos jovens e pessoas mais velhas. Todos apresentavam uma morfologia
homogênea e pertenciam a uma “nova espécie do gênero humano que era desconhecida até então”.
[...]
“Alguns aspectos do Homo naledi, como suas mãos, seus punhos e seus pés, estão muito próximos aos
do homem moderno. Ao mesmo tempo, seu pequeno cérebro e a forma da parte superior de seu corpo são
mais próximos aos de um grupo pré-humano chamado Australopithecus”, disse Chris Stringer, pesquisador
do Museu de História Natural de Londres [...].
A descoberta pode permitir uma compreensão melhor sobre a transição, há milhões de anos, entre o
australopiteco primitivo e o primata do gênero Homo, nosso ancestral direto.
Se for muito antiga, com mais de 3 milhões de anos, a espécie teria convivido com os australopitecos,
anteriores ao gênero Homo. Se for mais recente, com menos de 1 milhão de anos, é possível que tenha
coexistido com os neandertais – primos mais próximos do Homo sapiens – ou até mesmo com humanos
modernos.
[...]
NOVA espécie do gênero humano é descoberta na África do Sul. Disponível em: <http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/09/
antiga-especie-do-genero-humano-e-descoberta-na-africa-do-sul.html>. Acesso em: 19 set. 2015.

Discuta com os colegas a relação da divulgação de um estudo como o apresentado no texto com a compreensão
científica a respeito da evolução das espécies e de sua constante construção. Quais são as evidências evolutivas
apresentadas nesse estudo?

Biologia 59
Hora de estudo
1. (ENEM) Embora seja um conceito fundamental para a 3. (ENEM) As cobras estão entre os animais peçonhentos
Biologia, o termo “evolução” pode adquirir significados que mais causam acidentes no Brasil, principalmente
diferentes no senso comum. A ideia de que a espé- na área rural. As cascavéis (Crotalus), apesar de ex-
cie humana é o ápice do processo evolutivo é ampla- tremamente venenosas, são cobras que, em relação a
mente difundida, mas não é compartilhada por muitos outras espécies, causam poucos acidentes a humanos.
cientistas. Isso se deve ao ruído de seu “chocalho”, que faz com
que suas vítimas percebam sua presença e as evitem.
Para esses cientistas, a compreensão do processo ci- Esses animais só atacam os seres humanos para sua
tado baseia-se na ideia de que os seres vivos, ao longo defesa e se alimentam de pequenos roedores e aves.
do tempo, passam por Apesar disso, elas têm sido caçadas continuamente,
a) modificação de características. por serem facilmente detectadas.
b) incremento no tamanho corporal. Ultimamente os cientistas observaram que essas co-
bras têm ficado mais silenciosas, o que passa a ser
c) complexificação de seus sistemas. um problema, pois, se as pessoas não as percebem,
d) melhoria de processos e estruturas. aumentam os riscos de acidentes.
e) especialização para uma determinada finalidade. A explicação darwinista para o fato de a cascavel estar
ficando mais silenciosa é que
2. (ENEM) Alguns anfíbios e répteis são adaptados à vida
subterrânea. Nessa situação, apresentam algumas ca- a) a necessidade de não ser descoberta e morta mu-
racterísticas corporais como, por exemplo, ausência de dou seu comportamento.
patas, corpo anelado que facilita o deslocamento no b) as alterações no seu código genético surgiram para
subsolo e, em alguns casos, ausência de olhos. aperfeiçoá-la.
Suponha que um biólogo tentasse explicar a origem c) as mutações sucessivas foram acontecendo para
das adaptações mencionadas no texto utilizando con- que ela pudesse adaptar-se.
ceitos da teoria evolutiva de Lamarck. Ao adotar esse
d) as variedades mais silenciosas foram selecionadas
ponto de vista, diria que positivamente.
a) as características citadas no texto foram originadas e) as variedades sofreram mutações para se adapta-
pela seleção natural. rem à presença de seres humanos.
b) a ausência de olhos teria sido causada pela falta de 4. (UESPI) Joana vai ao médico se queixando de dor na
uso dos mesmos, segundo a lei de uso e desuso. garganta, e diz que os antibióticos que havia tomado
c) o corpo anelado é uma característica fortemente não resolveram seu problema. Ao definir o diagnóstico,
adaptativa, mas seria transmitida apenas à primeira o médico relatou que a infecção era causada por uma
geração de descendentes. bactéria resistente aos antibióticos ingeridos. Consi-
derando seu conhecimento sobre a teoria da seleção
d) as patas teriam sido perdidas pela falta de uso e, natural proposta há cerca de 150 anos por Darwin e
em seguida, essa característica foi incorporada Wallace, leia as proposições abaixo.
ao patrimônio genético e então transmitida aos
descendentes. 1) O hábito da automedicação pode selecionar bacté-
rias naturalmente resistentes a antibióticos presen-
e) as características citadas no texto foram adquiridas tes no corpo de Joana.
por meio de mutações e depois, ao longo do tempo,
2) Mutações induzidas pela ação das drogas utilizadas
foram selecionadas por serem mais adaptadas ao
são os principais agentes da seleção de bactérias
ambiente em que os organismos se encontram.
resistentes a antibióticos.

60 Volume 12
3) Além dos antibióticos, bactérias responsáveis por Diante disso, considere as seguintes afirmativas:
uma infecção sofrem a pressão seletiva da resposta I. A seleção natural leva ao aumento da frequência
imunológica. populacional das mutações vantajosas num dado
Está(ão) correta(s) apenas: ambiente; caso o ambiente mude, essas mesmas
mutações podem tornar seus portadores menos
a) 1 e 2. c) 1 e 3. e) 2.
adaptados e, assim, diminuir de frequência.
b) 2 e 3. d) 1.
II. A seleção natural é um processo que direciona a
5. (UNESP) adaptação dos indivíduos ao ambiente, atuando sobre
a variabilidade populacional gerada de modo casual.
O tuco-tuco (Ctenomys
brasiliensis) é um animal III. A mutação é a causa primária da variabilidade en-
curioso, que se pode, em tre os indivíduos, dando origem a material genético
linhas gerais, descrever novo e ocorrendo sem objetivo adaptativo.
como roedor com hábitos Está correto o que se afirma em
de toupeira. [...] São ani- a) I, II e III. d) I, apenas.
mais noturnos, e alimen- Tuco-tuco brasileiro
tam-se especialmente de (Ctenomys brasiliensis), b) I e III, apenas. e) III, apenas.
Blainville, 1826.
raízes de plantas, o que (mamiferosdomundo. c) I e II, apenas.
blogspot.com.br)
explica os túneis longos e 7. Explique como ocorre a formação de novas espécies de
superficiais que cavam. [...] O homem que mos acordo com a seleção natural.
trouxe afirmou que muito comumente os tuco-
-tucos são encontrados cegos. O exemplar que 8. (UFC – CE) Em um estudo realizado nas Ilhas Galá-
eu conservava no álcool achava-se nesse estado. pagos, um casal de pesquisadores observou que
indivíduos de uma espécie de tentilhão (espécie A)
[...] Lamarck rejubilar-se-ia com este fato, se
comumente se alimentavam de sementes de vários
acaso o tivesse conhecido.
tamanhos. A ilha onde a espécie A ocorria foi coloni-
(Charles Darwin. Diário das investigações sobre a História zada por outra espécie de tentilhão (espécie B). Indi-
Natural e Geologia dos países visitados durante a viagem ao víduos de B se alimentavam de sementes grandes e
redor do mundo pelo navio de Sua Majestade “Beagle”, sob o
comando do Capt. Fitz Roy, R. A, 1871.) eram mais eficientes que A na aquisição deste recurso.
Com o passar dos anos, os dois pesquisadores obser-
O texto foi escrito por Charles Darwin, em seu diá- varam que o tamanho médio do bico dos indivíduos de
rio de bordo, em 26 de julho de 1832, à época com A estava reduzindo gradualmente. Considerando que
23 anos de idade, quando de sua passagem pelo Brasil pássaros com bicos maiores conseguem se alimentar
e Uruguai. de sementes maiores, o processo de redução de bico
Escrito antes que construísse sua Teoria da Evolução, o observado em A é um exemplo de seleção:
texto revela que Darwin conhecia a obra de Lamarck. a) direcional: o estabelecimento de indivíduos da espé-
Como Lamarck explicaria as observações de Darwin cie B representou uma pressão seletiva que favore-
sobre o tuco-tuco brasileiro, e qual é a explicação apre- ceu indivíduos da espécie A com bicos pequenos.
sentada pela Teoria da Evolução na Biologia moderna? b) disruptiva: o estabelecimento de indivíduos da es-
6. (FUVEST – SP) O conhecimento sobre a origem da va- pécie B representou uma pressão seletiva que fa-
riabilidade entre os indivíduos, sobre os mecanismos voreceu indivíduos da espécie A com bicos muito
de herança dessa variabilidade e sobre o comporta- pequenos ou muito grandes.
mento dos genes nas populações foi incorporado à c) estabilizadora: o estabelecimento de indivíduos da
Teoria da Evolução biológica por seleção natural de espécie B representou uma pressão seletiva que
Charles Darwin. favoreceu indivíduos da espécie A com bicos de ta-
manho intermediário.

Biologia 61
d) sexual: o estabelecimento de indivíduos da espécie B aumentou a competição entre machos da espécie A por
acesso às fêmeas.
e) direcional: o estabelecimento de indivíduos da espécie B induziu mutações em indivíduos da espécie A.
9. (FAFIRE – PE) As asas de uma ave e de um inseto são utilizadas para um mesmo objetivo, que é o voo. Entretanto, a
origem embriológica dessas estruturas corresponde a um exemplo de
a) divergência adaptativa. d) ancestralidade comum.
b) órgãos homólogos. e) seleção natural.
c) convergência evolutiva.
10. (UFG – GO) Leia a tirinha a seguir.

Disponível em: <http://nemonnemoff.blogspot.com.br/>. Acesso em: 30 set. 2013. (Adaptado).

Analisando a tirinha sob a perspectiva evolutiva,


a) responda ao questionamento feito no primeiro balão;
b) explique por que a afirmação contida no segundo balão está incorreta.
Texto e imagem para as questões 11, 12 e 13.
(ENEM) O assunto na aula de Biologia era a evolução do 11. Após observar o material fornecido pelo professor, os
homem. Foi apresentada aos alunos uma árvore filoge- alunos emitiram várias opiniões, a saber:
nética, igual à mostrada na ilustração, que relacionava
primatas atuais e seus ancestrais. I. os macacos antropoides (orangotango, gorila, chim-
panzé e gibão) surgiram na Terra mais ou menos
contemporaneamente ao homem.
II. alguns homens primitivos, hoje extintos, descendem
dos macacos antropoides.
III. na história evolutiva, os homens e os macacos an-
tropoides tiveram um ancestral comum.
IV. não existe relação de parentesco genético entre ma-
cacos antropoides e homens.
Analisando a árvore filogenética, você pode concluir que:
a) todas as afirmativas estão corretas.
b) apenas as afirmativas I e III estão corretas.
c) apenas as afirmativas II e IV estão corretas.
d) apenas a afirmativa II está correta.
e) apenas a afirmativa IV está correta.

62 Volume 12
12. Foram feitas comparações entre DNA e proteínas da c) as drogas medicamentosas impedem a transferência
espécie humana com DNA e proteínas de diversos pri- do material genético defeituoso ao longo das gerações.
matas. Observando a árvore filogenética, você espera
d) os procedimentos terapêuticos normalizam o genó-
que os dados bioquímicos tenham apontado, entre os
tipo dos hemofílicos e diabéticos.
primatas atuais, como nosso parente mais próximo o
e) as intervenções realizadas pela Medicina interrom-
a) Australopithecus. pem a evolução biológica do ser humano.
b) chimpanzé.
15. (ENEM) As mudanças evolutivas dos organismos resul-
c) Ramapithecus. tam de alguns processos comuns à maioria dos seres
d) gorila. vivos. É um processo evolutivo comum a plantas e ani-
mais vertebrados:
e) orangotango.
a) movimento de indivíduos ou de material genético
13. Se fosse possível a uma máquina do tempo percorrer
entre populações, o que reduz a diversidade de ge-
a evolução dos primatas em sentido contrário, apro-
nes e cromossomos.
ximadamente quantos milhões de anos precisaríamos
retroceder, de acordo com a árvore filogenética apre- b) sobrevivência de indivíduos portadores de deter-
sentada, para encontrar o ancestral comum do homem minadas características genéticas em ambientes
e dos macacos antropoides (gibão, orangotango, gorila específicos.
e chimpanzé)?
c) aparecimento, por geração espontânea, de novos
a) 5 indivíduos adaptados ao ambiente.
b) 10 d) aquisição de características genéticas transmiti-
c) 15 das aos descendentes em resposta a mudanças
ambientais.
d) 30
e) recombinação de genes presentes em cromosso-
e) 60 mos do mesmo tipo durante a fase da esporulação.
14. (ENEM) 16. (UFAL) À luz do conhecimento atual, observe a ilustra-
“Os progressos da Medicina condicionaram ção abaixo e aponte a alternativa que melhor responde
a sobrevivência de número cada vez maior de à pergunta: o homem é originário do macaco?
indivíduos com constituições genéticas que só
permitem o bem-estar quando seus efeitos são
devidamente controlados através de drogas ou
procedimentos terapêuticos. São exemplos os
diabéticos e os hemofílicos, que só sobrevivem
e levam vida relativamente normal ao receberem
suplementação de insulina ou do fator VIII da
coagulação sanguínea”.
SALZANO, M. Francisco. Ciência Hoje: SBPC: 21(125), 1996.

Essas afirmações apontam para aspectos importantes


que podem ser relacionados à evolução humana. Po- a) A espécie Homo sapiens se distingue de outros ho-
de-se afirmar que, nos termos do texto, minídeos e, portanto, não se originou dos macacos,
a) os avanços da Medicina minimizam os efeitos da que são primatas.
seleção natural sobre as populações. b) Os gêneros Homo e Australopithecus represen-
b) os usos da insulina e do fator VIII da coagulação tam o homem moderno e conviveram na mes-
sanguínea funcionam como agentes modificadores ma época com os macacos; assim, não são seus
do genoma humano. descendentes.

Biologia 63
c) Chimpanzés são bípedes e parecidos morfologica- populações nas afirmativas a seguir e assinale V, para
mente com o homem; portanto, os chimpanzés de- as verdadeiras, ou F, para as falsas.
ram origem ao homem.
a) ( ) O pool genético e as frequências alélicas são
d) Os seres humanos e chimpanzés possuíam um an- iguais para ambas as populações, mas os alelos
cestral em comum e divergiram ao longo da evolução. estão distribuídos de forma diferente entre ge-
e) Os seres humanos e chimpanzés convergiram ao nótipos homo e heterozigotos.
longo da evolução desenvolvendo características b) ( ) As frequências genotípicas, na população 1, para
análogas. os genótipos AA, Aa e aa, são, respectivamente,
17. (EMESCAM – ES) Segundo o princípio de Hardy-Weinberg, 0,45; 0,2 e 0,35. Na população 2, as frequências
uma população, para manter-se em equilíbrio gênico, genotípicas são de 0,22 AA; 0,65 Aa e 0,12 aa.
deve ser bastante numerosa e panmítica, isto é, c) ( ) O pool genético e as frequências alélicas são
diferentes para ambas as populações, mas os
a) os cruzamentos entre os indivíduos devem obedecer
alelos estão distribuídos de forma igual entre
às leis da seleção natural dos gametas, propostas
genótipos homo e heterozigotos.
pelo naturalista Charles Darwin.
d) ( ) A possibilidade de que dois gametas, carregan-
b) os cruzamentos entre os indivíduos devem obedecer
do o alelo A, fertilizem-se é de 0,2025; e a pro-
à lei da segregação independente dos cromosso-
babilidade de fertilização, entre os gametas que
mos homólogos e sexuais.
carregam o alelo a, é de 0,3025.
c) os cruzamentos entre os indivíduos com os diferen-
20. (UEFS – BA) A consolidação da Teoria Darwiniana só
tes genótipos devem ocorrer ao acaso, sem qual-
foi alcançada no século XX, com a contribuição robusta
quer interferência e/ou preferência.
dos conhecimentos na área da Genética.
d) os cruzamentos entre os indivíduos apenas devem
sofrer influência dos fatores evolutivos naturais, tais Nesse contexto, analise as afirmativas e marque com V
como as mutações e migrações. as verdadeiras e com F as falsas.
e) os cruzamentos entre os indivíduos com o fenótipo ( ) A compreensão dos princípios da hereditariedade
dominante devem ocorrer, preferencialmente, em aplicados às populações permite analisar as fre-
relação àqueles e os indivíduos portadores do fenó- quências gênicas e genotípicas em várias gerações.
tipo recessivo.
( ) As mutações gênicas constituem uma explicação
18. (PUCPR) Em uma população em equilíbrio de Hardy- para a variabilidade nas populações.
-Weinberg, a frequência de um alelo dominante é 0,7.
( ) A seleção natural é um mecanismo que privilegia
A percentagem esperada do genótipo recessivo é de
os genótipos independente de um contexto am-
a) 9%. biental.
b) 28%. ( ) O tamanho pequeno das populações é um fator
que contribui para a manutenção da variabilidade
c) 90%. genética.
d) 3%. A alternativa que indica a sequência correta, de cima
e) 30%. para baixo, é a
19. (UFPI) Duas populações diferentes de borboletas, em a) F V F F
equilíbrio de Hardy-Weinberg, contam, cada uma, com b) F F V V
400 indivíduos diploides. A população 1 é constituída
principalmente de indivíduos homozigotos (180 AA, c) V V F F
80 Aa e 140 aa) e a população 2 é composta majori- d) V F V F
tariamente de indivíduos heterozigotos (90 AA, 260 Aa
e 50 aa). Analise o que se declara a respeito dessas e) V V V V

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Biologia
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