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A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL: UM ESPAÇO ALTERNATIVO

DA EDUCAÇÃO

Ana Claudia Fernandes Lopes1 - UEL


Emily Francisco Leandro2 - UEL
Ashylei Capaci Bomfim3 - UEL
Amanda Larissa Dias4- UEL

Eixo - Representações Sociais e Educação


Agência Financiadora: Não contou com financiamento

RESUMO

O estudo tem como temática a educação não formal. Instituições de educação não formal
estão inseridas no chamado terceiro setor, sem fins lucrativos, no qual podem ser
consideradas as ONGs, as instituições, as entidades e as associações filantrópicas e sem fins
lucrativos. Entende-se que o objetivo da mesma é proporcionar a educação extraescolar,
juntamente com a promoção do bem estar social, para crianças, jovem e adolescente. Os
espaços não formais possuem atividades educativas no período inverso de estudo da criança
ou do adolescente, sendo uma experiência didática, organizada e sistematizada fora do
contexto formal da escola, considerando que a educação também é possível em outros
ambientes. Pretende-se mostrar alguns apontamentos referentes a essa modalidade educativa,
pouco conhecida pela sociedade, a fim de informar o leitor sobre a importância que esta
possui. Para que tal estudo pudesse ser realizado, foi necessário realizar trabalho de campo em
um espaço chamado “Centro de Juventude”, localizado no município de Cambé - PR, a fim de
responder algumas questões da disciplina de Coordenação do Trabalho Pedagógico em
Espaços de Educação Não Formal, no curso de Pedagogia da Universidade Estadual de
Londrina. O estudo tem o objetivo de mostrar as ações dos espaços de educação não formal, a
fim de desenvolver e promover a educação dos cidadãos e a importância da atuação do
pedagogo nesses espaços para promover ações em um espaço alternativo. Como resultado do
estudo, aponta-se que a educação não formal promove a inserção de crianças, adolescentes e
jovens em ações recreativas, esportivas, culturais, pedagógicas, entre outras. A reflexão
propiciada pelo estudo aponta para a importância das ações desenvolvidas neste campo e para
a necessidade da presença do profissional pedagogo nestes espaços, a fim de se cumprir o
princípio da intencionalidade educativa, o qual rege o trabalho no campo não formal.

Palavras-chave: Educação não formal; Atuação do Pedagogo; Terceiro Setor.

1
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina. Email: aninhaalopees@gmail.com
2
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina. Email: emilyfrancisco@hotmail.com
3
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina. Email: ashylei.capaci@gmail.com
4
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina. Email: amanda9larissa@gmail.com

ISSN 2176-1396
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Introdução

Este artigo é fruto das discussões realizadas ao longo da disciplina de Coordenação do


Trabalho Pedagógico em Espaços de Educação Não Formal, oferecida pelo curso de
Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. A disciplina tem como objetivos
reconhecer e analisar os fundamentos teóricos e as ações que sustentam a educação não
formal. O interesse deu-se a partir de um trabalho de campo realizado ao final da disciplina,
que possibilitou conhecer um espaço de educação não formal, o qual disponibiliza um
ambiente alternativo de educação, o campo em questão, “Centro da Juventude”, da cidade de
Cambé - PR.
O estudo em questão tem como objetivo propor uma reflexão acerca da importância do
espaço de educação não formal, que nos últimos tempos tem sido tema de muitas discussões
entre os profissionais da educação. Desta forma, buscou-se identificar uma instituição que se
proporciona a oferta de ações no campo da educação não formal com a finalidade de conhecer
o trabalho desenvolvido nesses espaços multidisciplinares. As reflexões aqui apresentadas
partiram de análises e estudos bibliográficos de cunho qualitativo e trabalho de campo, o qual
promoveu a assimilação da teoria e da prática. A disciplina nos propiciou, com a elaboração
deste trabalho, uma reflexão a partir da observação do ambiente que promove a educação não
formal, do profissional que atua nesse espaço e das ações que ali são desenvolvidas.
Na organização do texto, buscou-se discutir sobre a educação não formal e a sua
importância, além de apresentar os relatos de campo coletados, bem como refletir sobre a
atuação do pedagogo nos espaços de educação não formal. Portanto, a analise vem reconhecer
este espaço, de forma que a educação não se limita apenas a escola, existem muitas outras que
auxiliam no processo formativo de diferentes grupos sociais, como: instituições, entidades
sem fins lucrativos, as associações filantrópicas, entre outras.
Com isso, é fundamental destacar também que a Educação Não Formal é vista como
uma modalidade da educação no qual somente as classes menos favorecidas usufruem. É
preciso desconstruir esse ideal. Sendo assim, a Teoria das Representações Sociais está
inteiramente relacionada com essa modalidade da educação, pois é uma teoria que diz respeito
à construção dos saberes sociais, abrangendo todos os aspectos que envolvem a vida do
sujeito.
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A educação não formal e a sua importância

O espaço de educação não formal recebeu e tem recebido muitas reflexões por parte
dos profissionais da educação nos últimos tempos. Silva e Perrude (2013) descrevem que o
século XXI, pode ser destacado como um período de mudanças para as políticas educacionais.
A responsabilidade em propor ações neste campo, já não pertence ao Estado. Este, por
sua vez, descentralizou os seus serviços. O desenvolvimento de ações fora do campo estatal é
caracterizado como terceiro setor e a resolução da questão social têm ficado a cargo de
organizações não governamentais, entidades que tem ganhado visibilidade pública.
A educação não formal visa atender a população que se encontra em um estado
financeiro vulnerável e com uma carência social. Os espaços não formais oferecem atividades
educacionais no período inverso de estudo da criança ou do adolescente, sendo uma
experiência didática, organizada e sistematizada fora do contexto formal da escola. Para Gohn
(2006, p.2):

A educação não-formal designa um processo com várias dimensões tais como: a


aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação
dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou
desenvolvimento de potencialidades; a aprendizagem e exercício de práticas que
capacitam os indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltadas para
a solução de problemas coletivos cotidianos; a aprendizagem de conteúdos que
possibilitem aos indivíduos fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista de
compreensão do que se passa ao seu redor; a educação desenvolvida na mídia e pela
mídia, em especial a eletrônica etc..

Os estudos nos mostram que espaços fora do ambiente escolar, podem proporcionar
recursos pedagógicos complementares. Essas diferentes formas de ensino possuem métodos
didáticos diferentes do habitual escolar, produzem arte, experimentos, desfrutam de diferentes
projetos e atividades esportivas. São oferecidas e disponibilizadas um espaço para que a
criança e o adolescente, possam aprender e expressar os novos conhecimentos adquiridos por
meio de uma nova linguagem.

Além disso, a educação não-formal socializa os indivíduos, desenvolve hábitos,


atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem,
segundo valores e crenças da comunidade. Sua finalidade é abrir janelas de
conhecimento sobre o mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais
(BARRO; SANTOS, 2010, p. 06).

Um dos grandes desafios da educação não formal é em defini-la, e caracterizá-la pelo


que ela de fato é por ser uma área pouco conhecida para a sociedade. É interessante enfatizar
que a educação não formal se processa em quaisquer atividades que ocorram fora do ambiente
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escolar, se vinculando a museus, meios de comunicação, instituições que organizam eventos


de diversas ordens, assim, a aprendizagem se constitui de acordo com o desejo individual.
Para Núñez (1990) ao definir a ação da educação não formal ou ainda educação social,
há que se pensar em dois aspectos, primeiro entender seus limites e alcances através de sua
ação social educativa e em segundo lugar, o espaço desta ação educativa.
Entende-se que a educação não formal engloba uma gama de âmbitos de atuação
educativa, suas possibilidades tornam-se, na realidade, o princípio de que a educação é uma
atividade que prossegue depois da escola e que afeta também, da mesma maneira a quem não
pode frequentar os bancos escolares, assumindo formas diversas, sendo seu conteúdo
funcional, ajustado a determinado ambiente, como vemos é um processo educativo flexível,
elástico e também seletivo em sua aplicação. Souza (2008, p.2) enfatiza que,

A educação não-formal visa contribuir para o desenvolvimento de crianças e


adolescentes, e ainda tem como um de seus objetivos erradicar o trabalho infantil.
Esse modelo de educação é recente na história do Brasil e vem se construindo. É um
serviço que se entende por ser auxiliar no direito a educação e que contribui para
inclusão do sujeito no âmbito educacional.

Na educação não formal, as atividades acontecem em ambientes e situações interativas


construídas coletivamente, sendo uma educação complementar, tendo a intencionalidade na
ação no ato de participar, de aprender e de transmitir ou trocar saberes. É considerada uma
complementação da educação formal, mas de maneira diferenciada, sem estar interligada
coma obrigatoriedade do ensino.
Percebe-se que a educação não formal é desenvolvida por entidades que se preocupam
com o bem-estar social, sendo as ONGs, entidades que são organizações sem fins lucrativos,
com fins públicos e autogovernados, as entidades que buscam promover a redução das
desigualdades sociais e transformação social dirigida à formação humana.
Souza (2008) destaca que a Educação não formal se organiza de outro jeito e se
relaciona com as questões de aprendizado diferentemente da escola, pois a valorização das
relações pessoais à relevância do saber através da práxis se dá de uma maneira diferente do
contexto formal e escolar.
Portanto, a educação não formal busca capacitar o cidadão, promovendo projetos de
desenvolvimento pessoal e social que podem acontecer em diversos espaços como
comunidades, empresas, penitenciárias, organizações não governamentais, dentre outros,
promovendo projetos educativos sendo fundamental a presença de um pedagogo. A educação
não formal é aquela que acontece fora das instituições educativas formais, apresentando, em
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suas ações, a intencionalidade e a sistematização, buscando problematizar e formar sujeito


crítico que promovam transformações na sociedade.
Ainda esclarecemos que esta forma de educação não tem caráter formal dos processos
escolares, normatizados por instituições superiores oficiais e certificadores de titularidades,
sua metodologia não é específica, assim, os conteúdos, os educandos, o contexto e os demais
elementos compõem o processo educativo, e indicam os métodos e as técnicas a serem
utilizadas, não tendo lugares específicos para acontecer.
Diante do que já foi ressaltado nessa pesquisa, podemos considerar então, que essa
modalidade da educação se relaciona com a Teoria das Representações Sociais. De acordo
com Ferreira (2013, p.4) as representações sociais vão ganhando a função de conectar o
indivíduo ao coletivo, buscando uma articulação do individual com a ordem societal. Essas
representações surgem a partir de conflitos sociocognitivos suscitados pela interação social
dos indivíduos em seus grupos na sociedade.
Segundo Jodelet (1996, p. 361),

Refere-se às representações sociais como uma forma específica de conhecimento, o


saber do senso comum, cujos conteúdos manifestam a operação de processos
generativos e funcionais socialmente marcados. As representações sociais são
modalidades de pensamento prático, orientadas para a compreensão e o domínio do
ambiente social, material e ideal. Enquanto tal, elas apresentam características
específicas no plano da organização dos conteúdos, das operações mentais e da
lógica. Conhecer as representações sociais de um grupo deve servir para interação
do sujeito com o mundo e com os outros.

Contudo, da maneira em que os conhecimentos são adquiridos, se apropriando dos


mesmos, estes passam a constituir seu conjunto de saberes e a dar outros sentidos e redefinir
modos de ação e comportamentos cotidianos, tornando-se, gradativamente, novos saberes do
senso comum (LEMOS et al, 2013).
Partindo dessa teoria, é possível considerar que os mesmos se relacionam, pois, os
sujeitos que procuram e frequentam a Educação Não Formal pertencem a grupos sociais com
identidades e culturas próximas. É através dessas representações que os sujeitos vão se
construindo através de variados objetos relacionados com o contexto escolar não formal,
assumindo comportamentos na instituição, que nem sempre são fundados no valor que lhe
atribuem, mas no lugar que ali ocupam.

Relatos de campo
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Diante da ampliação dos espaços de atuação profissional do pedagogo, a atuação do


mesmo no âmbito da educação não formal cada vez mais adquire um espaço significativo,
conforme visto na disciplina de Coordenação do Trabalho Pedagógico em Espaços de
Educação Não Formal.
Foi realizado um trabalho de campo na instituição “Centro da Juventude” na cidade de
Cambé - PR, a fim de conhecer uma proposta de trabalho no campo da educação não formal.
Ao questionar a profissional responsável, a qual pertence a área da psicologia, a
mesma relatou sobre a instituição, bem como sua organização e práticas educativas
estabelecidas.
O Centro da Juventude é uma instituição pública, municipalizada, foi pensada em
2007, entretanto sua aprovação se deu em 2009 e a inauguração em 2012. A instituição
desenvolve um projeto do governo do Estado, pensado para os municípios com maior índice
de violência no estado do Paraná, e a cidade de Cambé ficou em 3º lugar. O Centro da
Juventude é um espaço de convivência para que os jovens tenham acesso à cultura, ao esporte,
ao lazer, a profissionalização como uma ferramenta preventiva a combater a violência e as
outras formas de vulnerabilidade social.
A educação não formal é uma prática de compromisso com questões que se tornam
mais importantes para um determinado grupo que qualquer outro conteúdo preestabelecido,
para isso:

É importante que essa proposta de educação não formal funcione como espaço e
prática de vivência social, que reforce o contato com o coletivo e estabeleça laços de
afetividade com esses sujeitos. (...) As atividades de educação não formal precisam
ser vivenciadas com prazer em um local agradável, que permita movimentar-se,
expandir-se e improvisar, possibilitando oportunidades de troca de experiências.
(SIMSON, PARK, FERNANDES, 2001. p. 03).

As atividades da instituição são divididas em atividades de convivência e atividades de


formação. As atividades de convivência são livres a partir de 12 anos até 29 anos, sendo mais
flexível.
Nas atividades de formação, trabalha-se o preparo para encaminhamento ao mercado
de trabalho, para esta a idade é mais específica em dois cursos: de 14 anos a 17 anos e 10
meses e de 18 anos a 23 anos, no primeiro curso para ter acesso às atividades, o educando
precisa estar estudando o que, segundo a psicóloga da instituição, é um estímulo feito aos
educandos junto às famílias, para ambos, o mesmo frequenta o espaço duas vezes por semana.
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As práticas educativas utilizam e exploram as mais diversas formas de linguagem e


expressão. A instituição desenvolve atividades e oficinas em diversas modalidades. Na área
esportiva envolve: natação, capoeira, taekwondo, futsal, basquete, vôlei, handebol, xadrez; na
área de arte: dança (street dance), teatro, música (contato com todos os instrumentos de uma
orquestra); oficinas voltadas à comunicação: a instituição possui uma rádio; dentro da
profissionalização, as atividades ofertadas são, na maior parte, voltadas a área administrativa e
informática. As atividades são desenvolvidas em dois períodos: matutino e vespertino.
Para a formação, é preciso fazer um filtro por idade, conta-se a dificuldade em acessar
o mercado de trabalho. O público prioritário é o que a rede encaminha, ou por indício de
algum ato infracional, se houver algum tipo de violência ou estar fora da escola, faz-se
também uma avaliação socioeconômica, avaliando se há violência familiar. Após incluir
todos os educandos com índices de necessidade, os demais podem entrar de acordo com o
número de vagas.
A instituição utiliza-se de uma metodologia que é própria do espaço desde sua criação,
seguindo os princípios de Paulo Freire, o que vem funcionando segundo a profissional
responsável. Dentro de uma metodologia do diálogo, a gestão é compartilhada, fazem parte
desde diálogo tanto educandos, educadores que também participam das decisões junto à
profissional responsável (psicóloga), a assistente social e coordenação em geral.
Da dimensão educativa, a proposta pedagógica foi elaborada por uma pedagoga no
início da abertura do trabalho desenvolvido com a educação não formal e a partir da mesma,
até o presente momento, a coordenação elabora as propostas de trabalhos, focadas, no
reconhecimento do público. O trabalho do pedagogo será sempre impregnado de
intencionalidade.

A presença do pedagogo, como articulador de processos educativos em diferentes


âmbitos da prática social, se dá pelo reconhecimento de sua contribuição na
construção de um conhecimento emancipatório, que favoreça o estabelecimento de
relações solidárias e humanizadoras, devemos trabalhar na direção da consolidação
desta presença e no aprofundamento da contribuição que pode oferecer (FONSECA,
2006, p. 07).

Com a saída da APMI - Associação de Proteção a Maternidade e Infância, a instituição


ficou sem pedagoga, segundo a psicóloga foi realizada a solicitação da contratação de um
pedagogo, mas que consiga se voltar à área social, pois não é um trabalho da escola, tendo
uma flexibilidade para atuar com o público, não sendo uma tarefa fácil de trabalhar, pois pode
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gerar conflitos. A secretária é então quem, por enquanto, avalia o trabalho, por meio de uma
avaliação indireta para ter ciência do desenvolvimento das atividades.
Mesmo com a ausência da pedagoga, é possível perceber a intencionalidade educativa,
a instituição visa a formação do cidadão no desenvolvimento das atividades, reconhecendo
seu papel na aprendizagem do mesmo que será encaminhado para o trabalho a partir do que
lhe foi ensinado.
Causa estranheza, conforme a análise apresentada por Fonseca (2006), a dicotomia
entre teoria e prática encontrada para a atuação na educação não formal, pois,

No mesmo momento em que cada vez mais se afirma a centralidade do trabalho


pedagógico e da formação para o seu exercício, assim como a necessidade de sua
reconfiguração, as políticas oficiais para este campo parecem estar promovendo o
reducionismo desta formação a uma dimensão meramente instrumental, limitando a
prática educativa ao mero exercício “técnico” de saberes, ao desenvolvimento e
certificação de competências e à ênfase exclusiva no “saber-fazer” prático
(FONSECA, 2006. p. 04).

Neste sentido, a instituição tem buscado colocar cada profissional dentro da sua
formação para atuação, já que neste âmbito não é uma exigência, porém tenta-se escolher os
profissionais com mais conhecimento na área para dar a base.
A formação do profissional da educação deve integrar estudos sistemáticos e
avançados no campo da educação e não pode ser compreendido exclusivamente em sua
dimensão instrumental, desconsiderando o seu sentido e sua intencionalidade.
O Centro da Juventude promove encontros abertos à toda sociedade, sendo realizados
oficinas temáticas, apresentações culturais, jogos recreativos, onde pudemos observar através
de fotos e dados o envolvimento dos jovens, não só com o evento, mas em todas as aulas, aos
quais dificilmente faltam e ficam de fora.
O espaço do Centro da Juventude atende também as famílias dos alunos e as mulheres
da comunidade, com intuito de criar um espaço de pertencimento, conhecimento e
fortalecimento de vínculos.
O Centro da Juventude de Cambé é um espaço importante para o acolhimento de
crianças e adolescentes. Uma referência de iniciativas que fomentam ações voltadas ao
fortalecimento da cidadania e dos direitos sociais. É gratificante acompanhar a satisfação dos
alunos diante das atividades ofertadas no espaço, uma vez que a participação dos jovens
acontece por interesse próprio contemplando o florescimento de sua personalidade e caráter.

A atuação do pedagogo nos espaços não formais de educação


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O pedagogo é a peça chave para as instituições de educação não formal, situadas no


chamado terceiro setor. Antes de adentrar o tema, é de fundamental importância esclarecer
que, segundo Viriato (2004), o terceiro setor é um conceito abrangente e difuso, agrupando
instituições da sociedade civil, sem fins lucrativos, não geridos pelas leis do mercado,
caracterizadas em promover os interesses coletivos. ONGs, fundações, associações, entidades,
enfim, todas as instituições jurídicas que atuam em prol do bem comum, sem fins lucrativos,
pertencem ao terceiro setor. Incluem também instituições filantrópicas dedicadas à prestação
de serviços nos setores da saúde e do bem-estar social, as organizações voltadas para a defesa
dos direitos de grupos.
Diante disso, pode-se ressaltar que as instituições não formais são geridas pelo
chamado terceiro setor, no qual, quando voltadas à Educação, o Pedagogo tem grande
importância.
A escola é considerada o espaço de educação formal, sendo habitada por docentes e
discentes que se comunicam e educam por meio do currículo escolar, voltadas ao processo de
ensino aprendizagem. Em contrapartida, há também a educação nos espaços não formais, ou
seja, fora da escola, o que Brandão (2007, p.13), ressalta que “[...] a educação existe onde não
há escola e por toda a parte pode haver redes e estruturas sociais de transferência de saber de
uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criado a sombra de algum modelo de ensino
formal e centralizado”.
Essas entidades se preocupam com o bem-estar social, tendo como objetivos melhorar
a qualidade de vida da própria população através do serviço voluntariado. Coutinho (2009,
p.4) relata que “[...] as ONGs, dentro de um ampliado “terceiro setor”, procura parceiros
dispostos a investir nos pobres, na educação, no meio ambiente e nos direitos humanos”.
Sendo assim, a educação não formal visa também promover o bem estar social, e o mesmo faz
parte dessa modalidade educativa, que também está interligada com o terceiro setor. Libâneo
(2007, p. 38 - 39) relata que,

O curso de Pedagogia deve formar o pedagogo stricto sensu, isto é, um profissional


qualificado para atuar em diversos campos educativos para atender a demanda
sócio-educativa de tipo formal, e não-formal e informal, decorrentes de novas
realidades - novas tecnologias, novos atores sociais [...].

Contudo, o pedagogo já deve estar preparado para atuar nesses espaços de educação
não formal, embora nem todas as graduações em pedagogia ofertem a disciplina de
Coordenação do Trabalho Pedagógico em Espaços de Educação Não Formal.
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Libâneo (2007) ressalta ainda, que no que diz respeito às áreas de atuação do
pedagogo, podem ser definidas em duas esferas de ação educativa: a escolar e a extraescolar.
Na esfera extraescolar, os pedagogos podem atuar como formadores, instrutores,
organizadores técnicos, consultores, orientadores que desenvolvem atividades pedagógicas
em órgãos públicos e privados, associações populares, supervisando funcionários e estagiários
em empresas, com atividades culturais e outras funções.
Com isso, o pedagogo pode assumir o seu papel que é de trabalhar com a educação,
seja ela a formal ou a não formal, porém ambas têm um mesmo objetivo, a busca pela
formação humana. O pedagogo é um profissional versátil que norteia a prática educativa, que
ajudam no saber e no fazer das pessoas. Segundo Alves e Suze (2004, p.3):

O pedagogo auxiliará na formação e desenvolvimento de habilidades, incentivo na


formação do colaborador aprendiz e pesquisador, facilitando seu desempenho na
organização e na vida. Para que isso se concretize, é necessário, além do
conhecimento técnico, o conhecimento científico que envolve a pesquisa, a
discussão, a troca de experiências e, acima de tudo, a vontade de crescer na busca de
uma profissionalização continuada. O papel do pedagogo, nas organizações, irá
auxiliar na articulação da aprendizagem, ajudando o processo em busca de
conhecimento e mudanças, a fim de auxiliar gestores e colaboradores na construção
de novos projetos que atendam aos desafios do mundo globalizado, com o objetivo
de melhorar resultados. Portanto, o pedagogo, nas organizações (ONGs, hospitais,
clubes, empresas [...] deverá desenvolver suas competências, apoiando-se nos seus
saberes e fazeres, enfatizando que o ensinar não é transmitir conhecimento, mas,
também construí-lo para que cada ser humano perceba o quanto este conhecimento é
significativo para seu viver, promovendo a sua qualificação humana e profissional.

Alves e Suze (2004, p.8) relatam também que esta perspectiva delineia o papel da
educação não formal, destacando o trabalho do pedagogo, interferindo nestas organizações via
projetos pedagógicos sociais. Outro foco de destaque do campo pedagógico é na qualificação
dos trabalhadores, quando oferece cursos de longa e curta duração, para desenvolver novas
habilidades e competências para que esses se insiram no mercado de trabalho devido às
mudanças da ciência e tecnologia. O pedagogo, com base nos seus conhecimentos da prática
educativa e conhecimentos amplos, viabiliza um aprendizado fundamental em um âmbito não
escolar. Contribui, também, com questões de aprendizagem que influenciam no
comportamento das pessoas fazendo parte da organização no sentido individual e coletivo.
Portanto, vale ressaltar, que o pedagogo tem suma importância nos espaços de educação não
formal, assim como nas escolas. O mesmo é considerado articulador e mediador de todo o
processo pedagógico que acontece nessas instituições.

Considerações finais
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A educação não formal tem grande importância para a formação do cidadão, porém a
mesma apresenta propósitos diferentes, extraescolar, fora do ambiente formal da educação
que estamos acostumados a vivenciar e está atrelada com o Terceiro Setor.
A pesquisa de campo realizada no “Centro da Juventude” possibilitou a apreensão de
embasamento que, a educação pode também ser promovida em ambientes fora das
instituições escolares, assim como são realizadas nesse “Centro de Convivência”, onde
através de projetos, de esportes, comunicação, informática e artes, promovem a cultura das
classes menos privilegiadas.
Contudo, a Teoria das Representações Sociais está relacionada com a realidade social
em que o indivíduo está inserido, pois pode ser considerada como construções coletivas e
resultados de interações entre indivíduos, inseridos em diversas culturas, no qual vão
produzindo a história individual e social. E pode-se afirmar que essa teoria se relaciona com a
Educação Não Formal, primeiro porque a maioria dos indivíduos que frequentam fazem parte
da mesma classe social, a menos privilegiada, e segundo porque as vivências oferecidas nesse
importante espaço promovem as construções coletivas através das interações com as pessoas
promovendo a história individual e social das pessoas.
Diante disso, pode-se afirmar que o pedagogo tem grande importância nesse âmbito,
ele é o profissional norteador de todo o processo pedagógico que acontecerá nessa instituição.
O Terceiro Setor tem o objetivo de promover o bem-estar social e melhorar a qualidade de
vida dos menos privilegiados, através de serviços voluntários. Com isso, o pedagogo tem o
papel de estimular, promover e desenvolver atividades pedagógicas, através de orientações
nesse processo de educação. O pedagogo é o principal responsável para que a educação se
efetive.
Compreendemos que a educação não formal não possui uma forma específica de ser e
atuar, assim como a educação formal, pois, vale considerar o contexto em que a instituição
está inserida. Contudo, podemos considerar que, a educação não formal para muitos ainda é
motivo de preconceitos, muitos ainda desconhecem, pois essa prática acontece de maneira
compromissada com os direitos humanos, a partir de ações educativas e políticas, levando os
sujeitos à promoção da educação, em um ambiente diferenciado.

REFERÊNCIAS

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