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Alimentação, manejo da terra e cultura: uma abordagem

paleoetnobotânica da pré-história indígena no nordeste


do Estado de Amazonas

RELATÓRIO: DEZEMBRO 2013 À DEZEMBRO 2015

Coordenadores: Profa. Dra. Myrtle Pearl Shock, Profa. Dra. Anne Rapp Py-
Daniel

Relatório: Myrtle Pearl Shock, Mariana Franco Cassino, Angela Maria Araújo
de Lima

Equipe: Angela Maria Araújo de Lima, Anne Rapp Py-Daniel, Erêndira


Oliveira, Filippo Basso Stampinoni, Guilherme Mongelo, Laura Pereira
Furquim, Lorena Martins Castro, Luciano de Sousa Silva, Margaret
Cerqueira, Mariana Franco Cassino, Márjorie Nascimento Lima, Myrtle Pearl
Shock, Thiago Kater, Vanessa de Carvalho Benedito

Instituição de guarda do material arqueológico: Laboratório de Arqueologia,


Museu Amazônico – UFAM

Dezembro
2015

1
Índicie
Resumo técnico.....................................................................................................................5
Resumo da pesquisa.............................................................................................................6
Introdução..............................................................................................................................7
Amazônia e Paleoetnobotânica.............................................................................................9
Preservação de Materiais Vegetais.................................................................................11
Metodologia..........................................................................................................................13
Prospecções arqueológicas.............................................................................................13
Escavação.......................................................................................................................13
Coleta e processamento de amostras para recuperação de amostras arqueológicas
aptos as análises paleoetnobotânicas.............................................................................14
Coleção de referência......................................................................................................16
Coleta de material botânico em campo...........................................................................17
Atividades de Campo...........................................................................................................18
Prospecções em Presidente Figueiredo..........................................................................18
Urubui I, BR 174..........................................................................................................18
Jardim Floresta, comunidade do Jardim Floresta.......................................................19
Mari-Mari......................................................................................................................20
Bela Vista.....................................................................................................................20
Igarapé do Rio Pardo, rio Pardo..................................................................................21
Alto do Dejeko, rio Pardo............................................................................................21
Roça do Seu Alberto, rio Pardo...................................................................................22
Claudio Cutião, rio Pardo............................................................................................23
Pedrais, rio Pardo........................................................................................................23
Prospecções em Iranduba e Manacapuru......................................................................26
Lago do Iranduba........................................................................................................26
Calderão......................................................................................................................26
Lago Grande................................................................................................................27
Jacurixi.........................................................................................................................27
Levantamento de sítios em Presidente Figueiredo.........................................................27
Sítio Jardim Floresta, comunidade Jardim Floresta....................................................27
Sítio Bela Vista, rio Uatumã.........................................................................................28
Sítio Claudio Cutião, rio Pardo....................................................................................28
Escavações em Claudio Cutião.......................................................................................30
Definição de áreas de intervenção..............................................................................30
Área 1: Trincheira 1.....................................................................................................30
Área 2: Unidades E6991 N9879 e E6997 N9877.......................................................32
Área 3: Unidades E6920 N9808 e E6919 N9820.......................................................34

2
Área 4: Unidade N947 E912.......................................................................................35
Área 5: Trincheira 2.....................................................................................................36
Testes fora do sítio......................................................................................................38
Levantamento topográfico...........................................................................................39
Coleções arqueológicas.......................................................................................................41
Sítios prospectados.........................................................................................................41
Sítios analisados..............................................................................................................41
Análises e resultados...........................................................................................................42
Sítio Conjunto Vilas, médio rio Solimões, Tefé-AM.........................................................42
Resultados da amostragem das camadas naturais....................................................42
Resultados da amostragem dos feições.....................................................................44
Identificações botânicas..............................................................................................46
Sumário do Conjunto Vilas..........................................................................................47
Sítio Lago do Limão, interflúvio dos rios Solimões e Negro, Iranduba-AM.....................48
Unidade N1918 E 489:................................................................................................49
Unidade N 1976 E 498:...............................................................................................51
Sítio Lago do Iranduba, interflúvio dos rios Solimões e Negro, Iranduba-AM................51
Sítio Vila Nova I, baixo rio Negro................................................................................54
Sítio Vila Nova II, baixo rio Negro....................................................................................55
Sítio Floresta, médio rio Unini..........................................................................................56
Unidade N: 1140 E: 900..............................................................................................57
Unidade N: 1100 E: 999,5...........................................................................................59
Unidade N: 989 E: 945................................................................................................61
Sítio Lago das Pombas, médio rio Unini.........................................................................64
Analise das amostras no laboratório...........................................................................65
Sítio Claudio Cutião, rio Pardo, Presidente Figueiredo...................................................67
Material cerâmica........................................................................................................68
Carvões.......................................................................................................................71
Resultados: Coleção de referência......................................................................................72
Coleta de material botânico em campo...........................................................................72
Panorama da vegetação no sítio Bela Vista – Presidente Figueiredo:.......................74
Panorama da vegetação no sítio Claudio Cutião - Presidente Figueiredo:................75
Destaques dos Resultados..................................................................................................76
Alimentação: Milho..........................................................................................................76
Alimentação: Castanha....................................................................................................76
Levantamento no Rio Pardo............................................................................................77
Atividades de extensão - História e Conhecimentos Tradicionais de Povos da Amazônia 78
Objetivos..........................................................................................................................78

3
Atividades........................................................................................................................78
Resultados alcançados....................................................................................................80
Equipe envolvida.........................................................................................................82
Produção bibliográfica..........................................................................................................83
Comunicações com publicação de resumo:....................................................................83
Comunicação sem publicação de resumo:.....................................................................84
Artigo publicado...............................................................................................................85
Artigo submetido para publicação...................................................................................85
Referencias bibliográficas....................................................................................................86
Anexo de Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos........................................................93

4
Resumo técnico
Esse relatório apresenta atividades e resultados, no senso amplo, de três anos de
pesquisa do projeto Alimentação, manejo da terra e cultura: uma abordagem
paleoetnobotânica da pré-história indígena no nordeste do Estado de Amazonas. A
pesquisa começou em dezembro de 2012 com atividades com coleções existentes, assim
que houve financiamento. Intervenções arqueológicas foram contempladas entre
dezembro de 2013 e dezembro 2015 durante a vigência da portaria para qual
submetemos esse relatório. As atividades concorrentes de extensão ocorreram entre 2011
e 2014 sob o título História e conhecimentos tradicionais dos povos da Amazônia,
financiado separadamente.
A pesquisa visou análise de coleções arquelógicas existentes, levantamento em campo
para maiores amostras arqueológicas em número reduzido de sítios, trabalho com
coleções de referência para análise de vestígios botânicos e atividades de extensão. O
enfoque regional da pesquisa foi os interflúvios do nordeste do Estado do Amazonas, no
caráter do município de Presidente Figueiredo, em comparação com a Amazônia Central,
municípios de Manacapuru e Iranduba. Devido o ano de pesquisa anterior a portaria, as
coleções existentes que foram analisadas e contribuam para nossos resultados vieram
também do Tefé e o baixo Rio Negro.
A equipe arqueológica principal foi composto por Myrtle Pearl Shock, Mariana Franco
Cassino e Angela Maria Araújo de Lima. Outros profissionais arqueológicos, e de áreas
afins contribuíram, por durações menores, para as etapas de escavação, topografia e
análises estão reconhecida na capa do relatório. Os alunos e profissionais que
participaram exclusivamente das atividades de extensão estão reconhecidos na porção
específica do relatório.
Alcançamos uma grande porção das nossas metas mas a pesquisa não está finalizado,
Em conjunto com o relatório, solicitamos a renovação da portaria para mais dois (02)
anos. Haverá continuação de escavações para melhor amostrar os carvões que
contribuam ao nosso entendimento de alimentação e manejo ambiental e continuidade as
atividades de levantamento, principalmente em Presidente Figueiredo, onde uma aluna de
mestranda procura entender as relações que as comunidades e moradores tem com os
sítios e patrimônio arqueológico.

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Resumo da pesquisa
A arqueologia fornece dados para a reconstrução da alimentação pré-histórica e do
manejo humano da floresta tropical a partir de vestígios vegetais. Investigando
populações pré-históricas indígenas dos séculos IV a XV d.C. no estado do Amazonas, o
presente trabalho paleoetnobotânico, levantou dados sobre sementes e frutas
preservadas como carvões, ilustrando a preservação arqueológica das plantas, a
variedade das plantas escolhidas pelas populações através das espécies identificadas e a
importância que essas plantas tiveram na sua dieta. O conjunto de dados
paleoetnobotânicos dos sítios arqueológicos analisados demonstra praticas pré-históricas
de manejo e cultivo de plantas informando as mudanças no meio ambientes provocados
pelos habitantes.
Nos sítios analisados têm mais que cinquenta morfologias de sementes, tubérculos e
frutos, indicando uma diversidade nos recursos que foram utilizados por populações na
região. Espécies identificados incluem castanha da amazônia, milho e tubérculos. A
análise do registro arqueológico aponta para pouca exploração de milho, restrito ao calhe
do rio Solimões, e utilização sistemática de castanha da amazônia no baixo rio Negro na
altura do rio Unini e no interflúvio do município de Presidente Figueiredo. Um tubérculo
ocorre em abundância na primeira camada cultural do sítio Claudio Cutião. Isso indica que
houve exploração desse carboidrato que, em seguida, foi menos encorporado à dieta das
populações moradores do mesmo lugar. Além das diferenças em distribuição desses
espécies a sua inserção cronológica varia: o tubérculo e castanha foram explorados no
século III d.C. enquanto milho entra nos registros arqueológicos no século VII.

6
Introdução
O Estado do Amazonas possui uma rica pré-história indígena sobre o qual aprendemos
cada vez mais. Uma parte desse conhecimento vem através da arqueologia. Na região do
interflúvio do Rio Solimões e Rio Negro trabalhos arqueológicos têm demonstrado que
populações sedentárias habitavam a área entre o século IV antes de Cristo e o século XVI
depois de Cristo. As pesquisas realizadas sobre as ocupações e as suas populações
abrangem conhecimentos sobre as tradições cerâmicas, a formação de solos antrópicos,
a organização espacial dos sítios, a organização social das sociedades e os modos de
enterramento, entre outros. Cada linha de pesquisa fornece informações para a
construção de uma visão global da pré-história, dos seus povos e das suas culturas. A
linha de pesquisa aqui seguida utilizou materiais de plantas preservados nos sítios
arqueológicos, em específico sementes e frutos carbonizados. Esses vestígios
paleoetnobotânicos são um fonte de informação primária sobre alimentação, utilização de
plantas industriais, modificações do ambiente e práticas de manejo de plantas, no qual a
análise dos mesmos nos informa acerca da organização social, das relações entre as
populações e a natureza, e mudanças culturais entre os habitantes ao longo da história. O
projeto foi motivado pelo interesse em responder as três perguntas expostas a seguir.

1. Quais plantas foram consumidas ou utilizadas pelas populações pré-históricas?


Muitas plantas nativas da Amazônia são comestíveis, destacando entre elas um grande
número de árvores frutíferas. Um elemento da vida cotidiana é a obtenção de calorias
necessárias para a manutenção do corpo humano. As dietas das populações pré-
históricas são compostas por plantas, pesca e caça. A partir dos componentes da dieta de
uma população entendemos um elemento da sua economia. Um outro elemento da
economia é a obtenção de recursos industriais (fibras, materiais de construção, etc.). A
visualização da base econômica de uma população parte da primeira informação sobre
seus componentes na presente pesquisa, especificamente quais plantas foram
consumidas ou utilizadas. Buscávamos identificar as plantas ocorrentes no registro
arqueológico e determinar entre elas quais eram comestíveis e industriais.

2. Que tipo de manejo ou cultivo de plantas era uma das atividades integrais das
populações humanas pré-históricas?
Para a vida sedentária registrada na pré-história de Amazonas era necessário que a
comida estivesse disponível nos arredores das habitações. Para a obtenção de plantas
eles poderiam recorrer a extração, manejo ou cultivo. Dentro das plantas nativas da
Amazônia os botânicos registram aquelas semidomesticadas ou domesticados, um
produto das escolhas das populações pré-colombianas em termos de dieta e manejo de
recursos. Também plantas exóticas, como milho, foram introduzidas na Amazônia pelo
contato com outras áreas ou povos que tinham esses cultivos. O percurso destas plantas
exóticas e o momento da sua adoção numa região podem informar sobre os processos
culturais que os trouxeram. Procurávamos saber as modalidades de manejo e cultivo
praticadas pelos habitantes da região através das espécies encontradas no registro
arqueológico e a natureza do seu crescimento. Atividades envolvidas no manejo e cultivo
de plantas indicam praticas culturais que informam sobre a organização da sociedade.

3. Como foi que as atividades de manejo e extração de recursos vegetais modificaram o

7
ambiente ao redor das habitações?
Através dos trabalhos arqueológicos sabemos que além da ocupação sedentária as
populações pré-históricas do Amazonas tiveram um grande impacto no seu ambiente. O
indicador mais visível disso são os solos antrópicos, as terras pretas de índio, que foram
criados através de ações intencionais, ou não, dos povos nos lugares de seus
assentamentos. As teorias para a utilização de áreas fora dos assentamentos incluem a
agricultura intensiva na região de várzea, cultivo de mandioca na terra firme e sustentável
manejo agroflorestal. Cada modelo de modificação ambiental também implica um modelo
econômico ligado a certos recursos vegetais e atividades humanas. Procurávamos tratar
dessas teorias como hipóteses prevendo a preferência do uso de certas plantas pelas
populações pré-históricas, que serão testadas através dos vestígios encontrados
arqueologicamente.

8
Amazônia e Paleoetnobotânica
Alimentos de natureza vegetal geralmente contribuem significativamente para as dietas
humanas, não sendo limitados às fontes de carboidratos, e incluindo plantas ricas em
proteínas, vitaminas, além de temperos como a pimenta (Smith 2001). Na Amazônia,
muitas plantas nativas são comestíveis, destacando-se entre elas um grande número de
árvores frutíferas e palmeiras (Cavalcante 1972, 1974, 1979; Clement, 1999a; Clement et
al., 2010). Soma-se a estas uma variedade de plantas domesticadas, oriundas de outros
lugares da América do Sul e América Central, que foram introduzidas no período pré-
colombiano (Pearsall, 1992; Piperno e Pearsall 1998). Um passo importante para
entender uma economia humana do passado é saber quais plantas eram consumidas e
como eram adquiridas.
A Paleoetnobotânica é o ramo da arqueologia que trata, de forma direta, da relação entre
as plantas identificadas no registro arqueológico e os grupos que as utilizavam. Este tipo
de análise foi quase ausente na Amazônia brasileira até os últimos dez anos (trabalhos
excepcionais incluem Morcote-Rios e Bernal, 2001; Roosevelt 1980; Roosevelt et al.,
1996), o que resultou no uso de fontes indiretas ou projeções etnográficas para a
elaboração das interpretações acerca das economias pré-colombianas na região. Entre
tais fontes, podemos citar: trabalhos etnográficos com povos atuais (Carneiro 1983, Lévi-
Strauss 1952, Politis 1996, Posey e Baleé (eds.) 1989; Shepard e Ramirez 2011),
trabalhos de ecologia histórica sobre a composição botânica das terras pretas de índio
(Fraser e Clement, 2008; Junqueira et al. 2010), análise ecológica dos ambientes
disponíveis ao cultivo (Denevan 1998, Denevan 2006) e análises genéticas e
biogeográficas que estudam a origem e dispersão de espécies domesticadas e semi-
domesticadas (Clement 1999b, Clement et al., 2010; Vavilov, 1992).
Nos últimos dez anos, houve um aumento no número de estudos arqueobotânicos na
Amazônia, complementando, às vezes questionando, e preenchendo lacunas que existem
nas demais fontes, em particular alguns trabalhos contribuíram para a compreensão do
uso de alimentos por longos períodos. Estudos, realizados com vestígios coletados do
próprio contexto arqueológico, possibilitaram um refinamento cronológico e interpretativo,
uma vez que as amostras passam a ser analisadas de forma integrada aos demais
vestígios do sítio – cerâmico, lítico, paisagístico, pedológico etc. (Caromano, 2010;
Cascon, 2010; Mocote-Rios, 2006; Shock et al., 2014; Silva et al., 2015). Também foram
responsáveis por desmistificar a impossibilidade de preservação de vestígios orgânicos
em solos amazônicos. Evidências do uso de espécies alimentícias têm sido encontradas
através da análise de amidos, fitólitos e vestígios macrobotânicos. Entre as espécies em
destaque, podemos citar o milho (Zea mays), abóbora (Cucurbita sp.), ariá (Calathea sp.),
cabaça (Lagenaria sp.), castanha (Bertholetia excelsa), jutaí (Hymenaea parvifolia),
pitomba (Talisia esculenta), acuri (Attalea microcarpia), curuá (Attalea spectabilis), tucumã
(Astrocaryum vulgare), outras palmeiras (Arecaceae), leguminosas (Fabaceae), raízes e
tubérculos (Bozarth et al., 2009; Cascon 2010; Shock et al., 2014; Roosevelt et al. 1996).
Além de repertoriar as plantas alimentícias utilizadas, a arqueobotânica reavalia
perguntas sobre, entre outros, a domesticação das plantas, as práticas de agricultura e
manejo florestal, e as plantas não alimentares (frequentemente medicinais) que também
compõem o registro arqueológico. O quadro que temos hoje é o de acúmulo de dados –
qualitativos e quantitativos – que nos possibilitam lançar novos questionamentos e
formular novas interpretações acerca dos modelos econômicos da Amazônia pré-
colombiana. Observa-se que, como os dados não são compatíveis com os quadros gerais
(generalizantes) propostos até o momento, é necessário construir modelos alternativos de

9
relevância regional.
Estudos sobre a arqueologia na Amazônia, geralmente iniciam seu embasamento nos
trabalhos de Steward e Lowie (Steward, 1948, 1949, 1950) e Meggers (1954), cujas
visões sobre as culturas das terras baixas levou à formação e consolidação do conceito
de uma Cultura de Floresta Tropical. Não faremos uma exceção, uma vez que os
elementos econômicos estão entrelaçados neste modelo geral. A proposição de que a
ocupação pré-colombiana na Amazônia era resultado da decadência de sociedades
andinas baseou-se parcialmente na ideia da impossibilidade ecológica das práticas
agrícolas nas planícies da região. Tal interpretação congregava a impossibilidade do
ambiente em manter grandes populações com a inviabilidade de complexidade
sociopolítica, mesmo sem dados diretos. Posteriormente, estudos subsequentes sobre
culturas da Amazônia propuseram modelos econômicos diferenciadas a fim de avançar
outras interpretações. Vemos nas propostas dos pesquisadores Roosevelt (1980) e
Lathrap (1970), que defenderam uma ocupação por povos sedentários e complexos, as
hipóteses da existência de populações sustentadas economicamente pelo cultivo de milho
ou mandioca. Segundo estas, a influência da ecologia tropical foi menos limitante para a
cultura. No entanto, foram adaptados modelos econômicos de regiões de clima
temperado, onde a base alimentar seria uma fonte de carboidrato explorada
intensivamente. Os arqueólogos trabalhando na Amazônia reagiram à proposta de
modelos englobantes procurando entender os processos específicos aos lugares e
culturas dos povos pré-colombianos. Especificamente no tocante às teorias sobre
economia, elaboraram modelos que visam diversas formas de conjugar o uso dos
recursos (Aiello, 2011; Barker, 2011; Hastorf, 1999; Smith, 2001; Smith e Yarnell, 2009).
Além de plantas ricas em carboidratos, como milho, mandioca e cará, notamos que a
floresta amazônica oferece recursos como castanha-da-Amazônia e diversas palmeiras
que podem ser exploradas de maneira intensiva e que mudam o possível caráter da dieta.
O uso de espécies vegetais cultivadas associado ao uso de espécies silvestres locais é
um tema recorrente nos resultados das pesquisas paleoetnobotânicas em países
próximos ao Brasil. No vale do rio Orinoco, os trabalhos de Roosevelt (1980) apontam
para uma dieta combinada de milho (baseado em análises de isótopos de esqueletos) e
outras espécies como feijão (Canavalia sp.), mandioca (Manihot sp.), palmeiras (corozo,
Acrocomia spp. ou coroba, Attalea spp.), murici (Byrsonima crassifolia), jobo ou ciruela
(Spondias mombin ou S. purpurea), alfarroba (Curatella americana), camoruco (Sterculia
spp.), cana e Cordia spp. associado a estratos cerâmicos. Perry (2004, 2005),
trabalhando nos sítios arqueológicos Pozo Azul Norte e Los Mangos Del Parguaza,
ambos no médio curso do rio Orinoco, destacou a presença de amidos em artefatos
líticos. Suas análises indicaram a presença de grãos de amido de milho ( Zea mays),
araruta (Maranta arundinace), guapo (Myrosma cannifolia), maripa (Attalea maripa), cará-
doce (Dioscorea trifida) e da família do gengibre (Zingiberaceae). A autora propôs a
existência de uma economia mista para o período estudado, nos quais tubérculos
cultivados e frutos de palmeiras coletados (estes ocorrentes no registro macrobotânico)
eram consumidos em conjunto com o milho. No Equador, uma mistura semelhante de
alimentos oriundos de cultivo e coleta é sugerida para as ocupações do período cerâmico
(Archila Montañez, 2005; Jiménez e Rostain 2014) e a antiguidade do cultivo do milho na
floresta neotropical foi atestada através da análise de pólen e fitólitos em sedimentos
lacustres de 5.300 A.P. (Piperno 1990).
Na região dos Llano de Mojos, Dickau et al (2011), levantaram dados arquebotânicos
diversos – macro e micro vestígios – nos geoglifos Granja del Padre e Bella Vista
(próximos ao rio Guaporé), e nas lomas Salvatierra e Mendoza (próximos à cidade de

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Trinidad). Em Salvatierra (Bruno, 2010), identificou 3.925 fragmentos de milho (Zea
mays), entre grãos, sabugos e embriões, além de fragmentos de amendoim, abóbora
(Curcubita sp.), algodão, pimentas (Capsicum spp.), além de endocarpos de palmeira
(Arecaceae), e sementes das famílias Amaranthaceae/Caryophyllaceae, Poaceae,
Cyperaceae, Polygonaceae, Fabaceae, Malvaceae, Plantaginaceae, Solanaceae, and
Verbanaceae. Através das análises de grão de amído e fitólito de artefatos cerâmicos e
líticos, foi possível identificar, no sítio Mendoza, estruturas de Zea mays associadas aos
raladores de cerâmica, coadores cerâmicos com presença de gramíneas (Poaceae),
ciperácias (Ciperaceae), palmeiras (Arecaceae), Heliconeae e de gêneros arbóreos. Os
mesmos resultados foram obtidos no geoglifo Bella Vista, através de análises de artefatos
líticos lascados e mós polidos, que se revelaram instrumento de processamento de milho,
pimenta, mandioca (Manihot spp.). Em Loma Salvatierra, a análise dos coadores de
cerâmica também indicaram o processamento de milho (sempre em maior quantidade),
mandioca e pimenta (Dickau et al., 2011).

Preservação de Materiais Vegetais


Todo e qualquer elemento do registro arqueológico está sujeito a processos tafonômicos
que alteram o material que foi depositado, deixado ou jogado por seus usuários. Neste
caso em particular, procuramos entender os processos que atuam sobre carvões em
regiões tropicais. Com base em dados sobre carvões nos Neotrópicos, pudemos analisar
a preservação nos sítios arqueológicos estudados. Nos solos dos Trópicos, o regime
climático tem grande influência sobre os vestígios orgânicos – Piperno e Pearsall (1996)
sugerem que a carbonização de plantas, que favorece sua preservação, ocorre
acidentalmente, sendo difícil a sua preservação em outras situações permanecendo
apenas os elementos diagnósticos dos vestígios “mais resistentes”. Ao mesmo tempo
sabemos que, após a carbonização, o material orgânico se torna inerte aos processos
biológicos e químicos e o carvão é um componente estável do solo (Hillman et al., 1993).
Assim, existem órgãos das plantas que podem ser preservados, acompanhada de suas
caraterísticas morfológicas diagnósticas, quando transformados em carvão. Entretanto, os
carvões no solo podem sofrer processos mecânicos e deslocamentos no registro
arqueológico. Um processo mecânico de expansão e contração em solos com alto teor de
minerais de argila tipo 2:1 pode quebrar os carvões (Coelho et al., 2007; Piperno e
Pearsall 1996). Entre os processos que promovem os deslocamentos de vestígios, estão
as ações humanas, que reviram a matriz após a deposição de um vestígio, e as
bioturbações. Estas potenciais barreiras ao estudo de carvões nos trópicos limitaram por
muito tempo os estudos sobre macrovestígios e direcionaram a atenção dos
pesquisadores para os microvestígios de plantas – especialmente fitólitos e grãos de
amido.
Com base nas experiências de pesquisa previamente citadas, um dos desafios desta
pesquisa seria a identificação de sítios na Amazônia com melhor preservação de carvões
arqueológicos. Entramos, com base na literatura e observações diretas desta equipe, com
duas hipóteses para lugares onde podem ser encontrados os melhores índices de
preservação de carvões arqueológicos: matrizes sedimentares com maiores porcentagens
de areia e matrizes de terra preta antrópica. No primeiro contexto, os processos físicos
que quebrariam os carvões seriam abrandados. No segundo, além do carvão ser
componente da terra preta antrópica, as caraterísticas químicas e a composição catiônica
dos solos são amplamente conhecidas (Arroyo-Kalim, et al., 2009; Kamph e Kern, 2005;
Schmidt et al, 2014). Pesquisadores notam que nestas situações, especialmente quando
os valores de pH aproximam-se de 7,0, ocorre uma redução nos impactos tafonômicos
comuns nas regiões neotropicais (Py-Daniel, 2009).

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Por outro lado, se a carbonização preserva o tecido vegetal, ela também provoca
mudanças morfológicas. A expansão, compressão ou destruição parcial do tecido vegetal
é documentada em várias espécies (Boardman & Jones, 1990, Braadbaart & Wright,
2007, Gustauffson, 2000). As mudanças também são influenciadas pela umidade do
tecido vegetal (Hather 2000). Devido a estas mudanças, a carbonização em mufla de
espécies modernas e a criação de coleções de referência é citada por Beaudoin (2006)
como um método importante de transformação dos materiais vegetais modernos em
amostras comparáveis às encontradas nos contextos arqueológicos analisados.
Concordamos com a afirmação de Nesbitt (1991) de que, “não há substituto à observação
do material moderno e antigo, lado a lado, especialmente se a dissecção é necessária
para confirmar a identificação”.

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Metodologia
Prospecções arqueológicas
Prospecções arqueológicas são viagens feito ao campo para localizar sítios arqueológicos
e determinar seu potencial para pesquisa. Incluem visitas que registram o material que se
encontra em superfície e atividades que testem o conteúdo das camadas arqueológicas.
É frequente utilizar o conhecimento local sobre locais de terra preta de índio para achar
sítios arqueológicos.
O método mais comum para testar o conteúdo do sítio é a tradagem. Esse procedimento
realizado com boca de lobo ou trado holandês permite chegar em um metro de
profundidade. Os sedimentos retiradas com a ferramenta estão separadas em cada 20
centímetros de profundidade e os materiais culturais procurados para determinar a
profundidade do registro arqueológico. E se haver coleta dos materiais, podem servir de
base para explorar a densidade e composição dos vestígios no sítio. Profundidades
maiores que um metro podem ser alcançadas mas se sedimentos de níveis superiores
caírem podem dar resultados de vestígios onde o registro já é estéril comprometendo
qualquer análise. Profundidades estão alcançadas em escavação.
Um segundo método de teste é o buraco teste com diâmetro de 50 cm que permite uma
amostragem rápida até 80 a 100 cm com a recuperação de um maior quantidade de
material cultural. Em sítios com baixa densidade de material, um tradagem pode ser
negativo por pegar menos volume e não por falta de ocupação.
Considera-se importante determinar os limites de um sítio arqueológico e assim poder
calcular a sua área. Um limite pode ser determinado por caminhamento registrando
quando os vestígios superficiais se acabam. Entretanto uma camada de ocupação pode
se encontrar enterrado e para determinar isso necessita tradagens no estabelecimento da
área.

Escavação
Escavação permite uma investigação mais profundo sobre os depósitos, materiais
culturais, organização especial e cronologia de um sítio. Sua implantação em áreas
dispersas ou concentrada em um lugar é controlada pelas perguntas de pesquisa, assim
como o tamanho das escavações, a maneira de recuperar vestígios arqueológicos, a
metodologia para cavar e o típo de registro.
A escavação de unidades medindo 1 por 1 metro é padrão na arqueologia da Amazônia e
a mesma permite que alcance uma profundidade de aproximadamente dois metros e
possibilita sua ampliação em decorrência dos achados.
Descrição da sequência estratigráfica dos depósitos arqueológicos é essencial a sua
interpretação cultural. Aqui a nomenclatura de camada sempre refere a um depósito de
origem natural ou cultura que ocupe um espaço horizontal e uma extensão ampla. A
designação lente refere a um depósito que ocupe um espaço horizontal mas de pouco
extensão. A designação feição refere a um depósito pontual cujos limites podem ser
delimitados em três dimensões. Enquanto isso, a nomenclatura de nível esta relacionada
a divisão artificial por meio de profundidades, normalmente de 10 cm em escavação e 20
cm em tradagem. Procurava-se escavar por camada sendo com subdivisões por nível.
Assim os sedimentos e material cultural associado ao mesmo depósito podem ser
analisadas em conjunto. Entretanto, havendo mal interpretação das camadas na hora de
escavação, pode reverter ao controle vertical estabelecida por nível e sua
correspondência com o desenho de perfil (metodologia de escavação por níveis
13
artificiais).
Os métodos utilizados na recuperação de vestígios variavam em relação aos tamanhos
das aberturas das malhas, entre 0,5 e 5,0 mm, e quantidade de sedimento que foi
processado com peneira seca, peneira molhada ou flotação. Em geral o sedimento
coletada durante a escavação foi, integralmente, para a peneira molhada com malha de 4
mm ou 2 mm, respectivamente em 2014 e 2015. Haviam coletas subsequentes ao estudo
e desenho de perfil de sedimento para flotação e análise quimicas conforme as camadas.

Coleta e processamento de amostras para recuperação de amostras arqueológicas


aptos as análises paleoetnobotânicas
Estudos paleoetnobotânicos procedem da coleta direta de partes de plantas
remanescentes das ocupações pretéritas - carvões, fitólitos, grãos de amido e pólen –
obtidos durante escavações arqueológicas. A presente análise trabalha com
macrovestígios vegetais preservados por ação da queima. Carvões originados de
madeiras, tubérculos, sementes e frutos servem como base de reconstruções das
relações homem-planta, pois a sua presença em contextos arqueológicos resulta de
processos pelos quais antigos moradores trouxeram as plantas para as suas habitações.
Desenvolvemos protocolos para a recuperação e análise destes materiais.
As amostras de sedimentos coletados em sítios arqueológicos foram submetidas a um
processo chamado 'flotação', no qual carvões flutuando em água em um tambor são
recolhidos em peneira com abertura de 0,5 mm e o restante material arqueológico que
afunda na água é recolhido em peneira com abertura de 1,5 mm dentro do tambor (Figura
1). Esse tipo de coleta tem a possibilidade de recuperar sementes pequenas como as de
tabaco e pimenta, além de carvões de lenho e endocarpos de palmeiras e fragmentos de
tubérculos.

Figura 1: Acima, flotadeira construída para


processamento das amostras com peneira por dentro e
por fora. A direita, amostras resultando da flotação nas
duas peneiras.

O processo de flotação foi aprimorado com


procedimentos específicos para a região. O
processamento de material cultural em água
depende da desagregação do sedimento dos
vestígios arqueológicos. Os solos da Amazônia
possuem alta quantidade de grãos da fração de argila que agregam os demais materiais
dificultando o processo de flotação. O processamento destes sedimentos para

14
recuperação sem viés amostral depende de defloculantes de argila. No caso foi
empregado o químico hexametafosfato de sódio que tem vantagens por não provocar
impactos ambientais nas concentrações utilizadas e não prejudicar a possibilidade de
datação por radiocarbono (Figura 2). Após o processo de flotação as amostras estão
secos em TNT, um tecido reutilizável e sem componente orgânica, e guardados em sacos
plásticos inertes.

Figura 2: O uso de hexametafosfato de sódio (a


esquerda) promove a desagregação da argila
permitindo que os carvões flutuam (a direita).

Em campo onde não foi possível trazer os sedimentos para o laboratório a ser flotadas
adotamos uma modalidade de processamento chamada peneira molhada em que os
sedimentos estão introduzidos a uma peneira e lavadas com água para dissolver a argila.
Como faltou bomba de água, as peneiras foram introduzidas a água e agitados sem água
transbordar sua margem e levar carvões embora (Figura 3).

Figura 3: O processamento de sedimentos em


campo por peneira molhada e uma amostra
lavada (a direita).

Em laboratório, as amostras flotadas e coletadas em peneira molhada, após seco, foram


peneiradas e divididas em três classes de tamanhos: >4 mm; 2-4 mm; <2 mm. O material
>4 mm foi completamente triado entre as diversas classes de material arqueológico:
líticos, cerâmicas, ossos, artefatos (como contas por exemplo) e carvões. Os fragmentos
de rochas e grânulos de sedimento, assim como raízes e outros fragmentos vegetais
atuais provenientes de bioturbações foram considerados “sobras” (Figura 5). O carvão foi

15
ainda separado entre duas classes distintas: “lenha”(ou carvão lenhoso), que inclui os
fragmentos de madeira carbonizada e “parênquima”(ou carvão não lenhoso), que inclui
principalmente fragmentos de sementes, frutos, tubérculos e raízes (Figura 4). A
denominação “parênquima” segue o padrão adotado em diversas pesquisas
arqueobotânicas e não é sinônimo do termo utilizado na histologia vegetal. Dentre as
amostras de tamanho entre 2 e 4 mm, foram separados os fragmentos de carvão, estes
triados entre “lenha” e “parênquima”. O material <2 mm não foi analisado. A triagem foi
realizada com o auxílio de lupa binocular. As amostras de cada classe de material em
cada classe de tamanho foram contadas e acondicionadas em sacos plásticos
devidamente identificados.

Figura 5: Amostra de flotação no tamanho maior


de 4mm triado entre as classes de material com
as “sobras” na bandeja.
Figura 4: Separação do carvão entre
Dentre as amostras de “parênquima” dos
as classes de “lenha” e “parênquima”.
tamanhos >4 mm e 2-4 mm, foram
selecionados fragmentos que apresentassem características diagnósticas que
permitissem a sua identificação a nível de família, gênero ou espécie botânica. Estes
foram catalogados e fotografados com o auxílio de sistema de captura de imagem
Moticam 2500 e do software Image Pro Plus 2.0. As imagens capturadas foram
trabalhadas no software ACDSee Photo Manager 2009.
Após a triagem das amostras, cada categoria de material arqueológico teve o seu número
de fragmentos contados e pesados. Os dados obtidos foram registrados em planilhas no
programa Excel e gráficos foram confeccionados com os dados obtidos no mesmo
programa. Os gráficos foram comparados com os perfis e dados sobre análise de
cerâmicas das unidades em estudo previamente confeccionados em outros trabalhos, a
fim de se identificar os padrões comuns ao material encontrado com as camadas naturais
dos sítios estudados.
A guarda adequada dos materiais arqueológicos trata dum acondicionamento que durará
ao mínimo 50 anos por tratar de patrimônio histórico da união. O melhor maneira possível
de guarda são recipientes de pH neutro feito em plásticos. Para a guarda das amostras
processadas estão sendo usado sacos plásticos, potes plásticos, tubos tipo ependorf e
engradados de boa qualidade, com identificações nos exteriores dos recipientes. As
identificações incluem nome de projeto, sítio e número de proveniência (PN) da amostra,
entre outros.

Coleção de referência
Foi confeccionada uma coleção de referência composta por diversas espécies vegetais
alimentícias atuais incluindo frutos, sementes, cipós, cascas de árvores, etc. As espécies

16
foram obtidas de diversas formas, algumas em mercados da cidade de Manaus, outras
foram coletadas em ruas, quintais ou praias de cidades dos estados do Amazonas e Pará,
incluindo Manaus, Manacapuru, Balbina, Tefé, e Santarém. Enfim, algumas das espécies
foram coletadas durante os trabalhos de campo nos sítios arqueológicos escavados,
especialmente os sítios Bela Vista e Claudio Cutião, localizados no município de
Presidente Figueiredo.
As amostras botânicas foram identificadas, numeradas e catalogadas. Foram secas em
estufa e estocadas em caixa de luz. Após serem devidamente fotografadas, as amostras
da coleção de referência foram carbonizadas em forno mufla e novamente fotografadas
em seu estado carbonizado. As amostras carbonizadas foram fragmentadas, observadas
e fotografadas sob estereoscópio, e finalmente utilizadas como base para comparação
com o material arqueológico diagnóstico.
A carbonização em mufla dos espécimes modernos das coleções de referência é citada
por Beaudoin (2006) como um método importante de transformação dos materiais
vegetais em amostras mais comparáveis aos encontrados nos contextos analisados.

Coleta de material botânico em campo


Durante as campanhas de campo, foram feitas coletas de material botânico na área e nos
arredores dos sítios arqueológicos estudados. Foram coletados ramos férteis (quando
possível) das espécies mais comuns ocorrentes nas diversas tipologias vegetais que
compunham a paisagem dos sítios estudados.
As amostras vegetais foram coletadas com o uso de tesoura de poda ou podão. Os ramos
foram acondicionados em saco plástico e após algumas horas da coleta, foram prensados
em jornais. Durante a sua permanência em campo, foram mantidos em sacos plásticos
aspergidos com álcool a 70% a fim de mantê-los livres de infecções por fungos e outros
parasitas. A coleta botânica foi executada no final das campanhas de campo a fim de
manter as amostras longe o laboratório o menor tempo possível. As coletas foram
registradas em caderno de campo e fotografadas.
No laboratório, as amostras foram novamente prensadas em prensa de madeira, secas
em estufa e acondicionadas em caixa de luz. Em breve, serão enviadas ao Herbário
EAFM a fim de serem incorporadas ao seu acervo.

17
Atividades de Campo
Prospecções em Presidente Figueiredo
Começou a pesquisa com uma revisão dos trabalhos publicados lembrando que o objetivo
do levantamento foi de achar sítios ocupacionais cujos sedimentos encontravam-se em
estado menos perturbadas. Procurou-se um registro de materiais orgânicos que
correspondiam a história de ocupação para investigar questões de alimentação e manejo
de plantas além das tranformações provocadas pelos homens no meio.
A região de Presidente Figueiredo foi alvo de pesquisas arqueológicas para a implantação
da hidroelétrica de Balbina. Esses trabalhos foram orientados pelo curso do rio Uatumã
onde foram registrados sítios ocupacionais e pedrais com arte rupestre. As pedrais e a
maioria dos outros sítios encontram-se inundadas pela reservatório. Não conseguimos
uma mapa georreferenciado dos sítios.
Uma linha de transmissão passou pelo município de Presidente Figueiredo e a equipe da
Msc. Tatiana Costa Fernandes registrou três sítios. Nos retornamos para ao sítio Urubui I
para avaliar sua potencial para a presente pesquisa.
O restante do levantamento foi seguindo orientações e sugestões de moradores e
professores no município. Após encontrar os sítios ao longo do Rio Pardo, o mesmo local
foi alvo de um levantamento mais intensiva, com a localizações das terras pretas
indicados pelos moradores e com procura sistemática nos pedrais, locais não
reconhecidas pelos mesmos.

Urubui I, BR 174
O sítio se encontra atrás de um prédio de armazém de distribuidora do Fogás e uma casa
(Figura 6). Em algum momento uma maquina passou pelo centro, e na beirada desse
corte encontramos um ferramento lítico (Figura 7). O sítio existente tem dimensões
pequenas, aproximadamente 50 x 20 m atrás da casa. Cerâmica também ocorre em
frente a casa e armazém, em uma área que provavelmente foi terraplanada. Devido as
construções e estrada é difícil estimar a extensão original ou seu profundidade. A maioria
das peças estão expostas nos sedimentos remexidos. Pela corte que atravessa o sítio
percebe menos que 30 cm de terra preta.

Figura 6: Localização do sítio Urubui I. Figura 7: Ferramento lítico exposto por erosão no
sítio Urubui I.

18
Jardim Floresta, comunidade do Jardim Floresta
A comunidade de Jardim Floresta fica no velho quilometragem 126 do BR 174. O sítio
homônimo encontra na beira do principal ramal, aproximadamente 1,5 quilometro leste da
rodovia. Observa dois partes do sítio, um que fica em terreno baixo e próximo a igarapé
com areia preta com extensão de 700 metros no sentido do ramal e um segundo parte no
alto de um barranco ao norte. Em ambos os partes encontra quantidades significativas de
cerâmica.
Os moradores contam que na área de areia preta, bastante sedimento foi retirado para
usos em construção. Perto de um poste pode observar que a coloração escuro chegou a
pelo menos 40 cm de profundidade (Figura 8). A maioria da cerâmica em superfície tem
tempero mineral e seus paredes estão desgastados. Foram notadas decorações de
engobo branco e roleto aplicada com pontuações (Figura 9). Esse área tem potencial para
pesquisa se os depósitos se estende ao sul das casas em estado mais preservado.

Figura 8: Sedimento perto do poste mostra o Figura 9: Cerâmica decorada com roleto aplicada
profundidade original do deposito, sítio Jardim com pontuações, sítio Jardim Floresta.
Floresta.

A área do sítio encima do barranco tem sedimentos com maiores teores de argila e
aparência de terra preta. Os moradores acham cerâmica e diversas ferramentas líticos
(Figura 10). A maioria do terreno esta roçada mas um parte tem cobertura de floresta. Na
primeira visita observamos microtopografia correspondente com montículos e maiores
concentrações de cerâmica em superfície a si associada (Figura 11). De maior interesse
fosse a porção que encontrasse abaixo da floresta onde a estratigrafia pudesse estar
melhor preservada. Esse nos levou a retornar para um levantamento com tradagens,
ocasião quando descobrimos que madeira foi tirada do terreno como um todo criando a
microtopografia montada e que a área de floresta também sofreu a arrancada seletiva de
madeira de lei.

19
Figura 10: Uma bola lítico achado pelos moradores Figura 11: As cerâmicas encontradas na terra preta
a área alta do sítio Jardim Floresta. da área alta do sítio Jardim Floresta tem decorações
que incluem unguladas, como essa, engobo e
incisão paralela.
Mari-Mari
O sítio Mari-Mari esta localizada no ramal que vara para o norte da cachoeira Porteiro, na
rodovia AM 240. Situado na beira do igarapé, a terra preta do sítio Mari-Mari tem extensão
de pelo menos 50 metros, sendo um parte na planície de inundação fluvial e o restante
começando a subir o encosto ao lado. Visualmente, num corte do declive, a terra preta
esta raso, aproximadamente 30cm (Figura 13). Uma casa encontra-se sobre o sítio e sua
construção poderia ter revirada um parte do deposito para a terraplanagem. O sítio por
ser no base de um morro sofre de processos de erosão e os proprietários comentam que
cada vez que chove aparecem mais fragmentos cerâmicos (Figura 12).

Figura 13: O deposito cultural no sítio Mari-Mari é


raso como observado nesse corte.
Figura 12: Fragmentos de cerâmica juntado pelos
moradores do sítio Mari-Mari, Presidente Figueiredo.

Bela Vista
O sítio de Bela Vista atualmente encontra-se encima de uma ilha no lago de Balbina.
Ocupa uma posição alta com visão para o que teria sido os igarapés adjacentes. A
superfície do sítio tem concentrações densas de cerâmica, com diversas decorações e
formatos, e lítico, lascado e polido (Figuras 14, 15, 16, 17, 18 e 19). O morador indicou

20
que a terra preta tinha mais que 60 cm de profundidade.

Figura 14: Ceramica com incisão


larga, sítio Bela Vista. Figura 15: Cerâmica com furos Figura 16: Cerâmica grossa com
atravesando seu base, sítio Bela antiplástica de caraipé, sítio Bela
Vista. Vista.

Figura 19: Lítico polida com


Figura 17: Trempe de cerâmica, Figura 18: Quartzo lascado e formato de base de ferramenta,
sítio Bela Vista. cerâmica com incisões finas, sítio sítio Bela Vista.
Bela Vista.

Igarapé do Rio Pardo, rio Pardo


Parte da comunidade Rio Pardo se encontra por cima de sítio arquelógico. Material ocorre
em baixa densidades no superfície e esta encontrado pelos moradores quando eles
fazem hortas. O sítio é evidente entre a beira do rio e a escola. Considerando o contexto,
o mesmo não foi alvo de pesquisa

Alto do Dejeko, rio Pardo


Descendo o rio Pardo da comunidade, o sítio Alto do Dejeko encontra-se na margem
esquerda acima de barranco pelo menos dez metros acima do nível do rio. Olhamos em
uma parte restrita do sítio, que estava recém aberto para roça e em superfície percebe
alguns fragmentos de cerâmica e lítico (Figuras 20 e 21). Nesse local a densidade da
material estava baixa. Pelos relatos dos moradores, o sítio fica de frente ao rio entre três
lotes distintos (cada com largura de 250 metros). A extensão e profundidade dos
depósitos não foi testado. Um dos comunitários relata ainda que quando começou a abrir
sua roça no local encontrou vasilhames inteiros em superfície.

21
Figura 21: Ferramento lítico encontrado no
Figura 20: Borda de vasilhame encontrado no superfície do sítio Alto de Dejeko.
superfície do sítio Alto do Dejeko.

Roça do Seu Alberto, rio Pardo


O sítio Roça do Seu Alberto fica na margem esquerda do rio Pardo, abaixo do Alto do
Dekejo. Materiais culturais se encontram num terraço acima do nível das inundações e
subindo um morro leve atrás. O morador mostrou materiais líticos que encontrou durante
seu trabalho e um amolador que fica no meio do sítio (Figuras 22 e 23). Material cerâmica
esta visível na superfície dos depósitos de terra preta (Figuras 24 e 25). A extensão do
sítio esta desconhecida.

Figura 24: Fragmento de


Figura 23: Fragmento de cerâmica com decoração
cerâmica guardado pelo ungulada, sítio Roça do Seu
morador, sítio Roça do Seu Alberto.
Alberto.

Figura 22: Pedra com evidencias


de amolador, sítio Roça do Seu
Alberto.

Figura 25: Fragmento de


cerâmica com decoração
acanalda, sítio Roça do Seu
Alberto.

22
Claudio Cutião, rio Pardo
O sítio Claudio Cutião ficam na margem direita do rio Pardo, abaixo do sítio Roça do Seu
Alberto. Foi selecionada alvo de levantamentos e escavações onde apresentamos
informações mais detalhadas.

Pedrais, rio Pardo


Conduzimos um levantamento dos pedrais no leito do rio Pardo durante três dias do baixo
nível do rio em 2015. A motivação do levantamento de pedrais foi a procura de arte
rupestre que é conhecido em formações rochosas parecidas do rio Negro e rio Uatumã.
Paradas foram feitos em quarenta pedrais novos (numerados sequencialmente
independente a ter ou não material arqueológico) e o pedral de frente ao sítio Claudio
Cutião. Foram localizadas quatro sítios de dimensões pequenas e doze ocorrências. O
registro das localizações incluiu ponto de GPS e fotografia sendo esse trabalho foi de
natureza exploratória. Procurou-se entender a região em outro momento da calendário
hídrico.
Sabemos que o pedral em frente ao sítio Claudio Cutião tinha amolador, mas com o baixo
nível do rio expondo mais superfícies rochosos, encontramos mais.
O local denominado Pedral 15 é notável por ter depósitos que lembram uma oficina lítico
em barranco do rio, próxima matéria prima e um pedral que tem 12 amoladores ou
afiadores (Figuras 26 e 27).

Figura 26: Apontando para dois amoladores, Pedral


15, rio Pardo.

Arte rupestre ocorre em dois locais denominados Figura 27: Barranco do rio acima do
Pedral 17 e Pedral 39. pedral onde aflora material lítico, Pedral
15, rio Pardo.
A gravura do Pedral 17 tem formato que lembra um
rosto do modo que estão representados no sítio Caretas, rio Urubu (Figura 28). O pedral
também tem quatro locais com desgaste de amolar/afiar (Figura 29).

23
Figura 28: Gravura no Pedral 17, rio Pardo. Figura 29: Afiador no Pedral 17, rio Pardo.

O painel de arte rupestre chamativa do Pedral 39 tem outro estilo, sendo composto por
diversos elementos gráficas (Figura 30). Os elementos gráficos de outros paneis são
executados com outro estilo (Figuras 31 e 32). No mesmo pedral encontra também um
amolador (Figura ).

Figura 30: Painel de arte rupestre, Pedral 39, rio Pardo.

24
Figura 31: Abaixo da escala tem área da rocha com modificação,
lado oposto ao painel visto na Figura 30, Pedral 39, rio Pardo.

A interpretação da arte rupestre e outros usos dos pedrais no


rio Pardo terá que considerar a situação onde existem
diversos superfícies rochosos que poderiam portar arte ou
amoladores, mas poucos que estão utilizados. Ambos os Figura 32: Gravura desse face
lugares com arte tem amoladores no mesmo pedral mas não continua no lado oposto, Pedral
estão ao lado de sítios ocupacionais. Da mesma forma, não 39, rio Pardo.
existe correspondência direta entre sítios arqueológicos com
terra preta e pedrais adjacentes com amoladores.
Um dos depósitos culturais expostos no barranco do rio Pardo
tem mancha escura visível a distancia. Denominado de sítio
de Pablo, aparente ser composto por material lítico, lascado e
polido, carvão e modificações ao matriz (Figura 34). Está
localizada atrás de um pedral extensivo, na margem direita do
rio Pardo, abaixo do sítio Claudio Cutião.

Figura 33: Amolador, Pedral


39, rio Pardo.

Figura 34: Deposito cultural exposto no barranco do


rio Pardo, Sítio de Pablo.

25
Prospecções em Iranduba e Manacapuru
Os municípios de Iranduba e Manacapuru pousem um registro arqueológico bastante
detalhada devido as atividades de pesquisa que ocorrem no âmbito do Projeto Amazônia
Central, do Gasoduto Coari-Manaus, do PIATAM, entre outros. Partimos do principio que
as coletas de sedimento que já existiam no Laboratório de Arqueologia, Museu Amazônico
– UFAM, poderiam orientar a escolha de sítios para escavações relevantes à análise
paleoetnobotânica.

Lago do Iranduba
Devido a preservação dos carvões em
amostras do sítio Lago do Iranduba que
encontravam-se em laboratório, o mesmo foi
alvo de visita. Em 13 de agosto de 2014
encontramos com os donos da propriedade
Marcia e Arigo que os mostraram onde as
escavações foram feitos pelo Projeto Amazônia
Central. Suas indicações conformem as
plantas do sítio apresentado por Castro (2009).
A propriedade continua em uso agrícola de
pequena escala (seu uso tradicional). Durante
a visita uma porção estava plantada em Figura 35: Cerâmica em superfície, sítio Lago do
cebolinha recém carpido. Na superfície Iranduba.
observou-se cerâmica das tradições amazônicas Borda Incisa (fases Açutuba,
Manacapuru e Paredão) e Policroma (fase Guarita. Também percebe-se a microtopografia
que Castro associou com montículos.
Para os fins desse projeto de pesquisa em paleoetnobotânica, não considera Lago do
Iranduba apropriado para novas escavações. Seus níveis superficiais têm histórico de
mistura que provocaria confusão na hora de analisar carvões das suas camadas. E,
anteriormente, as construções de montículos misturavam materiais orgânicas.

Calderão
Ao convite do pesquisador de EMBRAPA,
Aleksander Muniz, o sítio Calderão foi visitado.
O mesmo tem histórico de pesquisa acadêmica
pela Dra. Helena Pinto Lima. Observamos que
a área com melhor preservação do perfil
sedimentar abaixo da capoeira, e assim os
componentes orgânicos, foi aquela que a Dra.
Lima aponta como tendo sepulturas (Figura
36). Entretanto os processos tafonômicos
assados a ação de sepultar reviram os
depósitos anteriores. Tendo em visto que os
demais localidades do sítio são utilizada há
anos em atividades agrícolas, o sítio foi Figura 36: Área de capoeira no sítio Calderão à
desconsiderado como local para escavações esquerda, na sua maioria o sítio esta sob cultivo
para os fins do presente projeto. (foto de 2012).

26
Lago Grande
As análises de material vegetal do sítio Lago Grande
apresentado no mestrado da Francini Medeiro da
Silva instigaram nosso interesse no sítio. Além da
preservação haviam elevadas quantidades de
carvões não lenhosos. O sítio Lago Grande foi
visitado em conjunto com o pesquisador George
Brown da EMBRAPA e seu equipe que trabalha com
ecologia (minhocas, formigas, etc.). Quase todo o
sítio encontra-se em cultivo ativo (Figura 37). Saindo
da área da roça para uma capoeira, aproxima
rapidamente o limite do sítio. Pequenas testes rasos
foram feitas para observar a composição dos Figura 37: O sítio Lago Grande sob
cultivo de milho.
primeiros 25 cm e determinar se havia estratigrafia
cultural preservada. Ambos as áreas foram revirada por cultivo mecanizada e manual. O
material superficial, até pelo menos 25 cm, foi influenciado por esse processo tafonômica
de mistura. Devido isso e a existência de coleções provenientes de escavações
controladas no sítio, escolhemos deixar os fragmentos cerâmicos encontrados nos
pequenos testes nos seus lugares. O sítio não tem as condições para achar um registro
do material orgânico que incluiria as ocupações mais recentes.

Jacurixi
Dos registros de sítios nos municípios de Iranduba e Manacapuru, Jacurixi se destaque
por ser abaixo de floresta, condição que preservaria a estratigrafia cultural e sues
materiais orgânicos. Tentamos chegar no sítio, junto equipe do George Brown (que
também procura lugares que não foram tratados com agrotóxicos para sua pesquisa
ecológica). Encontramos a impossibilidade de chegar ao lugar devido o enchente na
época da viagem. O sítio continua de grande interesse e deve ser alvo de levantamento
em 2016 ou 2017 com a renovação da portaria.

Levantamento de sítios em Presidente Figueiredo

Sítio Jardim Floresta, comunidade Jardim Floresta


O levantamento no sítio Jardim Floresta se restringiu a
região alto que esta parcialmente em floresta e
parcialmente sob cultivo. Esperávamos que a área
florestada teria depósitos culturais intatos por não tratar
de espaço cultivado. Nas tradagens houve coleta de
sedimento para passar em peneira mais fina em
laboratório (Figura 38). Foram colocados tradagens
dentro e fora da floresta. Sua composição aponta para
a maior concentração do sítio arqueológico e terra preta
no atual roça. Sabe-se do proprietário que a roça foi
bastante impactado pela remoção de árvores e a
abertura de uma estrada além do cultivo com trator. As
tradagens na floresta revelou pouquíssima material
cultural e carvões e pesquisa no sítio não foi levada
pela frente (Figura 39).
Figura 38: Tradagem feita com coleta
de sedimento, sítio Jardim Floresta.

27
Figura 39: Algumas cerâmicas encontrados nas tradagens no sítio Jardim Floresta, Presidente Figueiredo.

Sítio Bela Vista, rio Uatumã


O sítio Bela Vista está dentro do atual reservatório de Balbina encima de uma ilha
atualmente cultivado e com boa visão para as áreas ao redor. Anterior ao reservatório
deveria ter ficado ao lado de um igarapé. O sítio é pequeno, um hectare, com terra preta
pouco profunda. Além de delimitar o sítio, escavamos quatro (4) buraco testes para ver a
concentração e profundidade de vestígios. O sítio não tive boa preservação de carvões.
Podemos observar nas fotografias que a cerâmica decorada do sítio Bela Vista tem
motivos decorativos plásticos e pintura com engobo. A decoração plástica apresenta
diferenciadas características de traçados. Alguns com incisões finas e profundas outras
com incisões contínuas (Figura 40). Essas características são semelhantes aos da
decoração da fase Saracá, existente no município de Silves, indicando-nos uma possível
associação que poderia ser aceitável pelo fato de haver uma ligação em termos
hidroviários dos rios convergentes e afluentes da margem esquerda do baixo rio Negro e
da margem esquerda do Médio, Amazonas entre eles o rio Uatumã, Urubu e Rio Preto.
Além da fase Saracá é provável que algumas peças de cerâmica do sítio Bela Vista sejam
classificados na tradição Borda Incisa. Essa análise deverá ser feito no ano que vem.

Sítio Claudio Cutião, rio Pardo


O sítio Claudio Cutião se encontra à margem do rio Pardo, afluente do rio Negro, no
município de Presidente Figueiredo. O rio Pardo nasce perto do quilômetro 130 da rodovia
BR-174 e no seu alto curso passa ao lado de áreas atualmente habitada. A partir da
comunidade de rio Pardo a estrada acaba e habitação se torna mais esparso. O sítio é 11
quilômetros abaixo da comunidade, seguindo o rio Pardo em área que nunca chegou
trator. Espacialmente a área do sítio tem dois hectares. A profundidade dos depósitos
arqueológicos vária entre 0,30 e 1,50 metro e variações de relevo estão visíveis em forma
de pequenas montes. Não se sabe se tratam de montículos, lixeiros ou acúmulos por
outras finalidades. Para Moraes (2006) algumas saliências que ocorrem no solo podem
estar associadas a depressões de sedimentos que foram retirados e aglomerados com
intuito de construção de moradias contendo vestígios arqueológicos produzido de modo
intencional ou não.
Em 2014 sete tradagens foram implantados no sítio Claudio Cutião para caraterizar a
profundidade e conteúdo dos seus depósitos além de dar uma primeira noção da
extensão do sítio. A localização das tradagens foi registrado com unidade GPS.

28
Figura 40: Algumas peças de cerâmica do sítio Bela Vista, Presidente Figueiredo-AM.

Em 2015 um grid cartesiana estabelecida no sítio foi utilizada para amostrar de forma
sistemática a extensão dos depósitos no espaço, considerando ambos os materiais
culturais e as caraterísticas da matriz (Figura 41 e 42). Em total foram mais 28 tradagens.

Figura 42: No limite do sítio as tradagens não


contem material cultural e os sedimentos tem
tonalidades mais claras, níveis apresentados
em sentido anti-horário.

Figura 41: Tradagens, feito com boca de


lobo de 20 em 20 cm, fornecem
informações sobre a extensão dos
depósitos culturais.

29
Escavações em Claudio Cutião
As escavações de 2014 e 2015 no sítio Claudio Cutião investigaram cinco áreas do sítio,
escolhidas para amostrar contextos potencialmente distintos, por estar distribuídos em
áreas espaçados, com microtopografia específico e matrizes sedimentares com texturas
ligeiramente diferentes. Todas as escavações seguiram até arqueologicamente estéril
depois foram aprofundados para registrar o substrato.
A designação de camada durante o campo, ou seja, as letras dados para elas, está
baseado na situação deposicional daquela unidade. A correspondência entre camadas
deve ser baseado em conhecimento dos diversos depósitos entre todas as áreas e
datações. Por isso apresentamos camadas em número romano onde essa
correspondência já foi possível e letra onde ainda estamos aprimorando a estratigrafia.
Em 2014 o sítio não foi mapeado e a localização das intervenções foi registado em
relação aos coordenados geográficas da sistemática UTM com orientação ao norte
magnética. Em 2015 o mapeamento topográfico do sítio permitiu que tais unidades
fossem referenciados dentro de um grid para o sítio. As unidades implantadas para
investigar o microrrelevo foram direcionados conforme o relevo para permitir o uso de
seus perfis para essa finalidade.

Definição de áreas de intervenção


A área da Trincheira 1 foi orientado conforme uma elevação ligeira percebido ao margem
do terraço (em qual o sítio encontra). Três unidades foram implantadas em linha para
poder projetar m perfil estratigráfica para investigara a natureza artificial ou natural do
relevo. Sabemos que teria profundidade no meio devido a tradagem 07 que tive material
arqueológico até 60-80 cm de profundidade.
A segunda área, das unidades E6991 N9879 e E6997 N9877, foi escolhido para sua
localização erro o limite do sítio (definido pelo tradagem 05) e há bastante distância do rio
atual. Também apresenta matriz sedimentar bastante arenoso em contraste a matriz mais
argilosa na Trincheira1. Essa variação espacial de matriz com sedimentos antrópicas
sobrepostas permitiria a investigação da influência da matriz sobre a formação da Terra
Preta do Índio. No material cultural investigaremos também a distribuição espacial no
centro e periferia dos depósitos arqueológicos.
A terceira área, das unidades E6920 N9809 e E6919 N9820, foi também escolhido para
refletir sobre a formação da TPI por ser em matriz de textura intermediária as duas áreas
mencionadas acima e de espacialidade distinto, sendo um local sem relevo.
A implantação da unidade N947 E912, perto ao curso do rio, foi para representar outra
localidade na espacialidade do sítio (área 4). Também foi indicado pelo dono da
propriedade que lembra encontrando vasos inteiras quando plantou árvores através da
casa.
A Trincheira 2, e quinta área de escavação, foi estabelecida para continuar o transecto
estabelecido na Trincheira 1 para atravessar uma alta maior na microtopografia. Sendo
que as três unidades na Trincheira 1 mostraram acumulo não natural, procurava-se saber
se essa também tinha origem antrópica. As unidades foram distribuídas para mapear os
depósitos que constituiriam sua construção.

Área 1: Trincheira 1
A primeira área foi no local de um aparente amontoação de terra preta pela topografia e
tradagem. Uma linha cortando esse monte foi marcada e denominada de Trincheira 1. Ao

30
longo desse eixo escavamos três unidades: A, Q e W.
A quadra Q foi a unidade mais central ao trincheira e elevação topográfica com terra preta
escuro entre as profundidades de 30 e 60 cm (Figura 4.N.2 e 4.N.3). Apresentou material
cultural em quantidade até 70 cm e carvão até 80 cm (Figura 4.N.4).
A vegetação ao redor é composta por capoeira com plantações de Jurubeba e o motivo
de sua abertura se deu por conta da realização de uma tradagem próxima da mesma que
além de apresentar uma boa quantidade de material cultural também apresentou terra
preta ate 0,70 metro de profundidade.

Figura 43: Perfil da unidade Trincheira 1, Quadra Q (desenho: Luciano Souza)

Nos primeiros níveis de profundidade 0-10 cm a 30-40 cm foram observadas diversas


biotubaçoês, raízes, cerâmicas, uma mancha no lado norte e baixa compactação do solo.
A escavação nesses níveis assim como nos seguintes prosseguiu de modo lento por
conta da grande quantidade de raízes. Uma mancha foi observada no lado norte da
quadra foi tratada como uma possível feição que perdurou por alguns níveis abaixo.

31
A partir do nível 40-50 cm a quantidade de raízes diminuiu e a cerâmica aumentou. O
sedimento no setor norte estava denso e o restante da quadra homogêneo, com
aparecimento de carvão, que foi coletado, plotado e material lítico diagnosticado como
quartzo e quartzito.
Com a chegada ao nível 60-70 cm, a coloração do sedimento começou a modificar,
tornando-se mais claro, arenoso argiloso e o número de cerâmica foi diminuindo.
Contudo, foram observadas pequenas manchas escuras diagnosticas como biotubaçoês
naquele momento da área. Quando chegamos à descida do nível 85 cm podemos
constatar que ali estava correspondendo ao limite da ocupação cultural que dali por diante
percebemos a parte histeria acompanhada apenas de biotubaçoês, alta compactação e
argila (subsolo).

Figura 44: Fotografia do perfil nordeste da unidade Trincheira


1, Quadra Q, sítio arqueológico Claudio Cutião.

Área 2: Unidades E6991 N9879 e E6997 N9877


A unidade foi aberta em área próxima de árvores castanheiras onde o terreno
aparentemente parece estar oco com topografia meio plana. Ela foi escavada próxima da
tradagem 06 (20M E786989 N9799884) na qual podemos observar no local algumas
rochas sedimentar próximas. A vegetação que compõe a área da unidade é composta de
capoeira baixa, incluindo plantações de samambaia, árvores de castanhas, e segundo um
conhecedor do local algumas plantações de ‘tacajuba’. A posição definida como datum
vertical, z=0 foi de -10cm na parte sudoeste da unidade. Inicialmente, o solo apresentou

32
abaixa compactação, e do nível 0-10 cm ate o nível 30-40 cm a presença de radículas,
biotubaçoês e tubérculos (batata era constante) e raros fragmentos de cerâmicas.
Lembrando que a cada nível que foi escavado foi feita a quantificação e registro dos
baldes com sedimento que foram retirados de dentro da unidade e passados pela peneira.
deixando apenas o que ficava na mesma (peneira). Contudo, a partir do nível 30-40 cm,
além do aumento dos artefatos de cerâmicas, podemos constatar a presença de lascas
de quartzo e carvão.
Em alguns casos o sedimento não passava totalmente pela peneira pelo fato de estar
grudado devido à umidade, ficando alguns torrões de terra agregados aos fragmentos de
artefatos. A partir do nível 50-60 cm o contexto arqueológico foi considerado com melhor
preservação em relação aos níveis anteriores já que o fragmento de cerâmicas
encontrava-se em tamanhos maiores, com diminuição também da quantidade de
radículas e biotubaçoês que por sua vez foi contribuindo para a contextualização da
unidade (Figura 451). Além da terra preta presente em cada nível, podemos fazer o
reconhecimento de algumas manchas que foram consideradas como feições, contendo
numa delas a presença de pedras de ametistas trabalhadas e lascadas associadas com
fragmentos de cerâmicas.

Figura 45: Perfil da unidade E6991 N9879 (desenho: Luciano Souza)


O nível 90-100 cm apresentou a granulometria do solo mais arenoso e a coloração do
mesmo (solo) foi clareando nos níveis seguintes junta a diminuição das cerâmicas e

1 O desenho de perfil é fiel à escavação, cuja beleza foi prejudicada nas camadas C, D e E pela matriz
bastante arenosa. Futuras escavações nessa área do sítio terão que seguir a metodologia empregada
em areial com perfis inclinadas.

33
carvão que apesar da sua diminuição, alguns foram encontrados com tamanhos
consideravelmente maiores ate chegarmos à escavação na camada estéril. Finalizando a
escavação em 160 cm de profundidade após ter identificando 04 varvas de lago ou igapó
nessa unidade (Figura 46).

Figura 46: Fotografia do perfil sul da unidade E6991


N9879, sítio Claudio Cutião.

Área 3: Unidades E6920 N9808 e E6919 N9820


A área esta próximo a margem do sítio e não tem indícios de relevo provocada por ação
humana. Em ambas as unidades escavadas as camadas seguiram no horizontal com
divisões razoavelmente claros. O material cultural se encontra predominantemente na
camada escura, que poderíamos chamar de terra preta e as camadas diretamente inferior
e superior. Na unidade E6920 E9809 foram indicadas como camadas D, E e F, um pacote
de 50 cm, sendo que as camadas superficiais que ocupam 20 a 25 cm foram quase sem
material cultural. Em contraste na unidade E6919 N9820 o material cultural começa no
superfície.
Encontramos um buraco de bioturbação com proporções substanciais na unidade E6920
N9808. Amostras de contextos com bioturbação podem incluir elementos de uma mistura
de momentos cronológicos pois o registo tem sido revirado. O perfil da unidade E6920
N9808 mostra algumas dos buracos de bioturbação (Figura 47).

34
Figura 47: Perfil da unidade E6920 N9808 (desenho: Luciano Souza)

Área 4: Unidade N947 E912


A área do sítio perto do rio e a casa que foi construído no terreno tem caraterísticas
próprias, especificamente menos visibilidade de cerâmica em superfície e evidencia de
erosão. A erosão é devido a maior inclinação do terreno. Por ser perto da casa a área
provavelmente tem sedimentos mais compactados e por isso encontra uma vegetação
mais baixa (após os anos de abandono da casa a capoeira teria tido tempo para crescer).
Como o proprietário apontou que saíram vasilhames perto aos cocos, foi nessa
redondezas que escavamos uma unidade. Se encontra 14,7 metros da parede do fundo
da casa com desnível de 15 cm entre sua esquina nordeste e sudoeste.
Os depósitos culturais atingiram 55 cm. A camada superficial é composto por lixo orgânico
e raízes em matriz extremamente solto. Tive alguns fragmentos de cerâmico. A camada B
tem coloração marrom com materiais culturais e carvões sendo que os elementos mais
notáveis, por não ocorrer no restante do sítio, foram a quantidade de pequenas rochas e a
concentração de grandes raízes provavelmente oriundos de uma abacateira (Figura 48). A
camada C tem sedimento com coloração marrom escuro e a continuação de matriz com
muitas rochas pequenas. O material cultural encontrada inclui cerâmica, lítico e carvão. A
camada D é composto por sedimentos que aparecem ser uma mistura cromática da
camada C e E e em termos de material cultural só se acha carvão. A camada E,
começando 60 cm abaixo do superfície, é o subsolo de coloração amarelo, altamente
compactado e possuindo uma elevada quantidade de rochas, pequenas e médias, com
predominância de quartzo. A escavação dentro dessa camada segui para melhor entender

35
o substrato geológico no sítio. Observou-se uma lente de quartzo e hematita entre 90 e
100 cm que nos leva a supor que a matéria prima rochosa se encontra mais próximo ao
superfície nesse área. Em nenhuma outra área encontramos a mesma quantidade e
densidade de material rochoso no matriz.

Figura 48: Perfil leste, unidade N 947 E 912, sítio


Claudio Cutião.

Área 5: Trincheira 2
Cinco (05) unidades de escavação foram localizadas atravessando a elevação
microtopográfica: quadras H, N, P, R e X. Foram designadas com letras conforme sua
posição entre o noroeste e sudeste da linha sendo a quadra designada “A” localizado na
profundidade da depressão. Em relação à topografia, a quadra R foi escolhida por ser no
topo e, para escavações ao longo da trincheira considerou-se a datum vertical dessa
unidade. A quadra H, em contraste, se localiza no plano ao lado com diferença de 90 cm
de elevação a 10 metros ao noroeste. As quadras N e X se localiza nas beiradas com
elevações de 40 e 75 cm, respetivamente, abaixo do topo.
Essas unidades permitiram observar que a elevação no local ocorre em função a
ocupação humana. A base dos depósitos culturais ocorre entre 160 e 140 cm abaixo do
datum indicando que a superfície original do terreno foi quase plano com variações na
ordem de 20 cm. Todas as unidades foram rebaixado para 210 cm do datum para
comparar o subsolo, e por isso pode ver o contraste em elevação atual entre quadras na
fotografia dos seus perfis (Figuras 49, 50, 51, 52 e 53). A estratigrafia cultural corrobora ao
processo deposicional. Em todas as unidades observa-se quatro camadas deposicionais
que começam a sequência:
I – o subsolo do local com coloração amarelada, maior conteúdo de argila e maior
densidade; não contem material cultural
II – uma matriz de sedimentos mistas com colorações marrom e amarelo de textura
argila arenosa; contem material cerâmica e lítico em baixa densidade e carvões
III – uma matriz de sedimento com coloração predominantemente marrom escuro e
textura argila arenosa; contem material cerâmica e lítico e carvões
IV – uma matriz de sedimento com coloração preto e textura argila arenosa; contem
material cerâmica e lítico e carvões com notável aumento em densidade.

36
Por razão de mudanças nos materiais culturais na camada IV, acreditamos que o mesmo
deveria ser dividido em dois, não por coloração e textura, mas sim por sua composição.
A elevação antrópica está composto, além disso, por duas camadas de colorações
marrons. A primeira foi registrado nas quadras R e P tendo material cultural em
densidades comparáveis à camada IV. A segunda camada foi registrada nas quadras R, P
e N tendo uma densidade de material cultura e carvão substancialmente menor.
Todas as unidades tem camada superficial de lixo orgânico com folhas, galhos e carvões
recentes em matriz extremamente solto.

Figura 49: Perfil sudoeste, quadra X, Trincheira 2. Figura 50: Perfil sudoeste, quadra R, Trincheira 2.

Figura 51: Perfil sudoeste, quadra P, Trincheira 2. Figura 52: Perfil sudoeste, quadra N, Trincheira 2.

37
Figura 53: Perfil sudoeste, quadra H, Trincheira 2.
A escavação da trincheira 2 demonstrou
que o sítio tem pelo menos três momentos
de formação de camadas e que a elevação
é de origem cultural e devido ao momento
mais recente de ocupação no sítio. Não é
possível determinar a origem do sedimento Figura 54: A elevação da Trincheira 2 visto da
pois ao redor não existem buracos de quadra H após fechamento das unidades.
retirado de material que poderia
corresponder com o sedimento encima da elevação.
Todas as quadras foram fechadas com forro de TNT nos laterais (Figura 54).

Testes fora do sítio


O sítio arqueológico é compreendido a partir do conhecimento da localidade em que ela
esteja implantada, especialmente em que trata dos materiais orgânicos nos sedimentos.
Testes escavada for a do sítio permite determinar o quanto carvão ocorre naturalmente no
solo e sua distribuição estratigráfica.
Dois testes foram feitos para revelar perfis nos quais fizemos coletas por camada natural.

Figura 55: Perfil do teste fora do sítio perto a


área 4, escala de 20 cm. Figura 56: Perfil do teste fora do sítio perto a área 1.

38
O teste próximo a área 4 foi localizado na beirada da planície onde não se percebe
material cultural em superfície. Revelou um solo quase completamente composto por
rocha sendo a inclusão de material orgânico nos primeiros 5 cm e uma composição com
argila até 14 cm (Figura 55). O teste foi abortado em 40 cm em matriz quase
completamente rochoso.
O segundo teste foi localizado próximo a área 1 em área plano que esta
aproximadamente 3 metros abaixo do planície do sítio em local que tem floresta. O solo
tem uma camada húmica (5 a 10 cm), uma camada de coloração marrom (50 a 60 cm) e
uma camada de transição de menos que 10 cm seguido pelo subsolo de coloração
amarelo (Figura 56). O processo de formação de solo parece ser relacionado aos
processos fluviais nos quais as inundações do rio foram terraços.

Levantamento topográfico
Na primeira visita ao sítio foram observadas pequenas elevações que aparentavam ser
elementos de uma topografia artificial devido o uso do lugar. Em 2014 esses diferenças
topográficas foram exploradas pelo levantamento de relevo de um transecto com nível e a
escolha de escavações na área denominada Trincheira 1.
Em 2015 investimos na descrição topográfica do sítio através de mapeamento com
estação total que permitiu a criação de planta baixa do sítio. Na planta baixa percebe-se
múltiplas elevações com uma distribuição não aleatória (Figura 57). Ainda investigaremos
o conteúdo, contexto e distribuição de material cultural no sítio para entender a origem
e/ou atividades que caraterizaram esses pontos.

39
Figura 57: Planta topográfica do sítio Claudio Cutião, desenho Guilherme Mongelo.

40
Coleções arqueológicas
A região tropical é agressiva na decomposição de material orgânico mas o presente
trabalho mostra que existe bastante potencial para sua análise. O baixo índice de
preservação arqueológico de restos botânicos e faunísticos é atribuído a uma combinação
de diversos fatores como excesso de umidade, temperatura e acidez do solo (Stahl,
1995). Felizmente para pesquisadores, a carbonização dos tecidos orgânicos inibe a
atividade de microrganismos, protegendo vegetais carbonizados da decomposição
(Hillman et al., 1993).
A pesquisa mostrou que os carvões arqueológicos do incluem uma grande variedade de
formas e tenham alta potencial para pesquisa. Carvões apresentam potencial para
registrar o uso de sementes e frutas de diversas árvores amazônicas de interesse na
discussão de manejo agroflorestal. As evidências e amostras encontradas pela presente
pesquisa mostram o potencial para outros pesquisidores além de constituir uma coleção
digital de imagens.
Vestígios carbonizadas podem apresentam uma via para registrar mais árvores frutíferas
do que os vestígios de fitólitos (microvestígios vegetais) pois, algumas das espécies
amazônicas não produzem fitólitos diagnósticos (Piperno 2006). Dentro da pesquisa
notamos que a ocorrência de carvões varia entre os sítios que deve ser produto de fatores
históricos específicos das localidades e avaliado antes da escolha de sítios para a
aplicação de estudos paleoetnobotânicos aprofundados.

Sítios prospectados
Para escolher os sítios a serem escavadas no município de Presidente Figueirdo foram
visitados sítios arqueológicos na região. Todos, menos um, são sítios que mesmo
conhecidos pelos moradores foram cadastrados pela primeira vez. Conta com os sítios
Urubui I, Jardim Floresta, Alto do Dejeko, Roça do Seu Alberto, Igarapé do Rio Pardo,
Mari-Mari, Bela Vista e Claudio Cutião.

Sítios analisados
Resultados detalhados serão discutidos independentemente para cada sítio analisado:
Conjunto Vilas (médio rio Solimões, Tefé-AM); Lago do Limão (interflúvio dos rios
Solimões e Negro, Iranduba-AM); Lago do Iranduba (interflúvio dos rios Solimões e
Negro, Iranduba-AM); Vila Nova I (baixo rio Negro); Vila Nova II (baixo rio Negro); Floresta
(médio rio Unini) e Lago das Pombas (médio rio Unini); Bela Vista (alto rio Uatumã) e
Claudio Cutião (rio Pardo).

41
Análises e resultados
Sítio Conjunto Vilas, médio rio Solimões, Tefé-AM
O sítio Conjunto Vilas esta situado próximo à embocadura do Lago de Tefé no Rio
Solimões. Cobrindo uma área de 38 ha, o sítio tem material cerâmica de duas fases,
Caimbé da tradição Borda Incisa e Tefé da tradição Policroma (Hilbert 1968). A terra preta
de índio, início dos depósitos arqueológicos, tem profundidade média de 70 a 80 cm e
atinge 120 cm em algumas feições. Interessantemente, foram encontradas áreas de
ocupação fora da terra preta e enterrado abaixo dela. Em termos regionais, a fase
Caiambé ocorre por volta de 1200 d.C. e a fase Tefé por volta de 700 d.C. (Costa 2013).
No sítio Conjunto Vilas, três unidades de escavação foram estudado com enfoque
principal em oito feições de dois das unidades. Amostras das camadas naturais também
foram analisados. As escavações fazem parte da pesquisa arqueológico no Instituto de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá coordenado por por Jaqueline Belletti (mestrando
em arqueologia pelo MAE-USP).

Resultados da amostragem das camadas naturais


As camadas naturais observadas no sítio Conjunto Vilas podem ser caracterizadas,
grosso modo, como latossolo culturalmente estéril (Camada I), a ocupação pré-
colombiana com terra preta (Camada II) e a interface da ocupação pré-colombiana e
ocupação atual (Camada III) (Figura 43). Amostras foram coletadas de todas as áreas de
escavação para comparar a composição das camadas, as unidades foram nomeadas:
S1068 E1430, S1518 E1400, S1600 E1548, S1450 E1652. As amostras de sedimento
foram todas de 20 litros. Observamos que o material cultural proveniente desses
momentos temporais é distinto (Tabela 1).

42
Figura 58: Perfis da unidade S1068 E1430, sítio Conjunto Vilas, onde se nota as três camadas
estratigráficas: Camada I - arqueologicamente estéril, Camada II - deposito arqueológico e Camada
III - superfície atual misturada com deposito arqueológico.

No latossolo, Camada I, que ocorre abaixo das ocupações humanas, esperava-se não
encontrar material arqueológico. As amostras confirmam as expectativas, com uma
ocorrência mínima de carvões e ossos (Figura 59). Em campo foi separada uma amostra
de sedimento proveniente de uma mancha na Camada I da unidade S1450 E1652 com
suspeita de ser arqueológica. A presença de carvões lenhosos e parênquimas nessa

43
amostra é um forte indicador de que a ‘mancha’ visível na escavação foi produto de ações
humanas.
Na camada de terra preta antrópica, Camada II, há ocorrência de materiais indicativos de
habitação humana - cerâmica, lítico, osso, carvão lenhoso e carvão não lenhoso.
Observa-se que o sítio é composto por áreas com depósitos distintos em termos dos
materiais ocorrentes e suas densidades. Por exemplo, a quantidade de carvão lenhoso é
elevada em S1450 E1652 e não ocorrem parênquimas em S1518 E1400.
A camada III, que é a interface, ou mistura, dos depósitos arqueológicos com materiais
atuais contém um forte indicador de perturbação devido à presença de sementes não
carbonizadas. Enquanto isso pode invalidar a análise paleoetnobotânica da camada III, a
correspondente ausência de sementes não carbonizadas (incluindo as de tamanhos
minúsculos) na camada II é indicativa da integridade contextual da mesma. Outro
indicador de mistura da camada III em tempos históricos vem da ocorrência de quatro
peças de vidro e plástico na unidade S1450 E1652.

Figura 59: Quantidades de material cultural das unidades do sítio Conjunto Vilas. Cerâmica não
incluída.

Resultados da amostragem dos feições


Oito feições foram amostradas no sítio Conjunto Vilas em três áreas: S1600 E1549 (feição
2), S1450 E1651/52 (feições 5, 6 e 7), S1068 E1430 (feições 11, 12, 13, 14 e 18) (Tabela
2).

44
O material cultural com dimensões maiores que 4mm foi completamente triado, permitindo
a comparação entre as diversas classes de material arqueológico. Na comparação dos
líticos, ossos, carvões lenhosos e parênquimas , observamos que o material ósseo
compõe a maior parte das amostras da área S1450 E1651/52 (Figura 60). Por outro lado,
os vestígios das feições nas áreas S1600 E1549 e S1068 E1430 são predominantemente
compostos por carvões (lenhosos ou parênquimas). Dentro da área S1068 E1430 duas
das feições não apresentam ossos. Apesar do fato de que ossos podem sofrer maiores
degradações do que os carvões, a distinção entre feições bem próximas é indicativa de
diferenças na formação ou utilização das mesmas, não tendo provável relação com o fator
da preservação do material ósseo. Material lítico ocorre em sete das feições sendo todo
refugo de lascamento.

Figura 60: Distribuição de material cultural nas feições


do sítio Conjunto Vilas (Tefé-AM). Cerâmica não
incluída.

45
A área de S1450 E1651/52 tem maiores densidades de todos os materiais culturais,
dentre os quais se destacam os ossos (Figura 61). A maior parte dos ossos não sofreu
queima antes da sua deposição, sendo sua preservação indicadora de que o solo possui
características bastante estáveis. A diferenciação da composição entre a feição 11 e as
feições 13 e 14 está aparente nas densidades elevadas de lítico e carvão lenhoso na
feição 11.

Figura 61: Densidade de material cultural por 5 litros de


sedimento nas feições do sítio Conjunto Vilas (Tefé-AM).
Cerâmica não incluída.
Feições arqueológicas podem ser produto de diversas atividades humanas, entre elas o
descarte de lixo, a deposição intencional de itens ritual ou não, o sepultamento de corpos
e a queima de materiais. No caso da deposição de elevadas quantidades de material
orgânico, uma hipótese que deve ser levada para frente na análise das feições 5, 6 e 7 é
a deposição de lixo. As feições de combustão normalmente estão marcadas por elevadas
quantidades de carvões, algo que pode ser avançado como hipótese para as feições 11 e
2.

Identificações botânicas
Enquanto vários fragmentos de parênquima (carvão não lenhoso) foram encontrados no
sítio Conjunto Vilas, a identificação botânica é possível em poucos deles, devido ao seu
tamanho e grau de fragmentação. No entanto, existem nas amostras sementes e pedaços
de tubérculos ou raízes que poderiam ser identificados através de uma coleção de
referência de vegetal atual carbonizado. Por exemplo, fragmentos do endocarpo de
Arecaceae (coquinhos) são recorrentes.
O contexto da feição 5 foi especialmente rico em material botânico (Figura 62).
Acreditamos que a natureza selada dessa feição contribuiu para a preservação da
morfologia desses vestígios.

46
Figura 62: Fragmentos de sementes carbonizados e
identificáveis da feição 5 níveis 90-100 cm (A) 80-90 cm (B) e
70-80 cm (C) e da feição 6 nível 70-80 (D e E).
Um fragmento carbonizado de espiga de Zea mays (milho) foi encontrado no contexto
fechado de uma feição (5, unidade S1450 E1651/52) (Figura 63). Este vestígio é prova do
manejo de milho na Amazônia pré-colombiana, já que a planta não se reproduz
independentemente no ambiente da floresta tropical ou suas várzeas. São poucas as
ocorrências documentadas de vestígios de milho na Amazônia brasileira e nas terras
baixas da América do Sul. Entretanto, é rara a sua preservação como carvão já que o que
o grão e a espiga são órgãos frágeis. O contexto no qual a espiga de milho foi encontrada
ainda será datado e os resultados trarão informações sobre a cronologia da introdução e
intensificação do plantio deste cultivar na região estudada.

Figura 63: Fragmento de Zea mays encontrado no sítio Conjunto


Vilas, Feição 5, 90-100cm, visto de 3 lados.

Sumário do Conjunto Vilas


A análise de amostras arqueológicas do sítio Conjunto Vilas contribui para a construção
do quadro alimentar. As amostras permitiram o reconhecimento do uso de Zea mays
(milho) na alimentação pré-colombiana.

47
As análises de amostras de material arqueológico com tamanhos menores, extraídas de
sedimento por meio de flotação, contribuem para a compreensão das atividades humanas
no sítio Conjunto Vilas. Foi possível identificar refugos de lascamento, ossos que incluem
várias vértebras de peixe, carvões de lenha e de outros órgãos vegetais, além de
vestígios indicadores de perturbação recente.
A análise de amostras vindo das camadas naturais do sítio Conjunto Vilas confirma a
percepção deles a partir do pesquisa em campo, sendo camada I um sedimento
culturalmente estéril, camada II o deposito arqueológico intato e camada III a zona de
interface e mistura do registro arqueológico e o atual.
Feições arqueológicos são resultados direta da ação humana no passado cujas
particularidades pode ter contribuído para a densidade e distribuição dos materiais.
Hipóteses de descarte e de combustão podem ser levantadas para a origem de algumas
das feições no sítio Conjunto Vilas.
A densidade de fragmentos de lenha e parênquima no sítio Conjunto Vilas está mais baixa
do que a media observado em sítios com terra preta na Amazônia. E, por isso, o número
de parênquima com caraterísticas diagnosticas esta reduzida. Entretanto a ocorrencia de
milho esta instigante merecendo mais investigações, sobretudo a análise de outros
vestígios botânicos, os fitólitos e amidos, produzido pela planta que podem preservar em
contextos arqueológicos.

Sítio Lago do Limão, interflúvio dos rios Solimões e Negro, Iranduba-AM


O sítio Lago do Limão localiza-se no município de Iranduba (AM), na área do entorno do
lago do Limão. Este lago localiza-se aproximadamente na metade do curso do Rio Ariaú,
cujas águas conectam o Rio Solimões ao Rio Negro fluindo do primeiro para o segundo
na maior parte do ano.
O solo tem textura argilosa, sendo um pouco mais arenoso nas margens do lago. O sítio é
composto por uma área de terra preta - mais profunda nas áreas próximas ao lago - com
alta densidade de vestígios arqueológicos, circundada por uma área onde não ocorre
terra preta, com menor densidade de vestígios.
A cerâmica aparece em maior densidade nos níveis mais superficiais do sítio, com uma
predominância da fase Guarita nos primeiros 20 cm de superfície. Fragmentos da fase
Paredão ocorrem entre os 0 e 40 cm de superfície e da fase Manacapuru abaixo dos 20
cm. Foi encontrado também um pequeno número de fragmentos da fase Açutuba. O
material lítico tem pouca representatividade no sítio.
Neste sítio, foram analisadas duas unidades: N 1976 E 498 e N 1918 E 489.
A unidade N 1918 E 489 era possivelmente um local de criação de tartarugas. Esta era
formada por duas camadas naturais, uma mais superficial, de terra preta e alta densidade
de material arqueológico e a segunda, composta por latossolo argiloso e baixa densidade
de material arqueológico.
Já a unidade N 1976 E 498 era possivelmente uma unidade habitacional. Ela é composta
por três camadas naturais. A superficial, de aproximadamente 15 cm de profundidade,
apresenta o solo mais escuro, com textura argilo-arenosa e densidade média de material
arqueológico. A camada intermediária, de aproximadamente 45 cm, possui coloração
cinza escura e alta densidade de material arqueológico. A camada mais profunda, de
coloração amarelada é formada por latossolo com baixa densidade de material
arqueológico.

48
Unidade N1918 E 489:
No caso desta unidade, os gráficos da fração leve e fração pesada mostram tendências
diferentes. Enquanto os gráficos da fração leve indicam uma forte concentração de
fragmentos de carvão nos níveis mais superficiais (PNs 356 e 358 em Figura 64), os
gráficos da fração pesada indicam um aumento gradativo no número de carvões à medida
em que se aprofunda na unidade (Figura 65).

Figura 64: Quantidade de material cultura > 2mm na amostra de fração leve,
unidade N1918 E489, sítio Lago do Limão.

Figura 65: Quantidade de material cultura > 2mm na amostra de fração pesada,
unidade N1918 E489, sítio Lago do Limão.

Quando se juntam os dados das frações leve e pesada, a tendência encontrada nas
parênquima permanece com maior quantidades nos PNs 361 e 363 (Figura 66). Já no
caso dos carvões a tendência tende a desaparecer, ocorrendo um distribuição quase
uniforme de carvões ao longo dos níveis, com exceção do mais profundo, onde de fato o
número de carvões é bem menor. Assim, no caso desta unidade, não há uma correlação

49
entre a ocorrência de carvões e a ocorrência de terra preta, que neste caso ocorre nas
camadas mais superficiais.

Figura 66: Quantidade de material cultura > 2mm nas amostras da fração leve e
pesada, unidade N1918 E489, sítio Lago do Limão.

Quando se analisam as proporções entre carvões do tipo lenha e parênquima nesta


unidade, a tendência é a mesma entre o material cultural >4mm e o material de 2 a 4mm.
A relação lenha/parênquima tende a diminuir à medida em que se aprofunda nos níveis da
unidade (Figura 67).

Figura 67: Porcentagem de material cultural >2 mm na unidade unidade N1918


E489, sítio Lago do Limão.
A escavação sugeriu que a área da unidade N 1918 E 489 serviu como coral de
tartarugas. Encontramos uma padrão de distribuição entre lenha e parênquima nos níveis
mais profundas que não é comum (tem menos lenha do que parênquima). Não se sabe
porque existe tal padrão e esperamos que as especies representadas na parênquima
pode sugerir um hipóteses.

50
Unidade N 1976 E 498:
A unidade N1976 E 494 foi considerado um possível lugar de habitação nos trabalhos de
campo. Os dados coletados encima de três amostras estão apresentados nas figuras 68 e
69. Observamos que parênquima ocorre em porcentagens extremamente elevadas que
poderiam estar relacionadas com descarte de lixo domestico.

Figura 68: Quantidade de material cultura > 2mm nas amostras da fração leve e
pesada, unidade N1976 E498, sítio Lago do Limão.

Figura 69: Porcentagem de material cultural >2 mm na unidade unidade N1918


E489, sítio Lago do Limão.

Sítio Lago do Iranduba, interflúvio dos rios Solimões e Negro, Iranduba-AM


O sítio Lago do Iranduba localiza-se no município de Iranduba (AM), em um terraço
aplainado na calha do Rio Solimões. Suas bordas são marcadas por um declive abrupto,

51
com exceção da borda oeste, que é composta por um trecho de terra firme circundado por
um igarapé e pelo lago Iranduba. Possui uma área de 4,5 ha, com o eixo maior (oeste-
leste) medindo 300 m e o menor (norte-sul), 150 m.
Neste sítio foram escavadas duas unidades de 1 m 2, uma de 100 cm de profundidade e a
outra de 160 cm, ambas foram escavadas até atingirem dois níveis estéreis. A segunda,
unidade N2051 E2115, foi analisada neste trabalho. Esta foi escavada junto à sondagem
que apresentou a terra preta mais escura e profunda. A escavação encontrou grande
densidade de cerâmica e uma feição a partir do nível 50-60cm (PN 466), de formato semi-
elipsoide, diâmetro de 95 cm e profundidade 110 cm. A feição apresentou terra preta,
carvão e cerâmica em quantidades maiores que o sedimento do seu entorno (Figura 70).
Castro (2009) sugeriu que ela pudesse conter macrovestígios botânicos e que a busca
destes na análise dos sedimentos coletados poderia contribuir para esclarecer a sua
função.
A unidade apresentou fragmentos
cerâmicos que indicaram duas
ocupações distintas, das fases
Paredão e Guarita, das tradições
Borda Incisa e Policroma,
respetivamente. Também cerâmicos
da fase Manacapuru (tradição Borda
Incisa) ocorreram em menor
quantidade.
Os níveis mais superficiais
apresentaram pouca concentração
de material cultural.
Como o volume de sedimento
flotado para análise foi pequeno, os
dados gerados com a análise de
material >4 mm (normalmente
sempre representados por um
número bem menor de amostras)
parece ser pouco representativo e a
inclusão dos materiais os dados
sobre material de 2-4 mm permite
maior confiança para a interpretação
de padrões. Os dados de
quantidades das frações leve e
pesada foram reunidos a fim de se
obter uma melhor representação da
quantidade de lenha e parênquima
na totalidade do sedimento flotado.

Figura 70: Perfil da unidade N2051 E2115, sítio Lago do


52
Iranduba.
Figura 71: Quantidade de material cultural >2 mm na unidade N2051 E2115, sítio
Lago do Iranduba.

FiO gráfico oriundo da união dos dados de fração leve e pesada mostra uma tendência ao
aumento da quantidade de fragmentos de carvão com a profundidade (Figura 71). Esse
aumento se intensifica nos níveis 60-70cm e 70-80cm, o que provavelmente se relaciona
à ocorrência da feição que se aprofunda até o nível 160 cm nos níveis abaixo destes. O
crescimento da taxa de aumento no número de carvões à medida que se aprofunda na
feição indica a riqueza de carvões nesta área da unidade, sugerindo que esta esteja
relacionada a alguma atividade de combustão, conforme já fora sugerido por Castro
(2009). Os resultados obtidos até o presente momento indicam que a análise das
amostras dos níveis subsequentes trará dados importantes para a compreensão da
função da feição e da unidade como um todo.

Figura 72: Porcentagens de materiais culturais >2mm por camadas naturais no


sítio Lago do Iranduba, unidade N2051 E2115, frações leve e pesada

A análise das porcentagens de lenha e parênquima por camadas naturais na unidade


mostra um claro aumento na proporção de fragmentos de lenha na feição com relação às
outras duas camadas naturais (Figura 72). A camada superficial (IV) é a que apresenta a
maior proporção de parênquima em relação ao número de lenhas. No entanto, como a
camada superficial da unidade apresenta uma quantidade maior de carvão que as
camadas subsequentes (níveis 10-30 cm), estes carvões provavelmente são recentes,

53
acumulados devido às atividades dos atuais moradores do sítio. Dentro do depósito
arqueológico, a camada III apresenta uma porcentagem grande de parênquima em
associação com cerâmica e terra preta, típico aos lugares de habitação. O grande número
de fragmentos de lenha na feição corrobora a ideia de uma atividade de combustão no
local.

Sítio Vila Nova I, baixo rio Negro


O sítio Vila Nova I localiza-se na margem do Rio Negro, na área de confluência com o Rio
Unini, próximo à foz do Rio Branco.
Neste trabalho foi analisada a unidade N1151 E999, de 1 m 2, que apresentou uma alta
densidade de material arqueológico e pacote de terra preta profundo.
O sítio encontra-se em uma região composta por sítios com muitos fragmentos cerâmicos,
associados ou não à terra preta. O início de sua ocupação deu-se no século III com a
ocorrência de cerâmica da fase Açutuba, seguida de uma ocupação Manacapuru iniciada
no século VI, ambos fases da Tradição Borda Incisa, e com ocupações mais recentes a
partir do século IX com cerâmicas da fase Guarita, Tradição Policroma. No entanto,
análises prévias de cerâmica na unidade N1151 E999 efetuadas por Zúnica et al. (2013)
indicam que o sítio Vila Nova I pode ser considerado unicomponencial, com a presença
de fragmentos de cerâmica somente da tradição Borda Incisa.
Os dados encontrados neste trabalho na quantificação de carvão desta unidade seguem o
mesmo padrão que os dados de quantificação de material cerâmico obtidos no trabalho
de Zúnica et al (2013) (Figura 73). Tais resultados são um forte indicativo de que o carvão
analisado neste trabalho tenha sido gerado em um contexto de atividades humanas.

Figura 73: Densidade de material cultura >4 na fração pesada, unidade N1151
E999, sítio Vila Nova I

54
Figura 74: Desidade de material cultural 2-4 mm na fração pessada, unidade
N1151 E999, sítio Vila Nova I

Pode-se observar dois picos de concentração de material arqueológico: um centrado no


PN 309 (40-50 cm) e outro no PN 323 (90-100 cm). Entre os picos, há um momento de
menor concentração de material arqueológico, por volta de 60-70 cm (PN 315). Este
padrão é nítido no que se refere à ocorrência de lenha e parênquima (Figuras 73 e 742).
Foram encontrados fragmentos de parênquima diagnóstico de castanha da Amazônia
(Bertholletia excelsa) nos PNs correspondentes aos picos de concentração de material
arqueológico, na camada natural de terra preta de índio, nos níveis de 40-50 cm e 80-110
cm.

Sítio Vila Nova II, baixo rio Negro


Localizado próximo ao sítio Vila Nova I, este sítio também se encontra na região de
confluência do Rio Unini com o Rio Negro.
Neste sítio, foi analisada a unidade N1000 E1000, composta por três camadas naturais. A
camada superficial (Camada I) é muito arenosa, possui aproximadamente 20 cm e
apresenta muitas bioturbações e pouco material arqueológico. A camada intermediária
(Camada II), de aproximadamente 60 cm no perfil Norte da unidade, é arenosa e de
coloração mais escura e apresenta a maior densidade de material arqueológico.
Finalmente, a camada mais profunda (Camada III), também arenosa, possui coloração
mais clara, pouca densidade de material arqueológico, no entanto com alta densidade de
carvões.
A cerâmica encontrada na unidade pertence à Tradição Policroma.

2 A lenha não foi contada para os PNs 303, 305, 317, 319, 323 e 325, por isso este dado não consta no
gráfico apresentado.

55
Figura 75: Densidade de material cultura >4mm na fração pesada, unidade
N1000 E1000, sítio Vila Nova II.
Os resultados da quantificação do material cultural triado indicam uma correspondência
de maior concentração de carvão (lenha e parênquima) na camada natural intermediária,
onde ocorre areia de coloração mais escura (Figura 763). Nesta camada natural, entre os
20 e 70 cm de profundidade, foram encontradas cascas de castanha da Amazônia
(Bertholletia excelsa). Na camada natural mais profunda, apesar da baixa quantidade de
material cultural, incluindo carvões e cerâmicas, foram também identificados fragmentos
de carvão de castanha da Amazônia.

Figura 76: Densidade de material cultural 2-4 mm na fração pesada, unidade


N1000 E1000, sítio Vila Nova II.

Sítio Floresta, médio rio Unini


Localizado na margem direita do rio Unini, o sítio possui aproximadamente oito hectares
encontrando-se próximo a foz do rio Papagaio. (Lira 2009: 45, apud Lima, 2012:37). O

3 A lenha só foi contada para os Pns 104 e 112 e por isso não consta na figura do material cultural de 2-4
mm, unidade N1000 E1000.

56
sitio se destacou dos outros contextos pelo grau de visibilidade que apesar de baixa se
comparada aos sítios da Amazônia Central, o mesmo é significativamente maior que os
outros no rio Unini. Outro destaque é a circunferência de alguns vasilhames que afloram
na superfície próxima da área de barranco (Lira, 2009a: 45, apud Lima, 2012: 38).
Sua escavação também ocorreu por conta do projeto Rio Negro/Unini, que foi parte
integrante de uma campanha de campo realizada pelo Projeto Amazônia Central da
coordenação do Prof. Dr. Eduardo Góes Neves.
O estudo da composição das amostras do sítio ocorreu nas seguintes unidades: N: 1140
E: 900, N: 1100 E: 999 e N: 989 E: 945

Unidade N: 1140 E: 900


A unidade de 1m² está localizada próxima do campo de futebol comunitário. Possui relevo
com suave declive sendo alocada no setor Oeste (W) do sitio. Sua abertura para
escavação se deu por se tratar de uma área menos exposta à ação do rio e serviu como
unidade de controle (Lima, 2014).

Figura 77: Perfil leste da unidade N: 1140 E: 900, sítio


Floresta

No desenho acima de perfil leste (Figura 77) podemos observar diferentes pacotes de

57
terra preta desde a coloração escura a mais clara. A camada superficial ou camada V é
composta de sedimento, raízes e carvão. Sua coloração é muito escura, de acordo com o
livro de cores Munsell é 10YR 3/3 “Dark Brown”.
A camada IVa é mais espessa que a anterior. Ela é composta de material cerâmico (em
baixa quantidade) e raízes e se inicia uma feição na mesma. Sua coloração e mais clara
que a camada anterior sendo de cor 10 YR 2/1 “Dark Yellowish Brown“.
A camada IIIa é uma camada arqueológica por conter cerâmica em grande quantidade,
terra de coloração muito escura, carvão e bolotas de argila, além da continuação de uma
feição que foi observada ainda na camada superior.
A camada II foi chamada de transição entre o arqueológico e o estéril. Contem baixa
densidade de cerâmica e muitos carvões e sua coloração é mista: 10YR 2/4 “Dark
Grayish Brown“.
A camada I foi denominada arqueologicamente estéril por ser composta por latossolo,
solo compactado e de coloração bem mais clara que as camadas anteriores (10 YR 7/1
“Light Gray“). Nessa camada foi observado o final da feição que vinha ocorrendo desde a
camada IVa. Não houve analise das amostras de solo dessa camada.

Figura 79: Porcentagem de macrovestígios


Figura 78: Quantidades de macrovestígios >4 >4 mm por camada, unidade N1140 E900,
mm por nível, unidade N1140 E900, sítio sítio Floresta.
Floresta.

Nessa unidade podemos observar maior quantidade de carvão entre os níveis de 50 a


100 cm sendo também uma elevação na quantidade de parênquima entre 60-80 cm de
profundidade que corresponde à quantidade elevada de cerâmica como indicado na
descrição das camadas (Figura 78 e 79). Esses níveis 60-80 pertencem à camada natural
de terra preta (camada III). Os níveis de 80-100 cm possuem carvão lenhoso,
parênquima, cerâmica e uma terra clara que pode sugerir um uso distinto do espaço
anterior à camada de terra preta. Lembrando que os carvões lenhosos da peneira >4 mm
foram contabilizados. Diferente do que aconteceu na peneira 2-4mm (não foram). Porem,
identificamos entre os vestígios vários parênquimas e a ocorrência de sementes não
carbonizadas em alguns níveis (figura 80). As sementes não carbonizadas, oriundos da
vegetação moderna, tem distribuição limitada aos níveis mais superficiais que serve de
boa indicador que qualquer mistura do solo tem ocorrido perto da superfície e não a
profundidade dentro da camada arqueológico de terra preta.

58
Figura 80: Macrovestígios <4 mm por nível, unidade N1140
E900, sítio Floresta.

Unidade N: 1100 E: 999,5


A unidade N 1100 E 999,5 esta localizada em área de declive, próxima ao barranco que
margeia o rio em frente à comunidade. Sua escavação foi motivada pela evidencia de um
pacote de sedimento escuro que inicio aos 50 cm de profundidade, nos trabalhos de
tradagem. Tal evidencia seguiu a um metro de profundidade no limite da tradagem.
Também os comunitários informaram sobre a presença de material cerâmico em grande
profundidade evidenciado pela queda do barranco (Lima 2014). Com a escavação de uma
unidade de 1m² encontrou que o pacote arqueológica foi até 170 cm. No seu perfil foi
observada cinco camadas com coloração distinto (Figura 81).
Na camada VII ou camada de superfície sugeriu-se que sua formação ocorreu por conta
de deposição aluvial. Ela é composta por sedimento da textura argilo-siltosa e contem
pouco material cerâmico e carvão.
A camada VI com solo escuro, pouco compactado, de textura argilo-siltosa e coloração
10YR 3/3 “Dark Brown”. Sendo a camada com maior ocorrência arqueológica no que diz
respeito à cerâmica e carvão.
A camada III considerada de transição entre a camada superior e inferior (IV e I), bastante
compactada, com pouco material cerâmico e muitos carvões.
A camada II também é camada de transição sendo de coloração 7/5 YR 5/8 “Strong
Brown”, com poucos fragmentos cerâmicos.
A camada I é arqueologicamente estéril formada por argila branca com coloração 7/5 YR
8/1 “White”. Nas amostras analisado em laboratório somente encontrou algumas carvões
neste contexto (Figura 82).

59
Figura 81: Perfil da unidade N: 1100 E: 999, 5, sítio Floresta.

Figura 82: Quantidade de macrovestígios >4 Figura 83: Porcentagem de macrovestígios


mm por nível, unidade N1100 E999, sítio >4 mm por camada, unidade N1100 E999,
Floresta. sítio Floresta.

O material tratado das amostras de solo da peneira >4mm foi lítico, carvão lenhoso e

60
parênquima. Sendo a maior ocorrência de parênquima nos níveis 80-100 cm com um
pequeno pico no nível 140-150 cm (Figura 82). Já o gráfico, figura 83, com porcentagem
dos materiais culturas por camada indica a predominância de carvão lenhoso nas
camadas VII, VI e I. (Obs. As camadas II e III não foram incluídos no gráfico por não
tiverem amostras exclusivamente proveniente dos seus contextos.)

Figura 84: Quantidade de macrovestígios <4mm por


nível, unidade N1100 E999, sítio Floresta.

Nas peneiras de 2-4mm e 0,5-2 mm foram analisados líticos e parênquimas; o carvão


lenhoso não foi contabilizado mesmo estando presente (Figura 84).
Foi observado que as quantidades de vegetal com tamanhos menores que 4mm cai
abruptamente após 130 cm de profundidade que conforme com o fim da camada VI. Os
picos e ocorrência de material orgânico e parênquima observados na amostra de >4 mm
não estão evidentes. A distribuição da cerâmica nessa unidade foi regular entre os 50 e
100 cm de profundidade (Lima 2014) correspondendo à camada VI enquanto a camada
VII quase não apresentou material arqueológico. Observamos que as quantidades de
carvão e parênquima nos depósitos não varia conforme as quantidades de cerâmica,
sendo que ocorrem na camada VII com quase as mesmas quantidades quanto a camada
VI.

Unidade N: 989 E: 945


A unidade N 989 E 945 do sítio Floresta se localiza em uma área de capoeira próxima do
igapó na porção mais a sul do sitio. Medindo 1m² a escavação se deu no topo de uma
elevação por conta de verificar se o caráter das estruturas elevadas que existem ali eram
antrópicas (Lima, 2014).
No desenho de perfil oeste podemos observar oito camadas naturais denominados: VIII,
VII, VI, V, IV, III, II e I (Figura 85)

61
Figura 85: Perfil oeste, unidade N989 E945, sítio Floresta.

A camada VIII é composta por sedimentos da textura argilo siltosa de cor 10YR6/6
“Brownish Yellow”, com granulometria fina e pouca cerâmica e carvão, sugerindo que
esse material tenha sido depositado após a ocupação pré-colombiana.
A camada VII, com coloração pouco escura 10YR 5/6 “Yellowish Brown”, aparenta ser um
horizonte A (superficial) enterrado pela camada VIII.
A camada VI tem sedimento argiloso de coloração 5YR 5/6 “Yellowish Red” e
granulometria fina. Não possui material arqueológico.
A camada V é de formação heterogênea composta por tabatinga branca, sedimento
pertencente à camada VI e silto argiloso com coloração mista de 5 YR 5/8 “Yellowish Red”
e 7, 5 YR 8/1 “White”. A cerâmica e o carvão existente aparentam pertencer a um contexto
secundário.
A camada IV tem uma concentração de carvão e cerâmica possivelmente em contexto
primário da sua própria deposição. O sedimento possui textura argilosa com grãos finos e
coloração 7YR 3/3 “Dark Brown”.

62
A camada II tem limite difuso e sedimento com textura silto argilosa e coloração 7.5 YR
3/2 “Dark Brown”. Possui muita cerâmica e carvão com distribuição desigual.
A camada I é arqueologicamente estéril, de coloração mosqueada, predominando o 7.5
YR 5/8 “Strong Brown”.

Figura 86: Quantidade de macrovestígios >4mm Figura 87: Porcentagem de amostras >4 mm por
por nível, unidade N989 E945, sítio Floresta. camada, unidade N989 E945, sítio Floresta.

Dos materiais analisados das amostras de sedimentos na peneira 4>mm foram carvão
lenhoso e parênquima. Os maiores densidades de vegetal ocorre nos níveis 20 a 40 cm e
nos níveis 210 a 240 cm (Figura 86). Os níveis 120-150 cm não tem amostras. As
camadas onde foi possível isolar uma amostra a si pertinente entraram no calculo de
porcentagem (Figura 87) onde é possível observar a assentia de padrão associado os
depósitos arqueológicos das camadas II e V. Além do gráfico da figura 87 que indica o
percentual regular entre as últimas duas camadas dessa unidade.
Em termos do sítio Floresta, essa unidade é a mais profunda com material arqueológico
enterrado, principalmente na profundidade de 120 cm. A quantidade de cerâmica é
razoavelmente constante ate 180 cm a partir de onde há uma queda, depois continua
constante ate o 270 cm com pequeno pico em 210-220 cm (Lima, 2014). Mesmo faltando
algumas amostras entre 120-140 cm, quase não aparece vegetal nos sedimentos
analisados, as quantidades são incrivelmente baixas. No entanto, carvões foram
observados durante a escavação da unidade. A quantidade de carvão esta relativamente
elevada nos níveis 210-240 cm. Em conjunto com a datação mais antiga a permanência
das cerâmicas com as concentrações elevadas de carvão sugere-se uma ocupação mais
antiga cuja composição arqueológica é distinta.

Figura 88: Quantidade de


macrovestígios <4 mm por nível,
unidade N989 E945, sítio Floresta.

63
Três amostras da peneira 2-4 mm foram analisado para essa unidade e os achados
seguem a mesma padrão com praticamente ausência de parênquima (Figura 88).

Sítio Lago das Pombas, médio rio Unini


O sítio está localizado a cinco quilômetros do sítio Floresta, apresentando indicações de
deposições causadas pela erosão do rio Unini. Sua superfície é composta por sedimento
siltoso além de fragmentos cerâmicos que afloram em algumas partes. Na margem é
possível observar o indicador de presença aluvial ou fenômeno das terras caídas. Seu
limite com o rio e formado por reentrâncias. E suas elevadas terras se destacam na
paisagem do relevo.
Sua escavação ocorreu por conta do projeto Rio Negro/Unini, que foi parte integrante de
uma campanha de campo realizada em 2009 pelo Projeto Amazônia Central da
coordenação do Prof. Dr. Eduardo Góes Neves.
No laboratório, as amostras de solo pertencentes à unidade Norte 1022 Leste 1011 foram
analisadas por meio de triagem (separação de sedimento, material cultural e vegetal) na
qual foi possível percebermos materiais como líticos, cerâmicas com tamanhos variados
entre 1 e 2 centímetros, material orgânico carbonizado e não carbonizado (vegetal). De
acordo com as fichas de escavação, essa unidade esta situada próximo de um campo de
futebol pertencente à comunidade local. A escavação dessa unidade segundo a ficha
mediu 1x1 metro sendo interligada a outra unidade de mesmo tamanho que recebeu as
coordenadas N: 1021 E: 1011. Contudo, só coletaram amostras de sedimento que deram
origem os materiais que foram analisados na unidade N: 1022 E: 1011.
No desenho de perfil da face leste do buraco de escavação, é possível observar
diferentes pacotes de terra preta distribuídos horizontalmente sobrepondo o latossolo
sendo diferenciados em cinco camadas: V, IV, III, II e I alcançando dois metros de
profundidade (Figura 89).
A camada V é superficial e pós-ocupacional. Possui baixa densidade de carvão e solo
areno-argiloso com cor da tabela Munsell: 10 YR 4/2 ‘Dark Grayish Brown’.
A camada IV é definida como arqueológica por ser composta de terra preta, grandes
quantidades de carvão e cerâmica, tendo solo areno-argiloso e coloração 10 YR 3/1 ‘Very
Dark Gray’.
A camada III é definida como camada arqueológica com solo antropogênico, entretanto
apresentando baixa densidade cerâmica. Tem grande quantidade de carvão, solo areno-
argiloso e coloração 10 YR 4/2 ‘Dark Graysh Brown’.
A camada II é denominada arqueológica por apresentar terra preta com alta densidade de
cerâmica, carvão e a presença de material lítico. O solo é areno-argiloso com coloração
10 YR 3/1 ‘Very Dark Gray’.
A camada I é latossolo estéril, sem presença de materiais arqueológicos, mais com
percolações de solo mais escuro da camada superior. O latossolo é areno-argiloso e a
coloração é 10 YR 6/6 'Brownish Yellow'.

64
Figura 89: Perfil leste, unidade N1022/1021 E1011, sítio Lago das Pombas.

A datação da ocupação arqueológico do sítio Lago das Pombas foi realizada a partir do
caraipé na cerâmica (Lima, 2014). Cerâmica da profundidade 140-150 cm (camada II) deu
uma data de 210 ± 30 DC. O sítio Lago das Pombas é composto por duas ocupações
distintas nas camadas II e IV (Lima, 2012 p: 62).

Analise das amostras no laboratório


A pesquisa de campo do sitio Lago das Pombas sugeriu uma analise no laboratório que
ajudasse a compreender melhor a questão relacionada entre as duas ocupações com
pacotes de terra preta (Lima, 2014). De acordo com a figura acima, essas camadas de
ocupação, II e IV, encontram-se separadas por uma camada com solo menos escuro.
Contudo, procuramos confirmar se as amostras do material triado dessas camadas se
tratam dos mesmos tipos de deposições.
Podemos observar a distribuição por nível entre os macrovestigios distribuídos entre
parênquima, carvão lenhoso e lítico, que foram triados da peneira >4mm (Figura 90 e 91).
Tal distribuição é possível perceber também entre o gráfico de porcentagem ao lado
mostrando a "dispersão” do material por camada. Comprovando que entre a camada IV E
II, a porcentagem entre o material coletado é praticamente a mesma.

65
Figura 90: Quantidade de macrovestígios Figura 91: Porcentagem de macrovestígios >4
>4 mm por nível, unidade N1022 E1011, mm por camada, unidade N1022 E1011, sítio
sítio Lago das Pombas. Lago das Pombas.

Nesse sitio, um dos fatores que mais nos chamou atenção foi o lítico. Isso aconteceu por
conta de termos identificados algumas ferramentas conhecidas como dente de ralador na
camada II. Além da frequência de lascas (lítico) em outras camadas.
O material lítico e carvão lenhoso foram recuperados das amostras de sedimento ao
longo do perfil. Notamos que a camada III tem menor concentração de parênquima do
que as camadas II, IV e V, camada essa que mais apresentou parênquimas. Mostrando
uma indicação do tipo de atividades que deram origem os depósitos.
Os gráficos abaixo de relação aos macrovestígios distribuídos entre parênquima e lítico
por nível, Figuras 92 e 93, mostram a mesma proporção de quantidade por nível que o
gráfico da Figura 90.

Figura 92: Quantidade de macrovestígios Figura 93: Quantidade de líticos <4 mm


<4 mm por nível, unidade N1022 E1011, por nível, unidade N1022 E1011, sítio Lago
sítio Lago das Pombas. das Pombas.

O parênquima, sendo vestígio em grande parte de comida, ocorre com maior frequência
em áreas de descarte de lixo domestico. O mesmo pode ocorrer com a cerâmica devido à
associação ao alimento. Contudo, nessa unidade de escavação, tal associação não foi
diferente. Nela, podemos perceber que o mesmo pico onde ocorreu o parênquima (50-60
cm) e (90-100 cm), esteve ligado de certa forma ao pico de densidade cerâmica (60-70
cm) e (110-120 cm) (Lima, 2014). Ou seja, todos pertencentes às camadas IV, III e II.
Indicando dois momentos distintos na estratigrafia do sítio (idem). Apesar da camada III
ao que parece seus vestígios pertencer às camadas IV e II.
Com isso, sugerimos que as terras pretas com colorações mais escuras foram criadas

66
dos dejetos das ocupações. Como já mencionado os depósitos que ocorrem na camada
III são de origem humana porem, de outras atividades deposicionais. Bem diferente da
camada II cuja frequência desses macrovestigios e maior.
A camada I foi considerada na descrição de campo como estéril por não apresentar
material arqueológico (Lima, 2014). Entretanto, a amostra tratada em laboratório
apresentou um traço de vestígios sendo quatro líticos e um carvão.

Sítio Claudio Cutião, rio Pardo, Presidente Figueiredo


Os materiais do sítio de Claudio Cutião foram triados em laboratório, combinando o
material retirada ao olho nu com o material da peneira molhada de 4 mm para ter a
totalidade dos materiais de cada contexto. No primeiro momento organizou-se pelos
níveis artificiais de 10 cm.
Na Trincheira 1, quadra Q, localizada na elevação da micro-topografia, observou-se que
as maiores quantidades de cerâmica, lítico e carvão ocorrem entre 50 e 70cm de
profundidade (Figura 94). A concentração corresponde aos sedimentos com colorações
escuros, conhecido com terra preta de índio. Abaixo dessa concentração encontrou-se
líticos, carvões e um número mínimo de cerâmico que deveria ser o primeiro momento de
ocupação do sítio no qual o sedimento não fosse terra preta.

Figura 94: Quantidade de material cultural >4 mm na unidade Trincheira 1,


Quadra Q, sítio arqueológico Claudio Cutião.
Na unidade E6991 N9879 observamos também que as concentrações de material
arqueológico estão em profundidades. No caso as cerâmicas e líticos ocorrem
principalmente entre 40 e 100 cm (Figura 95).

67
Figura 95: Quantidade de material cultural >4 mm na unidade E6991 N9879,
sítio arqueológico Claudio Cutião.

Material cerâmica
Com a divisão do material cerâmica do sitio entre os elementos do vasilhame e estado de
decoração é possível procurar distinções entre as ocupações do sítio e as unidades de
escavação. A unidade Trincheira 1, Quadra Q tem maior densidade de fragmentos
cerâmicas (Figuras 96 e 97). Observamos que entre 10% e 20% do material cerâmica
tem decorações sendo que as proporções estão ligeiramente maiores nas camadas mais
recentes (Figuras 98 e 99).

68
camada B

camada C
ceramica
litico
camada D carvao lenhoso
parênquima
vegetais não carbonizados

camada E

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Quantidade / 10 litro

Figura 96: Densidade de material cultural >4 mm na unidade Trincheira 1, Quadra Q, sítio
arqueológico Claudio Cutião.

camada B

camada C
ceramica
litico
camada D carvao lenhoso
parênquima
vegetais não carbonizados

camada E

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Quantidade / 10 litro

Figura 97: Densidade de material cultural >4 mm no sítio arqueológico Claudio Cutião, unidade E6991
N9879.

Comparando as cerâmicas entre os níveis de escavação não percebemos diferenças na


distribuição de material decorada. As valores, aparentemente diferente são de níveis onde
encontrávamos poucos vestígios, influenciando as porcentagens.

69
0% 20% 40% 60% 80% 100%

0-10

10-20

20-30

30-40
Profundidade (cm)

40-50
Total Sem decoração
50-60 Total Decorado

60-70

60-65

65-70

70-80

80-90

Figura 98: Distribuição de cerâmica entre fragmentos com e sem


decoração >2cm no sítio arqueológico Claudio Cutião, unidade
Trincheira 1, Quadra Q.

0% 20% 40% 60% 80%100%

10-20

20-30

30-40

40-50
Profundidade (cm)

50-60
Total Sem decoração
60-70 Total Decorado

70-80

80-90

90-100

100-110

110-120

Figura 99: Distribuição de cerâmica entre fragmentos com e sem


decoração >2cm no sítio arqueológico Claudio Cutião, unidade E6991
N9879.

70
Carvões
As duas unidades tem carvões em todas as camadas culturais (Figuras 100 e 101). Até
tem carvão abaixo do nível habitacional da unidade Trincheira 1, Quadra Q, a camada E.
Associado essa encontra-se muito pouco carvão de parênquima. Enquanto nas camadas
ocupacionais das duas unidades chega ter até 25% de carvão não lenhosa. Lembramos
que na unidade E6991 N9879 a camada E continua sendo contexto cultural.

Figura 100: Divisão de carvão >4 mm por camada, unidade E6991 N9879, sítio Claudio Cutião.

Figura 101: Divisão de carvão >4 mm por camadas, Trincheira 1 Quadra Q, sítio Claudio Cutião.

71
Resultados: Coleção de referência
Um dos objetivos deste trabalho foi construir uma coleção de referência de material
vegetal carbonizado para comparação com os carvões oriundos dos sítios arqueológicos
analisados.
Segundo Nesbitt et al. (2003), o número crescente de profissionais da área de
arqueobotânica tem aumentado a demanda por coleções de referência. Para a Amazônia,
no entanto, não foram encontrados bancos de dados desta natureza na literatura da área.
Assim, a confecção de tal coleção se fez fundamental para a identificação das amostras
de carvões analisadas no decorrer deste trabalho. De fato, segundo Nesbitt (1991), “não
há substituto à observação do material moderno e antigo, lado a lado, especialmente se a
dissecção é necessária para confirmar a identificação”. Este é o caso de boa parte do
material por nós analisado, já que este ocorre no sedimento muitas vezes já fragmentado.
A identificação correta dos tecidos carbonizados e da estrutura interna do material muitas
vezes depende de uma coleção de referência composta por materiais modernos
carbonizados, passíveis de fragmentação, em que seja possível observar a organização
interna dos tecidos preservados durante o processo de queima.
A coleção de referência construída durante a realização deste projeto é composta de 121
espécimes. O número de espécies botânicas é um pouco menor (cerca de 100 espécies
vegetais), tendo em vista que algumas espécies compreendem duas entradas na coleção
de referência, separadas entre as diversas partes do corpo vegetal (Figuras 102 e 103).
Juntando nossas vozes às de diversos profissionais da área (Nesbitt et al., 2003;
Beaudoin, 2006), reiteramos que é necessário um maior fomento à continuação e
enriquecimento da criação de coleções de referência de vegetais carbonizados robustas
que sirvam de base aos trabalhos de paleoetnobotânica. Tal necessidade se faz ainda
mais urgente na Amazônia, devido ao seu grande potencial arqueológico e à escassez de
instrumentos como este.

Coleta de material botânico em campo


A coleta de material botânico em campo tem diversas finalidades. Em primeiro lugar, para
o estudo da paleoetnobotânica é importante conhecer a vegetação ocorrente na região
dos sítios estudados. As espécies encontradas, especialmente as espontâneas, podem
demonstrar alguma continuidade com a vegetação ocorrente durante as ocupações
passadas. Por este motivo, muitas das espécies encontradas nos sítios no presente foram
também coletadas para a elaboração da coleção de referência juntamente com os ramos
para posterior herborização. A importância da coleta de ramos para herborização é
ressaltada por Nesbitt (1991), neste caso para facilitar a identificação das plantas que
compõem a coleção de referência. Ele recomenda a associação da coleção de referência
com exsicatas depositadas em um herbário local. Em segundo lugar, além de compor
uma base de referência para identificação dos carvões encontrados no registro
arqueológico, as espécies coletadas em campo são fundamentais para a detecção de
possíveis contaminações no registro, especialmente nos níveis mais superficiais.

72
Figura 102: Espécimes na coleção de referência.

73
Figura 103: Espécimes na coleção de referência, continuação.

Panorama da vegetação no sítio Bela Vista – Presidente Figueiredo:


Este sítio encontra-se em uma paisagem completamente antropizada. As escavações
foram realizadas em uma área utilizada pelos moradores para a plantação de roças. Além
do cultivo mais abundante, a mandioca (Manihot esculenta), são encontrados também
maxixe (Cucumis anguria) e outras cucurbitáceas cultivadas. A espécie ruderal jurubeba
(Solanum paniculatum) é extremamente abundante em todo o sítio. Moitas de arbustos de
diversas espécies de Piperaceae também são abundantes no local. Concentrações de
palmeiras, especialmente de pupunheiras (Bactris gasipaes) são encontradas em vários
locais do sítio. Algumas tradagens foram realizadas em áreas de vegetação mais densa
(capoeiras). Várias espécies foram coletadas, muitas delas férteis. Dentre elas, existem

74
Inga, aráceas, heliconiáceas e asteráceas. Uma espécie de Passifloraceae bastante
incomum foi coletada na região de roças.
Neste sítio, foram coletadas 23 espécies botânicas.

Panorama da vegetação no sítio Claudio Cutião - Presidente Figueiredo:


O sítio Claudio Cutião encontra-se em uma área de cultivo abandonada recentemente.
Nos arredores da área escavada, próximo à abertura da trincheira, ainda podem ser
encontrados alguns espécimes de Manihot esculenta (mandioca) e algumas paisagens
típicas de roças, com troncos queimados, grandes palmeiras frutíferas e muitas
goiabeiras. Próximo à trincheira, também é muito comum uma associação de Costaceae,
Solanum paniculatum (Solanaceae - jurubeba), Heliconiaceae e Piperaceae (menos
comum). O gênero Costus (Costaceae) é extremamente abundante em todo o sítio. Um
pouco mais afastado da trincheira, há uma construção em ruínas, onde ocorre uma
associação de Verbenaceae, Melastomataceae, goiabeiras, Solanaceae e Cyperaceae.
Próximo a esta região, também ocorrem samambaias, embaúbas, ingazeiros,
pupunheiras e Piperaceae. O número de espécies úteis neste local é extremamente alto.
Muitas destas espécies se repetem e são encontradas também na trilha que liga a
trincheira à unidade E6920 N9808.
Muitas árvores frutíferas de grande porte ocorrem na região, especialmente na trilha que
liga a beira do rio até a área de escavação: taperebazeiros e mangueiras
(Anacardiaceae), urucum (Bixaceae), coqueiros (Arecaceae), abacateiros (Lauraceae),
cupuaçuzeiros (Malvaceae) são comuns. Associados a estas árvores, ocorrem muitos
abacaxis (Bromeliaceae), ingazeiros, Asteraceae, Piperaceae (várias espécies –
periquiteira e capeba) e Costaceae.
A trilha que liga a unidade E6920 N9808 à unidade E6991 N9879 apresenta uma
vegetação bem mais densa e alta. Algumas espécies indicadoras de terra-preta foram
encontradas neste trecho: a palmeira caioué e a erva rasteira pimenta-de-nambu
(Erythroxylaceae). Nesta região, ocorrem leguminosas de grande porte, Strelitziaceae
(sororoca), Cyperaceae de grande porte, a Clusiaceae Vismia sp. (lacre) e o tucumã
(Arecaceae). Próximo à unidade E6991 N9879, ocorre uma formação vegetal muito
distinta, com uma grande concentração de arvoretas da mesma espécie ocorrendo juntas
sem qualquer formação de sub-bosque.
Neste sítio, foram coletadas 35 espécies botânicas.

75
Destaques dos Resultados
O projeto é pioneira e traz novas informações sobre a alimentação pré-colombiana e a
criação de bancos de dados que servirão para futuras pesquisas. Dois alimentos
encontrados nessa pesquisa que merecem destaque são milho (Zea mays) e castanha da
Amazônia (Bertholetia excelsa).

Alimentação: Milho
Um fragmento carbonizado de espiga de Zea mays (milho) foi encontrado no sítio
Conjunto Vilas, Tefé - AM, no contexto fechado de uma feição (5, unidade S1450
E1651/52). Este vestígio é prova do manejo de milho na Amazônia pré-colombiana, já que
a planta não se reproduz independentemente no ambiente da floresta tropical ou suas
várzeas. São poucas as ocorrências documentadas de vestígios de milho na Amazônia
brasileira e nas terras baixas da América do Sul. Entretanto, é rara a sua preservação
como carvão já que o que o grão e a espiga são órgãos frágeis (Figura 104). O contexto
no qual a espiga de milho foi encontrada ainda será datado e os resultados trarão
informações sobre a cronologia da introdução e intensificação do plantio deste cultivar na
região estudada. Também as cerâmicas encontrados no mesmo contexto estão sendo
analisadas para saber se pertencem a fase Caiambé ou a fase Tefé, respectivamente das
tradições borda incisa e policromia. Sendo que as tradições são de ampla dispersão,
ocorrendo por outras áreas da Amazônia, servem de ferramenta para avaliar a associação
entre populações de diversas regiões e suas praticas.

Figura 104: Fragmento de Zea mays encontrado


no sítio Conjunto Vilas, Feição 5, 90-100cm,
visto de 3 lados.

Alimentação: Castanha
Castanha da amazônia (Bertholetia excelsa) é uma arvore com baixa diversidade genética
que para nascer e se estabelece depende das aberturas na floresta formados por quedas
de arvores ou coivaras. O agente natural de sua dispersão é a cutia, entre tanto ação
humana é proposto com uma dos fatores responsável pela ocorrência de castanhais
(Shepard & Ramirez 2011). As evidencias arqueológicas de vestígios de castanha nos
sítios dos rios Negro, Unini e Pardo mostram a história da utilização desse especie por
grupos humanas, correspondendo com as evidencias de Roosevelt e colaboradores
(1996) para ocupações antigas no sítio Pedra Pintada no baixo rio Amazonas. Ademais a
predominância de castanha nos sítios do baixo rio Negro é sugestivo de praticas de
manejo.
Os vestígios de castanha da amazônia encontrado no médio Rio Negro estão associados
com cerâmicas da tradição Borda Incisa. No sítio de Floresta as unidades com os
vestígios não estão datadas diretamente. No sítio Lago de Pombas ocorrem nos níveis
com profundidades entre 90 e 120 cm e datada em 230-390 d.C.. Os sítios do baixo rio

76
Negro, Vila Nova I e Vila Nova II, apresentam amostras com a maior predominância de
castanha, respetivamente com cinco e oito fragmentos (lembrando que um baixo volume
de sedimento foi processado) (Figura 105). Enquanto não datadas por radiocarbono, as
cerâmicas nos dois pertencem a tradições diferentes que geralmente se consideram como
marcadores temporais. Isso mostra a longa duração do seu aproveitamento na região. A
região de Presidente Figueiredo, ao leste do rio Negro, também apresenta vestígios de
castanha no sítio Claudio Cutião. O uso deste alimento esta demonstrada em uma área
fora da proposta região da sua origem e que hoje continua como local de sua extração
(Figura 106).

Figura 105: Fragmentos de Bertholetia excelsa


encontrados no sítio Vila Nova II, baixo rio Negro,
visto de dois lados.
Região e sítio Sedimento Ocorrência de Ocorrência de
analisado (l) milho castanha
Médio rio Solimões
Conjunto Vilas 332 X -
Baixo rio Negro
Vila Nova I 44 - X
Vila Nova II 52 - X
Médio rio Unini
Floresta 164 - X
Lago das Pombas 52 - X
Presidente Figueiredo
Cláudio Cutião - X
Bela Vista - -
Figura 106: Ocorrência dos vestígios de milho e castanha em relação ao sítios estudados
e os volumes de sedimento analisados.

Levantamento no Rio Pardo


O levantamento dos sítios arqueológicos no Rio Pardo mostrou a diversidade de
manifestações culturais em escala local, entre eles arte rupestre, fontes de matéria prima,
afloramentos rochosos sados para raladores, sítios de ocupação com densas
concentrações de material cultural associadas com alterações o matriz sedimentar (terra
preta de índio) e sítios que são visíveis como depósitos de cerâmica e lítico em contextos
enterrados por sedimentos fluviais. Percebe-se que as ocorrências e os sítios
representam uma história de ocupação com profundidade temporal, atestado na
estratigrafia do sítio Claudio Cutião e os três depósitos enterrados à beira do rio.

77
Atividades de extensão - História e Conhecimentos Tradicionais de
Povos da Amazônia
O projeto de pesquisa arquelógica estava diretamente ligada ao projeto de extensão:
História e Conhecimentos Tradicionais de Povos da Amazônia. O coordenador criou o
projeto de extensão para trabalhar com conhecimento arqueológico, contextualizado pelo
antropologia e a história da amazônia. Seu vinculo com o Museu Amazônico-UFAM e o
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social-UFAM permitisse que o projeto
aproveitasse dos conhecimentos de outros profissionais, professores e alunos. E através
dessa equipe a extensão em arqueologia foi levada para mais municípios do que
contemplada pela pesquisa arqueológica. O projeto foco a maioria das suas ações para
coincidir com o mês da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em 2012, 2013 e 2014.

Objetivos
O objetivo principal do projeto foi de popularizar a ciência, disseminar e democratizar a
informação sobre a história e os conhecimentos tradicionais dos povos da região
Amazônica, a partir da divulgação dos acervos do Museu Amazônico, suas exposições,
materiais etnográficos e documentais.
Para alcançar esse objetivo foram propostas quatro metas:
1. Distribuir recursos pedagógicos de divulgação científica a partir dos temas do Museu
Amazônico;
2. Envolver alunos pertencentes ao ensino médio e fundamental em atividades
pedagógicas sobre o tema;
3. Sensibilizar alunos através de uma exposição do Museu Amazônico sobre a história e
os conhecimentos tradicionais dos povos do Amazonas.
4. Envolver alunos na discussão da preservação de patrimônio histórico.

Atividades
A equipe do projeto História e Conhecimentos Tradicionais dos Povos da Amazônia
desenvolveu materiais pedagógicos especificamente para a Semana Nacional de Ciência
e Tecnologia para compartilhar informações sobre pesquisas no Amazonas em
arqueologia, antropologia, etnografia e história. Os materiais - uma cartilha, um jogo de
memória, um folder, um marcador de livro e um jogo de quebra cabeça– serviram para
despertar o interesse dos alunos e do público para essas ciências (Figura 107).
Atividades ocorreram em escolas e outros centros comunitários dos municípios de Atalaia
do Norte Itacoatiara, Humaitá, Manacapuru, Manaus, Novo Airão, Presidente Figueiredo,
Silves e Tabatinga e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Tupé, localizada em
Manaus, na Terra Indígena Filadelfia, localizada em Benjamin Constant e na Terra
Indígena Umariaçu II, localizada em Tabatinga.

78
Figura 108: Aplicação do jogo de memória,
Presidente Figueiredo, 2012.
Figura 107: Materiais didáticos produzido pelo
projeto em 2012.

A roteira básica das atividades comum pelo projeto como todo foi: uma breve palestra,
visita a exposição de pôsteres e recebimento de exemplares dos materiais pedagógicos
(Figuras 108, 109, 110, 111 e 112). As apresentações e palestras foram diferenciadas
conforme as faixas etárias: ensino primário, ensino fundamental, ensino médio, ensino
magistral e educação de jovens e adultas (Figura 113).

Figura 109: Palestra socioeducativa, Presidente Figura 110: Exposição de banners, Itacoatiara,
Figueiredo, 2013. 2013.

79
Figura 111: Entrega de material didático, Novo Airão, Figura 112: Explorando os banners, Atalaia do
2013. Norte, 2013.

Figura 113: Conhecimento tradicional retratado por alunos do primeiro ano, Atalaia do Norte, 2013.

Resultados alcançados
Em 2012, a equipe do projeto "História e Conhecimentos Tradicionais dos Povos da
Amazônia" desenvolveu materiais pedagógicos especificamente para a Semana Nacional
de Ciência e Tecnologia para compartilhar informações sobre pesquisas no Amazonas em
arqueologia, antropologia, etnografia e história. Em 2013, a equipe do projeto “História e
Conhecimentos Tradicionais dos Povos da Amazônia, ações em cinco municípios”

80
reeditou os materiais para sua aplicação durante a Semana Nacional de Ciência e
Tecnologia. Em 2014, a equipe do projeto “História e Conhecimentos Tradicionais dos
Povos da Amazônia, ações na zona rural” retomou edições das materiais didáticos,
incluindo mudanças ao arte gráfica da cartilha junto o ilustrador original. Os materiais -
uma cartilha, um jogo da memória, um folder e um marcador de livro – serviram para
despertar o interesse dos alunos e do público para essas ciências. A equipe também
reeditou os pôsteres utilizados na exposição de divulgação cientifica e criou fantoches
para usar em teatro infantil.
O projeto procurou ampliar o conhecimento dos alunos e comunitários acerca dos saberes
das populações tradicionais da Amazônia. Diante disso, estes conhecimentos foram um
dos focos do material didático e de divulgação. Saberes destacados incluíram o uso de
recursos da floresta na forma de medicamentos, a tecnologia de extração do veneno da
mandioca-brava e as tecnologias utilizadas na produção de cerâmicas e cestarias.
A temática de arqueologia foi bem recebida por alunos da zona rural que conhecem sítios
de habitação antiga conhecidos como terra preta de índio. Quando perguntamos o que é
terra preta eles associavam o lugar com roças ou plantios. Entretanto os alunos que
andavam por área de terra preta sabiam dos cacos, mas não sabiam da importância da
sua antiguidade ou utilização, assim foi possível conversar sobre sua origem em potes e
vasilhames indígenas e associação direta com os lugares de velhas moradias. Muitos
ficaram espantados quando provocados a pensar que já tinham pisados em uma aldeia
indígena. Assim, os alunos aprenderam sobre o patrimônio histórico existente abaixo dos
sítios de suas famílias, parentes ou vizinhos, sendo que sensibilização sobre a existência
deste patrimônio serve como um passo para sua preservação.
Em 2012 as atividades foram conduzidas no município de Presidente Figueiredo e
envolveram mil e seiscentos e dois (1.602) alunos do ensino primário, ensino fundamental
e educação de jovens e adultas.
Em 2013 as atividades envolveram cinco mil e trita e um (5.031) alunos do ensino
primário, ensino fundamental, ensino médio, ensino magistral e educação de jovens e
adultas.
Em 2014 a participação foi excelente com o envolvimento de quatro mil e quinhentos e
vente e cinco (4.525) alunos. Também a qualidade das ações superou as de 2012 e 2013.
Os membros da equipe que integraram pela segunda ou terceira vez tiveram mais
experiencia com o material didática e desenvolvendo atividades nas escolas. Os alunos
contemplados passaram mais tempo trabalhando com atividades do projeto que gerou
discussões mais profundas sobre as temáticas. As reflexões e conversas com os alunos
foram imprescindível para trabalhar com a meta, "Envolver alunos na discussão da
preservação de patrimônio histórico", novo ao projeto de 2014. A atenção dada essa meta
diminuiu a quantitativa de participação global no projeto.
Em 2015 ocorreram ações pontuais em comunidades no Presidente Figueiredo onde
ocorriam atividades de campo arqueológico.
O projeto “História e Conhecimentos Tradicionais dos Povos da Amazônia, ações na zona
rural” também foi diretamente divulgada para público de Manaus através da exposição
temporário no Museu Amazônico "Arqueologia - Descobrindo os Conhecimentos
Tradicionais dos Povos da Amazônia". Vislumbramos essa oportunidade como meio de
atingir as metas do presente projeto mesmo não localizada na zona rural. A exposição,
que cassou extensão e pesquisa, tive duração da dia 17 de novembro de 2014 até 17 de
janeiro de 2015. O projeto de pesquisa "Alimentação, manejo da terra e cultura: uma

81
abordagem paleoetnobotânica da pré-história indígena no nordeste do Estado de
Amazonas ", estava diretamente ligada ao conhecimento do patrimônio arqueológico. No
âmbito da exposição houve apresentação dos diversos materiais didáticos e banners,
estações interativas utilizava os jogos de memória, quebra cabeças, e paginas para pintar
enquanto as cartilhas eram penduradas para leitura. Os materiais didáticos distribuídos na
exposição foram folders e marcadores de livro. O público alvo atingido pela exposição foi
todas as visitas ao museu ao longo dos dois meses, mais que 2.000 pessoa, e visitas por
750 alunos de escolas de Manaus.
A equipe do Museu Amazônico ficou muito satisfeita com o resultado das atividades e da
produção didática. Além disso, as ações e o preparo para o desenvolvimento das
atividades ajudaram na formação profissional da equipe, que foi exposta a maiores
informações sobre os acervos e pesquisas do Museu.
O sucesso global das atividades desenvolvidas durante a execução do projeto pode ser
indicado pela demanda dos professores de que as ações fossem repetidas em anos
subsequentes. Muitos professores e gestores solicitam recursos didáticos para poder
ensinar história e cultura regional.

Equipe envolvida
Angela Maria Araujo de Lima, Breno Rodrigo da Costa Moreira, Camila Garcia Iribarrem,
Carolina Brandão Gonçalves, Cristina Andrade Ferreira, Custódio Rodrigues, Inara do
Nascimento Tavares, Jane de Clotilde Cony Cruz, Kirna Karoleni Vitor Gomes, Lorena
Martins Castro, Luciano de Souza Silva, Marco Antônio Lima da Silva, Margaret
Cerqueira, Maria Helena Ortolan Matos, Mariana Franco Cassino, Mick Jone Nogueira de
Almeida, Myrtle Pearl Shock, Natã Souza Lima, Neon Solimões Paiva Pinheiro, Patricia
Carvalho, Raquel Wiggers, Regina Lucia de Souza Vasconcellos, Solange Mara Garcia
Iribarrem, Suzanne Lima Fernandes, Vanessa de Carvalho Benedito

82
Produção bibliográfica
A pesquisa do projeto gerou quatro comunicações em congressos, listados abaixo. Para
três desses os resumos foram publicados. Um das comunicações gerou publicação em
atas de congresso internacional. Outro artigo foi submetido para publicação e é o fonte da
secção desse relatório Amazônia e Paleoetnobotânica.

Comunicações com publicação de resumo:


SHOCK, M. P. ; LIMA, M.N. ; SILVA, F.M. Procurando comida no Amazonas através das
sementes carbonizadas de sítios arqueológicos. 2013.

SHOCK, M. P. ; MORAES, C. P. ; SILVA, F.M. ; LIMA, L. T. ; BELLETTI, J. S. ; LIMA, M.N. ;


CASSINO, M. F. ; LIMA, A. M. A. . Initial contributions of charred plant remains from
archaeological sites in the Amazon to reconstructions of historical ecology. 2013.

83
SHOCK, M. P. ; BELLETTI, J. S. ; CASSINO, M. F. ; LIMA, A. M. A. Arqueologia de plantas
na vida pré-colombiana de Tefé - Amazonas - Brasil. 2014.

Comunicação sem publicação de resumo:


SHOCK, M. P. Comidas, hábitos e culturas: contribuições da Paleoetnobotânica para

84
arqueologia amazônica. II Reunião do Sociedade de Arqueologia Brasileira, Núcleo
Regional Norte, Macapá – Amapá. 2014

Artigo publicado
SHOCK, M. P. ; MORAES, C. P. ; SILVA, F.M. ; LIMA, L. T. ; BELLETTI, J. S. ; LIMA, M.N. ;
CASSINO, M. F. ; LIMA, A. M. A. . Initial contributions of charred plant remains from
archaeological sites in the Amazon to reconstructions of historical ecology. In, Antes de
Orellana: Actas del 3er Encuentro Internacional de Arqueología Amazónica, S. Rostain
(ed.), pp.291-296. EIAA, Quito. 2014

Artigo submetido para publicação


SHOCK, M. P. ; CASSINO, M. F. ; LIMA2, A. M. A. ; LIMA, M. ; BELLETTI, J. S. ; SILVA, L.
S. ; SILVA, F. M. ; FURQUIM, L. P. Procurando comida no Amazonas através de sementes
carbonizadas em sítios arqueológicos.

85
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