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Coordenadores: Profa. Dra. Myrtle Pearl Shock, Profa. Dra. Anne Rapp Py-
Daniel
Relatório: Myrtle Pearl Shock, Mariana Franco Cassino, Angela Maria Araújo
de Lima
Dezembro
2015
1
Índicie
Resumo técnico.....................................................................................................................5
Resumo da pesquisa.............................................................................................................6
Introdução..............................................................................................................................7
Amazônia e Paleoetnobotânica.............................................................................................9
Preservação de Materiais Vegetais.................................................................................11
Metodologia..........................................................................................................................13
Prospecções arqueológicas.............................................................................................13
Escavação.......................................................................................................................13
Coleta e processamento de amostras para recuperação de amostras arqueológicas
aptos as análises paleoetnobotânicas.............................................................................14
Coleção de referência......................................................................................................16
Coleta de material botânico em campo...........................................................................17
Atividades de Campo...........................................................................................................18
Prospecções em Presidente Figueiredo..........................................................................18
Urubui I, BR 174..........................................................................................................18
Jardim Floresta, comunidade do Jardim Floresta.......................................................19
Mari-Mari......................................................................................................................20
Bela Vista.....................................................................................................................20
Igarapé do Rio Pardo, rio Pardo..................................................................................21
Alto do Dejeko, rio Pardo............................................................................................21
Roça do Seu Alberto, rio Pardo...................................................................................22
Claudio Cutião, rio Pardo............................................................................................23
Pedrais, rio Pardo........................................................................................................23
Prospecções em Iranduba e Manacapuru......................................................................26
Lago do Iranduba........................................................................................................26
Calderão......................................................................................................................26
Lago Grande................................................................................................................27
Jacurixi.........................................................................................................................27
Levantamento de sítios em Presidente Figueiredo.........................................................27
Sítio Jardim Floresta, comunidade Jardim Floresta....................................................27
Sítio Bela Vista, rio Uatumã.........................................................................................28
Sítio Claudio Cutião, rio Pardo....................................................................................28
Escavações em Claudio Cutião.......................................................................................30
Definição de áreas de intervenção..............................................................................30
Área 1: Trincheira 1.....................................................................................................30
Área 2: Unidades E6991 N9879 e E6997 N9877.......................................................32
Área 3: Unidades E6920 N9808 e E6919 N9820.......................................................34
2
Área 4: Unidade N947 E912.......................................................................................35
Área 5: Trincheira 2.....................................................................................................36
Testes fora do sítio......................................................................................................38
Levantamento topográfico...........................................................................................39
Coleções arqueológicas.......................................................................................................41
Sítios prospectados.........................................................................................................41
Sítios analisados..............................................................................................................41
Análises e resultados...........................................................................................................42
Sítio Conjunto Vilas, médio rio Solimões, Tefé-AM.........................................................42
Resultados da amostragem das camadas naturais....................................................42
Resultados da amostragem dos feições.....................................................................44
Identificações botânicas..............................................................................................46
Sumário do Conjunto Vilas..........................................................................................47
Sítio Lago do Limão, interflúvio dos rios Solimões e Negro, Iranduba-AM.....................48
Unidade N1918 E 489:................................................................................................49
Unidade N 1976 E 498:...............................................................................................51
Sítio Lago do Iranduba, interflúvio dos rios Solimões e Negro, Iranduba-AM................51
Sítio Vila Nova I, baixo rio Negro................................................................................54
Sítio Vila Nova II, baixo rio Negro....................................................................................55
Sítio Floresta, médio rio Unini..........................................................................................56
Unidade N: 1140 E: 900..............................................................................................57
Unidade N: 1100 E: 999,5...........................................................................................59
Unidade N: 989 E: 945................................................................................................61
Sítio Lago das Pombas, médio rio Unini.........................................................................64
Analise das amostras no laboratório...........................................................................65
Sítio Claudio Cutião, rio Pardo, Presidente Figueiredo...................................................67
Material cerâmica........................................................................................................68
Carvões.......................................................................................................................71
Resultados: Coleção de referência......................................................................................72
Coleta de material botânico em campo...........................................................................72
Panorama da vegetação no sítio Bela Vista – Presidente Figueiredo:.......................74
Panorama da vegetação no sítio Claudio Cutião - Presidente Figueiredo:................75
Destaques dos Resultados..................................................................................................76
Alimentação: Milho..........................................................................................................76
Alimentação: Castanha....................................................................................................76
Levantamento no Rio Pardo............................................................................................77
Atividades de extensão - História e Conhecimentos Tradicionais de Povos da Amazônia 78
Objetivos..........................................................................................................................78
3
Atividades........................................................................................................................78
Resultados alcançados....................................................................................................80
Equipe envolvida.........................................................................................................82
Produção bibliográfica..........................................................................................................83
Comunicações com publicação de resumo:....................................................................83
Comunicação sem publicação de resumo:.....................................................................84
Artigo publicado...............................................................................................................85
Artigo submetido para publicação...................................................................................85
Referencias bibliográficas....................................................................................................86
Anexo de Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos........................................................93
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Resumo técnico
Esse relatório apresenta atividades e resultados, no senso amplo, de três anos de
pesquisa do projeto Alimentação, manejo da terra e cultura: uma abordagem
paleoetnobotânica da pré-história indígena no nordeste do Estado de Amazonas. A
pesquisa começou em dezembro de 2012 com atividades com coleções existentes, assim
que houve financiamento. Intervenções arqueológicas foram contempladas entre
dezembro de 2013 e dezembro 2015 durante a vigência da portaria para qual
submetemos esse relatório. As atividades concorrentes de extensão ocorreram entre 2011
e 2014 sob o título História e conhecimentos tradicionais dos povos da Amazônia,
financiado separadamente.
A pesquisa visou análise de coleções arquelógicas existentes, levantamento em campo
para maiores amostras arqueológicas em número reduzido de sítios, trabalho com
coleções de referência para análise de vestígios botânicos e atividades de extensão. O
enfoque regional da pesquisa foi os interflúvios do nordeste do Estado do Amazonas, no
caráter do município de Presidente Figueiredo, em comparação com a Amazônia Central,
municípios de Manacapuru e Iranduba. Devido o ano de pesquisa anterior a portaria, as
coleções existentes que foram analisadas e contribuam para nossos resultados vieram
também do Tefé e o baixo Rio Negro.
A equipe arqueológica principal foi composto por Myrtle Pearl Shock, Mariana Franco
Cassino e Angela Maria Araújo de Lima. Outros profissionais arqueológicos, e de áreas
afins contribuíram, por durações menores, para as etapas de escavação, topografia e
análises estão reconhecida na capa do relatório. Os alunos e profissionais que
participaram exclusivamente das atividades de extensão estão reconhecidos na porção
específica do relatório.
Alcançamos uma grande porção das nossas metas mas a pesquisa não está finalizado,
Em conjunto com o relatório, solicitamos a renovação da portaria para mais dois (02)
anos. Haverá continuação de escavações para melhor amostrar os carvões que
contribuam ao nosso entendimento de alimentação e manejo ambiental e continuidade as
atividades de levantamento, principalmente em Presidente Figueiredo, onde uma aluna de
mestranda procura entender as relações que as comunidades e moradores tem com os
sítios e patrimônio arqueológico.
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Resumo da pesquisa
A arqueologia fornece dados para a reconstrução da alimentação pré-histórica e do
manejo humano da floresta tropical a partir de vestígios vegetais. Investigando
populações pré-históricas indígenas dos séculos IV a XV d.C. no estado do Amazonas, o
presente trabalho paleoetnobotânico, levantou dados sobre sementes e frutas
preservadas como carvões, ilustrando a preservação arqueológica das plantas, a
variedade das plantas escolhidas pelas populações através das espécies identificadas e a
importância que essas plantas tiveram na sua dieta. O conjunto de dados
paleoetnobotânicos dos sítios arqueológicos analisados demonstra praticas pré-históricas
de manejo e cultivo de plantas informando as mudanças no meio ambientes provocados
pelos habitantes.
Nos sítios analisados têm mais que cinquenta morfologias de sementes, tubérculos e
frutos, indicando uma diversidade nos recursos que foram utilizados por populações na
região. Espécies identificados incluem castanha da amazônia, milho e tubérculos. A
análise do registro arqueológico aponta para pouca exploração de milho, restrito ao calhe
do rio Solimões, e utilização sistemática de castanha da amazônia no baixo rio Negro na
altura do rio Unini e no interflúvio do município de Presidente Figueiredo. Um tubérculo
ocorre em abundância na primeira camada cultural do sítio Claudio Cutião. Isso indica que
houve exploração desse carboidrato que, em seguida, foi menos encorporado à dieta das
populações moradores do mesmo lugar. Além das diferenças em distribuição desses
espécies a sua inserção cronológica varia: o tubérculo e castanha foram explorados no
século III d.C. enquanto milho entra nos registros arqueológicos no século VII.
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Introdução
O Estado do Amazonas possui uma rica pré-história indígena sobre o qual aprendemos
cada vez mais. Uma parte desse conhecimento vem através da arqueologia. Na região do
interflúvio do Rio Solimões e Rio Negro trabalhos arqueológicos têm demonstrado que
populações sedentárias habitavam a área entre o século IV antes de Cristo e o século XVI
depois de Cristo. As pesquisas realizadas sobre as ocupações e as suas populações
abrangem conhecimentos sobre as tradições cerâmicas, a formação de solos antrópicos,
a organização espacial dos sítios, a organização social das sociedades e os modos de
enterramento, entre outros. Cada linha de pesquisa fornece informações para a
construção de uma visão global da pré-história, dos seus povos e das suas culturas. A
linha de pesquisa aqui seguida utilizou materiais de plantas preservados nos sítios
arqueológicos, em específico sementes e frutos carbonizados. Esses vestígios
paleoetnobotânicos são um fonte de informação primária sobre alimentação, utilização de
plantas industriais, modificações do ambiente e práticas de manejo de plantas, no qual a
análise dos mesmos nos informa acerca da organização social, das relações entre as
populações e a natureza, e mudanças culturais entre os habitantes ao longo da história. O
projeto foi motivado pelo interesse em responder as três perguntas expostas a seguir.
2. Que tipo de manejo ou cultivo de plantas era uma das atividades integrais das
populações humanas pré-históricas?
Para a vida sedentária registrada na pré-história de Amazonas era necessário que a
comida estivesse disponível nos arredores das habitações. Para a obtenção de plantas
eles poderiam recorrer a extração, manejo ou cultivo. Dentro das plantas nativas da
Amazônia os botânicos registram aquelas semidomesticadas ou domesticados, um
produto das escolhas das populações pré-colombianas em termos de dieta e manejo de
recursos. Também plantas exóticas, como milho, foram introduzidas na Amazônia pelo
contato com outras áreas ou povos que tinham esses cultivos. O percurso destas plantas
exóticas e o momento da sua adoção numa região podem informar sobre os processos
culturais que os trouxeram. Procurávamos saber as modalidades de manejo e cultivo
praticadas pelos habitantes da região através das espécies encontradas no registro
arqueológico e a natureza do seu crescimento. Atividades envolvidas no manejo e cultivo
de plantas indicam praticas culturais que informam sobre a organização da sociedade.
7
ambiente ao redor das habitações?
Através dos trabalhos arqueológicos sabemos que além da ocupação sedentária as
populações pré-históricas do Amazonas tiveram um grande impacto no seu ambiente. O
indicador mais visível disso são os solos antrópicos, as terras pretas de índio, que foram
criados através de ações intencionais, ou não, dos povos nos lugares de seus
assentamentos. As teorias para a utilização de áreas fora dos assentamentos incluem a
agricultura intensiva na região de várzea, cultivo de mandioca na terra firme e sustentável
manejo agroflorestal. Cada modelo de modificação ambiental também implica um modelo
econômico ligado a certos recursos vegetais e atividades humanas. Procurávamos tratar
dessas teorias como hipóteses prevendo a preferência do uso de certas plantas pelas
populações pré-históricas, que serão testadas através dos vestígios encontrados
arqueologicamente.
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Amazônia e Paleoetnobotânica
Alimentos de natureza vegetal geralmente contribuem significativamente para as dietas
humanas, não sendo limitados às fontes de carboidratos, e incluindo plantas ricas em
proteínas, vitaminas, além de temperos como a pimenta (Smith 2001). Na Amazônia,
muitas plantas nativas são comestíveis, destacando-se entre elas um grande número de
árvores frutíferas e palmeiras (Cavalcante 1972, 1974, 1979; Clement, 1999a; Clement et
al., 2010). Soma-se a estas uma variedade de plantas domesticadas, oriundas de outros
lugares da América do Sul e América Central, que foram introduzidas no período pré-
colombiano (Pearsall, 1992; Piperno e Pearsall 1998). Um passo importante para
entender uma economia humana do passado é saber quais plantas eram consumidas e
como eram adquiridas.
A Paleoetnobotânica é o ramo da arqueologia que trata, de forma direta, da relação entre
as plantas identificadas no registro arqueológico e os grupos que as utilizavam. Este tipo
de análise foi quase ausente na Amazônia brasileira até os últimos dez anos (trabalhos
excepcionais incluem Morcote-Rios e Bernal, 2001; Roosevelt 1980; Roosevelt et al.,
1996), o que resultou no uso de fontes indiretas ou projeções etnográficas para a
elaboração das interpretações acerca das economias pré-colombianas na região. Entre
tais fontes, podemos citar: trabalhos etnográficos com povos atuais (Carneiro 1983, Lévi-
Strauss 1952, Politis 1996, Posey e Baleé (eds.) 1989; Shepard e Ramirez 2011),
trabalhos de ecologia histórica sobre a composição botânica das terras pretas de índio
(Fraser e Clement, 2008; Junqueira et al. 2010), análise ecológica dos ambientes
disponíveis ao cultivo (Denevan 1998, Denevan 2006) e análises genéticas e
biogeográficas que estudam a origem e dispersão de espécies domesticadas e semi-
domesticadas (Clement 1999b, Clement et al., 2010; Vavilov, 1992).
Nos últimos dez anos, houve um aumento no número de estudos arqueobotânicos na
Amazônia, complementando, às vezes questionando, e preenchendo lacunas que existem
nas demais fontes, em particular alguns trabalhos contribuíram para a compreensão do
uso de alimentos por longos períodos. Estudos, realizados com vestígios coletados do
próprio contexto arqueológico, possibilitaram um refinamento cronológico e interpretativo,
uma vez que as amostras passam a ser analisadas de forma integrada aos demais
vestígios do sítio – cerâmico, lítico, paisagístico, pedológico etc. (Caromano, 2010;
Cascon, 2010; Mocote-Rios, 2006; Shock et al., 2014; Silva et al., 2015). Também foram
responsáveis por desmistificar a impossibilidade de preservação de vestígios orgânicos
em solos amazônicos. Evidências do uso de espécies alimentícias têm sido encontradas
através da análise de amidos, fitólitos e vestígios macrobotânicos. Entre as espécies em
destaque, podemos citar o milho (Zea mays), abóbora (Cucurbita sp.), ariá (Calathea sp.),
cabaça (Lagenaria sp.), castanha (Bertholetia excelsa), jutaí (Hymenaea parvifolia),
pitomba (Talisia esculenta), acuri (Attalea microcarpia), curuá (Attalea spectabilis), tucumã
(Astrocaryum vulgare), outras palmeiras (Arecaceae), leguminosas (Fabaceae), raízes e
tubérculos (Bozarth et al., 2009; Cascon 2010; Shock et al., 2014; Roosevelt et al. 1996).
Além de repertoriar as plantas alimentícias utilizadas, a arqueobotânica reavalia
perguntas sobre, entre outros, a domesticação das plantas, as práticas de agricultura e
manejo florestal, e as plantas não alimentares (frequentemente medicinais) que também
compõem o registro arqueológico. O quadro que temos hoje é o de acúmulo de dados –
qualitativos e quantitativos – que nos possibilitam lançar novos questionamentos e
formular novas interpretações acerca dos modelos econômicos da Amazônia pré-
colombiana. Observa-se que, como os dados não são compatíveis com os quadros gerais
(generalizantes) propostos até o momento, é necessário construir modelos alternativos de
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relevância regional.
Estudos sobre a arqueologia na Amazônia, geralmente iniciam seu embasamento nos
trabalhos de Steward e Lowie (Steward, 1948, 1949, 1950) e Meggers (1954), cujas
visões sobre as culturas das terras baixas levou à formação e consolidação do conceito
de uma Cultura de Floresta Tropical. Não faremos uma exceção, uma vez que os
elementos econômicos estão entrelaçados neste modelo geral. A proposição de que a
ocupação pré-colombiana na Amazônia era resultado da decadência de sociedades
andinas baseou-se parcialmente na ideia da impossibilidade ecológica das práticas
agrícolas nas planícies da região. Tal interpretação congregava a impossibilidade do
ambiente em manter grandes populações com a inviabilidade de complexidade
sociopolítica, mesmo sem dados diretos. Posteriormente, estudos subsequentes sobre
culturas da Amazônia propuseram modelos econômicos diferenciadas a fim de avançar
outras interpretações. Vemos nas propostas dos pesquisadores Roosevelt (1980) e
Lathrap (1970), que defenderam uma ocupação por povos sedentários e complexos, as
hipóteses da existência de populações sustentadas economicamente pelo cultivo de milho
ou mandioca. Segundo estas, a influência da ecologia tropical foi menos limitante para a
cultura. No entanto, foram adaptados modelos econômicos de regiões de clima
temperado, onde a base alimentar seria uma fonte de carboidrato explorada
intensivamente. Os arqueólogos trabalhando na Amazônia reagiram à proposta de
modelos englobantes procurando entender os processos específicos aos lugares e
culturas dos povos pré-colombianos. Especificamente no tocante às teorias sobre
economia, elaboraram modelos que visam diversas formas de conjugar o uso dos
recursos (Aiello, 2011; Barker, 2011; Hastorf, 1999; Smith, 2001; Smith e Yarnell, 2009).
Além de plantas ricas em carboidratos, como milho, mandioca e cará, notamos que a
floresta amazônica oferece recursos como castanha-da-Amazônia e diversas palmeiras
que podem ser exploradas de maneira intensiva e que mudam o possível caráter da dieta.
O uso de espécies vegetais cultivadas associado ao uso de espécies silvestres locais é
um tema recorrente nos resultados das pesquisas paleoetnobotânicas em países
próximos ao Brasil. No vale do rio Orinoco, os trabalhos de Roosevelt (1980) apontam
para uma dieta combinada de milho (baseado em análises de isótopos de esqueletos) e
outras espécies como feijão (Canavalia sp.), mandioca (Manihot sp.), palmeiras (corozo,
Acrocomia spp. ou coroba, Attalea spp.), murici (Byrsonima crassifolia), jobo ou ciruela
(Spondias mombin ou S. purpurea), alfarroba (Curatella americana), camoruco (Sterculia
spp.), cana e Cordia spp. associado a estratos cerâmicos. Perry (2004, 2005),
trabalhando nos sítios arqueológicos Pozo Azul Norte e Los Mangos Del Parguaza,
ambos no médio curso do rio Orinoco, destacou a presença de amidos em artefatos
líticos. Suas análises indicaram a presença de grãos de amido de milho ( Zea mays),
araruta (Maranta arundinace), guapo (Myrosma cannifolia), maripa (Attalea maripa), cará-
doce (Dioscorea trifida) e da família do gengibre (Zingiberaceae). A autora propôs a
existência de uma economia mista para o período estudado, nos quais tubérculos
cultivados e frutos de palmeiras coletados (estes ocorrentes no registro macrobotânico)
eram consumidos em conjunto com o milho. No Equador, uma mistura semelhante de
alimentos oriundos de cultivo e coleta é sugerida para as ocupações do período cerâmico
(Archila Montañez, 2005; Jiménez e Rostain 2014) e a antiguidade do cultivo do milho na
floresta neotropical foi atestada através da análise de pólen e fitólitos em sedimentos
lacustres de 5.300 A.P. (Piperno 1990).
Na região dos Llano de Mojos, Dickau et al (2011), levantaram dados arquebotânicos
diversos – macro e micro vestígios – nos geoglifos Granja del Padre e Bella Vista
(próximos ao rio Guaporé), e nas lomas Salvatierra e Mendoza (próximos à cidade de
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Trinidad). Em Salvatierra (Bruno, 2010), identificou 3.925 fragmentos de milho (Zea
mays), entre grãos, sabugos e embriões, além de fragmentos de amendoim, abóbora
(Curcubita sp.), algodão, pimentas (Capsicum spp.), além de endocarpos de palmeira
(Arecaceae), e sementes das famílias Amaranthaceae/Caryophyllaceae, Poaceae,
Cyperaceae, Polygonaceae, Fabaceae, Malvaceae, Plantaginaceae, Solanaceae, and
Verbanaceae. Através das análises de grão de amído e fitólito de artefatos cerâmicos e
líticos, foi possível identificar, no sítio Mendoza, estruturas de Zea mays associadas aos
raladores de cerâmica, coadores cerâmicos com presença de gramíneas (Poaceae),
ciperácias (Ciperaceae), palmeiras (Arecaceae), Heliconeae e de gêneros arbóreos. Os
mesmos resultados foram obtidos no geoglifo Bella Vista, através de análises de artefatos
líticos lascados e mós polidos, que se revelaram instrumento de processamento de milho,
pimenta, mandioca (Manihot spp.). Em Loma Salvatierra, a análise dos coadores de
cerâmica também indicaram o processamento de milho (sempre em maior quantidade),
mandioca e pimenta (Dickau et al., 2011).
11
Por outro lado, se a carbonização preserva o tecido vegetal, ela também provoca
mudanças morfológicas. A expansão, compressão ou destruição parcial do tecido vegetal
é documentada em várias espécies (Boardman & Jones, 1990, Braadbaart & Wright,
2007, Gustauffson, 2000). As mudanças também são influenciadas pela umidade do
tecido vegetal (Hather 2000). Devido a estas mudanças, a carbonização em mufla de
espécies modernas e a criação de coleções de referência é citada por Beaudoin (2006)
como um método importante de transformação dos materiais vegetais modernos em
amostras comparáveis às encontradas nos contextos arqueológicos analisados.
Concordamos com a afirmação de Nesbitt (1991) de que, “não há substituto à observação
do material moderno e antigo, lado a lado, especialmente se a dissecção é necessária
para confirmar a identificação”.
12
Metodologia
Prospecções arqueológicas
Prospecções arqueológicas são viagens feito ao campo para localizar sítios arqueológicos
e determinar seu potencial para pesquisa. Incluem visitas que registram o material que se
encontra em superfície e atividades que testem o conteúdo das camadas arqueológicas.
É frequente utilizar o conhecimento local sobre locais de terra preta de índio para achar
sítios arqueológicos.
O método mais comum para testar o conteúdo do sítio é a tradagem. Esse procedimento
realizado com boca de lobo ou trado holandês permite chegar em um metro de
profundidade. Os sedimentos retiradas com a ferramenta estão separadas em cada 20
centímetros de profundidade e os materiais culturais procurados para determinar a
profundidade do registro arqueológico. E se haver coleta dos materiais, podem servir de
base para explorar a densidade e composição dos vestígios no sítio. Profundidades
maiores que um metro podem ser alcançadas mas se sedimentos de níveis superiores
caírem podem dar resultados de vestígios onde o registro já é estéril comprometendo
qualquer análise. Profundidades estão alcançadas em escavação.
Um segundo método de teste é o buraco teste com diâmetro de 50 cm que permite uma
amostragem rápida até 80 a 100 cm com a recuperação de um maior quantidade de
material cultural. Em sítios com baixa densidade de material, um tradagem pode ser
negativo por pegar menos volume e não por falta de ocupação.
Considera-se importante determinar os limites de um sítio arqueológico e assim poder
calcular a sua área. Um limite pode ser determinado por caminhamento registrando
quando os vestígios superficiais se acabam. Entretanto uma camada de ocupação pode
se encontrar enterrado e para determinar isso necessita tradagens no estabelecimento da
área.
Escavação
Escavação permite uma investigação mais profundo sobre os depósitos, materiais
culturais, organização especial e cronologia de um sítio. Sua implantação em áreas
dispersas ou concentrada em um lugar é controlada pelas perguntas de pesquisa, assim
como o tamanho das escavações, a maneira de recuperar vestígios arqueológicos, a
metodologia para cavar e o típo de registro.
A escavação de unidades medindo 1 por 1 metro é padrão na arqueologia da Amazônia e
a mesma permite que alcance uma profundidade de aproximadamente dois metros e
possibilita sua ampliação em decorrência dos achados.
Descrição da sequência estratigráfica dos depósitos arqueológicos é essencial a sua
interpretação cultural. Aqui a nomenclatura de camada sempre refere a um depósito de
origem natural ou cultura que ocupe um espaço horizontal e uma extensão ampla. A
designação lente refere a um depósito que ocupe um espaço horizontal mas de pouco
extensão. A designação feição refere a um depósito pontual cujos limites podem ser
delimitados em três dimensões. Enquanto isso, a nomenclatura de nível esta relacionada
a divisão artificial por meio de profundidades, normalmente de 10 cm em escavação e 20
cm em tradagem. Procurava-se escavar por camada sendo com subdivisões por nível.
Assim os sedimentos e material cultural associado ao mesmo depósito podem ser
analisadas em conjunto. Entretanto, havendo mal interpretação das camadas na hora de
escavação, pode reverter ao controle vertical estabelecida por nível e sua
correspondência com o desenho de perfil (metodologia de escavação por níveis
13
artificiais).
Os métodos utilizados na recuperação de vestígios variavam em relação aos tamanhos
das aberturas das malhas, entre 0,5 e 5,0 mm, e quantidade de sedimento que foi
processado com peneira seca, peneira molhada ou flotação. Em geral o sedimento
coletada durante a escavação foi, integralmente, para a peneira molhada com malha de 4
mm ou 2 mm, respectivamente em 2014 e 2015. Haviam coletas subsequentes ao estudo
e desenho de perfil de sedimento para flotação e análise quimicas conforme as camadas.
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recuperação sem viés amostral depende de defloculantes de argila. No caso foi
empregado o químico hexametafosfato de sódio que tem vantagens por não provocar
impactos ambientais nas concentrações utilizadas e não prejudicar a possibilidade de
datação por radiocarbono (Figura 2). Após o processo de flotação as amostras estão
secos em TNT, um tecido reutilizável e sem componente orgânica, e guardados em sacos
plásticos inertes.
Em campo onde não foi possível trazer os sedimentos para o laboratório a ser flotadas
adotamos uma modalidade de processamento chamada peneira molhada em que os
sedimentos estão introduzidos a uma peneira e lavadas com água para dissolver a argila.
Como faltou bomba de água, as peneiras foram introduzidas a água e agitados sem água
transbordar sua margem e levar carvões embora (Figura 3).
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ainda separado entre duas classes distintas: “lenha”(ou carvão lenhoso), que inclui os
fragmentos de madeira carbonizada e “parênquima”(ou carvão não lenhoso), que inclui
principalmente fragmentos de sementes, frutos, tubérculos e raízes (Figura 4). A
denominação “parênquima” segue o padrão adotado em diversas pesquisas
arqueobotânicas e não é sinônimo do termo utilizado na histologia vegetal. Dentre as
amostras de tamanho entre 2 e 4 mm, foram separados os fragmentos de carvão, estes
triados entre “lenha” e “parênquima”. O material <2 mm não foi analisado. A triagem foi
realizada com o auxílio de lupa binocular. As amostras de cada classe de material em
cada classe de tamanho foram contadas e acondicionadas em sacos plásticos
devidamente identificados.
Coleção de referência
Foi confeccionada uma coleção de referência composta por diversas espécies vegetais
alimentícias atuais incluindo frutos, sementes, cipós, cascas de árvores, etc. As espécies
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foram obtidas de diversas formas, algumas em mercados da cidade de Manaus, outras
foram coletadas em ruas, quintais ou praias de cidades dos estados do Amazonas e Pará,
incluindo Manaus, Manacapuru, Balbina, Tefé, e Santarém. Enfim, algumas das espécies
foram coletadas durante os trabalhos de campo nos sítios arqueológicos escavados,
especialmente os sítios Bela Vista e Claudio Cutião, localizados no município de
Presidente Figueiredo.
As amostras botânicas foram identificadas, numeradas e catalogadas. Foram secas em
estufa e estocadas em caixa de luz. Após serem devidamente fotografadas, as amostras
da coleção de referência foram carbonizadas em forno mufla e novamente fotografadas
em seu estado carbonizado. As amostras carbonizadas foram fragmentadas, observadas
e fotografadas sob estereoscópio, e finalmente utilizadas como base para comparação
com o material arqueológico diagnóstico.
A carbonização em mufla dos espécimes modernos das coleções de referência é citada
por Beaudoin (2006) como um método importante de transformação dos materiais
vegetais em amostras mais comparáveis aos encontrados nos contextos analisados.
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Atividades de Campo
Prospecções em Presidente Figueiredo
Começou a pesquisa com uma revisão dos trabalhos publicados lembrando que o objetivo
do levantamento foi de achar sítios ocupacionais cujos sedimentos encontravam-se em
estado menos perturbadas. Procurou-se um registro de materiais orgânicos que
correspondiam a história de ocupação para investigar questões de alimentação e manejo
de plantas além das tranformações provocadas pelos homens no meio.
A região de Presidente Figueiredo foi alvo de pesquisas arqueológicas para a implantação
da hidroelétrica de Balbina. Esses trabalhos foram orientados pelo curso do rio Uatumã
onde foram registrados sítios ocupacionais e pedrais com arte rupestre. As pedrais e a
maioria dos outros sítios encontram-se inundadas pela reservatório. Não conseguimos
uma mapa georreferenciado dos sítios.
Uma linha de transmissão passou pelo município de Presidente Figueiredo e a equipe da
Msc. Tatiana Costa Fernandes registrou três sítios. Nos retornamos para ao sítio Urubui I
para avaliar sua potencial para a presente pesquisa.
O restante do levantamento foi seguindo orientações e sugestões de moradores e
professores no município. Após encontrar os sítios ao longo do Rio Pardo, o mesmo local
foi alvo de um levantamento mais intensiva, com a localizações das terras pretas
indicados pelos moradores e com procura sistemática nos pedrais, locais não
reconhecidas pelos mesmos.
Urubui I, BR 174
O sítio se encontra atrás de um prédio de armazém de distribuidora do Fogás e uma casa
(Figura 6). Em algum momento uma maquina passou pelo centro, e na beirada desse
corte encontramos um ferramento lítico (Figura 7). O sítio existente tem dimensões
pequenas, aproximadamente 50 x 20 m atrás da casa. Cerâmica também ocorre em
frente a casa e armazém, em uma área que provavelmente foi terraplanada. Devido as
construções e estrada é difícil estimar a extensão original ou seu profundidade. A maioria
das peças estão expostas nos sedimentos remexidos. Pela corte que atravessa o sítio
percebe menos que 30 cm de terra preta.
Figura 6: Localização do sítio Urubui I. Figura 7: Ferramento lítico exposto por erosão no
sítio Urubui I.
18
Jardim Floresta, comunidade do Jardim Floresta
A comunidade de Jardim Floresta fica no velho quilometragem 126 do BR 174. O sítio
homônimo encontra na beira do principal ramal, aproximadamente 1,5 quilometro leste da
rodovia. Observa dois partes do sítio, um que fica em terreno baixo e próximo a igarapé
com areia preta com extensão de 700 metros no sentido do ramal e um segundo parte no
alto de um barranco ao norte. Em ambos os partes encontra quantidades significativas de
cerâmica.
Os moradores contam que na área de areia preta, bastante sedimento foi retirado para
usos em construção. Perto de um poste pode observar que a coloração escuro chegou a
pelo menos 40 cm de profundidade (Figura 8). A maioria da cerâmica em superfície tem
tempero mineral e seus paredes estão desgastados. Foram notadas decorações de
engobo branco e roleto aplicada com pontuações (Figura 9). Esse área tem potencial para
pesquisa se os depósitos se estende ao sul das casas em estado mais preservado.
Figura 8: Sedimento perto do poste mostra o Figura 9: Cerâmica decorada com roleto aplicada
profundidade original do deposito, sítio Jardim com pontuações, sítio Jardim Floresta.
Floresta.
A área do sítio encima do barranco tem sedimentos com maiores teores de argila e
aparência de terra preta. Os moradores acham cerâmica e diversas ferramentas líticos
(Figura 10). A maioria do terreno esta roçada mas um parte tem cobertura de floresta. Na
primeira visita observamos microtopografia correspondente com montículos e maiores
concentrações de cerâmica em superfície a si associada (Figura 11). De maior interesse
fosse a porção que encontrasse abaixo da floresta onde a estratigrafia pudesse estar
melhor preservada. Esse nos levou a retornar para um levantamento com tradagens,
ocasião quando descobrimos que madeira foi tirada do terreno como um todo criando a
microtopografia montada e que a área de floresta também sofreu a arrancada seletiva de
madeira de lei.
19
Figura 10: Uma bola lítico achado pelos moradores Figura 11: As cerâmicas encontradas na terra preta
a área alta do sítio Jardim Floresta. da área alta do sítio Jardim Floresta tem decorações
que incluem unguladas, como essa, engobo e
incisão paralela.
Mari-Mari
O sítio Mari-Mari esta localizada no ramal que vara para o norte da cachoeira Porteiro, na
rodovia AM 240. Situado na beira do igarapé, a terra preta do sítio Mari-Mari tem extensão
de pelo menos 50 metros, sendo um parte na planície de inundação fluvial e o restante
começando a subir o encosto ao lado. Visualmente, num corte do declive, a terra preta
esta raso, aproximadamente 30cm (Figura 13). Uma casa encontra-se sobre o sítio e sua
construção poderia ter revirada um parte do deposito para a terraplanagem. O sítio por
ser no base de um morro sofre de processos de erosão e os proprietários comentam que
cada vez que chove aparecem mais fragmentos cerâmicos (Figura 12).
Bela Vista
O sítio de Bela Vista atualmente encontra-se encima de uma ilha no lago de Balbina.
Ocupa uma posição alta com visão para o que teria sido os igarapés adjacentes. A
superfície do sítio tem concentrações densas de cerâmica, com diversas decorações e
formatos, e lítico, lascado e polido (Figuras 14, 15, 16, 17, 18 e 19). O morador indicou
20
que a terra preta tinha mais que 60 cm de profundidade.
21
Figura 21: Ferramento lítico encontrado no
Figura 20: Borda de vasilhame encontrado no superfície do sítio Alto de Dejeko.
superfície do sítio Alto do Dejeko.
22
Claudio Cutião, rio Pardo
O sítio Claudio Cutião ficam na margem direita do rio Pardo, abaixo do sítio Roça do Seu
Alberto. Foi selecionada alvo de levantamentos e escavações onde apresentamos
informações mais detalhadas.
Arte rupestre ocorre em dois locais denominados Figura 27: Barranco do rio acima do
Pedral 17 e Pedral 39. pedral onde aflora material lítico, Pedral
15, rio Pardo.
A gravura do Pedral 17 tem formato que lembra um
rosto do modo que estão representados no sítio Caretas, rio Urubu (Figura 28). O pedral
também tem quatro locais com desgaste de amolar/afiar (Figura 29).
23
Figura 28: Gravura no Pedral 17, rio Pardo. Figura 29: Afiador no Pedral 17, rio Pardo.
O painel de arte rupestre chamativa do Pedral 39 tem outro estilo, sendo composto por
diversos elementos gráficas (Figura 30). Os elementos gráficos de outros paneis são
executados com outro estilo (Figuras 31 e 32). No mesmo pedral encontra também um
amolador (Figura ).
24
Figura 31: Abaixo da escala tem área da rocha com modificação,
lado oposto ao painel visto na Figura 30, Pedral 39, rio Pardo.
25
Prospecções em Iranduba e Manacapuru
Os municípios de Iranduba e Manacapuru pousem um registro arqueológico bastante
detalhada devido as atividades de pesquisa que ocorrem no âmbito do Projeto Amazônia
Central, do Gasoduto Coari-Manaus, do PIATAM, entre outros. Partimos do principio que
as coletas de sedimento que já existiam no Laboratório de Arqueologia, Museu Amazônico
– UFAM, poderiam orientar a escolha de sítios para escavações relevantes à análise
paleoetnobotânica.
Lago do Iranduba
Devido a preservação dos carvões em
amostras do sítio Lago do Iranduba que
encontravam-se em laboratório, o mesmo foi
alvo de visita. Em 13 de agosto de 2014
encontramos com os donos da propriedade
Marcia e Arigo que os mostraram onde as
escavações foram feitos pelo Projeto Amazônia
Central. Suas indicações conformem as
plantas do sítio apresentado por Castro (2009).
A propriedade continua em uso agrícola de
pequena escala (seu uso tradicional). Durante
a visita uma porção estava plantada em Figura 35: Cerâmica em superfície, sítio Lago do
cebolinha recém carpido. Na superfície Iranduba.
observou-se cerâmica das tradições amazônicas Borda Incisa (fases Açutuba,
Manacapuru e Paredão) e Policroma (fase Guarita. Também percebe-se a microtopografia
que Castro associou com montículos.
Para os fins desse projeto de pesquisa em paleoetnobotânica, não considera Lago do
Iranduba apropriado para novas escavações. Seus níveis superficiais têm histórico de
mistura que provocaria confusão na hora de analisar carvões das suas camadas. E,
anteriormente, as construções de montículos misturavam materiais orgânicas.
Calderão
Ao convite do pesquisador de EMBRAPA,
Aleksander Muniz, o sítio Calderão foi visitado.
O mesmo tem histórico de pesquisa acadêmica
pela Dra. Helena Pinto Lima. Observamos que
a área com melhor preservação do perfil
sedimentar abaixo da capoeira, e assim os
componentes orgânicos, foi aquela que a Dra.
Lima aponta como tendo sepulturas (Figura
36). Entretanto os processos tafonômicos
assados a ação de sepultar reviram os
depósitos anteriores. Tendo em visto que os
demais localidades do sítio são utilizada há
anos em atividades agrícolas, o sítio foi Figura 36: Área de capoeira no sítio Calderão à
desconsiderado como local para escavações esquerda, na sua maioria o sítio esta sob cultivo
para os fins do presente projeto. (foto de 2012).
26
Lago Grande
As análises de material vegetal do sítio Lago Grande
apresentado no mestrado da Francini Medeiro da
Silva instigaram nosso interesse no sítio. Além da
preservação haviam elevadas quantidades de
carvões não lenhosos. O sítio Lago Grande foi
visitado em conjunto com o pesquisador George
Brown da EMBRAPA e seu equipe que trabalha com
ecologia (minhocas, formigas, etc.). Quase todo o
sítio encontra-se em cultivo ativo (Figura 37). Saindo
da área da roça para uma capoeira, aproxima
rapidamente o limite do sítio. Pequenas testes rasos
foram feitas para observar a composição dos Figura 37: O sítio Lago Grande sob
cultivo de milho.
primeiros 25 cm e determinar se havia estratigrafia
cultural preservada. Ambos as áreas foram revirada por cultivo mecanizada e manual. O
material superficial, até pelo menos 25 cm, foi influenciado por esse processo tafonômica
de mistura. Devido isso e a existência de coleções provenientes de escavações
controladas no sítio, escolhemos deixar os fragmentos cerâmicos encontrados nos
pequenos testes nos seus lugares. O sítio não tem as condições para achar um registro
do material orgânico que incluiria as ocupações mais recentes.
Jacurixi
Dos registros de sítios nos municípios de Iranduba e Manacapuru, Jacurixi se destaque
por ser abaixo de floresta, condição que preservaria a estratigrafia cultural e sues
materiais orgânicos. Tentamos chegar no sítio, junto equipe do George Brown (que
também procura lugares que não foram tratados com agrotóxicos para sua pesquisa
ecológica). Encontramos a impossibilidade de chegar ao lugar devido o enchente na
época da viagem. O sítio continua de grande interesse e deve ser alvo de levantamento
em 2016 ou 2017 com a renovação da portaria.
27
Figura 39: Algumas cerâmicas encontrados nas tradagens no sítio Jardim Floresta, Presidente Figueiredo.
28
Figura 40: Algumas peças de cerâmica do sítio Bela Vista, Presidente Figueiredo-AM.
Em 2015 um grid cartesiana estabelecida no sítio foi utilizada para amostrar de forma
sistemática a extensão dos depósitos no espaço, considerando ambos os materiais
culturais e as caraterísticas da matriz (Figura 41 e 42). Em total foram mais 28 tradagens.
29
Escavações em Claudio Cutião
As escavações de 2014 e 2015 no sítio Claudio Cutião investigaram cinco áreas do sítio,
escolhidas para amostrar contextos potencialmente distintos, por estar distribuídos em
áreas espaçados, com microtopografia específico e matrizes sedimentares com texturas
ligeiramente diferentes. Todas as escavações seguiram até arqueologicamente estéril
depois foram aprofundados para registrar o substrato.
A designação de camada durante o campo, ou seja, as letras dados para elas, está
baseado na situação deposicional daquela unidade. A correspondência entre camadas
deve ser baseado em conhecimento dos diversos depósitos entre todas as áreas e
datações. Por isso apresentamos camadas em número romano onde essa
correspondência já foi possível e letra onde ainda estamos aprimorando a estratigrafia.
Em 2014 o sítio não foi mapeado e a localização das intervenções foi registado em
relação aos coordenados geográficas da sistemática UTM com orientação ao norte
magnética. Em 2015 o mapeamento topográfico do sítio permitiu que tais unidades
fossem referenciados dentro de um grid para o sítio. As unidades implantadas para
investigar o microrrelevo foram direcionados conforme o relevo para permitir o uso de
seus perfis para essa finalidade.
Área 1: Trincheira 1
A primeira área foi no local de um aparente amontoação de terra preta pela topografia e
tradagem. Uma linha cortando esse monte foi marcada e denominada de Trincheira 1. Ao
30
longo desse eixo escavamos três unidades: A, Q e W.
A quadra Q foi a unidade mais central ao trincheira e elevação topográfica com terra preta
escuro entre as profundidades de 30 e 60 cm (Figura 4.N.2 e 4.N.3). Apresentou material
cultural em quantidade até 70 cm e carvão até 80 cm (Figura 4.N.4).
A vegetação ao redor é composta por capoeira com plantações de Jurubeba e o motivo
de sua abertura se deu por conta da realização de uma tradagem próxima da mesma que
além de apresentar uma boa quantidade de material cultural também apresentou terra
preta ate 0,70 metro de profundidade.
31
A partir do nível 40-50 cm a quantidade de raízes diminuiu e a cerâmica aumentou. O
sedimento no setor norte estava denso e o restante da quadra homogêneo, com
aparecimento de carvão, que foi coletado, plotado e material lítico diagnosticado como
quartzo e quartzito.
Com a chegada ao nível 60-70 cm, a coloração do sedimento começou a modificar,
tornando-se mais claro, arenoso argiloso e o número de cerâmica foi diminuindo.
Contudo, foram observadas pequenas manchas escuras diagnosticas como biotubaçoês
naquele momento da área. Quando chegamos à descida do nível 85 cm podemos
constatar que ali estava correspondendo ao limite da ocupação cultural que dali por diante
percebemos a parte histeria acompanhada apenas de biotubaçoês, alta compactação e
argila (subsolo).
32
abaixa compactação, e do nível 0-10 cm ate o nível 30-40 cm a presença de radículas,
biotubaçoês e tubérculos (batata era constante) e raros fragmentos de cerâmicas.
Lembrando que a cada nível que foi escavado foi feita a quantificação e registro dos
baldes com sedimento que foram retirados de dentro da unidade e passados pela peneira.
deixando apenas o que ficava na mesma (peneira). Contudo, a partir do nível 30-40 cm,
além do aumento dos artefatos de cerâmicas, podemos constatar a presença de lascas
de quartzo e carvão.
Em alguns casos o sedimento não passava totalmente pela peneira pelo fato de estar
grudado devido à umidade, ficando alguns torrões de terra agregados aos fragmentos de
artefatos. A partir do nível 50-60 cm o contexto arqueológico foi considerado com melhor
preservação em relação aos níveis anteriores já que o fragmento de cerâmicas
encontrava-se em tamanhos maiores, com diminuição também da quantidade de
radículas e biotubaçoês que por sua vez foi contribuindo para a contextualização da
unidade (Figura 451). Além da terra preta presente em cada nível, podemos fazer o
reconhecimento de algumas manchas que foram consideradas como feições, contendo
numa delas a presença de pedras de ametistas trabalhadas e lascadas associadas com
fragmentos de cerâmicas.
1 O desenho de perfil é fiel à escavação, cuja beleza foi prejudicada nas camadas C, D e E pela matriz
bastante arenosa. Futuras escavações nessa área do sítio terão que seguir a metodologia empregada
em areial com perfis inclinadas.
33
carvão que apesar da sua diminuição, alguns foram encontrados com tamanhos
consideravelmente maiores ate chegarmos à escavação na camada estéril. Finalizando a
escavação em 160 cm de profundidade após ter identificando 04 varvas de lago ou igapó
nessa unidade (Figura 46).
34
Figura 47: Perfil da unidade E6920 N9808 (desenho: Luciano Souza)
35
o substrato geológico no sítio. Observou-se uma lente de quartzo e hematita entre 90 e
100 cm que nos leva a supor que a matéria prima rochosa se encontra mais próximo ao
superfície nesse área. Em nenhuma outra área encontramos a mesma quantidade e
densidade de material rochoso no matriz.
Área 5: Trincheira 2
Cinco (05) unidades de escavação foram localizadas atravessando a elevação
microtopográfica: quadras H, N, P, R e X. Foram designadas com letras conforme sua
posição entre o noroeste e sudeste da linha sendo a quadra designada “A” localizado na
profundidade da depressão. Em relação à topografia, a quadra R foi escolhida por ser no
topo e, para escavações ao longo da trincheira considerou-se a datum vertical dessa
unidade. A quadra H, em contraste, se localiza no plano ao lado com diferença de 90 cm
de elevação a 10 metros ao noroeste. As quadras N e X se localiza nas beiradas com
elevações de 40 e 75 cm, respetivamente, abaixo do topo.
Essas unidades permitiram observar que a elevação no local ocorre em função a
ocupação humana. A base dos depósitos culturais ocorre entre 160 e 140 cm abaixo do
datum indicando que a superfície original do terreno foi quase plano com variações na
ordem de 20 cm. Todas as unidades foram rebaixado para 210 cm do datum para
comparar o subsolo, e por isso pode ver o contraste em elevação atual entre quadras na
fotografia dos seus perfis (Figuras 49, 50, 51, 52 e 53). A estratigrafia cultural corrobora ao
processo deposicional. Em todas as unidades observa-se quatro camadas deposicionais
que começam a sequência:
I – o subsolo do local com coloração amarelada, maior conteúdo de argila e maior
densidade; não contem material cultural
II – uma matriz de sedimentos mistas com colorações marrom e amarelo de textura
argila arenosa; contem material cerâmica e lítico em baixa densidade e carvões
III – uma matriz de sedimento com coloração predominantemente marrom escuro e
textura argila arenosa; contem material cerâmica e lítico e carvões
IV – uma matriz de sedimento com coloração preto e textura argila arenosa; contem
material cerâmica e lítico e carvões com notável aumento em densidade.
36
Por razão de mudanças nos materiais culturais na camada IV, acreditamos que o mesmo
deveria ser dividido em dois, não por coloração e textura, mas sim por sua composição.
A elevação antrópica está composto, além disso, por duas camadas de colorações
marrons. A primeira foi registrado nas quadras R e P tendo material cultural em
densidades comparáveis à camada IV. A segunda camada foi registrada nas quadras R, P
e N tendo uma densidade de material cultura e carvão substancialmente menor.
Todas as unidades tem camada superficial de lixo orgânico com folhas, galhos e carvões
recentes em matriz extremamente solto.
Figura 49: Perfil sudoeste, quadra X, Trincheira 2. Figura 50: Perfil sudoeste, quadra R, Trincheira 2.
Figura 51: Perfil sudoeste, quadra P, Trincheira 2. Figura 52: Perfil sudoeste, quadra N, Trincheira 2.
37
Figura 53: Perfil sudoeste, quadra H, Trincheira 2.
A escavação da trincheira 2 demonstrou
que o sítio tem pelo menos três momentos
de formação de camadas e que a elevação
é de origem cultural e devido ao momento
mais recente de ocupação no sítio. Não é
possível determinar a origem do sedimento Figura 54: A elevação da Trincheira 2 visto da
pois ao redor não existem buracos de quadra H após fechamento das unidades.
retirado de material que poderia
corresponder com o sedimento encima da elevação.
Todas as quadras foram fechadas com forro de TNT nos laterais (Figura 54).
38
O teste próximo a área 4 foi localizado na beirada da planície onde não se percebe
material cultural em superfície. Revelou um solo quase completamente composto por
rocha sendo a inclusão de material orgânico nos primeiros 5 cm e uma composição com
argila até 14 cm (Figura 55). O teste foi abortado em 40 cm em matriz quase
completamente rochoso.
O segundo teste foi localizado próximo a área 1 em área plano que esta
aproximadamente 3 metros abaixo do planície do sítio em local que tem floresta. O solo
tem uma camada húmica (5 a 10 cm), uma camada de coloração marrom (50 a 60 cm) e
uma camada de transição de menos que 10 cm seguido pelo subsolo de coloração
amarelo (Figura 56). O processo de formação de solo parece ser relacionado aos
processos fluviais nos quais as inundações do rio foram terraços.
Levantamento topográfico
Na primeira visita ao sítio foram observadas pequenas elevações que aparentavam ser
elementos de uma topografia artificial devido o uso do lugar. Em 2014 esses diferenças
topográficas foram exploradas pelo levantamento de relevo de um transecto com nível e a
escolha de escavações na área denominada Trincheira 1.
Em 2015 investimos na descrição topográfica do sítio através de mapeamento com
estação total que permitiu a criação de planta baixa do sítio. Na planta baixa percebe-se
múltiplas elevações com uma distribuição não aleatória (Figura 57). Ainda investigaremos
o conteúdo, contexto e distribuição de material cultural no sítio para entender a origem
e/ou atividades que caraterizaram esses pontos.
39
Figura 57: Planta topográfica do sítio Claudio Cutião, desenho Guilherme Mongelo.
40
Coleções arqueológicas
A região tropical é agressiva na decomposição de material orgânico mas o presente
trabalho mostra que existe bastante potencial para sua análise. O baixo índice de
preservação arqueológico de restos botânicos e faunísticos é atribuído a uma combinação
de diversos fatores como excesso de umidade, temperatura e acidez do solo (Stahl,
1995). Felizmente para pesquisadores, a carbonização dos tecidos orgânicos inibe a
atividade de microrganismos, protegendo vegetais carbonizados da decomposição
(Hillman et al., 1993).
A pesquisa mostrou que os carvões arqueológicos do incluem uma grande variedade de
formas e tenham alta potencial para pesquisa. Carvões apresentam potencial para
registrar o uso de sementes e frutas de diversas árvores amazônicas de interesse na
discussão de manejo agroflorestal. As evidências e amostras encontradas pela presente
pesquisa mostram o potencial para outros pesquisidores além de constituir uma coleção
digital de imagens.
Vestígios carbonizadas podem apresentam uma via para registrar mais árvores frutíferas
do que os vestígios de fitólitos (microvestígios vegetais) pois, algumas das espécies
amazônicas não produzem fitólitos diagnósticos (Piperno 2006). Dentro da pesquisa
notamos que a ocorrência de carvões varia entre os sítios que deve ser produto de fatores
históricos específicos das localidades e avaliado antes da escolha de sítios para a
aplicação de estudos paleoetnobotânicos aprofundados.
Sítios prospectados
Para escolher os sítios a serem escavadas no município de Presidente Figueirdo foram
visitados sítios arqueológicos na região. Todos, menos um, são sítios que mesmo
conhecidos pelos moradores foram cadastrados pela primeira vez. Conta com os sítios
Urubui I, Jardim Floresta, Alto do Dejeko, Roça do Seu Alberto, Igarapé do Rio Pardo,
Mari-Mari, Bela Vista e Claudio Cutião.
Sítios analisados
Resultados detalhados serão discutidos independentemente para cada sítio analisado:
Conjunto Vilas (médio rio Solimões, Tefé-AM); Lago do Limão (interflúvio dos rios
Solimões e Negro, Iranduba-AM); Lago do Iranduba (interflúvio dos rios Solimões e
Negro, Iranduba-AM); Vila Nova I (baixo rio Negro); Vila Nova II (baixo rio Negro); Floresta
(médio rio Unini) e Lago das Pombas (médio rio Unini); Bela Vista (alto rio Uatumã) e
Claudio Cutião (rio Pardo).
41
Análises e resultados
Sítio Conjunto Vilas, médio rio Solimões, Tefé-AM
O sítio Conjunto Vilas esta situado próximo à embocadura do Lago de Tefé no Rio
Solimões. Cobrindo uma área de 38 ha, o sítio tem material cerâmica de duas fases,
Caimbé da tradição Borda Incisa e Tefé da tradição Policroma (Hilbert 1968). A terra preta
de índio, início dos depósitos arqueológicos, tem profundidade média de 70 a 80 cm e
atinge 120 cm em algumas feições. Interessantemente, foram encontradas áreas de
ocupação fora da terra preta e enterrado abaixo dela. Em termos regionais, a fase
Caiambé ocorre por volta de 1200 d.C. e a fase Tefé por volta de 700 d.C. (Costa 2013).
No sítio Conjunto Vilas, três unidades de escavação foram estudado com enfoque
principal em oito feições de dois das unidades. Amostras das camadas naturais também
foram analisados. As escavações fazem parte da pesquisa arqueológico no Instituto de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá coordenado por por Jaqueline Belletti (mestrando
em arqueologia pelo MAE-USP).
42
Figura 58: Perfis da unidade S1068 E1430, sítio Conjunto Vilas, onde se nota as três camadas
estratigráficas: Camada I - arqueologicamente estéril, Camada II - deposito arqueológico e Camada
III - superfície atual misturada com deposito arqueológico.
No latossolo, Camada I, que ocorre abaixo das ocupações humanas, esperava-se não
encontrar material arqueológico. As amostras confirmam as expectativas, com uma
ocorrência mínima de carvões e ossos (Figura 59). Em campo foi separada uma amostra
de sedimento proveniente de uma mancha na Camada I da unidade S1450 E1652 com
suspeita de ser arqueológica. A presença de carvões lenhosos e parênquimas nessa
43
amostra é um forte indicador de que a ‘mancha’ visível na escavação foi produto de ações
humanas.
Na camada de terra preta antrópica, Camada II, há ocorrência de materiais indicativos de
habitação humana - cerâmica, lítico, osso, carvão lenhoso e carvão não lenhoso.
Observa-se que o sítio é composto por áreas com depósitos distintos em termos dos
materiais ocorrentes e suas densidades. Por exemplo, a quantidade de carvão lenhoso é
elevada em S1450 E1652 e não ocorrem parênquimas em S1518 E1400.
A camada III, que é a interface, ou mistura, dos depósitos arqueológicos com materiais
atuais contém um forte indicador de perturbação devido à presença de sementes não
carbonizadas. Enquanto isso pode invalidar a análise paleoetnobotânica da camada III, a
correspondente ausência de sementes não carbonizadas (incluindo as de tamanhos
minúsculos) na camada II é indicativa da integridade contextual da mesma. Outro
indicador de mistura da camada III em tempos históricos vem da ocorrência de quatro
peças de vidro e plástico na unidade S1450 E1652.
Figura 59: Quantidades de material cultural das unidades do sítio Conjunto Vilas. Cerâmica não
incluída.
44
O material cultural com dimensões maiores que 4mm foi completamente triado, permitindo
a comparação entre as diversas classes de material arqueológico. Na comparação dos
líticos, ossos, carvões lenhosos e parênquimas , observamos que o material ósseo
compõe a maior parte das amostras da área S1450 E1651/52 (Figura 60). Por outro lado,
os vestígios das feições nas áreas S1600 E1549 e S1068 E1430 são predominantemente
compostos por carvões (lenhosos ou parênquimas). Dentro da área S1068 E1430 duas
das feições não apresentam ossos. Apesar do fato de que ossos podem sofrer maiores
degradações do que os carvões, a distinção entre feições bem próximas é indicativa de
diferenças na formação ou utilização das mesmas, não tendo provável relação com o fator
da preservação do material ósseo. Material lítico ocorre em sete das feições sendo todo
refugo de lascamento.
45
A área de S1450 E1651/52 tem maiores densidades de todos os materiais culturais,
dentre os quais se destacam os ossos (Figura 61). A maior parte dos ossos não sofreu
queima antes da sua deposição, sendo sua preservação indicadora de que o solo possui
características bastante estáveis. A diferenciação da composição entre a feição 11 e as
feições 13 e 14 está aparente nas densidades elevadas de lítico e carvão lenhoso na
feição 11.
Identificações botânicas
Enquanto vários fragmentos de parênquima (carvão não lenhoso) foram encontrados no
sítio Conjunto Vilas, a identificação botânica é possível em poucos deles, devido ao seu
tamanho e grau de fragmentação. No entanto, existem nas amostras sementes e pedaços
de tubérculos ou raízes que poderiam ser identificados através de uma coleção de
referência de vegetal atual carbonizado. Por exemplo, fragmentos do endocarpo de
Arecaceae (coquinhos) são recorrentes.
O contexto da feição 5 foi especialmente rico em material botânico (Figura 62).
Acreditamos que a natureza selada dessa feição contribuiu para a preservação da
morfologia desses vestígios.
46
Figura 62: Fragmentos de sementes carbonizados e
identificáveis da feição 5 níveis 90-100 cm (A) 80-90 cm (B) e
70-80 cm (C) e da feição 6 nível 70-80 (D e E).
Um fragmento carbonizado de espiga de Zea mays (milho) foi encontrado no contexto
fechado de uma feição (5, unidade S1450 E1651/52) (Figura 63). Este vestígio é prova do
manejo de milho na Amazônia pré-colombiana, já que a planta não se reproduz
independentemente no ambiente da floresta tropical ou suas várzeas. São poucas as
ocorrências documentadas de vestígios de milho na Amazônia brasileira e nas terras
baixas da América do Sul. Entretanto, é rara a sua preservação como carvão já que o que
o grão e a espiga são órgãos frágeis. O contexto no qual a espiga de milho foi encontrada
ainda será datado e os resultados trarão informações sobre a cronologia da introdução e
intensificação do plantio deste cultivar na região estudada.
47
As análises de amostras de material arqueológico com tamanhos menores, extraídas de
sedimento por meio de flotação, contribuem para a compreensão das atividades humanas
no sítio Conjunto Vilas. Foi possível identificar refugos de lascamento, ossos que incluem
várias vértebras de peixe, carvões de lenha e de outros órgãos vegetais, além de
vestígios indicadores de perturbação recente.
A análise de amostras vindo das camadas naturais do sítio Conjunto Vilas confirma a
percepção deles a partir do pesquisa em campo, sendo camada I um sedimento
culturalmente estéril, camada II o deposito arqueológico intato e camada III a zona de
interface e mistura do registro arqueológico e o atual.
Feições arqueológicos são resultados direta da ação humana no passado cujas
particularidades pode ter contribuído para a densidade e distribuição dos materiais.
Hipóteses de descarte e de combustão podem ser levantadas para a origem de algumas
das feições no sítio Conjunto Vilas.
A densidade de fragmentos de lenha e parênquima no sítio Conjunto Vilas está mais baixa
do que a media observado em sítios com terra preta na Amazônia. E, por isso, o número
de parênquima com caraterísticas diagnosticas esta reduzida. Entretanto a ocorrencia de
milho esta instigante merecendo mais investigações, sobretudo a análise de outros
vestígios botânicos, os fitólitos e amidos, produzido pela planta que podem preservar em
contextos arqueológicos.
48
Unidade N1918 E 489:
No caso desta unidade, os gráficos da fração leve e fração pesada mostram tendências
diferentes. Enquanto os gráficos da fração leve indicam uma forte concentração de
fragmentos de carvão nos níveis mais superficiais (PNs 356 e 358 em Figura 64), os
gráficos da fração pesada indicam um aumento gradativo no número de carvões à medida
em que se aprofunda na unidade (Figura 65).
Figura 64: Quantidade de material cultura > 2mm na amostra de fração leve,
unidade N1918 E489, sítio Lago do Limão.
Figura 65: Quantidade de material cultura > 2mm na amostra de fração pesada,
unidade N1918 E489, sítio Lago do Limão.
Quando se juntam os dados das frações leve e pesada, a tendência encontrada nas
parênquima permanece com maior quantidades nos PNs 361 e 363 (Figura 66). Já no
caso dos carvões a tendência tende a desaparecer, ocorrendo um distribuição quase
uniforme de carvões ao longo dos níveis, com exceção do mais profundo, onde de fato o
número de carvões é bem menor. Assim, no caso desta unidade, não há uma correlação
49
entre a ocorrência de carvões e a ocorrência de terra preta, que neste caso ocorre nas
camadas mais superficiais.
Figura 66: Quantidade de material cultura > 2mm nas amostras da fração leve e
pesada, unidade N1918 E489, sítio Lago do Limão.
50
Unidade N 1976 E 498:
A unidade N1976 E 494 foi considerado um possível lugar de habitação nos trabalhos de
campo. Os dados coletados encima de três amostras estão apresentados nas figuras 68 e
69. Observamos que parênquima ocorre em porcentagens extremamente elevadas que
poderiam estar relacionadas com descarte de lixo domestico.
Figura 68: Quantidade de material cultura > 2mm nas amostras da fração leve e
pesada, unidade N1976 E498, sítio Lago do Limão.
51
com exceção da borda oeste, que é composta por um trecho de terra firme circundado por
um igarapé e pelo lago Iranduba. Possui uma área de 4,5 ha, com o eixo maior (oeste-
leste) medindo 300 m e o menor (norte-sul), 150 m.
Neste sítio foram escavadas duas unidades de 1 m 2, uma de 100 cm de profundidade e a
outra de 160 cm, ambas foram escavadas até atingirem dois níveis estéreis. A segunda,
unidade N2051 E2115, foi analisada neste trabalho. Esta foi escavada junto à sondagem
que apresentou a terra preta mais escura e profunda. A escavação encontrou grande
densidade de cerâmica e uma feição a partir do nível 50-60cm (PN 466), de formato semi-
elipsoide, diâmetro de 95 cm e profundidade 110 cm. A feição apresentou terra preta,
carvão e cerâmica em quantidades maiores que o sedimento do seu entorno (Figura 70).
Castro (2009) sugeriu que ela pudesse conter macrovestígios botânicos e que a busca
destes na análise dos sedimentos coletados poderia contribuir para esclarecer a sua
função.
A unidade apresentou fragmentos
cerâmicos que indicaram duas
ocupações distintas, das fases
Paredão e Guarita, das tradições
Borda Incisa e Policroma,
respetivamente. Também cerâmicos
da fase Manacapuru (tradição Borda
Incisa) ocorreram em menor
quantidade.
Os níveis mais superficiais
apresentaram pouca concentração
de material cultural.
Como o volume de sedimento
flotado para análise foi pequeno, os
dados gerados com a análise de
material >4 mm (normalmente
sempre representados por um
número bem menor de amostras)
parece ser pouco representativo e a
inclusão dos materiais os dados
sobre material de 2-4 mm permite
maior confiança para a interpretação
de padrões. Os dados de
quantidades das frações leve e
pesada foram reunidos a fim de se
obter uma melhor representação da
quantidade de lenha e parênquima
na totalidade do sedimento flotado.
FiO gráfico oriundo da união dos dados de fração leve e pesada mostra uma tendência ao
aumento da quantidade de fragmentos de carvão com a profundidade (Figura 71). Esse
aumento se intensifica nos níveis 60-70cm e 70-80cm, o que provavelmente se relaciona
à ocorrência da feição que se aprofunda até o nível 160 cm nos níveis abaixo destes. O
crescimento da taxa de aumento no número de carvões à medida que se aprofunda na
feição indica a riqueza de carvões nesta área da unidade, sugerindo que esta esteja
relacionada a alguma atividade de combustão, conforme já fora sugerido por Castro
(2009). Os resultados obtidos até o presente momento indicam que a análise das
amostras dos níveis subsequentes trará dados importantes para a compreensão da
função da feição e da unidade como um todo.
53
acumulados devido às atividades dos atuais moradores do sítio. Dentro do depósito
arqueológico, a camada III apresenta uma porcentagem grande de parênquima em
associação com cerâmica e terra preta, típico aos lugares de habitação. O grande número
de fragmentos de lenha na feição corrobora a ideia de uma atividade de combustão no
local.
Figura 73: Densidade de material cultura >4 na fração pesada, unidade N1151
E999, sítio Vila Nova I
54
Figura 74: Desidade de material cultural 2-4 mm na fração pessada, unidade
N1151 E999, sítio Vila Nova I
2 A lenha não foi contada para os PNs 303, 305, 317, 319, 323 e 325, por isso este dado não consta no
gráfico apresentado.
55
Figura 75: Densidade de material cultura >4mm na fração pesada, unidade
N1000 E1000, sítio Vila Nova II.
Os resultados da quantificação do material cultural triado indicam uma correspondência
de maior concentração de carvão (lenha e parênquima) na camada natural intermediária,
onde ocorre areia de coloração mais escura (Figura 763). Nesta camada natural, entre os
20 e 70 cm de profundidade, foram encontradas cascas de castanha da Amazônia
(Bertholletia excelsa). Na camada natural mais profunda, apesar da baixa quantidade de
material cultural, incluindo carvões e cerâmicas, foram também identificados fragmentos
de carvão de castanha da Amazônia.
3 A lenha só foi contada para os Pns 104 e 112 e por isso não consta na figura do material cultural de 2-4
mm, unidade N1000 E1000.
56
sitio se destacou dos outros contextos pelo grau de visibilidade que apesar de baixa se
comparada aos sítios da Amazônia Central, o mesmo é significativamente maior que os
outros no rio Unini. Outro destaque é a circunferência de alguns vasilhames que afloram
na superfície próxima da área de barranco (Lira, 2009a: 45, apud Lima, 2012: 38).
Sua escavação também ocorreu por conta do projeto Rio Negro/Unini, que foi parte
integrante de uma campanha de campo realizada pelo Projeto Amazônia Central da
coordenação do Prof. Dr. Eduardo Góes Neves.
O estudo da composição das amostras do sítio ocorreu nas seguintes unidades: N: 1140
E: 900, N: 1100 E: 999 e N: 989 E: 945
No desenho acima de perfil leste (Figura 77) podemos observar diferentes pacotes de
57
terra preta desde a coloração escura a mais clara. A camada superficial ou camada V é
composta de sedimento, raízes e carvão. Sua coloração é muito escura, de acordo com o
livro de cores Munsell é 10YR 3/3 “Dark Brown”.
A camada IVa é mais espessa que a anterior. Ela é composta de material cerâmico (em
baixa quantidade) e raízes e se inicia uma feição na mesma. Sua coloração e mais clara
que a camada anterior sendo de cor 10 YR 2/1 “Dark Yellowish Brown“.
A camada IIIa é uma camada arqueológica por conter cerâmica em grande quantidade,
terra de coloração muito escura, carvão e bolotas de argila, além da continuação de uma
feição que foi observada ainda na camada superior.
A camada II foi chamada de transição entre o arqueológico e o estéril. Contem baixa
densidade de cerâmica e muitos carvões e sua coloração é mista: 10YR 2/4 “Dark
Grayish Brown“.
A camada I foi denominada arqueologicamente estéril por ser composta por latossolo,
solo compactado e de coloração bem mais clara que as camadas anteriores (10 YR 7/1
“Light Gray“). Nessa camada foi observado o final da feição que vinha ocorrendo desde a
camada IVa. Não houve analise das amostras de solo dessa camada.
58
Figura 80: Macrovestígios <4 mm por nível, unidade N1140
E900, sítio Floresta.
59
Figura 81: Perfil da unidade N: 1100 E: 999, 5, sítio Floresta.
O material tratado das amostras de solo da peneira >4mm foi lítico, carvão lenhoso e
60
parênquima. Sendo a maior ocorrência de parênquima nos níveis 80-100 cm com um
pequeno pico no nível 140-150 cm (Figura 82). Já o gráfico, figura 83, com porcentagem
dos materiais culturas por camada indica a predominância de carvão lenhoso nas
camadas VII, VI e I. (Obs. As camadas II e III não foram incluídos no gráfico por não
tiverem amostras exclusivamente proveniente dos seus contextos.)
61
Figura 85: Perfil oeste, unidade N989 E945, sítio Floresta.
A camada VIII é composta por sedimentos da textura argilo siltosa de cor 10YR6/6
“Brownish Yellow”, com granulometria fina e pouca cerâmica e carvão, sugerindo que
esse material tenha sido depositado após a ocupação pré-colombiana.
A camada VII, com coloração pouco escura 10YR 5/6 “Yellowish Brown”, aparenta ser um
horizonte A (superficial) enterrado pela camada VIII.
A camada VI tem sedimento argiloso de coloração 5YR 5/6 “Yellowish Red” e
granulometria fina. Não possui material arqueológico.
A camada V é de formação heterogênea composta por tabatinga branca, sedimento
pertencente à camada VI e silto argiloso com coloração mista de 5 YR 5/8 “Yellowish Red”
e 7, 5 YR 8/1 “White”. A cerâmica e o carvão existente aparentam pertencer a um contexto
secundário.
A camada IV tem uma concentração de carvão e cerâmica possivelmente em contexto
primário da sua própria deposição. O sedimento possui textura argilosa com grãos finos e
coloração 7YR 3/3 “Dark Brown”.
62
A camada II tem limite difuso e sedimento com textura silto argilosa e coloração 7.5 YR
3/2 “Dark Brown”. Possui muita cerâmica e carvão com distribuição desigual.
A camada I é arqueologicamente estéril, de coloração mosqueada, predominando o 7.5
YR 5/8 “Strong Brown”.
Figura 86: Quantidade de macrovestígios >4mm Figura 87: Porcentagem de amostras >4 mm por
por nível, unidade N989 E945, sítio Floresta. camada, unidade N989 E945, sítio Floresta.
Dos materiais analisados das amostras de sedimentos na peneira 4>mm foram carvão
lenhoso e parênquima. Os maiores densidades de vegetal ocorre nos níveis 20 a 40 cm e
nos níveis 210 a 240 cm (Figura 86). Os níveis 120-150 cm não tem amostras. As
camadas onde foi possível isolar uma amostra a si pertinente entraram no calculo de
porcentagem (Figura 87) onde é possível observar a assentia de padrão associado os
depósitos arqueológicos das camadas II e V. Além do gráfico da figura 87 que indica o
percentual regular entre as últimas duas camadas dessa unidade.
Em termos do sítio Floresta, essa unidade é a mais profunda com material arqueológico
enterrado, principalmente na profundidade de 120 cm. A quantidade de cerâmica é
razoavelmente constante ate 180 cm a partir de onde há uma queda, depois continua
constante ate o 270 cm com pequeno pico em 210-220 cm (Lima, 2014). Mesmo faltando
algumas amostras entre 120-140 cm, quase não aparece vegetal nos sedimentos
analisados, as quantidades são incrivelmente baixas. No entanto, carvões foram
observados durante a escavação da unidade. A quantidade de carvão esta relativamente
elevada nos níveis 210-240 cm. Em conjunto com a datação mais antiga a permanência
das cerâmicas com as concentrações elevadas de carvão sugere-se uma ocupação mais
antiga cuja composição arqueológica é distinta.
63
Três amostras da peneira 2-4 mm foram analisado para essa unidade e os achados
seguem a mesma padrão com praticamente ausência de parênquima (Figura 88).
64
Figura 89: Perfil leste, unidade N1022/1021 E1011, sítio Lago das Pombas.
A datação da ocupação arqueológico do sítio Lago das Pombas foi realizada a partir do
caraipé na cerâmica (Lima, 2014). Cerâmica da profundidade 140-150 cm (camada II) deu
uma data de 210 ± 30 DC. O sítio Lago das Pombas é composto por duas ocupações
distintas nas camadas II e IV (Lima, 2012 p: 62).
65
Figura 90: Quantidade de macrovestígios Figura 91: Porcentagem de macrovestígios >4
>4 mm por nível, unidade N1022 E1011, mm por camada, unidade N1022 E1011, sítio
sítio Lago das Pombas. Lago das Pombas.
Nesse sitio, um dos fatores que mais nos chamou atenção foi o lítico. Isso aconteceu por
conta de termos identificados algumas ferramentas conhecidas como dente de ralador na
camada II. Além da frequência de lascas (lítico) em outras camadas.
O material lítico e carvão lenhoso foram recuperados das amostras de sedimento ao
longo do perfil. Notamos que a camada III tem menor concentração de parênquima do
que as camadas II, IV e V, camada essa que mais apresentou parênquimas. Mostrando
uma indicação do tipo de atividades que deram origem os depósitos.
Os gráficos abaixo de relação aos macrovestígios distribuídos entre parênquima e lítico
por nível, Figuras 92 e 93, mostram a mesma proporção de quantidade por nível que o
gráfico da Figura 90.
O parênquima, sendo vestígio em grande parte de comida, ocorre com maior frequência
em áreas de descarte de lixo domestico. O mesmo pode ocorrer com a cerâmica devido à
associação ao alimento. Contudo, nessa unidade de escavação, tal associação não foi
diferente. Nela, podemos perceber que o mesmo pico onde ocorreu o parênquima (50-60
cm) e (90-100 cm), esteve ligado de certa forma ao pico de densidade cerâmica (60-70
cm) e (110-120 cm) (Lima, 2014). Ou seja, todos pertencentes às camadas IV, III e II.
Indicando dois momentos distintos na estratigrafia do sítio (idem). Apesar da camada III
ao que parece seus vestígios pertencer às camadas IV e II.
Com isso, sugerimos que as terras pretas com colorações mais escuras foram criadas
66
dos dejetos das ocupações. Como já mencionado os depósitos que ocorrem na camada
III são de origem humana porem, de outras atividades deposicionais. Bem diferente da
camada II cuja frequência desses macrovestigios e maior.
A camada I foi considerada na descrição de campo como estéril por não apresentar
material arqueológico (Lima, 2014). Entretanto, a amostra tratada em laboratório
apresentou um traço de vestígios sendo quatro líticos e um carvão.
67
Figura 95: Quantidade de material cultural >4 mm na unidade E6991 N9879,
sítio arqueológico Claudio Cutião.
Material cerâmica
Com a divisão do material cerâmica do sitio entre os elementos do vasilhame e estado de
decoração é possível procurar distinções entre as ocupações do sítio e as unidades de
escavação. A unidade Trincheira 1, Quadra Q tem maior densidade de fragmentos
cerâmicas (Figuras 96 e 97). Observamos que entre 10% e 20% do material cerâmica
tem decorações sendo que as proporções estão ligeiramente maiores nas camadas mais
recentes (Figuras 98 e 99).
68
camada B
camada C
ceramica
litico
camada D carvao lenhoso
parênquima
vegetais não carbonizados
camada E
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Quantidade / 10 litro
Figura 96: Densidade de material cultural >4 mm na unidade Trincheira 1, Quadra Q, sítio
arqueológico Claudio Cutião.
camada B
camada C
ceramica
litico
camada D carvao lenhoso
parênquima
vegetais não carbonizados
camada E
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Quantidade / 10 litro
Figura 97: Densidade de material cultural >4 mm no sítio arqueológico Claudio Cutião, unidade E6991
N9879.
69
0% 20% 40% 60% 80% 100%
0-10
10-20
20-30
30-40
Profundidade (cm)
40-50
Total Sem decoração
50-60 Total Decorado
60-70
60-65
65-70
70-80
80-90
10-20
20-30
30-40
40-50
Profundidade (cm)
50-60
Total Sem decoração
60-70 Total Decorado
70-80
80-90
90-100
100-110
110-120
70
Carvões
As duas unidades tem carvões em todas as camadas culturais (Figuras 100 e 101). Até
tem carvão abaixo do nível habitacional da unidade Trincheira 1, Quadra Q, a camada E.
Associado essa encontra-se muito pouco carvão de parênquima. Enquanto nas camadas
ocupacionais das duas unidades chega ter até 25% de carvão não lenhosa. Lembramos
que na unidade E6991 N9879 a camada E continua sendo contexto cultural.
Figura 100: Divisão de carvão >4 mm por camada, unidade E6991 N9879, sítio Claudio Cutião.
Figura 101: Divisão de carvão >4 mm por camadas, Trincheira 1 Quadra Q, sítio Claudio Cutião.
71
Resultados: Coleção de referência
Um dos objetivos deste trabalho foi construir uma coleção de referência de material
vegetal carbonizado para comparação com os carvões oriundos dos sítios arqueológicos
analisados.
Segundo Nesbitt et al. (2003), o número crescente de profissionais da área de
arqueobotânica tem aumentado a demanda por coleções de referência. Para a Amazônia,
no entanto, não foram encontrados bancos de dados desta natureza na literatura da área.
Assim, a confecção de tal coleção se fez fundamental para a identificação das amostras
de carvões analisadas no decorrer deste trabalho. De fato, segundo Nesbitt (1991), “não
há substituto à observação do material moderno e antigo, lado a lado, especialmente se a
dissecção é necessária para confirmar a identificação”. Este é o caso de boa parte do
material por nós analisado, já que este ocorre no sedimento muitas vezes já fragmentado.
A identificação correta dos tecidos carbonizados e da estrutura interna do material muitas
vezes depende de uma coleção de referência composta por materiais modernos
carbonizados, passíveis de fragmentação, em que seja possível observar a organização
interna dos tecidos preservados durante o processo de queima.
A coleção de referência construída durante a realização deste projeto é composta de 121
espécimes. O número de espécies botânicas é um pouco menor (cerca de 100 espécies
vegetais), tendo em vista que algumas espécies compreendem duas entradas na coleção
de referência, separadas entre as diversas partes do corpo vegetal (Figuras 102 e 103).
Juntando nossas vozes às de diversos profissionais da área (Nesbitt et al., 2003;
Beaudoin, 2006), reiteramos que é necessário um maior fomento à continuação e
enriquecimento da criação de coleções de referência de vegetais carbonizados robustas
que sirvam de base aos trabalhos de paleoetnobotânica. Tal necessidade se faz ainda
mais urgente na Amazônia, devido ao seu grande potencial arqueológico e à escassez de
instrumentos como este.
72
Figura 102: Espécimes na coleção de referência.
73
Figura 103: Espécimes na coleção de referência, continuação.
74
Inga, aráceas, heliconiáceas e asteráceas. Uma espécie de Passifloraceae bastante
incomum foi coletada na região de roças.
Neste sítio, foram coletadas 23 espécies botânicas.
75
Destaques dos Resultados
O projeto é pioneira e traz novas informações sobre a alimentação pré-colombiana e a
criação de bancos de dados que servirão para futuras pesquisas. Dois alimentos
encontrados nessa pesquisa que merecem destaque são milho (Zea mays) e castanha da
Amazônia (Bertholetia excelsa).
Alimentação: Milho
Um fragmento carbonizado de espiga de Zea mays (milho) foi encontrado no sítio
Conjunto Vilas, Tefé - AM, no contexto fechado de uma feição (5, unidade S1450
E1651/52). Este vestígio é prova do manejo de milho na Amazônia pré-colombiana, já que
a planta não se reproduz independentemente no ambiente da floresta tropical ou suas
várzeas. São poucas as ocorrências documentadas de vestígios de milho na Amazônia
brasileira e nas terras baixas da América do Sul. Entretanto, é rara a sua preservação
como carvão já que o que o grão e a espiga são órgãos frágeis (Figura 104). O contexto
no qual a espiga de milho foi encontrada ainda será datado e os resultados trarão
informações sobre a cronologia da introdução e intensificação do plantio deste cultivar na
região estudada. Também as cerâmicas encontrados no mesmo contexto estão sendo
analisadas para saber se pertencem a fase Caiambé ou a fase Tefé, respectivamente das
tradições borda incisa e policromia. Sendo que as tradições são de ampla dispersão,
ocorrendo por outras áreas da Amazônia, servem de ferramenta para avaliar a associação
entre populações de diversas regiões e suas praticas.
Alimentação: Castanha
Castanha da amazônia (Bertholetia excelsa) é uma arvore com baixa diversidade genética
que para nascer e se estabelece depende das aberturas na floresta formados por quedas
de arvores ou coivaras. O agente natural de sua dispersão é a cutia, entre tanto ação
humana é proposto com uma dos fatores responsável pela ocorrência de castanhais
(Shepard & Ramirez 2011). As evidencias arqueológicas de vestígios de castanha nos
sítios dos rios Negro, Unini e Pardo mostram a história da utilização desse especie por
grupos humanas, correspondendo com as evidencias de Roosevelt e colaboradores
(1996) para ocupações antigas no sítio Pedra Pintada no baixo rio Amazonas. Ademais a
predominância de castanha nos sítios do baixo rio Negro é sugestivo de praticas de
manejo.
Os vestígios de castanha da amazônia encontrado no médio Rio Negro estão associados
com cerâmicas da tradição Borda Incisa. No sítio de Floresta as unidades com os
vestígios não estão datadas diretamente. No sítio Lago de Pombas ocorrem nos níveis
com profundidades entre 90 e 120 cm e datada em 230-390 d.C.. Os sítios do baixo rio
76
Negro, Vila Nova I e Vila Nova II, apresentam amostras com a maior predominância de
castanha, respetivamente com cinco e oito fragmentos (lembrando que um baixo volume
de sedimento foi processado) (Figura 105). Enquanto não datadas por radiocarbono, as
cerâmicas nos dois pertencem a tradições diferentes que geralmente se consideram como
marcadores temporais. Isso mostra a longa duração do seu aproveitamento na região. A
região de Presidente Figueiredo, ao leste do rio Negro, também apresenta vestígios de
castanha no sítio Claudio Cutião. O uso deste alimento esta demonstrada em uma área
fora da proposta região da sua origem e que hoje continua como local de sua extração
(Figura 106).
77
Atividades de extensão - História e Conhecimentos Tradicionais de
Povos da Amazônia
O projeto de pesquisa arquelógica estava diretamente ligada ao projeto de extensão:
História e Conhecimentos Tradicionais de Povos da Amazônia. O coordenador criou o
projeto de extensão para trabalhar com conhecimento arqueológico, contextualizado pelo
antropologia e a história da amazônia. Seu vinculo com o Museu Amazônico-UFAM e o
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social-UFAM permitisse que o projeto
aproveitasse dos conhecimentos de outros profissionais, professores e alunos. E através
dessa equipe a extensão em arqueologia foi levada para mais municípios do que
contemplada pela pesquisa arqueológica. O projeto foco a maioria das suas ações para
coincidir com o mês da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em 2012, 2013 e 2014.
Objetivos
O objetivo principal do projeto foi de popularizar a ciência, disseminar e democratizar a
informação sobre a história e os conhecimentos tradicionais dos povos da região
Amazônica, a partir da divulgação dos acervos do Museu Amazônico, suas exposições,
materiais etnográficos e documentais.
Para alcançar esse objetivo foram propostas quatro metas:
1. Distribuir recursos pedagógicos de divulgação científica a partir dos temas do Museu
Amazônico;
2. Envolver alunos pertencentes ao ensino médio e fundamental em atividades
pedagógicas sobre o tema;
3. Sensibilizar alunos através de uma exposição do Museu Amazônico sobre a história e
os conhecimentos tradicionais dos povos do Amazonas.
4. Envolver alunos na discussão da preservação de patrimônio histórico.
Atividades
A equipe do projeto História e Conhecimentos Tradicionais dos Povos da Amazônia
desenvolveu materiais pedagógicos especificamente para a Semana Nacional de Ciência
e Tecnologia para compartilhar informações sobre pesquisas no Amazonas em
arqueologia, antropologia, etnografia e história. Os materiais - uma cartilha, um jogo de
memória, um folder, um marcador de livro e um jogo de quebra cabeça– serviram para
despertar o interesse dos alunos e do público para essas ciências (Figura 107).
Atividades ocorreram em escolas e outros centros comunitários dos municípios de Atalaia
do Norte Itacoatiara, Humaitá, Manacapuru, Manaus, Novo Airão, Presidente Figueiredo,
Silves e Tabatinga e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Tupé, localizada em
Manaus, na Terra Indígena Filadelfia, localizada em Benjamin Constant e na Terra
Indígena Umariaçu II, localizada em Tabatinga.
78
Figura 108: Aplicação do jogo de memória,
Presidente Figueiredo, 2012.
Figura 107: Materiais didáticos produzido pelo
projeto em 2012.
A roteira básica das atividades comum pelo projeto como todo foi: uma breve palestra,
visita a exposição de pôsteres e recebimento de exemplares dos materiais pedagógicos
(Figuras 108, 109, 110, 111 e 112). As apresentações e palestras foram diferenciadas
conforme as faixas etárias: ensino primário, ensino fundamental, ensino médio, ensino
magistral e educação de jovens e adultas (Figura 113).
Figura 109: Palestra socioeducativa, Presidente Figura 110: Exposição de banners, Itacoatiara,
Figueiredo, 2013. 2013.
79
Figura 111: Entrega de material didático, Novo Airão, Figura 112: Explorando os banners, Atalaia do
2013. Norte, 2013.
Figura 113: Conhecimento tradicional retratado por alunos do primeiro ano, Atalaia do Norte, 2013.
Resultados alcançados
Em 2012, a equipe do projeto "História e Conhecimentos Tradicionais dos Povos da
Amazônia" desenvolveu materiais pedagógicos especificamente para a Semana Nacional
de Ciência e Tecnologia para compartilhar informações sobre pesquisas no Amazonas em
arqueologia, antropologia, etnografia e história. Em 2013, a equipe do projeto “História e
Conhecimentos Tradicionais dos Povos da Amazônia, ações em cinco municípios”
80
reeditou os materiais para sua aplicação durante a Semana Nacional de Ciência e
Tecnologia. Em 2014, a equipe do projeto “História e Conhecimentos Tradicionais dos
Povos da Amazônia, ações na zona rural” retomou edições das materiais didáticos,
incluindo mudanças ao arte gráfica da cartilha junto o ilustrador original. Os materiais -
uma cartilha, um jogo da memória, um folder e um marcador de livro – serviram para
despertar o interesse dos alunos e do público para essas ciências. A equipe também
reeditou os pôsteres utilizados na exposição de divulgação cientifica e criou fantoches
para usar em teatro infantil.
O projeto procurou ampliar o conhecimento dos alunos e comunitários acerca dos saberes
das populações tradicionais da Amazônia. Diante disso, estes conhecimentos foram um
dos focos do material didático e de divulgação. Saberes destacados incluíram o uso de
recursos da floresta na forma de medicamentos, a tecnologia de extração do veneno da
mandioca-brava e as tecnologias utilizadas na produção de cerâmicas e cestarias.
A temática de arqueologia foi bem recebida por alunos da zona rural que conhecem sítios
de habitação antiga conhecidos como terra preta de índio. Quando perguntamos o que é
terra preta eles associavam o lugar com roças ou plantios. Entretanto os alunos que
andavam por área de terra preta sabiam dos cacos, mas não sabiam da importância da
sua antiguidade ou utilização, assim foi possível conversar sobre sua origem em potes e
vasilhames indígenas e associação direta com os lugares de velhas moradias. Muitos
ficaram espantados quando provocados a pensar que já tinham pisados em uma aldeia
indígena. Assim, os alunos aprenderam sobre o patrimônio histórico existente abaixo dos
sítios de suas famílias, parentes ou vizinhos, sendo que sensibilização sobre a existência
deste patrimônio serve como um passo para sua preservação.
Em 2012 as atividades foram conduzidas no município de Presidente Figueiredo e
envolveram mil e seiscentos e dois (1.602) alunos do ensino primário, ensino fundamental
e educação de jovens e adultas.
Em 2013 as atividades envolveram cinco mil e trita e um (5.031) alunos do ensino
primário, ensino fundamental, ensino médio, ensino magistral e educação de jovens e
adultas.
Em 2014 a participação foi excelente com o envolvimento de quatro mil e quinhentos e
vente e cinco (4.525) alunos. Também a qualidade das ações superou as de 2012 e 2013.
Os membros da equipe que integraram pela segunda ou terceira vez tiveram mais
experiencia com o material didática e desenvolvendo atividades nas escolas. Os alunos
contemplados passaram mais tempo trabalhando com atividades do projeto que gerou
discussões mais profundas sobre as temáticas. As reflexões e conversas com os alunos
foram imprescindível para trabalhar com a meta, "Envolver alunos na discussão da
preservação de patrimônio histórico", novo ao projeto de 2014. A atenção dada essa meta
diminuiu a quantitativa de participação global no projeto.
Em 2015 ocorreram ações pontuais em comunidades no Presidente Figueiredo onde
ocorriam atividades de campo arqueológico.
O projeto “História e Conhecimentos Tradicionais dos Povos da Amazônia, ações na zona
rural” também foi diretamente divulgada para público de Manaus através da exposição
temporário no Museu Amazônico "Arqueologia - Descobrindo os Conhecimentos
Tradicionais dos Povos da Amazônia". Vislumbramos essa oportunidade como meio de
atingir as metas do presente projeto mesmo não localizada na zona rural. A exposição,
que cassou extensão e pesquisa, tive duração da dia 17 de novembro de 2014 até 17 de
janeiro de 2015. O projeto de pesquisa "Alimentação, manejo da terra e cultura: uma
81
abordagem paleoetnobotânica da pré-história indígena no nordeste do Estado de
Amazonas ", estava diretamente ligada ao conhecimento do patrimônio arqueológico. No
âmbito da exposição houve apresentação dos diversos materiais didáticos e banners,
estações interativas utilizava os jogos de memória, quebra cabeças, e paginas para pintar
enquanto as cartilhas eram penduradas para leitura. Os materiais didáticos distribuídos na
exposição foram folders e marcadores de livro. O público alvo atingido pela exposição foi
todas as visitas ao museu ao longo dos dois meses, mais que 2.000 pessoa, e visitas por
750 alunos de escolas de Manaus.
A equipe do Museu Amazônico ficou muito satisfeita com o resultado das atividades e da
produção didática. Além disso, as ações e o preparo para o desenvolvimento das
atividades ajudaram na formação profissional da equipe, que foi exposta a maiores
informações sobre os acervos e pesquisas do Museu.
O sucesso global das atividades desenvolvidas durante a execução do projeto pode ser
indicado pela demanda dos professores de que as ações fossem repetidas em anos
subsequentes. Muitos professores e gestores solicitam recursos didáticos para poder
ensinar história e cultura regional.
Equipe envolvida
Angela Maria Araujo de Lima, Breno Rodrigo da Costa Moreira, Camila Garcia Iribarrem,
Carolina Brandão Gonçalves, Cristina Andrade Ferreira, Custódio Rodrigues, Inara do
Nascimento Tavares, Jane de Clotilde Cony Cruz, Kirna Karoleni Vitor Gomes, Lorena
Martins Castro, Luciano de Souza Silva, Marco Antônio Lima da Silva, Margaret
Cerqueira, Maria Helena Ortolan Matos, Mariana Franco Cassino, Mick Jone Nogueira de
Almeida, Myrtle Pearl Shock, Natã Souza Lima, Neon Solimões Paiva Pinheiro, Patricia
Carvalho, Raquel Wiggers, Regina Lucia de Souza Vasconcellos, Solange Mara Garcia
Iribarrem, Suzanne Lima Fernandes, Vanessa de Carvalho Benedito
82
Produção bibliográfica
A pesquisa do projeto gerou quatro comunicações em congressos, listados abaixo. Para
três desses os resumos foram publicados. Um das comunicações gerou publicação em
atas de congresso internacional. Outro artigo foi submetido para publicação e é o fonte da
secção desse relatório Amazônia e Paleoetnobotânica.
83
SHOCK, M. P. ; BELLETTI, J. S. ; CASSINO, M. F. ; LIMA, A. M. A. Arqueologia de plantas
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84
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Artigo publicado
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