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Tema 02: Processos históricos e transformações socioculturais

vistos através da arte


Rodrigo Lemos Simões
Cultura
Então, vamos lá. Em primeiro lugar, é importante falarmos sobre
um dos conceitos essenciais do nosso estudo, o de cultura. Não se trata
de um conceito simples, posto que diferentes perspectivas teóricas
pensaram a cultura à sua maneira. Segundo o professor Roque Laraia
(2001), nas teorias modernas sobre cultura destacam-se diferentes
tendências que a consideram como um fenômeno adaptativo, cognitivo,
estrutural ou simbólico.
Talvez, a concepção mais lembrada por nós seja a da cultura
como fenômeno adaptativo, entendida como padrões de
comportamento socialmente transmitidos, as suas “tecnologias e
modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de
agrupamento social e organização política, crenças e práticas
religiosas, e assim por diante”. (LARAIA, 2001, p. 59)
Para o antropólogo Clifford Geertz (2008), a cultura pode ser
melhor compreendida se pensada como um fenômeno simbólico, uma
teia de significados tecida pelos grupos humanos, como sistemas
entrelaçados de signos interpretáveis. Segundo o autor, “um conjunto
de mecanismos de controle - planos, receitas, regras, instruções (o que
os engenheiros de computação chamam "programas") - para governar
o comportamento”. (GEERTZ, 2008, p. 32)
Ora, dentro desta perspectiva, a arte não pode ser pensada senão
como parte integrante desta teia de significados. Para Geertz (1997, p.
149), a arte, assim como outras capacidades humanas, é produto da
experiência coletiva e o seu estudo é a expressão de uma sensibilidade
tão profunda quanto a própria vida social.
Então vejamos. Quando analisamos os grupos humanos do
período neolítico (10.000 - 5.000 a.C.), constatamos que eles passaram
a viver de forma sedentária, que aperfeiçoaram as técnicas de produção
de artefatos, e as práticas agropastoris. Neste mesmo período a arte
experimenta a sua primeira grande transformação. Segundo a
professora Graça Proença (2013, p. 13-14), o homem do período
neolítico abandonou o estilo naturalista, dando início à representação
de cenas da vida cotidiana e das atividades coletivas. Isso pode ser
observado nas pinturas rupestres de Tassili N’Ajjer na Argélia. Neste
sítio arqueológico de mais de 15 mil imagens desenhadas, pintadas e
esculpidas nas rochas, podemos ver a representação de diversas
atividades envolvendo pessoas e animais em movimento, mudanças
climáticas e transformações nos hábitos e formas de convívio dos
grupos humanos que habitaram a região.

IM1 - Pinturas rupestres.


http://argelia3.blogspot.com/2015/06/argelia-terra-de-arte-e-historia.htm

Agora, veja só este outro exemplo, “As riquíssimas horas do


duque de Berry”, do século XV. Trata-se de um dos mais
representativos exemplares da arte gótica, em pequenas ilustrações
ricamente coloridas e ornamentadas. Neste detalhe temos a
representação dos meses do ano com as práticas de sociabilidade ou
trabalhos a eles relacionados, uma bela representação da cultura e dos
hábitos daquele período.

IM2 - As riquíssimas horas do duque de Berry.


https://www.taringa.net/+arte/las-muy-ricas-horas-del-duque-de-berry-miniatura-medieval-
1_12s4pb

Emoções
A arte também nos fala das emoções, dos sentimentos, da
alegria, da dor, da paixão ou do desespero. Logo após a II Guerra
Mundial a vida não era nada fácil, e para as crianças órfãs muito menos.
Porém, pequenos gestos podem mudar o dia, ou pelo menos foi assim
que aconteceu com o pequeno Werfel, um menino austríaco de seis
anos. Eternizado pelas lentes do fotógrafo Gerald Waller no exato
momento em que recebe um novo par de sapatos. Já o pintor brasileiro
Cândido Portinari nos leva ao outro extremo, a dor e o sofrimento de
uma mulher chorando. Entre outros temas latentes do cenário nacional,
Portinari se destacaria pelas obras de cunho social, a representação
dos pobres, dos trabalhadores, dos retirantes que sofrem a dor da fome
e do desamparo. Antes deles, o pintor norueguês Edvard Munch
eterniza a angústia e o desespero existencial em sua obra “O grito”,
uma das mais importantes pinturas a influenciar o movimento
expressionista. Nas palavras da professora Graça Proença, (2013, p.
152) “o Expressionismo procurou expressar as emoções humanas e
interpretar as angústias que caracterizaram psicologicamente o homem
do início do século XX”.

IM3 - Menino recebendo um novo par de sapatos.


https://www.flickr.com/photos/christianeforcinito/15261237648
IM4 - Mulher chorando.
https://artrianon.com/2017/09/04/obras-inquietas-43-mulher-chorando-1947-candido-portinari/

IM5 - O Grito.
https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito

Contexto
Eu também quero te falar sobre o seguinte. É comum escutarmos
que, para se ter uma boa compreensão a respeito de um determinado
fato ou evento temos que conhecer o contexto. Mas afinal de contas, o
que isso significa? Bem, pode significar muitas coisas, mas da forma
como propomos neste texto, significa que devemos considerar para fins
de análise e compreensão de um dado momento do passado, a
complexidade das relações sociais, os aspectos políticos e econômicos,
as vivências cotidianas, as crenças, etc. Temos sempre que buscar
encontrar o lugar de onde nos falam os sujeitos e os grupos, a fim de
“esclarecer, ou ao menos nos aproximar das construções conscientes
ou não dos agentes sociais, sejam eles individuais ou coletivos”.
(SIMÕES, 2016, p. 69)
Neste papiro originário do antigo Egito, de aproximadamente
1300 anos a. C., vemos um julgamento no tribunal do Deus Osíris. De
um lado da balança o coração do morto, do outro uma pena de avestruz
representando a pureza do coração da Deusa Maat. O equilíbrio da
balança equivale a absolvição e a passagem à vida no além. Os antigos
egípcios acreditavam que a morte física não encerrava a existência, e
que uma vida no além dependeria da comprovação de uma vida justa e
harmônica diante de um tribunal.

IM6 - A pesagem do coração.


https://www.britishmuseum.org/collection/object/Y_EA10470-3

Outro bom exemplo é esta pintura do artista italiano Giotto di


Bondone. Ela faz parte de uma série de pinturas que representam a vida
de Cristo. Giotto viveu em uma época de forte apelo religioso, aonde a
Igreja católica detinha muito poder e a arte servia como expressão dos
valores morais e religiosos. Nesta obra sobre o nascimento de Cristo, a
cena bíblica é traduzida de forma extremamente humanizada, rica em
cores e detalhes.

IM7 - A adoração dos magos.


https://www.metmuseum.org/art/collection/search/436504

Então, é importante que possamos compreender que, a cultura, a


arte, a literatura, são expressões do clima intelectual de uma época e
fazem parte de um conjunto de circunstâncias que caracterizam a
sociedade durante um determinado período. Em alemão o termo
zeitgeist, ou o “espírito do tempo” foi utilizado pelos escritores
românticos, entre eles o filósofo Johann Gottfried Herder para designar
aquelas tendências ou características genéricas que, de modo
inconsciente, determinam o comportamento e as formas de pensar.
Segundo Souza e Santos (2018, p. 1), o filósofo alemão Georg Wilhelm
Friedrich Hegel considerava que “em sua função histórica, a arte
chegou a ser equiparável às funções da religião e da filosofia”, sendo
considerada em sua essência a expressão do espírito de uma época.
Veja as imagens que escolhi e tire as suas próprias conclusões.
E para te ajudar, vou fazer o seguinte, te indico a leitura deste trecho de
um livro do filósofo francês Michel Foucault. Segundo ele, na Idade
Média o poder pastoral da Igreja Católica “deu lugar a toda uma arte de
conduzir, de dirigir, de levar, de guiar, de controlar, de manipular os [...]
homens coletiva e individualmente ao longo de toda a vida deles e a
cada passo de sua existência” (FOUCAULT, 2008, p. 219).

IM8 - Dança macabra.


http://www.dodedans.com/Eest.htm

IM9 - Doríforo.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Doryphoros_MAN_Napoli_Inv6011-2.jpg
IM10 - Concurso de dança.
https://www.reddit.com/r/StLouis/comments/2cw2cn/charleston_dance_contest_in_front_of_st_l
ouis/

Ao contrário da antiguidade clássica, que desenvolveu uma


estética de exaltação do corpo humano, visto no seu esplendor e
perfeição, a moral cristã perpetrou uma ideia a respeito do corpo como
algo desprezível. As sociedades estamentais, altamente hierarquizadas
que marcaram o medievo, também foram submetidas simbolicamente
pela igreja, como pode ser percebido nas diversas alegorias sobre a
morte, muito populares durante o período. Nelas fica expresso a ideia
de que, depois de morto, já não haviam mais distinções de ordem
econômica ou social, sendo todos levados da mesma forma ao túmulo.
Já no pós I Guerra Mundial, viveu-se um momento de mudança
de valores e normas sociais. As “Flappers”, ou “melindrosas” eram
jovens que reivindicavam mais liberdade, rompendo com o papel das
garotas das gerações enteriores. Seus hábitos foram considerados
perigosos e ultrajantes para a moral da época. Elas são o resultado das
mudanças ocorridas no período, entre elas o ingresso em massa no
mercado de trabalho, a ampliação dos espaços de sociabilidade como
os clubes de Jazz e o dierito ao voto. Elas foram consideradas a
primeira geração de mulheres a romper com as barreiras econômicas,
políticas e sexuais impostas pela sociedade patriarcal do período.
Até aqui já compreendemos que, através da arte, os artistas
representam alguns dos argumentos, visões de mundo e ideias que se
tornaram comuns em um dado período. Portanto, a arte ajuda as
pessoas a compreender melhor as suas circunstâncias de vida, a
consolidação de determinados aspectos da sociedade e também as
suas transformações.
Na pintura de Philip James de Loutherbourg, uma representação
bem característica do período conhecido na história como Revolução
Industrial. No povoado de Coalbrookdale a fumaça das fábricas. Este
lugar em especial ficou conhecido por ser um dos pioneiros na fundição
de ferro. Já na tela de Umberto Boccioni, um dos ícones do movimento
futurista italiano da segunda década do século XX, a experiência
moderna, a velocidade e o apelo tecnológico, fazem parte das
representações da cidade, do seu movimento e transformações.

IM11 - Coalbrookdale à noite.


http://historytradeart.blogspot.com/2010/05/art-and-artistic-reactions-to.html
IM12 - O Despertar da Cidade.
https://br.pinterest.com/pin/480407485238289045/

Releituras
Agora, olha só que interessante. A obra ‘O Nascimento de Vênus”
de Sandro Botticelli, feita no final do século XV, foi extremamente
inovadora em sua época. Ao contrário da arte de influência cristã, típica
da Idade Média, esta pintura renascentista nos traz um tema leigo, com
origem na mitologia clássica, a deusa Vênus emergindo do mar em uma
concha. Agora, vou te contar uma coisa. Adoro releituras, livres criações
inspiradas em obras de arte icônicas como a de Botticelli. Vou te
mostrar uma, a fotografia da atriz suíça Ursula Andress no filme ‘007
contra o Satânico Dr. No”. Na primeira aparição do agente secreto nos
cinemas, baseada no romance do escritor britânico Ian Fleming,
Andress sai do mar em uma bela praia do Caribe trazendo conchas nas
mãos. Será mero acaso? E você, também conhece alguma releitura de
obra artística?
IM13 - O Nascimento de Vênus.
https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/o-nascimento-de-venus-sandro-
botticelli/

IM14 - Ursula Andress, no filme 007 contra o Satânico Dr. No.


https://www.007.com/focus-week-honey-ryder/
Como já vimos, os valores de uma época podem ser conhecidos
por nós através das representações artísticas do período. Vamos ver
então dois exemplos interessantes sobre formas de comportamento.
Primeiro, uma pintura do século XV, feita pelo pintor flamengo Jan van
Eyck. Trata-se do matrimônio do casal Arnolfini, ricos comerciantes da
Bélgica. Na realidade, o fato de ser uma cerimônia nupcial é
contestável, porém, a temática é indubitavelmente relacionada à
relação afetiva entre ambos, retratada de forma pomposa e teatral.

IM15 - O Casal Arnolfini.


https://www.saiacomarte.com/obra/casal-arnolfini/

Cidade de Bethel, Nova York. O ano era 1969, e durante três dias
do mês de agosto jovens de várias partes do país se reúnem naquele
que foi o maior e mais conhecido festival de músicas, o Woodstock
Music & Art Fair, ou simplesmente, o Festival de Woodstock.
Fotografados por Burk Uzzle, o casal enrolado no cobertor enlameado
virou um dos símbolos do festival, traduzindo a essência do que os seus
organizadores queriam, “3 Dias de Paz e Música". Era manhã de
domingo e eles haviam acabado de acordar, sem que pudessem
perceber... click! Os jovens namorados foram capturados pelas lentes
do fotógrafo. Despretensiosamente acabaram por se tornar parte da
história da cultura pop, quando alguns meses depois ilustraram a capa
do álbum com as músicas do festival.

IM16 - Casal no festival Woodstock.


https://istoe.com.br/50-anos-depois-casal-de-capa-do-disco-woodstock-retorna-a-festival/

Ideologias
Na arte, também podemos perceber a história em processo.
“Viajando” por situações que vão muito além do que está sendo
retratado, em uma determinada cena que nos é apresentada, ainda que
não esteja explícita a dimensão do processo que a tornou possível, ele
pode encontra-se presente. Vejamos estas obras do pintor francês
Jacques-Louis David, contemporâneo da revolução ocorrida naquele
país no final do século XVIII, e que pôs fim ao Antigo Regime.
Na pintura “A morte de Marat”, o fato. Nela, vemos o
revolucionário francês, um dos mais importantes líderes políticos do
período, morto na banheira de sua casa. Ele foi assassinado em meio
às divergências sobre os rumos da revolução, o que só foi de certa
forma solucionado com a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder.
IM17 -A morte de Marat.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Death_of_Marat_by_David.jpg

Na pintura seguinte, “A coroação de Napoleão”, o processo. Nela,


é representada a cerimônia de coroação de Napoleão I como Imperador
do Império da França. À sua frente, ajoelhada, está Joséphine, sua
esposa que recebeu a coroa de suas mãos. Em pé, o protagonista da
cena, Napoleão que segura a coroa sobre sua cabeça, coroando-se a
si mesmo, enquanto os demais participantes da cerimônia, inclusive o
Papa, assistem passivamente o seu gesto.
IM18 - A coroação de Napoleão.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jacques
Louis_David,_The_Coronation_of_Napoleon.jpg

Aspectos da política se tornam bem conhecidos através da arte,


como pudemos ver nas imagens anteriores. Da mesma forma, e para
não sairmos do ambiente político, vamos pensar em um outro conceito,
o de ideologia. Segundo o Dicionário de Política do filósofo italiano
Norberto Bobbio, ideologia designa “um conjunto de ideias e de valores
respeitantes à ordem pública e tendo como função orientar os
comportamentos políticos coletivos” (BOBBIO, 1998, p. 585).
Diferentes governos, das mais diversas ideologias, fizeram uso
da arte na propagação das suas ideias. Esta prática é muito comum e
pode ser verificada desde a antiguidade até os dias atuais. Na
Alemanha do período nazista, o culto ao corpo fazia parte da ideologia
do regime que acreditava na superioridade não só física, mas moral e
intelectual do povo alemão. Artistas como Albert Janesch e Adolph
Wissel exploram a temática da pureza e idealização das origens
arianas, reforçando os ideais de coletividade e nacionalismo. Já na
década de 1950, a arte realista tornou-se o estilo dominante na União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), promovendo os ideais
do regime. Cartazes como o da Liga da Juventude Comunista Leninista
tinham por objetivo difundir os valores comunistas entre os jovens.

IM19 - Esportes aquáticos.


http://www.artnet.com/magazineus/features/kuspit/chaos-and-classicism10-20-
10_detail.asp?picnum=7

IM20 - Família de camponeses de Kalenberg.


https://powerofh.net/2017/10/21/adolf-wissel-1894-1972/
IM21 - Glória à Liga Comunista da Juventude Leninista!
https://www.worthpoint.com/worthopedia/1958-ussr-soviet-art-poster-glory-1787846676

Ativismo e comportamento
Também, questões sociais importantes, e que se tornaram
mundialmente conhecidas, passaram a ser representadas pela arte nas
suas mais variadas formas. Veja o caso do Mural abaixo.

IM22 - Guernica.
https://pontosdevista.pt/2017/04/27/guernica-80-anos-2/
Guernica, obra do pintor espanhol Pablo Picasso é antes de mais
nada, uma mensagem de resistência contra o fascismo que crescia na
Europa do pós I Guerra Mundial. Nele, o artista nos apresenta um
recorte da Guerra Civil Espanhola, o bombardeio à cidade no ano de
1937 pelos aviões alemães, aliados do general Francisco Franco.
Nos EUA da década de 1930, ainda abalados pela crise de 1929,
outdoors representando a “família tradicional americana” celebravam o
"mais alto padrão de vida do mundo”, e o “modo de vida americano”.
Olhe um deles aqui, mas agora visto pela lente da fotógrafa
estadunidense Margaret Bourke-White. Em 1937, na cidade de
Louisville, White fotografou homens, mulheres e crianças negras na “fila
do pão”. Eram as vítimas da inundação do Rio Ohio que devastou
cidades em cinco Estados naquele ano.

IM23 - A inundação deixa suas vítimas na fila do pão.


https://pibidhonorio.wordpress.com/2017/09/29/american-way-of-life-contraste-entre-crise-e-
consumismo/
E na pintura mural abaixo, que belo exemplo de releitura de uma
imagem que se eternizou na memória do mundo ocidental nas últimas
décadas. Malala, a ativista paquistanesa pelos direitos humanos e das
mulheres virou personagem do cartaz motivacional “We Can Do It!”
produzido para a Westinghouse Electric Corp. pelo artista gráfico J.
Howard Miller no ano de 1943. Hoje ele é associado ao ativismo e o
empoderamento feminino, mas na época em que foi feito serviu apenas
como uma peça de circulação interna nas fábricas da Westinghouse.
Somente depois de redescoberto em um artigo da Washington Post
Magazine no ano de 1982 sobre pôsteres patrióticos nos Arquivos
Nacionais, foi que ele passou a ser associado ao nome “Rosie the
Riveter”, ou “Rosie a Rebitadora”, título de uma música pop e apelido
genérico, dado às operárias americanas durante a guerra.

IM24 - Malala e Rosie the Riveter.


https://translate.google.com/translate?hl=pt-
PT&sl=en&u=https://www.buzzfeed.com/rossalynwarren/this-mural-of-malala-as-feminist-
symbol-rosie-the-riveter-is&prev=search&pto=aue

No pós II Guerra Mundial, ganham espaço a contra cultura e os


movimentos de jovens, questionando os padrões e normas sociais.
Com os seus novos hábitos, roupas, formas de falar e comportamentos
desviantes, eles se negavam a repetir a história dos seus pais,
buscando novas experiências e criando um modo próprio de ser. Os
grupos de motociclistas que surgem nessa época eram basicamente
formados por jovens oriundos de famílias de baixo poder econômico
que buscavam romper com os padrões estabelecidos. Eternizado no
cinema como o motociclista Johnny, líder de uma gague, Marlon Brando
tornou-se um ícone da sua geração no filme “O selvagem”. Que foto!

IM25 - O selvagem.
http://www.blogosanosperdidos.com.br/2017/08/cinemateca-o-selvagem-wild-one.html

Um dos momentos mais traumáticos da história americana na


segunda metade do século XX foi a Guerra do Vietnã, que custou a vida
de aproximadamente cinquenta e oito mil soldados estadunidenses
entre os anos de 1961 e 1974. Garotos oriundos de todas as regiões do
país alistaram-se imaginando que iriam para uma guerra rápida, que
logo se resolveria em face a superioridade militar norte-americana
diante do exército vietnamita. Não foi o que aconteceu, e na medida em
que a guerra se estendia, grupos de jovens passaram a tomar as ruas
reivindicando o fim da guerra. Tinha início o movimento Hippie, a vida
em comunidades, a negação dos valores tradicionais da sociedade
americana, o capitalismo, as grandes corporações e a guerra.
IM26 - Cartaz promocional do filme Hair.
https://br.pinterest.com/pin/338755203194918077/

“Hair” foi um musical que estreou na Broadway no ano de 1968,


contando a história de um rapaz do interior dos EUA que é recrutado
para servir nas forças armadas durante a Guerra do Vietnã. Chegando
à Nova York, ele conhece um grupo de Hippies que buscam de todas
as formas dissuadi-lo de engrossar as fileiras do exército. Em meio a
uma série de eventos característicos do ambiente político-social do
período, o rapaz acaba por se apaixonar por uma jovem aristocrática
e... E? Como assim? Bem, agora acho que consegui te convencer a
assistir ao filme. Sim, no ano de 1979 foi feita a adaptação de “Hair”
para o cinema, um verdadeiro espetáculo de filme! E que músicas!
IM27 - Sem Sentimentos.
https://br.pinterest.com/pin/73957618858656793/

E esta obra acima, o que acharam? É um trabalho do artista


plástico britânico Jamie Reid, que é praticamente o responsável pela
identidade visual do punk rock inglês. Reid fez capas de álbuns icônicos
como as do grupo Sex Pistols, além de vários trabalhos incríveis
utilizando serigrafia e também uma técnica de recorte e colagem.
Nascido nos EUA, na primeira metade da década de 1970, o
movimento punk logo chegou na Inglaterra e disseminou-se entre os
jovens oriundos da classe operária, servindo como resposta à aspereza
de um ambiente desalentador aonde a pobreza, o desemprego e a
decadência econômica tornavam-se cada vez maiores. Enquanto
manifestação cultural o movimento punk desenvolveu uma arte crítica
que negava os costumes, tradições e ideologias da época, procurando
subverter os valores sociais vigentes. Nesta tela de Reid temos a
imagem de uma mulher enfaixada, sentada na passarela de um
conjunto habitacional, com o olhar petrificado, fixo, perdido no
horizonte. Vazia, inquietante e ao mesmo tempo provocadora, “no
feelings” (sem sentimentos) é o nome de uma das faixas do álbum
“Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols”, do ano de 1977.
No início da década de 1980 um jovem artista americano rouba a
cena na arte pop e na contracultura novaiorquina. Trata-se de Keith
Haring, o “cara” dos grafites e grandes murais coloridos que invadiram
ruas, estações de metrô e galerias de arte. Ele rompeu com a ideia da
arte elitista para ser apreciada por poucos, popularizando e
comercializando o seu trabalho em brinquedos, camisetas, bolsas,
pôsteres e muito mais. Em meio a crises econômicas, ditaduras,
viagens espaciais, guerra fria e a epidemia causada pelo HIV, a cultura
pop ganhava cada vez mais espaço. É a época de ouro dos videoclipes,
dos videogames, do cinema teen, das roupas coloridas, mas também
do ativismo político e social. Haring não se omitiu e também fez da sua
arte um instrumento de conscientização a respeito do perigo do HIV.

IM28 - Ignorance = Fear


https://www.wikiart.org/en/keith-haring/ignorance-fear-1989

Educação
Finalmente, quero te mostrar alguns exemplos de como a
educação foi representada pelos artistas de diferentes épocas. Imagens
sobre esta temática não nos faltam, difícil mesmo é escolher quais delas
vão servir ao nosso propósito de ilustrar a prática educativa.
A cerâmica grega está associada a uma das mais significativas
expressões artísticas da antiguidade, a pintura. Em diferentes tipos de
vasos podemos perceber o desenrolar da cultura e o desenvolvimento
da sociedade grega. Aqui temos uma representação da alfabetização
em Atenas por volta do século V a.C., quando a Paideia passou a ser o
termo utilizado para designar a formação integral do cidadão.

IM29 - Meninos na escola.


https://www.culturaanimi.com.br/post/paideia-de-werner-jaeger

Já o artista holandês Jan Steen, conhecido por pintar cenas do


cotidiano no século XVII, nos legou interessantes representações das
escolas. Como podemos ver, elas pouco se parecem com as escolas
atuais, com as suas classes em filas. Digamos que esta turma também
não parece muito organizada, ao contrário da que foi retratada pelo
artista italiano Francesco Bergamini no século XIX, aonde podemos ver
mais organização. Mas a que custo? Humilhações, castigos físicos e
punições foram práticas comuns que se perpetraram no cotidiano das
escolas até o século XX.
IM30 - A escola dos garotos.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jan_Steen_-_Twin_Birth_Celebration_-
_WGA21737.jpg

IM31 - A escola vista.


https://www.pinterest.at/pin/389139224044846393/
Na gravura americana da década de 1960, a professora e as
crianças no interior da sala de aula. O magistério tornou-se uma
“profissão feminina”? Segundo Andreia Ferreira (1998), esta construção
ganhou força já no final do século XIX, com o surgimento das primeiras
escolas normais. Até então a profissão de professor era quase que
exclusivamente masculina.

IM32 - A professora e os alunos na sala de aula.


https://www.flickr.com/photos/christianmontone/4540360747/in/photostream/

Agora que chegamos ao fim deste capítulo, podemos olhar em


retrospectiva e ver como a arte foi importante para a representação da
cultura e dos valores vigentes em um determinado período. Espero que
você tenha gostado e que este estudo sirva para motivá-lo a continuar
olhando a arte como parte importante do legado de uma época.
Referencias
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco.
Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.
FERREIRA, A. T. B. A mulher e o magistério: razões da supremacia
feminina (a profissão docente em uma perspectiva histórica). Tópicos
Educacionais, v. 16, n. 1–3, p. 46–61, 1998. Disponível em:
https://periodicos.ufpe.br/revistas/topicoseducacionais/article/view/224
55/18641. Consultado em: 20/07/2020.
FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população: curso dado no
Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008.
GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia
interpretativa. Petrópolis: Vozes, 1997.
_______. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. 14ª
ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo; Editora Ática, 2013.
SIMÕES, Rodrigo Lemos. Teoria da História I. Organizado por
Universidade Luterana do Brasil – Canoas: Ed. ULBRA, 2016.

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