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UNIVERSALCURSOS FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

Esta obra não tem a pretensão de esgotar o assunto, e sim dar aos
estudantes da FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO uma oportunidade, se já
não tiveram, de se aprofundarem no assunto e terem uma base
sólida; e para os que já foram mais adiante uma oportunidade para
relembrar e atualizar-se.

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Autorização por Escrito do autor.

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
SUMÁRIO
I – INTRODUÇÃO
II – DEFININDO A FILOSOFIA
III – DEFININDO A RELIGIÃO
IV – PROPÓSITOS
V – TÉCNICAS DE AULA
VI – AVALIAÇÃO DA APRENDIZEM

3 JORGE LEIBE
UNIVERSALCURSOS FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

I – INTRODUÇÃO

A filosofia se interessa por todas as manifestações culturais.


Os principais campos filosóficos relativos às manifestações
culturais são: a “filosofia das ciências (teoria do conhecimento, ou
epistemologia)”., das “artes”, da “existência ética”, da “vida
política” e da religião. Além disso, a filosofia ocupa-se também
com a crítica das ideologias que se originam na vida política, mas
se estendem para todas as manifestações da cultura.
O substantivo feminino religião do latim: “religio”, formada
pelo prefixo “re” (outra vez, de novo) e o verbo “ligare”( ligar,
unir, vincular). A religião é um vínculo, de acordo com a filosofia;
mas, quais são as partes vinculadas? O mundo profano e o mundo
sagrado, i.e., a Natureza (água, fogo, ar, animais, plantas, astros,
pedras, metais, terra, humanos) e as divindades que habitam a
Natureza ou um lugar separada da Natureza.

As culturas
Nas várias culturas, essa ligação é simbolizada no momento
de fundação de uma aldeia, vila ou cidade: o guia religioso traça
figuras no chão (círculo, quadrado, triângulo) e repete o mesmo
gesto no ar (na direção do céu, ou do mar, ou da floresta, ou do
deserto0. Esses dois gestos delimitam um espaço novo, sagrado
(no ar) e o consagrado (no solo); nesse novo espaço, ergue-se o
santuário (em latim, “templum”, templo) e à sua volta os edifícios
da nova comunidade. Essa mesma cerimônia da ligação fundante
aparece na religião judaica, quando Iahweh indica ao povo o lugar
onde deve habitar – a Terra Prometida – e o espaço onde o templo
deverá ser edificado, para nele ser colocada a Arca da Aliança,
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símbolo do vínculo que une o povo e seu Deus, rememorando a
primeira ligação: o arco- íris, anunciado por Deus a Noé, como
prova de seu laço com ele e sua descendência.
Também no cristianismo, a “religião” é explicitada por um
gesto de união quando, no NT, Jesus diz a Pedro: “Tu és Pedro e
sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno
não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos
Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que
desligares na terra será desligado no céus” (Mt 16.18 “ Pois também
eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e
as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”).

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II – DEFININDO A FILOSOFIA (TE NTATI V AS )

O que é a filosofia?
Uma abordagem histórica e temática da filosofia,
que quisesse responder de um modo simples e correto
"o que é a filosofia", teria de recorrer a cinco grandes
concepções

Admiração e Desbanalização

Platão e Aristóteles deram à filosofia uma de suas melhores


definições. Eles viram a filosofia como um discurso admirado e/ou
espantado com o mundo.
Nesta linha de raciocínio, dizemos que quando falamos sobre
o mundo e colocamos questões do tipo "o que é um raio?" e "como
acontece um raio?", estamos propensos a adentrar no campo da
ciência, enquanto que quando fazemos perguntas do tipo "o que é
o que é?" estamos assumindo o que pode ser o discurso filosófico.
As perguntas da filosofia mostram uma atitude de máxima
admiração, pois demonstram inquietude com aquilo que até então
era o mais banal. Se alguém pergunta "o que é que é?", este
alguém está criando a desbanalização de algo bastante corriqueiro,
que é a condição de ser, o que até então não havia preocupado
ninguém.
Estamos cotidianamente preocupados em saber coisas que
não sabíamos. Agora, perguntar pelo ser das coisas que queremos
saber o que são, nos parece meio fora de propósito ? por que
teríamos de perguntar pelo que é tão banal? Ora, o que a filosofia
faz, na acepção tradicional que aparece em Platão e Aristóteles, é
justamente isto: ela põe certas perguntas que nos obrigam a olhar o
banal como não mais banal. A filosofia, então, é o vocabulário
com o qual desbanalizamos o banal. Tudo com o qual estamos
acostumados torna-se motivo para uma suspeita, tudo que é
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corriqueiro fica sob o crivo de uma sentença indignada, e então
deixamos de nos ver acostumados com as coisas que até então
estão estávamos acostumados.

O Saber Ignorante
Se fosse perguntado a Sócrates "o que é a filosofia?", é
possível dizer que ele não responderia como Platão, ainda que não
o desmentisse. Sócrates esteve mais disposto a fazer filosofia do
que erigir uma discussão meta-filosófica.
Estava disposto a fazer da filosofia um trabalho com
conseqüências mais drásticas - para a vida prática - do que as
vistas por Platão. Ele não estava interessado na admiração ou no
espanto com o que é banal no mundo, mas motivado a ver a
desbanalização do que poderia ser tomado como banal para si
mesmo e para outros homens: a condição de cada um a respeito do
que sabe sobre o mundo e sobre si mesmo em relação à conduta na
vida prática, na vida moral.
No jogo de perguntas e respostas para cada transeunte de
Atenas, Sócrates não tinha respostas para nada, ainda que tivesse
um bom número de perguntas cujo objetivo era levar seus
interlocutores a perceber que o que sabiam do mundo e de si
mesmos (especialmente no campo das verdades morais) era muito
pouco, e que a condição de sábio, aquele que poderia se auto-
conhecer, talvez fosse justificável para os que sabiam que nada
sabiam.

A Critica da Razão e da Racionalidade

Entre a desbanalização do banal e o auto-conhecimento que


leva a se sentir ignorante, há ainda uma outra acepção de filosofia,
que apareceu na modernidade. Essa acepção ficou conhecida como

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a filosofia enquanto um discurso da razão que faz a crítica da
razão.
 Kant foi quem acreditou que o papel da filosofia era o de
crítica de tudo aquilo que ela, e não só as ciências, poderiam
dizer. Ele se propôs, então, a colocar a razão em um tribunal
um tanto esquisito, uma vez que a razão estaria nele como ré e
juiz ao mesmo tempo. Foi a época na qual a filosofia se
transformou, basicamente, em epistemologia, perguntando não
mais coisas a respeito do mundo (humano, social, físico), mas
sim, especificamente, sobre o conhecimento; ou mais
exatamente: sobre as condições do conhecimento e da
normatividade, sobre os limites da razão na sua tarefa de
produção do saber e de delimitação das normas de conduta.
 Kant perguntou sobre as condições do conhecimento e da
liberdade de agir e, assim, elaborou a crítica da razão, tanto da
razão teórica - a que conhece - quanto da razão prática - a que
julga e que é responsável pela conduta moral -, sendo que
também esboçou algo semelhante em relação ao aparato capaz
de fazer juízos estéticos. Mas Kant fez essa crítica, em grande
medida, sem levar suficientemente a sério a história.
 Marx, por sua vez, tendo lido Hegel - o filósofo que
racionalizou a história e historicizou a razão - levou adiante a
idéia da filosofia de Kant como uma busca pela crítica da
razão, mas uma razão banhada na racionalidade dos homens no
mundo histórico. Daí que a crítica de Marx não era somente
uma crítica da razão, tomada em um sentido epistemológico
restrito, mas a crítica da racionalidade da vida humana
enquanto vida social e econômica. Não à toa, portanto, a obra

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máxima de Marx, O Capital, vinha com o subtítulo de "crítica
da Economia Política". A racionalidade humana enquanto
impregnada no âmbito sócio-histórico havia sido descrita pelos
teóricos da "Economia Política", mas Marx achava que eles
não haviam levado em conta um estudo crítico, ou seja, um
estudo capaz de revelar limites, condições e pressupostos de
suas próprias conclusões. O conhecimento da vida econômica e
social dos homens deveria passar por uma atividade que, hoje,
podermos chamar de epistemologia social crítica.

A Terapia da Linguagem

Os filósofos do Círculo de Viena fizeram uma revolução na


filosofia. Para eles as atividades de desbanalização, de adquirir o
saber ignorante e de crítica só tinha algum sentido se fosse levado
em conta que tudo isso estava impregnado da idéia de que a
filosofia, desde sempre, procurou por algo que, talvez, não fosse lá
muito correto de se procurar: um ponto arquimediano, ou seja,
uma âncora que ligasse pensamento ou linguagem ao mundo.
Em outras palavras, a filosofia teria sido, de
alguma forma, desde sempre, uma metafísica, e a
metafísica seria apenas um grosseiro erro provocado
por uma linguagem excessivamente rebuscada. A
filosofia, ao ter se dedicado à busca de fundamentos
metafísicos que envolviam a criação de uma linguagem
descuidada, teria se enredado em um grande número de
problemas, todos eles, na verdade, pseudo-problemas,

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pois adviriam de confusões criadas por um uso indevido
das palavras, sentenças, proposições etc.
Alguns desses filósofos, então, acreditaram que a filosofia
poderia ainda ser crítica, mas crítica da linguagem, de modo a
revelar o que é que haveria de puro e realmente sólido por baixo de
tantas frases meramente alusivas, metafóricas etc, na nossa
linguagem, tanto quando falamos no cotidiano quanto quando
falamos cientificamente. Outro grupo, nunca achou que a atividade
de análise da linguagem, que seria então a atividade par excellence
da filosofia, deveria cumprir uma função crítica, desveladora,
iluminista, mas que ela seria, sim, apenas uma terapia da
linguagem: ela teria menos a ver com "resolver problemas" e mais
a ver com "dissolver pseudo-problemas". De Nietzsche aos
positivistas lógicos e filósofos analíticos do século XX, muitos
quiseram ver o fim da metafísica adotando uma postura que
incidiu em colocar a linguagem na sala de cirurgia.

A Redescrição de Nós Mesmos e a Liberdade

Quando perguntaram a Richard Rorty qual era o livro mais


importante do século XX, ele citou as obras de Freud que
mudaram a imagem que tínhamos de nós mesmos. Certamente, se
a conversa fosse sobre outros séculos, Rorty teria falado de
Darwin, de Jesus etc., ou seja, todos aqueles que contribuíram para
gerar discursos capazes de descrições inovadoras sobre nós
mesmos, os "bípedes sem penas".
A tarefa da filosofia, para o neopragmatismo de Rorty, é
basicamente a tarefa de poder nos dar imagens de nós mesmos
com as quais possamos estar mais seguros de que temos
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potencialidades que até então contávamos para nós mesmos. Sendo
assim, a tarefa da filosofia seria a de colaborar com um discurso
que nos convencesse continuamente de que podemos ser mais
livres.
Rorty, como Hegel, gosta de ver a história como caminhando
em direção à liberdade, ainda que diferentemente de Hegel ele não
acredite que a história tenha um caminho. Mais liberdade, para
Rorty, é algo que só pode ser alcançado se sobrepusermos imagens
sobre nós mesmos que nos convença que podemos ser mais do que
somos: mais plurais, leves, soltos, audaciosos, diferentes e livres,
enfim, capazes de usar dessa liberdade para a construção de
sociedades democráticas onde sejamos mais diferentes, mais
livres, mais plurais, mais leves, mais soltos e mais audaciosos.
Todavia, diferente de toda e qualquer outra filosofia ou doutrina,
esta não seria uma doutrina sobre o que é o mundo, capaz então de
nos dizer que nossa ação está fundamentada, mas sim uma teoria
sobre nós e o mundo que funcionaria ad hoc. Assim sendo, como
teoria ad hoc, ela não poderia ser desbancada com a acusação de
querer fundamentar qualquer saber, reivindicando para si a
pseudo-legitimidade de um saber de segunda ordem, eleito por si
mesmo - o eterno círculo denunciado pelos filósofos da Escola de
Frankfurt, que faz da filosofia não instância de saber mas, sim,
instância de poder. Como teoria ad hoc ela seria bem mais útil.
A filosofia deve ser uma dessas descrições? Sim e
não. Ela pode ser, dependendo de como conversamos e
do que queremos fazer, o conjunto dos objetivos postos
por cada uma dessas acepções. Isso nos levaria a cair
em contradições e, enfim, deixarmos de agir
filosoficamente? Se não tomarmos cuidado, sim, mas se
formos inteligentes, não.
© Paulo Ghiraldelli Jr. do Centro de Estudos em Filosofia Americana

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III – DEFININDO FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

O que é filosofia da educação?


O problema não é saber o que é e o que não é filosofia da
educação. Em grande parte, tais questões foram respondidas nos
livros O que é filosofia da educação e Estilos em filosofia da
educação, ambos da DPA, publicados em 2000 e 2001. O
problema é saber o que se faz em filosofia da educação.

Métodos em Filosofia da Educação

No texto "O que é filosofia?", publicado na capa do Portal


Brasileiro da Filosofia, pude fazer uma exposição breve sobre o
que é que filósofos fizeram e fazem em filosofia. Se olharmos para
tal disposição daquela classificação de know how, penso que
poderemos tirar um quadro semelhante para a filosofia da
educação.

Grosso modo, podemos dizer que fazemos filosofia da


educação a partir de quatro práticas metodológicas: "crítica",
"terapêutica", "utópica" e "redescritiva". Essas práticas não são
necessariamente excludentes. Alguns as tomam conjuntamente, e
isso não desmerece o trabalho que desenvolvem. Todavia, aqui
abaixo, falo rapidamente delas de modo didático, isto é, em
abstrato.

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A prática "crítica" analisa textos (e ações) em educação e
pedagogia a partir da idéia de que os textos pedagógicos e
educacionais (por onde se fica sabendo das ações e intenções de
que toeriza e de quem faz educação) estão crivados
ideologicamente. A tarefa do filósofo da educação é a de mostrar
que eles apontam para direções erradas, fazendo então uma análise
de tais textos que deve levar em consideração, de modo mais claro,
interesses de classes e grupos que ficaram, muitas vezes
propositalmente, escondidos. O marxismo fez isso em parte, na
educação brasileira. Paulo Freire e a perspectiva culturalista que a
ele se associou mais tarde, após o desprestígio do marxismo,
continuou tal tarefa.

A prática "terapêutica" vê os textos em educação e


pedagogia a partir da idéia de que uma série de problemas que eles
levantam são pseudo-problemas, gerados pela linguagem dos
educadores que, não sendo ainda claramente científica, envereda
por um grande número de caminhos mais complexos do que os
necessários. Cabe ao filósofo da educação, portanto, uma assepsia
dos textos, não para resolver problemas, mas para dissolver
problemas neles apontados. Alguns filósofos da educação ingleses,
nos anos 60 e 70, fizeram análises fecundas de palavras e
expressões usadas por educadores, mostrando o quanto elas tinham
de excessivamente retóricas, não necessariamente podendo apontar
para elementos delimitados, que soubéssemos de fato o que eram.
Creio que em parte Nicholas Burbules faz um pouco esse tipo de
atividade. No livro O que é filosofia da educação traduzi um texto
dele que lembra tal prática.

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A prática "utópica" vê as ações e textos em educação e
pedagogia como excessivamente realistas, muitas vezes apegadas
ao que é prático, sem refletir possibilidades de mudanças. A
prática do filósofo da educação, neste caso, é a de criar um espelho
pedagógico negativo, que reflita tudo que não é feito na prática
educacional, não para mostrar o que deve ser feito, mas para
mostrar que o que é feito tem um contraponto, em um modelo
opositor. Esse modelo pode não ser realizável, pode ser utópico,
mas ao mostrá-lo o filósofo da educação condena o que é feito na
prática vigente. Rousseau, com o seu Emílio, é um bom exemplo
desse tipo de filósofo da educação.

A prática "redescritiva" é aquela que sempre está acreditando


que textos pedagógicos e educacionais poderiam ser comentados a
partir de outros textos, de modo a serem lidos de outro modo, e
que ações educacionais e pedagógicas poderiam ser recontadas, de
forma a serem vistas a partir de novas alternativas. Além disso, tal
prática implica também em redescrever pessoas, por exemplo, a
figura do professor e do aluno, que poderiam ser redesenhados a
partir de mais e mais novas silhuetas, de modo a vermos neles
mais potencialidades do que até então vimos. O filósofo da
educação, neste caso, é mais um diretor de cinema, um desenhista
de histórias em quadrinhos, um poeta, um romancista do que
propriamente um homem que faz da pedagogia a busca da Verdade
da Educação Como Ela É. Richard Rorty faz muito isso em seus
artigos, atualmente. Seu texto "Educação como socialização e
individualização", traduzido em um livro meu, O que é preciso
saber em Filosofia da Educação, da DPA, é uma amostra disso

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IV – DEFININDO A PEDAGOGIA

O que é pedagogia?

A palavra pedagogia deriva do grego paidagogo, que quer


dizer “condutor” e/ou “acompanhante”. Na Grécia antiga, o
pedagogo era aquele que conduzia a criança ao local de ensino.

Pedagogia, educação, didática e filosofia da educação


– algumas distinções

Localizando o termo "pedagogia" no campo do uso da


linguagem, podemos ver o que cai sobre sua delimitação e o que
escapa de sua alçada. Uma boa maneira de agir é comparar o termo
"pedagogia" com outros três termos que, em geral, são tomados –
erradamente – como seus sinônimos: "filosofia da educação",
"didática" e "educação".

O termo "educação", ou seja, a palavra que usamos para


fazer referência ao "ato educativo", nada mais designa do que a
prática social que identificamos como uma situação temporal e
espacial determinada na qual ocorre a relação ensino-
aprendizagem, formal ou informal. A relação ensino-aprendizagem
é guiada, sempre, por alguma teoria, mas nem sempre tal teoria
pode ser explicitada em todo o seu conjunto e detalhes pelos que
participam de tal relação – o professor e o estudante, o educador e
o educando – da mesma forma que poderia fazer um terceiro
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elemento, o observador, então munido de uma ou mais teorias a
respeito das teorias educacionais.

Talvez alguns sejam induzidos a usar os termos "educação" e


"pedagogia" indistintamente por causa de que a palavra
"educação" tem dupla origem, e tal duplicidade aponta para o fato
não só semântico, mas teórico. Sendo assim, a educação, mesmo
sendo a prática, já apontaria para o elemento teórico que lhe é
inerente. "Educação" vem do latim educare e educere. No
primeiro caso, o sentido é o de "conduzir para fora", "dirigir
exteriormente"; no segundo caso o sentido é o de "sustentar",
"alimentar" e "criar". Em ambos os casos, os verbos envolvidos
nos levam a tomar a "educação" não tão distante do que
entendemos por "instruir". Todavia, educare instiga a criação de
normas e regras – uma pedagogia – que visam a realização de um
trabalho no qual o aprendiz ou estudante ou educando é conduzido
por forças exteriores a ele. Educere, por sua vez, promove normas
e regras – um outro tipo de pedagogia – que visam a realização de
um trabalho no qual o aprendiz ou estudante ou educando é levado
a se desenvolver a partir da busca de recursos próprios, sendo que
a autoridade externa a ele, a do professor, por exemplo, se limita e
lhe fornecer os recursos para tal.

O termo "didática" designa um saber especial. Muitos dizem


que é um saber técnico, porque vem de uma área onde se
acumulam os saberes que nos dizem como devemos usar a "razão
instrumental" para melhor contribuirmos com a relação ensino-
aprendizagem. A razão "técnica" ou "instrumental" é aquela que
faz a melhor adequação entre os meios que necessitamos para a
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realização dos fins escolhidos. A didática é uma expressão
pedagógica da razão instrumental. Sua utilidade é imensa, pois
sem ela nossos meios escolhidos poderiam, simplesmente, não
serem os melhores disponíveis para o que se ensina e se aprende e,
então, estaríamos fazendo da educação não a melhor educação
possível.

Mas a didática depende da pedagogia. Ou seja, depende da


área onde os saberes são, em última instância, normas, regras,
disposições, caminhos e/ou métodos. O termo "pedagogia",
tomado em um sentido estrito, designa a norma em relação à
educação. "Que é que devemos fazer, e que instrumentos didáticos
devemos usar, para a nossa educação?" – esta é a pergunta que
norteia toda e qualquer corrente pedagógica, o que deve estar na
mente do pedagogo.

Às vezes tomamos a palavra "pedagogia" em um sentido


lato: trata-se da pedagogia como o campo de conhecimentos que
abriga o que chamamos de "saberes da área da educação" – como a
filosofia da educação, a didática, a educação e a teoria educacional
(que seria, por exemplo, a união entre pedagogia e didática). Mas,
de fato, é em um sentido estrito que a pedagogia nos deve
interessar. Pois, quando ampliamos a envergadura do termo o que
resta pouco nos ajuda a entender o quadro no qual se dá a
diferenciação dos saberes a respeito da reflexão sobre ensino e
educação. Pensando a pedagogia de modo mais delimitado,
podemos dizer que, na Grécia antiga, o escravo denominado
pedagogo conduzia a criança em um duplo sentido: tinha a norma
para a boa educação e se, por acaso, precisasse de especialistas
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para a instrução – e é certo que precisava –, acompanhava a
criança até lugares específicos, os lugares próprios para o "ensino
de idiomas, de gramática e cálculo", de um lado, e para a
"educação corporal", de outro. A pedagogia, então, seria o saber
que nos dá o direcionamento da relação ensino aprendizagem e
que, não raro, já incorpora a didática, de modo a viabilizar o bom
encaminhamento de tal relação.

A concepção que diz que a pedagogia é a parte normativa do


conjunto de saberes que precisamos adquirir e manter se quisermos
desenvolver uma boa educação, é mais ou menos consensual entre
os autores que discutem o assunto. Ela, a pedagogia, é aquela parte
do saber que está ligada à razão que não se resume à razão
instrumental apenas, mas que inclui a razão enquanto
razoabilidade; a racionalidade que nos possibilita o convívio, ou
seja, a vigência da tolerância e, mesmo, do amor. Por exemplo, ao
falarmos "não seja violento, use da razão", queremos ser
compreendidos como dizendo, "use de métodos de comunicação
que são próprios do diálogo" – os métodos e normas da sociedade
liberal (ideal). É esse tipo de razão ou racionalidade que conduz,
ou produz a pedagogia. A didática busca os meios para que a
educação aconteça e, assim, é guiada pela razão técnica ou
instrumental, enquanto que a pedagogia busca nortear a educação,
e é guiada pela razoabilidade, pela fixação de regras que só se
colocam por conta da existência de um ou vários objetivos; no
caso, objetivos educacionais, o que é posto como meta e valor em
educação. Quem estabelece tais valores?

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UNIVERSALCURSOS FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
Pedagogia, didática e educação estão interligadas. Mas a
filosofia da educação é um saber mais independente, que pode ou
não ter um vínculo com os saberes da pedagogia e da didática,
aqueles saberes práticos possibilitam à educação acontecer. O
termo "filosofia da educação" aponta para um tipo de saber que, de
um modo amplo, é aquele acumulado na discussão sobre o campo
educacional. Faz assim ou para colocar valores e fins e legitimá-
los através de fundamentos, ou para colocar valores e fins e
legitimá-los através de justificações. Há, portanto, dois grandes
tipos de filosofias da educação: a filosofia da educação que serve
como fundamentação para a pedagogia e filosofia da educação que
serve como justificação.

A filosofia da educação não está vinculada somente à razão


instrumental ou à razão comunicativa liberal, mas tem como sua
produtora a razão enquanto elemento que escolhe fins e, portanto,
que valora. Ela pode falar em "valor de verdade" e "valor moral",
pode separá-los em campos que se excluem ou não, mas, sempre,
vai falar em valor e fins. A razão, aqui, é a razão que diz quais são
os objetivos da educação e, então, que explicita se as normas da
pedagogia podem ser mantidas ou não, e que normas são essas.
Tais normais devem parecer legítimas, caso contrário, pelo menos
em princípio, elas não terão seguidores. O que as torna legítimas?
Um discurso – o discurso filosófico, a filosofia da educação ou
fundacionista ou justificadora. Se a legitimação da pedagogia se dá
através de uma metafísica que encontra um fundamento último
para que a educação se processe de uma maneira e não de outra,
dizemos que a filosofia da educação fundamenta a pedagogia e,
conseqüentemente, a educação. Se a legitimação da pedagogia se
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dá através de um conjunto de argumentos que tentam justificá-la,
sem requisitar um ponto arquimediano metafísico, então dizemos
que a filosofia da educação justifica a pedagogia e,
conseqüentemente, a educação.

Preste S e nó s a cred it a mo s, po r exe mp lo , n o


Atenção! â mb it o d a f ilo so f ia da e du ca çã o, qu e
Parágrafo "s omos i gua is porque todos nós s omos
Muito fi l hos de De us " o u q ue " somos i gua is
Importante porque s omos todos se re s huma nos " ou
qu e "s omos i gua i s porque todos
poss uí mos, di fe re nte me nte dos ani ma i s ,
a ra zã o ", p od e mo s e nt ão , no â mb it o da
f ixa çã o de n o rma s pe da gó g ica s, d ize r qu e
no ssa ed u ca ção " te m co mo o b je t ivo n ão
de st ru ir n o ssa ig ua ld ad e o rig ina l ". A
igu a lda de ba se a da n a o rige m d ivin a , ou
ba sea da n a no ção d e se r hu man o ou na
po sse d e a lgo qu e p od e ria ch a ma r " ra zã o ",
fu n cion a m, n est e ca so , co mo fu nd a men t o s
met a f í sico s pa ra u ma pe da go g ia igu a lit á ria .
Ma s se a lg ué m d iz q ue t a l cren ça
met a f í sica n ão é a lg o qu e p od e mo s cre r à
lu z de cre n ça s ma is con vin cen t e s, e se n ós
nã o qu e re mo s ab an do na r a no ssa
pe da go g ia ig ua lit á ria , en tã o no s ca be o u
co n ven ce r no sso in te rlo cu t o r da va lid ad e
do p on to me t a fí sico (o qu e imp lica e m
ref a ze r o sist e ma f ilo só f ico a do ta do ) ou ,
en tã o , argume nta r de modo a j us ti fic a r
que a igua l da de c omo fi m da educa ç ã o
va le a pe na , p o r e xe mp lo , porque e la
poss i bil i ta rá um mundo com me nos
i nj us ti ça , um mundo me l hor – usa mo s aí
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u m a rg u me nt o p rag má t ico, qu e nã o imp lica
qu a lq u e r me ta f í sica. Assim, u ma me sma
pe da go g ia (u ma p ed ag og ia ig ua lit á ria , p o r
exe mp lo ), po de te r d iscu rso s le gi ti ma dore s
di fere nte s , ist o é, filosofias da educação
diferent es . Q ue m le g it ima a pe da go g ia
po de a pe la r pa ra a funda me nta ç ã o o u p a ra
a j us ti fic a çã o .

Uma tal reflexão – a de como a pedagogia se legitima – é


própria da "área da filosofia da educação". É o trabalho próprio
dos chamados filósofos da educação. Não raro, é uma discussão
que envolve argumentos técnicos em filosofia e, portanto, não
produz um saber que possa ser de domínio imediato dos que estão
executando a relação ensino-aprendizagem, embora os professores
conheçam, ao menos, as máximas filosófico-pedagógicas que
escapam do domínio técnico e lhes caem nos ouvidos, e, assim,
eles ficam satisfeitos com suas pedagogias. Não raro, uma única
máxima filosófico-pedagógica guia uma vida inteira de trabalho de
um professor.

Que não se tire daí a conclusão que os professores devem


apenas saber didática, ou, ao contrário, que vão ser "críticos" e
bem mais capazes se souberem filosofia da educação, seja esta
fundacionista ou justificadora. O saber de cada professor varia.
Uns podem ter uma aptidão melhor para a reflexão filosófica, e
serem desajeitados para o trabalho que implica forte aptidão
didática, outros podem dominar os trâmites das normas da
pedagogia, e não terem gosto pela reflexão da filosofia da
educação. Outros, ainda, podem ser práticos, meramente práticos,

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e se saírem bem em resultados de aproveitamento com os alunos.
O importante é que, na formação dos professores, se saiba que
empregamos todos os tipos de racionalidades que temos em nossa
linguagem (a instrumental, a da tolerância e a que fixa os objetivos
e valores), e que a formação deve ser harmoniosa, pois tem tudo,
em suas vestes originais, para ser harmoniosa – pois fazer
educação nos leva, sempre, para os quatro saberes acima
apontados, e para o emprego das três formas de racionalidade.
A harmonia não vem de separarmos, eqüitativamente, o que
cada professor precisa saber em filosofia da educação, pedagogia,
didática e ensino (educação). A harmonia vem, sim, da nossa
capacidade de termos políticas educacionais que cultivem as
instituições de formação de professores que protegem uma cultura
onde os quatro saberes acima descritos não fiquem a descoberto,
nas mãos de leigos. Tal cultura, sem que seja preciso qualquer
reunião formal, será o fator determinante de convergência das
conversações, no interior das instituições onde se dá a formação do
professor, e ela poderá criar legiões de bons professores, em graus
diferentes de aptidões. Isso vale para qualquer instituição de
ensino que forma professores.
© Paulo Ghiraldelli Jr. do Centro de Estudos em Filosofia Americana

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V – RAMOS DA FILOSOFIA

História da Filosofia
A história da filosofia é para muitos a coluna vertebral da
epopéia histórica ocidental. É fato que em dois mil e quinhentos
anos de existência muitos movimentos revolucionários ocidentais
ganham mais sentido e coerência quando analisados em paralelo
com a evolução do pensamento filosófico. O estudo da história da
filosofia é igualmente indispensável para a compreensão do
pensamento de alguns de seus principais personagens.

Filosofia Clássica
A filosofia clássica é geneticamente importante para o
próprio espírito do ocidente. Também na Web está foi
responsável pelos mais antigos esforços digitais em filosofia.
Alguns dos sites aqui listados se aproximam de uma década de
existência e foram modelo de inspiração para dezenas de outros
posteriores. Confira.

Filosofia Medieval
Sites de filosofia medieval são raros, mas preciosos. Há um
verdadeiro universo de informação disponível nestes sites.
Nenhum outro período de nossa história concedeu a filosofia um
papel de tanto destaque na sociedade. Contudo o período é pouco
conhecido, mesmo pelos estudantes de filosofia. Boa pesquisa.

Filosofia Moderna
A filosofia moderna representa para muitos o começo de
uma autentica busca pelo saber. Crítica por natureza, esta nova
etapa da epopéia espiritual do ocidente é central para sua
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compreensão. Os séculos XVII e XVIII apresentam os mais
importantes pensadores modernos. Na Web existe muito material
sobre o tema e estaremos lentamente acrescentando mais sites.

Filosofia Contemporânea
Este período é talvez o mais complexo de ser entendido.
Nele, como em nenhum outro, encontramos mais concepções
diversas de filosofia que propriamente disputas temáticas. Neste
terreno pedregoso encontramos as mais diferentes correntes
espirituais e científicas em filosofia. Devemos igualmente á
filosofia contemporânea o nascimento de várias subdisciplinas
filosóficas, como as filosofias da linguagem e da religião. Aqui
listamos alguns sites representativos e incluiremos muitos outros
adiante. Boa sorte.

Lógica
A lógica é considerada por muitos uma disciplina
propedêutica em filosofia. A lógica esta para a filosofia como a
anatomia para a medicina. Nenhum texto filosófico que despreze a
estrutura lógica inerente a argumentação é digno de crédito. Esta
ciência dos juízos é hoje, como no passado, companheira fiel de
toda boa filosofia. Confira.

Ética
Toda ética é filosófica. Para um grandes filósofos, como
Platão, a ética é o fim último de toda a filosofia - seu motor e sua
razão de ser. Integrados a ética todas os demais ramos da filosofia
fazem sentido. Nestes sites você encontrará motivos para crer no
que digo. Discutida sob a ótica filosófica ou pragmática, a ética é
analisada sob os mais diversos ângulos e posturas.

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Estética
A natureza daquilo que chamamos gosto, aqui se discute. O
belo é subjetivo ou objetivo? Existe um critério de beleza
universal ou fatores de natureza cultural determinam sua
heterogeneidade? Até que ponto podemos compartilhar o prazer
estético? Estas e várias outras perguntas excitam a atenção de
especialistas.

Epistemologia
A epistemologia foi aqui tomada como sinônima de teoria
do conhecimento. Todos os sites revelam aspectos deste mesmo
problema, emblemático do pensamento moderno - O que podemos
saber?

Filosofia Política
Como uma extensão da ética, a filosofia política investiga o
sentido da vida social e das relações de poder. Aristocracia ou
democracia? Individualismo ou comunitarismo? Várias são as
perguntas que a política nos faz. Para responde-las devemos
descortinar uma coerente visão do mundo. Muitos artigos e teses
estão disponíveis nos sites.

Filosofia da Religião
A religião é reflexo de um estado evolutivo primitivo da
cultura ou é inerente ao homem enquanto criatura? A filosofia da
religião analisa as implicações éticas, políticas, gnosiológicas e
teológicas da existência de Deus. Há muitas questões a serem
respondidas e muitas outras a serem elaboradas no interior desta
nova disciplina filosófica. Confiram.

Filosofia da História
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A história segue regras fixas ou nossos destinos estão
marcados pela fria mão do acaso? Os rumos da cultura ocidental
estão marcados por um movimento cíclico ou progressivo? Quais
são as forças determinantes do processo histórico? Determinismo
versos livre arbítrio - é possível compatibilizá-los? A filosofia da
história ocupa um lugar de destaque no pensamento moderno.
Compreender suas problemáticas e encontrar suas respostas é
obrigação de uma filosofia contemporânea honesta.

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VI – PRINCIPAIS FILÓSOFOS
FILÓSOFOS

Aristóteles
Aristóteles superou seu mestre Platão em praticamente todos
os âmbitos da filosofia. Como todo bom filósofo é um parricida.
Seu pensamento se opõe ao do mestre em vários pontos, mas nem
por isso Aristóteles deixou de ser um dos mais fiéis representantes
do pensamento socrático. Conheça um pouco do legado
enciclopédico de "O Filósofo" através de páginas muito bem
elaboradas.

Bertrand Russel
A união de genialidade matemática e filosófica jamais se
deu com igual graça, em uma só pessoa, como em Bertrand
Russell. Seus escritos apresentam um homem que tem a coragem
de fazer uso da própria razão. Fundador da filosofia analítica e da
filosofia da linguagem sua obra é ampla e extremamente positiva.
Os sites são ricos em material russelliano e convidam a leitura.

Descartes
Considerado pai da filosofia moderna, Descartes é um
pensador dividido entre dois momentos intrinsecamente diferentes.
O estudo de Descartes e de suas inquietações filosóficas abre uma
passagem entre os mundos moderno e medieval. O famoso "penso,
logo existo", já um tanto em descrédito, é emblemático para
descrever este fundamental personagem da epopéia espiritual do
ocidente. Apesar da simplicidade dos sites, confira.

John Locke
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O sensualismo de Locke provou ter profunda influência nos
destinos da filosofia ocidental. Seus escritos políticos são
igualmente indispensáveis na construção da moderna sociedade
liberal. Pouco conhecido no Brasil, este pensador é extremamente
atual. Confira os sites e se surpreenda.

Kant
Kant produziu uma revolução copernicana na história da
filosofia. Sua importância é tal que não se pode mais honestamente
pensar a filosofia sem que sua obra seja considerada. Sua filosofia
crítica descortina uma nova visão de mundo dando verdadeiro
estatuto para a consciência humana. Sua obra é tão revolucionária
que uma série de novos termos e sentidos são apresentados a
cultura ocidental e constituem hoje parte de nosso vocabulário
corrente. Para uma boa aproximação da obra de Kant a humildade
é seu melhor amigo.

Nietzche
Aquele que de forma mais incisiva alerta o ocidente para seu
sono dogmático. A inconsistência de nossa moral, de nossa
religião e até mesmo de nossa ciência é grotescamente exposta em
suas páginas. Os valores de uma sociedade aristocrática voltam a
ter um lugar na filosofia moral e política. A leitura de Nietzsche
sempre é um desafiador olhar para dentro do homem. Confira os
sites.

Platão
Os diálogos deste grande mestre apresentam sob vários
ângulos todos os principais problemas do pensamento ocidental.
Ética, estética, política, metafísica e até mesmo uma filosofia da
linguagem são vistos em sua intimidade através de ricos diálogos.

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Pelos sites listados conheça melhor a divisão, feita pelos
acadêmicos destes diálogos e faça uma leitura guiada.

Sartre
A liberdade como autodeterminação existencial e o
engajamento político comunista de Sartre podem ser encontrados
nestes poucos sites disponíveis na Web. Um pensador em plena
sintonia com uma das eras mais conturbadas da história ocidental.

São Tomás de Aquino


Ninguém, como São Tomás, chegou tão perto de igualar
Aristóteles no volume e na densidade da produção filosófica. Em
um amalgama de teologia e filosofia o pensamento tomísta
mergulha fundo em questões da maior importância. Muitas destas
questões estão longe de ter encontrado solução e continuam a
inquietar dedicados especialistas. A importância do pensamento
tomísta aparece viva nestes sites primorosamente elaborados.
Confira.

Voltaire
Voltaire é muito conhecido por sua ousadia crítica e
literária. Mas nenhum pensador esteve em tamanha sintonia com
as graves mudanças que assolaram a Europa setecentista. Profunda
e permanente foi sua contribuição para a filosofia da história. A
obra de Voltaire é um universo de pequenas jóias a serem
descobertas. Os sites disponíveis fazem pouco jus a seu gênio, mas
não deixam de conter informações interessantes. Confira.

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VII – DEFININDO A RELIGIÃO

Antes de mais nada, é preciso estabelecer os assim chamados


“elementos constitutivos da religião”, que se constituem de:
[1] O(s) texto(s) Sagrado(s);
[2] O Sagrado- Deus(es) e/ou figuras divinas (divindades);
[3] Fé e crenças – as doutrinas formuladas a partir das
interpretações dos textos sagrados (aqui, também
incluído os dogmas, que exercem função moral: o “que
pode e o que não pode” numa determinada religião), e
[4] Os Ritos, i.e., as principais cerimônias, festas,
celebrações e louvações periódicas (a liturgia que
rememora os principais atos, e efeitos – o que Paul
Ricoeur, filósofo francês de origem protestante,
denomina de “atos fundantes” – como, por ex. O
“natal”, ou a “visão da árvore que Budha teve ao
enfrentar Mara que conjugava em si o diabo e a morte,
vencidos por Sidarta, amanhecendo como Budha” etc).
Podemos, ainda descrever algumas definições igualmente
belas e filosóficas sobre a “essência da religião”:
[1] como Razão, conforme definição de Immanuel kant
(*1724- 1804): “A religião é o cumprimento de todos
os mandamentos divinos;
[2] como “sentimento, na tentativa de vencer a barreira do
Racionalismo através de outro poder do ser humano, o
sentimento, conforme escreveu Friederich
Schleiermacher (* 1768 -  18340): “A religião é o
sentindo humano de absoluta dependência diante do

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Universo majestoso em que ele, o ser humano, é uma
minúscula entidade”;
[3] como a “essência ou o sentido da vida diante de um valor
absoluto [justificação ante o fascismo, nazismo e do
comunismo]”, o como a impossibilidade de se definir as
particularidades das formas especiais de cada religião na
história, podendo-se apenas falar de uma estrutura
fundante que abrange o fenômeno religioso, “como
encontro vivencial (experimental, emocional) do ser
humano ante a realidade sagrada e a conseqüente
resposta através de ações concretas na esfera do
sagrado”, conforme afirmou o teólogo protestante
reformado, Karl Barth (* 1886-  1968): “Toda religião
é o esforço do ser humano em chegar até Deus. O
cristianismo não é religião, pois é Deus vindo até os
seres humanos”; e
[4] e como expressão lúdica e crítica de que “não é a
consciência dos homens e mulheres que determina seu
ser, mas sim seu ser social é que, inversamente,
determina sua consciência”, conforme definiu de Karl
Marx (*1818 - 1883), ao publicar O Capital, em 1867:
O sofrimento religioso é, ao mesmo tempo, expressão de
um sofrimento real e protesto contra um sofrimento real.
Suspiro da criatura primida, coração de um mundo sem
coração, espírito de uma situação sem espírito: a religião é
o ópio do povo (aqui, esta última expressão é retirada de
um poema escrito pelo filósofo Ludwig Feuerbach (*1804-
1872) como momento lúdico e que não foi bem
entendido até hoje, tanto por certos marxistas, quanto por
cristãos antimarxistas).

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Nós costumamos falar de marcas; então, quais são
as marcas da(s) nossa(s) religião(ões)? O que é
distintivo nela(s)? Temos uma cultura própria a ser
seguida e desenvolvida? Portanto, já que nós sempre
estamos falando de nossa identidade religiosa, por que
não entendê-la à identidade de nossa teologia, expressa
nos rituais (festejos e celebrações)?
Então, nós tomamos a imagem como sendo real.
Isto está muito claro no modo como agimos enquanto
igreja: nós tomamos metáforas como fato histórico,
doutrinas sobre Deus como se elas tivessem o poder
para explicar e descrever o ser Deus, e assim por
diante.
Com o a rel i gi ão é a part e da cul t ura, gl obal e
cont ext ual ., el a t am bém é (t ocada ) at i ngi da
pel a i deol ogi a. Quando com eçam os nossas
reform as rel i gi osas a part i r do devot am ent o ao
nosso passado hi st óri co e vem o-l o com o
defi ni t i vo e i nevi t ável , isso é, ouso di zer,
i dol át ri co. A i deol ogi a é idol át ri ca. O aspect o
i deol ógi co da rel i gi ão e das denom i nações, em
part i cul ar, pode ser vi st o em geral na hi st óri a
da rel i gi ão e das denom i nações, em part i cul ar,
pode ser vi st o em geral na hist óri a da rel i gi ão e
da Igrej a C ri st ã em part i cul ar. Mas, nós não
deverí am os nos il udi r com i sso, um a vez que
procedi m ent os i deol ógi cos sem pre est ão ao
nosso redor”.

Portanto, diante de nós apresenta-se uma inelutável


indagação sobre a possibilidade de se expressar o “olhar teológico”
ante a religiosidade (e de qualquer expressão religiosa) de um
ponto de vista não- ideológico ? Não será toda crítica à ideologia
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UNIVERSALCURSOS FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
um a priori ideológico? Eis porque preferimos manter o
entendimento dessa disciplina como a relação tensional entre
teologia e cultura.
Assim, depois de falarmos sobre teologia, religião e
ideologia, resta-nos explicitar um pouco mais a dimensão da
cultura. Comecemos, então, pela questão mais óbvia: “O que é
cultura?
Ela é a preocupação para com os caminhos que
conduziram os grupos humanos às suas relações presentes
e sua perspectivas de futuro. Não obstante, o
desenvolvimento da humanidade está marcado por
contatos e por conflitos entre modos diferentes de
organizar a vida social, de se apropriar de recursos naturais
e transformá-los, de conceber a realidade e de expressá-la.
Deste modo, cultura tem a ver com a humanidade, como
um todo e, ao mesmo tempo, com cada um dos povos,
nações, sociedades e grupos humanos. Cada realidade
cultural tem sua lógica própria interna, e o conhecimento
de sua peculiaridade é aquilo que nos permite compreender
sua práticas, costumes e concepções (Karl Mannheim), e
transformações pelas quais passam, assim, temos:

Re al i da de S oc ia l  Proc e di me nto Cul tural  re spe it o


e dig n id a de na s re la çõ e s hu man a s

Contexto de Produção

Neste caso, a teologia não chega a causar uma


ruptura epistemológica, mas sim um corte, pois na sua
relação com a cultura, ela estabelece pontes com a
cultura, mediadas, é claro, ideologicamente, sob a
forma do “olhar teológico”... Na verdade, o que caberia
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ao eixo do “olhar teológico”, enquanto transição da
passagem do “olhar antropológico”, deveria ser a
promoção do respeito e pela dignidade nas relações
humanas, na medida que não há cultura melhor que a
outra; não há produções culturais “estereotipadas”
melhores que as demais produções culturais; há, sim,
peculiaridades que se dão na equação exemplificada
acima, que se tornam o “hábito” de determinada
cultura, seja em que nível na esfera macro, seja na
esfera micro, tipificada nos regionalismos e bairrismo
(aqui vistos sem a dimensão da rivalidade que alimenta
o ódio, mas como a conservação das várias
características, como: estilos e ritmos musicais, de
dança, de arte, de sotaques, de expressões do tipo
conhecido como a “sabedoria do senso comum ” etc.).
Segundo Batista, a “imposições dos valores da
globalização provoca devastação nas culturas locais,
porque destrói as suas particularidades, seus costumes e
tradições, decretando o fim da diversidade de valores,
costumes e visões de mundo” e, “o fim das diferenças,
culminando com o fim das identidades culturais”.
Segundo a “teoria crítica” da Escola de frankfurt, como a
técnica se opõe à reflexão e à crítica, decompondo as imagens
religiosas e metafísicas do mundo, nas relações determinadas
exclusivamente pelo acúmulo de capital e circulação de
mercadoria, não só é decretado o fim dos valores humanos, tais
como generosidade, espiritualidade, fraternidade, ética, bem como
o sentido de que tudo aquilo que transcende o produto se perde. E

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aí, a pessoa se massifica; daí a afirmação de que nossa sociedade é
uma sociedade de massa, relacionada à cultura de massa,
formalizada pela padronização autoritária de valores e modelos de
comportamento: o que é singular e característico se anulam na
cadeia produções e reproduções. Autonomia e reflexão crítica
estão ausentes. Pois o produto se dirige à massa. É claro que uma
tal cultura de massa não é oriunda das massa, nem mesmo é
produzida por elas; trata-se da “industria cultural” e da “sociedade
unidimensional”, marcadas e definidas pelo poder econômico, a
qual interessa a reprodução mecânica e repetitiva dos mesmos
padrões de consumo. Não apenas fornece uma hierarquia de
qualidades, bem como define o que será cultura ou não,
oferecendo-a às massas que, alienadas, aceitam-na sem resistência,
em face da estratégia mercadológica que proíbe a atividade
intelectual. É lógico que surgem os “adoidado”, marginalizados
pelo sistema que insurgem contra esta situação, opondo-se e
manifestando sua resistência orgânica a partir das tentativas de
resgate daquilo que é, propriamente, um dado cultural artístico, ou
até mesmo religioso.
Todo ser humano tem arraigado em si, de modo muito
profundo, a necessidade de crer em um Ser Superior (o divino, ou
Sagrado, deus, um Ser). Neste sentido, a dimensão religiosa nunca
se separa do ser humano, mesmo que ele se diga anti-religioso
(inclusive, quando se afirma que não se conhece civilização que
não tenha sido ou que não seja religiosa, mesmo nas que se
consideram sociedade socialista, ou regimes totalitários, possuem
a dimensão de religiosidade, só que transferida para o culto ao
Estado ou à pessoa que o represente – como a veneração a
“Mao Tse Tung”, “Stalin” ou “Lênin”, ou seja, o modus
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operandi é o mesmo; apenas troca-se a figura que ocupa o
papel do Sagrado).
Portanto, em todas as épocas, desde as mais remotas, o ser
humano sempre foi religioso (especialmente pela dimensão
revelada na sofisticação dos ritos funerários). Neste sentido, a
questão da religião se coloca no campo da sociedade e da cultura,
posto que a religião oferece uma visão de mundo, ajudando a
definir o tom, o caráter, a qualidade de vida, o estilo de agir e sua
disposições morais e estéticas; e é neste sentido, então, que as
crenças constituem uma visão de mundo, como um “quadro de
referência” que torna possível o desenvolvimento das condutas de
grupos e de indivíduos. Então, para se falar de cultura religiosa,
sobre o que é religião cultural, vejamos o seguinte quadro
comparativo:

RELIGIÃO CULTURA
É a forma de expressar a fé em É o conjunto de modos de fazer,
algo que ofereça certas garantias deinteragir e representar,
que teremos alguma forma de desenvolvido pelos seres humanos
compensação de nos pautar pela como solução ou resposta às
crenças/dogmas (entendido como necessidades de suas vidas em
atos morais) comum
Enquanto cultura, ela envolve É o conjunto de civilizações e
crenças e costumes (os ritos conceitos, concretos e normativos
também originam-se de hábitos) que pretende explicar os
fenômenos sociais;
É uma das formas de explicação da É entendida como dimensão
realidade- ou seja como crença no significativa inerente a todos
Ser Divino (Sagrado) e de que a comportamento humano;
vida não acaba aqui, com a morte,
mas que existe algo mais além, no
post mortem (paraíso,
reencarnação, passagem para
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outras dimensões cósmicas etc.)
É uma das possibilidades de, após Envolve o aspecto simbólico e a
a explicação da realidade, tentar prática social de um determinado
enfrentá-la, por meio de práticas povo.
fundamentadas nas crenças e nos
ritos, a fim de superar a “dureza da
realidade da maioria das pessoas.

BIBLIOGRAFIA

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CPAD,RJ, 94.
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