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ORIXÁ ORI

Ori em iorubá significa cabeça.

A cabeça é a parte mais importante do ser humano. É considerado um orixá. Para tudo na vida a pessoa
depende do ori. Onde não há Ori não há orixá.

O ori está acima dos orixás, pois nenhum orixá, nem mesmo Olodumaré, atenderá ao pedido de um ser
humano que não tenha sido autorizado por seu ori.

ITAN - COMO NASCEU ORI


Conta a lenda que os orixás e ancestrais se rebelaram, querendo ter os poderes e a sabedoria do deus
supremo.

Como mensageiro nomearam Exu, que levou as reivindicações a Olodumaré. Este lhes enviou um poderoso
obi e, orientado por Ifá, determinou que após deixá-lo a noite inteira numa encruzilhada, os orixás e
ancestrais deveriam tentar parti-lo para mostrar seu poder.

Ori era apenas uma pequena bola, que não possuía sequer um corpo para se apoiar, e ninguém o
respeitava. Para conseguir partir o obi, procurou Ifá, que o aconselhou a fazer uma oferenda para os Odu,
para conseguir a força de todos eles. Além disso, deveria espojar-se na poeira do chão por algumas horas.

No dia seguinte todos já estavam preparados para tentar partir o obi, quando chegou Ori, espojando-se na
poeira. Um a um os orixás foram fracassando na tentativa, pois o obi era muito forte e resistente. Ori se
apresentou e, como última opção, deixaram-no tentar. Com seu peso caiu sobre o obi, que se partiu em
seis gomos. Todos ficaram muito felizes.

Olodumaré, ao receber a notícia, imediatamente enviou uma linda almofada, onde Ori se instalou. Dessa
forma Ori ganhou um corpo para sustentá-lo. Orixás e ancestrais exclamaram: Ori apere!

A partir desse momento, Ori nasceu. Passou a ser dotado de iwa, a existência, dada por Olodumaré, como
prêmio por ter sido o único a conseguir partir o fruto-ventre.

ORI
(in As Senhoras do Pássaro da Noite)

Ori é o deus portador da individualidade de cada ser humano. Representa o mais íntimo de cada um, o
inconsciente, o próprio sopro de vida em sua particularização para cada pessoa. Ori mora dentro das
cabeças humanas, tornando cada um aquilo que é.

Como ao morrer, a cabeça de uma pessoa não é separada para o enterro, Ori é conhecido como aquele
que pode fazer a grande viagem sem retorno, pois os outros orixás, mesmo quando morrem seus filhos,
são libertados da cabeça (Ori) e retornam ao Orun (céu, ou mundo exterior).

Durante o processo iniciático a primeira entidade a ser equilibrada é justamente o ori, a individualidade
pessoal, para que a pessoa não se transforme em um mero espelho do orixá. À cerimônia de equilíbrio do
Ori dá-se o nome de Bori (bo = comer, ori = cabeça => dar comida para a cabeça, fortalece-la).
Um dos mitos sobre Ori diz que ele pode depois de enterrado voltar ao orum, levado por Nanã ou Ewá.

Diz este mito que um dia Ori percebeu que era o momento de nascer outra vez e foi falar com Olorum, o
Universo, solicitando permissão para nascer na mesma família em que havia nascido antes. Olorum
permitiu, com a condição de que apenas ele, Olorum, pudesse conhecer o dia de sua morte, sem que Ori
pudesse opinar sobre esta questão. E que o destino de Ori só pudesse ser mudado quando Ifá fosse
consultado.

Este orixá não tem características estéticas, pois não incorpora. Apenas é cultuado juntamente com os
orixás, possuindo um número no jogo de búzios onde "fala".

A quizila de Ori é a mentira.

Concepção de Ori
Cabeça no sentido literal da palavra. Mas, Ori no conceito yoruba tem outras conotações além da simples
cabeça física. Pois, para os Yoruba existe o ORÍ-INÚ – a cabeça interior. Este Orí-inú é aquele que foi
moldado por Àjàlá (o Oleiro fazedor de cabeças, descrito na lenda do Orí e a escolha do destino do
homem).

Na lenda do Ori e a escolha do destino, conta que Àjàlá fabrica muitas cabeças no ÒRUN e que cada ser
humano que vive no ÒRUN – Céu e está para viajar para o Ayé – Terra, vai à casa de Àjàlá para escolher o
seu Orí. E a vida do homem na terra vai depender crucialmente da escolha do Orí que ele fez. Pois,
acredita–se que essa escolha já predestina o homem ao sucesso ou ao fracasso em sua vida no Ayé.

Diz que Àjàlá é dado a tomar umas bebidas e ao ficar meio alto, ao fazer as cabeças Ele erra na composição
da argamassa deixando-a fora do padrão necessário para ser moldada, muito arenosa ou excesso de liga.

Também cozendo-as, às vezes muito, o que as torna muito rígidas e ressecadas ficando muito duras,
queimadas e quebradiças. Ou cozendo-as pouco, deixando-as quebradiças e esfarelentas. Às vezes, as
moldando tortas que quando cozidas ficam rotas.

Ao escolher sua cabeça e seguir em direção ao àiyé, o ser humano atravessa vários ambientes como de
calor excessivo de desertos: muito frio como das zonas gélidas da terra: zonas onde tem de atravessar
tempestades com ventos e chuvas fortes. E se as cabeças não tiverem sido bem confeccionadas elas irão se
danificar e ficarão em péssimo estado ao chegarem ao àiyé.

Dependendo do estado em que cheguem, se a cabeça estiver boa àquela pessoa trabalhará, e tudo o que
fizer será para si mesmo, podendo prosperar na vida, alcançando o sucesso e a fortuna. Se a cabeça estiver
danificada, aquela pessoa trabalhará e tudo o que conseguir será para gastar com os reparos no seu Orí.

Quando ele não foi muito danificado, os primeiros anos de vida dessa pessoa serão um pouco sacrificados,
ela poderá passar por privações e dificuldades em virtude de não conseguir prosperar na vida, pois, tudo o
que arrecadar irá para o conserto do seu Orí. Depois que ele terminar os reparos necessários, o que ele
fizer será para si próprio, é então quando ele começa a prosperar em sua vida no àiyé.

Outras pessoas têm Orí tão danificados, que por mais que trabalhem na vida, jamais conseguirão consertar
os danos do seu Orí. E tudo o que fizerem na vida será para gastar com seu Orí ruim. São aquelas pessoas
que passam a vida toda vegetando, nunca conseguem fazer nem concluir as coisas, vivendo sempre na
penúria e no aperto nunca possuindo nada de seu e não conseguindo serem felizes por mais que se
esforcem, pois, tem um Orí ruim.
Mas, acredita-se que esses consertos podem ser feitos através de oferendas – Eborí – ebo Orí, que
ajudarão a restaurar aquele Orí mais depressa, o que pode mudar um pouco essa predestinação. Não é
porque a pessoa tem um bom Orí que ela poderá ficar sentada esperando tudo de bom na vida.

Ela está predestinada ao sucesso em sua vida, mas, desde que trabalhe para isso. Seus caminhos estarão
sempre abertos para alcançar seus objetivos, esforçando-se para isso.

Então é à nossa cabeça que devemos reverenciar não aquela tigela com alguns objetos que dizem, ser o
Igbá Orí. Digo isso por que acredito assim. E algumas vezes, quando sou questionado por algumas pessoas
que por “n” motivos, perguntam o que fazer com seu “Igbá-Orí”.

Outros, preocupadíssimos porque seus zeladores não querem entregar ou que pior ainda, despacharam
seus Igbá-Orí. Então, converso com elas dizendo isso que acredito. Grande parte delas se acalma e acaba
concordando comigo. Não que eu seja o dono da verdade, mas, há lógica em minha teoria. Mas, se não
houver, é um bom assunto para ser pensado por todos.

Assim como, não é por ter escolhido um mau Orí que a pessoa tenha que viver na penúria a vida inteira. Ela
poderá, através dos ebo reverter esse quadro, se não por completo, mas, em boa parte, pois ela estará
resgatando parte da integridade do seu Orí.

Mas, também, não será somente através dos ebo que isso será alcançado. Elas também haverão que se
esforçar com muito mais força de vontade ainda para superarem suas barreiras. Podem não alcançar o
sucesso total, mas, poderão ter uma vida mais amena com algumas realizações e alegrias.

A iniciação na Religião Yoruba significa o nascimento do Orí-inú dentro do culto aos Òrìsà. É uma maneira
de demonstrar que a partir da iniciação aquela pessoa nasceu para a religião e para o sagrado com a
confirmação do seu Orí-inú, que passará a ter representação física no àiyé.

Aí, é que começa a história do Igbá Orí (literalmente, cabaça da cabeça, pois os assentamentos eram feitos
em cabaças – igbá, daí o nome ter virado sinônimo de assentamento de Òrìsà) a Cabaça do Orí.

Costuma-se fazer assentamentos com as mais variadas coisas para representar o Orí de uma pessoa. Esta
variedade de coisas deve-se a que o Orí seja o que individualiza o ser humano. Como no caso das
impressões digitais, ninguém tem Orí igual ao de outra pessoa, cada Orí é único e exclusivo daquela pessoa.

Então, faz-se o assentamento numa cabaça ou tigela, o mais comum entre nós, e esse assentamento é
cultuado como Igbá – Orí, ou seja, a representação física do Orí-inú da pessoa. Tudo bem, este
comportamento é usual e corrente. Mas, sem querer ser o único certo, longe de mim isso, eu não concordo
com esse tipo de Igbá Orí. Porque Eu penso que a melhor representação do nosso Orí-inú é o nosso Orí
físico, ou seja, a nossa própria cabeça.

A nossa cabeça física é a materialização da nossa cabeça interior, acho eu. Qual o melhor objeto para
representar o nosso Orí-inú, que não a nossa própria cabeça? É dentro dela que se instala a outra do òrun,
por isso, chamado Orí-inú (cabeça interior), mas interior onde? Da cabeça física que também acho, tem o
formato do igbá (cabaça).

Quando fazemos um eborí nós estamos cultuando esta cabeça interior. E onde nós fazemos os preceitos?
Diretamente em nossa cabeça, pois é ali que mora o nosso Orí-inú e o nosso òris.

Igbá Ori, segundo a Tradição de Orisa, não leva Okuta. igbá ori não deveria existir, pois não há lugar melhor
para cultuar Ori Inu que sobre Ori Ode, porém ficou convencionado o uso dele.

Quanto ao Igba-Ori, quer dizer a bandeja onde guardamos o doublé, a representação material do Ori, este
contém alguns itens de conhecimento restritos àqueles que tem o seu ori “assentado”. Posso, porém
assegurar que dentre estes itens jamais encontrarás um Okuta (Ota).
Oriki
ORÍ O!

MO PELÉ O!

ORI RERÉ ASIWAJÚ!

ORI MÍ O!

SÉ RERÉ FUN MÍ!

Cabeça, eu te saúdo.

Cabeça, que vem primeiro que tudo

Cabeça, me faça prosperar e me conduza sempre

Para adiante e para frente!

Observações: Nada e ninguém abençoa tua cabeça, sem que ela assim o permita.

ÀDÚRÀ TI ORÍ

Orí ení kini sàka ení

Cabeça que está purificada na esteira

Orí ení kini sàka yan

Cabeça que está purificada na esteira caminha soberbamente

Orí olóore ori jè o

A cabeça do vencedor vencerá

A saka yìn ki ya n’to lo ko

A cabeça limpa que louvamos mãe permita que façam uso dela

A saka yìn ki ègbón mi gbè

A cabeça limpa que louvamos meu mais velho conduzirá

Ìta nù mo bo orí o.

Ar livre e limpo oferendo a cabeça.

***

“ORI LO NDA ENI

ESI ONDAYE ORISA LO NPA ENI DA

O NPA ORISA DA

ORISA LO PA NIDA

BI ISU WON SUN


AYÉ MA PA TEMI DA

KI ORI MI MA SE ORI

KI ORI MI MA GBA ABODI”

TRADUÇÃO:

“ORI é o criador de todas as coisas

ORI é que faz tudo acontecer, antes da vida começar

É ORISA que pode mudar o homem

Ninguém consegue mudar ORISA

ORISA que muda a vida do homem como inhame assado

AYÉ*, não mude o meu destino

Para que o meu ORI não deixe que as pessoas me desrespeitem

Que o meu ORI não me deixe ser desrespeitado por ninguém

Meu ORI, não aceite o mal.”

(* AYÉ – conjunto das forças do bem e do mal)

“ÀJÀLÁ ORÍ, ORÍ L’EWÀ, L’EWÀ, L’EWÀ.

ÀJÀLÁ ORÍ, ORÍ L’EWÀ, L’EWÀ, L’EWÀ.

OPÉ ÈNYIN EDÙMARÈ, WÁ ORÍ, E KÚ Ó.

OPÉ ÈNYIN EDÙMARÈ, WÁ ORÍ, E KÚ Ó.

E KÚ Ó ÒRUN, E KÚ Ó ÒSÙPÁ, E KÚ ÒJÒ, ÒJÒ BÒ ILÈ.

E KÚ Ó ÒRUN, E KÚ Ó ÒSÙPÁ, E KÚ ÒJÒ, ÒJÒ BÒ ILÈ.

IRÉ ORÍ Ó JÍ, Ó JÍ IRE ORÍ,

IRÉ ORÍ Ó JÍ, Ó JÍ IRE ORÍ”.

Tradução:

Àjàlá que molda cabeças, deixe este Ori lindo, lindo, lindo.

Agradeço-te Deus, venha para esta Cabeça, eu te saúdo.

Eu saúdo o Sol, eu saúdo a Lua, eu saúdo a Chuva, Chuva que cai sobre a Terra.

Você será uma Cabeça feliz, acorde feliz Orí.

***

ORI O ORI O

ORI MI O!

SE RERE FUN MI!


Traduçao:

MEU ORI!

SE ALEGRE COMIGO!

Para termos ideia quanto a importância e precedência do ORI em relação aos demais ORISA, um Itan do
ODU OTURA MEJI, ao contar a história de um ORI que se perdeu no caminho que o conduzia do ORUN para
o AIYE, relata:

“… OGUN chamou ORI e perguntou-lhe: “Você não sabe que você é o mais velho entre os ORISA? Que você
é o líder dos ORISA?’…”. Sem receio podemos dizer, “ORI mi a ba bo ki a to bo ORISA”, ou seja, “Meu ORI,
que tem que ser cultuado antes que o ORISA” e temos um oriki dedicado à ORI que nos fala que: “KO SI
ORISA TI DA NIGBE LEYIN ORI ENI”, significando: “… Não existe um ORISA que apoie mais o homem do que
o seu próprio ORI…”.

Quando encontramos uma pessoa que, apesar de enfrentar na vida uma série de dificuldades relacionadas
a ações negativas ou maldade de outras pessoas, continua encontrando recursos internos, força interior
extraordinária, que lhe permitam a sobrevivência e, inclusive, muitas vezes, mantém resultados adequados
de realização na vida, podemos dizer: “ENIYAN KO FE KI ERU FI ASO, ORI ENI NI SO NI”, ou seja, “as pessoas
não querem que você sobreviva, mas o seu ORI trabalha para você”, trazendo, essa expressão, um
indicador muito importante de que um ORI resistente e forte é capaz de cuidar do homem e garantir-lhe a
sobrevivência social e as relações com a vida, apesar das dificuldades que ele enfrente.

Esta é a razão pela qual o EBORÍ, forma de louvação e fortalecimento do ORI utilizada em nossa religião, é
utilizado muitas vezes, precedendo ou, até, substituindo um EBO. Isso se faz para que a pessoa encontre
recursos internos adequados, esta força interior de que falamos, seja à adequação ou ajustamento de suas
condições frente às situações enfrentadas, seja quanto ao fortalecimento de suas reservas de energia e
consequente integração com suas fontes de vitalidade.

É importante dizer que é o ORI que nos individualiza e, por consequência, nos diferencia dos demais
habitantes do mundo. Essa diferenciação é de natureza interna e nada no plano das aparências físicas nos
permite qualquer referencial de identificação dessas diferenças. Sinalizando essa condição, talvez uma das
maiores lições que possamos receber com respeito a ORI possa ser extraída do Itan ODU OSA MEJI, que
reproduzimos a seguir e que é a resposta que foi dada por IFÁ para Mobowu, esposa de OGUN, quando ela
foi lhe consultar:

“ORI BURUKU KI I WU TUULU.

A KI I DA ESE ASIWEREE MO LOJU-ONA.

A KI I M’ ORI OLOYE LAWUJO.

A DIA FUN MOBOWU TI I SE OBINRIN OGUN.

ORI TI O JOBA LOLA, ENIKAN O MO KI TOKO-TAYA O MO PE’RAA WON NI WERE MO.

ORI TI O JOBA LOLA, ENIKAN O MO.”

TRADUÇÃO

“Uma pessoa de mau ORI não nasce com a cabeça diferente das outras.

Ninguém consegue distinguir os passos do louco na rua.


Uma pessoa que é líder não é diferente E também é difícil de ser reconhecida.

É o que foi dito à Mobowu, esposa de OGUN, que foi consultar IFÁ.

Tanto esposo como esposa não deviam se maltratar tanto, nem fisicamente, nem espiritualmente.

O motivo é que o ORI vai ser coroado E ninguém sabe como será o futuro da pessoa.

Para os yoruba o ser humano é descrito como constituído dos seguintes elementos: ARA, OJIJI, OKAN, EMI
e ORI.

ARA é corpo físico, a casa ou templo dos demais componentes.

OJIJI é o “fantasma” humano, é a representação visível da essência espiritual.

OKAN é o coração físico, sede da inteligência, do pensamento e da ação.

EMI, está associado a respiração, é o sopro divino. Quando um homem morre, diz que seu EMI partiu.

ORI é o ORISA pessoal, em toda a sua força e grandeza. ORI é o primeiro ORISA a ser louvado,
representação particular da existência individualizada (a essência real do ser). É aquele que guia,
acompanha e ajuda a pessoa desde antes do nascimento, durante toda vida e após a morte, referenciando
sua caminhada e a assistindo no cumprimento de seu destino.

ORI em yoruba tem muitos significados – o sentido literal é cabeça física, símbolo da cabeça interior (ORI
INU). Espiritualmente, a cabeça como o ponto mais alto (ou superior) do corpo humano representa o ORI.

Enquanto ORISA pessoal de cada ser humano, com certeza ele está mais interessado na realização e na
felicidade de cada homem do que qualquer outro ORISA. Da mesma forma, mais do que qualquer um, ele
conhece as necessidades de cada homem em sua caminhada pela vida e, nos acertos e desacertos de cada
um, tem os recursos adequados e todos os indicadores que permitem a reorganização dos sistemas
pessoais referentes a cada ser humano. Reforçando esta questão temos um oriki que nos diz:

“ORI LO NDA ENI

ESI ONDAYE ORISA LO NPA ENI DA

O NPA ORISA DA

ORISA LO PA NIDA

BI ISU WON SUN

AYÉ MA PA TEMI DA

KI ORI MI MA SE ORI

KI ORI MI MA GBA ABODI”

TRADUÇÃO

“ORI é o criador de todas as coisas

ORI é que faz tudo acontecer, antes da vida começar

É ORISA que pode mudar o homem

Ninguém consegue mudar ORISA

ORISA que muda a vida do homem como inhame assado


AYÉ*, não mude o meu destino

Para que o meu ORI não deixe que as pessoas me desrespeitem

Que o meu ORI não me deixe ser desrespeitado por ninguém

Meu ORI, não aceite o mal.”

(* AYÉ – conjunto das forças do bem e do mal)

Como foi dito, não existe um ORISA que apoie mais o homem do que o seu próprio ORI: um trecho do
adura (reza) feito durante o assentamento de um IGBA-ORI diz:

KORIKORI

Que com o àse do próprio ORI, O ORI vai sobreviver

KOROKORO

Da mesma forma que o ORI de Afuwape sobreviveu, O seu sobreviverá. Ele será favorável a você. Tudo de
que você precisa, tudo o que você quer para a sua vida, é ao seu ORI que você deverá pedir. É o ORI do
homem que ouve o seu sofrimento…”

O que é então ORI, de que a natureza é constituída e qual o seu papel na vida do homem? Em primeiro
lugar, acredita-se que o corpo humano é constituído de duas partes: a cabeça e o suporte – ORI e APERE.
Acredita-se que este corpo adquire existência na medida em que recebe de OLODUMARE o sopro
vivificador – o EMI.

Este sopro foi o agente do processo da criação em seu primeiro momento e tem sido o responsável pela
geração e continuidade de toda a vida no universo.

Este modelo descrito e de entendimento abrangente para todas as formas de vida é repetido no ser
humano.

A cabeça e o seu suporte, ORI-APERE são formados a partir dos elementos matrizes, enquanto o ORI-INU,
interior, representa, na sua constituição, uma combinação de elementos, porções de matéria-massa que é
particularizada durante o processo de modelagem de cada ORI. Ele é único e, por conta disso, particulariza
e dá individualização à existência.

Essa combinação “química” definirá parte das relações do homem com o mundo sobrenatural e a religião,
na medida em que determina o seu ELEDA, ORISA – símbolo do elemento cósmico de formação, a que
chamamos, adiante, de IPORI, daquele ORI-INU em particular.

No Brasil vimos, com certa frequência, o ELEDA ser chamado de ORISA-ORI, simplificação da relação aqui
exposta. ELEDA segundo Juana Elbein dos Santos em Os Nagô e a Morte, “se refere à entidade
sobrenatural, à matéria-massa que desprendeu uma porção da mesma para criar um ORI,
consequentemente Criador de cabeças individuais…”

Segundo a autora também, “A espécie de material com o qual são modelados os ORI individuais indicará
que tipo de trabalho é mais conveniente, proporcionando satisfação e permitindo a cada um alcançar
prosperidade. Indica também as interdições – EWO – aquilo que lhe é proibido comer, por causa do
elemento com o qual o seu ORI foi modelado”.

Ou seja, os EWO representam a proibição de que o indivíduo “coma” alimentos que contenham a mesma
“matéria” da qual foi retirada uma porção para modelagem do seu ORI. A não observância da interdição
traduz-se por uma disfunção energética de consequências profundamente negativas para o equilíbrio do
indivíduo, seja do ponto de vista orgânico, seja do ponto de vista do mundo emocional, seja quanto as suas
condições de realização do “programa” particular de existência.

Falamos até aqui sobre a natureza e a constituição do ORI. Agora, qual o seu papel na vida do homem? O
conceito de ORI está intimamente ligado ao conceito de destino pessoal e à instrumentalização do homem
para a realização deste destino.

Um Itan do ODU OGUNDA MEJI, nos dá a exata dimensão da matéria quando nos relata sobre a
correspondência entre o ORI e o homem e a relação de causa e efeito existente nesta correspondência:

“… ORI, eu te saúdo!”.

Aquele que é sábio,

Foi feito sábio pelo próprio ORI.

Aquele que é tolo,

Foi feito mais tolo que um pedaço de inhame,

Pelo próprio ORI…”

ori criou Ifá, e Ifá se tornou um especialista em ikin. ori criou amakisi no Leste, aonde a luz matinal surge na
terra. ori conquistou todos os orixás e os criou aonde eles são hoje reverenciados.

ao acordar, eu homenageio Olorum. deixe todas as coisas boas virem a mim. meu ori me deu vida. dê-me o
poder de ultrapassar a mortalidade e eu não morrerei. deixe todas as coisas boas pertencerem a mim,
como a luz pertence a amakisi.

ori é importante porque é o que escolhemos no orun para nos acompanhar neste mundo para atingirmos
nosso destino. ori é o que nos dá a oportunidade de fazer escolhas. mesmo antes do orixá, há o ori que nos
direciona e nada pode se manifestar se não fizermos uma escolha. ë ori que nos leva de volta ao orixá. se
olharmos o termo ori (sa) é a coroação da cabeça que a isto se refere. é a coroação do ori das divindades
que os tornam orixá.

todos eles escolhem seu destino. e esta escolha é seu ori. não há nada que possa acontecer sem fazermos
uma escolha ou saudarmos ori. por isto é que ori vem primeiro, porque nos leva a Olodumaré (Olorum).
ori é a “ligação direta” com Olodumaré. ligação com a força chamada eleda, energia incondicional, o
pensamento de Olorum que todos temos dentro de nós. é por isto que é dito quando saudamos nossas
cabeças que estamos saudando eledá, porque isto é feito através de nosso ori.

IWA LÉWA
Agora a importância de ori vem de iwa (léwa) que significa “caráter e beleza”. é através destas escolhas que
fazemos que somos capazes de ser vistos como algo belo, e estas escolhas são acompanhadas do destino. é
através destas escolhas que nosso caráter é moldado. é interessante que iwa-caráter e iwa-destino são
basicamente a mesma palavra.

Nós não conseguiremos alcançar nosso destino a não ser que desenvolvamos bom caráter.
E se durante a nossa vida no mercado do mundo nós desenvolvermos um bom caráter moral, nós
conseguiremos a coroa do orixá.

Há uma outra entidade que existe com ori. quando ori anda conosco pelo mundo, há enikeji, nosso gêmeo
espiritual, que se mantém em espírito para nos lembrar do nosso destino escolhido em ile orun. Quando
formos para casa, pois o mundo é o mercado, orun é nossa casa, haverá uma reconexão com enikeji para
ver se alcançamos nosso destino. todos os ori vem de eledá, Olorum. tudo vem daquele que dá vida –
Olorum – e se manifesta como vida – Olodumaré.

Cada pessoa, pedra, árvore, punhado de terra é composto de Odu e tem um espírito de eledá em si, ori ou
oro, o que habita dentro. tudo vem da mesma fonte, não diferentes, eu posso voltar como um pássaro, mas
ainda com ori, o que me dá a escolha necessária de alcançar meu destino escolhido. mas ainda assim ori
vem de eledá. o corpo do pássaro é somente a residência do espírito do pássaro, e o espírito vem de
Olodumaré.

Igbá iwa, que é nosso corpo que contém o nosso caráter, é somente a residência do espírito,
independentemente de sua forma física. nós temos a tendência de nos separarmos deste espírito, e é o que
nos impede de alcançarmos iwa pele.

Kotopo-kelebe era o apelido de ori antes dele se tornar a cabeça de todos os orixás. especificamente, o
apere de ori indica sua vitória sobre as outras divindades, e a ascensão de ori ao alto da ponta do cone da
existência, isto é a razão de existir. para saber como ori lidou com todas as ameaças de oposição de seus
rivais e ditou seus destinos, é pertinente para mostrar o duplo sentido mostrado no verbo “da” (vencer ou
conquistar ou criar) usado no Odu em ori. nós temos a noção de que em para ser ou criar algo, temos de
sobrepor alguma oposição ou vencer alguém. sem luta, não há sucesso na vida.

O mais alto lugar, a posição de autoridade chamada apere se tornou o trono de ori. Ori foi mais adiante
para provar sua superioridade sobre orisanlá dando a ele um lugar permanente chamado oke-alamoleke
em ode iranjé, e uma função específica em ajalamo ambos sobre o controle de ori.

Ajalamo é um lugar muito interessante em ifé, é um lugar em que um vai em espírito para escolher seu ori.
E a pessoa designada a este lugar é chamada de ajalamopin, o moldador de ori ou cabeças, e orisanlá cuida
de moldar os corpos.

Há outro em ajalamo que não é mencionado, conhecido pelo nome de kori, o moldador dos espíritos de
crianças. Ori é aquele com axé que nos faz tê-lo.

É tão poderoso que até Ifá tem de se submeter a sua vontade.

Ori venceu todos os orixás e foi o único capaz de abrir o obi do axé. Vontade dita como as coisas
acontecem em nossa vida, se deixarmos ori para trás, nós perdemos o direito de reclamar sobre nossa
situação. ninguém pode aprisionar nossa mente, mas só nós podemos. Escravidão é uma armadilha mental
e quando nós deixamos de lado nossos direitos a liberdade, nós nos mantemos escravos.

Para obter o poder da vontade de mudar, primeiro temos de ter vontade. A maioria das pessoas aceita as
condições estabelecidas, e não querem mudar. Nós temos de ter vontade de sairmos um com Olodumaré,
ori nos leva.

Diretamente a iwa que contém a palavra caráter. Para o yorubas iwa não quer dizer cumprir as diretivas de
Olodumaré que também é chamado de obá mimó, Oba pipé, significando “o rei puro ou o rei perfeito” ou
alalá funfun oké “aquele de branco que habita no alto”.

É esta força que dispersa que é chamado ifá iyà, ou o oráculo do coração. Os oráculos do coração são as
diretivas ou ordens de Olodumaré, aquilo que é o certo ou errado, que leva a cumprir ou não, o destino.
todos nós sabemos o que é o certo porque isto também foi dado com o sopro de Olodumaré que pôs em
nós. é o oráculo do coração que nos guia e determina nossa vida ética. o oráculo do coração é a consciência
da pessoa. As leis de Olodumaré estão escritas no coração.

Je èwo significa “comer o que é tabu” ou “fazer o que é proibido” e gbigba èwo significa “receber o tabu”
ou “fazer o certo” (cumprir o preceito) esta é uma das maneiras que um é reconhecido, no
desenvolvimento de iwa. Mas antes mesmo de virmos para este mundo, nós aprendemos e recebemos
diretivas enquanto espíritos e isto são o que nós chamamos de instintos, ou deja vu, a memória de ori.

As leis dos homens são feitas para controlar e tirar as escolhas. Olodumaré diz que cada um de nós tem
escolha e que há uma punição divina. Nós temos a oportunidade de escolher a direção em que queremos
ir, mas temos de realizar que todas as dividas deverão ser pagas. é muito importante que nós mesmos
escolhemos nossa própria direção para desenvolver iwa, por que isto determinara o sucesso ou insucesso
de alcançarmos nosso destino.

A COROAÇÃO FINAL DO NOSSO ORI


De acordo com um dos versos de ogunda Meji, Orunmilá reuniu todos os orixás e perguntou qual deles
acompanhariam seus devotos numa viagem distante através do oceano sem desertá-los em nenhum lugar.
Xangô, o deus do trovão e o mais corajoso, respondeu que ele iria com seus devotos para qualquer lugar
sem olhar para trás. Orunmilá convenceu xangô que esta não era a resposta correta, e um por um ele
convenceu cada um dos orixás que esta não era a resposta a sua pergunta. Eles imploraram a orunmilá
para revelar a resposta correta, a qual orunmilá respondeu que somente ori, a divindade pessoal de cada
um, pode nos acompanhar até o lugar mais longínquo do mundo sem voltar atrás.

Daí ele recitou:

“somente ori pode acompanhar o seu devoto a qualquer lugar sem retornar, se eu tenho dinheiro, é a meu
ori que eu agradeço. Meu ori, é você. Se eu tenho filhos, é o meu ori que eu vou cultuar. Meu ori, é você. por
todas as coisas boas que eu tenho na terra, é o meu ori que eu cultuo. Meu ori, é você”.

No ODU OGBEYONU (Ogbe Ogunda) vamos encontrar ainda, “… quando acordo pela manhã coloco minha
mão no ORI. ORI é fonte de sorte. ORI é ORI!…”.

É um oriki dedicado à ORI, mostrando o papel que ORI tem na vida de cada pessoa quanto as suas relações
interpessoais, suas relações com as outras pessoas, e as suas condições de realização e progresso em todos
os empreendimentos da vida, nos diz:

“ORI MI

MO KE PE O O

ORI MI

A PE JE

ORI MI

WA JE MI O

KI NDI OLOWO O

KI NDI OLOLA

KI NDI ENI A PE SIN


LAYE

O, ORI MI

LORI A JIKI

ORI MI LORI A JI YO MO LAYE”

TRADUÇÃO

Meu ORI

Eu grito chamando por você

Meu ORI,

Me responda

Meu ORI,

Venha me atender

Para que eu seja uma pessoa rica e próspera

Para que eu seja uma pessoa a quem todos respeitem

Oh, meu ORI!

A ser louvado pela manhã,

Que todos encontrem alegria comigo”

Toda existência no universo da Criação se processa em dois planos: O mundo visível, o AIYE, universo
concreto que habitamos, e o mundo invisível, ORUN, onde habitam os seres sobrenaturais e os “duplos” de
tudo o que se encontra manifestado no AIYE. Não são, como é possível pensar, mundos independentes ou
rigidamente separados. Na realidade podemos afirmar que o AIYE é, antes de mais nada, uma “projeção”
da realidade essencial que tem existência e se processa no ORUN.

Como diz a Profa. Dra. Iyakemi Ribeiro, em seu livro “Alma Africana no Brasil: os iorubás”, “Para o negro-
africano o visível constitui manifestação do invisível. Para além das aparências encontra-se a realidade, o
sentido, o ser que através das aparências se manifesta. Sob toda manifestação viva reside uma força vital:
de Deus a um grão de areia, o universo africano é sem costura. (Erny, 1968:19) Universo de
correspondências, analogias e interações, no qual o homem e todos os demais seres constituem uma única
rede de forças.”

É necessário entender, assim, que AIYE e ORUN constituem uma unidade e, enquanto expressões de dois
níveis de existência, são inseparáveis e complementares. Essa unidade é simbolizada pelo IGBA-ODU,
cabaça formada de duas metades unidas onde a parte inferior representa o AIYE e a parte superior
representa o ORUN. No interior, os “elementos indispensáveis à existência individualizada”. Poderia ser
representada por uma figura e sua imagem refletida no espelho – há plena identidade entre elas, uma é
apenas a imagem invertida da outra.

Podemos dizer nessa figuração que o AIYE é a imagem refletida do ORUN. Essa analogia provavelmente
explica a situação conhecida de que os ODU, quando vieram do ORUN para o AIYE, tiveram sua ordem de
precedência invertida. Ou seja, muito embora no AIYE considere-se EJIOGBE MEJI como o mais antigo dos
ODU, todo Babalawo saúda OFUN MEJI, ou ORANGUN MEJI como é também conhecido, em sua realeza,
dizendo: eepa ODU! Louvando assim sua antiguidade e sua precedência efetiva.
Temos assim que toda existência no AIYE reflete uma realidade anterior existente no ORUN. A existência no
AIYE implica em processar-se uma “modelagem” anterior no ORUN, a partir da qual porções de matérias-
massas que constituem a base da existência genérica são tomadas em fragmentos particulares e vão
constituir a manifestação dessa existência em forma individualizada no AIYE.

Esses elementos matrizes possuem, por consequência, dupla existência: uma parcela presente no ORUN e a
outra parcela dando vitalidade ou formação às diferentes partes que formam a “realidade” individualizada
de vida. A esses fragmentos particulares retirados da massa genitora chamamos IPORI e é ele, IPORI, que
determinará o ORISA que cada indivíduo cultuará no AIYE, condicionando também sua instrumentalização
particular na relação com a vida e o repertório possível de escolhas que possa realizar.

A RESPEITO DO DESTINO HUMANO


Podemos perceber que a compreensão sobre o papel que ORI desempenha na vida de cada homem está
intimamente relacionado à crença na predestinação – na aceitação de que o sucesso ou o insucesso de um
homem depende em larga escala do destino pessoal que ele traz na vinda do ORUN para o AIYE. A esse
destino pessoal chamamos KADARA ou IPIN e é entendido que o homem o recebe no mesmo momento em
que escolhe livremente o ORI com que vai vir para a terra.

ORI desempenha um papel importante para os seguidores de IFÁ. Nele acredita-se que escolhemos nossos
próprios destinos. E nós o fazemos mediante os auspícios do ORISA IJALA MOPIN. A esfera de ação de
IJALA é junto a OLODUMARE e é ele que sanciona as escolhas de destino que fazemos. Essas escolhas são
documentadas pelas divindades que chamamos de ALUDUNDUN. Um verso de IFÁ explica esta questão: “

“Você disse que foi apanhar o seu ORI.

Você sabia onde Afuwape apanhou o seu ORI?

Você poderia ter ido lá para apanhar o seu.

Nós pegamos nossos ORI nos domínios de IJALA,

Assim somente nossos destinos diferem”.

IJALA é responsável pela modelação da cabeça humana, e acredita-se que o ORI e o ODU – signo regente
de seu destino que escolhemos, determina nossa fortuna ou atribulações na vida, como foi dito. IJALA,
embora notável em sua habilidade, não é muito responsável e, por isso, muitas vezes modela cabeças
defeituosas: pode esquecer de colocar alguns acabamentos ou detalhes desnecessários, como pode, ao
levá-las ao forno para queimar, deixá-las por um tempo demasiado ou insuficiente.

Tais cabeças tornam-se assim, potencialmente fracas, incapazes de empreender a longa jornada para a
terra, sem prejuízos. Se, desafortunadamente, um homem escolhe uma dessas cabeças mal modeladas,
estará destinando a fracassar na vida.

Durante sua jornada para a terra, a cabeça que permaneceu por tempo insuficiente ou demasiado no
forno, poderá não resistir à ação de uma chuva forte e chegará mais danificada ainda. Todo o esforço
empreendido para obter sucesso na vida terrena terá grande parte de seus efeitos desviada para reparar
tais estragos.

Pelo contrário, se um homem tem a sorte de escolher uma das cabeças realmente boas, tornar-se próspero
e bem sucedido na terra, uma vez que sua cabeça chega intacta e seus esforços redundam em construção
real de tudo aquilo que se proponha a realizar.
O trabalho árduo trará, ao homem afortunado em sua escolha, excelentes resultados, já que nada é
necessário dispender para reparar a própria cabeça. Assim, para usufruir o sucesso potencial que a escolha
de um bom ORI acarreta, o homem deve trabalhar arduamente. Aqueles, entretanto, que escolheram um
mau ORI têm poucas esperanças de progresso, ainda que passem o tempo todo se esforçando.

Sendo estes os pressupostos, retomamos as perguntas: Como saber se a escolha do próprio ORI foi boa ou
má? Pode um homem conhecer as potencialidades da própria cabeça ou da cabeça de outrem?

O Jogo divinatório de IFÁ possibilita que a pessoa tome conhecimento dos desígnios do próprio ORI, saiba a
respeito do ORISA ou IRUNMALE que deve ser cultuado e conheça seus EWO – proibições quanto ao
consumo de alimentos, uso de cores e condutas morais

Muitas referências são feitas às relações entre ORI e o destino pessoal. O destino descrito como IPIN ORI –
a sina do ORI – pode ser dividido em três partes: AKUNLEYAN, AKUNLEGBA E AYANMO.

AKUNLEYAN é o pedido que você fez no domínio de IJALA – o que você gostaria especificamente durante
seu período de vida na terra: o número de anos que você desejaria passar na terra, os tipos de sucesso que
você espera obter, os tipos de parentes que você deseja.

AKUNLEGBA são aquelas coisas dadas a um indivíduo para ajudá-lo a realizar esses desejos. Por exemplo:
uma criança que deseja morrer na infância pode nascer durante uma epidemia para garantir a morte dele
ou dela.

AYANMO é aquela parte do nosso destino que não pode ser mudada: nosso gênero (sexo) ou a família em
que nascemos, por exemplo.

Ambos, AKUNLEYAN e AKUNLEGBA podem ser alterados ou modificados quer para bom ou para mau,
dependendo das circunstâncias.

Assim o destino descrito como IPIN ORI – a sina do ORI pode sofrer alterações em decorrência da ação de
pessoas más chamadas como ARAYE – filhos do mundo, também chamadas AIYE – o mundo ou ainda,
ELENINI – implacáveis (amargos, sádicos, inexoráveis) inimigos das pessoas.

Entre estes encontram-se as ÀJÉ – bruxas, os OSO – feiticeiros, os envenenadores e todos aqueles que se
dedicam a práticas malignas com intuito de estragar qualquer oportunidade de sucesso humano.

Sacrifício e ritual podem ajudar a melhorar as condições desfavoráveis que podem ter resultados destas
maquinações maléficas imprevisíveis.

Todo ORI, embora criado bom, acha-se sujeito a mudanças. Vimos que feiticeiros, bruxas, homens maus e a
própria conduta podem transformar negativamente um ORI, sendo sinal dessa transformação uma cadeia
interminável de infelicidades na vida de um homem a despeito de seus esforços para melhorar.

O ORI, entidade parcialmente independente, considerado uma divindade em si próprio, é cultuado entre
outras divindades, recebendo oferendas e orações. Quando ORI INU está bem, todo o ser do homem está
em boas condições.

Como foi dito, nossos ORI espirituais são por eles mesmos subdivididos em dois elementos: APARI-INU e
ORI APERE – APARI-INU representa o caráter (natureza), ORI APERE representa o destino.

Um indivíduo pode vir para a terra com um destino maravilhoso, mas se ele ou ela vem com mau caráter
(natureza), a probabilidade de desempenho (cumprimento, execução) desse destino é severamente
comprometida.

O destino também pode ser afetado, então, pelo caráter da própria pessoa. Um bom destino deve ser
sustentado por um bom caráter.
Este é como uma divindade: se bem cultuado concede sua proteção. Assim, o destino humano pode ser
arruinado pela ação do homem.

IWA RE LAYE YII NI YOO DA O LEJO, ou seja, – “Seu caráter, na terra, proferirá sentença contra você”.

No ODU de OGBEOGUNDA, IFÁ diz:

“Um pilão realiza três funções

Ele tritura inhame

Ele tritura índigo

Ele é usado como uma tranca atrás da porta

Foi feito um jogo adivinhatório para Oriseku, Ori-Elemere e Afuwape

Quando eles foram escolher seus destinos nos domínios de IJALA – MOPIN

Foi solicitado para eles que realizassem rituais

Somente Afuwape realizou os rituais que foram solicitados.

Ele, em consequência, tornou-se muito afortunado.

Os outros lamentaram, disseram que se soubessem onde Afuwape escolheria seu ORI, eles teriam ido até
lá para escolher os seus também.

Afuwape respondeu que, embora seus ORI fossem escolhidos no mesmo lugar, seus destinos é que
diferiam.”

A questão que aí se apresenta é que somente Afuwape mostrou bom caráter. Respeitando sua crença e
realizando seus sacrifícios, ele trouxe as bênçãos potenciais de seu destino para a efetiva realização. Seus
amigos Oriseku e Ori-Elemere falharam em mostrar bom caráter pela recusa em realizar seus rituais e, por
isso suas vidas sofreram as consequências.

O nome IPIN está igualmente associado à ORUNMILÁ, conhecido como ELERI-IPIN – o Senhor do Destino e
que é aquele que esteve presente no momento da criação, conhecendo todos os ORI, assistindo o
compromisso do homem com seu destino, os objetivos de cada um no momento de sua vinda para o AIYE,
o programa particular de desenvolvimento de cada ser humano e sua instrumentalização para o
cumprimento desse programa.

ORUNMILÁ conhece todos os destinos humanos e procura ajudar os homens a trilhar seus verdadeiros
caminhos. Temos, assim, que um dos papeis mais importantes de IFÁ em relação ao homem, além de ser o
intérprete da relação entre os ORISA e o homem, é o de ser o intermediário entre cada um e o seu ORI,
entre cada homem e os desejos de seu ORI. Apenas como registro, é preciso entender que esse mesmo
papel ORUNMILÁ tem na relação com os demais ORISA, sendo o intermediário entre cada um e o seu ORI.
E ORUNMILÁ, Ele mesmo, consulta IFÁ!

Nos momentos de crise, a consulta ao oráculo de IFÁ permite acesso a instruções a respeito dos
procedimentos desejáveis, sendo considerados bons procedimentos os que não entram em desacordo com
os propósitos do ORI.

O ser que cumpre integralmente seu IPIN-ORI (destino do ORI), amadurece para a morte e, recebendo os
ritos fúnebres adequados, alcança a condição de ancestral ao passar do AIYE para o ORUN.
Há a crença na existência de duas áreas ocupadas por espíritos dos mortos: ORUN RERE – o bom “céu”,
habitado pelas divindades e ancestrais, e ORUN APAADI – o “céu” de muitas infelicidades, habitado pelos
infelizes que sofreram má sorte e pelos maus, julgados pelo Ser Supremo, segundo o seu caráter. Estes
últimos ficam condenados à solidão e ao esquecimento, sem direito a lembrança ou a aparecerem em
sonhos e visões – morrem totalmente.

ORUN RERE, por outro lado, é prazeroso e sereno, vivendo os espíritos numa comunidade composta de
parentes e amigos. Podem também permanecer junto aos familiares e intervir em suas atividades diárias,
sendo-lhes permitido reencarnar em alguma criança nascida no âmbito familiar.

A respeito do ORI, resta ainda lembrar que se trata de uma divindade pessoal, a mais interessada de todas
no bem estar de seu devoto. Se o ORI de um homem não simpatiza com sua causa, aquilo que ele deseja
não pode ser concedido nem por OLODUMARE, nem pelos ORISA.

Da mesma forma se o caráter de um indivíduo é mau, sua escolha de destino pode não se realizar. Se nossa
situação é realmente de um mau destino, e não é uma consequência de nosso caráter ou comportamento,
então nosso ORI-APERE precisa ser apaziguado.

Oferendas prescritas ou rituais devem ser realizados para nos trazer de volta a um alinhamento saudável.

Considera-se vital para todo homem recorrer a IFÁ, sistema divinatório de consulta a ORUNMILÁ, a
intervalos regulares para tomar conhecimento do que agrada ou desagrada o próprio ORI. Enquanto
intermediário entre a pessoa e as divindades (entre as quais o próprio ORI) IFÁ não apenas informa sobre
os desejos divinos, mas também conduz os sacrifícios ofertados às divindades para que estas possam
cumprir seu papel: ajudar os ORI a conduzirem as pessoas à realização do próprio destino.

Se as coisas estão indo mal em sua vida, antes de apontar um dedo acusador para as bruxas, para feitiços
ou para seus inimigos, examine sua natureza.

Se Você tem por hábito maltratar as pessoas ou não considerar seus sentimentos, não procure qualquer
felicidade ou sorte em sua vida, não importando o quanto você possa ser bem sucedido materialmente.

Se, por outro lado, você ajuda os outros e dá felicidade a eles, sua vida será cheia, não só de riquezas, mas
também de alegria e felicidade. No entanto, lembre-se, é decididamente muito mais fácil alterar seu
destino do que sua natureza.

“Por toda parte onde ORI seja próspero, deixe-me estar incluído,

Por toda parte onde ORI seja fértil, deixe-me estar incluído,

Por toda parte onde ORI tenha todas as coisas boas da vida, deixe-me estar incluído.

ORI, coloque-me em boa situação na vida,

Que meus pés me conduzam para onde as coisas me sejam favoráveis.

Para onde IFÁ está me levando eu nunca sei

Jogaram para Assore no início de sua vida.

Se há qualquer condição melhor do que aquela em que estou no presente,

Que possa meu ORI não falhar em colocar-me nela.

Meu ORI me ajude! Meu ORI faça-me próspero!


ORIN ORI
Ori ka f’anjá Ori ô Ori ka f’anjá

Ori ká f’anjá Ori ô Ori ka f’ajnjá

Ori ká f’anjá alá umbó bàbá lá toloxé

Agô ni kekerê kerê kê

Agô ni kekerê kerê kê eru janjan

Ori ka f’anjá Ori ô Ori ka f’anjá

Ori ká f’anjá Ori ô Ori ka f’ajnjá

Ori ká f’anjá alá umbó bàbá la toloxé

Ago ni kekerê kerê kê

Agô ni kekerê kerê kê eru janjan

Orí ô Ori apere

Lé fibô didê lésé orixá

Apere ô ori ô orí apere

Lé fibô didê lésé orixá

Ori ô Ori xê

Awa dá meuá l’apere ô ori ô

Ori xê e uá lese orixá

Ori gbó apere

Orí gbó mó gbó tijí

Orí gbó a pe re

Ori gbó mó gbó tijí

Ori loman bó inxê

Ori loman

Iyemoja mi xekê mi ô

Iyemoja mi xekê mi rô

Orí ô Iyemoja mi xekê mi ô


Ori mi ô xererê fun mi

Ori mi ô xererê fun mi

Ori oká unsanu oka

Ori ejo unsanu ejô

Afomo opué

Ori mi ô xererê fun mi

O guégué oló guégué

O guégué Ori umbó

Ori mi axé um o yê

Oni dôdô ori man i man yin

Oni dôdô ori man i man yin

Ibá ti kotá lobé fakalé

E a um ô loni á fi a jí

Omobá olokó ilé

Omobá olokó ilé

Omobé yi delê

Omobé yi delê o yê

Omobá olokó ilé

*** ORI é o protetor do homem antes das divindades.”

Créditos.: Resumo objeto de estudo de diversos autores sobre “ORI” tais como, Babalorisa Altair T’ogun/
Antropóloga Juana Elbein dos Santos / Dra.Yakemi Ribeiro / Historiador e Pesquisador José Beniste, dentre
outros.

Material enviado pelo: Instituto de Estudos e Pesquisas Afros “MÒGÁJÍ IFÁ”

Na pessoa de Miguel Sólon (Ifákemi).

Orí Mejí
Orí Mejí é a expressão em Yoruba que quer dizer “Cabeça dupla”, ou seja, um indivíduo que tenha um Orí
regido por dois Orixás ao mesmo tempo. Mas devemos observar os dois tipos de Orí Mejí que encontramos
dentro da liturgia das casas de candomblé, o Primeiro é quando uma pessoa tem dois orixás Iguais regendo
a cabeça, mudando apenas a qualidade, exemplo: Oxaguian e Oxalufan; Odé Ibualama e Odé Inlé; Oxum
Òpará e Oxum Yeye Pondá…, ou seja, ter no Orí dois Orixás Iguais de frente.

A Segunda explicação para Orí Mejí é quando a pessoa tem dois Orixás de frente, não definindo-os como
Orixá frontal e Juntó, pos eles caminham juntinho no mesmo Orí, Exemplo: Yemanjá e Ogún; Oxalá e
Oxóssi; Omolú e Oyá…

Sabe quando nos informam que nosso Orí está em “Briga”, dizem que há uma disputa no nosso Orí, isso
pode ser por causa do Orí Mejí.

Essa Ideia de Orí duplo ou Orí Meji vai do entendimento de tradição passada de casa pra casa, assim sendo
que ainda há outros pontos de vista para esse tema que não é favorável ao entendimento dos mais velhos
e da tradição Yoruba.

Ori (cabeça) e Meji (metade)

Uma pessoa que é ori Meji tem sua cabeça dividida por dois voduns, orixás, n’kisses.

Os dois são donos da cabeça, o que é diferente do adjunto (comumente chamado de apenas juntó).

Quando se entende que orixá é energia natural e que está também dentro de cada um de nós e não apenas
na natureza, fica fácil de se esclarecer isso. Vejam bem o exemplo: uma pessoa de oxalá, oxum e ogum…
essa pessoa é formada em sua essência das energias da água doce, dos metais e do ar que se respira…isso é
o que forma o ser espiritual enquanto energia. Logo quando dizemos que fulano é ori Meji dizemos que ele
tem uma configuração energética específica e essa configuração deve ser agradada e alimentada conforme
os preceitos rituais de nossa religião.

Candomblé é antes de tudo algo que deve ser entendido como detentor de energias. Embora utilizemos de
recursos materiais e simbólicos para nossos fundamentos, precisamos entender que tudo ali presente faz
parte de algo a que chamamos de “encantamento”, o que por sua vez reúne os valores energéticos
necessários para o que está sendo proposto ali. Diante disso, os ori que são Meji têm pouco de diferente de
um ori “tradicional”, devendo apenas se observar as peculiaridades das energias ali presentes para que os
fundamentos sejam feitos de forma adequada. Agradando os dois donos da cabeça, neste sentido.

ORÍ – O ORIXÁ MAIS IMPORTANTE

“Ko sí Òòsà tí i dá´ni gbè léhìn Orí eni”

“Nenhum Orixá abençoa uma pessoa antes de seu Ori”

Este oriki (verso sagrado) não deixa dúvida sobre a suprema importância desta divindade pessoal, inclusive,
acima dos outros Orixás! Ori, porém, continua sendo um enigma no conhecimento popular do culto.

Traduzindo da língua Iorubana, Ori significa cabeça, entretanto quando se busca aprofundar algo mais os
devotos hesitam, titubeiam, emudecem… Se Ori é a mais importante de todas as divindades, por que este
desconhecimento? Principalmente de uma divindade que reside justamente dentro de nós? Por que de
todos os Orixás, Ori é o mais misterioso?
Para responder a esta questão temos de voltar às origens do nosso culto em África. No continente africano
o culto, assim como no Candomblé, é iniciático e hermético. Portanto os segredos, fundamentos e a
sabedoria do culto está para apenas ser desvelado por seus iniciados ao decorrer de sua carreira religiosa
e/ou sacerdotal. Desta forma, os segredos mais profundos e sérios do culto ficavam restritos aos mais altos
sacerdotes. Permitindo ao público e aos mais novos iniciados apenas pequenas centelhas desta sabedoria.
Para se atingir os mais profundos conhecimentos e sabedoria eram necessários muitos anos de profunda
dedicação e disponibilidade de transcender sempre os próprios limites. Contudo, atualmente, vive-se na
cultura das árvores impacientes que se dedicam a crescer tão apressadamente em detrimento do
aprofundamento de suas raízes, e assim, estes profundos conhecimentos foram ficando restritos a um
número cada vez menor de sacerdotes. Isto explica o desconhecimento geral deste supremo Orixá! Que é o
ponto central do culto afro e afro-brasileiro! Dele depende a nossa existência, nosso sucesso, fracasso,
saúde, doença, riqueza, pobreza, plenitude, felicidade. Sem a aprovação de Ori nenhum Orixá pode fazer
nada pelo seu devoto. Por isso, para nós, Ori é o Orixá mais importante! É o único que nos acompanha na
viagem dos mares sem retorno, como descrito no Itan de Ògúndá Méjì.

Voltando às Origens.

No princípio dos tempos da Criação, Odudua havia criado a Terra, Oxalá havia criado o homem, seus
braços, pernas, seu corpo, Olorum lhe insuflou o èmí (respiração divina), a vida. Mas Oxalá havia se
esquecido da cabeça. Oxalá não fez a cabeça do Homem… Então Olorum pediu à Àjàlà, o oleiro divino, para
confeccioná-la. Àjàlà quando foi confeccionar Ori pediu a ajuda de Odu, e assim todos os Odus ajudaram à
Àjàlà a confeccionar Ori. E assim nasceu Ori.

Ori é composto da matéria divina dos Odus, misturados em quantidade e organizados segundo a sabedoria
de Àjàlà a pedido de Olorum. Do material (òkè ìpònrí) que Àjàlà utiliza para confeccionar Ori se constitui
èwò (tabu) para quem possuir esse Ori. E assim se determina as interdições alimentares dos indivíduos,
pois, comer do próprio material de que foi constituído, caracteriza ofensa séria à matriz da qual foi criado.

Todo o homem quando vai para o Aiyê, invariavelmente, deve passar na oficina de Àjàlà e escolher o seu
Ori. Esta escolha se chama Kàdárà, oportunidade e circunstância, e ao fazê-la, está determinando sua
natureza e destino.

Este momento ocorre da seguinte forma: A alma se ajoelha (posição fetal) diante dos pés de Olorum (O
Criador) e então lhe faz um pedido – Àkùnlé yàn – pedido esse que estará relacionando ao seu desejo de
crescimento moral e espiritual. Então Olorum lhe fixa o destino – Àyàn mó Ipín - que Ori deverá seguir, em
que geralmente atende aos desejos do próprio Olorum e às necessidades das restituições que Ori deve
cumprir. E então recebe – Àkùn légbà – as circunstâncias que possibilitarão os acontecimentos, geralmente
ligado às questões de tempo/espaço, meio e todo o entorno necessário ao melhor cumprimento do
destino.

Neste momento a alma recebe os seus èwós (tabus), interdições alimentares, de vestuário, de ação, etc.

Afirma compromisso com o seu ancestral e tutor espiritual (Orixá). Afirma compromisso com o Bàbá Egún
(Pai espírito) responsável pelo ìpònrí ancestral terreno que formou o seu corpo material, e que zela pelo
desenvolvimento da família a que Ori fará parte. Todos os contratos são firmados e/ou reafirmados diante
de Olorum e de Orunmilá, e à medida que o são o destino se lhe vai fixando.

Então Ori se dirige à Àkàsò (a fronteira entre Orúm-plano espiritual, e Aiyê-plano físico) e pede passagem à
Oníbodè (o porteiro), que lhe interrogará o que fará no Aiyê, Ori lhe contará e mais uma vez se fixará nele o
seu destino.
ORÍ - A fisiologia divina.
Ori então descerá e ocupará o seu lugar no Ori do corpo criado, através da chamada “moleira”, abertura no
crânio do bebê que irá se fechando conforme se desenvolve ao longo dos anos, onde se dá a “armadilha
para Ori”, uma vez encerrado lá Ori somente voltará a se libertar do corpo na última expiração, pela boca.

A princípio Ori assentar-se-á no cérebro (opolo) daquele corpo, onde comandará Orí Òde (cabeça externa).

ORÍ ÒDE – a cabeça externa caracteriza-se pela cabeça física (crânio, cérebro, sistema nervoso central,
olhos, ouvidos, etc.) e também pela personalidade e intelecto que resultará da interação daquele corpo
com Orí Innú (cabeça interna), a cultura local onde se desenvolverá o indivíduo, e o aprendizado que
receberá desde o seu nascimento. Ou seja, Orí òde é, além da cabeça física, a nossa pessoa como nós a
conhecemos e como os outros a conhecem. É o mecanismo criado por Orí innú para lidar com o mundo
exterior. Orí Òde é o nosso “eu exterior”.

ORÍ INNÚ - a cabeça interna, é a nossa personalidade divina, ou nosso “eu verdadeiro”, ou nosso “eu
supremo ou superior”. Em resumo, nossa alma.

Abaixo de Orí innú reside Elénìnìí (o opositor de Orí), no cerebelo (ipakó), responsável pelo esquecimento
de Orí de sua missão, aquele que o vem atrapalhar a realizar, cumprir sua missão para com Olorum e a
Criação, conforme descrito no Itan do Odu Irosún Méjì. Este, constitui o último nó para a transcendência de
Orí innú, e o cumprimento de sua missão original.

Ainda existe Ipín jeun – o estômago, e obo ati oko – os órgãos sexuais, que são os outros nós que Orí innú
deve superar: medo, desejo, ambição, vaidade, ciúme, ira, egoísmo, etc.

Orí innú ainda se divide em:

1- Orí aperé: o caminho predestinado, fenômeno narrado acima. O destino do indivíduo vem escrito em
sua cabeça. “sua cabeça, sua sentença!”

2- Aparí innú: o caráter (ìwà), a personalidade divina. Que é a essência de Orí innú, a alma, e sua missão
original. É através do desenvolvimento de Ìwà Pèlé (caráter reto, honesto, puro, bom) que Orí chegará à
sua transcendência última! Enfim, como descreve o Odú Ogbè-Ègùndá: “Ìwà nikàn l´ó sòro o” = “Caráter é
tudo o que se precisa”.

Ìwà Pèlé (caráter reto) é o que conduzirá Orí innú até o Òrun rere (plano espiritual dos Orixás), em caráter
definitivo.

Assim sabemos que nossa divindade pessoal é Orí innú (cabeça interna-alma), responsável pelo nosso
destino e felicidade. Que o nosso Orixá (ori- o primeiro) é o tutor espiritual de nosso Orí innú, mas que só
poderá ajudar-nos se Orí o permitir. Que em nosso Orí innú reside o nosso Odu (destino) e somente através
de Orí e Odu podemos transmutar o nosso destino, e assegurar o cumprimento da missão confiada por
Olodumaré. Que devemos nos resguardar de Elénìnìí, o inimigo de nossa missão e alma, aquele que pode
nos trazer sofrimentos. E que nossa verdadeira essência, que devemos buscar, reside em Orí innú (cabeça
interna-alma) e não em nosso Orí òde (cabeça externa-personalidade) que é tão somente o veículo de Orí
innú aqui no Aiyê.

E, o mais importante: a missão maior de Orí innú, à qual cabe ao nosso Orixá ajudar-nos, é o
desenvolvimento de Ìwà Pèlé (caráter reto, bom), nosso passaporte para o encontro definitivo com
Olorum!

Orí o!! Ire o!

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Nenhum Deus abençoa o homem, sem que sua cabeça o permita. (Ajalá e a escolha de ÒRÍ), ori no bori,
escolha do destino, cabeça e ori, ori buruku, cabeça de sorte. bori no candomblé

Num jogo de Ifá, perguntaram a ÒRÚNMÌLÁ:

"- Quem seria capaz de nos levar ao Infinito? (infinito = caminho da vida da pessoa).

SANGO disse que quando chegasse a OYÓ e lhe dessem certas comidas, ele satisfeito voltaria à sua casa,
abandonando a pessoa. Perguntaram o mesmo a OYÁ, e ela respondeu, que quando chegasse a qualquer
cidade e lhe dessem certas comidas, ela satisfeita voltaria para casa.

Resumo: enquanto dermos comida ao nosso Orixá, ele nos cobre e depois recolhe.

Perguntaram de novo a IFÁ e ele respondeu que Òsàlà e ele respondeu que quando chegasse à cidade de
Ifé, comesse, aí então ele ficaria satisfeito e voltaria para casa. Se nem Òsàlà é capaz de nos levar ao
Infinito, então, quem é capaz?

Resposta: só Lebara.

Perguntaram a ÈSÙ: "- Se você caminhar, caminhar e chegar a Keto, e lhe derem 1 galo no dendê? Ele
respondeu: – Comia e quando estivesse satisfeito voltaria para minha casa. Voltaram e perguntaram de
novo a Ifá:

"- Então, ninguém é capaz de nos levar ao Infinito? Quem será? Tal conhecimento, tal sabedoria, quem a
tem?

IFÁ respondeu."- Somente o Orixá ÒRÍ é capaz de nos levar ao infinito, até o final de nossa vida." Se uma
pessoa morrer, despachamos tudo referente ao Orixá, mas, o que sempre ficou foi o ÒRÍ.

Conclusão: Mesmo se nosso òrìsà está bem, só ficará tudo bem se o nosso Òri estiver também. Primeiro
damos comida a Òri no borí, e depois ao orixá. Não há orixá raspado errado, desde que o òri aceitou. Acima
de nosso Orixá individual, está o nosso Òrì. Damos ao òrì cera (caroço de algodão), obi, água. Existem
apenas 6 bichos para Òrì: pombo, peixe, pato, franga, galinha d’angola e o igbin; apenas um bicho vai ao
ori, os outros serão colocados apenas na tigela. O ejé (sangue) de pombo branco, só se for muito
importante, necessário, senão estaremos ofendendo Olodumaré.

Lenda de Orunmilá
Quando Orunmilá se cansou de viver na terra e da incompreensão dos homens, resolveu ir para o Òrún,
mas antes, deu a cada um de seus 8 filhos, 2 caroços de dendezeiro (IKIN), e disse a eles, que quando
precisassem, bastava que jogassem os IKIN e teriam as respostas. Deixando claro que o mais importante,
era que eles se unissem, assim como o grupo deverá se manter unido.

ÒRÍ – força que orienta o que é bom ou ruim para cada pessoa, é individual. O ÒRÍ tem que ser respeitado,
se a pessoa não aceitar é porque o seu ÒRÍ não está aceitando. Deve-se verificar o que acontece no jogo.

Cada um recebe seu ÒRÍ de AJALÁ (é um Imole), antes de vir para o AIYE, passa por um "estágio".

O ÒRÍ supera todos os orixás;

O ÒRÍ é um Imole, ligado só para o bem (da pessoa);

O ÒRÍ é a nossa censura;


O ÒRÍ não se trai, não se engana, é a nossa própria consciência (os valores mais puros). Isso vem explicar a
índole de pessoas más, mesmo nascidas em famílias boas, independente da formação; pessoas sofridas que
tem a capacidade de amar, odiar, etc.

ÌPÁKO – Òrí

IKOKO ÒRÍ – Poente

ÀPÁ OTUN ÒSU ÀPÁ OSI (direita do aiye) Voduka (esquerda do aiye) centro cabeça

ojo òrí – Nascente

Os quatros pontos do Universo

A. Ìyo – Òrún – nascente – Leste

B. Ìwo – Òrýn – o poente

C. Òtù Àiye – a direita do mundo – Norte – Ariwa

D. Òsi Àiyè – a esquerda do mundo – Sul – Guzú

Correspondente ao Ser – humano

A – Òrí – cabeça – o nascente – o nascente – o futuro "`orí inu"

{Odu – destino – òrísà – genitor divino e material – origem – Esú individual Bara

B – ESE – pé direito – ancestrais masculinos

{pé esquerdo – ancestrais femininos

C – Lado direito – elementos masculinos

D – Lado esquerdo – elementos femininos

Durante o eborí, sendo os pais falecidos, usar 2 acaçás de cima para baixo na direção das juntas, não
esquecendo de colocar as falas do Obi (parte de baixo).

Tudo que existe de adverso ao homem na natureza, os AJÉS, por exemplo, se personificam nos pássaros,
ELEYE, que numa imprecisa tradução cultural do Ocidente, identifica com as "bruxas". O AJÉ também é uma
forma de AJOGUN (o inimigo); que é identificado por personalidade que traduzem realidade materiais
como o IKU (a morte); o EGBA (enfermidade); o OFÓ (perda de bens); ARUN (loucura), etc. Como se pode
ver os conceitos Yorubá, partem do real, do material, para formar a sua ideia geral do mundo. ÈSÚ, como
dono do ÀSÉ (ONI ÀSÉ), força, magia, arma o ÒRÍ do poder de recusa a ordem, de estabelecer a desordem
criativa, tese premissa da antítese necessária à nova síntese estruturante.

Ori é um importante conceito metafísico espiritual e mitológico para os Yorubas, identificado no jogo do
merindilogun pelo Odu ossá.
Ritual para Ori candomblé

Ori, palavra da língua yoruba que significa literalmente cabeça, refere-se a uma intuição espiritual e
destino. Ori é o Orixá pessoal, em toda a sua força e grandeza. Ori é o primeiro Orixá a ser louvado,
representação particular da existência individualizada (a essência real do ser). É aquele que guia,
acompanha e ajuda a pessoa desde antes do nascimento, durante toda vida e após a morte, referenciando
sua caminhada e a assistindo no cumprimento de seu destino.

Ori em yoruba tem muitos significados – o sentido literal é cabeça física, símbolo da cabeça interior (Ori
Inu). Espiritualmente, a cabeça como o ponto mais alto (ou superior) do corpo humano representa o Ori,
não existe um Orixá que apoie mais o homem do que o seu próprio Ori.

Enquanto Orixá pessoal de cada ser humano, com certeza ele está mais interessado na realização e na
felicidade de cada homem do que qualquer outro Orixá. Da mesma forma, mais do que qualquer um, ele
conhece as necessidades de cada homem em sua caminhada pela vida e, nos acertos e desacertos de cada
um, tem os recursos adequados e todos os indicadores que permitem a reorganização dos sistemas
pessoais referentes a cada ser humano.

Ijalá é responsável pela modelação da cabeça humana, e acredita-se que o Ori e o Odu – signo regente de
seu destino que escolhemos, determina nossa fortuna ou atribulações na vida. O trabalho árduo trará, ao
homem afortunado em sua escolha, excelentes resultados, já que nada é necessário dispender para reparar
a própria cabeça. Assim, para usufruir o sucesso potencial que a escolha de um bom Ori acarreta, o homem
deve trabalhar arduamente. Aqueles, entretanto, que escolheram um mau Ori têm poucas esperanças de
progresso, ainda que passem o tempo todo se esforçando. O Ori, entidade parcialmente independente,
considerado uma divindade em si próprio, é cultuado entre outras divindades, recebendo oferendas Ebori,
e orações, Ori é o protetor do homem antes das divindades.

Igba ori, ou ibá ori o é o nome do assentamento sagrado da cabeça de um indivíduo na cultura nagô vodun,
identificado no jogo do merindilogun pelos Odu ossá.

Cada igba ori é uma representação material e imaterial de um indivíduo, captando constantemente
energias oriundo da natureza para equilibrar a mente dos seus adeptos e crentes. É considerado o primeiro
orixá da existência (a essência real do ser). Deve ser assentado e louvado antes de qualquer outro Orixá
depois de exu no ritual de Bori, pois só ori permite a compreensão e o transe.

Os assentamentos de ori são sempre vistos em recipientes de: Porcelana (Variedade de cerâmica dura,
branca e translúcida), usado principalmente por iniciantes na feitura de santo. Vaso de cristal (Vidro muito
límpido e puro), usado por Babalorixás, Iyalorixás e pessoas de cargo.

Dentro dos recipientes são colocados apetrechos e fetiches inerentes a cada Ori (Yoruba), geralmente uma
pedra de cristal de rocha com limpidez e transparência, e dezesseis búzios, tudo conservado em água de
chuva ou mineral. Na preparação de qualquer assentamento de orixá os rituais da sasanha, folha sagrada e
água sagrada são imprescindíveis.

Nota: Todos assentamentos (igba orixá), devem ser preparados e sacralizados em rituais próprios por
Babalorixás ou Iyalorixás.

O BORI é o ritual que harmoniza o ORI, dando assim a possibilidade de transformar um " ORI BURUKU" em
"ORI RERE".
È através do Jogo de Búzios que o Babalorixá recebe as instruções para realizar este ato (BORI) ritualístico
que possibilitará não só a mudança da sorte como também a manutenção da mesma, para que não se a
perca.

É o BORI que diminui a ansiedade, o medo, a dor e a tristeza trazendo a esperança, alegria e a harmonia.

Desta forma, o BORI é uma das oferendas mais importantes que visa o bem estar individual no Candomblé.

O Ritual de Bori é muito sério, complexo e profundo. Por isso, o sacerdote deve ter grande conhecimento e
respeito em relação à questão do Ori e da evolução humana. Ori é o Orixá mais importante na vida de um
homem, uma vez que, sem ele, o homem simplesmente não existiria. Ori significa, literalmente, cabeça e é,
misticamente, o primeiro Orisá a ser cultuado. É ele o portador do destino humano.

O Ritual de Bori independe de qualquer processo iniciático e independe do culto aos outros Orixás.
(variando assim de casa para casa, mas, sem fugir da finalidade em si) Seu objetivo é o de alimentar o Ori,
seja qual for o sexo, raça, profissão, idade, nível social da pessoa. Com este ritual busca-se o equilíbrio
através da ação do Ori, condutor do destino pessoal. Muitas vezes se realiza um Ritual de Bori com o
objetivo de afastar o mal do caminho da pessoa, o que não significa que, retirada esta ameaça nenhum
outro mal possa ocorrer. Assim sendo, o Ritual de Bori não tem "prazo de validade", não tem frequência
determinada (anual, semestral, mensal, etc.), devendo ser repetido sempre que se mostre necessário.

O Odu manifestado através do" jogo" é que determina a necessidade de realização do Bori e indica quais
materiais devem ser usados. Há dois tipos de Bori:

Aquele que é considerado pré-requisito para uma iniciação, ou seja, primeiramente se alimenta o Ori,
divindade pessoal, para a seguir alimentar outros Orixás.

2) Aquele realizado a fim de buscar a solução de um problema que aflige a pessoa através do alimento
oferecido ao seu Ori, sem que haja necessidade de iniciação.

O local mais apropriado para realização deste Ritual é a casa do sacerdote. Este deve ter bom senso quanto
a necessidade de recolhimento. Se o Bori for acompanhado de Eje, é recomendável o recolhimento como
meio de repouso e proteção, pois o Ori que está sendo venerado não deve receber energia do sol nem do
sereno. O recolhimento evita, ainda, que a "sombra daquele que passou pelo Bori seja pisada."

O sacerdote deve saber que durante este Ritual a pessoa somente poderá entrar em transe no momento
que seu Orixá for louvado. Deve conhecer a finalidade e o significado de cada material que usa. Omi e Obi,
por exemplo, são elementos indispensáveis no BORI. Omi, a água, representa paz, abundância e fertilidade
enquanto o Obi é usado para aplacar a fúria das adversidades, alimentar e agradar as divindades.

O jogo DE Búzios determinará, através de Odu, que material deve ser usado no Bori e este material poderá
ser desde apenas um copo d’água e um Obi até uma oferenda bem grande.

ORI RERE = ORI de sorte = Cabeça de sorte, cabeça iluminada

ORI BURUKU = ORI sem sorte = Cabeça sem sorte, confusa, insegura…

ORI INU = "Cabeça Interna"

É o ORI NU que gerencia a cabeça física do homem.

É o orixá mais importante do ser humano, pois ele é ÚNICO, cada pessoa tem o seu.

É Ele quem conhece e está ligado ao destino de cada indivíduo, conhece e sabe das suas restrições, das
suas fragilidades, das suas potencialidades.
É no ORI que se encontra a ferramenta para a solução dos nossos problemas…

Quando estamos em harmonia com ele, superamos os obstáculos mais facilmente e assim, certamente
conectados à positividade interna e à dinâmica perfeita da natureza, encontramos a vitória e o sucesso na
consecução dos nossos objetivos pessoais….

======================================================================

Ori O grande Orixá dos humanos. Assentamento de Ori (ori), O Ori precisa de Bori (bory), assentamento da
cabeça ou assentamento de ori no bori.

As leis dos homens são feitas para controlar e tirar as escolhas. Olodumaré diz que cada um de nós tem
escolha e que há uma punição divina. Nós temos a oportunidade de escolher a direção em que queremos
ir, mas temos de realizar que todas as dividas deverão ser pagas. É muito importante que nós mesmos
escolhemos nossa própria direção para desenvolver iwa, por que isto determinara o sucesso ou insucesso
de alcançarmos nosso destino.

A COROAÇÃO FINAL DO NOSSO ORI


De acordo com um dos versos de ogunda Meji, Orunmilá reuniu todos os orixás e perguntou qual deles
acompanhariam seus devotos numa viagem distante através do oceano sem desertá-los em nenhum lugar.
Xangô, o deus do trovão e o mais corajoso, respondeu que ele iria com seus devotos para qualquer lugar
sem olhar para trás. Orunmilá convenceu xangô que esta não era a resposta correta, e um por um ele
convenceu cada um dos orixás que esta não era a resposta a sua pergunta. Eles imploraram a Orunmilá
para revelar a resposta correta, a qual Orunmilá respondeu que somente ori, a divindade pessoal de cada
um, pode nos acompanhar até o lugar mais longínquo do mundo sem voltar atrás.

Daí ele recitou:

“somente ori pode acompanhar o seu devoto a qualquer lugar sem retornar, se eu tenho dinheiro, é a meu
ori que eu agradeço. Meu ori, é você. Se eu tenho filhos, é o meu ori que eu vou cultuar. Meu ori, é você,
por todas as coisas boas que eu tenho na terra, é o meu ori que eu cultuo. Meu ori, é você ".

Concepção de Orí

Cabeça no sentido literal da palavra. Mas, Orí no conceito yoruba tem outras conotações além da simples
cabeça física. Pois, para os Yoruba existe o ORÍ-INÚ – a cabeça interior. Este Orí-inú é aquele que foi
moldado por Àjàlá (o Oleiro fazedor de cabeças, descrito na lenda do Orí e a escolha do destino do
homem).

Na lenda do Orí e a escolha do destino, conta que Àjàlá fabrica muitas cabeças no ÒRUN e que cada ser
humano que vive no ÒRUN – Céu e está para viajar para o Aiyê – Terra, vai à casa de Àjàlá para escolher o
seu Orí. E a vida do homem na terra vai depender crucialmente da escolha do Orí que ele fez. Pois,
acredita–se que essa escolha já predestina o homem ao sucesso ou ao fracasso em sua vida no Aiyê.

Diz que Àjàlá é dado a tomar umas bebidas e ao ficar meio alto, ao fazer as cabeças Ele erra na composição
da argamassa deixando-a fora do padrão necessário para ser moldada, muito arenosa ou excesso de liga.
Também cozendo-as, às vezes muito, o que as torna muito rígidas e ressecadas ficando muito duras,
queimadas e quebradiças. Ou cozendo-as pouco, deixando-as quebradiças e esfarelentas. Às vezes, as
moldando tortas que quando cozidas ficam rotas.

Ao escolher sua cabeça e seguir em direção ao Aiyê, o ser humano atravessa vários ambientes como de
calor excessivo de desertos: muito frio como das zonas gélidas da terra: zonas onde tem de atravessar
tempestades com ventos e chuvas fortes. E se as cabeças não tiverem sido bem confeccionadas elas irão se
danificar e ficarão em péssimo estado ao chegarem ao Aiyê.

Dependendo do estado em que cheguem, se a cabeça estiver boa àquela pessoa trabalhará, e tudo o que
fizer será para si mesmo, podendo prosperar na vida, alcançando o sucesso e a fortuna. Se a cabeça estiver
danificada, aquela pessoa trabalhará e tudo o que conseguir será para gastar com os reparos no seu Orí.

Quando ele não foi muito danificado, os primeiros anos de vida dessa pessoa serão um pouco sacrificados,
ela poderá passar por privações e dificuldades em virtude de não conseguir prosperar na vida, pois, tudo o
que arrecadar irá para o conserto do seu Orí. Depois que ele terminar os reparos necessários, o que ele
fizer será para si próprio, é então quando ele começa a prosperar em sua vida no Aiyê.

Outras pessoas têm Orí tão danificados, que por mais que trabalhem na vida, jamais conseguirão consertar
os danos do seu Orí. E tudo o que fizerem na vida será para gastar com seu Orí ruim. São aquelas pessoas
que passam a vida toda vegetando, nunca conseguem fazer nem concluir as coisas, vivendo sempre na
penúria e no aperto nunca possuindo nada de seu e não conseguindo serem felizes por mais que se
esforcem, pois, tem um Orí ruim.

Mas, acredita-se que esses consertos podem ser feitos através de oferendas – Eborí – ebó Orí, que
ajudarão a restaurar aquele Orí mais depressa, o que pode mudar um pouco essa predestinação. Não é
porque a pessoa tem um bom Orí que ela poderá ficar sentada esperando tudo de bom na vida.

Ela está predestinada ao sucesso em sua vida, mas, desde que trabalhe para isso. Seus caminhos estarão
sempre abertos para alcançar seus objetivos, esforçando-se para isso.

ÀJÀLÁ ORÍ, ORÍ L’EWÀ, L’EWÀ, L’EWÀ.

ÀJÀLÁ ORÍ, ORÍ L’EWÀ, L’EWÀ, L’EWÀ.

OPÉ ÈNYIN EDÙMARÈ, WÁ ORÍ, E KÚ Ó.

OPÉ ÈNYIN EDÙMARÈ, WÁ ORÍ, E KÚ Ó.

E KÚ Ó ÒRUN, E KÚ Ó ÒSÙPÁ, E KÚ ÒJÒ, ÒJÒ BÒ ILÈ.

E KÚ Ó ÒRUN, E KÚ Ó ÒSÙPÁ, E KÚ ÒJÒ, ÒJÒ BÒ ILÈ.

IRÉ ORÍ Ó JÍ, Ó JÍ IRE ORÍ,

IRÉ ORÍ Ó JÍ, Ó JÍ IRE ORÍ.

Àjàlá que molda cabeças, deixe este Ori lindo, lindo, lindo.

Agradeço-te Deus, venha para esta Cabeça, eu te saúdo.

Eu saúdo o Sol, eu saúdo a Lua, eu saúdo a Chuva, Chuva que cai sobre a Terra.

Voce será uma Cabeça feliz, acorde feliz Orí.


ORI O ORI O

ORI MI O!

SE RERE FUN MI!

MEU ORI!

SE ALEGRE COMIGO!

Para termos ideia quanto a importância e precedência do ORI em relação aos demais ORISA, um Itan do
ODU OTURA MEJI, ao contar a história de um ORI que se perdeu no caminho que o conduzia do ORUN para
o AIYE, relata: "… OGUN chamou ORI e perguntou-lhe, "Você não sabe que você é o mais velho entre os
ORISA? Que você é o líder dos ORISA?’…”. Sem receio podemos dizer, "ORI mi a ba bo ki a to bo ORISA", ou
seja, "Meu ORI, que tem que ser cultuado antes que o ORISA" e temos um oriki dedicado à ORI que nos fala
que " KO SI ORISA TI DA NIGBE LEYIN ORI ENI", significando, "… Não existe um ORISA que apoie mais o
homem do que o seu próprio ORI…”.

Quando encontramos uma pessoa que, apesar de enfrentar na vida uma série de dificuldades relacionadas
a ações negativas ou maldade de outras pessoas, continua encontrando recursos internos, força interior
extraordinária, que lhe permitam a sobrevivência e, inclusive, muitas vezes, mantém resultados adequados
de realização na vida, podemos dizer, "ENIYAN KO FE KI ERU FI ASO, ORI ENI NI SO NI", ou seja, "as pessoas
não querem que você sobreviva, mas o seu ORI trabalha para você", trazendo, essa expressão, um
indicador muito importante de que um ORI resistente e forte é capaz de cuidar do homem e garantir-lhe a
sobrevivência social e as relações com a vida, apesar das dificuldades que ele enfrente.

Esta é a razão pela qual o EBORÍ, forma de louvação e fortalecimento do ORI utilizada em nossa religião, é
utilizado muitas vezes, precedendo ou, até, substituindo um EBO. Isso se faz para que a pessoa encontre
recursos internos adequados, esta força interior de que falamos, seja à adequação ou ajustamento de suas
condições frente às situações enfrentadas, seja quanto ao fortalecimento de suas reservas de energia e
consequente integração com suas fontes de vitalidade.

É importante dizer que é o ORI que nos individualiza e, por consequência, nos diferencia dos demais
habitantes do mundo. Essa diferenciação é de natureza interna e nada no plano das aparências físicas nos
permite qualquer referencial de identificação dessas diferenças. Sinalizando essa condição, talvez uma das
maiores lições que possamos receber com respeito a ORI possa ser extraída do Itan ODU OSA MEJI, que
reproduzimos a seguir e que é a resposta que foi dada por IFÁ para Mobowu, esposa de OGUN, quando ela
foi lhe consultar:

"ORI BURUKU KI I WU TUULU.

A KI I DA ESE ASIWEREE MO LOJU-ONA.

A KI I M’ ORI OLOYE LAWUJO.

A DIA FUN MOBOWU TI I SE OBINRIN OGUN.

ORI TI O JOBA LOLA, ENIKAN O MO KI TOKO-TAYA O MO PE’RAA WON NI WERE MO.

ORI TI O JOBA LOLA, ENIKAN O MO."

TRADUÇÃO
"Uma pessoa de mau ORI não nasce com a cabeça diferente das outras.

Ninguém consegue distinguir os passos do louco na rua.

Uma pessoa que é líder não é diferente E também é difícil de ser reconhecida.

É o que foi dito à Mobowu, esposa de OGUN, que foi consultar IFÁ.

Tanto esposo como esposa não deviam se maltratar tanto, nem fisicamente, nem espiritualmente.

O motivo é que o ORI vai ser coroado E ninguém sabe como será o futuro da pessoa."

Para os yoruba o ser humano é descrito como constituído dos seguintes elementos: ARA, OJIJI, OKAN, EMI
e ORI.

ARA é corpo físico, a casa ou templo dos demais componentes.

OJIJI é o "fantasma" humano, é a representação visível da essência espiritual.

OKAN é o coração físico, sede da inteligência, do pensamento e da ação.

EMI, está associado a respiração, é o sopro divino. Quando um homem morre, diz que seu EMI partiu.

ORI é o ORISA pessoal, em toda a sua força e grandeza. ORI é o primeiro ORISA a ser louvado,
representação particular da existência individualizada (a essência real do ser). É aquele que guia,
acompanha e ajuda a pessoa desde antes do nascimento, durante toda vida e após a morte, referenciando
sua caminhada e a assistindo no cumprimento de seu destino.

ORI em yoruba tem muitos significados – o sentido literal é cabeça física, símbolo da cabeça interior (ORI
INU). Espiritualmente, a cabeça como o ponto mais alto (ou superior) do corpo humano representa o ORI.

Enquanto ORISA pessoal de cada ser humano, com certeza ele está mais interessado na realização e na
felicidade de cada homem do que qualquer outro ORISA. Da mesma forma, mais do que qualquer um, ele
conhece as necessidades de cada homem em sua caminhada pela vida e, nos acertos e desacertos de cada
um, tem os recursos adequados e todos os indicadores que permitem a reorganização dos sistemas
pessoais referentes a cada ser humano. Reforçando esta questão temos um oriki que nos diz:

"ORI LO NDA ENI

ESI ONDAYE ORISA LO NPA ENI DA

O NPA ORISA DA

ORISA LO PA NIDA

BI ISU WON SUN

AYÉ MA PA TEMI DA

KI ORI MI MA SE ORI

KI ORI MI MA GBA ABODI"

TRADUÇÃO

"ORI é o criador de todas as coisas

ORI é que faz tudo acontecer, antes da vida começar


É ORISA que pode mudar o homem

Ninguém consegue mudar ORISA

ORISA que muda a vida do homem como inhame assado

AYÉ*, não mude o meu destino

Para que o meu ORI não deixe que as pessoas me desrespeitem

Que o meu ORI não me deixe ser desrespeitado por ninguém

Meu ORI, não aceite o mal."

(* AYÉ – conjunto das forças do bem e do mal)

Como foi dito, não existe um ORISA que apoie mais o homem do que o seu próprio ORI: um trecho do
adura (reza) feito durante o assentamento de um IGBA-ORI diz:

KORIKORI

Que com o àse do próprio ORI, O ORI vai sobreviver

KOROKORO

Da mesma forma que o ORI de Afuwape sobreviveu, O seu sobreviverá. Ele será favorável a você. Tudo de
que você precisa, tudo o que você quer para a sua vida, é ao seu ORI que você deverá pedir. É o ORI do
homem que ouve o seu sofrimento…"

O que é então ORI, de que a natureza é constituída e qual o seu papel na vida do homem? Em primeiro
lugar, acredita-se que o corpo humano é constituído de duas partes: a cabeça e o suporte – ORI e APERE.
Acredita-se que este corpo adquire existência na medida em que recebe de OLODUMARE o sopro
vivificador – o EMI.

Este sopro foi o agente do processo da criação em seu primeiro momento e tem sido o responsável pela
geração e continuidade de toda a vida no universo.

Este modelo descrito e de entendimento abrangente para todas as formas de vida é repetido no ser
humano.

A cabeça e o seu suporte, ORI-APERE são formados a partir dos elementos matrizes, enquanto o ORI-INU,
interior, representa, na sua constituição, uma combinação de elementos, porções de matéria-massa que é
particularizada durante o processo de modelagem de cada ORI. Ele é único e, por conta disso, particulariza
e dá individualização à existência.

Essa combinação "química" definirá parte das relações do homem com o mundo sobrenatural e a religião,
na medida em que determina o seu ELEDA, ORISA – símbolo do elemento cósmico de formação, a que
chamamos, adiante, de IPORI, daquele ORI-INU em particular.

No Brasil vimos, com certa frequência, o ELEDA ser chamado de ORISA-ORI, simplificação da relação aqui
exposta. ELEDA segundo Juana Elbein dos Santos em Os Nagô e a Morte, "se refere à entidade
sobrenatural, à matéria-massa que desprendeu uma porção da mesma para criar um ORI,
consequentemente Criador de cabeças individuais…”

Segundo a autora também, "A espécie de material com o qual são modelados os ORI individuais indicarão
que tipo de trabalho é mais conveniente, proporcionando satisfação e permitindo a cada um alcançar
prosperidade. Indica também as interdições – EWO – aquilo que lhe é proibido comer, por causa do
elemento com o qual o seu ORI foi modelado".

Ou seja, os EWO representam a proibição de que o indivíduo "coma" alimentos que contenham a mesma
"matéria" da qual foi retirada uma porção para modelagem do seu ORI. A não observância da interdição
traduz-se por uma disfunção energética de consequências profundamente negativas para o equilíbrio do
indivíduo, seja do ponto de vista orgânico, seja do ponto de vista do mundo emocional, seja quanto as suas
condições de realização do "programa" particular de existência.

Falamos até aqui sobre a natureza e a constituição do ORI. Agora, qual o seu papel na vida do homem? O
conceito de ORI está intimamente ligado ao conceito de destino pessoal e à instrumentalização do homem
para a realização deste destino.

Um Itan do ODU OGUNDA MEJI, nos dá a exata dimensão da matéria quando nos relata sobre a
correspondência entre o ORI e o homem e a relação de causa e efeito existente nesta correspondência:

“… ORI, eu te saúdo!”.

Aquele que é sábio,

Foi feito sábio pelo próprio ORI.

Aquele que é tolo,

Foi feito mais tolo que um pedaço de inhame,

Pelo próprio ORI…"

ORI O ORI O

ORI MI O!

SE RERE FUN MI!

MEU ORI!

SE ALEGRE COMIGO!

Para termos ideia quanto a importância e precedência do ORI em relação aos demais ORISA, um Itan do
ODU OTURA MEJI, ao contar a história de um ORI que se perdeu no caminho que o conduzia do ORUN para
o AIYE, relata: "… OGUN chamou ORI e perguntou-lhe, "Você não sabe que você é o mais velho entre os
ORISA? Que você é o líder dos ORISA?’…”. Sem receio podemos dizer, "ORI mi a ba bo ki a to bo ORISA", ou
seja, "Meu ORI, que tem que ser cultuado antes que o ORISA" e temos um oriki dedicado à ORI que nos fala
que " KO SI ORISA TI DA NIGBE LEYIN ORI ENI", significando, "… Não existe um ORISA que apóie mais o
homem do que o seu próprio ORI…”.

Quando encontramos uma pessoa que, apesar de enfrentar na vida uma série de dificuldades relacionadas
a ações negativas ou maldade de outras pessoas, continua encontrando recursos internos, força interior
extraordinária, que lhe permitam a sobrevivência e, inclusive, muitas vezes, mantém resultados adequados
de realização na vida, podemos dizer, "ENIYAN KO FE KI ERU FI ASO, ORI ENI NI SO NI", ou seja, "as pessoas
não querem que você sobreviva, mas o seu ORI trabalha para você", trazendo, essa expressão, um
indicador muito importante de que um ORI resistente e forte é capaz de cuidar do homem e garantir-lhe a
sobrevivência social e as relações com a vida, apesar das dificuldades que ele enfrente.
Esta é a razão pela qual o EBORÍ, forma de louvação e fortalecimento do ORI utilizada em nossa religião, é
utilizado muitas vezes, precedendo ou, até, substituindo um EBO. Isso se faz para que a pessoa encontre
recursos internos adequados, esta força interior de que falamos, seja à adequação ou ajustamento de suas
condições frente às situações enfrentadas, seja quanto ao fortalecimento de suas reservas de energia e
consequente integração com suas fontes de vitalidade.

É importante dizer que é o ORI que nos individualiza e, por consequência, nos diferencia dos demais
habitantes do mundo. Essa diferenciação é de natureza interna e nada no plano das aparências físicas nos
permite qualquer referencial de identificação dessas diferenças. . Sinalizando essa condição, talvez uma das
maiores lições que possamos receber com respeito a ORI possa ser extraída do Itan ODU OSA MEJI, que
reproduzimos a seguir e que é a resposta que foi dada por IFÁ para Mobowu, esposa de OGUN, quando ela
foi lhe consultar:

"ORI BURUKU KI I WU TUULU.

A KI I DA ESE ASIWEREE MO LOJU-ONA.

A KI I M’ ORI OLOYE LAWUJO.

A DIA FUN MOBOWU TI I SE OBINRIN OGUN.

ORI TI O JOBA LOLA, ENIKAN O MO KI TOKO-TAYA O MO PE’RAA WON NI WERE MO.

ORI TI O JOBA LOLA, ENIKAN O MO."

TRADUÇÃO

"Uma pessoa de mau ORI não nasce com a cabeça diferente das outras.

Ninguém consegue distinguir os passos do louco na rua.

Uma pessoa que é líder não é diferente E também é difícil de ser reconhecida.

É o que foi dito à Mobowu, esposa de OGUN, que foi consultar IFÁ.

Tanto esposo como esposa não deviam se maltratar tanto, nem fisicamente, nem espiritualmente.

O motivo é que o ORI vai ser coroado E ninguém sabe como será o futuro da pessoa."

Para os yoruba o ser humano é descrito como constituído dos seguintes elementos:

ARA, OJIJI, OKAN, EMI e ORI.

ARA é corpo físico, a casa ou templo dos demais componentes.

OJIJI é o "fantasma" humano, é a representação visível da essência espiritual.

OKAN é o coração físico, sede da inteligência, do pensamento e da ação.

EMI, está associado a respiração, é o sopro divino. Quando um homem morre, diz-se que seu EMI partiu.

ORI é o ORISA pessoal, em toda a sua força e grandeza. ORI é o primeiro ORISA a ser louvado,
representação particular da existência individualizada (a essência real do ser). É aquele que guia,
acompanha e ajuda a pessoa desde antes do nascimento, durante toda vida e após a morte, referenciando
sua caminhada e a assistindo no cumprimento de seu destino.
ORI em yorubá tem muitos significados – o sentido literal é cabeça física, símbolo da cabeça interior (ORI
INU). Espiritualmente, a cabeça como o ponto mais alto (ou superior) do corpo humano representa o ORI.

Enquanto ORISA pessoal de cada ser humano, com certeza ele está mais interessado na realização e na
felicidade de cada homem do que qualquer outro ORISA. Da mesma forma, mais do que qualquer um, ele
conhece as necessidades de cada homem em sua caminhada pela vida e, nos acertos e desacertos de cada
um, tem os recursos adequados e todos os indicadores que permitem a reorganização dos sistemas
pessoais referentes a cada ser humano. Reforçando esta questão temos um oriki que nos diz

"ORI LO NDA ENI

ESI ONDAYE ORISA LO NPA ENI DA

O NPA ORISA DA

ORISA LO PA NIDA

BI ISU WON SUN

AYÉ MA PA TEMI DA

KI ORI MI MA SE ORI

KI ORI MI MA GBA ABODI"

TRADUÇÃO

"ORI é o criador de todas as coisas

ORI é que faz tudo acontecer, antes da vida começar

É ORISA que pode mudar o homem

Ninguém consegue mudar ORISA

ORISA que muda a vida do homem como inhame assado

AYÉ*, não mude o meu destino

Para que o meu ORI não deixe que as pessoas me desrespeitem

Que o meu ORI não me deixe ser desrespeitado por ninguém

Meu ORI, não aceite o mal."

(* AYÉ – conjunto das forças do bem e do mal)

Como foi dito, não existe um ORISA que apóie mais o homem do que o seu próprio ORI: um trecho do
adura (reza) feito durante o assentamento de um IGBA-ORI diz:

KORIKORI

Que com o àse do próprio ORI, O ORI vai sobreviver

KOROKORO
Da mesma forma que o ORI de Afuwape sobreviveu, O seu sobreviverá. Ele será favorável a você. Tudo de
que você precisa, tudo o que você quer para a sua vida, É ao seu ORI que você deverá pedir. É o ORI do
homem que ouve o seu sofrimento…"

O que é então ORI, de que a natureza é constituída e qual o seu papel na vida do homem? Em primeiro
lugar, acredita-se que o corpo humano é constituído de duas partes: a cabeça e o suporte – ORI e APERE.
Acredita-se que este corpo adquire existência na medida em que recebe de OLODUMARE o sopro
vivificador – o EMI.

Este sopro foi o agente do processo da criação em seu primeiro momento e tem sido o responsável pela
geração e continuidade de toda a vida no universo.

Este modelo descrito e de entendimento abrangente para todas as formas de vida é repetido no ser
humano. A cabeça e o seu suporte, ORI-APERE são formados a partir dos elementos matrizes, enquanto o
ORI-INU, interior, representa, na sua constituição, uma combinação de elementos, porções de matéria-
massa que é particularizada durante o processo de modelagem de cada ORI. Ele é único e, por conta disso,
particulariza e dá individualização à existência.

Essa combinação "química" definirá parte das relações do homem com o mundo sobrenatural e a religião,
na medida em que determina o seu ELEDA, ORISA – símbolo do elemento cósmico de formação, a que
chamamos, adiante, de IPORI, daquele ORI-INU em particular.

No Brasil vimos, com certa frequência, o ELEDA ser chamado de ORISA-ORI, simplificação da relação aqui
exposta. ELEDA segundo Juana Elbein dos Santos em Os Nagô e a Morte, "se refere à entidade
sobrenatural, à matéria-massa que desprendeu uma porção da mesma para criar um ORI,
consequentemente Criador de cabeças individuais…”

No ODU OGBEYONU (Ogbe Ogunda) vamos encontrar ainda, “… Quando acordo pela manhã coloco minha
mão no ORI. ORI é fonte de sorte. ORI é ORI!…".

É um oriki dedicado à ORI, mostrando o papel que ORI tem na vida de cada pessoa quanto as suas relações
interpessoais, suas relações com as outras pessoas, e as suas condições de realização e progresso em todos
os empreendimentos da vida, nos diz:

"ORI MI

MO KE PE O O

ORI MI

A PE JE

ORI MI

WA JE MI O

KI NDI OLOWO O

KI NDI OLOLA

KI NDI ENI A PE SIN

LAYE

O, ORI MI

LORI A JIKI
ORI MI LORI A JI YO MO LAYE"

TRADUÇÃO

Meu ORI

Eu grito chamando por você

Meu ORI,

Me responda

Meu ORI,

Venha me atender

Para que eu seja uma pessoa rica e próspera

Para que eu seja uma pessoa a quem todos respeitem

Oh, meu ORI!

A ser louvado pela manhã,

Que todos encontrem alegria comigo"

Toda existência no universo da Criação se processa em dois planos: O mundo visível, o AIYE, universo
concreto que habitamos, e o mundo invisível, ORUN, onde habitam os seres sobrenaturais e os “duplos" de
tudo o que se encontra manifestado no AIYE. Não são, como é possível pensar, mundos independentes ou
rigidamente separados. Na realidade podemos afirmar que o AIYE é, antes de mais nada, uma "projeção"
da realidade essencial que tem existência e se processa no ORUN.

Como diz a Profa. Dra. Iyakemi Ribeiro, em seu livro "Alma Africana no Brasil: os iorubás", "Para o negro-
africano o visível constitui manifestação do invisível. Para além das aparências encontra-se a realidade, o
sentido, o ser que através das aparências se manifesta. Sob toda manifestação viva reside uma força vital:
de Deus a um grão de areia, o universo africano é sem costura. (Erny, 1968:19) Universo de
correspondências, analogias e interações, no qual o homem e todos os demais seres constituem uma única
rede de forças.”

É necessário entender, assim, que AIYE e ORUN constituem uma unidade e, enquanto expressões de dois
níveis de existência, são inseparáveis e complementares. Essa unidade é simbolizada pelo IGBA-ODU,
cabaça formada de duas metades unidas onde a parte inferior representa o AIYE e a parte superior
representa o ORUN. No interior, os "elementos

indispensáveis à existência individualizada". Poderia ser representada por uma figura e sua imagem
refletida no espelho – há plena identidade entre elas, uma é apenas a imagem invertida da outra.

Podemos dizer nessa figuração que o AIYE é a imagem refletida do ORUN. Essa analogia provavelmente
explica a situação conhecida de que os ODU, quando vieram do ORUN para o AIYE, tiveram sua ordem de
precedência invertida. Ou seja, muito embora no AIYE considere-se EJIOGBE MEJI como o mais antigo dos
ODU, todo Babalaô saúda OFUN MEJI, ou ORANGUN MEJI como é também conhecido, em sua realeza,
dizendo: eepa ODU! Louvando assim sua antiguidade e sua precedência efetiva.

Temos assim que toda existência no AIYE reflete uma realidade anterior existente no ORUN. A existência no
AIYE implica em processar-se uma "modelagem" anterior no ORUN, a partir da qual porções de matérias-
massas que constituem a base da existência genérica são tomadas em fragmentos particulares e vão
constituir a manifestação dessa existência em forma individualizada no AIYE.
Esses elementos matrizes possuem, por consequência, dupla existência: uma parcela presente no ORUN e a
outra parcela dando vitalidade ou formação às diferentes partes que formam a "realidade" individualizada
de vida. A esses fragmentos particulares retirados da massa genitora chamamos IPORI e é ele, IPORI, que
determinará o ORISA que cada indivíduo cultuará no AIYE, condicionando também sua instrumentalização
particular na relação com a vida e o repertório possível de escolhas que possa realizar.

A RESPEITO DO DESTINO HUMANO


Podemos perceber que a compreensão sobre o papel que ORI desempenha na vida de cada homem está
intimamente relacionado à crença na predestinação – na aceitação de que o sucesso ou o insucesso de um
homem depende em larga escala do destino pessoal que ele traz na vinda do ORUN para o AIYE. A esse
destino pessoal chamamos KADARA ou IPIN e é entendido que o homem o recebe no mesmo momento em
que escolhe livremente o ORI com que vai vir para a terra.

ORI desempenha um papel importante para os seguidores de IFÁ. Nele acredita-se que escolhemos nossos
próprios destinos. E nós o fazemos mediante os auspícios do ORISA IJALA MOPIN. A esfera de ação de IJALA
é junto a OLODUMARE e é ele que sanciona as escolhas de destino que fazemos. Essas escolhas são
documentadas pelas divindades que chamamos de ALUDUNDUN. Um verso de IFÁ explica esta questão: "

"Você disse que foi apanhar o seu ORI.

Você sabia onde Afuwape apanhou o seu ORI?

Você poderia ter ido lá para apanhar o seu.

Nós pegamos nossos ORI nos domínios de IJALA,

Assim somente nossos destinos diferem"

IJALA é responsável pela modelação da cabeça humana, e acredita-se que o ORI e o ODU – signo regente de
seu destino que escolhemos, determina nossa fortuna ou atribulações na vida, como foi dito. IJALA, embora
notável em sua habilidade, não é muito responsável e, por isso, muitas vezes modela cabeças defeituosas:
pode esquecer de colocar alguns acabamentos ou detalhes desnecessários, como pode, ao levá-las ao
forno para queimar, deixá-las por um tempo demasiado ou insuficiente.

Tais cabeças tornam-se assim, potencialmente fracas, incapazes de empreender a longa jornada para a
terra, sem prejuízos. Se, desafortunadamente, um homem escolhe uma dessas cabeças mal modeladas,
estará destinando a fracassar na vida.

Durante sua jornada para a terra, a cabeça que permaneceu por tempo insuficiente ou demasiado no
forno, poderá não resistir à ação de uma chuva forte e chegará mais danificada ainda. Todo o esforço
empreendido para obter sucesso na vida terrena terá grande parte de seus efeitos desviada para reparar
tais estragos.

Pelo contrário, se um homem tem a sorte de escolher uma das cabeças realmente boas, tornar-se próspero
e bem sucedido na terra, uma vez que sua cabeça chega intacta e seus esforços redundam em construção
real de tudo aquilo que se proponha a realizar.

O trabalho árduo trará, ao homem afortunado em sua escolha, excelentes resultados, já que nada é
necessário dispender para reparar a própria cabeça. Assim, para usufruir o sucesso potencial que a escolha
de um bom ORI acarreta, o homem deve trabalhar arduamente. Aqueles, entretanto, que escolheram um
mau ORI têm poucas esperanças de progresso, ainda que passem o tempo todo se esforçando.
Sendo estes os pressupostos, retomamos as perguntas: Como saber se a escolha do próprio ORI foi boa ou
má? Pode um homem conhecer as potencialidades da própria cabeça ou da cabeça de outrem?

O Jogo divinatório de IFÁ possibilita que a pessoa tome conhecimento dos desígnios do próprio ORI, saiba a
respeito do ORISA ou IRUNMALE que deve ser cultuado e conheça seus EWO – proibições quanto ao
consumo de alimentos, uso de cores e condutas morais.

Muitas referências são feitas às relações entre ORI e o destino pessoal. O destino descrito como IPIN ORI –
a sina do ORI – pode ser dividido em três partes: AKUNLEYAN, AKUNLEGBA E AYANMO.

AKUNLEYAN é o pedido que você fez no domínio de IJALA – o que você gostaria especificamente durante
seu período de vida na terra: o número de anos que você desejaria passar na terra, os tipos de sucesso que
você espera obter, os tipos de parentes que você deseja.

AKUNLEGBA são aquelas coisas dadas a um indivíduo para ajudá-lo a realizar esses desejos. Por exemplo:
uma criança que deseja morrer na infância pode nascer durante uma epidemia para garantir a morte dele
ou dela.

AYANMO é aquela parte do nosso destino que não pode ser mudada: nosso gênero (sexo) ou a família em
que nascemos, por exemplo.

Ambos, AKUNLEYAN e AKUNLEGBA podem ser alterados ou modificados quer para bom ou para mau,
dependendo das circunstâncias.

Assim o destino descrito como IPIN ORI – a sina do ORI pode sofrer alterações em decorrência da ação de
pessoas más chamadas como ARAYE – filhos do mundo, também chamadas AIYE – o mundo ou ainda,
ELENINI – implacáveis (amargos, sádicos, inexoráveis) inimigos das pessoas.

Entre estes encontram-se as ÀJÉ – bruxas, os OSO – feiticeiros, os envenenadores e todos aqueles que se
dedicam a práticas malignas com intuito de estragar qualquer oportunidade de sucesso humano.

Sacrifício e ritual podem ajudar a melhorar as condições desfavoráveis que podem ter resultados destas
maquinações maléficas imprevisíveis.

Todo ORI, embora criado bom, acha-se sujeito a mudanças. Vimos que feiticeiros, bruxas, homens maus e a
própria conduta podem transformar negativamente um ORI, sendo sinal dessa transformação uma cadeia
interminável de infelicidades na vida de um homem a despeito de seus esforços para melhorar.

O ORI, entidade parcialmente independente, considerado uma divindade em si próprio, é cultuado entre
outras divindades, recebendo oferendas e orações. Quando ORI INU está bem, todo o ser do homem está
em boas condições.

Como foi dito, nossos ORI espirituais são por eles mesmos subdivididos em dois elementos: APARI-INU e
ORI APERE – APARI-INU representa o caráter (natureza), ORI APERE representa o destino.

Um indivíduo pode vir para a terra com um destino maravilhoso, mas se ele ou ela vem com mau caráter
(natureza), a probabilidade de desempenho (cumprimento, execução) desse destino é severamente
comprometida.

O destino também pode ser afetado, então, pelo caráter da própria pessoa. Um bom destino deve ser
sustentado por um bom caráter.

Este é como uma divindade: se bem cultuado concede sua proteção. Assim, o destino humano pode ser
arruinado pela ação do homem.

IWA RE LAYE YII NI YOO DA O LEJO, ou seja, – "Seu caráter, na terra, proferirá sentença contra você".
No ODU de OGBEOGUNDA, IFÁ diz:

"Um pilão realiza três funções

Ele tritura inhame

Ele tritura índigo

Ele é usado como uma tranca atrás da porta

Foi feito um jogo adivinhatório para Oriseku, Ori-Elemere e Afuwape

Quando eles foram escolher seus destinos nos domínios de IJALA – MOPIN

Foi solicitado para eles que realizassem rituais

Somente Afuwape realizou os rituais que foram solicitados.

Ele, em consequência, tornou-se muito afortunado.

Os outros lamentaram, disseram que se soubessem onde Afuwape escolheria seu ORI, eles teriam ido até lá
para escolher os seus também.

Afuwape respondeu que, embora seus ORI fossem escolhidos no mesmo lugar, seus destinos é que
diferiam."

A questão que aí se apresenta é que somente Afuwape mostrou bom caráter. Respeitando sua crença e
realizando seus sacrifícios, ele trouxe as bênçãos potenciais de seu destino para a efetiva realização. Seus
amigos Oriseku e Ori-Elemere falharam em mostrar bom caráter pela recusa em realizar seus rituais e, por
isso suas vidas sofreram as consequências.

O nome IPIN está igualmente associado à ORUNMILÁ, conhecido como ELERI-IPIN – o Senhor do Destino e
que é aquele que esteve presente no momento da criação, conhecendo todos os ORI, assistindo o
compromisso do homem com seu destino, os objetivos de cada um no momento de sua vinda para o AIYE,
o programa particular de desenvolvimento de cada ser humano e sua instrumentalização para o
cumprimento desse programa.

ORUNMILÁ conhece todos os destinos humanos e procura ajudar os homens a trilhar seus verdadeiros
caminhos. Temos, assim, que um dos papeis mais importantes de IFÁ em relação ao homem, além de ser o
intérprete da relação entre os ORISA e o homem, é o de ser o intermediário entre cada um e o seu ORI,
entre cada homem e os desejos de seu ORI. Apenas como registro, é preciso entender que esse mesmo
papel ORUNMILÁ tem na relação com os demais ORISA, sendo o intermediário entre cada um e o seu ORI. E
ORUNMILÁ, Ele mesmo, consulta IFÁ!

Nos momentos de crise, a consulta ao oráculo de IFÁ permite acesso a instruções a respeito dos
procedimentos desejáveis, sendo considerados bons procedimentos os que não entram em desacordo com
os propósitos do ORI.

O ser que cumpre integralmente seu IPIN-ORI (destino do ORI), amadurece para a morte e, recebendo os
ritos fúnebres adequados, alcança a condição de ancestral ao passar do AIYE para o ORUN.

Há a crença na existência de duas áreas ocupadas por espíritos dos mortos: ORUN RERE – o bom "céu",
habitado pelas divindades e ancestrais, e ORUN APAADI – o "céu" de muitas infelicidades, habitado pelos
infelizes que sofreram má sorte e pelos maus, julgados pelo Ser Supremo, segundo o ser caráter. Estes
últimos ficam condenados à solidão e ao esquecimento, sem direito a lembrança ou a aparecerem em
sonhos e visões – morrem totalmente.

ORUN RERE, por outro lado, é prazeroso e sereno, vivendo os espíritos numa comunidade composta de
parentes e amigos. Podem também permanecer junto aos familiares e intervir em suas atividades diárias,
sendo-lhes permitido reencarnar em alguma criança nascida no âmbito familiar.

A respeito do ORI, resta ainda lembrar que se trata de uma divindade pessoal, a mais interessada de todas
no bem estar de seu devoto. Se o ORI de um homem não simpatiza com sua causa, aquilo que ele deseja
não pode ser concedido nem por OLODUMARE, nem pelos ORISA.

Da mesma forma se o caráter de um indivíduo é mau, sua escolha de destino pode não se realizar. Se nossa
situação é realmente de um mau destino, e não é uma consequência de nosso caráter ou comportamento,
então nosso ORI-APERE precisa ser apaziguado.

Oferendas prescritas ou rituais devem ser realizados para nos trazer de volta a um alinhamento saudável.

Considera-se vital para todo homem recorrer a IFÁ, sistema divinatório de consulta a ORUNMILÁ, a
intervalos regulares para tomar conhecimento do que agrada ou desagrada o próprio ORI. Enquanto
intermediário entre a pessoa e as divindades (entre as quais o próprio ORI)

IFÁ não apenas informa sobre os desejos divinos, mas também conduz os sacrifícios ofertados às
divindades para que estas possam cumprir seu papel: ajudar os ORI a conduzirem as pessoas à realização
do próprio destino.

Se as coisas estão indo mal em sua vida, antes de apontar um dedo acusador para as bruxas, para feitiços
ou para seus inimigos, examine sua natureza.

Se Você tem por hábito maltratar as pessoas ou não considerar seus sentimentos, não procure qualquer
felicidade ou sorte em sua vida, não importando o quanto você possa ser bem sucedido materialmente.

Se, por outro lado, você ajuda os outros e dá felicidade a eles, sua vida será cheia, não só de riquezas, mas
também de alegria e felicidade. No entanto, lembre-se, é decididamente muito mais fácil alterar seu
destino do que sua natureza.

"Por toda parte onde ORI seja próspero, deixe-me estar incluído,

Por toda parte onde ORI seja fértil, deixe-me estar incluído,

Por toda parte onde ORI tenha todas as coisas boas da vida, deixe-me estar incluído.

ORI, coloque-me em boa situação na vida,

Que meus pés me conduzam para onde as coisas me sejam favoráveis.

Para onde IFÁ está me levando eu nunca sei

Jogaram para Assore no início de sua vida.

Se há qualquer condição melhor do que aquela em que estou no presente,

Que possa meu ORI não falhar em colocar-me nela.

Meu ORI me ajude! Meu ORI faça-me próspero!


ORIN ORI

Ori ka f’anjá Ori ô Ori ka f’anjá

Ori ká f’anjá Ori ô Ori ka f’ajnjá

Ori ká f’anjá alá umbó bàbá lá toloxé

Agô ni kekerê kerê kê

Agô ni kekerê kerê kê eru janjan

Ori ka f’anjá Ori ô Ori ka f’anjá

Ori ká f’anjá Ori ô Ori ka f’ajnjá

Ori ká f’anjá alá umbó bàbá la toloxé

Ago ni kekerê kerê kê

Agô ni kekerê kerê kê eru janjan

Orí ô Ori apere

Lé fibô didê lésé orixá

Apere ô ori ô orí apere

Lé fibô didê lésé orixá

Ori ô Ori xê

Awa dá meuá l’apere ô ori ô

Ori xê e uá lese orixá

Ori gbó apere

Orí gbó mó gbó tijí

Orí gbó a pe re

Ori gbó mó gbó tijí

Ori loman bó inxê

Ori loman

Iyemoja mi xekê mi ô
Iyemoja mi xekê mi rô

Orí ô Iyemoja mi xekê mi ô

Ori mi ô xererê fun mi

Ori mi ô xererê fun mi

Ori oká unsanu oka

Ori ejo unsanu ejô

Afomo opué

Ori mi ô xererê fun mi

O guégué oló guégué

O guégué Ori umbó

Ori mi axé um o yê

Oni dôdô ori man i man yin

Oni dôdô ori man i man yin

Ibá ti kotá lobé fakalé

E a um ô loni á fi a jí

Omobá olokó ilé

Omobá olokó ilé

Omobé yi delê

Omobé yi delê o yê

Omobá olokó ilé

ORI é o protetor do homem antes das divindades".

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O ase e o Ori. Energias que podem causar a destruição, azar, doença, feitiço, morte desequilíbrio do
humano

Existe uma força mágica e mística chamada ase(axé), sem a qual não pode haver rito. O ase pode ser bom
ou mau. O bom é proveniente das divindades (orixá) e dos antepassados (òkun òrun), isso não quer dizer
que os deuses e os antepassados não fiquem zangados com as pessoas, quando elas não andam corretas,
daí se fazer consulta para se ter notícia disso, sua causa e o que fazer para acalmá-los. Na sua essência eles
não fazem senão proteger as pessoas.

O ase do mal é também de dois tipos. Um é representado pelos ajogun que são considerados terríveis e
destruidores das pessoas, sendo os mais importantes, iku, a morte, arun, a doença, ófó, dano, o prejuízo, a
perda, égbá, a paralisia, óran, o aborrecimento, o transtorno, a desgraça, epe, a praga, a maldição, a
desgraça, ewon, a prisão, a detenção e ese, diversas coisas ruins que perseguem as pessoas.

O outro ase do mal é Aje, que é a destruição total da pessoa humana.

Os ritos são feitos em cima dessas duas forças, os quais podem começar logo após o nascimento de uma
pessoa, a depender de como a criança vem vindo ao mundo ou as circunstâncias em que isso ocorreu. Pode
a criança do sexo feminino nascer com o ventre para baixo, aí todo o cuidado é pouco, pois a mesma está
sob a influência de Iya Mapo, logo os ebó devem ser feitos em função dessa divindade.

Pode nascer Abiku (o que nasce para a morte), então os ritos começam logo com o primeiro banho e a água
do mesmo.

Também, dependendo de outras circunstâncias, os ritos podem começar com a coisa mais importante e
vital do ser humano que é o ori. De um modo geral, ori quer dizer a cabeça, porém dentro do fundamento
ori constitui uma parte da cabeça, porque ori é todo o ase que a pessoa tem. Toda força concentrada do
corpo se chama ori e sua sede é na cabeça.

A nossa divindade está segura em nós mesmos de acordo com a maior ou menor força do nosso ori, isso é,
maior ou menor concentração de força que temos, enfim o ase que nós carregamos conosco. O ori de cada
pessoa tem em potencialidade a felicidade e a desgraça dessa pessoa, o sucesso e o fracasso, tudo que é
bom e tudo que de ruim, daí ter sempre que se fortalecer o ori com ebó, chamado bori, que é todo ebó que
se faz na cabeça, desde o simples omi tutu (água fria), que consta de obi, ou o que for com água fria, com a
finalidade de tranquilizar a pessoa, isto é, esfriar o juízo e a pessoa passar a discernir as coisas, seguindo o
caminho certo, inclusive o de procurar fortalecer o ori com outros ebó.

A presença de nosso orixá em nós está dependendo do fortalecimento do nosso ori, ele está atrelado a
essa força, a esse ase que temos na cabeça, daí quando se vai “fazer o santo” ele é firmado no centro da
cabeça com o ase que chamamos simbolicamente de osu, porque osu propriamente dito se chama a mecha
de cabelo que se tira da cabeça para colocar o ase.

Quando se diz que se “rasgou o osu” de alguém, está se dizendo que se tirou o cabelo da cabeça desse
alguém, em mechas, para se colocar o ase. Tudo que se reúne para preparar o ase tem uma finalidade, um
fundamento, uma explicação para que serve e uma história pertencente a um determinado Odu. O ori é a
parte mais importante existente em nossa ara (corpo), a nossa sobrevivência depende dele, daí o grande
perigo que a gente se submete, quando alguém vai fazer uma obrigação em nosso ori; esse alguém poderá
nos matar ou desgraçar para o resto da vida, por perversidade, vingança, inveja ou mesmo
inconscientemente, bastando para tanto, que tenha mão de Aje ou de iku, daí se ter uma cautela fora do
comum.

Somente uma pessoa deve mexer em nosso ori, isso depois da própria divindade dizer se aceita, em cabeça
ou na prática divinatória ou o próprio ori dizer o mesmo, também na prática divinatória. O ori(ase) nunca
morre e quando o ara(corpo) morre o nosso ase se junta ao que se chama egun (alma)daí após a morte
antes do sepultamento se fazer a obrigação de “tirar o osu”, com a finalidade de libertar a divindade desse
ase que estava prendendo-a no ara do falecido, isso se a divindade não ficar para ajabo (adoração), caso
contrário fica com o egun, que no momento em que se está fazendo a obrigação ele é mandado,
acompanhado de cânticos, para o igbo igbale, mais conhecido somente por um dos dois nomes, mas nunca
pelos dois como é o certo e o fundamento, onde será ou não assentado para trabalhar e ser adorado.
Em certos casos o ori de uma pessoa passa ser herança de outra, quando o seu dono morre, aí além da
cerimônia já falada, faz mais outra, conhecida como passar o ase(ori) de corpo a corpo, essa obrigação é
feita nos dois ori, do defunto e do herdeiro.

Ori é mesmo que um orixá e se comporta como tal, inclusive fala na prática divinatória. Em nosso ori vive o
nosso orixá, que é “lavado, assentado e feito”.

Só existe um único caso em que ninguém pode colocar a mão no ori de outra pessoa, para fazer qualquer
coisa e muito menos “fazer o santo”; é quando a pessoa é olori merin, isto é, a pessoa tem a cabeça
pertencente a quatro donos, em pé de igualdade. Esses quatro orixá juntos formam um só orixá e a pessoa
é chamada olori merin, mesmo assim eles mantêm sua individualidade. Se se pudesse fazer alguma coisa,
teria que ser feita para cada um isoladamente. As divindades que formam o olori merin são Xangô, Ifá,
Oxalá, Oduduwa. Os preceitos do olori merin são muito complexos e cheios de fundamentos.

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ORIXÁS BRIGANDO PELO MEU ORÍ


É muito comum ouvirmos a expressão "Dois Orixás estão brigando pela minha cabeça." É comum tanto
quanto é equivocada.

Orixás são forças da natureza, expressões de Deus, seres elevados, divindades, e nós seres falhos em
constante evolução. Seria então tamanha presunção nossa achar que dois ou mais Orixás podem entrar em
uma disputa por nós.

A expressão costuma surgir principalmente quando a pessoa em questão se encontra em desequilíbrio,


quando a vida se encontra fora dos eixos, e então seria de certa forma culpa dessa disputa, pois estaria
causando uma bagunça levando a essa desordem.

Ou seja, nitidamente o ser humano transferindo a culpa de seus erros, seus desequilíbrios para outrem -
como sempre -. Aí vem a pergunta: "Mas o Pai de Santo jogou búzios e disse isso, então é mentira?" A
expressão é errônea, não existe disputa, conflito e nem briga entre eles. O que pode estar acontecendo é
que naquele momento em questão você esteja precisando do impulsionamento de outro Orixá.

Como sabemos eles nos trazem características bem marcantes (Ex: Xangô equilíbrio, Ogum força, Oxóssi
perseverança) e ao longo da vida nós precisaremos em algum momento de cada um. Ora precisaremos
estar mais calmos, ora precisaremos estar mais confiantes, ora mais astutos e por aí vai. Então nosso Orixá
de Frente se recolhe, da licença para que outro se aproxime e nos auxilie, então é isso que pode estar
acontecendo no momento em que foram jogados os búzios.

Entendam então que NÃO EXISTE briga, nem disputa por nosso ori de forma alguma, já nascemos com
nossos Orixás definidos. Confiem na espiritualidade, lembre-se que os Orixás nos auxiliam no decorrer de
cada vida e jamais foram algo que nos atrapalhe na caminhada.

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OLORI
OLORI é a divindade mais importante de cada um de nós. Está dividida em dois. Uma relacionada com o
destino e a outra com nosso caráter. É a força do indivíduo, ou seja, as qualidades e poderes naturais.

HÁ três entidades relacionadas com OLORI. Chamam-se:

“AYAMA” que é aquele que se escolhe antes de encarnar, ou seja, no plano espiritual é imóvel.

“AKULELA” são as virtudes ou valores escolhidos também no plano espiritual.

“AKULEBA” são as virtudes escolhidas por algum IRUNMULÉ (imortal) ou por um ORISHÁ.
Há distintas estâncias na viagem do ser humano à Terra. Dentro do ventre da mãe, uma delas é chamada
de “ONIBORÉ”, que ocorre no terceiro trimestre da gravidez. Ali são insufladas tais virtudes.

“AYALÁ é um OBATALÁ encarregado dos OLORIS de cada pessoa.

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ÈLÉNINI, A INIMIGA DE ORI

Os yorubas não concebem um ser maligno, como o diabo judaico-cristão, que objetiva unicamente destruir
a obra do Criador, prejudicando as pessoas.

Contudo, os africanos identificavam uma divindade cuja atribuição seria criar obstáculos, dificuldades na
realização do destino dos Seres Humanos. Esta é Elenini, conhecida também como Ido Boo e ainda
chamada de Yeyemuwo (“mãe da desgraça”).

Elenini é a guardiã da câmara interior de Olodumare, local onde o destino é escolhido por cada Ser antes de
nascer. Elenini é a testemunha de nossas aspirações diante do Criador.

Quando Olodumare autorizou a vinda dos Orixás à Terra, teria enviado também Elenini para lhe informar o
comportamento dos deuses.

Segundo Babalawô Awofa Ifakemi Miguel, Elenini é “…uma divindade mitológica da desgraça e do
obstáculo, enviado por Olodumare para aniquilar as divindades que se mantiveram no Aye com um mau
comportamento.”

Elenini testa nossa determinação e nosso caráter, oferecendo tentações e armadilhas que põem em risco
os propósitos originalmente eleitos por nós diante de Olodumare.

Como a atribuição de Elenini é criar dificuldades para testar nosso caráter, conflita diretamente com Ori,
cuja regência é guiar os Homens pelo seu destino. Por isso, Elenini é considerada como a “inimiga de Ori”.

Apesar de sua forte influência e iminente risco ao bem-estar dos Homens, Elenini não recebe nenhum culto
direto na Nigéria ou em qualquer outro local de influência yorubá. Elenini é afastada com o culto ao Ori e
com a prática do bom caráter.

Quando um indivíduo está dominado por Elenini, este se torna cego e surdo. Seu Ori está em desequilíbrio
e passa a ser uma companhia perigosa aos incautos. Estar em companhia destes, ou em locais repletos de
pessoas tomadas por Elenini, torna-se perigoso.

Segundo os yorubás, quando o trabalho de Elenini entra em fase final, é preciso um grande esforço de Ori e
da ajuda dos Orixás para haver a superação.

Os dominados por Elenini têm suas vidas marcadas pela derrota, pelo fracasso, pelo desregramento.

Muitos casos de loucura e de surtos de violência, em verdade, são resultantes do domínio de Elenini,
quando esta consegue desvirtuar o Homem de seus objetivos, levando-o à derrota inevitável.

Somos frequentemente atacados por Elenini, todavia, através de recomendações do Oráculo, somos
alertados e recomendados a fazer determinados ebós, ou a mudar atitudes que podem levar a resultados
perniciosos em nossas vidas.

Apesar do perigo que representa Elenini, esta divindade não é vista pela filosofia yorubá propriamente
como algo “demoníaco”, mas como um contra-ponto, capaz de nos valorizar as boas atitudes e a testar
nosso livre-arbítrio.
Elenini nos obriga a exercitar o bom-senso e a fortificar iwá (o caráter).

Todas as ações humanas que enfraquecem o Ori, tais como excessos de álcool, as drogas, a promiscuidade,
locais onde Elenini impera, amizades nocivas, facilitam a influência da Yeyemuwo. Ao vencermos nossas
fraquezas, derrotamos Elenini.

Segundo a tradição yorubá, antes de virmos ao mundo, devemos antes fazer uma oferenda a Elenini.
Aqueles que teimam e nada ofertam a Elenini, passam por grandes tribulações na vida e nada realizam.

Texto Extraído do Livro: Orí - A Cabeça como Divindade, de Marcio Righrtti (Marcio de Jagum).

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