Você está na página 1de 40

09/09/2021 18:23 e8.

1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

ENGLISH
(/EN/EMISFERICA-81/8-1-ESSAYS/TRANSLOCAS.HTML)
ESPAÑOL
(/ES/EMISFERICA-81/8-1-ESSAYS/TRANSLOCAS.HTML)
PORTUGUÊS
(/PT/EMISFERICA-81/8-1-ESSAYS/E81-ENSAIO-TRANSLOCAS-
MIGRATION-HOMOSEXUALITY-AND-TRANSVESTISM-IN-RECENT-
PUERTO-RICAN-PERFORMANCE.HTML)

INÍCIO
(/PT/)
QUEM SOMOS
(/PT/ABOUT-US.HTML)
INITIATIVES
(/PT/INITIATIVES.HTML)
BIBLIOTECA DIGITAL
(/PT/HIDVL.HTML)
HEMIPRESS
(HTTP://HEMI.PRESS)
HEMITV
(/PT/EVENTS.HTML)
ENCUENTRO
(/ENCUENTRO)
CURSOS
(/PT/CURSOS.HTML)
EMISFÉRICA
(/PT/EMISFERICA.HTML)

E-misférica 8.1 Performance ≠ Vida
(/pt/emisferica-81.html)
Expediente

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 1/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(/pt/e81-masthead.html)
Todas as edições

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
(http://hemi.press/emisferica/)
Participate

 (/pt/participate.html)

Javier Cardona, You Don’t Look Like. Foto: Miguel Villafañe.

Translocas: migração,
homossexualidade e transformismo
na recente performance porto-
riquenha
L AW R E N C E L A F O U N TA I N - STO K E S | U N I V E R S I T Y O F M I C H I GA N , A N N A R B O R

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 2/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

“ Resumo:
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
“Translocas” é uma reflexão fundamentada na crítica queer of color (racialmente e

 sexualmente minoritária) sobre o teatro e a performance contemporânea


translocal porto-riquenha, especificamente o trabalho de artistas de performance
e de atores gays que trabalham com transformismo homem-mulher. Eu concentro
minha análise no trabalho de Freddie Mercado, Javier Cardona, Eduardo Alegría,
Jorge Merced e Arthur Avilés como membros de uma geração cujas vidas e
produções culturais são marcadas pela migração, o “sexílio”, a prática de drag e a
performance. Eu proponho o termo transloca como uma crítica intervenção
vernacular capaz de dar conta da interseção entre espaço, geografia e
sexualidade em seus trabalhos e experiências cotidianas.

Este artigo reúne três preocupações distintas e interligadas: uma visão da cultura de Porto
Rico constituída como fenômeno translocal, marcada pela migração (como fenômeno
social) e pela diáspora (como uma série de comunidades interligadas); uma análise sexual e
racialmente minoritária (queer of color) da cultura porto-riquenha e Nuyorican (porto-
riquenhos de Nova York) ou DiaspoRican, especialmente constituída em sua relação com
classe social, gênero, raça e sexualidade; e, finalmente, o estudo de particulares
manifestações da performance e do teatro porto-riquenho contemporâneo,
especificamente aquelas que usam o transformismo homem-mulher, ou drag. Eu foco meu
estudo no trabalho de cinco artistas gays em atividade nas décadas de 1990 e 2000 (Freddie
Mercado, Javier Cardona, Eduardo Alegría, Jorge Merced e Arthur Avilés) como membros
de uma geração cujas vidas e produções culturais são marcadas pela migração, sexílio
(exílio sexual) e performance.[1] Eu proponho o termo transloca como uma expressão últil
para dar conta da interseção entre espaço, geografia e sexualidade em seus trabalhos e
vidas cotidianas.[2]

Hoje em dia, já é amplamente aceito o fato da nação ou trans-nação porto-riquenha,


tomada como esfera cultural e sócio-política, se extender para além dos limites territoriais
caribenhos, de modo a incluir a diáspora localizada, principalmente, mas não
exclusivamente, nos Estados Unidos, e historicamente com maior concentração na área de
Nova York. Como demonstra Juan Flores (1993, 2000, 2009), entre outros, os vínculos de
continuidade entre estes múltiplos lugares são inúmeros, embora seja importante também
reconhecer as particularidades e diferenças de cada um deles.[3] Ao mesmo tempo, como
argumentam Jorge Duany (2002) e Yolanda Martínez-San Miguel (2003), a migração de
outros países para Porto Rico (especialmente Cuba e República Dominicana, mas também
da América Latina, dos Estados Unidos e do Caribe anglofônico e francofônico) e a
“migração ao contrário” ou “de retorno” (porto-riquenhos dos Estados Unidos voltando para
a ilha) fazem da ilha em si uma sociedade multi-étnica (e até certo ponto multi-lingual).
Portanto, quando se fala de cultura porto-riquenha—assim como de cultura global—é
necessário levar em consideração esta condição translocal: o reconhecimento e a
experiência de habitar espaços diferentes e de manter contato íntimo com várias
comunidades em múltiplas localidades.[4] No caso específico de Porto Rico, esta
translocalidade é resultado direto do imperialismo norte-americano (a invasão da ilha em
1898, o estabelecimento de um governo colonial, o recrutamento de trabalhadores
migrantes e o deslocamento massivo de pessoas promovida pelo governo muñocista) e da
atual organização política e econômica mundial de poder, a qual favorece a contínua

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 3/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

migração para fora e para dentro da ilha. Não é de surpreender que isto tenha afetado
profundamente o teatro e a performance e que as artes performativas boricuas reflitam
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
este modo de “existir dividido”; Lowell Fiet inclusive já se referiu ao teatro porto-riquenho
como “ponte aérea entre dois litorais”.[5] O desenvolvimento das sexualidades queer porto-

riquenhas (e do teatro e performance queer porto-riquenha) também foram profundamente
marcadas por este processo, já que os porto-riquenhos participaram do fenômeno mais
amplo das diásporas queer e as formações sociais porto-riquenhas acabaram-se
contaminando em processos de globalização, incluindo a liberação gay, o turismo
homossexual e a comodificação capitalista.[6]

Neste artigo, integro uma visão sobre performance, lugar, gênero e sexualidade: unifico a
sexualidade transgressora e a análise espacial migratória para questionar e repensar o
significado destes conceitos. Aliás, por si mesmos, os termos “gay” ou “transgênero”
assumem lugares e categorias instáveis dentro da classificação mais ampla do masculino,
do feminino, do indeterminado ou do “entre”, das atrações hétero, homo e bissexuais, das
perversões e dos lugares comuns mais aceitos dentro da esfera do sexual. Mais importante
ainda, devemos considerar as particularidades da sexualidade boricua ou porto-riquenhas
e seu amplo repertório de conceitos e termos específicos em espanhol e inglês (com
variações mais ou menos pejorativas) que incluem pato (como metáfora do homossexual
afeminado), maricón, afeminado, ponca, loca, vestida, bugarrón, marimacho, marimacha,
tortillera, pata, bucha, papi chulo e on the down low (isto é, “por baixo dos panos”, no sigilo).
[7] Loca, neste caso, se define etimologicamente como mulher enlouquecida, mas traz
outros matizes em seu uso popular, quando é usado como sinônimo de maricón. É uma
palavra comum, usada diariamente como insulto, mas também (em contextos muito
específicos) como vocábulo que sinaliza carinho. Também é uma categoria folclórica, que
não só alude aos homens afeminados que existem nos vilarejos ou bairros, mas também a
uma personagem muito concreta de uma das celebrações religiosas populares mais
famosas da ilha, a Fiesta de Santiago Apóstol, em Loíza Aldea, onde os “machos”
supostamente heterossexuais se vestem de mulheres que importunam e brincam com os
participantes de maneira lúdica e agressiva.[8]

Que são as translocas?


As translocas são muitas coisas, algumas delas certamente contraditórias: performers,
bichas (queers), inovadores, marginais, exilados, excêntricos, beldades, revoltados,
amantes, solitários, amigos. Ser (ou estar) uma transloca é desidentificar-se no sentido
proposto por José Esteban Muñoz (1999): atravessar um terreno perigoso, fazer e romper
alianças e re-definir significados e sensibilidades. O que pensarão deste apelativo os cinco
performers que aglutino sob este espalhafatoso termo? Sem dúvida alguma, Mercado,
Cardona, Alegría, Merced e Avilés não poderiam ser mais distintos uns dos outros. Talvez não
fiquem entusiasmados com mais uma categoria nova. Talvez se trate mais de uma fantasia
crítico-interpretativa deste autor (ou uma auto-projeção) do que um neologismo ou
vocábulo novo que realmente responda às particularidades dos artistas. No entanto, me
parece fascinante compará-los num tipo de sancocho (ou cozidão) performativo a la
Fernando Ortiz, precisamente por suas aproximações tão divergentes, como espécie de
extensão (queer) da “transculturação”, conceito historicamente importante (e cultural e
geograficamente específico) do antropólogo cubano Fernando Ortiz. Para Ortiz, as culturas
que entram em contato não apagam ou substituem umas às outras, mas encontram um
equilíbrio dinâmico no qual elementos de todas elas persistem e, mais importante ainda, se
transformam e co-existem numa formação nova. Enquanto Ortiz estava mais interessado no
caso de Cuba com seus elementos europeus, africanos e chineses, eu me concentro num
contexto porto-riquenho aonde predominam elementos anglo-americanos, hispânicos e
africanos, e onde novas noções de sexualidade e espaço transformaram de maneira radical

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 4/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

a maneira pela qual as pessoas entendem a si mesmas. E ao passo que Ortiz claramente
favorecia a cultura européia (e, claro, heterossexual) e a via como superior e dominante, eu
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
suspeito que no caso de Porto Rico estejamos diante de um vale-tudo.[9]

Gostaria de sugerir que o prefixo “trans-” seja entendido vinculado a esta diferença
apontada por Ortiz, mas num contexto do translocal e do transgênero. Vejo o “trans” não
necessariamente sob a ótica do instável, ou do estar no meio, mas como uma força de
transformação—mudança, poder moldar, reorganizar, reconstruir, construir—e de longitude:
o transcontinental, transatlântico, mas também transversal (oblíquo e não direto).[10] Esta
transitoriedade transgênero implica em vários desafios à visão dominante da porto-
riquenidade que não incorpora, ou não aceita, nem a migração (a comunidade diaspórica
migrante e/ou os imigrantes em Porto Rico) nem a homossexualidade ou outras
sexualidades marginalizadas. Também podemos associá-la à transgressão dos meios (ou
gêneros artísticos) que Francisco José Ramos identificou como parte “da poética da
experimentação”, quando escreveu sobre a produção de um grupo de artistas plásticos
recentes, entre os quais Freddie Mercado.[11] Ela também tem a ver com a instabilidade que
Meg Wesling (2002) sugere quando pergunta, em relação às travestis cubanas que
aparecem no documentário Mariposas en el andamio, se o “trans” de transsexual (e
poderíamos extender ao travesti e ao transgênero) não é o mesmo que o “trans” de
transnacional (ou translocal), bem como com a teorização etnográfica da “loca-lização”
como uma confluência da sexualidade queer, dos espaços e dos lugares das travestis
venezuelanas em Caracas, como oferece Marcia Ochoa (2004).[12]

Loca, por sua vez, também sugere uma forma de identidade histérica (patologizada a nível
clínico, escandalosa a nível popular) constitutiva do indivíduo a quem falta sanidade,
compostura, ou com pobre adequação à norma dominante: o homossexual afeminado, a
mulher demente, o rebelde por natureza; categorias marginalizadas que em um gesto
irônico e jocoso gostaríamos de resignificar ao estilo do termo anglo-americano “queer”:
loca como diz um amigo veado a outro, como sinal de cumplicidade e entendimento, de ser
“entendido”, e não como insulto hostil ou piada de menosprezo – embora possamos ver esse
lado também, se reconhecemos a crueldade como arte e/ou como estratégia de
sobrevivência, ou simplemente como ódio a si mesmo. Também podemos ver loca como a
junção afortunada do (m/other) camp de Susan Sontag e Esther Newton, com a bendição
de Judith Butler e Marjorie Garber (e, claro, de Ben. Sifuentes-Jáuregui), como uma
extravagância do high camp (alta loucura), ou como homenagem ao sistema de casas ou
famílias de drag, homenagem às protagonistas de Paris Is Burning e às travestis da literatura
latino-americana. Ou ainda, talvez, como alucinação dos filósofos radicais franceses Gilles
Deleuze (explodindo em rizomas nômades) e Guy Hocquenghem, através do filtro do
antropólogo e poeta argentino Néstor Perlongher, ou seja, como um termo profundamente
latino-americano que dialoga com o pós-modernismo e com a liberação queer. Também
pode ser uma loca reminiscente de Deleuze e Luce Irigaray, tal como os interpreta Elizabeth
Groz, quer dizer, como termo radical de desestabilização e des-centramento; ou loca como
sugere Erasmo de Rotterdam em seu Elogio da loucura (uma defesa da falta de sanidade
precisamente como estado de conhecimento), visto aqui como texto latino-americano
seminal (como invenção européia) de maneira semelhante ao cervantino Don Quixote (o
louco vidente renascentista por excelência) interpretado pelo escritor mexicano Carlos
Fuentes, o qual defende a centralidade de ambos pensadores (Erasmo e Cervantes) nas
nossas conceitualizações das Américas. Por último, loca como a triste demente no sótão de
Susan Gilbert e Sandra Gubar (a loucura como símbolo da subjugação das mulheres) ou da
romancista Jean Rhys em seu Vasto Mar de Sargaços (a loucura como liberação feminista e
gesto anti-colonial), ou como a mistura teórica e política da experiência de vida e
inteligência, como algo imaginado pelas extraordinárias teóricas transgênero Susan Stryker
e Sandy Stone.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 5/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

O caráter performativo desta louca condição se reflete no jogo travesti que ocorre com
maior naturalidade na esfera do intercâmbio social, mas que também adquire dimensões
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
teóricas, como mostra o escritor cubano Severo Sarduy em seus ensaios sobre a simulação.
Por performativo, me refiro à encenação verbal e corporal organizada através de repetições

públicas (na vida real, no palco ou no espaço da representação artística). O jogo travesti
aponta para o reconhecimento da artificialidade, ou melhor, da natureza arbitrária da
classificação dos signos (raciais, étnicos, sexuais, de gênero, de classe, de movimento etc.) e
para a possibilidade de suas manipulações, reinvenções ou questionamentos. Os cinco
performers que discuto aqui, de maneiras distintas e em momentos diferentes, fazem alusão
a várias tendências, ou as corporalizam, como corpos sexualizados, marcados pelo gênero,
pela raça e pelo desejo (não-ortodoxo), localizados (voluntária ou involuntariamente) em
diversos contextos geográficos. Digo loca em alto e bom tom, estridente, mas sem a
intenção de ofender ninguém, com exceção daqueles que não estão dispostos a ouvir e
aceitar; loca como a falecida travesti porto-riquenha e veterana de Stonewall Sylvia Rivera
poderia ter dito queen ou trannie ou fag, com seu inconfundível sotaque do Bronx. Loca,
como celebração da liberdade, como afirma o crítico literário porto-riquenho queer Arnaldo
Cruz Malavé quando abertamente se refere aos grandes “patriarcas” queer, Antonio S.
Pedreira e René Marqués:

‘ Ingratos escritores contemporâneos de Porto Rico decidiram falar não a partir


do lugar de uma identidade estável, “viril” e “madura”, mas a partir do “milieu
patológico” da castração e do cruzamento de gênero, uma superfluidez e
ambigüidade que tanto Pedreira como Marqués exibem e condenam. Se nos textos
destes, Porto Rico é imaginado como um jovem e torturado rapaz no armário
continuamente deslizando em direção à normalidade da heterossexualidade e o
resgate da ordem paternal, na prosa porto-riquenha contemporânea este pato
(bicha) ambivalente opta ao contrário por sua locura, e desabrocha numa auto-
consciente drag-queen. (1995, 151)
É este mesmo movimento que procuro na obra
performativa que aqui analiso: literalmente, a de um pato que opta por sua locura;
e figurativamente, de uma bicha em busca de um reino queer ou de um êxtase
homossexual.

Loca-lizando às translocas
Será que o sujeito porto-riquenho queer (pato, homossexual, transgênero, bissexual, loca, ou
bicha) pode um dia desvincular-se das noções de diáspora e viagem? Será o gênero sexual
uma noção fixa para aqueles performers que questionam as noções convencionais da
sexualidade? Mesmo para os que permaneceram na ilha e ali se deram bem, não seria a
diáspora algo como um braço ou uma perna perdida, invisível? Uma opção sempre
presente, tipo válvula de escape? O que é Porto Rico para os nuyoricans gays e
transgêneros? O que é Nova York para os ilhéus boricuas?

Dos cinco performers que analiso, somente um, Freddie Mercado, viveu exclusivamente na
ilha, embora tenha nascido na pequena cidade rural de Las Piedras e se mudado quando
jovem para San Juan. É também o único que tem um background e uma formação
profissional nas artes plásticas. Os outros vêm da dança, do teatro, ou de ambos. Três deles
(Javier Cardona, Eduardo Alegría e Jorge Merced) têm levado vidas transatlânticas de
diversas índoles. Apesar de Cardona ter vivido menos tempo em Nova York—incluindo
https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 6/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

importantes temporadas no Brooklyn—as referências norte-americanas já formavam parte


importante de seu espetáculo You don’t look like (1996). Alegría e Merced, ambos nascidos
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
na ilha, têm vivido nos dois lugares por períodos consideráveis. Alegría regressou a Porto
Rico depois de uma longa estadia em Nova York e hoje é um dos vocalistas do grupo de rock

alternativo Superaquello, o qual fundou em 1997,[13] enquanto Merced se instalou
firmemente no Bronx, juntando-se ao Teatro Pregones, companhia fundada por porto-
riquenhos diaspóricos em 1979. Arthur Avilés é o único que nasceu em Nova York e nunca
viveu na ilha, mas já apresentou seu trabalho lá em várias ocasiões, como no festival
Rompeforma, organizado pela bailarina e coreógrafa pós-moderna Viveca Vázquez. De
todos (incluindo Merced), Avilés é o que mais forte e insistentemente afirma uma posição
nova-iorquina, que identifico como “Bronx-cêntrica”, particularmente através de sua
evocação de Nuyorico, uma terra mítica parecida com o Aztlán chicano, mas localizada,
como nos diz em Maéva de Oz, em algum lugar “para lá do Expresso Bruckner do Bronx”,
aonde não existe nem homofobia nem o preconceito contra os porto-riquenhos.

Dos cinco, pelo menos três costumam fazer transformismo regularmente. Na verdade, para
um deles (Mercado), o travestismo feminino (junto à personificação de animais e de
criaturas híbridas monstruosas) constitui a base fundamental de sua proposta artística. Por
outro lado, Merced fez o papel da travesti encarcerada “Loca de la locura” em sua peça El
bolero fue mi ruina, baseada num conto de Manuel Ramos Otero, por muitos anos. Avilés,
quando não vai ao palco completamente nu, dança freqüentemente usando roupas
femininas, um gesto que não necessariamente faz alusão ao travestismo como ilusão ou
paródia, mas sim como discurso não-andrógino que questiona o gênero sexual, ocupando o
lugar do feminino e ao mesmo tempo valorizando o forte corpo masculino do bailarino; uma
postura semelhante a que José Rosado identifica no trabalho de Alegría, Cardona e Willie
Rosario.

Muitos têm argumentado que já não é (ou talvez nunca tenha sido) absolutamente
necessário deixar a ilha por causa de uma orientação sexual transgressiva, embora todos
saibamos que um imenso número de indivíduos sentiram, sim, esta necessidade devido a
circunstâncias pessoais, e também que milhares de homossexuais vivem na diáspora. Em
sua famosa composição “El gran varón,” Willie Colón, o exemplar salseiro da diáspora
boricua, conta a estória de Simón, que deixou seu lugar de origem e, tempos depois, voltou
travesti, contrariando seu pai. De fato, alguns voltam mulheres (ou “mujerts”, com um “t”
extra) e se estabelecem aonde nasceram, enquanto outros partem e viram o epítome da
masculinidade. Para alguns, Porto Rico é um referente geográfico distante, para outros é um
bairro no Bronx. Para alguns, o gênero e a sexualidade não são mais que um estado mental.

O barroco surreal de Freddie Mercado

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 7/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_01_lg.jpg)
Freddie Mercado Velázquez, Vírgenes caribeñas, 1996.

foto: Santiago Flores Charneco

Freddie Mercado é uma grande boneca, a transloca-mór em corpo e alma, inapreensível e


incontrolável. Em suas próprias palavras, é uma “performance constante”: seja trancado em
casa, num espaço ou museu de arte, ou perambulando pelas ruas de Viejo San Juan,
vestido de seu jeito habitual, com túnicas e seus cabelos crespos soltos, ou virado em divina
aparição para as Noches de Galería; obra de arte portátil, móvel, eternamente cambiante.
O processo de transformação de quatro horas em espaço privado ou por trás de uma janela
iluminada numa galeria fechada ao público.[14] Ou, simplesmente, adorno barroco pós-

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 8/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

moderno no palco de um show de rock do já extinto grupo, El manjar de los dioses, ou talvez
com seu velho amigo e cantor José Luis Abreu (“Fofé”), que passou a dirigir a banda Circo (e
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
agora Fofé y los fetiches). Em um outro momento, Mercado é uma aparição, fantasma em
cena ou figurinista do grupo de dança moderna Andanza, dirigido por Lolita Villanúa,[15] ou

para a talentosa Awilda Sterling.[16] A obra de Mercado é efêmera, recuperável apenas
através de fotografías incidentais, vídeos ocasionais ou cenas coreografadas para a lente
mágica do brasileiro Fernando Paes e de outros, como nos aponta Deborah Cullen no
catálogo de uma exposição do Museo del Barrio de Nova York, em 2001.

Estas são algumas de suas múltiplas encarnações. Mas há também o Freddie criador de
bonecas monstruosas, pinturas e instalações que refletem seu semblante e documentam
suas múltiplas identidades, em obra (trans)pictórica. Seus auto-retratos costurados e
tornados roupas que o artista veste (De Jesús); ou, em outras ocasiões, amarrados,
reciclados pelo seu tio, que é alfaiate, transformados em peças de roupa enquanto ele junta
uma aqui e ali e dá às vestimentas usos inesperados.

As transcriações plásticas de Mercado incluem figuras monstruosas ou surreais, mas


também personagens femininos famosos, grandes damas brancas da memória coletiva
porto-riquenha, como Felisa Rincón de Gautier, mais conhecida como “doña Fela”, a
famosa ex-prefeita da cidade de San Juan, mais conhecida por suas perucas e leques,
também representada nos anos sessenta por uma transloca pionera, Johnny Rodríguez,
dono do célebre El Cotorrito.[17] Mercado também já apareceu como Myrta Silva, a divina
gorda de oro, a cantora mítica dos anos sessenta, evocada também por Jorge Merced ao
cantar “la vida es un problema, yo sí lo sé” em El bolero fue mi ruina. Este é o Freddie do
transe coletivo, do arrebatamento espiritual, do “channeling” espírita, o que inclusive leva
muita gente a lhe confundir literalmente com estas damas mortas da tradição cultural, seja
quando se apresenta no cabaret de Ivette Román ou Mickey Negrón, pela rua, ou em algum
lugar inesperado.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 9/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_02_lg.jpg)
Freddie Mercado Velázquez, Gulf War Action, 1990s.

foto: Cortesia de artista

O outro Freddie que quero resgatar é o da citação ou apropiação cultural: vestido de


mulher árabe opondo-se à guerra do golfo pérsico e coberta de soldados de plástico
coloridos; personagem histórico do barroco colonial das Indias Ocidentais; mulher italiana
renascentista; figura bi-racial, multifacetada, de duas caras, uma para frente e outra para
trás: metade branca, metade negra, como duplo que resgata a experiência da escravidão e
suas marcas inscritas na pele, em um jogo de esconde-esconde.

Freddie Mercado tem apresentado seu trabalho pelo menos desde 1988, mas só ganhou
notoriedade da crítica no final dos anos noventa.[18] Sua obra de performance toma
dimensão internacional com sua participação em importantes exposições e mostras na
República Dominicana (1995), Espanha (1998, 2000) e Estados Unidos (2001, 2002).[19] No
entanto, o caráter “efêmero”, performativo e essencialmente anti-assimilável de sua obra
dificulta o artista viver de seu trabalho e resulta em pobreza econômica, incluindo épocas
em que sequer teve onde morar. A “estranheza” e a importância de Mercado é constatada
em várias citações ao artista por parte do importante crítico de arte Manuel Álvarez
Lezama. Criador da categoria de “los novísimos” para descrever o grupo de artistas jovens
que apareceram nos anos noventa na ilha, Álvarez Lezama descreve Mercado da seguinte
maneira:

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 10/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

‘ Mercado não passa desapercebido porque ele é, no contexto extremamente


(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
conservador de nossa cultura, uma provocação constante, uma obra de arte

 desconcertante, um ‘happening’ caminhante, uma celebração do absurdo, uma


ameaça a alguns de nossos valores morais mais enganosos e nossa sexualidade
mais presa, e um tributo existencial ao carnaval, que infelizmente não temos em
Porto Rico. (1995c, 16)

Esta proliferação de frases descritivas (Mercado como provocação, obra de arte,


happening, celebração, ameaça e tributo) indica a qualidade incontrolável e
incomensurável das performances de Mercado a nível local. Álvarez Lezama insiste também
que as várias vestimentas de Mercado têm intencionalidade e propósito muito claro, e que
não são meras distrações frívolas; insiste que sua finalidade é “nos divertir, nos ensinar e nos
fazer pensar” (1995c, 16). O crítico também reconhece seu receio e desconfiança inicial, ou o
mal estar e nervosismo que lhe provocava a figura transgressiva do artista: “À princípio, eu
fiquei um pouco incomodado com a exuberância de Mercado, mas logo me acostumei à
sua presença, às suas paródias, à sua ameaça. Hoje, se ele não aparecer num evento
importante por aqui, sinto que algo realmente está faltando” (1995c, 16). Esta reação
corresponde a de muitos críticos, inclusive a minha. Recordo minha fascinação inicial por
Freddie, sempre acompanhada de um medo de me aproximar—medo em parte devido à
minha timidez e à aura do artista e sua hibridez grotesca. De fonte de medo a um
componente essencial cuja presença ou ausência basta para determinar o êxito de uma
noite, o artista tornou-se presença constante, centro, sustentáculo e reverso espantoso.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 11/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_03_lg.jpg)
Freddie Mercado e Lawrence La Fountain-Stokes, 13 Rosas y una Lola para el amor, 2011.

foto: Zulma Oliveras Vega

Grande parte do impacto da obra de Mercado tem a ver com a própria materialidade de
seu grande corpo andrógino, que viola as normas de peso, de masculinidade e de ordem
dominantes. Ele está inserido dentro da tradição cultural do travestismo, mas resignifica
esta prática de maneira radical, pois para ele não se trata de recriar a típica beleza
feminina, e sim de fazer uma alusão a ela em um jogo estranho e muito próprio, um jogo que
como afirmou a escritora Mayra Santos Febres, “apaga a fronteira entre os sexos” (2003).
Como agente desestabilizador, Mercado transforma o mundo ao seu redor: transformista
inveterado, revolucionário; ameaça e desafia a geografia insular e cita em cada movimento
seu um mundo muito mais amplo, transcontinental e transoceânico. Sua presença em Porto
Rico também representa um incômodo para aqueles que preferiam que ele tivesse ido
embora: que como outros ele tivesse migrado para Nova York ou outra parte, longe de sua
terra, que os tivesse deixado em paz de uma vez por todas.

A extraordinária performance de não parecer porto-riquenho


O ator, bailarino, performer e coreógrafo Javier Cardona é, devo admitir, uma transloca
muito sutil, mas uma cujas complexas colaborações multi-midiáticas e travestis podem
expandir nosso entendimento do termo. Em Ah Men (2004), uma coreografia para seis
bailarinos na qual ele também participa, Cardona explorou questões de raça, gênero e
sexualidade. Em seu mais conhecido monólogo You Don’t Look Like (estreiado em 1996),

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 12/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

Cardona explora as percepções e estereótipos sobre a raça negra em Porto Rico, e como
este sistema serve para excluir e marginalizar aos que supostamente “não parecem porto-
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
riquenhos” por serem de descendência africana.[20]

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 13/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_04_lg.jpg)
Javier Cardona You Don’t Look Like, 1996.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 14/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_05_lg.jpg)
Javier Cardona, You Don’t Look Like, 1996.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 15/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_06_lg.jpg)
Javier Cardona, You Don’t Look Like, 1996.

fotos: Miguel Villafañe

A performance usa slides, narrativa falada, interação com o público, maquiagem paródica
negra (blackface) e dança. O texto verbal, como tal, apenas representa uma parte desta
rica performace. O centro da trama é o testemunho, em primeira pessoa, de um ator negro
em busca de emprego, e a quem só oferecem papéis estereotipados que reforçam as
absurdas imagens que povoam o imaginário coletivo racista. A frustração do artista se
manifesta concretamente na cena através de uma série de imagens visuais (slides) de
Cardona vestido de diversas formas, incluindo duas representações femininas: de mãe-de-
santo (santería) toda vestida de branco, com guias coloridas, em referência talvez a Myrta
Silva ou a Carmen Miranda; e de servente ou empregada doméstica, descalça, com olhar
atento voltado ao público. As fotos são do mexicano-porto-riquenho Miguel Villafañe e
também mostram o artista em várias poses masculinas: indígena africano; rumbero colorido
e musical; um rapista urbano munido com os mais novos gadgets tecnológicos, que no
discurso racista é uma imagem associada ao vendedor de drogas; camponês que trabalha
no canavial costeiro, como espectro do suposto jíbaro branco da montanha; rei mago
negro; pai-de-santo (santeria); jamaicano adepto do reggae; jogador de basquete–em
suma, todos personagens que podem ser tomados como performances de raça e gênero.
Em um momento posterior, Cardona trata literalmente de se “enegrecer” mais ainda
pintando seu rosto de preto e usando uma peruca afro, satisfazendo (ou parodiando) desta
maneira as exigências de “autenticidade.”

Em seu importante artigo sobre esta performance, Jossianna Arroyo (2002) sugere a idéia
de “drag cultural” como dispositivo de leitura para entrever uma elaboração sobre raça,
nacionalidade, gênero e sexualidade; esta difere de outras leituras como aquela proposta
por Vivian Martínez Tabares (1997, 2004), que geralmente minimiza a questão de gênero e
sexualidade no trabalho de Cardona. Segundo Arroyo, a variedade na representação de
gênero sexual da peça ajuda na identificação da arbitrariedade das construções raciais.
Em outras palavras, as duas imagens femininas (momento de transformismo) quebram de
uma maneira mais radical qualquer ilusão de verossimilhança que o espectador ou a
espectadora pudessem manter. Nesta performance, a performatividade racial fica mais
evidente através da lente de gênero e de suas possíveis implicações com a sexualidade.

O título da obra se refere a uma experiência comum enfrentada por todo porto-riquenho
cujo fenótipo não corresponde à visão homogeneizante da cultura norte-americana, ou
seja, à experiência de “não parecer porto-riquenho”, identificada por Alberto Sandoval
Sánchez como racista (1999, 91). Na peça, por exemplo, o protagonista participa de uma
seleção de atores para uma propaganda de pasta de dente em Porto Rico, que mais evoca
um circo absurdo, aonde todos os atores negros são orientados a dizer as palavras “bunga,
https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 16/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

bunga, água” com um sotaque exagerado, supostamente fazendo alusão a uma essência
da sensualidade caribenha–talvez primitiva. Como identifica Arroyo, o personagem
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
inicialmente confunde este jeito de falar (“bunga, bunga, água”) com aquele dos
nuyoricans, tipicamente caracterizados como pessoas que falam espanhol com sotaque

americano. Embora o protagonista rapidamente reconhece e se envergonha por seu
próprio preconceito anti-nuyorican, sua reação inicial revela uma opinião muito comum na
ilha. Tanto Fiet (1999) como Martínez Tabares (1997, 2004) apontam como se manifesta na
performance uma espécie de embate lingüístico, refletindo tensões mais amplas
relacionadas ao colonialismo e à relação entre colonizado e colonizador. O próprio título da
peça, em inglês, é sintomático disto, pois a obra em si é principalmente em espanhol. Pouco
foi dito, entretanto, sobre como o clímax é provocado por uma viagem do protagonista aos
Estados Unidos, aonde lhe dizem “You don’t look like”. Reproduzo a citação na íntegra:

‘ E se eu estou nos Estados Unidos me fazem a clássica pergunta: O quê que eu


sou? À qual eu respondo de cara, quase na defensiva: porto-riquenho.
Rapidamente eles franzem a sobrancelha, estupefados, e me dizem: You don’t look
like… Então eu viro os olhos para trás, mostro meus dentes, giro a cabeça e o
pescoço discretamente para a esquerda, inflo meu peito e, aqui dentro de mim, me
pergunto: e com que porra é que eu devo look like? I don’t look like Puerto Rican, I
don’t look like black, I don’t look like this, I don’t look like that. What am I supposed to
look like? (Cardona 1997, 49)

Nesta cena há um deslocamento: da raiva e frustração contra o preconceito racial em Porto


Rico para uma manifestação da ignorância inerente ao sistema de racialização norte-
americana, especificamente a visão homogeneizante que a segregação não-oficial impõe
aos sujeitos nos Estados Unidos. Este mal-entendido não é exclusividade dos negros porto-
riquenhos, pois ocorre igualmente com outras raças. Curiosamente, é a viagem ao
“estrangeiro”, à metrópole colonial, que subitamente ativa (ou consolida) a identidade etno-
nacional do sujeito, a qual se manifesta na peça através de uma pequena bandeira porto-
riquenha que a personagem leva costurada na sua mochila.

Nesta peça, ao contrário dos duetos de dança mais ambíguos de Cardona e Eduardo
Alegría em Porto Rico,[21] não há uma referência explícita à homossexualidade; mas há um
subtexto de travestismo feminino, que vai desde os slides da madame e da empregada até
ao próprio princípio da obra, que começa com uma citação de Cinderela: “Espelhinho,
espelhinho, necessito saber se eu também sou…” Nos duetos de dança, além do travestismo,
a contigüidade homossocial dos bailarinos serve para sugerir um conteúdo homoerótico
que põe em questão a orientação sexual. Infelizmente, para muitas pessoas You don’t look
like parece ser exclusivamente sobre raça, racismo, nacionalidade e discriminação laboral.
Cabe aqui perguntar se o título da peça não sugere um outro tipo de ansiedade: o de não
parecer homossexual. Como ator e bailarino (profissões “estereotipicamente” associadas a
homens afeminados em Porto Rico, ou pelo menos que carregam esse estigma) e como
homem negro (“estereotipicamente” viril na imaginação popular), o protagonista/performer
se vê obrigado a negociar múltiplos preconceitos na mesma formulação sobre quem ele é e
de como ele se apresenta—e a profunda instabilidade disso em um meio ambiente
homofóbico, racista e classista, um que facilmente pode levar à translocura. É talvez no final
da peça, quando Cardona dança descontroladamente, que o mais pleno sentido de

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 17/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

liberdade e potencialidade se produz, um momento em que a sedução do corpo dançante


diz tudo. Aqui, uma leitura integrada de todos os elementos da performance (fotos, texto,
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
movimento corporal) também sugere uma visião mais rica e não-assimilável.


Bonecas dançantes e coelhinhos felizes

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 18/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_07_lg.jpg)
Eduardo Alegría, Lucy.

foto: Gisela Rosario

O caso de Eduardo Alegría é muito especial: uma transloca midiática, modernosa—talvez


uma transloca cyborg, oscilando no tempo e no espaço através da cultura eletrônica e de
experiências localizadas e transglobais muito reais. Alegría cria um universo bastante
particular, cheio de referências culturais concretas e idiossincrasias que podem ser
entendidas tal como um manifesto creolle da “Geração X” (híbridos musicais que vão desde
o rock, a salsa e o merengue até a música electrônica; cultura de massa, popular e culta,
sem hierarquias nem distinções necessárias; fácil acesso à cultura norte-americana e
global) mas com um brilho ao mesmo tempo de genialidade e demência, como uma Alice
no país das maravilhas boricua, com uma ênfase na inocência vinculada à sexualidade e à
loucura. O talentosíssimo performer, que aliás começou a dançar por acaso, já vem
colaborando por mais de vinte anos com artistas como Viveca Vázquez e seu Taller de Otra
Cosa, o principal grupo de dança pós-moderna em Porto Rico, assim como com o músico
Francis Pérez, com quem formou o grupo de rock alternativo “pós-pop” Superaquello em
1997. Em várias de suas obras, apresentadas em grande parte no P.S. 122 de Nova York nos
anos noventa, e em Porto Rico em 2011, Alegría explora as muitas dimensões de ser um
porto-riquenho gay, especialmente da diáspora.

Em um importante ensaio entitulado “Eduardo Alegría o las tribulaciones de ser un Nice


Puerto Rican”, o crítico porto-riquenho Gilberto Blasini mapeia a particularidade do
trabalho de Alegría e de outros performers boricuas. Seguindo a proposta crítico-teórica de
José Rosado e de Rosa Luisa Márquez, Blasini diz:

‘ Proponho que entendamos estes trabalhos contemporâneos como o produto


de uma dramaturgia baseada não necessariamente em textos escritos ou literários,
mas de uma dramaturgia do ator, aonde o corpo figura como eixo central das
apresentações. Desta forma, o corpo se converte num terreno textual aonde se
exploram conflitos pessoais, sexuais, políticos, nacionais e estéticos, entre outros.
(2002)
Sobre a técnica de Alegría, Blasini afirma:

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 19/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

‘ As estreitas colaborações com artistas como Awilda Sterling e Viveca Vázquez


(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
(especialmente com seu grupo Taller de Otra Cosa), permitiram a Alegría

 desenvolver uma linguagem de expressão cênica aonde os personagens são


criados, tanto corporal como conceitualmente, por meio de representações que
misturam a atuação, a dança e o stand-up comedy, e que também desconstróem
as fronteiras entre a esfera pública e a privada, a ficção e a autobiografia, o
mágico, o trágico e o irreverente. (2002)

Blasini também aponta como Alegría captura a alienação de uma certa classe social e uma
geração de jovens porto-riquenhos. Um exemplo disto é seu primeiro monólogo, a peça
Absorbido Mismo (1991). Comenta Blasini:

‘ Absorbido Mismo não estabelece uma dicotomia maniqueísta entre o ilhéu e o


norte-americano. Ao contrário, Alegría propõe entender o inevitável diálogo que
existe entre as duas culturas (bem como de outros países que mantém trocas
culturais com a ilha) e como o mesmo se converte em um ponto de referência para
entender a realidade diária de jovens que, como ele próprio, viveram sua
adolescência e juventude durante os últimos anos da década de 70 e a década de
80. (2002)

Embora Alegría tenha crescido e começado sua carreira artística na ilha, sua passagem por
Nova York e sua participação nos espaços de performance alternativa desta cidade foram
fundamentais no desenvolvimento de seu trabalho e no entendimento de sua identidade
como porto-riquenho gay. Foi ali que ele experimentou a marginalização e a discriminação
que assolam os imigrantes, mas sem ter se isolado num contexto mais reconhecidamente
latino, ao contrário, abrindo-se a uma esfera alternativa e multicultural das artes na cidade.
Tratava-se do mundo do East Village e do Lower East Side de Manhattan, contexto no qual
também estão inseridos artistas como Carmelita Tropicana e Marga Gómez, e onde John
Leguizamo deu início à sua carreira.

Um exemplo de como Alegría elaborou sua migração é Nice Puerto Rican Nice (1994). Blasini
descreve esta peça como mostrando os mal entendidos culturais entre um porto-riquenho
gay que vive em Nova York (e que ama fritura) e seu namorado iraniano budista, neurótico
com a saúde e cheio de idéias pré-concebidas sobre os boricuas. Outro exemplo é Bus Boy
Love (originalmente parte de Spookiricans, 1997),[22] aonde Alegría apresenta o romance
frustrado entre dois garçons, ambos imigrantes latino-americanos trabalhando num
restaurante em Nova York: o boricua Junior (interpretado por Alegría) e o mexicano
Abelardo (interpretado por Jorge Merced). (A peça foi reencenada por Alegría em 2011,
como parte do Esquina Periferia no Teatro Coribantes de Hato Rey, Porto Rico, com Yamil
Collazo interpretando o papel de Abelardo; ver Blasini, 2011; Collazo, 2011; Tort, 2011.)

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 20/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_08_lg.jpg)
cima a baixo na foto: Yamil Collazo e Eduardo Alegría, Bus Boy Love, 2011.

foto: Claudia Cornejo Amaya

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 21/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_09_lg.jpg)
Eduardo Alegría como Chancleta Carvel, 2010.

foto: Courtesia de artista

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 22/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

Junior e Abelardo lutam por vencer suas mútuas inibições emocionais, que os impedem de
buscar consolo um no outro naquele espaço hostil e desconhecido. É uma peça
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
caracterizada pela imobilidade física dos personagens, que ficam sempre longe um do
outro, mas se olhando ardorosamente e sonhando com o fim daquela gélida distância – o

que finalmente ocorre graças à ajuda de dois anjos caídos do céu, que acompanhados por
dois coelhinhos em tamanho humano atiçam a paixão dos dois cantando clássicos do
bolero.

De que maneira aparece o transformismo na obra nova-iorquina de Alegría? Dois exemplos


vêm à mente: primeiro, as saias longas (posteriormente popularizadas pelo merengueiro e
mulherengo dominicano Toño Rosario) que todos os bailarinos usam em Tereke Tech, a
primeira parte de Spookiricans; depois, a simulação animal dos coelhos humanizados em
Bus Boy Love, ao estilo talvez das freqüentes aparições animais como cães, abelhas, ratos e
coelhos na obra de Arthur Avilés ou às transformações em galo/galinha de Freddie
Mercado. Trata-se, nos dois casos, de dispositivos de estranhamento que tornam a
representação em algo “bizarro”, fora de lugar, queer (Blasini, 2011). O bailarino principal de
Tereke Tech imita o vai-vem caribenho ao se mover pelo palco ao ritmo de um merengue,
vestido numa saia que chega a seus pés; se entende que está em Porto Rico, apesar da
peça ter sido elaborada e apresentada pela primeira vez em Nova York. Os coelhos
surrealistas de Bus Boy Love acompanham dois cantores angelicais (Alejandra Martorell e
Gisela Rosario na versão de 1997) que tratam de agir como Cupidos e fazem com que Junior
e Abelardo se apaixonem, ou melhor, que cedam às suas paixões latentes. Mas é nos duetos
porto-riquenhos com Javier Cardona que Alegría participa mais amplamente do
travestismo homem-mulher, já que nestas peças ambos dançam vestindo anáguas.

A ilha que se repete: Travestismo Pregonero

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 23/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_10_lg.jpg)
Jorge Merced, The Bolero Was My Downfall, 2006.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 24/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_11_lg.jpg)
Jorge Merced, The Bolero Was My Downfall, 2006.

fotos: Erika Rojas

O ator e diretor Jorge Merced é uma transloca séria, uma artista e ativista, profundamente
porto-riquenha, com espanhol correto e claro, quase didaticamente enunciado, mas
firmemente ancorado no Bronx como membro chave do Teatro Pregones, ao qual se juntou
em 1987.[23] Também é um generoso colaborador que já trabalhou com Eduardo Alegría e
Arthur Avilés. Em um fascinante caso de afinidades e identificações translocales, Merced
oferece um dos espectáculos que, a primera vista, é o mais especificamente vinculado à
ilha: El bolero fue mi ruina (1997-2002, remontado em 2006 com cenário e figurino novos).
[24]Este espectáculo sólo, baseado no conto “Loca la de la locura” de Manuel Ramos Otero,
foi dirigido por Rosalba Rolón, com roteiro musical de Desmar Guevara e cenário de Regina
García (e, mais tarde, de Yanco Bakulic, baseado nos desenhos de García) e figurino de
Harry Nadal (2006). A peça conta com a colaboração de dois músicos em cena e já foi
apresentada várias vezes nos Estados Unidos, Europa e América Latina. No centro da peça
está o monólogo interno e as memórias de uma travesti emprisionada em Porto Rico, que
medita sobre as razões pelas quais matou seu amante, Nene Lindo. Em nenhum momento

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 25/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

se faz referência direta à diáspora na obra, embora seja fascinante como o uso da palavra
assinala a presença norte-americana na ilha através de expressões idiomáticas e de
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
referências aos produtos e lojas estrangeiras que marcam a experiência boricua.


Merced explica que a obra surgiu após ter recebido o manuscrito original das mãos de José
Olmo-Olmo, um amigo do falecido autor, que viveu a maior parte de sua vida adulta em
exílio (o sexílio) auto-imposto devido à intolerância sexual que sentia em Porto Rico. O
resgate do mundo travesti, incluindo drag queens da cena de cabaret e bugarrones
(homens viris que fazem sexo com homens mas não assumem identidade gay), é uma
curiosa justaposição à memória nostálgica comum do idílio tropical marcado pela natureza
exuberante. Podemos interpretar esta obra como uma simple incursão nos assuntos latino-
americano, ou mais pontualmente porto-riquenhos (quer dizer, uma história localizada em
Porto Rico sobre personagens e práticas sociais da ilha). No entanto, enxergá-la como
produção diaspórica implica uma outra relação com o país de origem, aonde fenômenos e
realidades sociais notadamente distintas são experimentadas, mas também cuja cultura se
transporta e se mantém na diáspora. A obra atrai um público variado, tanto aqueles que se
identificam a partir da música nostálgica (o bolero) como aqueles para quem o sistema
sexual afetivo resulta particularmente reconhecível, atraente ou intrigante. Parece que a
obra tem mais a ver com o que alguns teóricos da migração como Juan Flores (1993, 1997)
apontam como as primeiras etapas culturais da migração, aonde o país de origem é
provilegiado. O interessante do Teatro Pregones é que em seu repertório se encontram
obras tanto deste tipo como outras mais ligadas à nova experiência em solo norte-
americano, localizadas concretamente em Nova York e no Bronx.[25]

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_12_lg.jpg)
Jorge Merced, The Bolero Was My Downfall, 2006.

foto: Erika Rojas

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 26/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

Em El bolero fue mi ruina, o corpo peludo e calvo do ator, de certa maneira extremamente
masculino, se converte primeiro em presidiário envelhecido, depois em travesti boricua—
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
ícone da musicalidade sexualizada—e por último em um amante sedutor viril que logo será
assassinado. O ator, portanto, se traveste tanto em masculino como em feminino, ambas

apresentações de gênero construídas a partir de uma performance corporal, que faz
lembrar as teorizações de Judith Butler sobre a performatividade do gênero. Também é
notável que esta obra tão porto-riquenha seja produzida fora da ilha, num momento em que
a maioria das obras gays apresentadas na cena local eram traduções e adaptações de
obras norte-americanas tais como Los muchachos del combo (uma versão da terrível Boys in
the Band de Mart Crowley, escrita no começo dos anos setenta) e a levemente melhor La
jaula de las locas (uma reinterpretação de La cage aux folles).

A boneca de Maéva joga no Bronx

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_13_lg.jpg)
Arthur Avilés, Untitled, 1997.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 27/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_14_lg.jpg)
esquerda à direita na foto: Rhina Valentín e Arthur Avilés, Super Maéva de Oz, 2000.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 28/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

(/images/e-misferica/8.1_images/81_lafountain_15_lg.jpg)
Arthur Avilés, Morning Dance, 2001.

fotos: Richard Shpuntoff

Arthur Avilés é uma transloca à revelia, ou então por luta deliberada e persistente; uma
transloca New York-Rican da gema, aguçada, pobre, da classe trabalhadora, queer, que
fala inglês e é do Bronx. Sua produção artística é um exemplo chave de uma consciência
estética gay nuyorican, a qual desabrochou de múltiplas maneiras: desde o balé nu e sem
música da peça A Puerto Rican Faggot from America (Um veado porto-riquenho da
América, 1996) até as complexas alegorias de dança-teatro baseadas na cultura popular e
de massa norte-americana: Arturella (1996), baseado na Ciderela de Walt Disney, e o díptico
Maéva de Oz (1997) e Dorothur’s Journey (A viagem de Dorothur, 1998), as quais reelaboram
o filme da MGM O mágico de Oz.[26] Em Arturella, Arthur se converte em um pobre órfão
nyuorican chamado Arturo, que vive no Bronx com sua malvada madrastra Maéva
(interpretada por Elizabeth Marrero) e com suas múltiplas childrens (filhos), incluindo as
irmãs Anacleta e Chancleta. Arturo sonha em ir à festa de quinze anos do princeso
(príncipe), interpretado por Jorge Merced, e seu sonho se faz realidade quando lhe aparece
sua fada madrinha Maéva (interpretada pela mesma atriz que faz sua madrastra), que lhe
dá um lindo vestido de mulher para que possa usar no baile. Em Maéva de Oz, uma atriz
(originalmente Elizabeth Marrero e mais tarde Rhina Valentín) interpreta os papéis de Maéva
e Maevacita como versões esquizofrênicas de uma Dorothy lésbica nuyorican, que consegue
sair do armário com a ajuda de seu fiel cãozinho Arturoto, enquanto caminham pelo
Expreso Bruckner em sua busca por Nuyorico. Na segunda peça, Arthur se converte em
Dorothur, incorporando diferentes elementos dos principais personagens da história em seu
figurino (o espantalho, o homem de lata e o leão covarde) tudo acompanhado por música
disco dos anos setenta e por um gigante globo espelhado de discoteca.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 29/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

Avilés usa o travestismo junto à nudez como afronta aberta às convenções dominantes de
gênero e sexualidade, muito particularmente no contexto da comunidade nuyorican do
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
Bronx(La Fountain, 2007a, 2009c). Ambas estratégias ou práticas corporais são usadas de
maneira muito consciente como forma de desafiar as convenções dominantes e abrir novos

espaços. O compromisso de Avilés e de seu ex- companheiro Charles Rice-González com a
comunidade de Hunts Point (Bronx) os motivou a criar uma instituição cultural chamada
BAAD: The Bronx Academy of Arts and Dance, localizada no edificio comercial American
Banknote, que era uma antiga fábrica com amplo espaço sub-utilizado. No edifício há (ou
houve, no final dos anos noventa) vários estúdios de baixo custo para artistas. A BAAD
mantém um teatro com piso profissional para representações teatrais e de dança, aonde
também há eventos de música, poesia e cinema. Certa vez, Avilés e Rice-González
estiveram no centro de uma controvérsia sobre censura, pois um cartaz que anunciava
serviços de saúde e de prevenção à AIDS com a foto do casal foi retirado pela empresa que
controla os pontos de ônibus no Bronx após receber queixas sobre o conteúdo do mesmo. O
compromisso destes artistas com sua comunidade e com a classe trabalhadora e de cor se
manifesta de múltiplas maneiras, seja através das artes ou do ativismo político nas ruas.

Conclusão
Como vimos, os performers gays porto-riquenhos e nuyorican têm desenvolvido diversas
estratégias de representação que establecem continuidades e rupturas em termos de
geografía, identidade de gênero e práticas sexuais. Ser/estar uma transloca ou habitar o
estado transloca é um assunto múltiplo, contraditório e polisêmico. Outros artistas
fundamentais que fazem um trabalho parecido ou relacionado são Antonio Pantojas, que
por muitos anos foi o travesti mais conhecido do país (Laureano, 2007), tendo inclusive tido
seu próprio programa de televisão, o qual influenciou o jovem Jorge Merced; Marcus
Kuiland-Nazario, também conhecido como Carmen, um ativista radical na luta contra a
AIDS que segue o projeto político e estético do mais conhecido Teatro Viva de Los Angeles;
[27] diversos travestis e transsexuais que se expressam através da dublagem, como Laritza
DuMont e a falecida Lady Catiria, que se apresentava na discoteca nova-iorquina La
Escuelita (La Fountain, 2009a); e artistas em Porto Rico como Alex Soto e Barbra Herr, que
dominam (ou dominaram, em seu momento) a vida noturna de San Juan em lugares como
o Atlantic Beach Hotel do Condado e a discoteca Krash (antiga Eros) de Santurce. Mais
recentemente, um grupo novo e mais jovem de drag queens porto-riquenhas como Nina
Flowers, Jessica Wild, Yara Sofía e Alexis Mateo vêm recebendo considerável visibilidade
internacional através da participação nas primeiras três temporadas de RuPaul’s Drag
Race, no canal Logo TV. As cinco translocas que eu discuti aqui gozam de certa visibilidade
como membros de uma cena cultural alternativa, em alguns casos experimental, às vezes
plenamente integrados e outras vezes opostos às correntes dominantes de nossos tempos.
Me interessa enxergar como eles articulam ou resistem posicionamentos a respeito das
práticas e identidades queer, homossexuais e travestis; como a aproximação de cada um
ao tema pode ser tão diversa e como têm colaborado (às vezes muitíssimo) uns com os
outros.

E afinal, seriam estes cinco artistas translocas? Certamente, se enterdemos que seus
trabalhos se movem dentro do translocal, transgênero e transgressivo, podemos
argumentar com convicção que todos eles partilham de algo distinto, radical e novo; algo
muito próprio de nosso momento histérico-histórico. Evidentemente, cada um também
guarda suas próprias características, seus interesses temáticos, suas técnicas e modos de
representação. Sinto que a cultura porto-riquenha gay e transgênero (para não dizer toda a
cultura porto-riquenha, latina dos Estados Unidos, latino-americana ou mundial) se
enriquece da convergência e divergência destes talentosos artistas, que se movem entre
Porto Rico e os Estados Unidos, e que se identificam com um ou mais pontos desta nação ou
cultura translocal.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 30/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

Lawrence La Fountain-Stokes (San Juan, 1968) é um escritor, performer e acadêmico porto-


riquenho. Formou-se em Harvard em 1991 e fez doutorado na Columbia em 1999. É professor
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
associado de cultura americana e línguas e literaturas românicas na Universidade de
Michigan, em Ann Arbor. Entre seus livros publicados está Queer Ricans: Cultures and

Sexualities in the Diaspora (University of Minnesota Press, 2009) e Uñas pintadas de azul/Blue
Fingernails (Bilingual Press/Editorial Bilingüe, 2009).

Notas

[1] Sobre sexílio ver Guzmán 1997; La Fountain-Stokes 2004a e 2008a.

[2] Para elaborações anteriores sobre translocas ver La Fountain-Stokes 2008b, 2009a,
2009b.

[3] Lisa Sánchez González (2001) é uma defensora fervorosa pela separação dos dois
contextos, como ela argumenta em seu livro Boricua Literature.

[4] Sobre translocalidade porto-riquenha, ver Grosfoguel 2003, Laó 1997, e Santos Febres
1993. Sobre migrações globais, exílio e translocalidade, ver Bhabha 1990 e Said 2002.

[5] Ver Fiet 1997. Para leituras adicionais sobre as conexões entre migração e
teatro/performance porto-riquenho, ver Duncan 1999, Lazú 2002, Martínez Tabares 1997,
Sandoval-Sánchez 1999 e 2005, e Stevens 2004.

[6] Ver La Fountain-Stokes, Queer Ricans (2009).

[7] Ver La Fountain-Stokes 2007; Martorell 1993; Rafael Ramírez 1999.

[8] Ver Fiet 2006, Jiménez 2004: 252, e King 2005 sobre a figura da loca nas fiestas de
Santiago Apóstol em Loíza Aldea.

[9] Ver Arroyo 2003 para uma discussão sobre Ortiz.

[10] Ver os vários artigos interessantes sobre esse assunto no número especial sobre “Trans-”,
WSQ: Women’s Studies Quarterly 36, no. 3-4 (Fall/Winter 2008).

[11] “Cabe también destacar, dentro de la poética de la experimentación, un pensamiento


de la transgresión, en virtud del cual la demarcación de los medios desaparece: la fotografía
se hace pintura, la pintura se hace signo, los motivos se tornan materiales de ingenio y
construcción, las imágenes se transportan, literalmente, al acopio y conquista de los
espacios, y el cuerpo propio o ajeno se vuelve motivo u ocasión de una experiencia artística.
Las obras de Antonio Martorell, Charles Juhasz, Arnaldo Morales, Ana Rosa Rivera, Teo
Freytes, Freddie Mercado, Víctor Vázquez y, más recientemente, la de Paloma Todd,
apuntarían en esta dirección” (Ramos 1998, n.p.).

[12] Para uma versão revisada da fala de Wesling ver seu artigo “Why Queer Diaspora?”
(2008).

[13] Sobre Superaquello, ver Blasini 2007 e 2011 e Noel 2001.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 31/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

[14] “Mi obra es un performance constante,” o artista foi citado dizendo num artigo de
Mercedes T. H. Ramírez (1999). Ver também Barragán 1998, Jiménez 2004: 247-265, La
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
Fountain-Stokes 2009b, e Venegas 1998.


[15] Ver Juliá 2000 e Roche 2000 sobre as colaborações de Mercado com a Andanza,
especialmente durante a viagem deles à Espanha para o First Festival of Performance
patrocinado pela Casa da América em Madrid.

[16] Ver de Cuba (n.d.) e Aponte Ramos 1997 sobre as colaborações de Mercado com a
dançarina, artista visual e artista de cabaret Awilda Sterling.

[17] A performance de Johnny Rodríguez como doña Fela é registrada na coprodução


México-Porto Rico Puerto Rico en Carnaval (1965), com o humorista mexicano Tin Tan. Sobre
El Cotorrito ver Laureano 2007.

[18]> Uma alusão antiga aparece em 1991 no San Juan Star, quando Peggy Ann Bliss
começou sua resenha da noite de estréia da Ninth Biennial of Caribbean and Latin
American Graphic Arts fazendo referência a Mercado, que compareceu ao evento
completamente vestido de preto com um longo véu, ao estilo de uma cortesã da
Renascença.

[19] Mercado apresentou a peça “Coco Barroco” em Santo Domingo, Repúbica


Dominicana, em 1995, como parte da exposição multi-disciplinar “Aproximación del Caribe”
no Colegio Dominicano de Artistas Plásticos. Ele apresentou uma variação desta peça no
Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporánero (MEIAC) em Badajoz,
Espanha, em 1998, como parte da exposição “Caribe: Exclusión, fragmentación y paraíso”.
Ele retornou à Espanha em 2000 com Andanza. Em 2001, ele participou do “Aquí y Allá: Six
Artists from San Juan, PR” no Museo del Barrio em Nova York. Ele também apresentou em
Nova York nos shows El manjar de los dioses.

[20] Sobre esta peça, ver Arroyo 2002, Martínez Tabares 1997 e 2004, Platón 1997, e Rivero
2006. As fotos de Villafañe apareceram depois no website Cuarto del Quenepón junto ao
artigo de Platón.

[21] Ver Rosado 1997.

[22] Ver Kourias 1997, La Fountain-Stokes (“Spookiricans de Eduardo Alegría,” 1997), Méndez
(“¿Cómo se traduce ‘performance’?,” 1997) e “Spooky Doings” (1997).

[23] Para uma história do Teatro Pregones, ver Vásquez 2003, bem como o website,
www.pregones.org. Ver também entrevista com Rosalba Rolón e Alvan Colón por Vivian
Martínez Tabares (Rolón e Colón 1997).

[24] Sobre esta peça do Teatro Pregones, ver Ferrer 1999, Glickman 1997, La Fountain-Stokes
1997, 2005, e 2008b, e Méndez 1997. Eu estou ciente das limitações de me referir a este
trabalho privilegiando Jorge Merced e não como a criação coletiva do Teatro Pregones que
é. Também vale lembrar o trabalho feito pelo Pregones para promover ampla consciência
da AIDS usando teatro fórun (inspirado em Augusto Boal) e a iniciativa direcionada a
promover a escrita de peças que tocassem em questões de identidade e orientação sexual,
chamada Asunción Playwrights Project (La Fountain-Stokes, 2004b).

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 32/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

[25] Ver Flores 1993, particularmente seus artigos “Puerto Rican Literature in the United
States: Stages and Perspectives” e “‘Qué assimilated brother, yo soy asimilao’: The
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
Structuring of Puerto Rican Identity in the United States.”


[26] Sobre Avilés, ver La Fountain-Stokes 2002, 2007a, e 2009, e Rivera Servera 2003 e 2007.

[27] Sobre Kuiland-Nazario, ver Martínez 1994. Sobre Teatro Viva, ver Román 1998.

Obras Citadas

Álvarez Lezama, Manuel. 1995a. “Expansion in the Art World.” San Juan Star 2 February: 44.

-----. 1995b. “Los novísimos: espacios de libertad en las artes visuales de Puerto Rico a fines
del siglo XX.” In Polifonía salvaje: Ensayos de cultura y política en la postmodernidad, edited
by Irma Rivera Nieves and Carlos Gil, 245-257. San Juan: Editorial Postdata.

-----. 1995c. “The Body in Masks and Metaphors.” San Juan Star 8 October: 16-17.

Aponte Ramos, Lola. 1997. “Experimentación y canciones de amargue, o cuando una artista
de cabaret se llama Awilda Sterling.” Claridad 25 April-1 May: 26-27.

Arroyo, Jossianna. 2002. “Espejito, espejito: Raza y formación de identidades


puertorriqueñas en ‘You don’t look like’ de Javier Cardona”. En Morada de la palabra:
homenaje a Luce y Mercedes López-Baralt, Vol 1., compilado por William Mejías López, 162-
179. San Juan: Editorial de la Universidad de Puerto Rico.

-----. 2003. Travestismos culturales: literatura y etnografía en Cuba y Brasil. Pittsburgh:


Universidad de Pittsburgh, Instituto Internacional de Literatura Iberoamericana.

"Arte puertorriqueño de cara al milenio: identidad, alteridad, y travestismo." 1998. In Arte del
Caribe. Exhibition catalog. Badajoz, Spain: Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte
Contemporáneo. Also available online at Arteamérica
(http://www.arteamerica.cu/2/dossier/haydee.htm).

Barragán, Paco. 1998. “Caribe: exclusión, fragmentación y paraíso.” Noticias de arte


(Summer): 16-17.

Bhabha, Homi K. 1990. “DissemiNation: Time, Narrative, and the Margins of the Modern
Nation.” In Nation and Narration, edited by Homi K. Bhabha, 291-322. London: Routledge.

Blasini, Gilberto M. 2002. “Eduardo Alegría o las tribulaciones de ser un Nice Puerto Rican”.
En Saqueos: Antología de Producción Cultural, compilado por Dorian Lugo Beltrán, (s.p.).
Puerto Rico: Editorial No Existe.

-----. 2007. “¡Bien Gorgeous!: The Cultural Work of Eduardo Alegría.” CENTRO: Journal of the
Center for Puerto Rican Studies 19, no. 1 (Spring): 250-273. http://redalyc.uaemex.mx/pdf/3
77/37719113.pdf (http://redalyc.uaemex.mx/pdf/377/37719113.pdf)

-----. 2011. “Raro.” 80 grados.6 May 2011. Accessed 9 May 2011.


http://www.80grados.net/2011/05/raro/ (http://www.80grados.net/2011/05/raro/)

Bliss, Peggy Ann. 1991. “Intellectual Climate Permeates Biennial’s Opening.” San Juan Star 26
February: 29.
https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 33/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

Butler, Judith. 1990. Gender Trouble. New York: Routledge.

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
Cardona, Javier. 1997. You don’t look like. Conjunto 106 (May-August): 47-49.


-----. 1999. You don’t look like... Translated by Annette Guevárez and Lowell Fiet. In A
Gathering of Players and Poets/Un convite de poetas y teatreros: Proceedings of the
Caribbean 2000 Symposium III (1998), edited by Lowell Fiet and Janette Becerra, 13-17. San
Juan: Caribe 2000/Universidad de Puerto Rico.

-----. 2003. You don't look like... Video. Hemispheric Institute Digital Video Library. Accessed 10
May 2011. http://hidvl.nyu.edu/video/000512616.html
(http://hidvl.nyu.edu/video/000512616.html)

Collazo, Valeria. 2011. "Taller de Otra Cosa anuncia su nueva producción." 80 grados. 29
April. Accessed 10 May 2011. http://www.80grados.net/2011/04/taller-de-otra-cosa-anuncia-
su-nueva-produccion/ (http://www.80grados.net/2011/04/taller-de-otra-cosa-anuncia-su-
nueva-produccion/)

Cruz Malavé, Arnaldo. 1995. "Towards an Art of Transvestism: Colonialism and Homosexuality
in Puerto Rican Literature." In ¿Entiendes? Queer Readings, Hispanic Writings, edited by
Emilie Bergmann and Paul Julian Smith, 137-167. Durham: Duke University Press.

Cullen, Deborah. 2001. "El Caribe imaginario [Freddie Mercado]." In Here and There/Aquí y
Allá: Six Artists From San Juan, PR, 52-63. New York: El Museo del Barrio.

De Cuba, Natalia. "Come to the Cabaret." San Juan Star. Photocopy.

Del Castillo, Nelson. 2000. "Ivette Román al rescate del cabaret." Primera Hora 29 November:
3B.

De Jesús, Dyanis. "El arte que se pone." Photos by Rosario Fernández. Photocopy.

Duany, Jorge. 2002. The Puerto Rican Nation on the Move: Identities on the Island and in the
Unites States. Chapel Hill: University of North Carolina Press.

Duncan, Martin Louis. 1999. "El sabor de Puerto Rico en el teatro estadounidense." In A
Gathering of Players and Poets/Un convite de poetas y teatreros: Proceedings of the
Caribbean 2000 Symposium III (1998), edited by Lowell Fiet and Janette Becerra, 178-197. San
Juan: Caribe 2000/Universidad de Puerto Rico.

Ferrer, Melba. 1999. "Mapping Life Through a Bolero." San Juan Star 4 May.

Fiet, Lowell. 1997. "El teatro puertorriqueño: puente aéreo entre ambas orillas." Conjunto 106
(May-August): 55-59.

-----. 1999. "Hablar, nombrar, pertenecer: el juego entre el idioma y la identidad en la(s)
cultura(s) caribeña(s)." In A Gathering of Players and Poets/Un convite de poetas y teatreros:
Proceedings of the Caribbean 2000 Symposium III (1998), edited by Lowell Fiet and Janette
Becerra, 5-11. San Juan: Caribe 2000/Universidad de Puerto Rico.

-----. 2004. El teatro puertorriqueño reimaginado: notas críticas sobre la creación dramática
y el performance. San Juan: Ediciones Callejón.

-----. 2006. "Las Fiestas (imparables) de Santiago Apóstol." Claridad 17-24 August: 16, 29.
https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 34/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

Flores, Juan. 1993. Divided Borders: Essays on Puerto Rican Identity. Houston: Arte Público
Press.
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
-----. 1997. La venganza de Cortijo y otros ensayos. Río Piedras: Ediciones Huracán.

-----. 2000. From Bomba to Hip-Hop: Puerto Rican Culture and Latino Identity. New York:
Columbia University Press.

-----. 2009. The Diaspora Strikes Back: Caribeño Tales of Learning and Turning. New York:
Routledge.

Gelpí, Juan. 1993. Literatura y paternalismo en Puerto Rico. San Juan: Editorial de la
Universidad de Puerto Rico.

Glickman, Nora. 1997. "Manuel Ramos Otero: El bolero fue mi ruina." Latin American Theatre
Review 31, no. 1 (Fall): 170-173.

Grosfoguel, Ramón. 2003. Colonial Subjects: Puerto Ricans in a Global Perspective. Berkeley:
University of California Press.

Guzmán, Manuel. 1997. "Pa la Escuelita con mucho cuidao y por la orillita: A Journey
Throught the Contested Terrains of the Nation and Sexual Orientation." In Puerto Rican Jam:
Essays on Culture and Politics, edited by Frances Negrón-Muntaner and Ramón Grosfoguel,
209-228. Minneapolis: University of Minnesota Press.

-----. 2006. Gay Hegemonies/Latino Homosexualities. New York: Routledge.

Jiménez, Félix. 2004. Las prácticas de la carne: construcción y representación de las


masculinidades puertorriqueñas. San Juan: Ediciones Vértigo.

Juliá, Luis Enrique. 2000. "Andanza en la península ibérica." El Nuevo Día 19 July: 116.

King, Rosamond. 2004-2005. "Dressing Down: Male Transvestism in Two Caribbean


Carnivals." Sargasso Special Issue: 25-36.

Kourias, Gia. 1997. "Emotional Rescue". Time Out New York 8-15 May. Photocopy.

La Fountain-Stokes, Lawrence. 1997. "Bolero, memoria y violencia." Conjunto 106 (May-Aug.):


68-69.

-----. 1997. "Spookiricans de Eduardo Alegría." Claridad 6-12 June: 29.

-----. 1999. "1898 and the History of a Queer Puerto Rican Century: Gay Lives, Island Debates,
and Diasporic Experience." CENTRO: Journal of the Center for Puerto Rican Studies 11, no. 1
(Fall): 91-109.

-----. 2004a. “De sexilio(s) y diáspora(s) homosexual(es) latina(s): El caso de la cultura


puertorriqueña y nuyorican ‘queer.’” Debate feminista 15, no. 29 (abril): 138-57.

-----. 2004b. "Pregones Theater's 2003 Asunción Playwrights Project." Latin American Theatre
Review 37, no. 2 (Spring): 141-146.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 35/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

-----. 2005. "Entre boleros, travestismos y migraciones translocales: Manuel Ramos Otero,
Jorge Merced" y "El bolero fue mi ruina del Teatro Pregones del Bronx." Revista
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
Iberoamericana 71, no. 212 (July-Sept.): 887-907.


-----. 2007a. "A Naked Puerto Rican Faggot from America: An Interview with Arthur Avilés."
CENTRO: Journal of the Center for Puerto Rican Studies 19, no. 1 (Spring): 314-329.
http://redalyc.uaemex.mx/pdf/377/37719115.pdf
(http://redalyc.uaemex.mx/pdf/377/37719115.pdf)

-----. 2007b. "Queer Ducks, Puerto Rican Patos, and Jewish American Feygelekh: Birds and
the Cultural Representation of Homosexuality." CENTRO: Journal of the Center for Puerto
Rican Studies 19, no.1 (Spring): 192-229. http://redalyc.uaemex.mx/pdf/377/37719111.pdf
(http://redalyc.uaemex.mx/pdf/377/37719111.pdf)

-----. 2008a. "Queer Diasporas, Boricua Lives: A Meditation on Sexile." Review: Literature and
Arts of the Americas 41, no. 2 (Fall): 294-301.

-----. 2008b. "Trans/Bolero/Drag/Migration: Music, Cultural Translation, and Diasporic Puerto


Rican Theatricalities." WSQ: Women's Studies Quarterly 36, no. 3-4 (Fall/Winter): 190-209.

-----. 2009a. "Adoración de Lady Catiria: consumo, gasto y performance


transpuertorriqueño en Nueva York." Revista Re-d: arte, cultura visual y género [Mexico] 0
(2009). http://revista-red.pueg.unam.mx/360/lafountain_larry.html (http://revista-
red.pueg.unam.mx/360/lafountain_larry.html)

-----. 2009b. "Freddie Mercado y el travestismo radical: entre Doña Fela, Myrta Silva,
gallo/gallina y muñeca esperpéntica." In Representación y fronteras: el performance en los
límites del género, edited by Stephany Slaughter and Hortensia Moreno, 113-132. Mexico:
Programa Universitario de Estudios de Género (PUEG), Universidad Autónoma Nacional de
México (UNAM).

-----. 2009c. Queer Ricans: Cultures and Sexualities in the Diaspora. Minneapolis: University of
Minnesota Press.

Laó, Agustín. 1997. "Islands at the Crossroads: Puerto Ricanness Traveling between the
Translocal Nation and the Global City." In Puerto Rican Jam: Essays on Culture and Politics,
edited by Frances Negrón-Muntaner and Ramón Grosfoguel, 169-188. Minneapolis: University
of Minnesota Press.

Laureano, Javier E. 2007. "Antonio Pantojas se abre el traje para que escuchemos el mar:
una historia de vida transformista." CENTRO: Journal of the Center for Puerto Rican Studies
19, no.1 (Spring): 330-349. http://redalyc.uaemex.mx/pdf/377/37719116.pdf
(http://redalyc.uaemex.mx/pdf/377/37719116.pdf)

Lazú, Jacqueline. 2002. "Nuyorican Theatre: Prophecies and Monstrosities." Ph.D. diss.,
Stanford Univ.

Lugo Bertrán, Dorian. "Crónicas de la vida nocturna gay y lésbica de Puerto Rico."
Manuscript.

-----. 1998. "Noventa y ochos." In 100 años después... Cien artistas contemporáneos. Exhibition
catalog. Arsenal de la Puntilla, San Juan, Puerto Rico. 25 Nov.

Martínez, Rubén. 1994. "Carmen, a.k.a. Marcus Kuiland-Nazario." High Performance 17: 36-37.
https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 36/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

Martínez-San Miguel, Yolanda. 2003. Caribe Two Ways: Cultura de la migración en el Caribe
insular hispánico. San Juan: Ediciones Callejón.
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
Martínez Tabares, Vivian. 1997 "La escena puertorriqueña vista desde fuera/dentro."

Conjunto 106 (May-August): 3-12.

-----. 2004. "Caribbean Bodies, Migrations, and Spaces of Resistance." TDR 48 (Summer): 24-
32.

Martorell, Antonio. 1993. "Nominación, dominación y desafío." Piso 13 [San Juan, PR] 2, no. 3:
10.

Méndez, Juan M. 1997. "¿Cómo se traduce 'performance'?" El Diario/La Prensa 8 May: 21.

-----. 1997. "Dressed for the Bolero". El Diario/La Prensa 13 Feb.

Muñoz, José Esteban. 1999. Disidentifications: Queers of Color and the Performance of
Politics. Minneapolis: University of Minnesota Press.

Negrón-Muntaner, Frances. 2004. Boricua Pop: Puerto Ricans and the Latinization of
American Culture. New York: New York University Press.

Noel, Urayoán. 2001. "Los grises felices: el evangelio pop según Súperaquello y El manjar de
los dioses." El cuarto del quenepón. Biblioteca virtual: música. 1 Feb.
http://cuarto.quenepon.org/ (http://cuarto.quenepon.org/) (accessed 2006, no longer
online).

Ochoa, Marcia. 2004. “Ciudadanía perversa: divas, marginación y participación en la ‘loca-


lización’”. En Políticas de la ciudadanía y sociedad civil en tiempos de globalización,
compilado por Daniel Mato, 239-56. Caracas: FACES, Universidad Central de Venezuela.

-----. 2008. "Perverse Citizenship: Divas, Marginality, and Participation in 'Loca-Lization.'"


WSQ: Women's Studies Quarterly 36, no. 3-4 (Fall/Winter): 146-169.

Platón, Lydia. 1997. "Otras experiencias de identidad: el lenguaje corporal en el teatro y la


danza contemporánea en el Puerto Rico de los 90." Paper presented at the Caribbean
Studies Association conference. Barranquilla, Colombia. 27-30 May. El cuarto del quenepón.
Biblioteca virtual: movimiento corporal . 1 Aug. http://cuarto.quenepon.org/
(http://cuarto.quenepon.org/) (accessed 2006, no longer online).

Ramírez, Mercedes T. H. 1999. "España mira a nuestros artistas." El Nuevo Día 10 Jan.: 12-17.

Ramírez, Rafael L. 1999. What It Means to Be a Man: Reflections on Puerto Rican Masculinity.
Trans. Rosa E. Casper. New Brunswick, NJ: Rutgers University Press.

Ramos, Francisco José. 1998. "La insumisión de la experiencia artística (Una conflagración
de pensamientos)." In 100 años después... Cien artistas contemporáneos. Exhibition catalog.
Arsenal de la Puntilla, San Juan, Puerto Rico. 25 Nov. http://www.dmz-
pr.com/cien/paco.html (http://www.dmz-pr.com/cien/paco.html) (accessed 2006, no
longer online).

Ramos Otero, Manuel. 1990. "The Queen of Madness." Trans. Amy Prince. The Portable Lower
East Side 7, no. 1: 113-23.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 37/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

-----. 1992. "Loca la de la locura." In Cuentos de buena tinta, 233-240. San Juan: Instituto de
Cultura Puertorriqueña.
(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
Ríos Avila, Rubén. 1995. "Gaiety Burlesque: Homosexual Desire in Puerto Rican Literature." In

Polifonía salvaje: Ensayos de cultura y política en la postmodernidad, edited by Irma Rivera
Nieves and Carlos Gil, 138-146. San Juan: Editorial Postdata.

-----. 1998. "Caribbean Dislocations: Arenas and Ramos Otero in New York." In Hispanisms
and Homosexualities, edited by Sylvia Molloy and Robert McKee Irwin, 101-119. Durham: Duke
University Press.

Rivera Servera, Ramón. 2003. "Grassroots Globalization, Queer Sexualities, and the
Performance of Latinidad." Ph.D. diss., University of Texas, Austin.

-----. 2007. "Latina/o Queer Futurities: Arthur Aviles Takes on the Bronx." Ollantay Theater
Magazine 15, no. 29–30: 127–146.

Rivero, Yeidy M. 2006. "Channeling Blackness, Challenging Racism: A Theatrical Response."


Global Media and Communication 2, no. 3: 335-354.

Roche, Mario Edgardo. 2000. "Pisa firme en España." Primera Hora 22 May. Photocopy.

Rolón, Rosalba and Alvan Colón. 1997. "Pregones: grupo, organización, empresa." Interview
by Vivian Martínez Tabares. Conjunto 106 (May-August): 60-67.

Román, David. 1998. Acts of Intervention: Performance, Gay Culture, & AIDS. Bloomington:
Indiana University Press.

Rosado, José O. 1997. "Seis piezas 'liminales' de la 'nueva' nueva dramaturgia


puertorriqueña." Conjunto 106 (May-August): 50-54.

Said, Edward W. 2002. "Reflections on Exile." In Reflections on Exile and Other Essays, 173-186.
Cambridge: Harvard University Press.

Sánchez González, Lisa. 2001. Boricua Literature: A Literary History of the Puerto Rican
Diaspora. New York: New York University Press.

Sandoval Sánchez, Alberto. 1997. "Puerto Rican Identity Up in the Air: Air Migration, Its
Cultural Representations, and Me 'Cruzando el Charco.'" In Puerto Rican Jam: Essays on
Culture and Politics, edited by Frances Negrón-Muntaner and Ramón Grosfoguel, 189-208.
Minneapolis: University of Minnesota Press.

-----. 1999. José Can You See? Latinos On and Off Broadway. Madison: University of Wisconsin
Press.

-----. 2005. "Politicizing Abjection: Towards the Articulation of a Latino AIDS Queer Identity."
In Passing Lines, eds. Brad Epps, Keja Valens, and Bill Johnson González, 311-19. Cambridge,
Mass.: David Rockefeller Center for Latin American Studies and Harvard University Press.

Santos Febres, Mayra. 1993. "The Translocal Papers: Gender and Nation in Contemporary
Puerto Rican Literature." Ph.D. diss., Cornell Univ.

-----. 2003. "La identidad es una ficción." Orificio no. 3: 38-40.

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 38/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

Sarduy, Severo. 1982. La simulación. Caracas: Monte Ávila Editores.

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)
"Spooky Doings." 1997. HX 9 May: 21.


Stevens, Camilla. 2004. Family and Identity in Contemporary Cuban and Puerto Rican Drama.
Gainesville: University Press of Florida.

Vásquez, Eva C. 2003. Pregones Theatre: A Theatre for Social Change in the South Bronx.

Verguilla Torres, Lynnette. 1999. "La no sexualidad de Freddie Mercado." Photos by Fernando
Paez and Jova Camacho. Reacción March: 6.

Wesling, Meg. 2002. "Is the 'Trans' in Transsexual the 'Trans' in Transnational?" Paper
presented at the ACLA Conference, San Juan, Puerto Rico, April

-----. 2008. "Why Queer Diaspora?" Feminist Review 90: 30-47.

Sobre nós
O Instituto Hemisférico conecta artistas, acadêmicos e ativistas de todas as Américas e cria
novas vias de colaboração e ação. Concentrando-se na justiça social, pesquisamos
desempenho envolvido politicamente e ampliá-lo através de encontros, cursos, publicações
e arquivos. Nossa rede dinâmica e multilingue atravessa disciplinas e fronteiras e baseia-se
na crença fundamental de que a prática artística e a reflexão crítica podem estimular
mudanças culturais duradouras.

Contact
Hemispheric Institute of Performance & Politics New York University
20 Cooper Square Fifth Floor New York, NY 10003, USA

 (https://www.facebook.com/hemisphericinstitute/) 
(https://www.instagram.com/hemisphericinstitute/)  (https://twitter.com/hemisferico?
lang=en)
Junte-se a nossa lista
Nunca perca um evento ou exposição! Registre-se em nossa lista de correspondência para
receber atualizações periódicas sobre eventos, publicações e exposições.

Inscrever (https://confirmsubscription.com/h/t/CDFDCB9EB9FD787B)

Feito com  (/hemi.usdz) em Nova York. Acessibilidade


Direitos Autorais © 2021 Instituto (https://www.nyu.edu/footer/accessibility.html)  |  Política
Hemisférico de Performance e Política de privacidade (/privacy)

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 39/40
09/09/2021 18:23 e8.1 Ensaio - Translocas: migração, homossexualidade e transformismo na recente performance porto-riquenha

(HTTPS://HEMISPHERICINSTITUTE.ORG/)

https://hemisphericinstitute.org/pt/emisferica-81/8-1-essays/translocas.html 40/40

Você também pode gostar