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Universidade Estadual de Maringá

02 a 04 de Dezembro de 2015

AS CARTAS DE PAULO DE TARSO: UMA PROPOSTA


FORMATIVA PARA O HOMEM CRISTÃO DO PRIMEIRO
SÉCULO.

LUZ, Matheus Morais da (PPE/UEM)


PEREIRA MELO, José Joaquim. (Orientador/PPE/UEM)

Resumo:

O presente trabalho aborda de que forma Paulo de Tarso por meio de suas epístolas
elaborou uma proposta formativa para o homem cristão do primeiro século, elencando
elementos fundamentais para a vida cristã. Sua proposta formativa, mesmo sendo
destinada a comunidades com cotidianos e problemas diferenciados, alcançaram
prestigio e ainda na contemporaneidade ocupa lugar de prestigio nos textos tidos como
sagrados. Portanto, ao analisar as obras de Paulo de Tarso propõem-se compreender os
fundamentos do pensamento cristão do primeiro século, bem como o homem que se
pretendia formar, as características desse novo homem e como se configurava as
comunidades cristãs em sua origem.

Palavras – Chave: Paulo de Tarso. Proposta Formativa. Homem Cristão. Comunidades


Cristãs.

Considerações Iniciais

Se pretende por meio desse trabalho investigar a origem do cristianismo, uma


religião que até hoje ocupa lugar de destaque em nossa sociedade, tendo como temática
a proposta formativa para o homem cristão expressa nas epístolas de Paulo de Tarso.
Assim, buscamos compreender qual homem as epístolas paulinas se propõe formar.
O cristianismo surge em um período e contexto específico, caracterizado pela
grande expansão do Império Romano e a helenização do mundo antigo. Desta forma, o
mundo estava sedento por uma nova forma de compreensão de mundo, de homem e de
sociedade, e o homem buscando reencontrar seu lugar no mundo.

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O presente trabalho justifica-se: primeiramente pelo interesse em estudar o


fenômeno formativo na antiguidade; segundo, pelo interesse em entender e discutir a
maneira paulina de compreender o homem e a sociedade, a compreensão do modelo de
formação para o homem cristão no cristianismo primitivo; a importâncias das epístolas
paulinas para a fundamentação de uma proposta formativa para o cristianismo
primitivo; investigar como suas epístolas mesmo possuindo objetivos específicos, o de
responder a problemas particulares das comunidades remetentes, conseguiu alcançar
evidência entre os escritos tidos como sagrados, e por fim e mais importante
compreender de que forma Paulo de Tarso articula sua proposta formativa a ponto da
mesma ser aceita pelos cristãos e pelos povos considerados pagãos.
Tendo por objetivo compreender a fundamentação dada ao cristianismo
primitivo por Paulo de Tarso em suas epístolas. Para tal devemos analisar o contexto
em que o cristianismo surge e quais foram as contribuições do mesmo para a sua
formação, bem como explorar as cartas autenticas de Paulo de Tarso como materiais
que fundamentaram o cristianismo no primeiro século, examinando os conteúdos
formativos dessas obras na tentativa de compreender a concepção de homem para o
cristianismo primitivo e como essa rompeu com o nacionalismo inicial apontando para
uma pretensa universalização.

Paulo de Tarso: um homem de seu tempo

O cristianismo, que a principio podia ser entendido apenas como uma


reorganização do judaísmo, mas que posteriormente devido à influência da cultura
helênica se tornou um pensamento universal. Essa helenização do pensamento cristão
ocorre desde sua origem devido à diáspora judaica, assim em sua origem o cristianismo
era dividido em duas comunidades: os judeus cristãos e os cristãos helênicos. Essa
distinção se destacava principalmente por meio da língua, pois os primeiros faziam uso
da língua hebraica ou aramaica e o segundo grupo da língua grega.
Com esse diálogo com a cultura clássica, pode-se pensar que grande parte das
concepções de mundo, de homem e de sociedade, já pensadas em outros momentos e
particularmente no mundo greco-romano, foram assimiladas e adaptadas pela nova

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doutrina, o que possibilitou um processo de minimização das diferenças entre cristãos e


pagãos (PEREIRA MELO, 2002).
Nesse momento se destaca a figura de Paulo de Tarso, um dos principais
personagens e agentes da expansão e aceitação do cristianismo primitivo pelo mundo
considerado pagão. Paulo de Tarso nasceu por volta do ano 10 da era cristã na cidade de
Tarso, da Cilícia, atual Turquia, e morreu aproximadamente no ano 67, em Roma. A
princípio, sua formação foi realizada por seus pais, os quais eram fariseus. Em sua
juventude, teve como preceptor Gamaliel, rabino judeu, em Jerusalém, onde recebeu
uma formação farisaica (CAVICCHIOLI, 2005)
Entrementes, segundo a tradição cristã, por volta do ano 45 d.C. , a caminho de
Damasco, Paulo de Tarso caiu do cavalo, incidente que lhe gerou uma espécie de transe
no qual, segundo ele, teria entrado em contato com o próprio Jesus, fato que motivou a
sua conversão. A partir dessa experiência, ele iniciou seu magistério, que durou de doze
a treze anos, nos quais percorreu as grandes cidades do Império Romano: Antioquia,
Atenas, Corinto, Éfeso e Roma. (SILVA, 2010).
Assim, buscaremos compreender como Paulo de Tarso conseguiu por meio de
suas epístolas, as quais eram destinadas a comunidades especificas e que respondiam a
problemas particulares, fundamentar uma proposta formativa universal para o
cristianismo primitivo, a ponto de alcançar ainda hoje um lugar de destaque entre os
escritos tidos como sagrados?
Uma vez que suas epistolas foram e é uma das grandes expressões do
cristianismo do primeiro século, faremos a leitura e analise de suas epístolas, porém
somente as que são consideradas autenticas de Paulo de Tarso, as quais são: As duas aos
Coríntios, a Primeira aos Tessalonicenses, a Epístola aos Filipenses, aos Gálatas, aos
Romanos e a Filêmon. Nelas buscaremos destacar os elementos formativos de sua
proposta formativa para o homem cristão, as concepções de mundo, de homem e de
sociedade, além de buscar a compreensão de sua relevância para a fundamentação do
cristianismo primitivo.

A variedade das situações e a multiplicidade dos problemas


enfrentados, porém, não o impediram de desenvolver um
aprofundamento teológico unitário da fé cristã. Isso foi possível
porque ele se deixou constantemente guiar por uma precisa

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intuição de fundo. Ou seja: Jesus de Nazaré, crucificado e


ressuscitado, é o único e definitivo caminho de salvação para
todos os homens. (BARBAGLIO, 1989 p.50)

Portanto, ao analisar as obras de Paulo de Tarso nos propomos a compreender os


fundamentos do pensamento cristão do primeiro século, bem como o homem que se
pretendia formar, as características desse novo homem e como se configurava as
comunidades cristãs em sua origem.

Proposta paulina: a universalização

O contexto histórico em que a proposta formativa paulina para o cristianismo


primitivo foi criada, por julgamos o mesmo importantíssimo para chegarmos a tal
compreensão, uma vez que este aponta as pegadas que levaram o cristianismo primitivo
a romper com o particularismo existente nas propostas dos primeiros apóstolos,
alcançando assim um caráter universal.
Os escritos de Paulo de Tarso são a maior herança do pensamento cristão do
primeiro século, pois foi por meio deles que Paulo de Tarso fundamentou sua proposta
de homem e de sociedade para sua época.

[...] o epistolário de Paulo constitui sua mais preciosa herança


espiritual. Se os destinatários eram, naquela época, poucas
centenas de pessoas, com o decorrer dos anos e dos séculos, os
interlocutores se tornaram gerações inteiras. Nós mesmo, hoje,
podemos ouvi-lo através do texto de suas Epístolas.
(BARBAGLIO, 1934, p.196 - 197)

A fim de alcançar o objetivo proposto deste trabalho se faz necessário destacar a


importância da compreensão das influências recebidas pelo cristianismo primitivo, as
quais tornaram possível a sua efetivação e expansão. Portanto, temos que considerar que
o cristianismo mesmo tendo como base fundamental o judaísmo foi na cultura helênica
que encontrou sua universalidade.

Uma lenda querer considerar que o nascimento do cristianismo


dependeu integralmente do judaísmo e foi arrancado da
Palestina para conquistar o mundo por meio de um dogma e uma
ética esboçada em largos traços (ENGELS, 1969, p.20).

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O cristianismo se construiu na relação entre a cultura judaica e helênica, as


quais foram à base da formação educacional de Paulo de Tarso devido ao contexto em
que o mesmo nasceu e viveu, e é o seu suporte para a elaboração de uma proposta
formativa para o cristianismo primitivo.

Assim, o cristianismo não pode ser pensado nem compreendido


em sua totalidade sem as contribuições desse pensamento
constituído historicamente; as quais, contraditoriamente, foram
fundamentais para a negação da própria cultura greco-romana.
(CAVICCHIOLI, 2005, p. 09)

Desta forma, principalmente pelo magistério de Paulo de Tarso o cristianismo


ganhou por meio da relação das culturas judaica e helênica um caráter universal, sendo
dirigida agora a todos os homens indiferentes da nacionalidade ou posição social.

Na medida em que superou qualquer caráter estreitamente


nacional e caminhou para uma resoluta universalização, na
medida em que aboliu as diferenças espirituais básicas entre os
homens de diferentes nacionalidades, raças ou classes sociais,
declarando que todos os indivíduos – inclusive os escravos –
eram filhos de Deus, a religião cristã, do ponto de vista do seu
conteúdo social, assinalou um avanço em relação à perspectiva
da filosofia da antigüidade clássica, que não reconhecia a
condição humana aos escravos (KONDER, 1969, p.69).

Assim, o cristianismo rompe com as tradições judaicas e com a lei mosaica, a


justificação não era mais por meio da lei ou dos ritos religiosos do judaísmo e sim por
meio da morte e ressurreição de Cristo. Agora Cristo passa a ser o modelo de homem a
ser formado, o qual não era mais o circunciso, mas sim o santificado.

O resultado é que não será uma Igreja nem exclusivamente de


circuncisos, nem exclusivamente de incircunciso: o chamado
divino à salvação atinge todo o povo e todo homem, em sua
individualidade histórica, exigindo deles não uma transformação
cultural-religiosa, mas uma virada radical da existência, baseada
na esperança e do amor. (BARBAGLIO, 1989 p.50)

Portanto, a formação do novo homem, o homem cristão ocorre segundo o


modelo e Cristo, ele deve ser imitado pelas comunidades cristãs, pois ele seria a
essência do novo homem, a base para a compreensão das características do homem a ser
formado na pedagogia paulina.

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Com base nesses referenciais, a pedagogia paulina orientou a


educação cristã, no sentido de uma busca incessante da unidade
de vida, da exortação para a plenitude humana e a plenitude
sobrenatural. Para o cristão, a educação transformou-se no
caminho da santificação, da instrumentalização de seus adeptos
para seguir o exemplo e a doutrina de Cristo, do processo de
transformação no próprio Cristo. (PEREIRA MELO, 2011,
p.34)

Paulo de Tarso, portanto, em sua obra centraliza a figura de Jesus Cristo no


plano salvifico de Deus, algo que é visível na analise de suas epístolas, as quais mesmo
sendo destinadas a comunidades diferentes possuem nessa questão a sua
homogeneidade. Cristo é a base interpretativa do evangelho e plano de Deus para a
redenção da humanidade.

Não é difícil mostrar, no epistolário paulino, a centralidade


histórico-salvífica de Jesus. O anúncio cristão é “o evangelho de
cristo”, isto é, diz respeito à sua pessoa e, particularmente, ao
evento de sua morte e ressurreição (Rm 1,9; 1Cor 2,12;
9,13;10,14; Gl 1,7; Fl 1,27; 1Ts 3,2). A fé é adesão a ele (Gl
2,16; Fl 1,29; Rm 3,22.26; Gl 2,16.20; 3,22.26; Fl 3,9; Fm 5). A
existencia cristã se define como um existir “em Cristo”, “no
Senhor”, onde a proposição não exprime união mística, mas
participação na sua vida de ressuscitado. “A lei de Cristo”
comanda o agir dos fiéis (Gl 6,2). E a salvação final consiste na
comunhão indefectível com ele: “. . . etaremos sempre com o
Senhor” (1Ts 4,17; cf. 1Ts 5,10 Fl 1,23). Numa palavra, ele é o
protótipo da Nov humanidade, como Adão o foi da antiga (Rm
%,12-21; 1Cor 15, 21-22.45-49). (BARBAGLIO, 1989 p.50)

O epistolário paulino, mesmo tendo como objetivo inicial responder a problemas


particulares das comunidades remetentes, ao fazer uso do modelo de cristo para a
formação do homem, se tornou um escrito de caráter universal, podendo ser usado por
todos para a compreensão do novo homem, o homem cristão. Por isso os escritos de
Paulo de Tarso ainda hoje ganha relevo nos escritos tidos como sagrados.

Por outro lado, o epistolário de Paulo constitui sua mais preciosa


herança espiritual. Se os destinatários eram, naquela época,
poucas centenas de pessoas, com o decorrer dos anos e dos
séculos, os interlocutores se tornaram gerações inteiras. Nós
mesmo, hoje, podemos ouvi-lo através do texto de suas
Epístolas. (BARBAGLIO, 1934, p.196 - 197)

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Portanto, a leitura e analise do epistolário paulino é fundamental para a


compreensão da proposta formativa para o cristianismo do primeiro século, bem como
para compreender seu processo de expansão e aceitação pelo mundo considerado pagão,
atingindo assim uma universalidade.

Considerações Finais

Paulo de Tarso foi um dos grandes nomes do cristianismo do primeiro século,


pois é nas suas obras que encontramos pegadas que apontam para a universalização da
proposta formativa do cristianismo, além de poder por meio delas fazer um breve
esbouço de como eram e como se organizavam as primeiras comunidades cristã.
Mesmo suas obras sendo simples e preocupadas unicamente em resolver
problemas particulares enfrentados pelas comunidades destinatárias, nelas encontramos
a temática central e fundamental da proposta formativa do homem cristão do primeiro
século. Devido a isto é que se dá toda a importância dos escritos paulinos, ele estava
preocupado em formar o homem de seu tempo, o homem cristão.
Com isto, o que se quer dizer é que pensamentos preocupados com a formação
do homem ou de uma sociedade encontram vida no tempo (LEFORTE, 1994). Portanto,
o pensamento de Paulo por ter se preocupado com a formação do homem e da sociedade
ganhou vida no tempo, e até hoje ocupa lugar de prestigio nos escritos tidos como
sagrados.

Referências

BARBAGLIO. Giuseppe. São Paulo, o homem do Evangelho. Tradução de


Epharaim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1993.

__________.As Cartas de Paulo (I).Tradução de José Maria de Almeida. São Paulo


:Loyola, 1989.

CAVICCHIOLI, Maria de Lourdes Silva Barros, A Cultura Clássica e o Magistério


de Paulo de Tarso. Maringá DFE/PPE, 2005.

ENGELS, Friedrich. O Cristianismo Primitivo. Rio de Janeiro: Laemmert, 1969

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KONDER, Leandro. O Cristianismo Primitivo- Apêndice. Rio De Janeiro: Editora


Laemmert. 1969.

LEFORTE, Claude. O sentido histórico. In____ Tempo e história. São Paulo:


Companhia das Letras, 1992.

PEREIRA MELO, Joaquim. O Cristianismo Primitivo e a Cultura Clássica.

Maringá: DFE/PPE, 2002

PEREIRA MELO. José Joaquim. O Cristianismo e a Cultura Clássica: Oposição ou


Integração. Rev. Teoria e Prática da Educação, v. 14, n. 2, p. 33-45, maio./ago. 2011

SILVA, Roseli Gall do Amaral da. A Formação do Homem Ideal em Paulo de


Tarso: O Amor Como Elemento Formativo. Maringá, PPE/UEM. 2010.

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