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Material Estudo de Caso
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T E N D Ê N C I A S
O P L Á G I O N A CO M U N I DA D E
C I E N T Í F I C A : Q U EST Õ ES CU LT U RA I S
E L I N G U Í STC AS
Sonia M. R. Vasconcelos
a visão da maioria dos países de desonestidade acadêmica, ele também é plagiando várias imagens. Figuras de algas
T E N D Ê N C I A S
lution of the scientific misconduct issue: a pelo menos a década de 1980, ciência em que a prática aqui é rara? Não necessaria-
historical overview” (2000), reporta que inglês é um imperativo. Se considerarmos mente, pois se a tolerância à prática do plá-
para um cientista americano, “o roubo de que mais de 95% dos artigos na base de da- gio de textos em inglês, por exemplo, for a
suas palavras é roubo de autoria. O roubo dos do Science Citation Index está em lín- mesma para quem comete e quem detecta,
de sua idéia é roubo de sua própria identi- gua inglesa, qual a razão para que resultados não haveria interesse em investigar a ques-
dade como cientista”. A importância dada originais de pesquisa não tenham pelo tão. Seria quase como se pensar em abrir
ao plágio nas universidades e órgãos de menos uma versão no idioma? Porém, uma caixa de Pandora.
financiamento americanos acaba se intro- quantos cientistas não-nativos, incluindo os O fato é que a discussão da dimensão da
duzindo em outras culturas que não com- brasileiros, são proficientes em inglês? Mais prática do plágio na academia é de extrema
partilham dessa mesma visão de proprie- do que isso: quantos desses cientistas conse- importância para a atividade científica.
dade. Para culturas confucianas – como, guem produzir sua própria voz em todas as Diante da relevância do tema e do foco
por exemplo, Singapura, China e Coréia – seções do artigo científico? Para o Brasil, internacional que ele vem recebendo é, no
a autoria e a originalidade não são valoriza- um país cuja língua materna é o português mínimo, ingênuo ou imaturo não se pen-
das como no Ocidente. A noção de pro- e onde o inglês não é falado nem mesmo sar de forma bem pragmática em abordar
priedade intelectual, tradicionalmente, é como terceira língua, poderíamos dizer que o plágio nas universidades e outras insti-
bem mais coletiva do que individual. Por- bem poucos. tuições de pesquisa. Isto poderia ser discu-
tanto, num contexto acadêmico extrema- tido nos programas de pós-graduação.
mente multicultural, não são poucos os PERIÓDICOS ESTRANGEIROS No entanto, Vale lembrar, porém, que a definição de
conflitos e dilemas que decorrem dessa a produção do país em periódicos interna- plágio aceita pelas agências de fomento
visão diversa de autoria e produção textual. cionais é crescente e hoje contamos com americanas e européias é bastante rigorosa
Há uma preocupação considerável por cerca de 1.6% das publicações em periódi- e demanda originalidade na produção tex-
parte de autores dessas culturas confucianas cos indexados no Thomson Scientific. Não tual. É difícil pensar que apenas informa-
em desenvolver mecanismos educacionais se sabe se há trechos plagiados nessas publi- ção resolva o problema de autores que, por
para diminuir as diferenças, por exemplo, cações nem mesmo o quanto de auto-plágio não dominarem a língua inglesa, se vêem
na visão do texto do artigo científico. existe nessa fração, já que isso não foi inves- “tentados” a um empréstimo lingüístico
Em 1996, a Science divulgou que três casos tigado. Porém, se considerarmos a realidade subversivo de pequenos trechos de artigos
de plágio envolvendo cientistas chineses linguística da pesquisa brasileira e a de uma em inglês. Segundo a definição internacio-
levaram a uma discussão nacional sobre educação voltada para a produção do texto nal do plágio, mudar algumas palavras de
esse tipo de má conduta. A Academia Chi- não como instrumento formador de senso- uma frase de outrem e incorporá-las no
nesa de Ciências, engajada na discussão, crítico e opinião, nos vemos numa situação texto em construção configura plágio.
introduziu o On being a scientist, lançado favorável ao plágio. De acordo com Obdá- Sendo assim, também é extremamente
em 1989 pela Academia Nacional de lia Silva, em seu Entre o plágio e a autoria? importante que, paralelamente à orienta-
Ciências dos EUA, entre os pesquisadores qual o papel da universidade? (2006) [no ção sobre tal prática, também estejam polí-
chineses. O objetivo seria reduzir a inci- Brasil]... “historicamente, desde o ensino ticas educacionais que fomentem o ensino
dência de fraudes, incluindo o plágio, en- fundamental à universidade, tem-se convi- de redação científica em inglês nos progra-
tre os pesquisadores. Hoje, medidas educa- vido com a prática de cópias de produções mas de pós-graduação em ciências. Se as
cionais contra o plágio e outras formas de textuais de outrem, seja de forma parcial ou ações não forem conjuntas, pouco se avan-
má conduta se tornaram uma das priorida- total, omitindo-se a fonte...”. De volta à çará sobre essa questão e perderemos a
des no ambiente acadêmico daquele país. pergunta (1), será que por compartilharmos oportunidade de, inclusive, questionar-
Num editorial sobre o plágio (1996), Car- uma visão mais ocidental da autoria e pro- mos, se for o caso, o quanto dessas defini-
los Coimbra, editor de Cadernos de Saúde priedade intelectual, cometemos menos ções internacionais dialogam com a reali-
Pública, declara que “no Brasil pouco se fala plágio do que, por exemplo, os chineses? dade cultural e linguística em que se dá a
sobre plágio em ciência. Isto certamente Não necessariamente; a questão é que a pesquisa científica brasileira.
decorre menos da ausência do problema no produção científica chinesa é bem maior
país do que da falta de iniciativas para apro- que a brasileira e talvez a exposição seja Sonia M.R.Vasconcelos é mestre em literatura
fundar essa discussão.” É necessário consi- maior. Quanto à pergunta (2), será que os de língua inglesa e doutoranda do Programa de
derarmos o cenário atual da pesquisa cientí- poucos casos de plágio (publicizados) Educação, Gestão e Difusão em Biociências, da
fica. Hoje, diferente do que acontecia até envolvendo cientistas brasileiros indicam Universidade Federa do Rio de Janeiro (UFRJ).