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Equações Diferenciais Ordinárias - 2020/1

Professor Marlon Ramos

Módulo 2 UERJ - Resende


EDOs de 1ª ordem
Equações Diferenciais de 1ª ordem

Considere o PVI de 1ª ordem:

Resolva: y′ = f(x, y)
Sujeito à: y(x0) = y0

Questões de interesse:

• Existe solução para esse problema?


• Se existe solução, ela é única?
1 Teorema da existência e unicidade

y • Seja uma região R do plano xy definida por


d
R
R = {(x, y) : a < x < b, c < y < d}
e que inclui o ponto (x0, y0)
(x0 , y0)
∂f
c • Se f(x, y) e são funções contínuas em R, então
∂y
o PVI admite uma única solução y = y(x) em um
a I0 b x
intervalo I0 ⊂ (a, b) que contém o ponto x0
Teorema da existência e unicidade
Exemplos: discuta a existência e unicidade dos PVIs abaixo
dy 2
a) = y e y(0) = 1
dx
⏟ ⏟
f(x,y) x0

2 ∂f
• Veja que: f(x, y) = y e = 2y são funções contínuas em todo plano!
∂y

• Logo existe uma única solução para a ED que passa por (0,1)
1
(a saber: y = )
1−x
• Intervalo de definição I0 = (−∞,1)
Teorema da existência e unicidade
Exemplos: discuta a existência e unicidade dos PVIs abaixo
dy 1
b) xy′ = 1 e y(0) = 0 ⇒ =
⏟ dx x
x0 ⏟
f(x,y)

• Neste PVI
1 ∂f
f(x, y) = =0
x ∂y

• Temos uma divergência em x = 0. Portanto, o TEU não garante a


existência de uma única solução que passe por (x0, y0)

(De fato, não há solução para esse PVI)


Teorema da existência e unicidade
Exemplos: discuta a existência e unicidade dos PVIs abaixo
dy
c) = 2 y e y(0) = 0
dx
⏟ ⏟
f(x,y) x0

• Neste caso, temos


∂f 1
f(x, y) = 2 y =
∂y y
∂f
• Veja que tem uma descontinuidade em y = 0! Novamente, o TEU
∂y
não garante a existência de uma única solução!
2
(Neste caso, temos duas soluções! y1(x) = x e y2(x) = 0)
Teorema da existência e unicidade
Observações:
1. Essas condições são suficientes mas não são necessárias
Exemplo:
dy
considere = y + 1 com y(0) = 0
dx
este PVI não atende as condições de teorema da existência e
unicidade, mas tem solução única!

(a saber: 2( y + ln( y + 1)) = x )

2. O intervalo I0 do TEU não é necessariamente tão extenso quanto a região R


(tal como no primeiro exemplo)
Equações Diferenciais Ordinárias - 2020/1
Professor Marlon Ramos

Módulo 2 UERJ - Resende


EDOs de 1ª ordem:
Equações Separáveis
2 Equações Separáveis

Definição uma EDO separável de 1ª ordem tem a forma

dy
= f(x, y), onde f(x, y) = g(x) ⋅ h(y)
dx
Exemplos:

dy 2 3x+4y 3x 2 4y
a) = y xe = xe ⋅ y e
⏟ ⏟
dx
f(x,y)
g(x) h(y)

• como f(x, y) pode ser escrito como g(x) ⋅ h(y) a equação é separável
Equações Separáveis

Definição uma EDO separável de 1ª ordem tem a forma

dy
= f(x, y), onde f(x, y) = g(x) ⋅ h(y)
dx
Exemplos:

dy
b) = y + sin(x)
dx
f(x,y)

• essa EDO não é separável pois não podemos escrever f(x, y) como um
produto na forma g(x) ⋅ h(y)
Equações Separáveis

Método de Solução
1
por conveniência, vamos definir p(y) = , assim
h(y)
dy g(x)
= f(x, y) = g(x) ⋅ h(y) = ⇒ p(y)dy = g(x)dx
dx p(y)
integrando a eq. acima, teremos:

∫ ∫
p(y)dy = g(x)dx ⇒ P(y) = G(x) + C

onde P(y) e G(x) são as anti-derivadas de p(y) e g(x)


Equações Separáveis

dy g(x)
∫ ∫
= p(y)dy = g(x)dx ⇒ P(y) = G(x) + C
dx p(y)

• Por que só uma constante arbitrária se fizemos duas integrações?


Utilizando duas constantes, teríamos

P(y) + c1 = G(x) + c2 ⇒ P(y) = G(x) + c2 − c1


c
• Lembrem-se que a combinação de duas constantes arbitrárias é
também uma constante arbitrária!
Equações Separáveis
Exemplos:

a) resolva o PVI a EDO é separável:


dy 2
2
f(x, y) = (x + 1) ⋅ 1
= (x + 1) , y(0) = 4/3
dx ⏟
g(x) h(y)

2 1 3
⇒ dy = (x + 1) dx ⇒ y = (x + 1) + C
3
1 3
• Aplicando a condição inicial: y(0) = (0 + 1) + C ⇒ C = 1
3
1 2
• Logo, a solução para o PVI é y(x) = (x + 1) + 1
3
Equações Separáveis
Exemplos:

b) resolva a EDO a EDO é separável!


(1 + x)dy − ydx = 0 1
f(x, y) = ⋅y
1+x
dy y ⏟ ⏟
⇒ = g(x)
dx 1 + x h(y)

separando a ED:
dy dx
⇒ = ⇒ ln | y | = ln | 1 + x | + C
y 1+x
Equações Separáveis
Exemplos:
continuando exemplo b)
ln | y | = ln | 1 + x | + C ⇒ | y | = e ln|1+x|+C
= |1 + x| ⋅ e C ± C
⇒ y = e (1 + x)
Definindo ± e como c1, teremos: y(x) = c1 (1 + x)
C

• Observação frequentemente aparecem expressões como ln | g(y) | = f(x) + C


Essas expressões podem ser simplificadas para g(y) da seguinte forma:
1. tomamos exponencial dos dois lados da equação
f(x)+C f(x) C ± C f(x)
| g(y) | = e =e e ⇒ g(y) = e e
f(x)
2. redefinimos ± e como c1. Daí g(y) = c1 e
C
Equações Separáveis
Exemplos:

c) resolva a EDO a EDO é separável!


dy f(x, y) = − 2x ⋅ y
+ 2xy = 0
dx ⏟⏟
g(x) h(y)

segue que
dy
⇒ = − 2xdx ⇒ ln | y | = − x + C
2
y
2 2 2
±
⇒ y(x) = e c−x ± c −x
= ee ⇒ y(x) = c1 e −x
Equações Separáveis
Exemplos:

d) resolva o PVI a EDO é separável!


1
dy x f(x, y) = − ⋅ y
=− , y(4) = 3 x
dx y ⏟⏟
g(x) h(y)

2 2
y x 2 2
⇒ ydy = − xdx ⇒ =− +C ⇒ x + y = 2c
2 2
2
redefinindo 2c como c1 , teremos
2 2 2
x +y = c1 ⇒ equação de um círculo de raio c1
Equações Separáveis
Exemplos:
continuando exemplo d)
2 2 2
• Aplicando a condição inicial: y(4) = 3 em x + y = c1
2 2 2
3 +4 = c1 ⇒ c1 = 5

• Portanto, a solução implícita para o PVI é: x + y = 5


2 2 2

• Temos duas soluções explícitas:


2 2
y1 = 25 − x y2 = − 25 − x

Somente a solução y1 passa por (x0, y0) = (3,4)! A solução explícita é y1


Equações Separáveis
Exemplos:

e) resolva o PVI a EDO é separável!


2
dy f(x, y) = − 2x ⋅ y
y(0) = − 1 ⏟⏟
2
= − 2xy
dx g(x) h(y)

dy 1 2 1
⇒ 2 = − 2xdx ⇒ =x −c ⇒ y= 2
y y ⏟ x + c1
c1
1
• Aplicando a condição inicial: y(0) = − 1 ⇒ − 1 = ⇒ c1 = − 1
c1
1
• Logo, a solução para o PVI é y = 2
x −1
Equações Separáveis
y 1
• O domínio da função y = x 2 − 1 é o conjunto
dos reais exceto x = 1 e x = − 1
1
• O intervalo de definição da solução y =
x2 − 1
da EDO y′ + 2xy = 0 será
1 1 x
(−∞, − 1) ou (−1,1) ou (1,∞)

• O intervalo de definição do PVI anterior é (−1,1):


este é o maior intervalo que passa por
1
(x0, y0) = (0, − 1) e em que y = 2 é contínua
x −1
e diferenciável
Equações Separáveis
y 1
• O domínio da função y = x 2 − 1 é o conjunto
dos reais exceto x = 1 e x = − 1
1
• O intervalo de definição da solução y =
x2 − 1
da EDO y′ + 2xy = 0 será
1 1 x
(−∞, − 1) ou (−1,1) ou (1,∞)
(0, 1)
• O intervalo de definição do PVI anterior é (−1,1):
este é o maior intervalo que passa por
1
(x0, y0) = (−1,0) e em que y = 2 é contínua
x −1
e diferenciável
Equações Separáveis
dy
Soluções Singulares considere a EDO: = g(x) ⋅ h(y)
dx
dy
⇒ = g(x)dx
h(y)
• Veja que o lado esquerdo da equação acima não está definido nos pontos
onde h(y) = 0. Estes pontos podem dar origem a soluções singulares

• Exemplo:
dy dy 1 1
= (y − 3) 2 ⇒ = dx ⇒ − = x + C ⇒ y = 3 −
dx (y − 3)2 y−3 x+C
Veja que y = 3 não está incluída na família de soluções encontrada!
⇒ y = 3 é uma solução singular!
Equações Separáveis - Substituição simples
2.1 Redução à separação de variáveis: substituição simples

dy
Uma EDO na forma = f(Ax + By + C) sempre pode ser reduzida a uma
dx
EDO separável com a substituição u = Ax + By + C, B ≠ 0

• Exemplos:
dy 2
a) resolva o PVI: = (x + y + 1) ; y(0) = 0
dx
du dy dy du
mudança de variável: u = x + y + 1 ⇒ =1+ ⇒ = −1
dx dx dx dx
du 2 du 2
substituindo na EDO: −1=u ⇒ =u +1
dx dx
Equações Separáveis - Substituição simples

- continuação do exemplo a) a EDO é separável!


du 2 du 2
f(x, u) = 1 ⋅ u + 1
=u +1 ⇒ 2 = dx ⇒ arctan(u) = x + c
dx u +1 ⏟ ⏟
g(x) h(u)
- voltando para as variáveis originais
arctan(x + y + 1) = x + c ⇒ y = tan(x + c) − x − 1

- aplicando a condição inicial y(0) = 0


0 = tan(c) − 1 ⇒ tan(c) = 1 ⇒ c = π/4
- a solução para o PVI é: y = tan(x + π/4) − x − 1
Equações Diferenciais Ordinárias - 2020/1
Professor Marlon Ramos

Módulo 2 UERJ - Resende


EDOs de 1ª ordem:
Equações Homogêneas
3 Equações Homogêneas
• Funções Homogêneas: se uma função f(x, y) satisfaz
n
f(λx, λy) = λ f(x, y)
então a função f é chamada homogênea de grau n.

Exemplos:
3 3
a) f(x, y) = x + y
a função dada é
3 3 3 3 3 3
f(λx, λy) = (λx) + (λy) = λ (x + y ) = λ f(x, y) homogênea de grau 3

2 2
b) f(x, y) = x + y + 1
a função neste item
2 2 2 2 2
f(λx, λy) = (λx) + (λy) + 1 = λ (x + y ) + 1 não é homogênea
Equações Homogêneas
• Equações Homogêneas: uma ED na forma
M(x, y)dx + N(x, y)dy = 0
é chamada de ED homogênea se M(x, y) e N(x, y) são funções homogêneas
de mesmo grau
2
dy xy − x 2 2 2
a) = 2 ⇒ (xy − x )dx − (x + y )dy = 0
dx x + y2
M(x,y) N(x,y)
2 2 2 2
- M(λx, λy) = (λx) ⋅ (λy) − (λx) = λ (xy − x ) = λ M(x, y)
2 2 2 2 2 2
- N(λx, λy) = (λx) + (λy) = λ (x + y ) = λ N(x, y)
- M e N são funções homogêneas de grau 2, logo a EDO dada é homogênea
Equações Homogêneas

Método de Solução

• Se f(x, y) é uma função homogênea de grau n, podemos escrever


n y
f(x, y) = x ⋅ f (1,u) onde u =
x
Prova:
n 1
- Seja f(λx, λy) = λ f(x, y). Fazendo λ = , temos:
x

( x) x ( x)
y 1 n y
f 1, = n f(x, y) ⇒ f(x, y) = x ⋅ f 1,

- Definindo u = y/x e substituindo na equação acima encontramos a


relação desejada
Equações Homogêneas

Método de Solução

n
• vamos aplicar f(x, y) = x ⋅ f (1,u) em M(x, y)dx + N(x, y)dy = 0
n n
x M(1,u)dx + x N(1,u)dy = 0 ou M(1,u)dx + N(1,u)dy = 0
• u = y/x ⇒ y = xu ⇒ dy = udx + xdu. Substituindo na ED acima:
⇒ M(1,u)dx + N(1,u)[udx + xdu] = 0

⇒ [M(1,u) + uN(1,u)]dx + xN(1,u)du = 0


du M(1,u) + uN(1,u)
⇒ =−
dx xN(1,u)
Equações Homogêneas

Método de Solução

du M(1,u) + uN(1,u) 1 M(1,u) + uN(1,u)


⇒ =− =− ⋅
dx xN(1,u) x N(1,u)

g(x) h(u)

• Conclusão: a substituição y = ux (ou x = vy) onde u (ou v) é a


nova variável dependente, transforma uma EDO homogênea em
uma EDO separável

• Não é necessário memorizar a fórmula acima!


Equações Homogêneas
Exemplos:

a) resolva
2 2 2
(x + y )dx + (x − xy)dy = 0

- mudança de variável y = ux ⇒ dy = udx + xdu


2 2 2 2 2
(x + u x )dx + (x − ux ) ⋅ (udx + xdu) = 0
2 2 2 2 3 2 2 3
x dx + u x dx + x udx + x du − u x dx − ux du = 0
2 3
x (1 + u)dx + x (1 − u)du = 0
dx 1 − u
+ du = 0
x 1+u
Equações Homogêneas
Exemplos:
continuação do exemplo a)
- veja que:
1−u 1−u+1−1 −1 − u 2 2
= = + =−1+
1+u 1+u 1+u 1+u 1+u
- integrando a EDO

∫(1 + u )
dx 2
∫ x
+ − 1 du = 0 ⇒ ln | x | + 2 ln | 1 + u | − u = c

- retornando as variáveis originais y = ux ⇒ u = y/x


y y
− + 2 ln 1 + + ln | x | = c
x x
Equações Homogêneas
Exemplos:
continuação do exemplo a)
2
y y y y
− + 2 ln 1 + + ln | x | = c ⇒ − + ln 1 + + ln | x | = c
x x x x
a
a ln x = ln x

( x )
2

( x )
y (x + y) 2
y (x + y)
⇒ − + ln + ln | x | = c ⇒ − + ln = c
x 2 x
ln a + ln b = ln ab

( x ) x
2
(x + y) y (x + y)2
⇒ ln = +c ⇒ c y/x 2
= e ⋅ e ⇒ (x + y) = c̃xe y/x
x ⏟

Equações Homogêneas
Exemplos:
Observação: também é possível usar a substituição x = vy.
Essa substituição pode ser mais conveniente se M(x, y) tiver uma expressão
mais simples que N(x, y)
b) resolva o PVI
ydx = 2(x + y)dy; y(0) = 2 ⇒ ydx − 2(x + y)dy = 0

M(x,y) N(x,y)

- M(λx, λy) = λy = λM(x, y)


- N(λx, λy) = − 2 ⋅ [λx + λy] = − λ ⋅ 2(x + y) = λN(x, y)
- M e N são funções homogêneas de grau 1, logo a EDO dada é homogênea
Equações Homogêneas
Exemplos:
- Como M(x, y) = y é ligeiramente mais simples que N(x, y) = − 2(x + y)
usaremos a mudança de variável x = vy
ydx − 2(x + y)dy = 0 ⇒ y(vdy + ydv) − 2(vy + y)dy = 0

vdy+ydv
dv dy
⇒ ydv − (v + 2)dy = 0 ⇒ − = 0 ⇒ ln | v + 2 | − ln | y | = c
v+2 y
- voltando para as variáveis originais: x = vy ⇒ v = x/y
x
⇒ ln + 2 − ln | y | = c ⇒ x + 2y = c1y 2
y
2
- aplicando a c.i. y(0) = 2, encontramos c1 = 1 ⇒ x + 2y = y

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