Você está na página 1de 21

CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS GRADUAÇÃO

ANDREW JUMPER

MONOGRAFIA

TEMA: CERTEZA DA SALVAÇÃO

Luiz Augusto Corrêa Bueno

Trabalho da Disciplina Soteriologia Avançada

(Dr. Rev. Héber Carlos de Campos)

Garanhuns

1998
2

Sumário

I. Introdução............................................................................................................03

II. O Lugar da Certeza da Salvação..........................................................................04

III. Bases Bíblicas para a Certeza da Salvação..........................................................05

IV. Base na Confissão de Fé de Westminster............................................................08

V. Certeza da Salvação na História Eclesiástica......................................................11

VI. O Pensamento Contemporâneo da Certeza da Salvação.....................................14

VII. Conclusão

A Certeza da Salvação e implicações para a Eclesiologia e Missiologia............18

VIII. Bibliografia..........................................................................................................22

2
3

I. Introdução

“Muitos, comparativamente, apenas crêem, mas poucos ficam realmente

persuadidos”.1Esta é uma grande verdade. Um dos escritos de J.C. Ryle sobre

“Segurança” traz um estudo analítico ao mesmo tempo teológico e prático. Teológico

porque retira das Escrituras todo embasamento teológico para defender este assunto tão

relevante para a pregação reformada e também prático porque está interessado no

desembocar deste tema para a vida cristã. Concordo plenamente com ele, quando muitos

crêem, porém poucos são os que estão persuadidos nesta fé. Principalmente nestes dias,

quando nos detemos ao analisar a doutrina, a pregação e a ética da Igreja Evangélica.

Além do mais a obra missionária tem sido prejudicada por uma crescente onda de

doutrinas variadas, na sua grande maioria infectada pelo arminianismo.

Introdutoriamente, cremos que a Certeza de Salvação, embora sendo uma doutrina tão

simples, é a base de toda a vida cristã. Ryle continua: “Muitos comparativamente,

possuem a fé que salva, mas poucos obtêm aquela confiança gloriosa que transparece

claramente na linguagem de Paulo. Penso que todos devemos admitir que assim, de

fato, acontece.”2

A grande maioria da pregações de hoje, tem levado muitos a obterem uma fé

nominal, religiosa e mística, mas não tem persuadido-os a serem “gigantes de fé”,

homens e mulheres que estejam de fato, como diz o Apóstolo Paulo, desenvolvendo sua

salvação com tremor e temor.3 Os ventos de doutrina tem soprado até mesmo em

arraiais reformados - presbiterianos e tem distorcido a ética bíblica e a transformado em

uma ética situacionista e conveniente. Quando lemos a história da igreja, claramente

vemos homens e mulheres levando até às últimas conseqüências seu testemunho, tudo

1
Santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor, J.C. Ryle, Ed. Fiel 1987, SP, p.156
2
idem.

3
4

porque possuíam uma convicção inigualável que, nas palavras do historiador Stephen

Neill, os levava a dizer: “não temos nada a perder”! Estas palavras eram resultado, creio

firmemente, da doutrina da certeza da fé, da segurança da salvação que possuíam.

Vamos tentar caminhar neste prisma, sob esta luz. Neste trabalho, vamos desenvolver

uma perspectiva bíblico-teológica com implicações práticas para a missão da igreja.

II. O lugar da certeza da salvação – DEFINIÇÕES

Segundo J.I.Packer, “algumas vezes, os Puritanos falavam sobre segurança da

salvação como fruto da fé e outras vezes como uma qualidade da fé”4, e Joel Beeke

acrescenta: “Neste sentido, segurança não é a essência da fé, mas o ‘creme da fé’”5. Já

para Calvino a doutrina de segurança da fé, reafirmava o que Lutero e Zwinglio

defendiam. Assim para ele, fé nunca é meramente um assentimento (assensus), mas

sempre envolve conhecimento (cognitio) e confiança (fiducia). Calvino afirmava

categoricamente, que conhecimento e confiança são dimensões da vida de fé, mais do

que mera noção material. Fé não é conhecimento histórico como Beza poderia mais

tarde ensinar, mas um conhecimento certo e salvífico conjugado com uma confiança

salvífica e segura”6. Quando os Cânones de Dort falam sobre certeza da preservação, há

uma forte ênfase de que esta certeza ocorre de acordo com a medida de sua fé, pela qual

os crentes crêem que são e permanecerão verdadeiros e vivos membros da igreja, e que

têm o perdão dos pecados e a vida eterna.7. Geoffey Thomas, define segurança da fé

como aquela que o crente possui e lhe dá certeza de que é um crente e que o capacita a

3
Filipenses 2.12 - Bíblia Revista e Atualizada
4
Entre Gigantes de Deus – J.I. Packer, ed. Fiel, 1996, p. 196
5
Westminster Theological Journal, 1993, p.04
6
Does assurance belong to the essence da fé? Calvino e os calvinistas – Joel Beeke, 1994 – Nature and
Definition of Faith
7
Cânones de Dort – Os cinco artigos de fé sobre o Arminianismo – Art. 09

4
5

dizer “eu sei que meus pecados estão perdoados; eu sei que vou para o céu; eu sei por

que... e dá as razões”8. Hildersam assevera que a verdadeira segurança da salvação que

o Espírito santo opera no coração do crente é como uma força que o detém de uma vida

licenciosa e o une intimamente em amor e obediência a Deus.

Por causa deste tema tão apaixonante, tanto os reformadores como os puritanos

puderam ser exaustivos nisto. Claramente faziam também distinções entre fé e

segurança, sempre demonstrando que havia necessidade de distinguir claramente a

essência da fé e o desenvolvimento da mesma que “rechearia” esta mesma fé,

robustecendo-a durante a caminhada cristã.

III. Bases Bíblicas para a Certeza da Salvação.

As bases para descobrirmos a doutrina da certeza da salvação passa e se

estrutura indiscutivelmente na Escritura Sagrada. Não são poucos os textos e referências

que a Palavra de Deus possui, a fim de levar o leitor a se conscientizar de que ele pode e

deve admitir que Deus, através da aplicação do Espírito Santo, nos dá plena convicção

da salvação, uma vez adquirida pelos méritos de Cristo na cruz do Calvário. Embora

sendo muitos, expomos alguns textos, procurando reafirmar as bases bíblicas sobre a

certeza de salvação, para que não haja dúvidas quanto a este mister, e para que

claramente ensinemos sobre o assunto, como por exemplo:

Jó chega a dizer: “Depois de revestido este meu corpo da minha pele, em minha

carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros...”9,

Jó olhando para o futuro e confiava plenamente em sua restauração, não somente

espiritual mas física também.

8
Jornal – Os Puritanos. p. 07
9
Jó 19.26,27

5
6

Isaías quando profetiza ao povo de Judah, declara: “Tu, Senhor, conservarás em

perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti”10. Aqui vemos o

profeta vinculando a confiança com a preservação soberana de Deus.

Quando o apóstolo Paulo escreve aos Romanos, estava muito convicto da

certeza da salvação como afirma: “por que estou bem certo de que nem a morte, nem a

vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes,

nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor

de Deus que está em Cristo Jesus Nosso Senhor”11, tornando-se conscientemente certo

de que o amor de Deus através do sacrifício de Cristo na cruz do calvário, jamais

poderia desampará-lo, pelo contrário, estaria guardando-o para o dia final. Já a seu

discípulo Timóteo, Paulo enfatiza a segurança da salvação como um depósito que será

preservado até o dia de Cristo, quando diz: “...sei em quem tenho crido e estou bem
12
certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia”. Quando

Paulo está escrevendo aos Colossenses este mostra que estar salvo era uma questão de

entendimento, quando enfatiza: “...e tenham toda riqueza da forte convicção do

entendimento”13

Já Pedro instrui seus crentes a procurarem com zelo e diligência, em suas vidas

confirmar a vocação e a eleição de Deus14 e quando Jesus confronta os judeus de sua

época claramente os expõe diante da doutrina da certeza da salvação, isto é, nenhum

poderá se perder, como Ele mesmo diz: “Mas vós não credes, por que não sois das

minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me

seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão e ninguém as arrebatará de minha

10
Is 26.3
11
Rm 8.38,39
12
II Tm 1.12
13
Cl 2.2

6
7

mão. Aquilo que o Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode

arrebatar. Eu e o pai somos um.15 Russel Shedd comentando este trecho afirma: “A

segurança do crente depende da decisão de Cristo e do Pai. Elas são completamente


16
seguras na mão do Filho e do Pai pois os dois são um em propósito e essência” .

Quando Paulo escreve a igreja de Roma, ele os ensina de que se há um conhecimento

prévio dos salvos, há também uma salvação executada, e haverá também uma

finalização e esta salvação deverá ser preservada para que sejamos segundo a imagem

de Jesus Cristo, como diz: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles

que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos

que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes a imagem de

Seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.17

Aos Efésios, Paulo fala sobre o penhor, a garantia da salvação e mesmo depois

que cremos diz ele, “ ...fostes selados com Espírito Santo da promessa, o qual é o

penhor da nossa herança, para a redenção da propriedade de Deus, em louvor da sua


18
Glória.” Estas passagens dão aos crentes condições plenas de admitirem a certeza de

salvação.

Contudo, um dos textos mais enfatizados pelos comentaristas e escritores é o de

I João 5.13: “Estas coisas vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós

que credes em o nome do Filho de Deus”. Não há como alguém negar que os crentes

não podem ter certeza da salvação, mas o apóstolo escreve para assegurar a todos os que

crêem, a plena vida eterna guardada e assegurada através da Soberania do Pai, isto é

14
II Pe 1.10
15
Jo 10. 26-30
16
Bíblia Shedd - Comentários
17
Rm 8.28-29
18
1.13-14

7
8

aqueles crentes que pertenciam a Cristo. Eles tinham a vida eterna, pois os mesmos

manifestavam em vida a fé, o amor e a santidade.

Estes textos nos levam a algumas implicações práticas. Dentre elas podemos

citar uma vida de humildade e eterna gratidão, pois a salvação não depende do esforço

humano e sim da Poderosa Soberania de Deus, que nas palavras de Agostinho exprime

muito bem este resultado da segurança: “Estar certo de nossa salvação, não é arrogante

auto-suficiência; é nossa fé. Não é orgulho; é devoção, não é presunção, é a promessa de

Deus”.19

IV. Base na Confissão de Fé

O capítulo XVIII (dezoito) da Confissão de fé de Westminster que trata sobre a

Certeza da Graça e da Salvação expõe bases sólidas com respeito ao assunto.

Comentaremos cada parágrafo como segue:

I. Ainda que os hipócritas e os outros não regenerados podem iludir-se vãmente

com falsas esperanças e carnal presunção de se acharem no favor de Deus e em estado

de Salvação, esperança essa que perecerá, contudo, os que verdadeiramente crêem no

Senhor Jesus e o amam com sinceridade, procurando andar diante dele em toda a boa

consciência, podem, nesta vida, certificar-se de se acharem em estado de graça e

podem regozijar-se na esperança da glória de Deus, nessa esperança que nunca os

envergonhará. 20 A segurança da salvação pois, é testificada na vida cristã pela fé e pelo

amor sincero e o seu resultado é o andar com Deus, sugerindo um procedimento

aprovado por Ele.

19
Defence of the Apology, Bispo Jewell, 1570
20
Dt. 29:19; Mq. 3:11; João 5:41; Mat. 8:22-23; I João 2:3 e 5: 13; Rm. 5:2, S; II Tim.4:7-8.

8
9

II. Esta certeza não é uma mera persuasão conjectural e provável, fundada numa

falsa esperança, mas uma infalível segurança da fé, fundada na divina verdade das

promessas de salvação, na evidência interna daquelas graças a que são feitas essas

promessas, no testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos espíritos

sermos nós filhos de Deus, no testemunho desse Espírito que é o penhor de nossa

herança e por quem somos selados para o dia da redenção.21 Esta doutrina da certeza

da fé, tem como princípio a aplicação das verdades espirituais ao crente através do

Espírito Santo, pois como Paulo nos diz: “o Espírito, testifica com o nosso Espírito de

que somos filhos de Deus”. Este o faz através das Promessas outorgadas na Escritura,

fato mais uma vez que releva a Palavra como meio gerador da fé de que o Espírito está

em nós e preservará nossa vida para a salvação no último dia.

III. Esta segurança infalível não pertence de tal modo à essência da fé, que um

verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas

dificuldades; contudo, sendo pelo Espírito habilitado a conhecer as coisas que lhe são

livremente dadas por Deus, ele pode alcançá-la sem revelação extraordinária, no devido

uso dos meios ordinários. É, pois, dever de todo o fiel fazer toda a diligência para

tornar certas a sua vocação e eleição, a fim de que por esse modo seja o seu coração

no Espírito Santo confirmado em paz e gozo, em amor e gratidão para com Deus, em

firmeza e alegria nos deveres da obediência que são os frutos próprios desta

segurança. Este privilégio está, pois, muito longe de predispor os homens à

21Hb. 6:11, 17-19; I Pd. 1:4-5, 10-11; I João 3:14; Rom.8:15-16; Ef.1: 13-14, e 4:30; II Cor.1:21-22.

9
10

negligência.22 A responsabilidade humana neste caso está em a todo tempo buscar

confirmar a sua eleição e vocação, embora não devamos alicerçar a base de nossa

salvação em atos meritórios e em talentos, contudo, eles também serão prova

inequívoca quando associados a uma vida de santidade e piedade, de arrependimento

constante. Como Pedro diz em sua segunda carta: “associai à fé a bondade, e a bondade

o conhecimento, e ao conhecimento o domínio próprio e ao domínio próprio a

perseverança e a perseverança a piedade, e a piedade a fraternidade e a fraternidade o

amor.”23

IV. Por diversos modos podem os crentes ter a sua segurança de salvação

abalada, diminuída e interrompida negligenciando a conservação dela, caindo em

algum pecado especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo, cedendo a

fortes e repentinas tentações, retirando Deus a luz do seu rosto e permitindo que andem

em trevas e não tenham luz mesmo os que temem; contudo, eles nunca ficam

inteiramente privados daquela semente de Deus e da vida da fé, daquele amor a Cristo e

aos irmãos, daquela sinceridade de coração e consciência do dever; dessas bênçãos a

certeza de salvação poderá, no tempo próprio, ser restaurada pela operação do Espírito,

e por meio delas eles são, no entanto, suportados para não caírem no desespero
24
absoluto. Comentando sobre este aspecto, Geoffrey Thomas afirma que é concebível

a possibilidade de um cristão passar por tempos em que ele tem dúvida da sua salvação,

22
Ref. I João 5:13; I Cor. 2:12; I João 4:13; Hb. 6:11-12; II Pd. 1:10; Rm. 5:1-2, 5. 14:17, e 15:13; Sal.
119:32; Rm. 6:1-2; Tt 2:11-12, 14; II Cor. 7: 1; Rm. 8: 1; 12; I João 1:6-7, e 3:2-3.
23
II Pe 1.5-8
24
Ref. Sal. 51: 8, 12, 14; Ef. 4:30; Sal. 77: 1-10, e 31:32; I João 3:9; Lc. 22:32; Mq. 7:7-9; RJ. 32:40; II
Cor. 4:8-10.

10
11

ou por longos períodos sem a certeza da salvação, sendo assim, a segurança não

essencial para a fé salvadora.25

V. Certeza da Salvação na História Eclesiástica

Quando lemos a história das doutrinas, vemos alguns lampejos sobre o que

pensavam os Pais apostólicos. Por exemplo, Louis Berkhof retrata este tempo dizendo

que “a fé era usualmente tida como o notável instrumento para o recebimento dos

méritos de Cristo, e com freqüência era reputada de único meio de salvação.

Compreendia-se que a fé consistia de verdadeiro conhecimento de Deus, confiança nele

e entrega pessoal a Ele, tendo como objeto especial a Jesus Cristo e o Seu sangue

expiatório”. Berkhof continua: “essas idéias são reiteradamente expressas pelos Pais

apostólicos, reaparecendo depois nos Apologetas.”26 Embora vejamos o ensino claro

sobre a fé, Berkhof aqui não trata nada sobre a questão da Segurança da Fé.

Já na época da Reforma, Joel Beeke, ilustra este período quando trabalha a

doutrina da certeza da salvação a partir de Calvino e os Calvinistas. Tratando sobre fé e

experiência, Beeke expõe: “Calvino acha necessário distinguir entre a definição de fé e

a realidade da experiência do crente. Este verte considerável luz sobre o dilema. Depois

de expor fé como abraçando a “grande segurança” Calvino argumenta: ‘Ainda alguém

dirá: Crentes experimentam algumas coisas bem diferentes. Reconhecendo a Graça de

Deus através de si mesmos eles não são tentados pelo desassossego, o qual

freqüentemente vem sobre eles, mas são repetidamente abalados por maiores terrores.

Por tão violentas as tentações que preocupam suas mentes como não parecem

compatíveis com aquela certeza de fé’. “Certamente, enquanto ensinamos que fé deve

25
Segurança da Salvação – Geoffrey Thomas – Jornal Os Puritanos, p. 07
26
História das Doutrinas Cristãs, Louis Berkhof, p. 183

11
12

ser certa e segura, nós não podemos imaginar uma certeza que não tenha dúvida, ou

alguma segurança que não é assaltada”27 Calvino demonstra aqui claramente que o

salvo pode por vezes, passar pelas dúvidas devido aos problemas externos. Contudo, ao

escrever as suas Institutas, ele confirma que “é verdadeiro crente aquele que,

convencido por firme convicção de que Deus é Pai bondoso e bem disposto, assume

todas as coisas na base de sua generosidade; aquele que, apoiando-se nas promessas da

divina benevolência, guarda com indubitável expectativa de salvação... nenhum homem

é um crente, digo, exceto aquele que descansando na segurança da salvação,

confiantemente triunfa sobre o diabo e a morte”28

Quando nos deparamos com a época dos Puritanos, período áureo para a

doutrina e a vida cristã, vemos como eles se tornavam exaustivos em todos os seus

temas. Desde assuntos práticos que giram em torno da sua cultura como também, e

muito mais em relação à doutrina bíblica e a teologia. Quando tratavam da Certeza da

Salvação, havia uma forte ênfase no estudo exaurido, na profundidade teológica.

Os puritanos faziam distinção entre fé salvadora e segurança desenvolvida.

Afirmavam que a segurança plena de salvação pessoal precisava ser considerada como

um fruto de fé mais do a essência da fé. Joel Beek cita Samuel Rutherford quando diz:

“A fé é essencialmente uma persuasão pessoal e segurança do amor de Deus para mim

em Cristo...” e continua, ... “Ela é uma segurança de conhecimento que Cristo veio ao

mundo para morrer pelos pecadores e posso descansar em Cristo com todo coração para

a salvação. Beek diz ainda: “Segurança não é a essência da fé mas o creme ou o recheio

da fé.” Outra ênfase puritana é de que o pensamento pessoal sobre segurança, não deve

ser divorciado de uma estrutura trinitariana, isto é, sua realização dentro do crente,

27
Does assurance belong to essence of Faith? – Joel R. Beeke - 1994
28
Institutas, III, ii.16

12
13

atribuindo-a como a obra econômica do Espírito Santo: Quando se fala sobre a obra do

Espírito Santo em nós, temos que apoiá-la em três pilares: 1- A aplicação das promessas

de Deus em Cristo, na qual o crente se apropria pela fé; 2- O resultado prático do ato de

fé; e 3- O testemunho direto do Espírito Santo pela Escritura à consciência do crente

que Cristo é o seu Salvador e tem perdoado seus pecados. O terceiro fundamento

puritano é de que esta obra segura e seladora do Espirito Santo é baseada na aliança da

graça e na obra salvadora de Cristo enfatizando a soberania de Deus e o amor eterno na

eleição eterna.29

A segurança resulta da certeza objetiva que Deus não pode e não quer deserdar seus

filhos adotados. Sua aliança não pode ser quebrada ou anulada, por isto é fixada em seu

decreto e promessas eternos.

Na verdade os Puritanos do século 17 estudaram com muita ênfase a questão da

certeza da salvação. Eles se aprofundaram no tema e faziam algumas distinções

importantes para que os crentes da época pudessem ser esclarecidos.

Nas palavras de Thomas Brooks, “Uma coisa para mim é crer, e outra coisa para

mim é crer naquilo que creio”30 Beek continua: “Desta maneira o Espírito capacita o

crente a alcançar a segurança em graus variados através de uma variedade de

significados.”31

O Arminianismo embora pregando uma “certeza duvidosa” acerca da fé, abriu

caminho para que os Calvinistas pudessem trabalhar muito sobre o assunto. Os cânones

de Dort são a prova incontestável a respeito do assunto. Quando se comenta sobre a

certeza da preservação, no quinto capítulo sobre Perseverança da fé, os Cânones

expõem que “os crentes podem estar certos e estão certos dessa preservação dos eleitos

29
Jeremiah Burroughs, An Exposition of Prophecy of Hosea, 1988, 590
30
Heaven on Earth, 14

13
14

para a salvação e da perseverança dos verdadeiros crentes na fé. Continuam, Esta

certeza ocorre de acordo com a medida de sua fé, pela qual eles crêem que são e

permanecerão verdadeiros e vivos membros da igreja e que têm o perdão dos pecados e

a vida eterna. Ao falar sobre o fundamento da certeza, afirmam: “Esta certeza não vem

de uma revelação especial, sem a Palavra ou fora dela, mas vem da fé nas promessas

de Deus, que ele revelou abundantemente em sua Palavra para nossa consolação. Vem

também do testemunho do Espírito Santo, testificando com o nosso espírito que somos

filhos e herdeiros de Deus, e finalmente do zelo sério e santo por uma boa consciência e

por boas obras.”32 Desta maneira fica muito claro que havia uma unidade de

pensamento coerente a respeito da doutrina, tanto para os reformadores e puritanos,

como para aqueles que sucederam-nos.

VI. O pensamento contemporâneo

Contrastando com a Igreja Católica Romana, Robert Peterson, reafirma a

doutrina da certeza da salvação. Antes de mais nada, Peterson expõe a posição oficial

dos Romanistas, promulgada pelo Concílio de Trento: “pessoas não podem ter certeza

da salvação senão à parte de uma revelação especial de Deus”.33 Esta posição Romana

não tem mudado desde aquele Concílio em 1547. Isto é verdade, pois quando

encontramos uma definição sobre certeza de salvação, o recente dicionário católico de

teologia, de Herbert Vorgrimler confirma que a doutrina da segurança da fé foi

repudiada por aquele Concílio. Segurança da Salvação é, diz o verbete, “um conceito da

teologia protestante que significa a crença na justificação, tão firme, que essa crença não

admite dúvida quanto à salvação final do homem. Tal certeza de salvação – que a

31
idem
32
Os Cânones de Dort, perg. 09 e 10

14
15

teologia católica descreve como absoluta – foi repudiada pelo Concílio de Trento,

porque, mesmo que ao cristão seja absolutamente proibido duvidar do que Deus fez em

Jesus Cristo, ou duvidar da sua vontade salvífica universal, isso não exclui toda

possível dúvida que alguém tenha de sua própria salvação”34

Roma se satisfaz em ressaltar uma segurança prática, baseando-se na

experiência, contudo Peterson declara que esta certeza prática nada mais é do que uma

“certeza pequena”. O teólogo sistemático católico Ludwig Ott tenta explicar este ponto

de vista declarando que: “ninguém pode com certeza de fé saber se tem cumprido ou

não todas as condições que são necessárias para sua justificação”. A doutrina do

purgatório caminha na idéia de que “as almas que morreram na caridade de Deus e no

verdadeiro arrependimento são designados a purgar seus débitos após a morte”.

Contrariamente a isto, Peterson assevera que “Os reformadores distinguem-se

completamente dos Católicos Romanos por que baseiam-se inteiramente na Suficiência

da Obra salvadora de Cristo, e não na força de fé dos crentes”.35

Segundo Peterson, temos que distinguir entre fundamentos da segurança e

fundamentos da salvação. Em relação a isto, cita Murray: “Quando falamos de

segurança, estamos pensando dos caminhos que o crente vem a se engajar nesta

segurança, não das bases nas quais esta salvação descansa. As bases da salvação são

como segurança para pessoas que não tem plena certeza como para pessoas que tem”.36

Peterson assevera que Há três fundamentos de conhecimento dos crentes de segurança:

1. As promessas de salvar e buscar descritas em João 6.37-40,44; onde o Pai dá aqueles

que pertencem a Ele ao Filho. O Pai também envia o Filho ao mundo para salvá-los,

33
Robert Peterson, Presbyterion 18/1 (1992) 10-24
34
Salvos pela Graça, A. Hoekema, p.153
35
Christian Assurance, Robert Peterson, p13
36
Covenant Seminary Review , 1992, p.14

15
16

demonstrando que há uma obra harmoniosa do Pai e do Filho na salvação em que há

uma continuidade na identidade do povo de Deus. Às mesmas pessoas são dados pelo

Pai ao Filho, crerem nele, são preservados por Ele e serão ressuscitados por Ele no

futuro.37 2. O testemunho interno do Espírito Santo em Rm 8.14-17. Peterson acredita

que sendo esta a segunda parte, a mesma está comprometida interiormente com os

crentes, pois é a aplicação da obra salvífica de Cristo nos corações. Citando uma

Palavra de John Wesley, Peterson afirma: “O Espírito Santo assegura-nos internamente

que nós conhecemos Deus como Pai. A segurança então, está ligada fortemente à obra

do Espírito Santo nas vidas dos cristãos”. 3. A perseverança dos Santos em 1 Jo 5.1-5.

Neste texto João, o apóstolo, aponta enfaticamente para a perseverança na fé, na

santidade, e no amor como evidência da vida eterna. Se a vida eterna é real, ela é

demonstrada na vida dos crentes. Deus graciosamente assegura a seu povo pela Palavra,

pelo Espírito e por sua obra em suas vidas. Estes completam-se um ao outro a fim de

que possamos reter a verdadeira certeza da vida eterna como Peterson enfatiza quando

expõe Romanos 5.3-5, 9-10.

Para Louis Berkhof, “há uma dupla segurança, isto é, a segurança objetiva da fé ,

que é a certa e indubitável convicção de que Cristo é tudo o que declara ser e que fará

tudo o que promete e a segurança subjetiva da fé ou segurança da graça e da salvação

que consiste em um sentido de segurança e proteção, que se levanta em muitos casos a

altura de uma convicção firme de que cada crente como indivíduo pode já ter seus

pecados perdoados e salva a sua alma.”38

Anthony Hoekema, expõe sobre certeza da fé, declarando: “As Escrituras

ensinam que idealmente, a fé deve conter plena segurança da salvação, mas ensina

37
D.A. Carson, The Gospel according to John, 1991, pp 290-92
38
Teologia Sistematica, Louis Berkhof, p.607

16
17

também que alguns crentes podem sentir falta dela algumas vezes. Nesse caso, devemos

cultivar maior segurança e orar para que possamos discernir com maior clareza o

testemunho confirmador do Espírito Santo de que somos filhos de Deus”.39

Hoekema também cita Karl Rahner e Herbert Vorgrimler em seu dicionário

católico para reafirmar que a posição da Igreja Católica desde o Concílio de Trento não

mudou, isto é, o Romanismo continua plenamente contrário ao que afirma a doutrina

reformada sobre a Certeza da Salvação.

J.C. Ryle quando fala sobre o assunto, traz implicações pertinentes quanto a vida

cristã. Ele trabalha alguns assuntos bem interessantes. Primeiramente, descreve a

certeza da salvação como uma segura esperança e algo verdadeiro e bíblico, mostrando

através de variados textos bíblicos, razões firmes para aceitarmos o tema como algo

relevante para a nossa perseverança. Em segundo lugar, envolve o assunto em que um

crente pode nunca chegar a ter a segura esperança, e no entanto, ser salvo. Neste

assunto, Ryle enfatiza que Deus não dá atenção à quantidade da fé, mas antes à

qualidade da fé, tudo porque Ele conhece a estrutura humana. E continua, “Ele jamais

permitiria que se dissesse que uma pessoa pereceu ao pé da cruz”. O autor desenvolve

seu tema e chega ao seu terceiro ponto, apostando nas razões pelas quais a plena certeza

da esperança é extremamente desejável, primeiro por causa do consolo e paz que ela nos

traz e segundo por que contribui para libertar um filho de Deus da servidão do pecado.

Em terceiro lugar, porque a segurança ajuda o crente a suportar a pobreza e os prejuízos

sofridos. Neste aspecto Ryle também expõe de maneira apaixonante que a segurança da

salvação capacita o crente a enfrentar a morte mais violenta e dolorosa, sem qualquer

senso de temor, conforme sucedeu a Estevão ou em uma citação de rodapé: “Estas

foram as últimas palavras de Hugh Mackail, no patíbulo, em Edimburgo em 1666:

39
Salvos pela Graça, A. Hoekema, p.156

17
18

‘Agora começo um relacionamento com Deus que nunca será interrompido. Adeus, meu

pai e minha mãe, meus amigos e parentes, adeus mundo e todos os seus deleites, adeus

comida e bebida; adeus sol, lua e estrelas. Bem vindo, Deus Pai...bem-vinda vida eterna;

bem-vinda morte. Oh Senhor, em tuas mãos entrego o meu espírito, pois remiste a

minha alma, ó Senhor Deus da verdade!”40

VII. Conclusão
A certeza de salvação e as implicações para a Eclesiologia e a Missiologia.

Concluindo, este trabalho, que primeiramente me encheu de paixão pela

Teologia, não poderia deixar de trazer implicações práticas para a doutrina da Certeza

da Salvação. Para muitos o assunto é “peça de museu”. A igreja do final do século 20

não está tão interessada em assuntos que a fazem pensar e raciocinar. Hoje estamos

passando por um tipo de crise que tem gerado crentes de vida cristã superficial e

inconstante (falo de maneira genérica, para com o nosso evangelicalismo).

Com certeza, a necessidade de uma volta aos assuntos profundos da Escritura é o

remédio para a igreja cristã neste final de século. Certeza da salvação ao meu ver, é um

tema sempre presente, ou melhor, deveria ser nos púlpitos e nas escolas dominicais. A

crise eclesiológica que passamos, é o reflexo da doutrina ensinada no que diz respeito a

salvação e a certeza da fé.

O ensino sobre segurança da fé, não tem sido trabalhado eficazmente. Estamos

vendo o aumento de pessoas imaturas e na proporção de são imaturas, geram crentes

imaturos. Ao percorrer um pouco da história desta doutrina, especialmente a história

que trata dos Puritanos, percebo como eles tratavam deste assunto com tamanha

seriedade e profundidade. Havia uma busca pelo “esgotar” do tema. Um desejo que a

40
Santidade, sem a qual, ninguém verá o Senhor, J.C. Ryle, 1987,p.149.

18
19

doutrina fosse pura e pronta para ser absorvida pela mente, gerando assim edificação,

crescimento, e a prática missionária ao mundo.

Outra preocupação, é o que diz respeito à nossa missiologia reformada, e não

apenas a isto, mas também ao conteúdo que a igreja dá à mensagem que deve levar em

seu recipiente, que ela chama de “evangelho”.

J.I. Packer quando comenta sobre a eclesiologia dos puritanos, argumenta que as

profissões de fé, eram submetidas a testes antes de serem acreditadas, até mesmo por

aqueles que as faziam. Packer continua: “... para o Puritano, a segurança era mais do

que uma simples inferência humana; antes era a convicção, outorgada por Deus, de que

um crente está firmado na graça, uma convicção selada pelo Espírito em sua mente e

coração, tal qual como a verdade dos fatos do evangelho foi selada sobre sua mente

quando nasceu a fé, trazendo consigo a mesma certeza imediata”41. Uma das questões

básicas pelas quais temos crentes fracos e superficiais, é devido ao fato que não temos

seguido o exemplo dos irmãos do século dezessete. Os crentes não são provados,

testados, muitas vezes, devido a argumentações de que a fé é uma questão de foro

íntimo. A eclesiologia evangélica precisa passar por uma reforma: a volta ao

cristianismo verdadeiro.

Se a eclesiologia está em crise, acredito que a missiologia também está. Quando

digo missiologia, falo a respeito de que nos arraiais denominados reformados e outros,

não há um compromisso atuante dos crentes na missão. Quando afirmo missão, o faço

de maneira generalizada. Quando lemos J. C. Ryle, alguns dos seus pontos

evidenciando a certeza da fé, é de que a doutrina em voga, tende por fazer os crentes

verdadeiramente atuantes, devido a completa confiança na entrada franca ao céu, não

confiando em suas próprias obras, mas na obra concluída de Cristo. Aquele que não

19
20

possui esta segurança tornar-se-á absorvido com seus conflitos íntimos, que pouco

tempo lhe restará para outras coisas, e logicamente, pouco tempo terá para Deus. Na

verdade, o grande número de crentes que estão buscando ajuda dos psicólogos

modernos, é porque passam pela mesma realidade descrita acima.

Thomas Brooks escreve: “A segurança faz um crente tornar-se fervoroso de

espírito, constante e abundante na obra do Senhor. Quando o crente se sente seguro e

completa uma tarefa, já está pronto para outra. ‘Que devo fazer em seguida Senhor?’...

Um crente que goza de segurança põe a mão em qualquer trabalho que tiver para fazer,

porá o pescoço debaixo de qualquer jugo em prol de Cristo; nunca pensa que já fez o

bastante, sempre pensa que fez muito pouco e, quando já fez tudo que podia, senta-se

dizendo: Sou um servo inútil.” 42

A missiologia precisa ser reformada. Se tivermos uma missiologia assim, nossa

obra missionária também será muito mais cheia de frutos. Teremos crentes aceitando

desafios missionários, evangelísticos, porque crêem que “nada têm a perder”.

Somos desafiados por esta doutrina, a fazer que nossos crentes, alunos de

Institutos Bíblicos e Seminários, sejam pessoas determinadas não apenas a se

apaixonarem pela doutrina da fé, mas também que produzam esta mesma segurança que

nos levará para o céu, e também nos motivará para uma abnegada vida cristã.

Que Deus nos ajude.

Soli Deo Gloria

41
Entre os Gigantes de Deus, J.I.Packer, p.198
42
Santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor. J.C. Ryle, p. 151

20
21

VIII. BIBLIOGRAFIA

Biblia Sagrada, João Ferreira de Almeida, Versão revista e atualizada

Beeke, Joel R. – Does Assurance Belong to the Essence of Faith, Spring 1994 – TMSJ.

Beeke, Joel R. – Personal Assurance of Faith – Westminster Theological Journal, 1993

Berkhof, Louis – História das Doutrinas Cristãs, 1ª Edição em Português 1992, Editora
PES.

Berkhof, Louis – Manual de Doutrina Cristã – 2ª Edição – CEIBEL, Patrocínio – 1992.

Berkhof, Louis – Teologia Sistematica - 6ª Edição – T.E.L.L. – 1983 – Grand Rapids


Michigan

Berkhof, Louis – The Assurance of Faith – Second Edition – WM. B. Eerdmans


Publishing CO. Grand Rapids, Michigan, 1939

Confissão de Fé de Westminster, Primeira Edição Especial, Casa Editora Presbiteriana,


1991, São Paulo

Dort, Cânones de - Os cinco artigos de Fé sobre o Arminianismo – Editora Cultura


Cristã.

Erickson, Millard J. – Introdução a Teologia Sistemática, 1ª Edição – Editora Vida


Nova – 1997.

Hoekema, Anthony A. – Salvos pela Graça – A Doutrina da Salvação – 1ª Edição –


Editora Cultura Cristã – 1997.

Jornal – Os Puritanos – Artigos sobre Segurança da Salvação – Geoffrey Thomas e


Augustus Nicodemus Lopes

Packer, J. I. – “Entre os Gigantes de Deus” – Uma visão Puritana da Vida Cristã,


Editora Fiel, 1ª edição, 1996 – SP

Peterson, Robert A. – Christian Assurance – Covenant Seminary Review, 1992

Ryle, J. C. – “Santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor” – Editora Fiel, 1987, SP

21

Você também pode gostar