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CARREIRÃO, Yan. O sistema partidário brasileiro: um debate com a literatura recente.

Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 14, pp. 255-295.

Neste segundo momento, Yan Carreirão vai analisar as considerações de Braga (2010).
Diferente de Gabriela Tarouco (2010), Braga vai analisar mais elementos, como os níveis de
volatilidade eleitoral (partidária e ideológica) na Câmara dos Deputados; a estrutura da
competição partidária nas eleições presidenciais; o relacionamento da estrutura de competição
com o processo de formação de governo. Após essas análises, Braga conclui que houve uma
dinâmica gradativa de institucionalização do sistema partidário no Brasil e que o sistema
partidário caminhou para uma estrutura de competição mais fechada. Partindo de dados
apresentados por Mainwaring e Torcal (2005), a avaliação que Braga faz do Sistema
Partidário Brasileiro é positiva, isso porque nesses dados são avaliados os sistemas partidários
de 38 democracias e mostram, nas palavras de Braga (2010, p. 54 apud CARREIRÃO, 2014,
p. 261) que “o sistema partidário brasileiro apresenta uma taxa de volatilidade eleitoral mais
elevada que apenas os nove primeiros países”, e também que as taxas mostram que havia uma
tendência, de 1990 a 2006, de declínio da volatilidade. A partir dessas premissas, portanto,
Braga avalia que “esse declínio no grau de volatilidade dos padrões de competição
interpartidária em tão pouco tempo de existência mostra que nosso sistema de partidos é cada
vez mais viável”. (BRAGA, 2010, p. 52 apud CARREIRÃO, 2014, p. 261).

No entanto, apesar dos dados apresentados por Braga indicarem tendências importantes, Yan
Carreirão vai apontar ressalvas na avaliação da autora. A primeira ressalva é que em trabalho
mais recente de Mainwaring e Zoco (2007), em que analisam a volatilidade em 47 países em
relação às Câmaras, o Brasil aparece em 26º lugar, no período analisado (1986 a 2002). Logo,
a situação não é tão positiva em uma perspectiva comparada. A segunda ressalva é que se
tomarmos o índice de volatilidade em nível agregado, ou seja, para o conjunto do país, valores
de volatilidade serão maiores, conforme apontado pela própria autora em outros trabalhos
(Braga, 2006). A terceira se refere ao nível de volatilidade ideológica. Diferente da afirmação
de Braga, de evolução da volatilidade ideológica, Carreirão vai apontar que não há uma
trajetória de declínio neste aspecto, mas de oscilações. E caso seja tomado como referência
eleição municipais, o nível se mantém alto.

Yan Carreirão ainda vai discutir com outros três argumentos de análise de Braga: 1) estrutura
da competição partidária nas eleições brasileiras (1982-2006); 2) estrutura da competição nas
eleições presidenciais; 3) e o relacionamento dessa estrutura de competição com o processo de
formação de governo. Sobre o primeiro ponto, Braga afirma que há um processo mais recente
de não aparecimento de novas legendas no sistema partidário e que isso seria uma mostra de
estabilidade do comportamento das elites políticas brasileiras. Contudo, Yan Carreirão
questiona essa análise ao mostrar que a criação do PSD, PROS e Solidariedade colocam sub
suspeita a afirmação da autora. Mais, que a criação desses partidos provocou impacto no
sistema partidário, sobretudo do PSD, que esvaziou o DEM, com a transferência de políticos
para a nova legenda, além de ter sido o segundo partido a mais conquistar prefeitura em 2012.
Isso sem contar com a REDE SUSTENTABILIDADE, incentivada por Marina Silva, então
presidenciável, mas que não conseguiu, naquele momento, a criação do partido.

No segundo ponto, ainda sobre a competição partidária, mas a nível nacional, Braga afirma
(corretamente) que um dos indícios de estabilidade nos padrões de competição nacional é o
padrão bipartidário de competição. No que tange ao Legislativo, ao analisar o período de 1982
a 2006, ela “mostra que o número de partidos efetivos aumentou de 2,6 em 1982 para 10,6 em
2006 e conclui que o Legislativo Nacional possui uma estrutura de competição multipartidária
moderada” (BRAGA, 2010, p. 70 apud CARREIRÃO, 2014, p. 266). O que é discutível,
neste ponto, é a utilização da categoria moderada que, como apontam alguns estudos (Dalton,
Farrell e McAllister, 2011) e (Payne, 2007) o Brasil possui a maior fragmentação partidária da
América Latina e do mundo. Enquanto Sartori (1982), que discutiu a categoria “moderada”
argumenta que o “pluralismo limitado e moderado compreende de três a cinco partidos
relevantes” (SARTORI, 1982, p. 201 apud CARREIRÃO, 2014, p. 266). A partir dos dados
apresentados, Carreirão rebate Braga afirmando que em termos comparativos o Brasil tem um
elevado (e não moderado) grau de competição partidária.

Esse grau de fragmentação, no entanto, não tem sido problema para a formação de coalizões
para governos recentes (FHC I e II; LULA I e II e Dilma I). O tema da fragmentação
partidária está a ser alvo de estudo mais dos analistas preocupados com problemas da arena
eleitoral.

Por fim, nesta seção, Carreirão conclui afirmando que as considerações de Bohn e Paiva
(2009), Braga (2010) e Tarouco (2010), mesmo importantes para mostrar aspectos positivos
do processo de institucionalização dos partidos e do sistema partidário, não apontam os
limites que esse processo se esbarra.
Em outro momento do artigo, o autor vai discutir dois pontos: 1) a relação entre a estrutura da
disputa para presidente e a formação de governos; 2) o papel da disputa presidencial na
estruturação das disputas pra outros cargos.

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