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Safir Abdulai Abdalaa Abudo

Geomorfologia Litorânea

Universidade Rovuma

Dezembro, 2021

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Safir Abdulai Abdala Abudo

Geomorfologia Litorânea

(Licenciatura em Geologia)

Trabalho coletivo de carácter avaliativo da


Cadeira: Geomorfologia, curso de Geologia
2º ano, semestre II, lecionada pelo docente:
MSc. Alexandre Albino.

Universidade Rovuma

Dezembro, 2021

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Índice
Introdução ......................................................................................................................... 5

1. Conceito de Geomorfologia Litorânea ...................................................................... 6

2. Objeto de estudo da Geomorfologia Litorânea ......................................................... 6

3. Surgimento e desenvolvimento da Geomorfologia Litorânea................................... 6

4. Processos costeiros .................................................................................................... 9

5. Fatores responsáveis pela morfogénese litorânea ..................................................... 9

6. Forças marinhas atuantes no litoral ........................................................................... 9

7. Classificação das costas oceânicas .......................................................................... 10

8. Feições características do relevo litorâneo .............................................................. 10

8.1. Praias ................................................................................................................... 11

8.1.1. Subdivisões de uma praia ................................................................................ 11

8.1.2. Constituição de uma praia ................................................................................ 12

8.2. Dunas ................................................................................................................... 15

8.3. Dunas e praias em Moçambique .......................................................................... 16

8.4. Mangues .............................................................................................................. 17

8.5. Restingas.............................................................................................................. 17

8.6. Lagunas................................................................................................................ 18

8.7. Falésias ................................................................................................................ 18

8.7.1. Tipos de falésias............................................................................................... 19

8.8. Ponta, Cabo e Península ...................................................................................... 20

8.9. Enseada ................................................................................................................ 21

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8.10. Recife ............................................................................................................... 22

8.11. Fiordes ............................................................................................................. 22

8.12. Barra................................................................................................................. 23

8.13. Saco, baía e golfo ............................................................................................. 23

Conclusão ....................................................................................................................... 25

Referências bibliográficas .............................................................................................. 26

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Introdução

O presente trabalho tem como enfoque a Geomorfologia Litorânea. A Geomorfologia

Litorânea preocupa-se em estudar as paisagens resultantes da morfogénese marinha, na

zona de contacto entre as terras e os mares. É um ramo da Geomorfologia que lida com a

esculturação das feições costeiras (formas da Terra), os processos que agem sobre estas e

as transformações que ocorrem. Envolve o estudo de temas específicos ligados à forma e

aos materiais dessas feições, às mudanças que elas sofrem no tempo e no espaço, aos

processos sedimentares envolvidos na sua gênese e evolução, bem como a sua relação

com os mecanismos geológicos e as variações do clima e do nível relativo do mar.

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1. Conceito de Geomorfologia Litorânea

Segundo NAVAIS (2014) apoud SOUZA (2012, p. 308-309), a Geomorfologia Litorânea

ou Costeira é um ramo da Geomorfologia que trata das feições costeiras, em especial as

praias. Envolve o estudo de temas específicos ligados à forma e aos materiais dessas

feições, às mudanças que elas sofrem no tempo e no espaço, aos processos sedimentares

envolvidos na sua gênese e evolução, bem como a sua relação com os mecanismos

geológicos e as variações do clima e do nível relativo do mar.

No relevo costeiro ou litorâneo se agrupa o conjunto de formas, que caracterizam a

configuração dos continentes na sua interface com o oceano. Ali também surgem as

feições resultantes do trabalho constante do mar na reconstrução das formas costeiras.

2. Objeto de estudo da Geomorfologia Litorânea

Segundo CESÁRIO (s/a), a Geomorfologia Litorânea estuda a zona de contacto entre o

continente e o oceano, que é o litoral, onde também se observa a ação dos agentes climáticos.

Estuda a ação erosiva do mar (abrasão), formando diversos tipos de costas, como as de

acumulação, ou praias, as fissuras causadas nas falésias, ou costas altas, plataformas de

desmoronamentos; perfil das costas, suas medidas de profundidade, a estrutura regional do

relevo o tetanismo, as zonas lituânias e a ação humana.

Segundo FURLAN (2014) apoud CHRISTOFOTTI (2003), a Geomorfologia Litorânea

preocupa-se em estudar as formas resultantes da morfogénese marinha, na zona de contacto

entre terras e mares.

3. Surgimento e desenvolvimento da Geomorfologia Litorânea

Segundo FURLAN (2014) apoud BIRD (2008), as primeiras tentativas de sistematização

de explicação sobre as formas costeiras foram realizadas no século XIX por cientistas tais

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como Charles Lyell e Charles Darwin e pelo pioneiro geomorfológico norte americano

William Moris Davis.

A Geomorfologia Costeira tem avançado em termos de temática abordada e pode

abranger estudos sobre: a esculturação das formas de relevo costeiro em relação à

Geologia, processos, variações em clima e níveis relativos da terra e do mar, mudanças

na linha da costa medidas em determinado período de tempo e analises de suas causas;

processos da costa próxima e respostas, particularmente nas praias; evidências da história

geológica, notavelmente mudanças no nível da terra e do mar relacionadas a variações

climáticas; as fontes e padrões do movimento dos sedimentos costeiros e a matriz dos

processos de intemperismo na zona costeira.

Segundo FURLAN (2014) apoud WOODROFFE (2002), dentre os pioneiros que

estudaram a Geomorfologia Litorânea, podemos citar William Moris Davis e sua teoria

do ciclo geográfico. Embora superada por estudos posteriores, ainda fornece termos e

conceitos atualizados na Geomorfologia mais atual (tais como nível de base e o papel

erosivo dos rios). Primeiramente, Davis elaborou sua teoria para explicar a evolução do

relevo e das paisagens terrestres, reconhecendo a importância da estrutura, processos e

tempo, e esta foi adaptada para ser aplicada na busca da compreensão da evolução das

áreas costeiras. Davis acreditava que o ciclo de erosão, pontuado por soerguimentos

periódicos rejuvenescendo uma paisagem erodida, teria implicações na costa.

A análise da teoria de Davis aplicada às áreas costeiras demonstra que a linha da costa

progride de forma inicialmente irregular, acidentada, através da maturidade, para uma

costa que é escarpada e pontilhada com áreas.

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Figura 1 - Ciclo de Davis aplicado a Costa. (fonte: FURLAN, 2014 apoud WOODROFFE, 2002).

Johnson, seguidor de Davis, incluiu em seus estudos sobre evolução costeira não somente

a descrição das formas da terra, e a reconstituição histórica da origem de uma costa

particular, mas também uma estrutura na qual visualiza a evolução sistemática de formas

iniciais a sequenciais. Ele acreditava que a forma inicial exercia controle nos primeiros

estágios da erosão costeira. A costa passaria de um estagio de juventude no qual haveria

a maior diversidade de praias, parreiras e promontórios. Nos estágios de maturidade a

costa se tornaria menos complexa. Estas ideias propiciaram uma estrutura dentro da qual

a visão da evolução da costa, e a sequencia pela qual seria possível reconstituir a

configuração anterior, ou futura, da costa.

Figura 2 - Estágios esquemáticos na evolução de uma linha de costa de submersão, conforme idealizado por Johnson.
(Fonte: FURLAN, 2014 adaptado de WOODROFFE, 2002).

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4. Processos costeiros

Segundo CESÀRIO (s/d) apoud INFANTI JR & FORNASARI FILHO (1998)

consideram complexos e dinâmicos os processos geomorfológicos costeiros, sendo

constante a ocorrência de modificações na configuração da zona costeira, devido a

atuação de processos erosivos, de transporte e sedimentação. Os referidos autores ainda

colocam que "o estudo dos processos costeiros exige o registo e a observação de um

grande número de variáveis (pressão barométrica, temperatura, humidade, direção e

intensidade dos ventos, direção e velocidades das correntes marinhas, geometria das

ondas, natureza e distribuição dos sedimentos, entre outras), durante um longo período

de tempo (o mínimo dois anos, caso se disponha de dados históricos de alguns

parâmetros mais representativos) ".

Em Moçambique, os estudos adequados de áreas costeiras são ainda incipientes.

5. Fatores responsáveis pela morfogénese litorânea

Segundo CHRISTOFFOLETI (1980), os processos morfogenéticos atuantes sobre as

formas do relevo das costas são controlados por vários fatores ambientais, como o

geológico, o climático, o biótico e os factos oceanográficos. Esses fatores variam de um

setor a outro da costa, assim como na escola da variação temporal.

6. Forças marinhas atuantes no litoral

Segundo CHRISTOFOLLETI (1980: 130), as ondas, marés e correntes constituem as

principais forças atuantes na morfogénese litorânea.

As ondas resultam da ação dos ventos, representando a transferência direta da energia

cinética da atmosfera para a superfície oceânica.

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7. Classificação das costas oceânicas

Segundo CHRISTOFOLLETI (1980), em 1952 H. Velentin apresentou uma classificação

dos tipos de costas baseando-se na distinção fundamental entre o avanço e o recuo do

litoral, observando que o avanço pode resultar da emersão ou da deposição, enquanto que

o recuo pode ser dividido à submersão ou ao ataque da erosão. Sua classificação

estabelece os tipos:

a. Costas que estão avançando

i. Devido á emersão: costa com soalho marinho emerso;

ii. Devido á deposição orgânica: fitogénica (formada pela fauna), como os

manguezais; zoogénicas (formadas pela fauna), como as cotas com corais;

iii. Devido á deposição inorgânica: deposição marinha onde as marés são fracas;

deposição marinha onde as marés são fortes; deposição fluvial; como as costas

deltaicas.

b. Costas que estão recuando

i. Devido á submersão de paisagens glaciares: confinadas à erosão glacial;

não confinadas à erosão glacial; deposição glaciária;

ii. Devido à submersão de paisagens de esculturação fluvial: sobre jovens

estruturas dobradas; sobre veinas estruturas sobradas; sobre estruturas

horizontais;

iii. Devido à erosão marinha: costas escarpadas.

8. Feições características do relevo litorâneo

Segundo NUNES & JUNIOR (s/d) as feições características são: prisma praial, enseada,

falésia, fiorde, golfo, praia, restinga, laguna, gruta de abrasão, istmo, cabo, península, ria,

pontal, baia, litoral ou costa, linha costeira ou orla, ante-praia, pós-praia, berna, lagoas

interdunares e dunas.

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8.1. Praias

Segundo CESÁRIO (s/d) as praias são formadas por sedimentos soltos (inconsolidados),

de granulometria variada, compostos principalmente de quartzo, contendo ainda

feldspatos, fragmentos de rochas, entre outros minerais. As praias são bastante dinâmicas,

apresentando mudanças de sua configuração dependendo do aporte de sedimentos. Se

esse aporte for maior do que a saída de sedimentos, ocorre a expansão da linha de costa

e, se a entrada de sedimentos for menor que a saída, a praia encontra-se em processo de

recuo da linha de costa.

8.1.1. Subdivisões de uma praia

De acordo com CESÁRIO (s/d), uma praia pode ser subdividida em três regiões: face

praial, ante praia (também chamada de estirâncio ou estirão) e pós-praia, de acordo com

sua localização em relação às alturas das marés.

A face praial compreende a região que vai do nível de maré baixa até além da zona de

arrebentação, em geral, até a base da onda.

Ante praia é a região entre marés, ou seja, entre o nível da maré baixa e o da maré alta. É,

portanto, a porção da praia que sofre normalmente a ação das marés e os efeitos do

espraiamento e refluxo da água.

A região pós-praia localiza-se fora do alcance das ondas e mares normais, e somente é

alcançada pela água quando da ocorrência de marés muito altas ou tempestades. Nestas

regiões formam-se terraços denominadas bermas, que apresentam uma secção transversal

triangular, com a superfície de topo horizontal ou em suave mergulho em direção ao

continente e a superfície frontal com mergulho acentuado em direção ao mar.

Na pós-praia pode ainda aparecer uma região com maior inclinação, denominada escarpa

praial, causada pela ação de ondas normais de maré alta que cortam a praia, originando

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essa abrupta mudança em sua inclinação. A berma e a escarpa não se formam na ante

praia devido à contínua passagem das ondas, não permitindo assim qualquer feição

permanente.

8.1.2. Constituição de uma praia

Segundo CESÁRIO (s/d), a praia é constituída por 3 elementos: o material, uma área

costeira na qual este material se move e uma fonte de energia para movimentá-lo.

As areias das praias litorâneas são geralmente originárias dos rios que erodem os

continentes e transportam seus fragmentos até o litoral, onde o mar encarrega-se de

distribuí-los pela costa. Pode-se também encontrar-se praias formadas por conchas ou

outros materiais, bastando que tenham um tamanho, densidade e quantidade suficientes

para tanto. Em certos casos, pode ocorrer a deposição de determinados minerais úteis ao

homem, como o caso das concentrações de monazita.

A principal fonte de energia para a movimentação da areia é proveniente das ondas, que

por sua vez se originam devido à ação de ventos sobre a superfície do mar. Quanto mais

forte for o vento, maior a duração e maior a área na qual ele atua, maiores serão as ondas

que chegam à costa. Quando ocorre um temporal próximo a região costeira, as ondas

serão fortemente escarpadas, podendo mudar rapidamente a configuração de uma praia.

Há forte correlação entre a altura média das ondas, a inclinação da praia e a granulometria

(tamanho do grão do sedimento). Quando as ondas são grandes, removem os grãos

menores deixando somente os maiores e mais difíceis de carregar. Restando apenas os

grãos maiores, a praia tende tornar-se mais inclinada, pois as ondas ao se quebrarem na

praia, rapidamente penetram pela areia, já que aumentam o espaço entre os grãos (espaço

intersticial). Assim, a onda deixa maior quantidade de grãos de areia do que carrega de volta.

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O mecanismo pelo qual as ondas modificam as praias baseia-se na ascensão dos grãos de

areia pela turbulência que acompanha a passagem de uma onda, e a queda destes mesmos

grãos sobre o fundo, quando a onda não exerce mais força ascensional sobre eles. Cada

vez que um grão é erguido do substrato, vai ocupar posição diferente. Levando-se em

conta que incontáveis milhões de grãos de areia estão sendo continuamente removidos e

recolocados, a praia tem sua configuração alterada.

8.1.3. Correntes de deriva litorânea

Os maiores problemas na manutenção de uma praia não são produzidos pelo movimento

sazonal de areia da berma para as barras submarinas e vice-versa, mas pelo movimento

de areia paralelo à costa.

As ondas geralmente se aproximam da orla marinha formando um ângulo, e tendem a ser

refratadas ou dobradas pelos contornos submarinos, que fazem a linha das ondas tornar-

se paralela à linha da costa. As ondas, porém, geralmente não são totalmente refratadas,

ocasionando com isso uma corrente denominada de deriva litorânea, que surge apenas na

região de arrebentação.

Esta corrente é demasiadamente lenta para transportar os grãos de areia por si mesma,

mas tem tal ação facilitada pela região de arrebentação das ondas, que mantém a areia em

suspensão. O mecanismo é simples: na superfície da praia, as partículas de areia

transportadas pela água que chega descrevem um movimento de vai e vem na mesma

direção da corrente de deriva litorânea, de tal modo que cada onda as movimenta em um

pequeno trecho ao longo da praia.

Assim esta corrente de pouca velocidade é capaz de transportar grandes quantidades de

material ao longo da costa, frequentemente atingindo cifras que superam 1000 metros

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cúbicos por dia, valor equivalente a cerca de 100 grandes caminhões carregados de areia,

passando através de um ponto da praia a cada dia, ou caminhão de areia a cada 15 minutos.

A corrente de deriva litorânea pode também voltar-se em direção ao mar, devido a

presença de cânions submarinos na plataforma e talude continental adjacente. Isso faz

com que a praia possa terminar bruscamente, pois todo o sedimento que seria transportado

por essa corrente ao longo da praia, pode acabar desviado para esse cânion,

onde os sedimentos ficarão depositados no leito da bacia oceânica a muitas centenas de

metros de profundidade.

Como toda a região litorânea é muito dinâmica, deve-se ter cautela com quaisquer tipos

de construções que bloqueiam a movimentação de areia. Assim, construções como piers

ou molhes devem ser acompanhadas por estudos oceanográficos que assegurem o não

impedimento dos fluxos de água e areia na região. Muro para bloquear a invasão de água

nas marés altas em edificações costeiras pode alterar também profundamente a praia na

qual esse muro foi erguido.

A retirada de areia de uma praia para a construção civil, pode também causar danos às

praias da região. A construção de barragens hidro-eléctricas nos rios contribui para que

haja redução do volume de areia que chega ao mar, podendo acarretar diminuição ou

mesmo desaparecimento de praias em regiões dependentes dessa areia para a sua

conservação.

Ao longo da costa brasileira não se observa um padrão definido na movimentação de

areia. O sentido da deriva da corrente litorânea varia de região para região. Nas costas do

Brasil encontra-se exemplos catastróficos de construções próximo das praias, que

acabaram por impedir o transporte de sedimentos ao longo da costa devido à interrupção

do fluxo das correntes de deriva litorânea.

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8.1.4. Corrente de Retorno

Outro tipo de movimentação de água verificado com frequência em praias é a chamada

corrente de retorno. Uma das principais causas para a ocorrência desta é a convergência

de duas correntes de deriva litorânea em um ponto ao longo da praia, que, quando

ocorrem, se encontram e fluem em direção ao mar, na forma de uma corrente estreita e

forte.

Outra causa para a existência da corrente de retorno ocorre quando ondas mais altas que

a média se rompem em sucessão rápida e elevam o nível da água dentro de uma barra

submarina; á agua pode voltar tão energeticamente ao mar que, algumas vezes, rompe a

barra em um lugar estreito, produzindo a corrente em sentido oposto à praia.

A existência desta corrente pode depender da topologia do fundo além da altura e período

das ondas. Pode ser perigosa para os banhistas, por fluir, algumas vezes, com velocidade

superior a 4 nós (mais de 7 quilômetros por hora). O banhista, caso encontre uma corrente

deste tipo, não deve nadar em direcção a praia, mas paralelamente a ela, para então, ao

sair da corrente de retorno, nadar naquela direcção.

8.2. Dunas

Para CESÁRIO (s/d), as dunas constituem-se de feições formadas de sedimentos arenosos

que são transportados pela ação dos ventos. Nas zonas costeiras as dunas, ou as denominadas

dunas frontais ou ante-dunas, muitas vezes, tem o papel de diminuir a energia das ondas,

principalmente durante a ocorrência de ressacas. As dunas apresentam uma dinâmica bastante

complexa, sendo suas migrações influenciadas pela direção dos ventos predominantes, que

por sua vez depende da conformação costeira.

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8.3. Dunas e praias em Moçambique

Segundo LOURO (2005), em Moçambique, as dunas costeiras possuem o seguinte padrão

de distribuição: na costa norte e centro ocorrem, desde a Baía de Mocambo à província

de Sofala, praias arenosas e algumas dunas parabólicas baixas, formadas por ventos de

tempestade ocasionais sobrepondo-se com a costa de barreira ou pantanosa. A costa sul é

caracterizada por dunas parabólicas elevadas, cabos de orientação norte e lagoas de

barreira. Estas ocorrem numa extensão de 850 Km de costa. Estendem-se a partir do

Arquipélago do Bazaruto (35ºE, 21ºS; em quatro das cinco ilhas do arquipélago, embora

sejam mais proeminentes na ilha do Bazaruto onde se dispõem do lado Este ao longo da

linha costeira, cobrindo 27% da superfície da ilha), em direção Sul até Závora.

Sobrepondo-se novamente com a região costeira de barreira ou pantanosa composta por

praias simples e arqueadas. Na região do distrito do Xai-Xai (33º19´E, 25º18´S), entre a

Praia Velha e a Praia do Chonguene, as dunas primárias são menores em altura e largura

em relação às dunas secundárias. Na região de Bilene-Macia (33ºE, 25ºS), as dunas

secundárias atingem alturas de 100 metros e são caracterizadas por areias vermelhas

pouco consolidadas e cobertas por uma densa vegetação. Ao contrário das dunas costeiras

primárias que atingem algumas dezenas de metros e são formadas por areias brancas. Ao

longo da faixa costeira desta região, as dunas apresentam-se bastante consolidadas, por

vezes formando escarpas resultantes da erosão, particularmente na boca da Lagoa do

Bilene.

Logo a seguir ao longo da costa este da Ilha da Inhaca (33ºE, 26ºS), as dunas costeiras

ocorrem formando uma cordilheira longa, elevada, íngreme e exposta, exceto em zonas

onde existe vegetação fixadora. Finalmente, ocorrem do Cabo de Santa Maria (32º58´E,

26º05´S) até à Ponta do Ouro (32º58´E, 26º51´S), prolongando-se até a província do

Kwazulu-Natal no Rio Umlalazi (28°57’S) na África do Sul. Nesta zona consistem

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primariamente de praias arenosas e um sistema dunar de comprimento máximo de 89 km

e largura máxima de 2 km atingindo em algumas zonas, alturas de mais de 100 metros

acima do nível das águas do mar.

8.4. Mangues

Segundo CESÁRIO (s/d), mangues é um tipo de morfologia costeira desenvolvida em regiões

baixas e abrigadas do litoral, de declividade muito suave, inundadas periodicamente, onde

ocorre deposição de sedimentos finos, sendo áreas parcialmente recobertas por vegetação

característica (halófitas). Constituem-se verdadeiros berçários para muitas espécies do litoral.

Os mangues são extremamente influenciados pelo delicado equilíbrio dinâmico entre as

variações dos níveis de maré, o aporte fluvial e as taxas de deposição/erosão.

8.5. Restingas

Segundo CESÁRIO (s/d), as restingas são definidas como cordões arenosos paralelos e de

pequena elevação, que protegem costas baixas ou fecham pequenas enseadas, estando sua

origem ligada ao recuo do mar. Apresentam vegetação característica.

Para ZICKEL et al (2004) apoud FREIRE (1990), a restinga é um ambiente

geologicamente recente e as espécies que a colonizam são principalmente provenientes

de outros ecossistemas (Floresta Atlântica, Floresta de Tabuleiros e Caatinga), porém

com variações fenotípicas devido às condições diferentes do seu ambiente original.

Vários fatores podem influir na complexidade das comunidades vegetais. A posição

topográfica, por exemplo, pode influenciar algumas características como diversidade e

estrutura das comunidades, ou os desníveis do terreno que dão origem a um complexo

mosaico intimamente ligado à profundidade do lençol freático.

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8.6. Lagunas

Segundo CESÁRIO (s/a), lagunas correspondem a corpos de água pouco profundos,

alongados paralelamente à linha de costa, sendo separados do mar por uma barra móvel de

areia ou cascalho. A comunicação com o mar é muito dinâmica, podendo ser temporária ou

permanente, sendo feita por aberturas nas barras.

8.7. Falésias

Falésias são formadas pela ação erosiva das ondas sobre a rochas de uma encosta continental.

Seu desenvolvimento está associado à escavação causada por pulsões de pressão devido à

quebra de ondas, golpes de aríete ou compressão do ar em fracturas, que removem os

fragmentos rochosos da base da falésia, desestabilizando-as e ocasionando o

desmoronamento pela ação de seu próprio peso.

A definição de falésia utilizada por AB’SÁBER (1975, p. 18) citada por MELO (2019) seria

um “paredão abrupto, originado pela erosão marinha (abrasão) na frente de pontas ou

promontórios costeiros”.

Para CHRISTOFOLETTI (1980, p. 133) citado por MELO (2019) as falésias são “um ressalto

não coberto pela vegetação, com declividades muito acentuadas e de alturas variadas,

localizado na linha de contato entre a terra e o mar”. Para este autor quando, “em virtude de

modificação do nível do mar ou da terra, o mar entra em contato com uma escarpa íngreme

emersa, estabelecem-se condições para a esculturação de uma cadeia de formas”, assim, “o

ataque das ondas, na zona intertidal, promove um entalhe de solapamento na escarpa, que

provoca o desmoronamento da parte cimeira e elaboração da falésia”. O recuo da falésia em

direção ao continente amplia a superfície erodida pelas ondas, formando os chamados

terraços de abrasão.

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Figura 3 - Falésias. (Fonte: COSTA, s/d apoud BA, 2004).

8.7.1. Tipos de falésias

Segundo MELO (2019) apoud CPRM (2008, p. 151) falésias podem ser definidas como:

escarpas costeiras abruptas não cobertas por vegetação, que se localizam na linha de contato entre

a terra e o mar, sendo do tipo ativa ou inativa.

Figura 4 - Falésia inativa (Fonte: MELO, 2019).

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8.8. Ponta, Cabo e Península

Segundo COSTA (s/d), ponta, cabo e península são formas que avançam do continente

para o oceano. A diferença entre elas é a dimensão: pontas são menores que cabos, que,

por sua vez, são menores que penínsulas.

Península – é uma porção de terra que é cercada de água por todos os lados, menos

por um, que se liga ao continente ou a uma outra porção de terra maior. Grande parte das

penínsulas existentes hoje se formou no período em que ocorreu a separação dos

continentes, processo conhecido por deriva continental.

Ponta

Figura 5 - Ponta. (Fonte: COSTA, s/d).

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Figura 6 - Cabo. (Fonte: COSTA, s/d).

Figura 7 – Península (Itálica). (Fonte: COSTA, s/d).

8.9. Enseada

Segundo COSTA (s/d), enseada é uma praia com formato de arco. Por possuir

configuração aberta, diferencia-se do saco, cuja configuração é bem mais fechada.

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Figura 8 - Enseada. (Fonte: COSTA, s/d).

8.10. Recife

Segundo COSTA (s/d), recife é uma barreira próxima à praia que diminui ou bloqueia o

movimento das sondas. Pode ser de origem biológica, quando constituída por carapaças

de animais marinhos, ou arenosa, quando forma da por uma restinga que se consolida em

rocha sedimentar.

Figura 9 - Recife. (Fonte: COSTA, s/d).

8.11. Fiordes

Segundo COSTA (s/d), fiordes são profundos corredores que foram cavados pela erosão

glacial e posteriormente rebaixados, o que provocou a invasão das águas do mar.

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Formaram-se em regiões litorâneas de latitudes elevadas, como a costa da Noruega, da

Groelândia e do sul do Chile.

Figura 10 - Fiorde. (Fonte: COSTA, s/d).

8.12. Barra

Segundo COSTA (s/d), barra é a saída de um rio, canal ou lagoa para o mar aberto, onde

ocorre intensa sedimentação e formação de bancos de areia ou outros detritos.

Figura 11 - Barra de lagoa. (Fonte: COSTA, s/d).

8.13. Saco, baía e golfo

Segundo COSTA (s/d), saco, baía e golfo assemelham-se a uma ferradura ou arco quase

fechado que se comunica com o oceano. O que muda é o tamanho: o saco é o menor e o

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golfo é o maior. A longo do tempo, a comunicação dessas formações com o oceano pode

ser diminuída por causa da constituição de uma restinga. Se essa restinga continuar a

aumentar, pode ocorrer fechamento do arco, formando-se uma lagoa costeira.

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Conclusão

As formas naturais do relevo litoral são resultantes da atuação e interação de processos

continentais, oceânicos e atmosféricos. Dentre as diversas feições litorâneas destacam-se:

barra, saco, golfo, baía, ponta, cabo, península, enseada, recife, mangue, falésia, restinga,

lagunas e fiordes. Barra é a saída de um rio, canal, lagoa para o mar; Saco, golfo e baía

formam um arco que se comunica com o oceano, distinguem-se em termos de dimensão,

saco < baía < golfo; Ponta, Cabo, Península são formas que avançam do continente para

o oceano, também se distinguem pela dimensão, ponta < cabo < península; Enseada é

uma praia com formato de arco, mais aberto que o saco; Recife é uma barreira próxima a

praia que diminui ou bloqueia as ondas. Pode ser biológica ou arenosa; Restinga é uma

vegetação, adaptada a grande variação de temperatura, a alta proximidade com o mar,

num solo arenoso com poucos nutrientes; Mangues é uma vegetação típica de locais onde

há encontro de agua doce com agua salgada; Falésias é uma forma de relevo resultante da

erosão marinha que, ao encontrar o costão rochoso, começa a erodi-lo por baixo, onde há

contacto com a água, formando grutas e cavernas; Lagunas são extensões de aguas

paradas separadas do mar por cordoes de terra, onde é possível encontrar agua doce;

Fiorde é um acidente geográfico em que o mar adentra a terra por entre formações

rochosas elevadas, sugerindo o formato de um rio.

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Referências bibliográficas

CESÁRIO, Arlindo, Geomorfologia, Universidade Católica de Moçambique, beira, s/d.

COSTA, Jordana, Formas do Relevo, s/e, s/l, s/d.

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