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das Finanças
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Tudo bem, para nossa sorte há alguns bons estatísticos por aí e isso também pode acontecer.
“Se com apenas R$30 já é possível investir no Tesouro Direto, por que as pessoas não
poupam?”
“Por que as pessoas se endividam tanto se sabem que isso dará dores de cabeça no
futuro?”
“Por que a política pública X não funciona se tanto dinheiro está sendo injetado?”
“Por que meu curso de educação financeira não funciona se eu entendo tanto de
finanças?”
“Como melhorar a experiência do usuário da minha fintech?”
Então, nesses casos, a teoria clássica de finanças não é suficiente para explicar as falhas de
mercado. Entra em cena todo um campo novo de conhecimento que mistura Psicologia e
Economia para entender o comportamento das pessoas com o dinheiro.
Neste texto darei algumas breves explicações e exemplos, além de várias referências para quem
quiser saber mais sobre o tema. Já adianto que o artigo é longo, mas serve tanto para a leitura de
curiosos quanto para despertar o interesse em profissionais das áreas relacionadas.
E por fim, fecho com alguma aplicações práticas para você que está lendo este artigo.
Esse retorno é devido não apenas pelo desenvolvimento de QI (habilidades cognitivas) – que pode
inclusive se dissipar com o tempo – mas principalmente pela formação de caráter (habilidades não
cognitivas).
Se você tiver mais curiosidade, pode acessar o site da “Heckman Equation” (em inglês), mas que
também possui alguns recursos interessantes em português.
Tais dimensões são melhor explicadas em estudos como o capítulo 1 de Santos e Primi (2014).
Claramente você pode argumentar que outras características ficaram de fora, mas essas já
descrevem de forma bastante razoável a personalidade de um indivíduo. A psicologia econômica
está debruçada nesses 5 elementos para estudar a educação e o comportamento dos cidadãos.
Esses fatores podem ser medidos via questionários padrão e ajudam a traçar um perfil psicológico.
Esse perfil pode ser usado, por exemplo, para focar intervenções de educação financeira mais
personalizadas, aprimorar modelos de risco para seguros e empréstimos ou desenvolver
mecanismos que ajudem os cidadãos a poupar melhor.
Além de motivação para este texto, essa pergunta também foi feita pelo economista Bernardo
Nunes, em apresentação exibida em dezembro do ano passado, na 4ª Conferência de Ciências
Comportamentais e Educação do Investidor da CVM.
Dentre os resultados apresentados, um caso curioso confirma uma sabedoria popular: extroversão
está ligada a maiores endividamentos. Quando se observam os gastos dos identificados com
excessiva extroversão, eles se concentram em álcool e restaurantes. Por outro lado, a combinação
de conscienciosidade e extroversão está ligada a maiores salários.
Você pode conferir o vídeo da apresentação completa clicando aqui.
Uma fonte interessante sobre vieses do investidor pode ser encontrada na série “CVM
Comportamental”, no site da CVM.
Personalidade via Facebook: Admiral First Car Quote. A empresa utilizava o modelo de fatores
de personalidade para fazer uma cotação mais precisa para quem estava fazendo um seguro de
carros pela primeira vez. Ela utilizava o facebook para pegar as informações do teste, porém, o
facebook vetou o uso desses dados para a Admiral alegando uso para fins comerciais.
Conservador (19% no tipo puro, 33% incluindo os mistos): grupo mais idoso e de baixa
escolaridade, tem grande aversão a dívidas e preocupação com a segurança de seu
nome. Para essa população, um produto simples como o cartão de débito poderia lhe
dar a segurança de não andar com papel-moeda.
Desorganizado (10% no tipo puro, 28% incluindo os mistos): os desorganizados são
mais jovens e escolarizados. Têm acesso às tecnologias, realizam compras por impulso
com mais frequência e contam com a rede de amigos nos momentos de emergência.
Para esses, produtos financeiros menos nocivos (como evitar ofertas de cartão de
crédito e cheque especial) e educação financeira mais dinâmica são uma boa pedida.
Planejado (11% no tipo puro, 27% incluindo os mistos): É o tipo mais escolarizado e a
maioria é composta por trabalhadores formais. É um grupo que se interessa em
pesquisar e entender as melhores opções de investimentos e empreendimentos. Para
esse grupo, há a oportunidade de se oferecer melhores opções de investimento e de
formalização da poupança, evitando que se guarde o dinheiro poupado em casa.
O estudo pode ser encontrado neste link. Para acessar acessar a entrevista e o vídeo da
palestra, você pode clicar aqui.
Guia de Economia Comportamental e Experimental – O livro de 2015 é organizado por Ana Maria
Bianchi e Flávia Ávila, do site economiacomportamental.org. A publicação online conta com
entrevistas de pesquisadores nacionais e internacionais abordando temas como escolha individual
e risco, finanças, comportamento do consumidor, preferências sociais, além de aplicações
em finanças, negócios, marketing, políticas públicas, desenvolvimento e pobreza.
Aplicações práticas
Nossas decisões não são 100% racionais. Ou seja, não conseguimos maximizar perfeitamente
nosso bem estar do jeito que queremos. Assim sendo, ter autoconhecimento de seus vícios, de
sua personalidade e de seu estilo de vida é chave para levar uma vida mais tranquila e feliz. Se
encontrar consigo mesmo, especialmente quando o assunto são suas finanças, te poupará de
grandes frustrações.
Se além de consumidor, você também faz parte da indústria das fintechs, espero que esse post
tenha dado bons insights para a formulação de produtos mais adequados aos seus diferentes
perfis de público, a fim de aumentar as taxas de conversão e de satisfação dos seus clientes.
Por fim, se você é estudante, fica aí um prato cheio de tema a ser pesquisado: como fazer para
melhorar a entrega de educação financeira e serviços financeiros num mundo de racionalidade
limitada? Como usar o conhecimento financeiro para melhorar o bem estar das pessoas,
especialmente os mais pobres?