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ANAIS

28 a 30 de novembro de 2016
Instituto de Artes e Design (IAD) / UFJF

III SEMINÁRIO DE PESQUISAS EM ARTE CULTURA E LINGUAGENS 1


GT | LITERATURA E DESIGN

S. – O NAVIO DE TESEU
Christiane Camara de Almeida1
Vera Lúcia Nojima2
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

RESUMO: Este artigo apresenta um estudo, sob o ponto de vista do design, da construção literária
de “S. - O navio de Teseu” publicado pela Editora Intrínseca, que é um livro adulto de literatura com
edição e produção complexas.  Traz informações sobre o insight, o design e a produção americana e
destaques de entrevistas realizadas na editora sobre a produção do livro no Brasil, e com o Antonio
Rhoden responsável pela intervenção do design brasileiro.  Evidencia  a integração das narrativas
textuais, visuais e táteis e que possibilitam interações múltiplas, através da análise dos signos
visuais, conceitos e escolhas do design. Presume-se, então, que o uso da linguagem sincrética do
design  deste livro propicia a coautoria, promovendo uma contextualização gráfica tão importante
quanto o seu texto literário, fundamental para a experiência e a imersão na leitura.

Palavras-chave: Design; Livro; S.; J.J. Abrams

INTRODUÇÃO

“S.” segue uma forte tendência de livros elaborados. (...) Há um interesse real no livro como
um objeto de permanência, como um contraponto direto ao mundo digital, do jeito que eu
nunca vi antes. (Charles Miers, em entrevista para The New York Times)

Este artigo faz parte de uma pesquisa que tem como tema a sensorialidade e o uso integrado
das narrativas textuais, visuais e táteis em livros adultos de literatura. Como a a expertise do design
na elaboração do conceito, das escolhas da técnica e o uso das tecnologias, possibilita uma contex-
tualização gráfica tão importante quanto o seu texto literário, promovendo a experiência múltipla e
a coautoria.
O livro “S. – o navio de Teseu” foi escolhido como caso exemplar por seus recursos criativos e
técnicos, por sua edição e produção complexas e por ser um livro de literatura de ficção, catalogado
na Câmara Brasileira do Livro como Romance Americano, considerado adulto por não ter classificação
definida. Este livro é um objeto que rompe parâmetros editoriais, questiona conceitos estabelecidos,
levando a uma reflexão acerca das novas possibilidades do objeto livro, do design e da leitura na
contemporâneidade.

S. – O NAVIO DE TESEU

Na era do e-mail e das mensagens instantâneas, quando tudo é enviado para a nuvem e tor-
na-se intangível, “S.”é intencionalmente tangível. Queríamos incluir coisas e que você pode

1 Mestranda do PPG em Design da PUC-Rio. E-mail: tita@titanigridesign.com


2 Professora Dra. do PPG em Design da PUC-Rio. E-mail: nojima@puc-rio.br

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segurar nas mãos: cartões postais, fotocópias, documentos jurídicos, páginas de hornais, um
mapa desenhado em um guardanapo (Abrams, em entrevista para The New Yorker)

Figura 1: O livro “The ship of Theseus” e seus 32 encartes manipuláveis


Fonte: https://www.theguardian.com/books/2013/oct/27/jj-abrams-ship-of-theseus

“S – The ship of Theseus” foi concebido e produzido pelo produtor norte americano J.J. Abrams,
escrito pelo roteirista Doug Dorst e lançado nos Estados Unidos em 2013 pela Mulholland Books. No
Brasil, o livro foi publicado em novembro de 2015 pela editora Intrínseca, com uma tiragem inicial
de 12 mil exemplares. “S. – O navio de Teseu” é vendido em uma caixa preta lacrada e shrinkada,
impedindo o leitor de abrir o livro e de folhear suas páginas. Nas livrarias, somente um folder ou o
vendedor podem fornecer maiores informações. Apesar disso e do preço que, em maio de 2016, va-
riava entre R$82,00 e R$94,90, “S.” vendeu em torno de 150 a 180 livros por semana, e, em 3 meses,
sua tiragem estava esgotada no estoque da editora.

Figura 2: livro “O navio de Teseu”sendo desvelado.


Fonte: http://bjc.uol.com.br/2016/01/05/livro-sensacional-edicao-de-s-no-brasil/

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“S. – O navio de Teseu” se destaca pelo seu design singular. Ao romper o lacre e remover a caixa
preta, o leitor se distancia de “S.” e dos autores Abrams e Dorst para entrar em contato com “O navio
de Teseu” – um livro antigo escrito por V. M. Straka e traduzido por F.X. Caldeiras. O “Navio” tem
marcas de desgaste, de manuseio, e uma etiqueta dewye decimal colada na lombada indicando uma
localização de biblioteca. Na primeira página aparece escrita uma solicitação: “caso encontre este
livro, por favor devolva-o à sala P19, Biblioteca Central, Pollard State University”.

Figura 3: Miolo de “O navio de Teseu. | Figura 4: O livro aberto e seus efêmeros manipuláveis.
Fonte: http://www.goodreads.com/book/show/17860739-s

Ao folhear o livro as suas 458 páginas estão escritas à mão, rabiscadas e desenhadas com
doodles3 , feitos com lápis grafite e canetas coloridas. Além disto, estão encartados ao longo de suas
páginas, 32 efêmeros manipuláveis como cartas, folha de jornal, postais, foto, recorte, fax, Xerox, etc.
O primeiro contato com o livro confunde o leitor, provoca um estranhamento entre os sentidos e a
mente através da interação e da manipulação real destes efêmeros. Há uma tentativa de compreen-
der o caráter verossímil e mimético do contexto apresentado.
“S. O navio de Teseu” conta a história de S., um homem sem memória que é sequestrado e
levado a bordo de um navio com uma tripulação apavorante. Vários acontecimentos cíclicos são de-
sencadeados e o homem se vê em uma busca incessante sobre sua própria identidade. Nas margens
do livro, dois leitores fictícios, o Eric e a Jennifer se comunicam através de mensagens manuscritas
e dos efêmeros que encartam ao longo do livro, procuram pistas sobre o autor Straka e orientam o
leitor real a desvendar os enigmas e as cifras escondidas nas notas de rodapé, escritas pelo tradutor
F.X. Caldeiras. O leitor real é levado a vivenciar uma experiência imersiva completa.
As narrativas verbais, visuais e táteis do livro se destacam por sua construção em camadas. A
primeira camada é o conjunto do projeto idealizado pelos autores reais, J.J. Abrams e Doug Dorst,
representado pela caixa preta. A segunda camada é a história de Eric e Jennifer, nos manuscritos da
marginália, que se complementa na terceira camada de leitura referente à manipulação dos efême-
ros encartados. A quarta camada é a história de “O Navio de Teseu”, que por sua vez envolve a cama-
da de leitura das notas de rodapé e do prefácio do tradutor da obra, F.X. Caldeiras. Segundo Brendon
Wocke, as camadas de leitura do livro “não só exigem que o leitor descodifique a complexidade
cronológica da história, mas também escolha como irá lê-la”.

3 Desenhos feitos de forma descompromissada, podem ser aleatórios ou relacionados com algum pensamento.

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Figura 5: Representação gráfica das camadas de leitura.

O BRIEFING E O CONCEITO ORIGINAIS

O navio de Teseu tinha que ficar sozinho ou então a coisa toda desmoronaria. Tem de ser crível
como um livro que há muito tempo tem sido amplamente lido e estudado. Caso o contrário, a
história nas margens não seria boa o suficiente para transportar essa ilusão e o projeto todo
seria apenas um gimmicky4 . (Dorst, em entrevista para a Fast Company Magazine)

O insight para “S. – O navio de Teseu” surgiu em 1998 no aeroporto internacional de Los An-
geles, quando Abrams encontrou um livro de autoria de Robert Ludlum, abandonado em um banco.
Dentro do livro havia um pedido escrito à mão: “quem encontrar esse livro, por favor leia e deixe-o
em algum lugar para que outra pessoa o encontre”. Em entrevista para The New Yorker, Abrams con-
ta que isto o fez “lembrar dos tempos de escola, de olhar as notas escritas nas margens dos livros
emprestados da biblioteca. Esta otimista e romântica ideia de deixar um livro com uma mensagem
para alguém.” Assim, Abrams imaginou o quanto seria interessante se “ao invés de colocar o livro de
volta para que outro o leia, a pessoa que pegou o livro se sentisse compelido a continuar a conversa?
E se a conversa, o relacionamento, se iniciasse dentro do livro?” (The New Yorker). A partir disto foi
elabrada a ideia central do livro.
Dorst comenta em entrevista à revista The New York Times que “Abrams queria um romance
que se desdobrasse nas margens de outro romance. Desenvolvemos algumas ideias ao longo de um
ano, até que reunimos uma amostra para vender o livro” (The New York Times). Depois, segundo
Dorst, o projeto “foi ficando cada vez mais complexo à medida que ia tomando forma”.

Quando nos encontrávamos (Abrams e Dorst), fazia parte de nossas discussões que o projeto
não tivesse apenas anotações no miolo, mas a idéia de que ela poderia ter também algumas
partes físicas, tangíveis, removíveis, artefatos que representassem a relação e a investiga-
ção deles (Eric e Jen). Qual seria a lista de desejos das coisas que poderíamos ter no livro?
(Abrams, em entrevista para a CNN)

A minha lista de desejos era ridicularmente longa. Algumas vezes me ocorria, enquanto eu
estava escrevendo, que poderia ter um sortimento de peças informativas e documentos que

4 Recurso, artifício ou macete destinado a atrair a atenção do público.

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O design diferenciado de “S. – o navio de Teseu” integra as narrativas textuais, visuais e táteis,
possibilitando uma contextualização gráfica tão importante quanto o seu texto literário, viabilizan-
do uma imersão completa. A linguagem realizada por meio do design, através de conceitos, de suas
qualidades gráficas e tecnologias, ilustram, informam, comunicam e desenvolvem uma narrativa vi-
sual rica, multissensorial, repleta de significados. Assim, ao analisar a caixa “S.” e o livro “O navio de
Teseu”, os signos visuais se relacionam com os fundamentos do design: forma, significado e função.
Segundo Flusser, “embora textos expliquem imagens a fim de rasgá-las, imagens são capazes de ilus-
trar textos, a fim de remagicizá-los” (FLUSSER, 1985, p.8).

Figura 9: A caixa “S.” | Figura 10: O lacre da caixa “S.”


Fotos: produzidas para a pesquisa

A caixa de “S.” é preta, fosca, lacrada e shrinkada com plástico, impedindo que se veja o seu
conteúdo. O “S.” na tipologia gótica impresso em verniz preto brilhoso ocupa toda a sua dimensão,
representando um nome interrompido. Do outro lado, as poucas informações não deixam claro sobre
o que é o produto nem seu conteúdo – a intenção é não revelar o interior.
O lacre de papel beje envelhecido percorre a frente, a lateral e segue até o outro lado da caixa.
O desenho de um macaco e dois nomes ilustram a frente do lacre, uma rosa dos ventos com a letra
‘S’ no centro e uma caravela com a frase “O que vem pelo mar para lá deve voltar”. Para Leon Idris do
blog Prelúdios “a busca de identidade é imaginada neste livro como uma viagem marítima, e o ‘eu’,
essa essência perdida, é como um espaço dividido, como terras separadas pelo mar”. A caixa “S.” é o
túnel do tempo e tem a função de separar os dois universos: o universo real, dos autores J.J. Abrams
e Doug Dorst, em sua concepção gráfica mais contemporânea, o lugar do marketing das informações
precisas; e o universo da de Straka, da ficção – o espaço do faz-de-conta, é o convite à imersão. O
lacre é o único elemento gráfico no livro que é estragado pelo leitor real – uma vez rompido, não tem
volta – e o seu interior é revelado.
A caixa preta remete a algo que está no lugar de outra coisa, que substitui, que veste, que arma-
zena a informação. A caixa vazia é a memória a ser construída – a valise que o personagem S. carrega
consigo. Também é a carcaça, é o estado mnemônico do personagem, lhe dando o direito de pre-
enchê-la com novos significados. Ao longo do livro, aparecem várias referências textuais e gráficas
sobre caixas, remetendo ao vazio da busca de uma identidade que já não existe mais.

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Figura 11: Doodle da pg.100. | Figura 12: Frase retirada da página 115. | Figura 13: a caixa vazia de “S.”
Fotos: produzidas para a pesquisa

Ao se romper o lacre, desvela-se o livro “O navio de Teseu” do autor V. M. Straka, publicado pela
editora Sapatos Alados em 1949, um livro de capa dura, forrado com um papel cinza que simula um
tecido. O exemplar pertence à biblioteca do colégio Laguna Verde e encontra-se desgastado pelo
uso, com páginas amareladas, escrito e rabiscado, além de possuir vários documentos encartados em
seu interior. Quando o livro é retirado da caixa, fica claro que um outro universo é apresentado. “O
navio de Teseu” se coloca com um mais personagem.

Figura 14: livro “O navio de Teseu” e seus encartes efêmeros.


Fonte: foto produzida para a pesquisa.

Logo na capa de “O navio de Teseu” percebe-se que a linguagem de livro antigo, clássico, é a
que irá nortear toda a sua história. A encadernação em capa dura, a forração em papel cinza imitando
um tecido, a tipologia arte decô usada no título e no nome do autor, a ilustração vetorial simples e
gráfica do navio e do oceano, são características estéticas que simulam o design editorial da década
de 40-50.
Na ilustração da capa, um oceano é representado pelo rodamoinho, mas pode ser uma espiral
infinita, elementos visuais que remetem à história do livro, ao personagem sem memória, à história
cíclica, que ora se afasta e ora retorna – é o túnel do tempo. A ilustração tem uma forma labiríntica,
remetendo ao minotauro que, na mitologia grega é morto por Teseu.

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Na lombada, uma etiqueta aplicada sobre a encadernação – uma Dewey Decimal Classification
– informa que o livro é um exemplar de biblioteca e indica a sua localização exata. Ao abrir o livro,
um carimbo “livro para empréstimo” complementa a mensagem anterior indicando que o livro não
pertence à ninguém. “S. – O navio de Teseu” passa a ser um livro roubado também pelo leitor real,
colocando-o como cúmplice de Eric e Jennifer.

Figura 15: Guarda do livro | Figura 16: Carimbos de check in na contra-capa | Figura 17: Carimbo e manuscrito na folha
de rosto.
Fonte: fotos produzidas para a pesquisa.

Na folha de rosto, o carimbo da biblioteca Laguna Verde evidencia o não pertencimento do livro
pelo leitor real, indicando seu furto. Na contra-capa interna, os carimbos de check out da biblioteca
indicam a passagem de tempo. No alto da contra-capa, uma mensagem orienta os cuidados com o
livro, o que não ocorre, como é evidenciado nos manuscritos – espera-se que o leitor-real denuncie
este ato à biblioteca. Os carimbos têm cores idênticas às disponíveis no mercado, com suas rasuras,
manchas e sobreposições e indicam um descuido típico do ato de carimbar.

Figura 18: Manuscritos na marginalia | Figura 19: Carimbo da biblioteca


Fonte: fotos produzidas para a pesquisa.

As mensagens deixadas por Eric e Jennifer na marginália, quebram o tabu do livro intocável, do
livro sagrado, e por ser um livro de biblioteca este ato transgride a orientação escrita no carimbo da
contra-capa. “O navio de Teseu” é um livro lido, manuseado e danificado por outros leitores – é um
objeto profanado.

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Figura 20: Manuscritos nas diversas cores de canetas e à lapis.


Fonte: fotos produzidas para a pesquisa.

As tipologias diferentes deixam claro a autoria da escrita: Jennifer tem a letra mais arredondada,
cursiva e utiliza canetas nas cores laranja, azul e roxa. As de Eric são em letra de forma, normalmente
à lápis ou em canetas preta, vermelha e verde, são mais formais, e percebe-se que ele é mais velho
e mais inteligente que Jen. O instrumento utilizado indica noção de tempo: as primeiras mensagens,
de Eric, eram escritas à lápis, havia um cuidado de preservar o livro, mas Jen começa a escrever a ca-
neta e em um dado momento eles utilizam canetas de ponta mais grossas, indicando que não há mais
nenhum cuidado com a conservação do livro. As cores representam a passagem de tempo, ao final
ambos estão escrevendo juntos, lado a lado, trocando a mesma caneta preta, indicando intimidade.

Figura 21: Detalhe de alguns anexos de “O navio de Teseu”.


Fonte: http://www.intrinseca.com.br/blog/2015/11/o-quebra-cabeca-literario-de-j-j-abrams/

Os 32 efêmeros encartados em páginas específicas, são produzidos em diferentes papéis, gra-


maturas, acabamentos e recursos gráficos como facas de corte, vinco, entre outros, de acordo com a
função simbólica, estética e prática de cada um. Como uma carta amarelada em papel pautado, um
recorte de jornal informando um obituário, um postal cujo o carimbo é dos Correios brasileiro de
1940, um fax, uma xerox de um documento, etc.
Os efêmeros “brincam” com a percepção visual do leitor ao utilizar diferentes materiais e técni-
cas, evidencia a troca de experiências entre o manipulador e o objeto manipulado e provoca tensão

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concreta de um voyerismo latente presente em todas as camadas de leitura do livro. As referências


simbólicas em cada escolha do design de “S.” fazem com que o leitor vivencie o conteúdo textual
através da materialidade, proporcionando uma imersão e uma experiência completa de leitura. A
ilusão de não ficcionalidade é intensificada pelos conjuntos de cartas, dos cartões e dos postais,
principalmente pelo tratamento gráfico com diferentes gramaturas, formatos, tonalidades de papéis,
versos diferenciados e a criação de marcas d’água, cabeçalhos e iniciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Roger Chartier em seu livro “Desafios da escrita” (Chartier, 2002), o mundo digital está
alterando as formas de publicação, a identidade, a autoria, o próprio conceito de livro e a relação do
leitor com o texto impresso. Em um cenário de transformações, o design editorial precisa atender a
um leitor que é reflexo de uma sociedade multimidiática e deve se destacar pela inovação e criati-
vidade, redefinindo, reformulando e enriquecendo suas funções, diferenciando-o. O design se torna
um agente fundamental, passando a ser deste campo, a responsabilidade de fornecer os aportes
sensoriais e interativos aos suportes textuais.
O uso da linguagem sincrética do design de “S.– O navio de Teseu” demonstra a narrativa verbal
e a visual imbricadas, resultando num processo colaborativo, maleável e dinâmico, promovendo no-
vas experiências e fundamental para a imersão da leitura na atualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRAIDA, Frederico.; NOJIMA, Vera Lúcia. Tríades do design: um olhar semiótico sobre a forma,
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FLUSSER, Vilém. A filosofia da caixa preta - ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Editora
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