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Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe-
ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos
de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto
contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de
material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A
seguir, apresentamos cada seção:
De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas
o território nacional. para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para
evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida
a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma
preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre
aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em
teoria seu dia a dia.
Herlan Fellini
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© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020
Todos os direitos reservados.
Autores
Lucas Limberti
Murilo Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira
Diretor-geral
Herlan Fellini
Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista
Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva
Imagens
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Shutterstock (https://www.shutterstock.com)
ISBN: 978-65-88825-04-4
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o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis-
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2020
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SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA
Aulas 27 e 28: Colocação pronominal 6
Aulas 29 e 30: Período composto: orações coordenadas e subordinadas adjetivas 8
Aulas 31 e 32: Período composto: orações subordinadas substantivas 12
Aulas 33 e 34: Período composto: orações subordinadas adverbiais 14
LITERATURA
Aulas 27 e 28: Realismo no Brasil 42
Aulas 29 e 30: Naturalismo no Brasil 61
Aulas 31 e 32: Parnasianismo 73
Aulas 33 e 34: Simbolismo 84
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Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora
da identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional.
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público-alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como intimidação, sedução, comoção, chan-
H24
tagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar, pela análise de suas linguagens, as tecnologias de comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem.
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GRAMÁTICA: Incidência do tema nas principais provas
Todos os temas deste livro têm alta incidência Compreender como os pronomes funcionam
no Enem. dentro do período, contribuindo para sustentar
as relações de coordenação e subordinação
dentro dos períodos pode ser um diferencial
ao candidato.
Aborda o uso dos pronomes apresentados Compreender a importância das conjunções Ocorre com certa frequência as funções prono-
neste livro. Além disso, perceber a importância em relação ao estudo dos períodos simples e minais dentro de orações e períodos. Assim,
das relações de coordenação e subordinação compostos coordenados e subordinados será o conteúdo deste livro aborda os elementos
dentro dos períodos será um diferencial para a chave para o bom desempenho. que constituem o período e as relações de
questões que envolvam textos, literários coordenação e subordinação.
ou não.
A resolução dos exercícios exige conheci- Além de saber reconhecer as regras da colo- Aborda os sentidos possíveis decorrentes A objetividade de que se compõe dá margem
mentos sobre a especificidade de cada classe cação pronominal, o candidato deverá reunir das relações de subordinação e coordena- para questões bastante diretas sobre os
gramatical. É relevante, então, saber reconhe- a maior quantidade de conhecimento sobre ção. Compreender como essas relações se usos dos pronomes e os efeitos de sentido
cer como as próclises e ênclises atuam, bem as construções sintáticas de coordenação e constituem e por meio de quais termos elas decorrentes das relações dentro do período
como as conjunções para efeitos distintos de subordinação. se estabelecem será de grande ajuda ao composto.
sentido dentro de um período. candidato.
UFMG
Frequentemente apresenta textos configura- A relação entre linguagens verbal e não É comum questões que se atentem aos
dos por linguagens verbal e não verbal. Assim, verbal é uma constante neste vestibular. elementos sintáticos de que um texto se vale
compreender como os pronomes e as relações Propagandas e charges, então, acabam para a sua composição. Portanto, convém
dentro do período produzem determina- sendo fonte para questões. Reescrever frases estar seguro sobre o uso correto dos termos
dos efeitos de sentido será essencial ao pode ser comum, para tanto, saber utilizar que compõem os períodos compostos.
candidato. corretamente os pronomes será
um diferencial.
O uso dos pronomes pode aparecer em A abordagem deste vestibular ampara-se na Bastante direto, apresenta muitas questões a
questões de aplicação direta, por isso, atenção aos diferentes usos das conjunções, respeito de conhecimentos sobre a colocação
compreender as funções e regras de ênclise de modo a construir efeitos de sentido dentro pronominal. É comum, também, que questões
e próclise será muito importante. Ademais, de um período composto. Ademais, entender o ligadas aos efeitos de sentido advindos das
este caderno traz estudos sobre os períodos uso dos pronomes trabalhados neste caderno relações de subordinação apareçam.
simples e compostos. poderá ser de grande ajuda.
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AULAS COLOCAÇÃO PRONOMINAL
27 E 28
COMPETÊNCIAS: 1e8 HABILIDADES: 1 e 27
6
Exemplo c) Nas orações reduzidas de infinitivo.
Sempre lhe contarei os meus segredos. (O advér- Exemplos:
bio “sempre” exige o uso de próclise.)
Convém dar-lhe um pouco mais de tempo.
b) A mesóclise é uso exclusivo da língua culta e da moda-
Espero enviar-lhe isto até amanhã cedo.
lidade literária. Não a encontramos na comunicação oral
mais básica. d) Nas orações reduzidas de gerúndio (desde que não ve-
nham precedidas de preposição “em”).
c) Com esses tempos verbais (futuro do presente e futuro
do pretérito) jamais ocorrerá a ênclise. Exemplos:
A mãe adotiva ajudou a criança, dando-lhe cari-
1.3. Ênclise nho e proteção.
Temos ênclise quando o pronome surge depois do verbo. Ele se desesperou, deixando-se levar pela situação.
Seu emprego obedece às seguintes regras: Observação: Se o verbo não estiver no início da frase, nem
a) Nos períodos iniciados por verbos (desde que não este- conjugado nos tempos Futuro do Presente ou Futuro do
jam no tempo futuro), pois, segundo a gramática normati- Pretérito, é possível usar tanto a próclise como a ênclise.
va, não podemos iniciar frases com pronome oblíquo. Exemplos:
Exemplos: Eu me encontrei com ela.
Fale-me o que está acontecendo. Eu encontrei-me com ela.
Compravam-se muitos produtos antes da crise.
b) Nas orações imperativas afirmativas.
Exemplos:
Ligue para seu primo e avise-o do horário
Ei, ajude-me com essa receita!
DIAGRAMA DE IDEIAS
SINTAXE DE
COLOCAÇÃO
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AULAS PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES
29 E 30 COORDENADAS E SUBORDINADAS ADJETIVAS
COMPETÊNCIAS: 1, 6 e 8 HABILIDADES: 1, 18 e 27
8
1.2. Orações coordenadas sindéticas Ora mostra-se alegre, ora expressa tristeza profunda.
Estarei lá, quer você aceite, quer não.
Conforme o tipo de conjunção que as introduz, as orações
coordenadas sindéticas podem ser aditivas, adversati- Atenção: nesse último exemplo, a segunda oração fica su-
vas, alternativas, conclusivas ou explicativas. bentendida, para evitar a redundância do mesmo verbo.)
a) As aditivas expressam ideia de adição, de acréscimo. d) As conclusivas exprimem conclusão ou consequên-
Regularmente indicam fatos, acontecimentos ou pensa- cia referentes à oração anterior. As conjunções típicas são:
mentos dispostos em sequência. As conjunções coorde- logo, portanto e pois (posposto ao verbo). Usa-se ainda:
nativas aditivas típicas são e e nem (e + não). então, assim, por isso, por conseguinte, de modo que, em
vista disso etc.
Exemplos:
Exemplos:
Viajaram e trouxeram muitas fotos de lembrança.
Tenho prova amanhã, portanto não posso ir ao show.
Não trouxeram presentes nem fotos da última viagem.
A situação econômica é delicada; devemos, pois, agir
Observação: As orações sindéticas aditivas podem tam- com cautela.
bém estar ligadas pelas locuções “não só... mas (tam-
bém)”; “tanto... como” e semelhantes. Essas estruturas O time jogou bem, por isso foi vencedor.
costumam ser usadas quando se pretende enfatizar o Aquela substância é toxica, logo deve ser manuseada
conteúdo da segunda oração. Ele não só canta, mas com cuidado.
também (ou como também) interpreta muito bem.
Ela sabe tanto matemática como português. e) As explicativas Indicam uma justificativa ou uma ex-
plicação referente ao fato expresso na declaração anterior.
b) As adversativas exprimem fatos ou conceitos que se As conjunções que merecem destaque são: que, porque e
opõem ao que se declara na oração coordenada anterior, pois (obrigatoriamente anteposto ao verbo).
estabelecendo entre elas contraste ou compensação. Mas Exemplos:
é a conjunção adversativa típica. Além dela, empregam-se:
porém, contudo, todavia, entretanto e as locuções no en- Vá com cuidado, que o caminho é perigoso.
tanto, não obstante, nada obstante. Mudou de emprego, porque estava farto da rotina.
Exemplos: Ligue para ela, pois hoje é o seu aniversário.
Eles embarcariam para a Europa dentro de uma
hora, mas perderam o voo. 1.3. Orações subordinadas adjetivas
O cachorro não é bonito; no entanto, é simpático. Uma oração subordinada adjetiva tem valor e função de ad-
jetivo, ou seja, equivale a essa classe de palavras. As orações
O problema é grave; contudo, há solução. adjetivas vêm introduzidas por pronome relativo e exercem a
função de adjunto adnominal do antecedente.
Importante Exemplo:
Dependendo do contexto em que for empregada, Este é o livro que te indiquei como referência.
a conjunção e pode indicar ideia de adversidade.
Compraram vários presentes e perceberam depois A conexão entre a oração subordinada adjetiva e o termo
que não caberiam nas malas. Deitou-se cedo e não da oração principal que ela modifica é feita pelo pronome
conseguiu dormir. relativo “que”.
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1.3.1. Classificação das orações
subordinadas adjetivas
Na relação que estabelecem com o termo que caracterizam,
as orações subordinadas adjetivas podem atuar de duas
maneiras diferentes. Há as que restringem ou especificam o
sentido do termo a que se referem, individualizando-o. Nes-
sas orações, não há marcação de pausa; são as chamadas
orações subordinadas adjetivas restritivas. multimídia: música
Há também as orações que realçam um detalhe ou am-
plificam dados sobre o antecedente, já suficientemente Águas de março (Tom Jobim)
definido; são as denominadas orações subordinadas É pau, é pedra, é o fim do caminho
adjetivas explicativas. É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
Exemplo: É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
O homem que trabalha é útil à sociedade. É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
A ausência de vírgula restringe o sentido da palavra homem, É madeira de vento, tombo da ribanceira
designando um tipo de homem entre vários. É o mistério profundo, é o queira ou não queira
Trata-se de oração subordinada restritiva que apresenta va- É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
lor sintático de adjunto adnominal, uma vez que qualifica
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
o termo anterior. Das águas de março, é o fim da canseira
Exemplo: É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
O homem, que trabalha, é útil à sociedade. É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
A presença de vírgula amplia o sentido da palavra homem,
É o fundo do poço, é o fim do caminho
que pode ser entendida como todo homem.
No rosto, o desgosto, é um pouco sozinho
Trata-se de oração subordinada explicativa, pois acrescen- É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
ta uma informação acessória; desempenha também valor É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
sintático de adjunto adnominal, uma vez que qualifica o É a luz da manhã, é o tijolo chegando
termo anterior. É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
Observação: A oração subordinada adjetiva explicativa é
separada da oração principal por uma pausa, que, na es- É o projeto da casa, é o corpo na cama
crita, é representada pela vírgula. É comum, por isso, que É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
a pontuação seja indicada como forma de diferenciar as É um resto de mato, na luz da manhã
orações explicativas das restritivas. De fato, as explicativas São as águas de março fechando o verão
vêm sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não. É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
Au, edra, im, minho
Esto, oco, ouco, inho
Aco, idro, ida, ol, oite, orte, aço, zol
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
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DIAGRAMA DE IDEIAS
ORAÇÕES ORAÇÕES
COORDENADAS ADJETIVAS
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AULAS PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES
31 E 32 SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS
COMPETÊNCIAS: 1, 6 e 8 HABILIDADES: 1, 18 e 27
Atenção
É importante, nesse momento, que sejam recuperados
os conceitos de identificação de conjunções integran-
tes anteriormente aprendidos. Lembremos que, para
localizarmos uma conjunção integrante, devemos
substituir os elementos “que” ou “se” pelo pronome
demonstrativo “isso”. A função que couber ao prono-
me indicará a função exercida pela oração.
multimídia: música
Exemplos: Eu sei que vou te amar
É importante que chegue cedo ao atendimento. (Tom Jobim)
Substituindo a oração subordinada em destaque pelo Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
pronome “isso”, temos:
Em cada despedida eu vou te amar
É importante isso (ou, na ordem direta: Isso é impor- Desesperadamente, eu sei que vou te amar
tante). Percebemos então que a função sintática do
E cada verso meu será
pronome “isso” na construção é de sujeito. Vejamos Pra te dizer que eu sei que vou te amar
outro exemplo: Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
Não sei se entregaremos a encomenda hoje.
A cada ausência tua eu vou chorar
Substituindo a oração subordinada em destaque pelo Mas cada volta tua há de apagar
pronome “isso”, temos: O que esta ausência tua me causou
Suponho isso (o pronome “isso” completa o sentido do Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
verbo “supor”). Percebemos então que a função sintáti- A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
ca do pronome “isso” na construção é de objeto direto.
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b) objetiva direta: exerce a função de objeto direto do
verbo da oração principal: Importante
Exemplo: Não podemos esquecer que as orações subordinadas
Eu percebo que ficarei com bastante sono hoje. substantivas objetivas indiretas integram o sentido de
um verbo, enquanto as orações subordinadas subs-
Oração principal: Eu percebo tantivas completivas nominais integram o sentido de
Oração subordinada: que ficarei com bastante sono um nome. Para distinguir uma da outra, é necessário
levar em conta o termo complementado.
hoje (sintaticamente exerce função de objeto direto da
oração principal).
e) predicativa: exerce o papel de predicativo do sujeito do
c) objetiva indireta: exerce a função de objeto indireto
verbo da oração principal e vem sempre depois do verbo “ser”.
do verbo da oração principal (a conjunção integrante vem
precedida de preposição). Exemplo:
Exemplo: O grande mal é que me esqueço das coisas.
Tudo depende de que ela se esforce. Oração principal: O grande mal é
Oração principal: Tudo depende Oração subordinada: que me esqueço das coisas.
(sintaticamente exerce função de predicativo da oração
Oração subordinada: de que ela se esforce. (sinta-
principal.)
ticamente exerce função de objeto indireto da oração
principal.) f) apositiva: exerce a função de aposto de algum termo
da oração principal.
d) completiva nominal: exerce a função de comple-
mento nominal (complementa o sentido de um nome que Exemplo:
pertença à oração principal; também vem marcada por Eu espero a seguinte solução: que religuem a
preposição). energia elétrica em casa.
Exemplo: Oração principal: Eu espero a seguinte solução
Sou favorável a que o absolvam. Oração subordinada: que religuem a energia elétri-
Oração principal: Sou favorável ca da casa. (sintaticamente exerce função de aposto da
oração principal).
Oração subordinada: a que o absolvam. (sintati-
camente exerce função de complemento nominal da Atenção: a oração subordinada substantiva apositiva é
oração principal.) a única que pode prescindir da conjunção integrante. Isso
ocorre por conta de os que a acompanham funcionarem,
também, como elemento integrante.
DIAGRAMA DE IDEIAS
ORAÇÕES
SUBSTANTIVAS
13
AULAS PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES
33 E 34 SUBORDINADAS ADVERBIAIS
COMPETÊNCIAS: 1, 6 e 8 HABILIDADES: 1, 18 e 27
a) causa e) comparação
Exemplo: Exemplo:
Como ninguém se interessou pelo projeto, não Andava rápido como um foguete.
houve alternativa a não ser cancelá-lo. Oração principal: Andava rápido
Oração principal: não houve alternativa a não ser Oração subordinada: como um foguete (assume va-
cancelá-lo. lor de adjunto adverbial de comparação, uma vez que
Oração subordinada: Como ninguém se interessou estabelece uma comparação com a ação indicada pelo
pelo projeto (assume valor de adjunto adverbial de cau- verbo da oração principal).
sa, uma vez que provoca um determinado fato, ao mo- f) conformidade
tivo do que se declara na oração principal.)
Exemplo:
b) consequência
Fez o bolo conforme a receita.
Exemplo:
Oração principal: Fez o bolo
Sua fome era tanta que comeu com casca e tudo.
Oração subordinada: conforme a receita (assume va-
Oração principal: Sua fome era tanta lor de adjunto adverbial de conformidade, pois exprime
14
uma regra, um modelo adotado para a execução do que que acrescenta uma ideia de tempo ao fato expresso
se declara na oração principal). na oração principal, podendo exprimir noções de simul-
taneidade, anterioridade ou posterioridade).
g) finalidade
Exemplo:
Li o manual a fim de aprender mais sobre como Importante
usar o produto. Não confundir as orações coordenadas explicativas
Oração principal: Li o manual com as subordinadas adverbiais causais. As ora-
ções coordenadas explicativas caracterizam-se por
Oração subordinada: a fim de aprender mais sobre
fornecer um motivo que explica a oração anterior.
como usar o produto (assume valor de adjunto adver-
bial final, pois expressa a intenção, a finalidade daquilo Exemplo:
que se declara na oração principal). A criança devia estar doente, porque
h) proporção chorava muito.
(o choro da criança poderia não
Exemplo:
ser a causa de sua doença.)
Viaja ao exterior à medida que a empresa soli-
As orações subordinadas adverbiais causais expri-
cita seu trabalho.
mem a causa do fato.
Oração principal: Viaja ao exterior
Exemplo:
Oração subordinada: à medida que a empresa so-
Ele está triste porque perdeu seu
licita seu trabalho (assume valor de adjunto adverbial
emprego.
proporcional, pois exprime ideia de proporção, ou seja,
(a perda do emprego é a cau-
um fato simultâneo ao expresso na oração principal).
sa da tristeza dele.)
i) tempo
Observe também que há pausa – vírgula, na escrita
Exemplo: – entre a oração explicativa e a precedente e que ele
trabalha com sistemas imperativos (verbos no impe-
Quando você for a Londres, traga-me um presente.
rativo) ou hipotéticos (marcadores de dúvida como
Oração principal: traga-me um presente. “talvez”, verbo “dever”).
Oração subordinada: Quando você for a Londres
(assume valor de adjunto adverbial temporal, uma vez
DIAGRAMA DE IDEIAS
ORAÇÕES
ADVERBIAIS
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ENTRE TEXTOS – INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS:
Incidência do tema nas principais provas
Por ser um vestibular crítico, a ideia de inter- Boa parte das questões da frente de linguagem A prova conduz a interpretação de textos em
pretação acontece, sobretudo, pela habilidade diz respeito à interpretação. Reconhecer textos não paralelo aos textos literários, majoritariamente.
compreensiva do candidato. Interpretar textos em verbais e ser capaz de amplificar os seus diálogos Compreender e interpretar corretamente
versos poderá ser uma ferramenta eficaz no trato com as áreas artísticas será uma habilidade útil. textos em versos será um diferencial.
com os textos literários.
Dentre as habilidades pedagógicas, a prova A interpretação de textos pode ser a chave É uma prova de conceitos. A interpretação de De forma geral, a prova equilibra bem as frentes
costuma trabalhar, em suas questões, a aplica- para um bom resultado. Saber ler um texto em textos ocorre de maneira direcionada, por isso, da área de Português, de modo que as questões
ção. Assim, relacionar rapidamente textos não verso será de grande ajuda. saber reconhecer, de forma rápida e eficaz, os de interpretação se tornam bastante direciona-
verbais a elementos artísticos pode ser uma elementos artísticos de um texto não verbal será das. Conhecer os conceitos por trás da produção
forma de avaliar a capacidade interpretativa uma ferramenta extra. dos textos em versos ajudará o candidato a
do aluno. interpretá-los.
UFMG
A prova alinha a interpretação de textos às obras A habilidade interpretativa trabalha com O exame é objetivo e exige uma capacidade
literárias que costuma exigir na sua lista obri- questões que exigirão do candidato uma leitura leitora fundamental, que demonstre aptidão em
gatória. Por isso, este livro traz duas aulas sobre cuidadosa. Desse modo, compreender que textos reconhecer, em textos não verbais, os elementos
como interpretar textos em versos, para que o em verso têm suas peculiaridades, bem como os artísticos que os compõem. Saber estruturar um
candidato possa dominar todo e qualquer tipo textos não verbais, será um diferencial. texto em verso pode ser um diferencial na hora
de texto literário. de resolver as questões.
De caráter mais material, trabalha com Perceber que essa frente se alinha às frentes A interpretação de textos é a chave para resolu-
questões interpretativas que exigem um de Gramática e Literatura é um excelente pri- ção da grande maioria das questões da prova.
senso crítico apurado. Por isso, seja diante do meiro passo. Por isso, compreender os recursos Manter-se alerta para questões que trabalhem
texto em verso ou do texto não verbal, ter artísticos dos textos não verbais e em versos com textos em versos será muito importante.
em mãos as ferramentas necessárias para a será de grande ajuda ao candidato.
interpretação será um primeiro
passo essencial.
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AULA TEXTOS EM VERSO I
14
COMPETÊNCIA: 5 HABILIDADES: 15, 16 e 17
18
ou discussão que perpassa os 13 primeiros versos e en- Pode-se notar que o primeiro verso que escolhemos é um
contra sua resolução/fecho no último verso. Vejamos um decassílabo perfeito. A contagem, como dito, deve ser en-
exemplo de soneto, de Carlos Drummond de Andrade: cerrada na última sílaba tônica da última palavra do verso (a
palavra “futuro” é paroxítona; sua tônica é a sílaba “-tu”).
Oficina Irritada
Já no segundo verso encontramos outra regra que deve ser
Eu quero compor um soneto duro obedecida (sublinhada no verso): a junção da vogal final de
como poeta algum ousara escrever. uma palavra com a vogal inicial de outra (des-per-te em).
Eu quero pintar um soneto escuro, Também é um verso decassílabo. De acordo com a variabili-
seco, abafado, difícil de ler. dade de sílabas poéticas, as estrofes terão nomes diferentes:
Quero que meu soneto, no futuro, 5 sílabas poéticas: pentassílabo ou redondilha menor
não desperte em ninguém nenhum prazer. 6 sílabas poéticas: hexassílabo
E que, no seu maligno ar imaturo,
7 sílabas poéticas: heptassílabo ou redondilha maior
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
8 sílabas poéticas: octossílabo
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer, 9 sílabas poéticas: eneassílabo
tendão de Vênus sob o pedicuro. 10 sílabas poéticas: decassílabo
Ninguém o lembrará: tiro no muro, 11 sílabas poéticas: endecassílabo
cão mijando no caos, enquanto Arcturo, 12 sílabas poéticas: dodecassílabos ou alexandrinos
claro enigma, se deixa surpreender.
O processo de contagem e separação de sílabas poéticas re-
Temos aí um soneto de estilo clássico, que além de apresen- cebe o nome de escansão.
tar o agrupamento de estrofes que comentamos (dois quar-
tetos e dois tercetos), apresenta elementos de métrica e rima 2.2. Ritmo
bastante determinados. Aliás, é importante nesse momento
O ritmo corresponde a uma “melodia” que se cria no cor-
conhecermos um pouco melhor esses outros elementos.
po do poema por conta da acentuação de certas sílabas
que há nos versos. Usando novamente os versos acima
2. ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO POEMA apresentados, podemos perceber que há um conjunto de
sílabas mais fortes nas mesmas posições de cada verso (no
caso, a segunda, a sexta e a décima são as mais fortes).
2.1. Métrica Esse padrão cria um ritmo que dá certa musicalidade ao
A métrica é a medida dos versos, ou, em termos mais cla- poema, quando este é recitado.
ros, a quantidade de sílabas de cada linha que compõe o
poema. No entanto, a contagem de sílabas poéticas Que/ ro/ que/ meu/ so/ ne/ to,/ no/ fu/ tu/ ro,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
segue um padrão diferente da separação de síla-
bas tradicional. Na contagem de sílabas poéticas deve- não/ des/ per/ te em/nin/ guém/ ne,/ nhum/ pra/zer
mos proceder da seguinte maneira: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
19
Destacamos o sistema de rimas do poema de Drummond.
Fica evidente que é um esquema de rimas em que os ver-
sos se alternam “-uro” e “-er”. Essa sequência de versos
alternados também garante musicalidade ao poema.
3. VERSOS BRANCOS
São chamados de versos brancos aqueles quem sistema mé-
trico organizado, mas não apresentam nenhum tipo de rima.
Exemplo
Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - ELEFANTE (FRAGMENTO)
20
AULA TEXTOS EM VERSO II
15
COMPETÊNCIA: 1, 4 e 5 HABILIDADES: 1, 12, 15, 16 e 17
21
Exemplo: comum de rima, encontrado geralmente em poemas de
Começou de súbito matriz oriental, chamados haicai).
A festa estava mesmo ótima Exemplo:
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima Rosa (que exibida!)
que posa assim toda prosa
(SAMUEL ROSA / RODRIGO FABIANO LEÃO)
é prova de vida.
(GUILHERME DE ALMEIDA)
1.1.3. Classificação por
correspondência fonética 1.1.5. Classificação pela
Ela envolve a capacidade do poeta em estabelecer sistemas organização dentro da estrofe
rímicos a partir de equalizações / coincidências sonoras entre Na aula anterior, vimos também o conceito geral de estrofe.
as palavras que encerram os versos. Agora veremos sua classificação a partir do modo como as
a) Rima perfeita (consoante): há correspondência total de rimas são organizadas pelo poeta.
sons, havendo repetição tanto dos sons vocálicos como dos a) Rimas alternadas (ou cruzadas): as rimas organi-
sons consonantais (a partir da última vogal tônica do verso) zam-se alternadamente, seguindo o esquema ABAB.
Exemplo: (A) - Senhora, partem tão tristes
Destes penhascos fez na natureza (B) - meus olhos por vós, meu bem,
O berço em que nasci: Oh! quem cuidara, (A) - que nunca tão tristes vistes
Que entre penhas tão duras se criara (B) - outros nenhuns por ninguém.
Uma alma terna, um peito sem dureza! (JOÃO ROIZ DE CASTEL-BRANCO)
(CLÁUDIO MANUEL DA COSTA)
b) Rimas emparelhadas (ou paralelas): as rimas orga-
b) Rima imperfeita: há correspondência parcial de sons, nizam-se em duplicatas, seguindo o esquema AABB.
podendo ser as vogais tônicas ou átonas ao final dos ver-
(A) - Vagueio campos noturnos
sos (rimas toantes/assonantes); ou apenas as consoantes (A) - Muros soturnos
(rimas aliterantes) (B) - Paredes de solidão
(B) - Sufocam minha canção.
Exemplo:
(FERREIRA GULLAR)
O cristal do Tejo Anarda
Em ditosa barca sulca; c) Rimas interpoladas (ou intercaladas): as rimas organi-
Qual perla, Anarda se alinda, zam-se em sistemas de oposição, seguindo o esquema ABBA.
Qual concha, a barca se encurva.
(BOTELHO DE OLIVEIRA) (A) - Busque Amor novas artes, novo engenho
(B) - para matar-me, e novas esquivanças;
(B) - que não pode tirar-me as esperanças,
1.1.4. Classificação por (A) - que mal me tirará o que não tenho.
posicionamento da rima (CAMÕES)
Ela envolve a capacidade do poeta em estabelecer siste- d) Rimas encadeadas: as rimas correm entre palavras que
mas rímicos ao final dos versos (algo mais comum) ou em estão no fim de um verso e no início ou meio do outro.
seu interior (algo mais raro).
Salve Bandeira do Brasil querida
a) Rima externa: as coincidências sonoras aparecem no Toda tecida de esperança e luz
final dos versos (é o tipo mais tradicional de rima Pálio sagrado sobre o qual palpita
A alma bendita do país da Cruz”
Exemplo: (FRANCISCO DE AQUINO CORREIA)
O poeta é um fingidor.
e) Continuadas: o esquema rímico segue de modo contí-
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor nuo por todo o poema.
A dor que deveras sente. (A) - Já se viam chegados junto à terra
(FERNANDO PESSOA) (B) - que desejada já de tantos fora,
b) Rima interna: as coincidências sonoras aparecem no (A) - que entre as correntes Índicas se encerra
(B) - e o Ganges, que no céu terreno mora.
interior de um único versos, geralmente entre palavras (A) - Ora sus, gente forte, que na guerra
que estão no meio e no fim desse verso (é um tipo menos (B) - quereis levar a palma vencedora:
22
(A) - Já sois chegados, já tendes diante
(B) - a terra de riquezas abundante! 3. AS RELAÇÕES ENTRE FORMA
(CAMÕES)
E CONTEÚDO NO POEMA
f) Rimas mistas (ou misturadas): as rimas existem, mas
É muito importante para um bom desempenho nas provas
apresentam combinações variadas ao longo do poema (ri-
mando em alguns pontos e não rimando em outros) de vestibular que os alunos entendam que o conteúdo de
um poema (seu assunto) muitas vezes dialoga com sua for-
Os navios existem, e existe o teu rosto ma (estrutura de versos). Vejamos exemplos.
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades, RÁPIDO E RASTEIRO
partem no vento, regressam nos rios.
vai ter uma festa
As palavras que te envio são interditas que eu vou dançar
até, meu amor, pelo halo das searas até o sapato pedir pra parar.
se alguma regressasse, nem já reconhecia aí eu paro, tiro o sapato
o teu nome nas suas curvas claras. e danço o resto da vida
(EUGÉNIO DE ANDRADE) (CHACAL)
23
AULA LEITURA DE IMAGENS I: A ARTE ANTIGA
16
COMPETÊNCIAS: 1e4 HABILIDADES: 1, 12, 13 e 14
24
de frente para o espectador, enquanto a cabeça e as pernas
1.3. Arte egípcia eram vistas de perfil.
Engloba o período que vai de 2649 a.C. e 1070 a.C, e
De acordo com estudiosos, como a arte egípcia estava
apresenta uma notável variedade de expressões artísticas,
intimamente ligada a experiências dinásticas e religiosas
como pinturas (em afrescos e papiros), esculturas, cerâmi-
(mesmo as relações de trabalho, como a que é vista na
cas e obras arquitetônicas. Importante salientar que, nesse
imagem, estavam conectadas à ideia de servir ao faraó), as
período, não havia ainda a distinção entre “arte” e “arte-
imagens não deveriam representar as individualidades (a
sanato”, que aparecerá no Renascimento.
criatividade) do artista. As pinturas também não deveriam
Suas obras, em geral, retratavam doutrinas políticas, sociais ter um caráter altamente naturalista (o observador não
e espirituais, com função dinástica, religiosa e cultural. Ape- deve confundir uma pintura com o indivíduo), ela deveria
sar de existirem alguns sistemas de regras para produção ser explicitamente representativa.
artística, nota-se grande criatividade no desenvolvimento
de certas obras. 1.3.2. Escultura
É muito importante conhecermos as bases artísticas egíp- A escultura egípcia foi trabalhada de maneira bastante
cias, pois elas serão altamente influentes para as produ- detalhista e naturalista, diferente da pintura. Era comum
ções artísticas gregas e romanas em momento posterior. que se encomendassem esculturas que reproduzissem não
apenas os dados físicos do indivíduo (por exemplo, fisiono-
1.3.1. Pintura mia e traços raciais), mas também traços de sua condição
A arte pictórica egípcia, apesar de não apresentar sistemas social. Vejamos a imagem a seguir:
adequados de proporcionalidade (diferença ideal de altura/
largura entre figuras humanas ou mesmo entre humanos
e animais), ou sistema de perspectiva (recurso gráfico que
utiliza o efeito visual de linhas convergentes para criar a ilu-
são de tridimensionalidade do espaço e das formas), traba-
lhava com a peculiar “regra da frontalidade”, que veremos
detalhada na imagem a seguir. A pintura se concentrava
em papiros funerários e afrescos realizados, em geral, no
interior de construções como pirâmides.
A pintura acima é um afresco (aplicação de tintura sobre Trata-se de uma das esculturas mais impressionantes da
estrutura previamente preparada com pedra ou gesso) que arte egípcia. Talhada em calcário fino, conserva até hoje
retrata a vivência nos campos de plantação egípcios. Nela sua base constitutiva original (no Louvre, onde está insta-
vemos um sujeito, à esquerda, que inspeciona os campos lada, passou por leve restauração em 1998). O que mais
de trabalho para o Faraó Nebamun (que teria vivido em chama a atenção é o detalhamento do rosto e do corpo
meados de 1350 a.C.). (que influenciará muito, mais adiante, a arte grega). Há
Sobre a parte estética, é possível reparar que – além de também a preocupação em registrar fielmente o trabalho
não ter perspectiva nem proporcionalidade adequada – se- do escriba, com a mão em forma de pinça, como se esti-
guiam uma estética rígida chamada de “regra da frontali- vesse segurando uma caneta, além de um documento na
dade”, na qual o tronco e um dos olhos eram retratados mão esquerda.
25
1.3.3. Arquitetura
A arquitetura egípcia destacou-se pelo fascinante traba-
lho com construções de pirâmides, esfinges e templos.
Esses monumentos eram realizados para atestar a gran-
diosidade e a imponência do poder político e religioso
dos faraós.
26
empregada no exterior de templos mais baixos, de caráter III. Ordem coríntia
sólido. A coluna não tem base, tem entre quatro a oito mó- A ordem coríntia é característica do final do século V a.C.
dulos de altura, o fuste apresenta vinte estrias (sulcos ver- É um estilo predominantemente decorativo. A coluna apre-
ticais na coluna). O capitel é simples, sem ornamentação, e senta na base um fuste que é composto por vinte e quatro
se assemelha a uma almofada. sulco afiados. O capitel apresenta uma exuberância deco-
rativa que imitavam folhas de uma planta chamada acanto.
Foi um sistema de ornamentação que, posteriormente, foi
muito utilizado na arte romana. Também, o teto difere da
ordem anterior: passa a ser horizontal.
27
quebrando-se facilmente (como vemos na perna do guerrei-
ro, na imagem apresentada acima). A partir daí, começarão,
no século V a.C., as produções de esculturas em bronze, um
material mais resistente, que permitiu inclusive maiores de-
talhamentos da escultura (como, por exemplo, permitir ao
espectador perceber a alternância entre membros tensos –
com veias saltadas – e membros relaxados).
1.4.3. Pintura
A pintura na Grécia antiga não foi o elemento artístico de
maior destaque, e como em outras civilizações, apareceu
como elemento de decoração da arquitetura e da escul-
COLUNAS DE ERECTEION (C. 420 A.C.), NA ACRÓPOLE DE ATENAS
tura. São muito comuns os grandes painéis pintados que
O templo de Erecteion apresenta um conjunto de orna- recobriam paredes de templos ou outras construções. O
mentação ordem jônica, que consistia em corpo das colu- maior destaque fica por conta das pinturas realizadas em
nas mais fino, firmado em uma base (um pequeno círculo cerâmica, mais especificamente em vasos e ânforas.
decorado). O capitel era ornamentado. A arquitrave era Essas pinturas ficaram conhecidas por valorizarem o equi-
marcada por três faixas horizontais. Sobre ela havia uma líbrio e a simetria entre os desenhos apresentados e o for-
faixa de esculturas em relevo. mato curvo dos vasos, além do uso de cores intensas que
davam maior destaque às imagens.
1.4.2. Escultura
A escultura grega se desenvolve no século VII a.C. Muito
influenciados pelos artistas egípcios, os gregos esculpiam
seus trabalhos em grandes blocos de mármore. Seus traba-
lhos escultóricos prezavam o naturalismo das figuras (ten-
tativa de imprimir grande realismo), valorizando a simetria
natural do corpo humano. Nesse sentido, havia preferência
pela pintura de corpos nus, normalmente em posição frontal,
para que a distribuição simétrica fosse mais adequada. Ao
final da composição, a obra deveria ser não apenas realística,
mas também bela em sim mesma (ou seja, havia um ideal de
beleza / perfeição humana na composição das obras).
A escultura grega, por não estar presa a regras religiosas,
pode se desenvolver mais livremente. Desse modo, passa-
mos a ver em períodos posteriores, esculturas mais ousa-
das, em que o corpo humano aparece não apenas de pé,
mas em outras posições, como vemos na imagem a seguir:
EXÉQUIAS – ÂNFORA DA ÁTICA COM FIGURAS NEGRAS (C.540 A.C. – 530 A.C.)
28
1.5. A arte romana apresenta uma planta com uma cúpula circular fechada, que
cria um espaço isolado do exterior onde o povo se reunia
A arte romana recebeu influência definitiva da arte gre- para o culto. Enquanto os monumentos gregos chamavam a
ga, especialmente no que diz respeito à manutenção do atenção pelas peculiaridades de seu exterior, os monumen-
caráter naturalista das obras (esculpidas, em sua maio- tos romanos trarão a atenção para o interior de suas obras.
ria, em bronze). Vemos também um grande número de
inovações na arquitetura, especialmente pela influência O trabalho com os arcos e as abóbadas permitiu também
dos povos etruscos, que deixaram como legado para os outros avanços: enquanto os templos gregos tinham que ser
romanos o uso dos arcos e das abóbadas nas constru- assentados próximos a colinas (tanto para favorecer a segu-
ções. Isso permitiu aos romanos desenvolverem cons- rança, evitando desmoronamentos, quanto para permitir a
truções não só mais amplas, mas também com espaços reunião do povo no entorno do templo), os romanos conse-
internos mais livres (uma vez que os arcos e as abó- guiam sustentar suas obras em qualquer espaço, indepen-
badas ajudavam a eliminar o excesso de colunas que dentemente da topografia, permitindo melhor sustentação e
habitualmente sustentavam as construções gregas). favorecendo boa visão do espaço interno. O Maior exemplo
desse tipo de construção é o Coliseu romano.
Já na pintura, destacam-se os afrescos e as composições
em mosaicos de mármore. Um importante avanço desse
período é o fato de notarmos já em algumas obras os pri-
meiros trabalhos com a técnica da sobreposição (colocação
de um objeto opaco diante de outro, criando uma sensa-
ção de profundidade).
1.5.1. Arquitetura
Os templos romanos – grande destaque do período –
eram, em geral, construídos em um plano mais elevado COLISEU – ROMA, ITÁLIA (68 – 79 D.C.)
e a entrada só era alcançada através de uma escadaria É possível notar que o Coliseu é circundado externamente
construída diante da fachada principal. Estes elementos por vários arcos que favorecem sua sustentação, e sua ele-
arquitetônicos – pórtico e escadaria – faziam com que a vação e formato circular criam um sistema de auditório que
fachada principal fosse bem distinta das laterais e do fundo favorece a visão do espaço interno.
do edifício, como vemos na imagem a seguir:
29
1.5.2. Escultura 1.5.3. Pintura
Como dito no início dessa aula, a escultura romana se inspira Embora circunscrita ao interior de templos e outras cons-
na arte grega, pelo menos no que diz respeito ao caráter na- truções, a arte pictórica romana também apresentou al-
turalista das esculturas. No entanto, não havia uma preocu- guns avanços interessantes. Inicialmente, era comum que
pação com os ideais de beleza cultivados pelos gregos. Para as paredes de monumentos fossem decoradas com uma
os artistas romanos, a preocupação era mais pragmática, por camada de gesso que imitava placas de mármore. A partir
isso é comum percebermos que as esculturas dos indivíduos desse trabalho, os artistas começaram a perceber que ape-
são esculpidas valorizando a indumentária (ou seja, não há a nas com a pintura, era possível criar a ilusão de que na pa-
preocupação em produzir um corpo nu detalhado). A valori- rede existia um bloco de mármore saliente. Daí, da suges-
zação da vestimenta também está ligada ao fato de que ela, tão da saliência para a sugestão de profundidade foi um
muitas vezes, consolidava uma forte representação política, pequeno salto. Em suma, os artistas romanos, aos poucos,
como vemos na imagem a seguir: passaram a manipular a sugestão de frente e fundo, não
só nos afrescos, mas também nos mosaicos, técnica muito
desenvolvida no período, e que vemos na imagem a seguir:
30
AULA LEITURA DE IMAGENS II: DA ARTE
17 MEDIEVAL À ARTE RENASCENTISTA
COMPETÊNCIAS: 1e4 HABILIDADES: 1, 12, 13 e 14
Foi um tipo de arte centrada em exaltar a religião cristã e Umas das características que mais chama a atenção na Basí-
a autoridade do imperador (considerado um ser sagrado, lica de Santa Sofia é a sua enorme cúpula (domo), que é sus-
representante de Deus na Terra), e por conta disso, acabou tentada por outras abóbadas esféricas. Essa cúpula central
sendo pautada por muitas regras estabelecidas por sacer- é vazada por quarenta janelas em arco que permitem a en-
dotes. Por exemplo, recuperou-se a regra da frontalidade trada da luz, dando leveza à estrutura e oferecendo a ilusão
da arte egípcia (com leves modificações), fazendo com que de um anel celestial que se projeta para o centro do salão.
a ênfase das imagens religiosas fosse na rigidez da figura Vemos também que a parte interna é marcada por grande
retratada (conduzindo o espectador a uma atitude de ve- opulência, com muitas ornamentações em cor dourada.
31
1.1.2. Pintura e escultura A obra acima é uma das mais importantes da arte bizan-
tina e foi produzida já próximo à queda de Constantino-
A pintura e a escultura também apresentavam demarcação pla. Trata-se de um monumento de contemplação espi-
religiosa e ficaram bastante conectadas à arquitetura (ser- ritual na fé cristã. É importante notar que a pintura não
vindo muitas vezes como ornamentação das basílicas). Na é essencialmente realística, mas figurativa, atendendo a
pintura, destacaram-se técnicas variadas, como o mosaico demandas de contemplação.
(que dava à obra um ar, muitas vezes, de riqueza) e a têm-
pera (técnica em que se misturavam pigmentos a algum
aglutinante, como gema de ovo, a fim de se conseguir um
resultado de tintura mais brilhante e luminoso). Na escultu-
ra, destacam-se alguns belos trabalhos com marfim.
1.2.1. Arquitetura
As igrejas românicas ficaram conhecidas pela sua arquite-
tura peculiar, formada pelas abóbadas, pilares maciços e
paredes espessas. São igrejas grandes e sólidas (com orien-
tação horizontal), conhecidas como “fortalezas de Deus”.
Abóbada de berço: consistia num semicírculo, também
chamado de arco pleno, ampliado lateralmente por pare-
ANDREI RUBLEV – SANTÍSSIMA TRINDADE (1410) – TÊMPERA SOBRE MADEIRA des solidas. Apresentava algumas desvantagens, como o
32
peso excessivo que ficava sobre o arco central, correndo colunas com capitéis que lembravam muito os vistos na arte
riscos de desabamento, além da baixa luminosidade no greco-romana. Também são muito comuns os tímpanos (es-
interior das construções, devido ao fato de se ter pouca pos- paços geralmente triangulares ou em arco, lisos ou ornados
sibilidade de inserção de janelas com esculturas, limitados pelos três lados do frontão por um
ou mais arcos ou por linhas retas que assentam sobre o por-
Abóbada de aresta: consistia numa intersecção em ângu-
tal de entrada de uma igreja, catedral ou templo).
lo reto de duas abóbadas de berço apoiadas sobre pilares.
Com isso distribuía-se melhor o peso das pedras para evitar
desabamentos, além de transmitir leveza para a construção
e melhorar a luminosidade dos espaços internos.
33
Vemos que o tímpano é uma escultura que se insere nos
portais das igrejas, basílicas e abadias, e que seguem a
mesma orientação religiosa do período.
34
avançasse do ponto de vista da exploração socioeconô- Em geral, estudamos a arte do Renascimento em três es-
mica), mas também de projetos culturais (as artes como paços: o gótico flamengo (praticado nas regiões que hoje
consolidação da imagem e do poder financeiro do bur- seriam a Bélgica e Luxemburgo); o Renascimento italiano
guês na sociedade do período). Também, o pensamento e também o Renascimento na Alemanha e Países Baixos.
de ordem mais racional (antropocêntrico) que começava
a operar no período faz com que os valores medievais 2.1.1. O gótico flamengo
(vinculados a um pensamento católico-cristão) sejam dei-
O gótico flamengo foi uma expressão artística ligada aos
xados de lado pelo homem do Renascimento, que passa-
primeiros anos do Renascimento, e que marca justamen-
rá a buscar novos valores na Antiguidade Clássica.
te uma procura por uma pintura mais realista não apenas
Do ponto de vista estético, o investimento do mecenato fez do ponto de vista da imagem, mas também da temática,
com que houvesse grandes inovações artísticas no período. retratando com maior frequência cenas da vida doméstica
Os estudos aprofundados em geometria, perspectiva, anato- (sem deixar de lado o dado de espiritualidade que ainda
mia humana e tridimensionalidade fizeram com que as obras era muito forte).
artísticas ganhassem uma dimensão de perfeição nunca an-
tes vista. Essa ideia de obra de arte que reproduz o indivíduo Embora despertem a atenção pela alta qualidade realística,
a partir de uma preocupação em representa-lo perfeitamen- os artistas flamengos não costumavam organizar suas com-
te em suas dimensões corporais remete justamente aos ide- posições a partir de rigorosos métodos matemáticos para
ais de beleza e perfeição da representação do indivíduo que cálculos de perspectiva e proporção (como veremos com fre-
vimos nos estudos de arte grega e romana. quência no Renascimento Italiano). Eles preferiam trabalhar
de modo mais intuitivo, sendo os primeiros a explorar mais
Vale ressaltar que foi um período artístico em que os gran-
intensamente as possibilidades da pintura a óleo.
des destaques ficaram por conta da arte pictórica e da arte
escultórica. A arquitetura apresentou alguns avanços mais
simples em relação ao projeto gótico, investindo em cons-
truções que articulassem a proporcionalidade entre suas
partes (ou, em termos mais práticos, uma edificação que
respeitasse uma geometria mais organizada).
35
outra pessoa a seu lado (talvez o padre responsável pela consolidação do casamento). Vemos que é uma imagem que está
situada em um campo que é mais humanista (que registra a vida privada) sem perder a dimensão religiosa.
Nessa famosa pintura de Sandro Botticelli, vemos um trabalho que é inspirado claramente nas fontes greco-romanas. A re-
tomada de deuses e outras figuras mitológicas da antiguidade (temos Vênus ao centro, Zéfiro e Clóris à direita, entre outras
figuras) é um dos traços marcantes da pintura renascentista italiana. Além disso, podemos ver que o trabalho com os corpos
tenta seguir o ideal de beleza da Antiguidade Clássica.
36
A escultura de Michelangelo também é exemplar dos tra-
balhos escultóricos vistos no Renascimento italiano. Vemos
que a ideia grega de representar o corpo nu, a fim de me-
lhor detalhar sua simetria, é resgatada nesse período. Não
apenas o ideal de beleza está em cena, mas a ideia de
transmitir certas sensações por meio do trabalho esculpido:
a cabeça ereta e o resto passam uma imagem de autocon-
fiança, as mãos são razoavelmente grandes, permitindo ver
as veias saltadas de tensão, e dando uma maior percepção
de sua força.
37
HIERONYMUS BOSCH, O JARDIM DAS DELÍCIAS (1500 – 1505) – ÓLEO SOBRE TELA
Uma das obras mais fascinantes do período, O jardim das delícias de Hieronymus Bosch chama a atenção pelo caráter fantasio-
so (chegando a lembrar uma obra surrealista). Trata-se de um tríptico com muitas referências religiosas. O painel da esquerda
mostra uma espécie de paraíso (vemos figuras bíblicas como Adão e Eva, que parece ter acabado de ter sido criada a partir da
costela de Adão). O painel da direita seria um inferno repleto de instrumentos musicais (vemos sujeitos sendo torturados). Já o
painel central, apresenta o tal Jardim das delícias, um local onde estariam os prazeres terrenos (conseguimos ver figuras tendo
relações sexuais).
Nessa pintura, Pieter Bruegel, apesar de já estar inserido no contexto do Renascimento, retrata a realidade das pequenas al-
deias que ainda conservavam a cultura medieval. Vale a penas ressaltar, no entanto, que embora retrate a cultura medieval, a
temática da pintura não tem vínculos religiosos. Ela chama a atenção pelo volume de personagens em cena e pela sensação
de movimento que dimensões circulares das personagens imprime na imagem.
38
HANS HOLBEIN, OS EMBAIXADORES (1533) – ÓLEO SOBRE TELA
Hans Holbein talvez tenha sido o pintor do Renascimento alemão que mais valorizou a característica humanística / racional que
víamos na vertente italiana. Em gera, suas obras retratam personagens dotadas de um realismo tranquilo, sem que existam
as agitações que vimos nas obras anteriores. Na imagem acima, vemos também a inserção na pintura de uma curiosa técnica
que surge no período: a pintura anamórfica. Trata-se da inserção de uma imagem distorcida em algum ponto da pintura que
só adquire forma natural quando vista de determinado ângulo, ou com o suporte de algum espelho cilíndrico posicionado no
centro do quadro.
39
LITERATURA: Incidência do tema nas principais provas
A prova do Enem exige conhecimento a res- A maioria das questões de Literatura se refere
peito das escolas/estéticas literárias – realista, às obras de leitura obrigatória. Neste livro,
naturalista, parnasiana e simbolista – e de encontram-se alguns exercícios sobre o Rea-
seus principais representantes. lismo brasileiro, movimento do qual faz parte
Quincas Borba, de Machado de Assis.
A maioria das questões de Literatura se Como a Unifesp não possui lista obrigatória Como a Unesp não possui lista obrigatória
refere às obras de leitura obrigatória. Neste de obras, as questões contemplam o conheci- de obras, as questões contemplam o conhe-
livro, encontram-se alguns exercícios sobre o mento das escolas/estéticas literárias – realis- cimento acerca das escolas/estéticas literárias
Realismo brasileiro, movimento do qual faz ta, naturalista, parnasiana e simbolista – e de – realista e naturalista – e de seus principais
parte O Ateneu, de Raul Pompeia. seus principais representantes. representantes.
Parte das questões de Literatura da prova A prova exige conhecimentos acerca dos di- Como a PUC-Camp não possui uma lista A prova exige conhecimentos acerca dos
se baseia nas obras da Fuvest. Neste livro, versos movimentos literários. Neste livro, estão obrigatória de obras, as questões contemplam movimentos literários no Brasil e em Portugal.
encontram-se alguns exercícios sobre o presentes exercícios sobre as estéticas realista, o conhecimento acerca dos diferentes gêneros Neste livro, estão presentes exercícios sobre
Realismo brasileiro – no qual está inserida a naturalista, parnasiana e simbolista. literários e das escolas/estéticas literárias as estéticas realista, naturalista, parnasiana
obra Quincas Borba, de Machado de Assis realista, naturalista, parnasiana e simbolista. e simbolista.
–, Naturalismo, Parnasianismo e
Simbolismo.
UFMG
A maioria das questões de literatura se refere A maioria das questões de Literatura se refere A maioria das questões de Literatura se refere
às obras de leitura obrigatória. Neste livro, às obras de leitura obrigatória. Neste livro, às obras de leitura obrigatória. No entanto,
encontram-se exercícios sobre importantes alguns exercícios sobre a estética naturalista, também são comuns questões que cobrem
movimentos literários, como o Realismo. da qual faz parte a obra Casa de pensão, de o conhecimento acerca dos movimentos
Aluísio de Azevedo. literários, em geral, e de seus principais
representantes.
Como a Uerj não possui lista obrigatória de Como a Unigranrio não possui uma lista A Souza Marques avalia conhecimentos
obras, as questões contemplam o conhecimen- obrigatória de obras, as questões contemplam acerca dos gêneros literários e dos movimen-
to acerca dos diferentes gêneros literários, das o conhecimento acerca dos diferentes gêneros tos literários brasileiros. Neste livro, estão
escolas/estéticas literárias brasileiras – realista, literários, das escolas/estéticas literárias – presentes questões sobre as estéticas realista,
naturalista, parnasiana e simbolista – e de realista e naturalista – e seus principais naturalista, parnasiana e simbolista.
seus principais representantes. representantes.
41
AULAS REALISMO NO BRASIL
27 E 28
COMPETÊNCIA: 5 HABILIDADES: 15, 16 e 17
Cronologia
1839 – Em 21 de junho nasce no Rio de Janeiro Jo-
aquim Maria Machado de Assis, filho do brasileiro
Francisco José de Assis e da açoriana Maria Leopoldina
Machado de Assis, moradores do Morro do Livramento.
1849 – Depois do falecimento de sua mãe e de sua
única irmã, Machado é amparado por sua madrinha.
1854 – Seu pai casa-se com Maria Inês da Silva; após
a morte do pai, Machado continuará a viver com a ma-
drasta.
1855 – Publica seu primeiro poema, Ela, após tornar-se
colaborador do jornal Marmota Fluminense, de Francis-
co de Paula Brito.
1856 – Como aprendiz de tipógrafo, entra para a Tipo-
grafia Nacional.
1858 – Tem aulas de francês e latim com o professor
padre Antônio José da Silveira Sarmento. Torna-se revisor
de provas de tipografia e da livraria do jornalista Pau-
Órfão aos dez anos, o menino mestiço do Morro do Livra- la Brito. Lá conhece membros da Sociedade Petalógica:
mento, no Rio de Janeiro, estudou em escolas públicas e Manuel Antônio de Almeida, Joaquim Manoel de Mace-
tratou de instruir-se por conta própria, interessado que era do. Colabora nos jornais O Paraíba e Correio Mercantil.
pela leitura.
1859 – Colabora na revista O Espelho (publicada até
Inteligente e esforçado, Joaquim Maria Machado de Assis janeiro de 1860) como crítico teatral.
(1839-1908) aproximou-se de intelectuais e de jornalistas
que lhe deram oportunidades. Aos dezesseis anos empre- 1860 – A convite de Quintino Bocaiúva, passa a redator
gou-se na tipografia de Francisco de Paula Brito. Aos deze- do Diário do Rio de Janeiro, sob os pseudônimos Gil, Job
nove já era colaborador assíduo de jornais e revistas cario- e Platão. Resenha debates do Senado, escreve crítica te-
cas: Correio Mercantil, O espelho, Diário do Rio de Janeiro, atral e colabora em A Semana Ilustrada.
Semana Ilustrada, Jornal das Famílias. 1861 – Publica Desencantos (comédia) e Queda que as
Em 1867, foi nomeado oficial da Secretaria de Agricultu- mulheres têm para os tolos (sátira).
ra, enquanto sua carreira de escritor mostrava-se cada vez 1862 – Como sócio do Conservatório Dramático Bra-
mais promissora. Casou-se aos trinta anos com a portu- sileiro, exerce função não remunerada de auxiliar da
guesa Carolina Xavier de Novais. censura. É bibliotecário da Sociedade Arcádia Brasileira.
Na passagem do Império para a República, Machado de Colabora em O Futuro, periódico quinzenal sob a dire-
Assis já era um intelectual respeitável. Formado escritor à ção de Faustino Xavier de Novais.
luz do Romantismo, com o tempo enveredou para o Rea- 1863 – Publica o Teatro de Machado de Assis, do qual
lismo. Portanto, suas obras anteriores à década de 1880 constam duas comédias, O protocolo e O caminho da
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porta. Passa a publicar contos no Jornal das Famílias. Agricultura. Publicada em livro a comédia Tu, só tu,
puro amor...
1864 – Publica seu primeiro livro de versos, Crisálidas.
Em julho firma contrato com B. L. Garnier para a venda 1882 –- Publica seu terceiro livro de contos, Papéis
definitiva dos direitos autorais do livro. avulsos, do qual faz parte O alienista. Entra em licença
de três meses para tratar-se fora do Rio de Janeiro.
1865 – Torna-se sócio-fundador da Arcádia Fluminense.
1884 – Publica em livro os contos de Histórias sem
1866 – Publica a comédia Os deuses de casaca e sua
data e passa a morar na rua Cosme Velho, onde residi-
tradução do romance Os trabalhadores do mar, de Victor
rá até a morte.
Hugo. No fim do ano, chega ao Rio de Janeiro a portu-
guesa Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta 1886 – Publica o volume Terras, compilação para estu-
Faustino Xavier de Novais e futura esposa de Machado. do da Secretaria da Agricultura, resultado do trabalho
de oito anos na Comissão de Reforma da Legislação
1867 – É agraciado com a Ordem da Rosa, no grau de
das Terras.
cavaleiro, e nomeado ajudante do diretor do Diário Oficial.
1888 – Por decreto imperial é nomeado oficial da Or-
1868 – Crítico consagrado, a pedido de José de Alencar,
dem da Rosa.
guia o jovem poeta Castro Alves no mundo das letras.
1889 – Em 30 de março é promovido a diretor da Dire-
1869 – Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais.
toria do Comércio, da Secretaria de Estado da Agricul-
1870 – Publica Falenas e Contos fluminenses. tura, Comércio e Obras Públicas.
1872 – Publica Ressurreição, seu primeiro romance. 1891 – Publica em livro o romance Quincas Borba.
1873 – Publica Histórias da meia-noite (contos) e No- 1892 – É promovido a diretor-geral da Viação da Secre-
tícia da atual literatura brasileira: instinto de naciona- taria da Indústria, Viação e Obras Públicas.
lidade (ensaio crítico). É nomeado primeiro oficial da
1895 – Araripe Júnior publica um perfil de Machado
Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Co-
de Assis na Revista Brasileira, de José Veríssimo. Em
mércio e Obras Públicas.
dezembro do mesmo ano, Machado passa a ser cola-
1874 – Publica A mão e a luva, seu segundo romance. borador da revista.
1875 – Publica Americanas, seu terceiro livro de poesias. 1896 – Publica seu quinto livro de contos Várias histó-
1876 – Entre agosto e setembro, publica o romance rias. Dirige a primeira sessão preparatória da fundação
Helena no jornal O Globo. Colabora na revista Ilustra- da Academia Brasileira de Letras (ABL).
ção Brasileira e é promovido a chefe de seção da Secre- 1897 – Participa da inauguração da ABL e é eleito seu
taria de Agricultura. primeiro presidente, cargo que vai ocupar por dez anos.
1878 – Publica o romance Iaiá Garcia em O Cruzeiro 1899 – Publica o romance Dom Casmurro e Páginas
e edita-o em livro. Em artigo no mesmo jornal publica recolhidas, livro de contos, ensaios e teatro. Firma
crítica ao romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, a escritura de venda de toda sua obra a François
que o nomeia defensor de seus direitos autorais, por Hippolyte Garnier.
conta das edições clandestinas da obra no Brasil. Em
licença por motivo de doença, permanece em Friburgo 1901 – Publica Poesias completas, das quais constam
de onde retorna em março do ano seguinte. Crisálidas, Falenas, Americanas e a coletânea Ocidentais.
1879 – Publica na Revista Brasileira, o romance Me- 1904 – Publica seu penúltimo romance Esaú e Jacó.
mórias póstumas de Brás Cubas e na revista A Estação, Em janeiro, em Friburgo, morre Carolina Augusta Xa-
o romance Quincas Borba e A nova geração (estudo). vier de Novais, dias antes de completarem 35 anos de
casamento. Não tiveram filhos.
1880 – É designado Oficial de Gabinete do Ministério
da Agricultura. Em comemoração ao tricentenário do 1906 – Dedica à mulher já falecida seu mais famoso
poeta português Luís de Camões, organizada pelo Real soneto, A Carolina.
Gabinete Português de Leitura, sua comédia Tu, só tu, 1908 – Publica seu nono e último romance, Memorial de
puro amor... é representada no teatro Dom Pedro II. Aires. Em 1o de junho entra em licença para tratamento
1881 – Publica em livro Memórias póstumas de Brás de saúde. Falece no dia 29 de setembro, aos 69 anos, no
Cubas. Escreve crônicas no jornal Gazeta de Notí- Rio de Janeiro. É enterrado conforme sua determinação:
cias e passa a ser oficial de gabinete do ministro da na sepultura da esposa no Cemitério de São João Batista.
43
1.1. Machado e Carolina: minha carola Poema inédito de Machado de Assis
é descoberto por pesquisador
Poema escrito quando Machado tinha apenas 17 anos.
44
1.2. Primeira fase: ciclo romântico Helena
No ano de 1859 morre o conselheiro Vale, figura de
primeira classe da sociedade do Segundo Reinado,
homem bem relacionado e respeitado. Ele deixa um
filho, Estácio, de vinte e sete anos, e uma irmã, D.
Úrsula, que desde a morte da cunhada cuidara com
desvelo da bela chácara em que vivem, no Andaraí.
A leitura do testamento revela uma segunda filha
do conselheiro Vale, Helena, nascida de uma união
até então desconhecida de toda a família. Enquanto
Estácio aceita o último pedido do pai – levar Helena
para morar na chácara e tratá-la com muito carinho
–, D. Úrsula vê na jovem uma intrusa e usurpadora.
No entanto, o testamento é obedecido. Helena sai do
colégio interno para morar na chácara, onde começa
a mudar a vida de todos.
Helena e Estácio apaixonam-se, mas o rapaz sente-se
Ao analisar os romances e os contos de Machado de Assis culpado, pois acredita ser irmão da moça. Helena, con-
considerados românticos, já se revela a característica que tudo, sabe que não é filha de Vale. O conselheiro teve
haveria de marcar sua obra. Os acontecimentos são nar- um romance secreto com sua mãe e prometeu perfilhar
rados sem precipitação, entremeados de explicações aos a menina e tratá-la com carinho. A atitude esquiva de
leitores por parte do narrador e cheios de considerações Helena, que se encontra às ocultas com seu pai legí-
sobre os comportamentos. Seus personagens não são timo, Salvador, faz com que se desconfie que ela tem
lineares como os dos demais românticos. Têm comporta- um amante.
mentos imprevistos, fazem maquinações, não são transpa- No final, embora perdoada por Estácio, que desco-
rentes, mas interesseiros. A estrutura narrativa, no entanto, bre a verdade, Helena morre em consequência de
ainda é linear: tem começo, meio e fim bem demarcados. uma febre nervosa.
Fazem parte do ciclo romântico as obras Ressurreição, A
mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia e os livros de contos
Histórias da meia-noite e Contos fluminenses. 1.3. Segunda fase: ciclo realista
Com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas,
em 1881, Machado de Assis muda o rumo de sua obra.
Amadurece como escritor e passou a escrever para leitores
mais exigentes. Seus personagens tornam-se mais elabora-
dos, pois são compostos à luz da Psicologia. Além disso, a
técnica de composição do romance é aperfeiçoada: capítu-
los e frases passam a ser mais curtos a fim de estabelecer
maior contato com o leitor. Observa-se também uma apu-
rada análise da sociedade brasileira do final do Segundo
Império, ambiente no qual o casamento começa a ser um
grande alvo da crítica tecida pelo autor.
As estruturas narrativas fogem à linearidade, entremeadas
de digressões temporais, intromissões do narrador e aná-
lise apurada dos acontecimentos. Memórias póstumas de
Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó,
Memorial de Aires são romances do ciclo realista.
Além dos romances, Machado publica cerca de duzentos
FOI NO JORNAL MARMOTA FLUMINENSE QUE MACHADO contos a partir de 1869, começando com os Contos flumi-
DE ASSIS ESTREOU COMO ESCRITOR. nenses, publicados em pleno Romantismo. Suas narrativas
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curtas estão reunidas em Histórias da meia-noite, Papéis Mas o furacão Eça apareceu no meio do caminho do co-
avulsos, Histórias sem data, Várias histórias, Páginas reco- medido escritor brasileiro, o que levou Machado a reformu-
lhidas, Relíquias da casa velha. lar seus romances.
Merecem destaque os contos A cartomante, Missa do Em dezembro de 1878, seriamente enfermo, Machado,
galo, O alienista, O espelho, Cantiga de esponsais, “bruxo do Cosme Velho” partiu para uma temporada em
Noite de almirante, A igreja do diabo, entre outros. Nova Friburgo. Voltou de lá três meses depois, com o pri-
meiro esboço de Memórias póstumas de Brás Cubas, fura-
A produção poética de Machado de Assis está reunida em
cão ainda mais avassalador que o de Eça.
Falenas, Crisálidas, Americanas, Ocidentais.
A narrativa do “defunto autor”, irônica, fragmentária, in-
Destacam-se as peças de teatro Queda que as mulheres
ventiva, foi um divisor de águas na literatura nacional e
têm para os tolos, Quase ministros e Lição de botânica.
inaugurou a grande fase do autor.
A chave dessa reinvenção está no fato de Machado ter se
abastecido do cânone literário – em Brás Cubas, o caldei-
rão inclui a Bíblia, Xavier de Maistre, Sterne, Shakespeare
e muito mais – de forma despudorada.
46
1.4.3. O olhar detrás das máscaras Brás Cubas, por exemplo, era um exibicionista. Dava festas
muito ricas para ‘fazer barulho’, para aparecer na socie-
Nos romances iniciais, Machado é um romântico crítico, um dade. Quanta gente faz isso ainda hoje, não? Existem até
pouco diferente dos demais, característica singular que ha- revistas especializadas nessa exibição de ricos e famosos.
veria de constituir. O casamento não é a cura para todos os
(MÁRCIA LÍGIA GUIDIN. ESPECIAL PARA A PÁGINA 3.
males (como diziam os românticos), mas um tipo de comér- PEDAGOGIA & COMUNICAÇÃO (ATUALIZADO EM 13 DEZ.
cio, uma certa troca de favores. 2013). DISPONÍVEL EM: < EDUCACAO.UOL.COM.BR>.
47
1.4.7. Digressão Capítulo I – Óbito do autor
Própria do discurso oratório, a digressão pode apresentar [...] expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do
qualquer medida, aparecer em qualquer parte do texto e em mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catum-
obras de qualquer outra natureza, sobretudo a poesia épi- bi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era
ca, o romance e o ensaio. Empregada desde a Antiguidade solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompa-
greco-latina, constitui expediente difícil de manejar, uma vez nhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Ver-
que pode comprometer a integridade da obra em que se dade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que
insere. Por isso, hoje em dia tende a ostentar sentido pejo- chovia – peneirava – uma chuvinha miúda, triste e cons-
rativo, equivalente a “desvio”, “divagação”, “subterfúgio”. tante tão constante e tão triste, que levou um daqueles
(MOISÉS MASSAUD. 2004, P. 125). fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no
Tanto em Dom Casmurro (1899) quanto em Memórias discurso que proferiu à beira de minha cova: – “Vós, que o
póstumas de Brás Cubas, a narração é conduzida por per- conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que
sonagens que contam sua própria história e a comentam. a natureza parece estar chorando a perda irreparável de
Por trás de ambos está o escritor Machado de Assis que, um dos mais belos caracteres que cobrem o azul como um
na verdade, conduz a narrativa como um todo. Acrescen- crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe foi à na-
te-se que o narrador se vale, na construção do texto, da tureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime
utilização da narração em primeira pessoa, da participação, louvor ao nosso ilustre finado”.
da técnica da digressão, do jogo de tempo cronológico e [...]
psicológico, do frequente exercício da metalinguagem, da
narração em ar de conversa, tudo isso pontuado pelo hu-
mor e ironia.
(DISPONÍVEL EM: <WEBARTIGOS.COM/ARTIGOS>). Comentário
48
Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida Ah! Indiscreta! Ah! Ignorantona! Mas é isso mesmo que
pela austeridade do tempo, que lhe não permitia arrastar nos faz senhores da terra, é esse poder de restaurar o pas-
pelas ruas os seus estouvamentos e berlinda, luxuosa, im- sado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a
paciente, amiga de dinheiro e de rapazes. Naquele ano, vaidade dos nossos afetos. Deixa lá dizer o Pascal que o ho-
mem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante,
Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de
isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a
réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze
anterior, e que será corrigida também, até a edição definiti-
contos, sobressaltou-se, achou que o caso excedia as falas
va, que o editor dá de graça aos vermes.
de um capricho juvenil.
– Desta vez, disse ele, vais para Europa; vais cursar uma Capítulo CLX
universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para ho-
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a ce-
mem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse
lebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não
um gesto de espanto: – Gatuno, sim senhor; não é outra
conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas,
coisa um filho que me faz isto...
coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor
Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida,
por ele, e sacudiu-os na casa. nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas
– Vês, peralta? É assim que um moço deve zelar o nome coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve
dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinhei- míngua nem sobra, e conseguintemente que sai quite com
ro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro
vez ou tornas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma. lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é
a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não
Estava furioso, mas de um furor temperado e curto. tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da
Eu ouvi-o calado, e nada opus à ordem da viagem [...] nossa miséria.
(ASSIS, MACHADO DE. MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE
Capítulo XXVIII – Virgília? BRÁS CUBAS. SÃO PAULO: FTD. 1991).
49
mais importantes de sua vida a fim de se distrair na eter- Livre do sacerdócio, o moço forma-se em Direito e acaba
nidade. Relembra os amigos, como Quincas Borba (Marcos casando-se mesmo com Capitu.
Caruso), sua displicente formação acadêmica em Portugal,
O casal vive muito bem. Bentinho vai progredindo, man-
os amores de sua vida e o privilégio de nunca ter precisado
tém amizade com Escobar, antigo colega de seminário, e
trabalhar na vida
Sancha, sua esposa. A vida segue seu curso. Nasce-lhe um
(1H41–2001– DISPONÍVEL EM: <ADOROCINEMA.COM/FILMES/
filho, Ezequiel.
FILME-120279/>. ACESSO EM: 22 MAR. 2015).
Escobar morre e, durante o enterro, Bentinho começa a
achar Capitu estranha. Surpreende-a contemplando o ca-
dáver de uma forma que ele interpreta como apaixonada.
A partir do episódio, Bentinho consome-se em ciúme e o
casamento entra em crise. Cada vez mais Ezequiel torna-se
parecido com Escobar – o que precipita em Bentinho a cer-
teza de que ele não é seu filho. O casal separa-se, Capitu e
Ezequiel vão para a Europa e algum tempo depois ela morre.
Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o pai, que
comprova a semelhança do filho com
Escobar. Ezequiel morre no estrangeiro. Cada vez mais
multimídia: vídeo fechado em sua dúvida, Bentinho ganha o apelido de
FONTE: YOUTUBE “Casmurro” e põe-se a escrever a história de sua vida.
Órfão de pai, cresce num ambiente familiar muito carinho- – Não há nada, respondi; vim ver você antes que o Padre
so – tia Justina, tio Cosme, José Dias. Cabral chegue para a lição. Como passou a noite?
Recebe todos os cuidados da mãe, D. Glória, que o destina- – Eu bem. José Dias ainda não falou?
ra à vida sacerdotal. – Parece que não.
Sem vocação, Bentinho não quer ser padre. Namora a vizi- – Mas então quando fala?
nha Capitu e quer se casar com ela. D. Glória, presa a uma – Disse-me que hoje ou amanhã pretende tocar no assun-
promessa que fizera, aceita a ideia inteligente de José Dias to; não vai logo de pancada, falará assim por alto e por
de enviar um escravo ao seminário para ser ordenado no longe, um toque. Depois, entrará em matéria. Quer primeiro
lugar do Bentinho. ver se mamãe tem a resolução feita...
50
– Que tem, tem, interrompeu Capitu. E se não fosse preci- Poucas mais seriam. Tinha-as escrito com receio de que a
so alguém para vencer já, e de todo, não se lhe falaria. Eu emoção me impedisse de improvisar. No tílburi em que andei
já nem sei se José Dias poderá influir tanto; acho que fará uma ou duas horas, não fizeram mais que recordar o tempo
tudo, se sentir que você realmente não quer ser padre, do seminário, as relações de Escobar, as nossas simpatias,
mas poderá alcançar?... Ele é atendido; se, porém... É um a nossa amizade, começada, continuada e nunca interrom-
inferno isto. Você teime com ele, Bentinho. pida, até que um lance da fortuna fez separar para sempre
duas criaturas que prometiam ficar muito tempo unidas. De
– Teimo; hoje mesmo ele há de falar.
quando em quando enxugava os olhos. O cocheiro aventu-
– Você jura? rou duas ou três perguntas sobre a minha situação moral;
– Juro! Deixe ver os olhos, Capitu. não me arrancando nada, continuou o seu ofício.
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, Chegando a casa, deitei aquelas emoções ao papel; tal se-
“olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o ria o discurso.
que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se po- Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida.
diam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daque-
me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei le lance consternou a todos. Muitos homens choravam
extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viú-
A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia va, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, que-
do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá- ria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela,
-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa,
enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar cresci- tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem
dos, crescidos e sombrios, com tal expressão que... algumas lágrimas poucas e caladas...
[...] As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxu-
gou-as depressa, olhando a futuro para a gente que estava
Capítulo CXXII – O enterro na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la;
A viúva... Poupo-vos as lágrimas da viúva, as minhas, as da mas o cadáver parece que a retinha também. Momento
outra gente. Saí de lá cerca de onze horas; Capitu e prima houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais
Justina esperavam-me, uma com o parecer abatido e estú- os da viúva, se, o pranto nem palavras desta, mas grandes
pido, outra enfastiada apenas. e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse
tragar também o nadador da manhã.
– Vão fazer companhia à pobre Sanchinha; eu vou cuidar
(ASSIS, MACHADO DE. DOM CASMURRO. SÃO PAULO: ÁFRICA, 1978).
do enterro.
Assim fizemos. Quis que o enterro fosse pomposo, e a aflu-
ência dos amigos foi numerosa. Praia, ruas, Praça da Gló- “Na construção de Machado, Capitu é a mulher que
ria, tudo eram carros, muitos deles particulares. A casa não inverte o jogo: de oprimida passa a opressora, pois es-
sendo grande, não podiam lá caber todos; muitos estavam colhe Bentinho como quem vai tornar concreto o seu
na praia, falando do desastre, apontando o lugar em que desejo e consegue trazê-lo para si; vive sua época e
Escobar falecera, ouvindo referir a chegada do morto. José assume este desejo como legítimo: quer ser rica, tor-
Dias ouviu também falar dos negócios do finado, divergin- na-se rica. É virtuosa, sim, pois é fiel ao que traçou para
do alguns na avaliação dos bens, mas havendo acordo em si. Mas nem quando ama – pois ama Escobar! – com-
que o passivo devia ser pequeno. Elogiavam as qualidades preende a natureza do próprio desejo. Seu tropeço não
de Escobar. Um ou outro discutia o recente gabinete Rio é amar Escobar, mas não ser capaz de colocar todo o
Branco; estávamos em março de 1881. Nunca me esque- seu Ser naquele propósito que desenhou para si: uma
ceu o mês nem o ano. parte dela ama quem não devia amar. Para Capitu, é
impossível viver o amor, e seus desejos não se reconcil-
Como eu houvesse resolvido falar no cemitério, escrevi algu- iam; o desejo possível (realizado com Bentinho, que lhe
mas linhas e mostrei-as em casa a José Dias, que as achou cobre a matéria) fica de frente com o desejo impossível
realmente dignas do morto e de mim. Pediu-me o papel, (amar plenamente Escobar) e assim Capitu se revela. A
recitou lentamente o discurso, pesando as palavras, e con- grande traição que Dom Casmurro nos mostra é, por
firmou a primeira opinião; no Flamengo espalhou a notícia. fim, a da natureza: a aparência do filho, que expõe o
Alguns conhecidos vieram interrogar-me: desejo fora do controle da anti-heroína gananciosa”.
– Então, vamos ouvi-lo? (MÔNICA R. DE CARVALHO. DISPONÍVEL EM: <FORADEMIM.
COM.BR>. ACESSO EM 22 MAR. 2015).
– Quatro palavras.
51
1.6.1. Na música eterna e tola discussão entre beletristas –, devo ter alcan-
çado pelo menos cem mil desprevenidos. Bom, não apenas
O professor e músico Luiz Tatit criou esta espetacular can-
mostrei que Escobar comeu a Capitu, como, não sei não,
ção que retrata Capitu, personagem atemporal de Macha-
acho que tirei Dom Casmurro do “armário”.
do Assis. Faz menção à concepção de um feminino com
arte que encanta com seu jeito atraente e misterioso. Vale Como não sou dos maiores – e nem mesmo dos menores –
a pena escutá-la também na voz de Zélia Duncan. admiradores do bruxo, fundador da Academia Brasileira de
Letras (“a Glória que fica, eleva, honra e consola”, eu, hein,
Capitu que frase!), não vou discutir a maciça, inexpugnável web
protecionista que se criou em torno dele. Não quero polemi-
De um lado vem você com seu jeitinho zar (falta-me vontade e capacidade) com a candura que os
Hábil, hábil, hábil
erúditos (com acento no ú, por favor) têm pra relação equí-
E pronto!
Me conquista com seu dom
voca entre Capitu, a “dos olhos de ressaca” (que Machado
De outro esse seu site petulante não explica se era ressaca do mar ou de um porre), e Escobar,
WWW o mais íntimo amigo de Bentinho, narrador e personagem do
Ponto livro (evidente alter ego do próprio Machado).
Poderosa ponto com
A desconfiança básica vem desde 1900, quando Machado
É esse o seu modo de ser ambíguo
Sábio, sábio
publicou Dom Casmurro. Dom Casmurro é ou não é corno,
E todo encanto palavra cujo sentido de humilhação masculina – que ainda
Canto, canto mantém bastante de sua força nesta época de total per-
Raposa e sereia da terra e do mar missividade – na época de Machado era motivo de crime
Na tela e no ar passional, “justa defesa da honra”, e outros desagravos
Você é virtualmente amada amante permitidos pela legislação e pelos costumes.
Você real é ainda mais tocante
Não há quem não se encante
Um método de agir que é tão astuto
Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo
É só se entregar, é não resistir, é capitular
Capitu
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu mulher em milhares
Capitu
No site o seu poder provoca o ócio, o ócio
Um passo para o vício, o vício
É só navegar, é só te seguir, e então naufragar
Capitu
Feminino com arte
A traição atraente
Um capítulo à parte
Quase vírus ardente
Imperando no site
Capitu
1.6.2. Curiosidade
Curioso que, ontem como hoje, o epíteto corna não se gru-
Bentinho que traiu Capitu? dou à mulher. Ela é tola, vítima, “não sei como suporta
Publiquei, através de anos, no Estadão, no O Dia, e no Jornal isso!”, “corneia ele também!”, mas o epíteto não colou.
do Brasil – ao todo aproximadamente dois milhões de exem- Dom Casmurro sofre da dor específica umas 50 páginas
plares – “pesquisa” sobre Dom Casmurro, a obra magna de do romance, envenenado pela hipótese da infidelidade
Machado de Assis. Como minha página era a capa exterior de Capitu. Que dúvida, cara pálida? Capitu deu pra Es-
dos jornais citados, e o assunto era picante – se Escobar, cobar. O narrador da história, Bentinho/Machado, só não
“herói” do romance, tinha ou não tinha comido a Capitu, coloca no livro o DNA do Escobar porque ainda não havia
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DNA. Mas fica humilhado, desesperado mesmo, à propor- notaram; mas eu não me importo com isso.”
ção que o filho cresce e mostra olhos, mãos, gestos e tudo
Pág. 899 “Durante cerca de cinco minutos esteve com a
o mais do amigo, agora morto. Bentinho chega a chamar
minha mão entre as suas, como se não me visse desde
Escobar de comborço (parceiro na cama).
longos meses.
Mas, pela nossa eterna pruderie intelectual, também ainda
– Você janta comigo, Escobar?
ridiculamente forte com relação a outro tipo de relação, a
homo, nunca vi ninguém falar nada das intimidades entre – Vim para isto mesmo.”
Bentinho e Escobar. É verdade que, na época, Oscar Wilde Pág. 900 “Caminhamos para o fundo. Passamos o lava-
estava em cana por causa do pecado que “não ousava di- douro; ele parou um instante aí, mirando a pedra de bater
zer seu nome”. roupa e fazendo reflexões a propósito do asseio; lembra-
Não fiz interpretações. Apenas selecionei frases – mo- -me só que as achei engenhosas, e ri, ele riu também. A
mentos – do próprio Dom Casmurro/Machado, da edição minha alegria acordava a dele, e o céu estava tão azul, e
da Editora Nova Aguilar. Leiam, e concordem ou não. o ar tão claro, que a natureza parecia rir também conos-
co. São assim as boas horas deste mundo.”
Pág. 868 “Chamava-se Ezequiel de Souza Escobar. Era
um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugidios, como Pág. 901 “Fiquei tão entusiasmado com a facilidade men-
as mãos, como os pés, como a fala, como tudo.” tal do meu amigo, que não pude deixar de abraçá-lo. Era
no pátio; outros seminaristas notaram a nossa efusão: um
Mesma página “Escobar veio abrindo a alma toda, desde
padre que estava com eles não gostou…”
a porta da rua até o fundo do quintal. A alma da gente,
como sabes, é uma casa com janelas para todos os lados, Pág. 902 “Escobar apertou-me a mão às escondidas, com
muita luz e ar puro… Não sei o que era a minha. Mas tal força que ainda me doem os dedos.”
como as portas não tinham chaves nem fechaduras, bas- Pág. 913 “Escobar também se me fez mais pegado ao co-
tava empurrá-las e Escobar empurrou-as e entrou. Cá o ração. As nossas visitas foram-se tornando mais próximas,
achei dentro, cá ficou…”. e as nossas conversações mais íntimas.”
Pág. 876 “Ia alternando a casa e o seminário. Os padres Pág. 914 “A amizade existe; esteve toda nas mãos com
gostavam de mim. Os rapazes também e Escobar mais que que apertei as de Escobar ao ouvir-lhe isto, e na total au-
os rapazes e os padres.” sência de palavras com que ali assinei o pacto; estas vieram
Pág. 883 “Os olhos de Escobar eram dulcíssimos. A cara ra- depois, de atropelo, afinadas pelo coração, que batia com
pada mostrava uma pele alva e lisa. A testa é que era um grande força.”
pouco baixa… mas tinha sempre a altura necessária para Págs. 925/26 (Depois da morte de Escobar) “Era uma bela
não afrontar as outras feições, nem diminuir a graça delas. fotografia tirada um ano antes. (Escobar) estava de pé,
Realmente era interessante de rosto, a boca fina e chocar- sobrecasaca abotoada, a mão esquerda no dorso de uma
reira, o nariz fino e delgado.” cadeira, a direita metida no peito, o olhar ao longe para
a esquerda do espectador. Tinha garbo e naturalidade. A
Mesma página “Fui levá-lo à porta… Separamo-nos com
moldura que lhe mandei pôr não encobria a dedicatória,
muito afeto: ele, de dentro do ônibus, ainda me disse adeus,
escrita embaixo, não nas costas do cartão: ‘Ao meu querido
com a mão. Conservei-me à porta, a ver se, ao longe, ainda
Bentinho o seu querido Escobar 20-4-70c.”
olharia para trás, mas não olhou.”
•••
Mesma página “Capitu viu (do alto da janela) as nossas
despedidas tão rasgadas e afetuosas, e quis saber quem P.S.: Mas, se vocês ainda têm dúvida, leiam a página 845
era que me merecia tanto. do fúlgido romance. Bentinho, ele próprio, fica pasmo, e re-
alizado, quando consegue dar um beijo (quer dizer, apenas
– É o Escobar, disse eu.”
uma bicota) em Capitu. É ele próprio quem fala, entusias-
Pág. 887 “– Escobar, você é meu amigo, eu sou seu amigo mado com seu feito de bravura:
também; aqui no seminário você é a pessoa que mais me
“De repente, sem querer, sem pensar, saiu-me da boca esta
tem entrado no coração.
palavra de orgulho:
– Se eu dissesse a mesma cousa, retorquiu ele sorrindo,
– Sou Homem!”
perderia a graça… Mas a verdade é que não tenho aqui
MILLÔN FERNANDES. DISPONÍVEL EM: <BLOGDOGUSMAO.
relações com ninguém, você é o primeiro, e creio que já COM.BR>. ACESSO EM: 22 MAR. 2015.
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1.6.3. Nos quadrinhos – HQ Já adulto, Bento reencontra Miguel, um amigo que Bento
conheceu antes de ele desistir da faculdade Engenharia.
O amor (e o ciúme) de Bentinho por Capitu virou história em Miguel está em São Paulo para procurar modelos para um
quadrinhos. A Editora Ática acaba de editar o clássico Dom clipe de uma Banda de Rock (Capital Inicial), que sua em-
Casmurro, escrito por Machado de Assis em 1899, nesse presa está produzindo, e leva Bento para o estúdio, com o
formato, com arte de Rodrigo Rosa e roteiro de Ivan Jaf. O pretexto de conhecê-la, mas na verdade é para aproximá-
lançamento integra a coleção Clássicos Brasileiros em HQ. -lo de sua assistente. É lá que “Dom” acidentalmente re-
Nos quadrinhos, o ainda adolescente Bento Santiago entreou- encontra sua Capitu e dali renasce o romance da infância,
ve a mãe falar que quer torná-lo padre, independentemente só que, agora, avassalador.
de sua nascente paixão pela vizinha Capitu. Dom Casmurro (DISPONÍVEL EM: <WIKIPEDIA.ORG>. ACESSO EM: 23 MAR. 2015).
em quadrinhos é fiel à manutenção do mistério original, no
qual o caráter ambíguo de Capitu merece destaque. 1.6.5. Minissérie
No fim do livro, o leitor conta com a seção bônus, com in- Capitu desenvolve-se a partir da promessa de Dona Glória
formações sobre o processo de construção da obra e curio- (Eliane Giardini), mãe do protagonista Bentinho: depois
sidades sobre o contexto histórico brasileiro do Século 19. de perder um filho, ela jura fazer do próximo herdeiro um
padre; mas Bentinho tem uma enorme paixão por sua vizi-
1.6.4. No cinema nha e melhor amiga Capitu, e por causa da promessa, eles
não podem ficar juntos. Mesmo a contragosto, Bentinho
vai para o seminário, onde conhece Escobar, que vira seu
melhor amigo. Antes de deixar o seminário, José Dias ajuda
Bentinho a ficar junto de sua amada. Já fora do seminá-
rio, vai estudar, forma-se advogado e casa-se com Capitu.
Escobar torna-se comerciante e casa-se com Sancha, ami-
ga de infância de Capitu. O casal Escobar e Sancha gera
uma filha, Capituzinha. Dois anos depois, para a alegria de
Bento e Capitu, nasce Ezequiel. Os casais mantêm fortes
laços de amizade. Num jantar na casa de Escobar, os qua-
multimídia: vídeo tro amigos planejam uma viagem para a Europa. Em um
momento a sós, Bentinho surpreende um olhar intenso de
FONTE: YOUTUBE
Sancha, o que dá vez a um diálogo cheio de insinuações
DOM e uma troca ardorosa de apertos de mãos. Bentinho, forte-
Moacyr Góes mente atraído por Sancha, repele o sentimento e fica mal
ao perceber o desejo pela mulher do melhor amigo. A fata-
“Dom” é um filme brasileiro de 2003, do gê-
lidade marca a vida de Escobar, que morre afogado no dia
nero drama, e é uma reimaginação da obra
Dom Casmurro, de Machado de Assis. O filme seguinte. A morte do amigo aumenta ainda mais a culpa
marca a estreia do roteirista e diretor Moacyr e o ciúme de Bentinho, que, atormentado, acredita ver no
Góes no cinema. próprio filho, Ezequiel, a imagem do amigo por causa do
ocorrido anteriormente.
(DISPONÍVEL EM: <WIKIPEDIA.ORG>. ACESSO EM: 22 MAR. 2015).
Bento (Marcos Palmeira) é um homem cujos pais, apre-
ciadores de Machado de Assis, resolveram batizá-lo com
este nome em homenagem ao personagem homônimo do
1.7. O conto machadiano
livro Dom Casmurro. Tantas vezes foi justificada a razão da Machado de Assis é autor de quase duzentos contos, cujas
homenagem que Bento cresceu com a ideia fixa de que histórias revelam evolução das românticas, leves para mais
seria o próprio personagem e destinado a viver, exatamen- densas, intrigantes, que alcançam o patamar das obras-pri-
te, aquela história. Até chamava sua amiga de infância no mas da Literatura brasileira.
Rio de Janeiro, Ana (Maria Fernanda Cândido), de Capitu.
Seus amigos, conhecedores do seu sentimento de predes- A construção de um conto é, com certeza, muito mais difícil
tinação, apelidaram-no Dom. Bento e Ana separaram-se do que a construção de um romance, porque o conto:
quando a família do menino mudou-se para São Paulo. é uma narrativa curta e deve prender a atenção do leitor;
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deve ter um só e muito interessante conflito; noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos
deve provocar tensão e conduzir o leitor para um úni- à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria
co efeito; acordá-lo à meia-noite.
deve manter um perfeito equilíbrio narrativo e; A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão
trabalha com poucas personagens, em tempo exíguo Menezes, que fora casado em primeiras núpcias com uma de
e em pequenos espaços. minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta
acolheram-me bem, quando vim de Mangara para o Rio de
Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. [...]
Boa Conceição! Chamavam-lhe “a santa”, e fazia jus ao
título, tão facilmente suportava os esquecimentos do ma-
rido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem
extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No
capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria
um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe,
se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O pró-
prio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que
multimídia: vídeo chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de nin-
guém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que
FONTE: YOUTUBE
não soubesse amar. Naquela noite de Natal foi o escrivão
O Alienista ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia
Guel Arraes, Jorge Furtado estar em Mangaratiba, em férias; mas fiquei até o Natal
para ver “a missa do galo na Corte”. A família recolheu-
O alienista é interessante e envolvente. O as- -se à hora do costume; eu meti-me na sala da frente,
sunto abordado na obra ainda é polêmico até vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada e
os dias atuais. Seus personagens, em especial sairia sem acordar ninguém. Tinha três chaves a porta;
o Dr. Simão, prendem a atenção do leitor. Uma uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a terceira
verdadeira obra de arte de Machado de Assis. ficaria em casa.
– Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? Per-
Machado de Assis foi um contista extraordinário porque sou- guntou a mãe de Conceição.
be manejar as regras do conto como ninguém. O núcleo te- – Leio, D. Inácia.
mático e narrativo reduzido e sua força expressiva altamente
Tinha comigo um romance, os Três Mosqueteiros; velha
concentrada do conto machadiano flagra aspectos psicoló-
tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-me à mesa
gicos da natureza humana.
que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de
Personagens fortes – as femininas ocupam lugar querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez
de destaque. Como no romance, guardam as ambigui- ao cavalo magro de D’Artagnan e fui-me às aventuras.
dades típicas do universo feminino; têm força interior; Dentro em pouco estava completamente ébrio de Dumas.
estão no comando, são racionais e calculistas. Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer,
quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase
Adultério – o tema é explorado implícita – apenas
sem dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno ru-
sugerido – e explicitamente.
mor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura. Eram uns
Temas psicológicos – a visão de mundo de Machado passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar;
de Assis é a mesma nos romances e nos contos. Nestes levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o
são uma versão em miniatura do seu modo de interpre- vulto de Conceição.
tar a sociedade. São relatos sofridos, pesados, recriadores – Ainda não foi? perguntou ela.
da vida real, notadamente a carioca do final do século.
Prosa com boa dosagem de humor e de tragédia. – Não fui, parece que ainda não é meia-noite.
– Que paciência!
1.7.1. Missa do galo Conceição entrou na sala, arrastando as chinelinhas da al-
Nunca pude entender a conversação que tive com uma se- cova. Vestia um roupão branco, mal apanhado na cintura.
nhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era Sendo magra, tinha um ar de visão romântica, não dispa-
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ratada com o meu livro de aventuras; fechei o livro; ela Pouco a pouco, tinha-se inclinado; fincara os cotovelos no
foi sentar-se na cadeira que ficava defronte de mim, perto mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espa-
do canapé. Como eu lhe perguntasse se a havia acordado, lhadas. Não estando abotoadas, as mangas caíram natu-
sem querer, fazendo barulho, respondeu com presteza: ralmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muitos claros, e
– Não ! qual! Acordei por acordar. menos magros do que se poderiam supor. A vista não era
nova para mim, posto também não fosse comum; naquele
[...] momento, porém, a impressão que tive foi grande. As veias
– Eu gosto muito de romances, mas leio pouco, por falta de eram tão azuis, que, apesar da pouca claridade, podia con-
tempo. Que romances é que você tem lido? tá-las do meu lugar. [...]
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CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
Entender e refletir sobre a obra de Machado de Assis é saber lidar com muitas das agruras da sociedade em
que vivemos. O autor, de maneira genial, apontou os principais defeitos da classe social em plena ascensão em
sua época — a Burguesia. O interessante é que o mundo liberal, pano de fundo da crítica machadiana, hoje se
estabelece como neoliberal e carrega as mesmas características, quiçá atenuadas, como falsidades, corrupções,
adultérios e relações pautadas no interesse e na ambição humana, de sua crítica no final do século XIX em sua
mais aguda fase realista.
Ter um olhar crítico para com a lógica de poder de nossos tempos é, sem dúvida, o grande legado que Machado de
Assis deixa em suas obras. Com elegância ele destroça a pompa burguesa, com tapas de luva de pelica desnuda o
quão brega e interesseira é a articulação existencial dos detentores dos meios de produção de sua época e de hoje.
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VIVENCIANDO
BELMINO DE ALMEIDA, “ARRUFOS” (1887), ÓLEO SOBRE TELA, 89,1 CM X 116,1 CM.
MUSEU DE BELAS ARTES, RIO DE JANEIRO.
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ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
Habilidade
Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico,
15 social e político.
Esta Habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas vinculadas ao primeiro aspecto da
tríade analítica básica da arte literária (contexto, autor e obra), no caso o conceito de linguagem utilizada pelos autores
em escolas literárias diferentes, mas que se aproximam tematicamente. A construção dos procedimentos literários está
ligada aos fatores estéticos que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto em relação à concepção
artística do contexto.
Modelo
(Enem) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de
época: o Romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nos-
sa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as
mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos
às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não.
Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo
passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”
ASSIS, MACHADO DE. MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS. RIO DE JANEIRO: JACKSON, 1957.
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao Romantismo está transcrita na alternativa:
a) “(...) o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas (...)”
b) “(...) era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça (...)”
c) “Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, (...)”
d) “Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos (...)”
e) “(...) o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.“
Análise expositiva: Machado de Assis faz uma sutil crítica aos românticos, que idealizavam a mulher, tor-
A nando-a uma espécie de musa inatingível. Capitu era real e, assim como as mocinhas de sua idade, possuía
sardas e espinhas, mas nem por isso deixava de ser bela.
Alternativa A
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DIAGRAMA DE IDEIAS
REALISMO NO BRASIL
CARACTERÍSTICAS
• OBJETIVISMO;
• LINGUAGEM CULTA E DIRETA;
• NARRATIVA LENTA, QUE ACOMPANHA O TEMPO PSICOLÓGICO;
• DESCRIÇÕES E ADJETIVAÇÕES OBJETIVAS, COM A FINALIDADE
DE CAPTAR A REALIDADE DE MANEIRA FIDEDIGNA;
• UNIVERSALISMO;
• SENTIMENTOS, SOBRETUDO O AMOR, SUBORDINADOS AOS INTERESSES SOCIAIS;
• HERÓI PROBLEMÁTICO, CHEIO DE FRAQUEZAS;
• NÃO IDEALIZAÇÃO DA MULHER.
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AULAS NATURALISMO NO BRASIL
29 E 30
COMPETÊNCIA: 5 HABILIDADES: 15, 16 e 17
1. NATURALISMO NO BRASIL
Não é de hoje que a cidade do Rio de Janeiro é dividida entre ricos e pobres, morro e asfalto. Basta ler o romance O cor-
tiço (1890), obra-prima de Aluísio Azevedo (1857-1913), para perceber que os contrastes sociais já faziam parte do dia
a dia dos cariocas desde o século XIX. Ambientada nas vésperas da Abolição e da Proclamação da República, a história
revela um efervescente ambiente urbano, construído à luz da observação do cotidiano e sob a influência da literatura
francesa – notadamente do romance L’assommoir (A taberna), 1877, do francês Émile Zola (1840-1902), inspirador do
naturalismo francês do qual Azevedo é seguidor.
1.1. Contexto
Na tentativa de acabar com os cortiços no Rio de Janeiro,
muitos pobres foram literalmente empurrados para longe
da cidade e para os morros, onde se formaram as favelas.
O fim da escravidão e o início do período republicano no
Brasil foram marcados por conflitos e revoltas populares
também no Rio de Janeiro. Em 1904, estourou um mo-
vimento de caráter popular desencadeado contra a cam-
panha de vacinação obrigatória contra a varíola, imposta
pelo governo federal.
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detalhismo – a caracterização das personagens e am-
bientes é minuciosa; o amor é materializado; e a mulher
passa a ser vista como objeto de prazer masculino;
denúncia das injustiças sociais – levada pela fun-
ção social da arte, a literatura denuncia o preconceito e
a ambição humanos;
determinismo e causalidade – busca da explica-
ção lógica para o comportamento das personagens;
consideração da soma de fatores que justificam suas
1.1.1. Revolta popular atitudes; visão de mundo determinista e mecanicista;
homem próximo ao animal (zoomorfismo);
A revolta engrossava a cada dia, impulsionada pela crise
econômica – desemprego, inflação e alto custo de vida. linguagem popular e coloquial – emprego de ter-
A reforma urbana retirou a população pobre do centro da mos e sentidos comuns aos das personagens cotidia-
cidade, derrubando cortiços e habitações simples. nas; linguagem simples, natural e clara;
Espalhados pelas ruas, populares destruíam bondes e ape- cientificismo – caracterização e análise objetivas das
drejavam prédios públicos. Em 16 de novembro de 1904, personagens, consideradas casos a serem analisados;
o presidente Rodrigues Alves revogou a lei da vacinação personagens patológicas – mórbidas, adúlteras,
obrigatória e mandou que o exército, a marinha e a polícia assassinas, bêbadas, miseráveis, doentes, prostitu-
acabassem com os tumultos. tas; procuram comprovar a tese determinista sobre
o ser humano.
1.1.2. Burguesia versus proletariado
A segunda metade do século XIX foi caracterizada pela con- 1.1.3. Diferenças entre
solidação do poder da burguesia, do materialismo e do cres- Realismo e Naturalismo
cimento do proletariado. De um lado, o progresso, represen-
tado pelo crescimento das cidades; de outro, o crescimento Realismo
dos bairros pobres onde residiam os operários. Enquanto a Mergulho psicológico
burguesia lutava pelo dinheiro e pelo poder, o operário ma- Retrato fiel da personagem
nifestava sua insatisfação e promovia as primeiras greves. Personagem esférica
Nessa conjuntura nasceram e desenvolveram-se as ciências Materialização do amor
sociais, preconizando o desenvolvimento científico, que le- Veracidade
Classes dominantes (burguesia urbana)
varam à substituição o idealismo e o tradicionalismo pelo
Influência de Gustave Flaubert (França)
materialismo e racionalismo. O método científico passou a
Conclusões tiradas pelos leitor
ser o meio de análise e compreensão da realidade. Teorias
desse naipe deram fundamentos ideológicos à literatura Naturalismo
realista-naturalista, quais sejam: a teoria determinista, de Visão determinista
Hippolyte Taine (1825-1893), encarava o comportamen- Cientificismo
to humano como determinado pela hereditariedade, pelo Zoomorfismo
meio e pelo momento; e a teoria evolucionista, de Charles Classes dominadas (pobres e favelados)
Darwin (1809-1882) defendia a tese de que o homem des- Emprego de termos técnicos
cende dos animais. Personagens patológicas e biológicas
Determinismo, evolucionismo, positivismo
As características do naturalismo literário são ligadas à Foco na terceira pessoa
realidade da época cujo tom deixa de ser tão poético e Romance de tese (experimental)
subjetivo, como nas escolas precedentes. Influência de Émile Zola (França)
Os romances naturalistas revelam:
veracidade – as narrativas buscam seus correspon- 1.2. Aluísio Azevedo
dentes na realidade;
Aluísio Azevedo (1857-1913) deixou São Luís do Ma-
contemporaneidade – essa realidade retrata com ranhão, onde nasceu e, aos dezenove anos, veio para o
fidelidade as personagens reais, vivas, não idealizadas; Rio de Janeiro. Lá morou com o irmão, Artur Azevedo, e
62
dedicou-se persistentemente ao desenho e à pintura na Considerado o mais importante dos naturalistas brasileiros,
Imperial Academia de Belas-Artes. em sua obra não há excesso de exploração da patologia
humana, como ocorre, por exemplo, na obra do francês
Aos vinte e um anos voltou a São Luís, onde passou a co-
Émile Zola.
laborar na imprensa local. Em 1879, já havia lançado o
romance romântico Uma lágrima de mulher. Mas foi em Aluísio prefere a observação direta da realidade da qual
1881 que seu nome tornou-se conhecido com a publica- ressalta, sobretudo, a influência que o meio exerce sobre o
ção do romance O mulato, cuja temática, bastante critica- homem, segundo a teoria determinista de Hippolyte Taine.
da pela sociedade local, atacava o preconceito racial. Por
isso, Aluísio foi aconselhado a “pegar na enxada, em vez
de ficar escrevendo”.
De volta para o Rio de Janeiro, produziu folhetins românti-
cos para jornais. Memórias de um condenado e Mistérios
da Tijuca foram alguns deles ditados pelas necessidades
de sobrevivência. Escreveu também obras mais bem elabo-
radas à luz da estética realista-naturalista, como Casa de
pensão e O cortiço, que consolidaram seu prestígio.
Em 1895 foi nomeado vice-cônsul em Vigo, na Espanha. multimídia: livros
Foi o início de uma atribulada carreira diplomática, que o
levaria a Locoama, no Japão, a La Plata, na Argentina, a Aluísio Azevedo, de Antônio Dimas
Salto Oriental, no Uruguai, a Cardiff; na Inglaterra, a Ná- Esse livro faz parte de um coleção que se desti-
poles, na Itália e, finalmente, a Buenos Aires, na Argentina. na não só a estudantes – especialmente os do
segundo grau e de cursos pré-universitários – e
professores mas também a todas as pessoas in-
1.2.1. Fase romântica teressadas em literatura. Apresenta textos sele-
Dentre os seus folhetins românticos destacam-se Uma lágri- cionados, análises histórico-literárias, biografias
ma de mulher; Memórias de um condenado ou A Condessa e atividades de compreensão de texto.
Vésper; Filomena Borges; A mortalha de Alzira; Mistério da
Tijuca ou Girândola de amores.
63
O cortiço exemplo das teses naturalistas, como o determi-
nismo biológico e geográfico, ao passo que são in-
fluenciados pelo ambiente em que estão inseridos,
como é o caso do português Jerônimo, por exem-
plo, que tem uma vida exemplar até cair nas gra-
ças da mulata Rita Baiana, largando sua esposa e
mudando todos os seus hábitos em prol da atração
sexual que sente pela nova moça.
Além dele, há o exemplo de Pombinha, uma moça
culta que sonhava em se casar, mas renuncia a isso
para viver como prostituta, após se envolver com Léo-
nie (uma jovem que também levava essa vida). Assim,
A obra narra inicialmente a trajetória de João Romão, esses personagens são animalizados, colocados como
ganancioso comerciante de origem portuguesa, dono agindo por puro instinto.
de uma pedreira, de uma taverna e de um terreno de
bom tamanho, no Rio de Janeiro, onde constrói ca-
sinhas de baixo custo para alugar. Em busca do en-
riquecimento, não mede esforços para isso, ou seja,
explora seus empregados, faz furtos, etc. Sua amante,
a ex-escrava Bertoleza, o ajuda de domingo a domin-
go, trabalhando incansavelmente.
Em seguida entra na história Miranda, um comercian-
te bem estabelecido que desperta a inveja de João
Romão, que passa a trabalhar e explorar seus empre-
gados cada vez mais para se tornar mais rico que ele.
Porém, no momento em que Miranda recebe o título
de barão, João Romão entende que não basta ganhar
dinheiro, é necessário também possuir uma posição
multimídia: vídeo
social reconhecida, como frequentar bons restauran- FONTE: YOUTUBE
tes, teatros, usar roupas finas, etc. E começa a fazê-lo,
O cortiço
até receber também o mesmo título.
“O cortiço” é um filme brasileiro de 1978, do
A partir daí João Romão se equipara à Miranda e co- gênero drama, dirigido por Francisco Ramalho
meça a imitar suas conquistas, reformando o cortiço, Jr., com roteiro baseado no livro homônimo de
a taverna, etc, ostentando agora ares aristocráticos. Aluísio Azevedo.
Além disso, se aproxima da família de Miranda e pede
a mão da filha dele, Zulmira, em casamento, visando
ascender ainda mais. Há, entretanto, o empecilho re-
presentado por Bertoleza, que, percebendo a intenção 1.4. Trechos de O cortiço
de João Romão em se livrar dela, exige parte dos bens
que ele acumulou enquanto ela estava ao seu lado. 1.4.1. Capítulo III
Diante disso, para se ver livre da amante, que atrapa-
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrin-
lha seus planos de ascensão social, ele a denuncia a
do, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e jane-
seus antigos donos como escrava fugida. Assim, num
las alinhadas.
gesto desesperado prestes a ser capturada, Bertoleza
se mata, deixando o caminho livre para o casamento Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assen-
de Romão e Zulmira. tada, sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda
Paralelamente à história da ganância de João Romão, na indolência de neblina as derradeiras notas da última
estão os habitantes do cortiço: pessoas com menor guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e
ambição financeira, que todo o tempo servem de tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido
em terra alheia.
64
não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante,
um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro
e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crian-
ças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali
mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem
ou no recanto das hortas.
65
Alexandre em casa, à hora de descanso, nos seus chinelos piramidal. Da sua passada grandeza só lhe ficara uma caixa
e na sua camisa desabotoada, era muito chão com os com- de rapé de ouro, na qual a inconsolável senhora pitadeava
panheiros de estalagem, conversava, ria e brincava, mas agora, suspirando a cada pitada.
envergando o uniforme, encerando o bigode e empunhan-
A filha era a flor do cortiço. Chamavam-lhe Pombinha. Bo-
do a sua chibata, com que tinha o costume de fustigar as
nita, posto que enfermiça e nervosa ao último ponto; loura,
calças de brim, ninguém mais lhe via os dentes e então a
muito pálida, com uns modos de menina de boa família. A
todos falava teso e por cima do ombro. A mulher, a quem
mãe não lhe permitia lavar, nem engomar, mesmo porque
ele só dava “tu” quando não estava fardado, era de uma
o médico a proibira expressamente. [...]
honestidade proverbial no cortiço, honestidade sem mérito,
porque vinha da indolência do seu temperamento e não do
arbítrio do seu caráter.
1.4.2. Capítulo VII
[...]
Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um
ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e socada, Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, re-
de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre bolando as ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a
as suas vizinhas. esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de
gozo carnal, num requebrado luxurioso que a punha ofe-
Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem
gante; já correndo de barriga empinada; já recuando de
respeitavam todos pelas virtudes de que só ela dispunha
para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e braços estendidos, a tremer toda, como se fosse afundando
feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, triste, com olhos num prazer grosso que nem azeite, em que se não toma
desvairados, dentes cortados à navalha, formando ponta, pé e nunca se encontra fundo. Depois, como se voltasse à
como dentes de cão, cabelos lisos, escorridos e ainda retin- vida, soltava um gemido prolongado, estalando os dedos
tos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”. no ar e vergando as pernas, descendo, subindo, sem nunca
parar com os quadris, e em seguida sapateava, miúdo e
Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda. cerrado, freneticamente, erguendo e abaixando os braços,
A primeira, mulata antiga, muito séria e asseada em exa- que dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca, enquanto a
gero: a sua casa estava sempre úmida das consecutivas carne lhe fervia toda, fibra por fibra, titilando. [...]
lavagens. Em lhe apanhando o mau humor punha-se logo
a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era gran- O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desespe-
de, corria a buscar um balde de água e descarregava-o com rando aos que não sabiam dançar. Mas, ninguém como a
fúria pelo chão da sala. A filha tinha quinze anos, a pele de Rita; só ela, só aquele demônio, tinha o mágico segredo
um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos daqueles movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles re-
luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas quebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata
sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada, harmonio-
de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava sa, arrogante, meiga e suplicante.
apanhar a troco de pequenas concessões na medida e no
peso das compras que Florinda fazia diariamente à venda.
Depois via-se a velha Isabel, isto é, Dona Isabel, porque ali
na estalagem lhe dispensavam todos certa consideração, pri-
vilegiada pelas suas maneiras graves de pessoa que já teve
tratamento: uma pobre mulher comida de desgostos. Fora
casada com o dono de uma casa de chapéus, que quebrou e
suicidou-se, deixando-lhe uma filha muito doentinha e fraca,
a quem Isabel sacrificou tudo para educar, dando-lhe mestre
até de francês. Tinha uma cara macilenta de velha portugue-
sa devota, que já foi gorda, bochechas moles de pelancas
rechupadas, que lhe pendiam dos cantos da boca como sa-
quinhos vazios; fios negros no queixo, olhos castanhos, sem- RODA DE SAMBA. HEITOR DOS PRAZERES.
pre chorosos engolidos pelas pálpebras. Puxava em bandós
sobre as fontes o escasso cabelo grisalho untado de óleo de E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma
amêndoas doces. Quando saía à rua punha um eterno ves- pelos olhos enamorados.
tido de seda preta, achamalotada, cuja saia não fazia rugas, Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das
e um xale encarnado que lhe dava a todo o corpo um feitio impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz
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ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas Rio de Janeiro em 25 de dezembro de 1895. É o patrono
da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, da cadeira no 33 da ABL, por escolha do fundador Domício
que o atordoara nas matas brasileiras[...]. da Gama.
(AZEVEDO, ALUÍSIO. O CORTIÇO. SÃO PAULO: ÁTICA, 1945). Era filho de Antônio de Ávila Pompeia, homem de recursos e
advogado, e de Rosa Teixeira Pompeia, que pertencia à famí-
lia de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Transferiu-se
1.5. Raul Pompeia cedo com a família para a Corte e foi internado no Colégio
Raul D’Ávila Pompeia (1863-1895) tinha apenas dez anos Abílio, um estabelecimento de ensino que adquirira grande
quando foi matriculado num internato, dirigido pelo dou- prestígio, dirigido pelo educador Abílio César Borges, o Barão
tor Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas, no Rio de de Macaúbas – o mesmo que, em Salvador, educara Castro
Janeiro. Após concluir os estudos primários, entrou para o Alves e Rui Barbosa. Passando do ambiente familiar austero
Imperial Colégio D. Pedro II, em 1879. e fechado para a vida no internato, Raul Pompeia recebeu
um choque profundo no contato com estranhos. Logo se
Em literatura, o adolescente admirava Flaubert e Zola e de-
distinguiu como aluno aplicado, com o gosto pelos estudos
liciava-se com as ideias de liberdade aprendidas na leitura
e pelas leituras; bom desenhista e caricaturista, redigia e ilus-
de Rousseau. No final do colégio, já tinha pronto seu pri-
trava do próprio punho o jornalzinho O Archote. Em 1879,
meiro romance: Uma tragédia no Amazonas.
transferiu-se para o Colégio Pedro II, para fazer os prepara-
Em 1881, matriculou-se na Faculdade de Direito de São tórios, e ali se projetou como orador e publicou seu primeiro
Paulo. Três anos depois, já como jornalista consagrado, abo- livro, Uma tragédia no Amazonas (1880).
licionista e republicano, foi reprovado na Faculdade. Nesse
Reprovado no terceiro ano, em 1883 seguiu com 93 aca-
tempo escrevera mais um romance: As joias da Coroa.
dêmicos para o Recife e lá concluiu o curso de Direito, mas
não exerceu a advocacia. De volta ao Rio de Janeiro em
1885, dedicou-se ao jornalismo, escrevendo crônicas, fo-
lhetins, artigos, contos e participando da vida boêmia das
rodas intelectuais. Nos momentos de folga escreveu O Ate-
neu, “crônica de saudades”, romance de cunho autobio-
gráfico, narrado em primeira pessoa, contando o drama de
um menino que, arrancado do lar, é posto num internato
da época. Publicou-o em 1888, primeiro em folhetins, na
Gazeta de Notícias, e, logo a seguir, em livro, que o consa-
grou definitivamente como escritor.
Decretada a Abolição, em que se empenhara, passou a
dedicar-se à campanha favorável à implantação da Repú-
blica. Em 1889 colaborou em A Rua, de Pardal Mallet, e no
Jornal do Comércio. Proclamada a República, foi nomeado
professor de mitologia da Escola de Belas Artes e, logo a
seguir, diretor da Biblioteca Nacional. No jornalismo reve-
lou-se um florianista exaltado, grande jacobino que era, em
oposição a intelectuais do seu grupo, como Pardal Mallet
e Olavo Bilac. Numa das discussões, surgiu um duelo entre
Bilac e Pompeia. Combatia o cosmopolitismo, achando que
o militarismo, encarnado por Floriano Peixoto, constituía a
defesa da pátria em perigo. Referindo-se à luta entre por-
Tomou, então, a decisão de se transferir para o Recife, onde
tugueses e ingleses, desenhou uma de suas melhores char-
terminou o curso, em 1885, e começou a escrever o roman-
ges: O Brasil crucificado entre dois ladrões. Com a morte
ce que haveria de consagrá-lo: O Ateneu, publicado sob a
de Floriano, em 1895, foi demitido da direção da Biblioteca
forma de folhetim em 1888.
Nacional, acusado de desacatar a pessoa do então Presi-
dente da República, Prudente de Morais, no explosivo dis-
1.5.1. Biografia curso pronunciado em seu enterro. Rompido com amigos,
Raul de Ávila Pompeia nasceu em Jacuecanga, Angra dos caluniado em artigo de Luís Murat, sentindo-se desdenha-
Reis(RJ) em 12 de abril de 1863, e faleceu na cidade do do por toda parte, inclusive dentro do jornal A Notícia, que
67
não publicara o segundo artigo de sua colaboração – o
que, aliás, tratou-se de um simples atraso –, pôs fim à vida,
1.6. Trechos de O Ateneu
com um tiro no coração, no dia de Natal de 1895.
A posição de Raul Pompeia, ficcionista de alturas geniais,
na literatura brasileira é controvertida. A princípio a crítica
o julgou pertencente ao Naturalismo, mas as qualidades
artísticas presentes em sua obra fazem-no aproximar-se do
Simbolismo, ficando a sua arte como a expressão típica, na
literatura brasileira, do estilo impressionista.
(DISPONÍVEL EM: <ACADEMIA.ORG.BR/ABL>. ACESSO EM: 22 MAR. 2015).
1.6.1. Capítulo I
O Ateneu [...]
O romance O Ateneu tem cunho memorialista e res- O diretor recebeu-nos em sua residência, com manifesta-
salta-se em seu eixo fundamental o estudo psicológi- ções ultra de afeto. Fez-se cativante, paternal; abriu-nos
co de um adolescente. O foco narrativo é centrado em amostras dos melhores padrões do seu espírito, evidenciou
Sérgio, personagem constantemente em conflito com as faturas do seu coração. O gênero era bom sem dúvi-
os valores impostos pela direção do internato. da nenhuma; que apesar do paletó de seda e do calçado
raso com que se nos apresentava, apesar da bondosa fa-
miliaridade com que declinava até nós, nem um segundo
o destituí da altitude de divinização em que o meu critério
embasbacado o aceitara.
[...]
Surpreendendo-nos com esta frase, untuosamente escoada
por um sorriso, chegou a senhora do diretor, D. Ema. Bela
Surgem no romance os problemas criados pela edu- mulher em plena prosperidade dos trinta anos de Balzac,
cação convencional: a homossexualidade, as revoltas formas alongadas por graciosa magreza, erigindo, porém,
e a corrupção. o tronco sobre quadris amplos, fortes como a maternidade;
olhos negros, pupilas retintas de uma cor só, que pareciam
Oscilando entre ser um diário e um romance, o livro é re-
encher o talho folgado das pálpebras; de um moreno rosa
cheado das experiências do menino Sérgio no internato,
que algumas formosuras possuem, e que seria também a
dirigido pela mão de ferro do diretor Aristarco de Ramos.
cor do jambo, se jambo fosse rigorosamente o fruto proi-
Trata-se de quadros narrativos que vão sendo expos- bido. Adiantava-se por movimentos oscilados, cadência de
tos ao leitor. Personagens e situações do colégio são minueto harmonioso e mole que o corpo alternava. Vestia
apresentados, desvendando-se um mundo de hipocri- cetim preto justo sobre as formas, reluzente como pano
sias e falsidades em que até amigos tornam-se dela- molhado; e o cetim vivia com ousada transparência a vida
tores. A história do internato passa pela formação se- oculta da carne. Esta aparição maravilhou-me.
xual e intelectual do adolescente como um reflexo da
Houve as apresentações de cerimônia, e a senhora com
sociedade e focaliza, ao mesmo tempo, a decadência
um nadinha de excessivo desembaraço sentou-se ao divã
do regime monárquico-escravocrata brasileiro.
perto de mim.
No colégio há um sistema de “proteções”, em que es-
– Quantos anos tem? – perguntou-me.
tudantes mais velhos tomam a guarda de mais novos.
O sistema esconde todo tipo de baixeza, inclusive o as- – Onze anos...
sassinato provocado pela criada Ângela. A atmosfera
– Parece ter seis, com estes lindos cabelos.
saturada e falsa, forjada pelo diretor Aristarco, contami-
na a todos, com exceção de D. Ema, esposa do diretor, Eu não era realmente desenvolvido. A senhora colhia-me o
que é pessoa de muito boa vontade e vem a ser alvo de cabelo nos dedos:
uma paixão platônica do menino Sérgio. A obra termina – Corte e ofereça a mamãe, aconselhou com uma carícia; é
com um incêndio provocado pelo estudante Américo. a infância que aí fica, nos cabelos louros... Depois, os filhos
nada mais têm para as mães.
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O poemeto de amor materno deliciou-me como uma divi- e anguloso, incapaz de ficar sentado três minutos, sempre
na música. Olhei furtivamente para a senhora. Ela conser- à mesa do professor e sempre enxotado, debulhando um
vava sobre mim as grandes pupilas negras, lúcidas, numa risinho de pouca-vergonha, fazendo agrados ao mestre,
expressão de infinda bondade! Que boa mãe para os me- chamando-lhe bonzinho, aventurando a todo ensejo uma
ninos, pensava eu. Depois, voltada para meu pai, formulou tentativa de abraço que Mânlio repelia, precavido de con-
sentidamente observações a respeito da solidão das crian- fianças; Batista Carlos, raça de bugre, válido, de má cara,
ças no internato. coçando-se muito, como se o incomodasse a roupa no cor-
[...] po, alheio às coisas da aula, como se não tivesse nada com
aquilo, espreitando apenas o professor para aproveitar as
distrações e ferir a orelha aos vizinhos com uma seta de
papel dobrado. Às vezes a seta do bugre ricochetava até
à mesa de Mânlio. Sensação; suspendiam-se os trabalhos;
rigoroso inquérito. Em vão, que os partistas temiam-no e
ele era matreiro e sonso para disfarçar.
Dignos de nota havia ainda o Cruz, tímido, enfiado, sempre
de orelha em pé, olhar covarde de quem foi criado a panca-
das, aferrado aos livros, forte em doutrina cristã, fácil como
um despertador para desfechar as lições de cor, perro como
uma cravelha para ceder uma ideia por conta própria; o
Sanches, finalmente, grande, um pouco mais moço que o
venerando Rebelo, primeiro da classe, muito inteligente,
vencido apenas por Maurílio, na especialidade dos noves
fora vezes tanto, cuidadoso dos exercícios, êmulo do Cruz
na doutrina, sem competidor na análise, no desenho linear,
na cosmografia.
(POMPEIA, RAUL. O ATENEU. SÃO PAULO: ÁTICA, 1986.]
1.6.2. Capítulo II
[...]
Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma varie-
dade de tipos que me divertia. O Gualtério, miúdo, redon-
do de costas, cabelos revoltos, motilidade brusca e caretas
de símio – palhaço dos outros, como dizia o professor; o
Nascimento, o bicanca, alongado por um modelo geral de
pelicano, nariz esbelto, curvo e largo como uma foice; o Ál-
vares, moreno, cenho carregado, cabeleira espessa e inton- multimídia: vídeo
sa de vate de taverna, violento e estúpido, que Mânlio ator- FONTE: YOUTUBE
mentava, designando-o para o mister das plataformas de
bonde, com a chapa numerada dos recebedores, mais leve
Germinal
de carregar que a responsabilidade dos estudos; o Almeidi- Durante o século XIX, os trabalhadores france-
ses eram explorados pela aristocracia burguesa,
nha, claro, translúcido, rosto de menina, faces de um rosa
que dava condições miseráveis para seus em-
doentio, que se levantava para ir à pedra com um vagar
pregados. Em uma cidade francesa, os traba-
lânguido de convalescente; o Maurílio, nervoso, insofrido, lhadores de uma grande mineradora decidiram
fortíssimo em tabuada: cinco vezes três, vezes dois, noves realizar uma greve e se rebelar contra seus che-
fora, vezes sete?... Iá estava Maurílio, trêmulo, sacudindo fes, causando o caos.
no ar o dedinho esperto... olhos fúlgidos, rosto moreno,
marcado por uma pinta na testa; o Negrão, de ventas ace-
sas, lábios inquietos, fisionomia agreste de cabra, canhoto
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VIVENCIANDO
70
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
Habilidade
Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico,
15 social e político.
Esta Habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas vinculadas ao primeiro aspecto da
tríade analítica básica da arte literária (contexto, autor e obra), no caso o conceito de linguagem utilizado pelos autores
em escolas literárias diferentes, mas que se aproximam tematicamente. A construção dos procedimentos literários está
ligada aos fatores estéticos que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto em relação à concepção
artística do contexto.
Modelo
(Enem) Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os
cabelos e eu parti.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um di-
retor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como
os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha
consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de acla-
mações o bombo vistoso dos anúncios.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império
com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos
pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de
livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudente-
mente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas
de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e
sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que
não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não
havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.
POMPÉIA, R. O ATENEU. SÃO PAULO: SCIPIONE, 2005.
Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do
colégio demarcado pela:
a) ideologia mercantil da educação, repercutida nas vaidades pessoais;
b) interferência afetiva das famílias, determinantes no processo educacional;
c) produção pioneira de material didático, responsável pela facilitação do ensino;
d) ampliação do acesso à educação, com a negociação dos custos escolares;
e) cumplicidade entre educadores e famílias, unidos pelo interesse comum do avanço social.
71
Análise expositiva: A obra O Ateneu, de Raul Pompeia, critica as instituições de ensino, mostrando-as
A como um negócio vantajoso do ponto de vista financeiro. O Naturalismo é um movimento literário da se-
gunda metade do século XIX, e uma de suas características é o romance de tese ou romance experimental,
que analisa a sociedade como um objeto científico.
Alternativa A
DIAGRAMA DE IDEIAS
NATURALISMO NO BRASIL
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AULAS PARNASIANISMO
31 E 32
COMPETÊNCIA: 5 HABILIDADES: 15, 16 e 17
1. O PARNASIANISMO
Vaso grego
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois… Mas o lavor da taça admira, OLAVO BILAC, À DIREITA, RAIMUNDO CORREIA, AO CENTRO, E ALBERTO
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas DE OLIVEIRA, POETAS CONHECIDOS COMO A “TRÍADE PARNASIANA.
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas, 2.1. Alberto de Oliveira
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
A fidelidade à estética parnasiana e a perfeição dos versos
Poeta de Teos: referência a Anacreonte, nascido em Teos, do carioca Antônio Mariano Alberto de Oliveira (1857-
na Jônia 1937) foram reconhecidas em 1924, quando foi eleito o
“segundo príncipe dos poetas brasileiros” – o primeiro
Colmada: coberta
foi Olavo Bilac, em 1913. Foi um dos fundadores da Aca-
Lavro: trabalho demia Brasileira de Letras.
Ignota: desconhecida Considerado um dos mais perfeitos parnasianos, sua poesia
Anacreonte: poeta lírico do vinho e do amor é descritiva, exalta a forma e a Antiguidade clássica.
74
de Letras.
Recebeu com discurso, na ABL, o poeta e romancista
Goulart de Andrade.
Era filho de José Mariano de Oliveira e de Ana Mariano de
Oliveira. Fez os estudos primários em escola pública na vila
de N. S. de Nazaré de Saquarema. Depois, cursou humani-
dades em Niterói. Diplomou-se em Farmácia, em 1884, e
cursou a Faculdade de Medicina até o terceiro ano, onde
foi colega de Olavo Bilac, com quem, desde logo, estabe-
leceu relações pessoais e literárias. Bilac seguiu para São
Paulo, matriculando-se na Faculdade de Direito, e Alberto
foi exercer a profissão de farmacêutico. Deu seu nome a
várias farmácias alheias. Uma delas, e por muitos anos, era
uma das filiais do estabelecimento do velho Granado, in-
dustrial português. Casou-se em 1889, em Petrópolis, com
a viúva Maria da Glória Rebello Moreira, de quem teve um
filho, Artur de Oliveira.
2.1.1. Obras Em 1892, foi oficial de gabinete do presidente do Estado,
Sua obra compreende os poemas de Canções românticas; Dr. José Tomás da Porciúncula. De 1893 a 1898, exerceu o
Meridionais; Sonetos e poemas; Versos e rimas; Poesias (pri- cargo de diretor-geral da Instrução Pública do Rio de Janei-
meira, segunda e terceira séries e póstuma). ro. No Distrito Federal, foi professor da Escola Normal e da
Escola Dramática.
Vaso chinês Entre dezesseis irmãos, nove homens e sete moças, todos
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
com inclinações literárias, destacou-se Alberto de Oliveira
Casualmente, uma vez, de um perfumado como a mais completa personalidade artística. Ficou famo-
Contador sobre o mármore luzidio, sa a casa da Engenhoca, arrabalde de Niterói, onde o casal
Entre um leque e o começo de um bordado. Oliveira residia com os filhos. Na década de 1880, era fre-
Fino artista chinês, enamorado, quentada pelos mais ilustres escritores brasileiros, entre os
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
quais Olavo Bilac, Raul Pompeia, Raimundo Correia, Aluísio
Na tinta ardente, de um calor sombrio. e Artur Azevedo, Afonso Celso, Guimarães Passos, Luís Del-
Mas, talvez por contraste à desventura, fino, Filinto de Almeida, Rodrigo Octavio, Lúcio de Mendon-
Quem o sabe? – de um velho mandarim ça, Pardal Mallet e Valentim Magalhães. Nessas reuniões,
Também lá estava a singular figura. só se conversava sobre arte e literatura. Sucediam-se os
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
recitativos. Eram versos próprios dos presentes ou alheios.
De olhos cortados à feição de amêndoa. Heredia, Leconte, Coppée, France eram os nomes tutelares,
(ALBERTO DE OLIVEIRA. OP. CIT.) quando o Parnasianismo francês estava no auge.
Note que nesse soneto há “culto à forma”. Os versos são Em seu livro de estreia, em 1877, Canções românticas,
rigorosamente metrificados, com rimas raras obtidas do Alberto de Oliveira mostrava-se ainda preso aos cânones
aproveitamento sonoro de palavras de categorias grama- românticos. Mas sua posição de transição não escapou ao
ticais diferentes, bem como do uso de terminações não crítico Machado de Assis em um famoso ensaio, de 1879,
comuns: “vendo-a” / “amêndoa”. em que assinala os sintomas da “nova geração”. O antirro-
mantismo vinha da França por uma plêiade de poetas reu-
2.1.2. Biografia nidos no Parnasse Contemporain, Leconte de Lisle, Banvill,
Gautier. em Meridionais (1884), está o momento mais alto
Alberto de Oliveira (Antônio Mariano A. de O.), far- de sua ortodoxia parnasiana. Concretiza-se o forte pendor
macêutico, professor e poeta, nasceu em Palmital de pelo objetivismo e pelas cenas exteriores, o amor à natu-
Saquarema, RJ, em 28 de abril de 1857, e faleceu reza, o culto à forma, à pintura da paisagem, à linguagem
em Niterói, RJ, em 19 de janeiro de 1937. castiça e à versificação rica. Essas qualidades acentuam-se
Primeiro ocupante da Cadeira 8 da Academia Brasileira nas obras posteriores.
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Em Sonetos e poemas e versos e rimas, sobretudo, e nas
coletâneas das quatro séries de Poesias (1900, 1905, 1913
2.2. Raimundo Correia
e 1928), ele patenteou seu talento de poeta, de arte e de O maranhense Raimundo da Mota de Azevedo Correia
perfeita mestria. Foi um dos maiores cultores do soneto em (1859-1911) iniciou sua carreira poética com Primeiros
sonhos como romântico, seguidor das tendências de Fa-
língua portuguesa. Com Raimundo Correia e Olavo Bilac,
gundes Varela, Casimiro de Abreu e Castro Alves. Depois
constituiu a trindade parnasiana no Brasil, movimento
assumiu o Parnasianismo com Sinfonias, constituindo ao
inaugurado com Sonetos e rimas (1880) de Luís Guimarães,
lado de Alberto de Oliveira e de Olavo Bilac a famosa “trí-
que teria a sua fase criadora encerrada em 1893 com Bro-
ade parnasiana”. Com a evolução de sua obra, Raimundo
quéis, de Cruz e Sousa, que abriram o movimento simbolista. Correia chegou a ser um pré-simbolista.
Mas a influência do Parnasianismo, sobretudo pelas figuras
de Alberto e Bilac, seria sentida muito além do término como Com prefácio de Machado de Assis, Sinfonias caracteri-
za-se pela exaltação à natureza, perfeição formal, cultura
escola, estendendo-se até a irrupção do Modernismo (1922).
clássica, pessimismo e desilusão.
Alberto de Oliveira envelheceu tranquilamente e pôde as-
sistir ao fim da sua escola poética, com a mesma grandeza,
serenidade e fino senso estético, traços característicos da sua
vida e de sua obra. O soneto que abre a quarta série de
Poesias (1928), “Agora é tarde para novo rumo / dar ao se-
quioso espírito;...” sintetiza bem sua consciência de poeta e
o elevado conceito que sustentou sua arte.
Durante toda a carreira literária, colaborou também em jor-
nais cariocas: Gazetinha, A Semana, Diário do Rio de Janeiro,
Mequetrefe, Combate, Gazeta da Noite, Tribuna de Petrópo-
lis, Revista Brasileira, Correio da Manhã, Revista do Brasil,
Revista de Portugal, Revista de Língua Portuguesa. Era um
apaixonado bibliófilo; chegou a ter uma das bibliotecas mais
escolhidas e valiosas de clássicos brasileiros e portugueses,
que doou à Academia Brasileira de Letras
(DISPONÍVEL EM: <ACADEMIA.ORG.BR/ABL>. ACESSO EM: 1º JUN. 2015).
A temática concentra-se na exaltação das formas estrutu-
rais dos poemas, na contemplação da natureza, na perfei-
ção dos objetos, na métrica rígida. Em As pombas, exal-
tam-se as formas, a métrica perfeita e a natureza.
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada ...
Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada ...
multimídia: livros E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ensaio sobre o Parnasianismo brasileiro, de Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Duarte Montalegre Voltam todas em bando e em revoada...
Destinava-se esse ensaio a ser lido, em notas
tanto quanto possível esquemáticas e gerais, Também dos corações onde abotoam,
na Semana Brasileira da Faculdade de Letras de Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
Coimbra, que não pôde realizar-se em junho de
1942, por motivos de doença do ilustre diretor No azul da adolescência as asas soltam,
do Instituto de Estudos Brasileiros, professor Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
doutor Rebêlo Gonçalves. E eles aos corações não voltam mais...
(RAIMUNDO CORREIA. POESIAS. RIO DE JANEIRO, AGIR, 1976.)
76
A cavalgada Esse poema valeu a Raimundo Correia o epíteto de “O poeta
das pombas”, que ele tanto detestava. Recém-formado, em
A lua banha a solitária estrada... fins de 1884, voltou para o Rio de Janeiro e foi logo nome-
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
ado promotor de justiça de São João da Barra. Também foi
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.
juiz municipal de órfãos e ausentes em Vassouras. Em 21
de dezembro daquele ano casou-se com Mariana Sodré, de
São fidalgos que voltam da caçada; ilustre família fluminense.
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando Em Vassouras publicou poesias e páginas de prosa no jor-
O remanso da noite embalsamada... nal O Vassourense, do poeta, humanista e músico Lucindo
Filho, no qual também colaboravam Olavo Bilac, Coelho
E o bosque estala, move-se, estremece...
Neto, Alberto de Oliveira, Lúcio de Mendonça, Valentim
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha... Magalhães, Luís Murat e outros. Em começos de 1889 foi
nomeado secretário da presidência da província do Rio de
E o silêncio outra vez soturno desce... Janeiro, no governo do conselheiro Carlos Afonso de Assis
E límpida, sem mácula, alvacenta Figueiredo. Após a proclamação da República foi preso. No
A lua a estrada solitária banha...
entanto, graças às suas notórias convicções republicanas,
(RAIMUNDO CORREIA. POESIAS. RIO DE JANEIRO, AGIR, 1976.)
foi solto e nomeado juiz de direito em São Gonçalo de Sa-
pucaí, no Sul de Minas.
2.2.1. Obras
Em 22 de fevereiro de 1892 foi nomeado diretor da Secre-
Primeiros Sonhos (1879); taria de Finanças de Ouro Preto. Na então capital mineira,
Sinfonias (1883); foi também professor da Faculdade de Direito e, no primeiro
número da revista que ali se publicava, apareceu seu traba-
Versos e versões (1887);
lho “As antiguidades romanas.” Em 1897, no governo de
Aleluias (1891), Poesias (1898). Prudente de Morais, foi nomeado segundo-secretário da
Poemas famosos: Plenilúnio, Banzo, A cavalgada, Legação do Brasil em Portugal. Lá editou suas Poesias em
quatro edições sucessivas e aumentadas, com prefácio do
Plena nudez, As pombas.
escritor português D. João da Câmara. Por decreto do go-
verno, suprimiu-se o cargo de segundo-secretário, e o poeta
2.2.2. Biografia voltou a ser juiz de direito. Em 1899, em Niterói, passou a
Raimundo Correia (R. da Mota de Azevedo C.), magis- ser diretor e professor no Ginásio Fluminense de Petrópolis.
trado, professor, diplomata e poeta, nasceu em 13 de
Em 1900 voltou para o Rio de Janeiro como juiz de vara
maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís,
cível, cargo em que permaneceu até 1911. Por motivos de
ancorado na baía de Mogúncia, MA, e faleceu em Paris,
saúde, partiu para Paris em busca de tratamento, onde veio
França, em 13 de setembro de 1911.
a falecer. Seus restos mortais ficaram em Paris até 1920.
Ocupou a Cadeira 5 da ABL. Naquele ano, juntamente com os do poeta Guimarães Pas-
Foram seus pais o desembargador José Mota de Azevedo sos, também falecido na capital francesa, para onde fora à
Correia, descendente dos duques de Caminha, e Maria Cla- procura de tratamento, foram transladados para o Brasil,
ra Vieira da Silva. Vindo a família para a Corte, o pequeno por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, e deposita-
Raimundo foi matriculado no Internato do Colégio Nacio- dos no cemitério de São Francisco Xavier, em 28 de dezem-
nal, hoje Pedro II, onde concluiu os estudos preparatórios bro de 1920.
em 1876. No ano seguinte, matriculou-se na Faculdade de
Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na po-
Direito de São Paulo, onde encontrou um grupo de rapazes:
esia brasileira. Seu livro de estreia, Primeiros sonhos (1879),
Raul Pompeia, Teófilo Dias, Eduardo Prado, Afonso Celso,
insere-se ainda no Romantismo. Já em Sinfonias (1883)
Augusto de Lima, Valentim Magalhães, Fontoura Xavier e
nota-se o feitio novo que seria definitivo em sua obra, o
Silva Jardim, todos destinados a ser grandes figuras das
Parnasianismo. Segundo os cânones dessa escola, que es-
letras, do jornalismo e da política.
tabelecem uma estética de rigor formal, ele foi um dos mais
No tempo de estudante, colaborou em jornais e revistas. perfeitos poetas da língua portuguesa. Formou com Alberto
Estreou na literatura em 1879, com Primeiros sonhos. Em de Oliveira e Olavo Bilac a famosa “tríade parnasiana. Além
1883, publicou as Sinfonias, das quais faz parte um dos mais de poesia, deixou obras de crítica, ensaio e crônicas.
conhecidos sonetos da língua portuguesa, “As pombas”. (DISPONÍVEL EM: <ACADEMIA.ORG.BR/ABL>. ACESSO EM: 1º JUN. 2015).
77
2.3. Olavo Bilac parnasianas. Em temática variada, preferia temas gre-
co-romanos. Descreve a natureza, sinais de sua heran-
ça romântica.
A poesia e a vida boêmia atraíram Olavo Bilac. A vida amo-
rosa foi sempre tumultuada. Foi o “primeiro príncipe dos po-
etas brasileiros”, título outorgado pela Revista Fon-Fon, em
1907. Fortaleceu seu nome em palestras pelo país inteiro,
em que pregava o patriotismo e combatia o analfabetismo.
Considerado um dos parnasianos mais radicais, destacou-
-se pela busca da perfeição formal na poesia. No conjunto
de sua obra, a coletânea Poesias destaca os poemas Pa-
nóplias, Via-láctea e Sarças de fogo, na primeira edição,
e O caçador de esmeraldas, Alma inquieta e Viagens, na
segunda; Poemas infantis e Tarde.
Bilac também foi autor de Contos pátrios, em colaboração
com Coelho Neto; Tratado de versificação, em colaboração
com Guimarães Passos; Através do Brasil, em colaboração
com Manuel Bonfim; Crônicas e novelas.
No poema Profissão de fé, que serve de prefácio à obra
Poesias, Bilac expõe os princípios do Parnasianismo a partir
da comparação entre o poeta e o ourives. Como o artesão,
o poeta deve fazer de seu poema uma verdadeira oficina
da palavra, cuja impassibilidade e frieza pretendidas, no
entanto, ele nem sempre conseguiu manter. Entregava-se
ao lirismo com bastante frequência.
[...]
multimídia: livros Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Olavo Bilac: literatura comentada, de Norma Com que ele, em ouro, o alto relevo
Seltzer Goldstein Faz de uma flor.
O livro faz parte de um coleção que se destina
[...]
não só a estudantes – especialmente os do se- Por isso, corre, por servir-me,
gundo grau e de cursos pré-universitários – e Sobre o papel
professores mas também a todas as pessoas in- A pena, como em prata firme
teressadas em literatura. Apresenta textos sele- Corre o cinzel.
cionados, análises histórico-literárias, biografias
[...]
e atividades de compreensão de texto. Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
O carioca Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865- Como um rubim.
1918) abandonou a Faculdade de Medicina no quinto ano Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
do curso, mudou-se para São Paulo e ingressou na Facul-
Do ourives, saia da oficina
dade de Direito. Um ano depois voltou ao Rio de Janeiro, Sem um defeito:
onde se dedicou ao jornalismo e à literatura.
[...]
É membro fundador da Academia Brasileira de Letras na Porque o escrever – tanta perícia,
qual ocupou a cadeira no 15. Foi um dos principais repre- Tanta requer,
sentantes do Movimento Parnasiano. Que ofício tal... nem há notícia
Sua primeira obra foi Poesias, publicada em 1888, que De outro qualquer.
revela plena identificação do poeta com as propostas [...]
78
Em Poesias, publicado em 1888, havia trinta e cinco sone- O Caçador de Esmeraldas (1902);
tos agrupados sob um único título: Via-Láctea. Neles, já se
As viagens (1902),
observa o culto ao subjetivismo, influenciado pelo já findo
Romantismo. Alguns desses sonetos estão entre os melho- Alma Inquieta (1902);
res que Bilac escreveu. Poesias infantis (1904);
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
O caçador de esmeraldas
“O caçador de esmeraldas” é o título de um po-
ema do poeta parnasiano Olavo Bilac, baseado Hino à Bandeira Nacional
na história do bandeirante Fernão Dias Paes Le- LETRA: OLAVO BILAC / MÚSICA: FRANCISCO BRAGA
me. Em meados do século XVII, Portugal estava
Salve, lindo pendão da esperança,
envolvido em uma profunda crise financeira e es-
Salve, símbolo augusto da paz!
tendeu seu domínio sobre o território brasileiro,
a oeste, para procurar pedras preciosas e ouro. Sua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.
Recebe o afeto que se encerra
2.3.1. Obras Em nosso peito juvenil,
Olavo Bilac escreveu: Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Poesias, 1888;
Em teu seio formoso retratas
Via Láctea (1888); Este céu de puríssimo azul,
Sarças de Fogo, (1888); A verdura sem par destas matas,
Crônicas e novelas (1894); E o esplendor do Cruzeiro do Sul.
79
Recebe o afeto que se encerra Jornalista político nos começos da República, foi um dos
Em nosso peito juvenil, perseguidos por Floriano Peixoto. Teve de se esconder em
Querido símbolo da terra, Minas Gerais, quando frequentou a casa de Afonso Arinos,
Da amada terra do Brasil! em Ouro Preto. De volta ao Rio foi preso. Em 1891 foi no-
meado oficial da Secretaria do Interior do Estado do Rio.
Contemplando o teu vulto sagrado, Em 1898, inspetor escolar do Distrito Federal, cargo em
Compreendemos o nosso dever; que se aposentou pouco antes de falecer. Foi também de-
E o Brasil, por seus filhos amado, legado em conferências diplomáticas em 1907 e secretário
Poderoso e feliz há de ser. do prefeito do Distrito Federal. Em 1916 fundou a Liga de
Recebe o afeto que se encerra Defesa Nacional.
Em nosso peito juvenil, Sua obra poética enquadra-se no Parnasianismo, que, na
Querido símbolo da terra, década de 1880, teve sua fase mais fecunda. Embora não
Da amada terra do Brasil! tenha sido o primeiro a caracterizar o movimento parnasia-
no, uma vez que só em 1888 publicou Poesias, Olavo Bilac
Sobre a imensa Nação Brasileira, tornou-se o mais típico dos parnasianos brasileiros ao lado
Nos momentos de festa ou de dor, de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
Paira sempre, sagrada bandeira,
Fundindo o Parnasianismo francês com a tradição lusita-
Pavilhão da Justiça e do Amor!
na, Olavo Bilac deu preferência às formas fixas do lirismo,
especialmente ao soneto. Nas duas primeiras décadas do
2.3.2. Biografia século XX, seus sonetos eram decorados e declamados em
Olavo Bilac (O. Braz Martins dos Guimarães B.), jorna- toda parte, nos saraus e salões literários comuns na época.
lista, poeta, inspetor de ensino, nasceu no Rio de Ja- Nas Poesias encontram-se os famosos sonetos Via Láctea e
neiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, e faleceu, na Profissão de fé, nos quais codificou seu credo estético pelo
mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Um dos culto ao estilo, pela pureza da forma e da linguagem e pela
fundadores da Academia Brasileira de Letras, criou a simplicidade como resultado do lavor.
Cadeira 15, que tem como patrono Gonçalves Dias, e Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade
recebeu o acadêmico Afonso Arinos. épica, expresso no poema O caçador de esmeraldas, em
Eram seus pais o doutor Braz Martins dos Guimarães Bilac que celebra os feitos, a desilusão e a morte do bandeirante
e D. Delfina Belmira dos Guimarães Bilac. Após os estudos Fernão Dias Pais.
primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Bilac foi um dos poetas brasileiros mais populares e mais
Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no quarto ano. lidos do país, razão pela qual também foi eleito o “príncipe
Tentou a seguir o curso de Direito em São Paulo, mas não dos poetas brasileiros”, em concurso que a revista Fon-fon
passou do primeiro ano. Dedicou-se desde cedo ao jorna- lançou em 1o de março de 1913. Anos mais tarde, apesar
lismo e à literatura. Teve intensa participação na política da reação modernista contra sua poesia, Olavo Bilac ocu-
e em campanhas cívicas das quais a mais famosa foi em pou posição de destaque na literatura brasileira, como um
favor do serviço militar obrigatório. Fundou vários jornais dos mais típicos e perfeitos poetas do parnasianismo bra-
de vida mais ou menos efêmera, como A Cigarra, O Meio, sileiro. Foi notável conferencista, numa época de moda das
A Rua. Na seção “Semana”, da Gazeta de Notícias, substi- conferências no Rio de Janeiro e produziu também contos
tuiu Machado de Assis. e crônicas.
(DISPONÍVEL EM : <ACADEMIA.ORG.BR/ABL>. ACESSO EM 1O JUN. 2015).
80
VIVENCIANDO
Habilidade
Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico,
15 social e político.
Esta Habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas vinculadas ao primeiro aspecto da
tríade analítica básica da arte literária (contexto, autor e obra), no caso o conceito de linguagem utilizada pelos autores
em escolas literárias diferentes, mas que se aproximam tematicamente. A construção dos procedimentos literários está
ligada aos fatores estéticos que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto em relação à concepção
artística do contexto.
81
Modelo
(Enem)
MAL SECRETO
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
CORREIA, R. IN: PATRIOTA, M. PARA COMPREENDER RAIMUNDO CORREIA. BRASÍLIA: ALHAMBRA, 1995.
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto
de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na
concepção do eu lírico, esse julgamento revela que:
a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada;
b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social;
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja;
d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo;
e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.
Análise expositiva: Raimundo Correia propõe uma reflexão que levanta a questão da dissimulação pre-
A sente na sociedade de sua época como projetada para tempos futuros. Logo, as pessoas vestem a máscara
da face e tornam invisíveis os sofrimentos, autorizando tão somente que sejam passados falsos sorrisos e
alegrias.
Alternativa A
82
DIAGRAMA DE IDEIAS
PARNASIANISMO
83
AULAS SIMBOLISMO
33 E 34
COMPETÊNCIA: 5 HABILIDADES: 15, 16 e 17
Nascido na França, o Simbolis- invisível, o universo que se pode sentir, mas não revelar,
mo ocorreu em um momento exceto pela representação de sensações.
de transição entre os séculos
De acordo com o determinismo, os acontecimentos na vida
XIX e XX, em contraposição
de uma pessoa, bem como suas vontades, escolhas e com-
ao Realismo e ao Naturalis-
portamentos, eram causados por influência do meio. Em
mo. No intenso contato com
razão disso, as pessoas eram consideradas resultado direto
a cultura, a mentalidade, as
do meio, destituídas de plena liberdade, decisão e escolha.
artes e a religiosidade orien-
tais, os artistas daquela época Nascido nesse mesmo contexto, o Impressionismo, movi-
mergulharam nesses valores mento artístico francês, caracterizou-se pelo estilo funda-
distintos do pensamento oci- mentalmente sensorial, em que a natureza era encarada
dental, mais racional, e espelharam em suas criações essa não de forma objetiva, mas interpretada. Prevalecia, por-
outra visão de mundo. As produções do período são subje- tanto, a verdade do artista.
tivas, posto que o artista buscava voltar para dentro de si à
procura de zonas mais profundas, numa viagem interior de 1.1. Decadentismo e Simbolismo
resultados imprevisíveis.
1.1.1. Gauguin impressionista.
1. PERÍODO DE TRANSIÇÃO Gauguin simbolista.
Influenciados pelo misticismo provindo do intercâmbio
ENTRE SÉCULOS com as artes, os pensamentos e as religiões orientais, os
O Simbolismo correspondeu a uma resposta artística à cri- artistas do final do século XIX foram tachados de “deca-
se de civilização burguesa da Europa industrializada. Foi dentes”, em alusão à decadência dos valores estéticos vi-
uma revolta contra a ideologia tecnocrática do Naturalismo gentes: Naturalismo e Parnasianismo.
e contra certos dogmas, como o determinismo, que, segun-
Por volta de 1880, espalhou-se a ideia de decadentismo,
do os artistas da época, sufocavam a criatividade.
bastante relacionada à figura do francês Charles Baudelai-
Essa luta foi instintiva e afetiva, bem como pessimista. O ar- re (1821-1867), poeta místico, libertino e ferozmente críti-
tista dos últimos anos do século XIX negava os valores da co. Os “decadentes” eram poetas em crise, dizia-se.
sociedade burguesa de forma problemática e autodilaceran-
O decadentismo era um estado de revolta contra a socie-
te e, além disso, parecia estar descontente consigo mesmo.
dade burguesa e seus falsos conceitos. Sthéfane Mallarmé
A arte simbolista apresentou significativa elaboração estéti- (1842-1898) e Jean Moréas (1856–1910), poeta de ori-
ca. Apesar de se referir a um mundo decadente, suas formas gem grega, escreveram um artigo/manifesto denominado
eram bastante refinadas: procuram servir de refúgio ao artis- Le symbolisme, em 1886, denominação que haveria de
ta diante de um mundo marcado pelas práticas burguesas. prevalecer para denominar o novo estilo literário.
Por valorizar o mundo inteiro e os valores espirituais, a ati- Nesse manifesto, Moréas, pseudônimo de Ioannes Papa-
tude da arte simbolista é subjetivista, muito semelhante a diamtopoulos, apresenta o Simbolismo como resultado da
dos românticos da metade do século XIX. Porém, os simbo- própria evolução da literatura, evolução essa, segundo ele,
listas vão mais além, atingindo as camadas do inconsciente cíclica. Caracterizam-no as metáforas estranhas e o voca-
e do subconsciente. Eles retomam o misticismo, o sonho, a bulário novo harmonicamente sustentado e aberto à valo-
fé, numa tentativa de encontrar novos caminhos. rização do ritmo. A poesia simbolista é “inimiga do ensina-
Na trilha do desconhecido, o movimento explora a possi- mento, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição
bilidade de estabelecer relações entre o mundo visível e o objetiva e procura vestir a ideia de uma forma sensível”.
84
1.2. Bases filosóficas do Simbolismo
O gosto pelo mistério das coisas, a tentativa de captar a
realidade secreta do universo, de encontrar uma “alma”
na natureza têm bases filosóficas em algumas doutrinas
daquele contexto.
85
1.2.3. Doutrina do espírito inconsciente 2. CARACTERÍSTICAS DA
LITERATURA SIMBOLISTA
2.1. A teoria das correspondências
86
No soneto, as correlações ou correspondências mostram-se
nas comparações e metáforas que se referem aos sentidos
humanos: tato, visão, paladar e notadamente olfato: per-
fumes frescos como carnes de crianças; perfumes podres,
perfumes doces com oboés, perfumes verdes.
A noção de correspondência é fundamental para explicar
as produções do final do século XIX. Há correspondências
sensoriais entre a música, a pintura e a literatura.
Adormecido no vale
É um vão de verdura onde um riacho canta
A espalhar pelas ervas farrapos de prata 2.3. A musicalidade, antes
Como se delirasse, e o sol da montanha de qualquer coisa
Num espumar de raios seu clarão desata.
Jovem soldado, boca aberta, a testa nua, O poeta simbolista francês Paul Verlaine (1844-1896) de-
Banhando a nuca em frescas águas azuis, fendia a aproximação da poesia com a música. Em razão
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua, disso, há poemas simbolistas que apresentam inovações
Frágil, no leito verde onde chove luz. métricas, como a ruptura das regras de versificação rigo-
rosamente observadas pelos parnasianos, o deslocamento
Com os pés entre os lírios, sorri mansamente
Como sorri no sono um menino doente. e a atenuação do acento tônico do verso, que lhes trazem
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio. bastante fluidez e musicalidade.
E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito, Canção de outono
Tem dois furos vermelhos do lado direito.
(ARTHUR RIMBAUD. TRAD. FERREIRA GULLAR.) Estes lamentos
Dos violões lentos
Arthur Rimbaud (1854-1891) publicou em vida apenas a Do outono
obra Uma temporada no inferno (1873). Poesias (1871) e Enchem minha alma
Iluminações (1873) são publicações póstumas. Nelas ob- De uma onda calma
serva-se uma aproximação sinestésica entre palavras, sons, De sono.
cores e odores, característica marcante do Simbolismo. E soluçando
Pálido, quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doidos
De outrora.
E vou à toa
No ar mau que voa
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.
(PAUL VERLAINE. TRAD. GUILHERME DE ALMEIDA.)
87
3. SIMBOLISMO EM PORTUGAL
O marco inicial do Simbolismo em Portugal foi Oaristos, de
Eugênio de Castro, em 1890. O prefácio traz um verdadeiro
programa de estética simbolista, com base nas ideias do
poeta francês Jean Moréas.
O término do Simbolismo português deu-se em 1915,
quando Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro lançaram
a revista Orpheu, que deu início ao movimento modernista.
Sinfonias do ocaso
Musselinosas como brumas diurnas
Descem do acaso as sombras harmoniosas,
Sombras veladas e musselinosas
Para as profundas solidões noturnas.
Sacrários virgens, sacrossantas urnas,
Os céus resplendem de sidéreas rosas,
Da lua e das Estrelas majestosas
Iluminando a escuridão das furnas.
Ah! por estes sinfônicos ocasos Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...
A terra exala aromas de áureos vasos, O sol, o celestial girassol, esmorece...
Incensos de turíbulos divinos. E as cantilenas de serenos sons amenos
Os plenilúnios mórbidos vaporam... Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...
E como que no Azul plangem e choram
Cítaras, harpas, bandolins, violinos... As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
CRUZ E SOUZA, IN BROQUÉIS, 1893
Cornamusas e crotalos,
Musselinosas: transparentes como o tecido chamado Cítolas, cítaras, sistros,
musselina, leve e sedoso Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Sidérias: celestiais Em suaves,
Furnas: cavernas Suaves, lentos lamentos
De acentos
Turíbulos: vasos onde se queimam incensos Graves,
Plenilúnios: noites de lua cheia Suaves.
88
Flor! enquanto na messe estremece a quermesse Sua obra mais importante, Clepsidra – relógio de água –,
E o sol, o celestial girassol esmorece, tem poemas que se destacam pela musicalidade e pelo ca-
Deixemos estes sons tão serenos e amenos, ráter dramático dos temas.
Fujamos, Flor! à flor destes floridos fenos...
Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...
[...]
Messe: colheita
Esmorece: desmaia
Cantinela: cantiga suave, monótona
Halo: auréola
Cornamusas: gaita de foles
Crotalos: instrumento musical semelhante a castanholas
Publicado postumamente, em 1920, o título desse livro re-
Cítolas: instrumento egípcio de percussão fere-se a um instrumento semelhante à ampulheta, dois
cones interligados, usado para medição de tempo. O tem-
Cítaras: alaúdes
po é medido com base na velocidade de escoamento da
Sistros: o mesmo que liras água do cone superior para o inferior.
De posse dessa metáfora para intitular sua obra, Camilo
3.2. Camilo Pessanha Pessanha chama a atenção para o tempo que flui e para o
Camilo Almeida Pessanha (1867-1926) é considerado o me- tema da obra: a perda, a efemeridade de tudo quanto pas-
lhor, mais autêntico e inovador poeta simbolista português sa, a inutilidade da vida, a dor, o medo, a realidade ambí-
cujo trabalho influenciou modernistas posteriores, como gua. Predominante na obra é a ideia de que o ser humano
Fernando Pessoa. só atinge as aparências, nunca a essência das coisas.
Distante da tendência neorromântica dos escritores do seu Chorai arcadas
tempo, incorporou procedimentos muito semelhantes aos Do violoncelo!
do francês Verlaine, ao aproximar a poesia da música. Sua Convulsionadas,
visão de mundo é pessimista, a partir da óptica da ilusão Pontes aladas
De pesadelo...
e da dor. Sente-se um verdadeiro exilado no mundo, sob
a impressão de uma verdadeira desintegração de seu ser. De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trêmulos astros,
Soidões lacustres...
– Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
– Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
(CAMILO PESSANHA. CLEPSIDRA. LISBOA: ÁTICA, 1945.)
89
Caminho 4.1. Cruz e Sousa
Tenho sonhos cruéis: n’alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...
Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...
Porque a dor, esta falta d’harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d’agora,
Sem ela o coração é quase nada:
– Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora. multimídia: vídeo
(MASSAUD MOISÉS. A LITERATURA PORTUGUESA ATRAVÉS FONTE: YOUTUBE
DOS TEXTOS. SÃO PAULO: CULTRIX, V 1971.)
Cruz e Sousa - o poeta do Desterro
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Missal e Broquéis, marcos iniciais do Simbolismo no Bra- Antífona
sil, foram publicados em 1893. Sua obra poética conta
ainda com Faróis, Últimos sonetos e Evocações (poesia Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
em prosa). De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
A temática de sua poesia é caracterizada pela busca do Incensos dos turíbulos das aras...
transcendente, ao lado do sentimento trágico da existên- [...]
cia. Além das inovações métricas, sua obra introduz uma
combinação de vocábulos que resultam em curiosas asso- Indefiníveis músicas supremas,
ciações de concreto e abstrato, cujo efeito sugere analogias Harmonias da Cor e do Perfume...
e correspondência importantes, bem como recursos sono- Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
ros, sinestesias e repetições de efeito melódico. Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
[...]
4.1.1. Missal Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Escritos em prosa, os poemas de Missal ainda não alcan- Que fuljam, que na Estrofe se levantem
çam a qualidade musical, a plasticidade, a sugestão, a E as emoções, todas as castidades
sublimidade e a alquimia verbal de suas realizações pos- Da alma do Verso, pelos versos cantem.
teriores. Vale mais como registro do que como referência [...]
do Simbolismo no Brasil. Obra influenciada pela poesia em
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
prosa de Charles Baudelaire.
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
[...]
(CRUZ E SOUSA. POESIAS COMPLETAS. RIO DE JANEIRO: OURO, 1957.)
São 54 sonetos – forma poética preferida pelo autor nesse Alabastros: rochas muito brancas, translúcidas
livro. O branco está presente em diversos jogos e matrizes,
a luminosidade do luar e da neblina; a neve, as imagens
vaporosas, os cristais, criando um universo delicado. Sines-
tesias, assonâncias e aliterações qualificam os poemas.
multimídia: livros
Cruz e Sousa
Tasso da Silveira
Esse livro reúne as mais belas poesias do maior
poeta simbolista brasileiro: Cruz e Souza.
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4.2. Alphonsus de Guimaraens A catedral
Entre brumas, ao longe, surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.
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4.2.1. Obras
Setenário das dores de Nossa Senhora (1899);
Dona mística (1899);
Câmara ardente (1899);
Kiriale (1902);
Mendigos (1920);
Pauvre Lyre (1921);
Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923);
Poesias (Nova Primavera, Escada de Jacó, Pulvis, 1938).
VIVENCIANDO
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ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
Habilidade
Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico,
15 social e político.
Esta Habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas vinculadas ao primeiro aspecto da
tríade analítica básica da arte literária (contexto, autor e obra), no caso o conceito de linguagem utilizada pelos autores
em escolas literárias diferentes, mas que se aproximam tematicamente. A construção dos procedimentos literários está
ligada aos fatores estéticos que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto em relação à concepção
artística do contexto.
Modelo
(Enem)
VIDA OBSCURA
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro
ó ser humilde entre os humildes seres,
embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sofrimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo,
Mas eu que sempre te segui os passos
sei que a cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!
SOUSA, C. OBRA COMPLETA. RIO DE JANEIRO: NOVA AGUILAR, 1961.
Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Souza transpôs para seu lirismo uma
sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se em:
a) sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação;
b) tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social;
c) extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes;
d) frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais;
e) vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.
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Análise expositiva: Trata-se de um soneto simbolista, cujas características são compatíveis com a obra de
A Cruz e Souza como um todo: são a da crítica dos excluídos, da dor de se viver em um mundo de indiferença,
de injustiça e de miséria. No poema, o eu lírico lamenta o fim de uma existência que passou despercebida
pela vida por conta de sua humilde condição social, a despeito do seu sofrimento e de suas privações.
Alternativa A
DIAGRAMA DE IDEIAS
SIMBOLISMO
PONTOS FORTES:
• SUGESTÃO E SUBJETIVIDADE.
• RELIGIOSIDADE E MISTICISMO.
• TRANSCENDENTALISMO.
• INCONSCIENTE, SUBCONSCIENTE,
LOUCURA E MUNDO ONÍRICO.
• METÁFORAS, SINESTESIAS, ALITERAÇÕES E ASSONÂNCIAS.
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