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O Equilíbrio do Cavalo

Trabalho final do
“ Curso de aperfeiçoamento de Equitação”

Mafra, Junho de 1998

José Domingos Bruno Victorino


Capitão de Cav. /GNR
Guarda Nacional Republicana

INDÍCE
1. GENERALIDADES

2. FACTORES QUE PODEM MODIFICAR O EQUILÍBRIO

2.1. Transferências de peso

2.2. Deslocações da incidência do peso do cavaleiro sobre o cavalo

2.3. O gesto e a posição do balanceiro cervical

3. COMO SE EQUILIBRA UM CAVALO

3.1. Redução da base de sustenção

3.1.1. Alargar e encurtar os andamentos


3.1.2. Trabalho de duas pistas
3.1.3. Trabalho no exterior

3.2. A elevação do pescoço

4. RELAÇÃO DO EQUILÍBRIO COM A CADÊNCIA E A IMPULSÃO

5. EQUILÍBRIO/LIGEIREZA

6. RASSEMBLEAR

7. O EQUILÍBRIO NA EQUITAÇÃO DE OBSTÁCULOS

7.1.1. O equilíbrio é influenciado por….


7.1.2. O equilíbrio influência a…
7.1.3. O equilíbrio em função de…
7.1.4. O equilíbrio no despegar…

8. NOTA FINAL

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1 – GENERALIDADES

O equilíbrio do cavalo é, ou deverá ser uma preocupação constante


do cavaleiro, seja qual for a modalidade desportiva ou “utilização” a que
destine o seu cavalo.

Com frequência encontra-se qualificado o equilíbrio como bom ou


mau. Não concordo completamente com esta qualificação, se não estiver
relacionada com o exercício que se executa ou com a finalidade a que se
destina o cavalo.

Assim, os diferentes estádios de equilíbrio (mais sobre as espáduas


o u m a i s s o b r e o post-mão) s ã o s e m p r e o s i deais, d e s d e q u e e m
conformidade com a utilização do cavalo, ou com o grau de concentração
que a execução de determinado exercício exige, para que os movimentos
sejam expressivos e graciosos e deles emane a arte e beleza desejável na
equitação.

Se para um cavalo de corridas planas o seu equilíbrio deve encontrar-


se mais sobre as espáduas, já para um outro em equitação superior o seu
equilíbrio deve de estar sobre o post-mão. Estamos pois, perante dois
equilíbrios diferentes e ambos bons para o fim a que se destinam.

Mas afinal o que é o equilíbrio?

Diz-nos a física que um corpo está em equilíbrio quando a vertical do


seu centro de gravidade cai dentro da sua base de sustentação.

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Assim, um corpo pode estar em equilíbrio estável ou instável,


conforme a vertical do seu centro de gravidade cai ou não dentro da sua
base de sustentação. Ou em equilíbrio indiferente, quando a vertical do seu
centro de gravidade coincide com a sua base de sustentação, quando esta é
constituída por um único ponto como é o caso da esfera.

Em equitação, o que importa considerar é fundamentalmente o


equilíbrio dinâmico, já que em relação à noção física o cavalo está sempre
equilibrado, visto que a vertical do seu centro de gravidade em
circunstâncias normais, cai sempre dentro da sua base de sustentação. No
entanto, o equilíbrio do cavalo é tanto mais perfeito, quanto mais próximo
estiver do equilíbrio instável, isto é, quanto mais pequena for a sua base de
sustentação. A este assunto voltaremos mais tarde, pois é altura d e
referirmos que o equilíbrio de um ser vivo resulta de informações que
chegam ao sistema nervoso central. Destas informações resultam respostas
motrizes, que se efectuam sem controlo da consciência.

A função que assegura aos seres vivos o equilíbrio necessário à vida


e a c tividade chama-se equilibração, qu e é o s e n t i d o d e e q u i l íbrio
absolutamente instintivo e que todos os animais possuem.

Segundo estudos e experiências realizadas pelo General L’Hotte


sobre o equilíbrio do cavalo não montado e estando a cabeça a 45° da
vertical e mais baixa do que alta, o peso suportado pelas espáduas é
superior ao suportado pelos posteriores de aproximadamente 1/9 do seu
peso total. O cavalo montado suporta sobre as espáduas 2/3 do peso do
homem, quando este tem o busto direito.

Fazendo um cálculo para um cavalo de 450 Kg montado por um


cavaleiro de 75 Kg, constata-se que a sobrecarga do ante-mão é de 11 % do

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seu peso para o cavalo não montado e de 14 % do peso total para o cavalo
montado.

Perante esta diferença tão pequena, de 11 % para 14 % e segundo


Saint-Fort Paillard, é f a l s o d i z e r q u e o h o m e m desequilibra
consideravelmente o cavalo. Não nos custa aceitar esta afirmação enquanto
estivermos a falar de equilibração, pois uma ligeira mudança de atitude
restabelece o equilíbrio perdido.

No entanto, pelo facto de transportar o cavaleiro, e ainda o de perder


a iniciativa dos seu movimentos, são criadas para o cavalo circunstâncias
totalmente novas e a sua função de equilibração é logicamente mais ou
menos alterada, sendo com alguma facilidade restabelecida por força do
hábito e se o cavaleiro mantiver uma boa posição a cavalo.

Estamos, c o m o e ó bvio, a falar do cavalo que começou a ser


montado, que para além do hábito que tem de adquirir em suportar o peso
do cavaleiro até que esse peso passe a fazer parte da “sua massa”, para o
qual muito contribuirá a ligação ao movimento e um b o m “assiet” do
cavaleiro.

Só se poderá começar a tentar modificar o seu equilíbrio, após uma


ginástica de fortalecimento muscular, tendo especial atenção à sua linha de
cima, para que numa primeira fase readquira o seu equilíbrio natural com o
contrapeso do homem e, mais tarde, esse equilíbrio possa vir a ser tal que
lhe permita dispor de si com facilidade.

Baucher diz que a educação do cavalo está no seu equilíbrio, e que o


equilíbrio perfeito, que ele chama de primeiro grau, e que define como uma
ligeireza perfeita do cavalo, em todas as posições, em todos os movimentos
e em todos os andamentos é a meta a atingir, e que só no fim da sua vida
atingiu.
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Como atrás foi referido, é o equilíbrio dinâmico que mais nos


interessa analisar, e para colocar um pouco de ordem, eis a definição de
equilíbrio dada pelo General Faverot dc Kerbcech:

“A facilidade maior ou menor com que o cavaleiro modifica a


repartição do peso sobre os quatro membros do cavalo para o pôr nas
diferentes posições, indica o seu grau de equilíbrio, quer dizer que quanto
mais fácil forem essas modificações em todos os sentidos, mais o equilíbrio
é perfeito”.

Dentro da noção, ainda que relativa, de equilíbrio e considerando o


equilíbrio longitudinal, talvez agora nos custe menos aceitar a designação
de um equilíbrio perfeito, se entendermos o equilíbrio de uma forma
dinâmica e se essa perfeição for a capacidade do cavalo em “flutuar” entre
um equilíbrio vertical e um equilíbrio horizontal.

Acabámos d e nos referir ao equilíbrio vertical e horizontal e é


corrente falarmos também em cavalos desequilibrados. Vamos pois abordar
estes t rês graus de equilíbrio, s e m l h e s d a r u m a d e finição, já que
correspondem a estados de equilíbrio relativos e não absolutos, pois não
existe um ponto a partir do qual se possa afirmar que um cavalo acabou de
transitar de um grau para outro, mas sim que sem o equilíbrio adequado, o
exercício mais simples não pode ser feito com correcção.

Chamamos desequilibrado ao cavalo que tem uma sobrecarga de


peso sobre os anteriores (em relação ao suportado pelos posteriores), que
nem sequer os seus próprios andamentos são agradáveis para quem o
monta. Um cavalo nestas condições pesa, normalmente, muito na mão, tem
grande dificuldade em encurtar os andamentos e em saltar obstáculos. Isto
como indícios mais vulgares. Também se poderá considerar desequilibrado
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o cavalo que tem uma sobrecarga de peso sobre o post-mão, tendo por isso
dificuldade em se movimentar para diante. É aquilo a que chamamos o
cavalo acuado.

O cavalo está em equilíbrio horizontal quando tem uma repartição de


peso (entre os anteriores e os posteriores) adequada para imprimir aos seus
andamentos uma harmonia tal, que os torna agradáveis ao seu cavaleiro, e
que os alarga se encurta e muda de direcção com facilidade.

Está em equilíbrio vertical o cavalo que consegue imprimir aos seus


andamentos uma harmonia e flexibilidade tais que o cavaleiro, além de um
sentimento muito agradável, facilmente afunda as coxas no arreio e, com as
pernas abraça o cavalo com toda a naturalidade. O cavalo, esse, deixa-se
conduzir com a mais ligeira acção das ajudas. Só neste equilíbrio, o cavalo
consegue fazer correctamente certos exercícios, tais como as piruetas a
galope, “passage”, “piaffer” e atingir o máximo alongamento de trote.
Verifica-se neste equilíbrio uma maior incidência de peso sobre o post-
mão.

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2- FACTORES QUE PODEM MODIFICAR O


EQUILÍBRIO

Para além d a c o nformação física d o cavalo que naturalmente o


tornará mais ou menos equilibrado, existem factores que poderão alterar
mais ou menos, esse equilíbrio.

2.1 – TRANSFERÊNCIAS DE PESO

Ao imaginarmos o cavalo em liberdade a transferir peso para aqui ou


para ali, espáduas ou garupa, direita ou esquerda, temos que pensar que o
cavalo é mandrião e faz tudo pelo mais fácil. É impensável ver um cavalo
em liberdade a fazer piruetas directas ou “piaffer” como define a FEI. Faz
piruetas, sim, mas pondo-se sobre os posteriores e rodando de uma só vez.
Quando quer fugir, ou virar rapidamente, fá-lo pondo peso nas espáduas ou
só numa delas e apenas quando brinca ou quando luta, tem motivação para
sobrecarregar os posteriores.

O cavalo pode sobrecarregar o ante-mão ou o post-mão utilizando o


balanceiro cervical, como já vimos, ou utilizando outro processo.

Ao descrever com a garup a u m c írculo maior do que com as


espáduas, transfere peso para os anteriores; ao descrever um círculo maior
com as espáduas do que com a garupa, transfere peso para os posteriores.
Isto no que concerne a transferências longitudinais de peso. Mas o cavalo
também pode fazer transferências laterais desse peso. Assim, quando se
desloca na linha direita e quer pôr peso, por exemplo, na espádua direita,

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precisa de arranjar um ponto fixo onde possa aplicar uma força que lhe
permita transferir esse peso.

Como o seu ‘motor’ (origem da força) está na garupa, é ai que ele o


vai procurar, fixando a garupa na esquerda. Se quiser pôr peso na espádua
esquerda, fixa a garupa na direita.

2.2 - DESLOCAÇÔES DA INCIDÊNCIA DO PESO


CAVALEIRO SOBRE O CAVALO

Suponhamos o cavaleiro colocado na sela numa posição correcta,


rédeas justas e o cavalo com marcha. Admitamos que o cavaleiro deixa
pender, de repente o corpo para a frente. O centro de gravidade da massa-
conjunto (cavaleiro e cavalo) deslocar-se-á para diante e o cavalo,
desequilibrando-se, apressará o movimento dos membros com o intuito,
muito natural, de restabelecer o equilíbrio perturbado, com o movimento
brusco do cavaleiro. Igualmente se o cavaleiro fizer incidir o seu peso à
direita ou à esquerda do eixo da marcha, o cavalo deslocar-se-á para um ou
outro lado, acompanhando esta mudança de equilíbrio.

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É muito fácil de deduzir desta observação, que as deslocações da


incidência de peso sobre o cavalo acarretarão sensíveis e importantes
resultantes, não só sobre a repartição da massa do cavalo sobre os seus
membros, como sobre o próprio movimento.

2.3 – O GESTO E A POSIÇÃO DO BALANCEIO CERVICAL

Muitos animais utilizam uma parte do seu corpo para alterarem o seu
equilíbrio. Nos homens, são os braços e o tronco que têm essa função.
Todos já sentimos que quando queremos alterar o nosso equilíbrio, nos
servimos dessa parte do corpo para o conseguir. E essa alteração tanto pode
ser necessária para retomar o equilíbrio perdido ou para provocar um
desequilíbrio.

Se nos queremos desequilibrar lentamente para diante, inclinamos o


tronco nesse sentido, isto é, damos Posição ao tronco. Mas se estivermos à
beira de um precipício fazemos um Gesto brusco com o tronco, e
eventualmente com os braços para diante, para podermos deslocar o centro
de gravidade para trás.

Daqui se deduz a regra fundamental do efeito de um balanceiro:


quan d o s e d e s loca bruscamente num sentido (Gesto) provoca o
deslocamento do centro de gravidade do corpo a que pertence, em sentido
contrário. Desse Gesto resulta uma Posição desse mesmo balanceio que
tem um efeito precisamente oposto ao do Gesto.

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No cavalo o balanceiro é constituído pelo pescoço e pela cabeça. É


jogando com essa massa que o cavalo procura o seu equilíbrio ou
desequilíbrio.

É de referir que, apesar do cavalo poder dispor da Posição e do Gesto


do seu balanceiro para alterar o seu equilíbrio, o cavaleiro apenas pode
comandar a Posição.

O Gesto é instintivo no cavalo e compete ao cavaleiro não só não o


impedir como incentivá-lo, quando o cavalo tem necessidade de o fazer,
nomeadamente no passo e no galope, que são andamentos basculantes em
que o cavalo tem necessidade de se servir dos movimentos do seu
balanceiro para se equilibrar. Compete ao cavaleiro acompanhá-los com a
mão.

Quando o cavalo tropeça, faz com o balanceiro, um gesto brusco de


cima para baixo. A tendência natural do cavaleiro é impedi-lo, tentando
levantar o cavalo com um “queixal”. Nada mais errado, pois o cavalo
necessita desse gesto para aliviar o ante-mão e dar assim tempo aos
posteriores para se meterem debaixo da massa, para sustentarem a frente e
impedirem a queda.

Também sobre os saltos, os Gestos e Posições do balanceiro são


característicos. Ao fazer a batida dos anteriores, o cavalo tem a cabeça e o
pescoço altos para, por esta Posição, facilitar a entrada dos posteriores.
Feita a batida dos anteriores, o ante-mão tem que se elevar, pelo que

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aparece o Gesto de cima para baixo, para ajudar a subir as espáduas.


Transposto o salto pelas espáduas, o cavalo levanta suavemente o pescoço
para permitir a passagem dos posteriores sobre o salto. Na chegada ao solo
o cavalo faz novamente um Gesto, mas agora de cima para baixo, para
assim aliviar o ante-mão na sua chegada ao solo, e permitir aos anteriores
que se elevem rapidamente e permitam o apoio dos posteriores, o que
acontece normalmente ser feito à frente do sítio onde os anteriores se
receberam.

3- COMO SE EQUILIBRA UM CAVALO

Pelo que temos vindo a dizer, p a r a s e equilibrar um cavalo é


necessário fazer refluir o peso do ante-mão para o post-mão. Portanto
elevações do ante-mão com entrada dos posteriores a suportarem a massa.

O que acontece fisiologicamente?

A elevação do ante-mão é consequência do desenvolvimento e


fortalecimento dos músculos da base do pescoço.

A redução da base de sustentação que se expressa através da adução


dos posteriores, consegue-se pelo alongamento dos músculos ilio-espinais e
encurtamento dos seus antagonistas os abdominais. É o trabalho antagónico
destes últimos, que nos faz compreender a razão porque as pernas devem
actuar sempre antes da mão. É pela contracção dos abdominais que
garantimos a extensão dos ilio-espinais e dos elevadores da base do
pescoço que lhes são afins. No caso contrário, actuando a mão primeiro,
verificar-se-ia um encurtamento dos inversores do pescoço e dos

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elevadores da base do pescoço a estes afins e dos ilio-espinais, tendo como


consequência um alongamento dos seus antagonistas os abdominais
resultando o atraso dos posteriores e sobrecarga do ante-mão.

Pelo acima referido, fica suficientemente explicado a necessidade da


adução dos posteriores e de fazer preceder as acções de mão pela acção de
pernas.

3.1 - REDUÇÃO DA BASE DE SUSTENTACÃO

Segun d o o General Júlio de Oliveira, em equitação, a palavra


equilíbrio representa harmonia de forças e não uma repartição de peso
científica ou mate mática; O equilíbrio estático não interessa, só tem
interesse o equilíbrio instável do cavalo em movimento.

O grau de equilíbrio é dado pela facilidade maior ou menor com que


o cavalo obedece às ajudas do cavaleiro, com que se mantém ligeiro nos
seus andamentos e ágil nas mudanças e direcção. O cavalo está tanto mais
equilibrado quanto mais suaves e ligeiras forem as ajudas do cavaleiro para
o ajudarem.

Sob o ponto de vista da equitação superior, o equilíbrio do cavalo é


tanto mais perfeito quanto mais instável for, e é tanto mais instável quanto
mais elevada estiver a base do seu pescoço e mais os seus membros
posteriores entrarem para debaixo da massa, isto é, quanto maior for a
concentração ou menor a base de sustentação
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Como atingir este desideratum?

Ao olharmos para um cavalo verificamos que tem uma grande massa


(pescoço e cabeça) fora da sua base de sustentação, que à definida pelos
pontos de apoio dos seus quatro membros. Não é difícil concluir daí, que a
vertical do seu centro de gravidade, caindo dentro da sua base de
sustentação, cai mais perto dos anteriores do que dos posteriores. Portanto,
os anteriores suportam mais peso do que os posteriores.

Se nós, como vimos atrás, queremos diminuir a base de sustentação,


teoricamente duas soluções se nos põem: ou se fazem recuar os anteriores
ou se fazem avançar os posteriores. A primeira destas hipóteses é rejeitada
à partida, pois é óbvio que quanto mais fizermos recuar os anteriores, mais
peso eles vão suportar. É considerado mesmo como possuindo um grave
defeito de conformação o cavalo que, parado, se coloca numa posição em
que os membros anteriores estão inclinados para trás e não na vertical
(cavalo debruçado). Isto indica que o cavalo tem tendência para
sobrecarregar os anteriores, o que não nos interessa.

Resta-nos, portanto, a segunda hipótese: avanço dos posteriores para


debaixo da massa.

Em ambas as hipóteses, está em jogo uma noção de repartição de


peso. Mas na noção equestre essa repartição não pode ser constante. Basta

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lembramo-nos do que, se um cavalo tem que avançar os posteriores para se


equilibrar (sustentar a frente), também tem que os distender para projectar a
massa para diante. E o que nos interessa é que o cavalo tenha capacidade
para, depois de avançar os posteriores, os possa distender e projectar-se.
Estas duas funções dos posteriores são praticamente opostas, mas ambas
igualmente importantes: se sem uma não temos equilíbrio, sem a outra não
temos propulsão.

A redução da base de sustentação consegue-se através de exercícios


ginásticos que visam o fortalecimento das massas musculares envolvidas e
a flexibilização dos post-mão. Desses exercícios ginásticos destacamos as
transições de andamentos conjugadas com alargamentos e encurtamentos.
Os trabalhos de duas pistas e o trabalho no exterior.

3.1.1 Alargar e encurtar os andamentos

O alargar e encurtar frequentemente os andamentos uma ginástica de


primeira ordem e um trabalho esplêndido para a entrada dos posteriores
para debaixo da massa e para equilibrar o cavalo porque este, balançado
entre as mãos e as pernas do cavaleiro, começa a concentrar-se, a diminuir
a base de sustentação, a Ter facilidade de trabalhar em bases curtas, o que
melhora o seu equilíbrio e acentua muitíssimo a sua mobilidade.

Deverá, pois insistir-se frequentemente com esta ginástica, até que se


consiga encurtar os andamentos sem que a posição da cabeça se altere e
alargá-los francamente à menor solicitação das pernas.

A acção das mãos, mesmo quando o cavalo lhe obedece facilmente, é


insuficiente por si só para provocar a flexão dos rins e a entrada dos
propulsores e, enquanto estes não avançarem para debaixo da massa, o
cavalo é não só incapaz de sair enérgica e rapidamente para diante, como
ainda de parar rapidamente num andamento vivo.
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A diminuição de andamento deve ser obtida pelo emprego de um


efeito de conjunto que encerre o cavalo entre as pernas e a mão ou por
reduções de andamento, seguindo-se para ambos os casos, um aumento
imediato da amplitude do andamento. Ao mesmo tempo que obedece a uma
exigência, prepara-se para obedecer à outra, isto é, ao mesmo tempo que
flexiona os rins e avança com os posteriores, afim de sair rapidamente para
diante, diminui a amplitude da passada.

Esta magnífica ginástica de alargar e encurtar os andamentos, dá ao


cavalo a possibilidade de com facilidade se reunir, se concentrar, que é
indispensável para poder executar mudanças de direcção rápidas, deve ser
exigida primeiro em linhas rectas e depois no círculo.

A ginástica destinada ao abaixamento do post-mão, que tem por fim


reduzir e aumentar sucessiva e alternadamente a base de sustentação, que
coloca o animal e m condições d e ter facilidade de trabalhar em bases
curtas, compreende os seguintes exercícios;

- Alargar e encurtar o passo, o trote e o galope


- Do passo, sair ao trote largo e a galope
- Da paragem sair a passo, e galope
- Do galope, passar a trote, ao passo e à paragem e
seguidamente ao recuar

3.1.2. – Trabalho de duas pistas

O trabalho de duas pistas, para além de aperfeiçoar a obediência do


cavalo às ajudas do cavaleiro, aperfeiçoa a c a d ência e h a rmoniza o
equilíbrio e andamentos; flexibiliza o cavalo no seu conjunto, aumentando
assim a mobilidade das espáduas e a flexibilidade das ancas, bem como a
flexibilidade d a ligação entre a boca, nuca, pescoço, dorso e ancas;
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desenvolve também a entrada dos posteriores e por consequência reduz a


base de sustentação ou seja aumenta a concentração.

O trabalho de duas pistas, compreende os seguintes exercícios:

- marcha lateral

- espádua adentro

- ladear

- rotações

3.1.3 Trabalho no exterior

Este traba1ho, como o seu nome indica, é feito fora do picadeiro, em


estradas e campos, variando-se o mais possível o perfil do terreno.

Para além de u m grande contributo para a melhoria da condição


física e psíquica do cavalo, o trabalho no exterior tem uma g rande
influência na melhoria da equilibração dos cavalos no início do seu ensino
e do próprio equilíbrio para os cavalos em qualquer fase de ensino em que
se encontrem.

Os passeios pelo campo contribuem para a melhoria do sentimento


de equilíbrio, j á q u e o c a v a l o a o d e s l o c a r-se encontra inúmeras
irregularidades no terreno que alteram o equilíbrio em que se encontra,
obrigando-o a um rápido restabelecimento desse equilíbrio para garantir a
sua integridade física. Este trabalho deve ser feito em semi-liberdade, por
forma a que o referido sentimento se apure por iniciativa do próprio cavalo
e sem o prejuízo ou colaboração de eventuais ajudas do cavaleiro.

Um dos maiores benefícios do trabalho no exterior é obtido pelo


aproveitamento das rampas, que são um óptimo auxiliar de flexionamento e
equilíbrio.
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A s rampas a s u b i r , q u a n d o p e r corridas a p a s s o , auxiliam


grandemente os movimentos de extensão do pescoço e flexionamento de
toda a linha de cima. A tendência de inclinar para a frente toda a massa,
como s e e s tivesse a puxar uma carroça, é instintiva, pois dar-lhe-á a
disposição mais conveniente ao esforço que tem que produzir. As espáduas
naturalmente, ficam sobrecarregadas e o post-mão aliviado, dando como
consequência os membros anteriores desenvolverem o seu gesto ascendente
e os posteriores apressam os seus apoios.

Quando o cavalo trota nas subidas, a flexão do dorso é muito grande para
poder transmitir o esforço dos posteriores que aumentam a flexão das suas
articulações e habituam-se a aumentar a energia das suas distensões.

O encurtamento do trote nas subidas também acarreta consigo


grandes benefícios. Como o pescoço não se pode alterar o post-mão é
obrigado a manter-se curvo e activo.

No aproveitamento das rampas em descida, explora-se o equilíbrio


instintivo. O pescoço eleva-s e p a r a aliviar o p e s o d o a n t e -mão,
sobrecarregando o post-mão.

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Os membros anteriores elevam-se menos mas, em compensação,


demoram-se mais tempo em suspensão. Os posteriores, tendo que fornecer
pouca impulsão entram mais e mais rapidamente para debaixo da massa
para sustentar o peso mais depressa e por um espaço de tempo maior. Este
exercício é particularmente útil para os cavalos que apresentam uma
acentuada inadaptação para reter a sua massa e deslocar o peso para o post-
mão, enquanto o trabalho nas subidas é precioso para os cavalos que têm
dificuldade em estender o pescoço, andando normalmente com a cabeça
muito alta.

Também o trabalho de galope em terreno ondulado e especialmente


nas descidas, obriga o cavalo a equilibrar-se por si próprio, devendo
contudo haver algum cuidado, pois o esforço a que os curvilhões ficam
sujeitos é demasiado elevado e senão existir uma preparação prévia de
ginástica e fortalecimento, poderão aparecer algumas lesões.

São especialmente as rampas a descer que no trabalho de exterior,


contribuem para a melhoria do equilíbrio, já que o cavalo vê-se obrigado a
aliviar o ante-mão e sobrecarregar o post-mão, entrando fortemente com os
posteriores para debaixo da massa o que exercita e ginastica as articulações
e os músculos envolvidos na redução da base de sustentação.

Também pela mesma razão, os exercícios normalmente executados


no picadeiro terão muito maior eficácia se feitos num terreno ligeiramente
inclinado, pois tira-se mais partido da maior adução dos posteriores quando
a descer e da maior energia aplicada na distensão quando os exercícios são
executados a subir.

A redução da base de sustentação não se deve obter de qualquer


forma, já que a concentração tem de assentar no princípio de que é:

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“ Uma disposição do corpo do cavalo que tem incidências sobre


todas as suas regiões, colocando cada uma delas de tal forma que possa
assegurar um melhor rendimento do post – mão” .

A redução da base de sustenção deve ser obtida de “trás para diante”,


avançando o corpo do cavalo de encontro à nuca.

É este avançar do corpo do cavalo de encontro à nuca que vai


fazendo no dia-a-dia subir a base do pescoço, o próprio pescoço e por fim a
nuca como o ponto mais alto de toda esta atitude e que constitui a correcta
colocação.

É a partir daqui que o cavaleiro sente o cavalo em cima das suas


próprias pernas, eliminando toda a sensação de que é à sua custa dos braços
do cavaleiro, que ele se mantém nos andamentos curtos. É esta sensação
que traduz um estado de equilíbrio a partir do qual se poderá iniciar a
equitação superior.

Daqui é fácil inferir que a concentração vai aparecendo em diversos


graus. É pois uma consequência e não uma causa.

Mas o facto da concentração ser uma consequência, não deve por


isso deixar de estar permanentemente no espírito do cavaleiro, constituindo
assim como um desejo a atingir desde a primeira lição do cavalo.

A entrada dos posteriores para debaixo da massa diminuindo a base


de sustentação favorece a mobilidade, mas só até determinada medida. Pois
o excesso de participação dos posteriores diminui a predisposição do
cavalo ao movimento para diante, pode tomar-se uma defesa. A procura da
concentração não poderá esquecer a impulsão.

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3.2 A ELEVAÇÃO DO PESCOÇO

Como já vimos, quase todos os cavalos têm tendência para estarem


sobre as espáduas, devido à colocação da cabeça e pescoço fora da base de
sustentação.

Para James Fillis, a elevação do pescoço com a flexão da nuca,


aproximando a cabeça do centro de gravidade, tem como resultado a igual
repartição do peso do cavalo entre o ante-mão e o post-mão. Como parte da
equitação reside nas translações de peso, uma das preocupações do ensino
deve ser o de repartir igualmente esse peso, para que o bom equilíbrio,
mantido durante o movimento, assegure mais tarde a ligeireza em todas as
acções.

Para o General Decarpentry o “ramener” é o fecho do ângulo da


cabeça com o pescoço, ficando a nuca como o ponto mais elevado e explica
que a elevação do pescoço sem “ramener” não carrega necessariamente os
posteriores, aliviando o ante-mão, pelo facto de o cavalo não ter clavículas
e de a sua coluna vertebral não estar portanto, ligada osseamente com o
ante-mão, repousando numa espécie de berço muscular e cartilagíneo.

Quando se eleva o pescoço em bloco, a sua base como que mergulha


nesse berço, afundando o garrote entre as espáduas, sendo por isso bastante
reduzido o aligeiramento do ante-mão resultante da elevação do pescoço
com a cabeça na horizontal.

S e a elevação do pescoço for acompanhada de um


“ramener”correspondente, a nuca avança para a vertical do chanfro, as duas
primeiras vértebras deslocam-se de trás para a frente curvando-se uma
sobre a outra e sobre a cabeça; as que se lhes seguem sobem porque a elas
estão ligadas e levantam de baixo para cima o resto do pescoço que deixa
assim de poder enterrar-se entre as espáduas.
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No entanto o rim e todo o post-mão tem que ser preparado,


ginasticado e flexibilizado para suportar a sobrecarga real que resulta da
elevação do pescoço com a cabeça na vertical, e essa preparação tem que
ser feita necessariamente com uma atitude baixa e estendida.

A elevação do pescoço deve ser feita progressivamente à medida que


por essa preparação o post-mão se torna capaz de baixar e suportar essa
carga.

“ Não é elevação do pescoço, é o abaixamento das ancas a meta a


atingir. A elevação do pescoço não é senão uma parte do conjunto do
trabalho que permite aí chegar” (General Decarpentry)

Donde se conclui que a elevação do pescoço é absolutamente


necessária para o bom equilíbrio do cavalo, mas que só é possível quando o
post-mão está preparado para receber esta sobrecarga, que não é a elevação
do pescoço em si, mas a sua elevação em relação ao post-mão e que,
portanto,

“ Reciprocamente o abaixamento das ancas obtido em separado da


elevação do pescoço e por uma ginástica apropriada provoca por reacção

uma elevação relativa que prima de muito sobre a sua elevação


absoluta” (General Decarpentry)

No início do ensino é necessário trabalhar o ante-mão, de


maneira a que os músculos elevadores da base do pescoço se
fortifiquem e façam subir o garrote, para isso é necessário baixar o
pescoço, mas com um “ramener” mais ou menos longe, ao mesmo

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tempo que se ginasticam os posteriores, para mais tarde poderem


suportar a sobrecarga da sua elevação.

4 – R E L A Ç Ã O D O E Q U I L ÍB R I O C O M A
CADÊNCIA E IMPULS ÂO

O ensino tem por objectivo aperfeiçoar os andamentos do


cavalo. O andamento para ser perfeito tem que ser cadenciado, isto é,
tem que ser executado um ritmo lento. Enquanto o ritmo é a
apresentação do andamento com as batidas a intervalos de tempo
regulares; a cadência é a apresentação do andamento com o ritmo
lento. A cadência tem que incluir equilíbrio e impulsão. Senão
vejamos: no trote, por exemplo, para passar e uma diagonal para a
outra, o cavalo tem que estar equilibrado sobre a primeira, senão, cai
sobre a outra diagonal mais depressa do que desejaria o seu
cavaleiro, isto é, precipita o apoio da diagonal em suspensão. E o
mesmo se passa com qualquer outro andamento. A cadência é
portanto igual a ritmo lento mais equilíbrio.

A cadência e o equilíbrio são, digamos, os meios para atingir a


perfeição dos andamentos.

O equilíbrio obtêm-se por “oposições” feitas pelo cavaleiro


entre o movimento propulsivo dado pelas pernas, e efeito de
retenção, pedido pelas mãos, como vimos no trabalho de alargar e
encurtar os andamentos.

Para haver retenção, tem que existir movimento para diante,


logo o cavalo tem que estar impulsionado p ara garantir aquele
movimento.

Mas a impulsão não se esgota no movimento propulsivo, ela


tem que ser tal que progressivamente se vá transformando em

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movimento de elevação quando os posteriores entram para debaixo


da massa, o que acaba por dar origem à melhoria do equilíbrio. É à
custa deste processo de elevação, que aparece a melhoria da cadência
através da ampliação dos tempos de suspensão dos andamentos.
Logo o equilíbrio é igual a um ritmo lento mais impulsão.

Vimos atrás que, sem equilíbrio não pode haver cadência e


vemos agora, que sem impulsão não pode haver equilíbrio. A
cadência tem pois que incluir equilíbrio e impulsão.

5 - EQUILÍBRIO / LIGEIREZA

Ligeireza é a perfeita obediência do cavalo às mais ligeiras


indicações das pernas e das mãos do cavaleiro.

Ligeireza é uma consequência da flexibilidade dos músculos e


articulações, que se traduz na facilidade com que o animal executa
qualquer movimento e revela-se pela submissão suave da maxila
inferior e pela flexibilidade das ancas, tão intimamente ligadas pelas
suas acções recíprocas.

A boca ligeira, móvel, é pois, o testemunho da ligeireza do


cavalo e ela aparece à medida que o cavalo vai adaptando o seu
equilíbrio ao peso do cavaleiro e a sua obediência se vai tornando
fácil, a sua cabeça vai-se aproximando da vertical e a boca ligeira e
suave.

A mobilidade regulada da maxila, é sobretudo uma prova do


restabelecimento do equilíbrio das forças do animal e, uma prova da
sua descontracção geral ao mesmo tempo que é sua consequência.

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A flexão directa e a flexão lateral, isto é, a concessão feita pela


nuca, aproximando-se a cabeça da vertical, seguida da descontracção
da maxila soltando o freio na boca constitui o primeiro grau desta
ginástica de flexibilidade.

No entanto, a ligeireza é mais alguma coisa do que mobilidade


da maxila, pois como já referimos, ela é uma descontracção geral e
uma obediência fácil e pronta, só possível de conseguir com uma
colocação alta, proveniente do abaixamento das ancas, conseguido
através da redução da base de sustentação e da elevação do ante-mão,
consequência do referido abaixamento, pois c o m o já vimos, a
contracção dos abdominais intimamente ligada à entrada dos
posteriores implica a extensão dos ílio-espinais, que são antagonistas
dos músculos da base do pescoço, sucedendo que estes se contraem
quando os primeiros se alongam, facto este que se traduz numa
subida do garrote ou que é o mesmo de uma elevação do ante-mão.

Daqui se infere que a ligeireza se vai obtendo à medida que o


estado de equilíbrio do cavalo vai melhorando.

6 – “RASSEMBLER”

O “rassembler” consiste em distribuir, o mais judiciosamente


possível, pelo perfeito acordo de ajudas, as forças do post-mão e do
ante-mão, de modo a obter um maior e mais instável equilíbrio de
que um cavalo é susceptível.

A atitude do cavalo “rassembler” é caracterizada pela posição


alta do pescoço, a flexão da nuca, que dá colocação na mão, um
abaixamento das ancas e uma forte entrada dos posteriores.

Nesta disposição o cavaleiro é dono e senhor do equilíbrio do


cavalo a tal ponto, que a mais ligeira crispação dos dedos ou a mais
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insignificante acção das pernas correspondem a uma mudança de


equilíbrio ou de movimentos. Era o que o General L 'Hotte definia
como “montar uma bola”.

De Saint-Plalle, chama ao “rassembler” um estado de graça,


em que a massa do cavalo pode ser movimentada instantaneamente
no sentido e com a intensidade determinada pelas ajudas. Esta
colocação do cavalo, repito, é proveniente de uma considerável
entrada dos posteriores para debaixo da massa, com um abaixamento
natural da garupa; em virtude da acção das pernas do cavaleiro que
além desta entrada e por causa dela lhe comunicam uma forte dose
de impulsão recebida pela mão que a guarda ou envia para onde
quiser. O equilíbrio resultante é o mais instável que se pode
conceber, tanto que uma simples deslocação de peso é suficiente para
deslocar toda a massa.

É n o e n t a n t o m u i t o i m p o r t a nt e q u e n a o b t e n ç ã o d a
concentração haja uma harmonia total entre o ante-mão e o post-mão
para que a nunca seja prejudicada. Esta harmonia consegue-se com
uma boa colocação da cabeça e com a entrada útil dos posteriores
para debaixo do corpo o que significa que possibilita a sua distensão.

O “rassembler” não é um equilíbrio do qual o cavalo não sai;


com facilidade o faz, para um alargamento, por exemplo, mas
também com a mesma facilidade volta a ele.

A cavalo está ligeiro, sendo esta ligeireza total e na sua maior


expressão.

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7 - O EQUILÍBRIO NA EQUITAÇÃO DE
OBSTÁCULOS

Os cavalos de obstáculos têm necessidade de ter mais do que um


ensino sumário. Necessitam no mínimo de ensino que lhe permita
completar uma fácil obediência ou submissão às ajudas do cavaleiro e um
equilíbrio horizontal bastante perfeito, o que na prática se traduz ou
manifesta pela ligeireza e agilidade dos seus andamentos e pela facilidade
com que executa as mudanças de direcção.

O cavalo de obstáculos tem necessidade de estar num equilíbrio tal


que facilmente lhe permita recompor-se ou reunir-se depois de um salto em
largura, para tomar imediatamente um vertical, e alargar de novo para um
obstáculo largo, sem perder velocidade, e isto só pode faze-lo um animal
obediente, calmo e senhor do seu equilíbrio.

Para passar de um equilíbrio mais horizontal para um mais vertical, o


cavaleiro deverá inicialmente ajustar mais as pernas, procurar uma posição
mais vertical do tronco, e através de meias paragens ou resistências de mão
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sobre o terceiro tempo de galope aliviar o ante-mão sobrecarregando o


post-mão.

Para passar de um equilíbrio mais vertical para um mais horizontal, o


simp1es pedido de a1ongamento do pescoço, será suficiente para obter o
efeito desejado

7.1 – O EQUILÍBRIO É INFLUÊNCIADO

- 1 - Pela velocidade

- 2 - Pela impulsão

- 3 - Pelo terreno

- 4 - Pelo obstáculo

- 5 - Pela natureza do terreno

1 - O equilíbrio está directamente ligado à velocidade. Assim, numa


maior velocidade o equilíbrio é mais horizontal; numa menor velocidade o
equilíbrio terá tendência para ser mais vertical.

2 - As acções tendentes a aumentar a impulsão criam no cavalo um


equilíbrio mais vertical.

3 - O t erreno ligeiramente a subir ali v i a o a n t e -m ã o e


consequentemente aumenta o equilíbrio. No entanto se a inclinação for
elevada de tal forma que o cavalo para se deslocar tenha que se puxar com
o ante-mão, o equilíbrio fica prejudicado.

No terreno a descer o equilíbrio é menor como se poderá constatar


num percurso de obstáculos em que uma boa distância num terreno
nivelado será apertada num outro ligeiramente a descer. Isto, apesar, de nas
descidas acentuadas o cavalo elevar o pescoço para aliviar o ante-mão e a
adução dos posteriores ser elevada.

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4 - O obstáculo, para além dos poucos cavalos que a ele não reagem,
influencia geralmente o equilíbrio. Uns, pelo pouco à vontade que sentem
ao enfrentá-lo (contraindo-se ou excitando-se) pioram o equilíbrio ou
impedem o seu contro1o; outros, os que preparam para saltar com respeito,
o obstáculo têm uma acção benéfica, impondo muitas vezes ao cavalo, um
equilíbrio que o cavaleiro por si só e através das suas a ajudas tem alguma
dificuldade em obter.

5 - O cavalo, quer física quer temperamentalmente, está na base


deste estudo. Cavalos há porém, que, por conformação física e, ou, por
temperamento, nunca criam problemas de equilíbrio. Havendo outros que
nunca os resolvem nem colaboram com o cavaleiro na sua resolução.

7.2 – O E Q U I L ÍB R I O I N F L U Ê N C I A :

- 1 - A extensão da passada

- 2 - A trajectória

1- Dada a evidência da relação entre o equilíbrio e a velocidade, é


fácil verificar que a um equilíbrio vertical corresponde uma passada curta;
a um equilíbrio mais horizontal corresponderá, logicamente, uma passada
mais ampla.

2 - Sem variações sensíveis de velocidade e impulsão, um equilíbrio


mais vertical produzirá um salto mais redondo e de maior flecha.

Na realidade quanto maior for a adução dos posteriores, aquando da


sua batida mais para cima será o movimento que a sua distensão vai
imprimir a toda a massa.

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7.3 – O EQUILÍBRIO EM FUNÇÃO:

- 1 - Da forma como se regula a batida

- 2 - Do tipo de salto

- 3 - Das dimensões do salto

1 - Quando se alarga a passada, que se traduz em mais velocidade,


temos que tomar atenção ao equilíbrio que, como já foi dito, tem tendência
para se tornar mais horizontal; inversamente se a passada calha a reduzir,
ter-se-á que contar com uma transformação do equilíbrio para mais vertical.

2 - Genericamente, os obstáculos do concurso hípico, podem reunir-


se em quatro categorias:

- a - Verticais

- b - Largos marcados

c- Largos não marcados

d- Valas

2 a - Os verticais, não necessitam que o cavalo se alongue, mas sim


que se elevem, devem ser abordados num equilíbrio mais sobre o post-mão.

2 b - O s l a rgos marcados, pelo seu aspecto, convidam a uma


elevação p rogressiva necessitando de um certo alongamento, a sua
dificuldade está essencialmente na largura a vencer pelo que devem ser
abordados num equilíbrio mais horizontal, mas não tanto que comprometa
a vara de saída.

2 c – Os largos não marcados, com as dificuldades do largo marcado


e do vertical, requerem uma dosagem mais cuidada do equilíbrio:
exageradamente sobre o post-mão, arriscamo-nos a não haver alongamento

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para cobrir a sua profundidade; se o equilíbrio for demasiado horizontal,


resolvemos este problema, mas a trajectória rasante que este equilíbrio
produz, origina normalmente, o toque no plano de entrada. É o caso em que
mais se impõe a concordância dos factores da decisão.

2 d – A s valas, pela necessidade de alongamento que exigem,


impõem um galope mais amplo, logo um equilíbrio mais horizontal.

7.4 - O EQUILÍBRIO NO DESPEGAR

Vimos até aqui o controle do equilíbrio a caminho do obstáculo, as


razões que impõem um ou outro tipo de equilíbrio e os factos que podem
ajudar ou dificultar o controle do equilíbrio.

Depois de o cavalo estar no ar não pode o cavaleiro ter mais


nenhuma acção sensível para o ajudar.

O último momento é exactamente na altura da batida “despegar”.

No momento da batida dos anteriores, e quando este se começam a


flectir, o cavaleiro pode actuar com um golpe seco de dedos, tipo meia
paragem, o que provoca um último e acentuado deslocamento do centro de
gravidade para a rectaguarda, aumentando o equilíbrio, e
consequentemente, um salto de maior elevação devido ao acréscimo da
entrada dos posteriores, quando estes vão fazer a batida.

Esta acção requer cavaleiros com uma grande noção do “tempo” e com
uma mão muito boa, para que o cavalo acreditando nela, receba esta acção
e, na fase seguinte, a suspensão, sinta confiança para alongar o pescoço. O
abuso desta acção cria uma dessensibilização no cavalo perdendo-se assim
um meio muito eficaz para resolver situàções difíceis.

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8 - NOTA FINAL

Pela análise que fizemos do equilíbrio do cavalo, da sua importância


na evolução do ensino e consequentemente na progressão da equitação
através dos diferentes níveis: elementar, complementar, superior e na
equitação de obstáculos; constata-se que o seu melhoramento é evolutivo e
advém da progressiva redução da base de sustentação do cavalo que se
traduz em diferentes graus de concentração que conduzem à ligeireza,
através de um abaixamento das ancas e elevação do ante-mão.

Pela importância de que se reveste este aspecto da equitação,


julgamos que a sua obtenção, isto é a melhoria do equilíbrio, terá de ser
feita em bases sólidas que como diz o Comandante Licart, “antes de
procurar a elevação da base do pescoço do cavalo é preciso começar a
endireitar a sua curvatura natural. Antes da colocação o cavaleiro deve à
sua vontade estar senhor da extensão do pescoço”. Daqui se conclui que a
atitude deverá ser pedida lenta e solidamente, à medida que o post-mão for
capaz de suportar a carga de peso e ela deverá ser mais o resultado do
abaixamento das ancas do que o levantar do balanceiro cervical que
aparece como consequência do primeiro.

Mafra, Junho de 1998

José Domingos Bruno Victorino

Capitão Cav./ GNR

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BIBLIOGRAFIA

- Principes de Dressage et d'Equitation - James Fillis

- Equitation Académique - Gen. Decarpentry

- Haute École de Raabe - Gen. Decarpentry

- L 'Equitation - Jean Saint-Fort Paillard

- Méthode d'Equitation - François Baucher

- Dressage Méthodique du cheval de Selle - Gen. Faverot de Kerbrech

- Questions Equestres-Gen L' Hotte

- Manual de Equitação

- Notas e reflexões equestres - Gen. Júlio de Oliveira

- Equitação como e porquê - Cor. Netto de Almeida

- Apontamentos do curso de aperfeiçoamento de equitação SEQ/CMEFD

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