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PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 8, nº 2, p. 241-242, Jul./Dez.

2007 241

Raiva: emoção presente nos portadores de gastrite e esofagite

Marina Gasparoto do Amaral Gurgel – Universidade São Francisco

Moreno, M. T. N. (2007). Raiva uma das emoções ligadas à gastrite e à esofagite. (138 p.). São Paulo: Vetor.

Há muito tempo pesquisa-se a relação entre os Nappi Moreno, as definições são de origem diversas,
sintomas físicos e os aspectos emocionais. Maria Te- e esta apareceu pela primeira vez na língua portuguesa
resa Nappi Moreno, psicóloga, mestre e doutora em no século XVIII. As expressões das emoções, surgiram
Psicologia Clínica pela PUC–SP, pretende analisar o primeiramente com Darwin que analisou as expressões
destino dos sintomas apresentados pelos pacientes. nos homens e animais e descobriu que elas se alteram
Para tanto, optou por pesquisar a relação entre a raiva de acordo com o estado emocional que o indivíduo se
e às doenças como gastrite e esofagite, através de uma encontra. A autora ainda cita Yung, que concorda com
abordagem analítica. a teoria de James-Lange, em que as emoções surgem
Na Introdução de sua obra, justifica a pesquisa, posteriormente às mudanças físicas, sendo estas mar-
incitada no trabalho com adolescentes de uma escola cadas por sentimentos físicos. Ainda cita Marino, que
do ensino médio da grande São Paulo, que não sabiam demonstra que as emoções são sensações subjetivas que
lidar adequadamente com sua agressividade. Suscita decorrem de fatores muitas vezes, externos.
assim, o interesse em analisar a maneira com que os No quarto subtítulo, Raiva, encontram-se algumas
pacientes portadores de doenças como gastrite e esofa- definições e expressões da raiva. De acordo com a
gite vivenciam, experienciam e expressam sua raiva. A autora, a origem dessa palavra vem do latim rabia
autora relata sobre diversos autores, entre eles, Yung, e significa ódio, ira, rancor, grande aversão, horror.
que constatou em seus experimentos, relações entre Esse termo apareceu na língua portuguesa pela pri-
reações fisiológicas e emoções. Apresenta também meira vez no século XIII, como ravia. Maria Teresa
neste capítulo introdutório, algumas definições sobre Nappi Moreno, ainda cita Yung e outros autores que
o conceito da raiva. definem este termo. Dentro desse subtítulo, ainda são
Seu primeiro capítulo, intitulado Considerações apresentados estudos e pesquisas atuais sobre a raiva
Teóricas, é dividido em seis subtítulos: Sistema gas- e também em relação ao STAXI, instrumento utilizado
trointestinal, Patologias, Emoções, Raiva, A Psicosso- nessa pesquisa. A maior parte dos estudos relatados
mática e Aspectos simbólicos da gastrite e esofagite. pela autora relaciona os sintomas físicos aos estados
No primeiro subtítulo, Sistema gastrointestinal, a au- emocionais, bem como diversos instrumentos utili-
tora aborda a neurofisiologia e motilidade do esôfago zados para captar esses estados; entretanto, ressalta
e do estômago, além da neurofisiologia do sistema que não existem estudos a respeito da relação entre o
gastrointestinal. A importância da autora se apropriar estado de raiva e à origem de doenças gástricas. São
desses temas diz respeito à atividade dos sistemas ner- descritos ainda nesse subtítulo, os aspectos simbólicos
vosos simpático e parassimpático, intimamente ligados da raiva, os quais estão relacionados com os deuses da
à fisiologia das emoções. Já, no subtítulo Patologias, mitologia grega e romana.
a autora discorre sobre dispepsias agudas, esofagite e No quinto subtítulo, A psicossomática, a autora,
gastrite, doenças de seu estudo. descreve a relação entre corpo e psique e cita algumas
Logo após, no subtítulo Emoções são relatados os contribuições da teoria psicanalítica, uma das primei-
aspectos neurofisiológicos das emoções por meio de ras abordagens a investigar essa relação. Ainda nesse
diversos autores, como James-Lange, Walter Cannon subtítulo, a autora discorre sobre o enfoque analítico
e MacLean. Cada autor apresenta sua visão particular desse tema, no qual Yung foi um dos autores que con-
sobre a maneira que surge a emoção. Nesse mesmo tribuiu para o entendimento da relação corpo-mente
subtítulo, são apresentadas algumas definições e ex- e possui a visão de que o ser humano tem como fator
pressões das emoções. De acordo com Maria Teresa predominante na expressão de suas emoções, a mente

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242 Marina Gasparoto do Amaral Gurgel

ou o corpo e isso depende das diferenças de caráter e faixa etária entre 20 a 49 anos. A população estudada
temperamento de cada um. apresentou sentimentos de raiva em direção a si própria.
No último subtítulo, Aspectos simbólicos da gastrite As reações de raiva parecem ocorrer mais nos homens, e
e esofagite, Maria Teresa Nappi Moreno apropria-se de as pessoas entre 40 e 49 anos apresentam essas reações
diversos autores que explicam a relação entre o surgi- mais acentuadamente, ocorrendo uma diminuição dos
mento dessas patologias com a infância, momento este 50 a 60 anos. O estado de raiva apresentado foi menor
em que a figura materna é extremamente importante na população feminina que na masculina. Com rela-
para o desenvolvimento da personalidade do bebê. A ção à expressão da raiva, parece haver uma repressão
maneira como essa relação se estabelece pode acarretar da mesma, sendo denominada Raiva para Dentro. A
em diversas dificuldades para o indivíduo simbolizar autora cita, então, diversas pesquisas que relacionam
adequadamente suas emoções, gerando assim, poste- outras emoções a outros distúrbios. Discorre também
riormente as distintas patologias. a despeito da maneira como o homem demonstra mais
Em seu segundo capítulo, denominado Metodologia, a raiva do que a mulher, atribuindo ao fato do domínio
a autora, expõe seus objetivos para a realização dessa do patriarcado e avalia a hipótese de que a raiva é con-
pesquisa, que foram de maneira geral, verificar a forma siderada uma emoção negativa e muitas vezes difícil
de experiência e expressão de raiva em pacientes com de ser expressa.
gastrite e esofagite, e de maneira específica, averiguar se No quarto e último capítulo, intitulado Considera-
existem diferenças significativas na forma de experiência ções finais, Maria Teresa Nappi Moreno discorre sobre
e expressão de raiva nas diferentes faixas etárias em pa- a relação entre as experiências de raiva e os sintomas
cientes com gastrite e esofagite, bem como comparar os de gastrite e esofagite. A autora sugere que se estude
resultados da raiva crônica entre os gêneros e as diversas mais sobre pacientes com gastrite e esofagite e sobre
faixas etárias destes pacientes. Foram sujeitos dessa pes- a maneira que lidam com a raiva. Recomenda também
quisa, 109 indivíduos, sendo 41 do sexo masculino e 68 a verificação em diversas culturas, camadas sociais e a
do feminino; todos freqüentavam um hospital situado na investigação das relações desses distúrbios orgânicos
grande São Paulo. Os instrumentos utilizados foram as com todas as emoções presentes na gastrite e esofagite.
fichas médicas dos pacientes, que continham informações Fica o questionamento de que se as pessoas souberem
sobre dados de identificação, descrição dos sintomas melhor lidar com as emoções, em especial com a rai-
etc.; o Inventário de Expressão de Raiva Como Estado va, encontrarão a simbolização necessária para que
e Traço (STAXI), que fornece medidas da experiência não mais ocorram as doenças psicossomáticas que
e expressão da raiva; e uma entrevista semidirigida que são expressas em conseqüência da falta dos símbolos
foi aplicada a fim de averiguar dados como escolaridade, necessários para a expressão do sujeito.
tempo de casamento, sintomas em relação à gastrite e Os quatro capítulos que compõem o livro propor-
esofagite, etc. Nesse mesmo capítulo são apresentados cionam algumas reflexões a respeito da importância de
os resultados em trinta tabelas. se investigar as causas das doenças físicas, que podem
O terceiro capítulo, Análise e discussão dos resulta- estar na psique do indivíduo. O livro serve de auxílio
dos, apresenta primeiramente discussões a respeito da também a portadores de doenças como gastrite e esofa-
forma de experiência e expressão de Raiva, de acordo gite, que poderão lidar melhor com esses distúrbios se
com o STAXI, na população estudada e posteriormen- perceberem que as emoções podem estar por detrás de
te há uma análise da Raiva Crônica, outro objeto de sua incidência. Contribui também, para que lidem de
estudo da autora. Constatou-se uma maior presença maneira mais adequada com a raiva e possam melhor
de mulheres nos atendimentos médicos no hospital simbolizá-la, gerando em conseqüência maior equilí-
em que foi realizada a pesquisa. Concluiu-se que esses brio e qualidade de vida. Recomenda-se este livro a
sujeitos vivenciam sentimentos de raiva freqüentes, e todos os profissionais da área da saúde, que trabalham
que os homens apresentaram resultados mais altos do tanto no contexto clínico como hospitalar, bem como
que as mulheres, assim como os traços são maiores na aos próprios portadores dessas patologias.
Recebido em: novembro/2007
Revisado em: novembro/2007
Aprovado em: dezembro/2007
Sobre a autora:
Marina Gasparoto do Amaral Gurgel é formada em Psicologia pela Universidade São Francisco.

PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 8, nº 2, p. 241-242, Jul./Dez. 2007

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