Você está na página 1de 12

Artigo de Revisão

Ultra-sonografia endoscópica nos quadros de pancreatite


Endosonography in pancreatitis
Luiz GR Saucedo1, Wellington P Martins1,2

O advento da ultra-sonografia endoscópica (EUS) tem auxiliado não somente no diagnóstico de pancreatite, mas
também no estudo de sua etiologia e no refinamento da terapêutica a ser utilizada. O posicionamento do transdutor
próximo ao pâncreas elimina a formação de artefatos típicos da ultra-sonografia abdominal possibilitando a aquisição de
boas imagens tanto do parênquima quanto dos ductos biliopancreáticos. Tais características permitiram auxiliar no
diagnóstico de quadros de pancreatite previamente tidos como ‘idiopáticos’, os quais correspondem a uma razoável
parcela dos casos de pancreatite. É um método muito eficiente na detecção de cálculos no ducto biliar comum e
também permiti a identificação de situações antes detectadas somente através de métodos invasivos, tais como a ‘lama
biliar’, além de anormalidades na morfologia do pâncreas, tanto congênitas (malformações) como adquiridas, como, por
exemplo, pancreatite crônica ou neoplasias.
Por ser um método mais seguro e menos invasivo que a colangiopancreatorafia retrógrada (ERCP), o EUS
mostrou-se capaz de realizar uma triagem permitindo o uso da ERCP predominantemente para a terapia. A recente
introdução da ultra-sonografia endoscópica extraductal (EDUS) pode vir a refinar ainda mais o uso da ultra-sonografia
endoscópica e oferecer novos benefícios em um futuro próximo.

Palavras chave: Ultra-sonografia endoscópica; Pancreatite.


Abstract
The advent of endosonography has enhanced not only the
1- Escola de Ultra-sonografia e Reciclagem Médica de pancreatitis’ process of diagnosis but, also, the study of its
Ribeirão Preto (EURP etiology and treatment options. The positioning of the
2- Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP-USP transducer near the pancreas eliminates the formation of
artifacts typical of abdominal ultrasound allowing the
Recebido em 19/03/2009, aceito para publicação em acquisition of good images of both the parenchyma in the
27/03/2009. ducts biliopancreáticos. These characteristics have help in the
Correspondências para: Wellington P Martins. Departamento diagnosis of pancreatitis pictures of previously considered
de Pesquisa da EURP - Rua Casemiro de Abreu, 660, Vila 'idiopathic', which correspond to a reasonable number of
Seixas, Ribeirão Preto-SP. CEP 14020-060. cases of pancreatitis. It is a very efficient method for the
E-mail: wpmartins@ultra-sonografia.com.br detection of calculi in the common bile duct and also allow
Fone: (16) 3636-0311 the identification of situations before detected only by
Fax: (16) 3625-1555 invasive methods, such as' biliary sludge ', and abnormalities
in the morphology of the pancreas, both congenital
(malformations) and acquired, such as chronic pancreatitis or
cancer.
As a method more reliable and less invasive that
colangiopancreatorafia retrograde (ERCP), the EUS was
shown to be capable of performing a screening allowing the
use of ERCP predominantly for the treatment. The recent
introduction of endoscopic ultrasound extraductal (EDUS)
might further refine the use of endoscopic ultrasonography
and offer new benefits in the near future.

Keywords: Endosonography; Pancreatitis.

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124


114
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

Introdução de visualizar alterações no parênquima pancreático e no


A pancreatite é uma desordem relativamente sistema ductal que não podem ser visualizadas por
comum que se caracteriza por um processo inflamatório outros métodos.
agudo do pâncreas, com variável comprometimento de
tecidos adjacentes e de outros órgãos. Ultra-sonografia endoscópica
As causas mais comuns de pancreatite em ocidentais Introduzido na década de 80, o EUS foi desenvolvido
adultos são o uso abusivo de alcool e os cálculos para melhor visualizar o pâncreas, obtendo imagens
biliares, ainda que a maioria dos pacientes com tais livres de interferências presentes na ultra-sonografia
fatores de risco nunca venham a desenvolver transabdominal, tais como o ar e a gordura.
pancreatite clinicamente detectável 1. A grande proximidade entre as estruturas luminais e
Segundo dados de 2006 do DATASUS e IBGE, a o órgão, bem como a utilização de transdutores de alta
incidência de pancreatite aguda no Brasil é de 15,9 frequência, trouxeram alta resolução às imagens
casos por ano para cada 100 000 habitantes. Nos EUA, coletadas nos exames.
os dados apontam para 17 casos para 100 000 Nos dias de hoje, o EUS apresenta bastante impacto
habitantes anualmente 1. no diagnóstico das doenças pancreáticas.
Os índices de mortalidade na pancreatite não têm Critérios para diagnosticar pancreatite crônica
apresentado grande variação e continuam entre 3% e baseados no EUS foram desenvolvidos e aprimorados 6,
7
10%. A detecção precoce das severidades e , baseando-se principalmente em achados relacionados
complicações, bem como o aprimoramento dos centros ao ducto pancreático e ao parênquima.
de terapia foram os principais fatores responsáveis pela Devido a tais avanços nos diagnósticos por imagem,
diminuição da mortalidade ao longo dos anos 2, 3. como também dos exames laboratoriais, quadros de
Na crise aguda, nota-se intensa dor abdominal e pancreatites antigamente descritos como “idiopáticos”
aumento sérico das enzimas pancreáticas, ambas ganharam novas possíveis etiologias (ainda que
tipicamente presentes no processo inflamatório. passíveis de debate) tais como a lama biliar
Qualquer fator capaz de desencadear um episódio (microlitíases), a qual não pode ser visualizada por meio
inicial de pancreatite aguda tem o potencial de causar da ultra-sonografia abdominal em decorrência da
episódios recorrentes 4. limitada sensibilidade do método para cálculos menores
A repetição das crises leva ao quadro de pancreatite que 3 milímetros de diâmetro 8-10. O EUS tornou-se
aguda recorrente (ARP), que representa uma entidade popular em decorrência de sua grande sensibilidade
clínica na qual a pancreatite aguda ocorre mais de uma para tais achados 11, bem como por se tratar de um
vez em um pâncreas com morfo-funcionalidade normal método menos invasivo do que a
(4). colangiopancreatografia retrógrada (ERCP) 12.
A pancreatite crônica (PC), por definição, é uma Na visualização de obstruções no ducto biliar comum
síndrome clínica caracterizada por progressivas (CBD), o EUS obteve acurácia de 100% no diagnóstico,
alterações inflamatórias no pâncreas, as quais levam a apresentando maior sensibilidade que a ultra-
danos estruturais permanentes, ocasionando prejuízo sonografia transabdominal ou TC 13, e melhor
nas funções exócrina e endócrina do orgão 5. sensibilidade e custo benefício que a ressonâncio-
Existe hoje em dia uma grande dificuldade para colangiopancreatografia magnética (MRCP).
classificar exatamente as pancreatites recorrentes, em Além das microlitíases e das pancreatites crônicas
sua tênue linha que as separa da cronicidade. que anteriormente não eram diagnosticadas, também é
É difícil, às vezes, diferenciar entre ataques possivel através do EUS avaliar outras causas de
recorrentes de pancreatite aguda e estágios iniciais da pancreatite idiopática como o ‘pâncreas divisum’,
pancreatite crônica. neoplasmas e pancreatites crônicas não diagnosticada
14, 15
Diagnosticar PC em seu estágio inicial é todavia um .
grande desafio clínico. Na detecção de tumores pancreáticos menores que
O aprimoramento dos exames de imagem, como a 2 cm de diâmetro, o EUS mostrou ser o método mais
ultra-sonografia endoscópica (EUS) trouxe uma luz sensível, como mostrou-se também ser eficiente na
sobre os debates relacionados à classificação das detecção de tumores pancreáticos neuroendócrinos e
pancreatites, em decorrência de sua grande capacidade
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124
115
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

bastante útil no estadiamento pré-operatório dos resultando em danos à microcirculação, quimiotaxia


adenocarcinomas de pâncreas 16. leucocitária, liberação de citocinas e estresse oxidativo.
Em alguns casos, a isquemia progressiva pode levar a
Lesão do parênquima pancreático isquemia secundária do intestino, facilitando a migração
Qualquer condição que resulte na obstrução de bactérias. As complicações infecciosas são
temporária ou persistente no fluxo do suco pancreático responsáveis por 50% a 80% das mortes nos doentes
até o duodeno pode ser encarada como um potencial com pancreatite aguda e entre 40% a 75% dos doentes
causador de lesão pancreática. com necrose pancreática desenvolvem infecção 18.
Tais condições incluem as variações anatômicas Apesar de falhas metodológicas, vários estudos
congênitas do sistema ductal bilio-pancreático, as sugerem benefícios da antibióticoterapia no caso de
disfunções do esfíncter pancreático de Oddi e necrose pancreática, a qual pode ser suspeitada, dentre
pricipalmente as obstrucões adquiridas aos níveis da outras formas, quando valores de proteína C reativa
papila maior ou menor, ducto pancreático principal e ao superiores a 150mg/l forem encontrados 19.
nível da parede duodenal (tabela 1). Nos quadros graves da doença, manifestaçôes
Foi demonstrado que um aumento na pressão do sistêmicas como angústia respiratória, falência renal,
esfíncter pancreático leva a um aumento da pressão distúrbios metabólicos e choque podem ser observadas.
ductal intra-pancreática, a qual está intimamente A forma mais grave da doença está presente em 25%
envolvida na patogênese da pancreatite 17. dos casos, com mortalidade de 10% a 20% e as
Tal mecanismo envolve a inapropiada ativação das complicações sistêmicas, especialmente as pulmonares,
enzimas digestivas dentro do pâncreas (tripsinogênio são determinantes para um pior prognóstico 20.
em tripsina), as quais ocasionam lesões
parenquimatosas com intensa resposta inflamatória,

Tabela 1 Achados ultra-sonográficos indicativos de lesão pancreática.


Critérios parenquimais Critérios do ducto pancreático

Pontos hiperecóicos Dilatação (cabeça-4mm; corpo-3mm; cauda-2mm)

Filetes hiperecóicos Irregularidade

Lobularidade Ductos marginais hiperecóicos

Heterogeneidade Visualização dos ductos marginais

Calcificações com sombra Cálculos intraductais

Cistos

Pancreatite idiopática O termo “pancreatite idiopática” (IP) foi inicialmente


Em pacientes sem história positiva para uso abusivo designado para aqueles casos em que a etiologia não
de álcool e sem indícios claros de acometimento por pôde ser identificada mesmo após intensa investigação
litíase biliar, existe uma maior dificuldade em através de anamnese, exame físico, avaliação
determinar a etiologia de uma crise de pancreatite. laboratorial e modadilidades não-invasivas de
diagnóstico por imagem, como por exemplo a ultra-
sonografia abdominal ou TC 14, 21-23.

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124


116
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

Contudo, os avanços tecnológicos nos métodos


laboratoriais e de imagem trouxeram a possibilidade de
revelar a etiologia em aproximadamente 80% dos casos
previamente rotulados como ‘idiopáticos’ 24, 25.
O impacto clínico das IP é reforçado pelo resultado
de alguns estudos, os quais indicam que 40% das
fatalidades por pancreatite aguda sejam atribuídas à IP
26, 27
.
Observa-se uma equivalência do número de casos de
IP entre ambos os sexos e aumento da incidência
conforme a idade, atingindo um platô por volta dos 70
anos 28.

Pancreatite biliar
Cálculos biliares são resposáveis por quase a metade
dos episódios de pancreatite na população ocidental.
Dos pacientes acometidos por coledocolitíase, Figura 1 Corte longitudinal da vesícula mostrando
aproximadamente 70% irão expelir o cálculo pequenos pontos ecogênicos em seu interior – “lama
espontaneamente pelo duodeno, contudo, 3% a 7% biliar” compatíveis com “microlitíases”.
desses pacientes irão desenvolver pancreatite aguda 29.
O advento de exames com alta resolução de imagem Ainda não está totalmente esclarecida a patogênese
como o EUS proporcionou a visualização não só das da pancreatite via microlitíases, porém acredita-se que
coledocolitíases, como também da ‘lama biliar’ e seus tais microcristais possam impactar-se temporariamente
‘microcálculos’ (Figura 1), os quais hoje ocupam grande na papila, obstruindo o ducto pancreático (Figura 2), ou
espaço entre as causas de pancreatite que antigamente que possam levar a estenoses papilares ou a disfunções
eram descritas como idiopáticas. Alguns estudos têm do esfíncter de Oddi pela passagem repetitiva dos
demostrado a presença de lama biliar entre 60% e 80% cálculos, levando à pancreatite 36, 37.
dos pacientes com quadros de pancreatite idiopática 30- Alguns estudos sugerem que a hipótese de
33
. microlitíases deveria ser excluída em todos os pacientes
O termo ‘lama biliar’ se refere a uma suspensão com ARP idiopática, outros inclusive preconizam a
viscosa intra-vesicular formada pela modificação da bile investigação logo após o primeiro quadro agudo 14, 15.
hepática pela mucosa da vesícula, a qual pode conter Em pacientes sem grandes comorbidades e com
pequenos cálculos (< 5 mm de diâmetro) 5. risco cirúrgico baixo, a colecistectomia é uma das
Ao exame microscópico nota-se que a lama biliar é terapias mais escolhidas frente a quadros de
composta por uma coleção de inúmeros cristais, microlitíase confirmados. Podem também ser usadas
glicoproteínas, proteínas, debris celulares e mucinas. alternativas como esfíncterectomia endoscópica ou o
Sendo assim, as ‘microlitíases’ (termo utilizado para ácido ursodeoxicólico (ursodiol).O baixo índice de
cálculos menores que 2mm) são também comumente recaídas após tais procedimentos sustenta seus usos 13,
25, 32
referidas apenas como ‘lama biliar’ 34. .
Geralmente são cristais de monohidrato-colesterol, Segundo alguns estudos, pacientes que se
microesferólitos de carbonato de cálcio ou grânulos de recuperaram de uma pancreatite calculosa tem um
bilirrubinato de cálcio 33. risco de 29% a 67% de recaída, caso uma subsequente
Dentre alguns dos fatores de risco conhecidos para o colecistectomia ou esfíncterectomia não seja realizada
38, 39
desenvolvimento de lama biliar típica, podemos citar os .
estados prolongados de jejum bem como o uso de Grande parte da popularidade do EUS na elucidação
alguns antibióticos (como por exemplo a ceftriaxona) 35. dos quadros de pancreatite se deve à sua alta
sensibilidade para microlitíases/lama biliar (grace 9), ao
seu menor risco de complicações quando comparado

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124


117
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

com a ERCP, (41-43), e ao maior custo-benefício em Resultados com redução nas taxas de morbidade e
relação à MRCP 40, 41. mortalidade também foram observados quando o EUS
Ao se usar o EUS como ferramenta inicial na foi o primeiro método a ser utilizado, e nos casos em
investigação do diagnóstico, Liu CL et al.42 observaram que foram diagnosticados cálculos no ducto biliar
uma queda na taxa de morbidade induzida pela comum (CBD) foram seguidos por ERCP com
colangiopancreatografia retrógrada (ERCP) e esfincterectomia 43.
defenderam através de seu estudo o uso do EUS como
método de escolha na abordagem inicial das
pancreatites leves e moderadas.

Figura 2 Cálculo (A) causando dilatação do ducto biliar comum (B) e visualização da papila de Vater (PAV) 44.

Recentes trabalhos apontam novos caminhos na EUS, bem como a intervenção através de ERCP ou
detecção de cálculos biliares através do uso da ultra- esfíncterectomia se os achados forem positivos.
sonografia endoscópica extraductal (EDUS), na qual são
usadas mini-sondas que têm a vantagem de poder ser Pâncreas divisum
usadas juntamente com o duodenoscópio. Sendo assim, Durante o processo embriogênico pode ocorrer uma
se intervenções terapêuticas se fizerem necessárias, fusão inadequada dos gomos pancreáticos, o que
não existe a necessidade de se trocar o endoscópio. Em ocasiona uma falha na conexão entre as porções ventral
seu estudo, Wehrmann T et al.45 conclui que em e dorsal do ducto pancreático.
pacientes com risco intermediário de cálculos no ducto Tal malformação é conhecida como ‘pâncreas
biliar principal se justifica o uso do EDUS ao invés da divisum’(PD) e representa a variação congênita mais
comum do pâncreas, ocorrendo em aproximadamente
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124
118
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

7% a 10% da população. No entanto, apenas 5% destes demasiadamente ‘antes’ da sua chegada à parede
casos de PD serão sintomáticos 46. duodenal, resultando na presença de um canal comum
Nota-se que algo em torno de 80% a 95% do suco maior que 15mm de comprimento, pelo qual pode
pancreático oriundo da porção ventral é drenado pela ocorrer entrada de bile no ducto pancreático, levando a
papila menor através ducto de Santorini, ao invés de um aumento da pressão intraductal e consequente
drenar pela rota mais comum, que seria pela papila pancreatite (68).
maior via ducto de Wirsung 47. Pode também ocorrer um refluxo das enzimas
A insuficiência quanto ao tamanho da papila pancreáticas para dentro do ducto biliar, predispondo
perante o fluxo a ser drenado acarreta em diminuição ao desenvolvimento de cistos de colédoco (68).
da velocidade de drenagem e consequente aumento da Embora na ERCP tais anomalias sejam claramente
pressão intraductal. notadas, novos estudos conferem ao EUS boa
Diversos estudos apontam para essa relativa capacidade no diagnóstic56, como também apontam
obstrução via papila menor como uma causa de para o EUS e a ressonâncio-colangiopancreatografia
pancreatite 48, 49. magnética reforçada por secretina (S-MRCP) como
Como nem todos os pacientes com pâncreas divisum exames de elevada acurácia na detecção de variações
apresentam pancreatite 24, 46, acredita-se que um ductais e na demonstração de refluxo associado 43.
tamanho da papila menor do que o usual seja uma Os cistos de colédoco, por sua vez, são dilatações na
condição de considerável importância para o junção entre os ductos pancreático e biliar, que muitas
desencadeamento dos sintomas 50. vezes podem ser grandes o suficiente para obstruir o
Apesar do ERCP ser o exame padrão-ouro para o ducto pancreático, o que pode resultar em ARP 57, 58.
diagnóstico de pâncreas divisum, alguns estudos Outra causa incomum de pancreatite é o ‘pâncreas
sugerem que o EUS seria uma melhor alternativa na anular’ (PA). Tal termo refere-se a uma parte do tecido
investigação, em decorrência de apresentar menor taxa pancreático que circunda parcialmente ou totalmente o
de complicações, tais como a pancreatite pós-ERCP 51, 52. duodeno, geralmente ao nível da papila maior.
Ao EUS, os achados sugestivos de PD seriam a Esta anomalia também é decorrente de falha na
descontinuação do ducto pancreático desde sua origem rotação dos gomos pancreáticos durante o
na papila hepatopancreática (na porção ventral do desenvolvimento embriológico.
pâncreas) até a porção dorsal. Nestes casos, o EUS pode acrescentar informações
Na prática, porém, os critérios para diagnosticar PD para o diagnóstico 59, contudo o diagnóstico é
variam de autor para autor. Budhany et al, por exemplo, normalmente confirmado por ERCP, a qual pode
através do uso de um instrumento radial, descrevem a oferecer benefícios no tratamento desta rara anomalia
38
presença de PD quando numa mesma aquisição .
consegue-se visualizar a imagem da veia porta e do Nos casos em que o EUS e a MRCP excluem causas
ducto biliar comum, sem se visualizar o ducto mecânicas de pancreatite, uma etiologia auto-imune
pancreático. deve ser considerada, especialmente se o paciente tiver
Utilizando um ecoendoscópio linear, Lai et al.53, por outras doenças reumatológicas associadas.
sua vez, apontam para a presença de PD quando não se
consegue obter uma imagem contínua do ducto Tumores no pâncreas e no trato biliar
pancreático dentro do pâncreas, desde a papila maior Qualquer massa que comprima o ducto pancreático
(hepatopancreática) na porção ventral em toda sua principal ou os ductos biliares pode resultar em
extensão até a região dorsal.Tal método permitiu-lhes pancreatite aguda. Foi estimado que entre 5% a 7% dos
obter acurácia de 97% no dianóstico de PD. pacientes com tumores pancreatobiliares, benignos ou
malignos, podem apresentar ARP 37.
Causas incomuns de pancreatite aguda O bloqueio mecânico do orifício papilar por tumores
As junções pancreatobiliares anômalas (PBJ) estão da ampola hepatopancreática pode levar à icterícia
associadas com pancreatite recorrente idiopática 54, 55, indolor, anemia, e também à ARP.
cistos de colédoco e colangiocarcinoma 54. Os adenomas são os tumores ampolares mais
Cerca de 1,5% a 3% dos indivíduos apresentam uma comuns e em decorrência de apresentarem potencial
união entre os ductos pancreático e biliar malignidade devem ser ressecados cirurgicamente ou
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124
119
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

endoscopicamente, dependendo do seu tamanho e do


seu grau histológico 60. No entanto, podem também ser
apenas observados no caso de se tratarem de pólipos
adenomatosos assintomáticos 61.
Tumores císticos no pâncreas também podem causar
ARP.
Tais tumorações císticas podem dividir-se entre
serosas e mucinosas.
Os tumores císticos (ou microcísticos) serosos
apresentam a típica aparência de colméia de abelha
(devido aos ‘cachos’ de pequenos cistos) e raramente
malignizam 62. São conhecidos como cistoadenomas
serosos (ou microcistoadenomas) e podem ser
manejados apenas com observação.
Os tumores mucinosos tem uma tendência maior a Figura 3 Aparência clássica de “olho de peixe” de uma
malignizar. neoplasia mucinosa intraductal drenando mucina pela
Possuem também uma tendência maior a causar papila.
ARP em decorrência da presença de fluidos ricos em
enzimas no interior de seus cistos, bem como pela sua Tais lesões são pré-cancerígenas e podem causar
comunicação com o sistema ductal 44. ataques agudos ou recorrentes de pancreatite em
Tais tumores podem ser difíceis de distinguir dos decorrência da obstrução intermitente dos ducto
pseudocistos pancreáticos, contudo a aspiração com pancreático por tampões de muco 48 (Figura 4). As IPMN
agulha fina via EUS normalmente faz o diagnóstico 48. O são as lesões que mais frequentemente causam crises
cisto aspirado geralmente é encaminhado para exame de pancreatite 63, 64.
citológico posterior para pesquisa de sinais de Tumores císticos pancreáticos como os IPMN, os
malignização (transformação em cistoadenocarcinoma). cistoadenomas serosos e mucinosos e os
O EUS pode ajudar na distinção entre cistos serosos cistoadenocarcinomas podem ser pré-malignos ou
e mucinosos ao revelar uma massa composta por malignos e a cirurgia geralmente é indicada 64-66.
múltiplos pequenos cistos (microcistos) com aparência O EUS pode mostrar uma dilatação grosseira do
de tumoração sólida e hipervascularizada, ou revelar ducto pancreático, bem como pode revelar nódulos em
vários cistos grandes (macrocistos) 22. seu interior ou em suas ramificações laterais. A
Os tumores mucinosos podem dividir-se em três intensidade de tais achados ao EUS auxiliam no
tipos: os cistoadenomas mucinosos benignos, lesões diagnóstico.
mucinosas císticas malignas e lesões papilares Atrofia do parênquima é frequentemente
mucinosas intraductais. A natureza do forro epitelial do encontrada nestes casos 67.
cisto determina o risco de malignidade e o tratamento a Quadros inexplicados de ARP em pacientes maiores
ser estabelecido. que 45 anos requerem investigação para carcinoma
Os cistoadenomas mucinosos benignos são pancreático 68.
geralmente encontrados no corpo e na cauda do Pacientes com histórico de perda de peso,
pâncreas e constituem-se de um ou mais espaços esteatorréia, dilatação ductal, início de diabetes e
macrocísticos alinhados com células mucosecretoras. evidências de massa pancreática sólida ou cística devem
Em decorrência do grande potencial de malignização ter a hipótese de neoplasia pancreática levantada 69, 70.
tais lesões devem ser ressecadas após serem As neoplasias pancreáticas malignas aparecem como
diagnosticadas 44. causa de pancreatite aguda em porcentagem crescente
As neoplasias mucinosas papilares intraductais com a idade, apenas 3% para pacientes menores que 40
(IPMN) são uma patologia formada pela proliferação anos, 21% para pacientes entre 40 e 60 anos e 25% para
papilar das células epiteliais produtoras de mucina, com pacientes acima dos 60 anos 71.
ou sem excessiva produção de muco ou dilatação cistica Bhutani et al.51 apontam para algumas causas de
do ducto pancreático 49 (Figura 3). resultados falsos-positivos ao EUS com relação à
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124
120
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

detecção de noplasias pancreáticas, tais como Outros estudiosos como kahl S et al 16 definem o EUS
pancreatite crônica,carcinoma difusamente infiltrado, como o método mais sensitivo na detecção de tumores
proeminente divisão das porções ventral/dorsal e pancreáticos menores que 2 centímetros de diâmetro e
recentes episódios de pancreatite aguda (menos de descrevem o crescente uso do EUS na detecção de
quatro semanas). Sugere também a repetição dos tumores pancreáticos neuroendócrinos, bem como no
exames sem alterações visíveis depois de dois a três estadiamento pré-operatório do adenocarcinoma
meses, caso haja uma suspeita clínica forte de neoplasia pancreático.
pancreática e o paciente não tenha sido submetido à
cirurgia.

Figura 4 Lesão maligna na cabeça do pâncreas (A) ocluindo o ducto pancreático já dilatado (B) 44.

Pancreatite crônica pancreatite, sustentando a idéia de que a pancreatite


Diferenciar entre crises recorrentes e cronicidade é alcoólica se desenvolve em um pâncreas já em
uma tarefa difícil quando se trata de pancreatite. sofrimento por PC 72.
Se o foco principal na leitura dos resultados for o A despeito de tais controvérsias, foi de muita
quadro clínico,um quadro agudo de pancreatite importância o advento do EUS no diagnóstico da
alcoólica (PA) seria uma expressão da doença aguda, pancreatite crônica (PC).
que somente levaria a um quadro de cronicidade Além de sua grande utilidade no estadiamento dos
(pancreatite crônica) se repetida ao longo do tempo. tumores pancreáticos, o EUS apresenta grande
Se, por outro lado, tal foco fosse colocado sobre capacidade de oferecer imagens sobre alterações
dados histológicos, as recorrências de pancreatite ductais e principalmente parenquimais que não são
alcoólica poderiam desde o início ser uma expressão da mostradas por outras técnicas, resultando em um
doença crônica. método bastante útil no diagnóstico de CP, além de ser
Tais pontos de vista dividem as opiniões hoje em dia. menos invasivo e apresentar menor risco de
Contudo, um recente estudo constatou complicações qua a ERCP.
histologicamente necrose aguda e lesões crônicas em O uso do EUS juntamente com exames de função
pacientes operados após a primeira crise aguda de pancreática mostrou-se importante por indicar o
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124
121
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

desenvolvimento de PC em pacientes primeiramente que 3mm no corpo e > que 2mm na cauda),
diagnósticados com ARP. hiperecogenicidade e irregularidades marginais no
Os critérios de EUS atualmente usados no dianóstico ducto principal e visualização dos ramos laterais (tabela
da PC são uma adaptação dos originais de Less et al.73 e 1).
dividem-se em parenquimais e ductais. Em virtude das paredes dos ductos serem invisíveis,
Os achados parenquimais (Figura 5) incluem os focos estes devem ser considerados hiperecogênicos se forem
e vertentes hiperecogênicos (pontos e filetes visíveis.
hiperecogênicos disperssos no parênquima), A presença de calcificações ou de cálculos
lobularidade (dão à glandula uma aparência de colméia propriamente ditos durante o exame de EUS seria um
de abelha), calcificações produtoras de sombra e cistos. forte indício de CP.
As alterações ductais incluem as dilatações óbvias e
sutis do ducto pancreático ( > que 4mm na cabeça, >

Figura 5 Endossonografia linear do corpo pancreático mostrando filetes hiperecogênicos e lobularidade 73.

Dentre os nove critérios apresentados (focos presentes. Entre 3 e 4 critérios, o resultado pode ser
hiperecogênicos, traves hiperecogênicas, lobularidade, duvidoso 44.
dilatação ductal, irregularidade ductal, ductos marginais Recentes estudos apontam o EUS como o método
hiperecóicos, visualização dos ramos laterais, mais sensível para diagnosticar CP 60, 74. Outros estudos
calcificações e cistos) o EUS mostrou ser mais fidedigno sugerem que o EUS é tão ou mais eficaz que a ERCP no
quando menos de 2 critérios ou mais de 5 critérios são
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124
122
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

diagnóstico de PC, obtendo inclusive sensibilidade de Denmark: a register-based study from 1981-2000. Scand J
100% no dianóstico contra 81% da ERCP 16 Gastroenterol 2002; 37(12): 1461-1465.
O mesmo não se pode dizer quanto à biopsia por 4. Matos C, Bali MA, Delhaye M, Deviere J. Magnetic
agulha fina guiada por EUS, uma vez que, por enquanto, resonance imaging in the detection of pancreatitis and
pancreatic neoplasms. Best Pract Res Clin Gastroenterol 2006;
não existem dados suficientes que apoiem seu uso no
20(1): 157-178.
diagnóstico de CP. 5. Steer ML, Waxman I, Freedman S. Chronic pancreatitis. N
Baseando-se nos critérios do EUS, a frequência com Engl J Med 1995; 332(22): 1482-1490.
que o diagnóstico de pancreatite crônica (PC) é feito em 6. Jones SN, Lees WR, Frost RA. Diagnosis and grading of
pacientes com ARP varia entre 10% e 30% 25, 71. chronic pancreatitis by morphological criteria derived by
Foi demonstrado durante o seguimento que entre ultrasound and pancreatography. Clin Radiol 1988; 39(1): 43-
42% e 47% dos pacientes com ARP realmente possuíam 48.
evidências de PC, 15, 75 e que esta era duas vezes mais 7. Wiersema MJ, Hawes RH, Lehman GA, Kochman ML,
frequente em pacientes com com ARP que naqueles Sherman S, Kopecky KK. Prospective evaluation of endoscopic
com história de episódio único de pancreatites 15. ultrasonography and endoscopic retrograde
cholangiopancreatography in patients with chronic abdominal
pain of suspected pancreatic origin. Endoscopy 1993; 25(9):
Considerações finais 555-564.
Elucidar os casos de pancreatite idiopática é um 8. Farinon AM, Ricci GL, Sianesi M, Percudani M, Zanella E.
desafio que necessita ser encarado para que os Physiopathologic role of microlithiasis in gallstone
pacientes sejam cada vez menos expostos a exames pancreatitis. Surg Gynecol Obstet 1987; 164(3): 252-256.
invasivos desnecessários, diminuído a morbi- 9. Kohut M, Nowak A, Nowakowska-Duiawa E, Marek T.
mortalidade associada. Presence and density of common bile duct microlithiasis in
O EUS vem a contribuir nesse sentido por ser um acute biliary pancreatitis. World J Gastroenterol 2002; 8(3):
exame menos invasivo que a ERCP, por exemplo, e 558-561.
bastante sensível no diagnóstico de cálculos no ducto 10. Kohut M, Nowak A, Nowakowska-Dulawa E, Kaczor R,
Marek T. The frequency of bile duct crystals in patients with
biliar, lama biliar/microlitíases, pâncreas divisum,
presumed biliary pancreatitis. Gastrointest Endosc 2001;
anormalidades ductais, neoplasias ocultas e pancreatite 54(1): 37-41.
crônica. 11. Dahan P, Andant C, Levy P, Amouyal P, Amouyal G,
O aprimoramento das técnicas, o desenvolvimento Dumont M, et al. Prospective evaluation of endoscopic
das máquinas, bem como a alta relação custo-benefício, ultrasonography and microscopic examination of duodenal
colocou o EUS numa posição de destaque. Muitos bile in the diagnosis of cholecystolithiasis in 45 patients with
centros, por exemplo, não realizam ERCP ou MRCP hoje normal conventional ultrasonography. Gut 1996; 38(2): 277-
em dia se a pesquisa de cálculos for negativa ao EUS, 281.
em virtude, muitas vezes, da usual resolução do quadro 12. Mirbagheri SA, Mohamadnejad M, Nasiri J, Vahid AA,
pela passagem do cálculo ao duodeno em 24 horas. Ghadimi R, Malekzadeh R. Prospective evaluation of
endoscopic ultrasonography in the diagnosis of biliary
Novas tecnologias, como o advento do EDUS, são
microlithiasis in patients with normal transabdominal
promissoras e podem refinar ainda mais as condutas ultrasonography. J Gastrointest Surg 2005; 9(7): 961-964.
num futuro próximo. 13. Saraswat VA, Sharma BC, Agarwal DK, Kumar R, Negi TS,
Tandon RK. Biliary microlithiasis in patients with idiopathic
acute pancreatitis and unexplained biliary pain: response to
Referências therapy. J Gastroenterol Hepatol 2004; 19(10): 1206-1211.
14. Norton SA, Alderson D. Endoscopic ultrasonography in the
1. Whitcomb DC. Clinical practice. Acute pancreatitis. N Engl J evaluation of idiopathic acute pancreatitis. Br J Surg 2000;
Med 2006; 354(20): 2142-2150. 87(12): 1650-1655.
2. Goldacre MJ, Roberts SE. Hospital admission for acute 15. Yusoff IF, Raymond G, Sahai AV. Endoscopist administered
pancreatitis in an English population, 1963-98: database propofol for upper-GI EUS is safe and effective: a prospective
study of incidence and mortality. BMJ 2004; 328(7454): 1466- study in 500 patients. Gastrointest Endosc 2004; 60(3): 356-
1469. 360.
3. Floyd A, Pedersen L, Nielsen GL, Thorladcius-Ussing O, 16. Kahl S, Glasbrenner B, Zimmermann S, Malfertheiner P.
Sorensen HT. Secular trends in incidence and 30-day case Endoscopic ultrasound in pancreatic diseases. Dig Dis 2002;
fatality of acute pancreatitis in North Jutland County, 20(2): 120-126.
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124
123
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

17. Fazel A, Geenen JE, MoezArdalan K, Catalano MF. prevention of relapses by cholecystectomy or
Intrapancreatic ductal pressure in sphincter of Oddi ursodeoxycholic acid therapy. Gastroenterology 1991; 101(6):
dysfunction. Pancreas 2005; 30(4): 359-362. 1701-1709.
18. De Campos T, Deree J, Coimbra R. From acute pancreatitis 34. Lee SP, Nicholls JF. Nature and composition of biliary
to end-organ injury: mechanisms of acute lung injury. Surg sludge. Gastroenterology 1986; 90(3): 677-686.
Infect (Larchmt) 2007; 8(1): 107-120. 35. Lopez AJ, O'Keefe P, Morrissey M, Pickleman J.
19. De Campos T, Assef JC, Rasslan S. Questions about the use Ceftriaxone-induced cholelithiasis. Ann Intern Med 1991;
of antibiotics in acute pancreatitis. World J Emerg Surg 2006; 115(9): 712-714.
1(20. 36. Hernandez CA, Lerch MM. Sphincter stenosis and
20. Werner J, Hartwig W, Uhl W, Muller C, Buchler MW. gallstone migration through the biliary tract. Lancet 1993;
Useful markers for predicting severity and monitoring 341(8857): 1371-1373.
progression of acute pancreatitis. Pancreatology 2003; 3(2): 37. Levy MJ. The hunt for microlithiasis in idiopathic acute
115-127. recurrent pancreatitis: should we abandon the search or
21. Frossard JL, Sosa-Valencia L, Amouyal G, Marty O, intensify our efforts? Gastrointest Endosc 2002; 55(2): 286-
Hadengue A, Amouyal P. Usefulness of endoscopic 293.
ultrasonography in patients with "idiopathic" acute 38. Kinney TP, Lai R, Freeman ML. Endoscopic approach to
pancreatitis. Am J Med 2000; 109(3): 196-200. acute pancreatitis. Rev Gastroenterol Disord 2006; 6(3): 119-
22. Draganov P, Forsmark CE. "Idiopathic" pancreatitis. 135.
Gastroenterology 2005; 128(3): 756-763. 39. Frakes JT. Biliary pancreatitis: a review. Emphasizing
23. Levy MJ, Geenen JE. Idiopathic acute recurrent appropriate endoscopic intervention. J Clin Gastroenterol
pancreatitis. Am J Gastroenterol 2001; 96(9): 2540-2555. 1999; 28(2): 97-109.
24. Kaw M, Brodmerkel GJ, Jr. ERCP, biliary crystal analysis, 40. Scheiman JM, Carlos RC, Barnett JL, Elta GH, Nostrant TT,
and sphincter of Oddi manometry in idiopathic recurrent Chey WD, et al. Can endoscopic ultrasound or magnetic
pancreatitis. Gastrointest Endosc 2002; 55(2): 157-162. resonance cholangiopancreatography replace ERCP in
25. Coyle WJ, Pineau BC, Tarnasky PR, Knapple WL, Aabakken patients with suspected biliary disease? A prospective trial
L, Hoffman BJ, et al. Evaluation of unexplained acute and and cost analysis. Am J Gastroenterol 2001; 96(10): 2900-
acute recurrent pancreatitis using endoscopic retrograde 2904.
cholangiopancreatography, sphincter of Oddi manometry and 41. Queneau PE, Zeeh S, Lapeyre V, Thibault P, Heyd B,
endoscopic ultrasound. Endoscopy 2002; 34(8): 617-623. Carayon P, et al. Feasibility of and interest in combined
26. Wilson C, Imrie CW, Carter DC. Fatal acute pancreatitis. endoscopic ultrasonography and biliary drainage in
Gut 1988; 29(6): 782-788. unexplained acute biliopancreatic disorders. Dig Dis Sci 2002;
27. Banerjee AK, Kaul A, Bache E, Parberry AC, Doran J, 47(9): 2020-2024.
Nicholson ML. An audit of fatal acute pancreatitis. Postgrad 42. Liu CL, Lo CM, Chan JK, Poon RT, Fan ST. EUS for detection
Med J 1995; 71(838): 472-475. of occult cholelithiasis in patients with idiopathic pancreatitis.
28. Wehrmann T, Stergiou N, Schmitt T, Dietrich CF, Seifert H. Gastrointest Endosc 2000; 51(1): 28-32.
Reduced risk for pancreatitis after endoscopic 43. Park DH, Kim MH, Lee SK, Lee SS, Choi JS, Lee YS, et al.
microtransducer manometry of the sphincter of Oddi: a Can MRCP replace the diagnostic role of ERCP for patients
randomized comparison with the perfusion manometry with choledochal cysts? Gastrointest Endosc 2005; 62(3): 360-
technique. Endoscopy 2003; 35(6): 472-477. 366.
29. Moreau JA, Zinsmeister AR, Melton LJ, 3rd, DiMagno EP. 44. Petrone MC, Arcidiacono PG, Testoni PA. Endoscopic
Gallstone pancreatitis and the effect of cholecystectomy: a ultrasonography for evaluating patients with recurrent
population-based cohort study. Mayo Clin Proc 1988; 63(5): pancreatitis. World J Gastroenterol 2008; 14(7): 1016-1022.
466-473. 45. Wehrmann T, Martchenko K, Riphaus A. Catheter probe
30. Testoni PA, Caporuscio S, Bagnolo F, Lella F. Idiopathic extraductal ultrasonography vs. conventional endoscopic
recurrent pancreatitis: long-term results after ERCP, ultrasonography for detection of bile duct stones. Endoscopy
endoscopic sphincterotomy, or ursodeoxycholic acid 2009; 41(2): 133-137.
treatment. Am J Gastroenterol 2000; 95(7): 1702-1707. 46. Hernandez V, Pascual I, Almela P, Anon R, Herreros B,
31. Cavallini G. Is chronic pancreatitis a primary disease of the Sanchiz V, et al. Recurrence of acute gallstone pancreatitis
pancreatic ducts? A new pathogenetic hypothesis. Ital J and relationship with cholecystectomy or endoscopic
Gastroenterol 1993; 25(7): 391-396. sphincterotomy. Am J Gastroenterol 2004; 99(12): 2417-2423.
32. Lee SP, Nicholls JF, Park HZ. Biliary sludge as a cause of 47. Somogyi L, Martin SP, Venkatesan T, Ulrich CD, 2nd.
acute pancreatitis. N Engl J Med 1992; 326(9): 589-593. Recurrent acute pancreatitis: an algorithmic approach to
33. Ros E, Navarro S, Bru C, Garcia-Puges A, Valderrama R. identification and elimination of inciting factors.
Occult microlithiasis in 'idiopathic' acute pancreatitis: Gastroenterology 2001; 120(3): 708-717.
Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124
124
Saucedo e Martins – Endossonografia pancreática

48. Bassi C, Procacci C, Zamboni G, Scarpa A, Cavallini G, tumours of the pancreas after surgical resection. Comparison
Pederzoli P. Intraductal papillary mucinous tumors of the with pancreatic ductal adenocarcinoma. Gut 2002; 51(5): 717-
pancreas. Verona University Pancreatic Team. Int J Pancreatol 722.
2000; 27(3): 181-193. 64. Sarr MG, Carpenter HA, Prabhakar LP, Orchard TF, Hughes
49. Lee JK, Enns R. Review of idiopathic pancreatitis. World J S, van Heerden JA, et al. Clinical and pathologic correlation of
Gastroenterol 2007; 13(47): 6296-6313. 84 mucinous cystic neoplasms of the pancreas: can one
50. Cunningham JT. Pancreas divisum and acute pancreatitis: reliably differentiate benign from malignant (or premalignant)
romancing the stone? Am J Gastroenterol 1992; 87(6): 802- neoplasms? Ann Surg 2000; 231(2): 205-212.
803. 65. Wilentz RE, Albores-Saavedra J, Zahurak M, Talamini MA,
51. Bhutani MS, Hoffman BJ, Hawes RH. Diagnosis of pancreas Yeo CJ, Cameron JL, et al. Pathologic examination accurately
divisum by endoscopic ultrasonography. Endoscopy 1999; predicts prognosis in mucinous cystic neoplasms of the
31(2): 167-169. pancreas. Am J Surg Pathol 1999; 23(11): 1320-1327.
52. Tandon M, Topazian M. Endoscopic ultrasound in 66. Siech M, Tripp K, Schmidt-Rohlfing B, Mattfeldt T,
idiopathic acute pancreatitis. Am J Gastroenterol 2001; 96(3): Widmaier U, Gansauge F, et al. Cystic tumours of the
705-709. pancreas: diagnostic accuracy, pathologic observations and
53. Lai R, Freeman ML, Cass OW, Mallery S. Accurate surgical consequences. Langenbecks Arch Surg 1998; 383(1):
diagnosis of pancreas divisum by linear-array endoscopic 56-61.
ultrasonography. Endoscopy 2004; 36(8): 705-709. 67. Farrell JJ, Brugge WR. Intraductal papillary mucinous
54. Kochhar R, Nagi B, Chawla S, Das K, Rao KL, Mitra SK, et al. tumor of the pancreas. Gastrointest Endosc 2002; 55(6): 701-
The clinical spectrum of anomalous pancreatobiliary junction. 714.
Surg Endosc 1989; 3(2): 83-86. 68. Bank S, Indaram A. Causes of acute and recurrent
55. Kamisawa T, Egawa N, Tsuruta K, Okamoto A, Mtsukawa pancreatitis. Clinical considerations and clues to diagnosis.
M. Pancreatitis associated with congenital abnormalities of Gastroenterol Clin North Am 1999; 28(3): 571-589, viii.
the pancreaticobiliary system. Hepatogastroenterology 2005; 69. Kahrilas PJ, Hogan WJ, Geenen JE, Stewart ET, Dodds WJ,
52(61): 223-229. Arndorfer RC. Chronic recurrent pancreatitis secondary to a
56. Misra SP, Dwivedi M. Pancreaticobiliary ductal union. Gut submucosal ampullary tumor in a patient with
1990; 31(10): 1144-1149. neurofibromatosis. Dig Dis Sci 1987; 32(1): 102-107.
57. Greene FL, Brown JJ, Rubinstein P, Anderson MC. 70. Robertson JF, Imrie CW. Acute pancreatitis associated
Choledochocele and recurrent pancreatitis. Diagnosis and with carcinoma of the ampulla of Vater. Br J Surg 1987; 74(5):
surgical management. Am J Surg 1985; 149(2): 306-309. 395-397.
58. Goldberg PB, Long WB, Oleaga JA, Mackie JA. 71. Choudari CP, Lehman GA, Sherman S. Pancreatitis and
Choledochocele as a cause of recurrent pancreatitis. cystic fibrosis gene mutations. Gastroenterol Clin North Am
Gastroenterology 1980; 78(5 Pt 1): 1041-1045. 1999; 28(3): 543-549, vii-viii.
59. Gress F, Yiengpruksawan A, Sherman S, Ikenberry S, 72. Migliori M, Manca M, Santini D, Pezzilli R, Gullo L. Does
Kaster S, Ng RY, et al. Diagnosis of annular pancreas by acute alcoholic pancreatitis precede the chronic form or is the
endoscopic ultrasound. Gastrointest Endosc 1996; 44(4): 485- opposite true? A histological study. J Clin Gastroenterol 2004;
489. 38(3): 272-275.
60. Catalano MF, Linder JD, Chak A, Sivak MV, Jr., Raijman I, 73. Lees WR, Vallon AG, Denyer ME, Vahl SP, Cotton PB.
Geenen JE, et al. Endoscopic management of adenoma of the Prospective study of ultrasonography in chronic pancreatic
major duodenal papilla. Gastrointest Endosc 2004; 59(2): 225- disease. Br Med J 1979; 1(6157): 162-164.
232. 74. Sahai AV, Zimmerman M, Aabakken L, Tarnasky PR,
61. Burke CA, Beck GJ, Church JM, van Stolk RU. The natural Cunningham JT, van Velse A, et al. Prospective assessment of
history of untreated duodenal and ampullary adenomas in the ability of endoscopic ultrasound to diagnose, exclude, or
patients with familial adenomatous polyposis followed in an establish the severity of chronic pancreatitis found by
endoscopic surveillance program. Gastrointest Endosc 1999; endoscopic retrograde cholangiopancreatography.
49(3 Pt 1): 358-364. Gastrointest Endosc 1998; 48(1): 18-25.
62. Bhutani MS, Gress FG, Giovannini M, Erickson RA, 75. Garg PK, Tandon RK, Madan K. Is biliary microlithiasis a
Catalano MF, Chak A, et al. The No Endosonographic significant cause of idiopathic recurrent acute pancreatitis? A
Detection of Tumor (NEST) Study: a case series of pancreatic long-term follow-up study. Clin Gastroenterol Hepatol 2007;
cancers missed on endoscopic ultrasonography. Endoscopy 5(1): 75-79.
2004; 36(5): 385-389.
63. Maire F, Hammel P, Terris B, Paye F, Scoazec JY, Cellier C,
et al. Prognosis of malignant intraductal papillary mucinous

Experts in Ultrasound: Reviews and Perspectives EURP 2009; 1(2): 113-124

Você também pode gostar