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doi: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v102i2e-196909 Rev Med (São Paulo). 2023 mar.-abr.;102(2):e-196909.

Artigo de Revisão

Lesões iatrogênicas das vias biliares: diagnóstico e manejo

Iatrogenic biliary injuries: diagnosis and management

Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto1, Mateus Interaminense Perez2,


Vladmir Goldstein de Paula Lopes3

Fonseca Neto OCL, Perez MI, Lopes VGP. Lesões iatrogênicas das vias biliares: diagnóstico e manejo / Iatrogenic biliary injuries:
diagnosis and management. Rev Med (São Paulo). 2023 mar.-abr.;102(2):e-196909.

RESUMO: A lesão iatrogênica das vias biliares (LIVB) se ABSTRACT: Iatrogenic bile duct injury is a serious complication
configura em uma grave complicação relacionada a abordagens of surgical intervention in the gastrointestinal tract. Even in
cirúrgicas do trato gastrointestinal e mesmo em centros de referral centers, the incidence of such injuries may vary from
referência taxas de 0,2% a 1,5% ainda são registradas. A taxa 0.2% to 1.5%. The incidence varies according to the choice
de LIVB varia se a cirurgia inicial foi realizada por meio de of open surgery or videolaparoscopy and the severity of these
técnica aberta ou videolaparoscópica, e a sua gravidade se dá injuries derives from the wide range of complications that can
pelo grande espectro de complicações que podem ser causadas e be caused, with a strong negative impact on the quality of life
que apresentam forte impacto negativo na qualidade de vida do of the patient. Iatrogenic bile duct injuries were first classified
paciente. A primeira classificação de LIVB se deu em 1982 com in 1982 by Bismuth, and, with the advent of videolaparoscopy,
Bismuth e, com o advento da videolaparoscopia, várias outras various other classification systems were produced, that of
foram feitas, sendo a de Strasberg uma das mais utilizadas até Strasberg being one of the most widely used today. Diagnosis
hoje. A suspeição diagnóstica pode ser feita com auxílio de exames can be carried out with the aid of laboratory examinations and,
laboratoriais e principalmente com exames de imagem, como a principally, imaging technology, such as magnetic resonance
colangiorressonância. O tratamento se constitui em um verdadeiro cholangiopancreatography. Treatment presents a serious challenge
desafio para a equipe cirúrgica e pode ser realizado por meio de for the surgeons and can be carried out using percutaneous
técnicas percutâneas endoscópicas e também cirúrgicas, sendo endoscopic techniques and also surgery, the most common
mais comumente realizada por meio de hepaticojejunostomia em procedure being a Roux-en-Y hepaticojejunostomy. In patients
Y de Roux. No paciente com doença hepática em estágio terminal with end-stage liver disease caused by secondary biliary cirrhosis,
por cirrose biliar secundária, pode ser realizado o transplante liver transplantation may be necessary. Whenever possible, the
hepático. O paciente sempre que possível deve ser acompanhado patient should be accompanied by a multidisciplinary team, and
por uma equipe multidisciplinar e é de suma importância que seja it is of paramount importance that such patients should be rapidly
rapidamente encaminhado para um centro especializado. referred to a specialist center.

Palavras-chave: Ductos biliares; Colecistectomia; Cirurgia geral. Keywords: Bile ducts; Cholecystectomy; General surgery.

1. Cirurgião assistente do serviço de cirurgia geral e transplante de fígado do Hospital Universitário Oswaldo Cruz – Recife, Pernambuco. 0000-0002-
2383-8610. E-mail: olivallucena@gmail.com
2. Estudante de medicina da Universidade de Pernambuco-UPE – Recife – PE. 0000-0001-7069-6515. E-mail: mateus.iperez@gmail.com
3. Estudante de medicina da Universidade de Pernambuco-UPE – Recife – PE. 0000-0003-3740-4482. E-mail: vladmirgoldstein@gmail.com
Endereço para correspondência: Mateus Interaminense Perez. Rua Clóvis Bevilaqua, 50. Apt.901. Madalena, Recife, PE. CEP 50710-330. E-mail:
mateus.iperez@gmail.com

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Fonseca Neto OCL, et al. Lesões iatrogênicas das vias biliares: diagnóstico e manejo

INTRODUÇÃO De início, foi realizado um levantamento


bibliográfico, utilizando-se o descritor “iatrogenic bile

A lesão iatrogênica das vias biliares (LIVB)


se configura em uma grave complicação
relacionada a abordagens cirúrgicas do trato gastrointestinal,
duct injury” nos indexadores MEDLINE (Literatura
Internacional em Ciências da Saúde), PubMed e LILACS
(Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde)
sendo causada mais frequentemente devido à colecistectomia no período de 2004 a 2022, nas línguas portuguesa e
laparoscópica, um dos procedimentos cirúrgicos mais inglesa. Em seguida, foram determinados os critérios
realizados no mundo1,2. de elegibilidade para realização da triagem dos estudos:
Mesmo em centros de referência taxas de 0,2% a os artigos com textos completos disponíveis para leitura
1,5% de lesão de via biliar ainda são registradas, o que foram analisados de acordo com os critérios de inclusão
é preocupante, uma vez que cerca de 10% da população e exclusão. Os critérios de inclusão foram: (1) ser
é portadora de colelitíase e a colecistectomia representa publicados em língua portuguesa e inglesa, (2) estarem em
a cirurgia abdominal eletiva mais realizada na prática concordância com tema, (3) possuir o manejo cirúrgico,
cirúrgica digestiva. Nos Estados Unidos, cerca de 750.000 inclusive o transplante hepático. Os critérios de exclusão
colecistectomias são realizadas por ano3. Muitas vezes eram o não atendimento dos critérios de inclusão.
a ocorrência das lesões se dá pela inexperiência técnica
inicial dos cirurgiões, normalmente acontecendo nos 100 HISTÓRICO
primeiros procedimentos realizados4,5,6,7.
É muito importante avaliar o grau de Há relatos de conhecimentos anatômicos acerca
comprometimento hepático e da via biliar no momento da do fígado e das vias biliares desde a época da Babilônia,
reconstrução, além da técnica utilizada na reconstrução datando cerca de 2000 a.C.. Procedimentos das vias biliares
do trânsito biliar, pois esses aspectos tem grande valor também são muito antigos, com a primeira retirada de
prognóstico. Lesões mais altas na anatomia da árvore cálculos da vesícula em 1618, primeira colecistostomia em
biliar têm um grande impacto negativo no estado funcional 1878 e a primeira colecistectomia em 1882. Naturalmente,
do fígado e na sobrevida dos pacientes4,8. A gravidade da com a realização de procedimentos que envolvem a via
LIVB se dá pelo grande espectro de complicações que biliar, foram também registradas lesões envolvendo-as.
podem ser causadas e o quadro clínico pode cursar com O primeiro registro de LIVB ocorreu em 1891 descrito
icterícia, prurido, colangites de repetição e até cirrose biliar por Sprengel, com a primeira hepaticojejunostomia em Y
secundária, falência hepática e morte1,6. de Roux para correção desta condição em 1909 por Dahl.
A colecistectomia por abordagem videolaparoscópica,
OBJETIVOS realizada de forma pioneira por Phillipe Mouret em 1987,
é adotada como técnica padrão ouro atualmente1.
Objetivo geral: Realizar uma revisão da literatura
dos principais pontos acerca das lesões iatrogênicas de CLASSIFICAÇÃO
vias biliares, analisando formas de diagnosticar e tratar
essas lesões. Na era da colecistectomia aberta, as estenoses de
Objetivos específicos: Expor formas de diagnósticos ducto biliar eram classificadas por meio da classificação
das lesões tanto no intraoperatório como no pós-operatório. de Bismuth (Tabela 1). Com a maior acessibilidade à
Avaliar maneiras de manejar e tratar o paciente após ocorrer videolaparoscopia e por esta se tornar o padrão ouro
as lesões de acordo com suas individualidades. para colecistectomia, a classificação foi modificada por
Strasberg, com a adição de alguns tipos de lesões mais
METODOLOGIA comuns na cirurgia por vídeo, sendo muito utilizada até
os dias atuais (Tabela 1)2,3.
Tabela 1: Classificação segundo Bismuth e Strasberg.
Lesão Classificação
Fístula no ducto cístico ou pequenos ductos no leito hepático Strasberg:A / Bismuth: -
Obstrução de ducto hepático direito anômalo Strasberg B/ Bismuth: -
Transecção sem realização de ligadura do ducto hepático direito anômalo Strasberg C/ Bismuth: -
Lesão lateral de ducto hepático comum ou colédoco (<50% da circunferência) Strasberg D/ Bismuth: -
Lesão circunferencial do ducto hepático comum com coto >2cm Strasberg: E1/ Bismuth: tipo 1
Lesão circunferencial do ducto hepático comum com coto <2cm Strasberg: E2/ Bismuth: tipo 2
Lesão circunferencial no hilo, com confluência intacta Strasberg: E3/ Bismuth: tipo 3
Lesão circunferencial no hilo, com perda de confluência Strasberg: E4/ Bismuth: tipo 4
Lesão combinada de ducto hepático direito anômalo com lesão circunferencial no hilo Strasberg: E5/ Bismuth: tipo 5
Legenda: DHC: Ducto hepático comum; DHE: Ducto hepático esquerdo; DHD:Ducto hepático direito; DHDa: Ducto hepático direito acessório

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Legenda: DHC: Ducto hepático comum; DHE: Ducto hepático esquerdo; DHD: Ducto hepático direito; DHDa: Ducto hepático direito acessório

Figura 1: Classificação de Bismuth, a primeira a caracterizar as lesões LIVB.

Figura 2: Classificação de Strasberg (Adaptado de Strasberg SM, Hertl M, Soper NJ. An analysis of the problem of biliary injury during
laparoscopic cholecystectomy. J Am Coll Surg 1995; 180:105)
Outra classificação mais detalhada é a de Stewart- o nível da lesão3,9.
Way que engloba o mecanismo de lesão do ducto biliar e Devido à complexidade das LIVB, foram
sua anatomia. Elas são divididas em 4 classes: Classe I, desenvolvidas com o tempo uma série de outras
que corresponde a 6% dos casos, representa uma incisão classificações além das supracitadas, como a de McMahon,
no ducto biliar principal sem a perda do mesmo; Classe Nehaus e Hannover. McMahon avalia o tamanho da lesão
II, com 24% dos casos, consiste na lesão lateral do ducto no ducto biliar, dividindo-as em menores (lacerações que
hepático resultando em fístula ou estenose, normalmente acometem menos de 25% de diâmetro do colédoco ou
ocasionado pelo uso de clipes ou cautério na tentativa de da junção cístico-colédoco) e maiores (transecções ou
parar o sangramento no triângulo de Calot; Classe III, lacerações maiores que 25% do colédoco e estenose do
que é a mais comum, com 60% dos casos, e representa ducto biliar no pós-operatório). Já com a classificação
a transecção ou excisão de um comprimento variável do de Nehaus, é possível discriminar diferentes padrões de
ducto biliar, normalmente incluindo a junção do ducto lesão e ainda avaliar a existência de colangite recorrente
cístico com o ducto biliar; Classe IV corresponde a 10% a longo prazo. A classificação de Hannover apresenta,
dos casos e se apresenta como uma lesão ou até transecção diferentemente de suas antecessoras, a possibilidade de
do ducto hepático direito, estando geralmente associada a discriminar as lesões biliares tangenciais e com transecção,
dano na artéria hepática direita. Vale ressaltar que as classes tanto na bifurcação do ducto hepático como acima da
II e III apresentam ainda uma subdivisão de acordo com mesma, além de pormenorizar outros aspectos da lesão10.

Fi gura 3: Linha do
tempo das classificações
das LIVB. Com o
advento da laparoscopia
e sua evolução, cada vez
se busca classificações
que abordem e
caracterizem com a
maior complexidade
e riqueza de detalhes
possível as LIVB.

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APRESENTAÇÃO CLÍNICA aminotransferases. Níveis altos destas últimas indicam


a provável existência de uma lesão vascular e são
O quadro clínico é variável e depende basicamente mais indicativas de uma progressão para cirrose biliar
do tipo da lesão, do tempo que levou para ser diagnosticada secundária.1
e da presença de complicações. As LIVB podem ser Para o diagnóstico de imagem, a tomografia
diagnosticadas no intraoperatório ou podem chegar a se computadorizada e ultrassonografia apresentam limitações,
manifestar dias, meses ou até anos após o ato cirúrgico ficando restritos para detectar dilatação das vias biliares
inicial11. e coleções peri-hepáticas, entre elas, a bile livre na
O paciente pode se apresentar no pós operatório, cavidade abdominal 1,3,13,14. Colangiopancreatografia
de modo geral, com icterícia, peritonite biliar, colangite e endoscópica retrógada também pode ser utilizada em
também com sintomas inespecíficos como dor abdominal, casos selecionados, pois além do estudo da via biliar,
náuseas, vômitos e anorexia1,5,11. Os sintomas vão variar é possível realizar intervenções em ductos biliares
se o paciente possuir extravasamento de bile na cavidade, menores, através da colocação de próteses, porém, possui
sendo mais comum o surgimento de febre, dor abdominal desvantagens importantes, tais como o fato de ser um
e sinais de sepse, ou estenose cicatricial de vias biliares, procedimento invasivo e o elevado risco de complicações,
no qual colestase é um sinal marcante1. Manifestações como por exemplo sangramento intraluminal e sepse.11,14
tardias podem incluir colangite de repetição e cirrose biliar A colangiografia por ressonância magnética apresenta-se
secundária11. como ótima opção, por se tratar de uma modalidade não
invasiva e com sensibilidade de 85%-100%, sendo portanto
DIAGNÓSTICO o exame considerado como padrão ouro para abordagem
pré-operatória de pacientes com LIVB.1 Uma técnica
O diagnóstico da LIVB durante a realização promissora, a colangiografia por ressonância magnética
da colecistectomia é difícil, representando apenas com contraste hepato-específico, o ácido gadoxético, já
cerca de 25% dos casos na maioria dos estudos. 3,9 apresentou utilidade em delinear a anatomia da árvore biliar
Portanto, baseando-se nessa dificuldade de diagnóstico no pré-operatória e pós-operatória, bem como em detectar e
intraoperatório, foi desenvolvido um estudo para analisar caracterizar doenças biliares e complicações cirúrgicas,
a utilização da colangiografia intraoperatória em dois entre elas: cálculos, estenoses, fístulas e cistos biliares.
cenários, no primeiro, sendo usada de rotina, e no segundo, Ademais, é capaz de fornecer informações funcionais, o
de forma seletiva com base em alguns critérios. O resultado que fez até ser chamada também de colangiografia por
foi que seu uso para diagnóstico precoce da LIVB de ressonância magnética funcional, cuja finalidade reside em
maneira rotineira é bastante positivo, em que a detecção graduar as estenoses biliares, avaliar a dinâmica do fluxo
fica em torno dos 90%, porém, nos locais que é usada de biliar e estimar a função hepática segmentar.14 Além disso,
maneira seletiva a taxa de detecção da injúria fica entre 20 a colangiografia intraoperatória por raio-X pode ajudar a
a 30%, muito abaixo quando comparado com o seu uso identificar uma LIVB no momento da cirurgia. mas que por
rotineiro.12 Ademais, alguns pontos são anatomicamente apresentar algumas desvantagens, como o prolongamento
muito relevantes durante a realização do procedimento, do tempo cirúrgico e aumento do custo, seu uso precisa
como atentar que o ducto colédoco se situa medialmente ser melhor estudado.7
à vesícula biliar e que a artéria hepática direita passa
posteriormente ao colédoco em 80% a 90% dos casos.3 LAPAROTOMIA x VIDEOLAPAROSCOPIA
Com relação ao diagnóstico durante o ato cirúrgico,
podem ser sugestivos de LIVB: drenagem de bile por A taxa de LIVB varia se a cirurgia inicial foi
estruturas tubulares ou de outras localidades que não realizada por meio de técnica aberta ou videolaparoscópica.
seja a vesícula biliar dissecada, ducto cístico de grande Há discussão na literatura atual sobre qual tipo de
calibre (pode ser o colédoco), hemorragia ou inflamação procedimento causaria uma maior taxa de LIVB.
importante, identificação de um ducto biliar acessório Alguns autores demonstraram em seus trabalhos que a
ou de alguma estrutura tubular, entre outros. Por isso o colecistectomia videolaparoscópica é um procedimento
cirurgião deve prontamente identificar e tratar as lesões seguro e eficaz quando comparado com a técnica aberta15,16.
no ato operatório. 3 O estudo realizado por Fortunato et al. apresenta um total
Geralmente alguns exames laboratoriais como: de 515 colecistectomias, das quais 320 eram laparotômicas
bilirrubina, fosfatase alcalina, gamaglutamiltransferase e 195 videolaparoscópicas. Na abordagem minimamente
e transaminases podem ser úteis na suspeição e invasiva nenhuma apresentou LIVB, enquanto na cirurgia
acompanhamento de pacientes portadores de LIVB. aberta foram observados quatro casos de LIVB (1,25%),
Em pacientes sem complicações graves, não há lesão o que fez os autores concluírem que a abordagem por
hepática e normalmente apenas os exames indicativos vídeo apresentou menor incidência das LIVB e é um
de colestase estão alterados, sem aumento marcante de procedimento seguro15.

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Por outro lado, estudos mais recentes apontaram seja melhor compreendida pela equipe3,19.
que, com a técnica laparoscópica sendo utilizada de É válido salientar que no manejo da LIVB as
maneira mais generalizada ocorreu um aumento da técnicas endoscópicas, de radiologia intervencionista
incidência LIVB, e que atualmente acontecem numa taxa e cirúrgicas são complementares uma das outras e não
que varia de 0,2 a 1,5%7. Isso ocorre devido à curva de escolhas excludentes9. Em alguns casos, o tratamento por
aprendizado para a cirurgia por vídeo ser mais longa, meio de técnicas endoscópicas e acessos percutâneos pode
fazendo com que principalmente médicos residentes e ser útil para o manejo de LIVB como primeira abordagem
cirurgiões inexperientes cometam essas lesões2,4. Porém, ou em casos selecionados, como na recanalização
na tentativa de modificar esse cenário, estão surgindo novas do ducto biliar, que é tecnicamente possível e segura
técnicas que visam evitar as LIVB, entre elas, a utilização por meio de abordagem percutânea e endoscópica
de corantes fluorescentes, como a Indocianina verde, que multidisciplinar1,10,13,20. Nos acessos percutâneos podem
são excretados na bile e aprimoram a visualização das ser utilizadas técnicas com colocação de stents ou
estruturas biliares, mas que ainda precisam de estudos para dilatação com balão. Este apresenta uma eficácia de cerca
analisar quais suas possíveis indicações, a dose, o tempo e de 52% enquanto a colocação de stents varia entre 40-
o método ideal de administração7. 80%. A colangiopancreatografia endoscópica retrógrada
Mas também, uma técnica videolaparoscópica também pode ser utilizada, com taxa de sucesso de
que está sendo amplamente estudada na tentativa de aproximadamente 72%, sendo bastante eficaz em casos
ser implementada na prática é a cirurgia assistida por de extravasamento de bile após colecistectomia1,13. Esses
robô. Porém num estudo em que os pacientes que foram procedimentos não são isentos de complicações, sendo
submetidos a essa técnica, apresentou proporcionalmente descritas na literatura a ocorrência de sepse, colangite
mais complicações, entre elas mais conversões para o e hemobilia nos procedimentos percutâneos 1,10,13. No
procedimento aberto, mais readmissões e mais lesões caso da colangiopancreatografia endoscópica retrógrada
do ducto biliar, nesse último critério, o grupo que foi podem ocorrer colangite, pancreatite, sepse entre outras1,14.
submetido à cirurgia assistida por robô teve uma taxa Entretanto, é importante destacar que em se tratando de
de incidência de 1,3%, em comparação ao 0,4% da casos de lesão do tipo E4 ou E5 de Strasberg, o tratamento
laparoscopia tradicional17. cirúrgico se torna imprescindível9.
O tratamento cirúrgico das LIVB exige experiência
por parte da equipe cirúrgica, uma vez que quando
tratadas pelo cirurgião que a ocasionou, a taxa de falha
na correção cirúrgica é maior, com taxas de sucesso entre
17% e 30%10,19,21. Desse modo, é praticamente unânime
na literatura mundial que o procedimento cirúrgico para
correção de LIVB deve ser realizado por cirurgiões
experientes nesta modalidade, sendo importante ressaltar
que existem séries em que a taxa de sucesso cirúrgico
ultrapassa 90%, quando realizado por estes, além de
um menor tempo de internamento hospitalar3,19,21,22.
Alguns pontos importantes para o sucesso cirúrgico
Figura 4: Visão videolaparoscópica no momento da ligadura são: eliminar a infecção e inflamação intra-abdominais,
do ducto cístico.
anastomose em camada única com tecido de ductos biliares
saudáveis, anastomoses livres de tensão e utilizando fios
TRATAMENTO monofilamentares absorvíveis, entre outros3,9.
O princípio básico para a correção cirúrgica
O tratamento das LIVB se constitui em um de LIVB é permitir que a bile passe das vias biliares
verdadeiro desafio para a equipe cirúrgica e uma para o trato digestivo. Para este fim, pode ser lançada
situação crítica para o paciente, uma vez que pode levar mão de diversas técnicas cirúrgicas descritas na
a consequências como cirrose biliar secundária, falência literatura, como anastomose término-terminal de via
hepática e até ao óbito. Os principais fatores que implicam biliar principal, hepaticojejunostomia em Y de Roux,
no prognóstico do doente são a localização da LIVB coledocoduodenostomia e a anastomose de Blumgart
juntamente com a qualidade do ducto proximal à estenose, (Hepp). No entanto, dentre as anteriormente citadas e
a função hepática do paciente e a experiência da equipe outras, a hepaticojejunostomia em Y de Roux é a mais
cirúrgica envolvida18. descrita na literatura e a com maior taxa de sucesso.1,18
Na avaliação pré-operatória, é de suma importância Na reconstrução por hepaticojejunostomia em Y de
a realização de um exame de imagem (preferencialmente Roux é identificado o ducto hepático comum em sua porção
colangiografia ou colangiorressonância), para que a lesão mais viável, e feita a ligadura da porção distal o ducto

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biliar principal. A partir disto, é realizada uma anastomose podemos citar a colocação de um dreno em T para apoiar
término lateral ou término-terminal com o jejuno, suturando o ducto biliar por pelo menos 6 meses23.
em plano único. Dois aspectos negativos que devem ser A ocorrência de lesão vascular associada à lesão
lembrados em relação a essa técnica cirúrgica são o risco iatrogênica de via biliar principal não é bem estabelecida,
de estenose da anastomose e também o percurso não mas pode variar entre 12 e 61% dos casos. Pode-se
fisiológico da bile no trato digestivo. Este último ocorre adotar a conduta expectante para esses pacientes, mas
pela ausência da passagem de bile pelo duodeno e pela parte invariavelmente alguns casos necessitam de correção
inicial do jejuno, o que acarreta uma série de alterações cirúrgica. 25 Nesses casos de pacientes que apresentam
na secreção hormonal, podendo causar má digestão e LIVB bastante complexas, com lesão vascular, pode-
má absorção e até aumentar a chance do surgimento de se ter como opção de tratamento também a realização
uma úlcera duodenal pela liberação de gastrina de forma de hepatectomia, apesar de não ser tão comumente
anômala1,18,23. realizada8,25,26. Dependendo do tempo da colecistectomia a
A coledococoduodenoanastomose, apesar de ser sua indicação pode ser dividida em dois grupos: precoce
também fisiológica e ser de mais fácil execução em relação e tardia. No primeiro, que compreende o período de pós-
às anteriores, é indicada em casos selecionados, como operatório imediato da cirurgia, a hepatectomia pode ser feita
em lesões de colédoco distal. Além de seu maior risco em casos de necrose hepática, abcessos e extravasamento
de estenose, há também a possibilidade de refluxo biliar, de bile, com intuito de controlar a ocorrência de sepse e
ocasionando colangite de repetição e aumentando o risco peritonite. No outro grupo, a hepatectomia é realizada em
de neoplasia1,18. pacientes que apresentam colangite de repetição a despeito
Após o procedimento, é interessante a colocação de tratamentos convencionais já realizados e também em casos
um dreno para garantir um maior sucesso da anastomose, de atrofia lobar sintomática26.
podendo ser utilizado dreno em T (Kehr), dreno em Y, entre Alguns estudos ressaltam a importância de um rápido
outros. O dreno atuaria diminuindo a ocorrência de fibrose encaminhamento para um grande centro especializado
e de inflamação. Não há consenso de quanto tempo ele e mostram em sua casuística que dos 300 transplantes
deve permanecer ou mesmo em relação ao seu uso, porém hepáticos realizados, cinco (1,7%) foram devido a LIVB.
alguns estudos apontam seu uso por pelo menos 6 meses O transplante hepático muitas vezes representa a última
como um ponto benéfico ao pós-operatório do paciente1,23. chance para o paciente com doença hepática em estágio
A lesão do tipo E4 de Strasberg se configura em um terminal, mas sua realização também está associada a uma
dos maiores desafios técnicos para o cirurgião, pela perda alta taxa de mortalidade e morbidade, dada a complexidade
da confluência dos ductos hepáticos. Em uma minoria dos do procedimento cirúrgico e da gravidade do estado geral
casos, sua ocorrência é facilitada pelo fato de o paciente do paciente27,28.
apresentar variação anatômica, com a confluência dos Nos casos de transplante hepático, é importante
ductos hepáticos muito baixa. Esse tipo de lesão pode observar que o escore MELD não é uma boa ferramenta,
ocorrer por vários mecanismos, como durante a dissecção pois ele avalia a função hepática e tem sua aplicação bem
ou até pela colocação de drenos por tempo prolongado no estabelecida para pacientes com cirrose hepática. No caso
ducto comum. Seu tratamento exige experiência por parte da cirrose biliar secundária por LIVB, não há ainda uma
do cirurgião e deve ser individualizado para cada paciente, ferramenta que funcione de forma análoga ao MELD para
podendo ser realizadas várias técnicas, como a confecção de avaliar esses pacientes29.
uma portoenterostomia ou preferencialmente a confecção Por fim, é importante salientar que o tratamento
de uma neoconfluência24. sempre que possível deve ser realizado por uma equipe
Um estudo visando modificar as intervenções multidisciplinar, com gastroenterologista, radiologista
realizadas nas lesões de via biliar dos tipos de Strasberg- e cirurgião, e no tempo adequado, garantindo assim um
Bismuth E1–4 apresentou uma técnica de anastomose biliar melhor desfecho para o caso28,30. O cirurgião deve sempre
denominada de reconstrução biliar-biliar término-terminal ter consciência que na colecistectomia, sempre há um risco,
em formato de boca de peixe, que apresenta algumas por menor que seja, de LIVB, sendo desse modo de suma
vantagens em relação a outras técnicas usadas atualmente, importância que o paciente também esteja ciente, pois a
entre elas está o fato de preservar o funcionamento normal LIVB pode reduzir sua qualidade de vida e ter implicações
do esfíncter de Oddi e aproximar-se o máximo possível do irreversíveis. A não realização de todo esse esclarecimento,
trajeto fisiológico. Um outro ponto favorável dessa técnica aumenta ainda mais a chance da ocorrência de uma relação
é o fato de que remodelar as extremidades do ducto biliar conflituosa entre o médico e paciente, além de processos
em formato de boca de peixe, facilitando a anastomose, jurídicos se tornarem mais comuns31,32.
por criar um estoma mais amplo e assim aliviar a estenose
biliar subsequente. Ademais, é importante ressaltar também CONCLUSÃO
o fato de que algumas observações foram feitas como forma
de diminuir a taxa de insucesso da cirurgia, entre elas, A LIVB é uma complicação grave que pode ocorrer

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durante a colecistectomia e o cirurgião deve estar sempre LIVB, deve-se buscar o rápido reconhecimento da lesão,
atento à anatomia da árvore biliar antes de realizar a encaminhamento para centro de referência e seu tratamento
ligadura e cauterização das estruturas, para assim diminuir adequado, pois o atraso pode causar sérias complicações e
o risco de lesão. Uma vez que o paciente é portador de impacto negativo na sua qualidade de vida.

Participação dos autores: Olival Cirilo Lucena da Fonseca Neto: realizou busca bibliográfica, correção, edição final e orientações
do trabalho. Mateus Interaminense Perez: realizou busca bibliográfica, escrita de resumo, abstract, introdução, objetivo, metodologia,
histórico, classificação, apresentação clínica, diagnóstico, laparotomia x videolaparoscopia, tratamento e conclusão. Vladmir Goldstein
de Paula Lopes: realizou busca bibliográfica, escrita de resumo, abstract, introdução, objetivo, metodologia, histórico, classificação,
apresentação clínica, diagnóstico, laparotomia x videolaparoscopia, tratamento e conclusão.

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