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A

História do Jiu-Jitsu em São José dos


Campos, São Paulo.

O nascimento da LIGA JIU-JITSU.


Sérgio Luis Almeida Lisboa

Aquele que não conhece sua história e não honra pais e mestres,
está no caminho da solidão espiritual. Aquele que entende que
seu sangue veio da força ancestral de seus antepassados e per-
cebe que sozinho é uma gota de água podendo ser a união do
oceano, viverá de algum modo vida eterna. Você passa, eu
passo, mas a linhagem, o orgulho e amizade permanecem. Vida
longa ao Jiu-Jítsu e à Escola Osvaldo Alves em São José dos
Campos.

Todos querem o prêmio, mas desprezam a fadiga dos treinos!


Nem só de vitórias são feitas as batalhas, e a grande diferença
está em se levantar e seguir em frente, ou se acomodar... Os
acomodados ainda se acham no direito de perguntar por que
seres iguais tem uma estrutura de vida diferente! Custa tanto ser
uma pessoa plena, que muito poucos são os que têm a coragem
de pagar o prêmio.

A disciplina, a coragem e o amor pela arte.

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Em nossa brevíssima vida, somos memórias, sensações e acima


de tudo amor. Nossa dívida de gratidão para com a família Gra-
cie é enorme. Minha dívida de gratidão por tudo que aprendi,
não só nos tatames, mas na vida, se direcionam ao meu Mestre
educador, Osvaldo Alves de Albuquerque.

Para aqueles que mais amo na vida, Agnes e Vitor. Talvez eu


não tenha sido perfeito, ou sequer tenha sido bom, mas tenho
em mim o maior amor do mundo. Com sua sabedoria, Blaise
Pascal explica isso ao dizer: “O coração tem razões que a pró-
pria razão desconhece”.

Sérgio Lisboa, faixa preta sexto grau pela


Confederação Brasileira de Jiu Jitsu (CBJJ),
formado pelo Mestre Osvaldo Alves no Rio de
Janeiro. Fundador da Equipe LIGA JIU -JITSU,
junto com seus três primeiros faixas pretas:
Erivaldo Juninho, Gustavo Machado e Flávio
Gambin. São José dos Campos, São Paulo, Brasil.
2013. mojudlisboa@gmail.com

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

Mestre Osvaldo Alves de Al buquerque (9º Grau CBJJ)

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

1986 Campeonato Lightining Bolt Forte da Urca,


Rio de Janeiro.

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ORIGENS DO JIU-JITSU

Fundamento de todas as lutas - parte 1

Apesar de contraditórias versões, a origem do Jiu -


Jitsu é inegavelmente encontrada na Índia, berço das
religiões e da cultura humana. Monges budistas,
homens de valor espiritual com conhecimento do
corpo e da mente humanos, foram os criadores da
mais equilibrada e completa forma de luta de todas as
épocas.
Torna-se portanto necessário o conhecimento das
origens do Budismo, para que se possa m
compreender os fundamentos da luta que séculos
mais tarde foi chamada pelos japoneses de "Arte
Suave", ou seja, técnica de luta que, com o mínimo
de esforço, sem necessidade do uso da força bruta,
permite ao mais fraco defender -se e derrotar um
adversário fisicamente mais forte.

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

O Budismo - parte 2

Há cerca de 2.500 anos, nascia ao norte da Índia, a


poucas milhas acima de Benares, o príncipe Sidarta
Gautama, membro da tribo Saquia Muni, numa
cultura que se expressava em dialeto Pali e em
Sânscrito. Homem culto e de notável percepção,
lançou as bases da religião (alguns chamam de
filosofia) que depois traria seu nome e logo
espalhou-se por toda a Índia. Uma das principais
preocupações de Buda (significa "O Iluminado"), foi
dotar seus seguidores de percepções fundamentais,
para que pudessem melhor enten der a si mesmos e,
desse modo, o mundo em que viviam. Entre seus
seguidores -- monges de longíquos monastérios que
eram obrigados a percorrer o interior da Índia em
longas caminhadas, tendo de defender -se contra
assaltos que infestavam a região -- apareceram
aqueles que realmente são os criadores da luta que
permitiria sua defesa sem as armas proibidas pela
religião ou filosofia. Nasceu assim o Jiu -Jitsu -- com

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o espírito de defesa que é a sua alma e a sua


essência.

O caminho do Jiu -Jitsu -- parte 3

A disseminação do JJ pela Ásia viria séculos mais


tarde quando (cerca de 250 A.C., ou seja, 2.250 anos
passados), reinou na Índia D evanampri ya
Pri yadarsim, conhecido como rei Asoka – dois
séculos depois de Buda. Abraçado ao Budismo,
Asoka desenvolveu-o criando milhares de
monastérios dentro e fora da Índia. Desta maneira, o
Budismo e, com o Jiu -Jitsu chegaram ao Ceilão, à
Birmânia e ao Tibet. Depois, ao Sião e a todo o
sudeste da Ásia, à China e finalmente ao Japão --
onde cresceu e tomou grande impulso, emigrando em
seguida para o Ocidente. A entrada do JJ no Japão é
anterior à Era Cristã no Ocidente. A morte do rei
Asoka trouxe o enfraquecimento do Budismo e,
consequentemente do JJ. Os brâmanes, (adoradores
da religião do Deus Bra hma, que flores cera antes do

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Budismo), sentindo-se prejudicados pelo espírito da


religião budista, moveram pertinaz campanha até
conseguir expulsar os monges budistas do solo
indiano, razão da pouca influência do JJ na Índia. A
filosofia Zen (vertente do Budismo) é, sem dúvida, o
traço marcante entre o Budismo e as antigas s eitas de
Jiu-Jitsu.

Jiu-Jitsu, fundamento das lutas orientais -- parte 4

Na sua migração da Índia para a China e o resto da


Ásia, o JJ sofreu algumas modificações, dando
origem a estilos e formas típicas das regiões onde
chegou. Dessa forma nasceu incialmente, há mil
anos, o Sumô (sem quimono, baseado nas quedas e no
desequilíbrio do adversário, um esporte hoje
tradicional do Japão), e o Kenpô -Jitsu, que é a arte
da aplicação de golpes traum áticos (Atemi) de defesa
pessoal (com braço). O Kempô, nascido no sul da

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China e que originou o chamado "Boxe Chinês",


migrou para diversas regiões, inclusive a ilha de
Okinawa onde, há cerca de 300 anos, recebeu o nome
de Karatê-Jitsu (arte de luta com a s mãos vazias).
Tanto o Kenpô como o Karatê nasceram do Atemi
(golpe traumático) do Jiu -Jítsu. Foi porém, no Japão
onde o JJ cresceu e enriqueceu. Foi lá que ele se
transformou na mais completa e melhor forma de luta
que se conhece em nossos dias. Mais de 100 estilos
foram criados, sob a forma de verdadeiras seitas da
arte marcial a serviço dos s enhores feudais. Com o
passar dos anos, tornou -se esse sistema de defesa a
mais sofisticada arte marcial japonesa, incorporando -
se à riqueza cultural do país.

Japão, abertura para o Ocidente -- parte 5

Em meados do século XIX, grave ameaça apresentou -


se ao povo japonês, acarretando sério perigo ao seu
grande segredo: o Jiu -Jitsu. O país, que até essa
época era fechado à cobiça ocidental, recebeu a visit a

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

de uma esquadra norte-americana comandada pelo


comodoro Perry, em 8 de ju lho de 1853. Ele entregou
ao xógum uma carta intimando a abertura dos portos,
o que foi aceito. Em março de 1854, o comodoro
Perry retornou ao Japão com nova esquadra. O
resultado foi a abertura dos portos de Shimoda e
Hakodate, ambos pequenos e de pouca i mportância.
Em 1869, com a vitória do Imperador sobre o xógum,
novos portos foram abertos – iniciando-se a fase
Meiji. Em 1871, o Imperador Meiji inicia grande
modificações sociais, propiciando a entrada dos
ocidentais no país. A "ocidentalização" do Japão e o
consequente aumento da população estrangeira
iniciada nesta fase -- que até então era um país
fechado à cobiça de europeus e americanos -- trouxe
sério e grave problema para os nipônicos.

Como esconder o Jiu -Jitsu do mundo? -- parte 6

Os japoneses de pequena estatura mas com


conhecimentos de JJ, tinham condições de derrotar,
numa luta real, homens mais altos e corpulentos,

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

inclusive invasores estrangeiros. Mas a partir do


momento em que todos aprendessem o Jiu -Jitsu, a
supremacia técnica d os japoneses em luta corpo -a-
corpo desapareceria. A curiosidade dos ocidentais
pelo famoso sistema de luta passou a ser motivo de
preocupação para os filhos do Império do Sol
Nascente. Resolveu então, o governo japonês, criar
algumas lutas/esporte, que ter iam regras rigorosas,
nas quais não seriam ensinadas as formas mortais do
Jiu-Jitsu. Assim, por volta de 1880, um funcionário
do Ministério de Cultura Japonesa (e professor de
Jiu-Jitsu) foi escolhido para modificar a prática,
omitindo a parte letal que se ria mantida em segredo,
para uso somente dos japoneses. Nasceu então o
fantástico sistema Kano de Defesa Pessoal (mais
tarde batizado de Judô). Seu criador foi o funcionário
do governo, pro fessor Jigoro Kano, que em 1882
fundou a escola Kodokan. Foram assi m escondidos
aos olhos do mundo os segredos da arte marcial
nipônica. O ensino do JJ aos estrangeiros passou a
ser crime de lesa-pátria. Os japoneses adotaram então
o treino de JJ entre si, longe dos olhos estrangeiros.

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Introdução do Jiu -Jitsu no Brasil -- parte 7

Por volta de 1917, chegou ao Brasil o professor e


campeão mundial de luta sem regras, Konsei Maeda,
conhecido como Conde Koma. Maeda começou a
lecionar Jiu -Jitsu em Belém do Pará. Em 1920,
Carlos Gracie, aluno de Maeda, trouxe para o Rio de
Janeiro os ensinamentos que havia aprendido e
adaptou-os às demais artes marciais, inclusive a
"mandinga" da capoeira afro -brasileira. Fortalecendo
o JJ, com o melhor das outras artes marciais, surgiu
então a escola de Jiu -Jitsu do Brasil. Depois, a a rte-
suave tornou -se conhecida mundialmente como
“Brazilian Jiu-Jítsu”.

Um pouco da história do Jiu -Jitsu em São José dos


Campos, SP- Parte 1.

O início foi em 1992.

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

Comecei a ensinar JJ no clube Jequitiba de Caçapava,


depois na academia Dragões, em seguida na
Estímulo, Companhia Atlética, Power Training,
Clube Santa Rita, academia Aktive, academia Fúlvio
M yata e por fim no Condomínio Colinas.
Foi uma longa estrada e valeu cada momento vivido
ao lado de meus queridos amigos e alunos. Agradeço
do fundo do coração essa aventura.

Um pouco da história do JJ em SJCampos parte 2.

Quando o Prof. Luiz Dagmar, conhecido como


Careca, chegou em SJCampos, trazido pelo meu ex -
aluno Pedro Ferrero, vindo da região dos Lagos no
Rio de Janeiro, eu dava aulas na academia Power. Já
estava na cidade há muitos anos, e tinha um time
forte de lutadores, inclusive faixas roxas. Passei ao
Prof. Careca minha academia e meus alunos, pois eu
já pensava em trabalhar um pouco menos. Por
desentendimentos entre o Prof. Careca e meu aluno

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Erivaldo Juninho, fui forçado a voltar a dar aulas e a


reassumir meus alunos, dando início então ao grupo
que hoje conhecemos como LIGA JIU JITSU. A LJJ
foi criada quando formei meu s três primeiros faixas
pretas, no ano de 2003, são eles: Gustavo Machado,
Erivaldo Juninho e Flávio Gambin. Nós quatro
formamos, informalmente, o conselho diretivo de
nossa associação LJJ. O Prof. Careca, então, iniciou
seu belo trabalho na cidade e ape sar de sermos
academias diferentes, somos primos irmãos, pois eu e
ele somos alunos e discípulos do Grande Mestre
Osvaldo Alves de Albuquerque do Rio de Janeiro.

Comentário no Facebook:

Pedro Henrique: Parabens Sergiao

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e 3.

Em 1993, eu já havia deixado de dar aulas no Clube


Jequitibá de Caçapava e estava morando em
SJCampos. Um dia, passando pelo centro da cidade,

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em frente à academia Dragões, encontrei um velho


amigo e ex-professor de Jiu Jitsu, Rillion Gracie. Ele
fora contratado pelo Rogério, dono da academia
Dragões, para dar aulas de Jiu na academia. Logo
comecei a treinar novamente com ele, grande pessoa
e filho do lendário Carlos Gracie, irmão mais velho
de Hélio Gracie.

Hélio Gracie no pri meiro campeonato mundi al de j iu -


j ítsu, no dia 4 de fever eiro de 1996.

Infelizmente, foram s ó dois meses, pois o mesmo


estava se mudando para Florianópolis e não poderia
ficar. Então, Rillion, me convidou para montar uma
filial Rillion Gracie Jiu -Jitsu em SJCampos.

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Agradeci a enorme honra da oferta do amigo para


inaugurar uma Gracie na cidade mas expliquei que
eu, durante toda a minha formação, fora aluno do
Mestre Osvaldo Alves e que, apesar da grande honra
da oferta, não me sentiria bem usando outro nome
que não a do meu Mestre Osvaldo. Rillion, que é uma
pessoa sábia, imedi atamente concordou co migo.
Nesse dia ele ainda pousou em minha casa e partiu no
dia seguinte rumo a Florianópolis.

Comentários no Facebook:

Peixotinho Otavio: E a história sendo contada...

Marcelo Fontalvo Martin: Devemos sempre respeitar e


honrar o nome de nosso mestre. Valeu Sergio

João Paulo Marin: lendo...

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e 4.

Lecionei Jiu-Jítsu por pouco tempo na academia


Dragões e, ainda no ano de 1993, fui convidado pelo

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

proprietário da academi a Estímulo, campeão mundial


de judô pelas forças armadas, Arnaldo Menani, para
dar aulas em sua academia. A combinação foi
perfeita, Arnaldo, grande Mestre de judô, juntou -se a
nós no que seria a primeira e mais forte equipe de
Jiu-Jitsu de SJCampos. Na academia Estímulo
ficamos longos anos, onde a equipe cres ceu e se
fortificou. Nessa época surgiram os futuros
destaques, como Gustavo Ma chado Pinto (1993),
Erivaldo Junior (1996), Flávio Gambin (1996 ),
Luciano Valle, Luciana Galvão, Leonardo Mizumoto
(falecido), Ronaldo Yamashiro, Cayo Nicolau,
Arnaldo Mi yakawa (falecido), Cézar Guizoni, André
e Daniel Magalhães, Fúlvio dos Santos, Fausto
Pereira, Carlos e Eduardo Simão (Duda e Carlão),
Hebert Neves, Vitor Hugo Piccina, Flavio Beig, Rui
Nelson Taborda, Pavan, Vitor Castilho, Leonardo
Mandari, Fábio Brown, Raul Tostes, Luiz Paulo
Muricy, e muitos outros grandes atletas que posso ter
deixado de mencionar.

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Pri meira equipe feminina do Vale do Paraíba 1994 e em


2005.

Comentários no Facebook:

Cayo Nicolau Que Honra Mestre. Lembro ate hj vividamente


todos os treinos, as primeiras entregas de faixas azuis, os
desafios, os campeonatos, as broncas, ate hj guardo camisas da
época... Fico Honrado em fazer parte dessa historia, e fico mais
feliz ainda em saber...

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e 5.


Integração com o Judô

Arnaldo Menani, juntamente com o mestre de judô Sogabe,


criaram a primeira academia de ginástica de SJCampos. Na
academia Estímulo, na rua Humaitá no centro de SJCampos,
encontrei um excelente clima para criar aquilo que seria o germe
do Jiu Jísu na cidade. Bom tatame, bem amplo, material humano
de qualidade e muita gente interessada nesse esporte que
ganharia o mundo através de sua imensa divulgação pelas
competições de Vale Tudo. Foi com essa aproximação dos
judocas que conhecemos muitos que hoje são campeões no JJ.
Nessa época, Arnaldo, judoca famoso, trazia para treinar
conosco aqueles judocas que gostavam de treinar chão. A
academia ficava cheia e entre alguns desses admiradores da arte
"Ne Waza", apareceu um professor de Judô chamado Cláudio
Calasans, com seus filhos ainda muito jovens, e sempre que
podia nos visitava para nos prestigiar e aprimorar as técnicas de
chão. Hoje, o Cláudio Calasans Junior é um campeão mundial
de JJ, tendo treinado da faixa branca à preta na Liga Jiu-Jítsu. O
mesmo foi formado pelo Erivaldo Junior, um dos meus
primeiros faixas pretas e atual técnico da LJJ em SJCampos.

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Gigante, Calasans Junior, Ronaldinho e David. Todos campeões e


formados pela Liga JJ.

Comentários no Facebook:

Savio Junior: Oss. O conhecimento da história faz parte da


tradição cultural de um povo e é passado às futuras gerações.

Alexandre Magno Minari Bjj "pingos nos is "

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Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e 6.


Primeiro desafio SJCampos x Ubatuba e o
aparecimento do grande Mestre Otávio
Peixotinho.

Em 1995, indo surfar em Ubatuba, descobri que


existia um professor de Jiu -Jítsu lá. Conheci as sim o
Edmilson Alves e logo combinamos um desafio
SJCampos X Ubatuba (tenho todas as lutas e eventos
filmados). Nessa época, nossa academia era muito
incipiente e ainda não tínhamos destaques na equipe.
Comecei a procurar ajuda com alguma outra equipe
da região. Praticamente não existia Jiu Jitsu no Vale
do Paraíba e no Litoral Norte. Foi então que soube
que Otávio Peixotinho, grande casca -grossa, faixa
preta e campeão da equipe Carlson Gracie, ensinava
Jiu em Lorena. Eu já o havia visto lutar no Rio
contra Royler Gracie, Rickson Gracie, e outros
nomes da pesada. Também já o conhecia através de
um dos meus Mestres de Jiu Jitsu, Sérgio Penha, que
sempre o elogiou muito. Um elogio do Sérgio Penha,
no meio do JJ é coisa sagrada, pois para mim, como

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

para muitos, o Sérginho é a "Lenda Viva do JJ". Com


algum receio pois tratava-se de uma estrela no mun do
do JJ, peguei o telefone e liguei para o Peixotinho
pensando pedir ajuda. Nossa mente é muito estranha,
temos sempre receio de quem não conhecemos.
Peixotinho é uma das pessoas mais joviais que
conheço, gente fina e generoso. Fomos juntos para o
desafio e das onze lutas casadas ganhamos oito. Foi
um grande prazer conhecer pessoalmente esse casca -
grossa gente finíssima do Otávio Peixotinho.
Também foi muito engraçada a reação do Edmilson
Alves, que não aceitava a derrota, mas isso é uma
outra história...

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

Otávio Peixotinho, ao lado do eterno Mestre Carlson


Gracie.

Comentários no Facebook:
Luiz Fernando Silva Prezado Sérgio, Acho muito interessante
seu relato do desenvolvimento do Jiu Jitsu na região. Acredito
que os praticantes dessa arte devem se interressar ainda mais. Já
pensou em colocar tudo isso num livroum grande abraço/Luiz

Leonardo Cedaro Sergio, agora quem se torna a lenda viva é


você. Vida longa ao Mestre!

Peixotinho Otavio Sensacional fazer parte da história da


implantação do Jiu-Jitsu no Vale do Paraíba! Ainda não tinha
conhecido o Mestre Sérgio Lisboa naquela época! Mas depois
que conheci,vi que era um cara sensacional, de bom humor,
inteligente e perspicaz. Ganhei mais um amigo que veio para
ficar nos nossos corações. Vida longa a um grande Mestre que
ajudou na implantação da nossa Arte Suave. Que nem eu, ele
também nunca viveu profissionalmente do Jiu-Jitsu, mas com
seu despreendimento e grandeza, contribuiu para que o Vale
fosse um dos grandes polos do Jiu-Jitsu. Obrigado, amigo pela
consideração! Abção.

Peixotinho Otavio Gostaria das fitas daquelas lutas,se fosse


possível, meu caro Sergio! Pois recordar é viver!

Ricardo Miranda boa e justa homenagem ao amigo


peixotinho!abs ,

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e 7.


Como ocorreu a ruptura do grupo, com o
afastamento entre mim e o Prof. Careca. Ambos
fôramos alunos do Mestre Osvaldo Alves no Rio de
Janeiro.

Havia cedido meus alunos e minha academia ao Prof.


Luiz Dagmar (Careca), que acabara de chegar da
região dos Lagos do Rio de Janeiro. E ntão eu dava
aulas na academia Power Training e o Careca
assumiu meus alunos e minha academia lá. No início
tudo fluía com tranquilidade, até que um
desentendimento entre ele e o Erivaldo Juninho,
levou o Careca e expulsá -lo da academia. Conversei
com o Juninho e o convenci a voltar, pedir desculpas
ao Careca e assim foi feito. Mas nessa época, o
Juninho, sob minha autorização, ainda faixa roxa,
começara a dar aulas no dojo de sua casa e estava
sendo reconhecido como um bom professor. Logo
surgiu novo desentendim ento e uma nova expulsão.
Eu não mais dava aulas, somente treinava na nova
academia do Careca nos Jardins das Indústrias. Nós

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

treinávamos e após os treinos, eu e o Careca íamos a


uma padaria próxima tomar um suco . Quase sempre,
após os treinos, ao irmos a essa padaria, um aluno,
muito jovem e magrela, porém muito esforçado e que
adorava treinar, levava o s nossos quimonos, andando
ao lado de sua velha bicicleta e ficava ouvindo horas
a fio, eu e o Careca, nostálgicos, conversando sobre
os velhos tempos de tr eino, do Mestre Osvaldo e dos
lutadores que passarem por lá. A curiosidade desse
menino magrela me chamou a atenção e muitos anos
depois, ele se tornou um dos grandes campeões da
arte suave: André Galvão.

André Gal vão, Sér gio Lisboa, Fredson Pai xão, Eri valdo
Juninho, Flávio Gambin e Cristiano Alemão no seminário
do Mestre Osvaldo Al ves em 2003.

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Bem, a parte desagradável dessa história foi que o


Careca, meu velho amigo de academia, sentindo -se
incomodado com o fato do Juninho estar dando aulas
e sendo conhecido, me convidou a não mais treinar
junto com ele. Assim surgia a ruptura que iria durar
anos e anos. Assim surgia a rivalidade entre a LIGA
JJ e o Careca. Hoje essa rivalidade foi plenamente
superada.

Comentário no Facebook:

Alexandre Magno Minari Bjj Que ruim e que bom !

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e 8.


Além da técnica, existia outro requisito para ser
faixa-preta da LIGA JJ

Por volta do ano 2002, meus três alunos mais


destacados, Erivaldo, Guga e Gambin, já tinham
conhecimentos técnicos suficientes para pegarem a
faixa preta. Aliás, para mim, nessa época, já era bem
difícil treinar com eles. Apesar de terem aprendido a
respeitar os mais velhos e mais graduados, tinham
minha permissão para me apertarem nos treinos,
coisa que faziam com uma indisfarçável satisfação.
Para mim, apesar de estar sofrendo com os treinos,
estava feliz com o avanço técnico inegável dos
mesmos. Estava o rgulhoso do trabalho que tinha
feito. Como um professor pode saber se ensina
corretamente? Como podemos saber se nossa
educação funciona? Acredito que os resultados falam
por si mesmos. Afinal, todos os três eram atletas
talentosos e já com grandes resulta dos em
competições. Eu estava feliz e realizado.
Mas decidi que havia um outro requisito a ser

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

cumprido antes de receberem as faixas pretas.


Resolvi que eles teriam de voar comigo de parapente
em um voo duplo. Era aquisição de sangue -frio. Eu já
praticava voo livre desde o Rio de Janeiro, onde voei
de asa delta. Depois, morando em Caçapava tornei -
me instrutor de planadores e por fim estava voando
de parapente há uns dois anos. Ainda não dominava a
arte, mas se um aluno está disposto a arriscar a vida
com seu mestre, ele seguramente merecerá a faixa
preta. Quando comuniquei minha decisão a eles, não
me decepcionei. Sem qualquer medo ou receio, os
três toparam de imediato.

Eu, na verdade, não sabia se essa coragem era


somente coragem deles, ou se estavam com muita

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

vontade de se tornarem faixas pretas. E assim foi.


Seria injustiça não mencionar que a nossa faixa preta
tetra campeã mundial, Pol yana Lago, também passou
por esse desafio. Juninho fez dois voos comigo e no
primeiro tivemos uma pane. Os fios do parapente
estavam entrelaçados, o que não me permitia
comandar o voo com segurança. Pousamos de
emergência e decidimos fazer outro voo, para tirar a
adrenalina. O Guga quase desmaiou em voo, quando
entramos em uma nuvem. Eu o chamava e ele não
respondia. Até hoje não sei se ele desmaiou ou se
ficou congelado. A Pol yana tirou o capacete em voo.
Perguntei o que estava fazendo e ela colocou a
cabeça entre as pernas e vomitou lá de cima. O
Gambin, coitado, não deu sorte e o voo foi mais
curto. Enfim, se eles tinham coragem para viver ou
morrer com seu mestre, eles estavam prontos e
tornaram-se os grandes faixas pretas que todos
conhecemos.

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Comentários no Facebook:

Cristiano Gonçalves Lemes Osss.

Gustavo Pinto Ahah quase desmaiou foi foda rsrs o problema


nao e' voar duplo o problema e' com quem vc voa, vc queria
fazer manobras e etc... Lembro das vaquinhas olhando p baixo
pareciam miniatura, muito alto. Crazy

Ctc Colinas Gym qual é guga...vai ter que voar de novo qdo
chegar, e agora o sergião ta sem pratica de voo...rsrsrsrs...

Daiane Lucas oss

Vitor Hugo Piccina Ainda ta voando Sergio? bora marcar um


voo, abraco.

Cristiano Gonçalves Lemes Osss

Alexandre Magno Minari Bjj fly to live , live to fly

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e 9.


Onde o sangue assusta mais do que dói.
Companhia Atlética e Vermelhinha do Centro.

Após sair da academia Estímulo, de propriedade do


amigo Arnaldo Menani e começar a dar aulas na

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

Companhia Atlética do shopping Colinas, por volta


de 1997, senti que estava em ambiente novo. Sempre
dei aulas em academias de lutadores e de ferreiros.
Agora o ambiente era bem mais elitizado, em uma
academia em que as pessoas não estavam
acostumadas a ver aulas de lutas. Era uma época em
que o Jiu Jítsu aparecia muito nas competições de
vale-tudo, seja nos EUA ou no Japão. Pouco tempo
antes dessa mudança eu, o Flávio Beig, o Pavan e
mais um amigo, fomos surfar em Ubatuba e tínhamos
tido uma experiência desagradável na praia
Vermelhinha do Centro em Ubatuba, onde fomos
atacados por alguns locais e tivemos de reagir,
gerando um certo desconforto para esses mesmos
locais, acostumados a saírem impunes e ilesos de
atos covardes. Bem, dessa vez quebraram a cara , e
literalmente. Seu líder recebeu uma verdadeira lição.
Dizem que desse dia em diante o localismo da
Vermelhinha do Centro acabou. Sou totalmente
contra a vi olência, mas algumas pessoas só entendem
essa linguagem. É fato que, até hoje, passados mais
de quinze anos, muitos em Ubatuba ainda se

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

recordam desse dia. Bem, estávamos então dando


aulas de Jiu Jitsu na Companhia Atletica, a briga na
Vermelhinha era rece ntíssima e os ânimos estavam
aflorados. Estávamos empolgados por termos
enfrentado os maus elementos do lugar. Um belo dia,
por sugestão de meus alunos, resolvemos treinar
taparia. Taparia é quase uma simulação de vale -tudo,
onde pode-se bater à vontade de mão aberta, derrubar
e continuar a lutar. A academia Companhia Atletica
parou para ver a aula, que faz muito barulho, parece
muito violenta, mas na verdade não é isso. Depois de
vários alunos treinando, fui lutar com o Fabinho
"Manimal" do rugbi. Fabinho era extremamente
preparado, jogador de rugbi e aluno de Jiu Jitsu. O
tapa comeu solto e em determinado momento,
Manimal, sem querer, me acertou o supercílio com
uma cotovelada. O supercílio abriu na hora e como é
normal em qualquer corte no rosto, o sangu e brotou
forte. Parar de lutar? Com o sangue quente e
correndo rosto afora? Nada disso. Aparentemente, era
uma carnificina. Tatame sujo de sangue, corpos sujos
de sangue, etc. Quando acabamos e nos

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

cumprimentamos normalmente, olhamos ao redor e


vimos rostos horrorizados das pessoas leigas que
assistiam aquela aula. Nesse dia entendi que para
treinar melhor meus alunos, teríamos de ir para uma
academia mais voltada para os treinos sérios de luta.
Mudamos para a Power Training.

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João Paulo Marin kkkkkkkk isso aí....só para os fortes!!

Gustavo Pinto Estava la nesse dia e so ouvi um berro, Tira o


Vitinho Daqui !! Tira ele daqui e o bicho continuou a pegar,bons
tempos!!! Sem contar o tribal war !! Qdo eram tribo contra tribo
valendo tudo, sinistro

Gustavo Pinto Engracado qdo estava Em Abu Dhabi estavamos


na sauna eu , Andre Galvao, Portugues de São Lourenco e o
andrezinho estava falando da sua primeira experiencia no Jiu-
jitsu para seus alunos qdo foi visitar uma aula na academia do
Careca onde a gente estava treinando taparia na cara e valia tudo
praticamente.Ele lembra que o bicho pegava e que eu ja era
faixa roxa. Comentei com os Alunos dele: eu are maior que ele
agora o cara era gigante e eu magrelo. Demos muita risadas e tb
lembramos das lutas do portugues com Edgar. Bons tempos

Gabriel Calassi Vdd Guga guerra tribal e treino de taparia era a


alegria da rapaziada...bons tempos

34
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Gabriel Calassi Eu por ser novo, participei de uns 2 treinos de


taparia...mas me lembro perfeitamente que qdo rolava os treinos
eu não piscava os olhos e ficava louco de vontade para o
Juninho me colocar pra treinar...me lembro tb das gerras tribais
onde o momento épico era qdo sobrava o ultimo cara e tinha 5
ou 6 em cima dele tentando finalizar.

Gabriel Calassi Vlw Sergio por sempre estar mantendo essas


lembranças vivas.

Dani E. Caio Turci Ai Gustavo Pinto tbem estava nesse dia e me


lembro da cena, na realidade ficamos preocupados com o filho
pequeno vendo o pai cortado, e o mestre Sergio passou o carro
no Manimal, deixando claro que aquilo não era acontecer
mais....kkkkkkk

Dani E. Caio Turci Depois na Power Training lembro de uma


vez que disparou um alarme de carro na rua, e o mestre visando
proteger seus alunos, foi prontamente verificar se estava tudo
bem com a micro....boas lembranças!

Antonio Brito Souza essa historia da vermelhinha e conhecida


kkkkk e tao legal que ate hoje eu pensava que era lenda kkk
entao que muitos falam aconteceu mesmo? kkkkk muito bom
sempre odiei os covardes que so brigam de monte
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk parabens mestre ...

35
Sérgio Luis Almeida Lisboa

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e


10. Uma manhã de aula na Estímulo. Todo
professor deve se preservar.

Em 1993 o jiu -jitsu estava nascendo em SJCampos.


Eu dava aula na academia Estímulo, na rua Humaitá,
no centro da cidade. No ano anterior havia chegado
do Rio de Janeiro, onde o JJ acontecia a todo vapor,
com as antológicas lutas do Sérgio Penha X Rickson
Gracie; Peixotinho X Rillion Gracie; Inácio Aragão
X Pascoal; Marcelo Bhering X Cassio Cardoso etc.
Essas lutas e muitas outras marcaram época e, apesar
de terem acontecido há bastante tempo, nunca saíram
da minha memória. Era uma época de grandes
lutadores, o jiu-jitsu era humilde, sem a renda que
hoje se alcança com patrocínios e alunos. Alguns
lutadores tinham bons patrocínios, como o Rickson
com a rede de lojas Company e o Valid Ismail com a
churrascaria Barra Grill. Mas eram raros os lutadores
bem pagos. A academia do Mestre Osvaldo era um
celeiro de estrelas, com nomes como Sérgio Penha,
Pascoal, Paulo Caruso, Fabrício, Márcio Malvado,

36
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Claudão, Humberto Barbosa, Fux, Taborda, Garcia e


muitos outros. Sem falar na primeira equipe feminina
do Brasil, onde a academia de Mestre Osvaldo reinou
absoluta por muitos e muitos anos, com lutadoras do
calibre da Marina, da irmã do Pascoal, da Sabrina
Barata, etc.... Nem devo dizer as datas para não
revelar a idade das atletas
Voltando a São José dos Campos, que é on de
começamos essa narrativa, eu dava aulas e estava
bem treinado, porém dar aulas nos deixa um pouco
fora do condicionamento que um atleta deve ter.
Prestamos muita atenção aos alunos e com isso nosso
treino deixa um pouco a desejar.
Quando estava na prim eira academia onde lecionei,
Dragões, de propriedade do Rogério, um dia apareceu
um interessado dizendo que gostaria de treinar Jiu
Jitsu. Ele já era faixa roxa e praticante no Rio de
Janeiro. Era um jovem de uns 80 quilos e alto. No dia
seguinte, eu estava dando aula e ele pediu para
treinar comigo. Não preciso dizer que o jovem veio
para arrancar minha cabeça. Foi um sufoco, mas
consegui estrangulá -lo. Lembro que ele resistiu tanto

37
Sérgio Luis Almeida Lisboa

que uma espinha que ele tinha na testa começou a


sangrar. Pela primeira vez na vida pensei que um
professor não deve se expor na frente de seus alunos
com desconhecidos. Quando eu estava dando aulas já
na Estímulo, muitos outros turistas do Jiu Jitsu
apareceram e com alguma sorte e habilidade eu os
havia enfrentado bem. Muitos judocas faixas pretas
também vinham, talvez para me testar. Aconteceu
uma vez, que um faixa preta de judô, da seleção
brasileira, apareceu e, como sempre, partiu para
vencer. Encaixei a chave de pé e parei e, ele na
vontade de ser livrar do golpe, saiu girando e
lesionou seriamente o joelho. Ele tinha o apelido de
Dedé e era um grande lutador, tanto em pé quanto no
chão. Depois eu soube que alguns maldosos haviam
comentado que eu fizer a aquilo de propósito, mas
tanto o Dedé quanto eu, sabíamos que não era
verdade.
Mas o que fui descobrindo aos poucos é que um
Mestre, um professor, deve dar aulas, treinar com
seus alunos e amigos mas nunca deve se expor em
treinos com desconhecidos. Apr endi isso

38
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

definitivamente com um ocorrido que me chateou


bastante quando ocorreu. Já superei e vou contar.
Na ocasião dava aulas de manhã e à noite na
Estímulo. Uma manhã, estava dando aulas a dois
irmãos, Taú e Álvaro e uma aluna, Luciana Galvão.
Apareceu um rapaz na academia e pediu para fazer
uma aula. Falava bem, era bem articulado e
simpático. Tinha um apelido de "Vento Sul". Ele
disse que era do Rio de Janeiro, que estava vindo
morar em SJCampos e que queria treinar comigo,
pois já havia ouvido falar bem das minhas aulas. Dei
aula normalmente, treinei com meus alunos e aluna.
Ele usava uma faixa roxa velha e treinou solto com
meus alunos, quando me chamou para rolar. Ele
estava muito forte, tanto fisica quanto tecnicamente ,
e partiu para me pegar. No início fui pego de
surpresa, pois o rapaz fora tão educado que aquela
vontade de me atropelar me surpreendeu. O pau
comeu e, no final, ele me estrangulou. Naquele
momento olhei nos rostos do s meus alunos, Taú e do
Álvaro e soube que os havia perdido. Eles tinham no
rosto a decepção estampada. Todo filho imagina seu

39
Sérgio Luis Almeida Lisboa

pai um herói e todo aluno iniciante vê seu professor


como invencível. Essa máscara do professor
indestrutível tinha sido arrancada da ilusão que eles
haviam criado. Os dois nunca mais apareceram para
treinar comigo. Depois descobri que o "Vento Sul",
na verdade, era faixa marrom, tinha a intenção de dar
aulas na cidade e que estava super treinado, pois iria
lutar um campeonato importante. Mas isso não é
desculpa, realmente fui vencido. Ele estava muito
bom e preparado. Ele não permaneceu na cidade, por
algum motivo. Muitos anos depois, o encontrei na
academia Power, dessa vez mais magro, não tão
musculoso e, ai o treino foi bom, mas infelizmente
aqueles alunos eu nunca mais recuperei.

Comentários no Facebook:

Ctc Colinas Gym hoje entendo coisas que ontem talvez não
entenderia, muitas delas devo a algumas pessoas importantes, e
Sergio lisboa é uma dessas pessoas sem duvida nenhuma...

Rodrigo Costa Oss.

40
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Marcelo Fontalvo Martin Sergio...um mestre, um pai, um


amigo serão sempre heróis, acertando ou errando ganhando e,
principalmente perdendo. Esses dois "alunos" que nunca mais
voltaram jamais seriam merecedores da honra de fazer parte da
LIGAJJ.

Alexandre Magno Minari Bjj O detalhe da espinha na testa foi


hilário!

Antonio Brito Souza mestre muito bom poder le isso ,gosto de


rolar com todos os alunos e visitantes que vem na academia ...as
vezes me pergunto se sou um guerreiro ou um louco ,quando
estou sendo amassado por um desses ''monstrinhos ''de 120 140
kilos ,mas ate o momento conseguir me sair bem e mostrar o
valor do jiu jitsu ,mas vou refletir mais sobre oque o senhor
escreveu e acho que e hora de parar desse tipo de exposiçao ,ja
tenho uma certa idade e acho que nao precisamos disto
.obrigado por este post que e uma liçao de coragem e humildade
..

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e


11. A era Erivaldo Junior, “onde só os fortes
sobrevivem”.

Já havia tentado parar de dar aulas de Jiu Jítsu.


Estava cansado com o excesso de trabalho no meu
emprego e ainda dava aulas à noite. A primeira vez

41
Sérgio Luis Almeida Lisboa

que tentei parar foi quando o prof. Careca chegou na


cidade, tendo eu passado minha academia e meus
alunos para ele. Não deu certo. Depois, meus alunos
já estavam em franco desenvolvimento técnico e já
estavam aptos a ensinar. O Erivaldo Juninho, faixa
roxa, havia me pedido autorização para dar aulas em
sua casa e já vinha fazendo isso há um bom tempo.
Ele mora no Satélite, dando aulas no tatame de sua
casa, que fica na Rua Tijuca, 351. O Erivaldo
Juninho, sem dúvida, foi o aluno que mergulhou de
corpo e alma naquilo que chamamos: "Jiu Jitsu way
of life". Ele se dedicava integralmente aos treinos de
Jiu Jitsu e a dar aulas. Até a faixa roxa, Erivaldo era
um aluno mediano, tecnicamente falando. Mas sua
iniciativa de dar aulas, desde a faixa roxa, deu -lhe
muita experiência como professor. Como costumo
dizer: "quem ensina aprende". Aos poucos ele foi se
transformand o em um lutador excepcional. Com
muita facilidade em se comunicar com os jovens,
pois ele próprio era jovem, começou a formar um
vasto grupo de alunos em sua casa.

42
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Treino na casa do Eri valdo Juninho.

O Erivaldo Juninho, na minha opinião, tem alguns


atributos excelentes para um professor. Primeiro é
muito detalhista com as posições técnicas, observa
além da parte técnica do aluno, suas características
físicas, que podem dar a eles eventuais vantagens em
alguns movimentos. Enfim, com sua dedicação
exclusiva ao JJ e aptidão para ensinar, formou vários
campeões mundiais e brasileiros, além de paulistas,
regionais, etc. Mas a característica que para mim
mais o marcou, no entanto, não foi sua aptidão para

43
Sérgio Luis Almeida Lisboa

ensinar jiu-jitsu, ou mesmo como lutador. Para mim,


o melhor nele sempre foi sua lealdade para com seu
velho professor, que no caso sou eu. N unca vi o
Erivaldo Juninho sequer cogitar em mudar de
agremiação, de professor, de nome de equipe, de
local de treino, ou seja lá o que for. Sólido como uma
rocha em suas convicções, sempre foi um amigo,
aluno e companheiro leal. Esse é o maior trunfo
daquele que se tornaria o maior formador de
campeões da região. Sem dúvida, o Erivaldo Juninho
é na atualidade o melhor professor de Jiu-Jitsu de
São José dos Campos. Disparado! Os demais também
são bons, porque beberam na fonte da mesma escola,
a do Mestre Osvaldo Alves no Rio.
Ainda me lembro, em 1996, o pai do Juninho, sensei
Erivaldo pai (hoje também faixa preta da LJJ),
levando-o pela mão para treinar na academia
Estímulo, de propriedade do Arnaldo Menani.
Juninho, muito magrinho, cara de assustado, não
gostava muito de treinar. Talvez ele preferisse o
futebol. Mas aos poucos, aguentando as minhas
broncas e meus puxões d e orelha que ele não esquece

44
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

até hoje, sempre me lembrando que eu dava cascudos,


foi engrenando no nosso ritmo de treino e quando
chegou na faixa roxa, disparou rumo a sua vitoriosa
carreira de sucesso como técnico, lutador, um dos
donos e amigo da nossa a gremiação LIGA JIU -JíTSU.
Gostaria de expressar a ele, como aos demais, meu
amor de pai agradecido por tudo que fizeram por mim
e pela nossa escola.

Erivaldo Junior na final com Marcelo Garcia.

Comentários no Facebook:

Joel Ribeiro Junior Oss...

45
Sérgio Luis Almeida Lisboa

Alexandre Magno Minari Bjj Factum est!

Dani E. Caio Turci Juninho Liga um dos caras mais humildes e


gente fina que já tive a honra de conhecer, quando começou dar
aula na casa dele, era nítida a paixão que tinha e que sempre
teve pelo Jiu-Jitsu, nos convidava para treinar sem ao menos se
preocupar com o próprio bem estar, nunca cobrou nada, mesmo
passando para nós sua vasta experiencia, parabéns, tenho muito
orgulho dos meus brodis!

Tito Barros Valeu. Marga

Helon Junior Concordo com o primeiro comentário. uma honra


poder treinar no fundo da sua casa sensei e compartilhar do
mesmo tatame que campeoes mundiais formados por vc e sua
dedicação tbm pisaram.

Daiane Lucas caraca são textos desses que motivam pessoa e


atletas, é uma honra descender desse clã!!! humildade,
companheirismo e muito amor pela arte suave!! Oss e parabéns
por essa exaltação do mestre Sergio Lisboa, Grande mestre
Juninho

Ctc Colinas Gym AQUI A MAIS SIGNIFICATIVA FASE DA


HISTORIA...DAQUI PRA FRENTE A ´´FABRICA DE
CAMPEÕS´´INICIA UMA REVOLUÇÃO CALADA...E OS
EFEITOS DISSO FOGE DO PODER DE COMPREENSÃO
DA MAIORIA DAS PESSOAS...

Ctc Colinas Gym ...ANALISAR OU TENTAR ENTENDER É


UMA TREMENDA ESTUPIDEZ, POIS QUEM DESEJA
ACERTAR A COR DO OLHO DO RECEM NASCIDO ESTA

46
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

SUJEITO A ERROS...E MAIS IMPORTANTE QUE ISSO E


PERCEBER SUA PROPRIA ORIGEM E PERMITIR QUE O
AMBIENTE SE TORNE O MAIS APTO POSSIVEL PARA O
DESENVOLVIMENTO SER CONTINUO E
GRADDUAL...ERIVALDO JUNIOR FAZ PARTE DO
SELETO GRUPO QUE NASCERAM COM UMA DIVINA
FUNÇÃO...VIVEM ISSO...TRANSPIRA ISSO E
SIMPLESMENTE CONTINUA SEU TRABALHO...POR
ISSO TEM MUITO DO QUE CANTA...ALGUMAS DE SUAS
MUSICAS PREFERIDAS SÃO TRILHA DA SUA PROPRIA
HISTORIA...

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e


12. Guga, Gambin e a partida para o mundo.

Para um pai, sempre é triste a hora em que o filho sai


de casa, mas também traz alegria vê -lo ganhar o
mundo.
Após muitos anos juntos, treinando, aprendendo e
acompanhando suas vidas, chega a hora da partida. O
Guga, Gustavo Machado Pinto, decidiu deixar o
País. Ele, dos primeiros faixas pretas que formei, foi
o que começou primeiro a treinar. Era o ano de
1992. Ele e seu irmão Fernandinho se matricularam

47
Sérgio Luis Almeida Lisboa

na academia Dragões. Fernandinho treinou bastante,


mas não chegou a faixa preta. Guga treinou muito,
competiu bastante e tornou -se, talvez, um dos mais
técnicos faixas pretas que formei. Inteligente, ágil,
de grande sensibilidade. Mas decidiu partir. Sei que
formamos nossos alunos para o mundo, assim como
os pais criam seus filhos e um dia chega o momento
que percebe que sua época está passando e que tudo
renasce, chegando a hora de partir. Sua primeira op -
ção foi os EUA, mas logo mudou de opinião e deci -
diu-se pela Austrália. Na Austrália fez carreira bri -
lhante como professor de jiu -jitsu, representando
esse país em várias competições internacionais. Ga-
nhou a cidadania australiana, desc obriu o amor de
sua vida, Karen, e teve seus dois maravilhosos fi -
lhos. Acompanho sua vida e fico feliz por ele.

Gambin, forte como um touro, começou a treinar co -


migo na Estímulo, no ano de 1995. Faixa preta de
judô, já tinha um preparo físico excelente. Excelente
lutador sem quimono, talvez o mais duro aluno que já
tive nesse campo. Um dia, durante um treino, apare -

48
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

ceu um rapaz magrinho que queria treinar. Ele me


disse que nunca fizera qualquer esporte na vida, mas
queria aprender a lutar. Com todo o cuidado, come -
cei a fazer condicionamento físico com ele. Evitava
que ele se machucasse nos treinos. Enfim, agia den -
tro da responsabilidade que cabe a todo professor. O
Gambin, nessa época, já era faixa azul. Um dia,
chamei o Gambin e lhe pedi que fizesse um treino
solto com esse aluno, com o maior cuidado. Quando
estava olhando outros alunos treinarem, ouvi um
grito e olhei. Vi o jovem no chão, gemendo. Então,
o Gambin, com uma cara de gato morto, falou: “Só
dei uma quedinha nele”. Bem, o rapaz havia que-
brado a clavícula e após eu levá-lo ao hospital e a
sua casa, nós nos despedimos. Ele nunca mais apare -
ceu para treinar. Assim é o Gambin, coração de
ouro, mas como era muito treinado, e tendo uma
força descomunal, precisava ser muito bem contro -
lado, ou não sobrariam muitos alunos para treinar.
Hoje ele mora em Goiás, mas sempre nos visita.

49
Sérgio Luis Almeida Lisboa

Assim tem sido com inúmeros outros alunos que for -


mei e que partiram para o mundo. Assim é a nossa
vida e se de cada momento pudermos tirar boas lem -
branças e boas lições, a vida terá valido à pena.

Comentários no Facebook:

Vitor Lisboa Aeee Flávio Gambin

Vitor Lisboa Kkkkkk

Vânia Leme kkkkkkkkkkk adorei a "cara de gato morto"..


Confere, Flávio Gambin?

Gustavo Pinto Grande Mestre, nos que devemos muito a vc por


ter nos alinhado, por nos mostrar o caminho da vida e ter
ajudado a tracar nosso caracter. Valeu pelas palavras... Qto ao
sair pelo mundo, nao tinha ideia que viveria Em outro pais bem
longe de casa mas a vida e' assim misteriosa mas nosso coracao
sera sempre Brazileiro e liga JJ.

Ctc Colinas Gym é sergião...ta ai o resultado...e isso é só o


começo...agora vem a melhor parte pra vc; ´´veras que um filho
teu não foge a luta´´...

50
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e


13. Os primeiros faixas azuis e a morte de um ir -
mão querido.

A pior covardia da História é o esquecimento. Em


1994 formei meus primeiros faixas azuis. Era uma
época de grandes amizades, onde o JJ aparecia pelo
mundo através do Vale Tudo (UFC). Rorion Gracie,
em 1993, mantendo a fórmula de sucesso que o JJ
encontrou no Brasil, resolveu divulgar a arte nos
EUA. Criou então aquilo que seria o maior evento de
combate de todos os tempos. Era a vitória da téc -
nica sobre a força bruta. O JJ dominou absolutamente
as primeiras edições do UFC, fazendo com que ti -
vesse reconhecimento mundial merecido. Aqui no
Brasil não foi diferente. Em locais onde o JJ ainda
era pouco conhecido, como em São José dos Campos,
várias pessoas procuravam professores para lhes en -
sinar a arte suave. Isso teve seu lado bom e seu lado
ruim, pois muitos professores sem escola e origem
apareceram na cidade e na região. A verdade é que

51
Sérgio Luis Almeida Lisboa

o próprio mercado foi dando fim aos que não eram


sérios.
Meus primeiros faixas azuis, formados em 1994, tive -
ram a notícia de que seriam promovidos, durante um
jantar numa pizzaria. Atentem para a importância
que demos à primeira promoção de jiu -jitsu em SJ -
Campos. Teve até jantar para o aviso. Eram eles
Gustavo Machado Pinto (Guga), Cayo Nicolau, Luci -
ano Valle e Leonardo Mizumoto. Guga é aquele que
está na Austrália ensinando JJ e criando sua família,
Cayo fez carreira como jogador profissional de rugby
nos EUA e estudou lá, Luciano Valle formou -se em
primeiro lugar no IME e faz carreira brilhante.
Muitos, que não conheceram o Leo e sua triste histó -
ria, vão me perguntar sobre o Leonardo.
Leonardo Mizumoto, conhecido como Leo, começou
cedo no JJ. Filho da famosa professora e dançarina
Damares Antelmo, irmão entre duas irmãs, filho amo -
roso e aluno exemplar. Leo era o tipo de aluno que
todo professor deseja, atlético, inteligente, com
grande habilidade para aprender, bom caráter e acima
de tudo leal. Logo que comecei a ensinar JJ na aca -

52
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

demia Estímulo, Leonardo se inscreveu e logo se


apaixonou pela arte suave. Era assíduo nas aulas e
também gostava muito das aulas de Vale -Tudo que na
época dávamos. Era uma aula em que alunos coloca -
vam uma luva macia e desciam socos no outro, que
tinha de se esquivar, cinturar e derrubar. Era um
treino de combate e Leo era o aluno que mais vibrava
com esse treino, além de ser uma pessoa dotada de
grande agilidade. Muito branco, quase imberbe, fi -
cava logo com o rosto vermelho pelo esforço, o que
levava seus amigos a brincarem com ele: “Calma
Leo, é só um treino. Vai mais devagar conosco”. E
riam a valer. Boa época, aquela.
Um dia Leo chegou na academia com um dos olhos
inchado e logo perguntei se ele havia brigado na rua,
pois não admitíamos lutas fora do ta tame. O JJ tinha
má fama, de sermos agressivos e por isso fazíamos
tudo para reverter essa pecha. Leo me contou que
estava com um tumor atrás do olho e que teria de di -
minuir os treinos. Foi um choque para todos nós.
Ele tinha 17 anos e nos próximos 7 anos, vimos o
Leo sofrer o que não podemos sequer imaginar. O

53
Sérgio Luis Almeida Lisboa

tumor transformou -se numa leucemia. Um rapaz


forte que toda vez que era internado voltava só pele e
osso. A única coisa que o Leo não perdeu nessa
época foi seu rosto bonito e sereno. Sete anos são
muitos anos, quando se está sofrendo. Mas Leo re -
velou-se uma pessoa iluminada e, a partir de um de -
terminado momento passou a me ensinar como se
deve enfrentar a morte. Um dia encontrei o Leo. Ele
havia saído da quimioterapia e estava ganhando
peso. Sentamos e conversamos. Nunca vou esquecer
o que ele me disse naquele momento: “Sérgio, morrer
não é nada, não mais sofro com a morte. O que me
faz sofrer é acordar no meio da noite e ver meu pai e
minha mãe chorando na cabeceira de minha cama”.
Leo amava a vida acima de tudo. Era alegre, feliz e
jamais o vi de mau humor. Morreu na flor da juven -
tude e muitas vezes me perguntei porque tem de ser
assim.
A certa altura, estando eu dando aulas na Companhia
Atlética, encontrei o Leo pela última vez. Ele estava
forte e risonho. Ele me disse: “Fiz transplante de
medula óssea e a doadora é uma mulher. Se fizerem

54
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

teste de DNA no meu sangue, vão pensar que sou


mulher” e riu abertamente. Eu o abracei e disse:
“Temos turmas femininas também” e o beijei. De-
pois disso soube que houve rejeição do transplante e
o Leo, serenamente, decidiu não mais fazer qualquer
tratamento. Estava cansado e desejava descansar.
Não mais tomou remédios, foi para Ubatuba surfar e
ver o por-do-sol. Contraiu uma meningite oportunista
e morreu.
Gostaria de propor a todos os alunos, professores,
familiares e amigos do Leo, conceder a ele a faixa
preta “post mortem”, homenagem a alguém que
amava a vida, a família e os amigos. Onde estiver,
querido amigo, guarde uma parte do tatame de Deus
para que possamos mais uma vez nos reencontrar e
dar risadas juntos. Você está em nossas memórias e
em nossos corações.

55
Sérgio Luis Almeida Lisboa

Comentários no Facebook:

Wesley Nogueira Rodrigues Triste historia... que sirva para nos


aprendermos e darmos valor a nossa vida. Osss...

Bruno Leonardo Rossi Faixa preta pra ele!

Glória Coimbra Nossa que lindo...o conheci pouco..mais era um


grande menino!!! Faixa preta pra ele!!,

Cayo Nicolau Um grande irmão e amigo. Sinto muito a sua


Falta... Difícil de ler!!! Um dia nos iremos se encontrar
novamente, um dia...

Glória Coimbra Me emocinei tb...Cayo Nicolau,

56
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Alexandre Spani Fiz muitos irmãos no rugby e o Léo foi um


deles. Merecida homenagem a esse guerreiro! Faixa preta para
ele!!

Juliano Bazetto Esse muleque era um Animalll belíssima


homenagem grande Leozinho.....

André Fujita que show essa foto!!

Fernando Portugal Animal

Flávio Hardt Show!

Fernando Castelani Se somos o que somos pela soma de todos


que temos em volta, grande parte do que sou foi por causa do
Leo. Me chamem para a parada.

Rogerio Marotta O Leozinho era fora de serio. Realmente uma


pessoa do bem. Grande homenagem

Renato Sousa O Leo viveu muito em pouco tempo, e deixou


uma saudade enorme pra aqueles que tiveram o prazer de ser
amigo dele!! Faixa preta!!

Rodrigo Corrêa E Castro Merecida homenagem. O Léo era um


garoto fantástico. Um cara do bem. Tive sorte de conhece-lo e
ser seu amigo.

Marco Maia Parabéns pela coragem, sabedoria e reputação


Leo!!! Deus o tenha em bom lugar! Merece sim essa faixa preta
e outras homenagens mais, como jogador de rugby, ser humano,
amigo, filho, aluno e professor!!!

57
Sérgio Luis Almeida Lisboa

Raul Lima Bastos Faixa preta com certeza.... a alma do Rugby


São José, estimulou todos nós durante anos...lição de
vida...homenagem muito bacana!!!!!

Alexandre Magno Minari Bjj Faixa Preta pela lição de coragem


e por saber a hora de descansar!

Peixotinho Otavio História comovente! Ôsss.

Cayo Nicolau Sinto falta dele ate Hj Mestre!! Sempre Rezo


antes de entrar em campo para o Leo. Um verdadeiro Irmao para
mim... Foi difícil ler essa parte da historia... Leo vc faz falta...

Ctc Colinas Gym deus o ilumine ainda mais...e ele por sua vez
nos mande um pouco de luz a todos nós...

Gustavo Pinto Leozinho realmente deixou muita saudades e com


certeza na epoca foi um choque para todos nos que eramos
jovens,foi dificil entender a morte qdo uma pessoa nao quer
partir.Sempre estara Em nossos coracoes.

Sérgio Ponce de Leon Parabéns querido amigo. Sua vida é de


guerreiro e justifica sua nobreza e honra. Fundamentais à um
bom mestre. Espero poder lhe encontrar um dia. Estou morando
e BH. Felicidades e Força. Que Deus te ilumine sempre. Com
carinho, SÉRGIO PONCE.

Leandro Schio Sergiao, realmente temos que manter viva a


memória desses que se foram cedo demais e deixaram saudades!
Sugeriria abranger o Ricardo (Alemão), que faleceu marrom, na
concessão da faixa preta "post mortem". Um grande abraço!

58
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Luiz Gustavo Chaves Belas palavras Sergio, Leo era um amigo


querido que esteja ao lado direito de Deus...

Marcelo Fontalvo Martin Emocionante história mestre !

Adrian Yazbeck Guga San a blue belt! A long time ago!


Thankyou for coming to Australia Guga.

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e


14. Conexão Rio - São Paulo. Aos Mestres com
carinho.

Já treinava com o Mestre Osvaldo Alves há muitos


anos, após ter tido uma boa passagem pelo Reylson
Gracie no Shopping da Gávea no ano de 1975.
Morava no Leblon e à tarde pegava um ônibus que me
levava para o Leme, no final de Copacabana. Com o
trânsito l ento a viagem levava quase uma hora. O
endereço era mítico, rua Duvivier, perto da boca
quente da noite carioca, onde encontravam -se as
boates de prostituição que serviam aos estrangeiros
de passagem por nossa Terra Brazilis. Era uma
academia pequena, de aproximadamente uns 32

59
Sérgio Luis Almeida Lisboa

metros quadrados, mas ali encontravam -se aqueles


que revolucionariam o Jiu Jitsu no mundo. Nunca
vou me esquecer de meu deslumbramento estando ali,
participando dos treinos entre tantos atletas
graduados e ferozes. Essa sensação da infância eu
nunca esqueço. Parece até que sinto o cheiro dos
quimonos suados e da humidade dos dois pequenos
banheiros que lá existiam. Mestre Osvaldo, muitas
vezes sentado na muretinha, pacientemente ensinava
e corrigia seus alunos. Paciência infinit a, bondade
no olhar. Assim me lembro do Mestre Osvaldo. Um
homem querido por muitos.

Mestre Osvaldo e Sérgio Penha, a lenda vi va do moderno


Jiu Jitsu.

60
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Em 1983 começei minha faculdade e lá conheci


aquele que seria meu amigo e irmão de treinos.
Chamava-se Inácio Aragão. Eu já o vira lutando
várias vezes. E o vira vencer o Pascoal, casca -grossa,
do Mestre Osvaldo. O Inácio era pessoa interessante,
focado, engraçado, cheio de teorias que nos faziam
dar risadas. Era uma pessoa de alto grau de
inteligênca e um amigo absolutamente fiel. Para o
Inácio existem dois grupos de pessoas: amigos e
inimigos. Para os amigos era o mais dócil dos seres,
para os inimigos era o completo guerrreiro. Um dia,
eu estava andando com o Inácio no calçadão do
Leblon e conversando, quando de repente ele, pede
licença, invade uma quadra de voley de areia, mira

61
Sérgio Luis Almeida Lisboa

um grandalhão, cintura o sujeito e o derruba.


Depois, monta e espanca o cara. Todos olhavam
surpresos, ninguém interferiu, não deu tempo.
Depois da situação, Inácio, com a mesma
tranquilidade de antes, me disse suavemente: “ Esse
fdp passou a mão na minha namorada há cerca de um
ano”. Não falei nada, continuamos andando.
Outra situação que me causou espanto foi quando
estando na casa do Inácio, ele me disse: “Sérgio,
vem comigo que eu vou brigar com o Cássio
Cardoso”. Para quem não conhece o Cássio Cardoso,
era o melhor lutador de JJ da época, considerado
filho do Carlson. Campeão absoluto e na minha
opinião, melhor lutador que o Inácio. Naquele dia
aprendi com o Inácio, que coragem não escolhe, que
a verdadeira coragem é uma decisão cega e que
escolher adversário não é coragem, mas sim aposta
favorita. Assim foi e na porta da academia do Silvio
Bhering, Inácio brigou com o Cassinho. Levou a
pior, mas Cassinho não teve coragem de dar um soco
nele. Derrubou -o, rolaram e era tanta técnica que
mais parecia um campeonato de JJ. Nesse instante,

62
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Silvio Behring tentou separar a briga e tomou um


tapa no rosto, dado por Cassinho, que não admitiu a
interferência. Ora bolas, briga de pit bull você vai
colocar a mão! Mas, no Inácio, Cassinho, apesar da
vantagem técnica, não deu um peteleco sequer. Ele
conhecia o Inácio e acredito que o temia e não
desejava que aquele combate durasse para sempre.
Assim, minha adimiração por esse Samurai foi
enorme e até hoje uso muitas das frases dele, como:
“Antes cedo do que tarde”. Querido amigo que
muitas aulas particular es de JJ me deu. Guardo no
coração sua amizade.

63
Sérgio Luis Almeida Lisboa

Depois que me mudei para São Conrado, treinar no


Mestre Osvaldo ficou ainda mais longe, quase duas
horas de ônibus. Então, começei a treinar com o Zé
Carlos, hoje conhecido no mundo do JJ como Joe
Moreira. Cara simpático, de uma técnica e força
ímpares. Nos tornamos grandes amigos e fui
padrinho de seu casamento com a Ludmila. Hoje eles
estão separados e o Joe mora na California com seus
filhos há muitos anos. Guardo boas lembranças desse
tempo, dos treinos com o Roberto Roleta, Márcio
Araújo, Marcos Vinicius, Marco Rato, Cabelinho
(árbitro da CBJJ e que formei faixa preta), etc.
Tempos bons no condomínio Atlântico Sul na Barra.
Em algun campeonatos do Atlantico Sul, tive o
privilégio de lutar com o Renzo Gracie, Jean Jacques
Machado, E.T., Laerte e outros adversários que muito
me honraram pelo privilégio de aprender e lutar com
eles. Lembro muito do Renzo, sorriso largo.

64
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Polyana Lago, Renzo Gracie, Sér gio Lisboa e Eri valdo


Juninho.

Cheguei em São Paulo, em Caçapava, e começei a


dar aulas no clube Jequitibá. Quem me levou foi o
Álvaro, professor faixa preta de Karatê da cidade.
Lá, entre muitos alunos, conheci um rapazinho
baixinho e gordinho, que se apaixonou pelo JJ. Seu
nome era Alex Monsalve, e se tornou um monstro do
JJ, pegando a faixa preta e sendo um dos melhores
lutadores do Fabio Gurgel. Seu irmão também
treinava e apesar de grande facilidade para a luta,
não levou adiante. Seus pais eram meus conhecidos,
Ricardo e Mariza e infelizmente, em um acidente
trágico de carro perderam a vida.

65
Sérgio Luis Almeida Lisboa

Na vida temos muitos Mestres. Gostaria de externar


meus agradecimentos a esses três: Osvaldo Alves,
Inácio Aragão e Joe Moreira. Vida longa aos
Mestres!

Joe Moreira e Marco Ruas . Mestre Osval do, aci ma de


tudo um educador .

Comentários no Facebook:

Alexandre Magno Minari Bjj Esperei anos por essas histórias,


um legado

Rodrigo Costa Boa Mestre, como te disse escreve um livro, vai


ter muito sucesso, principalmente aos que hojê praticao e naõ
conhecem as história do Jiu Jitsu abçs. Oss.

66
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e


15. Para nós lutadores, atitudes covardes são
inexplicáveis.

Algum tempo após meus três primeiros faixas pretas


terem-se formado, eles seguiram seus caminhos como
professores. Erivaldo Juninho já dava aulas há bas-
tante tempo no dojo de sua casa. Guga e Gambin co -
meçaram a dar aul as em uma sala alugada no Jardim
Maringá.
Um dia Guga me ligou assustado, dizendo que o Con -
selho de Educação Física o havia autuado pelo fato
de não possu ir o CREF, que é o registro no Conselho
Regional de Educação Física.

Eu possuía o CREF provisionado, pois já lecionava


muito antes da regulamentação da profissão. Na dú -
vida da necessidade do registro, eu havia me regis -
trado.
Então, como professor responsável pela academia,
compareci à Delegacia de Polícia onde eu havia sido
intimado, pois existia uma requisição do Ministério

67
Sérgio Luis Almeida Lisboa

Público para a instauração de Inquérito Policial para


apuração dos fatos. Levei todos os documentos pro -
batórios, inclusive a carteira do CREF, e assim a dú -
vida foi sanada.

Quando da visita do fiscal do CREF à academia,


Guga havia perguntado ao fiscal a razão da fiscaliza -
ção. O fiscal contou que havia uma denúncia e que
ela partira de uma academia, também de lutas, na
mesma cidade. Foi grande a nossa surpresa, pois não
imaginávamos estar incomodando tanto a nossa con -
corrência.

Visando apurar a necessidade de estar inscrito no


CREF, relacionada com a atividade de professor de
artes marciais, entrei com uma ação na Justiça Fede -
ral. Junto abaixo a decisão.

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Comentários no Facebook:

Leonardo Cedaro Muito bom!!

Gustavo Pinto Eu sei quem foi, rsrs

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part e


16. Jamais ganhei dinheiro com o Jiu Jítsu. Tudo
o que fiz foi por amor à arte.

Assim como Mestre Peixotinho, não vivi do


JJ. Mesmo na melhor época financeira, quando
lecionava na academia Estímulo e tínhamos 100
alunos pagantes, sempre dividi as mensalidades com
o Arnaldo Menani, prop rietário do Dojo.

Dava aula à noite, em dias estabelecidos no início do


mês para não atrapalhar meu emprego. As aulas
sempre eram após as vinte horas, depois do
serviço. Eram classes cheias, onde jovens estudantes
encontravam trabalhadores que haviam lab utado todo
o dia. A harmonia entre eles era perfeita. Além das
técnicas de jiu Jítsu, trocávamos experiências de vida
de cada aluno. Enfim, éramos uma grande e unida
família. Esse sempre foi o nosso espírito, essa
sempre a nossa vocação e por dessa von tade surgia o
embrião daquilo que viria a ser a Liga Jiu Jítsu.

70
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Jamais cobrei um centavo de comissão de qualquer


aluno que decidisse dar aulas também, como até hoje
jamais cobrei, pedi ou sugeri que qualquer um me
pagasse o que quer que seja, relativo ao que dei de
mim e da minha vida em nome do Jiu Jítsu. Não me
considero melhor ou pior do que aqueles que tem
uma visão diferente, e nem os julgo. Como poderia
misturar aquilo que amo fazer, com exigências
financeiras, às vezes destruidoras de relacionament os
interpessoais. Incentivei, apoiei e ajudei àqueles que
se dispunham a dar aulas, a crescer como professores
e a difundir nossa nobre arte. Fiz o melhor que
podia. Também criei o nome e o espírito da Liga Jiu
Jítsu e demonstrei através da amizada e
generosidade, que a Liga JJ somos todos nós e não
um indivíduo sozinho. Retirei meu nome do logo e
inclui o nome Liga JJ. A Liga JJ somos muitos e sem
a pluralidade que o nome indica não existe liga,
grupo, ou mesmo harmonia. A Liga JJ nunca foi
devidamente formalizada. Ela surgiu e cresceu com a
amizade e a confiança, e ainda que formalizada, sem
aquelas qualidades não sobreviv eria nela o espírito

71
Sérgio Luis Almeida Lisboa

que a fez surgir. O corpo sem a alma é como o navio


sem o mar. Muita coisa na vida nos chegam
naturalmente, ou perdem o sentido. Não existe
obrigação alguma, o que deve existir é o vínculo da
confiança e do amor fraternal. Sem essa amálgama,
que une a alma à matéria, o nome Liga JJ pode
tornar-se palco de um futuro desentendimento.
Precisamos de paz para cresc er. A generosidade não
busca recompensa e nem sequer reconhecimento. Na
linguagem poética de Luís de Camões, “A amor é ter
com quem nos mata, lealdade”. E concluía: “É cuidar
que se ganha em se perder”.

Leonardo Cedaro Sergio, assim o livro não acaba, cada parte


melhor que a outra...rsrs

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A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Peixotinho Otavio Parabéns pelo empenho nobre na implantação


da Arte Suave no Vale do Paraíba! Para mim, uma grande
satisfação estar incluído junto a você neste mister!! Abção e boa
sorte! Obs.: Já coloquei a fita para passar p DVD. Fica pronta na
2ª feira!

Antonio Brito Souza o duro e isso ,ver pessoas que treinaram


dedicaram uma vida toda a arte marcial ,nao ter ganho dinheiro
...enquanto aproveitadores ,que se beneficia pelo fato da arte
marcial ta na moda ,encher o bolso as custas de pessoas que nao
sabem nem oque e lutas e o quanto sua saude corre riscos ........

Uma breve história do jiu jitsu no Vale do


Paraíba. Parte 17.

Um verdadeiro guerreiro é sempre um amante da


paz. Do outro lado da violência está sempre o
medo.

A violência é a reação mais direta que temos do sen -


timento de medo. Àquele que não sente medo, jamais

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

será violento. Contrariamente, o violento é sempre


uma pessoa assombrada pelo medo, pela insegurança.
Seja o medo da vida, o medo da morte, de ser pas -
sado para trás, de ser tr aído ou de perder alguma
coisa. Inconscientemente, a reação a esse medo é
sempre a violência. Apesar das múltiplas origens, o
medo é um só. Não existe medo disso ou daquilo, o
que existe é sempre um único medo. Se observarmos,
a perpetuação do medo pode no s transformar em es -
cravos do sofrimento. O entendimento desse estado
nos leva a ser gentis e suaves, e nossas reações são
reflexos da segurança que adquirimos com essa com -
preensão. Existe uma parábola em que um sanguiná -
rio general invadiu uma cidade ond e toda a população
fugiu com medo do mesmo. No entanto, um monge
permanece ali. Ao se defrontar com ele, o general lhe
perguntou: Você sabe quem sou eu? O monge respon -
deu que não. Então, o general disse: Sou aquele que o
atravessaria com a espada sem pisc ar os olhos. O
monge então respondeu: E eu sou aquele que seria
atravessado pela sua espada sem piscar os olhos. Di -
ante da resposta, o general fez uma reverência e par -

74
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

tiu.

Na ausência do medo, seja porque estamos carrega -


dos de energia psicológica ou mesmo cheios de com -
preensão da vida, não há reação violenta a operar em
nós. Ser pacífico significa ter encontrado algum a
compreensão na vida, pelo menos com respeito aos
nossos medos mais interiores. Ser feliz importa em
não ser escravo do medo, em não sofrer e não desejar
o sofrimento do próximo. Quem faz alguém sofrer é
porque transborda sofrimento além dos seus próprios
limites. O verdadeiro guerreiro não age com
violência, age com precisão. A precisão necessária e
suficiente para cumpri r seu objetivo.

Comentário do Facebook:

Ronaldo Cangani A precisão necessária é suficiente para


cumprir seu objetivo..... Sabedoria,,,,,,,,

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

Um pouco da história do JJ em SJCampos, part. 18


Da capacidade humana de se reinventar.

Muitos Mestres passam por nossa vida às vezes sem


serem percebidos. Eles próprios, comumente, não
sabem que exerceram esse papel e o quanto nos
ensinaram. Para mim, a vida não é menos do que um
mestrado e um aprendizad o contínuo. Quando não é
nada disso, nem merece e nome de vida.
Conheci no meio do voo livre uma menina que não
podia ser chamada de bonita. Magra, nariz
proeminente, sem seios e sem os demais atrativos da
mulher. No entanto, era uma pessoa que esbanjava
energia e olhava o mundo com otimismo. O que el a
fez, me serviu de lição e aprendizado, de como
devemos lidar com a vida e o que ela nos dá. Não
podemos mudar a realidade das coisas, de nossa
situação financeira, de nossa aparência, de nossa
solidão, en fim, de nossos problemas. Não podemos
muita coisa mas essa moça me ensinou que podemos
tirar leite de pedra, de cada realidade da vida,
podendo nos adaptar tão criativamente à nossa

76
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

realidade, até mudar tudo em nós e em nosso redor.


Ela começou operando o rosto, colocou algum
silicone, deu um corte melhor no cabel o, tomou
suplementos vitamínicos e ganhou peso. Além disso
estudou muit o e após alguns anos uma confian ça que
não tinha antes. Se vocês acham tudo isso
futilidade, prestem atenção no fato de que todos nós
podemos esculpir nosso corpo e nossa mente, em
busca da felicidade e da paz consigo mesmo.
Alguns amigos meus se separaram de suas esposas e
sofreram. Tiveram de se reinventar e viver
novamente. Outros sucumbiram às drogas e tiveram
de criar mecanismos para lidar com o vício. Outros,
tal como na paráboloa de Jó, perderam dinheiro,
beleza, família e amigos. Tiveram de ressurgir para
a vida a fim de nã o morrer, e conseguiram. A frase
não é original mas é verdadeira para sempre: a luta
só termina mesmo quando tudo acaba. Desistir antes
de morrer é não entender o significado de ser um
“Guerreiro de Fé”.
Assim como no exemplo daquela moça, no nosso dia
a dia, encontramos grandes lições. Mas precisamos

77
Sérgio Luis Almeida Lisboa

estar atentos, para que não se perca a oportunidade


de aprender. O faixa preta aprende que viver é ser
um aprendiz para sempre. A verdadeira vida de um
lutador, começa com a faixa preta.
Após longos anos treinando Jiu Jítsu e dando aulas,
desenvolvi uma artrose de quadril. Aos 45 anos de
idade, ainda me sentindo muito novo, não mais podia
fazer os dois esportes que mais amava: Jiu -Jítsu e o
surf. O mundo desabou, o céu fez -se negro,
carregado de pessim ismo. Fiquei muito triste. No
meio de tanta desolação, lembrei daquela fig ura
esquálida que fora a moça de que falei acima.
Também lembrei do modo como ela havia lidado com
o que a vida lhe dera. Lembrar disso era aprender.
Começei a surfar de joelhos (kneeboard), pois não
conseguia flexionar a perna esquerda . Depois vesti o
quimono e decidi dar aulas com a ajuda de alunos
graduados. Forcei-me a caminhar, mesmo
capengando. Era isso, então, eu estava me
reinventando para continuar a viver. Também
busquei outras ocupações, inclusive esta que estou
exercendo agor a, a de escrever. A vida não pode

78
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

parar. Se a humanidade sobreviveu tão bem através


do tempo, é porque tem a capacidade de se adaptar às
adversidades. A adaptação das espécies, descob erta
de Darwin, é uma lição par a todos os homens. Se
entendi isso tudo d e forma menos sofrida, agradeço
ao exemplo que vi naquela moça , e em tantos outros
companheiros de nosso dia a dia.
Como sempre digo, a vocação humana é a desunião, é
o conflito. Estar unido e em harmonia, é o maior de -
safio que um grupo grande como a L iga Jiu Jítsu
pode enfrentar. Os desacertos e desencontros da vai -
dade humana minam a paz e o equilíbrio. O pior
inimigo da paz é sempre a vaidade. Vaidade esta de
que tanto falamos, mas que pouco conhecemos. Indi-
camos nos outros com grande facilidade, mas não
percebemos quando ela opera em nós. O que existe
no mundo, existe em nós, em diferente escala. Somos
um degrau, mas a escadaria é o todo que nos cerca.
O nome LIGA é significativo, é o nosso objetivo e
luta diária. Estar unidos, em h armonia, é nosso de -
sejo e objetivo. A Liga JJ cresce e, com esse cresci -
mento vem as dificuldades. Estejamos alerta para os

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

desafios que virão e, assim como aquela moça este -


jamos prontos a nos adaptar e encontrar o melhor
modo de nos reinventar.

Comentários no Facebook:

Rodrigo Costa Sábias palavras mestre, guarde todos esses


arquivos e escreva o livro de Jiu Jitsu Oss.

Peixotinho Otavio Mestre, já estou esperando a parte 16 e o


livro!!! Abção.

Gustavo Pinto Pobrezinha da figura esqualida rsrsrs Muito legal


o texto como diz O Mestre peixotinho tb estou esperando o
Livro . Abs

Marjorie Morrison Mascheroni Conseguirmos nos reinventar é


tudo, Sergio! A vida é cíclica e temos que saber "passar o
bastão" com calma e desprendimento. Sempre outras coisas
diferentes virão e podemos descobrir novas facetas em nós
mesmos que nem conhecíamos! Beijos no seu coração! Sei
exatamente o que sente, porque em um escala menor, passo pela
mesma coisa...

Fabricio Martins Costa Muito bom Sergio , me lembrou a velha


história da águia ... Abs

Luiz Fernando Silva Parabéns Sérgio, Bela matéria, esse sem


dúvida é um dos caminhos da "iluminação", traduzido como
viver em paz consigo mesmo

80
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

FAIXAS PRETA FORMADOS PELA LIGA JIU JITSU:

Sérg io Li s bo a Vit o r To le do ( G ig a nte)

L uiz S ilv a (Ca be li nho ) Fa br ic io A ma ra l

Er iv a l do J un i nho Da v i d J ul ia no

Flá v io G a mb i n Ale x S ilv a

G u sta v o M a cha do Sérg io Ca st ro (Ca st ri n ho )

Po ly a na La g o Lív ia B o rg es

Cri st ia no Ca rv a l ho Tia g o Gu li
( Ale mã o )
Wi l So a re s
Lea n dro B ro d in ho
Ro d rig o Co s ta
E dua rdo To le do ( Du da )
Fel ip e M end es
Er iv a l do pa i
Lea n dro No g u eira
J úl io Ro n de li
E dw a rd B erto l i ni
Clá ud io Ca la sa ns J u ni o r
M a rcio Al me i da
Ale xa n dre M a g no
M a rcelo A l me i da

81
Sérgio Luis Almeida Lisboa

Er ic k da H o ra L uca s B er ti ( Di no bo y )

M á rio Pilo to Flá v io B eig

L uiz Fer na n do K enj i

Cé sa r Si lv a ( Ce si nh a B o y ) Ca rlo s E d ua r do U ba t u ba

Vâ n ia Le me B et ã o I ng la ter ra

Ada ul ete M a relo Leo na r do M iz u mo to (P o st


M o rt e m)
E dua rdo S i mã o
Ar na l do Ca ma rg o (P o st
Va l dy r Uba t u ba M o rt e m)

M a rcelo da Vi la Rica rdo A le mã o (P o st


M o rt e m)
Lea n dro Sc hio ( Dr .)

82
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Alguns dos f aixas pretas f ormados pela Liga Jiu Jitsu

Canção do Tamoio
I

Não chores, meu filho;


Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

83
Sérgio Luis Almeida Lisboa

II

Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

III

O forte, o covarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,

84
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Que a morte há de vir!

E pois que és meu filho,


Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra


Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII

E a mão nessas tabas,


Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga

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Sérgio Luis Almeida Lisboa

Talvez não escute


Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco


Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate

86
A História do Jiu-Jitsu em São José dos Campos

Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.

Gonçalves Dias

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TZU, Sun. A Arte da Guerra. Século IV A.C., Rio de Janeiro:


Ediouro, 1994.

FELDMAN, Cristina. Histórias da Alma, Histórias do coração.


São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1994.

EVANS-WENTZ (org.), W.Y., O Livro Tibetano dos Mortos,


Ed. Pensamento, 1960.

LISBOA, Luiz Carlos. Nanban, O dia em que o Ocidente Des-


cobriu o Japão. Editora Estação Liberdade. 1993.

MERTON, Thomas. Místicos e Mestres Zen. Editora Civiliza-


ção Brasileira S.A., 1972.

HUXLEY, Aldous. A Filosofia Perene. Editora Cultrix Ltda.


1995.

OSHO. Teologia Mística. Madras Editora Ltda. 1998.

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